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Fisiologia Comparada

e Humana
Material Teórico
Informação e Coordenação (Sistema Nervoso e Endócrino)

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Eduardo de Oliveira Garcia
Prof. Me. Norton Claret Levy Junior

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Informação e Coordenação
(Sistema Nervoso e Endócrino)

• Regulação Funcional do Organismo;


• O Sistema Nervoso;
• Evolução do Sistema Nervoso nos Invertebrados;
• Evolução do Sistema Nervoso nos Vertebrados;
• Sistema Endócrino de Mamíferos;
• Sistema Endócrino Animal.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Reconhecer os princípios e os mecanismos básicos da fisiologia animal e as adaptações
dos animais que os tornam capazes de existir em tantos ambientes diferentes.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Informação e Coordenação
(Sistema Nervoso e Endócrino)

Regulação Funcional do Organismo


Caro(a) aluno(a), nesta unidade, vamos entender como nosso organismo se torna
capacitado a perceber as variação tanto do meio externo quanto do meio interno
e responder a tais variações com resposta adequada para que seja mantida a ho-
meostase dos sistemas fisiológicos. Em conjunto, os sistemas nervoso e endócrino
participam ativamente da coordenação e regulação das funções corporais. Os neu-
rônios que compõem o sistema nervoso possuem atividade de respostas rápidas e
curta duração, já os hormônios produzidos pelas glândulas do sistema endócrino
atuam na regulação funcional dos órgãos, geralmente de maneira mais lenta, mas
com efeitos de duração longa.

O Sistema Nervoso
O sistema nervoso de vertebrados é originado da ectoderme em uma região
chamada placa neural, é o primeiro sistema a se diferenciar e o último a completar
o desenvolvimento. Sendo o mais complexo e diferenciado sistema do organismo:
cumpre funções cruciais, tais como a função integradora que atua na coordenação
dos órgãos, regulando, por exemplo, a filtração renal, a frequência cardíaca e a
pressão arterial (Figura 1); função adaptativa do animal ao meio, como sudorese
e calafrio; funções sensoriais e motoras, as quais recebem estímulos internos ou
externos e respondem com contrações voluntárias ou involuntárias. Nos humanos
e em outros animais, também controla as emoções.

Figura 1 – Visão geral do SNC e SNP


Fonte: Adaptado de Moyes & Schulte, 2010

No ser humano, é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso


periférico (SNP). O SNC é composto por encéfalo e medula espinhal. No encéfa-
lo, encontramos: cérebro (telencéfalo-hemisférios cerebrais e diencéfalo-tálamo e
hipotálamo); cerebelo (metencéfalo), responsável pelo equilíbrio, coordenação mo-
tora e tônus muscular; e tronco encefálico, que se divide em mesencéfalo, situado

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cranialmente, bulbo (mielencéfalo), situado caudalmente, e é responsável pela res-
piração, pressão arterial, coração, movimentos peristálticos e vômito e é ponte,
localizado entre ambos. A medula espinhal faz a ligação com o SNP.

No SNP, temos 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos raquidianos,


que são formados de axônios e dendritos. Gânglios nervosos formados por corpos
celulares e receptores sensoriais que captam informações.

O SNP é dividido em somático e autônomo. O SNP somático é composto por


neurônios sensitivos e efetores que estão ligados às fibras musculares e é responsá-
vel pela contração voluntária dos músculos.

O SNP autônomo regula funções subconscientes como frequência cardíaca,


pressão arterial, diâmetro da pupila, motilidade intestinal, entre outras. E é dividido
em simpático, que está relacionado a atividades de estresse e refere-se à luta ou
fuga, e parassimpático, que atua nas situações de relaxamento, repouso e digestão.

Células do Sistema Nervoso


Os neurônios são as células funcionais mais abundantes de SN e geralmente pos-
suem longos prolongamentos, que têm a capacidade de responder a estímulos com
a modificação do potencial elétrico de suas membranas, os impulsos nervosos. Esta
célula nervosa é composta por: dendritos, que são prolongamentos numerosos
que têm a função de receber os estí-
mulos; corpo celular ou pericário,
local onde se localiza o núcleo, que
é o centro trófico da célula e tam-
bém capaz de receber estímulos; e
o axônio, que é um prolongamento
único, cuja função consiste em con-
duzir os impulsos que transmitem
informações do neurônio para ou-
tras células, sendo que podem me-
dir de alguns centímetros a alguns
metros (Figura 2).

Os neurônios sensoriais recebem


estímulos sensoriais do meio am-
biente e do próprio organismo, en-
viando para serem processados no
encéfalo. A resposta se dá através
dos neurônios motores que contro-
lam órgãos efetores, como fibras
musculares e glândulas exócrinas e
endócrinas. Os interneurônios esta- Figura 2 – Estrutura celular de um neurônio.
belecem conexões entre os neurô- No quadro abaixo a fenda sináptica
nios, formando circuitos complexos. Fonte: Adaptado de Moyes & Schulte, 2010

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As células da glia ou neuroglia (Figura 3) sustentam os neurônios e participam


de atividades relacionadas à nutrição, à reprodução e à defesa do tecido nervoso.

Os astrócitos possuem diversos prolongamentos que envolvem os capilares sanguí-


neos e os induzem a formar junções oclusivas que constituem a união hematoencefálica.

Os oligodendrócitos possuem poucos prolongamentos e localizam-se preferen-


cialmente próximos aos corpos celulares dos neurônios, constituindo células satéli-
tes, que formam uma relação simbiótica com esses neurônios. Essas células consti-
tuem a bainha de mielina do SNC.

A bainha de mielina é um invólucro de alguns axônios, formada por aproxima-


damente 80% de lipídeos e 20% de proteínas. As proteínas da mielina exercem fun-
ção estrutural na arquitetura da mielina
compacta, que é encontrada no Sistema
Nervoso Central (SNC), formada pelas
expansões aplanadas dos prolongamen-
tos dos oligodendrócitos em torno dos
axônios centrais, e no Sistema Nervoso
Periférico (SNP) é formada pelas célu-
las de Schwann. Devido à natureza li-
pídica, a bainha de mielina atua como
isolante, otimizando os impulsos nervo-
sos que passam apenas nos nódulos de
Ranvier, diminuindo o comprimento a
ser percorrido como visto na Figura 2.
Condução saltatória é nome desse tipo
de passagem de corrente, a velocidade
de transmissão nas fibras mielinizadas e
maior do que nas fibras amielinizadas.

A micróglia faz parte do sistema mo-


nonuclear fagocitário, encontra-se em
pequeno número no organismo, possui
prolongamentos curtos e está coberta
por saliências finas, o que confere a Figura 3 – Células da glia ou neuroglia
essa célula um aspecto espinhoso. Fonte: Adaptado de Moyes & Schulte, 2010

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Transmissão do Impulso Nervoso
Em repouso, os canais de íons sódio (Na+) da membrana do neurônio estão fe-
chados, impedindo sua entrada na célula, pois existe maior concentração deste íon
no meio extracelular e a força de difusão, ou seja, o gradiente de concentração está
a favor do influxo celular de sódio. Nessa situação, o meio extracelular está positivo
em relação ao meio intracelular e dizemos que a membrana está polarizada.

Quando ocorre um estímulo, os canais de sódio do neurônio se abrem e há


um influxo desse íon que é acompanhado pela pequena saída de íons potássio
(K+). Quando o meio intracelular fica mais positivo do que o extracelular, ocorre a
despolarização de membrana que causa o impulso nervoso. A despolarização da
membrana ao longo do axônio é denominada de onda despolarizante.

Após a passagem do impulso nervoso (despolarização), o sódio é lançado ativa-


mente para fora da célula pela bomba de sódio/potássio e, então, ocorre a repola-
rização da membrana que volta ao estado de repouso.

Sinapse
A porção terminal do axônio pode comunicar-se com outro neurônio, no caso
dos interneurônios, ou com outras células como as musculares e as glandulares,
no caso de neurônios motores. A região de comunicação é denominada sinapse,
que, na maioria das vezes, é química, mas também pode ser elétrica.
As sinapses elétricas são comumente encontradas em invertebrados, nos cir-
cuitos neurais que dão respostas à fuga. São mais simples e evolutivamente anti-
gas nos mamíferos adultos, são raras sendo mais comuns na fase de embriogênese.
Esse tipo de sinapse ocorre por junções comunicantes que unem uma célula a
outra por canais proteicos e permitem que íons passem diretamente de uma cé-
lula para outra.
As membranas das células pré e pós-sinápticas são separadas por um espaço
que varia de 20 a 50 nm, denominado de fenda sináptica. Na sinapse química, um
neurotransmissor liberado pela célula pré-sináptica na fenda excita a célula pós-
-sináptica. A despolarização da membrana pré-sináptica induz a abertura de canais
de cálcio, e o influxo desse íon induz a exocitose de vesículas sináptica contendo
neurotransmissores. Receptores da membrana pós-sináptica reagem com o neu-
rotransmissor promovendo sua despolarização. A junção de axônios de neurônios
motores com os miócitos forma a placa neural (junção neuromuscular), cujo neuro-
transmissor é a acetilcolina.
Explor

Miócito: célula muscular.

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Evolução do Sistema
Nervoso nos Invertebrados
A mais simples e primitiva forma de sistema nervoso é a rede nervosa presente
nas anêmonas e águas-vivas (cnidários), que não chega a formar nervos. Os neurô-
nios encontram-se dispersos em uma fina camada posicionados de forma aleatória
entre a ectoderme e a endoderme (os cnidários são diblásticos) em uma região
chamada mesogleia. Essa rede neural é encontrada na periferia de invertebrados
superiores e atua como um elemento auxiliar, também é encontrada no intesti-
no de vertebrados. A rede não possui polarização e a transmissão dos impulsos
é bidirecional, sendo os contatos sinápticos realizados nos cruzamentos da rede.
Os cnidários presentam muitas células sensoriais, principalmente nos tentáculos, e
integra estímulos apresentados aos quimiorreceptores com respostas musculares,
proporcionando a esse animal uma movimentação adequada no sentido de alcan-
çar sucesso em suas atividades.
Explor

Diblástico: seres que, durante o desenvolvimento embrionário, não desenvolve o mesoderma.

Os equinodermos, evolutivamente mais próximos dos vertebrados, também pos-


suem simetria radial e, portanto, também apresentam sistema nervoso descentrali-
zado, constituído por um anel nervoso perifaringeano do qual surgem cinco nervos
radiais com gânglios de onde partem os nervos periféricos.

Os grupos com simetria bilateral tiveram tendências evolutivas com a centraliza-


ção do sistema nervoso, que é a organização dos neurônios em áreas integrativas, e
com a cefalização que reúne estruturas e funções neurais em uma posição anterior,
a cabeça. É bem provável que a presença de uma região anterior uma direção pre-
ferencial de locomoção em animais bilaterais foram importantes para a evolução de
um sistema nervoso centralizado com cefalização.

Os platelmintos apresentam na região anterior dois gânglios cerebroides atuando


como centro de comando. De cada gânglio, estende-se um filamento nervoso em
direção à região posterior, nervos transversos unem esses filamentos formando
uma estrutura semelhante a uma escada de corda. Os nematelmintos apresentam
na região anterior um anel nervoso que circunda a faringe de onde partem dois
cordões nervosos ventrais e um dorsal.

Em animais com simetria bilateral mais complexa, a cefalização se torna visível


pela presença do cordão nervoso longitudinal que apresenta agregações de neu-
rônios, os gânglios nervosos que atuam como intermediadores de neurônios sensi-
tivos e neurônios, aqueles que promovem respostas.

Dos gânglios cerebroides dos anelídeos e artrópodes, estendem-se cordões ner-


vosos que apresentam gânglios segmentares, e dos cordões nervosos surgem os ner-
vos periféricos. Alguns insetos himenópteros apresentam alto grau de cefalização,

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com conexões razoavelmente densas para receptores sensoriais, insetos como abe-
lhas e formigas que apresentam organização social complexa, com a existência de
diversas castas com tarefas específicas.

Dos gânglios cerebroides dos gastrópodes, surgem dois cordões nervosos,


um deles composto por gânglios pedais, responsáveis pelo movimento e outro
composto por gânglios viscerais, responsáveis pelo funcionamento das vísceras.
Nos moluscos, o sistema nervoso é bem variado, os cefalópodes possuem sistema
central bem centralizado e representado por um encéfalo grande, semelhante aos
dos vertebrados.

Nos vertebrados, o encéfalo e a medula espinhal dorsal formam o sistema ner-


voso central (SNC); da medula, surgem nervos que formam o sistema nervoso peri-
férico (SNP). A Figura 4 apresenta o sistema nervoso de diferentes animais.
Explor

Cefalização e Sistema Nervoso: https://youtu.be/4HtfsnLsD0w

Evolução do Sistema
Nervoso nos Vertebrados
O anfioxo, um cefalocordado
ancestral dos vertebrados, apresen-
ta sistema nervoso reduzido com
tubo nervoso dorsal ramificado em
todas as regiões do corpo. O encé-
falo é minúsculo e está ligado a ór-
gãos sensoriais rudimentares pro-
cessando estímulos essencialmente
táteis, possuem receptores de ol-
fato e paladar e células especiali-
zadas em captar luminosidade, no
entanto, não conseguem reconhe-
cer comida ou perigo à distância.

Como já visto, o sistema nervoso


de todos os vertebrados é compos-
to de encéfalo e medula espinhal.
Durante o desenvolvimento embrio-
nário, o encéfalo é desenvolvido a
partir do tubo neural, subdivide-se
rapidamente em três vesículas en-
cefálicas primordiais: prosencéfa- Figura 4 – Sistema nervoso de diferentes filos
lo (cérebro anterior), mesencéfalo Fonte: Adaptado de HILL, et. al; 2012

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(Sistema Nervoso e Endócrino)

(cérebro médio) e rombencéfalo (cérebro posterior). As quais formam cinco ve-


sículas encefálicas secundárias: telencéfalo e diencéfalo (prosencéfalo), mesencé-
falo (cérebro médio), metencéfalo e mielencéfalo (rombencéfalo). Posteriormente,
as vesículas secundárias formarão o SNC dos vertebrados adultos: o telencéfalo
originará o córtex cerebral e o bulbo olfatório; o diencéfalo dará origem ao tálamo,
hipotálamo e hipófise. O cerebelo e a ponte se originam do metencéfalo e o bulbo
do mielencéfalo, como pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Divisões fundamentais do sistema nervoso central dos vertebrados


Fonte: Adaptado de Moyes & Schulte, 2010

Os peixes mantiveram o olfato e o paladar e adquiriram a linha lateral que auxi-


liou no equilíbrio e a visão em cores que lhes permitiu reconhecer presa e predador
a distância. Desenvolveram barbatanas para nadarem melhor. Nos anfíbios, as bar-
batanas transformaram-se em membros, importantes para a conquista do ambien-
te terrestre. O encéfalo continuou pequeno e cilíndrico. O olfato, tato, equilíbrio,
visão, audição e equilíbrio foram mantidos.

Alguns répteis atingiram tamanhos gigantescos, como os dinossauros, outros


produziram cascos protetores, como as tartarugas. Outras espécies conseguiram

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ficar em pé sobre os membros e correr ou usá-los, como armas, alterações vantajo-
sas para a predação e fuga em relação aos anfíbios.

Os crocodilos, descendentes dos arcossauros (dinossauros), possuem cérebro


maior e comportamento que, em muitos aspectos, mostram-se superiores aos rép-
teis modernos como as cobras e os lagartos. Para a informação a distância, os
répteis dependem mais da visão e do olfato do que da audição.

As aves descenderam de reptilianos, no entanto, possuem encéfalo relativa-


mente maior do que répteis do mesmo tamanho. Elas possuem boa visão, mas
o olfato não é tão importante para seres voadores quanto para seres terrestres.
Nos mamíferos, o encéfalo se tornou mais desenvolvido, o que contribuiu para
uma maior diversidade e conquista de ambientes variados como comportamentos
diversos. No homem, o aumento do encéfalo foi tão grande que o tornou o verte-
brado dominante do planeta. O bulbo olfatório se desenvolveu bem na maioria dos
mamíferos não humanos, e o olfato é mais importante para esses animais do que
os primatas mais próximos do homem, nos quais essa área diminuiu. No entanto,
nos humanos, houve aumento significativo do cerebelo e do tronco (Figura 6).

Figura 6 – Encéfalos de vertebrados, ilustrando o desenvolvimento filogenético. O aumento de volume e


de capacidade do telencéfalo e cerebelo é muito evidente
Fonte: Dyce – Tratado de Anatomia Veterinária, 2010

A. peixe (carpa), B. réptil (serpente), C. Ave (pato), D. mamífero (boi), E. humano


(homem). 1. telencéfalo, 2. mesencéfalo, 3ª e 3b. metencéfalo, 3ª. arquicerebelo,
3b. neocerebelo, 4. mielencéfalo, 5. medula espinhal.
Explor

Evolução do Sistema Nervoso em Vertebrados: https://youtu.be/QyJRDOJdgHA

Sistema Endócrino de Mamíferos


Como visto no início desta unidade, o sistema nervoso sensorial recebe estí-
mulos interno ou externo e induz o sistema endócrino a produzir hormônios que
realizaram diferentes mecanismos reguladores essenciais para o funcionamento or-
gânico, e contribuem para a homeostase do organismo.

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O sistema endócrino é comum a todos os vertebrados e alguns invertebrados,


que, apesar de não apresentarem a mesma estrutura do sistema endócrino dos
vertebrados, têm muitas semelhanças na estrutura e funcionalidade dos hormônios.

As glândulas endócrinas produtoras de hormônios, tais como a hipófise, hipo-


tálamo, tireoide, paratireoide, adrenais (suprarrenais), pâncreas, ovários e testículos
compõem o sistema endócrino. Existem também as glândulas exócrinas, mas elas
não produzem hormônios e sim substâncias que são lançadas para fora do corpo
como o leite produzido pelas glândulas mamárias ou o suor pelas glândulas su-
doríparas. Algumas substâncias produzidas pelas glândulas exócrinas podem ser
lançadas em cavidades corpóreas como a saliva produzida pelas glândulas salivares.

Glândulas Endócrinas e seus Hormônios


Os hormônios podem ser proteicos derivados da transcrição do DNA, ou protei-
cos derivados da tirosina e ainda existem os derivados de esteroides como colesterol
e, portanto, de origem lipídica. Eles auxiliam na regulação do meio interno, meta-
bolismo, equilíbrio energético, desenvolvimento e reprodução. Hormônios produzi-
dos por células glandulares caem diretamente na corrente sanguínea e vão agir em
órgãos distantes, onde são reconhecidos por receptores celulares específicos (Figu-
ra 7). Os receptores de hormônios proteicos ou peptídicos, tais como as da insulina
localizam-se na membrana plasmática, os receptores de hormônios lipídicos podem
estar no citoplasma ou no núcleo celular.

Figura 7 – Célula endócrina liberando hormônio em liquido circulatório (nos vertebrados-sangue)


que os transportam por longas distâncias para ativar receptores hormonais em outras células
Fonte: Adaptado de HILL, et. al; 2012

O hipotálamo e a hipófise armazenam e liberam hormônios que agem por todo


o organismo e são considerados o componente dominante do sistema endócrino.

Localizado na base do cérebro e acima da hipófise, encontramos o hipotálamo


que coleta informações do tálamo, do sistema óptico, do sistema límbico e outras
regiões cerebrais, e interage no controle da fome, da sede, da temperatura do
corpo, do balanço hídrico, da regulação energética, dos ritmos circadianos e ainda
controla o funcionamento da hipófise através de hormônios para a adenohipófise e
de conexões neurais para a neurohipófise.

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A neurohipófise secreta hormônios produzidos pelo hipotálamo. Um deles é
hormônio antidiurético (ADH), que atua no controle da excreção de água nos túbu-
los distais e ducto coletor dos néfrons. Também é chamado de vasopressina, pois
auxilia na regulação da pressão arterial. Quando a osmolaridade aumenta ou há
decréscimo da volemia, neurônios sensoriais do hipotálamo o estimulam a produzir
mais ADH que diminui a quantidade de água excretada pela urina e eleva a pressão
arterial. Um fator endógeno que diminui a produção de ADH é a elevação da pres-
são sanguínea e um exógeno é o consumo de bebidas alcoólicas.

A ocitocina (OCT) é outro hormônio produzido pelo hipotálamo e secretado


pela neurohipófise. O corpo do útero ao sofrer dilatações, no momento do parto,
estimula receptores para a produção de OCT que atinge a musculatura lisa do colo
do útero promovendo dilatações e contrações que facilitam o parto. A sucção de
leite pelo recém-nascido também estimula a produção de OCT que promove a con-
tração da musculatura lisa que circunda os alvéolos e ductos mamários e provoca
a ejeção de leite.

A adenohipófise sintetiza e armazena seus próprios hormônios, em resposta


aos hormônios hipotalâmicos. Os hormônios da adenohipófise têm ação direta
sobre diversas glândulas, como a tireoide, as adrenais, as mamárias e as gônadas.
O hormônio do crescimento (GH) que controla o crescimento e manutenção dos
tecidos também é produzido pela adenohipófise, assim como a prolactina que es-
timula as glândulas mamárias a produzirem leite, e outros hormônios também são
produzidos pela adenohipófise.

Gônada: designação genérica das glândulas sexuais (ovário e testículo) que produzem os
Explor

gametas (óvulos e espermatozoides).


Osmolaridade: molaridade de uma solução que exerce a mesma pressão osmótica que uma
solução ideal de uma substância não dissociada; relativo à quantidade de sais.
Volemia: volume sanguíneo.

Durante a noite, no escuro, a glândula pineal é estimulada a produzir melato-


nina que regula o ciclo circadiano; a claridade inibe a sua produção. A serotonina,
que é produzida em quantidades pequenas pela glândula pineal, regula o equilíbrio
do corpo, o humor, a memória e o aprendizado.

A glândula tireoide está localizada junto à laringe, anteriormente à traqueia, e


consiste de dois lobos conectados por um istmo. Produz: triiodotironina-T3, que esti-
mula e mantém os processos metabólicos; tetraiodotiroxina-T4 (tiroxina), que regula
o desenvolvimento e o metabolismo geral; e calcitonina, que regula a taxa de cálcio
no sangue, inibindo sua remoção dos ossos, e diminuindo a taxa plasmática de cálcio.
A falta de iodo na alimentação causa edema na tireoide que é conhecido como bó-
cio, doença comum nas comunidades que não usam sal marinho ou iodado.
As glândulas paratireoides estão incluídas na face posterior da glândula tireoide,
normalmente duas de cada lado, uma superior e outra inferior. Elas produzem

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o paratormônio (PTH), que estimula a remoção de cálcio da matriz óssea, a ab-


sorção de cálcio dos alimentos pelo intestino delgado e a reabsorção de cálcio
pelos túbulos renais e, como consequência, o aumento da concentração de cálcio
no plasma sanguíneo.
O timo é uma glândula do sistema linfoide, que nos adultos sofre involução e é
substituída por tecido adiposo. Encontra-se posteriormente ao osso esterno, entre
os pulmões e produz a timosina, que atua no sistema imunológico na maturação
dos linfócitos T.
As glândulas adrenais (suprarrenais) localizam-se na região superior dos rins e
estão divididas em região cortical e medular. A região cortical produz hormônios es-
teroides, como: testosterona em pequena quantidade; cortisona, que estimula a con-
versão de aminoácidos em glicose e a utilização de lipídeos, ao mesmo tempo em que
diminui a captação de glicose pelas células; e aldosterona, que aumenta a reabsorção,
nos túbulos renais, de água e de íons sódio e cloreto, aumentando a pressão arterial.
A região medular produz adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina),
hormônios do SN. A adrenalina promove taquicardia, aumento da pressão arterial e
das frequências cardíaca e respiratória, aumento da secreção do suor, da glicose sanguí-
nea, da atividade mental e constrição dos vasos sanguíneos da pele. A noradrenalina é
mediadora dos batimentos cardíacos, da pressão sanguínea, da taxa de conversão de
glicogênio em glicose para produção de energia, assim como outros benefícios físicos.
O pâncreas localizado na região inferior do estômago produz insulina nas cé-
lulas β das Ilhotas de Langerhans. Esse hormônio proteico aumenta a captação de
glicose pelas células e, no fígado, estimula a captação da glicose plasmática e a sua
conversão em glicogênio. Portanto, provoca a diminuição da concentração de gli-
cose no sangue. Nas células α das Ilhotas de Langerhans, é produzido o glucagon,
hormônio responsável por aumentar a glicemia sanguínea devido à degradação do
glicogênio hepático em glicose.
Os ovários localizados na cavidade pélvica produzem hormônios relacionados
ao desenvolvimento de características sexuais femininas, como o estrógeno que
promove o desenvolvimento dos caracteres sexuais femininos e do endométrio e
também estimula o crescimento e a calcificação óssea, inibindo a remoção desse
íon dos ossos e protegendo contra a osteoporose. A progesterona e os hormônios
luteinizante e folículo estimulante, juntamente com o estrógeno, regulam a mens-
truarão e a reprodução humana.
Explor

Endométrio: mucosa que recobre a face interna do útero.

Os testículos localizados na bolsa escrotal produzem hormônios relacionados


ao desenvolvimento de características sexuais masculinas. No período embrionário,
a testosterona promove o desenvolvimento dos testículos e depois dos caracteres
sexuais secundários masculinos.
E ainda temos tecidos como a placenta, que produz estrógeno e progesterona,
o coração, que produz o peptídeo natriurético atrial. No rim, é produzida a eri-
tropoietina. O estômago produz gastrina, secretina e colcistocinina e o intestino
delgado secretina, colecistoquinina e peptídeo inibidor gástrico.

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Sistema Endócrino Animal
A prolactina também age sobre o comportamento parental em aves, pois está
envolvida na produção e secreção leitosa denominada leite de papo para nutrição
inicial do filhote, já nos peixes teleósteos esse hormônio mantém a permeabilidade
das brânquias e regulação da osmolaridade.
Algumas glândulas produzem hormônios que têm uma determinada função
no homem e funções diferentes em outros animais, como, por exemplo, os hor-
mônios da tireoide são importantes na metamorfose de larvas para a fase adulta
em anfíbios.
Existem hormônios relacionados com a pigmentação da pele e pelo de diversos
grupos de animais, como o hormônio melanotrófico, produzido pela hipófise, que
controla a pigmentação em representantes de todos os grupos de vertebrados.
Devido a mudanças na intensidade luminosa, na cor do ambiente ao seu redor ou
no contexto social hierárquico, alguns invertebrados, peixes teleósteos e répteis mu-
dam de cor rapidamente. Nesses animais, os sistemas nervoso e endócrino atuam
conjuntamente produzindo o hormônio concentrador de melanina, que provoca
palidez na pele, o hormônio estimulador de melanócito, que gera aumento na co-
loração da pele, a melatonina e as catecolaminas, que também contribuem para as
alterações do padrão de cores.
Na primavera e no verão, a temperatura é mais favorável e há maior disponibi-
lidade de alimentos, portanto, a grande parte dos animais tem o seus ciclos repro-
dutivos programados para essas épocas, que coincidem com maior período de luz.
O hipotálamo percebe a incidência luminosa e através da glândula pineal começa
a produzir gonadotrofinas para a preparação reprodutiva.
São três os principais hormônios que controlam a metamorfose dos insetos:
ecdisona, que é um esteroide; hormônio juvenil, que é um terpeno derivado de
ácido graxo; e o hormônio proteico protorácico (PTTH).

GARCIA, E. S. et al. O sistema neuroendócrino de insetos. Tópicos Avançados em Entomolo-


Explor

gia Molecular. [Online]. INCT-Molecular Entomology, p. 24, 2012.


Disponível em: http://bit.ly/2jPG5YG

Os feromônios são sinalizadores químicos intraespecíficos utilizados por um


diferentes tipos de animais para diversas funções, como, por exemplo: perse-
guição de um parceiro em potencial, cópula, defesa de território, agregação,
entre outros.

Intraespecífico: da mesma espécie.


Explor

Melanócito: célula da epiderme que sintetiza tirosina e possui melanina.

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UNIDADE Informação e Coordenação
(Sistema Nervoso e Endócrino)

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Princípios de Fisiologia Animal
MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto
Alegre (RS): Artmed, 2010. 756p. e-book

Leitura
1º Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparada
Departamento de Fisiologia – Instituto de Biociências – USP
http://bit.ly/2ketzlE
Hormônios dos invertebrados (crustáceos)
Hormônios dos invertebrados (crustáceos). Cienc. Cult., São Paulo , v. 62, n. spe1,
p. 28-29, 2010.
http://bit.ly/2kcJRLP
Feromônios: Comunicação Química?
WELTER, F. A. Feromônios: Comunicação Química? In: OS DESAFIOS DA ESCOLA
PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE, 2014. São
Jorge do Oeste – UNIOESTE.
http://bit.ly/2kfYApl
A Comunicação Química entre os Insetos: Obtenção e Utilização de Feromônios no Manejo de Pragas
THOMAZINI, M. J. A comunicação química entre os insetos: obtenção e utilização de
feromônios no manejo de pragas. Embrapa Florestas-Capítulo em livro científico
(ALICE), 2009.
http://bit.ly/2kdXXfW

20
Referências
DYCE, K. M. Tratado de Anatomia Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro-RJ: Elsevier,
2010. 872p.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de


Janeiro-RJ: Elsevier, 2011. 1128p.

HILL, R. W.; WYSE, G. A.; ANDERSON, M. Fisiologia Animal. 2. ed. Porto


Alegre-RS: Artmed, 2012. 894p.

MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto


Alegre-RS: Artmed, 2010. 756p.

RANDALL, D.; BURGGREN, W.; FRENCH, K. Eckert Fisiologia Animal:


Mecanismos e Adaptação. 4. ed. Rio de Janeiro-RJ: Guanabara Koogan, 2014. 729p.

SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia Animal e Comparada. 5. ed. São Paulo-SP:


Livraria Santos, 2002. 600p.

TORTORA, G. J. Corpo Humano – Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 4. ed.


Porto Alegre-RS: Artmed, 2010. 537p.

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