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NEUROCIÊNCIA

E APRENDIZAGEM
ATIVA

WESLEI JACOB
EXPEDIENTE

Coordenador(a) de Conteúdo
Juliana Dalcin Donini e Silva
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Camila Luiza Nardelli
Laura Janke
Fotos
Shutterstock

FICHA CATALOGRÁFICA

C397 Centro Universitário Leonardo da Vinci.


Núcleo de Educação a Distância. JACOB, Weslei.
Neurociência e Aprendizagem Ativa / Weslei Jacob. - Indaial, SC:
Arqué, 2023.

168 p.

“Graduação - EaD”.
1. Neurociência 2. PAprendizagem 3. EaD. I. Título.

CDD - 612

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.

Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Impresso por:
RECURSOS DE IMERSÃO

AP RO F U NDA NDO EU INDICO

Utilizado para temas, assuntos Utilizado para agregar


ou conceitos avançados, um conteúdo externo.
levando ao aprofundamento Utilizando o QR-code
do que está sendo trabalhado você poderá acessar links
naquele momento do texto. de vídeos, artigos, sites,
etc. Acrescentando muito
aprendizado em toda a sua trajetória.
P E N SA N DO J UNTO S

Este item corresponde a uma PL AY NO CONHECIMENTO

proposta de reflexão que pode


ser apresentada por meio de Professores especialistas
uma frase, um trecho breve ou e convidados, ampliando
uma pergunta. as discussões sobre
os temas por meio de
fantásticos podcasts.

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

INDICAÇÃO DE FIL ME
Utilizado para desmistificar
pontos que possam gerar
confusão sobre o tema. Após o Uma dose extra de
texto trazer a explicação, essa conhecimento é sempre
interlocução pode trazer pontos bem-vinda. Aqui você terá
adicionais que contribuam para indicações de filmes que
que o estudante não fique com se conectam com o tema
dúvidas sobre o tema. do conteúdo.

INDICAÇÃO DE L IVRO

Uma dose extra de


conhecimento é sempre
bem-vinda. Aqui você terá
indicações de livros que
agregarão muito na sua
vida profissional.

3
SUMÁRIO

5UNIDADE 1

COMO FUNCIONA O SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO . . . . . . . . . . . . . 6

SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E SINAPSES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

EVOLUÇÃO DO ESTUDO DO CÉREBRO E TEORIA NEURONAL . . . . . . . . . . . . . . . . 42

59UNIDADE 2

NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

O ALICERCE DA APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS . . . . . . . . . . . . . . 74

O ALICERCE DA APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS . . . . . . . . . . . . . . 96

115
UNIDADE 3

FUNÇÕES EXECUTIVAS E APRENDIZAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

COMO O CÉREBRO FUNCIONA PARA APRENDER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

EDUCAÇÃO COGNITIVA E BIOFEEDBACK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

4
TEMA DE APRENDIZAGEM 1

COMO FUNCIONA O SISTEMA


NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Introduzir conteúdos sobre a subdivisão anatômica do sistema nervoso.

Apresentar a subdivisão do sistema nervoso central e periférico.

Apresentar as funções do sistema nervoso central e periférico.

6
UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Prezado(a) aluno(a), neste tema de aprendizagem estudaremos a respeito do
funcionamento neurológico, no qual esse mecanismo complexo, denominado
sistema nervoso, integra-se com diversas partes independentes do corpo humano.
Contudo o controle, o funcionamento e o processamento das funções corporais
ocorrem por meio de um trabalho conjunto com o sistema endócrino. Na organi-
zação do sistema nervoso, evidenciam-se diferentes subdivisões, como o sistema
nervoso central e periférico.

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

SUBDIVISÃO ANATÔMICA DO SISTEMA NERVOSO

Caro(a) aluno(a), iniciamos


esse tema de aprendizagem com
o seguinte questionamento: o
que controla o funcionamento
corporal? Isso mesmo, o sistema
nervoso, juntamente com o
sistema endócrino, controla
todas as ações voluntárias
e involuntárias do corpo
humano. Para que esse controle
seja possível, o sistema nervoso
é subdividido em diversas
estruturas. A Figura 1, a seguir,
apresenta a organização do sistema
nervoso e, apoiando-se nela,
ficará mais fácil o entendimento
dos conhecimentos de comando
e controle das funções corporais.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

Figura 1 - Organização do Sistema Nervoso

Fonte: adaptada de Guyton e Hall (2017).

Descrição da imagem: é observado a subdivisão do sistema nervoso em sistema nervoso central e periférico. O
sistema nervoso central se subdivide em encéfalo e medula espinal. O encéfalo se ramifica em cérebro, cerebelo
e tronco encefálico, este último é formado por mesencéfalo, ponte e bulbo. O sistema nervoso periférico, por sua
vez, é composto por 12 pares de nervos cranianos, 31 pares de nervos raquidianos e as terminações nervosas.

Na Figura 2, a seguir, podemos observar essas subdivisões no corpo humano:

Figura 2 - O Sistema Nervoso / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 573).

Descrição de Imagem: verifica-se na imagem a ilustração de um ser humano em posição anatômica com o siste-
ma nervoso evidenciado. São apresentados o cérebro e medula espinal como componentes do sistema nervoso
central. Observa-se no sistema nervoso periférico os nervos cranianos e espinais, gânglios, plexos entéricos no
intestino delgado e os receptores sensoriais da pele.

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UN I AS S ELV I

Para que seja possível o controle das funções mus- controle das
culares e metabólicas, o sistema nervoso conta funções musculares
com uma complexa rede de neurônios que so- e metabólicas
mam, aproximadamente, 90 bilhões de unidades
(PIVETTA, 2008). Evidentemente, a maior parte desses neurônios está localizada
no encéfalo, mais especificamente no cérebro, uma das mais importantes estru-
turas neurológicas existentes.
A composição do encéfalo, ainda, conta com cerebelo e tronco encefálico,
este, por sua vez, apresenta uma nova subdivisão, mesencéfalo, ponte e bulbo.
Observe a Figura 3, a seguir, que está em um corte no plano sagital (separa o
corpo em duas metades iguais). Nesta ilustração, é possível perceber as estruturas
que organizam e compõem o encéfalo; nela, podem ser observados o cérebro,
cerebelo, tronco encefálico e a medula espinal.

Figura 3 - Vista do plano sagital do sistema


nervoso central
Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 622).

Descrição de imagem: são apresentadas duas imagens cortadas no plano sagital, dividindo o encéfalo em duas
metades iguais para que seja possível ver as estruturas neurológicas mediais. A primeira imagem apresenta o
diencéfalo, tálamo, hipotálamo, glândula pineal (parte do epitálamo). Verifica-se ponte, bulbo e mesencéfalo que
compõem o tronco encefálico. Se observa ainda cerebelo, medula espinal, cérebro e a hipófise. A segunda imagem
retrata praticamente as mesmas estruturas, com diferença apenas no tipo de ilustração.

Agora, com esse pequeno conhecimento a respeito das subdivisões do encéfalo,


acrescentado ao que você já sabe sobre a medula espinal, será formada uma das
mais importantes regiões de estudos e análises dentro da neurociências: o sistema
nervoso central (SNC).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

O sistema nervoso, em sua subdivisão, ainda, conta com o sistema nervoso


periférico (SNP), composto por nervos cranianos, que são ligados ao encéfalo, e
nervos raquidianos ou periféricos, que ficam conectados à medula espinhal, ter-
minações nervosas e gânglios.

Para explicar melhor, os nervos têm a função de levar informações do encéfalo até
os tecidos periféricos, como os músculos. Quando isso ocorre, podemos afirmar
que esses nervos apresentam características motoras ou eferentes.

P E N SA N D O J UNTO S

As glândulas e os adipócitos também respondem a ações de comando emitidas


pelo SNC. Por outro lado, se as informações são levadas da periferia corporal
para serem processadas no sistema nervoso, denominamos de nervos sensi-
tivos ou aferentes.

É bem verdade que existem nervos que realizam as duas funções, tanto de levar para
processamento encefálico, como disparar informações para resultar em atividades
diversas de nosso organismo. Esses são denominados nervos do tipo misto.
Existem 12 tipos de nervos cranianos, cada um com uma função específica,
conforme apresentado no quadro a seguir:

Nº Nome Tipo Função


I Olfatório Sensitivo Olfato.
II Óptico Sensitivo Visão.
III Oculomotor Misto Movimentos oculares, acomodação.
IV Troclear Motor Movimentos oculares.
V Trigêmeo Misto Sensibilidade da face, mastigação.
VI Abducente Motor Movimentos oculares.
VII Facial Misto Expressão facial, salivação, lacrimejamento.

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UN I AS S ELV I

VIII Vestibulococlear Misto Audição, equilíbrio.


IX Glossofaríngeo Misto Sensibilidade oral, deglutição, salivação.
X Vago Misto Sensibilidade, movimentos viscerais.
XI Acessório Motor Movimentos da cabeça.
XII Hipoglosso Motor Movimentos da língua.
Quadro 1 - Os nervos cranianos / Fonte: Lent (2013, p. 31).

Evidencia-se que os 12 nervos cranianos, em grande parte, atuam no controle da


cabeça e do pescoço, com exceção no nervo vago X. A medida que esses nervos
são encaminhados aos tecidos alvos espalhados em todo o corpo humano, eles
se ramificam, ficando cada vez menores.
Imagino que você deve estar preocupado com essas relações com anatomia
humana e seus exercícios de memorização.

VOCÊ SABE RESPONDER?


Para tanto, peço que faça a seguinte reflexão: se os nervos cranianos estão
intimamente ligados ao encéfalo, em qual ponto de nosso organismo estão
localizados os nervos raquidianos ou periféricos?
A resposta é: junto a nossa medula, nossa coluna vertebral.
Os 31 pares de nervos raquidianos são originados a partir da medula espinal e
distribuídos pelas vértebras que unidas formam a coluna vertebral. Mas para
conseguir explicar a você, acompanhe meu raciocínio: uma vértebra de nossa
coluna está posicionada de tal modo, que existirá uma saída para nervos, lo-
calizada na face anterior, mais próxima de nosso abdômen, e outra posterior,
posicionada em direção às nossas costas. Pois bem, agora, ficou fácil, já que
em uma mesma vértebra duas porções de nervos surgirão: os nervos motores,
responsáveis pelos movimentos teciduais, que emanam da saída anterior de
cada vértebra, e os nervos sensitivos, que partem da parte posterior de cada
estrutura vertebral.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

VOCÊ SABE RESPONDER?


Agora, você deve se perguntar: o que são as terminações nervosas e os gânglios?

Pois bem, as terminações nervosas são a parte final de um nervo, local onde trocas
de informações ocorrerão, com um tecido alvo ou mesmo com outros nervos.
Além disso, as terminações nervosas integram o organismo com o ambiente por
meio de receptores localizados na superfície corporal, os quais captam estímulos
luminosos, olfativos, gustativos, de temperatura, de pressão, táteis e de dor. Já os
gânglios são agregados de corpos celulares de neurônios localizados fora do
sistema nervoso central.
Para elucidar melhor a você o que é um gânglio neuronal, imagine que
existe um neurônio que emana de nosso encéfalo e percorre nossa coluna. Ima-
gine-o inteiriço, que começa em nossa cabeça e se prolonga até nossa coluna.
Agora, imagine outro neurônio/nervo, que inicia em nossa coluna e se prolonga
até um músculo. Pois bem, os gânglios são formados por redes complexas de
corpos celulares de neurônios, os quais conectam diferentes partes do corpo, por
exemplo o SNC e o SNP.

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UN I AS S ELV I

IN D ICAÇÃO DE LI V RO

Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltip-


las eficiências para uma educação inclusiva
Sinopse: A obra, de Marta Pires Relvas, é ideal para profission-
ais da educação, pais e todos os responsáveis pelo processo de
educar pessoas, conhecendo exatamente as dimensões que o
humano possui na teia complexa da vida, que é o aprendiza-
do. Qual o motivo que determinadas pessoas aprendem e out-
ras não? Muitos fatores foram estudados, várias estratégias
metodológicas foram aplicadas, porém uma inesgotável, sem
dúvida nenhuma, é a biologia do afeto para acolher o humano
que tem expectativas e curiosidades do que virá a aprender. É
um livro para todos, com linguagem fácil, mostrando como a
Neurociência pode ser aplicada em sala de aula, pelo funcion-
amento dos estímulos cerebrais, despertando inteligências
com a biologia do afeto e amor, criando vínculos e conquistas
solidárias em nosso cotidiano, por meio da observação, inter-
ação e acolhida a todos que aprendem.

SISTEMA
NERVOSO
CENTRAL E
SISTEMA NERVOSO
PERIFÉRICO

Ao analisar a Figura 3, apresentada


anteriormente, podemos perceber que o sistema
nervoso central (SNC) é composto por partes muito
importantes, são elas: telencéfalo, parte mais volumosa do encéfalo,
composto por núcleos da base e córtex cerebral; o diencéfalo no cérebro;
mesencéfalo; ponte e bulbo, no tronco encefálico e cerebelo.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

AP RO F U N DA NDO

O diencéfalo é uma continuidade do mesencéfalo, composto por calibrosos


feixes de fibras que se conectam ao telencéfalo, estando agrupado com tálamo,
epitálamo e hipotálamo (LENT, 2013). A junção de todas essas partes compõe
o encéfalo.

O SNC, ainda, é composto pela medula espinal. Comumente, por estar “fora”
da nossa caixa craniana, muitos indivíduos cometem o erro de relacionar a
medula espinal com o sistema nervoso periférico (SNP), quando, na verdade,
ela integra o SNC.
O SNP é composto por nervos, terminações nervosas e gânglios que
deixam o encéfalo ou a medula espinal para levar ou trazer informações dos te-
cidos corporais. Em outras palavras, tudo que se encontra dentro de nossa cabeça
e prolonga-se até nosso cóccix faz parte do SNC, por outro lado, tudo que sair
dessas regiões contempla o SNP.
Caro(a) aluno(a), de acordo com a subdivisão do sistema nervoso apresen-
tada, faço-lhe uma pergunta:

VOCÊ SABE RESPONDER?


Em qual local do nosso corpo estão armazenadas as nossas memórias vol-
untárias?

Por exemplo, segurar um lápis ou uma caneta para escrever. Se, porventura, ficou
em dúvida, é porque sempre nos foi relatado que quem controla o nosso corpo
é o cérebro, e já percebeu que esse órgão é, apenas, uma porção de um amplo
sistema de processamento e análises.
As ações motoras voluntárias dependem de memórias e aprendizagens, ou
seja, uma ação motora será processada em uma região específica, denominada
de córtex motor.

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UN I AS S ELV I

Essa região está localizada abaixo da “moleiri-


Você sabe
nha” de uma criança e contém neurônios que irão
onde fica?
memorizar e analisar tudo o que se refere aos movi-
mentos corporais. Desse mesmo modo ocorre com outras informações, como as
percepções táteis, visuais, auditivas etc., ou seja, nosso encéfalo contém regiões
específicas para processar coisas específicas.
Conforme a estrutura, ou organização do Sistema Nervoso, apresentada na
aula anterior, Guyton e Hall (2017) subdividem o SNC em três níveis de fun-
cionalidades específicas:

■ NÍVEL 1
Nível medular
■ NÍVEL 2
Nível cerebral inferior
■ NÍVEL 3
Nível cerebral superior ou nível cortical

Inicio essa explicação com o seguinte questionamento: ao encostar em uma su-


perfície quente, talvez uma panela, a retirada de sua mão ocorre por ou por
comandos voluntários disparados do seu córtex motor?
Se respondeu que sua ação motora ocorreu por comandos voluntários ad-
vindos de seu encéfalo, você errou. Existe, em nossa medula, estruturas deno-
minadas de interneurônios, estes recebem informações aferentes ou sensoriais,
advindos dos termorreceptores localizados em sua mão.

A função do interneurônio é realizar uma triagem das informações que devem ser
analisadas pelo encéfalo (FOSS; KETEYIAN, 2010).

Agora, reflita comigo: sua mão está queimando, a informação chega ao in-
terneurônio. Este percebe que a temperatura está muito elevada e envia uma
informação ao encéfalo com o seguinte comando: “está queimando, o que devo
fazer?”. Neurologicamente, busca-se uma solução plausível e eficiente para esse
problema. Dessa forma, ao se consultar as memórias já experienciadas, um co-
mando motor será gerado com a finalidade de retirar a mão da superfície quente.

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Você concorda comigo que até isso acontecer, por mais rápido que seja,
a queimadura já teria ocorrido? Pois bem, o interneurônio, antes mencionado,
atua como um “gerente”, ele realizará a triagem do que deve ou não subir para
análise encefálica. Em uma situação como a exemplificada, essa estrutura enviará
uma informação motora, sem o consentimento neurológico superior, ou seja, a
informação chega em nossa medula espinal e retorna para a nossa mão. Conhe-
cemos esse evento como arco reflexo.
O nível reflexivo do SNC comanda os reflexos corporais, como:

• Movimentos gastrointestinais;
• Movimentos de marcha;
• Controle dos vasos sanguíneos e
• Muitos outros.

Pense sempre do seguinte modo: se não deu tempo Reflexo


de ver, sentir ou ouvir e, ainda assim, algum mo-
vimento ocorreu, é reflexo. Por exemplo, piscamos sem pensar quando há
poeira entrando nos olhos; se eu jogo um estojo em você e, em reposta, você
desvia, com velocidade ou tempo de reação, ou, ainda, você viu o estojo e to-
mou uma decisão de segurá-lo ou desviar dele, a análise foi em nível superior
e não medular.
Agora está fácil de explicar o nível três: cortical
nível subconsciente
ou cerebral superior, este processa tudo voluntaria-
ou primitivo
mente, como análises de questões de prova; a busca
em nossas memórias diversas e respostas para solucionar os problemas cotidia-
nos apresentados etc.
Para finalizar os três níveis, falta-nos esclarecer o funcionamento do nível
dois, cerebral inferior ou, se preferir, pode interpretá-lo como nível subcons-
ciente ou primitivo, localizado na base do encéfalo (GUYTON; HALL, 2011).

VOCÊ SABE RESPONDER?


Uma pergunta rápida: está pensando para respirar nesse momento ou alterar
sua pressão arterial?

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UN I AS S ELV I

Não, é claro que não. Essa ação, entretanto, está constantemente acontecendo e
pode ser definida como o controle subconsciente que ocorre, principalmente, ao
nível do bulbo e da ponte. O controle do equilíbrio é função combinada de partes
mais antigas do cerebelo com a substância reticular do bulbo, ponte e mesencéfalo.
Os reflexos de alimentação, tais como a salivação em resposta ao sabor dos
alimentos e o lamber dos lábios, são controlados por centros localizados no bulbo,
ponte, mesencéfalo, amígdala e hipotálamo. Da mesma forma, muitas respostas
emocionais, tais como a raiva, a excitação, as atividades sexuais, a reação à dor
ou ao prazer podem ocorrer em animais sem córtex cerebral (LENT, 2013; MA-
CARDLE; KATCH; KATCH, 2015).

A P RO F UNDA NDO

Assim, cada região do sistema nervoso apresenta capacidades de proces-


samento e funções específicas. Diversas funções são originárias do subcon-
sciente, ou seja, das regiões encefálicas inferiores. Outras são desenvolvidas ou
integradas pela medula espinal, sobretudo, a região cortical, de nível superior
que apresentará ampla capacidade de processamento e funcionalidade, per-
mitindo acesso ao mundo do pensamento.

Caro(a) aluno(a), é bem verdade que, até aqui, apresentamos em grande parte o
SNC e, ainda, precisamos esclarecer aspectos referentes ao SNP, mesmo que nas
entrelinhas dos parágrafos anteriores isso já tenha ocorrido. Diferentemente do
SNC, que é compactado em uma massa tecidual bastante densa e complexa, o
SNP é disperso em nosso organismo, por prolongamentos neuronais denomi-
nados de nervos, além de contar com corpos celulares agregados, que fora do
SNC formam os gânglios. Os termos “nervos” e “gânglios” indicam os condutos
de comunicação do SNC com os diversos tecidos e órgãos que compõe o corpo
humano (LENT, 2013).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 1

E U IN D ICO

Clique no QR Code para assistir ao vídeo “o Cérebro Huma-


no”. Neste vídeo são discutidos de modo específico e interati-
vo a evolução e o funcionamento do sistema nervoso. Neste
documentário, são apresentados inúmeros aspectos sobre o
funcionamento neurológico, no qual as discussões favorecem
para a maior compreensão sobre as especificidades do encé-
falo humano.
Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso uti-
lizará seu pacote de dados (ou wi-fi) para ser exibido.

NOVO DESAFIO
Neste tema de aprendizagem abordamos alguns princípios da neuroanatomofi-
siologia do cérebro, com foco na subdivisão anatômica do sistema nervoso, tanto
o central quanto o periférico.
Compreendemos inúmeras informações sobre a organização do sistema ner-
voso central e suas subdivisões que elucidam os mecanismos de comunicação
neuronal para controlar as ações de diversos tecidos corporais. Fica evidenciado
que a abordagem neurológica para processar harmonicamente o funcionamento
do corpo humano perpassa pela atividade direta do sistema nervoso central,
periférico e autônomo.

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UN I AS S ELV I

Foi observado que cada subdivisão do sistema nervoso contempla um de-


terminado tipo de comando e controle. Desse modo, elucidou-se que o sistema
nervoso central, em sua porção superior ou cortical, além de armazenar milhares
de memórias, atua no processamento e controle voluntário das mais diferentes
tomadas de decisão. Por outro lado, a porção subcortical do sistema nervoso cen-
tral atua no controle das respostas do subconsciente e, por fim, a porção medular
contempla as respostas reflexas.
O sistema nervoso periférico é responsável por distribuir as informações
advindas do sistema nervoso central, por meio de diversos tipos de nervos. O
sistema nervoso autônomo, contudo, é uma porção do sistema nervoso central
que atua de forma independente, controlando atividades estressoras ou relaxantes
de praticamente todos os órgãos corporais.
Siga firme aprofundando seus estudos neste tema tão importante.

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VAMOS PRATICAR

1. O sistema nervoso central apresenta uma vasta possibilidade de processamento de


informações. Para tanto, recebe estímulos de todas as estruturas corporais, bem como
envia comandos para cada porção corpórea existente.

Sobre essa temática, julgue as afirmativas a seguir:

I - Os estímulos captados por receptores sensoriais são enviados ao sistema nervoso


central de maneira eferente, com a finalidade de realizar trabalho.
II - O sistema nervoso central é composto por encéfalo e medula espinal. O encéfalo
se divide em diversas outras estruturas, já a medula espinal dará início ao sistema
nervoso periférico.
III - O sistema nervoso central apresenta três níveis importantes, sendo eles: cortical,
subcortical e medular.
IV - O processamento do sistema nervoso central ocorre de maneira individua-
lizada, com pouca relação com o sistema nervoso periférico e autônomo.

É correto o que se afirma em:

a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) I e III.
e) II, III e IV.

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2
VAMOS PRATICAR

2. O sistema nervoso controla a atividade muscular, os eventos viscerais e a velocidade


de secreção de algumas glândulas endócrinas. Já o sistema endócrino controla as
funções metabólicas do corpo humano e, juntos, esses sistemas regulam a maior parte
das funções corporais. O sistema nervoso humano tem características específicas,
adquiridas em cada estágio do desenvolvimento evolutivo, o que possibilita receber
informações sensoriais (aferentes) e enviar informações para tecidos ou órgãos alvos
(eferentes). Desse modo, é possível provocar reações imediatas, ou formar memórias
a serem guardadas no cérebro por minutos, semanas ou anos, podendo ajudar a de-
terminar as reações corporais em data futura.

Sobre o sistema nervoso central, assinale a alternativa correta.

a) Atividades subconscientes, como a salivação, em resposta ao sabor dos alimentos e


o lamber dos lábios, são processadas em nível medular.
b) O armazenamento de informações, funções precisas e definidas são processados em
nível cerebral superior ou cortical.
c) Movimentos de marcha, reflexos musculares e controle de vasos sanguíneos locais
são processados em nível cerebral inferior ou subcortical.
d) O nível cerebral superior ou cortical é composto por medula, mesencéfalo, ponte e
bulbo.
e) O nível medular é responsável pelos reflexos caracterizados por uma análise bem
elaborada, após a observação. A partir dessa situação, é visto que este nível é capaz
de processar uma informação a nível cerebral inferior ou subcortical.

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2
REFERÊNCIAS

CURI, R. Fisiologia básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. FOX - Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.

LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-


gan, 2013.

MACARDLE, W. D; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Nutrição, Energia e


Desempenho Humano. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

PIVETTA, M. Na raiz do Alzheimer. Pesquisa FAPESP, São Paulo, e. 153, nov. 2008. Dispo-
nível em: https://encurtador.com.br/akGL1. Acesso em: 3 nov. 2020.

RELVAS, M. P. Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas eficiências


para uma educação inclusiva. 6. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2015.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia.


Porto Alegre: Artmed, 2016.

TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.

2
2
GABARITO

1. D.

2. B.

2
2
TEMA DE APRENDIZAGEM 2

SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E


SINAPSES
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Aprender a função do Sistema Nervoso Autônomo Simpático.

Aprender a função do Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático.

Aprender o funcionamento sináptico para a transmissão de informações


neurais.

2
2
UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Prezado(a) aluno(a), neste tema de aprendizagem estudaremos a respeito da dis-
posição neuronal bem como o mecanismo sináptico, elucidando toda a trans-
missão de informações entre células nervosas ou tecidos-alvo.
Observaremos a importância das respostas autônomas controladas via sis-
tema nervoso autônomo simpático ou parassimpático, que excitam ou relaxam,
respectivamente, a atividade dos diversos sistemas anatomofisiológicos.
Bons estudos!

SISTEMA NERVOSO
AUTÔNOMO

Anatomicamente, o siste-
ma nervoso é composto por
SNC e SNP. Funcionalmen-
te, o SNP é subdividido em
sistema nervoso somático e
sistema nervoso autônomo
(SNA). O sistema nervoso
somático é responsável pela
inervação da pele, múscu-
los e articulações; por outro
lado, o SNA é responsável
pela inervação sensitiva das
vísceras, controle motor dos
músculos lisos e glândulas exócrinas.
O SNA é parte funcional importante do sistema nervoso, auxiliando no con-
trole da homeostase corporal. Esta tarefa de buscar o equilíbrio constante do
funcionamento corporal ocorre de modo autônomo e independente da nossa
mente consciente, desse modo, raramente percebemos seu funcionamento (PAR-
KER, 2014). O SNA é ativado pela medula espinal, tronco cerebral e hipotálamo.
Também pode operar por reflexos viscerais (subconsciente), além do córtex, que
pode influenciar diretamente em seu controle (GUYTON; HALL, 2017).

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O funcionamento do SNA ocorre por meio


respostas
de respostas involuntárias, podendo acontecer
involuntárias
de maneira imediata ou duradoura, e enviar co-
mandos a três destinos principais: músculos lisos de diversos órgãos e vasos
sanguíneos, músculo cardíaco e algumas glândulas (PARKER, 2014).

Resumidamente, atua diretamente sobre as funções vitais do corpo humano,


com a capacidade de dobrar a frequência cardíaca em menos de cinco segundos,
também pode se elevar a pressão arterial a níveis alarmantes ou reduzi-la em se-
gundos a ponto de levar o indivíduo ao desmaio. Também é assim para a sudorese,
esvaziamento da bexiga etc. (GUYTON; HALL, 2017).

Percebeu algo no controle involuntário do SNA? Ele apenas dispara infor-


mação eferente, efetora ou motora e, de acordo com a necessidade corporal, irá
disparar da medula espinal para os tecidos alvos. Para tanto, existe uma nova
subdivisão. Prometo a vocês que essa é bem fácil de se compreender: o SNA é
subdividido em Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Sistema Nervoso Au-
tônomo Parassimpático (GUYTON; HALL, 2017; PARKER, 2014).
Essas duas porções do SNA atuam, de maneira antagônica, uma relação
de “puxa-empurra”, conforme se observa nas Figuras 1 e 2, as quais demonstram
o controle simpático e parassimpático, respectivamente.

AP RO F U N DA NDO

Isso significa que elas atuam sobre os mesmos tecidos, porém de formas opos-
tas, estimulando ou inibindo a salivação, dificultando ou facilitando o aporte de
oxigênio para os pulmões, estimulando ou inibindo a atividade gastrointestinal
etc. (GORDO, 2014; DARIO et al., 2016; FERREIRA et al, 2017).

Vale ressaltar, aqui, que ambos os sistemas, sempre, estão atuando; a inten-
sidade, no entanto, da ativação de cada um deles se modifica (PARKER, 2014;
SILVERTHORN, 2017).

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UN I AS S ELV I

Figura 1 - Sistema Nervoso Autônomo Simpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 678).

Descrição de imagem: observa-se na figura o sistema nervoso autônomo simpático, evidenciando um esquema
que se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são representados os
neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (os nervos emanam da região torácica e lombar) e os neurônios
pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a distribuição e atividade dos neurônios pós-ganglio-
nares sob músculos lisos, vasos sanguíneos e glândulas dos seguintes órgãos: olhos, coração, pulmão, fígado,
rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas são alvo da parte simpática
do sistema nervoso autônomo.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

Figura 2 - Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 681).

Descrição de imagem: observa-se na figura o sistema nervoso autônomo parassimpático, evidenciando um


esquema que se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são re-
presentados os neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (surgem especialmente do encéfalo e da região
sacral ao final da medula espinal) e os neurônios pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a
distribuição e atividade dos neurônios pós-ganglionares sob músculos lisos e glândulas dos seguintes órgãos:
olhos, coração, pulmão, fígado, rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas
são alvo da parte parassimpática do sistema nervoso autônomo.

Vamos exemplificar: imagine que você deve realizar a apresentação de um im-


portante trabalho acadêmico e o auditório está lotado, com centenas de pessoas.

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UN I AS S ELV I

VOCÊ SABE RESPONDER?


O que aconteceria com seu corpo?

Se respondeu nervosismo, certamente estará suando mais que o normal; frequên-


cia cardíaca e respiração estariam elevadas e, possivelmente, as pernas ficariam
trêmulas. Pois bem, esse estado corporal de estresse, que, para muitos, promove
o desejo de fugir, ocorre em virtude da maior atividade da porção simpática, o
qual tem a função de preparar nosso organismo para a sobrevivência, com o
instinto de luta ou de fuga.
As duas porções do SNA atuam de modos
opostos. Sabendo disso, volte ao exemplo apre-
as duas porções
sentado, que se refere ao momento de estresse do SNA atuam de
frente a apresentação para todas aquelas pessoas: modos opostos
era necessário realizar digestão? Seria possível
dormir? Impossível, não é mesmo? Com essa breve explanação, acredito que
compreendeu a maneira que o SNA atuará em nosso organismo e, sobretudo, a
atuação da divisão parassimpática, que tem a finalidade de relaxamento corporal,
preparando-nos para o repouso.
Em outras palavras, em momentos de estresse, a porção simpática facilitará
o aporte de sangue, de nutrientes e de oxigênios para os músculos das pernas,
os quais sustentariam uma rápida corrida para longe desse auditório. Diferen-
temente do momento pós-almoço, em que se reduz a atividade simpática e se
eleva a atuação parassimpática, responsável por favorecer a atividade digestória.
Evidentemente, tudo isso somente é possível devido a reorganização neuro-
nal promovida por cada uma das porções do SNA.

P E N SA N DO J UNTO S

Se os comandos neurológicos são os responsáveis por controlar todo o corpo


humano e desencadear a aprendizagem, por qual razão conhecemos tão pouco
sobre essa temática?

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

Caro(a) aluno(a), se ainda não ficou claro essa atividade antagônica entre as duas
divisões do SNA, apresento a você algumas alterações fisiológicas que ocorrem
diante da atuação dos sistemas simpático e parassimpático. Em momentos de
estresse, veja o que o SNA promove:

SNA SIMPÁTICO

SNA Simpático promove aumento da frequência cardíaca, taquipneia, va-


sodilatação músculo-esquelética, vasoconstrição visceral, ativação das glândulas
sudoríparas, dilatação da pupila (midríase), entre outros.

SNA PARASSIMPÁTICO

Quando o SNA Parassimpático é mais atuante, acontece o oposto, a frequência


cardíaca diminui, ocorre bradipneia, fechamento da pupila etc.

Por se tratar de um mecanismo neuronal que estimula, especificamente, os tecidos


corporais para que estes atuem, é fundamental a liberação de neurotransmissores,
entre neurônios ou tecidos alvos. Desse modo, devemos pensar em acetilcolina,
liberado em fibras colinérgicas e, por outro lado, associa norepinefrina e epine-
frina (adrenalina) para as fibras adrenérgicas (GUYTON; HALL, 2017).

Para entendermos melhor, imagine neurônios deixando o SNC e chegando a um


gânglio (agregados de corpos celulares de neurônios localizados fora do siste-
ma nervoso central). Eles são chamados de neurônios pré-ganglionares. Existem
também aqueles neurônios que deixam os gânglios e se conectam aos tecidos
corporais, como o coração, esses são denominados neurônios pós-ganglionares
(SILVERTHORN, 2017; CURI, 2017).

Agora, é possível utilizar os exemplos dessa aula e compará-los a situações de


conhecimentos prévios.

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UN I AS S ELV I

VOCÊ SABE RESPONDER?


A adrenalina, com base em seu conhecimento, excita ou relaxa?

Ela é extremamente excitante e, sobretudo extremamente


excitante e,
estimulante.
sobretudo
Vejamos mais sobre esta e outras ações: estimulante.

LIBERAÇÃO DE ADRENALINA

Desse modo, ao secretar adrenalina, nosso organismo espera estresse fisiológico,


pelo menos sobre os tecidos alvos envolvidos.

LIBERAÇÃO DE NOREPINEFRINA OU EPINEFRINA

Posto isso, sempre que forem liberadas norepinefrina ou epinefrina, fazemos


referência aos neurônios pós-ganglionares simpáticos.

LIBERAÇÃO DE ACETILCOLINA

Por outro lado, neurônios pré-ganglionares parassimpático e simpático, bem


como os pós-ganglionares parassimpáticos, liberam o neurotransmissor acetil-
colina. Por essa razão, são denominados fibras colinérgicas. Vale ressaltar que a
acetilcolina, assim como os neurotransmissores adrenais, também, é excitatória.

No entanto, para as ações mencionadas, em especial para a atividade parassim-


pática, a acetilcolina apresenta função de redução das atividades do organismo.
Aluno(a), como já deve ter percebido, os conhecimentos acerca do Sistema
Nervoso são fascinantes, mas extremamente amplos e complexos, de tal modo
que vale a pena se aprofundar mais sobre a temática. Certamente, isso o ajudará
muito profissionalmente.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

SINAPSE

Caro(a) aluno(a), antes de discutirmos os aspectos sinápticos envolvidos na trans-


missão neuronal, inicio essa aula de uma maneira diferente: peço que observe a
Figura 3, a seguir, que representa o término de um neurônio e o início de outro.

Figura 3 - Mecanismo sináptico

Descrição de imagem: são apresentados na imagem o axônio do neurônio pré-sináptico e o dendrito do neurônio
pós-sináptico. É ilustrada a direção do impulso nervoso, a fenda sináptica, os canais voltagem-dependente de
Ca2+, os neurotransmissores e receptores envolvidos na sinapse química.

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UN I AS S ELV I

Ao observarmos a figura anterior, fica evidente que


as células nervosas apresentam características dife- dendritos neuronais
rentes, como seus tamanhos e formatos. Contudo não se tocam
os dendritos neuronais não se tocam, assim, a co-
nexão entre dois ou mais neurônios apresenta um
espaço. Posto isso, faço a seguinte pergunta a você:

VOCÊ SABE RESPONDER?


Se as informações neuronais são levadas por eletricidade por meio desses neu-
rônios e essas células nervosas não se encostam umas nas outras, como a
transmissão ocorre de um neurônio para o outro?

Por meio da sinapse, que corresponde ao local em que dois neurônios ou um neurô-
nio e uma célula efetora se comunicam (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
O processo de conexão sináptica ocorre o
tempo todo, em nosso organismo, em quantida- processo de
des que variam ao longo do dia ou das atividades conexão sináptica
realizadas. Sobretudo, as sinapses são fundamen- ocorre o tempo todo
tais para que qualquer atividade corporal aconte-
ça, visto que é a maneira pela qual se leva informações ao SNC ou do SNC
aos tecidos alvos. Também, podemos representar sinapses como conhecimento,
aprendizagem ou formação de memórias (LENT, 2013; RELVAS, 2015).

IN D ICAÇ ÃO DE FI LM E

Uma mente brilhante (2001)


Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemáti-
ca que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua
genialidade, casou-se cedo e trabalhou para o governo dos
Estados Unidos. Mas aos poucos Nash passa a ser atormen-
tado por delírios e alucinações, chegando a ser diagnostica-
do como esquizofrênico. Porém, após anos de luta para se
recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo
premiado com o Nobel.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

AP RO F U N DA NDO

No mundo animal, existem dois tipos de sinapses: químicas e elétricas. As si-


napses químicas dependem de uma substância neurotransmissora que atua
sobre receptores localizados na membrana do neurônio seguinte. Existem mais
de 40 substâncias conhecidas e essa troca de informação ocorre em sentido
unidirecional. Por outro lado, as sinapses elétricas são caracterizadas por ca-
nais diretos que conduzem eletricidade de uma célula para outra, sem a neces-
sidade dos neurotransmissores e seus respectivos receptores, desse modo, é
possível transmitir informações nos dois sentidos da célula.
Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 575).

Caro aluno(a), como tudo que se remete à neu-


rofisiologia depende de bases mais técnicas, essa sinapse é o ato de
comunicação neuronal pode ocorrer entre dois comunicar
neurônios, ou milhares deles, simultaneamente.
Gostaria que, ao pensar em sinapse, fizesse a seguinte relação: sinapse é o ato de
comunicar, fofocar, passar adiante, assim como é feito em uma simples brinca-
deira infantil, o “telefone sem fio”.
Observe a Figura 4 apresentada na sequência. Existem, na imagem, dois
neurônios. O final do primeiro neurônio é denominado como botão pré-
-sináptico e o início do segundo neurônio como pós-sináptico. No botão
pré-sináptico, existem pequenas bolsas, chamadas de vesículas sinápticas, que
armazenam neurotransmissores, estruturas de comunicação, ou seja, os transmis-
sores de informação. No botão pós-sináptico, existem receptores que receberão
os neurotransmissores. Por fim, no meio intracelular existem muitos íons de K+
e no meio extracelular existem NA+ e cálcio (Ca²+) (BARRETT et al., 2014).

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UN I AS S ELV I

Figura 4 – Sinapse / Fonte: Tortora e Nielsen, 2019, p. 577.

Descrição de imagem: a imagem retrata uma ilustração da sinapse química, a qual inicia no neurônio pré-sináptico
em direção à terminação nervosa. No botão terminal sináptico, são visualizados os íons de Ca²+ atravessando
seus respectivos canais voltagem dependentes. Visualiza-se, ainda, as vesículas sinápticas contendo neuro-
transmissores. Após a fenda sináptica, é observado o neurônio pós-sináptico com seus receptores recebendo os
neurotransmissores que regulam a propagação do impulso nervoso.

E U IN D ICO

Funcionamento do sistema nervoso


Clique AQUI e assista uma animação em 3D sobre o funcion-
amento do sistema nervoso, apresentando os neurônios, im-
pulsos nervosos e sinapses que ocorrem nos seres humanos.
Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso uti-
lizará seu pacote de dados (ou wi-fi) para ser exibido.

Após a geração de um impulso nervoso (potencial de ação), uma descarga


elétrica irá percorrer o axônio até chegar à terminação da célula nervosa (botão
pré-sináptico). Isso pode ocorrer de neurônio para neurônio ou de uma célula
nervosa para um tecido corporal, como um músculo, por exemplo. Conforme a

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2

eletricidade percorre a fibra nervosa e se aproxima de seu final, os canais voltagem


dependentes de Ca2+ se abrem no final do neurônio, assim o Ca2+ disponível
fora da célula entra no botão pré-sináptico.

Esse evento permite que as vesículas sinápticas se desloquem em direção à


membrana neuronal até que se liguem a ela, por meio de um evento chamado de
exocitose.

Após essas vesículas sinápticas fundirem-se à membrana neuronal, os neuro-


transmissores serão liberados na fenda sináptica (meio extracelular entre os dois
neurônios), conforme indicam os autores Guyton e Hall (2017).
Com os neurotransmissores disponíveis entre as células nervosas ou com
os tecidos alvo, a sequência do mecanismo sináptico depende da ligação desses
neurotransmissores com os receptores presentes no botão pós-sináptico. Vale
ressaltar que as substâncias neurotransmissoras podem ser excitatórias, que
estimulam a comunicação, ou inibitórios, as quais bloqueiam a passagem da in-
formação. Caríssimo(a), para essa apresentação, utiliza-se o mecanismo de sinap-
ses excitatórias. Com essa ligação neurotransmissor-receptor, mediada por uma
ação enzimática, ocorrerá a abertura dos canais voltagem dependentes de NA+
(presente no meio extracelular). Desse modo, a rápida difusão do NA+ para o
interior do próximo neurônio irá despolarizar a célula nervosa, levando a infor-
mação adiante. Para concluir o mecanismo sináptico, os neurotransmissores
utilizados devem ser recaptados pelo botão pré-sináptico para ressintetizá-los
para um próximo comando (GUYTON, HALL, 2011; BARRETT et al., 2014).
Caro(a) aluno(a), para facilitar seu entendimento e construir conhecimento
de modo mais eficiente, deixo a você um resumo desse mecanismo sináptico:
a) Chega o potencial de ação.
b) Abertura dos canais voltagem dependentes de cálcio.
c) Ativação das vesículas secretórias que contêm neurotransmissores em
direção à membrana pré-sináptica.
d) Exocitose, liberação do neurotransmissor no espaço sináptico.
e) Neurotransmissor se liga com as proteínas situadas no botão pós-sináp-
tico.

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UN I AS S ELV I

f) Uma enzima irá catalisar a reação (quebra do neurotransmissor).


g) Abrem-se os canais de NA+.
h) Início de um novo potencial de ação.
i) Neurotransmissores voltam para o botão pré-sináptico para serem rea-
proveitados.

A P RO F UNDA NDO

Várias doenças antes consideradas como psiquiátricas, que afastavam as pes-


soas do convívio social, hoje, estão associadas como doenças orgânicas neu-
rológicas, como esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão,
psicose, autismo, doença de Parkinson, da mesma forma que diversas dificul-
dades de aprendizagens. Hoje, é possível identificar alterações orgânicas em
receptores de neurotransmissores ou mesmo na baixa ou excessiva produção
dos neurotransmissores.
Fonte: Relvas (2015, p. 63).

NOVOS DESAFIOS
Neste tema de aprendizagem, compreendemos inúmeras informações sobre a orga-
nização do sistema nervoso. Aprendemos que o sistema nervoso autônomo é uma
porção do sistema nervoso central que atua de forma independente, controlando
atividades estressoras ou relaxantes de praticamente todos os órgãos corporais.
Entendemos também que as sinapses são um importante mecanismo de
troca de informações entre os neurônios ou tecidos corporais, assim como um
mecanismo importante na identificação e intervenção com diversas dificulda-
des de aprendizagens.
Siga firme em seus estudos!

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VAMOS PRATICAR

1. Os sinais eferentes do Sistema Nervoso Autônomo são transmitidos pelo Sistema Ner-
voso Simpático (SNS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNP).

Com relação à atuação desses dois sistemas em nosso organismo, assinale a alternativa
correta.

a) O SNP é um sistema que prepara e promove ativação e estresse em nosso organismo,


preparando-o para a “luta ou para a fuga”.
b) O SNS é um sistema que prepara e promove relaxamento em nosso organismo, pre-
parando-o para o sono ou digestão.
c) Os dois sistemas (SNS e SNP) trabalham de maneira individualizada, em que, sempre
que um está atuando, o outro é desligado para não interferir nos ajustes necessários
no organismo.
d) O SNS provoca ativação das glândulas sudoríparas e vasodilatação músculo esque-
lético. Por outro lado, o SNP provoca bradipneia e diminuição da frequência cardíaca.
e) A atuação do Sistema Nervoso Autônomo é dependente da ativação neural voluntária.

2. Os tecidos alvo são inervados por diversas terminações nervosas, que se originam de
neurônios. Para que a informação seja repassada adiante, faz-se necessário um meca-
nismo para transmissão de impulsos elétricos, um processo denominado sinapse química.

Com relação ao processo sináptico, assinale a alternativa correta.

a) Os neurotransmissores têm a função de se conectar ao íon de NA+ (sódio), o que


promoverá o início de um novo potencial de ação.
b) Durante o processo de comunicação neural, os neurotransmissores que estão arma-
zenados em vesículas sinápticas serão liberados na fenda sináptica (espaço extra-
celular) por exocitose, evento que ocorre após a entrada de íon de Ca2+ (cálcio) no
interior do botão pré-sináptico.
c) A enzima acetilcolinesterase tem a função de transmitir informações de um neurônio
a outro, auxiliados pelo funcionamento da bomba de NA+/K+ (sódio/potássio).
d) Os receptores localizados no botão pós-sináptico são específicos e têm a função
de se prender às vesículas sinápticas, promovendo a abertura de canais voltagem
dependentes de NA+.
e) A sinapse ocorre por condução saltatória, na qual o estímulo neural é transmitido de
um neurônio a outro por saltos que ocorrem nos nodos de Ranvier.

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VAMOS PRATICAR

3. Para que potenciais de ação sejam transmitidos de um neurônio para outro neurônio,
ou de neurônios para tecidos alvos, são necessárias sinapses, as quais possibilitam a
continuidade da transmissão das informações neurais.

Com relação ao mecanismo sináptico, analise as afirmativas a seguir.

I - Em uma sinapse química, faz-se necessário a liberação de neurotransmissores, os


quais podem ser excitatórios (estimulam a transferência de informações) e os inibi-
tórios, que bloqueiam a transmissão de informações.
II - Em uma sinapse, muitos componentes em um circuito harmonioso são necessários,
sobretudo a participação de íons de sódio, potássio e cálcio.
III - Uma sinapse ocorre por meio de um “salto” da eletricidade, que ocorre de um dendrito
neuronal para outro.
IV - Um evento sináptico eficiente depende unicamente das atividades da bomba de sódio
e potássio, da bomba de cálcio e, em especial, da polaridade da membrana celular.

É correto o que se afirma em

a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) II e III.
e) II, III e IV.

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REFERÊNCIAS

BARRETT, K. E. et al. Fisiologia médica de Ganong. Porto Alegre: AMGH, 2014.


CURI, R. Fisiologia básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
DÁRIO, A. L. et al. Sistema nervoso simpático x parassimpático. Scientific Investigation in
Dentistry, [S.I.], v. 18, n. 1, p. 48, 2016.
FERREIRA, L. L. et al. Variabilidade da frequência cardíaca como recurso em fisioterapia: aná-
lise de periódicos nacionais. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 26, n. 1, 2017.
GORDO, W. M. Interação entre sistema nervoso autônomo e função vascular na hiper-
tensão arterial resistente. Tese (Doutorado em Farmacologia) - Faculdade de Ciências
Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2014.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.
PARKER, S. O Livro do Corpo Humano: um guia ilustrado de suas estruturas, funções e
disfunções.2. ed. Jandira: Ciranda Cultural, 2014.
RELVAS, M. P. Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas eficiências
para uma educação inclusiva. 6. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2015.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia.
Porto Alegre: Artmed, 2016.
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.

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GABARITO

1. D.

2. B.

3. A.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 3

EVOLUÇÃO DO ESTUDO DO
CÉREBRO E TEORIA NEURONAL
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Apresentar a origem e a evolução dos estudos relacionados à atividade cerebral.

Elucidar os conceitos sobre teoria neuronal.

Proporcionar ao aluno o entendimento e a contextualização do funcionamento


neurológico na aprendizagem em rede.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Caro(a) aluno(a), o cérebro é alvo de estudos, desde o século IV d.C. e, por se tra-
tar de um momento histórico, em que a igreja era protagonista em praticamente
tudo, áreas neurológicas “vazias” eram consideradas a morada da alma. Essa ideia
estendeu-se por diversos séculos, fortalecendo a crença de que, em pontos do
cérebro, a alma humana era armazenada. Mais tarde, com o avanço dos estudos
neurológicos e da tecnologia, o mapeamento das operações mentais descartou a
existência da alma em qualquer local do sistema nervoso.
Desde o século XIX, os estudos sobre o comando de informações neurais
se destacam e desvendam os mistérios da mente. Desse modo, identificou-se a
capacidade de células nervosas dispararem eletricidade para as mais diferentes
áreas corporais, dando início a teoria neuronal e, consequentemente, ao conhe-
cimento das sinapses.
Assim, neste tema de aprendizagem, conheceremos de forma mais aprofun-
dada a origem dos estudos sobre as atividades cerebrais e o contexto do funcio-
namento neurológico na aprendizagem em rede.
Veremos também que a aprendizagem é um construtor de formação de me-
mórias. Formar memórias é adquirir, difundir ou modificar novas experiências ao
realizar associações referentes aos conhecimentos já armazenados, o que veremos
em nossa explanação.
Bons estudos!

DESENVOLVA SEU POTENCIAL

EVOLUÇÃO DO ESTUDO
DO CÉREBRO

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

Caro(a) aluno(a), ao refletirmos sobre neurociência, o que essa temática nos su-
gere? Se fragmentarmos a palavra em neuro + ciência, temos como resultado, o
estudo do cérebro. Se ampliarmos essa definição, a neurociência é um conjunto
de disciplinas que estudam o funcionamento do sistema nervoso.
Diversas são as teorias sobre o início dos estudos a respeito das funções
mentais no cérebro humano. Acredita-se que uma das mais antigas seja do sé-
culo IV d.C., com ideias defendidas por influência do clero (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2017). Agora, reflita comigo: de acordo com os conhecimentos ad-
quiridos, ao longo da sua vida, independentemente das suas crenças religiosas, foi
lhe ensinado que nós, seres humanos, viemos para esse mundo para pregar o bem.
Desse modo, se assim o fizermos, nossa alma transcenderá e iremos para o céu.

P E N SA N D O J UNTO S

Se a relação corpo e alma é presente até os dias atuais para a maioria das pes-
soas, em qual local está localizada a alma no corpo humano?

Posto isso, volte ao início do parágrafo anterior: se o clero auxiliou nas defini-
ções sobre o estudo do cérebro, admitia-se, naquela época, que dentre as três
áreas cerebrais conhecidas, uma delas era a morada da alma. Fica evidente que
essa doutrina de três ventrículos cerebrais (anterior, mediano e posterior) se
prolongou ao longo dos séculos, descrita e defendida por diversos autores, como
Leonardo da Vinci, St. Agostinho e Thomas Willis, que propuseram esquemas
sobre as funções mentais (LENT, 2013).
Com a evolução de diversos conhecimentos sobre anatomia e fisiologia do
cérebro humano e com a descoberta do córtex, que originava a cognição humana,
ocorreu a ruptura com a doutrina ventricular que já durava mais de mil anos.
Ocasionou-se, então, o nascimento da neurociência, a partir das ideias de Franz
Gall, no século XIX (KANDEL, 2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Gall acreditava que o cérebro produzia comportamentos, pensamentos e
emoções em áreas/órgãos com funções bem de-
finidas, postulando, em 1810, as 27 faculdades faculdades “afetivas
“afetivas e intelectuais”, as quais, mais tarde, se- e intelectuais”
riam ampliadas para 35, por seu discípulo Johann

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UN I AS S ELV I

Spurzheim, essas são retratadas na Figura 1 a seguir. Essa divisão do cérebro foi
considerada absurda para a época, além de afrontar a unidade referente à morada
da alma, exigida pela igreja (LENT, 2013).

Propensões Sentimentos Perceptivas Refletivas


? Desejo de viver 10 Cautela 22 Individualidade 34 Comparação
* Alimentividade 11 Aprobatividade 23 Configuração 35 Causalidade
1Destrutividade 12 Autoestima 24 Tamanho
2 Amatividade 13 Benevolência 25 Peso e Resistência
3 Filoprogenitividade 14 Reverência 26 Coloração
4 Adesividade 15 Firmeza 27 Localidade
5 Habitatividade 16 Consciência 28 Ordem
6 Combatividade 17 Esperança 29 Cálculo
7 Secretividade 18 Deslumbramento 30 Eventualidade
8 Aquisitividade 19 Idealismo 31 Tempo
9 Construtividade 20 Misericórdia 32 Tom
21 Imitação 33 Linguagem
Figura 1 - Localização das faculdades afetivas e intelectuais, segundo Spurzheim
Fonte: Lent, (2018, p. 8).

Descrição: desenho em preto e branco de um rosto em três perspectivas: frontal, lateral e traseira com as divisões
e respectivas numerações das faculdades afetivas e intelectuais.
Propensões: ? Desejo de viver, * Alimentividade, 1Destrutividade, 2 Amatividade, 3 Filoprogenitividade, 4 Ade-
sividade, 5 Habitatividade, 6 Combatividade, 7 Secretividade, 8 Aquisitividade, 8 Aquisitividade.
Sentimento: 10 Cautela, 11 Aprobatividade,, 12 Autoestima, 13 Benevolência, 14 Reverência, 15 Firmeza, 16
Consciência, 17 Esperança, 18 Deslumbramento, 19 Idealismo, 20 Misericórdia, 21 Imitação
Perceptivas: 22 Individualidade, 23 Configuração , 24 Tamanho, 25 Peso e Resistência, 26 Coloração, 27 Locali-
dade, 28 Ordem, 29 Cálculo, 30 Eventualidade, 31 Tempo, 32 Tom, 33 Linguagem
Refletivas: 34 Comparação, 35 Causalidade.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

A segunda metade do século XIX revolucionou os estudos neurológicos com a


descoberta da especificidade de processamento e localidade da linguagem huma-
na, no córtex cerebral, denominada área de Broca. Igualmente, áreas definitivas e
com localização específica para a visão, funções sensoriais e motoras rapidamente
foram definidas.
Caro(a) aluno(a), após esse breve histórico, avançamos um pouco mais. Mui-
tos estudos e pesquisas relacionadas ao funcionamento neurológico surgiram,
durante os séculos XIX e XX. Um marco importante é o famoso caso do traba-
lhador ferroviário Phineas Gage que, aos 25 anos de idade, no ano de 1848, nos
Estados Unidos (EUA), foi exposto a uma explosão mal calculada, essa fez com
que uma barra de ferro de 1 metro de comprimento, 3 cm de diâmetro e 6 kg,
atravessasse o crânio do operário, gerando uma enorme lesão no cérebro e perda
de um dos olhos, a Figura 2 apresenta o retrato de Gage, segurando o ferro que
o machucou.
Com o acometimento da lesão e, certamente, pela falta de um tratamento
médico satisfatório, pesquisas e de medicamentos que surtissem efeito, Gage,
superando todas as expectativas, sobreviveu e, após dois meses, estava com seu
tratamento concluído.

O mais impressionante é que mesmo sem todos os recursos médicos atuais, ele
não demonstrava nenhum prejuízo em relação aos seus sentidos. Podia ouvir,
falar, sentar-se, movimentar-se e utilizar o olho restante para a visão sem nen-
huma restrição.

No entanto os familiares e amigos que conheciam e conviviam com o trabalhador


relataram que “Gage já não era mais Gage”: antes uma pessoa persistente, ciente,
responsável e capaz, passou a ser, após a lesão, incapaz de realizar suas funções,
estava mais irresponsável, irreverente, caprichoso, obsceno e socialmente ina-
dequado. Pesquisadores passaram a utilizar esse caso como fonte ou inspiração
para novas pesquisas e, com os recursos tecnológicos, foi possível compreender
que o córtex pré-frontal é fundamental para o processamento emocional e para
as tomadas de decisão.

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UN I AS S ELV I

Figura 2 - Retrato do sobrevivente de lesão cerebral Phineas


P. Gage (1823-1860), segurando o ferro que o machucou
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line).

Descrição: fotografia em preto e branco do homem Phi-


neas P. Gage , sentado, vestido com um smoking, segu-
rando um pedaço de ferro.

Outro caso similar ocorreu com um brasileiro, que também sofreu uma lesão
que atingiu a área frontal do cérebro, quando um vergalhão atravessou seu crâ-
nio em 2012. Naquela época, acreditava-se que o brasileiro, após perder 11% da
massa encefálica, ficaria mais desinibido, bem-humorado, mas teria dificuldade
em planejar o futuro, além de possíveis mudanças comportamentais e difícil rela-
cionamento com familiares e amigos. No entanto o sujeito não apresenta nenhum
tipo de sequela ou alteração de sua personalidade ou do comportamento, segue
com a vida normalmente.
Com tantas incertezas sobre as funções neurológicas, muitas autoridades
buscaram entender casos intrigantes, como os relatados expostos anteriormente.

VOCÊ SABE RESPONDER?


Agora, reflita comigo: esses casos históricos contavam com todos os recursos
e tecnologias que temos atualmente?

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

É evidente que não. Por isso, a década de 1990


foi conhecida como "a década do cérebro", em a década de 1990 foi
que muito aporte financeiro foi concedido, nos conhecida como "a
Estados Unidos, para a construção de laboratórios década do cérebro"
e investimentos em equipamentos tecnológicos,
com o intuito de se estudar o funcionamento neurológico. Da mesma forma,
países europeus seguiram com a mesma proposta. No Brasil, aconteceu igual-
mente e, pouco a pouco, mistérios foram e estão sendo desvendados sobre essa
magnífica estrutura corporal.

INTRODUÇÃO À TEORIA
NEURONAL

Aluno(a), mesmo com a con-


tínua exploração das funções
neurológicas ao longo dos sé-
culos, muitas rupturas só foram
possíveis devido aos avanços tec-
nológicos. Acreditava-se que o
sistema nervoso mantinha sua
comunicação em rede contínua com os tecidos corporais e, inicialmente,
imaginava-se que os comandos eram levados por meio de fluídos. Logo depois,
adotou-se a possibilidade de condução elétrica para transportar informações.
As discussões acerca do córtex cerebral ganharam notoriedade após 1880,
motivadas pelos estudos anatômicos propostos pelo espanhol Santiago Ramón
y Cajal (1852-1934), médico e histologista, ganhador do prêmio Nobel de 1906
(FERREIRA, 2013), cujo retrato é apresentado na Figura 3. Suas investigações
demonstraram que o cérebro não era uma rede contínua de ligação direta, mas
sim um conjunto de unidades celulares discretas.

Em outras palavras, a teoria neuronal, que se baseia na individualidade anatômica


da célula nervosa e pode ser chamada de lei de polarização dinâmica.

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UN I AS S ELV I

Com tais proposições e as diversas subdivisões em zonas anatômicas diferente,


cada uma delas possui funcionamento diferente, o que faz surgir uma nova car-
tografia cortical, bastante semelhante a que verificamos atualmente (FERREIRA,
2013; LENT, 2013).

Figura 3 - Retrato de Santiago Ramón y Cajal, 1899


Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line).

Descrição: fotografia em preto e branco do busto de um homem


branco vestido de terno e gravata.

De acordo com o que foi apresentado até esse momento, considere a seguinte
situação:

TEORIA RETICULAR

Se células nervosas disparam e conduzem eletricidade, seria muito conveniente


que o sistema nervoso fosse um emaranhado de fios elétricos contínuos, sem rup-
turas. Desse modo, neurologistas da época preferiam defender a chamada teoria
reticular, pois os mistérios acerca das funções neurológicas eram muitos e não
se concebia a ideia simples de que sua composição, assim como para o resto do
corpo, dependia de unidades básicas como as células.

TEORIA NEURONAL

Com a evolução das técnicas histológicas para observar células nervosas, esse
impasse defendido pela teoria reticular, que relutava e acreditava na existência de
uma tela densa, um emaranhado de fios que conduzem os impulsos nervosos, foi
superado pelas observações de Cajal, que identificou padrões na continuidade das

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

células presentes no encéfalo, obedecendo uma organização de corpos celulares,


axônios, dendritos e um espaço entre elas. Esses pequenos espaços obrigavam
os estudiosos da época a explicarem de qual maneira a transmissão dos impulsos
nervosos era transmitida de uma célula para outra. Iniciava-se, desse modo, os
estudos sobre sinapse (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).

Cajal trouxe conhecimentos que se encaixavam


com as necessidades neurofisiológicas e neu-
ropatológicas, ao destacar que essas células
minúsculas formam diversos circuitos ou vias necessidades
bem delimitadas. O desenvolvimento constante neurofisiológicas e
dessas células levou à queda da teoria reticular neuropatológicas
e consolidou, na transição do século XX, o surgi-
mento de uma nova teoria, conhecida como a Te-
oria Neuronal (FERREIRA, 2013).

IN D ICAÇÃO DE LI V RO

Neurociências: desvendando o sistema nervoso


Sinopse: assim como a medicina, as neurociências estão
em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a
própria experiência clínica ampliam o nosso conhecimento,
são necessárias modificações na terapêutica, onde também
se insere o uso de medicamentos. Os autores desta obra con-
sultaram as fontes consideradas confiáveis, num esforço para
oferecer informações completas e, geralmente, de acordo
com os padrões aceitos, na época da publicação. Entretanto,
tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alter-
ações nas ciências médicas, os leitores devem confirmar estas
informações com outras fontes.

NEURÔNIOS
EM REDE

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UN I AS S ELV I

Caro(a) aluno(a), a explosão da pesquisa em neurociências, por volta de 1990, im-


pulsionada pelo avanço tecnológico, evidenciou a formação de redes neuronais.
Em 1940, já se buscava entender o metabolismo cerebral, mas como você pode
imaginar, existia uma tremenda limitação para a realização dos experimentos.

VOCÊ SABE RESPONDER?


Faça comigo uma reflexão: quando falamos, corremos ou pensamos em seu
futuro, seu cérebro consome mais energia? Ficou com dúvidas?

Então, vamos entender um pouco mais sobre essa


temática. Assim como outros tecidos corporais, a atividade mental
quanto mais trabalharem, mais energia e nutrien- e o metabolismo
tes serão necessários. Dessa forma, a atividade cerebral
mental e o metabolismo cerebral estão intima-
mente relacionados, ou seja, quanto mais uma região neurológica estiver ativa,
mais glicose e oxigênio será necessário para suprir a atividade dos neurônios
envolvidos naquele momento.
De acordo com as concepções propostas por Cajal, o neurônio é envolvido
por uma membrana plasmática, ou seja, é uma unidade celular autônoma e, por-
tanto, necessita de estruturas especializadas para promover a comunicação e dis-
tribuir as informações para todos os outros neurônios com os quais faz contato:
mecanismo conhecido como sinapse (KREBS, 2013; LENT, 2013; KANDEL,
2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Historicamente, existiu uma busca pelo localização das áreas cerebrais e de
seus respectivos funcionamentos cognitivos. O surgimento das técnicas de ima-
gem por ressonância magnética ampliou os conhecimentos sobre essa temática,
bem como a possibilidade do surgimento de diversas áreas de conhecimento
relacionado à neuro, como a neuroeducação, a neuroeconomia etc. (LENT, 2013)
Você já percebeu que, diversas vezes, ao pensar em um assunto, muitos ou-
tros são propagados em nosso cérebro. Façamos o seguinte exercício: gostaria

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que você pensasse em uma vaca. O que mais surgiu em seu pensamento? Pasto,
bezerro, leite, churrasco… por qual razão, porém, isso ocorreu? Havia pedido
apenas para se recordar da vaca.
Pois bem, essa cascata de informações não os neurônios
solicitadas ocorreu em seu pensamento pelo fato compõem uma rede
de que os neurônios compõem uma rede: a liga-
ção de dois ou mais neurônios constituirão uma ampla área de conhecimento
e processamento, a qual armazena e analisa informações relacionadas. Dessa
maneira, ao pensar em um determinado assunto, você promoverá a comunicação
neuronal (sinapse) entre dois neurônios que irão se comunicar com outros dois,
que continuarão a propagar essa informação. É dessa maneira que se justifica a
ideia de formação em rede.

Acredito que, ainda, restou uma dúvida: por qual razão, ao pensar na vaca,
muitos outros assuntos ou conceitos emanaram em seu cérebro?
Imagine da seguinte forma: em cada ligação neuronal, armazenaremos um
tipo de informação. Os neurônios vizinhos farão o mesmo com um assunto as-
sociado, diretamente, com aquela temática. Assim, ao pensar na vaca, automatica-
mente, foi ativado um processo sináptico vizinho acerca da área de conhecimento
em questão. É como se o neurônio responsável por armazenar a informação
sobre a vaca alertasse um neurônio vizinho: “amigo, fique atento, pois se estão

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UN I AS S ELV I

lembrando de mim, possivelmente lembrarão de você também”, de tal modo


que outras informações, como o leite que vem da vaca, que ela tem manchinhas
pretas ou mesmo que vive em um pasto, surgem em sua cabeça. Tais eventos
evidenciam que não, apenas, os neurônios se organizam em rede, mas que nossos
conhecimentos também.

AP RO F U NDA NDO

Neurônios são células, altamente, especializadas que exercem a função de pro-


cessamento e transmissão de informações. São essas células que possibilitam
o acontecimento de diversas sinapses, que em um adulto é estimado entre 100
e 500 trilhões, promovidas por aproximadamente 86 bilhões de neurônios.
Fonte: adaptado de Radanovic (2016).

Caro(a) aluno(a), nesse momento é importante realizar um alerta. Um erro comum


é pensar que algumas partes do cérebro estão muito atuantes e outras regiões ficam
“desligadas”. O processamento de qualquer informação necessita de áreas neuroló-
gicas específicas, assim como verificamos em imagens coloridas da subdivisão das
áreas funcionais do cérebro. O que muitos se esquecem, porém, é que o funciona-
mento neurológico é integralizado, conectado, ou seja, tudo sempre se relaciona.
Assim, várias áreas do cérebro funcionam juntas, de maneira interligada.
Para esclarecer essa ideia, vamos usar as palavras como referência: ao pensar
nas palavras, a ativação neurológica será maior nos lobos frontais. Já ao ver as
palavras, a região occipital estará mais ativa e, ao escutar palavras, a região tem-
poral estará mais funcional (KANDEL, 2014).
Portanto, nosso encéfalo possui regiões específicas de processamento, mas,
para que essas áreas específicas atuem com eficiência, dependem da atividade
de outras regiões neurológicas. Isso fortalece o pensamento científico a res-
peito do processamento de informações, o qual é responsável por conceber as
memórias do mundo interligadas entre si, ao formar uma rede de significados
necessários ao conhecimento.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3

NOVOS DESAFIOS
Nesta tema de aprendizagem, elucidou-se o surgimento dos conhecimentos
acerca do funcionamento neurológico. As bases inerentes a essa temática apon-
tam para a necessidade de novas investigações sobre a atividade neuronal, pois,
com o avanço da tecnologia, muitos outros mistérios sobre as operações men-
tais podem ser desvendados.
O cérebro é alvo de estudos há muitos séculos. Sobretudo, a neurociência
é uma ciência recente que vem contribuindo para as mais diferentes áreas de
atuação, seja para a reabilitação de traumas, entendimento de doenças neuro-
lógicas ou para a criação de estratégias de ensino e aprendizagem de recém-
-nascidos e ou idosos.
A rede de conhecimentos formada pelos neurônios permite aos profissio-
nais compreender que os conhecimentos estão diretamente relacionados, uma
vez que as áreas de processamento no sistema nervoso agrupam informações
semelhantes. Por essa razão, é possível verificar imagens encefálicas sempre
coloridas. É importante ressaltar que a atividade neurológica, além de ativar
sinapses específicas, necessita de alto aporte de oxigênio e nutrientes que sus-
tentarão tal atividade neural.
Siga firme em seus estudos!

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VAMOS PRATICAR

1. Ao que se refere ao estudo do cérebro humano, pesquisas passaram a ser mais robus-
tas e exploradas a partir da década de 1990, uma vez que foi facilitado o acesso aos
recursos financeiros e todo o investimento para essa área. Assim, surgiu uma nova
ciência, denominada neurociência.

Sobre essa temática, assinale a alternativa correta.

a) O investimento em equipamentos de neuroimagens possibilitou acompanhar, em


tempo real, o processo neuronal de um sujeito que está sendo testado.
b) As parcerias que foram realizadas com operários que apresentavam lesões no cérebro
foi o maior investimento proposto pela neurociência.
c) A teoria neuronal que se iniciou na década de 1990 possibilitou o mapeamento do
cérebro pela dissecação de animais mortos.
d) A neurociência tem por intuito principal investir em cirurgias cerebrais e publicar es-
tudos referentes aos resultados alcançados.
e) A neurociência é uma linha de trabalho vinculada, somente, à classe médica.

2. Já está bastante claro que os neurônios são células cerebrais responsáveis pela cons-
trução do conhecimento. Essas estruturas nervosas têm a capacidade de propagar
as informações que a ele chegam. Por qual razão, quando pensamos em um objeto,
animal, ou situação específica, outros eventos emergem de nosso cérebro?

Analise as afirmativas a seguir.

I - O cérebro funciona integralmente, não existe uma conexão ou função específica, esse
órgão sabe de tudo e sobre qualquer coisa, assim busca similaridades que possam
ser utilizadas em determinado momento.
II - Devido a neuroplasticidade cerebral, que permite ao nosso cérebro se reorganizar de
acordo com as necessidades, permitindo que os neurônios compartilhem as infor-
mações.
III - Neurônios são estruturas conectadas, em forma de rede, para se comunicar uns com
os outros. As novas memórias são guardadas de acordo com padrões de informação
e similaridades. É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

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REFERÊNCIAS

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema ner-


voso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
FERREIRA, F. R. M. A teoria neuronal de Santiago Ramón y Cajal. Tese (Doutorado em
Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
KANDEL, E. et al. Princípios de Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
KREBS, C. Neurociências ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.
LENT, R. Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan, 2018.
RADANOVIC, M; KATO-NARITA, E. M. Neurofisiologia Básica Para Profissionais da Área
da Saúde. São Paulo: Atheneu, 2016.
WIKIMEDIA COMMONS. [Sem Título]. 2014. 1 fotografia. Disponível em: https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Phineas_Gage_GageMillerPhoto2010-02-17_Unretouched_Color_
Cropped.jpg. Acesso em: 5 nov. 2020.
WIKIMEDIA COMMONS. [Sem Título]. 2016. 1 fotografia. Disponível em: https://commons.wi-
kimedia.org/wiki/File:Cajal-Restored.jpg. Acesso em: 5 nov. 2020.

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GABARITO

1. A.

2. E.

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UNIDADE 2
TEMA DE APRENDIZAGEM 4

NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Aprender sobre o remodelamento neuronal e sua relação com a


aprendizagem.

Compreender os principais marcos de desenvolvimento humano e ama-


durecimento neurológico.

Relacionar as tomadas de decisão e a qualidade das ações com o amadure-


cimento neurológico.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Caro(a) aluno(a), o desenvolvimento dos circuitos neuronais leva muito tempo
para se estabilizar. Durante o período médio de duas décadas, o amadurecimento
do sistema nervoso passa por muitas mudanças, as quais devem estar estáveis
durante a fase adulta, modulando e permitindo que as transmissões sinápticas
sejam mais eficientes.
Dessa forma, estudaremos em nosso tema de aprendizagem os conceitos de
neuroplasticidade e a capacidade de mudança que o sistema nervoso apresenta.
Bons estudos!

NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL

Constatamos que existem trilhões de sinapses em nosso sistema nervoso. Por


isso, é fundamental conhecer um pouco mais sobre as possíveis mutações que
podem ocorrer nos neurônios, com a finalidade de otimizar a atividade neu-
rológica. Desse modo, os neurônios apresentam a capacidade de aumentar ou
reduzir as espinhas dendríticas, local em que ocorrerão as sinapses, o que pos-
sibilita fortalecer ou desligar conexões neurais. Tal capacidade de mudança dos
neurônios é conhecida como plasticidade neuronal e pode ocorrer morfológica
ou fisiologicamente. Para Lent (2013), plasticidade é definida como a capacidade
de mudança que o sistema nervoso apresenta, em resposta a exigências do am-
biente em que se encontra.
Para deixar claro a você, apresentaremos dois exemplos.

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EXEMPLO 1

O primeiro deles está relacionado a esse material que estamos compartil-


hando: ao compreender os conceitos da neurociência, podemos interligá-lo à
aprendizagem e, possivelmente, a memorização duradoura desses conheci-
mentos será armazenada em seu cérebro. Em outras palavras, o simples fato de
aprender algo novo ou melhorar um conhecimento antigo é denominado plastici-
dade ou, se preferir, neuroplasticidade.

EXEMPLO 2

Você deve conhecer algum caso de acidente vascular encefálico ou cerebral (AVE
ou AVC, respectivamente). Essa é a ideia que precisamos para compreender o
segundo exemplo: quando um dos lados do corpo apresenta movimentos com-
prometidos, é bem verdade que dependendo da magnitude da lesão, a pessoa
pode entrar em óbito. Quando os movimentos de marcha, fala e outras ações
corporais ficam comprometidas, esses indivíduos normalmente realizam sessões
de fisioterapia e, após muitas sessões, normalmente, os movimentos ficam bem
melhores e mais coordenados.

Agora, eu lhe pergunto: se as vias neuronais “morreram” ou desapareceram pela


lesão, o que aconteceu para que essa melhora se evidenciasse? Por meio da neu-
roplasticidade.

P E N SA N D O J UNTO S

No caso de uma via neuronal deixar de existir, é possível substituí-la?

Os mecanismos plásticos podem ocorrer de três maneiras distintas:


1. Morfológica, definida pela alteração dos axônios, dendritos e sinapses;
2. Funcional, identificada por alterações na fisiologia neuronal e sináptica;
3. Comportamental, a qual se relaciona aos fenômenos de aprendizagem e
formação de memórias (LENT, 2013).

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UN I AS S ELV I

A neuroplasticidade morfológica e ontogênica estão diretamente associadas aos


efeitos e influências ambientais, como a linguagem. As mudanças nos axônios
podem ocorrer nos locais que apresentam lesões e, também, em regiões sem
ocorrência de lesões. Simplificando, os circuitos neuronais são ajustados de acor-
do com as influências ambientais, em especial, durante o período de desenvol-
vimento, evidenciando uma capacidade plástica maior nos anos iniciais do que
após a fase adulta (LENT, 2013; KANDEL, 2014).

VOCÊ SABE RESPONDER?


Caro(a) aluno(a), se existe a capacidade de ajustar processos vinculados ao ax-
ônio neuronal, será que é possível fazer o mesmo com os dendritos?

Evidentemente que sim, já que as alterações e os ajustes nas árvores dendríticas


também são mais evidentes nos jovens, quando comparado a adultos, e são sus-
ceptíveis às influências do ambiente (GUYTON; HALL, 2017; KREBS, 2013).
Portanto, é sugestivo que com uma árvore dendrítica consolidada em am-
bientes ricos em bons estímulos, os indivíduos em questão, possivelmente, apre-
sentarão um nível de linguagem e ou instrução educacional mais elevada.

Vale ressaltar que como dendritos estão, diretamente, conectados aos ax-
ônios e relacionados às sinapses, a instabilidade ou estabilidade em qualquer
um desses mecanismos pode resultar em prejuízos ou benefícios, respectiva-
mente, ao indivíduo.

No que se refere à neuroplasticidade funcional, deve-se considerar que o treina-


mento e a repetição podem resultar em uma maior ativação de determinada área
cerebral, ampliando a capacidade de processamento. Um exemplo para elucidar essa
situação: será que uma pessoa com deficiência visual congênita também nasce com
áreas neurológicas de processamento tátil mais desenvolvidas? Evidente que não,
mas no transcorrer de seu desenvolvimento as influências do ambiente promoverão
plasticidade nos dendritos neuronais, ampliando a capacidade de utilizar as mãos.

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Conforme o que foi apresentado, é possível considerar a recuperação, na


maioria das vezes, parcial, de áreas lesionadas do sistema nervoso, pelas adaptações
ocorridas nos neurônios e nas sinapses pelas intervenções e práticas persistentes,
mesmo que algumas sejam mais eficientes em jovens e outras em adultos.

AP RO F U N DA NDO

Desde o surgimento da teoria neuronal proposta por Cajal, no final do século XIX
e início do século XX, a regeneração do sistema nervoso era descartada. Por
outro lado, com o avanço tecnológico, a neurogênese é aceitável em diversas
áreas neurológicas. Essa capacidade de regeneração ou proliferação do tecido
neuronal, após uma lesão, está associada à disponibilidade de células-tronco na
região lesada. No entanto tal regeneração do tecido nervoso depende de muito
mais, como considerar a íntima ligação dos circuitos neuronais, constituídos por
células independentes, mas interligadas.
Fonte: o autor.

DESENVOLVIMENTO DA MENTE E DO COMPORTAMENTO

Caro(a) aluno(a), vamos refletir: uma criança, após o nascimento, é imatura ou


madura? Se respondeu imatura, sua resposta está correta. No entanto precisamos
fazer uma análise mais profunda.
Uma criança recém-nascida apresenta imaturidade, principalmente, nos aspec-
tos motores, visto que é 100% dependente da mãe. É possível verificar na natureza
outros animais, que, ao nascerem, começam a caminhar imediatamente. Para nós,
seres humanos, todas as ações motoras levarão tempo para se estabilizar, pouco a
pouco, mês a mês. Até que isso ocorra, é necessário o cuidado materno/paterno.
Veja bem, apresentamos a você, apenas, a imaturidade motora, mas e o desenvolvi-
mento do sistema nervoso? Ficou em dúvida? Pois bem, esclareço para você: ainda, no
período intrauterino ocorre o desenvolvimento de diversas funções da mente, como o
aprendizado sensorial e até mesmo de características da linguagem. Contudo, como o
funcionamento neurológico é algo bastante complexo, é necessário muito tempo para
amadurecer todas as capacidades da mente.

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Está claro que o desenvolvimento da mente e do comportamento está associa-


do à maturação do sistema nervoso. Desse modo, a complexidade dos compor-
tamentos humanos está, diretamente, associada ao funcionamento neurológico
(LENT, 2013). Agora, reflita comigo: se os aspectos motores são imaturos no
início da vida, como é possível que a criança, ainda, durante a gestação, realize
movimentos de chutar, engolir, mexer os olhos ou as mãos? A resposta está na
maturação do sistema nervoso. No entanto, antes, pergunto-lhe: o que é matura-
ção? A maturação, do ponto de vista neurológico, são todos os ajustes, adaptações
e conexões realizadas por e entre os neurônios, que ampliam a sua capacidade
de disparar potenciais de ação (impulsos nervosos), essas ativam outras células
nervosas ou músculos envolvidos nos movimentos corporais.
Além da amplificação nas conexões neurais, ocorre também o processo de
mielinização, esta aumenta a velocidade de condução dos impulsos nervosos,
otimizando as capacidades de sobrevivência, dos gestos motores, dos comporta-
mentos em geral e do processamento neural para diversas tomadas de decisões
(GUYTON; HALL, 2017).

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INÍCIO DO PROCESSO DE MATURAÇÃO

O processo de maturação do sistema nervoso é iniciado durante a gestação,


ocorre em larga escala, durante os primeiros anos de vida, e é finalizado por volta
da segunda década de vida. Um dos princípios do desenvolvimento neurológico
é que o cérebro cresce mais em surtos do que de maneira suave, sendo que toda
fase de desenvolvimento é acompanhada por uma fase de estabilização. Eviden-
temente, na infância, os intervalos de crescimento e estabilidade são curtos.

ATÉ OS 5 MESES

Por exemplo, até os 5 meses de um bebê, os intervalos são de aproximadamente


1 mês. Basta observar a evolução apresentada por ele: antes, todo “molinho”, com
um mês já é evidenciado um maior tônus muscular, aos três meses um controle
da cervical e, antes dos cinco meses, um ajuste na visão.

8, 12 E 20 MESES

À medida que o bebê envelhece, seus períodos de crescimento e estabilização,


também, passam a ser mais longos. No período dos 8, 12 e 20 meses, observa-se
maior equilíbrio, no qual o bebê começa a sentar e, logo, a caminhar.

20 MESES

Observa-se, aos 20 meses, marcos de desenvolvimento cognitivo: a maioria dos


bebês evidenciam o planejamento dirigido ao objetivo em seu comportamento,
como de uma criança já ser capaz de arrastar uma cadeira para ficar alto o sufi-
ciente para alcançar algo proibido, mesmo que ninguém lhe ensine.

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ENTRE OS 2 E 4 ANOS

Já entre os 2 e 4 anos, as mudanças neurológicas são inúmeras, mas ocorrem


lentamente. Assim, é possível verificarmos a melhora da coordenação motora, do
aprendizado, do vocabulário, mesmo que limitado, e uma maior compreensão do
mundo que a rodeia (BEE; BOYD, 2011).

APÓS OS 4 ANOS

Após os 4 anos, há um outro surto importante, como a maturação de áreas neu-


rológicas que permite a fluência na fala e entendimento da linguagem. Nessa fase,
além da visível melhora da coordenação motora, ocorre grande amadurecimento
das funções cognitivas e a criança se torna capaz de prestar atenção e repetir
sequências de números e histórias, tendo o hábito de ler e contar histórias. Mesmo
que ela já as conheça, é muito sugestivo mudar algum personagem ou permitir
que as crianças façam isso e, acima de tudo, as mudanças sejam percebidas. Outra
opção é você iniciar a história e deixar que as crianças terminem, entre outras pos-
sibilidades (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; CALL; FEATHERSTONE, 2013).
Vale ressaltar que os surtos do crescimento não ocorrem em todo o cérebro, é re-
strito a partes específicas. Desse modo, pequenas áreas neurológicas amadure-
cem. Após o amadurecimento, as mudanças se estabilizam e, somente depois,
novos pontos encefálicos serão maturados também.

ENTRE 6 E 8 ANOS

São identificados dois surtos de crescimento durante a infância: entre 6 e 8 anos,


com melhoras nas habilidades motoras finas e na coordenação olho-mão.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4

ENTRE 10 E 12 ANOS

Já entre 10 e 12 anos, os lobos frontais do cérebro otimizam o foco no processa-


mento da memória, lógica e planejamento (BEE; BOYD, 2011).

ENTRE OS 13 E 15 ANOS

O amadurecimento neurológico continua na segunda década de vida, no qual


dois surtos de crescimento cerebral importantes ocorrem na adolescência: o
primeiro surge entre os 13 e 15 anos, oportunizando evoluções na percepção
espacial e nas funções motoras. Podemos observá-las quando um adolescente
estabanado, que derruba tudo, quebra tudo sem querer, tropeça e cai com
frequência, deixa de apresentar esses comportamentos e passa a melhorar seu
rendimento no esporte (BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015).
Nessa fase, ocorre ampla diferenciação de crianças com idades escolares menores,
pois adolescentes possuem pensamentos abstratos e refletem sobre seus processos
cognitivos, tudo isso sustentado pelas mudanças profundas no córtex pré-frontal
(capacidade de controlar conscientemente seus pensamentos) e a rápida formação de
novas sinapses em outras partes do cérebro (BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015).

17 ANOS ATÉ A FASE ADULTA

O segundo grande surto na segunda década de vida aparece por volta dos 17
anos e perdura até a fase adulta. Nesse momento, os lobos frontais do córtex
têm maior foco do desenvolvimento, sendo possível controlar a lógica e o plane-
jamento. Indivíduos nessa faixa etária lidam mais facilmente com situações prob-
lemas que requerem funções cognitivas (BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015).

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UN I AS S ELV I

Em síntese, conhecimento sobre o funcionamento neurológico é essencial para


uma excelente intervenção profissional.

AP RO F U NDA NDO

A utilização em longo prazo de esteroides anabólicos androgênicos (EAA) está


associado à diminuição da conectividade da amígdala direita com áreas cer-
ebrais envolvidas no controle cognitivo e na memória espacial, o que poderia
contribuir para os efeitos psiquiátricos e disfunção cognitiva associados ao uso
de EAA. Desse modo, é possível encontrar anormalidades e maior vulnerabil-
idade nos processos neurotóxicos ou neurodegenerativos, contribuindo para
uma disfunção cognitiva em usuários de anabolizantes.

NOVOS DESAFIOS
Prezado(a) aluno(a), vimos que o amadurecimento humano tem relação direta
com a maturação dos neurônios, os quais podem aumentar a condução elétrica e
a capacidade de responder a problemas diversos: esse evento ocorre, em especial,
ao longo das duas primeiras décadas de vida. Posto isso, o desenvolvimento da
mente e dos comportamentos humanos iniciam, ainda, no período intrauterino,
mas são potencializados em virtude da formação das bainhas de mielinas, que,
somadas à eficiência sináptica, oportunizam o desenvolvimento motor, a maior
capacidade linguística e tantos outros elementos desenvolvimentistas.
Por fim, conhecer o funcionamento das funções neurológicas oportuniza o
planejar e estruturar estratégias diferenciadas para a aplicação dos métodos de
aprendizagem. Tal estudo também é imprescindível para que o planejamento seja
adequado ao potencial neurológico dos indivíduos.

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VAMOS PRATICAR

1. O sistema nervoso humano apresenta a capacidade de se remodelar, de mudar e se


adaptar a novas situações, seja pelo fato de aprender algo novo ou se reorganizar de-
vido à ausência de algum sentido, como ocorre em pessoas cegas que desenvolvem
mais o sentido da audição e tato, por exemplo. Em outras palavras, nosso sistema
nervoso tem a capacidade de alterar sua função ou de sua estrutura em resposta às
influências ambientais que o atingem.

De acordo com essa temática, assinale a alternativa correta.

a) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como Neuroplasticidade.


b) A capacidade de remodelar as conexões neurais encontrando novos caminhos é co-
nhecida como Sinapses.
c) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como Potencial de ação.
d) A capacidade de remodelar as conexões neurais encontrando novos caminhos é co-
nhecida como Memória.
e) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como difusão através
da membrana.

2. Se pararmos para analisar do ponto de vista animal, todos somos capazes de aprender
e tudo é dependente para a variedade comportamental e sobrevivência da espécie.
No entanto só observamos algo novo devido a uma série de sofisticadas estruturas
neuronais, geneticamente, determinadas a serem plásticas.

De acordo com a afirmação de que a maior plasticidade neuronal humana ocorre até
aproximadamente aos três anos de idade, assinale a alternativa correta.

a) Nesse período, o bebê é acompanhado de perto por pais e especialistas infantis.


b) Nesse período, o bebê é muito observador, presta atenção e reconhece tudo a sua
volta.
c) Durante esse período, o bebê tem muitas sinapses e, por esse motivo, apenas, o
cérebro é moldado.
d) Durante este período, o bebê possui grande sensibilidade às influências externas.
e) Nesse período, o processo maturacional do bebê é muito intenso, o que por si só,
converte-se em conhecimento.

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VAMOS PRATICAR

3. Uma criança já nasce com muitas conexões sinápticas (conexão entre neurônios, ati-
vidade elétrica entre eles). Aos 12 meses de vida, já se tem, praticamente, o dobro de
sinapses que um cérebro adulto e, com isso, tem-se um maior gasto de energia. Por
qual razão o excesso de sinapses é fundamental para o aprendizado?

Assinale a alternativa correta.

a) O excesso de sinapses na infância servirá como matéria prima para a construção do


conhecimento, fortalecendo as conexões entre neurônios.
b) Apenas, para gastar energia, durante o amadurecimento cerebral.
c) Para eliminar informações desnecessárias, durante o processo de estabilização do
conhecimento formal.
d) Devido à necessidade de estimulação elétrica, uma vez que o aprendizado é guardado
no potencial elétrico das sinapses.
e) Para que seja possível a aquisição de linguagem nessa etapa da vida.

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REFERÊNCIAS

BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Crescimento. Porto Alegre: Artmed, 2011.


BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
CALL, N; FEATHERSTONE, S. Cérebro e Educação Infantil: como aplicar os conhecimentos da
ciência cognitiva no ensino de crianças de até 5 anos de idade. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.
GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C., GOODWAY, J. D. Compreendendo o Desenvolvimento Motor:
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
KANDEL, E. et al. Princípios de Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
KAUFMAN, M. J. et al. Brain and cognition abnormalities in long-term anabolic-androgenic
steroid users. Drug and alcohol dependence, [s. I.], v. 152, p. 47-56, 2015.
KREBS, C. Neurociências ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.
LENT, R. Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan, 2018.
RELVAS, M. P. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de
aula. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2010.
RELVAS, M. P. Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas eficiências
para uma educação inclusiva. 6. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2015.

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GABARITO

1. A.

2. E.

3. A.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 5

O ALICERCE DA APRENDIZAGEM E
FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Descrever e discutir os elementos estruturais básicos para a aprendizagem.

Elucidar os mecanismos neurológicos para a formação de memórias.

Oferecer ao discente conhecimento sobre os tipos de memórias existentes.

Evidenciar a importância do humor na aprendizagem.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Caro(a) aluno(a), as memórias são codificadas e armazenadas pelos neurônios,
formando diversas redes neurais, do mesmo modo a evocação dessas informa-
ções ocorrem pelas mesmas regiões e estruturas. A formação das memórias
depende, diretamente, do nível de consciência, emoção e estado de humor do
aprendiz. Perceba como é difícil recordar de algo quando estamos alterados, com
o estado de alerta elevado ou com alto nível de estresse em uma prova ou em uma
apresentação acadêmica. Diante disso, é difícil lembrar de assuntos já conhecidos
e absorver novos conhecimentos.
Formar memórias é mais do que moldar a personalidade, é promover conheci-
mento saudável, ao longo de toda uma vida. Nossas memórias podem ser moldadas
por emoções que vão além de estar triste ou alegre, fazem parte da exteriorização
do desejo e das vontades do ser humano ao longo do seu desenvolvimento.
Neste tema de aprendizagem, discutiremos os aspectos principais acerca do
aprendizado retido ou, como comumente é denominado, memórias, sobretudo,
com uma abordagem clara e de fácil compreensão. São raras as crianças que se
recordam de eventos nos primeiros anos de vida, isso ocorre pelo fato das estru-
turas neurais, ainda, não estarem totalmente estabelecidas.
É interessante considerar o aprendizado sob um alicerce, o qual contém ele-
mentos que, inter-relacionados, permitirão que o aprendiz e o docente melhorem
os conhecimentos diversos, aumentando o aprendizado e, por consequência, a
permanência dessas novas informações nas memórias de longa duração.
Atualmente, nas redes sociais, diversas são as charges, os memes ou contex-
tualizações engraçadas de algum fato ou evento. Esse humor, que nos prende por
horas, em frente a uma tela tecnológica, pode e deve ser ajustado para o contexto
escolar, pois gargalhadas em virtude de uma prática pedagógica bem-humorada
irá favorecer a formação de memórias de curta duração.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

ALICERCE DA APRENDIZAGEM

Caro(a) aluno(a), iniciamos, neste momento, uma discussão maravilhosa acerca


da aprendizagem e, para tanto, começo com a seguinte indagação:

VOCÊ SABE RESPONDER?


O que faz os seres humanos aprenderem algo?

Fácil, não é mesmo! Acredito que diversas coisas vieram a sua cabeça, mas
antes de responder e definirmos o que eu gosto de chamar de alicerce do
aprendizado, reflita sobre a seguinte situação: uma criança de alguns meses
que já engatinha, quando inserida em uma sala de aula, com poucos ou muitos
recursos, o que aconteceria? Ela certamente iria mexer em tudo, não é mesmo?
É possível consideramos isso como exploração do ambiente, ou seja, pelas
experiências vividas nesse local a criança internaliza conhecimentos diversos
que, possivelmente, resultarão em aprendizagem.

E como aprendemos?

Muito provavelmente você respondeu que nós, seres humanos, aprendemos


pela prática, ou seja, vivenciando, experimentando, realizando diversas ativ-
idades ou tarefas, e isso está totalmente correto. A prática não só nos leva
a perfeição, mas também nos proporciona aprendizagens. Dito isso, faço-lhe
uma nova indagação: você gosta de praticar coisas que não são agradáveis?
Acredito que a resposta é: definitivamente não! Desse modo, o que necessi-
tamos para praticar situações que nos ofereçam aprendizagem? Motivação.
Ninguém prática ou faz algo se sua motivação é pequena ou inexistente. Posto
isso, prática e motivação estão diretamente relacionadas, tarefas ou situações
fáceis demais desmotivam, difíceis demais inviabilizam a prática e, por conse-
quência, a motivação.

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UN I AS S ELV I

AP RO F U NDA NDO

Pegue papel e caneta, peço que, ao centro do papel, escreva a palavra


“aprendizagem”, acima dela escreva “prática” e abaixo “motivação”. Fei-
to isso, trace uma seta em duplo sentido partindo da prática, passando pela
aprendizagem e chegando a motivação, depois faça o caminho inverso. Tal e
como verificamos, prática e motivação caminham juntas no que se refere à
aprendizagem. Mas tenha calma. Nosso alicerce do aprendizado, ainda, não
está pronto, coloque em um dos lados da folha a palavra “métodos”, no mesmo
alinhamento da palavra aprendizagem e do outro lado escreva “atenção”.

Todos sabemos a importância dos métodos de ensino e aprendizagem, são mé-


todos intraneurosensorial, interneurosensorial, otimização das atividades
propostas de aprendizagens pelos canais visual, auditivo ou cinestésico,
ou mesmo pelas metodologias ativas que estão em
alta nesse momento. Independentemente do método adaptar ou
preferido, sua escolha deve levar em consideração substituir os
os aspectos que aumentam a motivação e, por con- métodos sempre
sequência, a prática. Dessa forma, deve-se adaptar que for necessário
ou substituir os métodos sempre que for necessário.

P E N SA N DO J UNTO S

Ao realizar um cálculo matemático de multiplicação, são adotadas as mesmas


estratégias ou regras? Quando a multiplicação é realizada no papel, existem
regras, um passo a passo metodológico para se completar a equação. Agora, ao
realizá-la na cabeça, cada indivíduo pode encontrar uma forma de ser assertivo
e rápido na resolução da problemática em questão. Por essa razão, muitos são
os métodos que podem ser adotados, não existe o melhor nem o pior, mas sim
aquele que é mais eficiente diante de uma determinada situação.

Seguindo com o entendimento deste alicerce de aprendizagem, falta-nos um item


fundamental, a atenção. Quantas vezes você teve de ler textos mais de uma vez
para compreendê-los? É evidente que existem textos que apresentam a necessidade
de se ler mais de uma vez, talvez pela sua complexidade, agora, se você não é uma
criança que precisa da repetição para aprender melhorar seu foco e consequentemente
aprender, posso ser incisivo ao dizer que está lendo com a sua cabeça em outro lugar.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

Desse modo, pare de se enganar, adultos não precisam ler com música de
fundo, ruídos diversos ou qualquer outra coisa que venha a pensar. Tome como
exemplo: quando se deve entregar uma tarefa ou estudar algo e o prazo está dis-
tante, seu foco será pequeno pois há tempo para concluir tal tarefa, por outro lado
se a entrega é para amanhã, seu rendimento irá aumentar muito, não é mesmo?
Ou seja, a melhora da nossa atenção está no treino diário, assim, a manutenção
do foco será cada dia melhorada.

A P RO F UNDA NDO

Os seres humanos, homens e mulheres, mantêm o foco em apenas uma coisa


por vez. Mulheres, por sua vez, apresentam maior densidade neuronal, favore-
cendo a rápida mudança de foco, o que nos leva à sensação de realizar diver-
sas atividades simultaneamente, quando, na verdade, faz-se uma coisa por vez,
mas se muda o foco principal muito rapidamente.

Por fim, ao considerarmos que a aprendizagem está diretamente relacionada à


prática, motivação, métodos e nível de atenção, falta apenas um ingrediente, a
“oportunidade”. Isso mesmo, nada do que discutimos até agora promoverá estra-
tégias para um aprendizado mais eficiente se não oportunizamos os aprendizes
de experimentarem e de se envolverem com essas estratégias.
Tome como nota o atleta de futebol Neymar, um indivíduo talentoso com
predisposição individual para ser jogador dessa modalidade, mas lhe pergunto, e
se Neymar fosse uma criança com os mesmos “dons”, porém tivesse que trabalhar
na infância para ajudar sua família e pouco pudesse se dedicar ao futebol, será que
ele seria o atleta que se tornou? Bem difícil, não é mesmo? Isso ocorre também
para músicos, pessoas talentosas que nascem com ouvidos maravilhosos, mas se
não estimularmos, se não propusemos tarefas que desenvolvam essas habilidades,
a aprendizagem será falha ou, em muitas vezes, ocorrerá.
Posto isso, é nosso dever oportunizar a cada aprendiz as situações específicas
que os levarão ao aprendizado. Gosto de chamar de alicerce do aprendizado, pois
se qualquer variável falhar, o aprendizado tende a ser deficitário ou inconsistente.

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UN I AS S ELV I

E U IN D ICO

Assista a série “Os Super-humanos” que mostra uma mulher


chamada Elisabeth Sulston com alto grau de sinestesia, que é
uma função fisiológica de fundir os sentidos, além de melhorar
a memória e o aprendizado. Ressalto, aqui, que o cérebro hu-
mano pode nos enganar, criar e recriar situações. Os vídeos
sugeridos é apenas para fortalecer as discussões acerca dos
processos de aprendizagem humana.
Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso uti-
lizará seu pacote de dados (ou wifi) para ser exibido.

FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS

Excelentíssimos(as) alunos(as), se nossa atenção for pequena, o aprendizado não


acontece, ou seja, é muito mais que o entendimento da leitura de um texto. Sobre-
tudo, falar de aprendizagem é, na verdade, falar de memórias ou de lembranças
que, por sua vez, são memórias armazenadas em nosso cérebro.

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A formação de memórias depende, inicialmente, da recepção de estímulos


provenientes do meio externo, essas informações chegam ao nosso encéfalo por
meio dos “órgãos dos sentidos”, como o tato, o olfato, o paladar etc.

A partir desse momento, a atenção passa a ser fundamental na sequência do


processo, pois quando esses estímulos sensoriais não recebem atenção, a infor-
mação é perdida e nenhuma mudança neurológica para a formação de memórias
acontece. Por outro lado, os estímulos sensoriais que recebem atenção serão
convertidos em memórias de curta duração (PARKER, 2014, RADANOVIC;
KATO-NARITA, 2016).
Nesse momento, chegamos a uma encruzilhada: as memórias de curta du-
ração podem ser eliminadas, desde que não sejam retomadas, porém, quando
são trabalhadas e voltam a receber atenção, são transformadas e armazenadas
em memórias de longa duração.
As memórias que formamos são agrupadas por temas, basta pensar em uma
feira livre ou uma feira de rua, do que você lembra? Acredito que passou em sua
cabeça pastéis, hortaliças, frutas etc. Isso só foi possível porque nossos conheci-
mentos estão fixados em nossa cabeça por áreas temáticas, formando diversos
mapas mentais (CALL; FEATHERSTONE, 2013; RELVAS, 2010). O processo é
bem simples, mas ao mesmo tempo complexo.
Desse modo, observe a Figura 1 a seguir, que apresenta as principais estruturas
neurológicas envolvidas no processo de formação de memórias.

Figura 1 - Hipocampo e amígdala cerebral na formação


de memórias
Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: na Figura 1, observa-se as estruturas envolvidas na formação das memórias. Como se
fosse um Raio-X do encéfalo, deixando evidenciado a amígdala cerebral conectada ao hipocampo e, na parte
posterior da imagem, o cerebelo, estrutura que não armazena memórias, mas auxilia em seu processo de formação.

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Caro(a) aluno(a), o hipocampo apresentado na figura anterior é a região


responsável por formar memórias. Evidentemente, essa estrutura depende de
diversas outras estruturas neurológicas para consolidar as aprendizagens. Obser-
ve, na imagem, uma pequena bola na ponta do hipocampo, a amígdala cerebral,
que tem por função classificar o estado emocional do aprendiz no momento da
formação da memória.

P E N SA N DO J UNTO S

Se o hipocampo é tão importante para a formação de memórias, a retirada dele


poderia resultar na impossibilidade de construir memórias?

No momento de se consolidar uma nova memória, é necessário manter alto


nível de atenção, por essa razão os métodos empregados são importantíssimos.
Sobretudo, é fundamental se preocupar com o estado emocional do aprendiz,
caso contrário, há o risco de inibir a aprendizagem.
Para explicar melhor, considere um momento de estresse, como o medo,
a fúria, uma ansiedade excessiva, dentre outras tantas situações que são con-
troladas pelo sistema límbico dos seres humanos, em outras palavras, são
eventos primitivos, para a sobrevivência (FONSECA, 2016). Nesses momentos
nos mantemos racionais? Por vezes brigamos, esbravejamos, xingamos, muitas
vezes surge um branco durante uma prova, esquecemos trechos importantes
em uma apresentação.

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Todos esses eventos emanam, em especial, pela ativação da amígdala cerebral,


responsável por perceber nosso estado emocional em dado momento, e se por
alguma razão nosso estado de alerta for negativo, a parte racional do cérebro
será momentaneamente bloqueada, impossibilitando a manutenção de foco, a
evocação de memórias relacionadas a tal temática e, por fim, pequena ativação
hipocampal, ou seja, existe, aqui, a impossibilidade de formar boas memórias.

Desse modo, o ato de formar memórias depende diretamente do estado emocion-


al do aprendiz, pois quando confortável, dentro do contexto de aprendizagem,
permitirá acesso aos canais de captação de estímulos sensoriais do ambiente,
direcionando tais experiências para o hipocampo que, por sua vez, consolida uma
nova aprendizagem (FONSECA, 2014; PIRES; FERREIRA; ACAMPORA, 2018).

Simplificando a você, as áreas sensitivas do cérebro identificam estímulos


respectivos, as áreas de associação integram esses sinais a outros dados de outros
sentidos já existentes e, na sequência, irão compará-los com as memórias e os
conhecimentos já existentes no cérebro e associá-los a emoções e sentimentos.
Para apresentar a você, de modo técnico, como essa construção de uma me-
mória de longa duração acontece, já sabemos que o hipocampo deverá formar
uma memória declarativa (consciente) e, para isso, é auxiliado pelo córtex en-
torrinal, giro dentado e região CA3 (subárea do hipocampo). O hipocampo é
interconectado com todas as regiões do cérebro que registram e modulam o
caráter emocional das experiências com aquelas que determinam se são novas
ou não (LENT, 2013).
O hipocampo recebe e emite fibras a vários núcleos da amígdala e do septo
medial, do córtex pré-frontal mediolateral (este é essencial para o processamento
da memória de trabalho, a qual é crucial para manter a memória viva ou dis-
ponível enquanto ela está sendo percebida ou processada), do córtex parietal
associativo da maior parte do córtex sensorial. “O hipocampo, a amígdala e os
córtices entorrinal, pré-frontal e parietal recebem também vias de informação
referente ao estado de consciência, alerta e ansiedade” (LENT, 2013, p. 247). A
Figura 2 a seguir representa as memórias de acesso consciente e inconsciente
dos seres humanos.

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VIRAR PÁGINA PARA VISUALIZAR

Figura 2 - Os tipos e subtipos de memória e suas principais características / Fonte: Lent (2013, p. 246).

Descrição da Imagem: a Figura 2 está construída em forma de um esquema gráfico, que subdivide as memórias em declarativas do lado esquerdo e procedimentais ao lado direito.
A imagem, ainda, representa as variações dessas memórias em subtipos, pois memórias declarativas são subdivididas em memórias semânticas e episódicas. Por outro lado, as
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memórias procedimentais estão relacionadas ao aprendizado motor e seu amplo condicionamento ou aperfeiçoamento.

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É bastante simples compreender o conceito de memórias declarativas: são memó-


rias de acesso consciente, as quais podem ser divididas em memórias semântica
e episódica.

MEMÓRIAS SEMÂNTICAS

Para explicar o que são memórias semânticas, pergunto-lhe: qual a capital do


Brasil? Qual a moeda financeira dos Estados Unidos da América? Se você con-
seguiu buscar, de modo consciente, em suas memórias, as respostas para estas
questões, já compreendeu do que se trata memórias semânticas. As memórias
episódicas, por sua vez, estão associadas à busca, em sua cabeça, por um even-
to, casamento, formatura, o evento do 11 de setembro etc.

MEMÓRIAS PROCEDIMENTAIS

Por outro lado, memórias procedimentais estão representadas nas ações incon-
scientes, como escrever, por exemplo. Nós pensamos no que escrever e não em
como escrever. Talvez, quando aprendeu a dirigir um carro, muitas ações depen-
diam de sua atenção máxima, já hoje, os pés e as mãos simplesmente movimen-
tam-se, de maneira automática.

Ampliando essa discussão sobre os mistérios do encéfalo humano, trago o se-


guinte questionamento: você já passou por momentos de déjà vu? Aqueles mo-
mentos em que acredita já ter passado ou vivido pela mesma situação? E se eu te
falar que nossas memórias podem nos enganar? Isso mesmo! Nossas memórias
podem ser pessoais, mas também podem ser coletivas, ficou confuso? Calma,
eu lhe explico: as memórias podem ser perdidas ou fortalecidas ao longo da
vida, ou seja, fortalecemos aqueles eventos importantes e descartamos coisas
irrelevantes ou que já não nos interessa mais.
Como já discutido, a formação das memórias depende da nossa atenção e
da vivência sobre determinado evento que se pretende armazenar, no entanto
nosso cérebro também incorpora a essas lembranças fatos irreais, construtos do
imaginário, mentiras ou diversas variações a essas memórias, assim, é possível
acreditar ter passado por alguma situação, quando, na verdade, foi algo que es-
cutou de algum amigo, viu na televisão ou mesmo sonhou.

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VAMOS RECORDAR?
Para reforçar essa ideia, considere o seguinte: se durante o aprendizado, após
o nascimento, o recém-nascido apresenta um alicerce neuronal desestrutura-
do e, ainda, em processo de amadurecimento, como é possível se recordar de
eventos da infância?

Posso lhe responder de modo simples: é bem provável que este momento de re-
cordação tenha sido muito feliz ou muito traumático, caso contrário, você pode se
recordar de uma foto, de histórias contadas por pais, parentes ou indivíduos que
acompanharam seu crescimento. Em resumo, nós, seres humanos, podemos “rou-
bar” memórias de outras pessoas e acreditar que são experiências individuais.
É válido ressaltar que existem memórias que são formadas em questão de se-
gundos, outras, em minutos e, outras ainda, em semanas. Basta comparar uma quei-
madura em uma panela quente com um conhecimento técnico de neurociências.

MEMÓRIAS DE CURTA E LONGA DURAÇÃO

Caro(a) aluno(a), de qual maneira aprendemos? Após tantas discussões acerca


desse assunto, acredito que tenha conseguido responder a essa indagação de
maneira ampla, mas, ao analisarmos essa questão, de modo sutil e simplista,
poderíamos resolver essa problemática pela experiência, a maneira pela qual
cada um de nós perpassa por essa realidade que, possivelmente, será armazenada.
Neste momento, vale ressaltar al-
guns canais de comunicação do meio
externo para com nosso sistema ner-
voso central, para isso necessitamos
dos “órgãos dos sentidos”, que sem-
pre foram muito estimulados durante
os processos educacionais de base. A
construção de memórias depende das
experiências sensoriais, ou seja, a inter-
nalização das informações depende do
tato, olfato, gustação, visão e audição.

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Para que o sistema nervoso traduza os eventos vivenciados durante a aquisição


de novas memórias, é necessário a utilização de neurônios e redes neurais,
desse modo, considere a seguinte situação: ao ler um livro, assim como esse material,
as informações chegam pelos olhos (canal visual), a luz que chega a retina será
convertida em impulsos elétricos, que serão levados e processados pelo córtex
visual na região occipital (nuca) de nosso crânio (PARKER, 2014).

Dessa maneira, a realidade é internalizada de modo idêntico por meio de sinais


elétricos que são conduzidos por diversas redes neurais, sendo processados e tra-
duzidos por eventos bioquímicos que ocorrem nos neurônios. Ao lembrarmos de
algo memorizado, o caminho inverso é realizado, fazendo com que nossos sentidos
e consciência possam interpretar tais códigos como tradução do mundo real.
De acordo com Lent (2013), é possível subdividir as memórias considerando
seu tempo de persistência em nosso encéfalo, sendo assim, existem memórias
que perduram por alguns minutos e aproximadamente 6 horas, estas são de-
nominadas memórias de curta duração. Por outro lado, memórias de longa
duração, como as declarativas ou procedimentais apresentadas na aula anterior,
podem perdurar por horas, dias, meses ou anos. Para Guyton e Hall (2017), além
das memórias de curto e longo prazo, existe ainda a memória intermediária, que
pode durar horas e até mesmo semanas, no qual mudanças físicas, químicas e
anatômicas temporárias podem surgir nas redes neurais.
Para a consolidação de uma memória de curta duração é necessária a reto-
mada repetida de determinado conhecimento, assim mudanças físicas, químicas
e anatômicas nas sinapses ocorrem, ao construir memórias de longa duração
(GUYTON, HALL, 2017). Você já se deparou com situações de indivíduos que
sofreram acidentes e não se recordam daquele evento? Pois bem, isso ocorre pela
necessidade de tempo de repetição de uma memória, ou seja, para uma consolida-
ção fraca de uma memória de curta duração, é necessária a retomada dos eventos
por cerca de cinco ou dez minutos, e mais de uma hora para consolidação forte.
Desse modo, ao perdermos a consciência em um acidente essa retomada deixa
de ser possível, resultando na perda daquela memória.
Como todos sabemos, a repetição leva ao aprendizado, e um cansaço mental
pode inviabilizar a aquisição de informações. Pois bem, o aprendizado de longo prazo
é favorecido pela prática pedagógica fracionada e bem estruturada, ou seja, fortalecer
pequenas partes de conceitos que devem ser aprendidos resulta em maior aprendiza-
gem, quando comparada a um processo de ensino e aprendizagem superficial e amplo.

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Ao que parece, as memórias de curta e longa duração ocorrem em paralelo,


ambas são processadas nas mesmas regiões (hipocampo, córtex entorrinal e córtex
parietal associativo), mas utilizam vias enzimáticas diferentes, o que pode favorecer
maior entendimento sobre a perda de memória, durante a velhice (LENT, 2013).

IN D ICAÇ ÃO DE FI LM E

Sem Limites
Ano: 2011
Sinopse: o escritor Eddie Morra (Bradley Cooper) não está
conseguindo cumprir os prazos para a entrega de um livro,
esse bloqueio de escritor é superado pela utilização de um
remédio que potencializa a atividade neural, permitindo a uti-
lização de 100% do cérebro. O efeito da medicação é imediato,
e o escritor passa a lembrar de tudo que já leu, viu ou ouviu
durante a vida. Seu sucesso no aprendizado de diversas lín-
guas, resoluções de cálculos e mesmo escrita impressiona até
mesmo grandes empresários. Neste filme, observa-se a maior
atividade e capacidade neurológica em virtude da utilização
de uma substância farmacológica, no entanto, na vida real,
muitos indivíduos necessitam da utilização de medicamentos
para ampliar a performance cognitiva. Por outro lado, pessoas
que não apresentam déficit na liberação de neurotransmis-
sores não terão efeitos otimizados em sua memória, atenção,
foco ou potencialização da atividade neural.

HUMOR, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS

Caro(a) aluno(a), uma sala de aula em que se imperam a cordialidade, a tran-


quilidade e o bom humor favorece a aprendizagem, pois o riso rompe estruturas
da imaginação e abre a mente do aprendiz. O humor aumenta o interesse dos
aprendizes, ao possibilitar a resolução de problemas, aumenta a confiança, ajuda
na superação de problemas e melhora a comunicação com os estudantes.
Obviamente, é impossível apoiar-se no humor 100% do tempo em sala de
aula, mas melhora a relação dos alunos com os professores, dos alunos com
outros alunos e, desse modo, o riso se faz uma excelente estratégia de ensino
e aprendizagem.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

Busque em suas lembranças um bebê de poucos meses, desconsidere as ações


reflexas. Pense que este distribui risos sempre que está satisfeito com algo, mes-
mo que não conheça muito do mundo a sua volta. A risada dessa criança indi-
ca felicidade. Logo, a comunicação por gestos não é diferente do que se passa
conosco quando satisfeitos e felizes.

Para lhe explicar melhor, considere um jogo de palavras que será percebido pelas
áreas da linguagem, podendo ser captadas para nosso mundo interior pela visão
ou audição: é desse modo que compreenderemos o que estamos vendo ou ou-
vindo. Todas as vezes que uma situação absurda surgir, a risada tomará conta, e
nosso corpo irá nos trazer uma sensação de felicidade gigantesca (RADANOVIC;
KATO-NARITA, 2016).

VOCÊ SABE RESPONDER?


Você já ouviu dizer que o hemisfério esquerdo do encéfalo humano analisa,
logicamente, as situações em que nos deparamos, já o hemisfério direito é re-
sponsável pelos aspectos criativos?

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UN I AS S ELV I

Posto isso, todas as vezes que um jogo de palavras, como uma história que
nos é contada chega por meio dos “órgãos dos sentidos” para serem processadas
e compreendidas, o cérebro esquerdo tenta entender qual é o final lógico da his-
tória, enquanto o cérebro direito considera a remota possibilidade do absurdo,
desse modo, todas as vezes que o lógico se transforma rapidamente em ilógico
(absurdo), surge o divertido e, consequentemente, as gargalhadas.
As gargalhadas gostosas que produzimos ou percebemos, em outras pessoas,
dependem da produção de um neurotransmissor chamado dopamina, o qual é li-
berado na base do encéfalo em uma área denominada de área tegmentar ventral,
o qual se conectará a receptores que são nomeados como núcleos accumbens,
desencadeando assim, a reação do riso do córtex pré-frontal. Por fim, como rir
é um movimento de estruturas neurológicas responsáveis pelas ações motoras,
também serão acionadas a esse todo evento que gera prazer, e automaticamente
a vontade de fazer novamente será repetida e várias vezes acionadas pelo encé-
falo humano. Comumente, conhecido como circuito de recompensa (GOMES;
PEREIRA, 2016; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
O humor é processado de maneiras diferentes no cérebro masculino e feminino.

HOMEM

No homem, o processo é bastante simples, o evento ou a história contada é


divertida ou não é, simples assim. É por esse motivo que, muitas vezes, mulheres
se deparam com homens gargalhando com um episódio do “Chaves”.

MULHER

Outro lado, o cérebro feminino é bastante complexo, a mulher consegue maior


ativação do circuito de recompensa mencionado acima, utiliza a informação
recebida para integrar melhor o conhecimento formal previamente adquirido com
as emoções (mulheres contam histórias nos mínimos detalhes, não é mesmo?).
Por fim, surge no cérebro feminino maior nível de humor, ou seja, uma sensação
agradável.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 5

Seja pela simplicidade ou complexidade do cérebro masculino ou feminino, res-


pectivamente, o humor tem função importantíssima na formação de memórias
de curta duração. Ao contar histórias engraçadas, ao se apoiar em piadas saudá-
veis, o cérebro aumenta seu nível de atenção e de conexões neurais, o que favo-
rece o surgimento de uma memória. A partir desse momento, cabe ao professor
mediar atividades para retomar a temática, transformando-a em memórias de
longa duração.

NOVOS DESAFIOS
A formação das memórias humanas depende da funcionalidade harmoniosa de
diversas estruturas neurológicas, como o hipocampo, córtex entorrinal, amíg-
dala cerebral, dentre outras áreas vinculadas ao sistema nervoso. Nesse viés,
um dos elementos cruciais para o armazenamento de novos conhecimentos é
considerar as emoções individuais e a base de conhecimentos prévios já memo-
rizados sobre um determinado assunto. Desse modo, um aprendiz confortável
emocionalmente tende a ativar e usar melhor o cérebro racional e, consequen-
temente, aprender mais e melhor.
Verificamos, aqui, que o ato de aprender e moldar o cérebro humano é bastan-
te individual, uma vez que os motivadores de cada pessoa podem ser diferentes,
bem como sua personalidade. Independentemente da historicidade de cada um,
o aprendizado está relacionado de maneira direta à prática, ao nível de atenção
e motivação do aprendiz e, sobretudo, das estratégias, métodos e oportunidades
que serão oferecidas, nos mais diferentes contextos, para esses indivíduos que
necessitam absorver um novo conhecimento.
Caro(a) aluno(a), fica evidente nesse tema de aprendizagem que pensar em
estratégias que ampliem ou promovam mais facilmente a construção do apren-
dizado é importante, sendo o humor uma excelente maneira de se ensinar, de
conectar conceitos, reduzir o estresse, aumentar a socialização dos aprendizes
e, o mais importante, construir em cada indivíduo a vontade de voltar a sala de
aula e aprender cada vez mais.

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VAMOS PRATICAR

1. É notório, em todos os seres humanos, que o riso surge em virtude da satisfação. Em


crianças, esse evento ocorre mesmo que não conheçam algo. Sobretudo, a gargalhada
é um indicador de felicidade, assim como uma forma de comunicação.

Sobre o humor em sala de aula, assinale a alternativa correta.

a) A utilização de histórias bem-humoradas auxilia na formação de memória de curta


duração.
b) A utilização do humor, em sala de aula, deve ser utilizado apenas para relaxar o cérebro,
sem finalidades pedagógicas.
c) Homens usam melhor as histórias bem-humoradas que as mulheres para a formação
ou integração de conhecimentos.
d) O riso só será possível depois que o indivíduo adquirir capacidades de interpretação
visual e auditiva.
e) Ao se apoiar em momentos engraçados, o professor passará uma imagem de pouca
preocupação com a aprendizagem dos discentes.

2. A construção do conhecimento, apoiado nos princípios da neurociência com potencial


aplicação no ambiente de sala de aula, deve:

a) Considerar que cada região do cérebro trabalha individualmente, no qual a ativação


simultânea do córtex cerebral não ocorrerá, independentemente da experiência de
aprendizagem.
b) Apoiar-se na modificação neurológica pouco a pouco, em que o resultado da expe-
riência não terá capacidade de reestruturar o cérebro do aprendiz.
c) Interligar aprendizagem e emoções, apoiando-se em experiências adequadas a cada
período maturacional específico.
d) Apoiar-se na mediação por meio de experiências, sendo que as emoções, por terem
características primitivas, são descartadas no processo de ensino-aprendizagem.
e) Considerar que o cérebro humano é incapaz de testar hipóteses e gerar novos padrões
de conhecimento.

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VAMOS PRATICAR

3. As emoções têm, obviamente, um papel fundamental na função adaptativa e de sobre-


vivência da espécie e participam dos processos de aprendizagem dos seres humanos,
inclusive da aprendizagem dos conhecimentos escolares.

Como poderíamos colocar dentro dos currículos escolares o ensinamento das emoções?
Marque a alternativa correta.

a) Direcionar o aluno com maior frequência ao trabalho com os psicólogos, pois


b) com essas conversas o aluno educará suas emoções.
c) Motivar os alunos a persistir mediante os acertos e frustrações, controlar impulsos,
centralizar emoções para situações específicas, motivar pessoas e fazê-las desen-
volverem seus melhores talentos.
d) Por meio restrito ao aprendizado de conhecimentos de leitura e escrita, pois com uma
boa base educacional o aluno não terá motivos para ficar emocionalmente abalado.
e) Deixando o aluno tomar todas as decisões, uma vez que as emoções servem para a
sobrevivência, assim o acadêmico será treinado a tomar decisões e aprender com as
consequências de seus atos, sendo elas boas ou não.
f) As emoções ocorrem por base neurológica primitiva, no qual seu treinamento é im-
provável em virtude de suas funções pré-concebidas.

4. Para a formação de memórias, as áreas sensitivas do cérebro identificam estímulos


respectivos, e as áreas de associação integram esses sinais a outros dados de outros
sentidos já existentes, na sequência irão compará-los com as memórias e conheci-
mentos já existentes no cérebro e associá-los às emoções e sentimentos.

Sobre a formação de memórias, assinale a alternativa correta.

a) A formação de memórias depende diretamente do nível de atenção do aprendiz.


b) Memórias de longa duração são formadas inicialmente, seguida da consolidação de
memórias de curta duração.
c) Memórias de curta duração são formadas mesmo que o aprendiz não tenha oferecido
atenção aos estímulos recebidos.
d) Memórias de curta duração apresentam duração de semanas.
e) Ao formar memórias de longa duração, a aprendizagem certamente permanecerá
armazenada até o final da vida.

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VAMOS PRATICAR

5. Observe o esquema referente à formação de memórias apresentado a seguir.

Sobre o processo de formação de memórias, assinale a alternativa correta.

a) As informações que recebem pouca atenção não serão perdidas, serão armazenadas
como memórias inconscientes.
b) Para se construir uma memória, a receptividade de estímulos sensoriais é pouco relevante.
c) Para que seja formada uma memória, deve-se receber uma informação, que com a
devida atenção será transformada em memória de curta duração e, possivelmente,
longa duração.
d) Para a consolidação de uma memória, basta receber um estímulo qualquer que a
informação será armazenada.
e) Dependendo da intensidade do estímulo, é possível formar memórias de longa duração,
mesmo que uma memória de curta duração não tenha sido formada.

6. Tendo consciência de que todo ser humano é diferente e podem aprender cada um em
seu tempo e do seu modo, não importando classe social, financeira ou física, qual é a
soma da base ideal para se alcançar o aprendizado?

Assinale a alternativa correta.

a) Oportunidade + atenção + leitura + música = aprendizado.


b) Professores + apostilas + pais + métodos = aprendizado.
c) Métodos + prática + motivação + atenção + oportunidade = aprendizado.
d) Escola + alunos + professores + pais + amigos = aprendizado.
e) Prática + motivação + atenção + brincadeiras = aprendizado.

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REFERÊNCIAS

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema


nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
CALL, N; FEATHERSTONE, S. Cérebro e Educação Infantil: como aplicar os conhecimen-
tos da ciência cognitiva no ensino de crianças de até 5 anos de idade. 2. ed. Porto Alegre:
Penso, 2013.
PIRES, H. D. S. R; FERREIRA, S; ACAMPORA, B. I. Neurociências e Compreensão Leitora:
Emoção, Atenção, Memória e Funções Revista FSA, [s. I.], v. 15, n. 4, 2018.
FONSECA, V. Importância das emoções na aprendizagem: uma abordagem neuropsicope-
dagógica. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 33, n. 102, p. 365-384, 2016.
FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma
abordagem neuropsicopedagógica. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 31, n. 96, p.
236-53, 2014.
GOMES, C. M; PEREIRA, D. S. G. Aspectos neurais da aprendizagem e a influência do estresse.
Revista Acadêmica Licencia&acturas, [s. I.], v. 2, n. 1, p. 16-23, 2016.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.
NASCIMENTO, L. S. et al. Avaliação histológica cerebelar de camundongos submetidos a um
modelo experimental de apneia obstrutiva do sono. In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA,
15.; SALÃO DE ENSINO E EXTENSÃO, 10., 2016, Santa Cruz do Sul. Anais [...]. Santa Cruz do
Sul: UNISC, 2016.
PARKER, S. O Livro do Corpo Humano: um guia ilustrado de suas estruturas, funções e
disfunções. 2. ed. Jandira: Ciranda Cultural, 2014.
RADANOVIC, M; KATO-NARITA, E. M. Neurofisiologia Básica Para Profissionais da Área
da Saúde. São Paulo: Atheneu, 2016.
RELVAS, M. P. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de
aula. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2010.

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GABARITO

1. A.

2. C.

3. B.

4. A.

5. C.

6. C.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 6

O ALICERCE DA APRENDIZAGEM E
FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Conhecer a anatomia cerebral e a relação com as funções cognitivas.

Oferecer ao discente informações e conhecimentos sobre a cognição humana


e aprendizagem.

Apresentar a importância do sistema límbico como fator determinante na


aprendizagem.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Caro(a) aluno(a), ao observar o funcionamento do cérebro, compreendemos
o surgimento e o fortalecimento das sinapses, a criação dos circuitos neurais e
as adaptações para a velocidade de condução dos impulsos elétricos. Também
desvendamos os processos de ensino e aprendizagem, os quais estão intimamente
interligados a evolução do cérebro, das características dos neurônios, bem como
do amadurecimento biológico e cultural dos seres humanos.
Dentro desse eixo central dos processos de ensino e aprendizagem, serão abor-
dadas as funções cognitivas, a atuação do sistema límbico e as funções executivas
como um tripé que permite, potencializa e aperfeiçoa os processos de aprendizagem.
A cognição humana, diretamente associada à capacidade de resposta individual
para as mais diferentes situações, depende de íntima relação dos lobos frontais com
outras regiões encefálicas, e é por essa razão que os seres humanos são capazes
de receber estímulos sensoriais (input), identificar tais estímulos, apoiar-se em
memórias já adquiridas para selecionar as respostas mais adequadas para alguma
respectiva situação e, por fim, programar a ação que será executada (output).
O sistema límbico concebe análises interessantes do processo evolutivo do
encéfalo humano. Mesmo com tantos séculos de evolução humana, traços pri-
mitivos permanecem vívidos em áreas da base do encéfalo, são eles que induzem
o comportamento emocional que tem por papel principal nos manter seguros
e vivos. Sobretudo, o sistema límbico está diretamente envolvido nos processos
de aprendizagem, pois, se por influências ambientais, a sinalização primitiva for
pequena, maior será o acionamento das funções cognitivas, melhorando as ca-
pacidades de resposta e por consequência o aprendizado.
Siga firme em seus estudos!

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6

FUNÇÕES COGNITIVAS

Caro(a) aluno(a), o que consegue pensar ou dizer a respeito da cognição? Você


acredita que é algo que acontece no cérebro? Se pensou e respondeu algo seme-
lhante, você acertou e começou esse capítulo com o pé direito. Cognição humana
é a capacidade que os seres humanos têm de receber problemas, encontrar solu-
ções e executar as ações necessárias.
Para Fonseca (2014), a cognição e a inteligência emergem dos neurônios,
os quais podem ser considerados células de aprendizagem, que sustentam e con-
solidam somaticamente qualquer tipo de aprendizagem, seja ela de base sensó-
rio-motor, práxica, verbal, não-verbal, operacional e quaisquer tipos de novos
conhecimentos que se abarcam na leitura, na escrita, na matemática etc.
A aprendizagem humana, bem como a cognição, está pautada em uma in-
vestigação multi e transdisciplinar, a qual está relacionada ao conhecimento e
aos pensamentos. Desse modo, as aprendizagens simbólicas ou não simbólicas
envolvem diversos processos cognitivos e uma complexa estrutura neurológica
para arquitetar, integrar e organizar a sequência de informações.
Antes de discutirmos a fundo a função cognitiva, observe a anatomia cerebral
na figura a seguir. É bem verdade que existem regiões corticais de acesso cons-
ciente e também existem zonas subcorticais, responsáveis pelo processamento
primitivo, responsável por ações inconsciente. Entretanto, vamos analisar rapi-
damente algumas áreas de processamento no cérebro, essa estrutura com aspecto
enrugado ou amassado, conforme se pode observar na Figura 1 a seguir.

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UN I AS S ELV I

Figura 1 - Lobos cerebrais

Descrição da Imagem: observa-se na figura a estrutura encefálica, deixando mais evidente, com cores distintas,
os lobos cerebrais. A imagem evidencia os lobos frontal, temporal, parietal e occipital. Esses lobos subdividem
importantes regiões para processamentos específicos no cérebro.

É na parte posterior (lobo occipital) da nossa cabeça, que analisamos as informa-


ções visuais. No lobo temporal, por sua vez, localizado próximo à orelha, proces-
samos informações auditivas; no lobo parietal o, processamento cinestésico; no
córtex motor, processa-se as informações relacionadas a movimentos; no lobo
frontal (testa), consciência e personalidade; e abaixo dos lobos frontais está o
córtex pré-frontal, uma superestrutura que analisa com consequência todas as
nossas ações, orquestrando as funções mentais.
Os hemisférios cerebrais, as estruturas neurológicas e as células que levam
os comandos até estruturas periféricas do corpo humano estão interconectadas.

Desse modo, a imensa conexão existente entre as estruturas neurológicas per-


mite considerar que o processamento das informações acontece em áreas espe-
cíficas, no entanto, a superestrutura encefálica apresenta uma rede de conexões
íntimas o suficiente para se conectar rapidamente a diversas outras regiões.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6

Ilustríssimo(a) aluno(a), no que se refere à aprendizagem, não é possível separar as


possibilidades cognitivas, as quais possuem diversas estruturas neurológicas que rea-
lizam processos de modo interligado. No entanto, fragmento aqui a cognição, para
esclarecer o modo pelo qual nosso cérebro processa as mais diferentes informações
que se pode receber e analisar. Em resumo, a cognição é um dos principais ele-
mentos que alicerçam a aprendizagem e, sobretudo, está relacionada à capacida-
de que temos de receber informações do ambiente, encontrar respostas em nossas
memórias e realizar uma ação referente ao estímulo recebido.
De acordo com Bee e Boyd (2011), as teorias cognitivas enfatizam os as-
pectos mentais do desenvolvimento, tais como lógica e memória. Por essa
razão, um bebê comumente joga as coisas ao chão, sendo realizada por ele uma
análise repleta de atenção, como se ele já soubesse o percurso que tal objeto irá
percorrer e onde ele irá parar. Nessa repetição de jogar objetos no chão, os bebês
aprendem o mundo ao seu redor e, assim, formam quadros mentais que subsi-
diarão seus comportamentos. Após essa aprendizagem, pouco a pouco o bebê
amadurece, avançando na interação com o mundo ao seu redor.

P E N SA N D O J UNTO S

Para esclarecer melhor a lógica da cognição humana, faça a seguinte reflexão:


um pedestre em movimento, no meio de um tráfego intenso da cidade, quais in-
formações ele precisa processar? Muitas, não é mesmo? Esse ambiente oferece
ao pedestre diversos estímulos ambientais, desde um outro pedestre que está
em nosso caminho, que devemos desviar, da velocidade dos carros em nossa
direção, para que não sejamos atingidos, até a grande variedade de estímulos
sonoros, dentre tantas outras informações.

Todos esses estímulos podem ser considerados como input, ou seja, entrada de
informações para processamento. Por outro lado, a ação realizada como resultado
do processamento da informação é denominada de output.
Posto isso, é possível avançarmos para três importantes estágios de proces-
samento da informação: a identificação do estímulo; a seleção da resposta; e a
programação da ação. Esses estágios de processamento estão entre o input e o
output (SHIMIDT; WRISBERG, 2010).

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UN I AS S ELV I

ESTÁGIO 1

O primeiro estágio fornece fontes importantes de informação, indicando o que


se deseja como resultado final, podendo, conforme exemplo mencionado ante-
riormente, evitar um pedestre ou veículo. Esse primeiro estágio depende diret-
amente da captação de estímulos do ambiente para reunir os componentes da
informação, utilizando para isso os sistemas sensoriais, tais como: visão, audição,
tato, olfato e paladar. No caso de o indivíduo conseguir reunir todas as etapas
necessárias da informação recebida do ambiente, avança-se ao próximo estágio.

ESTÁGIO 2

O estágio dois, de seleção da resposta, relaciona-se com as diversas possi-


bilidades de criar uma ação e resolver os problemas provenientes do estágio
de identificação de estímulo. Suponha que o veículo que se desloca na rua
apresenta uma determinada velocidade, e devemos decidir se atravessamos rap-
idamente a rua na frente do carro ou esperamos ele passar, ou seja, a seleção da
resposta está intimamente associada à variabilidade de memórias, aprendizados
armazenados para as mais diferentes e possíveis resoluções do input.

ESTÁGIO 3

Por fim, o terceiro estágio de programação da resposta depende do construto


selecionado no segundo estágio. É nesse momento que se prepara para a ação.
Aqui organiza-se o sistema sensorial, indicando para qual lado nossa visão deve
olhar, é ajustada a base postural e prepara os músculos e os programas motores
para a execução dos movimentos. Quando todas essas etapas estiverem ajusta-
das, o output será visto, fotografado ou filmado.

Caríssimos(as), vamos simplificar essa explicação. Quando está resolvendo uma


prova teórica, ao ler (input) um determinado item (questão), está captando e estru-
turando elementos de informações em seu encéfalo, utilizando para isso o sistema
sensorial da visão. Após identificar os estímulos sobre a temática, os comandos
presentes no enunciado irão buscar em suas memórias uma resposta, a qual pode
ser assinalada entre os itens A e E. Posteriormente a análise detalhada, você acredita
que a alternativa correta se encontra na letra B, para assinalar, deve estruturar e or-
ganizar o movimento de sua mão, anotando na folha (output) o construto cognitivo.

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Como vemos, da resolução de problemas até sua expressão em forma de ação,


exige em seu conjunto diferentes funções cognitivas, a qual também pode ser
significada por habilidades, capacidades ou competências cognitivas. São ele-
mentos das funções cognitivas: atenção; funções motoras; funções visuais;
memória; funções executivas; praxia construtiva; linguagem; nível intelectual.
Tome como exemplo a seguinte situação: você chega em casa e sente um odor
de fumaça (atenção), ao reconhecer o cheiro (percepção) com base no que já
aprendeu (memória), esse pode ser um sinal de incêndio, desse modo você irá
buscar estratégias para resolver o problema (funções executivas).
Essas habilidades cognitivas são usadas para aprender, compreender e in-
tegrar as informações de uma forma significativa. A Informação aprendida cog-
nitivamente é entendida e assimilada, não apenas memorizada. Desse modo,
são subdivididas em capacidades executivas, motoras, simbólicas, sociais etc.,
as quais remetem-se ao domínio da linguagem, da compreensão de fenômenos,
do enfrentamento de situações problemas, da construção de argumentações e da
elaboração de propostas (FONSECA, 2007).
Para treinar processos cognitivos devemos visualizar, imaginar, verbalizar e
categorizar informações processadas cognitivamente, que são emocionalmente
ativadas, controladas e reguladas ao possibilitar uma aprendizagem significativa,
capacidade de pensar e raciocinar que deve ser ensinada.
Para elucidar melhor, observe o exemplo a seguir: buscar focos de possível
incêndio. Para fazer tal ação, um indivíduo deve ser capaz de identificar o cheiro
de queimado ou de fumaça, desviar a atenção para ele, associar essa informação a
algum objeto do ambiente e, em seguida, utilizar as habilidades motoras para se
locomover e buscar o foco do incêndio. Em síntese, é o que realizamos em nosso
domicílio quando sentimos ou percebemos situações semelhantes, locomovemo-
-nos à cozinha, aos banheiros e outros cômodos na busca de encontrar possíveis
irregularidades. Todas essas etapas são classificadas como habilidades cognitivas.

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O desenvolvimento cognitivo é um conjunto de competências que podem ser


diagnosticadas e ensinadas separadamente, que certamente se correlaciona
com a cultura. Dificuldades de aprendizagem podem surgir por várias causas,
como baixo Q.I., fracos hábitos de estudos, autoconceito negativo, fraca ati-
tude, conflitos emocionais, ensino pobre ou dispedagogia, falta de motivação
e desenvolvimento inadequado dos processos cognitivos que viabilizam a
aprendizagem (FONSECA, 2007).

Para elucidar a aplicação de elementos que discorremos até aqui, observe o qua-
dro a seguir.

OS ESTUDANTES OS ESTUDANTES
HABILIDADES
GOSTAM DE GOSTAM DE
Utilizar o espaço fora da
Passar o tempo ao ar
sala de aula, ter plantas e
livre, observar, colecionar
Naturalista animais na sala de aula,
plantas, pedras, animais,
conduzir experiências de
perceber a natureza.
ciências etc.
Criar projetos de leitura e
Contar histórias, trocadil- escrita, ajudar os alunos
Linguística hos, adivinhações, jogos a preparar discursos,
de palavras, criar poemas. despertar para os debates,
palavras cruzadas.

Reescrever letras de músi-


Escutar e tocar instru-
cas para ensinar conceito,
Musical mento, relacionar ritmo,
ensinar história por meio
rimas, criar notas.
de música.

Trabalhar com números, Usar jogos de estratégias,


adivinhar coisas e ao usar objetos concretos,
analisar situações com- gravar informações em
Lógico-matemática
preender como as coisas gráfico, estabelecer
funcionam, exibir precisão linhas de tempo e espaço,
em resolver problemas. mapas.

Jogar esportes e ser ativo,


Proporcionar atividades de
Cinestésico usar corpo, arte, dança,
movimentos.
representar mímicas.

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 6

Rabiscar, pintar, desenhar


ou criar representações
Desenhar mapas e labirin-
tridimensionais, trabalhar
Espacial tos, conduzir atividades de
com quebra-cabeça, com-
visualização.
pletar labirintos, montar e
desmontar coisas.
Permitir o trabalho no
Controlar os próprios sen- ritmo de cada um, designar
timentos e humores, es- projetos individuais e
tabelecer metas pessoais, direcionados, estabelecer
Intrapessoal
aprender a escutar, utilizar metas, oferecer oportuni-
habilidades metacogniti- dades de receberem feed-
vas. backs dos outros, envolver
em um projeto de reflexão.
Curtir amigos, liderar, Utilizar aprendizagem co-
meditar, dividir, entrar operativa, passar projetos
Interpessoal em consenso, trabalhar em grupo ou em duplas,
como membro de um time criar situações nas quais
efetivo. troquem informações.

Quadro 1: Propondo atividades combinadas


Fonte: Relvas (2010, p. 104).

Tal e como discutimos, o quadro apresentado anteriormente indica o que se pode


fazer para criar estratégias, do que se pode fazer para trabalhar e para desenvolver
as habilidades predominantes nos aprendizes. Desse modo, desperta-se o inte-
resse em aprender a aprender, conhecer, conviver, fazer e ser.

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IN D ICAÇ ÃO DE LI V RO

Linguagem e cognição: Processamento, aquisição e cérebro


Sinopse: neste livro de Augusto Buchweitz e Mailce Borges
Mota, você encontrará capítulos cativantes que levam a com-
preender os mecanismos cognitivos que subjazem o proces-
samento da linguagem para esta área, a psicolinguística, que
se propõe a entender esta habilidade incrível do ser humano
de se comunicar e de compreender sinais e sons organizados
e carregados de significado.
Comentário: neste material, você encontrará diversos espe-
cialistas das mais diferentes áreas, inúmeros pesquisadores
que buscam compreender a linguagem, seja vinculada às di-
ficuldades de aprendizagem ou mesmo às deficiências. So-
bretudo, as análises são pautadas nos elementos cognitivos,
áreas de processamento neurológico e, claro, na neurociência.

SISTEMA LÍMBICO#

Caro(a) aluno(a), você já reparou que existem situações em nosso cotidiano nas
quais agimos de modo inconsciente e tomamos decisões de maneira instintiva?
Pois bem, e se eu te disser que dentro dos processos educacionais nós falamos ou
tentamos ensinar para a parte errada do encéfalo, você acreditaria?
Para te convencer dessa situação, gostaria que fizesse a seguinte reflexão: ao
considerar que grande parte da sociedade é extremamente consumista, ao entrar
em uma loja de roupas ou calçados, você se depara com um item único, elegante,
bonito e, acima de tudo, que tenha um caimento perfeito em seu corpo ou pés.
Talvez alguns diriam: “eu preciso dessa peça de roupa ou desse par de calçados”,
quando, na verdade, seu guarda-roupas está repleto de roupas novas, centenas de
outros calçados, ou seja, na verdade você não necessita de mais esse item.
Posto isso, por qual razão compramos mesmo sem precisar? Difícil de res-
ponder, não é mesmo? Compramos pela nossa emoção e não pela razão. A partir
de agora, estamos prontos para discutirmos sobre esse encéfalo primitivo, que,
por diversas vezes, toma conta de nossa consciência.

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P E N SA N D O J UNTO S

Os seres humanos são dotados da capacidade de processar informações, desse


modo, a parte primitiva do nosso encéfalo realiza análises de maneira con-
sciente ou inconsciente?

O sistema límbico influencia o comportamento instintivo e subconsciente (sem


acesso voluntário) das pessoas e, em grande parte das vezes, está associado às res-
postas relacionadas à sobrevivência ou à reprodução. Nos seres humanos, o sis-
tema límbico e diversas estruturas associadas desempenham papéis complexos,
relacionados à expressão de instintos, impulsos ou emoções (PARKER, 2014).
A ação primitiva inata pode ser modificada por considerações racionais, ela-
boradas por regiões superiores do encéfalo (acesso voluntário), considerando a
execução de nossas ações os valores morais, sociais e culturais. Sobretudo, essas
modificações são essenciais ao comportamento humano, posto que nem sempre
os atos humanos são racionais, em especial em tempos de tensão ou crise.
Permita-me apresentar-lhe uma situação para esclarecer melhor:

VOCÊ SABE RESPONDER?


O que difere o ser humano de um animal selvagem?

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UN I AS S ELV I

O raciocínio. Agora, imagine uma supermulher, batalhadora, que estuda e traba-


lha muito e, além de tudo, deve gerir uma família e obviamente uma casa, você
deve conhecer alguém assim, não é mesmo? Considere que seu esposo, em um
dia de folga, agende, em sua residência, um jantar com parentes e amigos. No
entanto, nesse dia, a mulher se encontra muito atarefada no trabalho, faculdade
ou pós-graduação. Ao ser informada pelo esposo de sua decisão, a mulher não
gosta muito da ideia, pois sua casa está bagunçada demais para receber visitas e,
ela ainda sabe que deverá trabalhar muito nesse evento social, mesmo após um
dia repleto de atividades desgastantes.
À medida que a hora do almoço chegou, essa mulher correu para casa para
ajeitar a casa e iniciar o preparo de algum prato para servir à noite e, logo depois,
volta para sua rotina de trabalho. Ao final do dia, a mulher corre para casa e, com
muito esforço, consegue deixar tudo em ordem e solicita ao seu esposo que ob-
serve o prato que levou ao forno, pois ela iria banhar-se. Alguns minutos depois,
a mulher deixa o chuveiro desesperada e corre para a cozinha, pois sentiu um
odor de queimado. Ao chegar ao forno, seu prato, preparado com tanto esforço
já havia queimado.
Caríssimo(a), no início do parágrafo anterior, definimos a principal diferença
entre seres humanos e animais selvagens, e como a mulher é um ser racional, ao
se deparar com aquela situação, ela olha para o seu cônjuge e diz: “tudo bem, eu
faço outro”. Talvez esteja rindo e lembrando da sua mãe, tia ou avó na mesma
situação e para muitas mulheres a ação não seria essa, um momento de fúria, de
insatisfação, de descontentamento tomaria conta de todo o organismo e, possi-
velmente, panelas iriam voar. Claro que algumas palavras de muito carinho, ou
seja, tentar se justificar ou argumentar só iria piorar a situação nesse momento.
Vale ressalvar, aqui, que os instintos ou impulsos primitivos podem ser modela-
dos racionalmente e talvez algumas mulheres lidariam tranquilamente com uma
situação semelhante a essa.

P E N SAN DO J UNTO S

Será que em momentos de descontrole emocional é possível manter a racion-


alidade durante a tomada de decisão?

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O questionamento que lhe faço é: por que em alguns momentos perdemos a


razão e depois nos arrependemos de algo que falamos ou fazemos? O sistema
límbico está localizado na parte central inferior do encéfalo e suas estruturas con-
trolam os impulsos sobre o comportamento externo, como digestão, micção e,
claro, as emoções, sejam elas de raiva, ciúme ou impulsos de fome. Para a história
que retratei a você, a forte expressão emocional influencia não apenas o com-
portamento, mas sim o processamento racional. Em resumo, todas as vezes que
o sistema primitivo estiver altamente ativado, nosso acesso ao controle racional
do comportamento humano estará dificultado, fazendo-nos agir primitivamente,
organizando nosso corpo para a sobrevivência.
Diversas são as estruturas límbicas, as quais podem ser observadas na Figura 2.
Destacam-se: hipocampo, amígdala cerebral, giro para-hipocampal, mesencéfalo,
fórnice, giro do cíngulo, corpo mamilar e corpo caloso, bulbos olfatórios, hipófise
e ponte (PARKER, 2014). Sobretudo, é importante considerar que outras áreas
neurológicas estão envolvidas no processamento instintivo (RELVAS, 2010).

Figura 2 - O sistema límbico / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 644).

Descrição da Imagem: a Figura 2 está em corte no plano sagital, por essa razão, pode-se observar as estruturas
neurológicas que estão ao centro do encéfalo, principalmente estruturas importantes que compõem o sistema
límbico. A imagem evidencia as seguintes estruturas neurológicas: fórnice, estria medular do tálamo, estria
terminal, hipocampo no lobo temporal, giro denteado, núcleo anterior do tálamo, trato mamilotalâmico, giro do
cíngulo no lobo frontal, comissura anterior, núcleos septais, corpo mamilar, bulbo olfatório, corpo amigdaloide e
giro para-hipocampal no lobo frontal.

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UN I AS S ELV I

Ao iniciar esse item, indiquei que comunicamos para a parte errada do encéfalo,
mas antes de discutirmos e analisarmos situações cognitivas ou mesmo executi-
vas, é fundamental “desarmar” o sistema límbico, pois se ele estiver fortemente
ativado, tem condições de bloquear nossa racionalidade. Desse modo, devemos,
antes de mais nada, considerar a base emocional de qualquer aprendiz.

O sistema límbico se relaciona com aspectos positivos e negativos dos seres hu-
manos, como as motivações, as emoções, o temperamento e a personalidade do
indivíduo. Posto isso, Fonseca (2014) diz que o aprendiz estará constantemente
questionando: Por que faço a tarefa? O que faço com a tarefa? Como me sinto
com a tarefa?

Os processos de ensino e aprendizagem envolvem muito mais que bons recursos, é


fundamental considerar como estratégia pedagógica os estados de humor, medo,
ameaça, perigo, ansiedade, insegurança, desconforto etc.

NOVOS DESAFIOS
Como verificamos, as estruturas neurológicas são um conjunto de sistemas com-
plexos, os quais podem sofrer diversas influências internas ou externas.
É evidenciado que tomadas de decisões, em virtude de uma elaborada e com-
plexa atividade neurológica, frente à necessidade de resolver problemas, depen-
dem, em especial, dos conhecimentos armazenados no cérebro humano. Por essa
razão, a capacidade cognitiva de um indivíduo se relaciona à possibilidade de
identificação dos mais diferentes estímulos, seguido da busca para encontrar as
possíveis soluções nas diferentes memórias já armazenadas, e, por consequência,
executar a ação da melhor maneira possível.
As ações cognitivas podem ser limitadas ou alteradas pelo sistema límbico, o
qual toma as decisões primitivas, estando associado às emoções, a insegurança,
o medo, a raiva, a euforia, dentre tantas outras funções que se remetem à sobre-
vivência da espécie, sobretudo, as funções conativas, que podem interferir ou
influenciar na racionalidade humana, limitando o processamento neurológico à
base do encéfalo, acionando minimamente o neocórtex humano.
Siga firma em seus estudos e aprofunde-se cada vez mais no tema abordado!

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VAMOS PRATICAR

1. O sistema límbico é composto por diversas estruturas neurológicas que criam inúmeras
interconexões, as quais permitem um amplo e importante controle sobre o organismo
dos seres humanos. Portanto, o controle de diversos comportamentos sociais e emo-
cionais estão diretamente associados ao controle dessas funções primitivas.

Com relação a essa temática, associando-a aos elementos acerca da aprendizagem hu-
mana, assinale a alternativa correta.

a) Os comportamentos emocionais são construtos de análises conscientes, bem


planejadas e estruturadas, o que sustenta a formação de aprendizados nos mais
diferentes contextos.
b) As emoções estão especialmente vinculadas a amígdala cerebral, possibilitando ou
inviabilizando a consolidação de novas aprendizagens.
c) Os comportamentos sociais apresentam base hereditária, por essa razão as funções
cognitivas são deixadas em segundo plano, apenas como base de suporte para o
sistema límbico.
d) Os comportamentos emocionais são evidências da elevada atividade das funções
cognitivas, devido ao amplo processamento das ações frente ao medo, ansiedade,
raiva, dentre outros.
e) A aprendizagem se relaciona com as funções cognitivas e executivas, ressaltando a
pouca importância do sistema límbico nesse processo.

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REFERÊNCIAS

BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Crescimento. Porto Alegre: Artmed, 2011.


BUCHWEITZ, A.; BORGES MOTA, M. Linguagem e cognição: Processamento, aquisição e
cérebro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017.
FONSECA, V. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e
psicopedagógica. 6. ed. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 2007.
FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma
abordagem neuropsicopedagógica. Revista Psicopedagogia, v. 31, n. 96, p. 236-253, 2014.
PARKER, S. O Livro do Corpo Humano: um guia ilustrado de suas estruturas, funções e
disfunções. 2. ed. Editora: Ciranda Cultural, 2014.
RELVAS, M. P. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de
aula. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.
SHIMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e Performance Motora: uma abordagem
da aprendizagem baseada na situação. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.

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GABARITO

1. B.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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UNIDADE 3
TEMA DE APRENDIZAGEM 7

FUNÇÕES EXECUTIVAS E
APRENDIZAGEM
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Desenvolver entendimento sobre as funções executivas dos seres humanos.

Conhecer o processo de desenvolvimento da aprendizagem.

Relacionar funções cognitivas, conativas e executivas para a aprendizagem.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


As funções executivas ou complexas são a interligação das funções primitivas
do sistema límbico e as funções cognitivas no ato de executar alguma ação, que
na maior parte das vezes é expressada por algum movimento corporal, seja ele
verbal, não verbal, esportivo, dentre outros.
Por meio da tríade de aprendizagem, também entenderemos os conceitos e
aplicações das funções cognitivas, executivas e primitivas dos seres humanos e
suas relações.
Bons estudos!

FUNÇÕES EXECUTIVAS

Historicamente busca-se compreen-


der a complexidade do compor-
tamento humano e a maneira pela
qual as relações sociais e interpes-
soais manifestam-se. A organização
das funções neurológicas, em espe-
cial das funções executivas, há sécu-
los intriga pesquisadores, os quais
buscaram entender as razões que
levaram pessoas com lesões neu-
rológicas a permanecerem vivas ou
mesmo indivíduos sem deficiências
aparentes apresentarem alterações
comportamentais.
As funções executivas são um construto de diversas operações cognitivas,
podendo ser influenciadas por respostas do sistema límbico, sobretudo a flexi-
bilidade ou a autorregulação das operações mentais e comportamentais, na
estruturação do planejamento cognitivo que fazem parte do domínio das funções
executivas (LENT, 2013).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 7

A tomada de decisão com consciência, antevendo as consequências que o plane-


jamento de suas ações podem ocasionar, são denominadas funções executivas.

O comportamento executivo envolvido no planejamento das ações humanas, está


relacionado, historicamente, ao processamento neural nos lobos frontais (testa) e
córtex pré-frontal, o que permanece adequado até os dias atuais. Recentemente, com
o avanço da tecnologia, exames de neuroimagem demonstram que, além dessas duas
regiões neurológicas, outras redes neuronais presentes no cérebro e no cerebelo parti-
cipam ativamente da elaboração dos comportamentos executivos dos seres humanos.

CÓRTEX PRÉ-FRONTAL

O córtex pré-frontal, presente nos lobos frontais, está relacionado às funções su-
periores que podem ser representadas por diversos comportamentos humanos.
Posto isso, qualquer lesão da área pré-frontal determina a perda de concen-
tração, diminuição da habilidade intelectual, déficit de memória e julgamento.
Para simplificar, essa região está associada à fala, as funções motoras, controle
práxico, exploração visual, planificação e programação de tarefas, julgamento
social, dentre outras (RELVAS, 2010).

LOBOS FRONTAIS

Nos lobos frontais, quando intactos, está a integridade do bom de-


sempenho executivo. Diversas estruturas neuronais, mesmo que fora dos lobos
frontais, conectam-se a essa região cerebral, a qual apresenta função cogniti-
vo-comportamental importante, como impor metas elaboradas ao comporta-
mento humano, desde planos acadêmicos, profissionais ou meramente pessoais
preestabelecidas pelo próprio indivíduo. Sempre existe uma escolha, não é
mesmo? Você pode concluir a leitura desse material e vencer mais essa etapa ou
parar para passear com seus amigos, essa regulação do seu comportamento é
influenciada pela atuação dos lobos frontais.

O correto funcionamento das estruturas anatômicas do encéfalo humano possi-


bilita a organização das funções cognitivas e a aplicação de suas capacidades em
diversas situações da vida real, seja como ferramenta biológica de sobrevivência, seja
ela para a eficácia dos recursos físicos e sociais com propósitos de curto, médio
ou longo prazo (FONSECA, 2014).

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UN I AS S ELV I

A desorganização das funções executivas, causadas por alguma lesão neurológica


ou por alguma síndrome específica, resultará em maior propensão de indivíduos
com dificuldades de aprendizagens em virtude de limitações para autorregular o
funcionamento executivo como forma de reagir aos estímulos do ambiente, ou
mesmo por alterações cognitivo-comportamental que podem inclusive ocasionar
mudanças na personalidade individual.
Por outro lado, uma criança de dois anos, mesmo que sem lesão neurológica,
já processa bem os estímulos verbais, desde que curtos e limitados, reagindo, por
exemplo, a um comando de “pegue a bola”. A partir dos quatro anos, influenciada
pela maturação neurológica que está acontecendo, já é possível, além de com-
preender os comandos verbais, associá-los a respostas motoras, sendo capaz de
compreender e executar ações do tipo “com um apito, jogue a bola para o alto,
com dois apitos segure a bola e pule o mais alto que conseguir”. Indivíduos com
lesões nos lobos frontais se mostram incapazes de processar todos esses comandos.
Os lobos frontais são extremamente atuantes em nosso funcionamento execu-
tivo; essa região neurológica também é extremamente atuante em nossa memória
operacional ou memória de trabalho, responsável por manter uma informação
viva em nossa cabeça até que outros processamentos sejam finalizados. Pode-se
tomar como exemplo um filme, você fica cerca de duas horas frente a tela e, ao
final do filme, consegue se lembrar de praticamente todo o desenrolar da história.
Isso é possível, pois a memória de trabalho manteve essas informações vivas em
sua cabeça para que ao chegar ao final do filme, a história fizesse sentido. O mesmo
vale para armazenarmos temporariamente um número de telefone que deve ser
anotado até conseguirmos papel e caneta para transpormos a sequência numérica.
Sob essa perspectiva, os lobos frontais também são responsáveis diretos na
codificação das memórias, possibilitando ações cotidianas com o mínimo esfor-
ço, indicando que os comportamentos sociais podem ser guiados por crenças e
atitudes morais (LENT, 2013).

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As funções executivas estão presentes em praticamente todas as nossas ações


diárias, é possível encontrá-las em resoluções de problemas que demandam cria-
tividade, planejamento, flexibilidade cognitiva ou mesmo respostas rápidas. Desse
modo, podemos observar as funções executivas em nossas memórias, ou seja, nossos
aprendizados armazenados que serão utilizados como um banco de dados responsá-
veis pela resolução dos mais diferentes problemas que um indivíduo pode se deparar.


Para ter sucesso escolar o estudante deve evocar um conjunto muito
diversificado de competências executivas, a saber: estabelecer obje-
tivos; planificar, gerir, predizer e antecipar tarefas, textos e trabalhos;
priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir proje-
tos e realizar testes; organizar e hierarquizar dados, gráficos, mapas e
fontes variadas de informação e de estudo; separar ideias e conceitos
gerais de ideias acessórias ou de detalhes e pormenores; pensar, reter,
manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo que leem;
flexibilizar, alterar e modificar procedimentos de trabalho e aborda-
gens a temas e tópicos de conteúdo, aplicando diferentes estratégias de
resolução de problemas; manter e manipular informação na memória
de trabalho; automonitoriar o progresso individual e do grupo de
trabalho; autorregular e verificar as respostas produzidas e a conclu-
são, revisão e verificação de tarefas, projetos, relatórios e trabalhos
individuais ou de grupo; refletir e responsabilizar-se pelo seu estudo
e sobre o seu aproveitamento escolar etc. (FONSECA, 2014, p. 245).

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UN I AS S ELV I

TRÍADE DA APRENDIZAGEM

Caro(a) aluno(a), considere a relação destes três itens:


• Funções cognitivas, responsáveis pelo processamento de informa-
ção (input e output);
• Sistema límbico associado às respostas primitivas e de acesso in-
consciente;
• Funções executivas, as quais promovem a integração das funções
cognitivas e conativas.
Para compreendermos melhor essa relação, observe a Figura 1 a seguir, que re-
presenta a tríade da aprendizagem humana.

Figura 1 - Tríade funcional da aprendizagem Humana


Fonte: adaptada de Fonseca (2014).

Descrição da Imagem: pode-se verificar nesta


figura a inter-relação de três componentes funda-
mentais na construção de aprendizagens, os quais
são apresentados em três círculos que se entrela-
çam. Um dos círculos está demarcado como função
cognitiva, outro como função conativa e o terceiro
como função executiva.

As discussões relacionadas à aprendizagem humana são muito amplas e, até certo


ponto, complexas, por essa razão discutimos cada elemento que favorece a apren-
dizagem separadamente. Desse modo, compreendemos que as funções cogniti-
vas, muitas vezes relacionadas à inteligência dos indivíduos, atuam diretamente
na resolução de problemas de maneira eficiente. Por outro lado, a influência
primitiva que age sobre as mais diferentes situações cotidianas, ainda presente
em áreas neurológicas específicas, apresenta alta relevância nos mecanismos de
processamento neural. Por fim, as funções executivas têm por finalidade inte-
grar as funções cognitivas e conativas (sistema límbico), para a execução das
ações, que na maioria das vezes são expressas por meio de movimentos corporais.

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Caríssimo(a) aluno(a), a neuropsicopedagogia tem por função revelar-nos


as habilidades do cérebro. Para tanto, é fundamental uma divisão entre os proces-
sos psicocognitivos, os quais são responsáveis pela aprendizagem, e os processos
psicopedagógicos, responsáveis pelo ensino. Desse modo, a tríade funcional da
aprendizagem humana, apresentada na figura anterior, pode ser aplicada.

A cognição humana, como verificamos, depende da ótima interligação de difer-


entes áreas do cérebro, resultando na integração das informações recebidas com
o planejamento das ações em resposta aos mesmos estímulos captados.

As áreas cognitivas se conectam com praticamente todo o encéfalo, inclusive


com o sistema límbico, por essa razão nossas tomadas de decisões dependem
do comportamento emocional. Essa relação entre cognição e emoção resulta
nas funções mais complexas, denominadas funções executivas, que envolvem,
segundo Paula, Pinto e Lúcia (2008), iniciação, planejamento, levantamento de
hipóteses, flexibilidade mental, tomada de decisão, autorregulação, julgamento,
utilização de feedback e autopercepção.
Em contrapartida, a aquisição de aprendizagens pode ser influenciada pela
falha de uma das funções mencionadas. O sistema límbico pode criar barreiras
que forneçam ao aprendiz um fator limitador como a desmotivação, a desorga-
nização, a desplanificação, a perda de estratégias de atenção, a criação, a busca e
a conquista de objetivos e fins a atingir etc., que se repercutem quer nas funções
cognitivas, quer nas funções executivas (FONSECA, 2014).

ZO O M N O CO NHEC I M ENTO

Em virtude dessa íntima relação entre as funções antes apresentadas, é fun-


damental conhecer os mecanismos de aquisição de aprendizagens para que os
processos de ensino sejam adequados e compatíveis aos aprendizes.

Em resumo, os mais diferentes profissionais, em seu desenvolvimento de ações


que visam a aprendizagem, devem estar atentos às emoções, aos sentimentos,
ao estado de humor e todos os elementos que envolvem o sistema límbico,
pois eles podem acelerar o funcionamento cognitivo e por consequência, execu-
tivo, ou mesmo bloqueá-lo, inviabilizando a aquisição de novos conhecimentos.

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UN I AS S ELV I

Para exemplificar melhor a você, faça a seguinte relação: um aprendiz em


sala de aula pode apresentar baixo rendimento cognitivo e, muitas vezes, análises
elaboradas, solicitação de diversas avaliações multiprofissionais serão realizadas
com a finalidade de se diagnosticar algum transtorno relacionado às dificuldades
de aprendizagem. Muitas vezes todas as discussões se remetem ao aprendiz e não
ao profissional que media as ações e cria os métodos de ensino. Possivelmente, o
baixo rendimento acadêmico está associado à escolha metodológica do docen-
te, o qual pode estar negligenciando o comportamento emocional do aprendiz
frente às propostas de aprendizagens oferecidas diariamente.

P E N SA N DO J UNTO S

As emoções que sentimos permitem mudar nossas memórias, a cada vez que
relembramos algo, surge uma nova ideia de realidade, já não se sabe se é como
realmente vimos, assistimos na televisão ou se ouviu, isso permite a formação
da personalidade, construto este que está associado ao amadurecimento neu-
ronal.
Diversas lembranças que são evocadas podem estar alteradas pelo que foi con-
tado por outras pessoas, como um evento que se passou na infância. Muitas
fotos ou relatos provavelmente chegam ao encéfalo humano por verdades con-
tadas por terceiros, desse modo, é possível que ocorra uma reconstrução da
respectiva memória, ou seja, muito do que lembramos hoje, pode, na verdade,
ser parte de um evento experienciado por outra pessoa.

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NOVOS DESAFIOS
O ato de aprender ou de abstrair e armazenar informações por curto, médio
ou longo prazo está associado diretamente a três funções, que se conceituam
separadamente, ao mesmo tempo que se inter-relacionam. Assim, um tripé foi
apresentado para o maior entendimento dos processos de aquisição de informa-
ções, bem como a estruturação das estratégias de ensino que podem ampliar a
aquisição e a retenção de novas memórias.
Como podemos ver até aqui, as funções executivas dependem de ótimo fun-
cionamento das estruturas neuronais, em especial dos lobos frontais e as de-
mais áreas que a ele se conectam. Evidenciou-se que sua desorganização, lesão
ou qualquer falha de processamento pode resultar na incapacidade de interagir
adequadamente aos estímulos recebidos do ambiente, podendo assim levar o
indivíduo a mudanças cognitivo-comportamentais ao influenciar diretamente
a qualidade e a possibilidade de aprendizagens acadêmicas ou sociais.
Siga firma em seus estudos e aprofunde-se cada vez mais no tema abordado!

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VAMOS PRATICAR

1. Após a década de 1970, os estudos sobre as operações mentais ganharam notorie-


dade. Nesse contexto, surge o modelo de processamento de informações, o qual tem
o intuito de compreender os fenômenos que precedem as tomadas de decisões nos
mais diferentes contextos.

Em relação ao modelo de processamento de informações, assinale a alternativa correta.

a) O modelo de processamento de informações depende da receptividade de um estí-


mulo (input), da sua identificação (percepção), da seleção da resposta (decisão), da
programação da resposta (ação), por fim o resultado da ação (output).
b) O modelo de processamento de informação depende de informações pré-armazenadas que
não podem ser alteradas, esse mecanismo é chamado de retroalimentação ou feedback.
c) O modelo de processamento de informações depende única e exclusivamente da
maneira pela qual o indivíduo toma uma decisão (seleção da resposta).
d) O modelo de processamento de informações depende do resultado da ação (output),
o qual impactará na recepção de um novo estímulo (input).
e) O modelo de processamento de informação depende do problema ou estímulo recebi-
do (input), os quais podem variar a programação da ação (output), mas não a seleção
da resposta (decisão).

2. A aprendizagem deve levar em consideração as diferentes possibilidades de execução


para ampliar a base de dados, memórias do aprendiz. Evidentemente, a preocupação
com a base emocional não deve ser negligenciada, uma vez que ela tem o poder de
impedir ou favorecer a aquisição de conhecimentos. Por fim, deve-se trabalhar com o
aluno integralmente, associando a base cognitiva e emocional para que a resolução
de problemas seja otimizada.

Posto isso, analise as afirmativas a seguir sobre o mecanismo de aprendizagem que deve
envolver essencialmente

I - A formulação de tarefas que sejam exequíveis, ampliando a atenção do aluno para


que a performance cognitiva atinja os objetivos planejados.
II - A aplicação de procedimentos sistematizados para resolução de problemas, aos quais
a adequação dos estímulos para as características individuais é fundamental.
III - A tarefa é desenvolvida, não importando objetivos, desse modo a preocupação com
a planificação das estratégias pedagógicas é pouco necessária.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma apenas em

a) I.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
e) I, II e III.

3. Para que seja possível processar uma resposta sobre qualquer assunto ou problemá-
tica, uma análise elaborada deve ocorrer no Sistema Nervoso Central.

De acordo com os modelos de processamento de informações, assinale a alternativa


correta.

a) O estímulo recebido deve ser analisado junto às memórias, o qual utilizará a melhor
informação disponível, aquela que trará a possibilidade de maior êxito para a respec-
tiva situação, assim a resposta será executada minimizando a chance de erros.
b) As respostas que um aprendiz executa são processadas junto às memórias, que uti-
lizará a primeira informação neuronal disponível.
c) A qualidade da resposta depende diretamente das bases de memórias consolidadas,
no entanto, descarta-se a importância da velocidade de comunicação neuronal.
d) A condução elétrica das informações é fundamental para a boa tomada de decisão,
sendo que um aluno que se apoia em respostas rápidas demais certamente irá falhar
na análise ou execução do problema em questão.
e) Análises a nível neuronal são eventos primitivos, os quais são programados, espe-
cificamente, para a sobrevivência, não sendo necessário avaliar o tipo de estímulo
recebido para se tomar uma decisão.

4. A tríade funcional da aprendizagem, proposta por Fonseca (2014), apresenta as funções


cognitivas, funções conativas e funções executivas.

Sobre essa tríade, analise as afirmativas a seguir:

I - Funções cognitivas se referem ao processamento de informações.


II - Funções conativas se referem ao sistema límbico.
III - Funções executivas se referem à tomada de decisão, as quais interligam as funções
cognitivas e funções conativas.

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VAMOS PRATICAR

É correto o que se afirma apenas em

a) I.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
e) I, II e III.

5. Para que as intervenções em sala de aula sejam apoiadas nas funções cognitivas,
conativas e executivas, assinale a alternativa correta.

a) O professor deve apoiar-se apenas na base cognitiva para resolver problemas, pois as
funções executivas e conativas não influenciam na aprendizagem.
b) As funções conativas se referem à base primitiva do ser humano, as quais são des-
cartadas dos mecanismos de aprendizagem.
c) As funções executivas estão relacionadas ao córtex pré-frontal, desse modo só po-
dem ser aplicadas ao final da adolescência ou em adultos.
d) O professor deve considerar as diferentes possibilidades de resolução de problemas
e considerar também as emoções dos alunos para que seja possível efetivar boas
memórias.
e) A tríade apresentada é definida como funções cognitivas para alunos com dificuldades
de aprendizagens, funções executivas para alunos sem dificuldades de aprendizagem
e funções conativas para alunos com transtorno.

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REFERÊNCIAS

FONSECA, V. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem: abordagem neuropsicológica


e psicopedagógica. 6. ed. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 2007.
FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma
abordagem neuropsicopedagógica. Revista Psicopedagogia, v. 31, n. 96, p. 236-253, 2014.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
PAULA, M. P.; PINTO, K. O.; LÚCIA, M. C. S. Relação entre depressão e disfunção cognitiva em
pacientes após acidente vascular cerebral: um estudo teórico. Psicologia hospitalar, v. 6,
n. 1, p. 21-38, 2008.
RELVAS, M. P. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de
aula. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

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GABARITO

1. A.

2. B.

3. A.

4. E.

5. D.

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TEMA DE APRENDIZAGEM 8

COMO O CÉREBRO FUNCIONA PARA


APRENDER
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Refletir sobre o funcionamento neurológico na aprendizagem.

Proporcionar conhecimentos sobre tipos e formas de aprendizagem fundamentadas


no desenvolvimento neurológico.

Sugerir diferentes possibilidades de trabalhos neurocognitivos para a sala de aula,


contribuindo com a prática pedagógica eficiente.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


O aprendizado de conhecimentos conceituais, da escrita, da leitura, do controle
motor e de diversas outras formas de aquisição de novas informações depende
da maturação das estruturas neurológicas, desse modo, o funcionamento neu-
rológico eficiente associado à estimulação adequada de um indivíduo podem
promover aprendizado em todos os seres humanos.
Ao direcionar nossos esforços para compreender o funcionamento do cére-
bro e de como ele pode interferir no processo de ensino e aprendizagem, estu-
daremos os aspectos relacionados ao nível cognitivo, partindo da percepção do
mundo que nos rodeia. Por essa razão, é fundamental apontar a experimentação
de diferentes possibilidades e situações, permitindo que qualquer indivíduo te-
nha acesso ao conhecimento do mundo a sua volta, tocando, sentindo, ouvindo
ou simplesmente vivendo, dentro da sua evolução natural.
Siga em frente e bons estudos!

COMO O CÉREBRO FUNCIONA PARA APRENDER

Vamos iniciar nosso estudo com alguns questionamentos: o que é aprender? O


que é neurociência? Como o cérebro funciona? Como todo esse conhecimento
neurológico pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem?

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 8

A aprendizagem se associa aos conhecimentos da neurociência, do funciona-


mento neurológico, das sinapses, experiências, potenciais de ação, do estudo dos
neurônio e a maturação individual. Resumidamente, aprender é o fortalecimen-
to dos circuitos neurais, das milhares de sinapses em virtude das experiências
vividas, dos estímulos novos que constantemente são comparados aos antigos,
de nossa atenção ou mesmo da repetição de algo que queremos consolidar em
nossas memórias.

Falar de neurociências é relacionar muito mais que o estudo das funções neu-
rológicas, é transcender às condições sociais ou a historicidade de cada indivíduo.

Para continuar a responder os questionamentos iniciais, permita-me mais um:


o que faz gêmeos idênticos, criados pelos mesmos responsáveis, frequentando a
mesma escola, com os mesmo colegas, professores, estímulos e ambiente serem
diferentes? Todos somos únicos devido às marcas que são efetivadas em nosso
cérebro e a maneira com que as experiências sociais ou pessoais marcam essa
estrutura neurológica que formará redes neuronais diferentes, transformando-
-nos em seres únicos, sem outro igual, mesmo com uma estrutura anatômica ou
físico-química semelhante.
Amparado por essa explicação, podemos avançar para o processamento
neuronal específico. Dependendo da área do cérebro, os neurônios dessa de-
terminada região processam coisas específicas e armazenam temas específicos.
É bem verdade que nosso cérebro ou todo o encéfalo funciona integralmente
(desconsidere aqui patologias neurológicas), ou seja, é mito aquela ideia difun-
dida na sociedade sobre a possibilidade de sermos capazes de nos comunicar por
telepatia, no caso de utilizarmos 100% do cérebro humano, pelo menos pelos
conhecimentos atuais. Nós, seres humanos, já utilizamos toda a potencialidade
neurológica e integramos todas as áreas neurológicas; evidentemente, em
dadas situações, regiões encefálicas são mais atuantes que outras.
Ao nascer, o bebê inicia um amplo processo de aquisição de informações, e
temos a capacidade de adaptar a atividade neural em todos os momentos da vida,
por essa razão, o cérebro, além de aprender também é capaz de se reorganizar.

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UN I AS S ELV I

VOCÊ SABE RESPONDER?


Uma pessoa cega nasce com capacidades auditivas bem mais desenvolvidas
ou isso é desenvolvido ao longo da vida?

As experiências vividas oferecem a todos nós a capacidade de ajustar áreas de


processamento, ou seja, uma pessoa que nasceu cega tende a desenvolver um
outro canal sensorial, em especial um órgão do sentido próximo, desse modo,
com a ausência da visão, o aparelho auditivo e ou sistema sensorial por meio do
tato serão amplificados.
Se analisarmos exames de imagem neurológicas, a leitura em braile (percep-
ção tátil) de um indivíduo que é cego e outro que não é, as áreas ativas responsá-
veis por esse processamento no cérebro serão sempre maiores em nos indivíduos
cegos do que naqueles não cegos. Isso ocorre por conta da reorganização neural.
Até aqui, discutimos e analisamos diversas situações acerca do funcionamen-
to neurológico, o qual evidenciou os aspectos de maturação neural como um dos
elementos principais da aprendizagem humana. Sobretudo, esse amadurecimento
das estruturas encefálicas é o que permite a aquisição da linguagem, das
ações motoras e da formação de memórias. É importante salientar que essa
maturação biológica tem duração aproximada de duas décadas. Lembre-se, a mie-
linização neurológica associada à maturação neuronal ocorre ao longo de toda a
vida, sendo maturada e estabilizada rapidamente no início da vida (LENT, 2013).
Soma-se aos processos de maturação neuronal os estímulos, o ambiente e in-
dividualidade biológica e pouco a pouco mudanças no desenvolvimento infantil
são percebidas. Inicialmente, de mês em mês, logo depois, os intervalos entre os
surtos maturacionais no cérebro e sua estabilização ficam um pouco mais lon-
gos, cerca de quatro meses, depois dois anos e assim sucessivamente. Na prática,
observamos uma criança toda flácida e com comandos reflexos com um mês
de vida, para um amadurecimento e evolução cognitiva aos quatro anos. Agora,
além do controle motor amplificado, o nível de atenção e capacidade de lidar com
números, histórias ou hipóteses é notório (BEE; BOYD, 2011).

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 8

P E N SA N D O J UNTO S

Para que possamos aprender algo, devemos estar com nossa atenção volta-
da para aquele momento, objetivo ou situação. A aprendizagem depende da
intensidade da atenção, sendo assim, é fundamental que esta seja educada.
Simultaneamente, o sistema límbico, parte do cérebro onde se originam nossas
emoções, participa dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive
da aprendizagem dos conhecimentos escolares.

A aprendizagem é efetuada pela criação de novas memórias, ampliação


e transformação das redes neuronais que guardam os conteúdos trabalhados
anteriormente. Em síntese, a prática pedagógica que for planejada e executada
sem levar em consideração os processos internos mentais da espécie humana
terá grande possibilidade de conduzir o aluno a uma situação de não aprendizagem.
Posto isso, os conhecimentos relacionados a esse magnífico órgão devem ser
esclarecedores para os profissionais que trabalham com a educação, uma vez
que devem ser o alicerce na elaboração de métodos durante todo o processo de
ensino-aprendizagem (JACOB, 2014).

IN D ICAÇÃO DE LI V RO

Neurociência na prática pedagógica


Sinopse: Marta Pires Relvas ressalta o conhecimento adquiri-
do por meio de abordagens teóricas, reflexões, discussões e
práticas pedagógicas, refletindo e redimensionando estas
práticas como objetivo principal no entendimento sobre a bi-
ologia cerebral e suas interfaces no desenvolvimento das in-
teligências e da aprendizagem cognitiva e emocional.

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UN I AS S ELV I

APRENDIZAGEM INTERNEUROSSENSORIAL,
INTRANEUROSSENSORIAL E APRENDIZAGEM INTEGRATIVA

Está claro que todos aprendemos pelas experiências vividas, foi assim desde que
nascemos e é assim até os dias atuais. É possível aprender pelo ambiente que
nos rodeia ou por estímulos que nos são ofertados, no entanto, independente-
mente dos estímulos ambientais ou culturais recebidos, todos aprendemos pelos
órgãos dos sentidos, pelos canais de comunicação do mundo externo para com
o mundo interno. São eles: tato, olfato, paladar, audição e visão.
Posto isso, todos nós aprendemos pela visão, audição ou canal cinestésico.
É bem verdade que alguns de nós aprendem mais pela visão, outros pela au-
dição e outros por sensações, no entanto, todos aprendemos por todos esses
canais de aprendizagem, mas para alguns indivíduos, a visão é o principal canal
de aprendizagem e a audição, ou canal cinestésico, o segundo melhor canal de
aprendizagem. Para outros indivíduos, é a audição que
devemos atuar se destaca e talvez a visão seja o pior canal de apren-
priorizando todos os dizagem. Independentemente disso, devemos atuar
canais priorizando todos os canais. Para isso, podemos nos
apoiar em estratégias metodológicas como:

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VISUAL

Aprende pelo que vê. Evite imagens desnecessárias, habitue-se a construir


imagens mentais, utilize fluxogramas, tabelas, fotos, frases – esquemas – textos
espalhados nas paredes de seu quarto, textos grifados etc.

AUDITIVO

Aprende pelo que escuta. Apoie-se em trabalhos em grupo, peça para um colega
te fazer perguntas ou respondê-las, grave aulas e depois escute (sugerido, antes
de dormir e ao acordar, pois a mente está mais relaxada – exemplo: crianças
aprendem músicas de propagandas com facilidade por esse motivo). Ruídos po-
dem interferir no processo de aprendizagem.

CINESTÉSICO

Utilize jogos criativos, jogos de fixação, atividades práticas e coletivas, muitas


vezes com movimentos corporais, tome nota das coisas que percebe etc.

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Diante do que apresentei até esse momento, a aprendizagem pode ocorrer pelos
órgãos dos sentidos. Tais canais de comunicação podem funcionar sozinhos, asso-
ciados a um outro canal ou mesmo de modo integrado. Desta forma, existem três
formas de aprendizagem: intraneurossensorial, interneurossensorial e integrativa.
A aprendizagem intraneurossensorial pode ser estruturada como uma
forma de absorção de conhecimentos, em que se um dos órgãos dos sentidos
estiver comprometido, isso não afetará a aprendizagem via outros canais. Por
outro lado, a aprendizagem interneurossensorial é extremamente interessante
do ponto de vista pedagógico, pois deve-se estruturar as atividades para que,
assim, seja possível o trabalho com mais de um sistema de aprendizagem simul-
taneamente. Tome como exemplo atividades apoiadas em músicas que poderão
gerar dramatizações, esse exemplo inter-relaciona os canais auditivo, visual e,
possivelmente, tátil.

Como consequência, a compreensão dos dois modelos de aprendizagens


supracitadas facilitará o entendimento e desenvolvimento de outro tipo de
aprendizagem, a integrativa.

Nesta modalidade, é possível criar um ambiente de ensino transformador e faci-


litador, desse modo, deve-se desenvolver, primeiro, a atitude, para aprender com
cada um dos alunos; logo após se deve pensar em exercícios de aprendizagem; e,
por fim, criar novos contextos para aplicação da aprendizagem.
Excelentíssimo(a) aluno(a), o ato de aprender poderá melhorar o desenvolvi-
mento cognitivo do aprendiz, por essa razão, habilidades e competências devem ser
consideradas no transcurso educacional, oferecendo o suporte necessário para a con-
solidação das aprendizagens. Desse modo, as habilidades podem ser classificadas em:

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SENSAÇÃO

Esta habilidade nos permite colocar em contato com o mundo ao nosso redor.
Vale ressaltar que esse primeiro nível é pré-cognitivo, basta hipotetizar sobre a
seguinte situação: “eu acho que está frio lá fora”, talvez sim, talvez não, só ter-
emos certeza ao sair pela porta e cognitivamente percebermos a real condição
climática.

PERCEPÇÃO

Esta habilidade nos permite estabelecer as formas e imagens. Este nível está
relacionado à capacidade neurológica de converter as sensações em impulsos
elétricos, ou seja, é a tomada de consciência em relação às sensações.

FORMAÇÃO DE IMAGENS

Está relacionada com a memória e com o registro de nossas experiências e está


ligada a todas as sensações experimentadas (aspectos não verbais). Aqui, vale
ressaltar que a formação de imagens não depende somente da absorção de con-
hecimento a nível visual, mas sim de qualquer canal de aprendizagem, no qual a
percepção de sons, texturas e odores podem compor a formação de imagens.

SIMBOLIZAÇÃO

Esta é a habilidade característica do ser humano, consiste em todas as formas


de representação verbal e não verbal. Essa simbolização está muito presente nos
centros de educação infantil, os quais desenvolvem as capacidades de avaliar
perto e longe, grande e pequeno, alto e baixo, dentro outros. Tais situações
podem ser otimizadas com o simples ato de brincar, como utilizar como recurso
a brincadeira “coelhinho sai da toca”. Por outro lado, a simbolização é muito evi-
denciada pelos sistemas verbais, relacionadas à linguagem falada, escrita ou lida.

CONCEITUAÇÃO

Processo mental envolvendo a retenção e classificação. É a capacidade que te-


mos de formar conceitos, sustentado pela aquisição da linguagem; nesta etapa,
o indivíduo aprende a generalizar e a categorizar situações.

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Para que você compreenda melhor, coloco para tudo que expliquei: os níveis de
evolução até a aprendizagem.

Figura 1 - Níveis Hierárquicos de Experiências na Aprendizagem / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: gráfico azul redondo com cinco níveis hierárquicos. Do centro para a borda circunferência
estão as seguintes palavras: conceituação, simbolização, formação de imagens, percepção e sensação.

Como é possível observar nesta “teia de aranha”, a parte mais externa é a sensação,
seguida pela percepção. Ambas têm por características aspectos primitivos, dife-
rentemente de simbolização e da conceituação, são cognitivos e estão ao centro
dessa “teia de aranha”.
O processo de aprendizagem humana está relacionado às primeiras expe-
riências perpassadas sobre a temática a ser aprendida. Evidentemente, são ini-
ciadas pela sensação e depois percepção, sendo escaladas até a conceituação, do
primitivo ao cognitivo. Sobretudo, essa evolução nos níveis apresentados é
dependente da experiência no nível anterior, ou seja, não é possível simbolizar
sem antes ter formado imagens, tampouco é possível perceber antes de passar
pelas sensações.
A importância dessa relação crescente e harmoniosa é gigantesca, além de que
a falha, em alguma transição, pode resultar em problemas que irão prejudicar a
aquisição de diversos conhecimentos, como a aquisição da linguagem.

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NEUROCIÊNCIAS EM SALA DE AULA

A neuroeducação sustenta o aprendizado como uma forma de mudar com-


portamentos, assim, o aprender é mais do que simplesmente aquisição de conhe-
cimentos. Desse modo, neuroeducação, que analisa a mente, o cérebro e a edu-
cação, está diretamente relacionado a neurociência, que estuda o funcionamento
do sistema nervoso; da psicologia, a qual se vincula com o cérebro e o compor-
tamento; e a pedagogia, referente à educação e à aprendizagem. Evidentemente,
outras áreas de conhecimento estão atreladas a esse processo, como a neu-
ropsicologia, neurociência educacional, psicologia educacional, dentre outras.
Posto isso, uma dúvida aparece com frequência entre profissionais da educa-
ção: como trabalhar em sala de aula para ampliar a possibilidade de aprendizado
potencializando o funcionamento neurológico? Para respondermos esse ques-
tionamento, observe o quadro a seguir.

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Princípios da neurociência Ambiente de sala de aula


Na aprendizagem como atividade social,
1. Aprendizagem, memória e emoções alunos precisam de oportunidades para
ficam interligadas quando ativadas pelo discutir tópicos. Ambiente tranquilo
processo de aprendizagem. encoraja o estudante a expor seus senti-
mentos e suas ideias.

Aulas práticas, exercícios físicos com en-


2. O cérebro se modifica aos poucos,
volvimento ativo dos participantes fazem
fisiológica e estruturalmente, como re-
associações entre experiências prévias
sultado da experiência.
com o entendimento atual.

3. o cérebro mostra períodos ótimos Ajuste de expectativas e padrões de


(períodos sensíveis) para certos tipos desempenho às características etárias
de aprendizagem que não se esgotam específicas dos alunos e o uso de uni-
mesmo na idade adulta. dades temáticas integradoras.

Estudantes precisam sentir-se “deten-


4. O cérebro mostra plasticidade neu- tores” das atividades e de temas que são
ronal (sinaptogênese) e maior densidade relevantes para suas vidas. Atividades
sináptica que não prevê maior capaci- pré-selecionadas com possibilidade de
dade generalizada de aprender. escolha das tarefas aumenta a responsa-
bilidade do aluno no seu aprendizado.

5. Inúmeras áreas do córtex cerebral são Situações que reflitam o contexto da vida
simultaneamente ativadas no transcurso real, de forma que a informação nova se
de nova experiência de aprendizagem. “ancore” na compreensão anterior.

Promover situações em que se aceite


6. O cérebro foi evolutivamente concebi-
tentativas e aproximações ao gerar hipó-
do para perceber e gerar padrões quando
teses e apresentação de evidências. Uso
testar hipóteses.
de resolução de “casos” e simulações.
Propiciar ocasiões para alunos expres-
7. O cérebro responde, devido à herança
sarem conhecimento por meio das artes
primitiva, às gravuras, imagens e símbolos.
visuais, da música e das dramatizações.

Quadro 1 - Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente de sala de aula


Fonte: adaptado de Rushton e Larkin (2001); Rushton et al. (2003 apud BARTOSZECK, 2006).

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O quadro apresenta a aplicabilidade dos conhecimentos da neurociência dentro


de sala de aula. Fica evidenciado que os conhecimentos adquiridos depen-
dem diretamente dos mecanismos de formação de memórias, bem como
das influências emocionais no momento da aprendizagem, os quais sustentam a
importância de se pensar em práticas pedagógicas motivantes, em que o aprendiz
se sinta confortável e, acima de tudo, receptivo aos conhecimentos.

P E N SA N D O J UNTO S

Trabalhar com a aprendizagem é, na verdade, otimizar e propor situações práti-


cas que estimulem a experiência dos aprendizes, ou seja, quanto mais práticas
ficarem as atividades, mais conhecimento será consolidado. Também fica claro
que as etapas evolutivas dos seres humanos ocorrem pouco a pouco, ou seja,
se amadurece áreas específicas do encéfalo, as quais são estabilizadas e, so-
mente após essa consolidação neural, um novo surto maturacional irá ocorrer.

O cérebro possui ampla capacidade plástica, a qual pode ser ampliada para a
formação de novos conhecimentos, desde que o aprendiz se sinta detentor do
conhecimento, sendo protagonista de sua aprendizagem, para isso, o professor
pode delimitar temas e permitir a livre escolha de um assunto para ser estudado,
construindo e alicerçando novos conhecimentos. As áreas específicas do cérebro
que armazenam informações prévias darão suporte aos novos conhecimentos
e, pouco a pouco, a aprendizagem é efetivada em memórias.
Diante do que foi apresentado até aqui, os aprendizes devem considerar hi-
póteses, resolver problemas, solucionar casos reais, tudo isso amparado pelos
conhecimentos do professor mediador, dos seus próprios conhecimentos e tam-
bém do auxílio de outros colegas.

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UN I AS S ELV I

NOVOS DESAFIOS
Evidenciou-se que o entendimento de como o cérebro funciona é fundamental
para que haja um planejamento escolar viável e palpável, com estratégias di-
ferenciadas para a aplicação dos métodos de aprendizagem relacionados aos
conteúdos escolares. Também é imprescindível para que o planejamento seja
adequado ao potencial neurológico dos alunos, isto é, nem banalizar o conteúdo,
tampouco ir além da capacidade de compreensão de um grupo específico, sempre
respeitando os períodos de maturação biológica individual.
Conhecemos aspectos inerentes à base neurológica e suas relações com a apren-
dizagem humana, as quais, mesmo sem oferecer uma “receita de bolo”, nos mos-
tram quais caminhos podemos seguir, desde que sejam considerados os períodos
evolutivos que podem ser influenciadores diretos no comportamento humano.
Continue aprofundando seus estudos no tema abordado!

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VAMOS PRATICAR

1. A prática pedagógica que for planejada e executada sem levar em consideração os


processos internos mentais da espécie humana terá grande possibilidade de conduzir
o aluno a uma situação de não aprendizagem.

Posto isso, por qual razão os conhecimentos do cérebro são essenciais para os profissio-
nais que trabalham com o processo de ensino-aprendizagem?

a) Pois somos todos diferentes, aprendemos de maneiras diferentes, em que a escola


ideal deve ser voltada ao desenvolvimento do perfil cognitivo de cada aluno.
b) Pois devem ser esclarecedores, apontando os métodos que devem ser utilizados
para ensinar.
c) Para mudar o currículo escolar, uma vez que não se pode ensinar todos da mesma
maneira, se for identificado uma criança com dificuldade e aprendizagem, do ponto
de vista cognitivo, deve ser direcionada a um outro contexto educacional.
d) Para apontar que é impossível aprender tudo, sendo assim, se não foi possível ensinar
algo, deve-se seguir para o próximo conteúdo a ser repassado para não perder tempo.
e) Para intervir adequadamente no contexto clínico, identificando distúrbios e transtor-
nos em alunos de diferentes idades, possibilitando a criação de prescrição de medi-
camentos e de atividades interventivas.

2. Atualmente, aprender não é somente aquisição de conhecimentos, aprender é mu-


dar comportamentos. Em virtude disso, inúmeras áreas interventivas se apoiam na
neuroeducação, como a psicologia, a neurociência e a pedagogia. Os princípios da
neurociência podem ser aplicados nos ambientes de sala de aula, potencializando o
aprendizado e o funcionamento neurológico de aprendizes.

Sobre essa temática, assinale a alternativa correta.

a) O aprendiz deve aprender sozinho, no qual a seleção prévia das atividades é apenas
uma opção por parte do professor, não sendo necessária essa preocupação por parte
do docente.
b) O aprendiz deve ser colocado como “detentor” do conhecimento, gerando envolvi-
mento ativo do aluno por meio de atividades que somem a teoria e a prática.
c) O aprendiz deve experimentar para aprender, desse modo, independentemente do
momento maturacional dos aprendizes, tudo que for oferecido será adquirido.
d) O docente deve ensinar de modo fragmentado, uma vez que conhecimentos anterio-
res não necessitam ser utilizados para a formação de novas aprendizagens.
e) Apoiar-se em resolução de problemas, estudos de casos, simulações e criação de
hipóteses são estratégias pedagógicas ultrapassadas.

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VAMOS PRATICAR

3. A aprendizagem deve levar em consideração as diferentes possibilidades de execução


para ampliar a base de dados, memórias do aprendiz. Evidentemente, a preocupação
com a base emocional não deve ser negligenciada, uma vez que ela tem o poder de
impedir ou favorecer a aquisição de conhecimentos. Por fim, deve-se trabalhar com o
aluno integralmente, associando a base cognitiva e emocional para que a resolução
de problemas seja otimizada.

Posto isso, analise as afirmativas a seguir sobre o mecanismo de aprendizagem que deve
envolver, essencialmente,

I - a formulação de tarefas que sejam exequíveis, ampliando a atenção do aluno para


que a performance cognitiva atinja os objetivos planejados.
II - a aplicação de procedimentos sistematizados para resolução de problemas, o qual a
adequação dos estímulos para as características individuais é fundamental.
III - a tarefa desenvolvida, não importando objetivos, desse modo a preocupação com a
planificação das estratégias pedagógicas é pouco necessária.

É CORRETO o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III.

4. Os seres humanos apresentam três canais de comunicação do meio externo para o


meio interno, ou seja, filtros que otimizam a experienciação de diversos temas, os quais
podem ou não ser consolidados em aprendizagens.

De acordo com a receptividade de informações por meio dos canais visuais, auditivos e
cinestésicos, assinale a alternativa correta.

a) Os seres humanos apresentam somente um dos três canais de comunicação, ou seja,


o professor deve descobrir qual é esse canal e adaptar as estratégias para cada um
dos alunos em sala de aula.
b) Independentemente do canal de comunicação para a aprendizagem, todos podem
aprender, no entanto, é certo que pessoas cinestésicas aprendem menos do que as
auditivas ou visuais.

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VAMOS PRATICAR

c) O canal visual se aprende pelo que se vê, devendo construir atividades que se apoiem em
imagens, fotos, esquemas etc. O canal auditivo se aprende pelo que se escuta, devendo
construir trabalhos de perguntas e respostas, sons diversos, musicalidade etc. Para o canal
cinestésico, deve-se utilizar jogos criativos, práticas coletivas, dentre outros.
d) O canal cinestésico, pela globalidade de utilização dos canais de comunicação frente
às atividades de base coletiva, no qual é possível perceber diversas sensações, é a
melhor estratégia de intervenção para qualquer indivíduo.
e) O canal visual se aprende pelo que se escuta, devendo construir trabalhos de per-
guntas e respostas, sons diversos, musicalidade etc. O canal auditivo se vê, devendo
construir atividades que se apoiem em imagens, fotos, esquemas etc. Para o canal
cinestésico, deve-se utilizar jogos criativos, práticas coletivas, dentre outros.

5. As experiências humanas que levarão à aprendizagem ocorrem por meio da percepção


de estímulos. Sobre esse “filtro”, é possível gerar aprendizagem, ou seja, aquela que
ocorre pela internalização da recepção de estímulos visuais, auditivos ou cinestésicos.

De acordo com o exposto, assinale a alternativa correta.

a) O canal visual apresenta a menor capacidade de recepção de informações.


b) O canal visual apresenta a maior capacidade de recepção de informações.
c) O canal auditivo apresenta a maior capacidade de recepção de informações.
d) O canal auditivo apresenta a menor capacidade de recepção de informações.
e) O canal cinestésico apresenta a maior capacidade de recepção de informações.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO DE SURDOS DO PORTO. A vida de Helen Keller. Associação de Surdos do


Porto, 2020. Disponível em: http://www.asurdosporto.org.pt/artigo.asp?idartigo=91. Acesso
em: 05 nov. 2020.
BARTOSZECK, A. B. Neurociência na educação. Revista Eletrônica Faculdades Integradas
Espírita, v. 1, p. 1-6, 2006.
BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
JACOB, W. Neuropsicopedagogia: estruturas neurológicas e aprendizagem. Maringá PR:
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Unicesumar, 2014, v.1 . p.100.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.

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GABARITO

1. A.

2. B.

3. B.

4. C.

5. B.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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TEMA DE APRENDIZAGEM 9

EDUCAÇÃO COGNITIVA E
BIOFEEDBACK
WESLEI JACOB

MINHAS METAS

Aprender como desenvolver atividades apoiadas na educação cognitiva.

Elucidar conceitos e aplicações sobre o biofeedback na educação.

Conhecer as aplicações de biofeedback em algumas dificuldades de aprendizagem.

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UN I AS S ELV I

INICIE SUA JORNADA


Falar em aprendizado é mencionar, de maneira direta, a formação de memó-
rias, as quais são codificadas nos neurônios, armazenadas em redes neuronais
e evocadas por essas mesmas redes. Nossas memórias podem ser formadas
desde que haja atenção e intencionalidade por parte do aprendiz, sobretudo,
podem ser moldadas por emoções que vão além de estar triste ou alegre,
fazem parte da exteriorização do desejo e das vontades do ser humano ao
longo do seu desenvolvimento.
Neste momento, serão discutidas as possibilidades de mudanças compor-
tamentais por meio de uma ferramenta interventiva denominada biofeedback,
método não invasivo e não medicamentoso, que envolve inúmeros elementos
eletrônicos que auxiliam o desenvolvimento da modificação consciente e in-
tencional das funções corporais nos pacientes, ampliando as possibilidades de
aprendizagens. Posto isso, a aprendizagem depende do funcionamento harmo-
nioso do sistema nervoso, bem como de todos os outros sistemas corporais.
Siga em frente e bons estudos!

EDUCAÇÃO COGNITIVA

Caro(a) aluno(a), as transformações sociais mu-


daram muito mais do que apenas a facilidade de
transmitir conhecimentos, mudaram também
as pessoas. Por essa razão, empresas pensadas
para dar certo no século XX desapareceram no
século XXI e algo semelhante está acontecen-
do no contexto acadêmico, na estruturação de
atividades que auxiliam aprendizes a utilizarem
melhor o cérebro e sua cognição.
A educação cognitiva é um novo processo, um novo método pedagógico de
ensino-aprendizagem, o qual transforma um instrumento educacional inovador,
tem o dever de gerar conflitos, podendo utilizar vários pontos de vista sobre o
mesmo problema. Deve gerar dúvidas, debates, discussões com respeito mútuo,
o que potencializa o desenvolvimento cognitivo. Sobretudo, deve-se aliar a teoria

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T E MA D E APRE N D IZAGEM 9

e a prática, pois uma educação cognitiva eficiente não se decora, não se ensina
conceitos, aprende-se a resolver problemas.
Antes de sair construindo estratégias, inventando inúmeras atividades, é fun-
damental uma avaliação e um diagnóstico psicopedagógico, com a identifi-
cação do perfil cognitivo do aluno. Após essa verificação, a intervenção deverá
enriquecer, potencializar, otimizar e maximizar a capacidade de processar infor-
mações, ou seja, modificar a estrutura de aprendizagem do aluno.
Posto isso, Fonseca (2007) sugere como aprender mais é fundamental nos
dias atuais e isso envolve, essencialmente:

AÇÃO 1

Focar a atenção para captar o máximo de informação a partir de um conjunto de


estímulos.

AÇÃO 2

Formular tarefas exequíveis para lidar com a tarefa.

AÇÃO 3

Estabelecer e planificar estratégias.

AÇÃO 4

Monitorar a performance cognitiva até atingir o objetivo.

AÇÃO 5

Examinar a informação disponível.

AÇÃO 6

Aplicar procedimentos sistemáticos para resolver problema em causa e verificar


sua adequabilidade.

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De acordo com o que foi apresentado, é nosso dever relacioná-lo com os conhe-
cimentos prévios sobre cognição que já obtemos. Para tanto, o ato de aprender
mais e melhor se apoia em:
■ Resolver problemas, envolve, fundamentalmente: receber e interpretar dados
e produzir procedimentos para lidar com o problema (fase de input).
■ Criar operações e processos relacionados com as tarefas inerentes ao
problema (fase de integração e planificação).
■ Adquirir competências para solucionar o problema (fase de output).

Excelentíssimo(a), permita-me realizar uma rápida atividade cognitiva com


você: apresentarei algumas frases e você deverá reescrevê-la mentalmente sem
a utilização de palavras negativas. Por exemplo, substituir o “não” por imagens
mentais positivas. Tome como exemplo a frase “não saia sem casaco”, refazendo:
“lembre-se de levar seu casaco se for sair”. Agora tente solucionar esse problema,
reescrevendo mentalmente as seguintes frases:
■ “não olhe lá”;
■ “tente não se atrasar”;
■ “seja cuidadoso, não torça o tornozelo”;
■ “por favor, complete essa avaliação sem olhar seu caderno, o quadro na
frente da sala ou a prova dos outros”;
■ “esteja consciente do perigo de perder a paciência”;
■ “não ande em ruas escuras”;
■ “evite sair da sala por essa porta, porque você pode disparar o alarme de
incêndio”.

Acredito que tenha realizado cada uma dessas transcrições com êxito e, simples-
mente, ao solicitar essa situação, acabou de realizar uma atividade de base cogni-
tiva. Essa substituição de palavras que remetam à negação, sempre que indicado,
deverá acontecer.

Aqui está outro exemplo: se eu digo a você: "não pensem em um limão sucu-
lento!", a fim de compreender minha sentença, você, primeiro faz uma repre-
sentação interna de um limão suculento. Se eu acrescento: "Agora não sinta o
gosto forte deste limão!", sua boca pode começar a salivar, embora eu tenha dito
que não fizessem isso. Quando os professores dizem: "não esqueçam seu dever

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de casa!", os alunos têm que imaginar esquecê-lo. Seus cérebros estarão mais
predispostos a esquecer. Se você quer sugerir que seus alunos façam seu dever
de casa, o errado é dizer: "não esqueçam", enquanto o correto seria: "lembrem
seu dever de casa" (BOLSTAD, 1997).
Por essa razão, sempre que possível, além do não, substitua, mas por e; tente
por faça; devo, tenho que e preciso por quero, decido, vou; e, se por quando.
Caro(a) aluno(a), você conhece a Barsa? Uma coletânea de 18 livros com
cerca de 10 mil páginas, que continha conhecimento, leitura e cultura. As famí-
lias que adquiriram os exemplares da Barsa detinham boa condição financeira
e estavam preocupados com os estudos dos filhos. Nesses exemplares, alunos e
professores tinham acesso ao conhecimento, no entanto, aquelas informações
eram estáticas, imutável e sempre estaria escrita do mesmo jeito.
Na última década, com a infinita geração de conteúdos, uma nova forma
de se comunicar, viajar, ler livros ou assistir filmes mudaram, mas a escola tem se
transformado lentamente.
A educação tradicional está sendo reformada pelas novas tecnologias, que
criam aprendizes diferentes, os quais podem aprender de modo individualizado
e em qualquer lugar do mundo, desse modo, pode-se dizer que a tecnologia de-
mocratizou o conhecimento, tornou-o barato e acessível.
Caríssimo(a), vivemos num tempo em que a informação é facilmente difun-
dida e se consegue acesso a diversos conhecimentos de maneira rápida, basta
apenas alguns cliques na internet que um mundo de conhecimentos estará em
nossa frente.

Tantas mudanças subsidiadas pela expansão tecnológica trouxe, novamente, dis-


cussões acerca da aprendizagem, no qual os aprendizes conhecem e questionam
mais, os quais também desejam passar por uma experiência de aprendizagem
marcante e inovadora, tais transformações geram, por consequência, maiores in-
vestimentos na carreira docente.

Posto isso, surge, como estratégia pedagógica, para atender esse novo perfil aca-
dêmico, as metodologias ativas.

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A principal mudança proposta pelas metodologias ativas na educação é a


substituição do protagonismo do professor pelo aluno, os quais devem absor-
ver conteúdos de maneira autônoma e participativa. Vale ressaltar que isso não
retira a necessidade e a importância dos professores, os quais sempre serão os
mediadores dos conhecimentos, incentivando a alicerçando os aprendizados.
Da Silva e Muzardo (2018) mencionam a pirâmide da aprendizagem de Wil-
liam Glasser, a qual indica que os seres humanos aprendem cerca de 10% com
leituras, 20% com a escrita, 50% observando e escutando, 70% discutindo com
outras pessoas, 80% praticando e 95% ensinando. Os dados apresentados susten-
tam a importância do aprendiz como protagonista, o qual irá debater, discutir e
ensinar os assuntos produzidos por ele.
Sobretudo, de acordo com o que discutimos até esse momento, no que se
refere aos mistérios do funcionamento neurológico para a aprendizagem, todas
as vezes que um aprendiz é atuante no processo, seu nível de atenção é ele-
vado consideravelmente e, por consequência, poderá desencadear o processo de
aquisição e retenção de novas informações.

P E N SA N DO J UNTO S

Acredito que você deva estar se perguntando como colocar as metodolo-


gias em prática. Nesse viés, apresento para você algumas práticas de ensino e
aprendizagem apoiadas nesta nova metodologia de trabalho pedagógico. Pode-
mos utilizar, na construção de conhecimento, a elaboração de projetos, resolução
de problemas, estudos de caso ou trabalhos em grupo.

Na construção da elaboração de projetos, o professor pode criar temas geradores


de conhecimento e distribuir ou permitir que os aprendizes se distribuam nos
temas propostos. O contexto específico direcionado pelo professor resultará na
criação de um projeto aplicado, com a finalidade de resolver situações específi-
cas com caráter investigativo e com crivo crítico, para tanto, irá utilizar recursos
tecnológicos e outros recursos disponíveis.

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Desse modo, as metodologias ativas apresentam diversos benefícios, tais


como: maior autonomia, confiança, capacidade de resolução de problemas, for-
mação profissional mais qualificada e próxima à realidade do mercado de traba-
lho, bem como protagonista do seu próprio aprendizado. Sobretudo, são elevadas
no aluno a experiência da aprendizagem como algo satisfatório e duradouro.
Caríssimo(a), o modelo tradicional de ensino já não se sustenta mais, está
ultrapassado, assim como a tecnologia avança, os profissionais da educação que
se manterão no mercado serão aqueles que conseguirão se adaptar às novas ten-
dências desse mundo tecnológico.

BIOFEEDBACK E APRENDIZAGEM

Você está com depressão, dor,


algum trauma vascular ou neu-
ronal, enxaqueca ou dores de
cabeça? Você está estressado,
com insônia, fobias, asma ou in-
continência urinária? Já pensou
em biofeedback? Nesse tópico,
todas essas nomenclaturas se-
rão explicadas.
Caro(a) aluno(a), este é um novo campo de pesquisas que surgiu no sécu-
lo XX, que prima pela autorregulação dos processos psicofísicos e o aumento
da consciência corpo-mente. Resumidamente, a abordagem educacional por
meio do biofeedback está relacionada diretamente com a neurociência cog-
nitiva, uma vez que os métodos se baseiam na neuroplasticidade cerebral, nas
teorias de aprendizagem humana e nos processos cognitivos.
Como tantos outros campos de atuação têm surgido nos últimos anos, é uma
área de atuação multidisciplinar, sendo empregada desde áreas médicas, psi-
cológicas até a cibernética. Sobretudo, sua empregabilidade em áreas esportivas,
comportamentais, empresariais, de reabilitação e tantas outras têm se destacado
cada vez mais.

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É possível conceituar biofeedbacks como um aspecto terapêutico e de ferramenta


educacional como aprimoramento de desempenho. Muito utilizado em esportes
de alta performance, ampliando sua utilização nas esferas executivas, educacion-
ais etc. Existem, biofeedback eletrotérmicos (GSR, EDR ou EDA), térmicos (TEMP),
de eletromiografia (EMG) e neurofeedback (EEG) (DAS NEVES NETO, 2018).

Se você voltar ao primeiro parágrafo deste item em questão, todas aquelas si-
tuações que listei a você serão resultados de desequilíbrios internos, em especial
de alterações neurofisiológicas, o qual demandará consciência para que sejam
novamente controladas. As técnicas de biofeedback permitem ao indivíduo
regular-se voluntariamente às respostas fisiológicas e emocionais. Para tanto,
podem ser utilizados diferentes métodos, como conscientização e relaxamento,
técnicas musculares, respiratórias e cognitivas que facilitam a autorregulação dos
processos corporais (LANTYER; VIANA; PADOVANI, 2013).
Você deve estar se perguntando como isso é possível, não é mesmo? Simples, é
possível se apoiar em jogos por seu caráter lúdico que pode e deve ser empregados
em crianças. Tais jogos podem apresentar, como objetivo, o controle da pressão
arterial ou frequência cardíaca durante momentos de estresse.

VOCÊ SABE RESPONDER?


Reflita comigo: em momentos de estresse ou ansiedade elevada, seus batimentos
cardíacos ficam baixos ou aumentam consideravelmente?

Isso mesmo, para a maioria das pessoas, os batimentos cardíacos são elevados
e com ele a ansiedade, e o resultado disso pode ser a falha no processamento
cognitivo para tomadas de decisões mais eficientes.
Parece claro que, controlar essa elevação dos batimentos cardíacos pode ser
uma excelente estratégia de autocontrole neurofisiológico, pois com um coração
trabalhando mais tranquilamente, menores serão os níveis de estresse e ansie-
dade e, como resultado, teremos maior e, possivelmente, melhor utilização das
funções cognitivas.

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AP RO F U N DA NDO

Um eletrocardiograma é a representação gráfica dos impulsos elétricos no


músculo cardíaco. As oscilações entre cada batimento cardíaco podem indicar
quadros patológicos, nível de condicionamento físico ou mesmo estresse ex-
cessivo, no entanto, o intervalo entre dois batimentos cardíacos pode ser de-
nominado de variabilidade de frequência cardíaca.
Essa mensuração elétrica pode ser solicitada clinicamente por um cardiolo-
gista, mas também é possível verificá-la em alguns relógios de monitoramento
cardíaco e depois transferir os dados com a gravação dessa variabilidade entre
os batimentos cardíacos a um software específico e depois solicitar a interpre-
tação dos dados por um profissional qualificado.

Um dos métodos, de muito utilizados, é o neurofeedback, que consiste em me-


dir ondas elétricas cerebrais, com o intuito de treinar o indivíduo a reduzir ou a
aumentar a frequência/amplitude de ondas de acordo com os objetivos que se
pretende alcançar. Para isso, são necessários, aproximadamente, 50 minutos de
treinamento, com uma a três sessões por semana. Faz-se necessário de 20 a 40
sessões para se alcançar melhores resultados.

A P RO F UNDA NDO

O Comitê Olímpico do Brasil considera o judô como uma das principais fontes de
medalhas em jogos olímpicos. Como resultado, um grande aporte financeiro é cedido
à confederação e aos atletas dessa modalidade. A competição em alto nível promove
diversas alterações emocionais e fisiológicas nos atletas, no qual esses desequilíbrios
podem prejudicar as tomadas de decisão no momento da competição e resultar em
perda de performance e, consequentemente, uma boa colocação. Diante disso, atle-
tas de judô estão sendo preparados por técnicas de biofeedbacks e neurofeedback,
fazendo da modalidade uma das pioneiras na utilização da neurociência.
As técnicas adotadas podem usar imagens de adversários difíceis e analisar os ba-
timentos cardíacos, a sudorese, a atividade cerebral e, por meio dos resultados obti-
dos, utilizar de ferramentas neuropsicológicas para melhorar a concentração e baixar
a ansiedade. Durante o biofeedback, busca-se evitar efeitos negativos causados por
ambientes externos que influenciam na perda da atenção, maior tensão muscular,
redução da autoconfiança, dentre outros fatores. A respiração profunda é controlada,
pode ser um excelente aliado para oxigenar o organismo e reduzir a ansiedade.

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Na década de 1990, o estudo do cérebro foi incrementado com as neuroimagens,


com as quais é possível acompanhar em tempo real o processo neuronal de um
sujeito que está sendo testado: Imagem de Ressonância Magnética (IRM), Ima-
gem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF) e Tomografia por Emissão
de Pósitrons (TEP) (JACOB, 2014).
Esses tipos de máquinas subsidiaram a visualização de alguns processos cere-
brais e, assim, trouxe o entendimento de certas dificuldades de aprendizagem
devido à falta de funcionamento de algumas partes do cérebro. Indivíduos com
dislexia (não conseguem processar sons rápidos) tinham dificuldade com fone-
mas. Usaram um programa de computador três horas por dia, durante quatro
semanas; como inicialmente a fala era lenta e os sons prolongados, facilmente
essas crianças estavam aptas a processar a fala em ritmo normal (JACOB, 2014).

A criança com dislexia possui características que podem ser percebidas desde a
Educação Infantil, tais como: atraso na linguagem, dificuldade de nomear ob-
jetos, cores etc., utilizar palavras inconclusas (“tipo”, “coisa”...) ou alguns vícios
de linguagem presentes na sociedade atual ou dependentes da localidade em
que vive. Possui vocabulário pobre, dificuldade de aprender rimas, memorizar
músicas ou não consegue expressar uma história dentro de uma sequência lógi-
ca. Existem, ainda, as características motoras, como tropeçar com frequência,
apresentar dificuldades para abotoar uma calça ou uma camisa e amarrar os
cadarços, em outras palavras, acabam por ser desastrados.

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As características apresentadas antecedem o período de alfabetização e se


as intervenções pedagógicas forem efetivadas nessa fase (Educação Infantil),
a dislexia poderá ser amenizada ou até superada logo. As intervenções envol-
vem a assimilação de fonemas (na alfabetização e letramento desde a Educação
Infantil), trava-línguas, rimas, desenvolvimento do vocabulário, melhoria da
compreensão e fluência da leitura. Outra maneira para ensinar as crianças dislé-
xicas poderia ser pela utilização das vias táteis, identificando o traçado das letras,
bem como a escrita em caixas de areia e tatear em letras escritas em lixas (folha
de lixa) (JACOB, 2014).

VOCÊ SABE RESPONDER?


Outra técnica que se enquadra nos mecanismos de biofeedbacks é a imagéti-
ca. Você já ouviu falar?

É algo bem simples de se realizar e, sobretudo, seus resultados são excelentes.


Gostaria que, nesse momento, você se imaginasse chegando a um local de prova,
entrando confiante na sala de aula, imagine-se sentado na cadeira e logo após
preenchendo o caderno de provas com exatidão, em que todos os itens da prova
são respondidos facilmente por você. Mentalize a devolutiva desta prova, em que
sua nota foi a melhor da turma, coroando, assim, todo seu esforço e dedicação.
Isso é imagética, antes de qualquer evento que precisa de resultado, perpassa
mentalmente por todas as etapas da execução, desde sua preparação, execução e
finalização. Evidentemente, nesse exercício, deverá sempre pensar positivamen-
te, assim os níveis de ansiedade serão reduzidos, permitido acesso os melhores
conhecimentos anteriormente abstraídos.

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NOVOS DESAFIOS
Neste tema de aprendizagem, elucidamos diversos conhecimentos que se apoiam
na neurociência e, por meio deles, norteamos o trabalho pedagógico, fazen-
do com que o aluno/aprendiz perceba que é ele quem está no controle de sua
aprendizagem, fazendo-o compreender o quanto tudo aquilo é e será importante
para toda a sua vida, o ajudando a alcançar atenção e emoção equilibradas e, o
mais importante: ensiná-lo a lidar com cada uma delas. Lembre-se, sempre que
a aprendizagem oferecer controle e a percepção de progresso, sempre trará ao
aluno uma sensação estimulante.
Por fim, concluímos que todos os seres humanos são capazes de aprender
ou aprimorar conhecimentos durante toda a vida, entretanto, se dificuldades
de aprendizagens ou a necessidade de elevar a performance cognitiva surgirem,
é possível apoiar-se em biofeedbacks, em que a tecnologia também trabalha a
favor da educação. Ao se apoiar nessas terapias de monitoramento de variáveis
cardíacas, neurológicas ou respiratórias, é possível equilibrar emoções, reduzir
a ansiedade e, como consequência, otimizar a tomada de decisão individual.

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VAMOS PRATICAR

1. A consolidação da aprendizagem depende da disposição do aprendiz em querer apren-


der, também são necessários recursos materiais adequados e, obviamente, a estrutura
cognitiva prévia dos indivíduos envolvidos no processo de aprendizagem.

Para isso, assinale a alternativa correta sobre o aprender por parte do aluno, que de-
pende diretamente:

a) Das estratégias adotadas para otimizar a performance cognitiva.


b) Das informações disponíveis, independentemente da qualidade da informação.
c) Da qualidade dos estímulos, mesmo que sem tamanha atenção.
d) Da extrema dificuldade em resolver as tarefas.
e) Da extrema facilidade das tarefas.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO DE SURDOS DO PORTO. A vida de Helen Keller. Associação de Surdos do


Porto, 2020. Disponível em: http://www.asurdosporto.org.pt/artigo.asp?idartigo=91. Acesso
em: 05 nov. 2020.
BOLSTAD, R. Ensinando com a linguagem do cérebro. PNL na Educação, 1997. Disponível
em: https://www.golfinho.com.br/artigo/pnl-na-educacao.htm. Acesso em: 05 nov. 2020.
DA SILVA, F. L.; MUZARDO, F. T. Pirâmides e cones de aprendizagem: da abstração à hierar-
quização de estratégias de aprendizagem. Dialogia, n. 29, p. 169-179, 2018.
DAS NEVES NETO, A. R. Biofeedback em terapia cognitivo-comportamental. Arquivos Mé-
dicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo,
v. 55, n. 3, p. 127-132, 2018.
FONSECA, V. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e
psicopedagógica. 6. ed. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 2007.
JACOB, W. Neuropsicopedagogia: estruturas neurológicas e aprendizagem. Maringá PR:
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Unicesumar, 2014, v.1. p.100.
LANTYER, A. S.; VIANA, M. B.; PADOVANI, R. C. Biofeedback no tratamento de transtornos
relacionados ao estresse e à ansiedade: uma revisão crítica. Psico-USF, v. 18, n. 1, p. 131-140,
2013.
LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.

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GABARITO

1. A.

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MINHAS ANOTAÇÕES

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