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“Rir é o melhor remédio”: como reage

o cérebro (e corpo) quando sorrimos?


São associadas ao sorriso sensações de boa disposição, de
tranquilidade e de descontração. Mas, a comunidade científica mostra
que são muito mais as razões pelas quais os seus lábios devem
passar boa parte do seu dia a fazer uma curva positiva. 😊 Uma
entrevista ao psiquiatra Mário Simões.
Daniela Tomé
07:00, 18 jan.2024

Assinala-se esta quinta-feira, em Portugal, o Dia Internacional do


Riso. A efeméride criada na Índia por Madan Kataria, em 1998,
tem como objetivo alertar para a importância do ato de rir. Mas
quais serão, afinal, os grandes benefícios do riso na saúde
humana?
Na mesma semana em que se assinalou a "Blue Monday", na
terceira segunda-feira do janeiro, celebra-se em Portugal o Dia
Internacional do Riso.
Em entrevista, o psiquiatra Mário Simões começa por desvendar
qual o “centro do riso”, ou seja, a zona cerebral onde o riso tem
origem. É no lobo frontal, mais precisamente na terceira
circunvolução, que “nasce” o riso.
“É nesta estrutura do cérebro que se localiza a voz (a fala), mas
também a secção motora associada aos movimentos que
fazemos em momentos de riso e gargalhada”, explica.
O ato de rir define-se como um conjunto de sons alegres emitidos
com a garganta.

O professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade


de Lisboa (FMUL) explica ainda que “nem todos os risos são
saudáveis”.
Existem vários tipos de riso, podendo este ser considerado como
saudável, se natural, ou ter questões patológicas associadas
quando há interferência/danos de outras estruturas do cérebro.
Nestes casos o riso pode ser caracterizado como riso de causa
neurológica, psicológica ou psiquiátrica.
“Razões psiquiátricas estão na origem de risos aparentemente
imotivados associados à esquizofrenia. O habitualmente
denominado por “riso amarelo” tem origem psicológica, enquanto
que doenças como a esclerose lateral amiotrófica (ELA) podem
desencadear risos de origem neurológica, quando certas
estruturas cerebrais são danificadas”, detalha o médico.

“Fórmula secreta”: quantas vezes


devemos rir por dia?

Existe um provérbio chinês que defende que é preciso rir 30


vezes por dia para ser saudável. Estudos comprovam que as
crianças riem mais de 200 vezes por dia, mas qual será então o
mínimo diário que um adulto deve rir, de forma a manter uma
saúde mental equilibrada?

Segundo o especialista, estudos realizados no Ocidente na última


década demonstram que devemos rir três vezes por dia, sendo
que cada episódio deve durar cerca de um minuto. Sendo assim,
três minutos diários de uma boa risota são a “receita diária” que a
ciência lhe prescreve.
Rir faz libertar neurotransmissores
Alguns especialistas como Robert Fuller, professor de estudos
religiosos na Universidade Bradley, nos EUA, veem as emoções
como o “motor” por trás de algumas das grandes mentes do
nosso mundo.
No caso do riso este é, certamente, o principal motor de reações
físicas, psicológicas e neurológicas do nosso corpo, e todo o
processo relaciona-se com o sangue.
O sangue é composto por variados elementos, entre eles
neurotransmissores - importantes moléculas produzidas e
liberadas pelos neurónios -, que são libertados quando ocorrem
certos mecanismos, tais como felicidade, medo, ou sede.

No caso da dor, temos na corrente sanguínea, opioides


endógenos, que têm como função anular as dores em humanos,
provocando uma sensação de alívio, e que atuam na inibição de
alguns tipos de neurotransmissores.
Existem outros dois tipos de neurotransmissores que são
libertados quando sorrimos, nomeadamente a dopamina, que
provoca uma sensação de bem-estar e de predisposição, e a
serotonina, que deixa no organismo sensações de boa disposição
e relaxamento.

Consequências físicas (positivas) na saúde


Em momentos de boa disposição e prazer, acionados através do
riso, dá-se um aumento da capacidade respiratória, que para
além de regular este sistema tem ainda impacto no sistema
circulatório, através da melhoria da irrigação sanguínea de todos
os vasos do corpo humano.
O especialista explica que, após um momento de riso, para além
destes há uma descontração da musculatura, um alívio de
tensões e uma sensação de relaxamento, “que pode durar até
cerca de três a cinco minutos” em casos de uma boa gargalhada.
De acordo com o psiquiatra Mário Simões, são já alguns os
estudos científicos que comprovam que o riso faz baixar a tensão
arterial, sendo a prova de que rir faz literalmente bem ao coração.
Do ponto de vista psicológico é também uma ferramenta muito
importante, “que faz aumentar o sentido de pertença, através da
criação de laços com as pessoas ao redor”, acrescenta o
especialista.

Yoga do riso e aplicações da técnica


Exemplos da aplicação desta técnica de melhoria do estado de
espírito através do riso são o surgimento de aulas de yoga do
riso, fundadas pelo mesmo criador da efeméride. Madan Kataria,
um médico indiano, concluiu que a gargalhada ajuda no processo
de recuperação das doenças e dos desequilíbrios emocionais.
Foi com o objetivo de alertar para a necessidade de rir, que
Madan Kataria decidiu criar o Dia Internacional do Riso. Em
Portugal assinala-se dia 18 de janeiro, ainda que outros países,
como EUA e Índia, tenham acordado em celebrar a efeméride no
primeiro domingo do mês de maio.

No início de cada sessão, o riso é induzido por meios artificiais,


sendo que logo se transforma em algo absolutamente
espontâneo. Segundo Madan Kataria, duas sessões de yoga do
riso por semana, de 15-20 minutos de duração cada, melhoram
muito a produtividade de uma empresa, reduzindo o stress e
aumentando a motivação e a eficiência dos trabalhadores.

Também a outro nível, neste caso em contexto hospitalar, temos


em Portugal a Operação Nariz Vermelho, onde Doutores
Palhaços atuam junto de crianças hospitalizadas e das suas
famílias, usando o riso como ferramenta comprovada na melhoria
da condição física e psicológica. A música, a dança e as
dinâmicas da arte do Palhaço são levadas para dentro dos
hospitais, para promover a capacidade de rir e de manter a boa
disposição entre todos os elementos.
Dicas à população (e um repto ao
presidente da CM de Lisboa)
O psiquiatra aconselha ainda que se deite com um sorriso nos
lábios, e que ao falar com outra pessoa assuma um ligeiro sorriso
durante a conversa. Ambas as medidas de mímica do riso têm
como objetivo “implantar” no seu cérebro o lembrete de sorrir.

De acordo com Mário Simões existem estudos empíricos nos


transportes que demonstram que quando alguém começa a rir,
há um inconsciente contágio do riso em todos os presentes.

“Diz-se que o riso é contagiante, mas a verdade é que é mesmo.


Deste modo, para tornar as cidades mais positivas, e começando
por Lisboa, deixo uma proposta ao presidente da Câmara [de
Lisboa] Carlos Moedas, de contratar atores que entrem nas
carruagens de comboio e metro, e que através do riso
provoquem um contágio de boa disposição pela cidade”, conclui.

Por fim, alguns provérbios sobre o riso…


 “Rir é o melhor remédio”
 “O riso é a trombeta da loucura”
 “Muito riso, pouco siso”
 “Uma gargalhada por dia não sabe o bem que lhe fazia”
 "Lágrimas nos olhos, risos no coração”
 “O sorriso reduz as distâncias”
 “Um riso satisfeito vale mais que cem gemidos”
 “Quem ri por último, ri melhor”
 “Ninguém se ri que não tenha chorado”
 “Fazer rir é fazer esquecer”
 “O riso abunda na boca do tolo.”
 “O riso é contagiante”
 “A rir se castigam os costumes” (tradução literal do
latim ridendo castigat mores)

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