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Este conteúdo tem o apoio da


Secretaria Estadual da Saúde do Rio
Grande do Sul

Como fazer a abordagem


inicial na APS de casos
suspeitos de arboviroses
(Dengue, Zika e
Chikungunya)?
Tempo de Leitura Postagem
12 minutos 05/05/2021

Atualização
13/07/2022

O cenário epidemiológico das arboviroses no


Brasil é caracterizado pela circulação simultânea
dos quatro sorotipos do vírus Dengue (DENV) e
dos vírus Chikungunya (CHIKV) e Zika (ZIKV). Os
sintomas das três doenças podem ser muito
semelhantes, não sendo possível o diagnóstico
etiológico apenas com base no quadro clínico
[1,2]. A arbovirose mais comum no território
nacional é dengue, portanto, devido à
semelhança dos sintomas, em especial no quadro
inicial, a abordagem inicial até o diagnóstico
específico deve ser sindrômica e recomenda-se a
adoção de medidas para manejo clínico de
dengue, uma vez que esse agravo apresenta
elevado potencial de complicações e morte
quando comparado à zika e chikungunya [2, 3]. O
manejo recomendado é resumido no fluxograma
1.

Fluxograma 1. Avaliação e manejo de casos


suspeitos de Dengue, Zika ou Chikungunya.

Fonte: Telessaude-RS-UFRGS,(2022), adaptado de Ministério


da Saúde (2016, 2022) [2,4].

Faça download do fluxograma aqui

A definição de caso suspeito para cada uma das


arboviroses é descrita no quadro 1.

Quadro 1. Definição de caso suspeito de Dengue,


Chikungunya e Zika.

Doença Definição de caso suspeito

Indivíduo que resida em área


onde se registram casos de
dengue ou que tenha viajado
nos 14 dias antes do início
dos sintomas para área com
ocorrência de transmissão ou
presença de Aedes aegypti.
Deve apresentar febre,
usualmente entre 2 e 7 dias, e
duas ou mais das seguintes
manifestações:
Dengue náusea/vômitos; exantema;
mialgia/artralgia; cefaleia/dor
retro-orbital;
petéquias/prova do laço
positiva; leucopenia.
Crianças: proveniente de (ou
residente em) área com
transmissão de dengue, com
quadro febril agudo,
usualmente entre 2 e 7 dias, e
sem sinais e sintomas
indicativos de outra doença.

Indivíduo residente ou que


tenha viajado para áreas com
transmissão nos últimos 14
dias antes do início dos
sintomas ou que tenha
vínculo epidemiológico com
Chikungunya caso importado confirmado.
Deve apresentar febre de
início súbito maior que
38,5ºC E artralgia ou artrite
intensa de início agudo, não
explicado por outras
condições.

Pacientes que apresentem


exantema maculopapular
pruriginoso acompanhado de
um dos seguintes sinais e
Zika sintomas: febre; hiperemia
conjuntival/conjuntivite não
purulenta;
artralgia/poliartralgia; edema
periarticular.

Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS (2022), adaptado de Ministério da

Saúde (2021) [1].

Sempre que possível, a investigação etiológica


preferencial deve ser feita por métodos diretos
(respeitando-se o momento adequado para cada
teste), já que existe a possibilidade de reação
cruzada da sorologia IgM entre ZIKV e DENV. [1].
Para mais informações sobre os exames
específicos para diagnóstico de dengue clique
aqui. Em situações de surtos, depois da
confirmação da circulação viral, por definição da
vigilância epidemiológica, é possível que nem
todos os casos suspeitos sejam testados, sendo a
definição de caso baseada então em critérios
clínico/epidemiológicos. O diagnóstico
diferencial não é baseado apenas na presença ou
ausência dos sintomas, mas também na sua
cronologia e intensidade [1,5]. O quadro 2
resume as principais características clínicas que
diferenciam as arboviroses.

Quadro 2. Principais características clínicas de


Dengue, Zika e Chikungunya.

Sinais/sintomas Dengue Zika Chikungunya

Ausente
Alta ou febre
Intensidade Alta (>38ºC)
(>38ºC) baixa (≤
Febre 38ºC)

Duração
4-7 1-2 2-3
(dias)

Frequência 30-50% 90-100%* 50%

Exantema
5º ao 7º 2º ao 3º
Momento 4º ao 5º dia
dia dia

Mialgia (frequência) 40-69% 10-39% 10-39%

Artralgia (frequência) <10% 10-39% 70-100%

Frequência Raro Frequente Frequente


Edema
articular Moderada a
Intensidade NR Leve
grave

Conjuntivite <10% 70-100% 30%

Cefaléia 70-100% 40-69% 10-39%

Linfonodomegalia Raro Frequente Frequente

Discrasia hemorrágica 40-69% Ausente <10%

Acometimento
Raro Frequente Raro
neurológico

Leucopenia Frequente Frequente Frequente

Linfopenia 40-69% Raro 70-100%

Trombocitopenia 70-100% Ausente 10-39%

Fonte: Telessaúde-RS-UFRGS (2022), adaptado de Ministério


da Saúde (2016) [2] e Brito, Cordeiro MT (2016) [5].

Todos os casos suspeitos, confirmados ou não,


devem ser obrigatoriamente notificados à
Vigilância Epidemiológica do município [1,2]. O
registro das notificações de dengue e
chikungunya deve ser realizado no Sinan Online,
por meio da Ficha de Notificação/Investigação
de dengue e chikungunya . As notificações de
Zika devem ser registradas na Ficha de
Notificação Individual/Conclusão. Os óbitos e
casos graves são de comunicação imediata,
devem ser comunicados em até 24 horas para a
esfera superior do sistema [1].

Além das três arboviroses descritas, o


diagnóstico diferencial inclui uma ampla gama de
doenças. A probabilidade do diagnóstico varia
conforme o contexto epidemiológico local, a
exposição e os sintomas apresentados [2,6].
Pode-se dividir os principais diagnósticos
diferenciais sindromicamente conforme o
quadro 3.

Quadro 3. Principais diagnósticos diferenciais


divididos sindromicamente.

Quadro
Diagnósticos diferenciais
sindrômico

Influenza e outras viroses


respiratórias, COVID-19*
Enteroviroses
Síndrome Hepatites virais
febril aguda Infecção aguda pelo HIV
Malária
Febre tifóide
Febre do Oropouche

Hantavirose
Síndrome Febre amarela
febril Leptospirose
hemorrágica Malária grave
Riquetsioses

Rubéola
Sarampo
Escarlatina
Eritema infeccioso
Exantema súbito
Infecção aguda pelo HIV
Síndrome Enteroviroses
febril Mononucleose infecciosa
exantemática Parvovirose
Citomegalovirose
Mayaro
Doenças não infecciosas:
farmacodermias, doença de
Kawasaki, doença de
Henoch-Schonlein

*Considerando o contexto atual de pandemia da COVID-19, o

diagnóstico diferencial de quadros febris agudos sempre deve

incluir a COVID-19, em especial se houver sintomas respiratórios

associados. Para saber mais clique aqui.

Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS (2022), adaptado de Ministério da


Saúde (2016, 2021) [1,2]

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Referências:

1. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de


Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de
Desenvolvimento da Epidemiologia em
Serviços. Guia de Vigilância em Saúde:
volume único. 5a ed. Brasília, DF: Ministério
da Saúde; 2021 [citado em 20 Abr 2022].
Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-
de-conteudo/publicacoes/publicacoes-
svs/vigilancia/guia-de-vigilancia-em-
saude_5ed_21nov21_isbn5.pdf/view.

2. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de


Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis.
Dengue: diagnóstico e manejo clínico adulto
e criança. 5a ed. Brasília, DF: Ministério da
Saúde; 2016 [citado em 20 Abr 2022].
Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes
/dengue_manejo_adulto_crianca_5ed.pdf.

3. World Health Organization. Handbook for


Clinical Management of Dengue. Geneva:
WHO;2012 [citado em 20 Abr 2022].
Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/
10665/76887/9789241504713_en%20g.pd
f;jsessionid=6A0D47276F6CDA522C7319
3D4C4DF5EC?sequence=1.

4. Ministério da Saúde (Brasil). Dengue:


classificação de risco e manejo do paciente.
Brasília, DF: Ministério da Saúde; 13 Jun
2022 [citado em 29 Jun 2022]. Disponível
em: https://www.gov.br/saude/pt-
br/centrais-de-
conteudo/publicacoes/publicacoes-
svs/dengue/dengue_classificacao_risco_man
ejo_paciente.pdf/view.

5. Brito CAA de, Cordeiro MT. One year after


the Zika virus outbreak in Brazil: from
hypotheses to evidence. Rev Soc Bras Med
Trop. 2016;49(5):537-43.

6. Thomas SJ, Rothman AL, Srikiatkhachorn A,


Kalayanarooj S. Dengue virus infection:
Clinical manifestations and diagnosis
[Internet]. Waltham (MA): UpToDate;
[atualizado em 23 Fev 2021, citado em 20
Abr 2022]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/dengu
e-virus-infection-clinical-manifestations-
and-diagnosis.

Como citar o documento:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia.
TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Como
investigar casos suspeitos de arboviroses
(Dengue, Zika e Chikungunya)? Porto Alegre:
TelessaúdeRS-UFRGS; 29 Abr 2022 [citado em
dia, mês abreviado e ano]. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/c
omo-fazer-abordagem-inicial-na-aps-de-casos-
suspeitos-de-arboviroses-dengue-zika-e-
chikungunya/

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Revisão por:

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