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CLÍNICA MÉDICA
EDITORES ASSOCIADOS:
Débora Gonçalves da Silva
Felipe Marques da Costa
Gabrielly Borges Machado
Iara Baldim Rabelo
Lívia de Almeida Costa
Milena Tenório Cerezoli
Nícollas Nunes Rabelo
Robson Eugênio da Silva
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Valéria Garcia Caputo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
Yanne Franca Montino
Autores:
4.1
Gabrielly Borges Machado
Isadora Rabelo Cunha
Luciana de Almeida Silva Teixeira DENGUE
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
É uma doença febril aguda, de etiologia viral, conhecida como Febre de Quebra-ossos ou
Febre da Dengue e que possui um espectro clínico complexo e diverso. A maior parte dos pa-
cientes se recupera após evolução clínica leve/moderada e autolimitada, uma pequena parte
evolui para quadro grave, podendo levar a óbito.
Consiste em sério problema de saúde pública no mundo. É considerada a principal arbo-
virose que afeta o homem, pois ocorre em mais de 100 países, com crescente incidência nos
últimos 50 anos.
As condições do meio ambiente nos países tropicais e subtropicais favorecem o desenvol-
vimento e a proliferação do vetor transmissor da doença. Devido à potencial gravidade dessa
doença, associada aos números alarmantes de casos, todo caso suspeito deve ser notificado à
Vigilância Epidemiológica, pois compete à mesma adotar medidas capazes de reduzir a circu-
lação viral, buscando promover o controle e a prevenção da doença.
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
281
3. QUADRO CLÍNICO
A infecção pode ser assintomática ou causar doença cujo espectro inclui desde formas oligossin-
tomáticas até quadros graves com choque, com ou sem hemorragia, podendo evoluir para o óbito.
As manifestações clínicas da Dengue, podem ser classificadas em três fases:
Tem duração de dois a sete dias. Caracterizada por febre alta (39 ºC a 40 ºC) de início abrupto,
associado a cefaleia, hiporexia, mialgia, artralgia, prostração, astenia, dor retro-orbital, exantema,
prurido cutâneo, náuseas e vômitos. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas leves, como pe-
téquias, gengivorragia e epistaxe.
Tem duração de um a dois dias. Comumente ocorre entre o terceiro e o sétimo dia da doença.
Definido como o período de defervescência da febre, pode ocorrer o aumento da permeabilidade
capilar e extravasamento de plasma, apresentando como consequência, aumento dos níveis de
hematócrito. Leucopenia progressiva e diminuição abrupta na contagem de plaquetas também
acontecem nessa fase. Podem ser detectáveis ascite e derrame pleural. O grau de elevação do
hematócrito reflete a gravidade do extravasamento de plasma, que determina a gravidade e evo-
lução da doença. O choque sucede quando um volume crítico de plasma é perdido através do
extravasamento, o que geralmente ocorre entre os dias 4 ou 5 de doença, na maioria das vezes
precedido por sinais de alarme (decorrentes do extravasamento capilar, indicando a possibilida-
de de desenvolvimento para dengue grave e choque hipovolêmico).
Sinais de alarme:
282
Sinais de gravidade:
sangramento grave
comprometimento grave de órgãos
taquicardia
extremidades distais frias
taquipneia
pulso fraco e filiforme
enchimento capilar lento (> 2 segundos)
pressão arterial convergente (< 20 mmHg).
oligúria
hipotensão arterial
Tem duração de dois a três dias. Ocorre após as 24-48 horas da fase crítica. Caracterizada por
melhora progressiva da disfunção endotelial com reabsorção gradual do fluido que havia sido
extravasado para o compartimento extravascular. Há melhora do estado geral, retorno do ape-
tite, os sintomas gastrointestinais diminuem, o estado hemodinâmico estabiliza-se e a diurese
retorna. Alguns pacientes podem apresentar um rash cutâneo, prurido generalizado, desconforto
respiratório ou hipotermia, bem como sintomas prolongados.
4. DIAGNÓSTICO
4.1 Clínico-epidemiológico
Considera-se caso suspeito uma pessoa que viva em área onde se registram casos de dengue,
ou que tenha viajado nos últimos 14 dias para área com ocorrência de transmissão de dengue,
com febre entre dois e sete dias, e duas ou mais das seguintes manifestações:
• náusea, vômitos;
• exantema;
• mialgias, artralgia;
• cefaleia, dor retro-orbital;
• petéquias;
• prova do laço positiva;
• leucopenia.
283
5. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
6. TRATAMENTO
284
6.1 Grupo A
Caso suspeito de dengue com prova do laço negativo e ausência de sangramentos espon-
tâneos; ausência de sinais de alarme; sem comorbidades, grupo de risco ou condições clínicas
especiais.
A conduta necessária é o acompanhamento ambulatorial. Os exames laboratoriais comple-
mentares devem ser realizados a critério médico. O repouso deve ser orientado e a dieta prescrita.
Para a hidratação oral temos as seguintes orientações:
• Adultos: 60 mL/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os
2/3 restantes, orientar o consumo de líquidos (água, soro caseiro, suco de frutas, água de
coco, chás etc.).
• Crianças até 10 kg: 130 mL/kg/dia; crianças de 10 a 20 kg: 100 mL/kg/dia. Crianças acima
de 20 kg: 80 mL/kg/dia, oferecer 1/3 na forma de soro de reidratação oral (SRO) e o restante
através da oferta de água, sucos e chás.
Aos sintomáticos devem ser prescritos analgésicos (paracetamol e/ou dipirona). Não deve-se
usar salicilatos ou anti-inflamatórios não esteroides. Deve-se orientar sobre sinais de alarme e
solicita-se o retorno entre o 3o e 6o dia se possível para reavaliação.
6.2 Grupo B
6.3 Grupo C
285
Para os casos sem melhora clínica e laboratorial após 2 h, repetir a fase de expansão até três
vezes. Caso a resposta mantenha-se inadequada após três fases de expansão, realizar conduta do
grupo D.
6.4 Grupo D
São os pacientes que apresentam um caso suspeito de dengue com presença de sinais de
choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos.
A conduta necessária é o acompanhamento em unidade de terapia intensiva (mínimo 48 ho-
ras), e após estabilização permanecer em leito de internação. Em fase de expansão rápida pa-
renteral, realizar o uso de solução salina isotônica de 20 mL/kg em até 20 minutos, repetir até
três vezes se necessário. É necessária também uma reavaliação clínica a cada 15 a 30 minutos e
de hematócrito em 2 horas. Com resposta clínica e laboratorial após fases de expansão, retornar
para a fase de expansão do grupo C e seguir a conduta recomendada para o grupo. Caso resposta
inadequada, avaliar hematócrito. Para hematócrito em ascensão e sinais de choque, deve-se utili-
zar expansores plasmáticos (albumina 0,5-1 g/kg). Preparar solução de albumina a 5% (para cada
100 mL desta solução, usar 25 mL de albumina a 20% e 75 mL de SF a 0,9%), na ausência desta,
usar coloides sintéticos, 10 mL/kg/hora. Se resposta satisfatória, conduzir como grupo C.
Para hematócrito baixo e sinais de choque, deve-se pesquisar hemorragias e avaliar a coa-
gulação. Se houver hemorragia, transfundir concentrado de hemácias (10 a 15 mL/kg/dia). Se
houver coagulopatias considerar o uso de plasma fresco (10 mL/kg), vitamina K endovenosa e
crioprecipitado (1 U para cada 5-10 kg). As indicações de transfusão de plaquetas são para per-
sistência de sangramento, mesmo após correção de fatores de coagulação e do choque, e com
plaquetopenia e INR maior que 1,5 vezes o valor normal.
Para hematócrito em queda com resolução do choque, ausência de sangramentos, mas com o
surgimento de outros sinais de gravidade, deve-se investigar hiper-hidratação, sinais de descon-
forto respiratório, sinais de insuficiência cardíaca congestiva.
Nesse caso, a conduta a ser seguida é a diminuição da infusão de líquido, uso de diuréticos
e drogas inotrópicas, se necessário. A reposição volêmica deve ser suspensa ou reduzida à velo-
cidade mínima necessária quando houver término do extravasamento plasmático; estabilização
da pressão arterial, do pulso e da perfusão periférica; redução do hematócrito, na ausência de
sangramento; normalização da diurese e ausência de sintomas abdominais.
Caso ocorra presença de critérios de alta, recomenda-se retorno para reavaliação clínica e
laboratorial conforme orientação para o grupo B.
7. MEDIDAS PREVENTIVAS
8. CONCLUSŌES
287
9. ALGORITMO
Caso Suspeito de Dengue
cefaleia, hiporexia, mialgia, artralgia, prostração, astenia, dor retro-orbital, exantema, prurido curâneo, náuseas, vômitos,
petéquias, gengivorragia e epistaxe, leucopenia, prova do laço positiva
288
Paciente sexo feminino, 20 anos, sem comorbidades, nega uso de medicação contínua. Relata
que há três dias iniciou quadro de febre alta (39 ºC), cefaleia intensa, mialgia difusa, prostração e
astenia. Procurou Hospital Universitário, pois evoluiu com vômitos persistentes, dor abdominal
intensa e petéquias pelo corpo. Exame físico: regular estado geral, corada, desidratada (2 + /4 + ),
acianótica, anictérica, T = 38,5 ºC, FR = 20 irpm, FC = 95 bpm, PA = 100x60 mmHg, prova do laço
positiva, pulmões limpos, ritmo cardíaco regular, abdome globoso, flácido, sem visceromegalias,
doloroso a palpação. Exames laboratoriais: Hemograma = hemácias: 4,88, hemoglobina: 15,1, he-
matocrito: 45, leucócitos: 3.000, plaqueta: 60.000/Mm3.
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-geral de desenvolvimento
da epidemiologia em serviços. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças
Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança. 5. ed. Brasília: Ministério da Saú-
de, 2016.
3. Furlan NB et al. Low Sensitivity Of The Tourniquet Test For Differential Diagnosis Of Dengue: An Analysis
Of 28,000 Trials In Patients. Bmc Infectious Diseases, 2016 nov;16(1):1-7.
4. Chiaravalloti NF et al. Aedes albopictus (S) na região de São José do Rio Preto, SP: estudo da sua infestação
em área já ocupada pelo Aedes aegypti e discussão de seu papel como possível vetor de dengue e febre
amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2002 ago;35(4):351-357.
5. Oliveira KKD et al. Perfil de morbidade por patologias infecto-contagiosas entre crianças de 0 a 12
anos. Fiep Bulletin, Mossoró/RN, 2012;82:203-210.
6. Martins FEP et al. Promoção à saúde no combate à dengue em Sobral (CE): Relato de experiência. Sana-
re, Sobral, 2015 set;15(1):112-118.
7. Queiroz ER. Dengue grave no Brasil central: aspectos clínicos e epidemiológicos. Dissertação (Mestrado
em Ciências da Saúde) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2016.
289
Autores:
4.2
Gabrielly Borges Machado
Alice Carvalho Gouveia de Almeida
TUBERCULOSE
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
culosis, também chamada de Bacilo de Koch (BK), que afeta preferencialmente os pulmões.
Apresenta evolução clínica insidiosa.
No Brasil, representa um grave problema de saúde pública, com elevadas taxas de morbi-
mortalidade. Afeta principalmente populações vulneráveis, como as pessoas que vivem com
HIV/aids (PVHA).
A TB pulmonar é a forma mais frequente, ocorrendo em aproximadamente 85,5% dos
casos. Mais raramente pode ocorrer disseminação do microorganismo, com acometimento
extrapulmonar. Está frequentemente associada à forma pulmonar (tuberculose mista), sendo
mais comum em indivíduos com comprometimento imunológico grave e crianças. Os sítios
mais afetados são: linfonodos, pleura, trato genitourinário, ossos e articulações, meninges,
olhos, laringe, peritônio e pericárdio.
TB ganglionar é a forma extrapulmonar mais comum em crianças e imunodeprimidos (es-
pecialmente pessoas vivendo com HIV/aids – PVHA).
TB pleural é a forma extrapulmonar mais comum em imunocompetentes, principalmente
adultos jovens, estando associada à forma pulmonar em 20% dos casos.
TB miliar é uma forma grave da doença, caracterizada por disseminação hematogênica
do bacilo pelo parênquima pulmonar, mais comum em PVHA em fase avançada de imunos-
supressão.
2. ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
291
3. FISIOPATOLOGIA
A maioria dos infectados não desenvolve a doença, devido à resposta imune efetiva, evoluin-
do para infecção latente (ILTB), que pode ser detectada através da prova tuberculínica. Cerca de
5% dos expostos adoecem logo após a primo-infecção (infecção primária). Outros 5% adoecem
mais tardiamente à primo-infecção, por reativação de infecção latente, caracterizando a infecção
secundária. A infecção não confere imunidade permanente ao indivíduo.
4. FATORES DE RISCO
• População indígena.
• Privados de liberdade.
• Imunossupressão.
• Pessoas em situação de rua.
• Precárias condições socioeconômicas.
5. QUADRO CLÍNICO
6. DIAGNÓSTICO
6.1. Clínico-epidemiológico
Indivíduo com tosse por 3 semanas ou mais (sintomático respiratório) e/ou outros sinais e
sintomas, como febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento, inapetência.
6.2. Radiológico
• Indicado para todo paciente com suspeita clínica de TB pulmonar.
• Importante para excluir outra doença pulmonar associada, avaliar a extensão do acometi-
mento e a resposta terapêutica.
• Achados sugestivos: lesões predominantemente em ápices pulmonares, principalmente no
direito, opacidades, infiltrados, nódulos, cavitações, fibroses, retrações, calcificações, adeno-
megalia, aspecto miliar, aspecto de “árvore em brotamento”.
6.3. Baciloscopia direta do escarro
• Pesquisa de BAAR pelo método de Ziehl-Nielsen.
• Mínimo de duas amostras: uma na primeira consulta e a outra na manhã do dia seguinte.
Indicações:
• Sintomáticos respiratórios.
292
293
7. TRATAMENTO
Atenção básica (tratamento diretamente observado – TDO): observação diária por um profis-
sional da saúde.
294
8. REAÇÕES ADVERSAS
9. TRATAMENTO DA ILTB
Isoniazida 5-10 mg/kg/dia (dose máxima de 300 mg/dia) para 270 doses tomadas em 9 a
12 meses.
Indicações (desde que o diagnóstico de tuberculose ativa seja descartado, através de avaliação
clínica e radiológica):
• PT ≥ 5 mm: contatos adultos e adolescentes maiores de 10 anos; pessoas com imagem radio-
lógica sugestiva de sequela de tuberculose; transplantados em terapia imunossupressora; uso
de corticosteroides.
• PT ≥ 10 mm: silicose; neoplasia de cabeça e pescoço; neoplasias hematológicas; insuficiência
renal em diálise; diabetes mellitus.
• Conversão tuberculínica (2a PT com aumento de 10 mm em relação à 1a com intervalo míni-
mo de 8 semanas): contatos de tuberculose bacilífera; profissionais de saúde; profissionais
de laboratório de micobactéria; trabalhadores do sistema prisional; trabalhadores de insti-
tuições fechadas, de longa permanência.
• Pessoa vivendo com HIV/aids, contato de doente bacilífero ou com cicatriz radiológica em
tratamento prévio, independentemente da PT.
• Todas as pessoas vivendo com HIV/aids, assintomáticas, devem realizar a PT anualmen-
te. (Contagem de LTCD4 + maior que 350 células/mm3 e PT ≥ 5 mm: tratar ILTB. Contagem
LTCD4 + menor ou igual a 350 células/mm3: tratar ILTB independentemente da PT.)
Indicada para todos os contatos de um caso de tuberculose ativa (indivíduos que convivem
no mesmo ambiente: em casa, ambientes de trabalho, instituições de longa permanência ou es-
cola). Contatos assintomáticos – pesquisar ILTB:
• PT ≥ 5 mm: Rx tórax.
––Rx tórax normal: iniciar tratamento para ILTB.
Contatos sintomáticos:
• Pesquisar TB ativa: baciloscopia do escarro, radiografia de tórax.
• Exames compatíveis com TB ativa: iniciar esquema básico (RHZE).
296
• Busca ativa de sintomático respiratório: por todos os serviços de saúde (níveis primário, se-
cundário e terciário) para identificação precoce dos bacilíferos.
• Acompanhamento dos casos confirmados.
• Investigação de contatos: permite a identificação dos casos de ILTB, o que permite a preven-
ção do desenvolvimento da tuberculose ativa.
• Monitoramento do tratamento: visita domiciliar, busca de faltosos.
• Tratamento da ILTB.
• Vacina BCG (bacilo de Calmette-Guërin): composta por bacilos vivos atenuados, não previne
o adoecimento, mas evita o desenvolvimento das formas mais graves da doença (tuberculo-
se miliar e meníngea) em menores de 5 anos de idade.
• Medidas de precaução para aerossóis em serviços de saúde: uso de equipamento de prote-
ção individual (máscara N95) pelos profissionais de saúde ao entrar no quarto do paciente;
quarto privativo, mantendo sempre com a porta fechada.
13. CONCLUSŌES
A tuberculose é uma doença que apresenta distribuição mundial, sendo sua incidência maior em
áreas de precárias condições socioeconômicas. O Brasil ocupa a 16a posição em número de casos. Po-
pulações mais vulneráveis, como PVHA, privados de liberdade, pessoas em situação de rua, indígenas
e profissionais de saúde, apresentam maior risco de evolução para doença pulmonar aguda.
Doentes bacilíferos são a maior fonte de infecção. Portanto, diagnóstico precoce de tubercu-
lose ativa, tratamento adequado e vigilância dos contatos, são as principais ferramentas para o
controle da doença, com interrupção da cadeia de transmissão e redução da sua incidência.
Somente casos confirmados de tuberculose devem ser notificados à vigilância epidemiológica
local, responsável pela adoção de medidas de controle, que visam a identificação precoce de ba-
cilíferos, aumento da taxa de cura e consequentemente, redução do número de casos da doença.
297
Paciente, sexo masculino, 44 anos, proveniente de zona rural, solteiro, compareceu ao hospi-
tal apresentando tosse produtiva persistente há cerca de quatro semanas. Relatou também febre
vespertina não ultrapassando 38,5 ºC e sudorese noturna, além de emagrecimento de 5 kg em 1
mês, hiporexia e adinamia. Nega doenças de base, uso de medicamentos, alergias e uso de drogas
ilícitas. Refere ingestão de bebida alcoólica diariamente. Nega tabagismo. Ao exame físico: REG,
febril (38 ºC), hipocorado (2 + /4 + ), desidratado (1 + /4 + ), PA = 120x80 mmHg, FR = 28 irpm e
FC = 80 bpm; ausculta respiratória com crepitações finas em ápice direito. Diante do quadro clíni-
co, foram solicitados exames complementares para confirmação diagnóstica:
• Radiografia de tórax: revela opacidade com cavitação em ápice de lobo superior direito.
• Baciloscopia de escarro (2 amostras): + +.
• Teste rápido para HIV: negativo.
14.1. Prescrição
• Dieta oral livre.
• Esquema básico: RHZE 4 comprimidos ao dia, em jejum.
• Dipirona 500 mg 1 comprimido de 6/6 horas se febre ou dor.
• Notificação no SINAM.
• Orientações quanto às precauções respiratórias.
• Investigação dos contatos.
REFERÊNCIAS
1. Lopes AJ et al. Tuberculose extrapulmonar: aspectos clínicos e de imagem: Extrapulmonary Tuberculosis:
Clinics And Image Aspects. Sopterg, Grajaú, 2006 dez,4(15):253-261.
2. Ferri AO et al. Diagnóstico de tuberculose: uma revisão. Revista Liberato, Novo Hamburgo, 2014
maio;15(24):105-212.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemioló-
gica. Manual de recomendações para controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Recomendações para o manejo da coinfecção Tb-HIV em serviços de atenção es-
pecializada a pessoas vivendo com HIV/Aids. Brasília, 2012.
6. Bertoni TA et al. Paracoccidioidomicose e tuberculose: diagnóstico diferencial: Paracoccidioidomycosis
And Tuberculosis: Differential Diagnosis. Jornal brasileiro de patologia e medicina laboratorial. Rio de Ja-
neiro, 2010 fev;17-21.
7. Longo DL; Kasper DL; Jameson JL et al. Medicina interna de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
298
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
Meningite é uma doença que resulta de um processo inflamatório das meninges, que são
as membranas que recobrem o encéfalo e a medula espinhal.
As etiologias são diversas, podendo ser causada por bactérias, vírus, fungos e, mais rara-
mente, parasitas (protozoários e helmintos), sendo que, algumas etiologias podem cursar com
quadros graves, com alta letalidade, mesmo com o tratamento adequado, ou ainda apresen-
tar evolução para quadros hemorrágicos, que se confundem com outras infecções como febre
maculosa, dengue etc. A doença meningocócica (DM), causada pela Neisseria meningitidis
(meningococo) e os vírus são os principais responsáveis por surtos e epidemias.
Está incluída na Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória. Todos os casos
suspeitos de meningite devem ser notificados e investigados. Surtos, aglomerados de casos e
óbitos são de notificação imediata.
Meningococo é o principal responsável por epidemias no Brasil e possui vários sorogru-
pos, sendo o sorogrupo C o mais prevalente. A meningite meningocócica pode ocorrer de for-
ma isolada ou associada à meningococcemia, caracterizada pela disseminação hematogênica
do agente, resultando em vasculite sistêmica e fenômenos hemorrágicos fulminantes, sendo
a forma mais grave da doença meningocócica. A suscetibilidade à infecção é geral, porém, os
grupos de maior risco são as crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano,
os idosos acima de 60 anos e os imunodeprimidos.
2. ETIOLOGIA
2.1. Bacteriana:
Fatores associados:
• Faixa etária, porta de entrada ou foco séptico inicial.
• Tipo e local da infecção no sistema nervoso central (SNC).
• Imunidade prévia; situação epidemiológica local.
307
• Haemophilus influenzae.
Outros agentes bacterianos:
• Mycobacterium tuberculosis.
• Streptococcus sp. – especialmente os do grupo B.
• Streptococcus agalactie.
• Listeria monocytogenes.
• Staphylococcus aureus.
• Pseudomonas aeruginosa.
• Klebsiella pneumoniae.
• Enterobacter sp.
2.2. Viral
As meningites virais têm distribuição universal e, em geral, evolução benigna, baixa letalidade
e menor risco de sequelas. São frequentemente associadas à ocorrência de surtos, podendo ocor-
rer casos isolados. A incidência se eleva nos meses do outono e da primavera.
2.3. Fúngica
308
3. MODO DE TRANSMISSÃO
Fatores de risco:
• Infecções respiratórias virais recentes (especialmente influenza).
• Aglomeração no domicílio.
• Tabagismo.
• Condições socioeconômicas menos privilegiadas.
• Contato íntimo com portadores do agente.
• Imunodeficiência.
• Asplenia.
• Doenças crônicas.
4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O quadro clínico da meningite caracteriza-se por febre de início súbito, associada à cefaleia,
prostração, náuseas, vômitos, hiporexia, rigidez de nuca, mialgia, agitação, fotofobia e sinais me-
níngeos.
• Sinais de irritação meníngea:
––Sinal de Kernig: flexão passiva da coxa sobre a bacia, em ângulo reto, com dor e resistên-
cia à extensão do joelho.
––Sinal de Brudzinski: flexão involuntária da perna ao se tentar fletir a cabeça do paciente.
• Sinais de gravidade: piora da cefaleia, rebaixamento do nível de consciência, torpor, con-
vulsões, déficit neurológico focal, confusão mental, transtornos pupilares, turvação visual,
paralisias de nervos cranianos, bradicardia, nistagmo, papiledema.
• Meningococcemia: prostração intensa, palidez, sinais de toxemia, exantema e/ou peté-
quias, sufusões hemorrágicas, hipotensão, rebaixamento do sensório, associados ou não a
quadro de meningite, com risco de evolução para choque, CIVD e óbito.
• Meningite viral: associadas ao quadro de meningite são comuns manifestações gastroin-
testinais (vômitos, hiporexia, diarreia e dor abdominal), respiratórias (tosse, faringite) e ainda
309
erupção cutânea. Em geral, cursa com bom prognóstico e a recuperação do paciente é com-
pleta. Tende a ser autolimitada, a duração do quadro é geralmente inferior a uma semana.
• Meningite criptocócica: deve ser sempre considerada em pacientes com aids que apresen-
tam cefaleia, febre, demência progressiva e confusão mental.
5. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
• Cultura (padrão ouro) – líquido cefalorraquidiano (LCR), sangue, raspado de lesões pete-
quiais ou fezes.
• Reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real – LCR, soro, sangue total.
• Aglutinação pelo látex – LCR e soro.
• Contraimunoeletroforese (CIE) – LCR e soro.
• Bacterioscopia direta (método de Gram) – LCR (diplococos gram-negativos: Neisseria menin-
gitidis; cocos gram-positivos: Streptococccus pneumoniae).
• Exame quimiocitológico do líquor.
• Sorologia (pesquisa de anticorpos IgG e IgM) – pesquisar etiologia viral.
• Exame micológico direto com preparação da tinta da China – LCR.
• A punção lombar (se não houver contra-indicação para tal procedimento) e a coleta de
sangue para cultura devem ser realizadas antes do início da antibioticoterapia.
6. TRATAMENTO
310
311
• Meningite por S. pneumoniae: o uso não é consensual, mas pode ser considerado. Alguns
estudos demonstraram redução na mortalidade e sequelas.
• Situações de choque: é discutível, há controvérsias a respeito da influência favorável ao prog-
nóstico.
• Dose recomendada: 0,4 a 0,6 mg/kg/dia EV, 12/12 ou 8/8 horas, 2 dias.
9. QUIMIOPROFILAXIA
Indicações de quimioprofilaxia:
• Todos os contatos próximos de um caso de DM, independente do estado vacinal.
312
10. VACINAÇÃO
• Surto: ocorrência de três ou mais casos pelo mesmo sorogrupo confirmados laboratorial-
mente (cultura ou PCR) em até 3 meses, na mesma área geográfica, que não sejam comuni-
cantes entre si.
• Vacinação de bloqueio: indicada para população exposta, quando há a confirmação de um
surto de doença meningocócica causada pelo sorogrupo C.
• Vacina meningocócica conjugada C: interrompe a cadeia de transmissão do meningococo
na comunidade.
Paciente, sexo masculino, 23 anos, refere febre não aferida há três dias, associada à cefaleia
holocraniana intensa, náuseas, vômitos, astenia e prostração. Refere piora do quadro há um dia.
Nega demais queixas. Nega doenças pré-existentes, alergias e uso de medicamentos. Nega taba-
gismo, etilismo e uso de drogas ilícitas.
313
Ao exame físico: REG, hipocorado, desidratado, febril (39 ºC), FC: 120 bpm, PA: 100/70 mmHg.
Ausculta pulmonar sem alterações, FR: 36 irpm. Presença de rigidez de nuca. Sinais meníngeos
presentes. Glasgow: 15, pupilas isocóricas e fotorreagentes.
Realizada punção lombar evidenciando as seguintes alterações liquóricas: aspecto turvo, pro-
teínas 120 mg/dL; glicose 35 mg/dL; leucócitos 500/mm3 (linfócitos 28%; monócitos 2% e neutró-
filos 70%). Bacterioscopia: diplococos gram-negativos.
11.1. Prescrição
REFERÊNCIAS
1. Lopes AC. Clínica médica: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu, 2013.
2. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde: Protocolo de Vigilância Epidemiológica de Meningites, 2013.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia
de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológi-
ca. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde: Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. ed.
Brasília, 2010.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde: Meningite – vacinação, 2014.
7. São Paulo. Secretaria de Estado. Meningites Virais. Rev. Saúde Pública, 2006;40(1):65-70.
314
Autores:
4.5
Gabrielly Borges Machado
Luilson Geraldo Coelho Júnior
Luciana de Almeida Silva Teixeira LEISHMANIOSE VISCERAL
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
do gênero Leishmania. Primariamente, é considerada uma zoonose, que pode acometer o ser
humano quando esse participa do ciclo de transmissão do parasito, transformando a doença
em uma antropozoonose. Apresenta-se sobre amplo espectro de manifestações clínicas, que
incluem as formas cutânea localizada, cutânea disseminada, cutânea difusa, mucocutânea e
leishmaniose visceral (LV), resultante da disseminação da infecção para órgãos como baço,
fígado e medula óssea.
A leishmaniose visceral é uma doença não contagiosa, sistêmica, de evolução crônica, sen-
do a forma clínica mais grave, potencialmente fatal se não tratada. Muitos indivíduos infecta-
dos apresentam a forma assintomática da doença. As manifestações clínicas são decorrentes
da multiplicação dos parasitos nas células do sistema fagocítico mononuclear associada à res-
posta imune do indivíduo.
A Leishmaniose Visceral (LV) é um problema de saúde pública, com grande impacto socio-
econômico. Estima-se uma incidência global de 500.000 novos casos por ano e mais de 50.000
mortes anuais. Entre os anos de 2001 e 2011, foram registrados 38.808 casos nas Américas,
distribuídos em 12 países, sendo que 37.503 (96%) ocorreram no Brasil. Está amplamente dis-
tribuída nas 21 unidades da federação, com casos registrados nas cinco regiões brasileiras,
sendo sua taxa de letalidade nacional, em torno de 7%.
No Brasil, a LV é considerada uma doença endêmica que apresenta aumento progressivo
do número de casos, com cerca de 3500 casos/ano. A doença acomete indivíduos de todos os
sexos, sendo o masculino mais afetado. Além disso, é mais frequente em menores de 10 anos.
Nos últimos trinta anos, houve a urbanização da doença, anteriormente considerada pre-
sente somente em ambientes rurais. O desmatamento e a ocupação urbana de forma desor-
denada resultaram em expansão das áreas endêmicas fazendo com que novos focos surgis-
sem em outras regiões, dessa forma, a LV tem se espalhado com uma tendência para a zona
urbana.
É uma doença de notificação compulsória, sendo necessária investigação epidemiológica.
A vigilância da LV consiste na vigilância entomológica, de casos humanos e de casos caninos.
315
3. QUADRO CLÍNICO
As infecções podem ser inaparentes (assintomáticas), nas quais não há evidência de manifes-
tações clínicas, todavia, essas podem ser discretas gerando um quadro oligossintomático ou até
mesmo clássico, quando há sintomas bem característicos da doença.
Levando em consideração a evolução clínica da Leishmaniose Visceral, a doença clássica é
dividida em período inicial, período de estado e período final.
Corresponde à fase aguda. Esse período caracteriza o início da sintomatologia, que é variável
em cada paciente. Na maioria dos casos, inclui febre com duração inferior a quatro semanas, pa-
lidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. Os exames sorológicos são reativos. O aspirado
de medula óssea evidencia forma amastigota do parasito. Hemograma pode revelar anemia, com
hemoglobina acima de 9 g/dL.
Em área endêmica, alguns indivíduos, normalmente crianças, podem apresentar a forma oli-
gossintomática, com sintomas discretos, de curta duração, com evolução para cura espontânea.
A forma oligossintomática é caracterizada por febre, hepatomegalia, hiperglobulinemia e
velocidade de hemossedimentação aumentada. O aspirado de medula pode ou não mostrar a
presença de Leishmania.
316
Nos casos em que o diagnóstico não é realizado e o tratamento não é instituído precocemen-
te, a doença evolui progressivamente para o período final. O paciente apresenta-se com febre
contínua e com o estado geral comprometido mais intensamente. Além disso, a desnutrição é
marcada por cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca, ocorre, ainda, edema dos mem-
bros inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem he-
morragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite.
As complicações decorrentes da infecção pelo protozoário são de natureza infecciosa e he-
morrágica. As complicações infecciosas bacterianas são as mais frequentes, dentre elas, desta-
cam-se otite média aguda, piodermites e afecções pleuropulmonares. As infecções quando não
tratadas com antimicrobianos podem levar o paciente a um quadro séptico com evolução fatal.
As hemorragias são secundárias a múltiplos fatores tais como plaquetopenia, consumo de fatores
de coagulação, hepatopatia, sendo a epistaxe e a gengivorragia as mais comuns, mas podendo
também evoluir com gravidade e óbito.
Existem critérios clínicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde associados à maior chance
de evolução para o óbito, tais como: idade superior a 40 anos, sangramentos, imunossupressão,
edema, icterícia, dispneia, infecção bacteriana concomitante, insuficiência renal, leucopenia e/
ou plaquetopenia graves. Esses parâmetros devem ser considerados na escolha da terapêutica
específica.
4. DIAGNÓSTICO
317
5. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
6. TRATAMENTO
Ao utilizar esse medicamento, o paciente deve fazer acompanhamento clínico e exames com-
plementares para a detecção de possíveis manifestações de intoxicação, por meio de: hemogra-
ma, ureia, creatinina, TGO/TGP, eletrocardiograma.
Os sintomas mais comumente decorrentes da intoxicação pelo antimonial são: arritmias car-
díacas, insuficiência renal aguda, elevação dos níveis séricos de ureia e creatinina, icterícia, eleva-
ção de enzimas hepáticas, pancreatite aguda, hiperamilasemia.
Os Antimoniais Pentavalentes estão contraindicados em pacientes que fazem uso de betablo-
queadores e drogas antiarrítmicas, devido seu potencial arritmogênico. Não está recomendado
para os pacientes com as formas graves da LV. Também estão contraindicados em pacientes com
insuficiência renal ou hepática, mulheres grávidas nos dois primeiros trimestres da gestação e
em pacientes que apresentem alteração eletrocardiográfica: intervalo QTC superior a 400 ms (ho-
mens) e 450 ms (mulheres).
A dose recomendada é de 20 mg de Sb + 5 kg/dia, com aplicação endovenosa ou intra-
muscular, por 28 dias, utilizando-se o limite máximo de 3 ampolas/dia da medicação.
É indicada em indivíduos com idade acima de 50 anos, LV grave, insuficiência renal, cardíaca
7. CRITÉRIOS DE CURA
8. MEDIDAS PREVENTIVAS
Uso de repelentes, mosquiteiros de malha fina, evitar exposição nos horários de atividade do ve-
tor (crepúsculo e noite), saneamento ambiental, limpeza urbana, eliminação de resíduos sólidos or-
gânicos e destino adequado dos mesmos, eliminação de fonte de umidade e controle da população
canina errante. A vacina anti-leishmaniose visceral canina é registrada no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, todavia não há constatação do seu custo-benefício, nem da efetividade
para controle de reservatório da leishmaniose visceral canina em programas de saúde pública.
9. CASO CLÍNICO
9.1 Prescrição
• Dieta oral livre.
• Medicação Leishmanicida (opções):
• Glucantime: 20 mg/Sb + 5/kg/dia por via endovenosa ou intramuscular, uma vez ao dia,
durante 30 dias. (Paciente 70 kg: 3 ampolas de Glucantime + SF 0,9% 100 mL, correr EV em
30 minutos).
• Anfotericina B Desoxicolato: 1 mg/kg/dia por infusão venosa durante 14 a 21 dias. (Pa-
ciente de 70 kg: Anfotericina B Desoxicolato 50 mg + SG 5% 500 mL EV em BIC correr em
4 h).
• Anfotericina B Lipossomal: 3 mg/kg/dia, durante 7 dias ou 4 mg/kg/dia, durante 5 dias
319
REFERÊNCIAS
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2. Araujo AC et al. Visceral Leishmaniasis In Petrolina, State Of Pernambuco, Brazil, 2007-2013. Revista do
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 2016;58.
3. Aronson N et al. Diagnosis And Treatment Of Leishmaniasis: Clinical Practice Guidelines By The Infectious
Diseases Society Of America (Idsa) And The American Society Of Tropical Medicine And Hygiene
(ASTMH). Am. J. Trop. Med. Hyg, 2017;96(1):24-45.
4. Botelho ACA; Natal D. First Epidemiological Description Of Visceral Leishmaniasis In Campo Grande, Sta-
te Of Mato Grosso do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2009;42(5):503-508.
5. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemioló-
gica. Guia de vigilância epidemiológica. Brasília, 2009.
6. Brasil. Ministério da Saúde, Fundação Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epi-
demiológica. Manual de vigilância e controle daLeishmaniose visceral. Brasília; 2006.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemioló-
gica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Brasília, 2010.
8. Fu Q et al. Endemic Characteristics Of Infantile Visceral Leishmaniasis In The People’s Republic Of Chi-
na. Parasites & Vectors, 2013;6(1):143.
9. Júnior LGC et al. Coinfecção por Leishmaniose visceral e vírus da imunodeficiência humana: uma evolu-
ção clínica desfavorável. Revista De Patologia Tropical, 2016;45(2):233-240.
10. Júnior LGC et al. Leishmaniose visceral infantil: relato de caso. Revista de Medicina, 2016;95(3):133-137.
11. Maciel DB et al. Infection With Leishmania (Leishmania) Infantum Of 0 To 18-month-old Children Living
In A Visceral Leishmaniasis-endemic Area In Brazil. The American Journal Of Tropical Medicine And Hygiene,
2014;91(2):329-335.
12. Marzochi MCA. Visceral Leishmaniasis In Southern Rio de Janeiro State And The Risk Of Propagation To
São Paulo State, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2016;49(2):147-149.
13. Monge-maillo B et al. Visceral Leishmaniasis And Hiv Coinfection In The Mediterranean Region. Plosnegl
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14. Van Griensven J, Zijlstra EE, Hailu A. Visceral Leishmaniasis And Hiv Coinfection: Time For Concerted Ac-
tion. Plosnegl Trop Dis, 2014;8(8):E3023.
15. WHO et al. Control Of The Leishmaniases: Report Of A Meeting Of The Who Expert Committee On The
Control Of Leishmaniases. In: WHO. Control Of The Leishmaniases: Report Of A Meeting Of The Who Ex-
pert Committee On The Control Of Leishmaniases. World Health Organization, 2010.
320
Autores:
4.6
Gabrielly Borges Machado
Daniela Aparecida Lima Viana
LEPTOSPIROSE
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO
A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda caracterizada por amplo espectro
clínico, podendo apresentar quadros assintomáticos e oligossintomáticos, além de formas
graves e fulminantes. É também conhecida como Doença de Weil, síndrome de Weil, febre dos
pântanos, febre dos arrozais, febre outonal.
Trata-se de uma zoonose de importância universal. No Brasil tem distribuição endêmica.
Pode ocorrer durante todo o ano, com maior incidência nos períodos chuvosos, principalmente
em grandes centros urbanos, devido às enchentes associadas à aglomeração populacional de
baixa renda, condições inadequadas de saneamento e alta infestação de roedores infectados.
As epidemias urbanas anuais estão relacionadas às condições precárias de moradia e tra-
balho. Os surtos, em geral, são decorrentes de desastres naturais de grande magnitude, pós
enchentes e inundações.
É mais frequente na zona urbana, tendo importância social e econômica significativa. Tra-
balhadores que fazem a limpeza dos esgotos, garis, agricultores, veterinários, tratadores de
animais, pescadores, dentre outros, são mais predispostos à infecção. É mais comum no sexo
masculino e na faixa etária entre 30 a 49 anos.
É doença de notificação compulsória no Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(Sinan), portanto, todo caso suspeito deve ser notificado e investigado.
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
321
e disfunções orgânicas, as quais são responsáveis pelas manifestações clínicas da doença e com-
plicações. O período de incubação varia de 2 a 30 dias, em média 5 a 14 dias.
3. MODO DE TRANSMISSÃO
A Leptospira é transmitida ao homem por meio do contato direto ou indireto com a urina
de animais infectados (reservatórios). A penetração do patógeno se dá através da pele com a
presença de lesões, pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou através de
mucosas, como a conjuntiva.
4. QUADRO CLÍNICO
Varia desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros clínicos graves, com alta letali-
dade. É uma doença bifásica sendo dividida em duas fases: fase precoce (fase leptospirêmica/
aguda) e fase tardia (fase imune).
Essa fase corresponde a cerca de 85% das formas clínicas. Resultante da disseminação da
leptospira pelo organismo, caracteriza-se pelo início súbito de febre, acompanhada de cefaleia,
mialgia, anorexia, náuseas e vômitos, diarreia, artralgia, hiperemia ou hemorragia conjuntival, fo-
tofobia, dor ocular e tosse. Podem ocorrer exantema, hepatomegalia, esplenomegalia e linfade-
nopatia (em menos de 20% dos casos).
Em geral, é autolimitada, com duração entre 3 e 7 dias e evolução benigna. Sufusão conjunti-
val é um achado característico da leptospirose, observado no final da fase precoce. Outros acha-
dos são petéquias e hemorragias conjuntivais e mialgia, principalmente em região lombar e nas
panturrilhas. É difícil diferenciar essa fase de outras causas de doenças febris agudas.
Essa fase ocorre após a primeira semana da doença. Caracterizada pelo início da produção de
anticorpos específicos. Cerca de 15% dos pacientes evoluem para formas graves, mais comuns no
sexo masculino, podendo apresentar manifestações fulminantes.
É uma manifestação clássica da forma grave, caracterizada pela tríade de icterícia, insuficiên-
cia renal e hemorragia, principalmente pulmonar. A icterícia rubínica (tonalidade alaranjada mui-
to intensa), característica da síndrome, aparece entre o 3o e 7o dia de sintomas, sendo marcador de
pior prognóstico. Essas manifestações também podem se apresentar de forma isolada.
É uma complicação importante na fase tardia, decorrente de lesão pulmonar aguda e san-
gramento pulmonar maciço, caracterizada por tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica
e, ocasionalmente, dor torácica e cianose. A hemoptise franca indica extrema gravidade e pode
ocorrer de forma súbita, levando à insuficiência respiratória (síndrome da hemorragia pulmonar
aguda e síndrome da angústia respiratória aguda – SARA) e a óbito, em poucas horas.
322
Além de hemorragia pulmonar, pode cursar também com fenômenos hemorrágicos na pele
(equimoses, petéquias e sangramento nos locais de venopunção), em mucosas, como a conjunti-
va ou órgãos internos, como sistema nervoso central.
Essa situação pode ocorrer em até 40% dos pacientes, caracterizada por ser não oligúrica e hi-
pocalêmica. Com a vasculite sistêmica, ocorre perda contínua de volume intravascular e o pacien-
te pode evoluir para necrose tubular aguda e não responder à reposição volêmica, necessitando
de início precoce de diálise.
Outras complicações da forma grave são miocardite, arritmias, pancreatite, distúrbios neu-
rológicos como confusão, delírio, alucinações e meningite asséptica. Mais raramente, pode-se
observar encefalite, paralisias focais, espasticidade, nistagmo, convulsões, distúrbios visuais de
origem central, neurite periférica, paralisia de nervos cranianos, radiculite.
A convalescença dura de 1 a 2 meses, podendo persistir sintomas como febre, cefaleia, mial-
gias e mal-estar geral por alguns dias. A icterícia desaparece lentamente, podendo durar por se-
manas. Os níveis de anticorpos diminuem progressivamente.
Ocorrem ainda sinais de alerta, sendo eles:
• Dispneia, tosse e taquipneia.
• Alterações urinárias, geralmente oligúria.
• Fenômenos hemorrágicos, incluindo escarros hemoptoicos.
• Hipotensão.
• Alterações do nível de consciência.
• Vômitos frequentes.
• Arritmias.
• Icterícia.
5. DIAGNÓSTICO
Em fase precoce, ocorre o isolamento da bactéria através de exame direto, cultura para Leptos-
pira em sangue e detecção do DNA pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). Em fase
tardia, são utilizados métodos sorológicos (a partir do 7o dia do início dos sintomas) como:
• Ensaio imunoenzimático (ELISA-IgM).
323
––Aumento de quatro vezes ou mais nos títulos da MAT, entre duas amostras sanguíneas co-
letadas com um intervalo de aproximadamente 14 dias após o início dos sintomas entre elas.
6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Em fase precoce: dengue, síndrome gripal, malária, febre maculosa, doença de Chagas aguda,
toxoplasmose aguda, febre tifoide, entre outras. Em fase tardia: hepatites virais agudas, hantaviro-
se, febre amarela, malária grave, dengue grave, endocardite, febre maculosa, doença de Chagas
aguda, pneumonias, pielonefrite, sepse, meningites, abdome agudo.
7. TRATAMENTO
324
8. CONCLUSÃO
325
Algorítmo
• Soro fisiológico
• PaO2<60 mmHg ou raio X 0,9% 500mL,
• Infiltrado bilateral ao RX intravenoso, em
ou bolus, repetir até 3X
• FR>28ipm e Sat02<92% NÃO • Monitorizar padrão
(ar ambiente) e respiratório
estertores crepitantes • Se piora
bilaterais respiratória, reiniciar
algoritmo
Suporte
ventilatório Avaliar diurese
Avaliar diurese após
hidratação
SARA com IRA SARA com IRA IRA oligúrica IRA não oligúrica
oligúrica não oligúrica 1. Fazer furosemida 1. Hidratação
1. Indicar Diálise (PA) 1. Se creatinina 100mg, vigorosa
2. Se pressão arterial -4 mg/dL ou ureia
> intravenosa (dose com soro
baixa e sinais de -150 mg/dL
> única) fisiológico
desidratação, fazer indicar Diálise 2. Se diurese, 0,9%
hidratação mínima 2. Reposição volêmica tratar como IRA (80mL/kg/dia)
(soro fisiológico criteriosa com não oligúrica 2. Se PA<60 ou
0,9%-500mL) monitorização 3. Se não teve PA<90X60mmHg,
Com monitorização respiratória diurese, indicar iniciar droga
respiratória 3. Se diurese <500mL diálise vasoativa e
3. Se PA ainda baixa, em 12h ou ureia e 4. Se PA baixa, 3. Se piora
iniciar creatinina crescentes, iniciar droga respiratória,
droga vasoativa indicar diálise vasoativa e reiniciar
3. Se piora fluxograma
respiratória, reiniciar
fluxograma
326
9. CASO CLÍNICO
Paciente, 45 anos, sexo masculino, gari, previamente hígido, refere que há cerca de 8 dias teve
início súbito de febre, cefaleia, astenia, prostração, náuseas e mialgia mais acentuada em pantur-
rilhas, evoluindo com vômitos frequentes e icterícia. Refere ainda tosse, dispneia e hemoptise,
além de anúria há dois dias. Relata contato físico com área alagada há cerca de 20 dias. Nega
doenças pré-existentes, uso de medicamentos, alergias. Tabagista há 25 anos. Etilista social.
Exame físico: mal estado geral, hipocorado, febril (39 ºC), ictérico (3 + /4 + ), PA: 80x50 mmHg,
FC: 110 bpm, FR: 40 irpm, SatO2: 82% em ar ambiente, Glasgow: 15. Ausculta respiratória apresen-
tando estertores crepitantes em bases bilaterais. Abdome: fígado à 7 cm do rebordo costal direito.
Diante da suspeita clínica e presença de sinais de alerta, realizada internação hospitalar em
unidade de terapia intensiva, notificação do caso suspeito, solicitados exames inespecíficos e es-
pecíficos (sorológicos) para confirmação diagnóstica e iniciado tratamento específico.
Radiografia de tórax: infiltrado alveolar difuso bilateral. Gasometria arterial: PaO2 50 mmHg;
creatinina: 4,5 mg/dL; ureia: 200 mg/dL.
9.1. Prescrição
REFERÊNCIAS
1. Bernardi I. Leptospirose e saneamento básico. Monografia [Especialização em Saúde Pública] – Universida-
de Federal de Santa Catarina, 2012.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília, 2010.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de vigilância em saúde. Volume único. Brasília, 2016.
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sília, 2002.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Leptospirose: diagnóstico e manejo clínico. Brasília, 2014.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Roteiro para a capacitação de profissionais médicos no diagnóstico e tratamen-
to da leptospirose – guia de bolso. Brasília, 2014.
7. Goldman L, Ausiello D. Cecil: Medicina. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
8. Longo DL, Kasper DL, Jameson JL et al. Medicina Interna de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
9. Lopes AC. Tratado de clínica médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016.
10. Souza VMM et al. Avaliação do sistema nacional de vigilância epidemiológica da leptospirose. Rio de Janei-
ro, 2010.
327
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
tendo como agente etiológico protozoários do gênero Leishmania, que tem tropismo por
pele e mucosas. Trata-se de uma antropozoonose, considerada um grande problema de saúde
pública, com ampla distribuição mundial, predominando no continente americano (principal-
mente a América Latina).
Inicialmente era considerada uma zoonose de animais silvestres, ocorrendo em áreas de
vegetação primária. Nos dias atuais, a transmissão vetorial ocorre predominantemente em
regiões periurbanas e rurais, devido ao desmatamento e à adaptação do vetor transmissor ao
meio urbano.
É uma doença de notificação compulsória nacional, portanto, todo caso confirmado deve
ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, para a classificação epidemiológica (caso
autóctone ou importado) e o acompanhamento dos casos. É considerada endêmica no Bra-
sil, com registro de casos em todas as regiões brasileiras, predominando nas regiões Norte,
Centro-Oeste e Nordeste. Apresenta diversidade clínica e epidemiológica. Ocorre em ambos
os sexos e todas as faixas etárias, predominando em maiores de 10 anos e no sexo masculino.
329
vias aerodigestivas superiores, sendo potenciais fontes de infecção. O homem é considerado hos-
pedeiro acidental.
Os vetores são insetos flebotomíneos, diferentes espécies pertencentes ao gênero Lutzomyia,
conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros.
3. TRANSMISSÃO
4. FISIOPATOLOGIA
Após a picada do mosquito vetor infectado, o parasita é inoculado na pele, estimulando res-
posta imune celular específica no local, com recrutamento e atuação de células de defesa, como
macrófagos, células NK e linfóticos T helper. Normalmente, há predomínio de resposta imune
Th1, mais efetiva na eliminação de patógenos intracelulares, sendo responsável por infecção lo-
calizada ou subclínica, com boa resposta terapêutica e prognóstico favorável. O parasita invade
as células do sistema fagocítico-mononuclear (macrófagos), dando origem às amastigotas, que
sofrem multiplicação intracelular, propagando a infecção. O parasitismo associado à ativação
imune local, com liberação de mediadores inflamatórios, como IL-12 e IFN-γ, levam à destruição
tecidual e surgimento das lesões características da doença. Sendo assim, o quadro clínico depen-
de da espécie envolvida e do estado imunológico do indivíduo. A resposta imune predominante
influencia significativamente a evolução da doença para cura espontânea, formas localizadas ou
formas progressivas, sendo a resposta Th1 mais favorável na LTA. Em alguns casos, pode ocorrer
predomínio de resposta imune do tipo 2 (humoral), mediada por anticorpos anti-Leishmania,
pouco efetiva na LTA, com maior sobrevivência do protozoário, evolução desfavorável com disse-
minação das lesões e má resposta terapêutica.
Sugere-se que a forma mucosa da doença é resultante de resposta imune celular exacerbada
no local de depósito de antígenos da Leishmania, associada à incapacidade de promover uma
modulação adequada dessa resposta. A resposta terapêutica nesses casos é ruim e as recidivas
são frequentes.
5. QUADRO CLÍNICO
A LTA é caracterizada por amplo espectro clínico e polimorfismo lesional. Apresenta duas for-
mas clínicas: leishmaniose cutânea e leishmaniose mucosa (ou mucocutânea).
É a manifestação clínica mais frequente. Lesão ulcerada, única ou em pequeno número, ova-
lada, com bordas bem delimitadas e elevadas, base eritematosa, fundo granuloso, indolor, com
boa resposta terapêutica e tendência à cura espontânea. Podem ocorrer linfadenopatia regional
e linfangite nodular.
330
São lesões múltiplas do tipo papulares e de aparência acneiforme, acometendo vários seg-
mentos corporais, principalmente face e tronco, distantes do local da picada. Podem ocorrer
sintomas sistêmicos associados. As lesões são decorrentes de disseminação do parasito por via
hematogênica ou linfática. Rara, associada à imunodepressão, com resposta terapêutica variável.
É uma forma clínica rara, grave, multiparasitária, de evolução lenta, com formação de placas
infiltradas, múltiplas nodulações não ulceradas, disseminadas, principalmente em face, tronco e
membros, deformidades nas extremidades. Caracterizada pela ausência de resposta imune celu-
lar a antígenos de Leishmania e pela acentuada proliferação dos parasitos com disseminação das
lesões. No Brasil, é causada pela L. amazonensis, apresentando resposta terapêutica pobre.
331
São lesões ulceradas, destrutivas, eritematosas, crostosas e indolores em mucosas das vias
aéreas superiores. São lesões metastáticas, secundárias à lesão cutânea prévia, curada sem tra-
tamento ou com tratamento inadequado. A mucosa nasal é a mais acometida, podendo ocorrer
perfuração e destruição de septo nasal, com deformidades e estigma social.
6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
• Sífilis terciária.
• Paracoccidioidomicose.
• Hanseníase.
• Tuberculose.
• Úlcera venosa.
• Esporotricose, cromoblastomicose.
• Piodermites.
• Carcinoma basocelular.
• Sarcoidose, LES.
7. DIAGNÓSTICO
7.1. Clínico-epidemiológico
• Leishmaniose cutânea: presença de lesões de pele ulceradas ou não, com três semanas ou
mais de evolução em paciente residente ou exposto à área de transmissão.
• Leishmaniose mucosa: presença de lesão de mucosa de vias aéreas superiores, principal-
mente nasal, em paciente residente ou exposto à área de transmissão.
7.2 Laboratorial
• Parasitológico:
––Exame direto (primeira escolha): pesquisa de amastigotas em esfregaço da lesão ou
imprint de fragmentos.
332
• Imunológico:
––Intradermorreação de Montenegro (IDRM): teste cutâneo realizado com antígenos de
Leishmania, que avalia resposta imune celular antileishmania prévia (resposta de hipersen-
sibilidade celular retardada).
• Molecular:
––Reação em cadeia da polimerase (PCR): detecção do DNA do parasita em diferentes
amostras (pele, mucosa). Sensibilidade e especificidade elevadas.
• Histopatológico:
––Compatível: dermatite granulomatosa difusa ulcerada.
8. TRATAMENTO
333
leishmaniose recidiva cútis. Recomenda-se uma a três aplicações de 5 mL por sessão, com
intervalo entre as aplicações de 15 dias.
8.4. Pentamidina:
• Primeira escolha: forma cutânea localizada causada por Leishmania guyanensis e forma
cutânea difusa.
• Dose: 3 – 4 mg/kg/dia, via intramuscular profunda ou endovenosa, em dias alternados (dose
total de 2 g), infusão lenta durante 60 minutos.
• Eventos adversos: hipoglicemia, diabetes mellitus tardio (toxicidade sobre as células beta-
-pancreáticas), pancreatite, arritmias e reações locais.
334
8.5. Pentoxifilina:
• Indicação: na LM como adjuvante em associação ao antimoniato de meglumina.
• Dose: 400 mg, via oral, três vezes ao dia após as refeições, por 30 dias.
• Contraindicações: menores de 12 anos, gestação, lactação, coinfecção pelo HIV, alergia, imu-
nodeprimidos, insuficiência renal, hepática ou cardíaca.
9. SEGUIMENTO
Essencialmente clínicos. Em geral, a cura é definida pela regressão das manifestações clínicas
apresentadas, com a epitelização das lesões ulceradas, regressão total da infiltração e do eritema,
até três meses após o término do tratamento. Na forma mucosa, é constatada pelo exame otorri-
nolaringológico, até seis meses após o término do esquema terapêutico.
As ações preventivas devem ser de caráter individual e coletivo, ou seja, envolver a sociedade
como um todo. As principais medidas incluem: o uso de repelentes e telas protetoras em portas
e janelas; evitar exposição em horários de maior atividade do vetor (durante dia e noite); limpeza
de locais propícios à reprodução do vetor; higienização de abrigo de animais domésticos; des-
tino adequado do lixo orgânico; uso de inseticidas de ação residual para controle do vetor em
domicílios; ações educativas para a população e capacitação dos profissionais de saúde. O con-
trole de animais silvestres e domésticos com LTA não é recomendado. A eutanásia não é indicada,
exceto quando os animais doentes evoluírem para quadros graves, com acometimento mucoso.
O tratamento de animais doentes não é indicado para controle, pois leva à seleção de parasitos
resistentes às drogas.
Logo, conclui-se que, diagnóstico precoce, o tratamento adequado e acompanhamento regu-
lar dos casos confirmados, são cruciais para a vigilância e o controle da LTA.
Paciente, sexo masculino, branco, 26 anos, natural e procedente de Paracatu – MG, solteiro,
estudante, procura atendimento médico referindo surgimento de lesões cutâneas indolores em
335
membro inferior direito e antebraço esquerdo há cerca de dois meses. Nega doenças de base, uso
de medicamentos, alergias, tabagismo e etilismo.
Ao exame físico: presença de duas lesões ulceradas, ovaladas, com bordas elevadas e infiltra-
das, base eritematosa, com granulação grosseira, fundo avermelhado sendo recoberto por exsu-
dato sero-purulento, com aproximadamente 4 cm de diâmetro cada. Peso: 70 kg.
Exames laboratoriais: hemáceas 6,37 milhões; hemoglobina 13,2 mg/dL; hematócrito 44 %;
leucócitos 10.000 mm³; plaquetas 342.000 mm³; glicose: 80 mg/dL; ureia: 39 mg/dL; creatinina:
1,03 mg/dL; TGO: 28 U/L; TGP 21 U/L; amilase 80 U/L; lipase: 50 U/L. ECG: sem alterações. Exame
parasitológico direto: presença de amastigotas em esfregaço da lesão.
Confirmado o diagnóstico de Leishmaniose tegumentar forma cutânea localizada, iniciou-se
terapia medicamentosa com antimonial pentavalente 3 ampolas/dia por 20 dias. O paciente foi
orientado a realizar acompanhamento semanal durante o tratamento com avaliação clínica, la-
boratorial e eletrocardiográfica e, após o término, o preenchimento dos critérios de cura e pelos
12 meses subsequentes.
12.1. Prescrição
• Dieta oral livre.
• Glucantime®: 20 mg/Sb + 5/kg/dia por via endovenosa, uma vez ao dia, durante 20 dias (3 am-
polas em 100 mL de soro glicosado 5%, infundir em 30 minutos).
• Dipirona 500 mg via oral 6/6 horas se dor ou febre.
• ECG e exames laboratoriais semanais até o término do tratamento.
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doen-
ças Transmissíveis. Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológi-
ca. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
4. Rath S. Antimoniais empregados no tratamento da leishmaniose: estado da arte. Quím. Nova, 2003;26(4):550-
555.
5. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 2016. Disponível em: <http://portalsinam.
saude.gov.br>. Acesso em:
6. Falqueto A.; Sessa P. A. Leishmaniose tegumentar americana. In: Veronesi, R.; Focaccia, R. Tratado de infec-
tologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
336
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
2. CLASSIFICAÇÃO
Quanto à localização:
• Cistite: acometimento do trato urinário baixo.
• Pielonefrite: acometimento do trato urinário superior.
Quanto à presença de complicações:
• Não complicadas: quando envolvem o trato urinário normal.
• Complicadas: presença de alterações estruturais ou funcionais; risco de falha terapêutica
e complicações graves.
Quanto à evolução:
• Aguda.
• Crônica.
Quanto à origem:
• Comunitária: adquirida na comunidade ou início dos sintomas até 48 horas de internação.
337
• Nosocomial: início dos sintomas após 48 horas de internação; relacionada ao uso de disposi-
tivos invasivos (sonda vesical de demora), imunossupressão, entre outros fatores.
• Bacteriúria assintomática: duas culturas de urina positivas, colhidas em mais de 24 horas
de diferença, contendo 100.000 uropatógenos/mL da mesma cepa bacteriana e ausência
de manifestações clínicas de ITU; mais comum em idosos, mulheres, diabéticos e gestantes.
3. FATORES DE RISCO
Quadro 1. Fatores relacionados à infecção urinária complicada e não complicada.
4. ETIOLOGIA
5. PATOGÊNESE
338
6. QUADRO CLÍNICO
Quadro 2. Sinais e sintomas de ITU baixa e alta.
7. DIAGNÓSTICO
Para ITU baixa, adquirida na comunidade, em mulheres jovens imunocompetentes e sem fa-
tores de risco para complicações, o diagnóstico deve ser clínico.
Outros tipos de ITU:
• Análise de elementos anormais do sedimento urinário (urina rotina): presença de piúria
(≥ 10.000 leucócitos/mL ou ≥ 10 leucócitos/campo), hematúria e bacteriúria; fita positiva
para leucócito esterase e/ou nitrito.
• Urocultura (padrão-ouro): identificação do uropatógeno (contagem bacteriana acima de
100.000 UFC/mL) em urina colhida em jato médio e de maneira asséptica (a coleta deve ser
feita antes do início do antimicrobiano).
• Exames inespecíficos: hemograma, proteína C reativa (PCR), ureia, creatinina.
• Exames de imagem (Ultrassonografia, Tomografia computadorizada e Ressonância magné-
tica do aparelho urinário):
––Afastar complicações (obstrução urinária, doença litiásica, tumor, abscessos) e alterações
estruturais ou funcionais.
• Hemocultura:
––ITU alta complicada: positiva em 25 a 60% dos casos (maior risco de sepse).
339
8. TRATAMENTO
340
9. PROFILAXIA
Indicação: ITU recorrente (presença de dois ou mais episódios de ITU em seis meses ou três
ou mais episódios ao ano).
Antibióticos Dose
Sulfametoxazol/trimetoprim 200/40 mg/dia
Nitrofurantoína 50 – 100 mg/dia
Norfloxacina 200 mg/dia
Ciprofloxacina 125 mg/dia
Cefalexina 250 mg/dia
Fosfomicina 3 g a cada 10 dias
Fonte: Guidelines for the diagnosis and management of recurrent urinary tract infection in women (2011).
Paciente, sexo feminino, 20 anos, previamente hígida, procura atendimento referindo pola-
ciúria, dor lombar à direita, além de febre, náuseas, vômitos, prostração e astenia, há três dias.
Nega outras queixas associadas. Nega doenças pré-existentes, uso de medicamentos, alergias,
tabagismo e etilismo. Afirma ter tido infecção urinária há dois meses, que havia sido tratada com
Norfloxacino 400 mg de 12/12 h por 6 dias.
Exame físico: PA: 110x70 mmHg; FC: 120 bpm; FR: 32 irpm; Tax: 39 ºC, regular estado geral, de-
sidratada, corada, anictérica, acianótica, orientada. Ausculta pulmonar e cardíaca sem alterações.
Ao exame físico específico, sinal de Giordano positivo.
Solicitados exames complementares: hemograma, PCR, hemocultura (2 amostras), EAS e uro-
cultura. Realizada internação hospitalar e iniciada antibioticoterapia venosa empírica.
10.1 Prescrição
341
• Omeprazol 40 mg IV ao dia.
• Sinais vitais e cuidados gerais 4/4 horas.
Presença de
sintomas urinários;
disúria, �
polaciúria, dor
supra-púbica,
urgência miccional,
hematúria
SIM (pelo
NÃO
menos um)
Considerar
ITU alta
Sinais de
gravidade?
Hipotensão,
FC>100,
FR>20,
queda do
estado Tratar por 7 dias: Sexo
geral) masculino, gestante,
idoso, bexiga neuro-
gênica, obstrução,
diabetes, imunossu-
primido.
Tratar por 3 a 5 dias:
SIM (pelo NÃO Demais casos
menos um) (nenhum)
Resposta inadequada
ou recidiva
US ou TC do
aparelho
Resposta urinário,
inadequada checar
ou recidiva urinocultura
US ou TC do
aparelho
urinário; checar
urinococultura
(ou colher)
342
REFERÊNCIAS
1. Silva JMP et al. Aspectos atuais no diagnóstico e abordagem da infecção do trato urinário. Revista Médica
de Minas Gerais, Minas Gerais, 2014;24(2):20-30.
2. Lopes HV; Tavares W. Diagnóstico das infecções do trato urinário. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, 2005
nov/dez;51(6):306-08.
3. Roriz-filho JS et al. Infecção do trato urinário. Revista FMRPUSP, Ribeirão Preto, 2010;43(2):118-25.
4. Vieira NOM. Infecção do trato urinário. Revista FMRPUSP, Ribeirão Preto, 2003 abr/dez;36:365-69,
5. Dason S; Dason JT; Kapoor A. Guidelines For The Diagnosis And Management Of Recurrent Urinary Tract
Infection In Women. Canadian Urological Association Journal, 2011 out;316-322.
343
Autores:
4.10
Gabrielly Borges Machado
Isaias Nery Ferreira
HANSENÍASE
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
Classificação
Clínica Forma clínica Baciloscopia
operacional
Áreas de hipoestesias, anestesia e/ou parestesia,
manchas hipocrômicas e/ou eritêmato-hipocrômicas, Paucibacilar
Indeterminada –
com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de PB
pêlos.
Placas eritematosas de limites externos nítidos e/
Paucibacilar
ou marginados com microtubérculos, com ou sem Tuberculoide –
PB
descamação.
Eritemas e infiltrações difusas, placas eritematosas-
infiltradas, de bordas difusas, tubérculos e nódulos, Multibacilar
Virchowiana +
madarose (queda de cílios e supercílios), lesões das MB
mucosas.
351
Classificação
Clínica Forma clínica Baciloscopia
operacional
Lesões pré-foveolares (eritematosas planas com
o centro claro). Lesões foveolares (eritematosas
Multibacilar
infiltradas com o centro deprimido). Dimorfa + ou –
MB
Lesões eritemato-pigmentares (de tonalidade
ferruginosa ou pardacenta).
Fonte: Coordenação-geral de hanseníase e doenças em eliminação – CGHDE/DEVIT/SVS/MS.
2. TRATAMENTO
352
353
3. REAÇÕES HANSÊNICAS
Caracterizada por exacerbação de lesões cutâneas prévias, ficando as mesmas mais eritema-
tosas, edemaciadas e dolorosas, podendo ocorrer surgimento de lesões novas. A neurite perifé-
rica, caracterizada por espessamento e dor, é a manifestação mais grave, podendo ocasionar in-
capacidade e deformidade. Pode ocorrer de forma isolada ou acompanhada de lesões cutâneas.
Episódio reacional
• Reação tipo 1:
––Quadro cutâneo leve, sem comprometimento neural: AINH;
354
4. CONTATOS
355
5. CASO CLÍNICO
Paciente de 22 anos, moradora de zona rural, grávida com 12 semanas gestacionais, procurou
o serviço alegando ter aparecido “manchas vermelhas” no seu abdome e nádegas, que estavam
dormentes. A mesma comprou pomada antimicótica na farmácia que “não resolveu” o problema.
Ao exame foi constatada a presença de duas lesões periumbilicais eritematosas de limites pre-
cisos, foveolares e de centro deprimido, uma com cerca de 3 x 5 cm e a outra 8 x 7 cm com alte-
rações de sensibilidade (monofilamento vermelho) e diminuição de sensibilidade térmica (teste
com tubos de ensaios contendo água morna e fria) com uma das lesões apresentando rarefação
de pelos. Na nádega direita a paciente apresentou uma lesão de 6 x 3 cm de cor ferruginosa com
limites externos precisos e centro deprimido, hipocrômico e também diminuição de sensibili-
dade térmica e monofilamento lilás. Na nádega esquerda três lesões menores hipocrômicas. Os
nervos ulnar esquerdo e tibial posterior direito apresentavam espessamento e a paciente alegou
desconforto ao serem apalpados. Foram solicitados exames laboratoriais que não apresentaram
anormalidades significativas e a baciloscopia para BAAR do raspado intradérmico foi negativa. A
paciente foi diagnosticada como portadora de hanseníase da forma dimorfa e indicado o trata-
mento PQT/MB.
Pelas normas do Programa de Hanseníase, não é contraindicado o tratamento com as dro-
gas padronizadas na gravidez e a baciloscopia do raspado intradérmico não é um exame para
se confirmar o diagnóstico (as formas indeterminada, tuberculoide e dimorfa podem apresentar
baciloscopia zero). A biópsia da lesão não é procedimento usual e deve-se ter cautela em sua
interpretação, pois o diagnóstico é essencialmente clínico-epidemiológico.
REFERÊNCIAS
1. Alves ED; Ferreira IN; Ferreira TL. Hanseníase: avanços e desafios, 2014.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como proble-
ma de Saúde Pública. Brasília, 2016.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 3.125, de 07 de outubro de 2010. Aprova as diretrizes para
vigilância, atenção e controle da hanseníase. Brasília, 2010.
4. Minas Gerais. Secretaria Estadual de Saúde. Atenção à saúde do adulto: hanseníase. Belo Horizonte, 20016.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-geral de desenvolvimento
da epidemiologia em serviços. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
356
Autores:
Gabrielly Borges Machado
4.13
Daniela Aparecida Lima Viana
Rodrigo Juliano Molina
HIV/
AIDS
INFECTOLOGIA
1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO
década de 1980 nos EUA, com a identificação de casos de infecção por Pneumocystis jiroveci
e sarcoma de Kaposi, em homossexuais previamente hígidos. Posteriormente, começou a ser
reconhecida entre usuários de drogas intravenosas e em pacientes submetidos à hemotrans-
fusão. No Brasil, o primeiro caso identificado foi em 1980. Em 1984, obteve-se o isolamento do
vírus HIV. A terapia antirretroviral (TARV) teve início em 1987, com a utilização da Zidovudina
(AZT). Atualmente, existem diferentes classes de antirretrovirais, com mecanismos de ação
distintos, responsáveis pelo controle efetivo da replicação viral.
2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O HIV-1 e HIV-2 são tipos distintos do vírus. O HIV-1 é subdividido em 4 grupos: grupo M
(do inglês, major ou majoritário), grupo N (do inglês, new ou non-M, non-O, ou novo, não-M,
não-O), grupo O (do inglês, outlier), o mais divergente dentre os grupos, e ainda o grupo P. A
375
maioria das infecções ocorre com HIV-1 do grupo M, o qual é diferenciado em subtipos (A, B, C,
D, F, G, H, J e K).
A principal forma de transmissão ocorre através das mucosas do trato genital ou retal durante
a relação sexual. Logo após a infecção pela via sexual, o HIV e células infectadas atravessam a
barreira da mucosa, ocorrendo intensa multiplicação viral no local de entrada. Após aproxima-
damente 10 dias do contágio, ocorre viremia com disseminação do vírus na corrente sanguínea.
Inicialmente há disseminação para os linfonodos locais e posteriormente para os tecidos lin-
foides, os quais atuam como reservatórios virais latentes. O vírus infecta principalmente linfócitos
TCD4 + de memória, sofrendo intensa replicação intracelular. A replicação viral ativa nessa fase
leva a um pico de viremia por volta de 21 a 28 dias após a exposição ao HIV, com consequente
depleção no número de linfócitos TCD4 + . Com a disseminação sistêmica há ativação de resposta
imune celular e humoral, no entanto, a produção de anticorpos anti-HIV é tardia e insuficiente
para erradicar a infecção. A ativação imune leva ao aumento no número de linfócitos TCD8 + que
exercem um controle parcial da infecção, mas não são suficientes para impedir a lenta e progres-
siva depleção de linfócitos TCD4 + e a eventual progressão para AIDS.
A atuação da resposta imune celular e a subsequente síntese de anticorpos específicos, levam
à queda da carga viral (viremia) e à cronicidade da infecção pelo HIV. A resposta imune mediada
por células é mais importante do que a resposta imune humoral no controle da replicação viral
durante a fase aguda, mas os anticorpos têm um papel relevante na redução da disseminação
do HIV na fase crônica da infecção, sendo fundamentais na progressão para a fase de latência
(assintomática).
3. QUADRO CLÍNICO
O curso clínico da infecção pelo HIV é dividido em quatro fases clínicas: infecção aguda, fase
assintomática ou fase de latência, fase sintomática inicial ou precoce e AIDS/SIDA.
376
Essa fase corresponde ao período de latência viral, caracterizada pela ausência de manifesta-
ções clínicas, em decorrência da atuação de resposta imune celular e humoral, mediada por anti-
corpos específicos. Alguns pacientes podem apresentar linfadenopatia generalizada persistente
e indolor. Os exames laboratoriais de rotina recomendados para seguimento são:
• Hemograma completo a cada 3 – 6 meses.
• Funções hepática e renal, eletrólitos, glicemia de jejum, lipidograma: anual.
• Sorologia para sífilis: a cada 6 meses (pacientes HIV + com diagnóstico de sífilis não tratada
devem ser submetidos a punção lombar e avaliação para neurolues).
• Sorologia para os vírus da hepatite B e C: anual.
• Sorologia para toxoplasmose.
• Sorologia para citomegalovírus (CMV) e herpes.
• Radiografia de tórax.
• Prova tuberculínica (PT): anual, para avaliação de tuberculose latente.
• Citologia oncótica: recomendada na avaliação ginecológica inicial, seis meses após e, se re-
sultados normais, anualmente.
• Contagem de TCD4 + e carga viral: para estadiamento da infecção, prognóstico e avaliação
da resposta terapêutica, bem como o uso de profilaxia para as infecções oportunistas mais
comuns e liberação para vacinações.
3.4 AIDS
É o estágio mais avançado da infecção pelo HIV, caracterizado por imunodepressão grave
(TCD4 + < 200 células/mm3) e maior risco de doenças oportunistas (doenças definidoras de AIDS).
Em indivíduos não tratados, o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença (AIDS)
é em torno de 10 anos.
As doenças oportunistas associadas à AIDS podem ser causadas por vírus, bactérias, proto-
zoários, fungos e certas neoplasias:
• Vírus: Citomegalovirose, Herpes simples, Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva.
• Bactérias: Micobacterioses (tuberculose e complexo Mycobacterium avium intracellulare),
Pneumonias, Salmonelose.
• Fungos: Pneumocistose, Candidíase, Criptococose, Histoplasmose.
• Protozoários: Toxoplasmose, Criptosporidiose, Isosporíase.
• Neoplasias: sarcoma de Kaposi, linfomas não-Hodgkin, neoplasias intraepiteliais anal e cervical.
377
4. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV pode ser realizado através de testes soroló-
gicos (triagem e confirmatório), que detectam a presença de anticorpos anti-HIV específicos no
soro, testes rápidos e testes moleculares pela técnica de PCR (reação em cadeia da polimerase),
que detecta o RNA viral.
Nas últimas décadas, quatro gerações de imunoensaios (IE) foram desenvolvidas. Os imuno-
ensaios de 3a e 4a geração são mais sensíveis do que os testes confirmatórios convencionais (Wes-
tern Blot – WB, Imunoblot – IB, ou Imunoblot Rápido – IBR).
Os testes moleculares empregados como testes confirmatórios são mais adequados para o
diagnóstico de infecções agudas e/ou recentes, nas quais a sorologia pode ser negativa (janela
imunológica).
Sendo assim, casos de infecção recente são mais facilmente identificados com a utilização de
um imunoensaio de 4a geração como teste de triagem e um teste molecular como teste confir-
matório.
O diagnóstico na fase crônica é feito através de métodos sorológicos, com a combinação de
um teste de triagem (imunoensaio de 3a ou 4a geração), seguido por um teste confirmatório (Wes-
tern Blot).
As principais características das quatro gerações de IE estão descritas a seguir.
O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunométrico). Utiliza antígenos
recombinantes ou peptídeos sintéticos, permitindo a detecção simultânea de anticorpos anti-HIV
IgM e IgG, sendo mais sensível e específico do que os de gerações anteriores. Em média, a janela
de soroconversão é de 22 a 25 dias.
4.5 Testes
Os testes rápidos (TR) são imunoensaios simples, que permitem a detecção de anticorpos
anti-HIV 1 e 2 em até 30 minutos. São testes qualitativos com alta especificidade (> 99%) e sensi-
378
bilidade (99,5%), ampliando o acesso ao diagnóstico. O sangue para realização do teste pode ser
obtido através de punção venosa periférica ou punção digital. Além disso, o fluido oral também
pode ser utilizado como amostra.
Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras)
de Imunocromatografia (ou fluxo lateral), Imunocromatografia de dupla migração (DPP), dispo-
sitivos de imunoconcentração e fase sólida. Embora os testes rápidos e os IE disponíveis atual-
mente sejam altamente sensíveis e específicos, os testes complementares são importantes para
confirmação do diagnóstico. Os testes complementares incluem: Western blot (WB), Imunoblot
(IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês Line Immuno Assay), incluindo o Imunoblot Rápido
(IBR) e imunofluorescência indireta (IFI).
5. TRATAMENTO
• PVHIV sintomática.
• LT-CD4+ < 350 céls/mm3.
• Gestante.
• Tuberculose ativa.
• Coinfecção HBV.
• Coinfecção HCV.
• Risco cardiovascular elevado (> 20%).
Importante: na impossibilidade de obter contagem de LT-CD4+, não se deve adiar o início
do tratamento.
379
Sintomáticos:
• TB ativa: para LT-CD4 + < 200, iniciar TARV na segunda semana após o início do tratamento
de TB. Para LT-CD4 + > 200, iniciar TARV ao final da oitava semana.
• Manifestações clínicas atribuídas diretamente ao HIV:
––Nefropatia associada ao HIV.
––Alterações neurológicas.
Inibidores da integrase:
• DTG = Dolutegravir.
• RAL = Raltegravir.
Inibidores de entrada:
• Inibidores de Fusão: T20 (Enfuvirtida).
• Inibidores do co-receptor CCR5: MVQ (Maraviroque).
O esquema terapêutico recomendado atualmente pelo PCDT para terapia inicial consiste na
associação de ITRN/ITRNt + Inibidor da Integrase.
Preferencial
380
Preferencial
Esquema preferencial nas seguintes situações:
• Coinfecção TB-HIV com um ou mais dos critérios de gravidade abaixo:
– LT-CD4+ < 100;
– presença de outra doença oportunista;
TDF/3TC/RAL
– doença grave com indicação de internação hospitalar;
– TB disseminada.
Concluído o tratamento completo da TB, deverá ser feita a mudança do RAL
para DTG, em até 3 meses.
Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos (PCDT)/SVS/MS.
OBSERVAÇÕES:
Contraindicações ao uso do DTG: uso de Fenitoína, Fenobarbital, Carbamazepina e Oxicar-
bamazepina.
* As atuais recomendações do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da
Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais (PCDT PTV – DIAHV/SVS/MS), reforçam que
não há dados de segurança para o uso de Dolutegravir (DTG) durante a gravidez ou amamen-
tação, recomendando o uso de RALTEGRAVIR (RAL) como opção preferencial. Sendo assim, o
esquema preferencial para gestantes em início de tratamento deve ser: TDF + 3TC + RAL.
Indicações de genotipagem pré-tratamento com TARV (esquema inicial): gestantes,
crianças, adolescentes, coinfecção HIV/TB e pessoas que tenham se infectado com parceiro em
uso de TARV.
Não postergar início da TARV pela indisponibilidade imediata do resultado do exame.
Se após 6 meses de terapia antirretroviral, o paciente apresentar carga viral detectável, acima
de 500 cópias/mm3, deverá ser solicitado exame de genotipagem, a fim de que sejam prescritas
drogas eficazes para o tratamento. A adesão ao tratamento deverá sempre ser encorajada pela
equipe de atendimento.
6. MONITORAMENTO
7. CONCLUSÕES
Trata-se de uma infecção crônica, sistêmica, de evolução insidiosa, com amplo espectro de
apresentações clínicas, desde a fase aguda até a fase avançada (AIDS). A infecção pelo HIV desen-
cadeia resposta inflamatória crônica e persistente, predispondo a complicações, como doenças
cardiovasculares, renais e neoplasias.
381
Existem cerca de 36 milhões de infectados em todo o mundo. No Brasil, cerca de 828 mil pes-
soas estão infectadas; a taxa de incidência é de 40 mil casos novos ao ano.
Não existe atualmente nenhuma vacina disponível para o HIV. A prevenção baseia-se princi-
palmente em mudança comportamental e sexo seguro. Nos casos em que haja exposição ao vírus
(como acidente ocupacional e violência sexual), recomenda-se a profilaxia pós-exposição (PEP),
até 72 horas após a exposição, mantida por 28 dias.
Graças ao advento dos antirretrovirais, a AIDS tornou-se uma doença crônica, de evolução
insidiosa. Além de controlar a replicação viral e evitar a progressão da infecção, são responsáveis
pela prevenção de doenças oportunistas, melhoria na qualidade de vida e redução da morbimor-
talidade.
Atualmente, observa-se um aumento na incidência da infecção entre jovens (15-24 anos),
homossexuais e homens que fazem sexo com homens (HSH). O Brasil é considerado pela Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS) um dos países mais avançados em programas de prevenção e
tratamento da doença.
Infecção
Exposição Testes
pelo Vírus
ao Vírus diagnósticos
HIV
Iniciar Positivo
Tratamento para HIV
2) Alternativos:
Intolerância ao EFZ (coinfecção TB/HIV), gestantes
e TB com gravidade: TDF / 3TC / RAL. Investigar
*esquema para início de tratamento em caso de outra patologia
contraindicação ao TDF: ABC ou AZT/ 3TC/ DTG
Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos (PCDT)/SVS/MS.
382
8. CASO CLÍNICO
Paciente, sexo masculino, 45 anos, branco, casado, previamente hígido, comparece ao posto
de saúde relatando emagrecimento de aproximadamente 15 kg e adinamia intensa com início
há quatro meses. Refere ainda hiporexia e febre esporádica. Nega doenças pré-existentes, uso
de medicamentos, alergias e uso de drogas ilícitas. Refere tabagismo e etilismo. Relata prática de
relações heterossexuais com várias parceiras sem o uso de preservativos.
Ao exame físico: regular estado geral, emagrecido, hipocorado, temperatura axilar de 36 ºC,
discreta hiperemia e descamação em face, frequência cardíaca: 82 bpm, PA: 120/75 mmHg, fre-
quência respiratória: 20 irpm. Ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações. Oroscopia: lesões
brancacentas recobrindo língua e palato, sugestivas de candidíase oral.
Ao hemograma: anemia normocítica e normocrômica e linfocitopenia. Radiografia de tórax:
sem alterações. Realizada sorologia para pesquisa de anticorpos anti-HIV, sendo a amostra de
sangue coletada reagente.
Após o diagnóstico de infecção pelo HIV, o paciente realizou exames complementares: anti-
-HCV não reagente, HBsAg: não reagente, anti-HBC total: não reagente, anti-HBs: não reagente,
VDRL não reagente, toxoplasmose IgG reagente e IgM não reagente, prova tuberculínica: 0 mm. A
contagem de LTCD4 + foi de 142 células/mm³ e a carga viral de 247.635 cópias/mL. Iniciada TARV
com TDF/3TC/DTG.
Após três meses de tratamento regular, paciente comparece ao ambulatório apresentando
contagem de CD4 de 250 células/mm³ e carga viral indetectável.
REFERÊNCIAS
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