Você está na página 1de 6

ARBOVIROSES

As arboviroses são as doenças causadas pelos arbovírus. A classificação contém todos


os vírus transmitidos por artrópodes, totalizando 545 espécies de arbovírus, sendo que
150 são capazes de causar doenças em humano. Apesar disso, o termo “arboviroses” tem
sido mais usado para designar doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue,
febre amarela, febre chikungunya e zika vírus.
A dengue é uma doença infecciosa (gênero Flavivirus, da família Flaviviridae) causada por
um dos quatro sorotipos virais: Denv-1, Denv-2, Denv-3, Denv-4 (antigenicamente
distintos, mas com mesma epidemiologia/doença similar).
A febre amarela é causada por arbovírus do gênero Flavivirus cujo reservatório urbano é o
ser humano e o silvestre o macaco. A transmissão se dá pela picada do mosquito Aedes
aegypti na forma urbana e por mosquito do gênero Haemagogus na forma silvestre.
A chikungunya recebeu seu nome devido à sua característica clínica marcante: provocar
dor articular tão intensa que força o paciente a dobrar o seu corpo (em língua maconde,
chikungunya significa “aquele que se dobra com a dor”). O agente etiológico é um vírus da
família Togaviridae.
A zika é causada por um arbovírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae que foi
descoberto em 1947 na floresta de Zika, próxima a Entebe em Uganda. Além disso, uma
consequência da infecção por Zika é a ocorrência de graves malformações fetais (com
comprometimento neurológico e microcefalia.
Dengue
A fêmea do mosquito do gênero Aedes, ingere o vírus do sangue de um paciente durante
a fase aguda, logo, o vírus se replica no organismo do mosquito, migra para as glândulas
salivares e é inoculado nos próximos indivíduos picados (8 a 12 dias após repasto
desencadeante até o final da vida do mosquito), então, podendo gerar a doença.
Figura 1 – Ciclo de Transmissão da Dengue – Fonte: https://pontobiologia.com.br/como-a-
dengue-e-transmitida/
Fatores determinantes envolvidos na fisiopatologia da doença ainda não estão totalmente
esclarecidos, por não existirem modelos animais que possam reproduzir a doença
observada em humanos, limitando os estudos a observação de pacientes.
As teorias mais aceitas em relação ao desenvolvimento da doença, bem como
agravamento dos quadros clínicos são: teoria da facilitação dependente de anticorpos,
teoria da virulência viral e resposta imune e “tempestade de citocinas”. Elas abordam,
respectivamente, a reinfecção por sorotipo diferente com exacerbação do processo
inflamatório por intermédio de anticorpos, diferenciação das respostas imunes quando há
diferença estrutural entre as cepas circulantes e influência de desarranjos imunológicos
(citocinas e padrão Th1 ou Th2).
O quadro clínico conta com período de incubação varia de 4 a 8 dias, podendo resultar
em um amplo espectro de doença ou infecção assintomática. Geralmente a doença é
autolimitada (febre alta, cefaleia, dor retro orbitária, prostração, mialgia, anorexia,
náuseas, vômitos, dor abdominal, exantema – geralmente acompanhado de prurido), com
boa recuperação. Mas alguns pacientes evoluem para doença grave, cuja característica
fisiopatológica marcante é o extravasamento de líquido para o interstício (ocorre em torno
do quarto dia – com aumento da permeabilidade capilar e aumento do hematócrito,
podendo resultar em choque hipovolêmico, com falência múltipla de órgãos, acidose
metabólica, coagulação intravascular disseminada e hemorragias de grande porte).
O diagnóstico é feito pela clínica do paciente e testes sorológicos ou demostração de
anticorpos no soro (IgM e IgG). Além disso, se preza o diagnóstico diferencial (dengue
clássica – gripe, rubéola, sarampo, escarlatina; casos graves – hepatite, febre amarela,
leptospirose, malária grave).
Não existe tratamento específico e a medida principal consiste na hidratação precoce, da
maneira mais eficiente possível. Faz-se também tratamento sintomático com paracetamol
(cuidado com as doses elevadas – é medicamento hepatotóxico) ou dipirona. Nas formas
graves deve-se seguir as condutas usadas em pacientes que precisam de cuidados
intensivos/medidas avançadas de suporte à vida.

Febre amarela
A fêmea do mosquito do gênero Haemagogus (forma silvestre)ou Aedes (forma urbana),
ingere o vírus do sangue de um paciente durante a fase aguda, o mosquito torna-se
infectante (9 a 30 dias após o repasto de sangue contaminado, permanecendo infectado
até o final de sua vida), podendo contaminar os próximos indivíduos a serem picados.

O quadro clínico conta com período de incubação varia de 3 a 6 dias. A viremia aumenta
rapidamente até 96 horas e declina também rapidamente, sendo praticamente
indetectável após 120 horas da infecção. Sendo o fígado o órgão primariamente afetado
(o vírus se multiplica nas células de Kupffer). Também há danos no baço, coração e rins.
Há intensa vasculite infecciosa com dano na microcirculação, que resulta em lesão
tecidual por hipoxia de baixo fluxo.
A forma clínica clássica é dividida em três fases. A primeira tem início abrupto com febre,
calafrios, cefaleia, mialgias, prostração, náuseas e vômitos que duram cerca de 3 dias.
Logo, na segunda fase, há regressão da febre e de outros sintomas. Já na terceira os
sintomas retornam, podendo surgir manifestações hemorrágicas, icterícia, oligúria,
hematúria, albuminúria, prostração intensa, desidratação, congestão conjuntival, dor no
abdome superior, hepatomegalia moderada, hemorragia digestiva. Formas graves contam
com hemorragias de vias respiratórias superiores e ouvido, hematêmese e melena,
alterações do ritmo respiratório, soluço, bradicardia, hipotensão arterial, obnubilação,
torpor e coma. Há mortalidade elevada (hemorragias incontroláveis, colapso circulatório e
choque). É frequente o surgimento de infecções bacterianas secundárias.
O diagnóstico é feito pela soma dos dados clínicos e epidemiológicos com o isolamento
do vírus ou detecção de antígenos em tecidos ou testes sorológicos. O diagnóstico
diferencial inclui doenças febris agudas (para as formas leves) e dengue hemorrágica,
malária por P. falciparum, septicemia, hepatite infecciosa grave, leptospirose (para formas
graves).
Não existe tratamento antiviral específico, sendo feito tratamento sintomático: hidratação
e uso de antitérmicos, antieméticos, bloqueadores H2, transfusões de sangue, diálise
peritoneal e hemodiálise. Não há recomendação para uso de heparina e não se faz uso
de sedativos. Pacientes graves podem receber plasma fresco e vitamina K para reposição
dos fatores de coagulação, além de oferta de oxigênio e reanimação volêmica.
Chikungunya
O vírus é transmitido pela fêmea do mosquito do gênero Aedes.

Figura 4 – Ciclo de Transmissão da Chikungunya – Fonte: https://www.researchgate.net/


publication/
288664425_Chikungunya_Bending_over_the_Americas_and_the_rest_of_the_world
O quadro clínico conta com o período de incubação que se estende por 2 a 12 dias e as
infecções assintomáticas são incomuns. O início da doença costuma ser abrupto, com
temperatura elevada, dor lombar, cefaleia, fadiga, mialgia e poliartralgia (87 a 98% dos
pacientes). Também é comum ocorrer edema articular (27 a 42% dos pacientes). Pode
ocorrer ainda acometimento cutâneo, com rash macular ou maculopapular em cerca de
metade dos casos. Diarreia e vômitos são menos frequentes e nota-se desânimo intenso
e impossibilidade de realizar as tarefas comuns do dia a dia.
A fase inicial ou aguda dura aproximadamente uma semana. A partir desse momento, a
doença pode evoluir para fase de convalescença ou mesmo crônica, que pode se
estender por anos.
Inicialmente é feita avaliação com exames gerais, mais inespecíficos, mas que já
fornecem indícios da infecção pelo CHKV e procuram estabelecer diferenças entre essa
infecção e a dengue. O diagnóstico específico pode ser feito pela detecção do RNA viral,
em plasma/soro ou detecção de anticorpos (IgM e IgG – que perdura por anos).
O diagnóstico diferencial deve ser estabelecido frente a leptospirose, malária, riquetsiose,
infecção pelo estreptococo do grupo A, rubéola, sarampo, parvovírus (eritrovírus),
enterovírus, adenovírus, infecções por alfavírus, artrite pós-infecciosa, bem como outras
doenças reumatológicas e a dengue.
Não existem tratamentos específicos. São usados vários medicamentos na tentativa de
reduzir o processo inflamatório e a dor intensa resultante.
Zika
O Zika é outro vírus cuja transmissão se dá pelo gênero Aedes.

Figura 5 – Ciclo de Transmissão da Zika – Fonte: http://www.aedes.ufc.br/index.php/


doencas/zika/
A infecção por ZIKV tem um período de incubação de 3 a 12 dias, após o qual iniciam-se
as manifestações clínicas. Acredita-se que aproximadamente 80% das infecções sejam
assintomáticas. Os achados clínicos principais são febre baixa e de curta duração,
erupção cutânea maculopapular e pruriginosa, conjuntivite não purulenta, artralgia e
edema de pequenas articulações de pés e mãos, cefaleia, mialgia, astenia.
Em relação ao comprometimento fetal, o risco de desenvolver microcefalia é maior no
primeiro trimestre gestacional, apesar de presente por toda a gestação. Os achados
característicos da infecção congênita por ZIKV incluem dobras cutâneas no crânio, baixo
peso ao nascer, poli-hidrâmnio, anasarca e artrogripose. Clinicamente, todos os recém-
nascidos apresentam sequelas neurológicas, com retardo mental, sequelas motoras ou
alterações auditivas ou visuais.
O caso é confirmado quando um dos seguintes testes positivos/reagentes específicos
para diagnóstico de Zika: isolamento viral, detecção de RNA viral por reação da
transcriptase reversa (RT-PCR) ou sorologia IgM. O diagnóstico diferencial inclui qualquer
processo infeccioso agudo inespecífico.
Não existe tratamento antiviral específico para ZIKV. O tratamento é sintomático e de
suporte geral, dependendo da gravidade do quadro clínico e disfunções ou insuficiências
orgânicas presentes.
Conclusão
As arboviroses são transmitidas pelo Aedes Aegypti. São de grande relevância e
prevalência, sendo de notificação compulsória e realizadas constantes campanhas de
mobilização contra o mosquito (educação sanitária, visitas de agentes comunitários,
propagandas de TV, fumacê). O período do verão é o mais propício à proliferação do
mosquito Aedes aegypti, por causa das chuvas, e consequentemente é a época de maior
risco de infecção por essas doenças.
Outras recomendações para evitar as arboviroses envolvem vacinação contra a Febre
Amarela e uso de camisinha, principalmente para as gestantes, a fim de evitar a Zika

Você também pode gostar