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Processo Saúde-Doença

(Maria Paula Maia)

Infecções transmitidas por vetores


Arboviroses: vírus hospedado em artrópodes

1. Dengue
Agente etiológico: arbovírus do gênero Flavivírus, 4 sorotipos (DENV1, DEV2, DEV3, e DEV4).
Vetor: Aedes aegypti.

Fisiopatologia: depois de inoculado, o vírus entra nas células humanas e estimulam


monócitos e linfócitos a produzirem citocinas. Essas citocinas terão efeito pró-inflamatório e
serão responsáveis pelo aparecimento da febre. Outras estimulam a produção de
anticorpos, que se ligam aos antígenos virais formando imunocomplexos.
Os anticorpos IgM antidengue começam a ser produzidos a partir do quinto e sexto dia. Eles
são capazes de neutralizar o vírus de forma que seu aparecimento marca o declínio da
viremia.

Quadro clínico:
A dengue pode ser assintomática ou sintomática. Nos casos sintomáticos, causa uma doença
sistêmica e dinâmica de amplo espectro clínico, variando desde formas oligossintomáticas
até quadros graves, podendo evoluir para o óbito.

Caracterizada por febre com duração de dois a sete dias, geralmente alta (39ºC a 40ºC), de
início abrupto, associada à Cefaleia; Adinamia; Mialgias; Artralgias; Dor retro-orbitária.
O exantema está presente em 50% dos casos, é predominantemente do tipo máculo–
papular, atingindo face, tronco e membros, não poupando plantas de pés e palmas de mãos,
com ou sem prurido, frequentemente no desaparecimento da febre.

Dengue com sinais de alarme: a maioria dos sinais de alarme é resultante do aumento da
permeabilidade vascular, a qual marca o inicio do deterioramento clínico do paciente e sua
possível evolução para o choque por extravasamento de plasma.
Suspeito de Dengue: todo paciente que apresente doença febril aguda com duração de até
sete dias, acompanhada de, pelo menos, dois sintomas: cefaleia, dor retro-orbitária,
mialgias, artralgias, prostração ou exantema, associados ou não a presença de hemorragias.
A presença de sinais de alarme (Quadro 10) indica a possibilidade de gravidade do quadro
clínico e de evolução para Dengue Hemorrágica e/ou Síndrome do Choque da Dengue.

A prova do laço deve ser realizada em todo paciente com suspeita de dengue. É realizada
desenhando-se no antebraço do paciente um quadrado com 2,5cm de lado. Em seguida
deve-se verificar a pressão arterial do paciente (sentado ou de pé) e calcular o valor médio
(PAS + PAD). Então, deve-se insuflar novamente o manguito até atingir o valor médio e
manter por cinco minutos. Depois é feita a contagem do número de petéquias que
apareceram dentro do quadrado. A prova é considerada positiva se houver 20 ou mais
petéquias.

Diagnóstico Diferencial:
Influenza, enteroviroses, doenças exantemáticas (sarampo, rubéola, parvovirose, eritema
infeccioso, mononucleose Infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras),
hepatites virais, abscesso hepático, abdome agudo, arboviroses escarlatina, pneumonia,
sepse, infecção urinária, meningococcemia, leptospirose, malária.

Febre Hemorrágica da Dengue


É o caso confirmado laboratorialmente e com todos os critérios presentes, a seguir:
trombocitopenia (=100.000/mm3); tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais
dos seguintes sinais: prova do laço positiva, petéquias, equimoses ou purpuras,
sangramentos de mucosas do trato gastrintestinal ou outros; extravasamento de plasma
devido ao aumento de permeabilidade capilar, manifestado por: hematócrito apresentando
aumento de 10% sobre o basal na admissão; queda do hematócrito em 20%, após o
tratamento adequado; presença de derrame pleural, ascite e hipoproteinemia.

grau I – Febre acompanhada de sintomas inespecíficos, em que a única manifestação


hemorrágica é a prova do laço positiva;
grau II – Além das manifestações do grau I, hemorragias espontâneas leves (sangramento
de pele, epistaxe, gengivorragia e outros);
grau III – Colapso circulatório com pulso fraco e rápido, estreitamento da pressão arterial
ou hipotensão, pele pegajosa e fria e inquietação;
grau IV – Síndrome do Choque da Dengue (SCD), ou seja, choque profundo com ausência
de pressão arterial e pressão de pulso imperceptível.

Complicações: o paciente pode evoluir para instabilidade hemodinâmica, com hipotensão


arterial, taquisfigmia e choque.

2. Febre amarela
A febre amarela é uma doença infecciosa não contagiosa febril aguda transmitida por
vetores artrópodes.
A doença é causada por um vírus da família Flaviviridae e do gênero Flavivirus.
O mosquito da espécie Aedes aegypti é o principal transmissor da febre amarela urbana. Na
febre amarela silvestre, os transmissores são mosquitos da espécie Haemagogus
janthinomys.

Virologia: O vírus da febre amarela é composto por uma fita simples de RNA com envelope
de sentido positivo que se replicam no citoplasma das células infectadas. O vírus da febre
amarela é um sorotipo único, de modo que a vacina protege contra todas as cepas do vírus

Período de incubação médio varia entre 3 e 6 dias

Fisiopatologia: mosquito fêmea infectado inocula partículas virais por via intradérmica
durante o repasto sanguíneo do humano. A replicação do vírus começa ainda na pele e se
espalha pelos canais linfáticos para os linfonodos regionais. O vírus se reproduz
preferencialmente em monócitos e macrófagos, atingindo outros órgãos a partir da corrente
sanguínea.

Quadro clínico:
O quadro clínico típico é caracterizado por manifestações de insuficiência hepática e renal,
tendo em geral apresentação bifásica, com um período inicial prodrômico (infecção) e um
toxêmico que surge após uma aparente remissão e, em muitos casos, evolui para óbito em
aproximadamente uma semana.
Período de infecção – dura cerca de três dias, tem início súbito e sintomas gerais como
febre, calafrios, cefalalgia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas e vômitos.
Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura e diminuição dos sintomas,
provocando uma sensação de melhora no paciente. Dura poucas horas, no máximo um a
dois dias.
Período toxêmico – reaparecem a febre, a diarréia e os vômitos com aspecto de borra de
café. Caracteriza-se pela instalação de quadro de insuficiência hepato-renal representado
por icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, acompanhado de manifestações hemorrágicas
(gengivorragias, epistaxes, otorragias, hematêmese, melena, hematúria, sangramentos em
locais de punção venosa) e prostração intensa, além de comprometimento do sensório, com
obnubilação mental e torpor, com evolução para coma e morte. O pulso torna-se mais
lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecida
como sinal de Faget.
As formas graves, com quadro clínico clássico ou fulminante, devem ser diferenciadas de
malária por Plasmodium falciparum, leptospirose, além de formas fulminantes de hepatites.
Devem ser lembradas, ainda, as febres hemorrágicas de etiologia viral, como dengue
hemorrágico e septicemias.
A fase tardia da doença é caracterizada por choque circulatório. O mecanismo subjacente
pode ser a desregulação de citocinas, assim como ocorre na sepse. Pacientes que morrem
de febre amarela apresentam edema cerebral na autópsia, provavelmente resultado de
disfunção microvascular.
Caracterizado por insuficiência hepática e renal.

3. Chikungunya
A Chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus Chikungunya, da família Togaviridae e
do gênero Alphavirus.
O vírus é transmitido por vetores artrópodes, através da picada de fêmeas dos mosquitos
Aedes Aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo Chikungunya.

O vírus invade diretamente e se replica nas articulações. Sugere-se que o vírus infecta
diretamente a sinóvia e músculo, levando à produção de citocinas pró-inflamatórias,
quimiocinas e recrutamento de leucócitos.
Manifestação clínica: poliartralgia febril aguda e artrite inflamatória.

Quadro clínico:
Na fase aguda, um caso é suspeito quando um paciente apresenta com início agudo de
febre superior a 38,5 graus C e artralgia significativa ou artrite não explicada por outras
condições médicas ou por um paciente que tenha residido ou visitado áreas endêmicas em
um período de até duas semanas antes do início dos sintomas.
A febre pode ser contínua ou intermitente e pode ser alta (acima de 40 graus) com duração
usual de 1 a 5 dias (pode variar de 1 a 10 dias); e a defervescência não está associada com a
piora dos sintomas, em contraste com infecções pelo vírus da dengue. Pouco depois do
início da febre, a maioria das pessoas infectadas desenvolvem poliartralgias severas,
envolvendo de 10 ou mais articulações. As dores articulares são geralmente simétricas e
ocorrem mais frequentemente em punhos, cotovelos, dedos, joelhos e tornozelos, mas
também podem afetar articulações proximais. A dor nas articulações tendem a ser mais
intensas no período matutino e são aliviadas por atividade física leve. Edema articular
secundário à tenossinovite pode ser visto em alguns casos. As artralgias são
frequentemente incapacitantes devido à dor, hipersensibilidade, edema e rigidez articular.
Um exantema maculopapular transitório ocorre normalmente de 2 a 5 dias após o início da
febre. É tipicamente maculopapular, envolvendo o tronco e as extremidades, mas também
pode incluir as palmas das mãos, plantas dos pés, e a face, podendo haver prurido
Outras lesões cutâneas identificadas durante surtos recentes incluem lesões vesiculo-
bolhosas com descamação, úlceras aftosas e lesões vasculíticas, linfadenopatia,
principalmente em linfonodos cervicais.
A fase aguda geralmente dura de 3 a 10 dias, a doença subaguda ocorre de 2 a 3 meses após
a infecção e se caracteriza pelo reaparecimento da poliartrite distal associada à rigidez
matinal.
A forma crônica da doença caracteriza-se pela persistência das artralgias por mais de três
meses. Ela pode estar associada com artropatia destrutiva e assemelha-se a artrite
reumatoide ou artrite psoriática, em alguns casos.

Diagnostico diferencial:
As semelhanças clínicas e epidemiológicas da doença Chikungunya e a dengue podem
tornar o diagnóstico diferencial difícil.
A erupção maculopapular, sufusão conjuntival, mialgia, artralgia ou artrite são vistos com
mais frequência na doença de Chikungunya, assim como poliartralgia significativa com
artrite que é vista na grande maioria de pacientes com doença de Chikungunya e é pouco
frequente na dengue. O diagnóstico de dengue, por sua vez, é sugerido por dor lombar
significativa, sangramento e extravasamento plasmático.
Outros diagnósticos diferenciais incluem leptospirose, malária, entre outras doenças
infecciosas.
Gravidez: transmissão vertical no terceiro trimestre e aborto no primeiro trimestre.

4. Zika Vírus
Arbovírus constituído de fita simples de RNA, que compartilha a mesma família (Flaviviridae)
e gênero (Flavivírus) com os vírus da dengue e da febre amarela.
É transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo vetor responsável pela transmissão dos vírus
dengue e chicungunya.
Em torno de 80% das pessoas podem não apresentar sintomas.

Quadro clínico:
Caracteriza-se pela presença de exantema morbiliforme ou maculo-papular, muito
frequente, pruriginoso, tendendo a iniciar pela face e disseminar para o corpo todo,
aparecendo geralmente nas primeiras 24 a 48 horas do início dos sintomas. A febre é em
geral baixa (<380 C) ou ausente. Conjuntivite não purulenta (50-90% dos casos), cefaleia,
mialgia e artralgia (particularmente em mãos e pés) são sintomas frequentes.
Há: transmissão sexual; Transmissão por transfusão sanguínea; Transmissão por transplante
de órgãos ou tecidos); Transmissão intrauterina da mãe para o feto, resultando em infecção
congênita; Transmissão de uma mãe infectada ao seu lactente através do leite materno.

A doença é caracterizada por febre baixa (até 38,5 graus) com duração de 1 a 2 dias,
acompanhada de exantemas a partir do segundo dia, mialgias e artralgias de intensidade
leve a moderada, podendo ocorrer edema articular e conjuntivite não purulenta.

Associação da infecção pelo ZIKV em gestantes com o aparecimento de microcefalia, o risco


de seu aparecimento é maior quando a infecção ocorre no período embrionário que ocorre
entre 3 e 8 semanas de gestação, a quantificação do risco de microcefalia e infecção pelo
ZIKV ainda não é bem determinada, mas a relação parece bem clara. A microcefalia é uma
má-formação congênita de etiologia multi-fatorial e complexa definida por um perímetro
cefálico diminuído (< 31-33 cm) e suas complicações incluem paralisia cerebral, epilepsia,
alterações respiratórias e de desenvolvimento neurológica que são variáveis a cada paciente
dependente de que funções cerebrais forem comprometidas.

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