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FEBRE CHIKUNGUNYA

A doença pode apresentar três fases: febril ou aguda, pós-aguda e crônica,


conforme descrito abaixo.

Quadro clínico: Por definição, a doença é dividida em três fases: aguda (5 a 14


dias), pós-aguda (15 dias a 3 meses) e crônica (mais de 3 meses). Uma parte dos
pacientes apresenta melhora da síndrome febril, porém mantém os sintomas
articulares de maneira crônica. Em > 50% dos casos, a artralgia torna-se crônica,
podendo persistir por anos.

Na fase aguda: A febre tende a ser alta (> 38,5 oC) e persistir por 3-5 dias. A
febre pode ser contínua, intermitente ou bifásica. A poliartralgia (> 90% dos
pacientes) se inicia cerca de 2-5 dias após a instalação da febre e geralmente
envolve múltiplas articulações (≥ dez articulações) e é comumente bilateral e
simétrica. Pode haver edema e acometimento periférico e axial, além de
periartrites e neuropatias compressivas.

As articulações distais são mais acometidas (mãos, punhos e tornozelos). A dor


pode ser intensa e incapacitante, levando à impotência funcional.

Outros sintomas incluem exantema, cefaleia, mialgia, fadiga, edema facial e


manifestações gastrointestinais. Em uma situação de epidemia, a definição de
caso suspeito é: quadro agudo de febre, artralgia/artrite intensa, associada ou
não à exantema macular ou maculopapular em tronco, extremidades e/ou face.
Pode ocorrer prurido, o qual pode ser generalizado ou apenas palmoplantar.

Outras manifestações possíveis incluem dermatite esfoliativa, lesões


vesiculobolhosas, hiperpigmentação, fotossensibilidade, lesões "eritema
nodoso-like", úlceras orais, dor retro-ocular, calafrios, conjuntivite não
purulenta, faringite, náusea, vômitos, diarreia, dor abdominal e neurite, e
descompensação de comorbidades.

Na fase pós-aguda (subaguda): A febre normalmente desaparece, mas há


possibilidade de recorrência. Pode apresentar melhora da artralgia (com ou sem
recorrências), persistência ou agravamento desta, incluindo poliartrite distal, e
tenossinovite hipertrófica pós-aguda nas mãos (comumente em falanges e
punhos), e nos tornozelos. O acometimento articular costuma ser associado à
edema de intensidade variável. A síndrome do túnel do carpo pode ocorrer
como consequência da tenossinovite hipertrófica, sendo muito frequente nas
fases pós-aguda e crônica.

Outras manifestações incluem astenia, recorrência do prurido generalizado e


exantema maculopapular, além do surgimento de lesões purpúricas. Alguns

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pacientes podem também desenvolver/apresentar doença vascular periférica,
fadiga, alopécia e sintomas depressivos.

Na fase crônica: Há persistência ou recorrência dos sinais e sintomas,


principalmente dor articular, musculoesquelética e neuropática. O
acometimento articular ocorre com dor, com ou sem edema, limitação de
movimento e rigidez articular matinal, geralmente nas mesmas articulações
atingidas durante a fase aguda, com possível evolução para a deformidade ao
longo dos anos. O acometimento é poliarticular e simétrico, mas há relatos de
apresentação assimétrica e monoarticular.

Há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical também.


Articulações incomuns, como temporomandibulares e esternoclaviculares, são
possivelmente afetadas. São observadas manifestações decorrentes da
síndrome do túnel do carpo, como dormência e formigamento das áreas
inervadas pelo nervo mediano, fascite plantar.

Alguns pacientes evoluem com artropatia destrutiva, fadiga, cefaleia, prurido,


alopecia, exantema, bursite, tenossinovite, disestesias, parestesias, fenômeno
de Raynaud, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória,
deficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão. O tempo
de duração dessa fase pode ser > 6 anos.

As complicações já descritas, especialmente em pacientes com marcadores de


gravidade (ver abaixo) incluem discrasia sanguínea, pneumonia, insuficiência
respiratória, hepatite, pancreatite, síndrome da secreção inapropriada do
hormônio antidiurético, insuficiência adrenal, descompensação cardíaca,
miocardite, hepatite aguda, insuficiência renal, hemorragia e acometimento
neurológico, especialmente meningoencefalite.

Outras manifestações neurológicas menos comuns incluem paralisia flácida


aguda, síndrome de Guillain-Barré e paralisia de nervos cranianos. O
comprometimento ocular (retinite, iridociclite, episclerite, coroidite macular e
uveíte) e a perda auditiva já foram relatados. Óbitos também já foram descritos.

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Marcadores de gravidade:

 Idade < 2 anos ou > 65 anos;


 Comorbidades (ex.: DM, HAS, anemia falciforme, asma, alcoolismo);
 Gestantes;
 Insuficiência respiratória;
 Descompensação cardiovascular;
 Miocardite;
 Hepatite aguda;
 Insuficiência renal;
 Hemorragia;
 Envolvimento neurológico (ex.: meningoencefalite).

Fatores de risco para cronificação:

 Idade > 45 anos;


 Sexo feminino;
 Quadro agudo intenso;
 PCR elevada;
 Sorologia IgM persistentemente positiva ou IgG com altos títulos;
 Desordem articular preexistente.

Gestantes: Mães acometidas por Chikungunya no período perinatal podem


transmitir o vírus aos recém-nascidos no momento do parto. A infecção pelo
CHIKV não modifica o curso da gravidez; não há evidências de efeitos
teratogênicos. A cesariana não altera o risco da transmissão, e o vírus não é
transmitido pelo aleitamento materno.

Recém-nascido: É assintomático nos primeiros dias, com surgimento de


sintomas de 3-7 dias, que incluem: febre, síndrome álgica, recusa da mamada,
exantemas, descamação, lesões vesiculobolhosas e edema de extremidades. As
formas graves se caracterizam pelo surgimento de complicações neurológicas
(meningoencefalites, edema cerebral, hemorragia intracraniana, convulsões,
encefalopatias, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor), hemorrágicas e
acometimento miocárdico (miocardiopatia hipertrófica, disfunção ventricular,
pericardite), podendo resultar em óbito.

Abordagem Diagnóstica

O diagnóstico deve ser suspeitado diante de paciente com síndrome febril


aguda e poliartralgia (geralmente simétrica) e fator de risco epidemiológico.

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Laboratorialmente, as anormalidades mais comuns são linfopenia e
trombocitopenia. Transaminases e creatinina  podem estar elevadas.

Exames de rotina:

 Hemograma; 
 VHS; 
 Função renal e eletrólitos;
 Função hepática;
 Proteína C reativa. 

Métodos diretos:

 Pesquisa do vírus através do isolamento viral por inoculação em


células e camundongos recém-nascidos, até o quinto dia de início
de sintomas, a partir de soro, sangue total e líquido
cefalorraquidiano (LCR) (em casos de meningoencefalite). O
isolamento de CHIKV deve ser confirmado por imunofluorescência
indireta (IFI), utilizando antissoro CHIKV específico ou por reação
em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) do
sobrenadante de cultura ou de suspensão de cérebro de
camundongos recém-nascidos;
 Pesquisa do RNA viral por RT-PCR ou qRT-PCR (Real Time RT-PCR) a
partir de sangue total, soro, LCR ou fragmentos de vísceras.

Métodos indiretos:

 Pesquisa de anticorpos IgM/IgG por testes sorológicos (ensaio


imunoenzimático - Enzyme- Linked Immunosorbent Assay - ELISA)
ou teste imunocromatográfico do tipo Point-of-Care (POC): A
detecção de IgM pode ocorrer a partir do segundo dia de sintomas,
mas o período mais indicado é a partir do sexto dia do início dos
sintomas, dada a possibilidade de detecção também de IgG. Não se
deve congelar o sangue total, pois a hemólise pode interferir no
resultado do teste de sorologia;
 Soroconversão nos títulos de anticorpos (não reagente → reagente
por ELISA e IH) ou por alteração de ≥ 4 vezes entre as amostras nas
fases aguda (a partir do sexto dia) e convalescente (após 15 dias da
primeira coleta);
 Inibição da hemaglutinação (IH);
 Patologia: Estudo anatomopatológico seguido de pesquisa de
antígenos virais por imuno-histoquímica (IHQ).

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Observação! O teste imunocromatográfico é considerado de rastreio ou
triagem. Em caso de resultado é positivo, uma amostra adicional deve ser
coletada para confirmação por sorologia ELISA .

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DENGUE

As infecções por dengue podem ser assintomáticas ou sintomáticas e


apresentam três fases clínicas: Febril, crítica e de recuperação.
Fase febril:

 Febre, geralmente > 38ºC, com duração de 2-7 dias, associada à


cefaleia, à astenia, à mialgia, à artralgia e à dor retro-orbitária;
 Também podem estar presentes anorexia, náuseas, vômitos e
diarreia;
 A lesão exantemática é predominantemente do tipo maculopapular,
atingindo face, tronco e membros, não poupando regiões palmares
e plantares;
 O exantema também pode se apresentar com ou sem prurido e de
outras formas;
 Grande parte dos pacientes se recupera gradualmente, com
melhora do estado geral e retorno do apetite.

Fase crítica:

 Declínio da febre (defervescência), entre o terceiro e o sétimo dias


do início da doença;
 Quando presentes, os sinais de alarme ocorrem nessa fase, e
marcam o inicio da piora clínica do paciente e a possível evolução
para o choque;
 Os casos graves de dengue se caracterizam por sangramento grave,
disfunção grave de órgãos ou extravasamento grave de plasma;
 O choque geralmente ocorre entre o quarto e o quinto dias – no
intervalo de 3-7 dias de doença. Pode levar ao óbito em 12-24 horas
ou à recuperação rápida (após terapia antichoque);
 O comprometimento grave de órgãos pode causar complicações,
como hepatites, encefalites ou miocardites e/ou sangramento
abundante, e ocorrer sem extravasamento de plasma ou choque.

Fase de recuperação:

 Ocorre após as 24-48 horas da fase crítica, e se observa a melhora


do estado geral do paciente, o retorno progressivo do apetite, a
redução de sintomas gastrointestinais, a estabilização do estado
hemodinâmico e a melhora do débito urinário;

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 Pode ocorrer exantema, acompanhado ou não de prurido
generalizado. A bradicardia e mudanças no eletrocardiograma são
comuns durante esse estágio.

Três quadros clínicos distintos de dengue são descritos na literatura, de


acordo com sua manifestação orgânica e gravidade:

 Dengue clássico (DC): Febre alta (39o-41oC), de início abrupto,


cefaleia, mialgia, artralgia, prostração, anorexia, dor retro-orbital,
náuseas, vômitos, exantema (50% dos casos) e prurido cutâneo. O
exantema é predominantemente do tipo maculopapular, atingindo
face, tronco e membros. Não poupa região plantar ou palmar, com
ou sem prurido, surgindo após desaparecimento da febre. A dor
abdominal generalizada, mais frequentemente em crianças, e
manifestações hemorrágicas, como petéquias, epistaxe,
gengivorragia e metrorragia, mais frequentemente em adultos,
podem ocorrer ao fim do período febril. Duração de 5-7 dias, com
convalescença acompanhada de grande debilidade física,
prolongando-se por semanas. Geralmente ocorre em adultos e
crianças não imunes e é tipicamente autolimitada e raramente fatal;
 Febre hemorrágica da dengue (FHD): Início do quadro semelhante
ao DC, evoluindo com agravamento entre o terceiro e o quarto dias
de doença, com aparecimento de manifestações hemorrágicas
(petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia e prova do laço
positiva) e colapso circulatório. A febre reaparece durante o curso
da doença, gerando um caráter bifásico. Geralmente ocorre em
indivíduos durante a segunda infecção pelo vírus da dengue em
pessoas com imunidade adquirida heteróloga preexistente ou
passiva (materna);
 Síndrome do choque da dengue (SCD): Casos graves de FHD
evoluem com choque, geralmente entre o terceiro e sétimo dias de
doença, sendo muitas vezes precedido por dor abdominal. O
choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular,
seguido de extravasamento plasmático (evidenciado pela
hemoconcentração, presença de derrames cavitários e
hipoalbuminemia) e falência circulatória. Alguns pacientes podem
ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e
irritabilidade. Geralmente ocorre em indivíduos durante a segunda
infecção pelo vírus da dengue, em pessoas com imunidade
adquirida heteróloga preexistente ou passiva (materna).

Sinais de alarme:

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 Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua;
 Vômitos persistentes;
 Acúmulo de líquidos (ascite , derrame pleural ou pericárdico); 
 Hipotensão postural  e/ou lipotimia;
 Hepatomegalia dolorosa > 2 cm abaixo do rebordo costal;
 Sangramento de mucosas;
 Letargia e/ou irritabilidade;
 Aumento progressivo do hematócrito.

Sinais de choque:

 Hipotensão arterial;
 Pressão arterial convergente (PA diferencial < 20 mmHg);
 Pulso fraco e rápido;
 Enchimento capilar lento (> 2 segundos);
 Extremidades frias;
 Pele úmida e pegajosa;
 Oligúria;
 Manifestações neurológicas, como agitação, convulsões e
irritabilidade (em alguns pacientes).

Fatores de risco para maior gravidade da doença:

 Extremos de idade;
 Gestantes;
 Etnicidade;
 Comorbidades (asma brônquica, diabetes mellitus , anemia
falciforme );
 Infecção heterotípica secundária.

Crianças: A infecção pode ser assintomática ou iniciar como uma síndrome


febril aguda, ou ainda com sinais e sintomas inespecíficos, tais como astenia,
sonolência, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos, diarreia ou fezes
amolecidas. Em menores de 2 anos de idade, os sinais e sintomas de dor podem
consistir em choro persistente, adinamia e irritabilidade. O agravamento nessas
crianças, em geral, é mais rápido que no adulto, e os sinais de alarme são mais
facilmente detectados.

Gestantes: Necessitam de observação rigorosa, independentemente da


gravidade da doença. Gestantes com sangramento devem ser questionadas
quanto à presença de febre ou histórico de febre nos últimos sete dias.
Gestantes apresentam maior risco de óbito no terceiro trimestre de gestação,

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ou de ocorrência de morte fetal e nascimento de prematuro. Não há evidência
de baixo peso ao nascer ou malformações congênitas.

Idosos: Indivíduos > 65 anos apresentam maior frequência de evolução às


formas graves da doença e complicações. A avaliação clínica deve ser criteriosa,
de forma a acelerar a identificação e tratamento da infecção grave.

Abordagem Diagnóstica

A classificação de risco do paciente com dengue visa reduzir o tempo de espera


no serviço de saúde, norteia a conduta de acompanhamento clínico e
terapêutico e se utilizam os critérios do Ministério da Saúde conforme descrito
abaixo.

Classificação Prognóstica

Grupo A: Dengue sem manifestações hemorrágicas (inclusive prova do laço


negativa) e sem sinais de alarme. Sem comorbidades, sem risco social ou
condições clínicas especiais. Atendimento de acordo com o horário de chegada:
Acompanhamento ambulatorial.

Grupo B: Dengue com manifestações hemorrágicas espontâneas ou


induzidas (inclusive prova do laço positiva), mas sem sinais de alarme.
Prioridade não urgente: Acompanhamento em leito de observação até
resultados de exames e reavaliação clínica. Grupos específicos:

 Lactentes, gestantes e adultos com idade > 65 anos;


 Comorbidades (hipertensão arterial ou outras doenças
cardiovasculares graves, diabetes mellitus, doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) , doenças hematológicas crônicas, doença
renal crônica , doença ácido-péptica, hepatopatias e doenças
autoimunes);
 Risco social.

Grupo C: Dengue com sinais de alarme, com ou sem manifestações


hemorrágicas, e ausência de sinais de gravidade. Urgência, atendimento
o mais rápido possível: Acompanhamento em leito de internação até
estabilização e critérios de alta, por um período mínimo de 48 horas.

 Observação! Devem ser atendidos, inicialmente, em qualquer


serviço de saúde, independentemente de nível de complexidade,

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sendo obrigatória a hidratação venosa rápida, inclusive durante
eventual transferência para uma unidade de referência. Se não
houver melhora clínica e laboratorial, conduzir como grupo D.

Grupo D: Dengue com sinais de alarme e sinais de choque, desconforto


respiratório, com manifestações hemorrágicas graves. Emergência (paciente
com necessidade de atendimento imediato): Acompanhamento em leito de UTI
até estabilização (mínimo de 48 horas), e, após estabilização, permanecer em
leito de internação.

Caracterizando a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD)

Deve preencher os quatro critérios:

 Febre ou história de febre recente, com duração de sete dias ou


menos;
 Trombocitopenia (< 100.000/mm3);
 Manifestações hemorrágicas evidenciadas por um ou mais dos
seguintes sinais: Prova do laço positiva, petéquias, equimoses ou
púrpuras, sangramentos de mucosas, do trato gastrointestinal e
outros;
 Aumento da permeabilidade capilar evidenciada por
hemoconcentração (aumento de 20% do valor basal ou valores
superiores a 45% em crianças, 48% em mulheres e 54% em homens;
ou presença de derrames cavitários e hipoproteinemia).

Pode ser classificada em:

 Grau I: Única manifestação hemorrágica é a prova do laço positiva;


 Grau II: Presença de manifestações hemorrágicas espontâneas
(sangramentos de pele, petéquias, epistaxe, gengivorragia e
outros);
 Grau III: Apresenta colapso circulatório com pulso fraco e rápido,
diminuição da pressão arterial ou hipotensão, pele pegajosa e fria e
inquietação;
 Grau IV: Apresenta choque profundo, com pressão arterial e pulso
imperceptíveis.

Observação! Os graus III e IV também são chamados de síndrome do choque do


dengue (SCD).

Prova do laço: Manter esfigmomanômetro insuflado no ponto médio entre os


valores de pressão arterial máxima e mínima por cinco minutos (no adulto) ou

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três minutos (na criança). A prova é positiva caso, após o determinado tempo, o
número de petéquias for de 20 ou mais (em adultos) ou dez ou mais (em
crianças) em um quadrado imaginário de 2,5 cm de lado no antebraço do
paciente. Prova do laço positiva caracteriza pacientes no grupo B de risco
(dengue com manifestações hemorrágicas).

Exames

Exames laboratoriais não estão indicados para todos os pacientes. Deve-se


avaliar na dependência da gravidade do quadro e presença de comorbidades.
Exames para detecção viral devem ser solicitados fora do período epidêmico em
todos os suspeitos, porém, no período epidêmico, deve ser restrito a quadros
graves ou com dúvida diagnóstica.

Hemograma completo:  Indicado em pacientes com manifestações


hemorrágicas e/ou com sinais de alarme (grupo B-D) ou com comorbidades:
Idosos (> 65 anos); hipertensos; diabéticos; DPOC; doenças hematológicas
crônicas (principalmente anemia falciforme); doença renal crônica; insuficiência
cardíaca; doença ulcerosa péptica; doenças autoimunes.

Exames laboratoriais: Painel laboratorial (em complemento ao


hemograma) deve ser solicitado em todo paciente com sinais de alarme
(grupos C e D):

 Solicitar: Hemograma completo; glicose , função renal e eletrólitos;


proteína total e frações ; coagulograma; hepatograma; lactato; PCR;
tipagem sanguínea. Considerar radiografia de tórax e gasometria
arterial  nos quadros graves (grupo D);
 Resultados: Caracteristicamente apresenta trombocitopenia,
linfopenia com atipia linfocitária. A leucometria é variável, podendo
apresentar de leucocitose leve a leucopenia. Coagulograma pode
demonstrar prolongamento de TAP  e PTT  devido ao consumo de
fatores de coagulação. Hepatograma pode demonstrar aumento
discreto de transaminases e hipoalbuminemia.

Sorologia/detecção viral: Fora do período epidêmico deve ser solicitada


em todo caso suspeito (benefício epidemiológico). Durante o período
epidêmico, apenas nos casos graves e/ou de diagnóstico duvidoso:

 Sorologia IgM para DENV:  O IgM costuma positivar a partir do


sexto dia de doença;
 Pesquisa de antígeno NS1: Costuma estar presente nas primeiras
72 horas de doença. Apresenta baixa sensibilidade a partir do
quarto dia.

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Observação! Outras opções de exames laboratoriais, se disponíveis, incluem a
pesquisa de vírus (tentativa de isolamento viral), pesquisa de genoma do vírus
da dengue por reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-
PCR) , teste de neutralização por redução de placas (PRNT); inibição da
hemaglutinação (IH), ou estudo anatomopatológico seguido de pesquisa de
antígenos virais por imuno-histoquímica.

Definição de Caso (Brasil, 2021)

Caso suspeito de dengue: Indivíduo residente em área onde se registram


casos de dengue ou que tenha viajado nos últimos 14 dias para área com
ocorrência de transmissão ou presença de Aedes aegypti. Deve
apresentar febre, usualmente entre 2-7 dias, e duas ou mais das
seguintes manifestações:

 Náusea/vômitos;
 Exantema;
 Mialgia/artralgia;
 Cefaleia/dor retro-orbital;
 Petéquias/prova do laço positiva;
 Leucopenia.

Observação! Também pode ser considerado caso suspeito toda criança


proveniente de (ou residente em) área com transmissão de dengue, com
quadro febril agudo, usualmente entre 2-7 dias, e sem sinais e sintomas
indicativos de outra doença.

Caso suspeito de dengue com sinais de alarme: É todo caso de dengue


que, no período de defervescência da febre, apresenta um ou mais dos
seguintes sinais de alarme:

 Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua ou


sensibilidade;
 Vômitos persistentes;
 Acúmulo de líquidos (ascites, derrame pleural, derrame
pericárdico);
 Hipotensão postural e/ou lipotimia;
 Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal;
 Letargia/irritabilidade;
 Sangramento de mucosa;
 Aumento progressivo do hematócrito.

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Caso suspeito de dengue grave: É todo caso de dengue que apresenta
uma ou mais das condições abaixo:

 Choque ou desconforto respiratório em função do extravasamento


grave de plasma; choque evidenciado por taquicardia, pulso débil
ou indetectável, taquicardia, extremidades frias e tempo de
perfusão capilar > 2 segundos, e pressão diferencial convergente <
20 mmHg, indicando hipotensão em fase tardia;
 Sangramento grave segundo a avaliação do médico (ex.:
Hematêmese, melena, metrorragia volumosa e sangramento do
sistema nervoso central);
 Comprometimento grave de órgãos, a exemplo de dano hepático
importante (AST/ ALT > 1.000), do sistema nervoso central
(alteração da consciência), do coração (miocardite) ou de outros
órgãos.

Confirmado por critério laboratorial: É aquele que atende à definição de


caso suspeito de dengue e que foi confirmado por um ou mais dos
seguintes testes laboratoriais e seus respectivos resultados:

 ELISA NS1 reagente;


 Isolamento viral positivo;
 RT-PCR  detectável (até o quinto dia de início de sintomas da
doença);
 Detecção de anticorpos IgM  ELISA (a partir do sexto dia de início de
sintomas da doença);
 Aumento ≥ 4 vezes nos títulos de anticorpos no PRNT ou teste IH,
utilizando amostras pareadas (fase aguda e convalescente).

Confirmado por critério clínico-epidemiológico: Na impossibilidade de


realização de confirmação laboratorial específica ou para casos com
resultados laboratoriais inconclusivos, deve-se considerar a confirmação
por vínculo epidemiológico com um caso confirmado laboratorialmente,
após avaliação da distribuição espacial dos casos confirmados.

Na Atenção Primária à Saúde

Para o estadiamento nos grupos A, B, C e D, pode-se utilizar um


processo de quatro perguntas básicas:

1. Trata-se de um caso de dengue?


2. Há algum fenômeno hemorrágico (espontâneo ou provocado)?
3. Há sinais de alarme?

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4. Há choque ou hipotensão?

FEBRE ZYKA

Acima de 80% dos infectados são assintomáticos. A doença é autolimitada e


raramente é fatal.

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Principais queixas: Exantema maculopapular pruriginoso craniocaudal, febre
baixa intermitente (37,8-38,5ºC), mal-estar, astenia, artralgia (poliartralgia),
mialgia, cefaleia, hiperemia conjuntival sem prurido e não purulenta. Menos
frequentemente, pode ocorrer edema de extremidades ou periarticular,
hematospermia e linfadenopatia.

Evolução: Benigna, geralmente autolimitada, com desaparecimento espontâneo


dos sintomas em três a sete dias. A artralgia pode persistir por até um mês.

Síndrome de Guillain-Barré:  É relatada a associação de maior risco de síndrome


de Guillain-Barré em pacientes com infecção recente pelo zika vírus, em áreas
de circulação simultânea com o vírus da dengue (possível reação cruzada).
Outras complicações possíveis incluem: encefalite, mielite transversa,
encefalomielite, meningoencefalite, polineuropatia inflamatória crônica
desmielinizante, isquemia cerebral e sintomas neuropsiquiátricos e cognitivos.

Sinais de alarme: Hipotensão, desidratação importante, parestesia, paresia ou


paralisia de membros inferiores.

Pacientes com alto risco de evolução desfavorável: Em uma minoria de casos,


pacientes com doenças graves podem apresentar evolução desfavorável,
especialmente pacientes imunossuprimidos, portadores de doenças terminais,
portadores de insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica e
outros, sendo a infecção viral um fator descompensante da doença de base.

Abordagem Diagnóstica

Considerações iniciais (Ministério da Saúde, 2021):


Para o diagnóstico de infecção pelo zika vírus, todo caso definido como
"suspeito" é confirmado pelo critério laboratorial ou pelo critério clínico-
epidemiológico, como explicado a seguir.

Caso suspeito: Pacientes que apresentem exantema maculopapular


pruriginoso acompanhado de dois ou mais dos seguintes sinais e
sintomas:

 Febre;
 Hiperemia conjuntival sem secreção e prurido;
 Artralgia/poliartralgia;
 Edema periarticular.

Caso confirmado: Caso suspeito com um dos seguintes testes


positivos/reagentes específicos para diagnóstico de zika:

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 Isolamento viral;
 Detecção de RNA viral por reação da transcriptase reversa (RT-
PCR); 
 Sorologia IgM  (em populações que exista a circulação do vírus da
dengue, há uma alta chance de ocorrer reações falso positivas).

Observações:

 Na RT-PCR, há maior chance de positividade até o quarto dia do


início dos sintomas (possível até o 11° dia);
 Não há reação cruzada com outros vírus que cursam com doença
exantemática febril, como vírus da dengue 1-4, febre amarela,
hepatite B e C, febre do chikungunya, Ross River, citomegalovírus,
encefalite japonesa, varicela-zóster, herpes simplex 1, herpes-vírus
B19, Epstein-Barr, adenovírus, enterovírus humanos, echovírus 6,
poliovírus Sabin tipo 1, 2, e 3, e coxsackievírus A10 e B4.6.

Critério clínico-epidemiológico: Na impossibilidade de realização de


confirmação laboratorial específica ou em casos com resultados laboratoriais
inconclusivos, deve-se considerar a confirmação por vínculo epidemiológico
com um caso confirmado laboratorialmente, após avaliação da distribuição
espacial dos casos confirmados.

Exames laboratoriais: Hemograma completo,  eletrólitos, função renal,


função hepática.

 Indicações: Não estão indicados de rotina, exceto para diagnóstico


diferencial com outras flaviviroses (dengue, febre amarela), em
quadros graves e em pacientes com comorbidades que favoreçam
evolução desfavorável;
 Resultados: Diferente das demais flaviviroses, o zika vírus não
costuma causar alterações em exames laboratoriais, nem mesmo
leucopenia ou trombocitopenia.

Detecção viral por PCR: Indicada em gestantes e pacientes com suspeita de


complicações da doença como a síndrome de Guillain-Barré. Amostras
biológicas de sangue, liquor e urina podem ser utilizadas para o RT-PCR.

Observação: Após o quinto dia de doença até o 15° dia, realizar o RT-PCR na


urina devido à persistência do vírus e possibilidade de detecção.

Sorologia para IgM/IgG: Considera-se que os testes sorológicos possam


detectar o IgM a partir do quarto dia e o IgG a partir do 12° dia.

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Complicações congênitas (Ministério da Saúde, 2021):

Caso notificado: Feto que apresente, pelo menos, um dos seguintes


critérios referentes às alterações do sistema nervoso central,
identificadas em exame de imagem com:

 Presença de calcificações cerebrais;


 Presença de alterações ventriculares;
 Pelo menos dois dos seguintes sinais de alterações de fossa
posterior: Hipoplasia de cerebelo, hipoplasia do vérmis cerebelar,
alargamento da fossa posterior maior que 10 mm e
agenesia/hipoplasia de corpo caloso.

Achados na USG transfontanela (a partir da 18ª-20ª semana de


gestação) e tomografia computadorizada de crânio incluem:

 Calcificações cerebrais, principalmente periventricular, no


parênquima, áreas talâmicas e gânglio basal;
 Ventriculomegalia;
 Lisencefalia;
 Artrogripose;
 Retardo do crescimento intrauterino;
 Alterações do fluxo arterial nas artérias cerebral ou umbilical;
 Oligodrâmnio ou anidrâmnio.

Critérios para notificação de recém-nascido com microcefalia, segundo


recomendação do Ministério da Saúde:

 RN com menos de 37 semanas de idade gestacional, apresentando


medida do perímetro cefálico menor que -2 desvios-padrão,
segundo a tabela do InterGrowth, para a idade gestacional e sexo;
 RN com 37 semanas ou mais de idade gestacional, apresentando
medida do perímetro cefálico ≤ 31,5 centímetros para meninas e
31,9 para meninos, equivalente a menor que -2 desvios-padrão para
a idade do neonato e sexo, segundo a tabela da OMS.

Observações:

 Definição de microcefalia pela OMS e a literatura


internacional: Perímetro cefálico (PC) menor que dois ou mais
desvios-padrão (DP) do que a referência para o sexo, idade ou
tempo de gestação. O perímetro cefálico deve ser medido
utilizando técnica e equipamentos padronizados, entre 24 horas

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após o nascimento e até 6 dias e 23 horas (dentro da primeira
semana de vida);
 Microcefalia grave: Recém-nascidos com um perímetro cefálico
inferior a -3 desvios-padrão, ou seja, mais de 3 desvios-padrão
abaixo da média para idade gestacional e sexo.

Caso confirmado para a síndrome congênita associada à infecção pelo


ZIKAV (Ministério da Saúde, 2021): Duas ou mais alterações em exames
de imagens e exame clínico citadas acima com:

 Recém-nascido: Resultado positivo ou reagente no RT-qPCR ou para


IgM para o ZIKV (considerando a coleta até o 8º dia de vida, tipo de
material, processamento etc.);
 Feto: De gestante com resultado positivo ou reagente para o ZIKV
no teste com melhor desempenho, se cumpridas as exigências de
qualidade para realização do teste (momento da coleta, tipo de
material, processamento, etc.) E resultado negativo ou inconclusivo
para STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus ou
herpes virus) em amostra da gestante;
 Natimorto ou óbito após o nascimento: Resultado positivo ou
reagente para o ZIKV em amostra do natimorto ou RN no teste com
melhor desempenho, se cumpridas as exigências de qualidade para
realização do teste (momento da coleta, tipo de material,
processamento, etc.), e resultado negativo ou inconclusivo para
STORCH em amostra da mãe, natimorto ou RN, desde que afastadas
outras causas de óbito, ou natimorto ou RN com fenótipo ou com
exame de imagem compatível com a SCZ, cujo exame laboratorial
não foi possível realizar ou com resultado inconclusivo para ZIKV em
amostra desse ou da mãe (amostras coletadas ainda na gestação ou
em até 48 horas após o parto), desde que afastadas outras causas
de óbito;
 Aborto espontâneo ou óbito fetal: Gestante com resultado positivo
ou reagente para o ZIKV no teste com melhor desempenho, se
cumpridas as exigências de qualidade para realização do teste
(momento da coleta, tipo de material, processamento, etc.), a partir
de amostras colhidas durante a gestação e resultado negativo ou
inconclusivo para STORCH em amostra da gestante.

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