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Layssa Carvalló – T14 Unifamaz 1

SÍNDROME NEFRÍTICA NA CRIANÇA


É uma condição clínica caracterizada pela associação de • O edema e a hipertensão arterial são secundários e
edema, hipertensão arterial e hematúria. Frequentemente relacionados basicamente à expansão do volume
observa-se associação de proteinúria e, em algumas extracelular, que nesses casos podem ocorrer
situações, ocorre perda da função renal. Correlaciona-se complicações graves (edema agudo de pulmão,
com glomerulopatias, as quais podem estar presentes em insuficiência cardíaca e crise hipertensiva)
todas as faixas etárias, podendo se apresentar de forma Manifestações urinárias: hematúria (pode ser micro ou
aguda ou crônica macroscópica + dismorfismo eritrocitário) e oligúria

ETIOLOGIA Apresentações atípicas: nos casos de glomerulonefrite


aguda pós-estreptocócica (GNPE), algumas vezes a
A síndrome nefrítica abrange um amplo espectro de apresentação é subclínica, sendo estabelecido o diagnóstico
condições com comprometimento histológico inflamatório e por meio da investigação. Em outras ocasiões, ocorre perda
alterações variáveis do sedimento urinário, envolvendo rápida e progressiva da função renal, (glomerulonefrite
glomerulopatias primárias e secundárias – essas rapidamente progressiva)
glomerulopatias podem se apresentar de várias formas:
Alterações laboratoriais:
síndrome nefrítica, síndrome nefrótica (proteinúria de
caráter nefrótico, hipoalbuminemia, edema e dislipidemia) • TFG: pode estar reduzida na fase aguda, refletindo-se no
ou com característica de ambas aumento da creatinina sérica ou de outros
biomarcadores da função glomerular – é válido
Síndrome nefrítica primária (glomerulonefrite primária)
ressaltar que dependendo da etiologia, a TFG pode ou
• Glomerulopatia do C3 não se normalizar
• Nefropatia por IgA
• Doença antimembrana basal glomerular AVALIAÇÃ O E DIAGNÓS TICO
• Glomerulonefrite crescêntica idiopática A glomerulonefrite pode ser isolada ao rim (síndrome
• Glomerulopatia membranosa nefrítica primária) ou pode ser um componente de um
Síndrome nefrítica secundária (glomerulonefrite distúrbio sistêmico (síndrome nefrítica secundária). Visto
secundária) isso, a história clínica + história familiar + presença de sinais
• Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) e sintomas extrarrenais + exame físico podem fornecer
• Outras glomerulonefrites pós-infecciosas evidências, exemplos:
• Infecções virais, bacterianas, fúngicas e parasitárias • Um pródromo recente de infecção de pele ou orofaringe
• Púrpura de Henoch-Schönlein pode sugerir GNPE
• Nefrite lúpica • Exantema facial e artrite em uma menina pode sugerir
• Poliangiíte granulomatosa (Wegener) lúpus eritematoso
• Doenças neoplásicas • Dor abdominal, artralgia e lesões purpúricas em
• Doença reumática, artrite reumatoide, síndrome de nádegas, MMII e/ou MMSS podem indicar púrpura de
Sjögren etc. Henoch-Schönlein
A investigação laboratorial é necessária em todos os casos e
IMPORTANTE: a causa mais comum de síndrome nefrítica em depende do grau de suspeição etiológica da glomerulopatia,
crianças é a glomerulonefrite aguda pós infecciosa (GNDA- das manifestações clínicas e/ou da causa secundária
PI), associada principalmente com a infecção estreptocócica associada – esses exames são necessários e importantes
(GNPE) para o diagnóstico precoce e a instituição da terapia
Exames eventualmente preconizados em crianças com
AS PECTOS CLÍNICOS E LABORAT ORIAIS
síndrome nefrítica aguda, GNPE ou GNRP:
A principal apresentação clínica na infância é a forma aguda, • Urina EAS com pesquisa de dismorfismo eritrocitário
mas outras formas de apresentação incluem formas − Hemoglobinúria
subclínicas, perda rápida e progressiva da função renal − Proteinúria
(glomerulonefrite rapidamente progressiva – GNRP) e − Avaliação do sedimento urinário: hematúria e
quadros crônicos cilindrúria
Apresentação aguda típica: início súbito de hematúria, • Relação proteína/creatinina (UP/C): avalia o grau de
edema, proteinúria de grau variável, hipertensão arterial e proteinúria
azotemia. Inicialmente, pode estar associada com febre, • Hemograma
cefaleia e dor abdominal. Progressivamente se instala • PCR e VHS
edema, ganho de peso e astenia. Outras manifestações • Creatina e ureia
renais podem estar presentes dependendo da doença de • Eletrólitos séricos (Na, K, cloro, cálcio iônico, fosfato,
base e/ou patologias sistêmicas eventualmente associadas magnésio etc.)
• Edema: frequentemente moderado, porém pode evoluir • Gasometria venosa (avaliar distúrbio ácido-básico)
para anasarca e estados graves de sobrecarga hídrica • Radiografia de tórax
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• Ecocardiograma Teorias e mecanismos estabelecidos: antígenos produzidos
• TC de tórax e RM ou angiorresonância cerebral (apenas pela bactéria, formação de imunocomplexos circulantes
em casos especiais) com deposição renal, reatividade cruzada, formação de
• Complemento total e frações (CH50, C3 e C4) imunocomplexos in situ etc.
• Aslo e anti DNAse B: são importantes para estabelecer Antígenos estreptocócicos nefritogênicos
uma infecção estreptocócica pregressa
1. Os antígenos nefritogênicos NaPlr (receptor de
• FAN e anti-DNA: importantes no diagnóstico de lúpus e
plasmina estreptocócico associado à nefrite) e SpeB
de outras doenças autoimunes
(exotoxina B pirogênica estreptocócica) se depositam na
• Imunoeletroferese sérica (incluindo IgA sérica)
membrana basal glomerular do capilar
• Crioglobulinas 2. A resposta imune do hospedeiro promove a formação de
• Eletroforese urinária anticorpos específicos e os antígenos se ligariam à
• Sorologias: hepatite B, hepatite C, EBV, HIV etc. plasmina (prevenindo sua degradação nos tecidos
• Biopsia renal: pode ser necessária para o glomerulares), o que provoca a indução de lesão
estabelecimento diagnóstico e a demonstração da
inflamatória tecidual glomerular pela plasmina
extensão do processo inflamatório glomerular, 3. Após a lesão inflamatória da MBG induzida pela
comprometimento túbulo-intersticial eventual e para a plasmina, ocorre a migração de NAPlr para o espaço
presença e padrão de depósitos imunes subepitelial e o seu anticorpo Ac-NaPlr se liga a ele, com
posterior formação do imunocomplexo in situ (o mesmo
ocorre com o SpeB e seu anticorpo Ac-SpeB)
GLOMERULONEFRITE DIFUSA AGUDA PÓS-
4. Paralelamente, ocorre ativação do sistema
ESTREPTOCÓCICA (GNDA-PE) complemento (preferencialmente pela via alternativa),
As glomerulonefrites pós-infecciosas (GNPI) caracterizam- atividade quimiotáxica e migração de
se por um processo de inflamação e proliferação celular polimorfonucleares – a resposta inflamatória seria
glomerular, englobando um grande grupo de ampliada com a participação de linfócitos T
glomerulonefrites mediadas imunologicamente e associada sensibilizados, citocinas etc.
com diversos agentes infecciosos – na infância, a maioria 5. Como resultado, ocorre proliferação difusa de células
das infecções associadas à GNPI é causada por infecções endoteliais e mesangiais, com evidência de formação de
estreptocócicas imunocomplexos in situ na região subepitelial e no
Agentes infecciosos potencialmente associados com GNPI: mesângio – estes são os achados clássicos de
glomerulonefrite proliferativa endocapilar
• Bactérias: Streptococcus beta-hemolítico do grupo A,
6. Então, na GNDA-PE, o processo inflamatório nos
Staphylococcus aureus, Neisseria meningitidis, E. coli,
capilares glomerulares cursa com perda da integridade,
Pseudomonas sp, Enterococcus etc.
e condiciona a passagem anormal de elementos através
• Vírus: hepatite B, hepatite C, CMV, varicela vírus, EBV,
da barreira de filtração glomerular, determinando
Influenza, vírus da rubéola etc.
hematúria, leucocitúria e proteinúria. Além disso,
• Fungos, protozoários e helmintos: Candida sp,
observa-se redução da luz dos capilares, diminuição da
Cryptococcus sp, Toxoplasma gondii, Plasmodium,
TFG e do coeficiente de ultrafiltração com retenção de
Leishmania etc.
elementos filtrantes, tais como creatinina, ureia,
DEFINIÇÃO potássio etc., ocasionando azotemia, uremia e
hipercalemia (conforme o grau de IRA)
Caracteriza-se por um processo inflamatório glomerular e
7. Ocorre balanço positivo de sódio e água, edema,
difuso, usualmente relacionada a uma infecção pregressa
expansão do volume circulante efetivo, hipervolemia e
pelo estreptococo, sendo considerada uma das
complicações potenciais (ex: IC, congestão
complicações não supurativas do Streptococcus pyogenes
cardiocirculatória etc.). Além disso, o edema também
(principalmente pelo Streptococcus beta-hemolítico do
pode ser resultado de alterações das forças da lei de
grupo A)
Starling nos capilares sistêmicos
EPIDEMIOLOGIA IMPORTANTE: é importante destacar os fatores de
É considerada a glomerulonefrite aguda mais comum na suscetibilidade genéticos ou adquiridos do sistema
infância e sua incidência é mais elevada em países complemento
subdesenvolvidos, relacionada com fatores de risco
tradicionais para infecção estreptocócica na comunidade
• Pode estar relacionada a surtos epidêmicos ou
endêmica de infecção estreptocócica
• Ocorre principalmente entre 5 e 15 anos, sendo rara < 2
anos

PATO GÊNESE E MECANISMOS FISIOPATOLÓGIC OS


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• O edema não costuma ser muito intenso e. em geral,


antecede a hematúria, a qual pode ser macroscópica nas
fases iniciais (“lavado de Coca-Cola”)
Evolução: em relação à regressão dos sintomas, constata-
se inicialmente o desaparecimento do edema em média 7 a 15
dias após o início da doença, acompanhado por crise de
diurese, seguindo-se a normalização dos níveis pressóricos
geralmente 2 a 3 dias após o desaparecimento do edema
• Nos casos não complicados, em torno da 3ª ou 4ª semana
após o início dos sintomas ocorre o restabelecimento
clínico geral da criança
• A hematúria microscópica pode persistir por 1 a 2 anos,
sem necessariamente indicar um quadro de
complicação

AS PECTOS CLÍNICOS

Após um período de incubação médio de 2 a 3 semanas


(máximo de 6 semanas) após uma infecção estreptocócica
de vias aéreas ou de pele, estabelece-se o diagnóstico sobre
bases clínicas e sorológicas
Alterações típicas de síndrome nefrítica: edema,
hipertensão arterial e hematúria, associadas com oligúria.
Porém, a apresentação clínica pode ser variável, desde
assintomática ou oligoassintomática até quadros de GNRP
e/ou Iesão renal aguda Complicações: quadros de congestão cardiocirculatória /
• Em geral, a maioria dos pacientes encontra-se em hipervolemia, insuficiência cardíaca com ou sem edema
regular estado geral, com queixas subjetivas de cefaleia, agudo de pulmão, crise hipertensiva e lesão renal aguda,
indisposição, lombalgia, inapetência, sendo o edema podendo apresentar características de GNRP
periorbital a principal manifestação • Congestão cardiocirculatória: é a complicação mais
frequente, caracterizada por sinais clínicos de
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hipervolemia, como taquicardia, dispneia, tosse, específicos para seu diagnóstico, sendo este confirmado
estertores subcrepitantes em bases pulmonares e, apenas com biópsia renal.
eventualmente, hepatomegalia • Glomerulopatias do C3: é uma entidade rara que se
• Crise hipertensiva: a forma mais comum de caracteriza pela presença de depósitos de C3
manifestação é a encefalopatia hipertensiva, mas
também pode ocorrer vômitos, cólicas abdominais,
Visto isso, deve-se valorizar a presença de sinais e sintomas
crises convulsivas e alterações visuais
extrarrenais, temporalidade e persistência das
• Síndrome da encefalopatia posterior reversível (PRES):
manifestações clínico-laboratoriais
deve-se considerar essa possibilidade quando há
manifestações neurológicas associadas ao cenário de TRATAMENTO
síndrome nefrítica / GNDA-PE, sendo seu diagnóstico A base do tratamento consiste na TERAPIA DE SUPORTE – ou
definitivo por RM seja, o tratamento é dirigido conforme a apresentação clínica
• Alteração da função renal estabelecida (elevação da e a presença ou não de complicações
creatinina sérica) – ocorre em 60% dos casos
• Ausência de complicações: acompanhamento
ALTERAÇÕES LABORATORIAI S ambulatorial
Anticorpos estreptocócicos: Aslo habitualmente se eleva • Presença de complicações: requerem tratamento
após 2 semanas da faringite estreptocócica, mas em geral hospitalar para monitorar fluidos, eletrólitos, controle
não se eleva após as infecções de pele. Entre outros da hipertensão e, eventualmente, terapia dialítica
anticorpos que evidenciam infecção estreptocócica
pregressa, a anti DNAse B possui maior acurácia 1. Repouso (é recomendado enquanto persistirem edema
e hipertensão, ou em caso de complicações)
Urina EAS: hematúria, leucocitúria e proteinúria
2. Restrição dietética (é importante para redução do
Distúrbios eletrolíticos (podem estar presentes a depender edema, controle da PA e atenuação das complicações)
da disfunção renal): hiponatremia, hipercalemia, 3. Restrição hídrica: inicialmente preconiza-se 20
hiperfosfatemia e acidose metabólica mL/kg/dia
Avaliação do sistema complemento: consumo de C3 4. Dieta assódica (< 2g de NaCl)
(marcador importante de hipocomplementemia e seus 5. Antibioticoterapia: não altera o curso da doença, mas
níveis se normalizam em torno de 6 a 8 semanas da tem o objetivo de erradicar o estado de portador e a
instalação da doença) e os níveis de C4 geralmente disseminação da cepa nefritogênica – Penicilina
encontram-se normais 6. Anti-hipertensivos: o tratamento da hipertensão arterial
é direcionado à restrição de sódio e terapia diurética,
BIÓPSIA RENAL
mas se necessário pode-se utilizar anti-hipertensivos
A GNDA-PE na infância possui uma evolução favorável, NÃO − Em geral, a combinação de Furosemida (diurético de
sendo indicada a execução de biópsia renal, a qual deve ser alça) associado ou a não a Hidroclorotiazida (diurético
realizada apenas quando houver suspeita clínica de que o tiazídico) e/ou Anlodipino (BCC) costuma ser eficaz
padrão anatomopatológico não seja de proliferação − Nos casos de urgência hipertensiva estão indicadas
endotelial e mesangial ou de patologia sistêmica secundária medicações anti-hipertensivas por VO, englobando
Critérios gerais para indicação de biópsia renal: Furosemida, Tiazídicos e BCC
• Cenários de GNRP − Nos casos de emergência hipertensiva deve-se optar
• Hipertensão arterial + hematúria macroscópica + por anti-hipertensivos IV, como o Nitroprussiato de
alteração da função renal persistentes por mais de 3 a 4 sódio
semanas Quando considerar diálise: em todos os casos de
• Proteinúria significativa por > 6 semanas ou de caráter hipercalemia grave, LRA com uremia e sinais de sobrecarga
nefrótico por > 4 semanas hídrica e emergência hipertensiva
• Hipocomplementemia persistente > 8 semanas Prognóstico: em geral é muito bom, sendo a mortalidade
associada aos casos de diagnóstico tardio com
DIAGN ÓSTIC O DIFERENCIAL
complicações graves, ausência de acesso ao serviço médico
Algumas glomerulopatias podem apresentar-se no início ou condições de abordagem terapêutica inadequadas
com quadro semelhante à GNDA-PE: GNPI por outros
agentes infecciosos, glomerulopatia do C3, nefrite lúpica,
nefropatia por IgA, glomerulonefrite associada à
endocardite bacteriana, crioglobulinemia etc. GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA
• Nefropatia por IgA: os níveis de complemento são Caracterizada por uma síndrome clínica decorrente da perda
habitualmente normais e pode-se observar episódios rápida da função renal em curto período (dias a semanas)
recorrentes de hematúria. Acomete preferencialmente associado à proteinúria, hematúria micro ou macroscópica
homens adolescentes e adultos jovens. Os níveis de IgA com dismorfismo eritrocitário ou cilindros hemáticos +
séricos podem estar aumentados, mas não são
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formação de crescentes celulares nos glomérulos • Síndrome nefrótica corticossensível (SNCS): ocorre
(glomerulonefrite crescêntica) remissão da síndrome em um período de 4 semanas de
• As crescentes são compostas de monócitos e células tratamento (80% a 90¨das crianças)
epiteliais parietais que se proliferam no espaço de Bowman − SNCS recidivante-infrequente
− SNCS recidivante-frequente
− SNCS córtico-dependente
SÍNDROME NEFRÓTICA NA CRIANÇA • Síndrome nefrótica corticorresistentes (SNCR)
Definição: é um conjunto de manifestações clínicas que De acordo com o padrão histológico:
resulta do aumento de permeabilidade da barreira de • Lesão histológica mínima: é a forma mais comum de SNI
filtração glomerular renal às proteínas. É caracterizada por: em crianças e na microscopia eletrônica aparecem
proteinúria, hipoalbuminemia, edema e hiperlipidemia fusões de podócitos – melhor prognóstico
• Essencialmente, o diagnóstico é feito pela presença de OBSERVAÇÃO: a maioria das crianças não tem indicação de
proteinúria maciça (proteinúria de 24h ≥ 50 mg/kg/dia ou ≥ biopsia renal pois cerca de 90% das que apresentam boa
40 mg/m2/hora ou relação urinária de proteína/creatinina resposta ao corticoide apresentam lesão histológica mínima
em amostra isolada > 2 mg/mg) e hipoalbuminemia ( ≤ 2,5 como diagnóstico histológico e um bom prognóstico
g/dL) • Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF):
EPIDEMIOLOGIA identifica parte dos glomérulos com esclerose
segmentar – pior prognóstico
Na faixa etária pediátrica, 80% a 90% dos casos de síndrome
nefrótica são primários ou idiopáticos (SNI). Pode afetar
crianças de qualquer faixa etária, sendo mais comum nas
crianças de 2 a 7 anos de idade (pré-escolar) e os meninos
parecem ser mais afetados

ETIOLOGIA

ETIOFISIOPATO GENIA

A grande maioria dos casos de síndrome nefrótica apresenta


mecanismos etiopatogênicos relacionados com fatores
genéticos, disfunção podocitária, disfunção imunológica ou a
presença de fatores circulantes
Mecanismo fisiológico: a filtração glomerular proporciona
seletivamente a retenção de proteínas, células sanguíneas e
outros elementos da circulação
Mecanismo patológico: a excreção de grandes quantidades
de proteína através da MBG seria decorrente de agravos
diversos sobre seus componentes, determinando aumento
da permeabilidade às proteínas plasmáticas. Está
relacionado à perda de cargas elétricas negativas da MBG,
mutações e alterações de proteínas do podócito ou outras
estruturas da MBG, disfunção podocitária, presença de
autoanticorpos, fatores circulantes e diversas
anormalidades imunológicas
CLAS SIFICAÇ ÃO

De acordo com a resposta do paciente ao tratamento com


corticosteroide:
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redução no catabolismo das lipoproteínas devido ao
aumento da atividade das lipases lipoproteicas; perda
urinária de HDL e redução da atividade do receptor de LDL
Aspectos genéticos
De modo geral, 20% a 30% das crianças portadoras de
síndrome nefrótica corticorresistentes (SNCR) apresentam
mutação em um gene codificador de proteínas importantes
na MBG – visto isso, a síndrome nefrótica monogênica é mais
frequente nos casos em que o início da doença é mais
precoce, quando há malformações associadas ou
consanguinidade na família
• Em geral, crianças portadoras de síndrome nefrótica
monogênica não respondem ao tratamento com
corticoides ou imunossupressores, evoluem para
falência crônica dos rins e não apresentam recidiva da
doença somente após um transplante renal – por isso, a
pesquisa de mutação genética é indicada para
portadores de SNCR assim que o diagnóstico for
realizado
• Genes mais frequentes na infância: NPHS 1 e 2 e WT1

QUADRO CLÍNICO

Principal manifestação clínica: edema


• Em LHM geralmente é intenso, mole, frio, depressível,
sujeito à ação da gravidade, insidioso (geralmente) e
pode evoluir para anasarca
• Teorias no mecanismo de formação do edema:
− Teoria do hipofluxo: considera que a proteinúria
maciça e subsequente hipoalbuminemia promovam
uma diminuição da pressão oncótica → esse fato,
acarreta a passagem de fluido do espaço intravascular
para o interstício (edema), desencadeando
hipovolemia, hipoperfusão renal, ativação do SRAA e
retenção renal secundária de sódio
− Teoria do hiperfluxo: propõe como fator inicial na
formação do edema a retenção primária intrarrenal de
sódio e água
Outras manifestações:
• Espuma na urina: é relatado em crianças maiores
• Ascite, derrame pleural, edema dos genitais e
hepatomegalia são evoluções que podem ocorrer na
criança não tratada ou que não responde bem à terapia
• Vários autores defendem a existência de um fator • Pele seca e friável com tendência à formação de estrias
circulante secretado pelos linfócitos T dos pacientes • A pressão arterial geralmente é NORMAL (na LHM), mas
com LHM (CD80), o qual desencadeia proteinúria maciça no caso de GESF, a hipertensão arterial pode estar
e fusão dos processos podais → estabelecido como presente
possível biomarcador de diagnóstico e atividade da • Presença de distúrbios eletrolíticos (hipocalcemia,
doença hipocalemia e hiponatremia): podem ser manifestar por
• Evidências sugerem que pacientes com SNI, alterações clinicas como caibras, parestesias, síndrome
particularmente por LHM, apresentam uma disfunção convulsiva etc.
imunológica com a presença de fatores circulantes • Dor abdominal: se manifesta nas grandes
durante a recidiva da doença com alteração da descompensações e em situações de hipovolemia ou
permeabilidade da MBG associadas à peritonite primária
• Desorganização do citoesqueleto do podócito • Pode-se observar sinais de descalcificação óssea
relacionada às alterações do metabolismo da vitamina
Hiperlipidemia: é consequência do aumento da síntese
D, cálcio e fósforo → ocorre particularmente nos casos
hepática de colesterol, triglicerídeos e lipoproteínas;
de longa duração e/ou resistência à terapia
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imunossupressora e/ou uso de corticoide prolongado – 1. Dieta hipossódica ou assódica: recomenda-se durante
OS PACIENTES NEFRÓTICOS APRESENTAM RISCO as fases de edema ou quando houver hipertensão
ELEVADO DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D 2. Avaliar a presença de evidências de hipovolemia
• Atopia é frequente, com prevalência de processos (taquicardia, pulsos fracos, extremidades frias,
alérgicos das vias aéreas ou de pele hipotensão etc.)
• Maior propensão à aquisição de processos infecciosos: 3. Infusão salina: pode ser feita nos casos de baixa fração
perda urinária de IgG, desnutrição, edema, de excreção de sódio (< 0,2 a 0,5%), como gastroenterite
hipoalbuminemia, imunidade humoral anormal etc. e desidratação, em 10 a 20 mL/kg durante 20 a 30
minutos e infusão. Caso não haja resposta inicial,
EXAMES LAB ORATORIAIS
realizar infusão de albumina 20% (0,5 a 1g/kg)
• Sedimento urinário: proteinúria, hematúria 4. Diuréticos: indicados na presença de edema grave,
microscópica (25% dos casos de LHM) e cilindrúria sintomático ou refratário + ausência de hipovolemia –
• Proteinúria: > 50 mg/kg/dia ou > 40 mg/m2/hora ou > 2 achados de edema grave: 15% de aumento de peso,
mg/mg em amostra isolada de urina (P/C) ou +3 na fita associado com anasarca, edema escrotal ou de vulva,
reagente derrame pleural significativo ou sinais clínicos de
• Eletroforese de proteínas plasmáticas: sobrecarga hídrica (ex: IC)
hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL) e aumento da fração alfa- − Quadros de anasarca sem hipovolemia: pode-se
2. Na lesão histológica mínima (LHM) apresentam-se introduzir diuréticos tiazídicos (Hidroclorotiazida 2 a 5
IgG baixos, IgA baixo, IgM pode estar aumentada e mg/kg/dia em 2 tomadas)
observa-se hipogamaglobulinemia − Quadros de anasarca + hipervolemia: pode ser
• Perfil lipídico: elevação dos níveis séricos de colesterol associado Furosemida 1 a 5 mg/kg/dia
total, triglicerídeos e lipoproteínas − Edemas volumosos e persistentes: infusão de
• Sistema complemento: apresenta-se normal (LHM e albumina a 20% (0,5 a 1 g/kg/dia) associada à
GESF) – se houver hipocomplementemia, indica-se Furosemida
biópsia renal IMPORTANTE: é válido informar que os diuréticos, de forma
• Ureia e creatinina: podem estar elevadas na instalação geral, devem ser EVITADOS pelo risco de piora da função
do edema ou em situações de hipovolemia, mas o renal (porque muitos nefróticos apresenta hipovolemia)
aumento permanente pode aparecer na GESF, na
5. Tratar as infecções precocemente
nefrotoxicidade ou devido à evolução e progressão da
doença TRATAMENTO ES PECÍFICO

Recomendação do KDIGO 2012:


OBSERVAÇÃO: devem ser pesquisadas causas secundárias, • Prednisona diária 2 mg/kg/dia ou 60 mg/m2 durante 4 a 6
solicitando-se sorologias (HIV, hepatites A, B e C, semanas (máximo de 60 mg/dia dose única)
toxoplasmose, CMV etc.) e avaliações específicas conforme • Se houver ocorrido remissão: Prednisona 1,5 mg/kg/dia
a história e epidemiologia (ex: malária, esquistossomose ou 40 mg/m2 em dias alternados em dose única pela
etc.) manhã por mais 4 a 6 semanas, com diminuição lenta e
INDIC AÇÕES DE BIÓPSIA RENAL
progressiva da dose
Em casos de recidiva da doença no período dos 6 meses
Atualmente, as crianças entre 1 e 10 anos com sintomatologia
iniciais de tratamento:
típica e complemento sérico normal devem ser
consideradas e tratadas como portadoras de LHM – nesse • Recomenda-se voltar a usar o esquema diário de
caso, a biópsia renal fica indicada para casos em que o Prednisona até obter 3 dias consecutivos de nova
quadro clínico e laboratorial é diferente do quadro clássico remissão → A seguir, reintroduzir a Prednisona em dias
esperado de SNI ou quando não há resposta ao tratamento alternados
com corticoide Se houver resistência ao tratamento inicial:
Indicações de biópsia renal na SNI • Pode-se utilizar pulsoterapia adicional com
• Crianças < 1 ano ou > 10 anos Metilprednisolona 30 mg/kg/dose (máximo de 1g) em
• Hematúria micro ou macroscópica persistente dias alternados, 3 a 6 doses → Caso ocorra remissão
• Hipertensão severa completa, prossegue-se com a redução lenta e
• Disfunção renal progressiva da corticoterapia
• Hipocomplementenemia Processos infecciosos (porque as infecções funcionam
• Sintomas extrarrenais (ex: exantema e púrpura) como gatilho para a descompensação da SN):
• Síndrome nefrótica corticorresistente • Durante os processos infecciosos, recomenda-se o uso
• Avaliação de potencial nefrotoxicidade dos inibidores de de corticoide diário, na mesmo dose em que vinha sendo
calcineurina usado em dias alternados, durante 5 a 7 dias em crianças
com recidivas frequentes ou córtico-dependentes
TRATAMENT O INESPECÍFICO
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• Complicações infecciosas: ressaltam-se as infecções


A terapia prolongada com corticoide pode ocasionar efeitos de vias aéreas superiores, infecções de pele (celulite),
adversos significativos, como atraso no crescimento, ganho peritonites, gastroenterites e infecções do trato
de peso, aumento de PA, alteração da densidade mineral urinário. Os agentes virais frequentemente estão
óssea etc. Como alternativa, podem ser utilizados associados às descompensações, podendo favorecer
imunossupressores (Ciclofosfamida, ciclosporina, infecções bacteriana secundárias. Principais agentes
tacrolimo etc.) nos pacientes com síndrome nefrótica bacterianos: estreptococo e as bactérias gram-
recidivante-frequentes ou córtico-dependentes negativas (E. coli, Klebsiella, Proteus etc.)

• Ciclosporina e Tacrolimo são considerados de 1ª linha no Complicações que podem relacionadas com estado
tratamento da SNCR e como alternativa para os nefrótico ou como efeito adverso das medicações: atraso de
recidivantes frequentes e córtico-dependentes crescimento, complicações oftalmológicas, dislipidemia,
risco de aterosclerose, falência renal, disfunções
Rituximabe: é uma outra opção medicamentosa no
tireoidianas, anemia, obesidade, risco mais elevado de
tratamento de pacientes córtico-dependentes e recidivante-
neoplasias e infertilidade
frequentes que não apresentaram resposta a outras drogas
IECA e/ou BRA: estão indicados no controle de proteinúria EVOLUÇÃO
em pacientes com difícil tratamento da síndrome nefrótica, A síndrome nefrótica é uma doença crônica com possíveis
se não houver hipercalemia ou insuficiência renal aguda complicações e que pode evoluir para perda da função renal
Tratamento da dislipidemia: a dislipidemia relacionada aos em alguns casos. A principal causa de óbito ainda são os
períodos de recidivas NÃO MERECE TRATAMENTO processos infecciosos, os quais continuam sendo o grande
ESPECÍFICO. Entretanto, o uso de estatinas para os risco na síndrome nefrótica. De modo geral, a sobrevida
pacientes com dislipidemia persistente está recomendado renal das crianças portadores é de aprox. 60% em 10 anos de
(sobretudo os portadores de SNCR) – após o início da terapia, evolução da doença
deve ser realizada monitorização laboratorial periódica com A resposta dos pacientes ao uso de corticoides, o tempo para
controle de transaminases e CPK remissão da doença após o início do tratamento e frequência
C OMPLICAÇ ÕES das recidivas após a terapia inicial são alguns fatores
prognósticos de evolução
Complicações mais frequentes nas crianças com SNI:
• Aprox. 85% das crianças com SNI são corticossensíveis
quadros de hipovolemia (“crise hipovolêmica”), distúrbios
(em geral, apresentam LHM), e em torno de 80% delas
eletrolíticos e metabólicos, lesão renal aguda, infecções,
vão apresentar ao menos 1 recidiva em 12 meses após a
hipertensão arterial e tromboembolismo
primeira manifestação
Layssa Carvalló – T14 Unifamaz 9
IMPORTANTE: estima-se que com o passar dos anos, a
frequência das recidivas diminua – por isso, considera-se
“eventualmente curada” uma criança que permanece 5 anos
sem crises e sem medicação
• Aprox. 15% das crianças serão classificadas como
portadoras de SNCR (a GESF nesses casos é a lesão
histológica mais comum)

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