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(Glomerulopatias)
Hematúria Microscópica Assintomática
• Caracteriza-se pelo achado de hematúria isolada ao exame de urina, portanto sem a presença de proteinúria,
alteração da função renal ou manifestações sistêmicas de edema e hipertensão. É um achado comum, pois
ocorre em 5 a 10% da população, sendo, em sua maioria, de causa urológica. Em pacientes acima de 40 anos de
idade com micro-hematúria persistente isolada sem evidência de origem glomerular, a cistoscopia é mandatória
para excluir a malignidade uroepitelial
• Entre as hematúrias isoladas, apenas 10% ou menos são causadas por glomerulopatias. Portanto, a investigação
urológica é obrigatória, e o achado de hemácias dismórficas, quando presente, sugere o diagnóstico de
glomerulopatia. Protocolo clínico de avaliação da biópsia renal em adultos com hematúria microscópica
assintomática (excluída causa urológica) mostrou rim normal em 30%; doença de membrana fina em 26%;
glomerulopatia por IgA em 28%; e, no restante, glomerulonefrite membranoproliferativa e síndrome de Alport
Proteinúria Assintomática
• É definida quando existe proteinúria isolada em valores acima de 150 g/dia e abaixo de 3 g/dia na ausência de
outros achados urinários, como hematúria, e, também, sem sinais ou sintomas sistêmicos, como edema e/ou
hipertensão. É, portanto, um diagnóstico feito por exame de urina. As doenças mais frequentes neste grupo são
a glomeruloesclerose segmentar e focal e a glomerulonefrite membranosa, de evolução benigna, a menos que
mudem suas características clínicas com o desenvolvimento de hipertensão ou proteinúrias nefróticas
• A microalbuminúria é definida como a excreção de 30 a 300 mg de albumina/dia (equivalente à relação
albumina/creatinina urinária entre 0,03 e 0,3). Este parâmetro também é utilizado para identificar o risco de
desenvolvimento de nefropatia em pacientes diabéticos, assim como risco cardiovascular em pacientes
hipertensos
• O achado de outras proteínas urinárias, que não a albumina, tem significado fisiopatológico próprio. Assim, a
proteinúria tubular, constatada pelo achado urinário de beta-2-microglobulina, retinol binding protein (RBP) ou de
outras proteínas de baixo peso molecular, é característica de doenças com comprometimento tubulointersticial,
seja de natureza primária ou secundária à glomerulopatias (p.ex., GESF). Além de seu papel diagnóstico em
relação ao tipo de proteinúria presente, os marcadores de proteinúria tubular são clinicamente úteis como
marcadores de mal prognóstico em diversas doenças, como ocorre na própria GESF e no transplante renal
• A proteinúria encontrada em estados de hiperprodução de proteínas, particularmente cadeias leves de
globulinas, filtradas pelo glomérulo, é característica de paraproteinemias e deve ser pesquisada adequadamente,
já que as proteínas não são detectadas por testes laboratoriais que detectam somente albumina
• O achado de pequenas quantidades de albumina também pode ocorrer em certas situações funcionais, não
patológicas, como febre ou estados hiperadrenérgicos, sendo denominada de proteinúria funcional, que também
pode ser desencadeada pela posição ortostática e deambulação, quando é chamada de ortostática
• Quanto à indicação de biópsia renal em proteinúria assintomática, geralmente, ela não está indicada, sobretudo
se a proteinúria for inferior a 1 g/dia
Síndrome Nefrótica
• É uma síndrome clínico-laboratorial decorrente do aumento de permeabilidade às proteínas plasmáticas,
caracterizando-se por proteinúria acima de 3,5 g/1,73 m2 de superfície corpórea/dia, com consequente
hipoalbuminemia e edema
• O achado de hiperlipidemia não é obrigatório, porém é muito comum, assim como os distúrbios relacionados à
hipercoagulabilidade por perda de fatores de coagulação, a desnutrição proteica e a suscetibilidade às infecções.
Dentre as glomerulopatias que mais causam síndrome nefrótica estão, entre as primárias, a glomerulopatia de
lesões mínimas, GESF e GN membranosa, e, entre as secundárias, a glomeruloesclerose diabética
(Definição)
• A síndrome nefrítica, também denominada Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA), é caracterizada pela
hematúria (estigma da doença), hipertensão, proteinúria subnefrótica (50 mg-kg-24h em crianças) e edema. A
redução do débito urinário provoca retenção volêmica, ocasionando a hipertensão arterial e o edema. Ela ocorre
devido a um processo inflamatório agudo que acomete os glomérulos renais, que pode ocorrer de forma
idiopática ou ser secundária a alguma doença
• No geral, a GNDA é causada por complexos antigeno-anticorpo que atingem o parênquima renal. Isso gera
inflamação e proliferação celular, o que lesiona o tecido renal
(Fisiopatologia)
• Várias doenças diferentes podem levar a uma síndrome nefrítica, variando de mutações genéticas a infecções
bacterianas. Mesmo com patogênese variável, a lesão glomerular resultante ocorre principalmente por um
mecanismo imunomediado, que pode ocorrer por deposição de imunocomplexos circulantes pré-formados,
formação de complexos imunes in situ,reações autoimunes anti-MBG ou pauci-imune
• A depender do local de deposição dos complexos imunes, a lesão pode ser subepitelial ou na MBG, havendo uma
maior deposição de complexos com carga positiva e de tamanho menor, que desencadeiam uma resposta
inflamatória mais branda com um pequeno infiltrado celular, mas com grande alteração na permeabilidade e
maior proteinúria; assim como, a lesão pode ser subendotelial, com maior deposição de complexos de carga
negativa e maior tamanho, desencadeando uma resposta inflamatória com infiltrado de leucócitos e plaquetas,
com liberação hematogênica de mediadores inflamatórios
• Após a deposição do imunocomplexo, ocorre a ativação de complemento, com quimiotaxia de células
inflamatórias, como neutrófilos, monócitos e linfócitos T, que auxiliam na ativação de macrófagos. Tais células,
junto com as mesangiais ativadas, produzem proteazes e agentes oxidantes, citocinas e interleucinas; além de
haver a ativação de fatores de coagulação responsáveis pelos depósitos de fibrina
• De início, o infiltrado é celular. Posteriormente, há proliferação do endotélio e das células mesangiais em
decorrência da liberação de fatores de crescimento no local. Quando tal processo ocorre de maneira
suficientemente intensa, pode ocorrer a formação de crescentes, que são estruturas no formato de lua
crescente, em resposta à ruptura do endotélio e extravasamento de fibrina e elementos inflamatórios para o
espaço de Bowman, onde fibroblastos iniciam a produção de matriz extracelular e a crescente deixa de ser
celular e passa a ser fibrosa
• Em função do infiltrado inflamatório e da proliferação das células residentes, o fluxo plasmático e a taxa de
filtração glomerular caem. Isso se agrava com a liberação de substâncias vasoconstritoras, como leucotrienos,
tromboxanos, endotelinas e PDGF, que acabam predominando em relação às vasodilatadoras, como NO e
prostaciclinas. Além disso, decorrente dessa queda de filtração há um aumento do volume do líquido extracelular,
levando a edema e hipertensão. Também ocorrem hemácias dismórficas (passagem estreita na fenda de
filtração), leucócitos e proteinúria subnefrótica (lesão inflamatória na parede do capilar)
(Manifestações Clínicas)
• As glomerulonefrites são processos infecciosos agudos que acometem o glomérulo, acarretando retenção de
sódio pela dificuldade de excreção. Essa retenção pode levar ao edema e a hipertensão. Ocorre também ruptura
e lesão de pequenas alças capilares, a barreira de filtração perde sua integridade, fazendo com que possam
surgir na urina proteínas e hemácias. O quadro caracterizado por Hipertensão, edema, hematúria e proteinúria é
o que chamamos de Síndrome Nefrítica
• Ao passar pelos capilares fenestrados, as hemácias são “rasgadas” e sofrem deformações, adquirindo um
aspecto dismórfico, aumentando o índice de dismorfismo eritrocitário. Isso quer dizer que a hematúria
provavelmente é de origem glomerular, repare que o mesmo não ocorreria com outras causas de hematúria,
como os cálculos
• A proteinúria na síndrome nefrítica costuma ser de moderada intensidade, geralmente, não ultrapassando 3g,
entretanto, pode servir como parâmetro de evolução, tendendo a desaparecer conforme a melhora do quadro.
Já a hematúria, principal marcador clínico, pode permanecer ainda que o quadro tenha resolução, visto que é
mais complexo reconstruir as alças rompidas
• Assim, produz 1 a 2 g/24 horas de proteinúria, hematúria com cilindros hemáticos, piúria, hipertensão,
retenção de líquidos e elevação da creatinina sérica associada a uma redução da filtração glomerular
(Exames Complementares)
• Exames de rotina: os testes laboratoriais padronizados em pacientes com evidência de doença glomerular são:
◦Hemograma completo: normal ou anemia
◦Creatinina sérica: pode estar normal ou aumentada
◦EAS: Dismorfismo eritrocitário com hematúria micro ou macroscópica. Proteinúria < 3 g/dia
◦Albumina sérica: normal ou baixa.
◦C3 e C4: para avaliação de hipocomplementenemia, presente em uma variedade de causas de
glomerulonefrite, incluindo nefrite lúpica, glomerulonefrite pós-infecciosa, glomerulonefrite
membranoproliferativa e crioglobulinemia mista
◦Testes sorológicos: podem ser úteis para estabelecer um diagnóstico em pacientes que se apresentam
com um padrão nefrótico ou nefrítico, porém o teste em si pode não ser diagnóstico. Um teste positivo
não prova que a doença seja responsável pela lesão glomerular; na nefrite lúpica, a sorologia positiva não
identifica o tipo de nefrite lúpica presente e os pacientes com lúpus membranoso podem ser
soronegativos
• O que solicitar:
◦Anticorpos antinucleares (FAN), anticorpos anti-DNA de dupla hélice: Sugestivos de lúpus eritematoso
sistêmico subjacente.
◦Anticorpos anticitoplasmáticos de antineutrófilos (ANCA): sugestivos de granulomatose com poliangeite
(Wegner), poliangeite microscópica, granulomatose eosinofílica com poliangeite (Churg-Strauss), vasculite
renal limitada e certas causas de vasculite induzida por fármacos
◦Títulos elevados de anticorpos antiestreptocócicos após um episódio de faringite ou impetigo: Sugestivos de
glomerulonefrite pós-retocócica (GNPE)
◦Hemoculturas: Infecções bacterianas crônicas (ex.: endocardite, abscessos), fungos e, particularmente no
mundo em desenvolvimento, infecções parasitárias podem causar glomerulonefrite membranoproliferativ
◦Anticorpos antimembrana basal: doença renal isolada ou síndrome de Goodpastur
◦Teste de crioglobulinas: Pode ser justificado em pacientes que, além da glomerulonefrite, têm púrpura
palpável, sintomas sistêmicos (ex.: artralgias) e/ou hipocomplementemia
◦HbsAg e anti-HCV: no entanto, os testes sorológicos positivos para estas infecções não provam que o vírus
da hepatite seja responsável pela glomerulonefrite
◦Anti-HIV: Pacientes infectados pelo HIV também podem desenvolver glomerulonefrite
◦Biópsia renal: A biópsia renal é geralmente realizada mesmo se o teste sorológico for positivo, pelas razões
citadas acima. Está indicada em caso de piora da função renal ou proteinúria persistente
(Causas)
• Síndrome pós-infecciosa:
◦Pós-estreptococica
◦Não pós-estreptocócica: bacterianas (endocardite, abcessos, doença pneumocócica, sepse e shunt VP
infectado), virais (hepatite B e C, mononucleose infecciosa, caxumba, sarampo e varicela) e parasitárias
(malária e toxoplasmose)
• Doenças multissistêmicas: lúpus eritematoso sistêmico, púrpura de Henoch-Schonlein, crioglobulinemia, poliarterite
microscópica, granulomatose de Wegener, síndrome de Goodpasture, tumores
• Primárias do glomérulo: doença de Berger, GN membranoproliferativa, GN mesangial, GN por imunocomplexos
idiopática, GN antimembrana basal glomerular, GN pauci-imune (ANCA positivo)
Glomerulonefrite Aguda Pós-estreptocócica (GNPE)
• É causada por uma infecção por cepas nefritogênicas do estreptococo do grupo A beta-hemolítico (ou
Streptococcus pyogenes)
• Essas cepas podem estar presentes nas piodermites estreptocócicas (impetigo e erisipela) ou na
faringoamigdalite. O período de incubação entre a infecção e o desenvolvimento da nefrite é de 7-21 dias quando
é via orofaringe e 15-28 dias quando via cutânea. A apresentação clínica varia de formas assintomáticas,
hematúria microscópica e sindrome nefrítica clássica (hematúria macroscópica, proteinúria, edema, hipertensão
e lesão renal aguda). O prognóstico é favorável, principalmente em criança
• A GNPE é a principal causa de nefrite aguda em crianças mundialmente, principalmente nos países em
desenvolvimento. Ela acomete principalmente indivíduos entre 2 a 15 anos, sendo a piodermite mais comum nos
pré-escolares (2-6 anos) e piodermite nos escolares e adolescentes (6-15 anos)
• Patogênese:
◦Deposição de complexos imunes circulantes com componentes antigênicos estreptocócicos
◦Formação de complexos imunes in situ secundário a deposição de antigenos estreptocócicos na membrana
basal glomerular (MBG) e subsequente ligação do anticorpo
◦Formação de complexos imunes in situ promovida por anticorpos contra antigenos estreptocócios que
promovem reação cruzada com componentes glomerulares (mimetismo molecular)
◦Reação autoimune: em alguns pacientes, são detectados depósitos glomerulares de anti-IgG, anticorpos
anti-DNA, anticorpos anti-Cl. ANCA e fator reumatoide
• Manifestações clínicas: a maioria das crianças são assintomáticas. Naquelas que apresentam sintomas, os mais
comuns são:
◦Edema: anasarca está presente em 2/3 dos pacientes devido a retenção de sódio e água. Em casos
graves, pode haver edema pulmonar
◦Hematúria macroscópica: a urina tem aparência escura ou de coca- cola
◦Hipertensão: é cauda pela retenção de sódio e água. A encefalopatia é incomum, mas uma complicação
severa
◦Hematúria microscópica: a hematúria é sempre presente na GNPE, podendo ser visível ou não
◦Oligúria: ocorre em ate 50% dos pacientes
• Exames laboratoriais:
◦Função renal: devido à queda da taxa de filtração glomerular (TFG). há um aumento dos níveis séricos de
creatinina
◦Sumário de urina: hematúria dismórfica, proteinúria e, em alguns casos, piúria
◦Complemento: na maioria dos pacientes, C3 e CH50 estão significantemente diminuídos, sendo que persiste
entre quatro e oito semanas
◦Strep-test: há elevação de anticorpos contra produtos estreptocócicos anti-estreptolisina (ASO), anti-
hialuronidase (AHase), anti-estreptoquinase (ASKase), anti-nicotinamida-adenina dinucleotidase (anti-NAD),
anti-DNAse B. Nas faringoamigdalites, normalmente o ASO está elevado, enquanto nas piodermites o
antiDNAse B está mais elevado
(Complicações)
• As síndromes nefríticas rapidamente progressiva ou crônica levam à perda irreversível da função renal,
embora esse curso possa ser retardado por diversas estratégias
• As síndromes nefríticas rapidamente progressiva e crônica podem levar à falência renal em semanas ou dias e
à consequente doença terminal renal
• Exemplos: Insuficiência Cardíaca Congestiva, Edema Agudo Pulmonar, Congestão Circulatório, Insuficiência Renal
Aguda e Encefalopatia Hipertensiva
(Tratamento Inicial)
• O tratamento depende da apresentação e da causa da síndrome nefrítica. Em geral, é necessário fazer o
controle da pressão arterial e do equilíbrio de sais e líquidos no corpo, o que se consegue respectivamente com
medicamentos anti-hipertensivos e diuréticos, além de uma dieta com restrição de sódio e proteínas até
recuperar a função renal. Havendo infecção bacteriana vigente, esse processo deve ser combatido com
antibióticos adequados e no caso de doenças auto-imunes, utilizam-se corticosteróides e imunossupressores
• Em alguns casos, pode ser necessário realizar uma biópsia do rim para identificar a causa ou mesmo fazer o
planejamento terapêutico. Uma vez que a síndrome nefrítica crônica representa uma evolução de outras
doenças dos rins, não é possível preveni-la quando as estruturas renais internas já foram comprometidas
• O importante é procurar evitar o mal que lesa originalmente os glomérulos, o que igualmente pode ser bastante
difícil, pois, na maioria dos casos, as glomerulonefrites têm transtornos imunológicos em sua origem. Contudo,
como as respostas imunes anormais são muitas vezes desencadeadas por infecções e por outras doenças, duas
medidas parecem vitais para a manutenção da saúde renal: a primeira inclui cuidados com a saúde em geral para
evitar infecções de toda sorte, o que passa por alimentação equilibrada, ingestão adequada de líquidos, bom sono,
prática de atividade física e manutenção de hábitos saudáveis, entre outras estratégias do gênero; já a segunda
recomendação consiste simplesmente no tratamento adequado de doenças infecciosas e infecções bacterianas
• Por incrível que pareça, muita gente ainda interrompe terapêuticas com antimicrobianos quando os sintomas
desaparecem, o que não só pode provocar uma recaída, como também tornar os micróbios resistentes aos
medicamentos adequados para combatê-los. E quanto mais esses agentes permanecem no organismo, maior a
chance de provocarem reações imunes anormais