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A Nefropatia por IgA (NIGA) é definida por deposição mesangial de IgA acompanhada por
glomerulonefrite (GN) mesangial proliferativa.
Epidemiologia
O pico de incidência se entre na segunda e terceira décadas de vida, com uma frequência de
2:1 nos homens.
Apresentação Clínica
Mais comum na segunda e terceira décadas de vida e responde por cerca de 40% das formas
clínicas da NIGA. Geralmente a urina se apresenta marrom (cor de coca-cola). Pode apresentar
dor lombar secundário a edema da cápsula renal.
A hematúria ocorre geralmente após episódio de infecção (vias aéreas ou TGI) ou por exercício
intenso. O processo leva cerca de 24 horas após o início dos sintomas infecciosos, o que
diferencia em relação a GNPE (cerca de 2-3 semanas).
Geralmente é detectada por testes de rotina, cursa em cerca de 40% dos casos de NIGA.
Pode estar presente proteinúria. É raro o paciente ter proteinúria e não ter hematúria.
Síndrome Nefrótica
Outras Apresentações
Depósito mesangiais de IgA podem ser secundários a outras doenças, e indistinguíveis da NIGA
primária.
A forma secundária mais comum é associada a doença hepática, principalmente doença por
álcool. É atribuído a diminuição do clearance de IgA pelo fígado. A maioria dos pacientes não
tem manifestações clínicas renais, apenas a hematúria microscópica.
A doença celíaca também está associada a NIGA, a gliadina estimula a produção de IgA. O
glúten funcionaria como um ativador da gliadina, devendo então evitar a ingesta de glúten.
Diagnóstico
IgA sérico elevado é encontrado em até 50% dos pacientes, porém não se correlaciona com a
gravidade e atividade da doença.
Patologia
Microscopia Ótica
Imunofluorescência
Outras imunoglobulinas podem estar presentes, como IgG e IgM. C3 também pode estar
presente.
Microscopia Eletrônica
Pode apresentar alterações na MGB, que estão mais associadas a proteinúria importante e
crescentes.
D: depósitos densos no mesângio de IgA.
Patogênese
IgA é a forma mais abundante de imunoglobulinas no organismo, é composta por duas formas
isoméricas (IgA1 e IgA2).
A IgA1 possui uma região que se liga a galactose. Em alguns casos, essa ligação é deficiente
formando uma imunoglobulina mais com maior peso molecular que é mais fácil de ser
depositada no mesângio e ativar inflamação local (IgA1 deficiente em galactose).
Genética
Nefropatia por IgA é uma doença poligênica complexa. Está associado com polimorfismo do
complexo principal de histocompatibilidade, ligado a várias doenças autoimunes.
A NIGA tem potencial para cronificar e levar o paciente para DRT em 25 anos em até 25% dos
casos.
Fatores Prognósticos
Pior prognóstico: idade, gravidade da proteinúria, hipertensão, ↓ TFG, IMC ↑, ↑ ácido úrico,
crescentes, esclerose glomerular, atrofia tubular, fibrose intersticial, M1, E1, S1 e T2.
Tratamento
Condutas Gerais
Redução da proteinúria com bloqueio do SRAA e controle da hipertensão (< 130 x 80 mmHg).
O uso de óleo de peixe não tem evidências fortes de benefício, mas podem ser usados com
poucas chances de causar algum dano.
Quando o paciente atinge uma TFG < 30-50 mL/min/1,73 m2 o uso de imunossupressores deve
ser evitado, a não em casos de GNRP.
Corticoide
KDIGO sugere uso de corticoide quando a proteinúria se mantem acima de 1 g/24 horas, após
3-6 meses de terapia otimizada de IECA/BRA e pacientes com TFG > 50 mL/min/1,73 m 2.
Estudo de 2015, uma reavaliação do VALIGA (estudo que validou a classificação de Oxford),
demonstrou aumento de sobrevida renal para tratar pacientes com TFG entre 30-50
mL/min/1,73 m2.
Vários esquemas podem ser usados, até o momento nenhum apresentou melhor nível de
benefício. Geralmente é optado por o esquema oral pois apresenta menos chance de evoluir
com osteonecrose da cabeça do fêmur.
Micofenolato de Mofetila
Três estudos avaliaram o efeito do MMF na NIGA, porém apenas em um e após 6 anos de uso
foi visto uma sobrevida renal. E temos que lembrar dos efeitos colaterais do MMF.
Sob a atual luz do conhecimento, o MMF não tem indicação certa na NIGA.
Ciclofosfamida
Nenhum estudo mostrou melhora da NIGA em pacientes que fizeram uso de CCF, não sendo
recomendado pelo KDIGO atualmente.
Azatioprina
Tratamento de suporte para NTA. Hematúria gerou obstrução tubular e deve se recuperar.
Reservado para pacientes com > 50% dos glomérulos com crescentes, hematúria, piora da
função renal clínica e sem sinais de cronificação.
Síndrome Nefrótica
Se início abrupto avaliar se não está associada a lesão mínimas. Caso esteja, o KDIGO sugere o
tratamento com corticoide (mesmo tratamento para lesão mínima isolada), desde que a única
característica da NIGA seja o deposito mesangial de IgA.
A recidiva da IgA após transplante é comum e pode ocorrer em até 50% dos pacientes em 5
anos. Porém é raro estes pacientes evoluírem com perda da função do enxerto renal (10% em
10 anos).
A recidiva parece ser mais frequente em pacientes que recebem o transplante de doadores
vivos.
Não existe nenhum dado na literatura que sugira qual o tipo de imunossupressão é melhor
para evitar recidiva.