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NEFRÍTICA, NEFRÓTICA, SHU


SÍNDROME NEFRÍTICA:
• GNDA-Pós- estreptocócica: protótipo da síndrome nefrítica na infância;
• Caracterizada por: Hematúria, oligúria, edema, hipertensão arterial;
• C3 baixo, C4 costuma estar normal;
• Tratamento: suporte. ATB não altera/ previne quadro de GNPE, serve para erradicar cepa nefritogênica;
• Complicações, devido congestão: cardiopulmonares, neurológicas e renais- avaliar diurético de alça;
• Biópsia: > 4 semanas: HAS, hematúria MACROscópica, alteração de função renal, proteinúria nefrótica| >
8 semanas: hipocomplementenemia.

SÍNDROME NEFRÓTICA:
• Proteinúria maciça: ≥50 mg/Kg/dia; ≥40 mg/m²/h; Relação P/C > 2 mg/mg (amostra isolada de urina);
• Primária ou idiopática em 80-90% casos na pediatria: LHM é a mais comum;
• Características: Proteinúria maciça + hipoalbuminemia+ edema + hiperlipidemia;
• Se: 1-10 anos, com síndrome nefrótica e complemento normal: condução como LHM! Demais casos,
considerar biópsia renal;
• Mais propensos a: infecção (PBE por Pneumococo), dislipidemia e hipercoagulabilidade;
• Tratamento: Suporte/ detecção e manejo de complicações e corticoterapia. Albumina: se anasarca/
edema genital/ choque.
SHU:
• Anemia hemolítica microangiopática + Trombocitopenia+ LRA;
• Causa mais comum na infância: E. coli produtora de toxina Shiga (STEC- SHU).

1. SÍNDROME NEFRÍTICA
• Decorre da Inflamação dos glomérulos; 1.2 Clínica e propedêutica:
• Apresentação típica do quadro agudo:
1.1 Classificação: • Hematúria (geralmente o enunciado traz
• Temporal: Aguda ou crônica; macroscópica);
• Etiologia: Primária ou secundária (a secundária • Oligúria;
tem maior relevância prática e acadêmica): • Edema;
• Hipertensão arterial;
Primária: Secundária:
• Proteinúria de grau variável;
• Azotemia.
Doença antimembrana Glomerulonefrite pós
basal glomerular estreptocócica • Exames laboratoriais:
Glomerulonefrites pós • Urina I com pesquisa de dismorfismo
Glomerulopatia do C3 infecciosas eritrocitário e microscopia urinária com
PHS, nefrite lúpica, outras cilindros hemáticos;
Nefropatia por IgA doenças reumáticas • Relação Proteína/Creatinina em amostra de
Glomerulopatia urina;
membranosa Neoplasias
• Creatinina, ureia ou cistatina C (pesquisar lesão
Glomerulonefrite renal aguda - LRA).
crescêntica idiopática Wegener e Churg-Strauss
• Estabelecida a LRA, vigiar eletrólitos séricos e
gasometria venosa;
• Síndrome nefrítica na pediatria deve alarmar a • Hemograma, PCR, VHS (pensando em infecção e
suspeita para as causas mais comuns na infância, quadros reumatológicos);
isto é, as pós-infecciosas (Glomerulonefrite • Complemento total e frações (CH50, C3 e C4 →
aguda pós-infecciosa), sendo o protótipo pensando em GNPE e nefrite lúpica);
a Glomerulonefrite difusa aguda pós- • ASLO, antiDNAseB, antiestreptoquinase, anti-
estreptocócica. hialuronidase (pensando em quadro pós-
estreptocócico);
• Nefropatia por IgA é a glomerulopatia cosmopolita • Faringites: principalmente ASLO.
mais prevalente; • Piodermites: principalmente anti-DNAse B.

Maria Júlia Carvalho de Souza - mariajucarvalhodesouza@gmail.com - 06616963594-921


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2 ESPECIALIDADES: NEFROLOGIA

• FAN; anticorpos antinucleares, anti-DNA • e. Microscopia eletrônica com depósitos de C3 e


(importantes quando lúpus faz parte da IgG em destaque (setas azuis).
hipóteses diagnósticas);
• Anca-c, Anca-p (pensando em vasculites); • Ativação do sistema complemento → via
• Sorologias (pesquisa de outras etiologias); alternativa com C3 reduzido e C4 geralmente
• Biópsia renal (em casos selecionados.). normal.

• GNDA-PE: • Cadeia de eventos na doença:


• Introdução: Trata-se de uma das complicações • Processo inflamatória glomerular > redução
não supurativas da infecção por cepas TFG > manutenção reabsorção tubular de
nefritogênicas do Estreptococos β-hemolíticos sódio e água + manutenção da ingestão
do grupo A. hidrossalina > balanço positivo com expansão
de volume circulante efetivo > gera congestão
Observação: outra complicação não supurativa cardiocirculatória e hipertensão arterial >
pela infecção do Estreptococos beta-hemolíticos em quadros mais graves, pode evoluir para
do grupo A é a Febre Reumática. Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), edema
agudo de pulmão (EAP), crise hipertensiva e
• Ocorre após infecção da orofaringe ou da pele; LRA.
• Relevante em países subdesenvolvidos;
• Frequente entre 5-15 anos, sendo rara antes Processo inflamatório glomerular

dos 2 anos;
• Predomínio meninos (2:1).

• Etiofisiopatogenia: Redução TFG


• Não é completamente elucidado;
• Evidências sugerem caráter imunológico:
Questiona-se qual o antígeno estreptocócico
nefritogênico envolvido com a doença e Manutenção reabsorção tubular Na/H20
destacam-se: NAPlr (receptor de plasmina
estreptocócica associada a nefrite). SpeB
(exotoxina B pirogênica estreptocócica).
Formação de Imunocomplexos in situ.
Manutenção ingestão hidrossalina

Balanço positivo

Expansão volume circulante efetivo

Congestão cardiocirculatória e HA

ICC, EAP, crise hipertensiva, LRA.

Fonte: Inoue D, Oda T, Iwama S, Hoshino T, Mukae M, Sakai T, Kojima


A, Uchida T, Kojima T, Sugisaki K, Tomiyasu T, Yoshikawa N, Yamada M.
Thrombotic microangiopathy with transiently positive direct Coombs • Clínica:
test in an adult with poststreptococcal acute glomerulonephritis: a • Incubação da glomerulonefrite:
case report. BMC Nephrol. 2022 Feb 5;23(1):56. doi: 10.1186/s12882-
022- 02684-z. PMID: 35123445; PMCID: PMC8818228. • Após faringite: 1-2 semanas;
Na imagem: • Após piodermite: 3-6 semanas.
• a. Glomérulo ingurgitado, com presença de células • Espectro de manifestação: Desde hematúria
neutrofílicas; microscópica assintomática até hematúria
• d. Imunofluorescência com depósitos de C3 e IgG; macroscópica e complicações graves.

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NEFRÍTICA, NEFRÓTICA, SHU 3

Evidência de
Síndrome infecção
nefrítica C3 baixo
estreptocócica
aguda prévia
Hematúria microscópica Hematúria macroscópica Tríade.
assintomática e complicações graves

• Atentar aos diagnósticos diferenciais que


podem justificar C3 baixo.

• Clínica detectada é a de síndrome nefrítica • Indicações de biópsia renal:


clássica (GNPE é o protótipo da doença):
• Quadros de GNRP (glomerulonefrite
rapidamente progressiva);
• Edema (principal manifestação); • Hipertensão Arterial (HA), hematúria
• Hematúria micro ou macroscópica; macroscópica e alteração da função renal
• Oligúria; persistentes por mais de 3-4 semanas;
• Hipertensão. • Proteinúria significativa por mais de 6 semanas
ou de caráter nefrótico por mais de 4 semanas;
Hematúria Hipertensão
• Hipocomplementemia persistente por mais de 8
semanas.
Oligúria Edema
• Tratamento:
• Suporte. Não há tratamento específico.
• Complicações: • Foco em monitorar, prevenir e manejar
• Renal: lesão renal aguda; complicações;
• Associa-se a distúrbios hidroeletrolíticos • Repouso relativo;
e ácido-base, congestão, necessidade de • Restrição hídrica: 20 mL/kg/dia ou 300-400 mL/
terapia de substituição renal. m2/dia + perdas (até melhora do edema).
• Dieta assódica/ hipossódica;
• Cardiopulmonar: ICC, EAP; • Manejo da HA quando não controlada pelas
• Suspeita-se quando há dispneia, ortopneia, medidas anteriores: Preferência VO: Diuréticos
tosse, alteração da ausculta pulmonar, de alça, tiazídicos, BCC; Se emergência: via
hepatomegalia. parenteral (nitroprussiato de sódio); Cuidado
com IECA/ BRA, pois podem piorar a
• Neurológicas: encefalopatia hipertensiva, função renal.
Posterior reversible encephalopathy syndrome
(PRES); Obs: Avaliar a necessidade de diálise mediante
• Paciente evolui com Cefaléia, alteração visual, refratariedade em relação às medidas já
alteração sensório, convulsão; empregadas para manejo das complicações.
• PRES geralmente tem lesão da substância
branca (evidenciada em RNM crânio,
geralmente em topografia occipital). • Antibioticoterapia: Não afeta história natural
da GNDA-PE; Objetivo: limitar a disseminação
• Evolução natural da doença: de cepas nefritogênicas; Opções terapêuticas:
• Fase aguda → regride em 6-8 semanas; penicilina e seus derivados (eritromicina,
• Edema: duração de 7-15 dias; se alergia).
• Normalização PA: 2-3 dias após melhora do
edema; • Prognóstico:
• Status basal da criança retorna ao normal com • Recuperação completa em 95% das crianças;
3-4 semanas do início do quadro; • Doença renal crônica é uma evolução que
• Hematúria macroscópica: regride em até 4 ocorre em menos de 2-5% dos afetados;
semanas. • Mortalidade: decorrência das complicações
• Hematúria microscópica pode durar 1-2 anos. e ausência de disponibilidade/ instituição do
suporte necessário;
• Diagnóstico: • A recidiva é rara.
• Clínico-laboratorial;
• Muito provável em criança com: • Take-home messages:
• Síndrome nefrítica aguda; • GNDA-PE: protótipo da síndrome nefrítica
• Evidência de infecção estreptocócica prévia; na infância;
• C3 baixo. • Síndrome caracterizada por: Hematúria, oligúria,

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4 ESPECIALIDADES: NEFROLOGIA

edema, hipertensão arterial. • Complicações a serem monitoradas/


• Evidência de infecção estreptocócica prévia/ manejadas: Cardiopulmonares, neurológicas e
período incubação compatível; renais.
• C3 baixo, mas, atentar aos diagnósticos • Antibiótico não altera ou previne quadro de GNPE;
diferenciais; • Memorizar as indicações de biópsia.
• Tratamento de suporte;

2. SÍNDROME NEFRÓTICA
2.1 Conceitos: 2.3 Etiologia:
• Doença glomerular associada à proteinúria maciça, • A principal etiologia é a síndrome nefrótica (SN)
caracterizada por: primária ou idiopática (expressiva maioria);
• Na urina 24h: ≥50 mg/Kg/dia; ≥40 mg/m²/h;
• Relação Proteína/Creatinina (P/C) > 2 mg/mg • Achados no perfil histopatológico do quadro
(em amostra isolada de urina). primário:
• A consequência da proteinúria maciça é a • Lesão histológica mínima (LHM) → mais
Hipoalbuminemia (< 2,5 mg/dL). comum;
• Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF);
2.2 Epidemiologia: • Glomerulonefrite proliferativa mesangial;
• Glomerulonefrite membranoproliferativa (tipos
• A maioria dos casos é primária ou idiopática (80- I, II e III);
90% na pediatria);
• Glomerulopatia membranosa;
• Maior acometimento dos pré-escolares;
• Glomerulonefrite crescêntica;
• Preferência pelo sexo masculino (2-3: 1).
• Esclerose mesangial difusa.
Outras Causas
(investigar especialmente diante de Representantes
uma primoinfecção)

Tipo finlandês (ausência de nefrina); Alport (biossíntese colágeno);


Genéticas/ hereditárias: Existem > 60 genes conhecidos envolvidos com a SN (NPHS1, NPHS2, WT1).

Sífilis, malária, tuberculose, varicela, hepatite B e C, HIV, endocardite infecciosa,


Pós- infecciosas: Epstein-Barr vírus, citomegalovírus, toxoplasmose, Streptococcus beta
hemolítico do grupo A, esquistossomose, etc

LES (lúpus eritematoso sistêmico), PHS (púrpura de Henoch Schonlein) , artrite


Reumatológicas: reumatoide, poliarterite nodosa, poliarterite granulomatosa (Wegener).

Linfoma de Hodgkin, linfoma não Hodgkin, leucemias, tumor de Wilms,


Neoplásicas: carcinoma de cólon, carcinoma broncogênico.

AINE, ampicilina, ouro, lítio, mercúrio, heroína, pamidronato, trimetadiona,


Drogas: mesalamine, interferon, penicilamina, captopril.

2.4 Etiofisiopatogenia:
• Podocitopatia → apagamento do prolongamento
• A proteinúria maciça decorre do aumento da dos podócitos, por meio de lesão/ mutação
permeabilidade da barreira de filtração glomerular, de proteínas (nefrina, podocina) na fenda
que pode ser gerado por diversos fatores que diafragmática, causando a proteinúria maciça.
levam à sua disfunção:
• Disfunção imune.
• Genético → ocorre em 20-30% das crianças
com SN. Pesquisar mutação num contexto de • Fatores circulantes → fator circulante secretado
SN corticorresistente (SNCR). Nos casos de pelos linfócitos T dos pacientes com LHM causa
SN monogênica o inicio do quadro costuma proteinúria maciça e fusão dos processos
ser precoce e o uso de corticoide ou podais. Como exemplo, o CD80 pode ser
imunomoduladores não é habitualmente efetivo, utilizado como biomarcador diagnóstico e
devendo-se pensar em outras alternativas
medidor da atividade da doença.
terapêuticas, como o transplante renal.

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Genética Podocitopatia Disfunção imune Fatores circulantes

Apagamento
20-30% crianças com SN; - Fator circulante - secretado pelos linfócitos T dos
prolongamentos
Pesquisa mutação para pacientes com LHM
podocitários: por meio
SNCR; → proteinúria maciça e fusão dos processos podais
lesão/ mutação proteínas
SN monogênica. - CD80: possível biomarcador de diagnóstico e atividade
(nefrina/ podocina...) fenda
da doença na LHM.
diafragmática.

2.5 Classificação: fita reagente por 3 dias consecutivos.


• Remissão parcial: redução da proteinúria em
• Quanto à etiopatogenia: ≥50% do valor basal ou P/C 0,2-2.
• Primária ou idiopática; • Ausência de remissão: falha em redução da
• Hereditária/ monogênica; proteinúria em ≥50% do valor basal ou P/C > 2
• Presença de mutação em um ou mais genes de forma persistente.
que codificam proteínas da barreira de
• Recidiva/ recaída: P/C > 2 ou proteinúria igual ou
filtração glomerular
maior a 3 cruzes por 3 dias consecutivos após
• Secundária.
remissão completa ou parcial.

• Quanto à idade de início: • A classificação se correlaciona com o prognóstico:


• Congênita: início < 3m; • Nos casos de SNCR e/ou GESF há maior
• Infantil: início 3- 12m; chance de evolução para falência crônica renal
• Na infância: início > 12m. e necessidade de terapia renal substitutiva
(diálise ou transplante).
• Quanto à histopatologia: LHM (mais relevante);
GESF; Outras.
2.6 Clínica e laboratório:
• Quanto às recidivas: Infrequente: 1 recidiva a cada • Tríade de achados clínico-laboratoriais:
6 meses ou 1-3 recidivas em 12 meses; Frequente: • Edema;
≥ 2 recidivas a cada 6 meses ou ≥ 4 recidivas em • Hiperlipidemia;
12 meses . • Hipoalbuminemia.

• Quanto à resposta ao corticoide: • Edema:


• Corticossensível: remissão completa da doença • Sintoma de apresentação mais comum;
após 4-8 semanas do uso do corticoide em • Instalação insidiosa, depressível, frio, sujeito à
dose padronizada. ação da gravidade;
• Corticorresistência: ausência de remissão
da doença após ≥4-8 semanas do uso do • 2 teorias para sua ocorrência:
corticoide em dose padronizada. • “Hipofluxo” ou “enchimento deficiente”:
• Corticodependência: 2 recidivas consecutivas a proteinúria causa hipoalbuminemia, e,
durante a corticoterapia ou nos primeiros 14 consequentemente, em diminuição da pressão
dias da suspensão do corticóide. oncótica. O líquido extravasa para o interstício.
A hipovolemia estimula o sistema renina
• Quanto à evolução: angiotensina aldosterona (SRAA) e ocorre
• Remissão completa: P/C < 0,2 (ou < 0,5 se <2 retenção secundária de sódio.'
anos) ou proteinúria menor que uma cruz em

Proteinúria Líquido para Retenção 2ária


Hipoalbuminemia ↓ p oncótica SRAA
maciça interstício de Na

• “Hiperfluxo” ou “transbordamento”: inicia com volume intravenoso. O líquido extravasa para o


retenção primária de sódio (por resistência interstício e ocorre a formação do edema.
ao peptídeo natriurético atrial) e aumento do

Líquido para
Retenção 1ária de Na ↑ volume IV Edema
interstício

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Obs: O edema pode evoluir para derrames medicação imunossupressora. Principais


cavitários e anasarca, e manifestar taquipneia (por agentes envolvidos: Pneumococo e gram
afecção pulmonar ou limitação por ascite). negativo;

• O edema pode evoluir para derrames cavitários e • Destaque: Peritonite bacteriana espontânea:
anasarca; • Desejável: Paracentese com celularidade,
• Anasarca: lembrar de ascite e edema genital; gram e cultura; Diagnóstico: ≥250
• Taquipneia por afecção pulmonar ou limitação da polimorfonucleares/ mm³;
expansão torácica por ascite. • Lembrar: os agentes são Pneumococo e gram
negativos.
• Urina: • Tratamento: cefalosporina de terceira geração EV.
• Espumosa (decorre da proteinúria). • Hipercoagulabilidade:
• Perda urinária de antitrombina III, proteína S e
• Pressão arterial: plasminogênio;
• LHM: normal ou hipertensão transitória; • Trombocitose; aumento dos fatores V, VII, VIII, X,
• GESF: hipertensão mais importante (pode XIII;
ser necessário controle pressórico com • Hemoconcentração; uso indiscriminado de
medicação). diuréticos;
• Cateter Venoso Central - CVC; imobilização..
2.7 Laboratório: • Renais:
• Lesão renal aguda e até falência crônica em
Exame: Alterações: alguns casos;
Proteinúria. Em 25% dos pacientes
• Atentar para DHE e DAB.
Urina I com LHM há hematúria, geralmente • Neurológicas:
microscópica. Cilindrúria relacionada
às perdas proteicas e lipidúria.
• Tromboembolismo cerebral e do seio venoso
cerebral:
Proteinúria nefrótica ou > 3+ na fita
• Suspeitar quando evoluir com cefaleia,
Amostra de reagente. O ácido sulfossalicílico a vômitos, letargia, crise convulsiva, alteração
urina ou Urina 10% e as fitas reagentes (dipstick) são do nível de consciência, hemiparesia,
24h alternativos e úteis, especialmente no
acompanhamento ambulatorial. papiledema e paralisia do sexto par craniano
• Miscelânia:
Hipoalbuminemia e aumento da • Anemia refratária;
fração alfa-2. IgG, apresenta-se
muito baixa na LHM, bem como a • Hipotireoidismo;
Eletroforese IgA. IgM encontra-se elevada. IgE • Hipovitaminose D;
de proteínas
plasmáticas
pode estar aumentada. Ocorre
hipogamaglobulinemia na SNI. • Decorrentes do tratamento: obesidade;
Hipergamaglobulinemia pode ser alteração do crescimento.
indicativa de patologia secundária
subjacente.
2.9 Diagnóstico:
Colesterol total, triglicérides e
Lipidograma lipoproteínas estão elevados • Em crianças de 1-10 anos, com síndrome nefrótica
clássica e complemento normal, o diagnóstico
Normal na LHM e na GESF;
Hipocomplementenemia é indicação está estabelecido. Estas devem ser consideradas e
formal para Biópsia Renal, pois está tratadas como portadoras de LHM, mesmo sem a
Complemento presente no LES, na glomerulonefrite
membranoproliferativa, na biópsia renal.
glomerulonefrite crescêntica e na
nefrite do shunt.
Indicações de Biópsia renal na
Sorologias e outros exames guiados síndrome nefrótica idiopática:
Busca de causas por suspeição diagnóstica (anamnese,
secundárias epidemiologia) Idade < 1 ano ou > 10 anos
(alguns recomendam > 16 anos);
Hemograma, função renal, ionograma,
Outros exames de imagem, paracentese, Hematúria macroscópica ou
culturas. hematúria microscópica persistente;
Hipertensão grave;
2.8 Complicações: Hipocomplementenemia;

• Infecciosas: Disfunção renal;


• Maior risco de infecção devido à Sintomas extrarrenais (exantema, púrpura);
hipogamaglobulinemia, perda urinária IgG,
Síndrome nefrótica corticorresistente;
hipoalbuminemia, redução de fatores da
via alternada do complemento, redução Avaliação de potencial nefrotoxicidade
dos inibidores de calcineurina.
transferrina, déficit de opsonização, uso de

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2.10 Tratamento: • Situações especiais (conhecimento de


especialistas).
• Situações de edema/ PA elevada: • SN recidivantes frequentes ou córtico-
• Considerar dieta assódica/ hipossódica. dependentes: Ciclofosfamida, ciclosporina,
tacrolimo, micofenolato, levamisole
• Diante de sinais de hipovolemia (taquicardia, (imunomodulador).
hipotensão, hemoconcentração, redução de fração
de excreção de sódio - FeNa - (< 0,2-0,5%)):
• SN cortico- resistentes: 1ª linha: inibidores
• O paciente pode se beneficiar de volume: da calcineurina; Alternativas: micofenolato e
• Alíquota de 10-20mL/ Kg de SF 0,9%; rituximabe (carece mais evidências).
• Considerar a administração de albumina.
• SN monogênica: Não se beneficiam
• Ausência de hipovolemia, edema grave/ imunossupressores; Considerar
refratário:
Transplante renal.
• Administração de diuréticos com cautela.
• Na prática, mesmo sem sinais de hipovolemia,
há redução da volemia arterial efetiva, de forma
2.11 Evolução esperada do paciente:
que devemos evitar diuréticos quando possível. • Prognóstico depende de:
• Tempo para remissão da doença;
• Se anasarca/ edema volumoso persistente: • Resposta ao CE (80-90% são sensíveis aos CE);
• Considerar a administração de albumina. • Frequência de recidivas.
• Corticoterapia (tratamento específico): • Recidivas:
• Indução de remissão: Prednisona ou • 80% dos casos apresentam recidiva,
prednisolona diária (60 mg/m² ou 2 mg/kg/ principalmente nos primeiros 12 meses após
dia; máximo de 60 mg/dia dose única) por 4-6 quadro inicial;
semanas; • As recidivas diminuem com o passar do tempo.
• Após a remissão: 40 mg/m² ou 1,5 mg/kg em • Mortalidade:
dias alternados em dose única pela manhã • Quando ocorre, é decorrente de processos
(máximo de 40 mg/dia) por 2-5 meses com infecciosos, na maioria das vezes.
redução gradual da dose;
2.12 Take-home messages:
• Se recidiva nos 6 meses iniciais do tratamento: • Proteinúria maciça: ≥50 mg/Kg/dia (urina 24h);
pesquisar falha de adesão e voltar a usar o
≥40 mg/m²/h (urina 24h); Relação P/C > 2 mg/mg
esquema diário de corticosteroide (CE) até
(amostra isolada de urina).
obter 3 dias consecutivos de nova remissão e, a
seguir, reintroduzir o CE em dias alternados;
• Primária ou idiopática: 80-90% na pediatria. LHM:
mais comum.
• Se resistência: pode-se tentar pulsoterapia com
metilprednisolona, especialmente se dúvida
• SN = Proteinúria maciça + hipoalbuminemia +
quanto à adesão terapêutica;
edema + hiperlipidemia.

• Prolongar o uso de CE por mais de 8-12 • Abre quadro entre 1-10 anos, com síndrome
semanas não traz benefícios em médio e longo nefrótica e complemento normal → condução
prazo. A tendência atual é realizar o menor como LHM; Demais casos, considerar biópsia renal.
período possível;
• Mais propensos a: infecção, dislipidemia e
• Atentar aos efeitos adversos da terapêutica: hipercoagulabilidade.
Atraso no crescimento, ganho de peso, aumento
de pressão arterial, alteração da densidade • Tratamento: Suporte/ detecção e manejo de
mineral óssea, catarata. complicações; Corticoterapia.

• 80-90% das crianças com SNI respondem bem


ao corticóide.

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8 ESPECIALIDADES: NEFROLOGIA

3. SÍNDROM HEMOLÍTICO URÊMICA


3.1 Conceitos:
• Trata-se de uma microangiopatia trombótica, caracterizada pela tríade: anemia hemolítica microangiopática,
trombocitopenia e lesão renal aguda.

Anemia hemolítica microangiopática Trombocitopenia Lesão renal aguda

3.2 Etiologia:
• SHU desencadeada por infecção pelo
• Infecção, genética (SHU atípica, não diarreica), Streptococcus pneumoniae produtor de
induzida por medicação e associada a doenças neuraminidase:
sistêmicas; • Durante a infecção aguda, que se manifesta
tipicamente na forma de pneumonia com
• SHU em pediatria: empiema.
• 85-90% decorre da STEC- SHU (SHU causada
por Escherichia coli produtoras da toxina Shiga); 3.3 Patogênese:
• 5-10% são SHU atípica;
• 5% são SHU associada à infecção • Lesão microvascular com danos das células
pneumocócica. endoteliais (característica de todas as formas de
SHU).
• Causa mais comum na infância: E. coli produtora
de toxina Shiga (STEC- SHU): • SHU associada à diarreia: E. coli produtora de
• Causa importante de LRA em crianças menores toxina Shiga > causa danos diretos às células
que 3 anos; endoteliais + ativação plaquetária, formando
• O Sorotipo de maior importância no nosso meio microtrombos > diminuição da taxa de filtração
é o O157: H7. glomerular (TFG) nos glomérulos.

Produção Shiga toxina Dano direto céls. endoteliais + ativação plaquetária Glomérulos: ↓ TFG

• Trombocitopenia: Decorrente de consumo por podem se sobrepor);


agregação plaquetária progressiva na área de • Maior parte ocorre como disenteria (sangue,
lesão microvascular. muco, pus);
• Após o pródromo de gastroenterite (GE), o
• Anemia hemolítica microangiopática: paciente evolui com palidez, astenia, letargia,
• Decorrente de lesão mecânica dos eritrócitos irritabilidade e oligúria.
quando passam pela microvasculatura lesada e • Status volêmico: Se SHU sobreposta à GE:
trombótica. hipovolemia pode ocorrer; Se SHU com
• Isto é, não é por mecanismo imunomediado; predomínio de LRA: sobrecarga de volume.
• Coombs Direto seja negativo (exceto na SHU • SHU associada à infecção por pneumococo:
associada à infecção por pneumococo, quando SHU + quadro infeccioso por pneumococo
o Coombs é positivo). (pneumonia, empiema e bacteremia).
• Espectro de gravidade: Varia de
3.4 Clínica e laboratório: oligossintomática até doença multissistêmica
grave e fatal. Não há evidências sólidas de como
• Maior ocorrência em Pré-escolar e escolar; predizer gravidade, mas, sugere-se má evolução
• SHU associada à diarreia: quando há: Leucocitose; Enterite prodrômica
• Ocorre 2-13 dias após a gastroenterite (quadros grave; Hiponatremia; Uso de antibiótico.

ALTERAÇÕES LABORATORIAIS ESPERADAS NA SHU:


Exames: Alterações:
Hemograma Anemia e plaquetopenia (ou queda > 25% do número de plaquetas em relação ao basal).
Esfregaço de sangue Esquizócitos.
Reticulócitos Aumentados (+ tardio).
Coombs direto Negativo (exceto se SHU por infecção pneumocócica).

Maria Júlia Carvalho de Souza - mariajucarvalhodesouza@gmail.com - 06616963594-921


ESP

NEFRÍTICA, NEFRÓTICA, SHU 9

Exames: Alterações:
Bilirrubinas BI e BD podem estar elevadas.
DHL > 2 vezes o valor de referência.
Haptoglobina Abaixo do valor de referência.
Função renal Elevação de ureia e creatinina.
Urina I Hematúria, leucocitúria, proteinúria e presença de cilindros.
Coprocultura ou PCR Positivo (não é critério obrigatório).
shigatoxina nas fezes.
Atividade normal na SHU.
ADAMTS 13 Baixa na púrpura trombocitopênica trombótica

3.5 Complicações: demonstrou benefício superior ao tratamento de


suporte na evolução da doença;
• Renais: LRA → DHE (destaque para hiperK), DAB,
sobrecarga hídrica e uremia.
• O tratamento objetiva o controle e a estabilização
das complicações da SHU; A resolução natural
• Cardiovasculares: Sobrecarga volume, hipertensão do quadro ocorre entre 2-5 semanas. Pode ser
e arritmias (por vezes secundárias aos DHE).
necessário suporte com:

• SNC: gravidade em ≤ 20% casos: Irritabilidade, • Transfusão de concentrado de hemácias:


letargia, amaurose, trombose microvascular
• Requerida pela maioria dos pacientes;
cursando com encefalopatia e convulsão.
• Indicada quando Hb é < 6 g/dL ou hematócrito
<18%, para evitar sobrecarga cardiopulmonar;
• Trato gastrointestinal: Colite, enterite isquêmica, • Não restaurar o nível de Hb normal, o que
perfuração, intussuscepção e pancreatite. poderia contribuir para hipertensão e
sobrecarga cardiopulmonar.
• Hematológicas: Anemia grave, plaquetopenia
intensa (apesar disso, eventos de sangramento • Transfusão de plaquetas:
graves são raros). • Rara a necessidade;
3.6 Diagnóstico: • Indicada se sangramento ativo ou antes de
• Realizado a partir da detecção da tríade clássica; procedimentos invasivos, quando plaquetas <
• Anamnese revela pródromo de gastroenterite ou 30.000/mm³.
infecção pneumocócica;
• Se história não revela itens acima, considerar a • Volemia:
investigação genética (SHU atípica), pelo risco de • Expansão hídrica: nos pacientes hipovolêmicos
recidiva e prognóstico desfavorável; para euvolemia e na tentativa de corrigir
• Biópsia renal tem papel reduzido na SHU. hipoperfusão renal;
• Na prática, é feita quando há suspeita de • Pacientes hipervolêmicos em virtude de oligúria
doença sistêmica associada. ou anúria: Restringir líquidos; Furosemida:
raramente reverte a anúria ou oligúria
progressiva; (Se houver resposta, dose de 2-4
3.7 Diagnóstico diferencial
mg/kg/dia pode ser mantida; Caso contrário,
• Coagulação intravascular disseminada (CIVD): não postergar a indicação de diálise.)
• Anormalidades de coagulograma presentes;
• Elevação de D-dímero e produtos de • Manejo DHE e DAB.
degradação da fibrina.
• Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT): • TSR (terapia de substituição renal):
• Redução da atividade de ADAMTS-13. • Sem evidência de que diálise precoce favorece
• Vasculites sistêmicas: a evolução favorável da SHU;
• Sintomas sistêmicos presentes, como artralgia • Indicações:
e exantema; • Sinais e sintomas de uremia (náuseas,
• Tipicamente não têm pródromo diarreico. vômitos, sonolência, adinamia);
• Ureia > 80 mg/dL, se aumento progressivo;
3.8 Tratamento: Sobrecarga hídrica não responsiva à
furosemida;
• Tratamento da STEC-SHU é de suporte; • Distúrbios eletrolíticos importantes,
Nenhuma terapia testada até o momento principalmente hipercalemia e acidose
(incluindo plasmaférese, corticoide, eculizumabe)

Maria Júlia Carvalho de Souza - mariajucarvalhodesouza@gmail.com - 06616963594-921


ESP

10 ESPECIALIDADES: NEFROLOGIA

metabólica não controladas com terapia 3.10 Take-home messages:


medicamentosa;
• Provisão de nutrição adequada.
• SHU é caracterizada pela tríade:
• Anemia hemolítica microangiopática;
• SHU associada à infecção por pneumococo: • Trombocitopenia;
• Elevada mortalidade, de 11-13%; • LRA.
• Tratamento: Suporte + Antibioticoterapia -
início precoce reduz a mortalidade.
• Causa mais comum na infância: E. coli produtora
de toxina Shiga (STEC- SHU):
• Pródromo de gastroenterite aguda.
3.9 Prognóstico:
• STEC-SHU: • Tratamento:
• Favorável, 60-70% dos casos tem recuperação • Suporte/ detecção e manejo de complicações;
completa da fase aguda. • Antibioticoterapia: se SHU associada à infecção
• Demais, apresentam sequelas decorrentes pneumocócica.
da LRA (HA, proteinúria, DRC). As sequelas
neurológicas são raras.
• Seguimento com nefropediatria.

Maria Júlia Carvalho de Souza - mariajucarvalhodesouza@gmail.com - 06616963594-921

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