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PERICARDITE AGUDA

A pericardite aguda é uma doença comum causada pela inflamação do pericárdio e representa 5% de todas
as causas de dor torácica na sala de emergência. Sua principal causa são as infecções virais, que representam
85% a 90% dos casos, embora também possa ser secundária a afecções sistêmicas e infecções bacterianas.

• Quadro clínico: na maioria dos pacientes é composto de pródromo viral com febre, mialgia e sintomas de
vias aéreas superiores ou trato gastrointestinal. A seguir, surge quadro de dor torácica com característica
pleurítica, início súbito, de forte intensidade, que piora com a inspiração profunda e irradia para o pescoço e
membros superiores. A irradiação para o músculo trapézio é bastante sugestiva do diagnóstico e se deve à
íntima relação do nervo frênico – que inerva o músculo trapézio – com o pericárdio. Frequentemente, a dor
tem caráter postural, com piora em decúbito dorsal e melhora ao sentar.

• Exame físico: pode revelar paciente febril, com toxemia, taquicardia e propedêutica pulmonar sugestiva de
derrame pleural. O atrito pericárdico está presente em 85% dos casos e caracteriza-se por som rude,
irregular, melhor audível na borda esternal esquerda. Pode possuir caráter intermitente, por isso é importante
a realização de exame físico seriado.
• Diagnóstico: é realizado por meio dos critérios diagnósticos a seguir.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): as alterações típicas incluem supradesnivelamento do segmento ST com
concavidade para cima e infradesnivelamento de PR (Fig. 2). Tipicamente, há envolvimento mais frequente
das derivações DI, DII, aVF e V3-V6. Na evolução natural, quatro estágios são descritos:

Laboratório: leucocitose e elevação de PCR e VHS são comuns. A alteração dos marcadores de necrose
miocárdica (CK-MB e troponina) pode ocorrer por comprometimento miocárdico e deve sugerir o
diagnóstico de miopericardite. A realização de sorologias virais e cultura para vírus tem baixo rendimento
diagnóstico e não altera a conduta. As provas de atividade reumatológica, como FAN e FR, não devem ser
realizadas rotineiramente, mas apenas guiadas pela suspeita clínica de doença autoimune.
Radiografia de tórax: normal na maioria dos pacientes, entretanto aumento da área cardíaca pode ocorrer na
presença de derrame pericárdico > 200 ml ou nos casos de miopericardite com insuficiência cardíaca aguda.

• Ecocardiograma: importante para detectar a presença de derrame pericárdico, sinais de tamponamento ou


alterações de contratilidade segmentar. Está indicado em todos os casos em que há dúvida diagnóstica ou
sinais de comprometimento hemodinâmico.

• Tomografia computadorizada e ressonância magnética (RNM) cardíacas: devem ser indicadas nos casos
duvidosos por causa do alto custo e da baixa disponibilidade em nosso meio. Têm boa sensibilidade para
detecção de derrame pericárdico, avaliação da espessura do pericárdio e comprometimento do miocárdico. O
método mais sensível para detecção de pericardite aguda é a pesquisa de realce tardio pela RNM.

TRATAMENTO
• A maioria dos casos de pericardite aguda viral ou idiopática apresenta bom prognóstico, com curso
autolimitado. Entretanto, é importante que o médico esteja atento aos sinais de alto risco de complicações e
às evidências clínicas de etiologia não viral, que apresentam evolução e tratamento específicos.

SINAIS SUGESTIVOS DE ETIOLOGIA NÃO VIRAL


Anemia. • Emagrecimento. • Sudorese noturna. • Pneumonia bacteriana em tratamento. • Imunossupressão. •
IAM recente. • Neoplasia prévia. • Tuberculose prévia. • Doenças autoimunes. • Cirurgia cardíaca. •
Radioterapia.

MEDIDAS GERAIS
Anamnese e exame físico detalhados. – ECG, radiografia de tórax. – HMG, PCR, VHS, CK-MB, troponina.
– Ecocardiograma nos casos duvidosos, com alteração de marcadores de necrose ou com suspeita de
instabilidade hemodinâmica.

ANTIINFLAMATORIO NÃO ESTEREOIDAIS


Têm como objetivo o alívio dos sintomas, já que não alteram a história natural da doença. – Ibuprofeno na
dose de 300 a 800 mg, duas a três vezes ao dia, por 7 a 10 dias, com redução gradual da dose ao longo das
semanas seguintes e de acordo com a melhora dos sintomas e redução de PCR e VHS. Tem bom perfil de
segurança com poucos efeitos colaterais e efeito favorável no fluxo coronariano. – Em pacientes com DAC,
o ácido acetilsalicílico (AAS) é o agente de escolha. – A todos os pacientes, está indicada a proteção gástrica
com inibidores de bomba de prótons.

COLCHICINA
Testada no estudo COPE Trial (Colchicine for Acute Pericarditis). Trata-se de estudo prospectivo, aberto,
que selecionou 120 pacientes com primeiro episódio de pericardite aguda, divididos em dois grupos de
tratamento: 1) AAS e colchicina; 2) AAS sem colchicina. No grupo com colchicina, foram observadas
redução dos sintomas nas primeiras 72 horas e menor taxa de recidiva em 18 meses. – Colchicina 0,5 mg.
Iniciar com 1 a 2 mg no primeiro dia, seguido de 0,5 mg, duas vezes ao dia, por 3 meses. – Diarreia é
frequente. Cautela em pacientes com insuficiências renal e hepática, discrasias sanguíneas, distúrbios da
motilidade gastrointestinal e em uso de drogas metabolizadas pelo citocromo P450.

CORTICOIDE
Associado à melhora rápida dos sintomas à custa de aumento das taxas de recidiva, portanto seu uso precoce
deve ser evitado. – No COPE Trial, a prednisona aumentou em quatro vezes a chance de recidiva em relação
ao grupo sem corticoide. – Indicado nos casos de pericardite secundária a tuberculose, doenças autoimunes,
uremia ou processos autoimunes (pós-IAM, pericardite autorreativa). Pode também ser considerado nos
casos de pericardite viral ou idiopática com falha terapêutica ao uso de anti-inflamatórios não hormonais
(AINH). – Iniciar com 1 mg/kg por 7 dias, com redução gradual ao longo de 4 a 6 semanas.

ALGORITMO
SINAIS DE ALTO RISCO DE COMPLICAÇÃO
é importante que o médico esteja atento aos sinais de alto risco de complicações e às evidências clínicas de
etiologia não viral, que apresentam evolução e tratamento específicos.

Pulso paradoxal (é a queda da pressão arterial sistólica maior que 10mmHg durante a inspiração, que
decorre de uma redução da complacência ventricular esquerda).
. • Sinal de Kussmaul. • Derrame pericárdico moderado a importante. • Imunossupressão. • Uso de
anticoagulante oral. • Trauma torácico recente. • Pericardite recorrente. • Falha terapêutica após 7 dias de
tratamento.

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