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Processo Saúde-Doença

(Maria Paula Maia)

Esquistossomose
Doença parasitária conhecida como ‘’barriga d’água’’ ou ‘’doenças do caramujo’’
Agente etiológico: helminto Schistosoma Mansoni, um helminto pertencente à classe
dos Trematoda, família Schistosomatidae e gênero Schistosoma.

- Fisiopatologia
Quando o parasita é expulso junto com as fezes no ambiente aquático, ocorre a
eclosão dos ovos e liberação da forma ativa infectante do hospedeiro intermediário,
denominada miracídio. Os miracídios possuem uma afinidade por moluscos,
especialmente caramujo do gênero Biomphalaria. Após a penetração dos miracídios
no caramujo, tem início um complexo processo de alterações morfológicas que darão
origem as cercárias.
Após a penetração das cercárias na pele ou nas mucosas as cercárias desenvolvem-se
para uma forma parasitária primária denominada esquistossômulo. O
esquistossômulo migram através da corrente sanguínea para o fígado, local aonde se
evoluem para forma adulta, se tornando macho e fêmea adultos.
Depois desse tempo, migram para os ramos terminais da veia mesentérica inferior,
onde então nos vasos portais mesentéricos, ocorre a sobreposição da fêmea no canal
ginecóforo do macho e, consequentemente, a cópula, seguida de oviposição na
submucosa. Processo inflamatório - vasodilatação.
Os ovos são colocados na submucosa, e por uma série de fatores (mecânicos,
inflamatórios, enzimas proteolíticas), eles atingem a luz intestinal para liberação dos
ovos nas fases. Espiculo lateral auxilia no processo de sair nas fezes.
Ovos não eclodidos se direcionam ao fígado e causam uma reação no fígado do tipo
granulomatosa. O resultado é a formação de uma estrutura cicatricial fibrosa,
causando hipertensão portal.
- Morfologia
Macho: Mede cerca de 1cm, cor esbranquiçada, com tubérculos no tegumento.
Apresenta o corpo dividido em duas porções: anterior (ventosa oral e a ventosa
ventralacetábulo) e a posterior (canal ginecóforo, que fecunda a fêmea).
Fêmea: Mede cerca de 1,5cm, de cor mais escura (ceco com sangue sem digerido),
tegumento liso. Na metade anterior (ventosa oral, acetábulo, presença da vulva,
útero (com um ou dois ovos), e o ovário). A metade posterior é preenchida pelas
glândulas vitelogênicas (ou vitelinas) e o ceco.

Ovo: Mede cerca de 150 mc de comprimento por 60 de largura, sem opérculo,


formato oval e na parte mais larga apresenta epísculo voltado para trás. O ovo
maduro tem um miracídio visível pela transparência da casca e é encontrado nas
fezes.
Mirácidio: Forma cilíndrica, com 180 mm de comprimento por 64 mm de largura.
Tem células epidérmicas, onde se implantam os cílios, os quais permitem o
movimento no meio aquático. A extremidade anterior apresenta uma papila apical,
ou terebratorium, que pode se amoldar em forma de uma ventosa.
Cercária: Comprimento de 500 pm, cauda bifurcada medindo 230 por 50 pm e corpo
cercariano com 190 por 70 pm. Tem duas ventosas presentes, ventosa oral e a
ventosa ventral. É principalmente através desta ventosa que a cercaria fixa-se na pele
do hospedeiro no processo de penetração. Como a cauda é uma estrutura que irá se
perder rapidamente no processo de penetração, ela não apresenta órgãos definidos,
servindo apenas para a movimentação da larva no meio líquido.

- Patologia
Cercária: A chamada dermatite cercariana ou dermatite (processo
imunoinflamátorio) do nadador pode ocorrer quando as cercárias penetram na pele
do homem. A dermatite tem sensação de comichão, erupção urticariforme e é
seguida, dentro de 24 horas, por eritema, edema, pequenas pápulas e dor, sendo
mais intensa nas reinfecções.
Esquistossômulos: Podem ser encontrados nos vasos do fígado e, posteriormente, no
sistema porta intrahepático. Nessa fase, pode haver linfadenia generalizada, febre,
aumento volumétrico do baço e sintomas pulmonares.
Vermes adultos: Após a maturação dos vermes adultos, nos ramos intra-hepáticos do
sistema porta, migram para a veia mesentérica inferior.
Ovos: Ao chegar na luz intestinal, as lesões produzidas são mínimas, com reparações
teciduais rápidas; quando em grande número, podem provocar hemorragias, edemas
da submucosa e fenômenos degenerativos, com formações ulcerativas pequenas e
superficiais. Os ovos que atingem o fígado, lá permanecem e causam as alterações
mais importantes da doença. Os ovos secretam pelos poros antígeno solúvel que
provocarão a reação inflamatória granulomatosa, formando granuloma.

Os granulomas apresentam, durante o seu desenvolvimento, as seguintes fases:


1) fase necrótica-exsudativa: Aparecimento de uma zona de necrose em volta do ovo.
2) fase produtiva ou de reação histiocitária: Início de reparação da área necrosada
3) fase de cura ou fibrose: O granuloma, endurecido, é denominado nódulo. Em
seguida, poderá haver calcificação do ovo ou mesmo absorção e desaparecimento do
granuloma. Os granulomas podem apresentar-se em pontos isolados ou difusos no
intestino grosso e fígado. Essas lesões granulomatosas são as principais responsáveis
pelas variações clínicas e pelas complicações digestivas e circulatórias vistas.

- Quadro clínico
Pré-postural: Pode ser assintomática para alguns, enquanto outros podem se queixar
de mal-estar, tosse, dores musculares, podendo haver até quadros de hepatite aguda
causada pela destruição de esquistossômulos e hepatócitos.
No local da pele por onde a cercaria penetrou, há infiltrado de neutrófilos e
eosinófilos, podendo haver edema, pápulas, eritema. Já no pulmão, podem produzir
arterite, arteriolite e necrose.

Aguda: Essa fase é acompanhada de febre, sudorese, diarreia, disenteria, cólicas,


tenesmo, hepatoesplenomegalia discreta, leucocitose com eosinofilia, aumento
discreto das transaminases.
Ela é causada pela disseminação dos ovos, principalmente na parede do intestino. As
lesões hepatoesplênicas são causadas pela hipersensibilidade do hospedeiro aos
antígenos secretados pelo parasita. Baço e fígado: aumentados de tamanho; Fígado:
granulomas, focos de necrose; Sigmoide e reto: edema, eritema, hemorragias,
ulcerações; Vasculite obliterante; Pulmão: pode causar arterite necrosante; Outros
órgãos: granulomas depositados.

Crônica: a sua apresentação é muito variável.


Intestino: diarreia mucossanguinolenta (há passagem de muitos ovos de vez, o que
causa edema e irritação na mucosa, levando ao sangramento), dor abdominal e
tenesmo. Pode haver fibrose da alça retossigmoidea (onde há a maior deposição de
ovos), levando a constipação permanente.
Fígado: os sintomas aqui dependem da evolução do caso, pois quanto maior for o
número de ovos depositados, maior reação imune é desencadeada, afetando o fígado.
Os ovos se predem nos espaços portas, formando granulomas. Assim, há proliferação
do tecido conjuntivo que envolve esses vasos, formando uma bainha fibrosa e densa
ao redor dos vasos (eles perdem elasticidade). Essas bainhas, de aspecto cicatricial,
provocam retração da cápsula de Glisson e o fígado acaba tendo aspecto nodular,
cheio de protuberâncias. Há, portanto, na esquistossomose, há fibrose, e não cirrose.
Essa fibrose particular da esquistossomose é chamada de fibrose de Symmers ou
fibrose periportal. Esses granulomas acabam gerando obstrução dos ramos intra-
hepáticos da veia porta, tendo como principal repercussão a hipertensão portal, que
pode causar sintomas como: esplenomegalia (por hiperplasia do tecido linfoide
devido ao processo imunológico) e também por congestão passiva da veia esplênica,
que distende os sinusoides; Varizes: opta-se pela circulação colateral (através dos
shunts), na tentativa de compensar a circulação portal obstruída.
Assim, essa circulação colateral pode provocar varizes (as varizes esofágicas, por
exemplo, podem se romper gerando quadro grave de hemorragia). Ascite (barrida
d’água).
Forma pulmonar: Acesso dos ovos a circulação pulmonar (mais comum nos casos em
que houver hipertensão portal com circulação colateral) – Hipertensão pulmonar.
- Diagnóstico
Padrão ouro: Kato-Katz (quantificação de ovos) e USG.

- Tratamento
Específico: Prazinquantel e Oxamniquine. O Praziquantel na apresentação de
comprimidos de 600mg é administrado por via oral, em dose única de 50mg/kg de
peso para adultos e 60mg/kg de peso para crianças.
Medidas auxiliares: Betabloqueador para sintomas da hipertensão portal,
corticosteroides para neuroesquitossomose, ligadura de varizes para as varizes
esofágicas.

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