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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS


CURSO: BACHARELADO EM MEDICINA
DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA E MICROBIOLOGIA
DISCIPLINA: PARASITOLOGIA MÉDICA (DPM033)
PROFESSOR DR. REGINALDO RORIS CAVALCANTE

ESQUISTOSSOMOSE

Bárbara Nissara de Araújo França


Victor Hugo de Sousa Monteiro

Teresina, 2021
Schistosoma
mansoni
- introdução
- morfologia
- ciclo
- esporocistos
- cercárias
- esquistossômulos
- infecção
- período de incubação
- período de transmissibilidade
- suscetibilidade e imunidade

Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato.


Introdução e
aspectos gerais
Classificação: helminto

Classe: Trematoda

Família: Schistosomatidae

- nítido dimorfismo sexual


- parasita homens e animais

Descrito 1ª vez em 1852: parasita


intravascular

Schistosoma: corpo fendido (schito = fenda;


soma = corpo)

1907 - espécie Schistosoma mansoni

Londres - Sambon; Bahia - Pirajá da Silva

Helminto que produz ovos com esporão


lateral e vive em veias mesentéricas.
Schistosoma mansoni
Agente causador da esquistossomose mansoni
ou moléstia de Pirajá da Silva
Xistose, barriga d’água ou mal do caramujo.
África, Antilhas e América do Sul.
Brasil: maior região endêmica; única espécie.
Morfologia - macho
Tamanho: 1 cm

Cor: esbranquiçada

Tegumento: recoberto por tubérculos

Corpo:

Porção ANT: ventosa oral e acetábulo

Porção POST: canal ginecóforo,


esôfago, 7 a 9 massas testiculares.

Obs.: não possui órgão copulador.


Morfologia - fêmea

Tamanho: 1,5 cm
Cor: mais escura
Tegumento: liso
Corpo:
Porção ANT: ventosa oral e acetábulo;
vulva, útero (1-2 ovos) e ovário
Porção POST: glândulas vitelinas e ceco.
Morfologia - ovo
Tamanho: 150μm de comprimento

60μm de largura

Formato: oval com espículo voltado para trás

Obs.:

Ovo maduro é a forma encontrada nas fezes

Miracículo formado é visível no ovo maduro


Morfologia - miracídio
Tamanho: 180μm de comprimento
64μm de largura
Formato: cilíndrica
Células epidérmicas com cílios implantados
Terabratorium: glândulas adesivas e o tubo digestivo primitivo; cílios
maiores e espículos anteriores; terminações nervosas com função tátil e
sensorial.
Aparelho excretor: 4 selenócitos drenados para a ampola excretora,
termina no poro excretor.
Sistema nervoso primitivo que comanda a contratilidade e motilidade
50 a 100 células germinativas na porção ANT
Morfologia - cercária

Tamanho: 500μm de comprimento total


Cauda bifurcada: 230μm por 50μm
Corpo: 190μm por 70μm
2 ventosas:
ventosa oral: glândulas de penetração, 4 pares pré-acetabulares, 4 pares
pós-acetabulares, abertura conectada ao intestino primitivo.
Sistema excretor com células flama
Ciclo Biológico
Maturação sexual: 25 dias

35º dia: postura dos ovos na submucosa

1 semana para maturação p/ luz intestinal

Fatores de migração dos ovos:

- reação inflamatória
- bombeamento
- enzimas proteolíticas
- adelgaçamento dos vasos
- perfuração da parede venular
Ciclo Biológico
Vida média de 5 anos

Cerca de 400 ovos, 50% expelidos

No bolo fecal vivem de 1 a 5 dias

Fatores de liberação na água:

- temperatura mais alta


- luz intensa
- oxigenação da água

capacidade de penetração: 8h
Ciclo Biológico
Atração pelo molusco: detecção de
miraxone que estimula a concentração e
movimentação próximo ao caramujo
No tegumento do molusco:
- Assume forma de ventosa
- descarga do conteúdo das gl. adesão
- enzimas proteolíticas digere tecidos
Instalação no epitélio subtegumentar
Duração de 10 a 15 minutos
Ocorre perda de estruturas em 48h
Se torna um saco de paredes contendo
células germinativas = esporocisto
Esporocisto
Movimento amebóide reduz até imobilidade da larva
Poliembrionia esporocisto primário dobra tamanho
2ª semana: preenchimento por ramificações tubulares
Formação esporocistos secundários
- 14º dia
- entre 25° e 28°C
- reorganização formando septos
- 150 a 200 camadas
- poro de nascimento, cercárias, células embrionárias
Migração no 18º dia / Saída do esporocisto: 2 a 3 dias
Localização final: espaço intertubular da gl. digestiva
Esporocistos terciários
Cercária
Mórula com célula central contendo núcleo vesicular = origina gl. penetração
Células externas = origina fibras musculares longitudinais e circulares
Cutícula acelular e duas ventosas
Formação completa: 27 a 30 dias em 28°C e 1 miracídio (já contém sexo) = 300
mil cercárias
Migração: espaços intercelulares com hemolinfa e sist. venoso
Passagem: influenciada por luminosidade e temperatura
Gl. de escape: cercária intracaramujo
B. glabrata elimina até 4500 cercárias por dia / B. straminea elimina 400/dia
Vivem cerca de 36-48h com maior capacidade infectiva nas primeiras 8h
Esquistossômulos e Transmissão
Penetração ativa na pele e mucosa
Mucosa oral: ao ingerir água contaminada (ou destruídas pelo suco gástrico)
Pele: pés e pernas, fixam-se aos folículos pilosos com auxílio das ventosas
Entre 10h e 16h: luz solar e calor intenso
Migram pelo tecido subcutâneo
Sistema vascular sanguíneo - pulmão - sistema porta:
- via sanguínea (+ importante)
- intratecidual
Transformam-se em machos e fêmeas em 25 a 28 dias
Oviposição na veia mesentérica inferior
Locais de transmissão: peridomiciliar
Schistosoma
mansoni
- imunidade e suscetibilidade
- manifestações clínicas
- forma intestinal
- forma hepatointestinal
- forma hepática
- forma hepatoesplânica compensada
- forma hepatoesplânica descompensada
- diagnóstico diferencial
- diagnóstico laboratorial Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato.
- aspectos epidemiológicos
Imunidade e suscetibilidade
● Protetora ou concomitante: resistência adquirida contra reinfecções
○ resposta imunológica contra formas infectantes (cercárias)
○ mecanismos imunomoduladores da resposta granulomatosa
● Imunopatologia
○ doença decorrente da resposta inflamatória granulomatosa
○ antígenos secretados induzem resposta imunológica humoral e celular
● Imunodepressão
○ resposta imunológica comprometida
○ respostas humoral e celular diminuídas
○ maior suscetibilidade à viroses e bacterioses
● Imunocomplexos
○ produtos de excreção/secreção constitui antígenos
○ antígenos+imunoglobulinas+sistema complemento = reações inflamatórias
Manifestações Clínicas
● A maioria das pessoas infectadas pode permanecer
assintomática, dependendo da intensidade da infecção.
● Clinicamente, a esquistossomose pode ser classificada
em Fase final e Fase Tardia.
Manifestações Clínicas
● Fase Inicial:
● Penetração das cercárias através da pele.
● Manifestações alérgicas mais intensas nos indivíduos
hipersensíveis e nas reinfecções
● Coceira de nadador: micropápulas eritematosas e pruriginosas.
● Febre de Katayama: linfodenopatia, febre, cefaleia, anorexia, dor
abdominal e, com menor frequência, o paciente pode referir
diarreia, náuseas, vômitos e tosse seca.
● Ao exame físico, pode ser encontrado hepatoesplenomegalia. O
achado laboratorial de eosinofilia elevada é bastante sugestivo,
quando associado a dados epidemiológicos.
Manifestações Clínicas
● Fase Inicial:
Manifestações Clínicas
● Fase Tardia:
● A partir dos 6 meses de infecção a forma
crônica da doença passa a se manifestar.
● Sinais de progressão da doença são
originadas de diversas maneiras dependendo
da forma que o parasita se alojou em seu
hospedeiro.
Manifestações Clínicas
● Fase Tardia:
● As manifestações crônicas apresentam-se
mais comumente das seguintes formas:
● Intestinal
● Hepatointestinal
● Hepática
● Hepatoesplênica compensada
● Hepatoesplênica descompensada
Forma Intestinal
● É muito pouco usual a observação da forma
intestinal pura.
● Exame de fezes quase sempre positivo.
● Exame físico pouco elucidativo.
● Retossigmoidoscopia revela mucosa
intestinal edemaciada e congesta.
Ovos de Schistosoma
depositados no Colon
Sigmóide
Forma Hepática
● A apresentação clínica dos pacientes pode ser
assintomática ou com sintomas da forma
hepatointestinal.
● Na ultrassonografia, verifica-se a presença de
fibrose hepática, moderada ou intensa.
Forma Hepatointestinal
● Caracteriza-se pela presença de diarreias e
epigastralgia.
● Ao exame físico, o paciente apresenta fígado
palpável, com nodulações que, nas fases
mais avançadas dessa forma clínica,
correspondem a áreas de fibrose decorrentes
de granulomatose periportal ou fibrose de
Symmers.
Forma Hepatoesplânica Compensada
● a característica fundamental desta forma é a
presença de hipertensão portal, levando à
esplenomegalia e ao aparecimento de varizes
no esôfago.
● Os pacientes costumam apresentar sinais e
sintomas gerais inespecíficos, como dores
abdominais atípicas, alterações das funções
intestinais e sensação de peso ou desconforto
no hipocôndrio esquerdo, devido ao
crescimento do baço.
Forma Hepatoesplânica Descompensada
● Caracteriza-se por diminuição acentuada do estado
funcional do fígado.
● Formas mais graves de esquistossomose mansônica,
responsáveis por óbitos por essa causa específica.
● Os ovos do parasita tendem a migrar e se depositar na
veia porta, causando inflamação e obstrução da
passagem do sangue por fibrose.
● Sinal de Bogliolo, icterícia e telangiectasias.
Formas Ectópicas
● Existem, ainda, outras formas
clínicas: a forma vasculopulmonar,
a hipertensão pulmonar, verificadas
em estágios avançados da doença.

● Dentre as formas ectópicas, a mais


grave e mais frequente é a
neuroesquistossomose.
Diagnóstico laboratorial
● O diagnóstico laboratorial básico consiste na realização de exames
coprológicos, preferencialmente com uso de técnicas quantitativas de
sedimentação. Dentre elas, destaca-se a técnica de Kato-Katz, mais utilizada
pelos programas de controle.
● A ultrassonografia é de grande auxílio no diagnóstico da fibrose de Symmers
e nos casos de hepatoesplenomegalia. A biópsia retal ou hepática, apesar de
não indicada para utilização na rotina, pode ser útil em casos suspeitos e na
presença de exame parasitológico de fezes negativo.
Aspectos Epidemiológicos
● Doença de ocorrência tropical, registrada
em 54 países, principalmente na África e
América.
● No Brasil, a doença foi descrita em 18
estados e no Distrito Federal.
Referências
Gunda, D. W., et al (2020). Morbidity and Mortality Due to Schistosoma mansoni Related Periportal Fibrosis: Could Early
Diagnosis of Varices Improve the Outcome Following Available Treatment Modalities in Sub Saharan Africa? A Scoping
Review. Tropical Medicine and Infectious Disease, 5(1), 20. doi:10.3390/tropicalmed5010020

Neves, D. P., Parasitologia Humana, 13 ed. São Paulo. Editora Atheneu, 2016.

Rey, L., Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4 ed. Rio de Janeiro. Editora
Guanabara Koogan, 2008.

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