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Área Pediatria
Elaborado em Dezembro/2023
1. INTRODUÇÃO
3. DENGUE
3.1. Etiopatogenia
A dengue tem como agente etiológico um vírus de RNA (DENV) que pertence
ao gênero Flavivirus, família Flaviviridae, e possui quatro sorotipos distintos (DENV
I,II,III e IV). É transmitido, principalmente, através da picada de uma fêmea infectada
do Aedes aegypti, mosquito urbano de hábito diurno cuja proliferação tende a
ocorrer em recipientes ou criadouros naturais contendo água parada. Existem
relatos na literatura de contaminação após transfusão sanguínea, transplante de
órgãos e ferimentos com agulhas.
A transmissão vertical pode ocorrer em gestantes com infecção aguda
durante o parto, e alguns trabalhos sugerem que também pode ocorrer
contaminação através da amamentação.
A febre, geralmente alta (39°C a 40°C), tende a ser o primeiro sinal clínico a
se apresentar na forma clássica da doença, com duração de dois a sete dias, sem
foco infeccioso aparente, associada a sintomas sistêmicos como náusea, vômito,
cefaléia, dor retroorbitária, mialgia e artralgia. Metade dos pacientes apresenta
exantema maculopapular predominante em face, tronco e membros.
3.3 Diagnóstico
A suspeita diagnóstica é levantada mediante a apresentação clínica, que
pode ser sugestiva ou inespecífica, que ocorre em local epidemiologicamente
favorável. Algumas alterações em exames laboratoriais podem corroborar com a
hipótese diagnóstica, apesar da baixa especificidade.
São achados frequentes a leucopenia com linfocitose (as custas de linfócitos
atípicos) e elevação das transaminases hepáticas, podendo ocorrer em qualquer
fase da doença. Na fase crítica pode ser observada uma concentração do
hematócrito, alteração do coagulograma e redução das proteínas e albumina sérica
que podem estar mascaradas pela hemoconcentração.
A confirmação diagnóstica laboratorial se dá por meio da identificação do
agente etiológico, e a escolha do método ideal depende do número de dias do
aparecimento dos sintomas. Até o quinto dia de sintomas os métodos de escolha
são os de detecção de antígenos virais (NS1, RT-PCR, isolamento viral, e imuno
histoquímica), em fases mais tardias da doença a sorologia, pelo método ELISA,
torna-se o método ideal. É importante destacar que podem ocorrer reações
cruzadas com outras infecções por flavivírus (febre amarela e zika).
3.4 Conduta
De acordo com as últimas recomendações da Sociedade Brasileira de
Pediatria, a conduta do paciente com dengue deve ser orientada para o controle dos
sintomas, visto que as arboviroses carecem de terapias antivirais específicas. O
tratamento sintomático é baseado no estadiamento da doença, proposto inicialmente
pela Organização Mundial da Saúde, que é demonstrado na tabela 1.
● GRUPO A - Acompanhamento ambulatorial
○ Laboratório:
■ Conforme necessidade: Hemograma
○ Hidratação: preconiza-se o uso de soro de reidratação oral (⅓ das
necessidades basais) de forma precoce e abundante, complementado
com líquidos caseiros (água, sucos naturais, chás e água de côco).
■ <2 anos: oferecer 50-100ml por vez.
■ >2anos: 100-200ml por vez.
○ Sintomáticos: Podem ser prescritos analgésicos e antitérmicos como
dipirona e paracetamol, antieméticos como a bromoprida, caso seja
necessário. AINEs e salicilatos devem ser evitados por elevarem o
risco de sangramento.
○ Orientações: Retorno imediato na presença de sinais de alarme ou a
critério médico.
● GRUPO B - Devem ser mantidos em leito de observação e hidratação.
○ Laboratório:
■ Obrigatório: Hemograma
■ Conforme necessidade: Exame específico
○ .Hidratação:
■ Iniciar hidratação oral supervisionada até o resultado dos
exames.
■ Hematócrito normal: Seguir conduta do grupo A.
■ Hematócrito aumentado (>38%): Manter em leito de observação
e realizar hidratação oral com 50 a 100ml/kg.
○ Reavaliação clínica e laboratorial após 4h de hidratação:
■ Houve aumento do hematócrito ou surigimento de sinais de
alarme?
● Não: Seguir conduta do Grupo A; Reavaliação clínica e
laboratorial diária ou imediata na presença de sinais de
alarme, até
● Sim: Seguir conduta do Grupo C.
● Grupo C: Devem ser acompanhados em leito de internação por um período
mínimo de 48h.
○ Laboratório
■ Obrigatório: Hemograma, proteína, albumina, tipagem
sanguínea e exame específico.
■ Conforme necessidade: gasometria, eletrólitos, transaminases,
função renal, Rx de tórax e USG
○ Hidratação: (IV)
■ Expansão volêmica imediata com 20ml/kg/h de SF 0,9% ou
Ringer Lactato.
■ Reavaliação clínica e laboratorial a cada 2h:
● Houve melhora clínica e laboratorial? (SV e PA estáveis,
diurese normal e queda do hematócrito?)
○ Sim: Soro de manutenção (Regra de
Holliday-Segar)
○ Não: Repetir esquema de expansão volêmica até
3x. Se resposta insatisfatória, Conduzir como
Grupo D.
● Grupo D: Acompanhamento em leito de terapia intensiva
○ Laboratório
■ Obrigatório: Hemograma, proteína, albumina, tipagem
sanguínea e exame específico.
■ Conforme necessidade: gasometria, eletrólitos, transaminases,
função renal, Rx de tórax e USG
○ Hidratação IV com 20ml/kg de solução salina isotônica em até 20min.
■ Repetir esta fase até três vezes, se necessário.
○ Reavaliação clínica a cada 15-30 min e hematócrito após 2h - Houve
melhora clínica e laboratorial?
■ Sim: Retornar para a fase de expansão do Grupo C.
■ Resposta inadequada
● Hematócrito em elevação: Expansão plasmática com
colóides sintéticos 10ml/kg/h; ou albumina 0,5-1g/kg
○ Se resposta adequada, tratar como Grupo C.
● Hematócrito em queda: investigar hemorragias e
coagulopatias de consumo.
○ Hemorragia: Concentrado de hemácia.
○ Coagulopatia: avaliar necessidade de plasma
(10ml/kg), Vit K e Crioprecipitado (IU para cada
5-10kg)
○ Ausência de hemorragia ou coagulopatia:
investigar hiperhidratação e ICC, Reduzir infusão
de líquido e iniciar diuréticos e inotrópicos, se
necessário.
○ Se resposta adequada, tratar como Grupo C
4. CHIKUNGUNYA
4.1 Etiopatogenia
A Chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV),
pertencente à família Togaviridae e ao gênero Alphavirus. Transmitida,
principalmente, pela fêmea infectada do mosquito Aedes aegypti. A transmissão
também pode se dar por via vertical em gestantes com alta viremia no período
intraparto, implicando, frequentemente, em sepse neonatal grave. Existe na literatura
a descrição de relatos de transmissão através de transfusão sanguínea.
A proliferação viral se inicia no sistema reticuloendotelial, e a clínica tende a
se apresentar de 2 a 4 dias após a inoculação. A viremia inicial é responsável pela
febre e a resposta imunológica do hospedeiro pelos demais sintomas sistêmicos
presentes na primeira semana de doença. As manifestações crônicas ainda não
tiveram seu mecanismo totalmente elucidado, mas acredita-se estarem relacionadas
à mecanismos de autoimunidade e a persistência do vírus em macrófagos sinoviais.
4.3. Diagnóstico
Alterações laboratoriais como leucopenia (especialmente as custas de
linfopenia), plaquetopenia, hipocalemia e elevação de enzimas hepáticas podem
ocorrer mesmo nas formas leve e moderada da chikungunya. O método de
confirmação dependerá do tempo de evolução da doença. Até o quinto dia de
sintomas o método de escolha é a detecção de antígenos virais por RT-PCR, e a
partir do sexto dia de sintomas a sorologia, pelo método ELISA, torna-se o método
de preferência.
4.4. Conduta
A chikungunya tende a ter uma história natural autolimitada, com resolução
espontânea em 7 a 10 dias na grande maioria dos casos. Além disso, bem como
para a dengue, não existe terapia antiviral contra o CHIKV. Dessa forma, a conduta
também se assemelha àquela proposta para a dengue, baseada na hidratação e
controle da febre e sintomas álgicos.
Recomenda-se o uso inicial de analgésicos, como dipirona e paracetamol,
podendo ser utilizado, em segunda linha, opióides, como a codeína, para maiores de
12 anos e o tramadol, em casos de refratariedade da dor. Os AINEs devem ser
evitados na fase aguda da doença, mas podem ser associados para o tratamento da
dor articular em casos que evoluem para a fase crônica, bem como os corticóides e,
nos casos mais refratários, a gabapentina e a pregabalina.
Em situações de risco para infecção adquirida por via vertical, em que o RN
se encontra assintomático, deve ser realizado monitoramento por pelo menos 5 dias
antes da alta, devido ao risco de manifestações graves. Nos casos sintomáticos a
internação, com monitorização e controle da sintomatologia, deve ser instituída.
5. ZIKA
5.1. Etiopatogenia
A zika é a arbovirose causada pelo Zika vírus, pertencente ao gênero
Flavivirus e a família Flaviviridae, a mesma da dengue e febre amarela, que também
é transmitida pela fêmea do Aedes aegypti. Além da forma vetorial, as formas de
transmissão sexual, pós transfusional e vertical (transplacentária) já foram
documentadas. O período de incubação pode variar de dois a sete dias.
5.3. Diagnóstico
● Métodos diretos: Pesquisa direta de vírus (técnica de isolamento viral em
camundongos); RT-PCR.
● Métodos indiretos: Sorologia (ELISA); Teste de neutralização por redução de
placas (PRNT); Inibição da hemaglutinação (IH); Imunohistoquímica (IHQ)
5.4. Conduta
O tratamento é baseado no controle dos sintomas, hidratação e vigilância
quanto aos sinais de alarme.
Para os pacientes sintomáticos, o Ministério da Saúde recomenda o repouso
durante o período de febre, estímulo à hidratação oral, a administração de
analgésicos, antitérmicos e antieméticos, conforme a necessidade, orientações para
que retorne em casos de sensação de formigamento de membros, déficit focal ou
alteração do nível de consciência, para a investigação de complicações
neurológicas.
Em casos de sinais de alarme compatíveis com a dengue, conduzir de acordo
com o protocolo de dengue.
Gestantes com suspeita de Zika devem ser conduzidas conforme protocolos
vigentes para o pré-natal.
FEBRE (DURAÇÃO) 2-7 dias 1-2 dias subfebril 2-3 dias de febre alta
Sem febre ou febre >38,5ºC
baixa
MIALGIA +++ ++ ++
ARTRALGIA + ++ +++
CEFALÉIA +++ ++ ++
LINFONODOMEGALIAS + +++ ++
LEUCOPENIA +++ ++ ++
TROMBOCITOPENIA +++ + ++
Fonte: Adaptado de Brito e Cordeiro, 2016.
BRITO, C. A. A.; CORDEIRO, M. T. One year after the Zika virus outbreak in Brazil:
from hypotheses to evidence. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,
Uberaba, v. 49, n. 5, p. 537-543, 2016. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/0037-8682-0328-2016. Acesso em: 12 Dec. 2023
FARIA, Marco Túlio da Silva; RIBEIRO, Nathalia Roland de Souza; DIAS, Alexandre
Pessoa; et al. SciELO - Saúde Pública - Saúde e saneamento: uma avaliação das
políticas públicas de prevenção, controle e contingência das arboviroses no Brasil
Saúde e saneamento: uma avaliação das políticas públicas de prevenção, controle e
contingência das arboviroses no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, p. 1767–1776, .
Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/csc/2023.v28n6/1767-1776/>.
Acesso em: 12 Dec. 2023.
RIBEIRO, Lucas Secchim; MARQUES, Rafael Elias ; JESUS, Amélia Maria Ribeiro
de ; et al. Zika crisis in Brazil: challenges in research and development - Current
Opinion in Virology. ELSEVIER, p. 76–81, 2016. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S187962571630044X?via%3D
ihub>. Acesso em: 8 Dec. 2023.