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Agosto 2023

Direcção de Pedagogia e Tecnologia

Área de Electricidade e Energia Renováveis

Energia Térmica

Elaborado por: David Lau


(Agosto 2023)
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Energias Renováveis

Índice

1. Introdução ...............................................................................................................................................

2. Energia Térmica no quotidiano, na Indústria e em Angola ......................................................................

3. Conceito & definições, Aplicações, Tipos de Energia Térmica ................................................................

4. Sistemas de Unidades, conversão e grandezas físicas..............................................................................

5. Processos físicos- Pressão, Volume, Temperatura ...................................................................................

6. Trabalho, Energia, Calor .............................................................................................................................

7. Modelo Termodinâmico ...........................................................................................................................

8. Processos/Ciclos Termodinâmicos ...........................................................................................................

9. Energia Térmica em Angola ....................................................................................................................

Energias Renováveis

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1. Introdução

A Energia Térmica é vital para a sobrevivência dos organismos vivos. A energia térmica
é dupla e sua duplicidade reside no facto dessa poder realizar trabalho em primeiro lugar
e segundamente ela envolve um estado da matéria dependente de temperatura. Por esse
motivo a energia térmica correlaciona o calor ao trabalho, em outras palavras calor é
trabalho e trabalho é calor!

O presente manual visa de forma generalizada introduzir os aspetos fundamentais de


Energia Térmica desde a sua definição á sua aplicação no quotidiano. Abordar-se-á
nesse manual acerca dos estados da matéria e as implicações energéticas das mudanças
de estado da mesma. Aprender-se-á os tipos de energia térmica que são utilizável e
como utilizá-las.

O debate reside nomeadamente na questão da energia térmica dever ou não ser


considerada uma Energia Renovável; Tal dúvida será clarificada ao decorrer da presente
formação sobre Energia Térmica, mas adianta-se desde já que processos Térmicos são
acompanhados de desperdício de energia e neste curso de Energia Térmica pretende-se
apresentar e praticar métodos rentáveis de reutilização ou mitigação dos desperdícios
em Energia Térmica.

A reversibilidade dos processos térmicos tanto os artificiais como os naturais permanece


uma questão contínua em ciência e em engenharia, por esse motivo introduzir-se-á a
grandeza entropia e explicar-se-á as tendências (i) reversíveis dos elementos na natureza
bem como os seres vivos e suas tendências até ao nível comportamental.
É nesta formação aonde aprender-se-á as Leis de conservação de energia, os
mecanismos de transmissão de energia térmica, e as formas de conversão de energia
térmica em electricidade.
Pretende-se também apresentar os dados mais recentes sobre Energia Térmica em
Angola, bem como as Turbinas/Centrais Termoeléctricas existentes no país e suas
capacidades.
Debater-se-á ao longo da formação sobre o tempo de vida das Centrais Térmicas e a
estratégia mais adequada á tomar para o médio-longo prazo.

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2. Energia Térmica no quotidiano, na Indústria e em Angola

No nosso dia-a-dia, a energia térmica está sempre presente, basta observarmos os


diferentes processos que ocorrem no dia-a-dia e na natureza, nomeadamente o
grelhar/cozer de alimentos (churrascada), uma fogueira, fazer um omeleta, a água á
ferver na panela, a energia geotérmica da terra, o aquecimento do corpo quando
praticamos desporto, quando nos encontramos febril, a destilação do petróleo bruto,
uma lâmpada acesa, o ciclo da água envolve energia térmica, o funcionamento de um
motor á combustão, a explosão de uma bomba (atómica) e as reacções
endotérmicas/exotérmicas que a acompanham. São todos exemplos da presença e
aplicação da energia térmica.

De acordo com a agência internacional de energia (IEA) 2,6 mil milhões de pessoas
actualmente no mundo ainda dependem do uso das energias térmicas tradicionais para
suprirem suas necessidades básicas de energia. 80% desta população vive em áreas
rurais.

Apesar dos conceitos de temperatura, calor e energia térmica se confundirem no


quotidiano, fisicamente eles não representam a mesma coisa.
A geração de energia com base em fontes térmicas é hoje aplicada vastamente no
mundo e no funcionamento do Sistema eléctrico Angolano.
O menor investimento e maior rapidez de instalação, quando comparado com a
alternativa hidroeléctrica, têm permitido responder – ainda que de forma insuficiente
ao crescimento do consumo. No entanto a utilização do gasóleo para abastecimento
destas centrais resulta em elevados custos de operação sem reflexo nas tarifas cobradas
aos clientes eléctricos. Por essas razões tenta-se usar o Gás natural como combustível de
muitas Centrais Termoeléctricas, especialmente em Angola tal transição está a ser
implementada.

Energia térmica em Angola


A produção de electricidade através de fontes térmicas contribui com 2.152,7 MW ou
seja 36% para o Sistema de Eléctrico Público (SEP), distribuídos pelas regiões Cabinda
(170,7,4 MW), Norte (1337 MW), Centro (385,4 MW),, Sul (392MW), e Leste (153
MW).

 Sistema Norte: Luanda (582,6MW), Malanje (19,6 MW), Zaire (759,6 MW),
Uíge (10MW).
 Sistema Centro: Benguela (140,34MW), Huambo (97,66 MW), Bié (34 MW).
 Sistema Sul: Namibe (105,47 MW), Huíla (137 MW), Cuando Cubango (69,4
MW), Cunene (48,2 MW).
 Sistema Leste: Lunda Norte (41,2 MW), Lunda Sul (46,5 MW),Moxico (32,9
MW).
Introduzida no sistema público em 1979 para compensar o défice no fornecimento de
energia a partir de fontes hídricas, a produção de energia térmica conheceu o seu pico
em 2019. Desde então, Angola vem reduzindo a produção de electricidade através de
fontes térmicas, optando por energias limpas com destaque para a energia hídrica e solar
fotovoltaica.
No âmbito da estratégia, as fontes térmicas têm sido destinadas para os sistemas
isolados sem cobertura do sistema de transporte interligado. Esta estratégia contribui
grandemente para a redução dos encargos com combustível de 2016 a 2021, assim como
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a redução das emissões de CO2.

A entrada em funcionamento do terminal de gás natural do Soyo (Angola LNG) vem


permitir ao sistema eléctrico aceder a um combustível de menor custo e menores
emissões: o gás natural. Até 2017 o principal crescimento na geração térmica instalada
no país fio a Central de ciclo combinado do Soyo com 720 MW. 4 turbinas á gás de 125
MW cada e duas (2) Turbinas a vapor de 125MW cada formando um ciclo combinado
de turbinas á gás e á vapor.

3. Conceitos e definições, Aplicações, Tipos de Energia Térmica

3.1. Conceitos & definições de Energia Térmica

Sendo Energia convencionalmente definida como A capacidade que corpos ou matéria


possuem para realizar trabalho, define-se Energia Térmica como sendo uma forma de
energia que está relacionada com as altas temperaturas e o calor.
A energia térmica é formada como consequência da energia cinética (movimentação)
das moléculas e partículas de um determinado corpo.
Trata-se de uma energia que está directamente associada á temperatura absoluta de um
sistema, e corresponde classicamente á somas das energias cinéticas microscópicas que
suas partículas constituintes possuem em virtude de seus movimentos de translação,
vibração ou rotação.

Aplicações

No estudo de qualquer processo físico, há que separar a região do espaço ou a porção da


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matéria e suas vizinhanças. Essa porção da matéria, corpo ou parte do mundo designa-se
por Sistema. Tudo o que fica do lado externo do sistema e que com ele pode interagir
chama-se Vizinhança.
A descrição de um sistema consiste na identificação dos seus componentes, do seu
estado físico e de um dado número de grandezas físicas – as Propriedades de estado –
que por sua vez traduzem o Estado do Sistema.

Quando qualquer uma dessas propriedades varia, muda também o estado do sistema e
diz-se que ocorreu um Processo ou uma Transformação.
Os sistemas são constituídos por matéria, a qual devido a estrutura atómica, é formada
por partículas – moléculas, átomos ou iões – em permanente agitação, possuindo, por
isso, Energia Cinética Interna. Este movimento desordenado é designado por Agitação
Térmica. Por outro lado, devido ás interacções entre as suas partículas, os sistemas
possuem também Energia Potencial. A energia cinética conjuntamente com a energia
potencial constitui a Energia Interna do sistema. A energia Interna do sistema depende
da quantidade de matéria (número de partículas) que o constitui.
O comportamento microscópico dos gases, dos líquidos e dos sólidos difere devido às
características que se resumem na tabela abaixo.

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Olhando para parâmetros de configuração das partículas (arrumação das partículas), a
intensidade das forças intermoleculares (elevada, elevada, pequena), a distância média
entre as partículas, a liberdade de movimento das partículas, podemos concluir que:

1. As propriedades macroscópicas do sistema são consequência do comportamento


microscópico das muitas partículas que o constituem. A pressão e a temperatura
são dois exemplos dessas propriedades.
2. A pressão é a consequência de todos os choques das partículas com as paredes
do recipiente em que se encontram. A temperatura é a consequência da
velocidade média das partículas.
3. Qualquer corpo que esteja a uma temperatura superior -273 ºC apresenta Energia
Térmica.

3.2. Tipos de Energia Térmica


Energia térmica por ser a manifestação de energia na forma de calor, pode também ser
chamada de Energia Calorífica. A energia que o corpo recebe ou perde no processo de
troca de calor com o meio ambiente é chamada Quantidade de Calor ou simplesmente
Calor.
Apesar dos conceitos de temperatura, calor e energia térmica se confundirem no
quotidiano, fisicamente eles não representam a mesma coisa. O calor é energia
em trânsito, desta forma, não faz sentido dizer que um corpo temcalor. Na
verdade, o corpo tem energia interna ou térmica.
A temperatura quantifica as noções de quente e frio. Além disso, é a propriedade que
rege a transferência de calor entre dois corpos.
A transferência de energia na forma de calor, acontece unicamente pela diferença de
temperatura entre dois corpos. Ela ocorre de forma espontânea do corpo de maior
temperatura para o de menor temperatura.
Existem três formas de ocorrer a propagação do calor: condução, convecção e
irradiação.
 Na condução, a energia térmica é transmitida por meio da agitação molecular.
 Na convecção a energia se propaga pela movimentação do fluido aquecido, pois adensidade varia
com a temperatura.
 Já na irradiação térmica, a transmissão ocorre através de ondas electromagnéticas.

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Outras formas de energia térmica existente são: Energia Geotérmica ou seja o Calor
proveniente do interior da terra.

Energia Geotérmica

De acordo com um ponto de vista natural e sob os diversos aspectos puramente


geológicos, a análise da geotermia encaminha ao estudo do ciclo geológico da Terra
com relevância no conhecimento da tectónica geral de placas, revelando-se bastante
importante para ter uma percepção que a Terra tem bastante energia interna,
manifestando-se a mesma das mais variadas formas.
Os sismos e os vulcões ocorrem especialmente nas fronteiras das placas tectónicas,
mostrando-se estes fenómenos naturais como a prova da existência de grandes
quantidades de energia acumulada no interior do Planeta.
Assim sendo os locais mais favoráveis para a exploração do calor proveniente do
interior da Terra para aproveitamento geotérmico estão directamente relacionados com a
localização dos limites dessas placas tectónicas, verificando-se nesses mesmos locais
grandes gradientes geotérmicos, conseguindo-se obter temperaturas bastante elevadas a
profundidades relativamente reduzidas.

Os vulcões já referidos anteriormente e presentes na figura 2.4 são exemplo de grandes


manifestações de energia calorífica, mas também as ocorrências de ressurgências de
fluidos quentes à superfície como é o caso de géiseres, fumarolas ou mesmo pequenas
nascentes de água quente que se apresentam na figura abaixo, não estando estas últimas
relacionadas necessariamente com fenómenos de vulcanismo, podendo acontecer em
locais de rochas sedimentares e outros, especialmente em rochas plutónicas, em
associação com situações geológicas singulares com profundas e vastas fracturas e em
locais de gradientes geotérmicos acima do normal.

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Figura: Exemplos de manifestações violentíssimas de libertação de energia do interior da terra, por
meio de vulcões activos

Mais de 100 vulcões jovens - que tiveram actividade há cerca de 10.000 anos -
pontilham a paisagem do Rift da África Oriental - uma área que se estende por mais de
3.000 quilómetros de Djibouti e Eritreia, passando pela Etiópia, Quénia, Uganda e
Ruanda até o Democrático República do Congo e Tanzânia.

Em Abril de 2018 em Nyamuragira, a última erupção vulcânica ocorreu na África.


Nyamuragira é o vulcão mais activo da África e um dos mais activos do mundo. Ela
entra em erupção aproximadamente a cada dois anos, produzindo grandes fluxos de lava
fluida. Nyamuragira é um vulcão com escudo basáltico de alto teor de potássio
localizado a cerca de 25 km ao norte do Lago Kivu, no Vale do Rift da África Oriental,
NW do vulcão Nyiragongo.

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Figura 1: Volcão Nyiragongo, na RDC

Vulcões são considerados manifestações violentas, mas o calor interno da terra tem
formas mais moderadas de se manifestar sendo uma delas as formas menos violentas
ilustradas abaixo.

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Em Angola existem zonas com fontes de águas do tipo mineiro termal em que se pode
aproveitar estas características para fins medicinais, concretamente em hidroterapia,
Termoterapia e Peloterapia, alimentação, agro-pecuária e como fonte de calor. Na
Província do Namibe existem várias nascentes de águas termais distribuídas pelos
municípios do Virei, Camucuio e Bibala, nomeadamente Montipa, Pediva e
Ndolondolo, respectivamente.
Existem outros lugares em Angola na qual nascentes de água quente são encontradas,
sendo essas:
1. Águas quentes do Alto Hama – Huambo
2. Águas Quentes da Conda – Kwanza Sul
3. Águas quentes de Caluquembe – Huíla

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4. Sistemas de Unidades, conversão e grandezas físicas

4.1. Sistemas de Unidades

No sistema internacional (SI) a energia (no geral) é medida em Joules (J) e a potência
em Watts (W).
1 Watt = 1 Joule / Segundo
Uma alternativa útil á medição de energia em Joules é o uso de Watt-hora (Wh). O
KWh é uma unidade de medição de energia particularmente útil e é geralmente usada na
compra ou venda de electricidade e gás.

4.2. Conversão

1 Wh = 1 J/1s x 3600 S = 3600 J = 3,6 KJ


1 KWh = 3,6 MJ
Já a Energia térmica ou energia calorífica é medida no sistema Internacional em Joule.
Fora do sistema Internacional usa-se também muito a Caloria como unidade de energia
térmica, o BTU (British Termic Unit),etc.
1 Cal = 4,19 J

Analogia com o organismo (Calorias):


Um organismo adulto é recomendado á ingerir em alimentos o equivalente em energia á
uma média de 2000 caloria (mulher) e 2500 Caloria (Homem).
Quantos Joules em energia é recomendado diariamente para homem como mulher?
Mulher: 1 Cal = 4.19 J » 2000cal= 2000 x 4.19 J = 8400 J = 8,4 KJ
Homem: 1 Cal = 4,19 J » 2500Cal»2500 x 4,19 J = 10475 J = 19,5 KJ

Analogia com refrigeradores

Um ar condicionado tem a referência energética de 24 BTU/h. Quantos KWh são?


1 W = 3,41 BTU/h »»» 24BTU/h = (24 x 1W)/ (3,41) = 81,84 W

4.3. Grandezas Físicas

Temperatura

A temperatura de um sistema, sob o ponto de vista microscópico, é uma medida da


energia cinética das partículas que o constituem. Quanto maior for a energia cinética
média (ou velocidade média), maior é a temperatura.
Um sistema diz-se em Equilíbrio térmico se todas as suas partes estão á mesma
temperatura.

A temperatura caracteriza o
estado térmico de um
sistema, mas só através da
medição é possível
quantificar o valor dessa
propriedade.
A temperatura é uma
propriedade dos sistemas e
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pode ser medida com um
termómetro. Para efectuar a
leitura numérica da
temperatura, utiliza-se um termómetro graduado. A unidade SI de temperatura é o
Kelvin (K). Mas no quotidiano usa-se muito a escala de Celsius (ºC).

A experiência demonstra que, sob certas condições, alguns fenómenos físicos


processam-se sempre á mesma temperatura – pontos fixos.
Os pontos fixos são particularmente importantes no estabelecimento de escalas
termométricas.

Uma escala termométrica necessita de pontos de referência aos quais se atribuem


determinados valores numéricos e que constituem os extremos de um intervalo que
pode ser dividido em qualquer número convencional de partes iguais.
Escala Celsius (ºC )
A escala Celsius atribui a temperatura zero á temperatura de fusão do gelo em condições
normais de pressão atmosférica e a temperatura 100 á temperatura de ebulição de água
nas condições normais de pressão atmosférica. A unidade de temperatura nesta escala –
Escala Celsius – é o grau Celsius (ºC ) .

Escala Kelvin (K)


Na escala Klevin o ponto de referência é o ponto triplo da Água. Este ponto corresponde
á coexistência da água nas suas 3 fases, nomeadamente gelo, água líquida e vapor de
água em equilíbrio e ocorre á temperatura de 0,01 ºC. A este ponto foi atribuída
arbitrariamente a temperatura de 273,16 K.
Nesta escala – também designada por Escala Absoluta de Temperatura – a temperatura
0 K (zero absoluto) corresponde ao estado térmico em que a energia cinética interna das
partículas é mínima. Na escala Kelvin não há temperaturas negativa e sua
correspondência com Celsius é a seguinte:

T(K) = ºC + 273, 15.

Escala Fahrenheit (0 F)

T (0 F) = (9/5)( (0 C)) + 32.

5. Processos físicos – Pressão, Volume e Temperatura

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As propriedades macroscópicas do sistema são consequência do comportamento
microscópico das muitas partículas que o constituem. A pressão, a temperatura e o
Volume são exemplos dessas propriedades.

Pressão: consequência macroscópica de todos os choques das partículas com as paredes


do recipiente em que se encontram.
Temperatura: consequência da velocidade média das partículas.
Volume: Consequência do espaço ocupado pelas partículas que constituem o corpo.
Existem vários tipos de processos físicos e químicos. Nós nesse curso nos vamos
concentrar nos processos físicos de gases e líquidos. Alguns processos físicos que
ocorrem são os processos Isotérmicos (temperatura constante), isobáricos (Pressão
constante) e Isocóricos (Volume constante).

Os gases perfeitos/ideais obedecem a três leis bastante simples, que são a lei de Boyle, a
lei de Gay-Lussac e a lei de Charles. Essas leis são formuladas segundo o
comportamento de três grandezas que descrevem as propriedades dos gases: o volume, a
pressão e a temperatura absoluta.
Quando estudamos materiais (ex: gases ideais ou reais), vimos que as variáveis pressão,
volume, temperatura e número de mols, ou massa, caracterizam completamente as
propriedades termodinâmicas de uma dada porção de gás. A Lei dos Gases Ideais (PV =
nRT) mostra a relação entre essas variáveis.
O conjunto de valores das propriedades termodinâmicas de um sistema se denomina
estado termodinâmico, ou, simplesmente, estado do sistema. O estado termodinâmico de
um tanque de gás, por exemplo, será determinado indicando-se sua temperatura (20ºC),
o seu volume (2.000 L), o número de moléculas ou número de mols (100 mols).
Podemos apresentar o estado termodinâmico de um sistema por meio de um diagrama
que relacione duas ou mais propriedades que possam variar. Um exemplo básico desse
tipo de diagrama é o diagrama PV, mostrado na figura acima, que relaciona a pressão e
o volume desse sistema. Assim, cada ponto desse gráfico caracteriza um determinado
estado termodinâmico.
O ponto A na figura acima representa o estado termodinâmico com pressão 1,5 atm e
volume 2 L. O diagrama é uma representação visual do valor das propriedades
termodinâmicas e é usual escolher as propriedades que mais nos interessam em cada
situação prática.

Representação de um estado termodinâmico

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A temperatura, a pressão e o volume são grandezas que estão dependentes entre sí.

De seguida, apresenta-se a dedução da equação de estado de um gás ideal.


Transformações de um gás: com temperatura constante e com pressão constante.
Dentro de um contentor cilíndrico, que possui um êmbolo móvel, aprisiona-se uma certa
quantidade de gás. Recorrendo a um termómetro e a um manómetro, é possível medir
em cada instante a temperatura e a pressão do gás.
Inicialmente, no estado 1, o gás encontra-se em equilíbrio termodinâmico com
pressão P1, volume V1 e temperatura T1.
A primeira transformação consiste em diminuir o volume ocupado pelo gás,
empurrando o êmbolo para baixo, o que causa um aumento gradual da pressão. Trata-se
de uma transformação isotérmica pois ocorre a temperatura constante. No estado final
(estado 2), o gás tem volume V2 e pressão P2. De acordo com a lei de Boyle-
Mariotte obtém-se:
P1V1 = P2V2

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A segunda transformação consiste em aquecer o sistema, o que provoca um aumento de
volume do gás. Estamos perante uma transformação isobárica pois realiza-se a
pressão constante. No estado final (estado 3), o gás tem volume V3 e
temperatura T3. De acordo com a lei isobárica de Charles e Gay-Lussac, tem-se:

Equação de estado de um gás ideal


Como o sistema passou do estado 1 para o estado 2 através de uma transformação
isotérmica, logo as temperaturas desses estados são iguais, T1=T2, e a equação anterior
fica:
V3T1 = V2T3
A transformação que levou o sistema do estado 2 para o estado 3 é isobárica, logo as
pressões do gás nesses estados são iguais, P2 = P3, e a equação obtida pela lei de Boyle-
Mariotte fica:
P1V1 = P3V2
Dividindo as duas últimas equações, membro a membro, obtém-se:

Esta relação mostra que o quociente PV/T tem o mesmo valor para os estados 1 e 3, e
por isso, o quociente é válido para quaisquer estados inicial e final, representando assim
a equação de estado do gás ideal.

Sabendo que 1 mol de um gás ideal (uma mole = moléculas do gás, com =
6.022 × ), à pressão atmosférica P=101300 Pa (1.013 bar) e temperatura T=273.15
K (=0 ºC), ocupa um volume V=0.02242 (22.42 L), podemos calcular a constante
dos gases ideais como sendo
PV/nT = 101300 × 0.02242/(1 × 273.15) = 8.315 J/K/mol
Esta constante obtida refere-se apenas a 1 mol de moléculas. Caso se tenha mn moles de
moléculas de gás ideal, o volume ocupado pelo gás é n vezes maior, ou seja:
PV/nT = n × 8.315 J/K/mol
A constante com valor 8.315 J/K/mol designa-se por constante universal dos gases e
representa-se pela letra R. Assim sendo, e equação de estado do gás ideal, onde n é o
número de moles de gás, pode escrever-se da seguinte forma:
PV = n RT

Ela apresenta a transformação isométrica ou isocórica dos gases perfeitos. Ou seja, o


volume do gás é constante, enquanto a pressão e a temperatura são grandezas
diretamente proporcionais.
A fórmula que expressa a lei de Charles é:

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Onde,
P: pressão
T: temperatura
K: constante de volume (depende da natureza, do volume e da massa do gás)

Resumidamente temos:

6. Trabalho, Energia, calor

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7. Modelo Termodinâmico

A temperatura T, o Volume V e a Pressão P não são grandezas independentes. Um exemplo é o ponto de


ebulição da água que varia com diferentes condições de Pressão e altura.

8. Processos/Ciclos Termodinâmicos

Figura: Esquema de produção de Energia (Geo)Térmica

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9. Energia Térmica em Angola
A produção de energia eléctrica, a partir de combustíveis fósseis (carvão, petróleo ou
gás natural), obtém-se através da sua queima e da produção de vapor de água a grandes
pressões, o qual faz mover as turbinas, que, por sua vez, accionam os geradores de
energia. Tudo começa com os combustíveis. Após a sua extracção (o carvão em minas,
o petróleo e o gás natural em jazidas subterrâneas), o combustível é transportado
(normalmente por via marítima ou ferroviária, ou por pipelines) até às centrais. Antes de
serem queimados, os combustíveis sofrem algumas transformações para aumentar a sua
rentabilidade: o carvão é esmagado num pó fino; o petróleo sofre processos de
destilação; apenas o gás natural é utilizado como é extraído na origem.
O combustível é então encaminhado para as caldeiras, onde é queimado produzindo
energia calorífica (uma temperatura de cerca de 538ºC), que aquece grandes
quantidades de água. A tal temperatura, a água evapora originando uma grande
quantidade de vapor que faz movimentar as pás das turbinas. Estas fazem movimentar
potentes electroímanes que giram a grandes velocidades entre bobinas produzindo
corrente eléctrica alternada que, nas centrais Angolanas, tem uma frequência de 50 Hz.

Um esquema de uma central térmica tradicional ou Central Termoeléctrica é


semelhante ao apresentado na figura abaixo:
1. Fonte de energia: combustíveis fósseis, eles "ardem", libertando grandes
quantidades de energia na câmara de combustão. O combustível fóssil possui
energia potencial gravítica que, durante este passo, se transforma em energia
térmica;
2. Calor transfere-se para a água da caldeira, fazendo com que esta passe ao
estado de vapor de água, possuindo energia cinética (há transformação de
energia térmica em energia cinéica);
3. Vapor de água, ao passar numa turbina, faz as suas pás moverem-se.
Há transferência da energia cinética da água para a turbina;
4. A turbina está associada a um alternador que converte (transforma) a energia
cinética em energia elétrica;
5. A energia elétrica é transferida para os locais de utilização através de cabos de
alta tensão.

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Nas centrais Termoeléctricas apenas 35% da energia fornecida é transformada em
energia útil:

Energia do Combustível Fóssil na Central 100%


60% - Calor / Energia Térmica – Energia Dissipada.
35% - Energia Eléctrica – Energia útil.
5% - Energia Sonora – Energia Dissipada.

No contexto actual energético angolano, o sistema eléctrico público é maioritariamente


composto e caracterizado pela produção de energias provenientes de centrais
hidroeléctricas de pequeno, médio e grande porte, bem como centrais térmicas, ciclo
combinado que se encontram interligado e supervisionado através do centro de operação
do sistema (COS).

Há uma grande dependência ainda das centrais térmicas (Diesel) pelo território
nacional1, pelo facto de não haver uma extensão da rede pública em todas as
zonassobretudo as rurais e isoladas dos grandes centros. Por outro lado, as centrais
térmicas ainda servem de back-ups para confiabilidade do sistema eléctrico angolano
em eventualidade de black-out e outros fins de interesses particulares.

Face ao elevado custo de conservação e manutenção das instalações termoeléctricas2,


em consumíveis, sobressalentes e seus efeitos agressivos ao meio ambiente, consegue-
se observar um panorama que vai alterar toda a cadeia de produção de energia não
renováveis em energia limpa, tudo devido aos desafios e perspectivas sobre o
desenvolvimento sustentável para as nações, as questões sobre alterações e mudanças
climáticas, resoluções das COP ́s sobre ambiente e outros tratados. No entanto, é o
momento de haver alguma redução nas emissões o CO2 ou queimas de combustíveis
fósseis para o sector energético produzidos pelas centrais de geradores diesel e fazer-se
a comutação para sistemas de cogeração ou híbridos.

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A característica do sistema eléctrico angolano, a energia elétrica é fornecida em corrente
alternada, à frequência de 50 Hz, com a tolerância de +/- 2% e à tensão nominal de 220
Volt, que seu fornecimento vai para redes de distribuição de muito alta, alta, média e
baixa tensão (MAT, AT, MT ou BT).

Distribuição das Centrais Térmicas em Angola

I. FINAIS DOS ANOS 50 E INICÍO


Dos ANOS 60Região Norte:
Finais dos anos cinquenta sistema de produção e transporte caracterizado por:
Central hidroeléctrica de Mabubas de 17,8MW (2 X 3 MW+2X5,9 MW)que alimentava
a região de Luanda, como principal centro de carga, através de duas linhas de transporte
de electricidade a 60 kV, tendo ponto de injecção a subestação da Cuca (60/15 kV).
II. ANOS
60 - 70 Região
Norte:
Caracterizado pela entrada em serviço da Central hidroeléctrica de Cambambe, 1ª fase
com 2 X 45 MW e no final totalizando 180 MW (4 X 45 MW), alimentando as
províncias:
Kwanza Norte pela linha a 220 kV Cambambe – N’Dalatando e subestação
N’Dalatando 220/30 kV;
Kwanza Sul pela linha Cambambe – Gabela a 220 kV e subestação da Gabela
220/60/ 30 kV (alimentando as cidades da Gabela, Sumbe e vila da Boa entrada);
Luanda, atendida pela central hidroeléctrica de Cambambe pela linha I 220
kV Cambambe – Cazenga e subestação do Cazenga 220/60/15 kV, central
hidroeléctrica de Mabubas pela linha de duplo terno 60 kV Mabubas-Cazenga e o
primeiro grupo turbina a gás (GTGI) na subestação do Cazenga;
Esta era a situação até 1974, sendo o principal centro de carga a região de Luanda.

Região Centro:
Principais centros de produção:
Central Hidroeléctrica do Biópio, 15MW (4 X 3,75 MW);
Central Hidroeléctrica do Lomaum, 35 MW (2 X 10 MW + 1x15 MW);
Central Térmica do Biópio, 21 MW;

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Estes centros de produção alimentavam os principais centro de consumo que eram
Huambo, Lobito e Benguela por linhas a 150 kV (Biópio – Lomaum, Biópio - Quileva e
Lomaum – Alto Catumbela – Benfica do Huambo) e 60 kV (Biópio – Catumbela) e as
subestações do Benfica ( Huambo ) 150/30 kV, Quileva 150/30 kV, Catumbela 60 kV ,
Benguela 30 kV e Lobito 30/20kV.

Região Sul:
Principais centros de produção:
Central hidroeléctrica da Matala 40,8 MW (3 X 13,6) MW;
Central Térmica do Xitoto I (Namibe) 11,2 MW (2 X 5,6) MW;

Central Térmica do Tômbwa3,25MW (1X1,55+1X1,7) MW;


Central Térmica do Cunje 1,62 MW (3X0,54) MW;
Central Térmica do Saco 3,06 MW (2x1,53) MW;
Central Térmica do Namibe 11,9 MW (2x5,95) MW.
Estes centros de produção alimentavam os principais centro de consumo que eram o
Lubango, Namibe e Tombwa por linhas a 150 kV (Matala – Lubango) e 60 kV
(Lubango – Namibe –Tombwa) e as subestações do Lubango 150/60/15 kV, Namibe
60/15 kV e Tombwa 60/15 kV.

III. ANOS 80
A situação dos sistemas de transporte caracterizou-se idêntica a dos anos 70, com as
seguintes excepções:
Região Norte:
Para rentabilizar o escoamento da produção de Cambambe para região de Luanda em
1983 foi construída a linha II 220 kV Cambambe – Viana – Cazenga.
Instalada a segunda Central térmica a gás no Cazenga (32 MW), para atender o grande
evento que foi a Cimeira dos Países Não-alinhados em Luanda e de certa forma existir
geração na região de Luanda que permitia certa autonomia face a instabilidade militar
que afectava as linhas de transporte 220 kV entre Cambambe e Luanda.
Região Centro
Devido a guerra o sistema de transporte a 150 kV Biópio – Lomaum – Alto Catumbela
– Benfica (Huambo) foi destruído de forma irrecuperável.
Região Sul
Situação permaneceu inalterável em relação ao período anterior.

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IV. ANOS 1990 –
2000 Região Norte:
Instalada a terceira Central de Geração a gás no Cazenga permitindo aumentar a
autonomia face a instabilidade militar que afectava as linhas de transporte 220 kV entre
Cambambe e Luanda que eram frequentemente sabotadas.
Região Centro
Situação do sistema de transporte 150 kV Biópio – Lomaum – Alto Catumbela –
Benfica (Huambo) permanece irrecuperável.
Região Sul
Situação permaneceu inalterável em relação ao período anterior.

V. ANOS 2000 – 2010


Com a entrada em serviço da Central hidroeléctrica de Capanda com 520 MW (2004),
os sistemas de transporte da região norte foi ampliado, permitindo a inclusão das
regiões de Cacuso, Malange, Uíge e Maquela do Zombo, bem como o reforço dos
sistemas de transporte para atender a região de Luanda, com a entrada em serviço das
seguintes linhas e correspondentes subestações:
Linha a 400 kV Capanda – Lucala – Viana;
Linha a 220 kV Capanda – Cambambe; Linha III 220
kV Cambambe – Viana;
Linha a 220 kV Capanda – Lucala – Pambos do Sonhe – Uíje – Maquela
do Zombo;
Linha a 110 kV Capanda – Cacuso – Malange;
Linha a 60 kV Uíge – Negage;
Linha a 30 kV Pambos do Sonhe – Camabatela;
Linha a 30 kV Pambos do Sonhe – Samba Cajú.

VI. ANOS 2010 –


2016Região Norte
Construção da linha de transporte 220 kV entre a Subestação de Viana e a
Subestação da Filda;
Construção da linha de transporte 220 kV entre a Subestação de Camama
e a Subestação do Morro Bento;
Construção da linha de transporte 220 kV entre a Subestação de Viana e a
Subestação da Cacuaco;

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Construção da linha de transporte 220 kV entre a Subestação de Cacuaco e a
Subestação da Boavista;
Construção da linha de transporte 220 kV entre a Subestação de Cacuaco e a
Subestação da Barra do Dande (Siderurgia);
e Subestações associadas:
Construção da Subestação 220/60 kV do Morro Bento;
Construção da Subestação 220/60 kV da Boavista; Construção
da Subestação 220/60 kV da Filda;
Construção da Subestação 220/60 kV de Cacuaco;
Construção da Subestação 220/15 kV Barra do Dande (Siderurgia);

Interligação Norte e Centro


Construção da linha de transporte 220 kV Gabela-Quileva e ampliação da SE
Quileva para 220/60kV, construção da Subestação Alto Chingo 220/60kV, Alto Chingo
60/30kV e Casua 60/30kV;

Região Centro
Reabilitação e entrada em serviço da central hidroeléctrica do Lomaum, permitindo
melhorar a alimentação das cidades de Benguela, Catumbela, Lobito e Baía Farta, com
aentrada em serviço da seguinte linha e correspondentes subestações:
Linha a 220 kV entre a central do Lomaum, Subestação Quileva (reabilitação e
ampliação) 220/60 kV, construção do PS Nova Biópio 220kV, Benguela Norte 60/15
kV;
Entrada em serviço da central hidroeléctrica do Gove, permitindo melhorar a
alimentação das cidades do Huambo, Caála e Bié, com a entrada em serviço das
seguintes linhas e correspondentes subestações:
Linha a 220 kV entre a central do Gove e a subestação do Belém do
Dango220/60 kV;
Linha a 220 kV entre a central do Gove e a subestação do Kuito 220/60/15
kV; Linha a 60 kV entre subestação do Belém do Dango e Benfica do
Huambo; Linha a 60 kV entre subestação do Belém do Dango e Caála.
Situação do sistema de transporte 150 kV Biópio – Lomaum – Alto Catumbela –
Benfica (Huambo) permanece irrecuperável.

Região Sul
Situação permaneceu inalterável em relação ao período anterior.

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VII. PREVISÕES/ESPECTATIVAS ATÉ 2025
Com as previsões/espectativas de construção os seguintes centros produtores
principais: Central a gás do Soyo, 1500 MW (750 + 750)MW;
Central hidroeléctrica de Cambambe II, 700
MW; Central hidroeléctrica de Laúca, 2071
MW;
Central hidroeléctrica de Caculo Cabaça, 2100 MW;
Central hidroeléctrica Keve (fase- I),
400MW;
Central hidroeléctrica JambaYaOma, 75
MW; Jamba Ya Mina, 180 MW;
Central hidroeléctrica de Baynes, 600 MW (50% Angola)
Implicará implementar o “Tronco principal do sistema de Transporte a 400 kV”, que
iniciou com a linha 400 kV Capanda – Lucala – Viana, associada com a entrada de
Capanda e continuando com a construção das linhas e subestações associadas:
Dala (Chiumbe) – Luena (em
construção); Gabela – Wakokungo (em
construção); Cambutas – Gabela;
Cambutas – Catete (construída);
Cambutas – Laúca;
Laúca– Capanda;
Laúca – Catete;
Soyo – Nzeto – Kapari – Catete
(construída); Nzeto – Mbanza Congo (em
construção);
Laúca – WakoKungo – Belém do Dango (em construção);
Belém do Dango – Lubango;
Lubango – Cahama – Baynes.
Este “Tronco principal do sistema de Transporte a 400 kV ” permitirá a interligação
segura dos sistemas a interligar Norte, Centro, Sul e Leste e ampliar/implementar redes
malhadas a 220 kV, obedecendo ao critério N-1, alimentar as redes de distribuição e
possibilitar o incremento da electrificação do país.

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