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XIX SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Sustentabilidade Na Cadeia De Suprimentos
Bauru, SP, Brasil, 5 a 7 de novembro de 2012
1. Introdução
As Indústrias de Manufatura sofreram uma revolução nos últimos anos com o grande
avanço das tecnologias, sofisticados sistemas CAD (Computer-Aided Design), novos
materiais mudaram rapidamente e levaram os produtos às características mais complexas e
revelaram a necessidade de uma criação de meios para especificá-los. Neste contexto as
especificações técnicas do produto e os processos produtivos sofreram grandes mudanças
tecnológicas englobando toda a cadeia produtiva. (WANDECK e SOUSA, 2008)
O objetivo deste artigo é mostrar uma comparação entre os dois principais sistemas de
cotagem e tolerâncias utilizadas pelos projetistas brasileiros: o sistema cartesiano (CD&T –
Classical Dimensioning & Tolerancing) mais tradicional e o sistema GD&T (Geometric
Dimensioning and Tolerancing) difundido muito mais nos últimos anos, onde um conjunto de
Lâminas de Corte do Nylon das máquinas de cortar grama manual foram fabricadas com
desenho cotado no sistema Cartesiano, CD&T e inspecionados 100%. Em seguida
inspecionou-se o mesmo conjunto, porém com o produto cotado no sistema GD&T.
Em princípio o estudo das especificações dimensionais decorre da observação de que
não é possível fabricar um produto nas dimensões exatas e ainda mais, repetir com êxito este
produto em larga escala sem variação de suas dimensões, pois a variação das dimensões é
inerente a qualquer processo. Assim as dimensões exatas podem variar em certos limites sem
prejudicar a qualidade dos produtos. Para isso, criaram-se meios para representar as
especificações dimensionais em desenhos técnicos: as cotas e suas tolerâncias.
Para se desenvolver produtos competitivos e com custo baixo depende-se muito de um
projeto bem elaborado com especificações bem definidas, que irão acompanhar o produto em
todas as fases da vida. Ainda segundo Wandeck e Sousa (2008) essas especificações são
atributo principal para a garantia da intercambiabilidade, funcionalidade, segurança e estética.
O grande desafio das empresas é desenvolver produtos competitivos com baixos custos.
Produtos com dimensões e tolerâncias definidas de modo incorreto apresentam custos
elevados de desenvolvimento e produção. As especificações das tolerâncias exercem um dos
papeis fundamentais para o sucesso do produto e para a redução dos custos de produção.
(WANDECK e SOUSA, 2008)
2. Preparação e Inspeção
Para realizar as análises foram fabricadas vinte amostras com processo de corte a laser
para estar comparando os dois sistemas de cotagem e tolerâncias. As amostras foram
inspecionadas com o auxilio de uma máquina de medição por coordenadas. A comparação
entre os dois sistemas foi feito através de dois critérios: o dimensional e o de montagem.
Para o critério dimensional foram levados em consideração as especificações de
cotagem e tolerâncias de cada sistema. Já no critério de montagem utilizou-se uma contra-
peça onde foi simulada a montagem das lâminas da mesma. Conforme citado, o conjunto de
Lâminas de Corte foi fabricado com desenho cotado no sistema Cartesiano, CD&T e
inspecionado 100%. Em seguida inspecionaram-se as mesmas amostras, porém com o produto
cotado no sistema GD&T para realizar a comparação dos resultados.
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Na Figura 2, podemos observar que na cota 10, o produto pode variar de 9,80 a 10,20
e na cota de 15, de 14,80 a 15,20 que estará dentro do especificado em desenho, gerando um
quadrado como forma da zona de tolerância (STRAFACCI NETO, 2010). A característica
que o desenho quer especificar é a posição do centro do furo com diâmetro de 8 mm esse
centro do diâmetro deve estar dentro de uma zona de tolerância quadrada de lado 0,4mm, que
estará dentro do especificado em desenho.
FIGURA 2 – Exemplo de cotagem sistema cartesiano e a zona de tolerância quadrada. Fonte: O autor.
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conforme NBR6409 (ABNT, 1997). Estes elementos servem para que os metrologistas
possam ter uma seqüência de medição e referenciar os produtos nas várias etapas de
fabricação, geralmente especificados pelas letras A, B e C (KRULIKOWSKI, 2012). As
normas internacionais mais conhecidas e utilizadas são ASME Y14.5–M (ASME, 2009) e a
norma ISO1101 (ISO, 2004). No Brasil a norma que aborda estes assuntos é a NBR6409
(ABNT, 1997).
Algumas das vantagens do sistema GD&T são a de remover a ambigüidade dos
desenhos, por usar símbolos universalmente aceitos em todo o mundo, especifica dimensões e
tolerâncias relacionadas com as relações funcionais e diminui o acumulo de tolerância. Os
conceitos de GD&T que estão presentes nas áreas de engenharia brasileira nem sempre
ocorreram de acordo como especificam as normas, provocando problemas em várias etapas do
desenvolvimento e produção do produto (SOUSA e WANDECK, 2011).
Sendo assim, esclarece-se que serão abordadas neste trabalho algumas características
do GD&T, mas os conceitos são mais abrangentes do que será exposto.
No exemplo da Figura 3 a seguir, o centro do diâmetro deve estar dentro de uma zona
de tolerância em forma cilíndrica de diâmetro 0,56mm que estará dentro do especificado em
desenho, além disso, estão referenciados no desenho os pontos de datums (ABC) para o
metrologista alinhar e dimensionar o produto.
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Fonte: O autor.
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Fonte: O autor.
Comparando os sistemas, no CD&T, 55% das peças estão dentro do dimensional, mas
80% podem realizar a montagem na contra peça. No sistema GD&T a porcentagem de peças
dentro do dimensional sobe para 80%, a mesma porcentagem dos produtos em que é possível
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montar, ou seja, um aumento de 25% nos números de produtos aprovados. Se estivesse numa
produção em série seria possível considerar que 45% dos produtos seriam rejeitados pelo
sistema CD&T enquanto que no sistema GD&T somente 20% estariam rejeitados, reduzindo
os custos com retrabalhos em 55%. A Figura 6 apresenta estes resultados:
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produto 11 com uma distancia de 0,325mm do centro exato do furo, enquanto que reprova o
produto 6 que possui distancia de 0,30mm do centro exato do furo conforme a Figura 8. Nesta
mesma Figura 8 estão os resultados obtidos nas medições, onde o contorno em amarelo indica
a zona de tolerância quadrada do CD&T. Todos os produtos que estão dentro do quadrado
amarelo são os produtos aprovados por este sistema. A zona de tolerância cilíndrica do GD&T
está representada em verde, onde todos os produtos dentro deste círculo estão aprovados por
este método. Os produtos fora do circulo verde estão fora do dimensional e não podem ser
montados na contra peça.
7. Conclusão
O estudo das especificações de um produto é um requisito fundamental para um bom
andamento do produto em toda a sua vida produtiva e para a garantia da funcionalidade,
segurança e estética. O grande desafio das empresas é desenvolver produtos competitivos com
baixos custos. Para auxiliar a desenvolver os produtos existem basicamente dois tipos de
sistemas de cotagem e tolerância: O CD&T e O GD&T.
Este artigo comparou os dois sistemas de cotagem e tolerâncias utilizados: o sistema
cartesiano (CD&T – Classical Dimensioning & Tolerancing) e o sistema GD&T (Geometric
Dimensioning and Tolerancing) numa aplicação prática. Realizando-se uma análise através do
GD&T adicionou-se certa complexidade para os desenhos, pois acrescentou-se símbolos que
necessitam de interpretação, mas definiu-se todos os requisitos do produto. Portanto,
eliminou-se as deficiências das tolerâncias do sistema CD&T aumentando a área da zona de
tolerâncias significativamente. Apresentou uma sequência de alinhamento para o metrologista
e a definição clara das partes que se encaixam na contra peça.
O sistema cartesiano é muito ensinado nas universidades de engenharia e praticado na
maioria das empresas brasileiras, por ser no início mais simples de se entender, porém acaba
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gerando custos com o retrabalho de produtos inicialmente não-conformes, mas que poderiam
ser aprovados pelo método GD&T, não impactando na montabilidade do produto. Assim, para
as empresas melhorarem sua competitividade no mercado, será necessária a utilização destes
métodos de cotagem e da disseminação deste conceito já nas escolas.
As especificações de um produto são muito importantes para obter sucesso ao longo
de sua vida produtiva. Ao se projetar um produto deve-se ter a consciência da importância da
definição do sistema de cotagem e tolerâncias adotados.
Referências
ASME - AMERICAN SOCIETY FOR MECHANICAL ENGINEERS. ASME-Y14.5M Dimensioning and
Tolerancing – ASME Y14.5M - 2009. New York: asme, 2009.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6409: Tolerâncias Geométricas.
Tolerâncias de Forma, Orientação, Posição e Batimento, Rio de Janeiro: ABNT, 1997.
DRAKE JUNIOR, Paul J..Dimensioning and Tolerancing Handbook. New York:Mcgraw-hill, 1999.
ISO - INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO-1101: Geometrical Product
Specifications (GPS) - Geometrical Tolerancing Tolerances of form, orientation, location and run-out, iso:
2004.
KRULIKOWSKI, Alex. Guidelines for Implementing GD&T on Drawings. Disponível em:
<http://www.etinews.com/etimail/archive/volume02/issue05/>. Acesso em: 09 maio 2012.
SOUSA, André R.; WANDECK, Maurício. Desafios Operacionais e Metrológicos da Medição Por
Coordenadas no Ambiente da Manufatura Digital. In: 2º CONGRESSO INTERNACIONAL DE
METROLOGIA MECÂNICA. Natal: Inmetro, 2011.
STRAFACCI NETO, Gilberto. Por que Geometric DimensioninG and tolerancing (GD&t)?. Metrologia &
Instrumentação: METODOLOGIA, São Paulo, p.88-90, ago. 2010.
WANDECK, Maurício; SOUSA, André R. Análise Funcional e Metrológico dos Princípios de Taylor e da
Independência na Especificação e Controle Geométrico de Produtos. In: 1°CONGRESSO INTERNACIONAL
DE METROLOGIA MECÂNICA. Rio de Janeiro: Inmetro, 2008.
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