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SERVIÇO DE CENSURA DE DIVERSÕES PÜBLICAS / RJ

SERIE: SERVIÇO DE CENSURA (CENSURA

PRÉVIA)-

SUBSERIE: PECAS TEATRAIS

NOTAÇÃO: bR AI íÇd m.p p ptf nao

TITULO: ■li-r

CERT. N°: auna /to

AN O: . JTo - j °OT
BR AN.RtO TN.CPR.PTE . /J p • í

mm&xzmo »a justiça
DEPARTAMEMTO DE POLÍCIA FEDERAL

0
MEM. N. ° 210/70—TCTC
Data 07-05-70
Do: ÍL
' ,
Para: ; r.Çklígado Regional do DPF/GB
Assun-b^:* yiwaqências (solicita)»

Sr. Delegado,

Solicito vossas providências no sen-


e /ue sejam cumpridas pela TCDP dessa Dl,as
tes determinações de caráter técnico deste ’
Serviço:
1. assistir ensaio geral da peça "ADA à C(A—
HAROTyJ", de Castro Vianaj
2. enviar a êste 3CDP relatório minucioso a
respeito do espetáculo e,
3. entregar a documentação anexa ao interes-
sado - qualificado no verso cio certificado - somen-
te após autorização desta Chefia, via rádio, a vis-
ta do const nte do íten 2.
Atenci os amente,

Q . DELEGACIA REGIGP^
CENSURA FED

PROTOCOLO N.

DPF-SAv-7059.DA
TN.CPR.PTE J4&7 p.\
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL

CENSURA FEDERAL
M. J.-D.P.F. TN.CPR.PTE , p .
CERTIFICADO DO 8.C.D.P.

Certifico constar do livro n? 01 folha n? 78 de registro de peças

teatrais, o assentamento da peça intitulada_ ■»/ a LO Ccy.ittKUTE /»

Original de C^STRü VlrAU

Traduçao de_
Adaptaçao de.
Produção de_ RLNmTQ rtUREL tQ PELKüSh - RtO LE JhNEIRO-GB,

Tendo sido censurada em. 0* de iV^ÍW _de 19_Z0_ e recebido


a seguinte ciassificaçao:_ LIVRE.

oo^tü PRL^EMTt CERTlFIUXu 80 UM VhLuGmLl qüaNíLü ^Cü.vIH^H Xü Lu aüRIHT


Oh HEyà LLVtISENTE C^Rt.^La HELP aCLP.

Brasília. 07 de

LliEFL L i òE^mü LL üEi^oUí.


DPF. SAv. 7034-FFS
rN.CPR.PTE_— , aÁ
' ‘ -^ \ 2.
A DAMA DO CA: ARCTE

PER SO NA ff E N 3:

CESAR.. 50 ANOS

mi ... 60 ANOS

ALDA .. 38 ANOS

MURILO 30 ANOS

GERALDO 40 ANOS

A AÇÃO É NO RIO, ATUALIDADE.

AMBIENTE
: \

SALA DE ESTAR E T APARTAMENTO, MOBIL IA DA CO ü CERTO GÕSTO.

PORTAS DE ACÕRDO CCM AS INDICAÇÕES DA CENA.

MOVEIS A VONTADE.
\\
TELEFONE SÔ3RE UMA MESA. \

TÕDA A AÇÃO SE PASSA EM UM DIA, APENAS.


rN.CPR.PTE_üáZ.p.6

A PAIA DO camarote

PRIMI IRQ ATO

(CESAR ESTX SÔZINHO.- EMA ENTRA)

MA

Tocê mandou ae chamar?

CESAR

Sim,dona Bna. Eu preciso falar com a senhora*

EMA

De que se trata?

CESAR

O assunto ê muito simples* No dia em que eu me casei com a sua

sobrinha Alda...

MA

Terrivel data! Nem me agrada recordar!*..

CESAR

Ora essa**. Porque?

EMA

Poi um mês... Exataniente um mês depois!....

CESAR

Que é que foi um lâês depois?

EMA

Como? Então você nao se lembra? Ura mês depois e' que aconteceu

aquela desgraça...a desgraça que me separou do meu marido...do meu

pobre Alziro...e talvez para sempre,porque nunca mais tive notí -

cias dele!.•*
' \
CESAR ^ \
Ah! Sim... É verdade*.. Não me lembrava,

EMA

Alziro...Meu querido Alziro... Porque éjque^você hao'desce? -

Desce,Alziro! Quem sabe se você não esta vivo ainda?

CESAR

É pouco provável... Pelo tempo, já devia ter descido...

Indaguei,procurei,telefonei,telegrafei...Poi tudo em vSoT...

Ninguém sabia 4*1.!... (IB STISPIBO) Ah! No's éramos tão felizes!..
TN.CPR.PTE \%â p;

..... - - • ... 4.

Mas desgr çadacionte êle era doido pela ciência, e...

CESAR
* «
A senhora vai me contar a história do Alsiro?
*
EMA

E foi vítima do seu valor, da sua audácia!...Poi um raartir!...

Um verdadeiro mártir da ciência! ••.Êle tinha paixão pela aeronáuti-

ca,pela astronáutica...Andava sempre âs voltas com aviões super-so-

nicos,foguetes interplanetários,naves espaciais...Queria ir a Marte,

queria ir à Lua...

CE3ÀR

Mas eu já sei eassa historia de côr... Depois de várias tentati

vas,coroadas pelo seis completo fracasso,êle coaseguiu afinal,subir,

mas,pelo menos ato agora.oinda nSo conseguiu descer. Disse a todos

que ia demorar apenas uns dois dias...

. EMA
la
1 ha mais de dois anos que anda/por cima!...

CÉSAR

Exatamente. E como não podemos fazer mais nada,porque a senhora

já tentou o que era possível, vamos deixar as coisas como estão e

tratar do nosso negácio. Quando eu me casei com a sua sobrinha, a

senhora insis iu comigo para que viesse morar neste prédio de apar-

tamentos que lhe pertence.Naquele tempo a casa não era de todo ma

e aqui me instalei. Mas agora,quasi três anos depois, acho que a ca

sa tem muitos defeitos e desejo mudar-me.


EMA

Mudar-se? Esquece que temos um contrato por cinco anos?

CESAR

Não,não esqueço, - e k exatamente sÔbre isso que lhe queria fa

lar. Dona Ema, eu acho que esse contrato podia ser amigavelmente

rescindido.••

eèía ) L1V RE

f Isso,nunca! E os meus interesses?


f'
CESAR

Mas,dona Ema...

EMA
rN.CPR.PTE -jtâü P 8

5.
MA

Hão quer ficar na casa? Passe o contrato adeante.

CESAR

Não encontrarei quem queira vir pra cá. 0 aluguel é muito caro...

EM

Alugue-a mais barato.

CESAR

Pagando eu a diferença?

MA

Pois claro. Queria você que fosse eu a prejudicada?

CESAR

Mas a sua casa está horrível...Está muito suja...

EMA

Mande pintar de novo.

CESAR

Depois,com a construção desse edifício aí ao lado,ficou muito

escura...

EMA

Acenda a luz.

CESAR

t mal ventilada.

MA

Compre um ventilador.

CESAR

Está cheia de ratos.

EMA

Arranje um gato.

CESAR

Tem uma porção de goteiras.Quanão chove,cai agua dentro de ca-

sa. . .

_■ mi ,
1»T
E que é que você queria que caisse? Vinho?...

CESAR \m T
'

Mas assim não é possível.. .Hão se pode discutir cora^a;;jBeniiora

•••Eu estou falando sério e a senhora me responde com brincadei-

ras!...

&
TN.CPR.PTE p, q
6.
Eia

Brincadeiras,não , senhor! Eu também estou falando sério!•••

CESAR

Então eu tenho que duvidar da sua sanidade mental...Sim,porque

a senhora não está dizendo coisas sensatas...

EMA

Voce esta querendo me chamar de maluca?

CESAR

Eu não estou querendo nada,mas se a senhora diz que e3tá falan-

do sério,eu chego â conclusão de que,se não está maluca,falta pouco

pra isso!...

EKA

Voce é muito grosseiro!... E fique sabendo que,queira,terá que

ficar aqui até ao fim do contrato,ou então me pagar a multa estabe-

lecida por lei!...

CESAR

(CGNi JIDO-òe) Sabe o que e que a senhora esta me parecendo? Uma

sogra!... E sabe o que é uma sogra, no sentido mais pejorativo do

termo? É um demonio! Uma legião de demônios! Um autêntico inferno!...

EMA

Alziro! Desce,Alziro! ...Você não está vendo com a sua infeliz

esposa está sendo maltratada?Desce,Alziro!....

CESAR

Va a senhora ter com êle! E um bem que me faz!...


' \
EMA
• ■ \
Ah! Se eu soubesse...se eu pudesse adivinhar,em vez de lhe dar

a minha sobrinha, tinha—lhe dado uma bomba atômica!.... AN

m n\
CESAR K

E eu ainda sairia ganhando,porque a senhora é pior do que quali

quer bomba que possa existir!...

EMA

Setiro-me,porque não suporto mais os seus desafôrosl,..Monstro!

(sai,e*uriosa)
i» 31 j
CESAR v i

(URIxANDO PARA PORA) Ah! Eu e que sou o monstro?A senhora


TN.CPR.PTE—,, d.
7.
me trata desse modo e eu é que sou o monstro?*••

ALDA

(ENTRANDO) Q ue e isso, Cesar? Que gritos são esses?

CESAR

Isto assim não pode continuar! Tua tia é absolutaraente intratá-

vel!... Não ha quem ature!...

ALDA

Que foi que ela fez? Fala,mas não grita...Não grita,senão me dá

o nervoso*••(FÁ2 U. TIC) Esta vendo? Ja estou ficando nervosa!...

CESAR

Esta hem, esta bem, não grito mais...Mas para com essa3 caretas!

ALDA

(DOMINANDO—SE) Prontc.Pode falar. Porque e que você esta tão irá?

ritado coa ti tia?

CESAR

Simplesmente por isto: ela nega-se a rescindir o contrato de alu

guel da casa.

ALDA

Eu não disse a você que nem valia a pena falar com ela sobre is-

so?... E eu acho que ela tem razão.

CESAR

Você acha que ela tem razao?

ALDA

Naturalmente.Ela é uma senhora viuva.-A sua única renda é este


m
prédio de apartamentos...Eu,np caso dela,fazia o mesmo.

CESAR

Esta é muito boa!... Não faltava mais nada!... Você,que devia

zelar pelos meus interesses, e a primeira a...Mas eu vou tomar uma

providência! Isto não pode ficar aasim! Eu não estou disposto a pa-

gar um dinheirão por este pardieiro! Não quero ser explorado!...

ALDA

Explorado? Você está exagerando...

CESAR

Explorado,sim,senhora!Sua tia é uma exploradora!

ALDA
TN.CPR.PTE ; ÍJj p //

ALDA 8,

Hâo grita,César! Olha o meu nervoso!...(FAZ 0 !EIC)Pronto. Es-

ta satisfeito?

CESÀR

E ne : ao menos eu posso desabafar! Eu não casei com uma mulher!

Casei com uma pilha elétrica!...

ALDA

E eu casei com um homem muito pouco delicado!...

CESAR

0 que eu estou passando depois de chegar a esta idade!...Pra


#
que e que eu fui casar outra vez? Pra que?...(SAI)

(ALDA VAI A SAIR,QUANDO MURILO APARECE)

MURILO

Ah! Dona Alda...Boia dia... Foi boa encontrar a senhora...Não

imagina como estou aflito!...

ALDA

Porque,, urilo? Por causa da nossa ida ontem ao teatro?

MURILO

Sim,senhora... Isso mesmo!..*

ALDA
Mas nao ioi nada de mais... Não ha razão para você ficar as3ia

tr afIito
'° *..Mea marido não ne leva a um passeio, hão me leva a par
te alguma... Eu ontem estava com vontade de ir ao teatro,e,como nãc

podia ir sozinha,pedi a você que fosse comigo. Não disse nada ao

Cesar,mas creio que nãoc cometi nenhuma falta grave...

MURILO

Sim,mas com razão ou sem razão, o que é fato é que eu estou

muito preocupado.-Ontem, quando a senhora me falou em ir com a se-

mora ao teatro,eu comecei logo a me sentir agitado, novoso... Pão

nervoso que, quando saí, como estava choviscando, levei a capa do

seu César julgando que era a minha. (COMEÇA A FAZER TICS) Quando

a senhora me mandou chamar um taxi, eu fiquei ainda mais nervo-

so. . •

ALDA

(FAZENDO PICS) Eu também já estou ficando...

MURILO
TN.CPR.PTEJjÍ7_p.U
9.
MURILO

Contenha—se,por favor»•.Quando chegamos no teatro, a senhora

deu por falta dos seus óculos.Tinham ficado no taxi. Deixei a se-

nhora no camarote e saí,esquecendo,por minha vez,de trazer a capa»

Andei pelas ruas,as tontas,debaixo de chuva â procura do taxi«—Con-

segui por fia encontrá-lo.Achei os óculos. Volto ao teatro...0 ca-

marote estava vasio! Ai,que nervo30!••.Afinal,me dlga:-que foi que

aconteceu?

ALDA

Voce nem imagina! No final do primeiro ato, o marido surpreen-

de a mulher com outro homem e da dois tiros em cada um! Eu,que não

esperava por aquilo,assustei-me e desmaiei.

MURILO

E depois... depois?

ALDA
* ,
I.a no teatro tinha um medico que me socorreu e eu flquei melhor

Mas,como estava ainda muito nervosa,nao quis assistir o resto da pe

ça.-Sai, tomei um taxi e vim pra casa.

MURILO

E depois... depois?

ALDA

Depois o que? Não houve mais nada...

MURILO

E seu Cesar? Que foi que êle disse?

ALDA

Não disse nada,porque nao soube nada.

MURILO

Ah! Graças a Deus! Eu estava tão nervoso! ...-Bem,aqui estão os

seus óculos.

ALDA

Obrigada.

MURILO

Agora quer fazei o favor de me dar a minha capa?

ALDA

A sua capa?

MURILO
TN.CPR.PTE_ p.ji
10.
ÍÍURILO

Quer dizer,a capa do seu Cesar,que eu deixei ficar no camarote.

A senhora não trouxe?

ALDA

Eu, náo...

MURILO

Ih! Então é capaz de estar perdida e a sua pulseira taabéml...

ALDA

A minha pulseira?

MURILO

Sim, a sua pulseira, que não fechava bem e que a senhora cie deu

no caminho pra guardar.-Não se lembra? Eu botei no bol30 da capa...

ALDA

Meu Deus! Uma pulseira de tanto valor! Murilo,vá correndo ao tea

tro...Talvez tenham encontrado...

MURILO

(AFOBADO) Sim,senhora...Eu vou correndo...Vou depressa,depres-

sa!... Mas primeiro,preciso pedir licença a seu César*..

ALDA

Pedir licença? Mas assim êle é capaz de desconfiar...Hão,não!

É melhor que eu va.—Tomo um taxi, não demoro nada.—Vou passar no

quarto para apanhar a bolsa e saio pela porta de serviço.É mais rá-

pido.-Ate' já. (SAI)

(MURI jO,MUITO NERVOSO,ANDA DE UM LADO PARA OUTRO,SENTA,LEVANTA,BOI

AS UNHAS.-TENTA VARIAS VfiZES ENTRAR HO ESCRITÓRIO DE CESAR E DESIS

TE.-SÚBITAMENTE OUVE-SE TOCAR A CAMPAINHA DA PORTA DA RUA.-ÊLE AS-

SUSTA-SE.-A CAMPAINHA TORNA A TOCAR. ÊLE RESOLVE IR ATENDER E SAI.)

GERALDO

(PORA DE CENA) Bom dia.-É aqui que mora o er. Cesar Bastos?

MURILO

(IDEM) É,sim,senhor.

GERALDO

Êle esta em casa?

MURILO

Se êle está em casa? Está,sim,senhor.-Faça o favor de entrar.

GERALDO
TN.CPR.PTE , / p..
11.
GERALDO
(EHTBAHDO m CE5A tCOM MOBILO) Coa li

estivesse nlnguea em casa...porque eu toquei a campainha e ninsuém

atendeu...

MURILO

(RISEO AL7ARf.rE.NIE) É... 0 senhor compreende.. .Às vêze3,uma pes-

soa esta sozinha...De repente bate a campainha... Está nervosa,quer

dizer, nao e campainha que está nervosa,é a gente...é a pessoa...

quer dizer,sou eu que estou nervoso...Foi por isso que não ouvi o

senhor tocar duas vêzes a campainha...-C senhor quer falar com seu

Oscar,nao e?... Êle...í!le é meu patrão... quer dizer...eu sou secrc

tário dele...Murilo de Souza,às suas ordens....

GERALDO
Muito obrigado,-<?uer ter a bondade de dizer ao Cesar que está

aqui o seu amigo Geraldo Tavares?

MURILO
Pois nao...Sim,senhor...eu vou prevenir seu Cesar... Êle está

ali.no escritário...Eu vou. lá...Eu vou falar com ele...Um momenti-

nho.•.Vou falar com seu Cesar já,já...(SAI)

CESAR
(ENTRANDO,A0 FIM DE ALGUNS SEGUNDOS)Geraldo! •
•••

GERALDO
Cesar! Meu velho Cesar!...

CESAR

(ABRAÇANDO—0) Ha quanto tempo! Como vai isso?

GERALDO
Muito bem*-E você?

CESAR

Menos mal.Quando é que você chegou?

GERALDO
Ha um mês, mais ou menos.

CESAR
0 patife...E so a ora ie apareces!...

GERALDO
rN.CRR.PTE iW
p-.'5
-12-
GERALDO

Me de3eulpa»Cesar,ma3 aó ha da±3 dias é que soube do seu ende-

reço»* •

CESAR

Como é que vamos lá pelo norte?

GERALDO

Otimamente.A. srganisação vai de vento em popa. Tanto que preten-

do ampliar a tainha indústria.Aliás,foi por isso mesmo que vira ao Rio

CRIAR

Muito hem.Folgo imensamente com o seu sucesso...Ha quanto tempo

você está por lá?

GERALDO

Ha quasi quatro anos.

CESAR

Quatro anos...É isso mesmo*..Como o tempo passa!...Eu já estou

oasado ha quasi três anos...

GERALDO

Ah! B verdade... Ia-me esquecendo...Os meus parabéns...já sabia

que você tinha casado outra vez...

CESAR

Parece impossível...Tornar a casar,na minha idade...Mas coaeti

essa tolice...

GFRALDO

Tolice porque? Você não está satisfeito com o casamento?

CE3AH

Seu Geraldotas mulheres são o diabo...A falecida,ainda passa-

va,mas esta agora...Bem... NÕo é de todo má...Mas o que te digo e que

se pudesse adivinhar,não tinha casado.

GERALDO

Que é que você está me dizendo?...

CESAR

Em todo caso,ainda tenho a esperança de mudar

ambiente.-Mas,por falar em mudar,vamos mudar de a

falar de você.— Me conte coisas....

GERALDO
TN.CPR.PTE, , p.%,
13.
GERALDO

Hada...Tudo velho

CESAR

Mas que é que você tem feito aqui,àesde que chegou?

GERALDO

Dem,nos primeiros dias andei numa lufa-lufa desgraçada,mas ago-

ra,que já está tudo entrosado,não tenho feito outra coisa senão an-

dar por ai,por esta ôidade Maravilhosa que eu não via ha tanto tem

po...com as suas avenidas, as suas praças,e,principalmente,as suas

mulheres cada vez mais lindas!..,.

GESAR

Principalmente,disse você muito bem.

GERALDO

A propósito,ontem nesmo sucedeu-me uma aventura interessantís-

sima,que eu estou doidinho pra contar a você.

CESAR

Pois então,conta logo

GERALDO

Imagina voce que ontem a noite encontrei um amigo meu que é me-

dico e tem uma cadeira reservada no teatro Ginásio.-Como eu lhe dis

sesse que ainda não tinha visto a peça em cena,êle convidou-me para

ir com ele e eu aceitei.-Como não estava multo cheio,o meu amigo

conseguiu um camarote,onde nos instalamos. Mal começa o espetáculo,

êle lembra-se de um compromisso a que não podia faltar,pede-me des-

culpas e vai embora,deixando-me sozinho no camarote.-Pouco depois

termina o ato com um negócio de tiros e uma senhora,que estava so-

zinha num camarote fronteiro ao meu,assusta-se e desmaia.-Um empre-

gado do teatro entra pelo meu camarote a dentro,e,antes que eu pu-

desse dizer que o médico não era eu,obriga-me a ir ver a tal senho-

ra...E eu fui.-Que mulher,meu velho,que mulher!... Cheguei junto de

la e tomei-lhe o pulso...isto é,p que eu peguei mesmo foi o braço...

Que braço,meu velho,que braços!...Ela era uma balzaca...Mas que bal

zaca! .

CE3AR

:;as você abusou da situação...


TN.CPR.PTE_jjiLp.jf
14.

GERALDO
•V *
Não,senhor*-A situação é que abusou de mim. * .Estava eu sem saber

o que fazer deante da mulher desmaiada,quando me disseram que eu ti-

nha de receitar alguma coisa.

CESAR

Ai é que foi o diabo,hein? Você não recei"toute...

GERALDO

Receitei.

CESAR

Você receitou?

GERALDO

Que remédio tinha eu?...

CESAR

Que reraedio tinha a receita e que eu queria saber...

GERALDO

Ah! Isso eu também não sei.-Fiz no papel alguns rabiscos e escre-

vi por baixo um nome qualquer.

CESAR

E a farmácia mandou alguma coisa?

GERALDO

fambém não sei se mandou.

CESAR

Ue.•• Você não esperou?

GERALDO

Nao.Antes que voltasse o empregado que tinha ido à farmácia, a

farsnácia,a mulher levantou-se completamente boa e resolveu ir embora

sem esperar o remédio.

CESAR

Que coisa,hein?

GERALDO

Então eu ofereci-tne para levá-la â sua casa.-Ela não, qcnsentiu,

e,tomando um taxi.deu o endereço ao chofer.E quer você ôáb«r< onde é

que ela mora?...Aqui.

CESAR

Aqui?
iN.CPft.PlE \ \2(1 p J^

GERALDO

Aqui, no mèsmo prédio em que você mora,Então,eu me lembrei,,.

CESAR

Ah! Agora compreendo a sua. visita,..Como sao os amigos!*.*

GERALDO

Os amigos são para as ocasiçes,..-Escuta,Cesar...Você sabe me

dizer quem é essa mulher?

CESAR

Como é que eu posso saber,se nem a vi? Aliás,eu não conheço

ninguém na visinhança,a não ser uma amiga de minha mulher... Mas

essa não pode ser,porque está viajando..t

GERALDO

Quem me poderá informar? 0 zelador do prédio?...

CESAR

Mas o zelador do prédio é capaz de te dar uma corrida...

GERALDO

Bem,eu não vou dizer a êle que estou querendo dar em cima da mu

lher.. .Hão.-Tenho dois pretextos sérios para procurar essa senhora

Em primeiro lugar,soa médico e venho saber notícias da minha clien-

te. -Depois, tenho em meu poder dois objetos para entregar a ela.

CESAR

estava numa cadeira e que eu pensei que fosse a minha.Quando vol-

tei para o camarote onde estava e me encontrei coa duas capas é que

dei pelo engano.—A outra capa deve ser do homem que acompanhava a

tal senhora e que naturalaente saiu antes do desmaio.

CESAR

E nos bolsos da capa você não encontrou nada?

GERALDO

Encontrei uma pulseira.Deixei ficar lá no hotel,j

com a capa.-Você não acha que é um bom pretexto para


tal
mulher?

CESAR
rN.CPR.PTE_lll2_p.J5
16.
CESAR

É... Vai falar cora o zelador...-Mas cuidadofhein? Que nao saia

por aí algum pai ou algum marido furioso...

GERALDO

;Seu Cesar,o ditado é velhos-Quem nao arrisca,nao petisca...Onde

é que encohtro o zelador?

CESAR

Ho andar térreo,à direita.

GERALDO

Então,se você ae da licença,vou falar com ele agora mesmo.Depois

volto pra contar o que houve.

CESAR

Pois não.-Pico esperando.

GERALDO

Obrigado e até já. (SAI)

(PICA UM INSTANTE A PENSAR NO QUE LHE CONTOU 0 AMIGO.SÚ3ITAMENTE

TEM UMA IDÉIA.-VAI ATÉ A PORTA E CHAMA) Murilo?L!urilo# dá um pulo

aqui...

MURILO

(ENTRANDO) Chamou,seu Cesar?

CESAR

Escuta,Murilo,eu preciso falar cora você sôbre um assunto...

MURILO

(ENTRANDO) Sim,serqhor.. .De que se trata?

CESAR

Diga-ae udá csisa.-Cntesi à noite,no teatro Ginásio...

MURILO

(PAD7NDC TIOS) No... no teat-o?

CESAR

Que é que você tem?

MURILO

Nada,seu Cesar...É o meu nervoso...

CESAR

Como eu ia dizendo,ontem à noite,no teatro,uma senhora que es-

tava num camarote...

MURILO
TN.CPR.PTEM/ d. ví 7

17.
MURILO

Nua... cama...rote?.••

CE3AR

Mas que diabo é isso?

MURILO

Não faça caso.••Eu já disse...á o meu nervoso...

CESAR

Sim,senhor...Você e minha mulher faziam um bonito par...

MURILO

(RINDO AMARELO) 0 senhor acha,é?...

CESAR

Como eu ia dizendo,uma senhora que estava num camarote,assus-

tou-se com uns tiros dados em cena,-e desmaiou.

MURILO'

(QUASI DESMAIANDO TAMBÉM) Ela...desmaiou?...Então...o senhor

;já sabe?...

CESAR

Ja sei.-E essa senhora mora aqui!... (MURILO CAI SENTADO) Rapaz,

voce precisa se tratar...Como eu ia dizendo,essa senhora,que mora

aqui,foi ao teatro com...

MURILO

Comigo,seu Cesar...Eu confesso!...

CESAR

Hein? Com você?...Então você anda passèiando com senhoras..•

dessa espécie?

MURILO

Seu Cesar, eu devo dizer ao senhor que...

CESAR

Não adianta negar,porque ha provas.-Entre outras,a pulseira

perdida.

MURILO

Mas eu não nego,seu Cesar,eu não nego...

zer ao senhor é que,apesar das aparências serem contra ela,ela não

merece que c senhor duvide dela...porque ela é uma senhora muito sé-

ria e muito distinta!... ^


rN.CPR.PTEj^.p.ij

13.
CESAR

Uma senhora muito séria e muito distinta não vai ao teatro em

coapanha de um homem que não pertence â sua família.

MURILO

Bem...Até certo ponto,o senhor não deixa de ter razão... E eu

mesmo disse a ela que o senhor não havia de gostar...

CESAR

Hein? Voce disse a ela que eu não havia de gostar?

MURILO

Disse,sim,senhor. Eu disse a ela.

CESAR

Ora essa...Mas que e que eu tenho com ÍS30?

MURILO

Bem...Ate certo ponto...O senhor é meu patrão...

CESAR

Não tem nada uma coisa com a outra e não me interessa,Para mia

tanto faz que você goste ou nao goste dela...

MURILO

0 que?

CESAR

Como também pouco ae importa que ela goste ou não goste de você.

MURILO

Ue. «•

CESAR

0 principal é que essa senhora.que tem um procedimento ifregu-

lar,foi a primeira a desrespeitar a casa em que mora.Compreende vo-

ce? A casa em que ela mora é a mesma casa em que eu moro... E a von

tade que eu tenho,ha muito tempo,de d eixá-a, transforma-se agora em

necessidade!..•

MURILO

0 senhor quer deixá-la?

CESAR

Tou falar com dona Ema novamente.Ainda agora tivemos uma dis-

cussão sobre o assunto,por 3inal que nao chegamos a um acôrdo...Mas

agora,coa êaae pretexto oaravi ,


.Lios©,«1® tera que concordar comigo.
TN.CPR.P I e -\dú P- u.
.19.

E você,como principal testemunha,vai confirmar tudo o que me contou.

MURILO

Mas,seu Cesar,me desculpe...SÓ por causa disso o senhor quer to

mar uma atitude tão...tão violenta?

CESAR

Ó seu Murilo,você não compreende que isso é apenas um pretexto?

E eu quero aproveitar o pretexto para me livrar da espiga que a do-

na Ema me impingiu?...

MURILO

Espiga?.••

CESAR

Uma verdadeira espiga.-Comecei a implicar coa ela logo no dia

ea que me ca3ei.-Logo na primeira noite que passei aqui.

MURILO

Logo na primeira noite?...

CESAR

Por aí você calcula como foi a minha noite de núpcias...Achei-

a fria,muito fria...Parece até que é úmida...Você não acha ela úmi-

da?

MURILO

(NUM GRITO) Eu?!... Como é que eu posso saber?...

CESAR

Você pode saber tanto quanto eu...Quer dizer,ha tanto tempo,

não,porque você chegou depois.../*as já teve tempo de ver...

MURILO

Seu Cesar,eu juro ao senhor...

CESAR

Além disso,é sem graça,sombria,triste*..Você não acha ela tris-

te?

MURILO

Bem...La isso...Não é das mais alegres...

CESAR

E ainda tem outros defeitos...Por exemplo,máu ar...mau máu ehei

ro!...
;.CPR.PTE ... p.U
20.

MURILO

Mau cheiro? Nunca dei por isao!...

CESAR

Pois preste atenção que você vai sentir o máu cheiro. E o pior

ainda não é isso...O pior é/que eu já reparei várias vêzest ha oca

eiões em que até mofo ela tem!*..

MURILO

MÔfo?! * . . (JUNTANDO ÁS MÂOS ) Nao pode ser,seu César!***

CESÁR

í como lhe digo. Si tão, vou falar com a dona Ema.Ou,melhor, vou es-

crever* É melhor escrever do que falar pessoalmente..*E você não es-

queça o que lhe recomendei.(SAII

(MURILO,PICANDO 3ÔZINHO,DEMGNSTRA ESTAR NERVOSÍSSIMO.ANDA DE UM LADO

PARA OUTRO,SíM SABER 0 QUE FAZER.DE REPENTE,TEM UMA IDEA E SAI PELO

LADO)
GERALDO

(ENTRA) Cesar? 0* Cesar? (DIRIGINDO-SE PARA A PORTA DO E3CRIT0'-

RIO)Cesar,não encontrei o zelador...

ALDA

(ENTRA LOGO DEPOIS) Murilo? Murilo?(ENCAMINHA-SE PARA A LATE-

RAL) Murilo,nao encontrei a capa...

GERALDO

(VENDO-A) A dama do camarote!

ALDA

0 medico do teatro!

GERALDO

(NERVOSA) 0 mesmo digo eu*

GERALDO

Eu vim fazer uma visita ao meu amigo Cesar,que não via ha mais
1 N.CPR.PIL ÍÍÍO p.^N
21

de três anos...

ALDA

O senhor.•• e... e amigo do Cesar?

GERALDO

Multo amigo.-A senhora conhece o Cesar?

ALDA

(FAZENDO TICS) Se eu conheço...o Cesar?

GERALDO

Desculpe a minha pergunta 3em nexo...Naturalaente que conhece,

pois vejo—a aqui, em casa dele..*É parenta dele?

ALDA

Parenta,propriamente,nao...Eu sou...

GERALDO

Ja sei! Aposto que é amiga da mulher dele!

ALDA

Doutor, eu. ..

GERALDO

(SATISFEITO DA VIDA) Pois,minha senhora,a sua saúde inspirava-

me tantos cuidados,que resolvi procurá-la...Tencionava agora subir

à sua eaaa...

ALDA

Subir à minha casa?

GERALDO

Mas uma boa estrela fez com que nos encontrássemos aqui...

ALDA

0 senhor é muito amável,mas.• •

GERALDO

Minha senhora,eu sou um homem simples e sincero,que não sabe es-

conder ps seus sentimentos.Portanto,desprezando os preâmbulos,direi

que bemdigo essa boa estrela que cie foi tão propícia e aproveitarei

o ensejo para...

ALDA

(COM NATURALIDADE) Para que?

GERALDO

(BE3ARMADO) Para...para perguntar-lhe se...


a senhora não teve
TN.CPR.PTE_i^p.25
22.
J
mais nada?

ALDA

Mais nada,doutor.

GERALDO

Quer dizer que está....inteiramente restabelecida?

ALDA

Sim,doutor.-Obrigada pelo seu interesse.

GERALDO

E eu... queria ainda dizer-lhe que...ontem â noite...alguém que

esteve no seu camarote,deixou ficar lá uma capa...

ALDA

Com uma pulseira no bolso?

GERALDO

Exataaente.-Pois esses dois objetos estão em meu pcder e eu vi-

rei entregá-los hoje mesmo,se me der licença...


I \
ALDA I 'K

Muito obrigada...Hao sei como pagar-lhe! ...


b \ fk
GERALDO 1
i \
0 unico pagamento que espe ro da senhora é a graça de poder mere-

cer um pouquinho da sua simpatia...! a graça de obter um lugarzinhò


1 ;i
- \ •
no seu coraçao... ( \ v
\\
ALDA

Mas isso,doutor,não e possível,porque...

EMA

(EflTRA,FURIOSA,TRAZENDO UMA CARTA) Onde está ele? Onde está aoue-

le maleducado? ) V
j 1 '
ALDA
- \ í
Quem e o maleducado? j ,
! 1
EMA ;í
> *h
0 Cesar.-Tenho que lhe pedir satisfações desta cartaj
.9 *.
ALDA í

Uma carta? Êle escreveu a senhora?

EáA

Pois é.-Veja você que besteira! Porque não me falou pessoalmente?

Até parece que eu não oro aqui...Me mandar uma carta! E uim carta
TNI.CPR.PTE_ij&_p.^
23

muito grosseira!... Cheia de mentiras,falando mal do meu prédio e me

dizendo uma porção de desaforos!,*. Ah! Menina, mal dita a hora eia que

consenti neste casamento!... (SURPRÊSA DE GERALDO) Se eu pudesse adi

vinha,quando êle me procurou, todo cheio de dengues, eu tinha dito:

Hso!*.*

ALDA

Mas afinal,que foi que êle escreveu?

EMA

Yocê quer saber? Escuta. (LENDO) "Minha senhora..."

ALDA

Agora,não...Está aqui gente de fóra...

ISA

(TENDO GERALDO) Ah! Não tinha reparado... Desculpe.

GERALDO

Minha senhora,lamento que o meu amigo Cesar não esteja aqui para

apresentar-me. Geraldo Tavares, um seu creado...

EMA

Muito prazer, ms, se me dá licença...(A ALDA)Vem comigo.


V
ALDA

(A GERALDO) Com licença...(3ÁEM AS DUAS)

CESAR

(ENTRA) Olá...Yocê já voltou? Então? Que é que disse o zqlador?

GERALDO

Que zelador! ....Eu nem encontrei o zelador!...Mas você é um pa-

tife,hein?

CESAR

Um patife,eu?Porque?

GERALDO

lace me disse que não sabia quem ela era...e eu acabo de sa$ir que

você a conhece. #
f -
CESAR

Geraldo,eu dou a minha palavra...

GERALDO
Não sei porque você me escondeu isso.,
TN.CWTEjifcLp.lf

24.
CESAH

Não escondi coisa nenhuma! já disse que não conheço a tal mu-

lher! ...

GERALDO

Para de mentir,meu velhc...Ela é das relações de vocês...Ela es

teve aqui...Saiu neste instante com a sua mulher...

CISAR

Com minha mulher? Mas você não conhece minha mulher...

GERALDO

Acabei de conhecê-la agora mesmo. Apresentei-me a ela.E por si-

nal que,aqui entre nos, a minha primeira impressão não foi lá muito

boa...Em parte eu condordo com tudo aquilo que você me disse sobre

ela... Deve ser mesmo um pouquinho difícil de se aturar...

CESAR

Bem,mas nao é de minha mulher que estamos tratando. 0 que não

compreendo é você dizer que a outra esteve aqui.

GERALDO

lá disse que estava com sua mulher.

CESAR

Não pode ser,Geraldo...Não pode ser!...

GERALDO

Como não pode ser? Olha...Sairam as duas por aqui... (VAI ATÉ i.

PORTA) E nem de propósito.-AÍ bem ela...

CESAR

Ela,quem?

GERALDO

A minha deusa.-E vem com sua mulher outra vez.


\
' CESAR

(INDO ESPIAS) Hein? Ó Geraldo...Você tem certeza de que essa que

vem ai com minha mulher é que é a dama do camarote?

GERALDO

Exatamente. É ela.

CESAR
TN.CPK.P1EJh\l

EMA

(ENTRANDO COM AIDA E INDO a CESAR) Seu César! Então isto são

coisas que se escrevam a uma senhora? Você não passa de um sujeito

muito malcreaao!..•

CESAR

Faça o favor de nao gritar comigo,porque eu sei umas coisas a

seu respeito a posso dize-las em voz alta!..*

EMA

Que coisas? Que coisas?

ALDA

Que étCesar?

CESAR

(INDICANDO GERALDO) Êste moço é que pode responder!...

MA

Êste moço?

ALDA

Cesar.é preciso que você se explique!...

CESAR

Direi apenas duas palavras* sei tudo!...

MURILO

(QÜBE ENTROU POUCC ANTES.DIZ-LHE BAIXO) É verdade,sim,dona Al-

da... Seu César sabe tudo!...

ALDA

Êle sabe? Meu Deus! .*.Estou me sentindo mal...Os meus nervos,os

meus malditos nervos!...Eu preciso tomar um calmamente!..(E SAI DE_

SABALADAMENTE)

MA

Menina,onde é que você vai? Que é que você tem? Alda!... Alda!...

(E SAI ATRAZ DELA)

CESAR \

(APROXIMANDO-SE DE MURILO) Seu Murilo, vai começar a minha viç-

MURILO
tn.cpr.pts_J£/ p,^

26.

MURILO

(DE OLHOS ARREGALADOS) A sua vingança? A minha vez? Ai, que

nervoso!..* Também estou me sentindo mal... Preciso também tomar

um calmante... Com licença, com licença!... (3AX)

GERALDO

(QUE ASSISTIU A TUDO SEM PERCEBER RADA) Mas,afinal, Cesar...

Que é que está se passando? Eu não compreendo...

CESAR

Hao,meu velho...Quem não compreende sou eu... Hão compreendo

e seu estSmage! ...

FIM DO 16 ATO
TN.CPR.PTEjífc d. V/

27.

A DAf.Là DO CAMAROTE

SEGUNDO ATO

(E3TiTO K: CENA ALDA E MURILO)

ALDA

Bem,Murilo,agora que a crise passou e estamos sós,me conte tudo

...(FAZENDO TICS) Ainda nao estou boa de todo...

MURILO

(FAZ NDO TIC&) Nem eu. ..Mas o que lhe digo e que seu Cesar sa-

be tudo.O negócio do desmaio,da capa,da pulseira...

ALDA

Mas quem contou a ele?

MURILO

Não sei. Posso jurar â senhora que eu nao disse nada...

ALDA

Ah! Ja sei quem foi...Foi o médico.

MURILO

Que médico?

ALDA

0 medico do teatro.

MURILO

Êle veio cá?

ALDA

E aquele amigo do Cesar... Aquele que estava ai.

MURILO

Ah! Então,foi êle... E agora seu marido está crente de que eu

sou um conquistador e que a 3enhora...X verdade! Sabe que êlç^uer

se separar da senhora?

ALDA

Separar—se de mim? Quer dizer que êle duvida da mlnh^ honesti-

dade? Pois terá que me dar contas do seu juizo leviano,e,sobretudo,

da sua ingratidão!...

MURILO

Por falar em sobretudo...A senhora encontrou a capa?

ALDA

Já tudo apareceu.
TN.ePR.rlEji4_p.3j
28.

MURILO

Quem foi que achou?

ALDA

Poi o médico.E antes que as coisas se compliquem mais ainda»vou

falar agora mesmo cora o Cesar.

MURILO

Então eu vcu la pra dentro.Essas cenas nie botam nervoso*(SAI{

CESAR

(ENTRANDO) Alda,preciso falar com você.

ALDA

Eu também. Tanto que ia agora mesmo**.

' CESAR

0 que eu quero dizer é o seguinte.Qntem â noite, no teatro Gi-

násio...

ALDA

Era sobre isso mesmo que eu queria falar com você.

CESAR
* «w
E?* * «Então » diga—cie:<Jue atitude você acha que eu devo tomar?

ALDA

Cesar,voce deve saber que as aparências quasi aerapre enganam e

que não se deve suspeitar,sen motivos muitos fortes,da honestidade

de uma mulher! ...

CESAR

Alda,uma raulmer docente,uma mulher que se presa,não anda pelos

teatros era companhia de um homem que não é seu parente!

ALDA

E e crime ir a ura teatro?

CESAR

Nessas condições,é. Mas aqui entre no's, o que mais me admira,©

que ainda não pude compreender,é o gosto estragado do Murilo!...

ALDA

Gosto estragado?

CESAR

Como é que um rapaz,que tinha tanto onde escolher,vai-se inte-

ressar por... por uma criatura assim?


TN.CPR.PTE_iifc_p.Ji

sj.

ALO A

Uma criatura, assim, como?

CESAR

Ora,como...Um espantalho!...

ALDA

Espantalho?!...

CESAR

E,além de tudo,ridícula! Uma velhota metida a mocinha!...

ALUA

Velhota? Cesar,você está doido? Isso é demais!...

CESAR

Demais? Então você acha que sua tia ainda tem idade e cara pa-

ra inspirar paixões?

ALDA

(SM COMPREEHDER) Minha tia?...

CESAR

Sim,suá tia,dona Ema...De quem é que estames falando?...Que ela

g03tavn dêle,apesar de estar sempre suspirando pelo defunto,eu já

sahia. Mas que o Murilo tivesse estômago para suportá-la,isso é que

é incrível^...

ALDA

Mas Cesar,você está laborando num err© tremendo! Eu devo dizer

a você que o que se passou ontem...

CESAR

Hão,senhora! Nao me diga nada!Nao acirto nenhuma desculpa! Fa-

ça o favor de lhe dizer que não tome a pôr os pés em minha casa!

••. ALDA

Cesar,você está exorbitando!...

CESAR

Mão quero ouvir mais nada!...Em minha casa quem manda sou eu!

ALDA

Está bem. Eu vou me embora,porque com esses gritos você me faz

ficar nervosa...Mas quando você estiver mais calmo,nos conversa-

remos! ...(SAI)
TN.CPH.PTE.lifc,

(CE3AR,SATISFEITO»VAI A SAIR, QUANDO RETINE A CAMPAINHA DA PORTA DA

RUA- ÊIE VAI ATENDER)


GERALDO

(FALANDO,PdRA) Da licença»Cesar?

CESAR

(IDEM) Oh! é vooê,Geraldo?,..Vanos entrando...


9 -r
GERALDO

(APARECE COM CESAR) Como é? 0 ambiente já está ais calmo?

CESAR

Pelo menos,parece...

GERALDO

(PONDO SÕBRE UMA CADEIRA UMA CAPA QUE TROUXE) Pois é isso...

Eu voltei para ver a rainha deusa...

CESAR

A tua que?

GERALDO

A minha deusa...a tal,do teatro...

CESAR

Geraldo,com franqueza,eu acho que você está se divertindo â mi-

nha custa...Você quer me fazer de palhaço...

GERALDO

Ue...Porque é que você diz isso?

CESAR

Então você pensa que eu vou acreditar que você seja capaz de go£

tar daquela bruxa?

GERALDO

Bruxa?!... Cesar,você está sendo exigente demais...Está levando

muito longe o seu exagero...Ela não será propriamente ura tipo de be-

leza. ..Mas daí a ser o que você disse, vai ura abismo...Ela é bastan-

te atraente...

CESAR

Atraente,aquilo? Deus que te perdôe...

GERALDO

É. •. Eu já estava me3iao desconfiado de que você é que não en-

tende mais nada de mulheres...

CESAR
TN.CPR.PTE Atfst n }l|

fh.

CESAR

Ah! Sou eu que nao entendo?

GERALDO

Bem...Vamos parar por aqui, porque eu não quero aborrecer você...

Mas fica sabendo que,de qualquer forma,eu estou doido por ela!...

CESAR

So mesmo estando doido*.•

GERALDO

Eu,quando gosto de uma raulhe£,sou assim...Sinto uma coisa,de re-

pente, e pronto.Chego a ficar meio idiota...

CESAR

Meio idiota? Você fica é idiota e meio...Mas ha ura bom remédio...

Se você está assim tão apaixonado,porque nao ca3a com ela?...

GERALDO

Casar?...

CESAR

Sim. Porque não?

GERALDO

ÊS3e negócio de casar e nuito sério..•Ê preciso pensar em muitas

coisas*.*

CESAR

Q ue muitas coisas?

Muitas coisas

com ela ao teatro...Quem sera êle?...


;

CESAR

Ah! $ verdade...Eu nem me lembrava Ias fica sabendo que isso

não tem importância nenhuma...

GERALDO :• tff. •

Como não te i importâmcia?

CESAR

Vou dizer ;}á. Hão tem importância porque o tal homem que foi com

ela ao teatro...
••* é o $eu secretário... o Murilo!...

GERALDO

Ah! Foi o Murilo?


TN.CPR.PTE_iili2_p.35
32.

CESAR

Mas você pode ter a certeza de que não há nada entre eles.Você

já reparou hem no Murilo? Então...0 negócio foi o seguinte: ela que-

ria ir ao teatro,e,como não tinha outra companhia...


GERALDO

Não precisa dizer mais nada.Foi o Murilo? Está aaabado.. .Agora,

eu vou pedir um favor a você...

CESAR

Q ue é?

GERALDO

Você podia,como um favor de amigo,quando encontrar oportunidade,

dizer a ela umas coiQinhas agradáveis a meu respeito...

CESAR

Pois não...Coa rnuitc prazer... (REPARANDO NA CAPA QUE GERALDO DEI

XOU SêBRE A CADEIRA) Ora essa. ..Que faz esta capa aqui na sala?

GERALDO
Ah! Esta capa é...

CESAR

Êste pessoal não toma jeito... Veja você,seu Geraldo...Alguém

apanhou esta eaja lá dentro e deixou-a ficar aqui... (OUPRO ÍPOM) Ou

será,que fui eu mesmo que...Mas,de qualquer forma,deviam ter tido o

cuidado de guardá-la...

GERALDO

Mas eu acho que você se engana... Es3a capa não é sua...

CESAR

Não é minha? Então eu não conheço o que é meu?

GERAÜjDO

Cfisar,esta capa é: a que eu encontrei onrfcèm no teatro!

CESAR
#
VOCe e teimoso,hein,rapaz? Estou me convencendo de que você es-

tá doido mesmo...Esta capa é minha,compreendeu? Minha!....E se você

inssite era dizer que foi esta a que você encontrou no teatro,então

a conclusão é aimpfesi fui eu que a esqueci lá o

homem que acompanhou a tal mulher...Sou eu o do ea-

naro te!. . .

GERALDO
TN.CPR.PTE l , p.l;
33*

GERALDO

Você?! Mas você não disse*..

CESAR

Que mania de teimar com os outros!... Eu vou guardar a capa e

já volto...(SAI)

(GERALDO, FICANDO SÔZINHO,FAZ UM GESTO COMO SE TIVESSE FINAIMENTE ÊER

CEBIDO ALGUM ALGUM SEGRÊDO DE CESAR.ALDA ENTRA)

ALSA

(ENTRANDO) Oh! Doutor...O senhor está sozinho? Onde está o Cé-

sar?

GERALDO

Saiu daqui neste instante.Eu voltei para lhe pedir perdão...per-

dão pelo meu atrevimento de ha pouco...Julguei que a senhora fosse

livre...que o seu afeto não pertencesse a ninguém... E simpatizando

com a senhora, não resisti a confessei-lhe o meu amor.-Comprrende.. •

Eu não conhecia a senhora...Passei vários anos sem ver o Cesar...Se

não fosse isso,êle já me haveria apresentado â 3ua querida...

ALDA

Com certeza.Quer dizer que foi o proprio César que lhe disse quem

eu era?

GERALDO

Exatamente.Agora aesao.

ALDA

(NUM SORRISO) Então agora...o senhor já sabe...

GERALDO

E...já sei...E acho o Cesar ua homem feliz,muito feliz...

ALDA

Porque?

GERALDO

Então não e feliz aquele que possue o amor de uma mulher §999 a

senhora?*..

ALDA

Agradeço o elogio...

GERALDO

Mas esse amor...Da licença que lhe fale com téd


TN.CPft.PTE HÍO p.^

34.

A1DA

Estimo, até.

GERALDO

Êsse amor, rainha senhora,é muito mal empregado...

ALUA

Mal empregado ?Como, assim?

GERALDO

Naturalxaeute. • .Orna mulher como a senhora tem o direito de reinar

sozinha no coração de qualquer homem...

ALM

E eu náo ocupo sozinha o coração de César?

GERALDO

Bem...De uma certa forma...Eu acho que...

ALM

Vamos*•.Fale.••

GERALDO

Quero eu dizer que a senhora nao deve se esquecer de que ele é

um homeia casado.. .Siga o meu raciocínio. • .E um horaem casado,para ser

um homem digno a merecer o amor de uma creatura como a senhora,não

podia,não devia enganar a mulher...

ALM

Como? Que diz?!...

GERALDO

(NUM LEVE SORRISO) Sim,porque a verdade é que ele engana a mu-

lher. ..Ora,isso não deixa de ser um crime.*.E quando um homem é ian

criminoso,não merece o amor de uma mulher como a senhora*..

ALM

0 senhor quer dizer que... {ALTERAM) Ah! Compreendo agora a sua

atitude...o seu modo de proceder.•.os seus acessos de raiva.•.Era

por isso que ele..*Al,ai,os meus nervos!*...

GERALDO

Que é que a senhora tem? Está sentindo alguma ccisa?

ALDA

Estou sentindo a vista turva...Parece que vou desmaiar...Sinto

que vou cair...


TN.CPR.PTE í ÚC p.l£

35*
GERALDO

(ABRINDO-LHE OS ERAÇCS) Cala por cima de mim!-..

ALDA

(tCMIEANDO-SE) Não...Passou...Obrigada.Obrigada por me haver aber-

to 03 olhos...E pode crer que as minhas relações com o Cesar estão qu£

bradas para sempre!...

GERALDO

Muito bem,minha senhora!...

ALM

0 senhor é um moço distinto..* Um homem assim é que eu devia ter

encontrado no meu caminho!....

GERALDO

(QUERENDO ABRAÇÁ-LA) Pois aqui estou eu no seu caminho! •.•.

- ALDA

Está louco?...Pois não sabe que eu sou casada?...

(GERALDO ARREGALA OS OLHOS,3URPRÊ30)

3£A

(ENTRANDO,COM UM PAPEL SA íiXo) Alda.. .Alda...

ALDA

Que é,minha tia?...(NCVA SURPRÊSA DE GERALDO)

EMA

Olha aqui ume carta que eu vou escrever ao Cesar.

ALDA

A senhora vai escrever para o Cesar?

EMA

Então? Éle não me escreveu? Pois eu faço a mesma estupidez...

E3crevo pra êle também...Escuta.(VAI LÊR)

ALDA

(TOMANDO A CARTA DAS MlCS DE EMA E DIRIGINDO-SE A GERALDO)

Da licença, doutor?

EMA

(VENDO GERALDO) Outra ves?. ..Êsse moço está sempre aq

queremos lêr alguma carta...

ALDA

Deixe eu ler,minha tia. (LÊ A CARTA,LNQ AfíDO GERALDO DEMONSTRA,


TN.CPR.PTE /.,• p. ^

36.

HA FISIONOMIA,QUE ESTÁ PROCURANDO COMPREENDER O QUE SE PASSA) Está

muito bon,rainha tia*. .Àiíiãa é pouco o que a senhora diz a êle!...Êle

merecia muito mais!

Mas que é que você tem,AIda? Está tâo trêmula. •*

A IDA

É o meu nervoso#titia... (A GERALDO) Por obséquio,doutor...leeei

te-me alguma coisa. • •

Não,minha senhora...quer dizer...sim...isto é... às vezes sou

e as vezes nao sou..

A ' ' <>

Ue.«.Âs vezes é • gs vezes não íí Não entendo...

GERALDO

Ê muito simples... É que atualmente não estou clinicando

ÁLBÁ

Veja o meu pulso,doutor...

GERALDO

(SATISFEITO,TOMA -LHE 0 BRAÇO) Com muito prazer!...

EMA

Ih! Eu também estou ficando nervosa... Doutor#veja o meu pulso

Que tal esta?

GERALDO

Bastante agitado.••

E o meu?

A mesua coisa,com a diferença de estar um pouco diferente.


TN.CPR.PTE p.H<7
37.

ALUA

Que devo tonai*?

mA

E eu? Que á que o senhor me receita?

GEHALDO

Bera..• Como o mal não é muito grave,podemos resolver tudo coa re-

médios caseiros...(A ALBA) A senhora tome chá de laranja...(A EIA A

senhora tone chá de abacaxi... 15,se me dão licença,eu vou tomar fres

co!... (SAX)

ALUA

Chá de laranja?

EuLA

Chá de abacaxi?

ALM

Ah? Minha tia... Eu sei porque me deu esta crise...Eu sou muito

infeliz!...

MA

Porque? Que foi que aconteceu?

ALM

Acabo de saber que meu marido me engana!...

MA
!
0 César? E naquela idade? Que patife!...

A LBA

E eu, tão tola, que gostava dele!...

EMA

Pois olha, eu já andava meio desconfiada.•.Be uns tempos para

cá êle tem tomado umas atitudes muito extrunhas...

A LBA

Ah! Mas se êle pensa que tudo xica as3im,esta muito enganado!

Hei de vingar-me!...

EMA

Muito bem,minha filha!...

ALM

Estou pior dos nervos! You tomar o meu chá de laranja! (SAI)

EMA
TN.CPR.pteJÍ%7 p Ijj
56.
' - -EMA -1

Eu também vou tomar o aeu cho de abacaxi! (7AI A SAIR)

MURILO

(EUTRÂNDO) Dona Ema*,.Eu preciso falar com a senhora*..

WA

Que é que você quer,Murilo?

MURILO

Quer dizer... não sou eu que quero*..quem quer e o seu Cesar.

Êle mandou dizer umas coisas pra senhora...

EVA

De que se trata?

MURILO
Da dona Alda.-A senhora sabe que seu Ceaar quer se separar dela?

MURILO

Êle disse que...que foi uma espiga que a senhora impingiu a

le...

Htfíji

Espiga?!...

MURILO '

Espiga,sii'.,senhora.Êle que ela é fria...

mA

Fria? Eu hei-de esquentá-lo!...

MURILO

E disse também uma coisa que eu nunca notei...A senhora me des-

culpe.. .Disse que a dona Alda não se cuida... que não...não gosta de

tomar banho...que tem máu cheiro...

ISCA

Mau cheiro? (FURIOSA) Pois êle teve a audácia?!*..

MURISO

Bem...Eu não tenho nada com isso...Estou só lhe dando o recado

que êle mandou...Co® licença...(SAI)

CESAR

(ENTRANDO) Ah! A senhora...

BU

Foi boa você aparecer. Eu preciso mesao falar


com você!...
TN.CPR.PTE j4$ü p>4

39.
CEO AR

Não,senhora* Quem vai falar sou. eu.

EMA

Mas eu quero lhe liaer...

CISAR

A senhora não vai dizer nada.

USA

Mas eu acabei de saber...

ema

A senhora ainda não sabe nada.Vai saber agora.Eu vou lhe dar uma

notícia agradável...

BÜL

# (ABRANDANDO) Notícia agradável?

CESAR

Sim,senhora.Coa que entãc,apesar da sua idade...

(AZÊDA) Que é que tem a ainha idade?

CESAR

É uma idade austera.-E uposar da sua austeridade,a senhora ainda

consegue atrair a atenção dos rapazes namoradores?

ISA

Rapazes?...

CSSAH

Sim,-Pelo menoa dois a senhora conseguiu, conquistar.

EKA

Dois? Mas...Eu...Eu não compreendo...

CESAR

Não adianta finjir. Eu eci tudo.Conheço ambos.E um deles é moço

viajado, muito simpático e muito rico.

EMA

E gosta de mim?

CESAR

Está estupidamente apaixonado!...

EMA

Ah! Não acredito...Você quer brincar comit-o.,


TN.CPR.PTE_íj&_p.lii

40.
CESAR

Brincar com a aenhora? Nem brincando!•• *

EMA

Então é verdade?...Alziro, não desce agora... Eu estou começan-

do a ficar nervosa..*

CESAR

Guarde os seus nervos para o dia do casamento...

ESSA

Casamento^Êle quer casar comigo?!...

CESAR

Se quer! Está louco,completomente louco!...

EMA

(ASSANHADA) Mas então diga quem ó...Quem é êle?...

(NESTE MOMENTO RETINE A CAMPAINHA DA PCRTA DA RUA)

CESAR

Um momento.(VAI ATENDER)

GERALDO

(FORA) Sou eu, outra vez,César...

CESAR

ClDEM) Entra,entra,Geraldo...(APARECEM AMBOS)

GERALDO

Não venho importunar?

CESAR
• \ - • •
Ao contrário. Você chegou em ótima ocasião...(BAIXO A EMA) Dona

Ema... é aquele.(BAIXO A GERALDO) Geraldo,já preparei o terreno.co-

mo você pediu. A coisa está arranjada.Pode meter a cara, porque e

canja...(SAI)

(CENA MUDA.-GERALDO DÁ MOSTRAS DE NlO TER PERCEBIDO NADA. EMA TOMA

ATITUDES DENGOSAS,SORRINDO E OLHANDO SIGNIFICATIVAMENTE PARA ÊLE)

EMA j ia í

Queira sentar-se,doutor... ÍÀ .2

GERALDO

Muito obrigado.-A senhora esta melhor? Fez—lhe bem o chá de la-

ranja?

EMA
De laranja,não.•. De abacaxi.
TN.CPK.
41.
GERALDO

Ah! Sim...De abacaxi. •.

MA

(SUSPIRANDO, EXAGERADA) Ai,ai!...

GERALDO

Que foi, minha senhora?

MA

Nada*..Fui eu que suspirei...

GERALDO

Porque? Está sentindo alguma coisa?

MA

Bem. ..É que...Ha notícias que não se recebem sem uma certa emo-

Çao.

GERALDO

Ah! Isso, e...

EMA

E o senhor compreende... Embora eu ainda seja uma mulher rela-

tivamente joven, não posso mais rae considerar como uma mocinha inex-

periente...

GERALDO

Ah! Isso , e* •.

MA

A surpresa foi muito grande e eu não quero resolver assim,de re-

pente...Não acha que faço bem?

GERALDO

Hein? Ah! Sim... Acho,sim,senliora.. .

EMA

Na vida ha umas tantas resoluções que são graves,exrreiaamente

graves... E antes dc assumir um cpmpromisso dessa ordem,a gente de-

ve pensar maduramente nos prós e no3 contras,afim de evitar um de-

sastre moral que venha, de qualquer forma,tomar sombrio e t Í3te

tua futuro que pode ser claro e risonho,

GERALDO

(SE! ENTENDER NADA) Ah! Nesse ponto,eu concordo com a senhora...


A
EMA
4
TN.CPR.PTEjiÍj_p.HS
42

WA

fim. princípio eu estou examinando a sua proposta coa toda a sim-

patia...mas primeiro preciso conhecer a firmeza das suas intenções.

0 senhor é moço...pode estar enganado... Diga-me: é verdadeiro o

seu afeto?

GERALDO

(CAINDO DAS NUVENS) 0 meu que?!...

E.ÍA

0 seu afeto.-O senhor tem certeza...está absolutamente certo de

que está mesmo apaixonado por mim?

GERALDO

Apaixonado pela senhora? Eu?!... (DOMINANDO-SE) Bem, minha se-

nhora, o que eu tenho a lhe dizer...

EMA

Basta! Basta! Não precisa dizer mais nada! As suas palavras me

convenceram!• •• Vejo que o seu amor e sincero e forte! Tão 3Íncero

e tão forte que enterneceu o meu coração...Pique sabendo que eu taa

bem o amo!...

GERALDO

(TONTO) Mas...minha senhora...

EMA

(CHEGANDO-SE PARA ÊLE) Aqui me tens...Sou tua!... Toma-me em teus

braços...Mas tem pena desta pobre mulher apaixonada...Peço-te que

nao abuses de mim!...

GERALDO

(FUGINDO DELA) Pode ficar descansada que eu não abuso,não... E

tenha cuidado... Seu marido pode entrar por aí de repente e nos sur

preender.•.

Ora!... Meu marido está lá em cima...

ainda ha pouco...

EIA

(GRANDE SURPRÊSA) Que diz? 0 senhor falou com meu marido? Então
tm r.PR.PTE j ik'_ pMÍj
43.

o senhor conheceu meu marido?

GERALDO

Conhecí e conheço ainda.•.Sim,porque ele não morreu...

EMA

Hão morreu? Quer dizer que êle...está aqui?

GERALDO

Se êle está aqui? Pois a senhora não o viu?

EMA

Mas nesse caso...êle desceu?

GERALDO

Sei lá se desceu ou subiu!...

EMA

(AFLITO) Meu Deus! Estar lá em cima tanto tempo e descer agora,

num momento tão delicado!... Ah! Eu endoideço! ...Com licença!...(SAI)

CESAR

(ENTRANDO) Então,Geraldo? Como vão as coisas?

GERALDO

Me diga uma coisa,seu Cesar... Sua mulher é doente assim ha mui-

to tempo?

CESAR

É, meu filho... Ha muito tempo... E não ha meio de melhorar...

Tem ido a tantos médicos... Tem tomado tantos remédios... já gas-

tei com ela um dinheirão!... E o seu estado nervoso continua o mes

mo... Is vezes, penso que ela está melhor...Passa uns dias calma,

absolutamente calma... Mas.de repente, sem razão nenhuma, lá vem

um acesso...

GERALDO

Então...foi um acesso que ela acabou de ter agora,aqui...

CESAR

Agora? Que foi que houve?..•

GERALDO. .'ZTi
' %
Bem...Eu vou falar, porque acho que é a minha obrigação de ami-

go. Mas é preciso que você tenha calma,muita calma...

CESAR

f
f ,
TN.CPR.PTE HÍl nM}
44•

CESAR

Que s? Você e3tá me assustando#• •

GERALDO

Cesar.#*Eu acho que sua senhora está pior##, muito pior!#..

CESAR

Porque você me diz isso?

GERALDO

Porque*., ela acaba de ae fazer uma declaração de amor.

CESAR

0 que^ Minha mulher fez a você uma declaração de amor?!#..

GERALDO

Mas você pode ficar tranquilo,porque eu sei respeitar os amigos.

CESAR

Minha mulher fez isso?... Então ela está mesmo pior... Es tá co-

mo nunca esteve... Sim, porque ela nunca seria capaz de«..A não ser
* * * #
que#.. E. • • íl isso mesmo.— Ja sei*— Ja compreendi* Pica tranquilo,

Geraldo*- Posso garantir a você que isso nao tem importância...

GERALDO

Não tem importância?!...

CESAR

Eu nao posso explicar tudo direitinho a você, mas sei de que se

trata. Ela não devia ter feito essa bobagem, mas repito a você que

não tem importância.

GERALDO

Bem... Você á que sabe.*.Iu contei a você porque achei que de-

via contar... E se não tem importância, vamos falar da outra.

CESAR

Que outra?

GERALDO

A rainha deusa*.. Aquela com quem você cie mandou falar...

CESAR

Ah! A tal dama do camarote?


V
GERALDO

Exato.—Eu falei com ela,sabe? Mas o negocio do casamento..•

aquela idíla que voei me deu... *' impossível.


TN.CPR.PTE-LÍ&LP.Éif
45*

CESAR

Você pensou melhor e resolveu desistir?

GERALDO

Não,não é isso...-á que ela é casada*

CESAR

Casada? Quem disse isso a você?*.*

GERALDO

Ela própria.-Com certeza foi um casamento clandestino.*.Eu logo

vi que você não sabia...Senão, você não ia aconselhar-me a...

CESAR

Casada? Mas casada com quem?*••

GERALDO

Você não calcula? Pois olha, eu pensei um pouquinho,imaginei e

adivinhei logo... Hem podia ser com outro... Ela é casada com o teu

secretário.

CESAR

Com o Murilo?! ...

GERALDO

Com o Murilo.

CESAR

Apesar de tudo?

GERALDO

Apesar d§ tudo.

CESAR

Q ue é que você está me dizendo?...Ora veja...á...É bem possí-

vel que seja mesmo... Ela desistiu de esperar pelo outro,o tal dos

foguetes interplanetários,- e casou com o Murilo. E naturalmente,

com vergonha, não teve coragem de participar a ninguém...

GERALDO

(QUE NÃO EHTENDEU A EXPLICAÇÃO) É... Vai ver que foi isso...

CESAR
» // ^ “/;
0 Geraldo,entra um instantinho ali, no meu escritório.- Eu vou
9.9 *
falar uma coisa com minha mulher, depois irei ter com você.
V** » #y
GERALDO
Ora essa, pois não... (SAI PARA 0 ESCRITÓRIO.-CESAR VAI A SAIR

/
TN.CPR.PTE \\tfl
46.

PS LA LATERAL, QUANDO El APARECE)


Eia
(ENTRANDO) Cadê «le? Você o viu,Cesar? Eu já procurei e não en-
contro em lugar nenhum...Você não o viu?...
CESAR

Q uem, minha senhora?

Meu marido!...

CESAR

Ah! Então é verdade,hein?

EMA

Você já sabia?

CESAR

Acabei de saber neste instante.

EMA

E não me dá cc parabéns?

CESAR

Parabéns?...

EMA

Ah! Eu estou tão neíhrosa!... Mas não o encontro! ...Onde se me-

teu êle?...-Ah! Deve ter ido lá pra casa...Eu vou lá em cima cor-

rendo! ...

CESAR

vá e diga-lhe da minha parte que não torne a pôr os pés aqui!...

' EMA

Hein? Que disparate é esse?


\
\
CESAR

E prepare ao mesmo tempo em sua casa um quarto para a sua so-

brinha! ...

ESSA

Ah! Então voce quer mesmo separar-se dela?... ; Vi\

CESAR t*

Sim,senhora.- Tenho para isso razões poderosas!... [• pr •

ESLA

Que razões? Que razões? Ao contrário,rainha sobrinha é que devia

i r<


TN.CPR.PTE_iÜ2_p.S7
!
' 47.
exibir a separação!...

~ ‘ - - • . . . CS 3AR

Ela e que devia...

MA

3ia,senhor!Quando um homem falta, como você, aos seus deveres

de marido,não merece que lhe façam outra coisa!...

CÉSAR
Has que foi que eu fiz?

EMA

Todos sabem que você tem uiaa amante!..*

CESAR

Uma amante? Su? É falso!...

MA
Falso é você! Um homem da sua idade., .e sem vergonha!... .Mas fe-

lizmente eu agora tenho outra vez um marido! ...Êle saberá defender

a felicidade da minha sobrinha!...Vou chamá-lo e êle ha de obrigar

um marido transviado e entrar no caminho do dever! E tenho dito!...

(SAI)

CESAR

Transviado,eu?...(pica UM INSTARTE A PENSAR,DEPOIS RESOLVE SAIR)


Alda? Alda?...Onde esta você? (SAI)

ALDA
(QUASI AC MESMO TEáPO,ENTRANDO,COM 0 MURILO) NãofMurilo...Tenha

paciência...0 que decidi,está decidido...Hei de me vingar!...

MURILO
Mas,dona Alda...

AiuJA
Meu marido, alêra de me enganar, quer se separar de mim.-Pois eu

i:e vingo, fazendo-o acreditar que tambe'm tenho uai amante!

MURILO
Tudo isso está muito bem...Mas o que nao me agrada é

so amante que a senhora inventou... êsse infeliz...sou e

ALDA
Então? E o meio mais fácil de me vingar sem faltar aos meus de-

V GP6S•••
tn.cpr.pte; 14:' oAÁ
48,
. .. . -MURILO -

.,.Mas porque a senhora nao arranja outro? Eu não posso,dona Alda

...Eu nao posso!,..

ALDA

Ah! já sei porque é que você não quer...Eu bem qua andava meio

desconfiada.••

MURILO

De que é que a senhora andava meio desconfiada?. ••

ALDA

De que voce gosta de minha tia...

MURILO

(ARREPIADO) Eu gosto da dona Ema? Eu?!...

ALDA

Voce,sim...Hão negue!...

MURILO

Hego,sim,senhora! Paç© mais! Protesto energicamente!...

ALDA

Porque? Isso nao seria nada demais...Uma senhora viuva...e ri-

câe t •

MURILO

Hão me interessa a sua viuvez,nem a sua riqueza...Dona Alda,por

favor, tire essa idéia da sua cabeça...Nem pense nisso nem brincan

do...Essa mentira não é verdadei...


\
ALDA
f. < \
A ~ \ ' *
Pois seja eu nao seja verdade,desde que voce nao quer fazer o

que eu peço, eu farei mesno sem o seu consentimento.Vou dizer ao%

Cesar que você é meu amante e que nao tem coragem de confessar por-

que é também um covarde!...


í t
MURILO

Por amor de Deus,dona Alda...Hão faça isso!...Eu lhe peço! Bu

lhe peço de joelhos!...(AJOELHA-SE)

GERALDO

(EHTRA) 01a...

ALDA

0 doutor! • • •
TN.CPR.PTE . _ p. 5l í

49.

MURILO

Bonito!...

GERALDO

Hão se incomodem por mim...Estejam â vontade...

MURILO

Doutor, eu devo dizer ao senhor...(VAI A SAIR)

GERALDO

Hão precisa dizer nada...Eu já sabia...

MURILO

já sabia?

GERALDO

Ja.-Foi ela mesma que me disse.

MURILO - v

Mas não acredite! Hão acredite,porque não e verdade!...

GERALDO

Não adianta voce negar...Todos já sabem...até o Cesar!...

MURILO

Seu Cesar já sabe? Estou frito!...

CESAR

(ENTRANDO) Alda...Onde e que você estava? Estou procurando você

por toda a casal...

ALDA
0 A
Que e que voce quer,Cesar?

CESAR

Ah! Voce nem calcula! Eu estou furioso!...

GERALDO

Calma,Cesar,calma...Hao adianta você se exaltar...Tudo pode ser

resolvido com calma.—Êles fizeram mal em não dizer a verdade,mas/

agora que se ha de fazer? E aceitar os fatos como eles são e está

tudo acabado...

CESAR

Ah! Então,você acha...

GERALDO

^esmo porque,de certa forma,não ha nisso nada demais.•.Quando


TN.CPK.PTEJiiz_P.S3
• 50.. - ■

duas pessoas se amam,e natural que se casem.-Êles abavam-se...casa-

ram.

A LM

Hein?

MURILO

O que?

CÉSAR

Amavam-se e casaram. ..quem?

GFRALDO

O quem...Êste rapaz e esta aenliora.

ALUA

O que?

MURILO

NÓs?! ...

CESAR

0 Geraldo. ..Você bebeu? Que é que você está dizendo?-?arece que

você não sabe de quem e3tá falando...

GERALDO

Mau,mau...Então o Murilo não e casado?

MURILO

Eu? Eu,não,senhor!...

CESAR

Rão negue,que eu já sei...(A GERALDO)Êle e casado,sim,aas com

minha tia.

GERALDO

Voce quer dizer com sua sobrinha. ••

CESAR

Minha sobrinha?

ALDA

(FUZILANDO) Cesar, que sobrinha é essa? Que nova parenta arran-

jou você? É alguma amante disfarçada?

CESAR
9 S.
Qual amante!.. .Pois você não está vendo que tudo isso na© pas-

sa de uma trapalhada?

EMA
TN.CPR.PTE i^y,'7 p.sí|
51.
MA

(ENTRANDO) Não encontrei!*.. Também não foi lã pra casai...j£

procurei em toda parte!... Desapareceu!...Será que ele subiu outra

vez?!...

ALDA
Êle,quem?

MA

Ora,quem...Meu marido!...

CESAR
Seu marido? Dona Ema,a senhora precisa
usar oculos...Então a se-
nhora não está vendo?

MA
leu Deus*..0 que é que eu não e3tou vendo?!...

CESAR
Olhe ali o seu marido!...

TODOS
0 Murilo?!...

GERALDO
Cesar...Que e' isso? Parece que agora foi
voce que bebeu...

CESAR
Porque?

GERALDO
Então o marido dela e este?

CESAR
Pois não foi você mesmo que me disse?

GERALDO
Eu? Eu disse isso?

CESAR

7ocê,slm.-Voeê me disse isso na mesma ocasião em que me disse

que estava apaixonado por ela.

GERALDO
(NO.I GRITO) Quem falou isso?Eu?!...

CESAR
Você sim.-E aqui, nesta mesma sala!...
TN.CPR.PTE jtfd

52.

'■ — ■ .. MA*- -

Ah! laao e verdade.-Ne3ae ponto, o César tem têda razão.. 0 dou-

tor me fez uma declaração de amor.

GERALDO

Eu?!*.. A senhora não se enxerga?!...

MA

0 senhor, gira! Digo e repito!.,.

GERALDO

Então a senhora está e doida!...

MA

C que? Alem de mentiroso, ainda tem a coragem de rae xingar? Ah!

Atrevido!... (AVANÇA PARA GERALDO, QUE RECUA)

9 ALDA

Minha tia! ...

CESAR

Dona Ema!...

MURILO

r.leu Deus! Que coisa horrorosa!...

(FALAM TODOS AO ESMO TPMPO.-HA UMA GRANDE CONFUSÃO)

FIM DO 2 3 ATO
TN.CPR.PTE Htü p <L
-1-

A DAMA DO CAMAROTE

TERCEIRO ATO-

(A(CENA VASIA. ALDA ENTRA E VAI ATRAVESSAR A CENA, QUANDO RERINE

A CAMPAINHA DA PORTA DA RUA. ELA RETROCEDE E VAI ATENDER)

GERALDO

(PÕRA) Boa tarde.


ALDA

(IDEM) Ah! 15 o senhor, doutor? Tenha a bondade de entrar...


GERALDO

Com licença. (APARECE, JUNTAMENTE COM ALDA) Eu voltei porque

precisava ter uma explicação com o Cesar*..Mas estava com receio

de encontrar a mulher dele...


ALDA

(EXTRANHANDO) A mulher dele?

GERALDO

Sim. A senhora não viu a cena que ela me fez? Que coisa la-

mentável. ..Que coisa horrorosa!.. Eu recohheço que me excedí um

pouco, mas não me pude conter.. .Sei que devo desculpa—la, por-

que acho mesmo que aquela senhora nao regula hem...


ALDA

Um momento, doutor. Eu creio que o senhor não sabe com quem

está falando...
GERALDO

Ora essa... Como não sei?


ALDA

0 senhor não está dizendo coisa com coisa...Acho que o se-

nhor não sabe quem eu sou...


GERALDO

A senhora? A senhora é a sobrinha do Cesar.


ALDA

Engana-se. Sou sua mulher.


GERALDO

Minha mulher?! • ..
ALDA

Não. Que absurdo!.. Mulher do Cesar.

GERALDO
TN.CPR.PTE ' jl&7

GERALDO

A senhora é que é...NSo diga!,*.

Uê... Mas então, essa velha**.quero dizer, essa senhora que

lhe dá o nome de sobrinha.«.vem a ser...

ALDA

l inha tia, i claro* E, portanto, de uma certa forma, tia do

Cesar também...(SENTA)

GERALDO

Tia do Cesari E eu pensei que fosse a mulher!

ALDA

Mas porque pensou isso?

GERALDO

Trapalhada minha...Conhecendo a senhora do teatro e sabendo

que morava aqui, procurei o Cesar para que me dissesse quem a

senhora era...(SENTA

ALDA

E contou a historia do desmaio no teatro?

GERALDO

Contei tudo e êle me disse que sé conhecia aqui na visinhan—

ça uma amiga sua, mas que essa não podia ser, porque estava via-

jando. Pouco depois entra a senhora e eu tomo-a por uma visita

da casa. Depois aparece sua tia e eu tomo—a pela mulher do Ce-

sar. Quando o Cesar voltou, eu disse a ele: Encontrei a dama do

camarote. É aquela que alf está com a tua mulherI...

* ALDA * * *
AhS Agora compreendo tudo...Mas porque foi que o senhor dis-

se que meu marido me enganava?

GERALDO

Embrulhada minha... Ble está tão inocente como nr

nasceu...

ALDA

E porque é que éle pensa que eu o engano?

GERALDO

Outra embrulhada minha. %do partiu de um conjunto de de-


TN.CPR.PTE H$J nr/

CONT. -3-

duçSos minhas, completaiaent© erradas,••

ALDA

Nesse caso, o melhor que tenho a fazer e contar tôda a ver-

dade ao Cesar..#

GERALDO

Decerto, decerto*. .Êle vai rir muito quando souher que foi

tudo embrulhada minha.. •

ALDA

Eu não queria dizer a ele que tinha ido ao teatro com o !ti-

rilo, mas como isso não é nenhum crime, acho que não faz mal que

ãle saiba*,.

GERALDO

Ao contrário! file vai até achar graça quando souber que fui

eu que socorri a senhora, que fui eu que tomei o seu pulso...

(PARANDO) Espera aí. ..Não.,,Tal vez ele não ria...Talvez êle não
graça ' ... ...
ache/nenhuma... Ao contrário...Não. Não convem que ele saiba...
É melhor que ele pense mesmo que foi a dona Ema que o Murilo le-

vou ontem ao teatro...

ALDA

Ora essa... Porque?

GERALDO

Bi explico porque...0 negécio é o seguinte...

ALDA

Um momento, doutor. Éta vou chamar o Murilo. Asoim, o senhor

explica a êle também.. Não acha que é melhor?

GERALDO

Sim, tem razão. Ê bom que êle ouça também...

ALDA

Eu volto já. (SAI)

(GERALDO, PICANDO SÓ, OLHA, TE'EROSO, PARA A PORIA DO ESCRIT(5-

RIO DE CESAR. ALDA VOLTA, COM MURILO)

MURILO

Doutor...É verdade mesmo?

ALDA

0 Murilo não quer acreditar...

GERALDO

Pois acredite. Foi tudo embrulhada minha...


TN.CPR.PTE ~j; J pAA

MURILO

De maneira que seu Cesar está convencido de que foi dona

Ema que esteve no teatro comigo?

GERALDO

E devemos fazer tudo para que ele continue pensando assim.

BURILO

Ora essa... Porque?

GERALDO

Para evitar que ele cometa algum desatino.

ALDA

Desatino?

GERALDO

0 Cesar é bem capaz disso...Nés sabemos que o caso não teve

importância nenhuma, mas ele não pensa assim...Ainda ha pouco,

não sei porque, passou-lhe pela cabeça que podia ter sido a se-

nhora a dama do camarote...Pois sabem o que êle disse? Franziu a

testa, cerrou os punhos e exclamou, furioso: Se fôsse minha mu-

lher... matava-aJ•••

ALDA

Que me diz?!...

GERALDO

E a êle... estrangulava-o!•.•

MURILO

Ai, meu Deus!.*.

GERALDO

Portanto, na minha opinião, o melhor é deixá-lo iludido a

esse respeito.••

MURILO

á, sim...É melhor a gente não dizer nada...

ALDA

Também ne parece...

* GERALDO

Então, a senhora fale com sua tia. Conte-lhe tudo e peça—lhe

que se sacrifique para o bem de todos, consentindo em mentir pa-

ra o Cesar que foi ela que esteve ontem no teatro colvq Murilo,

ALDA [3 p.9

Infelizrente, creio que minha tia não se prestará'1

arranjo,
TN.CPft.PTE Í i%ü p.é(/

GERALDO

Porque?

ALDA

Por um motivo muito simples: minha tia, em segredo, tem umas

pretençães sentimentais sobre o rurilo...

GERALDO
« / •
Hão diga.*,

MJRILO

á verdade...Tenho essa infelicidade...

GERALDO *
(AFFRTATDO—LHE A IfãO) Meus pezames.

MURILO

Obrigado.

ALDA

Portanto, gostando do Murilo, tem ciúmes dele...Se eu disser

a ela que fui ao teatro ontem com o Murilo, ela começara a ima-

ginar uma porção de bobagens e não se prestará á nossa comedia...

Ao contrário, será até capaz de estragar tudo...

GERALDO

(DEPOIS DE BRE7E PAUSA) É?.. .Pois então vamos pregar-lhe uma

boa peçaí Tenho um plano formidávelJ•••

ALDA

Um plano?

GERALDO

Vamos convencer a dona Ema que o negácio do teatro foi mesmo

com ela. Temos que convencê-la de que foi ela que esteve no tea-

tro e desmaiou no camarote 2 • • •

ALDA

Ahl Mas isso não é possivel...

GERALDO

Ao contrário. Ê bem possivel. A dona Ema gosta ou não gosta

do Murilo?

ALDA

Gosta, mas...

MURILO

Dessa desgraça já se sabe, não é? Mas que é que tem uma coisa

com a outra?

GERALDO
TN.CPft.PTE \$<ú p. J

—6—
GERALDO

Qu© e que tem? Você, como i de crer, tem-lhe resistido, não

á? Paço—lhe essa justiça...

MURILO

Bem, eu...Tenho fingido não perceber...

GERALDO

Pois bem. Não resista mais.

MURILO
• 4 * -
(ALART'ADO) Hein? 0 que?l...

GERALDO

Converse com ela e, geitosamente, procure convencê-la de que

a levou ao teatro ontem, de que ela teve um desmaio...S© fôr pre-

ciso, diga—lhe que a adora, que está disposto a casar com ela...

(MURILO PAZ UMA CARETA) Que é? Porque está fazendo essa cara?Tem

mêdo de que ela diga que nSo?

MURILO

Ao contrário. Tenho mêdo de que ela diga que sim...

GERALDO

Então...prefere enfrentar a raiva do Cesar?..*

MURILO

IhJ Eu tinha esquecido...Ê...Mou obrigado a me resignar...

GERALDO

Ora ainda bem. Uma coisa, apenas, me atrapalha...

ALDA

Que á?

GER A X DO

0 negácio da pulseira...

ALDA

á verdadeí... A pulseira... Onde está?

GERALDO

No bolso da capa.

ALDA

E a capa?

GERALDO

0 Cesar disse que era dêle e carregou-a.

MURILO

Bonito!...

ALDA
fN.CPR.PTE ií$á o.í*\

ALDA

E se ele encontra a pulseira?

GERALDO

Se lie encontra a pulseira á o diabo...é o diabo«*.(MEDIJA

UIÍ POUCO. DE REPENTE) Ah! Já sei! Está tudo resolvido!..

AIDA

Como?

GER ALDO

Muito simples. Vamos fazer o seguinte. O lUrilo...

MURILO

Eu, outra vez?...

GERALDO

Você convence também a dona Ema de que ela levou ao teatro a

pulseira da dona Alda...

AIDA

Ah! Hão e preciso.. .Minha tia tem uma pulse ir n igualzinha á

minha.••

GERALDO

<5 tino! Então, vai tudo ás mil maravilhas!., Seu Murilo, agora

tudo depende de você!...

BURILO

Eu...vou ver se tenho coragem...

GERALDO

Bem. Eu vou preparar o espirito do César.

ALDA

Isso. E n<5s vamos combinar os detalhes do nosso plano.. .Venha,

Murilo.(SAEM OS DOIS)

GERALDO

(VAI A SAIR, QUAITDO CESAR APARECE) Ce3ar...Eu ia mesmo pro-

curar você.•.

CESAR

(3 Geraldo...De tôda essa trapalhada que tem havido...so uma

coisa não me sai da cabeça...

GERAIDO

Que á?

CESAR

O que você me disse sêbre minha mulher.

GERALDO
TN.CPR.PTE '-i iiú p.^

GERAXDO

Que foi que eu disse?

CESAR

Você não se ler:lDra?Que minha mulher tinha feito a você uma

declaração de amor#• .Portanto, que minha mulher me enganara...

GERALDO

Hão, Cesar...Foi um equivoco...uma confusão minha...Eu tomei

a dona Ema por sua mulher.. •

CESAR

Mas então...Se foi dona Ema que esteve no teatro e se você a

toma por minha mulher, como e que você queria casar com ela?

GERALDO

Bem...Eu...eu...eu...

CESAR

Como á? Você responde?

GERALDO
- t é
Respondo, como não? Então eu não havia de responder?.•.

CESAR

E que é que você responde?

GERALDO

Ora essa...Respondo á sua pergunta...

CESAR

Mas como c que você responde?

V 9 i / GERALDO
,
Coeu... com uma resposta.

CESAR

Você está brincando comigo? Qual 6 a resposta?

GERALDO

Espera, Cesar...Pra que essa pressa? Estamos conversando...

Eu não vou embora já.

CESAR

Escuta. Você pensou que dona Ema era minha mulher. Hão foi?

GERALDO

Foi.

CESAR *a Bi

Então como o que você queria casar com ela?

GERALDO

ruito simples. Ê porque eu pensava que ela era soltei


TN.CPR.PTEjjfj d. y\

-9-
CESAR

Mae se você pensava que ela era solteira, como é que você

pensava que ela era minha mulher?

GERALDO

Ihl Cosar...Espera...Você está me atrapalhando com as suas

perguntas, ..

CESAR

Você e que está me atrapalhando com as suas respostas,..ou,

melhor» com a falta das suas respostas! • .Vamos!. .Falr de uma vez,

ou eu acabo pensando que você quer me esconder algum semr©doí,..

dadeira dama do camarote2,..

GERALDO * ^
(VIOLENTO AGARRA-0 PELA GÔLA) Vamos2 Diz a verdade! Foi minha

mulher que estava no teatro com o Hurilol Foi ela! Foi elal...

GERALDO

Calma, Cosar, calmai,. Hão S nada disso,.,Sua mulher está ino-

cente. *.N8o foi ela que octeve no teatro...Foi dona Ema mesmo...

Eu juro, se você quizer!.. E quanto ao fato de eu ter dito a vo-

cê que dona Alda me havia feito uma declaração de amor, foi...

foi uma coisa tão simples, tão bêba..,que eu nem sei como ê que

você ainda nao advinhou.•.

CESAR

Uma coisa simples? Uma coisa bêba?.. .Chega, Já advinhei. Hão

e preciso dizer mais nada, Foi um comédia que ela combinou com

você pra me fazer ciámes, •.

GERALDO

Isso! fu sabia que você havia de descobrir • • • •

CESAR

(ENIGNATICO) Você sabia, não é?..,Você sabia que eu era capaz

de descobrir...Você acertou. Kas o que você não sabe, o que você

não calcula, é o que eu ainda sou capaz de descobrir!...

GERALDO

Agora quem não entendeu fui eu...Que é que você quei

com isso?
TN.CPR.PTE_Ü&2_p. t/5

CES AH -10-

Que á que eu quero dizer? Vamos ali pro meu escritório... Po-

de chegar alguém d© repente.• .Alf nós conversaremos melhor. Eu

vou contar tudo a você...

GERALDO

Está ben. Então, vamos lá...(SAEM OS DOIS)

MURILO

(ENTRA*HESITANTE. PROCURA TOMAR CORAGEM E AVANÇA PARA A POR-

TA. DESISTE. PAZ NOVA TENTATIVA. NOVA;ENTE DESISTE.NA TERCEIRA

TENTATIVA AVANÇA E DÁ DE CARA COM EMA QUE VE; ENTRANDO) Dona

Ema...

EMA

(ENTRANDO) Como é, Murilo? Aquele atrevido não voltou?

MURILO

Que atrevido?

EMA

Então você nao viu? Aquele tal doutorzinho.. .Eng-,nar-re da-

quela forma?...E, além de zombar do meu falecido, do meu pobre

Alziro, ainda me desrespeitou... ainda teve a audácia de me en-

cher de desaforesi••.

. MURILO

Deixe pra lá, dona Ema...Deixe pra lá...Já passou...Sossegue.

Sossegue e diga-me... A senhora já está boa?

EMA

Bo9?Boa de que?

MURILO

Do desmaio?.

EMA

Que desmaio?

MURILO

0 desinaio que a senhora teve ontem á noite, no teatro, assus-

tada com os tiros que deram em cena?

EMA

Que teatro? Que tiros? Que cena?

MURILO

Como? Então a senhora não se lembra de que foi

teatro e que teve um desmaio?


TN.CPR.PTEAtfá p a.

-11-
WA

Eu fui com você ao teatro?..,


:
tJHILO

TI§o se lembra.. •

EMA

ÍTSo. • • Ao teatro?Ontem?.. • íhi no lembro de que ontem esti-

ve aqui depois do jantar. • .ate que, por sinal, tomei um pouco

de moscatel• • • quer dizer, eu acho que não tornei só um pouco,

nSo... Eu acho que abusei...que passei de conta... Tanto que

hoje, quando acordei, estava assim...com o corpo mole... um

gêsto ruim na boca... Talvez ontem eu estivesse um pouco ale—

gre... Me lembro de que você se ofereceu para ir comigo ate

lá em casa... Mas com franqueza, lhe juro que não me lembro de

mais nada...

MUPILO

Pois fique sabendo que eu não levei a senhora dirátamente


*
pra casa.• • A senhora foi comigo ao teatroj...

üó... Não me lembro... Juro por Deus que não me lembro...

MURILO

Então, me desculpe, mas a senhora entrou bom no rooscatel...

a senhora entrou direto...Pra não se lembrar de que foi coni. o

ao teatro...

EMA
Estou fazendo fêrça... mas não me lembroí...

MURILO
Pois foi. Foi, sim, senhora...Poi ao teatro... Sôzinha co-

migo... E estivemos toda a noite juntinhos um do outro... no

fundo... bem no fundo...

EMA

No fundo de que?

MURILO
Do camarote... E bem agarradinhos....

EMA

(ASSANHADITrT!A) Agarradinhos?.. .Alziro, não desce agora...

Agarradinhos?• • .Murilo...?urilinho..• Isso á verdade?...Você

não está querendo re enganar?...

f.TJFILO
TN.CPR.PTE U&7 p. /J\

MURILO *L

Enganar? Pois já esqueceu o que me respondeu quando eu

perguntei se queria casar comigo?.,.

EISA

(OLHOS ARREGALADOS) Você pediu pra casar comigo?!.••

MURILO

A senhora respondeu que sim, num longo beijo de amor!...

(PAZ UMA CARETA E PASSA 0 LENÇO NOS LÁBIOS)

EMA

Você me beijou?•••(SORRI ESTUPIDAMENTE) Bem...Com efeito...

Eu tenho uma idéia vag ... uma coisa assim, meio aérea...Eu
• * • •
até pensava que tinha sido um sonho... um sonho cêr de rosa...

Ou então o resultado do piléque do moscatel.,.ías, agora...

deante do que você está falando... eu me convenço de que foi

tudo realidade, e... e, não adianta negar...Sir, Itirilo, simí...

Eu me lembro de tudo!...

MURILO

(ESPANTADO) A senhor?i se lembra de tudo?...

EMA

De tudo!...

MURILO

No duro?

EMA

No duro!

MURILO

Mas que memória fantástica!...

EMA

(COQUÉTE) E você... vai confirmar o que disse ontem?...

MURILO

Se eu vou confirmar?

EMA

(ASSANHADA) Confirma... bonfirma, porque eu também te amo!..

Eu te adoro, Murilo!...(AVANÇA PARA ÊLE)

MURILO

(RECUANDO INSTINTI7AKENTE) Está certo, dona Ema, está cer-

to... Ias contenha as suas efusUes... Compreende... Pode apa-

recer alguém por aí...


TN.CPR.PTE ■jiij p. {f\

COM?. -14-

presença..• na minha fronteJ. • •

EMA

Pois não... Pois não... Eu vou chamar o Murilo...(CHAMANDO)

^urilo? •. .Kúmú? ...

CESAR

(ESPANTADO) Quem é Mifrnú?. ..

MCA

(ENVERGONHADA) á êle...á um apelido que eu botei nele...

MURILO

(ENTRA* RESSABIADO) Meu chamaram?...

CESAR

Então, seu Itirilo...Caladinho, hein? Não me dizia nada...

MJRILO

Sobre que, seu Cesar?...

CESAR

Sobre o seu romance com dona Ema.••

MURILO

(SORRINDO AMARELO) Ahi 0 senhor já sabe?...

CESAR

Já sei e acho que não havia razão para se cercarem de tanto

mistério... E como entendo que o casamento deve realizar-se o

mais depressa possível, vou dar para isso os passos necessários...

MURILO

AhJ 0 senhor vai dar os passos?...

EMA

Isso, Cesar, íssoí Vá tratar de tudoi..

CESAR

(AINDA ENIGI ATICO) A senhora quer mesmo que eu vá tratar de

tudo?

EMA

Mas naturalmente que sim...

CESAR

E você tambám, seu Murilo?

MURILO

(AINDA 0 RISO AMARELO) É...Eu também...

CESAR

Está bem. Estamos combinados. (SAI)

EMA
TN.CPR.PTE 'iUn p.|0

>15-
EHA

Ah! Não imagina como me sinto feliz...!'umál

MURILO

(SEI ENTENDER) Mtfcaf?.. .

EMA

Mtímu é um diminuitivosinho gostoso que eu botei em você...

(SORRIDENTE) Vem cá... Senta aqui... Pertinho de mir. ...

MURILO

Sentar aí? Pra que?

üé...Vamos noivar

MURILO

Ah! Sim... t verdade...Eu nem me lembrava ...Que é que a

gente ha de fazer, não é?.,.(SENTA. JUNTO DELA)

GERALDO

(ENTRANDO) Boa tarde...

EMA

(ZANGADA) 0 senhor, hein?!...(VOLTA-LHE AS COSTAS)

MURILO

(BAIXO A ELE) Doutor, a comédia está virando tragédia....

Querem que eu case com a velhaI...

GERALDO

Não tenha mêdo. Eu dou um geito. 0 que é preciso agora é

arranjar a pulseira. Diga a dona Al da que mande você á casa

da dona Ema buscá-la*

MURILO

Sim, senhor. (A EIA A) Com licença, sim?,.. Eu não demoro...

(TODA :'ELOSA) Até já, meu amor... (PAZ OLHARES TERNOS PARA

MURILO, AFIE DE DESGOSTAR GERALDO)

MURILO

(A GERALDO) 0 senhor já olhou bem pra cara dela? Já imagi-

nou que coisa horrorosa é casar com isso, mesmo de mentira?

(SAI)

GERALDO

Minha senhora, eu venho desculpar-me do meu o...

EMA

(ZANGADA) 0 senhor, hein?....


TN.CPR.PTE

GERALDO

Não tem razão para estar zangadalhe devo uma expli-

cação. ..Fui um pouco violento» reconheço, mas... desde que vi

a senhora ontem á noite, no teatro...

EMA

Hein? Ontem á noite? No teatro? 0 senhor também?

GERALDO

Quando a vi, não podia imaginar que a senhora ia casar com

o Murilo, então...

EMA

Ahl Ja sabe? E sabe também que eu desmaiei?

GERALDO

Ora essa...Pois si fui eu que socorri a senhora...

EMA

Minha Nossa Senhora! Como é posoivel! Não me lembroí...

GERALDO

(SENTA) Não se lembra? Não admira...Ha mitos casos assim...

0 desmaio afetou-lhe a meméria...

EI'A

0 desmaio? (CONFIDENCIAL) Doutor...Não seria também de um

moscatel de que eu abusei um bocadinho ontem a noite?

GERALDO

Moscatel? Ahl 1? possivel...É bem possivel... Eu ignorava es-

se detalhe do moscatel...Agora é que estou percebendo certas

coisas...Tudo isso está entrosado, compreende? Está intimamente

ligado...á por isso que a senhora n~o se recorda de alguns fatos...

Mas não tem importância.,.Aos poucos a senhora irá recuperando

a meméria*..Agora, eu quero entregar-lhe...(PROCURA NOS BOLSOS)

Ué...N§o sei onde guardei a sua pulseira...

EMA

A minha pulseira?

GERALDO

Sim... A pulseira que á senhora tinha perdido...

WA

Pois também perdi a pulseira?

GSR MDO

Ahl Agora me lembro... 0 Cesar guardou-a. Está com éle.


TN.CPR.PTE , p.>^

•17-

mk

E, se me dá licença, vou ver se o Mirilo ;já voltou, ..

GERALDO

Pois não, minha senhora,..Tem têda.,.(EIA SAI.FICANDO S(5, GE-

RALDO TIRA O LENÇO E ENXUGA O ROSTO)

CESAR

(ENTRA FURIOSO, TRAZENDO A CAPA E A PULSEIRA) Ah! Você está

aí?... Pois fique sabendo que você e um patife!.. Um patife itual

aos outros que me queriam enganar!...

GERALDO

Que e, Cesar? Porque você está assim exaltado?...

CESAR

Eu fui vitima de um complôi... De uma eanalhadSU... E você

o cúmplice dos canalhas!.,.

GERALDO

Mas espera...Calroa...Que foi que houve?...

CESAR

Você pensou que eu tinha acreditado na mentira que eu pró-

prio tinha inventado...Ias não acreditei, não...Eu disse que

era capaz de descobrir ainda muita coisa... e descobri!... En-

contrei a prova de que era tudo um embuste!.. Uma deslavada men-

tira! ...

GERALDO

A prova? Mas que prova?...

CESAR

As provas... porque são duas!.. Duas provas!.. Em primeiro

lugar, a minha capa... esta capa!.. E depois, esta pulseira...

a pulseira de minha mulher!... Não foi dona Ema que esteve on-

tem no teatro...Foi Alda! Foi minha mulher!• • •• / A


GERALDO

Fias, Cesar...

CESAR

Cala a Boca! Não diga mais nada!.. Chega de mentiras!..,Foi


tn.cpr.pte_ü£,Lp.1\

COITT. -18-

Alda! É ela a dama do camarote!•••

GERALDO

Mas isso © una loucura! • •.

CESAR

Loucura,..Loucura para você, que não compreende o mu drama!

Que não pode compreender o reu drama!.. Loucura para você, que

não calcula como faz sofrer una traição como esta! Sim, porque

o que mais me dói.,.(PÁRA, PASSA A MãO PELOS OLHOS E REPETE)...

o que mais me dói... o que mais me dói...

GERALDO

(ALARMADO) Que é isso, Cesar? Você esta'sentindo alga a coi-

sa? Que ó que você está sentindo?...

CESAR

(SORRE DO) Hão soi...DeHe ser... o coração... Estou meio ton-

to. ..Estou sentindo a vista turva...Parece que a casa está rodan-

do. ..

GERALDO

(ASSUSTADO) Cesar!...

CESAR

Palavra...Foi uma coisa que me deu de repente...(PROCURA IX)

PILITERIAR PARA NftO ALARMAR 0 A: IGO) Eu estava... prensando neles..

Na Alda e no Murilo.• .Eu caçoava de ambos... Ambos são nervosos...

Será que...Será que eu peguei a doença deles?

GERALDO

(SER SAJ3ER O QUE DIZER) Não brinca, Cesar!

CESAR
» * • - * • *
Não...Não estou brincando...Eu estou... passando mal...Estou

piorando...Estou piorando...Parece que... Parece que eu vou per-

der os sentidos...(CAI NO SOFá, DESACORDADA)

GERALDO

(AFOBADO) Cesar! Cesar!•.•


. . (BATE-LIHE ITO ROSTO) Cesar...Que é4 4 4

isto?...Éle desmaiou mesmo!...E agora’ Que á que eu vou fazer?...

Cesar! Socorro! Venha alguém! Tragam água! água!...

ALDA

(ENTRANDO, CO! EMA) Que foi? Que aconteeeu?

EMA

A casa está pegando fôgo?


tn.cpr,pte ^

GERALDO *
* ■ • * • «
Não • • • lí o Ce snr! • • .

EMA

0 Cesar está pegando fêgo?...

. * « GERALDO y * # * * ■
Não]... 0 Cesar sentiu-se mal• • • Desmaiou]...

ALDA

Desmaiou?• •. (CORRENDO A ÊLE) Cesar]• ,. CesarJ

EMA
* * •
(SOCOERENDO-O, ÍA? BÊT') Ora vejam... O Cesar* • .Estava tão bem
< * • ■ •
agora mesmo...Quo terá sido? Precisamos chamar o...(DE REPENTE)

Ah] Felizmente temos aqui o doutor]#..

ALDA

t verdade] Nem roe lembrava]...Veja o que êle tem, doutori...

Veja, por favorl...

EMA

Não fica nervosa, menina, senão eu também fico]...(A GERALDO)

Vamos, doutor...Dê-lhe um remédio...uma injeção...

GERALDO

Uma injeção?...

ALDA

Seja lá o que for...Depressa]..Ele não se mexe...Não respira]..,


V ' * « •
Cesar] Cesar] Doutor, por favorl Receite qualquer coisa]...

GER\LB0

Receitar?...

ALDA

SÍE...0 senhor que estava aqui cor êle, deve saber como is-
** .jr
to começou... deve saber o que ele tem...1 preciso agir, doutor!

Por favor...Aja] Ajal...

GERALDO

(ATRAPALHADO) Está bem, minha senhora.• .Está ben... Hoje o

que houver, eu vou receitar]...Onde c que tem um pedaço de papel

e uma caneta?

ALDA

Ali.•«Ali no escritório tem tudo isso...

GERALDO

Um momento... Um momento••.(SAI)
tn.cpr.pte_íjL-_p.?5

—20—
ALDA

Cesarí Cesarí... Minha tia...Êle está suando frio...Êle não

se mexe..*Êle neto responde... Cesarí. ..Cesarí...

ema

Calma...menina*.*A gente precisa ter calma...0 doutor já es-

tá receitando.•.Vamos esperar...Assim que ele trouxer a receita,

a gente manda buscar o remédio...

ALDA € ■

Tem uma farmacia ái perto...

EMA

Eu sei...Eu sei que tem...Eu levo a receita...

GERALDO

(ENTRA COM UI' PAPEL NA ¥.10) Pronto.. .Aqui está!...

MA

Me dê a receita...Eu vou correndo! (SAI)

ALDA

Examina ele, doutor...Tome o pulso dele...

GERALDO

(NERVOSO) Pois não, minha senhora.•.Pois não...(MUITO DESACEI-

TADO, APROXIMA-SE DE CESAr’ T0MA-L T5 0 PULSO,PÜE-IHE A 1>X0 NA TES-


*
TA E FAZ OUTRAS ENCENAÇÕES)

ALDA

(ANCIOSA) Então, doutor? Então?...Que é que êle tem?...

GERALDO

Eu estou vendo, minha senhora...Estou vendo... se ele desper-

ta agora e me vê aqui apalpando—o, © capaz de me dar uma bofeta-

da. . •

ALDA

Porque? Êle está assim tão mal?...

GERALDO

Não, minha senhora...Êle não está mal...Quem está mal sou

eu. • •

ALDA

0 senhor? Porque?

GERALDO

(DISFARÇANDO) Porque...Compreende... Assim, curvado... As

costas estão me doendo...


TN-CPR.PTE P.T,

-21-
AIDA

lias, afinal, diga-me• • .Como é que isto aconteceu?,••

GERALDO

Não sei, dona Alda.. .Propriamente não sei...Êle estava aqui,

conversando comigo... De repente, começou a ficar branco...

ALDÀ

(ACOFPAMIAKDO A NARRAÇXO) Picou branco?

GERALDO

Branco corno uma cera.. .Depois, disse que estava com a vista

escura...

ALDA

Vista escura?...

* GERALDO ,
l5... AÍ, começou a sentir a casa andando á roda...

ALDA

Andando á roda?

GERALDO

Depois, quem rodou foi ele...Rodou, rodou... e caiu no sofái

ALDA
' 4 *
Caiu no sofá? Coitadinho! Coitadinho!.• .E com o remédio que

o senhor receitou ele vai ficar bom?

GERALDO

Bem...Quer dizer...Rão posso garantir...Trata-se de uma dro-

ga estrangeira que...é possivel até que...que ainda não se encon-

tre á venda por aqui...Pode eer mesmo que a dona Ema não a ache

em nenhuma farmacia...

ALDA

Ah! T eu Deus! Querida Deus que o remédio venha!...

GERALDO

É... mas vá-se preparando, porque pode ser que não venha...

EMA

(ENTRANDO C0T" UK FRASCO EMBRULHADO) Pronto! Está aqui o re-

médio!...

ALDA

Graças a Deus!...

GERALDO

(ASSUSTADO) Que remédio é esse?!...

EMA
TN.CPR.PTE_JtíLp.f}

-22-
EFA

üé... 0 remédio que o senhor receitou...

ALDA

Como é que se toma isto?

EI-"A

0 farmacêutico disse que é pra tomar tudo de uma vez...

ALDA

(DANDO 0 RET^DIO A CÉSAR) Bebe, Cesar!...

GERALDO

N&o bebe!•• .(EFENDANDO) Quer dizer... no estado em que ele

está, eu acho que ele nSo bebe...

1IA
4 ■ ■ 0 4*0
(VENDO CESAR TO*'AR 0 REMÉDIO) Está bebendo...Já bebeu!...

GERALDO

(ATERRORIZADO) Que será que êle bebeu, meu Deus?l...

Bebeu o remédio que estava no frasco... (REPARANDO ET CESAR,

QÜE CO MEÇA A REAGIR) E parece que o efeito vai ser muito rápido...

CESAR

(ABRINDO OS OL”OS) Onde é que eu estou?...

EFA

Eu nSo disse? Que remédio milagroso!...

ALDA

Está melhor, Cesar?

CESAR
• * * ' •' 4*4
Um pouco melhor...Ainda sinto a cabeça zonza...Fas que foi

que eu tive hein?...(SUBITATENTE) Ah! Agora me lembro!... Saia de

perto de min!.. Mentirosa! Hipócrita!...

ALDA

Cesar!...

CESAR

Saia de perto de mim, repito!...

EMA

Que é isso, Cesar? Tenha calma...Você sentiu-se mal...Chegou

mesmo a ter um desmaio...

CESAR

Um desmaio? Eu?...
.*
TN.CPR.PTe M/ D.W

ma ~23-
i.as feliz., ente seta melhor. ..E com o remédio oue o doutor

receitou, vai ficar bo: ...

CESAR
Então o negocio foi serio? Yocê chamaram médico?,..

EMA
Não ioi preciso chamar,..Estava aqui o seu amigo doutor,,,

CESAR
(NÜI POIO) Hein? Geraldo? Mas este homem nunca foi médico !.,.

ALDA
0 que?

EMA
Não é médico?!.,.

CESAR
(A GERALDO) Que é que você fez, desgraçado? Não...O desgra-

çado sou eu...Que é que você, fez barbaro?...

GERALDO
Não sei...Bu peguei na caneta...num pedaço de papel...

CESAR
Eu estou envenenado! Cor: certeza estou envenenado!.. Estou

sentindo a cabeça...Estou sentindo o peito... Estou sentindo as

costas.• .Chamem o Pronto Socorro!... Chamem um medico... Mas um

medico de verdade**. Eu estou envenenado! •• vou morrer! Eu

vou morrer!...(E SAI DESESPERADO)

ALPA
(AFLITA) Cesar! César» (A EMA) Minha tia, vá com êle!...

EMA
* * * *
Que eu vá com êle? Eu sei lá onde e que êle vai!...

ALDA
as é que êle pode ter alguma coisa e eu não posso socorrê-

lo, porque êle está zangado comigo!.,.

EMA
Está bem. Eu vou. Mas se o Cesar morrer, esse falso medico

tem que ir pra cadeira!(SAI)

ALDA
(BREVE PAUSA) Então...o senhor não é medico?...

GERALDO /

m
TN.CPR.PTE ) p.íi

♦24-
GERALDO

Não, minha senhora.• • -"oi tudo um lamentável engano•• .Ontem,

no teatro, tomaram—me por um medico amigo meu e eu não tive tempo

de • • •

ALDA

Ainda comigo, graças a Deus, não houve nada, porque eu não

tomei o remedio que o senhor receitou... Fae com o meu marido,

com o meu pobre Cesar...Ao menos, diga-ne o que foi êle bebeu?

GERALDO

Dão sei. dona Alda...Eu tenho certeza de que, concientemente,

não escrevi nada na receita...Se o farmacêutico conseguiu ler al-

guma coisa... isso é lá com êle...

ALDA

Ninha Nossa Senhora! Pode ser atá um Veneno!...

I.NJRILO

(ENTRA, TRAZENDO A PULSEIRA) Pronto, dona Alda. Aqui está a

pulseira da dona Ema. Demorei um bocado, porque custei a encon-

trar. • •

ALDA

(PO DO-A NO TRAÇO) Obri ada, 'urilo...

FÜRILO

(REPARANDO NELA) Uê... Que é que a senhora tem?... (OLHANDO

GERALDO) E o senhor também ..Estão todos dois com cara de quem

está velando defunto...

ALDA

Ah! ISirilo...Talvoz você não esteja muito longe da verdade!

Talvez a esta hora eu já seja viuvai...

ITJRILO

(COMPUNGIDO) É?... '"eus pezanes, dona Alda... (DE REPENTE) Hein?

Viuva? Porque? Seu Oscar morreu?!...

ALDA

Por enquanto, acho que não...: as êle foi envenenado!...

NURILO

Envenenado? Um crime? Ai, meu Deus, que coisa horrorosa!...

Estou ate me sentindo mal...Doutor, por favor, me receita alguma

coisa!.••

GERALDO

Eu? Nem que você me rache!...


TN.CPR.PTE ’ j\$Ú D.ÍÚ

ALDA ~25~

Esse moço não pode receitar nada...Não deve receitar nadai

MJRILO

Uê...Porque?

ALDA
* • *
Porque ele não ó, nunca foi medico1...

TURILO

Não é medico?i...

ALDA

Kãoi E por querer passar por isso, e que agora estamos passan-

do por istoI..Deu a meu marido uma droga que, com certeza, é um

veneno!••.

MURILO
(MB' GESTO TEATRAL) Assassino!.. .Pois o senhor teve a coragem?,••

GERALDO

Poi sem querer*..!”e obrigaram a receitar,., eu receitei!...

MURILO
Ias receitou o que?

GERALDO

Sei lái..Eu só fiz uns rabiscos.• .Não escrevi nada...O farma-

cêutico e que mandou o remedio...Portanto, só êle ó que pode dizer

o que ó...

MURILO

(NERVOSO, ANDANDO DE UK LADO PARA OUTRO) Que coisa horrorosa!

Que coisa horrorosa!...! as ó preciso fazer alguma coisa... Temos

que fa^er alguma coisa!..(DE REPENTE? OLHA 0 TELEFONE) Ah!...

GERALDO

(ASSUSTADO) Que foi?

MURILO

0 telefonei...

ALDA

(APAVORADA) Que ó que tem o telefone?...

MURILO

Vamos telefonar para o ^armaceuticoi..•

GERALDO

Ê mesmo! Como e que eu não me lembrei disso ha mais tempo?...


ÍJf
MURILO P.P *•
J
(INDO AO TELEFONE) Poi nessa farmacia aí em baixo? ** * *•'
TN.CPR.PTE Jj p. >j

-26-
ALDA

Foi •••Foi nessa mesmo.

MURILO

Seu Nicomedes...(DISCA E ESFERA) Alô.,.Seu Nicomedes? Hein?...

Padaria? Não, eu não quero falar com o padaria...(DESLIGA E DIZ

PARA OS DOIS) Engano. (DISCA NOVAMENTE) Alô...Seu Nicomedes? Olha

aqui» seu... Como? Maternidade?... Desculpe, não 4 aí, não...

(DESLIGA E TORNA A DIZER AOS DOIS) Engano outra ves...Cadê o ca-

tálogo? I’e dá o catálogo ...Tal ves tenha mudado o numero...(ALDA

CORRE 5 AJUDAR, APANHANDO 0 CATXLOGO. ESTÍO TODOS ?TUITO TENSOS)

ALDA

Está mal o catálogo...Farmacia...Farmacia...

MURILO

(LENDO JUNTO COT ELA) Farmacia...Farmacia...AhJ Está aq^li. (VÊ

O ffÜMEBO E DX UM RISINHO BÔBO) Viu? Bu estava errando... É zero, m

meia e eu disquei meia, zero.,.(DISCA NOVAMENTE, CANTANDO APENAS 0

FINAL)*., zero,meia...(ESPERA) A1Ô...Ê da farmacia? S seu Nicome-


• * *
des? Seu Nicomedes, boa tarde...Aqui quem está falando e o Mirilo.

Ê...Esse mesmo...(dX OUTRO RISINHO BÔBO) á... Sou eu...0 que? AhJ

Não amola, seu Nicomedes... Escuta, seu Nicomedes...Ainda agora

levaram aí uma- receita aqui pra casa do. . seu Cesar.. .$. • .Quem foi
4 < 4
que receitou?... Bem...Isso eu não sei...O que eu queria saber...

0 que eu queria que o senhor me dissesse á...que remedio foi que

o senhor mandou?...

ALDA

$ verdade» á?...

GERALDO

á veneno?...

MURILO

Espera
• • aí...Assim eu não posso ouvir o que o homem está di-
*
zendoj... (VOLTA AO FONE) Pronto, seu Nicomedes...Não, senhor,

á que estavam falando aqui perto e eu não escutava o senhor. Pode

falar. (ESCUTA) Hum...hum...hum.••(UI A PAUSA) Não digaí Não di-

gal..(ALDA E GERALDO PALAM AO MESTO TETPO, PROCURANDO SABER QUE

E QUE O HOMET ESTX DIZENDO.MURILO, COT 0 GESTO, FAZ COT QUE ÊLES

SE CALE?'. CONTINÚA A OUVIR) Sim, senhor...Está bem. Muito obriga-

do. (DESLIGA)
AT DA (tf » % T
TN.CPR.PTE Àiú p. í\

ALDA 1

(ANGIOSA) Então, Korilo? Então?...

ger .ido

Pala, Ihrilo...Falai•••

KIURILO

0 seu Nicomedes disse que*. (OLHA PARA OS BOIS, E, SUBITA-

MENTE, ESTOURA RUFA GARGALHADA)

ALDA

Que foj.,Murilo? Que foi?

GERALDO

Você ficou maluco? Porque está rindo tanto?...

MURILO

0 seu Nicoxaedes disse que viu logp que a receita era brinca-

deira e mandou um vidro de agua puraJ...

ALDA

(QUASE SEI ACREDITAR) Água?...

GERALDO

Água? Esse seu Nicomedes merece uma medalhai...

MURILO

ÊLe disse que ia perguntar a dona Ema que bobagem era aquela,

mas viu que ela estava tão nervosa, que ele não disse nada...

ALDA

Graças a Deus!..Murilo, vá correndo dar a boa notícia a minha

tia.»

MURILO

(AINDA RINDO) Sim, senhora...Vou já...(VAI A SAIR, VOLTA E

DIZ AOS DOIS, AINDA ÁS GARGALHADAS) Era... era aguai..(SAI)

GERALDO

Puxai.. Não ganhei pro sustoi

ALDA

Nem eu...Ainda estou tSda tremula...

GERALDO

Bem. Agora que passou o susto, vamos ao que serve. Como a se-

nhora viu, o Ceear está furioso...

ALDA

Porque? Êle encontrou a pulseira?

GERALDO

Exatamente • E a senhora não imagina a cena que êle fez 1 • •. Eu


TN.CPR.PTE_, p.A

CONT. -28-

acho até que foi por isso que ele se sentiu mal*.,

ALUA

Coitado do Cesar...

GERALDO

Sim, mas se nés não fizermos muito direitinho aquilo que

combinamos, coitados de nés!..Não sei até onde irá a sua raivai...

Por conseguinte, eu acho que é preciso...

XEA

(ENTRA A RIR? C0T' MURIIO) Então... era água?

ALDA

Feliznente, minha tia...Eu criei alma nova!..

MA

E não é pra menos...

ALDA

A senhora já disse a ele?

EMA

Se eu disse a ele?

ALDA

Sim... 0 Cosar já sabe?

GERALDO

. Bem, isso não tem importância e nés não podemos


• * * perder tem-

po. 0 que temos a fazer, com têda a urgência...

CESAR

(ENTRANDO, COM A PULSEIRA) Alda...Alda...(VENDO-A) A senho-

ra disse que eu estava exagerando...que eu estava exorbitando...

que não tinha motivos paira duvidar da sua lealdade...Pois então,

responda apenas a uma pergunta: Quem foi que ontem á noite, no

teatro, perdeu este objeto? (MOSTRA A PULSEIRA)

EMA

(VETíDO) A minha pulseira!.. A pulseira que eu tinha perdido!

Obrigada, Cesar...

CESAR

Esta pulseira é sua? (A ALDA) Onde está a sua, então?

ALDA té ^ ;

(MOSTRANDO 0 BRAÇO) Aqui...

CESAR

(RISONHO) 15 verdade...Eu sou um idiota...Graças a Deus, ©u


TN.CPK.PTE nJir'S

CONT. 30-

Mas nSo..*NSo pode ser...(NUM GRITO) Alziro!.você, Àlziro?!...

Então você não morreu?.. *(AOS OUTROS) t o Alzirol... (NO FOE,

MUITO NERVOSA) Quando á que você chegou? Onde á que você está?

No aeroporto? De onde é que você vem? Da lua? AhJ Engraçadinho...

Olha...j-u vou pra aí agora mesmo...Você vem pra cá? Já, já? Eto—

tão, vem...Vem depressa!..Eu fico esperando...Todos nos estamos

esperando! Ver. já.*.Hão deráro...Até já!•• (DESLIGA) 0 Âlziro! Pa-

rece incrível! Depois de tanto tempo!*.Quem diria!...

ALDÀ

Dil Titia... E a senhora que ia casar outra ves...

EMA

(DEI BRANDO, PICA MEIO SE' GEITO) á verdade.#.Eu nem me lembra

va...(INDO A MURILO) Berilo, me desculpe...mas temos que desis-

tir do casamento...Sei que isso é um triste golpe pra você, mas,

compreende...eu não posso ser bigorna...0 Al2iro voltou!...(E ELA

VOLTA PARA JUNTO DOS OUTROS)

MJRILO

(001 0 TONTO) Estou sonhando? Estou acordado? Isso é um mila-

gre!... (COM OS OLHOS W. ALVO) Brigado, Alziro!....

FIE DA P EÇA

%
TN.CPR.PTE

para o ensaio peral da peça À DA1.IA DO Cá..áROTR, orijinal Vr; sileiro o.

Castro Viana, já aprovada pele SCDP, com o certificado n®

Rio de Janeirb, 2? de julho de 1970

C^
TN.CPR.PTE p.

A DAMA DO CAMAROTE
CASTRO VIANA

Senhor Chefe da T.C.D.P.

A ação da peça se passa no princípio do s£


culo, de forma a criar um clima de "vaudeville" com bastante
comicidade, usando o diretor másicas de várias épocas, tra -
zendo de volta ao palco a veterpa atriz Elza Gomes,que com /
sua inteligência, faz ressaltar o humor da mesma#

A Dama do Camarote cujo script é um tanto


ultrapassado, foi musicado e adaptado pelo diretor,de tal ma
meira que se tornou uma experiência nova, um espetáculo atu-
al,sem precisar apelar para malícia ou imoralidade#

E a história de uma senhora cujo marido se


ausentara por mais de dois anos, e passa a morar em compania

®i
de uma sobrinha casada. Esta resolve ir a um teatro,em comp
nia do secretário do marido que era um "invertido^sexual.

\
teve um desmaio sendo atendida por um pseudo-médico que se
apaixona por ela e que não era nada mais do que o antigo ami
go do marido. Há uma série de confusões,até que se consiga/
identificar qual a dama que se encontrava no camarote naque-
la noite#

Opino seja mantida- sua liberação,pòis pode


ser assistida por qualquer páblico#

0-1-£

iA&
Maria -Ribeiro de Almeida
Técnica de^Censura
J?ar*v Na 252.

f
TN.CPR.PTE j;fe p.

0 Ȓiili :j i u
ESMO SENHOR CHEFE DO SERVIÇO DE CENSURA E DIVERSÕES 'ffcfiXGAS
DEPARTAMENTO FEDERAL DE SEGURANÇA'' PflfíLlCA

J ij

//y W

vl _ Ü » f ssofa Ruiz Puebla (Pepa Ruiz) , administradora da Snprêsa Eny Ribeiro


f ^Produções Artríticas, vem, mui respeitosamente, pedir a V* Sa* se digne marcar o
«MvJ / ensaio geral para a Censura, no dia 5 da julho de 1972, às 21 horas, no Teatro Na-
tt
‘ V ^ cional de Comédia, nesta Cidade, da pega A DAMA DO CAMAROTE”, original em dois
* [y atos de Castro Vianna, visto a estréia estar marcada para o dia 7 de julho dQ 1972.

Nestes termos
P, Deferimento

Rd*rd<e Janeirs 10 de 1972

Pepa Ruiz1 - Adminisi %

p/ Empresa Eny Ribeiro Artísticas

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TN.CPR.PTE_ üILp.«
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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
DEPARTAMENTO DE POLfCíA FEDERAL
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