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PRÉVIA)
CERT. N°: 03 ^
ANO:
FOLHAS N°: 31
BR AN.RIO TN.CPR.PTE JO .^
•<hsCDí! / SR/DPF-RJ
V.*3. para fins de CENSURA à copias da peça " AMANHS SE NXO CHOVER M
Atenciosamente
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>^7r^r> ‘Têí.-KCr) h.
<^i Juro.
òl/*) et^sT&t^ Â,
Rio , 25 de Agosto de 19 77
limo. Sr.
Diretor do Departamento de Censura Federal
(Departamento de Polícia Federal)
Brasilia DF
Saudações atenciosas:
Henrique Pongeti
Original de
Tradução de
Próxima apresentação de SOCIEDADE ATISTAS OHIBOS ITM.-
RIO DE JANEIRC
Teatro SESfl- TIJTJCA Cidade,.
Estado pj
a estréia está prevista para 2.®....q)^nz_ena de.HoyeEbro de 1977
Pela SBAT,
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40 blocos 50x2
Setembro 76
TN.CPn.PTE Jot p. 4
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AMANHÃ, SE NÃO CHOVER
CENÁRIO
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colocada sôbrc a mesa.) Você teria compreendido, se tosse menos su-
perfical, se fizesse questão de ir além das aparências. Você ainda não
reparou com o bigode de quem se parece o meu, quando eu deixo
de frisá-lo?
BONARD — Com o do Kaiser não é, nem com o de Briand. Não
é também com o de Vittório Emanuele...
BALABANOFF — Viu como você é pouco observador? Você co-
meçou com os três maiores bigodes da Europa atual, três florestas
labiais com as quais meu bigode não tem o menor ponto de contácto-
BONARD — Será o de Max Linder, o cômico de cinema?
BALABANOFF — Que Max Linder nada! Lenine, “seu” idio-
ta!... Lenine!
BONARD — Lenine? (repara) É mesmo, você tem razão, eu nun-
ca tinha reparado.
BALABANOFF — Quando eu estive em Zurick, onde Lenine es-
tava exilado, notei que todos os jovens partidários copiavam fanati-
camente o seu bigode fino e cadente, tipo mongólico, Você acha que
um anarquista puro como eu pode admitir qualquer semelhança fi-
sionômica com o chefe daqueles visionários?
BONARD — Nunca! Seria uma capitulação, (pausa) Engraçado!
Intimamente, eu sempre suspeitei que você frisasse o bigode g>ara
agradar a Francesea!
BALABANOFF — Eu? Você não regula! Eu nunca procurei agra-
dar a mulher alguma na minha vida, e se quizesse agradar, não mo-
dificaria um pêlo da minha cara.
BONARD — Bem, você fala assim porque tem confiança na sua
estrela, (abre o livro).
BALABADOFF — Bonard, êsses assuntos do “garçonnière” não
me interessam. Outro dia li um pensamento de um escritor .decadente
inglês, sôbre as mulheres, que me ficou indelèvelmente gravado na
memória: “As mulheres nos inspiram as grandes obras, mas nos im-
pedem de realizá-las”...
BONARD — Depende das mulheres.
BALABANOFF — Tôdas são iguais quando gostamos delas. Elas só
são diferentes, umas das outras, quando as desprezamos, e elas va-
riam sua personalidade para nos seduzir.
BONARD — Uhh!... Você entende de mulheres mais do que de-
monstra. Experiências pessoais?
BALABANOFF — Eu leio tudo quanto se refere a psicologia fe-
minina. São sempre as mulheres que instigam os maridos, na cama,
a fazerem a revolução, e são quase sempre as mulheres que depois,
fora da cama, a fazem fracassar.
FRANCESCA (entra com um pacote de jornais) — Chegaram os
jornais.
BALABANOFF — Como está o tempo lá fora?
FRANCESCA — Perfeito. Um crepúsculo maravilhoso.
BALABANOFF — Você acha que amanhã não choverá?
FRANCESCA (abrindo os jornais) Tenho absoluta certeza, (tro-
voada mais forte.)
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TKir.PR.PTE - 3_P- £
6
TN.CPR.PTEiíÜ_ P- >
os contos cio fadas. Eu não dou cinco anos e esses aviadores abandona-
rão os seus arriscados trambolhos e comprarão uma bicicleta.
BONARD — Pois eu penso diferente. Eu penso que daqui a cinco
anos também as bicicletas estarão voando.
FRANCESCA — Mataram uma “midinette” no Bal Tábarinl
BONARD — Quem matou?
FRANCESCA — Um mexicano apaixonado.
BONARD — Estranhos tipos, esses mexicanos! Quando gostarn\
muito, matam a mulher; quando não gostam, são até capazes de cons-
tituir família. Aliás, ao contrário dos franceses, meus patrícios, conhe-
cidos pelo horror à geografia, eu me interesso muito pelos outros paí-
ses. Meu sonho dourado é matar elefantes nas florestas virgens do Rio
de Janeiro, nas vizinhanças de Buenos Aires, a capitai da Bolívia.
(Trovoada. — Chuva grossa.)
BALABANOFF — Maldita chuva! Eu não dizia?
FRANCESCA (correndo para fechar a janela) —Que horror! Pa-
rece uma tromba d’água!
BALABANOFF — Será o cúmulo do azar!
FRANCESCA — Eu duvido que o Rei inaugure a Exposição Inter-
nacional, com um tempo destes!
BONARD — Pois eu acho que o tempo vai melhorar. Ainda não
estamos na época das chuvas. Até amanhã de manhã, à hora da inau-
guração, pode fazer um lindo sol.
BALABANOFF — Sol! O eterno otimista!
BONARD — De qualquer modo, a bomba de dinamite está pronta.
Olhem! (ergue a bomba, triunfalmente.)
BALABANOFF — Eu sei que a bomba de dinamite está pronta.
Mas, para haver um atentado anárquico, a bomba, só, não basta: é
.preciso haver um rei em condições de deixar-se matar.
BONARD — Matar, não, Balabanoff: executar. Eu implico solene-
mente com essa palavra matar .
BALABANOFF -— Com tòda a razão, aliás. Nós não somos crimi-
nosos comuns. É preciso estabelecer bem a diferença que há entre um
assassino vulgar e um ato político de reparação humana.
BONARD — Seja como fôr, a bomba está aqui, prontinha. Agora
vou desenhar em volta da cápsula, o meu “ex-libris”. Eu estimo muito
esta bomba, sabem? É a minha primeira criação terrorista.
BALABANOFF — E dá-lhe com a bomba! Companheiro Bonard, eu
já reparei uma coisa. Todo seu ideal anárquico parece reduzir-se ao
prazer de fabricar uma arma de destruição. Os objetivos dessa arma,
pouco lhe importam. Você seria um bom diretor da Armstrong, da Krupp,
da Skoda, ou de qualquer outra fábrica imperialista de‘cemitérios.
BONARD — È apenas um engano seu, Balabanoff. Enquanto
eu dosava os explosivos, ia fazendo mentalmente o cálculo do raio de
ação da bomba e adiantando, a mim mesmo, os efeitos da explosão.
Eu via os couraceiros e os cocheiros reais, os generais cm primeiro
uniforme, os cavalos emplumados, o ' rei, a rainha, os ministros, as
condecorações, boiando num mar de sangue. Via as criancinhas ino-
centes e deslumbradas, atingidas em pleno sonho pelos estilhaços,
7
atrás dos cordões de isolamento. Eu tive, antes de vocês a visão des-
sa tragédia que se dará amanhã de manha... se nao chovei...
BALABANOFF — Da tragédia, não. Diga: do acontecimento his-
tórico. Tragédia cheira mal: cheira a palco de teatro aristocrático
Nós não queremos fazer teatro: queremos fazer um mundo melhor.
BONARD — Está bem, retiro “tragédia” e ponho “acontecimem^
to histórico”. Vocês ainda emprestam uma importância exagera®»
as palavras. Parecem mais escritores do que revolucionários. U &
BALABANOFF — Idéias definidas -exigem .palavras especiuck&\j
A abundância de sinônimos é própria da elasticidade da moral
9
mr.pw.PTE J&3 P-dcD
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TN.CPR.PTE
li
TN.CPn.PTE J^3 p.
12
TN.CPR.PTE__r2L P- ^5
(Solenc B
’ « onard.) Faça de conta que a bomba está es.
de
l4AN?rir°A
I RANCESCA — T “bouquct”rosas
As clássicas
dc rosas
para- a rainha...
“corbeille”.
as ros;
lantes e pérfidas do anarquismo.... ,
iiccnça para uma
P^uena observação. (I
BALABANOFF — Diga. \<
n-nr-, ~ AdeBor
tocondida debaixo
preferida da r£
um “bouquet” de hnha é o lilás: a bomw
lilases...
d° atentado FF
ta doftenitZ° ~~a M
exige ° ^
rosa. t0lÍCeS Bonard A técnica
A rosa ’
oculta ’
melhor a bomba:anarquis-
é urna
máscarr^cionaL Um bi mb
° °’ Se^’a co™ ™a
FRANCESCA — Balabanoff tem razão. O anarquismo está li-
gad0 a esta ao
' 5 das rosas, como as andorinhas à- primavera.
BONARD
. — Queiram me desculpar, mas eu insisto em encher
simboncamente de lüases esta cestinha. Quem vai morrer é a rainha
nao silo vocês — e a rainha prefere os lilases.*
B FF EU me oponho íorrnalm(
“°
*<J.NAivD ~~ se
— Nao -nteA 'atodos
impaciente, Balabanoff. essa os
inovação!
conde-
,a °S a mar e' mesmo aos anarquistas, a lei não concede a satisfação
c uma ultima vontade? Vocês não se lembram do Masério, que só
pe liu uma pizza à, napolitana no momento de subir à fôrea, porque
gostava de pizza, mas não conseguia digeri-la, e, assim, não teria
tempo de sofrer com a digestão?
FRANCESCA — Minha mãe fazia uma “pizza” excelente. Ela
era napolitana.
dC ÍmP St0S
°
as causas
' ° ***Wtt», o favoritismo, os trusts
1W11 “ , do seu sofrimento, e aplaude delirante-
iiicnic o lei. (disco de multidão)
FRANCESCA — Eu continuo sentada?
13
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FRANCESCA — Assim?
BALABANOFF — Não, não! Está muito duro. Parece o sorriso
da b.òca sem lábios daquele personagem de Vitor Hugo. “O homem
que rí”. Olhe só como você está sorrindo: (expressão) Não é horrível?
BONARD —- Francamente, não acho, Balabanoff. O. sorriso de
Francesca está espontâneo e distinto.
BALABANOFF — Você vai interromper o ensaio com outros pal-
pites? Diga logo, porque, nesse caso, eu abdico. . . das minhas funções.
BONARD — Eu intervim julgando cooperar, desculpe.
BALABANOFF — Ali, naquela sacada, estará a cantora Giovanna
Capinera, amante do rei. Seu sorriso se tornará ainda miais radioso
— não somente para não dar o braço a torcer à sua rival — mas
também porque pouco mais adiante, noutra sacada, estará o profes-
sor de equitação, Conde Defontaíne, seu amante, quero dizer, aman-
te da rainha Anastácia. Compreendeu? Um sorriso -assim, síbilino,
maquiavélico... Vê? (expressão).
FRANCESCA — Estou achando esta farsa desagradável e inútil,
(gesto dc levantar-se) Chega!
BALABANOFF — Francesca, sente-se. (empurra-a) Se você es-
tivesse melhor informada sôbre a moderna técnica do atentado, sa-
bería que a formação de uma atmosfera psicológica prévia é uma
exigência elementar. E depois, eu quero e acabou-se!
BONARD — Posso atirar?
BALABANOFF (baixinho, como se não quizesse ser ouvido pelo
rei.) — Sossegue, homem. Ainda estamos na Avenida Independência,
(solene) Ali estão os secretas, misturados com o povo, vigiando os
que se conservam de mãos nos bolsos, os sabotadores de apoteoses.
Para êles, quem não bate palmas está, forçosamente, contra o rei; es-
tá forçosamente apalpando a coronha de um revólver para matar o
rei. Elan! Francesca, elan! Ramiro Hernandes, de Bilbao, levou uma
coronhada porque meteu a mão no bolso quando ia passar o cortejo
real. Verificou-se,em seguida, que êle estava resfriadíssimo e ia pu-
xar um lenço. Mas, no dia em que seu nariz deixou de escorrer, êle
guardou o lenço e comprou dinamite...
BONARD — Ramiro Hernandes... Dom Ramiro Hernandes...
Conheci um embaixador de Cuba com êsse nome.. . Mas escutem
aqui, meus caros monarcas, vocês vão me deixar por muito tempo
com esta cestinha na mão, bancando a violeteira?
BALABANOFF — Estamos chegando, não tumultue. Coloque-se
ali, na primeira fila ,atrás do cordão de isolamento, bem defronte do
Gavilhão Central. Aí mesmo. E agora, Francesca, componha a sua mais
simpática fisionomia. Estamos finalmente chegando. Lá se encontra
à nossa espera, a fina flôr da malandragem governamental — o es-
tado maior dos aproveitadores e dos bajuladores. Todos querem ser
vistos, por nós, para cobrarem depois o seu “jeton” de presença; e
nós devemos dar a cada um a .impressão de havê-lo visto, e gravado
w
■ para sempre seu nome no nosso coração reconhecido. Olhe, olhe aquê-
le algoz do chefe da Repressão, como chocalha as suas condecorações,
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t . rN.cpn.fTE__riS- P ~5
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'íwiafcfnw ma. »-yvT.
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TN.CPn.PTE
BALA13AN0FF — Que... que... o que? Você ficou gago e cre-
tino de repente?
FRANCESCA — Não seja tão misterioso, Bonard. Diga logo a
Balabanoff que eu desmaiei com mêdo do novelo de lã... (ri)
BONARD — Essa é boa! (Ri)
BALABANOFF (dando um murro 11a mesa) — Basta! -
FRANCESCA (Subitamente séria.) — Vamos repetir a cena
lançamento da bomba? Se você fôsse um chefe gentil, daria a rainh \
por morta. (ri). j gí j
BALABANOFF — A hora é muito imprópria para gracejos, Franv^N w \J*- j
♦ * l\»
cesca! (imperioso) Bonard! xj^vnÇ^V -
BONARD — Pronto.
BALABANOFF — Enquanto eu rasgo os nossos documentos se-
cretos e lacro 0 meu testamento político, você prepara 0 sorteio. Sa-
beremos dentro de alguns minutos quem matará 0 rei.
FRANCESCA — Executará, aliás...
BALABANOFF — E depois de 0 sabermos, talvez certas pessoas
não sintam mais vontade de rir. . . (sai importante)
FRANCESCA — Cretino! Você já viu?
BONARD — Só faltou a cegonha pousar na cabeça dêle c mor-
dcr-lhe a orelha, dizendo: “Ei, Balabanoff, a encomenda é sua! Não
se lembra?"
FRANCESCA — Sujeito errado! Quer salver o mundo, e não dis-
tingue um desmaio de mãe de um desmaio de dispéptica! Viu que
cara de palerma?
BONARD (com ar confidencial) — E você, está contente?
FRANCESCA — Estou. Se Balabanoff me ouvisse dizer isso, fi-
cava epilético de raiva.
BONARD — É sim. Que homem misterioso! (escrevendo os no-
mes nos pedaços de papel) Francesca... 0 seu em primeiro lugar...
“noblesse cbligue"... Balabanoff... e agora, em último lugar, como
maneia 0 protocolo da modéstia, o meu... (pausa) Você sabe que
nunca pereebi um gesto, uma palavra, uma expressão de Balabanoff
que revelassem a existência de um coração em seu peito?
FRANCESCA — Balabanoff é de gêlo. Ontem eu tive o meu pri-
meiro vômito, e êle me perguntou se eu não andava comendo pre-
sunto demais. Presunto! Eu com um anjinho nas entranhas, e êle
pensando em azias!
BONARD — Eu o conheço! E daqui a alguns mêses, no lugar de
uma parteira, êle será homem de trazer uma caixinha de bicarbona-
to. (pausa) Está se sentindo melhor?
FRANCESCA — Estou muito bem, agora.
BONARD — Você vai me perdoar a indiscreção, Francesca, mas
eu sempre tive uma curiosidade doida de saber corno foi a sua pri-
meira noite de amor com Balabanoff.
FRANCESCA — Não foi uma noite, foi uma tarde. Balabanoff
chegou perto de mim, na varanda, e disse: “Francesca: uma coinci-
dência evidente de interesses fisiológicos, estimulada por uma identi-
dade de ideais políticos, nos aconselha um contacto material mais
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...... .
TN.CPft.PTE JOA p. J9-
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TN.CPff.PTE âOl p.
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TN.CPtt.PTE J03 n.
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TN CPn.PTE - ' P. -vC»
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TN.CPK.PTE P.0P4
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TN.CPft.PTE Jv3 p.
gamas fotografias, vistas num semanário erótico, provam ser eia Jo-
sette Valmore?
\ BONARD — Perdão! Eu tenho uma perfeita memória gráfica.
Lembro-me muito bem da linha ondulante do seu corpo, do seu sor-
riso perturbador, dos seus olhos de abismo. É ela mesmo!
BALABANOFF — Todas as mulheres dc “Paris em camisa” têm
a linha do corpo ondulante, o sorriso perturbador, e os olhos de abis-
mo. Esse é o gênero da revista. Você pode estar sendo traido pela
sua libidinosidadc.
BONARD — Como! Você mc acha libidinoso?
BALABANOFF — Bonard, o momento não comporta discussões'
sôbre o seu temperamento. Estamos com a polícia dentro de casa, e
a casa está cheia de provas da nossa conspiração.
BONARD — Provas?
BALABANOFF — Sim. A bomba, por exemplo. A bomba está
ali, naquela vitrina, exposta como se fôsse um “bibclot”.
BONARD — Ê mesmoI Eu estava achando tão natural a fabri-
cação dc bombas de dinamite!... (Dirigc-sc ao armário.) Tão natu-
ral como os meus perfumes. (Francesca começa a descer a escada.)
BALABANOFF Eu sei. Você seria capaz de registrai: a sua fábrica
de bombas no Registro de Indústria e Profissões da Prefeitura. .
FRANCESCA — Só nos faltava essa! A polícia calçando as mi-
nhas pan tufas!
BALABANOFF — Calma, Francesca, muita calma. Nossa tática
deve ser agora uma filigrana de astúcias. Aliás, êsse é o meu gênero
predileto de luta. Cérebro contra cérebro.
FRANCESCA — Balabanolf, aquôles livros, os papéis... a bom-
ba... (nervosa) Eu tenho mêdo!
BALABANOFF — Francesca, eu preciso de calma, nada mais.
BONARD (abriu o armário e segura a bomba) — Onde vamos
esconder a bomba?
BALABANOFF — Atráz da Enciclopédia Britânica. Para algu-
ma coisa esses monumentos de sabedoria servem.. .
FRANCESCA — Atrás dos livros... O segredo do Polichinelo.
BALABANOFF — Tolice! Ninguém desconfia dos lugares fáceis.
A polícia pensa logo em alçapões, cm cofres embutidos nas paredes.
BONARD — A polícia atribue aos criminosos a sua própria ima-
ginação mórbida.
BALABANOFF — Exato: esconda-a atrás da Enciclopédia Bri-
tânica.
BONARD (obedecendo) — E se ela estivesse nos ouvindo... e
nos vendo?
FRANCESCA — Impossível. Eu tranquei-a no meu quarto.
BALABANOFF — Você trancou-a no seu quarto?!
FRANCESCA — Oh, somente enquanto ela se arruma... en-
quanto tomamos uma resolução. Que fazemos? Diga, Balabanoff!
BALABANOFF — Cérebro contra cérebro. Solte essa espiã de-
pressa, e deixe-a- movimentar-se pela casa. O resto será como Deus
quizer. (limpando a mesa onde estão as ferramentas c os perfumes)
TN.CPK.PTE 403 p.
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TN.CPH.PTE J£L_
25
J
TN.CPn.PTE
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TN.CPK.PTE JOg
27
TN.çpn.PTE (P5 D. Jg
"rho“ir:r“LPode-se *»■ -
•»»V-
BALABANOFF - Eu? '
JOSETE — Você não é russo?
BALABANOFF — De Odessa.
ê n iista e resol e
deixar o Czar vire* Marin™” “ ' '’
!ixe,EoAna„B” ~ POiS eU nâ
° “ nÜlista
’ -1“™ 9- o Czar se
FRANrpqpâÊle
FRANCESCA . brincando, não
— Absolutamente, é, Francesca?
mademoiselle. Balabanoff nün
dança a mais simples dança de salão. ‘ ‘ na0
XJLo?SÜIOU Vi0lin
° a Cigan0? (pausa)
Você tem uma mama
JOSETü,
JOTEraVnoJ LUm
Voce podia f malha
abnr uma-de
excessão e dançar
teilarino, uma que?
eu? Para besteiri
nha qualquer para a sua colega. ' besteui-
. J°SETE ~ Está bem, está bem... Não vamos brigar nor uma
coisa tao simples. Eu insisto como artista... (Transição)
‘ Uma
“1$f: iá PenSaram onde eu ™“ d°™ir esta noite? *
BALABANOFF — Ali, naquêle sofá.
boas
a A
^ ^ SZ
seIlefBANCES°A ~ ^ de tramse
™ d
“os ou macios, mademoi- '
müscnI d
rugas“S ~ « “ ° Retardam as
FRANCESCA — Nunca ouví falar Até nnni ^ ,
sagens e os cremes. Não quer comer ateurr, ™ C nheCiã as mas
° "
C01sa antes de se
Temos ovos, presunto bisrofL f deitar?
servas salgadas ' “* adensado, e algumas =on-
JOSETE _ Muito obrigada. Eu ataoeei com o empresário Jean
28
TN.CPR.PTE_L£â_ P-
t
TH.CPK.PTE___ri_ P- 3 O
eleía 0)1
BoNARD — Que horror! Eu só imagino quantas trombas de ele-
fante você vê a cada momento, neste nosso mundo *ã° uunugo a
verdade! (encaminha-se para a estante. Tira o livro) Aqui temos Pi- XW
nochio”. (Entrega-o) É urna edição de luxo, com desenhos colorido,
C ÍSa
° jOSETE - Muito obrigada, mas eu ainda não digeri o almôco
pantagruélico do Renoir.
BALABANOFF — Pois eu estou morrendo de -amo.
BONARD — E eu, idem. _
FRANCESCA — Então tratem de comer, mas nao facum muna
desordem na copa. Quero tudo lavado, depois! tit m
BALABANOFF — Lavar tudo depois: pode-se ter apetite, .01
uma impo ç _ E tudo muito enxuto. Nada de espertezas, pen-
ÍWaS
^RANCESCA1 —- NósISmos realmente felizes. Bonard é como um
irmão do meu marido, c nos clistrai bastante. , ívv(VmH1
JOSETE - Ele 6 muito simpático. Tem alguma coisa de mlantil,
de imaculado, do bom. Devo ser « romântico querendo e^onder.
seu coracão de manteiga debaixo de falsos espinhos. Eu tive um
j morado assim. Ele será capaz de pôr arame farpado na portaJe™
sa não por mêdo que a invadam para lhe pedn coisas, ma
do de sair á rua para oferecê-las. Gente que arma um conflito, para
esconder a vontade de dar um beijo.
FRANCESCA - O seu retrato é perfeito. Bonard é assim mes-
mo. (arrumando o sofá) Podemos falar com tôda a franqueza.
JOSETE — Naturalmente. .
FRANCESCA — Mademoiselle não é bailarina, e mamo menos
um número nudista de cabaré.
JOSETE — Sou, sim. Por que duvida?
30
Ba U
' BAiIbANOFE - Conforme eu previa, êles batem pontualmente
à nossa porta, não é assim?
FRANCESCA — Cale-se, Balabanon.
BONARD - Psiu... (.íoscte abre a porta. Cocheiro aparece)
COCHEIRO (reverente) - A polícia rodoviária já chegou,
celència!
a «eia hora pode-
íra,
CoSílRO - pode ficar descansada,
mo estou dirigindo o trabalho. Também ja parou do ..
eStâ
,OsÊTE -aQ«e bom! Eu queria tanto que fieesse sol amanhã!
(para os outros) O ceu esta todo usuclado^ depressa vem,
COCHEIRO — Eu nao dizia? Chuvas ae
depressa vão... (reverência)
BALABANOFF - Eonard, um col®ga ^ . # (reVerência.
COCHEIRO - Com sua licença, Excelentíssima... v
Sai. Alívio) . . . de ‘<excelentíssima’’? Tôdas
as viTue
• ta. O álcool afeta ^ratam^te a > * pena!
32
‘
TN.GPH.PfE ^03 p.
-■'H*
JOSETE — Está bem, Bonard, mas, se eu fôsse você, roia a corda.
BONARD — Roia a corda?
JOSETE i Sim. Deixava esses maníacos. Afinal de contas, vocês
ainda não estão escalando a montanha... ninguém está ^ para rolar.
Vocé pode me conseguir um eafèzinho, antes de eu paitii?
BONARD — Claro, Josete, num instante! (sai)
JOSETE (Localiza a bomba. Atira-a pela janela, c tapa os ouvidos,
esperando a explosão, que não se dá; depois olha para a janela c pa-
ra a porta interna, sacode a cabeça com uma expressão de surpresa
e de piedade) — Pobres diabos!
BONARD (com a xícara de café) — Francesca estava acabando
de fazer o café.. .
»
JOSETE — Obrigada, Bonard. (Fala entre goles.) E agora eu vou,
Bonard. Quer chamar Francesca e Balabanoff para eu me despedir?
BONARD — Não se incomode. Eu apresentarei a êles as suas des-
-pedidas.
JOSETE — Mas. ..
•* BONARD — Deixe. Balabanoff ainda está discutindo porque Fran-
cesca queria ver o ensaio do tango.
JOSETE —'Pobre Francesca! Então agradeça muito aos dois,
e diga a Francesca que ela pode começar aquilo que eu pedi.
BONARD — Já sei, algum casaco de tricot. Quando duas mu-
lheres se juntam, ou sai intriga ou sai “tricot”.
JOSETE — Desta vez vai sair muito tricot... Adeus, Bonard.
Você vai chegar à conclusão de que fêz uma grande tolice não apio-
veitando a carona para Biarritz...
BONARD — impossível. Adeus, Josete. (beija-lhe demoradamen-
te a mão. Balabanoff entra. Vê o beijo. Recua. Bonard acompanha
Josete até fora da porta. Balabanoff aparece e cruza os braços, o olhar
imóvel para a porta por onde saiu Bonard. — Bonard volta.)
BALABANOFF — Traidor! Beijando a mão daquela ignóbil espia!
BONARD — Por favor, Balabanoff, não chateie! (retira-se)
BALABANOFF — Hein? Como disse?
BONARD (da porta interna) — É isso mesmo. Vocé precisa per-
der essa sua mania de anarquizar tudo. Você é o rei dos chatos! (sai)
DESCE O PANO
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liberdade,
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valho a vida”.uma
FRANCESCA — Ela dança bem tango?
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■ Desliza no ar com a
elegância de uma
t. hârmoni& de um filhote de
com ela
ela, ZÍ T que tem entre os’ braços a mulher
voce sente serpente.esperada
Dançando
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BONARD Ah!... é isto: “Diga a Francesca que ela pode cr
4 a pode co
meçar aquilo que eu pedi.” ~
ÍRANCESCA — Eu já comecei.
BONARD — E vai ficar bonita?
>
1o
tn cpw.pte S p. 3^
■'í/ONfcV
rona de Josete para Biarritz?
FRANCESCA — É mesmo? Ela convidou?
BONARD — Insistiu, até.
FRANCESCA — Devia ter sido um prazer, sem dúvida. A noite
estava tão linda! Da janela do meu quarto eu olhava para o céu
estrelado e pensava: “Meu Deus, como há criaturas que numa noite
assim nao correm para a rua, e não cantam, e não beijam, e não re-
zam, e não deixam escorrer do coração toda a sua ternura reprimi-
da, e não se reconciliam com a vida e com Deus?”
BALABANOFF — Mais açúcar!
BONARD — Eu também olhei para as estrelas, quando Josete par-
tj.u, e fiquei triste como se tivesse partido o último trem da estação
da minha vida para o país da felicidade. Depois me veio uma vontade
doida de correr atrás do tílburi, de correr até alcança-la, ou estourar o
coração de cansaço, gritando: “Josete! Josete! Pára! Espera! Volta!”
FRANCESCA — Eu dormi um sono só, como nunca tinha dormi-
do. A gente deve, de vez em quando, abrir a janela e olhar como estão
as estiêlas, como passa a lua, como vai a vida nas alturas, acima dos
homens, acima das dôres, acima dos prazeres. Então, os olhos baixam
purificados, e os telhados não parecem cobrir tantas tristezas.
LALABANOF F (dando um sôco na mesa) — Agora, basta!
FRANCESCA — Basta o que, Balabanofí?
’ BALABANOFF — Basta de se divertirem à minha custa! Esta
farsa vai acabar já!
BONARD Modere o volume de sua voz, Balabanofí. Hoje pro-
curaremos . tratar nossos casos a “mezza voce”, suavemente.
BALABANOFF O Chefe aqui dentro sou eu! Não admito êsse
tom de acanalhamento e de insubordinação!
FRANCESCA — Escolha melhor as suas palavras, Balabanofí!
Estou farta da sua prepotência.
BALABANOFF — Francesca!
FRANCESCA — É isso mesmo. Chega de brutalidades!
BA.LABn.NOFF Miseráveis! É êsse o ambiente moral que vocês
criam no dia do atentado?
BONARD ■ Quem está criando é você. Nós estava-mos falando
calmamente de mulheres bonitas e de casaquinhos de lã.
r
TN
KiO
OO
TN.cpn.ptE 3—> p. 3^
39
t
TN.CPK.PTE
®* Sempre
Lelectuai. (pausa) Outras pessoas
admirei sua
que não toleram• o veneno
curiosidade
acO-
ç^V^BS2rVf
. voce, Balabanoff, eaI
era^
o anarquista
tír impecável.
° n°S mÍÓIOS °U UmaNãocorda
tinhano
peno de
pesco-
?StC, mund0
' nc
“ ttaha
preferências pelo modo deTba^-
tcjado
““ ou moido, reauzido a pílulas ou
outabletes,
apunhal do,entornado ou guilhotinado,
vocé parecia esquar-
rir da
ganeh ^ ^ ^ ™ dG estoicismo e de
audácia. Como me em
BAjLABANOFF — Ah! você achava que na hora de arriscar a
I c.ie nem era preciso sorteio, não é assim? “Bonard, guarde ésse cha
aban ff faz
renuncia' ° ^Uestáo de u
’> êle adora a morte, devemos
êSSe PraZCr
Crn S6U
~Ssc:“
-RANCESCA — Torno " a repetir, 'Balabanoff.
^nefíeiol^Paiha^
De nós três você
eia o naturalmente indicado. Bonard ama; eu vou ter um füh0; vo-
nai ue todos,1*?’
nTdeXot (solene)
f™ Bonard! CaS
° Traga-me° é a° bomba!
— » o mais ha!
banoíf?ANCESCA ~~ V0CÔ
'‘‘ V Cê nã
° ° Vai fa2er ouíro sorteio
> Sala-
40
TN.CPK
41
TN.CPW.PtE P3 p. 4^
42
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TN.CPn.PTE p.JfJ
43
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TN.CPK.PTE
4G
TN.CPX.PtE P3 p.
47
4
TN.CPft.PTE j03 p.
PRIMEIRO ATO
CENÁRIO
4
TN.CPW.PTE P %_ p
i
TN.CPW.PTE p. ÇQ
Xíin
^BALABANOFF — Essa mulher deve fazer tudo para prolongar
o seu frivolo dom até à velhice. Mas eu duvido que dois seios murchos
seiam capazes de dar brilho a alguma coisa. a _
FRANCESCA — Que crueldade, Balabanoff! Voce nao mm
momento de doçura com as mulheres. .
BONARD — Gaby Deslys! Tão simpática! um dia ela deixou cair
um leque de plumas, na “Boite Furcy”, e eu tive o prazer de curvar-
-me e de entregar-lhe o leque: “Mademoiselle, votre éventaü et mes
/
TN.CPR.PTE hQ3
7
TN ■cpã.pte 1°3> p. 5&L
L ■
/
TN.CPR.PTE
HIIIBWi
blicou uma caricatura mostrando uma plantação de côcos da África,
com esta legenda: “O arsenal dos anarquistas de Barcelona”.
BONARD — Esperem.. . com isso vocês querem insinuar que
minha bomba é um côco?
FRANCESCA — Queremos apenas alertá-lo contra um perigoso
otimismo. Nossa responsabilidade é enorme. Bonard. Nós formam
uma ala isolada e autônoma do anarquismo. Somos considerados /
mânticos e comprometedores.
BONARD — Eu sei. Mas esta minha bomba é infalível. Confic.\SSi
em mim: a História há de registrar as consequências terriveis da su
perfeição... (segura a bomba)
BALABANOFF — Mas quem pode garantir essa perfeição?
BONARD — Eu.
BALABANOFF — E por que? Você nunca fabricou bombas, nem
teve mestres.
FRANCESCA — Você é um autodidata. Deve-se desconfiar sem-
pre do autodidatismo.
BONARD (brincando com a bomba) — Esta bomba foi fabrica-
da com a fórmula 18 do “Manual do Perfeito Regicida”,. de autoria
do italiano Piero Buonatesta. Vocês ousam pôr em dúvida a compe-
;X tência dos anarquistas italianos nésse assunto?
FRANCESCA — Bomba de formulário, deve ser como comida de
receita: falta sempre alguma coisa para ser bomba... ou para ser
V
M;. prato.
BONARD (ri) — Felizmente o rei não pensará como vocês, ama-
nhã. (joga a bomba para o ar, c apara-a com as duas mãos espalma-
das.) Côco! Vocês vão ver êste côco!
BALABANOFF (correndo espavorido) — Animal! Pare de brin-
car com isso! Só faltava agora, pára completar o ridículo da bomba
que rachou a cabeça de Armando XIII sem explodir, morrermos to-
dos com a bomba destinada a liquidar Gregório V
FRANCESCA (que correu também) — É, sim, Bonard. Guarde
essa bomba no armário. Você parece criança.
BONARD (guardando a bomba) — Vocês vão me achar ridículo,
mas eu sinto uma emoção completamente nova, vendo nascer essa
onda de terror em volta da minha primeira máquina infernal.
BALABANOFF — Onda de terror! Você acha que não ter mêdo
de uma bomba de dinamite é jogar “volcy-ball” com ela? (grave)
Agora eu vou proceder a um pequeno ensaio do atentado.
BONARD — Um ensaio? Costuma-se ensaiar um atentado?
BALABANOFF (tirando do armário um grande rolo de papel)
— Naturalmente! (desenrola) Que ingenuidade! Você queria deixar
tudo ao acaso? Aqui está a parte da cidade que nos interessa. Abran-
ge o Palácio do Rei e todo o trajeto do cortêjo até à Exposição Inter-
nacional, onde iremos agir. (abre a planta sôbve a mesa de Bonard)
FRANCESCA — Eu vou ser necessária? Eu queria ver se termi-
nava êste “tricot”.
BALABANOFF — Francesca! Veja se deixa de ser tão doméstica.
Você acha que eu disponho de mais alguém para fazer rainha?
10
'
;
tn.cpk.pte_h£_ pS5
FRANCESCA — Então vai ser ensaio,, como no teatro?
BALABANOFF — Quanta imbecilidade! Como no teatro, não,
como na História; compreenderam? (arruma duas cadeiras no pri-
meiro plano do palco) Guardando as devidas proporções, esta é a
carruagem real.
BONARD — Ah! Isto é a carruagem real? Engraçado.
BALABANOFF — Exatamente. Procure colaborar melhor no en-
saio, fazendo um pequeno esíorço de imaginação. Francesca!
FRANCESCA — Hem?
BALABANOFF — Por favor, guarde essas agulhas e essa lã! As-
sim, é impossível!
FRANCESCA — Pronto, (deixa o tricot na poltrona onde estava
sentada)
BALABANOFF — Sente-se aqui. Você é a rainha Anastácia.
BONARD — A rainha Anastácia! Quanto daria Sua Majestade,
para ter um pouquinho do seu “charme”, Francesca!
í RANbESCA (gesto de irritação: senta-se na carruagem)
BALABANOFF — Quer me fazer um favor, Bonard?
BONARD — Até dois.
BALABANOFF — Perca de uma vez para sempre êsse vício di-
plomático de galantear. Nós vivemos perigosamente demais para gos-
tarmos dos rapapés de chancelaria.
BONARD — Com Francesca eu sou sempre sincero. Agora você
quer me lazer um favor, Balabanoff?
BALABANOFF — Diga.
BONARD Acabe de me atirar ao rosto, sob qualquer pretexto,
minha antiga profissão de diplomata. Você insiste na falsa tecla da
minha frivolidade. Eu faço perfumes — é verdade — e não consigo
cumprimentar uma operária casada sem lhe beijar a mão; - mas serei
capaz de atirar uma bomba no rei, serenamente, como atiraria uma
rosa na batalha de flores da Promenade des Anglais, em Nice.
BALABANOFF — Veremos isso na hora... Vamos então-ao en-
saio.
BONARD Vocês já imaginaram a policia entrando de repente
aqui, e assistindo o ensaio desta página imortal da nossa História?
BALABANOFF-— Você nunca perde uma oportunidade de ser
um profeta de mau agouro.
FRANCESCA — Deixa-me tocar na madeira! Que idéia sinistra.
Bonard!
BALABANOFF — Deixem de conversas e vamos ao ensaio.
BONARD — Quem faz o rei?
BALABANOFF — Eu. (Senta-se ao lado de Francesca.) O rei sou
eu...
BONARD Ah! então você é o rei... eu sou o anarquista.
BALABANOFF — O anarquista no ensaio, é evidente. Na reali-
dade, será aquêle que fôr sorteado. -
BONARD — Mas o rei devia ser eu. Eu fui secretário do Chefe
do Protocolo do Ministério do Exterior... conheço o cerimonial.
li
taca»
tn.cph.pte p.sè>
12
tn.cpi^.pte JOZ Pi 5^
™“df”,,„<So,C"C' * Fa
«“ *> conta que a bomba está ea-
cond,te deoauo de um ''bouquof do resto, numa “corbcillc”.
, ^RANCESCA — As clássicas rosas para a rainha... as rosas rra-
a.ntcs c per ti das do anarquismo... ° ^
BALAEADNOTFP-0DfBra
BPfAIJD — A flor preferida da rainha é o lilás: a bomba irá
Caconchda debaixo de um “bouquet” de lilasos
F
ta do
dot^fT ~~a Nã
atentado exige ° dÍga
rosa. t0iÍCeS BonarcL A técnica
A rosa oculta
’ melhor a bomba'anarquis-
é uma
-
*LZ Ttun^Tidiscreta como um biombo segura
’ como
—
““ “•
QUCiram
simbb, , de Idases esta
snnboncamente “ cestinha.
<W'. »«* vai
Quem cu morrer
insisto éem encher
a rainha
na sao voces
° — e a rainha prefere os lilases.
BOKAPnNOFFAT~ Eü me
°POnh° fonnaImente a essa inovação! \*\ fè
nadn, ? “ a° Se ira aciente
P > Balabanoff. A todos os conde-
anarquistas a lei nâo
dee uma Sbm’
ultima vontade? Vocês não se> lembram concede a satisfação
do Masério que\só
pedm uma pizza à napolitana no momento de subir à fôrea’ porque
tempo
STd S racom
de sofrer ’ mas nâ
° C0nsegula <“*“«*. e, assim
a digestão? nkoP S
Um raomento! Vocês
esta orífJr^r Pretendem transformar
Um epiSOdÍO histórico
návia? ^ma mesa redonda de euli-
tanto c um lmdoAbS
tanto, °IUtamente
bouquet”
0 que está
de ’ lilases. Insisto
abrindo a “bomba”, por-
nos lilases.
nao ^“;F
não me perder ~~
P ÍS Vá para
mais° tempo! ° iníerno cora
os seus lilases, e
BONARD — Atiro a “bomba”?
13
/
TN.CPR.PTE n. Sl
FRANCESCA — Assim?
BALABANOFF — Não, não! Está muito duro. Parece o sorriso
da bòca sem lábios daquele personagem de Vitor Hugo. “O homem
que rí”. Olhe só como você está sorrindo: (expressão) Não é horrível?
BONARD — Francamente, não acho, Balabanoff. O' sorriso de
Francesca está espontâneo e distinto.
BALABANOFF — Você vai interromper o ensaio com outros pal-
pites? Diga logo, porque, nesse caso, eu abdico.... das minhas funções.
BONARD — Eu intervim julgando cooperar, desculpe.
BALABANOFF — Ali, naquela sacada, estará a cantora Giovanna
Capinera, amante do rei. Seu sorriso se tornará ainda mais radioso
— não somente para não dar o braço a torcer à sua rival — mas
também porque pouco mais adiante, noutra sacada, estará o profes-
sor de equitação, Conde Defontaine, seu amante, quero dizer, aman-
te da rainha Anastácia. Compreendeu? Um sorriso assim, sibilino,
maquiavélico... Vê? (expressão).
FRANCESCA — Estou achando esta farsa desagradável e inútil,
(gesto de levantar-se) Chega!
BALABANOFF — Francesca, sente-se. (empurra-a) Se você es-
tivesse melhor informada sôbre a moderna técnica do atentado, sa-
beria que a formação de uma atmosfera psicológica prévia é uma
exigência elementar. E depois, eu quero e acabou-se!
BONARD — Posso atirar?
BALABANOFF (baixinho, como se não quizesse ser ouvido pelo
rei.) — Sossegue, homem. Ainda estamos na Avenida Independência,
(solene) Ali estão os secretas, misturados com o povo, vigiando os
que se conservam de mãos nos bolsos, os sabotadores de apoteoses.
Para eles, quem não bate palmas está, forçosamente, contra o rei; es-
tá forçosamente apalpando a coronha de um revólver para matar o
rei. Elan! Francesca, elan! Ramiro líernandes, de Bilbao, levou unia
coronhada porque meteu a mão no bolso quando ia passar o cortêjo
ÍI.V ,‘}f real. Verificou-se,em seguida, que êle estava resfriadíssimo e ia pu-
f !:' !:|[
xar um lenço. Mas, no dia em que seu nariz deixou de escorrer, êle
I jt1'
guardou o lenço e comprou dinamite...
BONARD — Ramiro Hernandes... Dom Ramiro Hernandes...
Conheci um embaixador de Cuba com êsse nome... Mas escutem
aqui, meus caros monarcas, vocês vão me deixar por muito tempo
com esta cestinha na mão, bancando a violeteira?
BALABANOFF — Estamos chegando, não tumultue. Coloque-se
ali, na primeira fila ,atrás do cordão de isolamento, bem defronte do
Gavilhão Central. Aí mesmo. E agora, Francesca, componha a sua mais
■ simpática fisionomia. Estamos finalmente chegando. Lá se encontra
à nossa espera, a fina flôr da malandragem governamental — o es-
tado maior dos aproveitadores e dos bajuladores. Todos querem ser
vistos, por nós, para cobrarem depois o seu “jeton” de presença; e
nós devemos dar a cada um a .impressão de havê-lo visto, e gravado
para sempre seu nome no nosso coração reconhecido. Olhe, olhe aquê-
le algoz do chefe da Repressão, como chocalha as suas condecorações,
14
TN.CPn.FtE PS 6.<*f
15
TN.CPK.PTE Pi p. yo
BALABANOFF — Que... que... o que? Você ficou gago e cre-
tino de repente?
FRANCESCA — Não seja tão misterioso, Bonard. Diga logo a
Balabanoff que eu desmaiei com mêdo do novelo de lã... (ri)
BONARD -- Essa é boa! (Ri)
BALABANOFF (dando um murro na mesa) — Basta!
FRANCESCA (Subitamente séria.) — Vamos repetir a cena do
lançamento da bomba? Se vo'cê fôsse um chefe gentil, daria a rainha
por morta. (ri).
BALABANOFF — A hora é muito imprópria para gracejos, Fran-
cesca! (imperioso) Bonard!
BONARD — Pronto.
BALABANOFF — Enquanto eu rasgo os nossos documentos se-
cretos e lacro o meu testamento político, você prepara o sorteio. Sa-
beremos dentro de alguns minutos quem matará o rei.
FRANCESCA — Executará, aliás...
BALABANOFF — E depois de o sabermos, talvez certas pessoas
não sintam mais vontade de rir... (sai importante)
FRANCESCA —- Cretino! Você já viu? ,
BONARD — Só faltou a cegonha pousar na cabeça dêle e mor! _
der-lhe a orelha, dizendo: “Ei, Balabanoff, a encomenda é sua! NáoV^j
se lembra?”
FRANCESCA — Sujeito errado! Quer salver o mundo, e não dis-
tingue um desmaio de mãe de um desmaio de dispéptica! Viu que
cara de palerma?
BONARD (com ar confidencial) — E você, está contente?
FRANCESCA — Estou. Se Balabanoff mc ouvisse dizer isso, fi-
cava epilético de raiva.
BONARD — Ê sim. Que homem misterioso! (escrevendo os no-
mes nos pedaços de papel) Francesca... o seu em primeiro lugar...
“noblesse cbligue”... Balabanoff... e agora, em último lugar, como
manda o protocolo da modéstia, o meu... (pausa) Você sabe que
nunca percebi um gesto, uma palavra, uma expressão de Balabanoff
que revelassem a existência de um coração em seu peito?
FRANCESCA — Balabanoff é de gêlo. Ontem eu tive o meu pri-
meiro vômito, e êle me perguntou se eu não andava comendo pre-
sunto demais. Presunto! Eu com um anjinho nas entranhas, e êle
pensando em azias!
BONARD — Eu o conheço! E daqui a alguns mêses, no lugar de
uma parteira, êle será homem de trazer uma caixinha de bicarbona-
to. (pausa) Está se sentindo melhor?
FRANCESCA — Estou muito bem, agora.
BONARD — Você vai me perdoar a indiscreção, Francesca, mas
eu sempre tive uma curiosidade doida de saber como foi a sua pri-
meira noite de amor com Balabanoff.
FRANCESCA — Não foi uma noite, foi uma tarde. Balabanoff
chegou perto de mim, na varanda, e disse: “Francesca: uma coinci-
dência evidente de interêsses fisiológicos, estimulada por uma identi- 1
dade de ideais políticos, nos aconselha um contacto material mais í
I
16
TN.CPW.PTE
17
t
, fN.CPn.PTE
ginai, deve ser despojado de todas as fantasias criadas pela animali-
uade do homem. Ele acha beijo fantasia...
BONARD Compreendo. Às vêzes você tem a impressão de es-
tar sendo amada pelo telefone interurbano.
FRANCESCA (rindo) — Mas êle me deu um filho, e o resto dei-
xou de ter importância. (Pausa) Ouça, Bonard, desde que eu déscon-
de que ia ter uma criança, não dormi mais uma noite tranqüila.
BONARD — E por que?
FRANCESCA —- Só penso na polícia'. Acordo' assustada. Parece
que ouço, a noite tõda, a pancada dos revólveres naquela porta. De-
pois eu vejo a porta cedendo, e êles saltando aqui para me darem
ponta-pés na barriga... Eu estou com mêdo... pela primeira vez
eu sinto mêdo.
BONARD Tenha coragem, Francesca, e goze, por um minuto,
sem pensar em mais nada, a revelação inesperada de sua materni-
oade... (pega o chapeu-côco de Balabanoff c coloca dentro dêle os
ires papelinhos) Eu sinto que você iria adorar êsse filho.. .
BALABANOFF (Entra com um par dc sapatinhos de lã na mão.)
Encontrei êste par de sapatinhos de lã em cima da minha sccr
'0/ ri
tária. Alguém esqueceu lá?
FRANCESCA — Eu. Me dá aqui.
BALABANOFF — Algumas das nossas conhecidas vai ter criança?
FRANCESCA — Eu. (pausa)
BALABANOFF — Pena. Seu filho não podia ter escolhido um
momento mais inoportuno para vir ao mundo. Preparou tudo Bo-
nard? ’
BONARD — Tudo.
BALABANOFF — Então vamos proceder ao sorteio. Traga a uma.
BONARD — Infelizmente a urna não é bem uma urna, é o seu
chapéu-côco... (pega o chapéu-côco) Serve?
BALABANOFF — Servir, serve. Mas a sua serventia não dimi-
. nmu a sua falta de senso comum em escolhê-lo. Não havia um vaso,
uma caixa nesta casa? Tinha de ser o meu chapéu-côco?
BONARD — Eu achei-o tão jeitoso.
BALABANOFF — Jeitoso! Francesca, quer çer a primeira, ou
prefere...
FRANCESCA — Absolutamente!... Quero ser a primeira, (me-
te a mao no chapéu. Pancadas na porta da rua)
BONARD — Quem será?
BALABANOFF — É a polícia! Eles nos localizaram!
FRANCESCA (Alarmada, recuando para o primeiro plano da ce-
na, os olhos fitos na porta) — Não! 'não pode ser! (pancada forte)
BALABANOFF — Tenho a certeza. Conheço bem o seu cartão
üe visita. Co/iheço essa gente até pelo modo de passar a mão na
cabeça de uma criança! (tira o revólver da cintura) Armem-se! (ba-
tida violenta na porta.) Francesca, pegue ose u revólver!
FRANCESCA — Não, Balabanoff! Eu não quero morrer eu
agora... preciso viver!
BALABANOFF Precisa! Eu ia achar muita graça se a primei-
IS
KéiLUd
1
tN.ÇPn.PTE
SEGUNDO ATO
19
TN.CPR.PtE jOZ n
20
TN.CPn.PTE p. ^5
J
TN.CPB.PTE ÔÚÒ p. ££
gamas fotografias, vistas num semanário erótico, provam ser ela Jo-
sette Valmore?
BONARD — Perdão! Eu tenho uma perfeita memória gráfica.
Lembro-me muito bem da linha ondulante do seu corpo, dq seu sor-
riso perturbador, dos seus olhos de abismo. É ela mesmo!
BALABANOFF — Tôdas as mulheres do “Paris cm camisa” têm
a linha do corpo ondulante, o. sorriso perturbador, e os olhos de abis-
mo. Esse é o gênero da revista. Você pode estar sendo traido pela
sua libidinosidade.
BONARD — Como! Você me acha libidinoso?
BALABANOFF — Bonard, o momento não comporta discussões
sôbre o seu temperamento. Estamos com a polícia dentro de casa, e
a casa está cheia de provas da nossa conspiração.
BONARD — Provas?
BALABANOFF — Sim. A bomba, por exemplo. A bomba está
ali, naquela vitrina, exposta como se fosse um “bibelot”.
BONARD — É mesmo! Eu estava achando tão natural a fabri-
cação de bombas de dinamite!... (Dirige-se ao armário.) Tão natu/^'
ral como os meus perfumes. (Franccsca começa a descer a escada.)
BALABANOFF Eu sei. Você seria capaz de registrar a sua fábricaV^
de bombas no Registro de Indústria e Profissões da Prefeitura.
FRANCESCA — Só nos faltava essa! A polícia calçando as mi-
nhas pantufas!
BALABANOFF — Calma, Francesca, muita calma. Nossa tática
deve ser agora uma filigrana de astúcias. Aliás, êsse é o meu gênero
predileto de luta. Cérebro contra cérebro.
FRANCESCA — Balabanoff, aqueles livros, os papéis... a bom-
ba... (nervosa) Eu tenho mêdo!
BALABANOFF — Francesca, em preciso de calma, nada mais.
BONARD (abriu o armário c segura a bomba) Onde vamos
esconder a bomba?
BALABANOFF — Atráz da Enciclopédia Britânica. Para algu-
ma coisa esses monumentos de sabedoria servem...
FRANCESCA — Atrás dos livros... O segredo do Polichinelo.
BALABANOFF — Tolice! Ninguém desconfia dos lugares fáceis.
A polícia pensa logo em alçapões, em cofres embutidos nas paredes.
BONARD — A polícia atribue -aos criminosos a sua própria ima-
ginação mórbida.
BALABANOFF — Exato: esconda-a atrás da Enciclopédia Bri-
. tànica.
BONARD (obedecendo) — E se ela estivesse nos ouvindo... e
nos vendo?
FRANCESCA — Impossível. Eu tranquei-a no meu quarto.
BALABANOFF — Você trancou-a no seu quarto?!
FRANCESCA — Oh, somente enquanto ela se arruma... en-
quanto tomamos uma resolução. Que fazemos? Diga, Balabanoff!
BALABANOFF — Cérebro contra cérebro. Solte essa espiã de-
pressa, e deixe-a movimentar-se pela casa. O resto será como Deus
quizer. (limpando a mesa onde estão as ferramentas c os perfumes)
22
TN.CPR.PTE JV7) p. £7*
FRANCESCA — Como Deus quizer, Balabanoff?
BALABANOFF — Deus? Eu disse Deus?
FRANCESCA — Disse, sim. Disse textual mente: “O resto será
como Deus quizer.”
BALABANOFF — Então eu disse isso sem querer... maquinal-
mente... como as crianças dizem... (explodindo) Oh! ao diabo as
explicações! Você bem sabe que eu não me referia ao Deus dos reis.
ao Deus dos amedrontados, ao Deus dos fatalistas!
FRANCESCA — A que Deus, então, você se referia? O anarquis-
mo terá por acaso um Deus?
BALABANOFF (saindo do embaraço) — Francesca, acabe com
essa exploração. Eu disse “Deus” como diria acaso, ou futuro, ou o
raio que nos parta! Vá abrir a porta do quarto, ande, e não me abor-
reça!
FRANCESCA — Está bem. Mas que você disse: “Será o que Deus
quizer”.. . disse, (sai)
BALABANOFF (a Bonard) — Que tern essa doida? Vocé repa-
rou? Está ficando covarde, confusa e carola!
BONARD Está ficando mãe, Balabanoff. (pausa) Você não
compreende: mãe!
BALABANOFF — Muito bem. E o que tem isso?
BONARD — O que tem isso? (ri) Nada.
BALABANOFF — Como vocês estão ficando sibilinos! Ouça, Bo-
na,.d. eu não admito que a maternidade possa fazer de um anarquista
um animal deformado pela idéia fixa da sua prole. Francesca está
gostando como uma loba, está ficando feroz e obcecada como uma
loba grávida!
BONARD — A natureza não distingue entre mulheres e lobas,
entre mães anarquistas e mães rainhas.
BALABANOFF — Nao diga tolices! Giovanna Malaspina foi lin-
chada na praça pública logo depois de acertar o primeiro tiro no pe-
nacho de “aigrettes” de Sua Magestade. Verificaram, mais tarde, que
ela já estava sofrendo as primeiras dores do parto quando praticou
o atentado.
BONARD — Giovanna Malaspina! Você me cita uma criatura
reconhecidamente doida.
BALABANOFF — Doida, por que? Porque superou todos os pre-
conceitos e colocou sua missão política acima do seu maior sentimen-
to — o da maternidade?
BONARD — Uma mulher sem cultura, movida apenas pelo fa-
natismo cego! Francesca é uma intelectual sensível e consciente. Po-
de-se comparar uma com a outra?
BALABANOFF — Seja como fôr, éu gostaria que vocês fôssem
menos burguêses,' e não fizessem de um futuro filho um teste ridículo
da minha compreenção e do meu sentimentalismo. Para mim, aqui
dentro se repete um banalíssimo fenômeno biológico. Basta de riza-
dinhas irônicas, de ares de suficiência, de expressões veladas de com-
padecimento.
BONARD — Você tem o coração duro, Balabanoff.
2B
* TN.CPn.PtE P3 pM?
24
M.
BONARD — Balabanoíf, deixe de sér desagradável, ouviu? Es-
tá sentindo?
JOSETE — Já sei: é “un air ernbaumé”!
BONARD — Exato! “Un air embaumé”!
JOSETE — Que implicância a sua, Balabanoíf. O perfume de
Bonard 6 agradabilíssirno, sinceramente.
BONARD — Viu? (« Josde) Vou Cuzer um litro para você, Jó-
sele.
JOSETE — Obrigada, você é muito gentil. Escutem uma coisa:
vocês não têm, por acaso, um conhaquezinho ou outra bebida qual-
quer, forte? Estou com medo de ficar resfriada.
FRANCESCA — Temos rhum. Gosta de rhum?
JOSETE — Adoro.
FRANCESCA — Servirei então rhum. (sai) Com licença...
BONARD — Scnte-se, por obséquio.
JOSETE — Obrigada, prefiro mexer-me um pouco, para esquen-
tar, (corre os olhos pelo ambiente) Esta cabana é muito agradável,
c não tem nada de um pouso passageiro de alpinistas. Parece o lar
de uma família muito estabilizada, solidamente feliz. Bons livros.. .
(aproxima-se da estante) A literatura anarquista está muito ijctxi
representada...
BALABANOFF (nervoso) -- Se reparar bem verá que também a
Marxista, a Autocrática e a Democrática estão bem representadas...
Eu me especializei em estudes políticos.
JOSETE Ahn!... Êste aqui deve ser muito interessante: “Do
atentado como bela arte”.
BALABANOFF -- Engana-se. “Do atentado como bela arte” é
um livro desinteressante, medíocre.
JOSETE (folheia-o) — Vocè acha que se pode matar üm chefe
de Estado com arte?
BALABANOFF — Não compreendo o sentido da sua pergunta.
JOSETE — Êste livro não trata do atentado, como bela arte.-'
BALABANOFF — Trata.
JOSETE — Pois é. Eu vou explicar melhor: se você resolvesse
matar um rei... Gregório V, por exemplo, o que faria para consi-
derar artístico o atentado?
BALABANOFF — Eu?
BONARD — Nós somos monarquistas de quatrocentos anos, Jo-
sete.
BALABANOFF — Meu pai chamou o Czar Nicolau de pai-
sinho...
JOSETE — Eu sei, mas nós estamos fazendo de conta... Eu
quero ver se consigo entender essas coisas.
BALABANOFF — Franeamente, mademoiselle, nein o próprio au-
tor defende objetivamente o sentido do título.
JOSETE — Vai ver que, no fim de tudo, o autor manda dar um
lacinho de fita na bomba. E êste aqui? “A dinamite como alavanca
da igualdade social”! Bibliotequinha bern sortida, hein?
TN.CPR.PTEJQ2 p
26
TN.CPn.PTE
dt P
BONARD — Pois olhem, eu acho muito deselegante, muito sem
“charme”, vocês se aproveitarem da presença de uma pessoa estra-
nha para me passarem o diploma de imbecil! ^ _ _
FRANCESCA — Bem, bem, vamos acabar com essa discussão.
Mademoisellé até se esqueceu de tomai; o rhum. Viu? (serve-lhe o
rhum) Tenha a bondade.
JOSETE Obrigada. E vocês... não bebem?
FRANCESCA — Somos todos abstêmios. Reservamos o rhum pa-
ra os nossos bivaques, nas montanhas cobertas de neve.
JOSETE (bebe um gole, deposita o cálice, e respira profundamen-
£C) Como é puro o ar na montanha! (pausa) Balabanofí tam-
bém faz alpinismo?
BALABANOFF — É evidente!
JOSETE Evidente não é, não, Balabanofí, me desculpe. Você
tem tudo do sedentário, do homem de gabinete.
BONARD (intencional) — Pois veja a coincidência: êle é o “ca-
ptain” da nossa equipe de... esquiadores.
27
TN.CPW.PTE P*> p
s^oTr: z -* - x
de^bailaríno?nSÍnOU ^ * Cigan ?
° <*ausa> Você tem uma mX
~ssna.sszr -
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rugasTbíàT '°S- Em ÍÍeCem
' °S *> mato. Retardam as
28
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TN.CPR.PTE J°2 p.
29
TN.CPtt.PTE J03 n
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BALABANOFF (entra trazendo uma braçada de lenha)
C 1Sa
° jOSETE — Muito obrigada, mas eu ainda não digeri o almoço
1>Xn
BALABANOFF — Pois eu estou morrendo de fome.
Uma
^CEÍcf-SE tudo muito enxuto. Nada de espertezas, por-
que eu ™u cxtminm (riem. Suem Baiabanoff . Bonard. “ca
U
' JOSETE^^não tenho a menor vocação para o casamento,
. mas admiro os lares felizes. j a um
FRANCESCA — Nós somos realmente íelizes. 3
- srízsst» ^ *
£ um conflito, para
íifpnndpr a vontade de dar um beijo. .
FRANCESCA — O seu retrato é perfeito. Bonar e assim ^
rno. (arrumando o sofá) Podemos falar com toda a Banque .
TOSETE — Naturalmente. • ^
FRANCESCA - Mademoiselle não é bailarina, e muito menos
um número nudista de cabaré.
JOSETE — Sou, sim. Por que duvida?
30
j
TN.CPK.PTE, Í2Lp. ?S
i
FRANCESCA — Vamos pôr as cartas na mêsa com tóda lealdade?
JOSETE — Francamente, não percebí ainda aonde quer chegar.
FRANCESCA — Procure compreender-me. Talvez nem eu, nem
mademoiselie, possamos dizer tudo, mas, com lealdade, chegaremos a
entender-nos. E preciso que me entenda! (pausa)
JOSETE — Fale, então!
FRANCESCA"— Eu vou ser mãe. A promessa desse filho tornou
sem Importância tôdas as queixas que eu pudesse ter da vida e dos
homens.
JOSETE — É a primeira vez que...
FRANCESCA — Sim. Eu era considerada completamente estéril.
Tinha perdido tôdas as esperanças, (pausa)
JOSETE — Fale francamente, não tenha receio.
FRANCESCA — Não imagina como eu sofri, vendo tantas mu-
lheres obscuras e ignorantes, às vezes revoltadas contra a própria
feeundidade, carregando crianças lindas como se carregasse uma cruz!
(pausa) Esses pormenores talvez a estejam caceteando, não?
JOSETE — Pelo contrário.
FRANCESCA — Eu precisava tanto de me abrir com alguém!...
(observa se ninguém a espia) É vei'dade. Aquelas mulheres, nem. sem-
pre dignas da maternidade, me afrontavam como se a sua gravidez
fôsse uma injúria dirigida pessoalmente a mim, urna alusão impie-
dosa à minha esterilidade ,ao meu destino injusto. Compreende?
JOSETE — Eu compreendo, Francesca.
FRANCESCA — Ninguém imagina a tortura que é termos von-
tade de beijar tôdas as crianças da rua, e fingirmos que não suporta- /
ríamos as nossas, se as tivéssemos. Deixarmos acreditar que. evitamos
filhos, ou provocamos abortos, enquanto ocultamente procuramos os
piores charlatães para conceber! (com cautela) Josete, nós somos ví-
timas de uma grotesca, mas perigosa alucinação, aqui dentro. Você
percebeu?
JOSETE — Percebí, sim.
FRANCESCA — Você exige que eu fale mais claro?
JOSETE — Não é preciso. Você criaria um conflito inútil de
consciência.
FRANCESCA — Obrigada, Josete. Eu aceitaria, neste momento,
qualquer condição, contanto que meu filho pudesse nascer em paz,
fazer do mundo uma idéia diferente da nossa, (pausa) Você já pen-
sou nessas condições?
JOSETE — Eu não tenho razão para impôr condições. Mas pos-
so dar um bom. conselho. Francesca, prometa-me apenas lutar aqui
dentro, desde êste momento, para seu filho encontrar aquêle mundo
diferente,- mal abrir os olhos. Só isto, nada mais.
FRANCESCA — Prometo.
JOSETE — Então vamos pensar na côr dos olhos do seu filho.
Como são rnesmo os olhos de Balabanoff? (baícm violcntamente à
porta da rua)
FRANCESCA (aterrorizada) — Agora são êles! Sim, são êies!
JOSETE — Êles, quem?
TN.CPW.PTE jfl? p. ?É>
qu “roIasT^. — -
fraquíssimas... Excelentíssima. Eu rnes-
COCHEIRO - Pode ficar descansada, 0 céu
EU
«iSSS^pIr^ dorme aqui, Tem algum compro-
misso?
FRANCESCA - Fique, Josetc... (ddicado> Não cons-
BALABANOFF (mero irritado) - «““sem ( partire-
h0ra
BONARD “ rmtnCC^pTano, nem bandolim, nem na-
da! Balabanoff detesta a rnúsica.
t^qtpt ív fíprá. dossivcI, J&cíI&Jo&TíOjlÍ . .
SMT-i música é o ônio da razão. Duas mentnas mr-
32
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TMr.pw.PTE ÍQ? p.
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TN.CPft.PTE p.7s?
DESCE O PANO
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Soada de Josete sair sem se des-
2wwh{afetado)
iSALABANOFF l' f!a ,df—
°U Oh!
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vocês tdois.
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Pode do-
FRANCESCA — Eu já comecei.
BONARD — E vai ficar bonita?
36
TN.CPR.PTE PL
37
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FRANCESCA — Não se esqueça, Bonard: no ensaio ôsse homem
fèz do um novelo de lã uma bomba de dinamite. Êle não suporta a
realidade das coisas mais modestas e inocentes! Tudo tem de ser
transformado, deformado de acôrdo com a sua crueldade política!
BALABANOFF — Não diga burrices!
FRANCESCA — Burro é você!
• BALABANOFF (Trágico) — Você me chamou de burro? Você te-
ve a audácia dc chamar um Balabanoff de burro? (Vai avançando pa-
ra ela com as mãos cm atitude de estrangulamento)
FRANCESCA (serenamente) — Eu não recuo, vê? Perdi o mêdo.
Estrangule! Olhe: aqui está o pescoço.
BALABANOFF (Desconsertado.) — Víbora! Estou com duas ou-
tras víboras no meu seio! Vergonha!
BONARD — Use a palavra com mais propriedade, Balabanoff.
Quem tinha os seios, e os deu para a víbora morder, foi Cleópatra.
Seja menos presunçoso e diga “peito.. . “no meu peito”.
BALABANOFF — Desertores! Poltrões! Já sei que vão recusar o
sorteio! Já sei!
BONARD — Você faz mesmo questão de matar o rei?
FRANCESCA — Será que nem agora, que você vai ser pai, toma
juizo?
BALABANOFF — A urna! Eu quero a urna! Vocês terão que me
acompanhar até o último instante. Se não eu chamo a polícia! eu
chamo a polícia!
BONARD — Cale essa bôea, Balabanoff!
BALABANOFF — Iremos todos para a cadeia, todos!
FRANCESCA — Está dando para ser escandaloso? O que vale é
quê' não temos vizinhos.
BALABANOFF — Estão muito enganados, se pensam abando-
nar-me no último instante. A urna! Quero a urna!
FRANCESCA — Faça logo a vontade a éssse homem, Bonard.
Estou ficando com dôr de cabeça.
BONARD — Então pare de berrar, ouviu? (procura o chapéu-côco)
Ué! onde está o chapéu-côco com os papelinhos, que eu deixei, ontem,
aqui em cima desta mesa? (Procura.)
FRANCESCA — Eu nem pensei mais nisso, depois da entrada de
Josete! ,
BONARD — E você, Balabanoff?
BALABANOFF — Eu? Eu tinha mesmo cabeça para me lembrar
de chapéu-côco! É cada pergunta!
FRANCESCA (noutro tom) — Misterioso. .. não acham? (procura
noutro lado)
BONARD — Já achei, pronto! Estava em cima daqueia cadeira,
(examina) Os papelinhos estão aqui dentro. Tudo em ordem, afinal.
FRANCESCA — Me dá, aqui. Desta vez seguro eu. Você quer
ter a honra de extrair o nome, Balabanoff?
BALABANOFF — Faço questão absoluta! (mete a mão no cha-
péu-côco, tira o papel, mas fixa as mãos de Francesca, suspeitoso.)
mcpR.PTEA°Z p. ^3
39
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udectual. (pausa)~Outras - Eu *o»|w
pessoas que nãoadmirei
tolerama om curiosidade
veneno aceí-
mr, como solução ideal um tiro nos miolos- ou uma corda no ’p»sco-
ç . Voce, Balabanoff, eia o anarquista impecável. Não tinha pena de
ffiUnCl0
' nsm tinha preteênílas **'« «o*. cleTbaS
Wado ™ d° “Vapunhalado,enforcado
cjado ou moido, reduzido a pílulas ou tabletes, você parecia esquar-
ou guilhotinado, rir da
pele ntmABAN
•o«le nem °FF ~sorteio,
era preciso
Ah! você achava
na hora
nao é assim? “Bonard, dc arriscar
guarde a
êsse cha-
pcu-coco. Ealabanoff faz questão de ir, éle adora k^orte, Tevemos
unuai geneiosamente a esse prazer, em seu benefício!” Palhaça'
.FRANCESCA - Torno a repetir, Balabanoff. De nós três vS
era o naturalmente indicado. Bonard ama; cu vou ter um filho- vo-
ee quer apenas matar um rei. Reflita conscienciosamente, examine'
sem histensmo a situaçao, e veja se eu não agi com bom senso.
E
^ABAi7°FF “ Refletir! (começa a passar nervosamente pela.
C
rnfARD : e a Bonard) Você está amando mesmo, Bonam?
A L — Alucinadamente.
nal fraf l
de todos, (solene)
nTdJtodoT?’ SCa
’ ° meU
Bonard! CaS0 é 0 mais si
Traga-me a bomba!mples, o mais ba-
banoíf?ANCESCA ~ V Cê
° "> V Cê nã
° ° Vai faZer outro sorteio
> 2ala-
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alentado. Aa S 5*°' EU - aSSUm°
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bomba,
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P°nsabilidade exclusiva do
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43
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vão 111 c ouvir; — vocês nao passam de dois venais, de dois pciceve-
ios da Coroa! Eu tenho nojo de vocês! (cospe para o lado) Nojo!
BONARD (avança para íbdabanoff, agarra-lhc o pescoço) — Pe-
ça desculpas à Francesca. Vamos! (lutam sèriamcntc)
FRANCESCA — (Separando-os) Isso não, Bonard! Não façam
isso!
BONARD — (Atende, e deixa-se cair numa cadeira, sucumbido).
BALABANOFF — (Ofegante, se derrama.no sofá.)
FRANCESCA — (Também abatida, senta-se, com a carta li-
mão).
(Longa pausa).
FRANCESCA — (Voltando a ler.) “Aceite êste presente para seu
filho. Ê dado dc todo coração. Seu filho‘nascerá em paz, e crescerá
cm paz, se você lutar desde hoje para mudar o seu destino. Tenha íé.
E agora, adeus. Minhas amistosas lembranças a Baiaoanoff e a lio-
nard. Para você, um beijo afetuoso; assinado: Maria Eulália. (Ergue-
se, vai lá fora, c volta empurrando um carrinho luxuoso de bebê).
BALABANOFF — (Olha de esguelha para o carrinho).
FRANCESCA — (Volta a sentar-se, a carta sempre na mão. Olha
disfarçadamente para Balabanofí procurando adivinhar-lhe a reação).
BONARD — (Lança também um olhar indagativo a Balabanofí)
Meus parabéns, o carrinho é lindo e digno de um príncipe.
FRANCESCA — Eu sonhei tanto com um assim!
BONARD — Deve ter molas muito macias. Maria Eulália foi mui-
to gentil.
FRANCESCA — Ela e um amor de mulher!
BALABANOFF — (Que sc erguera e analisara o carrinho, é sur-
preendido por Francesca quando ensaia timidamente empurrá-lo).
FRANCESCA — Vá treinando, vá treinando...
BALABANOFF — (Com uma irritação inconvincente) Ah! (Scn-
fa-se depressa).
BONARD — Não haverá um “post-scruptum” para mim na carta?
FRANCESCA — Há, sim. (Lc) “P.S. Diga a Bonard o seguinte:
o meu tüburi está esperando na curva da estrada, e tem ordem de es-
perar até ele sentir que pode largar a corda. M.E.” ’ (Fica pensativa,
os olhos parados, triste.)
BONARD — (Ergue-se e vai em direção à poria da rua.)
FRANCESCA — Você resolveu ir?
BONARD — Volto já. Só vou avisar o cocheiro para não esperar
por mim...
FRANCESCA — Mas... e a princesa Maria Eulália?
BONARD (Hesita) Uma criatura verdadeiramente admirável,
Francesca. Mas eu gosto de uma bailarina chamada Josette Valmore.
(Vai saindo).
(Um estampido tremendo vem do abismo, debaixo da janela por
i, '■ onde Josette atirou a bomba.)
46
TN.CPW.PtE J Q2 p.
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Chefe do DCDP/SRAJ
Assunto: Amanhã se não chover (leitura de texto)
Classificação: 14 anos
Parecer N» QlC?'b
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parece m t
TN.CPR.PTE J°3 p. f ^
Do
Chefe do Serviço de Censura de Diversões Públicas-SR/DPF-RJ
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Sr. Diretor da Divisão de Censura de Diversões Publicas-DPP
Assunto . Encaminhamento (faz)
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ÜU UU i..a H*nriqu» : on^áti
o*oooo~*ooooo o*"> oooooooooooo o 000*0 0 0 0 * 0 0 *
Tradução:
Adaptação;
Requerente s
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Senhor Diretor:
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3^
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
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DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL
Encaminhamento (FAZ)
Senhor Superintendente:
W
Na oportunidade,renovo a ,Sa, protestos
de estima e consideração
Diretor DCDP
TN.CPR.PT
8 Aditamento (faz)
Senhor Diretorj
de estima e consideração
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ft MINISTÉRIO DA JUSTIÇA rN.CPn.PTE JQ3 n
DEPARTAMENTO DE POLICIA FEDERAL
a
CENSURA FEDERAL
Certificado N? 374/77
HENRIQUE PONG-ETTI
ORIGINAL DE
M.J-D.P.F
CPW.PTE Ò0~. p. 9^ j|
CERTIFICADO DA D.C.D.P
Tradução de.
Adaptação de
Produção de