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Para todos que já foram subestimados ou mal interpretados

Sumário
aviso — bwc e ep
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
1
aviso — bwc e ep

Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s


Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
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de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da nossa
equipe.
Ir embora seria a decisão mais inteligente, mas ninguém nunca
me acusou de ser inteligente. Frio, determinado, brutal, mas
nunca inteligente.

Willa é minha desde o momento em que a resgatei. Eu a


protegi de uma multidão briguenta e ela olhou para mim
como se eu fosse seu príncipe encantado. Ninguém nunca me
olhou assim. Ninguém jamais se atreveu a chegar tão perto.

Eu não sabia que ela era a irmã mais nova de um dos meus
maiores rivais. O irmão dela e eu tiramos sangue no campo,
articulações deslocadas, ossos quebrados, mas eu nunca vou
querer mostrar a ela esse meu lado.

Desejo ser o homem que ela acredita que sou, mas só há uma
maneira de saber como vencer – como sobreviver – e é
garantir que meus inimigos percam.

Uma vez que ele descubra com quem sua irmã está
namorando, será uma guerra total, e eu posso perder a única
mulher que já olhou para mim como se eu não fosse feito
apenas para a destruição.

Mudar meus hábitos não será fácil, mas estou disposto a


arriscar tudo por ela.
CAPÍTULO 1
WILLA

Se eu soubesse que atravessar o território inimigo seria tão


divertido, já teria feito isso há muito tempo.
Um vento cortante açoitou o estádio de futebol e as
temperaturas despencaram durante este jogo nessa tarde
extremamente fria em Pittsburgh. Era dezembro. Fãs
barulhentos aplaudiram e pularam, vibrando o concreto sob
meus pés. Eu tinha abandonado o assento de plástico amarelo
atrás de mim depois de quase ter meus molares soltos durante a
última interceptação.
Meu telefone tocou – de novo. Eu deixei cair minha cabeça
para trás e olhei para o céu escuro. Esta tinha que ser a décima
mensagem de texto dos meus pais desde que Maggie e eu
chegamos ao jogo. Só que, desta vez, o nome que eu não queria
ver piscou na tela. Se meu irmão me visse em território inimigo
enfeitada com dourado e laranja emprestados de St. Francis U,
ele me mataria.
Walsh: Você está no jogo? Por que você não me disse que
era noite da STFU?
St. Francis U, que a reitoria tentou e não conseguiu que as
pessoas abreviassem como SFU, mas sem sorte, ficava do outro
lado do estado onde toda a minha família morava. Como
jogador de futebol em nossa escola, Fulton U, meu irmão levou
a rivalidade do campus muito mais a sério do que precisava.
Agora, cercada pelo inimigo, eu estava mais livre do que há
muito tempo. Não estar sob os olhos vigilantes do meu irmão
ou dos meus pais fez valer a pena o voo de duas horas.
Por mais que eu quisesse ignorá-lo, se eu não respondesse, ele
bombardearia meu telefone a noite toda. Talvez eu devesse
bloqueá-lo. Mas então ele provavelmente atravessaria o estado
para me resgatar. Ou pior: dedurar para nossos pais que eu não
atendi o telefone, o que poderia levar a um alerta de emergência
em todo o estado, além de eu nunca mais ficar fora da vista
deles.
Eu: Sim. Qual a importância ?
A música do estádio soou durante o intervalo da TV. As telas
grandes exibiam vídeos destinados a animar a multidão, não
que eles precisassem deles na seção St. Francis U.
Walsh: Sério, Willa?
O lado protetor de Walsh era sufocante no campus, mas, pelo
menos, lá não morávamos na mesma casa. No ensino médio,
ninguém tinha permissão para olhar na minha direção sem que
ele dissesse.
À minha direita, alguns caras tiraram suas camisas, barrigas e
rostos pintados, enquanto gritavam a música de guerra da
STFU entre olhares em minha direção. Estúpidos e bêbados e
completamente flertando comigo. Walsh odiaria, o que
tornava isso ainda mais incrível.
Eu: Não é grande coisa. Estou bem.
Copos vazios rolaram pelo concreto, sendo esmagados a cada
salto. Não que os caras ao meu redor fossem tão barulhentos
quanto os que estavam algumas fileiras acima.
Walsh: Apenas fique longe da seção da STFU.
As pessoas ao meu redor aplaudiram e um pouco de cerveja
espirrou no meu rosto. Pipoca caiu sobre mim. Eu protegi
minha cabeça e tentei evitar ter uma barca de comida no meu
cabelo.
Eu: Vou ficar.
O que Walsh não souber não vai me causar problemas.
— Saia do caminho! — Maggie passou pelo grandalhão
praticamente bloqueando seu assento. Sua massa de cabelo
preto encaracolado esvoaçava em torno de seus ombros como
um lenço. Seus enormes cachos sempre chamaram a atenção,
desde que tínhamos cinco anos. Cabelo escuro e olhos azuis
claros eram uma combinação de matar.
Ela me entregou um chocolate quente de seu porta-copos e
um dos dois cachorros-quentes embrulhados em papel
alumínio equilibrados no meio, junto com pacotes de
condimentos.
— Eu vou na próxima vez.
— É claro que você vai. — Ela desembrulhou seu cachorro-
quente, mergulhou-o em mostarda e o mordeu, espalhando o
molho picante e amarelo por todos os lábios. — Essas filas estão
loucas. — Ela empurrou o gorro de lã verde para o alto com as
costas da mão, o que moveu um pouco do cabelo para o seu
rosto e sujou uma parte dele com mostarda.
Entreguei-lhe um guardanapo.
— Ou talvez tenhamos sorte e possamos comer comida cara
fora do estádio quando o jogo terminar.
— Temos oito minutos restantes neste trimestre, o que
significa que podemos ficar aqui por mais três horas. Então,
estou vendo pelo menos mais uma comida cara demais aqui em
nosso futuro próximo. — Ela esfregou o guardanapo na
bochecha e o gosto de picles se juntou à pintura impressionista
de mostarda em seu rosto. — Se meus pais não estivessem
pagando por todo este fim de semana, eu ficaria chateada.
— Tem comida por você inteira. — Acenei minhas mãos
para a crescente bagunça em sua bochecha. — E quando seus
pais não pagam?
— Quando o valor é o tempo deles. — Ela enxugou os lábios
e passou ainda mais mostarda no cabelo. — Eu limpei?
— Você mergulhou seus dedos na mostarda? Você está
piorando as coisas. — Peguei o guardanapo dela e limpei a
bagunça de seu cabelo o melhor que pude. — O que
exatamente você está tentando fazer? — Eu empurrei alguns de
seus cabelos para cima sob o gorro e para fora de seu caminho.
— Estou tentando comer. Estou morrendo de fome. — Ela
deu uma mordida e falou com os lábios semicerrados. — Não
tivemos tempo de pegar nada para comer depois que
finalmente fizemos o check-in no hotel.
— Isso é o que acontece quando você não me tem por perto.
— É por isso que seria tão bom se você se transferisse. — Ela
se lançou para frente, voando para mim com as mãos cheias de
comida como se estivesse vindo para um abraço.
Eu agarrei seu chocolate quente antes que ele derramasse por
todo meu jeans.
— Sem abraço. De jeito nenhum.
Ao nosso redor, mãos se ergueram e as pessoas aplaudiram,
espalhando ainda mais comida no chão.
Um tempo limite foi chamado e as coisas se acalmaram um
pouco.
Campos de futebol eram minha segunda casa enquanto
crescia. Eu conhecia as regras, as jogadas, os jogadores. Com
meu irmão sendo um, foi fácil identificá-los entre a multidão.
O desenvolvimento muscular era mais geral do que com os
caras da academia que se concentravam apenas no bíceps e
sempre pulavam o dia da perna. Caras mais encorpados, mais
magros, ombros largos, o que quer que a posição exigisse.
Na frente, nas primeiras filas, estava um esquadrão de
jogadores. Parecia que havia um quarterback, um centro,
alguns atacantes e talvez um defensive end ou tackle1. Um
atacante era maior que o resto dos caras, mas não muito mais

1
Os Defensive Ends são os jogadores que ficam posicionados nas extremidades da linha
defensiva, eles têm a missão de pressionar a linha ofensiva, impedindo corridas e tentando
derrubar o quarterback. Os Defensive Tackles são os jogadores que tem o objetivo de parar o
jogo corrido e atrapalhar os passes do quarterback adversário.
alto. Seu boné não era STFU ou Pittsburgh, mas ele observava
o campo como Arnold Schwarzenegger no modo sentinela em
Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final.
Maggie tomou um gole de chocolate quente, me olhando o
tempo todo.
— Você ainda está pensando em se transferir?
— Talvez. — Olhei para o campo, animada porque eu seria
capaz de fazer isso o tempo todo com Maggie se eu me
transferisse, mas uma bola de pavor cresceu enquanto eu
pensava em como a conversa de transferência seria. — Você
sabe que meus pais vão enlouquecer se eu lhes disser que estou
pensando nisso.
— Você não pode passar o resto de sua vida tentando evitar
que eles surtem.
— Evitar que eles se preocupem tem sido minha principal
prioridade desde que me lembro.
— É por isso que as festas do pijama na minha casa sempre
foram tão divertidas.
— Tenho que amar as noites de encontro dos seus pais e o
bar totalmente abastecido. — Era também por isso que gin e eu
não éramos amigos. Sempre que eu sentia o cheiro, meu
estômago dava cambalhotas e eu ficava com a boca molhada
pré-vômito. — Transferir não é sobre Walsh, no entanto.
— Seus pais querem o melhor para você. Eles entenderão por
que você precisa se transferir. Darlington U tem o melhor
programa de idiomas do país — diabos, talvez do mundo. Você
vai ser uma Darling.
A antiga escola só para meninas era agora mista, mas ainda
mais conhecida pelo apelido de Darling U, daí o fato de os
graduados serem frequentemente chamados de Darlings.
Deixando de lado aquele período assustador, o programa de
idiomas da escola era um dos melhores do país, enfiado em uma
faculdade da Pensilvânia ocidental que mal era considerada
uma universidade graças aos poucos diplomas de pós-
graduação que ofereciam em abenaki, árabe, chinês, francês,
alemão, japonês e russo. À sombra do STFU, apenas aqueles na
bolha de aprendizado de idiomas tinham ouvido falar dele.
— Eles querem o que é melhor para mim ao alcance de um
braço.
— A poucas horas de distância dificilmente será como se
mudar para Bora Bora, além disso, é Darling U, você estará tão
perto de mim. — Maggie agarrou meu braço e pulou para cima
e para baixo. Ir para escolas tão próximas, ou mesmo morar
juntas, me empolgou e pesou mais a balança na direção da
transferência. — Como eles podem não querer isso?
Seria perfeito. Estudando tarde da noite e aprendendo ainda
mais alemão e japonês do que eu já sabia, mas a competição do
programa era acirrada.
Os idiomas me fascinaram desde o momento em que percebi
que havia outros por aí para aprender. Sonhei em ir a lugares
distantes, longe de tudo e de todos que me conheciam.
— A escola também é quase impossível de entrar.
— Não mude de assunto. Não era você que falava sem parar
sobre como mal podia esperar para se livrar do Walsh? Que
você nunca teria uma experiência normal de faculdade com ele
respirando no seu pescoço o tempo todo? — Maggie enxugou
o rosto com um guardanapo depois de inalar sua comida. —
Ele é um pé no saco arrogante. Você não pode nem ir a festas e
tomar algumas bebidas.
— Tenho menos de vinte e um.
Ela soltou um grunhido de frustração.
— Sério? Ele fez lavagem cerebral em você. É um rito de
passagem beber antes de ser legal. Isso é metade da diversão.
Além de ficar fora até muito tarde para acordar para suas aulas
de manhã cedo, passar metade da noite segurando o cabelo de
sua melhor amiga enquanto ela chora em um vaso sanitário por
causa de seu novo namorado e faz a caminhada da vergonha.
— Você quer fazer um desses hoje à noite? — Um cara
bêbado passou o braço em volta do ombro dela, arrastando as
palavras.
Ela fez um barulho de desgosto e tirou o braço dele do ombro
dela.
— Sem chances.
O cara tropeçou para trás, franziu o rosto para ela antes de
voltar para sua cerveja – provavelmente bêbado demais agora –
e cambaleando para incomodar outra mulher inocente.
— Eu não disse que não estava me transferindo com certeza.
— Eu puxei a gola do meu casaco. — É que... meus pais e Walsh
iriam surtar. — Eles surtariam com certeza. A única razão pela
qual meus pais não tinham quebrado quando chegou a hora de
eu ir para Fulton U foi porque Walsh já estava lá, pronto para
deixar o lugar à prova de bebês para mim.
— Você terá que deixar o ninho em algum momento.
Tomei um gole do meu chocolate quente e estremeci. Ainda
tinha gosto de água morna e calcária.
— Ele é um bloqueador de pênis.
O chocolate quente jorrou da minha boca e caiu sobre o cara
na fila na minha frente.
Ele olhou por cima do ombro e encarou.
— Eu sinto muito. — Peguei alguns guardanapos e uma
garrafa de água quase congelada e tentei limpar o casaco dele.
Maggie riu, curvando-se pela cintura e segurando seu
estômago.
Depois de alguns segundos de enxurrada furiosa, meus
movimentos diminuíram, a percepção de que o cara ainda
estava olhando. Minhas bochechas ressecadas pelo vento
inundaram com o calor e eu puxei a gola do meu casaco mais
alto, querendo desaparecer nele como uma tartaruga.
— Desculpa mesmo.
Seu olhar severo se transformou em um descontraído.
— Não se preocupe com isso. Eu só estava tentando ver se
você tentaria lavar meu casaco a seco aqui na arquibancada.
Além disso, não é como se você fosse a primeira pessoa a
respingar sua bebida em alguém aqui. — Ele empurrou o
queixo na direção dos dois bandos de caras ficando mais
barulhentos e bêbados a cada minuto.
— Conte-me sobre isso. — Eu levantei meu braço
mostrando os respingos na minha jaqueta.
Ele assentiu e se virou.
Virando-me para Maggie, puxei-a pelo seu braço para perto.
— Você poderia não usar essa palavra ao falar sobre meu
irmão? — Eu assobiei em seu ouvido.
— Ele certamente tem um que eu não me importaria de
engasgar com, se é que você me entende?
— Isso deveria ser sutil? Acho que não há ninguém nesta
seção que não saiba do que você estava falando. — Bati no
ombro do cara vomitado na minha frente. — Desculpe
incomodá-lo novamente, mas você sabe do que ela estava
falando?
Ele olhou por cima do outro ombro.
— Sobre chupar seu irmão.
Eu levantei a mão em sua direção.
— Obrigada. E me desculpe novamente.
— Sem problemas.
— Não é exatamente um eufemismo astuto, Mags. — Um
vento forte quase derrubou toda a nossa fileira. Meus dedos
estavam beirando aos cubos de gelo.
— Eu tenho muitos pontos fortes, aparentemente esse não é
um deles.
— Apenas, por favor, se você valoriza nossa amizade, você
não poderia falar sobre atividades da cintura para baixo quando
isso remete ao meu irmão?
— Falando em remeter…
Eu pressionei minhas mãos sobre sua boca.
— Não faça. Não faça isso.
Ela arregalou os olhos daquele jeito de personagem de
desenho animado e balançou a cabeça.
Encarando, eu lentamente abaixei minhas mãos.
— O prazo de transferência está chegando.
Agora eu estava dividida. Ou ela voltava a falar sobre meu
irmão ou sobre o prazo de transferência, e era uma disputa
sobre a qual eu preferia que ela continuasse, mas a transferência
venceu por um fio.
— Tenho dois meses. É uma grande mudança. Deixar meus
novos amigos para trás.
— Eu não sou o suficiente para você? — Ela apertou o peito
e franziu o rosto. — Como você ousa?
Uma buzina sinalizou o início de outro tempo da TV.
Jogadores e árbitros pararam enquanto os treinadores se
moviam ao longo das linhas laterais.
— Mudar é bom. A mudança é incrível.
— Nem toda mudança. — Não a mudança no mundo da
minha família que aconteceu antes de eu chegar e virou minha
vida de cabeça para baixo antes de começar. — Estaria deixando
tudo que é familiar.
— É mais como deixar seu carcereiro para trás. A parede
protetora que Walsh construiu ao seu redor, tijolo por tijolo,
como uma muralha. — Ela me cutucou com o cotovelo. — Viu
o que eu fiz aqui.
Talvez o apelido do meu irmão, Muralha, devesse ser
transferido para Maggie. Foi nisso que eu senti estar batendo
minha cabeça contra, desde que eu disse a ela que estava
pensando em me transferir. Depois de um ano na Fulton U,
minhas asas pareciam ter sido cortadas. Minha liberdade recém-
descoberta ainda parecia contida em um conjunto específico de
diretrizes. Morando a quarteirões de meu irmão e a menos de
uma hora de meus pais, não deixei a sombra de seu olhar atento,
de suas expectativas ou de seus medos.
Concentrei-me no campo e no jogo. Os assentos ao nosso
redor ficaram mais barulhentos quando o intervalo terminou e
fomos lançados no terceiro tempo. Ir para a escola com Walsh
tinha sido de certa forma uma amostra da faculdade. Eu tinha
uma barreira de proteção embutida, nunca sentindo que teria
que fazer meu caminho pelo campus sozinha. Mas no meio do
meu primeiro ano estava começando a parecer um pouco
sufocante. Tipo esses assentos. Mesmo com ele se formando
este ano, eu não esperava que isso mudasse. Ele provavelmente
estaria à espreita nos arbustos do lado de fora das festas na baixa
temporada. E ele perderia a cabeça se soubesse que fui
empurrada e cutucada por fãs bêbados e desordenados da St.
Francis U.
Corpos foram pressionados juntos e as vozes estavam menos
torcendo pelo jogo e mais gritando umas com as outras. O
balanço padrão da multidão e os saltos excitados se
transformaram em empurrões bêbados.
Maggie se virou para mim com os olhos arregalados olhando
por cima do meu ombro.
— Ah, merda.
CAPÍTULO 2
EZRA

— Você está se sentindo um pouco excluído, Ez?


Inclinei-me mais para fora no parapeito, tentando ver o final
da jogada no campo. Respirei os cheiros do estádio. Quando eu
estava à margem, a sensação era diferente. Aqui em cima estava
mais frio sem os canhões de calor e os corpos bem embalados
prontos para atacar o campo.
Mas estar em um estádio de futebol ou à margem era a coisa
mais próxima que eu tive de uma casa. A coisa mais próxima
que eu já tive de algo que não me abandonou.
— Ezra, temos algumas batatas fritas extras. Quer um pouco?
Meus colegas de quarto estavam sentados ao meu lado,
devorando comida superfaturada e curtindo o jogo como
deveriam. O barulho da multidão cobriu o ronco do meu
estômago. Eu comeria quando voltássemos para o quarto de
hotel.
— Não. — Minhas mãos foram enfiadas em meus bolsos e
eu estava no parapeito da seção estudantil, feliz que pelo menos
todos estavam de pé para que ninguém me desse merda por
bloquear sua visão.
Hollis acenou uma asa de frango apimentada na frente do
meu rosto.
— Vamos, Ezra. Uma dentada. Apenas uma mordida. — Ele
moveu a asa para mais perto.
Olhei para ele e tranquei minha mandíbula.
Seus olhos brilhantes brilharam com o riso.
Travei meu olhar de volta para o campo. Não era só porque
eu não queria comer a comida deles, mas também porque
nenhum deles conseguia entender como eu conseguia passar
um jogo inteiro sem comer. Eu tinha ficado muito mais tempo
do que isso sem comer. Sentir fome fisicamente não significava
que eu tinha que comer. Adiar quando você sabia que a comida
estava esperando por você era muito mais fácil do que se
perguntar de onde viria sua próxima refeição.
— Nós o perdemos, pessoal. Vamos ter que pegar um
carrinho de mão e tirá-lo daqui.
O canto da minha boca se contraiu, mas sufoquei o sorriso.
Atrás de nós, a multidão aplaudiu e zombou das chamadas
dos árbitros, dependendo se eles estavam a nosso favor ou não.
Sendo jogadores, pudemos identificar a diferença entre as boas
e as más jogadas, mas não estávamos em campo esta noite.
Em alguns anos, não tive dúvidas, mas agora éramos
espectadores como todos os outros. As pontas geladas das
minhas orelhas roçaram no meu boné. Estava muito frio aqui
fora. Eu ainda não estava acostumado com esses invernos frios
onde meus jeans pareciam ter sido mergulhados em água gelada
e deixados do lado de fora por alguns minutos antes de colocá-
los.
Não era sempre que estávamos assistindo a jogos em vez de
estar no campo sangrando, suando e superando a dor com cada
grama de nós mesmos para uma vitória. A noite de STFU em
Pittsburgh envolvia muitos eventos pela cidade, mas foi pelo
jogo que a maioria das pessoas veio. A viagem de noventa
minutos foi tratada como uma caminhada. As pessoas se
encheram para isso como se estivéssemos viajando pelo deserto
para um novo local para beber, como se não tivéssemos muitos
deles no campus.
Tínhamos assentos privilegiados. Eu preferia estar mais alto,
onde era mais fácil ler as linhas de defesa, mas os caras adoravam
estar perto. Então, eu trabalhei com isso e me concentrei na
linha defensiva. Cada movimento de suas chuteiras na grama,
cada movimento rápido da cabeça. Absorvi cada detalhe
minucioso até a respiração deles. Nuvens de respiração se
reuniram na frente de suas máscaras faciais.
Do lado de fora, tentei filtrar o barulho da multidão e deixar
a conversa da comissão técnica tomar conta de mim. Tentei
escolher qualquer coisa que pudesse ser importante, não apenas
jogadas ou técnicas, mas como eles falavam uns com os outros.
Ouvir era metade da batalha, mas entender dava muito mais
trabalho.
À medida que o tempo avançava, o humor da multidão
estava mudando de excitação reprimida para gritos bêbados.
Outra razão pela qual eu odiava estar tão perto do campo era
que minhas costas estavam viradas para todos acima de mim.
O interruptor virou e os gritos para os árbitros se
transformaram em gritos atrás de mim. Os cabelos da minha
nuca se arrepiaram e eu verifiquei por cima do meu ombro
assim que o primeiro soco foi dado. Algumas fileiras atrás,
ainda longe o suficiente de nós. Cervejas absurdamente caras
foram jogadas no ar, espalhando pelo menos trinta pessoas.
Vozes se juntaram ao refrão irritado.
Assentos de concreto e plástico não combinavam bem com
idiotas bêbados. A última coisa que precisávamos era que uma
lesão nos afastasse por alguns jogos ou pelo resto da temporada.
Um círculo corpo a corpo se ampliou com mais bêbados
furiosos varrendo o furacão movido a álcool que lavava as
arquibancadas.
No centro dela, espectadores inocentes tentavam escapar.
Uma garota de casaco esmeralda no mar de laranja e dourado
chamou minha atenção. Ela continuou tentando proteger sua
amiga do que estava vindo por trás dela. Elas estavam bem nos
arredores, prestes a serem sugadas pelo vórtice. Um cotovelo
roçou o topo de seu boné.
Meu coração estremeceu. Se ela fosse alguns centímetros
mais alta, isso teria sido uma cotovelada na têmpora.
Virei-me em direção ao corredor e mal dei um passo antes que
a garota de casaco verde não estivesse mais no mesmo lugar, mas
sendo lançada no ar, rodando as duas fileiras à sua frente e indo
em direção ao concreto duro. Eu lancei para a frente.
Meus dedos roçaram o tecido de seu casaco. O pano frio
macio e levemente úmido estava em minhas mãos.
Manobrando no ar, eu a prendi contra meu peito e virei meu
corpo. Estávamos envoltos nas sombras das pessoas ao nosso
redor. Minhas costas bateram contra o chão, acordando minha
espinha.
Eu protegi sua cabeça e segurei seu rosto com minha mão a
um centímetro da borda de um assento de plástico duro.
O volume da multidão acima de nós era como uma fera fora
de controle.
Sua respiração passou pela minha pele úmida. Ela olhou para
mim com os olhos arregalados de choque, processando
lentamente que ela não iria quebrar alguns dentes no chão. Seus
lábios se separaram em um círculo perfeito.
Mesmo enfiada entre as fileiras no chão sujo com as pernas
ainda presas nas costas dos assentos da fileira à frente, não pude
deixar de olhar. Os olhos castanhos claros, o boné felpudo da
STFU agora torto na cabeça, o cabelo castanho escuro fazendo
cócegas no meu pescoço a cada respiração.
Meu coração batia em meus ouvidos como o sistema de alto-
falante.
Uma sombra cruzou acima de nós e ela foi jogada contra
mim, peito a peito, com muita força. Um som de choque e
desamparo saiu daqueles lábios perfeitos.
Outro corpo foi empilhado em cima de nós. Precisávamos
sair daqui antes que fôssemos esmagados.
A pessoa foi arrancada de nós menos de um fôlego depois.
— Precisamos nos levantar. Você pode se mexer?
Seus olhos se encontraram com os meus e ela assentiu, saindo
do choque. Ela lambeu os lábios.
— Eu acho que sim.
Ela se contorceu no meu corpo.
Concentrei-me no concreto sujo e duro cavando minhas
costas, não na linda mulher em cima de mim.
Braços dispararam para o corredor e a ergueram de cima de
mim. Eu me impedi de agarrá-la quando vi Hollis e outro dos
meus colegas de quarto, Cole, firmando-a.
Os outros caras agarraram meus braços e me ajudaram a
levantar.
Peguei meu boné e o coloquei enquanto corria para ela e
segurava seu ombro.
— Você está bem?
Ela assentiu e ajeitou o boné.
— Obrigado por amortecer minha queda. — Seu rosto
perdeu o brilho, a pele empalideceu e ela manteve a mão na
testa. — Minha família vai pirar se descobrir sobre isso — ela
murmurou, os lábios torcidos, mas não com dor.
Uma fina linha vermelha cresceu entre seus dedos e uma gota
de sangue escorreu pelas costas de sua mão.
Meu estômago embrulhou.
— Você está ferida. — Eu me virei e peguei uma pilha de
guardanapos embaixo das batatas fritas de Cole no banco e
enrolei o papel de fibra reciclada, pressionando-os contra ela o
mais suavemente que pude enquanto ainda aplicava pressão. —
Vamos levá-lo para os Primeiros Socorros. — Sangue manchou
seu rosto, dos poucos segundos de fluxo livre. Ferimentos na
cabeça sempre sangravam mais.
Sem pensar, eu a agarrei pela cintura, quase levantando-a do
chão e subi os degraus dois de cada vez a passos largos como se
estivesse no campo.
Quando chegamos ao topo da escada da seção, a segurança
finalmente apareceu. Eles correram direto para nós. A briga não
tinha parado, o que era ainda mais um motivo para tirá-la
daqui. Pelo menos, eu mantive meu punho de arremesso
confinado ao campo – principalmente.
Verificando as placas no saguão, meio que andei, meio que a
carreguei até o posto de primeiros socorros.
Eu nos empurrei pelas portas de vidro.
— Ela está machucada. Ela está sangrando.
— Sente-se atrás da cortina e vamos dar uma olhada. — O
cara colocando um par de luvas nos apontou para a cadeira
excessivamente acolchoada no canto. Havia outros em
situações de triagem na sala, mas ninguém ativamente
sangrando como... eu nem sabia o nome dela.
Outra pessoa bateu no posto de primeiros socorros com
sangue escorrendo da boca. Falei cedo demais.
Garota Esmeralda respirou fundo por entre os dentes.
— Vamos esperar ali.
Com minha mão em seu cotovelo, eu a guiei para o assento.
Ela olhou para mim e abriu um sorriso.
— Obrigado pela ajuda. — Aqueles olhos estavam
inundados de leveza e riso. Travei meus joelhos para não
cambalear. Ela tinha acabado de ser derrubada no chão depois
que uma briga estourou, mas ainda sorriu para mim como se eu
tivesse aparecido em sua porta com um buquê de flores.
— Ezra. — Limpei minha garganta apertada. — Meu nome
é Ezra.
— Prazer em conhecê-lo, Ezra. Eu sou Willa. — Ela estendeu
a mão que não estava usando para parar o sangue.
Meus dedos roçaram o interior de seu pulso. Tão macio. Sua
palma era como manteiga contra a minha. A minha
provavelmente parecia cascalho contra o dela.
Ela fez uma careta e apalpou o casaco, tirando um telefone
do bolso. Seu nariz torceu e ela digitou uma mensagem com
uma mão, equilibrando o telefone em sua coxa.
— Você vê uma garota lá fora?
Eu me inclinei para trás, espiando por trás da cortina. O
paramédico estava tirando as luvas depois de colocar o cara com
sangramento da boca em uma maca, com outros paramédicos
puxando-o para fora.
— Ninguém novo apareceu.
Suas sobrancelhas franziram com um estremecimento.
— Minha amiga disse que está no posto de primeiros
socorros procurando por mim.
— Eles têm dois em cada nível. Ela provavelmente está no
outro.
Seus olhos se arregalaram e ela balançou a cabeça rindo.
— Deixe-me dizer a ela.
O paramédico veio e tirou a pilha de guardanapos da testa de
Willa.
A pressão tinha estancado o sangue que fluía livremente, mas
o corte não era bonito. Eu estava dividido entre ficar aqui para
ter certeza de que ela estava bem e voltar para descobrir quem
tinha batido nela, em primeiro lugar, e ensiná-los a nunca fazer
merdas estúpidas como essa novamente. Em última análise,
garantir que Willa não estivesse muito machucada venceu.
O paramédico começou a trabalhar para limpá-la e a pequena
ferida quase parou de sangrar.
Ela estremeceu e franziu o rosto enquanto ele trabalhava, mas
não disse nada, nem mesmo quando ele usou as compressas
embebidas em álcool.
— Você quer que eu vá buscar sua amiga?
— Não, eu disse a ela que estou bem e que estava sendo
cuidada por um jogador de futebol gostoso.
Eu parei, olhando para ela. Jogador de futebol com certeza se
encaixa em mim, mas gostoso. Gostoso não era usado para me
descrever. Mal humorado. Intenso. Evitável a todo custo. Mas
não gostoso. Não queria dizer que eventualmente eu não tinha
uma garota tentando se aproximar. Geralmente por causa do
meu futuro em perspectiva.
— Você vem a muitos jogos da STFU?
Ela olhou para mim, seus movimentos de cabeça restringidos
pelo profissional médico que cuidava dela.
— Não. — Mantendo sua bolha mais leve que o ar, ela se
inclinou um pouco mais perto, tirando um resmungo do
paramédico, mas seus olhos brilharam como se estivéssemos
prestes a compartilhar segredos de partir a alma. — Eu não
estudo na STFU — ela sussurrou.
— Então como você sabia que eu era um jogador de futebol?
— Andar pelo campus sem ser reconhecido não era fácil. A
maioria dos caras deu boas-vindas à atenção. Não era meu
negócio. Não foi por isso que entrei para o esporte. Embora
fosse por isso que eu usava meu boné, mesmo que agora fosse
mais minha marca registrada do que meu rosto.
Seus olhos percorreram meu corpo de cima a baixo com um
sorriso.
— Conheço o tipo. Defensive end ou defensive tackle?
— Tackle.
Seu sorriso satisfeito se alargou.
— Eu sabia.
Depois de limpar seu corte, o paramédico aplicou bandagens
de borboleta e o cobriu com um band-aid enorme. —
Mantenha-o seco e, se estiver se sentindo tonta ou
desorientada, vá ao médico ou ao hospital, pois pode ser uma
concussão.
— Eu conheço o protocolo de concussão.
Como ela sabia disso? Ela não parecia capaz de suportar os
tipos de pancadas que recebíamos em campo.
Com uma mão estendida como se estivesse testando o ar, ela
se levantou. Eu segurei a mão dela. O pulsar quente e profundo
da conexão me descongelou novamente.
— Tonta?
Ela virou a cabeça para o lado e olhou para mim, parando por
um momento como se estivesse tentando descobrir se estava se
sentindo tonta. Seus lábios se contraíram por um segundo
antes que o sorriso voltasse. Era contagiantemente livre e
completo.
— Novinha em folha.
— Não até que o curativo saia. Você não está com dor?
— Um pouco, mas isso é de se esperar. Fui lançada no ar, rolei
algumas fileiras de cadeiras de plástico rígido e aterrissei em
cima de uma pedra.
— Pedra?
Ela riu como se nunca tivesse tido um dia triste em sua vida.
Seus dedos envolveram meu bíceps e se inclinou perto do meu
ouvido.
— Você é a pedra, Ezra — ela sussurrou de uma forma que
permitiu a todos na sala a ouvir.
Eu inclinei meu queixo para trás com compreensão e
estremeci. Houve uma pulsação atrás da minha orelha.
Esfreguei-a, roçando a borda do meu boné, e puxei meus dedos
para longe.
— Você está ferido! — Ela gritou e agarrou minha mão pelo
pulso. O calor de seu toque se espalhou pelas minhas mãos já
descongeladas e subiu pelo meu braço. — Ele está ferido.
O sangue vermelho brilhante cobriu as pontas dos meus
dedos. Huh, como eu perdi isso?
Ela tirou meu boné e um pequeno fio escorreu pelo lado do
meu pescoço.
— Com licença, Sr. Paramédico, você precisa vir dar uma
olhada nele. — Sua voz em pânico me preocupou mais do que
meu pequeno ferimento.
A brisa do sol dela foi substituída por pânico e preocupação.
Ela não me soltou enquanto se esgueirava ao meu lado. Uma
pequena parte da curva da minha orelha em seus dedos me fez
respirar fundo.
— Não é…
Usando muito mais força do que ela parecia ter, ela colocou
meu braço sob o dela, trazendo nossos corpos ainda mais perto,
comigo me movendo em sincronia com ela.
Ela me puxou para frente e sentou minha bunda na cadeira
de procedimento.
— Não é tão ruim.
— Então, vai levar apenas alguns minutos para tratar. Sente-
se quieto e não me faça sentar em você. — A mão dela não
deixou a minha. Ela segurou como se o ferimento fosse na
minha mão, não na minha cabeça.
Um flash dela no meu colo atingiu minha cabeça. Seu corpo
pressionado para baixo, jeans contra jeans. Um olhar por cima
do ombro para mim ou, pior ainda, ela me encarando com as
pernas de cada lado das minhas.
Eu me mexi no meu assento para que minha semi ereção não
fosse perceptível. A distração não foi muito difícil de
encontrar, não quando a ardência se intensificou com a limpeza
da ferida, mas, acima de tudo, com a forma como a mão de
Willa se moveu suavemente ao longo do meu braço. Eu não
poderia nem dizer se ela percebeu que estava fazendo isso.
Pequenos ruídos de segurança como você ofereceria a uma
criança que esfolou o joelho no parquinho. Não o tipo de coisa
que eu tinha, mas o que todas as outras crianças pareciam ter.
Suas sobrancelhas estavam franzidas com preocupação e ela
fez mais perguntas ao paramédico sobre o meu corte do que
sobre o corte na sua testa.
— Você tem certeza que ele não precisa de pontos? Ele tem
um jogo chegando e não queremos que ele perca.
— Como você sabe que eu tenho um jogo? — Uma pergunta
estúpida. Todos na STFU conheciam o calendário da
temporada.
— É temporada de futebol. Ele vai ficar bem? Ele deve ir para
o hospital? — Sua preocupação por mim foi aos trancos e
barrancos acima do que tinha sido por ela mesma. Ela riu de seu
corte como se não fosse nada, mas estava pronta para chamar
uma ambulância para mim.
Eu nunca tive alguém tão preocupado comigo antes.
O paramédico tirou as luvas.
— Eu não sou seu médico ou treinador, mas ele deve estar
bem. Mesma rotina que eu disse a ela. Se você estiver se
sentindo mal, vá ao seu médico. — Com isso, ele se afastou com
um andar cansado para cuidar da próxima situação de triagem
que havia tropeçado pelas portas.
A fita puxou minha pele, mas pelo menos eu não tive que
pagar pelos cuidados.
Willa colocou seu casaco de volta. Eu escovei meus dedos
sobre as manchas de sangue que pontilhavam o tecido verde
logo abaixo da gola e em seu cachecol STFU.
— Tem sangue nele.
Ela esticou o pescoço para dar uma olhada.
— Poderia ser pior. Talvez eu coloque um broche grande ali,
ou uma flor na lapela.
— Isso não vai chamar atenção extra.
Sua bufada de riso fez o latejar persistente atrás da minha
orelha evaporar.
— Tem um pouco no seu boné também. — Ela passou os
dedos ao longo da base do boné e o estendeu para mim.
Eu tinha esquecido que não estava usando enquanto
conversávamos. Puxando-o de volta, eu estava protegido com
as sombras das luzes do teto.
— Você quer que eu te leve de volta para a sua amiga?
— Não. — Suas covinhas se aprofundaram. — Mas eu não
me importaria se você me levasse para fora.
CAPÍTULO 3
WILLA

As palavras saltaram da minha boca sem hesitação. Não era


sobre isso que Walsh estava sempre tagarelando? Eu sendo
muito impulsiva, o que era risível. Mais da metade da minha
vida, eu senti como se estivesse amarrada e encaixotada para
minha própria proteção.
— Desculpe, isso foi uma coisa idiota de se dizer. — Tentei
tirar minha mão de seu aperto. — Você está aqui com seus
amigos e então eu fico tipo: “ei, cara que eu nunca conheci
antes, deixe seus amigos para trás depois de ter sido super legal
já me trazendo aqui para me levar para sair”.
Ele estava com o boné de volta agora, então eu mal podia ver
seus olhos.
Pelo menos eu não precisava ser completamente humilhada.
— Se você apenas me devolver minha mão... — Eu tentei me
livrar de seu aperto.
— Eu quero te tirar daqui.
Vibrações encheram meu estômago, mas eu as esmaguei e me
abaixei para dar uma olhada melhor em seus olhos.
— Sério?
— Sim, eu conheço o lugar perfeito. — Seus lábios se
ergueram, o que parecia um sorriso completo para ele.
Minha respiração acelerou e o calor subiu do meu pescoço.
— Então vamos nessa.
Ele estendeu o braço e eu deslizei o meu para baixo, ligando-
o ao dele.
A curta viagem pelo estacionamento nos levou ao prédio
cinza com detalhes em vermelho e grandes letras maiúsculas na
frente. Centro de Ciência Carnegie.
— Não é exatamente o que eu tinha em mente. — Olhei para
ele.
Um leve indício de um sorriso esticou seus lábios.
— Nossos ingressos nos levam de graça. — Ele acenou para a
porta da frente.
Uma hora depois, estava sentada no chão, remontando meu
carro de corrida com algumas modificações.
— Você não vai me vencer desta vez.
— Isso foi o que você disse nas últimas quatro corridas. —
Ele se encostou na parede com o carro em uma mão. O exibido
não mudou o design desde que começamos.
Fiz uma careta e voltei ao trabalho. Colocando a peça final
no lugar, verifiquei meu carro e girei as rodas algumas vezes
para ter certeza de que não havia obstruções.
— Feito. Vamos, Ezra.
Depois de esperar na fila para o resto das crianças com menos
de oito anos terem sua vez, era nossa.
Eu coloquei o meu na pista e Ezra fez o mesmo.
Seu estômago roncou. Não era a primeira vez, mas ele não
havia mencionado nada sobre conseguir comida.
— Por que você não conta dessa vez? — A diversão permeava
cada palavra.
— Você não está me derrubando. Eu não preciso de uma
contagem regressiva de pena. — Eu coloquei minha cara de
jogo. — Pé na tábua.
Uma risada genuína explodiu dele, sacudindo todo o seu
corpo.
— Três, dois, um. Vai!
Soltei meu carro e ele correu pela pista, fazendo as curvas
como um profissional, mas ainda atrás do de Ezra. Correndo ao
longo da pista, aplaudi meu carro de corrida como se houvesse
um pequeno motorista dentro que pudesse me ouvir.
Apenas um nariz atrás, o carro fez a curva final. Os carros
correram para a linha de chegada movidos apenas pela
gravidade e inércia. A trinta centímetros da chegada, o carro de
Ezra balançou, rangendo ao longo da pista.
Isso foi o suficiente para superar a diferença e ultrapassar seu
carro. O meu cruzou a linha de chegada primeiro, passando a
linha quadriculada.
Eu pulei no ar, girando e torcendo. Pegando meu carro, beijei
o lado dele e o abracei contra minha bochecha enquanto
cantava “We Are the Champions.”
Ezra se aproximou com o olhar de diversão ainda não
totalmente banido.
— Você tem uma voz terrível para cantar.
— Oh, eu sei. — Cantando outro verso, usei meu carro como
microfone, com direito a dramas de estrelas pop e um
movimento de cabelo.
O lugar não estava cheio, mas recebemos mais do que alguns
olhares. Não era muito comum alguns jovens de vinte anos
frequentarem a Legolândia, como a área de recreação de Lego
foi apelidada.
Terminada a música um pouco sem fôlego por tentar segurar
as notas, eu olhei para Ezra, me sentindo corada e muito tonta.
Talvez fosse a falta de oxigênio.
— Senhora. Precisamos que você coloque isso no Balde do
Nojo. — Um membro da equipe do museu apontou para a
placa, que dizia que quaisquer peças que tocassem a boca de um
usuário deveriam ser depositadas dentro do balde para serem
limpas.
Olhei para o meu pequeno carro o quanto pude antes de eu
abaixar lentamente na pira funerária de tijolos de plástico.
— Você merecia coisa melhor, Sr. Vroom. — Limpei uma
lágrima falsa e funguei.
— Ele está partindo em uma chama de glória. — Ezra deu um
tapinha nas minhas costas.
— Uma chama brilhante e luminosa se apaga antes do tempo.
— Virando-me para ele com um sorriso, agarrei sua mão. —
Vamos ver o que mais eles têm.
— Eu vou alcançá-la, preciso colocar isso de volta na área de
construção. — Ele levantou seu próprio carro e olhou para
nossas mãos unidas.
Larguei meu aperto e esperei que as chamas em minhas
bochechas não combinassem com os blocos.
— Por que você não está despejando o seu lá?
— Eu não estava dando uns amassos no meu carro. — Seu
estômago gorgolejou novamente. Assim que encontrarmos
uma barraca de comida, deveríamos parar. Talvez ele não
tivesse comido no jogo. Embora levantar a mão para o ar
provavelmente teria lhe dado pelo menos um pouco de pipoca
e talvez alguns punhados de cerveja e refrigerante.
Eu torci meu nariz para ele e saí para explorar o resto do
museu.
Ezra me encontrou e fomos até a exposição mostrando
diferentes aspectos de como o corpo se move. Coloquei minhas
mãos nas marcas de mão de metal para rastrear meu batimento
cardíaco e olhei para Ezra olhando para mim. Seus olhos
giraram com um turbilhão de emoções – doces, cruas,
esmagadoras. O monitor pulou e eu puxei minhas mãos para
trás, virando-me para um modelo grosseiro de artéria entupida.
Sua sombra caiu sobre mim.
Examinei as descrições de tudo o que estava na minha frente,
mas não li nada. O céu escuro transformou as janelas ao lado da
vitrine em espelhos. A bandagem de borboleta na minha testa
se destacou no reflexo. Tracei meus dedos sobre ela. Explicar
isso para minha família sem eles enlouquecerem seria um
pequeno milagre. Uma mensagem provavelmente chegaria em
breve. Quantas horas se passaram desde a última?
— O jogo provavelmente acabou agora. — Olhei para Ezra
pelas janelas.
Ele assentiu e deu um passo ao meu lado.
— Os caras me enviaram uma mensagem dizendo que
estavam voltando para o hotel. Sua amiga mandou uma
mensagem para você?
— Eu disse a ela que mandaria uma mensagem para ela mais
tarde ou a encontraria no hotel.
Era difícil resistir a assistir Ezra.
Ele tinha que ser uma das pessoas mais quietas que eu já
conheci, mas não era desconfortável. Mais como se ele estivesse
ouvindo tudo o que eu dizia e tudo o que acontecia ao nosso
redor. Absorvendo tudo e observando todos.
Caminhamos em direção à exposição de esportes. Havia
diferentes configurações que você poderia inserir para testar a
inércia e a energia cinética.
— Vamos tentar isso. — Corri em direção ao teste onde você
ficava suspenso no ar, içado por cabos.
Ele agarrou meu braço.
— Provavelmente não é uma boa ideia depois da sua queda.
Você está bem até agora, mas por que agravar um possível
problema?
Meu estômago caiu.
Sua atenção e interesse. A maneira como ele me observava.
Talvez ele não estivesse flertando. Ele se sentiu mal por mim.
Ele estava de babá. Idiota!
— Você provavelmente tinha muito planejado para esta
noite. Aposto que seus amigos estão se perguntando onde
diabos você está. Você deveria voltar para o hotel. Você está
dispensado do dever, Ezra. — Dei um tapinha em seu braço e
tentei manter a decepção fora da minha voz.
— O quê? Por quê? — Ele disse com sobrancelhas franzidas
e um olhar de confusão.
— Eu não preciso de uma babá. Foi por isso que você se
ofereceu para me trazer aqui, não foi? Você queria ficar de olho
em mim.
Seus lábios se separaram por um instante e eu desejei poder
dar uma olhada melhor em seus olhos, mas sua expressão era
toda a resposta que eu precisava.
Eu me virei, mas ele agarrou meu cotovelo com um aperto
suave.
— Talvez no começo tenha sido por isso que eu quis trazer
você aqui, mas estou me divertindo, Willa.
Pisando na frente dele para que estivéssemos frente a frente,
eu inclinei seu boné para trás, tomando cuidado com o corte
atrás da orelha.
Aqueles grandes olhos cinzentos encontraram os meus. A
honestidade esmagadora brilhava deles como um holofote
sobre mim.
A sensação de arrebentar o coração voltou.
— Sério? Você não está dizendo isso para me fazer sentir
melhor?
— Eu pareço um cara que diz ou faz coisas apenas para fazer
as outras pessoas se sentirem melhor? — Ele empurrou o boné
de volta para baixo.
— Não, você não. Mas há uma coisa que você pode fazer por
mim.
— O que seria isso?
— Podemos ir jantar?
— Você está com fome?
— Morrendo de fome.
— Sério? Não estou com tanta fome. — O rosnado mais alto
ainda reverberou em seu estômago quase que como falar sobre
comida em voz alta desencadeasse o kraken em seu estômago.
— Continue dizendo isso a ele. — Eu acariciei seu estômago.
Os aviões musculosos sob sua térmica precisavam de
combustível. — Vi um lugar não muito longe daqui. —
Marchando, eu o deixei me seguir.
Paramos em um restaurante sofisticado à beira-mar, não
muito longe do estádio. Com o jogo terminado há algumas
horas, as multidões não estavam muito pesadas, mas era um
lugar mais agradável. Não muito sofisticado, tão perto do
estádio, mas com copos de verdade nas mesas e guardanapos de
pano.
Ezra olhou para trás e para frente. Desconforto ondulou para
fora dele.
— Você pode nos arranjar uma mesa? Eu preciso ir ao
banheiro.
Seu aceno curto foi curto. Ele caminhou até o estande da
recepcionista e eu corri para o banheiro, indo direto para um
cara de terno.
— Oi, você é um gerente?
O homem parou de repente e colocou um sorriso educado,
provavelmente esperando uma reclamação.
— Sim, como eu posso te ajudar?
— Você tem cartões de presente? — Tirando minha carteira
do bolso do casaco, olhei por cima do ombro e me inclinei para
trás para olhar a sala de jantar.
A anfitriã acompanhou Ezra até uma mesa.
— Nós fazemos. Ele vem com um envelope e cartão de
presente.
— Eu não preciso do envelope, mas você pode colocar o
dobro de sua entrada mais cara em um para mim e escrever uma
data de validade para o final do ano nele? — Entreguei ao
gerente meu cartão de crédito.
Suas sobrancelhas franziram.
— Nossos cartões têm duração de um ano.
— Eu sei. — Meu pescoço corou, aquecendo sob meu
casaco. — Eu sei, mas pretendo usar tudo hoje à noite.
Seu olhar de confusão não clareou, mas ele deu de ombros e
passou meu cartão.
— Claro, eu posso fazer isso. — Provavelmente não foi o
pedido mais estranho a sair neste lugar.
Corri para o banheiro e verifiquei minha cabeça. Meu reflexo
foi um lembrete de como as coisas poderiam ter ido mal hoje.
Com os dedos suaves, escovei o Band-Aid. Isso ficaria dolorido
por um tempo. Uma vez que Walsh visse, ele provavelmente
surtaria e planejaria me escoltar da minha casa para a aula como
se eu pudesse desmaiar a qualquer segundo.
Meu telefone tocou. Agarrei-o e, como se o tivesse
convocado, o nome de Walsh apareceu na tela.
Walsh: Não ouvi sobre você.
Eu: Desculpe, carcereiro, eu não sabia que já era hora
de apagar as luzes.
Walsh: Espertinha. Onde está você?
Eu: No fundo do rio.
Walsh enviou um emoji irritado. Terminei de lavar as mãos e
tirei o casaco, feliz que pelo menos não havia sangue na minha
camisa.
Eu: Bem maduro. Eu estou jantando. Feliz?
Walsh: Fique segura e diga a Maggie que eu disse oi.
Eu: Vou dizer.
Claro, algumas horas depois, quando eu a vir.
O gerente me entregou o cartão-presente quando passei pela
estação de recepcionistas. Abrindo minha carteira, enfiei o
cartão dentro e encontrei Ezra em uma mesa perto das janelas.
Depois de colocar meu casaco nas costas da cadeira, eu a puxei
e sentei na frente dele.
— O que parece bom?
— A água — ele brincou, mas seus ombros estavam tensos.
— Talvez a sopa.
— Tão ruim, hein? — Enfiei a mão no bolso do casaco e tirei
minha carteira. — Deixe-me ver quanto dinheiro eu tenho.
— Não, você não tem que pagar. — Ele cambaleou para
frente sacudindo os talheres e nossos copos já cheios de água.
— Fui eu quem sugeriu este lugar. Apenas deixe-me ver
quanto dinheiro eu tenho.
— Willa, sério. — Ele olhou para as mesas ao nosso redor e
baixou a voz. — Ficará tudo bem.
Peguei meu cartão de presente plantado.
— Uau, eu esqueci completamente que eu tinha isso. Veja, o
jantar é por minha conta. — Eu o joguei sobre a mesa.
— Eu não posso deixar você fazer isso.
— Ele expira em algumas semanas. Minha única chance de
gastá-lo será neste fim de semana.
— Eles não têm um desses onde você mora?
— Eles têm, mas eu vou para casa para as férias e não há um
perto da minha casa.
Ele cruzou os braços sobre a mesa e se inclinou para frente.
— Por algum acaso você tem um cartão-presente prestes a
expirar em algumas semanas para um restaurante que você não
sabia que ia parar.
— Louco, certo? — Peguei o menu e examinei as opções.
— Totalmente. — O ceticismo pairava no ar.
— O bife parece delicioso. — O menu acabou de se tornar a
peça de literatura mais fascinante que eu já encontrei.
— Você gostaria de fazer um pedido de bebida? — Nossa
garçonete apareceu e me salvou.
Ezra não lutou por pedir comida de verdade. A conversa
fluiu. Conversamos sobre aulas — cinesiologia para ele e
alemão e japonês para mim. Ele pegou um bife, batatas
recortadas e brócolis. Eu tinha os tacos de peixe enegrecidos
com batatas fritas.
Ele apenas fingiu fugir da mesa quando admiti que estudava
na Fulton U, a arqui-inimiga da STFU, em vez de realmente me
abandonar. Conversamos sobre nossos filmes favoritos. Ele era
estritamente ficção científica e ação, enquanto eu adorava
fantasia. Para a sobremesa, pedimos uma frigideira quente de
biscoitos de chocolate com manteiga marrom.
— Posso tomar um copo de leite frio com isso? — Ezra olhou
para o garçom como se estivesse com medo de que ela gritasse
que não e fosse embora.
— Vou querer um também.
Ele sorriu com um leve aceno de cabeça.
— Quando você vai embora?
— Amanhã à tarde. — Eu me mexi no meu assento,
empurrando minhas mãos formigantes sob minhas coxas.
Sentar de frente para ele era muito mais estressante do que
passear juntos por um museu. Sua mandíbula era fascinante. O
arco de Cupido é magnético, mas seus olhos são mais. Quando
ele olhou para mim, parecia que ele podia ver todos os segredos
que eu já tentei esconder. — E você?
— Amanhã de manhã. Eu vou de ônibus com meus colegas
de quarto. Temos que estar de volta ao campus às dez.
— De manhã cedo, então. — A decepção amassou meu
estômago. Isso significava que não havia como nos
encontrarmos amanhã. Ele teria ido antes de eu partir para o
aeroporto.
— Estou acostumado com elas.
O garçom voltou com uma frigideira ainda fumegante de
biscoitos com piscinas de chocolate no topo prontas para o
nosso leite gelado.
Cavando com o garfo, em vez de esperar esfriar, enfiei-o pela
boca do copo. O leite rodou com o chocolate derretido e eu
comi, cobrindo minha boca aberta com a mão para mastigá-lo
sem queimar a merda da minha língua.
— Tão impaciente? — Ele pegou uma das fatias e a partiu ao
meio. Não houve malabarismo ou toques delicados. Seus dedos
provavelmente tinham muito mais proteção contra o calor do
que os meus.
— São biscoitos muito bons. — Repeti meu método até
minha terceira mordida, que foi fria o suficiente para que eu
pudesse comer com a boca totalmente fechada. O açúcar, a
baunilha e o chocolate estavam prontos para me levar a um
sonho de sobremesa. Abri meus olhos e peguei Ezra olhando
para mim como se estivesse tentando me entender, ou talvez eu
tivesse chocolate no rosto. Limpei os cantos da boca com um
guardanapo. — O que você acha deles? — Eu balancei a cabeça
para sua segunda metade pairando acima de sua xícara.
— Nada mal. — O biscoito desapareceu em sua boca.
— Você mastigou mesmo?
Seus ombros tremeram.
— Não precisa quando derretem na boca.
O garçom trouxe a conta e eu a peguei.
Ele cobriu minha mão com a dele.
— Você tem que pelo menos me deixar pagar a gorjeta.
— O cartão de presente…
— Willa. Eu entendo que você queria pagar pela refeição,
mas pelo menos me deixe fazer isso — ele disse, um pouco
exasperado e envergonhado.
Minha coluna endureceu.
— Você sabia. — Eu o deixei deslizar o fólio sob minhas
mãos.
Ele verificou o total antes de dar uma generosa gorjeta para
limpar a carteira. — Achei que se você quisesse pagar pela
minha refeição o suficiente para passar por todo esse problema,
falar com o gerente e a coisa do cartão-presente, então eu
deveria deixar que você pagasse.
— Como você soube?
— A data de validade está do lado da sua mão. A tinta ainda
não devia estar seca quando você o colocou na carteira. — Ele
levantou minha mão e a virou, revelando os números
claramente estampados na minha pele.
Atordoada, abri e fechei a boca, depois deixei cair o vale-
presente no fólio, que foi retirado.
— Você é um cara surpreendente, Ezra.
— Nem um pouco.
A garçonete voltou com um saco de biscoitos para finalizar o
saldo do cartão-presente.
Ezra empurrou a cadeira para trás e caminhou ao redor da
mesa. Ele pegou meu casaco e o segurou para que eu o vestisse.
— Vamos levá-la de volta ao seu hotel.
Meu estômago, cheio de tacos e biscoitos de chocolate,
parecia leve enquanto suas mãos roçavam meus braços quando
eu vesti o casaco. Meu hotel. Com Ezra. As possibilidades eram
infinitas.
CAPÍTULO 4
EZRA

A caminhada tempestuosa de volta ao hotel não foi tão


dolorosa quanto eu imaginava que seria. Com minha carteira
vazia e sem cartão de crédito, pedir um carro teria tornado a
viagem muito mais rápida, mas ainda mais embaraçosa para
mim depois que Willa pagou o jantar.
Foi fácil juntar as peças da farsa dela, mas eu aprendi há muito
tempo a não recusar uma refeição grátis que alguém estava
determinado a lhe dar. Mesmo se você não estivesse com fome,
você a levava com você e a guardava para mais tarde, porque
você nunca sabia de onde viria sua próxima refeição. Mas eu
estava com fome e também agradecido pelo amortecimento do
ego ela tentou manobrar para me fazer aceitar.
Não havia muitas pessoas lá fora que eram como ela. Depois
de apenas algumas horas, eu sabia disso.
Suas bochechas estavam vermelhas, mas ela ainda era toda
sorrisos. Poderia ter sido o pedaço de biscoito apertado em suas
mãos enluvadas.
— Você não teve o suficiente no restaurante?
— Essa é uma pergunta séria? Estamos falando de cookies.
Sempre há espaço para biscoitos. Tem certeza de que não quer
um? — Ela segurou o saco para mim.
— Tentador, mas não, a metade que eu tinha lá foi ruim o
suficiente. Eu tenho um jogo chegando.
— As dietas da estação são uma merda, não é?
— Elas podem ser ásperas. — Enfiar centenas de gramas de
proteína na minha garganta através de ovos, peito de frango e
proteína em pó era muito mais difícil – e mais caro – do que
parecia.
— Eu faço essas bolas de proteína incríveis. Manteiga de
amendoim, lascas de chocolate, mel e whey o suficiente para
você entrar no trem de recuperação muscular sem sentir que
está prestes a vomitar outra omelete de clara de ovo. Posso te
enviar a receita. — Ela riu e fechou o saco, enfiando-o no bolso.
Como ela entrou na minha cabeça assim? Saiba exatamente o
que dizer ou que ajuda a oferecer.
Ela olhou para mim.
— O quê?
— Como você sabe todas essas coisas?
— Estou no esporte há muito tempo. Leio sobre musculação
um pouco quando não estou me afogando na gramática alemã.
Por que precisa haver tantos artigos e tempos verbais? Vamos
levá-lo de volta para seus amigos, nosso hotel fica bem ali em
cima.
Sim, nosso hotel. O qual nós dois estávamos hospedados.
Com um andar de distância, estaríamos na mesma cidade por
mais doze horas antes de eu voltar para o campus e ela voar de
volta para Filadélfia.
O saguão estava lotado de estudantes da STFU. A equipe do
hotel fez o possível para afastá-los dos clientes regulares,
infelizes o suficiente para ter reservado sua estadia neste fim de
semana em particular.
Deslizei minha mão para as costas dela para navegar pelo
caos. A última coisa que ela precisava era de algum babaca
bêbado batendo nela, ou que ela testemunhasse outra briga
hoje.
Antes do futebol, eu nunca tinha ficado em nenhum lugar
que não tivesse pelo menos três beliches empilhados em um
quarto ou uma cama aparafusada no chão ou na parede. Agora,
pelo menos eu sabia como usar os chuveiros nesses hotéis e não
sentia que seria expulso a qualquer momento. Ficar em hotéis,
bons e não tão bons, foi um degrau acima de como eu cresci e
eu nunca dei essas viagens como garantidas ou deixei uma barra
ou uma garrafa de sabonete de hotel para trás.
— Posso te enviar essa receita, se você me der seu número. —
Willa olhou para mim, nunca perdendo um pouco de seu ar de
tudo-vai-ficar-bem. Só isso me disse que crescemos de forma
completamente diferente.
— Boa jogada. — Eu entreguei a ela meu telefone. Aquele
com fita adesiva sobre a tela para evitar cortar meus dedos nas
rachaduras. Eu já tinha deixado ela pagar pela minha refeição,
por que ficar constrangido agora?
— Sempre. — Ela piscou e olhou para o meu telefone. —
Você precisa de uma tela nova. — Seus dedos cautelosamente
bateram na tela quando saímos do elevador em seu andar.
Eu a segui, divertido. Não adianta ficar envergonhado por
isso depois da tarde que tivemos. Ela tinha visto o interior da
minha carteira.
— Eu preciso.
— Há quanto tempo está assim?
— Um tempo. — Desde o ensino médio. Em breve, eles
parariam de lançar atualizações para o meu telefone, e ele ficou
tão lento que fazia pouco mais do que enviar e receber
mensagens de texto. Mas daqui a um ano, eu estarei perto de
assinar um contrato profissional e todas as vantagens que virão
com ele. Ou seja, dinheiro. Eu não dou a mínima para a fama
ou meu nome nas camisas. As pessoas adoravam dizer que
dinheiro não compra felicidade, e eu tenho que imaginar que
isso é algo que só pessoas com dinheiro podem acreditar.
Mesmo depois de chegar a STFU com acesso à tudo-que-você-
conseguir-comer no refeitório três vezes ao dia, foi um grande
avanço em relação a três colheres da casa do grupo.
Então o dinheiro pode não comprar felicidade, mas compra
uma barriga cheia e a segurança que eu sempre sonhei em ter, e
esse era o objetivo.
Ela terminou de digitar seu número e ligar para si mesma,
assim ela teria o meu.
— Vou enviar o link da receita por mensagem de texto
quando a localizar.
— Obrigado. — Eu espalmei meu telefone e o enfiei no meu
jeans.
— Este é meu quarto. — Ela tirou a carteira e a folheou. —
Coloquei meu cartão-chave aqui para ter certeza de que não o
perderia. — Sua risada era leve e arejada. Havia cartões de
crédito alinhados nos bolsos, cartões de presente, dinheiro. Ela
provavelmente tinha mais em sua carteira do que eu tinha em
minha conta poupança com teia de aranha na cooperativa de
crédito estudantil. Um som descontente saiu dela e ela despejou
o combo carteira-bolsa no chão do lado de fora da porta.
Ela passou os dedos pelos pedaços de papel e cartões que
caíram. Sentada de cócoras, ela olhou para a pilha como se ela
tivesse se esforçado para ofendê-la pessoalmente.
Eu me agachei ao lado dela para ajudar a pegar tudo o que
havia caído.
— Sua colega de quarto voltou?
Bati na porta e escutei o movimento lá dentro.
— Isso responde a sua pergunta — Seus lábios se torceram
antes de seus olhos se arregalarem. Ela abaixou a cabeça e
balançou. — Sabe quando você faz algo especificamente para
facilitar sua vida mais tarde e depois esquece completamente.
— Ela caiu de joelhos e desabotoou o casaco. Sua mão deslizou
para dentro e ela puxou a pasta do cartão-chave de um bolso
interno. — Vamos atribuir isso à batida na cabeça mais cedo.
Estendi a mão e escovei meus dedos sobre o curativo em sua
testa.
— Como está sua cabeça?
— Ficou um pouco dolorida por causa do frio na caminhada,
mas está descongelada agora.
Meu toque mudou de uma carícia em sua testa para sua
bochecha. Eu deveria tê-la colocado em um táxi, mesmo que
isso significasse deixar minha bunda quebrada para trás.
— E você? — Ela se inclinou para frente, seus dedos roçando
a pele atrás da minha orelha, que disparou em sensibilidade em
pelo menos mil por cento assim que ela tocou.
— Não é nada. Já me machuquei pior no treino.
Seus dedos se demoraram no local, com cuidado ao redor da
fita nas bordas do curativo. Ela estava de joelhos na minha
frente e eu ainda estava agachado. Seus lábios estavam cheios de
pequenas depressões onde o tempo os havia secado um pouco
depois de nossa caminhada.
— Não se preocupe, eu não estava questionando sua
credibilidade de durão. — Suas provocações atingiram de
forma diferente. Talvez fosse porque quase ninguém além dos
caras me provocava. Eu não exalava exatamente vibrações
brincalhonas, brigue comigo, mas isso não perturbou Willa.
Ela chupou o lábio inferior em sua boca e o umedeceu. O
desejo de tocá-la, de beijá-la, inundou minhas células.
— Will…
A porta que estávamos na frente foi escancarada.
Assustado, minha frequência cardíaca disparou e meu braço
disparou para bloquear quem tinha acabado de aparecer.
Uma garota com montanhas de cachos pretos empilhados
em cima de sua cabeça olhou para nós dois.
Eu travei, tentando controlar minha reação de luta ou fuga.
Willa não estava em perigo. Nem eu estava.
Ela tentou forçar o fechamento suave da porta mais rápido
do que o mecanismo permitiria.
— Não se importe comigo.
— Está tudo bem, Maggie. — Willa varreu o resto de suas
coisas em suas mãos e despejou-as em seus bolsos. Ela se
levantou, sem olhar para mim, e sorriu. Este último foi mais
inseguro do que todos os outros.
A indecisão guerreou em meu peito. Meus dedos coçavam
para tocá-la e os lábios doíam para provar os dela. Eu disparei.
— Tenha um ótimo resto de sua viagem, Willa.
— Você também, Ezra. — Ela encontrou meu olhar antes
dela disparar para a porta do quarto do hotel. — Tenha uma
ótima temporada.
— Obrigado. — Girei e enfiei as mãos nos bolsos, marchando
pelo corredor. A cada passo do caminho, lutei para não me virar
e voltar para ela. Qual o bem que isto faria? Ela morava do
outro lado do estado. Ela estava aqui apenas para uma visita.
Ela provavelmente se esqueceria de mim na hora do embarque
amanhã. Ou lembraria de mim como aquele cara que a pegou
no jogo e que ela pagou com o jantar. Durante toda a
caminhada e a viagem de elevador até o meu quarto, lutei entre
minha completa estupidez e a necessidade de autopreservação.
Que bem me faria voltar lá? Ou para ela? Nenhum.
Usando meu cartão-chave, entrei no quarto. Um travesseiro
voou em direção ao meu rosto.
Apalpei-o com o braço estendido e olhei para além dele.
— Oh merda, desculpe, Ez. — Griff saltou sobre uma das
camas de casal em um pulo. A cama teve sorte de ele não ter
aterrissado com força total. Ele era o maior do nosso grupo –
bem, maior do que todos, menos eu.
— Luta de travesseiros?
Hollis balançou para trás na cadeira da escrivaninha com as
duas pernas fora do chão. Como se ele tivesse feito um acordo
com o diabo de que se todas as quatro pernas de qualquer
cadeira em que ele se sentasse tocassem o chão por mais de
alguns minutos, seu braço de arremesso seria amaldiçoado.
— Qual argumento? Primeiras férias? Primeira casa?
Primeiro carro?
— Griff não vai deixar isso morrer. — Hollis caiu para as
quatro pernas e se levantou. — Se estivéssemos bebendo, eu já
teria engolido uma garrafa de vodka.
— Griff, ele não quer um Aston Martin ou um McLaren.
— Mas eles são lindos. — Griff caiu de volta na cama como
se tivéssemos socado no plexo solar.
— Eles são caros. — Gastar centenas de milhares em um carro
parecia insanidade. Por outro lado, gastar mais de dez dólares
em uma refeição não era um luxo que eu tinha até
recentemente. Sabe-se lá o que acontecia com a cabeça das
pessoas quando elas tinham mais dinheiro do que poderiam
gastar.
— Eles são rápidos. — Griff esfregou as mãos com um olhar
sonhador em seus olhos.
— Eles são perigosos. Depois de todo o trabalho que você fez,
você quer virar um supercarro no meio da sua primeira
temporada? — Hollis amarrou seus tênis.
— Você nem quer um par de Nike Air Force 1 com seu
primeiro cheque?
— Minha resposta não vai mudar. — Hollis pulou e pegou
seu casaco.
— Ezra, me ajude.
— Estou com Hollis. — Seria preciso um monte de zeros na
minha conta antes que eu sentisse que poderia gastá-lo em
merdas estúpidas como carros caros ou tênis de edição limitada.
Um benefício de crescer do jeito que eu cresci, pelo menos eu
não tinha amigos e familiares saindo da toca tentando se agarrar
à minha carreira talvez profissional. Embora, eu pensei quando
uma pontada atingiu o centro do meu peito, eu não me
importaria que pelo menos um deles ressurgisse. A última vez
que vi minha mãe foi há quase doze anos. — Não adianta gastar
dinheiro com coisas que não são importantes.
Griff disparou.
— Você os viu? — Ele pegou o telefone e acenou na frente
dele. — Eles são importantes.
— O ponto continua o mesmo. Hollis, aonde você vai?
— Academia.
— Dê-me um minuto. Eu vou junto. — Coloquei minha
roupa de treino e segui Hollis para fora da sala. Eram
principalmente esteiras, bicicletas de spinning e algumas
máquinas de musculação, mas serviria para um treino de
distração. Quando a merda ficava difícil, a academia estava
sempre à disposição. Levantar peso muitas vezes me ajudou a
manter o foco.
— Você está bem? — Hollis surgiu do chão. — Foi um golpe
que você levou para salvar aquela garota hoje.
— Estou bem.
— Tem certeza? — Ele estendeu um copo de água para mim.
— Você está mais quieto que o normal.
Peguei o copo dele e o bebi.
— Essa não é minha marca registrada?
— É, e é por isso que o Ezra mudo está me enchendo.
Não adianta trazer Willa à tona. Eu amasso meu copo.
— Estar no estádio me fez pensar no próximo ano.
Ele inclinou a cabeça para trás, um pouco da preocupação
evaporando de seu olhar.
—Você não é o único, cara. Mas a equipe é sólida. Entre esta
temporada e a próxima, estaremos prontos quando for a hora
do draft.
— Você não está nervoso.
Hollis riu e jogou o copo no lixo.
— Estou com o cu na mão, mas tudo o que podemos fazer é
sair e jogar até não sobrar nada no tanque.
— É o que eu faço em todos os jogos.
— Eu sei. No campo você é uma máquina de destruição. Que
bom que você está no nosso time. — Ele balançou meu ombro.
Algum dia, em breve, não estaríamos em uma equipe juntos
e essa destruição poderia ser direcionada a ele. Eu bloqueio esses
pensamentos. Havia muito zumbido na minha cabeça.
— Vou correr um pouco. — Através do suor e do esforço, eu
repassava cada segundo na frente da porta de Willa. O cheiro
dela. Seu toque.
Eu deveria ter feito isso. Eu deveria tê-la beijado.
Fechei meu punho e apertei o botão de emergência na esteira,
quase perdendo o equilíbrio e agarrando as barras laterais para
não cair quando parasse.
Hollis tirou os fones de ouvido.
— Você está bem?
— Tudo bem, já acabei. — Peguei uma toalha da pilha
fornecida. Elas eram muito mais suaves do que as do ginásio de
futebol. Arrastando-a sobre meu rosto, pressionei minhas mãos
contra minha boca e gritei, abafando o barulho o máximo que
pude. A gravação ondulava através de mim.
Descobrindo meu rosto, dei um salto enquanto olhava para
o cara congelado no bebedouro com seu copo transbordando.
— Treino frustrante.
Ele engoliu em seco e amaldiçoou olhando para sua bagunça
derramada no chão.
Acenei para Hollis, chamando sua atenção, e apontei para a
porta. O ar frio e cortante do saguão atingiu minha pele coberta
de suor. Atravessei o saguão de volta aos elevadores. Willa pode
estar em seu quarto agora, evitando a loucura aqui embaixo. Eu
poderia ir checá-la.
Eu nunca quis outra chance para me arrepender de alguma
coisa Essa escada era alta o suficiente com o meu passado.
As portas do elevador se abriram quando eu estava no meio
do caminho. Um grupo de garotas apareceu. Um flash de verde.
Uma onda correu através de mim. O perfil de Willa misturado
entre elas. Embora usassem casacos, os saltos e o tecido
brilhante que espreitavam por baixo das golas e bainhas dos
casacos significavam uma coisa. Elas estavam saindo.
A onda vacilou.
Willa riu de algo que sua colega de quarto disse e enganchou
o braço no da outra garota.
Meus pés estavam enraizados no chão e minha garganta
travada. O que eu deveria dizer? Eu não podia nem segui-la. O
suor escorria dos meus cotovelos para o chão polido. A segunda
chance desapareceu em um flash.
Perto da porta, outro grupo se juntou a elas e elas caíram no
ar gelado da noite.
Eu as encarei por tempo suficiente para que meu suor
esfriasse. Essa era a minha chance e eu a estraguei. Com a
aparência dela esta noite, haveria caras que não hesitariam em
chamegar. Talvez alguém melhor de conversa que pudesse
pagar o jantar e um táxi depois. Inferno, até mesmo um
coquetel chique que imediatamente lhe daria uma cárie.
Enfiando meu dedo no botão de chamada do elevador, soltei
as palavras empolgantes na minha cabeça que eu estava
mantendo sob controle.
Ela não era para mim. E para quê? Um beijo? Antes de ela sair
e esquecer tudo sobre mim ou talvez falar sobre aquele enorme
e pobre jogador de futebol com quem ela passou o dia depois
de sua experiência de quase morte. Foi o melhor.
Tomei banho e repeti as palavras na minha cabeça. Isso foi o
melhor. Nunca mais nos veríamos. Na cama, olhei para o teto
e tentei bloquear o ronco de Griff.
Em algum momento, eu desmaiei. Meus sonhos foram
preenchidos com um casaco esmeralda, olhos castanhos
brilhantes e um beijo que sempre terminava antes de nossos
lábios se encontrarem. Como se o corredor entre nós se
estendesse, tornando mais difícil correr em direção a ela. Talvez
isso fosse o mais próximo que eu já cheguei.
A manhã chegou e o sono não fez muito para tirar minha
mente de Willa.
Joguei minhas pernas para o lado da cama e esfreguei minhas
mãos pelo meu cabelo. Eu enganchei no local atrás da minha
orelha e estremeci, mas então sorri. Isso me lembrou de sentar
na cadeira sendo remendado com Willa pairando e suas mãos
em mim. Eu aceitaria a dor para manter essa memória fresca.
Talvez os sonhos fossem mais seguros, onde eu não podia
estragar as coisas e ela ficaria perfeita para sempre. Pelo menos,
em meus sonhos eu nunca teria que engolir a pílula amarga de
decepção e dor.
Isso era melhor. Tchau, Willa.
Meu telefone tocou ao lado do meu boné na mesa de
cabeceira. Peguei o boné e o puxei.
Griff continuou a roncar em sua cama, e o quarto contíguo
onde Cole e Hollis dormiam estava quieto. Além de Reid, que
tinha coisas muito melhores para fazer esta manhã, era
praticamente todo mundo que eu conhecia.
Eu verifiquei a tela e meu coração saltou na minha garganta.
Willa: Café da manhã no meu quarto, se você tiver
tempo
Willa: Se não, tudo bem
Willa: Espero não ter te acordado
Willa: Vou parar de mandar mensagens agora
Peguei meu jeans da minha bolsa e puxei uma blusa térmica.
Agarrando meus tênis, abri a porta e pulei pelo corredor,
colocando os dois sapatos no momento em que entrei no
elevador. Minha batida, mesmo no nível mais baixo, sacudiu a
porta do seu quarto de hotel e meu coração bateu na minha
garganta, que estava loucamente seca.
Talvez eu não tivesse perdido minha chance, afinal. Talvez
fosse tudo para o melhor. Eu estava pronto para correr pelo
trânsito mais tarde apenas para ter café da manhã com essa
garota.
CAPÍTULO 5
WILLA

Ele bateu na porta tão alto, eu me sacudi e derramei café quente


por todo o papelão que carregava a xícara. Isso foi rápido.
Apertei o saco de confeitaria com os dentes e tirei os braços do
casaco. Ele caiu no chão e eu o chutei para fora do caminho.
Coloquei o porta-copos sobrecarregado na mesa.
Esperar até eu desempacotar tudo e preparar nosso café da
manhã teria sido uma boa ideia antes de eu mandar uma
mensagem para ele, mas ele se moveu muito mais rápido no
início da manhã do que meu irmão.
— Estou indo. — Sacos amassados na minha bolsa de
mensageiro. Eu os puxei para fora e os coloquei sobre a mesa.
Correndo para a porta, respirei fundo quando toquei a
maçaneta, tentando parecer indiferente e falhando
miseravelmente. Abri a porta suada, sem fôlego e exausta. Mas
pelo jeito que Ezra estava respirando, eu não era a única.
Sim, ele definitivamente ainda estava quente. A blusa térmica
parecia que estava se agarrando à vida. Cada quadrado de tecido
esticado até a capacidade máxima sobre os músculos, caras de
sua idade não se desenvolveram em momentos casuais na
academia. Deu trabalho, muito, e ficou muito bom nele.
O boné sombreava seus olhos, mas eu ainda podia vê-los. Eles
tornavam difícil lembrar como falar.
Limpando minha garganta, eu abri um sorriso maior e formei
palavras.
— Ei, estranho. Entre. — Dei um passo para trás, abrindo a
porta e o deixando entrar. Minha garganta estava seca depois de
correr pela manhã para um café próximo para que eu pudesse
tomar café da manhã antes que ele saísse.
Ontem à noite na frente da porta, eu queria que ele me
beijasse. Eu deveria ter ido para isso. Maggie e eu saímos ontem
à noite e eu não conseguia parar de pensar nele. Durante toda a
dança e alguns drinques que Maggie me trouxe, repassei nosso
tempo juntos. Os caras se aproximaram de mim, mas nenhum
era Ezra.
Ezra passou por mim e olhou para dentro do quarto.
— Não se preocupe. Maggie não está aqui. Quando eu disse
a ela que só convidaria você se ela fosse embora, ela
praticamente saltou pela janela. Ela saiu para tomar café da
manhã antes de pegar o ônibus de volta ao campus.
— Por que você disse a ela que só me convidaria se ela fosse
embora? — Havia um fragmento de desconfiança em sua voz.
Minhas mãos pareciam muito grandes ao meu lado. Eu as
movi para a mesa, em busca das sacolas que eu tinha colocado.
— Achei que seria estranho se ela estivesse me vendo tentar e
falhar em flertar.
A tensão em torno dele evaporou.
— É isso que você está fazendo? — Ele se inclinou contra o
console em que a TV estava.
Limpei o suco de laranja derramado.
— Se você tem que perguntar, então eu diria que estou
falhando.
— Então nós dois estamos falhando juntos.
Meu coração saltou e eu pesquei alguns pequenos pratos de
papel de uma das sacolas junto com queijos cremosos em
miniatura e garfos e facas de plástico. Eu abaixei minha cabeça,
tentando controlar meu sorriso de engolir o rosto. Não há
necessidade de ele ter uma visão completa do meu molar.
— Acho que estamos.
Ele assentiu e olhou ao redor do quarto novamente.
Minha mala de mão dura estava aberta. Nada constrangedor
ou incriminador ali. Apague isso, essas eram definitivamente
minhas roupas íntimas de cintura alta, enfiadas no bolso de
malha na tampa. Corri e fechei.
— Flertar e café da manhã estão no menu esta manhã?
— Eles estão, como um agradecimento.
Ele apoiou as mãos contra a borda do console em suas costas,
me observando.
— O jantar não foi o agradecimento?
Meu estômago revirou.
— Foi um agradecimento. Este é mais um agradecimento. —
De volta à mesa, arrumei e reorganizei as xícaras. — Há um
cappuccino, um latte e um café preto. Eu tenho creme e açúcar
para isso ou você pode tomar suco. Eu não tinha certeza de que
tipo você gostava, então peguei laranja, cranberry e maçã.
Ele parou de se inclinar e se aproximou, olhando para mim
com uma confusão cheia de admiração.
— O café está bom. Quatro açúcares, se você tiver o
suficiente.
— Quatro açúcares chegando. — Eu abri a tampa e sacudi os
pacotes, tentando manter meus pés firmemente plantados no
chão. Os nervos estavam causando estragos em mim esta
manhã. Meus dedos estavam trêmulos e eu estava derramando
açúcar por toda parte. — Há também alguns muffins de
mirtilo, uma fatia de bolo de café e alguns bagels. Há um
sanduíche de café da manhã. Salsicha, ovo e queijo. Também
tem cream cheese e salmão defumado, se você gostar de alguma
coisa.
— Você pediu muito. — Houve uma meia risada enterrada
em suas palavras.
— Eu não sabia do que você gostava. — Estendi seu café. —
O que você normalmente come no café da manhã?
— Quatro ou cinco ovos cozidos. Shake proteico. Restos de
frango, se houver. Algumas torradas. Muita água.
— Veja, isso pode ajudá-lo a voltar para o campus.
— O café da manhã é bem farto.
Minha mão congelou no meio do café.
— Seu quarto inclui café da manhã. — Eu empurrei minha
mão para trás. — Por que você não me disse isso? — Procurei
na mesa pela tampa do café. — Você pode tomar o café. Você
deveria descer lá. Isso não é suficiente para você. — Olhando
para o café da manhã do meu quarto de hotel. Era muito
carboidrato. Nem perto de proteína suficiente para ele. Eu me
chutei por não planejar melhor ou perceber que talvez ele
tivesse outros planos para o café da manhã. — Fiquei um pouco
animada demais para vê-lo esta manhã. Desculpe por mais uma
vez fazer uma suposição de que você não tem coisas melhores
para fazer do que ficar comigo. — A tampa finalmente se
fechou. Apertei meus lábios e cavei fundo para mascarar o quão
estúpida eu estava me sentindo.
— Ei. — Ele passou o dedo sob meu queixo, levantando-o.
— Ninguém nunca fez um café da manhã assim antes para
mim. E eu gosto de ficar com você.
— Você não precisa tentar me fazer sentir melhor. —
Entreguei-lhe o café. — E você não tem que ficar aqui só
porque eu tenho todas essas coisas. Você vai ficar com fome
mais tarde, não...
— Estou falando sério, Willa. Ninguém nunca desviou do
seu caminho assim por mim — ele disse como se estivesse
surpreso também.
Inclinei a cabeça e coloquei minha melhor expressão cética.
— Ninguém? Nunca? Você já se hospedou em muitos hotéis
para jogar futebol.
— O buffet de café da manhã do hotel não conta. Estou
falando sério, Willa. — Ele inclinou o boné para trás. —
Ninguém nunca preparou um café da manhã tão bom para
mim antes.
A sinceridade em seus olhos era cegante, o que era igualmente
emocionante e triste o suficiente para me fazer querer chorar.
Meu café da manhã improvisado foi o melhor que alguém já
preparou para ele?
— Então estou feliz por poder fazer isso por você.
— Excelente. — Ele relaxou, seus olhos suavizando ainda
mais.
Ele estava tentando me derreter em uma poça?
— Vamos comer. Estou morrendo de fome. — Ele
empurrou a poltrona próxima para mais perto do café da
manhã e insistiu que eu me sentasse na cadeira da escrivaninha.
Nossos joelhos se tocaram sob a mesa.
Suas mãos pairaram sobre a comida antes de colocá-las de
volta em seu colo.
— Qual é o seu favorito?
— Você tem a primeira escolha. Eu fiz tudo isso para você.
— Algumas dessas coisas têm que ser coisas que você gosta.
— Sério…
— Eu não vou escolher até depois que você escolher.
Quão cuidadosamente frustrante, e a maneira perfeita de
forçar minha mão. Deslizei o saco rasgado com o bolo de café e
o copo de suco de cranberry em minha direção.
Ele pegou um garfo e, em vez de me entregar, afundou-o na
borda do meu bolo e pegou um pedaço.
— Ei! Isso é meu.
— Eu pensei que você tinha feito tudo isso para mim.
— Agora eu reivindiquei minha parte, então recue. —
Pulando da minha cadeira, eu avancei em direção ao garfo que
balançava uma cobertura perfeita de açúcar e canela e um
pedaço de bolo macio e amanteigado.
Ele o manteve afastado, sorrindo. Cada um desses sorrisos
parecia um presente. Ele não era um sorridente. Eu podia ver
isso a uma milha de distância. Essa é outra razão pela qual eu
queria comer no meu quarto. Parecia que era mais fácil para ele
fazer isso quando éramos apenas nós dois.
— Se é o seu favorito, quero ver por quê.
Mantendo o jogo, eu agarrei seu pulso, tentando guiar o
garfo em direção à minha boca. Neste ponto, minhas pernas
estavam pressionadas contra o lado de sua coxa. Não havia
competição quando se tratava de força, mas ele, pelo menos, fez
parecer que eu tinha uma chance de vencer.
Ele se moveu para trás e minhas pernas estavam agora entre
as dele. A mesa estava às minhas costas.
Nossas posições mudaram a natureza do nosso jogo. O calor
subiu em meu corpo e minhas respirações ficaram mais curtas.
Uma mão descansava no meu quadril. A outra segurava o
garfo entre nós.
— Eu gostaria de experimentar. — Ele inclinou o boné para
trás.
— Claro vá em frente. — Minha voz não soava como a
minha. Rouca e baixa.
Em vez de dar uma mordida como eu esperava, ele estendeu
para mim.
Franzi o rosto e dei uma mordida hesitante, principalmente
naquele delicioso crumble de açúcar e canela. Terminado de
mastigar, empurrei o garfo em direção a ele.
Em vez de comer, ele largou o garfo.
Meu grito de indignação foi cortado por ambas as mãos em
meus quadris, me puxando para seu colo. Joelhos presos nas
laterais de suas coxas, montada nele, o bolo há muito
esquecido.
Os lábios de Ezra eram firmes, quentes, exploradores.
Cada batida do meu coração pulsava em meus ouvidos.
Eu o inalei, separando meus lábios. Sua língua dançou com a
minha. Forte, suave, hipnoticamente rítmica.
Ele quebrou o beijo primeiro e eu me inclinei para frente,
tentando seguir aqueles lábios até que meus olhos se abriram e
percebi o que estava fazendo.
— Esse bolo é muito bom. Eu posso ver por que você foi tão
territorial sobre ele.
Nossos corpos pressionados um contra o outro. Jeans contra
jeans, eu montei nele e senti o inchaço sob minha bunda.
Acrobacias estouraram no meu estômago, o calor viajando
mais baixo.
Inclinei-me mais perto para outro gosto dele e a porta se
abriu.
— Ei, Willa. — Maggie entrou e congelou. — Eu esqueci…
Lutando, pulei do colo de Ezra e tentei não sentir como se
meu rosto estivesse pegando fogo.
— O que você esqueceu?
Ela olhou para nós dois com os olhos arregalados e com um
sorriso malicioso.
— Minha caneta e meu bloco de notas. — Sem um pingo de
vergonha, ela vagou até a mesa de cabeceira e pegou a caneta e
o bloco de notas lá.
— Você esqueceu a caneta e o bloco de notas grátis do hotel.
Foi por isso que você invadiu?
— Não gostaria de deixá-los para trás. — Ela os colocou em
sua bolsa. — Já que estou aqui, você não quer me apresentar ao
seu salvador? — Maggie girou para frente e para trás com os
dedos tamborilando na bolsa.
— Maggie, este é Ezra. Ezra, esta é Maggie.
Ezra se levantou, embora um pouco curvado na cintura, e
apertou a mão de Maggie.
— Prazer em conhecê-la, Maggie.
— Já nos conhecemos antes. — Seu sorriso se alargou.
Um dardo de ciúme tingido de curiosidade correu através de
mim.
— Já? — As costas dele se endireitaram.
— Sim. — Ela cruzou os braços. — Embora seja a primeira
vez que observo tão de perto seus olhos. Eles são lindos, por que
escondê-los?
Ele puxou o boné ainda mais para baixo em sua cabeça.
— Não se preocupe. Foi em uma festa no Zoológico. Nada
de impróprio aconteceu. Você trouxe algumas bebidas para
mim e minhas colegas de quarto. Perfeitamente inocente e
cavalheiresco.
Exalei. O ar que estava queimando em meus pulmões
finalmente escapando.
— Vou deixar vocês dois, agora que tenho o que esqueci. —
Ela bateu em sua bolsa novamente.
Eu murmurei pelo menos cinco maldições para ela enquanto
ela ria e saltava para fora da porta, que se fechou atrás dela,
deixando nós dois sozinhos novamente.
— Desculpe. — Peguei os pacotes de açúcar vazios e os joguei
na lata de lixo.
— Não precisa. Eu tenho amigos. Eu entendo como eles
podem ser.
Eu ri, deixando um pouco do constrangimento rolar de mim.
Olhando para ele, meu coração disparou.
Ele me observou. Ele jogou o boné para trás. Ele queria que
eu o visse. Ele queria que eu o visse me querendo.
— Seu ônibus sairá em breve, certo?
Ele me puxou em direção a ele pelas presilhas do meu jeans.
Meu coração acelerou.
— Em breve, mas ainda não. Vamos comer um pouco disso,
então eu adoraria experimentar um pouco mais desse bolo.
CAPÍTULO 6
EZRA

Nada parecia melhor do que Willa no meu colo. E nada tinha


um sabor melhor do que o doce açúcar de canela em seus lábios.
Nada doeu mais do que não saber quando ou se eu a veria
novamente.
Sair do quarto para ir para o ônibus tinha sido pior do que a
vez que eu estava segurando a bola para um chutador no ensino
médio e ele errou, me acertando bem no pau no dia em que
esqueci meu protetor íntimo. Em menos de vinte e quatro
horas, ela fez coisas comigo que eu não sabia que eram possíveis
e isso me assustou como o inferno.
A porta fechando ruidosamente atrás de mim tinha sido
como sair de um feitiço. Um que ela teceu sobre mim com cada
toque, cada olhar, cada risada. Com ela, todo o resto derreteu.
Ela empacotou toda a comida para eu levar. O cheiro do café
da manhã me lembrou dela. Baunilha, canela, açúcar. Todas as
coisas doces que eu me tornei viciado depois de um punhado
de horas.
Nós nem estávamos na estrada de volta ao campus quando
enviei a ela a primeira mensagem.
Eu: Obrigado novamente.
Willa: Eu não poderia deixar meu herói partir em sua
longa jornada sem provisões
Seu herói. Nunca foi chamado assim. Talvez não fosse o jeito
que ela cheirava, parecia ou provava que eu estava viciado.
Talvez fosse a maneira como ela me via. Ninguém me via como
seu herói, nem mesmo brincando.
Eu era Ezra Johanssen, quase letal em campo, evitado a todo
custo dentro e fora do jogo. Havia um punhado de pessoas com
quem eu falava na maioria dos dias. Meus companheiros de
quarto, mas também meus companheiros de equipe.
Trabalhamos juntos para o bem da equipe. Nós nos
conhecíamos através da equipe, mas poderíamos facilmente
estar em lados opostos que eu estaria tentando arrancar suas
cabeças.
Se todos chegarmos aos profissionais, e isso é um grande se, o
que acontece quando estivermos no time adversário? Quando
estou em campo, Ezra se vai. Ele recua, e Johanssen assume. É
como sempre foi e como sempre será.
Eu: Que horas você vai para o aeroporto?
Willa: O ônibus chega aqui em uma hora. Meu voo é
ao meio-dia.
Eu: Maggie já saiu?
Willa: Alguns minutos depois que você saiu.
Eu odiava a ideia dela lá sozinha. E se algo acontecesse e ela
perdesse o ônibus? Ou o voo?
Willa: Não se preocupe comigo, Ezra.
Eu: Eu sei que você se cuida.
Willa: Exatamente.
Ela enviou um emoji de flexão de braço.
— Onde você foi esta manhã? — Griff se sentou ao meu lado,
girando sua moeda favorita nas costas de seus dedos daquele
jeito irritantemente hipnótico dele.
— Café da manhã.
— Não te vi lá? — Ele bocejou e descansou a cabeça contra o
encosto do banco.
— Deve ter sentido minha falta.
— Nada a ver com aquela garota de ontem?
Puxei a aba do meu boné e cruzei os braços, tentando não
pensar em Willa e me entregar. Seu gosto de açúcar de canela
permaneceu em meus lábios.
— Você desapareceu e não o vemos até tarde, então você se
vai de manhã cedo.
— Não sabia que eu precisava pedir sua permissão.
— Alguém está mais espinhoso do que o normal esta manhã.
— Ele tocou meu braço e o puxou para trás como se tivesse
espalmado um cacto.
— Talvez porque seu ronco barulhento torna quase
impossível dormir bem.
— Pobre Ezra sonolento. — Ele torceu os punhos contra as
bochechas e esticou o lábio inferior.
— Por que você não vai incomodar outra pessoa?
— Eu não sabia que sentar ao lado do meu melhor amigo o
estava incomodando.
— Pensei que Reid fosse seu melhor amigo.
— Você estava ouvindo! — Ontem, no jogo, eles estavam
conversando durante os intervalos do jogo como se não
tivessem nada melhor para fazer. Não que houvesse muito mais
o que fazer durante um jogo, mas eu não ia entrar na briga de
decidir quem era o melhor amigo de quem só para descobrir
que eu não era de ninguém.
— Estamos fazendo pulseiras de amizade agora? Eu não me
importo.
Os caras eram a coisa mais próxima que eu tinha de família,
mas isso não significava muito no meu mundo. Eu confiava
neles dentro e fora de campo o máximo que podia, mas
também sabia como as coisas aconteciam quando a merda se
tornava real, e nunca era bonito.
— Hollis, ele se importa. — Griff se inclinou para trás sobre
a borda de seu assento para gritar para Cole e Hollis em seus
assentos na parte de trás do ônibus da festa. O chão estava um
pouco pegajoso e todo o lugar cheirava a cerveja e suor coberto
com desinfetante. Uma bola de discoteca escurecida pendia do
teto para as viagens de ônibus mais agitadas, o que não foi o
caso desta manhã.
— Sobre o quê? — Cole e Hollis perguntaram em uníssono.
— Melhores amigos.
— Por que você está fixado nisso?
— Eu não estou. Apenas tentando por os pingos nos is.
— Tire uma soneca, Griff. — Cole falou.
— Como posso tirar uma soneca quando há assuntos mais
urgentes?
— Repasse as jogadas na sua cabeça. Ou simplesmente olhe
para o nada e pare de falar.
— Essa não é a sua coisa favorita de fazer?
— Pronto para jogar contra Fulton U?
— Eu preciso colocá-lo em um porão para dormir um
pouco?
— Como se seus braços pudessem caber em volta do meu
pescoço. — Griff endireitou os ombros e estufou o peito.
Olhei ao redor por trás de mim para um lugar livre não
infectado pelo meu colega de quarto que não calava a boca.
— Um de vocês pode fazer algo sobre ele?
Cole tirou os fones de ouvido e eu repeti. Ele riu.
— Claro que não, ele é problema seu agora.
Hollis nem se incomodou em tirar os fones de ouvido e
acenou antes de fechar os olhos.
Griff olhou para mim com olhos expectantes.
— Você é como um cachorro que alguém esqueceu de levar
pra passear. — Cruzei os braços e afundei de volta na cadeira.
— Você tem cinco minutos de conversa, então nós
terminamos.
— Cinco minutos inteiros, o que vou fazer com este presente
precioso? — Ele girou as mãos em torno de um presente
imaginário na palma da mão.
— O tempo está passando.
— Escolha quem vai dar problemas no nosso jogo contra
Fulton U?
— No ataque? Vaughn e Goodwin.
— Por quê? — Ele cruzou um braço sobre o peito, descansou
o cotovelo contra ele e apoiou o queixo no punho.
— Vaughn geralmente é meu cara, sólido, cava, e ele é rápido.
Mas ele fica desleixado à esquerda às vezes. Eu uso essa abertura
quando posso. — E não brinque com a sua fraqueza. No
campo, todas as apostas são canceladas e as regras são apenas
para quando os árbitros estiverem olhando.
— E o Goodwin? Ainda chateado com a última temporada?
Um tambor soou na minha cabeça, como uma pulsação de
uma lesão recorrente e um lembrete de uma lesão passada.
— Você quer dizer como ele quebrou dois dos meus dentes
na temporada passada? Ou a fratura exposta que ele deu a
O'Cyrus?
— Sim.
— Que diabos você acha? Além de ser um pedaço de merda
que vou jogar na grama no próximo jogo até que ele não
consiga andar, não há muito mais a dizer. — Fulton U e STFU
estavam ambos competindo pelo campeonato nacional. Tantas
vezes a decisão foi para eles ou para nós em confrontos diretos
nos playoffs, mas nenhum de nós conquistou o cobiçado
troféu. Alguns de seus jogadores acertaram seus golpes quando
o árbitro virava as costas e eu estava determinado a treinar com
duzentos por cento da intensidade.
— Não há?
Minha frequência cardíaca acelerou e minha mente estava
sendo arrastada para aquele espaço mental em que entrei
quando estava no time. Dei de ombros, tentando não deixar
meu ódio pelo outro time penetrar profundamente. Era um
jogo. O mais importante que qualquer um de nós poderia jogar
e com impactos em nossas vidas que nunca poderíamos
imaginar. Quem diabos eu estava enganando? Não era apenas
um jogo e eu nunca tinha jogado como se fosse. Eu joguei como
se fosse vida ou morte e, para mim, era para sobrevivência.
— Ele é um aspirante a recebedor que nunca será rápido o
suficiente e está perdendo pontos de draft toda vez que não
consegue chegar à bola a tempo. Isso é suficiente?
— Pode ser. A respeito…
Eu puxei meu boné para baixo sobre meu rosto. Eu não
queria pensar em futebol agora. Era em Willa onde minha
cabeça estava. Só de pensar nela diminuiu meu pulso de níveis
de arrancar o telhado para a calma de andar ao lado dela no frio
congelante.
O suor foi embora e eu enrolei meus lábios em minha boca,
tentando encontrar o último pedaço de sua doçura que ainda
poderia estar permanecendo na minha pele. Sem sorte. Um
estrondo de decepção se formou em meu peito.
Minutos depois, meu telefone debaixo da minha perna
tocou, mas Griff ainda estava ao meu lado. Se eu pegasse, ele
iria querer saber quem era e continuar tentando olhar para
minha tela. Mas tinha que ser de Willa.
Meus dedos coçaram para verificar. Debaixo do meu boné,
fechei os olhos e tentei me distrair. Tracei a borda do meu
telefone com o dedo. Tentação me montando com força.
Com o silvo das portas duplas do ônibus, acordei. Ao meu
lado, Griff roncava. Droga, eu poderia ter verificado antes se
não tivesse caído no sono também.
Eu puxei minha mochila de debaixo do meu assento e passei
por cima do Griff ainda adormecido.
Descendo os degraus do ônibus, olhei por cima do ombro e
verifiquei minhas mensagens.
Willa: No aeroporto agora. Eu disse que eu
conseguiria.
Ela acrescentou um emoji piscando com a língua de fora.
Eu: Que bom que você conseguiu. Espero que tenha um
bom voo.
Verifiquei duas vezes a hora.
Ela já estaria no ar agora. Porra, eu senti falta dela, mas pelo
menos a mensagem estaria lá para ela quando ela pousasse.
Com minha bolsa no ombro, destranquei a porta e fui o
primeiro a entrar em casa.
No meu quarto, despejei minhas coisas e as organizei,
enfiando minhas roupas sujas no saco de lavanderia pendurado
na porta do armário. Abri minhas gavetas e alinhei minhas
meias de volta e coloquei as duas camisas que eu não tinha
usado de volta no lugar das pilhas arrumadas.
Tirei meus tênis e peguei meu laptop com tela armengada
com fita. Meu telefone começaria a fumegar se eu tentasse
procurá-la lá. As informações do voo foram fáceis de descobrir
a partir dos detalhes que eu já tinha.
Seu voo deve pousar em alguns minutos.
Andando, eu me impedi de olhar para o meu telefone
novamente.
Peguei minha bolsa de roupa suja e fui para as escadas.
Qualquer coisa para me impedir de ficar obcecada com o pouso
de Willa.
Lá embaixo, os caras estavam vasculhando a geladeira. Hollis
estava com a cabeça nos armários como se a comida tivesse se
materializado desde ontem. Griff tinha sua tigela padrão de
cereais.
Cole já estava trocado e estava sentado nos degraus de baixo
amarrando o tênis.
— Indo para a academia?
— Perdi meu treino. Quer vir?
Normalmente, isso era um sim, com certeza. A tentativa de
treino na academia do hotel não teve nenhum treinamento de
força perto dos meus treinos obrigatórios, mas Willa estaria
pousando em breve. Eu não queria perder outra mensagem, e
talvez ela quisesse conversar. Fazia muito tempo que eu não
queria falar muito, mas era mais fácil com Willa. As palavras
fluíram e eu não me sentia tão sufocado.
Eu levantei minha bolsa de roupas sujas.
— Preciso lavar roupa.
— Divirta-se com isso. — Ele saiu, fechando a porta atrás
dele.
— Você realmente vai nos deixar esperando, Ezra? — Griff
olhou para mim, acenando com uma colher em minha direção.
— Você está sendo reservado. — Por mais irritante que
estivesse sendo agora, ele colocava quem mais contribui com
mantimentos, então não era como se eu pudesse ficar chateado
com ele por jogar fora uma caixa de cereal, como ele fazia todos
os dias.
— Sou um livro aberto. — Abri a porta do porão e desci
correndo as escadas, tomando cuidado com o batente perto do
pé da escada já amassado por muitos tapas na testa.
O espaço não era tão sujo e nojento quanto alguns porões de
apartamentos. Relativamente limpo, sem sensação ou cheiro de
mofo, mas estava cheio de caixas e prateleiras antigas de varejo
que nosso senhorio armazenava aqui.
Passei por uma das prateleiras amarelas em ruínas para chegar
à lavadora e secadora.
Abrindo a tampa, fui atingido pelo cheiro de roupas
mofadas. Reid. Caramba. Com murmúrios frustrados, puxei a
caixa de detergente em pó e joguei um pouco em suas roupas e
reiniciei o ciclo. Suas roupas não seriam lavadas por mais trinta
minutos e nossa secadora levaria décadas para secar qualquer
coisa, o que significava nada de lavar roupa para mim até mais
tarde.
Coloquei minha bolsa de roupas em cima da lavadora e voltei
para cima.
— Onde está Reid? Ele deixou suas coisas na máquina de
lavar novamente.
— Ele estava dirigindo de volta com Leona. Provavelmente
achou melhor ela não ser vista conosco depois do que
aconteceu com Mitchell.
Um de nossos companheiros de equipe irritou nosso
treinador ao ser fotografado na mesma vizinhança que a filha
do reitor da universidade. O reitor e nosso treinador se
odiavam. Tanto quanto eu poderia dizer, o reitor era um cara
legal. Leona, sua filha, também era legal. Mas caras como o
treinador não eram aqueles que você queria irritar, então não
importa o quão legal Leona fosse, Reid estava brincando com
fogo perto dela.
Foi um risco louco depois de trabalhar tanto para chegar ao
ponto em que os profissionais estavam ao alcance de um dedo.
Ele era aquele deslize que forçava um erro, como um fumble,
na linha de uma jarda.
— Eu tenho que ir a um lugar, deixe-me saber se vocês
descobrirem alguma coisa. — Griff diz, pegando seu casaco da
mesa da cozinha e saindo pela porta antes que Hollis e eu
pudéssemos dizer mais alguma coisa.
— Por que ele acha que descobriríamos? — Hollis se
inclinou para frente em sua cadeira, deixando cair as quatro
pernas.
— Se você quebrar outra cadeira, você precisa pegar por uma
nova e não pegar da lixeira. — Peguei um pouco de água.
— Quem tem dinheiro para cadeiras de verdade?
— O cara que nunca consegue se sentar em um como um ser
humano normal.
—Que bicho te mordeu? Por que diabos todo mundo está
sendo tão estranho? — Hollis pegou um saco de batatas fritas e
despejou algumas em sua mão.
— Ninguém está sendo estranho. — Eu precisava limpar
minha cabeça. — Estou indo para a academia.
— Por que você não pegou uma carona com Cole?
— Não queria. — Voltei para cima e me troquei. Agarrando
meu telefone, tentei não olhar para a tela, mas falhei, e nem
cheguei às escadas antes de verificar novamente.
Nenhuma mensagem nova. A decepção bateu mais forte do
que deveria. Eu lidei com uma decepção muito maior, mas, fora
do futebol, essa era a primeira coisa pela qual eu esperava em
muito tempo.
Fui para o meu carro PDM2 e pulei, batendo a porta com
força extra para que a trava travasse. O chassi balançou e eu
dirigi até as instalações de futebol. Era um agrupamento de
prédios, com não mais de cinco anos. Eles terminaram alguns
anos antes de chegarmos ao campus.
Havia salas de musculação e condicionamento, salas de
musculação, especialistas em fisioterapia, até mesmo nosso
próprio refeitório, embora fechasse mais cedo do que os do
campus na maioria dos dias.
Foi um salto da minha escola e é definitivamente melhor do
que a nossa casa. Eu tinha pensado em dormir aqui para não ter
que pagar aluguel, mas aparentemente havia regras sobre coisas
assim.
Os corredores da academia estavam cheios de camisetas
iluminadas e citações motivacionais de graduados da STFU que
se tornaram profissionais. Capacetes e troféus estavam em
capas junto com TVs reproduzindo destaques da década
passada.
No vestiário acarpetado e de alta tecnologia, coloquei meu
equipamento de treino. O cubículo com meu nome acima era
mais como uma cabine. Com vagas personalizadas para cada
jogador, era aqui que a equipe de equipamentos deixava nosso
equipamento antes de cada treino e jogo.

2
Pedaço de merda.
Sentei-me para amarrar meus sapatos e meu telefone acendeu
na minha bolsa.
Willa: Desculpe, meu irmão me pegou no aeroporto e
estava sendo um saco. Ele não iria embora até ter certeza
de que eu jantaria, mesmo que eu dissesse a ele que não
estava com fome
Eu: Já gosto dele.
Pelo menos havia alguém cuidando de Willa tanto quanto ela
gostava de cuidar dos outros. Era bom que ela tivesse seu irmão
por perto.
Eu: Ele mora perto da sua faculdade?
Willa: Ele estuda aqui comigo.
Eu: Deve ser bom tê-lo tão perto.
Willa: Você me diz se você gostaria de estar perto desse
pateta o tempo todo.
Uma imagem apareceu na minha tela e o telefone caiu da
minha mão, batendo no tapete excessivamente acolchoado.
Seu conhecimento íntimo do futebol. Sua avaliação
imperturbável dos ferimentos. Ela estar em sintonia com a
nutrição e a fome do jogador.
Olhando para mim da minha tela quebrada estava o sorriso
brilhante de Willa. Ela estava ao lado de uma enorme árvore de
Natal coberta de enfeites vermelhos, dourados e brancos, além
de luzes e guirlandas. O amarelo brilhante das lâmpadas a
iluminou ainda mais do que antes e ela estava com um gorro de
Papai Noel, bebendo uma caneca de chocolate quente com
chantilly e bastões de doces rachados espalhados por cima. Era
o tipo de foto perfeita presa em molduras nas prateleiras de
lojas. Do tipo em que você se imaginava tirando um dia, mas
era a vida real dela.
Arrancando meus olhos dela, eles pousaram em outro rosto
igualmente feliz, só que eu reconheci, embora nunca com essa
expressão. Nunca feliz. Sempre com uma carranca e um desejo
de morte para mim de sua boca. A bile correu para o fundo da
minha garganta, cobrindo-a com ácido.
O irmão mais velho bobo de Willa era a Muralha Goodwin,
o que significava que eu era um homem morto.
CAPÍTULO 7
WILLA

— Walsh, não é do outro lado do país. — Subi a escada para


pegar os enfeites perto do topo da árvore. Era Pittsburgh, um
pouco mais perto de Ezra. Um ornamento balançou, quase
caindo de seu galho. Eu o agarrei e o apertei contra o meu peito.
Meu coração disparou contra minhas costelas. A argila áspera
arranhou minhas palmas. Olhei para o ornamento tosco com a
marca da mão com Willow gravado nele. — Você poderia parar
de apagar as luzes antes que eu termine com os enfeites? Você
quase fez isto cair. — Eu empurrei o enfeite para ele.
Ele me empurrou e arrancou do meu alcance, segurando-o
como uma herança inestimável.
— Você sabe que deveria tirar isso primeiro. Deus, Willa. O
que você estava pensando?
A culpa apertou meu estômago.
— Esqueci. — Um dos dez preciosos ornamentos artesanais
de uma irmã que eu nunca conheci.
— Você tem sorte que mamãe e papai não viram.
Ah, eu sabia. Não consegui tocá-los até os dez anos e não
consegui pendurá-los até os quinze.
— Eles estão sãos e salvos agora. — Desci e embrulhei a
decoração em papel de seda e coloquei de volta na caixa de
enfeites de Natal dividida, segura junto com os outros
quebráveis.
— Você sabe que mamãe e papai vão enlouquecer se você for.
Isso eu também sabia. Foi por isso que minha inscrição não
foi enviada no portal de admissões, embora eu tenha
preenchido todos os requisitos.
— Não é tão longe. Um voo de noventa minutos ou algumas
horas de carro, qual é a diferença?
— Quatrocentos quilômetros é a diferença. É do outro lado
do estado, pode muito bem ser do outro lado do país — ele
disse com dura indignação como se eu tivesse dito a ele que
estava me mudando para uma nova base lunar ou estava
fazendo uma viagem só de ida para Marte.
— E você nunca vai sair? Você vai jogar futebol na Fulton U,
se formar e, se for convocado, recusará se for um time fora da
área dos três estados? Você desistiria de tudo só porque pode
acabar a algumas centenas ou milhares de quilômetros de
distância?
— Isso é diferente. — Ele recuou.
— Não é. — Claro que é. Walsh sempre teve mais liberdade.
Ele era mais velho. Ele era um menino. Ele não era eu.
Ele apagou a última das luzes puxando-a pelos galhos e não
andando como um ser humano normal e responsável.
— Que diabos? Você vai quebrar isso. — Eram enfeites de
vidro mais bonitos, mas não os sentimentais e preciosos agora
guardados em segurança.
— Eu não posso evitar se você é lenta. — Walsh enrolou um
fio de luzes de Natal em volta do braço. — Além disso, enfeites
são o seu trabalho, então se algum quebrar, mamãe vai culpar
você.
— Você está tentando me colocar em apuros? Eles não
podem me colocar de castigo, estou na faculdade. — Eu não
deixaria Walsh para tentar, ou sequer meus pais para tentarem
seguir adiante com isso.
— Não, por que você diria isso? — O ato inocente foi uma
completa besteira. — Vamos apenas terminar isso para que
possamos ajudá-los a preparar a festa. — Walsh, sempre o filho
atencioso. O filho obediente. Conhecendo-o, ele poderia
passar uma posição profissional se estivesse muito longe de
nossos pais.
Mas depois de quase duas semanas em casa, sufocando sob o
peso da supervisão e pressão dos pais, eu precisava que a válvula
de liberação fosse puxada como uma corda em um paraquedas.
Minhas mensagens de texto com Ezra tinham sido irregulares
desde que voltei, o que provavelmente era um sinal de que foi
uma noite e uma manhã divertidas com ele e nada mais, ou que
ele estava preocupado com os playoffs, mas de qualquer forma
eu queria vê-lo novamente.
Eu precisava vê-lo novamente para confirmar qual opção era.
Visitar Maggie era a chance perfeita de estar no campus quando
ele estava, já que ele disse que ficaria em sua casa até o que
poderia ser o último jogo da temporada. Walsh estava indo e
voltando para o campus durante o intervalo para treinos e
treinos.
STFU teria um jogo em poucos dias. O jogo em que eles
jogariam contra Fulton U.
Walsh puxou as luzes brancas brilhantes que ele nem se deu
ao trabalho de desconectar, derrubando um enfeite de globo de
neve branco e vermelho. Eu pulei para o pedaço de vidro
caindo e o apertei contra o meu peito.
— Você poderia parar de tentar tirar as luzes e a guirlanda?
Ainda há enfeites aqui. Você vai quebrá-los.
Eu o chutei do meu poleiro a um metro e meio do chão. Meu
chute aterrissou solidamente, acertando-o no bíceps.
Ele puxou o braço, esfregando-o como se o tivesse
machucado um pouco.
— Vou contar para a mamãe.
— Você tem três anos? — Eu mostrei minha língua para ele.
— Você não vai festejar com todos os seus amigos? — Coloquei
os enfeites de vidro rosa pálido na caixa de armazenamento de
papelão com um quadrado para cada um.
— Depois da nossa vitória. — Ele usou braçadeiras para
prender as pontas do laço e enfiou o fio de luz em um dos vinte
recipientes de plástico para enfeites de Natal que cobriam o
chão da sala. — E você está convidada.
Eu estaria festejando com meu amigo também, só que não
aqui. Foi mais fácil deixar meus pais saberem que eu iria para a
casa de Maggie do que contar a Walsh, e foi por isso que eu não
disse nada ainda.
— Uma festa com você? Passo fortemente. Todo mundo vai
ter muito medo de falar comigo. — Dei a volta no topo da
árvore, colocando as decorações de vidro e cristal em seus
lugares.
— Isso não é verdade, só os caras. — Ele pegou a guirlanda e
começou a enrolá-la no braço da mesma forma que fizera com
as luzes.
— Exatamente. — Eu coloquei a caixa na alça da escada e
olhei para ele. — Como vou conhecer alguém se você e seus
executores de futebol não deixam ninguém falar comigo?
— A maioria dos caras são idiotas. Estou te fazendo um favor.
— Eu não preciso de favores. — Eu precisava de liberdade.
— Sim, você precisa. — Ele cantou com uma voz melhor que
a minha, o que não estava dizendo muito.
— Crianças, como está indo a desmontagem? — Mamãe
falou da sala de descanso, para não confundir com a sala de
estar, usando sua frase que quase nunca deixava Walsh e eu
mantermos uma cara séria.
— Estamos quase terminando a árvore — Walsh gritou de
volta.
Ela estava na porta com as mãos nos quadris.
— Não precisa gritar. Eu estou bem aqui.
— Ela não estava apenas gritando? — Ele resmungou e me
lançou um olhar.
Virei-me para encarar a árvore, para que ela não visse minha
risada.
— Os enfeites estão terminados, então podemos embalar o
conjunto de trens. — A casa sempre foi perfeita para revistas.
Lindas decorações para todas as estações. A inveja de cada
vizinho. Horas gastas colocando-os e desmontando-os, como se
pudéssemos fazer tudo parecer o mais perfeito possível, talvez
todos nos sentíssemos assim também. Mas o buraco sempre
esteve lá. Andamos pisando em ovos, nunca querendo deixar
os sentimentos reais entrarem.
Eu pulei e coloquei a caixa dentro de um dos recipientes de
plástico.
— Maravilhoso, então vocês podem me ajudar com as
decorações de Ano Novo. — Sua festa era lendária. Eu
costumava sentar no topo dos degraus e observar todos pelos
espelhos. Nossos pais conversavam, dançavam e riam como se
não tivessem nenhuma preocupação no mundo. O
desempenho de uma vida.
Walsh fechou outra caixa de plástico.
— Mãe, você sabe que algumas pessoas deixam suas coisas de
Natal até o Ano Novo, então elas não precisam fazer tudo duas
vezes.
— E algumas pessoas não mandam a mãe lavar dez cargas de
roupa que decidiram não lavar por metade do semestre
enquanto estavam na faculdade.
— Se ferrou — eu sussurrei e fechei a tampa da última caixa
de enfeites, sem olhar para nenhum deles.
Walsh empilhou as caixas e pegou cinco como se não
pesassem nada.
— Estaremos lá em alguns minutos, mãe.
— Só você, seu pai está levando Willa para o aeroporto.
— Eu pensei que ela… — Ele se virou para mim. — Eu pensei
que você não iria embora até a véspera de Ano Novo.
— Os voos seriam mais baratos se eu saísse hoje.
— E o meu jogo?
— E o seu jogo? Se você chegasse ao campeonato, eu disse
que iria.
— Walsh, todos nós vamos verificar se ela está bem enquanto
estiver fora. Maggie tem nossos números se houver algum
problema. É apenas por alguns dias e então ela estará de volta e
segura. — Mamãe fez um bom trabalho fingindo estar bem
comigo saindo de novo. — Nós saberemos onde ela está e que
ela estará bem. — Mamãe segurou minha bochecha e passou o
polegar sobre minha pele. Seus olhos se encheram, a dor sempre
presente visível todas as vezes ela olhava para mim se aguçou, e
eu me preparei.
Minha garganta se apertou, o estômago revirou, o corpo
ficou tenso.
— Toda vez que olho em seus olhos, lembro que ainda temos
um pedaço de sua irmã conosco.
Eu balancei a cabeça.
— Eu sei. — Eu estava vivendo na sombra de um fantasma.
Uma irmã que eu nunca conheci, tirada de nós uma semana
antes de minha mãe descobrir que estava grávida de mim.
Ela me abraçou, mas nunca parecia que ela estava apenas me
abraçando, e saiu da sala.
— Você nem ia me dizer que estava indo embora hoje? —
Walsh olhou para mim com uma dor genuína em seus olhos.
— Você tem saído todas as noites, exceto na véspera de Natal
e no dia de Natal! Finalmente vou sair com minha amiga.
— Mas nós não fomos ao Charlie's. — Walsh e minha
pequena tradição que tinha ficado em segundo plano entre as
visitas desde que ele saiu para a faculdade. Suas batatas fritas
com queijo chili estavam perigosamente deliciosas. Entre o chili
de carne e o molho de queijo cremoso, que eu não estava acima
de lamber o barco de papelão revestido em que foi servido, foi
difícil para mim passar um dia sem experimentar quando
voltei.
— Eu estive no Charlie's.
— Você foi sem mim?
— Por que você está agindo como se eu estivesse arruinando
todas as tradições? Você não ajudou com a decoração depois do
Dia de Ação de Graças, você pulou o trenó no dia anterior ao
Natal e nem abriu a lata de pipoca. — Apontei para a lata de
metal na altura do joelho com três tipos de pipoca separados em
seções dentro, ainda com o plástico em volta da tampa.
— Achei que teríamos tempo para fazer todas essas coisas
agora que o Natal acabou.
— Não, você quer fazer isso agora que sabe que estou indo
embora. Você vai estar ocupado com a preparação do jogo de
qualquer maneira. Pare de agir como se você se importasse.
— Claro que me importo. — Ele me inundou com um
abraço.
Eu mantive meus braços apertados ao meu lado, mas isso não
parou as cócegas. Chutando e ganindo, eu me debati como um
peixe em terra enquanto ele me fazia cócegas a ponto de ficar
difícil respirar e eu pensei que poderia fazer xixi nas calças.
— Walsh, seu idiota. Pare! — Eu chutei, dando uma joelhada
nas bolas dele.
Ele rolou, agarrando seu pacote.
— O que dissemos a você sobre antagonizar sua irmã? —
Papai estava na porta. Os cabelos grisalhos ainda não estavam
no nível de sal e pimenta, mas o uniforme do pai de calças
cáqui, suéter sobre uma camisa de botão com New Balances era
sua anunciação.
Eu pulei do chão e arrumei meu rabo de cavalo.
— Ele é um valentão. — Por cima do meu ombro, eu mostrei
minha língua para Walsh lutando.
— Walsh — papai disse com um toque de advertência.
— Estou tendo problemas porque ela me chutou nas bolas?
— Ele estava de quatro, estremecendo enquanto se levantava.
— Seu irmão cuida de você, mas às vezes ele pode ser
descuidado.
Eu senti isso, como se tivesse levado um tapa. Olhei para
Walsh.
Todo o corpo de Walsh ficou rígido e ele baixou o olhar.
— Desculpe.
Papai não pareceu notar o golpe que Walsh levou e patinou
bem perto dele.
— Você estava fazendo cócegas nela. Você sabe que ela odeia
ser cócegas. É o que acontece quando você cutuca um urso com
cócegas. Todo aquele levantamento de peso que você fez com
que ela fizesse está valendo a pena. — Papai se virou para mim.
— Preparada?
— Só preciso pegar minha bolsa lá de cima e meu casaco. —
Corri de volta para a sala e abracei Walsh e acariciei suas costas.
— Ele não quis dizer isso dessa maneira.
Seu braço me envolveu e apertou com tanta força que eu
sufoquei.
— Fique segura e deixe-me saber se você precisar de mim.
— Eu vou. — Eu o soltei. — Amo você, grande irmãozão.
Seja bom enquanto eu estiver fora.
Ele assentiu e eu corri para fora da sala.
No andar de cima, peguei minha mochila cheia de roupas
para a semana antes do semestre começar. Depois de guardar
meu laptop e carregadores, corri de volta para baixo e beijei
minha mãe na bochecha.
— Tenha uma ótima festa, mãe.
— Não é o que sempre temos? — Ela me abraçou de volta.
Esse abraço parecia mais desesperado, muito apertado, como se
pudesse ser o nosso último. — Fique segura. Maggie vai buscar
você no aeroporto, certo? — Ela não soltou.
— Sim, ela estará lá. Ela tem o número do meu voo e o
rastreador de voo. — Eu tentei dar um passo para trás.
— Tome cuidado. Nos vemos na próxima semana. Se você
precisar de qualquer coisa…
— Eu posso te ligar. Eu sei.
Ela me soltou, seus braços lentamente destravando.
— Fique segura.
— Eu vou, mãe. Eu prometo. — Beijei sua bochecha e saí da
sala.
— Lembrou-se da pasta de dente e da escova de dentes? —
Ela me chamou.
A necessidade de escapar e manter minha frustração em
segredo quase me fez pular para fora da minha pele. Eu os
amava, mas sair sempre me deixava no limite. Como no
segundo em que eu saísse pela porta eu seria pega em uma
enchente ou atingida por um raio.
— Esqueci minha pasta de dente, mas vou pegar emprestado
a de Maggie ou comprar alguma.
— Seu pai ou eu ou ambos vamos buscá-la no dia quatro.
— Ok, te amo, tchau.
O terminal de embarque estava mais movimentado do que o
esperado, mas ele foi paciente e encaixou seu carro em uma
abertura na calçada.
— Obrigado, pai.
— Você não precisa de nada? Eu posso dar uma volta e pegar
um pouco de pasta de dente enquanto você espera para fazer o
check-in.
Nós passamos por isso três vezes no passeio até aqui.
— Pai, eu vou ficar bem. Eu posso comprar quando estiver lá
e pegá-la. Vá para casa e saia com a mamãe.
— Você tem certeza de que não precisa que eu peça para um
carro buscá-lo no aeroporto?
— Maggie provavelmente já está a caminho, pai. Nós
ficaremos bem.
— Como está o carro dela?
— Os pais dela acabaram de receber este ano. Novo em folha
com todos os mais altos padrões de segurança.
Isso pareceu aliviar um pouco de seu medo. A música e a
dança que fazíamos toda vez que eu ia a algum lugar sem Walsh.
Foi parte do motivo de eu ter ido para Fulton U em primeiro
lugar. Colocá-los sob uma mudança de faculdade pelo país, ou
pior, estudar no exterior, parecia um fardo inimaginável, mas
regressar a esse nível de sufocamento depois do meu ano de
liberdade tornou impossível voltar.
— Você precisa de ajuda?
— Vai ficar tudo bem. Eu só tenho minha mochila. —
Agarrei-a e puxei-a para o meu colo.
— Certo. E isso é suficiente?
— Pai, não é nem uma semana.
— Eu sei, mas é o mais longo que você esteve fora, além do
seu tempo na faculdade com Walsh. — Ele fez parecer que o
último semestre foi um pequeno desvio antes de eu voltar para
casa. Por mais que eu amasse minha família, de jeito nenhum
eu poderia voltar a qualquer momento.
— Vou ligar e mandar mensagem e você pode ligar e mandar
mensagem o quanto quiser. — Eu o abracei, sabendo que
precisava sair do carro antes que ele mudasse de ideia. Ele
trancava as portas e se afastava, insistindo que me levasse até lá.
— Aqui, pegue isso. — Ele estendeu algumas notas dobradas.
— Eu não preciso disso, pai. Ainda tenho muito na minha
conta do semestre.
— Apenas no caso de precisar.
— Você não…
— Vai me fazer sentir melhor. — Ele a enfiou no bolso aberto
da minha mochila e a fechou.
— Obrigado, pai. — Eu me inclinei e dei um beijo na
bochecha dele antes de sair e fechar a porta.
Ele baixou a janela.
Eu saí. Atrás do carro, um policial dizia aos motoristas para
seguirem em frente.
— Você deveria ir antes que a polícia te dê uma multa. Acenei
pela janela aberta. — Vou comprar algo para você enquanto
estiver fora.
— Divirta-se, esteja segura.
— Tchau, pai. Te amo.
— Também te amo, Willa. — Ele acenou e esperou que eu
passasse pelas portas automáticas antes de partir.
No segundo em que as portas se fecharam, a ansiedade
começou a se dissipar. Caiu aos poucos como um suéter mal
tricotado.
Enquanto esperava o voo para embarcar, eu estava pronta
para correr um pouco de risco. Não muito que pudesse ser feito
em um aeroporto, mas talvez fosse mais assustador do que
outras opções. Um pouco da minha bravura restaurada, agora
que eu estava fora do olhar atento dos meus pais, eu arrisquei e
digitei a mensagem que eu estava tentando enviar.
Eu: Oi, Ezra. Estou indo para STFU ver Maggie.
A resposta foi imediata.
Ezra: Quando?
Eu: Estou no aeroporto agora.
Ezra: O de Pittsburgh?
Eu: Não, PHL
Ezra: Quanto tempo você vai ficar aqui?
Eu: Até o dia 4.
Ezra: Eu tenho um jogo depois de amanhã.
Eu: eu sei.
O agente do portão fez o anúncio de embarque para o meu
voo.
Eu: Embarcando agora.
Minha fila avançou em direção ao agente que verificava
nossas passagens. Com minha bolsa guardada debaixo do meu
assento, verifiquei meu telefone novamente. Minha resposta
foi a última na tela.
Assentos se encheram nas fileiras ao meu redor e eu bati meu
telefone contra a palma da minha mão como se eu pudesse
derrubar a resposta de Ezra se eu batesse direito.
Ele logo estaria ocupado com a preparação do jogo,
provavelmente já estava. Sua agenda estaria tão cheia.
Não desanime agora, Willa.
Eu: Talvez eu te veja, se você não estiver muito ocupado.
Vou ficar na casa de Maggie.
Bolhas apareceram e depois desapareceram.
Isso pode ter parecido muito insistente, como: “ei, estarei aí
em breve, limpe sua agenda para mim”. Um pequeno roer
começou no meu estômago.
Ezra: Eu estarei lá
Eu exalei como se estivesse debaixo d'água em uma piscina, e
minha risada nervosa atraiu alguns olhares. Deve ter significado
que ele não tinha outros planos além de seus jogos. Se ele
estivesse no campus, haveria muito tempo para vê-lo, mesmo
que fosse entre as reuniões de equipe e o jogo.
— Senhorita, por favor, desligue o telefone. — A comissária
de bordo segurou a parte de trás do meu assento.
Apalpei o telefone e o desliguei antes de enfiá-lo no bolso do
assento à minha frente.
A decolagem foi difícil, mas não foi por isso que meu
estômago deu nós. Eu tinha soado muito ansiosa? O presente
que eu daria a Ezra parecia estar queimando um buraco na
minha bolsa.
Por que eu daria um presente para ele de qualquer maneira?
O que eu sabia sobre ele? Além de seu amor por filmes de ficção
científica, status de filho único, o jeito que ele parecia super
suado quando ele me enviou uma foto dele pós-treino depois
que eu lhe enviei um milhão das minhas durante as férias. Tudo
que eu descobri sobre Ezra só me fez gostar mais dele, talvez não
fosse o mesmo para ele.
O voo mal se estabilizou no ar antes que os comissários de
bordo andassem pelo corredor com lanches. Quando chegaram
à parte de trás do avião, o anúncio soou no alto.
— Começamos agora nossa descida para o Aeroporto
Internacional de Pittsburgh. Por favor, apertem os cintos de
segurança.
A descida e a aterrissagem foram tranquilas, mas meu
estômago borbulhou de excitação. Maggie estaria aqui para me
pegar e talvez eu pudesse ver Ezra hoje. As bolhas se
transformaram em um rubor quando pensei na última vez que
o vi e no beijo que queria repetir. E repetir. Mas ele não
respondeu minha última mensagem, então eu não sabia
quando isso poderia ser.
O avião encostou no portão. Outros passageiros se
acotovelaram para chegar ao corredor e à frente do avião.
Eu não estava arrastando meus pés, mas também não estava
dando uma cotovelada na boca de uma vovó apenas para
disputar a posição de ser o primeiro a sair do avião.
Com meu telefone ligado, as mensagens chegaram, algumas
de cada vez, mas nada de Ezra. A decepção foi imediata, mas eu
a controlei de volta. Ele tinha uma vida que não tinha nada a
ver comigo. Ele responderia quando pudesse.
Maggie: Levei uma eternidade para encontrar troco
para os pedágios estúpidos. Estou atrasada.
Eu: Não tem problema, vou pegar um café.
Maggie: Desculpe!
Eu: Não se desculpe, você vai me pegar.
Saí do terminal de desembarque, passando pela esteira de
bagagens, procurando uma cafeteria que me permitisse entrar
rapidamente no carro de Maggie quando ela chegasse. Minha
varredura do saguão terminou e eu quase bati em uma das
largas colunas de concreto ao lado da esteira de bagagens.
Ao lado do cinto de metal giratório estava Ezra.
Ele estava com um moletom com o capuz sobre o boné, mas
era ele. Ambas as mãos estavam enfiadas em seus bolsos.
Meu coração martelava no meu peito. Tudo saiu de foco e eu
pisquei – forte.
Como se meus pés tivessem se soltado do chão, caminhei em
direção a ele.
— Ezra?
Ele girou em torno de mim e olhou para o carrossel, em
seguida, de volta para mim.
— Você está aqui.
— Sim, estou aqui, mas por que você está aqui?
Sua testa franziu e seus olhos se encheram de confusão.
— Eu disse que estaria aqui.
Minha boca estava aberta e o ar atmosférico a inundou,
gelando meus molares.
— Eu pensei que você quis dizer no campus. Como me
deixar saber que você estaria lá quando eu estivesse lá.
Ele apertou a nuca.
— Não, eu quis dizer aqui no aeroporto para pegar você.
Tudo bem?
— Perfeito. Obrigada, Ezra. — Agarrei a alça da minha bolsa
pendurada no meu ombro. Ele largou tudo e apareceu aqui
para mim. Merda, Maggie estaria aqui a qualquer minuto. Eu
enlouqueceria com isso uma vez que eu parasse de desmaiar que
ele estava realmente aqui.
— Excelente. — Ele tirou as mãos dos bolsos e as apertou ao
lado do corpo antes de dar um passo para fechar o espaço entre
nós. — Estou feliz por estar aqui. — Com o tipo de hesitação
que me dizia que ele não fazia isso com frequência, ele abriu os
braços e me envolveu em um abraço.
Meus braços ao redor dele eram automáticos, dedos tocando
seu peito largo.
O calor de seu moletom pressionado contra minha
bochecha, e seus braços pareciam bloquear o resto do mundo.
Ele cheirava a detergente e ar frio.
Ele me soltou e enfiou a mão de volta no bolso.
— Eu trouxe isso para você. — Saiu uma única flor roxa
levemente amassada. — Já volto, estou com vontade de mijar
desde que entrei no carro. — Então, ele se foi.
Fiquei com a flor na mão, ainda sem ter certeza de que não
estava sonhando, enquanto começamos os procedimentos de
pouso para o voo.
— Willa! — Maggie gritou do outro lado da esteira de
bagagens. — Você está aqui. — Ela correu, quase me atacando.
Apenas o pilar de concreto atrás de mim nos mantinha de pé.
— Maggie…
— Temos que ir, deixei meu carro lá fora e eles
provavelmente vão rebocá-lo. — Ela olhou para as minhas
mãos e inclinou a cabeça para o lado. — Flor fofa, onde você
conseguiu?
— Ezra trouxe para mim.
Seus olhos se arregalaram e ela murmurou "oh meu deus"
antes que o canto fosse alto o suficiente para ser ouvido.
— Ele está aqui? Por que você não me disse que ele estava
indo buscá-la?
— Eu não sabia. No aeroporto da Filadélfia, mandei-lhe uma
mensagem avisando-lhe que eu estava voando. Vim aqui para
esperar por você e ele estava esperando por mim. — Eu soava
tão maravilhosamente pateta quanto me sentia?
Ela bateu as duas mãos sobre a boca e engasgou.
— Puta merda, essa é a coisa mais fofa que eu já ouvi. Onde
ele está agora? — Na ponta dos pés, ela examinou a área.
— Ele teve que ir ao banheiro. Disse que tinha que fazer xixi
desde que saiu do campus.
— Ele fez uma viagem de duas horas em menos de uma hora
e meia enquanto estava com vontade de fazer xixi. — Ela
recuou, dando passos largos para trás, errando por pouco os
outros passageiros.
— Maggie, o que você está fazendo?
— Não arruinando esse gesto insanamente romântico
deixando que ele me veja.
— Você dirigiu até aqui. — Corri atrás dela.
— E eu posso dirigir todo o caminho de volta.
— Você não precisa ir.
— Você está certa, mas eu quero. — Ela girou nos
calcanhares e me deixou presa com uma decisão. Persegui-la e...
eu nem sei. Não havia uma solução para isso que não
terminasse com alguém dirigindo de volta ao campus por conta
própria.
— Está tudo bem? — A voz de Ezra me assustou.
Girando para encará-lo, eu assenti.
— Está tudo ótimo.
— Você tinha uma mala?
— Sem mala, apenas isso.
— Deixe-me levar isso para você. — Ele a tirou do meu
ombro e colocou o braço em volta de mim, os dedos
descansando nas minhas costas. Uma enxurrada de arrepios
iluminou minha espinha.
Caminhamos para fora e paramos na faixa de pedestres,
esperando o sinal para atravessar.
Uma buzina à nossa esquerda me assustou e eu pulei, virando
a cabeça para o lado a tempo de ver Maggie chutando um
motorista de caminhonete que havia cortado sua manobra para
fora do engarrafamento de carros tentando sair.
— Essa não é... — Ezra seguiu meu olhar.
Maggie, vendo nós dois, colocou a mão na lateral do rosto de
uma maneira totalmente não óbvia e se libertou do quebra-
cabeça do carro que a prendia e saiu em disparada.
— Sua amiga?
O semáforo da faixa de pedestres ficou verde, mas ele não se
moveu.
— Ela veio buscá-la e eu estraguei tudo — disse ele com um
soco no estômago.
Eu me virei e fiquei na frente dele, o pânico correndo através
de mim.
— Você não estragou.
— Eu não sei por que eu não pensei... é claro que você tinha
alguém aqui para buscá-la. — Seus ombros esvaziaram e eu
poderia dizer que o chute interno foi intenso.
— Ezra…
— Ela pode dar meia-volta e voltar.
— Está…
— Não é tão tarde.
— Ezra…
— Podemos…
Desta vez eu o cortei. Agarrando seus ombros, eu o puxei
para baixo e o beijei.
Ele endureceu por um segundo antes de envolver seus braços
em volta de mim e me beijar de volta. Um beijo voraz, de tirar
o fôlego.
Minha cabeça girou e meu corpo inteiro formigava,
eletrizado por seus lábios fortes nos meus, sua língua
provocativa.
Em outra buzina, nos separamos.
Ezra me colocou de volta no meio-fio.
Meus lábios latejavam e meu coração batia tão forte no meu
peito que eu esperava ver uma marca na frente do meu casaco.
— Estou feliz que você veio me buscar. Espero ver muito de
você enquanto estiver aqui.
Ele esfregou as costas da minha mão com o polegar, os olhos
cheios de sorrisos, mesmo que seus lábios apenas se curvassem
um pouco, e me guiou pela pista de desembarque.
— Nada vai me afastar.
CAPÍTULO 8
EZRA

A suspensão do meu carro tinha sumido àquela altura. No


painel, as peças chacoalhavam e estalavam. Nada vital, mas
ainda irritante. Normalmente, eu não percebia, mas, com Willa
aqui, tudo o que faltava no carro era ampliado.
De alguma forma, ela tinha um jeito de não me fazer sentir
como um idiota socialmente inepto e completo, mesmo
quando eu agia dessa maneira perto dela, mas isso não
significava que eu não queria tornar as coisas melhores para ela.
Ela estava acostumada com coisas boas. Acostumada a não se
preocupar com a próxima refeição. Acostumada a ter pessoas lá
para ela. Claro que havia alguém que iria buscá-la no aeroporto.
Ela não iria aparecer em uma nova cidade depois de viajar de
ônibus em ônibus usando as rotas mais baratas apenas para ter
que andar os últimos quilômetros para chegar ao campus. Ela
não tinha que juntar dinheiro fazendo uns bicos para pagar por
um pedaço de carro de merda para ir às aulas e ir e voltar dos
treinos.
Willa tinha pessoas que se importavam com ela e cuidavam
dela. E, em poucas semanas, eu tinha sido adicionado a essa
lista. A complicação de seu irmão era uma mina terrestre na
qual eu não queria pular ainda.
Eu estarei jogando contra ele nos próximos dias e a última
coisa que eu precisava era dar a ele motivação extra para buscar
o golpe sujo, não que eu fosse deixar isso acontecer. Minha
guarda estava sempre alta. Sempre em alerta.
A mensagem dizendo que ela viria me fez entrar no meu carro
com apenas um olhar para o medidor de gasolina, então eu
estava na estrada mais animado para vê-la do que já estive em
muito tempo.
Todas as razões pelas quais eu não deveria estar,
especialmente depois de descobrir quem era seu irmão,
evaporaram com o conhecimento de que ela estaria a menos de
um quilômetro de mim por alguns dias.
Com ela sentada ao meu lado, não pude evitar olhar para ela,
apenas para pegá-la olhando para mim. Não que eu precisasse
pegá-la já que ela não desviou o olhar.
Virou-se em seu assento com uma perna dobrada, ela estava
quase sentada de lado e me observando.
— Tudo certo?
— Perfeito. — A curva suave de seus lábios afrouxou meu
peito, senti como se alguém tivesse aberto uma porta e, de
repente, deixado uma brisa fresca entrar em uma sala sufocante.
— Se você me disser onde Maggie mora, eu posso te deixar
assim que chegarmos ao campus.
— Assim que terminarmos — ela brincou, dando-me um
olhar sorrateiro.
— Alguma coisa em particular que deveríamos estar
terminando?
— Na sua casa, eu posso te dar o seu presente. — Ela
mordiscou o lábio inferior e a inquietação em mim cresceu para
descobrir o que ela tinha em mente. Nós não estávamos
separados por muito tempo, mas ela esteve em minha mente o
tempo todo que eu não estive em campo.
— Você sabe que temos pelo menos mais uma hora até
chegarmos ao campus.
Seu sorriso se alargou.
— A espera tornará tudo ainda melhor quando chegarmos lá.
— Você está me matando, Willa. — Eu afundei o desejo de
pisar no acelerador para nos levar lá mais rápido.
— Desculpe, eu juro que vou ficar bem. — Ela cruzou os
dedos sobre o coração. — Eu não posso acreditar que você veio.
Passei as últimas duas semanas sem saber se você queria me ver.
— Ela olhou para suas mãos. Um polegar roçou a articulação
do outro. — Quando enviei a mensagem, não tinha certeza de
como você responderia, já que não falou tanto desde o Natal,
mas também sei que você está ocupado se preparando para os
playoffs. — Ela moveu uma mão e a outra como se estivesse
tentando argumentar consigo mesma sobre por que eu não
tinha tanto a dizer em nossas mensagens.
— Achei que você estivesse ocupada com sua família. — Eu
me odiava por fazê-la duvidar por um segundo de como eu me
sentia. Esquecendo o irmão. Esquecendo a distância entre nós.
Esquecendo no que deveria estar me concentrando, parei na
pista de emergência da rodovia.
Ela olhou para trás e apoiou as mãos no assento e no painel
descascado.
— O que você está fazendo?
Meu cinto de segurança estalou quando o soltei e tirei meu
boné e a beijei novamente.
Soltei todas as emoções que corriam por mim desde o minuto
em que deixei seu quarto de hotel até quando ela parou na
minha frente na esteira de bagagens. A enxurrada de
sentimentos me surpreendeu. Como uma válvula liberada em
uma represa que ameaçava estourar há anos.
Seus dedos agarraram meu casaco com força e quando eu
interrompi o beijo, sentindo-me sem fôlego como se tivesse
corrido em um touchdown após uma interceptação, ela olhou
para mim e lambeu os lábios. Os quais eu mal podia esperar
para provar novamente.
— Desculpe, eu assustei você. E desculpe por ter estragado
tudo ao buscá-la no aeroporto.
— Eu não me importo — suas palavras ofegantes sussurradas
ameaçaram a represa estourar completamente. — Continue
estragando tudo assim e eu vou ter que ficar com você.
Foi como se uma bomba de lava tivesse explodido no meu
peito.
Ela tão facilmente diz coisas que derrubariam meu mundo.
Ficar comigo Ninguém nunca ficou comigo. Ninguém nunca
se importou o suficiente. O aperto no meu peito estava de volta
e eu forcei meus pulmões a trabalhar.
— Vamos levá-la para o campus.
— Funciona para mim. — Ela deslizou a mão sob a minha,
que estava descansando na minha perna. Seus dedos fizeram
cócegas nos espaços entre os meus.
Concentrando-me na estrada, entrei no trânsito.
As costas de sua mão pressionavam a parte interna da minha
coxa, tornando cada vez mais difícil me concentrar na direção.
— Posso colocar uma música?
Um martelo de vergonha caiu.
— O rádio não funciona. — Este tinha que ser o carro mais
merda em que ela já esteve. Sob seu tapete estava a placa soldada
colocada para que não ficasse aberto para a estrada. O adesivo
de inspeção havia expirado há muito tempo e eles
provavelmente ririam de mim na estação de inspeção se eu
tentasse levá-lo.
— Sem problemas. — Mantendo sua mão na minha, ela
vasculhou sua bolsa antes de aparecer com um alto-falante
portátil.
— Você carrega isso com você o tempo todo?
— Meu irmão comprou para mim no Natal. Ele disse que
posso usá-lo para abafar minha voz de canto.
Meus dedos apertaram o volante com a menção de seu irmão.
Cerrado com os músculos rígidos, forcei uma resposta.
— Isso foi legal da parte dele.
— Ele é um idiota às vezes, mas também é meu irmão mais
velho, então faz parte do pacote.
— Vocês dois se dão bem então?
— Nós brigamos como quaisquer irmãos fariam, mas menos
na maioria das vezes. Nossos pais não nos deixavam não nos
darmos bem. Se brigássemos muito, eles tinham uma punição
chamada “Camisa da União”. Teríamos que usá-la e trabalhar
juntos lavando a louça ou limpando nossos quartos.
Aprendemos muito rapidamente a manter qualquer
desentendimento baixo o suficiente para que mamãe ou papai
não descobrissem que estávamos secretamente chutando um
ao outro debaixo da mesa da sala de jantar ou beliscando um ao
outro durante as noites de cinema.
Era casual para ela. Mamãe e papai. Noites de cinema.
Jantares em uma mesa de jantar. Uma família.
— Que bom que vocês dois são tão próximos.
— Temos cinco anos de diferença. Faz parte do pacote. Mas
por mais irritante que ele seja, eu o amo e ele me ama.
— Como ele está no último ano agora, se vocês têm cinco
anos de diferença?
Ela enfiou as mãos sob as pernas.
— Meus pais se atrasaram um pouco para matricular ele no
jardim de infância. Eles estavam passando por um momento
difícil comigo surgindo e tudo mais... — Ela se endireitou e
sorriu, mas não alcançou seus olhos. — Mas deu tudo certo. Ele
era uma das crianças maiores da escola, o que o ajudou a se
destacar em campo.
E ele provavelmente mandaria todo o time de futebol Fulton
U atrás da minha cabeça se descobrisse que eu estava perto de
sua irmã.
Chegamos ao perímetro do campus.
— Você tem certeza de que não quer ir para a casa de Maggie
agora?
— Tentando se livrar de mim já?
— Não, eu só... — Os caras poderiam estar em casa, embora
as chances não fossem tão altas quanto durante o semestre.
Hollis e Griff não estariam de volta até amanhã de manhã.
Cole, Reid e eu estávamos escondidos em casa sem nenhum
outro lugar para ir. Mas Reid provavelmente estava com Leona
e Cole na academia. — Nós podemos ir para a minha casa.
— Acalme-se, estou cem por cento bem com você me
esgueirando para dentro e para fora de lá.
— Você… eu… — Outros caras se esgueiraram com ela? O
pensamento fez meu pulso disparar e não do jeito que fazia
quando ela me tocava ou olhava para mim mordendo o lábio.
— Ezra, não se preocupe. Eu não estou ofendida. Eu sou uma
desconhecida, da Fulton U. Você é uma pessoa reservada, eu
entendo se você não quiser que seus amigos façam perguntas
quando ainda estamos... — Suas sobrancelhas se juntaram
antes de seu rosto se iluminar e suavizar. — Sentindo as coisas.
— Eu não ia dizer isso.
— Mas você provavelmente estava pensando nisso. Só queria
que você soubesse que não seria estranho se você jogasse um
casaco na minha cabeça e me levasse para dentro e para fora do
seu quarto assim.
— Esse não era o plano. — Qual era o meu plano? O que
aconteceria se os caras estivessem lá? Apresentações trariam
perguntas, e para essas eu nem tinha as respostas para mim
mesmo, muito menos para lhes dar.
Ela olhou para o banco de trás.
— Coloque-me na mochila, então.
Eu ri.
— Eu não acho que você se caberia.
— Você deveria saber, eu sou bastante flexível. — Ela
levantou o joelho até a orelha e eu quase bati em um banco de
neve empilhado ao longo do lado da rua. — Definitivamente
quero ver seu quarto. Será como Indiana Jones entrando no
Templo do Santo Graal.
— Isso tem um pouco mais de ação do que fantasia. Achei
que era mais coisa sua.
— Eu também tenho um irmão mais velho. Nem todo filme
que assisti foi por escolha.
— Qual foi o favorito que você foi forçada a assistir?
— Duro de Matar. — As palavras ricochetearam
rapidamente.
— Quando você diz assim, eu preciso saber o porquê.
— Alan Rickman. Vamos. O olhar. O sotaque. A voz. — Ela
beijou as pontas de seus dedos, em seguida, atirou-os para o
telhado.
O meio-fio do lado de fora da casa estava vazio, o que
significava que Cole e Reid estavam fora. Alívio me estimulou,
mas a sensação de medo de que eles estariam de volta logo se
alojou na parte de trás da minha cabeça.
— Perfeito.
— Sem testemunhas. — Ela riu e abriu a porta.
— É como você e Maggie. Ninguém gosta de estar sob um
microscópio. — Levantei-me e fechei a porta.
— Confie em mim, eu entendo totalmente. — De pé do
outro lado do carro, ela olhou para a casa.
Não era muito para se olhar, mas era uma das mais bonitas
em que morei. Os dormitórios não eram ruins, mas era
libertador ter meu próprio espaço com os caras. E, mesmo que
fosse temporário, dois anos foi o tempo mais longo que eu já
morei em um só lugar.
— Com quantas outras pessoas você mora? — Ela deu a volta
na frente do meio-fio para se juntar a mim nos degraus da
varanda.
— Quatro caras.
— Todos os jogadores de futebol?
Eu balancei a cabeça.
Sua respiração bufou em uma grande nuvem obscurecendo
seu rosto.
— Anotado. Vou me preparar para o fedor quando entrar.
Uma risada pegou no meu peito.
— Nós não tivemos a chance de invadir o lugar com a
temporada em andamento, então não deve ser tão ruim. — Um
golpe de sorte duplo que estávamos nos playoffs, o que
significava que as paredes ainda estavam relativamente limpas e
os pisos ainda não estavam pegajosos.
— Veremos. — O tom provocador de sua voz tornou difícil
não sorrir. Ela subiu as escadas de costas, usando as mãos para
acenar para que eu avançasse.
Com as chaves na mão, abri a porta e a deixei entrar na casa.
Ela entrou, fechou os olhos e respirou fundo, enchendo os
pulmões.
— Não é tão ruim. Cheiro fraco de cerveja e roupas de
ginástica. A casa do meu irmão é nojenta. Fico feliz em ver que
você e seus amigos estão mantendo tudo limpo.
— Nós tentamos. Quando a temporada terminar, todas as
apostas serão canceladas. É aí que as festas começam. — Que
tipo de festas eles faziam no Fulton U? Havia casos de cerveja
de porão que não fosse de barganha lá? Eu podia imaginá-la
dançando com as namoradas de Cole e Reid. Elas a adorariam.
Como não poderiam? Mas isso estava ficando anos-luz à minha
frente.
— Mal posso esperar para ver uma. — Ela olhou para a sala
de estar à esquerda. — Cozinha por aqui. — Olhando por cima
do ombro, ela caminhou pela entrada sem porta que dava para
a cozinha.
Seu olhar varreu o balcão, principalmente limpo, exceto por
alguns pratos na pia, potes de proteína em pó no canto e
bananas em uma tigela perto do micro-ondas. Durante todo o
caminho, ela abriu os botões do casaco, o que trouxe imagens
tentadoras dela se despindo.
— Impressionante. — Depois de tirar o casaco, ela o
pendurou no braço para conferir o resto da sala.
— O porão tem nossa lavadora e secadora e um monte de
porcaria do nosso senhorio. Fora isso, há apenas os quartos no
andar de cima.
Uma espiada rápida na sala de jantar que só servia como beer
pong e local de estudo e então ela se apoiou no batente da porta.
Seu olhar se desviou para o teto.
— Recebo o tour completo?
Era difícil não dar a ela quando ela pedia tão docemente.
Meu pulso latejava em minhas mãos. Meus dedos tinham
batimentos cardíacos.
— Claro. — Caminhei em direção às escadas. Meus passos
sacudiram o chão.
Seus passos muito mais silenciosos atrás de mim aumentaram
minha frequência cardíaca. A batida subiu para minha garganta
e fez tique-taque em minha mandíbula. Eu nunca tive ninguém
além dos caras no meu quarto, especialmente nenhuma outra
garota. Se alguma coisa aconteceu, foi em seus lugares. Era
sempre melhor partir do que ser deixado. Mas eu queria Willa
no meu espaço.
— Há quanto tempo vocês moram aqui?
Em vez de subir os degraus de dois em dois, como
normalmente fazia, mantive-o em um, quase desejando que a
escada se estendesse, impedindo-nos de chegar ao topo. Pelos
vídeos e fotos que ela me enviou, seu quarto, seja no campus ou
em casa, não parecia em nada com o meu. Escasso. Simples.
Triste.
— Desde agosto. Vivemos juntos desde o primeiro ano, mas
é a primeira vez fora do campus.
— Que bom que vocês ficaram juntos.
Meu pé atingiu o topo do patamar. Minhas pernas pareciam
ter sido mergulhadas em concreto de secagem rápida.
— E você?
— Estou em um triplo. Você não tem chance nos bons
lugares do campus até o terceiro ano, então está no ar se eu vou
morar em um. Deixe-me adivinhar qual é o seu. — Ela passou
correndo por mim. Seis portas fechadas ou parcialmente
fechadas alinhadas em ambos os lados do corredor curto. A
porta do banheiro à direita estava aberta, a água pingando da
torneira era o único som além do rangido do piso com cada
movimento do meu corpo atrás dela.
Como se houvesse pilhas de dinheiro ou pilhas de ouro atrás
de cada porta, ela bateu os dedos contra os lábios um de cada
vez e olhou para cada um atentamente.
— Aquele. — Ela apontou para a porta fechada no final do
corredor em frente ao banheiro.
— Como você sabe?
— Achei que você não gostaria de um quarto na frente por
razões de privacidade. E o lado com três quartos seria menor
que o lado com um e o banheiro. O quarto no final é
provavelmente o maior e você não parece ser o único a ir para
aquele. O que me levou ao quarto dos fundos. Estou certa? —
A volta que ela deu foi com um toque autoconfiante de alguém
que sabe que está certo.
— Verifique e descubra.
Correndo para frente, ela girou a maçaneta e entrou no meu
quarto.
A bile espirrou no meu estômago, tentando me distrair do
meu pico de 50 jardas na frequência cardíaca.
Seguindo-a, entrei no meu quarto.
— Então é isso. — Ela arrastou a mão pelo meu edredom.
— É isso. — Alívio que eu não era um total desleixado e
mantive o lugar limpo, embora eu nunca tivesse recebido
visitantes aqui além dos caras.
— Você é legal. — Seus passos casuais e errantes cruzaram as
tábuas do piso do meu quarto. Da cama à minha mesa aos
pôsteres ao lado do meu armário. — Tudo em seu lugar.
O pouco que eu tinha. Tentei imaginar como tudo parecia
do ponto de vista dela. As paredes nuas, superfícies limpas
desprovidas de fotos ou itens sentimentais, nem mesmo um
tapete. A cada segundo que ela estava aqui, a lupa parecia ter
sido colocada contra um sol de agosto e eu era a formiga.
CAPÍTULO 9
WILLA

O quarto de Ezra não era nada do que eu esperava. Limpo o


suficiente, poderia ser chamado de espaçoso e organizado. Os
livros estavam empilhados ordenadamente ao lado de seu
computador. Todas as gavetas estavam fechadas, sem roupas
penduradas nelas.
A porta do armário se fechava completamente. Nada
pendurado nas paredes. Nenhuma foto estava em cima de sua
cômoda ou em qualquer outro lugar. Era um cômodo que
parecia poder ser arrumado em minutos.
A casa dele era mais velha que a minha. As tábuas do assoalho
estavam muito mais rangentes e, embora ele dissesse que a
temporada de festas não estava a todo vapor, o lugar tinha um
leve cheiro de cerveja, como se tivesse saturado a madeira ao
longo das décadas.
Ele me observou com sua intensidade não filtrada. Uma
intensidade que me traz uma nova consciência de cada parte de
mim. Cada piscar, cada respiração, cada batida do meu coração.
— Você é o colega de quarto mais arrumado, não é? —
Tentei aliviar um pouco da tensão.
— Hollis e eu tendemos a ser os mais arrumados, mas isso é
principalmente porque ele se recusa a usar pratos, exceto em
emergências extremas.
— Emergências alimentares extremas?
— Elas acontecem. — Ele sacudiu a pintura lascada no
batente da porta.
Encostado na parede havia um violão. Um item de
identificação. Um que eu não esperava. Um que me deu um
pouco mais de visão sobre Ezra.
Eu me virei para encará-lo. Caminhando até o instrumento,
olhei para o corpo lascado, mas polido, e os pontos desgastados
onde seu dedo deve ter passado por cima dele milhares de vezes.
Um som escapou dele.
— Você toca? — Fiz um gesto em direção ao instrumento.
A estranheza se infiltrou na sala como uma cobra furtiva e
rastejante. Minha boca ficou seca e Ezra pegou o boné do bolso
de trás e o colocou, desligando-se de mim. Suas tentativas de se
sentar despreocupadamente na beirada de sua mesa foram
derrotadas pela contração de seus músculos. Seus braços sob
sua blusa térmica, até mesmo seus quadris em seu jeans.
Afastei as duas mãos, segurando-as na minha frente como se
tivesse entrado em um museu com seguranças super zelosos.
— Fica muito desconfortável me ter em seu espaço, não é?
Suas costas se endireitaram, a cabeça seguindo o resto de seu
corpo e pude ver seus olhos novamente.
— Não, está bem. — Ele estava mentindo, lutando contra o
constrangimento.
Repassei minha caminhada pelo quarto dele. Para mim, era
conhecê-lo melhor, mas, para ele, talvez estivesse esperando
escrutínio ou julgamento. Um pensamento me atingiu como
um raio.
— Eu sou a primeira pessoa que você deixa entrar aqui além
de seus colegas de quarto?
Seu aceno musculoso confirmou o quão difícil era me ter
aqui.
Uma lufada de ar escapou dos meus pulmões. A primeira
pessoa que ele deixou entrar em um espaço privado. Um espaço
que ele guardava.
Ter permissão para estar aqui dentro era o suficiente. Um
primeiro passo de muitos, talvez, mas ele escolhendo me deixar
entrar, mesmo que isso o assustasse, dizia muito. Mas ainda
pode ser muito rápido demais.
— Desculpe te pressionar a me trazer aqui. Você pode me
deixar na casa de Maggie. Você tem um grande jogo chegando.
Você precisa entrar em seu headspace3. — Corri para sair, talvez
ele ficasse mais confortável lá embaixo. Eu abri a porta, mas ele
pegou meu braço, seus dedos segurando meu cotovelo.
— Só porque é novo não significa que eu odeie.
— Mas você preferiria estar em outro lugar?

3
Estado de descanso, meditação. Deixar a mente em branco para se concentrar em algo.
— Isso também funcionaria. — Sua voz transbordava de
alívio.
— Se eu estiver sendo irritantemente insistente e correndo
atrás do que você quer, é só me avisar. E vou tentar não ser uma
idiota tão detestável.
— Você não é. — Seu olhar suavizou, deixando a ponta da
ansiedade. — Você é apenas... diferente.
Agarrei meu peito e tropecei para trás.
— Ai.
Seus olhos se arregalaram. Ele não soltou meu braço.
— O quê? O que eu disse?
Esfreguei seus dedos, mantendo meu sorriso no lugar.
— Eu sou diferente. Não é um que eu ouvi na lista de elogios.
Esquisita. Chata. Dor na bunda. Mas diferente?
— O que há de errado com isso? Você é diferente comigo.
Você me trata de maneira diferente da maioria das pessoas. —
Havia uma urgência em sua voz, como se ele precisasse que eu
entendesse.
— Como a maioria das pessoas trata você? — Tirei sua mão
do meu braço e a coloquei entre as minhas, arrastando meus
dedos em seus dedos.
— No campo ou fora dele?
— Ambos, o que você quiser me contar.
Os músculos do lado de seu pescoço se apertaram e seus
lábios se separaram. O arco do Cupido era afiado o suficiente
para cortar morangos.
A porta da frente se abriu e se fechou.
— Ezra, você está aqui?
Seus olhos se arregalaram.
Eu pulei para trás da porta, com o coração acelerado. Eu não
queria que isso fosse ruim para Ezra. Ele já tinha me deixado
entrar tanto. Uma introdução inesperada ao amigo pode
arruinar a noite.
— Quer distraí-lo para eu fugir?
— Você não precisa. — Suas palavras diziam uma coisa, seus
olhos gritavam outra.
— Já invadi sua vida o suficiente. Não estou chateada ou
ofendida. Se você quiser me apresentar a eles algum dia, então
você pode. — Dei um passo para trás atrás da porta do quarto.
Ele enfiou as mãos nos bolsos.
— Eu vou levá-lo para o quintal por um segundo rápido e
você pode escapar então.
Em pé, eu saudei.
— Considere isso feito. Eu espero no seu carro. Está
destrancado?
— Willa... — Ele esfregou uma mão na testa, levantando a
aba do boné.
— Pare de se culpar por isso. Quando você estiver pronto. Vá
em frente. — Dei um tapinha em sua bunda, empurrando-o em
direção à porta.
Ele me encarou por cima do ombro.
— Obrigado. — Então, ele se foi.
Minha frente vacilou um pouco. Talvez eu estivesse
interpretando tudo errado. Esperava que ele descesse as escadas
para contar a seu amigo sobre mim e quisesse me apresentar
agora, mas em vez disso ele pegou a brecha. E eu prometi que
não ficaria chateada com isso.
Eu me olhei no espelho e bati em cada bochecha. Supere-se,
Willa. Você não é tão incrível. Vocês dois se encontraram
pessoalmente três vezes. Acalme-se.
— Você acha que devemos fazer um churrasco amanhã? A
grelha estava fazendo um som estranho. — A voz de Ezra
ressoou na sala de estar.
Fui na ponta dos pés até as escadas, mantendo meus passos
leves para evitar rangidos.
Então vozes abafadas, movendo-se para os fundos da casa.
Aproveitando minha chance, espiei por cima do parapeito.
Uma rajada de ar frio atravessou a casa pela porta dos fundos.
Com todos fora da sala, abri e fechei a porta da frente e desci
os degraus da varanda. Lá fora, o vento aumentava a geada da
noite. Minutos a mais e a geada se acumularia em meus cílios.
Entrei no carro de Ezra e me xinguei por não ter pedido as
chaves para ele. Tremendo e saltando, respirei em minhas mãos
e balancei minha bunda, tentando afastar o frio. Pode ser mais
quente do lado de fora do que dentro. Meus dedos doem para
serem enrolados e soprados. Quanto tempo demorou para o
congelamento se instalar?
Como estava tão mais frio do que em Philly? Eu realmente
queria me mudar para Darling U?
CAPÍTULO 10
EZRA

Sem o sol para aliviar o frio pungente de dezembro, a


temperatura havia caído.
Os dentes de Willa bateram ao meu lado.
— Desculpe, era Griff. Ele saiu pela tangente falando sobre
seu carro e demorei uma eternidade para fugir.
Ela assentiu e enfiou as mãos entre os joelhos, balançando
para frente e para trás.
— Sem problemas. — Seus lábios pareciam azuis. —
Podemos ligar o aquecedor?
— Claro, deixe-me só… — Eu brinquei com os botões e bati
no painel algumas vezes. Sob o painel, chocalhos e trituração
não eram promissores. Só não deixe as rajadas de fora virem
como antes do Dia de Ação de Graças. Finalmente, o calor saiu
das aberturas tingidas com um cheiro de óleo de motor.
Ela precisava se aquecer e sair do meu carro. Vergonha
queimou quente contra minha carne.
— Não deve ser longe de Maggie, você não terá que aturar
isso por muito tempo. — Eu deveria tê-la levado direto para a
casa de sua amiga. Hoje à noite eu arruinei sua carona no
aeroporto, a levei em um carro sem aquecedor e a fiz fugir da
minha casa. Eu estava errando mesmo tentando acertar.
— Está tudo bem. — Suas bochechas tremiam junto com o
resto de seu corpo.
Como se eu não pudesse me sentir pior. Pelo menos as
estradas estavam desertas.
Eu não pude deixar de olhar para ela e mexer nos botões a
cada minuto ou mais. Era mais fácil ignorar o quão frio estava
quando era apenas eu no carro. Com Willa, eu a queria
confortável.
Menos de dez minutos depois, entramos no estacionamento.
— Desculpe, demora um pouco para fazer efeito. O motor
ainda estava quente quando eu peguei você no aeroporto. —
Esse carro era uma merda. Tudo que eu tinha era uma merda.
Quanto tempo levaria para Willa perceber que o mesmo
acontecia comigo?
— Não se preocupe com isso. Podemos descongelar por
dentro.
Olhei por cima do volante e olhei para o prédio novinho em
folha de dez andares.
— É aqui que ela mora? Eu pensei que apenas estudantes de
pós-graduação morassem aqui.
— São principalmente estudantes de pós-graduação, mas os
pais de Maggie queriam um lugar “mais calmo” para ela. Mal
sabem eles que estudantes de pós-graduação bebem muito mais
em suas festas. — Ela empurrou o ombro contra a porta, que
não cedeu.
— Você tem que… — Eu deveria ter saído e aberto para ela.
— Ah, quase esqueci. — Ela enfiou a mão na mochila e tirou
uma pequena sacola de presentes completa com papel de seda
enfiado no topo. A bolsa dourada brilhante tinha uma alça de
metal. — Seu presente.
Um buraco se abriu no meu estômago cheio de bile pesada e
agitada.
— Eu não tenho nada para você.
— Ainda bem que eu não trouxe para você esperando um em
troca.
— Willa, você não precisava.
— Eu sei. Seu rubor faz valer a pena. Não são diamantes nem
nada. Aqui. — Ela o empurrou para mim.
O papel de seda enrugou.
— Não vai morder.
— Obrigado. — Peguei dela e coloquei no console central
lascado e rachado. Meu coração balançou no meu peito,
sacudindo todo o meu corpo.
Eu já embrulhei presentes antes. Uma senhora no mesmo
quarteirão da casa de grupo me pagava alguns dólares por cada
presente que eu embrulhava para os netos dela, então eu
faturava bem e rápido, mas esse foi o primeiro presente que eu
ganhei. Não doações de mochilas no início do ano letivo ou
perto do Natal, nem equipamentos novos para a equipe, nem
uma garrafa de vodka com um laço na frente, mas um presente
para mim.
Eu olhei para ela.
Ela ainda estava congelando, mas saltou em seu assento com
excitação em seus olhos.
Eu precisava me apressar e aquecê-la.
Movendo-me rapidamente e com cuidado para não rasgá-lo,
tirei o papel de seda. Uma grande risada escapou dos meus
lábios. Do fundo da bolsa uma pluma do elmo de um cavaleiro
se erguia. Eu espalmei o pequeno personagem de pelúcia.
— Você está tentando fazer com que me expulsem. Um
cavaleiro da Fulton U.
— Tecnicamente, ele é um trojan. Mas ele deve ajudá-lo a se
lembrar de mim quando eu não estiver por perto.
Eu balancei o mascote da Fulton U em sua direção.
— Eu não preciso disso para lembrar de você.
— Bom saber. — Ela espiou dentro da bolsa. — Tem mais.
— É melhor não ser uma camiseta — eu resmunguei, e enfiei
minha mão na bolsa. Meus dedos roçaram o material macio.
Tirei o par de meias macias que mesmo descansando na minha
mão estavam quentes. No tornozelo havia o logotipo Fulton U,
mas isso poderia ser facilmente coberto. Inclinando-me sobre o
console, eu a abracei. — Obrigado, Willa.
Ela me abraçou de volta.
— Não foi a reação que eu esperava.
Eles foram meus primeiros presentes reais. Brincadeira ou
não, eu não me importava. Agora eu só precisava levá-los para
dentro de casa sem que ninguém os encontrasse.
— Tem mais uma coisa.
— Pintura facial Fulton U?
Sua risada saiu em um huff. De sua bolsa, ela pescou uma
caixa de papelão.
— Não, isso. Eu queria ter certeza de que não quebraria. —
Ela estendeu para mim.
Em vez de lutar contra ela, peguei a caixa. Metade porque eu
sabia que ela não me deixaria não pegar e metade porque eu
queria ver o que ela tinha pra mim. Era pesado.
— Abra. — Ela enfiou as mãos sob as coxas, o que me
estimulou.
Eu abri a caixa e removi o bloco de isopor no topo. Abaixo
dela, uma bola de vidro lisa cheia de água refletia as luzes do
estacionamento. Eu o puxei para fora e olhei para a neve
brilhante.
— É um globo de neve.
— Você comprou isso para mim?
— Não, é um dos meus.
— Seu?
— Sempre que vou a algum lugar novo, eu sempre pego um.
Ganhei um em Pittsburgh, mas este foi de uma vila de Natal
para onde meus pais me levaram quando eu era pequena. Eu vi
e tive que tê-lo. Olhando para ele, tudo parecia perfeito, calmo
e feliz, então pedi aos meus pais.
— Will, não. — Eu estendi para ela. — Isso é seu. Eu não
posso aceitar.
— Você precisa.
— Por quê? Posso dizer que significa muito para você.
— Andar pelo museu com você me fez sentir da mesma
forma de quando eu peguei isso pela primeira vez. Parecia
apropriado. — Ela olhou para mim, nervosa.
Eu não fui o único a mostrar um pouco de si hoje.
— Obrigado, Willa. Significa muito para mim. — Eu escovei
meu polegar ao longo da curva de sua mandíbula e a beijei.
Ela estremeceu.
— Vamos levá-la para dentro. — Eu a soltei e tentei não
deixar minha mente pintar um quadro que não tinha direito,
um em que presentes entre nós eram normais, em que ela estava
na arquibancada torcendo por mim, em que ela era minha.
Gentilmente guardando o globo de neve, eu o coloquei no
banco de trás.
O lado de mim que ela viu era o que eu queria que ela visse.
Não quem eu realmente era. Mantê-lo quando ela viesse para
as visitas era fácil, mas nunca funcionaria para além disso. Eu
aguentaria essas rajadas curtas o máximo que pudesse.
Ela empurrou a porta novamente.
— Deixa-me ajudar. — Saí e corri para o lado dela. Com uma
puxada e uma sacudida, ela se abriu.
Minha respiração parecia que iria se transformar em gelo em
meus lábios.
Ela ajeitou a bolsa no ombro.
— Você não tem que entrar, se você não quiser. Deixe-me ser
clara, eu quero que você entre, mas você não precisa.
Olhei para o edifício brilhante feito de aço e vidro. Novo,
brilhante, caro.
— Posso ficar um pouco, se estiver tudo bem para Maggie.
— Você está de brincadeira? Ela provavelmente vai barrar a
porta para impedir você de sair. — Tirando as mãos de dentro
das mangas, ela digitou uma mensagem usando os dedos.
Eu ri, mas soou tão frágil quanto o gelo se formando
lentamente sob nossos pés. Conversa fiada não era meu
negócio, mas eu não queria desapontar Willa e não queria
deixá-la ainda.
Na entrada da frente, Willa digitou o número do
apartamento de Maggie na campainha e esperou que a
fechadura se soltasse.
— Eu vi vocês dois da minha janela. Não deixe Ezra sair! Se
você deixá-lo sair sem me dizer oi, eu nunca vou perdoar vocês
dois. — A voz de Maggie explodiu do pequeno alto-falante e a
fechadura destravou.
Willa se encolheu, ombros para cima por suas orelhas.
— Ela está um pouco animada. — Ela olhou por cima do
ombro e colocou os dedos ao redor da maçaneta da porta,
dando-lhe um puxão forte. — É sua última chance de escapar.
— Lidere o caminho.
Dentro do saguão, uma explosão de calor parecia uma lixa
contra minha pele congelada. Esfreguei minhas mãos para fazer
o sangue fluir e parar a dor do corte de papel.
Meus tênis chiaram no piso de azulejos do saguão como se
todo o lugar precisasse de um anúncio da minha chegada. O
calor fez sua mágica alfinetada, empurrando lentamente o frio.
No banco de elevadores, Willa saltou para cima e para baixo
me observando.
Eu tentei não ficar boquiaberto. Viajando com a equipe,
estivemos em alguns lugares legais, sem falar nos voos fretados.
O complexo de futebol era de última geração com telas de TV
gigantes, todo tipo de gadget esportivo. A equipe de
equipamentos manteve nosso equipamento em perfeita ordem
e mostrar uniformes e capacetes imaculados para cada jogo
ainda não parecia completamente normal. Mas nossa casa não
era nada de especial.
Este lugar colocou todos os outros lugares que eu morei no
chinelo. Embora estivesse cheio de estudantes universitários,
não cheirava a isso. Uma pequena mesa na recepção tinha
biscoitos de açúcar e pacotes de chocolate quente. Os pisos
brilhavam. A grama falsa cobria o pátio através de um banco de
janelas gravadas com o logotipo do apartamento.
— Isso é uma banheira de hidromassagem?
— É um pouco exagerado, eu sei.
— Parece um ótimo lugar para morar.
— Maggie gosta disso. Eles quase perderam a data de abertura
no ano passado, mas se isso tivesse acontecido, a gerência teria
que colocar todos em hotéis, então eles exageraram para manter
todos felizes.
— Tenho certeza que eles fizeram. — Pessoas com dinheiro
nunca tiveram que lutar pelas sobras como o resto de nós. A
amarga determinação de finalmente ser uma dessas pessoas me
manteve na academia muito além do ponto de me cansar da
minha chance de não ter que me contentar com sobras.
— Eles também têm churrasqueiras e TVs. Tenho certeza de
que todos assistem seus jogos por aí.
— Deve ser legal.
As portas tiniram e se abriram. Entramos e disparamos para
o décimo andar.
Mantive minhas mãos nos bolsos o tempo todo, com um
pouco de medo de manchar ou quebrar alguma coisa.
— Meio ridículo para um estudante do segundo ano, certo?
— Os pais dela devem se importar muito. — Saí do elevador
e segurei um braço na soleira, deixando Willa sair.
— Eles fazem.
— Não posso julgá-los por querer o melhor para ela. — Deve
ser bom ter pessoas dispostas a gastar dinheiro para ter certeza
de que você está bem, para ter certeza de que você sabe o
quanto elas se importam.
A porta de Maggie abriu e ela ficou no corredor batendo
palmas.
— Eu estive esperando para sempre. Vamos, entre aqui —
Ela acenou para nós como se estivéssemos na última volta de
uma corrida de F1.
Willa entrou primeiro e eu entrei, o olhar varrendo o
apartamento que parecia mais bonito do que a maioria dos
hotéis em que fiquei.
Atrás de mim, Maggie fechou a porta.
— Prazer em vê-lo novamente, Ezra. Eu posso pegar o seu
casaco?
— Você não precisa.
— Esta é a maneira dela de fazer você ficar. — Willa se
inclinou e levantou a mão para um lado da boca como se as
palavras fossem apenas para mim, mas falou alto o suficiente
para Maggie ouvir.
— Ela está certa. Não é muito frequente eu ter uma lenda do
STFU no meu apartamento.
— Não sou uma lenda. — Dei de ombros, acostumado a
mantê-lo ou despejá-lo nas costas de uma cadeira.
— Ainda não. — Ela piscou, pegou meu casaco e o de Willa
e os guardou em seu armário em cabides de madeira.
Flores frescas estavam em uma tigela na mesa de centro.
Cortinas que combinavam com os travesseiros estavam
penduradas sobre as persianas padrão.
— Bom lugar, Maggie.
— Obrigada. A regra dos meus pais para me deixar morar
fora do campus era ficar em um lugar construído nesta década
com todos os mais novos regulamentos e segurança do código
de incêndio, então aqui estamos.
— Você tem colegas de quarto? — Olhei para o corredor com
três portas parcialmente abertas, uma aberta para o que parecia
ser um banheiro.
— Não, eles só tinham dois quartos disponíveis, mas era para
ser assim. Sempre há espaço para Willa quando ela quiser vir.
Ou você sabe, se ela quisesse convidar um amigo para ficar aqui.
— Com uma sobrancelha saltando para cima e para baixo, ela
olhou entre nós dois. — Ela também teria essa opção.
Meu rosto parecia aquecido por um maçarico quente.
— Maggie. — Willa fervia com os dentes cerrados antes de se
voltar para mim. — Não se importe com ela. Essa é outra razão
pela qual ela mora sozinha. Ninguém iria querer ficar com ela.
— Isso é mentira — ela cantou, e vagou em direção à cozinha.
Um cronômetro apitou. — Eu estava planejando comer uma
caixa inteira desses na frente da TV, mas eu poderia separar
alguns, se você estiver interessado. — Ela silenciou o
cronômetro e pegou as luvas de forno. O cheiro de carne assada
foi registrado e meu estômago roncou, deixando-me saber o
quão bravo estava por não ter almoçado por causa da minha
viagem ao aeroporto.
Ela puxou a assadeira do forno.
— São enroladinhos de salsichas.
— Inferno sim, eu quero um pouco. — As palavras pularam
pela minha língua antes que eu pudesse apertar os dentes. Eu
cambaleei para trás, surpreso com a rapidez com que voltei para
o garoto faminto, inseguro de sua próxima refeição. — Quero
dizer, se estiver tudo bem para você compartilhar.
Willa abriu a porta do freezer, mostrando as caixas de
aperitivos e pelo menos cinco caixas de mini cachorros-quentes
embrulhados em massa.
— Ela tem bastante.
Uma quantidade insana de comida para uma pessoa que
mora sozinha. Nosso freezer só ficava um quarto cheio e havia
cinco de nós participando.
— Mostarda? Ketchup? Qual é a sua preferência, Ezra?
— Qualquer coisa que você tiver. — Sentei-me em uma das
quatro cadeiras da sala de jantar olhando para a comida ainda
fumegante na bandeja. Fresco não estava no meu vocabulário
quando se tratava de comida.
Willa olhou para mim e para as assadeiras antes de abrir uma
caixa de asas de frango e espalhá-las em outra assadeira.
Maggie jogou os sessenta e quatro enroladinhos de salsichas
em uma travessa.
Willa serviu duas tigelas de ketchup e mostarda. Elas se
moveram juntas no pequeno espaço como se já tivessem feito
centenas de vezes antes.
— Há quanto tempo vocês duas se conhecem?
Maggie abriu a geladeira e o freezer.
— Desde o jardim de infância.
— Ela tinha um pirulito contrabandeado preso no cabelo e
eu a ajudei a tirá-lo.
— Bebidas? — Maggie segurava uma lata e uma garrafa em
cada mão, movendo-os para cima e para baixo como se estivesse
pesando. — Sem cerveja ou vinho, infelizmente, porque minha
conexão ainda está fora até o início do semestre, mas eu tenho
algumas margaritas lamacentas e algumas latas de mimosas.
— Não, obrigado. Eu não vou beber até que a temporada
termine, então a água é boa para mim.
— Tão responsável. — Maggie me lançou um olhar
conhecedor com uma piscadela. — Tenho que apreciar um
cara tão dedicado ao seu ofício.
Willa olhou para ela, empurrando-a para fora do caminho e
me entregando um copo de água.
— Desculpe — ela murmurou.
Inclinei-me para mais perto e sussurrei:
— Não se preocupe com isso. Ela está me alimentando, ela
pode se safar de qualquer coisa.
— Ah, posso? — Maggie trouxe a travessa de enroladinhos
de salsichas com três pratos vazios na outra mão.
Willa disparou os dois braços bloqueando o caminho de
Maggie para mim.
— Nem pense nisso.
O falso ciúme e proteção fizeram coisas dentro do meu peito.
Coisas para o meu coração que eu não achava que fossem
possíveis a partir de gestos tão pequenos, até mesmo como
piadas. Como os presentes.
O rosto de Maggie se encheu de falsa surpresa e indignação
com olhos grandes e boca aberta.
— Willa, que tipo de anfitriã você acha que eu sou? Eu nunca
tiraria vantagem da gratidão baseada em comida de Ezra –
muita.
Ela colocou os pratos na mesa e se sentou na cadeira ao meu
lado.
— Eu tenho um favor a pedir.
Eu enrolei meus dedos, determinado a não ser o primeiro a
pegar a comida.
— Do que você precisa?
— Você pode me ajudar a entreter Willa nos próximos dias
que ela estiver aqui? Eu a amo, mas às vezes ela é tão pegajosa e
sempre quer estar perto de mim. Ela sempre fica tipo: "Maggie,
não me deixe em paz. Eu preciso de você. Sinto sua falta a cada
segundo que você está longe de mim". Pode ser tão desgastante.
Seria um enorme… — ela enfatizou a palavra com as mãos,
olhando diretamente para Willa — um mimo, se você pudesse
cuidar dela antes que ela fosse embora.
Desta vez não pude conter minha risada. Ela ressoou.
— Não se importe comigo. — Willa ficou mole e deslizou da
cadeira até debaixo da mesa para se esconder das insinuações
não tão sutis que Maggie estava martelando em casa.
Maggie se abaixou para o lado, olhando para Willa em seu
esconderijo.
— Enquanto você estiver ai embaixo, Willa...
Sua cabeça bateu na parte de baixo da mesa, chacoalhando os
pratos. Empurrando a cadeira para trás, ela rastejou para fora e
caiu de volta em seu assento.
Maggie assobiou e cruzou as pernas na cadeira, esfregando a
canela.
— O que eu fiz? — Ela se virou para mim e colocou um
enroladinho coberto de mostarda na boca. — Vê do que estou
falando, Ezra? Animado para o jogo?
— Menos animado. Mais pronto. — Peguei um minúsculo
cachorro-quente e o comi em duas mordidas, mastigando
completamente antes de pegar outro. Este jogo foi decisivo para
os playoffs. Como júnior, só tinha mais duas chances em um
campeonato nacional. Mais duas chances de mostrar a todas as
equipes profissionais o que eu poderia fazer antes que a janela
se fechasse.
Willa pegou a bandeja e despejou metade no meu prato.
— Você viu o freezer dela? Ela tem bastante. Coma o quanto
quiser. Eu também coloquei asas no forno.
— Você não precisa fazer isso por mim. — Empurrei o prato
para o centro da mesa. Ficar com toda a comida e me tornar um
caso de caridade não foi o motivo de eu ter ficado.
— Sua entrega de supermercado estará aqui em alguns dias
de qualquer maneira. — Willa arrastou um enroladinho por
uma gota de mostarda.
Maggie bufou e revirou os olhos.
— Eu disse a eles para pausar durante as férias, mas eles não
ouviram. Normalmente, eu pago pela bebida em troca de
comida, mas a maioria das pessoas viajou, então está apenas se
acumulando.
Sua geladeira e freezer estavam lotados e ainda mais estava por
vir. Eu balancei para trás em meu assento.
— Uau.
— Ezra poderia levar um pouco. — Willa apontou o polegar
na minha direção.
— Will, não. — Uma coisa era comer na casa de Maggie com
essas duas, outra era levar comigo. Nós vivemos no aperto o
suficiente. Uma vez que a temporada acabasse, eu poderia
marcar alguns shows de aperitivo.
— Sério. Maggie, você se importa? Você será capaz de comer
tudo isso?
— Estava pensando em doar. Ajudaria muito se eu pudesse
tirar a comida do meu freezer, se você quiser levar.
Foi assim que Willa acabou embalando quatro sacolas cheias
de comida fresca e congelada antes da hora de dizer boa noite.
Willa saiu para o corredor, usando o pé para manter a porta
entreaberta.
Eu coloquei as sacolas no corredor, tentando não deixar a
vergonha me comer vivo. Havia posto muito orgulho de lado
desde que eu conseguia me lembrar. Com minhas perspectivas
de recrutamento, rezei para que os tempos fossem cada vez mais
distantes.
— Agradeça a Maggie novamente por mim.
— De nada! — Maggie enfiou sua cabeça gigante de cabelos
felpudos pela pequena abertura. — De nada, Ezra. Obrigada
por vir e deixar Willa. E lembre-se do que eu disse sobre me
ajudar a fazer companhia a ela. Apenas faça companhia a ela
pelo tempo que quiser. O tempo e a força que você quiser. —
Ela piscou.
— Por que não gritar “transe com minha amiga”
diretamente na cara dele? — Willa assobiou antes de empurrá-
la de volta para o apartamento e fechar a porta, mantendo as
mãos na maçaneta. — Esta foi a noite mais embaraçosa da
minha vida.
Meus lábios doíam por tentar abafar minha risada, até que
finalmente se libertou. Maggie era sutil, mas também se
importava com Willa. O fato de ela pensar que eu era bom para
Willa, que eu seria bom para Willa, me fez gostar ainda mais
dela.
— Você tem uma ótima risada.
Minha mandíbula apertou e o som foi cortado na minha
garganta.
— E essa foi a pior coisa a dizer. — Ela mordeu o canto do
lábio inferior.
— Não. — Olhei para trás de mim e de volta para o corredor.
Ninguém mais estava por perto. — Não estou acostumado a rir
tanto. — Nunca tive muito do que rir, mas fiquei feliz que ela
ficou feliz ao ouvir isso, até eu arruinar. — Você não disse nada
de errado. Obrigado pela comida.
Ela entrelaçou as mãos na frente dela e balançou para frente
e para trás em seus calcanhares.
— Como eu disse, você está fazendo um favor a ela.
Dei um passo à frente e deslizei minha mão ao longo do lado
de seu pescoço. Tracei meu polegar pela curva de sua garganta.
— Você não tem que continuar se preocupando com meus
sentimentos. Meu orgulho. — Eu levantei minha cabeça e olhei
em seus olhos, nadando em sua beleza. Aqueles olhos de calda
de chocolate quente. Eles foram preenchidos com uma
intensidade eletrizante que transformou uma faísca em um
pulso por todo o corpo.
— Mas isso você faz… — Eu não pude mais me conter. Meus
lábios cobriram os dela. Delicadamente e com fome de uma só
vez. Como se eu estivesse morrendo de fome.
Willa liberou seus lábios dos meus e ofegou.
— Não se controle comigo.
Meu controle se estilhaçou. Solto, eu a pressionei contra a
porta. Uma mão estava em sua cintura, acariciando a pele
delicada ali, e a outra na curva de seu quadril. Os detalhes de
metal de seu jeans morderam minha palma.
Sua língua dançou ao longo da minha, me provocando e me
fazendo querer ainda mais dela.
O elevador apitou.
Eu empurrei para trás.
Seus olhos se abriram. Ela me encarou com o peito subindo e
descendo como se tivesse acabado de correr.
Meu coração batia forte no meu peito como se estivesse
tentando escapar. Eu não podia deixá-la ir. Eu levantei minha
mão de volta para seu pescoço, enrolando nas costas e
escovando o cabelo em sua nuca. Sob meu toque, seu pulso
saltou descontroladamente, combinando com o meu.
— Vejo você depois do meu jogo, Willa. — Dei um passo
para trás e peguei as sacolas antes de sair pelo corredor.
— Sim, você irá. — Seu sussurro ofegante me seguiu até o
elevador.
Quando voltasse ao campus, passaria o máximo de tempo
possível com ela antes de ela ir embora. Claro que eu estava
voando para um jogo como ela tinha voado. O voo da equipe
sairá hoje à noite e retornaria no dia seguinte ao jogo e iria
corroer o nosso tempo juntos. Cada minuto fora era um
minuto desperdiçado. Mas, assim que voltasse ao campus,
planejava fazer uma visita que nenhum de nós esqueceria.
Em dois dias, eu enfrentaria seu irmão e eu tinha que esperar
que o que acontecia em campo não matasse o que estava
crescendo entre nós.
CAPÍTULO 11
EZRA

À margem do jogo que seria o prêmio de consolação ou um


trampolim para o campeonato nacional, tentei manter a
neblina de raiva sob controle. Meu golpe foi limpo. O soco na
bola foi impedido pela cabeça do jogador da Fulton U. A culpa
foi dele por ficar no caminho, tentando recuperar o fumble4.
Mas o desempenho após uma pancada que todos nós
experimentamos cem vezes mais forte nos treinos ainda nos
custou uma penalidade.
A fúria saiu de mim, acendendo cada músculo em chamas.
De pé na frente do banco, observei nossas chances de uma
viagem ao campeonato nacional cada vez menores. Meus dedos
doíam, pequenos cortes pontilhando a pele junto com
manchas azul marinho onde eles cortaram o plástico moldado
do capacete Fulton U.
A multidão atrás de mim gritou e riu, chiou e berrou, mas eu
nunca olhei para trás. Eu nunca verifiquei as arquibancadas.
Não havia ninguém lá para mim – nunca.
O árbitro jogou uma bandeira e metade do estádio gritou, a
outra metade aplaudiu. Uma penalidade de cinco jardas em

4
Ocorre quando um jogador, que tem a posse e controle da bola, deixa ela cair. Pela regra, em
qualquer situação, passando, chutando ou dando a bola ao running back, pode resultar num
fumble
favor de Fulton U. Outra. O favoritismo da arbitragem me
enfureceu, tornando mais difícil direcionar minha raiva para o
campo em nossos oponentes.
Um apito sinalizou o fim da nossa investida pelo campo em
direção à end zone.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram e eu empurrei o
capacete coberto de suor de volta para baixo. Alguns dos caras
usavam casacos enormes para caber sobre seus protetores nas
laterais, mas eu andava de um lado para o outro. Os canhões de
calor trabalhando para manter todos aquecidos não chegaram
nem perto do fogo fervente que crescia na minha cabeça.
Um apito e eu fui para o campo com o resto da defesa.
Minhas chuteiras afundaram no chão encharcado e eu corri na
frente, tentando evitar que a fera correndo em meu peito
roubasse meu foco. Estava lá. Sempre lá, às vezes quieto, mas
sempre pronto para atacar quem chegasse perto de ficar no meu
caminho.
No campo, soltei as correntes e a libertei. Deixe-a destruir
meus inimigos e proteger meus companheiros de equipe. Em
posição, eu estava quase capacete a capacete com meu
oponente. Uma fração de segundo de reconhecimento. Não
qualquer inimigo. Muralha. O filho da puta que fez uma
tempestade em copo d'água sobre o soco como se eu estivesse
usando soqueiras. Ele não sabia o quão doloroso aquele tipo de
golpe reverberante doía, como se seus ossos pudessem se partir
sob o impacto.
— Bem-vindo ao final de sua temporada. — Ele sorriu para
mim através de sua máscara facial, falando em torno do
protetor bucal fluorescente. — Pena que seu time é muito mole
pra caralho.
— Você parecia bem mole naquele pijama de rena.
Sua cabeça se ergueu ao mesmo tempo em que a jogada
começou.
Usei seu segundo de confusão para acertar o golpe. A
adrenalina percorreu meu corpo, inundando minhas veias com
um objetivo singular.
Ele era o inimigo. Dano. Destruir. Demolir.
Eu avancei, jogando meu peso, e o agarrei. Ele não ganharia
um centímetro em mim. Ele não iria passar por mim. Ele não
conseguiria sair deste campo sem minha chuteira impressa em
seu peito.
O resto da linha aguentou e a bola ficou solta.
Eu mergulhei para isso, mas Muralha me agarrou. Girando,
eu o sacudi e ele caiu, mas a janela estava fechada. Fulton U
recuperou a bola.
Em vez de reiniciar para empurrar a carga novamente, o apito
soou. Os jogadores da Fulton U se aglomeraram em torno de
um se contorcendo no chão.
Muralha.
Eu cuspi meu protetor bucal, o plástico moldado se partiu no
centro, e corri em direção ao idiota caído.
— Levante-se e pare de fingir.
Os caras do Fulton U se viraram e marcharam em direção aos
meus companheiros de equipe.
Podem vir.
Uma mão subiu em meus protetores, me puxando para trás.
— Não, é besteira. Ele está bem.
— Não dê a eles o que eles querem. — As palavras baixas de
Griff no meu ouvido me ajudaram a controlar a besta andando
no meu peito, pronta para atacar mais uma vez.
Com a ajuda de alguns de seus companheiros de equipe, eles
o levantaram e ele saiu do campo por conta própria enquanto
segurava seu ombro. Dramático.
O resto do jogo foi confuso. Penalidades, rebaixamentos e
dor.
E nossa temporada acabou. Os números no placar
zombavam de nós.
Sem apertos de mão no final do jogo. Se o fizesse,
provavelmente seria expulso do estádio. Aquela fera dentro
ainda estava muito perto da superfície. Ainda muito perto para
me lançar em um deles e não os largar até que a raiva estivesse
diminuído.
Em vez disso, cerrei os dentes e segui o resto do time até o
vestiário.
Sob o jato dos chuveiros, bati meus punhos contra a parede.
Meus dedos não estalaram, não se partiram, não sangraram.
Eles estavam acostumados com esse tratamento, mas a dor
ajudava. Afrouxou o aperto no meu peito e afastou as garras na
minha cabeça.
Lentamente, eu engarrafava a raiva de volta, deixando a água
bater na minha cabeça e na ponta do meu nariz. Minhas
respirações estavam menos trêmulas e mais controladas.
Finalmente, os tremores pararam e desliguei a água. Gotas
lentas e constantes de água da torneira combinavam com
minha respiração.
Eu me troquei e me preparei para o discurso de Mikelson. Era
esperado. Eu poderia me preparar para isso. Sempre estive
preparado para isso. Preparado para alguém dar um chute e dar
um tiro barato ou um golpe com as costas da mão. Pelo menos
as dele eram principalmente verbais – principalmente.
Não houve festa no hotel. Nada de festas bêbadas selvagens.
Apenas a lenta marcha de angústia e decepção. Mas no quarto
escuro com Griff roncando na cama ao lado da minha, peguei
meu telefone.
Uma nova notificação levantou a nuvem que pairava sobre
mim.
Willa: Feliz Ano Novo, Ezra. Sinto muito pelo jogo.
Você vai arrasar no ano que vem.
Eu ansiava por ligar para ela. Ansiava por ouvir a voz dela e
deixá-la me acalmar ainda mais. Para manter a fera presa. Eu
nunca recebi uma mensagem de texto depois do jogo antes.
Nunca houve ninguém lá para tentar me animar. Os caras
geralmente estavam lidando com seus próprios sentimentos
sobre como o jogo foi, mas um texto fez tudo parecer menos
horrível.
Eu: Obrigado por assistir.
Willa: Meu irmão teria me matado se eu não o fizesse.
Um nó apertou minha garganta. O irmão dela. O cara que eu
estava tentando destruir no campo.
Eu: Tenho certeza que ele está comemorando agora.
Willa: Não tanto quanto ele gostaria. Seu ombro foi
deslocado durante o jogo, então ele está cuidando dele e
reclamando disso.
Meus dedos congelaram sobre a tela. Meu estômago se
apertou. Minhas glândulas sudoríparas trabalhavam horas
extras.
Eu: Ele disse o que aconteceu?
Willa: Apenas um empurrão. Nem o primeiro nem o
último. Eu perdi o empurrão e o replay. Você está bem?
Nenhum ferimento?
Minha expiração foi alta o suficiente para Griff resmungar e
rolar. Ela não sabia que eu tinha feito isso. Esse era um lado meu
que eu não queria que ela visse. O bastardo sanguinário não era
quem eu queria ser com ela.

No carro na volta do final da temporada, eu deveria estar


furioso. Deveria estar descascando o telhado para gritar no ar
da noite. Nós tínhamos perdido. Estávamos fora do
campeonato nacional. Nocauteado mais uma vez por Fulton
U. Mas meu sangue latejava por razões completamente
diferentes agora.
Willa: Eu tenho a comida. Maggie me emprestou o
carro dela
Eu: Devo uma a ela
Willa: Não deixe ela ouvir isso, ela vai te abraçar.
Eu: Eu não me importaria. Ela é sua amiga, então ela
está na minha pequena lista de pessoas que eu gosto.
Willa: Seu latido é muito pior que sua mordida.
Eu: Como você sabe? Ainda não te mordi.
Willa: *emoji chocado* Continue falando assim e eu
não serei responsável pelo que acontecer quando eu te vir.
Eu: Eu também não.
Minha calma foi substituída por um tipo diferente de
antecipação, não para liberar em campo, mas para me
empanturrar de Willa. Seu toque, seu corpo, sua risada.
Willa: Agora estou fora do carro, tentando me
refrescar.
Eu: Por que não entra? Você pode colocar a comida no
forno para mantê-la aquecida.
Willa: Sério?
Eu: Tem uma chave atrás de uma pedra ao lado da
escada.
Willa: Tem certeza? Seus colegas de quarto ficarão
bem com uma estranha em sua casa?
Eu: Você não é uma estranha. Eles não vão se importar.
Não seria a primeira vez que um de nós convidaria um
visitante sem ninguém saber. Ninguém estava entrando e
saindo da casa e se eles tivessem algum problema com isso, era
uma pena.
Willa: Ok, deixe-me pegar a chave e eu te aviso quando
tudo estiver no forno.
A conversa no carro foi muda e eu abaixei minha cabeça,
lembrando por que o clima estava tão ruim. Nosso último jogo
terminou mais uma vez em derrota e só tínhamos mais uma
chance de vencer o campeonato nacional.
Hollis deixou cair a cabeça contra o encosto de cabeça.
— Talvez ele tenha rasgado algumas cordas vocais esta noite,
e não precisaremos ouvir sua boca por um tempo.
Mikelson não me assustou tanto quanto ele fez com o resto
dos caras. Não que isso fosse uma coisa ruim. Eles
simplesmente não tinham se deparado com pessoas que faziam
Mikelson parecer um humano razoável. Eles tiveram sorte
assim.
— Se ao menos tivéssemos essa sorte. Esta noite foi o
aquecimento de como ele planeja explodir nossas vidas pelos
próximos oito meses. Nenhum de vocês se lembra da
temporada passada? — Griff murmurou do banco do
passageiro da frente.
Willa: Ei, eu já coloquei tudo no forno, mas Maggie
precisa de mim de volta o mais rápido possível. Quer que
eu desligue o forno? Ainda não está tão quente.
A dor da perda deveria ter sido mais como uma incineração,
mas quanto mais perto o carro chegava da casa, mais silencioso
ficava o zumbido em meus ouvidos.
Willa estava aqui. Como se ela soubesse que eu precisaria vê-
la.
Eu: Estamos perto. Você pode ir.
Por mais que eu quisesse vê-la, agora provavelmente não era
o melhor momento para apresentá-la aos caras. Perder o maior
jogo da temporada não faria de nenhum deles os melhores
anfitriões e eu sempre quero o melhor para ela.
Willa: Eu posso esperar se você estiver perto.
Eu: Não espere se Maggie precisar de você, ainda mais
porque os caras provavelmente não serão a melhor
companhia.
O carro era desconfortável como o cortejo fúnebre. Nenhum
dos caras estaria disposto a conhecer alguém novo e eu não
aceitaria que eles a tratassem como uma inconveniência ou
aborrecimento.
Willa: Se você tem certeza.
Eu: Próxima vez
Willa: Vejo você mais tarde?
Eu: Nada vai me afastar
Willa: Eu queria conhecer seus amigos. Diga a eles que
eu disse oi.
Isso me tirou do pequeno mundo dos sonhos para o qual eu
estava vagando desde a mensagem dela depois do jogo. Willa
conhecendo os caras. Os caras conhecendo Willa. Isso tornaria
isso mais real do que qualquer coisa que eu já tivesse feito antes.
Cole virou à esquerda, entrando na nossa rua.
— Todos nós a bloqueamos. Apenas finja que não
aconteceu, para que possamos arrastar nossas bundas lá fora e
repetir tudo de novo.
Eu me inclinei para frente.
— Tem um monte de comida pronta no forno. Achei que
seria uma boa para comemorar ou desabafar. Bife, batatas com
queijo e nada de brócolis.
Reid cambaleou para trás contra sua porta e olhou para mim
com choque confuso.
— Você tem comida no forno desde que saímos?
Eu estalei meus dedos da aba do meu boné.
— Sim, eu sou um completo idiota.
Sua testa enrugou como um fã de uma loja de um dólar.
— Então, como há comida quente em nosso forno?
— Uma amiga fez isso por mim. — Olhei para o meu telefone
e desliguei a tela. Talvez fosse melhor ela não os conhecer.
Como eles reagiriam sabendo que eu estava confraternizando
com o inimigo, mesmo que tangencialmente? Eu não queria
que eles pensassem por um segundo que eu tinha
comprometido meu jogo. Além disso, esta era apenas a segunda
vez que nos víamos. Ela estudava em uma escola a quase um
estado de distância.
Griff olhou para trás, sufocando-se com o cinto de
segurança.
— Quem é essa amiga que não conhecemos?
Puxei meu boné para baixo e cruzei os braços sobre o peito.
— Vocês não são meus únicos amigos. — Sem mencionar o
interrogatório que eu receberia se eles pensassem que eu estava
namorando alguém. Reid e Leona já eram ruins o suficiente,
não precisávamos de mais complicações na casa. O lugar era
praticamente um espetáculo de circo.
Cole ajustou o espelho para tentar chamar minha atenção.
— Desde quando? Você mal fala com mais ninguém, muito
menos mantém uma conversa tempo suficiente para que eles se
qualifiquem como amigos. Ou confiar neles em nossa casa
quando não estamos lá.
— Não é grande coisa. — Por que eles estavam agindo como
se eu fosse incapaz de falar ou conversar com outro ser
humano? Só porque eu escolhi não fazer isso não significava
que eu era incapaz. Minha irritação aumentou e o carro ficou
ainda mais claustrofóbico.
Cole estacionou.
— De qualquer forma. Se você não quiser a comida, não
coma a comida. — Saí do carro e bati a porta com mais força
do que pretendia, balançando o chassi. Se eu batesse a porta do
meu carro assim, uma janela provavelmente sairia.
Apenas em casa por tempo suficiente para deixar meu
equipamento, voltei para o meu carro.
— Ezra, aonde você vai? — Griff gritou para mim no
segundo em que meu pé cruzou a soleira.
— Sair! — Gritei por cima do ombro com o ar de janeiro
soprando no meu rosto.
— Apenas sair?
No final dos degraus, eu me virei.
— Sim.
Eu deveria estar chateado. Eu deveria estar pronto para
destruir tudo. Queimar tudo no chão sobre a derrota. Mas uma
vez que eu deixei o campo – além de rever as fitas do jogo para
ver como eu poderia melhorar, os acertos e até mesmo a alegria
de Goodwin – as provocações do jogo desapareceram.
Três dias. Não era muito tempo para ficarmos separados, não
quando passamos mais de três semanas sem nos ver, mas de
alguma forma saber que ela estava no campus, mesmo que eu
não estivesse lá, tornava tudo pior.
Eu esperava voltar, pronto para o último jogo da temporada,
em vez de retornar ao campus como um perdedor, mas não me
sentia como um agora. Nem mesmo no meu carro arruinado,
andando pelas ruas desoladas com bandeiras de futebol da
STFU acenando, zombando do fim da nossa temporada.
Parei em uma vaga no estacionamento do apartamento de
Maggie e um pequeno toque da buzina chamou minha atenção
para o carro à minha esquerda.
Maggie olhou para mim e baixou a janela.
— Ei, Ezra.
— Ei, Maggie. E aí? Achei que Willa disse que você precisava
dela.
— Sim. Eu precisava que ela voltasse para o apartamento com
meu carro, para que eu pudesse sair.
— Onde você está indo?
— Você não precisa saber. Só que eu não estarei de volta até
amanhã – tarde. Como à noite, talvez até no dia seguinte.
— Por que…
— Desculpe pela derrota, mas eu sei que Willa está ansiosa
para compensar você. — Ela piscou, então jogou na ré.
Olhei para o prédio. Ela estava lá em cima esperando por
mim. Um chiado exigente atravessou minha pele.
Willa me atendeu e durante toda a viagem de elevador até o
apartamento de Maggie, continuei limpando minhas mãos no
meu jeans. Os nervos se esticaram, muito mais do que nunca
antes de eu entrar em campo.
Quando eu jogava, não havia nada além de foco brutal e
determinação primordial. Eles me levaram e deixaram meu
corpo assumir o controle, como se eu caísse em um estado
primitivo para bloquear todas as distrações possíveis para a
vitória.
Eu bati. De pé no corredor, lutei para manter minha
respiração uniforme, esperando e querendo a mulher que
responderia.
CAPÍTULO 12
WILLA

Eu deixei Ezra subir. Ele estava aqui. Depois do jogo de ontem,


eu me culpei por não ter aceitado o ingresso oferecido por
Walsh, assim eu poderia estar lá por Ezra após a derrota. Mas eu
estaria envolvida no casulo da família e não seria capaz de vê-lo
de qualquer maneira.
Eu corri no mesmo lugar, com os joelhos erguidos e os braços
bombeando, para queimar a energia nervosa que corria por
mim.
Na batida, eu respirei fundo e corri minhas mãos pelo meu
cabelo. Abri a porta com dedos trêmulos.
— Você está aqui.
Ele inclinou a cabeça para trás, para que eu pudesse ver seus
olhos.
— Estou aqui.
Agarrei a frente de sua camisa para puxá-lo através da soleira
e ele me deixou. Essa pilha de músculos não estava se movendo
sem seu absoluto desejo expresso.
— Como foi a viagem de volta?
— Nada mal. O voo não foi muito longo. — Ele fechou a
porta atrás dele sem tirar os olhos de mim. — O que você fez
enquanto eu estava fora? — O olhar em seus olhos não era
predatório, mas estava faminto. Seu olhar travou em mim,
derramando uma energia sexual aquecida no ar.
Cada passo que eu dava mais fundo no apartamento de
Maggie, ele combinava, sem pressa, sem pressão.
Esta tinha sido a primeira vez que estávamos sozinhos e
garantidos da ininterrupção. Eu parei.
— Um segundo. — Não seríamos incomodados. Corri ao
redor dele e coloquei as duas fechaduras na porta, então mesmo
que Maggie aparecesse de volta, ela estaria totalmente sem
sorte.
Uma gargalhada escapou de seus lábios e retumbou em seu
peito.
— Não confia que Maggie realmente se foi?
— Apenas tendo certeza. Não quero ser interrompida.
— Você tem grandes planos para esta noite? — Seus olhos
estavam derretidos, enviando um pulso antecipado entre
minhas coxas.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
— É minha última noite no campus, só faz sentido.
Seus olhos se arregalaram com urgência e ele tirou o boné,
jogando-o como um frisbee.
— Você vai embora amanhã?
— Amanhã à noite.
Ele apoiou um braço contra a parede, me prendendo na
frente de seu corpo. Seus lábios baixaram em direção aos meus.
— Então é melhor tornarmos esta noite memorável.
— É melhor. — Eu o puxei para frente e fiquei na ponta dos
pés para preencher a lacuna muito grande entre nós.
Nossos lábios bateram juntos. Minha investida iminente
aumentou a urgência. Era um beijo frenético, esmagador e de
tirar o fôlego que nos deixou ofegantes.
Ezra costumava ser tão descontraído, tão calmo, mas esse
beijo era tudo menos isso. Faminto, frenético, esmagador como
se ele estivesse pensando nisso desde a última vez que nos
beijamos. Eu sei que estive.
Meus lábios doíam, mas eu queria mais.
Sua mão deslizou pelas minhas costas, me segurando mais
perto dele, e seu olhar se moveu dos meus lábios de volta para
os meus olhos.
Um olhar dele e meu corpo cantou. Meus ouvidos
zumbiram…
O som finalmente foi registrado. Não era apenas a respiração
de Ezra que eu ouvia. Um toque insistente e crescente rasgou
pela sala. Tanto para sem interrupções.
— Eu preciso atender isso.
Corri até o sofá e peguei meu telefone, atendendo antes que
o toque recomeçasse.
— Ei, Walsh.
— Oi, Willa. Você está bem?
— Por que eu não estaria? — Cruzei o braço sobre o peito e
caminhei até a janela, a frustração chacoalhando
profundamente em meus ossos. Com quantas outras garotas
Ezra tinha saído que tinham seus irmãos checando elas no meio
da pegação?
— Apenas checando. Você voa de volta para Philly um dia
antes do campeonato, certo?
— Sim, eu chego às nove, por quê?
— Você vem para o campeonato?
— Eu disse que se você conseguisse, eu iria. — Olhei por cima
do ombro para Ezra.
Ele se inclinou contra a parede onde estávamos nos beijando
e pegou seu boné rapidamente. Ambas as mãos estavam
enfiadas em seus bolsos. Sua térmica estava esticada em seu
peito e braços. Lajes grossas de músculos empilhadas para se
tornar este homem vivo que respira. Descansando, fingindo
que não podia ouvir minha conversa.
Coloquei o telefone no mudo.
— Há algumas cervejas na geladeira, se você quiser. E há
alguns hambúrgueres que mantive aquecidos no forno.
— Willa, você está me ouvindo?
Ativei a chamada.
— Na verdade, não.
— Você quer que mamãe e papai troquem sua passagem para
vir direto para cá?
— Sim, está bem.
— Bom, eles estavam preocupados com você indo do
aeroporto para casa sozinha.
— Eu posso. Eu não sou incapaz de fazer as coisas. Você
poderia ter me mandado uma mensagem para perguntar.
— Eu não ouvi sua voz e queria checar você.
— Isso é tudo que qualquer um faz. Eu tenho que ir.
Parabéns pela vitória. Vejo você amanhã à noite. — Desliguei a
ligação e respirei fundo. Olhei pela janela apenas vendo meu
reflexo. Com a forma como minha família me trata, demorei
muito para perceber que não era feita de vidro. Um movimento
em falso e eu não quebraria.
— Você está bem? — A mão quente de Ezra descansou no
meu ombro. Seu reflexo inundou o meu.
Tocando sua mão, eu me virei.
— Estou bem. Apenas coisas de família, você sabe.
Seus olhos se fecharam e um ruído de concordância ficou
preso atrás de seus lábios. Ele me entregou uma cerveja.
— Aquele era seu irmão. — Sua mandíbula se apertou.
Isso era vergonhoso.
— Era.
— Ele disse alguma coisa sobre o jogo? — O pomo de Adão
dele balançou.
Eu balancei minha cabeça e tomei um gole da minha bebida.
— Não, ele estava apenas verificando minha viagem para
amanhã. — Sempre verificando. — Por quê?
— Nenhuma razão. Só queria saber.
— Ele sabe que não deve falar comigo sobre futebol neste
momento. No ensino médio, eu era arrastada para todos os
jogos porque meus pais não me queriam em casa sozinha, então
eu disse a ele que não iria a outro a menos que ele ganhasse o
campeonato nacional.
— Parece justo. — Ele pegou o rótulo de sua cerveja.
Um constrangimento se insinuou. Telefonemas com meu
irmão mais velho não eram exatamente sexy, especialmente
quando Ezra tinha acabado de perder um jogo para ele. Eu
deveria ter atendido a ligação no meu quarto ou talvez fosse
uma pessoa normal que pudesse ignorar uma ligação e não ter
uma maldita equipe da SWAT pronta para aparecer para ter
certeza de que eu estava bem. Quem ainda estava com a
campainha ligada neste momento? Mas se eu perdesse uma
ligação ou mensagem, eu sabia que haveria níveis insanos de
preocupação dos meus pais e irmão.
— Desculpe.
Sua cabeça se ergueu.
— De que é que está se desculpando?
— Eu... eu tinha toda uma rotina de sedução e mimos
planejada. Eu ia convidá-lo para entrar. Trazer-lhe uma bebida.
Te alimentar.
Ele soltou outra risada profunda que enviou faíscas pela
minha pele.
— Você acha que eu preciso ser seduzido? Mimos?
— Talvez não precise, mas queira. — Foi aqui que ele riu na
minha cara? A ideia toda parecia cada vez mais idiota. Bebi
minha cerveja para evitar ter que olhá-lo nos olhos.
Ele inclinou a garrafa de volta para baixo, quebrando o
contato com meus lábios, e um pouco da cerveja jorrou de
meus lábios. Seus dedos traçaram o líquido rolando pelo meu
queixo e ele cambaleou para frente, a boca descendo na minha
mais uma vez.
Ele tinha gosto de lúpulo e cevada. Sua língua entrelaçada
com a minha, provocando e aumentando cada toque.
Com minhas costas pressionadas contra a janela fria, arrepios
brotaram por toda a minha pele.
Ezra tinha uma mão na parte inferior das minhas costas e a
outra na lateral do meu pescoço, me segurando no lugar. Não
que houvesse algum lugar para eu ir.
Minha bunda bateu no parapeito da janela. A madeira gemeu
e eu arranquei minha boca da dele.
— Por mais quente que seja, prefiro não cair desta janela.
Seus olhos se abriram e a fome neles enviou um pulso
reverberador pela minha espinha. Ele se endireitou e deu um
passo para trás.
— Desculpe, me empolguei um pouco.
— Eu não me importei, além de toda a parte de não cair pela
janela.
Ele riu.
Eu me aproximei e coloquei minhas palmas em suas
bochechas, arrastando meus dedos para cima até que eles
tirassem seu boné. Peguei e joguei no sofá.
— Você realmente gosta desse boné, hein? — Usando
minhas unhas, eu gentilmente passei meus dedos por seu cabelo
curto e ao longo de seu couro cabeludo.
— Isso vem a calhar. — Seus olhos se fecharam e ele gemeu.
— Mas isso significa que eu não consigo ver seus olhos.
Eles se abriram. Seus olhos azul-ardósia me perfuraram com
sua profundidade, atraindo-me para as ondas de seu olhar.
— Eu não me importo quando você faz isso, Willa — ele
disse, a voz rica e áspera. Seu dedo roçou ao longo da base da
minha mandíbula.
Estremeci e corri meus dedos pela parte de trás de sua cabeça.
Seu rosto relaxou, lábios entreabertos, mas ele continuou me
encarando até que eu me contorci, apertando minhas coxas
juntas. Rápido. Isso estava indo tão rápido. Era o que eu tinha
planejado, mas agora tudo parecia um trem desgovernado.
— Está com fome?
Seu olhar caiu para meus lábios.
— Morrendo de fome.
Meus dedos pararam e eu pressionei contra seus ombros.
— Merda, os hambúrgueres. — Eu atravessei o apartamento
e entrei na cozinha. Usando uma toalha de cozinha, peguei a
bandeja do forno. O calor queimou o pano úmido e deixei cair
a bandeja no fogão. — Merda! — Acenei com a mão e soprei
nela.
— É ruim? Deixe-me ver. — Ezra correu e segurou minha
mão.
— Tudo bem, só doeu um pouco.
Ele riu e alisou seus dedos sobre os meus. As almofadas
calejadas fizeram cócegas na palma da minha mão e meus
joelhos quase cederam.
— Talvez eu devesse dar uma olhada mais de perto.
Meu estômago deu um nó. Eu não precisava de outra pessoa
ao meu redor que jurasse que eu era quebrável.
Em vez de procurar nos armários um kit de primeiros
socorros, ele levantou minha mão e beijou meus dedos.
— Assim é melhor?
Este era o tipo de atenção que eu não me importava. Eu
balancei minha cabeça.
— Não?
— Não.
Ele sorriu e beijou o centro da minha palma.
— Que tal isso?
— Perto, mas não exatamente.
— Tem certeza?
— Positivo.
Seus lábios deslizaram sobre o interior do meu pulso.
A pele delicada não era páreo para seus lábios. Ele beijou e
beliscou até que minhas costas estavam mais uma vez
pressionadas entre Ezra e um objeto imóvel. A geladeira
chacoalhou atrás de mim.
— Eu quero você, Willa.
— Bom, porque eu quero você também.
Ele deslizou as mãos sob minha bunda e me levantou.
Eu envolvi minhas pernas em volta de sua cintura.
— Qual desses é seu? — Ele falou entre beijos no meu
pescoço.
— Última porta.
O solavanco de sua caminhada criou um atrito delicioso
contra os botões de sua calça jeans, que estavam causando
estragos na minha boceta. Como ele tinha planejado, cada salto
com cada passo esfregava contra meu clitóris e apertava minhas
pernas ao redor dele.
Ele entrou no quarto e me jogou na cama.
Eu saltei e ri, ficando de joelhos e o chamando para frente.
Como se eu o tivesse enfeitiçado, ele se moveu para mim, os
joelhos batendo no topo do colchão.
— Você tem certeza sobre isso?
— Nunca tive tanta certeza. — Deslizei minhas mãos sob sua
camisa e a arrastei por sua pele, beijando meu caminho até o
centro de seu peito.
Ele levantou as mãos e me deixou puxá-la por cima dele.
Ainda de joelhos, mergulhei nele. Os ombros largos, as estrias
musculares. Mas foram os olhos dele que roubaram o ar dos
meus pulmões. As profundezas deles me puxaram do fundo,
me atraindo para ele, me fazendo querer nunca mais sair
daquele lugar. Sua fome por mim, crua e feroz, me encorajou e
aumentou minha excitação.
— Sua vez. — Ele pegou minha camisa e a tirou de mim com
os nós dos dedos arrastando pela minha pele como se ele
estivesse tentando me enlouquecer. Eu nunca pensei que a
parte de despir poderia fazer meu corpo inteiro zumbir.
Com um movimento experiente de seu dedo, meu sutiã
afrouxou e as alças caíram dos meus ombros. Meus mamilos
endureceram e seu olhar caiu para eles. Ambas as mãos subiram
para segurar meus seios. Eu engasguei, minha carne endureceu,
e me inclinei para seu toque.
Rolando-os entre os dedos, ele olhou nos meus olhos.
— Tire minhas calças, Willa.
Sua voz estava rouca e áspera, o timbre perfeito para
aumentar a pulsação pulsante em minha boceta.
Meus dedos voaram para os botões de sua calça jeans. Eu a
empurrei para baixo de suas pernas, levando sua boxer com ela,
a antecipação quase me matando junto com seus dedos
traçando seu caminho ao longo da curva dos meus seios e até o
meu pescoço.
Ele terminou a atenção dada a eles antes de se inclinar para
capturar meus lábios novamente. Ele deslizou os dedos entre as
minhas pernas.
Minha respiração ficou presa, gavinhas de antecipação
avançando pela minha pele. O ar frio correu ao longo da minha
carne, tornando o calor de sua mão ainda mais forte. A
massagem suave de seus dedos roçou o interior das minhas
coxas, aumentando a sensibilidade da minha pele.
O latejar do meu núcleo tornou-se uma pulsação enquanto
seus dedos deslizavam sobre minha boceta coberta de tecido.
Com uma mão na parte de trás do meu pescoço, ele deslizou
a outra sob o cós da minha legging, mas não minha calcinha.
Ele provocou meu clitóris através deles. Seus olhos nunca
deixaram os meus.
Meus ruídos necessitados aprofundaram a intensidade de seu
olhar derretido.
Uma vez que seus dedos deslizaram sob o pano rosa e
roçaram meu clitóris, meus quadris dispararam para frente,
quase me derrubando da cama, só parando por ele me puxando
para trás.
Sua risada baixa e retumbante era suave como calda de
chocolate e igualmente deliciosa.
Nunca quebrando o beijo, ele deslizou minha legging e
calcinha para baixo, apertando minha bunda e me puxando
mais forte contra ele antes de me inclinar para trás para puxá-
las o resto do caminho.
Ofegante, eu estava deitada na cama com Ezra olhando para
mim. O zumbido de prazer tirou meus nervos, apenas me
deixando aberta e pronta.
O peso de sua ereção se arrastou ao longo da parte interna das
minhas coxas, sua ponta grossa de cogumelo brilhando.
Eu não era a única excitada. Isso me encorajou. Eu enrolei um
dedo para ele para fazê-lo rastejar sobre mim.
— Ainda não. — A palavra era tão promissora, minha boceta
se apertou. — Abra suas pernas para mim. — A riqueza melosa
de sua voz tornou difícil para me concentrar em suas palavras.
— Abra, Willa. — Ele pressionou um dedo contra o interior
das minhas coxas.
O constrangimento não teve chance contra a carga elétrica de
seu toque. Eu sabia todas as coisas que deveria estar sentindo
agora, mas tudo que eu podia sentir era vazio, ansiando por seu
toque.
Em vez de rastejar em cima de mim, ele caiu de joelhos e me
puxou para frente antes de empurrar meus joelhos para trás até
que eu estivesse exposta.
Sua respiração se espalhou pela minha boceta, deslizou sobre
meu clitóris até que eu estava se contorcendo e trêmula.
— Ezra… — O resto da minha frase foi engolida pelo meu
gemido.
Ele arrastou a língua pela minha boceta, terminando no meu
clitóris. Usando um braço enganchado atrás dos meus joelhos
com minhas coxas pressionadas contra meu peito, ele me
impediu de me mover. Com a outra mão, ele pressionou um e
depois dois dedos no meu núcleo aquecido e apertado. A
combinação de seus dedos bombeando e o polegar
massageando meu clitóris me fez contorcer em segundos.
Quando ele curvou os dedos, esfregando-os contra o teto da
minha boceta, estrelas explodiram atrás dos meus olhos. Eu
gritei seu nome. Minhas pernas estremeceram. Meu corpo
ficou tenso. Meu prazer disparou. Incapaz de me mover, o
orgasmo rasgou através de mim com Ezra me levando de pico a
pico com seus dedos e escovas de sua língua.
Tremendo, eu engasguei, tentando recuperar o fôlego. Meu
clitóris latejava, o estômago parecia cheio de um milhão de
beija-flores quando desci do alto que estava cavalgando.
— Droga, você é bom nisso.
Ele riu e colocou beijos suaves no interior das minhas coxas.
— Elogios vão te dar ainda mais disso.
— Eu realmente espero.
Ele beijou logo abaixo do meu umbigo, entre o vale dos meus
seios, enquanto rolava meus mamilos com as pontas dos dedos.
— Que bom que foi bom para você.
A função motora voltou ao meu corpo e eu envolvi minhas
pernas ao redor de seus quadris, os calcanhares cavando em sua
bunda esticada.
— Tenho certeza de que há apenas uma coisa que seria
melhor.
Ele beijou meu pescoço.
A cabeça de seu pênis esfregou minhas dobras. Estremeci e
tranquei minhas pernas com mais força, lutando entre segurá-
lo perto e te dar espaço para balançar contra mim com mais
força.
— Preciso pegar uma camisinha. — Ele se moveu para trás,
mas eu fui com ele, mantendo meus braços em volta de seu
pescoço. Sua risada bagunçou meu cabelo ao longo do lado do
meu rosto. Cada uma delas parecia um presente. Como se ele
não risse muito, e cada vez soava como se estivesse
reaprendendo a fazê-lo.
— Eu tenho algumas. Não se mova. — Estendi a mão para a
caixa que havia comprado na esperança de que fosse assim que
as coisas terminaram.
Rasgando o pacote de dez com os dentes, peguei um pacote
de papel alumínio e coloquei a ponta entre os lábios.
— Achei um. — Minhas palavras murmuradas fizeram o
quadrado dourado saltar para cima e para baixo.
— Não é como eu fui presenteado com uma dessas antes. —
Ele a arrancou da minha boca.
Um raio irracional de ciúme me atingiu. Claro, ele não tinha
uma escassez de ofertas. Ele não era virgem. Não como eu.
Ezra balançou para trás e colocou a camisinha.
Não tinha me ocorrido conscientemente não dizer a ele que
eu era virgem, mas agora que estávamos quase aqui. Agora que
a cabeça envolta em látex de seu pau brincou com meu clitóris
antes de deslizar para baixo, cutucando a entrada da minha
boceta.
Agora que ele estava em cima de mim, olhando para mim e
me fazendo sentir como se eu tivesse a capacidade de derrubá-
lo com um olhar, uma respiração, um toque, eu não podia dizer
a ele. Não quando ele poderia fazer uma escolha diferente se
soubesse. Eu não queria que ele me tratasse como se eu fosse
uma coisa frágil.
A rocha de seus quadris arrancou suspiros do meu peito.
— Porra, você está me matando, Ez.
Seu olhar estalou para o meu e ele me beijou. Um beijo feroz
e avassalador que curvou meus dedos dos pés e roubou minha
respiração.
— Isso não pode acontecer. — Com um olhar de pura fome,
ele avançou.
Meus tornozelos cruzaram suas costas, dorsais agrupados sob
minhas panturrilhas. Sons desleixados de onde nossos corpos se
encontraram aqueceram minhas bochechas e destacaram o
quão bem ele me preparou. Eu estava além de preparada, eu ia
virar uma supernova. Tudo que eu precisava era dele.
Impulsos irregulares na entrada foram eclipsados por um
movimento rápido de seus quadris contra os meus. Seu pau
esfregou ao longo das minhas paredes, esticando e provocando
prazer.
Mas ele estava se movendo tão lentamente, seu olhar no meu
como se ele não quisesse perder um momento da nossa
primeira vez juntos.
Eu rolei meus quadris para forçá-lo mais fundo e
desequilibrei nosso equilíbrio. Ele caiu para frente, um joelho
escorregando.
A invasão foi rápida e brutal. Pressão e queimadura
roubaram meu fôlego. Fechei os punhos com força, enrosquei-
me na colcha e fechei os olhos com força.
Ele recuperou o equilíbrio e seu corpo parou acima do meu.
— Willa? — A maneira cautelosa e carinhosa com que ele
disse meu nome ameaçou quebrar meu coração.
— Está bem. Apenas me dê um segundo. — Entre minhas
pernas, onde Ezra havia me espetado latejava, mas um sussurro
da felicidade elétrica permanecia. Eu respirei trêmula e relaxei
meus músculos como ao desfazer nó de cabelo.
— Leve o tempo que precisar. — Seus braços deslizaram sob
meu corpo, embalando-me mais perto de seu peito, mantendo
seus quadris parados.
A cada segundo que passava a queimadura se transformava
em pulso e cada movimento era menos doloroso e mais
prazeroso. Eu levantei minhas pernas, destravando-as e plantei
meus pés na cama.
Ele afundou mais e respirou fundo com os dentes cerrados.
Seu osso púbico esfregou contra meu clitóris com a mudança
de nossos corpos e eu gemi. Arrepios subiram pela minha pele,
meu corpo apertando de uma maneira diferente desta vez.
Eu olhei em seus olhos.
— Você pode se mover, por favor?
Seus olhos se arregalaram e ele se afastou de mim.
— Eu te machuquei. — Sua cabeça pendeu e ele se inclinou
para longe de mim. Então, eu me dei conta do que ele achava
que eu estava dizendo. O que ele achava que eu queria.
Eu me agarrei nele.
— Ezra, não!
CAPÍTULO 13
EZRA

— Ezra, não! — A voz de Willa me parou, e eu estava


congelado, não querendo fazer nada para machucá-la.
Então suas mãos subiram, não para me empurrar, mas para
me agarrar.
— Eu não quis dizer se mover como “saia de cima de mim”,
eu quis dizer se mover como “está tudo bem se mover de novo”.
— Ela arrastou os dedos pelo meu peito e tentou me convencer
em cima dela.
— Você tem certeza que está bem?
Ela mexeu os quadris, me afundando mais fundo em seu
aperto.
Meus olhos ameaçaram rolar para trás na minha cabeça, mas
eu não queria parar de observar Willa. Doce e sexy Willa que
não tinha medo de nada. Nem mesmo um idiota gigante que a
machucou. Eu a senti apertar debaixo de mim e, enquanto isso
poderia ter sido um impulso para o ego, eu nunca iria querer
que ela associasse dor a mim e sexo.
— Willa, você está tão quente agora.
— Então me mostre, Ezra. — As palavras desceram pela
minha espinha e foram direto para minhas bolas. Como se ela
as segurasse em suas mãos, massageando-as, e me levasse ao
limite antes que ela chegasse lá sozinha.
Eu planejava mostrar a ela, e o calor latejando na minha
cabeça viajou para a minha virilha, exigindo a liberação que eu
estava buscando desde que afundei entre suas pernas e lambi
sua boceta.
Eu cerrei meus dentes e me recusei a chegar lá antes dela,
novamente.
Os ruídos que Willa fez causaram arrepios na minha espinha.
Perfeitamente cronometrado para roubar minha próxima
respiração até que eu estivesse me afogando no prazer que nos
inundava.
Suas costas arquearam para fora da cama e suas paredes se
fecharam ao meu redor, estrangulando meu pau com
felicidade.
Observá-la me estimulou a aumentar o quão bom era para ela
e o prazer incandescente para mim. Agarrei-me ao meu último
controle para superar os espasmos que me agarravam, e
saboreei o orgasmo escaldante me perseguindo. A parte de trás
da minha cabeça parecia que estava a segundos de ser explodida,
os tendões da minha espinha perto de quebrar. Não consegui
me conter e derramei na camisinha, tonto.
Com cuidado para não deixar meu peso de corpo inteiro cair
sobre ela, eu nos puxei para os nossos lados.
Ela olhou para mim com uma admiração bêbada de sexo e
tirou um pouco do cabelo suado da minha testa.
— Foi um treino e tanto.
— Se os treinos fossem tão bons, eu estaria na academia sete
dias por semana. — Meu coração disparou como se eu tivesse
acabado de terminar uma maratona.
— Os outros caras da equipe podem se sentir um pouco
estranhos com minhas pernas sobre suas cabeças para o
aquecimento?
Eu sai de dentro dela, lentamente suavizando com a menção
de outros caras.
— Apenas treinos fechados.
Ela riu e suspirou.
— Se divertiu?
— É claro. E você?
Seu rosto enrugou por um flash.
— Definitivamente.
Sentei-me na beira da cama tentando me recompor, uma
pequena pulga na parte de trás da minha cabeça permeou a
noite desde o minuto em que entrei pela porta.
Eu estava despedaçado, pedaços de mim ainda pareciam
flutuar no éter. Usando toda a minha força, juntei os pedaços
irregulares de mim mesmo e respirei:
— Essa foi sua primeira vez, não foi?
Ela pegou o lençol, enrolou-se nele e sentou-se na beirada da
cama ao meu lado.
— É fácil dizer isso, hein? Eu juro, eu aprendo rápido, você
não precisava dizer o que disse para poupar meus sentimentos.
Olhei para ela, choque explodindo na minha cabeça.
— Você acha que estou criticando você?
— Na verdade, não. — Ela colocou uma mecha de cabelo
atrás da orelha e colocou as mãos sob as pernas. — Achei que
poderia aliviar o clima. Parece que eu estava errada.
— Por que você não me contou?
— Por que você precisava saber? Eu queria fazer sexo. Você
queria fazer sexo. Fizemos sexo.
— Mas foi a sua primeira vez. — Olhei ao redor do
apartamento que ainda era melhor que o meu com a culpa
cortando meu intestino.
— Então? — Sua cabeça inclinou para o lado.
— Deveria ter sido...
A raiva de mim mesmo cresceu, espremendo o ar de meus
pulmões e zumbindo em meus ouvidos como uma colmeia.
— Exatamente como eu queria. E eu queria aqui com você.
A última coisa que eu precisava era que eu dissesse a você que
eu era virgem e você colocasse na sua cabeça que você tinha que
fazer disso um grande negócio, torná-lo especial, torná-lo
perfeito. — Ela deslizou para fora da cama ao meu lado e se
agachou na minha frente com o lençol espalhado ao redor dela
como um vestido e descansou as mãos nos meus quadris, que
apertaram sob seu toque.
Agarrei a beirada da cama, não querendo tocá-la novamente.
— Você merecia…
— Foi.
— Foi o quê?
— Perfeito. Especial. — Ela abriu um daqueles sorrisos
ofuscantes que limpavam meu cérebro.
— Willa…
Ela se sentou na minha perna e segurou meu rosto entre as
mãos. Seu olhar fixo no meu. Não havia onde se esconder.
Então, eu fechei meus olhos.
— Você deveria se vestir.
Ela merecia o mundo.
— Ez.
Uma palavra fez meu coração acelerar. Sua respiração traçou
em meu rosto. Seus lábios salpicaram minha pele.
Lenta, metodicamente, ela beijou minha mandíbula, minhas
bochechas, meu nariz antes de passar para a minha testa,
terminando com um depositado em cada uma das minhas
pálpebras.
— Eu gostaria que você pudesse ver você como eu vejo você.
Ela viu partes de mim.
Ela mal me conhecia.
Abrindo os olhos, não consegui forçar as palavras. Elas
travaram na minha garganta, enterradas mais profundamente
com os roçar de seus dedos ao longo dos lados do meu pescoço
e na parte inferior da minha mandíbula.
Eu queria mais do que tudo ser como o cara que ela me via.
Eu queria merecer esse sol que ela derramou em mim sem
expectativa. Eu queria que ela continuasse me querendo.
— Você está bem? — Eu envolvi meus braços ao redor de sua
cintura, ancorando-a em mim. Meus dedos roçaram a suave
inclinação de seus quadris.
— Melhor do que bem. — Ela olhou nos meus olhos,
desejando que eu não ficasse chateado.
Eu não ficaria. Nunca. Se ela dissesse que gostou do que
fizemos, do que eu fiz, eu teria que acreditar nela. E eu te daria
ainda mais de onde isso tinha vindo.
— Então você está pronta para mais?
Ela verificou seu relógio imaginário.
— Há vinte e quatro horas antes de eu precisar estar no
aeroporto. Eu poderia usá-las um pouco mais.
Agarrando-a pela cintura, eu a levantei e voltei para a cama.
Ela subiu no colchão, tentou montar em mim e pegou um
dos preservativos na colcha.
Eu acalmei sua mão e levantei meus joelhos, balançando-a
para frente, derramando-a em meu peito. Meu pau duro saltou
contra sua bunda.
Sua cabeça inclinou para o lado e suas sobrancelhas se
juntaram.
Eu apertei sua bunda.
— Senta na minha cara.

Deitada em cima de mim como uma água-viva, Willa riu e se


afundou mais ao meu lado. Eu gostava que ela se sentisse segura
comigo. Que ela se sentisse confortável comigo. Que ela
confiasse em mim. Talvez apenas para fazê-la gozar algumas
vezes com a minha língua, dedos e pau, mas eu não acho isso
pouca coisa.
O peso disso me atingiu com força. Até seus toques. Eu me
esforcei e vasculhei minhas memórias para encontrar a última
vez que fui tocado quando não tinha a ver com futebol, um
abraço de irmão ou dor.
Mas aqui estava ela correndo os dedos pelo centro do meu
peito, suspirando como se nunca tivesse estado tão contente.
Nunca estive mais feliz.
Apertei meu punho, pressionando-o contra o colchão. Eu
queria agarrá-la com os dois braços, não continuar acariciando
suas costas preguiçosamente. Eu queria apertá-la com força e
não deixá-la ir, mas não podia. Eu precisava. Para ela e para
mim.
Talvez isso fosse tudo que me seria permitido. Tudo que eu
merecia. Esses vislumbres de alegria.
Eles queimavam tão intensamente que meus olhos doíam,
mas eu não conseguia parar de olhar. Eu não conseguia parar
de tentar me absorver em cada respiração.
— Você realmente deveria vir me visitar. — Ela olhou para
mim de onde sua cabeça descansava no meu ombro.
— Não é uma boa ideia. — Eu poderia explodir em chamas
no segundo em que pisasse nas partes não relacionadas ao
futebol do campus Fulton U.
Sua cabeça estalou.
— Por que não?
— É muito longe. — Meu carro chegaria lá em um rolo de
fita adesiva e uma oração. Quanto tempo antes das diferenças
entre nós se tornarem um grande negócio?
— Não é tão longe. Estou aqui. — Ela se sentou, cruzando as
pernas e cruzando os braços, o que criou um volume com seus
peitos que era insanamente perturbador.
— Você voou. — Eu bufei e coloquei minhas mãos atrás da
minha cabeça.
— Eu poderia comprar uma passagem para você.
Isso acalmou minha respiração e meus olhos se voltaram para
os dela.
— Não, Willa.
— Não é tão caro.
— Para você. Não há razão para eu ir até o outro lado do
estado. — Eu superei um estremecimento. Fulton U não estava
longe da casa de grupo em que morei nos últimos dois anos
antes de envelhecer. Voltar para lá, sem um contrato
profissional, não estava nas cartas. Foi parte da razão pela qual
eu não tinha ido para Fulton U em primeiro lugar. Seus
recrutadores estavam atrás de mim, mas aproveitei a chance de
ir para a STFU, do outro lado do estado, que era o mais longe
que eu podia me mover.
— E quanto a mim? Eu não sou motivo suficiente? — A dor
encheu seu olhar.
Eu me levantei, o peito afundando com arrependimento de
como minhas palavras a atingiram, e peguei suas duas mãos.
— Claro que sim, claro que sim, mas você vai voltar para as
aulas. Tenho aulas, treinos e treinos. Eu teria que dirigir minha
caixa de merda de carro quatro horas até lá, que poderia
quebrar, então você ficaria presa comigo. — Eu escovei meus
dedos sobre seus dedos e tentei manter a tensão fora da minha
voz. Ninguém queria ficar preso a mim.
— Eu não reclamaria. — Ela se aproximou até que seus
joelhos roçaram minha coxa.
— Então, eu simplesmente me mudo para o seu dormitório
e durmo no seu chão, comendo suas sobras do refeitório pelo
resto do semestre e falho, assim não posso jogar. — O buraco
que eu tinha cavado era exatamente porque visitá-la era uma
má ideia. Eu mal conseguia evitar que ela ficasse chateada
depois de passar menos de doze horas com ela, onze das quais
estávamos sem roupa.
— Você não teria que dormir no chão. — Seus lábios
franziram e ela soltou um suspiro exasperado completo com as
mãos jogadas no ar. — Odeio não saber quando poderei vê-lo
em seguida. — Ela pegou o edredom impecável.
Eu odiava isso também, parte de mim desejava que ela
morasse mais perto, enquanto a outra parte de mim estava
aliviada por não ter as preocupações de que ela descobrisse mais
sobre mim, descobrindo meu passado e o que eu escondia de
todos.
— Nenhum de nós tem folga até as férias de primavera de
qualquer maneira. É muito tempo para descobrir isso. Não se
preocupe tanto.
Ela exalou o que soou como uma risada presa.
— Como se eu pudesse parar.
— O que é…
— Deixa para lá. Você tem razão. — Ela caiu de joelhos com
as sobrancelhas juntas como se seus pensamentos a estivessem
preocupando. — Desculpe por ter surtado.
— Você não surtou. Mas não é como se caso não fizermos
um plano antes de você ir, nunca mais nos veremos. Eu ligo
para você, nós mandamos mensagens, assim como antes. —
Seria mais seguro. Menos chance para eu foder as coisas mais
tarde, menos chance para ela perceber que o que eu tinha a
oferecer não era nada para ela, mas se continuássemos a
pequenos momentos roubados como esses, talvez ela
demorasse mais para perceber. E eu não conseguia parar de
querer vê-la novamente, mesmo que isso significasse empurrar
meu carro de merda nos últimos quilômetros.
— Eu sei. — Ela esfregou o lado de sua cabeça como se uma
dor de cabeça estivesse chegando. — Nós vamos fazer isso
funcionar.
— Vamos dormir um pouco. — Eu ainda estava agitado, mas
era melhor terminar a conversa antes que eu fizesse promessas
que não poderia cumprir. Ligações e mensagens de texto eu
poderia lidar, e talvez uma visita quando eu estivesse na cidade
para um jogo, mas era melhor manter as coisas vagas, então eu
não a decepcionaria.
Nós limpamos, Willa me deu alguns moletons que Maggie
tinha providenciado e ela vestiu o pijama da cômoda no quarto.
Ela tinha lugares para ir e pessoas que se importavam com ela
em todos os lugares. Amigos que alugavam apartamentos com
quartos extras só para ela ter um lugar para dormir.
Olhei para o teto. Nunca houve alguém que se importasse
tanto comigo. Os caras e eu éramos o mais próximo possível da
família, mas isso não dizia muito. Um arranjo temporário que
seria quebrado quando não fôssemos mais companheiros de
equipe ou de repente eu estivesse pronto para quebrar alguns
de seus ossos em uma equipe adversária. Temporário. Tudo
isso era temporário.
Os cobertores se levantaram e Willa deslizou na cama ao meu
lado. Ela me encarou, seu olhar como escovas na minha pele.
Horas roubadas antes que ela voltasse para sua vida e eu
voltasse para a minha. Desliguei o abajur de cabeceira e fechei
os olhos antes de fazer uma confissão estúpida para ela. Uma
que só iria me machucar a longo prazo.
Elas sempre fizeram.
CAPÍTULO 14
WILLA

Batidas altas me assustaram. Eu gritei. Ezra se levantou e se


jogou em cima de mim. Pânico arrepiou minha pele.
Travesseiros e cobertores voaram por toda parte e seu corpo
esmagou o meu. Seus olhos estavam arregalados e selvagens, o
cabelo achatado de um lado. Seus braços estavam em cada lado
de mim.
— Ezra? — Eu engasguei, mal conseguindo respirar.
As batidas soaram novamente.
— Vocês ainda estão em um frenesi sexual ou posso voltar
para o meu apartamento?
— É Maggie — eu engasguei, ainda tentando arrastar o ar
para meus pulmões.
O medo lentamente deixou seus olhos, que ainda estavam
nublados pelo sono.
— Ezra, é Maggie. — Eu pressionei minha palma contra seu
peito.
Seu coração trovejou sob meus dedos como se ele tivesse
dado a volta no quarteirão. Ele pulou de cima de mim como se
eu o tivesse queimado.
Eu respirei fundo e balancei para o lado da cama.
Maggie bateu novamente.
— Que bom, hein? Nenhum de vocês pode andar?
Corri pelo corredor para parar seus anúncios de sexo para
todo o maldito prédio. Usando minha palma da mão, empurrei
sua cabeça irritante para trás da abertura na porta. Desfazendo
a fechadura da corrente, abri a porta e a puxei para dentro do
apartamento, fechando-a atrás dela.
— Que diabos, Maggie? Você poderia ter me ligado se
precisasse entrar.
— Eu liguei. — Ela largou a bolsa no chão e acenou com o
telefone na frente do meu rosto. — Sete vezes. Eu quero fazer
xixi há onze minutos. — Sem outra palavra, ela correu para o
lavabo da sala de estar. — Quero todos os detalhes. — Suas
calças estavam na metade quando a porta se fechou.
Totalmente vestido, Ezra estava no final do corredor com as
mãos nos bolsos. Em dois passos, ele chegou ao sofá e pegou seu
boné, colocando-o. E assim ele se fechou novamente.
Uma picada aguda esfaqueou entre minhas costelas antes de
desaparecer. Calma, Willa. Maggie chegou. Ele era muito mais
tímido do que não era, especialmente com outras pessoas ao
redor, não que eu o tivesse visto perto de muitas outras pessoas.
Esfreguei minhas mãos para cima e para baixo em meus
braços agora gelados. Estava frio agora que eu não estava
enrolada na cama com Ezra. A noite passada tinha sido uma
experiência de alta energia que eu não tinha previsto. Um
chicote emocional que não esclareceu nada entre nós.
Isso é o que eu ganho por esperar que o sexo descomplicasse
o que quer que estivesse acontecendo.
Maggie pulou para fora do banheiro com as mãos pingando,
abotoando o jeans. Seu olhar passou de mim para Ezra.
— Vocês dois malucos se divertiram ontem à noite? — Ela se
inclinou contra a parede com a mão apoiada na lateral de sua
cabeça.
— Maggie, estou a três segundos de arrastar você para o sofá
e sufocá-la com uma almofada.
— Tão sensível. — Ela empurrou a parede. — E você, Ezra?
Você teve uma noite incrível?
Ele mudou de pé para pé e manteve a cabeça baixa.
— Obrigado por me deixar ficar aqui ontem à noite.
— Você estava me fazendo um favor, lembra? — Ela piscou,
embora ele ainda não tivesse olhado para cima.
— Por que você voltou tão cedo?
— Desde quando meio-dia é cedo para você?
Eu me virei e verifiquei o tempo do micro-ondas.
— Merda. — Se eu tivesse perdido sete ligações de Maggie,
deveria haver mais mensagens da minha família. Corri para os
sofás, jogando travesseiros e procurando pelo meu telefone.
Maggie ligou novamente. Todos paramos e ouvimos a
vibração. O número dela não tinha um toque atribuído.
— Debaixo do sofá. — Ezra deu um passo à frente.
Eu mergulhei no chão quando o assento estofado cinza de
três lugares desapareceu de vista.
Ele o segurou de uma ponta como se eu tivesse pedido para
ele pegar uma caixa de papelão vazia.
Com a preocupação revirando no meu estômago, peguei o
telefone.
Ezra gentilmente colocou o sofá no chão.
Minha tela se encheu de notificações no segundo em que a
toquei. Sem verificá-los, liguei para minha mãe. O primeiro
toque nem foi concluído antes de a linha abrir.
— Estou bem. Estou cem por cento bem — eu me apressei,
tentando evitar as consequências inevitáveis.
— Onde você estava, Willa? Por que você não respondeu
nossas mensagens ou ligações? — A voz frenética da minha mãe
perfurou meu coração, e a culpa borbulhou.
— Maggie e eu ficamos acordados até tarde assistindo a filmes
e adormecemos. Nós duas fomos para a cama e eu deixei meu
telefone na sala. Eu não ouvi.
— Você está só acordando agora? Já passa de meio-dia.
— Me desculpe, mamãe. Desculpe por ter preocupado você.
Ela respirou fundo e outra voz se juntou a ela do fundo.
— Você nos preocupou. — Outra bomba de culpa foi
lançada.
— Eu sei. Diga ao papai que sinto muito também.
— Eu vou. — Outra inspiração excessivamente longa. —
Enviamos sua passagem ontem. Você a recebeu?
— Sim, eu as tenho e vou fazer o check-in agora, já que só
tenho minha bagagem de mão. Já que vou chegar tão tarde,
posso pegar um táxi...
— Claro que não. Seu pai e eu estaremos lá para te pegar.
Olhei para o teto, a frustração crescendo.
— Vocês não precisam, eu sei que vocês estão cansados.
— Estaremos lá. Só queremos saber se você está bem.
Parecia uma batalha que eu estava constantemente
perdendo. Culpa por fazê-los se preocupar. Culpa por fazer
algo pelas costas deles para impedi-los de se preocupar. Uma
máquina de culpa perpétua.
— Totalmente bem e perfeitamente segura.
— Ligue para nós quando chegar ao aeroporto e assim que
pousar.
— Eu sempre faço.
— Amo você, Willa.
— Também te amo, mãe.
Terminei a ligação e fechei os olhos, segurando o telefone
contra o peito. As paredes se fecharam. O abraço
claustrofóbico da preocupação me apertando mais forte.
Maggie colocou o boné.
— Quem quer café da manhã – almoço – o que quer que
seja? Vamos comer.
O vento chicoteou em níveis de tirar a pele desde o segundo em
que saímos pela porta do apartamento.
Ezra insistiu que eu dirigisse com Maggie até o café da manhã
do campus, nos seguindo em seu carro. Eu gostava de pensar
que era porque ele não queria que eu congelasse no caminho,
mas talvez ele quisesse colocar mais distância entre nós. Nós
dormimos juntos, então fazer planos sobre o que viria a seguir
não parecia loucura. Mas talvez devesse ter sido. Ele gostava de
mim, claro, mas isso era uma coisa de conveniência? Eu estava
na cidade. Não, ele foi ao aeroporto para me buscar. Isso não
foi conveniente.
Mas no minuto em que eu trouxe a ideia de ele vir me visitar,
as coisas ficaram estranhas. Desconfortável, e não o silêncio
confortável em que encontramos nosso ritmo. Silencioso como
quando eu estava andando pelo quarto dele e ele queria dizer
alguma coisa, mas não conseguia fazê-lo.
Dentro da lanchonete, o chão estava levemente pegajoso,
embora o cheiro de desinfetante fosse mascarado por café,
frituras e doces açucarados.
Sentamos em uma mesa. Eu estava de um lado, com Ezra ao
meu lado, e Maggie sentada na nossa frente. O garçom
entregou três menus e nos serviu três xícaras de café sem
perguntar o que queríamos.
O restaurante não estava lotado, mas estava ocupado.
Cartazes e memorabilia da STFU estavam colados por toda a
parede.
— Brunch é o meu deleite, já que vocês dois ainda estão de
ressaca da noite passada.
— Nós não estávamos bebendo. — Eu rolei o dispenser de
açúcar entre minhas mãos.
Ela piscou para mim por cima de seu menu com bordas
laminadas irregulares.
— Eu sei.
Eu belisquei a ponte do meu nariz.
— Às vezes eu me pergunto por que eu visito você.
— Não, você não se pergunta. Você vai sentir minha falta nos
primeiros cinco minutos que vagar pelo aeroporto sozinha. —
Ela sorriu com um aceno de cabeça em seu jeito irritantemente
conhecedor.
— Bem, talvez desta vez seja diferente e eu nunca mais te
visite.
Ezra endureceu ao meu lado.
Dei um tapinha em seu braço de forma tranquilizadora.
— Então, eu teria que ficar com Ezra.
Ezra parecia estar cheio de rigor mortis. Talvez não.
— Vamos apenas pedir. Ezra, você sabe o que quer?
— Um prato de batatas fritas estará bom para mim.
Maggie e eu o olhamos de cima a baixo antes de trocarmos
olhares. Ela assentiu. Ainda bem que estávamos na mesma
página. Ele não iria embora depois de comer apenas batatas
fritas.
— Não as comi durante toda a temporada — Ezra
continuou.
E agora sua temporada acabou. Isso me deixou menos
chateada por ele ter pensado em apenas pegar algumas batatas
fritas. Aqui estava eu, focada em como eu estava me sentindo
nessa situação, quando Ezra tinha acabado de terminar sua
temporada duas noites atrás. Todo o seu trabalho duro
terminou, em uma derrota para a equipe do meu irmão pelo
menos.
Não é à toa que ele estava ainda mais quieto do que o normal.
Debaixo da mesa, deslizei minha mão sob as mãos dele que
descansava em seu colo. Ele se assustou e relaxou, deixando-me
segurá-lo.
O garçom veio e Maggie pediu, sabendo o que eu queria e
também pediu um rolinho pegajoso para ser trazido primeiro.
— Rolinho pegajoso?
— Você vai ver.
Nossas bebidas foram trazidas. Um refil de café e água para
Ezra. Suco de cranberry para mim e leite para Maggie.
O garçom colocou um prato no meio da mesa e eu levei um
tapa na cara da explosão de canela, açúcar e manteiga que me
deu água na boca.
— Esta é a melhor coisa que eu já comi. Um rolo de canela,
pão pegajoso e pão de macaco5 fizeram um bebê e é delicioso.
— Maggie enfiou o garfo na montanha de massa, puxando um
pedaço coberto de glacê e a enfiou na boca. A dança da alegria
na minha frente me disse tudo o que eu precisava saber sobre o
quão bom era.
Eu esfaqueei a montanha de massa com meu garfo e olhei
para Ezra.
— Você vai querer um pouco? — Eu dei uma mordida e
quase deslizei para fora da cabine. Um som escapou da minha
boca e Ezra me deu em troca. Quase como um que ele fez
enquanto estava em cima de mim na noite passada. Arrepios
aterrorizantes percorreram minha espinha.
— O que foi que eu disse? — Maggie acenou com o garfo na
minha direção.
— Você tem que provar isso. — Eu dei outra mordida e
deixei meus olhos se fecharem.
Ezra balançou a cabeça.
— Vou deixar que vocês se divirtam.
— Você realmente acha que podemos terminar tudo isso
sozinhas?
Ele olhou para Maggie, que estava atualmente enchendo as
bochechas como um esquilo estocando para o inverno.

5
O pão de macaco é uma massa macia, doce e pegajosa servida nos Estados Unidos no café da
manhã ou como presente. Consiste em pedaços de massa cozida macia polvilhada com canela.
É frequentemente servido em feiras e festivais.
— Deixe-me reformular. Você realmente acha que seria sábio
para nós terminarmos essa coisa sozinhas? Ela vai se
empanturrar até explodir. Eu vou ficar com ela choramingando
que ela está muito cheia para se mexer pelo resto do tempo que
estou aqui.
— Estou bem aqui, você sabe. — Maggie falou com a boca
cheia de doçura açucarada.
— Ajuda? — Eu puxei o prato para mais perto dele, o que
provocou um rosnado baixo de Maggie. Faltava pouco para ela
pular na mesa agachada e sibilar para nós dois.
Seu olhar sob a aba do boné suavizou e ele riu – bem, uma
risada de Ezra em público, que estava a meio caminho entre um
pigarro e uma tosse.
— Eu vou ajudar.
Com um golpe do meu garfo no monte, tirei um pedaço
perfeito coberto de glacê de cream cheese. Sem pensar, estendi
a doçura do meu garfo para Ezra.
Ele olhou para mim e de volta para a cobertura quase
pingando antes de abrir a boca e deixar meu garfo passar. Com
mastigações lentas e deliberadas, seu rosto se encheu com
aquela expressão deliciosa de te levar às nuvens.
— Por que ninguém me ouve? Sim, é tão bom. — Nós três
devoramos a pilha de massa em tempo recorde, com espaço
suficiente para respirar.
Agarrei meu estômago e enterrei meu rosto no ombro de
Ezra.
— Não aguento mais. Não aguento mais.
Ele beijou o lado da minha cabeça, peito roncando, e esfregou
meu ombro.
— Parece que você deveria estar mais preocupada com você
do que com Maggie.
Maggie caiu para trás em seu assento com as duas mãos
apoiadas na barriga.
— Melhor que sexo. Certo, Willa?
Eu me levantei e gemi com a sensação de quase estourar.
— Eu não posso me mover. Eles vão ter que embrulhar isso
— Afastei meu prato, incapaz de olhar para os ovos e salsichas
do lado ensolarado.
— Ah, não é Griff? — Maggie olhou entre nossas cabeças.
Ezra se virou. Seus dedos apertaram a parte de trás da cabine
antes de ele se virar e afundar nela. Ele ajustou o boné,
puxando-o ainda mais para baixo.
— É ele?
— Sim.
— Você queria ir dizer oi para ele?
— Não, por quê? — Ele olhou para mim.
— Nenhuma razão.
Virei-me para olhar para o jogador de futebol atarracado. Ele
se inclinou contra o balcão, tamborilando os dedos contra o
linóleo gasto com um olhar distante em seus olhos. O garçom
atrás do balcão deslizou um recibo para ele e ele levou alguns
instantes para registrá-lo. Ele pulou como se uma cobra tivesse
sido colocada na frente dele e examinou o restaurante. Seus
olhos pousaram em nós e no cara que estava tentando virar uma
tartaruga ao meu lado.
Suas sobrancelhas se juntaram e sua cabeça se inclinou, o
rosto franzido com uma combinação de confusão e
curiosidade.
— Eu acho que ele te vê. Tem certeza que não quer dizer oi
para ele? Ele parece preocupado.
Ezra saiu da cabine e marchou até Griff.
Os dois falaram em voz baixa e a expressão anteriormente
franzida de Griff se aprofundou ainda mais. Maggie se
aproximou, esperando que eles voltassem para a cabine. Dois
sacos foram colocados no balcão. Ezra pegou um. Griff pegou
o outro.
E eles foram embora. Foi preciso que a porta se fechasse com
uma onda de ar frio nos lavando antes que eu pudesse quebrar
a trava de choque em meus músculos.
— Isso realmente aconteceu? Ele acabou de ir embora?
Um tempo embaraçosamente longo depois, Maggie
finalmente me convenceu a ir embora. Enviei-lhe uma
mensagem sem resposta.
Tentamos pagar nossa conta, mas Ezra já havia pago no
balcão. Os pensamentos voavam a mil quilômetros por
minuto. Ele pagou por sua comida e pela nossa comida, mas
saiu sem dizer uma palavra.
Segui Maggie até o estacionamento onde o carro de Ezra
estava estacionado atrás do dela. Agora a vaga foi substituída
por outro carro, como se o dele nunca tivesse estado lá. Tentei
conter o desejo de deixar meu cérebro entrar no modo de
espiral ansiosa.
Eu verifiquei meu telefone várias vezes enquanto fazia as
malas e no caminho quase silencioso para o aeroporto.
— Tenho certeza de que ele tem uma razão. — Maggie saiu
na rua principal perto de seu apartamento.
— Sim. — Fosse o que fosse, eu tinha ido direto da
preocupação para a fúria. Quem faz isso? Depois da noite que
tivemos e de como ele parecia tão preocupado, tão necessitado
de segurança. O amigo aparece e ele vai embora sem olhar para
trás, sem mensagem, sem nada.
Na calçada, pendurei minha bolsa no ombro e olhei em volta
como se esperasse que ele aparecesse. Talvez eu estivesse,
estúpida eu.
Maggie e eu nos abraçamos. Ela olhou para mim com uma
confusão nervosa. Bem-vinda ao clube. Eu sorri mais para
deixá-la à vontade.
— Eu ficarei bem. Sério.
— Eu posso passar na casa deles e ver se as coisas estão bem.
— Não, está bem. Ele disse que ligaria.
Mesmo que na parte de trás do meu cérebro uma pulga se
acomodasse por como deixamos as coisas. Por como ele fechou.
Eu escolhi acreditar nele e parar de cair direto no pior cenário.
Ele ligaria.
CAPÍTULO 15
WILLA

Ele não ligou. Eu pulava a cada notificação e vibração do meu


telefone, às vezes até o pegava quando não havia nenhuma.
Malditas notificações fantasmas. Um dia se transformou em
dois, que se estenderam por uma semana. Nenhuma palavra.
Eu tentei não deixar o nó no meu estômago me torcer em
dois. As coisas ficaram estranhas desde o segundo em que sugeri
que ele me visitasse durante nossa noite juntos. Agora ele não
estava ligando e agora eu estava na minha cabeça, em um
afunilamento desproporcional das coisas.
— Você está bem? — A sombra de um cara pairava sobre
mim, bloqueando as luzes, mas ele se agachou na minha frente,
olhando-me com preocupação.
A festa retumbou as tábuas do assoalho sob meus pés.
— Estou bem. — Tomei um gole do meu copo e colei um
sorriso.
— Não tão convincente assim. — Ele verificou atrás dele. —
Seus amigos aqui? — Sua mandíbula era afiada e ele tinha um
rosto vagamente familiar. Pela sua constituição, ele era um
jogador de futebol. Poucos caras da nossa idade tinham físicos
como o dele sem trabalho intensivo.
— Não, eu não vim com meus amigos. — Eles me
convidaram para sair com eles, mas eu vim para cá em vez disso,
não querendo que todos nós fôssemos rastreados pelo meu
irmão mais tarde nesta noite e estragasse a diversão de todos.
Seria mais fácil para todos se eu seguisse o que Walsh queria.
A cabeça do cara virou para trás, os sulcos de preocupação se
aprofundando.
— Você está aqui sozinha?
— Mais ou menos. — Seria esse o momento que ele pediria
para se juntar a mim ou para dançar ou para subir com ele a um
quarto vazio? Eu faria? Não, mas não faria mal sentir pelo
menos um pouco como se eu fosse desejável. Ezra tinha entrado
na minha cabeça. Eu estava supondo o triplo neste momento.
O sexo tinha sido tão ruim? Por que ele não estava ligando?
Mandando mensagens de texto? Enviando sinais de fumaça?
— Keyton, fique bem longe da minha irmã! — Walsh passou
por um casal dançando e agarrou seu ombro.
Um lampejo de raiva brilhou atrás dos olhos do cara e ele se
levantou, removendo a mão de Walsh.
— Eu não estou dando em cima da sua irmã.
Ele não estava? Condenada. Eu estava condenada. Foi no
ensino médio que Walsh deixou claro, mesmo depois de se
formar, que qualquer cara que olhasse na minha direção teria
que responder a ele. Eu me sentia como um pedaço de carne
neste momento.
— Walsh, todos na área dos três estados sabem que não
devem dar em cima de mim. Keyton estava apenas sendo legal.
Keyton assentiu como se seu pescoço tivesse uma dobradiça
enferrujada e desapareceu de volta na festa.
— Esperto da parte dele. Esse cara é muito quieto. Eu não
gosto dele.
— Você não gosta de ninguém que respira na minha direção.
— Claro que não. — Ele passou o braço por cima do meu
ombro, respirando cerveja.
Eu o dei de ombros.
— Por que você quis que eu viesse hoje à noite?
— Você está sempre reclamando que nunca consegue se
divertir, então eu queria que você saísse e se divertisse.
— Sempre que tento falar com alguém, você os assusta. —
Eu cruzei meus braços.
— Só os caras.
— Eu não tenho permissão para me divertir com caras? — O
rosto do meu irmão sempre foi tão socável?
— Você pode falar com eles de uma distância razoável —
disse ele sem uma pitada de piada.
— É assim que você fala com as meninas? — Eu estava a
segundos de arrancar meu cabelo.
— Nós não estamos falando de mim — ele bufou, e tomou
um gole de cerveja.
— Nós nunca estamos. — Eu me afastei do sofá e abri
caminho entre as pessoas dançando na sala.
— Willa… — Walsh agarrou meu ombro e tentou me girar.
Eu o afastei e marchei para fora da casa, descendo as escadas.
Do lado de fora, o ar cortante e fresco atacou meus pulmões,
mas não estava longe da minha casa, e eu não trouxe um casaco.
— Willa. — Walsh pulou atrás de mim. — O que há de
errado com você?
— O que há de errado comigo? Que tal o fato de que eu não
posso nem sair para festas como uma estudante universitária
sem um acompanhante?
— Você não precisa…
— Você quer me dizer que se eu tivesse saído com Emma e
Michelle esta noite, você não teria vindo me procurar? —
Cruzei os braços, tentando conservar o calor do meu corpo e
evitar arrepios.
— O que há de errado em eu levá-la para casa ou ter certeza
de que você está bem? — A genuína confusão em seus olhos era
a única coisa que me impedia de gritar.
— Eu sou adulta.
Ele zombou.
— Você tem dezoito anos.
— Legalmente, uma adulta.
— Por muito pouco. — Ele bebeu o resto de sua bebida.
— Eu não preciso de um guarda-costas ou um carcereiro.
— Não, você não precisa, mas você tem um irmão.
— Mesma diferença.
— É meu trabalho…
— Ser meu irmão. É isso. Não significa que você precisa me
observar como um falcão ou um policial qualquer um que fale
comigo. Eu quero ter uma vida. Eu não quero sentir que, no
segundo em que algo der errado ou eu não responder a sua
mensagem de texto imediatamente, você vai começar a
arrombar portas. — A resposta reprimida se libertou. Eu
levantei minha voz, embora ela tremesse, não tão feroz quanto
eu pretendia. Foi a primeira vez que eu explodi, não recuando
para evitar causar ondas.
— Você está chateada porque eu me importo com você?
— Estou chateada porque às vezes sinto que não consigo
respirar. Você, mamãe, papai, todos vocês estão cuidando de
mim como se um joelho esfolado ou uma chamada perdida
fosse o fim do mundo.
Seu rosto ficou tempestuoso, uma palestra se formando.
— Você sabe…
— Eu sei! — Eu gritei tão alto que algumas cabeças se
viraram. Eu estava além de me importar se eles olhassem. — Eu
sei, Walsh. Eu sei. Mas eu não sou Willow. Eu não sou. —
Lágrimas transbordaram em meus olhos, congeladas pelo frio.
Eu caminhei em direção a minha casa e bati a porta antes de
afundar no chão e puxar meus joelhos para cima. Emoções
cravaram no meu peito, misturando-se como um caldeirão de
tristeza. Eu limpei meus olhos.
Pare de ser estúpida, Willa.
Eu era uma adulta, certo? Então eu precisava fazer algumas
escolhas e ter que enfrentar as consequências. Antes que eu
perdesse a coragem, corri para o meu quarto e desbloqueei meu
computador. Fui até a guia que ainda não havia fechado e entrei
novamente no portal de admissões. Todos os documentos
foram apresentados. Todas as minhas recomendações de
professores tinham grandes cheques verdes ao lado deles. Não
havia mais nada para eu fazer a não ser clicar em Enviar.
Meu dedo pairou sobre o trackpad e eu bati nele. De pé,
pressionei minhas mãos na parte de trás do meu pescoço com
meus pulsos apertados contra minhas bochechas. Eu tinha
feito isso. Se eu entrei ou não, o que era um tiro no escuro,
considerando o quão competitivo era, pelo menos eu estou
correndo o risco.
Assim como corri com Ezra. Foi meu instinto, mas talvez não
tenha sido testado o suficiente para ser confiável. Eu tinha
dormido com Ezra e agora ele não manteve mais contato.
Vivendo e aprendendo.
Depois de vestir meu pijama, minha farsa desmoronou. A
preocupação que eu estava tentando afastar ficou mais forte.
Mandei uma mensagem para Maggie.
Eu: Ei, aconteceu alguma coisa grande no campus
ultimamente?
Maggie: Ezra não explodiu em uma bola de fogo
gigante nem nada, se é isso que você está perguntando.
Eu: Não, não era isso que eu estava perguntando.
Meu telefone vibrou na minha mão.
— Ele ainda não mandou uma mensagem? — Maggie disse,
solidária, mas eu podia ouvir a indignação por trás de seu tom,
como qualquer melhor amiga incrível deveria ter.
— Não, devo me preocupar? — Ele estava vivo e bem. De
certa forma, isso parecia o oposto das conclusões que meus pais
tiraram quando eu não atendi uma ligação. Minha própria
tentativa rebelde de fingir que tudo estava bem quando com
certeza não estava.
— Você deveria estar chateada.
— Eu... e se algo tiver acontecido com ele?
— O site de fofocas do campus teria mencionado isso, além
disso, eu o vi andando por aí alguns dias atrás.
— E ele parecia bem? — Por que eu me importava? Eu era
masoquista? Pelo visto, sim, o que me irritou. Eu estava
fingindo que não estava preocupada, mas estava. Estava
enraizado.
— Além das adagas mentais que lancei em suas costas, ele
parecia bem.
Um peso se deslocou no meu peito da pedra da preocupação
e bateu de volta na raiva e na tristeza, ambas pulsando como
uma pancada na canela.
— Então ele simplesmente não quer falar comigo.
— Willa… — Ela suspirou. Maggie não costumava ficar sem
palavras, apenas quando não havia uma resposta ou piada a ser
feita. — Honestamente, eu não tenho ideia e estou com raiva
de mim mesma por ter empurrado você para ele. Eu…eu pensei
que ele era bom.
— Eu também. — Eu caí de volta contra meus travesseiros.
— Mas não é como se o primeiro cara com quem você dorme
fosse o único, certo? Eu arranquei aquele Band-Aid e agora
estou aberta a coisas maiores e melhores.
— Maior, você diz?
Eu ri, curta e frágil.
— Talvez seu primeiro cara seja como sua primeira
faculdade. Você tem que experimentar outras para encontrar o
que você realmente quer.
Ela engasgou.
— Você fez isso?
Darling U. Mais perto de Maggie, mas também mais perto de
Ezra. Se não fosse por aqueles idiotas bêbados no jogo, eu
nunca o teria conhecido. Eu poderia ter me transferido,
passado por ele uma centena de vezes e nunca ter encontrado
seus olhos, mas não me arrependi de nossa noite juntos.
Conhecê-lo pode ter sido o que me levou ao limite para me
candidatar.
— Eu fiz.
Seu grito machucou meu tímpano.
— Você pode morar aqui.
— Você tem certeza sobre isso?
— Nunca tive tanta certeza. Vai ser perfeito. O quarto já é
seu. Pense nas festas que podemos ter.
— Que bom que você tem suas prioridades em ordem.
— Sempre.
— Não há garantia de que eu vou entrar. — Uma rejeição
dupla, o cara e a faculdade. Esperançosamente eu teria notícias
de Darling U em breve, para que eu pudesse começar a
chafurdar de uma vez.
— Claro que você vai. Eles têm que te aceitar. Você é incrível
e loucamente inteligente.
— Você tem dedo nisso. Meus pais vão pirar. Walsh vai pirar.
— Um nó se alojou em minha garganta. Walsh não conseguia
lidar comigo estando fora de sua linha de visão em uma festa, as
profundezas dele surtando quando eu estivesse a passos da
STFU seriam visíveis do espaço.
— Eu não vou pirar, Willa. Eu sei que este foi um grande
passo para você. Na sua primeira festa do pijama na minha casa,
parecia que estávamos tendo o primeiro filho, estou surpresa
por eles não terem checado o antecendente criminal dos meus
pais.
— Quem sabe, eles provavelmente checaram. Obrigada pela
conversa estimulante, Maggie.
— A qualquer momento.
— Por que você não saiu hoje à noite?
— Porque eu estava esperando sua ligação.
— Claro. — Eu pronunciei a palavra, deixando-a saber o
quão desconfiada eu estava.
— Quando você vem me visitar de novo? — Ela me cegou
com isso.
— Se eu entrar, passarei para verificar as coisas novamente
antes de tomar minha decisão. Eu não quero estragar isso.
Quero fazer a escolha certa. — E eu não tinha fé em mim
mesma sendo capaz de fazer isso. Eu pensei que Ezra ia ficar por
aqui.
— O que você decidir será a escolha certa. Você só precisa
confiar um pouco mais em si mesma.
— Eu não tenho um grande histórico.
— Você ainda está aprendendo. Todos nós estamos. — Ela
falou ao telefone como se estivesse cobrindo o microfone. —
Eu tenho que ir. Falo com você amanhã.
— Tchau, Maggie. — Terminei a ligação e olhei para o meu
telefone. O ícone de mensagens queimou sob meu toque. Eu
toquei. Olhei para o nome de Ezra. Não seja uma perseguidora.
Não seja a garota pegajosa. Não deixe que ele saiba o quanto te
machucou.
Minha última mensagem ficou lá sem resposta.
Você está bem?
A parte de trás do meu nariz queimou e eu cliquei em seu
nome, atribuindo-lhe um toque que romperia o modo
silencioso do meu telefone, assim como Walsh e meus pais.
Nojo passou por mim por tamanha fraqueza e eu joguei o
telefone na minha cama. Enterrei minha cabeça debaixo do
travesseiro e gritei.
O sono me arrastou para baixo e tentei não sonhar com meu
salvador do estádio com o boné inabalável, mandíbula forte e
olhos lindos. Boa razão ou não, eu não tinha certeza se poderia
perdoá-lo por quebrar sua promessa para mim. Quem eu estava
enganando? Eu o perdoaria em um piscar de olhos, dada uma
explicação. Estúpida, mole Willa. Pena que eu não tinha certeza
se teria essa chance.
CAPÍTULO 16
EZRA

Eu tinha fodido tudo. Desde o segundo em que saí do


restaurante, eu sabia que tinha fodido tudo, mas o que quer
que estivesse acontecendo com Griff não era algo que eu
pudesse me afastar. Ele olhou para o telefone, xingando
baixinho durante todo o caminho para casa. Ele nem se
importou com a comida quando chegamos lá.
Depois de colocá-lo no banco de trás e entrar, planejei ligar
para Willa. Eu nem senti meu telefone cair do meu bolso. Eu só
ouvi o barulho nauseante de plástico e metal contra o concreto.
Desta vez, a tela quebrada não aguentou o impacto. A tela
estourou junto com metade das entranhas do telefone, que
foram pulverizadas debaixo do meu carro e contra o meio-fio.
Amaldiçoando, peguei o saco de comida e deixei Griff, que
estava parado na varanda olhando para o telefone, entrar na
casa.
Griff estalou os dentes para mim quando pedi para usar seu
telefone por um minuto, mas não teria ajudado. Eu não tinha
o número dela memorizado. Ela não estava em um dormitório,
então eu também não consegui rastrear esse número. Meu
cartão SIM era tão velho que nem funcionava em nenhum dos
telefones dos caras.
Eu não deveria tê-la deixado na lanchonete como deixei, mas
agora era tarde demais.
Nem mesmo o campeonato nacional que Fulton U ganhou
me atingiu com mais força do que esse desamparo batendo no
meu peito. Como correntes chocalhando ao redor da fera
lutando para ser libertada depois de perder o campo como uma
venda promocional. Então, eu levava meu corpo ao limite na
academia quando não estava na aula ou na sala de estudos.
Eu mal tinha dinheiro para encher meu tanque e muito
menos dirigir para vê-la. Mesmo assim, como eu a encontraria
no campus? Andar por aí perguntando às pessoas se a
conheciam? Eu teria sorte se não fosse escoltado para fora do
campus.
A cada dia, a inquietação por não poder falar com ela
aumentava. Eu pensei em ir ver Maggie, mas meu pedido de
desculpas por ir embora foi, na melhor das hipóteses, frágil e eu
precisava dizer isso a Willa.
Estar sozinho era um fato da minha vida. Nunca houve
ninguém lá para mim. Não quando realmente importava. No
campo, talvez. Quando eu pudesse fazer um trabalho,
possivelmente. Quando a outra pessoa não tinha nada a ganhar,
nunca. Eu não podia nem pedir ajuda aos caras. Estávamos
todos com o orçamento apertado.
Não que eu lhes pedisse dinheiro. A única coisa pior do que
eles dizerem não seria eles dizerem sim, e eu sentir que devia a
eles. Eles eram tão próximos quanto uma família, mas isso não
significava muito para mim. Isso nunca significou muito.
Patético. É como eu me sentia. É o que eu era. O chacoalhar
no meu peito foi derrotado sob a tensão de centenas de quilos
de peso. Com pesos carregados no trenó, eu o empurrei pelo
chão do ginásio. Algumas centenas de quilos contra mim que
eu não era páreo. Empurrei até meus joelhos falharem.
Ofegante com as duas mãos plantadas na minha frente e náusea
rolando através de mim, olhei em volta procurando a lata de
lixo mais próxima. Eu arrastei o ar em meus pulmões.
— É chamado de baixa temporada por um motivo. — O
treinador Henley me entregou uma toalha.
— Sim, treinador.
— Não há treino na agenda para você hoje. — Henley era um
treinador defensivo. Bom como qualquer um deles poderia ser
quando seu desempenho em campo impactava diretamente se
eles tinham um emprego ou não.
— Precisava limpar minha cabeça.
— Parecia mais que você queria quebrar alguma coisa.
O pânico de Willa vendo uma parte minha que eu não tinha
sido capaz de controlar totalmente me assustou, e fugir sempre
parecia o melhor curso de ação sempre que o pico do medo
atingia o meu coração.
Eu mantive minha boca fechada, mas peguei a garrafa de água
oferecida.
— Não tenho certeza se era o trenó de treinamento ou você
mesmo.
Engoli a água e mantive minha cabeça baixa.
— Você é um grande jogador, Ezra. Dedicação e foco de alto
nível. No campo você é como uma pessoa totalmente diferente.
Minha cabeça estalou.
— Não tenha medo de se dar um tempo quando precisar.
Analisei suas palavras, procurando bandeiras, procurando
por suas intenções, seus verdadeiros significados. O que as
pessoas diziam quase nunca era o que elas queriam dizer. Eu
tinha ficado bom em me manter fora do caminho das pessoas
que estavam tramando, testando, cutucando por suas próprias
razões, então fiquei quieto e dei o mínimo possível para eles
trabalharem. Mas eu aprendi essas lições através de golpes
duros.
Ele só tinha sido treinador da STFU por um ano, então eu
não sabia qual era o seu ângulo. E, se eu não sabia, o instinto
tomou conta e eu entrei em modo de abrigo. Modo de
segurança. Deixando-o ouvir o que ele queria ouvir.
— Eu vou ter certeza de descansar, treinador. E não vou me
esforçar muito na próxima vez que estiver aqui.
Os cantos de sua boca viraram para baixo como se eu tivesse
dito a coisa errada.
— Vá para os chuveiros, Ezra. Vou redefinir os pesos.
Olhei deles de volta para ele e assenti, deixando o ginásio para
trás.
Finalmente, a espera me empurrou para a ação.
Sammy tinha um show para mim em uma semana, o que me
daria dinheiro suficiente para comprar o pior telefone que eu
pudesse encontrar. Ele não tinha sido capaz de me adiantar o
dinheiro. Mas essa faísca de esperança foi o suficiente para me
mandar para o prédio de Maggie.
Apertei a campainha para o número do apartamento dela.
Minhas mãos tremiam, os nervos faiscando como um fio sem
aterramento.
— Sim?
— Entrega. — Eu levantei minha voz esperando que ela não
tivesse visto meu carro no estacionamento, mas ela não estava
monitorando a minha chegada como da última vez. Mentir
parecia o melhor curso de ação para ter uma chance de ela falar
comigo.
— Ah, de novo? Ok, tudo bem, venha para cima.
A porta destrancou e eu entrei, os nervos me guiando com
força durante toda a subida do elevador.
Bati na porta dela e corri minhas palmas suadas pelo meu
jeans, antecipando totalmente a batida da porta na minha cara.
Talvez eu pudesse enfiar o pé, para que ela me ouvisse.
— Você… — Seu olhar se estreitou e ela tentou fechá-la.
— Maggie, por favor, só me dê dois minutos.
— Por quê? — Ela parou de tentar fechar a porta ativamente,
mas não a abriu mais. Sua expressão feroz transformou seu
rosto normalmente borbulhante e amigável. — Eu estava
torcendo por você. Achei que você fosse um cara legal.
— Eu fodi tudo.
Ela bateu uma mão em seu quadril.
— Não me diga. Quem faz isso? Você dorme com ela e depois
foge no segundo que um de seus amigos aparece.
— Não foi assim.
— Ok, como foi? — ela desafiou, olhos atirando fogo.
Baixei a cabeça em derrota. O negócio de Griff não era meu
para contar apenas para que eu pudesse salvar minha própria
bunda.
— Foi assim.
— Willa já lidou com merda suficiente em sua vida, ela não
precisa de idiotas que estão tentando usá-la.
A dor de ser jogado junto com todos aqueles outros idiotas
doeu, mas eu merecia. Eu não deveria ter saído naquele dia.
Repassei aquilo na minha cabeça um milhão de vezes.
— Eu não estava usando ela. Eu gosto dela.
— Você tem um jeito muito ruim de mostrar isso. Você nem
ligou para ela.
Contra todos os meus instintos que nunca queriam mostrar
o quão pouco eu tinha, peguei os pedaços do meu telefone do
bolso e os segurei na palma da mão. Eu precisava mostrar a ela.
A evidência de que eu não era o idiota que ela e Willa pensavam
que eu era agora.
— Esse é meu telefone. Não tenho dinheiro para substituí-lo.
Nenhum dos telefones dos outros caras está desbloqueado ou
cabe o meu chip, então eu não pude nem mandar uma
mensagem para ela. Eu não queria que ela saísse da cidade sem
que soubesse que estava arrependido. Eu fodi tudo, Maggie.
Cem por cento, não há como contornar isso, mas não fiz de
propósito.
Ela nivelou seu olhar para mim.
— Não tudo isso. Foi fodido sair com Griff, eu só... Não há
nada que eu possa fazer para consertar isso, não é?
O peso da minha bagunça pesou em meus ombros. Tirei meu
boné e cocei a parte de trás da minha cabeça onde parecia que
estava sendo esmagada por um martelo.
— Como posso consertar isso? — As palavras grudaram no
céu da minha boca como salgadinhos vencidos. Eu olhei para
ela.
Seus olhos se arregalaram e ela abriu a porta um pouco mais.
— O que você fez foi um movimento de babaca total. — Ela
suspirou tão longo e duro, perfurando buracos em mim com
seus olhos que quase me fez desmaiar por prender a respiração.
— Ela estará de volta em fevereiro, vai ficar comigo. Talvez você
possa defender seu caso então, mas não há promessas.

Eu deveria ter perguntado a Maggie as datas exatas em que


Willa estaria na cidade. A partir do momento em que o relógio
bateu meia-noite em 31 de janeiro, eu jurava que a tinha visto
pelo menos dez vezes por dia no campus, mas talvez fosse uma
visão criada pela ansiedade desejosa. Eu pensei que isso tinha
sido arrancado de mim anos atrás.
Focar nas aulas era impossível. Se não fosse pelas sessões de
sala de estudo que os jogadores eram obrigados a participar, eu
teria ficado para trás em meus trabalhos e cursos. Em casa, meus
dedos dedilhavam as cordas do meu violão em uma melodia
incessante que começou a me deixar louco, sem falar no resto
dos caras.
— Eu disse, saia. — Taylor empurrou um cara que agarrou
sua bunda e ajeitou sua tiara de aniversário.
Ele tropeçou para trás antes de avançar em direção a ela.
Agarrei a parte de trás de sua camisa, levantando-o de seus
pés. As pessoas saíram da minha frente, abrindo caminho para
a porta da frente.
— Que porra é essa, cara? — Ele se debateu, tentando soltar
minhas mãos, torcendo-se no meu aperto antes de olhar para
mim. Ele congelou e ficou mole em meu aperto como se
fingisse de morto para um urso atacando.
— Ela disse saia, agora você pode sair. — Eu o joguei para fora
da porta da frente.
Do lado de fora, na varanda, fiquei de pé e observei o bêbado
tropeçar nos degraus antes de atravessar o gramado lamacento
para se afastar de mim. Às vezes, ter uma reputação como a
minha era útil. Os covardes eram mais propensos a fugir do que
dar um soco.
A música soava de dentro da casa. A festa de aniversário de
Taylor era outra desculpa para ficar com a cara de merda agora
que a temporada não importava. O som foi duplicado pelo bar
móvel serpenteando pelo centro da rua com os clientes do bar
pedalando enquanto bebiam. Havia dez bancos de bar com
pedais de bicicleta embaixo deles. Os cavaleiros pedalaram para
longe, enquanto um barman preparava bebidas e um motorista
dirigia. Como aquela coisa não tinha sido levada por um ônibus
era um milagre.
Meus dedos agarraram o corrimão quando avistei um flash
de verde. Oh merda, não. Eu esfreguei meus olhos. Não poderia
ser ela. Só quando eu os abri, seu sorriso cortou a escuridão e eu
me lancei sobre o parapeito e desci a rua. Derrotado, eu não
esperava vê-la em um pub de pedal, pelo menos não no meio
do inverno.
A engenhoca do carrinho de bicicleta geralmente não andava
muito no inverno, já que as temperaturas congelariam suas
bolas, mas lá estava ela, pedalando e rindo com Maggie. Corri
atrás do bar errante, correndo para alcançar seu ritmo vagaroso.
— Willa. — Corri ao lado dela e andei para trás. — Você está
aqui. — A nuvem fria de ar soprou em sua direção e ela
estremeceu, quase caindo de seu assento. Estendi a mão para
pegá-la, mas ela agarrou o corrimão de metal à sua frente e
endireitou a bunda no assento.
— Ezra. — Ela não olhou para mim, uma ambivalência
gelada em como ela disse meu nome, tão diferente das outras
vezes que ela disse, gritou ou gemeu.
Maggie olhou para mim como se me desafiasse a irritar Willa.
Os pneus do pub a pedais levantaram pequenas gotas de água
do asfalto escorregadio. Minha boca parecia estar cheia de bolas
de algodão.
— Como você está?
— Bem. — Ela olhou para trás e tomou um gole de seu copo.
— Eu não sei se Maggie te contou, mas eu ainda não tenho
telefone, desculpe por não ter mandado uma mensagem para
você. — Minhas palmas estavam suadas, congelando
instantaneamente. Eu os esfreguei contra meu jeans.
— Não se preocupe com isso.
Agarrei uma das barras verticais e pulei na pequena
plataforma atrás do assento dela.
— Uou! Nada de caronas — gritou o motorista por cima do
ombro.
— Eu só preciso de um minuto. — Minha mandíbula
apertou enquanto eu olhava para o cara que dirigia.
Respirando, virei meu olhar para Willa, agora na minha
sombra. — Eu me preocupo com isso.
Seus lábios franziram como se ela estivesse mordendo o que
ela queria dizer.
— Você não é o primeiro cara a ficar e fugir.
— Willa, não foi isso que aconteceu.
— Você literalmente fugiu.
— Tive que ajudar um amigo.
— E então desapareceu da face da terra.
— Meu telefone quebrou. Ainda está em pedaços na minha
gaveta e não tenho dinheiro para comprar um novo. —
Vergonhosa vergonha percorreu-me ao admitir que não podia
nem comprar um telefone que provavelmente era mais barato
do que o voo dela para cá. Agora que a temporada de futebol
havia acabado, eu tinha conseguido um emprego como
garçom. Eu estava sobrevivendo de comida roubada do
refeitório para manter os custos de mercado baixos para que eu
pudesse economizar para outro telefone, mas isso levaria mais
uma semana.
— Você poderia ter enviado um e-mail. — Ela olhou para
mim.
Maggie se sentou ao lado dela com um olhar assassino, pronta
para me empurrar para fora quando Willa dissesse isso.
Mas ela não precisava. O motorista freou a monstruosidade
da moto e eu escorreguei do parapeito, caindo no asfalto.
— Quem usa e-mail? — Eu joguei meus braços para cima,
chateado comigo mesmo por não pensar nisso antes. O pub de
pedal virou uma esquina. Willa olhou para mim por cima do
ombro.
O frio de fevereiro não bateu tão duramente quanto o olhar
de Willa. Nem mesmo uma encarada, apenas um olhar como se
ela mal me conhecesse.
O que eu disse que não queria fazer? Magoa-la. O que eu
tinha feito? A magoei. Eu não podia confiar em mim mesmo
para fazer isso direito. Eu não podia confiar em mim mesmo
para ser o único a mantê-la segura. Inferno, ela morava do outro
lado do estado e tinha uma família inteira de pessoas que não
faziam nada além de se preocupar com ela e tentar mantê-la
segura, como seu irmão que me estriparia se descobrisse que eu
toquei em sua irmã. E eu não podia culpá-lo.
Eu queria gritar a plenos pulmões, mas isso atrairia ainda
mais olhares do que os das pessoas nas outras casas alinhadas na
rua.
Enfiei as mãos nos bolsos e dei uma volta. O vento cortou
minha térmica, mas a pele dormente não era tão ruim. Ajudou
a me acalmar. Não congelar era uma distração suficiente para
me manter de pé e em movimento. É isso que eu sinto estar
fazendo há anos. Apenas fique ereto e em movimento. Na
próxima família, na próxima casa do grupo, na próxima equipe,
na próxima incerteza.
Quando voltei para casa, a festa estava acabando. Pelo menos
haveria menos olhos em mim e nas pessoas com quem precisava
lidar.
Griff estava dormindo em pé no canto da sala.
Eu balancei seu ombro.
— Griff, a festa acabou.
— Eu quero — ele murmurou e bateu na minha mão como
se eu estivesse tentando arrastá-lo de sua cama, não que ele
tivesse se encostado na parede.
— Você quer o quê? Griff, acorde. — Eu bati em suas
bochechas.
Seus olhos se abriram e ele pulou para longe da parede.
Lentamente, seu olhar passou de alerta sonolento para bêbado
sonolento.
— Ezra, onde você esteve? — Ele jogou o braço em volta do
meu ombro.
— Fora. — Segurei sua mão e passei um braço em volta de
sua cintura para guiá-lo em direção às escadas.
— Fora. Sempre tão secreto. — Ele tropeçou.
— Não, eu não sou.
— Eu também tenho segredos. — Ele trouxe um dedo
indicador para seus lábios, mas ele escorregou e quase subiu
pelo nariz. — Shh, não conte a ninguém.
Chegamos ao topo das escadas.
— Eu não vou.
— Bom, todo mundo me odiaria se soubesse.
— Ninguém vai te odiar por ter comido o último dos peitos
de frango na semana passada.
— Você sabia disso? — Ele caiu na cama e tirou os sapatos.
— Todos nós sabíamos.
Ele agarrou seu travesseiro e o abraçou contra o peito.
— Não, não era isso.
— Griff, está tarde. Durma um pouco.
— Ok. — E um segundo depois ele estava roncando.
Droga, deve ser bom dormir assim. Para apagar e se sentir
seguro o suficiente para desligar seu cérebro tão rapidamente.
Eu nunca tinha ficado tão bêbado. Nunca me permiti abrir
mão do controle para as pessoas ao meu redor. Eu nunca tive
esse luxo.
O resto da casa estava mais quieto do que o esperado depois
de uma festa, mas ninguém tinha visitantes durante a noite, o
que reduzia significativamente o barulho.
No andar de baixo, peguei os materiais de limpeza do porão
e embaixo da pia da cozinha. Desde que eu tinha perdido nossa
última rodada, era meu o dever de limpeza e organização de
festas até nossa próxima rodada durante as férias de primavera.
Pelo menos me ajudoua focar em como resolver esse enigma
do perdão de Willa. O lugar estava uma bagunça, mas me deu
um propósito. Eu poderia limpar a cerveja, varrer o confete,
jogar fora sacos e sacos de lixo e consertar as coisas. Eu poderia
consertar a casa muito mais fácil do que a agitação no meu
estômago.
CAPÍTULO 17
WILLA

Quem pensasse que andar em volta de quarteirões bebendo e


andando de bicicleta fosse uma boa ideia era um idiota. O
único idiota mor era eu por deixar Maggie me convencer sobre
isso.
Ela enfiou a chave na porta do seu andar.
— A coisa estúpida não está funcionando.
— Porque não é seu. — Usei minha chave para abrir a porta
três de distância da que ela estava tentando e acenei para ela.
Ela olhou para os números na porta na frente dela como se
eles a tivessem traído e se confundido.
— Números estúpidos, você mal consegue lê-los.
— Você quer dizer esses grandes números dourados em
negrito logo abaixo do olho mágico.
— Cale a boca — ela resmungou e passou por mim em seu
apartamento. Chaves, casaco e bolsa foram abandonados na
entrada.
Passei por cima deles e a segui até a sala de estar, onde ela caiu
no sofá com um braço jogado sobre a cabeça.
Na cozinha, peguei um copo de água.
— Como você conseguiu convencê-los a nos deixar subir
naquela coisa?
— O barman mora algumas portas abaixo. Sistema de troca,
querida.
— Troca do que exatamente?
— A comida, não eu, embora ele seja bem gostoso, então eu
não me oporia. — Ela arrastou suas palavras e olhou para mim
com um olhar vidrado e não fixo.
Entreguei-lhe o copo e envolvi seus dedos ao redor dele.
— Você pode ter exagerado.
— Pare de ser minha mãe. — Ela golpeou minhas mãos,
quase derramando toda a água.
— Se não eu, então quem?
Ela bufou uma risada e abriu um olho.
— Merda. — Localizando o copo, ela o pegou de mim e se
sentou, balançando um pé no chão.
— O que você acha? — Voltei para a cozinha, incapaz de
encará-la caso ela pensasse que eu era uma completa idiota por
querer ir até a casa dele agora para que ele explicasse tudo para
mim.
— Eu acredito nele — ela gritou da sala de estar. —Não que
eu não tenha errado antes. Quero dizer, Walsh, olá, estive aqui
o tempo todo.
— Você pode não…? — Eu me joguei no sofá ao lado dela.
— Estou apenas dizendo. Não sou infalível, mas acho que ele
é legítimo. Ele não tem nenhuma razão para mentir neste
momento. Você mora do outro lado do estado.
— Qual é a reputação dele no campus? Provavelmente
deveria ter perguntado sobre isso antes de dormir com ele,
hein? — Deixei cair minha cabeça contra o encosto do sofá e
fechei os olhos.
— Não tem muito a dizer. Ele é fera em campo, mas fora de
campo não é vistoso como alguns caras. Ele fica em segundo
plano.
— Você sabe o que estou perguntando.
— Até onde eu sei, ele não tem um relacionamento com
ninguém. Sem escândalos. Nada de brigas gritantes entre
campus como algumas pessoas, apenas um cara no time.
Pena que ele não era apenas um cara no time. Um cara
aleatório, eu poderia ignorar. Um cara não ocupava pelo
menos metade dos meus pensamentos, mas ter meu coração
partido era uma maneira infalível de fazer toda a minha
independência explodir na minha cara. Eu estava tão fixada
nele para ter outra pessoa para me agarrar? Como um ponto de
parada além de Maggie para suavizar o golpe do meu salto do
ninho.
Talvez fosse melhor não pular em todas as coisas novas de
uma vez. Mudar para uma nova faculdade era uma mudança
grande o suficiente. Se eu entrasse, um enorme se, eu teria que
me concentrar e trabalhar duro. Eu precisaria de um GPA
quase perfeito para superar a nota de corte. Chafurdar em
autopiedade e desgosto não era a chave para focar no meu
futuro. Então veio outro grande obstáculo de estudar no
exterior – ou inferno, morar no exterior – para usar essas
habilidades linguísticas. Qual seria o sentido se eu não
conseguisse colocar todo o trabalho duro em ação?
Um nó se alojou em minha garganta. Atravessar o estado me
assustou, mas mudar para outro país? Seria como abrir minhas
asas para ser expulsa do ninho. Isso me assustou, mas também
me emocionou. A alegria guerreou contra o medo de dar os
próximos passos, mesmo que fosse sem o apoio da minha
família.
— Talvez tudo isso tenha acontecido por um motivo.
— Pode ser. — Maggie saltou do sofá e correu pelo corredor.
Seu vômito no banheiro desviou minha atenção pela próxima
hora comigo segurando seu cabelo para trás. Rito de passagem
marcado.
Com ela finalmente terminando de limpar de seu sistema
cada molécula de comida que ela já comeu, e enfiada de volta
na cama, Ezra se intrometeu em meus pensamentos
novamente.
Vesti meu pijama e me arrastei para a cama, de repente menos
certa sobre tudo do que eu tinha apenas meio dia atrás. Toda
vez que eu pegava um avião para aqui parecia que meu mundo
inteiro mudava.
Liguei meu telefone e um número um apareceu no meu
aplicativo de e-mail. A resposta do meu pedido de transferência
pode chegar a qualquer momento. Com um batimento
cardíaco saltitante, eu a abri. Uma mensagem estava no topo da
minha caixa de entrada. Ezra Johannsen.
Linha de assunto.
Eu não estou bem.

A porta do meu quarto se abriu. Eu me levantei na cama e gemi.


Minha cabeça latejava como se estivesse presa em um torno.
Apertei os olhos e apertei minhas têmporas.
Silhueta na luz do corredor, a zumbi Maggie entrou
tropeçando e cautelosamente se sentou na beirada da cama. Seu
cabelo parecia ter triplicado de tamanho durante a noite,
cachos invadindo seu rosto.
— Eu não trançei antes de dormir. — Ela balançou a
pequena garrafa de vidro em sua mão. Primeiro, pensei que
fosse mais ibuprofeno, até que ela o inclinou e despejou um
pouco do conteúdo na boca.
— Aqueles pedaços de bacon?
— Sim. — Sua voz estava rouca. — Eu mal podia esperar para
o bacon no forno cozinhar, então é a segunda melhor coisa.
Quer um pouco? — Ela estendeu a garrafa para mim. Um
cheiro gorduroso e salgado invadiu meu nariz e revirou meu
estômago.
Eu fechei minha boca molhada e agarrei meu travesseiro,
cobrindo meu nariz com ele.
— Vou tomar isso como um não. Mais pra mim. — Ela bateu
no fundo da garrafa, despejando mais pedaços de bacon em sua
boca. — Noite louca.
— Você quer dizer sua tentativa de arrombamento e invasão?
— Nada mais que isso aconteceu ontem à noite?
— O que mais aconteceu?
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Ver Ezra. O que você achou disso?
Seu e-mail me fez duvidar da minha postura de fechar a porta
para ele. Dei de ombros, dividida entre querer acreditar nele e
não querer me machucar novamente.
— Ele veio me visitar.
— Ele veio? Por que você não me contou? — Se eu soubesse
que ele estava tentando entrar em contato... Isso deu mais peso
às desculpas que ele deu. Talvez não fossem desculpas, afinal.
— Eu não tinha certeza se você realmente o tinha superado e
não se importava, como você disse, ou se você estava mentindo.
Eu precisava te ver. Eu precisava ver como você estava com ele.
— E agora?
— Eu acredito nele — disse Maggie, sem piada ou risada em
sua voz.
Ele já tinha Maggie de volta ao seu lado. Isso foi
impressionante.
— Ele me mandou um e-mail ontem à noite. — Eu olhei para
ela.
— O que ele disse? — Ela estremeceu e apertou as têmporas.
— O que ele disse? — Ela repetiu as palavras em um sussurro.
— “Eu não estou bem”. — Meu peito apertou. — Em
resposta ao texto que enviei a ele depois que ele partiu naquele
dia.
— O que você acha que isto significa?
— Como eu vou saber? Parte de mim quer roubar seu carro
e dirigir até lá e outra parte de mim se pergunta o quanto doeria
se as coisas fossem mais profundas com ele. Eu nunca namorei
ninguém antes e essa coisa com Ezra é como ser jogada no
oceano para uma aula de natação para iniciantes.
— Essa é uma maneira de aprender.
— Ainda tenho rodinhas.
— Há uma maneira de explodir essas coisas.
— Eu preciso pensar sobre isso. — Eu sempre quis sair da
bolha em que minha família me colocou, mas agora percebi o
quanto eu não tinha aprendido por causa de sua flutuação. Eles
sempre estiveram lá para resolver meus problemas ou tirá-los do
meu caminho.
Ezra me assustou pra caralho. Uma corrida me inundou. Ele
era o fundo do poço e aqui estava eu com boias de braço
tentando manter minha cabeça acima das ondas. Mas eu estava
pronta para mergulhar. Onde a cautela encontrou o vento e eu
peguei um snorkel6.

6
Um tubo que é acoplado à máscara de mergulho e colocado na boca do mergulhador.
CAPÍTULO 18
EZRA

Meu rosto ardeu com o frio cortante e escaldante. Com o canto


do olho, vi o verde brilhante do casaco de Willa. Eu congelei,
agora preparado. Sabendo que Willa estava no campus, minhas
visões dela aumentaram. Eu não tinha ideia por quanto tempo
ela estaria aqui. Mas eu tenho vislumbres entregues através das
árvores sem folhas em todo o quarteirão. Fulton U fez uma
pausa? Eu deveria ter verificado o calendário do campus assim
que descobri a convenção de nomenclatura para seus e-mails.
Idiota.
Eu não conseguia me concentrar em nada.
— Ok? — A voz de Griff disparou. — Apenas ok? Havia
bebida. Houve bolo. Havia uma piñata.
Deslizei até parar.
— Havia uma piñata? — Era aniversário de Taylor, então
não fiquei surpreso com a quantidade de glitter e confete. Não
é à toa que a limpeza foi mais colorida do que o normal.
— Estava cheio de mini garrafas de álcool e chocolate. —
Griff olhou para o céu com os olhos fechados como se estivesse
perdido na memória. — Aquele chocolate era muito bom.
Eu os alcancei.
— Quando isso aconteceu?
— Ah, eu não conheço o Sr. Eu amo sair de uma festa sem
contar a ninguém.
Ajeitei meu boné e olhei para o caminho à nossa frente sem
nenhuma culpa por ter saído. Se não tivesse, teria me
arrependido de ter perdido a chance de falar com ela e, mesmo
que não a tivesse visto, teria sentido no fundo dos meus ossos.
— É isso que acontece. Você perde a piñata de álcool — Griff
provocou. — Vejo vocês mais tarde. Vamos nos encontrar no
refeitório leste para jantar? — Ele não esperou por uma
resposta e saiu assim que Cole mencionou que era a vez de Griff
cozinhar.
Eu perdi tudo isso na noite passada? Ainda bem que a
temporada acabou, minha cabeça não estaria no jogo. Era
apenas colocar um pé na frente do outro.
Se minhas aulas não contabilizassem presença, eu teria
faltado a tudo hoje e me escondido no estacionamento de
Maggie. Meu e-mail para Willa pode ter sido um erro, mas eu
precisava tentar. Neste ponto, eu não tinha muito mais a
perder.
Entramos em um dos centros estudantis, o Commons, e o
calor de lá se transformou em uma queimadura na ponta dos
meus dedos.
Cole jogou sua mochila sobre a mesa.
Eu podia senti-lo me observando. Mesmo sob a proteção do
meu boné, ele estava me examinando e isso me fez querer ir
embora. As correntes se arrastavam sob minha pele como um
animal andando de um lado para o outro sendo observado.
— Aonde você foi na noite passada?
Dei de ombros e folheei meu caderno para a aula, sem olhar
para uma única palavra.
— Sério? Você está tentando dar de ombros para escapar
disso. — Ele cruzou os braços e se inclinou para perto de mim,
o olhar fixo.
Conte com Cole para não deixar um assunto para lá. Ele era
um verdadeiro amigo. Nunca pensei que teria sequer um,
muito menos alguns. Meus lábios se contraíram.
— Funciona com a maioria das pessoas.
— E eu não sou a maioria das pessoas. — Ele deixou cair a
mão no meu ombro. — Você nunca nos contou sobre sua
amiga misteriosa depois do jogo de play-off. Aquela que você
deixou entrar em nossa casa para preparar a comida. Agora você
está deixando as festas. Isso não parece com você. Você
geralmente é o Sr. Sentinela tentando garantir que ninguém
saia do controle, especialmente quando você está encarregado
da limpeza.
— Eu tinha um lugar para estar. — Eu mantive minha cabeça
baixa. Decepção se tornou meu nome do meio. Ainda melhor
do que os outros que eu fui chamado enquanto crescia. —
Desculpe, eu fugi.
Ele apertou meu ombro.
— Tem certeza de que não há nada de errado? — A
preocupação saturava cada palavra. — Você me diria se
precisasse de ajuda?
Eu cambaleei. Fazê-lo se preocupar era a última coisa que eu
queria. Ninguém deveria se preocupar comigo, eu cuidei de
mim, sempre.
— É claro. Se algo estivesse errado, eu deixaria você saber.
Ele fez um som reconfortante no fundo de sua garganta.
— Isso é tudo que eu precisava saber. Você sabe que pode
falar comigo, se precisar.
— Está tudo bem. Eu não preciso. — Através das portas atrás
dele, eu peguei um flash de verde. A cor de Willa. Só que desta
vez, era real. Enfiei minha porcaria na minha bolsa. — Apenas
descobrindo algumas coisas. Eu tenho que ir.
Atravessei as portas e saí correndo em direção a ela. Nenhum
plano, apenas a necessidade de vê-la e deixá-la me ver.
Maggie estava ao seu lado como sempre.
Como se ela estivesse me esperando, ou talvez meus passos
fossem altos o suficiente para anunciar minha aproximação, ela
se virou quando cheguei a ela.
— Ezra. — Meu nome era uma nuvem de seus lábios.
Meu coração disparou ainda mais rápido do que durante a
minha corrida. Tirei meu boné.
— Willa. Ei, Maggie.
— Oi, Ezra. — Pelo menos ela parecia mais amigável do que
na noite passada.
Sim, um vislumbre de esperança. Uma lacuna na linha
ofensiva que leva direto para o quarterback.
— Vou ter um novo telefone em uma semana depois do meu
próximo evento de catering7.
Seu olhar caiu.
— Estou feliz que você finalmente terá um telefone. Não
poderia ter sido fácil fazer qualquer coisa sem ele. — Pena. Eu
odiava como isso enchia sua voz. Eu não estava fazendo nada
disso por pena, apenas por uma chance.
— Há coisas mais difíceis.
— Eu só vou ficar parada ali. — Maggie empurrou o polegar
sobre um ombro e começou a ficar atrás de um poste de luz.
Willa riu baixinho.
— Realmente sutil, Maggie.
— O quê? Eu não posso ouvi-lo por quão longe estou e estou
completamente alheia à sua conversa. — Maggie não ergueu os
olhos do telefone.
Apreciei o esforço. Se ela tivesse ido embora, Willa poderia
ter ido também, e pelo menos ela estava fingindo ser uma
espectadora inconsciente.
Willa se virou para mim e ajustou seu boné.
— Recebi seu e-mail — disse ela, suavizando ainda mais.

7
Catering é o modelo de serviço de alimentação em que preparamos em um local adequado e
servimos em outro local que não existe infraestrutura para tal, então, é a chamada refeição
transportada.
As correntes pararam de se arrastar, paradas e esperando pelo
que viria a seguir.
— Estava atrasado.
— Sim, estava. — Ela brincou com os botões de seu casaco.
— O Fulton U está de férias?
— Não, eu tive uma lacuna nas aulas e Maggie me convenceu
a visitar por alguns dias.
— Você está tanto aqui, você poderia muito bem se
transferir. — Minha risada soou como tijolos jogados de um
telhado. Por que eu tinha dito isso? Era o oposto do que eu
queria, que era mais tempo com ela e a chance de falar com ela
enquanto ela estivesse fora, mas a transferência só aceleraria sua
percepção de que ela poderia escolher alguém melhor.
— Eu venho dizendo isso a ela há meses — Maggie gritou de
seu lugar atrás do poste de luz.
Willa revirou os olhos.
— Quando você vai embora? — Mais alguns dias, eu poderia
orquestrar mais desentendimentos. Transforme o degelo em
um aquecimento e ligue para ela assim que ela voltar para a
escola.
Ela olhou para mim.
— Partimos para o aeroporto em quarenta minutos.
O ar saiu dos meus pulmões. O desespero socou minhas
costelas.
— Tão cedo.
— Eu não estudo aqui, lembra? Meu irmão já está chateado
por eu estar aqui do jeito que estou.
O irmão dela. Muralha, porque é isso que se sente quando ele
bate em você, como se você tivesse esbarrado em uma muralha
de tijolos. Mas, para ela, ele era Walsh. O irmão cujo ombro eu
tinha deslocado em nosso último encontro. Aquele que tinha
me batido. A fera ergueu a cabeça com um sopro de
competição. Um fio de memórias do campo tentando
aumentar a carga no meu peito.
Deve importar. Essas eram todas as razões pelas quais eu
deveria ter tomado meu telefone quebrado como um sinal para
deixá-la em paz, mas eu não podia.
— Ele está tentando cuidar de você. — As palavras saíram
como se eu estivesse mastigando vidro quebrado. Meus
tímpanos latejavam. Isso não foi em campo. Eu tive que agarrar
o ar em meus pulmões e forçar meus músculos a relaxar.
— Ele está sendo um pé no saco. De qualquer forma, não
precisamos falar sobre meu irmão. Estou feliz que você está
comprando um novo telefone em breve. Sinto muito pelo seu
antigo.
— Era uma merda.
— Sim, mas era seu.
— Você pode me dizer a próxima vez que você estará aqui?
— Isso não é uma boa ideia. — Ela disse isso rapidamente,
como se tivesse ensaiado para este exato momento.
O pânico atingiu meu peito.
—Por que não? Assim que eu tiver meu...
— Há muita coisa que vai mudar para mim nos próximos
meses e... eu preciso colocar meus pés no chão primeiro.
Minha garganta travou como se um peso de 40 quilos tivesse
acabado de cair sobre ela.
— Obrigada por me deixar saber que você não me ignorou.
— Seu sorriso reconfortante não parou de latejar em minhas
veias. Uma inutilidade latejante.
— Eu nunca ignoraria.
— Desculpe interromper isso, mas precisamos pegar a estrada
o mais rápido possível para que você não perca seu voo. —
Maggie passou o braço ao redor do de Willa.
Ela olhou para mim e mordiscou o lábio. Seus lábios se
separaram e se fecharam antes de seus ombros afundarem.
— Tchau, Ezra.
— Vejo você, Willa.
Eu a observei sair e odiei como cada vez parecia que ela
esculpia outro pedaço de mim para levar com ela.

— Ezra, pacote para você — Griff gritou do andar de baixo.


Eu rolei para fora da cama e tropecei escada abaixo.
Griff apontou para a caixa de papel kraft no sofá.
Ninguém nunca me deu presentes, Willa à parte. Eu não
tinha conseguido um, tanto quanto me lembrava, que não
fosse equipamento para futebol ou bebida, e todos que me
deram um desses estavam atualmente na casa.
Eu levantei a caixa e a sacudi. Não havia embrulho do lado de
fora. Deslizando a tampa, olhei para o conteúdo aninhado em
uma cama de papel amassado marrom. Tinha sido embalado
para função, não para apresentação. Mas era um telefone. Um
modelo mais antigo, mas ainda mais bonito que o meu antigo,
que era tão ruim que eu nem conseguia atualizar aplicativos
nele.
Willa tinha enviado isso? Ela queria manter contato?
Havia um bilhete grudado no interior da tampa. Eu o
destaquei. A esperança ardeu em meu coração.
“É um antigo que eu tinha enfiado em uma gaveta. Ela sente
sua falta. Não me faça me arrepender disso. Maggie.” Preso a
ele estava um pedaço fino de metal torcido necessário para
colocar meu cartão SIM neste telefone. "PS: machuque-a
novamente e eu vou remover suas bolas com isso."
Corri para cima e peguei meu cartão SIM da gaveta da minha
mesa. No andar de baixo, coloquei-o no lugar e liguei o
telefone. Carga completa. Obrigado, Maggie.
Após alguns minutos, o sistema operacional foi atualizado e
as notificações preencheram a tela.
Lembretes da sala de estudo. Mensagens dos caras antes de
lembrar que eu não tinha telefone; e o mais antigo.
Willa: Você está bem?
Nada mais importava no telefone a não ser aquela mensagem.
Antes que eu perdesse a coragem, respondi à mensagem de um
mês.
Eu: Como foi seu voo?
Willa: Você já pegou seu telefone?
Eu me atrapalhei com o telefone, pegando-o antes que ele
caísse no chão com sua resposta imediata. Isso só poderia ser
uma coisa boa. Tinha que ser, mas eu não queria dedurar
Maggie, se ela não tivesse dito a Willa o seu plano.
Eu: Dei sorte e esse caiu no meu colo.
Willa: Ainda bem que você não está mais sem telefone.
Eu: Quando posso te ver de novo?
As palavras na tela queimaram em minhas retinas. O que eu
queria provavelmente iria assustá-la. Isso me assustou pra
caralho. Isso não era para mim. Não agora, talvez nunca.
Willa: Por quê?
Eu: Não conseguimos nos ver muito nessa visita.
Tentei mantê-lo leve. Ela estava respondendo. Isso era
melhor do que ser ignorado.
Uma bolha de texto apareceu e desapareceu.
O calor dos meus dedos embaçou a tela e a pressão produziu
uma bagunça ilegível na caixa de texto. Bloqueei a tela e esperei.
Willa: Isso foi planejado.
Sua resposta queimou como um carvão em brasa
pressionando meu esterno. Rejeição e eu fomos costurados
juntos desde que me lembro. Mas eu tive que passar por isso.
Os vislumbres do sol que experimentei quando estava com ela
valeram a pena. O olhar em seus olhos quando ela se afastou.
Sua boca poderia ter dito “tchau”, mas aquele olhar não tinha
a finalidade que eu tinha visto antes. A inexpressividade que me
mostrava que eu não significava mais nada para eles.
Eu: Deixa eu te compensar
Willa: É melhor se pararmos agora
Apertei o telefone com tanta força que rangeu e o coloquei
de lado para não quebrá-lo, mas não consegui desviar o olhar
da tela, desejando que a próxima mensagem aparecesse.
Abrindo os punhos, bati no ícone ao lado do nome dela.
Tocou por tanto tempo que pensei que ela ia deixar cair na
caixa postal. Por fim, ela atendeu.
— E se eu não quiser parar? — Minha garganta estava
arranhando com meu pulso batendo nas veias do meu pescoço.
— Ainda bem que eu tenho uma palavra sobre isso também.
— Claro que você tem. — Sentei-me no último degrau e dei
com o punho na testa. — Posso te ver na próxima vez que você
estiver aqui?
— Não posso. — Sua resposta foi curta, afiada.
Não foi um “não, inferno” ou “vai se foder”. Agarrei-me à
esperança de poder salvar isso.
— Que tal antes disso? Diga-me quando e estarei lá.
Ela suspirou tão alto que, se estivesse na minha frente, teria
despenteado meu cabelo.
— Ezra, vamos tratar isso como o que é.
— O que você acha que é isso?
— Não é sobre o que eu acho que seja. É sobre o que eu sei
que é. — A rejeição para encobrir a dor, mas eu ouvi em sua
voz. Não foi uma aventura ou apenas uma conexão.
— Deixe-me provar a você que eu não estou brincando.
— Tudo bem. — Ela me mandou uma mensagem de
localização. — Esteja lá quinta-feira às sete da noite, Ezra.
Era um local a quatro horas de distância, não muito longe de
Fulton U. Para onde diabos você está me mandando, Willa?
CAPÍTULO 19
WILLA

Eu tirei os talheres do armário de porcelana.


“Jantar chique” como Walsh e eu apelidamos quando éramos
pequenos. Significava quebrar os castiçais e as velas e comer o
ravióli fresco da mamãe na porcelana do casamento de nossos
pais. A casa inteira cheirava a sálvia, manteiga e massa de
macarrão.
O último mês tinha sido uma merda. Visitar Maggie tinha
sido minha fuga normal, mas agora tudo o que fazia era me
lembrar de Ezra.
Sua última mensagem tinha sido ontem. Ele me mandou um
monte de mensagens desde que eu saí do campus. Sobre
treinos, seu treinador horrível, música, filmes. Minhas
respostas foram cautelosas, mas ele nunca parou. Ele
continuou mandando mensagens, mas não fez menção a esta
noite.
A decepção me apertou o estômago. Depois do jantar, eu
pararia de responder. Talvez eu o bloqueasse. Eu não tinha a
intenção de testá-lo, mas eu tinha. Um convite por um
capricho que eu sabia que ele não seguiria. Eu pedindo a ele
para lhe visitar foi o que começou o constrangimento em
primeiro lugar.
Terminei a dobra final e deslizei o guardanapo do avesso para
criar uma pequena escultura de tecido dobrado. Crescendo,
Walsh e eu passamos horas tentando superar um ao outro com
nossas esculturas de guardanapo. Esta noite, eu estaria fazendo
isso sozinha, já que Walsh nunca mais apareceu na hora. Ele
poderia se safar, não eu. Ele estaria fazendo isso sozinho
quando eu me transferisse?
A campainha tocou. Papai mencionou um caminhão de
caridade aparecendo por causa de um baú que estava preso no
andar de cima há anos. Descer as escadas seria impossível sem
ajuda. Espero que o piloto seja um cara grande com as costas
fortes.
— Eu vou atender — eu avisei meus pais na cozinha. Sem
usar o olho mágico, abri a porta e minha respiração ficou presa
na garganta como um chiclete. — Ezra?
— Ei, Willa. — Ele estava sem boné em seu casaco normal,
mas havia um blazer por baixo, e ele estava de calça social e
sapatos pretos. Seu nariz estava vermelho, mas seus olhos
ardiam com intensa determinação.
Puta merda, ele dirigiu até aqui. Quando eu mandei o
endereço para ele, eu não pensei que ele viria.
Atordoada, pisquei algumas vezes para ter certeza de que não
estava vendo coisas.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu disse que estaria aqui.
— E o seu carro? — Saí para o frio de bater os dentes.
Seu Honda azul escuro estava na calçada. Ele tinha que estar
congelando depois de dirigir todo esse caminho depois de
escurecer.
— Mas…
— Eu disse que estaria aqui. Isto é para o jantar. — Ele
estendeu uma garrafa de vinho, movendo-se de um lado para o
outro. Seu aperto no pescoço aumentou, o desconforto
irradiava dele. — Não é uma ótima, mas o cara da loja de
bebidas disse que era uma boa garrafa.
— Ezra. — Eu peguei dele e segurei contra meu peito. Meu
coração batia tão forte que eu esperava que batesse contra o
vidro.
— Willa, quem está na porta? — Meu pai perguntou da
cozinha.
— Entre. — Abalada pelo meu choque, agarrei Ezra pela
lapela do blazer e o puxei para dentro, fechando a porta atrás
dele.
— Deixe-me só… — Caminhei em direção à sala de jantar e
girei nos calcanhares. Minha mente zumbiu a mil milhas por
segundo. — Você pode sentar na sala de estar. Eu volto já. —
Eu fugi da entrada com meu coração beijando minha úvula.
Lambi meus lábios secos. Ezra estava aqui. Ele realmente
apareceu. Puta merda. Eu pressionei minha mão contra minha
testa.
— Mãe, pai, por favor, fiquem calmos.
— Will, você está bem? — Mamãe voou pela sala e
pressionou as costas de sua mão contra minha testa. — Você
está com febre? O que há de errado? Está tonta? Dan, traga um
copo d'água para ela. — Ela me arrastou até uma cadeira e
cubos de gelo caíram da máquina de gelo antes que eu pudesse
dizer uma palavra.
— Estou bem. Sério.
Mamãe me jogou na cadeira.
— Então o que há de errado? — Ela se agachou na minha
frente e procurou meu rosto como se eu estivesse pronta para
me dividir em dois pedaços.
— Acidentalmente convidei alguém para jantar. —
Preocupação roeu meu peito. Eu nunca tinha convidado um
cara para a casa antes. Walsh nunca trouxe uma garota para
casa. Eu e minha boca grande estávamos prestes a batizar a noite
com meu primeiro momento de conhecer os pais.
Uma exalação palpável e a evaporação da tensão aliviaram o
clima na sala.
— Como você acidentalmente convida alguém para jantar?
— Eles perguntaram ao mesmo tempo com uma risada
confusa.
Papai colocou o copo de água fria ao meu lado.
— Isso é tudo? Achei que Maggie ainda estivesse em St.
Francis.
— Ela está.
— De onde você conseguiu o vinho?
Olhei para a garrafa de vinho apertada contra meu estômago.
— Do meu amigo. Um amigo que eu achava que não viria,
então não mencionei isso. — Eu tinha armado uma armadilha
para mim esta noite.
— É alguém da faculdade? Uma das suas colegas de quarto?
— Não, é um menino. Meu amigo que eu acidentalmente
convidei para jantar e agora está na sala de estar. — Eu me
encolhi, preparando-me para um bombardeio total.
Mamãe levantou e segurou o braço de papai.
— Um menino? Como um namorado?
— Não, tecnicamente. — Eu me preparei para o
constrangimento desajeitado ou o combate a incêndios que eu
teria que fazer caso eles se irritassem.
— Há quanto tempo você conhece esse menino? — Papai
deu um tapinha na mão da minha mãe. Ele parecia mais curioso
do que chateado, então isso foi uma vitória.
— Alguns meses. Não é grande coisa.
— Ele é o primeiro menino que você traz para casa, isso é uma
grande coisa. — Ela olhou para mim como se cabeças extras
tivessem começado a brotar.
— Não é. Vocês dois podem ficar calmos sobre a coisa toda?
Papai pendurou uma toalha de cozinha no ombro.
— Estamos sempre calmos. Não estamos, Lea?
— Claro que sim, querido. — Ela pegou outra toalha de
cozinha e a jogou por cima do ombro, encostando-se em papai.
Bati a mão na testa e balancei a cabeça.
— O nome dele é Ezra. Ele é um jogador de futebol na escola
de Maggie. Foi ele que me ajudou quando caí em dezembro.
Os olhos da mamãe se arregalaram.
— Oh, estou tão feliz por finalmente conhecê-lo. — Ela
correu para fora da sala como se ele tivesse feito uma
traqueotomia de emergência em mim e salvado minha vida.
Eu corri atrás dela.
Ela tinha Ezra em um abraço de mãe, completo com balanço
de um lado para o outro.
— Muito obrigada. — Dando um passo para trás, ela tinha
lágrimas nos olhos.
Ezra olhou para mim com os olhos arregalados e
preocupados.
Eu murmurei
— Está tudo bem.
Eu precisava acabar com isso antes que ela desmoronasse
completamente e lhe desse toda a história da vida. Ele não
precisava disso ainda. Outra razão pela qual fui uma idiota por
abrir minha boca grande com este convite.
— Ezra, esta é minha mãe. — A sombra de papai veio de trás
de mim. — E meu pai.
— Muito prazer em conhecê-lo, Sr. E Sra. Goodwin.
— Por favor, nos chame de Lea e Dan. A comida está quase
pronta, por que vocês dois não se sentam à mesa da sala de
jantar. Willa, você pode definir outro lugar para seu amigo?
Walsh está atrasado como de costume.
Todo o corpo de Ezra enrijeceu como se ele tivesse sido
eletrocutado por uma corrente.
— Não se preocupe, ele vai se comportar. — Inclinei a cabeça
em direção à sala de jantar. Os castiçais estavam apagados no
meio da mesa. Peguei outro combo de pratos e talheres da
gaveta.
— Esta é uma configuração e tanto. — Ele ficou perto da
parede com as mãos atrás das costas como se estivesse com
medo de tocar em qualquer coisa.
— É um jantar chique. Tentamos fazer isso uma vez por mês.
A toalha de mesa, os castiçais, a porcelana, não é como
normalmente comemos.
Seus ombros afrouxaram um pouco.
— Você precisa de ajuda?
— Eu faço isso. — Larguei o jogo americano e arrumei o resto
da mesa. O jantar pode ser um desastre constrangedor ou um
sucesso constrangedor. Não importa o que aconteça, passar
algumas horas com meus pais e Ezra provavelmente me daria
um ataque cardíaco.
Seu estômago roncou do outro lado da sala.
— Quando foi a última vez que você comeu?
— Antes de eu sair.
Dobrei seu guardanapo e o coloquei no centro de seu prato.
— Quanto tempo antes de você sair?
Ele olhou para mim, suas sobrancelhas franzidas com
aborrecimento.
— Antes de eu sair.
Com o coração na garganta, dei a volta na mesa e fiquei na
frente dele. Sem boné significava que ele não podia esconder os
olhos.
— Você pulou a comida para pagar a gasolina, não foi?
Ele apertou a nuca e pegou o boné que não estava lá.
— Não é grande coisa.
— Claro que é. — A culpa roeu meu intestino. — Eu não
achei que você viria.
— E foi por isso que eu sabia que precisava. Eu disse que
estaria aqui. — A determinação sincera e a esperança em seus
olhos tornavam difícil lembrar até mesmo um sussurro da raiva
e tristeza que senti quando nos vimos pela última vez.
— Agora você está morrendo de fome.
— Não é a primeira vez que passo fome.
Isso tornou tudo pior, muito pior.
— Espere aqui. — Saí correndo da sala e fui para a cozinha.
— Tudo certo? — Papai ergueu os olhos do fogão.
— Tudo bem, só vou começar a levar a comida. O pão de
alho está pronto? Que tal o arancini?
— Prontos como sempre estarão.
Peguei a bandeja de bolinhos de risoto junto com uma cesta
de pão de alho e a salada.
Ezra estava verificando o armário de porcelana cheio de
cristal que meus pais compraram para o casamento junto com
as peças que eles acumularam ao longo dos anos.
— Ei, Ezra.
Ele pulou para trás e estalou as mãos atrás dele como se
estivesse sendo castigado por um guarda de segurança em um
museu.
— Pegue alguns destes. Eles são quentes, mas estão bons.
— Eu posso esperar.
— Sério, você está com fome.
— São mais alguns minutos. Eu vou ficar bem.
— Mas…
— Willa, pare de se preocupar. Eu não vou ser o idiota se
empanturrando em vez de esperar sua família comer.
O modo preocupação tinha sido ligado e eu nem tinha
percebido. Como estar em casa me faz um pouco mais
propensa a surtar e fazer um uma tempestade no copo d'água
por nada. Mais uma razão para encontrar um pouco de paz
sozinha longe daqui.
— Jantar está servido. — Papai saiu com a frigideira enorme
em uma tábua de cortar. O cheiro de manteiga de sálvia
superou os outros e me deu água na boca.
Com sorte, seria o suficiente para ele, embora mamãe e papai
soubessem o que era preciso para alimentar um jogador de
futebol.
— Há muito mais na cozinha se você ainda estiver com fome.
Não se preocupe em pedir mais. Eles sempre cozinham o
suficiente para alimentar um time de futebol inteiro com essas
refeições.
Mamãe o seguiu com a garrafa de vinho que Ezra trouxe e
copos para eles.
— Ezra, por favor, sente-se.
— Obrigada, Senhora.
— Por favor, me chame de Lea. — Ela riu e agitou a mão
como se acenasse para longe da formalidade.
— Obrigado, Lea — disse ele, testando e olhando para mim
para me tranquilizar.
— Você pode tomar o lugar de Walsh. Talvez ele pense duas
vezes antes de se atrasar da próxima vez.
A mandíbula de Ezra se apertou.
Meus pais estavam tão tranquilos com o atraso de Walsh.
Walsh jogando futebol. Walsh indo para lá, vivendo sua vida.
Mas comigo, eu estava a um passo em falso da desintegração.
Ezra puxou minha cadeira e eu sentei.
— Tão educado — mamãe comentou alto demais e arrastou
sua cadeira para dentro.
Ezra desabotoou sua jaqueta e sentou-se ao meu lado, o
assento de Walsh. Seu corpo estava rígido como se tivesse sido
esculpido em um bloco de madeira. O desconforto se espalhou
por ele em ondas, embora ele tenha feito um ótimo trabalho em
escondê-lo.
Eu e minha boca estúpida. Eu o forcei a aparecer. Vamos
apenas torcer para que ele não me odiasse depois do
interrogatório que certamente viria. E, quando Walsh
aparecesse, ele teria que jogar bem e não perder a cabeça. Com
as palmas das mãos juntas, fiz uma oração silenciosa.
Por favor, não deixe esta noite terminar em derramamento de
sangue.
CAPÍTULO 20
EZRA

Eu estava suando como se estivesse sentado sob as luzes de uma


coletiva de imprensa pós-jogo depois de ter sido responsável
por uma grande derrota. Mas em vez disso, sentei-me em uma
mesa da sala de jantar com porcelana de verdade, utensílios que
provavelmente eram de prata de verdade. A casa de tijolos
vermelhos com colunas e janelas brancas não deveria ter me
chocado, dadas as fotos que Willa havia enviado.
— Willa mencionou que você é um jogador de futebol como
Walsh. — Dan, o pai de Willa, olhou para mim por cima de seu
prato de macarrão. Ele tinha um tom de pai da TV e seu rosto
parecia nunca ter visto uma linha de raiva, apenas risos e
sorrisos. Isso pode mudar quando Walsh chegar aqui.
Meu aperto no garfo aumentou e eu espetei outro ravióli.
Quando ele aparecesse, as coisas poderiam ficar feias. Nosso
último encontro não foi bonito e ele se machucou. A comida
deliciosa agitou meu intestino. No segundo que ele
mencionasse isso, eu estaria mortinho da silva. Limpei a
garganta e tomei outro gole de água.
— Eu sou.
— Azada esta temporada.
— Nós tentamos o nosso melhor. Há sempre a próxima
temporada.
O pai de Willa riu.
— Essa é uma ótima maneira de olhar para isso. Walsh fica
tão intenso com o jogo que temos que lembrá-lo de que há
coisas mais importantes lá fora. Fico feliz em ver que você não
leva isso tão a sério.
A besta se eriçou, retumbando em meu peito. Não havia nada
mais importante. Para uma parte de mim, nada mais existia. Eu
percorria o mundo bloqueando cada pedaço de raiva e fúria
apenas para liberá-la no campo. O único lugar que me
ensinaram que eu poderia liberar minha crueldade. Às vezes, eu
me perguntava se esse era o meu verdadeiro eu. Se eu tivesse
ficado realmente bom em fingir.
— É apenas um jogo. — As palavras ficaram presas na minha
garganta.
A campainha da porta disparou a adrenalina em minhas
veias. Walsh entraria a qualquer momento. Ele entraria em sua
casa, me veria e provavelmente daria um soco antes de dizer
uma palavra.
Dan limpou a boca com o guardanapo e o colocou ao lado
do prato.
— Isso é provavelmente a caridade vindo buscar o baú.
— Dan, não tente movê-lo sozinho. Você passou um dia no
sofá depois de tirá-lo do quarto de hóspedes.
Ele fez sinal com as mãos para Lea se acalmar e saiu da sala de
jantar. A porta se abriu, mas não fomos atingidos por uma
rajada de ar frio como sempre que alguém entrava ou ia ao
Zoológico ou em qualquer outra casa em que eu morava.
— É uma jovem senhora. Ela não será capaz de levantar algo
tão pesado. Desculpe impor, Ezra, mas você acha que poderia
ajudar? Eu esperava que Walsh estivesse aqui para carregá-lo
comigo.
Eu pulei, querendo ajudar se eu pudesse. Também
significava que eu não estaria sentado à mesa quando Walsh
aparecesse. À medida que os minutos passavam durante o
jantar e sua chegada se aproximava, minhas mãos ficaram mais
úmidas.
— Sem problemas. Claro, o que você precisa?
O baú acabou sendo uma cômoda, embora continuassem
chamando-o de baú. Aparentemente, as pessoas com dinheiro
tinham palavras diferentes para muitas coisas. Levando a maior
parte do peso nas costas como uma mula de carga, Dan e eu o
manobramos escada abaixo.
Assim que chegamos ao pé da escada, apoiamos nossas mãos
contra o fundo entre as pernas ornamentadas e o seguramos no
topo, arrastando os pés em direção à porta da frente. Mesmo
comigo pegando a maior parte do peso, Dan lutou com isso.
Ele teria quebrado alguns ossos ou machucado as costas
tentando trazê-lo para cá sozinho. Walsh foi péssimo por não
lidar com isso antes.
Depois de colocá-lo no caminhão, Dan pegou o recibo da
mulher que veio buscá-lo.
Ele me deu um tapinha no ombro.
— Lea teria me matado se isso ficasse sentado no corredor
por mais um dia. Obrigado pela ajuda, filho. — Seu sorriso e
palavras gentis não deveriam ter me atingido como eles fizeram.
Eu levei um segundo para me recompor. Uma boa refeição,
um elogio e um sorriso foram suficientes para me deixar
cambaleando. Ser fodido da cabeça ajudava a explicar isso.
Lá dentro, Willa e Lea estavam paradas na porta como se
estivéssemos voltando da guerra. Instantaneamente
descongelou o frio de estar do lado de fora sem casaco.
— Tudo bem? — Lea balançou de um lado para o outro e
olhou para o caminhão se afastando.
— Sem problemas. — Esfreguei a ponta do meu nariz
congelado.
— Um cara forte como Ezra provavelmente poderia ter
lidado com isso sem eu atrapalhar. — O pai dela balançou meu
ombro antes de colocar o braço em volta de Lea e voltar para a
sala de jantar.
Fechei a porta da frente e Willa sorriu para mim.
— Ele gosta de você — ela sussurrou e puxou a lapela do meu
casaco.
— Você achou que ele não iria? — Quantos outros caras ela
apresentou? Os de antes de mim. Caras que cresceram em
torno de mansões e clubes de campo.
— Eu não fazia ideia. Você é o primeiro cara que eu convidei.
— Isso me parou do lado de fora da sala de jantar que Willa
havia cruzado.
Ela nunca trouxe mais ninguém para casa? O fato de ela ter
considerado este convite como um desafio nem sequer foi
levado em consideração. Eu fui o primeiro cara que ela gostou
o suficiente para apresentar a sua família.
Olhei ao redor e vi um retrato de família. Lea e Dan sentados
atrás de Willa e Walsh. Como ele se sentiria sobre eu estar aqui
em seu lugar? Sentado em seu assento?
— Ela era uma coisinha tão animada. — Lea se aproximou de
mim, me tirando de minhas ruminações sobre como bloquear
um golpe de Walsh.
— Willa deve ter sido fofa naquela época. — Ela estava linda
agora, mas seus pais provavelmente não queriam ouvir isso de
mim.
— Willow. — O sussurro de Lea saiu engasgado de seus
lábios.
Segui seu olhar e foi só então que vi a foto emoldurada que
Willa segurava em seu colo.
— Ela era oito anos mais velha que Willa.
O fato de que ela não tinha sido mencionada antes fez um nó
na minha garganta crescer.
Willa deu um passo para meu outro lado.
— Ela morreu um pouco menos de um ano antes de eu
nascer.
— Perdemos um anjo assim que outro foi trazido para nossas
vidas. — Lea estendeu a mão e segurou a bochecha de Willa. —
Você tem os mesmos olhos. Com a…
— Mesma mancha de dourado como a dela. — Willa e Lea
terminaram a frase ao mesmo tempo.
Desconforto pulsou de Willa, seu corpo rígido. Sua mãe
contando as semelhanças entre ela e sua irmã aumentou a
tensão em Willa, como uma corda de violão sendo afinada.
— Quem quer sobremesa? — Dan saiu da cozinha segurando
um bolo de chocolate com cúpula de vidro.
Sua entrada rompeu um pouco da tensão sufocante.
— Nós adoraríamos um pouco, pai. — Willa agarrou minha
mão e me arrastou para a sala de jantar. — Você queria que eu
pegasse o leite?
— Obrigado, Will.
Ela mergulhou na cozinha.
Seu pai cortou pedaços grossos do bolo de chocolate coberto
e colocou-os em pratos.
— Você vai querer esperar pelo leite ou sua boca será soldada
pelo chocolate. É uma fórmula que aperfeiçoei ao longo dos
anos.
Willa voltou com quatro copos cheios de leite até a borda.
— Ele só faz isso para um jantar chique.
Isso aliviou um pouco da tensão que ainda corria por mim,
ou talvez estivesse sendo enchido com chocolate.
— Não, Ezra, normalmente não temos jantares assim. Achei
que foi por isso que você apareceu tão bem vestido? — Sua mãe
era toda sorrisos. Eu ainda me preparei para o interruptor. O
ponto em que ela perceberia que eu não servia para Willa ou
inspecionaria todos os cômodos para ter certeza de que nada
havia desaparecido.
— É sempre mais fácil ir com roupas mais casuais do que
normais, então eu quis prevenir a remediar, especialmente
quando percebi para onde ela me convidou. — As primeiras
impressões importavam. Eu tinha feito muitas dessas e
geralmente as estragava. — Então era aparecer assim ou vir aqui
de moletom.
Seus pais riram.
— E ele é tão engraçado. — Sua mãe deu um tapinha na mão
de seu pai.
Os pais sempre tiveram uma forte antipatia por mim. Uma
aversão ao garoto que pulava de casa em casa, distrito escolar
em distrito escolar. Eles sempre pensavam o pior de mim.
Esperavam o pior de mim, a menos que eu estivesse em meus
protetores e capacete.
Isso foi quase pior. Quando alguém te odiava antes de você
abrir a boca, era muito mais fácil não dar a mínima para o que
eles pensavam ou diziam. Mas pessoas assim, eu queria que eles
gostassem de mim. Eu queria os sorrisos brilhantes na porta da
frente que não tinham nada a ver com o que eu fazia em campo.
— Willa, você queria que a gente arrumasse o quarto de
hóspedes para Ezra?
Meu garfo bateu no prato. Merda, eu esperava que eu não
lascasse. Fiz uma careta e inspecionei o prato. Além das
manchas de chocolate, estava tudo bem. Meu suspiro de alívio
foi audível.
— Ezra poderia me levar de volta ao campus, já que não
temos ideia de quando Walsh aparecerá.
O nome de Walsh era um banho de gelo depois de como a
noite tinha ido bem. Ele ainda poderia aparecer a qualquer
segundo e arruinar tudo.
— Tem certeza? Adoraríamos que vocês dois ficassem aqui.
— Dan pegou os pratos dele e de Lea.
Manter isso por algumas horas era uma coisa, mas uma noite
inteira, especialmente uma noite em um quarto de distância de
Willa? Isso era um manual para desastres.
A mão de Willa esfregou meu joelho debaixo da mesa.
Eu respirei fundo e olhei para a mãe dela, que gritou para Dan
parar de roubar pedaços extras do bolo que ele havia levado
para a cozinha.
— Eu preciso me encontrar com meu grupo para um projeto
para a aula de qualquer maneira, então assim será mais fácil e
terei certeza de que não chegarei atrasada.
Sua mãe olhou de Willa para mim e eu me preparei para as
coisas desmoronarem. Eu levaria a filha deles de volta para a
casa dela, não mais sob a supervisão deles.
— Se você tiver certeza e dirigir com segurança.
— Temos certeza. E Ezra sempre dirige. Deixe-me pegar
minha bolsa. — Willa saltou de seu assento e subiu as escadas.
— Muito obrigado pelo convite. Eu realmente gostei. — Eu
puxei minha cadeira para trás e dobrei meu guardanapo ao lado
do prato agora vazio. Procurando uma fuga, eu o peguei,
precisando continuar me movendo.
— Não se preocupe com isso, vamos limpá-lo. — Ela pegou
o prato de mim.
Esperei uma bomba cair. Uma observação sarcástica ou
advertência. As pessoas tinham um jeito de esconder o que
queriam até o momento perfeito. Não há momento melhor do
que ficar sozinho comigo depois de ouvir que eu levaria Willa
para a casa dela. Eles tinham visto meu carro? Sabendo o
quanto eles a protegiam, eles provavelmente não queriam que
ela andasse no meu perigo móvel.
— Foi ótimo conhecê-lo, Ezra. — Lea deu a volta na mesa e
pegou minha mão, embalando-a na dela. — Ficamos tão
preocupados quando Willa apareceu com aquele galo na
cabeça, mas ela nos avisou que havia alguém lá cuidando dela,
então obrigada novamente por isso. — Ela jogou os braços em
volta de mim.
— Sem problemas, Sra. Go…
Ela me lançou um olhar brincalhão de repreensão.
— Lea.
Seus braços se apertaram no tipo de abraço que era fácil de
afundar. Um abraço de mãe que eu não conseguia me lembrar
de ter recebido. Eu a apertei de volta, tentando não deixar isso
me sufocar.
As memórias da minha mãe eram mais nebulosas do que
deveriam para uma criança jogada no sistema aos sete.
Mecanismos de proteção entraram em ação com força.
— Peguei. — Willa aterrissou no pé da escada.
Sua mãe me soltou e gentilmente acariciou minha bochecha.
— Dirija com cuidado.
— Nós vamos. — As palavras saíram tensas, engasgadas.
— Tchau, pai. — Willa jogou os braços ao redor de seu pai e
ele a abraçou de volta, beijando sua bochecha.
— Tchau, querida. Esteja segura.
— Eu sempre estou.
— Tchau mãe.
Sua mãe a abraçou com força, apertando-a com tanta força
que seu vestido amassou.
— Cuidado nas estradas, é tarde.
— Nós vamos.
Seus pais nos acompanharam até a porta da frente. Lá o pai
dela me surpreendeu com um abraço.
— Cuide da nossa garotinha. — Ele me encarou como se
realmente acreditasse que eu poderia.
Minha garganta e peito se apertaram e eu a limpei para falar.
— Eu vou.
Eles tinham acabado de me conhecer e colocaram mais
confiança em mim, foram mais calorosos comigo do que
qualquer um fora do futebol.
Willa alcançou a maçaneta, mas ela girou antes que ela a
tocasse.
A porta se abriu.
— Desculpe, eu estou…— as palavras morreram em sua
garganta. O rosto sorridente que eu só tinha visto carrancudo
cara a cara comigo congelou. — Que porra é essa? — Ele
carregava um cesto de roupa suja com as duas mãos e uma
mochila no ombro. Isso o atrasaria se ele desse um soco.
— Walsh, olha a boca — Lea repreendeu atrás de nós.
— Você estava atrasado, então o amigo de Willa aqui tomou
o seu lugar — seu pai brincou. — Até me ajudou a descer o baú
pelas escadas e colocá-lo no caminhão para a loja de caridade.
Ah, esqueci o bolo para vocês dois. — Ele se virou e correu de
volta para a cozinha.
Lea se endireitou e bateu a mão na testa.
— Quase esqueci seu detergente. Walsh aqui com seu
alqueire de roupa me lembrou. — Ela se virou e correu para a
cozinha deixando Willa, Walsh e eu na porta.
Seu olhar estava tão aquecido, eu esperava que o vapor saísse
de suas narinas.
— Por que você chega atrasado e eles não chamam o apoio de
helicóptero?
Os dentes de Walsh estalaram e sua mandíbula flexionou.
Lutei para manter minha postura casual. Mãos nos bolsos,
pés não plantados como se eu estivesse pronto para uma
investida. Eu não mostraria isso para Willa, para seus pais. Mas
todos os músculos e tendões se contraíram, prontos para
romperem. Pronto para soltar sobre ele, se ele respirasse errado
na minha direção.
Em vez disso, mantendo os olhos em mim, ele agarrou Willa
e beijou o lado de sua cabeça. Ele a segurou perto, os lábios se
movendo ao lado de sua orelha. As palavras sussurradas eram
altas o suficiente para eu saber o que ele estava fazendo, mas não
para eu ouvir.
Eu agarrei minhas mãos dentro dos meus bolsos e me esforcei
para projetar calma.
Seus olhos se arregalaram e dispararam de mim para ele. Ela
balançou a cabeça.
— Deixa pra lá.
— Will…
— Não, Walsh.
Seus pais voltaram com potes de bolo e um balde de
detergente de tamanho industrial.
— Mãe, eu disse que já tinha o suficiente.
— Você nunca sabe quando vai precisar, e suas colegas de
quarto?
— Eu vou levar isso. — Peguei o recipiente das mãos de Lea,
tentando manter minha respiração sob controle. Um zumbido
começou em meus ouvidos quando Walsh se aproximou.
Minhas mãos estavam cheias agora e as dele não. Ele daria um
soco?
Willa pegou o bolo.
Mais acenos e despedidas de seus pais e olhares de Walsh. Ele
deu um passo para o lado para nos deixar sair depois que seus
pais disseram brincando que ele era seu novo batente de porta.
Quanto tempo levaria para ele lhes dizer que fui eu quem o
machucou durante o último jogo? Um nariz sangrando não se
compara a um ombro deslocado. Foi sobre isso que ele falou
com Willa?
Willa se livrou de outro abraço parental e abriu a porta. Ela
sabia o quão sortuda ela era?
Lá fora, no frio, olhei para a casa. Os três ficaram na porta.
Eu deveria ter estacionado ao redor do quarteirão. Como eles
se sentiram vendo Willa entrar no meu balde de merda
chamado de um carro?
Abri a porta para que Willa pudesse entrar antes de fechar a
porta atrás dela.
Seus pais estavam na porta com Walsh pairando sobre seus
ombros.
Acenando, nos afastamos.
— Correu bem. — Ela riu, suspirou e afundou de volta no
assento, o alívio derramando dela.
— Foi? — Meu corpo lentamente recuou do alerta máximo
agora que estávamos longe da casa. Eu aprendi que não era o
melhor em julgar quais eram as interações familiares normais.
Para mim, pareceu que eles gostaram de mim, mas talvez
fossem educados com todos. Aqueles pais legais que as crianças
ligavam quando precisavam de ajuda, esperando orientação,
não gritaria ou coisa pior. Eles poderiam ter sido assim com
todos que passavam pela casa.
— Oh, sim. Eu estava preocupada que eles pirassem porque
você foi o primeiro cara que eu convidei para casa, mas eles
realmente gostaram de você. — Ela sorriu para mim,
iluminando o interior do carro com os dentes se tocando.
Depois de esfregar as mãos, ela as prendeu entre os joelhos. Suas
pernas nuas deviam estar congelando na saia.
— Eu tenho uma coisa para você. — Agora fora da vista da
casa, estendi a mão atrás de mim e trouxe meu edredom para o
banco da frente. Ele saltou por entre os dois apoios de cabeça e
caiu em seu colo.
— E você? — Ela riu e puxou-o em volta do pescoço e enfiou
sobre as pernas.
— Eu ficarei bem. — Meus dedos doíam de frio. Foda-se este
carro! Mais um ano. Eu só precisava me manter saudável até a
próxima temporada, então teria mais dinheiro na minha conta
bancária do que jamais poderia imaginar. Então, eu poderia
atualizar tudo. Eu não precisava buscar o luxo. Inferno, neste
ponto, totalmente funcional era um luxo. — Para onde?
— Meu apartamento. Deixe-me pegar seu novo telefone e eu
posso colocar o endereço. — Ela tirou a mão de debaixo do
cobertor.
Eu dei a ela meu telefone.
— Ah, isso é legal. Maggie teve um com um amassado assim
também. Seus pais lhe deram um novo no dia seguinte. —
Nunca deixou de me chocar como algumas coisas eram fáceis
para outras pessoas. Nada além de passar por cima de caras no
campo foi fácil para mim, mas o universo com certeza precisava
servir um pouco de equilíbrio no draft na próxima temporada.
Willa colocou as informações e pegamos a estrada. Eu pegaria
um café para a viagem de volta. Uma coisa que eu não odiava
em estar de volta aqui era parar em um Wawa8 e pegar alguns
lanches para me manter acordado. Não importa o que, pelos
sorrisos, os toques, pelo fato de que ela estava falando comigo
agora, a viagem valeu a pena.
Trinta minutos depois, estávamos em uma rua que se parecia
muito com a minha em STFU, exceto que a bandeira do
campus acenava com os campeões nacionais sob sua bandeira
Fulton U. No ano que vem, seria nosso. No ano seguinte,
nossos estandartes esvoaçariam no ar gelado do inverno. No
ano que vem, eu não perderia.
A rua estava cheia de pessoas cambaleando de casa em casa,
de barril em barril, a música retumbando dos aparelhos de som
dos carros e das casas.
Mas havia uma vaga aberta na frente de sua casa.

8
A Wawa, Inc. é uma cadeia americana de lojas de conveniência e postos de gasolina localizados
na costa leste dos Estados Unidos, operando na Pensilvânia, Nova Jersey, Delaware, Maryland,
Virgínia, Washington, D.C. e Flórida.
Ela desafivelou o cinto e tentou dobrar o edredom antes de
desistir e colocá-lo no colo.
— Posso usar seu banheiro antes de ir?
Ela estremeceu.
— Você já está indo?
— Eu-eu não sabia se você gostaria que eu ficasse?
— Claro que eu quero. — Ela se inclinou para perto e
descansou a mão na minha bochecha. Seu olhar caiu para os
meus lábios e de volta para os meus olhos. — Todos os meus
colegas de quarto estão fora. Vamos. — Ela balançou a cabeça
em direção à porta e a abriu, lembrando-se do truque.
Engoli em seco, minha garganta apertada.
— Eu posso ficar com o sofá.
Ela bufou e puxou meu colarinho.
— Não, não é uma opção, grandão.
CAPÍTULO 21
WILLA

Ezra olhou ao redor do meu quarto. Eu tenho uma dica da


vulnerabilidade que ele deve ter sentido quando visitei sua casa.
Eu apertei minhas mãos atrás das costas e me balancei em
meus calcanhares. Meu quarto era maior que o dele. Mais claro
e arejado. Nenhum cheiro de cerveja que permanecia nas casas
dele e do meu irmão. Era como se aquela coisa penetrasse nas
paredes. Mamãe e papai vieram e me ajudaram a pendurar
tudo. Entre o tapete multicolorido ao lado da minha cama,
almofadas e prateleiras extras, nós enchemos pelo menos dois
carrinhos para os preparativos da minha grande mudança.
Havia luzes penduradas em uma parede e minha cama estava
em degraus, dando-me espaço extra embaixo para
armazenamento. Fotos de família emolduradas estavam na
minha mesa.
Ele parou na frente de uma foto de nós quatro, cinco se você
contar a foto emoldurada de Willow. Depois das fotos, ele
verificou o resto do quarto.
Esperei por perguntas sobre esta noite. Havia um monte de
coisas que eu não tinha falado com ele antes, não que ele tivesse
sido aberto sobre seu passado também.
— Lugar legal. Parece novo.
— Os pais de um dos meus colegas de quarto são investidores
imobiliários. Eles compraram um monte dessas casas e
reformaram esta para ela se mudar.
— Só o melhor. — Ele tirou a jaqueta e a colocou nas costas
da minha cadeira. Como se fosse uma segunda natureza, ele
arregaçou as mangas da camisa.
Eu não tinha sido capaz de apreciar completamente Ezra
vestido assim enquanto estava na casa dos meus pais, mas
parado no centro do meu quarto eu queria escalá-lo como uma
sequóia.
Ele passou o dedo ao longo da base de um dos globos de neve
em cima da minha cômoda.
— Você não estava mentindo quando disse que colecionava
isso.
Estes eram apenas os meus favoritos.
— Uma miniatura perfeita de lugares em que estive com uma
pitada extra de magia. — Sempre que eu olhava para eles, era
mais fácil guardar uma memória feliz. As fotos sempre
pareciam lembrar a todos de quem estava faltando, mas aquilo
era sobre me colocar de volta no lugar e absorver todos os
sentimentos que tive quando estive lá.
O canto de sua boca se ergueu.
— Não poderíamos todos fazer isso?
— Poderíamos.
— O que seu irmão disse a você antes de partirmos? — Ele
foi cuidadoso em sua observação desatenta, não olhando
diretamente para mim.
“O que diabos esse idiota está fazendo aqui? Por que diabos
você o trouxe aqui, Willa? As rivalidades no futebol eram um
saco”.
— Apenas coisas irritantes de irmão mais velho.
— Então ele não avisou você para ficar longe de mim?
Eu acenei com a mão.
— Minha família é insanamente superprotetora. Não
importa quem eu trouxesse para casa, ele encontraria algo para
reclamar. Não se preocupe com isso. Eu sei quem você é.
— Se eu não tivesse aparecido esta noite, você ainda sentiria
que me conhece? — Ele deslizou o dedo por um dos globos de
neve e se virou para mim. A melancolia refletia em seus olhos,
uma triste incerteza e talvez uma preocupação com onde as
coisas estavam agora.
Eu queria aliviar algumas dessas preocupações antes que elas
fossem substituídas por outras.
— Mas você apareceu. — Eu escorreguei sob seu braço e me
ensanduichei entre a cômoda e seu corpo. Puxando o colarinho
de sua camisa, eu olhei em seus olhos. — Você apareceu e
provou que eu estava errada.
— E se eu não tivesse vindo esta noite?
— Se formos honestos, eu provavelmente teria bloqueado
você e tentado nunca mais pensar em você. — Parecia um
pouco infantil dizer isso em voz alta.
— Eu não queria fazer isso.
— Fazer o que?
— Machucar você. — Seu pomo de Adão balançou e ele
passou os dedos pelo meu queixo.
Minha garganta apertou.
— Prometa que não vai fazer isso de novo e podemos
esquecer tudo.
— Você sabe que eu não posso prometer isso. Mas eu
prometo que não vou te machucar de propósito. Eu posso
precisar que você me avise se eu fizer algo que você não goste.
— Sua mão se moveu da minha cintura para a curva da minha
bunda.
Eu arqueei minhas costas, pressionando mais fundo em seu
aperto.
— Você tem um acordo.
— Vamos selar.
— Vamos. — Eu o puxei para mais perto até que sua
respiração patinou pela minha pele.
Seus lábios bateram em mim, roubando minha respiração e
incendiando meu corpo.
As semanas sem ele tinham sido muito longas. Como eles
pareciam fluir tão rapidamente antes? Aquelas em que eu
esperava vê-lo novamente?
Ele me prendeu contra a cômoda. Globos de neve
chacoalharam e eu arranhei suas roupas.
Suas mãos estavam sob minha saia, espalmando minha
bunda. Usar roupas de fácil acesso ao redor dele era uma
obrigação. Minha calcinha tinha sumido, arrancada das minhas
pernas e pendurada no meu abajur por tudo o que me
importava. O ar frio atingiu meu núcleo aquecido e um
estremecimento rolou por mim.
Eu desabotoei sua camisa, puxando-a para baixo em seus
braços, deleitando-me com o calor, a força de seu corpo contra
o meu.
— Eu senti sua falta, Willa. — Seus olhos ardiam com mais
que fome.
Satisfazer todas essas necessidades seria meu único foco esta
noite, para ele e para mim.
— Eu também.
Com os dedos voando, eu rapidamente desabotoei suas
calças.
— Eu preciso de você.
Trabalhando mais rápido do que eu podia, ele terminou de
se despir, rolou um preservativo e meteu em mim.
— Porra, a sensação de estar dentro de você é tão boa.
Minha boca se abriu, mas nenhum som escapou. Eu estava
dominada pelo prazer. Uma onda de necessidade de afundar
apertando cada parte de mim ao redor dele. Tudo o que eu
podia fazer era segurar e sentir. Sentir cada centímetro dele,
fosse dentro de mim ou pressionado contra mim.
Seu aperto afundou em meus quadris e as maçanetas da
cômoda cavaram nas minhas costas, mas eu resisti contra ele,
incitando-o a se mover com mais força, mais rápido.
Eu precisava disso. Eu precisava sentir tudo isso. Precisava ser
lembrada de como eu estava viva e o quanto ele me queria.
— Ezra — eu gemi, mordiscando a base de seu pescoço.
Ele gemeu e me levantou, me sentando na beirada da mesa. A
mudança no ângulo que fez sua pélvis esfregar contra meu
clitóris foi o suficiente para me provocar. Os fogos de artifício
ofuscantes faiscaram atrás das minhas pálpebras.
Meu orgasmo foi prolongado como as luzes penduradas na
minha parede movendo-se de um flash para o outro enquanto
ele moía seus quadris contra mim, cascateando o prazer até que
eu mal conseguia respirar.
Ele agarrou meu pescoço e me beijou, chupando meu lábio
inferior. Todo o seu corpo travou, sacudindo e enchendo a
camisinha. Ele caiu contra mim e eu escovei minha mão para
cima e para baixo em suas costas. Cambaleando para trás, ele se
livrou do preservativo antes de estender a mão e me ajudar a sair
da mesa.
— Como acabei sendo o único totalmente nu? — Ele olhou
para si mesmo e de volta para mim.
— Eu sou tão irresistível.
Ele enrolou uma mão atrás das minhas costas e dançou nu
comigo ao som da música derramada de festas em casas para
cima e para baixo na rua.
— Sim, você é.
Abaixando meu zíper um pouco mais a cada giro e balanço
lento, meu vestido caiu no chão no final da música.
— Quanto tempo você acha que temos até que seus colegas
de quarto voltem?
— Eu não me importo. — Eu o levei até a cama e me afastei,
chamando-o para frente. — Temos o tempo que precisamos.
Ele rastejou em minha direção.
Vibrações de corpo inteiro me dominaram. Eu desabei de
volta no meu travesseiro com sua sombra caindo sobre mim.
Seu olhar faminto me incendiou novamente.
— Nunca é o suficiente.

Eu rastejei de volta para o meu quarto e coloquei as sacolas


na minha mesa, fazendo o mínimo de barulho. Sentei na
beirada da cama.
Adormecido, Ezra parecia uma pedra lisa, não tão pedregosa
quanto quando estava acordado. O aperto duro de sua
mandíbula relaxou e seus cílios eram cheios e curvados,
geralmente ofuscados pelas profundezas de seus olhos, aqueles
que sempre me puxavam do outro lado da sala.
Eu escovei meus dedos ao longo do cabelo raspado de Ezra.
— Bom dia.
Seus olhos se abriram e seu corpo estremeceu, músculos
rígidos antes de seu olhar pousar em mim. Ele imediatamente
afundou no meu travesseiro e bocejou, me puxando para perto.
— Bom dia.
— Você não disse quando precisava voltar ao campus e eu
queria ter certeza de que você não dormiu demais.
— Cedo. Preciso estar de volta às onze. Que horas são?
— Seis. Trouxe-lhe café e sanduíches de café da manhã.
Ele se sentou ereto, de costas contra a minha cabeceira.
— Você fez? Quando?
— Saí e desci a rua até o Wawa.
— Você saiu da cama e saiu do quarto.
Ele me encarou, cambaleando.
— O quê?
Ele passou as mãos pelo rosto e balançou a cabeça.
— Nada. Não costumo dormir tão profundamente em
lugares novos. Só estou surpreso por não ter acordado.
— Venha ver o que eu trouxe para você. — Eu puxei sua mão
para tirá-lo da cama.
— Você criou o hábito de me servir o café da manhã. — Ele
se jogou na minha cadeira e me puxou para seu colo. — De me
alimentar. — Seus olhos nadaram com emoções que eu não
conseguia identificar, mas fez meu coração gaguejar.
— Não é grande coisa.
Seu braço apertou.
— É para mim. — Seu olhar se encheu de um dilúvio de
sentimentos, carinho, apreciação, calor.
Eu me contorci em seu colo. Ele nunca sairia daqui a tempo
se voltássemos para a cama. Eu percebi.
— Vamos te alimentar. — Desembrulhei os sanduíches e o
deixei escolher. Depois de comer e arrumar o resto da comida,
saímos de mãos dadas.
Seu polegar traçou ao longo das costas da minha mão.
— Você vai voltar em breve?
A decisão da Darling U deveria sair em qualquer minuto, mas
ele não precisava saber disso. Por que aumentar suas
esperanças, diabos, minhas esperanças. Eu balancei a cabeça.
— Possivelmente mais cedo do que você pensa, mas ainda
não tenho um dia.
— Assim que você souber, me avise e eu estarei lá. Isso
economizará um passeio para Maggie, embora você possa ficar
mais confortável no carro dela. — Ele abriu a porta e baixou o
olhar.
— Não recue agora. Você é meu chofer de referência. —
Coloquei meus braços em volta dele e joguei o saco de comida
em sua porta aberta.
— Willa, isso é demais. A viagem é de apenas quatro horas.
— Eu sei. — Eu pressionei meu corpo contra o dele e beijei
ao longo de sua mandíbula. — Mas você precisa se manter
aquecido. A garrafa térmica deve manter o café quente até você
chegar a Pittsburgh.
Ele gemeu e sua ereção crescente cutucou contra mim.
— Você não tinha que me dar isso.
— Há apenas um Yeti que uma garota precisa9.
Os dedos de Ezra roçaram minha nuca.
— Eu não quero ir.
Um arrepio percorreu minha espinha. Suspirei e escovei
meus lábios contra os dele.
— Eu não quero que você vá, mas você tem que ir. Eu não
acho que Fulton U está aceitando figurantes.
— Você estará no campus em breve? — Ele descansou sua
testa contra a minha.
— Assim que eu tiver uma folga.
— Mal posso esperar. — Ele me beijou, deixando seus lábios
permanecerem nos meus, e o aperto contra o meu pescoço
aumentou, afundando em meus músculos doloridos como se
ele não quisesse me soltar. Mas ele soltou e entrou em seu carro.
Inclinei-me através de sua janela aberta.
— Vejo você, Ezra. — Um último beijo e ele partiu, vapor
saindo do silenciador e desaparecendo no ar fresco.

Algumas semanas depois, eu estava de volta na casa de


Maggie e o cheiro do esmalte fez minha cabeça girar.
— Estou aqui mais do que na minha própria casa. — Tampei
o frasco de esmalte transparente.

9
Ela fez um trocadilho de homem da neve com o fato dele ter que dirigir quase congelando.
— Certo? É tão irritante. — Maggie mostrou a língua e
puxou a divisória entre os dedos dos pés.
Eu bati na cabeça dela com um travesseiro.
— Provavelmente será muito mais quando eu me transferir
para Darling U.
Ela parou e olhou para mim como um poodle confuso antes
que o frasco fechado de esmalte batesse no chão e derrapasse
sob o sofá.
— Sua cadela! Você está aqui há cinco horas e só está me
contando agora. — Ela me jogou no sofá, batendo nossas testas.
— Parecia certo esperar para fazer meu anúncio dessa forma.
Ela gritou e me abraçou mais forte.
— Isso exige uma celebração. — Saindo de cima de mim, ela
dançou feliz até a cozinha.
Eu me sentei.
— Ezra provavelmente terminará mais tarde.
— Claro que ele vai. Aposto que ele tem observadores no
aeroporto para garantir que você não consiga passar por ele.
— Prosecco ou devemos ir para o negócio real? — Ela ergueu
duas garrafas de vinho com rolha.
— Vamos guardar a coisa real para a vez que meus pais
aprovarem isso. — Uma sensação de queda livre despencou
pelo meu estômago. Seria melhor se eu fizesse isso embriagada?
— Você conseguiu uma bolsa de estudos?
— A competição será insana para as três que eles oferecem
todos os anos.
— Nós vamos fazer isso funcionar. — O estouro de rolha de
tiros alto soou em meus ouvidos.
Sempre uma profissional, Maggie não derramou uma gota e
encheu meu copo.
Seu interfone tocou.
— Vou pegar outro copo.
Pulei para o encosto do sofá e me segurei contra a parede.
— Olá.
— Ei, linda.
Vibrações quentes na barriga se espalharam por todo o meu
corpo.
— Venha para cima.
Deixei a porta aberta com meu sapato e me juntei a Maggie
na cozinha. As taças estavam cheias até a borda.
— Generosa com a quantidade, Mags. — Bebi o meu antes
de levantá-lo do balcão.
— Como se não fossemos terminar a garrafa inteira.
— Eu não posso acreditar que finalmente está acontecendo.
Quer dizer, não é STFU, mas eu aceito! Para Willa, sua pura
vontade e determinação, e a melhor amiga que já tive. — Ela
bateu seu copo no meu.
— Para a melhor amiga que já tive, que nunca me deixa
duvidar de mim mesma.
Nós duas brindamos com nossos copos.
A carícia aquecida ao longo do meu pescoço me deixou
arrepiada. Os polegares de Ezra eram mágicos.
— Qual é a ocasião especial? — Seus lábios fizeram coisas
loucas em minhas entranhas, liquefazendo-as desde a primeira
sílaba.
— Ela entrou! — Maggie entregou a Ezra uma taça de vinho
espumante.
Eu não queria ter muitas esperanças antes de descobrir. Além
disso, a dor da rejeição não era algo que eu queria espalhar, mas
agora que eu sabia que tinha conseguido, era o momento
perfeito para compartilhar.
— Excelente. — Ele aceitou e tomou um gole, mantendo os
braços em volta de mim. — Para onde?
— Darling U Faculdade de Línguas — Maggie exclamou
como se eu tivesse recebido um Prêmio Nobel. — Ela está se
mudando para cá. — Seu salto na loteria tirou um pouco do
meu medo de fazer a escolha.
Ezra engasgou com a bebida, que escorreu pelo queixo.
Peguei algumas toalhas de papel e limpei seu queixo.
— Você está bem?
— Você está se transferindo? — Ezra enrijeceu e me encarou
atordoado. — Para Darling U? Aquela que fica a quinze
minutos de distância.
— Sim. — Eu sorri, amando como ele ficou impressionado
com a notícia. — Talvez. Ainda não há acordo feito no que diz
respeito à ajuda financeira e outras considerações. — Tipo
como meus pais iriam perder a cabeça com certeza. — Mas
tenho quase cem por cento de certeza. — Com esses dois no
meu lado, eu faria funcionar.
Gotas das bolhas efervescentes pingavam em seu casaco. Eu
bati nelas.
— Nós seremos colegas de quarto. — Maggie estendeu a mão
sobre o balcão e derramou mais bebida no meu copo. Seu
telefone vibrou no balcão. — Estarei de volta para a celebração.
Ela vai ser uma Darling. — Ela me abraçou e correu pelo
corredor.
— É uma das melhores escolas de idiomas do país. Com ela
sendo tão perto e eu morando com Maggie, eu posso ir aos seus
jogos, se houver alguém com conexões que possa me conseguir
ingressos — eu provoquei e me inclinei mais perto para esfregar
meu nariz contra o dele.
— O que seus pais acham? — Seus músculos travaram.
Totalmente derrubada, eu olhei para seu peito.
— Ainda não contei a eles. — Brinquei com os botões de seu
casaco.
Ele segurou minhas mãos.
— Eles não vão ficar preocupados por você estar tão longe?
Não era a resposta que eu esperava. Ele parecia mais com
Walsh do que com o cara que atravessou o estado para me ver.
— Talvez, mas não posso deixar de fazer isso só porque pode
perturbá-los.
— Eles só querem o melhor para você. — Ele cruzou um
braço sobre o peito e empoleirou o outro sobre ele, cobrindo
metade da boca com a mão.
Inclinei a cabeça e olhei para ele, sacudindo suas mãos.
— E o que eu quero para mim?
— Você está seriamente chateada porque você tem pais
carinhosos que se preocupam com você? — Ele balançou a
cabeça e olhou para mim com uma descrença confusa, como se
eu fosse uma criança mimada.
A acusação pungente me cortou profundamente e alimentou
minha raiva.
— Willa, você precisa realmente pensar sobre isso. — Ele
continuou balançando a cabeça como se esperasse que eu visse
a razão.
O álcool revirou no meu estômago, azedo e agitado.
— Por que você está agindo como se não quisesse que eu me
transferisse?
CAPÍTULO 22
EZRA

O pinicar sob minha pele crava como agulhas.


Willa estava se mudando. Aproximando-se de mim. Perto o
suficiente para me ver tanto quanto queríamos. Perto o
suficiente para me ver jogar. Para me ver todos os dias.
Descobrir que o cara que eu era com ela era só uma parte
minha.
Dedos frios de pânico se enrolaram em volta do meu pescoço.
— Só estou perguntando por que você quer deixar Fulton U?
— Por que ela não mencionou nada disso antes? Isso explicava
por que ela visitava Maggie com tanta frequência. Se eu não
tivesse aparecido para jantar com a família dela, ela poderia estar
a minutos de distância e nunca ter me contado. Eu a teria
vislumbrado e pensado que estava perdendo minha maldita
mente.
— Por que tem que haver uma razão?
— Ninguém faz nada sem uma razão.
— Como você ao fazer essa pergunta. Você não está feliz por
eu estar mais perto? — Seus olhos brilharam com confusão
raivosa.
Sua família era unida e se amava. Deixando meus problemas
com Walsh de lado, ela deixaria a chance de jantar chique para
trás ao se mudar horas de distância?
— É longe de seus pais – e de seu irmão.
— Então?
— Então, como eles vão se sentir quando você decidir se
mudar para o outro lado do estado?
— Tem gente que se muda para o outro lado do país sem
consultar as suas famílias. Há pessoas que mudam de país. Há
pessoas que nunca têm que responder a ninguém. — Sua voz
se elevou e seu rosto corou.
— Talvez seja porque eles não têm a quem contar. Ninguém
se importa se estão vivos. Essa não é você. — A rejeição de sua
família me atingiu como um nervo exposto. Afiado e cortante.
— Porque eles se importam comigo, eu posso ir embora
nunca? Eu quero ser eu mesma e não sentir que não tenho
permissão para ir mais do que trinta minutos de carro por mais
do que alguns dias. Eu gostaria de não sentir que tenho que
voltar para casa todo fim de semana para fazer o check-in ou
toda a minha família terá uma síncope. Eu gostaria de saber
como é não viver constantemente na sombra de uma irmã que
minha família decidiu que será minha. — Ela bateu o copo com
tanta força que a base quebrou. Seus olhos se arregalaram e ela
olhou de mim para sua mão.
O sangue jorrou, acumulando-se em sua palma e pingando
da lateral.
— O que aconteceu? — Maggie entrou na sala e viu a mão de
Willa. Então, ela gritou e pegou um rolo inteiro de toalhas de
papel.
Corri para frente e segurei a mão de Willa, verificando a
palma em busca de pedaços de vidro. Segurando seu braço
debaixo do meu, eu a trouxe até a pia e liguei a água,
empurrando sua mão sob o fluxo.
Água tingida de sangue espirrou por toda a pia e ralo. Baixei
o fluxo e olhei para Willa.
Ela engoliu em seco, olhando para a ferida, mas não se
afastou.
Verifiquei novamente antes de aplicar pressão com a gaze que
Maggie tirou de seu kit de primeiros socorros.
— É muito feio? Está doendo muito?
Willa balançou a cabeça.
— Nada tão ruim, talvez uma vez que eu tenha o fluxo de
sangue de volta à minha mão. — Ela forçou um meio sorriso.
Maggie pairou sobre meu ombro, fazendo barulhos de
angústia.
— Um dos caras no corredor é premed.
Ela saiu correndo. A porta do apartamento se abriu antes de
se fechar.
— Parece tão ruim assim? — Willa encontrou meus olhos
com medo nos dela.
— Não, mas ela está surtando e precisa se sentir útil.
Acontece quando as pessoas se preocupam com você. — Olhei
para ela e me xinguei. Isso foi minha culpa. Meu medo sobre
sua transferência tinha saído como se eu não a quisesse por
perto. Continuei fodendo tudo.
Seus lábios franziram e ela olhou para nossas mãos unidas.
Tirei a gaze do lado de sua mão. O sangue não estava mais
escorrendo da palma.
— Você não deve precisar de pontos. É um corte limpo. —
Peguei o lenço com álcool. — Isso vai doer um pouco.
Ela agarrou a borda do balcão.
Eu me preparei para a dor dela, que eu odiava infligir, mesmo
que fosse necessário. Conhecendo muito bem a ardência e a
picada, tentei ser o mais eficiente possível com meus golpes
sobre sua pele machucada.
Ela respirou fundo através dos dentes cerrados.
Levantando a mão dela, soprei no local para tentar amenizar
um pouco a dor.
Ela mordeu o lábio e eu soprei mais forte, precisando
diminuir a dor.
Usando a gaze e esparadrapo, enfaixei sua mão.
— Você é bom nisso.
— Tive que me consertar muito.
— O futebol é duro.
— Não apenas futebol — eu murmurei e engoli minha
maldição, esperando que ela não fizesse mais perguntas sobre o
que eu quis dizer.
— O quê? — Ela se inclinou para mais perto.
— Deixa para lá. Vai ficar tudo bem.
— Bom, agora que isso está resolvido, me diga por que você
não quer que eu venha para aqui? — Ela cruzou os braços,
cuidando de sua mão dobrada ao seu lado.
Eu congelei, os músculos travados e minha vontade de fugir
quase avassaladora. Minha garganta apertou, me sufocando.
— Você parece ter uma coisa boa onde mora. Eu só não vejo
por que você quer balançar o barco.
— O quê, você acha que meus pais vão me repudiar só
porque eu escolhi me transferir? Eles podem ficar chateados.
Eles podem ficar preocupados. — Seu olhar caiu e ela
descruzou os braços e passou os dedos sobre o curativo. — Mas
eles vão superar isso. Eles terão que superar. Não posso viver
minha vida apenas para impedi-los de se preocupar.
Uma batida insistente na porta quebrou o momento como
uma bola de futebol quebrando uma janela.
— É a Maggie. A porta trava automaticamente.
Willa saiu da cozinha e abriu a porta da frente.
— Você está bem? Você está se sentindo tonta? Quanto
sangue você perdeu? — A voz frenética de Maggie explodiu
pelo apartamento.
— Estou bem. É um pequeno corte. Ezra me manteve no
lugar.
Saí da cozinha, esperando não ter estragado tudo de novo.
Willa se aproximar seria uma coisa boa. Tinha que ser. Eu não
a tinha reconquistado apenas para perdê-la novamente.
Maggie estava com um cara sonolento, que ela poderia ter
acabado de tirar de sua cama.
Ele bocejou.
— Veja, eu disse a você que não era um corte arterial.
— Como você soube sem vê-la?
— O fato de você não estar coberta de sangue foi minha
primeira pista. Vou voltar a dormir.
— Talvez tenha sido um sangramento lento.
Willa colocou as mãos no ombro de Maggie.
— Estou bem, Mags. Quase novinha em folha.
— Tem certeza? — Maggie a abraçou. — Isso foi muito
sangue.
— Muito menos do que no jogo em Pittsburgh — eu entrei.
— O quê? Sério? — Maggie olhou para ela com os olhos
arregalados e passou os dedos sobre o corte cicatrizado na testa
de Willa. — Você disse que não era tão ruim assim.
Willa olhou por cima do ombro.
— Não era. Você viu o curativo depois. Saí com você naquela
noite.
Ela saiu pelo saguão e eu não pude segui-la. Não podia nem
pagar uma bebida para ela. Mas ela estava linda, livre, cheia de
vida.
— Mas ainda mais sangue do que isso?
— Pare de se preocupar. Você está começando a soar como
meus pais.
Maggie se eriçou e seu olhar se estreitou de brincadeira.
— Como você ousa. Para te mostrar o quanto eu não me
importo. Estou te expulsando.
— Você o quê? — Willa apertou a mão no peito.
Maggie jogou a mão dramaticamente em direção à porta.
— Vá se defender sozinha na selva invernal e leve seu
namorado musculoso com você.
Eu tropecei para frente, então congelei. Nem Willa nem eu
nunca tínhamos rotulado as coisas. Nós não tínhamos usado
essas palavras, então para Maggie jogar isso tão casualmente…
Me surpreendeu, mas não de um jeito ruim. E sim da melhor
forma.
— Tudo bem, estamos fora daqui. Ezra? — Willa olhou por
cima do ombro para mim e piscou. — Se você quisesse transar
com o estudante de medicina, você poderia ter dito isso.
O Cara Sonolento parecia muito menos sonolento.
— Espere, o quê?
— Shh. — Maggie pressionou os dedos contra os lábios dele.
— Não fale e estrague tudo.
Willa pegou a garrafa aberta de prosecco, nossos dois casacos
e estendeu a mão para mim.
— Vamos lá. — Ela acenou com a cabeça em direção à porta.
Ainda em choque com a bomba do namorado, eu coloquei
minha mão na dela e a segui para fora.
Maggie fechou a porta atrás de nós.
Dentro do elevador, Willa se virou para mim e tomou um
gole da garrafa.
— Para onde?
Ela passou direto pelo comentário do namorado e, depois de
ficar chateada comigo, agora queria que eu a levasse para algum
lugar.
— Com uma garrafa aberta e você sendo menor de idade, não
podemos ir a muitos lugares, mas eu tenho um.
Nós dirigimos para o outro lado do campus. Meus faróis não
atingiram nada, apenas escuridão quando parei no local onde a
estrada encontrava a grama.
— Misterioso como sempre. — Willa olhou para mim antes
de eu desligar o motor e apagar as luzes. Era um lugar tranquilo
que eu vinha para limpar minha cabeça. Um dos poucos lugares
que eu continuava voltando e parecia certo trazer Willa aqui.
Ninguém iria nos incomodar, e as estrelas brilhavam longe da
poluição luminosa do campus.
Fora do carro, eu segurei sua mão. As bordas da fita grudaram
na palma da minha mão. Eu fui gentil com o meu aperto, não
querendo machucá-la.
O ar estava parado e silencioso. Ruídos de festas acontecendo
no campus ou dos bares não chegaram até aqui.
À distância, pude distinguir a forma arqueada da estátua de
bronze. A carroça coberta na beira da Lagoa do Poe. Um lugar
onde eu sempre encontraria conforto. Quando o encontrei
depois de caminhar do ponto de ônibus, levei horas para
relaxar, esperando ser descoberto e expulso. Talvez o primeiro
lugar que eu pudesse lembrar onde me senti seguro. Foda que
uma estátua escura e quase esquecida longe de todos tinha sido
meu refúgio.
— O que é este lugar?"
— Lagoa do Poe.
— Parece mais um lago. — Ela apertou os olhos para o ar da
noite.
— É aqui que acontece a primeira grande festa no campus
todos os anos. O lugar todo está lotado e todo mundo mergulha
na água. — Eles vêm uma vez por ano para enlouquecer. Eu
vinha para encontrar algum silêncio. O tipo de paz que eu
sentia quando Willa estava perto de mim.
— Eu dormi aqui por um tempo quando cheguei ao campus.
— Caí na borda fria e lisa da frente da carroça. Havia tanto que
eu guardava dentro de mim, tanto de mim que eu não podia
compartilhar com ela, mas eu podia pelo menos compartilhar
algo com ela que ninguém mais sabia sobre mim.
— No seu carro? — Willa entrou na minha frente e, mesmo
no escuro, pude sentir sua preocupação. Confortava-me que
ela se importasse.
— Em um saco de dormir. Bem, sobre um saco de dormir.
Estava quente. — O saco de dormir, o dinheiro que guardei
para comprar comida, meu violão sem cordas e uma mochila
com algumas roupas que tirei da casa do grupo era tudo o que
eu tinha quando cheguei aqui.
— Para se divertir? — Ela se sentou na borda ao meu lado.
Ela não precisava de todos os detalhes sangrentos, eu já tinha
sangrado o suficiente.
— Os dormitórios eram muito agitados com todos os caras
lá. Eu precisava de um pouco de paz. — Os dormitórios não
tinham aberto para o acampamento de treinamento quando
tive que deixar meu último lugar e vir para o campus. Então, eu
fiz o meu caminho até aqui e fiquei um pouco até tudo
começar. Foi assim que conheci Sammy, que me encontrou
bisbilhotando eventos para roubar sobras. Ele me ofereceu um
emprego, comida e dinheiro. Praticamente a melhor pessoa que
eu conhecia até aquele momento.
— Deve ter sido quente.
A estátua esquentava durante o dia, mas não havia ninguém
por perto e mantinha minhas coisas escondidas.
— Era, mas há tanto cocô de ganso no chão durante o verão
e o outono que eu não conseguia dormir lá.
Ela se virou e entrou na carroça.
— Como isso não está coberto de grafite?
— Ninguém quer manchar.
Sua risada ecoou dentro da estátua de bronze.
O som acendeu uma bola quente dentro do meu peito.
— Agradável. — Ela abriu os braços, que não conseguia
estender até o fim. — Aqueles dormitórios devem ter sido uma
droga para ficar aqui no verão. Tinha que ser sufocante.
— Não foi tão ruim. — Eu entrava no ginásio para tomar
banho e saía nos prédios do campus durante o dia. Pelo menos
havia muitos deles, então eu não apareci no radar de ninguém e
acionei bandeiras vermelhas. Além disso, a segurança do
campus não patrulhava todo o caminho até aqui.
— Um brinde. — Ela ergueu a garrafa. — Para fazer novas
memórias.
Eu abaixei minha cabeça e subi para dentro. O cheiro de latão
invadiu minhas narinas e eu pude senti-lo. As lembranças
daquelas primeiras semanas no campus me encheram e
trouxeram de volta aqueles medos. Os medos de ficar sozinho.
De não ter a quem recorrer.
— Você tem certeza sobre a transferência para Darling U?
Deve ser bom estar tão perto de sua família indo para Fulton U.
Ela tomou um longo gole da garrafa.
— Você sabia que meu nome costumava ser Willow?
Engrenagens na minha cabeça aterraram com a mudança de
assunto.
— Não era esse o nome da sua irmã?
— Era. — Ela tomou outro gole da garrafa.
Não querendo que ela ficasse muito bêbada, eu peguei e
engoli um pouco.
— Eles te deram o nome dela?
— Eles deram.
— Não consigo nem imaginar como foi para eles. — Eles
eram uma família que colocava seu amor nas mangas, usava isso
como um distintivo. Ter uma parte deles arrancada, mas ainda
continuar amando com a mesma força, não poderia ter sido
fácil. A última parte da minha família foi arrancada, mas eu
tinha que acreditar que minha mãe ainda estava lá fora
procurando por mim e me amando de longe.
— Nem eu posso. — Ela pegou a garrafa e eu a deixei pegar.
— Não foi fácil para Walsh – ou para mim.
— Ele era nascido?
Ela assentiu e tamborilou os dedos ao longo do metal.
— Ele tinha cinco anos e ela oito
Eu me aproximei dela e passei meu braço em volta de seu
ombro.
Ela deixou cair a cabeça contra ele e se aconchegou,
enterrando-se ao meu lado.
— O que aconteceu?
— Isto é tão estranho. Eu sei tanto sobre ela. Conheço suas
cores favoritas e como ela cantava e desenhava, suas matérias
favoritas na escola. Ela provavelmente teve o maior impacto na
minha vida do que qualquer outro neste planeta.
Ela engoliu mais.
— Eles estavam andando na frente dos nossos pais. Todos
tinham ido tomar sorvete. O balão enrolado em seu pulso se
soltou e começou a flutuar. Ela correu para a rua, cruzando-a
entre dois carros. Segundos. Literalmente. — Ela estalou os
dedos. — E foi isso. Uma família destroçada. Duas, contando a
do motorista. Ele também não teve culpa.
O choque me atingiu. Um peso batendo no meu peito, mas
eu sabia o quão rápido as coisas mudavam. Em um minuto eu
tinha uma mãe rindo nos passeios de carnaval ao meu lado e no
próximo eu estava no sistema. Eles tiveram suas vidas destruídas
enquanto saíam para tomar sorvete. A justiça parecia uma
piada cósmica, não existia.
— E então você apareceu.
— Eu apareci. Desde o início, tudo parecia normal. Não foi
até eu começar a escola que as coisas pioraram. Ficou mais
difícil, talvez. Eles mudaram meu nome logo antes de eu
começar o jardim de infância. Pela primeira vez, um deles não
estaria cuidando de mim. Eles ficaram ainda mais protetores,
como se a cada dia que saísse da vista deles aumentasse sua
hipervigilância. Nas arquibancadas, pude assistir Walsh ser
atacado por outros times, mas se eu subisse em uma árvore,
minha mãe teria um ataque de pânico.
O nível oposto da proteção que eu tive enquanto crescia.
Mesmo antes de minha mãe e eu nos separarmos, eu ficava
sozinho depois da escola. Sabia lavar minhas roupas para a
escola às sete, podia fazer um jantar enlatado às oito.
— Deve ter sido difícil.
— De certa forma, acho que isso me forçou a ser ainda mais
temerária pelas costas deles. Quando você está
inconscientemente sendo informado de que todos os dias
podem ser seus últimos... Acho que isso me deixou com menos
medo de agarrar a vida pelos chifres, mas sempre longe dos
meus pais. Nunca à vista ou à distância de gritos, porque vi o
quão difícil era para eles lidar com isso.
— Mas você quer sair agora?
— Eu não posso… — Ela tomou outro gole. — Eu não posso
ser ela para eles. Eu sou eu. Eu sou Willa. Eu não posso ser a
substituta de Willow que eles colocaram em uma caixa para me
manter segura.
— É isso o que você acha? — Isso explicava muito sobre sua
família, por que ela queria se mudar, por que ela sempre parecia
pronta para dar um salto e descobrir o resto mais tarde.
— É o que eu sei.
Peguei a garrafa dela e terminei para evitar que ela se
arrependesse de ter superado seu limite.
— Darling U está perto. Nós poderemos ver muito mais um
do outro.
— Sim, eu sei disso. Você não quer que eu fique perto? —
Ela levantou a cabeça do meu ombro.
A carbonatação do álcool queimou o fundo da minha
garganta. Eu a queria mais do que perto, mas a questão é
quanto tempo até ela perceber que não queria isso de mim.
— Claro que eu quero. — Meu medo estava lá,
chacoalhando no meu peito, mas eu o empurrei para dentro
daquela gaiola onde eu mantinha a parte de mim que eu só
soltava no campo. Willa enfrentou seus medos e eu também.
No escuro ao meu lado, senti seu corpo relaxar e ela se
inclinou contra mim.
— Então, vai ser perfeito.
Eu nunca experimentei o perfeito. Não por muito tempo.
Talvez pelo período de uma jogada, mas nunca por um jogo
inteiro. Temporada. Mês ou ano. Eu não sabia o que era ser
perfeito, mas estar perto de Willa parecia ser possível. O que
abalou minha estrutura. A esperança era aterrorizante e só
aumentava o medo de perder a coisa mais próxima que eu me
permitia querer apenas para mim. Um sonho.
Ela.
CAPÍTULO 23
WILLA

Meu estômago revirava, beliscava e doía. Eu segurei meu lado e


limpei minhas palmas suadas na minha camisa. Ao longo do
corredor, fotos de toda a família penduradas perfeitamente
espaçadas. Retratos de família que começaram mais casuais
com apenas mamãe e papai, depois para a foto do casamento,
então para os dois e Willow.
Uma pontada atingiu meu peito com a felicidade em seus
olhos. Olhei para mim e Walsh, onde a lembrança dela estava lá
e eles sorriram, mas não era a mesma coisa. A sombra sempre
esteve lá e me doeu saber que sempre estaria.
Tentei criar coragem durante o jantar, mas corria o risco de
vomitar em toda a mesa.
Sentei no sofá ao lado da mamãe.
A TV estava ligada. Os créditos de sua séria rolando. Ela
pegou seu telefone.
— Ei, mãe, está tudo bem, mas eu queria saber se você tem
alguns minutos para conversar quando o papai chegar? —
Quantas outras pessoas tiveram que prefaciar todas as
conversas que queriam ter com seus pais com um aviso de que
estava tudo bem? Minhas mãos tremeram.
Ela desligou o telefone.
— Willa, você está pálida. Você está bem?
— Tudo bem, eu só não queria que você fosse para a cama
ainda.
— Você tem certeza? — Ela pegou minhas mãos. — Suas
mãos estão tremendo.
— Totalmente. Eu vou esperar o papai. — Eu me levantei do
sofá. — Tenho boas notícias que gostaria de compartilhar com
vocês. — Sorri extra largo e tentei relaxar meus músculos.
Eu a deixei e fui para a cozinha. Eu espiei minha cabeça na
porta de vaivém.
— Olá, pai. Está tudo bem, mas posso falar com você por
alguns minutos na sala? É uma boa notícia, mas eu queria
contar a vocês antes de mamãe ir para a cama.
Ele fechou as últimas sobras em um recipiente de plástico,
franzindo a testa.
— Que novidades?
Náusea rolou pelo meu estômago como se eu estivesse em um
bote sob tempestade. Os nervos se desgastaram e eu respirei
fundo para me acalmar. Não estava funcionando. Eu poderia
muito bem ter sido conectada a cabos de bateria. Segundos
antes de eu chegar à sala de estar, seus passos correram em
minha direção.
Ele me seguiu até a sala de estar, a colher coberta de comida
ainda na mão.
— O que aconteceu?
— Você está bem? — Mamãe não estava mais no sofá e
procurou meu rosto, colocando as mãos em minhas bochechas.
— Estou bem. Não há emergência. Por isso eu disse que
estava tudo bem. Se houvesse algo errado, eu diria a você. —
Cada respiração parecia ser puxada através de uma barreira de
melaço na minha garganta.
— O que está acontecendo? — A mão de papai pairou sob a
colher pingando.
— Vocês dois podem se sentar? — Eu acenei para eles em
direção ao sofá e caminhei na frente da mesa de centro. Minha
boca se encheu de saliva pré-vômito. Eu inalei profundamente
pelo nariz e engoli.
— Você sabe que pode nos dizer qualquer coisa, querida. —
A voz da mamãe estava no fio da navalha da histeria.
— Eu– no final do ano passado, fiz uma inscrição para
Darling U e entrei. Pretendo confirmar minha presença no
final desta semana. — Deixar escapar não tinha sido como eu
tinha planejado contar a eles, mas pelo menos agora eu não
podia me acovardar.
— Darling U? — A voz de papai estava relativamente mais
calma, mas apenas ligeiramente.
— É uma escola bem ao lado da St. Francis U. Eu poderia
morar com Maggie. — Entrelacei minhas mãos suadas. O
Band-Aid foi arrancado. Sem volta agora. Eu respirei fundo.
— Willa, isso fica a horas de distância.
— Eu sei. Mas é apenas um voo de noventa minutos.
— É muito longe.
Se eu mantivesse a calma, talvez eu pudesse trazê-los para o
meu bote, em vez de eles me atirarem para o deles.
— Uma hora e meia. Eu visitei Maggie um monte desde que
comecei a faculdade e tudo correu bem.
— Você voltou uma vez com um corte gigante na testa.
— Foi um pequeno corte e eu lidei com isso. Ezra e Maggie
estavam lá para mim e a visita correu bem. Sem outros
problemas. Eu nem tenho cicatriz.
— Visitar e morar lá são duas coisas diferentes. — A
respiração da mamãe ficou mais superficial, mais rápida.
— Elas são, mas eu voltaria para ver você nas férias. Seria
exatamente como quando fui para Fulton U. — Eu mantive
minha voz calma, embora meu coração batesse forte em meus
ouvidos.
— Você estaria lá sozinha. — Papai se arrastou para a beirada
de seu assento.
— Não, eu não estaria. Maggie tem um quarto vago. Eu
poderia ficar com ela.
— É muito longe. — A respiração em pânico da mamãe, os
ombros curvados e o olhar frenético me enviaram para a mesa
de centro na frente deles.
Normalmente, eu teria desistido muito antes disso. Eu teria
cedido ao primeiro pico de preocupação em suas vozes, mas eu
tinha que ser forte. Eu odiava vê-los surtar, mas esta era a minha
vida.
Sentei na mesa e segurei suas mãos.
— Eu não estou fazendo isso para chatear vocês.
— O que há de errado com os programas de idioma da Fulton
U? São alguns dos melhores do país.
— Eles são, mas Darling é o topo. As pessoas viajam por toda
parte para seus programas intensivos de verão.
— Então vá lá no verão. Podemos encontrar uma casa no lago
ou aluguel de verão e fazer nossa viagem em família lá. Podemos
fazer o serviço memorial de Willow em junho, então todos nós
podemos ir para lá.
A sensação de queda livre estava de volta, como se eu estivesse
despencando e não conseguisse parar. Claro que eles tentariam
encontrar uma maneira de fazer isso funcionar, mas não era
apenas sobre a escola. Eu esperava que eles considerassem o
prestígio do programa bom o suficiente para minha decisão.
— O verão não é suficiente.
— A transferência é uma decisão importante. Por que você
não nos disse que estava se candidatando? — A dor nos olhos
de mamãe quase me fez voltar atrás, mas endireitei minha
coluna. Eu tinha que fazer isso ou só repetiria em mais alguns
anos quando me formasse ou procurasse um emprego. Eu não
poderia ficar por eles.
— Eu não sabia se eu entraria. E eu não queria te preocupar
se eu não tivesse certeza de que era para onde eu estava indo. —
Talvez uma parte de mim esperasse que eu não entrasse, então
eu adiaria isso por mais tempo.
— Você acabou por fazer essa escolha sem sequer nos
perguntar? Somos uma família. Tomamos decisões em família.
— Papai esfregou as costas de mamãe e ela abaixou a cabeça,
tentando respirar em meio ao pânico, ainda segurando minhas
mãos.
— Eu sou uma adulta.
— Você é nossa filha. Precisamos protegê-la. — Sua cabeça
disparou.
— Eu preciso ir.
— Fulton U é perfeita. Walsh está lá. Estamos a trinta
minutos de distância caso algo aconteça. Por quê? Por que você
precisa ir? — Sua súplica finalmente me quebrou. Por quê? Por
que eu precisava ir? Por que eu só me senti livre longe daqui?
Longe das pessoas que me amavam tanto que era difícil
respirar.
— Porque eu preciso viver minha própria vida. — Bati
minhas mãos na mesa. — Desde que me lembro, tive que andar
pisando em ovos e ter cuidado. Sempre que vocês dois olham
para mim é como se vocês pensassem que eu pudesse quebrar
em um milhão de pedaços se o vento soprar muito forte.
— Queremos o melhor para você. — Ela balançou a cabeça e
segurou com mais força.
— Vocês querem o que é mais seguro para mim.
Papai segurou seu ombro com uma mão e meu braço com a
outra.
— É claro que sempre queremos que você esteja segura. — O
aperto de minha mãe aumentou em meus dedos, enviando um
dolorimento pela minha mão.
— Eu não sou Willow! — Eu puxei minhas mãos para libertá-
las. O silêncio chocado se estendeu por meio minuto.
— Nós nunca pensamos que você fosse. — Mamãe agarrou
minhas mãos, pânico reverberando em sua voz.
— Minha certidão de nascimento diz outra coisa. — Eu me
levantei da mesa e andei novamente.
Ambos os olhares caíram. Mamãe apertou as mãos contra os
joelhos.
— Estávamos passando por muita coisa.
Minha raiva murchou imediatamente.
— Eu sei, mãe. E você ainda está. Mas não posso deixar que
o que aconteceu governe minha vida. Eu preciso vivê-lo em
meus próprios termos.
Papai se adiantou, preocupação e medo gravados em cada
dobra e ruga.
— Willa, o que deu em você?
— Você não pode me proteger para sempre. Willow
morrendo. — Meus lábios tremeram e lágrimas ardiam em
meus olhos. — Eu não posso imaginar como foi para vocês
dois. É horrível e injusto. Uma tragédia que ninguém poderia
imaginar, mas não posso continuar vivendo minha vida sob o
peso disso. — Lutei para terminar a frase. Anos de tristeza
reprimida pelo que eu nunca poderia dar a eles me dominaram.
— Nós nunca pedimos isso a você. — Mamãe balançou a
cabeça, os olhos arregalados.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto. Eu os afastei.
— Roxo.
— O que?
— Essa é a minha cor favorita. — Minha voz falhou.
Mamãe balançou a cabeça.
— É pêssego. — A descrença fluiu através das palavras e a
pontada foi como uma martelada no meu peito.
— Não, essa era a cor favorita de Willow. E o meu sabor de
sorvete favorito?
— Morango.
Limpei o nariz com as costas da mão.
— Cookie. — Meu corpo inteiro tremeu, engolindo ar,
querendo me enrolar em uma bola. — Vê como você ficava
feliz quando eu era um pouco mais parecida com ela? Fiz o que
pude para te fazer feliz.
— Você sempre nos fez felizes.
— Porque eu te lembrava dela.
— Isso não é verdade.
— Eu dormi no quarto dela. — Eu escovei minha bochecha
contra meu ombro. — E assistia a seus filmes favoritos com
você. Jogava futebol porque ela também adorava.
— O que você está dizendo? — A voz áspera de meu pai
reverberou com choque.
— Não gosto de ravióli. Eu trapaceei em todos os concursos
de soletração que ganhei. Eu não sou uma observadora de
estrelas. Adoro sorvete de cookie. Eu usava suas roupas de
segunda mão, mas não posso viver uma vida de segunda mão.
Eu não sou Willow. — Uma calma tomou conta de mim,
lavando os nervos e a náusea. Eu tinha guardado tudo isso por
tanto tempo e agora finalmente contei tudo a eles.
— Nós não queríamos que você fosse.
— Você me deu o nome dela. Você sempre nos comparou.
Não há uma única foto que você tirou minha em que você não
me fez segurar uma foto dela como se eu fosse uma substituta
viva para a filha que você perdeu. Mas não posso mais ser isso.
Não posso viver minha vida com medo de morrer a qualquer
momento. E também não quero que vocês dois vivam assim.
— Nós só queríamos que você a conhecesse. Para conhecer
sua irmã.
— Vocês queriam que eu vivesse para nós duas, mas não
posso fazer isso. — Novamente minha voz falhou e tremeu. —
Tudo o que posso fazer é viver para mim.
— Nós nunca quisemos esquecê-la. — Mamãe enxugou as
lágrimas que escorriam de seu queixo.
Eu sempre quis não ser engolida pela sombra da minha irmã.
E eu a amava.
— Nenhum de nós jamais poderia. Somos família. Eu a amo
embora nunca a tenha conhecido. E eu sei o quanto ela era
amada por causa do quanto vocês dois me amam, mas eu
sempre senti que muito disso estava envolvido no quanto você
sentia que eu era como ela. Quanto mais perto eu estava dela,
mais amor você me dava.
Papai disparou para frente e passou os braços em volta de
mim, me abraçando com tanta força que eu não conseguia
respirar. Soluços irregulares se libertaram de seu peito e
lágrimas molharam minhas bochechas já encharcadas.
— Minha doce, doce menina.
Os braços da mamãe nos envolveram. Ela gritou, enterrando
o rosto contra o meu.
— Claro que te amamos. Nós amamos você do jeito que você
é e nunca quisemos que você fosse alguém diferente para nós.
Minhas lágrimas picaram minha pele já em carne viva. A dor
no meu peito atingiu o pico antes de diminuir, regredindo
lentamente. Os soluços se transformaram em fungadas com
nós três agarrados um ao outro e deixando todos nós uma
bagunça na sala de estar.
Papai enxugou o rosto com as costas da mão e bateu palmas.
— Eu sei exatamente do que precisamos.
Ele nos empurrou para a cozinha, foi até o freezer e tirou três
potes de sorvete. Uma lata de chantilly, amendoim triturado e
calda quente mais tarde, nós limpamos nossas tigelas.
— É onde você quer estar?
Eu coloquei minha colher para baixo, apenas acordada
devido à corrida do açúcar depois da tarde emocionalmente
desgastante.
Mamãe e papai se abraçaram e cada um apertou uma das
minhas mãos.
Açúcar e adrenalina eram a única coisa que me mantinham
de pé, a exaustão se aproximava, pesando em minhas pálpebras.
Eles tinham que estar prontos para desmaiar também. Já havia
passado da hora de dormir.
Um nó se alojou em minha garganta.
— É. É uma das melhores escolas. Tive a sorte de entrar. Pode
até haver uma bolsa de estudos para mim lá.
— Nós vamos apoiá-la. — Mamãe pegou minha mão e papai
segurou a outra. — Claro que vamos.
O aperto no meu peito se afrouxou como se eu estivesse
apertando meu corpo inteiro nos últimos dezoito anos. Eu me
senti mais livre do que nunca.
— Obrigada.
— Você não precisa nos agradecer, mas esperamos que você
nos perdoe. — Papai passou o dedo pelas minhas bochechas,
em carne viva pelas lágrimas secas.
— Não…
— Não, eu odeio que você tenha se sentido assim por tanto
tempo e pensado que não poderia nos dizer. Nós te amamos,
Willa. Nossa Willa.
Meu lábio tremeu, mas eu respirei fundo, finalmente
sentindo como se eles me vissem. Tudo de mim e só eu.
— Amo vocês também.
Mamãe e papai me levaram de volta ao campus.
Emocionalmente exausta, tomei banho e segurei meu rosto sob
o jato de água, liberando outra saraivada de lágrimas. Por tanto
tempo, eu me agarrei ao medo de que eles nunca poderiam me
amar como apenas eu. Hoje tinha sido o primeiro passo para
um novo relacionamento, e agora eu tinha que ser corajosa o
suficiente para deixar o ninho. Talvez eu tenha me agarrado à
proteção deles como um escudo ao meu redor ou como uma
razão para não me afastar muito.
Mas saber que eles me apoiariam, isso explodiu as portas do
meu futuro, e esse tipo de liberdade depois de tanto tempo no
ninho era assustadora.
Arrastei-me para a cama e peguei meu telefone. Não era tarde
demais, mas era uma noite de sábado.
Ele atendeu no primeiro toque. A música de festa abafou sua
voz até que ela recuou e eu pude ouvi-lo claramente.
— Ei, Willa — ele disse um pouco sem fôlego como se
estivesse correndo.
— Ei, Ezra. Você estava em uma festa?
— Na minha casa, que é constantemente uma festa na baixa
temporada. — Sua frustração vazou pela linha.
— Deve ser divertido. — Eu queria estar lá com ele, não na
festa, mas ao seu lado com seus braços ao meu redor.
— Tem seus momentos. Como foi a conversa com seus pais?
A impressão emocional da noite ainda doía com crueza, mas
tudo acabou bem, pelo menos até agora.
— Antes ou depois das lágrimas?
— Eles estavam tão chateados, hein?
— Não apenas sobre a minha transferência. Foi uma
conversa que deveríamos ter tido há muito tempo — Repassá-
la na minha cabeça drenou o que restava da minha energia.
— Como você está se sentindo? — Os ruídos ao redor dele
desapareceram e havia uma intensidade em sua voz.
Meu coração pulou com a preocupação que ele tinha
comigo. Não parecia sufocante ou que ele estava com medo por
mim, apenas que ele se importava.
— Esgotada.
— Então, você deveria dormir um pouco.
— Tentando me tirar do telefone para voltar para sua festa?
— Eu amava a voz dele. O barítono estrondoso com
ressonância perfeita me acalmou e me fez sorrir mesmo através
do meu bocejo.
— Não, claro que não. Eu poderia falar com você a noite
toda.
Eu bocejei novamente.
— Você estaria ouvindo meus roncos. Eu só estava te
provocando. Foi um dia exaustivo.
— E você ainda queria falar comigo? — Disse ele, surpreso.
— Eu sempre vou querer falar com você.
— Mesmo quando for na mesma cidade? Quando estiver a
quinze minutos de distância de você. — Ele parecia animado,
brincalhão.
— Será ainda melhor quando for pessoalmente e não por
telefone. — Eu queria rastejar pela linha e cair direto em seu
colo.
— Parte de mim pode estar preocupado que quanto mais
tempo você passar comigo, menos você vai querer estar perto
de mim — A baixa confissão ficou lá, me atordoando.
Aparentemente esta noite era a noite para derramar todos esses
pensamentos guardados.
— Impossível. Eu nunca me cansaria de estar com você, Ezra.
A música recomeçou ao fundo. Suas palavras soaram
vagamente como:
— Não seria a primeira.
— Feche a porta. — Ele latiu para quem tinha invadido.
— Eu vou deixar você voltar para sua festa.
— Você não tem que ir — ele se apressou.
Estiquei minhas costas, estalando minha espinha. Meus
músculos finalmente relaxam.
— Confie em mim, você não quer ouvir meu ronco.
— Você não ronca.
— Tudo bem, os sons da minha baba batendo no microfone.
Ele riu.
— Valeria a pena.
— Apenas espere, talvez você fique cansado de mim quando
eu estiver aí. — Como seria estar em Darling se Ezra não
estivesse na fita? Estaria eu tão ansiosa para dar esse salto se não
tivesse seus braços que me esperavam para correr em direção a
eles? Eu estava apenas correndo de uma bolha protetora para
outra?
— Eu jamais cansaria.
— Enquanto você estiver na sua festa, talvez tente tirar o
boné por um tempo. Você pode ser um cara intimidador com
ele.
— Você não se intimidou.
— Isso é porque eu sou muito especial.
— Verdade. — Seu tom suave despertou calor no meu
estômago.
— Talvez só um pouco. Eu odeio sentir como se você
estivesse em uma festa, mas ainda assim por conta própria,
quando você o usa. Além disso, você tem olhos de matar. — O
tipo que via através de você, era tão aberto e bonito que você
não conseguia desviar o olhar.
Ele riu.
— Vou tentar.
— Promete? — Provocá-lo era uma das minhas coisas
favoritas.
— Prometo — disse ele, resoluto como se não quisesse uma
dúvida em minha mente. — Vejo você em breve.
— Boa noite, Ezra. Eu estou com saudade.
— Durma, Willa. Também estou com saudade.
CAPÍTULO 24
EZRA

Lá fora, tirei o boné e o enfiei no bolso de trás. Olhei para o céu.


As luzes nesta rua e no quintal tornavam-no muito brilhante
para ver bem as estrelas. No Welcome Wagon, sob as estrelas,
mesmo quando estava suando, eu podia imaginar que estava
em um acampamento sozinho, em vez de ficar sem casa, amigos
ou família e com todos os meus pertences em uma mochila
doada dentro de um estátua para mantê-los seguro.
Mas do chão de metal quente da carroça, contei as estrelas até
adormecer e contei os dias até ter um novo lar temporário. Isso
é tudo que eles sempre foram. Bens temporários, lugares
temporários, pessoas temporárias.
Mas eu não queria que Willa fosse temporária. Ela só estava
trabalhando para se aproximar de mim. As mensagens. As
chamadas. As visitas. Logo ela estaria se aproximando ainda
mais. Mais perto de mim do que chegar ao estádio de futebol.
E isso me aterrorizou. Eu não fui construído para perto. Eu
não fui construído para permanente.
Até minha vida depois da STFU, quando me tornar
profissional, seria feita de alianças temporárias, cidades,
apartamentos até eu passar para o próximo. Apertei os olhos
para as luzes da casa. Sem boné para proteger meus olhos. Era
mais fácil se eu não tivesse que olhar para as pessoas ou saber
que elas estavam olhando para mim.
Músicas concorrentes saíam das casas da nossa rua. Durante
as férias de primavera, muitas pessoas foram embora, mas ainda
havia um número suficiente de nós no campus sem dinheiro
para voar para algum lugar realmente quente para manter as
festas.
Eu estava determinado a ganhar essa marca. Ficar preso com
o dever de limpeza por meses a fio da meada. Eu precisava
entrar e manter os danos ao mínimo. No interior, a casa
fervilhava de foliões. Cada canto estava cheio de pessoas
segurando copos de cerveja ou suco de selva10.
Fora por si mesmo, o rosto de Cole estava tenso, dedos
batendo na lateral de sua cerveja.
Peguei uma garrafa e fui até ele. Toda essa situação de
Kennedy havia passado da besteira que eles estavam tentando
fazer quando começou. Parece que eu não era o único a lidar
com a vida fora do futebol.
— Pare de ficar emburrado — Eu bati meu cotovelo contra
o dele — As pessoas vão pensar que você está me imitando.
Ele bufou como se um peso o impedisse de rir
completamente.

10
Suco de selva é o nome dado a uma mistura improvisada de licor que geralmente é servida
para consumo em grupo.
— Eu nem estou de mau humor. — Não mais uma ilha de
um, ele olhou em volta como se a festa tivesse acabado de surgir
ao seu redor.
— Justo. — Examinei a casa, feliz por considerar este lugar
não um verdadeiro lar, ou então a cerveja derramada e as marcas
na parede me fariam perder a cabeça.
Cole estremeceu ao meu lado.
— Onde diabos está o seu boné?
Beliscando a parte de trás do meu pescoço, passei a mão sobre
minha cabeça para massagear o zumbido
— Em algum lugar.
— Bem, não está na sua cabeça — Sua cabeça girou como se
estivesse procurando por um tesouro perdido. — Isso tem
alguma coisa a ver com sua nova namorada?
Eu cambaleei e derramei cerveja em cima de mim.
— Como você… — Eu fui direto e escovei as manchas
úmidas na minha camisa, desejando que eu estivesse com meu
boné. — Eu não sei do que você está falando.
Ele deu um tapinha no meu ombro e manteve os olhos nos
meus enquanto tomava um gole.
— Muito discreto. Ninguém vai saber que você tem uma
namorada secreta com essas táticas furtivas de espionagem
secreta.
Eu olhei e peguei meu boné, mas minhas mãos não atingiram
nada além de ar. Porra.
Ele riu e eu apertei minha mandíbula, não me importando
em esconder minha irritação.
— Não se preocupe. Eu vou manter o seu segredo.
Mas essa irritação desapareceu e eu cruzei um braço. Tomei
um gole satisfeito da minha cerveja e o observei com o canto do
olho.
— Do mesmo jeito que eu vou manter o seu.
Ele bebeu de seu copo e a cerveja irrompeu de sua boca. O
momento não poderia ser mais perfeito.
— Que segredo? — Ele gaguejou e tossiu. Foi isso que ele
ganhou por atirar pedras em uma fábrica de vidro.
— Não gosta quando o jogo vira, hein? — Sufocar meu
sorriso tomou um intenso controle muscular.
Ele me encarou com os olhos arregalados de horror.
— Eu não…
Não querendo que ele tivesse um ataque cardíaco, baixei a
voz.
— Por favor. Você e Kennedy? Eu soube desde o início. —
Um estrondo de risada ficou preso na minha garganta.
— Mas... — Sua gagueira aumentou o estrondo no meu
peito. O pobre rapaz pensou que ele era algum cérebro, mas eu
podia lê-lo. Eu poderia ler um monte de gente. Uma lição de
sobrevivência aprimorada nos últimos vinte e dois anos.
— Não, eu sei que vocês dois estão juntos agora. Eu posso ver
a maneira como você olha para ela e a maneira como ela olha
para você. Não é mais falso. — Olhei para ele.
Sua boca estava aberta como a nossa porta do porão
quebrada.
— Eu não sou apenas um rostinho bonito. — Eu bati em suas
bochechas e me afastei de um Cole ainda atordoado.
Não demorou muito para ele me alcançar, agarrar meu braço
e me encurralar com olhos frenéticos.
— Você já contou a mais alguém sobre isso?
— Não, cara. Independentemente de como vocês
começaram, estou feliz que vocês tenham entendido sua
merda. — Acenei com a mão para limpar o ar. De que
adiantaria dizer qualquer coisa? Eu também aprendi quando
falar e quando manter minha boca fechada. Eles estavam felizes
o suficiente, não era meu segredo contar.
Ele balançou, alívio derramando dele antes de se inclinar.
— E você? Quem é a garota que te deixou sem boné?
Corri minha mão sobre minha cabeça me sentindo exposto
agora que o foco estava de volta em mim.
— Lembra-se do jogo de Pittsburgh no ano passado?
Ele assentiu, então seu olhar se estreitou como se estivesse
repetindo o dia inteiro. Reid e Leona fingindo que não se
conheciam. Os caras tentando me forçar a comer comida cara
demais. Então, eles se alargaram quando ele chegou no
momento. O momento em que ela caiu.
Sua cabeça se levantou e girou, examinando os rostos na festa.
— Isso significa que ela está aqui?
— Ela não estuda aqui. Ela estava visitando amigos naquela
semana.
— Onde ela estuda? CMU11 ou Pitt?
— Não. — Meus músculos se contraíram. Era um problema.
Mesmo depois de sua transferência, seu irmão e quaisquer
amigos de faculdade que ele tivesse seriam um problema.
Qualquer um que tivesse me enfrentado em campo me odiava.
Dei-lhes todos os motivos para isso. — Fulton U.
Ele engasgou um pouco e balançou a cabeça de um lado para
o outro, balançando as mãos como se estivéssemos prestes a sair
correndo do túnel para um jogo.
— Ok, não é a pior coisa do mundo.
— O irmão dela joga para eles.
Ele fez um barulho como se tivesse assistido a um golpe ruim.
— Hóquei? Vôlei de praia?
— Eles não têm um…
— Eu sei, mas eu estava tentando lhe dar o benefício da
dúvida. Ele joga no time de futebol deles, não é?
Os tendões do meu pescoço ficaram tensos e eu assenti.
— Merda.
Bati minha cerveja contra a dele.
— Você disse isso.
— Talvez não seja tão ruim. Quero dizer, quão ruim poderia
ser?

11
Universidade de Carnegie Mellon
Nós nem apertamos as mãos depois do nosso último jogo. Eu
o encarei.
— Você está certo, isso é muito fodido.
Estendi a mão para ajustar meu boné, que não estava lá, e
rosnei de frustração.
— Então, por que ela gosta de você sem boné?
Levei um segundo para decidir se eu queria dizer a ele. Mas
compartilhar essa parte com Cole fez tudo parecer real. Willa
não era alguém que eles nunca conheceriam, ela estaria
morando a um quilômetro e meio de distância em poucos
meses. Eu queria que eles a conhecessem. Eu queria que o que
tínhamos fosse real. Para durar.
— Ela disse que gosta de ver meus olhos.
— E você está fazendo isso mesmo que ela não esteja aqui
para ver? Por que você não pega seu boné?
Se eu queria que isso durasse, então eu tinha que fazer o que
fosse preciso para mostrar a ela o quanto ela significava para
mim, mesmo que ela não estivesse por perto.
— Prometi a ela que tentaria ficar sem ele de vez em quando.
Ele me encarou por um longo tempo.
Apertei as mãos ao lado do corpo para não pegar meu boné
novamente e mostrar a ele o quão desconfortável isso me
deixava. Encarar era uma coisa, eu estava acostumado com isso,
mas o escrutínio de alguém que me conhecia, um amigo, era
mais difícil. Eu provavelmente era um livro aberto para ele com
um olhar.
— Ela deve significar muito para você tentar mesmo quando
ela não está aqui.
Não adianta esconder.
— Ela significa tudo. — Isso foi o suficiente para desnudar
minha alma por hoje. Saí, joguei minha cerveja fora,
destranquei meu quarto e entrei.
Eu avaliaria os danos da limpeza mais tarde, mas depois de
estar em uma sala cheia de pessoas sem meu boné, eu precisava
de um pouco de silêncio. Bem, tão quieto quanto eu poderia
ficar com uma festa acontecendo do lado de fora da minha
porta.
Tirando meus sapatos, eu me inclinei contra a cômoda, que
balançou sob meu peso. A luz pegou no globo de neve que
Willa me deu. Parte da neve falsa subiu e rodou em torno da
base da cena pitoresca. Eu o peguei e sentei na beirada da minha
cama. Sob meus pés, as tábuas do assoalho vibravam. Olhei
para o aglomerado perfeito de casas com neve pintada nos
telhados. Enquanto eu balançava o globo, a neve branca e
brilhante dançou pela água como flocos caindo do céu.
Uma das casas tinha uma enorme árvore de Natal dentro,
com presentes enfiados embaixo dos galhos. Isso foi o mais
próximo de uma daquelas cenas de férias que apareceram em
filmes de família em que eu já estive. Isso e as fotos que Willa
me envia dela.
Mesmo antes de minha mãe e eu nos separarmos, tinha sido
um pacote de meias ou um presente doado, andando em seu
carro procurando casas decoradas. O cheiro do interior do
assento de couro do Dodge aqua ainda me transportava para
aqueles momentos. A neve deslizou pela borda das luzes falsas
penduradas na casa com a árvore e isso não parecia tão fora de
alcance.
Deixei-o de lado e peguei meu violão. Eu nunca toquei na
frente de ninguém além dos caras, mas com uma casa cheia de
música não havia chance de alguém ouvir.
Sob meus dedos, as cordas pressionavam meus calos. Eu
aprendi a tocar sem cordas no primeiro ano depois que
encontrei o violão jogado em uma lixeira na caminhada de volta
para a casa do grupo.
Eu ia para o meu quarto cheio de três beliches e praticava os
acordes sem cordas até chegar ao STFU. Que foi quando, pela
primeira vez, eu o amarrei e deixei as notas tocarem livremente.
O primeiro passo para uma nova vida.
Como um portão enferrujado, cantarolei a melodia que
entrou na minha cabeça até deixar meus lábios se separarem.
Primeiro eu cantei palavras emprestadas de músicas que me
lembravam dela, então as novas se formaram, passaram pela
minha cabeça e bateram no meu peito desde que eu coloquei
os olhos em Willa pela primeira vez.
Uma vez que eu finalmente tivesse um lugar próprio e
dinheiro na minha conta bancária, eu conseguiria a maior
árvore que o dinheiro pudesse comprar. Debaixo dela, eu
empilharia os presentes para Willa. Minhas habilidades de
embrulho finalmente fariam um verdadeiro teste com as
montanhas que eu compraria para ela. Não porque eu sabia
que ela iria querer, mas porque eu poderia dar a ela.
Tudo o que eu tinha que fazer era resistir à próxima
temporada. Espero que da próxima vez que eu enfrentar Walsh,
eu possa me controlar um pouco e logo eu teria uma camisa
profissional nas costas. Mantenha a fera que ladrou para ser
liberada no campo trancada um pouco mais.
Daqui a um ano eu assinaria um contrato profissional e não
teria que me preocupar com o que eu soltava em meus
oponentes e o que ela poderia pensar de mim se descobrisse a
verdade sobre o meu passado.
CAPÍTULO 25
WILLA

Meus sapatos beliscaram as laterais dos meus dedos dos pés. É


o que eu ganho por não experimentá-los antes de fazer as malas.
Mas a dor era uma distração dos nervos que eu não conseguia
me livrar desde que cheguei.
O velho cheiro de madeira polida competia com os aperitivos
e tweed.
Ao meu redor, outras transferências vestidas com seus
blazers, ternos e sapatos brilhantes amontoados na sala de
recepção. Havia salgadinhos e vinho para os maiores, mas, ao
contrário das festas em casa, nenhum dos menores de 20 anos
ousava tocar nas taças de vinho branco e tinto bem arrumadas.
Não com os professores aqui, embora não se pudesse dizer que
eles não estivessem aproveitando o álcool disponível
gratuitamente. Fazendo as honras pelos alunos, seus discursos
professorais eram pontuados com salpicos de vinho no tapete
gasto. Aqueles eram meus tipos de professores.
Era onde eu queria tanto estar, mas desta vez eu estava sem
um amortecedor para me facilitar nas coisas. Walsh não estava
espreitando na esquina para fazer uma apresentação ou para já
ter informado a metade da sala para não ficar a menos de um
metro e meio de mim e para a outra metade enviar pedidos para
ser meu novo melhor amigo, não que alguém pudesse
substituir Maggie.
Eu mastiguei um mini bolo de caranguejo e espanei os farelos
da massa escamosa dos meus dedos. Isso era o que eu estava
esperando por todo esse tempo. Finalmente, a liberdade de ser
eu em uma sala cheia de pessoas, não a irmã de Walsh ou a filha
de Lea e Dan. Era para ser tão assustador?
— Willa, aí está você. — O chefe do departamento de
programas de idiomas me entregou um copo de ponche sem
cravos. Eu fui entrevistada por ele durante a rodada final de
requisitos de admissão. Ele tinha sobrancelhas grossas e o olhar
acadêmico ligeiramente desgrenhado, juntamente com pó de
giz em seus punhos, embora todas as salas de aula que eu tinha
visto tivessem apagadores a seco ou lousas inteligentes. —
Estamos muito felizes por ter você.
— Obrigada professor. Eu não tinha certeza se minha
inscrição seria forte o suficiente.
— Com sua formação, estou surpreso que você não se
inscreveu direto do ensino médio. — Ele riu com um bufo que
parecia que poderia se transformar em tosse a qualquer
momento. — Por que você não o fez? — Seus olhos perplexos
me olhavam por trás de óculos bifocais grossos enquanto ele
pegava comida do pequeno prato de plástico transparente em
suas mãos.
Já sob o microscópio, mas eu estava preparada. Esta era a vida
fora da bolha.
— Eu queria, mas havia alguns problemas familiares, o que
significava que eu precisava ingressar na Fulton U este ano. Mas
tudo isso está resolvido agora. Está tudo ótimo. — Sorri tanto
que uma brisa suave teria gelado meus molares.
— Ainda bem que fomos capazes de roubá-la. Eles estão
sempre beliscando nossos calcanhares no ranking, mas nunca
conseguem chegar lá. Quando você finalizar sua agenda para o
próximo ano, seria sensato também restringir suas principais
escolhas para estudar no exterior. Há muitas opções, mas a
concorrência pode ser acirrada. — Ele piscou para mim com
um brilho de Papai Noel em seus olhos.
Minha garganta apertou. Estudar no exterior. Meus pais
tiveram um colapso quando eu me mudei para o outro lado do
estado. A abertura de estudos no exterior teria que ser feita com
cuidado – mais tarde.
— Mal posso esperar para fazer minha inscrição.
— A experiência de imersão fará maravilhas pelos seus
sotaques. Mas não se preocupe, nós vamos tê-los o mais
próximo possível dos nativos antes de você partir. — Seu
sorriso apertou seus olhos até que eles estivessem quase
completamente fechados.
Uau, aparentemente meus sotaques precisavam ser
trabalhados. Não importava, eu poderia lidar com isso. Eu lidei
com situações muito mais difíceis muito antes de precisar.
Estudar no exterior, sem suor.
— O anúncio do prêmio Darlington Study Abroad será feito
mais tarde.
— Os anúncios são hoje à noite? — Claro, era um pilar
central do programa de idiomas. Eu estava tão focada no
próximo ano que adiei para pensar nos próximos passos, como
dizer aos meus pais que provavelmente estudaria no exterior.
Por mais emocionalmente carregada que tenha sido a conversa
sobre minha transferência, as coisas estavam melhores agora.
Passos de bebê. Além disso, levaria pelo menos mais um ano
antes que eu precisasse contar a eles – se eu ganhasse.
— Sim. Você precisa fazer uma seleção de um programa para
o ensino de idiomas direcionado para garantir que esteja
pronto. — Ele terminou o último copo de vinho. — Embora
vocês sejam todos muito talentosos, vocês perderam um ano de
instrução da Darling. Ele prevê um verão completo de imersão
no idioma antes do início do estudo no exterior, tudo
totalmente financiado, é claro.
— Isso é muito generoso. — Engoli o caroço na minha
garganta. Achei que teria mais tempo. Deixar cair uma bomba
de estudo no exterior depois que eu tinha acabado de me mudar
provavelmente faria os dois desmaiar.
Um verão inteiro e um ano de distância. As negociações com
meus pais incluíram minha promessa de voltar uma vez por mês
para um jantar chique. Isso não seria possível se eu estivesse a
um oceano ou dois de distância. As engrenagens começaram a
girar. Eu poderia vender isso a eles como uma viagem
internacional para toda a família, onde por acaso ficarei alguns
meses a mais do que o resto deles. A mudança pelo estado foi
como girar suavemente a água na panela para ferver antes de
colocá-la em ebulição.
Então havia Ezra. Um ano e meio inteiro longe dele quando
ele estava se tornando profissional. Ele seria jogado em um
mundo totalmente novo com dinheiro e tentações
inimagináveis e eu estaria tentando não pedir absorventes
acidentalmente quando precisasse de um guardanapo em um
restaurante no Japão.
— Investimos em nossas estrelas brilhantes e só queremos
que elas tenham sucesso, onde quer que acabem. É por isso que
somos procurados por todas as instituições de mesmo nível
com tanta inveja. — Ele se inclinou com um brilho malicioso
nos olhos.
— Espero viver de acordo com o padrão estabelecido pelos
colegas de classe que vieram antes de mim. — O peso da
expectativa nunca diminuiu, apenas mudou. Pelo menos o que
quer que acontecesse aqui seria baseado em minhas próprias
realizações. O medo de decepcionar meus professores era um
pouco menos acentuado depois de viver sob a sombra de
Willow por tanto tempo.
Meu relógio vibrou.
Ezra: Sem pressa. Estou aqui. O trânsito não estava
tão movimentado quanto eu esperava.
Ondas de excitação me inundaram. O professor se afastou
para encher sua taça de vinho.
Levantei o relógio e digitei um texto.
Eu: São apenas quinze minutos da sua casa.
Quinze minutos curtos nos separariam. Claro que ele estaria
ocupado com treinos e aulas, mas não precisar passar pela
segurança do aeroporto para vê-lo todas as vezes foi uma troca
que facilitou essa escolha.
Outra notificação apareceu, interrompendo minha conversa
com Ezra.
Walsh: Por que você não me disse que estava fora por
este fim de semana?
A frustração ondulava através de mim. Jeito de martelar o
porquê eu precisava sair de casa ainda mais rápido, irmão mais
velho.
Eu: não sabia que precisava pedir permissão
Eu troquei para ler a resposta de Ezra.
Ezra: Eu queria ter certeza que não faria você esperar
Eu: Não teria me matado
O texto de Walsh voltou em letras maiúsculas.
Walsh: VOCÊ ESTAVA EM CASA ESTA SEMANA?
Ele não estava em casa. Mamãe e papai teriam contado a ele
sobre minha transferência se ele tivesse ido para casa. Ele
também estaria chacoalhando os portões do campus, se
soubesse.
Eu: Sim
Walsh: Por que você não me contou?
Chato pra caralho. Ele realmente impediu qualquer cara de
sentar muito perto de mim desde a sétima série e ele se
perguntou por que eu não queria dizer as coisas a ele.
Ezra: Estou mantendo os cobertores quentes para você
Afastei-me de todos os outros e sussurrei a mensagem.
Eu: É uma viagem curta, você pode me manter
aquecida.
Outra mensagem de Walsh projetada para estourar minha
bolha.
Walsh: Você está com Johannsen, não está?
O alçapão caiu do meu estômago. Minha última mensagem
foi para Walsh. Onde estava o botão para excluir a mensagem
quando você precisava dele?
Eu: não
Não atualmente, pelo menos.
Walsh: Então essa mensagem não era para ele?
Eu: Não me faça te bloquear. Saia com seus amigos ou
fique bêbado ou qualquer outra coisa além de me
incomodar.
Voltei ao meu bate-papo com Ezra.
Eu: Eu gostaria de poder sair mais cedo. Eu vou ter que
ficar por mais trinta minutos, pelo menos
A resposta de Walsh soou, vindo em uma palavra de cada vez.
Walsh: ELE É
Walsh: UM
Walsh: MALDITO
Walsh: PSICOPATA
Ezra: Divirta-se. Eu estarei aqui quando você estiver
pronta
Sim, um maldito psicopata total. E nossos pais confiaram em
Walsh para cuidar de mim. Ele era o pior juiz em caráter.
Eu: Eu não estou falando com você sobre ele
Eu estava a segundos de bloquear Walsh. Eu nunca tinha
comentado sobre as muitas mulheres que ele namorou e ele
estava pronto para ter um ataque porque um cara tinha feito
isso através de seu desafio de irmão mais velho e eu gostava dele.
Mais do que nunca, eu queria deixar essa festa e ir até Ezra.
A mistura agressiva era o único remédio. Eu não podia sair
ainda e Walsh tinha me irritado.
Apresentações para colegas de classe que pareciam tão
nervosos quanto eu me ajudaram a me acalmar um pouco. E
não importa o quão terrível as coisas seriam aqui, Ezra esperaria
por mim do lado de fora.
O aperto no meu estômago se afrouxou e eu me aproximei de
um grupo de futuros colegas de classe e me apresentei. Eu
estava mais uma vez confiando em outra pessoa para tornar as
coisas mais fáceis para mim? Para correr atrás para me proteger?
Quando tudo isso foi retirado, quando eu pegar um avião e
voar para um lugar sem ninguém que eu conheça, eu poderia
ser metade da coragem?
O tilintar de copos interrompeu a conversa educada em pelo
menos quatro idiomas diferentes.
Todos os sons estavam abafados e meu cérebro não
conseguia processá-los. Tudo estava mudando tão rapidamente
e minha mente correu para alcançar a mudança. A magnitude
ainda não tinha me atingido.
Aceitei os apertos de mão e parabéns ainda sentindo como se
estivesse assistindo tudo se desenrolar de fora de mim.
Isso tudo era real?
Depois que tudo terminou e as palmas pararam, tentei
entender como seria a vida agora. Eu tinha sido selecionada.
Uma viagem completa, mais despesas de subsistência para o
programa de estudos no exterior de minha escolha. Parei no
corredor e enfiei a cabeça entre os joelhos. A um continente de
distância. Eu iria para um continente e tinha uma semana para
lhes dizer minha decisão, não se eu iria ou não, mas qual país eu
havia selecionado. Ninguém em sã consciência jamais recusou.
Por que eles iriam?
Minha cabeça bateu contra meu esterno, pronta para se
libertar.
Tanta liberdade. Essa liberdade parecia um pouco
esmagadora, como se eu estivesse em um espaço aberto, mas
todo o ar tivesse sido sugado. Tudo no que eu conseguia me
concentrar era em sair, mas mesmo isso parecia assustador até
eu me lembrar de quem estava lá fora esperando por mim. Ezra.
Ezra foi a escolha certa. Em um mar deles, ele era o melhor, e
eu não tinha dúvidas sobre isso.
Com meus sapatos na mão, saí da sala e desci as escadas até o
caminho de pedra que levava a sob o arco de ferro forjado na
extremidade do campus.
Ezra estava encostado em seu carro, estacionado na calçada,
com os braços cruzados sobre o peito, parecendo uma escultura
moderna.
Corri para frente, cada passo mais perto de explodir.
CAPÍTULO 26
EZRA

Do lado de fora dos degraus da Darling U, eu esperava que os


seguranças chegassem e me expulsassem do campus assim que
desliguei o carro para economizar a bateria. Não foi até que eu
vi alguns caras espalhados na multidão junto com garotas que
a memória veio à tona. A escola tinha sido feita mista pouco
antes de eu começar na St. Francis U.
Willa estaria perto agora, mais perto do que eu estava
preparado. Minha perna saltou enquanto eu estava encostado
na lateral do meu carro, fazendo-o balançar. Pelo menos ela não
estava no campus, talvez Maggie pudesse distraí-la nos dias de
jogo ou eu diria a ela que tinha que desistir dos meus ingressos
de jogador.
Desde que ela me contou sobre seus planos de transferência,
eu estava tentando encontrar maneiras de ela não me ver jogar.
Assistir na TV antes que ela me conhecesse era uma coisa.
Mesmo assistindo na TV agora a manteria afastada da ação, mas
chegando aos jogos, eu não queria que ela visse esse meu lado.
Eu odiava esse lado meu, como um animal ferido sem escolha,
no campo eu ataco como se minha vida dependesse disso.
Porque dependia. A segurança com a qual eu jogava este jogo
do jeito que eu tinha nos últimos doze anos era a única garantia
com a qual eu podia contar, o que apenas destacava o quão
ferrado eu estava. A chance infinitamente pequena que eu
tinha era a melhor chance de um futuro que não envolvia
acabar nas ruas.
Eu não era da equipe de material de treinamento e com
certeza não sofreria com Mikelson por mais tempo do que o
absolutamente necessário. Se fosse para implorar por um lugar
em sua equipe de equipamentos ou estar nas ruas, eu escolheria
as ruas.
Mas o futuro de Willa era incrivelmente brilhante. Ela falava
vários idiomas e, embora se preocupasse com o que seus pais
pensavam, eles a amavam. O fato de ela estar aqui provava isso.
Como seria ter pais assim?
Algum dia eu rastrearia minha mãe. Ela estava procurando
por mim todo esse tempo? O que aconteceu com ela?
Fui arrancado da minha reminiscência pelo flash de verde, a
cor favorita de Willa.
Vê-la empurrava os tremores que ameaçavam sempre que eu
pensava no meu passado. Continue seguindo em frente. Não
hesite. Não há nada para você no passado.
Willa correu em minha direção com os sapatos nas mãos. Sem
parar ou desacelerar, ela se lançou em mim.
Eu a peguei, claro que peguei.
— Eu consegui a bolsa de estudos! — Ela me envolveu como
um coala. Seu cheiro me inundou, apenas me fazendo querer
apertá-la mais forte.
Ela poderia dizer o quanto ela já significava para mim? Tanto
que doía.
Eu a girei com suas pernas travadas em mim.
Suas palavras registradas.
— Que bolsa de estudos?
Olhando para mim, seu sorriso cheio de admiração encheu
meu peito com uma sensação mais leve que o ar. Como ela
pode me olhar assim? Eu?
Outras pessoas podem estar nos observando, mas eu não
poderia me importar agora.
Ela tirou meu boné e o colocou na cabeça.
— Eu vou te dizer no carro.
Eu a coloquei no chão e passei meu braço em volta de seu
ombro. As temperaturas tinham esquentado, mas ela ainda se
enroscou contra mim.
— Como foi a festa?
— Incrível. Conheci vários dos meus professores e aprendi
mais sobre os programas de estudos no exterior com alunos que
já viajaram.
Nesse momento, um Dodge aqua de décadas passadas saiu de
uma vaga de estacionamento.
Minha respiração ficou presa no meu peito. Meu coração
bateu na minha garganta. Meus músculos congelaram.
— Ezra? — A voz de Willa levantou ao meu lado.
Meus olhos perfuraram a janela traseira do carro como se eu
pudesse me transportar para dentro. Como se eu pudesse vê-la
novamente. Eu a encarei, tentando distinguir a forma não mais
familiar dela. O carro virou. Atrás do volante, a silhueta de um
homem quebrou o congelamento dos meus músculos. Como
se a fechadura por senha tivesse sido quebrada com alicates e as
correntes caíssem no chão.
Não era ela. Nunca era ela. Fazia tanto tempo que eu não via
minha mãe que temia não reconhecê-la se passasse por ela na
rua. Nenhuma foto nossa conseguiu sobreviver às várias
mudanças. Quando nos separamos, eu não tinha nada além da
mochila da escola comigo. Minha terrível tentativa de um
retrato de família feito em giz de cera não foi exatamente
baseada na realidade.
— Ezra? — Willa tocou o lado do meu pescoço onde meu
pulso saltou descontroladamente. — O que aconteceu? — Ela
olhou por cima do ombro para onde meu olhar estava travado.
— Vamos lá. — Tentei soltar os dedos invisíveis que
seguravam minha garganta. A inquietação me consumia. A
sensação incômoda de que as coisas iam piorar. Foi o que
aconteceu da última vez que vi um carro que pensei ser o dela.
Foi logo antes de um jogo contra o Fulton U. O sentimento
agitado me seguiu até o jogo, que havíamos perdido, e eu senti
como se tivesse deixado pedaços de mim no campo – junto com
pedaços dos jogadores do Fulton U.
Uma vez que estávamos no carro, minhas mãos tremiam
contra o volante e eu tateei pelas chaves. Eu não podia usar o
frio como uma desculpa para o raspar trêmulo da chave contra
a ignição antes de ligar o motor.
A mão de Willa disparou para a chave e ela desligou meu
carro.
— Ezra, o que está acontecendo? — Ela olhou para mim, os
olhos sombrios do meu boné ainda em sua cabeça.
Eu o inclinei para trás e olhei em seus olhos. Suas
sobrancelhas estavam juntas.
Mantendo minha cabeça baixa, eu evitei seu olhar de busca e
sondagem.
Ela puxou meu boné e o colocou no painel antes de se sentar
na beirada do banco, quase subindo no console central. Seus
olhos estavam fixos nos meus, como se ela estivesse tentando
dar uma marretada na parede que eu levantei em poucos
segundos.
— Ezra, o que há de errado?
Fechei os olhos com força, tentando manter os tremores em
segredo. Trancando-os, arrastei as correntes para trás, tentando
pelo menos parecer calmo, mesmo que estivesse pronto para
sair da minha própria pele. Um gole grosso de lodo e eu limpei
minha garganta.
— Achei que tinha visto minha mãe.
— Sério? Onde? — Ela olhou pela janela, depois pela minha.
— Ela mora por aqui?
— Não sei. — Um pedaço de vergalhão preso entre minhas
costelas.
Ela caiu de volta em seu assento.
— O que você quer dizer com não sabe?
— Quero dizer, eu não sei onde ela mora. — Usando sua
distração momentânea, liguei o carro e saí do estacionamento.
— Cinto de segurança.
— Você nunca falou sobre ela antes. — Ela apertou o cinto e
se inclinou para mais perto.
— Não há muito o que dizer. — Mantive meus olhos fixos
na estrada, e minhas palmas doíam contra o volante lascado e
rachado.
— Ezra, ela é sua mãe. Claro que há muito a dizer. — A leveza
de suas palavras torceu aquele vergalhão como se estivesse
tentando partir minhas costelas.
— Não há nada a dizer. — Minha mandíbula doía, os
músculos tensos tentando conter as poucas palavras que eu já
disse. Cada pulsação na minha cabeça reverberou pela minha
espinha.
Ela não precisava saber. De que adiantaria dizer a ela que a
única pessoa que mais deveria te amar tinha ido embora? Eu
fiquei. Não, ela não. Estávamos separados. Ela provavelmente
ainda estava lá fora procurando por mim.
— Ezra, vamos lá. — Ela riu como se tudo isso fosse uma
piada.
— Não a vejo há quinze anos.
Ela engasgou como se um inseto tivesse voado pela sua
garganta. Uma longa pausa cujo cada segundo era uma marreta
no meu crânio.
— Você está falando sério.
Virei-me para a casa de Maggie.
— Quem brincaria com isso?
— Você já tentou procurá-la?
A direita final a meio quarteirão do novo prédio intocado se
arrastava.
— Sempre que vejo um Dodge aqua. Ela adorava aquele
carro.
— Quero dizer de verdade. Quero dizer, como contratar um
investigador particular ou alguém para ajudá-lo a localizá-la.
— Eu mal tenho dinheiro para comida e telefone, Willa.
Como vou pagar por um investigador? — A adrenalina
aumentou, inundando minha cabeça com zumbido.
— Eu…
— Não — eu rebati, sem olhar para ela. Esta noite precisava
terminar agora.
— Eu poderia…
— Não diga isso. Não. Uma vez que eu me torne profissional,
eu poderei pagar. — Eu me virei para encará-la.
Ela se inclinou para frente e lambeu os lábios secos pelo
inverno. Um plano estava se formando.
— Por que esperar, Ezra? Ela provavelmente está lá fora
como você, desejando ter dinheiro para encontrá-lo.
Uma ponta de grampo parecia estar alojada na minha
garganta. Quantos dias, meses, anos, eu desejei isso? Quantos
eu rezei para que ela entrasse em um dos meus lares adotivos ou
casas de grupo, com os olhos marejados, e jogasse os braços ao
meu redor? Eu tinha parado de pensar nisso durante os últimos
anos. Foi quando o futebol se tornou meu refúgio. Foi o único
lugar onde minha atitude e minhas frustrações foram
aplaudidas, e não me chutava de um lugar para outro.
— Talvez ela esteja. — A esperança era uma assassina. Bateu
mais forte do que qualquer chute ou soco.
— Então, deixe-me ajudar.
— Willa, eu disse não. — Apertei meus punhos contra o
volante.
— Se encontrar Willow fosse tão fácil quanto contratar
alguém para ir atrás dela, você não acha que teríamos feito isso?
— Não é a mesma coisa — eu disse, e olhei para as leituras
piscando no meu painel.
— Claro que não, sua mãe está por aí em algum lugar.
— Talvez. — A esperança era cruel.
— Por que não descobrir? Você tem a chance de encontrá-la.
De se reencontrar com ela.
As palavras de Willa empurraram imagens em minha mente
que eu não me permitia ver há anos. Como seu rosto estaria. O
que ela estaria vestindo. Como ela cheiraria. Eu bati aquela
porta em minha mente, mas o rosnado no meu peito, a
agitação, cravaram como espinhos sob minha pele.
— Não é tão fácil.
— Eu não estou dizendo que você seria capaz de encontrá-la
amanhã. Mas talvez algumas semanas ou alguns meses. Isso
pode ser incrível. Se Willow estivesse lá fora...
— Não é a mesma coisa! Você nem conhecia sua irmã. —
Minhas palavras estalaram no ar, incendiando-o. — Você nem
a conheceu!
Willa recuou como se eu tivesse batido nela. Um som
escapou dela, arrancado de sua garganta. Ela procurou o cinto
de segurança.
—Isso não significa que eu não possa amá-la.
Eu rolei até parar em frente ao apartamento de Maggie
desejando não ter empurrado o pé no pedal para que tivéssemos
mais alguns quilômetros a percorrer.
Ela saltou para fora do carro e sua porta bateu, balançando o
chassi. Com uma corrida rápida, ela desapareceu no prédio sem
olhar para trás.
Puxando o volante, inclinei a cabeça para trás e gritei “porra”
no interior de merda do meu carro de merda que me levou do
ponto A ao B na minha vida de merda, que ficou ainda mais
merda com Willa saindo do meu carro.
E eu não sabia o que dizer para torná-la melhor.
CAPÍTULO 27
WILLA

— Você nem mesmo a conheceu!


As palavras de Ezra reverberaram na minha cabeça como um
pesadelo repetitivo. Eu nunca a conheci, mas sua presença, ou
a falta de uma, deixou a maior marca na minha vida de qualquer
pessoa da minha família.
Ele gritou como se ela não importasse para mim.
Com os olhos turvos, entrei no avião incapaz de me impedir
de procurá-lo até que as portas se trancassem e o avião se
afastasse da ponte de embarque.
Enrolei meu moletom e descansei minha cabeça contra a
janela, deixando minhas lágrimas caírem. Eu sufoquei o soluço
soluçante que brotou no meu peito. Com o moletom abafando
meus gritos, enterrei meu rosto nele e deixei os motores e o
ronco da decolagem abafarem a tristeza.
Eu nunca a conheci. Eu não tinha. Willow seria para sempre
uma pessoa que eu conhecia por procuração, mas isso não
significava que eu não poderia amá-la apesar disso. Houve
momentos em que eu a odiei ou desejei que ela nunca tivesse
existido. A culpa por essas explosões, mesmo que nunca
tivessem sido expressas em voz alta, ainda se agarrava a mim.
Quem eu seria se ela nunca tivesse morrido? Como teria sido
ter uma irmã mais velha que pudesse mandar em Walsh? Uma
parceira no crime para me ajudar a superar Walsh em número
ou me ensinar tantas das coisas que tive que aprender sozinha?
Eu posso não tê-la conhecido, mas foda-se Ezra por pensar
que eu não conseguia realmente entender a perda dela.
Foi só quando as rodas tocaram o chão que meu próximo
problema caiu no meu colo. Verifiquei meu rosto e usei um
lenço umedecido em água para enxugar minhas bochechas
manchadas de lágrimas. Reunindo todas as minhas coisas, eu
lentamente me recompus. Se ao menos me recompor fosse tão
fácil quanto enfiar tudo nas minhas malas.
Walsh: Papai não pôde vir buscar você, então estou
aqui. Não demore muito.
Apenas o que eu precisava. Caramba.
Eu não queria outro sermão de Walsh. Outra rodada útil de
lições de vida do meu irmão mais velho me dizendo como ele
teria feito as coisas de forma diferente e tentou me avisar o
tempo todo.
Meus olhos ainda estavam vermelhos, não ajudados pelo ar
seco do avião.
Eu: Acho que vou dar um tempo então
Walsh: Ou eu vou te deixar
Eu: Mamãe e papai adorariam isso
Havia algumas linhas que mesmo ele não poderia cruzar, me
abandonar no aeroporto depois de receber o poder de me
buscar seria uma passagem só de ida para a decepção.
Depois de tomar meu tempo e pegar um café e um donut no
caminho, fui até o carro dele. Um policial estava do lado de fora
de sua janela.
— Ela está aqui! Ela está aqui! — ele disse, pulando para fora
do carro para pegar minha bolsa e enfiá-la no banco de trás,
encarando.
Acenei para o policial e entrei no carro.
Walsh bateu a porta e saiu, quase acertando o carro na nossa
frente.
— Que diabos? — Apoiei uma mão no painel e a outra em
volta da minha bebida, tentando evitar que ela tombasse.
— Você parou para tomar um café e um donut?
— Se você se acalmasse, eu poderia te dar isso. — Enfiei a mão
no saco no chão entre meus pés e entreguei a ele o macchiato de
caramelo gelado com caramelo extra por cima.
Ele gemeu e pegou a bebida oferecida da minha mão.
— Nós não estamos quites.
Enfiei um canudo no topo e ele engoliu.
— Talvez um dia você seja corajoso o suficiente para comprar
um para você.
Quando o tráfego diminuiu, ele ergueu um nariz
intrometido em direção ao meu saco de donuts.
— Quais sabores você me pegou?
— Depende.
— Do quê?
— Do quanto você vai ser um pé no saco quando eu te disser
o que estou prestes a te dizer.
Ele largou o copo no suporte e apoiou o braço na janela, me
olhando com o canto do olho.
— O que você está tentando fazer agora?
— Estou me transferindo.
O carro inteiro deu um solavanco, quase atingindo um
caminhão que passava por nós.
— Você o quê? — Seu grito explodiu.
— Estou me transferindo para Darling U.
— Willa… você não pode estar falando sério agora.
— É rosquinha de geléia. — Eu pesquei a massa e entreguei a
ele.
Ele o arrancou de mim e o jogou no banco de trás.
— Você está indo?
— Estou me transferindo.
— Cruzando o maldito país.
— Estado. Eu nem vou sair do estado.
— Mamãe e papai vão enlouquecer.
— Não, eles não são. — Baixei meu olhar para a bolsa
amassada no meu colo. — Eu já disse a eles.
Ele fez um ruído estrangulado entre a indignação e a angústia.
— Sem mim?
— Por que eu precisaria de você lá para falar com eles sobre
onde eu vou estudar?
— Porque estamos sempre juntos para grandes decisões
familiares. Sempre fazemos o melhor para a família.
— Não, sempre fizemos o que fosse menos perturbador,
qualquer que fosse a decisão mais fácil e menos angustiante.
Isso não é maneira de viver.
— Você está saindo por causa de Johannsen, não está? — ele
disse, rangendo os dentes.
A parte de trás do meu nariz queimou com a menção de seu
nome, mas eu arrastei uma respiração longa e trêmula para
evitar a detonação emocional que ameaçava meu peito.
— A decisão não teve nada a ver com ele. Comecei minha
inscrição antes mesmo de conhecê-lo.
— Mas ele faz parte da decisão.
Talvez ele tenha sido, mas não agora. Estar perto dele. Isso
iria doer, mas também não iria atrás do meu sonho só porque
eu poderia encontrá-lo perto do campus.
— Não, ele não faz. Enviei a inscrição antes mesmo de
conhecê-lo. — A mentira não importava neste momento.
— Besteira.
— E se ele fizesse? E se eu decidisse fugir para uma escola a
algumas centenas de quilômetros de distância para ficar com
um cara? Essa seria a minha escolha a ser feita. Não posso viver
minha vida inteira tentando não incomodar alguém. Você não
pode me dizer que não queria experimentar coisas novas,
Muralha. — Eu desenhei o nome que ele usou em Fulton U,
embora devesse ser por sua cabeça dura, não por suas
habilidades de bloqueio. — Além disso, eu te disse que Ezra está
fora dos limites.
— Dane-se isso. E usar um apelido que eu nem escolhi não é
o mesmo que deixar a maldita costa leste.
— Você está sendo dramático. — Eu dei uma mordida no
meu donut de chocolate com cobertura de chocolate. — E Ezra
permanece fora dos limites até que você supere qualquer ódio
de rivalidade que está nublando sua mente quando se tratar
dele.
— Ele…
Eu atirei minha mão para cima.
— Não, Walsh. Estou falando sério. Nem mais uma palavra.
Ele se recostou no banco e olhou para frente.
— Não sou eu que estou fugindo.
Aliviada, eu pulei na mudança de assunto.
— Talvez não, mas você não pode ficar aqui para sempre.
Você não pode viver a menos de oitenta quilômetros da casa
deles pelo resto da vida.
— Eles não se importariam se eu saísse. — Seu aperto no
volante aumentou.
Eu mastiguei minha rosquinha e atirei para ele um aceno de
cabeça auto-satisfeito.
— Exatamente. Se eles estão bem com você potencialmente
se mudando, eles vão se ajustar quando eu me for. Você me
deixou para ser a única a mantê-los calmos, pulando os jantares
chiques. Não posso ficar perto de casa para sempre.
— Você é quem eles querem lá. — Ele enrijeceu, palavras
empoladas.
— Walsh, do que você está falando? Isso é estúpido, é claro
que eles querem você lá.
— Eles? — Ele olhou para mim com lágrimas nos olhos. —
Eles me disseram para segurá-la. Para não deixá-la ir.
Suas palavras tristes foram um soco no meu peito e se
enrolaram pelo coração, apertando. Verificando atrás de nós,
empurrei o volante em direção ao acostamento.
Ele o colocou em Park e olhou para frente.
— Eles não culpam você. — Nunca discutimos o acidente
em família, não diretamente, mas Walsh me contou sobre
aquele dia. Nada na maneira como nossos pais o tratavam
parecia que o culpavam.
— Eles não precisam. — Sua voz se afogou na miséria. — Eles
nunca se preocuparam comigo como se preocupavam com
você. Eu poderia sair e fazer o que quisesse e eles nunca
pairavam como faziam com você. Se eu chegasse tarde ou não
ligasse, eles não explodiriam meu telefone como faziam com o
seu.
O pedaço de mim que sempre teve ciúmes da liberdade que
ele teve, quebrou. Todo esse tempo, eu queria que eles me
tratassem mais como Walsh e ele queria que eles o tratassem
mais como eu. Peguei suas mãos e me virei no meu lugar.
— Isso não é porque eles não amam você. Claro que eles te
amam.
— Agora eu vou embora, você vai embora... — Suas palavras
aquosas me atingiram com força. Foi a primeira vez que ele
quebrou assim na minha frente. Estávamos todos passando por
muitas mudanças, a vida encontrou uma maneira de acumular
a tensão até que a pressão se tornou inevitável.
— Walsh, isso não significa que não somos ainda uma
família. Isso não significa que não vamos ficar todos bem.
— Se algo acontecer com você, eu nunca me perdoaria. —
Sua voz falhou e eu o puxei para perto, envolvendo meus
braços ao redor do irmão mais velho que sempre cuidou de
mim. Meu coração doeu pelo garotinho que assumiu a
responsabilidade que nunca tinha sido dele.
— Nada vai acontecer comigo.
— Você não tem como saber isso, especialmente se estiver
com Johannsen. — Seus olhos dispararam para os meus. — Eu
não sei se você acha que ele é um bad boy ou se esta é sua
tendência rebelde, mas estou te dizendo, Willa. Ele é um
psicopata.
Um nó na minha garganta brotou com farpas. Tirando a
única vez em que ele brigou comigo, ele não era nada como
Walsh descreveu. Eu realmente o conhecia?
— Você não precisa me proteger. Eu preciso cometer meus
próprios erros de qualquer jeito ou forma que eles venham.
— Mas…
— Não, não posso viver minha vida constantemente com
medo de que uma chamada perdida ou uma mensagem de texto
leve mamãe, papai ou você a um colapso. Isso não é viver. E
você precisa conversar com mamãe e papai sobre isso. Podemos
muito bem ter nossas conversas destruidoras de almas de uma
só vez para economizar nas contas da terapia.
Ele balançou a cabeça tão rapidamente que estalou o
pescoço.
— Não, não posso.
Eu cobri suas mãos com as minhas e suavizei minha voz.
— Walsh, o que aconteceu com Willow nos machucou de
maneiras diferentes. Fala com eles.
Ele levantou seus olhos temerosos para encontrar os meus.
— Você virá comigo quando eu estiver pronto?
— É claro. — Depois de tantas vezes Walsh que esteve lá para
mim, eu estaria lá para ele sempre que ele precisasse de mim.
Ele deu um meio sorriso e enxugou o rosto na manga.
— Agora posso comer minha rosquinha de verdade?
Eu ri, pouco e frágil, mas pelo menos era uma risada.
— Está meio amassada. — A bolsa enrugou sob o lado da
minha perna. Eu a puxei debaixo de mim e descasquei a
rosquinha amassada e lhe ofereci.
— Qualquer coisa é melhor do que gelatina.
Walsh me deixou em casa e me apertou em um abraço de urso
depois de carregar minha bolsa para dentro.
Esgotada de toda a energia, fechei as cortinas e desabei na
cama depois do banho. O brilho da minha tela iluminou meu
quarto e eu o inclinei para mim. Nenhuma mensagem nova.
Ele tem um telefone agora, ele poderia me dizer o que
aconteceu em seu carro. Eu merecia uma explicação e precisava
de uma desta vez antes de fechar a porta, mas nenhuma
mensagem chegou. Afastei-me para um sono irregular, cheio de
uma pitada de frustração e de tristeza.

Os dias foram passando e eu me preparei para as aulas. Tarefas


de casa e papéis onde as palavras se fundiam e as frases que
escrevi não faziam sentido.
Ainda nenhuma palavra de Ezra. Pensei em mandar uma
mensagem para ele, mas nem sabia o que dizer, então deitei na
cama olhando para o teto, tentando limpar minha mente.
Deixei tudo desaparecer e enchi minha cabeça com alemão.
Juntei as palavras mais longas que pude. Um exercício de
construção mental para me distrair da dor florescente no meu
peito como um machucado teimoso que se recusava a
cicatrizar.
Uma das minhas colegas de quarto bateu na minha porta.
— Ah, Willa. Achamos que há alguém aqui para você.
Não pode ter sido Walsh. Todo mundo que morava aqui
sabia como ele era, junto com meus pais.
Eu balancei minhas pernas para fora da cama.
— Quem é?
— Um cara com um violão. — Ela parecia dividida entre
divertida e confusa.
Meu cérebro travou e parou. Eu não conhecia nenhum…
Corri pelo corredor e pelas escadas, os pés batendo contra o
piso liso de madeira.
A porta da frente estava aberta. Através da porta, sua voz
atingiu meus ouvidos. Eu nunca o tinha ouvido cantar antes,
mas a profundidade rouca de seu tom rolou sobre mim como
o sol nascente. Quente, marcante, deslumbrante.
Eu não fui a única atraída por sua voz, ou talvez tenha sido
pelo espetáculo de um cara parado no meio do nosso pequeno
pedaço de grama fazendo uma serenata para alguém – fazendo
uma serenata para mim.
Como se ele tivesse amarrado uma corda no centro do meu
peito, caminhei até a beirada da varanda. A grade mordeu meus
quadris e eu o observei.
Na inspiração seguinte, suas notas foram mais altas e as
palavras caíram sobre mim. Palavras sobre mim.
E meu coração caiu no meu peito, gaguejando em batidas
rápidas apenas para congelar no segundo seguinte.
Ele se aproximou, só então notei meus pés batendo no degrau
mais alto. Ele estava sem boné e seu olhar estava preso no meu,
cheio de súplica e dor.
Por baixo da minha admiração e da minha cabeça atordoada
estava a agulha da raiva. Toda a razão pela qual ele estava aqui
veio à tona. Eu tinha uma escolha a fazer.
CAPÍTULO 28
EZRA

Eu tinha ficado bom em esconder os tremores. Os tremores de


medo que dominavam a maioria das pessoas quando entravam
em uma situação angustiante. Eu aprendi que mostrar medo
era fazer com que esse medo fosse explorado. Como fazer outra
pessoa pensar que tinha poder sobre você. Desta vez, não
escondi o medo de Willa. Ela tinha poder sobre mim e não
havia como negar.
Se minha quase insônia e quatro horas de viagem não
provaram isso, vê-la parada na minha frente, sim. Ela quase me
deixou de joelhos. Eu nem tinha certeza de que ela tinha saído.
Minha voz vacilou. Não era o mais bonito e, pela minha visão
periférica, eu podia dizer que havia um monte de gente
assistindo, mas eu não me importava enquanto ela estivesse
aqui. Ela me observou de seu lugar na varanda da frente. Eu não
podia ver seus olhos através da sombra do beiral. Eu tinha
deixado meu boné no carro. Não adianta tentar me esconder
dela.
A merda tinha sido enorme, mas talvez fosse cruel demais
para esperar que não tivesse causado danos irreparáveis.
Ela deu um passo mais perto enquanto eu cantava, como se
seus pés a controlassem.
Eu terminei a música.
— Will…
Ela congelou. Qualquer feitiço que tivesse sido tecido pela
minha voz terminou quando meu canto parou.
Deixando as palavras se fundirem na minha cabeça, comecei
outra, escolhendo uma melodia que conhecia bem.
Fiquei onde estava, não querendo assustá-la ou apagar o
progresso que ela fez em minha direção.
Seus passos recomeçaram. Movendo-se à minha direção.
Mais perto, até que seus pés descalços tocaram a passarela de
concreto, então a grama fria.
Parei de tocar quando ela estava quase cara a cara comigo. As
palavras pararam de se formar quando ela estava ao alcance do
braço. Tudo que eu podia fazer era prendê-los ao redor do
corpo da guitarra e não alcançá-la.
— O que você está fazendo aqui, Ezra?
— Dizendo que sinto muito.
Seu olhar disparou para o chão, então para todas as pessoas
que apareceram para me ver fazer papel de bobo.
— Você não deveria estar aqui.
— Não há outro lugar onde eu deveria estar, senão aqui
pedindo desculpas a você. Eu não deveria ter feito aquilo.
Seus olhos estalaram de volta para os meus.
— O que eu disse foi imperdoável. Eu pirei e não tinha o
direito de ter feito aquilo ou fingido que sabia alguma coisa
sobre sua família.
— Mesmo que eu nunca a tenha conhecido, ela era minha
irmã. Ela sempre será minha irmã. — Seus olhos brilharam e ela
apertou os punhos ao lado do corpo.
— Claro que ela será. — O vínculo que ela tinha com uma
irmã que ela nunca conheceu rivalizava com minhas conexões
com qualquer pessoa na minha vida. — E eu sinto muito que
algum idiota tentou te dizer o contrário. Podemos conversar?
Ela suspirou, ombros caídos.
— Não acho que seja uma boa ideia.
Qualquer atração que eu tive morreu quando parei de tocar.
Fiquei tentado a começar outra música.
— Você me machucou, Ezra.
De todas as coisas que ela poderia ter dito, aquela foi a lança
arremessada bem ao meu lado, rasgando uma costela a caminho
do meu coração.
— E eu nunca quis fazer isso.
A narina dela está dilatada.
— Isso…
Um motor acelerou ao virar da esquina. O Mazda vermelho
brilhante acelerou pela rua, parando com uma roda no meio-
fio em frente à casa de Willa.
Medo frustrante inundou meu estômago. Virei-me de lado,
então minhas costas não estavam para nosso recém-chegado.
Walsh.
Ele não desligou o motor, em vez disso, ele saltou e correu ao
redor do carro, quase deslizando sobre o capô para chegar até
nós.
Willa deu um passo à frente, colocando-se entre mim e o
furioso Walsh.
Tudo em mim gritava para tirá-la de lá. O fogo em seus olhos
queimava quente o suficiente para derreter aço.
— Willa... — Eu coloquei minha mão em seu ombro.
— Walsh, vá embora! — Ela colocou as duas mãos para cima
como se para mantê-lo afastado dela.
— O que diabos ele está fazendo aqui, Willa? — Walsh não
tirou os olhos de mim. Os músculos do maxilar saltaram, os
tendões do pescoço esticados. Ele continuou tentando
contorná-la, mas ela usou alguns movimentos pró-defesa.
— Não é da sua conta — ela gritou de volta.
— O que ele fez? — Walsh tentou atacar ao redor dela
novamente.
Eu me fixei no lugar. Aquela besta chacoalhando no meu
peito estava lutando por liberdade. Arranhando meu esterno
para ser liberada. Ele era meu rival. Oponente. Inimigo. O
zumbido dentro da minha cabeça se transformou em gritos,
rugindo para ir atrás dele.
— Já que você não entendeu isso de primeira: não é da sua
conta. — Ela pulou na frente dele e empurrou seu peito. — Vá
embora, Walsh. Ninguém te convidou.
O formigamento sob minha pele doeu. Adrenalina
inundando cada veia e terminação nervosa. Faíscas disparando
ao longo do meu corpo prontas para explodir.
— Ele está aqui no meu campus cantando músicas para você.
Ele convidou todo mundo — Walsh gritou como se estivesse
latindo pelo meu sangue.
— Seu campus? Da última vez que verifiquei, também
estudava aqui.
Meus dedos apertaram o braço do violão.
— Por que ele está aqui cantando assim, Willa? Ele se fodeu
muito, não foi? Foi por isso que você estava triste quando
voltou no fim de semana. — A concentração de Walsh estalou
e seu olhar caiu para ela por um segundo. Proteção e carinho
cortaram a raiva em seus olhos.
Mas lutei contra esses sentimentos, tentando fechar a porta
da gaiola. Com as costas pressionadas contra ela e os pés
deslizando no chão escorregadio, lutei para manter as travas
fechadas. Um movimento e eu poderia soltá-la sobre ele, como
se estivesse em campo, e qualquer rachadura na porta para o
perdão de Willa seria batida na minha face.
— Vou dizer mais alto para qualquer um no quarteirão que
ainda não ouviu. Não é da sua conta. — Ela me agarrou
enquanto ainda encarava Walsh. — Ezra, vamos.
A única coisa que impedia que isso se tornasse sangrento era
Willa entre nós. Por mais que eu não duvidasse de como me
sairia contra ele se chegasse a golpes, eu não faria isso na frente
de Willa. Eu deslizei minha mão contra a dela.
— O que ele fez com você? — Walsh disse com os dentes
cerrados.
— Ele não fez nada. Ele veio aqui porque queria me cantar
uma música. Talvez seja por isso. — Ela nos apoiou pelos
degraus da varanda.
— Besteira — gritou Walsh.
— Seja qual for o motivo, não tem absolutamente nada a ver
com você. — Ela estendeu a mão para a porta de vidro e a abriu,
acenando para eu entrar.
E eu fiz. A porta se fechou entre nós e ela voltou para o topo
da escada.
Do outro lado do vidro, seu corpo estava rígido, as mãos
batendo e acenando freneticamente para Walsh olhando para
ela.
Ele olhou para ela, então olhou para a porta atrás da qual eu
estava. Cada instinto gritava para eu ir para lá e estar ao lado
dela, protegê-la, mas isso só iria piorar as coisas. Mais correntes
foram adicionadas para amortecer o barulho no meu peito.
Ela ficou entre mim e seu irmão e, embora ela não quisesse
me deixar entrar antes, fez questão de que eu entrasse para
depois voltar lá para lhe dar o inferno. Ela foi a primeira pessoa
que já esteve pronta para atacar por mim. No campo, eu era o
executor, a raiva encarnada. Mas ela me protegeu.
A inundação em minhas veias não doeu ou queimou, mas me
aqueceu como caminhar de uma tempestade de neve para um
fogo crepitante, deixando o calor penetrar lentamente.
Willa abriu a porta de vidro e gritou com Walsh antes de
dispensá-lo.
— Vá embora. — Ela puxou e trancou junto com a porta da
frente. — Ei, a todas, por favor, não deixem meu irmão entrar
até segunda ordem. Ele está em liberdade condicional.
Eu me virei para as três garotas amontoadas no sofá que eu
nem tinha registrado até este momento.
Todas elas me encararam com os olhos arregalados e
provavelmente ouviram tudo desde o momento em que peguei
meu violão. Este era um momento do boné, se houvesse um.
Em vez disso, enfiei uma mão no bolso e abaixei a cabeça.
— Pessoal, este é Ezra. Ezra, minhas colegas de quarto.
Elas acenaram e eu acenei de volta entorpecido.
— Vamos lá para cima. — Willa agarrou minha mão.
Com cuidado para não deixar meu violão bater contra o
corrimão de madeira escura perfeitamente polida ou as fotos
emolduradas na parede, eu a segui, segurando sua mão com
mais força.
Dentro de seu quarto, ela fechou a porta atrás de mim e
andou de um lado para o outro, apertando a ponta do nariz.
Eu estava no centro de seu quarto – o mesmo quarto em que
estive meses antes e que não mudou muito, só que agora eu me
sentia como um intruso.
— Nós podemos esperar até que ele esfrie e então eu posso ir.
Ela olhou para cima como se tivesse esquecido que eu estava
lá.
Não sabia dizer se isso era uma coisa boa ou ruim.
— Fique confortável, ele provavelmente vai estar vigiando a
vizinhança por um tempo e... — Ela caiu contra a porta. — E
eu quero ouvir você desta vez, então vamos conversar.
As palavras eram uma abertura sinistra. Falar sobre o meu
passado era evitado a todo custo. Geralmente eram outras
pessoas que me contavam sobre meu passado – sobre minha
história. Lido em arquivos de casos ou por telefonemas com
responsáveis pelo caso. Raramente alguém falava comigo sobre
isso, mais como para mim sobre isso e, mesmo que eles
quisessem perguntar, eu não tinha certeza se queria dizer a eles.
Mas se eu queria que Willa entendesse, eu tinha que contar
tudo a ela.
Eu coloquei meu violão contra o lado de sua cama. Em vez
de ficar sentado ali, afundei no chão, descansando minhas
costas contra as gavetas planas de sua mesa ao pé de sua cama.
Willa sentou na minha frente com as pernas cruzadas e as
costas contra a porta do armário.
Cavando fundo, procurei as chaves para desbloquear as
memórias que tentei enterrar. Doeu, como uma ferida sendo
reaberta e coberta com sal, mas eu a machuquei – de novo – e
precisava que ela soubesse o porquê, então talvez ela me
perdoasse – de novo.
— Desde pequeno, saltávamos de motel em motel. Se
tivéssemos sorte, apartamento em apartamento, mas nunca por
muito tempo. Então, quando eu tinha sete anos, havia um
parque de diversão itinerante montado no estacionamento de
uma igreja a alguns quarteirões de distância. Todos os dias, eu
via as luzes e implorava a ela para irmos. Mesmo que eu não
pudesse fazer um único passeio ou jogar um jogo, eu queria ir.
Eu a cansei e ela finalmente nos deixou ir no último dia. Estava
lotado de pessoas tentando fazer seus últimos passeios e
comendo bolo de funil e maçãs carameladas. Ela me
surpreendeu com alguns ingressos e eu estraguei tudo — A
culpa apertou minhas costelas com tanta força que pensei que
iam quebrar. Eu escolhi o passeio mais caro e o aproveitei
sozinho. Eu deveria ter escolhido um diferente – um que
poderíamos ter aproveitado juntos. Devo ter me virado ou
talvez ela tenha me dito para segui-la. Eu não conseguia me
lembrar. — Ela me surpreendeu novamente e disse que tinha
um pouco mais de dinheiro para mais alguns ingressos. Ela disse
que voltaria logo. — Eu parei, paralisado pelo espessamento na
minha garganta. Lembrei-me da sensação de hipersalivação
com um batimento cardíaco martelando que ameaçava sair do
meu pequeno peito enquanto eu procurava por ela. Dividido
entre ficar onde estava e encontrá-la. Me questionei isso todos
os dias até agora.
— E essa foi a última vez que a vi.
CAPÍTULO 29
WILLA

— E essa foi a última vez que a vi.


— O que? — Eu gritei, quebrando minha determinação de
não interromper Ezra. Se eu já não estivesse no chão, eu teria
acabado lá. — Você só... foi isso?
— Foi isso.
— Mas... — As palavras não se formavam. Quando ele disse
que sua mãe se foi, não era isso o que eu esperava. Eu nem tinha
sido capaz de imaginar como uma pessoa assim podia
desaparecer de sua vida sem alguma finalidade. Sem respostas.
— Não é a história bonita que você imaginou? — Ele
gesticulou para si mesmo, uma aceitação resignada em seus
olhos. — Olhe para mim, Willa. Olhe a sua volta. Olhe para o
seu quarto. Pareço ter vindo de uma grande e maravilhosa
família?
Meu estômago revirou, apertou e deu um nó. Eu não me
importava com o quarto de Ezra ou o seu carro, mas ele
obviamente se importava com a forma como eu vivia e se sentia
insuficiente. As queixas que eu tinha sobre uma família
autoritária que nunca me deixava respirar, e enquanto isso ele
não tinha ninguém.
— E o seu pai?
Ele encolheu os ombros.
— Não faço ideia. Sempre fomos eu e minha mãe até que
fosse só eu.
— Outra família?
— Não.
— O que aconteceu depois que vocês foram separados? — A
mãe dele estava procurando por ele? Como ela poderia não tê-
lo encontrado? Ela tinha sofrido um acidente no caminho de
volta para ele?
— Fui para um orfanato.
— Por quanto tempo?
— Até envelhecer.
— Envelhecer?
— Quando completei dezoito anos e terminei o ensino
médio, para mim, foi o suficiente. Não que eu tivesse ficado se
pudesse.
— Então, você acabou de sair? — Aos dezoito anos eu estava
pronta para abrir minhas asas, mas Ezra foi chutado para o frio
sem um ninho para onde voltar se falhasse. As apostas eram
muito maiores para ele. Não havia rede de segurança. Eu olhei
para ele, com o coração doendo por ele ser o homem que se
tornou por conta própria sem a bolha protetora, sem mesmo
uma mão para lhe guiar. Ninguém com quem contar ou se
apoiar quando as coisas ficarem difíceis. Ele sempre teve que
fazer isso sozinho.
— Você quer saber por que eu dormi no Welcome Wagon
antes de vir para STFU?
Eu balancei minha cabeça com as alfinetadas de lágrimas
perfurando meus olhos, mas eu não ia chorar.
— Eu não tinha para onde ir. Eu quase não tinha dinheiro
depois de envelhecer. Apenas o suficiente para me levar ao
campus e então eu tive que me virar sozinho até as aulas
começarem.
— Por que você não me contou?
— Quem gostaria de ouvir isso? — Ele olhou para mim, pés
a centímetros das minhas pernas dobradas na minha frente. —
Aprendi há muito tempo que tirar a raiva de alguém era muito
melhor do que a pena de alguém. Ainda assim, eu não deveria
ter dito o que disse sobre Willow. Eu... quando se trata da
minha mãe, nem sempre consigo pensar direito. Isso me pegou
desprevenido e perdi a paciência, o que nunca quis fazer com
você.
— Eu gostaria de ouvir isso. Conhecer você. Não consigo
imaginar o quão difícil foi para você. — Deslizei pelo chão e
sentei ao lado dele. Tomando suas mãos, eu escovei meus dedos
sobre os calos e cicatrizes em seus dedos. — Você está sozinho
há muito tempo.
Minhas preocupações sobre estar horas longe da minha
família nem se comparavam. Por não ter ninguém, meu
coração se partiu pelo pequeno Ezra e doeu pelo que estava
sentado ao meu lado.
— Pelo menos, eu tinha futebol — disse ele com a voz rouca
e engasgada.
— Isso traz à tona um lado diferente seu.
Ele olhou para nossas mãos unidas, evitando meu olhar.
— É quem eu preciso ser para vencer. Você não gostaria desse
meu lado.
Sozinho, o futebol era sua escapatória. Era sua chance de uma
vida onde ele não teria que se preocupar em dormir ao ar livre
nunca mais.
— Eu amo tudo em você.
Ele estremeceu, finalmente encontrando o meu olhar com
um olhar atordoado e de pânico em seus olhos.
— Você não precisa...
— Eu também te amo. — Ele disse isso de volta como se
estivesse segurando, como um suspiro depois de prender a
respiração o máximo que pôde. — Provavelmente desde aquela
manhã você me trouxe o café da manhã.
Meu coração disparou, a felicidade enchendo meu peito e
sentindo como se fosse disparar da ponta dos meus dedos.
— Não foi nada de especial.
— Para mim foi. — Ele me puxou sobre ele até que eu estava
montada em seu colo com meus joelhos em cada lado de seus
quadris.
Inclinei-me para frente e o beijei. Meus lábios foram
devorados pelos dele até eu ficar sem fôlego.
Com seus braços apoiados nas minhas costas, o beijo se
transformou de terno a inebriante, sobrecarregando meus
sentidos.
Ofegante, pressionei minhas palmas contra seu peito para me
sentar.
— Ezra…
Ele me seguiu com seu corpo, só parando quando eu ri contra
seus lábios.
— Desculpe, eu me empolguei um pouco — disse ele
timidamente.
— Nenhuma reclamação minha. Passa a noite aqui.
Seu olhar disparou para a porta por cima do meu ombro.
— Você tem certeza? Você não está dizendo isso só porque
Walsh pode estar me esperando lá fora?
— Não, embora agora que você mencionou, seja ainda mais
motivo para você ficar. Quando você precisa voltar? — Eu
beijei seu pescoço, respirando-o, precisando estar mais perto
dele.
— Segunda-feira à tarde.
— Isso significa que eu tenho trinta e seis horas inteiras com
você. — Eu puxei sua camisa para cima.
— Eu estarei fedendo quando chegar minha hora de ir. Você
ficará feliz em me ver partir.
— Não se preocupe com isso. Eu trouxe algumas roupas para
você.
Ele se afastou com a mão na parte de trás do meu pescoço.
— Você o quê?
Inclinei-me, mas meus lábios apenas roçaram contra os dele.
Mãos pararam meus quadris.
— Há roupas na gaveta de baixo para você. Apenas alguns
moletons e jeans e algumas térmicas e camisetas.
Seus lábios me chamaram, mas suas malditas mãos me
seguraram no lugar longe deles.
— Você me trouxe roupas.
— Elas devem servir. Lembrei-me de todas as coisas que você
tinha e vi os tamanhos e imaginei que se você viesse novamente,
seria bom ter coisas aqui para você, já que é uma viagem tão
longa. — Eu me preparei para ele se ofender ou dizer que não
precisava delas, mas eu o convenceria a aceitá-las.
Ele me esmagou nele. Eu engasguei com a força, mas aceitei,
ainda mais depois de ouvir como as coisas tinham sido para ele
ao crescer. Seu coração batia forte contra o meu peito.
— Obrigado, Willa.
Passei meus dedos por seu cabelo, arrastando minhas unhas
ao longo de seu couro cabeludo.
— Não posso deixar meu namorado empestear o lugar.
— Você não ama o meu cheiro? — Sorrindo, ele me virou.
Eu gritei e agarrei para me apoiar, em vez disso, puxei meu
edredom e travesseiros da cama para nós dois.
A risada de Ezra estava enferrujada e rouca, mas mais livre do
que eu tinha ouvido antes.
— Adoro o teu riso. — Deitei no chão e escovei meus dedos
ao longo de sua mandíbula. As vibrações se chocaram contra
mim.
— Diga isso de novo.
Não precisa perguntar o quê. Seu olhar mergulhou no meu.
— Eu te amo.
— Você me mata, Willa. — Ele passou os dedos sobre a linha
do meu cabelo, fazendo cócegas na minha testa.
— Espero que apenas figurativamente. — Meu corpo inteiro
formigava.
Ele agarrou o cós da minha calça do pijama com as duas mãos
e arrancou com um movimento suave. O ar frio inundou meu
núcleo aquecido.
— Não posso perder mais um minuto sem estar dentro de
você.
Eu balancei minhas pernas debaixo de mim e fiquei de
joelhos, trabalhando rapidamente para desabotoar sua calça
jeans e puxá-la para baixo sobre sua bunda.
— Sente-se novamente.
Ele inclinou a cabeça para o lado, mas lentamente fez o que
eu pedi, sentando no ninho de cobertores que tinha caído da
cama. Com um brilho curioso nos olhos, ele esperou.
Eu me arrastei de volta para o colo dele. Minhas dobras
escorregadias corriam ao longo de seu comprimento duro e liso.
Suas mãos dispararam para meus quadris e ele assobiou.
Mordendo meu lábio para conter meu sorriso, balancei meu
corpo para frente e para trás, sempre mantendo o atrito entre
nossos corpos, mas provocando-o. A ponta grossa em formato
de cogumelo de seu pau roçou minha abertura antes de eu me
mexer e estremecer ao deslizar contra meu clitóris.
— Will, por favor.
— Você tem certeza de que está pronto?
— Claro que sim. — Ele moveu os lábios, tentando
contrariar minha evasiva brincalhona.
Inclinei-me para mais perto e escovei meus lábios contra os
dele.
— Você acha que eu estou pronta?
Como um relâmpago, dois dedos afundaram dentro de mim,
bombeando e provocando. Engoli em seco e meus joelhos
tremeram.
— Sem dúvida. — Sua voz tensa enviou faíscas ainda mais
afiadas ao longo da minha pele.
Levantando-me de joelhos, eu o alinhei com a minha entrada.
— Então, eu não quero privar nenhum de qualquer...
Suas duas mãos pararam ao meu lado quase me suspendendo
no ar.
— Preservativo — ele engasgou.
Eu congelei, o cérebro fervendo.
— Puta merda.
— Meus exatos pensamentos. — Sua risada balançou seu
aperto e sua cabeça cutucou meu clitóris. O prazer me pulsava.
Inclinei-me para trás e agarrei a gaveta da minha mesa,
derrubando tudo o que toquei no chão. Uma caixa de
preservativos saltou ao lado de sua panturrilha.
Com uma vasculhada, eu agarrei e rasguei, rolando o látex
sobre sua pele quente e lisa. Abaixo de mim, Ezra estremeceu e
seus dedos afundaram na minha bunda. Ele puxou os joelhos
para cima, o que me mergulhou em seu comprimento.
Meu suspiro foi engolido por um gemido. Cada terminação
nervosa explodiu com felicidade e plenitude de tirar o fôlego.
— Willa… — Ezra entrelaçou seus dedos com o cabelo na
base do meu pescoço e inclinou minha cabeça para seus lábios.
Uma dupla invasão competindo pelo meu prazer. Sua língua se
movia em conjunto com seu pau, ambos me deixando em um
frenesi. A batida pesada e molhada de nossos corpos uma trilha
sonora ilícita junto com meus gemidos engolidos. Eu lidaria
com o constrangimento da colega de quarto mais tarde. Agora
eu tinha um objetivo, fazer Ezra perder completamente o
controle.
O pico se aproximou. Cada roçar no meu clitóris enviava
correntes incandescentes através de mim. Gananciosa e carente
eu persegui o toque de Ezra.
Nossa investida desenfreada me atingiu com um orgasmo
com ferocidade intensa, me sufocando com um êxtase que
escureceu minha visão. Flashes brancos piscaram na frente dos
meus olhos e eu desabei no peito suado de Ezra, exausta e
ofegante.
Uma gota de suor escorreu pela minha nuca, a mão de Ezra
ainda em concha ali, me segurando perto como se ele não
pudesse acreditar que eu estava realmente ali com ele.
— Você me tem por mais trinta e cinco horas. — Seus lábios
roçaram a concha da minha orelha, sua respiração passou pela
umidade da minha pele.
— É melhor aproveitarmos ao máximo.
Abaixo de mim, seu peito retumbava de tanto rir.
Eu o apertei mais forte, tentando conciliar como o dia tinha
começado e onde estávamos agora. Levantando minha cabeça,
eu escovei um dedo da parte inferior de sua orelha até o centro
de seu queixo.
— Estou feliz que você veio hoje. Isso não deve ter sido fácil.
Seus dedos massagearam a base do meu pescoço.
— Nem de longe foi tão difícil quanto ficar sem você.
CAPÍTULO 30
EZRA

O final do semestre se aproximou. Mais perto de uma nova


temporada. Mais perto do último ano. Mais perto da nossa
última chance de vencer.
— Quantos caras você acha que vão na primeira rodada? —
Reid estava sentado com os cotovelos em ambos os joelhos, que
balançavam com tanta força que ele teria sorte se não desse um
soco na cara.
— Eu nem quero adivinhar e azarar ninguém. — Cole se
empoleirou na beirada do assento ao lado dele. — Pelo menos,
eles estarão livres de Mikelson.
Isso tirou todos nós do nosso foco por um momento.
Ninguém merecia se livrar de Mikelson mais do que Cole.
Sentei-me na frente da TV, dividido entre desligá-la e não
conseguir tirar os olhos da tela. O comentário se estendeu pelo
que pareceram horas. Então, a fanfarra finalmente começou.
Noite de recrutamento.
As luzes piscavam e as mesas redondas estavam cheias de
aspirantes ao draft. Todo mundo com um convite ganharia
uma vaga em algum lugar, fosse na primeira ou nas últimas
rodadas. A diferença entre a primeira e a sétima rodada era de
dezenas de milhões de dólares. A diferença entre nunca mais se
preocupar com dinheiro e esperar que seu corpo aguentasse o
tempo suficiente para pagar o castigo extenuante pelo qual seu
corpo passou, esperando que fosse suficiente para cobrir as
contas médicas quando você se aposentasse.
Tudo isso desapareceu quando outro motivo para continuar
assistindo apareceu na tela. Sob as bandeiras coloridas de cada
time e as luzes estroboscópicas, o rosto radiante de Willa
apareceu enquanto ela se sentava ao lado de Walsh, ambos
abraçados por seus pais. Ela estava linda e tinha me enviado
fotos dos vestidos que estava escolhendo. Eu gostaria de poder
estar lá naquela noite, não para a fanfarra ou para o draft, mas
para sentar ao lado dela e tê-la olhando para mim com emoção
em seus olhos.
O zumbido na casa estava abafado. Nem mesmo Hollis
estava comendo alguma coisa. Griff girou sua moeda entre os
dedos e ainda não tinha ido encher a tigela vazia de cereal que
estava no chão a seus pés.
Os nervos corriam sobre nós enquanto observávamos.
As comissões de futebol subiram ao pódio e anunciaram o
primeiro time e jogador. Não um dos nossos. Havia alguns
rostos familiares espalhados na multidão de recrutas em
potencial. Embora ainda não tivéssemos vencido o
campeonato nacional, chegamos mais perto do que a maioria
das equipes.
Eles chamaram um jogador da Fulton U. Aquele que amava
seus tênis ainda mais do que Griff, o que era demais.
Ninguém falou. Ninguém se mexeu, se alguém respirou, eles
mantiveram em segredo.
Em seguida, um nome da STFU que todos conhecíamos. Um
veterano correndo de volta. Nós disparamos. De fora, os
aplausos e a celebração chegaram até nós. Todo mundo estava
assistindo junto com a gente. E no ano seguinte eles estariam
assistindo para ver como nos sairíamos, se tivéssemos um
convite para o grande baile.
Outro jogador da Fulton U foi convocado e mais dois caras
da STFU. Isso nos acalmou um pouco. Uma temporada sem o
grande troféu não foi um desastre para nós. Contanto que nos
mantivéssemos juntos, assim como fizemos nesta temporada,
todos ainda poderíamos fazer isso. Eu abaixei minha cabeça e
entrelacei minhas duas mãos atrás do meu pescoço. A incerteza
e o caos acabariam em breve. Eu subiria naquele palco daqui a
um ano ou receberia uma ligação para uma rodada posterior e
tudo seria melhor, especialmente com Willa ao meu lado.
Mas isso não significava que não estávamos todos indo para
a vitória. Todos nós queríamos ser os únicos a quebrar a onda
de azar.
— Pelo menos, se perdermos na próxima temporada, isso
significará que Mikelson não terá outro troféu para sua
prateleira. — Hollis comeu da pilha de bolachas na palma da
mão.
Com o primeiro veterano da STFU chamado ao palco, a
tensão em meus músculos diminuiu. A perda não significou
que os jogadores da STFU foram bloqueados de boas vagas de
draft.
Peguei meu violão e movi meus dedos ao longo das cordas e
trastes, não tocando as cordas, mas observando vislumbres de
Willa sempre que eles tocavam para a multidão. Agora, sempre
que tocava, pensava nela. Como ela me pediu para tocar com
as pernas sobre meus joelhos em sua cama. Como eu toquei até
que ela adormeceu e ainda mais enquanto eu observava o
constante subir e descer de seu peito. Eu quase arruinei uma
coisa boa e não faria isso de novo.
A câmera parou na mesa deles. A cabeça de Willa se inclinou
para Walsh. Ela riu e empurrou seu ombro.
Ele riu também e fez cócegas no lado dela.
Um punho se apertou no centro do meu peito. Eu faria o que
fosse preciso para ter certeza de que não ficaria entre esse
vínculo. Ele a amava. Por como ele estava pronto para me
expulsar em mais de uma ocasião, eu sabia que ele a amava, e
mesmo que ele a irritasse, Willa o amava de volta.
Pelo menos não nos veríamos mais em campo – por mais
alguns anos, pelo menos.
O locutor construiu as escolhas de draft para cada equipe,
prolongando o suspense para o máximo efeito e
aborrecimento. Philly era o próximo. O time que eu vi crescer,
aquele em que eu fingia jogar quando era um garoto de onze
anos determinado a marcar mais um ponto em campo.
— Walsh Goodwin.
Sua metade da mesa explodiu em aplausos. Sorrindo e rindo,
eles o abraçaram, quase o derrubando.
Quem estaria na mesa por mim, torcendo por mim? Um
alçapão para o buraco no meu estômago se abriu. Eu não tinha
ninguém, mas podia rezar para que ainda tivesse Willa quando
chegasse a hora.
Ser profissional seria a única maneira de chegar ao nível que
Willa merecia. Demolir na faculdade era uma coisa, mas fazer
isso no mundo real era uma maneira totalmente diferente de
viver, e eu não faria isso com ela.
O jogador final foi anunciado, um tackle ofensivo de Ohio.
— Ezra, você vai ficar fora o verão todo? Que diabos é isso?
— Griff girou sua moeda nas costas de seus dedos.
— Talvez eu queira economizar dinheiro, não apenas gastá-
lo em cerveja neste verão.
— Parece chato. — Ele embolsou a moeda. — Por que você
ainda não pode ficar em casa?
— Se eu ficar no Kelland Estates, eles vão me pagar pelos
meus turnos mais uma taxa diária, mesmo que não tenham
nenhum evento naquele dia, o que cobrirá minha parte do
aluguel e me dará o suficiente para livros e comida no próximo
semestre. — Eu ficaria preso em um quarto de beliche por dois
meses, mas talvez eu tivesse sorte e conseguisse um único.
Descobrir os tiques estranhos do meu novo colega de quarto
adicionaria estresse extra ao verão inteiro, mas dinheiro era
dinheiro.
Willa estaria por perto, o que significava encontros. Eu
queria levá-la para sair. Uma noite em Pittsburgh ou em
qualquer outro lugar, talvez ir a algum lugar próximo para as
férias de primavera, e para isso eu precisava de dinheiro, então
trabalhar o verão todo e encontrar um lugar para me exercitar
para manter meu condicionamento físico era o que eu
precisava fazer. Espero que Willa entenda que eu estaria fora
por alguns meses. Ainda não tínhamos falado sobre nossos
planos de verão.
— Quando vamos conhecer sua garota misteriosa? — Cole
se levantou e esvaziou sua bebida.
Pelo menos, ele manteve a boca fechada por tanto tempo,
além disso, eu queria que eles finalmente a conhecessem.
— Em breve. — Eles a adorariam. Como não poderiam? Ela
era uma das melhores pessoas que eu conhecia. Talvez ela viesse
visitar antes do ano letivo terminar ou antes de eu partir para
Kelland. Alguns dias ou até uma semana sem aulas, trabalhos,
prazos ou práticas para me preocupar antes de ficar preso em
um quarto de beliche por dois meses longe dela.

— O verão já acabou? — A voz metálica de Willa escapou do


alto-falante do meu telefone sentado na borda da pia.
— Duas semanas não é muito tempo. — Abotoei a camisa do
uniforme, que mesmo recém-lavado ainda cheirava a salsichas
de coquetel. Embora eu tentasse minimizar nosso tempo
separados, eu sentia mais falta dela do que eu pensava ser
possível.
— Exatamente. Isso significa mais seis semanas até eu poder
vê-lo novamente. Walsh é um idiota.
— Como seu irmão levando você para as férias de verão faz
dele um idiota? — Eu ri, embora quisesse pensar o mesmo por
causa das férias de última hora que ele havia planejado para toda
a família, o que me fez um idiota ainda maior do que ele.
— Ele fez isso porque sabia que eu estava planejando passar
o verão com você. — Ela não tentou manter o aborrecimento
longe de sua voz.
— Você prefere ficar comigo trabalhando o verão inteiro em
vez de uma viagem literalmente de volta ao mundo?
— Sim. — Sua resposta imediata ampliou meu sorriso.
— Aproveite o tempo com sua família. Tudo o que estou
fazendo é empurrar bandejas de bufê cheias de hors d'oeuvres12
caríssimos e servir garrafas de bebida ainda mais caras para essas
pessoas ricas.
— Você sabe que eu poderia dar…
— Eu não quero seu dinheiro, Willa. Vou trabalhar pelo
dinheiro que preciso para o próximo ano letivo. — Além disso,
ficar preso em férias com a família e com seu irmão não seria

12
Um hors d'oeuvre, aperitivo ou entrada é um pequeno prato servido antes de uma refeição
na cozinha europeia. Alguns aperitivos são servidos frios, outros quentes. Hors d'oeuvres
podem ser servidos na mesa de jantar como parte da refeição, ou podem ser servidos antes do
assento, como em uma recepção ou coquetel.
bonito. Uma vez que estivéssemos longe do calor da batalha no
campo, poderíamos chegar a uma trégua desconfortável, mas
agora não era a hora. E a última coisa que eu queria fazer era
que o irmão dela desse um soco em mim e não fosse capaz de
me impedir de espancá-lo até virar uma polpa sangrenta.
Não é exatamente o tipo de memória que eu estava tentando
criar com Willa.
Sua voz abafada foi seguida por um suspiro.
— Vamos almoçar agora.
— Divirta-se.
— Eu sinto sua falta. Te amo. — O jeito leve e arejado com
que ela disse isso ainda não havia diminuído a nitidez da
palavra. Uma fatia de felicidade. Brilhante, bonito e agridoce.
— Amo você também.

Minha cabeça latejava como se eu estivesse feito exercícios de


suicídio durante a manhã inteira sem água. Eu conhecia a
sensação porque Mikelson nos fez fazer isso durante meu
primeiro ano. Mas eu precisava chegar ao trabalho em algumas
horas. Se eu me movesse devagar, talvez eu pudesse ficar de pé
quando meu turno começasse. A pressão atrás do meu olho
tornou difícil ficar sob as luzes baixas no banheiro.
Depois de jogar água no rosto, desabei na cama.
Um evento de noivado havia tomado conta de toda a
propriedade. Normalmente, as pessoas vinham para um único
evento específico, mas este era quase 24 horas por dia. O café
da manhã terminou depois do meio-dia enquanto os caras de
mocassins sem meias riam e trocavam dicas sobre ações
enquanto as mulheres bebiam mimosas como se fossem ser
proibidas por lei amanhã.
Aborrecimentos como esse geralmente passavam, mas ter seu
crânio partido ao meio tinha uma maneira de matar a paciência
de qualquer um.
Ao lado da minha cabeça, meu telefone vibrou. Uma
chamada. Sem olhar, eu respondi. Não importa o quanto eu
estivesse sofrendo, ouvir a voz dela ajudaria.
— Ei. — Forcei minha voz para fora, mantendo-a firme para
que ela não se preocupasse. — Como foi o jet ski?
— Ezra? O que há de errado? — ela disse, urgência
atravessando sua voz.
Tanto esforço para conseguir disfarçar nada.
— Nada está errado.
— Eu posso ouvir pela sua voz. Você está doente? Você iria
trabalhar hoje?
— Em algumas horas. É só uma dor de cabeça.
As vozes ao fundo se aquietaram.
— Ezra não está bem? — A voz de sua mãe veio de mais longe.
— Ele disse que está com dor de cabeça. — Willa falou fora
do alto-falante.
— Ezra? — Sua mãe pegou o telefone.
— Oi, Lea. Como está Nápoles?
— Você está com febre?
Eu empurrei minha mão contra minha testa, não que eu já
tivesse sido ótimo em descobrir isso antes. Normalmente, eu
caía na cama e dormia por um dia inteiro, acordava e percebia
que provavelmente estava muito doente.
— Não?
— Você tem um termômetro por perto?
— Não que eu saiba.
— O que mais você está sentindo? Aqui, deixe-me colocá-lo
no viva-voz. Dan, como ele parece?
A inquietação da minha fraqueza sendo transmitida foi
ofuscada pela preocupação em suas vozes.
— Eu estou bem, realmente. É…
— Você não deveria ir trabalhar — Dan interrompeu com
preocupação paternal que provavelmente terminaria a
discussão de Willa ou Walsh, mas eu não era um de seus filhos.
Perder um dia significava que eu não seria pago pelo turno
ou pela diária.
— Eles precisam de mim.
— Eles deveriam ter planejado melhor, mas entendemos
porque você seria vital em qualquer equipe. — A voz irritada
de Lea amenizou o elefante que sambava na minha testa por
alguns segundos. — Você tem algum ibuprofeno? Talvez tome
isso e descanse até a hora de ir. Tome uma sopa ou chá. Eu
gostaria que pudéssemos estar aí.
Porra, isso me atingiu como uma marreta diretamente no
peito. Com que facilidade os pais de Willa entraram no modo
parental. Eu tive vislumbres disso, mas quase nunca para mim.
A preocupação de um treinador para ter certeza de que eu
estava em campo para o próximo jogo ou treino. Ser levado ao
médico quando criança quando fiquei muito doente por quem
estava encarregado de mim na época. Mas geralmente isso era
acompanhado de aborrecimento. Foi difícil lembrar esse tipo
de cuidado vindo da minha própria mãe.
Minha garganta parecia prestes a desmoronar.
— Eu posso conseguir alguns. Eu vou ficar bem.
— Você est…
— Ele disse que estava bem. — A voz de Walsh explodiu
através da nuvem de preocupação do outro lado. — Temos
ingressos para shows. Vamos deixá-lo incomodar outra pessoa.
Sua voz cortante disparou a adrenalina, que corria por mim e
empurrava outro pico em meu cérebro. Minha guarda estava
levantada, pronto para lhe dar um golpe, embora estivesse a um
oceano de distância.
— Walsh! — Willa pulou e seus pais fizeram barulhos de
desaprovação. — Walsh está sendo um idiota, mas eu quero
que você descanse um pouco, ok?
— Sim, eu irei. — Ainda aceso pelas palavras de Walsh, deitei
e tentei dormir, mas a dor na minha cabeça aumentou.
Depois de adormecer por algumas horas, rolei para fora do
meu beliche ao som dos outros ao lado se preparando. O latejar
atrás do meu olho não tinha ido embora.
Cinco horas após o início do meu turno, o latejar se
transformou em um bombear e cada minuto se arrastava como
se eu estivesse andando por meio metro de lama. Cada
movimento exigia um esforço conjunto para me manter de pé.
Peguei uma garrafa de champanhe, a abri e estremeci com o
estouro afiado mal abafado pelo guardanapo de pano enrolado
na abertura.
— Você parece uma merda. — Sammy me entregou uma
toalha para enrolar no gargalo da garrafa.
— Obrigado.
— Tem certeza que vai fazer o turno?
— Temos dias de doença? — Eu nivelei meu olhar para ele.
Ele me passou uma bandeja de copos que eu rezei para não
derrubar no chão ao meu primeiro passo.
— Hoje não. Se eu pudesse poupá-lo, eu o faria, mas pense
nas horas extras.
E eu estava, é por isso que eu não disse foda-se.
Mas meu dia foi de mal a boca do inferno quando Berkley
Vaughn entrou na sala como se possuísse o lugar. Fulton U me
assombrava, não importa aonde eu fosse. O que diabos eu tinha
feito para esses idiotas?
Vaughn tinha uma linda morena no braço e parecia que não
tinha nenhuma preocupação no mundo. Por que ele estaria em
um lugar como este cheio de pessoas que ganhavam o salário de
um jogador profissional em uma semana de day trading? O ano
das essas garrafas de champanhe que eram abertas sem parar
gritava como as carteiras eram gordas neste lugar.
Meu punho apertou o gargalo da garrafa que despejei,
espirrando álcool na bandeja. Eu estava me esforçando para
pagar o aluguel enquanto ele estava se acotovelando com
agentes esportivos.
O agente, Felix, e Vaughn pareciam além de amigáveis. Felix
era o tipo de agente astuto que fazia todo tipo de promessa, mas
aprendi que tudo tinha um custo e não estava disposto a
arriscar meu futuro por dinheiro rápido.
O estalar de dedos era como rasgos além das órbitas dos meus
olhos. Ao lado de Vaughn e do agente, um cara de mocassins
balançou seu copo vazio para mim.
Eu preciso do dinheiro. Repeti a frase baixinho e colei em um
olhar neutro. Meu olhar disparou para Vaughn que estava de
costas para mim.
O rosto do Cara de Mocassim caía a cada passo que eu dava
em direção a ele. Talvez eu não tivesse tido tanto sucesso em
manter as coisas não tão ameaçadoras quanto pensava.
Ele me encarou sem piscar, como se tivesse visto um
fantasma. Os músculos de seu pescoço flexionaram e apertaram
descontroladamente e sua mão tremia enquanto eu servia o
champanhe.
Por cima do meu ombro, o agente falou alto, transmitindo
sua conversa.
— Sei como as coisas podem ser difíceis para vocês jogadores
com todas as regras da NCAA, mas por acaso conheço mais de
um time que conseguiu ajudar jogadores como você. Talvez
você esteja sob um olheiro em algumas férias de primavera ou
de verão antes do início da temporada.
Eu tive um deslize e derramei a bebida no punho de
Mocassim.
Ele fez um barulho antes de olhar para mim e fechar os lábios.
Olhei por cima do ombro.
— Ligue para mim e eu posso fazer isso acontecer. — O
agente deu um tapinha no ombro de Vaughn e foi embora.
Eu me virei, bati meu ombro direto em Vaughn e marchei
para fora. Minha cabeça latejava e minha pele parecia estar
vibrando longe dos meus ossos. Eu fiquei preso aqui o verão
todo me esforçando para juntar dinheiro para viver e Vaughn
estava sugando os ricos impulsionadores e agentes por dinheiro
debaixo dos panos enquanto bebia champanhe.
A placa de saída brilhante guiou minha fuga. Eu irrompi
pelas portas e escapei para o ar úmido do verão.
Eles ganharam o campeonato, tinham um treinador que dava
a mínima e não precisavam se preocupar com merda nenhuma.
A pesada garrafa se estilhaçou contra a parede de pedra. Olhei
para minha mão agora vazia.
— Merda. — Voltando para dentro, peguei a vassoura e a pá
e limpei o vidro quebrado.
A determinação rugiu através de mim. Este ano eu
finalmente faria uma pausa. Eu pararia de esperar que eles
viessem até mim e tivesse que fazer isso eu mesmo. Isso
significava ser o homem que Willa achava que eu era fora do
campo, e no campo eu não seria nada além de implacável.
Ela nunca teve que ver esse meu lado, mas a única maneira de
dar a ela a vida que ela merecia era nunca deixar ninguém ficar
no caminho.
CAPÍTULO 31
EZRA

— Vocês não vão foder esta temporada para mim novamente


— Mikelson latiu de seu poleiro à margem. De óculos escuros,
uma polo de marca e segurando sua prancheta, ele gritou e
gritou até aquela veia em seu pescoço latejar. — Cada um de
vocês pensa que é intocável. Vamos ver como vocês sentem
mais algumas voltas. Uniforme completo.
Todos eram mais espertos do que deixar escapar um único
gemido. Mikelson esperou, sem uma gota de suor sobre ele, e
olhou para todos nós com desdém.
— Foi isso o que eu pensei. Mostre-me que você quer seu
lugar neste time ou eu vou encontrar outra pessoa com o
coração para fazê-lo. — O que ele sabia sobre coração?
Multidões de jogadores com ombreiras barulhentas decolaram
em um enxame.
Depois do que aconteceu com Cole, eu nem tinha certeza se
ele era humano, mas eu tinha visto um monte de adultos de
merda ao longo da minha vida. Mesmo com tudo isso, eu não
conseguia imaginar minha mãe me tratando do jeito que
Mikelson tratava seu próprio filho. Talvez minha mãe às vezes
estivesse com raiva ou desorientada, mas ela nunca olhou para
mim com os olhos cheios de ódio.
Como fizemos em todas as outras temporadas, nós
aguentamos. Era meu último ano antes de ter a liberdade que
nunca pude imaginar. Tempo de conseguir ou desistir e eu não
desistiria.
Depois do verão, até o cansaço profundo e as dores
musculares eram bem-vindos. A nova temporada estava quase
chegando, mas, o mais importante, Willa estava aqui. Ela
desembarcou hoje, então mesmo que tudo isso fosse uma
droga, era um meio para um fim, depois que tudo acabasse eu
finalmente conseguiria beijá-la pela primeira vez em oito
semanas.
O treinador Henley se moveu ao meu lado, a pólo
encharcada de suor agarrado ao peito.
— Vamos, defesa. Vocês conseguem fazer isso, daí vocês
podem tomar banho. — Ele correu conosco. De todos os
treinadores, ele tinha o respeito da maioria da equipe. Mikelson
tinha nosso medo e nos submetemos à sua autoridade, mas
ninguém na equipe que fez mais do que uma temporada tem o
respeito por ele intacto.
— Henley — Mikelson gritou da lateral meia volta.
Henley se separou do bando e voltou para enfrentar seu
destino. A comissão técnica não sofria tão menos do que os
jogadores, pelo menos não mentalmente.
Meus protetores e uniformes cobertos de suor esfolavam
meu pescoço e ombros.
— Se o treinamento de campo é o décimo segundo círculo
do inferno, como será esta temporada? — Griff bufou ao meu
lado. Ele não estava tão machucado se estava falando.
— Não importa. Temos que vencer esta temporada.
— Como se não estivéssemos tentando fazer isso nas últimas
três temporadas.
— Tenho que me esforçar mais. — A única maneira de
garantir uma vaga no draft era vencer o campeonato nacional.
Outros jogos de bowl deram a chance de sermos vistos e
chamarmos a atenção de uma equipe profissional, mas os
holofotes do campeonato brilharam intensamente.
— Desde que não percamos para a Fulton U novamente este
ano.
— Desde que não percamos. — Meus músculos arranharam
minha carne por dentro, buscando alívio. Cada treino de
primavera era uma tortura, exatamente como Mikelson havia
prometido. Não lhe dar a vitória que ele queria na última
temporada era cuspir na cara dele – de acordo com ele.
Defender um dos nossos sobre ele foi um chute no saco. Ele era
outra pessoa temporária distribuindo dor temporária. Eu
poderia suportar, eu já tinha lidado com isso antes.
— Vamos trabalhar, Griff.
Ele gemeu, mas manteve o ritmo ao meu lado.
Durante grande parte da minha vida, eu estive com babacas
maiores do que Mikelson, pessoas realmente terríveis. Ele não
era um santo, mas ele não estava nem entre as cinco piores
pessoas que eu tive a má sorte de estar por perto por longos
períodos de tempo. Ele era um meio para um fim. A chave para
finalmente desbloquear um futuro não cheio de ir para a cama
com fome, sem saber onde eu estaria dormindo em um ano, ou
pior.
Assim ele poderia fazer birras, jogar cadeiras, eu seria mais
rápido na esquiva e nunca deixaria ele me ver suar. Eu não
podia. Eu não tinha escolha. Não há futuro sem futebol.
Eu cambaleei para o vestiário, pernas moles, músculos
fatigados. Eu precisaria congelá-los quando chegasse em casa.
Talvez pegar o rolo de espuma se eu estivesse pronto para a
tortura. O suor escorria pelo meu rosto, deixando um rastro no
tapete do vestiário que cresceria quando a outra metade do
time arrastasse suas bundas para fora do campo. A equipe de
equipamentos trabalhava horas extras para impedir que o local
cheirasse a suor velho.
No meu assento acolchoado com meu nome na parede,
arranquei meus protetores, precisando respirar. Dentro da
minha bolsa aberta, minha tela se iluminou. Uma mensagem
piscou na tela. Meu coração ainda acelerado acelerou.
Willa: Estou de volta. Eu não posso esperar para ver
você. Você quer vir para a casa de Maggie? Quero dizer,
meu apartamento?
Eu: Não, venha para a minha casa.
Peguei uma toalha e enxuguei meu rosto e pescoço
encharcados.
Willa: Sério? Tem certeza?
Eu: 100%
Ela estava aqui. No campus depois de todas essas semanas
fora. Este verão se arrastou ao estar longe dela. Nenhuma visita
a Maggie, nas quais eu poderia passar alguns momentos com
ela. Eu não tinha me permitido sentir muito a falta dela até este
momento. Eu emparei meu coração novamente, tentei evitar a
dor da saudade, mas uma mensagem chutou fora as amarras e
eu precisava vê-la como eu precisava respirar.
Willa: Ok, te vejo lá.
Minutos. Isso era tudo o que me separava de vê-la. Tocá-la.
Com uma rápida olhada na minha bolsa, eu disse que se dane.
Eu não me incomodei com o chuveiro.
— Já terminou? — Hollis caminhou até seu cubículo perto
do meu e esfregou uma toalha no rosto.
— Sim. — Deixei por isso mesmo, peguei minha mochila e
corri para fora da instalação como se não tivesse dado voltas
completas há menos de trinta minutos.
Mas havia ainda mais motivação agora.
Eu joguei minhas malas na parte de trás do carro e o coloquei
no Drive antes que minha porta fosse fechada. Eu fiz as curvas
como se estivesse em uma corrida de Fórmula 1 e meu coração
disparou no meu peito. Quase dois meses era muito tempo.
Fazia menos de um ano que a conheci e já parecia que não
poderia não estar com ela.
Além disso, ela voltou. Eu esperava que em algum momento
durante o verão suas mensagens parariam. Que ela ficaria
ocupada com sua família ou seu irmão chegaria até ela, então
minhas mensagens não teriam resposta, mas nós ligávamos e
mandávamos mensagens de texto todos os dias. Acordar com
sua mensagem de bom dia tornou todos os dias um pouco mais
fáceis. Tornou tudo com o que eu tinha que lidar um pouco
menos assustador.
Uma figura estava sentada no degrau da frente que levava à
varanda. Eu mal coloquei no Park antes de sair do carro e correr
em direção a ela.
Ela apareceu com um sorriso brilhante como o nascer do sol
que me atingiu com força. Apertou meu coração de uma forma
que eu não odiei.
— Desculpe, estou loucamente suado. — Ainda a passos de
distância, eu desacelerei. Porra, eu estava uma bagunça nojenta
agora.
Ela se jogou em mim. Seu corpo bateu no meu, esmagando-
me. Suas mãos estavam plantadas nas laterais do meu rosto
como se houvesse alguma chance de eu me virar.
— Você acha que eu me importo? — Seus lábios estavam nos
meus, famintos, ansiosos, incrivelmente doces.
Eu mergulhei e agarrei suas pernas, envolvendo-as em volta
de mim. Minhas mãos espalmaram sua bunda, querendo que
estivéssemos ainda mais perto.
— Eu senti tanto sua falta. — Ela disse as palavras entre
beijos. Palavras que eu nunca tinha ouvido de ninguém antes.
— Também senti sua falta. — Eu a abracei forte. A pressão
dos meus lábios, famintos e ferozes nos dela, não a fez recuar,
se alguma coisa aumentou sua urgência. Mas estávamos na rua.
Ela tentou soltar as pernas, mas eu as mantive apertadas ao
meu redor.
— Coloque-me no chão.
— Não até que seja na minha cama.
Sua risada enviou arrepios na minha espinha.
— Eu gosto desse compromisso. Nesse caso, upa, upa,
cavalinho. — Ela cutucou minha bunda com os calcanhares.
Tudo parecia mais fácil quando ela estava perto de mim.
Tudo parecia possível, como se todas as coisas ruins do meu
passado e qualquer besteira que tivesse sido dirigida em minha
direção se desviassem com um sorriso brilhante dela.

Nós dois acabamos de tomar banho, mas nem de longe


saciados, eu segurei Willa, querendo prolongar esse momento.
Nada tão bom durava, mas eu era teimoso em não querer deixar
ir.
— Ficaremos um ano inteiro juntos. — Seu corpo nu
pressionado contra o meu era melhor do que qualquer
fisioterapia pós-treino conhecida pelo homem. Ela passou os
dedos pelo meu estômago, me fazendo cócegas.
Apertei meu punho ao meu lado, travando meus músculos,
e a deixei brincar. Teríamos mais do que isso, se eu não
estragasse as coisas.
— Muitas festas.
— Muitas festas do pijama. — Ela rastejou em cima de mim
e massageou meus peitorais.
— Como Maggie vai se sentir sobre isso? — Corri minhas
mãos ao longo de suas coxas.
— Ela provavelmente vai me trancar de vez em quando.
Eu ri, sacudindo-a.
— Então, eu vou ficar devendo a ela. — Uma vez que meu
primeiro cheque gordo chegasse, Maggie seria a segunda na
minha lista para conseguir o que diabos ela queria depois de me
dar o telefone e cuidar de Willa.
Um alerta de texto abafado parou o balançar do quadril de
Willa.
— Ugh, é o Walsh.
Lá se foi minha ereção.
Willa deslizou de cima de mim e jogou nossas roupas sujas
emaranhadas de lado antes de pegar seu telefone debaixo da
minha boxer. Seus lábios franziram e ela suspirou. Ela bateu na
tela com o polegar e revirou os olhos.
— Tudo certo?
— Apenas Walsh sendo Walsh. — Ela deixou cair o telefone
ao meu lado e subiu de volta em cima de mim. — Quando seus
colegas de quarto estarão em casa? — Ela se apertou contra
mim.
Ereção de volta ao jogo.
— Estou surpreso que eles ainda não voltaram. — Eu gemi.
Ao meu lado, seu telefone vibrou e emitiu um tom de
notificação que era uma broca direto para o meu crânio, mas
principalmente por causa de quem estava do outro lado.
Ela aumentou seu balanço e moagem, deslizando sobre a
cabeça do meu pau.
As notificações aumentaram. Vibrações e a borda dura do
telefone se alojaram em uma nervura.
Com um ruído descontente, ela pegou o telefone e, em vez
de digitar outra mensagem, levou-o ao ouvido.
— Eu disse que estaria de volta às três. — Com uma precisão
enlouquecedora, ela girou os quadris e olhou para mim com
um sorriso provocante.
Agarrei suas pernas para acalmá-la, mas seu sorriso se alargou.
— Tudo bem, estarei aí em meia hora. — A sensibilidade da
cabeça do meu pau disparou quando ela balançou contra mim
novamente. — Não... — Ela parou de se mover. Uma bênção e
uma maldição.
A voz abafada de Walsh tocou no telefone.
Willa caiu em cima de mim, não com a provocação, mas com
a derrota.
— Tudo bem, estou a caminho. — Ela balançou uma perna
minha. — Você não tem outro lugar para estar? Eu disse que
vou. — Encerrando a ligação, ela o largou na cama e voltou para
a pilha de roupas. — Walsh mudou as reservas do jantar com
nossos pais, então ele precisa de mim lá agora. Eu sinto muito.
— De pé nua, ela olhou por cima do ombro e pescou roupas de
sua bolsa.
— Não é sua culpa. Você quer que eu te leve?
— Você precisa descansar depois do treino.
— Você não estava pensando nisso com sua imitação de
vaqueira mais cedo.
Sua risada saiu como um latido.
— Uma garota tem necessidades. — Ela vestiu o sutiã, vestiu
o vestido levemente amassado e puxou-o para cima.
— Deixe-me levá-la. — Eu coloquei meu jeans. Pisando atrás
dela, beijei sua nuca antes de puxar o zíper do vestido para cima
e apertá-lo.
— Eu queria conhecer seus colegas de quarto. — Ela cobriu
minha mão ainda em seu pescoço com a dela. Seu olhar
procurou o meu por cima do ombro.
— Você irá. — Eu queria isso também. Era igualmente
assustador e orgulhoso como o inferno exibi-la. — Nós temos
tempo. Agora, vamos levá-la de volta ao seu apartamento.
— Tem certeza? Você sabe que meu irmão estará lá, não
sabe?
— Nós seremos obrigados a nos ver pessoalmente
eventualmente. Pelo menos com seus pais lá, não será tão ruim.
— Eu não ia deixar Walsh estragar essa reunião.
Ela olhou para mim e esfregou o nariz contra o meu.
— Ok. Eles ficarão empolgados em ver você.
Talvez uma parte minha também quisesse vê-los. Seus check-
ins durante alguns dos telefonemas de Willa provavelmente
significaram mais para mim do que deveriam. Talvez Walsh e
eu pudéssemos deixar nossa amargura em campo para trás.

Nós não pudemos. Desde o momento em que cheguei com


Willa em seu apartamento, Walsh me observou como se
estivesse a um segundo de quebrar meu nariz.
Através dos abraços de Lea e Dan, ele me olhou fixamente, o
que me deixou no limite.
Caminhei até ele e estendi minha mão.
— Parabéns pelo recrutamento.
Ele olhou para a minha mão e de volta para mim. Com o
corpo rígido, preparado para receber uma investida, ele cerrou
os punhos ao lado do corpo.
A ameaça perfurou fundo no meu crânio e começou um
estrondo no meu peito. Lutando por dentro, tentei reprimir os
sentimentos. Aqui não. Não fora de campo. Não na frente de
Willa e de seus pais.
— Você não deveria estar aqui.
— Walsh! — Um coro de indignação irrompeu entre as três
pessoas às minhas costas.
— Ele não deveria. — Ele olhou por cima do meu ombro
antes de voltar seu olhar afiado para o meu.
Eu apertei minhas mãos atrás das costas e me esforcei para
manter o controle.
— Willa, está tu…
— Não, não está. — Ela se colocou entre nós – de novo. —
Walsh, Ezra significa muito para mim e ele vai ficar por aqui
por muito tempo. Você precisa superar isso. Deixe no campo
essa rivalidade.
Lea e Dan o chamaram de lado e conversaram com ele em voz
baixa antes de me convidar para jantar com eles.
Eu apreciei que nunca houve um momento em que eu me
senti indesejado por eles, mas mais tempo ao redor de Walsh
seria um erro. Batê-lo traria um final sólido para suas visitas e
sua confiança em mim, então eu desisti.
Do lado de fora, segurei a mão de Willa enquanto Walsh ia
pegar o carro.
— Estamos tão felizes por você estar tão perto, Ezra. E
sentimos muito por Walsh. Não sei o que deu nele. — Lea deu
um tapinha no meu ombro.
— Estamos em lados opostos da linha de scrimmage13 há
muito tempo.

13
A linha de scrimmage é uma linha imaginária transversal que corta o campo e se posiciona
entre a linha defensiva e a linha ofensiva, e os times não podem ultrapassar essa linha antes do
começo da jogada.
— Não é desculpa. Tem certeza de que não quer vir conosco?
Walsh estará se comportando melhor — Dan assentiu
definitivamente como se um olhar severo fosse enterrar três
anos de brutalidade em campo.
— O treino de hoje foi difícil, preciso dormir um pouco.
— Então, não vamos mantê-lo. — Lea deu um tapinha no
meu peito de forma tranquilizadora. Como deve ter sido ter
uma mãe como ela? Mesmo a minha nunca tinha sido assim.
Talvez ela pudesse ter sido assim se tivéssemos encontrado um
lugar permanente para morar e ela encontrasse um emprego
estável.
Walsh parou no meio-fio em um carro alugado caro e
brilhante. Ele me encara pela janela aberta do lado do
passageiro.
Dan abriu a porta traseira para Lea e Willa antes de entrar no
banco da frente ao lado de Walsh.
— Vejo você em breve. — Willa pressionou um beijo casto
contra meus lábios.
Walsh tocou a buzina e eu queria arrancar suas malditas
mãos.
— Sim, você irá.
Ela entrou no carro.
— Tchau, Lea. Tchau, Dan. Ótimo vê-lo novamente, Walsh.
— Acenei para o carro, que disparou pela entrada circular em
frente ao prédio de Maggie.
A pontada mesquinha não estava ajudando as coisas, mas eu
seria amaldiçoado se deixasse sua hostilidade em relação a mim
arruinar uma coisa boa. Eu mesmo já fui bom o suficiente nisso
no passado, não precisava de nenhuma ajuda extra. Mas o
problema de Walsh pode se tornar um problema maior se ele
não puder deixar nosso tempo em campo para trás.
CAPÍTULO 32
WILLA

— Maggie, a que horas você estará em casa esta tarde? — Raspei


o último dos meus ovos mexidos do prato para a minha fatia de
torrada com manteiga e enfiei na boca.
— Minha última aula é às três. Você precisava de mim para
buscá-la? — Ela arrumou a parte de trás do brinco.
— Não, eu posso andar ou pegar o ônibus. — Peguei minha
mochila do chão, cheia de cadernos novos e livros enormes.
Ela passou os braços em volta de mim por trás.
— Eu não posso acreditar que você está realmente aqui. Tipo
morando comigo. Dormindo aqui todas as noites. Ajudando-
me a comer toda a comida do meu freezer.
— Espere até que estejamos brigando pelo banheiro, então
você verá se foi ou não um erro me deixar morar com você.
— Nunca um erro. Este lugar não será mais tão quieto. — Ela
pegou alguns ovos mexidos da panela em seu prato.
— Uma vez que Walsh e meus pais misteriosamente decidam
encontrar um local de férias nas proximidades, você estará
cantando uma música diferente.
— Walsh pode ficar no meu quarto se precisar. — Ela
gorjeou com a boca cheia de comida.
— Nojento, cara. E você tem ovo no cabelo.
Ela franziu o rosto e tentou localizá-lo.
Voltei e arranquei as mechas amarelas de seu cabelo e
coloquei minha mochila.
— Vejo você para o jantar.
— Até logo, tenha um ótimo primeiro dia.
Marchando em direção ao elevador, os nervos se apertaram
no meu estômago. Faculdade nova. Novos professores. Um
novo campus. Era a primeira vez que eu ia a uma escola que
Walsh não tinha ido, onde ele me dava o resumo ou ficava
comigo no primeiro dia. Assustador e desconhecido, parecia
meu primeiro dia de faculdade novamente.
No saguão, verifiquei a hora. Três minutos até o ônibus
chegar.
Saí pelas portas principais em direção ao ponto de ônibus e
parei, mas minha mochila gigante não parou e eu tropecei.
Ezra encostou-se na lateral de seu carro estacionado na pista
de desembarque em frente ao prédio. Em uma camiseta e seu
boné, ele estava todo musculoso e com jeans bem ajustados. A
maioria das pessoas passava correndo como se não quisesse
cutucar o urso, mas eu sabia o quão bons eram os abraços
daquele urso. Eles que perdem.
Corri até ele.
— O que você está fazendo aqui?
Ele tirou o boné e arrancou minha mochila do meu ombro
como se fosse leve.
— Você não achou que eu perderia seu primeiro dia de aula,
achou?
— Não é seu também?
— Minha primeira aula é só ao meio-dia. — Ele abriu minha
porta.
Dei um passo à frente e o beijei.
— Você sabe que eu te amo, certo?
Sua mão acariciou a parte de trás do meu pescoço em seu jeito
suave e envolvente que parecia que ele nunca queria me deixar
ir.
— Mais do que você sabe.
Os nervos derreteram.
— Você não precisava me levar.
— Eu sei. — Ele fechou a porta e correu pela parte de trás do
carro antes de entrar.
Quando ele olhou para mim, as vibrações estavam de volta
por razões totalmente diferentes. Tudo era absolutamente
perfeito. Eu nunca antes me deixei chegar perto desse
sentimento. Parecia perigoso, convidando o pior, mas agora só
parecia que as coisas continuariam melhorando.

Eu mexi no meu cabelo, verificando-o pela nona vez usando


meu telefone desde que a viseira do Ezra estava em falta.
— Eles vão te amar. — Ele se inclinou e deu um beijo no lado
do meu rosto.
Saímos do carro e olhei para a casa em que estive apenas
algumas vezes antes. Só que desta vez não estava vazia. O cheiro
de carne grelhada enchia a rua. Todos estavam de volta e
entrando na rotina do campus.
Ezra estendeu a mão para mim na calçada. Seu sorriso
reconfortante não era tão fácil quanto era quando estávamos
sozinhos.
Eu não era a única ansiosa aqui. Eu deslizei minha mão na
dele e esperei que não estivesse muito suada. Havia muitas
novidades de uma só vez. Deixando a casa da minha família,
uma faculdade totalmente nova para conhecer e agora os
amigos do meu namorado.
Por favor, não deixe que eles me odeiem. Eu estava ocupando
muito tempo de Ezra. Suas viagens pelo estado provavelmente
não passaram despercebidas.
Em vez de passar pela porta da frente, ele caminhou pela
lateral. Ele empurrou o portão de madeira frágil com ripas
inclinadas e me guiou por baixo do braço antes que ele se
fechasse.
Vozes e música chegaram até nós dos fundos da casa. Cruzei
os braços sobre o peito e me abracei, tentando acalmar meus
nervos nervosos.
Viramos a esquina. Havia quatro rapazes e duas moças. Os
caras que eu reconheci da equipe. Um quarterback e três
atacantes.
Havia uma mesa dobrável com garrafas de ketchup e
mostarda, uma pilha de pães de cachorro-quente e hambúrguer
e duas bandejas de alumínio – uma com carne crua e outra
cozida.
— Ei, pessoal, esta é a minha namorada. — Ezra limpou a
garganta e apertou o braço em volta da minha cintura, me
segurando perto dele como se estivesse preparado para me
pegar e correr comigo se eles começassem a jogar condimentos
em nós.
Mas eles não o fizeram.
Silêncio atordoado soou em meus ouvidos. Seis pares de
olhos nos encararam com bocas em vários estágios de choque.
Então, todos eles ganharam vida de uma vez. As vozes se
sobrepuseram. Braços foram lançados ao meu redor, de Ezra,
de ambos. Fomos empurrados e espremidos sob a enxurrada de
excitação.
— Você está sufocando ela. — Ezra me puxou contra ele e
estendeu o braço na nossa frente.
— Estou bem. — Acariciei seu peito para acalmá-lo. — É um
prazer conhecer todos vocês. Eu sou Willa.
Seus dedos beliscaram um pouco na minha cintura. Ele fez
uma cara corajosa para mim no carro, mas os nervos fluíram
dele em ondas suaves.
— Oi, Willa. — Eles falaram em uníssono.
— Eu sou Cole e este é Kennedy. — O cara de cabelos escuros
apontou para a mulher deslumbrante ao lado dele que parecia
ter saído de um catálogo casual de verão. — Este é Reid e Leona.
— O casal acenou para mim em uníssono.
— Esses dois são Griff e Hollis.
— Prazer em conhecer todos. Obrigada por me receber.
Cole passou o braço em volta do ombro de Kennedy.
— Obrigado por finalmente convencê-lo a trazer você.
Estamos tentando convencê-lo por um tempo.
Olhei para Ezra, cujos lábios se achataram e ficaram brancos.
— Eu só voltei para a cidade há um dia, então ele não está
enrolando vocês por muito tempo.
— Mas no ano passado. — Hollis acenou com a pinça no ar
antes de correr de volta para a grelha.
— Ano passado eu não estudava aqui.
A cabeça de todos se inclinaram, exceto a de Cole, que
respirou fundo e olhou para a grama. Eu estava perdendo
alguma coisa?
— Onde você estudava? — Griff carregou um hambúrguer
com queijo e ketchup.
Coloquei meu cabelo atrás da orelha e tossi.
— Fulton U — Limpando a garganta, verifiquei a grama e a
pintura lascada no tapume.
As pinças de Hollis bateram no topo da grelha.
Griff deu uma mordida no hambúrguer e um respingo de
ketchup caiu na mesa.
— Caramba. — Reid soltou essa antes de Leona lhe dar uma
cotovelada nas costelas.
— Você estava saindo com alguém da Fulton U? — Hollis
gritou e pegou as pinças quentes da grelha de churrasco
aquecida.
— Como se fosse grande coisa. — Ezra deu de ombros como
se não fosse, mas a rivalidade era profunda entre as faculdades.
Eles podem até me expulsar do quintal com forcados e tochas.
— Então é para lá que você continuava desaparecendo. —
Griff enxugou o rosto com uma pilha de guardanapos. — Puta
merda, cara. Essa é uma viagem longa para…
Hollis deu um salto para a frente.
— Uma boa conversa e uma refeição — Griff terminou.
Então, tínhamos um brincalhão. — Que bom que você
finalmente está aqui, Willa. Não podemos ter um Ezra
desaparecendo durante a temporada. Você estuda aqui agora?
— Não, na Darling U. — Eu travei minhas mãos na minha
frente, energia nervosa me lançou em território de inquietação.
O resto da tarde foi cheio de risadas e churrasco levemente
queimado. Depois que a comida foi empacotada na geladeira
lotada, os grupos desembolsaram e Ezra me levou até seu
quarto e pegou minha bolsa do carro.
A excitação passou por mim quando a coloquei na cama de
Ezra.
— Foi divertido. Você acha que eles gostaram de mim? Eu
nunca tive que fazer a coisa de namorada nova antes.
Ele fechou a porta, tirou os sapatos e mergulhou na cama
para mim.
Eu gritei e ri quando ele me cobriu e cobriu meu rosto com
beijos.
— Eles amaram você. Em alguns meses, eles estarão tentando
descobrir por que diabos você está comigo. — Suas mãos
estavam atrás dos meus ombros e ele olhou para mim.
— Se já lhe disseram isso, então eles realmente não conhecem
você.
Seu rosto se contorceu e ele rolou para o lado.
— O que diabos você tem na sua bolsa? — Ele rolou de cima
de mim e sentou do outro lado da minha bolsa.
— Merda, eu te trouxe um presente da minha viagem.
Alguns presentes.
— Você não precisava. — Ele olhou para a bolsa de tecido
verde entre nós com uma pitada de pavor. — Eu não te dei
nada.
— E eu não esperava que você fizesse isso.
Tirei meus sapatos e cruzei as pernas, movendo-me para o
centro de sua cama e puxando a bolsa para mais perto.
A preocupação vincou sua testa.
— Eu quebrei?
— Eles estão todos encaixotados e sobreviveram durante toda
a viagem. Você não os quebrou.
Ele acenou com a cabeça para a minha garantia. Um pouco
de energia vertiginosa de pré-Natal disparou dele.
— O que você trouxe?
Dentro da bolsa, tirei a primeira caixa e abri a tampa.
— Feche os olhos e estenda as mãos.
Depois de semicerrar os olhos, ele fechou os olhos e estendeu
as mãos com as palmas para cima.
Peguei o presente e o coloquei em suas mãos estendidas.
— Abra.
Ele olhou para o globo. Lá dentro, havia um homem em uma
gôndola empurrando o barco ao longo de um canal.
Gentilmente, como se ele pensasse que poderia explodir a
qualquer segundo, ele o virou de cabeça para baixo e deixou a
neve brilhante se acumular no topo antes de virá-lo.
— É lindo. — Seus olhos se iluminaram e leveza encheu meu
peito.
— Já que você não pôde estar lá, pensei em trazer uma
pequena lembrança para você. — Mostrei-lhe os outros dois
globos que lhe dei e ele segurou cada um com reverência, como
se um pedaço do lugar fosse instalado em cada um.
— Obrigado, Willa. — Ele me puxou e me sentou em seu
colo.
O calor de seu corpo me cercava.
Ele passou os braços em volta de mim e me abraçou enquanto
sacudia um globo após o outro.
— Um dia eu vou te levar a todos esses lugares.
— Mal posso esperar para voltar com você. — Olhei para ele
por cima do ombro e fiquei atordoada com a saudade.
— Eu também.
Eu me mexi, então me sentei em seu colo e passei meus braços
ao redor de seu pescoço.
— Você já deixou o país antes?
Ele balançou sua cabeça.
— Fora do futebol, eu nem saí do estado desde que nos
mudamos de Massachusetts quando eu era mais jovem.
Nós mudaríamos isso. Na primeira chance que eu tivesse, nós
mudaríamos.
— Aonde você gostaria de ir?
— Qual é o seu lugar favorito? — Ele deslizou os braços em
volta da minha cintura.
— Adorei Hamburgo.
— Conte-me sobre ela.
E eu fiz. Contei a ele sobre os spritzkuchen, que eram os
donuts cruller mais deliciosos que já comi e não conseguia parar
de comer. Sobre alimentar os elefantes no zoológico. Caminhar
por toda a cidade. Mas principalmente a comida. Sopas e
sanduíches. Vagando. Falar a sua língua e fazer com que as
pessoas me entendam. Ser a tradutora da minha família e
finalmente sentir que estava fazendo algo por eles. Preencher a
lacuna e testar os limites do meu conhecimento acendeu ainda
mais minha paixão por idiomas.
— Você vai ter que me ensinar um pouco de alemão antes de
irmos.
— Você gostaria de aprender. — Fiquei surpresa, ele nunca
havia mencionado isso antes. Mas eu estava tonta com a chance
de tentar.
— Eu gostaria que você me ensinasse. Talvez com incentivos
para garantir que eu seja um bom aluno. — Ele empurrou a alça
do meu vestido para baixo do meu ombro e me beijou ali.
— Uma sessão de tutoria mutuamente recompensadora. —
O calor se acumulou no meu estômago, estendendo-se para
baixo até um latejar pulsante.
— Absolutamente. — Ele derrubou minha outra alça e
passou os dedos pela parte de trás dos meus ombros nus.
Um arrepio de antecipação prendeu minha respiração.
— Mal posso esperar.
CAPÍTULO 33
EZRA

Fulton U marcou o primeiro touchdown em nosso primeiro


confronto da temporada. Estávamos perdendo por sete depois
que a bola passou por seus postes. Meu corpo zumbiu, meu
cérebro zumbiu e minha raiva aumentou. Andei de um lado
para o outro com um foco estreito, focado nas folhas de grama
sob meus pés e nos oponentes do outro lado do campo.
Eu canalizei o medo da perda e a determinação de vencer em
minha raiva. Eu deixei isso me aguçar. Eu deixei isso me
preencher. Eu deixei isso me controlar.
Quando eu estava em campo, nenhum golpe era muito forte,
nenhuma fratura muito ruim. Se um oponente arrancasse meu
braço, eu o pegaria e usaria para bloquear um passe, se
necessário. Eu não seria parado.
Griff bateu seu capacete no meu.
— Você está pronto para isso?
— Sempre. — Eu empurrei meu protetor bucal e corremos
para a linha de scrimmage. O ar estava aquecido, mas sob meus
protetores meu corpo parecia um inferno.
Cara a cara novamente, eu encarei Vaughn.
Seu verão despreocupado, reuniões com agentes, baldes de
dinheiro. Eu apertei minha mandíbula, sentindo meus dentes
se tocarem mesmo através do silicone moldado.
— Teve um bom verão, Vaughn?
— Fez serenata para outras garotas desde o semestre passado?
— ele retrucou.
Eu cavei minhas chuteiras mais fundo na relva, querendo
saltar sobre ele. Em vez disso, pressionei mais forte. Não havia
vergonha em cantar para Willa. Não há vergonha em dizer a ela
como me sentia. Mas ele tinha alguma merda guardada que eu
mal podia esperar para jogar no ventilador.
— Reuniu-se com algum agente ultimamente?
Sua cabeça se ergueu, quebrando a linha logo antes do estalo.
Aproveitando a abertura, eu o acertei com um gol, demitindo
o quarterback.
Com os braços de Vaughn presos em mim, plantei uma
perna, cravando minhas chuteiras no chão para combater o
novo peso, arrastando Vaughn junto comigo. Eu pulei para o
QB deles. Meus dedos roçaram sua camisa antes que ele soltasse
a bola que brilhou em cima.
Eu caí, mas voltei a ficar de pé e me virei, batendo meu peito
contra o de Vaughn e batendo meu capacete no dele. Ele teve
sorte – por pouco. Eu não cometeria esse erro novamente. Eu
o destruiria. Eu destruiria todos eles. O passe caiu no alcance
estendido de um receptor e o rugido da torcida do Fulton U
apunhalou meu cérebro. Cheio de amargura e bile, eu cuspi:
— Aproveite sua temporada, Vaughn.
A conversão de chute foi ampla. Um estrondo de alívio
percorreu o banco.
Andei de um lado para o outro, rosnando. Meu olhar travou
na ofensa da Fulton U, esperando minha chance de enfrentá-
los novamente. O zumbido e as batidas na minha cabeça me
controlavam. Meus dedos pulsavam, ansiosos por outra chance
de pegar um deles e derrubá-lo, demitir seu quarterback e trazer
Hollis e Cole de volta ao campo para causar algum dano real.
A bola foi lançada no ar. O braço de Hollis nunca nos
decepcionou.
Um recebedor pegou a bola e desviou dos defensores,
batendo a bola para um touchdown e comemoração. A linha
lateral explodiu. Outro touchdown, mas tudo em que me
concentrei foi voltar lá.
Por cima do meu ombro, a multidão gritou. Os boosters de
STFU providenciaram para que os fãs viessem aos nossos jogos,
não importa onde eles estivessem. Normalmente, nem sequer
os percebia. Os torcedores nas arquibancadas não eram o
motivo pelo qual eu fazia isso, nunca houve ninguém lá em
cima para mim antes. Eu me concentrei no campo, na jogada,
no snap e em destruir qualquer coisa no meu caminho, mas
desta vez houve um pequeno puxão na parte de trás da minha
cabeça. Willa estava lá fora.
Uma buzina estridente sinalizou o fim do primeiro tempo.
Só então deixei meu foco vacilar para as arquibancadas. As
arquibancadas de onde Willa assistia. Ela me viu jogar e eu só
podia rezar para que sua distância do campo mascarasse a
brutalidade. Que mascarasse os golpes implacavelmente cruéis
e as escolhas que tinham que ser feitas para vencer.
Voltamos para o vestiário e as TVs de lá transmitiam o que
aconteceu no campo.
— Por que eles fazem essa merda no intervalo? — Griff
enxugou uma toalha sobre o rosto e olhou para as TVs.
Um oficial da Fulton U estava no centro do campo com
algumas outras pessoas ao seu redor, mas eu reconheci dois
deles. O irmão de Willa e outro jogador da Fulton U que estava
no draft na primavera.
— Não deixe que isso te desconcentrar. — Eu não enxuguei
o suor. Essas longas pausas entre a ação eram uma merda.
Eles estavam sendo homenageados por se tornarem
profissionais.
Willa estava na arquibancada observando seu irmão. Ela
estava nas arquibancadas me observando. O fracasso não era
uma opção. Eu me contentaria com nada menos do que dar a
ela tudo o que ela merecia.
Os pais de Walsh estavam nas arquibancadas para assistir a
um estádio inteiro torcer pelo que ele havia conquistado?
Tentei não pensar neles me vendo jogar, neles me vendo liberar
um lado que eu nunca quis que eles testemunhassem de perto.
Quem estaria lá torcendo por mim? Antes de Willa, não havia
ninguém por tanto tempo. Eu não poderia voltar a isso, mas
coloquei tudo isso de lado assim que cruzei a linha lateral
pintada.
Eu invadi o campo com o resto da defesa, pronto para tirar
sangue e destruir. A vitória seria nossa e eu atropelaria quem
precisasse. Eu só tinha que esperar que o assento de Willa
estivesse longe o suficiente para que ela não pudesse ver quem
eu realmente era aqui embaixo, na sujeira e na lama.
CAPÍTULO 34
WILLA

No estádio, estar na seção estudantil oposta era estranho. Uma


versão em dimensão espelhada de onde eu estive um ano atrás.
Ter Maggie me dando um ingresso da STFU também pode ser
o motivo disso parecer estranho. Ela tinha um laboratório do
qual não podia sair e esteve perto de levar uma reprovação só
para vir, mas eu a convenci a desistir. Ainda assim, eu me
preocupava que a qualquer momento eles viessem atrás de mim
com forcados por ser uma planta de seus oponentes, só que eu
também não era mais um deles.
Mas nas arquibancadas, todos os alunos da STFU estavam
vaiando e gemendo durante o intervalo.
— Gostaríamos de homenagear nossos graduados que se
tornaram profissionais este ano. E somos excepcionalmente
sortudos de ter dois pessoalmente que não precisaram viajar
para longe. — Um locutor ficou no centro do campo durante
o intervalo. — Reece Michaels e Walsh Goodwin. — Walsh e
seu companheiro de equipe, Reece, acenaram para as
arquibancadas de torcedores animados. Ele tinha feito isso.
Walsh tinha chegado aos profissionais. Uma quantidade
infinitesimalmente pequena de jogadores chegou a esse ponto,
mas ele se esforçou, teve sorte em evitar lesões e entrou em um
time no qual pôde brilhar. Mesmo que ele fosse um pé no saco
às vezes, ele ainda era meu irmão mais velho e eu o amava.
A cerimônia continuou onde eles entregaram versões
emolduradas de suas camisas Fulton U.
Mas não pude deixar de conferir os bastidores da STFU.
Minhas margens. Era difícil distinguir Ezra entre a confusão de
protetores e capacetes. Eu mal conseguia distinguir seus nomes
e números com a constante agitação de atividade, mas algo
sobre como ele estava, rígido e pronto, tornou mais fácil
localizá-lo. Quando ele jogava, ele era diferente do cara doce e
engraçado que ele estava comigo, mas eu ainda podia identificá-
lo.
A cerimônia terminou e segundos depois de Walsh deixar o
campo, meu telefone tocou.
Walsh: Venha até o camarote
Willa: Eu gosto de estar nas arquibancadas
Walsh: Mamãe e papai estão lá
Willa: Golpe baixo
Olhei para as equipes alinhadas, prontas para o pontapé
inicial, e fui até o camarote, esperando que nossos pais já
estivessem lá. A segurança deixou-me passar assim que lhes dei
o meu nome.
O camarote não era apenas para a nossa família. O outro
jogador que estava lá embaixo estava com uma mulher que
tinha o cabelo feito em tranças intrincadas. A escola deve ter
reservado os camarotes para os jogadores que retornam. Foi
uma ótima maneira de tentá-los a vir. Quem não adorava
comida e bebida grátis, mesmo quando ganhava quantias
ímpias de dinheiro?
— Willa — Walsh chamou e acenou para mim. Ele
atravessou a porta de vidro que levava aos assentos ao ar livre.
— Por aqui.
Saí, seguindo Walsh, e verifiquei atrás dele.
— Onde estão mamãe e papai?
— Eles estarão aqui daqui a pouco. — Ele deu um tapinha
no assento dobrável acolchoado ao lado dele. — Eu queria falar
com você.
É uma armadilha! Eu só podia imaginar o que ele queria
falar comigo no jogo do meu namorado. Virando, eu não dei
três passos antes que ele saltasse na minha frente. Malditas
habilidades de atleta profissional.
— Quero ver o jogo.
— Bom, porque eu quero que você assista também. — A
intensidade de seu olhar revirou meu estômago.
— O que está acontecendo, Walsh?
— Ezra não é quem você pensa que é.
Isso quebrou qualquer preocupação que eu tinha.
— Quantas vezes você vai tentar isso?
— Quantas vezes forem necessárias para você ver a verdade.
— Que verdade?
— As más atitudes de Ezra.
— Quantas pessoas poderiam dizer a mesma coisa sobre
você? Eu estive em torno de jogadores de futebol toda a minha
vida. Eu entendo que tipos de coisas vêm com a popularidade,
a promessa de dinheiro, os parasitas. Ele não é assim.
— Ele é pior. — Sua expressão sombria me irritou,
cutucando essa bolha que deveríamos evitar.
— Ele realmente não é, Walsh. Você não confia no meu
julgamento. É disso que se trata. Estou morando a quatro horas
de distância e você não pode mais controlar minha vida, então
está fazendo isso.
— Não é isso que estou fazendo. Estou tentando protegê-la.
— De quem?
— Dele. — Ele apontou para o campo onde Ezra derrubou
um jogador em um golpe brutal. As telas ao redor do estádio
repetiram o sucesso e o confronto parecia ter sido transmitido
pelos alto-falantes. Ele parou sobre o outro cara, pairando sobre
ele. Intimidação, um pouco de regozijo, todos os jogadores
faziam isso.
— Se eu estivesse enfrentando ele em campo e tentando
arrancar sua cabeça, poderia ser um problema, mas eu não
estou, então acho que estamos bem — eu zombei, e tentei
contorná-lo.
— Estou falando sério, Willa.
— E eu estou seriamente chateada. Pare de tentar controlar
minha vida, Walsh. Eu não estou aguentando mais. Você é um
jogador de futebol profissional. Você tem muito mais com que
se preocupar do que eu.
Ele deixou cair ambas as mãos em meus ombros.
— Nada é mais importante do que você, mamãe e papai.
Eu acariciei suas mãos, respirando fundo. Muita coisa
mudou para Walsh em poucos meses. Ele jogaria seu primeiro
jogo profissional em breve e tinha que estar no limite. Eu
entrava no modo apaziguador quando estressada e Walsh fazia
a supercompensação superprotetora, nós dois tivemos nossos
problemas.
— Então você tem que me deixar viver minha vida do jeito
que eu quero e cometer erros. Eu não acho que ele seja um, mas,
mesmo que ele seja, então não cabe a mim descobrir isso?
— Você não entendeu...
— Eu entendi, mas eu tenho que crescer algum dia, Walsh.
Por cima do ombro, vi nossos pais quando eles entraram.
Salva pelo gongo.
— Mãe, pai, você conseguiram chegar. — Eu me abaixei sob
o braço de Walsh e abracei os dois, grata pela distração.
Ninguém tocou muito do bufê. Fiquei na primeira fila dos
camarotes, mas fiquei em pé durante a maior parte do jogo.
Ezra desclassificou o quarterback da Fulton U. O tackle tinha
sido brutal com o quarterback quase dando uma cambalhota
no ar. Estremeci e desviei o olhar, mas fiquei aliviada quando
ele se levantou com a ajuda de seus companheiros.
Walsh agarrou o corrimão na frente dele e me lançou um
olhar aguçado.
— Sua linha ofensiva o deixou bem aberto. Não é culpa de
Ezra ele ter aproveitado a diferença.
Como ele ficou em cima dele e teve que ser contido por sua
equipe quando as palavras foram trocadas enviou uma lasca de
inquietação através de mim, mas eu nunca estive em campo
com dezenas de milhares de pessoas me observando. Acalorado
não começava a descrever a linguagem que eu tinha ouvido em
torno de times de futebol toda a minha vida.
— Como se você nunca tivesse entrado em brigas no campo.
Nesta temporada você vai parar as outras equipes falando
grosso? Não, você vai tentar arrancar a cabeça deles.
Seus lábios se apertaram com aborrecimento sombrio.
Então eu belisquei a minha de volta até que a próxima jogada
começasse.
STFU estava em chamas. A defesa era impenetrável e o
ataque impulsionou os pontos. Foda-se todo mundo na área,
eu torci por eles até minha garganta doer. Atrás de mim, as
pessoas lançaram mais do que alguns olhares confusos.
Certo, este era o camarote da Fulton U. Opa.
Uma vez que a pontuação final apareceu no placar durante o
último ataque ofensivo da STFU, 12-43, não havia volta.
Eu mantive minha comemoração pequena, mas mal podia
esperar para ver Ezra depois.
— Willa, Ezra fez um trabalho maravilhoso lá fora. —
Mamãe tomou um gole de água com gás, sem perceber a tensão
de Walsh.
— Ele fez. Suas perspectivas de draft devem ser ótimas nesta
temporada.
— Ele deu muito trabalho. — Papai passou o braço em volta
do ombro dela.
— Nossas reservas são em uma hora. Ezra deveria vir. —
Mamãe terminou sua bebida. Eles não pensaram duas vezes
antes de incluir Ezra e eu adorei isso, mas, com Walsh lá, talvez
não fosse a melhor ideia.
— Mãe, pai... — Walsh interrompeu. — Isso não é uma boa
ideia.
— Por que não? — Papai pegou o copo vazio de mamãe e o
colocou no balcão.
— Ele provavelmente está comemorando com sua equipe. —
As palavras de Walsh foram rangidas por entre os dentes
cerrados.
— Willa, você pode perguntar a ele? Faz tanto tempo desde
que o vimos e não conseguimos jantar com ele da última vez.
— Papai, mamãe, talvez pudéssemos fazer isso outra hora.
Nos encontramos amanhã em casa.
Papai cruzou os braços sobre o peito.
— Queremos parabenizá-lo por sua grande vitória, e Walsh
se comportará. Ezra não precisa se preocupar com isso. Não é
mesmo, Walsh?
Walsh. O jogador de futebol profissional recém-formado,
cuja conta bancária estava transbordando, baixou o olhar e
chutou o tapete.
— Sim, senhor.
— Foi isso o que eu pensei. Pergunte a Ezra. Sem pressão, mas
gostaríamos de levá-lo para jantar fora, se isso for permitido e
ele já não estiver ocupado.
— Deixe-me ver. — Saí para o corredor do camarote, que
estava mais silencioso quando os fãs do Fulton U saíram após a
derrota, não tão animados quanto quando entraram.
O telefone tocou até que o correio de voz atendeu. Ele
provavelmente estava lá embaixo suado, cansado, pronto para
festejar com seus amigos e me encontrar depois do jantar.
Encerrei a ligação e tentei mais uma vez para que meus pais
soubessem que pelo menos fiz uma boa tentativa.
Misturar Ezra e Walsh não foi a melhor ideia, especialmente
depois do jogo.
Ezra atendeu no quarto toque.
— Ei — ele disse, não tão animado quanto eu esperava. Atrás
dele, o vestiário parecia um hospício.
— Ei, parabéns pela vitória. Você está bem? Você se
machucou lá fora?
Sua voz ficou em silêncio, enquanto o ruído de fundo só
ficou mais alto.
— Desculpe. Não, eu não me machuquei. Estou bem, apenas
vindo do jogo. — Embora ele dissesse que estava bem, ele soava
forçado, afetado, duro.
— Tem certeza?
— Tenho certeza. — De repente, ele soou mais como Ezra, a
borda se desvaneceu.
— Meus pais queriam saber se você iria jantar depois do jogo.
É um pouco de tradição. Eles costumavam fazer isso em todos
os jogos caseiros de Walsh.
— E eles querem que eu vá jantar? — Ele parecia surpreso e
animado, o que me fez sentir mal por tentar falar com meus
pais sobre isso.
— Não é um jogo em casa para você, mas é um segundo
próximo. Atenção. — Olhei por cima do ombro. — Walsh
estará lá, mas meus pais não vão deixá-lo escapar impune de
nada.
— Eu posso me controlar contra Walsh. — A rigidez voltou
à sua voz. Talvez aquela visita de manhã fosse uma ideia
melhor.
— Você não precisa. Podemos nos encontrar depois do
jantar, como planejamos.
— Eu gostaria de ver seus pais. Os caras estão arrasados depois
do jogo, então ninguém vai ficar muito louco, além de não
beber durante a temporada.
— Se você tem certeza. Walsh ficará tranquilo e você poderá
relaxar, a menos que queira sair com sua equipe. Tenho certeza
que depois de um grande jogo de rivalidade todos estão prontos
para festejar.
— Prefiro jantar com você.
— E minha família.
— E sua família, incluindo Walsh. Haverá mais vitórias no
futuro.
Era só jantar. Eu esconderia as facas se fosse preciso. Eles
teriam que estar perto um do outro eventualmente, então
talvez fosse melhor começar com uma fervura lenta no jantar.
— Quanto tempo você precisa para ficar pronto? — Mamãe
espiou a cabeça para fora do camarote e eu fiz sinal de positivo
com o polegar. Seu sorriso se iluminou e ela balançou as mãos
como se estivesse segurando pompons.
— Dê-me meia hora. Mas não tenho roupas bonitas. Apenas
uma calça velha abotoada e amassada que usei para vir ao jogo.
— Nós não iremos a nenhum lugar chique. Não se preocupe.
Últimas palavras famosas.
CAPÍTULO 35
EZRA

— Obrigado por me emprestar seu blazer, Walsh. — Sentei-me


ao lado de Willa e desabotoei o blazer emprestado. O embaraço
de comer em um lugar com exigência de paletó foi compensado
pela expressão no rosto de Walsh quando seu pai ofereceu seu
blazer reserva de seu carro para eu usar.
Walsh o encarou.
— Não mencione isso.
Isso deve ser divertido. Eu apertei meu joelho debaixo da
mesa. Amanhã, eu passaria na equipe de fisioterapeutas para
eles verificarem.
— Com licença — Lea chamou um dos garçons. — Podemos
ter dois sacos com gelo dentro?
— Alguém está ferido? — O garçom parou e se agachou,
avaliando a mesa.
— Não, mas temos um jogador de futebol que acabou de
terminar um jogo, então tenho certeza de que precisamos. —
Ela sorriu para mim, calorosa e orgulhosa.
Por que sua família tinha que ser tão legal? Eu esperei e
esperei para a carapuça servir. Walsh era outra história, mas a
maneira como Dan e Lea me tratavam, às vezes era demais. Um
carinho avassalador que eles nem viam como uma tempestade
num copo d’água. Mas eu sabia o quão raro era.
— Lea, você não tem que fazer isso. Eu ficarei bem.
— Você quer me dizer que não tem um único lugar que
poderia usar um pouco de gelo? — Ela balançou o dedo para
mim.
Eu fechei minha boca.
Dan e Lea correram no pós-jogo. Willa se inclinou.
— Eles costumavam fazer isso depois de todos os jogos de
Walsh que iam também. — Ela passou o braço em volta do
meu, o que atraiu um olhar fulminante de Walsh.
Eu beijei o lado de sua cabeça porque ele estava olhando,
também porque eu queria.
O garçom voltou com dois sacos de gelo. Eu descansei um
nas costas da minha mão enquanto o outro se equilibrava no
meu joelho.
Verificamos os menus e Lea e Dan nos deram seus pedidos e
saíram para ir ao banheiro.
— Johannsen, o que você fez com Austin lá no campo? —
Isso me tirou da calmaria pacífica para a qual fui atraída entre a
conversa pós-jogo e Willa encostada em mim.
— O que Fulton U estava tentando fazer com Hollis? — Eu
não olhei para cima do meu menu.
— Você pode parar com o jogo de mijo, Walsh? — Willa
disparou para a frente. — Eles nem são mais sua equipe. Quem
sabe, talvez vocês dois acabem tocando juntos no próximo ano.
Minhas costas ficaram retas como aço.
— Pode ser. Ou talvez ele acabe com o LA Lions ou na
Louisiana. Eles estão muito longe de Darling U. — Um olhar
de satisfação presunçosa se espalhou por seu rosto.
— É, mas Willa e eu já tivemos o relacionamento longa
distância antes. — Apertei a mão de Willa.
— Como jogador profissional, você não pode nem começar
a imaginar as tentações que existem por aí. — Walsh segurou
meu olhar.
Eu não podia deixá-lo ganhar, mesmo querendo tranquilizar
Willa. Não havia nada que pudesse me arrastar para longe dela,
mesmo que estivéssemos a milhares de quilômetros de
distância.
Parte de mim respeitava Walsh por querer proteger Willa,
outra parte de mim queria resolver isso do lado de fora, como
faríamos no campo.
Sentar em frente a alguém que me olhava como se quisesse
me cortar me manteve no limite a noite toda. Sem mencionar a
necessidade de pedir emprestado seu blazer para entrar no
restaurante que Willa havia prometido que não seria muito
chique. Mais uma vez, nossas ideias sobre o que era caro
estavam totalmente fora de sintonia.
Algumas pessoas foram até a mesa para tirar uma foto ou um
autógrafo de Walsh. Ele absorveu e me lançou olhares de
regozijo.
Eu abri minhas mãos, mas a tensão permaneceu como
naqueles primeiros dias sempre que eu aparecia em um novo
lugar e tinha que aprender como era o terreno.
Entre isso e como ele examinava cada palavra, cada olhar,
cada toque, eu nunca conseguia relaxar. Mesmo com a mão de
Willa na minha durante a maior parte da refeição, ainda me
senti a segundos de estourar, o que só piorou seu escrutínio.
Walsh me observou com Willa como se esperasse que eu
desse um soco nela a qualquer segundo e virasse a mesa,
destruindo tudo em meu caminho.
Ele arranhou os meus nervos como unhas em um quadro-
negro, apenas do jeito dolorosamente irritante. Depois de uma
vitória, eu deveria estar voando, mas ele era a lasca sob minhas
unhas.
Eu deixei o garçom levar meu prato com metade de um bife
ainda sentado nele. Normalmente, eu teria pedido para
embrulhar, mas não precisava dar a Walsh mais uma coisa para
implicar. Mais um sinal de que eu não pertencia. Willa também
recebeu mais do que conseguia comer do bolo de chocolate que
ela pediu para nós.
Walsh esfaqueou seu cheesecake como se o tivesse ofendido.
Lea e Dan conversaram com todo mundo, alheios à tensão em
torno da mesa. Suas ofertas de pagamento foram recusadas por
Walsh, que deixou seu cartão no caminho para o banheiro.
Pagamentos de jantar sorrateiras corriam em sua família.
Eu não podia nem tentar pagar a refeição. Mas um dia eu
faria. Eu faria as pazes com eles e mais um pouco e jogaria tudo
na cara de Walsh. Talvez isso tenha me tornado um idiota
mesquinho, mas que ele começou.
Do lado de fora, arranquei o blazer de Walsh e a empurrei de
volta para ele.
— Está um pouco apertado no peito.
Ele a pegou e amassou em uma bola, então enfiou debaixo do
braço.
— Da próxima vez, traga o seu.
Dan e Lea esperaram na frente o carro deles vir do
manobrista.
Eles me abraçaram. Eles me abraçaram como se sentissem
minha falta e se importassem, embora não tivesse passado mais
do que algumas semanas desde a última vez em que me viram.
Além disso, eles estavam no jogo por Walsh, não por mim,
certo?
— Ótimo jogo, Ezra. Da próxima vez que você tiver por
perto, avise-nos e tentaremos conseguir ingressos.
A cabeça de Walsh virou para o lado com tanta força que
quase quebrou. As adagas em seus olhos estavam afiadas.
— Fiquem seguros esta noite, vocês dois, e nos falaremos em
breve. Ezra, não seja um estranho. — Lea beijou minha
bochecha e então riu. — Oh, olhe para isso, eu te cobri de
batom. — Ela limpou minha pele.
O carro deles apareceu e os dois entraram, acenando para nós
antes de se afastarem.
Willa vasculhou dentro de sua bolsa.
— Droga, deixei meu cachecol da STFU dentro. Maggie me
mataria se eu o perdesse. Eu já volto. Podemos caminhar de
volta para o hotel. Pessoal, fiquem bem enquanto eu estiver
fora. — Ela apontou um dedo de advertência para nós dois
antes de voltar para dentro do restaurante.
Meu corpo estava em alerta máximo e eu precisava ficar longe
dele antes de explodir. Uma hora e meia de farpas cheias de
adrenalina depois de um jogo completo desgastaram meu
controle. Com Willa fora de vista, a única coisa que me
mantinha centrado havia desaparecido.
Caminhei até a esquina, tentando colocar espaço entre mim
e Walsh.
Ele veio atrás de mim, o que me colocou ainda mais em
guarda.
— Você acha que pode me substituir?
— Eu não acho nada, Walsh. — Longe dele era o único
espaço seguro agora.
— Não se afaste de mim. — Ele agarrou meu ombro e eu caí
para trás, cambaleando para fora de seu alcance.
— O que você quer de mim, Walsh? Você quer que eu diga
que sinto muito por bater em você no campo quando você
estava tentando fazer a mesma coisa comigo?
— Eu quero que você fique longe da minha irmã. — Ele
olhou com os dentes cerrados.
— Vai se foder.
— Você sabe que não é bom o suficiente para ela.
Isso atingiu como um caco de vidro preso sob minhas unhas.
— Ainda bem que não depende de mim ou de você, depende
dela.
— Ela é uma criança.
— Ela é uma adulta que pode fazer suas próprias escolhas.
— Ela estar com você me diz que ela não pode.
— Você não tem mais que ser seu guarda-costas. Ela me
contou tudo sobre como você assustava os caras que ela saía no
ensino médio e na Fulton U. Eu não me sinto intimidado por
você. Eu também não quero brigar com você. Não estamos
mais jogando um contra o outro — Tentei me acalmar, segurar
meu o pedaço de dentro do campo e prendê-lo até o próximo
jogo.
— Você acha que quem você é em campo não é quem você
realmente é?
— Não é.
— Isto é o que você pensa. Mas um dia esse animal vai sair da
coleira e você vai machucá-la.
— Eu nunca... — Eu me aproximei com meu dedo em seu
rosto.
Seu sorriso de auto-satisfação me parou.
— Ela merece milhas melhor do que você. Ela é de uma
família que se preocupa com ela. Mas não se preocupe, quando
você estragar tudo, estaremos lá para ela e eu nem vou dizer a
ela que eu a avisei.
— Por que você não consegue colocar na sua cabeça que ela
me quer?
— Você é um lixo, Johannsen. Ela já foi ferida o suficiente.
Ela não precisa de um caso mentalmente instável fodendo com
o seu futuro.
Pode ser verdade, mas eu estava tentando ser melhor para ela.
— Só quero o melhor para ela.
— Você acha que é você? Um órfão maluco com problemas
de raiva. — Ele enfiou um dedo no meu ombro.
A isca pendia tão perto e brilhante. Zumbidos em meus
ouvidos abafaram todos os sons que não fossem as batidas do
meu coração.
— Eu a amo.
Coisa errada a se dizer. Seus olhos se iluminaram com um
fogo como se estivéssemos a segundos de entrar em confronto
no campo.
— Eu não tenho tempo para suas besteiras. — Com as mãos
cerradas ao lado do corpo, com tanta força que meus dedos
doíam, passei por ele.
Talvez eu não achasse que ele tivesse coragem para isso ou
talvez eu soubesse que estaria pronto se isso acontecesse, mas o
punho de Walsh passou pela minha orelha. Eu saí do caminho
novamente, então ele disparou no ar, quase dando uma
cabeçada no carro atrás de mim.
Reflexos afiados ao longo de anos de demolição, eu me
esquivei de seu próximo golpe. E eu não segurei o meu soco. Ele
foi dado antes que eu pudesse pensar. Meu punho acertou sua
bochecha com tanta força que o ergueu, quase o derrubando.
Suas costas bateram na janela de seu carro. A lasca de vidro me
tirou da névoa da batalha.
— Ezra! — Os saltos de Willa estalaram no concreto.
Um buraco no meu estômago se abriu.
Walsh olhou para mim. O canto de sua boca quebrada se
curvou. Ele cuspiu um bocado de sangue em uma pequena
pilha de neve suja a seus pés.
Aquele buraco me puxou para a borda com uma dor de
engolir.
— Walsh! — Willa correu para ele e olhou para o sangue no
chão antes de olhar para meus dedos vermelhos e arranhados.
Sua boca estava aberta, os olhos arregalados refletindo o luar.
— O que aconteceu? — Ela olhou de mim para Walsh.
— Eu disse a ele que ele não era bom o suficiente para você e
ele me deu um soco. — Walsh escovou a mão contra a boca e
eu estrangulei a vontade de quebrá-lo na porrada por suas
mentiras.
— O que? Não, Ezra…
Eu tremi com raiva desenfreada.
— Não.
— Ele ficou bravo quando eu disse que ia contar como ele
deslocou meu ombro na última temporada.
Minhas veias estavam pegando fogo como se gasolina tivesse
sido injetada no meu sangue.
Ele estava esperando, preparando a armadilha perfeita para
me pegar desprevenido e baixar minha guarda.
Ela recuou como se ele a tivesse queimado.
— Você... — Ela olhou para mim para negar. — Você fez?
— Sim. — Meu maxilar doeu.
Walsh gemeu e cambaleou.
Willa se virou para ele e o deixou envolver seu braço ao redor
dela.
— Walsh, você está bem?
— Eu preciso chegar em casa. Você pode me levar? — Ele a
encarou com olhos tristes e estendeu as chaves do carro para ela.
— Sim, claro. — Quando ela pegou as chaves dele, Walsh
piscou para mim.
Filho da puta.
Ela caminhou até mim.
— Eu vou levá-lo para casa e eu falo com você mais tarde, ok?
— Seu olhar não era raivoso ou acusador, apenas desapontado
e confuso.
Meu corpo estava muito contraído para sequer acenar.
Com Walsh fazendo o possível para manter o equilíbrio, ela
o colocou no carro e correu para o lado do motorista.
— Eu ligo para você assim que eu levá-lo para casa.
Eu não conseguia me mexer. Eu não conseguia respirar. Eu
não podia acreditar que me deixei pensar que isso poderia ser
fácil.
Ela saiu do local e os faróis de Walsh passaram por mim. O
começo do fim. Como eu pensei que Walsh manteria a boca
fechada? Era apenas uma questão de tempo antes que ela visse
a parte de mim que eu tentei esconder dela todo esse tempo.
Meu passado sempre me alcançou, exceto por um pedaço
que eu esperava que me encontrasse algum dia. As únicas coisas
revisitadas em mim foram a dor e o manto escuro da solidão.
Os vislumbres da luz do sol só tornaram mais difícil ser
empurrado de volta para o fundo do poço sozinho.
CAPÍTULO 36
WILLA

Eu precisava voltar para Ezra. Meu rápido olhar para Walsh


segurando seu rosto apenas enfatizou isso. Ezra estava ferido?
Eu estava tão preocupada em separá-los que nem tinha visto se
ele estava bem. E eu precisava saber o que aconteceu.
A cada quarteirão que nos afastávamos de Ezra, mais eu
ansiava por voltar para ele. O que tinha acontecido? Eu tinha
saído por menos dos cinco minutos que levou para o garçom
rastrear meu cachecol que um ajudante de garçom já havia
colocado em seus achados e perdidos.
A única coisa que mantinha meu pé no acelerador era saber
que Ezra voltaria para o hotel com o resto dos caras para
comemorar sua vitória. Ele não estava sozinho. Eles cuidariam
dele até eu voltar lá. Walsh estava sozinho em seu grande e novo
apartamento.
Ao meu lado, Walsh gemeu novamente e cobriu metade do
rosto com as duas mãos.
Por favor, que nada esteja quebrado. Com que força Ezra o
atingiu?
— É tão ruim assim? — Toquei seu ombro e tentei dar uma
olhada melhor.
— O golpe me empurrou para trás com tanta força que
quebrei a janela do meu carro, o que você acha? — Walsh
gemeu.
Olhei para a teia de aranha de rachaduras que atravessava
minha janela do centro do impacto e tentei não pensar na força
necessária para causar cada fratura. As luzes da rua piscavam
dentro de intervalos. Corri meus dedos entre eles.
— Está mais estilhaçado do que quebrado. O que você disse
a ele?
— O que você quer dizer? — Walsh disse, a voz cheia de
indignação.
— Quero dizer, sobre o que vocês dois estavam conversando?
— A ansiedade temerosa correu através de mim. Meus dedos
apertaram o volante e acelerei através de um sinal amarelo.
— O que isso importa? — ele resmungou e se ajustou em seu
assento.
— Isso importa, Walsh. — Eu cortei meu olhar para ele e
voltei para a estrada. — O que você disse a ele?
— Eu abrir a boca dá a ele o direito de me dar um soco e
estourar meu lábio? — O grito de Walsh foi abafado pelo
interior luxuoso do carro novo. Ele evitou a pergunta, o que
significava que havia mais do que um soco aleatório. Eu
conhecia Ezra, ele nunca faria isso.
— Não, mas não posso dizer que não houve momentos em
que eu não quis te dar um soco por algo que você disse. —
Muitas, muitas vezes.
— Mas você não deu. Essa é a diferença entre você e ele.
— Não é a única diferença. — Eu parei na garagem do
apartamento de Walsh e em seu local designado. — Diga-me o
que aconteceu.
— Minha cabeça está me matando. Eu tenho que jogar
dentro de alguns dias e parece que pode explodir.
Um tiro de medo de que ele pudesse ter batido a cabeça com
mais força do que eu pensava mergulhou em meu coração.
— Como está sua visão? Alguma mancha? — A última coisa
que eu precisava era ter que dizer aos nossos pais que ele estava
no hospital. Esperançosamente, qualquer hematoma
diminuiria antes que eles o vissem novamente.
— Não sei. Está escuro.
— Vamos levá-lo até o seu apartamento.
Durante todo o passeio de elevador, Walsh se apoiou em mim
e arrastou seus passos. Eu precisava fazê-lo sentar, para que eu
pudesse dar uma boa olhada em seu rosto.
Dentro de seu novo apartamento, fui ao freezer e peguei as
compressas de gelo já congeladas. A vida de um atleta
profissional estava cheia de gelo e gel para dor muscular.
Walsh manteve as luzes apagadas e sentou-se no sofá,
apoiando a cabeça no encosto.
Sem me sentar, deslizei a bolsa de gelo em sua testa.
— Sentindo-se melhor?
O puxão para voltar para Ezra lutou contra a necessidade de
ficar parada e ter certeza de que Walsh ficaria bem.
— Não. — Sua resposta mal-humorada me relaxou. Esse era
o Walsh irritado que eu tinha visto deprimido para conseguir o
que queria antes. Ele segurou a mochila.
— Tenho certeza que você vai ficar bem. Ouça, eu preciso
voltar.
Walsh agarrou minha mão.
— Não vá ainda.
Olhei para a porta. Eu poderia pegar o carro de Walsh ou
pedir um.
— Preciso…
— Minha cabeça está girando, Willa. — Ele gemeu
novamente.
Eu puxei minha mão de seu aperto e puxei a bolsa de gelo.
— Você age como se não tivesse levado um golpe antes.
Ele a segurou com a mão inteira e a manteve no lugar.
— Em almofadas cheias enquanto eu esperava, não quando
saio para jantar com minha família. — Ele olhou para mim por
trás de um canto da bolsa de gelo.
— O que você disse a ele? — Apoiei ambas as mãos em meus
quadris.
— Nada que justifique isso. — Ele apontou para o rosto e fez
uma careta.
Um fragmento de simpatia irrompeu.
Caí no braço do sofá.
— Quaisquer que sejam os problemas que vocês dois
tenham, eu preciso que você saiba que ele sempre foi ótimo
para mim. Você não chegou a conhecê-lo como eu o conheço.
— Eu o conheço há muito mais tempo do que você. — Ele
deslocou a bolsa de gelo.
— Por tempos de quinze minutos, algumas vezes por ano,
onde vocês dois tentam atropelar um ao outro. Não é o mesmo.
— Não, não é, mas posso dizer que quem eu sou em campo
é quem eu sou, então talvez ele seja melhor em esconder isso de
você.
— Ou talvez ele não seja como você. As pessoas lidam com o
estresse de maneira diferente.
— Oh, eu sei. Veja como ele lida com o estresse. — Ele puxou
o pacote para longe de seu rosto.
Os hematomas sob o olho e na bochecha haviam escurecido
desde o estacionamento. Definitivamente um golpe bem dado,
mas nada pior do que ele o que lida em jogo.
Mudei o gelo de volta para seu rosto.
— Boa obra do seu namorado.
Meu namorado, para quem eu precisava voltar. Peguei meu
telefone e digitei uma mensagem.
Eu: Onde você está?
Walsh gemeu e se mexeu no sofá.
— Você pode me dar outra compressa para as minhas costas?
— Claro. — Eu pulei e continuei checando meu telefone
enquanto pegava mais algumas compressas de gelo
reutilizáveis. Nenhuma resposta. Ezra provavelmente estava
com os caras. Talvez eles tenham bebido antes do toque de
recolher. Ou ele estava esperando que eu lhe enviasse uma
mensagem. Mas eu não podia com Walsh me encarando a cada
segundo.
Walsh pegou a bolsa de gelo e a colocou nas costas.
— Pronto, você está bem agora. Eu te ligo de manhã.
Ele se atirou para frente e gritou.
— Você já está indo?
— Eu preciso ir.
— De volta para ele.
— Pare de ser um bebê. Você vai ficar bem.
— Minha cabeça não está ótima. — Ele fechou os olhos. —
Mas vá em frente, eu posso ligar para mamãe e papai. Eles
podem vir me ajudar.
A raiva frustrada penetrou em mim.
— Walsh, não. — Eu arranquei o pacote de seu rosto
manipulador e socável. — Não ligue para eles. Está tarde. —
Eles perderiam a cabeça. Eles também gostariam de saber como
Walsh se machucou. Eles nunca confiariam em Ezra
novamente.
Se eu ficasse, Walsh se acalmaria e talvez não contasse a
mamãe e papai. Amanhã, à luz do dia, talvez os hematomas não
parecessem tão ruins e eu pudesse falar com ele sobre o que
realmente aconteceu esta noite.
No banheiro, mandei uma mensagem para Ezra usando meu
relógio.
Eu: Você está bem? O que aconteceu esta noite?
Nenhuma resposta. Ele pode já estar dormindo. Não fazia
sentido correr para lá, se ele estava dormindo ou saindo com os
amigos. Não entre em pânico, Willa. Ele está bem. Vai ficar
tudo bem.
Saí do banheiro e fui para a sala.
— Eu vou ficar.
— Tem certeza? Você sabe que eles não vão se importar em
voltar para a cidade para passar a noite comigo.
Com os dentes cerrados, caí de volta no sofá com os braços
cruzados.
— Vou ficar até de manhã.
— Obrigado, Willa. — Walsh sorriu e recostou-se no sofá
como se esta fosse uma noite normal, além da bolsa de gelo em
seu rosto. — Podemos assistir a um filme.
— Você pode ir para a cama se sua cabeça está doendo tanto.
Essa chantagem só vai funcionar por algum tempo.
Ele bufou.
— Não se chama chantagem, se chama proteger minha
irmãzinha de um cara que eu sei que é lixo.
Eu queria gritar. Proteger-me de Ezra não era necessário. Eu
tinha sido protegida e mimada por tanto tempo quanto eu
conseguia me lembrar. Depois de banir Walsh para o quarto,
verifiquei meu telefone.
Nenhuma mensagem nova.
Ezra pode ter pensado que eu estava chateada com ele e já era
tarde. Eu não queria acordá-lo ou perturbá-lo se ele estivesse
fora com seus amigos.
Depois que escovei meus dentes com uma das escovas extras
de Walsh, da cesta embaixo da pia, e peguei as roupas
emprestadas, olhei para o meu telefone no travesseiro ao meu
lado. Respostas. Eu precisava delas já que Walsh estava
determinado a ser um idiota. Tinha que haver uma razão.
O aperto azedo no meu estômago se enrolou em um nó. Será
que eu queria mesmo saber as respostas para as perguntas que
giravam na minha cabeça?
CAPÍTULO 37
EZRA

No banco da frente de um carro emprestado, entrei na rua em


que Willa morava, mas não era para a sua antiga casa que eu
estava indo. O ônibus da equipe parte para o aeroporto em
menos de uma hora. Eu deveria dar meia-volta. Eu deveria
arrumar minhas coisas e deixá-la ir, mas eu precisava direcionar
essa raiva sem esperança para algum lugar.
A treta da Fulton U atingiu níveis épicos. Walsh me atacou e
eu era o cara mau. Os jogadores da Fulton U pegaram dinheiro
ilegal e eu era o idiota. Só eu era o idiota. Eu não deveria ter lhe
dado o soco. Eu sabia que era o que ele queria que eu fizesse, ele
queria brigar, mas não consegui me conter. Os reflexos e
instintos eram impossíveis de superar.
E Willa acreditaria em Walsh. Por que ela não iria? Nós nos
conhecíamos há um ano. Seu irmão tinha sido seu protetor, o
arrogante que ela ainda amava, mesmo que às vezes a irritasse.
Eu era muito novo. Ser novo significava nunca ser acreditado.
Algo desapareceu. Novato. Algo estava quebrado. Novato.
Alguém se machucou. Novato.
Embora desta vez tenha sido eu. E eu já tinha brigado com ela
antes, atacado pela raiva. Ela nunca acreditaria e, mesmo que
acreditasse, eu deveria ter mais controle sobre mim mesmo. Ele
provocou e provocou e eu caí.
Não havia redenção agora.
Uma morena, a mesma da festa durante o verão em que
Vaughn se vendeu, atravessou a rua e entrou em outra casa que
parecia ser qualquer habitação fora do campus da STFU. Nós
não estávamos lá, mas isso confirmou que eu tinha a casa certa.
Território inimigo.
Do lado de fora da casa que eu havia passado antes e
ignorado, saí do carro e esperei. A maioria das pessoas não
achava que paciência era o meu forte, mas eu esperei por mais
tempo do que a maioria poderia imaginar para as coisas
mudarem para o meu jeito. Talvez agora fosse hora de forçar as
coisas. Forçar minha apresentação à dama Sorte porque ela
estava me ignorando desde o dia em que nasci.
A porta da frente se abriu. Vaughn saiu com uma carranca,
músculos tensos e punhos cerrados.
Bom. Eu estava pronto para uma luta. Eu sempre tive que
estar pronto para uma. Mas desta vez eu estava buscando por
ela. Eu tinha perdido Willa. Eu não tinha muito mais a perder.
Nada além do jogo.
Vaughn pisou na beirada de seus degraus, tomando cuidado
para não chegar muito perto. Ele não era tão estúpido quanto
parecia.
— O que diabos você está fazendo aqui? Veio para outra
serenata?
Então ele tinha visto aquilo. Olhei para a casa onde eu
desnudei minha alma para Willa antes de olhar para ele. Não
fazia sentido deixá-lo saber que havia uma rachadura na
armadura. Uma rachadura do tamanho de Willa.
— Não, estou aqui para você. — O lampejo de incerteza em
seu olhar acendeu uma brasa de satisfação.
— Desculpe se você esperava um convite para entrar. Nós
nos veremos nos playoffs. Talvez isso seja mais do que
suficiente para ver você nesta temporada. — Ele entrou em seu
regozijo. Provavelmente feliz com as pilhas de dinheiro de seu
novo agente. Ele se virou para voltar para dentro.
— Exceto que talvez você não jogue, já que você não é elegível
e tudo mais. — As palavras deveriam ser perfeitamente
revestidas em mel, em vez disso, elas cortam o interior da minha
boca como vidro. Eu não queria ganhar dessa forma, mas foda-
se perder duas das coisas mais importantes da minha vida em
menos de uma semana.
— Do que diabos você está falando? — Ele se virou e olhou
para mim como se tivesse levado um soco no estômago por um
fantasma.
Eu dei de ombros e deixei a satisfação salgada se derramar
sobre mim.
— Como estão as coisas com Felix? Ouvi dizer que ele é um
agente muito generoso.
Suas narinas se dilataram.
— Tenho certeza de que você conseguiu um acordo muito
lucrativo. — Esses pregos eram muito satisfatórios para
martelar em seu caixão.
— Você está falando besteira — ele zombou, e se esquivou da
conversa. Eu teria esperado que algo mais acontecesse. Um
tropeço ou um punho cerrado, mas ele manteve a calma. Se eu
não tivesse visto com meus próprios olhos, eu poderia ter
acreditado nele.
— É sempre bom ter algum dinheiro para coisas como sair
com sua garota. — Eu inclinei minha cabeça em direção à casa
atrás de mim que a morena fofa da festa tinha encontrado.
Ele bufou.
— Você viu meu carro? Você acha que se eu tivesse uma pilha
de dinheiro de algum agente, não teria um carro muito melhor?
— Não, você não é tão estúpido. Mas há outras coisas em que
o dinheiro pode ser gasto. E Felix parecia muito animado para
falar com você em Kelland neste verão.
Suas narinas se dilataram.
Um golpe de satisfação. Ele não era imune à raiva que fluía
através de mim.
— Vou a muitos lugares e conheço muitas pessoas. Eu não
sei do que diabos você está falando. Você está me espionando
ou algo assim?
— Não se gabe. Ao contrário de você, eu trabalho pelo que
tenho e não sou capaz de cortar custos ou quebrar regras para
conseguir o que quero. Meu emprego de verão me deu muitas
informações sobre o que faz essas pessoas ricas falarem; algumas
taças de champanhe e eles não conseguem manter os lábios
fechados. Então, ele foi muito tagarela sobre como ele
trabalhava com seus clientes. E agora você é um cliente. — Eu
poderia ter feito o mesmo negócio. Eu poderia ter tido um
pouco mais de facilitação nesta temporada, mas, por alguma
razão idiota, eu queria jogar pelas regras. E eu sabia que ele as
quebraria e sairia impune. O fato de que seu ex-companheiro
de equipe me deu um soco e depois se tornou a vítima, fez com
que minha raiva fervesse.
— Por que eu colocaria todo o meu futuro em risco? Por que
eu quebraria as regras quando estou tão perto do draft?
Dei de ombros e inclinei ainda mais contra a porta do lado do
motorista.
— Porque você é ganancioso como todo mundo. — Mal
posso esperar pelo grande dia de pagamento. Talvez ir para a
cama com o estômago cheio todas as noites signifique melhor
foco no campo para treinos ou jogos.
— Como você. E você? Você acha que sabe essa coisa sobre
mim por causa do que um cara rico falou em uma festa, mas eu
sei algo sobre você. Que tal a família estar fora dos limites?
Especialmente a família de jogadores adversários? Você age
como se essa rua inteira não visse você perseguindo a casa de
Willa Goodwin e pegando seu violão.
— Isso não tem nada a ver com isso. — Eu odiei o nome dela
na boca dele e me afastei do carro.
— Talvez seja sua consciência culpada falando quando se
trata de quebrar regras, mas fique bem longe de mim e pare de
falar sobre coisas que você não faz a mínima ideia. — Ele voltou
a subir as escadas, mas não virou as costas para mim.
— Vamos jogar contra você nos playoffs. — Uma vez que
não fosse suficiente, seríamos empurrados para o campo
novamente com apostas ainda mais altas na próxima vez.
— E?
Cruzei os braços, deixando os segundos passarem. Fulton U
não eram os únicos que podiam jogar sujo.
— E minha equipe precisa dessa vitória.
— Por que eu deveria dar a mínima?
— Dicas anônimas podem vir de todas as formas. Tenho
certeza que você tem que deixar os funcionários olharem para
coisas como seus registros bancários se eles pedirem. A recusa é
uma admissão de culpa. Sua regra de merda de “família fora dos
limites” não chega nem perto do grande livro que eles têm para
o futebol universitário. Pense nisso, Vaughn. — Eu abri a porta
do carro e voltei antes que eu fizesse mais do que ameaçar. Meus
dedos ainda doíam por causa do soco na noite passada. Eu
acelerei, arrependimento revirando o meu estômago. Talvez
essa fosse a única maneira de avançar. A única maneira de salvar
alguma coisa, embora imaginar um futuro com Willa parecesse
um truque que eu estava pregando em mim mesmo.
Concentre-se no jogo. Era a única coisa que não me deixava.
CAPÍTULO 38
WILLA

No dia seguinte ao retorno da equipe ao campus, sentei-me nos


degraus de sua casa. Eu estava aqui há mais de uma hora, o
vento gelado cortava meu jeans e entorpecia meu corpo.
Doze. Essa é a quantidade de mensagens não respondidas que
enviei para Ezra sobre vê-lo. As demais receberam respostas
monossilábicas.
Depois de terminar as aulas, peguei o carro de Maggie e
cheguei aqui enquanto ele estava na aula. Nada de me evitar
quando eu estava literalmente estacionada nos degraus da
entrada. Sentada no carro quente, eu poderia me distrair apenas
o tempo suficiente para que o linebacker chegasse à porta antes
que eu o pegasse.
Aqui, ele teria que me mover para passar por mim. Equilibrei
meu laptop nas pernas, determinada a fazer o trabalho
enquanto esperava. As aulas de literatura alemã ameaçavam me
engolir, mas ir ao jogo de Ezra não era negociável. Ser uma
namorada ruim poderia ter salvado nós dois de toda essa dor de
cabeça, se eu ainda fosse sua namorada.
Seu carro parou no meio-fio. Um minuto se passou antes que
o motor parasse de tinir e ele saísse. As táticas de postergação só
seriam mais perceptíveis se ele andasse ao redor do carro
verificando os quatro pneus.
Minha preocupação inicial se transformou em irritação
fumegante. Ignorar-me não ia me fazer ir embora.
Eu bati meu laptop para fechá-lo e o enfiei na minha bolsa.
Jogando-a por cima do ombro, eu me levantei.
Ele levantou o boné e passou a mão pelo cabelo, mas o
manteve afastado.
Um vislumbre de esperança. Se ele me olhasse nos olhos,
talvez me dissesse a verdade. No segundo em que seus pés
bateram na calçada, eu gritei:
— Diga-me a sua versão — Nenhum ponto em gentilezas.
Ele inclinou a cabeça como se tivesse ouvido um som distante
e não tivesse certeza se deveria ignorá-lo ou não. Um rápido
olhar foi tudo o que ele me deu quando pisou no último
degrau.
Aborrecimento e raiva beliscaram a base do meu pescoço,
aquele ponto que Ezra sempre parecia instintivamente
procurar sempre que me beijava.
Primeiro, eu tive que lidar com as reclamações e gemidos de
Walsh naquela noite e na manhã seguinte. Suas ameaças de
chamar nossos pais para cuidar dele me mantiveram lá até que
o ônibus de reforço voltasse para STFU.
Entre isso e as semanas finais infernais, eu também tive um
namorado que me ignorava.
— Eu bati nele. O que mais há a dizer? — Ele tentou passar
por mim.
Apoiei as duas mãos nas grades frágeis. A irritação se
transformou em fúria.
— Muito, Ezra. Isso é tudo que você vai dizer? Você do nada
deu um soco na boca do meu irmão?
Ele evitou meu olhar. Nenhuma segurança em seus olhos ou
uma leitura fácil do que estava acontecendo em sua cabeça.
— De que outra forma isso teria acontecido? — Um
desligamento total era iminente e eu não queria isso.
— Ezra. — Desci outro degrau e coloquei as duas mãos em
seu rosto para forçá-lo a encontrar meu olhar. — Quero saber
o que aconteceu. Por favor? — Aparentemente, eu não estava
longe de implorar. Tinha que haver uma razão.
Ele olhou para a porta por cima do meu ombro como se eu
não estivesse aqui ou como se fosse uma estranha.
Foda-se o degelo calmo.
— Pare de tentar me proteger.
— Eu não estou.
— Então me diga o que aconteceu. — Uma pergunta que eu
nunca pensei que teria que repetir tantas vezes em quarenta e
oito horas.
— Eu bati nele. — Ele deu de ombros, os ombros apertados
como um elástico industrial.
Frustração deu um nó em meu peito.
— Você é tão ruim quanto Walsh. Pare de tentar tomar as
decisões difíceis por mim. Deixe-me fazê-las. — A súplica
encheu minha voz e eu não estava arrependida. Em um
segundo eu queria sufocá-lo e no próximo eu queria envolver
meus braços ao redor dele até que eu rompesse seu exterior
gelado.
— O que você quer que eu diga? — Ele pegou o boné do
bolso de trás e o colocou na cabeça. Puxando-o para baixo, seus
olhos desapareceram. Ele era o gigante remoto que a maioria
das pessoas o considerava, mas que nunca tinha sido comigo.
O nó se apertou, entrelaçando-se em tristeza e mágoa. A
queimação invadiu a parte de trás do meu nariz. A umidade se
acumulava nos cantos dos meus olhos.
— Você está com medo.
Ele balançou para o lado, quase perdendo o equilíbrio nas
escadas.
— Eu estou o quê?
Lágrimas se acumularam contra minhas pálpebras,
queimando contra minha pele pelo frio no ar.
— Você está com medo. Com medo de quão perto estamos,
de como as coisas parecem boas. Eu sei porque eu estive aí.
Como se o universo estivesse brilhando demais sobre você e
você estivesse esperando as sombras aparecerem.
— Não é isso. — Ele abaixou a cabeça, ainda não
encontrando meus olhos.
— Então me diga o que é. Apenas fala comigo, Ezra. — A
mendicância estava de volta. — Eu entro para pegar meu
cachecol e saio para um Walsh com a boca sangrando e uma
janela quebrada. Nenhum de vocês quer dizer nada.
Seu olhar cortou para o meu, mas seus lábios se fecharam,
soldados.
Um som irritado e furioso escapou da minha boca.
— Nada. Você não vai dizer nada. Estou farta dessa coisa de
machões de merda.
Uma sentinela de pedra estava diante de mim.
A tensão evaporou como se tivesse sido queimada. Lágrimas
caíram pelo meu rosto, mas eu as enxuguei.
— Então, você está certo, não há mais nada para
conversarmos, não é? Se você não pode falar comigo, se você
não pode me dizer o que aconteceu, então devemos dar um
passo para trás. — As palavras saíram da minha boca. Eu as
ponderei mais de mil vezes, mas não pensei que chegaria a isso.
Eu não tinha pensado que uma vez que eu o olhasse nos olhos,
ele me afastaria assim.
Um ruído retumbou no fundo de seu peito, mas ele ainda
não disse uma palavra.
Uma risada frágil escapou dos meus lábios.
— Não é como se estivéssemos namorando de qualquer
maneira, já que você não atende minhas ligações ou mensagens
de texto ou fala comigo.
Ele assentiu com tanta força que seu queixo quase tocou seu
peito.
Meus lábios tremeram e meus olhos se encheram, nublando
minha visão. Eu chupei uma respiração instável.
— É isso. — Eu bati minhas mãos, deixando-as cair para os
meus lados, encostando nas minhas coxas congeladas.
— Se você não pode deixar para lá, eu acho que sim.
— Deixar… — Eu apertei meus olhos e balancei minha
cabeça. Engoli a tristeza e a dor e olhei para ele mais uma vez.
Um único aceno para o homem que me deixou com menos
medo de viver minha própria vida e agora que parecia que eu
daria os próximos passos por conta própria.
— Te vejo por aí, Ezra.
O salto batendo contra o chão fez um barulho tão alto que
quase perdi seu “Tchau, Willa” antes de ser levada pelo vento
apenas como eu queria ser.
CAPÍTULO 39
EZRA

As palavras de Willa ecoaram em meus ouvidos, reverberando


em meu crânio desde o segundo em que ela se afastou de mim
com lágrimas de desapontamento brilhando em seus olhos.
Houve muito tempo para eu me odiar ao longo dos anos, mas
nunca tanto quanto naquele momento ela me pediu para dizer
a verdade.
Walsh havia preparado a armadilha perfeita. Não importa o
que aconteceu, eu perdi. Não importa o quê, ela perdeu.
As palavras tinham sido arame farpado na minha garganta.
Walsh nunca pararia de me odiar. Ele nunca pararia de tentar
me minar em seus olhos. Ele jogaria o anzol e eu cairia. Talvez
pior do que como foi no estacionamento. Talvez na frente de
Willa ou de seus pais, e então o que aconteceria? Ele estaria
certo, porque ele estava certo.
Ou pior, eu criaria uma barreira entre sua família e ela. Ela
ficaria do meu lado e viraria as costas para eles. Ela tinha uma
família que a amava, que a protegia. O que aconteceria mais
tarde, quando eu fodesse tudo ainda mais? Melhor ela não ver
quão grande decepção eu poderia ser no futuro.
Eu me deixei ficar muito confortável com Willa.
O relógio estava correndo e eu fingi que não podia ouvir cada
movimento do ponteiro dos segundos.
— Ezra, você tem que sair da academia em algum momento.
— Griff ficou em cima de mim com a testa enrugada de
preocupação. Ele não estava em seu equipamento de treino, ele
estava totalmente lavado, o cabelo nem estava mais molhado.
— Onde estão suas coisas?
— Saí há uma hora. Quando você não voltou para casa, eu
voltei para te buscar.
— Por quê? — Empurrei a barra para dentro do suporte e me
levantei para adicionar outro conjunto de pratos. O peso do
prato de vinte quilos queimou meus músculos já fatigados.
Griff tentou agarrar o peso do meu aperto.
— Você vai se machucar.
Apenas dor física.
— Estou bem.
— Não, você é um idiota. Ainda estamos lutando para chegar
aos playoffs e você está tentando se machucar antes mesmo de
chegarmos lá.
— Eu disse que estava bem.
— Johannsen. — O treinador Henley marchou para o
ginásio. — O que diabos há com vocês para trabalharem assim
quando a merda do desafio de suas vidas está chegando? — Ele
puxou o prato de Griff e eu.
— Apenas fazendo repetições extras, treinador.
— Há um tempo para repetições extras e há um tempo para
sentar e parar de ser teimoso. Adivinha que horas são? — Seu
olhar estava afiado com aborrecimento. — Vá para os
chuveiros. Tire-o daqui, Nordstrom.
— Sim, treinador. — Griff pegou minha toalha e garrafa de
água vazia enquanto o treinador colocava o peso de volta na
pilha.
Peguei a toalha de Griff e enxuguei meu rosto. O vestiário
estava vazio, a maioria das luzes estava apagada. Um novo
conjunto de toalhas estava na frente do banco com meu nome.
— Você não tem que tomar conta de mim.
Griff se reclinou contra a parede com os braços atrás da
cabeça.
— Eu sei.
— Mas você não vai embora, não é?
— Não. — Ele apoiou os pés no banco ao lado dos meus.
Nos chuveiros, eu estava sozinho com meus pensamentos em
vez da dor do treinamento até que não conseguisse fazer mais
uma repetição. Você está com medo. As palavras de Willa
estavam de volta, quicando dentro da minha cabeça, cada
repetição era outro corte no meu cérebro.
Passei minha vida inteira tentando não ter medo. Minha vida
inteira pisando em areia movediça, nunca pertencendo a lugar
algum por mais de alguns meses, ou anos, se eu tivesse sorte. Até
a casa em que eu estava agora seria outro lar temporário.
Nem mesmo as pessoas da minha vida eram permanentes.
Um pai que eu nunca conheci. Uma mãe que perdi há muito
tempo. Uma equipe que se separaria no final desta temporada.
Willa tinha sido um vislumbre do mundo sem perdas, e o que
eu tinha feito? Exatamente o que eu deveria ter esperado.
Depois do banho, voltei para o vestiário.
Griff ainda estava reclinado no lugar que eu o deixei, mas sua
consciência sobre mim fez a pele da minha nuca formigar. Eu
odiava as pessoas me vendo.
— Gostaria de falar sobre isso?
Com meu cabelo ainda encharcado, peguei meu boné e o
coloquei.
— Não.
— Tem certeza? Parece que você precisa falar sobre isso.
— Não há o que falar.
— Não? Nem sobre Willa acampando nos degraus da frente
por uma hora esperando por você?
Uma hora. Ela estava no frio esperando por mim porque eu
estava com muito medo de vê-la cara a cara.
— Não há mais nada para falar. — Peguei minha calça jeans
e térmica.
Griff se levantou de seu assento e caminhou até mim.
— Besteira. — Ele puxou meu boné da minha cabeça e o
empurrou para o centro do meu peito. — Besteira absoluta.
Um interruptor foi invertido. As luzes atrás de seus olhos, cara.
Estou preocupado com você.
Eu puxei minhas roupas. O tecido grudou e esticou na minha
pele ainda úmida, mas eu precisava sair dali.
— Isso não afetará o jogo.
— Foda-se o jogo. Quem falou alguma merda sobre o jogo?
Isso é sobre você.
— Eu não quero falar sobre isso. — Eu abotoei meu jeans e
peguei meu tênis debaixo do banco.
— Talvez isso seja parte do seu problema.
Eu puxei minha mochila de debaixo do banco e girei para
encará-lo.
— Você estava ouvindo nossa conversa? — A garra em brasa
no meu esterno cortou o osso. Apertei minha mão com tanta
força que meus dedos estalaram.
— Não de propósito. — Griff ergueu as mãos e deu um passo
para trás. — Eu estava tentando ir para a aula.
— Então, você sabe que não há mais nada a ser dito. Não
posso falar sobre isso. — Eu sufoquei cada sílaba.
Ele recuou e silenciosamente me seguiu até o meu carro.
— Vejo você de volta em casa.
Eu balancei a cabeça e amaldiçoei baixinho as temperaturas
geladas. Voltar para casa era a última coisa que eu queria,
sabendo que eles estariam esperando lá por mim, mas eu estava
com pouco combustível, então andar por aí até que o motor
esquentava estava fora de cogitação.
De volta à casa, fui direto para as escadas.
— Ezra — Cole chamou antes que eu chegasse na metade.
O resto dos caras ficaram na sala como se estivessem prontos
para uma intervenção.
Griff entrou com as bochechas vermelhas e cheias de bolhas.
— Isso não afetará meu jogo.
— Não é sobre o jogo. — Ele olhou deles de volta para mim.
— Isso não é a coisa mais importante agora.
Olhei para o corredor vazio na minha frente, onde não havia
olhares indiscretos.
— É a única coisa importante. Eu sei o que você está
tentando fazer, mas falar sobre o que aconteceu entre mim e
Willa não vai mudar nada. Então, estou pedindo a todos vocês,
como amigos, que deixem isso para lá. — Pelo canto do olho,
vi seus olhares hesitantes um para o outro, mas ninguém disse
uma palavra. — Obrigado.
Subi as escadas correndo e bati a porta do meu quarto.
Minhas mãos tremiam ao meu lado. Eu as flexionei e peguei
meu violão. Movi meus dedos ao longo das cordas, mas não
toquei nenhum acorde. O metal frio das cordas pressionado
contra as pontas dos meus dedos. Noite após noite, eu repetia
os movimentos para me acalmar, só que agora eles me faziam
pensar em Willa e em tudo o que eu havia perdido.

O choque de capacetes abalou minha cabeça. O gosto metálico


de sangue encheu minha boca. A necessidade de destruir
qualquer coisa em meu caminho arranhou seu caminho sob
minha pele.
Mãos puxaram a parte de trás dos meus ombros, me
afastando dos dois jogadores esparramados na grama na minha
frente. Eu os afastei.
— Acabou, Ezra. — Griff gritou ao meu lado.
Suas palavras cortaram a névoa do jogo em que não havia
derrota e qualquer um que ficasse entre mim e a vitória não
ficaria por muito tempo.
Olhei para o placar. Alívio separou o último nevoeiro brutal
que aparecia durante cada jogo. Nós tínhamos vencido. Eu
cuspi o sangue acumulado na minha boca.
— Bom o bastante.
A equipe saiu do campo e, no vestiário, a comemoração pós-
jogo de Mikelson, que sempre soava mais como uma
repreensão, não penetrou na parede que eu reconstruí. Nada
passaria. Durante o jogo, deixo tudo fluir, toda a perda e dor,
mas, no segundo em que a pontuação final aparecesse no
placar, eu pegava os tijolos e a argamassa e construía tudo de
novo.
— Ezra, nós vamos à Biblioteca esta noite. Você vem? —
Griff puxou os protetores sobre a cabeça. Antes que eles
caíssem no chão, um dos caras do equipamento passou para
pegá-los.
O bar clandestino secreto para jogadores de futebol e apenas
para convidados, era um ponto de encontro principal desde
que os bares do campus baniram o time durante a temporada.
Mas não havia mais comemoração.
— Não, eu estou bem.
Cole enrolou uma toalha na cintura.
— Vamos, Ezra. Kennedy disse que sente falta do seu rosto.
Silas estará lá também, não planejamos ficar até muito tarde. —
O círculo de Cole só continuou crescendo, enquanto, no final
da temporada, eu estaria perdendo quem eu tinha deixado, o
que se tornaria permanente quando todos nos formássemos.
— Vou para casa dormir. — Ninguém me queria por perto
para comemorar a vitória. Eu não tinha sido a melhor
companhia por semanas.
Uma vez que eu estava no meu quarto e acendi a luz, um
brilho chamou minha atenção. Em cima da minha cômoda
estava o globo de neve que Willa me deu no Natal. Ficou entre
alguns outros que ela comprou para mim durante o verão, mas
este foi o primeiro.
Agarrei-o e me arrastei para a cama. Meu corpo doía, a
sensação de atropelamento apenas diminuiu um pouco desde
que saí do campo. Debaixo do meu travesseiro, a penugem do
topo do mascote de pelúcia da Fulton U que ela me comprou
fez cócegas na minha bochecha. Eu o puxei e o encarei.
Balançando o globo de neve, observei os pedaços de glitter e
neve falsa se espalharem pelos telhados e pousar nos carros
minúsculos na frente das casas. Provavelmente era o mais
próximo que eu chegaria desse tipo de existência perfeita.
Mas Willa me deu um gostinho disso. Às vezes, eu me
perguntava se não era pior, sabendo que ela estava lá fora, mas
não podia estar comigo. Ela não podia ficar comigo, porque eu
não a merecia. E não importa o quanto eu quisesse correr para
ela, a única coisa que a manteria segura seria eu correndo para
o outro lado.
CAPÍTULO 40
WILLA

A aula tocou novamente do meu laptop, que estava apoiado no


balcão ao lado do fogão. Minhas pálpebras pesavam mil quilos,
mas eu precisava de comida antes de desmaiar. Qualquer coisa
para me impedir de pensar em Ezra.
Caramba! A tela ficou preta e eu retive cerca de doze por
cento do que o professor estava dizendo. Eu teria que ouvir
novamente amanhã.
Os bolinhos flutuaram para o topo da panela e eu os tirei da
água fervente e coloquei na panela com manteiga. Cheiros de
dar água na boca e um estômago roncando mal me impediram
de me enrolar no tapete da cozinha.
Com a comida terminada, peguei a mistura de cebola e bacon
que tinha aquecido no microondas junto com creme azedo da
geladeira. Malditas artérias, eu precisava de comida
reconfortante agora. Eu dei a primeira mordida e mastiguei
com a boca aberta, o vapor escapando em baforadas enquanto
eu me apoiava no balcão com um gemido. Ok, talvez isso fosse
melhor do que dormir.
A porta da frente se abriu. As chaves e malas de Maggie
tilintaram e chacoalharam antes que ela colocasse a cabeça na
cozinha.
— Droga, isso cheira incrivelmente bem. — Ela invadiu, me
empurrando para fora do caminho. — Não coma em pé na
cozinha. Pelo menos sente-se no sofá como uma pessoa
civilizada. — Com sua bunda batendo em mim, saí da cozinha
e me joguei no sofá. Rastros de vapor subiam do meu prato.
Talvez eu deva preservar algumas papilas gustativas e esperar
alguns minutos.
O controle remoto estava sobre a mesa, me provocando.
Eu mordi meu lábio e olhei para a tela escura. Antes que eu
pudesse me impedir, liguei e encontrei o jogo. Último jogo da
STFU antes dos playoffs. O time contra o qual eles jogaram
estava a três jardas da end zone. Com uma conversão, eles
poderiam ganhar.
Todo mundo no campus provavelmente estava assistindo
com os olhos fixos no placar, mas eu não pude evitar procurar
na linha defensiva pelo número dele. Sessenta e sete.
Os segundos piscavam no relógio do jogo enquanto ele
descia. A outra equipe entrou na jogada, tentando obter uma
primeira descida.
O relógio bateu zero. Uma vez que esta jogada terminasse, o
jogo acabou.
Capacetes e almofadas conflitantes foram captados pelos
microfones do campo. Levantei-me quando um jogador de
linha ofensiva empurrou em direção a uma lacuna na defesa.
E lá estava ele. Seu número piscou tão rápido, girando atrás
de um de seus caras para tapar o buraco. A colisão foi violenta
e chocante. Ambos caíram no chão, Ezra por cima.
Um árbitro correu e afastou os jogadores de ambos os lados
que se aglomeraram no final da jogada.
— Sem touchdown. — Eu balancei minhas mãos cheias para
frente e para trás como se eu tivesse alguma opinião sobre o
resultado.
Maggie se sentou ao meu lado e enrolou os pés embaixo dela.
— O que está acontecendo?
— Shh.
Ezra pulou e o outro jogador se moveu. A borda da bola
estava a uma polegada da linha da end zone pintada. Ezra não o
deixou mover um músculo.
— Eles ganharam. — A alegria se espalhou por mim seguida
por uma onda de tristeza. Eu não poderia estar lá para
comemorar com ele. Eu não podia pegar meu telefone e
mandar uma mensagem para ele. Ele não era mais meu.

— Walsh Jason Goodwin — eu gritei pelo saguão.


A cabeça de Walsh virou, quase perdida de vista entre a
multidão de jogadores de futebol maciços que se deslocavam
pelo hotel em direção ao elevador. Ele estava em Pittsburgh
para um jogo que o time havia vencido. Finalmente um jogo
perto o suficiente para que eu pudesse enfrentá-lo.
Outros clientes do hotel e fãs de futebol se viraram para olhar
para mim. Eu não estava gritando como algumas pessoas
procurando por autógrafos.
Corri em direção a ele.
Um cara tão grande quanto um dos jogadores em um terno
todo preto e fone de ouvido entrou na minha frente.
— Senhora, eu vou precisar que você vá embora.
— Ele é meu irmão chato — eu fervia. Foram semanas de
ligações evitadas, mensagens de texto não respondidas e visitas
remarcadas. Eu tinha ido da garota que não conseguia fazer
com que seu irmão deixasse de incomodá-la para àquela que
estava tomando gelo dele. Não ajudou que eu tivesse recebido
o mesmo tratamento de Ezra.
— Ela pode. — Walsh deu um tapinha no ombro do homem.
O cara lançou-lhe um olhar de “tem certeza?” antes de me
deixar passar.
— O que você está fazendo aqui? — Walsh pegou meu braço
e me guiou até os elevadores.
Eu lutei para afastá-lo, mas ele aumentou seu aperto e fez
uma careta para mim.
Os jogadores saíram do caminho, dando-nos espaço.
Uma vez lá dentro, puxei meu braço para fora de seu alcance.
— Você se esquiva de mim por semanas e tem a coragem de
perguntar o que estou fazendo aqui?
— Eu não tenho me esquivado de você. — Ele olhou para a
tela do elevador enquanto os números piscavam.
Enfiei a mão no bolso, peguei meu telefone e o pressionei
contra o rosto dele.
Ele recuou.
— Que diabos, Willa?
— Trinta chamadas perdidas e mais de cinquenta mensagens
de texto não respondidas. Você tem sorte que eu sabia que você
estava bem ou eu teria ficado preocupada, não apenas chateada.
Um brilho de culpa cintilou em seus olhos.
— Eu não estava tentando te chatear.
— Sério?
O elevador chegou ao seu andar e ele saiu, segurando o braço
na frente da porta.
— Não, eu não estava. — Seus ombros caíram.
— Eu estava a um segundo de ligar para mamãe e papai. —
Eu o segui para fora. Eu não estava acima de usar sua tática nele.
Sua cabeça se ergueu.
— Mas você não fez isso, certo?
— Não, eles se preocupariam, e nenhum de nós quer isso. —
Nós enviamos principalmente mensagens de texto. Entre o
trabalho da faculdade, para não mencionar o choro, e tentar
rastrear Walsh, eu estava muito ocupada para ligar. Além do
mais, eu não tinha certeza se conseguiria me controlar se eles
perguntassem como Ezra estava pelo telefone.
Walsh nos deixou entrar em seu quarto de hotel. Um andar
acima dos quartos de hotel da faculdade que a equipe havia
reservado. Havia flores frescas na mesa e uma cesta de boas-
vindas ao lado. Era como os quartos que Walsh nos presenteou
durante o verão. Prática comum para ele agora.
— Você está pronto para falar agora?
— O que há para falar?
Agarrei meu cabelo pela raiz, pronto para arrancá-lo.
— Eu juro, se você me der um discurso sobre não ser nada e
para deixar isso para lá, vou destruir este maldito quarto.
— Veio para confirmar o que Ezra te disse? — Ele cruzou os
braços, mas a incerteza flutuou dele em grandes ondas.
— Não, ele não me disse nada. Por isso terminei com ele. Não
posso fazer exatamente isso com você, então estou pedindo a
você, como sua irmã, que me diga a verdade. O que aconteceu
entre vocês?
— Você terminou com ele? Porque ele me bateu? — Seus
olhos se arregalaram. Sua voz estava cheia de confusão.
— Não era isso que você queria? Isso não fazia parte de todo
o seu plano o tempo todo? Todos os discursos? Todos os
avisos? — Eu desabei no sofá, cansada demais para ficar de pé.
Ele foi até o frigobar e pegou uma pequena garrafa de bebida.
— Você sabe que isso é tipo uns quinze dólares por garrafa.
Com um olhar por cima do ombro, ele me jogou uma.
— Eu posso pagar isso.
Seus pés se arrastaram pelo tapete a caminho do sofá. O
pequeno anel de segurança no topo da garrafa quebrou e ele a
engoliu em um gole, estremecendo.
— Eu pensei que você não deveria beber durante a
temporada.
— Vou precisar. — Ele flexionou os dedos antes de enroscar
a tampa de volta nele.
— Diga-me. Não pode ser pior do que estou imaginando.
— Isso é o que você acha. — Walsh suspirou, bebeu sua
segunda mini garrafa de bebida e contou tudo para mim.
— Você está brincando comigo? — A raiva cresceu dentro
de mim como um tsunami. Raiva por ele tratar alguém com
quem eu me importava assim. Raiva por ter deixado um
homem com quem me importava ser tratado dessa maneira. —
“Um órfão maluco com problemas de raiva”. Você joga a
situação familiar dele, sobre estar sozinho no mundo, na cara
dele, então se faz de vítima. — Eu me levantei e andei de um
lado para o outro, pisando forte e pensando em dar um soco
em Walsh eu mesma.
Eu deveria ter pressionado mais ou tentado convencer Ezra
que eu acreditaria nele se ele apenas me dissesse. Quão pouco
ele confiava em meus sentimentos por ele se ele achava que eu
desculparia o que Walsh disse. Ezra não precisava bater nele,
mas eu não poderia dizer que o culpava neste momento.
— Eu não estou orgulhoso disso, ok? — Ele abaixou a cabeça.
— Ele se virou para ir embora e...
— Tem mais? E o quê, Walsh? — Eu plantei minhas mãos
em meus quadris e olhei.
Ele cobriu a boca com uma mão, apertando o rosto.
— Diga-me. — Uma bola de pavor inchou no meu
estômago.
Ele suspirou e olhou para mim.
— Então, eu dei um soco nele.
Voei pela sala, empurrando-o com as duas mãos.
— Seu idiota hipócrita. Você deu um soco nele e teve a
coragem de fingir um nocaute quando ele bateu em você de
volta?
Walsh olhou para mim, vergonha e culpa rabiscadas por todo
o rosto, mas eu não dou a mínima.
— Eu... eu não deveria ter feito isso.
— Não me diga, merda. — Eu arrastei meus dedos pelo meu
cabelo. — Nós estávamos nos divertindo tanto. Por que você
não pode simplesmente deixar que todos nós aproveitemos?
— Isso me irritou, ficou sob minha pele. — Ele revirou o
pescoço, passou as mãos pelo cabelo e evitou meus olhos.
— Que nossos pais gostaram do meu namorado? Que eu o
amava? Que ele me tratava bem?
— Não, não foi sobre como ele tratou você. Era que ele se
encaixava tão perfeitamente. Mamãe e papai o tratavam como
se ele fosse parte da família. Ele cuidaria de você. Ele estaria lá
para você. Ele tomou meu lugar em um jantar chique como se
eu nunca tivesse existido. Eles perguntavam como ele estava e
quando o veriam em seguida.
— Você não pode usar isso para machucá-lo. Ele não fez nada
com você.
— Ele deslocou o meu ombro.
— Durante o jogo. Quantos caras se afastaram dos jogos por
sua causa com os lábios partidos ou pior?
Ele abriu a boca e a fechou com força.
— Eu preciso ir até ele. — Procurei meu telefone, minha
bolsa. Toquei meu relógio inteligente para achar meu telefone.
— Sinto muito, Willa. Eu fiquei assustado. Eu não queria ser
substituído.
Eu congelei e por mais que eu quisesse socá-lo, o amor em
nossa família não deixava que todos nós não tivéssemos saído
com feridas das batalhas.
— Walsh. — Corri até ele e passei meus braços ao redor dele,
prendendo seus braços ao seu lado. — Ninguém está tentando
substituir você.
Ele ficou duro como uma pedra.
— Eu sei que nossa família tem lidado com muita coisa.
Perdemos alguém com quem todos nos importamos, mas Ezra
nunca iria tomar o seu lugar. Seria super estranho para mim
querer namorar meu novo irmão de qualquer maneira.
Seu peito retumbou contra meu ouvido em uma risada
estrangulada.
— Depois que acordei na manhã seguinte, percebi isso, mas
fiquei com vergonha de ter reagido da maneira que reagi. E eu
não sabia como encarar você para explicar isso. — Ele me
abraçou de volta. — Eu não queria te perder também.
O medo da perda estava profundamente enraizado em nós
dois. Costurado em nossos seres porque alguém que amamos
foi arrebatado.
— Então, você pensou que não falar comigo por algumas
semanas era a melhor maneira de não me perder?
— Eu fodi tudo.
— Com certeza, você fez. Ele não merecia a forma como você
o tratou. Você ainda é meu irmão, mas deve a Ezra um grande
pedido de desculpas.
Walsh abaixou a cabeça.
— Eu sei. Ele te fez feliz e isso deveria ser tudo o que me
importava.
— Você está certo, mas agora é sua chance. — Peguei minha
bolsa e encontrei meu telefone.
— Aonde você está indo?
— Trazê-lo de volta. Você pode me levar ao aeroporto?
CAPÍTULO 41
EZRA

A lacuna na linha era tudo que eu precisava. Vaughn não


apareceu hoje, talvez essa fosse sua maneira de proteger sua
equipe. Enfiando minhas chuteiras na relva fria e encharcada,
eu corri pela abertura.
Eu abaixei minha cabeça e bati no quarterback da Fulton U,
batendo meu capacete direto em suas costelas.
Ele se levantou, caiu no chão e quicou duas vezes.
Um apito agudo cortou o ar.
A voz do árbitro ressoou no microfone.
— O número sessenta e sete foi confirmado para
segmentação. Penalidade de quinze jardas. Primeira descida
automática para Fulton U e número sessenta e sete foi
desqualificado.
Eu cambaleei para trás como se tivesse sido abordado.
Houve um manto de silêncio antes que todo o estádio
explodisse em aplausos. Desqualificado. Ejetado. Expulso.
Mikelson perdeu sua cabeça na lateral, um dos treinadores o
segurou pelo cinto.
Griff caminhou até mim e me encarou através da máscara
facial.
— Vamos lá, cara. Vamos lá. — Ele me cutucou de volta.
Minhas pernas eram de madeira, rígidas, quase quebradiças.
Olhei para o estádio ao meu redor. De novo não. Isso de novo
não. Perdendo novamente.
Henley correu até mim quando cheguei à margem.
— Foi uma chamada de merda. Vá para o vestiário e se limpe.
— Ele me deu um tapinha no ombro e acenou com a cabeça em
direção ao túnel.
Mikelson me faria pagar depois. Neste ponto, ele poderia me
fazer correr até minhas canelas racharem, o que importava?
Não poderia doer mais do que tudo doía agora. Meu corpo.
Minha mente. Meu coração.
No túnel de concreto que levava ao vestiário, peguei meu
capacete pela máscara e o bati contra a parede. Bati com tanta
força que as rachaduras se partiram no centro. A máscara facial
torceu em meu aperto.
A raiva queimava dentro de mim tão quente que parecia que
eu poderia ficar uma casca.
A multidão aplaudiu atrás de mim e eu bati meu punho
contra minha testa. Um estrondo alto e o primeiro tempo
terminou. Companheiros de equipe e comissão técnica
correram pelo corredor. Eu não poderia estar lá com eles agora.
Entrei em um corredor depois do vestiário e tentei controlar
essa raiva, mas era mais difícil desligá-la, especialmente porque
fazia semanas desde que eu tinha visto Willa.
Pensar nela e em como as coisas terminaram aumentou ainda
mais minha adrenalina. Foda-se Walsh. Por que ele teve que dar
aquele soco? E foda-me por ser tão estúpido por cair em sua
armadilha. É o que Fulton U faz.
O corredor se acalmou, mas um baque sólido e estalante veio
ao virar da esquina.
Saí e minha visão se inundou de fúria.
Vaughn ficou do lado de fora da porta dos vestiários batendo
a cabeça contra a parede.
— Você pensou que não aparecer era o suficiente para salvar
sua bunda. — Joguei o capacete quebrado no chão.
— Isso não tem nada a ver com você. Eu não estava aqui e
minha equipe ainda está chutando suas bundas. Eles nem
precisavam de mim. — Sua resposta presunçosa pulou minha
frequência cardíaca, bateu na base da minha mandíbula.
— Como vai acabar quando eles perceberem que você os
fodeu por toda a temporada? — Foda-se sua escola e reputação
imaculada, foda-se eles dobrando as regras à sua vontade. O
retorno seria uma lasca de justiça.
Vaughn investiu contra mim e deu um golpe, acertando. A
dor lancinante abriu caminho pela minha bochecha e têmpora.
Ele era mais rápido que Walsh, mas eu nunca tinha perdido
uma luta antes e não começaria a perder agora.
Eu cambaleei. O baque do meu punho batendo em seu rosto
e a sequência em seu estômago, quando ele soltou um chiado,
satisfez uma pequena parte de mim que queria demoli-lo.
Ele bateu o ombro no meu estômago.
Meus pés escorregaram debaixo de mim e minhas costas
bateram no chão, mas continuei me mexendo mesmo ao cair e
perfurei meu punho na lateral de sua cabeça.
O peso de Vaughn saiu de cima de mim. Um braço foi
barrado contra seu pescoço.
Eu rolei e fiquei de pé, evitando os guardas que me
agarravam.
Ele estava de volta à ofensiva, tentando dar outro soco.
Eu cambaleei para frente e outro guarda me agarrou,
colocando o braço em volta do meu pescoço.
— Ezra, pare com isso! — Sua voz nunca seria irreconhecível.
Willa.
Meus olhos se arregalaram. Soltando a camisa de Vaughn
como se tivesse me queimado, lutei contra o guarda e o
empurrei.
A poça metálica de sangue na minha boca pingava dos meus
lábios.
Willa estava a alguns metros de distância. Seus olhos estavam
cheios de lágrimas e de terror. Ela tremeu e eu não queria – não
precisava – de nada mais do que chegar até ela. Passando pelos
corpos, corri para ela.
Ela se afastou e olhou para mim.
Ofegante, fechei o espaço que ela tentou colocar entre nós e
passei a mão na boca. Tentando limpar o sangue como se
pudesse apagar o que ela acabou de ver.
— Vamos lá. — Ela pegou minha mão e saiu.
Ninguém a parou. Ninguém nos parou. Embora eu pegasse
o inferno por isso e por ir embora, eu não podia deixar de segui-
la.
Lá fora, ela destrancou o carro e eu entrei. Meu rosto e
costelas latejavam. Minha frequência cardíaca aumentou ainda
mais do que durante a briga no segundo em que a porta dela
bateu.
No interior escuro, o painel e o motor ganharam vida e ela se
afastou do estádio. Depois de escapar do estacionamento, ela
dirigiu sem dizer uma palavra. Eu esperava que ela descesse o
quarteirão, talvez parasse no acostamento da estrada, mas ela
continuou dirigindo.
Segundos se transformaram em minutos e tudo doeu. Não
apenas meus dedos, mas meu coração. Minhas visões dela não
lhe faziam justiça, mesmo em sua raiva. Eu assumiria isso por
não tê-la.
— Aonde estamos indo? — Minha garganta estava em carne
viva. Eu pigarrei.
— Para a casa dos meus pais.
Minha mão estalou na porta, pronto para me jogar fora do
carro e direto no trânsito.
— Isso não é uma boa ideia, Willa.
— Eles não estão lá. — Ela olhou para mim, um poste de luz
iluminando seus olhos. Os que poderiam me derrubar com um
olhar. — Eles foram ao jogo.
Meu cérebro pulou por um segundo.
— O quê? Por quê?
Ela esfregou o rosto contra o ombro e voltou a segurar o
volante.
— Eu não disse a eles que terminamos. — Ela mordeu os
lábios. — Eles ainda têm seus ingressos para a temporada da
Fulton U, então eles queriam ver você jogar. Nós vamos
embora antes de eles voltarem.
As emoções me bateram, se eu não estivesse sentado, eu teria
sido derrubado. Eles vieram ao meu jogo. Willa veio por mim.
Incapaz de falar, eu assenti. Que escolha eu tinha além de
fugir no próximo semáforo? Mas eu não queria ir embora, que
se danem as consequências, e elas estavam se acumulando desde
o segundo em que o primeiro soco foi dado. Eu teria sorte se
não tivesse acabado com minhas possibilidades de draft. Se eu
ainda tivesse um lugar na equipe.
Em casa, ela parou em um lugar vazio na garagem para quatro
carros. A porta se fechou suavemente atrás de nós e ela desligou
o motor.
— Vamos te limpar. — Ela saiu e entrou em casa, deixando a
porta aberta para eu seguir.
Saí e entrei na lavanderia. Botas e casacos pendurados em
ganchos com áreas designadas para cada um deles. Dois
conjuntos de lavadoras e secadoras empilhadas pareciam
imaculadas, como se tivessem acabado de ser entregues. Um
amplo balcão para dobrar tinha uma pia.
Tirei minhas chuteiras. Ainda em meu equipamento, eu seria
multado por isso, com certeza, mas neste momento eu não
conseguia me importar.
Ela voltou para a sala com suprimentos debaixo dos braços.
— Venha aqui. Deixe-me limpar você. — Ela pulou em cima
do balcão e acenou para mim.
Eu flexionei minhas mãos, estremecendo com a queimação.
Na pia, ela testou a água e ajustou antes de pegar minha mão
e segurá-la sob o fluxo constante. A água respingou na pia de
porcelana que ficou rosada com a mistura de sangue seco.
Usando gaze, ela enxugou minha pele machucada e chupou
os dentes, balançando a cabeça.
— Por que você veio?
Seus dedos roçaram as costas da minha mão acima dos nós
dos dedos, acima da dor.
— Vim pedir desculpas. — Ela olhou para mim, umidade se
acumulando ao longo de seus cílios. — Walsh me contou o que
aconteceu naquela noite. Eu... — Um tremor a percorreu.
Gentilmente, como se minha pele fosse fina como papel, ela
secou minhas mãos. Ela as colocou no colo.
Apertei sua coxa sob meu toque.
— Esta noite não me fez nenhum favor, não é?
— Eu acredito que você tinha uma boa razão para fazer isso.
— Inveja.
A tesoura médica caiu no balcão e ela olhou para mim.
— O quê? — Suas palavras sussurradas eram em parte medo,
em parte insegurança.
Corri para acalmar qualquer medo sobre o que ou por quem
estávamos brigando.
— Ele pegou dinheiro de um agente. Passou por cima das
regras do dinheiro para festejar ou comprar bebidas para seus
amigos, enquanto estamos nos esforçando em mais uma
temporada com Mikelson. Mais uma temporada que
perderemos para eles. E eu não aguentava mais. Eu não tinha
mais nada a perder e ele tem tudo.
A vergonha cortou meu intestino. Minhas perspectivas de
draft podem ter sido adicionadas à pilha de lixo em chamas
sobre a qual minha vida foi construída.
— Você tem muito a perder — disse ela com descrença
apressada. — Você tem seu futuro. Seus amigos.
— Eu não tenho você. — A falta de sentido de tudo isso
penetrou em meus ossos. Toda a corrida que eu estava fazendo.
Todo o trabalho... se não houvesse ninguém ao meu lado,
ninguém torcendo nas arquibancadas, o vazio de tudo soava
mais alto, e tinha me lançado de um penhasco na carreira. Os
músculos do meu pescoço se contraíram. — Sinto muito,
Willa. Desculpe não ter te contado.
Ela me encarou com dor nos olhos.
— Por que você não me contou?
Baixei meu olhar para suas mãos trabalhando sobre as
minhas.
— Achei que você não acreditaria em mim.
— O que eu fiz para fazer você pensar que eu não acreditaria?
— A tensão em sua voz me açoitou.
Agarrei suas mãos, assobiando com a queimadura em meus
dedos e a dor irradiando pelas costas da minha mão.
— Não era sobre você. Era sobre mim. Minha cabeça ferrada
e o passado. Estou sozinho há muito tempo, Willa. Se não
tivesse a ver com futebol, nunca tive alguém para me apoiar ou
para confiar em mim.
— Você tem seus amigos. Você me tinha. — Ela alisou as
bandagens sobre meus cortes. A fita grudou na minha pele.
Meus companheiros de equipe que só seriam amigos até nos
separarmos, mas sim, eu a tinha. Pretérito. Minha garganta
fechou, tornando impossível respirar. Eu a tinha, mas ela estava
aqui. Ela veio para mim. Eu puxei o ar em meus pulmões.
— Eu não tenho mais você?
— Você tem, se você estiver pronto para confiar em mim. —
Ela mordiscou o lábio e olhou para mim.
A confiança dela me derrubou. Significava tudo. Eu nunca
tinha sido verdadeiramente confiável antes. Nunca. Ou eu
nunca tinha chegado perto o suficiente para fazer com que isso
importasse, mas com ela importava. Importava mais do que
qualquer coisa.
— Eu não vou esconder nada de você novamente. Eu sou um
livro aberto.
Ela bufou uma pequena risada.
— Tudo que eu preciso fazer é olhar em seus olhos e então
eu posso te ler. É por isso que doía tanto quando você colocava
o boné.
— Eu sei. — Eu escovei meu polegar sob sua orelha. — Mas
eu desistiria de tudo para voltar. Ao soco. Para o dia na escada.
Qualquer coisa para ter tudo de volta. Cada despedida. Cada
ponto. Cada vitória. O que você diria sobre isso?
— Que você está compensando demais. — Ela jogou a gaze
ensanguentada e as bandagens no lixo e limpou a área. — Você
trabalhou duro para chegar onde está.
— E se eu disser que não me importo?
— Então eu diria que você é louco. Isso não faz sentido. Nos
conhecemos há um ano. Você é jogador de futebol desde
pequeno.
Fechei minhas mãos sobre as dela.
— E se eu disser que não importa?
Suas narinas se dilataram e seus lábios se apertaram com força
antes de estremecer.
— Eu diria, eu te amo. — Ela respirou fundo. — Eu diria que
te amo e não quero que você se machuque. Eu não quero que
você machuque outras pessoas.
Eu também não queria. Era minha vida. Rasgando e
raspando por quaisquer sobras que houvesse, mas eu não
queria ser essa pessoa com ela. Eu entrei entre suas pernas e
passei meus braços ao redor dela.
— Eu também não quero fazer isso.
Ela se agarrou a mim, grudando-se com força e me apertando
com tanta força que eu grunhi.
— Eu sinto muito. Eu sinto muito. — Ela beijou bem
debaixo da minha orelha, depois ao longo do meu queixo.
Então do meu queixo até meus lábios. — Eu sinto muito.
O sal de suas lágrimas tocou meus lábios. Suas mãos
seguraram meu rosto e me beijaram por toda parte, banhando-
me em seu amor.
Segurei sua nuca e a mantive perto, esmagando meus lábios
nos dela.
— Senti a sua falta. Eu senti tanto sua falta.
— Tanto que doeu. — Cada beijo funcionou como uma
pomada, lentamente preenchendo as rachaduras que estavam
perto de quebrar. A besta no meu peito não estaria fora de um
quintal extra a qualquer custo, mas por causa do seu toque. Seu
toque que me acalmou e me envolveu em chamas.
— Nunca mais. Eu não vou deixar você nunca mais.
As dobradiças das comportas do meu coração foram
arrancadas com suas palavras.
CAPÍTULO 42
WILLA

Eu segurei Ezra. Lentamente, seus músculos afrouxaram e o


corpo relaxou contra o meu.
— Vamos tirar você desse uniforme. — Fechei meus dedos
com os dele e o acompanhei pela casa.
— Eu não tenho nenhuma roupa.
Meu relógio tocou e eu verifiquei a mensagem da minha mãe
antes de ditar uma resposta.
Eu: Estou em casa com Ezra.
Seus dedos apertaram os meus.
Olhei para Ezra e massageei as costas de seu polegar com o
meu.
— Não se preocupe.
Levantando o relógio, enviei outra mensagem.
Eu: Ele não está muito bem depois do jogo, você pode
trazer o jantar para casa?
Quando chegamos às escadas, ele zumbiu.
— Eles estarão aqui em uma hora. E podemos pegar
emprestado algumas roupas de Walsh.
Ezra puxou minha mão.
— Isso não é uma boa ideia.
— Confie em mim, está tudo bem. Vai levar muito tempo
para ele compensar o que fez com você. — Fui puxada para trás,
Ezra não se movia mais comigo.
— Ainda não consigo acreditar que ele te contou. — Ele
parou no topo da escada, os olhos arregalados de choque.
— É mais como se eu tivesse arrancado dele depois de
encurralá-lo no hotel da equipe, mas sim, ele me disse. — Eu
segurei sua bochecha. — Uma vez que você se trocar e comer,
poderemos conversar sobre por que você não achou que
poderia me contar.
Seus olhos inundaram com uma tristeza avassaladora.
— Nunca alguém me escolheu.
A tristeza em suas palavras lancetou meu peito.
— Mais tarde. Podemos falar sobre isso mais tarde. Temos
todo o tempo do mundo. Vá até lá, vou pegar roupas no quarto
de Walsh. — Eu o levei para o meu banheiro e peguei uma
toalha e um lenço para ele. — Deixe-me pegar sabonete no
quarto de hóspedes, para que você não tenha que cheirar como
eu.
Ele pegou meu pulso e traçou o interior dele com os dedos.
— Eu não me importo de cheirar como você.
O toque e a maneira como ele disse essas palavras encheram
meu estômago de palpitações, mas não havia tempo para isso.
— Ok, entre e eu vou pegar algumas roupas para você.
Ele assentiu e lentamente soltou seu aperto no meu pulso.
Acalme-se, garota. Agora não era o momento. Corri para o
quarto de Walsh para pegar provisões.
Quando voltei para o meu quarto, o vapor saía do banheiro.
Coloquei as roupas no balcão e fechei a porta atrás de mim.
Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo. Dias. Horas.
Segundos. Eles poderiam mudar toda a sua vida para melhor ou
para pior e eu aprendi a não dar o melhor como garantido. Nós
poderíamos resolver isso se ele soubesse que eu confiava nele e
se ele confiasse em mim.
Enquanto Ezra tomava banho, desci as escadas para o
vestíbulo e peguei um saco de roupa suja para o uniforme dele.
No andar de cima, corri de volta para o meu quarto e parei.
Ele saiu do chuveiro, arrastando os pés.
— Você precisa de um pouco de gelo?
— Eu ficarei bem.
Aproximei-me e passei meus braços ao redor dele,
inclinando-me para trás para olhar em seus olhos.
— Deixe-me cuidar de você, ok?
Ele sorriu e escovou meu cabelo para trás sobre minha orelha.
— Eu gostaria disso.
Leveza me encheu sabendo que eu poderia fazer isso por ele.
Eu levantei sua mão e beijei seus dedos. Dentro do banheiro,
juntei todas as roupas dele, enfiei-as no saco de roupa suja e as
deixei ao pé da minha cama.
— Siga-me, eu vou fazer compressas de gelo.
No andar de baixo, peguei as bolsas de gelo reutilizáveis e as
coloquei nas mangas das toalhas.
Os passos pesados e medidos de Ezra desceram a escada.
— Sente-se na sala de estar e eu vou trazer isso para você.
Com as bandagens e gelo na mão, eu o encontrei na sala.
Ezra estava sentado no sofá com os braços cruzados sobre o
peito, a cabeça caída para frente, adormecido.
A porta da frente se abriu. Mamãe e papai entraram com
algumas caixas de pizza e um saco plástico em cima.
Eu andei na ponta dos pés.
— Ele está dormindo.
Ambos foram até a porta e checaram Ezra.
Mamãe me abraçou.
— Tadinho. Deixe-o dormir até eu arrumar o quarto de
hóspedes para ele. Ou devemos fazê-lo dormir aqui embaixo?
Papai mudou as caixas de pizza.
— Ele não pode dormir aqui embaixo. Suas costas estarão
uma bagunça pela manhã. Faça-lhe um prato com algumas
fatias de pizza e um cheesesteak e leve-o para a cama.
— Vou arrumar o quarto. — Mamãe correu para cima ainda
com o casaco.
Com tudo o que passamos nos últimos meses, eles ainda
eram os mesmos ótimos pais. Seus corações eram tão grandes e
eu nunca estive mais grata pela forma como eles foram
acolhedores com Ezra. Ele precisava disso e eu adorava lhe dar
outro lugar com pessoas que se importavam com ele.
Sentei-me ao lado dele e esfreguei seu joelho.
Ele acordou, quase de pé antes de olhar para mim e se
acalmar.
— Ei, tudo bem, só eu.
Ele esfregou os olhos com as palmas das mãos.
— Desculpe.
— Não precisa se desculpar, você está cansado. Minha mãe e
meu pai estão de volta. — Peguei sua mão enfaixada.
— Merda, sério? — Ele se levantou e piscou algumas vezes.
— Eles estão mandando você para a cama com um prato de
comida.
— Eles são... — Suas sobrancelhas franziram.
Papai voltou com a bandeja que usamos para o café da manhã
da mamãe na cama. Nele havia uma pilha de comida e duas
grandes garrafas de água.
— Ezra, a comida ainda está quente. Willa pode mantê-lo
acordado para que você possa comer e depois descansar um
pouco.
Ezra se mexeu, a tensão se esvaindo dele.
— Obrigado, Dan. Eu agradeço.
Segurei sua mão e escovei meus dedos contra sua palma.
Ele sorriu e me lançou um olhar. Pelo menos, ele não parecia
mais tão tenso.
— Não precisa. Sabemos o quanto os jogos podem ser
exaustivos. Willa, quer pegar isso? — Ele ergueu a bandeja.
— Eu posso levar isso. — Ezra deu um passo à frente.
— Não. — Eu cheguei na frente dele. — Você pega as bolsas
de gelo que eu preparei para você.
Ele os pegou e me seguiu escada acima.
— Se você precisar de alguma coisa, avise-nos — papai nos
chamou.
Mamãe saiu do quarto de hóspedes e abraçou Ezra.
— Coma e descanse um pouco. No meio da noite, se você
estiver com fome ou com sede, a cozinha fica aberta. Não seja
tímido.
— Obrigado, Lea. — Sua voz falhou e ele a limpou. — Eu
aprecio tudo isso.
Ela acenou com a mão no ar.
— Não é nada. Aproveite a comida e durma, ok? Isso é uma
ordem.
— Sim, senhora. — Ele sorriu. Um largo e cheio de dentes
que mostrava outro lado bonito dele.
Dentro do quarto, fechei a porta com um chute e coloquei a
comida na mesa.
— Quer assistir algo enquanto comemos?
— Você escolhe. — Em vez de se sentar na cama, ele se
abaixou no chão e encostou as costas nela.
Depois de empilhar um prato cheio de comida, entreguei a
ele e peguei o controle remoto.
Ele arrastou a mão para cima e para baixo na minha
panturrilha enquanto devorava uma fatia enorme de pizza em
quatro mordidas.
Encontrei o que procurava e iniciei o Exterminador do
Futuro 2.
— Já disse que te amo?
Uma enxurrada de tremores tomou conta do meu estômago.
— Não o suficiente. — Inclinei-me para beijá-lo e preparei
meu próprio prato, deixando o volume para ele.
Em vez de sentar ao lado dele, sentei na cama e coloquei uma
perna em cada lado de seus ombros. Comi uma fatia de pizza
com uma mão e passei meus dedos em seu cabelo com a outra,
amassando e massageando com os dedos.
Ele afundou contra a cama e cedeu ao meu toque.
Arnold atravessou a tela descarregando uma minigun e a
cabeça de Ezra pendeu contra minha perna.
— Venha aqui e vá dormir. — Dei um tapinha no colchão.
— Suas mãos são muito boas na minha cabeça. — Ele cobriu
minhas mãos com as dele, seus dedos frios por ajustar as bolsas
de gelo.
— Eu vou continuar. Suba.
Ele resmungou e se levantou do chão. Depois de despejar as
bolsas de gelo na pia, ele deitou na cama na minha frente.
Apoiei minha cabeça em um braço e massageei seu couro
cabeludo e têmpora, tomando cuidado com o hematoma que
se formava ali.
— Você vai comigo amanhã? — Ele se virou e olhou para
mim com medo e hesitação genuínos.
Uma briga fora do campo nunca era uma coisa boa. Ele
poderia receber todos os tipos de penalidades ou punições por
dar socos, mas eu estaria lá desta vez. Eu não estava indo
embora.
— É claro.
Inclinei-me e pressionei meus lábios contra os dele.
Ele segurou minha nuca, me beijando como se tivesse
passado meses desde que nossos lábios se tocaram pela última
vez.
— Se você não tivesse ido…
— Mas eu fui. — Corri meus dedos em seus lábios. —
Podemos fazer o jogo hipotético de agora até sempre. — Eu
mesma já tinha feito isso um milhão de vezes. Duvidando de
mim mesma e de cada ação. Walsh fez isso, nossos pais também.
Mas darmos o nosso melhor de onde estávamos e tentar fazer
melhor era tudo o que qualquer um de nós podia fazer.
Assentindo, ele rolou de volta e não demorou muito até que
suas pálpebras caíssem e sua respiração desacelerasse.
Saí da cama e levei as sobras de comida para baixo.
Ezra estava no andar de cima dormindo. Ele me deixou sair
da cama ao lado dele, mesmo que fosse um lugar novo.
Significava mais para mim saber que ele estava seguro depois de
tudo o que passou. Foi tudo consertado? Não. Foi tudo
perfeito? Não. Mas falar com ele e saber que eu tinha sua
confiança e ele a minha foram os primeiros passos para
consertar o que estava quebrado.
Depois que meus pais foram para a cama, entrei no quarto
com Ezra e passei meus braços ao redor dele.
Ainda dormindo, ele me agarrou e me abraçou como se
nunca quisesse me soltar, agarrando minha camisa.
Repeti minhas palavras para ele de antes.
— Eu não vou embora.
Ele relaxou.
O que quer que viesse amanhã, enfrentaríamos juntos. Eu
estaria ao seu lado para enfrentar qualquer tempestade que
surgisse no horizonte.
CAPÍTULO 43
EZRA

Willa me deixou no estádio. Três carros estavam estacionados


do lado de fora da entrada dos jogadores como prenúncios da
minha destruição.
— Estarei aqui.
— Você não precisa esperar.
— Estarei aqui. Mesmo que você não possa me ver quando
sair, não irei até você sair.
Eu balancei a cabeça e fechei a porta, não me sentindo tão
sozinho.
Meu tênis rangeu no chão. As cores da Fulton U cobriam os
corredores. No modo de jogo, eu nunca prestei atenção, mas
sem a multidão de pessoas correndo, o chão parecia irregular
sob meus pés.
O que teria acontecido se eu tivesse vindo para cá? Se eu não
estivesse tão decidido a fugir do meu passado e não tivesse
arriscado. Se eu estivesse no time campeão. Se eu estivesse no
mesmo campus que Willa.
Teríamos nos encontrado? Será que ela ainda queria me
conhecer?
Entrei no corredor. Mikelson andava de um lado para o
outro como um animal enjaulado, levantando a cabeça no
segundo em que meus tênis chiaram no concreto polido.
Ele olhou para mim, as narinas dilatadas e a veia do lado de
seu pescoço pulsando. Toda a raiva que senti ontem
empalideceu à luz do dia depois de uma boa noite de descanso
ao lado de Willa.
— Coloque sua bunda lá — disse ele com os dentes cerrados.
Entramos no escritório na hora certa. Ele bufou e eu meio
que esperava que a fumaça saísse de suas narinas.
Ele era o tipo de fúria – o tipo de dano – que eu estava
acostumado. Parecia mais do mesmo que eu tinha vivido antes,
mas pelo menos desta vez foi com um propósito. O que eu fazia
em campo importava. Eu preferiria ter a merda chutada para
fora de mim se isso realmente levasse a algo melhor, não apenas
costelas machucadas e estômago vazio, sem escapatória.
As palavras de Willa ecoaram em meus ouvidos durante toda
a viagem. Elas eram o martelo de garra arrancando um prego
após o outro das tábuas do assoalho que eu havia instalado em
volta do meu coração. Ela era a única destemida o suficiente
para pegar as ferramentas. Mas ela estava com medo.
Eu tinha visto em seus olhos. Eu nunca quis ser aquele cara
para ela. Eu sempre quis ser o herói dela, não pelo que fiz em
campo, mas por quem eu era para ela, e tive uma segunda
chance de repará-lo. A vingança não tinha lugar nisso.
Mikelson andava de um lado para o outro no escritório,
parecendo não pior do que todas as vezes que ele me jogou no
chão antes. Isso não era sobre mim. Era sobre sua perda. Ele só
dava a mínima para mim pelo que isso refletia nele. O
envergonhava.
— Brigando no túnel do time adversário. — Sua voz agitou
como vidro moído.
Berkley Vaughn e eu nos sentamos lado a lado em cadeiras
pequenas demais para corpos de jogadores de futebol. Talvez
eles tenham trazido isso especialmente para nossa tortura.
Vaughn olhou para frente. Ontem à noite, eu queria
desmantelá-lo. Ele tinha tudo. As vitórias. O Treinador. A
garota – a bonita que esteve em seu braço na festa – e ontem à
noite eu não tinha comido nada.
Mas hoje foi diferente. Eu tinha Willa. A nitidez do meu ódio
foi embotada ao dormir ao lado dela e acordar com meus braços
em volta dela.
— Quem quer ir primeiro? — O treinador do Fulton U,
Saunders, olhou de mim para Vaughn com um olhar severo,
mas não derretido.
Mikelson andava como se fosse arrancar a garganta de quem
falasse primeiro. Seus movimentos eram como a fera que vivia
no meu peito, um lembrete assustador do que parecia fora do
campo – do que Willa viu ontem à noite. Mas ela ainda veio até
mim, ainda me deixou me explicar. Lutando contra meu
instinto de atacar, eu sabia como precisava lidar com isso.
Como Willa gostaria que eu lidasse com isso.
Olhei para Vaughn.
Sua mandíbula se apertou.
Achei que ele aproveitaria a chance de me jogar na cova dos
leões. As correntes barulhentas em meu peito, o desejo de
atacar, recuaram.
— Nada! É isso que vocês dois têm para nós? — Mikelson
gritou. — Que tal agora? Que tal vocês dois ficarem suspensos
pelo resto da temporada? Todos aqueles sonhos de draft, puf...
— Ele lançou outra de suas ameaças favoritas. — Em fumaça.
Nosso silêncio combinado continuou, os segundos no
relógio na parede marcando cada um. As veias de Mikelson na
lateral de seu pescoço pulsavam no ritmo de cada golpe de
contra ataque.
Minha perna saltou. Eu precisava acabar com isso.
— Tivemos um desentendimento. — Olhei para frente, sem
olhar para Mikelson, mantendo meus sentimentos reprimidos.
— Não nos deixe esperando, meninos. Porque é com isso que
vocês dois se parecem agora, como pré-escolares sendo
arrastados para a sala do diretor. Só que vocês não vão sair daqui
para bater os apagadores de quadro depois da aula. — Cada
palavra condescendente da boca de Mikelson era para
provocar, mas essa não era a isca que eu cairia. Eu apertei minha
mandíbula com força. Perder o resto da temporada valeria a
pena por outra chance de irritá-lo. Eu tinha seguido o fluxo de
toda a sua porcaria por tanto tempo, aguentando o tratamento
de merda.
— Por causa de quê? — O treinador Saunders inclinou-se,
olhando fixamente para Vaughn, tentando fazê-lo ceder.
Em vez de derramar, ele olhou para mim, talvez vendo se
minha determinação era forte o suficiente. Ele não tinha ideia.
Eu aprendi minhas lições há muito tempo sobre quando
manter a boca fechada.
— Você começa algo e agora não quer dizer uma palavra? —
Mikelson entrou na minha cara, saliva atingindo minha pele e
revirando meu estômago. Seu hálito cheirava a café velho.
— Bill, acalme-se. — O treinador Saunders puxou Mikelson
para longe de mim. — Por que você não dá um passeio e eu
descubro isso?
Mikelson olhou para ele e tentou ignorá-lo. O treinador
Saunders lhe lançou um olhar e Mikelson recuou. A ameaça
que respirava fogo parecia pronta para um retorno,
incinerando o treinador da FU a nada. Mas ele não o fez. Em
vez disso, ele olhou para mim e saiu, batendo a porta com tanta
força que os troféus nas paredes chacoalharam.
Calmo e com as mãos cruzadas na frente dele, o treinador
Saunders olhou de volta para nós.
— Quem vai falar primeiro? — Ele não estava exigindo,
gritando e berrando, mas a expectativa estava ligada às suas
palavras.
Vaughn limpou a garganta.
— Treinador…
Eu cambaleei para frente.
— Foi por causa de uma menina. — As palavras dispararam.
— Ele estava chateado por causa de uma garota com quem eu
estava saindo e essa foi a vingança. — Eu lhe cortei um olhar.
Por um instante, a confusão vincou sua testa.
— Uma garota. — O ceticismo queimou a voz do treinador.
— Irmã do Muralha — Vaughn deixou escapar.
Eu segurei o suspiro aliviado.
— Vocês dois estavam brigando no corredor durante um
jogo e eu estou ouvindo acusações sussurradas sobre um
jogador pegando dinheiro que poderia tirar toda a temporada
do meu time do livro dos recordes. E isso tudo por causa da
irmã de um jogador, Walsh Goodwin, que se formou no ano
passado? Isso é o que vocês dois estão me dizendo? Que isso era
algum código de equipe sobre não mexer com a irmã de outro
jogador que deu errado? — Ele olhou de mim para Vaughn
como se nós dois tivéssemos perdido a cabeça. Ele estava com
os jogadores há tempo suficiente, ele tinha que saber que estava
certo.
Seu olhar nos penetra. Para a maioria, provavelmente seria
sufocante, desconfortável. Mas este não era meu primeiro
interrogatório e provavelmente não seria o último.
— Suas carreiras profissionais estão em jogo aqui. Controlem
sua testosterona. — Ele se inclinou contra a mesa e esperou. O
escrutínio não me atingiu. Levaria muito mais tempo do que
um olhar desapontado para me quebrar.
— Se é a isso que vocês estão se apegando, então pelo menos
agora vocês têm suas histórias corretas. Vocês não vão sair
daqui ilesos. Haverá repercussões, e é melhor vocês dois
rezarem para que possam manter suas hostilidades fora de
campo ao mínimo ou nenhum treinador profissional vai
querer tocá-lo. Agora saiam daqui. Eu vou deixar vocês
saberem assim que a punição final for decidida.
— Obrigado, treinador — dissemos ao mesmo tempo e nos
levantamos.
Mas a fuga não poderia ser tão limpa. Mikelson virou a
esquina no segundo em que entramos no corredor. Sua boca se
abriu e eu me preparei para o berro, mas o treinador Saunders
o afastou e o encurralou de volta ao escritório.
O silêncio do corredor ecoou em meus ouvidos. Luzes
fluorescentes no alto emitiam o mais leve guincho. Uma vez
que Mikelson me tivesse sozinho, eu seria esfolado vivo.
Minhas palmas rasparam as paredes pintadas de blocos de
concreto.
Vaughn me olhou do outro lado do corredor como se depois
do que aconteceu lá, eu fosse cair no soco novamente.
O que diabos eu estava esperando aqui? Não era como se
Mikelson não fosse me encontrar. Eu empurrei a parede e
marchei pelo corredor.
— Obrigado, cara. — Sua voz ecoou no corredor frio e vazio.
Eu congelei, raiva eriçada através de mim, e cerrei os punhos
nos bolsos.
— Eu não fiz isso por você. — Meu sorriso de escárnio deixou
uma queimadura cáustica em meus lábios.
Girando ao redor, eu corri em direção a ele.
— Eu sou sempre o cara mau, certo? Não os traidores? Não
os idiotas que fazem o que diabos eles querem. — Em nossa
casa, tivemos a sorte de obter sucatas. Quantas noites eu tinha
ido dormir com fome? — Vivendo com todos aqueles idiotas
ricos que olham com desprezo para pessoas como nós. — Eu
pulei para frente, ficando cara a cara com ele. — Claro que
espero que você goste de suas férias ou carro novo ou qualquer
outra besteira com que você tenha gastado. — Cada palavra
caiu como uma granada entre nós.
Em vez de remorso, Vaughn pulou para frente e ficou na
minha cara.
— Você acha que é o único que está lidando com merda? —
Ele retrucou em um segundo, como se sua raiva tivesse
desligado. Deve ser legal. Então, ele se aproximou como se
fôssemos melhores amigos e ele precisava me dizer quem era sua
paixão secreta. — Peguei o dinheiro. Não gastei com nada
disso. Gastei-o num detetive particular para localizar a minha
mãe. Aquele que me deixou na varanda do meu ex-presidiário
e futuro pai quando eu tinha sete anos.
Minha cabeça estalou para trás e eu olhei para ele.
Sua mandíbula apertou. Cada músculo se contraiu contra a
tensão de um passado tentando afogá-lo.
Eu podia sentir como se fosse meu. A névoa de raiva se
levantou e se afastou.
— Você a encontrou?
Seus olhos se arregalaram e seus lábios se fecharam.
Achei que ele não diria uma palavra, e por que deveria? Eu
com certeza não faria.
— Sim, eu a encontrei. — Ele ergueu o queixo. — No
Cemitério Memorial de Dayton. — Sua voz falhou um pouco
no final.
— Porra.
Sua cabeça balançou.
— Esses foram meus últimos dias, então antes de você sair
gritando sobre as pessoas fazendo merda só porque podem,
pense em por que alguém como eu faria algo tão
monumentalmente estúpido. Estava errado. Eu não deveria ter
feito isso, mas eu tinha que saber. — A coisa toda saiu
apressadamente, uma enxurrada de emoções que eu não pensei
que fosse possível para ele sentir.
E isso me apunhalou com mais força. Berk e eu éramos muito
mais parecidos do que eu poderia imaginar. Eu estava a
segundos de arruinar toda a sua carreira – e a troco de quê?
A tensão zumbindo na minha cabeça se acalmou. Já não
parecia que um enxame de abelhas estava tentando me
lobotomizar.
— Você está feliz por saber? Mesmo que a notícia seja uma
merda?
Seu braço se ergueu e os dedos se abriram, acenando sobre o
nada.
— É melhor do que não saber.
Olhei para o cara cuja cabeça eu esperei a temporada para
arrancar e assenti.
— Eu acho.
Uma tempestade se formou em meu peito. Berk foi procurar
sua mãe e descobriu que ela tinha falecido. Mas ele sabia a
verdade. Ele não a veria em estranhos na rua ou teria um pulga
atrás da orelha, sempre se perguntando o que aconteceu.
Pode ser o mesmo para mim. Poderia ser melhor. Tudo o que
eu tinha que fazer era fazer a escolha e encontrar o dinheiro.
Mas a decepção sempre fez parte da minha vida, até agora.
Parecia que as coisas estavam finalmente boas, não importa o
que Mikelson tenha reservado para mim.
Saí e Willa ficou na frente do SUV que ela pegou emprestado
de sua mãe. Ela estava aqui para mim. Ela esfregou as mãos e
pulou de uma perna para outra e, qualquer que fosse o terror
que Mikelson jorrasse sobre mim, não me assustava tanto
quanto estar sem ela.
As próximas decisões seriam aquelas que eu não sabia se teria
forças para tomar, mas talvez com ela ao meu lado eu tivesse
esperança de sobreviver.
CAPÍTULO 44
WILLA

— Eu odeio seu treinador! — Eu atirei uma das bolas de


basquete no jogo de arcade escondido no canto do esconderijo
secreto de jogadores de futebol que Ezra tinha me trazido. Meu
arremesso atingiu o aro, mas eu peguei outro e joguei fora.
— Você foi adicionada a uma lista muito longa de pessoas
que o odeiam. — Ele jogou uma bola e manteve uma cadência,
usando seu alcance extralongo para fazer arremessos quase
contínuos.
— Como você está tão calmo sobre isso? — Afastei-me da
minha pontuação lamentável.
— Já lidei com babacas muito maiores na minha vida. Pelo
menos, aguentar isso terminará em uma hora e data definidas e
pode me levar a uma vida melhor. — Ele pegou meus ingressos
de fliperama e os dele e os estendeu para mim. — Guarde-os
para mais tarde.
— O quanto não jogar pelo resto da temporada prejudicará
suas perspectivas de draft? — Eu me encolhi tentando imaginar
como Walsh teria enlouquecido se ele tivesse ficado no banco
por apenas um jogo. O último ano foi crucial para o
recrutamento profissional, juntamente com as performances
de desempenho.
— Vai ser melhor do que a notícia de que briguei contra um
adversário fora de campo. E é apenas um jogo do Bowl14 e um
jogo de estrelas desde que nossos sonhos de campeonato
nacional morreram nos playoffs. — Sua indiferença sobre tudo
isso era um pouco enervante, mas ele tinha outras coisas em
mente desde que voltamos.
— Você está lidando com isso melhor do que eu esperava. —
Fazia uma semana desde que voltamos para a Filadélfia e um dia
desde que Mikelson disse a ele que não iria se apresentar nos
jogos. Ezra aceitou a derrota com um aceno sombrio, mas não
houve fúria.
— Eu não posso mudar isso. Os jogos do Bowl darão a alguns
outros jogadores mais jogadas para seus papéis de destaque.
Hollis pode adicionar outra rodada de estatísticas à sua
planilha. — Ele me puxou para perto e acariciou meu pescoço.
— Estou aqui com você e isso é o mais importante. — Seus
lábios contra minha pele enviaram arrepios pela minha espinha
e aprofundaram as piscinas de calor crescendo entre minhas
coxas. O leve zumbido, combinado com a maneira como ele me
tocou, aumentou a vontade de encontrar um canto escuro
neste bar secreto e não respirar por um tempo.
— Então eu vou ter que ficar chateada por nós dois.

14
Os times de várias universidades são convidados para inúmeros jogos de pós-temporada por
todo o país, jogos estes patrocinados por grandes empresas e que geram muito dinheiro – seja
por ingressos ou acordos de transmissão televisiva – para as universidades e para os
patrocinadores.
Ele segurou a parte de trás do meu pescoço.
— Adoro quando você fica com raiva por mim.
Alguns caras se aproximaram e deram um tapinha no ombro
de Ezra.
Sua equipe estava chateada por ele tanto quanto eu. Fiquei
feliz por ele ter o apoio deles. Ele sempre sentiu como se
estivesse sozinho, mas havia uma equipe de pessoas que se
importavam com ele.
Eles me deixaram entrar no bar, o que não foi um convite que
muitos receberam pelo que me disseram.
Pegamos algumas bebidas e procuramos os amigos de Ezra.
Griff e Hollis nos acenaram para a mesa deles.
— Esforço valente, Willa, mas nenhum de nós chutou sua
bunda naquele jogo ainda. — Griff pousou o copo, deixando
espuma no nariz.
— Depois de mais algumas tentativas, talvez eu consiga fazer
isso.
— A contagem regressiva começou. Faltam apenas quatro
meses para a formatura.
Uma pontada atingiu meu coração. Nosso reencontro
duraria pouco. Nós já tínhamos passado tanto tempo
separados, tantas semanas não aproveitando cada momento
que tínhamos vivendo a dez minutos um do outro devido ao
meu irmão idiota e ao orgulho de Ezra. Mas eu saborearia o
tempo que nos restava e não daria como certo.
— Apenas um pouco mais de um mês até o Combine15. —
Corri meu dedo ao longo da borda do meu copo.
— Nós sabemos. Recebi meu convite hoje — Hollis
sinalizou a um dos bartenders calouros para uma nova rodada.
— Eu só tenho que esperar para não me machucar no jogo do
bowl.
Minhas costas endureceram. Os convites do Combine já
tinham saído? O Combine era uma chance para as equipes
profissionais convidarem os principais prospectos para um
único evento e avaliá-los pelos ritmos. O convite e o
desempenho de Walsh lá, de acordo com especialistas, levaram-
no a ser um dos primeiros vinte convocados na temporada
passada. Deixei cair minha mão na perna de Ezra e olhei para
ele.
A sutil sacudida de sua cabeça me disse que não tinha
recebido um convite. O álcool no meu estômago virou. Não
era impossível ser uma das principais escolhas do draft sem o
convite, mas ajudava e sinalizava que seu contrato poderia valer
um prêmio.
Griff apertou as palmas das mãos.
— Estou na lista de merda de Mikelson, então não fui
adicionado à lista. Nenhum convite para mim. Terei sorte se
chegar à quarta rodada.
Hollis agarrou seus ombros.

15
NFL Scouting Combine é uma espécie de laboratório de observação para futuros jogadores
da NFL, que poderão ser escolhidos nos próximos Drafts.
— Tenha um pouco de fé, cara.
Ezra foi ao banheiro e a dupla dinâmica foi para o jogo de
dardos. Quando Ezra voltou para se juntar a nós, ele estendeu
a mão para mim.
Eu o segui.
Seus dedos pousaram na minha cintura, a outra mão segurou
a minha, enquanto ele nos movia pela pequena pista de dança.
— Esta não é uma música lenta.
— Vou tratar cada música como uma música lenta se eu
conseguir te abraçar assim.
— Você não está preocupado com os convites. — Ele
trabalhou tão duro por mais de uma década para chegar aqui e
agora parecia pronto para deixar tudo ir. Mas ele estava apenas
fingindo seguir o fluxo para não ter que enfrentar a grande
escolha que eu o vi ponderando? Eu praticamente podia ouvir
as engrenagens rangendo. Ele precisava de respostas sobre sua
mãe.
— Não quando estou aqui com você.
Eu me afastei para olhá-lo completamente nos olhos.
— Sério, Ezra. Você está apenas bem com isso?
— Você prefere que eu perca a minha merda? — A diversão
dançou seu olhar.
— Não, mas você trabalhou tanto e...
Seus olhos brilharam com o riso.
Eu fiz uma careta.
— E agora?
— Eu amo ver você ficar tão preocupada comigo. Amo que
você esteja surtando mais do que eu.
— Mas…
Ele me beijou. O beijo firme e provocante fez minha cabeça
girar.
— Verifiquei meu e-mail no caminho de volta do banheiro e
também recebi um convite.
Choque me cambaleou e eu empurrei seu peito. Ele mal se
moveu um centímetro e olhou para mim com uma sugestão de
sorriso.
— Seu idiota, você me deixou surtar por todo esse tempo.
— Sólidos oito minutos. Você vai sobreviver. — Ele passou
os dois braços em volta de mim e me virou. — Muitos dos caras
têm sua família com eles. E Hollis estará lá, provavelmente
Griff, Cole e Reid também, mas você virá?
— É claro. Nada poderia me afastar. — Eu amei que eu
poderia estar lá para ele. Eu fazia parte daquele círculo de elite
de pessoas que ele amava, que o amava de volta.
— Bem desse jeito?
— Bem desse jeito. — Eu o puxei para perto e o beijei. — Não
se esqueça foi você quem você pediu quando eu estiver
gritando a plenos pulmões torcendo por você.
De volta à minha casa, entramos no apartamento na ponta
dos pés. Eu não sabia se Maggie estava dormindo e me recusei a
ser uma péssima colega de quarto.
Uma vez no meu quarto, chaves, casacos, telefones, roupas
foram jogados, espalhados por todo o chão.
Ezra me jogou na cama com uma gentileza para seu tamanho
que nunca deixou de me surpreender.
No campo, ele poderia causar sérios danos, mas comigo, ele
sempre foi um ursinho de pelúcia.
Ele olhou para mim, enviando arrepios através do meu
corpo, e rolou o preservativo.
— Você está pronta para mim, Willa?
— Sempre.
Ele levantou uma perna e descansou minha panturrilha
contra seu ombro. Não indo devagar, ele entrou em mim,
afundando em um golpe sólido.
Eu gemi, arqueando as costas para fora da cama.
O ângulo aprofundou cada golpe e eu apertei em torno dele.
Ezra gemeu meu nome e redobrou seus esforços. Todas
aquelas longas práticas entregaram uma resistência que puxou
as costuras do meu controle.
Eu agarrei os lençóis, felicidade elétrica abrindo caminho até
as pontas dos meus dedos.
Impulsos frenéticos e desleixados encontraram meus quadris
balançando e em alguns suspiros eu desmoronei embaixo dele.
Ele me seguiu logo depois, enchendo o preservativo e
salpicando meu rosto com beijos.
Depois de nos limparmos, deitei contra seu peito. Eu puxei
seu braço mais para cima e envolvi meus dois braços ao redor
dele. Talvez, de certa forma, eu estivesse tentando impedi-lo de
correr.
— Você deveria fazê-lo.
Desde que Ezra me contou tudo sobre o que aconteceu com
Vaughn e como ele saiu procurando por sua mãe, a conversa
estava em espera, mas eu podia dizer que não estava mais no
fundo de sua mente. Eu vi isso em seus olhos, sempre uma dica
da pergunta para a qual ele precisava da resposta.
Ele me contou sem qualquer menção de seus próprios
pensamentos ou desejos. Sua mãe estava lá fora.
— Eu nem saberia por onde começar. — O fato de ele não
precisar perguntar sobre o que eu estava falando me disse que
isso também estava em sua mente.
— Eu poderia te dar o dinheiro.
Ele me lançou um olhar de frustração.
— Um empréstimo. Um empréstimo de curto prazo. Falta
menos de três meses até você assinar um contrato, Ezra. Mas
você pode encontrá-la agora.
— Faz tanto tempo — disse ele, melancólico e cheio de
saudade.
— Tem, mas Vaughn disse que precisava saber, certo?
— Ele disse.
— Se eu esperar pelo draft, ela pode me encontrar então. Ela
verá meu nome nas notícias e saberá onde me encontrar. —
Havia uma esperança cautelosa em sua voz.
Ou ela poderá saber para onde ir para tirar dinheiro dele. Era
melhor fazê-lo agora, antes que seu nome aparecesse nas
notícias com cifrões anexados a ele. Eu odiava pensar que ela
poderia estar atrás do dinheiro dele, mas as pessoas ficavam
estranhas quando várias vírgulas atingiam a conta bancária de
alguém.
— Por que esperar?
— Você sabe o porquê.
Eu cutuquei o centro de seu peito.
— Você sabe que dinheiro não é uma preocupação. Farei
serviços de bufê com você se não quiser que eu peça aos meus
pais. O que for preciso.
— Eu esperei tanto tempo…
— Você quer encontrá-la logo antes de se preparar para sua
primeira temporada profissional? — Eu descansei meus braços
em seus ombros e corri meus dedos pela parte de trás de sua
cabeça. — Se você esperar, isso ficará em sua mente até o dia em
que você souber. Esperar só o deixará mais ansioso.
Ele levantou as mãos e as colocou em cima das minhas.
No começo eu pensei que ele iria afastá-las, em vez disso ele
mergulhou e me beijou.
— Você é insistente como o inferno, você sabia disso?
Meus dedos dos pés formigaram.
— Quando eu tiver que ser.
— Vou pensar sobre isso. — Ele apertou a parte de trás do
meu pescoço, seu polegar trabalhando naquele ponto abaixo da
minha orelha que eu não sabia que era tão sensível quanto era
até ele o tocar.
Eu desabei em cima dele.
— Isso significa que sua resposta é sim para o dinheiro?
Ele beijou a ponta do meu nariz.
— Significa que estou considerando isso. Isso é o melhor que
você vai conseguir.
— Eu vou aceitar. Por hoje à noite. — Reunir Ezra e sua mãe
era o tipo de reunião que minha família só podia sonhar. O
pedaço dele ferido por sua separação poderia ser curado por
finalmente poder vê-la. E se ela estivesse procurando por ele
todo esse tempo, por que não ajudá-los a finalmente se
reconectar?
Mesmo que ele tivesse que considerar isso um empréstimo,
eu não me importava, mas ajudá-lo a encontrá-la não era uma
necessidade que eu pudesse ignorar. Eu só queria as melhores
coisas do mundo para ele.
CAPÍTULO 45
EZRA

Willa passou o bicho de pelúcia do mascote Fulton U no meu


peito.
Tínhamos dado uma pausa nos estudos, que se
transformaram em assistir a um filme em seu notebook e dar
uns amassos. Os créditos estavam rolando e minha mente
vagou de volta para a decisão que eu precisava tomar, que estava
grudada em minha mente desde aquela manhã de encontro
com Berk.
— Você vem comigo? — Lutar ou fugir me pegou pesado,
como se eu estivesse a segundos de me libertar da minha pele,
mas eu não queria mais correr. Eu queria estar aqui com Willa.
Ela cobriu minhas mãos com as dela.
— É claro.
Minha garganta queimava como se eu tivesse engolido um
arbusto inteiro de adesivos.
— Pode me ajudar?
— Qualquer coisa que você precisar.
O qualquer coisa acabou sendo alguns milhares de dólares
para contratar alguém para rastrear minha mãe com as
informações que eu lembrava sobre ela. Não há muito o que
dizer de um eu de sete anos, mas foi o suficiente.
Uma semana depois, tínhamos um endereço. Um subúrbio
de Pittsburgh a menos de três horas da Filadélfia e a uma hora
do campus. O mesmo campus em que estive por três anos.
Nossos caminhos se cruzaram em Pittsburgh? Será que
passamos um pelo outro na rua?
Willa sentou-se no banco do passageiro. Estávamos
estacionados a meio quarteirão de distância, vigiando a casa.
Bem, eu observei a casa, Willa me observou.
Ela segurou minha mão e eu apertei a dela de volta,
provavelmente com muita força, mas ela não disse uma palavra.
— Como você está se sentindo?
Os nervos formigavam sob minha pele ainda mais
intensamente do que antes de cada jogo. Meu joelho tremendo
balançou o carro e eu não conseguia tirar os olhos da casa. As
luzes estavam acesas. Havia um carro na entrada da garagem,
mas a rua estava quieta e ainda não batia às cinco da tarde.
— Ok.
Eu puxei a gola abotoada até o topo com uma gravata em
volta do meu pescoço. Kennedy me ajudou a escolher as
roupas. Eu disse a ela que era para um encontro com Willa.
Talvez a gravata fosse muito formal. Eu deveria ter ido com
meu jeans e um Henley. Ela era minha mãe, o que ela se
importava com o que eu estava vestindo?
Willa escolheu um vestido como o que ela usou para um
jantar chique.
— E se for a casa errada?
— Então continuamos procurando.
Berk disse que o encerramento valia a pena. Sua mãe se foi. A
minha ainda estava aqui. Havia uma chance de conversar com
ela e descobrir o que realmente aconteceu. Se tivéssemos o lugar
certo.
Uma figura passou pela janela aberta e mesmo com o reflexo
do sol da tarde, minha respiração parou por um segundo. Era
ela? A mesma silhueta que eu lembrava, mas diferente.
Apertando os olhos, tentei distinguir as feições.
— Você vai ficar aqui?
— Se você quiser.
Alcancei a maçaneta da porta antes de puxá-la.
— E se outra pessoa atender a porta?
— Então você pergunta por ela. — A leveza em sua voz
desmentia a corrente de estresse que percorria toda essa viagem.
Coloquei minha mão na maçaneta e a abri antes que pudesse
perder a coragem.
— Eu vou. — Fora do carro, fechei a porta atrás de mim antes
que pudesse me acovardar.
O gramado bem cuidado era dividido ao meio por um
caminho pavimentado branco. Pequenas luzes pontilhavam o
caminho a cada poucos metros, e elas ainda não estavam acesas,
mas tudo parecia perfeito.
Meu estômago apertou e revirou, bile inundou minha
garganta, e eu ajustei a gravata que estava cortando minha
respiração. Excitação zumbiu através de mim junto com terror.
Ela estava brava comigo por me perder? Ela estava procurando
por mim por tanto tempo quanto eu estava procurando por
ela?
Olhei para trás e Willa se inclinou sobre o console central,
quase no banco do motorista. Vê-la recuou um pouco meu
medo.
Tomando um minuto para me recompor, apertei a
campainha. Ela soou lá dentro, então quem estava lá
definitivamente ouviu.
A porta da frente se abriu. Na entrada, minha mãe olhou para
mim. O telefone em sua mão escorregou e caiu no chão.
Meus nervos estavam em frangalhos como se eu tivesse sido
ligado a uma bateria de carro. Era ela. Realmente ela depois de
todos esses anos. Berk não teve sorte o suficiente para este
momento, mas eu tive.
Ela piscou uma, duas vezes, antes de descer para pegá-lo.
— Helen, eu vou ter que ligar de volta. Não, está tudo bem.
Meu sorriso parecia fino como papel.
Ela olhou e continuou olhando.
Talvez eu devesse ter escolhido uma camisa diferente.
— Ezra? — Ela empurrou a porta de tela com a bolsa nas
mãos. Achei que ela abriria os braços, mas o choque fazia coisas
estranhas com as pessoas.
— Oi, mãe. — Eu imaginei dizer aquelas palavras de novo mil
vezes. Eu tinha imaginado como seria esse encontro.
— O que você está fazendo aqui? — Ela olhou para a rua,
então olhou para cima e para baixo no quarteirão e viu meu
carro.
Isso me pegou desprevenido.
— Eu encontrei você. — O abraço caloroso que eu esperava
não estava lá. Meu peito apertou.
— Como?
— Um investigador particular.
Seus lábios se separaram e seus olhos se arregalaram.
Um carro parou na garagem.
O pânico penetrou seu olhar e seus dedos se apertaram na
maçaneta da porta de tela.
Uma adolescente saiu do carro e bateu a porta. Do lado do
passageiro, ela puxou pelo menos cinco sacolas de compras e
subiu a passarela da entrada da garagem até a porta da frente.
— Ei, mãe. Há mais algumas sacolas no banco de trás, mas
juro que vou pegá-las mais tarde. — Ela olhou para mim.
— Oi — eu murmurei em torno da minha língua de chumbo.
Eu tinha uma irmã.
— Mamãe. — A menina acenou com a mão na frente do
rosto de sua mãe. A cara da nossa mãe.
— Desculpe, docinho. Não se preocupe. Vou pegá-las mais
tarde. Eu vou deixar você saber quando o jantar estiver pronto.
— Ela sorriu, mas seu rosto parecia ter visto um fantasma. E eu
acho que ela tinha visto. Eu.
Não era assim que eu imaginava que as coisas seriam. Todas
aquelas noites depois de pular de uma casa para outra, ou
dormir do lado de fora, eu esperava que ela estivesse lá fora
procurando por mim.
A garota deu um beijo na bochecha da minha mãe e entrou
na casa com um rápido olhar por cima do ombro.
Em vez de me convidar para entrar, minha mãe saiu e fechou
a porta atrás dela.
Então me ocorreu como tijolos empurrados da beira de um
penhasco e direto na minha cabeça.
— Nós não nos separamos, não é? — Eu apertei minhas mãos
ao meu lado.
Ela não disse uma palavra, mas ela não precisava. A culpa
rabiscou o seu rosto. Gravado nas linhas de riso que ela
desenvolveu desde a última vez que a vi.
— Você sabia onde eu estava todo esse tempo?
— Não desde que você tinha dez anos.
Três anos. Ela sabia onde eu estava há três anos. Ela poderia
ter vindo e me pegado por três longos anos. Mas ela não tinha.
— Você me abandonou.
— Eu era jovem. Eu mesma era uma criança e não sabia como
cuidar de você.
Olhei para a bela casa estilo revista com vasos de plantas
perfeitos e gramado bem cuidado.
Sua cabeça caiu.
— Demorei um pouco para me endireitar.
— E você nunca pensou no filho que deixou para trás.
— Meu marido… — Ela lambeu os lábios, provavelmente
tentando descobrir o quanto eu sabia e o quanto ela ainda
podia esconder de mim. — Ele queria seus próprios filhos.
A bota coberta de cascalho me atingiu no meio do peito.
Olhei para a mulher que eu sonhei em vir me encontrar algum
dia. A única pessoa no mundo que deveria me amar, não
importasse o quê.
— E uma vez que as coisas melhoraram e eu conheci Pete, eu
não sabia como dizer a ele — ela disse, sua voz vacilante. Mas
nada disso era sobre mim. Aquelas lágrimas não eram para
mim.
Eu estava me rasgando por dentro. Mais algum tempo aqui e
eu seria uma casca enquanto suas palavras sem sentido me
separavam fibra muscular de fibra muscular, tendão de tendão.
Outro carro entrou na garagem.
Seu olhar passou de preocupado para frenético.
A porta se abriu e bateu, mas eu nem me virei para ver quem
se aproximava. Nesse ponto, um soco na nuca seria menos
doloroso do que o que eu estava sentindo.
— Vejo que Evie está fazendo compras. — A voz
despreocupada do homem foi levada pelo vento. Outro
conjunto de portas abriu e fechou. — Temos companhia? —
Ele se aproximou, as malas amassando mais e mais a cada passo.
— Por favor. — A súplica em sua voz mergulhou a faca mais
fundo no meu estômago. Ela enfiou as mãos na bolsa e tirou
cinco notas de vinte. — Isso seria ótimo, eu adoraria doar cem
dólares — disse ela alto o suficiente para que metade da rua a
ouvisse. Com muita força, ela empurrou o dinheiro no meu
punho, enfiando-o entre o meu polegar.
— Tão generosa. — Pete se aproximou e beijou sua
bochecha. — Um coração tão grande.
Ela se virou para ele, mas manteve o olhar em mim e sorriu
fracamente.
— Você me conhece. O jantar estará pronto em quinze
minutos.
Ele desapareceu por dentro.
Comecei a me mover sem pensar. Para trás, para longe,
escapar. Eu nunca recuei ou fugi de nada na minha vida, mas
isso era demais. Doeu demais. Meu peito estava
desmoronando, desmoronando, esculpido. Eu sempre esperei
que os golpes viessem de fora, a dor infligida por um adulto de
merda com quem eu estava preso ou no campo, mas este era
um trabalho interno. Ele passou por todas as proteções que eu
construí ao longo dos anos.
Serra serrilhada sobre tendão. O sangue batia tão forte em
meus ouvidos que estava além do zumbido. Eu esperava que
explodisse da minha boca como se eu tivesse levado uma facada
no estômago.
Virei-me, as notas encravadas desajeitadamente em meu
punho espalhadas pelo chão, e decolei. Meu peito bateu na
lateral do carro e eu procurei a maçaneta.
Por dentro, tentei respirar. Tentei lembrar como era ter ar em
meus pulmões e não essa queimação pronta para me queimar
por dentro.
Um toque tímido e gentil no meu ombro me arrancou do
meu balanço.
— Ezra.
A voz de Willa quebrou outro pedaço de mim.
Segurei o volante e não soltei. Jogando o carro em Drive, eu
acelerei e me afastei do meio-fio da imagem suburbana perfeita
e fugi.
— Ezra. — A voz de Willa socou as bordas do meu foco, mas
eu só tinha um objetivo. Cair fora. Deixar tudo para trás antes
de ir embora. Antes de destruí-lo.
Chegamos mais perto do apartamento dela e eu sabia o que
precisava fazer. Talvez algum dia eu pudesse respirar
novamente sem essa dor.
Depois da longa viagem, estacionei do lado de fora do prédio.
Os restos esfarrapados do meu controle se desgastavam a cada
segundo que eu ficava parado. Eu precisava liberá-lo, mas eu
precisava ficar sozinho.
— Saia, Willa.
— Ezra, podemos falar sobre o que aconteceu?
— Não. — Olhei para as luzes piscando no meu painel.
— Ezra, eu não vou sair.
Sem desligar o carro, abri a porta e caminhei até ela. Puxei a
maçaneta da porta e a abri.
— Você precisa ir.
— Ezra, fale comigo. — Ela pegou minha mão e eu a puxei
para longe.
Tudo estava apertado, vibrando com emoções que eu nem
conseguia processar.
— Saia.
— Não, eu não vou sair até você falar comigo.
Inclinando-me para dentro do carro, estendi a mão sobre ela
e soltei seu cinto de segurança. As batidas ensurdecedoras do
meu coração bloqueavam quase todos os outros ruídos. Eu
precisava ir a algum lugar. Eu precisava liberar os sentimentos
que eu mantive um aperto instável e eu não queria que Willa
visse essa parte de mim. Ela já tinha me visto explodir em Berk
e seu irmão. Eu precisava dela segura e precisava ficar sozinho.
Sozinho depois de ter me quebrado em um milhão de pedaços.
Ela já lidou com o suficiente, eu não poderia sobrecarregá-la
com isso.
Com cuidado para não ser muito áspero, deslizei meus braços
sob seu corpo e a puxei para fora do carro.
— Ezra!
Eu a deixei cair em um banco na calçada, tranquei a porta
aberta e a fechei com um chute.
Sua voz frenética me seguiu.
Voltei para dentro do carro e ela pulou na frente dele.
Ela ficou na frente do meu carro de merda com o motor
roncando, os olhos cheios de preocupação e uma pitada de
medo.
Colocando o carro em marcha à ré, eu acelerei e saí da pista
de desembarque e corri para eu nem sabia para onde. Se eu
tivesse sorte, ao esquecimento.
CAPÍTULO 46
WILLA

Foi tudo minha culpa. Era para ser tudo perfeito. Talvez não
exatamente perfeito, mas não a lenta demolição que eu
testemunhei através da janela do carro.
Minha mente não conseguia nem juntar as peças do que
tinha acontecido.
Ele a viu. Ela o viu.
Eles conversaram.
Em vez do alegre reencontro cheio de lágrimas, houve isso.
Essa dor escura e terrível que nos sufocou no carro. Eu senti
isso. A dor de Ezra.
Ela o viu, o filho que ela não via há mais de uma década, e
olhou para ele com nada mais do que um pavor empolado. De
pé nos degraus de sua linda casa perfeitamente pintada com
canteiros de flores bem cuidados, ela falou com ele como um
estranho.
Agora Ezra se foi. Eu não conseguia imaginar o que estava
passando pela cabeça dele, mas nada disso era bom. Limpei
minhas lágrimas com a forma gentil com que ele me tirou do
carro. Mesmo com toda a dor que ele lutou, ele não queria me
machucar. Mas vê-lo sofrer e não saber como consertar isso me
machucou.
Eu não sabia como alcançá-lo. Minhas ligações e mensagens
não foram atendidas. Eu invadi o apartamento.
— Maggie, eu preciso do seu carro.
Ela me jogou a chave e correu, enfiando um pé em seu sapato.
— Você precisa de mim. O que está acontecendo? Você
parece uma merda.
— Eu não preciso de você ainda. — Minha garganta se
fechou. — Se eu precisar de você, eu vou te dizer.
Ela parou com o dedo preso na parte de trás do sapato.
— Você tem certeza?
— Claro. — Quantas outras pessoas precisavam saber sobre
isso? Quantas outras pessoas precisavam ser trazidas para
testemunhar a dor de Ezra? — Eu te ligo se precisar de alguma
coisa.
Corri para fora do estacionamento. A viagem de dez minutos
foi reduzida para sete comigo ultrapassando os sinais amarelos,
mas ainda parecia que se estendia. Joguei o carro em Park e subi
correndo as escadas, subindo três degraus de cada vez.
Sem me preocupar em bater, invadi a casa, ofegante.
— Ezra está aqui?
Hollis parou de mastigar a comida equilibrada em seu garfo.
— Ele não estava com você?
— Ele estava. — Minha garganta estava grossa, tornando
difícil de engolir. — Mas ele não está agora. Eu preciso
encontrá-lo.
Griff saiu da cozinha com uma tigela de cereal do tamanho
de sua cabeça.
— O que aconteceu?
Eu coloquei uma mão no lado da minha cabeça e andei para
frente e para trás.
— Para onde ele iria? Ele poderia estar com os outros caras?
Hollis engoliu o resto da comida e parou de comer.
— Não, Cole e Reid estão aqui. — Ele gritou por eles.
Seus passos ressoaram no alto e desceram as escadas. Eles
estavam todos aqui.
— O que aconteceu?
— O que há de errado? — Seu coro de perguntas saiu ao
mesmo tempo.
O pânico apertou meu peito, apertou meu coração e drenou
meus pulmões.
— Ele poderia estar na academia? Já tentei ligar para o
telefone dele pelo menos dez vezes e nada.
Todos os caras pegaram seus telefones e mandaram
mensagens e ligaram um após o outro. Cada segundo de
esperança foi rompido com o aceno sombrio de suas cabeças.
Meu ritmo se intensificou e as lágrimas brotaram quando o
pânico se transformou em medo.
— Onde ele está? Por que ele não responde? — Eu entendi
que ele não queria falar comigo, mas seus amigos? Eles o
conheciam há mais tempo. Talvez eles soubessem mais sobre
seu passado e ele pudesse compartilhar essa dor com eles.
Hollis ficou na minha frente e segurou em ambos os meus
ombros.
— Will, o que aconteceu? Foi outra briga com seu irmão?
Minha risada frenética e histérica e minhas lágrimas fizeram
com que todos os caras se aproximassem de mim. Uma briga
com meu irmão, se fosse assim tão simples. O que antes parecia
um obstáculo colossal a ser superado era apenas uma rachadura
na calçada.
— Se fosse apenas isso. — Eu limpei meu rosto com minha
camisa.
Tremendo, envolvi meus braços em volta de mim e dei a eles
a versão reduzida do que aconteceu. Minha brilhante ideia.
Encontrar o endereço de sua mãe e a aparência de seu rosto
quando ele voltou para o carro, as notas de vinte caindo no
gramado perfeitamente cortado.
No final, eu estava ofegante, apertando meu peito como se
pudesse aliviar a pressão no meu coração.
O silêncio pairou na sala, cobrindo-a com um desespero
silencioso. Ninguém respirou.
— Porra! — O grito de Griff surpreendeu a todos, tirando-
nos do estupor em que todos estávamos presos. — Temos que
encontrá-lo.
Os caras dividiram os locais – a biblioteca, o ginásio de
futebol, o campo de treino, o ginásio regular – pegando casacos
e jogando chaves. Eles me deram seus números antes de decolar.
— Você pode ficar aqui, Willa, caso ele volte. — Hollis
enfiou o braço no casaco. Seu olhar frenético, verificando as
janelas e portas. — Deixe-nos saber no segundo que você ouvir
alguma coisa, ok?
— Eu vou. — Eu desabei, sentando no último degrau, e
envolvi meus braços em volta dos meus joelhos.
O silêncio da casa voltou, acompanhado pelos sons de carros
saindo do meio-fio do lado de fora.
Ezra tinha pessoas. Ele tinha pessoas em sua vida que iriam ao
seu alcance a qualquer momento se ele estivesse em apuros. Eles
se preocupavam, eles se importavam, eles o amavam.
Meu batimento cardíaco estava perto de quebrar uma
costela. Minha cabeça zumbia tão ruidosamente, mas eu sabia
que precisava me acalmar e pensar.
Eu me levantei, tropeçando no primeiro degrau. Tanto para
quieto e calmo.
Levei um segundo andando de um lado ao outro para dizer
que se dane. Eu sabia de outro lugar que ele poderia estar que
os caras não mencionaram.
Se ele voltasse para casa, espero que isso significasse que Ezra
responderia a uma de nossas mensagens, mas até então eu não
deixaria um único pedaço de relva sobre pedra.
Voltei para o carro de Maggie e procurei no mapa do campus.
Tínhamos ido lá no escuro, então levou um pouco de busca
para finalmente encontrar o local.
Minhas mãos tremiam contra o volante e eu rezei para estar
certo e para que não fosse tarde demais.
CAPÍTULO 47
EZRA

Uma serra tinha sido posta contra o meu esterno. Rasgou a pele
e os tendões direto para o osso.
Olhei para a cena plácida. A bela e perfeita rua do outro lado
da cúpula de vidro e água. Uma perfeição que eu nunca tinha
conhecido. Eu nunca saberia. Nunca mereceria. O vidro estava
frio e duro contra minhas palmas.
O vento cortante queimou minhas bochechas e rachou meus
lábios. Meus dentes batiam e meus arrepios se transformaram
em tremores há muito tempo. Minutos. Horas. Dias. Poderia
ter sido qualquer um deles. Não importava agora.
O suporte de metal na parte inferior do globo de neve dobrou
e mordeu minha pele sob a pressão do meu aperto.
Coloquei o globo na beirada da pequena doca de concreto
perto de Poe Pond, não confiando nele em minhas mãos. Não
confiando em estar perto dele.
Caí de joelhos na grama encharcada e meio congelada. O ar
gelado queimou meus pulmões. Queimou minha pele, mas não
se comparava ao interior abrasador.
Cem dólares. Uma fria centena de dólares para varrer quinze
anos de negligência. Em qualquer outro dia, se alguém
colocasse cem dólares em minhas mãos, eu me sentiria um rei,
mas hoje foi uma tentativa lamentável de aliviar a culpa.
Minha própria mãe. Minha mãe me abandonou. Ela tinha
visto uma oportunidade de me deixar para trás e aproveitou.
Há quanto tempo ela estava planejando isso? A viagem para o
parque, que parecia uma chance de nos divertirmos juntos, e
ela estava procurando por uma multidão para se perder – uma
multidão para me perder.
Meu peito cedeu e eu desmoronei, me inclinando para frente
tanto que meu cabelo roçou o chão. Eu respirei fundo e apertei
meus olhos fechados.
As lágrimas não vieram. Eu tinha engarrafado tudo,
determinado a mantê-lo dentro, para pegar todos esses
sentimentos e enterrá-los tão profundamente que eu esqueceria
o quanto doía doer. A dormência seria uma mudança bem-
vinda.
Mas Willa. Se não havia mais nada dentro de mim, não havia
mais nada para ela.
— Ezra! — O grito de Willa cortou o ar.
Sua voz quebrou o silêncio ao meu redor como se eu a tivesse
conjurado com um único pensamento. Eu envolvi meus braços
em volta de mim.
Eu queria desaparecer. Sublimar em nada.
Seus passos bateram e rangeram. Então suas mãos e braços
estavam em mim. Meus ombros, meu pescoço, meu peito.
— Oh! Graças a Deus. Eu estava procurando por você em
todos os lugares, Ezra.
Eu balancei, a umidade penetrando em meu jeans. O tecido
molhado grudava nas minhas pernas, me congelando ainda
mais.
— Ezra. — Ela se deitou nas minhas costas, seus lábios
roçaram a lateral do meu pescoço. — Estou aqui. — Mantendo
seu peso fora de mim, ela me segurou e sussurrou as palavras.
Repetidamente, eles lascaram a pedra em que eu me envolvi.
— Eu te amo. — Ela caiu no chão na minha frente e me
levantou com as duas mãos no meu rosto. — Eu te amo. Você
é amado. Você me ouve? — Lágrimas brilharam em seus olhos.
Eu me afastei dela, incapaz de olhar para outra pessoa que eu
perderia.
Ela se moveu para o lado, interceptando minha linha de
visão.
— Eu te amo. — Sua voz falhou. — Eu não posso imaginar
o quanto você está sofrendo. Não posso, mas quero que saiba
que estou aqui para você. Não importa o que aconteça, eu
prometo a você.
O silêncio dentro do globo parecia uma proteção. Se eu
pudesse me encolher e flutuar nele, flutuando pelos últimos
momentos antes que a água enchesse meus pulmões. Olhei para
a esfera abandonada empoleirada sozinha no concreto frio.
— Tive medo de segurar. Com medo de quebrá-lo. Destruí-
lo.
Ela pairou sobre mim, mas eu não conseguia tirar meu olhar
do globo, desejando que por uma vez tudo parecesse tão
perfeito quanto parecia dentro dele.
— É uma coisa, Ezra. As coisas podem ser substituídas.
As pessoas também. A garota que tinha vislumbres das
minhas feições, as que eu compartilhava com minha mãe, que
me olhava como um estranho.
Eu apertei meus olhos fechados.
— Você não deveria ter me procurado.
— Como eu não poderia? Ezra, eu sinto muito — ela disse, a
voz vacilante e aguada. — Eu pensei…
— Você pensou que tudo iria acontecer como aconteceu
com sua família. Que eu a encontraria e teríamos uma grande
reunião onde ela desataria a chorar e me diria o quanto estava
arrependida. Onde ela me mostraria os anos de presentes que
ela comprou ao me encontrar. — Ou talvez essas fossem
minhas próprias esperanças e sonhos. Os que eu deixei florescer
nos recessos da minha mente quando eu não estava fingindo
que tinha crescido plenamente em um campo de futebol com
almofadas em meus ombros e uma necessidade de destruir os
meus oponentes.
— Achei que ela seria alguém que merecia conhecer você.
— Por que ela deveria querer? — Olhei para meus punhos
apertados contra minhas coxas.
— Ezra. — Ela inclinou meu queixo para cima.
Eu estava muito fraco para lutar com ela. Eu a deixei levantar
meu olhar, mas não encontrei seus olhos.
— O que aconteceu foi foda. E eu não posso te dizer que vai
ficar tudo bem. Ninguém merece o que aconteceu com você.
Ninguém. E sinto muito pela minha parte em trazê-lo até isso.
Eu sinto muito. Tudo o que eu queria era que você tivesse
outra pessoa em sua vida que te amasse tanto quanto eu te amo.
Tanto quanto Reid, Cole, Griff e Hollis amam você.
— Pare, Willa.
— Eu te amo, Ezra. — Ela agarrou minhas mãos.
Eu me levantei do chão. Eu precisava fugir. Eu não conseguia
respirar.
Ela cambaleou para me acompanhar e manteve os braços em
volta do meu pescoço.
— Ezra, eu te amo.
Tudo o que eu queria fazer era correr, correr até meus
pulmões queimarem, meu corpo desmoronar, minha dor
acabar.
Mas ela resistiu. Willa não me soltou. Ela não me deixou ir.
Seus olhos estavam em mim, querendo que eu acreditasse nela,
verdadeira e completamente.
Meu corpo inteiro tremeu, tremores me destruindo até que
eu senti que poderia desmoronar.
Durante todo o tempo, ela olhou para mim e se agarrou a
mim, suas mãos gentis, mas inflexíveis. Não havia como escapar
dela.
— Eu te amo. Não é sua culpa. Ela não merece conhecer
você. Ela não merece fazer parte da sua vida. Ela não merece
descobrir o quão maravilhoso, talentoso e amoroso você é. —
Seus lábios tremeram e lágrimas brotaram em seus olhos. —
Desculpe por ter pressionado você. Eu sinto muito. Eu te amo
e você é amado.
Ela repetiu as palavras várias vezes.
Tentei me manter forte, manter meus braços travados ao
lado do corpo, me entorpecer com a dor.
Mas os toques suaves de seus dedos em meu couro cabeludo
e a profundidade das emoções em seus olhos ameaçaram
romper minha determinação. Ela estava sofrendo, não por
minha causa, mas por mim. Ela queria estar aqui para mim,
mesmo depois de eu ter explodido com ela, depois de deixá-la
para trás, depois de nunca me sentir digno.
Ela não correu. Ela não virou as costas para mim e nunca
olhou para trás. Ela nunca me olharia nos olhos e fingiria que
nunca me conheceu.
Um estilhaço atravessou meu peito. Batido e derrotado, eu
queria atacar, em vez disso, cedi. Passei meus braços ao redor
dela e segurei firme.
Eu enterrei meu rosto em seu pescoço e soltei a torrente de
dor que estava empacotada dentro de mim, só que eu não
estava canalizando isso em raiva no campo, eu a deixei livre para
me engolir inteiro, mas eu não estava com medo, não mais.
Willa me segurou. Ela me ancorou. Me amarrou.
Quando as fibras da minha alma se inflamaram e
carbonizaram, ela estava lá para impedir que eu me
desintegrasse.
Eu me agarrei a ela, segurando sua camisa em minhas mãos,
agarrando-me a ela como se eu nunca pudesse soltá-la.
Seus braços se apertaram ao meu redor, derramando cada
pedacinho de si em mim. Ela repetiu as palavras até que se
tornaram um mantra, perfurando-as em minha cabeça,
bombeando-as em meu coração, reiniciando-o.
A maciez das minhas lágrimas salgadas contra sua pele deveria
ter me feito querer afastá-la, mas eu não queria esconder dela
nenhuma parte minha novamente. Ela teria tudo de mim. Veria
tudo meu, mas ainda assim ela manteve as palavras até que
quase soaram verdadeiras.
Logo as chamas diminuíram, esfriaram até doerem como
uma queimadura que pode ser curada, não uma que foi
queimada até o osso.
Eu levantei minha cabeça de seu pescoço e soltei meu aperto
sobre ela, não sentindo mais como se uma rajada de vento fosse
me levar embora.
Limpando meu rosto com minha camiseta, mantive uma
mão sobre ela e ela também não me soltou, entrelaçando seus
dedos com os meus.
— Por que ela não me quis? — A barragem estourou, uma
inundação torrencial. Além das lágrimas, além do choro,
parecia que um pedaço meu estava sendo arrancado, extirpado
sem minha permissão. Fechaduras quebradas, correntes
removidas, e não havia nada além da ferida sangrando que eu
tentei por tanto tempo suprimir.
Willa me agarrou com tanta força e rapidez que parecia um
ataque. Contato corpo-a-corpo, braços em volta de mim, mas
não havia que empurrar, apenas segurar.
Ela me segurou e eu me agarrei a ela. Eu agarrei seu casaco em
minhas mãos e minhas lágrimas não pararam até que a umidade
atingiu minha palma, tornando o tecido escorregadio sob meu
aperto.
Durante tudo isso, ela passou a mão sobre minha cabeça e me
disse o que eu precisava ouvir, o que eu desejava ouvir há tanto
tempo.
— Você não está sozinho. Eu te amo. Eu vou te amar para
sempre.
Tudo estava dolorido. Minha garganta e rosto queimaram.
Meus dedos estavam congelados. Minhas pernas latejavam com
raiva por causa da posição em que eu estava há muito tempo.
— Como você sabia onde me encontrar? — Eu afrouxei meu
aperto sobre ela, mas não a soltei.
Ela me encarou com preocupação, mas, o mais forte de tudo,
amor em seus olhos.
— Pensei em um lugar tranquilo onde você se sentisse seguro.
Uma vez que fui à sua casa e você não estava lá, este foi o único
outro lugar em que consegui pensar. — Suas mãos quentes
acalmaram minha carne, que estava em carne viva.
— Eu te amo. — Sem reservas ou hesitações. — Você veio
atrás de mim, embora eu tenha deixado você.
— Eu te disse antes, eu não iria embora. Se você não me
amasse mais, então eu iria, mas eu quero que você saiba que só
porque você corre não significa que eu não vá te perseguir. Eu
te amo, Ezra. Eu amo cada parte de você, mesmo as partes que
você tem medo de me mostrar. Tudo isso.
Segurando seu rosto entre minhas mãos, eu a beijei. Não um
beijo desesperado e apressado, mas um onde eu compartilhei as
profundezas da minha alma com ela. Um que imprimiu esse
sentimento em cada célula e queimou a memória em minha
mente.
— Você tem tudo de mim.
— Bom, agora podemos levantar do chão? — Ela colocou
meu braço em volta de seu ombro.
— Sim, mas eu posso precisar de alguma ajuda.
— Sempre.
Minha pele estava gelada e molhada, roupas encharcadas e
cobertas de neve derretida e sujeira, mas o aperto quente de
Willa era uma mão alcançando as águas turvas para me puxar
para a superfície.
— Vamos colocar você no carro.
— O meu está ali. — Apontei para a direita.
— Nós podemos recuperá-lo mais tarde. Peguei emprestado
o de Maggie. O motor ainda está funcionando, então vai estar
quente.
Olhei para mim mesmo.
— Eu sou uma bagunça.
— Nós vamos nos preocupar com isso mais tarde. Agora,
precisamos levá-lo para dentro. Você aguenta? — Ela segurou
meu braço, tentando me levantar da terra encharcada.
Com uma mão, eu empurrei para cima, forçando minhas
pernas dormentes a dobrar, então se endireitar. Alfinetes e
agulhas viajavam para cima e para baixo nas minhas pernas.
— Ezra! — Ao longe, um coro de vozes gritou meu nome.
Com as pernas bambas, e deixando Willa carregar muito do
meu peso, eu me levantei e olhei para o patamar de concreto.
— O Globo.
Depois de se certificar de que eu estava firme, Willa correu,
pegou e colocou no bolso.
— Está seguro.
Eu balancei a cabeça e ela passou o braço em volta da minha
cintura com o meu pendurado no seu ombro, Willa
suportando mais do meu peso enquanto eu recuperava o uso
das minhas pernas.
Sobre o cume da colina, um bando de pessoas correu em
nossa direção.
Por um segundo, eu endureci, um hábito que talvez nunca
me abandonasse, mas então seus rostos ficaram mais claros.
— Você ligou para eles?
— Quando vi seu carro, mandei uma mensagem para todos
os caras, não querendo que eles se preocupassem.
Ela passou a mão no meu peito, tentando me acalmar.
— Assim que eu disse a eles que precisava da ajuda deles, eles
pularam em seus carros e saíram procurando por você.
E todos eles vieram.
Kennedy e Leona estavam aqui também. Eu me endireitei,
tentando tirar meu peso de Willa agora que minhas pernas
estavam trabalhando mais. O sangue circulando fez pouco para
me aquecer, mas pelo menos minhas pernas não pareciam perto
de ceder.
Os quatro caras não pararam e quase derrubaram Willa e eu
com o abraço de corpo inteiro, mas seus braços nos cercaram,
segurando firme e me apertando.
Willa estava envolvida nisso também.
Atordoado, quase caí. Eles estavam aqui. Eles estavam
procurando por mim. Eles se importavam comigo.
Mas não respirar por meio minuto valeu a pena pela forma
como eles me seguraram. A forma como eles me apoiaram.
Nosso aglomerado ficou ainda maior quando Leona e
Kennedy se juntaram.
— Estamos felizes que você esteja bem, Ez. — Griff olhou
para mim com lágrimas nos olhos. — Estávamos preocupados
com você, cara.
Cole apertou a parte de trás do meu pescoço.
— Não pense que você vai se livrar de nós quando nos
formarmos. Você sabe disso, certo?
— Mesmo se estivermos em times opostos e você passar o
maldito jogo inteiro tentando quebrar meu pescoço, você
ainda será meu irmão. — Hollis passou a mão pela minha
cabeça. — Nunca se esqueça disso.
Minha visão turvou com lágrimas ardentes.
Reid tocou sua testa na minha.
— Você está preso conosco para sempre, Ezra.
Agarrei-me a todos eles com o toque suave de Willa ainda
preso em minha cintura.
Quando as lágrimas e fungadas pararam, os braços
afrouxaram e alguns passos foram dados, olhei para Willa e meu
coração inundou com uma queimação intensa, não de dor ou
raiva, mas um mar sem fim de amor. Um amor por uma mulher
que não desistiu de mim e não me deixou desistir de mim
mesmo, que se adiantou para me mostrar o que eu tinha,
mesmo que eu não acreditasse.
— Obrigado por trazer minha família para mim.
EPÍLOGO
O Draft
EZRA

As luzes me cegaram. Holofotes varreram as mesas circulares


cheias de candidatos ao recrutamento e suas famílias. O convite
para a cerimônia de recrutamento me chocou, especialmente
depois de como minha temporada terminou. Enormes telas se
iluminaram com a filmagem do outro lado do túnel.
Uma equipe seria chamada, eles fariam sua escolha, e o
convocado faria a longa caminhada carregada de energia através
do conjunto de câmeras até o palco onde eles pegariam seu
boné e camisa e sorririam para as câmeras.
Sob a mesa, a mão de Willa deslizou sobre a minha.
Meu pulso disparou ainda mais alto.
— Ficará tudo bem. — Ela sorriu para mim, tranquilizadora,
relaxada, resoluta. — Você vai arrasar. — Sua fé nunca deixou
de me atordoar. Ela me viu no meu pior momento, no meu
momento mais horrível, e ainda me escolheu.
— Eu sei que você é o Sr. Estóico, mas não tenha medo de
sorrir lá em cima. — Lea deu um tapinha nas costas da minha
mão. — Vamos colocar essa foto ao lado da de Walsh na
bancada da lareira.
Os Goodwins me receberam em sua família, até mesmo
Walsh.
— Você está aqui, Ez. Ninguém sai desta sala sem uma boa
escolha e um cheque robusto. — Walsh se inclinou sobre Dan
e sorriu antes de me acertar com um soco sólido no bíceps.
Depois de nossas primeiras reuniões geladas, estabelecemos
uma trégua e descobrimos que havia muito mais em comum
quando não estávamos tentando tirar sangue do campo.
Querer o melhor para Willa tinha um jeito de aproximar todo
mundo.
— O terno parece afiado. Como está o colarinho? — Dan me
levou para comprar um terno de um dos mesmos alfaiates que
fez as roupas de Walsh.
Deslizei meu dedo ao longo do colarinho esticado que não
estava cavando em meu pescoço, tentando me sufocar com
pressão na minha carótida.
— Como uma luva. — Eu o pagaria de volta quando isso
acabasse. Eu pagaria a todos eles de volta, embora eles nunca
esperassem isso. Nem por um minuto eles esperavam um
centavo.
Seu sorriso se alargou como um pai orgulhoso.
O choque continuou a me acertar pela forma com que eu
tinha sido encaixado em sua família. Eles não eram perfeitos,
estavam lidando com velhas feridas e novos arranhões, mas
quem não estava? Sofrendo em silêncio solitário, sem ninguém
para arcar com a agonia quando ela ameaçava me engolir era
como eu achava que teria que viver. Guardando-me, nunca
deixando ninguém perto o suficiente, sempre esperando ser
deixado para trás, até Willa.
Olhei ao redor da sala para meus companheiros de equipe.
Para os meus irmãos que só se aproximaram depois dos golpes
que continuaram nos atingindo depois que a temporada
terminou, mas pelo menos não estávamos sozinhos.
Cuidaremos um do outro. Nós sempre cuidaremos um do
outro.
Willa apertou minha mão e eu enfiei meus dedos nos dela,
levantando sua mão para beijar as costas.
— Obrigado por vir esta noite.
— Você acha que eu teria sido capaz de mantê-los longe? —
Ela apontou o polegar na direção de sua família. — Você é um
de nós agora. Não há escapatória. — Seus olhos brilharam em
excitação.
Fechei os olhos e deixei as palavras penetrarem
profundamente em meu coração. Eles enrolaram seus
brilhantes fios dourados ao redor do meu coração, apertando-
o com força.
Em uma mesa atrás da minha, os copos de água tilintaram e
chapinharam. Leona passou o braço em volta do ombro de
Reid para acalmá-lo.
Cole e Kennedy estavam sentados a algumas mesas de
distância.
Esta noite parecia mais uma noite de formatura do que a
cerimônia daqui a algumas semanas.
Equipe após equipe foi anunciada. Jogador após jogador
subiu ao palco.
Cole foi convocado para o LA Lions. Eu pulei da minha
cadeira e Reid e eu quase o derrubamos no chão. Ele ajustou o
paletó e subiu no palco com um sorriso de mola.
De volta ao meu lugar, a ansiedade martelava no meu peito e
minhas mãos ficaram úmidas. Continuei limpando-as, mas
Willa continuou pegando minha mão novamente, acariciando
meus dedos para me acalmar.
Eu a encarei. A mulher que não tinha desistido de mim,
embora ninguém a culpasse se o fizesse. Ela me mostrou o que
eu já tinha nos amigos com quem estive nos últimos quatro
anos e me envolveu em sua família sem hesitar.
Um dia em breve, ela seria minha esposa.
— Willa…
Seus olhos se arregalaram. Ela soltou minha mão e agarrou
meus ombros.
— Chamaram seu nome. Pittsburgh chamou seu nome! —
Ela gritou e me empurrou para fora do meu assento.
Braços se dobraram ao meu redor, não apenas Reid, mas Lea
e Dan. Walsh deu um tapinha nas costas.
— Bem-vindo ao meu time. Não vou deixá-los mexer muito
com você nesta temporada.
Lentamente, a ficha caiu. A realidade do momento inundou
todos os meus sentidos de uma vez. Cada célula estava perto de
explodir. Eu beijei Willa. Eu o infundi com cada belo momento
que tivemos juntos e a promessa do que viria a seguir.
Willa passou os braços em volta de mim e me guiou em
direção às luzes.
Sem sentir minhas pernas, caminhei até a escada apenas com
a memória muscular. Durante anos, eu tinha imaginado este
momento. Eu me vi naquele palco, impassível, tentando
guardar todos os sentimentos que eu tinha que guardar para
mim mesmo.
Mas de pé ao lado do comissário da liga, peguei o boné e o
enfiei na cabeça, não para me esconder, mas para anunciar ao
mundo e à minha família em que time eu jogaria. Eu levantei a
camisa, olhei para a mesa onde meu pessoal havia se reunido e
sorri. Minhas bochechas doíam, eu sorri tanto.
Eu atirei um punho no ar e aplaudi, liberando anos de tensão
e medo que se feriram dentro de mim. Eu tinha feito isso. O
sacrifício, o sangue e o suor derramados no campo culminaram
neste momento.
Willa colocou as mãos na frente do rosto com lágrimas nos
olhos.
No palco, na frente das câmeras e do público, eu murmurei.
— Eu te amo.
Ela mordeu de volta e enxugou uma lágrima.
Eu me aqueci no momento e fechei os olhos, sobrecarregado
com uma alegria tão potente que explodiu cada fibra muscular
do meu corpo porque eu a tinha na minha vida.
A festa se estendeu até tarde da noite. Dan e Lea encerraram a
noite e voltaram para o hotel. Walsh juntou-se a Reid, Cole e as
meninas para manter a celebração.
Sete zeros. Sete zeros seriam adicionados à minha conta
bancária. O número piscou em minha mente durante toda a
noite enquanto garçom após garçom completava nossas
bebidas nas festas de recrutamento. Walsh pediu uma garrafa
especial para um brinde. Tê-lo como mais do que um inimigo
mortal era estranho, mas a transição de conhecidos tênues para
depois amigos se transformaria novamente quando nos
tornássemos companheiros de equipe. Mas eu prefiro que ele
me proteja do que tente me atacar.
Berk e eu acenamos um para o outro do outro lado da sala
durante uma festa. Engraçado como todo mundo relaxou
quando os contratos foram assinados e o dinheiro estava a
caminho da sua conta bancária.
No quinto bocejo e nos olhos sonolentos de Willa, eu a
coloquei em um táxi para voltar ao nosso hotel. A liberdade de
pagar por um sem pensar nos números para saber como eu
comeria este mês foi liberada. Uma porta se abriu para as
possibilidades que eu, aos sete anos de idade, que entrou em seu
primeiro orfanato com suas roupas em um saco de lixo, não
conseguia imaginar.
— Desculpe por fazer você sair mais cedo. — Ela cobriu a
boca, outro bocejo esticando sua mandíbula.
No banco de trás, massageei os dedos dos pés de Willa depois
de terem ficado presos em seus saltos por horas.
— Haverá muito mais festas.
Ela assentiu, lentamente, as pálpebras caindo.
— Estou orgulhosa de você.
Eu bufei uma risada e a observei através das luzes
bruxuleantes da rua.
— Que eu não caí do palco.
Ela deslizou seus pés do meu alcance e se inclinou contra
mim.
— Que você chegou até aqui. Eu ficaria orgulhosa de você,
não importa o que acontecesse esta noite, mas sei o quanto você
passou para chegar até aqui, e você conseguiu. — Seus braços
envolveram meu ombro enquanto ela olhava nos meus olhos.
Essas palavras tomaram conta de mim, escancarando o
quanto eu amava Willa. Um nó cresceu na minha garganta.
— Eu fiz. — Será que minha mãe algum dia saberia? Ela tinha
assistido? Levaria muito tempo para essas perguntas flutuarem,
para que parassem de invadir minha mente. Meu foco estava na
minha nova carreira, nova equipe, nova família. Assinar o
contrato na frente de um esquadrão de câmeras e repórteres sob
holofotes.
— Eu estarei indo para o Japão em alguns meses. Você acha
que poderá visitá-lo assim que a temporada acabar?
— É melhor eles aprontarem algumas camas extralongas
porque nada vai me manter longe. — Inferno, eu poderia enviar
uma cama para lá. As possibilidades eram infinitas com
dinheiro que eu nunca me deixei pensar. A viagem que eu
levaria Willa depois da formatura, o encontro que eu faria na
joalheria. As portas agora abertas para mim eram quase
insondáveis.
— Eu odeio não estar aqui para sua primeira temporada.
— Você estará aqui para todas depois.
— Mas isso é um grande negócio.
— O Japão também. — Eu escovei meus dedos ao longo de
sua bochecha. — Uma grande estreia para você também. Você
vai ter que acordar no meio da noite para me ver jogar.
— Claro que eu vou. — Ela se aconchegou mais perto.
Voltamos para o hotel e Willa caminhou como sonâmbula
para o nosso quarto comigo quase a carregando o caminho
todo. Eu a tirei de suas roupas e a coloquei debaixo dos
cobertores. No segundo em que deslizei ao lado dela, ela se
enrolou em cima de mim, absorvendo meu calor.
— Você está tão quentinho. — Suas palavras sonolentas
provocaram um turbilhão de emoções, cada uma melhor que a
anterior.
— Ladra de calor. — Eu a segurei mais perto.
— Você adora.
— Eu adoro. — Tracei minhas mãos ao longo de suas costas
nuas. Suas pernas estavam emaranhadas nas minhas e sua
respiração patinou pela minha pele. — Antes, eu sempre
achava que não tinha um lugar no mundo. Eu não tinha
ninguém que se importasse, ninguém que me amasse. Mas
agora eu tenho você, e você me mostrou o quanto havia na
minha vida. Se eu tivesse saído desta noite com nada mais do
que um estômago cheio e o jeito que você me olha, eu me
sentiria mais rico do que qualquer cara lá hoje à noite.
— O dinheiro definitivamente ajuda. — Seus cílios fizeram
cócegas no meu ombro.
Eu ri, sacudindo nós dois.
— Isso ajuda.
Ela levantou a cabeça.
— Você sabe que não importava o que acontecesse esta noite,
eu ainda estaria aqui com você, certo?
— Nunca duvidei disso, nem por um segundo.
— Bom. — Ela se apoiou em um cotovelo. — E se você jogar
um segundo ou não na próxima temporada, eu estou aqui.
Você é meu. Você é meu turbilhão de glitter dentro de um
globo de neve e quando estou com você é como se todo o resto
desaparecesse.
— Sem você, eu não teria chegado tão longe.
— Claro que você teria. — Ela passou os dedos pelo meu
peito.
— Eu poderia ter feito isso, mas eu mal teria me aguentado,
ainda tentando encobrir as feridas do meu passado. Eu estaria
em modo de sobrevivência. Com você, não estou apenas
sobrevivendo. Com você estou vivendo e sei que só vai
melhorar.
Ela se levantou e me beijou.
— Nós dois estamos vivendo por hoje e prontos para o que
vier a seguir. Chegamos até aqui. Somos fortes. Nós temos isso.
Enfiei meus dedos nos dela, pronto para o brilho do meu anel
que ela usaria em alguns meses. O primeiro passo para
entrelaçar nossas vidas como se ela tivesse sido costurada em
minha alma.
— Juntos.
1
WILLA
OSAKA

— Estou indo almoçar, mas mal posso esperar até você chegar.
— Fechei meu guarda-chuva e entrei em uma das maiores
praças comerciais da cidade.
— Como se você pudesse me manter longe. O apartamento
tem sido tão solitário sem você. — O beicinho de Maggie
irradiava pelo telefone e sua voz estava abafada.
— Você morava lá sem mim antes — eu provoquei e
coloquei meu guarda-chuva em uma bolsa para não pingar
água por todo o chão. Outros compradores e passageiros de
trem passaram apressados por mim. Desde que cheguei, alguns
meses atrás, eu tinha sido lançada na vida por conta própria,
diferente de qualquer outro momento da minha vida. Foi
assustador e emocionante ao mesmo tempo.
— Mas não é a mesma coisa agora que me acostumei com seu
ronco a noite toda.
— Eu não ronco. — Eu estava do lado de fora da minha loja
de ramen favorita. Os assentos nas janelas permitiam que as
pessoas assistissem o quanto eu quisesse. Levei três visitas para
criar coragem para pedir em japonês, mesmo depois de anos de
estudo, mas a refeição cheia de sabor valeu a pena o medo de
parecer uma completa idiota.
— Ah, sim, você ronca.
— Ezra me diria se eu roncasse. — Ele jogou dois dias atrás e
estava tão cansado que o deixei descansar durante seus cinco
dias de folga. Meu telefone tinha um relógio dividido
mostrando os horários e eu me certifiquei de enviar uma
mensagem para ele apenas quando ele estivesse acordado. Ele
tinha o mau hábito de responder às minhas mensagens, não
importava quando eu as enviasse.
— Claro que ele não diria a sua namorada maravilhosa que
ele acha que o sol nasce e se põe por ela que ela soa como um
cortador de grama que não liga — ela brincou de volta.
— Estou desligando agora.
— Espere, não vá ainda. Quando você vai vê-lo novamente?
— Não até que a temporada termine. — Eu caí contra um
pilar do lado de fora do restaurante.
— Tente não parecer tão triste com isso. Pelo menos você vai
me ver!
Eu ri.
— Eu vou. Eu só sinto falta dele.
— O sexting e o sexo por vídeo não são suficientes.
— Maggie! — eu assobiei. — É isso. Meu estômago está
roncando. Estou indo. Tchau. — Terminei a ligação
balançando a cabeça com um sorriso enorme no rosto. Ela era
uma maluca, mas ela era minha. O restaurante estava cheio, mas
não lotado. Eu passei por alguns clientes saindo para ir para o
meu lugar, o da janela. Um leve toque de gengibre junto com
os aromas de frango e carne pairava no ar. Eu inalei como se
pudesse me livrar dos cheiros sozinha.
Estar tão longe me fez apreciar a distância, bem como o quão
perto eu estava da minha família. As coisas ficaram solitárias
aqui sozinhas, especialmente quando as aulas terminaram e eu
estava de volta ao meu quarto. Eu o compartilhei com outra
garota do programa, mas ela tinha sua própria vida
acontecendo. Nós saímos algumas vezes, mas não como Maggie
e eu.
Eu tive sorte de ter tantas pessoas na minha vida que eu
amava. Mas era uma merda estar tão longe deles. Ah! Que
aventureira do mundo que eu me tornei. Meus primeiros seis
meses fora do estado e eu estava pronta para voltar.
Ezra sendo convocado para Pittsburgh foi um sonho, mas
havia uma pequena parte de mim que estava triste por ele estar
tão perto, quando eu estava tão longe. Se ele tivesse acabado no
Texas ou na Califórnia, estar na Darling U ou em Osaka não
teria importância, mas Pittsburgh significaria que eu poderia ir
a todos os seus jogos em casa e poderíamos nos ver o tempo
todo.
No meu lugar usual, um homem grande estava sentado.
Americano. Seu terno preto foi feito sob medida com
perfeição. Familiar. Meu coração disparou, acelerando como
um trem no meu peito.
Sua cabeça levantou e nossos olhares se chocaram no reflexo
da janela.
Meu guarda-chuva caiu no chão.
Ele se virou e sorriu. Um sorriso largo, quente, me derreteu
até os dedos dos pés.
Dei um passo à frente e parei para ter certeza de que não o
havia conjurado por causa da minha saudade.
— Ezra?
Ele se levantou e ajeitou o blazer.
— Ei, Willa.
Corri até ele e me joguei em seus braços.
— O que você está fazendo aqui?
Ele me pegou e seus braços me abraçaram com força.
— Ouvi dizer que este lugar tem o melhor ramen da cidade,
então pensei em dar uma olhada.
Eu me agarrei a ele, inalando seu cheiro e apertando meus
olhos fechados para manter as lágrimas de felicidade longe.
— Por que você não me disse que viria?
— Que tipo de surpresa seria se eu dissesse que estava vindo?
— Ele me colocou no chão e segurou minha bochecha.
— Como você sabia onde eu estaria? — Enrolei meus braços
ao redor de seu pescoço, não me importando se estávamos
chamando a atenção.
— Você realmente não sabe o quanto fala sobre este lugar. —
Ele riu, um som que encheu meu coração a ponto de explodir.
Eu adorava ouvi-lo rir. Fazia tudo no mundo parecer melhor se
Ezra estivesse rindo. — Toda terça-feira depois da aula, você
pega uma tigela antes de voltar para seu apartamento e estudar.
— Seu sorriso diminuiu um pouco e preocupação encheu seus
olhos.
— O que há de errado?
— Há algo que eu preciso fazer há muito tempo e não sei se
é o momento certo. — Ele pegou meu guarda-chuva caído.
— Você veio até aqui para me dizer isso? Você sabe o que
quer que seja, eu vou apoiá-lo. Os caras vão te apoiar. — Eu
escovei meus dedos ao longo de sua mandíbula.
— Eles realmente não podem me ajudar com isso. — Ele nos
guiou até os assentos perto da janela.
— Walsh, então? É sobre a nova equipe? Eles estão fazendo
algumas acrobacias de merda de trote de calouro?
— Pronta para ameaçá-los por mim?
— Sempre que você precisar.
Um garçom veio e colocou duas grandes tigelas de Shoyu
Ramen na frente de cada um de nós, com os hashis ao lado
deles.
— Você pediu. Podemos conversar enquanto comemos,
tudo fica mais fácil com o estômago cheio. — Peguei meus
hashis e os separei. Pelo menos tentei. Mas eles não iriam
quebrar. Engoli em seco e os deixei cair no balcão. A base estava
embrulhada em fita com um laço em miniatura, sob ele pendia
um anel.
Um diamante de corte radiante estava proeminente no topo
com diamantes enrolados ao redor da banda. Embora fosse um
dia frio e sombrio, a gema pegou toda a luz disponível e o canto
brilhou e reluziu.
Olhei do anel de volta para Ezra.
Ele deslizou para fora de seu assento e se ajoelhou. Pegando
os pauzinhos, ele puxou o anel e o estendeu para mim. Com
uma mão no meu joelho e a outra no ar, ele olhou para mim.
— Willa Goodwin, não consigo imaginar minha vida sem
você e nunca quero ter que fazê-lo. Você me fez um homem
melhor, você esteve lá para mim quando seria mais fácil ir
embora, você me fez mais feliz do que eu jamais pensei ser
possível. Já não sinto que estou sozinho. Você me mostrou o
quanto sou amado não apenas por você, mas pelas pessoas da
minha vida. Eu sei que é muito cedo e você ainda não se formou
na faculdade, mas posso esperar. Estou pedindo que você me
dê a honra de ser minha esposa.
As lágrimas que eu afastei com mais facilidade voltaram com
uma vingança, descendo pelas minhas bochechas e pingando
do meu queixo.
— Ezra… — Minha voz falhou.
Ele olhou para mim com olhos lacrimejantes cheios de desejo
e amor. Os olhos do homem eu mal podia esperar para mostrar
o quanto eu realmente o amava todos os dias.
Eu balancei a cabeça, incapaz de pronunciar as palavras,
emoções entupiram minha garganta.
Ele colocou o anel no meu dedo e os clientes ao nosso redor
bateram palmas e tiraram fotos. Pela primeira vez, Ezra não
parecia se importar em ser o centro das atenções. Ele se levantou
e me beijou, enxugando minhas lágrimas.
Uma batida no vidro cortou o momento.
Do lado de fora, sob um amontoado de guarda-chuvas,
estavam meus pais, Walsh e Maggie bem ao lado de todos os ex-
colegas de quarto de Ezra.
Eu olhei para eles, o queixo escancarado.
— Todos? Você trouxe todos eles com você?
— Diga-me qual deles gostaria de perder este momento.
Eles acenaram e tiraram ainda mais fotos.
— Eu não posso acreditar que você fez tudo isso por mim.
— Tudo por nós. — Ele entrelaçou seus dedos com os meus
e ergueu minha mão para nossa família torcendo, parentes ou
não de sangue, que acenou de volta e apontou para a porta.
— Parece que eles vão se juntar a nós. — Virei-me para olhá-
lo novamente. — Então, o que era aquela coisa realmente difícil
que você precisava fazer?
Ele baixou o olhar para o chão e olhou de volta para mim com
um olhar de malícia em seus olhos.
— É sobre o seu ronco...

O amor que eles têm um pelo outro me fez chorar sobre o meu
teclado mais do que algumas vezes. Muito obrigada por passar
seu tempo em St. Francis U e espero que você visite novamente
em breve, ou talvez queira fazer uma viagem pelo estado para
Fulton U…

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