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Sumário
aviso — bwc e ep
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
EPÍLOGO
1
aviso — bwc e ep
Eu não sabia que ela era a irmã mais nova de um dos meus
maiores rivais. O irmão dela e eu tiramos sangue no campo,
articulações deslocadas, ossos quebrados, mas eu nunca vou
querer mostrar a ela esse meu lado.
Desejo ser o homem que ela acredita que sou, mas só há uma
maneira de saber como vencer – como sobreviver – e é
garantir que meus inimigos percam.
Uma vez que ele descubra com quem sua irmã está
namorando, será uma guerra total, e eu posso perder a única
mulher que já olhou para mim como se eu não fosse feito
apenas para a destruição.
1
Os Defensive Ends são os jogadores que ficam posicionados nas extremidades da linha
defensiva, eles têm a missão de pressionar a linha ofensiva, impedindo corridas e tentando
derrubar o quarterback. Os Defensive Tackles são os jogadores que tem o objetivo de parar o
jogo corrido e atrapalhar os passes do quarterback adversário.
alto. Seu boné não era STFU ou Pittsburgh, mas ele observava
o campo como Arnold Schwarzenegger no modo sentinela em
Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final.
Maggie tomou um gole de chocolate quente, me olhando o
tempo todo.
— Você ainda está pensando em se transferir?
— Talvez. — Olhei para o campo, animada porque eu seria
capaz de fazer isso o tempo todo com Maggie se eu me
transferisse, mas uma bola de pavor cresceu enquanto eu
pensava em como a conversa de transferência seria. — Você
sabe que meus pais vão enlouquecer se eu lhes disser que estou
pensando nisso.
— Você não pode passar o resto de sua vida tentando evitar
que eles surtem.
— Evitar que eles se preocupem tem sido minha principal
prioridade desde que me lembro.
— É por isso que as festas do pijama na minha casa sempre
foram tão divertidas.
— Tenho que amar as noites de encontro dos seus pais e o
bar totalmente abastecido. — Era também por isso que gin e eu
não éramos amigos. Sempre que eu sentia o cheiro, meu
estômago dava cambalhotas e eu ficava com a boca molhada
pré-vômito. — Transferir não é sobre Walsh, no entanto.
— Seus pais querem o melhor para você. Eles entenderão por
que você precisa se transferir. Darlington U tem o melhor
programa de idiomas do país — diabos, talvez do mundo. Você
vai ser uma Darling.
A antiga escola só para meninas era agora mista, mas ainda
mais conhecida pelo apelido de Darling U, daí o fato de os
graduados serem frequentemente chamados de Darlings.
Deixando de lado aquele período assustador, o programa de
idiomas da escola era um dos melhores do país, enfiado em uma
faculdade da Pensilvânia ocidental que mal era considerada
uma universidade graças aos poucos diplomas de pós-
graduação que ofereciam em abenaki, árabe, chinês, francês,
alemão, japonês e russo. À sombra do STFU, apenas aqueles na
bolha de aprendizado de idiomas tinham ouvido falar dele.
— Eles querem o que é melhor para mim ao alcance de um
braço.
— A poucas horas de distância dificilmente será como se
mudar para Bora Bora, além disso, é Darling U, você estará tão
perto de mim. — Maggie agarrou meu braço e pulou para cima
e para baixo. Ir para escolas tão próximas, ou mesmo morar
juntas, me empolgou e pesou mais a balança na direção da
transferência. — Como eles podem não querer isso?
Seria perfeito. Estudando tarde da noite e aprendendo ainda
mais alemão e japonês do que eu já sabia, mas a competição do
programa era acirrada.
Os idiomas me fascinaram desde o momento em que percebi
que havia outros por aí para aprender. Sonhei em ir a lugares
distantes, longe de tudo e de todos que me conheciam.
— A escola também é quase impossível de entrar.
— Não mude de assunto. Não era você que falava sem parar
sobre como mal podia esperar para se livrar do Walsh? Que
você nunca teria uma experiência normal de faculdade com ele
respirando no seu pescoço o tempo todo? — Maggie enxugou
o rosto com um guardanapo depois de inalar sua comida. —
Ele é um pé no saco arrogante. Você não pode nem ir a festas e
tomar algumas bebidas.
— Tenho menos de vinte e um.
Ela soltou um grunhido de frustração.
— Sério? Ele fez lavagem cerebral em você. É um rito de
passagem beber antes de ser legal. Isso é metade da diversão.
Além de ficar fora até muito tarde para acordar para suas aulas
de manhã cedo, passar metade da noite segurando o cabelo de
sua melhor amiga enquanto ela chora em um vaso sanitário por
causa de seu novo namorado e faz a caminhada da vergonha.
— Você quer fazer um desses hoje à noite? — Um cara
bêbado passou o braço em volta do ombro dela, arrastando as
palavras.
Ela fez um barulho de desgosto e tirou o braço dele do ombro
dela.
— Sem chances.
O cara tropeçou para trás, franziu o rosto para ela antes de
voltar para sua cerveja – provavelmente bêbado demais agora –
e cambaleando para incomodar outra mulher inocente.
— Eu não disse que não estava me transferindo com certeza.
— Eu puxei a gola do meu casaco. — É que... meus pais e Walsh
iriam surtar. — Eles surtariam com certeza. A única razão pela
qual meus pais não tinham quebrado quando chegou a hora de
eu ir para Fulton U foi porque Walsh já estava lá, pronto para
deixar o lugar à prova de bebês para mim.
— Você terá que deixar o ninho em algum momento.
Tomei um gole do meu chocolate quente e estremeci. Ainda
tinha gosto de água morna e calcária.
— Ele é um bloqueador de pênis.
O chocolate quente jorrou da minha boca e caiu sobre o cara
na fila na minha frente.
Ele olhou por cima do ombro e encarou.
— Eu sinto muito. — Peguei alguns guardanapos e uma
garrafa de água quase congelada e tentei limpar o casaco dele.
Maggie riu, curvando-se pela cintura e segurando seu
estômago.
Depois de alguns segundos de enxurrada furiosa, meus
movimentos diminuíram, a percepção de que o cara ainda
estava olhando. Minhas bochechas ressecadas pelo vento
inundaram com o calor e eu puxei a gola do meu casaco mais
alto, querendo desaparecer nele como uma tartaruga.
— Desculpa mesmo.
Seu olhar severo se transformou em um descontraído.
— Não se preocupe com isso. Eu só estava tentando ver se
você tentaria lavar meu casaco a seco aqui na arquibancada.
Além disso, não é como se você fosse a primeira pessoa a
respingar sua bebida em alguém aqui. — Ele empurrou o
queixo na direção dos dois bandos de caras ficando mais
barulhentos e bêbados a cada minuto.
— Conte-me sobre isso. — Eu levantei meu braço
mostrando os respingos na minha jaqueta.
Ele assentiu e se virou.
Virando-me para Maggie, puxei-a pelo seu braço para perto.
— Você poderia não usar essa palavra ao falar sobre meu
irmão? — Eu assobiei em seu ouvido.
— Ele certamente tem um que eu não me importaria de
engasgar com, se é que você me entende?
— Isso deveria ser sutil? Acho que não há ninguém nesta
seção que não saiba do que você estava falando. — Bati no
ombro do cara vomitado na minha frente. — Desculpe
incomodá-lo novamente, mas você sabe do que ela estava
falando?
Ele olhou por cima do outro ombro.
— Sobre chupar seu irmão.
Eu levantei a mão em sua direção.
— Obrigada. E me desculpe novamente.
— Sem problemas.
— Não é exatamente um eufemismo astuto, Mags. — Um
vento forte quase derrubou toda a nossa fileira. Meus dedos
estavam beirando aos cubos de gelo.
— Eu tenho muitos pontos fortes, aparentemente esse não é
um deles.
— Apenas, por favor, se você valoriza nossa amizade, você
não poderia falar sobre atividades da cintura para baixo quando
isso remete ao meu irmão?
— Falando em remeter…
Eu pressionei minhas mãos sobre sua boca.
— Não faça. Não faça isso.
Ela arregalou os olhos daquele jeito de personagem de
desenho animado e balançou a cabeça.
Encarando, eu lentamente abaixei minhas mãos.
— O prazo de transferência está chegando.
Agora eu estava dividida. Ou ela voltava a falar sobre meu
irmão ou sobre o prazo de transferência, e era uma disputa
sobre a qual eu preferia que ela continuasse, mas a transferência
venceu por um fio.
— Tenho dois meses. É uma grande mudança. Deixar meus
novos amigos para trás.
— Eu não sou o suficiente para você? — Ela apertou o peito
e franziu o rosto. — Como você ousa?
Uma buzina sinalizou o início de outro tempo da TV.
Jogadores e árbitros pararam enquanto os treinadores se
moviam ao longo das linhas laterais.
— Mudar é bom. A mudança é incrível.
— Nem toda mudança. — Não a mudança no mundo da
minha família que aconteceu antes de eu chegar e virou minha
vida de cabeça para baixo antes de começar. — Estaria deixando
tudo que é familiar.
— É mais como deixar seu carcereiro para trás. A parede
protetora que Walsh construiu ao seu redor, tijolo por tijolo,
como uma muralha. — Ela me cutucou com o cotovelo. — Viu
o que eu fiz aqui.
Talvez o apelido do meu irmão, Muralha, devesse ser
transferido para Maggie. Foi nisso que eu senti estar batendo
minha cabeça contra, desde que eu disse a ela que estava
pensando em me transferir. Depois de um ano na Fulton U,
minhas asas pareciam ter sido cortadas. Minha liberdade recém-
descoberta ainda parecia contida em um conjunto específico de
diretrizes. Morando a quarteirões de meu irmão e a menos de
uma hora de meus pais, não deixei a sombra de seu olhar atento,
de suas expectativas ou de seus medos.
Concentrei-me no campo e no jogo. Os assentos ao nosso
redor ficaram mais barulhentos quando o intervalo terminou e
fomos lançados no terceiro tempo. Ir para a escola com Walsh
tinha sido de certa forma uma amostra da faculdade. Eu tinha
uma barreira de proteção embutida, nunca sentindo que teria
que fazer meu caminho pelo campus sozinha. Mas no meio do
meu primeiro ano estava começando a parecer um pouco
sufocante. Tipo esses assentos. Mesmo com ele se formando
este ano, eu não esperava que isso mudasse. Ele provavelmente
estaria à espreita nos arbustos do lado de fora das festas na baixa
temporada. E ele perderia a cabeça se soubesse que fui
empurrada e cutucada por fãs bêbados e desordenados da St.
Francis U.
Corpos foram pressionados juntos e as vozes estavam menos
torcendo pelo jogo e mais gritando umas com as outras. O
balanço padrão da multidão e os saltos excitados se
transformaram em empurrões bêbados.
Maggie se virou para mim com os olhos arregalados olhando
por cima do meu ombro.
— Ah, merda.
CAPÍTULO 2
EZRA
2
Pedaço de merda.
Sentei-me para amarrar meus sapatos e meu telefone acendeu
na minha bolsa.
Willa: Desculpe, meu irmão me pegou no aeroporto e
estava sendo um saco. Ele não iria embora até ter certeza
de que eu jantaria, mesmo que eu dissesse a ele que não
estava com fome
Eu: Já gosto dele.
Pelo menos havia alguém cuidando de Willa tanto quanto ela
gostava de cuidar dos outros. Era bom que ela tivesse seu irmão
por perto.
Eu: Ele mora perto da sua faculdade?
Willa: Ele estuda aqui comigo.
Eu: Deve ser bom tê-lo tão perto.
Willa: Você me diz se você gostaria de estar perto desse
pateta o tempo todo.
Uma imagem apareceu na minha tela e o telefone caiu da
minha mão, batendo no tapete excessivamente acolchoado.
Seu conhecimento íntimo do futebol. Sua avaliação
imperturbável dos ferimentos. Ela estar em sintonia com a
nutrição e a fome do jogador.
Olhando para mim da minha tela quebrada estava o sorriso
brilhante de Willa. Ela estava ao lado de uma enorme árvore de
Natal coberta de enfeites vermelhos, dourados e brancos, além
de luzes e guirlandas. O amarelo brilhante das lâmpadas a
iluminou ainda mais do que antes e ela estava com um gorro de
Papai Noel, bebendo uma caneca de chocolate quente com
chantilly e bastões de doces rachados espalhados por cima. Era
o tipo de foto perfeita presa em molduras nas prateleiras de
lojas. Do tipo em que você se imaginava tirando um dia, mas
era a vida real dela.
Arrancando meus olhos dela, eles pousaram em outro rosto
igualmente feliz, só que eu reconheci, embora nunca com essa
expressão. Nunca feliz. Sempre com uma carranca e um desejo
de morte para mim de sua boca. A bile correu para o fundo da
minha garganta, cobrindo-a com ácido.
O irmão mais velho bobo de Willa era a Muralha Goodwin,
o que significava que eu era um homem morto.
CAPÍTULO 7
WILLA
3
Estado de descanso, meditação. Deixar a mente em branco para se concentrar em algo.
— Isso também funcionaria. — Sua voz transbordava de
alívio.
— Se eu estiver sendo irritantemente insistente e correndo
atrás do que você quer, é só me avisar. E vou tentar não ser uma
idiota tão detestável.
— Você não é. — Seu olhar suavizou, deixando a ponta da
ansiedade. — Você é apenas... diferente.
Agarrei meu peito e tropecei para trás.
— Ai.
Seus olhos se arregalaram. Ele não soltou meu braço.
— O quê? O que eu disse?
Esfreguei seus dedos, mantendo meu sorriso no lugar.
— Eu sou diferente. Não é um que eu ouvi na lista de elogios.
Esquisita. Chata. Dor na bunda. Mas diferente?
— O que há de errado com isso? Você é diferente comigo.
Você me trata de maneira diferente da maioria das pessoas. —
Havia uma urgência em sua voz, como se ele precisasse que eu
entendesse.
— Como a maioria das pessoas trata você? — Tirei sua mão
do meu braço e a coloquei entre as minhas, arrastando meus
dedos em seus dedos.
— No campo ou fora dele?
— Ambos, o que você quiser me contar.
Os músculos do lado de seu pescoço se apertaram e seus
lábios se separaram. O arco do Cupido era afiado o suficiente
para cortar morangos.
A porta da frente se abriu e se fechou.
— Ezra, você está aqui?
Seus olhos se arregalaram.
Eu pulei para trás da porta, com o coração acelerado. Eu não
queria que isso fosse ruim para Ezra. Ele já tinha me deixado
entrar tanto. Uma introdução inesperada ao amigo pode
arruinar a noite.
— Quer distraí-lo para eu fugir?
— Você não precisa. — Suas palavras diziam uma coisa, seus
olhos gritavam outra.
— Já invadi sua vida o suficiente. Não estou chateada ou
ofendida. Se você quiser me apresentar a eles algum dia, então
você pode. — Dei um passo para trás atrás da porta do quarto.
Ele enfiou as mãos nos bolsos.
— Eu vou levá-lo para o quintal por um segundo rápido e
você pode escapar então.
Em pé, eu saudei.
— Considere isso feito. Eu espero no seu carro. Está
destrancado?
— Willa... — Ele esfregou uma mão na testa, levantando a
aba do boné.
— Pare de se culpar por isso. Quando você estiver pronto. Vá
em frente. — Dei um tapinha em sua bunda, empurrando-o em
direção à porta.
Ele me encarou por cima do ombro.
— Obrigado. — Então, ele se foi.
Minha frente vacilou um pouco. Talvez eu estivesse
interpretando tudo errado. Esperava que ele descesse as escadas
para contar a seu amigo sobre mim e quisesse me apresentar
agora, mas em vez disso ele pegou a brecha. E eu prometi que
não ficaria chateada com isso.
Eu me olhei no espelho e bati em cada bochecha. Supere-se,
Willa. Você não é tão incrível. Vocês dois se encontraram
pessoalmente três vezes. Acalme-se.
— Você acha que devemos fazer um churrasco amanhã? A
grelha estava fazendo um som estranho. — A voz de Ezra
ressoou na sala de estar.
Fui na ponta dos pés até as escadas, mantendo meus passos
leves para evitar rangidos.
Então vozes abafadas, movendo-se para os fundos da casa.
Aproveitando minha chance, espiei por cima do parapeito.
Uma rajada de ar frio atravessou a casa pela porta dos fundos.
Com todos fora da sala, abri e fechei a porta da frente e desci
os degraus da varanda. Lá fora, o vento aumentava a geada da
noite. Minutos a mais e a geada se acumularia em meus cílios.
Entrei no carro de Ezra e me xinguei por não ter pedido as
chaves para ele. Tremendo e saltando, respirei em minhas mãos
e balancei minha bunda, tentando afastar o frio. Pode ser mais
quente do lado de fora do que dentro. Meus dedos doem para
serem enrolados e soprados. Quanto tempo demorou para o
congelamento se instalar?
Como estava tão mais frio do que em Philly? Eu realmente
queria me mudar para Darling U?
CAPÍTULO 10
EZRA
4
Ocorre quando um jogador, que tem a posse e controle da bola, deixa ela cair. Pela regra, em
qualquer situação, passando, chutando ou dando a bola ao running back, pode resultar num
fumble
favor de Fulton U. Outra. O favoritismo da arbitragem me
enfureceu, tornando mais difícil direcionar minha raiva para o
campo em nossos oponentes.
Um apito sinalizou o fim da nossa investida pelo campo em
direção à end zone.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram e eu empurrei o
capacete coberto de suor de volta para baixo. Alguns dos caras
usavam casacos enormes para caber sobre seus protetores nas
laterais, mas eu andava de um lado para o outro. Os canhões de
calor trabalhando para manter todos aquecidos não chegaram
nem perto do fogo fervente que crescia na minha cabeça.
Um apito e eu fui para o campo com o resto da defesa.
Minhas chuteiras afundaram no chão encharcado e eu corri na
frente, tentando evitar que a fera correndo em meu peito
roubasse meu foco. Estava lá. Sempre lá, às vezes quieto, mas
sempre pronto para atacar quem chegasse perto de ficar no meu
caminho.
No campo, soltei as correntes e a libertei. Deixe-a destruir
meus inimigos e proteger meus companheiros de equipe. Em
posição, eu estava quase capacete a capacete com meu
oponente. Uma fração de segundo de reconhecimento. Não
qualquer inimigo. Muralha. O filho da puta que fez uma
tempestade em copo d'água sobre o soco como se eu estivesse
usando soqueiras. Ele não sabia o quão doloroso aquele tipo de
golpe reverberante doía, como se seus ossos pudessem se partir
sob o impacto.
— Bem-vindo ao final de sua temporada. — Ele sorriu para
mim através de sua máscara facial, falando em torno do
protetor bucal fluorescente. — Pena que seu time é muito mole
pra caralho.
— Você parecia bem mole naquele pijama de rena.
Sua cabeça se ergueu ao mesmo tempo em que a jogada
começou.
Usei seu segundo de confusão para acertar o golpe. A
adrenalina percorreu meu corpo, inundando minhas veias com
um objetivo singular.
Ele era o inimigo. Dano. Destruir. Demolir.
Eu avancei, jogando meu peso, e o agarrei. Ele não ganharia
um centímetro em mim. Ele não iria passar por mim. Ele não
conseguiria sair deste campo sem minha chuteira impressa em
seu peito.
O resto da linha aguentou e a bola ficou solta.
Eu mergulhei para isso, mas Muralha me agarrou. Girando,
eu o sacudi e ele caiu, mas a janela estava fechada. Fulton U
recuperou a bola.
Em vez de reiniciar para empurrar a carga novamente, o apito
soou. Os jogadores da Fulton U se aglomeraram em torno de
um se contorcendo no chão.
Muralha.
Eu cuspi meu protetor bucal, o plástico moldado se partiu no
centro, e corri em direção ao idiota caído.
— Levante-se e pare de fingir.
Os caras do Fulton U se viraram e marcharam em direção aos
meus companheiros de equipe.
Podem vir.
Uma mão subiu em meus protetores, me puxando para trás.
— Não, é besteira. Ele está bem.
— Não dê a eles o que eles querem. — As palavras baixas de
Griff no meu ouvido me ajudaram a controlar a besta andando
no meu peito, pronta para atacar mais uma vez.
Com a ajuda de alguns de seus companheiros de equipe, eles
o levantaram e ele saiu do campo por conta própria enquanto
segurava seu ombro. Dramático.
O resto do jogo foi confuso. Penalidades, rebaixamentos e
dor.
E nossa temporada acabou. Os números no placar
zombavam de nós.
Sem apertos de mão no final do jogo. Se o fizesse,
provavelmente seria expulso do estádio. Aquela fera dentro
ainda estava muito perto da superfície. Ainda muito perto para
me lançar em um deles e não os largar até que a raiva estivesse
diminuído.
Em vez disso, cerrei os dentes e segui o resto do time até o
vestiário.
Sob o jato dos chuveiros, bati meus punhos contra a parede.
Meus dedos não estalaram, não se partiram, não sangraram.
Eles estavam acostumados com esse tratamento, mas a dor
ajudava. Afrouxou o aperto no meu peito e afastou as garras na
minha cabeça.
Lentamente, eu engarrafava a raiva de volta, deixando a água
bater na minha cabeça e na ponta do meu nariz. Minhas
respirações estavam menos trêmulas e mais controladas.
Finalmente, os tremores pararam e desliguei a água. Gotas
lentas e constantes de água da torneira combinavam com
minha respiração.
Eu me troquei e me preparei para o discurso de Mikelson. Era
esperado. Eu poderia me preparar para isso. Sempre estive
preparado para isso. Preparado para alguém dar um chute e dar
um tiro barato ou um golpe com as costas da mão. Pelo menos
as dele eram principalmente verbais – principalmente.
Não houve festa no hotel. Nada de festas bêbadas selvagens.
Apenas a lenta marcha de angústia e decepção. Mas no quarto
escuro com Griff roncando na cama ao lado da minha, peguei
meu telefone.
Uma nova notificação levantou a nuvem que pairava sobre
mim.
Willa: Feliz Ano Novo, Ezra. Sinto muito pelo jogo.
Você vai arrasar no ano que vem.
Eu ansiava por ligar para ela. Ansiava por ouvir a voz dela e
deixá-la me acalmar ainda mais. Para manter a fera presa. Eu
nunca recebi uma mensagem de texto depois do jogo antes.
Nunca houve ninguém lá para tentar me animar. Os caras
geralmente estavam lidando com seus próprios sentimentos
sobre como o jogo foi, mas um texto fez tudo parecer menos
horrível.
Eu: Obrigado por assistir.
Willa: Meu irmão teria me matado se eu não o fizesse.
Um nó apertou minha garganta. O irmão dela. O cara que eu
estava tentando destruir no campo.
Eu: Tenho certeza que ele está comemorando agora.
Willa: Não tanto quanto ele gostaria. Seu ombro foi
deslocado durante o jogo, então ele está cuidando dele e
reclamando disso.
Meus dedos congelaram sobre a tela. Meu estômago se
apertou. Minhas glândulas sudoríparas trabalhavam horas
extras.
Eu: Ele disse o que aconteceu?
Willa: Apenas um empurrão. Nem o primeiro nem o
último. Eu perdi o empurrão e o replay. Você está bem?
Nenhum ferimento?
Minha expiração foi alta o suficiente para Griff resmungar e
rolar. Ela não sabia que eu tinha feito isso. Esse era um lado meu
que eu não queria que ela visse. O bastardo sanguinário não era
quem eu queria ser com ela.
5
O pão de macaco é uma massa macia, doce e pegajosa servida nos Estados Unidos no café da
manhã ou como presente. Consiste em pedaços de massa cozida macia polvilhada com canela.
É frequentemente servido em feiras e festivais.
— Deixe-me reformular. Você realmente acha que seria sábio
para nós terminarmos essa coisa sozinhas? Ela vai se
empanturrar até explodir. Eu vou ficar com ela choramingando
que ela está muito cheia para se mexer pelo resto do tempo que
estou aqui.
— Estou bem aqui, você sabe. — Maggie falou com a boca
cheia de doçura açucarada.
— Ajuda? — Eu puxei o prato para mais perto dele, o que
provocou um rosnado baixo de Maggie. Faltava pouco para ela
pular na mesa agachada e sibilar para nós dois.
Seu olhar sob a aba do boné suavizou e ele riu – bem, uma
risada de Ezra em público, que estava a meio caminho entre um
pigarro e uma tosse.
— Eu vou ajudar.
Com um golpe do meu garfo no monte, tirei um pedaço
perfeito coberto de glacê de cream cheese. Sem pensar, estendi
a doçura do meu garfo para Ezra.
Ele olhou para mim e de volta para a cobertura quase
pingando antes de abrir a boca e deixar meu garfo passar. Com
mastigações lentas e deliberadas, seu rosto se encheu com
aquela expressão deliciosa de te levar às nuvens.
— Por que ninguém me ouve? Sim, é tão bom. — Nós três
devoramos a pilha de massa em tempo recorde, com espaço
suficiente para respirar.
Agarrei meu estômago e enterrei meu rosto no ombro de
Ezra.
— Não aguento mais. Não aguento mais.
Ele beijou o lado da minha cabeça, peito roncando, e esfregou
meu ombro.
— Parece que você deveria estar mais preocupada com você
do que com Maggie.
Maggie caiu para trás em seu assento com as duas mãos
apoiadas na barriga.
— Melhor que sexo. Certo, Willa?
Eu me levantei e gemi com a sensação de quase estourar.
— Eu não posso me mover. Eles vão ter que embrulhar isso
— Afastei meu prato, incapaz de olhar para os ovos e salsichas
do lado ensolarado.
— Ah, não é Griff? — Maggie olhou entre nossas cabeças.
Ezra se virou. Seus dedos apertaram a parte de trás da cabine
antes de ele se virar e afundar nela. Ele ajustou o boné,
puxando-o ainda mais para baixo.
— É ele?
— Sim.
— Você queria ir dizer oi para ele?
— Não, por quê? — Ele olhou para mim.
— Nenhuma razão.
Virei-me para olhar para o jogador de futebol atarracado. Ele
se inclinou contra o balcão, tamborilando os dedos contra o
linóleo gasto com um olhar distante em seus olhos. O garçom
atrás do balcão deslizou um recibo para ele e ele levou alguns
instantes para registrá-lo. Ele pulou como se uma cobra tivesse
sido colocada na frente dele e examinou o restaurante. Seus
olhos pousaram em nós e no cara que estava tentando virar uma
tartaruga ao meu lado.
Suas sobrancelhas se juntaram e sua cabeça se inclinou, o
rosto franzido com uma combinação de confusão e
curiosidade.
— Eu acho que ele te vê. Tem certeza que não quer dizer oi
para ele? Ele parece preocupado.
Ezra saiu da cabine e marchou até Griff.
Os dois falaram em voz baixa e a expressão anteriormente
franzida de Griff se aprofundou ainda mais. Maggie se
aproximou, esperando que eles voltassem para a cabine. Dois
sacos foram colocados no balcão. Ezra pegou um. Griff pegou
o outro.
E eles foram embora. Foi preciso que a porta se fechasse com
uma onda de ar frio nos lavando antes que eu pudesse quebrar
a trava de choque em meus músculos.
— Isso realmente aconteceu? Ele acabou de ir embora?
Um tempo embaraçosamente longo depois, Maggie
finalmente me convenceu a ir embora. Enviei-lhe uma
mensagem sem resposta.
Tentamos pagar nossa conta, mas Ezra já havia pago no
balcão. Os pensamentos voavam a mil quilômetros por
minuto. Ele pagou por sua comida e pela nossa comida, mas
saiu sem dizer uma palavra.
Segui Maggie até o estacionamento onde o carro de Ezra
estava estacionado atrás do dela. Agora a vaga foi substituída
por outro carro, como se o dele nunca tivesse estado lá. Tentei
conter o desejo de deixar meu cérebro entrar no modo de
espiral ansiosa.
Eu verifiquei meu telefone várias vezes enquanto fazia as
malas e no caminho quase silencioso para o aeroporto.
— Tenho certeza de que ele tem uma razão. — Maggie saiu
na rua principal perto de seu apartamento.
— Sim. — Fosse o que fosse, eu tinha ido direto da
preocupação para a fúria. Quem faz isso? Depois da noite que
tivemos e de como ele parecia tão preocupado, tão necessitado
de segurança. O amigo aparece e ele vai embora sem olhar para
trás, sem mensagem, sem nada.
Na calçada, pendurei minha bolsa no ombro e olhei em volta
como se esperasse que ele aparecesse. Talvez eu estivesse,
estúpida eu.
Maggie e eu nos abraçamos. Ela olhou para mim com uma
confusão nervosa. Bem-vinda ao clube. Eu sorri mais para
deixá-la à vontade.
— Eu ficarei bem. Sério.
— Eu posso passar na casa deles e ver se as coisas estão bem.
— Não, está bem. Ele disse que ligaria.
Mesmo que na parte de trás do meu cérebro uma pulga se
acomodasse por como deixamos as coisas. Por como ele fechou.
Eu escolhi acreditar nele e parar de cair direto no pior cenário.
Ele ligaria.
CAPÍTULO 15
WILLA
6
Um tubo que é acoplado à máscara de mergulho e colocado na boca do mergulhador.
CAPÍTULO 18
EZRA
7
Catering é o modelo de serviço de alimentação em que preparamos em um local adequado e
servimos em outro local que não existe infraestrutura para tal, então, é a chamada refeição
transportada.
As correntes pararam de se arrastar, paradas e esperando pelo
que viria a seguir.
— Estava atrasado.
— Sim, estava. — Ela brincou com os botões de seu casaco.
— O Fulton U está de férias?
— Não, eu tive uma lacuna nas aulas e Maggie me convenceu
a visitar por alguns dias.
— Você está tanto aqui, você poderia muito bem se
transferir. — Minha risada soou como tijolos jogados de um
telhado. Por que eu tinha dito isso? Era o oposto do que eu
queria, que era mais tempo com ela e a chance de falar com ela
enquanto ela estivesse fora, mas a transferência só aceleraria sua
percepção de que ela poderia escolher alguém melhor.
— Eu venho dizendo isso a ela há meses — Maggie gritou de
seu lugar atrás do poste de luz.
Willa revirou os olhos.
— Quando você vai embora? — Mais alguns dias, eu poderia
orquestrar mais desentendimentos. Transforme o degelo em
um aquecimento e ligue para ela assim que ela voltar para a
escola.
Ela olhou para mim.
— Partimos para o aeroporto em quarenta minutos.
O ar saiu dos meus pulmões. O desespero socou minhas
costelas.
— Tão cedo.
— Eu não estudo aqui, lembra? Meu irmão já está chateado
por eu estar aqui do jeito que estou.
O irmão dela. Muralha, porque é isso que se sente quando ele
bate em você, como se você tivesse esbarrado em uma muralha
de tijolos. Mas, para ela, ele era Walsh. O irmão cujo ombro eu
tinha deslocado em nosso último encontro. Aquele que tinha
me batido. A fera ergueu a cabeça com um sopro de
competição. Um fio de memórias do campo tentando
aumentar a carga no meu peito.
Deve importar. Essas eram todas as razões pelas quais eu
deveria ter tomado meu telefone quebrado como um sinal para
deixá-la em paz, mas eu não podia.
— Ele está tentando cuidar de você. — As palavras saíram
como se eu estivesse mastigando vidro quebrado. Meus
tímpanos latejavam. Isso não foi em campo. Eu tive que agarrar
o ar em meus pulmões e forçar meus músculos a relaxar.
— Ele está sendo um pé no saco. De qualquer forma, não
precisamos falar sobre meu irmão. Estou feliz que você está
comprando um novo telefone em breve. Sinto muito pelo seu
antigo.
— Era uma merda.
— Sim, mas era seu.
— Você pode me dizer a próxima vez que você estará aqui?
— Isso não é uma boa ideia. — Ela disse isso rapidamente,
como se tivesse ensaiado para este exato momento.
O pânico atingiu meu peito.
—Por que não? Assim que eu tiver meu...
— Há muita coisa que vai mudar para mim nos próximos
meses e... eu preciso colocar meus pés no chão primeiro.
Minha garganta travou como se um peso de 40 quilos tivesse
acabado de cair sobre ela.
— Obrigada por me deixar saber que você não me ignorou.
— Seu sorriso reconfortante não parou de latejar em minhas
veias. Uma inutilidade latejante.
— Eu nunca ignoraria.
— Desculpe interromper isso, mas precisamos pegar a estrada
o mais rápido possível para que você não perca seu voo. —
Maggie passou o braço ao redor do de Willa.
Ela olhou para mim e mordiscou o lábio. Seus lábios se
separaram e se fecharam antes de seus ombros afundarem.
— Tchau, Ezra.
— Vejo você, Willa.
Eu a observei sair e odiei como cada vez parecia que ela
esculpia outro pedaço de mim para levar com ela.
8
A Wawa, Inc. é uma cadeia americana de lojas de conveniência e postos de gasolina localizados
na costa leste dos Estados Unidos, operando na Pensilvânia, Nova Jersey, Delaware, Maryland,
Virgínia, Washington, D.C. e Flórida.
Ela desafivelou o cinto e tentou dobrar o edredom antes de
desistir e colocá-lo no colo.
— Posso usar seu banheiro antes de ir?
Ela estremeceu.
— Você já está indo?
— Eu-eu não sabia se você gostaria que eu ficasse?
— Claro que eu quero. — Ela se inclinou para perto e
descansou a mão na minha bochecha. Seu olhar caiu para os
meus lábios e de volta para os meus olhos. — Todos os meus
colegas de quarto estão fora. Vamos. — Ela balançou a cabeça
em direção à porta e a abriu, lembrando-se do truque.
Engoli em seco, minha garganta apertada.
— Eu posso ficar com o sofá.
Ela bufou e puxou meu colarinho.
— Não, não é uma opção, grandão.
CAPÍTULO 21
WILLA
9
Ela fez um trocadilho de homem da neve com o fato dele ter que dirigir quase congelando.
— Certo? É tão irritante. — Maggie mostrou a língua e
puxou a divisória entre os dedos dos pés.
Eu bati na cabeça dela com um travesseiro.
— Provavelmente será muito mais quando eu me transferir
para Darling U.
Ela parou e olhou para mim como um poodle confuso antes
que o frasco fechado de esmalte batesse no chão e derrapasse
sob o sofá.
— Sua cadela! Você está aqui há cinco horas e só está me
contando agora. — Ela me jogou no sofá, batendo nossas testas.
— Parecia certo esperar para fazer meu anúncio dessa forma.
Ela gritou e me abraçou mais forte.
— Isso exige uma celebração. — Saindo de cima de mim, ela
dançou feliz até a cozinha.
Eu me sentei.
— Ezra provavelmente terminará mais tarde.
— Claro que ele vai. Aposto que ele tem observadores no
aeroporto para garantir que você não consiga passar por ele.
— Prosecco ou devemos ir para o negócio real? — Ela ergueu
duas garrafas de vinho com rolha.
— Vamos guardar a coisa real para a vez que meus pais
aprovarem isso. — Uma sensação de queda livre despencou
pelo meu estômago. Seria melhor se eu fizesse isso embriagada?
— Você conseguiu uma bolsa de estudos?
— A competição será insana para as três que eles oferecem
todos os anos.
— Nós vamos fazer isso funcionar. — O estouro de rolha de
tiros alto soou em meus ouvidos.
Sempre uma profissional, Maggie não derramou uma gota e
encheu meu copo.
Seu interfone tocou.
— Vou pegar outro copo.
Pulei para o encosto do sofá e me segurei contra a parede.
— Olá.
— Ei, linda.
Vibrações quentes na barriga se espalharam por todo o meu
corpo.
— Venha para cima.
Deixei a porta aberta com meu sapato e me juntei a Maggie
na cozinha. As taças estavam cheias até a borda.
— Generosa com a quantidade, Mags. — Bebi o meu antes
de levantá-lo do balcão.
— Como se não fossemos terminar a garrafa inteira.
— Eu não posso acreditar que finalmente está acontecendo.
Quer dizer, não é STFU, mas eu aceito! Para Willa, sua pura
vontade e determinação, e a melhor amiga que já tive. — Ela
bateu seu copo no meu.
— Para a melhor amiga que já tive, que nunca me deixa
duvidar de mim mesma.
Nós duas brindamos com nossos copos.
A carícia aquecida ao longo do meu pescoço me deixou
arrepiada. Os polegares de Ezra eram mágicos.
— Qual é a ocasião especial? — Seus lábios fizeram coisas
loucas em minhas entranhas, liquefazendo-as desde a primeira
sílaba.
— Ela entrou! — Maggie entregou a Ezra uma taça de vinho
espumante.
Eu não queria ter muitas esperanças antes de descobrir. Além
disso, a dor da rejeição não era algo que eu queria espalhar, mas
agora que eu sabia que tinha conseguido, era o momento
perfeito para compartilhar.
— Excelente. — Ele aceitou e tomou um gole, mantendo os
braços em volta de mim. — Para onde?
— Darling U Faculdade de Línguas — Maggie exclamou
como se eu tivesse recebido um Prêmio Nobel. — Ela está se
mudando para cá. — Seu salto na loteria tirou um pouco do
meu medo de fazer a escolha.
Ezra engasgou com a bebida, que escorreu pelo queixo.
Peguei algumas toalhas de papel e limpei seu queixo.
— Você está bem?
— Você está se transferindo? — Ezra enrijeceu e me encarou
atordoado. — Para Darling U? Aquela que fica a quinze
minutos de distância.
— Sim. — Eu sorri, amando como ele ficou impressionado
com a notícia. — Talvez. Ainda não há acordo feito no que diz
respeito à ajuda financeira e outras considerações. — Tipo
como meus pais iriam perder a cabeça com certeza. — Mas
tenho quase cem por cento de certeza. — Com esses dois no
meu lado, eu faria funcionar.
Gotas das bolhas efervescentes pingavam em seu casaco. Eu
bati nelas.
— Nós seremos colegas de quarto. — Maggie estendeu a mão
sobre o balcão e derramou mais bebida no meu copo. Seu
telefone vibrou no balcão. — Estarei de volta para a celebração.
Ela vai ser uma Darling. — Ela me abraçou e correu pelo
corredor.
— É uma das melhores escolas de idiomas do país. Com ela
sendo tão perto e eu morando com Maggie, eu posso ir aos seus
jogos, se houver alguém com conexões que possa me conseguir
ingressos — eu provoquei e me inclinei mais perto para esfregar
meu nariz contra o dele.
— O que seus pais acham? — Seus músculos travaram.
Totalmente derrubada, eu olhei para seu peito.
— Ainda não contei a eles. — Brinquei com os botões de seu
casaco.
Ele segurou minhas mãos.
— Eles não vão ficar preocupados por você estar tão longe?
Não era a resposta que eu esperava. Ele parecia mais com
Walsh do que com o cara que atravessou o estado para me ver.
— Talvez, mas não posso deixar de fazer isso só porque pode
perturbá-los.
— Eles só querem o melhor para você. — Ele cruzou um
braço sobre o peito e empoleirou o outro sobre ele, cobrindo
metade da boca com a mão.
Inclinei a cabeça e olhei para ele, sacudindo suas mãos.
— E o que eu quero para mim?
— Você está seriamente chateada porque você tem pais
carinhosos que se preocupam com você? — Ele balançou a
cabeça e olhou para mim com uma descrença confusa, como se
eu fosse uma criança mimada.
A acusação pungente me cortou profundamente e alimentou
minha raiva.
— Willa, você precisa realmente pensar sobre isso. — Ele
continuou balançando a cabeça como se esperasse que eu visse
a razão.
O álcool revirou no meu estômago, azedo e agitado.
— Por que você está agindo como se não quisesse que eu me
transferisse?
CAPÍTULO 22
EZRA
10
Suco de selva é o nome dado a uma mistura improvisada de licor que geralmente é servida
para consumo em grupo.
— Eu nem estou de mau humor. — Não mais uma ilha de
um, ele olhou em volta como se a festa tivesse acabado de surgir
ao seu redor.
— Justo. — Examinei a casa, feliz por considerar este lugar
não um verdadeiro lar, ou então a cerveja derramada e as marcas
na parede me fariam perder a cabeça.
Cole estremeceu ao meu lado.
— Onde diabos está o seu boné?
Beliscando a parte de trás do meu pescoço, passei a mão sobre
minha cabeça para massagear o zumbido
— Em algum lugar.
— Bem, não está na sua cabeça — Sua cabeça girou como se
estivesse procurando por um tesouro perdido. — Isso tem
alguma coisa a ver com sua nova namorada?
Eu cambaleei e derramei cerveja em cima de mim.
— Como você… — Eu fui direto e escovei as manchas
úmidas na minha camisa, desejando que eu estivesse com meu
boné. — Eu não sei do que você está falando.
Ele deu um tapinha no meu ombro e manteve os olhos nos
meus enquanto tomava um gole.
— Muito discreto. Ninguém vai saber que você tem uma
namorada secreta com essas táticas furtivas de espionagem
secreta.
Eu olhei e peguei meu boné, mas minhas mãos não atingiram
nada além de ar. Porra.
Ele riu e eu apertei minha mandíbula, não me importando
em esconder minha irritação.
— Não se preocupe. Eu vou manter o seu segredo.
Mas essa irritação desapareceu e eu cruzei um braço. Tomei
um gole satisfeito da minha cerveja e o observei com o canto do
olho.
— Do mesmo jeito que eu vou manter o seu.
Ele bebeu de seu copo e a cerveja irrompeu de sua boca. O
momento não poderia ser mais perfeito.
— Que segredo? — Ele gaguejou e tossiu. Foi isso que ele
ganhou por atirar pedras em uma fábrica de vidro.
— Não gosta quando o jogo vira, hein? — Sufocar meu
sorriso tomou um intenso controle muscular.
Ele me encarou com os olhos arregalados de horror.
— Eu não…
Não querendo que ele tivesse um ataque cardíaco, baixei a
voz.
— Por favor. Você e Kennedy? Eu soube desde o início. —
Um estrondo de risada ficou preso na minha garganta.
— Mas... — Sua gagueira aumentou o estrondo no meu
peito. O pobre rapaz pensou que ele era algum cérebro, mas eu
podia lê-lo. Eu poderia ler um monte de gente. Uma lição de
sobrevivência aprimorada nos últimos vinte e dois anos.
— Não, eu sei que vocês dois estão juntos agora. Eu posso ver
a maneira como você olha para ela e a maneira como ela olha
para você. Não é mais falso. — Olhei para ele.
Sua boca estava aberta como a nossa porta do porão
quebrada.
— Eu não sou apenas um rostinho bonito. — Eu bati em suas
bochechas e me afastei de um Cole ainda atordoado.
Não demorou muito para ele me alcançar, agarrar meu braço
e me encurralar com olhos frenéticos.
— Você já contou a mais alguém sobre isso?
— Não, cara. Independentemente de como vocês
começaram, estou feliz que vocês tenham entendido sua
merda. — Acenei com a mão para limpar o ar. De que
adiantaria dizer qualquer coisa? Eu também aprendi quando
falar e quando manter minha boca fechada. Eles estavam felizes
o suficiente, não era meu segredo contar.
Ele balançou, alívio derramando dele antes de se inclinar.
— E você? Quem é a garota que te deixou sem boné?
Corri minha mão sobre minha cabeça me sentindo exposto
agora que o foco estava de volta em mim.
— Lembra-se do jogo de Pittsburgh no ano passado?
Ele assentiu, então seu olhar se estreitou como se estivesse
repetindo o dia inteiro. Reid e Leona fingindo que não se
conheciam. Os caras tentando me forçar a comer comida cara
demais. Então, eles se alargaram quando ele chegou no
momento. O momento em que ela caiu.
Sua cabeça se levantou e girou, examinando os rostos na festa.
— Isso significa que ela está aqui?
— Ela não estuda aqui. Ela estava visitando amigos naquela
semana.
— Onde ela estuda? CMU11 ou Pitt?
— Não. — Meus músculos se contraíram. Era um problema.
Mesmo depois de sua transferência, seu irmão e quaisquer
amigos de faculdade que ele tivesse seriam um problema.
Qualquer um que tivesse me enfrentado em campo me odiava.
Dei-lhes todos os motivos para isso. — Fulton U.
Ele engasgou um pouco e balançou a cabeça de um lado para
o outro, balançando as mãos como se estivéssemos prestes a sair
correndo do túnel para um jogo.
— Ok, não é a pior coisa do mundo.
— O irmão dela joga para eles.
Ele fez um barulho como se tivesse assistido a um golpe ruim.
— Hóquei? Vôlei de praia?
— Eles não têm um…
— Eu sei, mas eu estava tentando lhe dar o benefício da
dúvida. Ele joga no time de futebol deles, não é?
Os tendões do meu pescoço ficaram tensos e eu assenti.
— Merda.
Bati minha cerveja contra a dele.
— Você disse isso.
— Talvez não seja tão ruim. Quero dizer, quão ruim poderia
ser?
11
Universidade de Carnegie Mellon
Nós nem apertamos as mãos depois do nosso último jogo. Eu
o encarei.
— Você está certo, isso é muito fodido.
Estendi a mão para ajustar meu boné, que não estava lá, e
rosnei de frustração.
— Então, por que ela gosta de você sem boné?
Levei um segundo para decidir se eu queria dizer a ele. Mas
compartilhar essa parte com Cole fez tudo parecer real. Willa
não era alguém que eles nunca conheceriam, ela estaria
morando a um quilômetro e meio de distância em poucos
meses. Eu queria que eles a conhecessem. Eu queria que o que
tínhamos fosse real. Para durar.
— Ela disse que gosta de ver meus olhos.
— E você está fazendo isso mesmo que ela não esteja aqui
para ver? Por que você não pega seu boné?
Se eu queria que isso durasse, então eu tinha que fazer o que
fosse preciso para mostrar a ela o quanto ela significava para
mim, mesmo que ela não estivesse por perto.
— Prometi a ela que tentaria ficar sem ele de vez em quando.
Ele me encarou por um longo tempo.
Apertei as mãos ao lado do corpo para não pegar meu boné
novamente e mostrar a ele o quão desconfortável isso me
deixava. Encarar era uma coisa, eu estava acostumado com isso,
mas o escrutínio de alguém que me conhecia, um amigo, era
mais difícil. Eu provavelmente era um livro aberto para ele com
um olhar.
— Ela deve significar muito para você tentar mesmo quando
ela não está aqui.
Não adianta esconder.
— Ela significa tudo. — Isso foi o suficiente para desnudar
minha alma por hoje. Saí, joguei minha cerveja fora,
destranquei meu quarto e entrei.
Eu avaliaria os danos da limpeza mais tarde, mas depois de
estar em uma sala cheia de pessoas sem meu boné, eu precisava
de um pouco de silêncio. Bem, tão quieto quanto eu poderia
ficar com uma festa acontecendo do lado de fora da minha
porta.
Tirando meus sapatos, eu me inclinei contra a cômoda, que
balançou sob meu peso. A luz pegou no globo de neve que
Willa me deu. Parte da neve falsa subiu e rodou em torno da
base da cena pitoresca. Eu o peguei e sentei na beirada da minha
cama. Sob meus pés, as tábuas do assoalho vibravam. Olhei
para o aglomerado perfeito de casas com neve pintada nos
telhados. Enquanto eu balançava o globo, a neve branca e
brilhante dançou pela água como flocos caindo do céu.
Uma das casas tinha uma enorme árvore de Natal dentro,
com presentes enfiados embaixo dos galhos. Isso foi o mais
próximo de uma daquelas cenas de férias que apareceram em
filmes de família em que eu já estive. Isso e as fotos que Willa
me envia dela.
Mesmo antes de minha mãe e eu nos separarmos, tinha sido
um pacote de meias ou um presente doado, andando em seu
carro procurando casas decoradas. O cheiro do interior do
assento de couro do Dodge aqua ainda me transportava para
aqueles momentos. A neve deslizou pela borda das luzes falsas
penduradas na casa com a árvore e isso não parecia tão fora de
alcance.
Deixei-o de lado e peguei meu violão. Eu nunca toquei na
frente de ninguém além dos caras, mas com uma casa cheia de
música não havia chance de alguém ouvir.
Sob meus dedos, as cordas pressionavam meus calos. Eu
aprendi a tocar sem cordas no primeiro ano depois que
encontrei o violão jogado em uma lixeira na caminhada de volta
para a casa do grupo.
Eu ia para o meu quarto cheio de três beliches e praticava os
acordes sem cordas até chegar ao STFU. Que foi quando, pela
primeira vez, eu o amarrei e deixei as notas tocarem livremente.
O primeiro passo para uma nova vida.
Como um portão enferrujado, cantarolei a melodia que
entrou na minha cabeça até deixar meus lábios se separarem.
Primeiro eu cantei palavras emprestadas de músicas que me
lembravam dela, então as novas se formaram, passaram pela
minha cabeça e bateram no meu peito desde que eu coloquei
os olhos em Willa pela primeira vez.
Uma vez que eu finalmente tivesse um lugar próprio e
dinheiro na minha conta bancária, eu conseguiria a maior
árvore que o dinheiro pudesse comprar. Debaixo dela, eu
empilharia os presentes para Willa. Minhas habilidades de
embrulho finalmente fariam um verdadeiro teste com as
montanhas que eu compraria para ela. Não porque eu sabia
que ela iria querer, mas porque eu poderia dar a ela.
Tudo o que eu tinha que fazer era resistir à próxima
temporada. Espero que da próxima vez que eu enfrentar Walsh,
eu possa me controlar um pouco e logo eu teria uma camisa
profissional nas costas. Mantenha a fera que ladrou para ser
liberada no campo trancada um pouco mais.
Daqui a um ano eu assinaria um contrato profissional e não
teria que me preocupar com o que eu soltava em meus
oponentes e o que ela poderia pensar de mim se descobrisse a
verdade sobre o meu passado.
CAPÍTULO 25
WILLA
12
Um hors d'oeuvre, aperitivo ou entrada é um pequeno prato servido antes de uma refeição
na cozinha europeia. Alguns aperitivos são servidos frios, outros quentes. Hors d'oeuvres
podem ser servidos na mesa de jantar como parte da refeição, ou podem ser servidos antes do
assento, como em uma recepção ou coquetel.
bonito. Uma vez que estivéssemos longe do calor da batalha no
campo, poderíamos chegar a uma trégua desconfortável, mas
agora não era a hora. E a última coisa que eu queria fazer era
que o irmão dela desse um soco em mim e não fosse capaz de
me impedir de espancá-lo até virar uma polpa sangrenta.
Não é exatamente o tipo de memória que eu estava tentando
criar com Willa.
Sua voz abafada foi seguida por um suspiro.
— Vamos almoçar agora.
— Divirta-se.
— Eu sinto sua falta. Te amo. — O jeito leve e arejado com
que ela disse isso ainda não havia diminuído a nitidez da
palavra. Uma fatia de felicidade. Brilhante, bonito e agridoce.
— Amo você também.
13
A linha de scrimmage é uma linha imaginária transversal que corta o campo e se posiciona
entre a linha defensiva e a linha ofensiva, e os times não podem ultrapassar essa linha antes do
começo da jogada.
— Não é desculpa. Tem certeza de que não quer vir conosco?
Walsh estará se comportando melhor — Dan assentiu
definitivamente como se um olhar severo fosse enterrar três
anos de brutalidade em campo.
— O treino de hoje foi difícil, preciso dormir um pouco.
— Então, não vamos mantê-lo. — Lea deu um tapinha no
meu peito de forma tranquilizadora. Como deve ter sido ter
uma mãe como ela? Mesmo a minha nunca tinha sido assim.
Talvez ela pudesse ter sido assim se tivéssemos encontrado um
lugar permanente para morar e ela encontrasse um emprego
estável.
Walsh parou no meio-fio em um carro alugado caro e
brilhante. Ele me encara pela janela aberta do lado do
passageiro.
Dan abriu a porta traseira para Lea e Willa antes de entrar no
banco da frente ao lado de Walsh.
— Vejo você em breve. — Willa pressionou um beijo casto
contra meus lábios.
Walsh tocou a buzina e eu queria arrancar suas malditas
mãos.
— Sim, você irá.
Ela entrou no carro.
— Tchau, Lea. Tchau, Dan. Ótimo vê-lo novamente, Walsh.
— Acenei para o carro, que disparou pela entrada circular em
frente ao prédio de Maggie.
A pontada mesquinha não estava ajudando as coisas, mas eu
seria amaldiçoado se deixasse sua hostilidade em relação a mim
arruinar uma coisa boa. Eu mesmo já fui bom o suficiente nisso
no passado, não precisava de nenhuma ajuda extra. Mas o
problema de Walsh pode se tornar um problema maior se ele
não puder deixar nosso tempo em campo para trás.
CAPÍTULO 32
WILLA
14
Os times de várias universidades são convidados para inúmeros jogos de pós-temporada por
todo o país, jogos estes patrocinados por grandes empresas e que geram muito dinheiro – seja
por ingressos ou acordos de transmissão televisiva – para as universidades e para os
patrocinadores.
Ele segurou a parte de trás do meu pescoço.
— Adoro quando você fica com raiva por mim.
Alguns caras se aproximaram e deram um tapinha no ombro
de Ezra.
Sua equipe estava chateada por ele tanto quanto eu. Fiquei
feliz por ele ter o apoio deles. Ele sempre sentiu como se
estivesse sozinho, mas havia uma equipe de pessoas que se
importavam com ele.
Eles me deixaram entrar no bar, o que não foi um convite que
muitos receberam pelo que me disseram.
Pegamos algumas bebidas e procuramos os amigos de Ezra.
Griff e Hollis nos acenaram para a mesa deles.
— Esforço valente, Willa, mas nenhum de nós chutou sua
bunda naquele jogo ainda. — Griff pousou o copo, deixando
espuma no nariz.
— Depois de mais algumas tentativas, talvez eu consiga fazer
isso.
— A contagem regressiva começou. Faltam apenas quatro
meses para a formatura.
Uma pontada atingiu meu coração. Nosso reencontro
duraria pouco. Nós já tínhamos passado tanto tempo
separados, tantas semanas não aproveitando cada momento
que tínhamos vivendo a dez minutos um do outro devido ao
meu irmão idiota e ao orgulho de Ezra. Mas eu saborearia o
tempo que nos restava e não daria como certo.
— Apenas um pouco mais de um mês até o Combine15. —
Corri meu dedo ao longo da borda do meu copo.
— Nós sabemos. Recebi meu convite hoje — Hollis
sinalizou a um dos bartenders calouros para uma nova rodada.
— Eu só tenho que esperar para não me machucar no jogo do
bowl.
Minhas costas endureceram. Os convites do Combine já
tinham saído? O Combine era uma chance para as equipes
profissionais convidarem os principais prospectos para um
único evento e avaliá-los pelos ritmos. O convite e o
desempenho de Walsh lá, de acordo com especialistas, levaram-
no a ser um dos primeiros vinte convocados na temporada
passada. Deixei cair minha mão na perna de Ezra e olhei para
ele.
A sutil sacudida de sua cabeça me disse que não tinha
recebido um convite. O álcool no meu estômago virou. Não
era impossível ser uma das principais escolhas do draft sem o
convite, mas ajudava e sinalizava que seu contrato poderia valer
um prêmio.
Griff apertou as palmas das mãos.
— Estou na lista de merda de Mikelson, então não fui
adicionado à lista. Nenhum convite para mim. Terei sorte se
chegar à quarta rodada.
Hollis agarrou seus ombros.
15
NFL Scouting Combine é uma espécie de laboratório de observação para futuros jogadores
da NFL, que poderão ser escolhidos nos próximos Drafts.
— Tenha um pouco de fé, cara.
Ezra foi ao banheiro e a dupla dinâmica foi para o jogo de
dardos. Quando Ezra voltou para se juntar a nós, ele estendeu
a mão para mim.
Eu o segui.
Seus dedos pousaram na minha cintura, a outra mão segurou
a minha, enquanto ele nos movia pela pequena pista de dança.
— Esta não é uma música lenta.
— Vou tratar cada música como uma música lenta se eu
conseguir te abraçar assim.
— Você não está preocupado com os convites. — Ele
trabalhou tão duro por mais de uma década para chegar aqui e
agora parecia pronto para deixar tudo ir. Mas ele estava apenas
fingindo seguir o fluxo para não ter que enfrentar a grande
escolha que eu o vi ponderando? Eu praticamente podia ouvir
as engrenagens rangendo. Ele precisava de respostas sobre sua
mãe.
— Não quando estou aqui com você.
Eu me afastei para olhá-lo completamente nos olhos.
— Sério, Ezra. Você está apenas bem com isso?
— Você prefere que eu perca a minha merda? — A diversão
dançou seu olhar.
— Não, mas você trabalhou tanto e...
Seus olhos brilharam com o riso.
Eu fiz uma careta.
— E agora?
— Eu amo ver você ficar tão preocupada comigo. Amo que
você esteja surtando mais do que eu.
— Mas…
Ele me beijou. O beijo firme e provocante fez minha cabeça
girar.
— Verifiquei meu e-mail no caminho de volta do banheiro e
também recebi um convite.
Choque me cambaleou e eu empurrei seu peito. Ele mal se
moveu um centímetro e olhou para mim com uma sugestão de
sorriso.
— Seu idiota, você me deixou surtar por todo esse tempo.
— Sólidos oito minutos. Você vai sobreviver. — Ele passou
os dois braços em volta de mim e me virou. — Muitos dos caras
têm sua família com eles. E Hollis estará lá, provavelmente
Griff, Cole e Reid também, mas você virá?
— É claro. Nada poderia me afastar. — Eu amei que eu
poderia estar lá para ele. Eu fazia parte daquele círculo de elite
de pessoas que ele amava, que o amava de volta.
— Bem desse jeito?
— Bem desse jeito. — Eu o puxei para perto e o beijei. — Não
se esqueça foi você quem você pediu quando eu estiver
gritando a plenos pulmões torcendo por você.
De volta à minha casa, entramos no apartamento na ponta
dos pés. Eu não sabia se Maggie estava dormindo e me recusei a
ser uma péssima colega de quarto.
Uma vez no meu quarto, chaves, casacos, telefones, roupas
foram jogados, espalhados por todo o chão.
Ezra me jogou na cama com uma gentileza para seu tamanho
que nunca deixou de me surpreender.
No campo, ele poderia causar sérios danos, mas comigo, ele
sempre foi um ursinho de pelúcia.
Ele olhou para mim, enviando arrepios através do meu
corpo, e rolou o preservativo.
— Você está pronta para mim, Willa?
— Sempre.
Ele levantou uma perna e descansou minha panturrilha
contra seu ombro. Não indo devagar, ele entrou em mim,
afundando em um golpe sólido.
Eu gemi, arqueando as costas para fora da cama.
O ângulo aprofundou cada golpe e eu apertei em torno dele.
Ezra gemeu meu nome e redobrou seus esforços. Todas
aquelas longas práticas entregaram uma resistência que puxou
as costuras do meu controle.
Eu agarrei os lençóis, felicidade elétrica abrindo caminho até
as pontas dos meus dedos.
Impulsos frenéticos e desleixados encontraram meus quadris
balançando e em alguns suspiros eu desmoronei embaixo dele.
Ele me seguiu logo depois, enchendo o preservativo e
salpicando meu rosto com beijos.
Depois de nos limparmos, deitei contra seu peito. Eu puxei
seu braço mais para cima e envolvi meus dois braços ao redor
dele. Talvez, de certa forma, eu estivesse tentando impedi-lo de
correr.
— Você deveria fazê-lo.
Desde que Ezra me contou tudo sobre o que aconteceu com
Vaughn e como ele saiu procurando por sua mãe, a conversa
estava em espera, mas eu podia dizer que não estava mais no
fundo de sua mente. Eu vi isso em seus olhos, sempre uma dica
da pergunta para a qual ele precisava da resposta.
Ele me contou sem qualquer menção de seus próprios
pensamentos ou desejos. Sua mãe estava lá fora.
— Eu nem saberia por onde começar. — O fato de ele não
precisar perguntar sobre o que eu estava falando me disse que
isso também estava em sua mente.
— Eu poderia te dar o dinheiro.
Ele me lançou um olhar de frustração.
— Um empréstimo. Um empréstimo de curto prazo. Falta
menos de três meses até você assinar um contrato, Ezra. Mas
você pode encontrá-la agora.
— Faz tanto tempo — disse ele, melancólico e cheio de
saudade.
— Tem, mas Vaughn disse que precisava saber, certo?
— Ele disse.
— Se eu esperar pelo draft, ela pode me encontrar então. Ela
verá meu nome nas notícias e saberá onde me encontrar. —
Havia uma esperança cautelosa em sua voz.
Ou ela poderá saber para onde ir para tirar dinheiro dele. Era
melhor fazê-lo agora, antes que seu nome aparecesse nas
notícias com cifrões anexados a ele. Eu odiava pensar que ela
poderia estar atrás do dinheiro dele, mas as pessoas ficavam
estranhas quando várias vírgulas atingiam a conta bancária de
alguém.
— Por que esperar?
— Você sabe o porquê.
Eu cutuquei o centro de seu peito.
— Você sabe que dinheiro não é uma preocupação. Farei
serviços de bufê com você se não quiser que eu peça aos meus
pais. O que for preciso.
— Eu esperei tanto tempo…
— Você quer encontrá-la logo antes de se preparar para sua
primeira temporada profissional? — Eu descansei meus braços
em seus ombros e corri meus dedos pela parte de trás de sua
cabeça. — Se você esperar, isso ficará em sua mente até o dia em
que você souber. Esperar só o deixará mais ansioso.
Ele levantou as mãos e as colocou em cima das minhas.
No começo eu pensei que ele iria afastá-las, em vez disso ele
mergulhou e me beijou.
— Você é insistente como o inferno, você sabia disso?
Meus dedos dos pés formigaram.
— Quando eu tiver que ser.
— Vou pensar sobre isso. — Ele apertou a parte de trás do
meu pescoço, seu polegar trabalhando naquele ponto abaixo da
minha orelha que eu não sabia que era tão sensível quanto era
até ele o tocar.
Eu desabei em cima dele.
— Isso significa que sua resposta é sim para o dinheiro?
Ele beijou a ponta do meu nariz.
— Significa que estou considerando isso. Isso é o melhor que
você vai conseguir.
— Eu vou aceitar. Por hoje à noite. — Reunir Ezra e sua mãe
era o tipo de reunião que minha família só podia sonhar. O
pedaço dele ferido por sua separação poderia ser curado por
finalmente poder vê-la. E se ela estivesse procurando por ele
todo esse tempo, por que não ajudá-los a finalmente se
reconectar?
Mesmo que ele tivesse que considerar isso um empréstimo,
eu não me importava, mas ajudá-lo a encontrá-la não era uma
necessidade que eu pudesse ignorar. Eu só queria as melhores
coisas do mundo para ele.
CAPÍTULO 45
EZRA
Foi tudo minha culpa. Era para ser tudo perfeito. Talvez não
exatamente perfeito, mas não a lenta demolição que eu
testemunhei através da janela do carro.
Minha mente não conseguia nem juntar as peças do que
tinha acontecido.
Ele a viu. Ela o viu.
Eles conversaram.
Em vez do alegre reencontro cheio de lágrimas, houve isso.
Essa dor escura e terrível que nos sufocou no carro. Eu senti
isso. A dor de Ezra.
Ela o viu, o filho que ela não via há mais de uma década, e
olhou para ele com nada mais do que um pavor empolado. De
pé nos degraus de sua linda casa perfeitamente pintada com
canteiros de flores bem cuidados, ela falou com ele como um
estranho.
Agora Ezra se foi. Eu não conseguia imaginar o que estava
passando pela cabeça dele, mas nada disso era bom. Limpei
minhas lágrimas com a forma gentil com que ele me tirou do
carro. Mesmo com toda a dor que ele lutou, ele não queria me
machucar. Mas vê-lo sofrer e não saber como consertar isso me
machucou.
Eu não sabia como alcançá-lo. Minhas ligações e mensagens
não foram atendidas. Eu invadi o apartamento.
— Maggie, eu preciso do seu carro.
Ela me jogou a chave e correu, enfiando um pé em seu sapato.
— Você precisa de mim. O que está acontecendo? Você
parece uma merda.
— Eu não preciso de você ainda. — Minha garganta se
fechou. — Se eu precisar de você, eu vou te dizer.
Ela parou com o dedo preso na parte de trás do sapato.
— Você tem certeza?
— Claro. — Quantas outras pessoas precisavam saber sobre
isso? Quantas outras pessoas precisavam ser trazidas para
testemunhar a dor de Ezra? — Eu te ligo se precisar de alguma
coisa.
Corri para fora do estacionamento. A viagem de dez minutos
foi reduzida para sete comigo ultrapassando os sinais amarelos,
mas ainda parecia que se estendia. Joguei o carro em Park e subi
correndo as escadas, subindo três degraus de cada vez.
Sem me preocupar em bater, invadi a casa, ofegante.
— Ezra está aqui?
Hollis parou de mastigar a comida equilibrada em seu garfo.
— Ele não estava com você?
— Ele estava. — Minha garganta estava grossa, tornando
difícil de engolir. — Mas ele não está agora. Eu preciso
encontrá-lo.
Griff saiu da cozinha com uma tigela de cereal do tamanho
de sua cabeça.
— O que aconteceu?
Eu coloquei uma mão no lado da minha cabeça e andei para
frente e para trás.
— Para onde ele iria? Ele poderia estar com os outros caras?
Hollis engoliu o resto da comida e parou de comer.
— Não, Cole e Reid estão aqui. — Ele gritou por eles.
Seus passos ressoaram no alto e desceram as escadas. Eles
estavam todos aqui.
— O que aconteceu?
— O que há de errado? — Seu coro de perguntas saiu ao
mesmo tempo.
O pânico apertou meu peito, apertou meu coração e drenou
meus pulmões.
— Ele poderia estar na academia? Já tentei ligar para o
telefone dele pelo menos dez vezes e nada.
Todos os caras pegaram seus telefones e mandaram
mensagens e ligaram um após o outro. Cada segundo de
esperança foi rompido com o aceno sombrio de suas cabeças.
Meu ritmo se intensificou e as lágrimas brotaram quando o
pânico se transformou em medo.
— Onde ele está? Por que ele não responde? — Eu entendi
que ele não queria falar comigo, mas seus amigos? Eles o
conheciam há mais tempo. Talvez eles soubessem mais sobre
seu passado e ele pudesse compartilhar essa dor com eles.
Hollis ficou na minha frente e segurou em ambos os meus
ombros.
— Will, o que aconteceu? Foi outra briga com seu irmão?
Minha risada frenética e histérica e minhas lágrimas fizeram
com que todos os caras se aproximassem de mim. Uma briga
com meu irmão, se fosse assim tão simples. O que antes parecia
um obstáculo colossal a ser superado era apenas uma rachadura
na calçada.
— Se fosse apenas isso. — Eu limpei meu rosto com minha
camisa.
Tremendo, envolvi meus braços em volta de mim e dei a eles
a versão reduzida do que aconteceu. Minha brilhante ideia.
Encontrar o endereço de sua mãe e a aparência de seu rosto
quando ele voltou para o carro, as notas de vinte caindo no
gramado perfeitamente cortado.
No final, eu estava ofegante, apertando meu peito como se
pudesse aliviar a pressão no meu coração.
O silêncio pairou na sala, cobrindo-a com um desespero
silencioso. Ninguém respirou.
— Porra! — O grito de Griff surpreendeu a todos, tirando-
nos do estupor em que todos estávamos presos. — Temos que
encontrá-lo.
Os caras dividiram os locais – a biblioteca, o ginásio de
futebol, o campo de treino, o ginásio regular – pegando casacos
e jogando chaves. Eles me deram seus números antes de decolar.
— Você pode ficar aqui, Willa, caso ele volte. — Hollis
enfiou o braço no casaco. Seu olhar frenético, verificando as
janelas e portas. — Deixe-nos saber no segundo que você ouvir
alguma coisa, ok?
— Eu vou. — Eu desabei, sentando no último degrau, e
envolvi meus braços em volta dos meus joelhos.
O silêncio da casa voltou, acompanhado pelos sons de carros
saindo do meio-fio do lado de fora.
Ezra tinha pessoas. Ele tinha pessoas em sua vida que iriam ao
seu alcance a qualquer momento se ele estivesse em apuros. Eles
se preocupavam, eles se importavam, eles o amavam.
Meu batimento cardíaco estava perto de quebrar uma
costela. Minha cabeça zumbia tão ruidosamente, mas eu sabia
que precisava me acalmar e pensar.
Eu me levantei, tropeçando no primeiro degrau. Tanto para
quieto e calmo.
Levei um segundo andando de um lado ao outro para dizer
que se dane. Eu sabia de outro lugar que ele poderia estar que
os caras não mencionaram.
Se ele voltasse para casa, espero que isso significasse que Ezra
responderia a uma de nossas mensagens, mas até então eu não
deixaria um único pedaço de relva sobre pedra.
Voltei para o carro de Maggie e procurei no mapa do campus.
Tínhamos ido lá no escuro, então levou um pouco de busca
para finalmente encontrar o local.
Minhas mãos tremiam contra o volante e eu rezei para estar
certo e para que não fosse tarde demais.
CAPÍTULO 47
EZRA
Uma serra tinha sido posta contra o meu esterno. Rasgou a pele
e os tendões direto para o osso.
Olhei para a cena plácida. A bela e perfeita rua do outro lado
da cúpula de vidro e água. Uma perfeição que eu nunca tinha
conhecido. Eu nunca saberia. Nunca mereceria. O vidro estava
frio e duro contra minhas palmas.
O vento cortante queimou minhas bochechas e rachou meus
lábios. Meus dentes batiam e meus arrepios se transformaram
em tremores há muito tempo. Minutos. Horas. Dias. Poderia
ter sido qualquer um deles. Não importava agora.
O suporte de metal na parte inferior do globo de neve dobrou
e mordeu minha pele sob a pressão do meu aperto.
Coloquei o globo na beirada da pequena doca de concreto
perto de Poe Pond, não confiando nele em minhas mãos. Não
confiando em estar perto dele.
Caí de joelhos na grama encharcada e meio congelada. O ar
gelado queimou meus pulmões. Queimou minha pele, mas não
se comparava ao interior abrasador.
Cem dólares. Uma fria centena de dólares para varrer quinze
anos de negligência. Em qualquer outro dia, se alguém
colocasse cem dólares em minhas mãos, eu me sentiria um rei,
mas hoje foi uma tentativa lamentável de aliviar a culpa.
Minha própria mãe. Minha mãe me abandonou. Ela tinha
visto uma oportunidade de me deixar para trás e aproveitou.
Há quanto tempo ela estava planejando isso? A viagem para o
parque, que parecia uma chance de nos divertirmos juntos, e
ela estava procurando por uma multidão para se perder – uma
multidão para me perder.
Meu peito cedeu e eu desmoronei, me inclinando para frente
tanto que meu cabelo roçou o chão. Eu respirei fundo e apertei
meus olhos fechados.
As lágrimas não vieram. Eu tinha engarrafado tudo,
determinado a mantê-lo dentro, para pegar todos esses
sentimentos e enterrá-los tão profundamente que eu esqueceria
o quanto doía doer. A dormência seria uma mudança bem-
vinda.
Mas Willa. Se não havia mais nada dentro de mim, não havia
mais nada para ela.
— Ezra! — O grito de Willa cortou o ar.
Sua voz quebrou o silêncio ao meu redor como se eu a tivesse
conjurado com um único pensamento. Eu envolvi meus braços
em volta de mim.
Eu queria desaparecer. Sublimar em nada.
Seus passos bateram e rangeram. Então suas mãos e braços
estavam em mim. Meus ombros, meu pescoço, meu peito.
— Oh! Graças a Deus. Eu estava procurando por você em
todos os lugares, Ezra.
Eu balancei, a umidade penetrando em meu jeans. O tecido
molhado grudava nas minhas pernas, me congelando ainda
mais.
— Ezra. — Ela se deitou nas minhas costas, seus lábios
roçaram a lateral do meu pescoço. — Estou aqui. — Mantendo
seu peso fora de mim, ela me segurou e sussurrou as palavras.
Repetidamente, eles lascaram a pedra em que eu me envolvi.
— Eu te amo. — Ela caiu no chão na minha frente e me
levantou com as duas mãos no meu rosto. — Eu te amo. Você
é amado. Você me ouve? — Lágrimas brilharam em seus olhos.
Eu me afastei dela, incapaz de olhar para outra pessoa que eu
perderia.
Ela se moveu para o lado, interceptando minha linha de
visão.
— Eu te amo. — Sua voz falhou. — Eu não posso imaginar
o quanto você está sofrendo. Não posso, mas quero que saiba
que estou aqui para você. Não importa o que aconteça, eu
prometo a você.
O silêncio dentro do globo parecia uma proteção. Se eu
pudesse me encolher e flutuar nele, flutuando pelos últimos
momentos antes que a água enchesse meus pulmões. Olhei para
a esfera abandonada empoleirada sozinha no concreto frio.
— Tive medo de segurar. Com medo de quebrá-lo. Destruí-
lo.
Ela pairou sobre mim, mas eu não conseguia tirar meu olhar
do globo, desejando que por uma vez tudo parecesse tão
perfeito quanto parecia dentro dele.
— É uma coisa, Ezra. As coisas podem ser substituídas.
As pessoas também. A garota que tinha vislumbres das
minhas feições, as que eu compartilhava com minha mãe, que
me olhava como um estranho.
Eu apertei meus olhos fechados.
— Você não deveria ter me procurado.
— Como eu não poderia? Ezra, eu sinto muito — ela disse, a
voz vacilante e aguada. — Eu pensei…
— Você pensou que tudo iria acontecer como aconteceu
com sua família. Que eu a encontraria e teríamos uma grande
reunião onde ela desataria a chorar e me diria o quanto estava
arrependida. Onde ela me mostraria os anos de presentes que
ela comprou ao me encontrar. — Ou talvez essas fossem
minhas próprias esperanças e sonhos. Os que eu deixei florescer
nos recessos da minha mente quando eu não estava fingindo
que tinha crescido plenamente em um campo de futebol com
almofadas em meus ombros e uma necessidade de destruir os
meus oponentes.
— Achei que ela seria alguém que merecia conhecer você.
— Por que ela deveria querer? — Olhei para meus punhos
apertados contra minhas coxas.
— Ezra. — Ela inclinou meu queixo para cima.
Eu estava muito fraco para lutar com ela. Eu a deixei levantar
meu olhar, mas não encontrei seus olhos.
— O que aconteceu foi foda. E eu não posso te dizer que vai
ficar tudo bem. Ninguém merece o que aconteceu com você.
Ninguém. E sinto muito pela minha parte em trazê-lo até isso.
Eu sinto muito. Tudo o que eu queria era que você tivesse
outra pessoa em sua vida que te amasse tanto quanto eu te amo.
Tanto quanto Reid, Cole, Griff e Hollis amam você.
— Pare, Willa.
— Eu te amo, Ezra. — Ela agarrou minhas mãos.
Eu me levantei do chão. Eu precisava fugir. Eu não conseguia
respirar.
Ela cambaleou para me acompanhar e manteve os braços em
volta do meu pescoço.
— Ezra, eu te amo.
Tudo o que eu queria fazer era correr, correr até meus
pulmões queimarem, meu corpo desmoronar, minha dor
acabar.
Mas ela resistiu. Willa não me soltou. Ela não me deixou ir.
Seus olhos estavam em mim, querendo que eu acreditasse nela,
verdadeira e completamente.
Meu corpo inteiro tremeu, tremores me destruindo até que
eu senti que poderia desmoronar.
Durante todo o tempo, ela olhou para mim e se agarrou a
mim, suas mãos gentis, mas inflexíveis. Não havia como escapar
dela.
— Eu te amo. Não é sua culpa. Ela não merece conhecer
você. Ela não merece fazer parte da sua vida. Ela não merece
descobrir o quão maravilhoso, talentoso e amoroso você é. —
Seus lábios tremeram e lágrimas brotaram em seus olhos. —
Desculpe por ter pressionado você. Eu sinto muito. Eu te amo
e você é amado.
Ela repetiu as palavras várias vezes.
Tentei me manter forte, manter meus braços travados ao
lado do corpo, me entorpecer com a dor.
Mas os toques suaves de seus dedos em meu couro cabeludo
e a profundidade das emoções em seus olhos ameaçaram
romper minha determinação. Ela estava sofrendo, não por
minha causa, mas por mim. Ela queria estar aqui para mim,
mesmo depois de eu ter explodido com ela, depois de deixá-la
para trás, depois de nunca me sentir digno.
Ela não correu. Ela não virou as costas para mim e nunca
olhou para trás. Ela nunca me olharia nos olhos e fingiria que
nunca me conheceu.
Um estilhaço atravessou meu peito. Batido e derrotado, eu
queria atacar, em vez disso, cedi. Passei meus braços ao redor
dela e segurei firme.
Eu enterrei meu rosto em seu pescoço e soltei a torrente de
dor que estava empacotada dentro de mim, só que eu não
estava canalizando isso em raiva no campo, eu a deixei livre para
me engolir inteiro, mas eu não estava com medo, não mais.
Willa me segurou. Ela me ancorou. Me amarrou.
Quando as fibras da minha alma se inflamaram e
carbonizaram, ela estava lá para impedir que eu me
desintegrasse.
Eu me agarrei a ela, segurando sua camisa em minhas mãos,
agarrando-me a ela como se eu nunca pudesse soltá-la.
Seus braços se apertaram ao meu redor, derramando cada
pedacinho de si em mim. Ela repetiu as palavras até que se
tornaram um mantra, perfurando-as em minha cabeça,
bombeando-as em meu coração, reiniciando-o.
A maciez das minhas lágrimas salgadas contra sua pele deveria
ter me feito querer afastá-la, mas eu não queria esconder dela
nenhuma parte minha novamente. Ela teria tudo de mim. Veria
tudo meu, mas ainda assim ela manteve as palavras até que
quase soaram verdadeiras.
Logo as chamas diminuíram, esfriaram até doerem como
uma queimadura que pode ser curada, não uma que foi
queimada até o osso.
Eu levantei minha cabeça de seu pescoço e soltei meu aperto
sobre ela, não sentindo mais como se uma rajada de vento fosse
me levar embora.
Limpando meu rosto com minha camiseta, mantive uma
mão sobre ela e ela também não me soltou, entrelaçando seus
dedos com os meus.
— Por que ela não me quis? — A barragem estourou, uma
inundação torrencial. Além das lágrimas, além do choro,
parecia que um pedaço meu estava sendo arrancado, extirpado
sem minha permissão. Fechaduras quebradas, correntes
removidas, e não havia nada além da ferida sangrando que eu
tentei por tanto tempo suprimir.
Willa me agarrou com tanta força e rapidez que parecia um
ataque. Contato corpo-a-corpo, braços em volta de mim, mas
não havia que empurrar, apenas segurar.
Ela me segurou e eu me agarrei a ela. Eu agarrei seu casaco em
minhas mãos e minhas lágrimas não pararam até que a umidade
atingiu minha palma, tornando o tecido escorregadio sob meu
aperto.
Durante tudo isso, ela passou a mão sobre minha cabeça e me
disse o que eu precisava ouvir, o que eu desejava ouvir há tanto
tempo.
— Você não está sozinho. Eu te amo. Eu vou te amar para
sempre.
Tudo estava dolorido. Minha garganta e rosto queimaram.
Meus dedos estavam congelados. Minhas pernas latejavam com
raiva por causa da posição em que eu estava há muito tempo.
— Como você sabia onde me encontrar? — Eu afrouxei meu
aperto sobre ela, mas não a soltei.
Ela me encarou com preocupação, mas, o mais forte de tudo,
amor em seus olhos.
— Pensei em um lugar tranquilo onde você se sentisse seguro.
Uma vez que fui à sua casa e você não estava lá, este foi o único
outro lugar em que consegui pensar. — Suas mãos quentes
acalmaram minha carne, que estava em carne viva.
— Eu te amo. — Sem reservas ou hesitações. — Você veio
atrás de mim, embora eu tenha deixado você.
— Eu te disse antes, eu não iria embora. Se você não me
amasse mais, então eu iria, mas eu quero que você saiba que só
porque você corre não significa que eu não vá te perseguir. Eu
te amo, Ezra. Eu amo cada parte de você, mesmo as partes que
você tem medo de me mostrar. Tudo isso.
Segurando seu rosto entre minhas mãos, eu a beijei. Não um
beijo desesperado e apressado, mas um onde eu compartilhei as
profundezas da minha alma com ela. Um que imprimiu esse
sentimento em cada célula e queimou a memória em minha
mente.
— Você tem tudo de mim.
— Bom, agora podemos levantar do chão? — Ela colocou
meu braço em volta de seu ombro.
— Sim, mas eu posso precisar de alguma ajuda.
— Sempre.
Minha pele estava gelada e molhada, roupas encharcadas e
cobertas de neve derretida e sujeira, mas o aperto quente de
Willa era uma mão alcançando as águas turvas para me puxar
para a superfície.
— Vamos colocar você no carro.
— O meu está ali. — Apontei para a direita.
— Nós podemos recuperá-lo mais tarde. Peguei emprestado
o de Maggie. O motor ainda está funcionando, então vai estar
quente.
Olhei para mim mesmo.
— Eu sou uma bagunça.
— Nós vamos nos preocupar com isso mais tarde. Agora,
precisamos levá-lo para dentro. Você aguenta? — Ela segurou
meu braço, tentando me levantar da terra encharcada.
Com uma mão, eu empurrei para cima, forçando minhas
pernas dormentes a dobrar, então se endireitar. Alfinetes e
agulhas viajavam para cima e para baixo nas minhas pernas.
— Ezra! — Ao longe, um coro de vozes gritou meu nome.
Com as pernas bambas, e deixando Willa carregar muito do
meu peso, eu me levantei e olhei para o patamar de concreto.
— O Globo.
Depois de se certificar de que eu estava firme, Willa correu,
pegou e colocou no bolso.
— Está seguro.
Eu balancei a cabeça e ela passou o braço em volta da minha
cintura com o meu pendurado no seu ombro, Willa
suportando mais do meu peso enquanto eu recuperava o uso
das minhas pernas.
Sobre o cume da colina, um bando de pessoas correu em
nossa direção.
Por um segundo, eu endureci, um hábito que talvez nunca
me abandonasse, mas então seus rostos ficaram mais claros.
— Você ligou para eles?
— Quando vi seu carro, mandei uma mensagem para todos
os caras, não querendo que eles se preocupassem.
Ela passou a mão no meu peito, tentando me acalmar.
— Assim que eu disse a eles que precisava da ajuda deles, eles
pularam em seus carros e saíram procurando por você.
E todos eles vieram.
Kennedy e Leona estavam aqui também. Eu me endireitei,
tentando tirar meu peso de Willa agora que minhas pernas
estavam trabalhando mais. O sangue circulando fez pouco para
me aquecer, mas pelo menos minhas pernas não pareciam perto
de ceder.
Os quatro caras não pararam e quase derrubaram Willa e eu
com o abraço de corpo inteiro, mas seus braços nos cercaram,
segurando firme e me apertando.
Willa estava envolvida nisso também.
Atordoado, quase caí. Eles estavam aqui. Eles estavam
procurando por mim. Eles se importavam comigo.
Mas não respirar por meio minuto valeu a pena pela forma
como eles me seguraram. A forma como eles me apoiaram.
Nosso aglomerado ficou ainda maior quando Leona e
Kennedy se juntaram.
— Estamos felizes que você esteja bem, Ez. — Griff olhou
para mim com lágrimas nos olhos. — Estávamos preocupados
com você, cara.
Cole apertou a parte de trás do meu pescoço.
— Não pense que você vai se livrar de nós quando nos
formarmos. Você sabe disso, certo?
— Mesmo se estivermos em times opostos e você passar o
maldito jogo inteiro tentando quebrar meu pescoço, você
ainda será meu irmão. — Hollis passou a mão pela minha
cabeça. — Nunca se esqueça disso.
Minha visão turvou com lágrimas ardentes.
Reid tocou sua testa na minha.
— Você está preso conosco para sempre, Ezra.
Agarrei-me a todos eles com o toque suave de Willa ainda
preso em minha cintura.
Quando as lágrimas e fungadas pararam, os braços
afrouxaram e alguns passos foram dados, olhei para Willa e meu
coração inundou com uma queimação intensa, não de dor ou
raiva, mas um mar sem fim de amor. Um amor por uma mulher
que não desistiu de mim e não me deixou desistir de mim
mesmo, que se adiantou para me mostrar o que eu tinha,
mesmo que eu não acreditasse.
— Obrigado por trazer minha família para mim.
EPÍLOGO
O Draft
EZRA
— Estou indo almoçar, mas mal posso esperar até você chegar.
— Fechei meu guarda-chuva e entrei em uma das maiores
praças comerciais da cidade.
— Como se você pudesse me manter longe. O apartamento
tem sido tão solitário sem você. — O beicinho de Maggie
irradiava pelo telefone e sua voz estava abafada.
— Você morava lá sem mim antes — eu provoquei e
coloquei meu guarda-chuva em uma bolsa para não pingar
água por todo o chão. Outros compradores e passageiros de
trem passaram apressados por mim. Desde que cheguei, alguns
meses atrás, eu tinha sido lançada na vida por conta própria,
diferente de qualquer outro momento da minha vida. Foi
assustador e emocionante ao mesmo tempo.
— Mas não é a mesma coisa agora que me acostumei com seu
ronco a noite toda.
— Eu não ronco. — Eu estava do lado de fora da minha loja
de ramen favorita. Os assentos nas janelas permitiam que as
pessoas assistissem o quanto eu quisesse. Levei três visitas para
criar coragem para pedir em japonês, mesmo depois de anos de
estudo, mas a refeição cheia de sabor valeu a pena o medo de
parecer uma completa idiota.
— Ah, sim, você ronca.
— Ezra me diria se eu roncasse. — Ele jogou dois dias atrás e
estava tão cansado que o deixei descansar durante seus cinco
dias de folga. Meu telefone tinha um relógio dividido
mostrando os horários e eu me certifiquei de enviar uma
mensagem para ele apenas quando ele estivesse acordado. Ele
tinha o mau hábito de responder às minhas mensagens, não
importava quando eu as enviasse.
— Claro que ele não diria a sua namorada maravilhosa que
ele acha que o sol nasce e se põe por ela que ela soa como um
cortador de grama que não liga — ela brincou de volta.
— Estou desligando agora.
— Espere, não vá ainda. Quando você vai vê-lo novamente?
— Não até que a temporada termine. — Eu caí contra um
pilar do lado de fora do restaurante.
— Tente não parecer tão triste com isso. Pelo menos você vai
me ver!
Eu ri.
— Eu vou. Eu só sinto falta dele.
— O sexting e o sexo por vídeo não são suficientes.
— Maggie! — eu assobiei. — É isso. Meu estômago está
roncando. Estou indo. Tchau. — Terminei a ligação
balançando a cabeça com um sorriso enorme no rosto. Ela era
uma maluca, mas ela era minha. O restaurante estava cheio, mas
não lotado. Eu passei por alguns clientes saindo para ir para o
meu lugar, o da janela. Um leve toque de gengibre junto com
os aromas de frango e carne pairava no ar. Eu inalei como se
pudesse me livrar dos cheiros sozinha.
Estar tão longe me fez apreciar a distância, bem como o quão
perto eu estava da minha família. As coisas ficaram solitárias
aqui sozinhas, especialmente quando as aulas terminaram e eu
estava de volta ao meu quarto. Eu o compartilhei com outra
garota do programa, mas ela tinha sua própria vida
acontecendo. Nós saímos algumas vezes, mas não como Maggie
e eu.
Eu tive sorte de ter tantas pessoas na minha vida que eu
amava. Mas era uma merda estar tão longe deles. Ah! Que
aventureira do mundo que eu me tornei. Meus primeiros seis
meses fora do estado e eu estava pronta para voltar.
Ezra sendo convocado para Pittsburgh foi um sonho, mas
havia uma pequena parte de mim que estava triste por ele estar
tão perto, quando eu estava tão longe. Se ele tivesse acabado no
Texas ou na Califórnia, estar na Darling U ou em Osaka não
teria importância, mas Pittsburgh significaria que eu poderia ir
a todos os seus jogos em casa e poderíamos nos ver o tempo
todo.
No meu lugar usual, um homem grande estava sentado.
Americano. Seu terno preto foi feito sob medida com
perfeição. Familiar. Meu coração disparou, acelerando como
um trem no meu peito.
Sua cabeça levantou e nossos olhares se chocaram no reflexo
da janela.
Meu guarda-chuva caiu no chão.
Ele se virou e sorriu. Um sorriso largo, quente, me derreteu
até os dedos dos pés.
Dei um passo à frente e parei para ter certeza de que não o
havia conjurado por causa da minha saudade.
— Ezra?
Ele se levantou e ajeitou o blazer.
— Ei, Willa.
Corri até ele e me joguei em seus braços.
— O que você está fazendo aqui?
Ele me pegou e seus braços me abraçaram com força.
— Ouvi dizer que este lugar tem o melhor ramen da cidade,
então pensei em dar uma olhada.
Eu me agarrei a ele, inalando seu cheiro e apertando meus
olhos fechados para manter as lágrimas de felicidade longe.
— Por que você não me disse que viria?
— Que tipo de surpresa seria se eu dissesse que estava vindo?
— Ele me colocou no chão e segurou minha bochecha.
— Como você sabia onde eu estaria? — Enrolei meus braços
ao redor de seu pescoço, não me importando se estávamos
chamando a atenção.
— Você realmente não sabe o quanto fala sobre este lugar. —
Ele riu, um som que encheu meu coração a ponto de explodir.
Eu adorava ouvi-lo rir. Fazia tudo no mundo parecer melhor se
Ezra estivesse rindo. — Toda terça-feira depois da aula, você
pega uma tigela antes de voltar para seu apartamento e estudar.
— Seu sorriso diminuiu um pouco e preocupação encheu seus
olhos.
— O que há de errado?
— Há algo que eu preciso fazer há muito tempo e não sei se
é o momento certo. — Ele pegou meu guarda-chuva caído.
— Você veio até aqui para me dizer isso? Você sabe o que
quer que seja, eu vou apoiá-lo. Os caras vão te apoiar. — Eu
escovei meus dedos ao longo de sua mandíbula.
— Eles realmente não podem me ajudar com isso. — Ele nos
guiou até os assentos perto da janela.
— Walsh, então? É sobre a nova equipe? Eles estão fazendo
algumas acrobacias de merda de trote de calouro?
— Pronta para ameaçá-los por mim?
— Sempre que você precisar.
Um garçom veio e colocou duas grandes tigelas de Shoyu
Ramen na frente de cada um de nós, com os hashis ao lado
deles.
— Você pediu. Podemos conversar enquanto comemos,
tudo fica mais fácil com o estômago cheio. — Peguei meus
hashis e os separei. Pelo menos tentei. Mas eles não iriam
quebrar. Engoli em seco e os deixei cair no balcão. A base estava
embrulhada em fita com um laço em miniatura, sob ele pendia
um anel.
Um diamante de corte radiante estava proeminente no topo
com diamantes enrolados ao redor da banda. Embora fosse um
dia frio e sombrio, a gema pegou toda a luz disponível e o canto
brilhou e reluziu.
Olhei do anel de volta para Ezra.
Ele deslizou para fora de seu assento e se ajoelhou. Pegando
os pauzinhos, ele puxou o anel e o estendeu para mim. Com
uma mão no meu joelho e a outra no ar, ele olhou para mim.
— Willa Goodwin, não consigo imaginar minha vida sem
você e nunca quero ter que fazê-lo. Você me fez um homem
melhor, você esteve lá para mim quando seria mais fácil ir
embora, você me fez mais feliz do que eu jamais pensei ser
possível. Já não sinto que estou sozinho. Você me mostrou o
quanto sou amado não apenas por você, mas pelas pessoas da
minha vida. Eu sei que é muito cedo e você ainda não se formou
na faculdade, mas posso esperar. Estou pedindo que você me
dê a honra de ser minha esposa.
As lágrimas que eu afastei com mais facilidade voltaram com
uma vingança, descendo pelas minhas bochechas e pingando
do meu queixo.
— Ezra… — Minha voz falhou.
Ele olhou para mim com olhos lacrimejantes cheios de desejo
e amor. Os olhos do homem eu mal podia esperar para mostrar
o quanto eu realmente o amava todos os dias.
Eu balancei a cabeça, incapaz de pronunciar as palavras,
emoções entupiram minha garganta.
Ele colocou o anel no meu dedo e os clientes ao nosso redor
bateram palmas e tiraram fotos. Pela primeira vez, Ezra não
parecia se importar em ser o centro das atenções. Ele se levantou
e me beijou, enxugando minhas lágrimas.
Uma batida no vidro cortou o momento.
Do lado de fora, sob um amontoado de guarda-chuvas,
estavam meus pais, Walsh e Maggie bem ao lado de todos os ex-
colegas de quarto de Ezra.
Eu olhei para eles, o queixo escancarado.
— Todos? Você trouxe todos eles com você?
— Diga-me qual deles gostaria de perder este momento.
Eles acenaram e tiraram ainda mais fotos.
— Eu não posso acreditar que você fez tudo isso por mim.
— Tudo por nós. — Ele entrelaçou seus dedos com os meus
e ergueu minha mão para nossa família torcendo, parentes ou
não de sangue, que acenou de volta e apontou para a porta.
— Parece que eles vão se juntar a nós. — Virei-me para olhá-
lo novamente. — Então, o que era aquela coisa realmente difícil
que você precisava fazer?
Ele baixou o olhar para o chão e olhou de volta para mim com
um olhar de malícia em seus olhos.
— É sobre o seu ronco...
O amor que eles têm um pelo outro me fez chorar sobre o meu
teclado mais do que algumas vezes. Muito obrigada por passar
seu tempo em St. Francis U e espero que você visite novamente
em breve, ou talvez queira fazer uma viagem pelo estado para
Fulton U…