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Nesse texto busco uma articulação entre dois pensadores "da origem das

desigualdades entre os homens", que, como ponto em comum, encontram seu


alicerce no próprio surgimento da propriedade privada, Rousseau, filósofo iluminista
do século XVIII e Karl Marx, filósofo do século XIX.
Aquilo que busco responder é ,que pontos podem haver em comum e divergentes
entre esses dois autores em suas perspectivas filosóficas? desde já confesso que
mesmo nos pontos comuns devem haver divergências que ainda não me é possível
sondar, bem como nos pontos divergentes podem haver convergências sutis,
observáveis apenas a profundos conhecedores das obras desses dois filósofos,
este é apenas um ensaio de primeiras leituras, tão deficitário quanto pode se
deficitário um início de formação.
Primeiro, me parece necessário ressaltar um elemento na postura iluminista de
Rousseau que persiste na obra de Marx, a sua postura filosófica crítica,
desconstrutiva e seu caráter inerentemente revolucionário, uma vez que suas
filosofias são comprometidas com as transformações sociais, mesmo que por vias e
meios diferentes, Rousseau critica a ordem do velho regime e Marx a ordem
burguesa capitalista.
Além disso, tanto em Rousseau quanto em Marx, a propriedade privada e as
desigualdades não são tomadas como naturais , mas socialmente determinadas,
construídas. Rousseau não aceita , tal qual Marx,o argumento de que certa
propriedade pode ser assumida como direito natural ou divino de alguém . Para
eles, todo direito de propriedade é definido socialmente. Tanto para Rousseau
quanto para Marx é crucial nessa conquista o uso da força, ou seja,tanto Rousseau
quanto Marx conseguiram encontrar no aparato jurídico, na gerência do estado,
alguma função de atribuir legitimidade a modos de dominação por vezes injustos e
desiguais.
Do mesmo modo, quando enxergam na propriedade privada a origem das
desigualdades e esta mesma propriedade como socialmente condicionada, assume
que as desigualdades de que falam não podem ser naturais ou determinadas por
forças sobrenaturais, deus etc, mas são fruto de ações humanas, ou seja, estas,
perdem seu caráter imutável e fixo, agora como que se abre o espaço para pensar
as transformações sociais, a superação dessas desigualdades. Nos dois autores
parece haver uma proposta de solução nesse sentido, talvez bastante similares,
uma vez que ambas se pautam na soberania e prevalência do interesse da maioria,
para Marx do proletariado explorado, do próprio fim da divisão das classes sociais ,
do estado, da propriedade privada e da exploração do trabalho dos homens uns
sobre os outros. Em Rousseau não é pensado necessariamente no retorno a uma
sociedade sem estado,a um estado de natureza, mas na representação da vontade
da maioria. Algo apontado por marx, nesse sentido, é a possibilidade dessa vontade
não necessariamente se converter em benefício a maioria, mais ser
instrumentalizada pela classe dominante, ou seja dado o processo de alienação
nem sempre a vontade dos sujeitos condições com as suas necessidades reais e
objetivas, por vezes é o comprovante do contrário.
Para pensar um pouco na intersecção desses autores, trago aqui um trecho do
livro de rousseau, Discurso sobre a propriedade privada e a origem das
desigualdades entre os homens", que me parece terreno fecundo à comparação:

“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado


um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas
suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se
esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém”

Talvez seja possível apontar em Rousseau, como diferencial entre a interpretação


do fenômeno em Marx,do surgimento da propriedade privada e da desigualdade é o
quanto esta análise parece carecer de uma maior ênfase nas relações de trabalho e
sua possível relação com este estabelecimento da dominação dos homens uns
sobre os outros, a divisão da propriedade em Marx é explorada no sentido de como
em sua função, do controle ou não que se tem de forças produtivas, se processam
uma serie de relações sociais de produção, bem como a divisão de trabalho e de
classe. Rousseau se põe a pensar a passagem do homem em seu estado de
natureza, onde era livre, pra o estado de sociedade, quando fundada uma
sociedade civil, com a própria delimitação dos homens entre possuidores e não
possuidores de propriedade, algo que naturalmente não pertence a ninguém, mas
determinado socialmente.
Vale lembrar, como aponta Rousseau, os crimes, as guerras, os conflitos que em
torno desse objeto - a propriedade - se travaram na sociedade, em nome do direito
a ela - a propriedade - lutas são travadas, algo que em am parte, talvez de possa
ser relacionado, com a ideia de luta de classes, uma vez que Marx compreende
como na disputa e busca pela legitimidade desse direito, do controle desses meios,
se processam uma série de conflitos, a luta de classes. Rousseau não utiliza o
termo luta de classes, nem parece nesse trecho desenvolver uma teoria tao
aprofundada sobre o fenômeno quanto Marx, porém, há ,nele, mesmo que breve,
algum reconhecimento de uma dimensão de conflito de interesses relacionados à
instauração da propriedade.
Rousseau compreende que as sociedades humanas podem ser injustas, que nem
sempre o contrato social se processa de modo consensual, que pode ser imposto e
como a força é importante nesse processo, a coercao social e a tirania de uma
minoria em detrimento de uma maioria não é fenômeno ignorado por Rousseau,
para ele, as leis tanto podem ser injustas quanto justas, tirânicas ou democráticas,
d'tudo depende da participação da maioria e de como esta está em conformidade
com os interesses e a vontade popular, para ele, quando homem compreende que
é indigno obedecer leis injustas não se submete a tirania.
Tanto Marx quanto Rousseau compreendem que leis, instituições como estado,
família etc, são construções sociais, produtos da vontade humana, para Rousseau
por exemplo, uma vez que compreende que os direitos emanam dos homens e são
estabelecidos socialmente e que estes homens em estado social são corrompidos,
compreende, também, o quão corrompidas podem ser essas leis e instituições,
e,embora não ignore a sua perfectibilidade, uma vez que a abrangência do contrato,
a possibilidade de que este confirme a vontade geral o torna mais justo
Talvez um que não se expresse necessariamente na realidade. Será que a maior
participação política deve necessariamente resultar na consciência da maior parte
da sociedade de seus interesses concretos? A vontade geral pode se expressar de
maneira efetiva quando uma vontade arbitrária e poderosa se impõe a ela? A isso
Marx responde com os conceitos de superestrutura e de ideologia dominante, como
formas instrumentalizadas de dominação e de legitimação da dominação sobre as
massas. A educação política, ou mesmo a consciência de classe visa tornar o
sujeito humano consciente de seus interesses e do lugar que ocupa na sociedade
para que possa agir no mundo, tornado sujeito político. A maior participação de uma
massa sem qualquer formação política, despolitizada, não necessariamente
acarretará numa sociedade mais democrática. A vontade geral deve figurar também
acompanhada de uma maior formação desses sujeitos como agentes políticos, a
dimensão da práxis, trazida por Marx, serve pra criticar e compreender como em
muitas sociedades , onde as democracias formais se estabelecem, não
necessariamente acarreta-se em leis mais justas e benefícios políticos à maior parte
da população, uma vez que nem sempre esta sociedade está suficientemente
organizada e formada para a atividade política, e,por vezes, alienada de seus
interesses, defendem os interesses de outrem.
Pensemos assim, como em Rousseau, uma lei é injusta porque não corresponde
à vontade ou interesse de uma maioria, uma vez que as leis são criadas para agir
sobre todos, devem beneficiar a todos, porém, a vontade dos homens nem sempre
se expressam em seu benefício, é possível inclusive que vivam em estado
democratico de direito e clamem por ditadura,mesmo que em nada os beneficiária
tal sistema.
Desse modo, é a consciência de seus próprios interesses que deve animar a
vontade do sujeito político, para Marx, essa coisa no ência só pode ser adquirida
quando este compreende a sua posição social, classe, o lugar ocupado nas
relações sociais de produção e seu papel histórico na transformação da sociedade,
essa consciência deve ser o que anima a sua ação política.
Ao ecerrar esta breve revista nas possíveis divergências e convergências entre
Rousseau e Marx,ambos utores me parecem extremamente necessários. Ao meu
ver, Rousseu parece um iluminista bastante divergente dos seus pares, uma vez
que critica a razão, chegando inclusive a apresentá-la como esta que ensina de
certa maneitra os homens a lidarem com males, que se ela mesmo nao existisse
nao teria que enfrenta-los , e que conjuntamente a racionalidade, critica tambem as
injustiças sociais e sua origem, na propriedade privada e no tipo injusto de contrato
social atraves dela estabelecida, na verdade um falso contrato, sem raizes na
vontade coletiva, a sua conviccao de que nao era a razao pura e simplesmente a
solução de todos os males, mas a maior aabrangencia de participacao e
representação política, da força coletiva, o que denota, talvez , a dimensao mais
revolucionaria entre ois contratualistas e iluministas, uma vez que é um democrata
radical e critico da propriedade privada como elemento sobre o qual se estabelece
formas de opressão, para ele, não é preciso, nem possivel que o homem volte ao
seu estado de natureza, mas que foremule atraves de uma vontade geral, um
contrato mais justo que o estabeleciddo, ou seja, para ele , de alguma modo as
desigualdades se amenizariam em decorrência da propria coletividade agindo em
seu benefício, isto é claro, assumimndo que a coletividade, o povo, a maioria agiria
necessariamernte em seu beneficio. o que Marx demostra é justamente que o
desenvolvimento de uma concia politica e uma praxiss concreta é esencial para que
se expresse concretamente a soberania popular, pois , como aponta, há
mecanismos ideologicos que os mantem despolitizados e defensores de seus
opressores, é preciso uma longa e ardua organização , participacao e formacao
politica para atingir ese objetivo,uma ação material e concreta, uma transformação
na próprias estruturas da sosciedade.

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