Você está na página 1de 217

1

ÍNDICE

CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL


1. CONDUÇÃO ECONÓMICA E AMBIENTAL 13
1. 1. Otimização do consumo de combustível 13
2. ACONDICIONAMENTO DA CARGA, RESPEITANDO AS INSTRUÇÕES DE SEGURANÇA E A BOA
15
UTILIZAÇÃO DO VEÍCULO
2. 1. Verificação diária do veículo, preparação da viagem e sua importância 17
2. 2. Forças aplicadas aos veículos em movimento 19
2. 3. Utilização das relações da caixa de velocidades em função da carga do veículo e do perfil
19
da estrada
2. 4. Cálculo da carga e do volume útil 20
2. 5. Repartição da carga 20
2. 6. Consequências de sobrecarga nos eixos 21
2. 7. Estabilidade do veículo e centro de gravidade 22
2. .8 Tipos de embalagens e suportes para a carga 23
2. 9. Principais categorias de mercadorias que necessitam de acondicionamento 23
2. 10. Técnicas de colocação de calços e acondicionamento 39
2. 11. Utilização de precintas de acondicionamento 42
2. 12. Verificação dos dispositivos de acondicionamento 48
2. 13. Utilização dos meios de manutenção 49
2. 14. Colocação e retirada de redes e toldos 50
3. CONDUÇÃO DEFENSIVA 50
3. 1. O sistema de circulação rodoviária 50
3. 2. Condução defensiva 51
3. 3. Elementos de segurança ativa e passiva 52
3. 4. A velocidade 52
3. 5. Adaptação da condução às caraterísticas do veículo, da via e das condições atmosféricas 53
3. 6. Distâncias 57

REGULAMENTAÇÃO LABORAL
1. AMBIENTE SOCIAL DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO E A SUA REGULAMENTAÇÃO 59
1. 1. Durações máximas do trabalho específicas para os transportes 59
1. 2. Princípios, aplicação e consequências dos Regulamentos 561/2006 e 3821/85 60

2
ÍNDICE

1. 3. Sanções em caso de não utilização, má utilização ou falsificação do tacógrafo 67


1. 4. Conhecimento do ambiente social do transporte rodoviário (direitos e obrigações dos
69
motoristas em matéria de qualificação inicial e formação contínua)
1. 5. Igualdade de oportunidades e regulamentação aplicável 73

REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
1. CONHECER A REGULAMENTAÇÃO RELATIVA AO TRANSPORTE DE MERCADORIAS 74
1. 1. Regulamentação nacional e internacional 74
1. 2. Títulos para o exercício da atividade de transporte 80
1. 3. Obrigações dos contratos-modelo de transporte de mercadorias 82
1. 4. Redação dos documentos que constituem o contrato de transporte 85
1. 5. Autorizações de transporte internacional 85
1. 6. Obrigações da Convenção relativa ao contrato de transporte internacional de
86
mercadorias por estrada (CMR)
1. 7. Redação da declaração de expedição 87
1. 8. Passagem das fronteiras 88
1. 9. Transitários 90
1. 10. Documentos especiais de acompanhamento da mercadoria 91
Anexo I - Convenção CMR (Cargo Movement Requirement) 93
Anexo II – DL 257/2007 (alterado pelo DL 136/2009) 102

SINISTRALIDADE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS


1. TIPOLOGIA DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO SECTOR DOS TRANSPORTES ENVOLVENDO
113
VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
1. 1. Introdução 113
1. 2. Acidentes de trabalho no sector dos transportes rodoviários 113
1. 3. Fatores de risco de acidentes em trabalho 113
1. 4. Fatores de risco de automóveis pesados de mercadorias 114
1. 5. Tipos de acidentes em estaleiro 114
1. 6. Tipos de acidentes rodoviários em missão envolvendo pesados de mercadorias 114
1. 6. 1. Colisões 115
1. 6. 2. Despistes 118

3
ÍNDICE

1. 6. 3. Atropelamentos 118
2. SINISTRALIDADE RODOVIÁRIA 119
2. 1. Sinistralidade Geral em Portugal 119
2. 2. Caraterização da mortalidade rodoviária em Portugal segundo o tipo de utente de
120
2004 a 2008
2. 3. Taxa de implicação em acidentes com vítimas 120
2. 3. 1. Taxa de implicação dos veículos pesados de mercadorias 121
2. 4. Acidentes com vítimas, envolvendo pelo menos 1 veículo pesado de mercadorias 121
2. 5. Distribuição dos acidentes com vítimas, vítimas mortais e feridos graves 121
2. 6. Acidentes com vítimas e vítimas graves, envolvendo pelo menos 1 veículo pesado de
122
mercadorias, por natureza, de 2004 a 2008
2. 6. 1. Índice de gravidade dos veículos pesados de mercadorias de 2004 a 2008 122
2. 7. Acidentes e vítimas segundo a hora do dia, envolvendo as várias categorias de veículos 122
2. 7. 1. Vítimas mortais e feridos graves por horas do dia 123
3. CONSEQUÊNCIAS DOS ACIDENTES EM TERMOS HUMANOS, MATERIAIS E FINANCEIROS 123
3. 1. Consequências a nível humano 123
3. 2. Consequências a nível material 124
3. 3. Consequências a nível financeiro 125
Bibliografia 126
Glossário 127

CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL


1. CONTEXTO ECONÓMICO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE MERCADORIAS E A ORGANIZAÇÃO
128
DO MERCADO
1. 1. A importância do transporte para o desenvolvimento social 128
1. 2. O transporte rodoviário de mercadorias em relação aos outros modos de transporte 129
1. 3. Diferentes atividades do transporte rodoviário 131
1. 4. Organização dos principais tipos de empresas de transportes rodoviário de mercadorias e
132
das atividades auxiliares do transporte
1. 5. Diferentes especializações do transporte 135
1. 6. Evolução dos sectores 136

4
ÍNDICE

MECÂNICA E ELETRÓNICA
Introdução 139
1. CADEIA CINEMÁTICA 141
1. 1. Motor 141
1. 1. 1. Funcionamento 141
1. 1. 2. Componentes e ciclo de operação 141
1. 1. 3. Fluxos Energéticos 143
1. 1. 4. Binário e Potência 144
1. 1. 4. 1. Definição de Binário e Potência 144
1. 1. 4. 2. Consumo específico e banda verde 144
1. 2. Transmissão 145
1. 2. 1. Transmissão manual 146
1. 2. 2. Transmissão automática 147
1. 2. 3. Diferencial 147
2. COMPONENTES DE SEGURANÇA 148
2. 1. Órgãos de segurança 148
2. 2. Travões 149
2. 2. 1. Componentes do sistema de travagem 149
2. 2. 1. 1. Travões de disco 150
2. 2. 1. 2. Travões de tambor 150
2. 2. 2. Circuito hidráulico de travagem 150
2. 2. 3. Circuito pneumático de travagem 151
2. 2. 4. Retarder 151
2. 3. Componente elétrica e eletrónica do veículo 153
2. 4. Utilização de motor/transmissão/travões como elementos de segurança 154
Glossário 155
Acrónimos 156
Bibliografia 156
Sites de interesse 156

5
ÍNDICE

RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO


Introdução 157
1. OS COMPORTAMENTOS QUE CONTRIBUEM PARA MELHORAR A IMAGEM DAS EMPRESAS DE
158
TRANSPORTE
1. 1. As bases do serviço ao cliente 158
1. 1. 1. O que é uma empresa orientada para o cliente? 159
1. 2. O cliente toma nota do serviço 159
1. 3. Consequências comerciais e financeiras de um litígio 160
1. 3. 1. Responsabilidade no transporte rodoviário internacional de mercadorias 160
1. 3. 2. Responsabilidade no transporte rodoviário nacional de mercadorias 160
1. 3. 3. Os ciclos de serviço 160
1. 4. Competências concretizadas 162
1. 4. 1. As competências técnicas 162
1. 4. 2. As competências organizacionais 162
1. 4. 3. As competências relacionais 162
1. 5. Avaliação da qualidade 162
1. 5. 1. A qualidade em 4 pontos 162
1. 5. 2. Avaliar a qualidade de serviço 162
1. 5. 3. A avaliação da qualidade de serviço: as escalas de avaliação 163
1. 5. 4. Como se criam as expetativas dos clientes? 163
1. 6. Uma profissão de contato 163
1. 6. 1. Várias missões para uma profissão – transporte de mercadorias 163
1. 6. 2. Várias missões para uma profissão – transporte de passageiros 164
1. 6. 3. Os interlocutores dos motoristas 164
1. 7. Gerir tensões 165
1. 7. 1. Transporte de mercadorias 165
1. 7. 2. Transporte de passageiros 165
1. 7. 3. A relação de serviço 165

6
ÍNDICE

SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS


1. ACIDENTES E SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA 167
1. 1. Introdução 167
1. 2. Procedimentos em caso de acidente 167
1. 2. 1. Na cena do acidente 167
1. 2. 2. Informação a prestar 168
1. 2. 3. Como agir face à emergência em caso de acidente 168
1. 2. 4. Princípios da declaração amigável 168
1. 3. Situações de emergência no transporte rodoviário 169
1. 3. 1. Risco de violência e agressão 169
1. 3. 1. 1. Como prevenir 170
1. 3. 1. 2. Como agir em situação de emergência face a atos de violência 171
1. 3. 1. 3. Como recuperar 172
1. 3. 2. Risco de Incêndio 172
1. 3. 2. 1. Evacuação de passageiros 172
2. PRIMEIROS SOCORROS 173
2. 1. Introdução 173
2. 2. O que são os primeiros socorros? 173
2. 3. Sequência das ações de primeiros socorros 173
2. 3. 1. O que devemos fazer perante um acidente? 173
2. 4. Formas de acionar o socorro 173
2. 5. Sinalização do local e a segurança 174
2. 5. 1. Ações de prevenção a desenvolver no local do acidente 174
2. 6. Extintores 174
2. 6. 1. Tipos de extintores 174
2. 6. 2. Localização dos extintores na viatura 175
2. 6. 3. Recomendações na utilização do extintor 175
2. 7. Iniciar o socorro às vítimas 175
2. 7. 1. Exame primário 175
2. 7. 2. Exame secundário 175
2. 7. 3. O que não fazer a uma vítima de acidente 176
2. 8. Socorros no âmbito da traumatologia 176

7
ÍNDICE

2. 8. 1. Alterações cardio–respiratórias 176


2. 8. 2. Técnicas de desobstrução das vias aéreas 176
2. 8. 2. 1. Pancadas interescapulares e manobra de Heimlich 176
2. 8. 3. Suporte básico de vida 177
2. 8. 3. 1. Abordagem da vítima 177
2. 8. 3. 1. 1. A vítima não responde 177
2. 8. 4. Estado de choque 178
2. 8. 4. 1. Causas do estado de choque 178
2. 8. 4. 2. Sinais e sintomas do estado de choque 179
2. 8. 4. 3. Primeiros socorros do estado de choque 179
2. 8. 5. Hemorragias 179
2. 8. 5. 1. Classificação das hemorragias 179
2. 8. 5. 2. Sinais e sintomas das hemorragias 179
2. 8. 5. 3. Primeiros socorros das hemorragias 179
2. 8. 5. 3. 1. Hemorragias internas 179
2. 8. 5. 3. 2. Hemorragias externas 180
2. 8. 6. Compressão manual direta 180
2. 8. 7. Compressão manual indireta 180
2. 9. Lesões osteoarticulares 180
2. 9. 1. Lesões ósseas 180
2. 10. Queimaduras 181
2. 10. 1. Classificação da gravidade da queimadura 181
2. 10. 2. Extensão da queimadura 181
2. 10. 3. Profundidade da queimadura 181
2. 10. 4. Localização da queimadura e idade da vítima 181
2. 10. 5. Primeiro socorro da queimadura 181
2. 11. Organização da caixa/mala de primeiros socorros 181
2. 11. 1. Caraterísticas das caixas de primeiros socorros 181
Referências 182

8
ÍNDICE

PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE


Introdução 183
1. ROUBOS E AGRESSÕES 183
1. 1. Desafios económicos 183
1. 2. ...e humanos 183
1. 3. Números que testemunham a amplitude do problema 183
2. PREVENÇÃO E BOAS PRÁTICAS 184
2. 1. Antes do transporte e da viagem 184
2. 2. Durante o carregamento 184
2. 3. Na entrega 184
2. 4. Transporte e estacionamento 184
2. 4. 1. Discrição e prudência 184
2. 4. 2. Chaves e dispositivos antirroubo 184
2. 4. 3. Prevenção 184
2. 4. 4. Estacionamento 185
2. 4. 5. Entrada e saída de passageiros 185
2. 4. 6. Atribuição das bagagens e bagagens não acompanhadas 185
2. 5. Em trânsito 185
2. 5. 1. Medidas específicas – transporte de passageiros 186
2. 6. Que fazer em caso de emergência, roubo ou agressão? 186
2. 6. 1. Em caso de anomalia ou roubo de carga 186
2. 6. 2. Se o veículo tiver desaparecido 186
2. 6. 3. Em caso de agressão ou no decorrer de um roubo 186
2. 7. Proteger-se 186
2. 8. Anexo 187
3. QUAIS AS INFRAESTRUTURAS DISPONÍVEIS? 187
3. 1. A espera nas fronteiras: risco acrescido 187
3. 1. 1. Uma situação inquietante 187
3. 2. Parques de estacionamento seguros 187
3. 2. 1. A Europa tem falta de parques de estacionamento seguros 187
3. 3. Áreas sensíveis na Europa 187
3. 4. O que é um parque de estacionamento seguro? 187

9
ÍNDICE

3. 4. 1. Segurança em 4 pontos 187


3. 4. 2. Entradas e saídas 188
3. 4. 3. Áreas de estacionamento 188
3. 4. 4. A vigilância 188
4. PONTO DE VISTA DAS SEGURADORAS 188
4. 1. Prevenção e responsabilidade 188
4. 2. As mercadorias «sensíveis» 188
4. 2. 1. Do ponto de vista das seguradoras 188
4. 3. Sem medidas de prevenção não há segurança 188
5. OS CLANDESTINOS 189
5. 1. Os dados do problema 189
5. 2. Proveniência e destino 189
5. 3. O espaço «Schengen» 189
5. 4. Meios utilizados pelos clandestinos 190
5. 4. 1. Os veículos rodoviários mais vulneráveis são os cobertos por toldo 190
5. 4. 2. Transporte de veículos em barco 190
5. 4. 3. As responsabilidades dos transportadores 191
5. 4. 4. Com destino ao Reino Unido 191
5. 4. 5. O «sistema eficaz» assenta em três pontos distintos 191
5. 5. Anexo 191

SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO


1. SABER PREVENIR OS RISCOS FÍSICOS 192
1. 1. Fatores humanos e ergonomia: breve introdução 192
1. 2. Carga de trabalho 192
1. 3. Interações Homem-Máquina 192
1. 4. A condução de veículos 193
1. 4. 1. A atividade do condutor 193
1. 4. 2. Fatores humanos na condução de veículos 194
1. 4. 2. 1. Fadiga 194
1. 4. 2. 2. O erro humano 194
1. 4. 2. 3. A atenção do condutor 195

10
ÍNDICE

1. 4. 2. 3. 1. Inatenção e Distração 195


1. 4. 2. 4. Fadiga e sonolência do condutor 196
1. 4. 3. Principais causas de acidentes 196
1. 5. Interação com sistemas de informação e comunicação embarcados 197
1. 6. Riscos para a saúde ligados à profissão de motorista 197
1. 6. 1. Riscos ligados à manutenção de uma postura sentada prolongada 198
1. 6. 2. Riscos ligados a esforços de manipulação de cargas 198
1. 6. 3. Riscos psicossociais 198
1. 6. 3. 1. O stress na condução de veículos 198
1. 6. 4. Riscos físicos ambientais 199
1. 6. 4. 1. Ruído 199
1. 6. 4. 2. Vibrações 199
1. 6. 4. 3. Ambiente térmico 200
1. 6. 4. 4. Radiações 201
1. 6. 4. 5. Iluminação 201
1. 6. 5. Riscos Biológicos 202
2. TER CONSCIÊNCIA DA IMPORTÂNCIA DA APTIDÃO FÍSICA E MENTAL 203
2. 1. Introdução 203
2. 2. O comportamento dos condutores 203
2. 2. 1. Efeitos do álcool, medicamentos e outras substâncias suscetíveis de alterar o comportamento 203
2. 2. 1. 1. Álcool 203
2. 2. 1. 2. Cafeína 204
2. 2. 1. 3. Tabaco 204
2. 2. 1. 4. Outras substâncias suscetíveis de alterar o comportamento 204
2. 3. A aptidão para conduzir 204
2. 4. Princípios de uma vida ativa saudável 205
2. 4. 1. Recomendações para uma alimentação saudável 205
Referências bibliográficas 206

11
ÍNDICE

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


1. INTRODUÇÃO ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 207
1. 1. Introdução 207
1. 2. Comunicações móveis e os sistemas inteligentes de transportes 208
1. 2. 1. Promoção da segurança rodoviária 208
1. 2. 2. Melhoria da gestão da rede rodoviária 209
1. 2. 3. Melhoria da gestão das operações comerciais 209
1. 3. As diferentes categorias de tecnologias de informação e comunicação 209
2. TRANSPORTE DE PASSAGEIROS – Conhecer as atuais tecnologias disponíveis para utilização
210
no sistema de transportes e ter noção das tendências futuras
2. 1. Introdução 210
2. 2. O transporte de passageiros 210
2. 2. 1. Sistemas de apoio à exploração 210
2. 2. 1. 1. Telemática aplicada 210
2. 2. 1. 2. Bilhética sem contato 211
2. 2. 1. 3. Cartões inteligentes 211
2. 2. 1. 4. SMS (Short Message Service) 212
2. 2. 1. 5. Sistemas de informação ao público 212
2. 2. 2. Sistemas de emergência 213
3. TRANSPORTE DE MERCADORIAS – Conhecer as atuais tecnologias disponíveis para utilização
214
no sistema de transportes e ter noção das tendências futuras
3. 1. Introdução 214
3. 2. O transporte de mercadorias 214
3. 2. 1. Sistemas de apoio à exploração 214
3. 2. 1. 1. Telemática aplicada 214
3. 2. 1. 2. O tacógrafo digital 215
3. 2. 1. 3. Cartões inteligentes 215
3. 2. 1. 4. Internet e SMS 215
3. 2. 2. Sistemas de emergência 216
Notas finais 216
Referências 217

12
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

1. Condução Económica e Ambiental


1. 1 - Otimização do consumo de combustível e utilização das relações da caixa de
velocidades em função da carga do veículo e do perfil da estrada
A indústria automóvel tem vindo a desenvolver veículos com CONDUZA A BAIXAS ROTAÇÕES
consumos de combustível e emissões de gases poluentes e de CO2 Sempre que possível opte por utilizar rotações do motor mais
cada vez menores. Contudo, poucos são os condutores que sabem baixas. Para tal, ao gerir a caixa de velocidades utilize mudanças
como explorar da melhor forma estas potencialidades. mais altas. Mantenha o conta rotações na zona verde.

A eco condução consiste na adoção de hábitos de condução que ACELERE E DESACELERE SUAVEMENTE
permitem tirar o maior partido dos veículos, tendo em atenção as Acelerações bruscas levam a que o seu veículo consuma mais
caraterísticas dos sistemas de propulsão e transmissão, combustível e emita mais poluentes atmosféricos. Adicionalmente,
otimizando os consumos, numa ótica de eficiência energética. A as repetidas acelerações e travagens provocam um maior desgaste
eco condução exige pequenas alterações nos procedimentos de mecânico, aumentando ainda o desconforto a bordo.
condução, que podem resultar numa poupança de combustível na
ordem dos 25%. EVITE SITUAÇÕES AO RALENTI
Um automóvel pesado gasta 2 a 3 litros de combustível, por hora,
A eco condução é uma forma de condução eficiente que permite ao ralenti. Assim, em poucos segundos, o gasto energético
reduzir: associado à ligação do motor é compensado pelo período em que
• O consumo de combustível; o motor permaneceu desligado. Adicionalmente, um automóvel ao
• A emissão de gases poluentes (principalmente óxidos de azoto ralenti contribui para o ruído ambiente e para o aumento da
e de enxofre) poluição atmosférica. Em paragens superiores a 5 minutos
• A emissão de partículas resultantes da insuficiente combustão desligue o motor.
dos hidrocarbonetos;
• A emissão de gases com efeito de estufa (GEE), sobretudo NAS DESCIDAS E TRAVAGENS, MANTENHA UMA MUDANÇA
dióxido de carbono (CO2), que contribuem para o aquecimento ENGRENADA
global; Um veículo com tecnologia moderna corta a injeção de
• A sinistralidade, tendo em conta que se diminuem as combustível quando se retira o pé do acelerador e se mantém uma
acelerações bruscas e as travagens, tornando a viagem também mudança engrenada. Esta situação permite o aproveitamento da
mais confortável. energia cinética do veículo para prolongar o seu movimento, sem
ser necessário consumir combustível. Assim, ao retirar o pé do
Se adotar hábitos de condução mais eficientes, ecológicos e acelerador, mantendo sempre o carro engatado, em descidas ou
seguros, tira maior partido das capacidades dos veículos, otimiza situações de travagem controlada (por exemplo na aproximação
os consumos, reduz a poluição e o ruído, e está a contribuir para a a uma portagem) pode aproveitar mais eficientemente a energia
diminuição do número de acidentes rodoviários. utilizada.

SAIBA ANALISAR OS SEUS CONSUMOS


CONDUZA POR ANTECIPAÇÃO Para que possa melhorar o seu desempenho é essencial perceber
Não se limite a observar o veículo da frente. Treine a sua visão a como gasta o seu combustível. Ganhe sensibilidade aos seus
observar a envolvente, pois uma condução por antecipação reduz consumos e procure analisar o seu perfil de condução. Atualmente
o número de acelerações e travagens, melhorando os consumos há diversos equipamentos (alguns instalados de origem no veículo
médios, aumentando o conforto a bordo. Adicionalmente, ao e outros instalados pelo próprio condutor) que permitem
adotar uma condução antecipada terá maior tempo de reação, monitorizar as viagens e obter alguns parâmetros associados ao
prevenindo situações de perigo, contribuindo assim para uma seu estilo de condução. Utilize-os sempre que possível.
maior segurança rodoviária.

13
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

VERIFIQUE REGULARMENTE A PRESSÃO DOS PNEUS A ocorrência de um acidente, para além dos riscos físicos para os
A pressão dos pneus deve ser verificada regularmente, envolvidos, resulta também em custos pessoais e económicos e na
especialmente antes de um percurso longo, e sempre com os pneus imagem da empresa. A imagem de uma viatura de determinada
a frio (não ter rodado mais de 3 km). A utilização de pneus com empresa envolvida num acidente tende a afastar eventuais
pressão adequada diminui o seu desgaste e reduz o consumo de clientes, independentemente da culpa.
combustível. Adicionalmente, a utilização de pneus com menor
atrito de rolamento pode reduzir o consumo em cerca de 5%. A prevenção será sempre a atitude mais económica e inteligente:
Mais vale prevenir que remediar.
EVITE PESOS DESNECESSÁRIOS NO CARRO
Faça uma seleção regular dos objetos transportados e evite andar Um estilo de condução suave e descontraída resulta num aumento
com pesos desnecessários no veículo. da comodidade, numa melhoria das condições de segurança e em
Em percursos urbanos o efeito do peso é particularmente economia de recursos (combustível, travões, etc).
importante, devido às constantes acelerações em situações de
pára-arranca. Neste aspeto, ganha particular realce o estilo de condução do
motorista. Exige-se um grande grau de concentração, mas também
SEMPRE QUE PUDER, ABDIQUE DE ACESSÓRIOS QUE REDUZEM muita calma na resolução de conflitos.
A AERODINÂMICA
Em autoestrada o principal responsável pelo aumento do consumo Ao atravessar zonas escolares ou frequentadas por crianças, o
de combustível é o atrito aerodinâmico. condutor deve tomar precauções extras, sabendo-se da
imprevisibilidade do comportamento das crianças.
SEJA RACIONAL NA UTILIZAÇÃO DO AR-CONDICIONADO
Em percursos muito curtos, particularmente em tráfego urbano, Um estilo de condução suave contribui para a redução dos
a utilização do ar-condicionado pode ser pouco vantajosa, uma consumos, que, como se sabe, ocupa uma parcela significativa da
vez que a refrigeração do habitáculo poderá demorar mais tempo estrutura de custos das transportadoras. Ou seja, melhora a sua
que a própria viagem. Adicionalmente, é nas situações de maior saúde financeira.
tráfego que o sistema de ar-condicionado consome mais, podendo
chegar a representar cerca de 20% do combustível utilizado. Travagens e acelerações devem se feitas o mais suavemente
possível, a fim de minimizar consumos, desgaste e risco de
CONDUZA A UMA VELOCIDADE O MAIS CONSTANTE POSSÍVEL acidente.
Evitando acelerações/desacelerações e travagens bruscas pode
poupar 15% de combustível conduzindo a 80 Km/h, em vez de Uma condução suave resulta numa sensação de segurança para o
100 Km/h. cliente. Mais do que a urgência da entrega, o cliente pretende que
a mercadoria chegue ao destino intacta. Um condutor com estilo
CUMPRA OS LIMITES DE VELOCIDADE de condução agressiva aumenta exponencialmente os consumos e
Um aumento de 10% na velocidade pode provocar um aumento de afasta clientes.
15% no consumo de combustível. Evite mudar de via de trânsito.
Em suma, uma condução suave:
PLANEIE A SUA VIAGEM - Reduz o consumo de combustível
Escolha o melhor percurso nas deslocações e tente antecipar o - Reduz a sinistralidade
fluxo de trânsito. Uma viagem bem planeada pode poupar até - Melhora a imagem do motorista e da empresa
5% de combustível. Evite usar o automóvel em deslocações curtas. - Reduz o desgaste do material
Poupa combustível e contribui para o seu bem-estar físico.

UM ECO CONDUTOR É UM CONDUTOR MAIS SEGURO E INTELIGENTE

14
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL
2. Acondicionamento da carga, respeitando as instruções de segurança
e a boa utilização do veículo
Acondicionamento da carga
• Sempre que uma carga for carregada/descarregada ou
Se uma carga não for acondicionada de forma adequada, redistribuída, é necessário inspecionar a carga e verificar se existe
constituirá um perigo para as pessoas envolvidas nas operações de excesso de carga e/ou se o peso da carga esta mal distribuído
transporte e para terceiros. A carga mal acondicionada pode antes de iniciar o transporte. Certificar-se de que a carga esta bem
tombar do veículo, provocar congestionamento de tráfego e a distribuída, de modo a que o centro de gravidade da totalidade
morte ou lesões a terceiros. A carga mal acondicionada pode da carga assente o mais perto possível do eixo longitudinal e seja
provocar a morte ou lesões aos ocupantes do veículo aquando de mantido o mais baixo possível: as mercadorias mais pesadas por
uma travagem de emergência ou de uma colisão. Também a baixo e as mais leves por cima.
mudança de direção de um veículo pode ser afetada pela forma
como a carga se encontra distribuída e/ou acondicionada, • Sempre que possível, verificar periodicamente o
dificultando o controlo do veículo. acondicionamento da carga durante o percurso. A primeira
Os condutores devem ter consciência do risco adicional que inspeção deve ser feita, de preferência, depois de percorridos
representa a deslocação da carga, ou partes da mesma, durante a alguns quilómetros, num local de paragem seguro. Alem disso,
condução do veículo. o acondicionamento da carga deve ser inspecionado após uma
travagem de emergência ou qualquer outra situação anormal que
É, pois, fundamental que o condutor adote alguns procedimentos ocorra durante o percurso.
de segurança, nomeadamente:
• Sempre que possível, utilizar equipamento que facilite o
• Antes de carregar o veículo, verificar se a plataforma de carga, acondicionamento da carga, por exemplo, materiais de atrito,
a carroçaria e o equipamento de fixação da carga se encontram em divisórias de carga, correias ou cintas, cantoneiras, etc.
boas condições de funcionamento.
• Certificar-se de que os dispositivos de acondicionamento não
• A carga deve ser acondicionada de modo a que não possa danificam as mercadorias transportadas.
mover-se, rolar, oscilar devido a vibrações, cair do veículo ou fazer
com que este se volte. • Conduzir suavemente, ou seja, adaptar a velocidade às
circunstâncias de modo a evitar alterações bruscas de direção e
• Determinar o(s) sistema(s) de acondicionamento que melhor se travagens de emergência. Se esta recomendação for seguida,
adapte(m) às caraterísticas da carga (travamento ou as forcas exercidas pela carga manter-se-ão baixas e não devem
bloqueio, amarração direta, amarração de topo ou uma ocorrer problemas.
combinação destas).
Necessidade de acondicionamento da carga
• Verificar se as recomendações do fabricante relativas ao veículo
e ao material de travamento são observadas. O princípio físico básico subjacente às forças exercidas pela carga
no seu ambiente consiste na ideia de que um objeto em
• Verificar se o equipamento de fixação da carga é proporcional movimento, se não forem exercidas forças, continuará a
às condições da viagem. As travagens de emergência, as viragens deslocar-se numa linha reta à mesma velocidade.
bruscas para evitar obstáculos, as estradas em mas condições ou
as condições meteorológicas adversas são situações que devem A velocidade de um objeto pode ser representada por uma seta:
ser consideradas como circunstâncias normais que podem ocorrer o comprimento da seta é proporcional à velocidade do objeto; a
durante os percursos. O equipamento de fixação deve ser capaz de direção da seta indica a linha reta que o objeto seguiria se não
suportar estas condições. fossem exercidas quaisquer forças.

15
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Alterar a velocidade do objeto, isto é, alterar o comprimento e/ou Equipamento dos veículos
a direção da seta que o representa, gerará forças.
É necessário ter em consideração que quaisquer acessórios ou
Por outras palavras, a única situação em que uma carga não equipamentos, permanentes ou temporários, transportados pelo
exerce qualquer força no seu ambiente (exceto pelo seu peso, veículo, são também considerados carga e, como tal, o seu
evidentemente) é aquela em que a condução é efetuada numa acondicionamento é da responsabilidade do condutor. Os danos
linha reta a uma velocidade constante. que um pé de fixação mal seguro pode provocar se distender
enquanto o veículo está em movimento são enormes, tal como
Quanto mais esta situação for alterada (por exemplo, travagem algumas experiências fatais comprovaram.
de emergência, forte aceleração, viragem difícil num cruzamento,
mudança rápida de faixa, etc.), mais fortes serão as forças que a AVISO: Os pés de fixação, as gruas, os taipais traseiros, etc., devem
carga exerce no seu ambiente. No caso do transporte rodoviário, ser estivados e travados em conformidade com as instruções do
estas forças são principalmente horizontais. Nestas situações, o fabricante antes do veículo circular. Um veículo no qual uma
atrito raramente é suficiente para evitar o deslizamento de uma tal peça ou equipamento não possam ser travados não deve ser
carga mal acondicionada. Seria incorreto assumir que o peso da utilizado até que sejam efetuadas as reparações necessárias para
carga será suficiente para a manter em posição. corrigir a falha. As correntes soltas dos veículos pequenos sem
carga devem igualmente ser fixadas, de modo a não constituírem
Durante uma travagem de emergência, por exemplo, a força perigo para os outros utentes das vias.
exercida pela carga em direção à parte dianteira do veículo pode
ser muito elevada e praticamente igual ao peso da mesma. AVISO: Os veículos não devem nunca ser conduzidos, por muito
curta que seja a distância, com equipamentos distendidos ou numa
Deste modo, durante uma travagem de emergência, uma carga posição não travada.
com 1 tonelada “empurrará” na direção da parte da frente
do veículo com uma força aproximada de 1000 daN (isto é, 1 Os equipamentos soltos, tais como cintas, cabos, coberturas, etc.,
tonelada em linguagem corrente; ver a secção seguinte para mais devem igualmente ser transportados de modo a não constituírem
explicações sobre massa e peso) No entanto, podem ser perigo para os outros utentes das vias. Uma boa prática consiste
encontradas forças maiores se o veículo, por exemplo, for em possuir um compartimento separado onde possam ser
envolvido num acidente. Os princípios relativos ao armazenados em segurança estes elementos quando não estão a
acondicionamento da carga devem, deste modo, ser considerados ser utilizados. No entanto, se forem mantidos na cabina do
como requisitos essenciais. condutor, devem ser estivados de modo a que não possam
interferir com qualquer dos controlos do condutor.
Em resumo, se um veículo travar, a carga continuará a deslocar-se
na direção original. Quanto mais forte for a travagem, maior será
a força com que a carga “empurrará” para a frente. Se a carga
não estiver adequadamente acondicionada, continuará a
deslocar-se para a frente, independentemente da direção do
veículo!

A recomendação geral consiste em: acondicionar sempre a carga


de forma adequada e conduzir suavemente, isto é, qualquer
desvio a uma situação de linha reta/velocidade constante deve ser
efetuado lentamente. Se esta recomendação for seguida, as forças
exercidas pela carga manter-se-ão baixas e não devem ocorrer
problemas.

16
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

2. 1 - Verificação diária do veículo, preparação da viagem e sua importância


A quantidade de veículos pesados envolvidos em acidentes é respeito pela vida humana - a sua e a dos outros. Use os tempos de
reduzida, no conjunto global da sinistralidade. Contudo, quando repouso... para repousar!
fazemos a análise em função da quantidade de viaturas em
circulação, verifica-se que são o segundo grupo de veículos mais Não beba álcool antes e durante a condução,
envolvidos em acidentes, a seguir aos motociclos. nem tome qualquer tipo de droga ou
medicamentos que possam prejudicar as suas
Quando se envolvem num acidente, os veículos pesados provocam capacidades de condução. Evite refeições
impatos muito violentos, com natural reflexo nos danos avultados pesadas antes e durante a condução, já que estes podem aumentar
e na gravidade dos sinistrados. a sonolência.

Parte dos acidentes resultam de falhas mecânicas que Não prossiga a viagem se sentir sonolência.
eventualmente podem ser detetadas através da verificação diária PARE! Saia do veículo, estique as pernas,
do veículo. respire ar fresco e se necessário descanse.

Como condutor de automóveis pesados, você precisa conduzir Verifique os travões, os pneus (pressão e
sempre de maneira altamente responsável e demonstrar o seu relevo), liquido de refrigeração do motor e
profissionalismo antecipando e perdoando comportamentos lubrificante. Verifique o estado dos espelhos
estúpidos e perigosos de outros condutores, por muito irritantes retrovisores, das janelas, para-brisas, luzes e
que sejam. O seu comportamento pode ajudar a salvar vidas e indicadores de mudança de direção (piscas).
melhorar a imagem da profissão. Certifique-se do bom estado de outros
equipamentos especiais, como extintores e
A condução profissional é muito exigente, pelo correntes de neve. Verifique ainda se existe algum dano visível na
que você precisa manter-se apto, física e viatura e se esta se encontra limpa.
mentalmente. Comer e beber de forma
saudável e fazendo exercícios regularmente Não se esqueça da sua documentação. Insira
fará com que você se sinta melhor, conduza melhor e viva mais disco de tacógrafo/cartão. Verifique se dispõe
tempo! abordo dos discos de tacógrafo legalmente
exigidos. Verifique toda a documentação
Ajuste o seu assento para que fique sentado relativa ao veículo e cargo, nomeadamente a guia de transporte.
o mais confortavelmente possível, com fácil
acesso a todos os comandos. Garanta que Verifique se o seu percurso. Certifique-se que
a sua cabeça está posicionada de forma a o seu veículo consegue passar em todos os
beneficiar do apoio de cabeça, em caso de acidente. Sente-se bem túneis, pontes, etc, devido às suas dimensões
para trás na cadeira, evitando esticar as costas. e peso. Use autoestradas sempre que possível
e evite zonas residenciais. Planeie a sua viagem para que possa
Use o cinto de segurança, caso exista e não fazer as pausas obrigatórias no momento certo. Não se esqueça de
se esqueça de confirmar que o seu copiloto verificar as previsões meteorológicas.
também está a usar. Atravessar o para-brisas
não será bom para si! Lembre-se o “ângulo morto” impede-o de ver
pequenos utilizadores da estrada (automóveis,
Respeite os requisitos legais relacionados com motociclistas, ciclistas, peões) perto de seu
os tempos de condução e de repouso. O não veículo. Preste particular atenção ao mudar de
cumprimento destas regras ou a manipulação direção, realizar marcha a trás e durante a condução em um lado
do tacógrafo é ilegal e representa falta de diferente da estrada daquele que você está acostumado.

17
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Não ultrapasse sem ter a certeza que tem Estacione somente onde for permitido. Tome
espaço suficiente e que não vai prejudicar a cuidado para não obstruir o tráfego ou a visão
fluidez do trânsito. de outros utentes da estrada e evite as zonas
residenciais. Certifique-se que o veículo não
Mantenha uma distância segura do veículo à se move quando desligado. Não deixe o motor em funcionamento
sua frente. Não esqueça que quanto maior a desnecessariamente.
velocidade, maior será o espaço que precisa
para parar, pelo que maior deverá ser a Use áreas de estacionamento seguras sempre
distância ao veículo à sua frente. Aumente as distâncias de que possível. Não estacione em zonas isoladas
segurança com chuva, lama, gelo e neve, bem como em túneis. ou sem iluminação, especialmente à noite.
Não comente com estranhos sobre os seus
Parar se o seu motor, travões ou retardador passageiros ou itinerário. Inspecione o seu veículo antes de
estiverem sobreaquecidos. Não prosseguir até retomar a viagem, procurando sinais de entrada não autorizada
ter certeza de que não existe qualquer risco ou arrombamento.
adicional de sobreaquecimento ou falhas.
A manipulação de telemóvel durante a con-
Tente antecipar problemas. Evite travagem e dução é proibida. Se você precisa comunicar
acelerações repentinas, as quais podem ser em movimento, adquira um sistema “mãos
perigosas para os outros utentes da estrada, livres”.
causam desconforto aos passageiros,
aumentam o consumo de combustível e geram poluição extra. Após a viagem informe a sua empresa sobre
qualquer problema com seu veículo, rotas que
Respeite sempre os limites de velocidade e usou, ou os lugares que visitou, a fim de se
as restantes regras de trânsito. Não adote os proceder aos necessários ajustes e correções
maus hábitos dos outros utentes da estrada. para a próxima viagem.
Conduzir com segurança protege a sua vida, a
vida dos outros e garante o seu trabalho!

Em caso de avaria, acidente ou outro incidente


grave, informe a sua empresa e os serviços COMPORTE-SE COMO UM PROFISSIONAL E SERÁ RESPEITADO POR TODOS
de emergência imediatamente. Programe os O motorista profissional desempenha um papel fundamental para a
números de emergência no seu telemóvel. economia e para a sociedade. Orgulhe-se do seu trabalho, orgulhe-se
da sua condução!
À noite, utilize os médios ao cruzar-se com os
outros utentes. Certifique-se que as luzes da
viatura se encontram ajustadas. Melhore a
visibilidade da sua viatura mantendo as luzes
e refletores limpos.

Adapte a sua condução às condições


atmosféricas. Quando as estradas estão
escorregadias, com chuva, lama, gelo ou
neve (não se esqueça das correntes de neve),
reduza a velocidade. Faça o mesmo com nevoeiro, no crepúsculo e
nos túneis.

18
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

2. 2 - Forças aplicadas aos veículos em 2. 3 - Utilização das relações da caixa de


movimento velocidades em função da carga do veículo e
Em movimento carga do veículo está sujeita a diversos tipos de do perfil da estrada
forças, nomeadamente:
A caixa de velocidades é órgão do veículo que serve para
FORÇAS VERTICAIS, resultantes da passagem do veículo pelas rentabilizar a potência disponível do motor. A boa utilização deste
irregularidades do piso. Quanto mais irregular for o piso maior órgão perante as condições de tráfego e a configuração do terreno
serão as oscilações das molas da suspensão e, consequentemente, permite aumentar a segurança e reduzir os consumos.
da carga. O condutor pode reduzir estas oscilações circulando a
velocidades mais reduzidas. A potência de um motor varia com a sua velocidade de rotação,
cujo valor máximo varia com o tipo de motor e está compreendido
FORÇAS HORIZONTAIS LATERAIS, resultantes da alteração de entre as 2000 e as 8000 rotações por minuto.
trajetória do veículo, nomeadamente em curvas, mudanças de
direção ou de via de trânsito. O condutor pode reduzir este efeito O motorista deve combinar a mudança com a velocidade de
mudando de trajetória suave e antecipadamente. marcha, mantendo o ponteiro do conta- rotações na zona verde,
caso exista.
FORÇAS HORIZONTAIS LONGITUDINAIS,
resultantes das alterações de Quando um veículo circulando num plano horizontal entra numa
velocidade. Numa travagem a carga subida de forte inclinação, a resistência que se opõe ao seu
tende a circular à mesma velocidade movimento vai-lhe reduzindo a velocidade e, ao mesmo tempo, a
que possuía, pelo que empurra o potência do motor diminuirá também.
veículo para a frente. Numa aceleração
a carga resiste ao aumento de velocidade e tende a prender o Consegue-se manter a velocidade do veículo, ou até aumentá-la,
movimento da viatura. O condutor pode minimizar este efeito através da desmultiplicação na caixa de velocidades, isto é,
fazendo uma condução preventiva, aumentando a distância de utilizando uma mudança que, embora seja mais lenta permite
segurança, de forma a travar de forma suave. O arranque deve ser que o motor funcione com mais rotações e portanto com maior
o mais suave possível. potência.

O atrito não pode ser a única força responsável por evitar o Quando o veículo se encontra muito carregado o procedimento é
deslizamento da carga mal acondicionada. semelhante ao descrito para as subidas de forte inclinação. Isto é,
deve circular-se mais devagar utilizando mudanças reduzidas.
Quando o veículo está em circulação, os movimentos verticais
provocados pelas pancadas e vibrações da estrada reduzirão a A maioria dos veículos permite que se inicie a marcha em 2ª
força de retenção provocada pelo atrito. O atrito pode mesmo ser velocidade. Habitualmente utiliza-se a 1ª velocidade apenas para
reduzido a zero se a carga abandonar momentaneamente a a realização de manobras, ou para iniciar a marcha com o veículo
plataforma do camião. Os dispositivos de amarração superior ou muito carregado.
outros sistemas de retenção, além do atrito, contribuem para o
acondicionamento adequado da carga. As forças de atrito Quando os veículos se encontram carregados, sucede
dependem das caraterísticas mútuas das superfícies em contato da frequentemente que ao circular numa mudança o motor se
carga e da plataforma do camião. encontra em esforço, mas se se engrenar a mudança seguinte o
motor não tem força suficiente. É como se fosse necessária uma
Mesmo que a carga esteja impedida de deslizar através de meia mudança.
dispositivos de travamento, podem ser necessários sistemas de
retenção adicionais para evitar inclinações. O risco de inclinação Para tentar ultrapassar essa situação grande parte dos veículos
depende da altura do centro de gravidade e das dimensões da possui as chamadas “caixas de mudança de gamas”. A caixa de
secção de carga. mudança de gamas está montada à saída da caixa de velocidades

19
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

normal, de modo a fazer com que o movimento de rotação do ser considerados todos os aspetos aquando do carregamento do
seu veio secundário seja transmitido à velocidade normal quando veículo.
utiliza a “gama alta”, ou à velocidade reduzida se utiliza a “gama
baixa”. O capotamento do veículo é um dos acidentes mais frequentes
provocados por uma incorreta distribuição da carga.
Utilizando-se a “gama baixa” faz-se uma desmultiplicação da
rotação do veio de transmissão. Quer isto dizer que a velocidade
de saída é menor que a velocidade de entrada. A velocidade é
Carroçaria do veículo e equipamento
menor, mas ganhasse em potência. adequado para travamento em veículos
Desta forma o condutor utiliza as “gamas altas” em condução O condutor deve examinar as caraterísticas do veículo antes de ser
normal e a “gama baixa” quando o veículo está em esforço. iniciada a operação de carga, devendo igualmente serem seguidas
as recomendações do fabricante do veículo e do equipamento de
travamento.
2. 4 - Cálculo da carga e do volume útil
Os taipais traseiros e laterais instalados nos veículos, se
A carga útil do veículo corresponde ao peso máximo que a viatura
construídos adequadamente, permitem conter o deslocamento
pode transportar e resulta da diferença entre o peso bruto e a tara
da carga. É importante que as forças exercidas pela carga sejam
do veículo.
distribuídas de forma tão uniforme quanto possível sobre a menor
parte possível de qualquer dispositivo de travamento. Devem ser
A título de exemplo, a carga útil de um veículo com peso bruto de
evitadas cargas elevadas, isto é, forças concentradas em partes
20 toneladas e tara de 5 toneladas é de 15 toneladas.
relativamente pequenas da estrutura.
20.000 (Peso Bruto) – 5.000 (Tara) = 15.000 (Carga Útil)
Painel de proteção da cabina
O volume útil corresponde ao volume máximo que o veículo pode
transportar, confinado à caixa de carga. O painel de proteção da cabina dos camiões e reboques deve ser
capaz de suportar uma força equivalente a 40% do peso máximo
da carga, mas não superior a 5.000 daN, direcionada para a frente
e uniformemente distribuída ao longo do painel, sem deformação
2. 5 - Repartição da carga residual excessiva. Se a carga for imobilizada contra o painel de
proteção da cabina, a capacidade deste deve ser tida em
Quando é colocada uma carga num veículo, as dimensões, eixos e consideração ao calcular o número de dispositivos de amarração.
pesos brutos máximos autorizados não devem ser excedidos.
Conforme mencionado
As cargas mínimas por eixo devem ser igualmente consideradas supra, estas regras
para garantir estabilidade, viragem e travagem adequadas. não significam que um
veículo seja capaz de
As dificuldades com a distribuição da carga no veículo ocorrem suportar estas forças,
se este for parcialmente carregado ou descarregado durante o forças inferiores ou
percurso. O efeito no peso bruto, nas cargas por eixo individuais, mesmo superiores. As caraterísticas efetivas do veículo, no que
no acondicionamento e na estabilidade da carga não deve ser respeita a esta questão e a todas as questões seguintes, devem ser
negligenciado. Embora a remoção de parte da carga reduza o inspecionadas antes da carga ser acondicionada ou mesmo antes
peso bruto do veículo, a alteração na distribuição do peso pode do carregamento do veículo.
sobrecarregar os eixos individuais (conhecido como o efeito de
diminuição da carga). O centro de gravidade da carga e do
conjunto veículo/carga será alterado em conformidade, devendo

20
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Painéis laterais Reboque com abertura lateral


(reboques com cobertura rígida/não rígida ou
Os painéis laterais dos camiões e
reboques deve ser capaz de reboque de lona)
suportar uma força equivalente a
30% do peso máximo da carga, Os taipais laterais dos reboques com cobertura rígida/não rígida
direcionada lateralmente e ou reboque de lona podem, até certo ponto, ser utilizados para
distribuída uniformemente ao acondicionamento de carga. Os taipais laterais destas carroçarias
longo do painel, sem deformação devem ser capazes de suportar uma força horizontal interna
residual excessiva. Se a carga equivalente a 30% do peso máximo da carga.
for imobilizada contra o painel lateral, a capacidade deste deve
ser tida em consideração ao calcular o número de dispositivos de A força é distribuída uniformemente na horizontal, com 24% do
amarração. peso máximo da carga concentrado na parte rígida do taipal
lateral e 6% na parte flexível (norma EN12642). Se a carga for
Este requisito é igualmente aplicável aos modelos com cobertura imobilizada contra o taipal lateral, a capacidade deste deve ser
rígida/não rígida com painéis laterais. tida em consideração ao calcular o número de dispositivos de
amarração.

Painéis traseiros
O painel traseiro deve 2. 6 - Consequências de sobrecarga nos eixos
ser capaz de suportar
uma força O conceito de sobrecarga está associado ao transporte de
equivalente a 25% mercadorias ou pessoas em quantidade superior ao estabelecido
do peso máximo da pelo fabricante do veículo ou imposta pela legislação.
carga, mas não superior a 3,100 daN, direcionada para trás e
uniformemente distribuída ao longo do painel, sem deformação A sobrecarga das viaturas aumenta a concentração de peso por
residual excessiva. Se a carga for imobilizada contra o painel eixo, o que prejudica a sua dirigibilidade e acelera o desgaste
traseiro, a capacidade deste deve ser tida em consideração ao dos componentes dos veículos. Os pneus, por exemplo, sofrem
calcular o número de dispositivos de amarração. maior aquecimento e têm sua vida útil reduzida, acelera também
o desgaste do conjunto da suspensão, como rolamentos, molas
e articulações, que ficam mais sobrecarregados e aumentam a
Carroçaria tipo caixa possibilidade de fadiga e defeitos.

Os taipais laterais das carroçarias O excesso de peso exige maior solicitação dos travões, que quando
tipo caixa devem, ser capazes de muito utilizados aquecem e perdem parte da eficiência,
suportar uma força uniformemente aumentando as distâncias de travagem. O excesso de carga está
distribuída equivalente a 30% direta e indiretamente relacionado com a sinistralidade
do peso máximo da carga sem rodoviária envolvendo viaturas pesadas. Se por um lado o
deformação residual excessiva. Se aumento das distâncias de travagem e paragem resultam em
a carga for imobilizada contra o acidentes, quanto maior for a carga, maior será o impato e mais
taipal lateral, a capacidade deste deve ser tida em consideração ao graves serão os resultados.
calcular o número de dispositivos de amarração.
Ainda sob o ponto de vista da segurança, devemos considerar que
o excesso de carga provoca deformações no pavimento que por sua
vez podem vir a ser causadoras de acidentes graves.

21
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

As deformações tendem a acumular água em períodos de chuva, 2. 7 - Estabilidade do veículo e centro de


ocultando buracos e favorecendo a aquaplanagem.
As irregularidades provocadas no asfalto pelo excesso de gravidade
carga afetam também a estabilidade da viatura e aderência do
pneumático ao solo. O centro de gravidade de um objeto é a média da distribuição da
massa no objeto.
Quando o excesso de carga ocorre em pontes e viadutos, para
além da deformação do pavimento temos de considerar o desgaste Se a massa de um objeto estiver distribuída uniformemente, o
prematuro da própria infraestrutura. Muitas vezes a acumulação centro de gravidade do objeto será idêntico ao seu centro
de viaturas em sobrecarga leva a que a infraestrutura se aproxime geométrico (por exemplo, o centro de gravidade de um cubo ou
do seu limite. de uma esfera homogéneos seria o centro desse cubo ou dessa
esfera).
Para se ter uma ideia da influência deste excesso sobre o
pavimento, um veículo pesado com sobrecarga por eixo da ordem Se a massa de um objeto não estiver distribuída uniformemente, o
de 10%, causam um desgaste prematuro no restante da vida útil seu centro de gravidade aproximar-se- á do ponto em que o objeto
do pavimento em cerca de 50%. Considerando que, por norma for mais pesado. Para apresentar um exemplo extremo, se um
as estradas são projetadas para uma vida útil entre 8 e 10 anos, objeto fosse feito de uma parte em aço colada a uma parte em
a manutenção que deveria ocorrer somente após o seu 10º ano, cartão, o seu centro de gravidade
ocorrerá com somente 5 anos de uso. seria certamente localizado na parte em aço, dado que seria nessa
parte que a sua massa estaria concentrada.
É difícil estabelecer quem ganha com o excesso de carga, mas
estamos certos que todos perdem. Os elevados custos de
manutenção/recuperação das vias acabam por se repercutir nos
impostos cobrados aos utilizadores da via, nomeadamente às
transportadoras. Acresce que durante os trabalhos de recuperação
as vias ficam com uma utilização limitada, o que acaba por vir a
prejudicar as próprias transportadoras.

O excesso de carga é ainda considerado um meio de concorrência O centro de gravidade de um objeto não se encontra
desleal, uma vez que tira oportunidade de frete a outras necessariamente no objeto. Por exemplo, um objeto em forma de
empresas. “boomerang” teria um centro de gravidade localizado num ponto
a meia distância entre as extremidades do “boomerang”, fora do
Nalguns países, tais como a França (a sul de Limoges) foram objeto.
instalados dispositivos de pesagem de camiões em movimento. O
sistema foi concebido para detetar veículos pesados com excesso IMPORTÂNCIA PARA O ACONDICIONAMENTO DA CARGA:
de carga, e deverá ser estendido a outros eixos viários. Sensores Quanto mais elevado for o centro de gravidade de uma carga,
inseridos no piso estão ligados a um módulo de medição. O mais esta tenderá a voltar-se quando sujeita a forças horizontais.
objetivo é melhorar a eficácia da controlos veículos pesados com Se o centro de gravidade de uma carga se situar verticalmente fora
excesso de carga, para regular o sector transporte rodoviário, do centro relativo da projeção no solo (“footprint”) da carga, esta
combater a fraude e travar a deterioração das estradas. tenderá a voltar-se sobre a direção em que o centro de gravidade
está mais próximo dos limites dessa projeção. Para uma carga
As medidas – peso por eixo e peso total – assim como a velocidade muito pesada, a posição do centro de gravidade pode ser
e uma foto do veículo são enviadas para uma estação localizada importante para um posicionamento e acondicionamento
a cerca de dez quilómetros, na área de serviço de Valletta, onde a corretos dessa carga no veículo, de modo a garantir a sua
polícia pode intercetar agir os infratores. adequada distribuição.
Não esquecer que o excesso de carga resulta ainda em sanções
para o motoristas. Quanto mais elevado for o centro de gravidade do conjunto

22
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

veículo/carga considerado como um todo, maior será a Contentores ISO


probabilidade de o conjunto capotar.
O contentor é uma unidade
2. 8 - Tipos de embalagens e suportes para para transporte de carga
estando normalmente equipado
a carga com um encaixe em cada um
Euro palete dos cantos, a fim de permitir a
sua movimentação através de
A palete mais comum utilizada no transporte de mercadorias é a equipamento especial. Poderá apresentar-se sob a forma de caixa,
EURO palete (ISO 445-1984). É feita essencialmente em madeira, “grade”, ou tanque especialmente concebido para o transporte
sendo as dimensões normalizadas 800 x 1200 x 150 mm. porta-a-porta por via marítima, aérea, rodo ou ferroviária.

O contentor obedece a dimensões normalizadas definidas pelos


padrões ISO, o que facilita a sua manipulação, acondicionamento
e transporte.

2. 9 - Principais categorias de mercadorias


Quando são carregadas numa palete caixas de carga com tamanho
igual ou inferior à mesma, a palete constitui um porta cargas que necessitam de acondicionamento
idêntico a uma plataforma de carga sem painéis laterais. Devem
ser adotadas medidas para evitar que a carga oscile ou tombe As secções seguintes apresentam exemplos de possíveis formas de
da palete, nomeadamente através de dispositivos de amarração acondicionamento de vários tipos de volumes e cargas. A variedade
idênticos aos descritos supra. O atrito entre as superfícies da carga de cargas, veículos e condições de operação tornam impossível
e da palete é, por conseguinte, importante para o cálculo do abranger todas as situações que é possível encontrar e, nesse
acondicionamento da carga. Devem igualmente ser tidos em conta sentido, as presentes orientações não devem ser consideradas
o peso da carga e a relação altura/largura da palete carregada. exaustivas ou exclusivas. Existem atualmente métodos
Neste caso, o peso da palete carregada corresponde ao peso de alternativos de acondicionamento da carga satisfatórios – que
uma secção de carga. proporcionam níveis de segurança equivalentes em matéria de
acondicionamento – e outros serão desenvolvidos no futuro. No
Pode ser utilizada qualquer forma de entanto, os princípios básicos descritos nas presentes orientações
acondicionamento da carga na palete, continuarão a ser aplicáveis, independentemente do método
por exemplo, dispositivo de amarração, utilizado para acondicionar a carga.
capa de película retráctil, etc., desde que
a palete consiga suportar um ângulo de Rolos, tambores ou cargas cilíndricas
inclinação mínimo de 26° sem qualquer
sinal de distorção. Rolos rígidos, tambores ou cargas cilíndricas, com formas rígidas,
podem ser estivados com o diâmetro na horizontal ou na vertical.
A posição com o diâmetro na horizontal é geralmente utilizada se
Palete com rodas for necessário proteger e preservar a superfície da capa e a forma
cilíndrica (por exemplo, rolos de papel).
As paletes com armação metálica são Os rolos ou volumes cilíndricos com o diâmetro na posição
frequentemente utilizadas para transporte horizontal devem, preferencialmente, ser colocados com os
de géneros alimentícios. O acondicionamento respetivos eixos ao longo do veículo, de modo a que a tendência
das paletes com rodas com recurso a disposi- de rolamento, geralmente evitada com a colocação de calços de
tivos de travamento é particularmente eficaz; travamento ou calços de apoio, seja direcionada para a frente ou
no entanto, podem ser utilizados sistemas para trás.
alternativos.
23
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

O acondicionamento de volumes cilíndricos deve ser efetuado Caixas


de modo a que a carga possa ser descarregada de forma segura
e controlada. A utilização de calços pontiagudos permite obter As caixas, tais como outras mercadorias, devem ser carregadas de
condições de carga e descarga seguras e controladas. modo a evitar que se desloquem em qualquer direção. Sempre que
possível, devem estar interligadas e ser carregadas a uma
Rolos de papel altura uniforme em cada linha ao longo do veículo (secção de
carga). Para calcular a quantidade de carga a acondicionar a fim
Exemplo de rolos de papel dispostos em duas camadas e duas de evitar o deslizamento e a queda, devem ser tidos em conta o
filas, com a camada superior incompleta, estivados numa tamanho e o peso de cada secção. Se a altura da carga exceder
plataforma plana equipada com painéis laterais: a altura dos painéis laterais e não forem utilizadas vigas de
bordadura, deve existir, no mínimo, um dispositivo de amarração
por cada secção.

Sacos, fardos e sacas


As sacas não têm normalmente uma forma rígida e devem, por
isso, ser amparadas. Este fato é particularmente verdadeiro nos
casos em que o painel de proteção da cabina e os painéis laterais
e traseiros não possam ser utilizados para travamento. É possível
utilizar materiais de enchimento, painéis, divisórias de carga e
protetores de extremidades para obter um efeito de travamento.

Tambores
Assistiu-se, nos últimos anos, a um aumento significativo da
utilização de tambores e barris com os tamanhos e formas mais
variados, fabricados em plástico em vez de metal. As superfícies
plásticas, especialmente quando húmidas, são muito
escorregadias, devendo ser tomadas precauções adicionais durante O acondicionamento de fardos é idêntico ao acondicionamento
o carregamento, descarregamento e a cobertura. É particularmente das sacas. A diferença consiste em que, normalmente, o material
importante saber que o plástico pode deformar-se quando é a transportar em fardos (resíduos de papel, forragem, roupas,
aplicada uma pressão. etc.) pode não estar bem acondicionado na respetiva embalagem.
Assim, se existirem possibilidades de qualquer parte da carga se
libertar, esta deve ser totalmente coberta com um toldo depois de
estar acondicionada.

24
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Chapas metálicas planas de topo ou em laço são capazes de proporcionar retenção lateral
adequada mas, se utilizados isoladamente, a retenção frontal será
Quando são transportadas chapas ou folhas laminadas de vários fornecida unicamente pelo atrito. É possível obter uma
tamanhos, as de menor dimensão devem, normalmente, ser quantidade de atrito adequada para impedir movimentos
carregadas em cima e na parte da frente do veículo contra o painel longitudinais, através de um número suficiente de dispositivos
de proteção da cabina ou outro dispositivo de travamento, de de amarração para produzir a força descendente necessária; no
modo a que não possam oscilar frontalmente. entanto, deve ser utilizado um sistema adicional de retenção
longitudinal, tal como um sistema de travamento ou de amarração
As chapas metálicas “oleadas” devem ser agrupadas. Para efeitos com lançantes.
de acondicionamento da carga, estes grupos devem ser tratados
como caixas comuns. As chapas planas podem, por vezes, ser Sempre que possível, de
carregadas e fixadas nas paletes. modo a proporcionar retenção
longitudinal, a carga deve estar
Segue-se um exemplo de chapas ou painéis numa plataforma em contato com o painel de
plana equipada com escoras laterais. Para cargas deste tipo, com proteção da cabina ou com o
elevada densidade, é particularmente importante ter em painel traseiro ou ser
consideração a distribuição da carga. adequadamente acondicionada
por travamento. A altura da
carga não deve nunca exceder a altura do painel de proteção da
cabina, recomendando-se que sejam utilizados pinos laterais ou
escoras, no mínimo, à mesma altura da carga, de modo a
proporcionar retenção lateral adicional e facilitar o
descarregamento seguro da carga.

Se os volumes forem empilhados, os mais pesados devem ser


colocados no fundo e os mais leves no cimo. Nenhuma camada
deve ser mais larga do que a camada que lhe está imediatamente
Secções longas abaixo.

As secções longas são normalmente transportadas ao longo do


comprimento do veículo e podem colocar problemas específicos, Vigas
uma vez que uma secção pode atravessar facilmente o painel de
proteção da cabina ou mesmo a cabina do condutor se for As vigas e os perfis devem ser normalmente estivados em calços de
permitido o seu deslocamento. Por esse motivo, é essencial que o apoio e fixados com dispositivos de amarração com cintas de fibra
veículo seja carregado e acondicionado de modo a que o sintética em laço. O exemplo seguinte mostra vigas ou perfis numa
conjunto total da carga forme uma unidade e nenhuma parte plataforma plana sem escoras laterais. A fixação longitudinal não
possa mover-se independentemente. Uma parte saliente posterior foi considerada no exemplo.
longa também pode provocar problemas consideráveis no que
respeita à distribuição do peso e pode resultar em perda de
estabilidade, direção ou capacidade de travagem devido a uma
baixa carga axial na frente.

A carga deve ser sempre imobilizada por meio de dispositivos de


amarração, preferencialmente correntes ou cintas que devem ser
presas ao veículo através de pontos de amarração adequados. É
fundamental ter consciência de que os dispositivos de amarração

25
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Bobinas de amarração para proporcionar a necessária retenção da carga.


Em alternativa, por exemplo, quando não existem veículos
Para evitar confusões de terminologia, nos parágrafos seguintes, especializados disponíveis, as bobinas podem ser transportadas em
uma bobina com o centro oco ou o diâmetro na posição horizontal paletes com calços de apoio, conforme mostrado abaixo.
é referida como “com diâmetro horizontal” e uma bobina com
o centro oco ou o diâmetro na vertical é referida como “com Para cargas deste tipo, com elevada densidade, é particularmente
diâmetro vertical”. Uma bobina pode ser uma bobina única ou um importante ter em atenção a distribuição da carga.
conjunto de bobinas agrupadas com os diâmetros em linha, de
modo a formar uma unidade cilíndrica. As bobinas devem ser firmemente presas ao “berço” com, pelo
menos, dois dispositivos de amarração com cintas ou por um
Antes do carregamento, as cintas e a embalagem da bobina devem sistema homologado de cintas de aço. Os dispositivos de
ser examinadas a fim de verificar se estão intactas e não existe o amarração devem estar em contato com as superfícies da bobina e
risco de se separarem durante o percurso. Quando são utilizadas dos calços de madeira mole.
cintas para fixar bobinas e paletes juntas, é importante notar que
as cintas apenas são suficientemente fortes para manter a bobina Se não for utilizada uma calha, as bobinas, ou as unidades bobina
e a palete juntas durante a carga e a descarga, não durante o e berço, devem ser acondicionadas por meio de correntes ou cintas
percurso. com dispositivo de tensionamento incorporado. Para efeitos de
fixação, cada linha de bobinas, ao longo da secção de carga do
Deste modo, é necessário fixar toda a unidade ao veículo. Fixar só veículo, deve ser considerada e amarrada separadamente.
a palete não é suficiente.
As bobinas pesadas de chapa metálica são normalmente estivadas
em calços de apoio e com dispositivos de amarração com cintas de
fibra sintética em laço.

BOBINAS DE FOLHA LARGA - DIÂMETRO HORIZONTAL

As bobinas com diâmetro vertical são normalmente carregadas em


veículos com plataforma e constituem uma das cargas mais difíceis
de acondicionar. A figura abaixo mostra um sistema de retenção
adequado que emprega um dispositivo cruciforme que pode ser
utilizado com correntes ou cintas para acondicionar bobinas de
grandes dimensões com diâmetro vertical. A bobina é colocada no
centro do veículo e o dispositivo cruciforme é colocado no cimo da
bobina com os encaixes localizados no interior do diâmetro.

Estas bobinas, quando carregadas com diâmetro horizontal, O dispositivo cruciforme deve ser posicionado com o canal de
devem ser transportadas preferencialmente em veículos com uma abertura ao longo da linha do veículo para acomodar um
calha para bobinas (calço de apoio) na plataforma de carga. Sem dispositivo de amarração convencional com correntes de
fixação adicional, é provável que as bobinas se movam na calha, amarração. As amarras devem ser fixadas nos pontos de
pelo que deve ser utilizado um número suficiente de dispositivos ancoragem do veículo e tensionadas da forma normal.

26
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

É possível acondicionar estas Devem ser colocados calços de travamento, com 50 x 50 mm, ao
bobinas sem utilizar o gancho longo e por baixo dos rolos, de modo a mantê- los imóveis quando
mencionado, mas as cintas ou as os rolos da camada superior são carregados e colocados nos
correntes devem ser posicionadas “encaixes” formados pela camada inferior.
cuidadosamente a fim de impedir
por completo qualquer movimento. De acordo com a figura seguinte, são utilizadas amarrações
envolventes (2) firmemente entre as camadas, de modo a que a
As cargas densas de volume camada inferior forme um travamento firme da camada superior.
relativamente pequeno, tais como Devem ser utilizadas amarrações em laço (1) e com cintas à volta
as bobinas, podem requerer uma concentração de pontos de dos rolos da camada inferior, de modo a “formar” travamentos
ancoragem fortes para obter uma localização adequada dos suspensos de ambos os lados de todos os rolos da camada.
dispositivos de tensionamento.

Para bobinas de elevada densidade, é particularmente importante


Unidades de grande porte e peças vazadas
ter em consideração a distribuição da carga.
As unidades de grande porte e as peças vazadas devem,
normalmente, ser acondicionadas através de correntes de
As bobinas mais leves são, por vezes, embaladas em paletes. Estas
amarração e dispositivos de travamento adequados.
unidades devem ser tratadas em conformidade com as orientações
fornecidas para o acondicionamento de bobinas com diâmetro
horizontal embaladas em paletes.

Fios metálicos em bobinas, hastes ou barras


Fios metálicos em bobinas, hastes ou barras devem,
preferencialmente, ser agrupados de modo a formarem rolos
contínuos e firmes e estivados ao longo da plataforma, conforme
apresentado na figura abaixo. Estes grupos devem ser dispostos de
modo a que seja obtido um intervalo de aproximadamente 10 cm O volume é colocado numa base de madeira (3) e fixado
entre a carga e a aresta lateral da plataforma. lateralmente por meio de correntes com amarração em laço (2)

O primeiro e o último rolo da camada base devem ser firmemente O volume é acondicionado longitudinalmente por meio de
estivados contra o taipal frontal e o travamento posterior. Os travessas de travamento à frente (4) e atrás (5). Para obter um
outros rolos da camada base são distribuídos uniformemente entre travamento eficaz neste caso, a travessa de travamento deve ser
o primeiro e o último rolo, paralelos a estes. Os intervalos entre os levantada através de ressaltos em madeira (6), sendo depois
rolos não devem ser superiores a metade do raio do rolo. chanfradas as travessas de espaçamento.

Deve ser utilizada uma travessa de travamento dupla, conforme


indicado na figura supra, sempre que forem utilizadas duas vigas
de suporte atrás e/ou na frente de uma plataforma plana
convencional para absorver as forças aplicadas ao painel de
proteção frontal ou ao painel traseiro. Se o painel de proteção
da cabina ou o painel traseiro (painel traseiro, taipal traseiro ou
porta traseira) se destinarem a absorver forças longitudinais
distribuídas uniformemente ao longo de toda a largura da
plataforma de carga, deve ser utilizada uma travessa de

27
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

travamento tripla (com três travessas de espaçamento). É Se existir qualquer possibilidade de contato entre partes
necessário ter em atenção que as travessas de travamento devem metálicas, deve ser colocada uma divisória de carga entre a carga
ser fixadas lateralmente, a menos que a plataforma esteja e a plataforma para aumentar o atrito.
equipada com painéis laterais e as travessas transversais abranjam
toda a largura da plataforma. São aplicadas de modo simétrico, lateral e longitudinalmente,
quatro amarrações (1), feitas com correntes ou outro equipamento
Para cargas de elevada densidade, é particularmente importante de amarração adequado, entre as fixações do volume e os bordos
ter em consideração a distribuição da carga. da plataforma.

Cargas Suspensas
As cargas suspensas, por exemplo,
carcaças, devem ser
adequadamente acondicionadas
a fim de evitar as oscilações ou
qualquer tipo de deslocamento
inaceitável no interior do veículo.
Se este deslocamento ocorrer, o
O volume é colocado dos dois lados dos dispositivos extensíveis
centro de gravidade da carga e do
de travamento (2) com uma base (3) e cunhas de apoio (7) em
veículo deslocar-se-á, afetando a dinâmica de condução do veículo,
madeira e também com travessas transversais (8) que transmitem
o que a torna instável ao ponto de se tornar incontrolável e
a força lateral ao bordo da plataforma. A base deve estar situada
provocar um acidente, por exemplo, o capotamento do veículo.
cerca de 5 mm acima da travessa transversal (em aço) para evitar
o contato de aço com aço. Cada dispositivo extensível deve possuir
Se não forem bem acondicionadas, as cargas suspensas começam
uma resistência adequada, de preferência com uma margem de
a oscilar longitudinalmente em resultado da aceleração ou
segurança aceitável.
desaceleração do veículo e continuarão a oscilar na mesma
direção, mesmo que o veículo mude de direção. Isto significa que,
Pressupõe-se que o volume e o bordo da plataforma conseguem
depois de o veículo ter efetuado uma viragem de 90°, a
suportar cargas elevadas. Se não for o caso, o número de
carga pendente oscilará transversalmente; esta situação é
dispositivos extensíveis deve ser aumentado, a que corresponderá
obviamente indesejável, uma vez que pode provocar o descontrolo
uma força menor. Se forem utilizados mais do que 2 dispositivos,
do veículo ou mesmo o seu capotamento.
então todas as camadas base devem ser fixadas longitudinal-
mente, na medida em que com 3 ou mais dispositivos a situação
Os veículos utilizados no transporte de carcaças animais devem
da carga estática é indeterminada (a carga poderia assentar
estar equipados com calhas e ganchos deslizantes. As calhas
apenas em alguns dos dispositivos instalados).
devem estar equipadas com charneiras fixas de ‘calço’, com
intervalos de 1 a 1,5 m, para impedir a ondulação ou o
O volume deve ser fixado longitudinalmente por meio de travessas
deslizamento das carcaças devido ao movimento do veículo ou
de travamento à frente (4) e atrás (5), concebidas para a força de
a uma travagem. Ao carregar o veículo, as carcaças devem ser
pressão calculada. As escoras posteriores (9), presas à plataforma,
distribuídas uniformemente em todas as calhas e os calços devem
devem ter a resistência adequada.
estar aplicados. Se houver lugar a descarga parcial, a carga
restante deve ser redistribuída uniformemente e os ‘calços’ devem
A grande secção de carga acima apenas pode ser colocada
ser aplicados novamente.
diretamente numa plataforma plana se uma das superfícies de
contato for em madeira ou num material com propriedades de
O chão do veículo deve estar sempre livre de qualquer risco de
atrito equivalentes.
deslizamento, tal como sangue ou outra substância escorregadia.

28
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Cargas líquidas a granel possível de modo a obter a melhor estabilidade possível quando
o veículo trava, acelera ou muda de direção. As mercadorias
Com cargas líquidas ou cargas com um comportamento idêntico ao pesadas, em particular, devem ser colocadas o mais baixo e o mais
dos líquidos (por exemplo, grão ou farinha, muitas vezes perto possível do centro da plataforma do veículo. As cargas axiais
transportados em tanques), é provável que ocorram os problemas também devem ser tidas em consideração.
de movimento aplicáveis às cargas suspensas (consultar secção
6.13). Se os tanques, ou outras unidades de transportes similares, RESISTÊNCIA DA EMBALAGEM
estiverem parcialmente cheios, a carga mover-se-á se o veículo A carga com embalagem pouco resistente é geralmente leve. Por
acelerar, desacelerar ou mudar de direção. Este fato altera o este motivo, as cargas com embalagens mais frágeis podem ser
Centro de Gravidade (CdG) da carga e de todo o veículo e/ou normalmente colocadas nas camadas superiores sem criar
inicia um processo de oscilação (ou seja, uma mudança contínua problemas de distribuição de peso. Se tal não for possível, a carga
do CdG) da carga. O comportamento dinâmico do veículo é afetado deve ser separada em diferentes secções de carga.
e pode tornar-se instável ao ponto de ficar incontrolável e causar
um acidente como, por exemplo, o capotamento do veículo. TRAVAMENTO
Utilizando uma combinação adequada de vários tamanhos de
Sempre que possível, os tanques devem estar quase totalmente embalagens retangulares, é possível obter com facilidade um
cheios com líquido ou vazios (requisitos ADR: mais de 80% ou sistema de travamento satisfatório contra o painel de proteção da
menos de 20% para tanques com capacidade superior a 7.500 cabina, os painéis laterais e o painel traseiro.
litros) para evitar os efeitos acima referidos. Sempre que
necessário, devem ser adotadas medidas adicionais para evitar os MATERIAL DE ENCHIMENTO
movimentos das cargas em tanques parcialmente cheios como, por Os espaços vazios que possam resultar das diferenças de tamanho
exemplo, a utilização de tanques equipados com divisórias. e de forma das unidades de carga devem ser preenchidos a fim de
proporcionar sustentação e estabilidade suficientes à carga.
É necessário ter em atenção que as questões relativas ao
acondicionamento de cargas líquidas ou a granel não são PALETIZAÇÃO
abrangidas na sua totalidade nas presentes orientações. As paletes permitem que partes individuais da carga e mercadorias
de dimensões e natureza idênticas possam constituir unidades de
carga. A carga em paletes pode ser manuseada mais facilmente
Requisitos para cargas específicas por meios mecânicos, o que reduz o esforço necessário para a
manusear e transportar. As mercadorias em paletes devem ser
Quando são estivados vários tipos de carga em porta cargas, as acondicionadas cuidadosamente na palete.
dificuldades resultam principalmente das diferenças de peso e de
forma das unidades de carga. As diferenças entre a resistência das
embalagens e as caraterísticas das mercadorias podem apresentar Cargas de madeira
riscos, individualmente ou em conjunto com outras, e constituem
motivos suficientes para uma atenção cuidada. As mercadorias A presente secção destina-se a fornecer orientações gerais sobre
perigosas podem também fazer parte da carga e estas obrigam a as medidas necessárias para o transporte seguro de madeira, a
especial cuidado. granel ou de serração. A madeira é uma mercadoria “instável”, o
que pode conduzir a movimentos independentes de partes da
Esta área específica do acondicionamento de carga é bastante carga se a retenção não for adequada. É essencial que a madeira
abrangente, com variadas combinações, o que torna difícil uma não seja carregada em altura ou de modo a provocar a
abordagem em termos de dados quantificáveis. No entanto, são instabilidade do veículo ou da carga.
apresentadas, a seguir, algumas orientações gerais.
Como qualquer outro tipo de carga, é importante verificar se,
DISTRIBUIÇÃO DO PESO sempre que possível, a carga é colocada contra o painel de
Sempre que se procede à estiva de unidades de carga no proteção da cabina ou outro dispositivo fixo de retenção idêntico.
porta cargas, o centro de gravidade deve ser tão baixo quanto Se tal não for possível, então a retenção necessária deve ser obtida
através de amarrações.
29
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Madeira de serração Não se recomenda o transporte de toros empilhados


transversalmente (dispostos através do veículo) e suportados pelo
A madeira de serração é geralmente transportada em embalagens painel de proteção da cabina e pelo suporte traseiro
homologadas que cumprem os requisitos da norma ISO4472 (chumaceira); é mais seguro transportá-los longitudinalmente
e outras normas equivalentes. É necessário ter em conta que (dispostos ao longo do comprimento do veículo) em várias pilhas,
qualquer cobertura de plástico colocada sobre a madeira reduzirá suportadas individualmente por suportes verticais (escoras).
o coeficiente de atrito, o que obrigará à utilização de mais
dispositivos de amarração. Estes volumes são geralmente atados TOROS EMPILHADOS LONGITUDINALMENTE
com correias ou presos com fios metálicos nas extremidades e, Cada toro ou peça de madeira saliente devem ser travados por, no
antes de serem carregados, é necessário verificar as correias para mínimo, dois suportes verticais (escoras) que devem ter a
efeitos de segurança. Se as correias estiverem danificadas ou resistência suficiente ou estar dotados de correntes de topo para
pouco firmes, é necessário verificar com particular atenção se a impedir que a carga se espalhe. Os toros inferiores à distância
totalidade da carga se encontra acondicionada adequadamente no entre dois suportes verticais devem ser colocados no centro da
veículo. carga; os toros salientes devem, de preferência, ser carregados
com o topo para a frente e para trás alternadamente, de modo
a assegurar uma distribuição uniforme da carga. Se um toro for
suportado por duas escoras verticais, as extremidades devem
prolongar-se, no mínimo, 300 mm para além das escoras.

O centro de qualquer toro saliente do topo não deve estar mais


elevado do que a escora. O toro central do topo deve estar mais
alto do que os toros laterais para ‘coroar’ a carga e permitir que
As embalagens normalizadas deste tipo devem, preferencialmente, esta seja tensionada corretamente pelas amarrações, conforme
ser estivadas em plataformas planas equipadas com escoras ilustrado abaixo:
centrais ou taipais laterais e fixadas com amarrações de topo.

O veículo deve estar equipado com um painel de proteção da


Toros de madeira cabina, em conformidade com a norma EN12642 e a carga não
deve estar a uma altura superior ao painel de proteção.
Os princípios gerais de distribuição da carga devem ser respeitados
e é importante assegurar que, sempre que possível, a carga é As amarrações de topo (1) devem ser apertadas sobre cada uma
colocada contra o painel de proteção da cabina ou equipamento das secções de carga (pilha de toros) nas seguintes quantidades:
de retenção idêntico. É recomendada a utilização de correntes ou a) No mínimo, uma, se a secção da carga for constituída por toros
cintas de amarração e todas as amarrações devem ser capazes de ainda com casca, ate um comprimento máximo de 3,3 m.
ser apertadas com uma cavilha ou um tensor de fixação. A carga b) No mínimo, duas, se a secção da carga exceder 3,3 m ou,
e as amarrações devem ser inspecionadas antes da passagem de independentemente do comprimento, a casca tiver sido removida.
uma estrada florestal para uma estrada nacional e inspecionadas
com intervalos regulares durante a viagem e, se necessário, serem
apertadas novamente.

30
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

As amarrações de topo devem ser colocadas transversalmente Contentores de grandes dimensões ou


entre os pares frontais e traseiros de escoras laterais de cada
secção da carga. A utilização de uma única corrente esticada entre volumes pesados e grandes
os suportes verticais, mesmo que bem fixada, não constitui um
sistema de retenção suficiente. Os contentores ISO e os porta cargas idênticos com pontos de
ancoragem para fechos rotativos ou mecanismos de travamento
idênticos devem, preferencialmente, ser sempre transportados
em plataformas de carga equipadas com sistemas de travamento
de contentores. No entanto, os contentores de grandes dimensões
destinados ao transporte rodoviário, com ou sem carga, com uma
TOROS EMPILHADOS TRANSVERSALMENTE massa total inferior a 5,5 toneladas, podem, em alternativa, ser
Os toros empilhados transversal- acondicionados conforme recomendado para uma caixa única, mas
mente ao longo de um veículo com travessas de madeira adicionais em combinação com
de caixa aberta não podem ser amarrações de topo em cada extremidade do contentor (ver
acondicionados adequadamente instruções infra). Se o comprimento da travessa de madeira for
através de sistemas de retenção inferior ao comprimento total do contentor, a travessa deverá ter
convencionais. A passagem um comprimento mínimo de 0,25 m por tonelada da massa do
transversal de cintas ou correntes contentor. Ao contrário das cargas formadas por caixas normais,
a partir da frente do veículo ao que distribuem a respetiva massa por uma grande superfície, os
longo do topo dos toros até à traseira não constitui um sistema de contentores são concebidos para serem assentes sobre os suportes
retenção de carga aceitável. Se os toros forem transportados com fechos rotativos ou pés salientes em cada canto. No caso
transversalmente, devem ser utilizadas barreiras laterais de contentores de grandes dimensões, este sistema gera pontos
adequadas e a altura da carga não deve exceder estas barreiras. de carga elevados que podem esforçar demasiado uma base de
plataforma comum.
Troncos inteiros Os volumes pesados e grandes
podem ser acondicionados através
O transporte de troncos inteiros é uma área muito especializada de amarrações de topo, conforme
do sector de transporte de madeiras e é normalmente efetuado recomendado para caixas. Por
utilizando atrelados ou veículos nos quais os toros são fixados forma a manter a estabilidade
numa das extremidades de um apoio acoplado. Os veículos devem do veículo, o volume deve estar
estar equipados com chumaceiras e escoras com resistência colocado na posição especificada
suficiente para reter a carga. A carga deve ser fixada por meio de ao longo da plataforma. As folgas
correntes ou cintas de fibra sintética, sendo geralmente utilizadas, entre o volume e os taipais frontal
no mínimo, três correntes ou cintas, uma das quais deve prender e traseiro podem ser preenchidas
as extremidades dos toros salientes ou o centro de uma carga com com material de travamento adequado, de modo a obter o
formas irregulares. acondicionamento adequado.
Deve ser possível fixar as amarrações utilizando uma cavilha ou A maioria dos contentores utilizados é construída em conformidade
um tensor de fixação. com as normas internacionais (ISO 1496). Estes contentores estão
normalmente equipados com cantoneiras especiais que, quando
utilizadas em conjunto com fechos rotativos correspondentes
instalados no veículo, constituem um sistema de retenção simples
e eficaz.

Os contentores ISO carregados com peso inferior a 5,5 toneladas


devem ser transportados apenas em veículos equipados com fechos

31
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

rotativos. Desde que todos os fechos rotativos estejam totalmente Contentores amovíveis
engatados e travados na posição correta, o contentor está
devidamente acondicionado e não são necessários sistemas de Os contentores amovíveis, quando carregados no veículo de trans-
retenção adicionais. Os fechos rotativos devem ser mantidos em porte, devem ser devidamente acondicionados a fim de impedir
boas condições de funcionamento e devem ser utilizados, no o seu deslocamento quando são sujeitos às forças encontradas
mínimo, quatro por cada contentor transportado. durante a circulação do veículo. Os braços de suspensão devem
estar na posição de viagem correta e as correntes de carga devem
ser estivadas adequadamente antes de o veículo circular.

Os contentores amovíveis podem, em alternativa, ser transpor-


tados em veículos, desde que acondicionados em segurança com
correntes ou cintas de fibra sintética adequadas. Podem ocorrer
Contentor vazio sobre plataforma vazia sem fechos rotativos
problemas com contentores amovíveis devido ao fato de o
mas equipada com taipais laterais condutor não ter qualquer controlo sobre a forma como o
contentor foi enchido ou sobre o seu conteúdo.

No entanto, quando o contentor amovível é aceite para carrega-


mento, o condutor deve assumir a responsabilidade pelo trans-
porte seguro do contentor e do seu conteúdo. Deve ser utilizada
uma lona ou uma rede se existir risco de queda do conteúdo do
contentor ou deslocamento do mesmo a partir do topo do
compartimento de carga por ação de turbulência do ar.

Contentor vazio sobre plataforma sem fechos rotativos ou taipais laterais

Caixas moveis sem sistemas de travamento


de contentores
As caixas móveis que não possuem cantoneiras ISO podem estar
equipadas com placas de fixação ou anéis de amarração especiais.
Contentor amovível sobre uma plataforma plana com braço de suspensão
Deste modo, os sistemas seguros de fixação deste tipo de
contentores variam de acordo com o tipo de carga transportada,
mas o sistema de retenção utilizado deve cumprir os requisitos de
segurança da carga.

As amarrações ou outros dispositivos de acondicionamento apenas


devem ser fixados a pontos do contentor concebidos para este
efeito ou para manuseamento mecânico quando carregados, tais
como anéis de amarração ou placas de fixação especiais. Os pontos
de fixação no contentor devem ser inspecionados para garantir que
estão em boas condições de funcionamento; devem ser
utilizados todos os pontos de fixação para acondicionar o contentor
na plataforma do veículo.
Contentor amovível sobre uma plataforma plana com braço de suspensão

32
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Estiva de mercadorias em contentores É necessário verificar sempre se as portas estão fechadas e os


mecanismos de fecho estão a funcionar corretamente.
Os contentores ISO normalizados e os contentores similares
possuem normalmente dispositivos de suporte suficientes para
fixar a carga em várias direções. Normalmente, apenas são
necessários enchimentos com madeira ou almofadas de ar nos
lados e na frente. Devem ser tomadas as medidas adequadas para
garantir que a carga e os eventuais dispositivos de travamento não
tombem quando as portas forem abertas. Tambores soltos em pilha dupla num contentor, duas camadas de quatro filas

O carregamento incorreto de um contentor pode provocar


situações perigosas quando o contentor é manuseado ou Tambores de aço, estivados em
pilha dupla e fixados com cintas
transportado e pode afetar de forma negativa a estabilidade do
tensionáveis.
veículo. Além disso, pode provocar danos graves na carga.
Contentor de 20 pés: 80 barris de aço
soltos acondicionados através de cintas
Em muitas situações, o condutor não tem controlo sobre o tensionáveis fixadas na estrutura do
acondicionamento de um contentor nem tem possibilidade de contentor
inspecionar o seu conteúdo quando o aceita para transporte. No
entanto, se existirem suspeitas de que não foi carregado com
segurança, o contentor deve ser recusado.
Cargas a granel soltas
Devem ser sempre observadas as seguintes regras gerais de estiva,
importantes para a segurança rodoviária: As cargas a granel soltas podem ser descritas genericamente
a) A carga não deve exceder a carga útil autorizada do contentor; como cargas que não se adaptam facilmente a qualquer forma
b) A carga deve ser distribuída uniformemente na superfície do de embalagem, por exemplo, areia, balastro, agregados, etc.
contentor. Nunca deve existir mais do que 60% da massa total da Para facilitar o carregamento, são normalmente transportadas
carga concentrada numa metade do comprimento do contentor. Se em veículos de caixa aberta. Os contentores amovíveis, utilizados
for o caso, pode ocorrer sobrecarga de um dos eixos; normalmente para o transporte de resíduos, também são
c) As mercadorias mais pesadas não devem ser estivadas sobre englobados nesta categoria.
mercadorias mais leves e, sempre que possível, o centro de
gravidade do contentor carregado deve estar situado abaixo do A queda de cargas a granel soltas tem maiores probabilidades de
ponto médio da sua altura; ocorrer sob a forma de pequenas quantidades de materiais que
d) A carga deve ser protegida no contentor contra quaisquer forcas caem através de folgas na carroçaria ou que são levantadas por
que possam razoavelmente ocorrer durante a viagem. Uma carga turbulências do ar a partir do topo do compartimento da carga.
cuidadosamente embalada tem menos tendência a deslocar-se do
que uma carga com folgas entre as suas secções. O compartimento da carga deve ser mantido em boas condições
para minimizar o risco de fuga.
Depois de concluída a embalagem do contentor, devem ser
adotadas medidas, se necessário, para garantir que a carga e as Deve ser prestada especial atenção à existência de danos ou
madeiras de estiva não tombem quando as portas forem abertas. deformações nos taipais laterais e traseiros, que pode levar
As cintas ou redes de amarração são normalmente adequadas facilmente à perda de parte da carga através de pequenas folgas.
para este efeito; em alternativa, pode ser construída uma barreira Todos os taipais traseiros e laterais devem ficar instalados
metálica ou em madeira. corretamente, de modo a evitar o derramamento de areias,
cascalho ou outras cargas soltas transportadas.

33
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Todos os pontos de fixação da carroçaria ao chassis, bem como • Os painéis são inclinados contra os cavaletes tipo A e amarrados
os acessórios da carroçaria, tais como gonzos e placas de fixação, com amarrações de topo.
mecanismos de fecho dos taipais traseiros, tensores dos taipais • Se necessário, o espaço entre as secções deve ser travado com
laterais, etc., devem estar em boas condições de funcionamento. material de enchimento adequado.

As partes laterais da carroçaria devem ser suficientemente altas,


não só para conter completamente a carga quando é carregada,
Máquinas de estaleiro / Equipamentos de
como também para reduzir o risco de queda ou de descarga sobre construção / máquinas móveis
o bordo de pequenas partes da carga que possam ter-se movido
durante a viagem. A secção seguinte fornece orientações sobre as medidas
necessárias para o transporte seguro de máquinas de estaleiro
O compartimento da carga deve ser coberto se existir risco de com lagartas e com rodas em veículos conformes com a Diretiva
queda ou de deslocamento para o exterior de parte da carga. O 96/53/87 CE (veículos sem restrições de circulação no espaço
tipo de cobertura utilizada depende da natureza da carga da UE). Não aborda o transporte de máquinas de grande porte,
transportada. etc., em veículos para fins especiais cuja utilização nas estradas
é restringida por autorizações. No entanto, as orientações gerais
Materiais como areia seca, cinza e limalha de ferro são contidas na presente secção aplicam-se a um grande número de
particularmente suscetíveis ao vento e devem ser cobertos casos.
adequadamente. A cobertura com uma rede pode, por vezes, reter
adequadamente cargas constituídas por peças grandes, tais como Recomenda-se que os fabricantes de máquinas de estaleiro
sucata metálica e resíduos de construção. Se for utilizada uma instalem pontos de amarração ou indiquem um sistema de
rede, o tamanho da malha deve ser inferior à peça mais pequena amarração recomendado para cada um dos seus veículos. No caso
transportada e a rede deve ser resistência suficiente para impedir das máquinas de estaleiro equipadas com pontos de amarração
a fuga de qualquer peça transportada. exclusivos para utilização em transporte, esses pontos devem
ser utilizados e o veículo protegido de acordo com as instruções
do fabricante. No caso de não existirem instruções do fabricante
Painéis estivados numa plataforma disponíveis, as amarrações ou os dispositivos de fixação apenas
com cavaletes tipo A devem ser fixados nos componentes da máquina de estaleiro que
possuam resistência suficiente para suportar os esforços que lhes
Painéis em betão, vidro ou serão impostos.
madeira, etc., podem ser
estivados numa plataforma As máquinas de estaleiro pesadas são transportadas em veículos
plana, utilizando cavaletes tipo construídos para o efeito, concebidos especialmente para facilitar
A. Os cavaletes devem, por sua as operações de carga e descarga e que são normalmente dotados
vez, ser fixados na plataforma de pontos de ancoragem adequados para fixar as amarrações. As
de carga. máquinas de estaleiro mais leves podem, em algumas
circunstâncias, ser transportadas em veículos normais. No entanto,
A secção dianteira é travada contra o taipal dianteiro e o espaço nestes casos, o sistema utilizado para fixar a carga deve
entre as secções da carga é travado com material de enchimento proporcionar um nível de segurança idêntico ao obtido com um
adequado. veículo construído especialmente.

• Se a carga não for estivada contra o painel de proteção da As cargas elevadas podem danificar pontes, etc., sobre as estradas,
cabina, é necessário efetuar um travamento a frente através de por isso, quando são transportadas, é essencial que o condutor
material de enchimento ou cintas de canto. saiba exatamente a altura da carga e a largura da mesma a essa
• Em alguns casos, é necessário efetuar travamento à altura.
retaguarda através de enchimento, travessas de travamento ou
cintas de canto.

34
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Além disso, as cargas com centro de gravidade elevado podem que os pesos máximos por eixo autorizados não sejam excedidos e
afetar seriamente a estabilidade do veículo, pelo que tais o manuseamento seguro do veículo não seja prejudicado. O espaço
componentes de máquinas de estaleiro apenas devem ser livre entre as partes inferiores dos veículos de carga baixos e a
transportados em veículos com uma altura baixa da plataforma. superfície da via deve ser verificado antes de iniciar o
movimento, de modo a determinar se existe espaço livre
Um veículo com lagartas ou rodas deve ser amarrado na posição suficiente para impedir que o veículo bata no chão.
correta no veículo de transporte, com o travão de
estacionamento acionado. A eficácia do travão de estacionamento, As máquinas com rodas e as máquinas ligeiras com lagartas
por si, é limitada pela resistência de atrito entre o veículo e a devem ser fixadas, de modo a que o efeito de solavanco causado
plataforma do veículo de transporte; mesmo em condições de pelos ressaltos no solo transmitido pelo veículo de transporte e
condução normais, este atrito é inadequado e deve ser aplicado amplificado pelos pneus ou unidades de suspensão da máquina
um sistema de retenção adicional ao veículo. Este sistema deve seja minimizado. Sempre que possível, a unidade de suspensão da
consistir num sistema de amarração com equipamento adicional máquina deve ser travada e o movimento vertical limitado por
que impeça a carga de se deslocar para a frente ou para trás, amarrações ou outro sistema de retenção. Caso contrário, a
através de um dispositivo de travamento fixado firmemente no estrutura da máquina ou o chassis devem ser apoiados em calços.
veículo. Estes equipamentos devem ser fixados nas rodas ou A menos que a máquina esteja apoiada, a área total de contato
lagartas ou noutra parte do equipamento transportado. das lagartas ou dos cilindros e, no mínimo, metade da largura do
pneu, devem ficar apoiados na plataforma do veículo de
Todos os sistemas móveis tais como gruas, suportes, plataformas transporte.
telescópicas e cabinas, etc., devem ser deixados na posição de
transporte recomendada pelo fabricante e ser fixados de modo a Se as lagartas excederem a estrutura do veículo de transporte, a
impedir o movimento em relação ao corpo principal da máquina. estrutura ou chassis da máquina deve ser apoiada.
A máquina deve ser fixada contra deslocamentos para a frente,
Antes da colocação da máquina no reboque, devem ser removidos para trás ou laterais através de correntes ou cintas de fixação
os materiais estranhos que possam desprender-se e obstruir a via fixadas nos pontos de ancoragem do veículo. Todas as amarrações
ou danificar outros veículos. A rampa, os pneus da máquina e a devem incorporar um dispositivo de tensionamento.
plataforma do próprio reboque não devem conter óleo, gordura,
gelo, etc., para evitar o deslizamento das máquinas. Depois de Ao decidir o número de pontos de ancoragem a utilizar ao aplicar
a máquina estar estivada e com o motor parado, a pressão do um sistema de retenção, devem ser considerados os fatores
sistema hidráulico deve ser aliviada, movendo todos os manípulos seguintes:
de controlo ao longo das respetivas posições. Esta operação deve a. A necessidade de posicionar a maquina para obter a distribuição
ser efetuada, no mínimo, duas vezes. Os controlos devem ser correta da carga para cumprir os requisitos legais de carga por
regulados de modo a impedir o movimento de dispositivos eixo e garantir que o manuseamento do veículo não e prejudicado.
auxiliares durante o percurso. Sacos, conjuntos de ferramentas ou b. A existência de outras funcionalidades de retenção da carga no
outros objetos pesados não devem ser deixados soltos na cabina do desenho do veículo.
operador da máquina transportada; todos os dispositivos c. Se a maquina tem rodas, lagartas ou cilindros.
removidos da máquina, tais como baldes, garras, lâminas, pás e d. O peso da maquina a transportar.
dispositivos de suspensão, devem ser amarrados à plataforma do e. Devem ser utilizados, no mínimo, quatro pontos de ancoragem
veículo. separados.

A máquina deve ser posicionada na plataforma do veículo de As orientações seguintes são aplicáveis a máquinas de estaleiro
transporte de modo a que o movimento para a frente seja travado móveis – veículos equipados com guindastes, plataformas de
por parte da carroçaria do veículo, por exemplo, pescoço de ganso trabalho, patolas, etc.
ou painel de proteção da cabina, ou por um membro transversal a. As cargas elevadas podem danificar as pontes e e essencial que
acoplado fixado à estrutura do chassis do veículo através da o condutor saiba a altura do veículo e a tenha afixada no interior
plataforma. Além disso, a máquina de estaleiro e qualquer dos da cabina.
seus componentes removidos devem ser acondicionados de modo a b. Todos os componentes amovíveis devem ser colocados em

35
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

posição e travados, sempre que possível, de acordo com as Veículos


recomendações do respetivo fabricante para as operações de
transporte. Os veículos e reboques apenas devem ser transportados em
veículos adequados para o efeito. Estes veículos devem possuir
Além dos dispositivos de fixação especializados, a seleção de pontos de amarração adequados em termos de número, posição
materiais a utilizar nos planos de amarração para máquinas de e resistência. Em geral, os dispositivos de fixação devem seguir
estaleiro será limitada a correntes, cabos de aço, cintas e aos os mesmos princípios básicos sugeridos para o transporte de
dispositivos associados de tensionamento e acoplamento. máquinas de estaleiro, mas também devem ser considerados os
seguintes pontos adicionais:
Se for utilizada uma viga transversal (lado a lado) como sistema • O veículo ou reboque deve ser transportado com o travão de
de retenção, esta deve ser solidamente fixada, de modo a que estacionamento acionado;
todas as cargas nela exercidas sejam transmitidas à estrutura do • A direção deve estar travada e, preferencialmente, com as rodas
chassis do veículo de transporte. Se forem utilizados calços ou blo- bloqueadas;
cos para bloquear rodas ou cilindros individuais, estes devem ser • Se aplicável, a transmissão deve estar engrenada na velocidade
suficientemente robustos para resistir ao esmagamento e serem mais baixa possível;
solidamente fixados à plataforma do veículo, sempre que possível. • Se possível, os calços devem estar solidamente fixados à
plataforma do veículo de transporte.
As amarrações ou os dispositivos de fixação devem ser fixados
apenas nos componentes da máquina de estaleiro que possuam O veículo ou reboque transportado deve estar posicionado de
resistência suficiente para suportar os esforços que lhes serão modo a que o seu peso seja totalmente suportado pelo veículo de
impostos. Se as máquinas de estaleiro estiverem equipadas com transporte. Se necessário, devem ser utilizadas placas de
pontos de amarração específicos para serem utilizados quando distribuição para evitar concentrações elevadas de carga
são transportadas, esses pontos devem ser utilizados e o veículo provocadas, por exemplo, pelas patolas de um semirreboque.
deve ser fixado em conformidade com as instruções do fabricante.
É necessário prestar especial atenção às amarrações em pontos de A retenção proporcionada pelo atrito entre os pneus e a
suspensão, uma vez que estes poderão não ser adequados para plataforma com o travão de estacionamento ativado não é
efeitos de retenção. suficiente para impedir o movimento. O veículo ou reboque
transportado deve ser amarrado ao veículo transportador por meio
A máquina carregada deve ser inspecionada depois de o veículo de equipamento de amarração adequado. Deve ser utilizado um
ter percorrido um pequena distância, de modo a verificar se não dispositivo de tensionamento em cada amarração e as amarrações
ocorreu qualquer deslocamento da carga e se os dispositivos de utilizadas para fixar os movimentos longitudinais devem estar
retenção estão solidamente fixados. Devem ser efetuadas posicionadas num ângulo inferior a 60° do plano horizontal a
inspeções periódicas durante o percurso. fim de obter a eficácia máxima. As amarrações devem ser sujeitas
a ensaios da tensão adequada depois de o veículo ter percorrido
alguns quilómetros e regularmente durante a viagem, devendo ser
novamente tensionadas se necessário.

As amarrações devem ser efetuadas nas partes dos eixos ou dos


chassis dos veículos ou reboques que sejam adequadas para o
efeito. Devem ser adotadas medidas para não deformar ou
danificar os outros componentes do veículo, tais como as tubagens
dos travões, mangueiras, cabos elétricos, etc., por ação de
amarrações sobre estes ou na sua proximidade.

Veículo com rodas, amarrado transversalmente ao reboque da maquina a partir O transporte de veículos carregados não é recomendado mas, se
dos pontos de fixação assinalados com ‘x’ for necessário, deve ser prestada atenção suplementar ao

36
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

consequente centro de gravidade elevado do veículo estes devem ser posicionados à frente das duas rodas traseiras,
transportado e à provável perda de estabilidade ao efetuar que também devem ser amarradas.
manobras de viragem ou travagens. Poderá igualmente ser
necessário colocar amarrações adicionais no chassis do veículo
ou do reboque transportado para o pressionar sobre as próprias
molas e, assim, evitar uma carga instável.

Todos os equipamentos soltos nos veículos ou reboques


transportados, bem como no veículo de transporte, devem ser Se o veículo for transportado numa plataforma com um ângulo
solidamente estivados. superior a 10° na direção da frente do veículo de transporte,
devem ser colocados dois calços à frente do par de rodas mais
Se for transportado mais do que um reboque ‘às cavalitas’, cada avançado e dois atrás do último par de rodas. As amarrações
reboque deve ser amarrado ao reboque no qual fica apoiado e, devem ser aplicadas às rodas dianteiras e traseiras.
em seguida, todos os reboques devem ser amarrados ao veículo de
transporte (ver figura abaixo).

Se não for possível posicionar calços à frente das rodas mais


avançadas, os calços podem, em alternativa, ser posicionados à
frente das rodas traseiras.
Reboques transportados num reboque

Transporte de automóveis, furgões e


pequenos reboques
Estes veículos devem preferencialmente ser fixados através de uma
combinação de sistemas de amarração e de travamento. Se o veículo for transportado numa plataforma com um ângulo
superior a 10° na direção da retaguarda, devem ser utilizados
Se um veículo for transportado numa plataforma horizontal ou calços. Os calços devem ser posicionados à frente das rodas mais
com uma inclinação máxima de 10° (ou seja, 1/6) na direção avançadas do veículo transportado. As amarrações devem ser
da frente, devem ser utilizados calços. Devem ser colocados dois aplicadas nas rodas que foram calçadas.
calços à frente das rodas dianteiras e dois atrás de qualquer par
de rodas. As amarrações devem ser aplicadas no par de rodas mais
avançado.

Se o peso total dos veículos exceder 3.500 daN, as amarrações


devem ser aplicadas nas rodas dianteiras e traseiras. Devem
igualmente ser colocados calços à frente e atrás de todas as rodas.
Se forem transportados reboques, a barra de reboque deve ser O travamento do movimento através do veículo de transporte deve
fixada adequadamente no dispositivo de acoplamento ou o mais ser efetuado através de flanges, calços, barras ou dispositivos
perto possível deste. idênticos solidamente fixados, apoiados firmemente nos lados das
rodas do veículo transportado até uma altura mínima de 5 cm.
Se não for possível colocar os calços à frente das rodas dianteiras,

37
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Se o veículo de transporte for especialmente concebido para o veículos, pode ser transportado sem ser amarrado. Mesmo se as
transporte de automóveis e reboques e se a plataforma de carga amarrações forem consideradas desnecessárias, o veículo deve
estiver equipada com calhas, limitadas por flanges com uma altura sempre ser sujeito a travamento.
mínima de 5 cm, permitindo um deslocamento livre máximo de
30 cm no veículo de transporte, serão cumpridos os requisitos de Para ser considerada uma plataforma de carga envolvida
travamento. lateralmente e por cima, o espaço da carga deve ser limitado pela
estrutura ou equipamento idêntico concebidos de modo a que o
Os calços ou cunhas utilizados veículo não possa razoavelmente abandonar o espaço em qualquer
para impedir o deslocamento direção.
longitudinal devem,
preferencialmente, ser
posicionados contra os pneus
Transporte de placas de vidro
dos veículos transportados.
O transporte de vidro por grosso deve normalmente ser efetuado
Os calços de travamento devem preferencialmente ter uma altura
em veículos construídos para o efeito, conforme descrito na secção
correspondente a um terço do raio da roda calçada e devem ser
seguinte. No entanto, se forem transportadas placas ou chapas
solidamente fixados para impedir o deslocamento ao longo da
de vidro em grades ou em paletes de madeira, serão aplicados os
plataforma do veículo de transporte.
sistemas de retenção aplicáveis às cargas em geral.
O travamento deve ser efetuado de acordo com a ilustração à
As carroçarias deste tipo de transporte possuem normalmente
direita.
estruturas tipo A externas e internas dispostas longitudinalmente
e integradas na substrutura do piso, de modo a constituírem duas
Sempre que possível, as
caixas externas. Os lados das caixas devem ter uma inclinação
amarrações devem estar
compreendida entre 3° e 5°. As operações de carga e descarga
posicionadas de modo a que
devem ser efetuadas com o veículo colocado sobre uma base sólida
o veículo seja puxado direta-
nivelada. Devem ser adotadas medidas para garantir o equilíbrio
mente na direção do piso da
lateral e longitudinal dos pesos, de modo a que o veículo viaje
plataforma (a amarração deve
sobre uma estrutura equilibrada e os pesos máximos legais não
estar tão perto quanto possível
sejam excedidos.
para formar um ângulo reto
com o piso do veículo transpor-
Se for transportada no exterior de um veículo, recomenda-se que
tador). A amarração total para
a placa de vidro seja coberta para evitar o desprendimento de
um par de rodas deve ser suficientemente forte para resistir a uma
fragmentos em caso de quebra do vidro durante a viagem.
força de 2 x Q daN exercida na direção vertical. Em alternativa à
aplicação da amarração na roda, é possível fixar as amarrações
Antes da remoção dos sistemas de retenção, deve ser prestada
aos eixos. Se a amarração puder ser posicionada de modo a não
atenção à curvatura da estrada. Se existirem probabilidades de
deslizar ao longo do eixo e tiver resistência suficiente, é aceitável a
ocorrência de condições inseguras, devem ser adotadas medidas
utilização de uma amarração por eixo.
seguras para descarregar as caixas seguras, ou seja, a mais
interna e a mais externa, quando o veículo está na posição de
Q = massa do veículo em kg.
movimento para a frente. Para descarregar as duas caixas
restantes, é necessário virar o veículo.
A superfície da plataforma de carga dos veículos de transporte
deve ter uma resistência elevada para ajudar a impedir o
O transporte de pequenas quantidades de placas de vidro é
deslizamento do veículo transportado.
normalmente efetuado por furgões com painéis normalizados
convertidos por especialistas em carroçarias que adicionam caixas
Se o veículo estiver envolvido por todos os lados (incluindo por
internas e externas.
cima) pela estrutura do veículo de transporte ou por outros

38
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Os acessórios externos devem ser preferencialmente construídos do veículo ou do contentor. A carga pode ser protegida por meio,
em metal em vez de madeira e a fixação ao camião deve ser por exemplo, de cintas fixadas nas paredes laterais, de travessas
efetuada o mais perto possível dos elementos dos painéis laterais corrediças e de suportes reguláveis, sacos insufláveis e de
e da estrutura do tejadilho. As eventuais estruturas externas de dispositivos de ferrolho antideslizantes. A carga está também
transporte devem ser concebidas para proteger os peões em caso suficientemente protegida, na aceção do primeiro parágrafo, se
de colisão. Todas as partes da caixa, etc., que entrem em contato todo o espaço de carregamento estiver, em cada camada,
com o vidro devem possuir faces de borracha ou material idêntico. completamente preenchido por volumes.
O lado saliente não deve nunca exceder 100 mm e a largura
máxima autorizada do veículo não deve nunca ser excedida.
2. 10 - Técnicas de colocação de calços e
Embora não se trate de um requisito legal, a prática de instalar acondicionamento
placas de marcação à frente e atrás nas caixas exteriores constitui
uma boa funcionalidade de segurança. Estas placas são amovíveis
e marcadas com faixas diagonais vermelhas/brancas.
Escoras
As escoras para cargas de tipo cilíndrico devem proporcionar um
O fabrico das caixas, particularmente as que são utilizadas no
travamento transversal às forças exercidas pelas embalagens
exterior do furgão, deve incluir escoras de fixação vertical de vidro
cilíndricas. Devem ser concebidas de modo a que, em conjunto,
concebidas para o efeito, com a opção de pontos de ancoragem ao
possam suportar uma força lateral equivalente a 50% do peso
longo do comprimento das caixas para acomodar várias placas de
máximo da carga a meio da altura desta (A/2), acima da base da
vidro. Não é suficiente confiar nas amarrações como único meio de
plataforma do veículo rodoviário.
acondicionamento do vidro a uma estrutura quando em trânsito.
As escoras para cargas de tipo não cilíndrico devem ser concebidas
Mercadorias perigosas de modo a que, em conjunto, possam suportar uma força lateral
equivalente a 30% do peso máximo da carga a meio da altura
Em contraste com o transporte de outras cargas, existem desta (A/2), acima da base da plataforma do veículo rodoviário.
disposições legais europeias no que respeita ao transporte de
mercadorias perigosas. O transporte rodoviário de mercadorias
perigosas é abrangido pelo Acordo UNECE, Acordo Europeu relativo
ao transporte rodoviário internacional de mercadorias perigosas
(ADR)3, alterado.
P=0,5 × carga máxima
A Diretiva Europeia 94/55/CE4 (a chamada “diretiva-quadro do
ADR”) estabelece as disposições do ADR aplicáveis uniformemente
ao transporte rodoviário nacional e internacional no interior da
Sistemas de retenção da carga
União Europeia.
Os principais sistemas de retenção são os seguintes:
• travamento
O ADR estabelece disposições específicas no que respeita ao
• bloqueio
transporte de mercadorias perigosas, uma vez que podem existir
• amarração direta
riscos adicionais para a segurança e para o ambiente durante o
• amarração de topo
transporte de tais mercadorias.
• combinações destes sistemas
• em conjunto com o atrito.
Os diferentes elementos de um carregamento que compreenda
mercadorias perigosas devem ser convenientemente estivados no
Os sistemas de retenção utilizados devem ser capazes de suportar
veículo ou no contentor e ficar seguros por meios apropriados, de
as diferentes condições climáticas (temperatura, humidade...) que
modo a evitar qualquer deslocamento significativo desses
poderão ser encontradas durante a viagem.
elementos, uns em relação aos outros e em relação às paredes

39
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Travamento ou bloqueio folga pode ser preenchida com, por exemplo, este tipo de paletes
colocadas na parte posterior, de modo a que a carga fique
adequadamente imobilizada. Se o espaço livre junto aos painéis
laterais de qualquer lado da secção de carga for inferior à altura
de uma EURO palete, então a folga do painel lateral pode ser
preenchida com material de enchimento adequado, por exemplo,
pranchas de madeira.

ALMOFADAS DE AR
As almofadas de ar insufláveis
Travamento ou contraventamento significa que a carga é estão disponíveis como artigos
acondicionada nivelada contra estruturas fixas ou elementos do descartáveis ou produtos
porta cargas. Estes podem ter a forma de painéis de proteção da recicláveis. As almofadas são fáceis
cabina, painéis laterais, taipais laterais ou escoras. A carga pode de instalar e são insufláveis com
ser acondicionada direta ou indiretamente (utilizando material de ar comprimido, muitas vezes,
enchimento) contra os dispositivos de travamento fixos através de um orifício no sistema
instalados no porta cargas, de modo a evitar o seu deslocamento de ar comprimido do camião. Os
horizontal. Em termos práticos, é difícil conseguir que a carga fornecedores de almofadas de ar
fique firme contra os dispositivos de travamento, permanecendo devem disponibilizar as instruções e as recomendações relativas à
geralmente uma pequena folga. As folgas devem ser mínimas, capacidade de carga e à pressão de ar adequadas. É importante
especialmente as que dizem respeito ao painel de proteção da evitar danos nas almofadas de ar devido ao desgaste e a
cabina. A carga deve ser imobilizada diretamente contra o painel eventuais rasgos. As almofadas de ar nunca devem ser utilizadas
de proteção da cabina ou através da colocação de material de como material de enchimento contra portas ou superfícies ou
enchimento entre esta e o painel. partes não rígidas.

TRAVESSAS DE TRAVAMENTO
Travamento com material de enchimento Se existirem folgas muito grandes entre a carga e os dispositivos
de travamento, e forças de contraventamento elevadas, é, muitas
Um acondicionamento eficaz da carga através de um sistema de vezes, adequado utilizar travessas de travamento equipadas com
travamento obriga a uma arrumação compacta dos volumes contra separadores de madeira suficientemente forte. É importante que
os dispositivos de travamento do porta cargas e entre os volumes as travessas de travamento sejam instaladas de modo a que os
individuais. Se a carga não ocupar os espaços entre os painéis separadores fiquem sempre perpendiculares à carga que está a ser
traseiros e laterais e não for fixada de outro modo, as folgas calçada. Deste modo, as travessas de travamento são mais eficazes
devem ser preenchidas com material de enchimento a fim de criar a resistir às forças exercidas pela carga.
forças compressivas que proporcionem uma imobilização
satisfatória da carga. Essas forças compressivas devem ser
proporcionais ao peso total da carga.
São indicados, a seguir, alguns materiais de enchimento.

PALETES DE CARGA
As paletes de carga constituem
frequentemente uma forma
adequada de material de
enchimento. Se o espaço livre junto
dos dispositivos de travamento
for superior à altura de uma Euro
palete (cerca de 15 cm), então a

40
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

TRAVESSAS DIAGONAIS E TRANSVERSAIS Se for utilizado travamento em


O travamento longitudinal por meio de travessas diagonais ou altura ou travamento com painel
transversais constitui um sistema de travamento direto adequado na retaguarda, no mínimo,
especificamente aos contentores, cujas vigas de canto rígidas e duas secções da camada inferior
verticais são utilizadas como apoio. devem situar-se atrás da secção
de travamento.
As travessas de travamento são utilizadas para travamento
longitudinal na base da carga, mas podem ser igualmente
utilizadas como material de enchimento.
Travessas de madeira cravadas
na plataforma de carga
Nos porta cargas que possuem plataformas de madeira robustas,
o travamento na base da carga pode ser conseguido com travessas
de madeira cravadas diretamente no piso da plataforma.

Calços e calços de apoio


Os calços pontiagudos (aperto de cunha por ponto) e os calços de
travamento (aperto de cunha por bloqueio) podem ser utilizados
para evitar o deslocamento de objetos cilíndricos ao longo da
Travamento em altura e travamento plataforma de carga (ver figura abaixo).
com painel
Os calços de travamento devem ter uma altura mínima de R/3
Se existir uma diferença de altura entre várias camadas, é possível (um terço do raio do cilindro) se não existir amarração de topo.
utilizar um sistema de travamento em altura ou de travamento Se forem utilizados em conjunto com amarração de topo, a altura
com painel, para travar a base da camada mais elevada da carga máxima obrigatória é de 200 mm. O ângulo do calço deve ser de
contra a camada mais baixa. aproximadamente 45°, como indicado abaixo.

Ao utilizar um tipo de material de suporte como, por exemplo,


paletes de carga, a secção de carga é elevada de modo a formar
uma elevação e a camada mais elevada da carga fica imobilizada
longitudinalmente na base.

Se os calços em madeira forem cravados no piso, é necessário


verificar se a sua força não ficou reduzida.

Os calços pontiagudos, normalmente com um ângulo de 15°, não


possuem capacidade de fixação da carga e a sua principal função
Se os volumes não forem suficientemente rígidos e estáveis para é a de manter as mercadorias com forma cilíndrica imobilizadas
o travamento em altura, é possível conseguir um travamento durante as operações de carga e de descarga. O pequeno ângulo
idêntico com painéis que consistam em pranchas ou paletes de do calço é normalmente suficiente para travar o deslizamento.
carga dispostas do modo abaixo indicado. Dependendo da rigidez
dos volumes de carga, é possível criar uma estrutura de Os calços de travamento (aproximadamente 45°) são utilizados
travamento, de modo a proporcionar uma grande ou pequena como blocos para evitar o deslocamento de colunas de mercadorias
superfície de travamento. com forma cilíndrica e devem ser, por sua vez, imobilizados contra

41
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

dispositivos de travamento adequados do porta cargas. Os cilindros Mesmo que o atrito evite o deslizamento da carga, as vibrações e
devem ser igualmente amarrados na plataforma com uma os choques durante o transporte podem provocar o seu
cantoneira e é necessária amarração de topo nos rolos da deslocamento. Esta situação torna a amarração de topo necessária
retaguarda. mesmo quando o atrito é elevado.

CALÇO DE APOIO
Os dois calços mais longos devem ser mantidos em posição através
de um travamento cruzado regulável, por exemplo, cavilhas ou
correntes. O travamento cruzado deve ser efetuado de modo
a conseguir um espaço mínimo de 20 mm entre o cilindro e a
plataforma, a fim de garantir que o calço de apoio não se desloca
lateralmente
Amarração em laço
A altura dos calços deve ser de:
• no mínimo, R/3 (terço do raio do cilindro) se não existir A amarração em laço é uma
amarração de topo ou forma de amarração da carga
• no máximo, 200 mm em conjunto com amarração de topo. com linga a um dos lados da
carroçaria do veículo, a fim de
evitar o deslizamento da carga
2. 11 - Utilização de precintas de para o lado oposto. De modo a
conseguir uma amarração com
acondicionamento dupla ação, os laços de
amarração devem ser utilizados aos pares, o que também evita a
Amarração queda da carga. São necessários dois pares de laços de amarração
para evitar a torção longitudinal da carga.
A amarração consiste num dispositivo de retenção, por exemplo,
cintas, correntes ou cabos de aço que amarram a carga ou mantêm A capacidade do laço de amarração para suportar a tração
a carga em contato com a plataforma ou qualquer outro necessária depende da resistência dos pontos de amarração, entre
dispositivo de travamento. As amarrações devem ser feitas de outros aspetos.
modo a ficarem exclusivamente em contato com a carga a fixar e/ Para evitar o deslocamento da
ou com os pontos de fixação. Não devem ser efetuadas por cima de carga na direção longitudinal,
elementos flexíveis, portas laterais, etc. os laços de amarração devem
ser utilizados em conjunto com o
travamento na base. O laço ape-
Amarração de topo nas proporciona uma retenção
lateral, isto é, na direção lateral.
A amarração de topo consiste
num sistema de fixação em que
as amarrações são posiciona- Amarração com lançantes
das por cima da parte superior
das mercadorias a fim de evitar A amarração com lançantes pode ser utilizada para prevenir a
o deslizamento ou a inclinação inclinação e/ou o deslizamento para a frente e para trás.
da carga. Se não existir qualquer tipo de travamento lateral na A utilização da amarração com lançantes combinada com o
parte inferior, a amarração de topo pode ser utilizada, por travamento na base para a frente ou para trás é um sistema de
exemplo, para pressionar a carga contra a plataforma. retenção que consiste numa linga (amarra) ao longo do canto
Contrariamente ao travamento, a amarração de topo força a carga da camada da carga e duas amarras diagonais, a fim de evitar
contra a plataforma de carga.

42
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

o deslizamento e a inclinação da camada de carga. A amarração Amarração direta


com lançantes pode consistir também numa única linga redonda,
colocada ao longo da aresta da camada da carga e amarrada com Se a carga estiver equipada com olhais de amarração compatíveis
uma amarração diagonal em cada lado. O ângulo da superfície com a resistência da amarração, é possível amarrar diretamente
da carga é medido na direção longitudinal e recomenda-se que o entre os olhais de amarração e os pontos de amarração do veículo.
ângulo não seja superior a 45°.

Uma amarração diagonal com cinta de canto deve ser calculada


tendo em conta o ângulo, o atrito e a capacidade de amarração
(CA) indicada no rótulo das amarras, em conformidade com a
norma EN12195. Dois pares opostos de amarras diagonais com
cintas de canto podem ser igualmente utilizados como alternativa
a uma amarração envolvente.
Equipamento de amarração
A escolha dos melhores sistemas de acondicionamento de uma
carga num veículo dependerá do tipo e da composição da carga a
transportar. Os operadores devem equipar o veículo com
equipamento de fixação adequado para os tipos de carga que
geralmente transportam. Se for transportada carga geral, devem
estar disponíveis vários tipos de equipamento de fixação.

As cintas são utilizadas frequentemente para amarração de topo


(de atrito), mas também podem ser utilizadas para amarração
Amarração envolvente direta (especialmente quando são utilizadas amarrações de
grandes dimensões).
A amarração envolvente constitui, combinada com outras formas
de acondicionamento, um sistema para prender vários volumes. No caso de mercadorias com arestas pontiagudas e de mercadorias
pesadas, tais como maquinaria, aço, betão, equipamento militar,
A amarração envolvente horizontal da carga consiste em prender etc., podem ser utilizadas correntes de amarração. As correntes
vários volumes em secções de carga para, deste modo, reduzir o devem, normalmente, ser utilizadas para amarração direta.
risco de queda da carga.
Os cabos de aço são adequados para cargas como a malha de aço
A amarração envolvente vertical é utilizada para prender vários utilizada para reforçar betão e alguns tipos de cargas de madeira,
artigos a fim de estabilizar a secção de carga e aumentar a por exemplo toros redondos empilhados longitudinalmente.
pressão vertical entre as camadas. Deste modo, o risco de
deslizamento interno é reduzido. As cintas plásticas ou metálicas No acondicionamento da carga, diferentes tipos de amarrações são
(ver 1.3.4.5) são geralmente utilizadas na amarração envolvente. utilizados com diferentes fins.

As cintas de amarração feitas de fibras sintéticas (normalmente


poliéster) (consultar norma EN12195-2), as correntes de amarração
(consultar norma EN12195-3) ou os cabos de amarração em aço
(consultar norma EN12195-4) são normalmente utilizados como
dispositivos de amarração. Possuem um rótulo com a especificação
da Capacidade de Amarração (CA) em deca-Newtons (daN: a
unidade de força oficial em vez do quilograma) e a força de tensão

43
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

padrão para a qual o equipamento foi concebido. A força manual As cintas simples não são
máxima que deve ser aplicada às amarrações é de 50 daN. abrangidas por nenhuma norma,
sendo importante verificar se
NOTA: Não utilizar dispositivos mecânicos como, por exemplo, possuem caraterísticas idênticas
alavancas, trancas, etc., exceto se o dispositivo de tensionamento às cintas normalizadas.
for especificamente concebido para ser utilizado com tais
dispositivos. A força de tensão que pode ser
atingida por uma força manual de 50 daN deve ser indicada no
Apenas devem ser utilizados equipamentos de amarração com rótulo como a força de tensão padrão do sistema de cintas
marcações e rótulos legíveis. (Capacidade de Amarração CA, Força Manual Padrão FMP, Força de
Tensão Padrão FTP)
Os dispositivos de amarração podem ser ligados em conjunto, mas
as combinações utilizadas em paralelo devem ter a mesma Estão disponíveis cintas feitas em poliéster, poliamida ou
marcação. Podem ser ligados para formar combinações polipropileno. O poliéster perde um pouco de resistência quando
envolventes ou ser dotados de acessórios terminais para fixação húmido e é muito resistente a ácidos moderados, mas pode
em dispositivos fixos do porta cargas, tais como argolas, ganchos, ser danificado por álcalis. A poliamida pode perder até 15% de
entalhes, etc. No caso de amarrações de topo com cintas de fibra resistência quando húmida e é muito resistente a álcalis, mas pode
sintética, o dispositivo de tensionamento – um roquete – deve ser danificada por ácidos moderados. O polipropileno é útil quando
atingir uma força de pré tensão de, no mínimo, 10% da é necessária resistência química. As cintas em poliéster estão
capacidade de amarração (CA), com uma força manual de 50 daN. disponíveis em vários tamanhos, devendo as suas propriedades
A força máxima de pré tensão autorizada, para uma força manual estar claramente marcadas, em conformidade com a norma
de 50 daN, é de 50% da capacidade de amarração (CA) para todos EN12195-2.
os equipamentos de amarração.
Antes da utilização, é necessário verificar se as partes metálicas
Todos os equipamentos utilizados para acondicionamento de do arnês não estão corroídas ou danificadas, se a cinta não está
cargas devem ser inspecionados periodicamente no que respeita a cortada ou puída e se todas as costuras estão em boas condições.
desgaste ou danos. Os procedimentos de inspeção e de Se forem encontrados danos, o fabricante ou os fornecedores
manutenção devem estar em conformidade com as instruções do devem ser avisados.
fabricante. Deve ser prestada especial atenção a cabos e cintas
para garantir que não existem defeitos visíveis como, por As cintas de poliéster reutilizáveis de 50 mm de largura, com
exemplo, o desgaste dos fios. Estes dispositivos devem ser 2.000 daN CA, são normalmente utilizadas em veículos pesados. O
igualmente inspecionados para garantir que não sofreram cortes alongamento máximo é de 7% na CA. As cintas com CA até 20.000
ou danos resultantes de utilização incorreta. Consulte o fabricante daN são utilizadas no transporte de máquinas pesadas.
ou os fornecedores dos dispositivos de amarração se tiver dúvidas
quanto à necessidade de reparação.
Amarração com correntes
Sistemas de cintas A resistência de uma corrente é determinada por duas
propriedades: a espessura dos elos e a qualidade do metal
Os sistemas de cintas são adequados para o acondicionamento utilizado. A norma EN12195-3 – Sistemas de retenção da carga nos
de vários tipos de cargas. São normalmente constituídos por veículos rodoviários – Segurança; Parte 3: Correntes de
uma cinta com acessórios terminais e possuem um dispositivo de amarração – estabelece os requisitos para correntes de
tensionamento incorporado. amarração (ver detalhes no Anexo 8.4). As correntes utilizadas
devem ser compatíveis com os requisitos da carga transportada.
Recomenda-se vivamente a utilização de sistemas montados em Se necessário, devem ser utilizadas embalagens rígidas ou secções
conformidade com a norma EN12195-2 ou equivalente. oblíquas nos cantos ou arestas pontiagudas, o que evita danos
para as correntes e também para o raio em torno do qual se

44
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

processa a inclinação, aumentando, deste modo, a resistência ser utilizados cabos isolados para amarração, uma vez que não é
efetiva. possível avaliar facilmente o seu bom funcionamento e qualquer
falha implicará a falha total da retenção.

A resistência dos cabos diminui se forem dobrados sobre as


arestas, em função do diâmetro de dobragem.

Para que um cabo mantenha toda a sua resistência mecânica,


o diâmetro da dobragem deve ser, no mínimo, 6 vezes superior
ao diâmetro do cabo. Como regra prática, para um diâmetro de
dobragem pequeno, a resistência é reduzida em 10% para cada
Escavadora amarrada diagonalmente com correntes unidade abaixo de 6 (por exemplo, se o diâmetro de dobragem for
igual ao quádruplo do diâmetro do cabo, a resistência do cabo é
Nunca devem ser utilizadas correntes de amarração com nós ou reduzida em 20%; assim, a resistência residual representa 80% do
ligadas com uma cavilha ou parafusos. valor nominal).

As correntes de amarração e as arestas das cargas devem ser Em qualquer caso, deve considerar-se que os cabos colocados
protegidas contra abrasão e danos, utilizando capas protetoras sobre arestas pontiagudas mantêm apenas 25% da sua resistência
e/ou protetores de canto. As correntes de amarração que normal.
apresentem sinais de danos devem ser substituídas ou devolvidas
ao fabricante para reparação. Além disso, os olhais dos cabos devem estar apertados com, no
mínimo, 4 ganchos. Com menos ganchos, a resistência diminui
Seguem-se alguns sinais de danos que requerem a substituição dos proporcionalmente. O lado aberto do olhal deve ficar sempre
componentes defeituosos: oposto aos parafusos. Como regra prática, o cabo deve estar
– nas correntes: fissuras superficiais, alongamento superior a apertado em metade do seu diâmetro.
3%, desgaste superior a 10% do diâmetro nominal, deformações
visíveis; Os fios e os cabos de aço, bem como todos os componentes de
– nos componentes de ligação e dispositivos de tensionamento: ligação, devem ser examinados regularmente por uma pessoa
deformações, fendas, sinais pronunciados de desgaste, sinais de qualificada. Alguns exemplos de sinais de danos:
corrosão. – fraturas localizadas; redução, por abrasão, do diâmetro da
ponteira em mais do que 5%;
As reparações apenas devem ser efetuadas pelo fabricante ou – danos numa ponteira ou numa junção;
pelos seus agentes. Após a reparação, o fabricante deve – fraturas visíveis do cabo em mais do que 4 filamentos num
garantir que o desempenho original das correntes de amarração comprimento de 3d, mais do que 6 filamentos num comprimento
foi restaurado. de 6d ou mais do que 16 filamentos num comprimento de 30d;
(d=diâmetro do cabo);
Os elos de ligação das correntes devem ser inspecionados antes – desgaste ou abrasão notórios do cabo em mais do que 10% do
de cada utilização. As correntes apenas devem ser utilizadas em diâmetro nominal (valor médio de duas medições em ângulos
conjunto com tensionadores e esticadores adequados com uma retos);
carga útil compatível com a da corrente. – esmagamento do cabo em mais de 15%, falhas e dobras;
– nos componentes de ligacao e dispositivos de tensionamento:
deformações, fendas, sinais pronunciados de desgaste, sinais de
Amarração com cabo de aço corrosão;
– defeitos visíveis nas maxilas da pole do cabo.
Os cabos de aço são adequados para a amarração da carga
quando são utilizados de modo idêntico às correntes. Nunca devem
Os cabos de aço com cordões partidos não devem ser utilizados.

45
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Os cabos de aço devem ser utilizados apenas a temperaturas máxima autorizada para estas cordas. Nós e voltas apertadas
compreendidas entre -40°C e +100°C. Sob temperaturas inferiores diminuem a resistência de uma corda. As cordas molhadas devem
a 0°C, eliminar eventuais formações de gelo no cabo de travagem secar naturalmente.
e de tração dos elementos de tensionamento (guinchos, guindas-
tes). Devem ser tomadas precauções para que os cabos de aço não
sejam danificados por possíveis arestas pontiagudas da carga.
Cintas de aço
Nunca devem ser utilizadas cintas de aço para acondicionar cargas
Esticadores em plataformas de carga abertas.

Os esticadores são normalmente utilizados em correntes e em


cabos de aço (ver norma EN12195-4) dotados de um dedal em
Fixar calhas para dispositivos e
cada olhal e um mínimo de três ou quatro parafusos em U para amarrações em taipais laterais
aperto de cabos de aço de cada lado, em conformidade com a
norma EN13411-5. Devem estar protegidos contra desprendimento Os taipais laterais podem ter calhas longitudinais com pontos de
e devem estar posicionados de modo a evitar inclinação. ancoragem, sendo cada ponto geralmente concebido para suportar
uma carga de 2 toneladas na direção longitudinal. As amarrações
e os dispositivos com terminações adequadas podem ser fixados
rapidamente e proporcionar um travamento eficaz. Este é um
método extremamente eficaz para efetuar o travamento
posterior das embalagens restantes após uma descarga parcial,
mas é necessário evitar a concentração de peso junto aos pontos
de fixação.

Painéis de travamentos intermédios


Esticador com cabo curto para evitar sobrecargas superiores a 50 daN de força
manual (a tensão atingida não deve exceder 50% da CA).L - open – L - aberto
Os painéis de travamento intermédios são utilizados
frequentemente para o acondicionamento da carga à retaguarda,
especialmente para acondicionar carga em veículos parcialmente
Cordas carregados. Os painéis de travamento intermédios devem ser
montados em travessas longitudinais normais ou em painéis
A utilização de cordas como meio de acondicionamento da carga é
pendentes de reboques com cortinas laterais ou com cobertura
muito questionável. Se forem utilizadas cordas para acondicionar
rígida/não rígida. A capacidade de carga máxima deve ser
uma carga, devem ser preferencialmente fabricadas em
confirmada na informação do fabricante. Normalmente, os painéis
polipropileno ou em poliéster.
de travamento intermédios podem suportar cargas até um máximo
de cerca de 350 daN se forem montados em travessas de madeira
As cordas de poliamida (nylon) não são adequadas, uma vez que
e de 220 daN em travessas de alumínio.
tendem a esticar com o peso. As cordas de sisal ou de manila
também não são adequadas, uma vez que a sua resistência
diminui por saturação de água. Contentores
As cordas devem ser feitas com 3 fios e devem ter um diâmetro Os contentores, tais como contentores ISO, caixas móveis, etc., com
nominal mínimo de 10 mm. As extremidades das cordas devem uma massa superior a 5,5 toneladas, apenas devem ser trans-
ser entrançadas ou tratadas de qualquer outra forma para evitar o portados em veículos equipados com fechos rotativos. Desde que
desgaste. As cordas devem ser selecionadas tendo em conta a força os fechos rotativos estejam totalmente engatados e travados na
máxima que será aplicada em cada amarração. posição correta, o contentor está acondicionado adequadamente
O fabricante deve indicar, num rótulo ou numa manga, a carga e não serão necessárias retenções adicionais. Os fechos rotativos

46
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

devem ser mantidos em boas condições de funcionamento e devem Estes materiais são utilizados em conjunto com outros sistemas de
ser utilizados, no mínimo, quatro por cada contentor transportado fixação. Os tapetes devem ter atrito, resistência e espessura
(A norma ISO 1161 abrange a especificação das peças de canto em proporção com a carga (peso, superfície, etc.). Devem ter
para contentores ISO da série 1). propriedades adequadas (tais como atrito, resistência, espessura,
granularidade, etc.) proporcionais à carga (peso, superfície, etc.)
e às condições ambientais (temperatura, humidade, etc.) que
poderão ser encontradas durante a viagem. Estes aspetos devem
ser confirmados junto do fabricante.

A utilização de materiais antiderra-


pantes permite reduzir o número
de amarrações necessário. Os
materiais são frequentemente
utilizados como peças quadradas
Na maioria dos casos, os fechos rotativos são instalados nos veícu- cortadas em tiras de 5 a 20 m e
los durante o fabrico mas, se forem montados numa fase posterior, 150, 200 ou 250 mm de largura. A
devem ser efetuadas modificações no chassis ou na estrutura, em espessura varia entre 3 e 10 mm.
conformidade com as recomendações do fabricante do veículo. Os Se utilizadas cuidadosamente, estas peças podem ser reutilizadas
fechos rotativos devem ser inspecionados com regularidade no que até dez vezes, mas não podem desempenhar a sua função se
respeita a desgaste, danos e defeitos de funcionamento. ficarem gordurosas. A carga deve ser baixada para a respetiva
posição sobre estes materiais, uma vez que não é possível fazê-la
Deve ser prestada especial atenção aos dispositivos de bloqueio deslizar.
destinados a impedir o movimento das alavancas durante a
viagem.
Divisórias de carga
Combinação de sistemas de retenção Os painéis separadores, também denominados divisórias de carga,
são utilizados como estabilizadores para camadas de carga. São
A combinação de dois ou mais sistemas de retenção constitui normalmente painéis de contraplacado com aproximadamente 20
normalmente a forma mais prática e rentável de acondicionar a mm de espessura, embora os restos de madeira serrada também
carga de forma eficaz. Por exemplo, a amarração superior pode sejam frequentemente utilizados.
ser combinada com o travamento na base.
Os painéis são colocados entre as várias camadas da carga. Os
Deve ter-se em conta o fato de as forças de retenção dos sistemas painéis separadores são particularmente úteis quando as filas
combinados serem aplicadas simultaneamente e não uma a uma. verticais são carregadas em várias camadas.
Cada sistema de retenção pode ser insuficiente para acondicionar a
carga com segurança se atuar independentemente do(s) outro(s).
Esteiras de madeira
Materiais de atrito As secções de carga com muitas filas e camadas como, por
exemplo, madeira serrada, precisam frequentemente de ser
Os materiais da base e os separadores feitos de materiais de atrito estabilizadas por meio de contraventamento transversal.
elevado podem ser utilizados para aumentar o atrito entre a base
da plataforma e a carga, bem como entre as camadas da carga
quando necessário. Existem diferentes tipos de materiais de atrito
elevado, por exemplo, carpetes, tapetes de borracha e folhas de
papel (folhas de cartão) cobertos com materiais de atrito.

47
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

As esteiras de madeira de secção transversal quadrada não são As cintas de aço de utilização única que tiverem sido cortadas e
adequadas, uma vez que tendem a rodar em funcionamento. permaneçam no chão representam um perigo cortante. Quando
A relação largura/altura da secção transversal deve ser, no são utilizadas cintas de amarração para fixar cargas ligadas com
mínimo, 2:1. cintas de aço, é necessário confirmar com particular cuidado que
as cintas de aço não podem cortar as cintas de amarração.
Película extensível e película retráctil Em veículos de carga abertos, a utilização de cintas de aço é causa
frequente de lesões, uma vez que as pontas soltas das cintas
As embalagens pequenas podem
podem exceder os lados do veículo durante o transporte.
ser acondicionadas de modo
simples e eficaz nas paletes de
carga através de película
extensível. As películas extensíveis 2. 12 - Verificação dos dispositivos de
são fáceis de aplicar e a rigidez
de forma pretendida para toda a palete é conseguida através da
acondicionamento e utilização dos meios de
utilização de um número adequado de “voltas”. manutenção
Com película retráctil, é colocada uma cobertura de plástico sobre Quando se movimenta o veículo provoca vibrações e oscilações que
a carga da palete enrolada, que é depois aquecida para provocar podem vir a folgar ou inutilizar os meios de acondicionamento da
o encolhimento do plástico e, assim, tornar a carga mais rígida. A carga.
palete pode ser considerada como uma unidade de carga estável
se for capaz de suportar um ângulo de inclinação mínimo de 26° A verificação inicial do acondicionamento da carga não é
sem deformações significativas. suficiente.

O enrolamento de película retráctil e película extensível não é Sempre que possível, é aconselhável inspecionar periodicamente o
geralmente adequado para cargas de paletes pesadas ou cargas acondicionamento da carga durante a viagem. A primeira inspeção
com cantos pontiagudos, que podem danificar a película. deve ser feita, de preferência, depois de percorridos alguns
quilómetros, num local de paragem seguro.
Cintas de aço ou de plástico Além disso, o acondicionamento da carga deve ser inspecionado
após uma travagem de emergência ou qualquer outra situação
As cintas de aço ou de plástico são
anormal que ocorra durante o percurso. Deve ser igualmente
adequadas para fixar mercadorias
inspecionado após qualquer operação de carga ou descarga
pesadas e rígidas, tais como produ-
adicional durante a viagem.
tos de ferro e de aço, numa palete.
Requerem tensionadores especiais
Sempre que forem efetuadas operações de carga e de descarga
e não podem ser reapertadas.
gerais, como acontece frequentemente nos transportes de
distribuição, é necessário repor o travamento das restantes
Podem ser utilizadas cintas de aço descartáveis (adequadas para
mercadorias.
uma utilização, devido ao seu único funcionamento) para
acondicionar cargas em paletes. As paletes e a carga devem ser
Este travamento pode ser reposto através de dispositivos de
igualmente fixadas ao veículo, por travamento ou por amarração.
amarração ou por meio de barras de travamento amovíveis. É
necessário ter em atenção que o número de barras de travamento
Estas cintas de utilização única não são adequadas para a fixação
deve corresponder à carga a fixar.
direta das cargas no veículo, uma vez que podem criar-se tensões
internas na fixação ao veículo e nos vedantes durante a viagem,
tornando a remoção das cintas de aço numa operação perigosa.

48
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

2. 13 - Utilização de meios de manutenção/ Protetores de extremidades para evitar


proteção danos na carga e no
O condutor deve ter presente que a viatura em movimento tem
equipamento de amarração
uma dinâmica diferente de quando está imobilizada. Vibra, Oscila
Os protetores de extremidades feitos de madeira, plástico, liga
e dobra. Como tal deve ter-se o cuidado de proteger a mercadoria,
de metal leve ou outro material adequado são utilizados para
sobretudo quando se trata de vários volumes colocados próximos
distribuir a força de amarração de modo a impedir que as
uns dos outros.
amarrações cortem a carga e também para unir pequenas
Dispõe para o efeito de alguns meios e técnicas.
extremidades. As vigas de bordadura proporcionam a mesma
proteção ou uma proteção mais eficaz, mas possuem uma
Vigas de bordadura estrutura rígida e, por esse motivo, distribuem a força das
amarrações. Para esse efeito, é essencial que os protetores de
As vigas de bordadura de apoio são concebidas para serem extremidades tenham propriedades de atrito reduzidas na face de
estruturalmente rígidas (reforçadas contra dobragem) e possuem amarração, de modo a que as cintas possam deslizar facilmente
um perfil perpendicular. São utilizadas para distribuir as forças das e distribuir a força de amarração. Por outro lado, por vezes é
amarrações de topo para as secções da carga e podem ser feitas de aconselhável utilizar protetores de extremidades com muito atrito
madeira, alumínio ou material idêntico com resistência suficiente. para reduzir o risco de inclinação.

Separadores de proteção
Se a carga puder ser danificada por
arestas pontiagudas, é necessário
utilizar um material de proteção.

Anilhas dentadas
As anilhas dentadas de dupla face são adequadas para manter
juntas várias camadas de uma carga.

O travamento das várias camadas


Protetores antidesgaste para pode ser conseguido através de
anilhas dentadas, em vez de
cintas de fibra sintética esteiras. Estão disponíveis anilhas
dentadas de diferentes tamanhos.
Os protetores antidesgaste para
Estas anilhas apenas devem ser
cintas de fibra sintética são
utilizadas com materiais macios (madeira, etc.) e devem penetrar
aplicados entre a carga e as cintas
completamente no material.
de amarração quando existe risco
das cintas ficarem danificadas.
NOTA: Uma vez que as anilhas dentadas não são visíveis
Estes protetores podem ser feitos
quando são cobertas pela carga, a sua função não é controlável.
de materiais diferentes, por
É necessário ter igualmente em atenção que as anilhas dentadas
exemplo, poliéster e poliuretano, e funcionam como apoios para
podem danificar a superfície da plataforma e a carga. É preferível
hastes ou grampos.

49
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

utilizar materiais de atrito em vez de anilhas dentadas. O tamanho da malha da rede deve ser inferior ao da mais
pequena parte da carga.
As anilhas dentadas nunca devem ser utilizadas em conjunto com
substâncias perigosas. A colocação e retirada de redes e toldos requer uma precaução
especial, nomeadamente se estiver vento. Esta operação de ser
As anilhas dentadas possuem normalmente um formato redondo, realizada, sempre que possível, por pelo menos duas pessoas.
com um diâmetro de 48, 62 ou 75 mm (o diâmetro de 95 mm
raramente é utilizado).
3. Condução Defensiva
Não existe uma norma para as anilhas dentadas, mas são
apresentados alguns valores práticos de referência no Anexo 8.3. 3. 1 - O sistema de circulação rodoviária
Devem ser utilizadas, no mínimo, duas anilhas dentadas. Para
penetrar na madeira, é necessária uma força mínima de 180 daN
em cada anilha dentada. Não utilizar demasiadas anilhas Os princípios fundamentais que regem a livre circulação rodoviária
dentadas! são os de FLUIDEZ e SEGURANÇA. Mas como fluidez significa uma
circulação ordenada, cómoda e económica, podemos dizer que os
Os materiais de atrito podem constituir uma alternativa às anilhas princípios básicos são:
dentadas.
- SEGURANÇA - - COMODIDADE - - ECONOMIA -

Ainda que por vezes resulte difícil a conjugação de todos estes


2. 14 - Colocação e retirada de redes e toldos princípios, pois é natural que a segurança se oponha à fluidez, a
comodidade à segurança, e a segurança à economia, se se
As redes utilizadas no acondi-
conseguir que estes princípios influenciem simultaneamente a
cionamento ou retenção de
circulação obter-se-á uma circulação ordenada.
determinados tipos de carga
podem ser fabricadas com
Quando falamos de trânsito ou de circulação rodoviária estamos
cintas ou cordas de fibra
em presença de um sistema complexo cujo estudo foi possível pelo
natural ou sintética ou fio de
contributo da teoria sistémica.
aço. As redes de fixação são
normalmente utilizadas como barreiras para dividir o espaço de
Os principais elementos deste sistema são:
carga em compartimentos. As redes em corda ou em cordão fino
podem ser utilizadas para fixar cargas a paletes ou diretamente ao
veículo como um sistema primário de retenção. HOMEM

As redes mais leves podem ser MEIO


utilizadas para cobrir veículos AMBIENTE
abertos e pequenos
contentores quando o tipo de VEÍCULO VIA
carga não requer um toldo.
Devem ser adotadas medidas
Define-se VEÍCULO o elemento móvel destinado ao transporte
para assegurar que as partes metálicas das redes não são
terrestre de pessoas ou mercadorias, que se desloca sob o controle
corroídas ou danificadas, que as cintas não estão cortadas e que
humano.
todas as costuras estão em boas condições. As redes em corda ou
cordão fino devem ser inspecionadas para deteção de cortes ou
Define-se VIA o elemento fixo do sistema de circulação por onde se
outros danos nas fibras. Se necessário, devem ser efetuadas repa-
deslocam pessoas, animais ou veículos.
rações por uma pessoa competente antes da utilização da rede.

50
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Por HOMEM entende-se o elemento que é utente (utilizador) pública é fundamental para a fluidez e segurança do trânsito que
das vias públicas quer seja peão ou equiparado, passageiro de se deseja obter.
qualquer veículo ou condutor. Como veremos mais à frente este é o
elemento mais importante do Sistema de Circulação Rodoviária. A utilização em simultâneo das vias públicas, leva, naturalmente,
ao aparecimento de confrontos entre os seus utentes, que
Para além destes temos a considerar também um elemento conduzem ao caos caso não existam normas de conduta,
importante no sistema de circulação rodoviária. O elemento MEIO circulação.
AMBIENTE, enquanto envolvente e condicionante de todos os outros
elementos (vias, veículos e homens). A liberdade de trânsito implica pois, a sua regulamentação, de
modo a proibir tudo o que possa impedir ou embaraçar o trânsito
Se olharmos para a circulação rodoviária enquanto um e comprometer a segurança e comodidade dos utentes das vias,
sistema, constituído pelo VEÍCULO, pelo CONDUTOR, pela VIA e pelo bem como a necessidade de autorização para atos que possam
AMBIENTE, temos que analisar os acidentes como um sinal do mau afetar o trânsito normal, nomeadamente transportes especiais,
funcionamento desse sistema e olhar para o elemento humano cortejos, provas desportivas, manifestações públicas, festividades
com redobrada atenção. ou obras nas vias públicas

Se o sistema não funciona, então importa identificar os elementos Por outro lado, ao condutor cumpre evitar tudo o que possa
perturbadores. Em regra não existe uma única causa de acidente comprometer a sua saúde, a sua acuidade inteletual, a rapidez dos
mas sim, um conjunto de diferentes fatores que determinam a sua seus reflexos, ou seja, não deve conduzir em quaisquer condições
ocorrência. físicas ou psíquicas. Deverá, pois procurar manter-se sempre em
condições de resolver automática e rapidamente os inúmeros
Podemos no entanto afirmar que enquanto alguns desses fatores problemas que lhe surjam na estrada: presença de peões ou
são estáveis e nalguns casos imutáveis, existe um que, pela sua condutores desatentos, crianças descuidadas, obstáculos
mobilidade e imprevisibilidade, contribui, não só, para a inesperados, etc..
ocorrência do acidente, mas também para a sua gravidade. Este
elemento é: O CONDUTOR Não procedendo desse modo, o condutor revela-se imprudente,
omite voluntariamente o dever geral de diligência que consiste em
O condutor deve ser capaz de a cada momento, dar resposta a três evitar comprometer a segurança e comodidade dos utentes das
perguntas simples, mas ao mesmo tempo complicadas: vias.
1. Estão as suas habilidades como condutor em consonância com o
veículo que conduz?
2. Considera o seu nível de condução à altura de dar resposta
3. 2 - Condução Defensiva
exigida pelas estradas de hoje?
A condução defensiva consiste em conduzir de modo a prevenir
3. Considera-se preparado para fazer face ao eventual risco de um
acidentes, evitando cometer erros e tendo em conta os erros dos
acidente?
outros e as condições de condução desfavoráveis.
As respostas a estas três questões estão centradas no condutor.
A condução defensiva é, assim, uma atitude do condutor, que lhe
Será, assim, do seu comportamento que dependerá a sua
permite prever o comportamento dos outros condutores e reagir
condução, ou seja, o seu “estar” na via pública.
em conformidade com cada situação. A segurança nas vias
públicas depende do comportamento dos utentes. Simplesmente
Vivendo os homens em sociedade, estão sujeitos a uma série
nem sempre as mesmas são cumpridas, e os acidentes não
de normas de conduta, de modo a que os direitos de uns sejam
ocorrem só com aqueles que não cumprem.
compatíveis com os direitos dos outros, sem que haja atropelos à
convivência social, que se quer pacifica e ordenada.
Qualquer um pode, sem nada ter contribuído para tal, ver-se
envolvido num acidente. Não o provocou, mas também não o
Na circulação rodoviária, a conduta do homem como utente da via
evitou. Há situações em que se torna praticamente impossível

51
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

evitar um acidente. Mas se o condutor jogar na antecipação • Barras laterais nas portas
tentando prever o comportamento dos outros, certamente • Encosto de cabeça ativo
conseguirá evitar muitos acidentes.
Em suma, o que distingue a segurança ativa da segurança passiva
A condução requer habilidade e inteligência, tornando-se, por é o momento do acidente:
isso, numa tarefa que permite por em jogo a compreensão e a - Antes do acidente: Elementos de segurança ativa
solidariedade que temos para com os nossos semelhantes. Muitos - Após o acidente: Elementos de segurança passiva
acidentes que ocorrem nas estradas são motivados por determina-
dos condutores surpreenderem, nas suas manobras, outros utentes,
impedindo estes de poderem reagir antecipadamente.
3. 4 - A velocidade
Apontada por uns como “a mãe de todos os acidentes” e apelidado
Esta antecipação passa por percebermos a intenção dos outros,
de bode expiatório por outros, o excesso de velocidade
mesmo sem falar com eles. O condutor defensivo coloca a si
desempenha, indubitavelmente, um papel preponderante na
mesmo todas as questões relativas ao comportamento dos outros e
mortalidade rodoviária e marca a diferença entre a sobrevivência,
procura resposta para todas as situações.
ou não, dos sinistrados.

3. 3 - Elementos de segurança passiva e As escolas de condução, ensinam as regras de bem conduzir e


alertam insistentemente os futuros condutores para as
ativa consequências do desrespeito pelos limites de velocidade. No
entanto, verifica-se que são cada vez menos os condutores que
Entende-se por elemento de segurança ativa todo o elemento que
respeitam os limites de velocidade impostos após a obtenção do
contribui para evitar a ocorrência de um acidente.
título de condução.
Alguns exemplos:
• Sistema de travagem (incluindo ABS)
A melhoria da qualidade das vias de comunicação, o conforto
• Pneumáticos
com que os construtores de automóveis mimam os condutores e a
• Suspensão
publicidade apelativa às sensações fortes da potência dos motores
• Sistema de limpeza do para-brisas
e de sistemas de segurança “milagrosamente” eficazes, conduzem
• Sistema de iluminação
a uma falsa sensação de ausência de risco. E quanto maior for a
• Sistema de controlo de estabilidade (ESP)
sensação de segurança, tanto maior será a tendência para aumen-
• Sistema de controlo de tração (ASR)
tar os comportamentos de risco. Constata-se que toda a evolução
• Sistema de assistência na travagem
tecnológica desenvolvida no sentido de aumentar a segurança
• Sistema de repartição eletrónica da travagem
ativa e passiva dos veículos e das vias está, afinal, a ter um efeito
negativo nas atitudes e nos comportamentos dos condutores.
Estes e outros elementos do veículo devem ser mantidos em bom
estado de conservação, pelo que se recomenda a sua regular
À velocidade de 150 km/h, o veículo percorre cerca de 42 metros
manutenção.
por segundo (tempo médio de reação). Ou seja, a esta velocidade,
geralmente considerada como aceitável nas autoestradas, caso
Entende-se por elemento de segurança Passiva todo o elemento
o condutor aviste um obstáculo percorrerá, até colocar o pé no
que contribui para minimizar as consequências, após a ocorrência
travão, metade de um campo de futebol! Depois... a imobilização
de um acidente. Alguns exemplos:
do veículo! Para esta ... poderá ser tarde demais!
• Airbag
• Capacete
Existe a tendência para se considerar que é nas autoestradas onde
• Cintos de segurança
se desrespeitam os limites de velocidade com maior frequência.
• Pré-tensores dos cintos de segurança
No entanto, é dentro das localidades que tal se verifica. A vida das
• Limitadores de força dos cintos de segurança
pessoas desenvolve-se cada vez mais nos meios urbanos, a um
• Chassis (estruturas de deformação programável)
ritmo marcado pela pressa e pela velocidade.

52
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Para tudo há urgência e o tempo é sempre escasso. A condução atenta e segura, além de contribuir para a redução do
índice de sinistralidade, minimiza os desgastes mecânicos.
Os condutores devem interiorizar que a velocidade aumenta o
risco de acidente e agrava as consequências em caso de acidente. Para que possa conduzir bem e com prazer, o condutor deve
Um pequeno aumento da velocidade pode anular o acréscimo de sentir-se confortável ao volante e ser capaz de alcançar todos os
segurança de um veículo comandos necessários à condução. Numa boa posição de condução,
os braços estão ligeiramente fletidos e as pernas ligeiramente
abertas e fletida.

CONDUÇÃO URBANA
A condução em vias urbanas tem particularidades específicas, que
a distinguem da efetuada, nas restantes vias públicas. Conduzir
dentro ou a atravessar uma localidade é substancialmente
diferente, de conduzir em estrada ou em autoestrada, pois as
dificuldades e o ritmo de circulação são muito mais elevados:
• Existe muito mais tráfego e são frequentes os
engarrafamentos provocados pelo excesso de veículos, que
Quando a velocidade duplica, a distância de travagem quadruplica, pretendem utilizar, simultaneamente, a mesma via;
quadruplicando a violência do embate. A probabilidade de morte • A circulação é muito mais variada, pois para as localidades
ou invalidez aumenta 8 a 16 vezes. confluem todos os tipos de veículos e utentes da via;
• Existe uma constante sucessão de cruzamentos e
Em caso de atropelamento, a sobrevivência do peão depende entroncamentos, que se podem tornar em zonas de conflito;
fundamentalmente da velocidade a que se der o impato. Note-se • O número de sinais luminosos e gráficos, verticais ou
que a redução da velocidade não se distribui uniformemente ao horizontais, é muito grande.
longo da travagem. É na fase final da travagem que se verifica a • Por todas estas razões os condutores devem circular a
grande desaceleração. Assim, mesmo que o embate se verifique na velocidades reduzidas e com maior atenção, para poderem fazer
fase final da travagem ainda será muito violento. face ás muitas situações, que se lhe deparam.

CONDUÇÃO NÃO URBANA (EM ESTRADA)


3. 5 - Adaptação da condução às As principais caraterísticas da condução não urbana são:
caraterísticas do veículo, da via e das • Menor densidade de circulação;
• Menor quantidade de sinalização, e normalmente pior
condições atmosféricas qualidade desta;
• Maior velocidade;
Para conduzir bem e conseguir prever o comportamento dos
• Maior duração de viagem.
outros, é fundamental que o condutor conheça perfeitamente o
Código da Estrada. Para antecipar e evitar situações de perigo, é
Sendo a circulação em zonas não urbanas menos densa existe a
fundamental que o condutor domine perfeitamente o veículo que
tendência para descurar a atenção, o que, aliado à maior
conduz, de forma que em situações extremas consiga adotar um
velocidade a que se circula, provoca acidentes de grande
determinado comportamento e consiga pô-lo em prática.
gravidade.
O condutor tem de ter a certeza que é ele a dominar o veículo e
Todo o condutor deve, pois, ter sempre presente que os aspetos
não o veículo a dominá-lo a si.
atrás referidos, tornam certas manobras mais perigosas,
requerendo por isso cuidados especiais.
Além de se sentir à vontade, o condutor deve transmitir aos seus
passageiros uma atmosfera de conforto e uma sensação de calma
e confiança.

53
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

Interessa aqui referir, como fator de grande importância para a em calcular a distância a que se encontra e, no caso de veículos
fluidez e consequentemente para a segurança da circulação, que transitando em sentido contrário, a velocidade a que se deslocam.
os condutores de veículos pesados devem facilitar as manobras aos
restantes veículos nunca deixando formar “comboio” de veículos Torna-se pois necessário, ajustar a velocidade do veículo às
pesados, o que provoca obviamente, problemas aos outros utentes. condições de visibilidade da via e às luzes do veículo, já que uns
condutores vêem melhor que os outros, umas vias estão melhor
CONDUÇÃO EM AUTOESTRADA iluminadas que outras e alguns faróis iluminam melhor que
As autoestradas são vias destinadas a trânsito rápido, com outros.
separação física de faixas de rodagem, sem cruzamentos de nível
nem acessos a propriedades marginais, com acessos condicionados Existem, pois, uma série de fatores que condicionam o tipo de
e sinalizada como tal. condução e regras de segurança a utilizar durante a noite:
• Encandeamento pelas luzes de outros veículos;
Apesar da velocidade mínima ser de apenas 50 km/h, a circulação • Encadeamento pelo sol (aurora e crepúsculo)
a baixas velocidades pode colocar em risco a segurança do • Visibilidade inferior à diurna;
condutor e dos outros utentes. • Menor campo visual (perda da visão periférica);
• Maior quantidade de “riscos invisíveis”;
Perante a elevada velocidade a que se circula nestas vias, o • Apreciação mais difícil das distâncias;
condutor deve aumentar a distância de segurança e utilizar • Dificuldade de identificação de obstáculos não diferenciáveis do
regularmente os espelhos retrovisores. fundo escuro;
• Aumenta o cansaço/fadiga
A condução nestas vias tende a ser monótona, uma vez que
existem menos índices. Em viagens de longa duração o condutor É de notar que estes fatores condicionantes assumem uma maior
deve parar de 2 em 2 horas, a fim de minimizar os efeitos do sono importância quando, ao fato de se conduzir de noite, se juntarem
e da fadiga. as más condições atmosféricas, já que então teremos a visibilidade
substancialmente reduzida e um aumento da possibilidade de
Ao entrar na autoestrada é fundamental que o condutor aumente encandeamento, quer pela reflexão da luz dos outros veículos no
a sua velocidade, utilizando a via de aceleração, até que circule a pavimento molhado, quer pela existência de gotas de água no
uma velocidade semelhante à dos veículos que já circulam naquela pára brisas que podem amplificar a intensidade da luz que nelas
via. A entrada na autoestrada a velocidade baixa é um fator de venha a incidir.
risco muito elevado.
CONDUÇÃO COM CHUVA
Ao sair da autoestrada o condutor deve reduzir a velocidade Os fatores mais condicionantes na condução com chuva são:
utilizando as vias de desaceleração e adaptar- se a um ritmo de • Visibilidade;
condução mais lento. É habitual os condutores perderem a noção • Estado do piso;
da velocidade a que circulam e despistarem-se à saída destas vias, • Deslizamento dos pneus na superfície molhada (aquaplaning);
fenómeno designado por hipnose da velocidade. • Diminuição de eficiência dos travões;
• Diminuição da aderência ao pavimento.
CONDUÇÃO NOTURNA
De noite, existe tendência para se circular mais depressa, com o Se travar sobre uma faixa de rodagem molhada, a distância de
pretexto de que há menos trânsito, esquecendo-se a visibilidade travagem é muito maior do que sobre um pavimento seco, porque
limitada de que se dispõe. a aderência ao solo diminui substancialmente.

Alguns condutores, julgam mais sensato conduzir à noite, alegan- Para não correr riscos desnecessários, o condutor deve moderar a
do que vêm melhor as luzes dos outros veículos que, durante o dia, velocidade, especialmente, quando se aproxima de um
não seriam visíveis. Contudo, durante a noite, o condutor tem difi- cruzamento, entroncamento ou em qualquer outra circunstância,
culdade em ver a superfície da via, os obstáculos mal iluminados, em que seja previsível a necessidade de travar.

54
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

É necessário, ainda, moderar a marcha e tomar particular atenção, consequentemente, uma derrapagem. Por outro, porque depois de
á aproximação de curvas, pois o veículo derrapa muito mais num ter passado por um charco, os travões podem ficar molhados
piso deslizante. deixando de funcionar, momentaneamente. As poças de água
podem igualmente esconder buracos de grandes dimensões, que
Quando o piso está muito molhado, um dos riscos que corre o podem provocar danos nos veículo e/ou perda da direção do
condutor é o do chamado “aquaplaning” ou “hidroplanagem”. veículo.

A situação de “aquaplaning” dá-se quando o asfalto está coberto Outro risco que se corre com a chuva, é no momento de cruzar
com uma quantidade de água apreciável e se circula a uma com outro veículo, sobretudo com veículos pesados, que, lançam,
velocidade elevada ou se dispõe de pneumáticos com piso muito sobre o para-brisas autênticos jorros de água e por vezes lama,
gasto. Isto acontece porque os pneumáticos perdem a capacidade tirando completamente a visibilidade, durante uns instantes. Este
de escoamento da água que se interpõe entre estes e a estrada, problema pode ser minorado, se o condutor reduzir a velocidade e
favorecendo um fenómeno muito semelhante ao esqui aquático. O acionar o limpador para uma velocidade mais rápida.
veículo passa a levitar sobre a água.
O mesmo acontece, ao circular atrás de outro veículo que se
Para se sair de uma situação destas, ou seja, para que a roda pretende ultrapassar ou, tenha acabado de nos ultrapassar.
deixe de ser um esqui, não se deve acelerar, pois se o fizer a
roda ganha rotação e ainda plana mais. Por outro lado, se travar, Em todas as situações atrás focadas devemos proceder do seguinte
porque a roda não tem qualquer aderência bloqueia, provocando modo:
o seu deslizamento imediato, o que leva ao agravamento da • Diminuir a velocidade;
situação. • Aumentar a distância de segurança;
• Evitar executar manobras bruscas;
O que há a fazer nestas situações restringe-se apenas em não • Nunca travar bruscamente;
acelerar e manter a direção fixa até as rodas começarem a escoar • Levantar o pé do acelerador sem travar, logo que sentir o carro
a água e assim ganharem tração. Há quem opte por desembraiar deslizar
o carro, pois deste modo a interferência nas rodas ainda é menor, • Evitar embaciamentos dos vidros, regulando o sistema de
permitindo retomar o escoamento da água de uma forma mais aquecimento por forma a fazer desaparecer o vapor dos vidros, o
rápida. mais rapidamente possível ou abrir ligeiramente as janelas.
• Dedicar particular atenção aos condutores de veículos de duas
Ao conduzir por uma via molhada, quando o condutor sentir a rodas e aos peões.
direção muito leve, quer dizer que as rodas dianteiras não estão • Tentar circular a uma velocidade, que permita conservar sempre
a tocar no piso, pelo que deve, imediatamente, levantar o pé do e em quaisquer circunstâncias o controle sobre o veículo.
acelerador sem travar. • Acender as luzes de presença, ou de cruzamento para melhor
ser visto.
Outra das consequências do pavimento molhado ocorre, quando
caem as primeiras chuvas que, juntando- se ao pó existente sobre CONDUÇÃO COM NEVE E GELO
o pavimento, e sem chegar a lavar a sua superfície, formam uma Na circulação sobre neve ou sobre gelo, a aderência do pneu pode
lama tornando o piso mais deslizante. Este momento é tanto mais chegar a ser nula, caso em que o veículo desliza sobre o piso sem
perigoso, porque quando começa a chover, a generalidade dos que a ação do condutor (direção, acelerador ou travão) possa
condutores têm tendência a não moderar a velocidade. evitá-lo.

Também os charcos de água podem colocar em perigo a segurança Quando começa a nevar, ou a capa de neve é fina, o condutor é
dos veículos. Por um lado, porque aquando do choque que se levado a crer que não corre mais risco do que circulasse sobre piso
produz com a água, ao entrar no charco a certa velocidade, a água molhado. Porém, se travar, verificará que as rodas ficam
que é projetada para cima vai exercer uma prisão no veículo o que bloqueadas, por falta de aderência ao solo, e o veículo desliza
origina naturalmente um desequilíbrio na direção e como se, sobre gelo estivesse.

55
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

A melhor solução para conduzir, em tais condições atmosféricas, Podemos assim dizer que os fatores que condicionam a condução
é fazê-lo lentamente e, quando se note a direção do veículo muito com gelo ou neve são:
leve, reduzir progressivamente, com a caixa de velocidades, sem • A perda de aderência;
tocar no travão, levantando, suavemente, o pé do acelerador. Se • A diminuição de visibilidade.
o veículo começa a patinar, o condutor deve tentar dirigi-lo para
a zona pretendida, corrigindo a direção muito levemente sem Nestas condições devemos proceder do seguinte modo:
movimento bruscos. • Informarmo-nos antecipadamente das condições de tráfego;
• Nunca travar bruscamente;
Por vezes, só se formam placas de gelo em determinadas zonas, • Conduzir sempre a velocidades mais baixas;
o que é mais perigoso. Tal acontece, normalmente nos locais mais • Aumentar a distância que nos separa do condutor da frente;
húmidos, sombrios e frios. Também pode formar-se nos vales, • Nunca fazer qualquer manobra bruscamente;
pontes, troços de via orientados a norte ou á saída de núcleos • Respeitar a sinalização;
urbanos. Nalgumas ocasiões, a sua presença anuncia-se por um • Nunca forçar a continuação da viagem, quando sentir que as
brilho especial sobre a estrada ou pela cor esbranquiçada do piso. condições atmosféricas começam a piorar;
• Nunca esquecer que a ação do sol sobre o gelo ou neve
Alguns condutores crêem que se melhora a aderência sobre o gelo depositados, podem tomar a via muito perigosa.
e neve, baixando a pressão dos pneus, o que é um erro. Melhor
aderência obtém-se com os pneus á pressão adequada. CONDUÇÃO COM NEVOEIRO
O nevoeiro são pequenas gotas de chuva suspensas no ar, que
Há pneus especiais, com pregos, que melhoram a aderência sobre reduzem drasticamente a visibilidade do condutor.
o gelo ou neve, mas no nosso país, o seu uso não está divulgado,
nem se justifica a sua necessidade. Caso, porém, se usem estes A perda de visibilidade a curta distância é o fator de maior
pneus, os pregos deverão ser circulares, e não podem sobressair da importância na condução com nevoeiro. O condutor nada mais vê
superfície do pneu mais do que dois milímetros. que uma espécie de lençol branco estendido á sua frente e poucos
metros de faixa de rodagem.
Também existem “sprays” que aplicados sobre a superfície dos
pneus sobretudo sobre as rodas motoras, melhoram Além da falta de visibilidade, há que contar com o risco de derra-
momentaneamente a aderência, mas o seu efeito é temporal e não pagem, pois muitas vezes a estrada está molhada ou até gelada.
são tão seguros como os pregos ou as correntes.
Outra agravante do nevoeiro, refere-se ao para-brisas, que tende
As correntes, são uns dispositivos que se ajustam sobre os pneus a perder a transparência, sendo necessário acionar o limpador e
das rodas motoras, conseguindo desta forma, que não resvalem colocar o ar quente na sua direção. Se isso não bastar, o condutor
sobre gelo e a neve. Existem muitos tipos de correntes de fácil e deve limpá-lo, de vez em quando, com um pano ou camurça.
rápida instalação. Quando o veículo disponha deste acessório, é
conveniente que o condutor não se distraia, quanto à oportunidade Todos estes fatores reunidos tornam a condução com nevoeiro,
da sua colocação, pois o frio a neve e o gelo, não facilitam a muito cansativa, a viagem muito pesada, pelo que,
tarefa. inconscientemente, o condutor tende a circular mais depressa, por
uma falsa sensação de confiança em si mesmo.
Por vezes, quando neva, os limpa para-brisas não são
suficientemente eficazes para limpar a neve do para-brisas, pelo Nestas situações procede-se do seguinte modo:
que, neste caso, o melhor é interromper a viagem. • Reduzir imediatamente a velocidade aos primeiros sinais de
existência de nevoeiro;
Finalmente, convém realçar que a neve impede a visão das marcas • Tentar ver e ser visto, utilizando as luzes adequadas para tais
rodoviárias e, se o nevão é muito forte, dos próprios símbolos situações;
inseridos nos sinais verticais. • Aumentar, consideravelmente a distância de segurança;

56
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

• Em caso de perda quase total de visibilidade, parar Por esse fato, o condutor pode ter a sensação que, ao cruzar com
convenientemente e tentar manter-se sinalizado; um veículo pesado, é empurrado para esse veículo. Porém, na ver-
• Evitar acender os máximos, pois as gotas de água dade, o que acontece, é que o veículo pesado o abrigou do vento
comportam-se como um espelho e refletem a luz encandeando o contra o qual o condutor vinha mantendo fortemente a direção.
condutor;
• Se existirem marcas rodoviárias no pavimento, pode o condutor Assim, o condutor deve:
guiar-se por elas. Contudo, as marcas não sinalizam os possíveis • Tentar prever com antecedência os locais onde é possível
obstáculos e o condutor não vê os sinais verticais, nem outras existirem ventos fortes;
indicações; • No cruzamento com outros veículos e principalmente pesados,
• Seguir outro veículo com o nevoeiro, pode ajudar o condutor, reduzir a velocidade e encostar o mais possível á berma;
que se guiará pelas suas luzes traseiras. Porém, o condutor não se • Reduzir a velocidade ao mínimo sinal de existência de ventos
deve esquecer que, ao fazê-lo, não vê a estrada nem os obstáculos fortes.
que se encontram diante do veículo que segue e, sobretudo, que o
condutor da frente pode necessitar de fazer uma travagem
repentina, correndo o risco de colidir na sua retaguarda.
3. 6 - Distâncias
• Com o nevoeiro, é necessário aumentar a separação do veículo
precedente, pois não se pode prever as diminuições de velocidade,
nem as travagens, somente se vêm as luzes de presença traseiras.
Assim, é necessário manter uma maior distância, para, caso o
veículo da frente faça alguma manobra ou derrape, ser possível
evitar a colisão. Já vimos que, de dia e com más condições
atmosféricas é obrigatório acender as luzes.
TEMPO DE REAÇÃO (TR) – Período de tempo que medeia o
• Para que o condutor seja visto por trás, deve assegurar-se de
momento em que o condutor deteta o obstáculo, até ao momento
que as luzes de nevoeiro à retaguarda funcionam corretamente e
em que reage. O tempo de reação é influenciado pelos fatores
estão limpas.
internos ao condutor (ex: álcool, drogas, medicamentos, fadiga,
• Se o veículo possuir luzes dianteiras de nevoeiro, é bom usá-las,
doença, idade, etc). O tempo de reação é, em média, de 1
pois tornam o veículo mais visível e, como são mais baixas, dão
segundo.
melhor visão.
DISTÂNCIA DE REAÇÃO (DR) – Distância percorrida pelo veículo
CONDUÇÃO COM VENTO
durante o tempo de reação. Ou a distância percorrida pelo veículo
O vento forte pode fazer perder o controlo da direção. Os desvios
desde o momento em que o condutor deteta o obstáculo, até
na trajetória da direção provocadas pelo vento, acorrem,
ao momento em que reage. É afetada pelos fatores internos ao
normalmente, quando o condutor é surpreendido à saída de um
condutor e pela velocidade.
troço abrigado, como, por exemplo, de um conjunto de edifícios,
de um bosque, depois de ter cruzado ou ultrapassado um veículo
DISTÂNCIA DE TRAVAGEM (DT) – Distância percorrida pelo veículo
de grandes dimensões, ou á entrada de uma ponte. Quanto maior
desde o momento em que o condutor reage (aciona o travão), até
for a velocidade maior é o risco.
ao momento em que o veículo se imobiliza. É afetada por fatores
externos ao condutor (veículo, via, ambiente) e pela velocidade.
Os veículos pesados estão especialmente expostos a este efeito,
devido à grande superfície lateral.
DISTÂNCIA DE PARAGEM (DP) – É a soma da distância de reação
(DR) com a distância de travagem (DT). Ou seja, é a distância
Também se pode dar o efeito contrário ao chegar a um lugar
percorrida pelo veículo desde o momento em que o condutor
abrigado, quando, para contrabalançar a força, o condutor vira
deteta o obstáculo, até ao momento em que o veículo de imobiliza.
o volante para o lado contrário do vento. Ao chegar a uma zona
É afetada por fatores internos e externos ao condutor (veículo, via,
onde o vento deixa de soprar, a mesma atuação do condutor, sobre
ambiente) e pela velocidade.
o volante, pode fazê-lo perder o controlo do veículo.

57
CONDUÇÃO DEFENSIVA, ECONÓMICA E AMBIENTAL

DISTÂNCIA DE SEGURANÇA (DS) – Distância que o condutor deve


manter em relação ao veículo da frente, que lhe permita
imobilizar o veículo sem colidir. O condutor deve aumentar
distância de segurança quando aumenta a velocidade, ou quando
pioram as condições de aderência (chuva, neve, lama, etc).

INTERVALO DE SEGURANÇA (IS) – Intervalo de tempo a que deve


corresponder uma distância de segurança. Considerando que não é
fácil a um condutor aferir, em metros, a distância a que circula do
veículo da frente, deve utilizar uma medida de tempo. Para
calcular o IS o condutor deve começar a contar (ex: 1001, 1002,
1003, etc) no momento em que o veículo da frente passa junto
a um ponto de referência fixo (ex: um poste). O condutor deverá
demorar, pelo menos, 2 segundos a passar pelo mesmo ponto de
referência. Esta análise é muito simples e funciona a qualquer
velocidade. Em condições de menor aderência (chuva) deve
aumentar o IS para 3 segundos.

CONTEÚDO FORNECIDO POR:


ANIECA - Departamento de Formação e Qualidade

58
REGULAMENTAÇÃO LABORAL

1. Ambiente social do transporte rodoviário e a sua regulamentação


1. 1 - Durações máximas do trabalho Se a parte do período de repouso diário abrangida pelo período de
24 horas tiver mais de 9 horas mas menos de 11 horas, o período
específicas para os transportes de repouso diário em questão será considerado como um período
de repouso diário reduzido.
O tempo diário de condução não deve exceder 9 horas. No entanto,
não mais de duas vezes por semana, o tempo diário de condução O período de repouso diário pode ser alargado para perfazer um
pode ser alargado até um máximo de 10 horas. período de repouso semanal regular ou um período de repouso
semanal reduzido.

O condutor pode fazer, no máximo, três períodos de repouso diário


reduzido entre cada dois períodos de repouso semanal.

O condutor de um veículo com tripulação múltipla deve gozar um


novo período de repouso diário de pelo menos 9 horas nas 30
horas que se sigam ao termo de um período de repouso diário ou
semanal.

O condutor deve gozar um período


O tempo semanal de condução não pode exceder 56 horas. O de repouso semanal mínimo de
tempo de condução total acumulado por cada período de duas 45h consecutivas, com
semanas consecutivas não deve possibilidade de redução para 36h
exceder 90 horas. se for no domicílio.
Os tempos de condução diários e semanais devem incluir a Em cada período de duas semanas consecutivas, o condutor deve
totalidade dos tempos de condução no território da Comunidade ou gozar pelo menos:
de países terceiros. - dois períodos de repouso semanal regular, ou
- um período de repouso semanal regular e um período de repouso
Após um período de condução de semanal reduzido de, no mínimo, 24 horas — todavia, a redução
quatro horas e meia, o condutor deve ser compensada mediante um período de repouso
gozará uma pausa ininterrupta de equivalente, gozado de uma só vez, antes do final da terceira
pelo menos 45 minutos, a não ser semana a contar da semana em questão.
que goze um período de repouso.
Esta pausa pode ser substituída por uma pausa de pelo menos O período de repouso semanal deve começar o mais tardar no fim
15 minutos seguida de uma pausa de pelo menos 30 minutos de seis períodos de 24 horas a contar do fim do período de repouso
repartidos pelo período de modo a dar cumprimento ao disposto semanal anterior.
no primeiro parágrafo.
Qualquer período de repouso gozado a título de compensação de
O condutor deve gozar períodos de repouso diários e semanais. um período de repouso semanal reduzido deve ser ligado a outro
período de repouso de, pelo menos, 9 horas.
O condutor deve gozar um novo
período de repouso diário mínimo Caso o condutor assim o deseje, os períodos de repouso diário e os
de 11 horas consecutivas dentro de períodos de repouso semanal reduzido fora do local de afetação
cada período de 24 horas após o podem ser gozados no veículo, desde que este esteja equipado
final do período de repouso diário com instalações de dormida adequadas para cada condutor e não
ou semanal precedente. se encontre em andamento.

59
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
Um período de repouso semanal que recaia sobre duas semanas
pode ser contabilizado em qualquer uma delas, mas não em
ambas.

No caso de o condutor acompanhar um veículo transportado em


transbordador (ferry) ou em comboio e gozar um período de
repouso diário regular, este período pode ser interrompido, no
máximo duas vezes, por outras atividades que, no total, não
ultrapassem uma hora. Durante o referido período de repouso
diário regular, o condutor deve dispor de uma cama ou beliche.

O tempo gasto pelo condutor para se deslocar para ou de um


veículo abrangido pelo presente regulamento que não esteja junto
à residência do condutor ou junto à empresa onde o condutor está
normalmente baseado não será contado como repouso nem como
pausa, a menos que o condutor se encontre num transbordador
(ferry) ou comboio e tenha acesso a um beliche ou cama.

O tempo gasto por um condutor que viaje como condutor de um


veículo não abrangido pelo presente regulamento para se deslocar
para ou de um veículo abrangido pelo presente regulamento que
não esteja junto à residência do condutor ou junto à empresa onde
o condutor está normalmente baseado será contado como “outro
trabalho”.
Resumos
1. 2 - Princípios, aplicação e consequências
Tempo Máximo de condução continuo 4:30h
dos Regulamentos (CEE) nº 561/2006 e
0:45h que podem ser fracionáveis em dois
Interrupção mínima de condução
períodos de 0:15h + 0:30h cada, intercala- nº 3821/85
dos nas 4:30h
contínua (pausa)
Não é contabilizada uma pausa inferior a
0:15h consecutivos. Os regulamentos nº 3821/85 e 561/2006 do Parlamento Europeu
9h que poderá ser 10h no máximo de duas e do Conselho, vieram proceder à harmonização de determinadas
Tempo máximo de condução diária
vezes por semana disposições em matéria social no domínio dos transportes
Período máximo de condução
6 dias / 48horas
rodoviários, através da implementação de um aparelho de
consecutiva numa semana controlo, designado por tacógrafo.
Período máximo de condução
12 dias / 90 horas
consecutiva em duas semanas
Estes regulamentos estabelecem as situações de obrigatoriedade
11 horas consecutivas com possibilidade de
de instalação de tacógrafo e dispensas, assim como as condições
redução para 9 h duas vezes por semana
Repouso diário em cada período com compensação antes do final da semana de utilização.
de 24 horas seguinte
Ou 12h com fracionamento em dois perío-
Pretende-se com estas medidas:
dos, um de 3 horas e outro de 9h
- Harmonizar as condições de concorrência entre modos de
45h consecutivas com possibilidade de
redução para 36h se for no domicilio 24h transporte terrestre, principalmente no que se refere ao sector
fora do domicilio rodoviário
Descanso semanal mínimo Nestas situações terá de haver uma - Melhorar as condições de trabalho
compensação correspondente gozada em
bloco antes do fim da 3a semana seguinte á - Melhorar a segurança rodoviária
semana em causa

60
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
O Regulamento 561/2006 estabelece regras em matéria de Para efeitos do regulamento, entende-se por:
tempos de condução, pausas e períodos de repouso para os a) “Transporte rodoviário”: qualquer deslocação de um veículo
condutores envolvidos no transporte rodoviário de mercadorias e utilizado para o transporte de passageiros ou de mercadorias
de passageiros. efetuada total ou parcialmente por estradas abertas ao público,
em vazio ou em carga;
Aplica-se ao transporte rodoviário: b) “Veículos”: veículos automóveis, tratores, reboques e
a) De mercadorias, em que a massa máxima autorizada dos semirreboques, ou conjuntos desses veículos, conforme as
veículos, incluindo reboques ou semirreboques, seja superior a seguintes definições:
3,5 toneladas, ou - “veículo automóvel”: veículo provido de um dispositivo de
b) De passageiros, em veículos construídos ou adaptados de forma propulsão, que circule na estrada pelos seus próprios meios, que
permanente para transportar mais de nove pessoas, incluindo o não se desloque permanentemente sobre carris e que sirva
condutor, e destinados a essa finalidade. normalmente para o transporte de passageiros ou de mercadorias;
- “trator”: veículo provido de um dispositivo de propulsão, que
Independentemente do país de matrícula do veículo, o circule na estrada pelos seus próprios meios, que não se desloque
regulamento aplica-se aos transportes rodoviários efetuados: permanentemente sobre carris e que esteja especialmente
a) Exclusivamente no interior da Comunidade; e concebido para puxar, empurrar ou acionar reboques,
b) Entre a Comunidade, a Suíça e os países signatários do Acordo semirreboques, alfaias ou máquinas;
sobre o Espaço Económico Europeu - “reboque”: veículo de transporte destinado a ser atrelado a um
veículo automóvel ou a um trator;
O regulamento não se aplica aos transportes rodoviários - “semirreboque”: reboque sem eixo dianteiro, acoplado de tal
efetuados por meio de: modo que uma parte considerável do seu peso e da sua carga seja
a) Veículos afetos ao serviço regular de transporte de passageiros, suportada pelo trator ou pelo veículo automóvel;
cujo percurso de linha não ultrapasse 50 quilómetros; c) “Condutor”: qualquer pessoa que conduza o veículo, mesmo
b) Veículos cuja velocidade máxima autorizada não ultrapasse 40 durante um curto período, ou que, no contexto da atividade que
km/hora; exerce, esteja a bordo de um veículo para poder eventualmente
c) Veículos que sejam propriedade das forças armadas, da conduzir;
proteção civil, dos bombeiros ou das forças policiais ou alugados d) “Pausa”: período durante o qual o condutor não pode efetuar
sem condutor por estes serviços, quando o transporte for efetuado nenhum trabalho de condução ou outro e que é exclusivamente
em resultado das funções atribuídas a estes serviços e estiver sob o utilizado para recuperação;
controlo destes; e) “Outro trabalho”: todas as atividades definidas como tempo de
d) Veículos, incluindo aqueles utilizados em operações não trabalho na alínea a) do artigo 3º da Diretiva 2002/15/CE, com
comerciais de transporte de ajuda humanitária, utilizados em exceção da “condução”, bem como qualquer trabalho prestado
situações de emergência ou operações de salvamento; ao mesmo ou a outro empregador dentro ou fora do sector dos
e) Veículos especializados afetos a serviços médicos; transportes;
f) Veículos especializados de pronto-socorro circulando num raio de f) “Repouso”: período ininterrupto durante o qual o condutor pode
100 km a partir do local de afetação; dispor livremente do seu tempo;
g) Veículos que estejam a ser submetidos a ensaios rodoviários g) “Período de repouso diário”: período diário durante o qual o
para fins de aperfeiçoamento técnico, reparação ou manutenção, condutor pode dispor livremente do seu tempo e que compreende
e veículos novos ou transformados que ainda não tenham sido um “período de repouso diário regular” ou um “período de
postos em circulação; repouso diário reduzido”:
h) Veículos ou conjuntos de veículos com massa máxima - “período de repouso diário regular”: período de repouso de,
autorizada não superior a 7,5 toneladas, utilizados em transportes pelo menos, 11 horas. Em alternativa, este período de repouso
não comerciais de mercadorias; diário regular pode ser gozado em dois períodos, o primeiro dos
i) Veículos comerciais com estatuto histórico de acordo com a quais deve ser um período ininterrupto de, pelo menos, 3 horas e o
legislação do Estado-Membro em que são conduzidos, que sejam segundo um período ininterrupto de, pelo menos, 9 horas;
utilizados para o transporte não comercial de passageiros ou de - “período de repouso diário reduzido”: período de repouso de,
mercadorias. pelo menos, 9 horas, mas menos de 11 horas;

61
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
h) “Período de repouso semanal”: período semanal durante um período de repouso ou uma pausa, até gozar um período de
o qual o condutor pode dispor livremente do seu tempo e que repouso ou uma pausa. O período de condução pode ser contínuo
compreende um “período de repouso semanal regular” ou um ou não.
“período de repouso semanal reduzido”:
- “período de repouso semanal regular”: período de repouso de, RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE
pelo menos, 45 horas; É proibido remunerar os condutores assalariados, mesmo sob a
- “período de repouso semanal reduzido”: período de repouso forma de concessão de prémios ou de suplementos de salário, em
de menos de 45 horas, que pode, nas condições previstas no nº 6 função das distâncias percorridas e/ou do volume das mercadorias
do artigo 8º, ser reduzido para um mínimo de 24 horas transportadas, se essa remuneração for de natureza tal que
consecutivas; comprometa a segurança rodoviária e/ou favoreça a violação do
i) “Semana”: período entre as 00h00 de segunda-feira e as 24h00 presente regulamento.
de domingo;
j) “Tempo de condução”: tempo de condução registado: As empresas de transportes devem organizar o trabalho dos
- de forma automática ou semiautomática pelo aparelho de condutores de modo a que estes possam cumprir as regras
controlo a que se referem os anexos I e IB do Regulamento (CEE) referentes aos períodos de repouso e trabalho.
nº 3821/85; ou
- manualmente, nos termos do nº 2 do artigo 16º do As empresas de transportes são responsáveis por qualquer infração
Regulamento (CEE) nº 3821/85. cometida pelos condutores da empresa, ainda que essa infração
k) “Tempo diário de condução”: total acumulado dos períodos de tenha sido cometida no território de outro
condução entre o final de um período de repouso diário e o início Estado-Membro ou de um país terceiro.
do período de repouso diário seguinte ou entre um período de
repouso diário e um período de repouso semanal; As empresas de transportes, os expedidores, transitários,
l) “Tempo semanal de condução”: total acumulado dos períodos de operadores turísticos, contratantes principais, subcontratantes e
condução durante uma semana; agências de emprego de condutores garantirão que os calendários
m) “Massa máxima autorizada”: massa máxima admissível do aprovados contratualmente em matéria de tempo de transporte
veículo carregado, em ordem de marcha; obedecem ao disposto no regulamento 561/2006.
n) “Serviços regulares de passageiros”: os transportes nacionais e
internacionais, definidos no artigo 2º do Regulamento (CEE) Uma empresa de transportes que utilize veículos dotados de
nº 684/92 do Conselho, de 16 de Março de 1992, que estabelece tacógrafos digitais deve:
regras comuns para os transportes internacionais de passageiros a) garantir que todos os dados sejam descarregados da unidade
em autocarro [10]; instalada no veículo e do cartão de condutor com a regularidade
o) “Tripulação múltipla”: a situação que se verifica quando, prevista pelo Estado-Membro. A empresa de transportes deve, se
durante qualquer período de condução efetuado entre dois necessário, descarregar os dados relevantes com maior frequência,
períodos consecutivos de repouso diário ou entre um período de por forma a assegurar que todos os dados relativos às atividades
repouso diário e um período de repouso semanal, há pelo menos realizadas por ou para essa empresa sejam descarregados;
dois condutores no veículo para conduzir. A presença de outro b) garantir que todos os dados descarregados da unidade
ou outros condutores é facultativa durante a primeira hora de instalada no veículo e do cartão de condutor sejam conservados
tripulação múltipla, mas obrigatória no resto do período; durante pelo menos doze meses após o registo e, caso um agente
p) “Empresa transportadora” ou “empresa de transportes”: encarregado do controlo o exija, sejam acessíveis, diretamente ou
entidade que se dedica ao transporte rodoviário e que pode ser à distância, a partir das suas instalações.
uma pessoa singular ou coletiva, uma associação ou um grupo de
pessoas sem personalidade jurídica, com ou sem fins lucrativos, No caso de o veículo não estar equipado com tacógrafo, aplicam-se
ou um organismo oficial, com personalidade jurídica própria ou aos seguintes serviços:
dependente de uma autoridade com personalidade jurídica, que a) Serviços de transporte nacional regular de passageiros; e
age por conta de outrem ou por conta própria; b) Serviços de transporte internacional regular de passageiros
q) “Período de condução”: o período de condução acumulado a cujos terminais se situem a uma distância não superior a 50 km,
partir do momento em que o condutor começa a conduzir após em linha reta, da fronteira entre dois Estados-Membros e cuja
extensão total não exceda 100 quilómetros.

62
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
As empresas de transportes devem estabelecer um horário e uma fundamental conhecer o significado da comutação e a identificação
escala de serviço, indicando, para cada condutor, o nome, o local dos diferentes grupos de tempo.
a que está afeto e o horário previamente fixado para os diferentes
períodos de condução, outros tipos de trabalho, pausas e
disponibilidade. Cada condutor afeto a um serviço deve ser
portador de um extrato da escala de serviço e de uma cópia do
horário de serviço.

A escala de serviço deve:


a) Incluir todos os dados acima referidos relativamente a um
período mínimo que abranja os 28 dias anteriores; estes dados Relativamente ao tacógrafo analógico devem ser asseguradas as
devem ser regularmente atualizados, com uma periodicidade seguintes condições:
máxima de um mês; - Verificações periódicas;
b) Ser assinada pelo chefe da empresa de transportes ou por uma - Inviolabilidade das selagens e mecanismos de registo;
pessoa com poderes para o representar; - Não abertura durante o período diário de trabalho, exceto em
c) Ser conservada pela empresa de transportes durante um ano caso de mudança de viatura ou a pedido das autoridades de
após o termo do período abrangido. A empresa fornecerá um controlo.
extrato da escala aos condutores interessados que o solicitarem; e
d) Ser apresentada e entregue, a pedido, aos agentes
encarregados do controlo.

O tacógrafo é o equipamento instalado a bordo dos veículos


rodoviários para indicação, registo e armazenamento dos dados
sobre a marcha desses veículos (distância percorrida,
velocidade...), assim como sobre certos períodos de trabalho
dos condutores (condução, pausas/repouso, outros trabalhos e
disponibilidade). A folha de registo (disco) a colocar no tacógrafo foi concebida para
receber e fixar os registos. Sobre a folha de registo os
Atualmente existem dois tipos de tacógrafos em uso: o tacógrafo dispositivos de marcação do tacógrafo inscrevem de forma
analógico e o tacógrafo digital, sendo que este último substituirá contínua os diagramas a registar.
na totalidade o primeiro. • Válido por um período de 24 horas (a contar da colocação do
diagrama no interior do tacógrafo)
• Cada folha diz respeito a um único motorista (caso o motorista
O tacógrafo analógico mude de viatura deve fazer-se acompanhar dos seus diagramas
O tacógrafo analógico standard/
A partir do momento em que o diagrama é introduzido no
manual é o aparelho no qual é
tacógrafo, não pode ser retirado até ao fim do período de trabalho
necessário acionar o comutador
diário naquela viatura.
para todos os tipos de tempo,
mesmo o da condução.
O motorista deve retirar o diagrama quando termina o seu período
de trabalho e a viatura vai ser usada por outro motorista
O tacógrafo analógico automático
Não pode utilizar diagramas sujos ou danificados, pelo que tem de
Regista apenas de forma
os proteger de forma adequada sem os dobrar, riscar ou amolgar.
automática o tempo de condução,
No caso de danificar um diagrama que contenha registos tem que
pelo que é necessário que o motorista assegure a comutação do
juntar o diagrama danificado a um outro diagrama para
aparelho para que os restantes registos se façam corretamente.
substituição.
Para que o tacógrafo faça os registos de forma correta, é

63
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
Tem que utilizar o diagrama sempre que conduz, a partir do O tacógrafo digital
momento que toma a viatura a seu cargo.
Não pode retirar o diagrama antes do fim do serviço diário, a O tacógrafo digital deve ser instalado e utilizado nos veículos
menos que haja troca de viatura. Não pode utilizar o mesmo afetos ao transporte rodoviário de passageiros ou de mercadorias,
diagrama na mesma viatura, por um período superior a 24 horas. matriculados em Portugal a partir de Maio de 2006.
Quando toma a viatura a seu cargo o motorista deve efetuar os Também têm de instalar tacógrafo digital, os veículos afetos ao
seguintes registos: transporte rodoviário, com data de primeira matrícula posterior a
a) Nome e apelido 1 de Janeiro de 1996, cujo tacógrafo (analógico) sofra avaria ou
b) Data e local do início da utilização da viatura. mau funcionamento, irreparáveis, que implique a sua substituição.
c) Matrícula da viatura.
d) Kms da viatura Não precisam de aparelho de controlo ou tacógrafo digital os
transportes efetuados por meio de:
Durante o período de serviço o motorista deve acionar os dispositi- a) Veículos afetos ao transporte de mercadorias e cujo peso
vos de comutação correspondente à atividade a desempenhar. máximo autorizado, incluindo o dos reboques ou dos
semirreboques, não ultrapasse 3,5 toneladas;
Quando terminar o serviço o motorista deve registar no diagrama: b) Veículos afetos ao transporte de passageiros que, de acordo com
a) Data e local do fim do serviço. o seu tipo de construção e o seu equipamento, estejam aptos a
b) Kms da Viatura. transportar um número máximo de nove pessoas, incluindo o
c) Kms percorridos, (conferir visualmente com os kms registados condutor e se destinem a esse efeito;
no diagrama, erro máximo 4%) c) Veículos afetos ao serviço regular de passageiros, cujo percurso
d) Verificar a concordância entre a marcação horária no diagrama da linha não ultrapasse 50 quilómetros. No caso de transportes
e a hora real. regulares de passageiros internacionais, aqueles cujos terminais
e) Verificar se existe algum empeno na agulha do tacógrafo, e da linha se encontram a uma distância de 50 quilómetros em linha
se for caso disso, efetuar o preenchimento da comunicação de reta de uma fronteira entre dois Estados-membros, e cuja linha
avarias. não ultrapasse um percurso de 100 quilómetros.
O motorista deve apresentar às autoridades fiscalizadoras, os d) Veículos cuja velocidade máxima autorizada não ultrapasse 30
diagramas da semana em curso e os diagramas referentes aos km/hora;
últimos 15 dias consecutivos. e) Veículos ao serviço ou sob o comando das forças armadas, da
proteção civil, dos bombeiros, das forças policiais;
O motorista deve informar a entidade patronal, por escrito, f) Veículos afetos aos serviços de esgotos, de proteção contra
quaisquer avarias ou funcionamento deficiente do tacógrafo. inundações, serviços de água, gás e eletricidade, manutenção da
rede viária, recolha de lixo, telégrafos e telefones, correios,
A entidade patronal deve entregar aos condutores o nº suficiente radiodifusão, televisão e deteção de emissores ou recetores de
de diagramas de tacógrafo e assegurar que o motorista se faz televisão ou rádio;
acompanhar dos diagramas exigidos por Lei, não lhe solicitando g) Veículos utilizados em situações de urgência ou em operações
que os entregue antes dessa data. de salvamento;
h) Veículos especializados afetos a serviços médicos;
Em caso de avaria ou de funcionamento deficiente do tacógrafo i) Veículos que transportem material de circo ou de feira;
deve, assim que as circunstâncias o permitam, proceder à sua j) Veículos de pronto-socorro;
reparação por entidades qualificadas. l) Veículos submetidos a testes rodoviários para fins de aperfeiçoa-
mento técnico, reparação ou manutenção e veículos novos ou
A empresa é obrigada a guardar os diagramas durante o período transformados que, ainda, não tenham sido postos em circulação;
de um ano e de os apresentar às autoridades fiscalizadoras m) Veículos utilizados em transportes não comerciais de bens para
quando lhes for solicitado. fins privados;
n) Veículos utilizados na recolha de leite nas quintas ou na
devolução às quintas de contentores para leite ou laticínios

64
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
destinados à alimentação do gado. O aparelho de controlo tem a função de registar, memorizar,
exibir, imprimir e transmitir (ou dar saída para meios externos) os
De acordo com o disposto na Portaria 222/2008 os veículos afetos dados relativos às atividades do condutor.
à instrução e a exames de condução encontram-se isentos das
disposições relativas aos tempos de condução/repouso e A instalação, ativação, verificação, calibração, inspeção e
dispensados da obrigação de instalar e ou utilizar o aparelho de reparação do tacógrafo digital só pode ser efetuada por entidades
controlo (tacógrafo). devidamente certificadas pelo Instituto Português da
Qualidade - IPQ.
O tacógrafo digital ou aparelho de controlo é um equipamento
completo destinado a ser instalado a bordo dos veículos A ativação de um aparelho de controlo é feita por intermédio de
rodoviários para indicação, registo e memorização automática ou um cartão de centro de ensaio, com introdução do correspondente
semi-automática de dados sobre a marcha desses veículos, assim código de identificação (PIN code).
como sobre tempos de condução e de repouso dos condutores.
O aparelho de controlo ou tacógrafo digital está sujeito a
inspeções para verificação sobre o seu funcionamento e precisão
dos seus registos e leituras.

Há lugar a inspeção:
- após qualquer reparação do aparelho;
- sempre que se verifique alteração do coeficiente caraterístico do
veículo ou do perímetro efetivo dos pneus das rodas;
- quando a hora (UTC) do aparelho de controlo apresentar
desfasamentos superiores a 20 minutos;
Os aparelhos de controlo têm as funções de visualização da - quando a matrícula do veículo (VRN) for alterada.
velocidade e de indicação das distâncias percorridas incorporadas.
As inspeções periódicas terão lugar pelo menos uma vez no prazo
CARATERÍSTICAS GERAIS TACÓGRAFO DIGITAL de dois anos (24 meses) após a última inspeção.
É constituído pela unidade-veículo (UV), cabos de ligação e um
sensor de movimentos: - a unidade- veículo inclui uma unidade de CARTÕES TACOGRÁFICOS
processamento, uma memória de dados, um relógio de tempo real, O cartão tacográfico é um cartão inteligente (com um chip
duas interfaces para cartões inteligentes (condutor e ajudante), incorporado) que comporta uma aplicação destinada à sua
uma impressora, um visor (ecrã de visualização), um alerta visual, utilização com o aparelho de controlo e que permite determinar
um conector de calibração/descarregamento e os instrumentos a identidade (ou o grupo identificativo) do titular, bem como a
para a introdução de dados por parte do utilizador; transferência e a memorização de dados.

Pode ser ligado a outros dispositivos por intermédio de conectores A inobservância das normas relativas à utilização do tacógrafo
adicionais (porém a inclusão de funções ou dispositivos, digital está sujeita às penalidades estabelecidas no regime
homologados ou não, no aparelho de controlo, ou a sua ligação sancionatório previsto para as infrações em matéria de tempos de
a ele, não devem interferir, real ou potencialmente, com o seu condução e repouso e de utilização do aparelho de controlo.
funcionamento correto).
FUNÇÕES BÁSICAS DO CARTÃO TACOGRÁFICO
Os utilizadores identificam-se relativamente ao aparelho de • Memorizar os dados de identificação do cartão e do seu titular.
controlo por intermédio de cartões tacográficos; Estes dados são utilizados pela UV para identificar o titular do
cartão, facultar correspondentemente funções e direitos de acesso
Proporciona o direito de acesso seletivo aos dados e funções em a dados e assegurar a responsabilização do titular do cartão pelas
conformidade com o tipo e/ou a identidade do utilizador. Regista suas atividades.
e memoriza dados na sua memória e em cartões tacográficos. • Memorizar os dados relativos às atividades do titular do

65
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
cartão, a incidentes e falhas e às atividades de controlo memoriados no aparelho de controlo.
relacionadas com o titular.
A empresa pode ser titular do número de cartões de empresa que
O cartão tacográfico destina-se a ser utilizado por um dispositivo considere necessários. O prazo máximo de validade, dos cartões de
de interface na UV mas pode também ser utilizado por qualquer empresa, é de cinco anos.
leitor de cartões (por exemplo, um computador pessoal), o qual
deve dispor de direitos plenos de acesso à leitura de dados de Quando a empresa suspender ou terminar a sua atividade, deve
utilização. devolver à entidade emissora o cartão ou cartões de empresa que
lhe tenham sido emitidos.
Os cartões tacográficos são os seguintes:
- Cartão de condutor; É compatível a titularidade simultânea de cartão de empresa com
- Cartão de empresa; cartão de condutor. No entanto, não é admitida a titularidade de
- Cartão de centro de ensaio (ou centro técnico); cartão de empresa com cartões de centro técnico e de controlo.
- Cartão de controlo.
O cartão de centro de ensaio
O cartão do condutor tem carácter destina-se ao fabricante ou
pessoal, contém a identificação do instalador de aparelhos de
condutor e permite a memorização dos controlo, fabricante do veículo ou
dados relativos às suas atividades. centro de ensaio, devidamente
autorizados. Permite o ensaio
A condução de veículos equipados com tacógrafo digital só pode (instalação, ativação, verificação,
ser efetuada por motoristas equipados com o cartão de condutor. calibração, inspeção e reparação)
Cada condutor só poderá ser titular de um único cartão de e/ou transferência de dados do
condutor e apenas poderá utilizar o seu próprio cartão aparelho de controlo.
personalizado, cujo prazo máximo de validade é de cinco anos.
Os cartões de centro de ensaio, devem ser preenchidos com a
O condutor não pode utilizar um designação do centro de ensaio e da pessoa habilitada a efetuar
cartão defeituoso ou cujo prazo operações técnicas e têm o prazo máximo de validade de um ano.
de validade tenha caducado, ou
de que tenha sido declarada a sua Podem requerer cartões de centro de ensaio ou centro técnico as
perda ou roubo. entidades que para o efeito tenham sido certificadas pelo IPQ,
designadamente:
Durante o prazo de validade, não poderá ser retirado ou suspenso - fabricantes ou representantes legais de fabricantes estrangeiros
sob nenhuma justificação, a menos que se comprove que tenha de veículos, que tenham instalações fabris em Portugal, em cujos
sido falsificado, que o condutor utilize um cartão de que não é veículos seja necessário instalar tacógrafos digitais;
titular, ou ainda se tiver sido obtido com falsas declarações ou - fabricantes de carroçarias de autocarros nos quais seja necessário
através de documentos falsificados. instalar tacógrafos digitais;
- fabricantes e representantes legais de fabricantes estrangeiros de
É compatível a titularidade simultânea de cartão de condutor e de tacógrafos digitais e as suas oficinas concessionárias;
cartão de empresa. - oficinas de reparação de veículos do ramo mecânico ou elétrico
que efetuem operações de instalação, ativação, calibração,
O Cartão de empresa identifica a reparação e verificação periódica de tacógrafos.
empresa proprietária ou locatária O cartão de centro de ensaio só pode ser utilizado pelo técnico que
de um veículo equipado com nele está identificado, sendo obrigatória a devolução do cartão
aparelho de controlo e permite à entidade emissora quando esse técnico deixar de trabalhar no
visualizar, descarregar/transferir centro de ensaio.
ou imprimir os dados

66
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
Não é admitida a titularidade simultânea de cartões de centro A transferência pode ser integral ou parcial, na condição de que
técnico com os outros cartões tacográficos. não haja descontinuidade dos dados. Quando seja parcial, os
dados relativos ao último dia da transferência precedente devem
O cartão de controlo identifica ser incluídos. A transferência de dados, do cartão ou da UV, não
o organismo (ou a pessoa pode alterar nem apagar nenhum dos dados armazenados.
responsável) pelo controlo e
fiscalização rodoviária e A transferência ou descarga de dados dos cartões dos condutores
permite acesso aos dados deverá fazer-se, nos seguintes prazos e situações:
registados na memória do - Pelo menos em cada 28 dias, para garantir que não aconteça
aparelho de controlo ou nos cartões de condutor, para leitura, sobreposição de dados;
impressão e/ou transferência dos dados. - Quando o condutor deixar de trabalhar para a empresa;
- Em caso de caducidade do cartão;
Os cartões de controlo têm sempre a designação do organismo de - Antes da devolução do cartão ao órgão emissor quando tal seja
controlo e são emitidos com o prazo máximo de validade de cinco exigível.
anos.
A transferência de dados da unidade intravascular deverá fazer-se,
Sempre que o possuidor de um cartão de controlo deixar de nos seguintes prazos ou situações:
prestar serviço nos organismos de controlo ou nos corpos de - Pelo menos, em cada três meses;
segurança encarregados da vigilância e controlo dos transportes - Em caso de venda ou restituição de veículo locado;
rodoviários, os cartões deverão ser devolvidos à entidade emissora - Quando se detete um mau funcionamento da UV, mas seja ainda
ou organismo de controlo. possível a descarga de dados.

Não é admitida a titularidade simultânea de cartões de controlo CONSERVAÇÃO DE DADOS, INTEGRIDADE, CONFIDENCIALIDADE E
com os outros cartões tacográficos (condutor, centro técnico e DISPONIBILIDADE DOS DADOS ARMAZENADOS
empresa). Todas as empresas proprietárias ou locatárias de veículos
equipados com tacógrafo digital são obrigadas a manter os dados
TRANSFERÊNCIA OU DESCARREGAMENTO DE DADOS DO TACÓGRAFO transferidos, guardados e disponíveis na empresa durante, pelo
DIGITAL PARA MEIOS EXTERNOS menos, um ano, a contar da data do seu registo.
A unidade do veículo deve poder descarregar dados da sua
memória para meios externos de memorização, seja da UV seja do As empresas proprietárias ou locatárias de veículos equipados com
cartão do condutor. tacógrafo digital deverão dispor dos mecanismos de segurança
necessários para garantir as condições de integridade,
Complementarmente, e como função opcional, o aparelho de confidencialidade e disponibilidade dos dados armazenados.
controlo deve, em qualquer modo de funcionamento, poder
transferir dados por intermédio de outro conector, para uma
empresa autenticada através deste canal.
1. 3 - Sanções em caso de não utilização, má
utilização ou falsificação do tacógrafo
As empresas proprietárias ou locatárias de veículos equipados com
tacógrafo digital devem proceder à transferência ou descarga de A fiscalização do cumprimento do disposto no presente decreto-lei
dados da unidade veículo (UV) e dos cartões dos condutores para compete ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres,
qualquer meio fiável de armazenamento externo, cujo formato I. P. (IMT, I. P.), à Autoridade para as Condições do Trabalho, à
seja compatível com o sistema de ficheiros do Windows XP ou Guarda Nacional Republicana e à Polícia de Segurança Pública.
equivalente. Estas entidades podem proceder, junto das pessoas singulares ou
coletivas que efetuem transportes rodoviários, a todas as
A transferência ou descarga de dados, consiste na cópia (conjun- investigações e verificações necessárias para o exercício da sua
tamente com assinatura digital) de uma parte ou de um conjunto competência fiscalizadora.
completo de dados memorizados na memória do veículo ou na
memória do cartão de condutor.

67
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
Os funcionários do IMT, I. P., com competência na área da Empresa Motorista
fiscalização e no exercício das suas funções, desde que (cont.)
devidamente credenciados, têm livre acesso aos locais destinados Manipulação do aparelho de
ao exercício da atividade das empresas. controlo ou a instalação no
veículo de quaisquer dispositivos de
manipulação mecânicos, eletrónicos
O processamento das contraordenações e aplicação das coimas ou de outra natureza, que falseiem
compete ao IMT, I. P., e observa o regime geral das os dados ou alterem o correto e
normal funcionamento do tacógrafo, (cont.)
contraordenações. O IMT, I. P., organiza o registo das infrações sem prejuízo da responsabilidade Falta de cartão de condutor ou
cometidas. criminal; utilização de cartão caducado por
Utilização de veículo com tacógrafo qualquer dos membros da tripulação
avariado ou a funcionar defeituosa- afetos à condução de veículo
As infrações são classificadas de acordo com o seu grau de mente; equipado com tacógrafo digital;
gravidade em: Leves, Graves e Muito Graves. Destruição ou a supressão de quais- Utilização de cartão de condutor
quer dados registados no aparelho por pessoa diferente do seu titular,
de controlo ou no cartão tacográfico sem prejuízo da responsabilidade
Leve Grave Muito grave do condutor criminal;
Pess. singular: 100 a 300 € Pess. singular: 400 a 1200 € Pess. singular: 1200 a 3600 € Falta de conservação de dados Utilização de cartão de condutor
Empresa
Pess. coletiva: 100 a 300 € Pess. coletiva: 400 a 2000 € Pess. coletiva: 1200 a 6000 € transferidos do cartão do condutor originário, quando este tenha sido
Motorista 100 a 300€ 200 a 600€ 600 a 1800€ e do tacógrafo, pelas empresas substituído;
proprietárias ou locatárias de Utilização de cartão de condutor
veículos equipados com tacógrafo falsificado ou obtido por meio de
digital durante 365 dias a contar da falsas declarações, sem prejuízo da
Muito
data do seu registo; responsabilidade criminal;
grave
Contraordenações - Tipologia Utilização de tacógrafo, analógico
ou digital, não homologado, não
Manipulação do cartão de condutor
ou das folhas de registo, que falseie
verificado ou não ativado; os dados ou altere o seu correto
Empresa Motorista Utilização de aparelho de controlo e normal funcionamento, sem
que tenha sido instalado, verificado prejuízo da responsabilidade
Insuficiência de papel de ou reparado por entidade não criminal;
impressão, no caso dos tacógrafos reconhecida; Utilização de cartão de condutor ou
Utilização de cartão de condutor ou
digitais; Utilização de tacógrafo, analógico folha de registo deteriorado ou
folhas de registo sujos ou
Leve Inobservância da transmissão de ou digital, instalado por entidade danificado, em caso de dados
danificados, ainda que com dados
dados, sem a respetiva perda, nos reconhecida, em que falte a marca ilegíveis;
legíveis
prazos e situações referidas nos do instalador ou reparador nas Não comunicação formal da perda,
pontos 5 e 6. selagens, assim como a falta de furto ou roubo do cartão de condutor
Utilização de cartão de condutor selagem obrigatória, o documento às autoridades competentes do local
Falta de verificação do tacógrafo
deteriorado ou danificado, em caso comprovativo da selagem, a chapa onde tal ocorreu;
Utilização de folha de registo não
de dados legíveis; de instalação ou a não justificação Utilização incorreta de folhas de
conforme com o modelo
Utilização do cartão tacográfico, da abertura das selagens, nos casos registo ou cartão de condutor.
homologado;
quando tenha havido alteração dos permitidos;
Utilização de tacógrafo analógico em
dados relativos ao titular do mesmo, Inobservância de transferência de
veículo sujeito a tacógrafo digital;
sem que tenha sido requerida dados do cartão tacográfico de con-
Utilização de tacógrafo que se
Grave substituição nos 30 dias seguintes dutor e do aparelho de controlo nos
tenha avariado durante o percurso
à data em se produziu a causa prazos e situações a que se referem
ou se tenha verificado funciona-
determinante da alteração; os pontos 5 e 6, quando haja perda
mento defeituoso, se o regresso às
Incumprimento da obrigação de de dados.
instalações da empresa for superior
requerer, no prazo de sete dias, a
a uma semana;
substituição do cartão de condutor,
Falta de folhas de registo de dados
em caso de danificação, mau funcio- A tentativa e a negligência são puníveis, sendo, nesse caso,
no caso do tacógrafo analógico.
namento, extravio, furto ou roubo. reduzido para metade os limites mínimos e máximos referidos nos
Falta de aparelho de controlo, Recusa de sujeição a controlo; números anteriores.
tacógrafo analógico ou digital, Condução de veículo equipado com
Muito em veículo afeto ao transporte tacógrafo sem estar inserido a folha
grave rodoviário de passageiros ou de de registo, no caso de tacógrafo
MEDIDAS CAUTELARES
mercadorias, em que tal seja analógico, ou o cartão de condutor, Os cartões tacográficos serão apreendidos sempre que:
obrigatório; no caso de tacógrafo digital; • Haja indícios de falsificação;
• O condutor utilize um cartão de que não é titular;
• O cartão seja substituído e não devolvido;
• O cartão seja obtido com falsas declarações.

68
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
Os documentos do veículo serão apreendidos sempre que se qualificação inicial e formação contínua dos condutores de
verifique a prática de manipulação do aparelho de controlo ou a determinados veículos rodoviários de mercadorias e de
instalação no veículo de quaisquer dispositivos de manipulação passageiros.
mecânicos, eletrónicos ou de outra natureza, que falseiem os
dados ou alterem o correto e normal funcionamento do tacógrafo, Em Portugal esta Diretiva foi transposta pelo Decreto-Lei
sem prejuízo da responsabilidade criminal. Neste caso são nº 126/2009.
aplicáveis as regras do Código da Estrada sobre a apreensão de
documentos de identificação de veículo. Até há pouco tempo, o desempenho da função de motorista exigia
apenas a titularidade de carta de condução da respetiva
Se o infrator não for domiciliado em Portugal e não pretender categoria. Com a publicação desta regulamentação, passa a
efetuar o pagamento voluntário da coima, deve proceder ao exigir-se aos profissionais do transporte uma qualificação
depósito de quantia igual ao valor mínimo da coima prevista para profissional, garantindo-se mais conhecimentos e competências.
a contraordenação praticada.
Aos motoristas titulares de carta de condução válida para veículos
O pagamento voluntário ou o depósito devem ser efetuados no das categorias C e C+E e subcategorias C1 e C1+E e das categorias
ato da verificação da contraordenação, destinando-se o depósito a D e D+E e subcategorias D1 e D1+E passa a ser exigida uma carta
garantir o pagamento da coima em que o infrator possa vir a ser de qualificação de motorista, emitida pelo Instituto da Mobilidade
condenado, bem como das despesas legais a que houver lugar. e dos Transportes Terrestres, I. P. (IMT, I. P.), pelo período máximo
Se o infrator declarar que pretende pagar a coima ou efetuar o de cinco anos.
depósito e não puder fazê-lo no ato da verificação da
contraordenação, é-lhe concedido um prazo para o efeito, Não é exigida certificação aos motoristas dos seguintes veículos:
sendo-lhe apreendidos os documentos do veículo e o cartão a) Cuja velocidade máxima autorizada não ultrapasse 45 km/h;
tacográfico de condutor até à efetivação do pagamento ou do b) Ao serviço ou sob o controlo das forças armadas, das forças de
depósito. segurança, dos bombeiros ou da proteção civil;
c) Submetidos a ensaios de estrada para fins de aperfeiçoamento
A falta de pagamento ou do depósito implica a apreensão do técnico, reparação ou manutenção;
veículo, que se mantém até ao pagamento ou depósito ou à d) Novos ou transformados que ainda não tenham sido postos em
decisão absolutória. circulação;
e) Utilizados em situações de emergência ou afetos a missões de
O veículo apreendido responde nos mesmos termos que o depósito salvamento;
pelo pagamento das quantias devidas. f) Utilizados nas aulas de condução automóvel, com vista à
obtenção da carta de condução ou do certificado de aptidão para
Sempre que da apreensão de um veículo resultem danos, para as motorista (CAM), a que se refere o nº 2 do artigo 4º;
pessoas ou bens transportados ou para o próprio veículo, cabe à g) Com lotação até 14 lugares, incluindo o condutor, utilizados
pessoa singular ou coletiva que realiza o transporte a para o transporte não comercial de passageiros para fins privados;
responsabilidade por esses danos. h) Com peso bruto até 7500 kg, utilizados para o transporte não
comercial de bens, para fins privados;
i) Que transportem materiais ou equipamentos para o exercício da
1. 4 - Conhecimento do ambiente social do profissão do condutor, desde que a condução do veículo não seja a
transporte rodoviário (direitos e obrigações sua atividade principal.
dos motoristas em matéria de qualificação A emissão de carta de qualificação de motorista depende da posse
inicial e de formação contínua) de um Certificado de Aptidão de Motorista (CAM).

A Diretiva nº 2003/59/CE, do Parlamento Europeu e do O CAM comprova a qualificação inicial ou a formação contínua do
Conselho, de 15 de Julho, alterada pela Diretiva nº 2004/66/CE, motorista A emissão do CAM depende de aprovação em exame,
do Conselho, de 26 de Abril, e pela Diretiva nº 2006/103/CE, do após frequência da formação inicial ou da obtenção de
Conselho, de 20 de Novembro, veio impor um sistema de aproveitamento na formação contínua.

69
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
A qualificação comprovada pelo CAM é válida pelo período de TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
cinco anos, contados a partir da data do exame ou da conclusão da
formação contínua, consoante o caso.

O CAM obtido na sequência da formação de qualificação inicial


permite a obtenção de carta de condução para veículos das
categorias C e C+E e subcategorias C1 e C1+E, a partir dos 18 anos
de idade, conforme previsto na alínea c) do nº 2 do artigo 126º do
Código da Estrada, sem prejuízo das demais exigências legais.

O CAM é emitido pelo IMT, I. P., podendo esta competência ser


delegada por despacho do presidente do conselho diretivo do IMT,
I. P.

Qualificação inicial
1 — A qualificação inicial é obrigatória e integra as seguintes
QUALIFICAÇÃO INICIAL ACELERADA
modalidades:
O CAM obtido na sequência da qualificação inicial acelerada
a) Qualificação inicial comum;
habilita o seu titular a obter a carta de qualificação de motorista
b) Qualificação inicial acelerada.
para a condução nas seguintes condições:
a) A partir da idade de 18 anos, veículos das subcategorias C1 e
QUALIFICAÇÃO INICIAL COMUM
C1+E;
O CAM obtido na sequência da qualificação inicial comum habilita
b) A partir da idade de 21 anos, veículos das categorias C e C+E e
o seu titular a obter a carta de qualificação de motorista para a
subcategorias D1 e D1+E;
condução nas seguintes condições:
c) A partir da idade de 23 anos, veículos das categorias D e D+E.
a) A partir da idade de 18 anos, veículos das categorias C e C+E;
b) A partir da idade de 21 anos, veículos das categorias D e D+E.
O acesso à formação de qualificação inicial acelerada também não
depende da posse prévia da carta de condução correspondente.
O acesso à formação de qualificação inicial comum não depende
da posse prévia da carta de condução correspondente.
A formação de qualificação inicial acelerada tem a duração de
140 horas, distribuídas da seguinte forma:
A formação de qualificação inicial comum tem a duração de
280 horas, distribuídas da seguinte forma :
PESADOS DE MERCADORIAS
TRANSPORTE DE MERCADORIAS

70
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
PESADOS DE PASSAGEIROS atendíveis, devidamente comprovados, sendo facultada ao
candidato a possibilidade de realização do exame na época
seguinte, com dispensa de pagamento de nova taxa de inscrição.

O exame é anulado em caso de fraude ou tentativa de fraude.

Em caso de reprovação, o examinando pode consultar a sua prova


no prazo de dez dias úteis após a realização do exame. A decisão
é proferida nos quinze dias úteis seguintes, sendo notificada ao
reclamante.

Formação contínua
A formação contínua é obrigatória de cinco em cinco anos, antes
do fim da validade do CAM, e tem a duração de trinta e cinco horas
Concluído o curso de formação de qualificação inicial, comum ou lecionadas por períodos de pelo menos sete horas.
acelerada, os candidatos à obtenção do certificado de aptidão
para motorista (CAM), são submetidos a exame para obtenção de Em caso de caducidade, o CAM pode ser renovado mediante
qualificação inicial realizado pelo IMT. formação contínua.

São admitidos a exame os candidatos que tenham concluído a A formação contínua tem como objetivo a atualização dos
formação há menos de dois anos. conhecimentos fundamentais para a atividade do motorista, com
especial destaque para a segurança rodoviária e a racionalização
Os exames são compostos por uma prova escrita constituída por do consumo de combustível.
60 perguntas de escolha entre quatro respostas, perguntas de
resposta direta, ou uma combinação dos dois sistemas. Os motoristas de veículos de mercadorias que pretendam conduzir
veículos de passageiros, apenas são obrigados à frequência e
Os exames têm a duração de duas horas e são classificados na exame das matérias específicas ao transporte de passageiros. Os
escala de 0 a 100 valores, tendo cada questão igual cotação. A motoristas de veículos de passageiros que pretendam conduzir
aprovação em exame depende da obtenção de, pelo menos, 60 % veículos de mercadorias, apenas são obrigados à frequência e
da pontuação atribuída à prova. exame das matérias específicas ao transporte de mercadorias.

As inscrições para os exames são apresentadas coletivamente Os motoristas possuidores de capacidade profissional para o
pelas entidades formadoras, até ao último dia do mês anterior transporte rodoviário de mercadorias ou de capacidade
àquele em que se pretenda realizar o exame, através de aplicação profissional para o transporte rodoviário de passageiros em
informática disponibilizada pelo IMT. autocarro que pretendam adquirir a qualificação inicial prevista
no presente decreto -lei ficam dispensados da frequência e exame
Em caso de reprovação, o candidato poderá apresentar das matérias comuns às duas formações. Neste caso, a duração da
individualmente a sua candidatura a novo exame. formação inicial é de setenta horas, no cãs de qualificação inicial
O candidato só pode realizar o exame se comparecer no local comum, ou de trinta e cinco horas, no caso da qualificação inicial
indicado à hora marcada, munido de cartão de cidadão, bilhete de acelerada.
identidade ou outro documento de identificação válido e em bom
estado de conservação. A formação é ministrada por entidades formadoras licenciadas
pelo IMT, sendo titulado por alvará, emitido pelo prazo de cinco
Em caso de não comparência a exame, e a requerimento do anos, renovável mediante a comprovação de que se mantêm os
interessado, pode ser justificada a falta determinada por motivos requisitos previstos no artigo seguinte. Antes de se inscrever numa

71
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
ação de formação o motorista ou candidato a motorista deve os passageiros, as mercadorias transportadas ou para o próprio
informar-se junto do IMT se a entidade se encontra devidamente veículo cabe à pessoa singular ou coletiva que realiza o transporte
licenciada. a responsabilidade por esses danos, sem prejuízo do direito de
regresso.
As entidades formadoras dispõem de centros de formação. As
escolas de condução podem funcionar como centros de formação, Estão isentos da obrigação de qualificação inicial os motoristas:
desde que preencham os requisitos. a) Titulares de carta de condução das categorias D e D+E e
subcategorias D1 e D1+E, emitida até 9 de Setembro de 2008;
Os cursos de formação carecem de homologação prévia pelo IMT, b) Titulares de carta de condução das categorias C e C+E e
a qual é emitida pelo prazo de cinco anos, renovável mediante a subcategorias C1 e C1+E, emitida até 9 de Setembro de 2009.
comprovação de que se mantêm os requisitos necessários ao seu Os motoristas referidos na alínea a) do número anterior devem
funcionamento. obter a formação contínua e os correspondentes CAM e carta de
qualificação de motorista, nos seguintes termos:
O exercício da profissão de motorista sem a carta de qualificação a) Até 10 de Setembro de 2011, os que nesta data tiverem idade
de motorista (CQM) constitui contraordenação punível com coima não superior a 30 anos;
de € 1000 a € 3000. Se o motorista possui CQM, mas não a tiver b) Até 10 de Setembro de 2012, os que nesta data tiverem idade
em sua posse também comete uma contraordenação, sancionada compreendida entre 31 e 40 anos;
com coima de € 50 a € 150. c) Até 10 de Setembro de 2013, os que nesta data tiverem idade
compreendida entre 41 e 50 anos;
Se o infrator não pretender efetuar o pagamento voluntário, deve d) Até 10 de Setembro de 2015, os que nesta data tiverem idade
proceder ao depósito de quantia igual ao valor mínimo da coima superior a 50 anos.
prevista para a contra–ordenação praticada.
Os motoristas referidos na alínea b) do nº 1 devem obter a
O pagamento voluntário ou o depósito referidos no número formação contínua e os correspondentes CAM e carta de
anterior devem ser efetuados no ato de verificação da qualificação de motorista, nos seguintes termos:
contraordenação, destinando -se o depósito a garantir o a) Até 10 de Setembro de 2012, os que nesta data tiverem idade
pagamento da coima em que o infrator possa vir a ser não superior a 30 anos;
condenado, bem como das despesas legais a que houver lugar. b) Até 10 de Setembro de 2013, os que nesta data tiverem idade
compreendida entre 31 e 40 anos;
Se o infrator declarar que pretende pagar a coima ou efetuar o c) Até 10 de Setembro de 2014, os que nesta data tiverem idade
depósito e não puder fazê-lo no ato da verificação da contraorde- compreendida entre 41 e 50 anos;
nação, devem ser apreendidos a carta de condução e o livrete e d) Até 10 de Setembro de 2016, os que nesta data tiverem idade
título de registo de propriedade ou o certificado de matrícula do superior a 50 anos.
veículo até à efetivação do pagamento ou do depósito.
A carta de qualificação de motorista tem o seguinte modelo
No caso previsto no número anterior devem ser emitidas guias comunitário:
de substituição dos documentos apreendidos com validade não
superior a 90 dias, renovável.

A falta de pagamento ou do depósito nos termos dos números


anteriores implica a apreensão do veículo, que se mantém até ao
pagamento ou depósito ou à decisão absolutória.
Alguns Estados Membros optaram por averbar na carta de
O veículo apreendido responde nos mesmos termos que o depósito condução o código (restrição) 95. Desta forma o motorista precisa
pelo pagamento das quantias devidas. de se fazer acompanhar apenas da carta de condução. Tanto
uma situação como a outra são válidas e têm de ser aceites pelos
Sempre que da imobilização de um veículo resultem danos para restantes Estados Membros.

72
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
1. 5 - Igualdade de oportunidades e países e optar por realizar a formação onde lhe for mais
conveniente.
regulamentação aplicável
Têm acesso à qualificação inicial os seguintes motoristas
Os Estados Membros podem optar por registar a certificação na estrangeiros:
carta de condução (código 95) ou por emitir um documento de a) Nacionais de outro Estado membro da União Europeia que
modelo uniformizado (Diretiva 2003/59). Qualquer das situações tenham residência habitual no território nacional;
tem de ser reconhecida mutuamente pelos Estados Membros. b) Nacionais de um país terceiro que sejam detentores de
autorização de permanência ou de residência no território
O condutor pode optar por frequentar o curso de atualização no nacional.
país onde reside ou no país onde se encontra sediada a empresa
para a qual trabalha. Têm acesso à formação contínua, os motoristas estrangeiros com
residência habitual ou que trabalhem no território nacional.
A formação que recebeu, assim como a Carta de Qualificação de
Motorista é válida para trabalhar em qualquer Estado Membro.
Nenhum trabalhador pode ser impedido de trabalhar noutro
CONTEÚDO FORNECIDO POR:
Estado Membro, pelo fato de ser oriundo de outro Estado ANIECA - Departamento de Formação e Qualidade
Membro, nem lhe podem vir a ser exigidos requisitos que não o
sejam para os trabalhadores locais.

Contudo, nesta fase inicial de implementação têm vindo a surgir


alguns problemas, nomeadamente quando a carta de condução
foi emitida em país que optou por averbar a certificação na carta
de condução (código 95), mas realizou o curso em país diferente.
Neste caso, o país emissor da carta de condução pode não
reconhecer o certificado de formação emitido pela entidade
formadora e não proceder ao averbamento do código 95.

Ex: Na Holanda optaram por averbar a certificação na carta de


condução (código 95). Se o condutor apresentar um certificado a
comprovar que realizou o curso na Alemanha, ou na França, este
não é aceite pelas autoridades holandesas, pelo que não lhe será
averbada a certificação na carta de condução. Espera- se que esta
situação seja ultrapassada rapidamente.

A situação pode ser ainda mais complicada se o condutor realizar


metade da formação em cada um daqueles países. A legislação
permite que a formação se realize em períodos de 7 horas
distribuídas por 5 anos. Nada impede que esses períodos de
formação ocorram em diferentes Estados-Membros. No momento
de averbar a certificação podem surgir alguns problemas na
validação da formação. Para evitar problemas os motoristas devem
iniciar e concluir o curso no mesmo local.

Uma vez que o condutor pode optar se quer realizar o curso no


país onde reside, ou no país onde trabalha, deve ter a preocupação
de se informar sobre os sistemas de certificação em ambos os

73
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE

1. Conhecer a regulamentação relativa ao transporte de mercadorias


1. 1 - Regulamentação nacional e organismo dependente de uma autoridade pública, quer seja
dotado de personalidade jurídica própria quer dependa de uma
internacional autoridade dotada dessa personalidade, que efetue o transporte
de passageiros, ou uma pessoa singular ou coletiva que efetue o
O Regulamento 1071/2009 estabelece regras comuns no que se
transporte de mercadorias com fins comerciais;
refere aos requisitos para acesso à atividade de transportador
- «Gestor de transportes», uma pessoa singular empregada por
rodoviário e o seu exercício, aplicando-se a todas as empresas
uma empresa ou, se a empresa for uma pessoa singular, a própria
estabelecidas na Comunidade que exercem a atividade de
pessoa ou, no caso de estar prevista essa possibilidade, outra
transportador rodoviário. É igualmente aplicável às empresas que
pessoa singular designada por contrato por essa empresa, que
tencionem exercer a atividade de transportador rodoviário.
dirige de forma efetiva e permanente a atividade de transportes
da empresa;
Não é aplicável:
- «Autorização de exercício da atividade de transportador
- Às empresas que exerçam a atividade de transportador
rodoviário», uma decisão administrativa que autoriza uma
rodoviário de mercadorias exclusivamente por meio de veículos a
empresa que preenche os requisitos previstos no presente
motor ou de conjuntos de veículos cujo peso em carga admissível
regulamento a exercer a atividade de transportador rodoviário;
não exceda 3,5 toneladas. Todavia, os Estados-Membros podem
- «Autoridade competente», a autoridade de um Estado-Membro,
reduzir este limite para a totalidade ou parte das categorias de
a nível nacional, regional ou local, que, para autorizar o exercício
transportes rodoviários;
da atividade de transportador rodoviário, verifica se a empresa
- Às empresas que efetuem exclusivamente serviços de
preenche os requisitos previstos no presente regulamento, e que
transporte rodoviário de passageiros com fins não comerciais, ou
está habilitada a conceder, suspender ou retirar a autorização de
cuja atividade principal não seja a de transportador rodoviário de
exercício da atividade de transportador rodoviário;
passageiros;
- «Estado-Membro de estabelecimento», o Estado-Membro em que
- Às empresas que exerçam a atividade de transportador
uma empresa está estabelecida, quer o seu gestor de transportes
rodoviário exclusivamente por meio de veículos a motor cuja
provenha ou não de outro país.
velocidade máxima autorizada não exceda 40 km/h.
As empresas que exercem a atividade de transportador rodoviário
Entende-se por:
devem:
- «Atividade de transportador rodoviário de mercadorias», a
- Dispor de um estabelecimento efetivo e estável num
atividade das empresas que efetuam transportes de mercadorias
Estado-Membro;
por conta de outrem por meio de veículos a motor ou de conjuntos
- Ser idóneas;
de veículos;
- Ter a capacidade financeira apropriada; e
- «Atividade de transportador rodoviário de passageiros», a
- Ter a capacidade profissional exigida.
atividade das empresas que efetuam transportes de passageiros,
oferecidos ao público ou a certas categorias de utentes contra
Os Estados-Membros podem impor requisitos suplementares, que
um preço pago pela pessoa transportada ou pelo organizador do
devem ser proporcionados e não discriminatórios, a preencher
transporte, por meio de veículos automóveis que, pelo seu tipo de
pelas empresas para serem autorizadas a exercer a atividade de
construção e equipamento, sejam aptos para o transporte de mais
transportador rodoviário.
de nove pessoas, incluído o condutor, e se encontrem afetos a essa
utilização;
As empresas que exercem a atividade de transportador rodoviário
- «Atividade de transportador rodoviário», a atividade de
devem designar pelo menos uma pessoa singular, o gestor de
transportador rodoviário de passageiros ou de transportador
transportes e que:
rodoviário de mercadorias;
- Dirija efetiva e permanentemente a atividade de transportes da
- «Empresa», uma pessoa singular, uma pessoa coletiva, com ou
empresa;
sem fins lucrativos, uma associação ou agrupamento de pessoas
- Tenha um vínculo genuíno com a empresa, como por exemplo ser
sem personalidade jurídica, com ou sem fins lucrativos, ou um

74
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
empregado, administrador, proprietário ou acionista, ou - Uma vez concedida a autorização, dispor de um ou mais veículos,
administrá-la, ou, se a empresa for uma pessoa singular, ser a matriculados ou colocados em circulação em conformidade com
própria pessoa; e a legislação desse Estado-Membro, detidos em propriedade plena
- Resida na Comunidade. ou detidos, por exemplo, em virtude de um contrato de aluguer
com opção de compra ou de um contrato de aluguer ou de locação
Se uma empresa não preencher o requisito de capacidade financeira;
profissional a autoridade competente pode autorizá-la a exercer a - Efetuar efetiva e permanentemente, com os equipamentos
atividade de transportador rodoviário, sem um gestor de administrativos necessários, as suas operações relativas aos
transportes, desde que: veículos, e com os equipamentos e serviços técnicos adequados,
- A empresa designe uma pessoa singular residente na num centro de exploração localizado nesse Estado-Membro.
Comunidade que preencha os requisitos estabelecidos, e que esteja
habilitada por contrato a desempenhar as funções de gestor de Para determinarem se uma empresa preenche esse requisito,
transportes por conta da empresa; os Estados-Membros devem ter em conta a conduta da empresa,
- O contrato que vincula a empresa e a pessoa especifique as dos seus gestores de transportes e de quaisquer outras pessoas
funções a desempenhar de forma efetiva e permanente por essa pertinentes que o Estado-Membro indique. Todas as referências no
pessoa e indique as suas responsabilidades enquanto gestor de presente artigo a condenações, sanções ou infrações incluem as
transportes. As funções a especificar devem compreender, condenações, sanções ou infrações da própria empresa, dos seus
nomeadamente, as relacionadas com a gestão da manutenção e gestores de transportes e de quaisquer outras pessoas pertinentes
reparação dos veículos, a verificação dos contratos e dos que o Estado-Membro indique.
documentos de transporte, a contabilidade básica, a distribuição
dos carregamentos ou dos serviços pelos motoristas e pelos Para preencher o requisito previsto de capacidade financeira,
veículos, e a verificação dos procedimentos de segurança; a empresa deve poder cumprir em qualquer momento as suas
- A pessoa possa gerir, na qualidade de gestor de transportes, as obrigações financeiras no decurso do exercício contabilístico anual.
atividades de transporte de quatro empresas distintas, no máximo, Para esse efeito, a empresa deve demonstrar, com base nas contas
efetuadas com uma frota total máxima combinada de 50 veículos. anuais, depois de certificadas por um auditor ou por outra pessoa
Os Estados-Membros podem reduzir o número de devidamente acreditada, que dispõe anualmente de um capital e
empresas e/ou a frota total de veículos que essa pessoa pode de reservas de valor que totalizem pelo menos 9 000 EUR, no caso
gerir; e de ser utilizado um único veículo, e 5 000 EUR por cada veículo
- A pessoa efetue as tarefas especificadas exclusivamente no adicional utilizado.
interesse da empresa e as suas responsabilidades sejam exercidas
independentemente de quaisquer empresas para as quais a Para preencher o requisito de capacidade profissional, a pessoa ou
empresa realiza operações de transporte. as pessoas em causa devem possuir os conhecimentos
correspondentes ao nível previsto na Parte I do anexo I deste
Os Estados-Membros podem decidir que um gestor de transportes Regulamento, nas matérias nela enumeradas. Esses conhecimentos
designado possa apenas ser designado em relação a um número devem ser demonstrados mediante um exame escrito obrigatório
limitado de empresas ou a uma frota de veículos. A empresa deve: que, se o Estado-Membro assim o decidir, pode ser completado com
- Dispor de um estabelecimento, localizado nesse Estado- um exame oral. Os exames devem ser organizados de acordo com
-Membro, com instalações onde conserva os principais documentos o disposto na Parte II do anexo I deste regulamento. Para esse
da empresa, nomeadamente os documentos contabilísticos, os efeito, os Estados-Membros podem decidir impor uma formação
documentos de gestão do pessoal, os documentos que contenham antes do exame.
dados relativos aos tempos de condução e repouso, e qualquer
outro documento a que a autoridade competente deva poder ter Os interessados devem ser examinados no Estado-Membro que
acesso para verificar o preenchimento dos requisitos previstos no corresponde à sua residência habitual ou no Estado-Membro em
presente regulamento. Os Estados-Membros podem exigir que os que trabalham.
estabelecimentos localizados no seu território também tenham
outros documentos à disposição nas suas instalações a qualquer Por residência habitual, entende-se o local onde a pessoa vive
momento; habitualmente, ou seja, pelo menos, 185 dias em cada ano civil,

75
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
em consequência de vínculos pessoais indiciadores da existência de das empresas de transporte rodoviário autorizadas a exercer a
uma relação estreita entre a pessoa e o local onde vive. atividade de transportador rodoviário por uma autoridade
competente por ele designada. O tratamento dos dados contidos
Todavia, a residência normal de uma pessoa cujos vínculos nesse registo deve ser efetuado sob o controlo da autoridade
profissionais se situem num lugar diferente do lugar onde possui pública designada para o efeito. Os dados relevantes contidos no
os seus vínculos pessoais e que, por esse fato, viva alternadamente registo eletrónico nacional devem ser acessíveis a todas as
em lugares distintos situados em dois ou mais autoridades competentes do Estado-Membro em causa.
Estados-Membros, considera-se como estando situada no lugar dos
seus vínculos pessoais, desde que aí se desloque regularmente. O Regulamento 1072/2009 estabelece regras comuns para o
Esta última condição não é exigida, nas situações em que a pessoa acesso ao mercado do transporte internacional rodoviário de
em causa viva num Estado-Membro para cumprir uma missão de mercadorias por conta de outrem em trajetos efetuados no
duração determinada. A frequência de uma universidade ou de território da Comunidade.
uma escola não implica a mudança da residência normal.
No caso de transportes com origem num Estado-Membro e com
Os Estados-Membros podem decidir dispensar do exame as pessoas destino a um país terceiro, e vice-versa, o presente regulamento
que comprovem ter dirigido de forma contínua uma empresa de é aplicável ao trajeto efetuado no território dos Estados-Membros
transportes rodoviários de mercadorias ou de passageiros num ou atravessados em trânsito. Não é aplicável ao trajeto efetuado no
mais Estados-Membros durante o período de 10 anos anterior a 4 território do Estado-Membro de carga ou de descarga, enquanto
de Dezembro de 2009. não tiver sido celebrado o necessário acordo entre a Comunidade e
o país terceiro em causa.
Cada Estado-Membro designa uma ou várias autoridades
competentes encarregadas de assegurar a correta aplicação do Este regulamento é aplicável aos transportes nacionais rodoviários
presente regulamento. Essas autoridades competentes devem estar de mercadorias efetuados a título temporário por transportadores
habilitadas a: não residentes.
- Analisar os pedidos apresentados pelas empresas;
- Autorizar o exercício da atividade de transportador rodoviário e Os seguintes tipos de transportes e de deslocações sem carga
suspender ou retirar as autorizações; relacionadas com esses transportes não necessitam de licença
- Declarar uma pessoa singular inapta para dirigir, na qualidade comunitária e estão dispensados de autorização de transporte:
de gestor de transportes, a atividade de transportes de uma - Transportes postais efetuados em regime de serviço universal;
empresa; - Transportes de veículos danificados ou avariados;
- Proceder aos controlos necessários para verificar se as empresas - Transportes de mercadorias em veículos cujo peso total em carga
preenchem os requisitos autorizada, incluindo a dos reboques, não exceda 3,5 toneladas;
- Transportes de mercadorias em veículos, desde que sejam
As autoridades competentes publicam todas as condições preenchidas as seguintes condições:
estabelecidas no presente regulamento, quaisquer outras • as mercadorias transportadas pertencerem à empresa ou
disposições nacionais, os procedimentos que os candidatos por ela terem sido vendidas, compradas, dadas ou tomadas de
interessados devem seguir e as notas explicativas correspondentes. aluguer, produzidas, extraídas, transformadas ou reparadas, o
transporte servir para encaminhar as mercadorias da ou para a
Sempre que um gestor de transportes deixe de ser considerado empresa ou para as deslocar, quer no interior da empresa, quer
idóneo a autoridade competente declara-o inapto para dirigir as no seu exterior, para satisfazer necessidades próprias desta, os
atividades de transportes de uma empresa. Enquanto não for veículos a motor utilizados nestes transportes serem conduzidos
aplicada uma medida de reabilitação nos termos das disposições por pessoal próprio da empresa ou por pessoal ao serviço da
legais nacionais aplicáveis, o certificado de capacidade profissional empresa nos termos de uma obrigação contratual, os veículos que
do gestor de transportes declarado inapto deixa de ser válido em transportem as mercadorias pertencerem à empresa ou terem sido
todos os Estados-Membros. por ela comprados a crédito ou alugados, desde que, neste último
caso, preencham as condições previstas na Diretiva 2006/1/CE
Cada Estado-Membro deve manter um registo eletrónico nacional do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Janeiro de 2006,

76
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
relativa à utilização de veículos de aluguer sem condutor no licença comunitária.
transporte rodoviário de mercadorias o transporte constituir
meramente uma atividade acessória do conjunto das atividades da Os transportes internacionais são efetuados a coberto de uma
empresa; licença comunitária, em conjugação com um certificado de
- Transportes de medicamentos, aparelhos e equipamento médicos, motorista caso o motorista seja nacional de um país terceiro.
bem como de outros artigos necessários em caso de socorro
urgente, nomeadamente no caso de catástrofes naturais. A licença comunitária é emitida por um Estado-Membro, nos
termos do presente regulamento, aos transportadores rodoviários
Entende-se por: de mercadorias por conta de outrem que:
«Veículo»: um veículo a motor matriculado num Estado-Membro - Estejam estabelecidos nesse Estado-Membro nos termos da
ou um conjunto de veículos acoplados, dos quais pelo menos o legislação comunitária e da legislação desse Estado-Membro; e
veículo a motor está matriculado num Estado-Membro, destinados - Estejam autorizados a efetuar no Estado-Membro de
exclusivamente ao transporte de mercadorias; estabelecimento, nos termos da legislação comunitária e da
legislação desse Estado-Membro em matéria de acesso à
«Transportes internacionais»: atividade de transportador, transportes rodoviários internacionais
- As deslocações em carga de um veículo cujos pontos de partida de mercadorias.
e de chegada se situam em dois Estados-Membros diferentes,
com ou sem trânsito por um ou vários Estados-Membros ou países A licença comunitária é emitida pelas autoridades competentes do
terceiros; Estado-Membro de estabelecimento por períodos renováveis que
- As deslocações em carga de um veículo com origem num não podem exceder dez anos.
Estado-Membro com destino a um país terceiro, e vice-versa, com
ou sem trânsito por um ou vários Estados-Membros ou países O Estado-Membro de estabelecimento entrega ao titular o original
terceiros; da licença comunitária, que deve ser conservado pelo
- As deslocações em carga de um veículo entre países terceiros, transportador, e o número de cópias certificadas correspondente ao
atravessando em trânsito o território de um ou mais número de veículos de que o titular da licença comunitária dispõe,
Estados-Membros; quer em propriedade plena quer a outro título, por exemplo em
- As deslocações sem carga relacionadas com os transportes acima virtude de um contrato de compra a prestações, de aluguer ou de
indicados. locação financeira.

«Estado-Membro de acolhimento»: um Estado-Membro em que A licença comunitária é emitida em nome do transportador e não
opera um transportador, distinto do Estado-Membro de é transmissível. Cada um dos veículos do transportador deve ter a
estabelecimento do transportador; bordo uma cópia certificada da licença comunitária, que deve ser
apresentada sempre que for solicitada pelos agentes responsáveis
«Transportador não residente»: uma empresa de transporte pelo controlo.
rodoviário de mercadorias que opera num Estado-Membro de
acolhimento; No caso de um conjunto de veículos acoplados, a cópia certificada
da licença deve acompanhar o veículo trator. Esta cópia deve
«Motorista»: qualquer pessoa que conduza o veículo, mesmo por abranger o conjunto dos veículos acoplados, mesmo que o reboque
um curto período, ou que siga num veículo no âmbito das suas ou semirreboquenão esteja matriculado ou autorizado a circular
funções para assegurar a sua condução, caso seja necessário; em nome do titular da licença ou esteja matriculado ou autorizado
a circular noutro Estado-Membro.
«Operações de cabotagem»: transportes nacionais por conta de
outrem efetuados a título temporário num Estado-Membro de O certificado de motorista é emitido por um Estado-Membro, nos
acolhimento, de acordo com o presente regulamento; termos do presente regulamento, a qualquer transportador que:
- Seja titular de uma licença comunitária; e
«Infração grave à legislação comunitária no domínio do - No referido Estado-Membro, empregue legalmente um motorista
transporte rodoviário»: uma infração que pode acarretar a perda que não seja nacional nem residente de longa duração, na aceção
da idoneidade e/ou a retirada temporária ou definitiva de uma da Diretiva 2003/109/CE do Conselho, de 25 de Novembro

77
REGULAMENTAÇÃO LABORAL
de 2003, relativa ao estatuto dos nacionais de países terceiros Estado-Membro ou de um país terceiro e com destino ao
residentes de longa duração, de um Estado-Membro, ou utilize Estado-Membro de acolhimento, os transportadores ficam
legalmente os serviços de um motorista que não seja nacional nem autorizados a efetuar, com o mesmo veículo ou, tratando-se de
residente de longa duração, na aceção da mesma diretiva, de um um conjunto de veículos acoplados, com o veículo trator desse
Estado-Membro, e que esteja ao serviço desse transportador de mesmo conjunto, o máximo de três operações de cabotagem na
acordo com as condições de trabalho e formação profissional de sequência do referido transporte internacional. A última operação
motoristas fixadas nesse mesmo Estado-Membro: de descarga no quadro de uma operação de cabotagem, antes da
em disposições legais, regulamentares ou administrativas e, se saída do Estado-Membro de acolhimento, deve ter lugar no prazo
for caso disso, em convenções coletivas, de acordo com as regras de sete dias a contar da última operação de descarga realizada no
aplicáveis nesse Estado-Membro. Estado-Membro de acolhimento no quadro do transporte
internacional com destino a este último.
O certificado de motorista deve ostentar o carimbo da autoridade
emissora, bem como uma assinatura e um número de série. O No prazo indicado no parágrafo anterior, os transportadores
número de série do certificado de motorista pode ser inscrito no rodoviários podem efetuar uma parte ou a totalidade das
registo eletrónico nacional das empresas de transporte rodoviário operações de cabotagem autorizadas nos termos do referido
enquanto parte integrante dos dados do transportador que parágrafo em qualquer Estado- Membro, na condição de se
disponibiliza o certificado ao motorista nele identificado. limitarem a uma operação de cabotagem por Estado-Membro no
prazo de três dias a contar da entrada sem carga no território
O certificado de motorista é propriedade do transportador, que o desse Estado-Membro.
deve entregar ao motorista nele identificado quando este tenha de
conduzir um veículo a coberto de uma licença comunitária de que Os serviços nacionais de transporte rodoviário de mercadorias
o transportador seja titular. O transportador deve conservar nas efetuados no Estado-Membro de acolhimento por um transporta-
suas instalações uma cópia certificada do certificado de motorista dor não residente só são considerados conformes com o presente
emitida pelas autoridades competentes do Estado-Membro de regulamento se o transportador puder apresentar provas claras da
estabelecimento do transportador. O certificado de motorista realização do transporte internacional com destino a este último e
deve ser apresentado sempre que for solicitado pelos agentes de cada uma das operações consecutivas de cabotagem efetuadas.
responsáveis pelo controlo.
As provas referidas no primeiro parágrafo devem incluir,
O certificado de motorista é emitido por um período a fixar pelo relativamente a cada operação, os dados seguintes:
Estado-Membro emissor, não devendo a sua validade exceder - Nome, endereço e assinatura do expedidor;
cinco anos. Os certificados de motorista emitidos antes da data de - Nome, endereço e assinatura do transportador;
aplicação do presente regulamento permanecem válidos até ao - Nome e endereço do destinatário, bem como a sua assinatura e a
termo do seu prazo de validade. data de entrega efetiva das mercadorias;
- Local e data da receção das mercadorias e local previsto para a
O certificado de motorista é válido apenas enquanto as condições entrega;
em que foi emitido estiverem preenchidas. Os Estados-Membros - Descrição comum da natureza das mercadorias e do método de
tomam as medidas adequadas para assegurar que os certificados embalagem e, caso se trate de mercadorias perigosas, a sua
sejam devolvidos pelo transportador à autoridade emissora logo descrição geralmente reconhecida, bem como o número de
que essas condições deixem de estar preenchidas. volumes e as suas marcações e números especiais;
- Peso bruto das mercadorias ou quantidade expressa de outra
Os transportadores rodoviários de mercadorias por conta de forma;
outrem que sejam titulares de uma licença comunitária e cujos - Matrícula do veículo trator e do reboque.
motoristas, quando nacionais de país terceiro, sejam titulares de
certificados de motorista, ficam autorizados, nas condições fixadas A realização de operações de cabotagem está sujeita, salvo
no presente capítulo, a efetuar operações de cabotagem. disposição em contrário da legislação comunitária, às disposições
legislativas, regulamentares e administrativas em vigor no
Uma vez efetuada a entrega das mercadorias transportadas à Estado-Membro de acolhimento no que se refere:
chegada de um transporte internacional com origem num - Às condições do contrato de transporte;

78
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
- Aos pesos e dimensões dos veículos rodoviários; por meio de veículos de peso bruto igual ou superior a 2500 kg.
- Aos requisitos relativos ao transporte de determinadas categorias Esta atividade só pode ser exercida por sociedades comerciais ou
de mercadorias, nomeadamente mercadorias perigosas, géneros cooperativas, licenciadas pelo IMT.
perecíveis e animais vivos;
- Ao tempo de condução e aos períodos de repouso; A referida licença consubstancia -se num alvará ou licença
- Ao imposto sobre o valor acrescentado (IVA) aplicável aos serviços comunitária, a qual é intransmissível, sendo emitida por um prazo
de transporte. não superior a cinco anos, renovável por igual período, mediante
comprovação de que se mantêm os requisitos de acesso e de
Em caso de perturbação grave do mercado de transportes exercício de atividade.
nacionais numa zona geográfica determinada devido à atividade
de cabotagem ou por ela agravada, os Estados-Membros podem Ao IMT compete organizar registo de todas as empresas que
pedir à Comissão que tome medidas de salvaguarda, realizem transportes de mercadorias por conta de outrem.
fornecendo-lhe as informações necessárias e notificando-a das
medidas que tencionam tomar em relação aos transportadores Não estão abrangidos pelo regime de licenciamento na atividade:
residentes. a) Os transportes de produtos ou mercadorias diretamente ligados
à gestão agrícola ou dela provenientes efetuados por meio de
Entende-se por: reboques atrelados aos respetivos tratores agrícolas;
«perturbação grave do mercado de transportes nacionais numa b) Os transportes de envios postais realizados no âmbito da
zona geográfica determinada»: o surgimento, nesse mercado, atividade de prestador de serviços postais;
de problemas específicos do mesmo, que possam originar um c) A circulação de veículos aos quais estejam ligados, de forma
excedente grave, suscetível de persistir, da oferta em relação à permanente e exclusiva, equipamentos ou máquinas.
procura, implicando uma ameaça para o equilíbrio financeiro e a
sobrevivência de um número significativo de transportadores, Os veículos utilizados no transporte rodoviário de mercadorias por
conta de outrem estão sujeitos a licença a emitir pelo IMT, quer
«zona geográfica»: uma zona que englobe uma parte ou a sejam da propriedade do transportador, objeto de contrato de
totalidade do território de um Estado-Membro ou se estenda a uma locação financeira ou contrato de aluguer sem condutor.
parte ou à totalidade do território de outros Estados-Membros.
A idade média da frota de automóveis da empresa não pode
Os Estados-Membros asseguram que as infrações graves à exceder 10 anos, sendo determinada a idade de cada veículo pela
legislação comunitária no domínio do transporte rodoviário data da primeira matrícula.
cometidas por transportadores estabelecidos no respetivo
território, que tenham conduzido à aplicação de uma sanção por Os veículos automóveis licenciados para o
um Estado-Membro, bem como a eventual retirada temporária transporte rodoviário de mercadorias por
ou definitiva da licença comunitária ou de uma cópia certificada conta de outrem devem ostentar distintivos
desta, sejam inscritas no registo eletrónico nacional das empresas de identificação.
de transporte rodoviário. Os dados inscritos no registo relacionados
com a retirada temporária ou definitiva de uma licença Estão sujeitos a autorização, a emitir pelo IMT, os transportes de
comunitária devem permanecer na base de dados por um período carácter excecional realizados por veículos afetos ao
de dois anos a contar do termo do período de retirada, em caso de transporte por conta própria cujo peso bruto exceda 2500 kg em
retirada temporária, ou da data da retirada, em caso de retirada que, cumulativamente:
definitiva. a) As mercadorias e os veículos não pertençam ao mesmo
proprietário;
b) O transporte seja efetuado sem fins lucrativos por
Regulamentação nacional coletividades de utilidade pública ou outras agremiações filantrópi-
cas, desportivas ou recreativas;
O Decreto-Lei nº 257/2007, alterado pelo Decreto-Lei
c) As mercadorias transportadas estejam relacionadas com os fins
nº 136/2009, regulamenta a atividade de transporte rodoviário
das entidades que efetuam o transporte;
de mercadorias por conta de outrem, nacional ou internacional,

79
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
d) Os veículos utilizados sejam da propriedade da entidade que d) O veículo ou conjunto que realiza o transporte seja o mesmo.
realiza o transporte, de algum dos seus associados ou cedidos a
título gratuito por outras entidades. SUGERE-SE A CONSULTA INTEGRAL DO DL 257/2007 - (ANEXO II)

Os transportes internacionais e os transportes de cabotagem a A Lei nº 10/90 estabeleceu a Lei de Bases do Sistema de
realizar por transportadores não residentes sediados fora do Transportes Terrestres.
território da União Europeia estão sujeitos a autorização a emitir
pelo IMT, a qual é condicionada pelo princípio da reciprocidade. Considera-se transportes públicos, ou por conta de outrem, os
efetuados por empresas habilitadas a explorar a atividade de
Os transportes especiais dependem de uma autorização especial prestação de serviços de transportes, com ou sem carácter de
de trânsito, nomeadamente o trânsito na via pública de veículos ou regularidade, e destinados a satisfazer, mediante remuneração,
conjuntos de veículos matriculados nos termos do artigo 117º do as necessidades dos utentes, e por transportes particulares, ou por
Código da Estrada: conta própria, os efetuados por pessoas singulares ou coletivas
a) Com pesos e ou dimensões que excedam os limites para viabilizar a satisfação das suas necessidades ou
regulamentares; complementar o exercício da sua atividade específica ou principal.
b) Que transportem objetos indivisíveis que excedam os limites da
respetiva caixa ou a altura de 4 m; Quanto ao objeto da deslocação, distinguem-se os transportes de
c) Cujo peso bruto ou pesos por eixo, em virtude do transporte de pessoas, ou de passageiros, dos de mercadorias, ou de carga, e dos
objetos indivisíveis, excedam os limites regulamentares. mistos.

O trânsito de veículos ou conjuntos de veículos está sujeito a Quanto ao âmbito espacial da deslocação, consideram-se:
autorização anual sempre que estes transportem objetos a) Transportes internacionais, os que, implicando atravessamento
indivisíveis cujas dimensões excedam os limites das respetivas de fronteiras, se desenvolvam parcialmente em território
caixas de carga ou a altura de 4 m a contar do solo. português;
b) Transportes internos, os que se desenvolvam exclusivamente em
Os veículos excecionais estão sujeitos a autorização anual quando território nacional, dentro dos quais se consideram as seguintes
não ultrapassarem as dimensões máximas fixadas para este tipo subcategorias:
de autorização, ainda que dos respetivos documentos de 1) Transportes interurbanos, os que visam satisfazer as
identificação conste a exigência de autorização caso a caso. necessidades de deslocação entre diferentes municípios não
integrados numa mesma região metropolitana de transportes;
O trânsito de veículos está sujeito a autorização ocasional sempre 2) Transportes regionais, os transportes interurbanos que se
que: realizam no interior de uma dada região, designadamente de uma
a) As dimensões do veículo ou do conjunto excedam os limites região autónoma;
máximos permitidos para emissão de 3) Transportes locais, os que visam satisfazer as necessidades de
autorização anual, quando se trate de veículo excecional; deslocação dentro de um município ou de uma região
b) As dimensões totais e ou o peso bruto do veículo ou do conjunto metropolitana de transportes;
excedam os limites máximos permitidos para emissão de 4) Transportes urbanos, os que visam satisfazer as necessidades
autorização anual. de deslocação em meio urbano, como tal se entendendo o que
é abrangido pelos limites de uma área de transportes urbanos
Para os veículos ou conjuntos de veículos sujeitos a autorização ou pelos de uma área urbana de uma região metropolitana de
ocasional podem ser emitidas autorizações de curta duração (até 6 transportes.
meses) quando:
a) Os objetos indivisíveis transportados tenham as mesmas
caraterísticas;
1. 2 - Títulos para o exercício da atividade de
b) Os objetos indivisíveis tenham dimensões e peso iguais ou transporte
inferiores aos que constam da autorização;
c) O transporte se realize no mesmo itinerário, em qualquer dos Os transportes internacionais são efetuados a coberto de uma
sentidos;

80
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
licença comunitária, em conjugação com um certificado de comunitária, a qual é intransmissível, sendo emitida por um prazo
motorista caso o motorista seja nacional de um país terceiro. não superior a cinco anos, renovável por igual período, mediante
comprovação de que se mantêm os requisitos de acesso e de
A licença comunitária é emitida por um Estado-Membro, nos exercício de atividade.
termos do presente regulamento, aos transportadores rodoviários
de mercadorias por conta de outrem que: Estão sujeitos a autorização, a emitir pelo IMT, os transportes de
- Estejam estabelecidos nesse Estado-Membro nos termos da carácter excecional realizados por veículos afetos ao
legislação comunitária e da legislação desse Estado-Membro; e transporte por conta própria cujo peso bruto exceda 2500 kg em
- Estejam autorizados a efetuar no Estado-Membro de que, cumulativamente:
estabelecimento, nos termos da legislação comunitária e da a) As mercadorias e os veículos não pertençam ao mesmo
legislação desse Estado-Membro em matéria de acesso à proprietário;
atividade de transportador, transportes rodoviários internacionais b) O transporte seja efetuado sem fins lucrativos por
de mercadorias. coletividades de utilidade pública ou outras agremiações filantrópi-
cas, desportivas ou recreativas;
A licença comunitária é emitida pelas autoridades competentes do c) As mercadorias transportadas estejam relacionadas com os fins
Estado-Membro de estabelecimento por períodos renováveis que das entidades que efetuam o transporte;
não podem exceder dez anos. d) Os veículos utilizados sejam da propriedade da entidade que
realiza o transporte, de algum dos seus associados ou cedidos a
O certificado de motorista é emitido por um Estado-Membro, nos título gratuito por outras entidades.
termos do presente regulamento, a qualquer transportador que:
- Seja titular de uma licença comunitária; e Os transportes internacionais e os transportes de cabotagem a
- No referido Estado-Membro, empregue legalmente um realizar por transportadores não residentes sediados fora do
motorista que não seja nacional nem residente de longa duração, território da União Europeia estão sujeitos a autorização a emitir
na aceção da Diretiva 2003/109/CE do Conselho, de 25 de pelo IMT, a qual é condicionada pelo princípio da reciprocidade.
Novembro de 2003, relativa ao estatuto dos nacionais de países
terceiros residentes de longa duração, de um Estado-Membro, ou Os transportes internacionais a realizar por transportadores
utilize legalmente os serviços de um motorista que não seja residentes, entre o território português e o território de países não
nacional nem residente de longa duração, na aceção da mesma membros da União Europeia, com quem o Estado Português haja
diretiva, de um Estado-Membro, e que esteja ao serviço desse celebrado um acordo bilateral ou multilateral sobre transportes
transportador de acordo com as condições de trabalho e formação rodoviários, estão sujeitos a autorização a emitir pelo IMT dentro
profissional de motoristas fixadas nesse mesmo Estado-Membro: dos limites quantitativos resultantes desses acordos ou convenções.
em disposições legais, regulamentares ou administrativas e, se
for caso disso, em convenções coletivas, de acordo com as regras São autorizados os transportes de cabotagem efetuados por
aplicáveis nesse Estado-Membro. transportadores da União Europeia e do espaço económico
europeu desde que sejam efetuados na sequência de um
Os transportadores rodoviários de mercadorias por conta de transporte internacional com o mesmo veículo ou, tratando-se
outrem que sejam titulares de uma licença comunitária e cujos de um conjunto de veículos acoplados, com o veículo trator desse
motoristas, quando nacionais de país terceiro, sejam titulares de mesmo conjunto, e não excedam três operações de cabotagem,
certificados de motorista, ficam autorizados, nas condições fixadas durante um prazo de sete dias a contar da data de descarga das
no presente capítulo, a efetuar operações de cabotagem. mercadorias objeto do transporte internacional.

A atividade de transporte rodoviário de mercadorias por conta de Os transportes especiais dependem de uma autorização especial
outrem, nacional ou internacional, por meio de veículos de peso de trânsito, nomeadamente o trânsito na via pública de veículos ou
bruto igual ou superior a 2500 kg só pode ser exercida por conjuntos de veículos matriculados nos termos do artigo 117º do
sociedades comerciais ou cooperativas, licenciadas pelo IMT. Código da Estrada:
a) Com pesos e ou dimensões que excedam os limites
A referida licença consubstancia -se num alvará ou licença regulamentares;

81
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
b) Que transportem objetos indivisíveis que excedam os limites da 1. 3 - Obrigações dos contratos-modelo de
respetiva caixa ou a altura de 4 m;
c) Cujo peso bruto ou pesos por eixo, em virtude do transporte de transporte de mercadorias
objetos indivisíveis, excedam os limites regulamentares.
O Decreto-Lei nº 239/2003, alterado pelo Decreto-Lei 145/2008,
O trânsito de veículos ou conjuntos de veículos está sujeito a estabelece o regime jurídico do contrato de transporte rodoviário
autorização anual sempre que estes transportem objetos nacional de mercadorias.
indivisíveis cujas dimensões excedam os limites das respetivas
caixas de carga ou a altura de 4 m a contar do solo. O contrato de transporte rodoviário nacional de mercadorias é o
celebrado entre transportador e expedidor nos termos do qual o
Os veículos excecionais estão sujeitos a autorização anual quando primeiro se obriga a deslocar mercadorias, por meio de
não ultrapassarem as dimensões máximas fixadas para este tipo veículos rodoviários, entre locais situados no território nacional e a
de autorização, ainda que dos respetivos documentos de entregá-las ao destinatário.
identificação conste a exigência de autorização caso a caso.
Transportador é a empresa regularmente constituída para o
O trânsito de máquinas matriculadas está sujeito a autorização transporte público ou por conta de outrem de mercadorias e
anual sempre que o respetivo peso bruto seja igual ou inferior a expedidor é o proprietário, possuidor ou mero detentor das
60 t e excedam qualquer das seguintes dimensões: mercadorias.
a) Em comprimento, 20 m;
b) Em largura, 3 m; Quando, ao abrigo de um único contrato, as mercadorias sejam
c) Em altura, 4,60 m a contar do solo. transportadas em parte por meio rodoviário e em parte por meio
aéreo, ferroviário, marítimo ou fluvial, aplica-se à parte rodoviária
O trânsito de máquinas agrícolas, florestais e industriais não o regime jurídico constante deste diploma.
matriculadas está sujeito a autorização anual, salvo se
excederem o peso bruto de 40 t ou qualquer das dimensões A guia de transporte faz prova da celebração, termos e condições
fixadas no número anterior. do contrato de transporte. A falta, irregularidade ou perda da
guia não prejudicam a existência nem a validade do contrato de
O trânsito de veículos está sujeito a autorização ocasional sempre transporte.
que:
a) As dimensões do veículo ou do conjunto excedam os limites Quando a mercadoria a transportar for carregada em mais de um
máximos permitidos para emissão de autorização anual, quando veículo ou se trate de diversas espécies de mercadorias ou de lotes
se trate de veículo excecional; distintos, o expedidor ou o transportador podem exigir que sejam
b) As dimensões totais e ou o peso bruto do veículo ou do conjunto preenchidas tantas guias quantos os veículos a utilizar ou quantas
excedam os limites máximos permitidos para emissão de as espécies ou lotes de mercadorias.
autorização anual.
A guia de transporte deve ser emitida em triplicado, assinada pelo
Para os veículos ou conjuntos de veículos sujeitos a autorização expedidor e pelo transportador ou aceite por forma escrita, por
ocasional podem ser emitidas autorizações de curta duração (até 6 meio de carta, telegrama, telefax ou outros meios informáticos
meses) quando: equivalentes, e conter os seguintes elementos:
a) Os objetos indivisíveis transportados tenham as mesmas a) Lugar e data em que é preenchida;
caraterísticas; b) Nome e endereço do transportador, do expedidor e do
b) Os objetos indivisíveis tenham dimensões e peso iguais ou destinatário;
inferiores aos que constam da autorização; c) Lugar e data do carregamento da mercadoria e local previsto
c) O transporte se realize no mesmo itinerário, em qualquer dos para a entrega;
sentidos; d) Denominação corrente da mercadoria e tipo de embalagem e,
d) O veículo ou conjunto que realiza o transporte seja o mesmo. quando se trate de mercadorias
perigosas ou de outras que careçam de precauções especiais, a sua

82
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
denominação nos termos da legislação especial aplicável; meio de terceiros mantém para com o expedidor a sua originária
e) Peso bruto da mercadoria, número de volumes ou quantidade qualidade e assume para com o terceiro a qualidade de expedidor.
expressa de outro modo.
Se ao abrigo de um único contrato o transporte for executado por
Quando for caso disso, a guia deve conter também as seguintes transportadores rodoviários sucessivos, o contrato produz efeitos
indicações: relativamente ao segundo e a cada um dos seguintes
a) Prazo para a realização do transporte; transportadores a partir do momento da aceitação da mercadoria
b) Declaração de valor da mercadoria; e da guia de transporte. O transportador que aceitar a
c) Declaração de interesse especial na entrega; mercadoria do transportador precedente deve entregar recibo
d) Entrega mediante reembolso. datado e assinado, indicar o seu nome e morada na guia de
transporte e, se entender necessário, formular reservas.
As partes podem ainda inscrever na guia de transporte outras
menções, nomeadamente o preço e outras despesas relativas ao O cumprimento da prestação do transportador ocorre com a
transporte, lista de documentos entregues ao transportador e entrega da mercadoria ao destinatário. Em caso de vício aparente
instruções do expedidor ou do destinatário. da mercadoria ou defeito da embalagem, o destinatário deve,
no momento da aceitação, formular reservas que indiquem a
O expedidor pode exigir que o transportador verifique o peso bruto natureza da perda ou avaria. Em caso de vício não aparente, o
da mercadoria ou a sua quantidade expressa de outro modo, bem destinatário dispõe de oito dias a contar da data da aceitação da
como o número ou o conteúdo dos volumes, devendo mencionar mercadoria para formular reservas escritas devidamente
na guia de transporte o resultado da verificação. fundamentadas e para as comunicar ao transportador.

Salvo convenção em contrário, o expedidor pode, durante a Se o destinatário receber a mercadoria sem verificar o seu estado
execução do contrato, fazer suspender o transporte, modificar o contraditoriamente com o transportador, ou sem formular as
lugar previsto para a entrega da mercadoria ou designar reservas a que se referem os números anteriores, presume-se,
destinatário diferente do indicado na guia de transporte. salvo prova em contrário, que as mercadorias se encontravam
em boas condições. Para efeitos de verificação da mercadoria, o
O expedidor pode, mediante o pagamento de um suplemento de transportador e o destinatário devem conceder reciprocamente as
preço a convencionar, declarar na guia de transporte o valor da facilidades consideradas razoáveis.
mercadoria.
No caso de impossibilidade de cumprimento do contrato de
O expedidor pode, mediante o pagamento de um suplemento de transporte nas condições acordadas, o transportador deve pedir
preço a convencionar, declarar na guia de transporte o valor do instruções ao expedidor ou, se tal estiver convencionado, ao
interesse especial na entrega da mercadoria, para o caso de perda, destinatário.
avaria ou incumprimento do prazo convencionado.
Caso o transportador não possa obter em tempo útil as instruções
Sempre que da guia de transporte conste a cláusula de entrega a que se refere o número anterior e não seja possível a devolução
mediante reembolso e a mercadoria seja entregue ao destinatário das mercadorias ao expedidor, deve tomar as medidas mais
sem cobrança, o transportador fica obrigado a indemnizar o adequadas à sua conservação. Tratando-se de mercadorias
expedidor até esse valor, sem prejuízo do direito de regresso. perecíveis, o transportador pode vendê-las, devendo o produto
da venda ser posto à disposição do expedidor, sem prejuízo do
O transportador pode formular reservas se, no momento da número seguinte.
receção da mercadoria, constatar que esta ou a embalagem
apresentam defeito aparente, bem como quando não tiver meios O transportador tem direito ao reembolso das despesas causadas
razoáveis de verificar a exatidão das indicações constantes da guia pelo pedido de instruções ou pela sua execução, bem como das
de transporte. ocasionadas pela devolução, pelas medidas de conservação ou
venda das mercadorias, a não ser que estas despesas sejam
Sempre que o transportador cumpra o contrato de transporte por consequência de falta do transportador.

83
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Presume-se que não é possível a devolução da mercadoria ao entrega.
expedidor quando o tempo necessário para o efeito puder provocar
uma depreciação na mercadoria de, pelo menos, 30% do O transportador responde, como se fossem cometidos por ele
respetivo valor, se este estiver determinado, ou do valor calculado próprio, pelos atos e omissões dos seus empregados, agentes,
nos termos do artigo 23º. representantes ou outras pessoas a quem recorra para a execução
do contrato. A responsabilidade do transportador fica excluída se
O transportador goza do direito de retenção sobre as mercadorias a perda, avaria ou demora se dever à natureza ou vício próprio
transportadas como garantia de pagamento de créditos vencidos da mercadoria, a culpa do expedidor ou do destinatário, a caso
de que seja titular relativamente a serviços de transporte fortuito ou de força maior.
prestados.
A responsabilidade do transportador fica ainda excluída quando
Sempre que exercer o direito de retenção, o transportador deve a perda ou avaria resultar dos riscos inerentes a qualquer dos
notificar o destinatário e o expedidor, se um e outro forem pessoas seguintes fatos:
diversas, dentro dos três dias imediatos à data prevista para a a) Falta ou defeito da embalagem relativamente às mercadorias
entrega da mercadoria. No exercício do direito de retenção, o que, pela sua natureza, estão sujeitas a perdas ou avarias quando
transportador deve propor a competente ação judicial dentro dos não estão devidamente embaladas;
20 dias subsequentes à notificação referida no número anterior. b) Manutenção, carga, arrumação ou descarga da mercadoria
As despesas com a conservação das mercadorias, efetuadas no pelo expedidor ou pelo destinatário ou por pessoas que atuem por
exercício do direito de retenção, ficam a cargo do devedor. conta destes;
c) Insuficiência ou imperfeição das marcas ou dos símbolos dos
O transportador goza de privilégio pelos créditos resultantes do volumes. O transportador não pode invocar defeitos do veículo que
contrato de transporte sobre as mercadorias transportadas. Este utiliza no transporte para excluir a sua responsabilidade.
privilégio cessa com a entrega das mercadorias ao destinatário.
Sendo muitos os transportadores, o último exercerá o direito por Há demora na entrega quando a mercadoria não for entregue ao
todos os outros. destinatário no prazo convencionado ou, não havendo prazo, nos
sete dias seguintes à aceitação da mercadoria pelo transportador.
RESPONSABILIDADE DO EXPEDIDOR Quando a mercadoria não for entregue nos sete dias seguintes ao
O expedidor responde por todas as despesas e prejuízos termo do prazo convencionado ou, não havendo prazo, nos 15 dias
resultantes da inexatidão ou insuficiência das indicações contidas seguintes à aceitação da mercadoria pelo transportador,
na guia de transporte relativas às mercadorias e ao destinatário, considera-se que há perda total.
bem como pelas despesas de verificação da mercadoria.
O valor da indemnização devida por perda ou avaria não pode
O expedidor responde pelos danos causados por defeito da ultrapassar 10 euros por quilograma de peso bruto de mercadoria
mercadoria ou da embalagem, salvo se o transportador, sendo o em falta. A indemnização por demora na entrega não pode ser
defeito aparente ou dele tendo tido conhecimento no momento superior ao preço do transporte e só é devida quando o
em que recebeu a mercadoria, não tiver formulado as devidas interessado demonstrar que dela resultou prejuízo, salvo quando
reservas. exista declaração de interesse especial na entrega, caso em que
pode ainda ser exigida indemnização por lucros cessantes de que
Quando o contrato tiver por objeto o transporte de mercadorias seja apresentada prova.
perigosas, ou outras que careçam de precauções especiais nos
termos de legislação especial aplicável, o expedidor deve assinalar Sempre que a perda, avaria ou demora resultem de atuação
com exatidão a sua natureza, sendo responsável por todas as dolosa do transportador, este não pode prevalecer-se das
despesas e prejuízos, em caso de omissão. disposições que excluem ou limitam a sua responsabilidade.

RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS TRANSPORTADORES


O transportador é responsável pela perda total ou parcial das SUCESSIVOS
mercadorias ou pela avaria que se produzir entre o momento No transporte sucessivo, verificando-se a ocorrência de danos e não
do carregamento e o da entrega, assim como pela demora na podendo determinar-se o transportador responsável por aqueles,

84
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
todos os transportadores são solidariamente responsáveis pelas d) Entrega mediante reembolso.
indemnizações que sejam devidas. Na situação prevista no número
anterior e em caso de insolvência de um ou mais transportadores, As partes podem ainda inscrever na guia de transporte outras
a parte da indemnização que lhes for imputável será suportada menções, nomeadamente o preço e outras despesas relativas ao
pelos demais, na proporção das suas remunerações. transporte, lista de documentos entregues ao transportador e
instruções do expedidor ou do destinatário.
Em caso de perda total ou parcial, ou depreciação, quando não
esteja determinado o valor da mercadoria, este é calculado
segundo o preço corrente no mercado relevante para mercadorias
Exemplo
da mesma natureza e qualidade.

O direito à indemnização por danos decorrentes de


responsabilidade do transportador prescreve no prazo de um ano.
O prazo referido no número anterior conta-se a partir da data
da entrega da mercadoria ao destinatário ou da sua devolução
ao expedidor ou, em caso de perda total, do 30º dia posterior à
aceitação da mercadoria pelo transportador.

1. 4 - Redação dos documentos que


constituem o contrato de transporte
A guia de transporte faz prova da celebração, termos e condições
do contrato de transporte. A falta, irregularidade ou perda da
guia não prejudicam a existência nem a validade do contrato de
transporte.

A guia de transporte deve ser emitida em triplicado, assinada pelo


expedidor e pelo transportador ou aceite por forma escrita, por
meio de carta, telegrama, telefax ou outros meios informáticos
1. 5 - Autorizações de transporte
equivalentes, e conter os seguintes elementos: internacional
a) Lugar e data em que é preenchida;
b) Nome e endereço do transportador, do expedidor e do Os transportes internacionais são efetuados a coberto de uma
destinatário; licença comunitária, em conjugação com
c) Lugar e data do carregamento da mercadoria e local previsto um certificado de motorista caso o motorista seja nacional de um
para a entrega; país terceiro.
d) Denominação corrente da mercadoria e tipo de embalagem
e, quando se trate de mercadorias perigosas ou de outras que A licença comunitária é emitida por um Estado-Membro, nos
careçam de precauções especiais, a sua denominação nos termos termos do presente regulamento, aos transportadores rodoviários
da legislação especial aplicável; de mercadorias por conta de outrem que:
e) Peso bruto da mercadoria, número de volumes ou quantidade - Estejam estabelecidos nesse Estado-Membro nos termos da
expressa de outro modo. legislação comunitária e da legislação desse Estado-Membro; e
- Estejam autorizados a efetuar no Estado-Membro de
Quando for caso disso, a guia deve conter também as seguintes estabelecimento, nos termos da legislação comunitária e da
indicações: legislação desse Estado-Membro em matéria de acesso à
a) Prazo para a realização do transporte; atividade de transportador, transportes rodoviários internacionais
b) Declaração de valor da mercadoria; de mercadorias.
c) Declaração de interesse especial na entrega;

85
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
A licença comunitária é emitida pelas autoridades competentes do Semestralmente, os transportadores deverão remeter ao IMT os
Estado-Membro de estabelecimento por períodos renováveis que impressos descritivos respeitantes às viagens realizadas.
não podem exceder dez anos.

O certificado de motorista é emitido por um Estado-Membro, nos


1. 6 - Obrigações da Convenção relativa
termos do presente regulamento, a qualquer transportador que: ao contrato de transporte internacional de
- Seja titular de uma licença comunitária; e
- No referido Estado-Membro, empregue legalmente um motorista
mercadorias por estrada (CMR)
que não seja nacional nem residente de longa duração, na aceção
A Convenção CMR (Cargo Movement Requirement, relativa ao
da Diretiva 2003/109/CE do Conselho, de 25 de Novembro
Contrato de Transporte Internacional de Mercadorias por Estrada,
de 2003, relativa ao estatuto dos nacionais de países terceiros
regulamenta o transporte de bens de todos os tipos por veículos
residentes de longa duração, de um Estado-Membro, ou utilize
pesados de mercadorias. É aplicável quando o local de carga dos
legalmente os serviços de um motorista que não seja nacional nem
bens e o local de descarga dos bens se encontram em países
residente de longa duração, na aceção da mesma diretiva, de um
diferentes, sendo pelo menos um dos países signatário da CMR.
Estado-Membro, e que esteja ao serviço desse transportador de
acordo com as condições de trabalho e formação profissional de
A convenção é aplicável independentemente do domicílio ou
motoristas fixadas nesse mesmo Estado-Membro:
nacionalidade das partes. A convenção é válida em todos os
em disposições legais, regulamentares ou administrativas e, se
Estados-Membros da União Europeia e em alguns outros países.
for caso disso, em convenções coletivas, de acordo com as regras
Caso uma determinada situação não esteja suficientemente regula-
aplicáveis nesse Estado-Membro.
mentada pela CMR, aplica-se o direito nacional nas partes omissas.
Os transportadores rodoviários de mercadorias por conta de
Esta convenção teve como principal objetivo regular de maneira
outrem que sejam titulares de uma licença comunitária e cujos
uniforme as condições do contrato de transporte internacional de
motoristas, quando nacionais de país terceiro, sejam titulares de
mercadorias por estrada, em particular no que diz respeito aos
certificados de motorista, ficam autorizados, nas condições fixadas
documentos utilizados para este transporte e à responsabilidade
no presente capítulo, a efetuar operações de cabotagem.
do transportador.
As autorizações bilaterais, são válidas entre dois países, em função
A Convenção não se aplica:
de acordos que Portugal tenha concluído com certos países não
a) Aos transportes efetuados ao abrigo de convenções postais
comunitários.
internacionais;
b) Aos transportes funerários;
As autorizações CEMT são multilaterais, permitindo livremente o
c) Aos transportes de mobiliário por mudança de domicílio.
transporte de mercadorias dentro do território de todos os países
que fazem parte da Conferência Europeia dos Ministros de
O contrato de transporte estabelece-se por meio de uma declaração
Transportes. No intuito de melhorar o meio ambiente, a CEMT
de expedição. A declaração de expedição estabelece-se em três
estipulou regras de distribuição destas autorizações pelos países
exemplares originais assinados pelo expedidor e pelo
membros, em função do desempenho ambiental.
transportador. O primeiro exemplar é entregue ao expedidor, o
segundo acompanha a mercadoria e o terceiro fica em poder do
Podem requerer autorizações bilaterais ou CEMT, necessárias para
transportador.
realizar transportes internacionais de mercadorias de ou para
países não-comunitários, as empresas titulares de licença
Quando a mercadoria a transportar é carregada em veículos
comunitária emitida pelo IMT.
diferentes, ou quando se trata de diversas espécies de mercadorias
ou de lotes distintos, o expedidor ou o transportador têm o direito
No caso das autorizações CEMT, os veículos a utilizar no transporte
de exigir que sejam preenchidas tantas declarações de expedição
devem ser, pelo menos, EURO 1. Contudo, a partir de 1 de Janeiro
quantos os veículos a utilizar ou quantas as espécies ou lotes de
de 2009, só os veículos de categorias EURO 3, 4 e 5 podem realizar
mercadorias.
transportes a coberto destas autorizações.

86
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
A declaração de expedição deve conter as seguintes indicações: preenche a declaração de expedição o permite. O primeiro
a) Lugar e data em que é preenchida; exemplar é entregue ao expedidor, o segundo acompanha a
b) Nome e endereço do expedidor; mercadoria e o terceiro fica em poder do transportador.
c) Nome e endereço do transportador;
d) Lugar e data do carregamento da mercadoria e lugar previsto Quando a mercadoria a transportar é carregada em veículos
de entrega; diferentes, ou quando se trata de diversas espécies de mercadorias
e) Nome e endereço do destinatário; ou de lotes distintos, o expedidor ou o transportador têm o direito
f) Denominação corrente da natureza da mercadoria e modo de de exigir que sejam preenchidas tantas declarações de expedição
embalagem e, quando se trate de mercadorias perigosas, sua quantos os veículos a utilizar ou quantas as espécies ou lotes de
denominação geralmente aceite; mercadorias.
g) Número de volumes, marcas especiais e números;
h) Peso bruto da mercadoria ou quantidade expressa de outro A declaração de expedição deve conter as indicações seguintes:
modo; a) Lugar e data em que é preenchida;
i) Despesas relativas ao transporte (preço do transporte, despesas b) Nome e endereço do expedidor;
acessórias, direitos aduaneiros e outras despesas que venham a c) Nome e endereço do transportador;
surgir a partir da conclusão do contrato até à entrega); d) Lugar e data do carregamento da mercadoria e lugar previsto
j) Instruções exigidas para as formalidades aduaneiras e outras; de entrega;
k) Indicação de que o transporte fica sujeito ao regime e) Nome e endereço do destinatário;
estabelecido por esta Convenção, a despeito de qualquer cláusula f) Denominação corrente da natureza da mercadoria e modo de
em contrário. embalagem e, quando se trate de mercadorias perigosas, sua
denominação geralmente aceite;
Quando seja caso disso, a declaração de expedição deve conter g) Número de volumes, marcas especiais e números;
também as seguintes indicações: h) Peso bruto da mercadoria ou quantidade expressa de outro
a) Proibição de transbordo; modo;
b) Despesas que o expedidor toma a seu cargo; i) Despesas relativas ao transporte (preço do transporte, despesas
c) Valor da quantia a receber no momento da entrega da acessórias, direitos aduaneiros e outras despesas que venham a
mercadoria; surgir a partir da conclusão do contrato até à entrega);
d) Valor declarado da mercadoria e quantia que representa o j) Instruções exigidas para as formalidades aduaneiras e outras;
interesse especial na entrega; k) Indicação de que o transporte fica sujeito ao regime
e) Instruções do expedidor ao transportador no que se refere ao estabelecido por esta Convenção, a despeito de qualquer cláusula
seguro da mercadoria; em contrário.
f) Prazo combinado, dentro do qual deve efetuar-se o transporte;
g) Lista dos documentos entregues ao transportador. Quando seja caso disso, a declaração de expedição deve conter
também as seguintes indicações:
Ao tomar conta da mercadoria, o transportador tem o dever de a) Proibição de transbordo;
verificar a exatidão das indicações da declaração de expedição b) Despesas que o expedidor toma a seu cargo;
acerca do número de volumes, marcas e números, bem como o c) Valor da quantia a receber no momento da entrega da
estado aparente da mercadoria e da sua embalagem. mercadoria;
d) Valor declarado da mercadoria e quantia que representa o
Sugere-se a consulta integral da Convenção CMR - (anexo I) interesse especial na entrega;
e) Instruções do expedidor ao transportador no que se refere ao
seguro da mercadoria;
1. 7 - Redação da declaração de expedição f) Prazo combinado, dentro do qual deve efetuar-se o transporte;
g) Lista dos documentos entregues ao transportador.
A declaração de expedição estabelece-se em três exemplares
originais assinados pelo expedidor e pelo transportador, podendo
As partes podem mencionar na declaração de expedição qualquer
estas assinaturas ser impressas ou substituídas pelas chancelas
outra indicação que considerem útil.
do expedidor e do transportador, se a legislação do país onde se

87
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
1. 8 - Passagem das fronteiras Se é cidadão comunitário, já não tem de mostrar o seu passaporte
ao cruzar as fronteiras entre os Estados Membros de Schengen.
O acordo de Schengen é uma convenção entre países europeus Contudo, os Estados-Membros de Schengen mantiveram o direito,
sobre uma política de livre circulação de pessoas no espaço com base nas respetivas legislações nacionais, de proceder a
geográfico da Europa. São 24 nações da União Europeia (Bulgária, controlos de identidade nos seus territórios, no exercício das suas
Roménia e Chipre aguardam a implementação) e mais outros funções de polícia judiciária. A legislação nacional define se o
quatro países europeus membros da EFTA (Islândia, Noruega e cidadão deve fazer se acompanhar por um bilhete de identidade
Suíça; Liechenstein aguarda implementação). ou passaporte válido.

O Espaço Schengen permite a Qualquer cidadão na posse de um visto Schengen pode entrar num
livre circulação de pessoas dentro país e viajar livremente em todo o Espaço Schengen, já que deixou
dos países signatários, sem a de haver controlos nas fronteiras internas.
necessidade de apresentação de
passaporte nas fronteiras. Porém, Se pretender visitar apenas um Estado Membro signatário de
é necessário ser portador de um Schengen, deve pedir o visto na Embaixada ou Consulado desse
documento legal como, por exemplo, o Bilhete de Identidade. Além Estado Membro. Se pretender visitar diversos países do Espaço
do mais, o Espaço Schengen não se relaciona com a livre circulação Schengen, deve pedir o visto na Embaixada ou Consulado do país
de mercadorias (embargos, etc.) cuja entidade mediadora é a que constitui o seu destino principal. Se pretender visitar diversos
União Europeia e os outros membros fora do bloco económico. países do Espaço Schengen mas não tiver um destino principal,
deve pedir o visto na Embaixada ou Consulado do país no qual
entrar em primeiro lugar.

Se alguns dos membros da sua família forem nacionais de um país


terceiro, deve pedir os vistos de entrada necessários.

Transporte internacional - TIR


Uma típica fronteira Schengen sem nenhum posto de controle.
Na foto, fronteira entre Áustria e Alemanha.
Em Novembro de 1975, a Comissão Económica para Europa das
Nações Unidas, promoveu a convenção TIR (Customs Convention on
Para as pessoas, o impato mais visível da existência do Espaço the International Transporto of Goods), que rapidamente se tornou
Schengen é o fato de terem deixado de exibir o passaporte a mais bem sucedida convenção de transportes internacionais.
quando atravessam as fronteiras entre os Estados Membros de
Schengen. Tal não significa, porém, que viajar no Espaço Schengen Até esta data assinaram esta convenção 68 países, incluindo a
seja o mesmo que viajar dentro de um determinado Estado Europa, norte de África, e médio Oriente.
Membro no que diz respeito à posse de um documento de viagem
ou de identidade. A lei de cada Estado Membro determina se uma Até hoje a convenção sofreu 28 emendas, adaptando-se às novas
pessoa precisa ou não de ter consigo esses documentos. realidades e necessidades.

Os nacionais dos Estados Membros da União têm o direito de se VANTAGENS


deslocar para todos os outros países da EU sem terem de cumprir O objetivo da convenção é facilitar o movimento de mercadorias,
quaisquer formalidades especiais. Basta serem portadores de um harmonizando os procedimentos de controlo alfandegário,
passaporte ou bilhete de identidade válido. O seu direito de viajar mantendo-se a segurança e garantias.
só pode ser restringido por motivos de ordem pública, segurança
pública ou saúde pública. Deste modo, o seu direito de viajar não Para o efeito, as regras não devem ser demasiado facilitadoras,
depende das circunstâncias pessoais: quer seja por razões nem demasiado complexas para os agentes transportadores. É
profissionais ou privadas, têm o direito de viajar para qualquer fundamental encontrar o equilíbrio entre as exigências
parte da União Europeia. alfandegárias e dos operadores do transporte.

88
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Tradicionalmente quando uma mercadoria atravessava fronteiras internacional, acesso simples às necessárias garantias, sem as
rodoviárias, as autoridades alfandegárias em cada Estado quais o transporte não é possível.
aplicavam as normas e procedimentos nacionais, os quais
variavam de Estado para Estado, mas que frequentemente Desta forma, os importadores e exportadores passam a dispor de
envolviam a inspeção da carga em cada fronteira e a imposição mais escolha para o movimento da sua mercadoria.
de procedimentos de segurança. Estas medidas aplicadas em cada
país em trânsito levavam a consideráveis despesas e atrasos e PRINCÍPIOS
interferência no trânsito internacional. A fim de garantir que a mercadoria circula com o mínimo de
interferências e garantir a segurança para as autoridades
No sentido de se reduzir estas dificuldades dos transportadores e, alfandegárias, a convenção TIR contém cinco requisitos básicos:
ao mesmo tempo, oferecer um sistema internacional de controlo 1. As mercadorias têm de ser transportadas em veículos seguros
que substituísse os tradicionais procedimentos nacionais, foi criado ou em contentores, garantindo-se que não é possível o acesso
o sistema TIR. à mercadoria após a selagem, ou sendo o caso, seja facilmente
detetável;
No que respeita ao controlo alfandegário, o sistema TIR tem 2. Ao longo da viagem, as taxas em risco devem ser cobertas por
claras vantagens para as administrações alfandegárias, uma vez garantias válidas internacionalmente;
que reduz as habituais exigências transitárias. Ao mesmo tempo 3. As mercadorias devem ser acompanhadas por um documento
o sistema TIR evita a necessidade (dispendiosa em instalações (caderneta TIR) internacionalmente aceite, aberta no país de
e mão-de-obra) da inspeção física nos países transitários, pela origem e servindo de documento de controlo alfandegários nos
simples verificação de selos e das condições externas do países de origem, trânsito e destino;
compartimento de carga ou contentor. Também dispensa a 4. As medidas de controlo alfandegário têm de ser aceites em
necessidade de garantias nacionais e sistemas nacionais de todos os países de trânsito e destino;
documentação. 5. Acesso aos procedimentos TIR limitado às associações nacionais
e utilizadores das cadernetas TIR, de forma a salvaguardar o
O transporte internacional passa a necessitar de um único sistema de atividades fraudulentas.
documento de trânsito, a caderneta TIR, que reduz o risco de
se apresentar informação incorreta ou insuficiente aos serviços Este sistema tem provado ser um sistema de trânsito alfandegário
alfandegários. eficiente e tem vindo a desempenhar um papel importantíssimo na
simplificação das trocas de mercadorias, primeiro na Europa, mas
Em caso de dúvida, as autoridades alfandegárias têm o direito a mais recentemente nas áreas vizinhas.
inspecionar as mercadorias seladas e, se necessário, interromper o
transporte TIR e/ou adotar as medidas necessárias de acordo com A CADERNETA TIR
a legislação nacional. Estas situações deverão ocorrer apenas a A Caderneta TIR pode ser
título excecional. emitida no país onde o titular
está sedeado/reside ou no país
Desta forma, as autoridades conseguem reduzir procedimentos de partida.
administrativos e dirigir os seus escassos recursos humanos para
medidas especiais de controlo baseadas na análise de risco e A Caderneta TIR é impressa em
denúncias. francês, à exceção da página
1 (capa) onde a informação é
As vantagens para as transportadoras são óbvias. As mercadorias impressa também em inglês.
podem atravessar fronteiras com interferência mínima das
autoridades alfandegárias. Desta forma há um encorajamento A Caderneta TIR é válida até à
ao transporte internacional. A redução do tempo de espera nas conclusão do transporte TIR na
fronteiras reflete-se numa redução dos custos. alfândega de destino.

A Convenção TIR também fornece, através da sua corrente No caso de transporte em


“comboio de viaturas” ou

89
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
em dois contentores numa viatura, basta apresentar uma única Caso existam várias alfândegas de partida ou de chegada, deve
Caderneta TIR. separar-se a informação respeitante a cada serviço alfandegário.

Cada Caderneta TIR pode envolver várias alfândegas na partida e Todos os vouchers têm de ser assinados e datados pelo portador da
no destino, até ao limite de quatro. A Caderneta apenas poderá ser caderneta ou seu agente.
apresentada na alfândega de destino, caso todas as alfândegas de
partida a tenham aceite.
Existem várias alfândegas de partida quando o veículo recolhe
1. 9 - Transitários
mercadoria em mais de um país ao longo da sua viagem. Existem
Nos portos e fronteiras terrestres não há só formalidades para as
várias alfândegas de destino quando o veículo descarrega
mercadorias que saem ou entram nesse país. As mercadorias que
mercadoria em mais de um país ao longo da sua viagem.
passam nesses pontos e não procedem, ou se destinam, a esse país
também têm formalidades.
Quando existe apenas uma alfândega de partida e uma alfândega
de destino, a Caderneta TIR tem de possuir, pelo menos, 2 folhas
Essas formalidades são chamadas de “trânsito”. Esse trânsito pode
para o país de origem, 2 folhas para o país de destino e 2 folhas
verificar-se atravessando o país, portanto por via terrestre, ou
por cada país em trânsito. Por cada alfândega extra de partida.
unicamente estacionando num porto ou aeroporto.
Será necessário acrescentar 2 folhas extra.
Fundamentalmente o “trânsito” é uma entrada num país sem
pagar direitos para a sua rápida saída para o estrangeiro.
A Caderneta TIR tem de ser apresentada juntamente com o veículo,
combinação de veículos ou de contentores em cada alfândega de
Antigamente esse “trânsito” fazia-se, duma maneira geral,
partida, de trânsito e de destino. Na última alfândega, o
caucionando os direitos de entrada dessa mercadoria, caução que
responsável deverá assinar e datar a caderneta.
era cancelada quando ela saía.
Não é permitido apagar ou escrever por cima de informação
Quando as empresas ferroviárias fizeram combinações, ou acordos
existente na caderneta. As correções são feitas cortando a
de tarifas, de forma a evitar reexpedições, podendo utilizar-se um
informação incorreta e acrescentando a nova informação, se
único contrato de transporte para todo o percurso iniciou-se esta
necessário. As correções devem ser rubricadas pela pessoa que as
modalidade entre países limítrofes.
efetuou.
Quando se pretendeu estender esta modalidade a um outro país
Quando a legislação nacional não imponha registo dos reboques
começaram a surgir as dificuldades para a travessia do país que
e semirreboques, deve apresentar o nº do construtor em vez do nº
estava de permeio. Então o expedidor tinha que socorrer-se de
de chassis.
alguém que, na fronteira de entrada nesse país a ser atravessado,
se ocupasse dessas formalidades e prestasse a caução dos direitos.
O manifesto é preenchido na língua do país de partida, exceto
No ponto de saída desse país outras formalidades haviam a
se as autoridades alfandegárias autorizarem outra. As entidades
cumprir. Como se resolveu este problema?
alfandegárias dos países de trânsito podem exigir a tradução da
informação.
Pois bem as empresas ferroviárias dos diversos países fizeram uma
convenção internacional, reconhecida pelos seus respetivos países,
A informação do manifesto deve ser escrita à máquina ou de
que não só as ligava perante o expedidor, por um único contrato
forma que seja facilmente legível em todas as folhas. Folhas
de transporte, mas também eram elas que, com determinadas
ilegíveis não serão aceites pelas autoridades alfandegárias.
medidas de segurança e garantias, asseguravam o seguimento das
remessas sem retenção.
Podem ser acrescentadas folhas separadas ao manifesto que
contenham a informação necessária.
Passou a fazer-se, mais tarde, o atravessamento dos países, no
tráfego ferroviário, ao abrigo de uma convenção internacional
Quando a caderneta contém informação relativa a vários veículos
– TIF – baseada numa outra convenção internacional relativa ao
ou contentores, a informação tem de ser separada em
transporte de mercadorias por Caminho-de-ferro – CIM.
conformidade.

90
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Mais tarde, por estrada, o trânsito processava-se da mesma forma dos ramos da Economia do país direta ou indiretamente
com caução dos direitos. Posteriormente esse trânsito na Europa dependentes ou relacionados com o Comércio Internacional.
fez-se também ao abrigo de Convenções Internacionais:
• T.I.R. – Convenção relativa ao transporte internacional de A atividade transitária é uma função legal como mandatários
mercadorias a coberto de “Caderneta TIR”; prevista no Código Comercial, sendo considerada uma missão de
• Convenção aduaneira sobre a Importação Temporária de confiança. Além disso esta função encontra-se também
veículos rodoviários comerciais; regulamentada pelas Condições Gerais de Prestação destes
• Convenção relativa ao contrato de transporte internacional de Serviços da Associação Portuguesa dos Agentes Transitários (APTA)
mercadorias por estrada – CMR. e pela Federação Internacional (FIATA).

A ATIVIDADE TRANSITÁRIA É nesta regulamentação que vamos encontrar o conceito de


A atuação dos transitários como consultores, coordenadores e/ou Transitário - por outras palavras:
promotores de transportes internacionais reveste-se de uma alta
importância, principalmente nas circunstâncias atuais em que a Transitário é a entidade a quem são confiadas, por um terceiro,
crescente diversidade dos meios e modalidades de transporte e das mercadorias para se ocupar da receção, da manutenção, do arma-
formalidades e operações inerentes à movimentação internacional zenamento, da reexpedição, do contrato de frete para
de mercadorias se torna cada vez maior. expedição, seja na exportação, seja na importação (segundo o
caso) e, perante o qual terceiro, que é o Cliente, o Transitário
Na verdade os estudos teóricos que possam aconselhar responde pela boa conservação da mercadoria por todo o tempo
determinadas opções têm de ser confirmados e corrigidos pelas em que tem a mercadoria à sua guarda ou sob sua gestão.
experiências vividas em abundantes casos anteriores e
assegurados com a disponibilidade de adequados meios de ação -
humanos, materiais e de organização - que realisticamente
1. 10 - Documentos especiais de
conduzam à solução mais conveniente para o Exportador ou acompanhamento da mercadoria
Importador português, dentro do contexto da Economia Nacional,
em que, necessariamente, tem que se inserir. A Guia de Transporte é o documento legal emitido pelo
transportador para acompanhar a mercadoria durante o transporte
Aliás, a adesão de Portugal à EU implica existência de estruturas e em território português.
know how ao nível dos restantes membros daquela união.
A Guia de Transporte assume no nosso ordenamento jurídico uma
Daí que as funções desempenhadas pelos Transitários sejam dupla função CONTRATUAL (expressa as condições do contrato de
imprescindíveis ao Comércio Internacional, e efetivamente se transporte celebrado entre Transportador e Expedidor,) e
traduzam num precioso apoio, não apenas aos Transportadores, FISCALIZADORA (Fiscalizadora - permite facilitar a atividade de
Seguradores, Entidades Portuárias e Aduaneiras dos diversos fiscalização quanto ao cumprimento das regras de acesso e
países, mas também, e principalmente, aos Importadores, organização de mercado).
Exportadores e Agentes Comerciais que pretendam projetar para
além das fronteiras o exercício ou o objeto das suas atividades.
Documentos sobre Transporte Internacional
E não é por mero acaso que os países em que o número de
Os principais documentos utilizados no transporte rodoviário
Transitários, relativamente às outras especialidades profissionais,
internacional (intra e extracomunitário) são:
é proporcionalmente maior são justamente aqueles em são mais
desenvolvidas, mais agressivas e mais eficientes as atividades
“Declaração de Expedição”, “Carta de Porte Rodoviário CMR/TIR”
ligadas ao Comércio Internacional.
ou “CMR” (“Convention Relative au Contrat de Transport
International de Marchandise par Route”) – é o documento
A atividade do Transitário reveste-se da maior importância e
comprovativo do contrato de transporte rodoviário entre o
complexidade, não apenas como serviço especializado e
transportador e a empresa e regula o transporte internacional
autónomo, mas como poderoso suporte e insubstituível estímulo
rodoviário entre dois países desde que, pelo menos um deles tenha

91
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
ratificado a Convenção CMR. Evidencia as instruções fornecidas ao O documento a utilizar nestes casos, chamado “FIATA FDL” ou
transportador e tem que acompanhar o envio da mercadoria. “Conhecimento de Embarque Multimodal”, regula o transporte
internacional em regime “multimodal” organizado sob a
Nas relações entre os transitários e os seus clientes utilizam-se os responsabilidade de transitários que pertençam à FIATA
seguintes documentos: (Federação Internacional de Transitários), cujo membro português
• FBL (“Forwarder Bill of Lading”) ou “Conhecimento Particular é a APAT – Associação de Transitários de Portugal e cujas
do Transitário” – é o documento que comprova o contrato de coordenadas constam dos Contatos Úteis deste documento.
transporte entre o transitário e o seu cliente relativamente aos
tráfegos de “grupagem” que utilizam mais de um modo de A Associação dos Transitários de Portugal recomenda moderação
transporte. na emissão deste documento por envolver um substancial
• FCR (“Forwarder Certificate of Receipt”) ou “Certificado de acréscimo de responsabilidades para as quais, nem sempre os
Receção do Transitário” – é o documento emitido pelo transitário transitários dispõem de seguros adequados.
a pedido do seu cliente que atesta que o primeiro recebeu do
segundo uma determinada mercadoria destinada a envio OUTROS DOCUMENTOS
internacional e que, simultaneamente, recebeu ordens irrevogáveis Naturalmente que outros documentos poderão ser necessários:
deste para a fazer chegar a um destinatário identificado nesse • Apólice de Frete – contrato de transporte marítimo no âmbito
documento ou de a ter à disposição desse destinatário. de um regime de contratação livre cuja finalidade é o transporte
É um documento muito importante, na medida em que permite de grandes volumes de mercadoria em navios completos.
ao seu detentor (a empresa) negociar o “crédito documentário” • Apólice de Seguro – Contrato de Seguro mediante o qual, a
aberto num banco pelo destinatário da mercadoria a seu favor. empresa seguradora se obriga, contra cobrança de um prémio,
• FCT (“Forwarder Certificate of Transport”) ou “Certificado de a indemnizar um dano sofrido pelo segurado ou a satisfazer um
Transporte do Transitário” – é o documento de transporte capital, renda ou outras prestações convencionadas.
emitido pelo transitário ao seu cliente, no que concerne a cargas
de “grupagem” que utilizem um só modo de transporte. É emitido De referir, neste contexto, que se o exportador solicitar ao
antes de o transitário celebrar o contrato de transporte da unidade transitário que este se encarregue de contratar os seguros
completa com o transportador efetivo da mercadoria. marítimos, terrestres e aéreos dos produtos, esse serviço será
prestado, eventualmente até em condições mais vantajosas do
Existe uma Convenção de Transporte Multimodal (“United Nations que se o exportador recorrer a uma companhia de seguros, por
Convention on International Multimodal Transport of Goods”), de si próprio. De fato, muitos transitários dispõem de “apólices
24 de Maio de 1980, que prevê uma responsabilidade única para flutuantes”, o que, frequentemente, lhes permite a obtenção de
toda a cadeia de transporte, através do recurso a um só condições mais favoráveis junto destas entidades.
documento a utilizar em todos os “modos”. Contudo, esta
Convenção ainda não está em vigor no ordenamento jurídico
internacional pois carece das necessárias ratificações. Assim,
continua a ser aplicada a regra de cada “modo” de transporte,
quer a nível de documentos necessários, quer no que respeita à
responsabilidade inerente.

Na medida em que hoje, naturalmente, não existem transportes


“unimodais”, sendo o recurso a vários “modos” (transporte
combinado) muito utilizado, já existe um conjunto de regras
uniformes e consensualmente aceites a nível internacional
aplicáveis a esta situação para suprir a lacuna da falta de
Convenção e embora sem a sua força vinculativa. Estas regras
foram aprovadas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI),
representada em Portugal pela Delegação Portuguesa da CCI e
pela Associação Comercial de Lisboa.

92
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Anexo I Artigo 2º
CONVENÇÃO RELATIVA AO CONTRATO DE TRANSPORTE 1. Se o veículo que contém as mercadorias for transportado, em
INTERNACIONAL DE MERCADORIAS POR ESTRADA(CMR) parte do percurso, por mar, caminho de ferro, via navegável
interior ou pelo ar e as mercadorias, salvo se forem aplicáveis as
(assinada em 19 de Maio de 1956 em Geneve - aprovada em disposições do artigo 14, dele não forem descarregadas, a presente
Portugal pelo Decreto Lei no 46 235, de 18 de Março de 1965, Convenção aplicar-se-á, no entanto, ao conjunto do transporte.
entrou em vigor em 21 de Dezembro de 1969 - Aviso da Todavia, na medida em que se provar que qualquer perda, avaria
Direção Geral dos Negócios Económicos, DG no 129, 2ª Série de ou demora de entrega da mercadoria, que tenham ocorrido
03.06.1970 - e foi objeto de alteração através do Protocolo de durante o transporte por qualquer via que não seja a estrada,
Emenda, aprovado pelo Decreto no 28/88, de 6 de Setembro) não foi causada por qualquer ato ou omissão do transportador
rodoviário, e provém de fato que só pode dar-se durante e em
PREÂMBULO virtude do transporte não rodoviário, a responsabilidade do
As Partes Contratantes, tendo reconhecido a utilidade de regular transportador rodoviário será determinada, não pela presente
de maneira uniforme as condições do contrato de transporte Convenção, mas sim pela forma como a responsabilidade do
internacional de mercadorias por estrada, em particular no que transportador não rodoviário teria sido determinada se se tivesse
diz respeito aos documentos utilizados para este transporte e à firmado um contrato de transporte entre o expedidor e o
responsabilidade do transportador, convencionaram o seguinte: transportador não rodoviário apenas para o transporte da
mercadoria em conformidade com as disposições imperativas da
CAPÍTULO I lei relativa ao transporte de mercadorias por outra via de
(Âmbito de Aplicação) transporte que não seja a estrada. Contudo, na falta de tais
Artigo 1º disposições, a responsabilidade do transportador rodoviário será
1. A presente convenção aplica-se a todos os contratos de determinada pela presente Convenção.
transporte de mercadorias por estrada a título oneroso por meio 2. Se o transportador rodoviário for ao mesmo tempo o
de veículos, quando o lugar do carregamento da mercadoria e o transportador não rodoviário, a sua responsabilidade será também
lugar da entrega previsto, tais como são indicados no contrato, determinada pelo parágrafo 1, como se a sua função de
estão situados em dois países diferentes, sendo um destes, pelo transportador rodoviário e a de transportador não rodoviário
menos, país contratante e independentemente do domicílio e fossem exercidas por duas pessoas diferentes.
nacionalidade das partes.
2. Para a aplicação da presente Convenção, devem entender-se CAPÍTULO II
por “veículos” os automóveis, os veículos articulados, os reboques (Pessoas pelas quais o transportador é responsável)
e semirreboques, tais como estão definidos pelo artigo 4 da Artigo 3º
Convenção da circulação rodoviária de 19 de Setembro de 1949. Para a aplicação da presente Convenção, o transportador
3. A presente Convenção também se aplica quando os transportes responde, como se fossem cometidos por ele próprio, pelos atos
abrangidos pelo seu âmbito de aplicação são efetuados por e omissões dos seus agentes e de todas as outras pessoas a cujos
Estados ou por instituições ou organizações governamentais. serviços recorre para a execução do transporte, quando esses
4. A presente Convenção não se aplica: agentes ou essas pessoas atuam no exercício das suas funções.
a) Aos transportes efetuados ao abrigo de convenções postais
internacionais; CAPÍTULO III
b) Aos transportes funerários; (Conclusão e execução do contrato de transporte)
c) Aos transportes de mobiliário por mudança de domicílio. Artigo 4º
5. As Partes Contratantes comprometem-se a não fazer nenhuma O contrato de transporte estabelece-se por meio de uma declaração
modificação à presente Convenção, por meio de acordos de expedição. A falta, irregularidade ou perda da declaração de
particulares estabelecidos entre duas ou mais delas, salvo para a expedição não prejudicam nem a existência nem a validade do
tornar inaplicável ao seu tráfego fronteiriço ou para autorizar a contrato de transporte, que continua sujeito às disposições da
utilização, nos transportes efetuados inteiramente dentro do seu presente Convenção.
território, da declaração de expedição representativa da Artigo 5º
mercadoria. 1. A declaração de expedição estabelece-se em três exemplares

93
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
originais assinados pelo expedidor e pelo transportador, podendo qualquer outra indicação que considerem útil.
estas assinaturas ser impressas ou substituídas pelas chancelas
do expedidor e do transportador, se a legislação do país onde se Artigo 7º
preenche a declaração de expedição o permite. O primeiro 1. O expedidor responde por todas as despesas, perdas e danos
exemplar é entregue ao expedidor, o segundo acompanha a que o transportador sofra em virtude da inexatidão ou
mercadoria e o terceiro fica em poder do transportador. insuficiência:
2. Quando a mercadoria a transportar é carregada em veículos a) Das indicações mencionadas no artigo 6, parágrafo 1, b), d),
diferentes, ou quando se trata de diversas espécies de mercadorias e), f), g), h) e j);
ou de lotes distintos, o expedidor ou o transportador têm o direito b) Das indicações mencionadas no artigo 6, parágrafo 2;
de exigir que sejam preenchidas tantas declarações de expedição c) De quaisquer outras indicações ou instruções que dê para o
quantos os veículos a utilizar ou quantas as espécies ou lotes de preenchimento da declaração de expedição ou para incluir nesta.
mercadorias. 2. Se o transportador, a pedido do expedidor, inscrever na
declaração de expedição as indicações mencionadas no parágrafo
Artigo 6º 1 do presente artigo, considerar-se-á, até prova em contrário, que
1. A declaração de expedição deve conter as indicações seguintes: atua em nome do expedidor.
a) Lugar e data em que é preenchida; 3. Se a declaração de expedição não contiver a menção prevista
b) Nome e endereço do expedidor; no artigo 6, parágrafo 1, k, o transportador será responsável por
c) Nome e endereço do transportador; todas as despesas, perdas e danos sofridos pela pessoa que tem
d) Lugar e data do carregamento da mercadoria e lugar previsto direito à mercadoria em virtude desta omissão.
de entrega;
e) Nome e endereço do destinatário; Artigo 8º
f) Denominação corrente da natureza da mercadoria e modo 1. Ao tomar conta da mercadoria, o transportador tem o dever de
de embalagem e, quando se trate de mercadorias perigosas, sua verificar:
denominação geralmente aceite; a) A exatidão das indicações da declaração de expedição acerca
g) Número de volumes, marcas especiais e números; do número de volumes, marcas e números;
h) Peso bruto da mercadoria ou quantidade expressa de outro b) O estado aparente da mercadoria e da sua embalagem.
modo; 2. Se o transportador não tiver meios razoáveis de verificar a
i) Despesas relativas ao transporte (preço do transporte, exatidão das indicações mencionadas no parágrafo 1, a), do
despesas acessórias, direitos aduaneiros e outras despesas que presente artigo, inscreverá na declaração de expedição reservas
venham a surgir a partir da conclusão do contrato até à entrega); que devem ser fundamentadas. Do mesmo modo, deverá
j) Instruções exigidas para as formalidades aduaneiras e outras; fundamentar todas as reservas que fizer acerca do estado aparente
k) Indicação de que o transporte fica sujeito ao regime da mercadoria e da sua embalagem. Estas reservas não obrigam
estabelecido por esta Convenção, a despeito de qualquer cláusula o expedidor se este as não tiver aceitado expressamente na
em contrário. declaração de expedição.
2. Quando seja caso disso, a declaração de expedição deve conter 3. O expedidor tem o direito de exigir que o transportador
também as seguintes indicações: verifique o peso bruto da mercadoria ou sua quantidade expressa
a) Proibição de transbordo; de outro modo. Pode também exigir a verificação do conteúdo dos
b) Despesas que o expedidor toma a seu cargo; volumes. O transportador pode reclamar o pagamento das
c) Valor da quantia a receber no momento da entrega da despesas de verificação. O resultado das verificações será
mercadoria; mencionado na declaração de expedição.
d) Valor declarado da mercadoria e quantia que representa o
interesse especial na entrega; Artigo 9º
e) Instruções do expedidor ao transportador no que se refere ao 1. A declaração de expedição, até prova em contrário, faz fé das
seguro da mercadoria; condições do contrato e da receção da mercadoria pelo
f) Prazo combinado, dentro do qual deve efetuar-se o transportador.
transporte; 2. Na falta de indicações de reservas motivadas do transportador
g) Lista dos documentos entregues ao transportador. na declaração de expedição, presume-se que a mercadoria e
3. As partes podem mencionar na declaração de expedição embalagem estavam em bom estado aparente no momento em

94
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
que o transportador as tomou a seu cargo, e que o número de 5. O exercício do direito de disposição fica sujeito às seguintes
volumes, as marcas e os números estavam em conformidade com condições:
as indicações da declaração de expedição. a) O expedidor, ou, no caso mencionado no parágrafo 3 do
presente artigo, o destinatário que quiser exercer este direito, tem
Artigo 10º de apresentar o primeiro exemplar da declaração de expedição, no
O expedidor é responsável para com o transportador por danos a qual devem estar inscritas as novas instruções dadas ao
pessoas, material ou outras mercadorias, assim como por despesas transportador e de indemnizar o transportador pelas despesas e
originadas por defeito da embalagem da mercadoria, a não ser pelo prejuízo causado pela execução destas instruções;
que o transportador, sendo o defeito aparente ou tendo b) Esta execução deve ser possível no momento em que as
conhecimento dele no momento em que se tornou conta da instruções chegam à pessoa que deve executá-las, e não deve
mercadoria, não tenha feito reservas a seu respeito. dificultar a exploração normal da empresa do transportador, nem
prejudicar os expedidores ou destinatários de outras remessas;
Artigo 11º c) As instruções nunca devem provocar a divisão da remessa.
1. Para o cumprimento das formalidades aduaneiras e outras a 6. Quando o transportador, em virtude das disposições indicadas
observar até à entrega da mercadoria, o expedidor deve juntar à no parágrafo 5, b), do presente artigo, não puder executar as
declaração de expedição, ou pôr à disposição do transportador, instruções que receber, deve avisar imediatamente disso a pessoa
os documentos necessários e prestar-lhe todas as informações que deu essas instruções.
pedidas. 7. O transportador que não executar as instruções dadas nas
2. O transportador não tem obrigação de verificar se esses condições previstas no presente artigo, ou que se tenha
documentos e informações são exatos ou suficientes. O expedidor conformado com essas instruções sem ter exigido a
é responsável para com o transportador por todos os danos que apresentação do primeiro exemplar da declaração de expedição,
resultem da falta, insuficiência ou irregularidade desses será responsável perante o interessado pelo prejuízo causado por
documentos e informações, salvo no caso de falta do esse fato.
transportador.
3. O transportador é responsável como se fosse agente pelas Artigo 13º
consequências da perda ou da utilização inexata dos documentos 1. Depois da chegada da mercadoria ao lugar previsto para a
mencionados na declaração de expedição e que a acompanhem entrega, o destinatário tem o direito de pedir que o segundo
ou lhe sejam entregues; no entanto, a indemnização a que fica exemplar da declaração de expedição e a mercadoria lhe sejam
obrigado não será superior à que seria devida no caso entregues, tudo contra o documento de receção. Se se verifica
de perda da mercadoria. perda da mercadoria, ou se esta não chegou até ao termo do prazo
previsto no artigo 19º, o destinatário fica autorizado a fazer valer
Artigo 12º em seu próprio nome, para com o transportador, os direitos que
1. O expedidor tem o direito de dispor da mercadoria, em especial resultam do contrato de transporte.
pedindo ao transportador que suspenda o transporte desta, de 2. O destinatário que usa dos direitos que lhe são conferidos nos
modificar o lugar previsto para a entrega e de entregar a termos do parágrafo 1 do presente artigo é obrigado a pagar o
mercadoria a um destinatário diferente do indicado na declaração valor dos créditos resultantes da declaração de expedição. Em caso
de expedição. de contestação a este respeito, o transportador só é obrigado a
2. Este direito cessa quando o segundo exemplar da declaração de efetuar a entrega da mercadoria se o destinatário lhe prestar uma
expedição é entregue ao destinatário ou este faz valer o direito caução.
previsto no artigo 13º, parágrafo 1; a partir desse momento o
transportador tem de conformar-se com as ordens do destinatário. Artigo 14º
3. O direito de disposição pertence, todavia, ao destinatário a 1. Se por qualquer motivo a execução do contrato nas condições
partir do preenchimento da declaração de expedição se o previstas na declaração de expedição é ou se torna impossível
expedidor inscrever tal indicação na referida nota. antes da chegada da mercadoria ao lugar previsto para a entrega,
4. Se o destinatário, no exercício do seu direito de disposição, o transportador tem de pedir instruções à pessoa que tem o direito
ordenar a entrega da mercadoria a outra pessoa, esta não poderá de dispor da mercadoria em conformidade com o artigo 12º.
designar outros destinatários. 2. No entanto, se as circunstâncias permitirem a execução do

95
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
transporte em condições diferentes das previstas na declaração 5. A maneira de proceder em caso de venda é determinada pela lei
de expedição e se o transportador não pode obter a tempo as ou pelos usos do lugar onde se encontrar a mercadoria.
instruções da pessoa que tem o direito de dispor da mercadoria
em conformidade com o artigo 12, tomará as medidas que se lhe CAPÍTULO IV
afigurarem melhores para o interesse da pessoa que tem o direito (Responsabilidade do transportador)
de dispor da mercadoria. Artigo 17º
1. O transportador é responsável pela perda total ou parcial, ou
Artigo 15º pela avaria que se produzir entre o momento do carregamento da
1. Quando houver impedimentos à entrega, depois da chegada da mercadoria e o da entrega, assim como pela demora na entrega.
mercadoria ao lugar de destino, o transportador pedirá instruções 2. O transportador fica desobrigado desta responsabilidade se a
ao expedidor. Se o destinatário recusar a mercadoria, o expedidor perda, avaria ou demora teve por causa uma falta do interessado,
terá o direito de dispor desta sem ter de apresentar o primeiro uma ordem deste que não resulte de falta do transportador, um
exemplar da declaração de expedição. vício próprio da mercadoria, ou circunstâncias que o transportador
2. Mesmo que tenha recusado a mercadoria, o destinatário pode não podia evitar e a cujas consequências não podia obviar.
sempre pedir a entrega desta, enquanto o transportador não tiver 3. O transportador não pode alegar, para se desobrigar da sua
recebido instruções em contrário do expedidor. responsabilidade, nem defeitos do veículo de que se serve para
3. Se o impedimento à entrega surgir depois de o destinatário efetuar o transporte, nem faltas da pessoa a quem alugou o
ter dado ordem de entregar a mercadoria a outra pessoa, em veículo ou dos agentes desta.
conformidade com o direito que lhe cabe em virtude do artigo 12, 4. Tendo em conta o artigo 18º, parágrafos 2 a 5, o transportador
parágrafo 3, o destinatário substitui o expedidor e a referida outra fica isento da sua responsabilidade quando a perda ou avaria
pessoa substitui o destinatário para a aplicação dos parágrafos 1 e resultar dos riscos particulares inerentes a um ou mais dos fatos
2 acima. seguintes:
a) Uso de veículos abertos e não cobertos com encerado, quando
Artigo 16º este uso foi ajustado de maneira expressa e mencionado na
1. O transportador tem direito ao reembolso das despesas que lhe declaração de expedição;
causar o pedido de instruções ou a execução destas, a não ser que b) Falta ou defeito da embalagem quanto às mercadorias que,
estas despesas sejam consequência da falta sua. pela sua natureza, estão sujeitas a perdas ou avarias quando não
2. Nos casos previstos no artigo 14º, parágrafo 1, e no artigo 15º, estão embaladas ou são mal embaladas;
o transportador pode descarregar imediatamente a mercadoria por c) Manutenção, carga, arrumação ou descarga da mercadoria
conta do interessado; depois da descarga, o transporte pelo expedidor ou pelo destinatário ou por pessoas que atuem por
considera-se terminado. O transportador passa então a ter a conta do expedidor ou do destinatário;
mercadoria à sua guarda. Pode, no entanto, confiar a mercadoria d) Natureza de certas mercadorias, sujeitas, por causas
a um terceiro e então só é responsável pela escolha judiciosa desse inerentes a essa própria natureza, quer a perda total ou parcial,
terceiro. A mercadoria continua onerada com os créditos resul- quer a avaria, especialmente por fratura, ferrugem, deterioração
tantes da declaração de expedição e de todas as outras despesas. interna e espontânea, secagem, derramamento, quebra normal ou
3. O transportador pode promover a venda da mercadoria sem ação de bicharia e dos roedores;
esperar instruções do interessado, quando a natureza deteriorável e) Insuficiência ou imperfeição das marcas ou dos números dos
ou o estado da mercadoria o justifiquem ou quando as despesas volumes;
de guarda estão desproporcionadas com o valor da mercadoria. f) Transporte de animais vivos.
Nos outros casos, pode também promover a venda quando não 5. Se o transportador, por virtude do presente artigo, não
tenha recebido do interessado, em prazo razoável, instruções em responder por alguns dos fatores que causaram o estrago, a sua
contrário cuja execução possa ser equitativamente exigida. responsabilidade só fica envolvida na proporção em que tiverem
4. Se a mercadoria tiver sido vendida segundo este artigo, o contribuído para o estrago os fatores pelos quais responde em
produto da venda deve ser posto à disposição do interessado, virtude do presente artigo.
depois de deduzidas as despesas que onerem a mercadoria. Se
estas despesas forem superiores ao produto da venda, o Artigo 18º
transportador tem direito à diferença. 1. Compete ao transportador fazer prova de que a perda, avaria

96
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
ou demora teve por causa um dos fatos previstos no artigo 17º, contra pagamento dos créditos resultantes da declaração de
parágrafo 2. expedição e contra a restituição da indemnização que recebeu,
2. Quando o transportador provar que a perda ou avaria, tendo sendo eventualmente deduzidas as despesas incluídas nessa
em conta as circunstâncias de fato, resultou de um ou mais dos indemnização, e com reserva de todos os direitos a indemnização
riscos particulares previstos no artigo 17º, parágrafo 4, haverá por demora na entrega prevista no artigo 23, e, se for caso disso,
presunção de que aquela resultou destes. O interessado poderá, no no artigo 26.
entanto, provar que o prejuízo não teve por causa total ou parcial 4. Na falta quer do pedido previsto no parágrafo 2, quer de
um desses riscos. instruções dadas no prazo de 30 dias previsto no parágrafo 3, ou
3. A presunção acima referida não é aplicável no caso previsto no ainda no caso de a mercadoria dó aparecer depois de mais de um
artigo 17º, parágrafo 4, a), se houver falta de uma importância ano após o pagamento da indemnização, o transportador disporá
anormal ou perda de volume. dela em conformidade com a lei do lugar onde se encontra a
4. Se o transporte for efetuado por meio de um veículo equipado mercadoria.
de maneira a subtrair as mercadorias à influência do calor, frio,
variações de temperatura ou humidade do ar, o transportador não Artigo 21º
poderá invocar o benefício do artigo 17º, parágrafo 4, d), a não Se a mercadoria for entregue ao destinatário sem cobrança do
ser que apresente prova de que, tendo em conta as circunstâncias, reembolso que deveria ter sido percebido pelo transportador em
foram tomadas todas as medidas que lhe competiam quanto à virtude das disposições do contrato de transporte, o transportador
escolha, manutenção e uso daqueles equipamentos e que acatou tem de indemnizar o expedidor até ao valor do reembolso, salvo
as instruções especiais que lhe tiverem sido dadas. se proceder contra o destinatário.
5. O transportador só poderá invocar o benefício do artigo 17º,
parágrafo 4, f), se apresentar prova de que, tendo em conta as Artigo 22º
circunstâncias, foram tomadas todas as medidas que normalmente 1. Se o expedidor entregar ao transportador mercadorias
lhe competiam e acatou as instruções especiais que lhe possam ter perigosas, assinar-lhe-á a natureza exata do perigo que estas
sido dadas. apresentam e indicar-lhe-á eventualmente as precauções a tomar.
No caso de este aviso não ser mencionado na declaração de
Artigo 19º expedição, competirá ao expedidor ou ao destinatário apresentar
Há demora na entrega quando a mercadoria não foi entregue no prova, por quaisquer outros meios, de que o transportador teve
prazo convencionado, ou, se não foi convencionado prazo, quando conhecimento da natureza exata do perigo que apresentava o
a duração efetiva do transporte, tendo em conta as circunstâncias, transporte das referidas mercadorias.
e em especial, no caso de um carregamento parcial, o tempo 2. As mercadorias perigosas, de cujo perigo o transportador não
necessário para juntar um carregamento completo em condições tenha tido conhecimento nas condições previstas no parágrafo
normais, ultrapassar o tempo que é razoável atribuir a transportes 1 do presente artigo, podem ser descarregadas, destruídas ou
diligentes. tornadas inofensivas pelo transportador, em qualquer momento e
lugar, sem nenhuma indemnização; o expedidor, além disso, será
Artigo 20º responsável por todas as despesas e prejuízos resultantes de terem
1. O interessado, sem ter de apresentar outras provas, poderá sido entregues para transporte ou do seu transporte.
considerar a mercadoria como perdida quando esta não tiver sido
entregue dentro dos 30 dias seguintes ao termo do prazo Artigo 23º
convencionado, ou, se não foi convencionado prazo, dentro dos 60 1. Quando for debitada ao transportador uma indemnização por
dias seguintes à entrega da mercadoria ao cuidado do perda total ou parcial da mercadoria, em virtude das disposições
transportador. da presente Convenção, essa indemnização será calculada segundo
2. O interessado, ao receber o pagamento da indemnização pela o valor da mercadoria no lugar e época em que for aceite para
mercadoria perdida, poderá pedir por escrito que seja avisado transporte.
imediatamente se a mercadoria aparecer no decurso do ano 2. O valor da mercadoria será determinado pela cotação na bolsa,
seguinte ao pagamento da indemnização. Ser-lhe-á acusada por ou, na falta desta, pelo preço corrente no mercado, ou, na falta
escrito a receção desse pedido. de ambas, pelo valor usual das mercadorias da mesma natureza e
3. Dentro dos 30 dias seguintes à receção desse aviso, o qualidade.
interessado poderá exigir que a mercadoria lhe seja entregue 3. (na redação dada pelo Protocolo de Emenda) A indemnização

97
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
não poderá, porém, ultrapassar 8,33 unidades de conta por moeda nacional relativamente à unidade de conta ou à unidade
quilograma de peso bruto em falta. monetária, os Estados deverão comunicar ao Secretário-Geral da
4. Além disso, serão reembolsados o preço do transporte, os Organização das Nações Unidas no seu método de cálculo, em
direitos aduaneiros e as outras despesas provenientes do conformidade com o nº 7 do presente artigo, ou os resultados
transporte da mercadoria, na totalidade no caso de perda total e da conversão, em conformidade com o no 8 do presente artigo,
em proporção no caso de perda parcial; não serão devidas outras consoante os casos.
indemnizações de perdas e danos.
5. No caso de demora, se o interessado provar que disso resultou Artigo 24º
prejuízo, o transportador terá de pagar por esse prejuízo uma O expedidor poderá mencionar na declaração de expedição, contra
indemnização que não poderá ultrapassar o preço do transporte. pagamento de um suplemento de preço a convencionar, um valor
6. Só poderão exigir-se indemnizações mais elevadas no caso da mercadoria que exceda o limite mencionado no parágrafo 3 do
de declaração do valor da mercadoria ou de declaração de juro artigo 23º, e nesse caso o valor declarado substitui esse limite.
especial na entrega, em conformidade com os artigos 24 e 26.
7. (no aditado pelo Protocolo de Emenda) A unidade de conta Artigo 25º
referida na presente Convenção é o direito de saque especial, tal 1. Em caso de avaria, o transportador paga o valor da depreciação
como definido pelo Fundo Monetário Internacional. O montante a calculada segundo o valor da mercadoria determinado em
que se refere o no 3 do presente artigo é convertido na moeda conformidade com o artigo 23º, parágrafos 1, 2 e 4.
nacional do Estado onde se situe o tribunal encarregado da 2. No entanto, a indemnização não poderá ultrapassar:
resolução do litígio com base no valor dessa moeda à data do a) O valor que atingira no caso de perda total, se toda a
julgamento ou numa data adotada de comum acordo pelas partes. expedição se depreciou com a avaria;
O valor, em direito de saque especial, da moeda nacional de um b) O valor que atingiria no caso de perda da parte depreciada,
Estado que seja membro do Fundo Monetário Internacional é se apenas parte da expedição se depreciou com a avaria.
calculado segundo o método de avaliação que o Fundo Monetário
Internacional esteja à data a aplicar nas suas próprias operações Artigo 26º
e transações. O valor, em direito de saque especial, da moeda 1. O expedidor pode fixar, mencionando-o na declaração de
nacional de um Estado que não seja membro do Fundo Monetário expedição e contra pagamento de um suplemento de preço a
Internacional é calculado da forma determinada por esse mesmo convencionar, o valor de um juro especial na entrega para o caso
Estado. de perda ou avaria e para o de ultrapassagem do prazo
8. (no aditado pelo Protocolo de Emenda) Todavia, um Estado convencionado.
que não seja membro do Fundo Monetário Internacional e cuja 2. Se houver declaração de juro da especial na especial na entrega,
legislação não permita que sejam aplicadas as disposições do no 7 pode ser exigida, independentemente das indemnizações previstas
do presente artigo poderá, no momento da ratificação do nos artigos 23º, 24º e 25º e até ao valor do juro declarado, uma
Protocolo à CMR ou da adesão ao mesmo, ou em qualquer indemnização igual ao dano suplementar de que seja apresentada
momento ulterior, declarar que fixa em 25 unidades monetárias prova.
o limite da responsabilidade prevista no nº 3 do presente artigo
e aplicável no seu território. A unidade monetária referida no Artigo 27º
presente número corresponde a 10/31 gramas de ouro ao título 1. O interessado pode pedir os juros da indemnização. Estes juros,
de 0,900 de finura. A conversão em moeda nacional do montante calculados à taxa de 5 por cento ao ano, contam-se desde o dia em
indicado no presente número efetuar-se-á em conformidade com a que a reclamação for dirigida por escrito ao transportador, ou, se
legislação do Estado em questão. não houve reclamação, desde o dia em que intentou ação judicial.
9. (no aditado pelo Protocolo de Emenda) O cálculo referido no 2. Quando os elementos que servem de base para o cálculo da
último período do no 7, bem como a conversão referida no nº 8 do indemnização não são expressos na moeda do país onde é exigido
presente artigo, deverão ser efetuados de modo a expressarem em o pagamento, a conversão é feita pela cotação do dia e lugar do
moeda nacional do Estado, tanto quanto possível, o mesmo valor pagamento da indemnização.
real que o expresso em unidades de conta no nº 3 do presente
artigo. Aquando do depósito de qualquer instrumento nos termos Artigo 28º
do artigo 3º do Protocolo à CMR e sempre que ocorra uma 1. Quando, segundo a lei aplicável, a perda, avaria ou demora
modificação nos seus métodos de cálculo ou no valor da sua ocorridas durante um transporte sujeito à presente Convenção

98
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
possa dar lugar a uma reclamação extracontratual, o contar da colocação da mercadoria à disposição do destinatário.
transportador poderá aproveitar- se das disposições da presente 4. A data da entrega, ou, segundo o caso, a da verificação ou da
Convenção que excluem a sua responsabilidade ou que colocação da mercadoria à disposição, não é contada nos prazos
determinam ou limitam as indemnizações devidas. previstos no presente artigo.
2. Quando a responsabilidade extracontratual, por perda, avaria 5. O transportador e o destinatário darão um ao outro,
ou demora, de uma das pessoas pelas quais o transportador reciprocamente, todas as felicidades razoáveis para as observações
responde nos termos do artigo 3º é posta em causa, essa pessoa e verificações necessárias.
poderá também aproveitar-se das disposições da presente Artigo 31º
Convenção que excluem a responsabilidade do transportador ou 1. Para todos os litígios provocados pelos transportes sujeitos à
que determinam ou limitam as indemnizações devidas. presente Convenção, o autor poderá recorrer, além das jurisdições
dos países contratantes designados de comum acordo pelas parte,
Artigo 29º para a jurisdição do país no território do qual:
1. O transportador não tem o direito de aproveitar-se das a) O réu tiver a sua residência habitual, a sua sede principal
disposições do presente capítulo que excluem ou limitam a sua ou sucursal ou agência por intermédio da qual se estabeleceu o
responsabilidade ou que transferem o encargo da prova se o dano contrato de transporte, ou
provier de dolo seu ou de falta que lhe seja imputável e que, b) Estiver situado o lugar do carregamento da mercadoria ou o
segundo a lei da jurisdição que julgar o caso, seja considerada lugar do carregamento da mercadoria ou o lugar previsto para a
equivalente ao dolo. entrega, e só poderá recorrer a essas jurisdições.
2. Sucede o mesmo se o dolo ou a falta for ato dos agentes do 2. Quando num litígio previsto no parágrafo 1 do presente artigo
transportador ou de quaisquer outras pessoas a cujos serviços estiver em instância uma ação numa jurisdição competente nos
aquele recorre para a execução do transporte, quando esses termos desse parágrafo, ou quando tal jurisdição pronunciar
agentes ou essas outras pessoas atuarem no exercício das suas sentença em tal litígio, não poderá ser intentada mais nenhuma
funções. Neste caso, esses agentes ou essas outras pessoas ação pela mesma causa entre as mesmas partes, a não ser que a
também não têm o direito de aproveitar-se, quanto à sua decisão da jurisdição perante a qual foi intentada a primeira ação
responsabilidade pessoal, das disposições do presente capítulo não possa ser executada no país onde é intentada a nova ação.
indicadas no parágrafo 1. 3. Quando num litígio previsto no parágrafo 1 do presente
artigo uma sentença pronunciada por uma jurisdição de um país
CAPÍTULO V contratante se tornou executória nesse país, torna-se também
(Reclamações e Ações) executória em cada um dos outros países contratantes
Artigo 30º imediatamente após o cumprimento das formalidades prescritas
1. Se o destinatário receber a mercadoria sem verificar contradito- para esse efeito no país interessado. Essas formalidades não
riamente o seu estado com o transportador, ou sem ter formulado podem comportar nenhuma revisão do caso.
reservas a este que indiquem a natureza geral da perda ou avaria, 4. As disposições do parágrafo 3 do presente artigo aplicam-se
o mais tardar no momento da entrega se se tratar de perdas ou às sentenças contraditórias, às sentenças omissas e às transações
avarias aparentes, ou dentro de sete dias a contar da entrega, não judiciais, mas não se aplicam às sentenças somente executórias
incluindo domingos e dias feriados, quando se tratar de perdas por provisão nem às condenações em perdas e danos que venham
ou avarias não aparentes, presumir-se-á, até prova em contrário, a ser impostas além das despesas contra um queixoso em virtude
que a mercadoria foi recebida no estado descrito na declaração de da rejeição total ou parcial da sua queixa.
expedição. As reservas indicadas acima devem ser feitas por escrito 5. Não pode ser exigida caução a nacionais de países contratantes,
quando se tratar de perdas ou avarias não aparentes. com domicílio ou estabelecimento num destes países, para garantir
2. Quando o estado da mercadoria foi verificado contraditoria- o pagamento das despesas causadas por ações judiciais originadas
mente pelo destinatário e pelo transportador, a prova em contrário pelos transportes sujeitos à presente Convenção.
do resultado desta verificação só poderá fazer-se se se tratar de
perdas ou avarias não aparentes e se o destinatário tiver apresen- Artigo 32º
tado ao transportador reservas por escrito dentro dos sete dias, 1. As ações que podem ser originadas pelos transportes sujeitos à
domingos e dias feriados não incluídos, a contar dessa verificação. presente Convenção prescrevem no prazo de um ano. No entanto,
3. Uma demora na entrega só pode dar origem a indemnização a prescrição é de três anos no caso de dolo, ou de falta que a lei
se tiver formulada uma reserva por escrito no prazo de 21 dias, a da jurisdição a que se recorreu considere equivalente ao dolo.

99
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
O prazo de prescrição é contado: 2. As disposições do artigo 9º aplicam-se às relações entre
a) A partir do dia em que a mercadoria foi entregue, no caso de transportadores sucessivos.
perda parcial, avaria ou demora;
b) No caso de perda total, a partir do 30º dia após a expiração Artigo 36º
do prazo convencionado, ou, se não tiver sido convencionado A não ser que se trate de reconvenção ou de exceção posta em
prazo, a partir do 60º dia após a entrega da mercadoria ao relação a um pedido fundado no mesmo contrato de transporte,
cuidado do transportador; a ação de responsabilidade por perda, avaria ou demora só pode
c) Em todos os outros casos, a partir do termo de um prazo ser posta contra o primeiro transportador, o último transportador
de três meses, a contar da conclusão do contrato de transporte. ou transportador que executava a parte do transporte na qual se
O dia indicado acima como ponto de partida da prescrição não é produziu o fato que causou a perda, avaria ou demora; a ação
compreendido no prazo. pode ser posta simultaneamente contra vários destes
2. Uma reclamação escrita suspende a prescrição até ao dia em transportadores.
que o transportador rejeitar a reclamação por escrito e restituir os
documentos que a esta se juntaram. No caso de aceitação parcial Artigo 37º
da reclamação, a prescrição só retoma o seu curso para a parte O transportador que tiver pago uma indemnização segundo as
da reclamação que continuar litigiosa. A prova da receção da disposições da presente Convenção terá o direito de intentar
reclamação ou da resposta e restituição dos documentos compete à recurso quanto ao principal, juros e despesas contra os
parte que invoca este fato. As reclamações ulteriores com a mesma transportadores que participaram na execução do contrato de
finalidade não suspendem a prescrição. transporte, em conformidade com as disposições seguintes:
3. Salvas as disposições do parágrafo 2 acima, a suspensão da a) O transportador que causou o dano é o único que deve suportar
prescrição regulas e pela lei da jurisdição a que se recorreu. O a indemnização, quer ele próprio a tenha pago, quer tenha sido
mesmo acontece quanto à interrupção da prescrição. paga por outro transportador;
4. A ação que prescreveu não pode mais ser exercida, mesmo sob b) Quando o dano foi causado por dois ou mais transportadores,
a forma de reconvenção ou exceção. cada um deve pagar uma quantia proporcional à sua parte de
responsabilidade se for impossível a avaliação das partes de
Artigo 33º responsabilidade, cada um é responsável proporcionalmente à
O contrato de transporte pode conter uma cláusula que atribua parte de remuneração do transporte que lhe competir;
competência a um tribunal arbitral, desde que essa cláusula c) Se não puderem determinar-se os transportadores aos quais
estipule que o tribunal arbitral aplicará a presente Convenção. deve atribuir-se a responsabilidade, o encargo da indemnização
será distribuído por todos os transportadores, na proporção fixada
CAPÍTULO VI em b).
(Disposições relativas ao transporte efetuado
por transportadores sucessivos) Artigo 38º
Artigo 34º Se um dos transportadores for insolvente, a parte que lhe cabe e
Se um transporte regulado por um contrato único for executado não foi paga será distribuída por todos os outros transportadores,
por transportadores rodoviários sucessivos, cada um destes assume proporcionalmente às suas remunerações.
a responsabilidade da execução do transporte total, e o segundo e
cada um dos seguintes transportadores, ao aceitarem a mercadoria Artigo 39º
e a declaração de expedição, tornam-se partes no contrato nas 1. O transportador contra o qual tiver sido posto um dos recursos
condições da declaração da expedição. previstos nos artigos 37º e 38º não poderá contestar o fundamento
do pagamento efetuado pelo transportador que intentar o
Artigo 35º recurso, quando a indemnização tiver sido fixada por decisão
1. O transportador que aceitar a mercadoria do transportador judicial, desde que tenha sido devidamente informado do processo
precedente dar-lhe-á recibo datado e assinado. Deverá indicar o e tenha tido possibilidade de nele intervir.
seu nome e morada no segundo exemplar da declaração de 2. O transportador que quiser intentar o seu recurso poderá
expedição. Se for caso disso, indicará neste exemplar, assim como apresentá-lo no tribunal competente do país no qual um dos trans-
no recibo, reservas análogas às previstas no artigo 8º, parágrafo portadores interessados tiver residência habitual, sede principal ou
2.

100
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
sucursal ou agência por intermédio da qual foi efetuado o contrato Artigo 43º
de transporte. O recurso poderá ser intentado numa só e mesma 1. A presente Convenção entrará em vigor no 90º dia depois de
instância contra todos os transportadores interessados. cinco países mencionados no parágrafo 1 do artigo 42º terem
3. As disposições do artigo 31º, parágrafos 3 e 4, aplicar-se-ão às depositado os seus instrumentos de ratificação ou adesão.
sentenças pronunciadas nos recursos previstos nos artigos 37º e 2. Para cada país que a ratificar ou a ela aderir, depois de cinco
38º. países terem depositado os seus instrumentos de ratificação ou
4. As disposições do artigo 32º são aplicáveis aos recursos entre adesão, a presente Convenção entrará em vigor no 90º dia que
transportadores. No entanto o prazo de prescrição é contado quer se seguir ao depósito do instrumento de ratificação ou adesão do
a partir do dia de uma decisão judicial definitiva que fixe a referido país.
indemnização a pagar em virtude em virtude das disposições da
presente Convenção, quer, no caso de não ter havido tal decisão, a Artigo 44º
partir do pagamento efetivo. 1. Qualquer Parte Contratante poderá denunciar a presente
Convenção por notificação dirigida ao Secretário-Geral da
Artigo 40º Organização das Nações Unidas.
Os transportadores poderão convencionar entre si disposições 2. A denúncia produz efeito doze meses depois da data em que o
diferentes das dos artigos 37º e 38º. Secretário-Geral dela tiver recebido notificação.

CAPÍTULO VII Artigo 45º


(Nulidade das estipulações contrárias à Convenção) Se depois da entrada em vigor da presente Convenção o número
Artigo 41º das Partes Contratantes ficar reduzido a menos de cinco, em
1. Salvas as disposições do artigo 40º, é nula e sem efeito consequência de denúncias, a presente Convenção deixará de estar
qualquer estipulação que, direta ou indiretamente, modifique as em vigor a partir da data em que produzir efeito a última dessas
disposições da presente Convenção. A nulidade de tais estipulações denúncias.
não implica a nulidade das outras disposições do contrato.
2. Em especial, seria nula qualquer cláusula pela qual o Artigo 46º
transportador se atribuísse o benefício do seguro da mercadoria 1. Qualquer país, ao depositar o seu instrumento de ratificação ou
ou qualquer outra cláusula análoga, assim como qualquer cláusula adesão ou em qualquer outro momento ulterior, poderá declarar,
que transfira o encargo da prova. por notificação ao Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas, que a presente Convenção se aplica à totalidade ou à parte
CAPÍTULO VIII dos territórios que representa no plano internacional. A Convenção
(Disposições Finais) será aplicável ao território ou territórios mencionados na
Artigo 42º notificação a partir do 90º dia depois da receção desta notificação
1. A presente Convenção fica patente à assinatura ou adesão dos pelo Secretário-Geral, ou, se nesse dia a Convenção ainda não tiver
países membros da Comissão Económica para a Europa e dos entrado em vigor, a contar da data da sua entrada em vigor.
países admitidos na Comissão a título consultivo, em conformidade 2. Qualquer país que tenha feito, em conformidade com o
com o parágrafo 8 do mandato desta Comissão. parágrafo precedente, uma declaração com o efeito de tornar a
2. Os países que podem tomar parte em certos trabalhos da presente Convenção aplicável a um território que represente no
Comissão Económica para a Europa, segundo o parágrafo 11 do plano internacional, poderá, em conformidade com o artigo 44º,
mandato desta Comissão, poderão tornar-se Partes Contratantes denunciar a Convenção no que diz respeito ao referido território.
da presente Convenção, aderindo a esta depois da sua entrada em
vigor. Artigo 47º
3. A Convenção estará patente à assinatura até 31 de Agosto de Qualquer litígio entre duas ou mais Partes Contratantes acerca da
1956, inclusive. Depois desta data, ficará patente à adesão. interpretação ou aplicação da presente Convenção, que as Parte
4. A presente Convenção será ratificada. não possam resolver por meio da negociação ou outro modo de
5. A ratificação ou a adesão efetuar-se-á pelo depósito de um solução, poderá ser submetido à decisão do Tribunal Internacional
instrumento junto do Secretário-Geral da Organização das Nações de Justiça, a pedido de qualquer das Partes Contratantes
Unidas. interessadas.

101
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Artigo 48º e) As notificações recebidas em conformidade com o artigo 46º;
1. Qualquer Parte Contratante, no momento de assinar ou ratificar f) As declarações e notificações recebidas em conformidade com os
a presente Convenção ou de a esta aderir, poderá declarar que parágrafos 1 e 2 do artigo 48.
não se considera ligada pelo artigo 47º da Convenção. As outras
Partes Contratantes não ficarão ligadas pelo artigo 47º para com Artigo 51º
qualquer Parte Contratante que tenha formulado tal reserva. Depois de 31 de Agosto de 1956, o original da presente Convenção
2. Qualquer Parte Contratante que tenha formulado uma será depositado junto do Secretário- Geral da Organização das
reserva em conformidade com o parágrafo 1 poderá em qualquer Nações Unidas, que dele transmitirá cópias devidamente
momento retirar essa reserva por meio de notificação dirigida ao certificadas a cada um dos países indicados nos parágrafos 1
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. e 2 do artigo 42º. Em fé do que os abaixo assinados, para isso
3. Não se admitirá nenhuma outra reserva à presente Convenção. devidamente autorizados, assinaram a presente Convenção. Feito
em Genebra, aos dezanove de Maio de mil novecentos e cinquenta
Artigo 49º e seis, num só exemplar, nas línguas inglesa e francesa, ambos os
1. Depois de a presente Convenção ter estado em vigor durante textos fazendo fé.
três anos, qualquer Parte Contratante, por meio de notificação
dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas,
poderá pedir a convocação de uma conferência destinada a rever
Anexo II
DECRETO-LEI Nº 257/2007
a presente Convenção. O Secretário-Geral comunicará este pedido
(com a redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei 136/2009)
a todas as Partes Contratantes e convocará uma conferência de
O regime jurídico da atividade de transporte rodoviário
revisão se, no prazo de quatro meses, a contar da comunicação
de mercadorias
enviada, pelo menos um quarto das Partes Contratantes lhe
comunicar o seu assentimento a esse pedido.
O regime jurídico da atividade de transporte rodoviário de
2. Se for convocada uma conferência em conformidade com o
mercadorias, adotado no direito interno em consonância com as
parágrafo precedente, o Secretário-Geral avisará do fato todas as
Diretivas nº 96/26/CE, do Conselho, de 29 de Abril, e 98/76/CE,
Partes Contratantes e convidá-las-á a apresentar, no prazo de três
do Conselho, de 1 de Outubro, em vigor desde 1999, veio
meses, as propostas que desejariam que fossem examinadas pela
demonstrar, pela experiência adquirida com a sua aplicação, a
conferência. O Secretário-Geral comunicará a todas as Partes
necessidade de introduzir alguns ajustamentos.
Contratantes a ordem do dia provisória da conferência e o texto
dessas propostas, pelo menos três meses antes da data de
Constatou -se ser aconselhável proceder a alterações ao regime de
abertura da conferência.
acesso à atividade, bem como ao regime de organização do
3. O Secretário-Geral convidará para qualquer conferência,
mercado do transporte rodoviário de mercadorias, as quais
convocada em conformidade com o presente artigo, todos os países
promovam a melhoria das condições de prestação de serviços e
indicados no parágrafo 1 do artigo 42º e todos os países que se
melhorem a capacidade competitiva das empresas operando nesse
tiverem tornado Partes Contratantes pela aplicação do parágrafo 2
mercado.
do artigo 42º.
Considerando que se tem verificado uma tendência de
Artigo 50º
crescimento de empresas que, com recurso exclusivo a veículos
Além das notificações previstas no artigo 49º, o Secretário-Geral da
ligeiros de mercadorias, efetuam transportes públicos ou por conta
Organização das Nações Unidas comunicará aos países indicados
de outrem, sem que tenham de se sujeitar a quaisquer condições
no parágrafo 1 do artigo 42º e aos países que se tiverem tornado
de acesso à atividade ou de mercado, o que subverte as condições
Partes Contratantes pela aplicação do parágrafo 2 do artigo 42º:
de concorrência, mostra -se aconselhável que estes transportes
a) As ratificações e adesões em virtude do artigo 42;
sejam submetidos a regras idênticas às aplicáveis aos restantes
b) As datas em que a presente Convenção entrar em vigor em
transportes já submetidos a licenciamento. Ficam, no entanto,
conformidade com o artigo 43º;
excluídos deste regime os transportes efetuados em veículos de
c) As denúncias em virtude do artigo 44º;
mercadorias de peso bruto inferior a 2500 kg, pela irrelevância da
d) A ab-rogação da presente Convenção em conformidade com o
sua capacidade de carga.
artigo 45º;

102
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
No que se refere ao acesso à atividade, foram adequadas as Artigo 2º
regras relativas ao requisito de capacidade profissional, de forma Definições
a garantir que cada empresa seja efetivamente gerida pelo titular Para efeitos do disposto no presente decreto-lei e legislação
do certificado de capacidade profissional e, ao mesmo tempo, complementar, considera-se:
fomentar a obtenção ou consolidação de melhores e mais a) «Transporte rodoviário de mercadorias» a atividade de natureza
atualizadas competências técnicas. Neste sentido, foi condicionada logística e operacional que envolve a deslocação física de
a validade do certificado de capacidade profissional do responsável mercadorias em veículos automóveis ou conjuntos de veículos,
da empresa a uma avaliação da sua gestão com boas práticas, que podendo envolver ainda operações de manuseamento dessas
terá em conta o número de infrações à regulamentação relevante mercadorias, designadamente grupagem,
para o sector, incluindo matérias relacionadas com a própria triagem, receção, armazenamento e distribuição;
atividade do transporte rodoviário de mercadorias, segurança b) «Transporte por conta de outrem ou público» o transporte de
rodoviária, ou proteção do ambiente. mercadorias realizado mediante contrato, que não se enquadre
nas condições definidas na alínea seguinte;
Procurando contribuir de uma forma mais ativa para a proteção do c) «Transporte por conta própria ou particular» o transporte
ambiente, são estabelecidas regras condicionantes do realizado por pessoas singulares ou coletivas em que se
licenciamento de veículos que tenderão a promover a renovação verifiquem cumulativamente as seguintes condições:
das frotas automóveis e, consequentemente, o abatimento dos i) As mercadorias transportadas sejam da sua propriedade, ou
veículos mais antigos, ou seja, os mais poluentes. Formulou-se um tenham sido vendidas, compradas, dadas ou tomadas de aluguer,
regime sancionatório mais ajustado e dissuasor, designadamente produzidas, extraídas, transformadas ou reparadas pela entidade
no que respeita à aplicação de sanção acessória por excesso de que realiza o transporte e que este constitua uma atividade
carga, que passa a poder ser aplicada quer a transportadores por acessória no conjunto das suas atividades;
conta de outrem quer por conta própria. Foi também ii) Os veículos utilizados sejam da sua propriedade, objeto de
introduzida a punição, até aqui inexistente, pela falta de contrato de locação financeira ou alugados em regime de aluguer
certificado de motorista, exigido aos motoristas nacionais de países sem condutor;
terceiros pelo Regulamento (CE) nº 484/2002, do Parlamento iii) Os veículos sejam, em qualquer caso, conduzidos pelo
Europeu e do Conselho, que alterou o Regulamento (CEE) proprietário ou locatário ou por pessoal ao seu serviço;
nº 881/92, também do Parlamento Europeu e do Conselho. d) «Mercadorias» toda a espécie de produtos ou objetos, com ou
ASSIM: No uso da autorização legislativa concedida pela Lei sem valor comercial, que possam ser transportados em veículos
nº 1/2007, de 11 de Janeiro, e nos termos das alíneas a) e b) do automóveis ou conjuntos de veículos;
nº 1 do artigo 198º da Constituição, o Governo decreta o seguinte: e) «Transporte nacional» o transporte que se efetua totalmente em
território nacional;
CAPÍTULO I f) «Transporte internacional» o transporte que implica o
Disposições gerais atravessamento de fronteiras e se desenvolve parcialmente em
Artigo 1º - Âmbito território nacional;
1. O presente decreto -lei aplica -se ao transporte rodoviário de g) «Transporte combinado» o transporte de mercadorias em que,
mercadorias efetuado por meio de veículos automóveis ou na parte inicial ou final do trajeto, se utiliza o modo rodoviário e,
conjuntos de veículos de mercadorias, com peso bruto igual ou na outra parte, o modo ferroviário, o modo aéreo, a via fluvial ou
superior a 2500 kg. a via marítima;
2 — Não estão abrangidos pelo regime de licenciamento na h) «Transportador residente» qualquer empresa estabelecida em
atividade a que se refere o presente decreto-lei: território nacional habilitada a exercer a atividade
a) Os transportes de produtos ou mercadorias diretamente transportadora;
ligados à gestão agrícola ou dela provenientes efetuados por meio i) «Transportador não residente» qualquer empresa estabelecida
de reboques atrelados aos respetivos tratores agrícolas; num país estrangeiro habilitada a exercer a atividade nos termos
b) Os transportes de envios postais realizados no âmbito da da regulamentação desse país;
atividade de prestador de serviços postais; j) «Cabotagem» a realização de transporte nacional por
c) A circulação de veículos aos quais estejam ligados, de forma transportadores não residentes;
permanente e exclusiva, equipamentos ou máquinas. l) «Transportes especiais» os transportes que, designadamente

103
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
pela natureza ou dimensão das mercadorias transportadas, devem tenha a sua situação contributiva regularizada perante a
obedecer a condições técnicas ou a medidas de segurança administração fiscal e a segurança social.
especiais;
m) «Transportes equiparados a transportes por conta própria» os Artigo 5º
que integrem um transporte combinado e se desenvolvam nos Idoneidade
percursos rodoviários iniciais ou terminais, desde que seja 1. A idoneidade é aferida pela inexistência de impedimentos
cumprida a condição prevista na subalínea i) da alínea c) e o legais, nomeadamente a condenação por determinados ilícitos
veículo trator seja propriedade da empresa expedidora, objeto de praticados pelos administradores, diretores ou gerentes.
contrato de locação financeira ou de aluguer sem condutor e seja 2. São consideradas idóneas as pessoas relativamente às quais não
conduzido pelo proprietário, locatário ou pessoal ao seu serviço, se verifique algum dos seguintes impedimentos:
mesmo que o reboque esteja matriculado ou tenha sido alugado a) Proibição legal para o exercício do comércio;
pela empresa destinatária, ou vice -versa, no caso dos percursos b) Condenação com pena de prisão efetiva igual ou superior a
rodoviários terminais; 2 anos, transitada em julgado, por crime contra o património, por
n) «Transportes em regime de carga completa» os transportes por tráfico de estupefacientes, por branqueamento de capitais, por
conta de outrem em que o veículo é utilizado no conjunto da sua fraude fiscal ou aduaneira;
capacidade de carga por um único expedidor; c) Condenação, com trânsito em julgado, na medida de
o) «Transporte em regime de carga fracionada» os transportes por segurança de interdição do exercício da profissão de transportador,
conta de outrem em que o veículo é utilizado por fração da sua independentemente da natureza do crime;
capacidade de carga por vários expedidores; d) Condenação, com trânsito em julgado, por infrações graves
p) «Guia de transporte» o documento descritivo dos elementos à regulamentação sobre os tempos de condução e de repouso ou
essenciais da operação de transporte e que estabelece as condições à regulamentação sobre a segurança rodoviária, nos casos em
de realização do contrato entre o transportador e o expedidor; que tenha sido decretada a interdição do exercício da profissão de
q) «Expedidor» a pessoa que contrata com o transportador a transportador;
deslocação das mercadorias. e) Condenação, com trânsito em julgado, por infrações
cometidas às normas relativas ao regime das prestações de
CAPÍTULO II natureza retributiva ou às condições de higiene e segurança no
Acesso à atividade trabalho, à proteção do ambiente e à responsabilidade
Artigo 3º profissional, nos casos em que tenha sido decretada a interdição
Licenciamento da atividade do exercício da profissão de transportador.
1. A atividade de transporte rodoviário de mercadorias por conta 3. Para efeitos do presente decreto-lei, quando seja decretada a
de outrem, nacional ou internacional, por meio de veículos de sanção acessória de interdição do exercício da atividade, os
peso bruto igual ou superior a 2500 kg, só pode ser exercida por administradores, diretores ou gerentes em funções à data da
sociedades comerciais ou cooperativas, licenciadas pelo Instituto da infração que originou a sanção acessória deixam de preencher o
Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I. P. (IMT). requisito de idoneidade durante o período de interdição fixado na
2. A licença a que se refere o número anterior consubstancia-se decisão condenatória.
num alvará ou licença comunitária, a qual é intransmissível,
sendo emitida por um prazo não superior a cinco anos, renovável Artigo 6º
por igual período, mediante comprovação de que se mantêm os Capacidade profissional
requisitos de acesso e de exercício de atividade. 1. A capacidade profissional deve ser preenchida por pessoa que,
3. O IMT procede ao registo, nos termos da lei em vigor, de todas sendo titular do certificado de capacidade profissional a que se
as empresas que realizem transportes de mercadorias por conta de refere o artigo 7º, detenha poderes para obrigar a empresa,
outrem. isolada ou conjuntamente, e a dirija em permanência e
Artigo 4º efetividade.
Requisitos de acesso e exercício da atividade 2. Para efeitos do cumprimento do requisito de capacidade
1. São requisitos de acesso e exercício da atividade a idoneidade, a profissional, a pessoa que assegura este requisito deve fazer prova
capacidade técnica e profissional e a capacidade financeira. da sua inscrição na segurança social, na qualidade de quadro de
2 . É ainda requisito de exercício da atividade que a empresa direção da empresa.

104
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
3. A mesma pessoa não pode assegurar o requisito de capacidade Artigo 8º
profissional a mais de uma empresa, salvo se pelo menos 50 % do Capacidade técnica
capital social de cada uma das empresas por ela dirigidas A capacidade técnica consiste na existência de meios técnicos e
pertencer ao mesmo sócio, pessoa singular ou coletiva. humanos adequados à dimensão das empresas transportadoras,
de acordo com os critérios a definir por portaria.
Artigo 7º
Certificado de capacidade profissional Artigo 9º
1. O certificado de capacidade profissional para transportes Capacidade financeira
rodoviários de mercadorias, nacionais ou internacionais, consoante 1. A capacidade financeira consiste na posse de recursos
o caso, é emitido pelo IMT a pessoas que: financeiros necessários para garantir o início da atividade e a boa
a) Tenham frequentado ação de formação sobre as matérias gestão da empresa.
referidas na lista constante do anexo I ao presente decreto-lei e 2. Para efeitos de início de atividade, as empresas devem dispor
que dele faz parte integrante e obtenham aprovação em exame, de um capital social mínimo de € 125 000 ou de € 50 000, no
realizado de acordo com as regras constantes do anexo II ao caso de exercício da atividade exclusivamente por meio de veículos
presente decreto -lei e que dele faz parte integrante; ou ligeiros.
b) Comprovem curricularmente ter, pelo menos, cinco anos de 3. Durante o exercício da atividade, o montante de capital e
experiência prática ao nível de direção numa empresa licenciada reservas não pode ser inferior a € 9000 pelo primeiro veículo
para transportes rodoviários de mercadorias, nacionais ou automóvel licenciado e € 5000 ou € 1500 por cada veículo
internacionais, e obtenham aprovação em exame específico de automóvel adicional, consoante se trate de veículo pesado ou
controlo. ligeiro.
2. As pessoas diplomadas com curso do ensino superior ou com 4. A comprovação do disposto nos números anteriores é feita por
curso reconhecido oficialmente, que implique bom conhecimento certidão do registo comercial da qual conste o capital social e por
de alguma ou algumas matérias referidas na lista do anexo I, duplicado ou cópia autenticada do último balanço apresentado
podem ser dispensadas da formação e do exame relativamente a para efeitos de imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas
essa ou a essas matérias. (IRC) ou por garantia bancária.
3. Os titulares de certificado de capacidade profissional, a que se 5. A certidão do registo comercial pode ser fornecida mediante
refere o artigo 6º do Decreto -Lei n.º 3/2001, de 10 de Janeiro, a disponibilização do código de acesso à certidão permanente
ficam abrangidos pela dispensa a que se refere o número anterior, de registo comercial, ou, em alternativa, mediante a entrega da
relativamente às matérias de avaliação comuns. certidão em papel.
4. O IMT reconhece os certificados de capacidade profissional para
transportes rodoviários de mercadorias, emitidos pelas entidades Artigo 10º
competentes de outros Estados membros da União Europeia, nos Cumprimento das obrigações fiscais
termos da Diretiva nº 96/26/CE, do Conselho, de 29 de Abril, A comprovação da situação contributiva da empresa perante a
modificada pela Diretiva nº 98/76/CE, do Conselho, de 1 de administração fiscal e a segurança social é exigível no momento
Outubro. da renovação do alvará e no licenciamento de veículos.
5. A validade do certificado profissional do responsável da
empresa, por período superior a cinco anos, fica dependente do Artigo 11º
exercício da profissão com boas práticas, tendo em conta as Dever de informação
infrações às normas relativas à atividade transportadora, à 1. Os requisitos de acesso e exercício da atividade são de
regulamentação social de transportes, à segurança rodoviária e à verificação permanente, devendo as empresas comprovar o seu
proteção do ambiente, bem como a formação profissional. cumprimento sempre que lhes seja solicitado.
6. A comprovação da frequência da formação e as condições de 2. As empresas têm o dever de comunicar ao IMT as alterações
realização de exames, a que se referem as alíneas a) e b) do nº1, ao pato social, designadamente modificações na administração,
assim como as condições de validade do certificado de capacidade direção ou gerência, bem como mudanças de sede, no prazo de 30
profissional, por período superior a cinco, são definidas por dias a contar da data da sua ocorrência.
portaria do membro do Governo responsável pelos transportes.

105
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Artigo 12º se verifique a caducidade do alvará ou da licença comunitária.
Falta superveniente de requisitos
1. A falta superveniente de qualquer um dos requisitos de Artigo 15º
idoneidade, capacidade profissional e capacidade financeira deve Identificação de veículos
ser suprida no prazo de um ano a contar da data da sua Os veículos automóveis licenciados para o transporte rodoviário
ocorrência. de mercadorias por conta de outrem devem ostentar distintivos de
2. Para efeitos de suprimento do requisito de capacidade identificação.
financeira de exercício da atividade pode ser concedido o prazo
adicional de um ano, desde que a situação económica da empresa Artigo 16º
o justifique e mediante a apresentação de um plano financeiro. Transportes de carácter excecional
Estão sujeitos a autorização, a emitir pelo IMT, os transportes de
Artigo 13º carácter excecional realizados por veículos afetos ao transporte por
Renovação e caducidade do alvará ou licença comunitária conta própria, cujo peso bruto exceda 2500 kg, em que,
1. Os pedidos de renovação de alvará ou da licença comunitária cumulativamente:
devem ser requeridos no IMT com a antecedência mínima de 60 a) As mercadorias e os veículos não pertençam ao mesmo
dias relativamente ao termo do respetivo prazo de validade. proprietário;
2. A licença para o exercício da atividade, alvará ou licença b) O transporte seja efetuado sem fins lucrativos por
comunitária caduca: coletividades de utilidade pública ou outras agremiações
a) Decorridos os prazos a que se refere o artigo anterior sem filantrópicas, desportivas ou recreativas;
que a falta seja suprida; c) As mercadorias transportadas estejam relacionadas com os fins
b) Se durante um ano a contar da data da emissão do alvará ou das entidades que efetuam o transporte;
licença comunitária a empresa não tiver d) Os veículos utilizados sejam da propriedade da entidade que
licenciado nenhum veículo automóvel. realiza o transporte, de algum dos seus
3. Com a caducidade da licença para o exercício da atividade associados ou cedidos a título gratuito por outras entidades.
caducam todas as licenças dos veículos automóveis ou cópias
certificadas da licença comunitária que tenham sido emitidas à Artigo 17º
empresa. Transportes internacionais e de cabotagem
1. Os transportes internacionais e os transportes de cabotagem
CAPÍTULO III a realizar por transportadores não residentes sediados fora do
Acesso e organização do mercado território da União Europeia estão sujeitos a autorização a emitir
Artigo 14º pelo IMT, a qual é condicionada pelo princípio da reciprocidade.
Licenciamento de veículos automóveis 2. Os transportes internacionais a realizar por transportadores
1. Os veículos automóveis afetos ao transporte rodoviário de mer- residentes, entre o território português e o território de países não
cadorias por conta de outrem estão sujeitos a licença a emitir pelo membros da União Europeia, com quem o Estado Português haja
IMT, quer sejam da propriedade do transportador, objeto de contra- celebrado um acordo bilateral ou multilateral sobre transportes
to de locação financeira, ou contrato de aluguer sem condutor. rodoviários, estão sujeitos a autorização a emitir pelo IMT dentro
2. Até que a soma dos pesos brutos dos veículos da empresa dos limites quantitativos resultantes desses acordos ou convenções.
ultrapasse 40 t, os veículos automóveis a licenciar após a obtenção 3. Não estão abrangidos pelo regime de autorização previsto
do alvará ou da licença comunitária, a que se refere o nº 2 do neste artigo os transportes que, por convenção multilateral ou por
artigo 3º, devem necessariamente ser novos, considerando-se que acordo bilateral, tenham sido liberalizados.
satisfazem esta condição os veículos que não tenham mais de um 4. No caso de transportes realizados por meio de conjuntos de
ano de fabrico contado a partir da data de primeira matrícula. veículos, a autorização só é exigida ao veículo automóvel.
3. São condições de emissão de licença que a idade média da frota
de automóveis da empresa não exceda 10 anos, sendo Artigo 18º
determinada a idade de cada veículo pela data da primeira Transportes especiais
matrícula. Os transportes especiais são objeto de regulamentação específica.
4. As licenças dos veículos caducam no caso de
transmissão da propriedade ou da posse do veículo e sempre que

106
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Artigo 19º Artigo 23º
Guia de transporte Realização de transportes por entidade não licenciada
1. Os transportes rodoviários de mercadorias por conta de outrem 1. A realização de transportes rodoviários de mercadorias por
são descritos numa guia de transporte, que deve acompanhar as conta de outrem, por meio de veículos automóveis com peso bruto
mercadorias transportadas. igual ou superior a 2500 kg, por entidade que não seja titular do
2. A guia de transporte deve conter os elementos que vierem a ser alvará a que se refere o artigo 3º, é punível com coima de € 1250
definidos por despacho do presidente do conselho diretivo do IMT. a € 3740 ou de € 5000 a € 15 000, consoante se trate de pessoa
singular ou coletiva.
Artigo 20º 2. Os transportes por conta de outrem internacionais e de
Documentos que devem estar a bordo do veículo cabotagem referidos nos Regulamentos CEE nº 881/92, do
Durante a realização dos transportes a que se refere o presente Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Março, e 3118/93,
decreto -lei, devem estar a bordo do veículo e ser apresentados à do Conselho, de 25 de Outubro, quando efetuados sem a cópia
entidade fiscalizadora sempre que solicitado a cópia certificada da certificada da licença comunitária, consideram -se realizados por
licença comunitária bem como as licenças e autorizações previstas entidade não licenciada, sendo aplicáveis as coimas previstas no
nos artigos 14º, 16º e 17º e, no caso de transporte internacional número anterior.
em que o veículo é conduzido por um motorista nacional de país
terceiro, o respetivo certificado. Artigo 24º
Falta de certificado de motorista nacional de país terceiro
CAPÍTULO IV A realização de transportes internacionais a coberto de uma
Fiscalização e regime sancionatório licença comunitária, em que o veículo seja conduzido por motorista
Artigo 21º nacional de um país terceiro, sem o certificado exigido pelo artigo
Fiscalização 3º do Regulamento (CEE) nº 881/92, do Parlamento Europeu e do
1. A fiscalização do cumprimento do disposto no presente decreto Conselho, de 26 de Março, com a redação que lhe foi dada pelo
-lei compete às seguintes entidades: Regulamento (CE) nº 484/2002, do Parlamento Europeu e do
a) Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I. P.; Conselho, de 19 de Março, é punível com coima de € 750 a
b) Guarda Nacional Republicana; € 2250.
c) Polícia de Segurança Pública.
2. As entidades referidas no número anterior podem proceder, Artigo 25º
junto das pessoas singulares ou coletivas que efetuem Transportes efetuados por entidade diversa do titular do
transportes rodoviário de mercadorias, a todas as investigações alvará ou da licença comunitária
e verificações necessárias para o exercício da sua competência 1. A realização de transportes por entidade diversa do titular do
fiscalizadora. alvará ou da licença comunitária a que se refere o artigo 3º é
3. Os funcionários do IMT com competência na área da punível:
fiscalização e no exercício de funções, desde que devidamente a) Relativamente ao titular do alvará ou da licença comunitária,
credenciados, têm livre acesso aos locais destinados ao exercício da com a coima de € 1250 a € 3740 e de € 5000 a € 15 000,
atividade das empresas. consoante se trate de pessoa singular ou coletiva;
b) Relativamente à pessoa que efetua o transporte, com a coima
Artigo 22º de € 500 a € 1500 e de € 1500 a € 4500, consoante se trate de
Contraordenações pessoa singular ou coletiva.
1. As infrações ao disposto no presente decreto–lei constituem 2. São considerados como efetuados por entidade diversa do titular
contraordenações, nos termos dos artigos 23º a 34º do alvará os transportes em que se verifique alguma das seguintes
2. A tentativa e a negligência são puníveis, sendo os limites situações:
máximo e mínimo da coima reduzidos para metade. a) Prestação do serviço de transporte com faturação ou recibo
em regime de atividade liberal;
b) Existência de contrato para utilização do veículo entre a
empresa titular do alvará e um terceiro.

107
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Artigo 26º 3. No caso da infração a que se refere o número anterior, a
Falta de comunicação entidade fiscalizadora pode ordenar a imobilização do veículo até
A falta de comunicação prevista no nº 2 do artigo 11º é punível que a carga em excesso seja transferida, podendo ainda ordenar
com coima de € 250 a € 750. a deslocação e acompanhar o veículo até local apropriado para a
descarga, recaindo sobre o infrator o ónus com as operações de
Artigo 27º descarga ou transbordo da mercadoria.
Realização de transportes em veículos sem licença 4. Sempre que o excesso de carga se verifique no decurso de um
A realização de transportes rodoviários de mercadorias por conta transporte em regime de carga completa, a infração é imputável
de outrem, por meio de veículo automóvel sem a licença a que se ao expedidor e ao transportador, em comparticipação.
refere o artigo 14º, é punível com coima de € 750 a € 2250. 5. Nenhum condutor se pode escusar a levar o veículo à pesagem
nas balanças ao serviço das entidades fiscalizadoras, que se
Artigo 28º encontrem num raio de 5 km do local onde se verifique a
Falta de distintivos intervenção das mesmas, sendo punível tal conduta com a coima
1. A realização de transportes sem os distintivos a que se refere o referida no nº 2 deste artigo, sem prejuízo da responsabilidade
artigo 15º, ou quando estes estejam colocados em veículo criminal a que houver lugar.
automóvel não licenciado, é punível com coima de € 100 a € 300.
2. A ostentação dos distintivos do transporte por conta de outrem Artigo 32º
em veículos não licenciados para o efeito é punível com coima de Falta de apresentação de documentos
€ 1250 a € 3740. A não apresentação dos documentos a que se refere o artigo 20º
no ato de fiscalização é punível com as coimas previstas, caso a
Artigo 29º caso, no presente decreto -lei, salvo se o documento em falta for
Transportes sem autorização apresentado no prazo de oito dias à autoridade indicada pelo
1. A realização de transportes de carácter excecional a que se agente de fiscalização, caso em que a coima é de € 50 a € 150.
refere o artigo 16º, sem autorização, é punível com coima de
€ 1250 a € 3740 ou de € 3500 a € 10 500, consoante se trate de Artigo 33º
pessoa singular ou coletiva. Imputabilidade das infrações
2. A realização de transportes internacionais ou de cabotagem sem Sem prejuízo do disposto no artigo 25º, no nº 2 do artigo 30º e no
as autorizações a que se refere o artigo 17º é punível com coima nº 4 do artigo 31º, as infrações ao disposto no presente
de € 1000 a € 3000. decreto-lei são da responsabilidade da pessoa singular ou coletiva
que efetua o transporte.
Artigo 30º
Falta ou vícios da guia de transporte Artigo 34º
1. A falta da guia de transporte é punível com coima de € 250 a Sanções acessórias
€ 750. 1. Com a aplicação da coima por infração ao nº 2 do artigo 31º
2. O preenchimento incorreto ou incompleto da guia de pode ser decretada a sanção acessória de suspensão da licença ou
transporte, da responsabilidade do expedidor ou do transportador, de apreensão do certificado de matrícula do veículo automóvel,
consoante a respetiva obrigação de preenchimento, é punível com consoante se trate de transporte por conta de outrem ou transporte
coima de € 100 a € 300. por conta própria, se o transportador tiver praticado três infrações
da mesma natureza, com decisão definitiva, e estas tiverem
Artigo 31º ocorrido no decurso dos dois anos anteriores à data da prática da
Excesso de carga infração que está a ser decidida.
1. A realização de transportes com excesso de carga é punível com 2. Com a aplicação da coima pela infração prevista na alínea a) do
coima de € 500 a € 1500, sem prejuízo do disposto nos números nº1 do artigo 25º pode ser decretada a sanção acessória de
seguintes. interdição do exercício da atividade, desde que tenha havido
2.Sempre que o excesso de carga seja igual ou superior a 25 % do anterior condenação pela prática da mesma infração.
peso bruto do veículo, a infração é punível com coima de € 1250 a 3. A interdição do exercício da atividade, a suspensão da licença do
€ 3740. veículo ou a apreensão do certificado de matrícula, previstas nos
números anteriores, têm a duração máxima de dois anos.

108
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
4. A aplicação da sanção acessória de interdição do exercício da decreto-lei compete ao IMT.
atividade implica necessariamente a suspensão e 2. A aplicação das coimas é da competência do presidente do
consequentemente o depósito no IMT das licenças de que a conselho diretivo do IMT.
empresa infratora seja titular. 3. O IMT organiza o registo das infrações cometidas nos termos da
5. Durante o período de duração da sanção acessória, aplicada legislação em vigor.
nos termos do nº 1, a licença ou o certificado de matrícula ficam
depositados no IMT. Artigo 38º
Produto das coimas
Artigo 35º O produto das coimas é distribuído da seguinte forma:
Infratores não domiciliados em Portugal a) 20 % para o IMT, constituindo receita própria;
1. Se o infrator não for domiciliado em Portugal e não pretender b) 20 % para a entidade fiscalizadora;
efetuar o pagamento voluntário, deve proceder ao depósito de c) 60 % para o Estado.
quantia igual ao valor máximo da coima prevista para a
contraordenação praticada. CAPÍTULO V
2. O pagamento voluntário ou o depósito referidos no número Disposições finais e transitórias
anterior devem ser efetuados no ato da verificação da contraor- Artigo 39º
denação, destinando-se o depósito a garantir o pagamento da Modelos das autorizações e distintivos
coima em que o infrator possa vir a ser condenado, bem como das Os modelos dos alvarás, licenças, autorizações e distintivos
despesas legais a que houver lugar. referidos no presente decreto-lei, que não estejam previstos em
3. Se o infrator declarar que pretende pagar a coima ou efetuar o regulamentação comunitária ou decorram de acordos bilaterais ou
depósito e não puder fazê-lo no ato da verificação da convenções multilaterais, são definidos e aprovados por despacho
contraordenação, deve ser apreendida a documentação do veículo do presidente do conselho diretivo do IMT.
até à efetivação do pagamento ou do depósito.
4. No caso previsto no número anterior devem ser emitidas guias Artigo 40º
de substituição dos documentos apreendidos com validade até ao Afetação de receitas
1º dia útil posterior ao dia da infração. Constituem receita própria do IMT os montantes que venham a ser
5. A falta de pagamento ou do depósito nos termos dos números fixados por despacho conjunto dos Ministros de Estado e das
anteriores implica a apreensão do veículo, que se mantém até ao Finanças e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações,
pagamento ou depósito ou à decisão absolutória. para as inscrições no exame a que se refere o artigo 7º e para a
6. O veículo apreendido responde nos mesmos termos que o emissão de certificados, dos alvarás, licenças, certificados,
depósito pelo pagamento das quantias devidas. autorizações e distintivos referidos no presente decreto-lei.

Artigo 36º Artigo 41º


Imobilização do veículo Disposições finais e transitórias
1. Sempre que da imobilização de um veículo resultem danos para 1. As pessoas singulares ou coletivas que à data de entrada em
as mercadorias transportadas ou para o próprio veículo, cabe à vigor do presente decreto-lei efetuem transportes de mercadorias
pessoa singular ou coletiva que realiza o transporte a por conta de outrem exclusivamente por meio de veículos ligeiros,
responsabilidade por esses danos, sem prejuízo do direito de com peso bruto igual ou superior a 2500 kg, dispõem do prazo de
regresso. 18 meses para se conformarem com os requisitos exigidos para o
2.São igualmente da responsabilidade da pessoa que realiza o licenciamento da atividade, a contar da data de entrada em vigor
transporte os encargos que resultem da transferência para outro do presente decreto-lei.
veículo no caso de excesso de carga, sem prejuízo do direito de 2. Durante o período a que se refere o número anterior, os veículos
regresso. ligeiros de mercadorias não carecem da licença prevista no artigo
14º para a realização de transportes de mercadorias por conta de
Artigo 37º outrem.
Processamento das contraordenações 3. As empresas que, à data de entrada em vigor do presente
1. O processamento das contraordenações previstas neste decreto-lei, sejam titulares de alvará emitido pelo IMT para

109
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
atividades de transporte ou para a atividade transitária podem avaliar.
licenciar veículos ligeiros para transporte de mercadorias, não
carecendo de alvará a que se refere o artigo 3º A) ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL:
4. O alvará para o transporte de mercadorias em veículos ligeiros, 1) Conhecer os principais contratos correntemente utilizados
a que se refere o artigo 4º, pode ser concedido com dispensa do nas atividades de transporte rodoviário, bem como os direitos e
requisito de capacidade profissional às sociedades ou cooperativas obrigações deles decorrentes;
que, preenchendo as restantes condições de licenciamento, o 2) Ser capaz de negociar um contrato de transporte juridicamente
requeiram nos primeiros seis meses após a data de entrada em válido, nomeadamente no que respeita às condições de transporte;
vigor do presente decreto-lei. 3) Ser capaz de analisar uma reclamação do cliente relativa a
danos resultantes quer de perdas ou avarias da mercadoria em
Artigo 42º curso de transporte quer do atraso na entrega, bem como os
Entrada em vigor efeitos dessa reclamação, quanto à sua responsabilidade
1. O presente decreto-lei entra em vigor 30 dias após a sua contratual;
publicação, sem prejuízo do disposto no número seguinte. 4) Conhecer as regras e obrigações decorrentes da Convenção
2. As empresas titulares de alvará para transporte rodoviário de CMR relativa ao contrato de transporte internacional rodoviário de
mercadorias à data de entrada em vigor do presente decreto-lei mercadorias.
só ficam sujeitas ao disposto no nº2 do artigo 9º, no que respeita
à capacidade financeira de acesso à atividade, a partir de 1 de B) ELEMENTOS DE DIREITO COMERCIAL:
Janeiro de 2008. 1) Conhecer as condições e formalidades necessárias para exercer
o comércio e as obrigações gerais dos comerciantes (registo, livros
Artigo 43º comerciais, etc.), bem como as consequências da falência;
Norma revogatória 2) Possuir conhecimentos suficientes sobre sociedades comerciais,
1. É revogado o Decreto -Lei nº 38/99, de 6 de Fevereiro. formas e regras de constituição e funcionamento.
2. Enquanto não for publicada a regulamentação a que se refere o
presente decreto-lei, mantém -se em vigor a Portaria nº 1099/99, C) ELEMENTOS DE DIREITO SOCIAL:
de 21 de Dezembro, que regula os exames para obtenção do 1) Conhecer o papel e o funcionamento das diferentes instituições
certificado de capacidade profissional, bem como os despachos sociais que intervêm no sector do transporte rodoviário (sindicatos,
nº 21 994, de 19 de Outubro de 1999, e 14 576/2000, de 30 de comissões de trabalhadores, delegados do pessoal, inspeção do
Junho de 2000, relativos à guia de transporte e aos dísticos. trabalho, etc.);
2) Conhecer as obrigações das entidades patronais em matéria de
ANEXO I segurança social;
Lista das matérias referidas no artigo 7º 3) Conhecer as regras aplicáveis aos contratos de trabalho
Os conhecimentos a tomar em consideração para a comprovação relativos às diferentes categorias de trabalhadores das empresas
da capacidade profissional devem incidir, pelo menos, nas de transporte rodoviário (forma dos contratos, obrigações das
matérias mencionadas na lista. Os transportadores rodoviários partes, condições e tempo de trabalho, férias pagas, remuneração,
candidatos devem possuir o nível de conhecimentos e aptidões rescisão do contrato, etc.);
práticas necessários para dirigir uma empresa de transportes. O 4) Conhecer as disposições do Regulamento (CE) nº 561/2006,
nível mínimo de conhecimentos, a seguir indicado, não pode ser do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Março, e do
inferior ao nível 3 da estrutura dos níveis de formação previsto no Regulamento (CEE) nº 3821/85, bem como as respetivas medidas
anexo à Decisão nº 85/368/CEE, isto é, uma formação adquirida práticas de aplicação.
com a escolaridade obrigatória complementada por formação
profissional ou formação técnica complementar, ou por formação D) ELEMENTOS DE DIREITO FISCAL:
técnica escolar ou de outro tipo de nível secundário. 1) Ao IVA aplicável aos serviços de transporte;
2) Ao imposto de circulação dos veículos;
As matérias sobre as quais incide essa formação e a graduação 3) Aos impostos sobre certos veículos utilizados para o transporte
indicativa do nível de conhecimentos exigíveis constam da lista rodoviário de mercadorias, bem como às portagens e direitos de
seguinte, com referência, nomeadamente, aos temas que o utilização cobrados pela utilização de certas infraestruturas;
candidato deve conhecer ou ser capaz de interpretar, negociar ou 4) Aos impostos sobre rendimento.

110
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
E) GESTÃO COMERCIAL E FINANCEIRA DA EMPRESA: administrativo da carga e à logística;
1) Conhecer as disposições legais e práticas relativas à utilização 5) Conhecer as formalidades de passagem das fronteiras, o papel
de cheques, letras, promissórias, cartões de crédito e outros meios e o âmbito dos documentos T e das cadernetas TIR, bem como as
ou métodos de pagamento; obrigações e responsabilidades que a sua utilização implica.
2) Conhecer as formas de crédito (bancário, documentário, fianças,
hipotecas, locação financeira, aluguer, faturação, etc.), bem como G) NORMAS TÉCNICAS E DE EXPLORAÇÃO:
os respetivos encargos e obrigações delas decorrentes; 1) Conhecer as regras relativas aos pesos e às dimensões dos
3) Saber o que é o balanço, modo como se apresenta e capacidade veículos nos Estados membros, bem como os procedimentos
de o interpretar; relativos aos transportes excecionais que constituem derrogações a
4) Ser capaz de ler e interpretar uma conta de ganhos e perdas; essas regras;
5) Ser capaz de analisar a situação financeira e rentabilidade da 2) Ser capaz de escolher em função das necessidades da empresa
empresa, nomeadamente com base nos coeficientes financeiros; os veículos e os seus elementos (quadro, motor, órgãos de
6) Ser capaz de preparar um orçamento; transmissão, sistemas de travagem, etc.);
7) Conhecer as diferentes componentes dos seus preços de custo 3) Conhecer as formalidades relativas à receção, matrícula e
(custos fixos, custos variáveis, fundos de exploração, amortizações, controlo técnico dos veículos;
etc.) e ser capaz de calcular por veículo, ao quilómetro, à viagem 4) Ser capaz de estudar as medidas a tomar contra a poluição do
ou à tonelada; ar pelas emissões dos veículos a motor e contra o ruído;
8) Ser capaz de elaborar um organigrama e organizar planos 5) Ser capaz de elaborar planos de manutenção periódica dos
(relativos a todo o pessoal da empresa, planos de trabalho, etc.); veículos e do seu equipamento;
9) Conhecer os princípios de estudos de mercado (marketing), 6) Conhecer os diferentes tipos de dispositivos de movimentação
promoção de venda dos serviços de transporte, elaboração de e de carregamento (plataformas traseiras, contentores, paletas,
ficheiros de clientes, publicidade, relações públicas, etc.; etc.), procedimentos e instruções relativos às operações de carga e
10) Conhecer os diferentes tipos de seguros próprios dos descarga das mercadorias (distribuição da carga, empilhamento,
transportadores rodoviários (seguros de responsabilidade), bem estiva, fixação, etc.);
como garantias, e as obrigações daí decorrentes; 7) Conhecer técnicas do transporte combinado (rodo-ferroviário ou
11) Conhecer as aplicações telemáticas no domínio do transporte ro-ro);
rodoviário; 8) Ser capaz de pôr em prática os procedimentos destinados a dar
12) Ser capaz de aplicar regras relativas à faturação dos serviços cumprimento às regras relativas ao transporte de mercadorias
de transporte rodoviário de mercadorias e conhecer o significado e perigosas e de resíduos, procedimentos destinados a dar
os efeitos dos incoterms; cumprimento às regras decorrentes das Diretivas nº 94/55/CE, e
13) Conhecer as diferentes categorias de auxiliares de transporte, 96/35/CE e do Regulamento (CEE) nº259/93;
o seu papel, as suas funções e o seu eventual estatuto. 9) Ser capaz de aplicar os procedimentos destinados a dar
cumprimento, nomeadamente, às regras decorrentes do acordo
F) ACESSO À ATIVIDADE E AO MERCADO: relativo aos transportes internacionais de produtos alimentares
1) Conhecer a regulamentação sobre transportes rodoviários por perecíveis e aos equipamentos especializados a utilizar nestes
conta de outrem, para a locação de veículos industriais, para a transportes (ATP);
subcontratação, nomeadamente as regras relativas à organização 10) Ser capaz de aplicar os procedimentos destinados a dar
oficial da profissão, ao acesso à mesma, às autorizações para os cumprimento à regulamentação relativa ao transporte de animais
transportes rodoviários intracomunitários e extracomunitários, ao vivos.
controlo e às sanções;
2) Conhecer a regulamentação relativa ao estabelecimento de uma H) SEGURANÇA RODOVIÁRIA:
empresa de transporte rodoviário; 1) Conhecer as qualificações exigidas aos condutores (carta de
3) Conhecer os diferentes documentos exigidos para a execução condução, certificados médicos, atestados de capacidade, etc.);
dos serviços de transporte rodoviário e relativos ao veículo, ao 2) Ser capaz de realizar ações para se certificar de que os con-
motorista ou à mercadoria; dutores respeitam as regras, as proibições e as restrições de
4) Conhecer as regras relativas à organização do mercado dos circulação em vigor nos diferentes Estados membros (limites de
transportes rodoviários de mercadorias, ao tratamento velocidade, prioridades, paragem e estacionamento, utilização das

111
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
luzes, sinalização rodoviária, etc.);
3) Ser capaz de elaborar instruções destinadas aos condutores
respeitantes à verificação das normas de segurança relativas ao
estado do material de transporte, do equipamento e da carga e à
condução preventiva;
4) Ser capaz de instaurar procedimentos de conduta em caso de
acidente e de aplicar os procedimentos adequados para evitar a
repetição de acidentes e infrações graves.

ANEXO II
Organização do exame para obtenção de capacidade profissional
1. O exame para obtenção de capacidade profissional é constituído
por um exame escrito obrigatório, que poderá ser completado por
um exame oral para verificar se os candidatos a
transportadores rodoviários possuem o nível de conhecimentos
exigidos nas matérias indicadas no anexo I.
2. O exame escrito obrigatório é constituído pelas duas provas
seguintes:
2.1. Perguntas de escolha múltipla com quatro respostas pos-
síveis, perguntas de resposta direta, ou uma combinação dos dois
sistemas;
2.2. Exercícios escritos/análise de casos. A duração mínima de
cada uma das duas provas é de duas horas.
3. No caso de ser organizado um exame oral, a participação nesse
exame fica subordinada a aprovação nas provas escritas.
4. A atribuição de pontos a cada prova fica subordinada aos
seguintes critérios:
4.1. Se o exame incluir uma prova oral, a cada uma das três
provas não poderá ser atribuído menos de 25 % do total dos
pontos do exame, nem mais de 40 %;
4.2. Se for organizado apenas um exame escrito, a cada prova
não poderá ser atribuído menos de 40 % do total dos pontos de
exame, nem mais de 60 %.
5. No conjunto das provas, os candidatos devem obter, pelo menos,
uma média de 60 % do total dos pontos do exame. A pontuação
obtida em cada prova não pode ser inferior a 50 % dos pontos
atribuídos à mesma, podendo, contudo, ser reduzida a 40 % numa
única prova.

CONTEÚDO FORNECIDO POR:


ANIECA - Departamento de Formação e Qualidade

112
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS

1. Tipologia dos acidentes de trabalho no sector dos transportes


envolvendo veículos pesados de mercadoria
1. 1 - Introdução este se faça em veículo da entidade empregadora, quer se faça em
veículos particulares.
No sector dos transportes, englobam-se os que se efetuam por via:
• terrestre: rodoviários e ferroviários Os acidentes rodoviários em missão dizem respeito àqueles que
• marítima e fluvial ocorrem durante o exercício da atividade laboral, neles se
• aérea distinguindo duas categorias:
- acidentes, quando estão em circulação (como condutores ou
A todos eles estão associados acidentes de natureza diversa, cujas sendo transportados em serviço);
consequências acarretam custos significativos para os - acidentes, quando se encontram no estaleiro, no local de destino
intervenientes, empresas, seguradoras, com repercussões na da mercadoria ou ainda em parques de estacionamento ou áreas
economia e finanças dos países. de serviço.

Segundo os elementos estatísticos recolhidos, verifica-se que, em Os acidentes rodoviários em trabalho, sejam de trajeto ou em
todo o mundo, os meios de transporte aéreo e ferroviário são os missão, atingem condutores e outros funcionários de veículos
mais seguros, sendo os transportes rodoviários os que apresentam ligeiros e pesados de transporte de passageiros, de transporte de
um maior nível de insegurança. mercadorias, de veículos de emergência médica, de bombeiros, das
entidades de fiscalização, de máquinas agrícolas e industriais, de
Nos acidentes resultantes do transporte de mercadorias veículos de duas rodas.
enquadram-se obviamente acidentes de trabalho, isto é, acidentes
associados ao exercício de uma atividade profissional, nos quais,
de acordo com a legislação portuguesa, se enquadram os acidentes 1. 3 - Fatores de risco de acidentes em
rodoviários em trabalho. trabalho
1. 2 - Acidentes de trabalho no sector dos A atividade laboral dos condutores de veículos pesados de
mercadorias envolve uma grande diversidade de riscos,
transportes rodoviários nomeadamente riscos associados à condução do veículo, riscos
físicos, riscos químicos, riscos biológicos, riscos ligados a fatores
Decorrente do acima exposto, conclui-se que o sector dos ergonómicos e psicossociais, nomeadamente:
transportes é muito vasto, nele se inserindo os diferentes meios e - longos períodos de condução (particularmente acentuados no
modos de transporte. Destinando-se este Manual a motoristas de transporte de longa distância, como é o caso dos transportes
transportes rodoviários, designadamente de veículos pesados de internacionais);
mercadorias, nele se referirão e analisarão apenas os acidentes - tempos de descanso reduzidos;
mais caraterísticos que ocorrem no âmbito da atividade laboral - condução noturna e condução sob condições atmosféricas
destes profissionais. adversas;
- trânsito intenso, monotonia da estrada e do ambiente rodoviário;
Os motoristas de veículos pesados de mercadorias podem estar - deficiências ao nível do traçado, conservação e sinalização das
envolvidos em acidentes: vias;
- “in itinere” ou de trajeto; - perturbações digestivas causadas por horários de refeições
- em missão. irregulares, maus hábitos alimentares;
- ingestão de bebidas alcoólicas, drogas e medicamentos que
Os acidentes “in itinere” ou de trajeto são acidentes rodoviários afetam as competências da função condução;
que se registam nas deslocações que o trabalhador efetua de e - fadiga e sonolência;
para o local de trabalho, ou seja, os percursos casa-trabalho, quer - stress;

113
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
- uso do telemóvel durante a condução; - Quedas em altura no decurso de operações de carga e descarga;
- deficiências ao nível da manutenção e equipamentos do veículo; - Escorregamentos, tropeções e quedas da cabina do veículo, do
- imperativos de cumprimento de horários e prazos de entrega, apoio de pés ou do reboque;
bem como existência de sistemas de prémios de desempenho que - Embates contra partes ou elementos rígidos do veículo ou da
incentivam a prática de velocidades mais elevadas e de menores carga;
tempos de descanso. - Esmagamento de mãos, de braços, de pés ou da cabeça no
decurso do fecho ou abaixamento do elevador;
- Ferimentos nas mãos e dedos resultantes de carga e descarga
1. 4 - Fatores de risco de automóveis manual ou com recurso a contentores rolantes;
pesados de mercadorias - Esmagamentos e contusões resultantes do capotamento dos
contentores rolantes;
Os veículos pesados apresentam alguns fatores de risco inerentes à - Lesões e dores musculares provocadas pelo esforço de empurrar e
sua própria conceção, designadamente: movimentar um contentor carregado;
- Grande massa (traduz-se num aumento da gravidade das - Ferimentos no rosto causados pela utilização de correias;
consequências do acidente em caso de colisão. - Escoriações, fraturas e entorses resultantes do fato de o
- Carga transportada projetada para a frente, em caso de condutor deixar-se escorregar ou saltar para o chão, ao sair da
acidente, ferindo ou matando os ocupantes, sendo a violência cabina;
dependente da massa do conjunto veículo/carga e da velocidade - Entalamento do pé entre o elevador e o veículo;
do veículo (por exemplo, numa colisão a 50 km/h, o peso da - Queda do elevador, na sequência de escorregamento,
carga acelerada torna-se 20 vezes maior – fazer simulações em desequilíbrio ou deslocamento da carga;
www.velocidade.prp.pt) - Queda na subida ou descida ao cimo das cisternas;
- Grandes dimensões (dificultam a convivência com outros utentes, - Explosões, queimaduras químicas, intoxicações agudas,
podendo gerar acidentes, sobretudo em vias estreitas ou perturbações visuais, associadas ao transporte de mercadorias
cruzamentos apertados); perigosas (explosivos, matérias inflamáveis, matérias
- Menor velocidade na realização de ultrapassagens; pulverulentas, reagentes, produtos tóxicos);
- Ângulos mortos maiores (podem impedir a deteção de outros - Incêndio provocados por fugas ou escapes acidentais de produtos
veículos, em especial os 2 rodas). inflamáveis (líquidos transportados em cisternas) suscetíveis de
se inflamarem, quer em contato com chamas e superfícies com
temperaturas elevadas, quer por efeito de descargas elétricas ou
1. 5 - Tipos de acidentes em estaleiro eletrostáticas, quer ainda devido a choques mecânicos, em caso de
colisão, de tombo do veículo, etc.;
Para além dos acidentes que ocorrem durante a condução, existe
- Intoxicações agudas por gases de escape (monóxido de carbono);
outro tipo de acidentes, não relacionados com a condução do
- Acidentes resultantes da utilização de ferramentas (martelos,
veículo, e que atingem os condutores de pesados de mercadorias.
chaves de parafusos, etc.) ao realizar trabalhos de manutenção ou
A título de exemplo, referem-se os seguintes:
de reparação;
- Acidentes durante a atrelagem e desatrelagem de reboques
(perigo de esmagamento entre o trator e o reboque ou entre os
reboques); 1. 6 - Tipos de acidentes rodoviários em
- Acidentes causados pelo mau acondicionamento ou distribuição
da carga, que pode:
missão envolvendo veículos pesados de
• Deslizar e abater-se sobre a parte da frente do veículo em caso mercadorias
de paragem ou travagem súbita;
• Oscilar em consequência de alterações de velocidade, mudanças De acordo com a sua natureza, os acidentes rodoviários com
de direção, depressões ou saliências no pavimento, vento forte; veículos pesados de mercadorias traduzem-se fundamentalmente
• Cair sobre o condutor, quando este abre as portas, o toldo ou as em colisões, despistes e atropelamentos.
cortinas laterais no momento da descarga do veículo;
• Provocar o capotamento do veículo.

114
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
1. 6. 1 - Colisões dos travões do veículo, mas também de outras condições, como a
carga do veículo e a aderência.
Em 2008, registaram-se 1114 colisões, envolvendo veículos pesados
de mercadorias. É o tipo de acidente em que os veículos pesados O condutor precisa de adequar a sua velocidade às caraterísticas
estão mais implicados. do trânsito e da via em que circula, e ainda às condições
atmosféricas e à distância de visibilidade.
As colisões podem ocorrer com:
- veículos circulando no mesmo sentido (com o veículo da frente e COLISÃO COM O VEÍCULO DE TRÁS
com o veículo de trás); Embora, em geral, se diga que quem bate por trás é que tem a
- veículo que circula em sentido contrário; culpa, a verdade é que, o condutor que vai à frente, tem respon-
- veículo em interseções (cruzamentos, entroncamentos); sabilidades muito sérias para com o condutor que segue atrás.
- veículo ao ultrapassar e ao ser ultrapassado.
Devem-se geralmente a travagens súbitas, ultrapassagens e
Analisemos, a seguir, os principais fatores de acidente relativos a mudanças de fila ou de direção sem sinalização prévia ou sem
cada uma dessas situações e o modo de os evitar: verificar a proximidade de veículos atrás, por parte do condutor da
frente.
COLISÃO COM O VEÍCULO DA FRENTE
Este tipo de acidente ocorre normalmente, porque os condutores, Portanto, para evitar a colisão com o veículo de trás, o condutor
que circulam na mesma fila de trânsito, não deixam entre si um que segue à frente, deve:
espaço (distância) suficiente. - Sinalizar com antecedência sempre que for parar, mudar de
direção ou mudar de via de trânsito, porque o condutor, que segue
Para evitar a colisão com o veículo da frente, o condutor que segue atrás, deve ser informado de todas as manobras do veículo da
atrás deve: frente, para ter tempo suficiente de tomar providências.
- Guardar distância de segurança, ou seja a distância ao veículo - Reduzir a velocidade gradualmente, para não surpreender o
que o precede, que depende evidentemente da velocidade a que condutor de trás. Só em casos muito especiais (p. exemplo, o
se circula, bem como das condições de aderência, de visibilidade, aparecimento súbito de obstáculos na faixa de rodagem) é que
de circulação. (Esta distância deve corresponder à distância que o poderá ter de travar mais bruscamente. Normalmente, isto não
veículo percorre durante um lapso de tempo de 2 segundos. Fora será necessário, se seguir as regras para evitar colisões com o
das localidades, os pesados devem deixar entre si uma distância veículo da frente, de que acabámos de falar.
de 50 metros). - Parar o veículo suavemente.
- Procurar ver e analisar o ambiente rodoviário, bem como os - Evitar que os condutores à retaguarda sigam “colados” ao seu
veículos que circulam na frente daquele que o precede, a fim de veículo, se necessário, dando-lhes mesmo a passagem. Para isso,
detetar situações que possam forçar o condutor da frente a fazer deverá encostar-se à direita, para que o condutor do veículo que
uma manobra brusca, o que seria também uma ameaça à segue atrás o ultrapasse ou reduza igualmente a marcha, caso não
segurança do condutor que segue atrás; possa ultrapassar.
- Observar o comportamento do condutor à sua frente, em
particular os seus sinais, que indicam o que este pretende fazer. Momento a momento, o condutor deve observar através dos
- Reduzir a velocidade, se surgir uma situação potencialmente espelhos retrovisores o comportamento do veículo que segue atrás
perigosa. de si. Só, assim, poderá compreender os seus movimentos para
saber também como proceder para a segurança de ambos.
Como referido, as colisões com o veículo da frente são
fundamentalmente resultantes da não manutenção de uma COLISÃO COM O VEÍCULO EM SENTIDO CONTRÁRIO
distância que permita ao condutor, que segue atrás, parar sem A colisão de dois veículos frente com frente ocorre quando um ou
colidir, mesmo que o veículo da frente pare bruscamente. ambos os veículos passam a ocupar total ou parcialmente a via de
trânsito destinada à circulação em sentido contrário. As situações
Este processo depende, fundamentalmente, da duração do tempo em que ocorrem este tipo de colisões, são, de uma maneira geral,
de reação do condutor, da velocidade, da diferença da eficiência as seguintes:

115
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
- Ultrapassagens indevidas deve-se afastar o veículo do eixo da via, de forma a sair da curva
- Mudança de direção para a esquerda encostado ao lado direito.
- Execução de curvas de forma inadequada
- Obstáculos na via COLISÃO COM VEÍCULOS EM CRUZAMENTOS
- Distração, fadiga e álcool Os cruzamentos são os pontos em que ocorrem grande parte dos
conflitos de trânsito, dado que os condutores nem sempre são
A gravidade dos danos resultantes das colisões frontais está claros nas suas intenções e nem sempre fazem as manobras mais
infalivelmente dependente da velocidade a que se circula. corretas. Por outro lado, num cruzamento, os veículos que provêm
das vias laterais podem encontrar-se, fora do campo de visão do
Uma das situações que frequentemente dá origem a colisões condutor, que só os vê, quando estes já estão a entrar na
frontais resulta da prática de velocidades excessivas durante a interseção.
execução de curvas, uma vez que o condutor não consegue manter
o veículo na trajetória desejada, transpõe o eixo da via e vai As colisões num cruzamento podem ser evitadas, se o condutor:
ocupar a via destinada ao trânsito em sentido contrário. - Mover constantemente o olhar para todos os pontos do seu campo
visual.
Ao curvar, o condutor deve adaptar a velocidade ao estado do piso - Decidir com antecedência a direção em que quer seguir.
e ao raio da curva. - Sinalizar as suas intenções.
- Reduzir a velocidade.
Se necessário, deve travar, antes de entrar na curva, mantendo a - Respeitar a regra da cedência de passagem.
velocidade dentro da curva. Deve evitar travar dentro da curva Se - Prosseguir a marcha, de forma segura e sem hesitações.
o fizer, o veículo pode sair para fora da estrada ou “fugir” para
a via destinada ao trânsito em sentido contrário. Caso precise de É o não cumprimento destes procedimentos que provoca acidentes
travar, deve fazê-lo suavemente. nestes locais. Mas, é fundamentalmente, o desrespeito pela regra
de cedência de passagem, a principal causa. Esta regra determina
Quando a aderência é baixa – chuva, areia...-, o risco de derrapar que, nos cruzamentos e entroncamentos, o condutor deve ceder
aumenta. Deve, por isso, antes de iniciar a curva, ajustar a a passagem aos veículos motorizados que se apresentem pela
velocidade ao traçado e condições da via que vai percorrer. direita, se não houver sinalização em contrário.

Qual é, portanto, a melhor maneira de fazer uma curva? Para evitar situações de conflito, é necessário que o condutor, antes
de entrar num cruzamento, se aperceba claramente das intenções
As curvas para a direita devem iniciar-se dos condutores que se encontram no cruzamento, de forma a obter
com o veículo junto ao eixo da faixa uma visão de “conjunto”.
de rodagem, abrandando a velocidade
antes de entrar na curva. Ao entrar na Num cruzamento, o condutor pode fazer três manobras: seguir em
curva, o condutor deve acelerar frente, mudar de direção à direita ou mudar de direção à
suavemente e descrever uma trajetória esquerda.
cada vez mais próxima da direita da
faixa de rodagem, de modo a que, ao entrar na reta seguinte, o Para seguir em frente num cruzamento, sem sinalização luminosa,
veículo esteja bem junto à berma direita. o condutor deve:
- reduzir a velocidade
A entrada nas curvas para a esquerda - observar o trânsito
deve ser feita com o veículo encostado - avançar, de acordo com as regras de cedência de passagem
à direita, curvando em seguida progres-
sivamente para o lado esquerdo até ao Na mudança de direção à direita, as situações mais problemáticas
ponto médio da curva, onde as rodas são:
esquerdas devem estar próximas do eixo - Colisões com veículos que, circulando mais à direita do veículo
da via, sem contudo o tocar. Depois, que muda de direção, seguem em frente no cruzamento;

116
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
- Colisões com veículos que mudam de direção ao mesmo tempo, - com o veículo que se ultrapassa, por erro de cálculo das
se um deles invadir a via de trânsito do outro. distâncias ou necessidade de fuga a uma colisão frontal. Além
- Colisões com veículos que, vindos da esquerda, não respeitam a disso, um embate lateral pode “atirar” com um veículo para fora
cedência de passagem da estrada.
- Colisões com peões que atravessam à entrada da via que o - com um veículo que esteja a ultrapassar.
condutor vai tomar.
Estas colisões resultam de:
Para mudar de direção à direita, o - não sinalização da manobra;
condutor deve: - realização da manobra sem se verificar previamente se há
- Observar o trânsito à retaguarda e à veículos à retaguarda também a ultrapassar;
sua direita (neste caso, para se certificar - deficiente cálculo da distância e velocidade do veículo em sentido
de que pode encostar-se à direita, se contrário, bem como da velocidade do veículo a ultrapassar e do
tiver de mudar de via de trânsito); espaço existente à frente deste;
- Sinalizar a manobra com antecedência, ligando o indicador de - realização da manobra em locais proibidos e em desrespeito pela
mudança de direção à direita; sinalização existente;
- Colocar-se com bastante antecedência na via de trânsito situada
mais à direita; As tarefas de uma ultrapassagem segura são:
- Iniciar a viragem depois de observar as regras da cedência de - Manter uma distância de segurança.
passagem. - Verificar o trânsito e o espaço livre à sua frente.
- Verificar o trânsito à retaguarda.
À entrada da nova via, deve ceder passagem aos peões que - Fazer sinal com o indicador de mudança de direção à esquerda.
estejam a atravessar a faixa de rodagem, mesmo que não exista - Verificar se pode iniciar a manobra sem pôr em risco a segurança
passadeira marcada no pavimento. do trânsito à frente e atrás.
- Tomar a via de trânsito à esquerda.
Na mudança de direção à esquerda, o - Fazer sinal de luzes ou buzinar (neste caso, só fora das
condutor corre o risco de: localidades)
- Colidir com o veículo que segue à sua - Acelerar.
retaguarda, no momento em que sai da - Fazer sinal com o indicador de mudança de direção à direita.
sua via de trânsito para tomar a via mais - Verificar se pode iniciar a manobra sem pôr em risco a segurança
à esquerda; do trânsito à frente e atrás, nomeadamente quanto ao veículo
- Colidir, dentro do cruzamento, com o veículo que circula em ultrapassado (verificar se este é visível no retrovisor).
sentido contrário, por não lhe ceder passagem ou com um que se - Regressar à via de trânsito da direita.
apresente na via em que vai entrar; - Retomar a velocidade normal de marcha.
- Colidir com peões que estejam a atravessar a faixa de rodagem à
entrada da rua que vai tomar. Existem certos locais em que as ultrapassagens são proibidas,
porque o espaço visível à frente do veículo que pretende
Para executar a manobra em segurança, o condutor, com ultrapassar é insuficiente para nele se poder executar toda a
antecedência suficiente, deverá: manobra, sem obrigar, quer os veículos que circulam em sentido
- Encostar-se ao eixo da via nas ruas com dois sentidos de trânsito; contrário, quer os que circulam no mesmo sentido, a reduzir a
- Encostar-se o mais à esquerda possível, nas vias de sentido único. velocidade ou alterar a sua trajetória.

COLISÃO COM O VEÍCULO NA ULTRAPASSAGEM Junto de passagens de nível todo o condutor está proibido de
A colisão durante uma ultrapassagem é extremamente perigosa, iniciar uma ultrapassagem.
pelo que a conveniência da realização da manobra deve ser bem Também junto de cruzamentos e curvas de visibilidade reduzida,
ponderada. A colisão ao ultrapassar pode ocorrer: os condutores não podem realizar ultrapassagens.
- frontalmente com um veículo que circule em sentido contrário;
- lateralmente com o veículo com que se cruza, por insuficiência de Nas lombas, tal como nas passagens de nível, a manobra de
espaço; ultrapassagem é igualmente proibida. Exceto, assim como para as

117
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
situações anteriores, quando houver, no mesmo sentido, mais de consequentemente a perda de controlo do veículo.
uma via de trânsito e não seja necessário usar as vias de - Vento forte, que poderá originar desvios de trajetória
trânsito destinadas à circulação em sentido contrário. - Sinuosidade da via (existência de curvas), em que a incorreta
execução da curva poderá também causar desvio de trajetória.
Quando um condutor executa muitas ultrapassagens, deve - Existência de lombas. Nesta situação, o condutor não sabe o que
ponderar se a velocidade que pratica não é demasiado alta em vai encontrar para lá da uma lomba. Se a abordar a velocidade
face da velocidade média do fluxo do trânsito onde circula, e se excessiva, poderá não ter tempo de controlar o veículo, caso
os eventuais ganhos em tempo, sempre pequenos em distâncias tenha de se desviar doutro veículo, obstáculo ou peão.
curtas, são suficientes para equilibrarem o acréscimo dos riscos de - Diminuição das capacidades psicofísicas do condutor devido a
acidente associados ao aumento de ultrapassagens. cansaço, níveis de álcool no sangue elevados, muitas horas de
condução, condições adversas de condução, (noite, chuva,
COLISÃO AO SER ULTRAPASSADO nevoeiro, etc.)
Os perigos que existem resultantes da colisão ao ser ultrapassado - Monotonia da estrada (pouco movimento de veículos)
são fundamentalmente os embates ou abalroamentos laterais.
Existe ainda o perigo de ser empurrado para fora da estrada, por Para evitar este tipo de acidentes (com intervenção de um só
insistência do veículo que vai ultrapassá-lo. veículo), os condutores devem essencialmente regular a velocidade
em função das caraterísticas do pavimento, do traçado da via,
As colisões desta natureza poderão ser evitadas, se o condutor: das condições atmosféricas e de visibilidade, de modo a poderem
- Reduzir a velocidade para facilitar a ultrapassagem descrever as trajetórias desejadas em segurança.
- Facilitar a passagem ao veículo que quer ultrapassá-lo,
encostando-se à direita
- Se necessário, ajudar com sinais manuais.
1. 6. 3 - Atropelamentos
Os peões representam um dos mais vulneráveis grupos de utentes
Quando o condutor observa que muitos outros o ultrapassam, deve
da estrada, uma vez que as colisões com peões (atropelamentos)
verificar se não vai a circular com uma velocidade muito baixa
acarretam quase sempre consequências corporais muito graves.
para o fluxo de trânsito, o que causa igualmente perigo.
Os acidentes envolvendo peões ocorrem, quando estes:
Ao circular na via pública todo o condutor deve condicionar a sua
- atravessam a faixa de rodagem (seja dentro ou fora das
velocidade em função da velocidade do fluxo do trânsito, porque
passagens assinaladas para esse efeito)
se transitar muito devagar, está a fazer com que o trânsito se acu-
- circulam ao longo da faixa de rodagem (muitas vezes
mule e se congestione à sua retaguarda, provocando um aumento
incorretamente, porque caminham pelo lado direito, ficando de
do risco de acidente, devido ao aumento de ultrapassagens.
costas para o trânsito, não circulam em fila e, de noite, não usam
meios de se tornarem visíveis).
1. 6. 2 - Despistes
Os atropelamentos representam o 3º tipo de acidente rodoviário
Os despistes são acidentes em que há intervenção de um só veícu- em que os pesados de mercadorias mais estão envolvidos.
lo. Estão fortemente associados à prática de velocidades inadequa-
das e deles resultam normalmente consequências muito graves. Para evitar acidentes com peões, os condutores devem:
- reduzir a velocidade na aproximação de passadeiras para peões;
Em 2008, os despistes corresponderam a 205 acidentes com - não ultrapassar imediatamente antes e nas passagens para
pesados de mercadorias, constituindo o 2º tipo de acidentes em peões;
que os pesados de mercadorias mais se envolvem. - moderar a velocidade ao circular em locais onde a circulação de
peões seja intensa;
A ocorrência destes acidentes pode ser potenciada, entre outros, - estar atentos, quando circulam junto de veículos estacionados ou
por: obstáculos, pois estes impedem-nos de ver os peões que
- Deficientes condições da via (piso molhado, enlameado ou com eventualmente atravessem a faixa de rodagem nesses locais;
óleo) que podem provocar diminuição de aderência e - estar atentos aos peões que circulam ao longo da faixa de

118
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
rodagem, particularmente à noite ou em condições atmosféricas A análise da tabela nº 1 e do gráfico nº 1 permite verificar uma
em que a visibilidade reduzida não permita avistar os peões a redução sustentada da sinistralidade rodoviária grave em Portugal
tempo de evitar acidentes ( esta situação é agravada pelo fato de nos últimos 20 anos.
os peões não usarem roupas claras nem material retrorrefletor que
os torne visíveis a maior distância). Na primeira década, de 1988 a 1998, registou-se um aumento
muito significativo do parque automóvel, cerca de 112%. Tal fato
Os condutores devem também ser particularmente cautelosos com contribuiu para um aumento da sinistralidade leve: os acidentes
as crianças, idosos ou utentes portadores de deficiência. Na com vítimas aumentaram 13% e os feridos leves aumentaram 19%.
verdade, devem ter presente que as crianças têm caraterísticas que No entanto, houve uma redução significativa nas consequências
as levam a atravessar a rua a correr e sem olhar para os lados, dos acidentes: menos 34% dos feridos graves e menos 21% das
para ver se se aproximam veículos. vítimas mortais.

Por outro lado, os idosos deslocam-se mais lentamente, precisando Na segunda década, de 1999 a 2008, o parque automóvel
de mais tempo para atravessar a faixa de rodagem. Têm também aumentou apenas 35%, com tendência para estabilizar, e
outras limitações (p. ex. falta de visão, falta de ouvido, falta de verificou-se uma redução de 32% nos acidentes com vítimas e 29%
atenção, reflexos mais lentos, mais lentidão no processamento da nos feridos leves. A redução da sinistralidade grave foi ainda mais
informação e tomada das decisões) que os levam a avaliar acentuada: menos 68% de feridos graves e menos 58% nas vítimas
deficientemente as situações de trânsito, expondo-se a mais riscos. mortais.

2. Sinistralidade Rodoviária A redução significativa da sinistralidade na segunda década


coincidiu com as medidas de segurança rodoviária implementadas
em Portugal, nomeadamente:
2. 1 - Sinistralidade Geral em Portugal • Em 1992, foi implementada a obrigatoriedade das inspeções
periódicas, que contribuíram para uma melhor qualidade do
estado dos veículos, nomeadamente no que se refere aos sistemas
de segurança, travões, pneumáticos, etc.
• Em 1994, as alterações no Código da Estrada tornam
obrigatório o uso do cinto de segurança dentro das localidades,
nos bancos traseiros dos veículos ligeiros e o limite de velocidade
dentro das localidades passou de 60 km/h para 50 km/h. Estas
medidas contribuíram para a redução da gravidade dos acidentes.
• Em 1995, tornou-se obrigatório o uso de sistemas de retenção
para crianças e, em 2001, surge o agravamento das sanções
pecuniárias.
• Em 2003, foi lançado o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária
(PNPR) que, através de um conjunto de medidas e ações, visava
uma redução de 50% do número de vítimas mortais e feridos
graves. Para que tal se tornasse realidade era necessário reduzir
a sinistralidade grave, nomeadamente dos peões, utentes de
duas rodas a motor e utentes acidentados dentro das localidades,
em 60%, até ao ano de 2010, tendo por referência a média da
sinistralidade dos anos de 1998 a 2000.
• Em 2005, entraram em vigor novas alterações ao Código da
Estrada, nomeadamente: a obrigatoriedade do uso do colete
retrorrefletor para os condutores, as coimas passaram a ser pagas
no momento e as coimas por excesso de velocidade passaram a ser
mais diferenciadas.

119
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
• Em 2005, entraram em vigor novas alterações ao Código da 2. 3 - Taxa de implicação em acidentes com
Estrada, nomeadamente: a obrigatoriedade do uso do colete retror-
refletor para os condutores, o pagamento voluntário da coima no vítimas
ato da verificação da contraordenação e as coimas por excesso de
velocidade passaram a ser mais diferenciadas. A fim de conhecer a implicação das várias categorias de veículos
nos acidentes rodoviários, cruzaram-se os dados referentes ao
parque automóvel e os dados referentes ao número de veículos
intervenientes em acidentes (ver tabela nº 5 e gráfico nº5).

A taxa de implicação calculou-se da seguinte forma:


Nº de veículos envolvidos em
acidentes com vítimas
Estas medidas, associadas à evolução do parque automóvel, à Taxa de implicação = x1000
qualidade das vias e às alterações de atitudes e comportamentos Nº total de veículos
dos utentes que se têm vindo a verificar, contribuíram para a
redução significativa da sinistralidade, em Portugal, nestas duas
últimas décadas.

2. 2 - Caraterização da mortalidade
rodoviária em Portugal segundo o tipo de
utente de 2004 a 2008

Verifica-se que cerca de metade das vítimas mortais foram utentes


de veículo ligeiros e um quarto utilizadores de veículos de duas Conforme se pode verificar no gráfico nº 5, houve uma redução na
rodas. taxa de implicação de todas as categorias de veículos. No entanto,
foram os motociclos que registaram a maior redução: 41,1%.
Igualmente preocupante é a mortalidade dos peões que
representaram um quinto das vítimas mortais, no período entre Apesar de ter havido uma redução significativa na taxa de
2004 e 2008. implicação dos veículos pesados, 32,9%, estes veículos ainda
apresentaram uma taxa de implicação superior ao dobro da taxa
Os utentes de veículos pesados representaram, apenas, 2,7% das de implicação dos veículos ligeiros, que reduziu 34,4%.
vítimas mortais no mesmo período.

120
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
2. 3. 1 - Taxa de implicação dos veículos As tabelas 7 e 8 permitem verificar que, para o conjunto dos 5
anos, os veículos pesados de mercadorias envolveram-se em 4,5%
pesados de mercadorias do total dos acidentes com vítimas, dos quais resultaram 6,3% de
feridos graves e 11,9% de vítimas mortais.

Pode-se assim comprovar que as consequências dos acidentes


envolvendo veículos pesados é muito superior às consequências
dos acidentes que não envolvem este tipo de veículos.

2. 5 - Distribuição dos acidentes com vítimas,


vítimas mortais e feridos graves envolvendo
os veículos pesados de mercadorias de 2004
a 2008

2. 4 - Acidentes com vítimas, envolvendo


A tabela nº 9 permite comparar a localização e a gravidade dos
pelo menos 1 veículo pesado de acidentes envolvendo veículos pesados de mercadorias, com a
mercadorias, de 2004 a 2008 sinistralidade em geral.

Pode-se verificar que contrariamente à sinistralidade geral, a


sinistralidade dos veículos pesados de mercadorias ocorreu
maioritariamente fora das localidades.

Salienta-se igualmente que a gravidade dos acidentes envolvendo


os veículos pesados de mercadorias, dentro e fora das localidades,
foi superior à gravidade dos acidentes dos veículos em geral.

Por cada 100 acidentes com vítimas, dentro das localidades,


envolvendo veículos pesados de mercadorias, resultaram 11.5
feridos graves e 4.7 vítimas mortais, comparativamente aos 8.2
feridos graves e 1.6 vítimas mortais por cada 100 acidentes
relativamente a sinistralidade em geral.

Fora das localidades, ainda que o índice de gravidade seja


superior, a diferença não é tão acentuada. Por cada 100 acidentes
envolvendo veículos pesados de mercadorias, resultaram 15.0
feridos graves e 8.9 vítimas mortais, comparativamente aos 12.6
feridos graves e 4.9 vítimas mortais por cada 100 acidentes,
relativamente à sinistralidade em geral.

121
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
A gravidade dos acidentes está associada à velocidade de impato pesados de mercadorias.
dos veículos. É essa a razão pela qual o índice de gravidade média
é sempre superior fora das localidades. Nas colisões, os veículos pesados de mercadorias apresentam um
índice de gravidade de 6,7 e 3,4 vítimas mortais por cada 100
colisões, respetivamente.
2. 6 - Acidentes com vítimas e vítimas
graves, envolvendo pelo menos 1 veículo Verifica-se, assim, maior gravidade nos atropelamentos e nas
colisões dos veículos pesados de mercadorias, pelo fato destes
pesado de mercadorias, por natureza, de acidentes provocarem vítimas, sobretudo, nos utentes dos outros
2004 a 2008 veículos ou nos peões.

Os acidentes resultantes de despistes apresentam o índice de


gravidade mais baixo das três tipologias apresentadas, para os
veículos pesados de mercadorias, com 4,9 de vítimas mortais e
9,4 feridos graves por cada 100 despistes, pois nestes acidentes as
vítimas são exclusivamente utentes dos próprios veículos pesados.

Pode-se verificar que, nos acidentes envolvendo os veículos pesados


de mercadorias, 5.4% dos acidentes foram atropelamentos, que
deram origem a 8.2% dos feridos graves e 12.4% das vítimas
mortais, comprovando-se assim a gravidade dos atropelamentos
face aos outros tipos de acidente.

As colisões são o tipo de acidente mais frequente nos veículos


2. 7 - Acidentes e vítimas segundo a hora
pesados de mercadorias, verifica- se que representaram 79.9% do dia, envolvendo as várias categorias de
dos acidentes com vítimas, dos quais resultaram 77,2% de feridos
graves e 81,4% de vítimas mortais.
veículos de 2004 a 2008

2. 6. 1 - Índice de gravidade dos acidentes


envolvendo veículos pesados de mercadorias
de 2004 a 2008
Por cada 100 atropelamentos envolvendo veículos pesados,
resultaram 16,1 vítimas mortais nos atropelamentos com veículos

122
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
Verifica-se que os períodos com maior número de acidentes Os acidentes com índice de gravidade mais elevado ocorreram no
coincidem com os períodos de maior volume de tráfego período horário das 03h às 06h00, com 6,5 vítimas mortais e 15,9
feridos graves, por cada 100 acidentes, período onde em cada
acidente verificado se tem cerca de 3,5 vezes mais probabilidade
de se morrer do que num acidente verificado entre as 09h00 e as
15h00, e entre 2,5 e 3 vezes do que num acidente verificado entre
as 15h00 e as 21h00.

2. 7. 1 - Vítimas mortais e feridos graves por


horas do dia referentes a veículos pesados
de mercadorias

O horário onde se verificou uma maior incidência de acidentes com


vítimas dos veículos pesados de mercadorias situou-se entre as
6h00 e as 18h00.

No entanto, foi no período compreendido entre as 21h00 e as


6h00 que se verificou o índice de gravidade mais elevado dos
acidentes, envolvendo esta categoria de veículos.
Pode concluir-se que no período horário das 21h00 às 06h00, os
índices de gravidade são mais elevados relativamente a todas as
categorias de veículos.
Destes dados, verifica-se que os períodos com menor volume de
trânsito e menor número de acidentes, são os que apresentam
maior gravidade nos acidentes verificados, como se pode constatar
3. Sinistralidade Rodoviária
na tabela 13.
3. 1 - Consequências a nível humano
A nível humano, as consequências dos acidentes têm impato a três
grandes níveis: físico, psicológico e social.

Assim, as consequências dos acidentes abrangem diferentes


domínios, que vão desde o sofrimento físico e psicológico, na
própria vítima, derivado das lesões que sofreu por perda ou
limitação de órgãos, até à alteração do aspeto exterior e limitação

123
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
de movimentos. Para além disso, as consequências dos acidentes As incapacidades temporárias ou definitivas são fonte de
também afetam as pessoas, principalmente os familiares com sofrimento para a vítima, familiares, amigos e colegas.
quem a vítima convive. Assim, podem afetar gravemente as vítimas e com diferentes
percentagens de invalidez, a nível pessoal e profissional, ficando
A avaliação objetiva é difícil, pelo que nem sempre é calculada, dependentes da ajuda e colaboração de outros.
embora possa ascender a valores elevados.
Para além disso, a acessibilidade a edifícios públicos, deslocações
Quando se procede à sua avaliação, recorre-se, para isso, às a pé e em transportes, ficam igualmente comprometidos devido à
indemnizações das seguradoras, às sentenças dos tribunais e à utilização de próteses, deslocação em cadeiras de rodas ou outros
avaliação da disponibilidade para pagar, obtida através de dispositivos auxiliares de marcha.
questionários destinados a avaliar a quantia, que os membros de
um determinado estrato populacional estão dispostos a entregar
para evitar morrer ou a ficar incapacitados.
3. 2 - Consequências a Nível Material
As consequências dos acidentes a nível material abrangem
As consequências dos acidentes a nível humano têm implicações
prejuízos essencialmente nas componentes veículo e
diferentes conforme se trate de morte, lesões físicas não mortais,
infraestrutura.
incapacidade temporária ou permanente.
Veículo – A sua destruição parcial ou total, dá origem à sua
MORTE
reparação ou à sua substituição, permanente ou temporária, e
A morte é a mais grave consequência humana dos acidentes, uma
igualmente a percas de oportunidade de negócios devido à
vez que a vítima fica privada da concretização das suas
indisponibilidade dos veículos acidentados.
expetativas de vida, de realização pessoal e profissional, de usu-
fruir dos benefícios que a sociedade põe à sua disposição.
Os danos nos veículos obrigam a reparações a dois níveis:
mecânico e carroçaria. Para além disso, obrigam à substituição
Por outro lado, acarreta sofrimento psicológico e, eventualmente,
dos elementos de segurança passiva, que não são passíveis de ser
físico, a todos os que com a vítima conviviam, em especial aos
reparados, como por exemplo: airbag e pré-tensores dos cintos de
mais próximos - familiares e amigos.
segurança.
Tal fato acontece porque a família, amigos e sociedade ficam
Os custos com os veículos constituem uma parcela significativa do
privados da convivência, dos bens e dos recursos que a vítima
custo económico e social dos acidentes rodoviários.
produzia e ainda iria produzir no futuro.
Pavimento - As consequências dos acidentes a nível da
FERIMENTOS GRAVES E LIGEIROS
infraestrutura verificam-se em primeiro lugar na zona da faixa
Durante o tratamento e reabilitação, as vítimas sofrem de dor
de rodagem, que pode ficar danificada no revestimento pela
física, mais ou menos intensa, bem como, eventualmente,
erosão provocada pelo deslocamento dos veículos acidentados que
perturbações do domínio afetivo, de intensidade e duração
tombam no pavimento.
variável, que para além da redução na qualidade de vida dos
próprios, induzem perturbações de natureza material e/ou
Para além disso, é necessário proceder à remoção dos destroços
afetiva naqueles que com ele convivem.
e outros detritos que ficam no pavimento, a fim de não impedir a
normal circulação.
INCAPACIDADE TOTAL OU PARCIAL, TEMPORÁRIA OU DEFINITIVA
Muitas das vítimas ficam com sequelas físicas a nível dos
No que diz respeito aos derrames de combustíveis ou lubrificantes
sentidos, motricidade, aparência e a nível psicológico, mais ou
da carga transportada, é imprescindível eliminá-los o mais
menos intensas, que limitam a autonomia, capacidade de
rapidamente possível, uma vez que a sua dispersão no pavimento
realização e bem-estar.
tem consequências muito graves, dado a eventual libertação de
substâncias agressivas.

124
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
Sinalização - A sinalização vertical e luminosa pode ficar Poluição visual – Os veículos acidentados e respetivos destroços
danificada pela deformação ou arrancamento dos seus suportes. quando não são de imediato retirados dos locais dos acidentes,
ainda que por um curto período de tempo, provocam poluição
Equipamentos de segurança - Os equipamentos de segurança, visual.
como as guardas e barreiras de segurança, são frequentemente
deformados ou arrancados, sendo necessária a sua substituição Poluição química – é toda a agressão onde se verifiquem reações
o mais rapidamente possível, pois uma vez deformados não são químicas.
capazes de cumprir as suas funções.
Incêndios e/ou explosão – os acidentes rodoviários, bem como
Obras de arte - As obras de arte: pontes, viadutos, aquedutos os acidentes de carga e descarga envolvendo veículos pesados de
e túneis podem ser atingidas de diversas formas podendo ficar mercadorias, em especial os de transporte de matérias facilmente
instáveis quando são atingidas nos seus componentes essenciais, combustíveis, podem dar origem a incêndios ou explosões que
como, por exemplo, os pilares. podem ser catastróficos se ocorrerem em zonas habitadas e de
gravidade ainda mais elevada se ocorrerem em zonas urbanas,
Postes - Os suportes da iluminação pública, bem como do pelo que devem sempre respeitar as norma de circulação destes
transporte de energia elétrica ou de telefone e ainda diverso veículos.
mobiliário urbano, como quiosques, bancos, floreiras, cabinas
telefónicas ou painéis de informação são outros elementos da Propriedades adjacentes - Os danos causados nas propriedades,
infraestrutura que podem ficar danificados ou mesmo destruídos. edificações, plantas e animais existentes nos terrenos adjacentes
às vias podem ser afetados de várias formas e com diferentes
Congestionamento - A nível da infraestrutura, é necessário levar intensidades.
em consideração o congestionamento provocado pelos veículos
imobilizados na sequência dos acidentes, a perda de tempo que
induz, a poluição sonora proveniente dos veículos parados, com
3. 3 - Consequências a Nível financeiro
motor a trabalhar ou a circular com velocidades mais baixas.
É, geralmente aceite que, para países com o nível de
desenvolvimento de Portugal, os acidentes rodoviários importam
Poluição – A queda da carga, na sequência de acidentes
em cerca de dois por cento do Produto Nacional Bruto, o qual,
rodoviários ou durante a carga e descarga, em especial nos
para 2009, está estimado em 164.000 milhões de Euros. Ou seja,
veículos pesados de mercadorias, pode dar origem a danos ou
em 2009 o custo económico e social dos acidentes na estrada terá
destruição, as quais são particularmente preocupantes no caso de
importado em cerca de 3.300 milhões de Euros.
mercadorias perigosas.
A despesa financeira com os acidentes de trânsito reparte-se em
A carga, ao cair no pavimento, pode sofrer deformação, fratura ou
diversas parcelas e estas estão agrupadas por custos por vítima e
perfuração das embalagens ou recetáculos e a
custos por acidente.
consequentemente disseminação nas áreas envolventes à zona da
ocorrência dos acidentes, do seu conteúdo sólido ou fluido, que
CUSTOS POR VÍTIMA
pelas suas caraterísticas físicas e/ou químicas pode ser incómodo,
venenoso e/ou corrosivo, nauseabundo, podendo dar origem a
Os custos por vítima incluem os seguintes itens:
impatos ambientais.
Custos com o socorro e transporte – nesta rubrica estão agrupados
o custo da deslocação do veículo de transporte, e eventualmente,
Os impatos ambientais podem afetar o ambiente de várias
o custo de reanimação, (terrestre ou aéreo), os custos das remu-
maneiras, quer na atmosfera, quer no terreno e, principalmente,
nerações e outras prestações com o pessoal da sua guarnição, bem
em lençóis de água, em especial nos subterrâneos utilizados para
como as despesas com meios de tratamento utilizados.
rega e/ou abastecimento humano ou animal.
Custos de tratamento médico – referem-se às intervenções em
Poluição física é provocada por fenómenos físicos onde intervêm
estabelecimento de saúde com internamento ou em ambulatório
partículas (poeiras, areias, etc.).
e engloba o custo dos atos médicos, de enfermagem e de pessoal

125
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
auxiliar e administrativo, dos medicamentos, dos meios auxiliares materiais, e superiores, aos dos acidentes com vítimas não
de diagnóstico, do alojamento e/ou das despesas de deslocação da mortais.
vítima. • Os custos dos tribunais, que incluem honorários de advogados,
custos judiciais dos processos e a despesa de funcionamento dos
No caso dos mortos, o valor é residual, enquanto que nos feridos tribunais na proporção dos processos relativos aos acidentes
graves representa cerca de um décimo do custo total e, nos feridos rodoviários.
ligeiros, situa-se à volta de 40%. • Os custos com a manutenção de uma estrutura de prevenção
fiscalização policial, apenas na parte que deriva da possibilidade
Custos de reabilitação – referem-se às despesas com tratamentos da ocorrência de acidentes.
de fisioterapia e adaptação, custos de próteses e adaptação de • O custo da administração da atividade seguradora nas áreas
espaços e equipamentos nas residências, adaptação ou aquisição dos seguros vida e não vida, na proporção dos sinistros
de veículos adequados às limitações da vítima. rodoviários.
• O custo da montagem e manutenção dos serviços de socorro e
Custos de perda de produção – Esta rubrica refere-se, no caso dos dos bombeiros, em função do trabalho realizado pelos acidentes
óbitos, ao que a pessoa deixou de produzir, medido a partir do da estrada.
seu rendimento futuro devidamente atualizado, por ter morrido
antecipadamente, e equivale praticamente ao custo de um morto.
Bibliografia
No que se refere aos feridos graves, há duas parcelas. A primeira
é relativa à incapacidade permanente e é, tendo em conta o tempo
Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) –
de incapacidade, objeto de tratamento idêntico ao levado a cabo
Observatório de Segurança Rodoviária, 2004 a 2008
com os mortos.
Comité de pilotage pour la prévention du risque routier
A segunda parcela refere-se à incapacidade temporária e é tratada
proféssionel.- “Programme d’ation 2006-2009”. França
de maneira semelhante ao anteriormente dito, com a diferença
de que cada dia de trabalho é ajustado através de um fator que
European Commission – Diretorate – General “Transport” - Alfaro,
exprime o grau de incapacidade.
J-L; Chapuis, M; Fabre, F.- Cost 313 – “Socio-economic cost of road
acidents”, Final report of the ation, Luxemburgo, 1994
O valor da perda de produção, no caso de lesões graves, situa-se
entre 70 e 90% do custo total de um ferido grave, enquanto nos
European Road Safety Federation (ERSF), “Road Safety
feridos ligeiros situa-se entre 30 e 40% do valor perdido com um
Management Manual - Passenger Road Transport. Bruxelas, 1998.
ferido ligeiro.
European Road Safety Federation (ERSF), “Road Safety
CUSTOS POR ACIDENTE
Management Manual – Goods Road Transport. Bruxelas,1998.
Nesta parcela estão agrupados os custos que não é possível
European Transport Safety Council (ETSC), “Assessing risk and
imputar a uma vítima específica, pelo que são calculados em bloco
setting targets in transport safety programmes ”, Bruxelas, 2003.
e divididos equitativamente por cada acidente e distribuem-se da
seguinte forma:
European Transport Safety Council (ETSC), “Transport safety
• Custo com danos materiais - Esta rubrica abordada em detalhe
performance in the EU – a statistical overview”, Bruxelas, 2003.
no tema II.2 “Consequências a Nível Material”.
Os valores dos danos materiais, por ocorrência, são mais elevados
Institut National de Recherche et de Sécurité pour la prévention
nos acidentes só com danos materiais, porque neste caso há mais
des acidents du travail et des maladies proféssionnelles INRS - “Le
20% veículos envolvidos de que nos acidentes com vítimas. Os
risque routier en mission. Guide d’évaluation des risques ”. França,
acidentes mortais, embora sendo mais violentos, por
Setembro de 2006.
envolverem menos veículos por acidente apresentam valores de
danos materiais inferiores aos dos acidentes só com danos
Instituto Nacional de Estatística (INE)

126
SINISTRALIDADE DE VEÍCULOS PESADOS DE MERCADORIAS
INRS - Institut National de Recherche et de Sécurité pour la a um período de hospitalização superior a 24 horas.
prévention des acidents du travail et des maladies
proféssionnelles - “Transport routier de marchandises. Vigilant à Ferido leve – vítima de acidente que não seja considerada ferida
l’arrêt comme au volant ”. França, Outubro de 2000. grave.

Organização Mundial de Saúde (OMS), “Global Status Report on Índice de gravidade – número de mortos por 100 acidentes com
Road Safety”. 2008. vítimas.

Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) -“ Manual de segurança Morto ou vítima mortal - vítima de acidente cujo óbito ocorra no
rodoviária”, 2009. local do evento ou no seu percurso até à unidade de saúde. Até ao
final do ano de 2009 e para poder comparar as vítimas mortais
Richez, Jean-Paul ; Tissot, Claire - “Le risque routier”. Cahiers de de Portugal com os outros países da União Europeia, mortos a 30
notes documentaires - Hygiène et sécurité des systèmes. França. dias, aplicava-se a este valor, um coeficiente um valor de 1,14.
2002. A partir de Janeiro de 2010, Portugal contabiliza as vítimas de
acidente rodoviário que venham a falecer no hospital até 30 dias
Santé, Famille, Retraite, Services - “Conduire, c’est travailler. Avant após o acidente.
de prendre le volant, je m’organise”. França, Junho de 2005.
Passageiro – pessoa afeta a um veículo na via pública a pé e que
Silveira, Alberto, - “Análise de acidentes rodoviários em trabalho. não seja condutora.
Perspetivas de integração na gestão do risco profissional”.
7º Congresso Internacional de Segurança, Higiene e Saúde no Peão – pessoa que transita na via pública a pé e em locais sujeitos
Trabalho. Porto, 31 de Maio e 1 de Junho de 2007. à legislação rodoviária. Consideram-se ainda peões, todas as
pessoas que conduzam à mão velocípedes ou ciclomotores de duas
rodas sem carro atrelado ou carros de crianças ou de deficientes
Glossário físicos.

Acidente rodoviário – ocorrência na via pública ou que nela tenha Vítima – ser humano que em consequência de acidente sofra
origem envolvendo pelo menos um veículo, do conhecimento das danos corporais
entidades das entidades fiscalizadoras e da qual resultem vítimas
e/ou danos materiais. Acidente de trabalho - todo o acontecimento inesperado e
imprevisto, incluindo atos derivados do trabalho ou com ele
Acidentes com vítimas – acidentes do qual resulte pelo menos uma relacionados, do qual resulte uma lesão corporal, uma doença ou
vítima. a morte de um ou vários trabalhadores. São também considerados
acidentes de trabalho os acidentes de viagem, de transporte ou
Acidente mortal – acidente do qual resulte pelo menos um morto circulação, nos quais os trabalhadores ficam lesionados e que
ocorrem por causa, ou no decurso do trabalho, isto é, quando
Acidentes com feridos leves – acidente do qual resulte pelo menos exercem uma atividade económica, ou estão a trabalhar, ou a
um ferido leve e em que não se tenham registado mortos nem realizar tarefas do empregador.
feridos graves.
Acidente de trabalho mortal – um acidente de que resulte a morte
Acidente com feridos graves – acidente do qual resulte pelo menos da vítima num período de uma não (após o dia) da sua ocorrência.
um ferido grave, não tendo ocorrido qualquer morte.
Dias de trabalho perdidos – são referentes a dias de calendário.
Condutor – pessoa que detém o comando de um veículo ou animal
na via pública. Taxa de implicação – total de veículos envolvidos em acidentes
vezes 1 000 pelo número de veículos em circulação.
Ferido grave – vítima de acidente cujos danos corporais obriguem
CONTEÚDO FORNECIDO POR:
Prevenção Rodoviária Portuguesa

127
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL

1. Contexto económico do transporte rodoviário de passageiros e a


organização do mercado
1. 1 - A importância do transporte para o uma ação eficaz e coordenada para fazer face ao desafio da
mobilidade urbana e sugere um enquadramento a nível da UE
desenvolvimento social para facilitar a adoção de medidas pelas autoridades locais.
Cerca de 70 % da população europeia vive em zonas urbanas,
A responsabilidade pelas políticas de mobilidade urbana cabe
importantes pólos de crescimento e emprego. As cidades têm
essencialmente às autoridades locais, regionais e nacionais.
necessidade de sistemas eficientes de transporte em apoio à sua
Contudo, as decisões a nível local não são tomadas isoladamente,
economia e ao bem-estar dos seus habitantes. Cerca de 85 % do
mas sim no âmbito estabelecido pela política e legislação
PIB da UE é gerado nas cidades. As zonas urbanas estão hoje
nacionais, regionais e da UE. A Comissão considera, pois, que
confrontadas com o desafio de assegurar a sustentabilidade dos
muito haverá a ganhar com um trabalho conjunto de apoio à
transportes em termos ambientais (CO2, poluição atmosférica,
ação a nível local, regional e nacional e com a definição de uma
ruído) e de competitividade (congestionamento), tendo ao mesmo
abordagem de parceria, respeitando ao mesmo tempo plenamente
tempo em conta a dimensão social. Esta inclui questões que vão
as diferentes competências e responsabilidades de todas as partes
desde a resposta que é necessário dar aos problemas no domínio
envolvidas.
da saúde e à evolução demográfica, passando pela promoção da
coesão económica e social, até à tomada em consideração das
Os sistemas de transporte urbano são elementos integrais do
necessidades das pessoas com mobilidade reduzida, das famílias e
sistema europeu de transportes e, como tal, uma parte integrante
das crianças.
da Política Comum de Transportes ao abrigo dos artigos 70º a 80º
do Tratado CE. Além disso, outras políticas da UE (as políticas de
A mobilidade urbana preocupa cada vez mais os cidadãos. Nove
coesão, ambiente, saúde, etc.) não podem atingir os seus
em cada dez cidadãos da UE pensam que a situação do tráfego na
objetivos sem ter em conta as especificidades urbanas, incluindo a
sua área deveria ser melhorada. As escolhas que fazemos quanto
mobilidade urbana.
à forma de viajar afetarão não apenas o desenvolvimento urbano
futuro, mas também o bem-estar económico dos cidadãos e das
Nos últimos anos, tem-se assistido a um maior desenvolvimento da
empresas. São também essenciais para o êxito da estratégia global
legislação e das políticas da UE relevantes para a mobilidade
da UE de luta contra as alterações climáticas, de realização do
urbana. Tem sido disponibilizado financiamento significativo
objetivo 20-20-20 e de promoção da coesão.
através dos Fundos Estruturais e de Coesão. Iniciativas financiadas
pela UE, frequentemente apoiadas pelos Programas-Quadro de
A mobilidade urbana é também uma componente central do
Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, têm ajudado a
transporte a longa distância. A maioria dos meios de transporte,
desenvolver uma grande variedade de abordagens inovadoras.
tanto de passageiros como de mercadorias, começa e acaba em
A difusão e a replicação destas abordagens em toda a UE podem
zonas urbanas e atravessa no seu percurso diversas zonas
permitir às autoridades fazer mais, melhor e a um custo inferior.
urbanas. Estas deveriam proporcionar pontos de interligação
eficientes para a rede transeuropeia de transportes e permitir a
O desenvolvimento de sistemas de transporte eficientes nas zonas
eficiência dos transportes no «quilómetro final», tanto para o
urbanas tornou-se uma tarefa cada vez mais complexa, com o
transporte de mercadorias como de passageiros. São, portanto,
congestionamento das cidades e o aumento da expansão urbana.
vitais para a competitividade e a sustentabilidade do futuro
As autoridades públicas têm um papel essencial a desempenhar
sistema de transportes europeu.
proporcionando planeamento, financiamento e quadro
regulamentar. A UE pode incentivar as autoridades a nível local,
A recente Comunicação da Comissão sobre um Futuro Sustentável
regional e nacional a adotarem as políticas integradas a longo
para os Transportes considera a urbanização e o seu impato nos
prazo que são extremamente necessárias em ambientes
transportes um dos principais desafios a enfrentar no esforço para
complexos.
uma maior sustentabilidade do sistema de transportes. Apela a

128
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
A UE pode também ajudar as autoridades a encontrar soluções que • Rapidez (Porta-a-porta).
sejam interoperáveis e facilitem o bom funcionamento do mercado • Menores custos de embalagem.
único. A adoção de regras, regimes e tecnologias compatíveis • Manuseamento de pequenos lotes.
facilita a aplicação e o controlo do cumprimento. O acordo sobre • Elevada cobertura geográfica.
normas para o todo o mercado único permite aumentar o volume • Muito competitivo em curtas e médias distâncias.
de produção, com a correspondente redução dos custos para o • Flexibilidade no atendimento de embarques urgentes.
cliente. • Entrega direta e segura dos bens.

As zonas urbanas estão a tornar-se laboratórios para testar a DESVANTAGENS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE MERCADORIAS
inovação tecnológica e organizacional, a mudança dos padrões • Unidades de carga limitadas.
de mobilidade e novas soluções de financiamento. A UE tem • Dependente das infraestruturas.
interesse em partilhar soluções inovadoras para as políticas • Dependente do trânsito.
locais em benefício tanto dos operadores de transportes como dos • Dependente da regulamentação.
cidadãos e também em garantir a eficiência do sistema europeu de • Mais oneroso em grandes distâncias.
transportes através de uma efetiva integração, interoperabilidade
e interligação. Neste contexto, a indústria tem uma importante CARATERÍSTICAS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE MERCADORIAS
contribuição a dar para a resolução dos problemas que se • Os veículos movimentam-se sobre carris.
coloquem no futuro. • Constituídos por carruagens interligadas entre si.
• A infraestrutura apresenta terminais (estações), onde é
Finalmente, a mobilidade urbana sustentável assume uma permitida a carga e descarga.
importância crescente para as relações com os nossos vizinhos e • Os serviços de transporte são arrendados ao operador que
para a sociedade global, cada vez mais concentrada em poderá ser privado ou público.
aglomerações urbanas. O êxito das atividades no âmbito do
presente plano de ação pode ajudar todos os atores na UE e as VANTAGENS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE MERCADORIAS
empresas do sector a desempenhar um papel ativo na moldagem • Menor custo de transporte para grandes distâncias.
de uma futura sociedade global centrada nas necessidades dos • Sem problemas de congestionamento.
cidadãos, numa vida harmoniosa, na qualidade de vida e na • Terminais de carga próximo das fontes de produção.
sustentabilidade. • Adequado para produto de baixo valor acrescentado e alta
Fonte: Plano de Ação para a Mobilidade Urbana densidade.
– Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, • Adequado para grandes volumes.
ao Comité Económico Social Europeu e ao Comité das Regiões • Possibilita o transporte de vários tipos de produtos.
• Independente das condições atmosféricas.
• Eficaz em termos energéticos.
1. 2 - O transporte rodoviário de
mercadorias em relação aos outros modos DESVANTAGENS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE MERCADORIAS
• Não possui flexibilidade de percurso.
de transporte • Necessidade maior de transbordo.
• Elevada dependência de outros transportes.
CARATERÍSTICAS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE MERCADORIAS
• Pouco competitivo para pequenas distâncias.
• Os veículos movimentam-se em caminhos pavimentados.
• Horários pouco flexíveis.
• Não apresentam necessidade de terminais.
• Elevados custos de manuseamento.
• A infraestrutura é propriedade pública.
• Determinados trajetos exigem uma taxa de utilização.
CARATERÍSTICAS DO TRANSPORTE MARÍTIMO/FLUVIAL DE
• É enquadrado por legislação do Estado e autarquias.
MERCADORIAS
• Transporte através de meios aquáticos (mares, lagos e rios).
VANTAGENS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE MERCADORIAS
• Representam um importante elo de ligação entre os
• Flexibilidade do serviço.
continentes.
• Flexibilidade no deslocamento de cargas.

129
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
• Os portos absorvem o impato do fluxo de cargas do sistema. • Pouco flexível por trabalhar terminal a terminal.
• Existe uma grande variedade de navios (Tanques, • Menos rápido para pequenas distâncias (menos de 500 km).
Porta-Contentores, Cargueiros, entre outros...).

VANTAGENS DO TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS


Concorrência: comparação entre os
• Competitivo para produtos com baixo custo de tonelada por principais modos de
quilómetro transportado.
• Qualquer tipo de cargas.
transporte de mercadorias
• Maior capacidade de carga.
Na figura abaixo está esquematizada uma comparação simples
• Menor custo de transporte.
entre os principais modos de transporte de mercadorias.
• Ausência de investimento em infraestrutura linear (rotas).
Os aspetos considerados para esta comparação foram: Custos
DESVANTAGENS DO TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS
(tonelada por KM), possibilidade de danos e perdas, versatilidade
• Baixa Velocidade.
de carga, capacidade, fiabilidade do serviço e continuidade do
• Disponibilidade limitada.
serviço.
• Significativos investimentos em infraestruturas nodais (portos).
• Elevada dependência das condições climatéricas ou de mar.
• Maior exigência de embalagens.
• Necessidade de transbordo nos portos.
• Distância aos centros de produção.
• Menor flexibilidade nos serviços, aliada a frequentes
congestionamentos nos portos.

CARATERÍSTICAS DO TRANSPORTE AÉREO DE MERCADORIAS


• Utiliza o ar como meio de navegação.
• Serviço terminal a terminal (aeroportos).
• Obedecem a um conjunto de regulamentos extremamente
rígido.
• A capacidade de carga dos aviões tem aumentado
significativamente. Concorrência: público versus particular
VANTAGENS DO TRANSPORTE AÉREO DE MERCADORIAS O transporte rodoviário de mercadorias em Portugal encontra-se
• Ideal para o envio de mercadorias com pouco peso e volume. dividido, quer do ponto de vista legal quer económico, em
• Maior rapidez. transporte por conta própria e transporte público ou por conta de
• Eficácia comprovada nas entregas urgentes. outrem, sendo este sinónimo de transporte profissional.
• Acesso a mercados difíceis de serem alcançados por outros
meios de transporte. A quase totalidade do parque de veículos de mercadorias nacional
• Redução dos gastos de armazenagem. é constituída por frota própria, com uma predominância
• Agilidade no deslocamento de cargas. esmagadora de veículos ligeiros.
• Possibilita redução de stocks por aplicação de procedimentos
just in time. O transporte por conta de outrem é responsável por
• Não necessita embalagem mais reforçada (manuseamento mais aproximadamente 48% das toneladas movimentadas nos serviços
cuidadoso). de âmbito nacional, sendo o restante efetuado por conta própria.

DESVANTAGENS DO TRANSPORTE AÉREO DE MERCADORIAS Esta predominância do transporte por conta própria no mercado
• Menor capacidade de carga. nacional é diferente da maioria dos restantes países europeus e
• Custos bastante elevados em relação aos outros meios de tem implicações na economia, visíveis sobretudo na existência de
transporte.

130
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
um parque de viaturas excessivo e subaproveitado. contratar quem lhe faça o serviço de transporte.

Pelo contrário, no transporte de mercadorias perigosas com O progressivo aumento de subcontratação das operações logísticas,
veículos cisterna, o parque por contra de outrem é o quíntuplo do nomeadamente de armazenagem e transporte, surge como
por conta própria, de acordo com os dados do IMT, revelando uma resposta à preocupação das empresas quanto à maior
grande especialização deste subsector. produtividade da cadeia logística. Historicamente este objetivo era
dificultado pela ausência de parceiros competentes no mercado.
Face à crescente procura dos serviços de transporte rodoviário de Este problema tem vindo a ser atenuado pela entrada de novos
mercadorias, é por todos reconhecida a necessidade de melhorar a operadores, cada vez mais especializados.
logística e a organização deste transporte, como condição essencial
para o aumento da competitividade da indústria e do comércio A preocupação de concentração no negócio principal das empresas
Europeus. tem contribuído para que cada vez mais funções sejam
subcontratadas. Esta realidade reforça a importância de uma
seleção adequada dos parceiros logísticos, da negociação dos
O papel dos carregadores termos aplicáveis à prestação do serviço e das formas de
comunicação subjacentes a esta relação de carácter continuado.
Os próximos anos acentuarão uma tendência - que já é
realidade - para mudanças profundas no que respeita à integração
Vejamos então os aspetos mais relevantes para optar entre o
do transporte e da logística e à modernização dos modelos dos
transporte por conta própria ou por conta de terceiro.
diversos tipos de serviços de transporte.
Um dos aspetos mais importantes a considerar na seleção de um
A indústria e o comércio nacionais evoluíram lentamente para as
transportador é, naturalmente, o custo dos seus serviços. Nesta
estratégias de especialização e de “outsourcing” de atividades não
perspetiva, uma empresa que decida recorrer a transportadores
principais, de que o transporte e a logística são exemplos. Esta
externos deve realizar uma análise prévia dos custos de transporte,
evolução é, no entanto, indispensável e está a exigir que as
de forma a estar mais habilitada a negociar os preços e condições
empresas de transporte, em parte por reação, em parte por
de prestação do serviço. Esta aproximação pode ainda ser útil caso
deliberada estratégia, se preparem para disponibilizar serviços de
a empresa venha a decidir realizar o transporte por conta própria
elevada qualidade, em todos os segmentos de mercado em que se
- assim poderá ter um termo de comparação para a sua eficiência
situem.
interna na realização dessa atividade.
Desde o serviço mais simples - que consiste em gerir e oferecer
CÁLCULO DOS CUSTOS FIXOS
frotas e tripulações -, aos serviços que requerem operações de
- Valor anual correspondente à amortização do veículo;
triagem em armazém, até aos mais complexos sistemas que
- Encargos financeiros associados ao investimento em veículos;
incluem a própria gestão de stocks dos clientes, a procura exige
- Valores dos seguros e dos encargos com mão-de-obra.
cada vez mais às empresas a satisfação de três requisitos:
• Redução dos custos da deslocação dos produtos;
CÁLCULO DOS CUSTOS VARIÁVEIS
• Rapidez e controlo das entregas;
- Custos de combustível;
• Fiabilidade geral do serviço.
- Custo dos pneus;
- Custos de manutenção e reparação.
1. 3 - Diferentes atividades do transporte
rodoviário Atividades auxiliares de transporte
O transporte é uma atividade fundamental no desenvolvimento As principais atividades auxiliares ao transporte são:
de qualquer processo produtivo. As empresas precisam aceder às - Transitários
matérias-primas e colocar os seus produtos no mercado após a - Aluguer de viatura sem condutor
produção. Quando a atividade principal da empresa não é o - Pronto-socorro
transporte, há que optar entre possuir uma frota própria ou

131
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
TRANSITÁRIOS 1. 4 - Organização dos principais tipos de
A atividade transitária consiste na prestação de serviços de
natureza logística e operacional que inclui o planeamento, o empresas de transportes rodoviário de
controlo, a coordenação e a direção das operações relacionadas mercadorias e das atividades auxiliares do
com a expedição, receção, armazenamento e circulação de bens
ou mercadorias, desenvolvendo-se nos seguintes domínios de transporte
intervenção:
a) Gestão dos fluxos de bens ou mercadorias; A atividade de transporte rodoviário de mercadorias por conta de
b) Mediação entre expedidores e destinatários, nomeadamente outrem, nacional ou internacional, por meio de veículos de peso
através de transportadores com quem celebre os respetivos bruto igual ou superior a 2500 kg só pode ser exercida por
contratos de transporte; sociedades comerciais ou cooperativas, licenciadas pelo IMT.
c) Execução dos trâmites ou formalidades legalmente exigidos,
inclusive no que se refere à emissão do documento de transporte A referida licença consubstancia-se num alvará ou licença
unimodal ou multimodal. comunitária, a qual é intransmissível, sendo emitida por um prazo
não superior a cinco anos, renovável por igual período, mediante
ALUGUER DE VEÍCULOS SEM CONDUTOR comprovação de que se mantêm os requisitos de acesso e de
A atividade de aluguer de veículos de passageiros sem condutor exercício de atividade.
tem por objeto a exploração de:
a) Automóveis ligeiros de passageiros; No caso de licença para a atividade de transporte rodoviário de
b) Motociclos; mercadorias por conta de outrem, exclusivamente por meio de
c) Automóveis de passageiros de caraterísticas especiais, veículos ligeiros, esta especificação consta do alvará.
aprovados para o efeito pelo IMT.
Ao IMT compete organizar registo de todas as empresas que
PRONTO-SOCORRO realizem transportes de mercadorias por conta de outrem.
Entende-se por pronto-socorro os serviços de transporte e reboque
de veículos avariados ou sinistrados, bem como genericamente de Estão igualmente sujeitos a autorização, a emitir pelo IMT, os
todos os outros veículos que não podem circular na via pública. transportes de carácter excecional realizados por veículos afetos ao
transporte por conta própria cujo peso bruto exceda 2500 kg em
São veículos pronto-socorro os que estejam devidamente adaptados que, cumulativamente:
para o transporte ou reboque de veículos avariados ou a) As mercadorias e os veículos não pertençam ao mesmo
sinistrados e sejam assim designados pela entidade competente proprietário;
para a homologação e aprovação de veículos. b) O transporte seja efetuado sem fins lucrativos por
coletividades de utilidade pública ou outras agremiações
A prestação de serviços por meio de veículos pronto-socorro, para filantrópicas, desportivas ou recreativas;
além do transporte ou reboque de veículos avariados ou c) As mercadorias transportadas estejam relacionadas com os fins
sinistrados, abrange o transporte ou reboque de veículos: das entidades que efetuam o transporte;
a) Destinados a substituir veículos avariados ou sinistrados; d) Os veículos utilizados sejam da propriedade da entidade que
b) Automóveis classificados como antigos ou de coleção; realiza o transporte, de algum dos seus associados ou cedidos a
c) Que não possam circular na via pública; título gratuito por outras entidades.
d) Que se destinem a exposições ou manifestações desportivas.
Os transportes internacionais e os transportes de cabotagem a
realizar por transportadores não residentes sediados fora do
território da União Europeia estão sujeitos a autorização a emitir
pelo IMT, a qual é condicionada pelo princípio da reciprocidade.

São autorizados os transportes de cabotagem efetuados por


transportadores da União Europeia e do espaço económico

132
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
europeu desde que sejam efetuados na sequência de um Atividades auxiliares de transporte
transporte internacional com o mesmo veículo ou, tratando-se
de um conjunto de veículos acoplados, com o veículo trator desse As principais atividades auxiliares ao transporte são:
mesmo conjunto, e não excedam três operações de cabotagem, - Transitários
durante um prazo de sete dias a contar da data de descarga das - Aluguer de viatura sem condutor
mercadorias objeto do transporte internacional. - Pronto-socorro
Os transportes especiais dependem de uma autorização especial Transitários
de trânsito, nomeadamente o trânsito na via pública de veículos ou A atividade transitária consiste na prestação de serviços de
conjuntos de veículos matriculados nos termos do artigo 117º do natureza logística e operacional que inclui o planeamento, o
Código da Estrada: controlo, a coordenação e a direção das operações relacionadas
a) Com pesos e ou dimensões que excedam os limites com a expedição, receção, armazenamento e circulação de bens
regulamentares; ou mercadorias, desenvolvendo-se nos seguintes domínios de
b) Que transportem objetos indivisíveis que excedam os limites da intervenção:
respetiva caixa ou a altura de 4 m; a) Gestão dos fluxos de bens ou mercadorias;
c) Cujo peso bruto ou pesos por eixo, em virtude do transporte de b) Mediação entre expedidores e destinatários, nomeadamente
objetos indivisíveis, excedam os limites regulamentares. através de transportadores com quem celebre os respetivos
contratos de transporte;
O trânsito de veículos ou conjuntos de veículos está sujeito a c) Execução dos trâmites ou formalidades legalmente exigidos,
autorização anual sempre que estes transportem objetos inclusive no que se refere à emissão do documento de transporte
indivisíveis cujas dimensões excedam os limites das respetivas unimodal ou multimodal.
caixas de carga ou a altura de 4 m a contar do solo.
A atividade transitária só pode ser exercida por empresas titulares
Os veículos excecionais estão sujeitos a autorização anual quando de alvará emitido pelo IMT. Os alvarás são intransmissíveis e
não ultrapassarem as dimensões máximas fixadas para este tipo emitidos por prazo não superior a cinco anos, renovável mediante
de autorização, ainda que dos respetivos documentos de comprovação de que se mantêm os requisitos de acesso à
identificação conste a exigência de autorização caso a caso. atividade.
O trânsito de veículos está sujeito a autorização ocasional sempre O IMT organiza registo de todas as empresas licenciadas para o
que: exercício desta atividade.
a) As dimensões do veículo ou do conjunto excedam os limites
máximos permitidos para emissão de autorização anual, quando ALUGUER DE VEÍCULOS SEM CONDUTOR
se trate de veículo excecional; O exercício da atividade de aluguer de veículos de passageiros sem
b) As dimensões totais e ou o peso bruto do veículo ou do conjunto condutor depende de autorização a conceder pelo IMT, e é titulado
excedam os limites máximos permitidos para emissão de por alvará de que constem os elementos de identificação do objeto
autorização anual. do direito concedido.
Para os veículos ou conjuntos de veículos sujeitos a autorização A atividade de aluguer de veículos de passageiros sem condutor
ocasional podem ser emitidas autorizações de curta duração (até 6 tem por objeto a exploração de:
meses) quando: a) Automóveis ligeiros de passageiros;
a) Os objetos indivisíveis transportados tenham as mesmas b) Motociclos;
caraterísticas; c) Automóveis de passageiros de caraterísticas especiais,
b) Os objetos indivisíveis tenham dimensões e peso iguais ou aprovados para o efeito pelo IMT.
inferiores aos que constam da autorização;
c) O transporte se realize no mesmo itinerário, em qualquer dos A exploração da atividade de aluguer de automóveis ligeiros
sentidos; de passageiros sem condutor abrange um conjunto mínimo de
d) O veículo ou conjunto que realiza o transporte seja o mesmo. veículos desta classe e tipo, a que se podem juntar, em qualquer

133
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
número, veículos das restantes situações previstas no número PRONTO-SOCORRO
anterior. Entende-se por pronto-socorro os serviços de transporte e reboque
de veículos avariados ou sinistrados, bem como genericamente de
Por regra, a atividade de aluguer de motociclos sem condutor é todos os outros veículos que não podem circular na via pública.
explorada em regime de atividade única, abrangendo um
conjunto mínimo de motociclos. São veículos pronto-socorro os que estejam devidamente adaptados
para o transporte ou reboque de veículos avariados ou
A atividade de aluguer de automóveis de passageiros de sinistrados e sejam assim designados pela entidade competente
caraterísticas especiais, sem condutor, pode ser explorada em para a homologação e aprovação de veículos.
regime de atividade única, abrangendo um conjunto mínimo de
veículos. A prestação de serviços por meio de veículos pronto-socorro, para
além do transporte ou reboque de veículos avariados ou
O alvará só será concedido a sociedades com sede em território sinistrados, abrange o transporte ou reboque de veículos:
nacional que nele se proponham explorar o número mínimo de a) Destinados a substituir veículos avariados ou sinistrados;
veículos. b) Automóveis classificados como antigos ou de coleção;
c) Que não possam circular na via pública;
As empresas devem constituir -se sob a forma de sociedade d) Que se destinem a exposições ou manifestações desportivas.
comercial, possuir organização administrativa e comercial
adequada à sua dimensão e dispor de capital social não inferior a A atividade de prestação de serviços por meio de veículos
€ 50 000. pronto-socorro só pode ser exercida por empresas licenciadas para
o efeito pelo IMT. O licenciamento pode ser atribuído a todas as
A administração, direção ou gerência social não poderá ser empresas em nome individual e coletivo que preencham os
exercida por quem não possua idoneidade moral e comercial requisitos de acesso à atividade e envolve a emissão de um alvará,
devidamente comprovada. intransmissível, emitido por um prazo renovável de cinco anos. O
licenciamento tem âmbito nacional.
As empresas titulares de alvará podem ser autorizadas a abrir
agências ou filiais. A autorização para a abertura da agência ou O pronto-socorro também pode ser prestado como atividade
filial será averbada no alvará de que a empresa é titular. acessória da sua atividade principal, ficando dependente de um
certificado a emitir pelo IMT, por um período não superior a cinco
As empresas que exercem a atividade de aluguer de veículos anos a todas as entidades que o requeiram, desde que se
automóveis sem condutor devem dispor, no mínimo, de um encontrem regularmente constituídas nos termos da lei comercial
estabelecimento para atendimento dos clientes. para o exercício da sua atividade principal e acessória.

As empresas titulares de alvará para o exercício de atividade de Os veículos pronto-socorro, a utilizar por empresas licenciadas e
aluguer de veículos automóveis de passageiros sem condutor por entidades certificadas, estão sujeitos a licença, a emitir pela
utilizam o número de veículos que julguem necessário ao exercício DGTT, a qual deve estar a bordo do veículo durante a prestação de
da sua atividade. serviços a que se refere o presente diploma.

Não poderão ser utilizados na atividade veículos: Os serviços de transporte ou reboque efetuados por empresas
a) Que não sejam propriedade da empresa titular do alvará; licenciadas ou certificadas nos termos do presente diploma devem
b) Sem que a responsabilidade cível pelos danos resultantes de ser descritos de forma sequencial num caderno de registo
acidente de viação se encontre garantida por seguro efetuado nos constituído por folhas numeradas e não destacáveis. Durante a
termos gerais previstos na lei; realização de cada serviço de transporte ou reboque, deve estar a
c) Com mais de cinco anos, contados da data da respetiva bordo do veículo pronto-socorro o caderno de registo que contém a
matrícula. respetiva descrição.

134
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
1. 5 - Diferentes especializações do TRANSPORTE DE MÓVEIS NOVOS - é o realizado em veículos
apropriados e compreende o tráfego de móveis e utilizados não
transporte embalados, entre fábricas, depósitos de distribuição ou outros
estabelecimentos com fins comerciais;
TRANSPORTE DE CARGA GERAL - é o transporte porta-a-porta, de
cargas completas ou fracionadas, embaladas ou não, que, pela sua TRANSPORTE DE VEÍCULOS AUTOMÓVEIS NOVOS OU USADOS - é o
natureza e caraterística, utiliza veículos ou equipamentos que se realiza em unidades especialmente construídas para esse
convencionais, compreendendo o transporte de produtos tipo de transporte e se destina, principalmente, ao escoamento de
industrializados, produtos químicos (classificados como não produção da fábrica de veículos automotores;
perigosos) e farmacêuticos, líquidos envasilhados, produtos
alimentícios, matérias de construção, laminados de madeira e TRANSPORTE DE CARGA EM CONTENTORES - é o que emprega
outros; veículos providos de dispositivos de fixação e de segurança desse
equipamento, segundo normas técnicas específicas e depende de
TRANSPORTE ITINERANTE - é o transporte de volumes pequenos ou utilização de dispositivos de carregamento e descarregamento;
de peso reduzido cuja distribuição ou entrega se processa segundo
itinerários e regiões pré-determinados, abrangendo o transporte TRANSPORTE DE CARGAS ExceciONAIS E INDIVISÍVEIS - é o que
de medicamentos, perfumarias e outros; requer condições especiais de trânsito, quanto à horários,
velocidade, sinalizações, acompanhamento, ou medidas específicas
TRANSPORTE COM VENDAS AMBULANTES - é o que se realiza de segurança nas estradas, bem como de segurança de
quando o condutor do veículo transportador efetua, propriedade de terceiros e da própria rodovia, compreendendo
simultaneamente a venda e a entrega da carga transportadora; o transportes de materiais, implementos, partes estruturais,
máquinas ou parte de máquinas e equipamentos, cujas dimensões
TRANSPORTE DE ENCOMENDAS - é um serviço específico de e/ou peso excedam os limites fixados pela legislação, requerendo,
transporte de carga, cuja operação compreende a receção da geralmente, a utilização de veículos especiais;
carga, transporte e entrega ao domicílio pelo transportador, dentro
de um prazo por este previamente definido, entre locais de origem TRANSPORTE DE PRODUTOS PERECÍVEIS SOB TEMPERATURA
e destino pré-fixados; CONTROLADA - é o realizado com a utilização de veículos dotados
de equipamentos isotérmicos ou frigoríficos, providos de
TRANSPORTE DE CARGAS SÓLIDAS A GRANEL – é o que se realiza mecanismos auxiliares destinados a manter a temperatura
mediante a utilização de carroçaria apropriadas e providas de adequada da carga, a ventilação e o teor de humidade adequado,
mecanismos de carregamento e descarregamento adequados; dentro de limites máximos e mínimos, em função do tempo de
compreende o transporte de cereais, fertilizantes e outros, tráfego e de acordo com as especificações da carga transportada,
abrangendo também o transporte de produtos britados, ou em pó compreendendo o transporte de carnes, peixe, produtos
a granel; hortofrutícolas, entre outros;

TRANSPORTE DE CARGAS LÍQUIDAS A GRANEL - é o que se realiza TRANSPORTE DE CARGAS AQUECIDAS - é o realizado sob
mediante e utilização de veículos ou equipamentos com tanques temperatura controlada, que utiliza veículos especiais, equipados
ou cisternas apropriados com dispositivos de carregamento e com dispositivos auxiliares, tais como maçaricos e similares para a
descarregamento adequados, compreendendo o transporte de conservação de temperatura de carga ou para facilitar a operação
água, leite, óleos alimentícios, vinho e outros; de carregamento e descarregamento, compreendendo o transporte
de asfalto, betumes, breu e outros;
TRANSPORTE DE MUDANÇAS - é realizado em veículos apropriados,
por transportadores que oferecem condições especiais de TRANSPORTE DE VALORES - é o que se realiza em unidades
segurança na prestação do serviço e compreende o transporte de blindadas e providas de mecanismo especiais de segurança,
bens fora do comércio, como móveis, utensílios, artigos do lar, ou destinados a oferecer segurança à carga e ao pessoal de
de escritórios, tendo geralmente como remetente o destinatário, a vigilância que acompanha a operação, e compreende o transporte
mesma pessoa física ou jurídica; de dinheiro, títulos, ações, jóias, pedras e metais preciosos e
outros;

135
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
TRANSPORTE DE GADO EM PÉ - é aquele que emprega veículos fracionado em botijas sujeitos a normas de segurança adequadas
apropriados para preservar a integridade física e as condições relativas aos tipos de recipientes e carroçarias utilizadas;
sanitárias dos animais transportados, compreendendo o transporte
de gado vacum, equino, asinino, suíno, ovino e caprino, TRANSPORTE DE PRODUTOS PERIGOSOS FRACIONADOS (LÍQUIDOS
SÓLIDOS E GASOSOS) - é o que se realiza em embalagens ou
TRANSPORTE DE MADEIRA EM PRANCHA - é aquele que, pela recipientes adequados, observados as normas de segurança, de
dimensão ou pelo peso da carga deve ser realizado em veículos prevenção e compatibilização com outras cargas, podendo ser
com equipamentos auxiliares específicos que facilitam a operação utilizados veículos convencionais para carga geral fracionada.
de carregamento, tráfego e descarregamento;
TRANSPORTE DE PRODUTOS EXPLOSIVOS - é o que abrange
TRANSPORTE DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS E PRODUTOS ESPECIAIS produtos que, por sua natureza e caraterísticas estão sujeitos ao
DE AÇO – é o que pelas suas caraterísticas e forma da carga, risco de explosão, pela ação do calor, do atrito ou de choque,
requer a utilização de veículos dotados de dispositivos, ou reforços pondo em perigo a vida humana e bens materiais, e requer
ou suplementos especiais, destinados atender às condições de embalagens adequadas, bem como normas rígidas de segurança,
segurança exigidas, compreendendo o transporte de bobinas de de quantificação, de manuseio e arrumação, de carregamento e
aço e de produtos especiais de aço, laminados ou não; descarregamento. Compreende o transporte de explosivos
propriamente ditos, munições, artifícios pirotécnicos e outros
TRANSPORTE DE ENGRADADOS (LÍQUIDOS ENGARRAFADOS) - é o produtos.
que se realiza em veículos com carroçarias especiais, para esse
fim, compreendendo o transporte de bebidas e outros líquidos
engarrafados para distribuição;
1. 6 - Evolução dos sectores

TRANSPORTE DE CARGAS PERIGOSAS - é o que estando sujeito a A evolução dos transportes rodoviários
normas específicas, técnicas e operacionais, expedidas por órgãos
competentes, entidades especializadas e fabricantes dos produtos, Desde os primeiros tempos da sua existência que o homem
requer medidas especiais de precaução e segurança, relacionadas reconheceu a necessidade de se deslocar entre vários lugares.
com as operações de carregamento, arrumação, descarregamento,
manipulação, estivagem, trânsito e tráfego, atendidas também as Durante séculos, os tradicionais meios de transporte usavam como
caraterísticas dos veículos e equipamentos utilizados e a natureza principal forma de deslocação a tração animal.
das cargas, medidas essas destinadas à prevenção de acidentes
que acarretam danos à vida humana ou a bens de terceiros ou do Graças à revolução industrial, surgem os primeiros engenhos com
próprio transportador; motores a vapor. Porém, foi no ano de 1898, com a invenção, de
Rudolf Diesel, do motor de explosão - e, posteriormente, com o
TRANSPORTE DE PRODUTOS QUÍMICOS AGRESSIVOS A GRANEL início da comercialização do mesmo (Setembro de 1913) - que se
(LÍQUIDOS E GASOSOS) - é o realizado sob pressão ou não, em iniciou o enorme incremento no transporte rodoviário.
veículos tanques ou cisternas, dotados de dispositivos de
segurança necessários ao carregamento, tráfego e descarrega- A última etapa surgiu com o primeiro veículo da era automóvel,
mento, compreendendo o transportes de oxidantes, corrosivos, inventado e construído por Henry Ford, em 1921. Uma criação
produtos petroquímicos, substâncias tóxicas, venenosas e similares; que mudou o mundo: um carro simples, produzido em massa e
vendido com grande sucesso, em todo o mundo desenvolvido.
TRANSPORTE DE PRODUTOS INFLAMÁVEIS A GRANEL - é o realizado
em camiões cisterna, de derivados de petróleo, óleos combustíveis, Por outro lado, com o desenvolvimento da rede de estradas, os
gasolinas, querosene, solventes, nafta e combustíveis para transportes rodoviários de passageiros começaram a ganhar
aeronaves, álcoois e outros produtos; terreno face ao seu mais direto concorrente, o comboio.

TRANSPORTE DE GÁS LIQUEFEITO (A GRANEL E ENGARRAFADO) - é o Hoje em dia, com uma rede de autoestradas e de estradas
realizado sob pressão, a granel, em camiões cisterna, ou bastante desenvolvida, os transportes rodoviários chegam a todos
os lugares.

136
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
Contudo o mercado tem vindo a sofrer grandes alterações ao nível ferroviário ou marítimo, que o transporte seja efetuado ao fim de
do tipo e especificidade do serviço pretendido e da qualidade semana ou de noite, com segurança.
exigida. A concorrência existente leva a que as empresas tenham
de adotar soluções imaginativas para conseguir ser competitivas SUBCONTRATAÇÃO
sem perder qualidade. Para não se aumentar o preço, a solução Algumas transportadoras funcionam essencialmente com frotas
passa por um rigoroso controlo dos custos. E nem sempre a solução subcontratadas. Ou seja, o cliente contrata a empresa para fazer
mais barata é possuir uma frota própria como a seguir se pode um transporte e esta subcontrata outra empresa de transportes
verificar. para efetuar o transporte. Esta solução permite à empresa
apresentar uma solução mais económica, nomeadamente quando
As crises como a que vivemos pressionam todas as empresas a o destino da mercadoria não se enquadra nas suas rotas.
reduzir custos e só as mais bem preparadas conseguem Imagine-se que uma empresa atua no eixo Lisboa–Porto. Se um
subsistir. Esta crise em particular vai efetuar reajustamentos cliente habitual pretender enviar uma mercadoria de Lisboa para
muito relevantes no sector, projetando-o para melhores níveis de Évora a solução passaria por não aceitar o serviço; apresentar um
competitividade e produtividade. Vislumbra-se também um maior preço que cobre as despesas, o que certamente será demasiado
choque concorrencial não só entre as soluções regionais e globais, elevado e acabará por afastar o serviço; ou assumir o prejuízo
mas também com a complementaridade de meios de transporte para não perder o cliente.
sucessivos, onde a intermodalidade será o maior expoente desta Contudo, se se subcontratar o serviço a uma empresa que opere
alteração estrutural. naquele eixo consegue-se satisfazer os interesses do cliente e da
empresa.
INTERMODALIDADE
O transporte intermodal representa o movimento de mercadorias A empresa de Transportes Luís Simões (LS) assumiu há cerca de
que utiliza dois ou mais modos de transporte, sem manipular oito anos um modelo de subcontratação. Atualmente mais de
a mercadoria nos intercâmbios de modo. O termo intermodali- metade da frota da é subcontratada a transportadoras em regime
dade corresponde a um sistema em que dois ou mais modos de de franchising. Como funciona este modelo de negócio?
transporte intervêm no movimento de mercadorias de uma forma
integrada. A LS cede ao franchisado o direito de explorar o seu conceito de
negócio e utilizar a imagem, usufruindo de acompanhamento
O transporte combinado é um conceito utilizado para designar o permanente, bem como o benefício de estar integrado numa rede
transporte intermodal de mercadorias onde a maioria do itinerário já enraizada, nomeadamente, o acesso (a preços competitivos) aos
percorrido se efetua de comboio, ou por via marítima e, o menos produtos e serviços essenciais ao desenvolvimento da atividade
possível, por rodovia, sendo esta utilizada só na etapa inicial e transportadora. O sistema de franchising foi concebido com o
final. As empresas procuram novas soluções que lhes reduzam os objetivo de dotar os pequenos empresários de ferramentas de
custos, combinando as possibilidades: camião-comboio, gestão e conceitos adequados para uma gestão bem eficiente das
barco-comboio, avião-comboio-camião etc. unidades de produção.

O transporte combinado permite coordenar os meios de transporte Paralelamente, o sistema de franchising visa garantir aos clientes
por estrada, ferrovia, mar e, recentemente, aéreo, facilitando a do grupo a prestação dos serviços solicitados com o mesmo nível
sua intermodalidade. Os meios que utiliza são contentores, caixas de qualidade (imagem, formação dos motoristas, informática
móveis, camiões e semirreboques sobre carruagens e barco. Já se embarcada e acompanhamento da execução do transporte).
utiliza o transporte de camiões TIR sobre vagões. Em França, esta
operação tem o nome de Ferroutage. OUTSOURCING
Concentre-se no que faz melhor do que os rivais e entregue o
A principal vantagem do transporte intermodal consiste em restante a especialistas. Esta é a ideia-chave do outsourcing, um
combinar as potencialidades dos diferentes modos de transporte. conceito cada vez mais popular entre as empresas. Originalmente
Desta combinação podem resultar importantes reduções dos custos o outsourcing era confundido com a simples subcontratação,
económicos, segurança rodoviária, poluição, consumo de energia, circunscrevendo-se a atividades de baixo valor acrescentado e
redução do tráfego rodoviário. Permite, caso seja utilizado o modo afastadas do negócio vital de cada empresa como os serviços

137
CONTEXTO ECONÓMICO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
limpeza, de segurança, o correio expresso, etc. O aumento da
competitividade dos mercados forçou as empresas a passarem a
concentrar os seus melhores recursos no seu negócio vital, criando
oportunidades de outsourcing de atividades, funções ou processos
que não seriam sequer imagináveis: transporte, armazenamento,
frotas, funções financeiras, sistemas informáticos, etc.

Por outro lado, há cada vez mais especialistas no mercado


dispostos a resolver qualquer problema, a qualquer lugar e hora.

Este alargamento da oferta e da procura alterou qualitativamente


o conceito, dado que já não se está a tratar de atividades remotas
ao negócio vital. Hoje, o conceito de outsourcing significa, em
muitos casos, a celebração de uma verdadeira parceria estratégica
entre o contratado e o contratante, assente em contratos de longo
prazo que, em regra, duram de entre cinco e dez anos. Esta nova
base contratual mais sólida e uma das razões que justificam a
esperança que o outsourcing seja um dos maiores negócios do
futuro.

Eis o essencial sobre o conceito: «fazer ou comprar?». Este é o


dilema típico de um processo de outsourcing. Trata-se de um
processo através do qual uma organização (contratante) contrata
outra (subcontratado), na perspetiva de manter com ela um
relacionamento mutuamente benéfico, de médio ou longo prazo,
com vista ao desempenho de uma ou várias atividades, que a
primeira não pode ou não lhe convém desempenhar e que a
segunda é tida como especialista.

O conceito é particularmente útil para o gestor de uma PME que,


tendo de gerir recursos escassos, deverá concentrar energias no
seu negócio principal e nas competências-chave da empresa (ou
seja, aquilo que faz melhor do que a concorrência) e entregar o
restante a parceiros especializados.

Deste modo, poderá reduzir custos e correr menos riscos de estar a


trabalhar com produtos tecnologicamente obsoletos.

CONTEÚDO FORNECIDO POR:


ANIECA - Departamento de Formação e Qualidade

138
MECÂNICA E ELETRÓNICA

Introdução
A Diretiva nº 2003/59/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, •Objetivo nº 2 – conhecer as caraterísticas técnicas e os
de 15 de Julho, relativa à qualificação inicial e formação contínua funcionamento dos órgãos de segurança a fim de dominar o
dos motoristas de determinados veículos rodoviários afetos ao veículo, de minimizar o seu desgaste e de prevenir
transporte de mercadorias e passageiros foi transporta para a os seus
ordem jurídica interna através do Decreto-lei nº 126/2009. Esta a) disfuncionamentos: identificação dos componentes
Diretiva é aplicável aos motoristas por conta própria e por contra fundamentais das viaturas;
de outrem e visa assegurar a qualificação dos motoristas, tanto b) especificidades do circuito de travagem hidráulico-pneumático;
no acesso à atividade de condução, como durante o respetivo c) utilização dos travões e sistemas retardadores;
exercício, ao longo da sua vida ativa. d) procura do melhor compromisso entre a velocidade e a relação
de caixa;
Trata-se de uma qualificação mais vasta que aquela proporcionada e)utilização da inércia do veículo;
pelo ensino da carta de condução, na medida em que contempla f) utilização dos meios de desaceleração e de travagem nas
um amplo conjunto de circunstâncias da condução dos motoristas descidas;
abrangidos, versando ainda sobre especificidades dos sectores g) atitude a adotar em caso de falha;
de transporte rodoviário em que estes motoristas desenvolvem a h) deteção de pequenas avarias. algumas atividades, para facilitar
sua atividade. No fundo, este novo sistema de qualificação visa todo o processo de aprendizagem;
melhorar as condições de segurança, não só ao nível da segurança •Fornecer
rodoviária, como também ao nível da segurança dos próprios •Sugerir bibliografia para um maior aprofundamento das
motoristas. temáticas abordadas.

A formação, a ser prestada por entidades devidamente licencia-


das pelo IMT, abrange diversos aspetos relativos à execução das
Apresentação do manual
funções por parte dos profissionais em causa, como sendo:
O presente manual de formação está dividido em 5 capítulos,
mecânica e eletrónica; condução defensiva, económica e
agrupados em dois módulos, que abordam os principais temas
ambiental; conhecimento das regulações laborais e sectoriais
exigidos pela legislação, referentes à Mecânica e Eletrónica. O
aplicáveis; saúde, segurança ambiental, serviço e logística e por
primeiro módulo apresenta os componentes e funcionamento
último tecnologias de informação e comunicação.
dos componentes da cadeia cinemática: motor e transmissão. O
segundo módulo abrange os componentes de segurança, a parte
O manual de formação que se apresenta incide apenas sobre o
mecânica – travões e retarder – e a parte eletrónica.
conteúdo temático relativo ao aperfeiçoamento para uma
condução racional baseada nas regras de segurança, neste caso
Tratando-se de uma ferramenta de formação concebida para ser
para o módulo de Mecânica e Eletrónica, desenvolvidos no âmbito
utilizada em sala, pretendeu-se que a mesma fosse dotada de um
da formação inicial comum (FIC) e da formação de qualificação
carácter prático e funcional, para que o formador possa facilmente
inicial acelerada (FIA) dos motoristas. Os objetivos gerais deste
seguir as orientações metodológicas, de acordo com a tipologia
manual são os de conferir ao formador um conjunto de conteúdos
de formação a adotar (FIA ou FIC). Neste contexto, foram desen-
que lhe possibilitem a efetivação de uma planificação integrada e
volvidos dois manuais, cada um deles adaptado ao modelo de
eficaz dos seguintes objetivos programáticos:
formação a lecionar. O presente documento foi elaborado
•Objetivo nº 1 – conhecer as caraterísticas da cadeia cinemática
considerando o desenvolvimento de uma atividade formativa no
para otimizar a respetiva utilização:
âmbito da FIA.
a) curvas de binário e de potência;
b) curvas de consumo específico de um motor;
Assim, propõe-se para cada tema a abordar dentro de cada módulo
c) zona de utilização ótima do conta rotações;
principal a seguinte estrutura:
d) diagramas de sobreposição das relações das caixas de
•CAPÍTULO, com título indicativo da temática a abordar;
velocidade.
•DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS no início de

139
MECÂNICA E ELETRÓNICA
cada capítulo que orientam o formador para os objetivos de aprendizagem; as conclusões de cada atividade deverão ser
aprendizagem a atingir pelos formandos. É ainda apresentada a apresentadas pelos formandos, favorecendo deste modo, a
carga horária recomendada para cada capítulo, considerando a integração dos conhecimentos;
carga horária total prevista no âmbito da formação (neste caso, •O uso pontual dos métodos expositivos sempre em parceria com
7 horas); os métodos interrogativos: o método expositivo não deverá ser
•SUGESTÕES PARA O FORMADOR, com indicação de sugestões utilizado em demasia, podendo o formador recorrer a este método
para atividades a desenvolver com os formandos ou temas de para salientar ideias centrais e ou estimular a curiosidade dos
discussão de forma mais apelativa, incluídas no final de alguns formandos. Deverão ser favorecidos os métodos interrogativos de
capítulos. forma a favorecer o diálogo, a argumentação e a análise critica;
•Pouco uso do método demonstrativo: o formador não deverá
apresentar as soluções demonstrativamente, deverá antes
Perfil do formador fomentar a atuação dos formandos nesse sentido. No entanto, é
aconselhado o uso de exemplos como forma de clarificação da
Ao formador deste tema exigem-se conhecimentos ao nível de
aplicação dos temas na prática profissional.
componentes mecânicas e eletrónicas de veículos, especificamente
os relacionados com os conteúdos programáticos desta formação,
Quanto às técnicas pedagógicas são de salientar:
devendo o mesmo ter capacidade de dialogar com os vários
•O brainstorming como facilitador dos temas;
formandos, motoristas de veículos pesados de passageiros e de
•A estimulação dos trabalhos de grupo como facilitador do
mercadorias.
espírito de equipa;
•A importância fulcral do jogo pedagógico como técnica
As principais competências sociais e relacionais que o formador
privilegiada para a participação e envolvimento do formando.
deve possuir são:
•Capacidade para liderar situações;
O formador deverá por isso, cumprir quatro objetivos essenciais:
•Capacidade de estabelecer empatia;
•Potenciar novas competências;
•Capacidade de comunicação;
•Motivar e envolver os profissionais na aprendizagem e
•Capacidade de fomentar o espírito pró-ativo;
formação;
•Capacidade de adaptação às realidades do grupo;
•Sensibilizar e enquadrar os formandos face à necessidade de
•Respeito pelo percurso particular de cada formando.
futuras formações;
•Estimular no formando a vontade e a capacidade de alargar e
As principais competências pedagógicas que o formador deve
melhorar as competências relevantes para o seu desenvolvimento
possuir são:
pessoal e profissional. Importa salientar que a escolha de
•Capacidade de dinamizar grupos;
exercícios deverá estar sempre assente nos objetivos da formação
•Capacidade de criar situações-problema;
que serão apresentados em cada capítulo.
•Saber utilizar as metodologias e técnicas propostas;
•Domínio do programa PowerPoint para o desenvolvimento e
visionamento de slides; Estrutura
•Domínio dos principais meios audiovisuais.
Este manual de formação acompanha a estrutura exigida em
Dados os objetivos definidos para este curso, sugere-se o recurso a termos de legislação aplicável, através do desenvolvimento dos
metodologias práticas que contribuam para a reflexão individual e seguintes módulos:
de grupo e partilha de experiências e ainda a vivência de situações
próximas da realidade dos formandos, visando a aplicação das MÓDULO 1 – CADEIA CINEMÁTICA
vivências resultantes da sua atividade profissional. •Motor - No primeiro capítulo deste manual é analisado o modo
de funcionamento de um motor, seus principais elementos
Aconselha-se ainda, e sempre que possível: constituintes e grandezas que o caraterizam;
•O uso privilegiado dos métodos ativos: o formador tem ao seu •Transmissão – Este capítulo ocupa-se da caraterização dos
dispor algumas sugestões de atividades, pelo que as mesmas diferentes tipos de transmissão e modo de funcionamento;
deverão ser utilizadas como elemento facilitador da

140
MECÂNICA E ELETRÓNICA
MÓDULO 2 – COMPONENTES DE SEGURANÇA compressor, sendo, regra geral, arrefecido num permutador de
• Travões – Este capítulo apresenta os principais componentes do calor (intercooler) antes de entrar no motor.
sistema de travagem e seu funcionamento;
•Componente elétrica e eletrónica do veículo – No último capítulo
deste manual são analisados os sistemas elétricos e eletrónicos
existentes nos veículos, principais funções, elementos constituintes
e modo de funcionamento.
•Utilização de motor/transmissão/travões/pneus como
elementos de segurança – Neste capítulo são analisados os
comportamentos que contribuem para uma maior segurança na
condução, que o condutor deverá ter antes e durante uma viagem.

1. Cadeia cinemática

1. 1 - Motor
Duração
Objetivos Gerais Objetivos específicos
recomendada
• Perceber quais os
principais componentes e ciclo
de funcionamento do motor
• Identificar os principais
• Perceber o que
componentes do motor e Nos veículos pesados, regra geral, os motores são a 4 tempos,
representam binário e
perceber o seu
potência: interpretação das utilizam diesel como combustível e possuem, tipicamente, uma
funcionamento arquitetura em que os cilindros são dispostos lado a lado – em
curvas caraterísticas do motor
• Compreender de que 2,5 horas
forma a gestão do motor
• Entender o significado de linha – ou adotam uma configuração em que os cilindros são
consumo específico e banda dispostos frente a frente, com um determinado ângulo de
influencia o consumo e
verde
qual a melhor forma de o inclinação entre eles – configuração em V.
• Identificar como a gestão
utilizar
do motor/transmissão
permite reduzir o consumo de
combustível

1. 1. 1 - Funcionamento
O motor é o elemento do veículo responsável por transformar a
energia química contida no combustível em energia mecânica,
passível de ser utilizada para mover o veículo.
1. 1. 2 - Componentes e ciclo de operação
Os motores podem definir-se de acordo com o número de cilindros,
o ciclo, a arquitetura e o combustível que utilizam. Contudo, O motor é constituído por:
independentemente do tipo de combustível utilizado, é sempre •Cabeça do motor, onde estão localizadas as válvulas de
necessária a presença de ar dentro do motor. Antes de ser admitido admissão e escape e onde é efetuado o seu comando;
na câmara de combustão, o ar é filtrado de modo a que elementos •Válvulas, que permitem a entrada de ar e a saída dos gases
sólidos em suspensão não entrem para o motor. Nos motores resultantes da combustão;
Diesel recentes, o ar é comprimido através da passagem por um •Êmbolo, que permite transformar o aumento de pressão

141
MECÂNICA E ELETRÓNICA
resultante da combustão em trabalho útil para movimentar o o propósito do sistema de injeção é introduzir o combustível no
veículo; cilindro na forma de um spray finamente pulverizado, recorrendo
•Bloco do motor, onde o êmbolo efetua o seu movimento linear; para isso a elevadas pressões de injeção (>400bar).
•Biela e cambota, que permitem a transformação do movimento
linear do êmbolo em movimento de rotação. O sistema de injeção de combustível é, de um modo simplificado,
composto pelo reservatório, pelo filtro, por uma bomba de baixa
pressão e uma de alta pressão alta pressão e pelos injetores.
Dependendo do tipo de motor, existem diferentes configurações
para o conjunto bomba e injetor. Estes elementos controlam a
pressão da injeção, o doseamento do combustível, assim como a
capacidade deste se misturar com o ar presente na câmara de
combustão. O sistema de injeção pode adotar diferentes
configurações, nomeadamente, bomba injetora, common rail ou
Existem diversos tipos de motor, que podem ser caraterizados injetor-bomba.
consoante o ciclo de operação (2 tempos ou 4 tempos) e modo de
ignição do combustível (Otto – motor a gasolina ou Diesel). De BOMBA INJETORA
entre estas tecnologias, o motor Diesel a 4 tempos é aquela que é O sistema de bomba injetora encontra-se em veículos mais
utilizada em exclusivo pelos veículos pesados modernos, pelo que antigos. A bomba é atuada pelo motor e possui uma ligação ao
é sobre esta que será focado o restante manual. pedal do acelerador de forma a regular a quantidade de
combustível a ser injetado pelos vários injetores alimentados pela
Para a transformação da energia presente no combustível em bomba central. A figura seguinte apresenta um exemplo de um
energia mecânica, um motor Diesel a 4 tempos compreende os sistema deste tipo.
seguintes passos:
• Admissão: o êmbolo encontra-se no ponto morto superior,
abre(m)-se a(s) válvula(s) de admissão e à medida que o êmbolo
desce até ao ponto morto inferior, ar fresco é aspirado;
•Compressão: a(s) válvula(s) de admissão fecha(m) e o ar
admitido no tempo anterior é comprimido à medida que o êmbolo
sobe do ponto morto inferior ao ponto morto superior, com o
consequente aumento de pressão e temperatura na câmara de
combustão. Perto do final deste movimento é efetuada a injeção
de combustível, dando-se a ignição no momento em que as COMMON RAIL
condições de temperatura e pressão se encontrarem favoráveis Em alguns motores modernos utiliza-se um sistema de alimentação
para a auto-ignição do combustível; de rampa comum – common rail – com o objetivo de fornecer
• Expansão: é o tempo motor. O aumento de pressão no interior sempre a máxima pressão de injeção possível, de modo a
da câmara de combustão força o êmbolo a deslocar-se do ponto promover condições de mistura homogénea.
morto superior ao ponto morto inferior; O controlo da injeção de combustível é feito no próprio injetor e
•Escape: abre(m)-se a(s) válvula(s) de escape, sendo a saída dos a definição do início e da duração da injeção é efetuada por uma
gases impulsionada pelo movimento ascendente do êmbolo. No unidade eletrónica de controlo do motor (ECU1).
final deste evento o êmbolo encontra-se no ponto morto superior,
a(s) válvula(s) de escape fecha(m), iniciando-se novamente o
tempo de Admissão.

O controlo das válvulas é efetuado pela árvore de cames, que se


encontra situada na cabeça do motor. As válvulas estão
coordenadas com o movimento dos cilindros através de uma
ligação à cambota pela correia de distribuição. Num motor Diesel

142
MECÂNICA E ELETRÓNICA
Como se pode observar na Figura 7, o combustível armazenado no demasiado elevada. A refrigeração é efetuada através de um
depósito (1) é enviado através da conduta de baixa pressão (a) líquido refrigerante de base aquosa, que circula dentro do bloco do
para a bomba de alta pressão (2), que envia combustível para a motor, extraindo calor dos componentes e libertando
rampa comum (5) pela conduta de alta pressão (b) que alimenta posteriormente esse calor no radiador. Cerca de 30% da energia
seis injetores (7, um por cada cilindro). O circuito de combustível contida no combustível é perdida através do sistema de
tem ainda uma linha de retorno para o depósito (c), por onde o refrigeração. O termóstato presente no circuito de refrigeração
excesso de combustível é devolvido. Este sistema permite um garante que a temperatura do líquido refrigerante se mantém
controlo muito preciso do tempo de injeção, uma vez que este dentro dos limites da temperatura ideal – cerca de 90ºC.
é feito com o auxílio de atuadores elétricos e que a pressão do
combustível não varia significativamente durante a injeção.

INJETOR-BOMBA
O sistema injetor bomba possui, associado a cada injetor, uma
bomba de alta pressão. O comando da bomba é acionado por uma
árvore de cames, simplificando deste modo o circuito de injeção,
evitando tubagens a alta pressão entre a bomba e cada cilindro. ESCAPE
A linha de escape inicia-se no coletor de escape, para onde são
Independentemente do sistema usado, os injetores são o último direcionados os gases da combustão. Ao longo da linha de escape
estágio do combustível antes da entrada na câmara de combustão encontram-se vários elementos que permitem, por um lado,
do motor. O mau estado de conservação destes componentes pode reutilizar os gases de escape, e por outro, tratar os poluentes que
traduzir-se num excesso de consumo de combustível, perda de se formam no motor, transformando-os em gases menos nocivos.
performance do motor e aumento das emissões poluentes, sendo
os efeitos mais óbvios a emissão de partículas e o funcionamento Assim, os gases de escape são reutilizados para a compressão do
irregular do motor. ar de admissão – através da passagem num turbo-compressor
– sendo que uma parte pode ser reintroduzida no motor – EGR2 –
como forma de reduzir a emissão de poluentes.

Excluindo a parcela de gás de escape reintroduzida no motor, o


restante gás segue pela linha de escape em direção à atmosfera.
Contudo, antes de serem expelidos os gases de escape podem
passar por um conjunto de componentes que permitem reduzir a
emissão de poluentes, nomeadamente catalisadores e filtros de
partículas.
1. 1. 3 - Fluxos energéticos Os gases resultantes da combustão são expelidos a pressões e a
temperaturas bastante elevadas (300-400ºC). Apesar de se utilizar
É importante referir que nem todo o combustível introduzido no
parte desta energia residual para efetuar a compressão do ar
motor é utilizado para a propulsão do veículo. Tipicamente,
admitido, grande parte é desperdiçada, representando cerca de
apenas cerca de 1/3 do combustível consumido é transformado
30% da energia presente no combustível.
em energia útil para movimentar o veículo. Devido a ineficiências
do processo, parte da energia é desperdiçada pelo sistema de
refrigeração, outra parte pelo escape e a restante pelos atritos
internos do motor.

REFRIGERAÇÃO
Dentro do motor atingem-se temperaturas muito elevadas devido
ao processo de combustão. A refrigeração impede que os
componentes mecânicos do motor trabalhem a uma temperatura

143
MECÂNICA E ELETRÓNICA
LUBRIFICAÇÃO seguinte ilustram o andamento dos valores de binário e potência
Pensa-se em geral no óleo do sistema de lubrificação como sendo típicos para um motor Diesel moderno. Na curva do binário (a
uma substância que reduz o atrito entre superfícies móveis. No curva inferior) verifica-se este atinge o seu máximo num intervalo
entanto esta não é a única função do sistema de lubrificação do intermédio de rotações, contrapondo a curva da potência (a curva
motor. O óleo ao circular no motor através deste sistema, absorve superior), na qual é possível verificar que o seu valor máximo
calor do motor e transporta-o até ao seu reservatório, o cárter. É aí ocorre próximo da rotação máxima do motor.
que nos motores comuns o óleo vai arrefecer, funcionando assim
como um agente de arrefecimento adicional do motor.

1. 1. 4 - Binário e Potência

1. 1. 4. 1 - Definição de Binário e Potência


Em termos de utilidade para uma determinada função um motor
é caraterizado por duas grandezas: binário e potência. Estas
duas grandezas estão relacionadas entre elas pela velocidade de
rotação do motor.

O binário é uma medida da força disponível no motor e tem como As curvas apresentadas indicam os valores máximos disponíveis
unidade o Nm (Newton.metro). O binário depende da pressão a cada rotação, assumindo que o acelerador está a fundo. No
gerada pelos gases de combustão no interior do cilindro e das entanto, para cada rotação, consoante a posição do acelerador irá
dimensões - cilindrada - do motor, ou seja, para a mesma pressão, ser gerado maior ou menor binário e potência. A carga do motor a
um motor com mais cilindrada terá um binário maior. cada instante é determinada pela relação entre o binário gerado e
o binário máximo disponível na rotação em que está a operar.
Devido ao aumento de pressão
decorrente da combustão,
gera-se uma força que dá
1. 1. 4. 2 - Consumo específico e banda
origem ao deslocamento do verde
êmbolo. Essa força é
transmitida através da biela Tal como o binário e a potência, o consumo de combustível não é
até à cambota do motor, origi- igual ao longo de toda a gama de rotações do motor. O
nando o movimento de rotação. A grandeza que gera o movimento consumo específico traduz a eficiência da operação do motor, pelo
de rotação da cambota designa-se por binário. que quanto mais eficiente for o funcionamento do motor, menor
será o consumo específico, ou seja será menor a quantidade de
A potência, em unidades de Watt, W ou mais vulgarmente em combustível necessária para obter a mesma energia mecânica
cavalos, cv, resulta do produto entre o binário e rotação, o que pretendida. Assim, alguns veículos encontram-se já equipados
implica que para o mesmo binário, uma maior velocidade de com conta rotações com esquemas de cores, indicando qual a
rotação origina maior potência. A potência pode traduzir-se pela faixa ideal de rotação do motor. Nesta zona o binário encontra-se
capacidade de aceleração, capacidade de vencer declives com próximo do seu valor máximo e o consumo específico é mais baixo
maior velocidade ou transporte de cargas mais pesadas, sendo (Figura 13).
uma forma de medir as performances máximas de um veículo.

Para caraterizar completamente o motor é ainda necessário


introduzir a variável rotação, uma vez que o binário varia ao longo
da gama de rotações do motor e a potência resulta do binário e
da rotação. A título de exemplo, as curvas representadas na figura

144
MECÂNICA E ELETRÓNICA
1. 2 - Transmissão
Duração
Objetivos Gerais Objetivos específicos
recomendada
• Identificar os principais
componentes dos sistemas de
• Conhecer os
transmissão
componentes e perceber
• Identificar as diferenças
o funcionamento dos 1,5 horas
entre transmissão manual e
diferentes tipos de
A Figura 14 ilustra o que acontece ao consumo específico em automática
transmissão
• Perceber o funcionamento
função da rotação e do binário, sendo de realçar que as áreas do diferencial
coloridas a verde traduzem as zonas onde os consumos específicos
são mais baixos. No capítulo anterior foi feita uma descrição do funcionamento do
motor, do seu modo de atuação e das grandezas mais relevantes
A zona menos penalizada, que se encontra a representada a verde, para a sua caraterização. Neste capítulo será tratado o tema da
numa faixa que compreende a gama de rotações de binário transmissão, tipos e modo de funcionamento.
máximo, mostra que em situações de carga elevada (entre 80 a
100%) e baixas rotações é possível circular com baixo consumo A transmissão compreende uma série de equipamentos cujo
específico. Este fato traduz-se numa maior eficiência do motor, objetivo é
significando que para a mesma potência se verifica um menor compatibilizar a dinâmica do veículo com as caraterísticas do
consumo de combustível. Pode então concluir-se que, em condições motor, ou seja, rotação e binário.
semelhantes de circulação (potência requerida semelhante), a
gestão do motor tem influência direta sobre o consumo.

Para atingir estas condições de consumo específico baixo, é


necessário circular com a mudança mais alta possível, de modo a
manter o motor entre as 1000 e as 1500-1600 RPM (rotações por
minuto).
Um veículo rodoviário tem uma gama de utilizações muito variada,
SUGESTÕES PARA O FORMADOR desde a baixa velocidade para a realização de manobras, até
É possível obter alguns dos componentes descritos junto de oficinas velocidades relativamente elevadas, quando circula em
(êmbolos, injetores, etc.) para que na aula possam ser autoestrada. Por outro lado, é necessário que, independentemente
apresentados aos formandos. da velocidade do veículo, se consiga tirar o melhor partido do
motor. Desta forma, é necessária a presença da caixa de
O uso de jogos de construção (lego, meccano, etc.) permite velocidades para que, através das várias mudanças se consiga
demonstrar alguns dos conceitos transmitidos (ciclo de usufruir de uma faixa de utilização do motor que vai, por exemplo,
funcionamento do motor e diferentes arquiteturas). desde as 700 às 3000 RPM, e que permite a circulação do veículo a
várias velocidades.
É recomendado o recurso a animações disponíveis nas páginas de
internet incluídas na bibliografia para ilustrar o funcionamento de O movimento é transmitido às rodas através de um diferencial,
alguns dos sistemas descritos. onde se define uma relação de transmissão final. Existem vários
tipos de transmissões, das quais duas são comuns em veículos
SITES DE INTERESSE pesados: manual e automática. Ambos os tipos de transmissão
http://auto.howstuffworks.com/engine.htm usam uma caixa de velocidade que, consoante a mudança
http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_diesel selecionada, vai ter uma determinada relação de transmissão entre
http://auto.howstuffworks.com/diesel.htm o veio de entrada da caixa de velocidades (que está ligado ao
http://www.descobrirpeugeot.com/content/view/177/182/ motor) e o veio de saída (que está ligado ao diferencial e, após

145
MECÂNICA E ELETRÓNICA
este, às rodas). O modo como essa mudança é selecionada livremente, não havendo ligação ao veio que comunica com o
determina a diferença entre os dois tipos de transmissão. diferencial. Só quando uma mudança é selecionada é que é
acoplado ao veio de saída a engrenagem correspondente, que vai
traduzir a transmissão selecionada (Figura 18).
1. 2. 1 - Transmissão manual
Através da transmissão manual o condutor tem o controlo total
sobre a gestão da caixa, isto é, tem liberdade de selecionar a
mudança usada a cada instante. Para que o consiga fazer é
necessário que, cada vez que altera a mudança engrenada, o veio
proveniente do motor seja desacoplado da caixa de velocidades,
e para tal é usada uma embraiagem, sobre a qual o condutor
também tem controlo. A embraiagem consiste em dois ou mais
discos que, ao serem pressionados uns contra os outros garantem
a ligação entre dois veios em rotação a que estão ligados. Quando
Supondo que se pretende engatar a 1ª relação de caixa,
o condutor carrega no pedal da embraiagem o que faz é afastar
pressiona-se o pedal de embraiagem, deixando deste modo de
os discos de modo a que os veios a que estão acoplados rodem
existir uma ligação entre o motor e os restantes componentes
independentemente.
do sistema de transmissão: caixa de velocidades, diferencial e
rodas. Seguidamente, desloca-se o seletor para engatar a primeira
A embraiagem permite não
velocidade. Neste momento vai ser acoplado ao veio de saída a
só desacoplar o motor dos
engrenagem correspondente à 1a velocidade. A ligação entre o
restantes componentes da
veio e a roda dentada que diz respeito à primeira mudança é
transmissão como também
efetuada gradualmente através de um sincronizador, de modo
permite que as transições entre
ajustar a velocidade de rotação dos veios e a suavizar as
velocidades de rotação,
passagens de caixa. Quando a passagem de caixa é mal efetuada,
aquando das passagens de
é audível um barulho proveniente dos sincronizadores.
caixa, ocorram suavemente.
Através das relações entre as engrenagens, é possível obter uma
No interior da caixa de velocidades de um veículo pesado existem
relação de transmissão entre a rotação e binário à entrada da
três eixos que podem ser ligados por intermédio de vários pares de
caixa (e à saída do motor) e à saída da caixa de velocidades. Esta
engrenagens (um par por cada mudança). Consoante as
relação de transmissão é dada pela relação de diâmetros (ou
engrenagens que estão acopladas aos eixo assim a relação de
dentes) entre as rodas dentadas.
transmissão selecionada.
Uma vez que a cada mudança corresponde uma relação de
transmissão, mudanças que permitem velocidades do veículo mais
elevadas implicam binários mais baixos nas rodas, o que leva a
que o veículo tenha menos força quando circula com mudanças
mais elevadas. Num veículo com transmissão manual, a caixa de
velocidades tem de ser observada também como um elemento
de segurança. Desta forma, em circulação o veículo deve possuir
sempre uma mudança engrenada, adequada à sua velocidade. Por
exemplo em descidas deve ser mantida uma mudança baixa de
Na Figura 17 é visível de um modo esquemático, o
forma a usar o conjunto motor/caixa como travão ou limitador de
funcionamento de uma caixa de velocidades manual. Nesta caixa
velocidade.
o veio que recebe o binário do motor está alinhado com o veio de
saída da caixa, existindo em paralelo um terceiro veio que os une
através de vários conjuntos de engrenagens. Em posição neutral –
ponto-morto – todas as engrenagens do veio de saída rodam

146
MECÂNICA E ELETRÓNICA

1. 2. 2 - Transmissão automática embraiagens (para gerir a relação entre os diferentes


componentes da caixa de velocidades, pelo que não se deve
Face à transmissão manual, a automática dispensa o pedal de confundir com a embraiagem tradicional) que permite ter várias
embraiagem, tornando-se mais cómoda para o condutor. Contudo, relações fixas de transmissão partindo do esquema da Figura 21.
continua a existir acoplamento/desacoplamento entre o motor e
a caixa de velocidades embora essa função tenha deixado de ser Este conjunto de embraiagens permite que, consoante a mudança
efetuada pela embraiagem, existindo um conversor de binário selecionada pelo sistema de gestão da caixa sejam acopladas
para esse efeito. as engrenagens devidas aos veios de entrada e saída da caixa
velocidades. Na tabela seguinte é apresentado um exemplo do
funcionamento das engrenagens planetárias.

Contudo, quando dois elementos da engrenagem planetária estão


fixos, a relação de transmissão é 1:1, ou seja, os valores de
velocidade de rotação e binário à saída da caixa de velocidades
são iguais aos provenientes do motor.

O conversor de binário permite que o motor e a transmissão Geralmente é utilizada mais do que uma engrenagem planetária
operem de forma independente, sem ligação rígida, uma vez que de modo a obter o número de relações de transmissão adequado
a transmissão de binário é feita através de um fluido. ao funcionamento do veículo.

O conversor de binário permite também que a baixas velocidades A seleção da mudança é feita automaticamente de acordo com a
de rotação do motor e do veículo, o binário transferido seja muito programação da caixa de velocidades, sendo que essa
reduzido e seja possível parar o veículo com a aplicação dos programação é feita de acordo com o serviço esperado para o
travões. veículo onde a caixa está instalada. A seleção da mudança tem em
conta a rotação do motor, a velocidade do veículo e a posição do
A transmissão em si é também diferente, uma vez que nas caixas acelerador.
de velocidades automáticas se utiliza um sistema de engrenagens
planetárias para ter várias relações de transmissão. 1. 2. 3 - Diferencial
O diferencial é o último componente na transmissão de movimento
antes das rodas do veículo. No diferencial é efetuada a última
relação de transmissão, designada por relação final, tendo como
principal função permitir que as rodas motrizes rodem a diferentes
velocidades.

Nas engrenagens planetárias cada elemento pode ser fixo ou


utilizado como entrada de binário vindo do motor ou como saída
para o diferencial. Para esse efeito, é utilizado um conjunto de

147
MECÂNICA E ELETRÓNICA
Quando um veículo tem de efetuar uma curva, a roda interior tem
de percorrer um trajeto mais curto que a roda exterior. Se ambas
rodassem à mesma velocidade, seria necessário que uma delas
escorregasse em relação à estrada, com os consequentes esforços
adicionais impostos na transmissão (Figura 23).

SUGESTÕES PARA O FORMADOR


É possível obter alguns dos componentes descritos junto de oficinas
(veios, rodas dentadas, etc.) para que na aula possam ser
apresentados aos formandos.
O uso de jogos de construção (lego, meccano, etc.) permite
demonstrar alguns dos conceitos transmitidos (diferencial, relação
O diferencial só é necessário nos eixos motrizes, uma vez que em de transmissão). É recomendado o recurso a animações disponíveis
eixos não motrizes as rodas estão livres. nas páginas de internet incluídas na bibliografia para ilustrar o
funcionamento de alguns dos sistemas descritos.
Quando um veículo se desloca a direito, em condições ótimas de
aderência, as rodas motrizes deslocam-se à mesma velocidade, SITES DE INTERESSE
fazendo com que as engrenagens representadas a vermelho não http://auto.howstuffworks.com/transmission.htm
rodem (Figura 24). Estas engrenagens vão permitir que quando o http://auto.howstuffworks.com/automatic-transmission.htm
veículo curva haja uma diferença de rotação entre os dois veios, http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/towing/towing-
pois ao rodarem, permitem o movimento relativo de um eixo face capacity/information/torque- converter.htm
ao outro. http://auto.howstuffworks.com/differential.htm
http://en.wikipediaºrg/wiki/Differential_(mechanical_device)

2. Componentes de segurança
Contudo, em condições de aderência adversas, se considerarmos,
por exemplo, que o lado esquerdo do veículo está assente em gelo 2. 1 - Órgãos de segurança
e o lado direito em alcatrão, este tipo de diferencial tem pouca
utilidade, uma vez que transfere mais binário para a roda que Objetivos Gerais Objetivos específicos
Duração
tem menor resistência imposta – a que está assente em gelo –, recomendada
fazendo com que o carro praticamente não se mova. • Compreender a função
• Identificar os componentes
fundamentais
desempenhada pelos
• Identificar os órgãos de
Para evitar esta situação, pode ser usado um diferencial de componentes 0,5 horas
segurança
escorregamento limitado (LSD3) que no caso de se verificar uma fundamentais de um
• Perceber a função de cada
diferença de rotação excessiva entre as rodas, possui molas que veículo
órgão
ativam uma embraiagem de modo a que as rodas do lado
esquerdo e lado direito rodem à mesma velocidade. Os veículos integram um conjunto de sistemas que se encontram
diretamente ligados à segurança ou que de alguma forma a
Em veículos de tração integral existem ainda diferenciais para influenciam, sendo de referir, os sistemas de travagem, direção, os
regular o binário entre as rodas da frente e de trás (Figura 30). pneus e a suspensão, o sistema de iluminação e a carroçaria.

TRAVÕES
Os travões destinam-se a permitir reduzir a velocidade ou parar

148
MECÂNICA E ELETRÓNICA
um veículo, sendo um dos sistemas fundamentais para a sua CARROÇARIA
segurança. Tanto em circulação normal como em caso de A carroçaria é a parte do veículo destinada ao transporte dos
emergência, este é o sistema ligado à segurança do veículo a que passageiros e da carga. Para além dos aspetos funcionais e
os condutores mais recorrem, dependendo do seu correto estéticos, a forma da carroçaria influencia tanto o consumo de
funcionamento parte importante da segurança na circulação dos combustível como a própria estabilidade do veículo. Uma
veículos. carroçaria que durante o movimento apresente um perfil que
provoque resistência ao fluir do ar, consome mais energia do que
DIREÇÃO uma carroçaria com um perfil que permita que o ar flua
A direção é um conjunto de órgãos que se destinam a orientar as suavemente à sua volta. Por outro lado, a carroçaria deve ser
rodas da frente dos veículos, na direção pretendida, devendo ser concebida de forma a que o ar que circula à sua volta não tenda a
fácil de manejar e apresentar uma tendência para endireitar as elevar o veículo, reduzindo-lhe a estabilidade. Também a
rodas depois de se efetuar uma curva, contribuindo para a resistência aos ventos laterais é um fator importante na
estabilidade do veículo. estabilidade dos veículos, devendo a carroçaria apresentar a
menor resistência aos ventos laterais possível.
SUSPENSÃO
A suspensão tem como finalidade, reduzir a transmissão de
vibrações devidas às irregularidades do pavimento, ao veículo e
2. 2 - Travões
seus ocupantes, assegurando ainda um contato permanente do
pneu com o piso, de forma a garantir a máxima aderência deste Duração
Objetivos Gerais Objetivos específicos
recomendada
em todas as condições de circulação. Para além deste aspeto, a
• Identificar os diferentes
suspensão deve apresentar um equilíbrio entre uma baixa rigidez
tipos de travão (disco, tambor)
que assegure o conforto dos passageiros do veículo e uma rigidez e modo de atuação
elevada que assegure a estabilidade do veículo em curva ou • Compreender o
(pneumático e hidráulico)
funcionamento dos
mudanças de direção rápidas. principais componentes do
• Perceber o funcionamento
1 hora
dos sistemas de retarder
sistema de travagem do
(escape, hidráulicos e elétricos)
PNEUS veículo
• Identificar os cuidados a ter
Para além de permitirem a absorção dos choques resultantes das com a utilização dos sistemas
irregularidades do piso, através da sua deformação, os pneus dão de travagem e retarder
ao veiculo a aderência necessária para a sua tração, permitindo
que o veículo acelere, reduzindo a tendência para a derrapagem Enquanto o motor e o sistema de transmissão têm como objetivo
nas curvas e permitindo paragens rápidas quando os travões são permitir o movimento do veículo, a função dos travões é diminuir
atuados. Sendo os pneus os elementos que asseguram a ligação a velocidade de circulação ou parar o veículo. A travagem consiste
do veículo ao pavimento, do seu bom estado depende em larga na dissipação da energia que o veículo possui ao deslocar-se a uma
medida a segurança dos veículo. determinada velocidade (energia cinética), transformando-a, por
fricção, em calor libertado nos travões.
ILUMINAÇÃO
O sistema de iluminação e sinalização dos veículos, constitui Consoante o peso e a função a que o veículo se destina, podem ser
também um dos sistemas fundamentais para a segurança de empregues diferentes tipos de sistemas de travagens, quer seja
um veículo, assegurando o ver e ser visto. São diversas as luzes pelo tipo de componentes e atuadores (discos, tambores) quer pelo
que integram o sistema de iluminação, destinando-se algumas a circuito atuante (hidráulico, pneumático).
iluminar a via, como as luzes de cruzamento ou as de máximos,
ou a assinalar a presença do veículo, como as luzes de presença
da frente e da retaguarda, ou as luzes avisadoras de perigo. Do 2. 2. 1 - Componentes do sistema de
seu correto funcionamento depende a segurança na circulação dos travagem
veículos em condições de visibilidade reduzida, nomeadamente de
noite ou com nevoeiro. Independentemente do tipo de sistema de travagem empregue é
necessário que este seja robusto e fiável. Desta forma, é

149
MECÂNICA E ELETRÓNICA
impreterível que o circuito de travagem seja de algum modo
capaz de responder, mesmo no caso de existir uma fuga. Assim,
utilizam-se dois circuitos independentes, em que cada circuito é
responsável por duas rodas. Consoante a distribuição de peso do
veículo, utiliza-se uma configuração na qual cada circuito controla
um dos eixos, para veículos com mais peso no eixo dianteiro, ou
em X, no caso de veículos com mais peso no eixo traseiro
(Figura 26). Em veículos pesados ambas as configurações são A maxila envolve o disco e suporta as pastilhas de travão. Inter-
utilizadas. namente possui um ou mais êmbolos que pressionam as pastilhas
contra o disco de travão, de modo a aumentar a fricção entre o
disco e as pastilhas. A maxila é também o elemento que faz a
ligação ao circuito de travagem para acionamento dos êmbolos.

2. 2. 1. 2 - Travões de tambor
O tambor é um cilindro fechado, oco, que contém os calços,
êmbolos, molas e tirantes, e que gira à velocidade das rodas,
sendo a parede interior constituída por um material semelhante ao
dos discos de travão. Os calços são pressionadas contra as paredes
Tal como foi referido anteriormente, o princípio do sistema de internas do tambor devido à ação dos êmbolos e das molas e
travagem consiste em dissipar a energia cinética do veículo, tirantes.
transformando-a em calor, traduzindo-se numa redução de
velocidade ou paragem do veículo. Neste processo são,
geralmente, utilizadas duas configurações distintas: travões de
disco ou tambores.

2. 2. 1. 1 - Travões de disco
Os travões de disco, cuja designação é algo redutora, já que o disco Os travões de tambor atuam sobre o mesmo princípio dos discos de
é apenas um dos vários componentes deste sistema de travagem, travão, contudo a sua construção faz com que sejam mais simples,
são essencialmente constituídos por três elementos: maxilas, baratos e robustos, embora de uma forma geral tenham menos
elementos de fricção (pastilhas de travão) e discos. capacidade de dissipação de calor e portanto menor resistência à
fadiga.

2. 2. 2 - Circuito hidráulico de travagem


Os sistemas de travagem hidráulico utilizam óleo como fluido
transmissor da pressão exercida no pedal de travão, fazendo-a
O disco circula à mesma velocidade das rodas, sendo atuado pelas chegar aos êmbolos que atuam sobre as pastilhas ou calços.
pastilhas de travão. Uma vez que existe libertação de calor Contudo, a força que uma pessoa consegue exercer no pedal do
durante o processo de travagem, o disco aquece (Figura 33), travão é insuficiente, sendo necessários elementos ao longo do
pelo que atualmente é muito comum encontrar discos com rasgos circuito de travagem que permitam multiplicar a força aplicada
centrais – ventilados –, para promover o arrefecimento, uma vez de modo a exercer uma força de travagem suficiente para parar o
que o sobreaquecimento dos discos de travão é responsável pelo veículo.
gradual aumento da distância de travagem devido a fadiga.

150
MECÂNICA E ELETRÓNICA
Quando o travão é pressionado, mantendo-o em funcionamento enquanto não for atingido uma
é atuado um componente - determinada pressão de ar no reservatório. Quando esse valor é
servo-freio - com o intuito de atingido, o compressor desliga e, em caso de necessidade, é
multiplicar a pressão exercida expelido algum ar comprimido para a atmosfera. Se o nível de
pelo pedal do travão. O pressão baixar, o compressor é novamente acionado.
servo-freio usa uma conduta (1)
para ligar o coletor de admissão Quando se pressiona o travão (3) algum do ar do circuito de
ou uma bomba de vácuo a uma travagem é libertado, o circuito perde pressão e as pastilhas ou
câmara (2) onde um êmbolo de grandes dimensões (3) que se calços entram novamente em contato com os discos ou tambores,
encontra ligado ao cilindro principal (4) é usado como travando assim o veículo. Ao libertar o travão o êmbolo (4) o
multiplicador de força para o pedal de travão (5), atuando de circuito é pressurizado, soltando assim os travões Consoante o
seguida um êmbolo e gerando pressão para os dois circuitos veículo e a função a que se destina, o circuito pode ter pressões
hidráulicos - um para cada par de rodas. entre 6 e 20bar, ou seja, entre 6 a 20 vezes o valor da pressão
atmosférica.
Quanto maior a pressão aplicada
no pedal de travão, maior a
pressão que será exercida no
fluído pelos êmbolos do cilindro
principal e maior a pressão
exercida sobre os êmbolos dos
travões de disco ou de tambor.

2. 2. 3 - Circuito pneumático de travagem


No circuito de travagem pneumático utiliza-se ar comprimido para
2. 2. 4 - Retarder
acionar os elementos de travagem do veículo. Nos veículos de
Ao contrário dos travões, que permitem parar o veículo, o retarder
elevado peso bruto utiliza-se este tipo de sistema de travagem.
tem como função contribuir para o seu abrandamento. Desta
forma, é utilizado como equipamento de segurança, sendo por
exemplo utilizado em autocarros e em pesados de mercadorias.

O retarder consiste num elemento de travagem adicional,


independente do sistema de travagem de serviço, cujo objetivo é
auxiliar o sistema principal de travagem.
Neste tipo de veículos, por questões de segurança, os travões estão
Em caso de uso intensivo, tal como mencionado anteriormente, os
normalmente atuados sob o efeito de uma mola (4), ou seja, se o
sistemas de travagem convencionais de discos ou tambores tendem
circuito de travagem não estiver pressurizado, os travões (5) estão
a aquecer em demasia e a perder eficácia. Por exemplo, em
atuados e o veículo não se move. Sendo assim, antes de poder
estrada de montanha, a permanente atuação do travão de serviço
arrancar com o veículo é necessário pressurizar o circuito de ar de
leva ao aquecimento destes e à consequente diminuição da
modo a conseguir contrariar o efeito da mola e destravar o veículo.
capacidade de resposta. Para evitar este fenómeno, pode utilizar-se
O compressor de ar (1) está geralmente colocado junto ao motor
o retarder como auxiliar do travão de serviço, pois para além de
e é atuado por este. Depois de comprimido, o ar segue para dois
ser independente deste é insensível à utilização num longo período
reservatórios (2): um para o eixo dianteiro e outro para o(s)
de tempo.
eixo(s) traseiro(s) e eventual reboque ou componente articulada.
De forma a controlar a correta pressão de funcionamento existe
Os retarders diferenciam-se pela localização, pois podem estar
um regulador de pressão que atua sobre o compressor,

151
MECÂNICA E ELETRÓNICA
colocados entre o motor e a transmissão – retarders primários – uma resistência ao movimento sempre que o retarder é atuado.
ou entre a transmissão e os eixos motrizes – retarders secundários.
No caso do retarder hidráulico, este possui um rotor – conjunto de
Podem ainda diferenciar-se pelo seu modo de funcionamento, pás ligadas ao veio de transmissão por um conjunto de
sendo divididos nas seguintes tipologias: engrenagens – e um estator, que contém pás, estacionárias,
solidárias com o invólucro do retarder. Quando o retarder é atuado
RETARDER DE ESCAPE pelo condutor vai dissipar parte da energia de rotação do veio para
O retarder de escape utiliza o motor como travão. Admitindo o óleo que está dentro do retarder, sendo que esta força resistente
que o veículo se encontra engatado e o acelerador não está a ser é comunicada às rodas pelo veio de transmissão, resultando num
utilizado, é possível aproveitar a ligação mecânica entre motor abrandamento do veículo.
e rodas. Através da utilização de uma válvula (2) na linha de
escape, quando se atua o retarder, a válvula fecha ligeiramente, O uso intensivo do retarder hidráulico provoca aquecimento do
impondo resistência à saída dos gases de escape e aumentando óleo, sendo necessário utilizar um radiador de óleo ou dissipar o
a pressão dentro do cilindro. Desta forma, o êmbolo tem maior calor no circuito de refrigeração do motor.
dificuldade em expulsar os gases que se encontram no interior do
cilindro durante o tempo de escape, rodando a menor velocidade.
Esta diminuição da velocidade é transmitida às rodas, permitindo
abrandar o veículo.

SUGESTÕES PARA O FORMADOR


É possível obter alguns dos componentes descritos junto de oficinas
(pastilhas de travão, discos, tambores) para que na aula possam
ser apresentados aos formandos. É recomendado o recurso a
animações disponíveis nas páginas de internet incluídas na
bibliografia para ilustrar o funcionamento de alguns dos sistemas
RETARDER ELÉTRICO descritos.
O retarder elétrico funciona como um gerador elétrico em que a
eletricidade gerada é dissipada num circuito sob forma de calor SITES DE INTERESSE
nos elementos do próprio retarder. http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
O corpo do retarder elétrico possui disc-brake.htm
um estator fixo e um rotor que http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
roda à mesma velocidade do veio drum-brake.htm
de transmissão onde está http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
instalado. Estes dois elementos brake4.htm
funcionam como um gerador http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
elétrico, em que a eletricidade gerada é dissipada em resistências master-brake.htm
colocados no próprio retarder. Ao gerar eletricidade o retarder http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
vai exercer um binário resistente sobre o veio de transmissão, air-brake.htm
abrandando assim o veículo. http://www.voithturbo.com/retarder_e.htm

RETARDER HIDRÁULICO
O retarder hidráulico está geralmente localizado à saída da caixa
de velocidades. Tal como nos outros exemplos, o objetivo é criar

152
MECÂNICA E ELETRÓNICA
2. 3 - Componente elétrica e eletrónica do O alternador tem como objetivo carregar a bateria e evitar que
esta atinja níveis de carga muito baixos, transformando energia
veículo mecânica proveniente do motor em corrente que será utilizada
para carregar a bateria. O ciclo de carregamento da bateria
Duração depende do ciclo de condução, uma vez que a corrente fornecida
Objetivos Gerais Objetivos específicos
recomendada pelo alternador varia com a velocidade de rotação do motor.
• Conhecer os principais
componentes do circuito O estado de carga da bateria é ainda importante aquando do
• Perceber quais os princi- elétrico
arranque do veículo em dias frios, uma vez que a capacidade
pais componentes elétricos • Perceber o funcionamento
e eletrónicos dos veículos dos sistemas de controlo de da bateria depende não só do seu estado de conservação, mas
1 hora também da temperatura ambiente.
modernos que contribuem tração, anti-bloqueio e
para a segurança do controlo de estabilidade, bem
veículo como o sistema de O sistema elétrico de um veículo é extremamente complexo e
comunicação entre os
comporta muito mais elementos para além da bateria, alternador
componentes
e motor de arranque.
Nos capítulos anteriores foram apresentados os sistemas
mecânicos que fazem parte dos veículos, pelo que se torna
necessário focar a componente elétrica e a vertente eletrónica,
cada vez mais importante nos veículos modernos. Estas
componentes são tanto mais importantes quando contribuem para
o aumento da segurança dos veículos modernos, como é o caso dos
sistemas de anti-bloqueio das rodas ou de controlo de tração.

Uma das suas principais funções da componente elétrica é desde


logo permitir colocar o motor em funcionamento através do
acionamento do motor de arranque. Contudo, elementos como o
O esquema da figura anterior traduz parte do circuito de luzes e
sistema de injeção de combustível, luzes, rádio, ventilação e outros
sinalização de um veículo e verifica-se que ao longo do circuito
equipamentos que integram o veículo dependem
existem, por exemplo, relés, fusíveis, entre outros elementos
igualmente deste sistema elétrico. Assim, a componente elétrica
que dão corpo a um circuito complexo de controlo de múltiplos
tem como principais elementos a bateria, o alternador e o motor
equipamentos necessários como o sistema de injeção de com-
de arranque.
bustível, luzes de presença, luzes de travão, piscas, aquecimento,
ar condicionado, etc.
Nos veículos pesados a tensão do circuito elétrico é normalmente
24V, podendo ser fornecidos por uma bateria única ou por duas
Para além do sistema elétrico, a componente eletrónica é cada vez
baterias de 12V montadas em série. Ao longo da condução, as
mais importante nos veículos modernos. Atualmente os veículos,
baterias são responsáveis pelo fornecimento de energia a vários
quer sejam ligeiros ou pesados, possuem vários sensores destina-
equipamentos do veículo – motor de arranque, luzes, etc. –,
dos a múltiplas aplicações, desde a monitorização de parâmetros
processo que conduz à sua descarga.
do motor de combustão interna, sistema de tratamento de gases,
controlo dos movimentos da carroçaria, etc. Deste modo, existe a
necessidade de controlar
e transportar um grande
volume de
informação entre sensores
e unidades eletrónicas de
controlo (ECU) e entre as
diferentes ECU’s.

153
MECÂNICA E ELETRÓNICA
Assim, nos veículos atuais, a comunicação de dados é efetuada CONTROLO DE ESTABILIDADE
através de um protocolo de comunicação designado por Controller Este sistema monitoriza em tempo real não só a rotação de cada
Area Network (CAN), cujas principais caraterísticas dizem respeito roda mas também a inclinação do veículo e a aceleração. Tal como
à quantidade de dados que consegue suportar e à rapidez de o controlo de tração atua em cada roda separadamente de modo a
transferência, permitindo análise da informação e atuação em estabilizar o veículo em situações de instabilidade (por exemplo ao
tempo real, o que constitui uma mais-valia por exemplo, no descrever uma curva a velocidade excessiva).
controlo do motor ou em equipamentos de segurança.
SUGESTÕES PARA O FORMADOR
É possível obter alguns dos componentes descritos junto de oficinas
(baterias, motores de arranque, disjuntores, fusíveis) para que na
aula possam ser apresentados aos formandos. É recomendado o
recurso a animações disponíveis nas páginas de internet
incluídas na bibliografia para ilustrar o funcionamento de alguns
dos sistemas descritos.

SITES DE INTERESSE
http://en.wikipedia.org/wiki/Controller_area_network
Para além de gerir informação relacionada com a dinâmica do http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_de_arranque
veículo, a linha CAN é também responsável pela gestão de
elementos de conforto (ar condicionado), sistemas de
comunicação, navegação, áudio e toda a vertente de diagnóstico
2. 4. - Utilização de motor/transmissão/
dos componentes do veículo. travões como elementos de segurança
Alguns dos principais elementos de segurança dos veículos Duração
Objetivos Gerais Objetivos específicos
modernos só são possíveis devido à eletrónica que os controla. É o recomendada
exemplo de: • Perceber como a utilização
• Compreender o uso dos do conjunto motor, transmissão
ABS diferentes componentes e travões permite melhorar a
0,5 horas
O sistema anti-bloqueio das rodas está associado ao sistema de para melhorar a segurança segurança do veículo em
travagem e tem como função impedir que as rodas bloqueiem do veículo diferentes condições de
circulação
quando os travões são aplicados violentamente ou quando o
veículo circula num piso com pouca aderência. Ao não bloquear as
rodas o ABS vai permitir manter o controlo direcional do veículo Nos capítulos anteriores foi apresentada uma perspetiva do
possibilitando, por exemplo, ao condutor desviar-se de um funcionamento do motor, da transmissão e dos travões e sistemas
obstáculo na via enquanto aplica os travões. O sistema ABS de retarder. Como foi referido, de uma forma ou de outra, todos
monitoriza a cada instante a rotação de cada roda usando sensores estes componentes atuam sobre as rodas, condicionando a
dedicados e alivia a pressão do circuito de travagem da(s) roda(s) circulação do veículo.
que detete quando estão bloqueadas.
Através da transmissão, sempre que o veículo está engatado,
CONTROLO DE TRAÇÃO existe uma ligação entre as rodas e o motor. Quando o
Este sistema permite limitar o escorregamento das rodas aquando condutor atua o acelerador, para manter a velocidade ou acelerar,
do arranque do veículo, especialmente importante em pisos de o motor atua sobre as rodas, fornecendo movimento ao veículo. No
pouca aderência. O sistema de controlo usa os mesmos sensores do entanto, sem o acelerador atuado, o motor é atuado pelas rodas.
sistema ABS e trava as rodas que estejam a patinar até que estas Por exemplo, em subidas, sem acelerador, o motor baixa a rotação
recuperem a tração. Simultaneamente atua sobre o motor e em descidas acentuadas tende a aumentar a rotação. Numa
reduzindo a potência para valores que seja possível transferir descida é possível aproveitar a inércia do veículo e tirar partido
pelas rodas na atual situação de aderência. da gravidade para ganhar velocidade sem acréscimo de consumo

154
MECÂNICA E ELETRÓNICA
de combustível, mas se for utilizada uma mudança relativamente Estator – É a componente estacionária de um elemento mecânico,
baixa limita-se a velocidade das rodas, utilizando o motor como que complementa o rotor, envolvendo-o.
travão (não confundir com o retarder motor), permitindo circular
em segurança, com o veículo dominado. Intercooler – Permutador de calor semelhante ao radiador, que
tem como função arrefecer o ar quente comprimido, antes deste
No caso de trajetos em que é recorrente o uso dos travões, por ser admitido no motor.
exemplo numa estrada acidentada de montanha, existe um
aquecimento dos elementos de travagens sujeitos a fricção, tal Oxidante – No motor, trata-se de ar, que reage com o combustível,
como foi referido. O uso do motor como travão, complementando libertando energia.
o travão de serviço com uma mudança baixa, ajuda a diminuir a
fadiga do sistema de travagem. No caso do veículo estar Ponto Morto Inferior (BDC) – Ponto que corresponde ao volume
equipado com retarder, a sua utilização é recomendada, podendo máximo da câmara de combustão.
ser utilizado sozinho, para abrandar o veículo ou como
complemento do travão de serviço. Ponto Morto Superior (TDC) – Ponto que corresponde ao volume
mínimo da câmara de combustão.
Em caso de falha do sistema de travagem, a utilização do retarder,
se existente, ou a utilização da caixa de velocidades, podem ajudar Recirculação de Gases de Escape (EGR) – Técnica que consiste em
a reduzir a velocidade do veículo. Se o veículo tiver circuito de reintroduzir os gases de escape do ciclo anterior no ciclo atual de
travagem hidráulico, onde o travão de parque é atuado por cabos modo a diminuir as emissões de NOx.
e tirantes, a sua utilização cuidadosa e gradual, sempre apoiada
pela caixa de velocidades pode ser também uma solução. Nos Rotor – Elemento com movimento rotacional. Trata-se da
veículos em que o travão de parque é pneumático esta prática não componente não estacionária de um elemento mecânico.
pode ser efetuada devido à reação brusca do sistema
pneumático. SCR – Corresponde ao catalisador seletivo que atua apenas sobre
poluentes específicos, neste caso, NOx.

Glossário Termóstato – Sensor de monitorização da temperatura. Tem como


função manter o líquido refrigerante a uma temperatura
Banda verde - Esquema de cores presente em alguns predeterminada.
conta rotações que indica qual a faixa ótima de utilização do
motor. Tirante – Elemento rígido que puxa ou empurra componentes
adjacentes.
Carga do motor – Relação entre o Binário fornecido numa
determinada situação de condução e o Binário máximo a cada Unidade Eletrónica de Controlo (ECU) – Módulo com capacidade de
rotação. interpretação da informação de sensores e atuação sobre
componentes.
Consumo específico – Corresponde ao quociente entre consumo
de combustível e a Potência fornecida. Tem como unidade g/kWh Veio de entrada – Terminologia associada à transmissão. Nas
(grama/ kiloWatt.hora). transmissões manuais, normalmente designa-se por veio primário.

Eixo motriz –Eixo que está ligado ao motor através da cadeia Veio motor – Veio de saída do motor para a transmissão. Roda
cinemática. à velocidade de rotação do motor com o binário fornecido pelo
motor.
Engrenagem sem-fim – Constituída por um parafuso roscado que
roda em torno do seu eixo e permite o movimento da engrenagem
associada.

155
MECÂNICA E ELETRÓNICA

Acrónimos Sites de interesse


ABS - Antilock Braking System (Sistema de Travagem http://auto.howstuffworks.com/engine.htm
Anti-bloqueio) http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_diesel
ASR - Anti Slip Regulator (Regulador Anti-escorregamento) http://auto.howstuffworks.com/diesel.htm
CAN - Controller Área Network http://www.descobrirpeugeot.com/content/view/177/182/
CO - Monóxido de Carbono http://www.pirelliecotechnology.com/web/products/feelpure/
CO2 - Dióxido de Carbono usage/default.page
cv - Cavalo (unidade de potência) http://en.wikipedia.org/wiki/AdBlue
ECU - Eletronic Control Unit http://auto.howstuffworks.com/transmission.htm
EDC - Eletronic Diesel Control (Controlo Eletrónico da injeção de http://auto.howstuffworks.com/automatic-transmission.htm
Diesel) http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/towing/towing-
HC - Hidrocarbonetos capacity/information/torque- converter.htm
l - Curso do êmbolo http://auto.howstuffworks.com/differential.htm
LSD - Limited Slip Differential (Diferencial de Escorregamento http://en.wikipedia.org/wiki/Differential_(mechanical_device)
Limitado) http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
Nm - Newton.metro (principal unidade de Binário) disc-brake.htm
NOx - Óxidos de Azoto http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
PM - Particulate Matter (Partículas) drum-brake.htm
r - Raio da cambota http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
Rc - Razão de compressão brake4.htm
RPM - Rotações Por Minuto (unidade associada à rotação do motor) http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
SCR - Seletive Catalytic Reduction (Catalisador Seletivo) master-brake.htm
Vm - Volume mínimo (ou residual) da câmara de combustão http://auto.howstuffworks.com/auto-parts/brakes/brake-types/
Vv - Volume varrido pelo êmbolo desde o PMI ao PMS air-brake.htm
W - Watt (unidade de potência) http://www.voithturbo.com/retarder_e.htm
http://auto.howstuffworks.com/steering.htm
http://auto.howstuffworks.com/car-suspension.htm

Bibliografia http://en.wikipedia.org/wiki/Controller_area_network
http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_de_arranque

Chollet H. M. (1996). Mecânicos de Automóveis – O motor e os seus


acessórios, Hemus Editora Limitada. CONTEÚDO FORNECIDO POR:
IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP

Mendes-Lopes J. M. Motores de Combustão Interna – uma


abordagem termodinâmica, AEIST.

Heywood J. B. (1988). Internal Combustion Engine Fundamentals,


McGraw-Hill Book Company.

BOSCH Automotive Hand book

156
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO

Introdução
O objetivo deste módulo é apresentar as competências necessárias objetivo que são realizados inquéritos de satisfação junto dos
à adoção dos comportamentos que contribuem para a valorização clientes. A questão é saber como satisfazer a clientela? Que papel
da imagem de marca da vossa empresa. desempenha a qualidade de serviço por comparação com o preço,
por exemplo? O que é a qualidade de serviço? O que é um cliente
O conceito de qualidade de serviço pode abarcar diferentes satisfeito? E um cliente fidelizado? Um serviço prestado no respeito
aspetos. Aspetos técnicos relacionados com o desempenho em pelas normas? – de qualidade, de segurança...? Um serviço
termos de fiabilidade dos materiais, ocorrência de avarias, prestado pelo mais baixo custo?
manutenção, etc. Aspetos referentes à organização do serviço,
como a amplitude horária, a acessibilidade nos momentos críticos A qualidade de serviço não é um conceito simples de apreender,
para os clientes, etc. A qualidade de serviço comporta, também, a sua apreciação varia segundo quem presta o serviço e quem o
um aspeto relacional no encontro entre os clientes e a empresa adquire, segundo o ambiente social, legal e... segundo a profissão.
através dos seus colaboradores.
Se certos aspetos dos serviços de transportes são relativamente
Se partirmos da ligação entre estes aspetos, então, é da qualidade invariáveis – o cumprimento dos horários, por exemplo – o impato
do serviço que se manifesta no inter-relacionamento pessoal que de um incumprimento não terá a mesma incidência se o transporte
este módulo vai tratar, especificamente. de longo curso levar automóveis ou animais vivos; se acompanhar
um grupo de turistas ou atravessar uma zona urbana em hora de
O motorista do veículo pesado de mercadorias ou de passageiros ponta...
constitui um dos interfaces entre a empresa e os clientes. O vosso
comportamento contribui para a imagem da vossa empresa e para É por isso que, ao longo deste módulo de formação, encontrarão
a qualidade sentida e avaliada pelo cliente. conteúdos e exemplos orientados quer para o transporte de
mercadorias, quer para o transporte de passageiros, ilustrados
O TRANSPORTE: UM SERVIÇO com abordagens mais precisas «sobre a profissão».
O transporte não produz bens materiais e não transforma o que
transporta.
Qualidade de serviço para quê?
O TRANSPORTE: UMA RELAÇÃO DE SERVIÇO
DO PONTO DE VISTA DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE, A QUALIDADE
Entre os carregadores e as transportadoras, entre as
É ANTES DE MAIS UM DESAFIO ECONÓMICO
transportadoras e os clientes finais. Entre os passageiros e a
•Redução de custos
empresa de transporte, entre a empresa de transporte e as
•Aumento do valor acrescentado
autoridades organizadoras (municípios, etc.).
•Redução das não conformidades
No respeito pelas normas de qualidade
E A QUALIDADE DE SERVIÇO?
É evocada «para caraterizar as exigências dos carregadores, a
UM DESAFIO COMERCIAL
competitividade dos operadores técnicos e organizacionais»
•Dar confiança e satisfação aos clientes
(Savy M., Le transport de marchandises, Paris, Eyrolles 2007.)
•Fidelizar os clientes atuais e angariar novos
•Reduzir as reclamações
Este conceito representa o ponto de vista do cliente na apreciação
É na interação profissional-cliente que se estabelece a confiança e
da prestação de serviço.
a satisfação dos clientes

O que é a qualidade de serviço? UM DESAFIO ESTRATÉGICO


•Melhorar a imagem de marca diminuindo as más referências e
A qualidade de serviço é mais frequentemente encarada do ponto aumentando a notoriedade
de vista dos serviços de marketing das empresas. É com este •Reforçar as vantagens face à concorrência

157
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
•Desenvolver-se
Marcar a diferença no serviço prestado: para lá do standard,
1. Os comportamentos que
acrescentar a qualidade contribuem para melhorar a imagem
das empresas de transporte
1. 1 - As bases do serviço ao cliente
Os utilizadores de serviços de transporte não se preocupam com
os constrangimentos das empresas de transporte nem com a sua
organização. Os clientes só se preocupam com o modo como são
tratados e se as suas necessidades são tomadas em conta.

O contato com o cliente torna-vos responsáveis pela qualidade da


relação de serviço: clientes satisfeitos tornam-se clientes fiéis;
clientes insatisfeitos podem denegrir a reputação de uma
empresa, o que se traduzirá pela possível diminuição das vendas e
dos lucros.

Síntese Para além da publicidade, o passa-a-palavra e a reputação são


vetores de desenvolvimento das vossas empresas.
O cliente espera um tipo de serviço em função do marketing da
empresa, da publicidade passa-a-palavra, das experiências de Um serviço de transporte requer a presença de 2 fatores: o
transporte anteriores. humano e o técnico. O domínio técnico representa o serviço e a sua
realização do ponto de vista da «produção»: são fixados objetivos
A qualidade técnica e funcional do serviço contribui para a imagem – aumentar a pontualidade, por exemplo – que é preciso atingir.
de marca da empresa.
O domínio humano fixa-se na satisfação das expetativas do cliente,
A qualidade de serviço desejada resulta da imagem da empresa garantindo-lhe uma atenção particular e pessoal. O cliente deve
para o cliente confrontado entre o serviço esperado e o serviço sentir que está a ser considerado individualmente, e acima do
obtido. padrão standard de produção.

Por outras palavras, a expetativa do cliente será tanto mais eleva- O fator técnico assenta na concretização de boas práticas, de
da quanto melhor for a imagem da empresa. normas cujo respeito deverá garantir a boa execução do serviço.

A qualidade de serviço estabelece-se, assim, na interseção de O fator humano assenta na interação pessoal entre o fornecedor
dois mundos: o mundo da produção do serviço – a empresa – e o do serviço e o cliente.
mundo do consumo do serviço – a clientela.
Estes dois níveis estão presentes em todo o serviço e têm, por
O motorista encontra-se no meio desses dois mundos: na relação vezes, exigências antagónicas.
com a empresa a que pertence – administração, serviços técnicos e
comerciais, e na relação com os clientes a quem prestam o serviço Prestar atenção a um cliente – esperar por ele na paragem do
que irá ser avaliado. autocarro, por exemplo – e ter que respeitar as normas dos
horários...
O objetivo desta formação é proporcionar-vos os meios necessários
ao desempenho do importante papel de interface entre as vossas Cumprir a promessa de efetuar uma entrega, apesar dos horários
empresas e os respetivos clientes. de condução terem sido excedidos...

158
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
TORNA-SE, ASSIM, OBRIGATÓRIA, UMA AVALIAÇÃO E DECISÃO A imagem de marca de uma empresa é também uma promessa
PERMANENTES ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA PRODUÇÃO E AS de qualidade, de relação qualidade/preço ou no caso do serviço
EXPETATIVAS DOS CLIENTES. público, de fiabilidade.

Brainstorming: o que significa ser uma empresa «orientada» para Se o produto «transporte» se define como a deslocação de pessoas
o cliente? ou bens entre dois pontos, inúmeros fatores podem contribuir para
a sua qualidade: a conceção dos veículos e dos equipamentos, a
tarifação, a política de preço, o acesso à informação, a atitude do
1. 1. 1 - O que é uma empresa orientada pessoal. Todos os fatores que influenciam a decisão do cliente e a
para o cliente? sua satisfação participam do potencial de desenvolvimento de uma
empresa.
Historicamente, as empresas de produção de bens ou serviços
começaram por se estruturar à volta da produção do bem ou
serviço: desenvolvimento técnico, organização... tudo deveria
Serviços de base. Elementos que facilitam,
contribuir para a excelência do produto final, ao menor custo. elementos que diferenciam
Uma empresa orientada para o cliente inverte quase No caso dos transportes, o serviço de base é evidentemente o do
completamente esta estratégia. transporte de uma pessoa ou de uma mercadoria de um ponto
para outro. Os serviços facilitadores são os que simplificam a vida
O ponto de partida centra-se no cliente, nas suas expetativas e ao cliente: por exemplo, um bom acesso à informação sobre tarifas
necessidades. As questões que se colocam às empresas são: se um ou linhas.
cliente me contactar como garantir que a mensagem transmitida é
a melhor? O que devo propor ao cliente? Os serviços que diferenciam são os que marcam a diferença: por
exemplo, a qualidade da receção, a personalização do serviço, o
Ser orientado para o cliente é ser capaz de fazer a oferta certa, no acompanhamento da relação. A receção dos passageiros à entrada
momento certo, ao cliente certo. do autocarro; um motorista que sabe de cor a localização de um
escritório, etc.
Esta abordagem exige um bom conhecimento da clientela, tarefa
do serviço de marketing das empresas. É com este objetivo que são Os serviços que diferenciam centram-se frequentemente no contato
realizados inquéritos de satisfação junto dos clientes dos do motorista com o cliente; no entanto, numa empresa orientada
transportes. Melhor que os inquéritos, o primeiro ponto de para o cliente, todos os colaboradores estão
informação sobre a satisfação da clientela é o motorista. empenhados na adoção de novos comportamentos. «Se a adoção
de comportamentos orientados para o cliente é essencial em quem
A diferenciação competitiva entre as empresas far-se-á de entre está em contato direto com os clientes, como é o caso do
as capazes de ajustar a relação com os clientes à sua estratégia motorista ou de quem está na venda de bilhetes, no posto de
comercial. informações ou encarregue da segurança, não assume menor
impato sobre a qualidade, serviços como os de limpeza,
Os comportamentos esperados de todos os colaboradores da manutenção e reparação.» (UITP, 2002).
empresa devem contribuir para uma aproximação global à
qualidade. «A adequação da qualidade aos objetivos de marketing
obtém-se por implicação do profissional na adaptação dos serviços
1. 2 - O cliente toma nota do serviço
propostos à segmentação de mercado, com o objetivo de responder
A cada interação com a empresa de transporte, o cliente vai
às necessidades individuais dos clientes.» (UITP, 2002).
ficando com uma ideia da qualidade do serviço.
O nível de expetativa dos clientes aumenta constantemente:
O cliente «toma nota» do serviço, da pessoa que o prestou e, num
elevado número de ofertas pelo mais baixo custo, com a abertura
plano mais vasto, da empresa.
à concorrência europeia.

159
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
Um serviço de base é um serviço que correspondeu às expetativas 1. 3. 2 - Responsabilidade no transporte
mínimas do cliente: uma entrega à hora combinada, por exemplo,
é um serviço de base. rodoviário nacional de mercadorias
Um serviço de qualidade vai mais além... Por exemplo, no caso Aos contratos em que a deslocação de mercadorias se efetue por
dos transportes urbanos, a pontualidade é o serviço de base que estrada entre locais situados no território nacional, excetuando-se
associada à atenção prestada pelo motorista ao conforto dos os envios postais, aplica-se o Decreto-Lei nº 239/2003, de 4 de
passageiros – condução suave, arranque depois das pessoas idosas Outubro.
ou as pessoas com crianças estarem sentadas – se transforma num
serviço de qualidade. No caso de impossibilidade de cumprimento do contrato de
transporte nas condições acordadas, o transportador deve pedir
instruções ao expedidor ou, se tal estiver convencionado, ao
1. 3. - Consequências comerciais e destinatário, tendo direito ao reembolso das despesas causadas
financeiras de um litígio pelo pedido de instruções ou pela sua execução.

Considera-se que quando a mercadoria não tiver sido entregue


1. 3. 1 - Responsabilidade no transporte ao destinatário no prazo convencionado, ou, na falta deste, nos 7
rodoviário internacional de mercadorias dias seguintes à aceitação da mercadoria pelo transportador, há
demora na entrega, e, em princípio, lugar a indemnização, que
O transporte rodoviário internacional de mercadorias rege-se pela não pode ser superior ao preço do transporte.
Convenção de Genebra (CMR) que data de 1956. Sobre vários
pontos, esta remete para o direito dos Estados. Considera-se que há perda total quando a mercadoria não tiver
sido entregue nos 7 dias que se seguem ao termo do prazo
Quando uma indemnização por perda total ou parcial da estipulado ou, na falta deste, nos 15 dias seguintes à aceitação da
mercadoria é da responsabilidade do transportador, essa mercadoria pelo transportador. Em regra, o valor da indemnização
indemnização é calculada segundo o valor da mercadoria no local devida por perda não pode ultrapassar €10 por kg de peso bruto
e à hora do carregamento. de mercadoria em falta.

O valor da mercadoria é determinado segundo as cotações 1. 3. 3 - Os ciclos de serviço


bolsistas ou, na falta destas, segundo o preço corrente no mercado
ou, na falta de um e do outro, segundo o valor de mercado de Antes e depois do transporte, o cliente entra em contato com a
mercadorias da mesma natureza e qualidade. vossa empresa para obtenção dos melhores preços, para
assinatura do contrato, em busca de informações, compra de
São também reembolsados os valores pagos pelo transporte, os bilhetes, etc. E ainda em caso de reclamação.
direitos alfandegários e demais custos incorridos por ocasião do
transporte da mercadoria, na totalidade no caso de perda total, Cada contato entre o cliente e a empresa constitui um
ou proporcionalmente em caso de perda parcial; outras perdas e momento-chave.
danos não são devidos.
Um ciclo de serviço é um conjunto de momentos de verdade que
Não podem ser reclamadas indemnizações mais elevadas, salvo no não têm o mesmo valor do ponto de vista do cliente.
caso de declaração do valor da mercadoria aquando da entrega da
mesma. Os momentos-chave são aqueles em que se define a satisfação do
cliente.

160
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
Esquema do ciclo de serviço Imagine um ciclo de serviço:
1) comprar um leitor de DVD, 2) importar flores

Dois exemplos do ciclo de serviço:


ir ao cinema, comprar um bilhete de autocarro
Ciclo de serviço DVD

O que aprenderam?
Adotando o ponto de vista de um cliente
•Que um serviço é um ciclo que se decompõe em vários
momentos
•Que nem todos os momentos do serviço têm o mesmo valor do
ponto de vista do cliente

O cliente faz uma ficha de avaliação do serviço a cada contato com


o prestador do serviço.

161
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
1. 4 - Competências concretizadas Saber dosear entre o laconismo habitual (que permite encurtar
tempo numa situação de forte tráfico de passageiros) e os convites
As competências necessárias ao desempenho da profissão de ao diálogo (que facilitam a cooperação com o interlocutor);
motorista são de 3 tipos: Fazer prova de facilidade comunicativa: distinguir entre os clientes
que conhecem as regras e os que agem de má fé; controlar as
mudanças de registo na conversa e utilizar o humor, sem cair na
familiaridade; estar atento a formas não verbais da comunicação
(gestos, atitudes, olhares, movimentos da cabeça, etc.).

1. 4. 1 - As competências técnicas TEM EXPERIÊNCIAS DE CONTATOS COM CLIENTES QUE QUEIRA


PARTILHAR?
•Conduzir de modo profissional
•Conhecer a rede de transportes e o tarifário comercial (urbana) O que aprenderam?
•Conhecer o trajeto e as paragens (interurbana)
•Conhecer o regulamento e a política da empresa •Há diversos tipos de competências, mobilizadas em função das
•Conhecer as especificidades das diferentes mercadorias circunstâncias.
•No contato com a clientela, é a vossa interpretação da situação
1. 4. 2 - As competências organizacionais que faz a diferença.

•Preparar-se para fazer face às exigências da profissão: boa 1. 5 - Avaliação da qualidade


forma física, cuidado com a higiene...
•Inserir-se na organização do trabalho: colegas, hierarquia,
autoridades, clientes, fornecedores... 1. 5. 1 - A qualidade em 4 pontos
•Adaptar-se às evoluções dos métodos e das ferramentas de
trabalho •Qualidade esperada pelo cliente: as suas expetativas
•Qualidade pretendida pela empresa: as escolhas e as decisões
da empresa
1. 4. 3 - As competências relacionais •Qualidade proporcionada pela empresa: concretização de
objetivos
•Adaptar os comportamentos às situações de trabalho •Qualidade sentida pelo cliente: a perceção da concretização dos
•Trabalhar em equipa objetivos anunciados pela empresa
•Comunicar com a empresa e com os clientes

AS COMPETÊNCIAS RELACIONAIS DECOMPÕEM-SE EM 3 TIPOS 1. 5. 2 - Avaliar a qualidade de serviço


•Uma competência relacional ‘técnica’ - registar uma declaração:
Recolher as informações fornecidas pelo cliente sobre um •A empresa avalia a qualidade pela diferença entre a qualidade
problema encontrado; desejada e a qualidade oferecida
Estabelecer um diagnóstico a partir das informações fornecidas •O cliente avalia a qualidade do serviço pela diferença entre a
pelo cliente numa linguagem não técnica. qualidade esperada e a qualidade percebida (sentida)

•Uma competência ‘contratual’:


Limitar-se a reenviar o contrato não chega: é necessário precisar as
regras e reatualizá-las perante um cliente que duvida da
qualidade do contrato ou da prestação.

•Uma competência social - respeitar os rituais de cortesia:


Controlar o contato com o cliente;

162
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
1. 5. 3 - A avaliação da qualidade de serviço: f) Indiferença dos profissionais que contactam com os clientes

as escalas de avaliação Constata-se que 5 dos 6 fatores abordados mostram o papel


determinante do profissional em contato durante a produção do
Os teóricos do marketing desenvolveram vários sistemas de serviço.
avaliação da qualidade de serviço. Um dos mais conhecidos é a
escala SERVQAL, criada inicialmente em 1988 e aqui mencionada a
título de exemplo. 1. 5. 4 - Como se criam as expetativas dos
clientes?
Esta escala faz referência a 5 dimensões da qualidade de serviço:
TANGIBILIDADE: O aspeto do pessoal e do material disponível A montante da realização do serviço, diferentes acontecimentos ou
FIABILIDADE: A capacidade de realizar um serviço fiável informações exercem influência sobre as expetativas do cliente. A
PRONTIDÃO: A vontade de prestar um serviço rápido frequência e a duração de utilização do serviço podem, por
GARANTIA: A capacidade do profissional inspirar confiança; a sua exemplo, influenciar: à medida que um serviço vai sendo utilizado,
cortesia e a sua competência as expetativas tendem a diminuir. As expetativas são igualmente
EMPATIA: O cuidado e a atenção dada aos clientes influenciadas por aquilo que o cliente pensa saber acerca do que é
ou não possível. As más experiências anteriores diminuem o nível
A importância destas dimensões varia em função dos serviços; de exigência. Um cliente terá naturalmente menos tendência para
por exemplo, a fiabilidade será particularmente importante num ser paciente se estiver a atravessar um período difícil.
serviço bancário ou a empatia num hospital.

Para cada dimensão, é pedido aos clientes que indiquem as suas 1. 6 - Uma profissão de contato
expetativas – o que seria um serviço ideal – e a sua perceção do
serviço efetivamente prestado. Os serviços são, então,
avaliados através de dois questionários: um questionário referente 1. 6. 1 - Várias missões para uma profissão
às expetativas dos clientes a montante do serviço e um – transporte de mercadorias
questionário referente à sua perceção do serviço prestado. A
satisfação é medida pela diferença entre as expetativas e a MISSÃO 1: TRANSPORTAR MERCADORIAS
qualidade percebida. Transportar mercadorias exige em simultâneo competências
técnicas e competências relacionais, mesmo comerciais.
As cinco dimensões da qualidade de serviço põem em evidência
o papel primordial das pessoas em contato com os clientes: Para além da mestria da condução profissional: conduzir dentro do
maneiras, cortesia, comportamento que pode inspirar confiança, respeito pelas normas e pela segurança..., proteger a qualidade
a vontade de estar ao serviço do cliente sem atrasos, a atenção da carga; saber otimizar uma carga em termos de requisitos
dedicada às suas expetativas. de espaço e ordem na entrega; adaptar a condução à carga... o
motorista deve igualmente ser capaz de antecipar situações pelo
Existem outras escalas que têm em comum partir do serviço ideal conhecimento que tem dos trajetos ou pela adaptação da sua
imaginado pelo cliente e compará-lo com o serviço efetivamente condução às condições meteorológicas.
prestado. A natureza das causas suscetíveis de provocar um desvio
entre a qualidade oferecida e a qualidade esperada é de 4 tipos: O motorista também representa a empresa. A limpeza do veículo
a) Má compreensão das expetativas do cliente dá uma imagem do serviço que será prestado. O comportamento
b) Variabilidade no desempenho dos profissionais individual do motorista contribui igualmente para a imagem de
c) Exageros na prestação dos serviços ao cliente marca da sua empresa. Quer se trate de conduzir de maneira
d) Insuficiência na informação dada ao cliente racional, ou de adotar a atitude certa em caso de acidente... O
Desvio entre a qualidade servida e a qualidade prevista pela motorista personifica junto de todos os intervenientes, a imagem
empresa da sua empresa.
e) Contenção nos recursos

163
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
MISSÃO 2: GERIR UMA RELAÇÃO DE SERVIÇO Durante o serviço, zelar pelo normal funcionamento do veículo
A relação de serviço gere-se a vários níveis. Junto dos responsáveis e monitorizar os indicadores do painel de instrumentos. Deve
pela carga, na supervisão ou no carregamento, o motorista igualmente adotar a uma atitude positiva em caso de incidente ou
interage mais ou menos com o cliente da sua empresa, de acidente, em particular nas relações com os automobilistas e as
representando-a pelo seu profissionalismo. forças da ordem.

Pouco importa que o cliente tenha vários contatos na empresa de A limpeza do veículo é um ponto crítico da relação de serviço. Um
transporte; para ele, a empresa é um todo, do qual o motorista veículo sujo ou degradado dá uma má imagem da empresa e não
é o representante. A cada prestação de serviço, é a imagem do estimula os passageiros a respeitar o veículo e até o motorista.
conjunto da empresa que está em jogo.
MISSÃO 2: GERIR UMA RELAÇÃO DE SERVIÇO
MISSÃO 3: CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO O motorista mantém frequentemente uma relação privilegiada
A responsabilidade do motorista abarca, também, a manutenção com a clientela, por ser o interlocutor mais conhecido e o
do veículo (estado de funcionamento e limpeza...). Espera-se do representante da sua empresa. É, por consequência, vetor da
motorista que saiba detetar e descrever as irregularidades imagem de marca da empresa.
eventuais do seu veículo, junto dos serviços de manutenção. Deve
saber diagnosticar uma avaria e, em função das suas Como representante exclusivo da empresa durante a realização do
competências, das ferramentas e do tipo de veículo e de serviço, acontece-lhe gerir os locais, acolher os passageiros, fazer
avaria, deve saber resolvê-la, e se tal não for possível, contactar respeitar as regras do civismo...
os serviços de manutenção ou o serviço de exploração se for
necessário interromper o trajeto. A capacidade do motorista Paralelamente, deve também validar ou vender títulos de
fazer face a uma avaria real ou potencial garante a qualidade de transporte e fornecer informações aos passageiros.
serviço.
Ao contrário do motorista de transporte rodoviário de mercadorias,
Com os destinatários, no momento da descarga, os desafios são o motorista de transporte rodoviário de passageiros está só
os mesmos. Junta-se aí a avaliação final do serviço: o prazo de perante um grupo de clientes, o que o coloca numa situação de
entrega foi respeitado e a mercadora intacta? E também neste representante perante um público, ao mesmo tempo que fornece o
momento que tem início uma qualquer reclamação. Uma serviço. Esta situação torna-se central na gestão de
reclamação deve ser desde logo tratada e encaminhada. É na descontentamentos e no evitar de manifestações de agressividade
solução encontrada para o problema que assenta a qualidade de por parte de um grupo de passageiros, por exemplo.
serviço, e não na ausência de problemas. Se ocorrer um
problema durante o transporte, é sempre preferível informar o MISSÃO 3: CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO
cliente antes da entrega; a antecipação permite frequentemente De um ponto de vista técnico, o motorista deve conhecer, tendo
evitar a reclamação. Antecipar e explicar o que vai ser feito para em conta as caraterísticas do veículo, as condições meteorológicas,
melhorar o serviço ou corrigir a falta de qualidade permite evitar verificar tanto no exterior como no interior, o estado do veículo, o
uma reclamação ou a perda de um cliente. bom funcionamento dos acessórios e das luzes de sinalização.

E ainda realizar ensaios de travagem, controlar os níveis e a


1. 6. 2 - Várias missões para uma profissão presença de dispositivos de segurança.
– transporte de passageiros
MISSÃO 1: TRANSPORTAR PASSAGEIROS
1. 6. 3 - Os interlocutores dos motoristas
Transportar passageiros obriga a uma condução profissional, ou
Os motoristas de veículos pesados de passageiros e de mercadorias
seja, conduzir dentro do respeito pelas normas e pela segurança...,
realizam o essencial da respetiva atividade fora da empresa.
e a garantir o conforto dos passageiros que podem manifestar o
Contudo, no interior desta, estão em contato com:
seu descontentamento durante o transporte.
•A manutenção: durante os controlos técnicos, antes da partida;

164
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
eventualmente em estrada no caso de problemas técnicos ou mecânicos, os colegas, a hierarquia, etc.
avarias;
•A regulação: no transporte urbano, na gestão do tráfego; acabar
1. 7. 3 - A relação de serviço
uma volta de recolha, voltar à garagem...
A relação de serviço é um elemento da prestação de serviço, com
•O serviço de exploração: na organização das viagens, mas
que nos confrontamos em caso de falha ou de rutura do serviço,
também em caso de incidente, perturbação ou atraso nas entregas.
mas não apenas. Por outras palavras, a relação de serviço é
•A gestão, o planeamento: em certas empresas de transporte
indispensável na reparação de danos que envolvam o cliente ou na
urbano, são os supervisores que realizam o planeamento, avaliam
resolução de qualquer problema.
os motoristas, asseguram as diferentes linhas.

A qualidade da comunicação entre estes diferentes interlocutores A relação de serviço, uma co-produção
e os motoristas faz parte da qualidade de serviço, na medida em
que permite arbitrar mais rapidamente em situações delicadas,
do serviço
transmitir uma imagem de profissionalismo, tornar o motorista
A co-produção do serviço define-se como uma produção conjunta
mais interventivo no seu papel de interlocutor dos clientes.
relacional e técnica que atua no perímetro daquilo que constitui a
oferta de serviço de uma empresa para com um cliente.
1. 7 - Gerir tensões
No momento da carga, as indicações fornecidas ao motorista sobre
a localização da mercadoria; no momento da descarga, a
1. 7. 1 - Transporte de mercadorias participação ou não do pessoal de assistência de terra...
A RELAÇÃO DE SERVIÇO = UM MOMENTO DA PRODUÇÃO DO
No veículo de passageiros, as informações transmitidas ao
SERVIÇO
motorista permitem-lhe vender o bilhete correto, encarregar-se de
Insere-se na dimensão técnica: na organização das viagens, das
um grupo, e a atitude dos passageiros no autocarro, educação,
entregas, dos trajetos, na definição do serviço...
cortesia, permite-lhe concentrar-se na condução...
A RELAÇÃO DE SERVIÇO = UMA INTERAÇÃO HUMANA
Os dois co-produtores do serviço, o cliente e o transportador não
Entre o motorista e os responsáveis pela carga, entre o motorista e
vêem o serviço da mesma maneira. O cliente considera,
o destinatário.
geralmente, a sua situação como única, necessitando de um
Entre o motorista e a empresa: o expedidor, os mecânicos, os
tratamento particular, enquanto o transportador encara o serviço
colegas, a hierarquia, etc.
como um «padrão» válido para todos os clientes. O encontro destes
Em todas as situações – transporte de mercadorias ou de
dois pontos de vista é gerador de tensões que não podem
passageiros – o motorista é o interface entre a empresa e os
resolver-se sem a arbitragem realizada pelo pessoal que contacta
clientes.
com o cliente.

1. 7. 2 - Transporte de passageiros No transporte urbano, o motorista mede a qualidade do serviço


pelo cumprimento dos horários de passagem, o cliente pelo tempo
A RELAÇÃO DE SERVIÇO = UM MOMENTO DA PRODUÇÃO DO dedicado a informá-lo. No transporte ocasional, o motorista mede
SERVIÇO a qualidade pelo cumprimento do percurso sem paragens
Insere-se na dimensão técnica: na organização dos horários, imprevistas, o cliente pela possibilidade de parar sempre que
manutenção das linhas, definição do serviço. necessário.

A RELAÇÃO DE SERVIÇO = UMA INTERAÇÃO HUMANA No transporte de mercadorias, o motorista mede a qualidade da
Entre o motorista e os passageiros: efeito de massa do lado dos sua entrega pelo fato de poder entregar sem obstáculos no local
passageiros, agressividade, violência... mas por vezes também previsto, o que representa um ganho de tempo e, como tal, a
gratificação. otimização dos custos. Para o cliente, a qualidade encontra-se na
Entre o motorista e a empresa: a regulação, o expedidor, os flexibilidade do motorista que aceita mudar o local de entrega no

165
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DO SERVIÇO
último momento e garantir a descarga da mercadoria.
As informações dadas pelo cliente contribuem para a qualidade na A atitude dos passageiros pode assumir diferentes formas: tentar
realização do serviço. compreender o funcionamento da empresa de transporte:
obedecer à lei, transgredi-la; tentar contorná-la; demonstrar que
Numa relação de serviço desencadeiam-se também relações ela é absurda, injusta, mal compreendida, mal aplicada; etc.
intersubjetivas entre o que é solicitado a nível do conteúdo do
serviço e as condições técnicas e organizacionais que permitem a O motorista, na sua função comunicativa, entra em cena.
sua realização.
Através da sua atitude física, postura, maneira de falar, de olhar,
Por outras palavras, o cliente está em situação de «discutir» o de reter o olhar, de sorrir ou não,
serviço e a sua realização, enquanto o transportador tem de agir
com os meios técnicos e organizacionais de que dispõe. Tudo isto O AGENTE MOSTRA QUEM É E O QUE TENCIONA FAZER.
em presença do cliente ou de vários clientes, em interações sociais
desiguais: o motorista face ao grupo de passageiros... «Eu tento antecipar. Quando estava no terminal, por exemplo,
via 3, 4, 5 jovens que chegavam, descia do autocarro, se tivesse
Nestas interações, o trabalho do transportador é imediatamente tempo, para tentar encetar um diálogo. Quando descemos do
submetido à avaliação do cliente e assenta sempre autocarro, deixamos de estar fechados atrás do volante, e eles
simultaneamente sobre a competência da pessoa e a própria deixam de se sentir donos do autocarro, é completamente
pessoa. diferente. Então, muitas vezes vinham conversar comigo ou eu com
eles, ou seja, tentava acalmar um pouco as coisas, enfim, era a
E, por fim, o diálogo é o principal recurso da interação minha maneira de trabalhar.»
prestador-cliente na cooperação, negociação e, por vezes, no (Testemunho de um motorista urbano)
conflito.
DESENVOLVIMENTO DA FUNÇÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA
DO LADO DO CLIENTE Funções clássicas: informação, receção, assistência direta às
O passageiro pensa que ao pagar o seu título de transporte, pessoas.
«comprou»: Junta-se, a partir de então, uma missão de segurança pública. A de
•Um autocarro a horas, prevenir acidentes, agressões e atos de vandalismo.
•Um autocarro limpo e em bom estado,
•Um autocarro conduzido com segurança e conforto por pessoal
competente.
O que aprenderam?
•As profissões ligadas ao transporte rodoviário de mercadorias
No caso de acidente, espera uma informação regularmente
têm restrições associadas aos responsáveis pela carga e aos
atualizada até ao restabelecimento da situação normal; etc.
destinatários finais.
•Os motoristas são interlocutores das duas partes.
NA REALIDADE, SURGEM
•As profissões ligadas ao transporte rodoviário de passageiros
Imprevistos no tráfego, engarrafamentos, intempéries, avarias
têm restrições diferentes associadas à empresa e aos passageiros.
e acidentes capazes de comprometer de imediato a prestação do
•Os motoristas constituem o interface entre a empresa e os
serviço.
clientes.
A QUALIDADE É AVALIADA DE MODO DIFERENTE, SEGUNDO O
O passageiro aguarda as explicações do motorista, que representa
PONTO DE VISTA.
a empresa no terreno.

Arbitrar entre diferentes funções profissionais. Validação e venda CONTEÚDO FORNECIDO POR:
IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP
de bilhetes de transporte, informações, receção, controlo. Informar
e controlar podem contrariar-se, sobretudo nas horas de ponta.
Desempenhar um papel em público.

166
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS

1. Acidentes e situações de emergência


1. 1 - Introdução 1. 2. 1 - Na cena do acidente
A profissão de motorista, tanto no contexto do transporte de Qualquer condutor que assista a um acidente no qual existam
passageiros como de mercadorias, comporta vários riscos. Como pessoas feridas ou haja um veículo danificado, mesmo que o
utilizador do sistema de rodoviário, o motorista está exposto acidente tenha sido causado por outros, tem o dever de parar e
ao risco de acidente envolvendo-o diretamente e ao veículo que prestar auxílio. Acima de tudo, o condutor deve evitar o pânico e
conduz, mas também é frequentemente confrontado com acidentes ser o mais objetivo possível, recomendando-se as seguintes regras
que envolvem outros veículos e pessoas, podendo ainda ser alvo gerais:
de agressões e enfrentar outras situações de emergência. Todas •Antes de sair do veículo para prestar auxílio, deve assegurar-se
estas situações justificam a necessidade de estar consciente dos de que o próprio, os seus passageiros e o seu veículo estão em
riscos que corre e de possuir conhecimentos que lhe permitam segurança.
reagir adequadamente e prestar primeiros socorros sempre que for •Chamar imediatamente as autoridades e uma ambulância
apropriado. quando for necessário ou repartir estas duas tarefas com outra
pessoa de modo a reduzir o tempo de espera.
•Na cena do acidente deverá:
1. 2 - Procedimentos em caso de acidente - Colocar sinalização adequada e proteger-se de modo a evitar
outros acidentes;
Como utilizadores da estrada, os condutores profissionais passam
- Procurar pessoas que tenham visto a ocorrência e que possam
grande parte da sua vida ao volante de um veículo, pelo que a
prestar o seu testemunho às autoridades;
probabilidade de se verem envolvidos num acidente rodoviário é
- Desligar a ignição dos veículos acidentados de forma a evitar
mais elevada do que num condutor não profissional.
incêndios;
- Evitar ações, por parte de pessoas que estejam a observar a
Além disso, e pela mesma razão, deparam-se inevitavelmente com
ocorrência, que possam causar mais ferimentos ou danos, como
acidentes, pelo que é importante que possuam conhecimentos
por exemplo, fumar no local ou remover pessoas feridas ou
teóricos e práticos de primeiros socorros, que lhes permitam agir
veículos danificados.
com objetividade em qualquer situação de emergência. Estas
•Verificar quem está ferido para ver se pode ajudar a pessoa
situações requerem ações de emergência, que podem apenas
a sentir-se mais confortável até chegar a assistência médica e
consistir em chamar a necessária assistência médica e as
identificar quem precisa mais urgentemente de cuidados médicos;
autoridades ou podem até requerer algum apoio imediato a
nunca oferecer comida ou mesmo água ou qualquer medicamento
vítimas. Há uma variedade de situações com as quais um motorista
a pessoas feridas.
se depara no seu quotidiano na estrada, tais como um passageiro
•Possuindo conhecimentos e experiência prática de primeiros
que se sente repentinamente mal e necessita de socorro urgente,
socorros, deverá informar os feridos dessa sua competência e
ou um veículo a arder na estrada e o respetivo condutor em
prestar a ajuda que puder aos feridos; no entanto, as pessoas
pânico e incapaz de agir objetivamente, ou ainda pessoas
feridas não devem ser movidas, pois isso pode agravar a sua lesão.
encarceradas e necessitando de alguém que fale com elas até à
•Evitar que pessoas com alguns ferimentos ou mesmo
chegada do socorro. Em qualquer das situações descritas, é
aparentemente ilesas abandonem o local do acidente e pedir a
importante saber-se como agir com segurança e eficácia face à
quem testemunhou o acidente que se mantenha no local até à
emergência, para além de se saber o que fazer na cena do
chegada das autoridades.
acidente e como reportar objetivamente o que se viu (Lowe, D.,
• Evitar que outros veículos, mesmo que apenas estejam
2008).
marginalmente envolvidos no acidente, não desapareçam da cena
do acidente; convém não esquecer que, por vezes, as pessoas não
querem estar envolvidas em processos ou não querem que se saiba
que estavam naquele lugar àquela hora.

167
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
1. 2. 2 - Informação a prestar quando necessário e possível, prestar primeiros socorros aos que
deles necessitam.
O condutor de um veículo envolvido num acidente deve fornecer às
autoridades a sua identificação, assim como os dados relativos ao A parte principal deste manual, que se centra num conteúdo de
veículo que conduz. Há, no entanto, coisas que não devem ser ditas primeiros socorros, visa fornecer os conhecimentos teóricos e
numa cena de acidente, como por exemplo, expressar alguma práticos que permitam ao motorista identificar a gravidade das
opinião sobre culpa ou responsabilidade relativamente ao situações, saber quando está ao seu alcance intervir e saber
acidente. As autoridades farão todas as perguntas que exatamente o que fazer.
considerarem relevantes e o condutor implicado, assim como as
testemunhas, responderão em conformidade. 1. 2. 4 - Princípios da declaração amigável
No sector profissional, o motorista envolvido diretamente num A ocorrência de um sinistro deve dar lugar ao preenchimento da
acidente tem que reportar a ocorrência à entidade patronal, declaração amigável de acidente automóvel (D.A.A.A.), se os
devendo, para o efeito referir os seguintes dados: condutores estiverem de acordo quanto às circunstâncias em
•Data, hora e localização exata do acidente; que ocorreu, quer envolva dois ou mais veículos. A D.A.A.A. é
•Volume a velocidade do tráfego; um impresso destinado a recolher informações indispensáveis
•Condições climatéricas e visibilidade; ás seguradoras e a relevar objetivamente os fatos. Este impresso
•Estado do piso e eventuais obstruções; deve ser preenchido no próprio local do acidente e assinado pelos
•Sinais de trânsito e referências espaciais relevantes para a condutores intervenientes, não implicando o reconhecimento
localização do acidente ou que possam estar na sua origem; de responsabilidade no acidente e facilitando a regularização
•Quaisquer indicadores que tenha percebido previamente ao do sinistro. Após terem preenchido e assinado, em conjunto, o
acidente. Além destes dados, devem ser recolhidos os detalhes respetivo impresso, cada interveniente fica com uma das folhas.
seguintes: Posteriormente, cada um deve preencher o verso da respetiva
•Os dados dos outros condutores (nomes, endereços e números folha, a Participação de Sinistro, e entregá-la à sua seguradora. O
de telefone): correto preenchimento da D.A.A.A. é imprescindível para a
•Os dados relativos a seguros; celeridade da resolução do processo de sinistro.
•Matrículas, marcas, modelos e números de registo dos outros Independentemente das circunstâncias (existência ou não de
veículos; feridos, etc.), a participação deve ser entregue ou enviada nos oito
•Descrição dos danos dos veículos; dias seguintes ao acidente. Se o outro interveniente não tiver os
•Os dados relativos a testemunhas (nomes, endereços, telefones), documentos em ordem, não houver acordo sobre o que se passou
assim como os dados dos respetivos veículos. ou existirem feridos, deve ser chamada a polícia. A declaração
amigável deve ser preenchida mesmo que a outra parte não a
A elaboração de um esquema da cena de acidente ou até assine. No caso de ser chamada a polícia, o motorista deve pedir
fotografias, incluindo todos os dados recolhidos, podem ser muito para ser levantado o auto da ocorrência.
úteis.
O preenchimento da D.A.A.A. envolve os seguintes passos,
1. 2. 3 - Como agir face à emergência em numerados de 1 a 15, tal como são apresentados na figura 1.
1. Data do Acidente
caso de acidente Indique a data e hora do acidente.
2. Localização
Em qualquer situação de emergência, a prioridade imediata Indique o país e o local. Este de forma detalhada, pois qualquer
é telefonar para os serviços que estão preparados para dar a inexatidão pode influenciar a atribuição de responsabilidades.
resposta adequada (polícia, ambulância ou bombeiros, em função 3. Feridos
da situação), utilizando de preferência o número nacional de Indique a existência de feridos, ainda que ligeiros.
socorro (112) já que os números de telefone dos bombeiros variam 4. Danos Materiais
em função da região. Seguidamente, deve-se assegurar que o Indique a existência de danos noutros veículos ou objetos. É
incidente ou acidente não seja gerador de outros e, finalmente, necessário conhecer os proprietários destes, quando existem.

168
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
5. Testemunhas - Local exato onde se deu o acidente
Indique os nomes, moradas e telefones das testemunhas se - Local onde o(s) veículo(s) ficou(ficaram) imobilizado(s)
existirem. Por vezes são essenciais para o apuramento de 14. Observações
responsabilidades pelo que todas as indicações (moradas, Qualquer indicação que considerar pertinente.
telefones de contato, se são ou não passageiros) devem ser 15. Assinatura dos condutores
fornecidas. Escrever “sem testemunhas” quando não existirem.
6. Segurado/Tomador de Seguro Devem ser as que constam do seu B.I. e deverão corresponder
Indique qual o segurado/tomador de seguro (ver documento igualmente à que consta das propostas de seguro/alteração, se for
de seguro), e respetivos contatos (morada, telefone ou e-mail e o Tomador ou Segurado.
número de contribuinte).
7. Veículo O verso da declaração amigável consiste na participação de sinistro
Indique dados do veículo (marca/modelo, no de matrícula e e deve ser preenchido da forma mais completa e precisa possível,
país de matrícula), bem como do reboque se existir. dando especial atenção à descrição pormenorizada do acidente
8. Companhia de Seguros e a feridos. É indispensável a assinatura do Tomador, que é a
É indispensável a indicação das seguradoras, número de apólice pessoa autorizada a assinar pela empresa operadora do transporte
Carta Verde e respetiva validade, bem como dos dados e (mercadorias ou passageiros), sendo ainda necessária a aposição
contatos da agência, representante ou corretor. Indique também se do respetivo carimbo.
os danos materiais estão cobertos pela apólice.
9. Condutor
É necessário, para além do nome e morada, número da carta
de condução para se verificar a habilitação à condução do tipo de
veículo. Indicar um telefone ou e-mail para contato durante o dia,
em caso de necessidade.
10. Ponto de embate inicial
É fundamental a indicação do ponto de embate inicial, pois os
danos apresentados após a imobilização do veículo podem não ser
conclusivos para apuramento da responsabilidade.
11. Danos Visíveis
Assinalar os danos atribuíveis ao sinistro, já que os veículos
poderão ter outros danos não provocados pelo acidente que
motivou esta Dªªª.
12. Circunstâncias
Devem ser assinalados todos os quadros aplicáveis à descrição
do acidente (1 a 17).
13. Esquema do Acidente
A desenhar de forma a que, complementado pelas
circunstâncias, permita concluir como aconteceu o acidente e
definir responsabilidades. Deverão constar alguns elementos
essenciais tais como:
- Veículos intervenientes e danificados
1. 3 - Situações de emergência no transporte
- Outros objetos danificados rodoviário
- Sentido da marcha dos veículos
- Largura dos veículos
- Largura da via
1. 3. 1 - Risco de violência e agressão
- Traços contínuos ou tracejados
No contexto do transporte rodoviário de passageiros e
- Sinalização existente
mercadorias, o risco de violência e agressão não deve ser
- Metros de travagem
negligenciado, pois vários estudos estimam que este risco é

169
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
significativamente superior nestes profissionais comparativamente veículos, a carga e os bens pessoais do motorista.
ao da generalidade da população. Para além de roubos e ataques
atingindo a integridade física dos motoristas, estes são No transporte de passageiros, as situações de emergência podem
frequentemente agredidos verbalmente pela clientela. Há ainda resultar de agressão ou conflito com o motorista ou de agressão
a referir a violência sobre o veículo, partindo vidros e danificando ou roubo cometido contra passageiros ou ainda de conflito entre
outros elementos com o intuito de roubar a carga, para além da estes. Apesar do seu relativo isolamento e de nunca ou raramente
violência gratuita apenas com o propósito de criar dano. Estas receber dinheiro de títulos de transporte, o motorista também está
situações expõem os motoristas a fatores de stress adicionais aos vulnerável a ataques, roubos e agressões físicas,
que são inerentes à própria tarefa (condução do veículo e, nalguns particularmente em horários noturnos, quando há menos
casos, o transporte de matérias perigosas). movimento de passageiros e em locais mais isolados e com fraca
vigilância das autoridades. Os passageiros são mais
No transporte de mercadorias, os motoristas têm frequentemente frequentemente assaltados em condições de maior confusão e,
necessidade de parar para descansar e até dormir um pouco (de portanto, quando há muito movimento de passageiros e,
dia ou de noite) em áreas reservadas para o efeito e que deveriam consequentemente, mais contato físico entre eles. Em condições
ter condições de segurança apropriadas (por exemplo, patrulhas de atrasos do serviço de transporte e acumulação de passageiros,
de segurança, TV em circuito fechado). Apesar das recomendações geram-se conflitos que atingem frequentemente o motorista, sob
para apenas pararem nestas áreas, têm sido inúmeros os casos de forma de agressões verbais.
agressão, furto e vandalismo. Na sua maioria, estes casos ocorrem
quando os veículos estão parados durante a noite, estando o A frequência crescente de situações de violência no contexto do
motorista a dormir. transporte rodoviário tem levado as autoridades e os operadores
de transportes a implementar novas medidas de segurança que
Segundo um estudo conduzido entre 2005 e 2006 pela cobrem diferentes tipos de situações de emergência: acidente,
International Road Transport Union (2008), o número de incêndio, inundação, agressão, crime violento, atos de vandalismo
incidentes (roubos e assaltos) com veículos pesados de e até terrorismo. Estas medidas têm vindo a evoluir à medida
mercadorias tem vindo a aumentar significativamente, o que que se vai aprendendo com as mais recentes ocorrências e se vão
tem justificado a necessidade de vários estudos e a consequente enfrentando novas ameaças. Neste contexto, os operadores de
implementação de medidas preventivas. Os resultados deste estudo transportes têm que desenvolver e implementar medidas
puseram em evidência o seguinte: preventivas, desenvolver capacidades de resposta às situações que
•Das 2.003 respostas ao questionário, foram reportados 476 forem sendo criadas, o que implica formação dos diferentes atores,
ataques ao condutor, ocorridos durante o período em que o estudo neste caso, os motoristas, conferindo-lhes meios e capacidades de
decorreu; resposta. Finalmente, devem ser previstos meios de recuperação
•Dos 1.275 motoristas entrevistados, 17% já tinham sofrido um adequados para que rapidamente o sistema volte a funcionar
ataque nos últimos 5 anos; normalmente. Este procedimento é comum a qualquer sistema
•30% dos motoristas atacados referiram que já o tinham sido de risco, embora pouco tenha sido implementado no contexto do
mais do que 1 vez; transporte rodoviário. No entanto, a incerteza que o carateriza,
•43% dos ataques estiveram relacionados com o roubo de bens aliada ao aumento do risco de agressão ou qualquer forma de
pessoais do motorista, enquanto que 63% visaram a carga do violência, apontam claramente para a implementação de um
veículo; sistema de segurança eficaz, envolvendo os operadores e as au-
•21% dos motoristas referiram ter sido fisicamente agredidos no toridades relevantes numa conjugação de esforços para respostas
ataque; prontas e eficazes.
• 30% dos motoristas atacados não chamaram as autoridades por
falta de confiança nas mesmas, porque não falavam a língua local
e por medo das consequências;
1. 3. 1. 1 - Como prevenir
•18% dos motoristas referiram que o suporte providenciado pela
A prevenção de situações de emergência decorrentes de agressão
sua empresa foi adequado;
ou qualquer forma de violência passa essencialmente pela política
•O custo total dos 476 ataques acima referidos foi de
de segurança definida pelo operador de transporte. Esta deve
aproximadamente 12 milhões de Euros, incluindo o roubo de
assentar na definição de procedimentos de segurança e gestão de

170
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
conflitos, na integração de dispositivos tecnológicos de segurança e meios tecnológicos colocados à sua disposição para tais situações.
na preparação dos motoristas para gerir e responder
adequadamente a tais situações. Em termos gerais, uma política No contexto do transporte de mercadorias, que prevê longos
preventiva deve ser orientada para a redução da ameaça e da trajetos para o transporte interurbano e internacional, os
vulnerabilidade, o que passa pela identificação dos fatores que as motoristas estão fortemente expostos a atos de agressão e
determinam, ou seja: vandalismo pelo fato de transportarem cargas mais ou menos
•Quais os fatores que podem convidar a uma potencial valiosas, viajarem predominantemente sozinhos e circularem dia e
hostilidade? noite por estrada. No entanto, são eles as pessoas indicadas para
- A existência de infraestruturas e meios de comunicação que combater no local a possibilidade de roubo adotando
podem ser alvo de violência, agressão ou roubo (estações, comportamentos seguros:
paragens, abrigos, parques de estacionamento, sistemas de •Verificar se a carga que transportam corresponde à guia de
comunicação, sistemas de vigilância e controlo, etc., podendo ser transporte;
alvo de destruição); •Verificar os endereços para distribuição da mercadoria;
- O transporte de mercadorias com valor comercial; •Não devem permitir a entrada de pessoas não autorizadas na
- Problemas sociais conducentes a descontentamento e aumento área de carga;
da violência. •Devem deixar os veículos fechados e levar as chaves consigo,
•Quais são as vulnerabilidades ou fraquezas do sistema que nunca deixando, mesmo escondidos, os meios que permitam a
poderão facilitar o sucesso de qualquer ato de violência? entrada no veículo e o seu roubo;
- A localização, sabendo que há zonas que, pelas suas •Nunca devem falar sobre a carga que transportam e a rota que
caraterísticas geográficas e urbanísticas (isolamento, falta de seguem;
iluminação, mau estado da via, etc.) conferem um elevado risco ao •Nunca devem dar boleias que não estejam autorizadas;
trajeto definido; •Nunca devem parar em locais não previstos, particularmente em
- O impato social de qualquer ato de violência sobre zonas escuras e remotas;
determinado sistema e a respetiva dificuldade em recuperar ou •Devem estacionar o veículo de forma a vê-lo a partir do
mitigar os seus efeitos; restaurante ou café quando param para comer;
- A elevada exposição do motorista quando viaja sozinho •Quanto param para pernoitar, devem estacionar o veículo com
(mercadorias) ou sem o devido isolamento do seu habitáculo a porta de acesso à carga bloqueada por uma parede, muro ou
(passageiros). qualquer objeto fixo que não permita o acesso à carga;

Os motoristas deverão conhecer a política de segurança da empre-


sa de forma a adotar comportamentos preventivos em consonância
1. 3. 1. 2 - Como agir em situação de
com essa política. emergência face a atos de violência
A instalação de elementos de proteção, tais como o isolamento do A primeira condição para uma ação eficaz em situação de
habitáculo nos autocarros, cria um posto de trabalho emergência é saber gerir a incerteza que carateriza a atividade
suficientemente isolado para impedir qualquer contato físico com o do motorista, desde a condução do veículo, passando pelo tipo de
motorista. Em qualquer dos contextos (mercadorias ou transporte que efetua (passageiros ou mercadoria e respetiva
passageiros), recomenda-se a instalação de meios tecnológicos, natureza) até às situações que se lhe vão deparando ao longo do
tais como: (1) câmaras de vídeo, cujo conhecimento da sua seu percurso. A gestão adequada da incerteza integra
existência em pleno funcionamento tem um efeito dissuasor sobre competências para antecipação de potenciais situações de conflito
potenciais agressores; (2) dispositivos de comunicação e alarme e identificação de potenciais agressores. Reconhece-se, no entanto,
ligados ao operador de transporte e à polícia local, que permitirão que estas competências se desenvolvem apenas com a prática, pelo
a ajuda necessária em qualquer situação de emergência. A com- que a baixa frequência destas situações não permite ao motorista
pletar os meios tecnológicos de proteção, os motoristas deverão o necessário desenvolvimento de competências específicas a aplicar
ser submetidos a uma formação específica em gestão de conflitos, na gestão de conflitos. De qualquer modo, revela-se importante a
que, proporcionando-lhes a necessária calma, permitirá neutralizar formação neste domínio, a par do estímulo permanente ao
alguns comportamentos de agressão e otimizar a utilização dos desenvolvimento das capacidades de decisão e controlo das

171
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
emoções, fazendo valer serenamente a sua autoridade. conhecer cada tipo de extintor e saber para que situações é
adequado. Assim, para combater um incêndio em veículos, o
Na gestão da incerteza, o local onde a agressão é cometida faz extintor de pó seco é considerado o mais apropriado (Lowe, 2008).
toda a diferença. Tal como uma pessoa que caminha por uma zona Mesmo em situações em que não se conheça determinado tipo de
de risco exibindo objetos atraentes para potenciais extintor disponível, é fundamental ler previamente as instruções
agressores (jóias, máquina fotográfica ou outros artigos de valor), que nele estão afixadas, pois o tempo que se gasta a fazê-lo
a exposição prolongada e insuficiente vigilância são atrativos refletir-se-á na maior eficácia da ação, evitando, por exemplo,
quase infalíveis. Nestas zonas, devem ser limitadas as paragens, utilizar um extintor de água num incêndio na parte elétrica do
sobretudo a horas de menor movimento, devendo, paralelamente, veículo.
ser reforçada a vigilância.
Em situações nas quais o motorista se depare com um incêndio
noutro veículo, deverá igualmente ligar os 4 indicadores de
1. 3. 1. 3 - Como recuperar mudança de direção, encostar à berma, parar suficientemente
afastado do veículo incendiado, desligar o motor e preparar-se
Em situações de acidente, agressão ou vandalismo, coloca-se a
para prestar a necessária ajuda até à chegada dos bombeiros
questão da rápida recuperação do sistema para retorno à sua
seguindo os procedimentos atrás referidos. Se se tratar de incêndio
atividade normal. Assim, após acionar os mecanismos de
no motor de um veículo ligeiro, deve haver todo o cuidado em
emergência e socorro, o motorista deve estar preparado para
não abrir totalmente a tampa do compartimento do motor, pois a
colaborar com as autoridades de emergência e/ou proteção civil,
entrada brusca de ar irá alimentar o fogo, inflamando-o
de forma a seguir estritamente as suas indicações no sentido de
violentamente. Assim, deve-se procurar abrir ligeiramente a tampa
restaurar as condições normais de atividade. Nestas situações,
do compartimento do motor e acionar o extintor através dessa
toda a ação deve ser coordenada, seguindo de forma disciplinada
pequena abertura.
as instruções de quem comanda as operações. Em muitos casos,
estas instruções podem limitar-se a ter que se esperar e assistir à
Se, em qualquer das situações, o veículo estiver incendiado e o
distância à atividade dos agentes de socorro.
fogo tiver proporções que estejam fora da capacidade de combate
do motorista com os meios de que dispõe, então deverá aguardar
1. 3. 2 - Risco de Incêndio a chegada dos bombeiros, ficando afastado do veículo tendo
previamente posto a salvo todos os seus ocupantes. O motorista
O motorista pode ser confrontado com uma situação de incêndio deve ainda impedir, até à chegada dos bombeiros, que haja
ou fumo no próprio veículo, pelo que deverá estar preparado para outros veículos a estacionar nas proximidades, a fim de evitar
agir com segurança e eficácia. Assim, a primeira coisa a fazer é uma exposição desnecessária dos respetivos ocupantes aos riscos
ligar os 4 indicadores de mudança de direção, após o que deverá inerentes à situação e assegurar que não dificultem o livre acesso
encostar à berma, parar o veículo, desligar o motor, deixando a aos veículos de emergência.
chave na ignição e abandonar rapidamente o veículo. Deverá,
então, fazer uma rápida avaliação da situação para depois chamar À chegada das equipas de socorro, o motorista deverá informar
o socorro apropriado (bombeiros), informando da gravidade da os seus elementos das ações que empreendeu, passar-lhes a
situação. Se houver um telefone de emergência próximo do local, liderança de todo o processo e cooperar com eles seguindo as suas
a chamada telefónica deverá ser feita a partir desse telefone uma instruções.
vez que permite imediatamente a localização da ocorrência. No
caso de se tratar de um incêndio de fracas proporções, sem risco
imediato de explosão, o motorista poderá combater desde logo o
1. 3. 2. 1 - Evacuação de passageiros
fogo com os meios disponíveis a bordo (extintor). Para otimizar a
Quando o motorista presta socorro a um veículo em fogo, a
sua ação, o motorista deverá saber exatamente onde se encontra o
primeira prioridade é retirar as pessoas para fora do veículo em
extintor, como o deve retirar do seu ponto de fixação no veículo e
condições de segurança, o que deverá preceder a chamada do
conhecer o seu modo de funcionamento. Há diferentes tipos de
socorro e eventual ação de combate ao fogo. Assim, o motorista
extintores, geralmente codificados por cores, que são específicos
deverá proceder à evacuação de todos os passageiros para uma
para combater determinados tipos de fogo, pelo que é preciso
área segura (por exemplo, escapatórias, saídas de emergência em

172
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
túneis, ou abrigos). Tanto o motorista como os passageiros deverão PRINCÍPIOS GERAIS DO SOCORRISMO
manter-se a uma distância segura do veículo incendiado. •PREVENIR o agravamento estado da vítima e acidente
•ALERTAR corretamente o 112
Num processo de evacuação de passageiros, o motorista deve •SOCORRER a vítima até à chegada de pessoal especializado na
manter-se calmo, assumir a liderança da ação, informar as pessoas emergência
sobre as medidas já tomadas e sobre o processo de evacuação, de
modo a tranquilizá-las e inspirar confiança nas suas ações. Isto
é essencial para a evacuação serena e segura dos passageiros.
2. 3 - Sequência das ações de primeiros
No caso de haver um número elevado de passageiros e se tornar socorros
necessária maior urgência na evacuação, o motorista poderá ainda
escolher algumas pessoas com maior capacidade de movimentação
para o ajudarem na evacuação de passageiros com maior
2. 3. 1 - O que devemos fazer perante um
dificuldade de mobilidade. Estas pessoas deverão ser as acidente?
primeiras a serem evacuadas. É também importante que o
motorista se proteja, pois se ele se magoar e ficar diminuído ou A primeira atitude a tomar perante um acidente será sempre a
impossibilitado de continuar a dirigir a evacuação dos proteção da vítima e de nós próprios, sendo necessário:
passageiros, instalar-se-á o pânico entre eles, a consequente •Manter a calma, é a primeira atitude a tomar no caso de um
desordem e, eventualmente, a situação somará algumas vítimas. acidente;
Finalmente, o motorista deve verificar se todos os passageiros •Avaliar de imediato a segurança do local, desenvolvendo ações
foram evacuados e se alguém está a necessitar de cuidados para a promover de forma a evitar o agravamento ou a ocorrência
especiais. Neste caso, o motorista deverá prestar os primeiros de novos acidentes;
socorros adequados à situação e/ou colaborar com as equipas •Efetuar uma rápida avaliação da vítima. Sempre que possível
de socorro na assistência aos passageiros, encaminhando-os em deve afastar-se o perigo da vítima e o contrário só em último
função da sua condição: para o hospital ou centro de saúde mais recurso;
próximo ou providenciando transporte para casa. •Acionar de imediato o serviço de emergência local.

RECOMENDAÇÕES DE ATUAÇÃO PERANTE UM ACIDENTE


2. Primeiros socorros •MANTER a calma;
•GARANTIR a segurança;
•PEDIR socorro;
•CONTROLAR a situação;
2. 1 - Introdução •VERIFICAR a situação das vítimas.
Este Manual de Primeiros Socorros tem como objetivo fornecer
algumas informações de como iniciar a prestação dos primeiros 2. 4 - Formas de acionar o socorro
cuidados em caso de acidente ou doença súbita de forma a evitar
que se agrave, transmitindo a informação adequada ao pessoal
especializado e assim contribuir para a rápida recuperação da
Como acionar o Socorro?
vítima.
O Alerta deve ser efetuado através do Número Europeu de
Emergência 112. Em alternativa, podemos recorrer aos postes
2. 2 - O que são os primeiros socorros? avisadores de SOS, PSP, GNR, Bombeiros e Mensageiros.

Primeiros Socorros são as primeiras medidas a serem tomadas Ao acionar o Alerta para o 112 é importante responder
no local do acidente, isto é, medidas simples mas eficazes até à corretamente a todas as perguntas uma vez que das informações
chegada do socorro profissional. Existem três Princípios Gerais no prestadas dependerão os meios de socorro enviados para o local.
Socorrismo e que são: PREVENIR, ALERTAR, SOCORRER. No quadro nº 1 exemplifica-se como o Alerta deve ser efetuado.

173
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
Indicações Sobre a Forma de Transmitir o Alerta viatura do socorrista ser estacionada antes do local do
acidente, aproximando-a o mais possível do limite direito da faixa
Forma de transmitir de rodagem e ligando os faróis médios de forma a possibilitar
No pedido de auxílio deve referenciar o seguinte
o alerta uma maior visibilidade. Devendo ainda adotar as medidas de
Referir o nome da rua e a localidade; e outros pontos prevenção, como os dispositivos de sinalização e as luzes
Local do acidente
de referência avisadores de perigo.
Tipo de Acidente Colisão ou atropelamento, Ex: Choque frontal
Indicar o número de veículos envolvidos e
Veículos caraterísticas, por exemplo: veículos ligeiros, pesa-
dos, pesados de passageiros e motos
Indicar o número de vítimas envolvidas e se existem
Vitimas
crianças ou idosos entre as vítimas

Estado Avaliar o estado aparente das vítimas


Vitimas Encarceradas Indicar se existem vítimas encarceradas nas viaturas
ou Soterradas ou soterradas
Indicar a possibilidade de ocorrer uma explosão,
Perigo de Explosão/
Incêndio
Ex: no caso de combustível ou de produtos químicos 2. 5. 1 - Ações de prevenção a desenvolver
derramados na via
no local do acidente
2. 5 - Sinalização do local e a segurança As primeiras ações desenvolvidas face ao acidente têm como
objetivo prevenir circunstâncias externas, como por exemplo:
Recorrer à ajuda de outras pessoas na prestação do socorro, quer
na chamada do socorro, quer na sinalização de modo a garantir a
segurança no local.

COMO SINALIZAR? E GARANTIR A SEGURANÇA DE TODOS?


•Estacionar o veículo fora da faixa de rodagem, após o local do
acidente, identificado com os quatro indicadores de mudança de
direção ligados. PRINCIPAIS AÇÕES DE PREVENÇÃO
• Colocar de imediato o colete refletor. •Prevenção de Novas Colisões
• Efetuar a sinalização do local do acidente, não esquecendo que •Prevenção de Atropelamentos
a mesma deve iniciar-se antes do local do acidente ser visível. Para •Prevenção de Incêndio
isso é necessário: •Prevenção de Explosão
- Demarcar: Colocar um triângulo refletor perpendicularmente •Prevenção de Eletrocussão
em relação ao pavimento e ao eixo da faixa de rodagem, a uma •Conter o Derramamento de Óleo
distância não inferior a 30 metros da retaguarda do veículo ou da •Prevenção da Transmissão de Doenças Infetocontagiosas
carga a sinalizar de forma a ficar bem visível a uma distância de,
pelo menos, 100 metros. 2. 6 - Extintores
- O objetivo é alertar os condutores para que tenham
possibilidade de diminuir a velocidade ou mesmo parar,
prevenindo novas ocorrências de acidente. Para isso, é importante 2. 6. 1 - Tipos de Extintores
certificar-se que nenhuma vítima se encontra fora do veículo ou
nas imediações do local do acidente e se houver focos de incêndio O tipo de extintor a ser utilizado em veículos deve ser adequado
tentar combatê-los com um extintor ou com areia e/ou terra. para fogos das classes A, B e C e ter capacidade não inferior a
4 kg.
No caso de o acidente ocorrer durante o período noturno, deverá a

174
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
2. 6. 2 - Localização dos extintores na 2. 7 - Iniciar o socorro às vítimas
viatura No início do socorro às vítimas são estabelecidas prioridades
consoante a gravidade das situações. Iniciar pela Observação do
Segundo a legislação portuguesa (Despacho Nº 15680/2002), a
Local e das Vítimas como forma de obtermos o máximo de
localização dos extintores deve obedecer ao seguinte conjunto de
informação possível sobre o tipo de ocorrência e o estado das
regras:
mesmas, compreende o Exame Primário e o Secundário.
•O extintor deve estar colocado próximo do banco do condutor, de
forma a facilitar a sua utilização em caso de urgência;
•Nos automóveis pesados de passageiros das categorias II e III, 2. 7. 1 - Exame Primário
só com lotação sentada, para além do extintor referido no número
anterior deve existir um outro colocado na metade posterior do O Exame Primário consiste em:
veículo; •Avaliação do estado de consciência da vítima;
•Os extintores devem estar colocados de forma claramente visível •Se responde a estímulos verbais e dolorosos (bater levemente
e a sua localização estar assinalada através de setas indicadoras nos ombros, tentar chamar e perguntar o nome e pedir para abrir
adequadas, no caso de existir obstrução visual impossível de os olhos).
remover;
•A localização de qualquer extintor deve ser assinalada através 1ª SITUAÇÃO: A VÍTIMA ESTÁ CONSCIENTE
de pictograma adequado, colocado junto ao mesmo, sempre que Conseguir o máximo de informações possível, enquanto a vítima
possível em posição elevada relativamente ao extintor; está consciente.
•Este pictograma deve ser de cor contrastante e facilmente visível O que devemos perguntar?
a uma distância de 3 m, identificando, de modo inequívoco, o •Consegue mobilizar (mexer) os seus membros (braços e
aparelho a que se refere; pernas)?
•Os extintores podem estar protegidos contra o roubo ou •Tem dores? Onde? Em que zonas do seu corpo?
vandalismo, desde que tal não impeça o fácil acesso em caso de •Tem sensibilidade no seu corpo (sente tocar no corpo)?
emergência. •Aonde estamos a tocar? Apresenta outras lesões?
•O Extintor nunca deverá ser guardado no porta bagagens ou em
outro local de difícil acesso; 2ª SITUAÇÃO: A VÍTIMA ESTÁ INCONSCIENTE
•O Extintor deve ser mantido carregado e com a data de validade O que devemos fazer? Neste caso uma das prioridades será
visível e atualizada; pesquisar as funções vitais (VER/OUVIR/SENTIR) e identificar a
•O Motorista deve estar treinado no manuseamento do extintor causa que desencadeou a inconsciência. Para isso, é necessário
em qualquer momento e circunstância. verificar:
•Ventilação: Existência de movimentos
respiratórios (o tórax sobe e desce)
2. 6. 3 - Recomendações na utilização do tentar ouvir a respiração e sentir o ar
extintor expirado (a sair);
•Circulação: Pesquisar o pulso, em
No quadro seguinte exemplifica-se a melhor forma de um extintor ambos os membros superiores (braços)
ser utilizado. ou na artéria carótida (pescoço);
•Temperatura: Utilizar um termómetro, se não houver disponível,
Forma Correta de Utilizar o Extintor colocar as costas da sua mão na região frontal (testa) da vítima e
•Manter o extintor em posição vertical; avaliar.
•Quebrar o selo de segurança existente e que garante que este ainda não
foi usado;
•O jato deve ser dirigido para a base das chamas e não para o meio destas; 2. 7. 2 - Exame Secundário
•Efetuar movimentos de semicírculo, tentando cobrir toda a área de chamas;
•É importante que o jato seja contínuo e nunca com interrupções, de EM QUE CONSISTE O EXAME SECUNDÁRIO?
preferência devem ser utilizados vários extintores ao mesmo tempo. Consiste numa observação mais detalhada da vítima e em

175
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
Interrogar a mesma, uma vez que todas as informações prestadas 2. 8 - Socorros no âmbito da traumatologia
pela vítima são uma mais-valia para as transmitirmos aos
profissionais de saúde. Existem 2 conjuntos de informações
relevantes e que são: 2. 8. 1 - Alterações Cardio – Respiratórias
•SINAIS - É tudo o que se Observa na vítima, como o diâmetro
pupilar; palidez; rubor e a existência ou não de pulsos. Este tipo de alterações em conjunto ou isoladamente, poderão
•SINTOMAS - É tudo aquilo que a própria vítima diz Sentir, como levar a situações de paragem respiratória e cardíaca e conduzir
a dor; as náuseas e vómitos; as tonturas; a sensação de frio ou de à Morte. São várias as causas de falência respiratória que serão
calor. enumeradas no quadro seguinte.

Geralmente, o exame secundário segue os seguintes passos: Causas Frequentes de Alterações Respiratórias
•Observação da Face:
Verificar a existência de lesões na face como por exemplo •Obstrução das vias respiratórias (engasgamento)
escoriações, queimaduras, edemas ou equimoses. •Intoxicação (dióxido ou monóxido de carbono)
•Observação da Pele:
•Fratura ou esmagamento de costelas
Coloração (normal, congestionada, pálida ou cianosada);
Asfixia •Traumatismo Craniano
Temperatura (normal, quente ou fria);
Grau de humidade da Pele (normal, seca ou suada); •Envenenamento
•Observação das Pupilas: •Afogamento
Diâmetro (normal, dilatada ou contraída); •Nas crianças, por presença de corpos estranhos
Simetria (comparação dos diâmetros de ambas as pupilas); •Lesões cardíacas como o enfarte agudo do miocárdio
Reação à luz (Sim ou Não). Outras causas •Eletrocussão
•Soterramentos
2. 7. 3 - O que não fazer a uma vítima de
acidente 2. 8. 2 - Técnicas de desobstrução das vias
Existem atitudes que não devemos ter perante uma vítima de
aéreas
acidente pois podem comprometer a sua vida e que são:
•Efetuar a manobra de extensão da
1 - Não mobilizar a vítima: Só deverá ser realizada se houver risco
cabeça;
iminente de explosão, incêndio ou outra situação que faça perigar
•Desapertar roupas, colarinhos,
a vida.
gravatas, cintos e lenços;
2 - Não retirar o capacete de um motociclista: O capacete só deve
•Abrir a boca, colocar os 2 dedos
ser removido em caso de paragem cardiorrespiratória para início
envolvidos num pano limpo, retirando
de manobras de reanimação.
as próteses dentárias soltas, corpos
3 - Não efetuar garrotes para parar as hemorragias: Só deve ser
estranhos, vómito e sangue.
realizado em situações bem definidas e por profissionais de saúde.
4 - Não dar líquidos ou alimentos: Uma vez que a situação clínica
poderá implicar procedimentos cirúrgicos à chegada ao hospital. 2. 8. 2. 1 - Pancadas interescapulares e
RECOMENDAÇÕES AO EFETUAR O SOCORRO À VÍTIMA
manobra de Heimlich
•NÃO MOBILIZAR a vítima;
Estas manobras poderão ser utilizadas em caso da existência de
•NÃO RETIRAR o capacete de um motociclista;
um corpo estranho, que se encontre a obstruir as vias aéreas.
•NÃO EFETUAR garrotes;
•NÃO DAR de comer e beber.
Nas pancadas interescapulares a posição do socorrista deverá ser a
seguinte:

176
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
•Junto da vítima, ao lado e •Avaliar o nível de
D
ligeiramente por trás, em posição de consciência
equilíbrio; Se estiver consciente, passar ao
E •Exposição da vítima
•Com uma mão suster o tórax da exame secundário
vítima, inclinando-a
ligeiramente à frente;
•Com a outra mão aplicar 5 pancadas
2. 8. 3. 1 - Abordagem da vítima
entre as omoplatas;
Na abordagem da vítima deveremos considerar o seguinte:
•Assim que se observar a reversão da obstrução interromper a
•Confirmar a segurança no local e avaliar o grau de consciência
manobra.
da vítima;
•Fazer perguntas de forma a obter algumas respostas a ordens
Na Manobra de Heimlich a posição do
verbais simples.
socorrista deverá ser a seguinte:
•Junto da vítima, por detrás deve-se
colocar os braços em redor desta, na 2. 8. 3. 1. 1 - A vítima não responde
região superior do abdómen, entre o
apêndice Xifóide e o umbigo; No caso em que a vítima não responde aos nossos estímulos
•Cerrar o punho sobre esta região, agarrá-lo com a outra mão deveremos:
e aplicar 5 movimentos bruscos e secos, no sentido para dentro e •Desobstrução das Vias Aéreas - Libertação das vias aéreas que
para cima; se encontram obstruídas por corpos estranhos (peças dentárias,
•A manobra tem como objetivo, diminuir o volume da caixa próteses dentárias, sangue e vómito) impedindo-a de respirar.
torácica e assim aumentar a pressão no interior das vias aéreas •Efetuar a Manobra de Extensão da Cabeça - Com as
provocando uma expulsão súbita de ar e com isso a expulsão de extremidades de dois dedos, levante o mento (queixo) de modo a
algum corpo estranho; evitar a queda da língua e consequente obstrução da via aérea;
•Podem-se conjugar ambas as manobras Pancadas
Interescapulares e Manobra de Heimlich.

2. 8. 3 - Suporte básico de vida


São as manobras que podem ser efetuadas por um socorrista de
forma a manter a vítima a respirar e com atividade circulatória, a
vítima deve estar na posição de decúbito dorsal. O quadro seguinte
•Pedir ajuda, se necessário gritar;
refere-se à Avaliação Primária de situações potencialmente graves.
•Desapertar a roupa, em especial em redor do pescoço, tórax e
abdómen;
Avaliação Primária A/B/C/D/E
•Verificar os Reflexos de Segurança:
Imobilizar com colar cervical
A •Libertar as Vias Aéreas 1 - Respiração espontânea: sentir o ar expirado;
ou colocar algo que esteja
Via Aérea •Elevar o Mento (Queixo)
disponível para não deixar que 2 - Movimentos respiratórios: observar e ouvir;
“Airway” •Tração da mandíbula 3 - Tosse: Presença do reflexo da tosse;
a vítima rode a cabeça
Iniciar respiração artificial 4 - Deglutição: Presença do reflexo de deglutição;
caso não haja movimentos 5 - Pulso carotídeo: Presença de pulso.
B •Avaliar a respiração
respiratórios que podem ser
Ventilação (Ver/Ouvir/Sentir)
avaliados olhando para o tórax Após a pesquisa de ventilação e circulação durante 5 segundos.
“Breathing” •Assegurar a ventilação
e verificando se há ou não
Podem surgir 2 situações distintas:
expansão
a) A vítima não ventila mas tem sinais de circulação (presença de
C •Avaliar a circulação,
Circulação se existe pulso avaliado Iniciar RCP
pulso);
“Circulation” ao nível b) A vítima não ventila e não tem sinais de circulação (sem pulso).

177
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
A) A VÍTIMA NÃO VENTILA MAS TEM •Colocar a base da 1ª mão sobre a
SINAIS DE CIRCULAÇÃO outra e entrelace os dedos das duas
O fato da vítima se encontrar inconsci- mãos assegurando-se que a pressão
ente, pode implicar a queda da língua, exercida não incide sobre as costelas;
causando a obstrução da via aérea. •Debruce-se sobre a vítima, braços
Deve-se proceder da seguinte forma: estendidos e perpendiculares ao
seu corpo, exercer pressão sobre o
SÓ COM 1 SOCORRISTA esterno, provocando uma depressão
•O pulso está presente, vamos iniciar a ventilação artificial. de 4-5 cm;
•Aliviar a pressão, descomprimindo,
Posição do socorrista: não retirar a base da mão entre as
•De joelhos, perto do tronco da vítima; Efetuar a manobra de compressões;
extensão da cabeça; •As manobras de Suporte Básico de
•Apertar o nariz, entre o polegar e o indicador de modo a ficar Vida só devem ser interrompidas, se
bem vedado e não haver passagem de ar; após a reavaliação da vítima houver
•Insuflar lentamente 2 vezes consecutivas e observar a expansão presença de circulação novamente.
do tórax;
•Repetir esta sequência até 10 a 12 insuflações, esta manobra
demora cerca de 1 minuto; Reavaliar novamente o grau de ESQUEMA DO CICLO DE RESSUSCITAÇÃO Cardiopulmonar
consciência; •Iniciar 30 Compressões Cardíacas
•Se já existem movimentos respiratórios e se continua a existir •Insuflar 2 vezes
pulso: •Efetuar 30 Compressões – corresponde a 100 Compressões
por Minuto
No caso de existir pulso, manter a ventilação e após cada 10 •Mantenha o Ritmo 30:2
insuflações, reavaliar.

B) A VÍTIMA NÃO VENTILA E NÃO TEM SINAIS DE CIRCULAÇÃO (SEM


2. 8. 4 - Estado de choque
PULSO)
O choque é uma situação que ocorre por colapso do sistema
cardiovascular, tendo como consequência uma falência circulatória
No caso do pulso carotídeo estar ausente iniciar a ressuscitação
periférica generalizada.
cardiopulmonar.

Como efetuar a ressuscitação cardiopulmonar 2. 8. 4. 1 - Causas do estado de choque


•Abrir a via aérea; Extensão da cabeça, levantar o queixo;
•Efetuar 2 insuflações: cada uma deve demorar cerca de 1 As causas do estado de choque podem ser o enfarte agudo do
segundo; miocárdio, a hemorragia, a queimadura ou desidratação grave, o
•Iniciar Compressão Cardíaca Externa; choque elétrico, o envenenamento e as fraturas.
•Localizar bordo inferior da grelha costal, utilizando os dedos
indicador e médio;
•Mantendo os dedos unidos localizar o ponto onde as costelas se
unem, que é o apêndice xifóide;
•Com o dedo médio no apêndice xifóide colocar o indicador
acima;
•Colocar a base da outra mão logo acima do indicador, apoiada
na porção média da metade inferior do esterno;

178
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
2. 8. 4. 2 - Sinais e sintomas do estado de tipo de hemorragia. Por sua vez estas são divididas em:
Interna Invisível: Quando não existe perda de sangue para o
choque exterior, o sangue fica retido no interior do organismo.
Interna visível: O sangue sai por um orifício natural do corpo
(boca, nariz, ouvidos, ânus, uretra ou vagina).
•Hemorragia Externa: É facilmente reconhecida pois o sangue sai
por uma ferida existente na pele, sendo assim visível.

2. 8. 5. 2 - Sinais e sintomas das


hemorragias
Os Sinais e Sintomas das hemorragias são:
•Dor local e irradiante; períodos de confusão;
•Sede e náuseas; pele fria e suada;
•Aumento da Frequência Respiratória e o Pulso fica rápido e
fraco;
•Zumbidos; Alteração da visão; Dilatação pupilar.

2. 8. 4. 3 - Primeiros socorros do estado de 2. 8. 5. 3 - Primeiros socorros das


choque hemorragias
•Deitar a vítima, em decúbito dorsal (de costas) e desapertar as
roupas ao nível do tronco, mantendo a temperatura corporal 2. 8. 5. 3. 1 - Hemorragias internas
•Não dar de beber e molhar os lábios
•Verificar o estado de consciência, a ventilação e o pulso HEMORRAGIA INTERNA INVISÍVEL
•No caso da vítima se encontrar inconsciente, colocar na posição O Primeiro Socorro para este tipo de hemorragias compreende:
lateral segurança

2. 8. 5 - Hemorragias
Uma hemorragia é a rotura de um vaso sanguíneo (artéria, veia HEMORRAGIA INTERNA VISÍVEL
ou capilar) e a consequente saída de sangue. A hemorragia é mais Epistaxis consiste numa hemorragia pelo nariz que pode acontecer
grave se for ao nível de órgãos como o fígado, baço e cérebro. espontaneamente, em consequência de uma pancada no nariz ou
devido a um traumatismo craniano.
2. 8. 5. 1 - Classificação das hemorragias
Primeiro Socorro:
QUANTO À SUA ORIGEM •Colocar a vítima sentada com a cabeça direita;
•Artéria - Vaso de grande calibre, o sangue sai em jato e é ver- •Fazer compressão com o polegar e indicador em pinça
melho vivo constitui uma Hemorragia difícil de controlar; apertando as extremidades da narina durante cerca de
•Veias - O sangue é vermelho escuro e sai continuamente; 10 minutos;
•Capilares - A saída de sangue é discreta mas continua. •Aplicar frio - utilizar gelo, que nunca deve ser colocado
diretamente;
QUANTO À SUA LOCALIZAÇÃO •Se não resultar promover o transporte ao hospital.
•Hemorragia Interna, nem sempre é fácil o reconhecimento deste

179
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
2. 8. 5. 3. 2 - Hemorragias externas 2. 9. 1 - Lesões ósseas
Relativamente ao controlo das hemorragias externas, é Uma fratura é a quebra de um osso, e resulta de um traumatismo
extremamente importante que a atuação seja rápida e para isso direto, podem ser parciais ou totais e classificam-se em:
existem 2 métodos a utilizar: •Fechadas ou simples, quando não existe ferida no foco de
•Compressão Manual Direta fratura;
•Compressão Manual Indireta •Expostas ou abertas quando há ferida e visualização do foco de
fratura no exterior.
2. 8. 6 - Compressão manual direta Sinais e Sintomas das Fraturas
No quadro seguinte exemplifica-se a técnica de execução da
compressão manual direta. Sinais e Sintomas
Dor no local e que diminui quando se efetua a imobilização da fratura;
Compressão Manual Direta Edema ou inchaço
Deitar a vítima de costas Deformação, existe uma aparente angulação ou encurtamento do membro;
Pressão direta sobre a ferida: Consiste em aplicar sobre a ferida compressas Impotência funcional ou perda de função, não é possível efetuar o movimen-
esterilizadas ou um penso que poderá ser improvisado mas deve ser limpo, to habitual do membro;
comprimindo a zona com a mão. Crepitação óssea sente-se o roçar dos topos ósseos fraturados.
Se o penso ensopar de sangue não deve ser retirado, coloca-se outro por cima
e faz-se compressão manual forte. PRIMEIRO SOCORRO
Nunca retirar o primeiro penso, se tiver oportunidade pode aplicar uma a) Instalar em posição de conforto a vítima sem provocar
ligadura não demasiado apertada e vigiar o local bem como as extremidades movimentos e colocar o membro fraturado na posição mais natural
se for num dos membros superiores ou inferiores (braços ou pernas). possível e que não agrave a dor;
b) Expor o foco de fratura, cortando a roupa que o envolve e
ATENÇÃO: A Compressão Manual Direta não deverá ser efetuada se controlar a hemorragia por compressão manual indireta;
no local existir foco de fratura ou corpo estranho encravado. Nas c) Lidar com os topos ósseos visíveis como se fossem corpos
situações em que a hemorragia persiste ou em que é estranhos encravados, protegendo-os com compressas esterilizadas
provocada pela lesão de uma artéria temos de realizar a se possível;
Compressão Manual Indireta. d) Prevenir o Estado de Choque e transportar para uma unidade
hospitalar.
2. 8. 7 - Compressão manual indireta
Consiste em comprimir ou efetuar pressão ao nível dos pontos de
compressão das artérias, geralmente de encontro ao osso mais
próximo.

PONTOS DE COMPRESSÃO Queimadura é uma solução de continuidade da pele e/ou tecidos


Preferencialmente são dois os pontos de compressão a ser subjacentes, resultantes do contato ou ação de um agente
utilizados: Artéria Umeral e Artéria Femural exterior. A pele é uma membrana resistente e flexível que envolve
Comprimir a artéria durante 10 minutos. toda a superfície exterior do nosso corpo, sendo constituída por 3
camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme, e tem duas funções
básicas: Termo-proteção (barreira natural que protege a entrada
2. 9 - Lesões osteoarticulares de microrganismos no nosso organismo) e de Termo-regulação
(manutenção da temperatura corporal).
O esqueleto humano tem como papel principal o de suporte e
da locomoção, sendo dividido em 3 regiões anatómicas: Cabeça,
Tronco e Membros.

180
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
2. 10 - Queimaduras genitais e articulações são sempre graves, independentemente do
seu grau. São sempre mais graves quando ocorram em crianças e
idosos.
2. 10. 1 - Classificação da gravidade da
queimadura 2. 10. 5 - Primeiro socorro da queimadura
Para se conseguir avaliar a gravidade de uma queimadura é 1º GRAU E 2º GRAU
essencial ter em conta os seguintes fatores: Baixar a temperatura e arrefecer com água ou soro fisiológico,
aliviando assim a sensação de ardor local, no 2º grau proteger
as flictenas (bolhas) com compressas ou panos limpos sem pêlos,
tendo o cuidado para não as rebentar;

3º GRAU
2. 10. 2 - Extensão da queimadura Arrefecer com água, a vítima não sente dor uma vez que os nervos
sensitivos poderão ter sido atingidos. Providenciar de imediato o
A Extensão da queimadura é determinada pela percentagem da transporte ao hospital.
superfície corporal atingida.
RECOMENDAÇÕES GERAIS NAS QUEIMADURAS
2. 10. 3 - Profundidade da queimadura •Não rompa ou fure flictenas íntegras e não use gelo no local;
•Retirar todos os acessórios, como o relógio, colares, anéis e
A profundidade da queimadura é relativa às camadas de pele braceletes;
queimada e afere-se pelo grau. •Vigie os sinais vitais e sinais de choque;
•1º Grau: A Pele apresenta-se vermelha, •Não ofereça medicamentos ou alimentação oral até que a vítima
quente, seca, dolorosa e acompanhada de ardor. tenha sido avaliado;
A lesão apresenta-se à superfície da pele sendo •Não aplique na queimadura: manteiga, pasta de dentes,
a epiderme atingida e o agente mais comum é pomadas ou óleos;
o sol. •Vigie a respiração nas vítimas com queimaduras da face.
•2º Grau: A Pele apresenta-se quente, seca,
muito dolorosa, aparecimento de flictenas 2. 11 - Organização da caixa/mala de
(bolhas) e edema, é atingida a epiderme e
parte da derme, os líquidos aquecidos são a primeiros socorros
causa mais comum.
•3º Grau: A pele apresenta–se escura Para finalizar este Manual de Primeiros Socorros damos algumas
(carbonizada) ou esbranquiçada. Há destruição sugestões de como deve estar organizada uma Caixa/Mala de
de todas as camadas da pele e de outros tecidos Primeiros Socorros essencial nas deslocações de viaturas.
adjacentes, como músculos e ossos e nervos
sensitivos o que leva à perda de sensibilidade 2. 11. 1 - Caraterísticas das caixas de
na região queimada.
primeiros socorros
2. 10. 4 - Localização da queimadura e •Existem no mercado vários tipos de caixas e bolsas, consoante o
idade da vítima nº de pessoas a abranger; deve conter uma listagem do material
existente;
A localização da queimadura é determinante na avaliação da •Em local bem sinalizado e do conhecimento dos utilizadores da
sua gravidade e quando localizadas em zonas do corpo como: a viatura;
face, os olhos, o pescoço, as vias respiratórias, o tórax, os órgãos •O material constituinte deve ser liso, resistente e de cor clara,
possibilitando uma boa limpeza;

181
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E PRIMEIROS SOCORROS
•Os consumíveis deverão sempre que possível, serem
descartáveis.

Referências
International Road Transport Union (2008) – Attacks on Driver of
International Heavy Goods Vehicles: Survey results. Geneva.

Lowe, D. (2008) – The Professional LGV Driver’s Handbook: A


Complete Guide to the Driver CPC. The Chartered Institute of
Logistics and Transport. UK.

Simões, A; Carvalhais, J.; Ferreira, P.; Lourenço, M.; Correia, J.


Afonso, H. (2005) – Estudo da carga de Trabalho dos motoristas de
transporte rodoviário de passageiros e mercadorias. Biblioteca IMT,
Cota: M. 7464-7464/A TR.

LEGISLAÇÃO CONSULTADA:
Decreto-Lei nº 209/98, de 15 de Julho, alterado pela Lei nº 21/99,
de 21 de Abril, e pelos Decretos-Leis nº 315/99, de 11 de Agosto,
e 570/99, de 24 de Dezembro, e revogado relativamente aos arts.
5º e 6º pelo Decreto-Lei nº 313/2009, de 27 de Outubro. –
Regulamento da habilitação legal para conduzir.

Decreto-Lei nº 114/94, de 3 de Maio, revisto e republicado pelos


Decretos-Leis nº 2/98, de 3 de Janeiro, e 265-A/2001, de 28 de
Setembro, alterado pelo Lei nº 20/2002, de 21 de Agosto, revisto
e republicado pelo Decreto-Lei nº 44/2005, de 23 de Fevereiro,
alterado pelo Decreto-Lei nº 113/2009, de 18 de Maio, alterado
pela Lei nº 78/2009, de 13 de Agosto. – Código da Estrada.

Despacho Normativo nº 46/2005 – Funcionamento do número


europeu de emergência 112.

Despacho nº 15680/02 (2ª série) de 10 de Julho de 2002 –


Extintores

CONTEÚDO FORNECIDO POR:


IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP

182
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE

Introdução 1. 2 - ... e humanos


O objetivo deste módulo é fornecer as competências necessárias à •As agressões aos motoristas ou aos passageiros
prevenção da criminalidade e do tráfico de imigrantes •Os clandestinos
clandestinos.
Num contexto de aumento das agressões em vários países (fonte
Verifica-se, cada vez com maior frequência, a utilização com fins IRU 2008).
criminosos do comércio legal como cobertura para atividades
ilegais, como o roubo de mercadorias e de veículos com ou sem INDIVIDUALMENTE
agressão aos motoristas, a imigração clandestina, o tráfico de Refletir em silêncio durante 3 minutos sobre o tema da
droga, o branqueamento de dinheiro, a fraude alfandegária, a criminalidade nos transportes;
passagem de produtos contrafeitos e outros delitos. Anotar 5 palavras-chave ou 5 frases curtas

Presentemente, a segurança constitui uma das principais COLETIVAMENTE


prioridades das empresas de transporte internacional de Levantamento de 5 das ideias surgidas Análise rápida das
mercadorias e de passageiros e a necessidade de facilitar o semelhanças e das diferenças
comércio e os transportes leva a que as questões da segurança
estejam na ordem do dia. 1. 3 - Números que testemunham a
Os roubos e agressões perpetrados contra as empresas de amplitude do problema
transporte rodoviário acarretam consequências económicas e
sociais que não podem ser subestimadas. Os atores da cadeia de Segundo o IRU, 17% dos motoristas de transporte rodoviário
transportes: carregadores, técnicos de logística, transportadoras, internacional de mercadorias foram atacados durante os últimos 5
clientes, mas igualmente construtoras, seguradoras, poderes anos.
públicos, todos são parte interessada na luta contra este •30% foram-no mais de uma vez
fenómeno. •61% dos ataques tiveram lugar em parques de estacionamento
ou em áreas de serviço
Esta formação tem por objetivo transmitir informação de ordem •2/3 dos ataques ocorrem de noite
geral sobre segurança; alertar para o aumento da criminalidade •21% dos motoristas relataram agressões físicas durante o
e do tráfico de clandestinos; dar formação sobre as medidas de ataque
prevenção a adotar, controlos e inspeções e referir quais as •35% dos motoristas atacados dizem que a agressão de que
implicações legais para as empresas. foram vítimas teve impato na sua vida profissional
•Em 63% dos ataques, os visados foram o veículo ou a sua carga
•E/ou 43% dos ataques estiveram associados ao roubo de objetos
pessoais do motorista:
1. Roubos e agressões Documentos pessoais, dinheiro, telemóveis ou roupa
•30% dos motoristas agredidos não chamaram a polícia, e entre
as razões invocadas:
1.1. Desafios económicos... Para 12%, por falta de confiança nas autoridades locais
Para 5%, por dificuldades linguísticas
72% do transporte de mercadorias na Europa faz-se por estrada. Para 1%, por medo das consequências
Quem trabalha no transporte rodoviário de mercadorias é muitas •2% dos casos resultaram em detenções
vezes confrontado com um certo número de riscos: •18% dos motoristas relatam que o apoio das respetivas
•O roubo das mercadorias empresas foi o adequado
•O roubo do veículo

183
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE

2. Prevenção e boas práticas •Certificar-se de que uma assinatura ou um nome em carateres


de imprensa são visivelmente apostos
sobre os documentos de entrega
•Na medida do possível, supervisionar
2. 1 - Antes do transporte e da viagem pessoalmente as operações de descarga
•Planificar os detalhes do itinerário, em concertação com o
empregador
•Abastecer de combustível nos locais reconhecidos como seguros 2. 4 - Transporte e estacionamento
•Certificar-se de que compreende bem o funcionamento dos
equipamentos de segurança do veículo e de que sabe servir-se dos
mesmos
2. 4. 1 - Discrição e prudência
•Verificar se todos os dispositivos de segurança estão a funcionar:
•Evitar falar do conteúdo da carga, do seu valor, dos itinerários
alarme, antirroubo...
escolhidos e dos locais de carga e descarga
•Evitar levar a bordo pessoas estranhas à empresa. Não dar
2. 2 - Durante o carregamento boleia
•Nunca deixar objetos pessoais à vista
•Ter em atenção os carregamentos incorretos ou incompletos •Tanto quanto possível, no transporte de mercadorias, evitar
•Verificar se a carga corresponde às guias levantadas escolher sempre os mesmos itinerários ou parar nos mesmos
•Se necessário, anotar o número do quadro locais; um esquema facilmente identificável faz do veículo um alvo
•Assinalar todas as anomalias ao nível da carga, fecho e vedação fácil para os ladrões/criminosos
•Certificar-se de que tem os detalhes necessários
– Morada de entrega
– Nome da pessoa que receberá a mercadoria
2. 4. 2 - Chaves e dispositivos antirroubo
•Tentar obter, se possível, um número de contato
•Nunca deixar as chaves do veículo na ignição
•Usar de discrição sobre a mercadoria e respetivo destino
•Ao sair, fechar sempre o veículo à chave e levá-la
•Verificar a segurança da cabine e do
•Retirar a chave da ignição, mesmo para ir pagar o combustível
compartimento da carga
ou fazer uma entrega
•Na carga e descarga, fechar a cabina
•Assegurar que as chaves não são identificáveis – não deixar
à chave. Não deixar documentos de
nada sobre o molho de chaves que revele a quem pertencem ou a
transporte e/ou objetos pessoais à vista
que veículo correspondem
dentro da cabine
•Se as chaves forem guardadas na empresa, certificar-se de que
ficam num local seguro, fora do alcance de pessoas estranhas à
2. 3 - Na entrega empresa
•Manter o compartimento da carga fechado à chave, mesmo
•Verificar se a selagem continua intacta e se o número durante a condução
corresponde aos documentos de entrega •As portas dos compartimentos das
•Verificar se as quantidades e pesos correspondem aos bagagens devem estar sempre fechadas
documentos de levantamento e entrega à chave
•Certificar-se de que a entrega é efetuada na morada certa
•Se houve alterações, obter uma
confirmação escrita dessas alterações na
2. 4. 3 - Prevenção
morada de entrega ou junto da entidade
•Efetuar um controlo visual do veículo a cada paragem: verificar
patronal
o carregamento, as selagens (estão intactas?)
•Se necessitar de informações
•Verificar o compartimento das bagagens (está intato?). Retirar
complementares durante o trajeto não seguir as indicações de
dos cacifos todos os objetos pessoais que ainda aí se encontrem
desconhecidos sem verificar primeiro junto da entidade patronal

184
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
•No caso de paragem imprevista, manter as portas fechadas. Se adicionado nem retirado pelos passageiros ou por terceiros
for necessário sair da cabina, esta deverá ser fechada e ativado o •Estabelecer um sistema de etiquetagem simples mas eficaz e
alarme bem visível para identificação das bagagens e garantir que nada
•Na medida do possível, pedir a um colega para vigiar o veículo, foi esquecido antes da partida
durante as ausências •No caso de bagagens não acompanhadas detetadas em trânsito,
o motorista/pessoal de bordo deverá contactar imediatamente a
empresa e organizar-se para retirar as bagagens logo que possível.
2. 4. 4 - Estacionamento As disposições para recuperar estas bagagens serão estabelecidas
o mais rapidamente possível
•Não estacionar em locais isolados
•Se as bagagens não acompanhadas forem transportadas com
•Na medida do possível, o local de estacionamento noturno
total conhecimento de causa, particularmente no caso de viagens
deverá ser escolhido antes de iniciar o trajeto. Em caso de
internacionais, a empresa de transporte deverá informar as
alteração, informar a empresa
autoridades competentes do país de destino ou o operador antes
•Evitar a utilização de áreas de estacionamento não conhecidas
da chegada
ou sem segurança
•A empresa deverá poder explicar a presença das bagagens não
•Tentar estacionar o veículo de maneira a que este fique visível
acompanhadas e, se necessário, o tipo de ação a realizar para
•Estacionar o veículo de maneira a que as portas da carga fiquem
remover as bagagens, inspeção completa incluída
perto de outro veículo, de um edifício ou de uma parede
•Tomar as disposições necessárias para identificar as bagagens
•De volta ao veículo, inspecionar as imediações para detetar
não licenciadas o mais rapidamente possível
qualquer sinal de manipulação, nomeadamente as selagens de
proteção da carga
•Inspecionar o veículo após uma pausa, incluindo o 2. 5 - Em trânsito
compartimento da bagagem
•Fazer um relatório para a entidade patronal, de acordo com as
instruções recebidas
2. 4. 5 - Entrada e saída de passageiros •Ser prudente em caso de paragem forçada do veículo, por
exemplo, no local de um acidente ou de uma urgência, ou a
•Certificar-se de que ninguém embarca
pedido das forças policiais
sem razão e sem documento de
•Avisar a empresa sobre estradas fechadas durante o trajeto, com
autorização válido: título de transporte ou
ou sem indicação de um itinerário alternativo
livre-trânsito para a viagem em questão
•No caso de alertas de segurança, seguir as recomendações das
•Comparar a lista dos passageiros e
forças policiais locais. Certificar-se de que alguém fica perto do
a lista de presenças e anotar eventuais
veículo, se tiver de se afastar. Se estiver sozinho, deixar em
alterações. Assegurar que o número de
evidência uma nota explicando onde se encontra, como contactá-lo
passageiros a bordo corresponde ao número anunciado para a
e quando estará de volta.
viagem. Efetuar esta verificação no início da viagem e a cada novo
•Durante as paragens –
embarque após as paragens
embarque de novos passageiros,
•Retirar todos os objetos provenientes de uma viagem anterior
pausas – certificar-se de que
•Certificar-se de que as bagagens dos passageiros que não
nenhuma bagagem é retirada sem
desejam participar na viagem são retiradas do autocarro antes da
razão válida, nem esquecida antes
partida
de partir
•Certificar-se de que todos os passageiros são portadores de um
2. 4. 6 - Atribuição das bagagens e bilhete ou livre-trânsito válido durante o embarque e após cada
paragem
bagagens não acompanhadas •Certificar-se de que ninguém não autorizado beneficia da subida
e descida dos passageiros, bem como da carga ou descarga das
•No embarque das bagagens, certificar-se que todas as bagagens
bagagens
pertencem aos passageiros. Ter a certeza de que nada foi
• Antes do embarque dos passageiros ou depois da viagem,

185
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
inspecionar minuciosamente o interior do veículo à procura de 2.6.3. Em caso de agressão ou no decorrer
objetos suspeitos. Essa inspeção inclui todas as zonas do veículo:
debaixo dos bancos, compartimento das bagagens, de um roubo
compartimentos interiores e instalações sanitárias
•Por segurança, efetuar uma inspeção completa ao veículo •Evitar resistir/opor-se aos atacantes
antes de iniciar uma viagem, incluindo o interior, os •Após o acidente, avisar a polícia o mais rapidamente possível
compartimentos de bagagens e o chassis através de um telefone fixo (a chamada será localizada com
precisão) ou de um telemóvel (neste caso, indicar precisamente o
local onde se encontra)
2. 5. 1 - Medidas específicas – transporte de •Avisar a entidade patronal
passageiros •Apresentar queixa à polícia
•Se o veículo ou o reboque tiverem um número na cobertura,
...para utilização do motorista e pessoal de bordo a fim de comunicar esse número à polícia
proteger o veículo contra qualquer intrusão durante as viagens
internacionais 2. 7 - Proteger-se
•Estar sempre vigilante – os passageiros sem título de transporte
válido e os clandestinos podem ser agressivos •A segurança em primeiro lugar. Ser prudente
•Se necessário, anotar a data e a hora de todas as verificações •Certificar-se de que beneficia de uma cobertura de seguro (de
efetuadas, de acordo com a lista de controlo e, se possível, em empresa) adequada
presença de uma testemunha •Estar na posse de números de telefone e endereços úteis
•Se as inspeções apontarem para uma violação da segurança •Anotar números de urgência (se possível de todos os países
do veículo ou intrusão de uma ou mais pessoas a bordo, anotar respeitantes):
as circunstâncias e apresentar um relatório à polícia do país em – Polícia, unidade antiterrorismo, proteção civil, bombeiros,
questão e mais tarde à polícia fronteiriça empresas especializadas em segurança, com as quais a empresa
de transportes possa entrar em contato
2. 6 - Que fazer em caso de emergência, – Serviço nacional para o roubo de veículos e cargas
– Embaixada (no estrangeiro)
roubo ou agressão?

2. 6. 1 - Em caso de anomalia ou roubo de JÁ FOI CONFRONTADO COM DIFICULDADES DESTE GÉNERO?


Alteração da morada de entrega durante o transporte com ou sem
carga meios para verificar a autenticidade do novo destino? O que fez?
•Se o encerado ou a porta traseira estiverem abertos, verificar o Já lhe aconteceu não poder supervisionar a descarga? Por que
estado da carga razões?
•Se tiver havido roubo, tentar avaliar as perdas
•Avisar imediatamente a entidade patronal e a polícia Já se perdeu? Como reagiu? Tem autonomia na escolha de um
itinerário ou a entidade patronal impõe-lhe um trajeto?
2. 6. 2 - Se o veículo tiver desaparecido
•Avisar o empregador: se o veículo estiver equipado com um
sistema inteligente, a entidade patronal tomará as medidas
necessárias
•Avisar a polícia e participar o roubo

186
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
2. 8 - Anexo harmonizada e coordenada, sobre as formalidades em vigor ou
previstas nas fronteiras, para as operações de transporte
internacional rodoviário, bem como sobre o estado real da situação
nas fronteiras.»

3.1.1. Uma situação inquietante


•Em 2006, a Organização Internacional do Trabalho assinalava
tempos de espera particularmente longos nas fronteiras da Europa
•Em 2005, a duração média para obter um visto Schengen era de
4 dias
•Há motoristas que relatam esperas de 12 a 48 horas entre a
Finlândia e a Federação Russa
•De 12 a 48 horas entre a Polónia e a Bielorrússia

3. 2 - Parques de estacionamento seguros

3. 2. 1 - A Europa tem falta de parques de


estacionamento seguros
•Num contexto em que o tempo
de condução está limitado pela lei,
por vezes não é possível encontrar
um parque seguro

3. Quais as infraestruturas •Um estudo conduzido em


Inglaterra mostrou que o custo dos

disponíveis? parques de estacionamento constituía um entrave à sua utilização


por parte dos motoristas, que preferem parar nas áreas das
autoestradas, arriscando a sua segurança.

3. 1 - A espera nas fronteiras: risco acrescido


3. 3 - Áreas sensíveis na Europa
A espera de várias horas ou dias nas fronteiras aumenta
significativamente o risco de roubo de mercadorias ou do veículo. •Existe um certo número de zonas sensíveis na Europa
•A maior parte dessas zonas ou são urbanas ou fronteiriças
Uma situação que deverá mudar, por aplicação do Anexo 2.8 da
Convenção das Nações Unidas sobre a harmonização dos controlos 3. 4 - O que é um parque de estacionamento
das mercadorias nas fronteiras de 21 de Outubro de 1982:
seguro?*
« A fim de facilitar o transporte
(*Dados do projeto SETPOS: O projeto SETPOS (Secure European Truck Parking
internacional de mercadorias, as
Operational Service) é um projeto piloto da Comissão Europeia – DG TREN)
partes contratantes devem
informar regularmente todas as
partes envolvidas neste tipo de
transporte, de maneira

187
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
3. 4. 1 - Segurança em 4 pontos 4. Ponto de vista das
1. Um perímetro de segurança
2. Uma barreira exterior reforçada por uma barreira interior ou
seguradoras
controlada regularmente
3. Uma zona desimpedida entre a barreira, os edifícios e os 4. 1 - Prevenção e responsabilidade
veículos
4. O conjunto das infraestruturas deve ser iluminado e coberto por O roubo pode ter consequências
um sistema de videovigilância dramáticas para um sector cujo
equilíbrio económico é frágil,
sabendo-se que a taxa de roubo
3. 4. 2 - Entradas e saídas representa 1 a 1,5 vez o preço do
transporte.
•Os veículos devem ser controlados à
entrada e à saída Em 2003, uma carga média valia 75000 €, uma concentração de
•Os peões também valor pouco protegida.
•As entradas e as saídas são
controladas pela videovigilância
•São bem iluminadas 4. 2 - As mercadorias «sensíveis»
•Apenas os veículos e as pessoas
autorizadas podem entrar 4. 2. 1 - Do ponto de vista das seguradoras
3. 4. 3 - Áreas de estacionamento •Os têxteis, o vestuário
•O calçado, a marroquinaria
•Videovigilância •Os material e equipamentos de lazer e desporto
•Iluminação suficiente •A mercearia fina
•Os crustáceos e os bivalves
•O tabaco e o álcool
•O material hi-fi, informático, eletrodoméstico e telefónico
3. 4. 4 - A vigilância •A perfumaria
•Os pneumáticos
•Por pessoal formado em vigilância de parques de •As ferramentas
estacionamento •O material oftálmico
•Postos de segurança nas entradas
•Meios de comunicação entre a equipa de vigilância e os socorros
exteriores 4. 3 - Sem medidas de prevenção não há
•Vigilantes com acesso aos sistemas de videovigilância segurança
•O sistema de vigilância deve ser mantido em segurança
•Não aceitar fretes de “sexta-feira à noite”
• Exigir que os carregadores tenham o cuidado de fretar
Já utilizou parques de estacionamento com o nível de segurança empresas de transporte qualificadas
preconizado pelo SETPOS? Conhece esses parques? •Formar os motoristas
•Adotar embalagens standardizadas
De que modo adapta o seu comportamento nas zonas que •Utilizar dispositivos antirroubo homologados
considera sensíveis? •Recorrer a parques de estacionamento seguros

188
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
Sente uma evolução na responsabilização da entidade patronal CLANDESTINO ATRAVESSA O CANAL DA MANCHA... DEBAIXO DE UM
pela segurança da mercadoria e do veículo? VEÍCULO DA POLÍCIA: OS FATOS
Se sim, como se manifesta? (formação interna, dispositivos de
segurança...)
Na semana passada, um clandestino encaixou-se entre o
reservatório e o chassis de um veículo em Coquelles, Pas-de-Calais.

5. Os clandestinos Assim escondido, o clandestino conseguiu atravessar o túnel da


Mancha. Chegado ao destino, saltou para a estrada.
Mais conhecido como um fenómeno existente no transporte
rodoviário de mercadorias, a intromissão de clandestinos O motorista do veículo viu-o e pôs-se a correr atrás dele. Em vão...
verifica-se também no transporte rodoviário de passageiros, tal
como testemunham os 2 artigos que se seguem. A situação anedótica reside no fato de o veículo sob o qual o
clandestino atravessou a Mancha transportar... uma vintena de
agentes da polícia fronteiriça britânica. Polícias encarregados
BIARRITZ: JOVEM CLANDESTINO MARROQUINO DESCOBERTO de perseguir a imigração ilegal, que faziam parte de uma nova
ESCONDIDO DEBAIXO DE UM AUTOCARRO brigada criada para o efeito.

Um clandestino marroquino, de 14 anos, foi descoberto na


quinta-feira à noite, escondido debaixo de um autocarro
5. 1 - Os dados do problema
proveniente de Tanger (norte de Marrocos), durante um controlo
Segundo a convenção de Dublin
dos serviços aduaneiros em Biarritz (Pirinéus Atlânticos).
de 1993, assinada pelo Reino
Unido, qualquer país a que seja
O adolescente explicou que saiu de Tanger escondido debaixo do
apresentado um pedido de asilo é
veículo. “Os funcionários aduaneiros, ao fazer o controlo, tiveram
obrigado a examiná-lo.
a surpresa de ver um jovem sair debaixo do autocarro, coberto de
óleo e num estado bastante precário”, explicou o vice-procurador,
Sendo que esse pedido só pode ser apresentado a um único Estado.
Stéphane Lambert.
Os clandestinos conhecem, na maioria, esta disposição e esperam
ter chegado ao país que lhes parece mais favorável para formular
O imigrante clandestino, que não falava francês, “foi de imediato
o pedido, nas circunstâncias, a nível europeu, o Reino Unido.
sujeito a exames médicos que mostraram não estar o jovem
intoxicado por CO2”, esclareceu o procurador.
5. 2 - Proveniência e destino
O jovem, que pretendia seguir para Bordeaux, disse ter efetuado
um trajeto de vários milhares de quilómetros escondido ao nível do Os clandestinos provêm de diversos países, e, geralmente, graças a
eixo traseiro do veículo. canais de origem mais ou menos mafiosa, introduzem-se na
Europa, entrando no espaço Schengen, até chegarem ao Reino
Segundo Stéphane Lambert, a paragem prolongada do autocarro Unido.
devido ao controlo alfandegário terá feito crer ao adolescente que •por via terrestre
chegara ao destino. O menor foi entregue a um lar de acolhimento •por via marítima
nos Pirinéus Atlânticos. •ou, muito raramente, por via aérea.

Publicado a 26.10.2008
5. 3 - O espaço «Schengen»
O espaço Schengen é composto por 24 Estados-membros da UE, e
ainda os Estados da Islândia, Noruega, Suíça e Liechenstein.

189
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
O acordo de Schengen autoriza a livre circulação de pessoas e Introduzem-se igualmente nos contentores desencaixando as
harmoniza os controlos dos passageiros no seio do espaço dobradiças das portas ou cortando a cobertura com um maçarico,
constituído por estes Estados. com a necessária cumplicidade exterior (acontece especialmente
em Itália), e ainda esconderem-se nos compartimentos das
bagagens, ou nos WCs...

«Se fizer uma paragem num parque de estacionamento, (para


uma refeição ou outra razão), contorne o reboque antes de voltar
a partir e verifique bem se o cabo não foi cortado e substituído por
um prego [...].
Verifique se o cadeado ainda é o mesmo. Os clandestinos podem
parti-lo e pôr outro no seu lugar [...].
Se tiver de parar para o repouso diário, evite os parques de
estacionamento das autoestradas que conduzem a Inglaterra.
Não hesite em sair da autoestrada. Tente calcular o tempo de
condução para poder chegar ao destino sem parar durante a
noite.»

«Se conduzir um reboque em chapa ou frigorífico, utilize um


cadeado grande logo no carregamento, para impedir os
5. 4 - Meios utilizados pelos clandestinos clandestinos de penetrar no
reboque sem o seu conhecimento.
Num Tautliner (semirreboque)
5. 4. 1 - Os veículos rodoviários mais coloque o cabo TIR e solde-o à
vulneráveis são os cobertos por toldos frente do expedidor. »

Os clandestinos introduzem-se soltando os pontos de fixação


ou cortando a cobertura com um xis ato. Para o fazer, e como
5. 4. 2 - Transporte de veículos em barco
constatado, beneficiam frequentemente de um cúmplice que volta
Antes de entrar a bordo, em particular no caso de viagens
a colocar os agrafos e, eventualmente, o cabo «TIR» cortado.
internacionais, inspecionar todas as zonas do veículo suscetíveis
de ocultar uma pessoa. Tranque os WCs, os compartimentos de
Escondem-se sobre o teto da cabine do condutor (defletor).
bagagem e todos os espaços acessíveis pelo exterior, até passar a
fronteira. Se necessário, antes da fronteira, verifique a presença
Sobem durante as paragens nas
efetiva de todas as pessoas constantes da lista de embarque.
estações de serviço ou durante
a passagem sob as pontes da
autoestrada, saltando para a
cobertura.

Aproveitam a existência de zonas


portuárias sem segurança, uma
antes do controlo CO2, a outra,
mais protegida embora ainda insuficientemente, entre o controlo e
o embarque.

Podem, de maneira excecional, introduzir-se igualmente nos


«decks» dos ferrys e, em seguida, subir para os veículos.

190
PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE NO TRANSPORTE
5. 4. 3 - As responsabilidades dos B) INSPEÇÃO DO VEÍCULO
As inspeções visando garantir a segurança do veículo devem ser
transportadores efetuadas após cada paragem.

A responsabilidade das transportadoras encontra-se Deve ser efetuada uma inspeção final, imediatamente antes da
referenciada na Convenção de Schengen e assenta nos cuidados a entrada na zona de controlo britânica, situada em Calais,
ter no transporte de pessoas originárias de países terceiros – ou Coquelles ou Dunquerque ou, para os veículos que passam por
seja, não pertencentes ao espaço Schengen. outros portos, antes do embarque no ferry com destino ao Reino
Unido.
«Quando o originário de um país terceiro a quem tenha sido
recusado um pedido de entrada é encaminhado para a fronteira Os motoristas são, eles próprios, responsáveis pela execução do
por uma transportadora, a autoridade localmente responsável controlo final. Fiar-se no controlo exclusivo das autoridades não
ordena à transportadora: serve de argumento contra uma multa.
- que volte a responsabilizar-se pelo originário de um país terceiro
sem demora e que o reencaminhe para o país terceiro de onde ele C) DOCUMENTOS A BORDO DO VEÍCULO
foi transportado, ou para o país terceiro que forneceu o documento Um documento a explicar a forma de impedir uma intrusão deve
permitindo a passagem da fronteira, ou para qualquer outro país estar presente no veículo.
terceiro onde esteja garantida a sua entrada, ou para encontrar
um meio de reencaminhamento, em conformidade com o artigo Os motoristas devem ter em sua posse uma lista de verificações
26o da Convenção de Aplicação do Acordo Schengen, de 14 de («check-list») a preencher nos momentos apropriados.
Junho de 1985, e com as cláusulas da Diretiva 2001/51/CE, do
Conselho de 28 de Junho de 2001.»
5. 5 - Anexo
5. 4. 4 - Com destino ao Reino Unido Check-list no caso de transporte com destino ao Reino Unido

Entrou em vigor em Abril de 2000 a lei que prevê o pagamento de


uma multa máxima de £ 2000 por passageiro clandestino:
•Por parte das transportadoras
em cujos veículos foram
descobertos passageiros
clandestinos à entrada da zona de
controlo ou do território britânico.
•A lei britânica obriga as
transportadoras a utilizar um «sistema eficaz» para proteger os
seus veículos.

5. 4. 5 - O «sistema eficaz» assenta em três


pontos distintos
A) SEGURANÇA DO VEÍCULO
Todos os veículos, rígidos ou com cobertura de toldo, devem
possuir dispositivos de segurança. Cadeados, chumbos, cabos e
cordas devem ser robustos e mantidos em bom estado de
funcionamento.

CONTEÚDO FORNECIDO POR:


IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP

191
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO

1. Saber prevenir os riscos físicos


1. 1 - Fatores humanos e ergonomia: breve 1. 2 - Carga de trabalho
introdução A carga de trabalho não é mais do que o custo da atividade
desenvolvida na realização de uma dada tarefa. Sendo facilmente
Quando se fala em Fatores Humanos ou, muitas vezes, Fator
identificáveis a natureza e as caraterísticas da tarefa, e, portanto,
Humano, está-se a falar do conjunto de variáveis que influenciam
as suas exigências e os constrangimentos que a sua realização
as capacidades individuais e, consequentemente, o nível de
impõe, a atividade desenvolvida comporta um custo que depende
desempenho nas tarefas e o comportamento do indivíduo nas
das capacidades, competências e experiência individuais. Isto
interações estabelecidas. Nesta perspetiva, tanto o sucesso das
significa que o custo da atividade resulta de um equilíbrio entre as
ações, como as falhas, as recuperações, as dificuldades sentidas
solicitações impostas ao indivíduo e as suas capacidades de
ou a sequência de fatos podendo conduzir a um acidente, devem
resposta, tendo repercussões sobre o comportamento e as funções
ser tidos em consideração. Só assim poderão ser eliminados os
do operador em atividade, assim como sobre o desempenho.
elementos constrangedores e agir no sentido do resultado
Porque exprime uma relação dinâmica entre as condições
esperado das ações.
externas, que representam as solicitações, ou seja, as exigências
impostas, e as condições internas, resultantes do estado funcional
A terminar esta introdução, é importante explicar o interesse
do operador e expressam a sua capacidade funcional, a carga de
de proporcionar este tipo de conhecimento aos profissionais de
trabalho inerente à realização de uma dada tarefa não é a mesma
qualquer contexto laboral. As vantagens têm sido plenamente
para todas as pessoas.
comprovadas em vários sectores e podem ser resumidas como se
segue:
1. 3 - Interações Homem-Máquina
1. Conhecer os efeitos potenciais do trabalho realizado em
condições adversas sobre a saúde e a segurança permite a cada A noção de interação traduz uma relação particular entre os dois
indivíduo identificar situações e condições de risco e alertar quem componentes de um sistema, a qual não pode ser reduzida à soma
de direito no sentido de se proceder a uma análise e consequente de duas reações de sentido diferente. Assim, fala-se de interação
eliminação do fator ou fatores de risco. Isto significa que estamos quando o primeiro componente efetua uma ação sobre o
a falar de uma segurança pró-ativa em vez de reativa. segundo ao mesmo tempo que este age sobre o primeiro
(Figura 1). O operador humano está ativamente envolvido num
2. Os conhecimentos ministrados permitem a cada indivíduo sistema com o qual interage para cumprir uma missão para a qual
melhor gerir alguns constrangimentos inerentes à sua atividade o sistema foi concebido. Assim, no seu posto de trabalho, na sua
de trabalho. Sabe-se que haverá sempre fatores de fadiga, stress, equipa, o operador interage com
esforço, etc., que causam incómodo temporário mas que, após máquinas e equipamentos
pausa, desaparecem. Nestas situações, o conhecimento dos realizando as tarefas que lhe estão
respetivos sinais permite determinar a necessária interrupção ou atribuídas, interagindo também
alteração de atividade. com os restantes elementos da
equipa de trabalho. Quanto mais
3. No caso do transporte rodoviário, o conhecimento dos fatores adequado às caraterísticas e ao
que condicionam o desempenho individual e o comportamento modo de funcionamento
individual e coletivo, permitem uma melhor compreensão dos individuais for o envolvimento,
riscos e uma melhor gestão da atividade de trabalho. mais seguro será, resultando em
decisões mais fáceis, apropriadas e
tomadas em tempo útil.
Com o conhecimento sobre os limites das capacidades individuais, o motorista
saberá exatamente o que fazer quando, por exemplo, sentir sonolência ao
volante, não persistindo num esforço de resistência ao sono, que não será A conceção das inovações tecnológicas deve, então, ser centrada no
seguramente bem sucedido. ser humano (human-centred design), ou seja, no utilizador

192
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
potencial. Nesta perspetiva, o processo de conceção deve ser 1. 4. 1 - A atividade do condutor
orientado por critérios ergonómicos, permitindo a necessária
adequação da máquina ao homem. Alguns destes equipamentos Tal como em qualquer interação homem-máquina, a atividade
não vêm instalados de origem, sendo a sua instalação realizada do condutor expressa-se na realização da tarefa de condução e
ao nível do concessionário ou do operador de transportes. Nestes comporta uma atividade percetiva (captação da informação
casos, devem ser seguidos critérios ergonómicos de proximidade, disponível pelos órgãos sensoriais correspondentes), uma
alcance, visibilidade, entre outros, de forma a minimizar a atividade cognitiva (processamento da informação e tomada de
interferência da interação do condutor com esses equipamentos na decisão) e uma atividade motora (realização das ações motoras
tarefa de condução. necessárias ao controlo operacional do veículo em tempo útil).
Para realizar estas atividades, a postura do indivíduo organiza-se
Na condução de veículos, verificam-se dois tipos de interações:
•Interações homem-máquina, assentes nas ações sobre os diferentes elementos de forma a poder satisfazer as exigências da tarefa a
do veículo com o objetivo de cumprir a deslocação prevista em segurança e com desempenhar com o menor custo fisiológico possível.
o máximo de eficiência, em função das condições do ambiente rodoviário;
•Interações sociais, que ocorrem entre o condutor e os outros utilizadores da Considerando que a informação visual é prioritária na condução de
via (peões, ciclistas e outros condutores de diferentes tipos de veículos). um veículo, o habitáculo é concebido em função das duas
principais componentes das exigências visuais:
1. 4 - A condução de veículos •O eixo principal de visão, que define a postura, sendo, portanto
um elemento de partida para a conceção do posto;
A condução de um veículo é uma tarefa complexa, que requer um •O campo visual necessário, que condiciona a implantação do
ajustamento percetivo- motor contínuo, determinado pelo carácter habitáculo e a sua conceção.
dinâmico das interações estabelecidas no sistema formado por três
elementos: o condutor, o veículo e o envolvimento rodoviário (que Na realização das três subtarefas essenciais da condução de
integra a infraestrutura e os outros utentes da via). veículos (recolha da informação, regulação da velocidade e
Nesta perspetiva, a realização da tarefa de condução envolve os controlo do veículo), a postura está estreitamente determinada
seguintes passos: pela disposição dos mecanismos de comando no interior do
•Captar e interpretar o conjunto de informações de que dispõe; habitáculo, servindo o banco do condutor para suportar e manter
•Prever a evolução da situação; uma postura que se deseja confortável. Assim, o habitáculo é
•Antecipar as alterações de acordo com as correções possíveis; organizado com a preocupação de proporcionar uma postura
•Apreciar as consequências das diferentes evoluções; adequada à realização da tarefa, assegurando o acesso fácil e
•Para finalmente decidir como atuar sobre o sistema por si confortável a todos os comandos e instrumentos de bordo.
regulado.

As exigências visuais são prioritárias na condução de um veículo,


pelo que o operador sacrifica muitas vezes a sua postura para
obter as informações visuais de que necessita. Segundo a maior
parte dos especialistas, 90% da informação captada pelo condutor
é de natureza visual. Se considerarmos que o organismo humano
é uma máquina que processa informação, tal como qualquer
outra máquina, ele tem uma capacidade limitada. Assim, a grande
profusão de índices, sobretudo num tempo muito curto, impõe
uma elevada carga percetiva, não permitindo a captação de toda Dada a grande dispersão destas caraterísticas individuais, é
a informação. Nestas circunstâncias, impõe-se uma seleção da necessário que cada condutor procure o seu conforto no
informação útil, que é dificultada pela impossibilidade de explorar habitáculo, pelo que existem regulações que permitem a cada
todo o envolvimento em tempo limitado. indivíduo ajustar alguns elementos do habitáculo (banco,
espelhos), de forma a assegurar a postura que lhe proporciona
mais conforto (Figura 2). A regulação dos elementos de conforto
no habitáculo é também essencial a uma condução segura, na

193
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
medida em que o fácil acesso aos elementos de controlo do veículo 1. 4. 2. 1 - Fadiga
e uma postura de conforto proporcionam as condições essenciais a
uma prontidão para a ação em situação crítica que exija uma A fadiga é uma consequência, a curto termo, de um trabalho
resposta em tempo útil. A regulação dos espelhos completa o e exprime-se por alguns sintomas subjetivos, diminuições ou
conjunto de necessidades para uma condução segura, permitindo flutuações do desempenho e sinais fisiológicos que testemunham
otimizar as condições de perceção da informação visual. uma diminuição das capacidades. Sendo a principal caraterística
da fadiga a reversibilidade dos sintomas, o tempo de recuperação
Para além deste aspeto dimensional, a qualidade dos materiais constitui um índice quantitativo de fadiga. A perda de controlo
que compõem o assento representa um fator adicional que deve associada à fadiga é um dos principais fatores encontrados na
ser tido em conta. Por um lado, a densidade do material que origem de acidentes em qualquer tipo de transporte.
compõe o assento deve ser equilibrada, de modo a proporcionar
conforto e evitar a compressão exagerada na parte posterior das No contexto da condução de veículos, o tipo de fadiga mais
coxas, que provoca dificuldades circulatórias. Além disso, é frequente e tantas vezes na origem de incidentes e acidentes é a
importante que a manutenção programada dos veículos não fadiga passiva1. Estes casos ocorrem predominantemente em
despreze os elementos de conforto. O motorista tem aqui um papel ambientes monótonos, tais como autoestradas, particularmente em
importante, pois sendo o utilizador frequente do veículo deve períodos que induzem facilmente o sono. Com efeito, em
solicitar a manutenção destes elementos, muitas vezes ambiente monótono, o condutor tende a manter a velocidade, não
considerados acessórios, mas que têm um papel fundamental no há mudanças de direção, há menos exigências atencionais
conforto e no bem-estar dos que estão expostos durante longos decorrentes do fraco movimento, pelo que o condutor abranda
períodos às condições criadas. todo o seu funcionamento. Assim, a fadiga passiva ocorre numa
fase em que se verifica uma diminuição da atenção, refletindo-se
1. 4. 2 - Fatores humanos na condução de na redução da perceção dos estímulos externos e da capacidade de
resposta do operador. A fadiga apresenta-se, pois, como um estado
veículos transitório entre o estado de alerta e o de sonolência, resultando
de um vasto leque de fatores principalmente
No contexto da condução automóvel, o ser humano representa o relacionados com a velocidade e a estrutura da informação a
elemento mais flexível e adaptável do sistema tratar, respetivamente a frequência e a variação espacial da
condutor-veículo-envolvimento, mas a sua vulnerabilidade decorre informação apresentada. A fadiga pode, assim, reduzir o estado
da variabilidade e instabilidade humanas: diversidade humana, de alerta e, consequentemente, o desempenho. Deste modo,
envelhecimento, capacidades funcionais, estado de saúde, fadiga, erros causados pela diminuição da concentração, da perceção, da
assim como o comportamento relativamente ao consumo de álcool capacidade de julgamento ou de memória podem tornar-se mais
e drogas, que, juntamente com alguns fatores externos, frequentes. Um indivíduo pode tornar-se mais impaciente e, em
influenciam o desempenho da condução. Apesar disso, o elemento última instância, pode até entrar num estado de sonolência ou de
humano é o mais fiável no controlo de qualquer sistema, na sono involuntário.
medida em que gere os constrangimentos, adapta o seu
comportamento a quaisquer condições externas, resolve
problemas, cria novos procedimentos, etc. Isto significa que o ser 1. 4. 2. 2 - O erro humano
humano atua com inteligência, mas tem recursos limitados, que
são saturados em determinadas circunstâncias e podem conduzir a Um erro é definido como a falha de uma sequência planeada
falhas com consequências que dependem das condições latentes do para atingir os objetivos definidos quando esta falha não pode
sistema e do momento crítico. ser atribuída ao acaso. Nesta perspetiva, os indivíduos procuram
atingir um objetivo definido mas podem dar-se duas situações:
Serão seguidamente desenvolvidos os principais fatores que •As ações não são realizadas conforme foram planeadas;
influenciam o desempenho do condutor, assim como alguns •As ações pretendidas não são as corretas.
aspetos comportamentais que afetam a segurança na condução.
1
A fadiga passiva está associada a uma atividade contínua e monótona com
raras ou pouco evidentes exigências de resposta percetivo-motora. É o caso da
condução em ambiente monótono.

194
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
Um ato inseguro, seja intencional ou não, está diretamente condutor, que terá dificuldade em gerir a tarefa de condução em
relacionado com a maior parte dos acidentes. Este, no entanto, é condições particulares que aumentem a sua complexidade. Nestas
a consequência de vários fatores interativos, uma vez que o ato situações de elevada complexidade, quer por volume de tráfego,
inseguro que causou o acidente representa o fim de uma cadeia de quer por chuva, nevoeiro ou outras condições adversas, a atenção
fatores que determinaram a situação de perigo. do condutor está intensivamente solicitada para a gestão da
tarefa; se houver uma tarefa adicional, como por exemplo, uma
Os atos inseguros intencionais incluem as transgressões e alguns chamada telefónica, os seus recursos atencionais serão
erros intencionais. Estes são cometidos conscientemente e resultam parcialmente desviados da tarefa principal, aumentando os riscos
da disparidade entre a intenção prévia e as consequências de acidente.
pretendidas. Uma transgressão é definida como um desrespeito
intencional por regras contextuais e regulações estabelecidas,
podendo conduzir a situações de conflito. As transgressões
1. 4. 2. 3. 1 - Inatenção e Distração
reportam-se a comportamentos que se desviam de regras e
Fala-se em distração quando um condutor se atrasa no recon-
procedimentos estabelecidos, podendo classificadas em duas
hecimento da informação necessária para realizar a tarefa de
categorias:
condução em segurança devido a algo que ocorre dentro ou fora
•As transgressões habituais (práticas de rotina) são cometidas
do veículo diretamente relacionado com uma atividade (telefonar,
com tanta regularidade que se tornam automáticas e são
por exemplo), com um objeto (um painel publicitário atrativo) ou
frequentemente toleradas. Algumas destas transgressões resultam
com uma pessoa (um passageiro ou um peão, por exemplo). Estas
de procedimentos inadequados que chegam a dificultar o alcance
situações desviam a atenção do condutor relativamente à tarefa
dos objetivos definidos, pelo que os indivíduos tentam criar
principal, que é a condução do veículo. As definições de distração
procedimentos mais fáceis e eficazes. Estas rotinas devem ser
consideram a presença de um fato exterior ao próprio condutor
identificadas no sentido de serem melhorados os procedimentos e
que impõe uma partilha da atenção entre a tarefa principal e o
anular o interesse da transgressão.
novo foco de atenção. O resultado é uma condução com
•As transgressões excecionais ou situacionais, que não refletem
insuficiente atenção.
um comportamento típico nem são previsíveis, ocorrendo
geralmente em situações não habituais e sendo facilitadas por
Fala-se em inatenção quando o foco de desvio da atenção
falta de supervisão ou inadequação do envolvimento. No contexto
relativamente à tarefa principal é interno, ou seja, quando o
da condução de veículos, algumas transgressões excecionais são
condutor está absorto nos seus pensamentos. Assim, o que
causadas pelas pressões de tempo e acentuadas pelas condições de
distingue distração de inatenção é a presença de um fato externo
circulação e também pela falta de supervisão.
ao indivíduo (no primeiro caso), que desencadeia o desvio da
atenção. Vários relatórios de acidentes identificam um problema de
1. 4. 2. 3 - A atenção do condutor desvio da atenção da tarefa de condução, ocasionado por
pensamentos ou acontecimentos na vida pessoal. Nestes casos, a
Uma condução segura requer a deteção e a seleção da falta de identificação de uma ocorrência exterior tem levado os
informação útil disponível no ambiente rodoviário, assim como a analistas a afirmar que os acidentes resultaram de inatenção.
sua perceção e a capacidade de projetar a evolução da situação
e, assim, antecipar o comportamento dos outros (condutores e O perigo da distração ou da inatenção assenta no potencial que
peões). têm em levar o condutor a esquecer-se ou atrasar-se na resposta a
situações críticas. São inúmeras as tarefas adicionais à condução
As caraterísticas da tarefa de condução impõem o permanente em que os condutores se envolvem, representando todas riscos
processamento de informação num envolvimento dinâmico, assim potenciais de acidente, uma vez que parte dos recursos cognitivos
como interações com os restantes utilizadores da estrada, de forma são desviados da tarefa principal para outras tarefas. Numa ótica
a tomarem decisões adequadas em tempo útil e, assim, atingirem preventiva, é importante que o condutor tenha conhecimento
os objetivos da viagem em condições de eficiência e segurança. destes riscos e não sobrevalorize as suas capacidades e
A atenção representa, pois, a função cognitiva mais implicada na competência, uma vez que todos temos capacidades limitadas que
condução. Contudo, os recursos limitados para vencem a elevada competência e toda a motivação que possa ser
processar informação podem incapacitar temporariamente o invocada.

195
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
Fatores de distração no envolvimento rodoviário e dentro do veículo: Estes fatores têm efeitos cumulativos e a sua combinação pode
•Conversa com passageiros, aumentar muito o risco de acidente rodoviário relacionado com a
•Um objeto em movimento no interior do veículo, fadiga (National Sleep Foundation).
•Ação sobre o controlo da temperatura,
•Ação sobre o controlo do rádio ou CD,
As principais consequências da sonolência ou fadiga são as
•Utilização de outro equipamento no veículo (fazer ou receber chamadas
telefónicas, programar o sistema de navegação), seguintes: aumento do tempo de reação, perturbações da
•Uma pessoa, um objeto ou um acontecimento no exterior, capacidade de julgamento e da visão, problemas com o
•Comer ou beber, processamento de informação e a memória de curto termo,
•Atividade relacionada com tabaco (fumar, acender o cigarro ou outra). decréscimo do desempenho, da vigilância e da motivação,
aumento de comportamentos agressivos e mau humor. Para além
dos efeitos no desempenho, saúde e segurança do indivíduo, existe
1. 4. 2. 4 - Fadiga e sonolência do condutor repercussão no aumento de custos para a empresa derivado de
acidentes, absentismo, doenças profissionais e pior desempenho.
Conforme atrás referido, a fadiga gerada na condução de veículos Os efeitos da sonolência ao volante têm vindo a ser subestimados
é uma fadiga passiva, que decorre de longos períodos de pelos próprios condutores e raramente se vê a atribuição desta
atividade sem exigências importantes em termos de informação causa a acidentes reportados. No entanto, as caraterísticas de
a processar e, consequentemente, com pouca frequência de ações alguns acidentes apontam claramente para um problema de
motoras sobre os comandos do veículo. Isto verifica-se sobretudo adormecimento.
em ambientes monótonos, o que é gerador de um abaixamento
da vigilância2, que induzirá a sonolência. Este é o caso mais A melhor forma de prevenir a sonolência ao volante é estar atento
comum no transporte de mercadorias, particularmente quando há aos sinais de fadiga e parar para uma curta sesta no veículo.
grandes distâncias a percorrer e, sobretudo, durante a noite. Em Todas as outras estratégias frequentemente adotadas (beber café,
transporte urbano, a fadiga do condutor já tem outros contornos, fumar, abrir a janela, etc.) não são aconselhadas por se revelarem
estando frequentemente associada à complexidade do trânsito, ao ineficazes. Assim, os condutores devem ser informados sobre a
movimento de passageiros, ao ruído em meio urbano e a outros forma de identificar os sintomas de sonolência e as circunstâncias
fatores ambientais. que requerem a interrupção da atividade para uma curta sesta
(15 a 20 minutos). Para uma condução segura, é fundamental
A fadiga e a sonolência ao volante têm um efeito similar ao saber-se identificar os sinais de fadiga e agir em conformidade,
consumo de bebidas alcoólicas (National Sleep Foundation; Stutts, pois ninguém tem o controlo total do seu estado funcional.
Wilkins and Vaughn, 1999; Stutts et al., 2005). De fato, a fadiga e
a sonolência aumentam o tempo de reação, reduzem a Sinais de aviso para o condutor parar e repousar (National Sleep Foundation):
•Dificuldade de concentração, pestanejar frequente ou pálpebras pesadas,
consciência da situação, afetam a capacidade de julgamento e, •Pensamentos desligados,
consequentemente, aumentam o risco de colisão. •Dificuldade em relembrar os últimos quilómetros; falhar saída de estrada ou
sinais rodoviários,
Existem muitas causas subjacentes à sonolência e à fadiga ao •Bocejar repetidamente ou esfregar os olhos,
volante. Estas incluem a privação de sono por sono insuficiente, •Dificuldade em manter a cabeça levantada,
•Desvios da trajetória lateral do veículo ultrapassando linhas ou bandas
sono interrompido ou fragmentado, privação crónica de sono, sonoras e alterações na distância para o veículo da frente,
fatores circadianos relacionados com os padrões de condução ou •Sensação de impaciência ou irritabilidade.
horários de trabalho, perturbações do sono não
diagnosticadas ou não tratadas, o período de tempo passado numa
tarefa, a utilização de medicamentos e o consumo de álcool. 1. 4. 3 - Principais causas de acidentes
Dados recolhidos pela Federal Highway Administration (USA)
2
Vigilância – Capacidade de manter um determinado nível de concentração, põem em evidência o número de acidentes resultantes de causas
em oposição a uma seleção de um foco específico de atenção. Uma tarefa de
vigilância consiste assim, numa tarefa que obriga o indivíduo a produzir uma
ligadas, respetivamente, ao condutor, ao veículo e ao
resposta, de qualquer ordem, face a alterações (no tempo ou no espaço, ou em envolvimento, salientando a implicação dos fatores humanos em
ambos) relativamente pouco frequentes e imprevisíveis de um estímulo, durante mais de 90% dos acidentes rodoviários.
períodos de tempo relativamente longos.

196
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
Segundo Reason & Hobbs (2003), todo o sistema que envolva condução e, sobretudo, se a situação de tráfego se configurar com
pessoas está sujeito a perturbações que resultam de vários fatores maior complexidade.
contextuais interativos. A natureza e a dimensão da perturbação
dependem das tarefas em causa, das capacidades, competências e
estado das pessoas que operam nesses sistemas, assim como das
condições locais de realização das tarefas e de alguns fatores
organizacionais.

O comportamento e o desempenho humanos são, efetivamente,


referidos como fatores causais na maioria dos acidentes. No
entanto, o elemento humano é apenas o último elo na cadeia das
interações que se estabelecem na condução de veículos, tomando Entre os sistemas de informação e comunicação embarcados mais
decisões e agindo de acordo com as mesmas. Evans (2004) afirma frequentemente utilizados, destacamos os sistemas de navegação
que os dois fatores que mais determinam o risco de acidente são o (vulgarmente designados GPS), que permitem maior conforto e
comportamento individual e o comportamento dos outros eficiência em qualquer viagem num envolvimento não familiar.
utilizadores da via. O comportamento individual está inteiramente No entanto, recomenda-se que a sua utilização minimize os desvios
sob o controlo do próprio mas as interações no ambiente do olhar do condutor relativamente à via de circulação, pelo que
rodoviário, que é extraordinariamente dinâmico, são a inserção de dados de destino deve ser sempre efetuada antes
moduladas por vários fatores sociais e psicológicos que são difíceis da partida, ou no caso de necessidade de desvio do itinerário
de controlar. previamente definido, com o veículo parado.

Os dois exemplos da figura 3 mostram claramente uma diferença


1. 5 - Interação com sistemas de informação importante entre eles: o sistema de navegação está diretamente
e comunicação embarcados ligado à tarefa de condução e o telemóvel é-lhe completamente
alheio e, neste exemplo, não é permitida a sua utilização durante
O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação e a condução. Assim, a prioridade da utilização do telemóvel é
a sua utilização no contexto do transporte rodoviário proporciona definida por este princípio e pelas exigências da tarefa de
hoje novas funções e serviços aos condutores, na generalidade, aos condução face às condições do envolvimento e do tráfego, pelo que
operadores de transportes e às autoridades. O desenvolvimento uma chamada telefónica, mesmo com um sistema “mãos-livres”,
destes sistemas foi orientado pelos seguintes objetivos: melhorar a deve ser adiada se as condições presentes forem de tal forma
segurança, a mobilidade e a eficiência dos sistemas de transporte, exigentes que imponham grande mobilização dos recursos cogniti-
aumentar a produtividade, reduzir o consumo de energia e vos disponíveis.
proteger o ambiente e, finalmente, satisfazer os clientes. Muitos
veículos estão hoje equipados com sistemas cujo objetivo é
proporcionar um aumento da segurança e da eficiência dos
1. 6 - Riscos para a saúde ligados à profissão
sistemas de transporte, facilitando as comunicações e, acedendo de motorista
a informações em tempo real, transmiti-las aos condutores,
aos operadores de sistemas de transportes, às autoridades, etc. A profissão de motorista envolve a exposição prolongada a
Alguns sistemas embarcados permitem ajudar o condutor a tomar constrangimentos e riscos de natureza diversa. Por um lado, a
algumas decisões, informando-o sobre o tráfego e avisando-o de condução profissional implica o cumprimento de horários de
eventuais perturbações à circulação, dando orientações de trabalho ou missões ao volante de um veículo, sujeitando o
trajetos, estabelecendo comunicações, etc. motorista à manutenção de uma postura mais ou menos fixa, a
acelerações positivas e negativas, ao tipo e à qualidade de assento
Ao mesmo tempo que algumas destas tecnologias promovem e veículo, o que implica um trabalho muscular importante, tanto
melhorias ao nível das operações de transportes e da segurança do ponto de vista estático como dinâmico; por outro lado, esta
rodoviária, outras podem ter um impato negativo na condução de atividade impõe, como já se viu, uma carga mental elevada, para
um veículo se a sua utilização representar uma tarefa adicional à além de dificuldades ocasionais de interação com passageiros e

197
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
com os restantes utilizadores da via de circulação; finalmente, o 1. 6. 3 - Riscos psicossociais
motorista está exposto a riscos ambientais e organizacionais que
agravam a carga de trabalho e podem ter efeitos nocivos sobre a Os principais riscos psicossociais inerentes à profissão de motorista
sua saúde. Torna-se, pois, importante conhecer esses riscos, saber são o stress e os riscos de violência externa ou agressão. Sendo
identificá-los a fim de melhor os gerir e, quando necessário, alertar estes últimos abordados no Manual de Situações de Emergência
as organizações para eventuais necessidades corretivas. e Primeiros Socorros, serão aqui apresentados apenas os riscos
psicossociais.
1. 6. 1 - Riscos ligados à manutenção de
uma postura sentada prolongada 1. 6. 3. 1 - O stress na condução de veículos
A postura fixa durante a totalidade ou a maior parte do tempo de O stress envolve um conjunto de manifestações fisiológicas,
trabalho expõe o motorista a risco de perturbações comportamentais e emocionais provocadas por situações que
músculo-esqueléticas que podem afetar a coluna vertebral e toda a ameaçam a integridade física ou psíquica do indivíduo. O
cintura escapular, podendo ainda causar doenças organismo, submetido a mudanças no envolvimento físico,
cardiovasculares e perturbações digestivas. Estas últimas são ainda organizacional ou psicossocial no trabalho, mobiliza as suas
acentuadas pela prática comum de horários de refeição muito energias metabólicas e psíquicas para fazer face à nova
irregulares. realidade, podendo, segundo Aptel e Cnockaert (2002), ocorrer
duas situações:
A manutenção de uma postura fixa e prolongada pode comportar 1. O indivíduo sente-se estimulado e motivado, pelo que o desafio
os seguintes efeitos (Desoille, Scherrer, Truhaut, 1987): constitui um elemento importante de um trabalho são e produtivo;
•Edemas nas extremidades inferiores resultantes da compressão isto tem levado a algumas confusões em torno do stress,
da face posterior da coxa e de uma vasodilatação determinada considerando-o indispensável a uma boa dinâmica e a bons níveis
pelo contato dos pés com uma superfície de apoio aquecida; de produtividade.
•Dores ligamentares e articulares devidas a tensões ou pressões 2. A avaliação cognitiva que o indivíduo faz da sua situação de
prolongadas decorrentes de posturas inadequadas, que começam trabalho dá-lhe a perceção de que os seus recursos (físicos,
por provocar dores e contraturas e acabam por determinar cognitivos e psicológicos) são insuficientes para enfrentar o
deformações raquidianas irreversíveis; desafio; o organismo está desequilibrado, diminuindo a sua
•Uma diminuição da vigilância, nos casos de assentos muito reatividade e a eficácia das suas defesas imunitárias.
confortáveis, que pode ter consequências negativas,
particularmente se o ambiente for monótono. A exposição sistemática a situações geradoras de stress tem efeitos
negativos sobre a saúde e sobre o desempenho individual. Ao nível
da saúde, os mecanismos fisiológicos do stress podem originar
1. 6. 2 - Riscos ligados a esforços de sintomas de natureza física, emocional, inteletual ou
manipulação de cargas comportamental. A exposição prolongada a fatores de stress pode,
assim, causar danos irreversíveis para a saúde. As pressões
Estes esforços são mais frequentes no transporte de mercadorias. temporais, assim como alguns estilos de gestão geradores de
Para além dos riscos inerentes a este tipo de esforços, que instabilidade e outros fatores de natureza organizacional, são
envolvem movimentos repetidos de flexão e extensão do tronco suscetíveis de determinar diminuições do desempenho, que, em
e podem, por isso, gerar problemas ao nível da coluna vertebral, sistemas de risco, podem ser geradores de acidentes. Com efeito,
a passagem brusca de uma posição sentada e prolongada aos no contexto do transporte rodoviário, as pressões de tempo são
esforços de manipulação de cargas acentua os riscos, quer de lesão geradoras de stress: no que toca ao transporte de passageiros,
súbita, quer os efeitos cumulativos dos esforços repetidos. particularmente em meio urbano ou suburbano, o volume de
tráfego e o movimento de passageiros dificultam o cumprimento
de horários e aumentam a complexidade da tarefa, sendo, por
isso, fatores de stress; no transporte de mercadorias, as pressões
de tempo impostas têm muitas vezes reflexos económicos, que,

198
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
por essa razão são também geradores de stress. Em qualquer dos Caso os valores limite de exposição sejam ultrapassados, devem:
contextos (passageiros ou mercadorias), as condições •Ser tomadas medidas imediatas que reduzam a exposição;
organizacionais de trabalho devem respeitar o modo de •Identificar-se as causas da ultrapassagem dos valores limite;
funcionamento do organismo humano e, portanto, devem ter em •Corrigir-se as medidas de proteção e prevenção, de modo a
conta as limitações das capacidades funcionais e assegurar as evitar a ocorrência de situações idênticas.
necessidades de repouso necessárias a uma plena recuperação
funcional. Quadro 1 - Valores de ação e valores limite de exposição
diários ao ruído
1. 6. 4 - Riscos físicos ambientais
Os riscos de natureza física estão associados a perigos que
envolvem a transmissão de diferentes formas de energia ao
Homem e incluem o Ruído, as Vibrações, o Ambiente Térmico,
Radiações diversas e a luz visível em particular.
Caso os valores de ação superiores sejam ultrapassados, o
empregador deve estabelecer e aplicar um programa de medidas
1. 6. 4. 1 - Ruído técnicas e organizacionais. O controlo do ruído pode ser feito
através da implementação de medidas construtivas ou de
Em termos gerais, o ruído é um fenómeno acústico (som) que engenharia. As medidas organizacionais/administrativas têm
produz uma sensação auditiva desagradável e/ou incómoda. É como objetivo a redução da exposição do motorista ao ruído, em
desconfortável e, normalmente, prejudicial para o organismo termos temporais e/ou espaciais (Figura 5).
humano, desencadeando processos de perda auditiva e até mesmo
alterações fisiológicas extra-auditivas. São várias as fontes de
ruído aquando da condução de veículos pesados de transporte de
passageiros e/ou de mercadorias, entre elas: o motor, o escape, o
sistema de travagem, a caixa de velocidades, as portas, o sistema
de ar condicionado, os passageiros, o sistema de comunicação, o
vento, o tráfego rodoviário (Figura 4). No interior dos veículos, o
ruído pode “mascarar” sons importantes de alarme e de
emergência. O efeito mais visível do ruído manifesta-se sobre a
audição, mas podem surgir outros problemas físicos e
psicológicos, nomeadamente problemas digestivos, distúrbios no
sono diminuição da concentração, dores de cabeça, etc.
1. 6. 4. 2 - Vibrações
Uma vibração define-se como um movimento oscilatório de um
corpo em torno do seu ponto de equilíbrio. Em particular, as
vibrações humanas transmitem-se ao corpo humano por contato
e podem provocar desconforto. Existem, fundamentalmente, dois
tipos de vibrações:
•As que se transmitem ao Sistema Mão-Braço;
O Decreto-Lei nº 182/2006, de 6 de Setembro, fixa valores de
•As que se transmitem ao Corpo Inteiro.
referência para o nível de exposição pessoal diária ao ruído (8h)
e para os respetivos níveis de pressão sonora de pico (Quadro 1).
As vibrações transmitidas ao corpo inteiro ocorrem quando a
Os valores limite de exposição diários não devem, em circunstância
superfície de suporte corporal está em vibração, enquanto que as
alguma, ser ultrapassados, enquanto a ultrapassagem dos valores
vibrações transmitidas pelos sistema mão-braço se fazem sentir
de ação implica a tomada de medidas preventivas adequadas à
quando se manuseiam materiais em vibração, ou quando se
redução do risco para a segurança e saúde dos trabalhadores.
manuseiam ferramentas e máquinas. Existem três grandes fontes

199
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
de vibração num veículo: o tipo/estado da estrada, as exposição, de modo a não exceder o valor limite de exposição;
propriedades do veículo e os comportamentos adotados pelo •Deve identificar-se as causas da ultrapassagem do valor limite;
próprio condutor, incluindo a velocidade a que conduz. •Deve corrigir-se as medidas de proteção e prevenção, de modo a
evitar a ocorrência de situações idênticas.
As vibrações de corpo inteiro não causam danos ao nível dos
órgãos percetores, mas provocam desconforto e mau estar nos Caso os valores de ação sejam ultrapassados, o empregador deve
indivíduos durante a sua rotina. A exposição continuada a este estabelecer e aplicar um programa de medidas técnicas e
tipo de vibrações pode dar origem a (Mansfield, 2005): falta de organizacionais.
concentração, aumento do número de erros cometidos, diminuição
da produtividade, interferência com a acuidade visual e o controlo
dos movimentos do sistema mão – braço, etc. Por seu turno, as
1. 6. 4. 3 - Ambiente Térmico
vibrações transmitidas ao sistema mão-braço podem produzir
A questão levantada pelos ambientes térmicos prende-se com
infeções de natureza circulatória, osteo-articular, neurológica,
a homeotermia (manutenção da temperatura interna do corpo
muscular e outras (sistema nervoso central), consoante a gama de
humano no intervalo 37,0 ± 0,8ºC), a qual assegura o bom
frequências que as carateriza (Griffin, 2005).
funcionamento das principais funções do organismo e, em
particular, do sistema nervoso central (Figura 7). Mas, esta mesma
A Diretiva Europeia 2002/44/EC, de 25 de Junho, e o Decreto-Lei
homeotermia só é conseguida se os fluxos de calor produzidos pelo
nº46/2006, de 24 de Fevereiro, estabelecem limites no que se
corpo igualarem o fluxo de calor cedido ao seu envolvimento físico.
refere à exposição diária a estes dois tipos de vibrações, para um
Todo o clima que coloque em causa a manutenção da temperatura
período de referência de 8 horas (Quadro 2).
interna do corpo humano é fonte de incómodo térmico. Mas, para
além das condições climatéricas próprias de cada região, existem
Quadro 2 - Valores limite de exposição e valores de ação para
outras fontes de incomodidade térmica, tais como as caraterísticas
vibrações de corpo inteiro (VCI) e vibrações que se transmitem ao
do veículo que se conduz, as máquinas e o equipamento usado no
sistema mão-braço (VMB)
mesmo e as próprias caraterísticas
dos produtos transportados. Para
fazer face a eventuais desvios das
condições térmicas consideradas
ótimas para o funcionamento do
organismo, o Homem dispõe de
À semelhança do que sucede com o ruído, os valores limite de
quatro mecanismos distintos para
exposição diária a vibrações não devem ser ultrapassados. Por seu
trocar calor com o ambiente: a
turno, se os valores diários de ação forem ultrapassados,
condução, a convecção, a radiação
dever-se-á tomar medidas preventivas adequadas à redução do
e a evaporação (Parsons, 2003).
risco para a segurança e saúde dos trabalhadores.
Estas trocas de calor são controladas por quatro fatores,
vulgarmente, designados por climáticos - a temperatura, a
humidade e a velocidade do ar, a par com a temperatura média
radiante (que é tanto maior quanto mais intensas forem as fontes
de calor radiante presentes) - e dois fatores, ditos não
climáticos – o vestuário e o metabolismo (diretamente
proporcional à intensidade da atividade realizada).

O conceito de transferência de calor, entre o corpo humano e o


ambiente, pode ser entendido como um “acerto de contas”, cujo
Assim, caso os valores limite de exposição sejam ultrapassados
saldo final deve ser, aproximadamente, nulo. Diz-se então que
(Figura 6):
o balanço térmico entre o indivíduo e o meio que o envolve está
•Devem ser tomadas medidas imediatas que reduzam a
em equilíbrio. Enquanto o organismo humano conseguir este

200
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
equilíbrio de forma natural e não gravosa, não se registam efeitos térmicos dependem do aumento de temperatura induzido e da
adversos. No entanto, quando aqueles seis fatores se intensificam zona atingida.
podem manifestar-se efeitos mais preocupantes.
Outro tipo de radiação não ionizante a que os condutores de
Como principais efeitos do calor podem referir-se o incómodo, a veículos pesados de transporte de mercadorias e de passageiros
sobrecarga para o aparelho circulatório, as perdas de água e de podem estar sujeitos inclui as microondas e as ondas de rádio.
sais, etc. Se estes se intensificarem, podem evoluir para situações Qualquer uma delas está relacionada com as telecomunicações
mais graves como a hiperpirexia, o golpe de calor ou o e as primeiras também têm aplicações no domínio dos radares.
esgotamento, sendo que os primeiros dois resultam de falha do Neste contexto, a União Europeia publicou a Diretiva 2006/25/EC,
sistema termorregulador, enquanto que o último se deve a uma de 5 de Abril, que estabelece as prescrições mínimas de
termorregulação excessiva. No caso de ambientes frios, os arrepios segurança e saúde para os trabalhadores expostos a riscos
constituem uma resposta natural do organismo. É vulgar decorrentes de radiações não ionizantes e deverá ser transposta
registar-se a ocorrência de desconforto, redução do estado de pelos Estados membros até 27 de Abril de 2010.
alerta, alterações na memória, confusão apatia, distorção da visão,
etc. Contudo, em condições ambientais mais rigorosas, o sistema
termorregulador poder ser excessivamente solicitado, ou
1. 6. 4. 5 - Iluminação
inclusivamente falhar.
A tarefa de condução exige a recolha de informação do
envolvimento, o respetivo processamento, com vista a alterações
Num veículo pesado de transporte de mercadorias ou de
comportamentais, e por fim, a manobra adequada do veículo. Esta
passageiros, as alterações registadas ao nível de qualquer uma
tarefa é realizada de forma contínua e tem um nível de
das quatro variáveis climáticas são condicionadas, sobretudo,
complexidade elevado. O condutor tem de ser capaz de interpretar
pelas caraterísticas ambientais do local por onde ele circula. Regra
a informação que recebe e agir num período de tempo limitado.
geral, as condições internas são ajustadas em função daquilo que
é imposto pelo exterior. Por outro lado, o vestuário utilizado pelos
A luz tanto pode ser utilizada para fornecer informação
condutores é condicionado pela estação do ano e, por vezes, pelos
diretamente ao condutor (exemplo: semáforos e luz dos travões e
riscos associados às mercadorias transportadas.
marcha atrás), como para auxiliar a tarefa de extração de
informação visual do ambiente (Boyce, 2003). A filosofia de “ver e
1. 6. 4. 4 - Radiações ser visto” está na base da prevenção rodoviária. Mas para se ver e
se ser visto é imprescindível a
As principais radiações a que os condutores estão expostos derivam existência de luz, uma vez que
do Sol e, para além da radiação visível, englobam a gama dos o olho humano só vê os objetos
infravermelhos (IV) e dos ultravioletas (UV), cuja presença não é que refletem, pelo menos, uma
tão facilmente detetada pelo Homem, fundamentalmente, por não parte da luz que neles incide
serem visíveis (Figura 8). (Figura 9).

A exposição à radiação solar é Nesta perspetiva, tanto a iluminação do veículo, como a da


condicionada por fatores como estrada, assumem importância. Na primeira categoria estão todas
a latitude, a altitude, a época as formas de iluminação de sinalização, como sejam luzes de
do ano, o período do dia, as presença, luzes de travões, luzes laterais, indicadores de mudança
condições meteorológicas e o de direção, luz de marcha-atrás, luz de nevoeiro, luz de chapa
nível de poluição. A ação destas de matrícula e luz intermitente de emergência. Todas estas luzes
duas categorias de radiações permitem que o veículo seja visto, tanto pelos peões, como pelos
faz-se por via térmica, sobretudo ao nível da pele e dos olhos, outros condutores. Os mínimos,
embora os raios UV também atuem por via fotoquímica. Apesar médios e máximos também
dos benefícios terapêuticos que advêm da exposição solar, quando auxiliam o próprio condutor
devidamente controlada, este tipo de radiação apresenta um na visão noturna do percurso a
conjunto de riscos associados. A extensão e gravidade dos efeitos realizar.

201
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
O encandeamento tanto pode ocorrer de forma direta, por Todos os aspetos referidos anteriormente poderão tornar-se menos
existirem fontes de luz intensas expostas no campo de visão do efetivos na presença de chuva, nevoeiro e/ou neve (Figura 12).
condutor, como indiretamente, através da reflexão da luz por
superfícies presentes no campo de visão. O equilíbrio entre a
necessidade de iluminar o espaço à frente do veículo e
prevenir o encandeamento do condutor que se aproxima exige
um compromisso, que pode ser alcançado através da limitação da
distância à qual se conseguem visualizar objetos. Por outro lado, a
iluminação do ambiente rodoviário também assume importância
no processo, sendo particularmente relevante na prevenção de
acidentes que envolvam peões. 1. 6. 5 - Riscos biológicos
Existem recomendações bem definidas no que respeita à Os fatores de risco biológico raramente são visíveis, razão pela
iluminação da superfície da estrada, à uniformidade da qual, muitas vezes, não lhes é dada a devida importância.
iluminação e à limitação do encandeamento em ambientes com Todavia, no âmbito da condução de veículos pesados de transporte
diferentes velocidades e densidades de tráfego rodoviário, mas a de mercadorias, o risco está associado à natureza das próprias
omissão é total no que respeita ao espectro de cores que essa luz mercadorias e ao modo como são acondicionadas. No transporte
deverá incluir. de passageiros poderá haver risco por contato com indivíduos,
eventualmente, portadores de algum agente biológico.
A circulação em túneis durante o período diurno também coloca
questões de segurança durante a tarefa de condução. Na fase Os agentes biológicos são microrganismos, incluindo os
de aproximação, o condutor vê o túnel como um buraco negro geneticamente modificados, culturas de células e endoparasitas
(“black-hole”), resultado da luz mais intensa à volta do túnel humanos capazes de originar qualquer tipo de infeção, alergia ou
(Figura 11). Uma vez no interior do túnel, pode ocorrer o efeito toxicidade no corpo humano, pelo que da sua presença nos locais
de “black-out”, pelo fato de o condutor ter pouco tempo para de trabalho podem advir situações de risco para os trabalhadores.
se adaptar à menor luminosidade aí existente. Estes problemas
podem ser solucionados na fase de projeto do túnel e adotando Estes agentes são seres vivos de dimensões microscópicas e
uma iluminação diferenciada ao longo do seu comprimento. A incluem todas as substâncias derivadas dos mesmos. A grande
fase da saída do túnel também pode constituir uma dificuldade em diferença entre os agentes biológicos e as demais substâncias
termos visuais, uma vez que se vai passar para um local com um perigosas é a respetiva capacidade de reprodução. Em condições
nível de iluminação excessivamente elevado, com risco acrescido favoráveis, uma pequena quantidade de um microrganismo pode
de encandeamento. A capacidade de visualização da sinalização desenvolver-se consideravelmente num curto período de tempo.
rodoviária é um requisito fundamental que deverá ser assegurado, Embora os agentes biológicos estejam omnipresentes em todo o
ou que, pelo menos, não deverá ser comprometido pela meio que nos rodeia e coabitem com todos os seres vivos, apenas
iluminação rodoviária. uma pequena porção destes microrganismos provoca doença nas
pessoas. São os microrganismos patogénicos que, englobando as
Durante o dia, o Sol bactérias, vírus, parasitas e fungos, conseguem vencer as defesas
assegura praticamente todas do organismo humano e infetar os tecidos da pessoa saudável.
as necessidades de iluminação,
podendo, contudo, provocar Para a prevenção e identificação das doenças infeciosas é muito
encandeamento ao entrar em importante reconhecer as fontes e os meios de transmissão dos
contato direto com os olhos do agentes biológicos patogénicos, nomeadamente a água, o ar, as
condutor, pelo que as palas instalações do ar condicionado, o solo, os animais domésticos ou
solares e a utilização de óculos selvagens e algumas matérias-primas como o algodão, a lã e a
de sol poderão constituir uma forma de controlo da iluminação carne (Figura 13). A União Europeia regulamentou a exposição
dita natural. ocupacional a fatores de risco biológico em 2000, através da
Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho 2000/54/EC, de 18

202
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
de Setembro, publicada a 17 de Outubro de 2000. 2. 2. 1 - Efeitos do álcool, medicamentos e
outras substâncias suscetíveis de alterar o
comportamento
O consumo de substâncias como o álcool, a cafeína, o tabaco,
alguns medicamentos e drogas, para além dos seus efeitos nocivos
sobre a saúde, pode interferir no comportamento e na capacidade
de condução de veículos e, consequentemente, na segurança
Entre as medidas de prevenção poderá incluir-se, em alguns rodoviária. Quando associados entre si ou ainda com outros
casos, a vacinação. Como atividades com maior propensão para a fatores, como a ingestão excessiva de alimentos, fadiga,
exposição a este tipo de agentes podem referir-se o transporte e sonolência, stress, condução monótona ou noturna, os seus efeitos
manuseamento de produtos agrícolas e alimentares, assim como a podem ser potenciados.
recolha, transporte e eliminação de resíduos.

2. 2. 1. 1 - Álcool
2. Ter consciência da
As bebidas alcoólicas constituem uma droga substancialmente
importância da aptidão física usada na nossa cultura, sendo Portugal um dos países em que o
seu consumo, por habitante, é mais elevado. Na Europa, cerca de
e mental 25% dos acidentes rodoviários mortais estão relacionados com o
consumo de álcool. Este valor é bem mais grave se considerarmos
que os quilómetros percorridos por condutores com uma taxa de
2. 1 - Introdução álcool no sangue de 0,5 g/l ou superior representam apenas 1%
do total de quilómetros percorridos (ERSO - European Road Safety
As decisões tomadas pelo motorista relativamente a hábitos de Observatory, 2006). Para além de constituir uma transgressão
vida e alimentação, ao tempo de repouso e horas de sono, à da lei, estes dados ilustram bem o risco da condução sob o efeito
ingestão de substâncias suscetíveis de alterar a sua capacidade de do álcool. O álcool é um depressor com um efeito profundo nas
condução, são decisões de natureza comportamental que assentam capacidades psicofisiológicas do condutor:
essencialmente numa atitude de base face à vida em geral e à •Aumenta o tempo de reação;
atividade de trabalho em particular. Assim, esta parte do manual •Reduz a capacidade sensorial, nomeadamente a visão;
faz referência a este tipo de situações e aos seus efeitos sobre a •Afeta a perceção da velocidade e da posição do carro na via, dos
aptidão para a condução de veículos. outros veículos, do traçado horizontal e da sinalização;
•Reduz a atenção e pode provocar sonolência;
2. 2 - O comportamento dos condutores •Afeta o processamento da informação e a tomada de decisões;
•Reduz a coordenação motora afetando o controlo do veículo.
A grande variabilidade de utilizadores da estrada (condutores de •Gera um estado de euforia com tendência para sobrevalorizar as
todo o tipo de veículos e peões), tendo cada um deles capacidades do condutor, que na realidade se encontram
diferentes caraterísticas, capacidades e competências, reflete-se em diminuídas, e menosprezar o risco.
comportamentos diferenciados, alguns dos quais, de elevado risco.
Os aspetos que serão aqui realçados prendem-se com Estes efeitos começam a manifestar-se mesmo em pequenas doses,
decisões tomadas individualmente e que têm efeitos diretos ao para valores da taxa de alcoolemia inferiores a 0,5 g/l e
nível das capacidades funcionais necessárias à condução, e, aumentam progressivamente com o aumento do consumo. Por
portanto, ao nível da segurança. exemplo, com uma taxa de 0,8 g/l o risco de acidente aumenta
2,7 vezes em relação a um condutor sóbrio, enquanto que, para
uma taxa de 1,5 g/l, o risco de acidente aumenta 22 vezes
(ERSO).

203
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
2. 2. 1. 2 - Cafeína 2. 3 - A aptidão para conduzir
A cafeína pode encontrar-se em várias concentrações em bebidas A condução de um veículo requer do condutor uma boa aptidão
como o café, o chá ou a coca-cola, e ainda em vários produtos física e mental. Isto significa que as suas funções sensoriais,
como chocolates e nalguns medicamentos. Geralmente, é utilizada mentais e motoras devem estar em boa forma de modo a
pelo trabalhador pelo seu efeito estimulante, embora de curta assegurar o bom desempenho da condução. Em casos em que o
duração. Contudo, o seu uso excessivo está associado a alguns indivíduo apresente, por exemplo, limitações da visão, é necessário
riscos, como a dificuldade de adormecer, problemas do foro que a respetiva correção assegure a acuidade visual e o campo
digestivo, perda de água corporal devido às propriedades visual exigidos para a condução. Em certos casos, uma
diuréticas da cafeína, ansiedade, nervosismo e aceleração do deficiência motora pode ser compensada por adaptações
batimento cardíaco. A tolerância à cafeína diminui com a idade, específicas no veículo, que permitirão ao indivíduo conduzir esse
pelo que mesmo que aos 20 anos se bebam 4 cafés por dia e se mesmo veículo e não outro qualquer. Tratando-se de condutores
adormeça facilmente, o mesmo poderá não acontecer aos 40. profissionais cuja atividade se centre no transporte de
passageiros ou mercadorias, há um conjunto de exigências que
limitam o acesso à profissão. Sabe-se que a profissão de motorista
2. 2. 1. 3 - Tabaco é exigente, pelo esforço físico e mental que decorre de longas
horas passadas ao volante de um veículo pesado, por um lado, e
Trata-se de uma substância altamente viciante, muitas vezes usada
pela carga psicológica inerente aos riscos de acidente ou
para manter um estado de alerta a curto termo, mas que na
violência e às preocupações com a segurança de pessoas e bens,
realidade retira oxigénio ao organismo e acentua a sensibilidade
por outro. A experiência na profissão é uma mais valia no exercício
aos fatores de fadiga. Adicionalmente, implica uma redução do
da profissão de motorista, tal como em qualquer outra profissão,
sono de 30 minutos por noite.
mas a experiência acumulada está associada ao avanço da idade
e ao declínio de algumas capacidades. No entanto, a investigação
2. 2. 1. 4 - Outras substâncias suscetíveis de tem demonstrado que, no decurso da vida ativa e salvo qualquer
doença que afete particularmente algumas capacidades exigidas
alterar o comportamento para o bom desempenho da tarefa de condução, a experiência
acumulada permite ao indivíduo compensar facilmente alguma
O consumo de drogas tem efeitos muito nocivos sobre a saúde e
diminuição de capacidades. Trata-se de comportamentos
o desempenho, com reflexos evidentes na segurança. O efeito do
adaptativos que o indivíduo desenvolve natural e
consumo de drogas sobre a capacidade do condutor é variável com
inconscientemente e que lhe permitem continuar a assegurar um
o indivíduo, com o tipo de droga, a dose consumida e há quanto
bom nível desempenho na sua atividade. O acesso à profissão, em
tempo está no organismo, e se houve consumo simultâneo de
que os candidatos são geralmente jovens, tem que estar, no
outras drogas ou álcool.
entanto, condicionado por um conjunto de exigências que
correspondem a um bom estado de saúde, na sua verdadeira
As anfetaminas podem dar a sensação errada de aumento da
aceção, ou seja, em termos físicos e mentais.
confiança e do estado de alerta, mas podem ser muito perigosas
porque distorcem a perceção e podem causar ansiedade, ataques
As caraterísticas atuais da profissão de motorista impõem, assim, o
de pânico e perda de coordenação. Efeitos similares e ainda mais
maior rigor na seleção dos candidatos, dadas as novas
graves podem advir do consumo de outras drogas como por
exigências decorrentes dos novos sistemas de informação e
exemplo o haxixe, a cocaína, o ecstasy ou o LSD. Alguns
comunicação e os riscos emergentes no sector dos Transportes.
medicamentos tomados sob prescrição médica podem também
Pela caraterização da tarefa de condução de veículos feita
ter repercussões negativas sobre a condução. Anti-histamínicos e
anteriormente e pelos riscos que a mesma comporta,
calmantes podem afetar significativamente o tempo de reação e
compreende-se que o acesso à profissão seja guiado pela avaliação
causar sonolência. Se as instruções do medicamento tiverem avisos
de capacidades e funções exigidas para uma condução segura.
sobre a condução e utilização de máquinas, deve-se evitar conduzir
Trata-se, pois, de uma avaliação do estado de saúde, pelo que é
e em caso de dúvida consultar um médico.
realizada por médicos, em função de cada especialidade
considerada, por um lado, e de uma avaliação psicológica e

204
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO
psicomotora. Assim, o candidato à profissão de motorista de visual e do campo visual, tempos de reação mais longos,
transporte de passageiros ou mercadorias estará, à partida, dificuldades de memorização, etc.). No entanto, a sua experiência
qualificado se cumprir os seguintes requisitos (Krueger, Brewster, permite-lhe compensar alguns declínios de capacidades,
Dick, Inderbitzen & Staplin, 2007): assegurando-lhe a manutenção das suas competências ao longo
•Não possuir qualquer deficiência motora; da vida ativa. Na verdade, não é durante este período, no qual
•Não possuir qualquer diagnóstico clínico que implique limitações o indivíduo está exposto às exigências do seu trabalho, que se
ao exercício contínuo da atividade e riscos de incapacidade de fazem sentir os efeitos do envelhecimento. Essas exigências atuam
controlar o veículo ou de perda súbita de conhecimento; como estímulos que contêm e retardam alguns declínios, que só
•Apresentar bons níveis de coordenação motora e tempos de começam a ser mais notórios após o termo da vida ativa, com a
reação. ausência dos estímulos representados pelas exigências das tarefas.
•Não sofrer de qualquer tipo de perturbação mental ou Tudo isto se passa em perfeita harmonia num envelhecimento
psicológica que afete a sua capacidade de condução do veículo e/ saudável, mas a exposição a condições de trabalho inadequadas
ou de interação com passageiros ou outros utilizadores da via; (tempos de trabalho e condução exagerados, dívida de sono
•Ter a acuidade visual, o campo visual e a capacidade para acumulada, ruído e vibrações, bancos desajustados, horários de
distinguir cores exigidos para o acesso à profissão; refeições irregulares, má qualidade da alimentação, consumos,
•Ter uma boa capacidade auditiva; etc.) é geradora de problemas de saúde que, por vezes, antecipam
•Não consumir regularmente substâncias impeditivas de uma o fim da vida ativa. Para além das condições que os empregadores
condução segura; devem proporcionar aos seus colaboradores e que estão reguladas,
•Não ter nenhum diagnóstico clínico de alcoolismo. os próprios trabalhadores devem gerir a sua saúde, estando con-
scientes daquilo que a prejudica e dos comportamentos que devem
No que toca ao enquadramento legal relativamente à aptidão adotar em prol de uma vida saudável.
para conduzir, o Decreto-Lei nº 313/2009, de 27 de Outubro, que
aprova o Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir (RHLC), Na profissão de motorista, uma alimentação saudável, horas de
torna obrigatória a realização de exames médico e psicológico de sono necessárias a um adulto para uma recuperação da fadiga
avaliação do candidato ou condutor, que passam a ser efetuados acumulada no seu dia de trabalho e a prática regular de exercício
em Centros de Avaliação Médica e Psicológica (CAMP). A partir da físico moderado são eixos essenciais de uma vida saudável, de um
entrada em vigor deste diploma (25 de Janeiro de 2010), o bom desempenho em prol da segurança, de boa produtividade e
Governo dispõe de mais 90 dias para proceder à de um envelhecimento saudável. A atenção a estes princípios de
regulamentação desta lei, regulando ainda o estabelecimento vida saudável poderá fazer toda a diferença no pleno usufruto da
das bases de concessão dos CAMP, os requisitos das respetivas reforma em boas condições de saúde.
instalações e equipamentos, bem como a constituição das juntas
médicas de recurso. Subsequentemente, decorrerá ainda algum
tempo até à abertura destes centros, pelo que enquanto no distrito
2. 4. 1 - Recomendações para uma
da residência do examinando não se encontrar em funcionamento alimentação saudável
um CAMP, a avaliação da aptidão física, mental e psicológica
continuará a ser efetuada nos moldes atuais. Começando o dia com um pequeno-almoço composto de leite
ou derivados, pão e fruta, o almoço e o jantar devem completar
as refeições diárias. Estas devem ser equilibradas e moderadas,
2. 4 - Princípios de uma vida ativa saudável particularmente se forem feitas durante o período de trabalho, a
fim de evitar a sonolência inerente ao período de digestão. Longos
As condições de trabalho (técnicas, organizacionais e ambientais)
períodos entre refeições devem também ser evitados. Para uma
condicionam a qualidade de vida dos trabalhadores e influenciam
boa qualidade alimentar recomenda-se ainda que seja privilegiado
a sua saúde e a evolução da sua capacidade de trabalho ao longo
o consumo regular de legumes e frutas, assim como o peixe e as
da vida ativa. Durante este período, geralmente superior a 30
carnes brancas, que seja ainda reduzido o consumo de gorduras,
anos, o trabalhador acumula experiência e torna-se mais
abolido o uso de molhos e temperos industriais e moderado o uso
competente, mas, ao mesmo tempo, envelhece, o que significa
de sal e açúcar. Quanto ao álcool, deve ser tomado com
uma diminuição de algumas capacidades, sendo algumas
moderação, apenas durante as refeições que estejam para
essenciais à condução de veículos (ex: diminuição da acuidade
além do dia de trabalho.

205
SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE NO TRABALHO

Referências bibliográficas LEGISLAÇÃO E DIRETIVAS COMUNITÁRIAS CONSULTADAS:


Decreto-Lei nº46/2006, de 24 de Fevereiro – transpõe para a
ordem jurídica interna a Diretiva 2002/44/CE do Parlamento
Aptel, M. Cnockaert, J-C. (2002), Liens entre Troubles Europeu e do Conselho, de 25 de Junho, relativa às prescrições
Musculosquélétiques du Membre Supérieur et le Stress, BTS mínimas de segurança e saúde em matéria de exposição dos
Newsletter no 19-20, Septembre. trabalhadores aos riscos devidos às vibrações.

Boyce, P. R. (2003). Human Fators in Lighting, 2nd edition, Lon- Decreto-Lei nº182/2006, de 6 de Setembro - transpõe para a
don, Taylor & Francis. ordem jurídica interna a Diretiva 2003/10/CE do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 6 de Fevereiro, relativa às prescrições
Desmond, P. & Hancock, P. 2001 – Ative and Passive Fatigue mínimas de segurança e saúde em matéria de exposição dos
States, in Hancock, P. & Desmond, P. (Eds.) Stress, Workload and trabalhadores aos riscos devidos ao ruído.
Fatigue, LEA Publishers, New Jersey.
Decreto-Lei nº 313/2009, de 27 de Outubro - aprova o
Desoille, H; Scherrer, J; Truhaut, R. (1987). Précis de médecine du Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir (RHLC).
travail, 5ème éd. Masson, Paris.
Diretiva 2006/25/EC, de 5 de Abril – relativa às prescrições
Griffin, M. J. (2005), Chapter 18: Vibration. In Kerry Gardiner and mínimas de saúde e segurança em matéria de exposição dos
J. Malcolm Harrington (eds.), Occupational Hygiene, (pp. 250- trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos (radiação ótica
267): Blackwell Publishing. artificial).

Knutsson, A (2004). Methodological aspets of shift-work research. Diretiva 2000/54/CE, de 18 de Setembro - relativa à proteção dos
Chronobiology International, vol. 21, no 6, pp. 1037-1047. trabalhadores contra riscos ligados à exposição a agentes b
iológicos durante o trabalho.
Krueger, G.P.; Brewster, R.M.; Dick, V.R.; Inderbitzen, R.E. &
Staplin, L. (2007). Health and Wellness Programs for Commercial SITES CONSULTADOS:
Drivers. TRB, Washington D.C. International Ergonomics Association
http://www.iea.cc/
Mansfield, N. J. (2005). Human Response to Vibration, Boca Raton,
CRC Press. Federal Highway Administration (USA)
http://www.fhwa.dot.gov/
Parsons, K. (2003). Human Thermal Environments: The effects of
hot, moderate and cold environments on human health, comfort National Sleep Foundation. Do website “DrowsyDriving.org”
and performance, 2nd edition, London, Taylor & Francis. http://www.sleepfoundationºrg/site/c.huIXKjM0Ix-
F/b.2418857/k.A5A7/DrowsyDrivingor g.htm, extraído em
Reason, J. & Hobbs, A. (2003) – Managing Maintenance Error, Outubro de 2007.
ASHGATE, London.
ERSO - European Road Safety Observatory
Stutts, J.; Knipling, R.; Pfefer, R.; Neuman, T.; Slack, K.; Hardy, http://www.erso.eu/
K. (2005) “NCHRP REPORT 500: Guidance for Implementation of
the AASHTO Strategic Highway Safety Plan - Volume 14: A Guide
for Reducing Crashes Involving Drowsy and Distracted Drivers”; CONTEÚDO FORNECIDO POR:
Transportation Research Board (TRB). IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP

Stutts, J.; Wilkins J.; Vaughn, B. (1999) “Why Do People Have


Drowsy Driving Crashes? Input from Drivers Who Just Did”; AAA
Foundation for Traffic Safety.

206
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

1. Introdução às tecnologias de informação e comunicação


1. 1 - Introdução 2 - outros sistemas alertam o condutor para o risco de uma
utrapassagem ou mudança de direção (sistemas de assistência ao
O desenvolvimento de novas tecnologias e a sua utilização em condutor) e, assim, prestam uma ajuda na componente tática da
tarefas quotidianas tem sido um cenário frequentemente tarefa;
constatado e o sector dos transportes rodoviários não é uma 3 - alguns sistemas intervêm sobre os comandos do veículo para
exceção. A introdução e o desenvolvimento de novas tecnologias assegurar o controlo e a estabilidade do veículo, substituindo,
neste sector têm ocorrido a diferentes ritmos ao longo do tempo, assim, o condutor na realização de uma operação sobre os
sendo esperado que a presença destes sistemas seja cada dia mais comandos do veículo.
frequente e indispensável. Ao longo da história da sua existência
estas tecnologias têm tido diversas designações, que resultavam Quadro 1 – Famílias de sistemas relativamente aos níveis de
dos avanços tecnológicos da altura, dependendo também do local suporte à tarefa de condução
do globo onde surgiam. No entanto, independentemente de terem Níveis da tarefa Nível de suporte Famílias de sistemas
tido designações diferentes ao longo do tempo, todo e qualquer Estratégico
Informação
Sistemas de navegação
nome atribuído tinha em comum o desejo de expressar a aplicação Orientação
(Navegação) Informação de tráfego
Referência
dos novos avanços tecnológicos no contexto dos transportes.
Informação
Tático Sistemas de assistência
Alerta
Na década de 90, a introdução da designação de “inteligente” (Manobras) ao condutor
Referência
procurava pôr em evidência que os sistemas eram cada vez
Operacional Sistemas de controlo e
melhores, tinham cada vez mais funções e sobretudo estavam (Controlo do veículo)
Intervenção
Estabilidade do veículo
a adquirir a capacidade de se adaptar a diferentes condições,
ajustando a sua ação quando se deparassem com novas situações.
Para melhor sistematização do conteúdo deste manual, após uma
A prova de que o conceito está perfeitamente enraizado é a
parte introdutória às tecnologias de informação e comunicação,
designação que tem sido adotada desde há alguns anos para o
serão apresentados os sistemas de apoio à exploração. Estes,
grupo de sistemas tecnológicos com aplicação no sector dos
tendo uma especificidade própria de cada contexto (transporte de
transportes: Sistemas Inteligentes de Transportes (Intelligent
passageiros ou mercadorias), serão apresentados separadamente.
Transportation Systems – ITS).
Numa segunda parte, será abordado o vasto conjunto de
tecnologias de utilização generalizada, envolvendo os sistemas
Os sistemas inteligentes de transportes oferecem ao condutor
embarcados e os sistemas integrados na infraestrutura rodoviária.
inúmeras vantagens, tanto no que respeita à segurança, como ao
Trata-se de sistemas de grande utilidade para os motoristas, mas a
conforto e à maior facilidade da condução. No entanto, até hoje,
sua utilização e respetivas vantagens ou riscos decorrentes de
a última decisão continua a ser do condutor: por um lado, alguns
utilização inapropriada são exatamente os mesmos para cada gru-
sistemas apenas o informam ou alertam, dando-lhe indicações
po alvo (motoristas de veículos de passageiros ou mercadorias).
a seguir, pois não têm qualquer ação direta sobre os comandos
do veículo; por outro lado, os sistemas que prevêm um controlo
A terminar esta introdução, refira-se que este manual não visa
automático do veículo podem ser ativados ou desativados pelo
proporcionar aos formandos qualquer treino específico relativo à
condutor, o que condiciona o funcionamento dos sistemas à sua
utilização dos sistemas que serão apresentados. Isto não significa
vontade. Assim, se nos reportarmos ao modelo hierárquico da
que este não seja necessário, mas que deverá ser proporcionado
tarefa de condução (Manual de Saúde, Segurança e Higiene no
pelo operador de transportes, em função do contexto (passageiros
Trabalho), no qual se distinguem três componentes (estratégica,
ou mercadorias) e das escolhas tecnológicas feitas. Por um lado,
tática e operacional), podemos distinguir os sistemas embarcados
vários sistemas são específicos de um contexto ou do outro; por
de ajuda à condução como se segue:
outro lado, para o mesmo tipo de sistema, há diferentes marcas,
1 - alguns sistemas ajudam o condutor no planeamento do trajeto,
tipos de interface e especificidades tecnológicas que marcam
como é o caso de um sistema de navegação, que resolve pelo
algumas diferenças na sua utilização; ainda por outro lado, a
condutor a componente estratégica da tarefa de condução;
utilização destes sistemas implica uma adaptação comportamental

207
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
por parte do condutor, que requer algum treino. Assim, as Nos dias que correm, em que os mercados são fortemente
diferentes tecnologias de informação e comunicação são aqui competitivos, a acessibilidade das comunicações entre o motorista
referidas, salientando a sua função, os riscos inerentes à sua e a empresa e/ou clientes é essencial, pois o contrário resultaria
utilização durante a condução e as vantagens da sua utilização, em oportunidades de negócio perdidas. As tecnologias de
assim como eventuais recomendações para a implementação nos informação e comunicação, atualmente conhecidas sob a
veículos e algum tipo particular de adaptação comportamental que designação de sistemas inteligentes de transportes (ITS) assentam
envolva por parte do condutor. em combinações de processamento de informação, mapas, bases
de dados, comunicações e dados em tempo real recolhidos a
Finalmente, neste manual é utilizada a designação de “condutor” partir de uma variedade de sensores para produzir soluções que
para todas as situações que sejam comuns a qualquer condutor e a permitam:
designação de “motorista” para os casos que se reportem - Aos gestores e operadores de infraestruturas melhorar a
exclusivamente a qualquer dos contextos profissionais visados. qualidade, a segurança e a gestão das redes de transportes;
- Às pessoas que viajam, aos condutores, às empresas de
transporte de mercadorias, aos operadores de transporte público e
1. 2 - Comunicações móveis e os Sistemas às autoridades tomar decisões mais inteligentes e melhor
Inteligentes de Transportes informadas;
- Aos operadores de redes de transportes e prestadores de serviços
São vários os sistemas de comunicação e informação que têm contratualizados fornecer serviços de informação numa base
vindo a ser desenvolvidos e implementados no sector dos multimodal a todos os tipos de pessoas que viagem;
transportes, desde o clássico rádio aos sistemas baseados em - Aos utilizadores da estrada viajar em maior segurança em
satélites, passando pelos sistemas de radiomensagem (pager), o veículos mais seguros e inteligentes.
telefone instalado no veículo (com número próprio) e, mais
recentemente, o telemóvel. Os primeiros sistemas foram Em síntese, os ITS representam o resultado do conjunto de esforços
permitindo o envio e a receção de mensagens breves e, muitas para adicionar as tecnologias de informação e comunicação aos
vezes, codificadas, que se revelaram eficientes, tanto no sistemas de transportes numa tentativa de gerir fatores que são
transporte de passageiros como de mercadorias. Não há muitos tipicamente variáveis, tais como veículos, cargas e itinerários,
anos, o motorista ficava completamente sem contato com a empre- tendo como objetivos reduzir o uso do automóvel particular, os
sa assim que partia, existindo apenas alguns locais que permitiam tempos de transporte e o consumo de combustível. Assim, com ITS,
as necessárias comunicações. A evolução das haverá melhores viagens e melhor informação para quem viaja,
tecnologias de informação e comunicação (figura 1) tem alargado melhor transporte público, um transporte de mercadorias mais
estas possibilidades, permitindo hoje: eficiente e, acima de tudo, mais segurança nas estradas.
- Aos motoristas estar em contato com a empresa, colegas, clientes
e outros contatos, tais como serviços de manutenção e reparação e
centros de controlo de tráfego;
1. 2. 1 - Promoção da segurança rodoviária
- Aos motoristas ter permanentemente a bordo informação sobre o
Uma grande parte dos países da Europa adotou um objetivo
estado da via e as condições de tráfego;
desafiante no que diz respeito à redução dos acidentes
- Às empresas saber onde se encontram os veículos a qualquer
rodoviários, uma vez que se pretendia reduzir para metade o
momento e permitir contactar o motorista para troca de
número de vítimas mortais até 2010. Mais recentemente, o
informações importantes;
European Road Safety Position Paper estabelece o Plano de Ação
- Aos motoristas o pagamento automático de portagens.
de Segurança Rodoviária para 2011- 2020 (Road Safety Ation
Plan), definindo um conjunto de prioridades e recomendações,
particularmente no que respeita à importância da infraestrutura e
às diferenças entre países. Os sistemas inteligentes de transporte
podem dar um importante contributo a estes níveis uma vez que
através deles pode assistir-se à oportunidade de aumentar a
segurança dos condutores, dos passageiros e de todos os outros
utilizadores do sistema rodoviário. Este contributo no aumento da

208
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
segurança pode ser realizado a três níveis: positivos ao nível económico. No transporte de passageiros, a
•Fornecer técnicas de gestão da rede rodoviária para ajudar a melhoria da qualidade da oferta (boa distribuição da rede,
resolver os problemas relativos ao congestionamento; conforto e acessibilidade dos veículos, informações em tempo real,
•Possibilitar a implementação de sistemas de monitorização das etc.) e a disponibilidade de sistemas de informação permitindo
vias para auxiliar no cumprimento das regras de trânsito, o planeamento da viagem e uma melhor gestão do tempo têm
disponibilizando de forma imediata meios para solucionar atraído e fixado mais passageiros; no transporte de mercadorias,
situações de emergência; os sistemas de comunicação e de apoio à exploração têm permitido
•Oferecer equipamentos que aumentem os níveis de segurança uma melhor gestão das operações comerciais, a par de uma
para os condutores, possibilitando igualmente a comunicação entre economia de combustível e, consequentemente, uma diminuição
veículos e a infraestrutura. do correspondente impato ambiental. Isto significa que os
investimentos feitos ou a fazer com a implementação de novas
tecnologias são largamente compensados com a melhoria da
1. 2. 2 - Melhoria da gestão da rede segurança, da qualidade da oferta e dos tempos de transporte,
rodoviária abrindo, assim, novas possibilidades de expansão do negócio.

Os problemas de tráfego são cada vez maiores por todo o


mundo. São, em parte, consequência do aumento da prosperidade
1. 3 - As diferentes categorias de Tecnologias
económica e fazem com que um maior número de pessoas tenha de Informação e Comunicação
trabalho e tenha a necessidade de viajar. Estes problemas de
tráfego fazem os condutores perderem tempo, tornam a viagem Os sistemas de informação e comunicação nos transportes variam
desagradável e muitas vezes imprevisível, uma vez que nunca se consoante as tecnologias aplicadas, indo desde sistemas básicos
saberá a hora de chegada ao destino. de gestão (sistemas de controlo de semáforos; sistemas de gestão
de contentores; sistemas de mensagens variáveis, entre outros)
Assim, as novas tecnologias podem ajudar a minimizar os a aplicações mais avançadas que integram dados em tempo real
problemas que advêm do congestionamento de tráfego e informação de retorno (feedback) proveniente de diferentes
melhorando a gestão da rede rodoviária. De forma mais fontes (sistemas de navegação e informação da disponibilidade em
concreta os sistemas inteligentes de transporte: parques de estacionamento, por exemplo) passando por sistemas
•Fornecem equipamentos e técnicas para medir o de assistência ao condutor (regulador ativo de velocidade –
congestionamento; Adaptive Cruise Control, por exemplo). Além disso, o
•Fornecem sistemas para gerir de melhor forma a rede rodoviária desenvolvimento tecnológico continua, aperfeiçoando sistemas já
através de sistemas integrados nos veículos bem como presentes existentes, integrando múltiplas funções e criando novos sistemas,
na infraestrutura; sempre em prol da segurança das pessoas e da proteção do meio
•Proporcionam o acesso a informação em tempo real relativa à ambiente.
viagem e ao tráfego;
•Providenciam meios para melhor gerir e aplicar os custos
relativos à viagem;
•Permitem aumentar a capacidade da rede rodoviária existente.

1. 2. 3 - Melhoria da gestão das operações


comerciais
O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação
tem contribuído para uma melhoria significativa da eficiência e da
segurança das operações comerciais. Tanto no sector do transporte
de passageiros como no de mercadorias, as novas tecnologias de
apoio à gestão das operações comerciais tem também tido efeitos

209
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

2. Transporte de passageiros
Conhecer as atuais tecnologias disponíveis para utilização no sistema
de transportes e ter noção das tendências futuras
2. 1 - Introdução 2. 2. 1 - Sistemas de apoio à exploração
As tecnologias de informação e comunicação têm hoje um papel No contexto do transporte de passageiros, o sucesso de qualquer
da maior importância na gestão do transporte de passageiros. As operador passa por cativar e fixar clientes, para o que é necessário
diferentes aplicações das tecnologias de comunicações móveis e de implementar um sistema eficaz de informação ao público e uma
localização de veículos permitem o contato permanente do qualidade de serviço compatível com o respetivo custo para o
operador com os motoristas e a troca de informações em tempo cliente e com as suas expetativas. As novas tecnologias
real. Para tal, os veículos estão equipados com diferentes atualmente disponíveis permitem otimizar a qualidade da oferta,
tecnologias que permitem otimizar o serviço em termos de informando os passageiros em tempo real, diminuindo a sua
qualidade, tempo, segurança e consumo de combustível. ansiedade relativamente a tempos de espera em paragens,
facilitando a aquisição do título de transporte e a sua validação e
A disponibilidade destes sistemas no mercado é a consequência oferecendo mais segurança e conforto na viagem. Relativamente
natural do desenvolvimento das tecnologias de comunicações ao operador, estes sistemas permitem saber com precisão onde se
móveis, permitindo aos operadores de transportes beneficiar das encontram os veículos, comunicar com os respetivos motoristas,
suas vantagens. No entanto, o impato que podem ter na conhecer em tempo real o movimento de passageiros, ter
segurança impõe a necessidade de uma consciencialização dos rapidamente acesso a informação sobre incidentes ou acidentes e
riscos inerentes à sua utilização durante a condução. O condutor agir em conformidade.
mais competente e mais experiente é, acima de tudo,
humano, pelo que tem recursos limitados; não há super heróis Um sistema de apoio à exploração baseia-se na integração de
nem ninguém que possa realizar com sucesso várias tarefas tecnologias de informação e comunicação com tecnologias de
simultaneamente, sobretudo se alguma delas tiver a complexidade posicionamento, oferecendo múltiplas funcionalidades; estas
e a dinâmica da condução de um veículo. determinarão, por seu turno, as necessidades de equipamento
apropriado. Os motoristas deverão, então, conhecer genericamente
Finalmente, há que ter em conta que o desenvolvimento os diferentes componentes do sistema de apoio à exploração e
tecnológico é imparável e estar preparado para acompanhar as saber os elementos que estarão eventualmente sob o seu controlo
mudanças que ocorrerão ao longo da vida ativa de um motorista. e em que situações é requerida a sua ação.
Assim, é preciso conhecer o presente e perceber as funções dos
diferentes equipamentos para se compreender e aceitar o que
surgir no futuro, tendo sempre presente que a implementação
2. 2. 1. 1 - Telemática aplicada
destas tecnologias visa sempre a otimização da segurança e da
A utilização integrada de telecomunicações e informática, hoje
eficiência do transporte.
mais conhecida por Tecnologias de Informação e Comunicação,
teve nos anos 90 a designação de Telemática. Mais
2. 2 - O transporte de passageiros especificamente, podemos definir Telemática como a ciência que
envia, recebe e armazena informações por meio de equipamentos
Os operadores de transportes de passageiros têm atualmente à de telecomunicações. A Telemática utiliza equipamentos
sua disposição meios que lhes permitem otimizar a gestão das eletrónicos, eletromecânicos e eletromagnéticos que operam
respetivas operações comerciais através da introdução de novas em conjunto com equipamentos controlados por computador e
tecnologias de informação e comunicação. A implementação destes transmissores rádio para proporcionar com precisão a transmissão
sistemas de apoio à exploração permite melhorar o desempenho de mensagens de aviso, orientação, emergência, etc. A Telemática
dos veículos e da frota em geral, reduzindo os custos da integra, por exemplo, a tecnologia de GPS (Global Positioning
exploração.

210
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
System) com a informática e tecnologias de comunicações móveis O cartão Lisboa Viva é o cartão de
para produzir sistemas de navegação. As aplicações telemáticas suporte para carregamento de passes,
são inúmeras, tendo como principal função salvar vidas, poupar que é aceite por todos os Operadores
tempo, dinheiro, energia e proteger o ambiente. Várias destas de Transporte da Região de Lisboa.
aplicações (sistemas) foram atrás enumeradas, categorizadas e Este cartão possui incorporado um
descritas. “chip” e uma antena, funcionando
por aproximação aos validadores sem
Em síntese, podemos dizer que a Telemática pode contribuir para a contato. Nalgumas cidades europeias,
melhoria de um sistema de transporte público como se segue: este sistema integra um bilhete ou passe único para os diferentes
•As melhorias da fiabilidade e da acessibilidade decorrentes da operadores de transportes. Noutras cidades, o passe sem contato
utilização destas tecnologias tornam o transporte público mais pode não abranger o conjunto de operadores utilizados para
inclusivo e conferem-lhe melhor qualidade, o que se refletirá no determinado percurso, o que obriga alguns passageiros a ter mais
aumento da clientela; do que um contrato no respetivo cartão. Em Lisboa, existem ainda
•As tecnologias de localização dos veículos (GPS) permitem ainda outros cartões de carregamento (Sete Colinas e Viva Viagem) para
a identificação dos veículos que se aproximam de um semáforo bilhetes pré-comprados; estes cartões são utilizados por clientes
pelas autoridades que controlam o tráfego e a gestão dos menos frequentes. Na cidade do Porto, o cartão sem contato é
semáforos, o que permite dar prioridade aos autocarros; conhecido por Andante e é válido em 8 operadores da região do
•As tecnologias que permitem detetar e identificar veículos que Porto. Outros operadores de transporte público estão
circulam indevidamente em faixas BUS são dissuasoras destes progressivamente a implementar este sistema.
comportamentos e, para além de otimizarem os tempos de A introdução deste sistema permite aos operadores de transporte
percurso, aumentam a segurança; público poupar tempo e dinheiro e, ao mesmo, tempo, aumentar
•Os sistemas de informação dinâmica nas paragens permitem a satisfação dos clientes. Além disso, permite maior fluidez no
aos clientes gerir os tempos de espera, diminuindo, assim, a sua movimento de passageiros, uma utilização amigável e torna os
ansiedade decorrente de pressões de tempo e desconhecimento da tempos de entrada no veículo e validação 3 vezes mais curtos.
demora do autocarro. Mais especificamente, as vantagens para o operador refletem-se
nos seguintes aspetos:
A continuação do desenvolvimento tecnológico e o consequente •Mais segurança, dificultando fraudes, o que era relativamente
aparecimento de novas tecnologias e funcionalidades impõem a fácil nos bilhetes magnéticos sujeitos a obliteração; uma vez que
todos os que trabalham em organizações de transportes a cada cartão é único, tem um sistema próprio de reconhecimento e
necessidade de se adaptarem a eventuais mudanças e novos proteção de dados pessoais;
sistemas. Já ninguém pode passar toda a sua vida ativa apenas •Como os cartões têm uma boa capacidade de memória, podem
com a formação inicial que lhe foi dada; terão que estar oferecer serviços adicionais, tais como a compra de bilhetes para
preparados para continuar a aprender e a utilizar sempre espetáculos, o acesso a museus e outros pequenos pagamentos,
tecnologias mais avançadas. tais como parques de estacionamento; a extensão de
funcionalidades depende dos acordos existentes ao nível do
operador;
2. 2. 1. 2 - Bilhética sem contato •Os custos de manutenção do sistema são baixos
comparativamente aos sistemas magnéticos.
A bilhética sem contato é um sistema de controlo e cobrança
eletrónica do título de transporte. O sistema consta de um cartão
com chip, no qual estão inscritos os dados pessoais e a validade do 2. 2. 1. 3 - Cartões inteligentes
bilhete ou passe; a bordo existe um validador que deteta o cartão
a uma curta distância previamente definida; se o título está válido, No contexto do transporte público de passageiros, os cartões
o validador emite um sinal sonoro curto e luz verde (figura 3); inteligentes (smart cards) estão diretamente ligados à bilhética
se o título não estiver válido, o validador emite um sinal sonoro sem contato, pois representam um modo de pagamento dos títulos
prolongado e luz vermelha. O validador está localizado à entrada de transporte. A bilhética sem contato envolve um
do autocarro. investimento do operador de transporte público na implementação
da tecnologia correspondente. Do lado do cliente, este pode optar

211
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
por um cartão de uso temporário ou ocasional, que é reconhecido disponibilizam informação sobre trajetos mediante solicitação do
pelos validadores, mas é muito limitado, na medida em que a sua cliente, incluindo linhas, horários, tarifas e duração prevista para
utilização está limitada ao operador para o qual foi adquirido. a viagem. Finalmente, os sistemas de informação nas paragens
No entanto, o cliente pode optar pelo cartão de carregamento (tempos de espera) e a bordo (próxima paragem, ligações e
do passe mensal, que é válido para um conjunto de operadores incidentes ou alterações) completam as informações necessárias
aderentes. Este tipo de cartão tem o que é necessário para ser em viagem.
um cartão inteligente, sobretudo se integrar múltiplas funções e
permitir a sua utilização em máquinas ATM (Multibanco). Ao permitir ao potencial cliente o planeamento da viagem, a
informação disponível na Internet possibilita uma melhor gestão
A disponibilidade de um cartão inteligente para o motorista do seu tempo, reduzindo a incerteza e os tempos de espera,
justifica-se como modo de assegurar que o veículo só é conduzido evitando tempo gasto no terminal ou paragens a pedir informação
por si. Isto significa que o motorista tem que inserir o seu cartão e fornecendo as soluções para os trajetos pretendidos, para além
numa interface apropriada para pôr o veículo em marcha. de permitir imprimir as soluções obtidas e tê-las à mão durante a
viagem. Para as pessoas com mobilidade reduzida, esta
disponibillidade de informação é da maior importância,
2. 2. 1. 4 - SMS (Short Message Service) particularmente se incluir informação sobre acessibilidade nos
trajetos solicitados. Esta necessidade de informação é relativa à
SMS é um serviço de mensagens curtas transmitidas por telemóvel.
utilização esporádica da rede ou à necessidade de efetuar um
Trata-se de um serviço bastante utilizado por ser prático e fácil na
trajeto diferente do habitual ou ainda quando alguém utiliza a
troca de mensagens curtas. Por esta razão, constitui mais um meio
rede de transporte público em local desconhecido. No quadro atual
de comunicação utilizado no contexto do transporte de passageiros
de grande mobilidade, particularmente ao nível da Europa, a
para transmitir mensagens curtas, que estão geralmente
disponibilidade desta informação é essencial.
codificadas. As mensagens são trocadas entre o centro de controlo
de tráfego e o motorista, com o fim de transmitir mensagens
Quadro 2 – Sistemas de informação dinâmica: natureza e
importantes sobre congestionamento, alterações de serviço,
conteúdos da informação e respetivos suportes
ocorrências, etc. No sentido de limitar qualquer impato negativo
sobre a segurança da condução, estas mensagens deveriam ser Natureza da Conteúdo da
Suporte da informação
informação informação
lidas num ecrã disponível a bordo (sistema de navegação, por
Papel
exemplo) através da ligação por bluetooth, evitando assim a Informação sobre Esquema da rede com as
Internet
necessidade de utilizar manualmente o telemóvel. a rede respetivas linhas e ligações
Quiosques eletrónicos
Papel
Informação sobre Horários das linhas
2. 2. 1. 5 - Sistemas de informação ao horários e tarifas Preçário
Internet
Quiosques eletrónicos
público Sistemas disponíveis Papel
Informação sobre
Forma(s) de aquisição do Internet
bilhética
No contexto do transporte de passageiros, é essencial um bom título de transporte Quiosques eletrónicos
sistema de informação ao público, o que requer a definição dos Linhas Papel
Informação sobre
conteúdos relevantes e diferentes suportes de informação em trajetos
Ligações Internet
função da natureza da informação. Duração Quiosques eletrónicos
A informação disponibilizada ao público por um operador de Acessibilidade de veículos,
Papel
transporte público de passageiros deve cobrir as áreas referidas no Informação sobre infraestrutura, sistemas de
Internet
acessibilidade informação e linhas
quadro 2, utilizando diferentes suportes de informação. Apesar de e/ou paragens
Quiosques eletrónicos
vivermos na era dos sistemas de informação, os suportes em papel
Informação sobre
têm sempre o seu lugar, pela sua fácil manipulação em qualquer tempos de espera
Linha, destino e tempo de Painéis de informação
parte. A Internet é hoje um meio que deve ser utilizado por todos espera dinâmica em tempo real
em paragens
os operadores de transporte público, disponibilizando assim toda a Próxima paragem Painéis de
informação necessária para um bom planeamento da viagem. Os Informação em
Ligações informação a bordo
viagem
quiosques eletrónicos, disponíveis em locais protegidos, Incidentes e alterações Informação auditiva

212
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Em idêntico contexto, a informação de planeamento disponível em 2. 2. 2 - Sistemas de emergência
quiosques eletrónicos localizados em locais protegidos,
geralmente estações e terminais de transportes, permite Todos os sistemas que permitam o estabelecimento de uma
igualmente uma consulta rápida e a obtenção de soluções de comunicação de emergência para pedido de socorro são
trajeto. Estes sistemas constituem uma solução alternativa e ao fundamentais, particularmente, nos nossos dias. Com efeito, as
mesmo tempo complementar à Internet, permitindo o situações de assalto e violência sobre os motoristas, veículos,
planeamento de uma viagem quando se está na rua ou a alteração passageiros ou carga que transportam têm sido cada vez mais
de uma viagem planeada. frequentes, não só em Portugal, como em todo o espaço europeu.
Em resposta a estas situações, têm vindo a ser desenvolvidos e
Os sistemas de informação dinâmica sobre tempos de espera implementados sistemas de vigilância, comunicação e
disponíveis nas paragens permitem uma melhor gestão do tempo, emergência embarcados, que visam tornar mais seguro o
diminuindo também a incerteza e a ansiedade dos clientes. Estes transporte e, consequentemente, quem viaja. Para além dos
sistemas baseiam-se nas tecnologias de informação e comunicação sistemas que permitem a localização permanente do veículo e
aliadas ao sistema de localização dos veículos, permitindo calcular das tecnologias de comunicações móveis disponíveis a bordo,
o tempo de percurso para cada paragem, em função da sua existem sistemas que apenas requerem que seja ativado um
localização e da velocidade média do autocarro. Estes tempos botão de emergência, que estabelece uma comunicação com as
são atualizados com uma periodicidade definida, em função de autoridades locais contendo um pedido de socorro. Existem ainda
eventuais perturbações do tráfego. A informação está disponível outros sistemas de segurança que são específicos de cada contexto
em painéis, podendo estes estar colocados fora dos abrigos junto de transporte (passageiros mercadorias), pelo que serão adiante
às paragens ou dentro dos abrigos (figura 4). Em zonas mais referidos separadamente.
suscetíveis de atos de vandalismo, os painéis instalados dentro dos
abrigos são mais vulneráveis, sendo, por isso, menos Nos veículos de transporte de passageiros, estão geralmente
aconselháveis, embora sejam de leitura mais fácil e confortável. implementados sistemas de videovigilância, que permitem
identificar a posteriori os autores de roubos ou assaltos. Estes
sistemas já não são muito recentes e, portanto, apresentam
algumas limitações. Mais recentemente, os sistemas de
videovigilância passaram a utilizar as tecnologias de
comunicações móveis e de localização dos veículos disponíveis a
fim de transmitirem as imagens em tempo real às autoridades
locais. Para tal, basta que o motorista acione o botão de
emergência; perante as imagens recebidas, é acionado o socorro,
que será adequado à situação que foi avaliada de acordo com as
imagens recebidas.
Para além de ter obtido uma solução de trajeto e de estar O conhecimento da existência destes sistemas pode funcionar como
acompanhado da impressão da mesma, o cliente terá necessidade dissuasor, mas é preciso limitar o conhecimento do seu
de saber qual a próxima paragem do autocarro, a fim de funcionamento, assim como da localização das câmaras e do botão
pressionar o botão de paragem. Esta informação deve estar de emergência, a fim de evitar atos de antecipação por parte do ou
acompanhada das ligações possíveis em cada paragem. Além dos assaltantes. O operador de transportes deverá proporcionar ao
disso, deve ser disponibilizada informação sobre eventuais motorista a formação que lhe permita conhecer e
demoras, incidentes, acidentes e consequentes alterações da manipular os sistemas de emergência disponíveis de forma
viagem. bastante impercetível. Por esta razão, a localização de qualquer
destes comandos deve estar numa área de ação que implique
As tecnologias disponíveis atualmente em qualquer operador de gestos impercetíveis. Isto facilitará a ativação do botão de
transporte público permitem tornar mais fáceis, confortáveis e emergência durante a marcha, limitando ainda qualquer impacto
seguras as viagens mais ou menos habituais. negativo na condução do veículo.

213
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

3. Transporte de mercadorias
Conhecer as atuais tecnologias disponíveis para utilização no sistema
de transportes e ter noção das tendências futuras
3. 1 - Introdução eficiente. Para que isto aconteça, as mercadorias devem ser
entregues no tempo previsto e em bom estado, satisfazendo,
As tecnologias de informação e comunicação têm hoje um papel assim, o cliente.
da maior importância na gestão do transporte de mercadorias.
As diferentes aplicações das tecnologias de comunicações móveis Neste processo, as novas tecnologias disponíveis (ITS) permitem,
e de localização de veículos permitem o contato permanente do para além dos benefícios atrás descritos (segurança rodoviária,
operador com os motoristas e representam um importante apoio segurança das pessoas e bens), otimizar cada serviço distribuído,
à gestão das operações comerciais. Para tal, os veículos estão possibilitando uma orientação direta e segura para o destino
equipados com diferentes tecnologias que permitem otimizar o através do sistema de navegação, prevendo tempos de entrega da
serviço em termos de qualidade, tempo, segurança e consumo de mercadoria mais exatos, alterando serviços previamente
combustível. distribuídos e economizando, assim, combustível e tempos de
condução, emitindo faturas e recibos, com a consequente
Neste domínio, a formação inicial pretende dar a conhecer as introdução dos dados correspondentes que serão acedidos em
tecnologias mais utilizadas, preparando, ao mesmo tempo, o tempo real pelos respetivos serviços da empresa. A
motorista para acompanhar as mudanças que ocorrerão ao longo disponibilidade destas tecnologias permite, assim, uma gestão
da sua vida ativa, dada a constante evolução destas tecnologias. mais eficiente do transporte, na medida em que a linha de
Assim, é preciso conhecer o presente e perceber as funções dos comunicações está sempre aberta, sendo, por exemplo, possível
diferentes equipamentos para se compreender e aceitar o que sur- atribuir um serviço adicional em viagem, e assim, rentabilizar a
gir no futuro, tendo sempre presente que a implementação destas viagem de regresso e evitar a saída de outro veículo.
tecnologias visa sempre a otimização da segurança e da eficiência
do transporte. 3. 2. 1. 1 - Telemática aplicada
3. 2 - O transporte de mercadorias No sector do transporte de mercadorias, a Telemática representa
uma ferramenta importante no apoio à exploração aumentando
No sector do transporte de mercadorias, os veículos estão a eficiência da logística dos transportes através da utilização de
atualmente equipados com tecnologias de informação e equipamentos embarcados, sistemas de transferência de dados e
comunicação que permitem à empresa localizar o veículo a todo software de gestão. Os equipamentos embarcados visam recolher
o momento, comunicar com o motorista e ter sempre informação informação sobre o desempenho do veículo e do condutor, o que
atualizada. Além disso, existem equipamentos de segurança do terá seguramente benefícios económicos. Estes sistemas integram
motorista e da carga que têm a maior importância neste contexto o computador de bordo, o indicador do nível de combustível, o
dados os riscos acrescidos que decorrem do fato de circularem por receptor GPS, um módulo de comunicações, o terminal e respetivo
áreas isoladas e muitas vezes desconhecidas nas quais a segurança teclado, o módulo de navegação e o sistema de localização do
pode ser crítica, tanto para o motorista como para a carga. semirreboque. Na realidade, o computador de bordo é o coração
do sistema no veículo, estando ligado ao tacógrafo digital, ao
indicador do nível de combustível e a outros equipamentos
3. 2. 1 - Sistemas de apoio à exploração embarcados, permitindo ainda a identificação do motorista através
da inserção de um cartão inteligente.
Um transporte de mercadorias eficiente é essencial à economia
e à prosperidade de qualquer país. Sabe-se que o crescimento O receptor GPS é um receptor passivo, tal como um rádio, que
económico aumenta a procura de bens, que terão que ser lê os sinais provenientes de um grupo de satélites para calcular
transportados livremente, em segurança, de forma fiável e

214
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
a posição do veículo em determinado mapa digital. O módulo inclusivamente que inserir o respetivo cartão inteligente. Quando o
de comunicações existente a bordo estabelece a ligação entre o motorista viaja com acompanhante, este também tem que inserir
equipamento do veículo e a rede de comunicações. o respetivo cartão na interface apropriada. A obrigatoriedade
do tacógrafo digital teve uma consequência imediata na adoção
O terminal do computador e respetivo teclado permitem a troca de progressivamente crescente dos cartões inteligentes, até como um
mensagens, a leitura de códigos de barras, a confirmação de meio de segurança do veículo e da carga.
entregas em tempo real, a notificação de erros, avarias, etc. O
módulo de navegação fornece ao motorista instruções de
orientação, combinando informação visual e vocal. Finalmente,
3. 2. 1. 4 - Internet e SMS
existe ainda um sistema de localização do semirreboque que
A transferência de todos estes dados do e para o veículo é efetuada
constitui um meio de segurança da carga, sendo composto por um
através da rede de comunicações móveis, utilizando geralmente a
receptor GPS, um módulo de comunicações, controlo eletrónico
Internet e os serviços de mensagens curtas (SMS), embora
e baterias. Este equipamento deverá ser à prova de água, sendo
algumas empresas possuam um sistema de comunicações via
colocado no semirreboque em local discreto e seguro. Em caso de
satélite e outras optem por atualizar os dados quando o veículo
roubo, o semirreboque será facilmente localizado.
regressa. O software de gestão representa a fase do processo de
gestão na qual os dados recolhidos são convertidos em informação
3. 2. 1. 2 - O tacógrafo digital que ajudará a otimizar a gestão da frota, dos motoristas e das
operações comerciais. A Internet, tal como o SMS, representam o
O tacógrafo digital é um equipamento embarcado que tem a meio que facultam a troca de comunicações.
função de indicar, registar e memorizar automaticamente os dados
sobre a marcha do veículo e os tempos de condução e repouso do O quadro 3 apresenta as diferentes categorias de equipamentos
motorista. Este equipamento, que é um aparelho de controlo, e sistemas de apoio à gestão, salientando a respetiva função e os
requer a inserção de um cartão inteligente (com um chip benefícios específicos.
incorporado), que tem carácter pessoal, contém a identificação
do condutor e permite a memorização dos dados relativos às suas Quadro 3 – Sistemas de apoio à exploração no transporte
atividades. A condução de veículos equipados com tacógrafo de mercadorias
digital só pode ser efetuada por motoristas equipados com o cartão Sistemas Designação Função Benefícios
de condutor. Cada condutor só poderá ser titular de um Informação
único cartão de condutor e apenas poderá utilizar o seu próprio Computador
Leitura de dados do geradora de
de bordo,
cartão personalizado. O tacógrafo pode ter duas interfaces para terminal e
veículo e do condutor economia de tempo
inserção de cartões, que estão previstas para as situações em Identificação do motorista e combustível
teclado
Segurança
que haja um ajudante de motorista a bordo; este deverá também
inserir o seu cartão na interface correspondente. O não Indicação de dados de
Indicador consumo, que serão pro-
cumprimento das normas relativas à utilização do tacógrafo Gestão dos
do nível do cessados pelo computador
Equipamentos embarcados

digital está sujeito a penalidades estabelecidas para as infrações consumos


depósito para gerar um plano de
em matéria de tempos de condução e repouso e de utilização do gestão do consumo
aparelho de controlo. Registo e
memorização automática
Controlo da marcha
dos dados
3. 2. 1. 3 - Cartões inteligentes Tacógrafo
relativos à marcha do
do veículo e dos
digital tempos de condução
veículo e aos tempos de
e repouso
Os cartões inteligentes constituem atualmente o meio mais seguro condução e
de controlo do veículo e da respetiva carga. No sector do transporte repouso do motorista
de mercadorias, o cartão inteligente constitui um meio de Leitura dos sinais de
Localização
identificação do motorista, tendo incorporados alguns dos seus satélites para calcular a
Receptor GPS permanente do
posição do veículo num
dados para reconhecimento pelos diferentes equipamentos do mapa digital
veículo
veículo. Para pôr o veículo em marcha o motorista tem

215
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Estabelece a ligação entre permitem à empresa localizar permanentemente o veículo, e ao
Módulo de Monitorização do
o equipamento do veículo motorista comunicar com a empresa e acionar qualquer pedido de
comunicação serviço e da viagem
e a rede de comunicações socorro, estão hoje disponíveis no mercado sistemas desenvolvidos
Equipamentos embarcados

Dá ao motorista instruções
Economia de tempo e implementados especificamente para a segurança da carga
Módulo de e combustível transportada. Estes sistemas permitem selar eletronicamente o
de orientação através de
navegação Segurança semirreboque e contentores, produzindo um código de envio da
interface visual e/ou vocal
rodoviária
mercadoria, que requer um acesso restrito (palavra-chave).
Segurança do(s)
Sistema de Mediante qualquer tentativa de assalto, o sistema transmite
Proteção/Segurança do motorista(s), da
localização do
semirreboque e da carga carga e do veículo automaticamente a informação sobre uma tentativa não
semirreboque autorizada para abrir, danificar ou sabotar a mercadoria. Esta
Combate à fraude
Transferência de dados transmissão (sem fios) é feita para o endereço previamente
Processamento dos dados do e para o veículo definido, geralmente o telemóvel do motorista, até porque estas
Informação e documentação atualizadas situações ocorrem frequentemente quando este descansa ou dorme
Software de gestão em local apropriado. Outros sistemas protegem contra o roubo do
Fase do processo de gestão que converte os dados recolhidos em informação trator, condicionando o funcionamento do motor por meio de um
Otimização da gestão da frota, dos motoristas e das operações comerciais código.

Tal como nos veículos de transporte de passageiros, qualquer


3. 2. 2 - Sistemas de emergência botão que acione um sistema de alarme deve estar localizado
numa área acessível que permita uma ação impercetível no caso
Face à ocorrência de um acidente ou qualquer outra situação de de ter o autor do assalto dentro do veículo ou até com este em
emergência, existem sistemas que permitem a realização de uma marcha.
chamada telefónica de emergência. Alguns destes sistemas são
ativados manualmente pelo condutor ou ocupantes do veículo;
a chamada é recebida por uma pessoa formada para o efeito, a Notas finais
quem são transmitidos os dados necessários para acionar o devido
socorro. Outros sistemas são automaticamente ativados pelos A principal vantagem da utilização dos sistemas inteligentes de
sensores do veículo em caso de acidente, estabelecendo a transporte é a promoção da segurança, tendo sido sobretudo este
comunicação e transmitindo os dados necessários (hora, aspeto que motivou o seu desenvolvimento e a sua utilização nos
localização precisa do veículo, assim como a direção em que diferentes sectores de transporte. No sector profissional
circulava e a respetiva identificação). Consoante o fabricante e a (passageiros e mercadorias) a gestão das operações comerciais
tecnologia adotada, este sistema pode estar baseado no telemóvel é um objetivo central a par da segurança do transporte e das
com ligação por bluetooth à interface do veículo, pode requerer operações comerciais.
um hardware próprio do sistema ou ser uma
funcionalidade do sistema de navegação. Para além dos benefícios que os sistemas inteligentes de
transporte podem trazer em termos de segurança, eles têm
Neste contexto, os motoristas estão expostos a riscos para a sua também a vantagem de trazer eficiência ao sistema rodoviário.
segurança e a da carga transportada, uma vez que circulam Este aspeto deve-se sobretudo à possibilidade de disponibilizar
frequentemente sem acompanhante, em estrada, em locais diversos tipos de informação, facilitando a comunicação a diversos
isolados e durante a noite, parando em áreas quase desertas níveis, de que temos vários exemplos:
embora estejam reservadas ao descanso dos motoristas. Face 1 - os painéis de mensagens variáveis no ambiente rodoviário
a estas condições, torna-se necessário que os veículos estejam que podem informar acerca do estado da via, da existência de
equipados com tecnologias de localização e comunicações móveis, acidentes ou outras complicações no trânsito;
permitindo, para além da localização permanente do veículo, a 2 - os sistemas de navegação que disponibilizam e guiam o
comunicação nos dois sentidos (do e para o motorista). Além disso, condutor através de um percurso, evitando que este se desvie da
também neste sector, estão disponíveis sistemas de emergência, rota pretendida, consumindo menos tempo e gastando menos
que acionam o socorro necessário. Para além destes sistemas que combustível; ou

216
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
3 - os sistemas de alerta em situação de emergência que permitem Para além dos sistemas atualmente disponíveis, o
o envio automático de mensagens de auxílio em caso de acidente. desenvolvimento tecnológico é imparável, pelo que se
Esta eficácia fornecida ao sistema pode também traduzir-se em encontram em fase de conceção ou desenvolvimento novos
benefícios individuais para o condutor e para o ambiente. Ao sistemas oferecendo novas funções ou a integração de diferentes
tornar o sistema rodoviário mais eficaz, os sistemas inteligentes funções já disponíveis isoladamente. A grande prioridade está
de transporte permitem que os condutores reduzam o tempo orientada para as tecnologias que visam economizar combustível e
das suas viagens, ou mesmo que evitem a realização de viagens proteger o ambiente; os sistemas cooperativos proporcionando
desnecessárias, poupando tempo e combustível. Este fato traz comunicações entre a infraestrutura e o veículo são outra
também benefícios ao meio ambiente através da redução da prioridade; alguns esforços para a automatização de algumas
emissão de gases poluentes para a atmosfera. sub-tarefas da condução estão em curso; as portagens eletrónicas
em pórtico já estão a ser implementadas, etc. Isto significa que
No que respeita ao sistema rodoviário, os ITS permitem auxiliar na cada um tem que estar preparado para as constantes alterações
tarefa de condução e alertar ou condicionar, quando são tecnológicas que ocorrerão ao longo da sua vida ativa,
realizadas ações que podem constituir perigo para o condutor e/ entendendo que a formação que é oferecida em determinado
ou para os outros atores do sistema. Vários são os exemplos que momento o prepara melhor para compreender e aceitar a
podem ser dados: mudança.
1 - sistemas que avisam o condutor quando são atingidos
determinados limites de velocidade; Referências
2 - sistemas que pretendem limitar velocidades excessivas em
certos ambientes; Hoc, J-M. Coopération humaine et systems cooperatives. In In Boy,
3 - sistemas que avisam ou evitam que o condutor saia dos limites G. (Ed.), Ingénierie Cognitive. Paris: Lavoisier, 2003
da faixa de rodagem;
4 - sistemas que permitem a estabilidade do veículo através de um Hoc, J-M. From human - machine interation to human–machine
controlo eletrónico; cooperation. Ergonomics, Vol. 43, N. 7, 833-843, 2000
5 - sistemas que auxiliam numa travagem de emergência;
6 - ou sistemas que detetam sinais de fadiga ou distração no Linder, A; Kircher, A; Vadeby, A; Nygardhs, S (2007). Intelligent
comportamento do condutor e o alertam para que faça uma Transport Systems (ITS) in Passenger Cars and Methods for
paragem na condução ou volte a dirigir a sua atenção para a Assessment of Traffic Safety Impact: A Literature Review. Swedish
tarefa de condução. National Road and Transport Research Institute, Linkoeping. VTI
Rapport, VTI, SE-581 95, Linkoeping, Sweden.
Apesar das vantagens evidentes dos ITS, o ser humano tem
capacidades limitadas, pelo que os potenciais efeitos da sua SITES CONSULTADOS
utilização sobre a atividade do condutor devem ser estudados e http://www.citroen.pt/CWP/pt- PT/AboutCitroen/TECHNOLOGIES/
tidos em consideração na implementação destes sistemas. Sabe-se SEGURANCA/SPEEDCONTROL/SPEEDCONT ROL.htm
que, na sua grande maioria, ao contrário de outros equipamentos
igualmente presentes nos veículos e no ambiente rodoviário, os ITS http://www.autofocusasia.com/knowledge_bank/articles/
promovem uma segurança ativa. Neste contexto, a sua designada advanced_driver_assistance.htm
“inteligência” pressupõe a existência de um processo interativo
e/ou cooperativo que inclui a ação do condutor do veículo, onde http://en.wikipedia.org/wiki/Advanced_Driver_Assistance_
o objetivo primordial não é minimizar as consequências de um Systems
acidente mas sim impedir que o acidente ocorra. É precisamente
este processo de interação ou cooperação com os sistemas e a http://www.fmcsa.dot.gov/fats-research/art-productguides.htm
correspondente adaptação comportamental de cada condutor que
não podem ser desprezados sem comprometer os objetivos de http://www.answers.com/topic/intelligent-transportation-
promoção da segurança que presidiram à sua conceção e às system#Eletronic_toll_collection
decisões de implementação.
http://www.confidex.fi/applications/contactless-ticketing
CONTEÚDO FORNECIDO POR:
IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP
217

Você também pode gostar