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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

1) Definição: É uma espécie qualificada de imoralidade, sendo


imprescindível a configuração do dolo.
2) Elemento comum: Dolo (intenção do agente em praticar o ato
desonesto).
3) Legislação: Lei n. 8.429/92, alterada pela Lei n. 14.230/211.
4) Objeto: Disciplinar/regular atos de improbidade administrativa – art.
1º da LIA.
5) Possibilidade ou não de retroatividade das alterações promovidas
pela Lei n. 14.230/21, para os processos em andamento.
- 1ª Posição (MP): Entende que não retroage as mudanças
implementadas para os processos em andamento.
- 2ª Posição: Entende que retroage, por serem benéficas ao réu
(aplicação extensiva do art. 5º XL da CF).
- Art. 1º, § 4º da LIA: Aplicam-se ao sistema da improbidade
disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais do direito
administrativo sancionador. A regra trazida pela Lei é pela
retroatividade, assim como os precedentes (STF, MS 23262/DF,
STJ, RMS 65486, REsp. 1153083/MT).
- A PGR no RE 843989 pleiteou o reconhecimento da repercussão geral
em relação as matérias: retroatividade quanto ao dolo e quanto a
prescrição intercorrente (art. 23, § 4º). O ministro Alexandre de Moraes
reconheceu a repercussão geral da matéria e o plenário acompanhou
essa orientação.

6) Hipóteses configuradoras de improbidade administrativa


- Arts. 9, 10 e 11 da LIA.
- Art. 9º: Dolo específico intimamente ligado ao enriquecimento ilícito
experimentado pelo agente público. É um rol exemplificativo.
- Art. 10: Danos ao erário. Deve ter efetiva e comprovada perda
patrimonial. É um rol exemplificativo.
- Art. 11: Agressão a princípios da administração pública. Dolo
genérico, pois ligado aos princípios. É um rol exaustivo/taxativo.

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Essa Lei entrou em vigor de forma imediata – art. 24.
7) Hipóteses não configuradoras de improbidade administrativa
- Art. 1º, § 8º da LIA: Não configura improbidade a ação ou omissão
decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em
jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo que não venha a ser
posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos
tribunais do Poder Judiciário.
- Art. 11, § 5º da LIA: Não se configurará improbidade a mera nomeação
ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos,
sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do
agente.
- Art. 23-C da LIA: Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de
recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão
responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
1995. – Lei orgânica dos Partidos Políticos.

Hipóteses Perfil Dano Efetivo Elenco de


Configurador Hipóteses
de Improbidade
Art. 9º Dolo específico Não se apresenta a Exemplificativo
necessidade de
(enriqueciment
configuração de dano
o ilícito)
efetivo.
Art. 10 Dolo específico Necessidade de Exemplificativo
configuração de dano
(danos ao
efetivo (perda
erário)
patrimonial efetiva e
comprovada).
Art. 11 Dolo genérico Não se apresenta a Exaustivo/Taxativo
necessidade de
(afronta a
configuração de dano
princípios)
efetivo.
Necessidade de
comprovação de
lesividade relevante (§
4º).

8) Ação
- Modalidade: Apenas a ação de improbidade administrativa (art. 17-D).
- Características: a) Tem natureza repressiva, não cabe de forma
preventiva; b) Tem natureza sancionatória, pois tem o objetivo de
aplicar sanções aos responsáveis que praticaram atos de improbidade;
c) Não constitui ação civil.
- Objetivo a ser alcançado: Aplicação de sanções de caráter pessoal.
- Conversão (art. 17, § 6º): O magistrado pode, ao perceber que não há
indícios de improbidade, converter a ação de improbidade proposta em
uma ação civil pública.
- Rito (art. 17, caput): Rito comum previsto no CPC, salvo algumas
diferenças previstas em específico na Lei.
- Petição Inicial (art. 17, § 6º): Deve individualizar a conduta do agente,
deve se estabelecer os elementos probatórios mínimos. Ainda, a inicial
deve comprovar indícios suficientes de veracidade dos fatos e do dolo
imputado.
- Acordo (art. 17, § 10): No curso do processo é possível a celebração de
acordo entre as partes, que pode levar a um pedido de suspensão do
processo por 90 dias, não se confundindo com o acordo de não
persecução civil.
- O juiz pode promover o desmembramento do litisconsórcio passivo,
para privilegiar a individualização da pena.
- O juiz não pode condenar em dispositivo diferente do indicado na
inicial (ex. se a inicial fala em improbidade do art. 9º, o juiz não pode
condenar no art. 10).
- Art. 17, § 10-D: Para cada ato de improbidade, deve corresponder
obrigatoriamente a apenas um tipo.
- Situações que não se aplicam em matéria de improbidade (art. 17, §
19): a) presunção de veracidade dos fatos, mesmo em caso de revelia; b)
ônus da prova para o réu, o autor deve demonstrar os fatos que
subsidiam o pedido de condenação; c) Mais de uma ação de
improbidade sobre o mesmo fato d) reexame necessário.
- Partes:
a) Sujeito ativo (art. 17, caput): Exclusiva do Ministério Público.
No entanto há polêmica, porque o art. 129, § 1º da CF trata de
legitimidade concorrente, logo qualquer alteração nesse sentido
deveria vir por Emenda à Constituição (ADI’s nº 7042 e 7043).
b) Sujeito passivo (art. 2º e 3º): Agentes públicos e particulares
que contribuíram para que o ato ocorresse ou dele se tenha
beneficiado.
- OBS 1: O particular sozinho não responde por
improbidade, uma vez que a desonestidade é
administrativa, tem que ter um agente público junto.

- OBS 2: O Presidente da República é submetido a um


regime especial (art. 85 da CF), logo quando ele pratica um
ato de improbidade, ele comete um crime de
responsabilidade e por ele irá responder pela lei
1.079/50 e não pela LIA.

Agentes políticos São aqueles que titularizam um


mandato (eletivo ou não).

São os que ingressam, em regra, através de


concurso público, titularizando um cargo em
caráter efetivo ou permanente, submetendo-
Funcionários públicos se a um regime profissional estatuário.

Empregados Públicos São os que ingressam, em regra, através de


Servidores concurso público, titularizando um emprego
Temporários público, submetendo-se há um regime
AGENTES PÚBLICOS profissional celetista.
São os que ingressam, sem concurso, por
prazo determinado para titularização de uma
São os que mantém com o função.
Estado um vinculo de
natureza profissional.

Não integram a estrutura da administração,


Particulares em colaboração com o mas que com ela colaboram. EX: convocados
Estado para exercer a função de jurados, serviço
militar obrigatório, mesários, notários.

- Competência: No agravo regimental n. 3.240/DF, o STF fixou a


seguinte tese de repercussão geral: “A justiça de primeiro de grau e
não o STF, tem competência para processar e julgar ação de
improbidade contra agente público. O foro por prerrogativa de
função não é extensível as ações de improbidade que tem natureza
civil.” O art. 17, § 4º, “a” positivou que a ação deve ser proposta no
local onde ocorreu o dano ou na sede da pessoa jurídica
prejudicada.
- Sanções a serem aplicadas aos condenados:

a) Fundamento: art. 37, § 4º da CF - perda da função, suspensão


de direitos políticos, indisponibilidade de bens e ressarcimento de
danos causados aos órgãos públicos.
b) Natureza: Civil e administrativa. Vide art. 21, §§ 3º e 4º.

c) Elenco das sanções: Exemplificativo, pois por força de lei


outras sanções podem ser previstas, por exemplo, art. 20, § 1º.

d) Aplicação das sanções: O art. 12, caput diz que as sanções


podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa.

e) Requisito para que as sanções sejam aplicadas: O trânsito em


julgado da sentença (art. 12, § 9º e art. 20) - regra.

- Exceção: Indisponibilidade de bens (art. 16) – Tem a


finalidade de garantir a integral recomposição ao erário ou
do acréscimo patrimonial resultante de um enriquecimento
ilícito.
- Essa medida se aplica quando a ação for fundamentada
no art. 9 e 10, não sendo aplicável ao art. 11.
- Essa medida pode ser promovida em caráter antecedente
ou incidente quando se verificar que o réu tenta promover
uma dilapidação de seu patrimônio.
- Pode atingir o patrimônio que esteja no Brasil e também
no exterior.
- Requisitos para acolhimento: I) Comprovação de perigo
de dano irreparável; II) Existência de risco ao resultado útil
do processo.
- A oitiva do réu se tornará dispensável quando se fizer
prova do comprometimento da medida.
- Limite: Não poderá exceder ao valor apontado na petição
inicial como resultado do dano ao erário/enriquecimento
ilícito.
- A indisponibilidade pode ser substituída por caução,
fiança e seguro garantia.
- Os bens de terceiros podem ser objeto de
indisponibilidade no limite de seu envolvimento no ato de
improbidade administrativa.
- Recurso cabível do deferimento da indisponibilidade:
Agravo de instrumento. Ordem de indisponibilidade: § 11
do art. 162.
- Limite de indisponibilidade de conta bancária: 40
salários mínimos.
- Possibilidade de declarar a indisponibilidade de bem de
família (§ 14 do art. 16): Em regra, não é possível. Porém
há uma exceção que permite, quando houver prova efetiva
que esse bem foi adquirido através de uma vantagem
patrimonial indevida.

f) Dosimetria da pena (art. 12): O critério para determinar a


dosimetria foi o da gravidade do ato. Enriquecimento ilícito é o
mais grave, dano ao erário é o intermediário e violação aos
princípios é o menos grave.

Perda da função3 Suspensão dos Multa45 Proibição de contração com


Direitos Políticos o Poder Público ou o
oferecimento de subsídios e
benefícios6
Art. 9º É permitida. E além É permitida – até 14 É permitida – É permitida – não superior a
da perda de função, anos. equivalente ao 14 anos.
a perda dos bens e enriquecimento
valores acrescidos experimentado.
de modo ilícito ao
patrimônio do
agente (art. 18).
Art. 10 É permitida. E além É permitida – até 12 É permitida – É permitida – não superior a
da perda de função, anos. equivalente ao 12 anos
a perda dos bens e dano efetivo
valores acrescidos causado ao
de modo ilícito ao erário.
patrimônio do
agente (art. 18).
Art. 11 Não é permitida. Não é permitida. É permitida – É permitida – não superior a 4
até 24x a anos.
remuneração do
agente.
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§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis,
bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e
empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas
bancárias, de forma a garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao
longo do processo.
3
REGRA: Atinge apenas a função que o réu tinha no momento em que o ato de improbidade foi
praticado. EXCEÇÃO: Dependendo das características apresentadas no caso concreto, a perda do cargo
poderá ser estendida para as demais funções exercidas.
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Pena cumulativa.
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Esse valor poderá ser dobrado em vista da situação econômica do réu (§ 2º do art. 12).
6
Em regra, ela se direciona a esfera de governo em que houve o ato de improbidade. Porém, de acordo
com o § 4º do art. 12 essa proibição poderá excepcionalmente ser estendida para todas as esferas de
governo, observados os impactos econômicos e sociais.
- O Juiz deverá levar em consideração, atenuantes e
agravantes do caso concreto, a natureza da infração, a
gravidade dela, os prejuízos causados, o proveito
patrimonial obtido pelo agente, os seus antecedentes,
dificuldades que o agente encontrou na prática.

g) Condições (art. 21): Independe da efetiva ocorrência do dano


(regra geral), salvo quanto à pena de ressarcimento e às condutas
previstas no art. 10 (dano ao erário) e independe da aprovação ou
rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo
Tribunal ou Conselho de Contas.

h) Extensão da condenação aos herdeiros e sucessores: É


possível por inteligência do art. 5º, inciso XLV, CF e art. 8º da
LIA, no limite da herança recebida.

i) Acordo de não persecução civil (art. 17-B): I) Legitimidade:


Ministério Público; II) É um ato discricionário; III) Requisitos:
oitiva do ente lesado, aprovação do acordo no prazo de 60 dias
pelo órgão competente dentro do MP e homologação judicial; IV)
Deve-se levar em conta a personalidade do agente, a natureza, as
circunstancias, a gravidade, a repercussão social do ato e as
vantagens para o interesse público da rápida solução do caso; V)
resultados esperados: integral ressarcimento e a reversão à
pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que
oriunda de agentes privados; VI) momento da celebração: a
qualquer momento, seja no curso da investigação, no curso da
ação de improbidade ou no momento da execução da sentença
condenatória; VII) descumprimento do acordo: proibição de
celebrar novo acordo pelo prazo de 5 anos, contados do
conhecimento pelo MP do efetivo descumprimento.

- REsp. 102585/RS: Autorização do acordo para processos


em andamento (aplicação retroativa).

9) Prescrição (art. 23)


- Prazo de 8 anos contados a partir da ocorrência do fato ou no caso
de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência.
- Suspensão: instauração do inquérito civil ou a instauração do
processo administrativo para apuração dos ilícitos, pelo prazo máximo
de 180 dias corridos.
- Interrupção: ajuizamento da ação, publicação da sentença
condenatória, publicação de decisão ou acórdãos.
- Prescrição intercorrente: Interrompida a prescrição, o prazo
recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do prazo de 8
anos, portanto, 4 anos.
- Súmula 634 do STJ: Ao particular aplica-se o mesmo regime
prescricional previsto na Lei de Improbidade Administrativa para o
agente público.
- São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na
prática de ato doloso, tipificado na lei de improbidade administrativa.
- Informações tirada de questões do QCONCURSOS

- Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se


sujeitos a um duplo regime sancionatório, e se submetem tanto a
responsabilização civil pelos atos administrativos, quanto à responsabilização
politico-administrativa por crimes de responsabilidade.

- Indisponibilidade de bens (art. 16):

- O MP pode requerer como medida cautelar para garantir o juízo;

- Não pode ser de ofício, e quem decreta é o juiz;

- Periculum in mora não pode ser presumido;

- Em regra, o réu será ouvido em um prazo de 5 dias, salvo se o


contraditório puder frustrar a efetividade da medida ou outras
circunstancias recomendarem;

- Veda-se a indisponibilidade de bens capazes de acarretar prejuízo à


prestação de serviços públicos;

- Recurso da decisão de indisponibilidade: agravo de instrumento;

- É possível a decretação de indisponibilidade bens de terceiros, desde


que fique comprovada sua efetiva concorrência para os atos ilícios ou
tenha havido a desconsideração da PJ.

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