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Texto publicado no site do Kátharsis.

Tradução por Alexandre Gianonni.


Revisão por Bruno Bianchi.

Publicado originalmente em:


RUBINSTEIN, S. L., El Desarrollo de la Psicologia: principios y métodos. Buenos Aires:
Grijalbo, 1974.

Os Primeiros Manuscritos de K. Marx


e os Problemas da Psicologia

S. L. Rubinstein

A psicologia soviética se baseia na filosofia marxista. Este fato determina sua


orientação. Mas não é possível encontrar em nenhuma das obras dos fundadores do marxismo-
leninismo a ciência psicológica como ciência especial. Nem Marx, nem Lenin, como é notório,
escreveram tratados de psicologia. Não existe, pois, mais que um caminho para formar a
psicologia soviética: o da investigação criadora.
Entre as obras de K. Marx, não se encontra mais que um só trabalho que contenha um
sistema inteiro de ideias relacionadas diretamente com a psicologia. Nos referimos a uma de
suas primeiras obras: Manuscritos econômico-filosóficos do ano de 18441. Ultimamente estes
manuscritos têm sido objeto de especial atenção por parte dos exegetas estrangeiros da filosofia
marxista, em particular entre os inimigos do marxismo2. Como queira que está é a única obra

1
Ver K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, Moscou, 1956, pg. 517-642.
2
Ver por exemplo, Konrad Bekker, Marx' philosophische Entwicklung, sein Verháltinis zu Hegel. Zürich, New
York, 1940 (ver sob tudo o capítulo II: Die Pariser Manuskripte); Auguste Cornu, Karl Marx et la pensée moderne.
Contribuition à L'Etude de la formation du marxisme. Paris, 1948; Jean Hyppolite, Logique et Existence, P.U.F.,
1953 (ver o último capítulo, dedicado a Marx). Ver assim mesmo seus Études sur Hegel et Marx. Rivière, 1955 e
seus outros artigos consagrados a Marx; Jean Calvez, La Pensée de Karl Marx, Paris, 1956, etc.

1
de Marx que contém uma importante série de teses diretamente relacionadas com a psicologia,
os psicólogos soviéticos, desde muito tempo, a estudam a fundo. (Nela se baseava também
fundamentalmente, o artigo que há tempos publicamos, sob o título de Os problemas de
psicologia nos trabalhos de K. Marx)3. As referências a dita obra concreta de Marx e aos
pensamentos nela contidos onde com maior frequência se encontram é, todavia hoje, nos
trabalhos dos psicólogos soviéticos.
Os manuscritos do ano 1844 apresentam, realmente, um grande interesse. Se trata do
primeiro passo, e muito importante, do jovem Marx pelo caminho que vai de Hegel ao
marxismo. Através de todo o trabalho, se percebe a luta sem trégua com o velho, uma luta que
não permite separar-se do inimigo, que exige contato combativo incessante com ele; ao mesmo
tempo, nas mesmas páginas, se respira sem cessar o ar do novo, o nascimento - que se efetua
diante de nossos próprios olhos - de novos e grandes pensamentos dirigidos para o futuro.
Aparecem ali com a espontaneidade, a exuberância e a paixão, própria só do que se engendra
pela primeira vez e conquista o direito à vida em amargo conflito com o passado. Um
manuscrito cujas páginas refletem uma luta semelhantes é, desde logo, um documento que há
de atrair ferozmente a atenção.
Para a psicologia, oferece um interesse essencial não apenas porque se refere
diretamente a ela, mas pelo que diz em geral acerca do homem, e o problema do homem é o
problema central do manuscrito.

Em numerosos trabalhos estrangeiros não marxistas, ou, antimarxistas (a maior parte) consagrados aos manuscritos
do ano 1844, sustentam em primeiro lugar que estes manuscritos são o único trabalho de Marx (aparte de suas
breves teses sobre Feuerbach) propriamente dedicado aos problemas filosóficos. De ali que, em certo sentido, se
faz muito essa obre de Marx, uma de suas primeiras obras. Somente essa obra, a juízo dos autores de referência,
permite falar de Marx como filósofo no sentido próprio da palavra. Se toma essa obra de Marx como a única que
este expõem sua filosofia, e se faz com um duplo propósito: Em primeiro lugar, para empequenecer a importância
de seus trabalhos ulteriores, e em segundo lugar, para declarar que os trabalhos dos marxistas subsequentes, a
quem contrapõem o Marx de 1844, não constituem uma fonte autêntica da filosofia deste último. Nos casos em
que também se examinam no plano filosófico os trabalhos posteriores de Marx - em particular O Capital -, como
fazem, por exemplo, Hyppolite e Bigaud, os trabalhos posteriores se interpretam a luz de dita primeira obra, em
vez de interpretar, ao contrário, a primeira obra pela luz dos trabalhos seguintes. Alguns autores (por exemplo o já
citado Hyppolite) recorrem a estre primeiro trabalho, em que Marx ainda emprega em grande medida a
terminologia de Hegel e dele parte ainda diretamente para combate-lo, com o propósito de aproximar no possível
à Marx e Hegel e sublinhar uma suposta superioridade do segundo sobre o primeiro.
Ainda vão mais além os filósofos católicos que se ocupam dos manuscritos parisienses de Marx, como por exemplo
Calvez. Em seu volumoso livro consagrado ao pensamento de Marx (La pensée de Karl Marx), expõem com sumo
detalhe a concepção que figura no manuscrito do ano 1844 como se Marx não houvesse escrito nada mais em sua
vida. Manifesta, ademais, muita simpatia pelas concepções sustentadas por Marx no dito ano, não só as
propriamente filosóficas, mas, ademais, as sociais e sociológicas. O aprova quase todo, com quase tudo se mostra
conforme, exceção feita de uma “pequenez”, que se revela quase ao final do livro. Esta “pequenez” que lhe separa
de Marx, e mente só
3
Ver Psicotecnia soviética, 1934, N° 1, tomo VII.
2
Em seu manuscrito do ano 1844, Marx formula, pelo menos três teses básicas de
importância decisiva para a psicologia. A primeira consiste em reconhecer o papel da atividade
prática (e teórica) do homem, do trabalho, na formação do indivíduo e de sua psique. Na
concepção do homem como resultado de seu próprio trabalho - ainda que em forma falseada,
adulterada – Marx vê a “grandeza” da “Fenomenologia” de Hegel e de seu resultado final4.
Marx considera que sua primeira tarefa está em sondar este princípio em seu sentido verdadeiro,
não falseado. Sabe-se que dita proposição é firme e se incorpora para sempre na filosofia
marxista. Já nas teses sobre Feuerbach (primavera de 1845), Marx escreveu: “A falha
fundamental de todo o materialismo precedente - incluindo o de Feuerbach - reside em que
somente capta a coisa (Gegenstand), a realidade, o sensível, sob a forma de objeto (Objetkt) ou
de contemplação (Anschauung), mas não como atividade sensorial humana, como prática, não
de um modo subjetivo.” (Tese I).
O princípio concernente da atividade como fator importante na formação das
propriedades psíquicas do homem está também solidamente incorporado na psicologia
soviética desde o princípio dos anos 30 de nosso século.
A esta primeira tese, segue indissoluvelmente ligada a segunda: o mundo dos objetos
engendrados pela atividade humana condiciona todo o desenvolvimento dos sentidos humanos,
da psicologia humana, da consciência do homem. Marx refuta de maneira especial a ideia de
que o homem começa com a “atividade pura” (isto é, com a atividade determinada só pelo
sujeito, sem referência ao objeto) e passa em seguida à “criação do objeto”5. Para Marx, a
atividade do homem constitui a dialética de sujeito e objeto. A relação com o objeto entra na
definição do próprio sujeito. Para dizer com a terminologia do jovem Marx: a “objetivação” é,
ao mesmo tempo, uma “perda da condição do objeto”. Em O Capital, ao analisar o trabalho,
Marx, já na maturidade de seu pensamento, descartando a terminologia tomada por Hegel, mas
conservando na essência o pensamento que havia formulado já no manuscrito de Paris do ano
1844, disse que no trabalho a atividade do sujeito e o objeto se penetram reciprocamente. Em

4
“A grandeza da Fenomenologia hegeliana e de seu resultado final: a dialética da negatividade como o princípio
motor e gerador - escreve Marx - acaba... em que Hegel vê a autogeração do homem como um processo, vê a
conversão em objeto como uma perda da condição de objeto, como uma deposição e como a abolição desta
deposição acaba em que Hegel, portanto, capta a essência do trabalho e compreende o homem objetivo, ao homem
verdadeiro - porque é atuante - como resultado de seu próprio trabalho” (K. Marx e F. Engels, Seleção de obras
juvenis, p. 627).
5
Utilizando a terminologia deste período, Marx escreve que a questão não termina no que ele (“o ser objetivo”)
“no ato de planejar algo passe de sua “atividade pura” para a criação do objeto, mas no que seu produto objetivo
somente confirma sua atividade objetiva, sua atividade como atividade de um ente natural objetivo.” (Seleção de
obras juvenis, p. 630-631).
3
efeito, por uma parte, o produto do trabalho é fruto do homem, de sua atividade; mas, ao mesmo
tempo, esta atividade se faz por inteiro condicionada pelo seu produto, pela propriedade do
objeto material que o homem maneja e pelas qualidades objetivas do produto que há de ser
obtido como fruto da atividade indicada. Disso, por uma parte, os frutos da atividade humana
constituem uma manifestação, uma revelação objetiva do mesmo homem. Falando com as
palavras dos manuscritos de Paris: “a existência objetiva da indústria constitui um livro aberto
das forças humanas essenciais, da psicologia humana sensorialmente apresentada diante nós”6.
Por esse motivo “uma psicologia para o qual este livro, é dizer, a parte da história mais
sensorialmente acessível e atual, permaneça fechado não pode chegar a ser uma ciência com
conteúdo efetivo, uma ciência real”7. É, em efeito, da relação com o objeto (e, como veremos
mais adiante, com outros indivíduos) de onde a atividade humana, a atividade do sujeito, retira
o que possui de conteúdo, o conteúdo objetivo que a distingue da atividade “pura”, meramente
subjetiva, vazia, desnuda, a que o idealista reduz a atividade humana. Por outra parte, o homem
em si, sua psicologia tomados em seu conteúdo, estão condicionados pelos produtos, pelos
resultados da atividade humana. “Somente graças a riqueza objetivamente desenvolvida da
essência humana, em parte se desenvolve e em parte se produz pela primeira vez, a riqueza da
sensibilidade humana subjetiva: um ouvido musical, um olho que perceba a beleza das formas,
é dizer, tais sentidos que possam ser fonte de gozos para o homem e que se afirmam como
forças essenciais humanas. Pois não só os cinco sentidos, mas ademais, os denominados
sentidos espirituais, sentidos práticos (vontade, amor etc.), em uma palavra, o sentido humano,
o caráter humano da sensibilidade, surgem, tão só, graças a existência de seu objeto, graças a
natureza humanizada”8. E mais adiante: “Assim, pois, é necessário dar caráter de objeto a
essência humana - tanto no sentido teórico como no prático - com o fim de humanizar os
sentidos do homem por uma parte, e, por outra, criar o sentido humano correspondente a toda
a riqueza da essência do homem e da natureza”9.
Também, o miolo desse pensamento se conserva nas ulteriores obras de Marx: segundo
a conhecida fórmula de O Capital, mudando a “natureza exterior”, o homem “muda sua própria
natureza”10. A continuação, em essência, da mesma ideia se faz no conhecido pensamento de

6
Ibidem, p. 594.
7
Ibidem, p. 595.
8
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 593-594.
9
Ibidem, p. 594.
10
K. Marx, O Capital, t. I, p. 184.
4
Marx, segundo o qual as necessidades do homem que condicionam a necessidade da produção,
são, por sua vez, condicionadas em seu desenvolvimento pela última, por seus produtos, pelos
objetos que a produção cria para satisfazer as necessidade humanas.
As teses de que a atividade, na psicologia do homem, se faz condicionada pela relação
deste último com o objeto, com a natureza, e extrai desta relação seu conteúdo se completa de
maneira essencial pelo pensamento exposto já com toda precisão no manuscrito de Paris do ano
1844. Segundo esse pensamento, a psicologia, a atividade do homem, tomam da relação do
homem com outro homem, com a sociedade, seu conteúdo objetivo. Por esse motivo “...os
sentidos do homem social são outros sentidos que os do homem não social”11. A relação social
com outras pessoas, dá o tom, da mesma forma, à relação do homem com a natureza e, em
geral, com o objeto. O homem existe como homem somente graças a sua relação com outro
homem. Em O Capital, Marx disse: “Somente referindo-se ao homem Pablo como a seu
semelhante, o homem Pedro passará a referir-se a si mesmo como homem. Ao mesmo tempo,
também o Pablo de carne e osso, com toda sua corporeidade paulina, se converte para ele na
forma com que se manifesta o gênero ‘homem’”12.
Nos Manuscritos econômico-filosóficos do ano 1844, Marx escreveu: “O homem
produz o homem, a si mesmo e ao outro homem”, “o objeto, realização imediata de sua
individualidade, se apresenta, ao mesmo tempo, como sua própria existência para o outro
homem, a existência deste, e a existência do último para o primeiro”13. “Resulta, pois que o
caráter social é o caráter geral de todo o movimento; assim como a sociedade em si produz ao
homem como homem, assim produz ele a sociedade. A atividade e a fruição, assim como seu
conteúdo, possuem, de acordo com o modo de existência, um caráter social, é atividade social
e fruição social”14. E mais adiante:
“A atividade social e a fruição social não existem de nenhum modo tão só em forma
de atividade coletiva imediata e de fruição coletiva imediata, apesar de que a atividade coletiva
e a fruição coletiva, é dizer tal atividade e tal fruição que se manifestam e se afirmam
diretamente na comunhão real com outros homens, resultam presentes em todas as partes onde
a expressão imediata, indicada acima, do caráter social se baseia no mesmo conteúdo desta
atividade ou de dita fruição e corresponde à sua natureza.

11
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 593.
12
K. Marx, O Capital, t. I, p. 59, nota.
13
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 589.
14
Ibidem.
5
Mas inclusive quando me ocupo de uma atividade científica, ou, outra análoga, é dizer,
de uma atividade que somente em casos raros posso efetuar em comunicação direta com outras
pessoas, inclusive em tais casos, estou ocupado em uma atividade social, posto que eu atuo
como homem. Não somente me é dado em qualidade de produto social o material de minha
atividade – como a própria língua na qual o pensador é ativo –, mas que minha própria
existência é atividade social; disso que inclusive o que eu faço de minha pessoa, o faço de mim
para a sociedade, tendo consciência de mim como ser social” 15.
Ao aduzir estes pensamentos de Marx, sobretudo a tese final em que se concebe a
existência do homem (“minha própria existência”) como “atividade social”, é necessário indicar
em seguida que ditos pensamentos somente podem compreender-se bem tendo em conta de que
modo Marx, no mesmo manuscrito, trata o problema da correlação entre homem e a natureza,
entre o social e o natural, problema ao que nos referiremos mais adiante.
Da natureza social do homem se desprende também a dependência em que se fazem
seus “sentidos” em respeito com as condições da vida social. A transformação dos “sentidos”
do homem ao passar do regime social baseado na propriedade privada ao comunismo constitui
um tema importantíssimo dos manuscritos do ano 1844.
Do reconhecimento do caráter socialmente condicionado da psicologia humana, se
desprende a terceira tese: a psicologia humana, os sentidos do homem, são um produto da
história. “A formação dos cinco sentidos é obra da história do mundo até nossos dias”16. Logo,
Marx mostra concretamente no tocante as aptidões este caráter historicamente condicionado
das propriedades do homem. Já nos manuscritos do ano 1844, Marx, resumindo o ponto de vista
de A. Smith, escreve: “A diferença dos talentos naturais entre os indivíduos não é tanto a causa
como o efeito da divisão do trabalho”17. Esta tese, formulada pela primeira vez nos manuscritos
de Paris, se repete logo na Miséria da Filosofia18 e se desenvolve em O Capital. Em O Capital,
Marx escreve: “As distintas operações efetuadas sucessivamente pelo produtor da mercadoria
fundindo-se em um todo durante o processo de trabalho, exigem do dito produto uma aplicação

15
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 590.
16
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 594.
17
Ibidem, p. 613.
18
Na Miséria da Filosofia, Marx, polemizando com Proudhon, cita um fragmento dos trabalhos de A. Smith, quem
escreve: “... as diferentes predisposições que distinguem, pelo visto, entre si aos indivíduos de profissões distintas
quando estes tenham alcançado a idade madura, constituem não tanto a causa quanto a consequência da divisão
do trabalho”. Somando-se ao critério de A. Smith no que “...a diferença entre os indivíduos por suas aptidões
naturais é muito menos importante do que nos parece...” Marx assinala: “A diferença inicial entre um carregador
de corda e um filósofo é menos importante que a existente entre um mastim e um galgo. O abismo entre eles se
deve a divisão do trabalho”. (Obras, t. 4, 2ª ed. p, 148-19).
6
tensa de distintas aptidões. Em um caso, esta há de desenvolver mais força; em outro, mais
habilidade; em um terceiro caso, mais atenção etc., mas um mesmo individuo não possui na
mesma medida todas estas qualidades. Depois da divisão, separação e isolamento de distintas
operações, os trabalhadores se dividem, se classificam e se agrupam a partir de suas capacidades
predominantes. Sim, pois, as peculiaridades naturais19 dos trabalhadores formam o terreno em
que essas suas raízes da divisão do trabalho, por outra parte, a manufatura, uma vez introduzida,
desenvolve as forças do trabalho de modo que, por sua própria natureza, sejam só aproveitáveis
para funções unilaterais específicas” 20.
Teremos, portanto, que “as peculiaridades naturais dos trabalhadores formam um
terreno em que se enraíza a divisão do trabalho”, mas a divisão do trabalho, uma vez
estabelecida, forma e transforma as aptidões do homem. Ditas capacidades, que surgem no
terreno das “peculiaridades naturais”, não são invariáveis; se modificam ao modificar-se a vida
social. Marx põem de manifesto a dependência em que se faz a estrutura das aptidões humanas
com respeito as formas da divisão do trabalho, que mudam historicamente e demonstra
concretamente com uma brilhante e fina análise, a mudança que sofre a psicologia do homem
ao passar do artesanato à manufatura, e desta à grande indústria, das formas iniciais de tal
indústria às formas capitalistas posteriores e maduras21. É de importância básica, neste sentido,
descobrir de que modo o desenvolvimento da manufatura e a divisão do trabalho levam a
especialização extrema das aptidões, a formação do “indivíduo fragmentário, simples portador
de uma função social parcializada” e como o progresso da automatização, com que o trabalho
perde o caráter de uma especialização, leva a substituir-se “pelo indivíduo integralmente
desenvolvido para o qual as distintas funções sociais constituem formas de atividade que se
sucedem umas a outras”22.
As três teses acima formuladas (realizando abstração, por agora, das particularidades
específicas que apresentam algumas das formulações de Marx aludidas) foram incorporadas
solidamente ao marxismo e configuram de maneira definitiva os traços fundamentais da
psicologia soviética.

19
Nos Manuscritos econômico-filosóficos do ano 1844, Marx insiste muito nessa base natural das aptidões: “O
homem é diretamente um ser natural. Em qualidade de ser natural, adiante: de ser natural vivo,... está dotado de
forças naturais, de forças vitais, é um ser natural atuante; ditas forças existem nele em forma de disposições e
aptidões. (K. Marx e F. Engels, Seleção de primeiras obras, p. 631.)
20
K. Marx, O Capital, t. I, p. 356.
21
Ibidem, cap. XII e XIII.
22
Ibidem, p, 493.
7
Sem demora, nos manuscritos do ano 1844, ditas teses se encontram indissoluvelmente
entrelaçadas com outras que foram deixadas, sobre aquela marca indelével não já em sua
formulação, mas adiante, em seu conteúdo concreto. É indispensável efetuar uma análise
especial para compreender o autêntico conteúdo de semelhantes teses e a problemática que se
esconde nas formulações expostas por Marx nos manuscritos indicados.
Os manuscritos de 1844 constituem um “ajuste de contas” com Hegel23. Como a maior
parte dos trabalhos análogos, este de Marx se encontra indiretamente condicionado pela posição
de seu oponente pelo mesmo fato de que é parte dele. Por diferentes que sejam as respostas de
diferentes pessoas a umas mesmas perguntas, as questões de partida lhe são em maior ou menor
medidas em comum.
O ponto de partida dos raciocínios de Marx, culminam no conceito de “alienação”, que
Marx destaca como básico na concepção hegeliana (dito conceito figurava no centro da crítica
da religião feita por Feuerbach).
Para a filosofia hegeliana, o homem se apresenta somente frente a forma de espírito e
de autoconsciência. Hegel parte do pensamento “puro”, da consciência “pura”; por isso a
natureza e todo o mundo de objetos criado pela atividade humana são concebidos como
alienação do espírito; o ser objeto e a alienação se fundem. O objetivo da filosofia do espírito
acaba em passar pela “objetivação”, fazer real a “perda da condição de objeto” e, desse modo,
superar a “alienação”, assimilar de novo a natureza, o mundo dos objetos e volta-lo às entranhas
do espírito, da autoconsciência. Deste modo, para dizer com muita brevidade, coloca em
manifesto, Marx, a ideia básica da filosofia hegeliana.
Em sua crítica de Hegel, Marx, acima de tudo delimita os conceitos de objetivação e
alienação, indissoluvelmente ligados entre si em Hegel. Tais conceitos, em Hegel, resultaram

23
Como toda concepção filosófica realmente grande, a de Marx não surgiu em um deserto nem em um caminho
semiperdido, mas no grande caminho real do pensamento filosófico. É, pois, compreensível que ao desenvolver
sua própria concepção filosófica, Marx tivesse que abrir caminho criticando a seus predecessores. Por isso
empenhou a saldar suas “contas” filosóficas com os de maior prestígio e mais próximos: Hegel e Feuerbach. A
crítica de Hegel consagrou primeiro um trabalho relativamente especial: Contribuição a crítica da filosofia do
direito de Hegel. Introdução (final de 1843 - janeiro de 1844) (Obras, t. I, p, 414-429) e depois os Manuscritos
econômico-filosóficos (sobre todo o apartado titulado na Seleção de obras juvenis, “Crítica da dialética hegeliana
e da filosofia de Hegel em geral”); a crítica de Feuerbach, preparada por ditos manuscritos, se completou com as
breves, porém fundamentais Teses sobre Feuerbach. (Os seguintes trabalhos críticos: A Sagrada Família ou crítica
da “Crítica Crítica”. Contra Bruno Bauer e companhia, e a Ideologia alemã. Crítica da novíssima filosofia alemã
nas pessoas de seus representantes - Feuerbach, B. Bauer e Stirner - e do socialismo alemão em seus diversos
profetas, obras polêmicas dirigidas contra contemporâneos, já foram escritas, como sabe-se, em colaboração com
Engels).
Entre as primeiras obras críticas com que Marx, lutando, abria caminho a sua concepção filosófica, os Manuscritos
econômico-filosóficos do ano 1844 é objeto, agora, de especial atenção.
8
fusões, porque no lugar do sujeito real, do homem, ele situou a abstração do pensamento, da
consciência, do espírito como essência do homem. Somente por isso, tudo o que possui caráter
de objeto resultou na alienação.
Marx vê em Hegel três erros. O primeiro e fundamental está em colocar - como
acabamos de dizer - no lugar do homem como sujeito real, as abstrações do pensar, da
consciência ou da autoconsciência; o segundo erro, ligado ao primeiro, consiste em considerar
como alienação toda objetivação e, em consequência, sob o pretexto da luta contra a alienação,
tender a superar, em um plano idealista, todo o mundo dos objetos absorvendo-o e dissolvendo-
o no pensamento abstrato. Finalmente, o terceiro erro de Hegel assinalado e posto em manifesto
por Marx está no fato de que Hegel, em consonância com o princípio básico de sua concepção
que leva a identificar a objetivação, o caráter objetal, com a alienação, converta a superação da
alienação em uma operação mental que nada muda na realidade, na alienação dos produtos que,
com efeito, tem lugar devido a atividade humana. Acerca da interpretação que Hegel dá à
“superação”, diz Marx que nela se encontra “a raiz do falso positivismo de Hegel, ou de seu
criticismo, que é somente aparente”24, do positivismo que encontrou sua expressão teórica nas
teses: “todo o real é racional” e que, na prática, levou a justificar a realidade do Estado
monárquico prussiano. A “eliminação”, em Hegel, é uma operação puramente ideal: o passo da
fórmula inferior para a superior está ligado a concepção dialética de dita forma inferior como
“não verdadeira”, imperfeita, como baixa. Mas depois de semelhante “superação”, a forma
inferior, sobre a qual se estruturou já a superior, permanece imutável, como era antes. “O
homem que já compreendeu que no direito, na política etc., leva uma vida alienada introduz
nesta vida alienada como tal sua verdadeira vida humana”25. “Deste modo, depois de eliminar,
por exemplo, a religião, depois de reconhecer na religião um produto da auto alienação, se
encontra confirmado na religião como religião”26. Não faz falta a transformação, basta a
compreensão.
Para Marx, a “eliminação” não é só uma operação ideal, mas um processo de
transformação real; não é a “crítica” (termo predileto dos jovens hegelianos) o que faz falta,
mas a revolução.
A elaboração fundamental das ideias que Marx desenvolve nos manuscritos de Paris
do ano 1844, contrapondo-as a concepção hegeliana, é o restabelecimento do homem em seus

24
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p, 634.
25
Ibidem.
26
Ibidem.
9
direitos, situando no lugar do pensamento abstrato, do espírito, a auto consciência do homem
real. Com ele se relaciona a delimitação dos conceitos de conversão em objeto e alienação27.
Com este último termo designa Marx a alienação em seu sentido próprio: a alienação dos
produtos do trabalho do trabalhador tal como se dá na sociedade capitalista, levantada sobre a
propriedade privada28. Eliminar essa alienação, que não é uma operação mental ideal, mas um
fenômeno que se dá realmente na sociedade, requer, correspondentemente, não só uma nova
interpretação teórica dos fenômenos sociais, mas uma transformação revolucionária real de
ordem social que engendra a alienação assinalada.
Os inimigos pró-hegelianos de Marx tentavam demonstrar que nesta polêmica entre
Marx e Hegel, a verdade estava do lado deste último. Acusavam a Marx, antes de tudo, de
reduzir a um problema econômico particular, limitado ao marco de um determinado regime
social, o problema grande e “eterno” da filosofia. Deste modo, sustentavam, Marx afastava de
si o magno problema humano colocado por Hegel diante o pensamento filosófico.
Semelhante afirmação é duplamente errônea. Antes de tudo, Marx não circunscrevia a
alienação em si à exploração do trabalhador. Mas via neste tipo de alienação a forma básica, o
cimento real de todas as demais formas de “alienação”. Para convencer-se de que isso é assim,
basta examinar as Teses sobre Feuerbach. Na quarta tese, Marx não nega o “fato da auto
alienação religiosa”, e exige que esse fato seja abordado de maneira distinta de como se
encontra em Feuerbach (o mesmo que em Hegel). Não basta reduzir o mundo religioso a sua
base terrena, é necessário mudar esta base terrena, as contradições que se dão nela e que
engendram, condicionam, a auto alienação religiosa do homem29.
Vemos, pois, que a solução dos problemas históricos da vida social mediante a prática
revolucionária não descola da solução dos problemas ideológicos, filosóficos, mas serve de
base.
Ademais: o problema estritamente filosófico da conversão em objeto, problema que

27
É de conhecimento que a “alienação” do homem na religião foi o eixo da crítica que fez Feuerbach. O jovem
hegeliano de esquerda, Hess, aplicou esse conceito a crítica dos fenômenos sociais na sociedade capitalista,
sobretudo, em seu artigo Über das Geldwesem, que, mandou a Marx para inserir nos Anais franco-alemães. Neste
artigo, Hess tenta mostrar o caráter fundamental e universal do fenômeno da “alienação” na vida econômica e na
vida em geral da sociedade capitalista. Deste modo, o conceito de “alienação” alcançou uma difusão importante.
28
O conceito de “alienação” se encontra claramente ligado ao conceito de “fetichismo da mercadoria” que aparece
em O Capital, ou seja, o de que na sociedade mercantil as relações entre as pessoas, estabelecidas através das
coisas, são compreendidas como relações destas mesmas coisas. Aqui, a alienação das relações humanas alcança
em Marx uma expressão mais geral.
29
Ver K. Marx e F. Engels, Obras, t. 3, p. 2 (A ideologia Alemã, edições Pueblo Unidos, Montevideo, 1959, p.
634).
10
em Hegel, ao substituir o homem pelo pensar, pelo espírito, ao reduzir o homem à consciência
de si, se apresentava como alienação, em Marx não se reduz o fenômeno econômico da
alienação dos produtos do trabalho do operário na sociedade capitalista, mas que se separa dele,
é dizer, do fenômeno indicado. O problema filosófico geral não se reduz em Marx a um
problema econômico particular, mas em Hegel os problemas reais da vida social afundam em
especulações filosóficas abstratas, de modo que permanecem real e praticamente sem resolução.
Ao delimitar a conversão em objeto e a alienação. Marx conserva por completo o problema
filosófico especial; não o ignora, mas o aborda e o resolve de outro modo.
É necessário delimitar os dois problemas porque se trata de problemas diferentes. O
da objetivação, o da alienação, na interpretação hegeliana, concernia a relação entre o pensar e
a natureza; para Hegel, a natureza se apresentava como alienação da ideia, como seu “ser-
outro”. A abordagem hegeliana deste problema há de ser colocado sob seus pés. A respeito da
atividade mental teórica, a “alienação” é uma conversão das ideias em objetos, é o problema
do idealismo objetivo, do platonismo, problema que transforma as ideias, produtos da atividade
mental de pessoas, que entram em conhecimento dos fenômenos da natureza, em essências
hipostasiadas; é o problema relativo a superação da existência separada das ideias, problema
que Aristóteles aborda em sua luta contra o idealismo “objetivo” de Platão. Não há que falar da
natureza como ideia alienada, mas da alienação da ideia que reflete a natureza, da natureza
cognoscitiva e do homem que a conhece. Superar essa “alienação”, que termina na conversão
de ideias em objetos, constitui a tarefa do pensamento teórico filosófica nesta esfera. Tal é o
problema da “objetivação” em sua abordagem verdadeira.
Marx, ao falar de “alienação” e de superação, coloca um problema completamente
distinto. É o problema do comunismo e da superação da alienação não só ideal, mas, também,
real, não só no pensar, mas, também, na realidade, e não por meio da mera “crítica” (tal como
compreendiam os jovens hegelianos), mas por meio da revolução.
O problema que trata da alienação dos produtos do trabalho do operário também é um
problema filosófico. É precisamente como problema filosófico geral e não como um estrito
problema econômico como o coloca Marx em seus Manuscritos econômico-filosóficos. Marx
examina a transformação do produto do trabalho do operário em propriedade capitalista não só
como um problema estritamente econômico, relativo às categorias econômicas e nada mais, a
transformação do trabalho em mercadorias e de seus produtos em capital. Marx examina dito
fenômeno, ao mesmo tempo, como uma situação vital e como forma, historicamente

11
condicionada, da existência do homem, e nisto radica o sentido filosófico do fenômeno
indicado; de modo análogo, o comunismo, que elimina a ordem da sociedade capitalista não é
só um novo sistema de relações de produção, sistema que propõem e condiciona um novo nível
das forças produtivas, mas que é, também – e mais do que tudo - um novo homem, um novo
tipo de relações, autenticamente humanas, em relação à natureza e as demais pessoas.
“A propriedade privada nos fez tão cretinos e unilaterais que um objeto, qualquer que
seja, é nosso somente quando o possuímos, é dizer, quando existe para nós como capital ou
quando o possuímos diretamente, quando o comemos, o bebemos, o levamos sobre nosso corpo,
vivemos nele etc., em uma palavra, quando o usamos [...]. Por isso no lugar de todos os sentidos
físicos e espirituais, apareceu a simples alienação de todos estes sentidos, o sentido da posse”30.
“Aqui que a suprassunção da propriedade privada signifique a emancipação completa
de todos os sentidos e propriedades humanas; mas constitui tal emancipação, precisamente,
porque ditos sentidos e propriedades foram convertidos em humanos tanto no sentido subjetivo
como no objetivo. O olho foi convertido em olho humano exatamente do mesmo modo que seu
objeto foi convertido em objeto social, humano, criado pelo homem para o homem. Por isso os
sentidos diretamente em sua prática foram convertidos em teoréticos. Possuem relação com a
coisa pela coisa, mas esta própria coisa é uma relação humana objetiva para si mesma e para o
homem, e vice-versa”31.
Temos, pois, que a propriedade privada e sua suprassunção positiva, ou seja, o
comunismo, de nenhum modo ficam limitados a categorias econômicas. Se trata da reforma de
toda a existência humana, de toda a vida do homem.
Não é só um problema filosófico, mas também é um problema filosófico, um grande
problema filosófico. Não só como tal, mas também como tal problema, em última instância, há
de ser abordado também por nós, hoje e sempre no futuro.
Para compreende-lo assim, é necessário ver que a filosofia não se circunscreve à
filosofia “especial”, acadêmica, que se interessa só por problemas especiais relativos ao homem
instruído ou, no melhor dos casos, ao homem como pessoa instruída nesta função especial.
Devido, precisamente, a que a filosofia acadêmica contemporânea, no estrangeiro, foi
convertida em disciplina que se ocupa só dos problemas especiais da atividade do homem

30
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 592. Marx explica logo seu pensamento com o seguinte
exemplo: “Sobrecarregado pelas preocupações, o homem que sofre necessidades não é sensível nem sequer ao
mais esplendido dos espetáculos, o comerciante em minerais só vê o valor mercantil, não a beleza, nem a natureza
peculiar do mineral.
31
Ibidem, p. 592.
12
instruído e não da vida do homem, se fez - com independência, inclusive da corrente a que
pertencia - tão sem seiva, tão seca, tão mumificada e ineficiente. Como não se interessa pela
vida das pessoas, tampouco estas, naturalmente, se interessam por ela. Existe outra filosofia,
verdadeiramente grande. Os problemas desta outra filosofia são antes de tudo e sobretudo os
problemas da vida, mas não como problemas triviais da vida cotidiana, mas como autênticos
problemas filosóficos, ideológicos. Esta grande filosofia não exclui as questões relacionadas
com a atividade teórica do indivíduo como homem instruído, como pensador, mas no contexto
geral ditas questões adquirem um sentido diferente, novo.

No centro da concepção filosófica de Marx se encontra o homem, não o homem


abstrato ou a abstração do homem como em Feuerbach, mas o homem real, concreto, que vive
em uma determinada situação em desenvolvimento e historicamente formada, e que se faz em
determinadas relações sociais com outros indivíduos. O problema capital é o do homem, o do
reestabelecimento do homem em seus direitos, na plenitude de seus direitos.
Precisamente por girar em torno ao problema do homem, todo o manuscrito do ano
1844 e não só aqueles de seus pensamentos que se referem de maneira direta aos fenômenos
psíquicos (sentidos, etc.), oferece um interesse imediato e vivo para a psicologia.
Toda a problemática filosófica dos Manuscritos econômico-filosóficos começa a
desenvolver-se com a colocação do homem como sujeito real no lugar do pensamento abstrato,
do espírito, da auto consciência. A primeira questão e fundamental não é o que se refere ao
espírito e a natureza, como em Hegel, mas ao homem e a natureza, ao sujeito e ao mundo dos
objetos. A relação entre eles se apresenta como interconexão e interdependência dialética, que
se realizam sobre a base da natureza.
O homem como ser natural se faz condicionado por completo pelo mundo dos objetos,
pela natureza. “O homem é de maneira imediata um ser natural”32. “Possuir a condição de
objetivo, de ser natural, sensível, e ao mesmo tempo ter fora de si objeto, natureza, sentido ou
ser objeto mesmo, natureza, sensibilidade para algum terceiro ente”. “Um ser que não tem
nenhum objeto fora de si, não é um ser objetivado. Um ser que não é o mesmo objeto para um
terceiro ser, não possui nenhum ser como objeto seu, é dizer, não se comporta objetivamente,
seu ser não é objetivado. Um ser não-objetivo é um não ser (Unwesen)”33.

32
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 631.
33
Ibidem.
13
A correlação entre o homem e a natureza aparece inicialmente como uma relação de
necessidade, é dizer, da necessidade que experimenta o homem de algo que se encontra fora
dele, é uma relação do homem com o objeto de dita necessidade, objeto que reúne condições
para satisfaze-la. Na interação existente entre o homem e a natureza temos por uma parte que
esta – susceptível de ser transformada pelo homem –, o mundo dos objetos criados desse modo
pelo homem, aparece como “forças essenciais” do homem vertidas ao exterior; por outra parte,
só o mundo dos objetos da natureza engendra e desenvolve as “forças essenciais” do homem.
Por um lado, a natureza do homem, do sujeito, vertida fora e que se apresenta em forma de
objeto; por outro lado, a própria natureza do homem é, em parte, desenvolvida e em parte
engendrada pelo mundo dos objetos; por um lado, “todos os objetos se convertem para ele em
objetivação de si mesmo para ele, em objetos que confirmam e realizam sua individualidade,
em objetos dele, e isto significa que ele mesmo torna-se objeto”; “meu objeto pode ser só a
afirmação de uma de minhas potencias essenciais”34, e ele “produto objetivo só confirma sua
atividade (do sujeito) objetiva”35; por outro lado, “só graças a riqueza objetivamente
desenvolvida da essência humana, em parte se desenvolve e em parte se engendra pela primeira
vez a riqueza da sensibilidade humana subjetiva”36. A transformação da “riqueza objetivamente
desenvolvida” em objeto e do objeto em sujeito – transformação que se faz como acabamos de
expor – é precisamente a “objetivação” e a “perca de condição de objeto” de que fala Marx com
a linguagem de Hegel.
Assim, pois, a relação entre o homem e a natureza aparece como dialética do sujeito e
objeto.
A isso se encontra ligado um grande número de problemas concernentes as relações
entre a natureza e homem como ser social, a dialética do homem e a natureza.
Atualmente, nos trabalho não marxistas que se publicam fora da União Soviética
acerca do marxismo, se está sustentando uma viva polêmica em torno dos problemas da
dialética. Vários autores (A. Kojeve, Merleau-Ponty, J. P. Sartre, entre outros) negam a dialética
da natureza. Se argumenta, para eles, a ideia (que, segundo afirmam, encontra um ponto de
apoio no manuscrito do ano 1844, a única exposição autêntica, a juízo dos críticos, da filosofia
de Marx feita por ele mesmo) de que a dialética só pode existir onde se dá a consciência, fonte
de toda negatividade. Não sem surpresa Calvez registra o fato de que Marx aprovou o propósito

34
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 593.
35
Ibidem, p. 630.
36
Ibidem, p. 593.
14
de seu amigo Engels de escrever um dialética da natureza, apesar de que semelhante empenho,
a juízo de Calvez, se faz em contradição com o pensamento de Marx, do que julga pelo
manuscrito do ano 1844. A questão acaba que, em dito manuscrito, a dialética se apresenta na
forma de relação dialética entre sujeito e objeto.
Daqui, do caráter dialético que possui a relação entre sujeito e objeto, se tira, em
primeiro lugar, a indevida conclusão de que só é dialética a relação indicada, em segundo lugar,
em vez do sujeito real, o homem, se volta a tomar sua consciência. Nisto se encerra o equívoco
chave dos inimigos da dialética da natureza, que circunscrevem a dialética às relações entre a
consciência e a natureza. Por outro lado, estes críticos do marxismo não levam em conta que
para Marx o próprio homem é uma parte da natureza e, portanto, a dialética entre sujeito e
objeto estudada por Marx já é por si dialética da natureza ou, mais exatamente, uma parte
essencial da mesma.
Não há motivo algum, pois, para surpreender-se de que o marxismo fale de dialética
da natureza, menos ainda para negar sua possibilidade. Mas, desde logo, é essencial a
circunstância de que Marx se referia em primeiro termo à dialética das relações entre o homem
e a natureza e a entenderá como dialética de sujeito e objeto.
Embora nos Manuscritos econômico-filosóficos, Marx não dedique especial atenção
aos problemas da teoria do conhecimento, do problema em si relativo à dialética do sujeito e
objeto, tal como ele o aborda, se desprendem conclusões essenciais para dita teoria.
Desejaríamos assinalar as seguintes conclusões, se não um dos princípios diretamente
formulados por Marx acerca da teoria do conhecimento propriamente dita, pelo menos dos
princípios gerais de sua concepção exposta no manuscrito do ano 1844.
Estas conclusões são de duas classes. Da concepção geral de Marx se desprende antes
de tudo, a nosso modo de ver, que o básico na teoria do conhecimento não é a relação entre o
pensar, a consciência ou ideia, e o objeto, mas a relação entre o homem como sujeito da
atividade prática e teórica e o mundo dos objetos. Unicamente no marco desta relação básica e
partindo dela, há de compreender-se e explicar-se a relação entre a sensibilidade e o pensar e o
objeto, a coisa. Isto em primeiro lugar. E, em segundo lugar, Marx já falava, como se sabe, da
reflexão (Abbildung), sublinhando com isso a existência do objeto fora da consciência do
homem, fora do homem que adquire consciência do objeto; mas se Lênin - para quem no
primeiro plano figura, como é natural, a luta contra o idealismo físico e fisiológico, sublinha
em seguida, em particular, o restabelecimento ideal, sensorial ou mental, da coisa na imagem

15
como resultado do processo cognitivo, Marx, para quem não resulta menos natural o que tenha
um significado particular a superação do caráter contemplativo que possui todo o materialismo
precedente, sublinha sobretudo o caráter dialético do processo que conduz a dito resultado. Em
Marx aparece singularmente a dependência em que se faz o resultado da cognição não só em
respeito ao objeto, mas, ademais, respeito a atividade própria do sujeito, saturada sempre de um
conteúdo socialmente elaborado.
Se as conclusões do trabalho de Marx se fazem extensivas também a este problema,
no centro do mesmo trabalho segue figurando o mesmo problema: o homem e a natureza.
Vamos nos deter nele. Deste modo nos encontramos, de novo, com problemas diretamente
relacionados com a psicologia.
Segundo a concepção exposta no manuscrito do ano 1844, a natureza, que é entendida,
antes de tudo, como natureza transformada pelo homem e o homem se faz modo correlacionado
entre si, se pressupõem (“se implicam”) mutuamente: a natureza é a essência do homem vertida
ao exterior; o homem é a natureza “perdida sua condição de objeto”, transferida a ele, ao
homem. Este é o motivo pelo qual Marx afirma que “...o naturalismo ou humanismo sustentado
até o fim se diferencia tanto do idealismo como do materialismo e constitui, ao mesmo tempo,
sua verdade, que os une aos dois”37.
Desde logo, também no mesmo manuscrito se reconhece o caráter primário da
natureza, sua existência anterior ao homem, de modo que a formação do homem é a formação
de natureza pelo homem. Temos, pois, que a existência da natureza é independente do homem;
o fato de que a natureza exista independente do homem, mas o que ela é, é determinado por sua
correlação com o homem; por seu conteúdo, a natureza é o que é para o homem: “Mas também
a natureza, tomada de maneira abstrata, para si, fixada a margem do homem é nada”38. “Meu
objeto pode ser só a afirmação de uma de minhas potências essenciais”, “o sentido de algum
objeto, para mim, [...] se estende exatamente tanto quando se estende meu sensório”39. Nesta
correlação entre natureza e homem, ponto débil da concepção desenvolvida nos manuscritos de
Paris, é o que torna este trabalho particularmente atrativo para os inimigos do materialismo
dialético.
A correlação entre natureza e homem se concretiza, segundo dito manuscrito, na
premissa de que a natureza apresente desde o primeiro momento, desde o ponto de vista

37
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 631.
38
Ibidem, p.640.
39
Ibidem, p. 593.
16
filosófico, como transformada pelo homem, como mundo de objetos criado pelo homem com
o material da natureza. Agora, esta mesma premissa havia determinado, também outros traços
no modo de interpretar a relação reciproca entre o homem e a natureza, traços que haviam
impresso, também sua marca na ulterior interpretação do problema do homem e a natureza. As
vezes a natureza se rebaixa ao papel da oficina e da matéria prima para a atividade produtiva
do homem. E, com efeito, se apresenta com esta qualidade para o homem como produtor no
sistema de sua atividade industrial. Mas a natureza como tal, em seu conjunto, assim como sua
importância para a vida do homem não podem ser reduzidas à condição deste simples papel.
Limitar a relação entre o homem e a natureza exclusivamente a de produtor e matéria prima
significa empobrecer em grau infinito a vido do homem. Significa violar, em suas próprias
fontes, o plano estético da vida humana, da atitude do homem frente ao mundo; ainda mais,
significa - com a perda da natureza como algo eterno, não criado nem feito pelo homem nem
por nada - perder a possibilidade de sentir-se parte deste magnífico todo e, relacionando-se com
ele, adquire consciência da própria pequenez e da própria grandeza; isto significa perder o que
o homem não deve perder de nenhuma maneira sem quebrar as bases de sua vida espiritual, o
que condiciona a medida da vida permitindo valorizar na devida forma as pequenas e “grandes”
miudezas da vida.
A natureza determina primariamente o homem, e este aparece como parte da natureza,
como ser natural. Logo, à medida que a natureza se converte, em uma ou outra medida, em
objeto da atividade do homem, o ser humano começa a determinar a natureza, a transformá-la.
Como objeto da atividade social do homem, a natureza elaborada por esse se inclui no processo
histórico-social do desenvolvimento da atividade produtiva dos indivíduos. Existe, dessa forma,
essa dependência inversa da natureza em relação ao homem vinculada à introdução do homem,
de sua atividade, na natureza e a assimilação da natureza pelo homem. Não cabe duvidar, no
entanto, que esse processo nunca chega a seu fim. Disso que, inclusive depois de haver
começado a atuar no novo aspecto de objeto da cultura, a natureza sempre permaneça também
em sua qualidade primária de natureza propriamente dita. O homem para o qual a natureza se
converte por completo no objeto da atividade humana, econômica ou produtiva e deixa de
existir em sua intangibilidade como natureza, perderia uma parte essencial de sua vida humana.
A cultura que expulsa totalmente da vida a natureza, se destruiria a si mesma e se faria
insuportável.
Nos Manuscritos econômico-filosóficos de Marx, o problema acerca do homem e a

17
natureza se coloca, ademais, como problema acerca do natural e do social no homem. “O
homem - escreve Marx - é diretamente um ser natural’40; em relação a isso: “O homem é o
objeto imediato das ciências naturais”41.
Por outro lado, “a natureza é o objeto imediato da ciência relativa ao homem”42; como
querer que a história toda da natureza seja tratada como história “do devir da natureza até o
homem”, “a própria história é uma parte real da história da natureza’43. Disso que, “mais
adiante, as ciências naturas incluíram em si a ciência sobre o homem na mesma medida em que
a ciência sobre o homem incluíra em si as ciências naturais: será uma ciência”44; “A realidade
social da natureza e a ciência natural humana ou a ciência natural do homem, são expressões
idênticas”45. Esta tese acerca da fusão das ciências naturais e das ciências sociais, acerca da
ciência única (“uma”) seduz porque ao parecer, determina as perspectivas e assinala a
orientação de ulterior desenvolvimento de todas as ciências para um mesmo objetivo final. A
criação da Ciência (com C maiúsculo) única e indivisível, cujo objeto central é o homem, resulta
sedutora sobretudo para a psicologia, dado que dita ciência, a ciência sobre a atividade psíquica
do homem, se encontra na linha de contato entre as ciências sociais e as naturais, por estar
vinculada tanto a uma como a outra. Não obstante, ao parecer deveria tratar-se não de sua fusão,
mas de sua união em um sistema único de ciências.
Agora bem, para compreender e valorizar corretamente as teses dos Manuscritos
econômico-filosóficos do ano 1844 sobre a ciência única, unificadora das ciências da natureza
e das ciências sociais, é necessário ter uma visão clara de seu conteúdo real, das premissas da
concepção sustentada então por Marx, sobre as quais ditas teses se baseiam. Ditas premissas
são a identificação entre a natureza e o mundo dos objetos criados pelo homem com o material
da natureza e a ideia - relacionada com esta identificação - segundo a qual a história toda da
natureza é tão só história do devir da natureza em direção ao homem, pela palavra; são todos
os círculos de pensamentos que convergem na asseveração de que o naturalismo sustentado
consequentemente e o humanismo consequentemente sustentado, coincidem, se fundem um
com o outro e, diferenciando-se tanto do idealismo como do materialismo, constituem, ao

40
C. Marx y F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 631.
41
Ibidem, p. 596.
42
Ibidem.
43
Ibidem.
44
Ibidem.
45
Ibidem.
18
mesmo tempo, “sua verdade, que os une aos dois”46.
A isso há de assinalar ainda que a tese segundo a qual as ciências sociais e as ciências
naturais se fundem em “uma ciência” foi formulada antes da criação do materialismo histórico,
antes de descobri as leis específicas da vida social, e só então pode haver sido formulada.
Estas considerações e, em geral, a análise dos manuscritos de Paris, mostram mais uma
vez o quanto se pode retirar das obras de Marx - entre elas este trabalho de seus primeiros tempo
- para a psicologia, e ao mesmo tempo, quão poucos problemas pode resolver a ciência em geral
e a psicologia em particular com a utilização cega e mecânica das citações.
Não há dúvida de nenhum gênero de que, ao estudar a psicologia do homem, nos
ocupamos de uma estreita interconexão entre o natural e o social, mas a solução do problema
relativo à sua correlação requer não a simples fusão de todas as ciências, mas, primeiramente,
uma cuidadosa diferenciação, uma análise precisa dos diferentes aspectos do problema. Ao falar
dos fenômenos e da ciências sociais, é necessário, antes de tudo, diferenciar as ciências acerca
da sociedade e as ciências acerca dos fenômenos socialmente condicionados: Uma coisa é que
a vida social, a vida da sociedade em si, seja um objeto de estudo, e outra coisa, que seja
condição dos fenômenos estudados, que os condicionam. A psicologia não é uma ciência sobre
a sociedade, mas, como todas as ciências do homem, é uma ciência acerca de fenômenos
socialmente condicionados; inclui uma determinada unidade do natural e do social, portanto, é
uma ciência dos fenômenos naturais socialmente condicionados. As teses acerca dos fenômenos
psíquicos como fenômenos naturais faz sua expressão concreta na concepção da atividade
psíquica como atividade de reflexo do cérebro, e o caráter socialmente condicionado da
atividade de reflexo do cérebro se expressa na existência do segundo sistema de sinalização,
que atua em interação com o primeiro, é dizer, se expressa no fato de que para o homem também
a palavra é um “estímulo” que condiciona não só a atividade mental, mas, ademais, a vida do
organismo.
Já algumas formas da sensibilidade, do aspecto mais elementar da atividade psíquica
- o ouvido fonêmico e o ouvido musical -, se encontram condicionados pelos produtos da
cultura, do desenvolvimento histórico-social, pela língua e pela música.
Ao falar do caráter socialmente determinado dos fenômenos psíquicos, é necessário,
ademais, diferenciar o caráter determinado da atividade psíquica pelo fato em si da vida social
(que se expressa antes de tudo pela presença da linguagem no homem, linguagem que

46
K. Marx e F. Engels, Seleção de obras juvenis, p. 631.
19
condiciona a estrutura em si da psique humana, da consciência do homem) e a dependência dos
fenômenos psíquicos em relação às distintas formas da vida social. A dependência em relação
à existência em si da vida social condiciona os traços, comuns de todas as pessoas, que se
expressam nas leis gerais da atividade psíquica do homem; a dependência em relação às
distintas formas da vida social condiciona os distintos caracteres típicos da época. Em poucas
palavras, para colocar em manifesto a tecitura e a interconexão entre o natural e o social no
homem, em sua “psicologia”, não basta uma formula geral, é necessária uma análise concreta.

Os pensamentos de Marx acerca dos problemas psicológicos se fazem concentrados,


como temos dito já mais acima, em seu manuscrito do ano 1844; só nele encontramos um
sistema íntegro de proposições diretamente concernentes a psicologia. Nas seguintes obras de
Marx, em particular na Ideologia Alemã (1845-1846), escrita em conjunto com Engels, se
encontram pensamentos filosóficos importantes, mas tão isolados, sobre problemas
psicológicos, pensamentos que refletem o posterior desenvolvimento da concepção marxista.
Tais são na Ideologia Alemã as teses fundamentais acerca da consciência: “A consciência [das
Bewusstesein Sein], e o ser dos homem é seu processo de vida real”47.
Em relação com isso se declara que a única maneira de enfocar o estudo da consciência
que “corresponde a vida do real”, é a que se adota quando “se parte do mesmo indivíduo, real,
vivente, e se considera a consciência somente como sua consciência”. “Não é a consciência que
determina a vida, mas a vida que determina a consciência” 48. Nesta tese já foi superada a
posição exposta no manuscrito do ano 1844 no sentido de que mediante a síntese de humanismo
e naturalismo se supera a contradição entre materialismo e idealismo, e se apresenta com toda
clareza a linha materialista que conduz logo à tese de que o ser social determina a consciência
social. Por outra parte, nestas teses se correlacionam de maneira excessivamente imediata a
consciência e o ser sem indicar o caráter mediado de seu nexo, e se sublinha unilateralmente só
a dependência básica da consciência a respeito do ser, a vida, mas sem assinalar a dependência
inversa do ser, da vida das pessoas a respeito de sua consciência (o materialismo, recém
adquirido, parece deslocar a dialética a um segundo plano). Posteriormente, Engels assinalou a
unilateral orientação em que Marx e ele haviam caído ao concentrar toda sua atenção e todas
suas forças na defesa, antes de tudo, das teses materialistas. Temos indicado já, mais acima,

47
K. Marx e F. Engels, Obras, t. 3, p. 25.
48
Ibidem, p. 26.
20
outras teses de O Capital importantes para a psicologia, se bem limitando-nos ao essencial.
Engels formulou depois princípios importantes para a psicologia, como são: as teses -
ligada ao problema da antropogênese - acerca do papel do trabalho (e da linguagem) na
formação do homem e de sua consciência49; a indicação de que para explicar a conduta do
homem é necessário partir não de seu pensar, mas de suas necessidades 50; a afirmação de que
o próprio pensar do homem se encontra em dependência de sua atividade51, etc.
Finalmente, é de capital importância os pensamentos de V. I. Lênin que possui como
ideia central a que se refere ao psíquico como função do cérebro, como reflexão da realidade
objetiva.
Vemos, pois, que em Marx, Engels e Lênin encontramos pontos de partida de suma
importância para a estruturação da psicologia, mas somos nós quem devemos estrutura-la.
Ninguém nos oferecerá isso pronto. Existe somente um caminho para estrutura-la, o caminho
da investigação científica autenticamente criadora. A elaboração autenticamente criadora dos
problemas da psicologia há de nos conduzir, ao mesmo tempo - com base nos materiais da
psicologia - a um posterior desenvolvimento criador da filosofia.

49
F. Engels, Dialética da natureza, p. 132-144.
50
“Os homens estão acostumados - escreve Engels - a explicar sua atividade pelo seu pensar, em vez de explica-
la por suas necessidade (que, desde logo, se refletem na cabeça, são apreendidas pela consciência), e por esse
caminho, no decorrer dos tempos, surgiu a concepção idealista do mundo, que se foi apoderado das mentes
sobretudo desde que se fundiu o mundo greco-romano” (Ibidem, p. 139).
51
“Tanto as ciências naturais como a filosofia, até agora tem desdenhado por completo a investigação da influência
que exerce a atividade do homem sobre seu pensamento. Somente conhecem, por uma parte, a natureza; por outra,
o pensamento. Mas, a base mais essencial e próxima do pensamento humano é, precisamente, a mudança da
natureza pelo homem, e não apenas a natureza como tal, e o pensamento humano se foi desenvolvido em
consonância com a forma com a qual o homem tem apreendido a transformar a natureza” (Ibidem, p. 183).
21

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