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Espelho, espelho meu:

a imagem corporal no olhar da


psicologia analítica
Espelho, espelho meu: a imagem
corporal no olhar da psicologia analítica
Instituto Freedom

A proposta deste e-book é o de apresentar


uma introdução sobre a visão da psicologia
analítica sobre imagem corporal e transtorno
alimentar. Seu uso é destinado para o estudo
de alunos do Instituto Freedom.
Sumário
1. Introdução à imagem corporal
Definição de imagem corporal
Importância da imagem corporal na saúde mental e bem-estar

2. Fatores que influenciam a imagem corporal


Mídia e publicidade
Padrões de beleza
Comparação social

3. Consequências de uma imagem corporal negativa


Transtornos alimentares
Depressão e ansiedade
Isolamento social

4. Promovendo uma imagem


corporal positiva
Aceitação do corpo
Autocuidado e autoestima
Como lidar com a pressão social

5. Como apoiar os outros na


jornada da imagem corporal

6. Exercícios para melhorar a


imagem corporal
Autopercepção
Autoaceitação

7. Conclusão
Introdução
Este e-book explora a importância da imagem corporal na saúde
mental e no bem-estar. Como afirmou Stanley Keleman, "Nossa forma
corporal é um poderoso símbolo emocional de nosso self".
Socialmente, vemos situações em que certos tipos de corpos são
exaltados, enquanto outros sofrem discriminação, levando aqueles
que são julgados menos atraentes a um ambiente de maior rejeição,
prejudicando seu desenvolvimento social e emocional.

À medida que examinamos os conceitos relacionados à imagem


corporal, encontramos dois comportamentos recorrentes: reforço
social e modelagem. Embora sempre tenham existido, esses
comportamentos agora são amplificados pelas redes sociais,
influenciando nossas percepções e escolhas.

O reforço social envolve a internalização de atitudes e


comportamentos aprovados pela sociedade, enquanto a modelagem
está relacionada à imitação do comportamento observado em outros.
Ambos desempenham um papel significativo em nossas vidas,
influenciando nossas escolhas e decisões em relação ao corpo.

Vários fatores desempenham um papel fundamental na construção de


nossa imagem corporal, incluindo nosso controle sobre o corpo,
nossos sentimentos em relação à estrutura corporal, nossas crenças
sobre nossa aparência, nossa autoimagem mental e os
comportamentos relacionados ao corpo que desenvolvemos.

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Introdução à Imagem
Corporal
Definição de Imagem corporal

“Espelho, espelho meu, quem é mais bela do que eu?”


Em dezembro de 1937, a Disney lançou sua primeira animação, Branca de
Neve e os sete anões, sendo um sucesso, o encontro da rainha em frente
ao seu espelho foi icônico, onde até hoje vemos pessoas reproduzindo
essa cena por aí. Aqui a Disney já estava nos apresentando a premissa de
um problema que mais tarde iria custar a saúde e até mesmo a vida de
muitas pessoas, principalmente mulheres!

A imagem corporal diz respeito a percepção que o indivíduo tem de seu


próprio corpo, consistindo na construção dessa imagem a partir de seus
sentimentos e pensamentos que resultam, portanto, dessa percepção.
Assim como todas as questões demandantes de sentimentos, podemos
produzi-los de maneira positiva ou negativa e suas constituições derivam
do ambiente em que vivemos.

A grosso modo, a imagem corporal está relacionada diretamente com


aquilo visto no espelho, ou a maneira como você se imagina, com todas
as representações de seu corpo. Em alguns estudos, podemos identificar
que as crenças corporais são determinantes para a construção da nossa
imagem, tendo milhares de práticas corporais a função de preenchê-lo de
significados simbólicos. As mudanças corporais refletem uma função
coletiva, comunicando muitas vezes a posição social e seu status.

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A importância da imagem corporal na saúde mental e bem-estar

“Nossa forma corporal é um poderoso símbolo emocional do nosso self”


(Stanley Keleman).

Socialmente podemos encontrar situações em


que determinados corpos são enaltecidos, bem
como outros, acabam sofrendo situações de
discriminação, o que faz com que,
conscientemente, os indivíduos julgados menos
atraentes passem a estar num ambiente sem
tanta responsabilidade emocional e de maior
rejeição, os desencorajando para o
desenvolvimento de habilidades sociais e
relacionais, tendo muitas vezes, que viver uma
vida inteira com essas crenças de que não há
lugar de amor para ele por conta de seu corpo.

Ao estudarmos os conceitos a respeito de


imagem corporal, encontramos dois
comportamentos que se repetem com
frequência: reforço social e modelagem. Ambas
as situações sempre existiram, porém,
aconteciam e estavam disponíveis para a
sociedade de uma maneira diferente. O que
antes víamos como reforço social e modelagem
estava presente em revistas ou em propagandas
de TV, hoje vemos a cada click nas redes sociais,
com muito mais rapidez e facilidade.
06
“O reforço social refere-se ao processo por meio do qual pessoas
internalizam atitudes e comportam-se mediante aprovação dos
outros. Como exemplo, um adolescente pode querer seguir uma
dieta caso perceba que a mídia glorifica o corpo esbelto e magro
e critica as pessoas com excesso de peso” (SAIKALI, C.J.;
SOUBHIA, C.S.; SCALFARO, B.M.; CORDÁS, T.A., 2004)

Alguns fatores são significativos para a construção da nossa imagem


corporal:

▪ O autocontrole que tem de seu corpo ao se movimentar


▪ O sentimento que tem pela sua estrutura corporal (peso, altura, formas,
etc.)
▪ Quais as crenças que têm sobre a sua própria aparência.
▪ Qual a sua autoimagem referenciativa, ou seja, aquela construída em
sua mente e não necessariamente a sua imagem real
▪ Como se estabeleceu a sua imagem corporal afetiva, o que você
aprendeu no ambiente sobre corpos “bonitos ou não”.
▪ Quais comportamentos em relação ao seu corpo você tem
desenvolvido.

Dessa forma, observa-se que, para a construção da nossa imagem


corporal, é preciso abranger uma série de fatores e não apenas a relação
que o indivíduo tem com o espelho. Compreendemos também que,
existe uma correlação bastante significativa entre transtornos de
imagem e transtornos alimentares, ou seja, a insatisfação com a própria
aparência leva muitas vezes as pessoas a tomarem decisões extremas
em sua alimentação, na expectativa de se encontrar com o corpo ideal,
contudo, muitas vezes a imagem real não é devidamente percebida,
fazendo assim com que a pessoa não consiga nem mesmo realizar um
julgamento dos riscos aos quais ela pode estar colocando a sua própria
vida.
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Fatores que influenciam
na imagem corporal
Conforme os pontos do capítulo anterior, alguns são os fatores
necessários para a construção de uma imagem corporal saudável,
contudo atualmente também existem muitos critérios que estão
colaborando para o adoecimento dessa imagem, fazendo com que
essa relação se torne cada vez mais delicada.

Mídias sociais
O papel das mídias sociais tem sido cada
vez mais estudado e com isso a
compreensão é de que ela é responsável
por uma série de questões positivas e
negativas na vida de todos os indivíduos.
Nos atendo a esse conteúdo, o estudo a
respeito de tal ponto nos ajuda a
perceber que adolescente e mulheres
jovens utilizam-se das mídias sociais
como forma de comunicação, bem como
de “informação”, sendo essas informações
tendências a respeito daquilo que é mais
desejável socialmente, exercendo,
portanto, uma importante influência a
respeito da imagem corporal.

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Diante do que se encontra nas mídias, é possível perceber que
muitas marcas buscam mostrar para seus consumidores a ideia de
que um corpo diferente daquele que está sendo promovido ou até
mesmo o envelhecimento é algo do qual não devemos nos orgulhar
e, portanto, passar a combater, numa ideia completamente fantasiosa
e adoecida de que isso pode em algum momento ser real.

“O conceito de bonito hoje é definido como ser


duradouro, sem espaço para erros, o que se chama de
“imperfeições”. Assim, associa-se cada vez mais a questão
de uma aparência que não atenda aos padrões e doença,
distorcendo os valores reais da saúde no processo.”
(BRITO; SIMÕES, 2021, p.)

É possível observar, diante de tal situação, que limites a todo o


tempo são ultrapassados para se obter o objeto de desejo. Alguns
estudos inclusive nos mostram que cerca de 95% das pessoas
apresentam alguma insatisfação com seus corpos, sendo esse estudo
realizado com diversas faixas etárias e classes sociais.

Nessa configuração, ao sermos bombardeados por essa ideia de


corpos perfeitos e ausência de envelhecimento, desconsideramos a
própria naturalidade do ser, do qual temos a cada etapa de nossas
vidas, nossos corpos e aparência modificados, dando a nós inclusive
uma estruturação a respeito de cada momento que vivemos, porém,
é cada vez mais comum vermos meninas buscarem por corpos de
mulheres já formadas e vermos mulheres mais velhas em busca de
corpos de moças em sua idade juvenil.

09
Observa-se também que muitas pessoas, quando em estados mais
ansiosos e deprimidos, buscam com maior assiduidade as redes
sociais. Ora! Haja vistos seus processos de adoecimento e o
bombardeio de informações a respeito do ponto turístico da vida
alheia, com todas essas características de beleza, é fácil de haver
manifestações a problemática que se desenrola a parti daí.

Padrões de Beleza
Este é outro fator preocupante, que é complementar
as questões midiáticas, afinal esses padrões estão
sendo apresentados muitas vezes nessas redes, mas
não só. Portanto, padrões de beleza são um conjunto
de normas estéticas que formatam o corpo de um
indivíduo é uma construção social, ou seja, não é
algo que sempre existiu na natureza, não é universal
nem imutável.

Por exemplo, nos anos 2000 para cá os critérios de


padrão de beleza tem sido: ser alta e ter a menor
porcentagem de gordura corporal possível, músculos
definidos e lábios grossos. A pele deveria ser
bronzeada e não ter sinais que revelassem a idade,
como manchas, rugas e cicatrizes.

Mas é claro que todo o movimento de


conscientização tem tentado mudar esses critérios,
trazendo a inclusão da pele preta, do corpo gordo,
das diferentes alturas, das pessoas com deficiência,
para serem vistos com a beleza que também os
pertence.
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Comparações sociais
Agora façamos essa equação: mídias sociais + padrões de beleza =
comparações sociais. Infelizmente essa é uma péssima equação, pois
seu caminho leva para um adoecimento muito significativo e não
podemos invalidar essa questão.

A teoria da comparação social foi proposta pela primeira vez em


1954 pelo psicólogo Leon Festinger e sugeriu que as pessoas têm um
impulso inato para avaliar a si mesmas, muitas vezes em
comparação com outras. Isso ocorre por meio da comparação social
ou da análise de si em relação aos outros. Leon Festinger acreditava
que nos envolvemos nesse processo de comparação como uma
forma de estabelecer uma referência pela qual podemos fazer
avaliações precisas de nós mesmos.

No que tange imagem corporal, aquilo que entra no


padrão estético é visto com maior valor, logo na
ausência dessa imagem e diante do movimento
comparativo, não ter representa ausência de valor
pessoal, travando assim uma briga interna ferrenha da
qual as pessoas se disponibilizam a qualquer coisa
para se encaixar nesse padrão e, portanto, se sentirem
amadas. (CARVALHO, FREITAS e FERREIRA, 2016)

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Consequências de uma
imagem corporal negativa
Alterações na imagem corporal podem trazer
consequências desastrosas ao indivíduo, como o
desenvolvimento de transtornos alimentares, elevação de
sintomas depressivos (ou mesmo, depressão), baixa
autoestima, aumento da ansiedade, elevado grau de
comparação social, com consequente diminuição da
qualidade de vida e saúde dos indivíduos e falarei melhor
sobre esses problemas agora (Cash & Smolak, 2011).

Transtornos Alimentares
Os transtornos alimentares são adoecimentos
psiquiátricos graves e vemos com maior
frequência sintomas de distorção corporal em
quadros de anorexia nervosa e bulimia nervosa,
tendo o paciente uma imagem completamente
distorcida de sua real imagem, ou seja, muito
relatam se ver com um maior peso do que
realmente o tem.

No transtorno dismórfico corporal, transtorno esse classificado no


DSM-V como um transtorno relacionado aos transtornos
obsessivos-compulsivos, os indivíduos são preocupados demais
com um ou mais defeitos percebidos em sua aparência física, que
acreditam parecer feias, sem atrativo, anormal ou deformado, tais
falhas para as demais pessoas não são observáveis ou aparecem de
maneira leve.
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Em um indivíduo com transtorno alimentar, as
preocupações com ser gordo são consideradas um sintoma
do transtorno alimentar em vez de transtorno dismórfico
corporal. No entanto, preocupações com o peso podem
ocorrer num transtorno dismórfico corporal. Os transtornos
alimentares e o transtorno dismórfico corporal podem ser
comórbidos; nesse caso, ambos devem ser diagnosticados
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2023).

Depressão e Ansiedade
“O corpo é o inconsciente visível” afirmava
Wilhelm Reich. O corpo é a nossa memória
mais arcaica, nele nada é esquecido. Cada
acontecimento que nos acomete,
principalmente na primeira infância, deixa
no corpo uma marca profunda (LELOUP,
2015).

Digo tudo isso para dizer que, aos termos a


nossa autoestima afetada pela nossa
imagem corporal, a depressão e ansiedade
podem se apresentar tanto como sintomas
físicos quanto psíquicos.

Para a psicanálise a aparência está na base


de constituição do sujeito, ajudando na
construção do sentimento de si, ao passo
que isso está fragmentado e a comparação
se inicia o sentimento de culpa,
insuficiência, tristeza, inadequação, são
diários, causando assim sintomas de
ansiedade e depressão.
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Isolamento Social

É então, que diante das situações apresentadas, o indivíduo passe a


buscar pelo isolamento social, acreditando não pertencer ou não haver
espaço para ele, entendendo ser essa a forma mais segura.

Mesmo que haja convites, a pessoa passa a não mais investir nas
relações sociais e quando muito, esconde parte de seu corpo na
tentativa de camuflar alguma parte para se sentir um pouco
confortável. Passa também a acreditar que todo e qualquer olhar seria
pejorativo e de tiração de sarro, afinal a sua experiência por alguma
razão lhe confirma isso.

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Promovendo uma imagem
corporal positiva
Aceitação do Corpo
Busque entender as suas próprias questões em relação a sua
imagem corporal. Mesmo que se sinta insatisfeita com o corpo,
procure não fazer comentários negativos sobre seu corpo. Evite fazer
comentários também sobre o peso de outras pessoas, pois desta
forma você estará promovendo a perpetuação do estigma do peso
tão frequente hoje na nossa sociedade. Fale de seu corpo de uma
forma positiva; demonstre aceitação das diferentes formas corporais;
e fale com você mesmo da importância de se ter um corpo ativo e
saudável e não o magro e musculoso.

Autocuidado e autoestima
Entenda que ser um modelo de
escolhas alimentares saudáveis não
significa fazer restrições ou excluir
alimentos considerados como
“ruins” ou “proibidos”. Sabemos que
a restrição em excesso aumenta o
risco de em algum momento você
querer comer muito do alimento
que foi privado, podendo até
mesmo caracterizar uma compulsão
alimentar
15
Também já é consenso que fazer dieta, pular refeições, também pode
promover um aumento da preocupação com peso e comida, e
consequentemente de problemas relacionados ao peso, como
obesidade e transtornos alimentares. Promover autocuidado e
autoestima é também: ter alimentação diversificada com todos os
tipos de alimentos; tomar o café da manhã todos os dias, fazer das
refeições um momento prazeroso e relaxante, que promova boas
memórias alimentares, praticar atividades físicas que possam ser
prazerosas e buscar ajuda psicológica para ressignificar a imagem
pessoal.
Estratégias para lidar com a pressão social
Por fim, criar um ambiente de muita conversa e
escuta é essencial. É através desta atenção que
podemos perceber possíveis preocupações com
o peso. É preciso deixar claro que se nesse
momento você não pode se aceitar com a forma
que está, buscar a neutralização de algumas
partes até que possa transformá-las é natural e
saudável, afinal a identidade de cada um vai
muito além da aparência física, é muito
importante para construção da sua autoestima
corporal.

Existe também uma recomendação de


diminuição do uso das redes sociais, para que os
níveis de comparação possam ser diminuídos e
que haja a oportunidade de olhar para si. Nesse
consumo frenético fica muito latente em nós a
quantidade de imagem de corpos e a ideia de
que uns são melhores que outros, aumentando a
pressão estética
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Como apoiar os outros na
jornada da imagem
corporal
Aqui o recadinho vai para quem convive com alguém que tem uma
relação difícil com a imagem corporal. As nossas atitudes como rede
de apoio também podem auxiliar nesse processo de cuidado e na
promoção de saúde.

Entenda que você pode não compreender o sentimento de quem


passa por isso e está tudo bem, mas o que você jamais poderá fazer é
invalidar a fala, o pensamento e os sentimentos de quem por alguma
razão diz não estar em paz com a imagem que tem de si.

Portanto, anote essas dicas:

▪ Não comentar sobre o corpo alheio, não importa de quem, a


máxima vem da ideia de que se você fala, que seja de um
desconhecido, falará de alguém que conhece; Engordar ou
emagrecer não é pauta de reencontro, evite falar sobre o tamanho
do corpo de alguém como uma forma de retomar uma conversa ou
algo assim, você não sabe o que aconteceu nesse processo.
▪ Com essas pessoas evite falar sobre as suas preocupações
corporais, ela não será uma boa ouvinte.
▪ Não seja juiz de prato, não julgue a alimentação dessa pessoa.
▪ Incentive ela na busca por ajuda profissional, esteja atento e tente
ser o mais acolhedor possível ao lidar com esse assunto.

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▪ Se mostre disponível a ouvir o que ela tem para dizer sem que
para isso a sua “sinceridade” precise entrar em cena.
▪ Se eu não sei, eu não falo, voltamos ao ponto do incentivo de
busca por profissionais capacitados.

Ou seja, ter uma comunicação eficaz e


construir empatia com aquele que sofre
com a imagem corporal é a melhor
ajuda que podemos oferecer. Em minha
experiência, uma das maiores queixas
dos pacientes que carregam esse
sofrimento é encontrar uma rede de
apoio que auxilie nessa melhora. Por
vezes seus sentimentos acabam sendo
de incompreensão, afinal mesmo que
sinalize a sua dor isso é tratado como
uma grande besteira. Numa outra
perspectiva, há também aqueles que
continuam mantendo um
comportamento negativo, ou seja,
mesmo que tais pontos já tenham sido
sinalizados, mantém-se a mesma
dinâmica: falas sobre corpos em rodas
de família, hiper-valorização de corpos
magros, julgamento alimentar, proposta
de tratamentos estéticos para
emagrecimento, etc.

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Exercícios para melhora
da imagem corporal
Nesse capítulo separei dois exercícios para que você já possa
começar a praticar na sua casa, mas é claro não se esqueça de buscar
aquela ajuda profissional que ao longo de todo o e-book comentei.
Então se prepare e vamos lá…

Autopercepção
Aqui vou te ensinar uma prática muito significativa, afinal ao
estarmos desconectados ficamos com mais dificuldades em perceber
a nossa real complicação. Como eu disse, pessoas com imagem
corporal distorcida podem se ver maiores do que realmente são e
esse exercício nos ajudará nisso.

Escolha um lugar confortável para que você possa se sentar, um local


que não tenha muito barulho e as pessoas não fiquem entrando e
saindo toda hora para não lhe atrapalhar na concentração. Recoste no
local, coloque seus pés bem- posicionados no chão e as mãos sobre
as coxas.

Inicie um processo de respiração de 4 tempos, ou seja, inspire


contando até 4, segure o ar por 2 segundos e expire novamente
contando até 4. Nesse momento não é necessária uma respiração de
forte estufamento dos pulmões, não é necessário causarmos esse
machucado, essa respiração serve como forma de tranquilização dos
pensamentos e, portanto, deve ser leve.

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Autoaceitação
Para podermos começar o trabalho de autoaceitação, precisaremos
convocar a autocompaixão. Entenda que, esse processo não te levará
para um amor por algo que você realmente nesse momento não pode
amar, mas pelo menos para a tentativa de neutralizar aquilo que hoje
chama demais a sua atenção e acaba te prejudicando
psicossocialmente. Por isso agora você tentará fazer uma lista das
características de coisas que você gosta em seu corpo e depois uma
lista das coisas que você não gosta, aquilo que, na sua avaliação, não
são bonitas ou precisam de “reparos”. Posterior a esse momento o
exercício será de reconhecimento em uma humanidade
compartilhada, ou seja, como as pessoas de maneira geral se
sentiriam dentro dessa mesma questão.

Exemplo: Você acha que outras pessoas se sentem de forma parecida?


Existe a possibilidade da sua insatisfação corporal, ser apenas o que é
humano na sociedade atual?

Dessa maneira, nesse exercício é possível que você perceba que essa
sua demanda tem possibilidade de ser compartilhada e você de ser
compreendido em sua necessidade.

Por fim, após responder essas perguntas, voltaremos ao exercício de


autopercepção, mas agora com um olhar de autocompaixão. Com isso
quero dizer a seguinte questão: se uma amiga sua se queixasse sobre
as dores que você tem sentido, como você falaria com ela? Seria a
mesma maneira como você tem falado com você?

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Conclusão
A imagem corporal é um fator importante para a saúde mental e bem-
estar do indivíduo. O trabalho orientado para aceitação e acolhimento
de todos os corpos a partir da compreensão dos conceitos-chave
visitados no livro são o começo da jornada de uma atuação mais
consciente.

Agora espero que você possa começar a refletir sobre esse assunto de
uma maneira diferente, sendo esse o começo do seu cuidado, mas não
a finalização dele.
Diante de toda a complexidade dessa situação, a busca por
profissionais especializados é fundamental e como eu sempre digo,
não deixe para amanhã o que você já pode começar a fazer hoje!

Este sofrimento não é apenas “coisa da sua cabeça”, ele se torna mais
do real quando passa a ser diário e, portanto, causador de problemas
como isolamento social, transtornos alimentares, depressão, etc.

21
Referências
BRITO, Aline de Alves e SIMÕES, Rakel Passos. Disfunção de
Imagem: As relações entre as redes sociais e a construção da
imagem corporal. Revista Acadêmica novo Milênio, Espírito Santo,
V.3, N 4, 2021.

FERNANDES, Katia. Impacto das Mídias Sociais Sobre a


Insatisfação Corporal e Risco de Transtornos Alimentares e
Depressão em Estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto.
Ouro Preto, Minas Gerais, jul/2019.

KELEMAN, Stanley. Mito e Corpo: Uma conversa com Joseph


Campbell. Editora Summus Editorial, 3º ed. São Paulo, 2001
LELOUP, Jean-Yves. O Corpo e Seus Símbolos – Uma antropologia
essencial. Editora Vozes, 23º ed. Petrópolis, 2015.

LIRA, Ariana G.; GANEN, Aline P.; LODI, Aline S.; ALVARENGA,
Marle S. Uso de Redes Sociais, Influência da Mídia e Insatisfação
com a Imagem Corporal de Adolescentes Brasileiras. J. Bras
Psiquiatr. 2017; 66(3): 164-71.

VARGAS, Eliza G. A. A influência da Mídia na Construção da


Imagem Corporal. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 2014; 29
(1): 73-5.

22
Para Saber Mais
Que corpo é este que anda sempre comigo? Corpo,
imagem e sofrimento psíquico
Aborda a ampla discussão sobre os "discursos do corpo" na contemporaneidade.
Do culto ao corpo à obrigação de ser bela, da dor do envelhecimento à anorexia
e automutilação de jovens adolescentes, da obesidade infantil ao trauma inscrito
no corpo, do percurso da feminilidade às imagens da mulher nas telas, do corpo
na religião aos corpos encarcerados, da alimentação à psicossomática; esses são
alguns dos temas percorridos nesta obra. Com a delicadeza dos que cuidam do
sofrimento humano, com o rigor dos que conhecem a vida acadêmica e dando
continuidade à tradição de escrever com clareza, humor e sensibilidade, as
organizadoras apresentam-nos um livro não apenas informativo, mas, sobretudo,
instigante e atual, tal qual as pesquisas que desenvolvem no Laboratório
Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social, LIPIS, junto com vários dos
autores aqui presentes. Augusto Sampaio Vice-Reitor Comunitário da PUC-Rio

23
Para Saber Mais

O vício da perfeição: compreendendo a


relação entre distúrbios alimentares e
desenvolvimento psíquico
Este livro explora os temas Anorexia Nervosa, Bulimia e
Obesidade. Com a apresentação de vários casos clínicos, a
conceituada autora verifica a relação dessas síndromes com
o momento sociocultural, a mitologia, a literatura e
principalmente a psicologia profunda de C. G. Jung.

Corpo e seus símbolos: uma


antropologia essencial
Com grande lucidez e sabedoria, da planta dos pés à
cabeça, Leloup percorre o universo da corporeidade
lendo-o, sempre, através de uma ótica trinitária: a
somática, a psíquica e a espiritual, devolvendo-lhe a sua
beleza e seu mistério. Cada parte do corpo conta-nos
múltiplas estórias, transpirando símbolos e aventuras
míticas, desvelando o horizonte multicolorido da inteireza
humana.

24
Sobre a autora

Tawane Sudan é Bacharel em Psicologia pelo Centro


Universitário Fundação Santo André e com especialização em
Psicologia Analítica pelo Instituto Freedom, atualmente com foco
na área de Psicologia Clínica. Especialista na relação com os
alimentos, ajuda pessoas a compreenderem qual o real papel da
comida em sua vida e o quanto muitas vezes vilanizamos
alimentos. Além disso, desenvolvendo trabalhos no âmbito
alimentar, também trabalha a autoestima, a quebra de tabus e do
estigma sobre os padrões de beleza.

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