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Artigo publicado

na edição 45

Marco e Abril de 2015


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:: artigo

em armazéns Foco no resultado, na busca da


eliminação dos desperdícios e da quebra
de hábitos ultrapassados nos armazéns
“É impossível haver progresso sem mudança e quem não consegue mudar a si mesmo não muda coisa alguma” (George Bernard Shaw).

O Programa 5S vai muito além do que organizar os armazéns, é


uma mudança cultural, quebrando paradigmas antigos, em prol
de armazéns mais eficientes, focados na redução de desperdícios e
no aumento da lucratividade. É algo que deve estar no sangue e na
respiração daqueles que fazem o dia a dia dos armazéns, construindo o
resultado a cada minuto. Porém, para isso, deve ser praticado, cobrado
e aperfeiçoado, constantemente, por todos, visando à eficiência do
resultado final das operações de armazenagem.
Nesse artigo, será demonstrada a importância da aplicação dos
conceitos de 5S em armazéns, bem como o entendimento Lean para
essa aplicação. Um bom nível de 5S, certamente, trará muito benefício
a qualquer armazém, principalmente, no que se refere à redução de
diferenças em inventário, velocidade de separação e atendimento ao
First In, First Out (FIFO).
Viviane Pimenta
Mestranda em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo (FPL) e especialista em Logística – Logística Estratégica e Sistemas de
Transportes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Logística de Abastecimento e Terceirização pela Fundação
Getulio Vargas (FGV) Online, é bacharel em Administração de Empresas pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC).
Com nove anos de experiência em operações logísticas e produtivas, atualmente, é sócio-diretora da Logística Líder Consultoria
e Treinamento, professora universitária e de MBA nas temáticas de Logística e Produção, diretora do Núcleo Sete Lagoas e
Microrregiões da Associação Brasileira dos Consultores (ABCO), secretária administrativa do Grupo Ação Empresarial e colunista no
site www.setelagoas.com.br sobre o tema logística. Atuou, durante cinco anos, na Companhia de Bebidas das Américas (Ambev).
consultoria@logisticalider.com.br.

Bruno Martinelli
Graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade de Itaúna (UI), especialista em Logística Estratégica e Sistemas
de Transporte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com experiência em operações logística e produtivas etc, foi
professor titular das disciplinas de Elementos de Máquinas, Gestão da Manutenção, Gestão de Estoque e Desenho Industrial, em
cursos de graduação tecnológica. Na Engenharia de Manufatura das Empresas FIAT Powertrain e ZF Sistemas de Direções, atuou,
também, como coordenador de implantação de World Class Manufacturing (WCM), na ZF, e na indústria automotiva, por 22 anos,
sendo os últimos 18 desses anos diretamente em setores de Engenharia de Processos, Manutenção e Manufatura.
consultsenior01@logisticalider.com.br

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á parou para pensar que pode- ou característica dos produtos, pode
mos e devemos ganhar dinhei- até ocorrer obsolescência dos produ-
ro com as operações de arma- A aplicação tos, pois não são encontrados onde
zenagem? Claro que sim, apesar de sistemática dos o sistema informa. Existem formas
os armazéns serem, por sua própria que minimizam esses erros, como a
natureza, geradores e mantenedores
conceitos de 5S pode confirmação duplicada de endereça-
de custos, podem também ser, para minimizar muito as mento por código de barras. Porém,
as organizações, operações extrema- perdas implícitas de essas formas, normalmente, implicam
mente lucrativas, baseadas na redu- em acréscimo no tempo de armaze-
ção de custos, sem que isso impacte problemas. nagem.
no nível de serviço de fornecimento A aplicação sistemática dos con-
dos itens ali armazenados para seu ceitos de 5S pode minimizar muito as
cliente final. perdas implícitas dos problemas citados anteriormente,
Com a automatização acelerada dos ambientes in- permitindo a continuidade das operações, em caso de
dustriais, incluindo as operações de armazenagem, sepa- queda dos sistemas, minimizando os possíveis erros de
ração de pedidos e expedição, e com a informatização operação, otimizando o tempo de adaptação de novos
dos procedimentos gerenciais (Warehouse Management funcionários, melhorando o ambiente de trabalho, entre
System (WMS), Manufacturing Resource Planning (MRP) outros ganhos, que auxiliam na eficiência dos armazéns.
e Enterprise Resource Planning (ERP)), muitos gestores
O QUE É O 5S EM ARMAZÉNS
de armazéns têm se esquecido da organização, limpe-
A metodologia 5S foi desenvolvida por Kaoru Ishi-
za, manutenção e identificação física desses locais. Nos
kawa, na década de 1950, no Japão. A sua criação teve
tempos atuais, há a tendência de se acreditar que os
como finalidade acelerar a organização e a recuperação
sistemas são infalíveis e suas informações 100% confiá-
da economia do país, arrasado no pós-guerra. Os re-
veis, que, com a adoção da automatização, não haverá a
sultados foram tão bons que, até hoje, é considerado o
necessidade de separações manuais e que o ambiente
principal instrumento de gestão da qualidade e produti-
de trabalho deixa de ser importante, uma vez que os
vidade no Japão. A aplicação sistemática dessa metodo-
robôs não se importam se está sujo ou limpo, claro ou
logia, por si só, leva à melhoria contínua. Devido às suas
escuro, identificado ou não.
características, as pessoas começam a entender melhor
No entanto, esquecem de que sempre haverá a ne-
os processos, a importância de suas atitudes dentro do
cessidade de intervenções humanas, nos processos lo-
resultado final, além de enxergar mais facilmente como
gísticos de um armazém, senão no dia a dia, certamente,
melhorar os processos existentes.
durante a realização de trabalhos extraordinários, como
Essa aplicação contínua dos 5S, nos ambientes fabris,
manutenções, auditorias, modificações, ampliações etc.
principalmente nos sistemas enxutos de produção, base-
Nesse momento, todos os ganhos com esforços econo-
ados no Toyota Production System (TPS), e também suas
mizados na organização desses ambientes são anulados
adaptações para diferentes culturas e ambientes fizeram
pela ineficiência imputada às tarefas anteriores.
com que surgissem vertentes específicas do 5S para
Além disso, a maioria dos armazéns brasileiros não
atender a princípios e boas práticas desses sistemas de
é automatizada em níveis elevados. O modelo mais en-
produção, como é o caso dos 5T (uma derivação do
contrado nas empresas, ultimamente, é os armazéns in- segundo passo dos 5S), aplicado primordialmente em
formatizados com sistemas WMS (ou módulos de ERP), processos logísticos ligados à produção contínua, sendo
que, basicamente, fazem uma boa gestão da localização, fundamental para a organização de materiais lado linha
quantidades, entradas e saídas de um almoxarifado. En- e em área de picking2, nos armazéns.
tretanto, todas as operações de movimentação, leitura O 5S dentro de um armazém, assim como em todas
de códigos e lançamentos de dados são executadas por as áreas de atividade industrial, tem como objetivo não
colaboradores e, por consequência, passíveis de inserção somente a limpeza, mas também a criação de um am-
de erros. Como nesses casos os sistemas normalmente biente favorável à exposição dos desperdícios inerentes
utilizam acomodações dinâmicas para os Stock Keeping ao processo. Mais do que enxergar esses desperdícios,
Unit (SKU1), possíveis erros de operação, dificilmente, é entendê-los como desperdícios. Isso faz as organiza-
são identificados. Dependendo do porte do armazém ções buscarem eliminá-los. Dentro de um armazém, os
1. SKU: Unidade de Manutenção de Estoque. 2. Picking: Separação de pedidos.
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ERRO DE
IDENTIFICAÇÃO

UTILIZAÇÃO/SELEÇÃO
INVENTÁRIOS MOVIMENTAÇÃO E SEIRI
DESNECESSÁRIOS TRANSPORTE
AUTODISCIPLINA ORDENAÇÃO/
SHITSUKE ORGANIZAÇÃO SEITON
EXCESSO DE
MATERIAL

ESPERA
ERRO DE
5S
LOCALIZAÇÃO
PADRONIZAÇÃO/
CONSERVAÇÃO LIMPEZA SEITSO
PROCESSOS SEITKETSU
DESNECESSÁRIOS

Figura 1: Os sete desperdícios no armazém. Figura 2: Os 5 Sensos.

principais desperdícios podem ser resumidos como na padronizado deve ser mantido, regras têm de ser
Figura 1. obedecidas, não confiar na memória e sim nos mé-
todos.
OS PASSOS
Apesar de existirem vertentes e nomenclaturas dife- A APLICAÇÃO
rentes para cada passo do 5S, a base é sempre a mesma A metodologia 5S, nos armazéns, deve seguir as
e pode ser descrita como sendo: mesmas premissas de implantação da metodologia, que
1. Separação (Senso de Utilização (Seiri)): Eliminar os são adotadas em programas 5S, nas organizações. As
itens obsoletos, equipamentos inutilizados, embala- estratégias como definição do dia “D”, para marcar a
gens desnecessárias e tudo o mais que for desneces- abertura do programa, o destaque das ações de mutirão
sário. O metro cúbico é dinheiro. dos 5Ss (dias de trabalho intensivo em cada “senso”),
2. Organização (Senso de Organização (Seiton)): Aplicar, a participação e o respaldo dos diretores, gerentes e
sempre que possível, a metodologia 5T, para definir a demais lideranças do armazém, para gerar credibilidade
organização dentro do armazém. ao programa, a criação da área de quarentena para itens
a. Ter posição fixa, exceto quando é necessária a obsoletos ou desnecessários, a identificação visual do
adoção de armazenamento; dinâmico. Programa 5S na área, com a utilização de gestão à vista,
b. Ter rotas fixas; os informativos internos de divulgação do programa e
c. Ter quantidades fixas; do resultado alcançado, os treinamentos com o time, e a
d. Ter fácil identificação; formação de auditores internos para a manutenção do
e. Ter diferenciação por cores. programa, por meio de auditorias periódicas, são neces-
3. Limpeza (Senso de limpeza (Seisou)): Tornar o am- sários para o sucesso do programa.
biente limpo e iluminado, com segurança nas ope- Um ponto importantíssimo, também, para a manu-
rações. tenção da essência do 5S na área, é estabelecer uma
4. Normalização (Senso de Padronização (Seiketsu)): periodicidade para a repetição do dia “D”. Repetir as
Padronizar as atividades, etiquetas, sinalização, rotas e ações de mutirão para a realização dos 5S ajudará na
posições. “Procedimentos & identificação”. fixação da metodologia.
5. Disciplina (Senso de Disciplina (Shitsuke)): O que foi Os sensos de separação, organização e limpeza são
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ações básicas, que levarão aos times dos
armazéns a quebra de seus hábitos anti-
gos, para criar a verdadeira consciência de Armazéns eficientes
desenvolver procedimentos e de segui-los
como algo natural na rotina. Os sensos de
são aqueles que
normatização e disciplina são os mais desa- operam de maneira
fiadores, na implantação do programa, pois enxuta, sem prejudicar
trazem à tona o pensamento de novas ma-
neiras de realizar as rotinas sem desperdício o nível de atendimento
de equipamento, tempo, dinheiro, pessoas, e aos clientes internos
a disciplina de fazer disso uma rotina natural e externos, com
dentro das operações, que não podem pa-
rar e não devem errar. redução de custos,
Contar com o apoio externo também é tempo e materiais
necessário, pois, muitas vezes, é difícil a iden-
tificação dos desperdícios que estão na ro-
desnecessários.
tina diária de trabalho por aqueles inseridos
nas rotinas (os desperdícios passam a ser
paisagem normal). A visão de quem não está inserido nessa rotina pode ajudar muito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O 5S nada mais é do que uma boa dose de bom senso nas operações de arma-
zenagem. A sua prática deixa o armazém não apenas limpo e organizado, mas leva
à padronização correta das atividades, à destinação e à identificação adequadas dos
materiais, e ao aprendizado, em conjunto com o time envolvido, da importância de
melhorar a maneira de como são executadas as atividades. A metodologia 5S prevê
o compartilhamento de conhecimento e o aprendizado contínuo, por meio da prá-
tica, gerando crescimento pessoal, profissional e eficiência logística da operação de
armazenagem.
Armazéns eficientes são aqueles que operam de maneira enxuta, sem prejudicar
o nível de atendimento aos clientes internos e externos, com redução de custos,
tempo e materiais desnecessários.
O sucesso do programa, nas operações de armazenagem, dependerá muito do
correto uso da metodologia e do profundo conhecimento das operações. Apesar da
praticidade, objetividade e simplicidade da metodologia do 5S, ele atua na maneira
como as atividades do armazém são realizadas, busca uma rotina ágil, porém organi-
zada, padronizada, enxuta e, para tal, as rotinas, há muito tempo realizadas, poderão
ser modificadas e deverão ser entendidas e abraçadas pelo time. Esse é o grande
desafio da metodologia 5S, proposta pelos japoneses, que busca a conscientização de
melhores práticas, construindo essa conscientização, em conjunto com todo o time,
desde a alta direção até os profissionais da base operacional.
“Para mover seu armazém, o primeiro passo é mover a si mesmo” (adaptação da
frase de Platão).

Referências
SHINGO, Shigeo. O sistema Toyota de produção: do ponto de vista da engenharia de produção.
Porto Alegre: Bookman, 1996.
MONDEN,Yasuhiro. Produção sem estoques: uma abordagem prática do sistema Toyota de
produção. São Paulo: IMAM, 1984.
MOREIRA, Maria Suely. Programa 5S e você: muito além das aparências. 2 ed. Nova Lima: Editora
FALCONI, 2014.
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