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LIVRO: MONDELLI

FUNDAMENTOS DE DENTISTICA OPERATÓRIA – 2ª EDIÇÃO

1 – CAPITULO 1
NOMENCLATURA E CLASSIFICAÇÃO DAS CAVIDADES

1.1 - CONCEITO:

A Dentística é a especialidade da Odontologia que estuda e aplica de maneira integrada o


conjunto de procedimentos semiológicos, operatórios, preventivos, terapêuticos e educativos
com o objetivo de preservar e devolver ao dente, órgão do sistema estomatognático, sua
integridade estrutural, funcional e estética.

1.2 – CARIOLOGIA:

Carie dentária: termo usado para descrever os sinais e sintomas de uma dissolução
química da superfície dentária causada por eventos metabólicos que ocorrem no biofilme da
área afetada. A destruição pode afetar o esmalte, a dentina e o cemento, e as lesões podem se
manifestar clinicamente de maneiras variadas.

As lesões de cárie dentária são o resultado do desequilíbrio fisiológico entre o conteúdo


mineral do e o fluido do biofilme.

TIPOS DE CÁRIES:

a) Primárias: lesões em
superfícies dentárias naturais
intactas.

b) Secundárias ou recorrentes:
adjacente a uma restauração
(etiologia similar à das cáries
primárias).

c) Residuais: é um tecido
desmineralizado que foi mantido
antes da colocação de uma
restauração.

Como se mensura a severidade da cárie? Tendo em conta a lesão, ou seja, o tamanho


da cavidade. Lesões iniciais revelam danos no esmalte e nos casos mais avançados, na dentina
e eu necrose na polpa.

Desde o primeiro levantamento nacional, realizado em 1986 (BRASIL, 1988), observou-


se um declínio da doença cárie na população infantil: a média de CPO-D aos 12 anos caiu de
6,7 dentes para 2,8 dentes em 2003 (BRASIL, 2004b). Já na população adulta (35-44 anos), os
índices se mantiveram constantes e elevados: 21,8 em 1986 e 20,1 em 2003.
A formação da dentição permanente com o acréscimo de flúor através da fluoretação
da água pode ter promovido a elaboração de estruturas dentárias mais mineralizadas e
resistentes.

O flúor acelera a maturação pós-eruptiva dos dentes (pequenas trocas diárias com o
meio tornam a superfície do esmalte gradativamente mais resistente) das crianças, diminuindo
seus índices. Como os dentes adultos já estão a mais tempo na boca, o flúor impacta menos
nesse aspecto.

Onde a CD pode atuar, onde o indivíduo pode atar e onde as políticas públicas podem
atuar na redução da cárie? Individualmente, através da utilização de produtos fluorados -
soluções para bochechos, gelfluoretado e verniz fluoretado.

ATF (aplicação tópica de flúor): Para instituir a aplicação tópica de flúor (ATF), o ideal é
que se faça o diagnóstico da doença nos estágios iniciais, ou seja, lesões em esmalte com a ATF
por profissionais ou uso de selantes oclusais. Recomenda-se levar em consideração a situação
epidemiológica (risco) de diferentes grupos populacionais do local onde a ação será realizada
para populações nas quais se constate uma ou mais das seguintes situações:Exposição à água
de abastecimento sem flúor;

 Exposição à água de abastecimento contendo naturalmente baixos teores de flúor (até


0,54 ppm F);
 Exposição a flúor na água há menos de 5 anos;
 CPOD maior que 3 aos 12 anos de idade;
 Menos de 30% dos indivíduos do grupo são livres de cárie aos 12 anos de idade
(BRASIL, 2004a), e doença cárie ativa.

Toda lesão de cárie, independentemente do seu grau de progressão ou tecido dentário


envolvido, é passível de paralisação desde que se restabeleça o reequilíbrio entre os
processos de desremineralização.

Princípio de manutenção do equilíbrio descrito por Le Chatelier pode ser simplificado


em outra definição:
“Se um estresse é aplicado a um sistema em equilíbrio, a condição de equilíbrio é perturbada,
uma reação ocorre na direção que tenta aliviar o estresse, e um novo equilíbrio é obtido.”

A principal alteração que ocorre na cavidade bucal e perturba o equilíbrio entre o


mineral e os fluidos bucais é a redução do pH.

As cáries se iniciam por uma desmineralização dos cristais de hidroxiapatita biológica


localizados na superfície do esmalte, resultando clinicamente em aspecto poroso e com perda
de brilho. A lesão de mancha branca é caracterizada por uma desmineralização acentuada da
subsuperfície (ainda não sofreu perda estrutural - cavitação).

O pH crítico para a dissolução do esmalte é 5,5 e para a dentina é 6,2 - 6,3.


Aproximadamente neste pH, os fluidos bucais deixam de possuir íons minerais com atividade
suficiente para manter a estrutura mineral íntegra - resultando assim em sua dissolução.

Remineralização: os cristais totalmente dissolvidos da região subsuperficial da lesão


raramente se formarão novamente. Se a lesão for muito extensa, ela apenas diminuirá de
tamanho, mas não desaparecerá totalmente, mas resulta em endurecimento da lesão ativa.
FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL CARIOGÊNICO E O DESENVOLVIMENTO DE LESÕES DE
CÁRIE

Adesão inicial de microrganismos na superfície dental: ocorre pela interação de


receptores presentes na superfície microbiana com a película adquirida, a fina camada de
proteínas aderidas sobre a superfície dental exposta à saliva.

Biofilme complexo: Essa comunidade pioneira, no entanto, rapidamente dá lugar a um


biofilme mais complexo, resultado da agregação de outros microrganismos àqueles
inicialmente aderidos, da produção de matriz extracelular e da multiplicação da microbiota
mais bem adaptada à condição ambiental à qual o biofilme está exposto. Comumente, as
células microbianas ocupam 70% do volume do biofilme, sendo o resto ocupado pela matriz
extracelular e pela porção líquida do biofilme dental (fluido do biofilme).

Queda do pH: minerais contendo fosfato são naturalmente solúveis em ácido, além
disso, as interações iônicas entre Ca++ e cargas negativas em bactérias e proteínas libertam o
Ca++ para o fluido do biofilme. Assim, durante uma queda de pH no biofilme, espera-se um
aumento natural na concentração de íons cálcio, fosfato e fluoreto no fluido do biofilme
dental, que podem então funcionar como tampões minerais, tendo em vista que íons liberados
do biofilme que limitam a dissolução de minerais da superfície dental durante uma queda de
pH. No entanto, mediante alta frequência de exposição do biofilme a esses açúcares, o
biofilme conterá menor concentração desses reservatórios inorgânicos, devido a sua frequente
dissolução/liberação.

Efeito imediato: após a exposição do biofilme dental a açúcares fermentáveis, tem


início a queda de pH neste biofilme. A curva de pH do biofilme dental em função do tempo
(CURVA DE STEPHAN) tem características bem conhecidas. O efeito é mais acentuado e rápido
mediante a exposição a carboidratos simples e rapidamente fermentáveis, como glicose,
frutose e sacarose, e menos acentuado e mais lento mediante a exposição a polissacarídeos
da dieta, como o amido.

Efeito de frequentes quedas de pH no biofilme dental: resultará em uma seleção


ecológica de microrganismos mais adaptados a esse ambiente. Ocorre uma seleção de
microrganismos ácido tolerantes (acidúricos), causando uma modificação ecológica do biofilme
(de uma microbiota compatível com saúde bucal para uma microbiota cariogênica).

Triade de Keyes: A partir do modelo originalmente microbiano surge a proposta de


Keyes, denominada de Tríade de Keyes, em 1960. Esse modelo explica a etiologia da cárie
exclusivamente pela intersecção dos fatores primários: hospedeiro susceptível, microbiota e
substratos cariogênicos. O modelo tinha como fundamento a inexistência de produção de
cárie, caso fosse removido um dos fatores primários. A Tríade de Keyes, modelo explicativo
para a cárie dentária, foi modificada por Ernest NEWBRUN, em 1983, que inclui no diagrama
de Keyes um quarto círculo representando o tempo como fator etiológico, que deve agir
simultaneamente com os outros fatores para desenvolver a cárie. Esse diagrama foi chamado
de modelo de Keyes modificado. Contudo, o modelo multicausal continua centrado no
biológico. Posteriormente, as pesquisas demonstraram que o processo carioso é complexo e
requer além do consumo frequente de carboidratos e o acúmulo de bactérias acidogênicas, a
interação com outros fatores modificadores do hospedeiro, por exemplo, a saliva.

Fatores que afetam a progressão da cárie


● Idade do biofilme: biofilmes maduros formados sob exposição contínua a açúcares
fermentáveis são mais cariogênicos do que biofilmes jovens;

● Frequência de exposição diária a açúcares fermentáveis: quanto maior, mais rapidamente


serão visualizadas lesões de cárie;

● Acesso à saliva: regiões com menor acesso à saliva (região anterior superior), especialmente
em pacientes realizando sucção de mamadeira ou pacientes com redução patológica do fluxo
salivar, apresentam quadros rampantes de cárie;

● Acesso ao flúor: a presença de fluoreto nos fluidos bucais modifica o processo de


desmineralização/ remineralização, reduzindo a velocidade de progressão das lesões de cárie.

ASPECTOS CLÍNICOS E HISTOPATOLÓGICOS DA CÁRIE

Secagem da lesão: Para se estabelecer um bom diagnóstico de cárie dentária, a


superfície dental deve estar absolutamente limpa e seca para que sejam evidenciadas as
lesões em estágio bem inicial. Note a diferença do dente depois de cinco segundos de secagem
da lesão cariosa não-cavitada.

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