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vol. 2 - 2022
Comunicação e Multimeios - Universidade Estadual de Maringá
Sertão
Coordenação: Prof. Dr. Rodrigo Gontijo
Projeto Gráfico: Beatriz Senger
APRESENTAÇÃO
“O sertão está em toda a parte”. A frase de Riobaldo, que se encontra nas primeiras páginas do livro “Grande Sertão: Veredas” de João
Guimarães Rosa, sintetiza o significado de sertão. Inicialmente, o termo que tem origem na palavra desertão, foi usado pelos portugueses
para designar as terras desabitadas pelo dominador, distante do litoral e das cidades. Com a publicação de “Os Sertões” em 1902, Euclides
da Cunha, ao falar de Canudos, contribuiu para a associação do termo sertão com região semiárida do nordeste brasileiro. Porém, o
sentido desta palavra extrapola territórios, biomas e ecossistemas, podendo ser compreendido também como um imaginário simbólico
povoado de afetos. Riobaldo complementou: “sertão é confusão em grande demasiado sossego [...] Sertão: é dentro da gente.”
Na disciplina “Projeto em Comunicação IV”, ministrada no primeiro semestre letivo de 2021 no curso de Comunicação e Multimeios da
UEM, realizamos uma reflexão sobre o imaginário da palavra sertão através do cinema brasileiro.
O Caderno de Cinema vol.2, com textos elaborados pelos alunos, se tornou então uma jornada por movimentos, histórias e linguagens do
cinema brasileiro atravessadas pelo o cangaço, cinema novo, cinema documental, experimentações de linguagem, cinema indígena,
adaptações literárias, filmes de estrada, cinema da retomada, cinema contemporâneo até chegar em Bacurau.
Desejamos a todos, todas e todes uma boa viagem pelos filmes indicados e “se for, vá na paz”!
Rodrigo Gontijo
Professor do curso de Comunicação e Multimeios da UEM
Coordenador do Cine UEM
Fragmentos de “Grande Sertão: Veredas”
de João Guimarães Rosa
O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que
quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está
em toda a parte. [...]
Mas o sertão está movimentante todo-tempo – salvo que o senhor não vê; é que
nem braços de balança, para enormes efeitos de leves pesos.
Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão?
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Lampião, o Rei do Cangaço Cangaço
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O Lamparina Cangaço
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O Cangaceiro Trapalhão Cangaço
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Corisco & Dada Cangaço
O filme conta a história de amor e fúria entre Corisco e Dadá, que acabam por ficar juntos
após Corisco estuprar a moça para cobrar uma dívida. Após esse trágico evento ela também
se torna uma cangaceira. A obra foca bastante nas características dos personagens, nas
suas angústias e na sua luta constante pela sobrevivência.
No decorrer da obra, apesar de terem começado mal, o casal se aproxima e Corisco se
arrisca para defender a moça. Com o tempo, Dadá vai endurecendo, ficando mais valente e
aprendendo a se virar no meio dos homens. Vale ressaltar que Corisco ensina algumas de
suas práticas, para que a moça seja respeitada pelo grupo. Essa dualidade dos
personagens, as mudanças que acontecem com eles no decorrer da obra e a relação
desenvolvida por eles, deixa o filme interessante e prende o espectador aos
acontecimentos.
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CINEMA NOVO 12
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Vidas Secas Cinema Novo
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Deus e o Diabo Cinema Novo
na Terra do Sol
Direção: Glauber Rocha (1964, 120')
Nas misérias do sertão, Manuel e Rosa se encontram em fuga, após Manuel matar o
Coronel. Assim, o casal busca refúgio com o Beato Sebastião, que prometia fazer o sertão
virar mar e o mar virar sertão. A elite, insatisfeita com as consequências do movimento do
Beato, contrata o famoso matador de cangaceiros, Antônio da Morte, o qual é encarregado
de matar Sebastião e seus seguidores. Mesmo repleto de promessas encantadoras, o
profeta se mostra perverso, ao realizar o sacrifício de um bebê e de uma mulher, que seria
Rosa, mas que ao presenciar a cena, assassina o santo Sebastião. Mais uma vez em fuga,
Manuel e Rosa se unem ao cangaceiro Corisco em busca de justiça: pelas mortes de seus
líderes, e pelo povo sertanejo.
A comparação entre mar e sertão, Deus e o Diabo, o devoto que se torna satanás, pobres
e ricos que invertem seus lugares no céu, entre outros, demonstram grandes antíteses que
compõem o roteiro do filme. Além disso, a frase “o sertão não é de Deus nem do Diabo, é do
povo” representa o pertencimento do sertanejo à sua terra natal, como representado pelos
personagens principais, que mesmo tentando fugir, em busca de uma vida melhor,
terminam em meio ao sertão, sem lugar para ir.
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Os Fuzis Cinema Novo
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Dragão da Maldade contra Cinema Novo
o Santo Guerreiro
Direção: Glauber Rocha (1969, 95')
O matador Antonio das Mortes, é novamente contratado, dessa vez pelo coronel Horácio,
para assassinar o último cangaceiro do povoado sertanejo Jardim de Piranhas, o conhecido
Coirana. Porém, antes de cumprir sua missão, o matador se vê em crise, analisando sua
trajetória, as tantas vidas que já tirou, vivendo em meio à tristeza. Mesmo atacando
Coirana, os pensamentos de Antonio das Mortes não param, até que o então matador de
cangaceiros decide apoiar a manifestação do povo.
O filme retrata com clareza o misticismo sertanejo, envolvendo Santas, crendices e
práticas religiosas com óperas e músicas que são até hoje conhecidas. Os personagens da
trama carregam fortes características que representam a sociedade da época, por exemplo
o Coronel Horácio é retratado, cego, sempre de pijama e gritando ao vento, o que
demonstra o desespero dos que até então controlavam a vida dos vilarejos no sertão e que
não enxergavam as possibilidades de um futuro (como a repulsa à reforma agrária citada no
início da obra). O professor, é apresentado como a mente pensante que ensina criancinhas
sobre os acontecimentos do país, alimentando a geração com consciência e por fim,
Mattos, que mesmo sendo o oficial “puxa-saco” do coronel, sonha com a instalação de uma
indústria local. Ao mostrar Antônio das Mortes saindo do sertão, em uma estrada em
direção a um posto de gasolina de nome americano, o filme demonstra uma certa derrota,
afastando o sertanejo de sua tão amada terra.
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Adaptação Literária
Por Diego Albanez e Jéssica Batista
O Pagador de Promessas Adaptação Literária
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A Hora e a Vez de Adaptação Literária
Augusto Matraga
Direção: Roberto Santos (1965, 109')
O filme começa com uma frase que diz que a família é o que temos de mais valia, porém,
só fará sentido depois do renascimento de Augusto. Sendo um clássico do cinema novo,
Augusto é um fazendeiro vingativo, que já teve status e agora está falido e ameaçado.
Nesse contexto, sua esposa e sua filha vão embora por segurança, e Augusto a fim de se
vingar daqueles que tiram sua credibilidade é capturado por capangas, agredido e jogado
de um penhasco. Quase morto, o protagonista é resgatado por um casal, fato que dá início
ao seu renascimento. O casal passa a ser chamado de pais, os quais Augusto nunca teve.
Depois de muita luta para sobreviver, o protagonista se torna temente a Deus, se tornando
pacíifico e religioso. E após 6 anos de penitência vivendo com seus novos pais, Augusto
decide embarcar em uma nova jornada.
Típico de filmes com protagonistas homens, a esposa de Augusto e sua filha são
menosprezadas na trama, aparecem no limite da residência e saem somente quando estão
fugindo do vilarejo. Augusto trai a mulher e só se sente só sozinho quando a perde. Depois
da virada de página de sua vida, se arrepende de ter deixado elas irem embora.
É notável a constante tentativa de Augusto de se manter obediente à religião e aos
ensinamentos de Quiteria, sua mãe, para não cair na tentação de voltar a viver pela
vingança. Na cena final, toda essa dedicação é posta em xeque, e ele se entrega para evitar
que mais injustiças ocorram, ao mesmo tempo que se redime pelos erros do passado.
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Macunaíma Adaptação Literária
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Lavoura Arcaica Adaptação Literária
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Mutum Adaptação Literária
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Documentário
Por Laís Vieira Ferreira e Victoria Carolina L. Martins
Memória do Cangaço Documentário
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Maioria Absoluta Documentário
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Eu Carrego um Sertão Documentário
Dentro de Mim
Direção: Geraldo Sarno (1980, 14')
Com relatos de diferentes figuras do sertão nordestino, mostrando cantores, jagunços e
coronéis, o documentário é inspirado em uma entrevista do diplomata, novelista,
romancista e considerado o maior escritor do século XX, João Guimarães Rosa. De maneira
poética, a narrativa apresenta os aspectos do sertão com depoimentos das figuras
presentes em seu contexto. “Não se deve separar o homem da obra da vida, como faz o
homem no sertão, ele retrata sua vida através de sua obra”, a partir desta frase, descreve-
se no filme a profundidade e a particularidade da relação entre aquilo que os habitantes do
sertão fazem e aquilo que realmente são, seu modo de viver e seus ofícios compactuam e
se completam com o ambiente e a geografia que residem.
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Mato Eles? Documentário
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Cabra Marcado pra Morrer Documentário
Direção: Eduardo Coutinho (1964, 119')
Produzido para a contar a história de João Pedro Teixeira, líder da liga
camponesa de Sapé-PB, perseguido e assassinado por latifundiários por
reivindicar os direitos dos camponeses, o filme mescla o que seria a
encenação dos fatos com a história de sua própria filmagem, processo que
sofreu diversas interferências e demorou mais de 20 anos para ser
concluído, tornando-se então um documentário. Iniciadas antes de 1964, as
gravações foram interrompidas pela ditadura, com parte do material
apreendido, e, somente anos depois foram retomadas, agora não só para
contar a história de João Pedro, mas sobre o que seus familiares e os
atores das filmagens iniciais vivenciaram desde a interrupção do filme, já
que muitos foram perseguidos, obrigados a fugir para outras cidades e
acusados de possuírem relações com o comunismo.
O documentário então, além do assassinato de João Pedro, foca
principalmente na vida de sua esposa, Elizabeth Teixeira, responsável por
continuar lutando pelas causas dos camponeses e, por isso, precisou fugir e
abandonar seus oito filhos. O filme, além de registrar a violência política e
as atitudes radicais contra o movimento por parte do governo militar e dos
latifundiários, também foi de suma importância pois proporcionou a
possibilidade de Elizabeth sair de seu “esconderijo”, abandonar sua
identidade falsa, voltar a ser quem realmente era e reencontrar alguns de
seus filhos.
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DOCUMENTÁRIO
CONTEMPORÂNEO
Por João V. Bastos Seguro e Kaio Murilo S. Santos
Aboio Documentário Contemporâneo
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Serras da Desordem Documentário Contemporâneo
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O Fim e o Princípio Documentário Contemporâneo
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Acidente Documentário Contemporâneo
Disponível em:
https://caoguimaraes.com/wordpress/wp-content/uploads/2012/12/acidente.pdf
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Terra Deu, Terra Come Documentário Contemporâneo
Direção: Rodrigo Siqueira (2010, 89')
“Grande vencedor do festival de documentários É Tudo Verdade em 2010, “Terra Deu,
Terra Come” é um mergulho no sertão profundo, na terra mítica retratada pelo escritor
Guimarães Rosa em livros como “Grande Sertão: Veredas”. Pactos com o diabo, vocabulário
e paisagens parecem saídos diretamente do universo do romancista mineiro e se
materializam no filme de Rodrigo Siqueira.
O que conduz o filme são os ritos fúnebres prestados a João Batista, homem bom,
casado e sem filhos que morreu aos 120 anos. Seu velho amigo, Pedro de Alexina, é o
responsável pelas homenagens. Garimpeiro, ele é uma figura inesquecível e carismática,
que domina o filme de ponta a ponta com suas histórias que oscilam entre a verdade, a
representação e a brincadeira.” (Por Alysson Oliveira, do Cineweb para Reuters.)
Disponível em:
https://www.reuters.com/article/cultura-filme-estreia-terra-idBRSPE68T0V120100930
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EXPERIMENTAÇÃO
DA LINGUAGEM
Por Giovana Navakoski Storti e Stefany Nicolin da Silva
A Velha a Fiar Experimentação da Linguagem
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Congo Experimentação da Linguagem
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Varela em Serra Pelada Experimentação da Linguagem
Direção: Olhar Eletrônico (1984, 20')
Nesta produção realizada por Fernando Meirelles e Marcelos Tas, o repórter fictício
Ernesto Varela vai até o buraco de garimpo Serra Pelada, localizado no Estado do Pará,
onde entrevista e acompanha os moradores da cidade ocupada pelos 40 mil garimpeiros
que para lá viajaram na esperança de uma vida melhor.
Ao adentrar a serra, Varela explora os comércios locais, todos bem humildes com o
intuito de oferecer o básico para a subsistência local. A cidade artificial é formada
unicamente por homens, que com suas roupas simples e em condições extremamente
precárias, sobrevivem com um fim único: a riqueza do ouro.
A abordagem descontraída do repórter-personagem ao mostrar como esses homens
desesperados continuam alegres e bem-humorados apesar das circunstâncias extremas e
perigosas do trabalho de garimpo, traz leveza que se contrapõe transforma a à tristeza
imposta pela situação. Ao entrevistar quem vai embora, e quem continua lá há tempos sem
sucesso, Varela exibe a ilusão e desilusão que acometem os trabalhadores. É interessante a
presença da brasilidade em diversos momentos, tanto por meio da trilha sonora, quanto por
meio da imagem.
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Caramujo-Flor Experimentação da Linguagem
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Oiapoque – L’Oyapock Experimentação da Linguagem
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CINEMA DA RETOMADA
Por Gabriel Vieira e Victor Guandalini
Guerra de Canudos Cinema da Retomada
Direção: Sérgio Rezende (1996, 160')
O filme aborda a Guerra de Canudos que aconteceu entre os anos 1896-1897 na cidade de
Canudos, interior da Bahia. Um grupo chamado Belo Monte, liderado por Antônio
Conselheiro, luta contra a República que se instaurou a pouco tempo no Brasil. Do outro
lado, o exército Brasileiro tenta de todas as formas acabar com toda essa misticidade e
derrubar os rebeldes.
O filme retrata desde a fundação de Belo Monte até a sua queda, com a morte de
Conselheiro. Para isso, faz uso de personagens carismáticos de ambos os lados. Por parte
dos rebeldes, mostra uma família que se juntou ao grupo, porém antes disso uma das filhas
do casal, foge e 3 anos depois, acaba se apaixonando por um soldado, ficando em um
embate entre salvar sua família ou permanecer junto ao exército.
De forma complexa, toda a trama dos personagens, sobretudo da principal, Luiza,
interpretada por Cláudia Abreu, é muito bem executada, na qual sua trajetória e decisões
difíceis são bem justificadas. A seca, a fome, a pobreza e o fanatismo religioso como única
esperança para a situação ali vivida, também estão no filme.
Por fim, o longa é uma bela representação de toda a situação histórica, apresentando-se
com um roteiro bem estruturado que se aprofunda de ambos os lados da guerra, intrigando
o público, fazendo-o pensar.
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Baile Perfumado Cinema da Retomada
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Central do Brasil Cinema da Retomada
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Eu, Tu, Eles Cinema da Retomada
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Auto da Compadecida Cinema da Retomada
Direção: Guel Arraes (2000, 104')
O Auto da Compadecida acompanha a história de Chicó e João Grilo, que sempre acabam
em confusões pelas ideias inusitadas de João. O filme é baseado nas obras Auto da
Compadecida; O Santo e a Porca e; Torturas de um Coração, de Ariano Suassuna. O Auto da
Compadecida, de forma leve e bem humorada, apresenta diversas das características
comuns nos filmes sobre o nordeste, como: a ambientação seca que retrata o clima árido,
pouca água, fome; a religiosidade forte, tendo a igreja sempre como um ponto importante
no decorrer da história; e os cangaceiros, figuras perigosas, aqui até retratados como
malignos, mas que apesar disso, temente a Deus. Um dos aspectos que chama muita
atenção é a etnia de Jesus. O próprio personagem diz que escolheu se mostrar como um
homem negro, pois sabia dos tipos de pensamento que isso causaria. Apesar disso, existem
diversos comentários racistas de vários personagens, até de João Grilo, que apesar de suas
ações, ainda é o herói da história.
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FILMES DE ESTRADA
Por Matheus Martins Hernandes e Pedro Sardeti Dantas
Iracema, uma transa Filmes de Estrada
amazônica
Direção: Jorge Bodanzky e Orlando Senna (1974, 91')
Iracema (Edna de Cássia), uma jovem índigena, vai à Belém com sua família para pagar
promessas na festa do Círio de Nazaré. Ela permanece na cidade e as novas companhias
que a garota tem a inserem na vida da prostituição. Um dia, ela conhece um comerciante de
madeira, o gaúcho Tião Brasil Grande (Paulo César Pereio), que cruzava a Transamazônica
em seu caminhão e juntos partem rumo a outros lugares do país. A produção teuto-
brasileira funciona como uma retratação da realidade local na época. Tendo a rodovia e o
caminho percorrido por Iracema como guia, o filme denuncia a realidade social que a
propaganda desenvolvimentista da Ditadura Militar escondia, como se a obra fosse algo
milagroso que estava dando emprego aos locais. Filmado nos anos 1970, o longa foi
censurado e estreou oficialmente apenas em 1981.
O Ponto inicial da trama é a prostituição de Iracema que a leva até Tião, personagem que
funciona no filme como a personificação do Estado brasileiro. Temos também as falas
propagandistas da rodovia, o jeito de lidar com as situações na viagem, seus adesivos, entre
eles com o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o” que são algumas das características. Ao
mesmo tempo, Tião não passa de um trambiqueiro que faz de tudo por dinheiro. As
desventuras da jovem índigena escancaram o outro lado da história, denunciando a
grilagem, o desmatamento, as queimadas, o tráfico de pessoas, a prostituição e a pobreza.
Com um olhar contemporâneo à produção quase cinquentenária, podemos perceber o
machismo empregado nas relações, que causa desconforto.
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Bye Bye Brasil Filmes de Estrada
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Árido Movie Filmes de Estrada
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Andarilho Filmes de Estrada
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Viajo porque preciso, Filmes de Estrada
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CINEMA INDÍGENA
Por Amanda Siqueira Dias e Mariana Lindner Zoschke
Wai’á Rini, o poder Cinema Indígena
do sonho
Direção: Divino Tserewahú (2001, 48')
A cerimônia de iniciação espiritual dos homens jovens do povo Xavante é abordada pelo
documentário, que revela como o ritual Wai’á acontece durante as semanas de sua
celebração, mostrando as características e segredos desse povo indígena.
O documentário se mostra extremamente relevante para a manutenção da cultura
Xavante, visto que, no trecho em que o pai do diretor está sendo entrevistado pelo filho,
este pede para que ele guarde bem as imagens que estão sendo produzidas, pois o mesmo
não sabia se estaria vivo para o próximo Wai’á, e, caso ele não estivesse, o documentário
serviria para continuar alimentando as crenças das novas gerações nas tradições deste
povo. A obra, tem também um caráter educativo, pois explora os costumes de um povo
indigena que muitas vezes é esquecido nos estudos formativos sobre as sociedades
brasileiras. O filme surpreende e cativa, trazendo costumes que jamais vi em outros locais
pelos olhos do próprio povo, validando seus costumes e crenças sem julgamentos, já que a
obra foi produzida por um membro Xavante, que buscou transmitir como o ritual de
iniciação dos jovens meninos de seu povo se dá, expondo como ocorrem as semanas de
festa nas quais os garotos passam por um rito de sofrimento, para ao final, se mostrarem
fortes e receptivos aos sonhos que terão a partir do término do evento.
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Corumbiara Cinema Indígena
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As Hiper Mulheres Cinema Indígena
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Yãmiyhex – As Cinema Indígena
mulheres-espírito
Direção: Sueli Maxakali e Isael Maxakali (2019, 76')
O documentário Yãmĩyhex – as mulheres-espírito é dirigido por uma dupla indígena do
povo Maxakali, que busca retratar de perto o ritual de seu povo, conhecido como Yãmĩyhex,
trazendo uma visão de dentro dos processos e ritos que acontecem durante esta cerimonia.
O documentário se passa na Aldeia Verde Maxakali e retrata a partida das Yãmĩyhex desta
localidade. O evento para a despedida destas mulheres-espírito dura em torno de uma
semana e exige que diversas ações tradicionais sejam realizadas durante este processo. O
filme gera curiosidade em torno dos mistérios deste povo, já que não revela tudo para o
público, em respeito aos segredos que as autoridades da aldeia primam manter, e pela
crença no poder de dedução das ações retratadas por parte dos diretores, que já conhecem
e vivem a cultura. A produção respeita as tradições do povo Maxakali e não tenta aproximá-la
da cultura não-indígena, demonstrando as especificidades desta aldeia de forma coerente
com a realidade. As cenas são gravadas de uma perspectiva inusitada, do ponto de vista de
quem participa dos rituais ativamente, gerando planos mais informais, parecidos com o que
vemos em vídeos gravados em primeira pessoa para as redes sociais.
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A última floresta Cinema Indígena
Direção: Luiz Bolognesi (2001, 74')
O filme que conta com características documentais e ficcionais, retrata de modo poético
a história e a realidade do povo indígena Yanomami, mais especificamente da Aldeia
Watoriki, em Roraima. O longa intercala cenas cotidianas, encenações e discursos do xamã
Davi Kopenawa Yanomami, que escreveu o roteiro junto com o diretor Luiz Bolognesi.
Para mim, logo no início, Davi deixa claro qual é a intenção do filme, ao explicar que os não-
indígenas não conhecem o povo Yanomami, sendo necessário que o xamã entre no mundo
dos brancos para espalhar a história de seu povo. Assim, tive a impressão de que o foco da
obra não é denunciar o garimpo ilegal crescente na região, ainda que isso seja tratado com
devida importância no documentário, mas acima de tudo levar a história dos Yanomami ao
conhecimento de outras pessoas e mostrar que esta cultura merece ser respeitada e
preservada. Também tive a impressão que o diretor se preocupou em ressaltar a beleza da
Amazônia, utilizando planos abertos para destacar as paisagens ao longo de todo o filme, o
que colabora para a linguagem poética com que a história dos Yanomami é contada. Com
narrativa fluída e de fácil compreensão, o filme é extremamente relevante na atualidade
devido ao cenário político do país, que favorece a mineração ilegal de ouro em territórios
indígenas, colocando em risco a vida desses povos ou, como o xamã Davi Kopenawa cita,
liberando espíritos malignos. Ao ganhar notoriedade, obras como esta contribuem para
conscientizar a população brasileira e fortalecer as culturas indígenas.
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CINEMA
CONTEMPORÂNEO
Por Giovanna M. da Silva Cebulski e João V. Oliveira de Souza
O Céu de Suely Cinema Contemporâneo
Hermila (Hermila Guedes), depois de ter fugido para São Paulo, onde passou os últimos
meses com o namorado, retorna à sua cidade-natal, Iguatu-CE, com o filho no colo,
esperando que o marido venha nas semanas seguintes. Ao se dar conta de que ele não vai
voltar, de que fora abandonada, Hermila decide rifar uma “noite no paraíso”, uma noite ao
seu lado, a fim de comprar uma passagem para longe, bem longe dali. O filme, que no
festival de Veneza foi associado pelos italianos ao neorrealismo, se aproxima do que
conhecemos como road movie, como “filme de estrada”, de viagem, de deslocamento (não à
toa as sequências iniciais e finais: “aqui começa a saudade de Iguatu”), e talvez seja esse o
ponto central da narrativa: os deslocamentos de Hermila: Hermila que se desloca a uma
identidade outra — Suely — e que a rejeita na mesma medida (“não conheço nenhuma
Suely!”), Hermila que não se interessa pelo destino de sua viagem, pelo que encontrará em
sua chegada, mas pelo deslocamento em si mesmo. E sobretudo, pelo deslocamento em si
mesma: pela busca identitária e geográfica de si — o que Ainouz comparou a um “peixe fora
d’água”: se debatendo, buscando por um espaço em que caiba.
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Girimunho Cinema Contemporâneo
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Joaquim Cinema Contemporâneo
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Azougue Nazaré Cinema Contemporâneo
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Bacurau Cinema Contemporâneo
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Sertão
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0
2
2