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A SITUAÇÃO DA MULHER NA PALESTINA NO SEC.

I – Aula III

A mulher nos tempos de Jesus


Vamos analisar a vida delas nos aspectos social, educacional, político, econômico e religioso.

A vida da mulher na época de Jesus Cristo, no primeiro século, era muito diferente.
Para entender, é preciso descrever a cultura e o contexto de época do judaísmo
porque os costumes, a visão de mundo, a legislação e os valores eram outros.
Vamos analisar a vida delas nos aspectos social, educacional, político, econômico
e religioso. A vida dos judeus da época do Novo Testamento tem influência da
cultura que está registrada nas páginas do Antigo Testamento. A raiz cultural do
povo do século I vem de tempos anteriores. Então, para entendermos algumas
práticas da época de Jesus, temos que olhar o judaísmo mais antigo. Não
esquecendo, claro, que alguns costumes mudavam ao passar dos tempos.

Elas socialmente
A mulher andava de véu. Alguns autores falam de uso de um manto até os ombros.
Era uma peça para cobrir a cabeça. Se ela saísse sem o véu o marido podia despedi-
la sem ser obrigado a pagar em caso de separação. A mulher que conversasse com
alguém na rua ou que ficasse do lado de fora da casa poderia ser repudiada sem
receber pagamento previsto no contrato de casamento. Quanto aos homens, não
era bem visto que falassem com solteiras e casadas publicamente.

A adúltera era apedrejada, pois se seguia uma ordem escrita em Levítico 20:10. O
homem adúltero também recebia a mesma pena. Como a cultura era do
patriarcado, a mulher era submissa ao homem. Quando solteira estava sob as
ordens do pai. Quando casada, obedecia ao esposo. Mas a cosmovisão era
diferente. O patriarcado era visto como uma proteção à mulher.

O espaço público era masculino. A mulher não participava da vida pública e nem
trabalhava fora de casa. Em público ela deveria passar despercebida. De
preferência que a mulher não saísse de casa, especialmente as solteiras. O homem
nem deveria conversar muito com as mulheres na rua. Eles não podiam se
encontrar sozinhos com uma mulher (casada ou solteira) e nem cumprimentá-la.
Mas no campo essa regra de não conversar publicamente com uma mulher não
era cumprida. A exceção é que, no campo, o homem não falava com a mulher
estrangeira.

Os estudiosos do Novo Testamento afirmam que as informações devem ser


analisadas sem generalizações porque existiam exceções. Por exemplo, na corte os
costumes eram desconsiderados. Na classe baixa as mulheres ajudavam os maridos
comerciantes no trabalho. No campo as moças solteiras iam à fonte e as casadas
trabalhavam. O trabalho agrícola envolvia toda a família, inclusive os filhos.

A vida em casa
No ambiente doméstico a filha vinha depois do filho. A filha era submissa ao pai.
Valia o pátrio poder. A menina fazia os trabalhos domésticos como costura, fiação
e cuidado dos irmãos. A filha nada possuía porque a renda do trabalho era do pai
que, inclusive, poderia anular o voto dela e a representar em qualquer assunto
legal. Ao pai caberia até intervir no casamento da filha. A aceitação ou a recusa de
casamento pertence ao pai ou ao representante dele.

Os teólogos estudiosos da cultura judaica nos tempos de Jesus afirmam que, até
12 anos e meio, a filha não poderia recusar o casamento decidido pelo pai. Depois
dessa idade levava-se em consideração o consentimento da moça para o
casamento. A filha maior (acima de 12 anos) tinha a liberdade de decidir sobre o
noivado sem o consentimento do pai. Mas existe um detalhe: mesmo que filha
fosse maior de idade, a quantia dada pelo noivo para o casamento pertencia ao
pai.

O poder paterno era tão grande que ele tinha o direito de vender a filha (com até
12 anos de idade) como escrava. Os filhos não eram vendidos como escravos.
Somente as meninas. Por que um pai vendia uma filha? Vemos algumas situações
no cotidiano da época que explica essa cultura. O pai vendia a filha como escrava
para pagamento em caso de dívida ou em caso de extrema pobreza. Mas o pai
não poderia obrigar a filha a se prostituir. Eles eram proibidos de fazer isso
conforme texto escrito em Levítico 19:29. Todo o ensino religioso da época se
opunha a essa prática. A Lei condenava a prostituição, mas não estabelecia
nenhum castigo, exceto no caso da filha de um sacerdote que deveria ser queimada
caso fosse prostituta (Levítico 21:9). Era considerado desonra para o pai a filha ser
uma prostituta.
Sobre o casamento
Na cultura valia a monogamia. A poligamia era condenada. Mesmo assim, há
diversos casos de poligamia narrados nos textos bíblicos. Sabe-se que alguns
homens ricos eram polígamos. Existia a poligamia quando a primeira mulher era
estéril ou só gerava filhas.

Uma curiosidade é que existia o contrato para o divórcio e isso está registrado
na Bíblia. O termo, além de contrato de divórcio, também pode ser encontrado
como “lavrar um termo de divórcio (Deuteronômio 24:1-4. Mas não existe texto
bíblico que exemplifique o contrato para se casar. Os teólogos entendem que
apenas não há na Bíblia o registro do contrato para se casar, mas que esse
documento existia uma vez que é pouco provável que existisse contrato para
separação e não existisse para a união. Ou seja, existiam os dois contratos: para
casar e para divorciar. A explicação é que existia contrato para separação e, por
uma lacuna histórica, o contrato para o casamento não foi registrado nos textos
do Antigo ou do Novo Testamento. Mas em Israel redigia-se contrato de divórcio
antes do exílio. Então, por esse motivo, os autores acham estranho não ter
contrato de casamento. O pacto de Labão com Jacó é um exemplo de acordo ou
contrato (Gênesis 30:25-30).
Qual a condição da mulher no casamento? Ela deixava a casa e o domínio do pai
para se submeter ao poder do marido. A esposa entrava na casa e no clã dele. Ela
era posse do marido, mas não sua escrava. Isso significa que o marido poderia
vender a filha menor, mas não poderia vender a sua esposa. Existia o dever do
homem casado em manter a mulher e a casa. Ele deveria resgatar a esposa se ela
fosse levada em cativeiro. À mulher também cabia o direito de ter uma sepultura.
O marido deveria providenciar o seu sepultamento.

A esposa fazia os serviços domésticos como o cuidado com a alimentação do


marido e dos filhos. Ela lavava as mãos, o rosto e os pés do esposo. O escravo
judeu não lavava o pé do senhor, mas a escrava pagã e a mulher tinham que fazê-
lo. O marido podia exigir tudo dela: renda do trabalho e a anulação voto, por
exemplo. O homem tinha o dever de protegê-la.

Acredita-se que o casamento dos rapazes era aos 13 anos e das moças aos 12 anos.
Para se ter uma ideia sobre a idade, a menina menor tinha até 12 anos; a moça
tinha entre 12 anos e 12 anos e meio; e a pessoa maior de idade era acima de 12
anos e meio.

No casamento da filha o pai (ou o irmão) combinava todos os detalhes, inclusive


a negociação financeira com o noivo. O pai era o dono da filha até que ela tivesse
a idade de 12 anos e meio. Depois dessa idade leva-se em conta o consentimento
da moça para o casamento. Escolhia-se casar com parente como os primos. Mas
há relatos de judeus casando-se com estrangeiras apesar da Lei condenar esse
costume.

Autores afirmam que existia noivado, apesar de muitas pessoas negarem esse fato.
O noivado era um compromisso assumido e tinha efeitos jurídicos equivalentes ao
casamento. Na época greco-romana fazia-se casamento com contrato. As partes
(o pai da noiva e o noivo) faziam acertos entre si. O pai dava o dote à filha que
iria se casar e o noivo dava o mohar ao sogro. A informação pode ser conferida
em Gênesis 34.12, Êxodo 22:16 e 1 Samuel 18:25.

Vamos explicar cada passo. O que a noiva ganhava? Ela recebia bens dados pelo
pai. Isso é chamado de dote. O pai pagava o dote à filha e esses bens eram
propriedades dela, mas o marido tinha usufruto. Mas essa prática de dotar a filha
nunca foi forte na cultura. Em caso de divórcio a mulher tinha o direito de receber
de volta o equivalente aos bens. Era uma segurança para a vida dela. Chama-se
isso de fiança de casamento que era uma quantia que retornava a ela, em caso
separação ou morte do marido. E o que o noivo dava ao pai da noiva? O rapaz
deveria ter sua mulher pagando uma quantidade ao sogro. Ambos negociavam o
valor. Além do pagamento ao pai da noiva, que os autores chamam de mohar, o
noivo oferecia joias à noiva e ainda mais presentes ao sogro. Os presentes eram
um acréscimo. Não confunda os presentes que o noivo dava ao sogro e à noiva
com a negociação do valor pelo casamento que ambos faziam também. São
pontos diferentes. Existiam as duas coisas: presentes e negociação pelo casamento.
Depois da cerimônia de casamento, já na primeira noite do novo casal, se
conservava o tecido nupcial manchado de sangue para mostrar a virgindade da
noiva. Essa peça servia de prova em caso de calúnia, se o marido afirmasse
posteriormente que a noiva não tinha se casado virgem. As leis de castidade
podem ser conferidas em Deuteronômio 22:13-21.
O repúdio
A Lei pregava fidelidade no casamento, mas existiam casos de adultério na
sociedade. A advertência era para o marido e a esposa se amarem mutuamente. A
separação não foi propósito de Deus. Foi instituída socialmente por decisão das
pessoas. Sabe-se que o repúdio e o divórcio existiam, mas eram duramente
criticados. Em Malaquias 2:10-14 há o relato que critica o divórcio e o casamento
com mulher estrangeira pagã. Casar com mulher de outra cultura significava
também estabelecer parentesco com a divindade cultuada por ela. E qualquer tipo
de laço com deuses pagãos era infidelidade ao Senhor. Esdras 9:1-15 relata a
oração e a confissão depois que os filhos e as filhas de Deus se contaminaram com
os filhos e as filhas de nações estrangeiras. Mesmo diante da advertência pelo não
divórcio, existia a separação entre os casais.
O repúdio deixava a mulher livre para se casar novamente. Quase que
exclusivamente, o direito de repudiar era do homem. Em geral, ela não podia
repudiar. Mas existem três exceções para mulher poder repudiar (exigir divórcio
nos tribunais) e pedir o pagamento da quantia que fora prometida no contrato de
casamento: a mulher poderia repudiar o marido que exercesse profissão
repugnante (que trabalhasse no cortume, como coletor de excrementos ou
fundidor de cobre, por exemplo). E por que ela poderia repudiá-lo caso o marido
exercesse essas profissões? Por causa do mau cheiro que ele tinha pela função de
trabalho que exercia. Ela poderia alegar que achava que suportaria o mau cheiro
dele quando se casaram, mas que depois percebeu que não suportaria. A mulher
também poderia repudiar se o marido a obrigasse a compromissos abusivos à sua
dignidade e se ele pegasse doenças (lepra ou pólipos que era um tumor no
intestino). Há exemplos na comunidade judaica de Elefantina, que vivia no Egito,
que relatam que mulheres de família herodiana (helenizadas) abandonaram os
maridos.

Duas escolas judaicas tinham visões diferentes para justificar o marido se separar
da esposa. A escola de Shammai dizia que ele poderia se separar por mau
procedimento dela. E a escola de Hillel afirmava que o marido poderia se separar
por algo vergonhoso da parte dela ou por qualquer outra situação. Qualquer
motivo poderia levar à separação como, por exemplo, a mulher ser estéril, ter
feito um prato mal cozido ou o marido ter achado outra mulher mais agradável.

Como se repudiava? Bastava dar uma palavra. O marido fazia uma declaração
contrária à que tinha estabelecido o casamento. Uma declaração era suficiente
como, por exemplo, o marido dizer “você não é mais minha mulher”. O marido
deveria redigir documento de repúdio conforme pode ser conferido
em Deuteronômio 24:1,3, Isaías 50:1 e Jeremias 3:8. O libelo de divórcio era uma
garantia que ela estava livre. Depois de divorciada a mulher poderia se casar
novamente. Já os filhos, em caso de divórcio, ficavam com pai. Eram propriedade
dele.
Diante de uma cultura de valorização do homem, qual era o limite no direito do
marido? Ele não poderia repudiar e devolver a mulher caso a acusasse falsamente
de não ser mais virgem ao se casar (Deuteronômio 22:13-19). Também não
poderia devolver a mulher violada (estuprada) por ele mesmo. Ou seja, se o rapaz
estuprasse a moça, deveria casar-se com ela e não poderia devolvê-la à família.
Essa informação pode ser conferida em Êxodo 22:16 que diz que “se alguém
seduzir qualquer virgem que não estava desposada e se deitar com ela, pagará seu
dote e a tomará por mulher”. Essa era uma lei civil e religiosa que também está
registrada em Deuteronômio 22:28-29. Outra restrição ao direito do marido é
que ele também morreria apedrejado caso praticasse adultério. A Lei mandava
matar homens e mulheres adúlteros (Deuteronômio 22:22).
Quanto aos filhos
A mulher era para procriar. Ter filhos era o objetivo do casamento. A chegada de
um menino era alegria. O filho primogênito tinha privilégios como dupla parte na
herança, chefia da família (com morte do pai), entre outros benefícios. As filhas
eram educadas pela mãe. Já os meninos eram inicialmente educados pela mãe.
Depois, aprendiam (oralmente) a sabedoria do pai, sua profissão e sua religião.
Eles estudavam. Elas, não. De modo geral, as mulheres não estudavam. Os livros
relatam que somente as mulheres palacianas muito ricas estudavam a língua grega,
por exemplo. Á elas cabia a vida doméstica.

A mulher e o aspecto religioso


Sob o aspecto religioso a mulher não era igual ao homem. Estava sujeita a todas
as proibições da Lei. Estava sujeita à pena de morte. Os homens deveriam cumprir
os mandamentos, mas elas, não. Vamos dar um exemplo. Eles faziam peregrinação
até Jerusalém nas festas. Elas, não. Elas não eram obrigadas a aprender a Lei
mosaica. Elas não estudavam nas escolas (as ricas aprendiam grego, como já
dissemos). Existia um ditado popular que dizia que “aquele que ensina a Lei à sua
filha, ensina-lhe a devassidão”. Os mestres diziam que era melhor queimar a Torá
(Lei) que ensiná-la às mulheres. No templo havia um adro reservado para as judias.
Elas eram excluídas no dia da purificação. Elas eram excluídas socialmente depois
do parto: 40 dias se o bebê fosse do sexo masculino e 80 dias se fosse do sexo
feminino. Esse era o período de purificação da mulher. Já na sinagoga, na parte
reservada ao serviço litúrgico, havia espaço separado para as mulheres. Nunca elas
poderiam ocupar o espaço reservado para os escribas. Além disso, os ofícios de
sacerdote e sumo sacerdote só poderiam ser exercidos pelos homens. Jamais uma
mulher poderia estar á frente na liderança religiosa do povo.

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