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FACC - FACULDADE CONCÓRDIA

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO – 1° FASE

BÁRBARA SIMIONI GALVÃO


JENIFER DE FREITAS SOCCOL
JULIA BONASSI COLOMBO
REYNALDO SCHMIDT

TDE 1

CONCÓRDIA
2022
A CIDADE ANTIGA
Fustel de Coulanges

LIVRO II
CAPÍTULO I, II, III e IV

A religião foi o principal elemento constitutivo da família antiga, era para ela e por ela que as
pessoas dedicavam suas vidas, nada existia se não tivesse como base a religião, e isso era comum
não apenas em um povo, mas sim, na maioria deles, principalmente para os gregos e romanos.
Para essas pessoas, a primeira ação do dia se dava através de orações, seja ele feito no altar de suas
casas, ou ao redor do túmulo de seus antepassados, tinham uma forte ligação com aqueles que já
partiram e, era imprescindível o cuidado com aqueles, quase mais necessário do que os parentes que
se faziam presente.
A família era formada pela religião, e em povos diferentes, os costumes eram semelhantes, o
casamento, que é a primeira instituição formada pela religião doméstica, não era um ato de afeto, de
amor, era uma ligação de orações, de contemplações, e a mulher, em todos os casos, devia
desprender-se de sua religião familiar, que antes tinha como responsável seu pai, para se entregar a
seu marido e também a religião dele.
O ato do casamento era firmado através de celebrações religiosas, sempre com vestuário branco
e outras normas que seguiam à risca, a mulher quebrava seus laços com o lado paterno, para se
entregar a nova família, e também aos antepassados desta, o casamento era considerado como o
segundo nascimento. A única coisa que poderia cessa-lo era a infertilidade da mulher, e para
anulação, também deveriam passar por um ato religioso, pois só a religião poderia desligar aquilo
que ela teria unido.
Em casamento estéril por causa do marido, um irmão ou parente do marido deveria substituí-lo
e a mulher era obrigada a entregar-se para esse homem, ou ainda, havia a ele a possibilidade de
adoção, e essa possuía apenas uma única razão, que era a necessidade de prevenir a extinção de um
culto. Por conta disso, a adoção só era permitida para aqueles que não tinham filhos.
As crenças relativas aos mortos, juntamente com o culto devido a esses mortos, constituíram a
família antiga e criaram a maior parte de suas regras. Para que o morto mantivesse sua reputação
como um ser feliz e divino, era necessário que sua família fizesse cultos ao redor de seu túmulo e
fossem ofertadas fartas refeições, e caso essas oferendas cessassem, o morto caia em infelicidade,
pois o mais importante para essas pessoas, era o cuidado de seus descentes para com este, depois da
sua morte.
Por este motivo, todos tinham interesse de deixar um filho homem, pois só assim, teria alguém
para continuar essa regra, e manter feliz sua imortalidade, e se tivessem uma filha mulher, esta teria
que se entregar ao marido, e não mais poderia cuidar de seus antepassados.
Assim era a formação da família antigamente na maioria dos povos, e, esses fatos que ocorriam
eram regras, o direito estava exposto através dessas vivências do passado, mas claro, mesmo se não
existisse essas normas do direito, eles mantinham o costume.

CAPÍTULO V

Diz Platão ser o parceiro da comunidade dos mesmos deuses domésticos. Dois irmãos,
acrescenta Plutarco, são dois homens que têm o dever de fazer os mesmos sacrifícios, de ter os
mesmos deuses paternais e de partilhar do mesmo túmulo. Quando Demóstenes procura provar-nos
o parentesco de dois homens, afirma sempre praticarem estes o mesmo culto e oferecerem as
refeições fúnebres no mesmo túmulo. Dois homens podiam dizer-se parentes quando tinham os
mesmos deuses, o mesmo lar e refeição fúnebre. Ora, já observamos precedentemente só se
transmitir, de varão em varão, o direito de fazer os sacrifícios ao lar, e como o culto dos mortos
também se dirigia unicamente aos ascendentes em linha masculina.
Na inteligência destas antigas gerações, a mulher não transmitia nem a vida nem o culto. O
filho pertencia inteiramente ao pai. Esta mulher quebrou por completo todo o vínculo, religioso ou
de direito, que tivera na família em que nasceu. Com maior razão, seu filho nada terá de comum
com esta família. O princípio do parentesco não estava no ato material do nascimento, mas no culto.
Depois, remontando mais acima, mas sempre na mesma linha, faz oferenda ao quarto, ao quinto, ao
sexto ascendente.
Quando dois homens, embora realizando separadamente as suas refeições fúnebres, podem,
subindo cada um deles a linha dos seus seis antepassados, encontrar nesta um antepassado comum,
dizem-se parentes entre si. Contando-se segundo os nossos usos, o parentesco dos sapindas iria até
o décimo quarto. O mesmo se dava no Ocidente. Mas o problema torna-se de fácil solução quando
se aproxima a agnação da religião doméstica.
Em conformidade com isto, compreende-se a razão por que, em face da lei romana, dois irmãos
consangüíneos eram agnados e dois irmãos uterinos já não o eram. Não se diga mesmo ser a
descendência por varões princípio imutável em que se baseia o parentesco. Não era pelo
nascimento, mas pelo culto, que verdadeiramente se reconheciam os agnados.
À medida que esta antiga religião enfraquece, a voz do sangue fala mais alto e o parentesco
pelo nascimento surge reconhecido em direito.

CAPÍTULO VI
O Direito de Propriedade

Ao contrário, as populações da Grécia e as da Itália, desde a mais remota antiguidade, sempre


conheceram e praticaram a propriedade privada. Há mesmo um fato verdadeiramente digno de
destaque. Enquanto as raças que não concedem ao indivíduo a propriedade do solo lhe facultam, ao
menos, a dos frutos do seu trabalho, isto é, a colheita, com os gregos sucede o contrário. A terra era
mais dele do que a colheita. Parece que a concepção de direito de propriedade tinha seguido, entre
os gregos, caminho inteiramente oposto àquele que se afigura como o mais natural. A idéia de
propriedade privada estava na própria religião. Cada família tinha o seu lar e os seus antepassados.
Encontraram os antigos misteriosa relação entre estes deuses e o solo. Ao assentar-se o lar,
fazem-no com o pensamento e a esperança de que ficará sempre no mesmo lugar. O deus instala-se
nele, não para um dia, nem mesmo só para a precária vida de um homem, mas para todos os
tempos, enquanto esta família existir e dela restar alguém a conservar a sua chama em sacrifício. E a
família, ficando, destarte, por dever e por religião, agrupada em redor do seu altar, fixa-se ao solo
tanto como o próprio altar.
Como o lar, a família ocupará sempre este lugar. Sigamos o raciocínio dos antigos. Isto é tão
evidente que o próprio casamento realizado entre duas famílias não estabelece a união entre os seus
deuses.
Cada família, tendo os seus deuses e o seu culto, devia ter também a sua terra particular, o seu
domicílio isolado, a sua propriedade. Os gregos diziam que o lar tinha levado o homem a construir
casas. Efetivamente, o homem, quando a sua religião o fixava num lugar a que ele se julgava para
sempre ligado, bem cedo devia pensar em levantar nesse sítio uma construção sólida. À cabana de
terra, ou de madeira, sucedeu, dentro em pouco, a casa de pedra. Esta casa não se construiu somente
para a vida dum homem, mas para uma família cujas gerações deviam suceder-se na mesma
habitação. A casa estava sempre situada no recinto sagrado.
O lar, colocado no meio do recinto total, encontrava-se assim ao fundo do pátio e junto da
entrada da casa. A família tinha, pois, túmulo comum onde os seus membros repousavam um após
outro. Era impiedade igual enterrar o morto fora do túmulo de sua família, ou colocar no túmulo o
corpo de algum estranho. A sepultura estabelecia vínculo indissolúvel da família com a terra, isto é,
a propriedade. Entre a maior parte das sociedades primitivas só pela religião se estabelecia este
direito de propriedade.
Deus, proprietário primitivo por direito de criação, delega ao homem a sua propriedade sobre
parte do solo. Os deuses que conferiram a cada família o seu direito sobre a terra foram os deuses
domésticos, o lar e os manes. A primeira religião que ganhou poder sobre as suas almas foi também
a mesma que, entre eles, estabelece a propriedade. Torna-se evidente como a propriedade privada
era uma instituição, sem a qual a religião doméstica não podia passar.

CAPÍTULO VII
O direito de sucessão
1º NATUREZA E ORIGEM DO DIREITO DE SUCESSÃO ENTRE OS ANTIGOS
Nos tempos antigos o DIREITO DE SUCESSÃO estava totalmente interligado a religiosidade, ou
melhor, a religião era quem balizava o direito sucessório.
O princípio de que “o homem morre, o culto fica” era o pilar estrutural. As primeiras normas/
regras do direito de sucessão estão em que, sendo a religião doméstica hereditária, a propriedade
igualmente era. O filho é o natural e necessário continuador do culto, por esse motivo ele também herdava
os bens.
A linguagem jurídica de Roma chamava o filho de heres sui ipsius. Efetivamente o filho herda de
si próprio, não existe doação, nem legado, nem mudança de propriedade, há simplesmente continuação, já
enquanto o pai vivo, o filho era coproprietário do campo e da casa.
Podemos observar que a base da justiça deriva não apenas da lógica e da razão, ou do sentimento
de equidade, mas das crenças da religião da época.

2º HERDA O FILHO, E NÃO A FILHA


Existia também uma visão muito machista quanto a parte da herança, pois a filha mulher não tinha
direito a herdar os bens de sua família de origem, Gaio e as institutas de Justiniano referem-se ao fato de a
filha só se contar no número dos herdeiros de seu pai quando se lhe encontra subordinada, na ocasião da
morte deste, mas, se casou segundo os ritos religiosos, não se acha mais sob a autoridade do pai.
Supondo, portanto, que a filha possa, antes de casada partilhar a herança com os irmãos, porem após
casada, perde-se totalmente os direitos de sucessão.

3º A SUCESSÃO COLATERAL
A sucessão colateral continua seguindo a mesma corrente, onde os bens e propriedades são
herdados de varão a varão, em hipótese alguma as mulheres das famílias eram incluídas na sucessão, em
Atenas a letra da lei era: “Se um homem morre sem filhos, o seu herdeiro será o irmão do falecido, sendo
irmão consanguíneo, na falta dele, o filho do irmão, por que a sucessão passa sempre aos varões e aos
descendentes dos varões.
Ao tempo de Justiano, podemos perceber uma evolução, pois o legislador já não compreendia
estas velhas leis, pareciam-lhe iníquias, pois sempre davam preferência a posteridade masculina e excluía
da herança aqueles que só estavam ligados ao defunto por mulheres.

4º EFEITOS DA EMANCIPAÇÃO E DA ADOÇÃO


Nota-se que o legislador antigo tinha como principal intenção de não aceitar a possibilidade de
junção na mesma pessoa de duas heranças, e isto por que dois cultos domésticos não poderiam estar
servidos pela mesma única mão.
A emancipação era tratada como abandono do núcleo familiar ao culto, desta forma abrindo mão
de todos os direitos sucessórios, pois como vimos anteriormente o que balizava o direito sucessório era a
religiosidade, os cultos familiares. Por outro lado, temos a adoção ou inclusão, este novo membro do sexo
masculino adotado e incluído ao seio familiar a partir dali tinha todos os direitos sucessórios garantidos,
pois estava sob o mesmo culto religioso. Podemos notar que era de maior valia a religiosidade ao laço
sanguíneo.

5º PRIMITIVAMENTE O TESTAMENTO NÃO ERA CONHECIDO


O direito de dispor dos bens para depois de sua morte, passando há outros indivíduos que não o
herdeiro natural entra em conflito com as crenças religiosas da época, que era por sua vez base do direito
de propriedade e do direito de sucessão. Estando a propriedade inerente ao culto, sendo este hereditário,
não havia cabimento ao testamento.
Além disso, a propriedade não pertencia ao indivíduo, mas sim a família toda. A propriedade não
era adquirida através do trabalho, mas sim herdada pelo culto doméstico. Como a propriedade era
familiar, era passada do morto para o vivo e não segundo a vontade do finado, mas sim pelas normas
estabelecidas pela religião da época.
O antigo direito hindu não reconhecia o testamento. O ateniense até Sólon proibia-o de maneira
absoluta, e o próprio Sólon só o permitiu entre os que não deixassem filhos, em Esparta o testamento foi
por muito tempo proibido e ignorado.
É fato certo o testamento não ter sido reconhecido nas origens do direito sucessório, tendo em
vista que há época a religiosidade norteava e ensinava o povo de que a propriedade era bem da família e
não do indivíduo.

6º ANTIGA INDIVISÃO DO PATRIMÔNIO


Os séculos passados nos mostram com muito mais clareza e ênfase a distinção entre homem e
mulher, entre filho primogênito e os demais filhos, os direitos sucessórios antigos ainda hoje refletem,
com menos clareza é lógico, mas refletem em nossa sociedade como um todo.
As antigas religiões estabeleciam diferenças entre o filho primogênito e o segundo gênito: “O
primogênito”, diziam os antigos arianos “foi criado para o cumprimento do dever com os antepassados “;
os outros nasceram por amor, por virtude dessa superioridade original, o filho mais velho tinha depois da
morte do pai, o privilégio de presidir todas as cerimônias do culto doméstico, era este filho que oferecia
as refeições fúnebres e pronunciava as fórmulas da oração.
Assim como no código de Manu, o seu último relator insere: O primogênito toma posse de todo o
patrimônio, e os outros irmãos vivem sob a sua autoridade, como viveram sob a de seu pai. O filho mais
velho adquire a dívida para com seus antepassados; deve, pois, herdar tudo.

CAPÍTULO VIII 
A autoridade na família 
1º ORIGEM E NATUREZA DO PODER PATERNAL ENTRE OS ANTIGOS
A família de maneira espontânea foi quem estabeleceu o Direito Privado, através das crenças
religiosas. Em todas as casas a religião é superior a tudo, no entanto, é o pai quem desempenha nos
atos religiosos uma função maior. 
Já a mulher não é posta em uma posição tão elevada, pois sua religião não advém junto do seu
nascimento, mas sim somente após o casamento, por conta de seu marido. Por isso, sempre será
vista como parte integrante de seu esposo. Sendo que ela, nunca será dona de si, não podendo ser a
chefe de lar, dependendo sempre de um homem, seja ele o seu pai, irmão, filho, do marido, ou até
mesmo na morte do marido, ele pode designar outro homem para ser seu tutor. 

2º ENUMERAÇÃO DOS DIREITOS QUE COMPUNHAM O PODER PATERNAL

  Os direitos muito numerosos e muito diversos que as leis lhe conferiram podem ordenar-se em
três categorias, conforme considerarmos o pai de família, chefe religioso, proprietário ou juiz. 
I. O pai é o chefe supremo da religião doméstica, o responsável pela perpetuidade do culto e, por
consequência, da família; 
Assim, possuindo diversos direitos, como por exemplo: Direito de reconhecer o filho ao nascer,
ou rejeitar; repudiar a mulher, em caso de esterilidade; o direito de emancipar, quer dizer, o de
excluir um filho da família e do culto; entre outros…
II. Na família não podia haver mais do que um proprietário, a própria família, e um
usufrutuário, o pai. Isso implicava em fatores como: o dote da mulher pertencia sem reservas ao
marido, que exercia sobre os bens dotais não só os direitos do administrador, mas os de proprietário;
o filho tinha as mesmas condições que a mulher; o pai poderia vender o filho, entre outros…
III. As mulheres não podiam aparecer na justiça, nem mesmo como testemunhas, inclusive, a
família é quem tinha o poder de julgá-las. De toda a família, somente o pai podia comparecer no
tribunal, a justiça pública só existia para o pai.  O Senado respeitou este velho princípio e deixou
aos maridos e aos pais o encargo de pronunciarem contra as mulheres a sentença de morte.

CAPÍTULO IX 
A antiga moral da família 
Na religião do lar, somente se reza para si e para os seus. Além disso, os primeiros juízos sobre
o que era culpa, castigo ou expiação parece terem vindo daí. O homem, ao sentir-se culpado, já não
pode aproximar-se do seu próprio lar por seu deus repeli-lo. 
Começa a surgir aqui, as primeiras leis da moral doméstica. Que tem muita influência a mostrar
ao homem e à mulher que estão unidos para sempre e que desta união derivam deveres rigorosos
cujo esquecimento terá sido causa das mais graves consequências, tanto nesta vida como na outra. E
assim diz à esposa que tem o dever de obedecer, e ao marido o de mandar. Ensinou a ambos o dever
de se respeitarem mutuamente. 
CAPÍTULO X 
1º O QUE OS ESCRITORES ANTIGOS NOS DÃO A CONHECER SOBRE A “GENS”

A “Gens” era uma instituição religiosa, cada uma delas possuía um chefe, tinham suas
assembleias e promulgava decretos aos quais os seus membros deviam obediência, sendo respeitados
até mesmo pela própria cidade.
Cada uma delas tinha seu culto especial, que devia perpetuar-se, de geração em geração e
considerava-se um dever deixar filhos que o continuassem. Os deuses da “Gens”, protegiam só à
“Gens”, e só por ela queriam ser invocados. Da mesma forma que cada “Gens” tinha seu culto e
suas festas religiosas, de igual modo tinha em comum o seu túmulo.
Os membros da mesma “Gens” eram muito interligados, unidos na celebração das mesmas
cerimonias sagradas, ajudam-se em todas as necessidades da vida.

2º EXAME DE ALGUMAS DAS OPINIÕES EMITIDAS PARA EXPLICAR A “GENS”


ROMANA (CAPÍTULO X)

Segundo outros, a gens não é mais que expressão de certa relação entre uma família exercendo
o patronado e outras famílias suas clientes. Qualquer destas duas opiniões tem sua parte de verdade,
mas nenhuma corresponde inteiramente a toda a série de fatos, de leis e de usos que acabamos de
enumerar.
As regras de hereditariedade e da estreita e necessária analogia fundada pela religião entre o
direito de suceder o parentesco masculino. O caráter mais saliente e mais bem comprovado da gens
acha-se justamente em esta gens, tal como a família, ter um culto próprio. Se a gens adorava em
comum um antepassado, é porque na gens todos acreditavam sinceramente descendem desse
antepassado. Simular um túmulo, simular aniversários e refeições fúnebres teria sido mentir no que
havia de mais sagrado e zombaria da religião. Semelhante ficção era possível na época de César,
quando a velha religião das famílias já não comovia ninguém. Nos problemas difíceis que a história
oferece, muitas vezes aconselha-se pedir aos termos da língua todos os ensinamentos que nos
possam elucidar. Uma instituição explica-se muitas vezes pela palavra por que se designa.
É indubitável que os gregos e os romanos ligavam às palavras gens e génos o sentido de uma
origem comum. Esta idéia pode ter desaparecido quando a gens se alterou, mas a palavra
permaneceu como testemunho da sua existência. Outro defeito do sistema está em supor que
sociedades humanas como estas possam ter começado por alguma convenção e por um artifício, o
que a ciência histórica não pode admitir como verdade incontestada.
3º A “GENS” É A FAMÍLIA TENDO AINDA SUA ORGANIZAÇÃO PRIMITIVA E SUA
UNIDADE

Podemos constatar que o que foi a autoridade da família antiga, vimos os filhos não se separarem
do pai e, ao observarmos as normas reguladoras da transmissão do patrimônio, verificamos como, graças
ao princípio da comunhão de propriedade, os irmãos mais novos não se separavam dos mais velhos. Lar,
túmulo, patrimônio, tudo isso era indivisível.

Podemos assim entender tudo o que nos é mostrado sobre as GENS na antiguidade. Se torna
normal membros da mesma GENS utilizarem o mesmo nome, e isso justamente aconteceu.

A união de nascimento e de culto familiar indicasse na comunhão de nome, Cada GENS


transmitia, de geração em geração o nome do antepassado e perpetuava-o com o mesmo cuidado com que
continuava o seu culto. O que os gregos chamavam de NOMEN, foi o nome do antepassado
obrigatoriamente trazido por todos os membros da GENS.

4º EXTENSÃO DA FAMÍLIA; A ESCRAVIDÃO


E A CLIENTELA (CAPÍTULO X)

A religião doméstica não admitia um estranho na família. Mas houve uma necessidade de se ter
servos. Concebe-se, com efeito, que o princípio da prestação de serviço livre, voluntário, podendo
cessar pelo capricho do servo, não possa conciliar-se com o estado social em que a família viva
isolada. Era preciso, portanto, por qualquer meio, tornar o servo membro e parte integrante da
família. Era o que sucedia, por espécie de iniciação do recém-chegado no culto doméstico. Dessa
maneira, estava preso pelo culto, não podia, sem impiedade, separar-se da família. 
A clientela é instituição de direito doméstico e existia já nas famílias antes do aparecimento das
cidades. O patrono deve proteger o cliente por todos os meios e por todas as forças de que disponha;
usando da oração, como sacerdote; da lança, como guerreiro; da lei, como juiz. A clientela dos
tempos primitivos não aparece como relação voluntária e passageira entre dois homens; é
hereditária: é-se cliente, por dever, de pai ao filho.

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