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Fausto H. G.

Nogueira
Art. 242
§ 1º O ensino da História do Brasil levará em
conta as contribuições das diferentes culturas e
etnias para a formação do povo brasileiro.
“Não nos enganemos: a imagemque fazemosde
outros povos, e den ósm esmos,e stáassocia da à
História que nosen sinaram quandoé ramos
crianças. Ela nos marca para or estoda vida.
Sobree ssa representação, queé paracada umd e
nós umad escoberta do mundo e do passado das
sociedades, enxertam-se depoisopiniões, idéias
fugazesou duradouras, comoum amor...m as
permanecem indeléveis as marcas das nossas
primeiras curiosidades, dasn ossas primeiras
emoções.”
•História que se conta às crianças e adultos permite
conhecer a identidade construída oficialmente, extensiva a
toda a nação;
• Matriz da História que marca a consciência de cada
sociedade;
• Análise dos Livros Didáticos: carregam a idéia de
“verdade histórica”; prof. deve conduzir as discussões a
partir do texto didático;
• função: construir identidades, extensivas a toda a nação;
• “Vulgatas”: memória oficial transmitida pela escola,
passado único para a nação.
Qual a legitimidade da História? Qual a função social da
disciplina? Ela muda?
Ensino de História:
- Até o séc. XVII: não existe como disciplina, não é matéria
ensinável;
•Não se quer reescrever a História pois ela já foi escrita
pelos antigos, como Tucídides;
- Século XVIII: organiza-se em torno da percepção do
presente;
•Surge nos anos 1762, com a expulsão dos jesuítas, uma
educação “nacional” controlada pelo Estado;
• história da França aparece (é contrato original entre a
nação e o rei);

- Séc. XIX: separação da história sagrada e profana, no


interior das ciências morais e políticas;
•pretende desenvolver o sentimento patriótico: passado
nacional inicia com feudalismo, monarquia, desembocando
na modernidade burguesa;
• ensino tem a função de “civilizar” as populações
camponesas “atrasadas”, pela transmissão de uma cultura
da elite dirigente.
• Genealogia da nação: estudo do progresso material da
sociedade;
• “não é aquilo que a sociedade sabe sobre si própria, mas
aquilo que a nação conhece do seu passado”;
•forma o cidadão: “pedagogia do cidadão”;
• para ser ensinável exclui outras sociedades humanas,
correspondendo à identidade cultural da Europa;
• historiador se legitima com a ampliação dos poderes do
Estado.
• ensino de História: cimento da ideologia de integração:
interiorizar na criança imagem de uma França eterna,
campeã das liberdades;
• única representação reconhecida de um passado coletivo:
camponeses de uma aldeia, habitantes de uma província,
artesãos, operários nas cidades tiveram suas memórias
ignoradas pelo saber escolar;
• memória coletiva única, reprimindo as outras memórias
sociais;
•Memória das sociedades: conservam identidades através
das tradições orais, não tem historiadores, confundem
diferentes temporalidades, negada pela história oficial;

“soma de saberes inventariados em programas nacionais,


imperativos e pormenorizados, impostos a todos no quadro
de uma instituição estática e centralizada.” (S. Citron)
Matriz dominante:
“A finalidade do ensino da História é formar bons
cidadãos... Convém escolher temas, despertar a
admiração pelos heróis da história... Indicar a relação
do indivíduo com a sociedade, fazer compreender que o
bom cidadão deve lutar pelo bem comum”
Memória Coletiva X História Oficial
- Identidade Nacional construída em torno do culto ao
Estado-Nação, criando uma memória coletiva;
- Memória cultural da elite: assegurar a sua legitimidade.
Exemplos:
• África do Sul
- Livros didáticos: quer legitimar confinamento com
fundamentação moral. Deus quis nações e povos separados,
cada um com a sua vocação. Êxodo é comparado à procura da
Terra prometida. África do Sul é terra da liberdade e tolerância
religiosa, cidadãos de outros países vindos ao encontro da
liberdade. Hotentotes trocavam mas roubavam (colonos
infelizes). Para encorajá-los a serem cristãos, dava-lhes
conhaque e fumo após a missa. Chegada dos brancos evitou
massacre, pois haviam guerras entre zulus, bantos e outras
tribos;
- História descolonizada: não se troca animal por objeto
inanimado, colonos não compreendiam os termos da troca.
Pesquisas arqueológicas mostraram que bantos se instalaram
antes dos bôeres. Estes conheciam o sistema solar e o direito
antes dos europeus.
• Índia
- Livros didáticos: história sem identidade, “hindu é fruto
de várias contribuições, como o arco-íris”; sempre ensinou,
antes de receber; os que o invadiram se adaptaram a ela
(não menciona árabes, turcos, persas); silêncio sobre arianos
do norte (racistas) e hindus do sul; não cita o budismo;
silêncio sobre o conflito hindus X muçulmanos.
- Britânicos: Gandhi não tem papel; foi um sofrimento para
os britânicos; Índia não pode ser entendida; hindus não
possuem força, disciplina, sentido de organização, devem
ser tratados como crianças; hindu é ser passivo e ingrato;
Grande Motim: muitos hindus permaneceram leais e gratos.
• Islã (árabes)
- Civilização islâmica, cercada por povos bárbaros e sem
cultura (Idade Média é obscurantismo); descobertas começam
com fenícios até as viagens dos árabes no Oceano Índico:
possibilitam a dos venezianos e genoveses; arabização da
história do Islã; são o “centro do mundo”, o primeiro dos
impérios, o melhor sol, o dom da poesia; conquista árabe é
um processo de libertação; grandeza da Espanha muçulmana;
tolerância (exagerada) aos judeus; imperialismo é grande
desgraça, representa desforra pela derrota nas Cruzadas;
silêncio sobre vitória de Israel;
- Turcos são salvadores do Islã: maior império por 5 séculos;
valoriza hunos; Átila é fundador da sociedade euro-asiática
com práticas cavalheirescas;
- Irã: são arianos (atenção à história anterior à Maomé);
hostilidade contra árabes e turcos: eram vagabundos e
desorganizados.
• Espanha
- Festas são mais importantes do que a história ensinada
(história é motivo de festa): 3.500 festas no calendário
(maioria religiosa); temas ensinados na escola primária
dizem respeito ao inventário das festas, reconstruindo a
memória popular. Missionários ensinaram os índios a ler,
escrever e rezar; não há informações sobre genocídio dos
índios; tráfico de escravos etc.
• Alemanha
- Importância da ópera e do cinema (espetáculo) na
educação; desejo de comunhão dos alemães, jamais
unificados; Hitler (tabu), II Guerra “apresentada de forma
caricatural e cínica”;
- Carlos Magno, Lutero, Frederico II, Bismarck, Hitler:
exaltação da raça e do povo alemão;
- Revolução Francesa é expulsa: modelo é a revolução de
Lutero;
- Guardiã da multidão vinda do leste (heroísmo alemão):
comunistas, judeus, etc;
- esconde crimes do regime, ressalta a provocação da
França, campos de concentração teriam sido
supervalorizados.
• França
- Medo ou tentação da história: não convém deixar renascer
as paixões;
- História-problema tem público pequeno; história-sonho,
história-evasão, história quadro de uma história;
- Joana D’Arc: tem seu papel diminuído, há silêncios sobre os
milagres; outros: ouviu alguém dizer-lhe para ser boa e
prudente; rei não pode ser acompanhado por uma bruxa;
- ideologia do desenvolvimento sacrificou as identidades
regionais: memórias foram absorvidas pelo discurso
tradicional;
- Ensino por temas: desideologizou a História, como
memória da nação;
Outros exemplos:
• URSS: Trotsky X Stálin; feudalismo ao socialismo;
• EUA: espanhóis e Igreja Católica foram incapazes
provocaram o fracasso da América do Sul; insistência
naquilo que une os norte-americanos, e silêncio sobre os
conflitos do passado; aperfeiçoamento da vida humana,
enquanto europeus vivem em guerras; imperialismo é
injúria; “salad bowl” (cada cultura conserva a sua
identidade); cultura modelo: WASP, ignorando os outros;
“sábio desenrolar tradicional de uma história sem
problemas”.
Identidade:
• Passado não é o mesmo para todos;
•Todos se consideram o “umbigo do mundo”, o
império do meio (estereótipos da história ocidental são
encontrado em todos os lugares);
• ajudar cidadão a tornar inteligíveis os mecanismos da
vida econômica e política.
• História é material moral para forjar a identidade.
Valores:
• respeito à ordem e a lei;
• unidade nacional;
• sentido de organização;
• democracia;
• sedentarismo;
• industrialização;
• marcha para o progresso.
História da Civilização
• História: genealogia da Nação, cujo modelo é a História
européia, particularmente, da França;
• romance das nações: recorte é político, se for econômico,
temporalidade é diferente e domínio de uma nação não pode
não ter um sentido, pois a explicação não é global;
• Pretende uma explicação universal, válida para todos:
unanimidade esconde fragmentação;
• Datas dependem do problema que é analisado;
• movimento que leva as coletividades humanas para o
progresso da Nação;
• Saber indissociável da Nação;
• Progresso Humano: selvagem X civilizado;

História Universal: visão teleológica (traz o acontecimento que
lhe dá um sentido e busca a causa que o predetermina);
• concepção eurocêntrica: povos só teriam entrado na História
depois de descobertos pelos europeus (colonização leva
benefícios da civilização aos povos “indígenas”);
• História vista da Europa: progresso técnico;
• Percurso:
Civilização – cidade-estado – bárbaros X civilizados
Antiguidade – Idade Média –Tempos Modernos – Época
Contemporânea
“A civilização, que é a história, provem de Roma, herdeira da
Grécia, civilizadora do Ocidente, molde institucional da Igreja
cristã. A França, que deu ao mundo a Revolução, é a sua
herdeira. História, civilização, progresso, confundem-se numa
mesma marcha em frente” (Citron)
Brasil:
• Século XIX: formação do súdito; não ruptura com o
colonizador; realça lutas históricas contra invasores
estrangeiros; Independência é fato nascido da evolução da
Colônia; Descobrimento é conseqüência da história
portuguesa; índios são belicosos, vingativos, guerras índios X
índios; estes não formam povo brasileiro; jesuítas são
intransigentes; poucas referências à escravidão; Inconfidência
Mineira é crime de lesa-majestade;
• Século XX (até anos 1960): regime republicano é último
estágio de um aperfeiçoamento social e político; povo
brasileiro é o mameluco (Homem novo); “Descobrimento”
encobre interesses materiais, índio é formador do povo
brasileiro, elogios aos jesuítas que regeneram os costumes,
Inconfidência Mineira demonstra que o povo é portador de
desejos e virtudes; bandeirante é o criador da pátria.
Funções:
• militante;
• terapêutica;

• Médico é semelhante ao historiador: fala ao paciente


aquilo que o conforta, indica a norma de suas necessidades
(todo cidadão é um paciente);
“ estrangeiro numa terra estranha se torna amigo numa
terra familiar” (Furet)

“ Controlar o passado ajuda a dominar o presente, a


legitimar tanto as dominações como as rebeldias.”
(Chesneaux)

“os historiadores são pessoas perigosas; são capazes de


desarrumar tudo. Devem ser dirigidos” (Krushev)

“ O homem se parece mais com seu tempo que com seu


pai” (Marc Bloch)
“Todahistória éremorso”

Carlos Drummond de Andrade


“Crise do ensino da história deve ser ligado à crise
educativa, a de uma escola imaginada no fim do século XIX
por uma elite que impôs a sua cultura clássica e cientista a
uma sociedade ainda semi-rural e tradicional. Mas estes
conteúdos, este sistema de saberes, esta concepção do
conhecimento estabelecidos pelo século precedente são
definitivamente anacrônicos para as crianças e os
adolescentes de uma sociedade onde circulam outras
linguagens e outras mensagens” (S. Citron)

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