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Estudo transversal qualitativo sobre o acesso à informação e as implicações

na adesão à vacinação: discussão individual


Constança Garcia 171522003
Métodos Avançados de Investigação em Psicologia e Saúde
Professor Dr. Rui Gaspar e a Professora Dra. Cristina Godinho
Discussão Individual
Tal como foi abordado ao longo da apresentação dos resultados, conseguiu-se obter
uma resposta à questão de investigação apresentada, concluindo-se que a falta de
acessibilidade a informação relativa à vacinação é uma barreira para a adesão à mesma, que
de certa forma se relaciona com a falta de literacia em saúde que se associa à falta de acesso à
informação (Calife et al., 2022).

A literacia em saúde denota-se de grande importância para todos, dado que em algum
momento da vida, o ser humano precisa de ser capaz de encontrar, compreender e até mesmo
utilizar informações dos serviços de saúde, salientando que cuidar da saúde de forma
individual é algo que faz parte da vida quotidiana do ser humano, não falando somente de
idas a consultas ou hospitais (CDC, 2022a). Assim, um grande objetivo do conceito de
literacia de saúde é ajudar na prevenção de problemas de saúde e até mesmo na gestão de
problemas de saúde já existentes, como foi por exemplo, a questão da pandemia COVID-19 e
como está a ser a problemática da MonkeyPox (MPOX). (CDC, 2022a).

Atualmente, mesmo existindo esta promoção na literacia em saúde, continua a existir


muita falta da mesma, dado que muitas das vezes as organizações acabam por passar
informações de saúde que são de difícil compreensão para o cidadão que não se encontra na
área, criando um problema de literacia em saúde (CDC, 2022a).

Existem soluções que se podem aplicar de modo a que as pessoas utilizem as


competências que têm em literacia em saúde, como por exemplo, criando informação e
fornecendo-a de modo a que as pessoas consigam compreender de uma forma mais eficaz,
utilizando as capacidades que têm para essa mesma compreensão, pode-se também dar
formação a profissionais que estejam relacionados com a área da saúde a nível de estratégias
de comunicação de informação científica, de modo a que as pessoas fora dessa área sejam
capazes de compreender de uma forma mais simples e não levar a vieses de interpretação
(CDC, 2022a).

De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) dos Estados


Unidos, o conceito de literacia em saúde define-se como “o grau em que os indivíduos têm a
capacidade de obter, processar e compreender informações e serviços básicos em saúde
necessária para tomar decisões de saúde apropriadas” (Benjamin, 2010). Pessoas que
apresentem níveis baixos de literacia em saúde, podem vir a ter dificuldades na realização de
tarefas básicas do dia a dia, como por exemplo, na leitura correta de um rótulo de um
alimento, navegar pelo sistema de saúde ou até mesmo na forma como comunica sintomas a
um profissional de saúde (Benjamin, 2010). A falta de literacia em saúde pode resultar na
subutilização de recursos preventivos, isto é, na má utilização dos mesmos, tal como as
vacinas ou até mesmo exames de rotina, sendo que de acordo com a literacia, existe uma
associação direta entre a baixa literacia em saúde e a baixa compreensão sobre cuidados
preventivos e sobre o acesso a serviços de saúde, especialmente, preventivos (Benjamin,
2010).

A literacia em saúde é tão importante em pacientes como em médicos, dado que, para
preencher a lacuna que existe entre a informação médica e a sua implementação, são
necessários profissionais de saúde que saibam exatamente como realizar essa comunicação e
preencher essa lacuna (Benjamin, 2010).

De acordo com o Modelo Integrado de Sorensen, o mesmo diz que a literacia em


saúde está ligada à literacia de uma forma geral e implica o conhecimento, motivação e
competências das pessoas para aceder, compreender, avaliar e aplicar a informação sobre a
saúde, a fim de realizarem julgamentos e tomadas de decisão na vida quotidiana
relativamente a cuidados de saúde, como a nível da prevenção de doenças e promoção da
saúde para manter ou melhorar a qualidade de vida (Lorini, 2018).

O conceito de “literacia vacinal” relaciona-se com o conceito de literacia em saúde no


sentido das atitudes e hesitações quanto à vacinação, sendo que esta literacia específica
refere-se ao desenvolvimento de um sistema de menor complexidade a nível da comunicação,
de modo a oferecer vacinas como um sistema de saúde em bom funcionamento (Lorini,
2018). A compreensão desta temática requer que o individuo tenha determinadas
competências de literacia e numeracia, sendo que se denota de elevada importância também a
procura de informação mais correta, tendo em conta a influência que os diferentes meios de
comunicação têm atualmente sobre a comunidade científica, como por exemplo, o elevado
número de Fake News que existem na internet (Lorini, 2018).

A lacuna que foi referida anteriormente foi observada durante a pandemia da COVID-
19, devido ao facto de ter existido uma rápida mudança e um excessivo volume de
informação e desinformação, sendo que as pessoas com menor literacia em saúde foram
aquelas que menos compreenderam a importância de aderir à vacinação da COVID-19, tanto
para os próprios como para a sociedade como um todo (Feinberg, 2022).
Relativamente à temática da pandemia da COVID-19, a mesma foi invadida pela
excessiva informação, mas também pela enorme desinformação associada à doença, sobre as
medidas de proteção, sobre a vacinação, levando a que as pessoas não compreendessem a
informação e que não aderissem a comportamentos importantes da altura (Feinberg, 2022). O
comportamento relativo à relutância em relação à vacinação tem vindo a ser correlacionado
com a falta de informação sobre o assunto, nomeadamente, devido ao facto de não
conseguirem tomar uma decisão (Feinberg, 2022).

No âmbito de qualquer problemática, neste caso, tanto da COVID-19 como da


MonkeyPox (MPOX), seria importante que se fizessem esforços a nível organizacional para
se investir na literacia em saúde da população, para se assegurar uma passagem de
informação em saúde mais compreensível, eficaz e de confiança, de modo que se conseguisse
combater a falta de informação que existe e também a informação incorreta (Feinberg, 2022).

De acordo com a literatura, existem diversas soluções possíveis de implementar para


que se consiga combater esta falta de literacia, como por exemplo, a escrita dos documentos
numa linguagem simples, dado que existe ainda muitas pessoas que somente têm o nível
básico, como também toda essa informação que é passada de país para país ser revista de
modo a que se aplique também a nível cultural e linguístico, não bastando somente a tradução
de inglês para a língua do país, como entre outras soluções que poderiam ser aplicadas
(Feinberg, 2022).

De acordo com alguns estudos, percebe-se que determinadas características pessoais e


demográficas estavam frequentemente relacionadas com uma menor literacia em saúde, como
por exemplo, baixo nível de escolarização, pouco suporte social e também baixo estatuto
socioeconómico (Feinberg, 2022).

De acordo com o estudo realizado por Pimentel e colegas (2022), chegou-se à


conclusão de que a avaliação da ameaça relativa à COVID-19, de acordo com a perspetiva
dos adolescentes brasileiros, foi influenciada pelo nível de literacia em saúde, local de
residência (região) e também pela presença ou não de doença cardiovascular, sendo que estes
fatores podem influenciar na adesão ou não à vacinação (Pimentel, 2022). No estudo conclui-
se enão que maiores níveis de literacia em saúde geram uma menor prevalência de intenção
de não ser vacinado (Pimentel, 2022).

De acordo com a literatura, a hesitação relativamente à vacinação está ligada com a


falta de compreensão sobre o mecanismo de funcionamento de uma vacina, relacionando-se a
existência de falta de literacia em saúde neste sentido, neste caso os profissionais da área
exercem um papel fundamental na educação da sociedade sobre a temática, reforçando
quaisquer recomendações que existam, como por exemplo, tanto para a COVID-19 como
para a questão da MPOX (Nawas, 2022). Assim, será importante salientar que existem outras
barreiras à vacinação, como por exemplo a acessibilidade à mesma, a confiança, mas
especialmente a falta de informação que as pessoas têm sobre o assunto (Nawas, 2022).

De acordo com a CDC (2022b), existem algumas barreiras à vacinação relativamente


à MPOX, como a localização dos locais de vacinação, desconfiança no governo, mas também
a hesitação em vacinar, sendo que relativamente à última, a organização salienta a
importância de se ter em conta diversos fatores, como as diferenças que existem a nível da
educação, questões de discriminação, mas também as lacunas que existem no acesso à
informação relativamente à saúde, levando à falta de literacia em saúde.

Relativamente à existência de possíveis limitações ao estudo em questão, ao longo da


extração dos dados, existiam mensagens repetidas da mesma pessoa, levando a que
existissem inúmeras mensagens possíveis de serem codificadas, contudo, poucos
participantes para o estudo, denotando-se a importância de se voltar a realizar um estudo
futuro idêntico, mas com um maior número de participantes.

O estudo em questão é de elevada importância por apresentar possíveis respostas a


problemáticas da saúde pública, levando a que organizações e mesmo outros meios, comecem
a arranjar soluções para essas respostas, tal como foi apresentado ao longo da discussão do
trabalho. Contudo, o estudo está de certa forma incompleto por existir pouca informação
relativamente à problemática da MPOX, podendo então ser um exemplo para estudo futuro,
saber quais as perceções das pessoas relativamente à temática, barreiras associadas e entre
outros aspetos, mas com um maior número de participantes, podendo ser importante a
realização de estudos quantitativos nesta área.
Referências adicionais

Benjamin, R. M. (2010). Improving Health by Improving Health Literacy. Public Health

Reports, 125(6), 784–785. https://doi.org/10.1177/003335491012500602

CDC. (2022a, September 15). Monkeypox Vaccine Equity Pilot Program. Centers for Disease

Control and Prevention. https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/health-

departments/vaccine-equity-pilot.html

CDC. (2022b, September 23). Monkeypox Vaccine Equity Toolkit. Centers for Disease

Control and Prevention.

https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/resources/toolkits/vaccine-equity.html

Feinberg, I., Scott, J. Y., Holland, D. P., Lyn, R., Scott, L. C., Maloney, K. M., &

Rothenberg, R. (2022). The Relationship between Health Literacy and COVID-19

Vaccination Prevalence during a Rapidly Evolving Pandemic and Infodemic.

Vaccines, 10(12), 1989. https://doi.org/10.3390/vaccines10121989

Lorini, C., Santomauro, F., Donzellini, M., Capecchi, L., Bechini, A., Boccalini, S., Bonanni,

P., & Bonaccorsi, G. (2017). Health literacy and vaccination: A systematic review.

Human Vaccines & Immunotherapeutics, 14(2), 478–488.

https://doi.org/10.1080/21645515.2017.1392423

Pimentel, S. M., Avila, M. A. G. de, Prata, R. A., Nunes, H. R. de C., & Silva, J. B. da.

(2022). Association of health literacy, COVID-19 threat, and vaccination intention

among Brazilian adolescents. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 30(spe).

https://doi.org/10.1590/1518-8345.6154.3759

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