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Piada

Apesar de parecerem de fácil compreensão, as piadas são textos que


exigem a mobilização de uma série de capacidades nos ouvintes, pois, para
que possam compreendê-las, devem pôr em prática seu conhecimento de
mundo, o domínio linguístico/discursivo (visto que elas operam com duplo
sentido de expressões, com questões de ordem gramatical, com relações
intertextuais, paródias etc.), fazer inferências e deduções, etc. De temáticas
muito variadas (profissões, instituições, etnias, nacionalidades, orientação
sexual ou gênero, preconceitos variados etc.), as piadas refletem e retratam a
ideologia das sociedades. E é nelas que se encontra o conteúdo que, de certa
forma, é reprimido no funcionamento social.
O trabalho proposto a seguir em torno das piadas está direcionado para
a produção oral: há atividades de compreensão e análise textual, de leitura e,
por último, uma proposta de roda de piadas, em que está em jogo a
capacidade dos alunos se adequarem à situação de produção, o que implica
compreensão e leituras críticas das piadas e capacidade de reproduzi-las com
clareza e fluência.
Sugerimos discutir o aspecto do preconceito veiculado nas piadas,
promovendo a reflexão sobre a inadequação desse tipo de piada no ambiente
escolar. O limite de sua conveniência é quanto o outro, como grupo-alvo da
piada, se afeta ou não com sua produção. Isso pode/deve ser perguntado aos
sujeitos em questão e, caso haja sentimento de ofensa, a piada deve ser
banida. Para evitar situações constrangedoras, aos alunos com dúvidas em
relação à adequação da piada que contarão na roda de piadas, pode-se dizer
que deverão consultá-los previamente.

I – Contexto de produção
Muitas piadas nascem na tradição de fazer graça com situações do
cotidiano. Os textos nesse gênero não teriam especial sentido se fosse
possível identificar sua autoria. São textos que ganham maior ou menor
sentido quando considerado quem os reproduz, onde, quando e como.
Circulam nas conversas em rodas de amigos e em publicações que reúnem as
mais conhecidas ou naquelas que agrupam por tema.

II – Conteúdo temático
Há piadas sobre os mais diversos temas: crianças, nacionalidades,
sexo, política, racismo, instituições (escolas, igreja, casamento, etc.),
características físicas (obesos, loiras, baixinhos), enfim, temas que enfocam
questões controversas e estereótipos. O tratamento dado a esses assuntos,
muitas vezes, veicula, pelo discurso, ideologia que não é manifestada
publicamente, ou seja, revela valores reprimidos pela conduta ética.
III – Construção composicional e marcas linguísticas (estilo)
As piadas são textos curtos, com poucas personagens e com final
surpreendente. Em muitas, o sentido que provoca o riso depende dos
conhecimentos prévios dos interlocutores (não há, em geral, segmentos
explicativos nas piadas), da capacidade de fazer inferências, do conhecimento
de mundo e linguístico dos interlocutores. Parte das piadas tem graça quando
os possíveis sentidos a serem construídos são ambíguos e quebram a
expectativa do(s) ouvinte(s)/leitor(es).
Descrição baseada em PAIVA, V. L. M. de. O e-mail: um novo gênero
textual. In: MARCUSCHI, L. A.;XAVIER, A. C. (Orgs.), 2004, p. 68-90.

a) Explorando algumas piadas:


Educador: mobilize os alunos para a aula contando uma breve “piada”
no início da mesma. Sugerimos que que esse momento também seja utilizado
para preparar os alunos para as atitudes que poderão ocorrer em relação ao
conteúdo que será trabalhado evitando-se ofensas e controversas que podem
surgir no contexto das aulas.

b) Peça aos alunos que lembrem de alguma piada que conheçam e


podem ser compartilhadas no ambiente escolar sem que o grupo seja
afetado por questões de preconceito ou qualquer outro motivo.
Educador: reúna os alunos em grupo s e peça que registrem por escrito as piadas do jeito que sabem.
Passe pelos grupos para refletir sobre a escolha da s piadas e fazer intervenções no registro escrito d os
grupos. Proponha que reservem o material escrito para posterior atividade.

c) Proponha a leitura individual e após compartilhada das piadas a seguir:

Disponível em: PREFEITURA DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de


Educação. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa /
Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. São Paulo: Fundação
Padre Anchieta, 2010. Quarto ano, il;.

Discuta com seus colegas de turma:

➢ Por que há tantas piadas com Joãozinho? Qual seu palpite?


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➢ Tendo como base essas piadas, além de outras do Joãozinho que você
deve conhecer, como descreveria o perfil dessa personagem?
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➢ Você percebe nas piadas cuja personagem é “Joãozinho” alguma ideia


ou julgamento sobre o desempenho dos meninos na escola?
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➢ Você conhece mais piadas sobre Joãozinho? Compartilhe-a com seu
alfabetizador. Ele reservará um momento para que a classe possa contar
piadas. Registre a sua abaixo:
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d) Leia as duas piadas a seguir. Elas expressam uma imagem


generalizada sobre o modo de ser e de falar dos mineiros:
Texto 1:
Depois de longa viagem de ônibus de Belo Horizonte à capital paulista, Bento
se instala na casa do compadre e logo pergunta:
— Conhece um médico pra dor nas costas? Essa viagem me entortou todinho.
O amigo, solícito, ligou para seu médico e marcou uma consulta. Assim que disse ao
compadre o preço, o mineiro quase caiu da cadeira.
— É muito caro, sô! Qué que eu vou fazer?
O compadre, no entanto, o acalma:
Olha, esse médico cobra a metade que a maioria, e tem mais: se precisar
voltar, ele cobra a metade da metade.
Bento não teve dúvida: foi ao médico e antes de estender a mão foi dizendo:
— Bom dia, doutor, sou eu de novo!

Texto 2:
Bento ficou bom. Passou alguns dias em Sampa, mas achou a cidade grande
demais. Não deu uma semana, resolveu voltar para sua cidade natal. Na rodoviária,
encontrou um conterrâneo e perguntou:
— Onde é que ocê vai, cumpadre?
— Eu vou pra Manhuaçu, uai! – respondeu o outro.
— Boa viagem, então, – e foi saindo.
Lá com seus botões Bento pensava: “Manhuaçu? O cumpadre pensa que sô
troxa. Ele tá dizendo que vai pra Manhuaçu só pra eu pensar que ele vai pra
Manhumirim. Mas eu sei que ele vai é pra Manhuaçu mesmo!

Disponível em: PREFEITURA DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de


Educação. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa /
Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. São Paulo: Fundação
Padre Anchieta, 2010. Sétimo ano, il;.

➢ Que característica é atribuída ao mineiro em cada uma das piadas?


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➢ Você conhece alguma pessoa que nasceu ou mora em Minas Gerais ou


em outro estado do Brasil? Essa pessoa tem uma forma diferente do seu modo
de falar e agir?
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Por que a palavra você e compadre foram, respectivamente, grafadas
“ocê” e “cumpadre”?

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_____________________ Reescreva as frases a seguir adotando uma
linguagem formal:
A) Onde é que ocê vai, cumpadre
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B) — É muito caro, sô! Qué que eu vou fazer?
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___________________ C) O cumpadre pensa que sô troxa?
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Educador: nos textos pode-se encontrar pistas sobre as ideias das
pessoas que os escrevem, de seu grupo social, época e lugar em que vivem
e/ou a que se referem. Nas piadas também: por meio delas, pode-se aprender
muito sobre o nosso e sobre outros tempos

e) Leia o texto a seguir junto com sua turma:


Diante do carro quebrado na estrada, quatro engenheiros discutem, em
busca da causa do problema. O engenheiro químico dá seu palpite:
— Deve ser a composição do combustível!
Já o engenheiro mecânico diz:
— Nada disso. É um problema típico da caixa de marcha. Deve ter
quebrado.
O engenheiro eletrotécnico opinou:
— Nada disso! É a bateria. Só pode estar descarregada.
Finalmente, toma a palavra o engenheiro de computação:
— E se nós saíssemos e entrássemos novamente?

➢ Essa é uma piada


( ) antiga
( ) atual
➢ Justifique sua escolha:
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➢ E quais são as duas ideias que podem ser inferidas do texto em relação
aos engenheiros?
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__________________________ Releia o texto e grife todos os verbos. Em
seguida registre-as no espaço a seguir:
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f) Vamos produzir uma piada em forma de tirinha para o mural da
classe. Sua tirinha pode ser a adaptação de uma piada ou a produção de uma
original.

➢ Vamos começar elaborando um roteiro de acordo com o modelo a


seguir:
Roteiro:
• crie uma personagem com determinada personalidade, ou seja, não
basta criar o desenho, você deve pensar no seu jeito de ser;
• escolha um tema;
• crie o enredo e escreva um resumo da história que vai contar;
• elabore o roteiro (especificando o que será desenhado e dito quadro a
quadro); diagrame a página e faça a arte-final.

Exemplo de texto:

Depois de longo período de seca, os animais da selva já não sabiam


onde encontrar sustento. O leão, rei que é, resolveu organizar uma reunião
para anunciar que teriam um concurso de piadas. Aquele que contasse uma
piada e não fizesse todos rirem, sem exceção, seria devorado. A macaca
começou; contou uma piada muito engraçada, mas a hiena não moveu um
músculo sequer. E a macaca foi devorada. Em seguida, foi a vez do
hipopótamo. Mais uma vez, todos rolaram de rir, menos dona hiena. E o
hipopótamo foi devorado. Chegou a vez da zebra, mas, antes que esta
começasse sua piada, a hiena começou a rir e não havia quem a fizesse parar.
Assim que recuperou o fôlego, o leão quis saber:
— Qual é a graça?
— RÁ-RÁ-RÁ RÁÁÁÁÁÁ. A piada da macaca é ótima.

➢ Divida o texto, transformando-o em roteiro. Veja como ficou essa piada


transformada em roteiro.

Quadrinho 1 Legenda: Depois de uma grande seca, o leão ordenou que


fosse feito um concurso de piadas. Desenho: Leão de frente com balão de fala
“SE O CANDIDATO NÃO FIZER TODOS RIREM, SERÁ DEVORADO!”
Quadrinho 2 Desenho: A macaca de frente, várias bocas gargalhando
em volta e uma boca séria (em destaque). Legenda na parte debaixo do
quadro: E LÁ SE FOI A MACACA...
Quadrinho 3 Desenho: O hipopótamo de frente, várias bocas
gargalhando. Legenda na parte debaixo do quadro: E LÁ SE FOI O
HIPOPÓTAMO...
Quadrinho 4 Desenho: A hiena rindo muito e um balão de fala com a
ponta virada para fora (como se o leão estivesse fora do quadro). No balão
está escrito: QUAL É A GRAÇA?
Quadrinho 5 Desenho: A boca em destaque dos quadros anteriores
gargalhando e dela sai uma balão: RÁ-RÁ-RÁ RÁ. A PIADA DA MACACA É
ÓTIMA!

Disponível em: PREFEITURA DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de


Educação. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa /
Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. São Paulo: Fundação
Padre Anchieta, 2010. Sétimo ano;.
Utilize o espaço a seguir para elaborar o seu quadrinho

Roteiro:
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Do roteiro para a tira:


● Em uma tira de papel desenhe os quadros, levando em conta o roteiro
criado. Faça um esboço, traçando linhas bem fraquinhas para poder fazer
ajustes na ocupação do espaço sem marcar o papel.
● Depois de feitos os quadros, a lápis e com traço bem leve, faça os
desenhos, os balões e delimite o espaço para as legendas. Escreva os textos
em letra bastão e não se esqueça de que a pontuação é fundamental!
● Revise seu texto; quando estiver certo de que seus leitores
compreenderão sua ideia, faça um teste: troque de texto com um colega para
que ele seja seu primeiro leitor crítico. Com base nos comentários dele, faça as
revisões que julgar necessárias.
● Aguarde pela reunião agendada pelo alfabetizador para contornar seus
desenhos com caneta e/ou colori-los. Antes de submeter seu trabalho à crítica
final dos colegas e do alfabetizador, faça você mesmo uma avaliação de seu
trabalho. Com base nela, considere a necessidade de mais algumas
alterações.

Pauta de revisão:
Adequação do tema da tira.
Seu texto está adequado para ser publicado no mural da escola e ser
lido pelos colegas da turma? Produção do roteiro. A divisão em quadros e o
texto verbal garantem a compreensão de sua ideia pelos leitores?
Presença de recursos gráficos.
Usou balões e/ou onomatopeias?
As expressões das personagens estão de acordo com o texto?
Correção dos textos verbais.
Você leu cuidadosamente o que escreveu, tirou suas dúvidas
ortográficas e verificou se não se esqueceu da pontuação?

g) Agora vamos escrever uma piada original para contar a turma na


data marcada pelo seu alfabetizador:

Pense, a seguir, em uma situação do cotidiano sobre a qual gostaria que


seus leitores refletissem. Algumas opções: pessoas que furam fila, que usam
suas coisas sem pedir emprestado, que se acham as donas do espaço,
motoristas que não respeitam a sinalização de trânsito, jovens que pixam a
cidade, pessoas mal-humoradas, trens e ônibus lotados, brigas entre
torcedores de times adversários. Se optar, você pode também adaptar uma
piada já conhecida. Você também pode retomar a piada inicial que escreveu no
início dos estudos com piadas.
REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
DIONÍSIO, Angela; MACHADO, Ana Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora
(Orgs.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola, 2010.
GERALDI, João Wanderlei (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática,
2001.
KAUFMAN, Ana Maria; RODRÍGUEZ, Maria Helena. Escola, leitura e produção
de textos. Porto Alegre: Artmed, 1995.
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola – o real, o possível e o necessário.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: teoria & prática. 4. ed. Campinas:
Pontes/Editora da Unicamp, 1996
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e
circulação. In: KARWOSKI, Acir Mário; GAYDECKZKA, Beatriz; BRITO, Karim
S. (Orgs.). União da Vitória: Gráfica Kaygangue, 2005.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa: primeiro e segundo ciclos do Ensino
Fundamental. Brasília: MEC/SEB, 1997.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA.
Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa). Brasília:
MEC/SEF, 2001. 2002.
PLATÃO, Savioli, Francisco; FIORIN, José Luiz. Lições de Texto: Leitura e
redação. 5 ed. São Paulo: Ática, 2006.
ROJO, Roxane (org). A Pratica de Linguagem em Sala de Aula Praticando os
PCNs. São Paulo: EDUC: Campinas: Mercado das Letras, 2000.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim et al. Gêneros orais e escritos na
escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de
Letras, 2004.

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