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Guia para Investir no Exterior

CAPÍTULO 1 - Por que investir no exterior?

Acredito que o melhor jeito de começar esse guia é respondendo à primeira pergunta que se vem à mente:
“Por que investir no exterior?”
E a melhor forma de começar a responder a essa pergunta é rebatendo-a com outra pergunta:

“Por que não investir no exterior?”


Veremos ao longo deste capítulo que existem pouquíssimos motivos para não fazê-lo, e todos motivos
facilmente contornáveis. Vamos listar um a um:

1º motivo: Proteção da sua carteira patrimonial.

Se você não investe no exterior pois acredita ser muito arriscado ou complexo demais, o raciocínio é
exatamente o contrário, justamente por você não investir no exterior e concentrar tudo em um único país seu
risco aumenta e a complexidade de investir em 1 ou em 2 países não é tão maior quanto se acredita.

Umas das principais e maiores vantagens de se investir no exterior é que quando você investe em outro país,
você diminui o risco sistêmico da sua carteira patrimonial.

“O que é o risco sistêmico?” Excelente pergunta!

Existem majoritariamente dois tipos de riscos quando se investe em renda variável: o risco específico e o risco
sistêmico.

O risco específico é o risco intrínseco à empresa e setor que você investe.

Por exemplo, ao se investir na Petrobrás você está sujeito a todos os riscos que envolvem e afetam a cotação
do petróleo, está sujeito a regulamentação do Estado visto que é uma empresa pública, conflitos no oriente
médio afetam a cotação do petróleo, a oferta e demanda dos grandes consumidores de petróleo (China e
EUA) afetam os resultados da empresa, está exposto em um mercado de commodities, entre outros fatores
intrínsecos à Petrobrás e seu mercado de atuação.

Outro exemplo, se você investe na M Dias Branco do setor alimentício que fabrica e industrializa biscoitos,
bolachas, massas, farelo de trigo entre outros estará sujeito à cotação do trigo como fator chave nos
resultados, o qual é um commodity cotado em dólar, logo, sofre com oscilações cambiais. Além de fatores
específicos da empresa como o fato do incentivo fiscal do governo pela fabricação dos produtos feitos no
nordeste que se a qualquer momento deixarem de existir irão impactar o resultado da empresa.

Em resumo, o risco específico são todos os riscos associados à empresa que você se torna sócio ao comprar
uma ação ou cota (no caso de fundos imobiliários) indo desde a gestão, concorrência, impostos, ciclos do
setor, até fatores mais específicos como os que citei acima.

Você diminui o risco específico ao investir em empresas diferentes, em setores diferentes e categorias de
investimentos diferentes, porém, apenas diversificando em um país, você não consegue abaixar o risco
sistêmico.

O risco sistêmico acontece de maneira generalizada, e tende a afetar o mercado como um todo quase que
independentemente do setor de atuação da empresa, como por exemplo: inflação, crise econômica, guerras,
pandemias, que podem ser sistêmicas em um país, ou, como vivemos em 2020, globais.
Se criássemos um gráfico do risco global da sua carteira de investimento em função da quantidade de ativos
que você possui ela apresentaria o comportamento ilustrado na figura abaixo:

Ou seja, quantos mais ativos você possui, menor o seu risco específico, visto que você está diversificado em
empresas diferentes, em setores diferentes, logo, seu risco em cada negócio diminui a cada nova adição,
porém, repare que o risco sistêmico, ou seja, risco de algo que afete o país inteiro de maneira generalizada
não reduz com a diversificação.

“Agora, Como diminuir esse risco?” Mais uma excelente pergunta!

Você pode fazê-lo de duas formas:

1) Investindo em momentos diferentes


Ao fazer seus aportes de maneira espaçadas (investir uma vez ao mês por exemplo) seu patrimônio
ficará exposto de maneira mais amena diluída ao longo do tempo, permitindo que você invista em
todos os momentos do ciclo econômico, tanto nas altas, quanto nas baixas, e como no longo prazo os
ciclos são sempre ascendentes, seu patrimônio cresce junto.
Essa estratégia, apesar de extremamente eficiente nos primeiros anos de investimentos, apresenta
um problema, que conforme seu patrimônio vai aumentando, seus aportes vão cada vez
representando menos do total e sua exposição a fatores sistêmicos aumenta.
Exemplo: Se você aporta R$ 1.000/mês e tem investido R$ 20.000, o seu aporte representa 5% do seu
patrimônio, então se houver uma crise sistêmica, você pode facilmente recuperar seu patrimônio e
inclusive aproveitá-la melhor, pois estatisticamente você estaria aportando em momentos de baixa,
do que se seu patrimônio for R$ 400.000 e seu aporte for de R$ 2.000/mês, ou seja, 0,5% do
patrimônio, nessa segunda situação é bem mais difícil movimentar o patrimônio e se aproveitar de
maneira significativa das quedas de mercado, precisando nestas situações passar por elas ao deixar o
tempo fazer o seu trabalho.
Pense no seu patrimônio investido como um barco, quanto maior, mais difícil de virar a direção.

2) O segundo jeito é investindo no exterior


Quando você investe fora do país, você dilui seu risco de crises políticas locais, inflação, crises na
economia, protege-se de oscilações cambiais e permite exposição em mercados diferentes dos de
atuação do seu país.
“Mas e quando as crises são globais?”
Crises globais irão inevitavelmente ocorrer, e elas são mais um motivo para se investir no exterior.
Pois as crises não afetam todos os países da mesma maneira, e em crises sistêmicas, alguns setores
podem sair na vantagem ao se recuperarem primeiro, ou serem forçados a se desenvolver mais
rapidamente para justamente tirar o país da crise.
Pense nisso como uma luta de boxe, que todo mundo vai inevitavelmente tomar um soco, porém,
quem fica em pé ou se recupera mais rápido são os mais fortes, onde você vai querer (literalmente) o
seu dinheiro?
Olhe como exemplo o desenvolvimento industrial dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra
Mundial, ou algo mais focalizado como o desenvolvimento de empresas de tecnologia e ensino a
distância durante a pandemia do corona vírus.
De qualquer forma, investir no exterior diminui seu risco de uma maneira que a diversificação
concentrada em um único país não permite.

2º e 3º Motivos (que andam juntos): Moeda mais sólida e Proteção cambial

Agora falando especificamente de brasileiros que querem investir nos Estado Unidos, que acaba sendo o
grande foco quando se fala em investir no exterior, a realidade é que não é à toa que os EUA são o país mais
procurado para se investir.

Um dos motivos por trás desta alta procura vem de sua moeda, o dólar, que apesar de historicamente vir
perdendo força em função da inflação e de outras moedas também fortes como o Euro e a Libra, continua
como a moeda referência nas negociações mundiais, e lá ainda é a economia mais forte do mundo, da qual
das top 5 maiores empresas mundiais, as 4 primeiras são dos Estados Unidos, e das top 10, 7 são dos EUA
(dado coletado em 05/2020).

Além disto, em termos de proteção cambial para quem investe em ações no Brasil, existe uma correlação de
longo prazo negativa entre o dólar e o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, que historicamente se
desvaloriza com a alta da moeda, e se beneficia em momentos de queda do dólar assim como ilustra a imagem
a seguir:
Portanto investir nos EUA não apenas é investir em uma moeda mais sólida, mas também é investir em algo
que se beneficia da desvalorização da nossa moeda e atua como proteção para seus investimentos no Brasil,
e conseguir ter uma carteira de investimentos que se beneficie de qualquer movimento de mercado, nos leva
um passo em direção a tão desejada antifragilidade, uma vez que não sabemos o que vai acontecer em
nenhum momento, estarmos protegidos de tudo tira de nossas costas a responsabilidade e pressão de acertar
ou adivinhar o que vai acontecer, tarefa que por definição é impossível de ser feita.

4º Motivo: Economia mais estável e mais forte

Um dos principais motivos que deveria te motivar a investir no exterior, no caso nos EUA, não é a possibilidade
de ganhos excepcionais, mas sim a possibilidade de buscar um excelente balanço risco retorno em uma das
economias mais fortes e historicamente estáveis do mundo.

No Brasil, apesar de ter um grande potencial de crescimento, vivemos com mais frequência que países
desenvolvidos crises políticas, econômicas e, sinceramente, com uma crescimento econômico que não chega
necessariamente a ‘brilhar os olhos’. Diferentemente dos EUA, que apesar de obviamente não ser blindado
de crises econômicas, políticas e monetárias, é muito mais estável e maduro nesse sentido.

Para se ter ideia em termos de mercado, a imagem a seguir compara a cotação do Ibovespa (Índice da bolsa
brasileira) em azul contra o S&P500 (índice das 500 maiores empresas das bolsas de valores americanas) em
laranja por 50 anos:

Observa-se que a volatilidade, logo, a incerteza e o risco, da bolsa brasileira é muito maior que a da bolsa
americana, que apesar de oscilar, o faz muito menos que o índice do Brasil, devido justamente a ter um risco
menor e maior estabilidade.
Juntando todos os motivos anteriores, o gráfico abaixo mostra em área (azul) a valorização do S&P500 em
dólar e em real em linha (roxo), mostrando como a desvalorização da nossa moeda é compensada quando se
investe em dólar:

5º Motivo: Oportunidades maiores

Imagine que eu lhe entregue 100 caixas, e dentro de algumas caixas podem ter os maiores prêmios financeiros
existentes, você preferiria abrir 2 ou 50 caixas em busca destes prêmios?

Acho que a resposta é óbvia não? E apesar desse exemplo parecer fora de contexto, é exatamente a opção de
“2 caixas” que você escolhe ao investir apenas no Brasil. Deixe-me explicar:

Falando em grandes números, toda a bolsa do Brasil vale aproximadamente U$ 1 trilhão (atualmente menos),
enquanto que todas as bolsas mundiais somam aproximadamente U$ 60 trilhões de valor de mercado, ou
seja, o Brasil representa menos que 2% de todo valor de mercado de ações do mundo (menos que “2 caixas”
das 100), você realmente acha que as melhores oportunidades do mundo se confinariam exclusivamente
nesses 2%? Muito provavelmente não.

Agora as bolsas dos EUA sozinhas representam aproximadamente U$ 30 trilhões, ou seja praticamente 50%
de todo o valor de mercado de bolsas do mundo estão nos EUA. E lembrando que 7 das 10 maiores empresas
também tem origem americana.
A critério ilustrativo, a nossa representação no mundo das ações seria dessa forma:

6º motivo: Maior leque de opções

No Brasil temos opções limitadas de investimentos, e não digo em relação à quantidade, mas sim quanto a
diversidade deles, por exemplo, no exterior podemos nos expor a investimentos que cobrem o mercado
mundial, empresas similares a fundos imobiliários que investem em outdoors, Data Centers, antenas e torres
de energia.

Podemos investir em ETFs (Exchange Traded Funds) que emulam todos os principais índices, não só
americanos, mas mundiais também, com literalmente milhares de ETFs a sua disposição, contra menos de 20
no Brasil.

7º Motivo: Viés Geográfico

Esse tópico não é necessariamente um motivo pelo qual devemos investir, mas sim um motivo pelo qual não
investimos no exterior e o porquê ele não tem sentido racionalmente falando.

Tendemos a investir em nosso país de origem simplesmente pelo fato dele ser nosso país de origem e termos
mais familiaridade com os investimentos e funcionamento das coisas ao nosso redor. Porém, se pensarmos
friamente, você investiria todo seu dinheiro, por exemplo, no México? E na Índia? Ou mesmo na França?
Provavelmente sua resposta foi ‘não’.

E por mais que tenha sentido começarmos a aprender a investir exclusivamente em nosso país por toda a
familiaridade e facilidade que temos, conforme vamos evoluindo como investidores precisamos abrir nossa
mente para opções maiores, pois assim como o quinto motivo nos mostra, nosso país é aproximadamente 1%
de todo o mercado mundial, sobrando 99% inexplorados por nós.

Entendo perfeitamente o conforto de investir em, por exemplo, ações da Raia Drogasil quando você entende
o modelo de negócio deles, já foi atendido em uma de suas farmácias e analisa os resultados dela em
português, ou ainda investir na Weg quando você já trabalhou com empresas que usam os motores por ela
produzidos, ou até mesmo empresas de energia quando você entende o funcionamento delas dentro do Brasil.

Porém, o viés geográfico nos trava a grande gama de possibilidades, e do mesmo jeito que você não entendia
sobre investimentos até começar a investir no Brasil, e tenho 100% de certeza que seu único arrependimento
é de não ter começado antes, investir no exterior será a mesma coisa, com uma diferença, será muito mais
fácil pois toda a base de investimentos é a mesma, e é um uso de energia muito menor para aprender a investir
lá fora, do que foi aqui dentro.

“Tem como investir no exterior sem abrir conta no exterior?”

A resposta para essa pergunta é sim, tem como investir no exterior sem necessariamente abrir uma conta no
exterior, porém, ao meu ver essas opções apenas tem sentido em dois momentos, os quais vou comentar após
te explicar quais são as formas de se investir sem precisar abrir uma conta lá fora.

As duas formas de se investir no exterior, mais especificamente nos EUA, é através de BDRs e da ETF de código
IVVB11 que emula o S&P500.

Comecemos pelas BDRs:

BDRs são a abreviação de Brazilian Depositary Receipts, ou traduzindo: certificado de depósito de valores
mobiliários, é um ativo mobiliário emitido no Brasil que representa outro valor mobiliário emitido por
companhias abertas com sede no exterior. Ou seja, são certificados característicos de ações de empresas
estrangeiras negociados no Brasil que oscilam conforme a cotação de sua respectiva empresa oscila.

Vale destacar que as BDRs são cotadas em reais e corrigidas em função da oscilação cambial.

Simplificando, uma BDR é praticamente (mas não tecnicamente) um fundo de ações que investe no exterior
em uma única ação, mas é negociado no mercado secundário.

Por exemplo, se você quiser investir na Apple sem ter conta no exterior poderia comprar a BDR que contenha
ações da Apple, portanto, você não se tornaria sócio efetivamente da empresa, visto que quem adquiriu as
ações foi o “fundo”.

Outro ponto importante sobre as BDRs é que a sua tributação segue as regras do Brasil, não dos EUA.

Vou listar a seguir as vantagens de desvantagens de se adquirir BDRs quando comparamos com investir
diretamente no exterior.

Vantagens:

 Não precisa abrir conta no exterior.

Esta é a única vantagem real, visto que investir diretamente nos ativos apresenta uma série de benefícios
que vou listar ao longo deste guia.

Desvantagens:

 Precisa ser investidor qualificado para poder adquirir BDRs

Para ser um investidor qualificado você precisa possuir mais de R$ 1.000.000 em investimentos no
mercado financeiro. Só essa desvantagens já desbanca a grande maioria de investir por meio deste
instrumento (mas fique tranquilo caso não tenha essa quantia, pois você vai ver a grande gama de
vantagens de investir diretamente no exterior e vai agradecer por não usar as BDRs)

 Poucas opções

Apesar de possibilitar que se invista no exterior indiretamente, as opções continuam sendo limitadas pois
temos hoje aproximadamente 130 BDRs contra mais de 8.000 ativos mobiliários disponíveis nos EUA entre
Ações, REITs (“primos” dos Fundos Imobiliários) e ETFs.
 Spread de aproximadamente 5% em dividendos

A distribuição de dividendos é taxada em 5%, o que no longo prazo faz com que você deixe uma boa parte
dos seus ganhos na mesa.

 Baixa liquidez

Um dos principais problemas é a liquidez das BDRs, por serem majoritariamente negociadas no mercado
secundário, e serem praticamente exclusivas para investidores qualificados, isto limita muito a quantidade
de investidores comprando e vendendo este tipo de ativo, o que atrapalha sua liquidez, dificultando as
operações, e muitas vezes criando Spreads entre comprador e vendedor muito grandes, inviabilizando o
negócio.

Vamos agora para a ETF IVVB11:

O IVVB11, que é um fundo passivo no Brasil que replica, em reais (sempre ajustado ao dólar), a performance
do S&P500, que é um dos (se não o) mais importantes índices americanos que reúne as 500 maiores empresas
de capital aberto dos EUA.

O IVVB11 compra cotas do IVV, que é uma ETF americana que acompanha o S&P500, então ele também não
investe diretamente em ações dos EUA, além do fato que ETFs americanas distribuem dividendos, enquanto
que no Brasil isto não acontece.

Logo, o fundo reinveste os dividendos que nos EUA são tributados em 30%, e a única forma de você obter
lucro com uma ETF no Brasil é vendendo as cotas adquiridas, e você paga 15% de IR sobre o seu lucro, gerando
uma tributação extra sobre os dividendos.

Contudo, defendo que o IVVB11 é uma excelente opção para diversificar sua carteira no Brasil, permite que
você diminua de fato o risco sistêmico, e do meu ponto de vista é uma opção muito interessante para quem
está começando, porém, é uma opção inferior em termos de diversificação e proteção do que investir
diretamente fora do país.

Listo a seguir de maneira compilada as vantagens e desvantagens de se investir

Vantagens:

 Não precisa abrir conta no exterior

 Te expõe no mercado americano

Desvantagens:

 O IVVB11 compra cotas do IVV

 Você só pode se expor no S&P500

 Não recebe dividendos

 15% de IR sobre o lucro em qualquer valor

 Taxa de Adm. maior que ETFs americanas


CAPÍTULO 2 - Como enviar dinheiro para o Exterior e Corretoras nos EUA

Os pontos que vou abordar neste capítulo são os pontos que na grande maioria dos casos trava e impede as
pessoas de investirem no exterior, quando na realidade são os pontos mais simples de todos, paralelo a
alguém que não entra no campo de futebol porque não sabe amarrar a chuteira, que apesar de obviamente
ser fundamental para um bom jogo, nem de perto é a maior barreira para se ganhar o jogo.

Ressalto também que este capítulo será mais genérico nas abordagens justamente devido à dinâmica e
velocidade que as taxas, valores e pacotes oferecidos por corretoras se alteram (assim como no Brasil),
portanto, não tem sentido eu informar qualquer valor oferecido por corretoras neste capítulo, além do fato
que o grande objetivo aqui é te ensinar e motivar a dar os primeiros passos para investir no exterior.

Tendo dito tudo isso, vamos lá!

2.1. Securities Investor Protection Corporation (SIPC)

De maneira análoga que seus investimentos no Brasil são protegidos pelo Fundo Garantidor de crédito (FGC)
e Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), nos Estados Unidos quem faz essa função é o SIPC.

O Securities Investor Protection Corporation (SIPC) é uma entidade criada em 1970 que protege os
investidores em caso de quebra ou fraude em seus investimentos em corretoras americanas, cobrindos
negociações com Bonds (“Títulos”), REITs (a serem explicados em capítulos futuros) , Stocks (ações) e ETFs
relacionadas a esses ativos.

Qualquer corretora americana registrada na Securities Exchange Commision (SEC) é associada e coberta pelo
SIPC, nos sites das corretoras essa informação usualmente é facilmente encontrada.

Resumidamente o SIPC atua para proteger o acionistas em dois casos:

1. Corretoras declarem falência e/ou insolvência

De maneira análoga ao que acontece no Brasil, as corretoras nos EUA atuam como agentes de custódia, e caso
a corretora venha a falir, os seus ativos, por não estarem diretamente na corretora ficam protegidos e apenas
migram para outro agente de custódia, e o SIPC atua permitindo e garantido que essa operação ocorra e o
ativo ou dinheiro seja devolvido ao investidor.

2. Fraudes de negociação

O SIPC protege o investidor também caso ocorra operações feitas ilegalmente e/ou sem a autorização prévia
do mesmo.

Em termos de valores o SIPC apresenta:

 Garantia de até U$ 250.000 dinheiro em conta corrente nas corretora

 Garantia de até U$ 500.000 para proteção de fraudes em ativos


2.2. Corretoras

Existem mais de 3.500 corretoras nos EUA contra menos de 100 no Brasil, o que pode parecer algo assustador
a priori, porém, poucas delas são responsáveis pela maior parcela de captação deste mercado, e assim como
no Brasil, existem corretoras mais e menos confiáveis, estáveis e com preços e serviços mais diversos.

Meu conselho para você é exatamente o mesmo que eu te daria para investir no Brasil, busque as corretoras
mais sólidas, estáveis, com serviços que tenham sentido com o que você está buscando, para somente então
comparar os preços e taxas, priorize sempre a sua proteção e segurança.

Tendo dito isto, estamos em uma época excelente em termos de preços e taxas para investir em corretoras
americanas, e apesar de não sabermos o futuro, há grandes chances de permanecer desta forma, visto que a
ideia da prestação de serviços é sempre melhorar.

Muitas corretoras americanas, seguindo a Charles Schwab, que é a maior corretora dos EUA, zeraram as taxas
de corretagens, custódia e depósitos mínimos para se abrir conta, muito devido ao fato que as corretoras
ganham dinheiro com o float do saldo em conta corrente.

Deixe-me explicar melhor, uma forma que nós conseguimos claramente enxergar como remuneração que
pagamos para corretoras é através das taxas de custódia e taxas de corretagens na compra e venda e ativos
mobiliários que a maioria das corretoras no Brasil cobra de uma forma ou outra, porém, as corretoras ganham
dinheiro de outras formas também, entre elas uma das formas que ganha corpo e significância com o volume
é o float, que resumidamente é a rentabilidade que as corretoras conseguem ao aplicar o dinheiro ‘parado’ e
obter a rentabilidade da taxa básica de juros do país, no caso do Brasil como exemplo, as corretoras
conseguem uma rentabilidade de aproximadamente 100% do CDI em cima do dinheiro que fica em saldo na
sua conta corrente, e obviamente não há nada de errado com isso, é uma forma da corretora não onerar o
cliente e ainda assim obter lucro.

Esta é uma das principais maneiras que corretoras de taxa zero, tanto no Brasil, quando em outros países
sobrevivem.

E a Charless Schwab, em 2019, após estudos e análises concluiu que ao zerar suas taxas atrairia pessoas
suficientes para compensar principalmente com o float a ‘perda’ obtida com a eliminação das taxas, ao fazer
isso, ela criou um efeito cascata para outras corretoras terem que fazer o mesmo para se tornarem
competitivas no mercado, logo, muitas das maiores corretoras dos EUA oferecem condições, mesmo para
investidores estrangeiros, extremamente interessantes em termos de valores.

2.2.1. O que procurar em uma corretora?

Dentre uma série de fatores comuns com as corretoras do Brasil, sempre busque analisar na corretora em
questão:

 Se ela é registrada no SEC


 Os custos e taxas
 Atendimento
 Plataforma Web e Mobile
 Serviços Oferecidos
 Feedback de usuários

Alguns pontos valem destaque a seguir, visto que não são tópicos que existem no Brasil que algumas
corretoras podem ou não oferecer, então atente-se a eles:

 Possibilidade de comprar frações de ações


 Acesso a mercados internacionais além dos EUA
 Se existe mobile disponível para o Brasil
 Limites de transferências anuais
 Se existe ou não alguma cobrança extra

2.2.2. Como abrir conta em uma corretora nos EUA?”

Essa pergunta, apesar de não ter uma resposta direta, visto que as corretoras mudam a forma como exigem
que as coisas ocorram, a realidade é que dificilmente será muito mais complicado do que uma abertura de
conta no Brasil, na maioria das corretoras americanas, você consegue abrir a conta 100% online, enviando
documentos solicitados como extrato de conta corrente no Brasil, documento de identificação (passaporte
não é necessário, mas funciona como documento), comprovante de residência, e não raro, você precisará
imprimir algum documento para assinar, escanear e enviar para a corretora por e-mail.

Mas a grande sacada é que todo o processo, apesar de poder ser um pouco mais trabalhoso, não exige que
você tenha conta em bancos nos EUA, não exige que você resida lá, e mais importante de tudo (que será
abordado em tópico oportuno) você não precisa declarar nada nos EUA, apenas no Brasil de forma
extremamente similar ao que faz hoje com seus investimentos por aqui.

2.2.3. Como enviar dinheiro para o exterior?

Outra pergunta que acaba travando as pessoas de investir, que é algo também extremamente simples de se
fazer, existem plataformas muito simples online que atuam como intermediárias entre você a corretora, além
do fato que algumas corretoras apresentam a própria plataforma para que você envie seus reais para ela e os
converta em dólares em conta corrente para poder começar a finalmente investir e obter sua renda em dólar.

O procedimento genérico usualmente é o seguinte:

1. Você se cadastra (gratuitamente) em alguma dessas plataformas, como por exemplo, a


RemessaOnline (remessaonline.com.br como referência).
2. Você faz uma TED normal em reais com o valor que quer enviar para os EUA para o banco e agência
vinculado à plataforma (obs: você não precisa ter conta naquele banco, o seu dinheiro ficará disponível
na plataforma)
3. Você pede a solicitação de envio do dinheiro para a corretora e conversão em dólar através da
plataforma.
4. Pronto, seu dinheiro já estará em no máximo em 1 dia útil disponível para aplicação na sua corretora
americana.

Obviamente, todo esse processo tem um custo envolvido, que é o pagamento do IOF de 0,38% do valor,
mais um Spread de câmbio que oscila de plataforma para plataforma, usualmente entre 0,8%-2,0%.

“O que é spread de câmbio Matheus?”

Spread de câmbio é como a plataforma ganha dinheiro, ela converte os seus reais em dólar um pouco
acima da cotação do momento e ganha com essa diferença.

Por exemplo, (vou desconsiderar o IOF para facilitar o exemplo) imagine que você queira transferir R$
3.000 para sua conta no exterior, o dólar do momento esteja cotado R$ 5,00, uma plataforma que cobre
1% de Spread, converteria seus R$ 3.000 a um dólar cotado a R$ 5,05 (1% acima da cotação normal), logo,
você enviaria o equivalente a U$ 594,06, ao invés de U$ 600,00 caso não houvesse essa taxa, e a entidade
em questão fica com essa diferença (nada de errado com isso, afinal o serviço precisa ser remunerado de
alguma forma).
Bancos tradicionais, os ditos ‘bancões’, podem também fazer essa conversão e envio, porém, as taxas
podem chegar a 5% de spread além de taxas unitárias de envio que podem chegar a U$ 60.

E para fazer a operação reversa, ou seja, “trazer de volta o dinheiro” as plataformas usualmente cobram
as mesmas taxas e spreads.

2.3. Imposto de Renda

O intuito deste tópico não é te ensinar a declarar o imposto de renda, visto que, apesar de não ser
complexo, esse assunto é extenso em termos de funcionalidade, porém, a forma como se declara IR é
extremamente similar à como se declara no Brasil, e a ideia deste tópico é destacar as principais diferenças
em termos de IR entre seus investimentos no Brasil e nos EUA e alguns pontos de dúvidas em comum:

 Não precisa declarar nada no EUA, declaração é feita no Brasil

 Isenção de até R$ 35.000 de resgate por mês para ações, REITs e ETFs (somados).

 Caso seu patrimônio investido no exterior ultrapasse a quantia de U$ 100.000 é necessário declarar
ao banco central.

 Caso você possua um patrimônio acima de U$ 250.000 que deseja enviar para o exterior, contas
offshore podem apresentar vantagens.

 Nos EUA existe Imposto sobre herança para valores acima de U$ 60.000 e acima de U$ 120.000 em
caso de conta conjunta

 Não existe bitributação em dividendos (Fair and Accurate Credit Transactions Act – Facta)
CAPÍTULO 3 - Bolsas e Índices Americanos

3.1. Bolsas Americanas

A parte de abrir conta e enviar dinheiro para o exterior é a parte mais fácil do processo e a parte que as pessoas
mais tem receio, quando na realidade o que realmente importará nos seus resultados futuros do longo prazo
não está atrelado a qual corretora você escolheu ou a forma que enviará dinheiro para o mercado externo, o
que importa é a qualidade das suas decisões de investimentos, quais ativos você adquiri e como faz a gestão
do seu patrimônio.

Para isso você precisa, igual fez ao começar a investir no Brasil, entender o todo para depois escolher as partes,
ou seja, aprender às regras do jogo antes de jogar (assim espero), no exterior, mais especificamente nos EUA,
apesar de existirem inúmeras similaridades com a forma de se escolher e analisar ações e investimentos
quando comparamos com o Brasil, obviamente as diferenças – a acredite caro leitor ou leitora, são várias –
são os pontos que mais precisamos nos atentar e entender, e o primeiro passo para isso é entender sobre as
bolsas e índices americanos, esse capítulo é focado nas bolsas de valores americanas.

Diferentemente do Brasil, que existe apenas a B3 como opção de bolsa de valores, nos EUA existe mais de
uma grande bolsa, vou comentar a seguir sobre as duas maiores, a NYSE e a Nasdaq.

3.1.1 New York Stock Exchange (NYSE) e National Association of Securities Dealers Automated Quotations
(NASDAQ)

Os Estados Unidos apresentam duas grandes bolsas de valores, a NYSE e a NASDAQ, as quais possuem muitas
similaridades e diferenças que destaco a seguir:

1) Valor de mercado e Volume de negociações

A New York Stock Exchange, ou NYSE, é a maior bolsa de valores do mundo, chegando a valer U$ 30 tri (dados
de 2018), praticamente 50% do valor de mercado de todas as bolsas mundiais.

Essa bolsa, fundada de 1792, está localizada em Manhattan, no mais famoso centro financeiro do mundo de
Wall Street, foi e é responsável pela negociação de diversas das maiores e mais relevantes empresas do
mundo.

Já a NASDAQ, que é o acrônimo para National Association of Securities Dealers Automated Quotations, é a
segunda maior bolsa em termos de valor de mercado dos EUA, foi fundada em 1971, e supera sua irmã mais
velha quando o quesito é volume de negociações diárias, se destacando como a maior do mundo nesse termo,
e como a segunda em valor de mercado valendo aproximadamente U$ 10 tri (2018).

2) Custo de listagem

Quando uma empresa vai abrir capital, ou seja, emitir um IPO (Initial Public Offering) ela pode fazê-lo por uma
das duas bolsas, ou em ambas, e o custo para ser listada na NASDAQ oscila entre U$ 50 e US 75 mil dólares,
enquanto que para ser listada na NYSE o custo pode chegar aos U$ 500 mil, portanto, já é intuitivo pensar qual
das duas apresenta mais empresas listadas, que é justamente a terceira diferença entre elas.

3) Quantidade de empresas listadas


Apesar da NYSE ter quase dois séculos de vida a mais do que a NASDAQ, ela fica para trás em quantidade de
empresas listadas, não apenas por preferência ou tipo de empresa, mas muito em função do custo de listagem
comentado no tópico acima.

Quantidade aproximada de empresas na NYSE: ~ 2.400 empresas.

Quantidade aproximada de empresas na NASDAQ: ~ 4.000 empresas.

4) Segmentos de Empresas listadas

Outra importante diferença está associado aos setores de destaque das empresas listadas, enquanto e NYSE
comporta mais empresas industriais, de setores tradicionais, a NASDAQ é listada em grande parte com
empresas de tecnologia com cunho mais inovador e da área de TI.

Dentre as maiores empresas listadas na NASDAQ se destacam

Microsoft, Apple, Amazon, Facebook, Alphabet, Netflix, Tesla.

Dentre as maiores empresas listadas na NYSE se destacam

Berkshire Hathaway, Alibaba, J P Morgan, Visa, Johnson & Johnson, Walmart, Exxon Mobil, Procter & Gamble,
Walt Disney, Coca-cola, Boeing.

3.2. Principais Índices

Neste capítulo vamos ver os principais índices americanos das bolsas de valores que servem como referência
mundial em termos de crescimento, sinais de alertas, e claro, como opções de investimentos.

Esses índices, assim como praticamente qualquer outro índice de mercado, se baseia em um ou mais critérios
para incluir ou excluir uma empresa de sua composição, para atribuir o peso da empresa no índice, e se
entendidos com clareza podem servir não apenas como uma referência de acompanhamento, mas também
como armas de investimento e qualidade de decisões, entender o que compõe cada índice e quais são as
principais variáveis que os afetam, sem dúvida alguma irá melhorar sua capacidade de tomada de decisão
como investidor.

Além do fato que não é incomum investidores iniciantes se exporem a diversos índices (através de ETFs) e
acharem que estão diversificados quando na realidade os índices medem coisas parecidas, ou ainda evitarem
se expor a um índice achando que é similar ao outro, quando na realidade os critérios de seleção não são
similares. Tudo isso ficará mais claro nos parágrafos que se seguem.

4.2.1. S&P500

Provavelmente o índice mais famoso de todos o S&P500, ou Standard & Poor's 500, é um índice que foi criado
em 1957, composto por 500 ações cotadas nas bolsas de NYSE e NASDAQ selecionadas em função do seu
tamanho de mercado, liquidez e representação industrial. Ele mede o retorno de uma carteira teórica que
investe nessas 500 empresas ponderadamente ao peso atribuído.

Esse índice tem um caráter mais ativo que muitos outros, pois as ações são selecionadas por um comitê, que
podem decidir dentro de um certo grau de liberdade subjetivo incluir ou excluir ações do índice e ter alguma
influência em seu peso.

Obviamente existem dezenas de critérios e subcritérios para a composição do índice, que se eu relatasse neste
guia causaria bocejos e sonolência apenas, o que sugiro aos mais curiosos que busquem para se aprofundar e
entender em mais detalhes como uma ação é incluída neste importante índice, porém, destaco que o que
você precisa invariavelmente ter claro em mente é que dentro deste índice, dado as devidas ressalvas, estão
as 500 maiores empresas dos EUA em termos de valor de mercado de ambas as maiores bolsas do mundo.

Este índice, que é sem dúvidas o mais famoso do mundo, é usado como referência para balizar todo o
mercado, de maneira análoga com o que fazemos com o Ibovespa no Brasil.

Por exemplo, se um gestor de fundo de ações consegue performar melhor que o Ibovespa, ou seja, valorizar
mais que o índice em anos de alta, e se desvalorizar menos em anos de baixa, ele é visto como um bom
fundo/gestor.

O S&P500 também atua desta forma, porém, devido a seu tamanho e importância atua quase que como um
termômetro mundial para os ânimos de mercado, apresentando comumente uma correlação com o
comportamento dos outros grandes índices mundiais.

Exemplos de empresas no índice:

Amazon, Apple, Alphabet, Caterpillar, Coca-Cola Company, eBay, Facebook , Ford Motor, Mattel, McDonald’s
, Microsoft, Netflix, Nike , Starbucks, Visa , Xerox.

Apesar do índice ter sido criado em 1972, é possível retroceder e analisar como ele teria performado se fosse
criado um século antes. E como se observa no gráfico a seguir que representa a variação percentual do índice,
o S&P500 teve uma valorização de aproximadamente 64.000% até maio de 2020 (momento que vivemos a
crise do Corona Vírus e praticamente todas as bolsas mundiais estão em baixa em relação ao ano anterior), o
que dá um retorno de aproximadamente 4,5%a.a. durante todo esse período.

Porém, se pegarmos após a crise de 29, a partir da metade do ano de 1932 quando a bolsa chegou ao ‘fundo
do poço’ e começou a se recuperar, desta data até maio de 2020 o S&P500 se valorizou praticamente o mesmo
que se comparado com a origem em 1872, ou seja, de 1932 a 2020 o S&P valorizou aproximadamente 62.000%
assim como ilustra a imagem abaixo. O que dá uma rentabilidade média anual de aproximadamente 7,6%a.a.
E se pegarmos após a crise do Subprime (bolha hipotecária americana) que estourou em 2008 e teve seu pico
em 2009, o S&P se recuperou aproximadamente 300% em 11 anos, gerando uma rentabilidade de
aproximadamente 8%a.a.

Vale destacar que dentre as 500 empresas que circundam os S&P500, 20 ainda permanecem (obviamente com
pesos diferentes) desde a sua criação apresentando retornos anualizados

Para tentar ser o mais imparcial possível, trago aqui um estudo feito com todas as possíveis combinações de
20 anos de espaço desde 1926 até 2018, e o retorno que o índice deu nesse período:
Fonte: moneytimes

Reparem que nunca em uma janela de 20 anos, mesmo em uma que começa logo antes da crise de 1929, o
S&P500 deu prejuízo, o que reforça a ideia de solidez como investimento para longo prazo.

3.2.2. NASDAQ Composite

O índice NASDAQ Composite, que teve sua criação em 1971, é um índice que considera mais de 3.300 ações
listadas na bolsa NASDAQ composto majoritariamente por ações ordinárias de empresas do setor de
tecnologia da informação, e diferentemente do S&P500, não conta apenas com empresas sediadas nos EUA,
totalizando mais de 5.000 empresas em sua composição total, incluindo REITs e ADRs.

Para uma empresa ser elegível de inclusão no índice ela precisa estar listada exclusivamente na NASDAQ Stock
Market ou ter atendido a alguns critérios de segurança de outros tipos de ativos.

Dentre as principais empresas listadas neste índice se destacam:

Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet, Facebook, Intel, PayPal, Netflix, Costco, Nvidia, Adobe, entre diversas.
Em termos de rentabilidade, desde 1973 até maio de 2020 o índice valorizou um pouco mais de 9.000%, o que
gera uma rentabilidade média de aproximadamente impressionantes 19,8%a.a. como ilustra a imagem a
seguir:

Nota se em 2000 a ocorrência de um grande pico seguido por uma forte queda que foi a famosa “Bolha da
Internet”, onde praticamente qualquer empresa que terminasse seu nome como “.com” tinha suas ações
imediatamente valorizadas na bolsa por pura especulação, todo o fervor por trás das empresas de tecnologia
elevou em 5 vezes o valor do índice de 1995-2000, onde atingiu seu pico em 10 de março de 2000 antes do
grande crash, onde chegou a despencar 76% em menos de 2 anos.

Alguém que investiu no topo da bolha e manteve seu investimento até hoje (sem aportes novos) teria obtido
um retorno total de aproximadamente 100%, um equivalente a 3,5% a.a. :

E como última referência, alguém que tivesse investido após a crise do subprime em 2009 teria obtido um
retorno de mais de 500% (o que reforça a importância de aportar sempre nos ativos que se acredita, mas isso
é assunto para outro livro), equivalente a aproximadamente 17,7%a.a.:
3.2.3. O índice Dow Jones Industrial Average (DJI ou DJIA)

O índice Dow Jones (DJI), existente desde 1896, também conhecido como Dow Jones Industrial Average (DJIA),
está entre os principais indicadores financeiros do mercado de ações norte-americano, e diferentemente do
que muitos pensam, não é uma bolsa de valores, mas exclusivamente um índice, assim como o S&P500 ou a
NASDAQ Composite.

Para chegar a um resultado, o índice avalia as trinta grandes ações industriais, que estão registradas na Bolsa
de Nova York, e vem apresentando um retorno médio desde sua existência na casa dos 5,4%a.a. (cálculo
considerando 122 anos de existência do índice).

Esse índice, que pode ser visto como um contrabalanço para o NASDAQ Composite (o qual considera empresas
de tecnologia como seu grande foco), visto que foca em grandes indústrias, usualmente mais tradicionais
focadas na produção industrial.

Dentre os principais fatores econômicos que influenciam o retorno do Dow Jones, se destacam os mesmos
fatores que favorecem o crescimento das indústrias, como taxas de juros e inflação baixas, desempregos nas
mínimas, e créditos facilitados (gastos elevados da população).

Existem críticas quanto ao uso deste indicador para se avaliar o mercado, visto que ele é composto apenas
por 30 empresas, diferentemente do S&P500 ou do NASDAQ Composite que incluem, respectivamente,
centenas e milhares de empresas. Porém, ele ainda continua como uma referência no mercado e um
benchmark relevante para o mercado mundial e americano.

E diferentemente dos outros dois índices, os critérios para seleção das 30 empresas são feitos pelos editores
do jornal The Wall Street Journal, que desde a sua criação selecionam os ativos do índice, girando em torno
de alguns critérios base como as empresas serem líderes de seus respectivos mercado e classificadas como
blue chips.

As 30 ações do Dow Jones em maio de 2020 são:

American Express, Apple, Boeing, Caterpillar, Cisco Systems, Chevron, Exxon Mobil, Goldman Sachs Group,
Home Depot, International Business Machines, DowDuPont, Intel, Johnson & Johnson, Coca-Cola, JPMorgan,
Chase & Co, McDonald’s, 3M, Merck, Microsoft, Nike, Pfizer, Procter & Gamble, Travelers Companies,
UnitedHealth Group, United Technologies, Verizon Communications, Visa, Wal-Mart e Walt Disney.
A critério de curiosidade, inicialmente o Dow Jones era composto por 12 empresas, sendo estas: American
Cotton Oil, American Sugar, American Tobacco, Chicago Gas, Distilling & Cattle Feeding, General Electric,
Laclede Gas, National Lead, North American, Tennessee Coal and Iron, U.S. Leather and U.S. Rubber.

Se pegarmos desde 1915 até maio de 2020 o DJI obteve uma valorização de mais de 46.000%, o que equivale
a aproximadamente 6,0%a.a. como ilustra a imagem a seguir:

E como se observa na imagem abaixo que ilustra o gráfico de 1999 a 2020, a crise das “.com” de 2000 afetou
muito menos este índice, justamente por concentrar indústrias mais tradicionais e não o setor de tecnologia
da informação:

Se pegarmos desde o final da crise do subprime em 2009, até 2020 o índice Dow valorizou aproximadamente
250%, aproximadamente 12%a.a. como ilustra a imagem a seguir:
3.2.4. Compilação do que vimos até agora

Para te ajudar a enxergar melhor o que vimos sobre bolsas e índices, o esquema a seguir (de cima para baixo)
mostra a representação do mercado de ações dos EUA, seguido pelas duas maiores bolsas mundiais, e no
último nível os respectivos índices, e a qual, ou quais, bolsa eles pertencem/ tem suas empresas listadas:

3.2.5. Outros grandes índices americanos: Russel 1.000, Russel 2.000 e Russel 3.000

Os índices Russel X.000 foram criados para auxiliar os investidores a acompanharem diferentes mercados além
do que os índices clássicos permitem.

Esses índices foram criados em 1984 tentando permitir uma visão mais ampla do mercado, vamos analisar
cada um deles:

Russel 1.000: Inclui as 1.000 maiores stocks dos EUA representando 90% do valor de mercado americano
(large caps)

Russel 2.000: Inclui as 2.000 menores stocks dos EUA representando 8% do valor de mercado americano
(small caps)

Russel 3.000: Inclui as 3.000 maiores stocks dos EUA representando 98% do valor de mercado americano.
Para ajudar na compreensão, os índices podem ser representados pelo esquema abaixo:

Os critérios de inclusão de ativos neste índice são mais simples e basicamente balizados por valor de mercado.

Pela imagem a seguir vemos que os índices apesar de claramente apresentarem uma alta correlação, podem
apresentar rentabilidades distintas ao longo de diferentes períodos

Se comparamos desde 1993 até 2020 o Russel 1.000 rentabilizou aproximadamente 580%, o Russel 2.000
rentabilizou 480% e o Russel 3.000 rentabilizou muito próximo do Russel 1.000 com aproximadamente 575%,
o que já era de se esperar se você de fato compreendeu os índices, porque apesar de possuir duas mil
empresas a mais elas somam apenas 8% do mercado em termos de peso em valor de mercado, logo os
resultados tendem a serem parecidos historicamente.

Observação importante: está vendo como é importante saber analisar e entender o que cada indexador te
diz? Por exemplo, uma carteira que invista no Russel 1.000 e no Russel 3.000 é muito menos diversificada em
termos de risco do que alguém que invista as mesmas proporções no Russel 1.000 e no Russel 2.000 que
pegam segmentos opostos de empresas (se você não entendeu essa afirmação é um bom sinal para você
voltar e reler).
Para colocar este último índice em nosso esquema sobre o mercado e bolsa teríamos algo como a imagem a
seguir:

3.2.6. Comparando a rentabilidade histórico de todos os índices

Para te ajudar a ter uma imagem mental melhor sobre a rentabilidade histórica dos índices este tópico traz
gráficos comparativos, mas antes de irmos a eles devo fazer algumas ressaltas:

1) Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.


2) Ter um retorno maior não é sinônimo de ser melhor, todo investimento com um retorno maior, ou
seja um prêmio maior atrelado a ele, quase que invariavelmente tem um risco maior.
3) Cada investimento tem um USO e OBJETIVO, você precisa entender quais os seus objetivos antes de
investir, e buscar quais investimentos estão alinhados com isto.

O gráfico abaixo compara desde 1993 a rentabilidade de todos os índices que vimos até agora, e como se pode
observar o índice que mais se destaca em termos de rentabilidade e volatilidade é o NASDAQ Composite, o
que tem bastante sentido, visto que as empresas de tecnologia da informação são as mais arriscadas, e que
tem grande potencial de valorização, diferentemente, por exemplo, do DJI que são empresas maiores, mais
sólidas, já líderes em seus respectivos mercados, o que traz os dois lados da moeda, de um a solidez e
segurança, de outro a dificuldade de expandir em um mercado que “já é dela”.
Para facilitar a comparação entre os índices, o gráfico abaixo remove o NASDAQ Composite e deixa os outros
índices no mesmo período:

E vale sempre relembrar que em termos de risco e volatilidade, o Ibovespa, principal índice de ações do Brasil
historicamente fica sempre acima do S&P:
CONCLUSÃO

Investir no exterior é uma evolução natural e um passo que pode e deve ser dado conforme nos
desenvolvemos em relação a qualidade de nossas escolhas e o quanto queremos e precisamos proteger e
diversificar nosso patrimônio conforme ele cresce junto conosco.

Inicialmente tem sentido começarmos a investir em nosso país para entrarmos em um mundo mais
próximo, porém, é de minha crença que todos deveriam considerar ter parte de seu patrimônio exposto
fora do Brasil, visto que representamos menos de 2% de todo o mercado mundial de bolsas de valores,
sofremos com relativa frequência de incertezas políticas, grandes oscilações cambiais, e apesar da minha
forte crença que temos um caminho muito bom para percorrer no futuro, não posso apenas contar com
a minha crença para proteger todo o meu patrimônio, e investir em um país que representa 50% de todo
o valor mobiliário mundial em uma moeda e economia muito mais estável que a nossa, não é apenas
diversificar de maneira inteligente, é decidir de maneira inteligente não contar com a sorte, e deixar que
todas as variáveis trabalhem a seu favor de forma inteligente, diversificada, ponderada e muito mais
segura.

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