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Intertextualidade → Recurso realizado entre textos, ou seja, é a influência e

relação que um estabelece sobre o outro. Determina o fenômeno relacionado ao processo de


produção de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos existentes em
outro texto, seja em nível de conteúdo, forma ou de ambos: forma e conteúdo. A
intertextualidade é o diálogo entre textos, de forma que essa relação pode ser estabelecida

entre as produções textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escrita),
sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, dança, cinema), propagandas
publicitárias, programas televisivos, provérbios, charges, dentre outros.
A intertextualidade assume a função de não só persuadir o receptor como também de difundir
a cultura. O fenômeno da intertextualidade está ligado diretamente ao "conhecimento do
mundo", que deve ser compartilhado entre o produtor e o receptor de textos. O diálogo pode
ocorrer ou não em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e
exclusivamente a textos literários.

Tipos de intertextualidade →
 Alusão ou referência - Na alusão, não se aponta diretamente o fato em questão;
apenas o sugere através de características secundárias ou metafóricas.
 Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas e geralmente com o
nome do autor deste. A Citação é um fragmento transcrito de outro autor, inserido no
texto entre aspas.
 Crossover - é aparição ou encontro entre personagens que pertencem a universos
fictícios diferentes em determinados capítulos, episódios, edições ou volumes de
alguma obra artística.
 Epígrafe - é um pequeno trecho de outra obra, ou mesmo um título, que apresenta
outra criação, guardando com ela alguma relação mais ou menos oculta.
 Paráfrase - o autor recria, com seus próprios recursos, um texto já existente,
"relembrando" a mensagem original ao interlocutor.
 Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado,
rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela muitas vezes perverte o texto anterior,
visando a crítica de forma irônica.
 Pastiche - é definido como obra literária ou artística em que se imita abertamente o
estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc. Diferentemente da paródia, o
pastiche desconstrói o sentido sem usar ironia.
 Plágio - é a cópia e/ou alteração indevida e não-licenciada de uma obra artística,
científica ou literária por alguém que afirma ser o autor original da mesma.
 Tradução - a tradução é a adequação de um texto em outra língua, a língua nativa do
país. Por exemplo, um livro em turco é traduzido para o português.
 Transliteração - técnica linguística que, tal como a tradução, ocupa-se de adequar
termos, nomes e expressões de uma língua para outra, entretanto adaptando-as para
um alfabeto que possui letras diferentes de seu original.

"ameixas
ame-as
ou deixe-as"
Paulo Leminki

AS DUAS IRMÃS FABIANAS


ERA UMA VEZ UMA MÃE QUE TINHA DUAS FILHAS, mas ela gostava mais da filha mais
nova. Fabiana era a mais velha e a irmã chamava-se Menina.
Fabiana, a mais velha, passava o dia a trabalhar e a mãe educou-a a fazer sozinha
todas as tarefas domésticas.
Tratava dos animais, preparava as refeições, servia à mesa à francesa, fazia as
camas à inglesa, aprendeu a fazer bacalhau de 46 maneiras, dava de comer aos porcos
logo às seis da manhã e deitava-lhes uma mão de sal, para as fêveras ficarem mais tenras,
dava de comer aos periquitos, mungia as vacas e era a criada da casa. A mãe tinha mais
que fazer, entretendo-se a dar ordens às criadas e nem tinha tempo para falar com ela…
Mas Menina, pelo contrário, ondulava o cabelo, acordava tarde, pintava as unhas,
vestia-se de rendas, enchia-se de ouros e ia pendurar-se no caramanchão, olhando a
rua…A mãe não sabia que mais laços lhe pôr.
Cresceram e fizeram-se mulherzinhas e casaram, mas uma foi de branco com dote,
véu e grinalda e arranjou um marido rico e Fabiana vestiu-se de preto e foi viver para
longe.
Fabiana chorou ao deixar a mãe e a cama de solteira e ambas partiram. E a mãe ficou
sozinha com as criadas até que se lembrou de as ir visitar.
Fabiana escreveu cartas que a mãe não chegou a ler, sempre ocupada com as
criadas e Menina não escreveu, pois esquecera tudo o que aprendera na Escola.
Anos mais tarde, a mãe foi visitar as filhas e não estranhou ao ver Fabiana com os
filhos limpos e assoados e os cães com as vacinas tomadas.
Quanto a Menina esperava-a uma grande surpresa: as pombas esvoaçavam no
quintal, os tapetes estavam cheios de lama, os criados insultaram a mãe à entrada, a
Menina bocejou com estrondo, as pombas levantaram voo e Menina, com os cabelos
metidos numa touca por já não conseguir penteá-los, de tão porcos que estavam, sorriu e
disse:
- Mãe, venha de pedrinha em pedrinha para não cair na merdinha…

Agustina Bessa-Luís. Contos Amarantinos.

A pedra
No meio do caminho
Crack
(Verçosa, Haicai do Brasil /
org. Adriana Calcanhoto,
2014)
A Intertextualidade ocorre quando há a criação de um texto com base em outras obras
literárias, guardando elos que os unam, em um interessante diálogo de interpretação e
intenção, leitura e escrita. A Intertextualidade pode se dar através de citações
contextualizadas, de revisão da temática, da forma, pelo uso de palavras-chaves como
nomes próprios, e uma infinidade de outras maneiras. E grandes poetas já viajaram pelas
águas dessa Intertextualidade explícita, fazendo paródias de outros poemas e criando
novas obras. Veja este exemplo: Carlos Drummond de Andrade inicia seu texto "Poema de
Sete Faces" com a estrofe

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

a partir deste trecho (e revisando a ideia original do poema de Drummond) vários outros
textos de grandes nomes da Literatura Brasileira foram criados. Vejam trechos iniciais de
alguns deles:
Até o Fim vai carregar bandeira.
de Chico Buarque de Hollanda Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Quando nasci veio um anjo safado Aceito os subterfúgios que me cabem,
O chato do querubim sem precisar mentir.
E decretou que eu estava predestinado (...)
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim Let's Play That
(...) de Torquato Neto

quando eu nasci
Com licença poética um anjo louco muito louco
de Adélia Prado veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
Quando nasci um anjo esbelto, era um anjo muito louco, torto
desses que tocam trombeta, anunciou: com asas de avião

COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice P. B. Mourão. Belo Horizonte:


Editora UFMG, 1996.

KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo:
Perspectiva, 1974.
PAULINO, Maria das Graças Rodrigues, WALTY, Ivete Lara Camargos, CURY, Maria Zilda
Ferreira. Intertextualidades: Teoria e Prática. Belo Horizonte: Lê. 1997.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia, 7.ed. São Paulo: Ática, 2000.
SANTIAGO, Silviano. Vale quanto pesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

SCHNEIDER, Michel. Ladrões de palavras. Ensaio sobre o plágio, a psicanálise e o pensamento.


Trad. Luiz Fernando P. N. Franco. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

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