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2.1 - Acolhimento
O caderno de Acolhimento à demanda espontânea traz uma proposta de organização da
demanda espontânea, classificando em usuários com necessidades agudas e necessidades
crônicas. Necessidade entendida segundo a existência de doenças e a presença de grau de
vulnerabilidade apresentada pelo usuário. O acolhimento deve ser realizado de forma
sistemática, utilizando tecnologias relacionais como escuta qualificada, empatia, entre outras,
garantindo uma resposta à demanda do usuário. A atenção à população é um desafio diário na
atenção básica, as equipes precisam se organizar para ofertar uma resposta a cada situação
apresentada (BRASIL, 2012).
A fim de organizar a atenção é proposto um protocolo que deve ser aplicado à população
que se apresentar à unidade de saúde. Neste são consideradas a história da doença atual,
sinais vitais, patologias de base, medicamentos utilizados, exame físico sumário, verificação da
glicemia, eletrocardiograma se necessário (BRASIL, 2004).
A Tabela Classificação de risco indicará quatro possibilidades.
2.2 - Vulnerabilidade
A utilização da classificação, descrita na Tabela 1, sem a avaliação da necessidade pessoal
baseado no critério de vulnerabilidade, torna o instrumento distanciado da real necessidade
vivenciada pelo indivíduo. Portanto é preciso utilizar mecanismos que garantam a atenção
individual das pessoas, independente da ordem de chegada ao serviço. Para isto foi adotado a
avaliação do grau de vulnerabilidade das pessoas.
Atenção
O conceito de vulnerabilidade deve ser entendido como:
Etanol e Tabaco
Nesta sessão faremos uma discussão à respeito dos efeitos do patologias relacionadas à
utilização destas substâncias. Conhecendo os problemas relacionados à utilização destas
substâncias no aparelho digestivo, o profissional terá condições de orientar seu paciente a
respeito e ajudá-lo na construção de estratégias para recuperar sua saúde.
A abordagem do paciente deve ser feita, preferencialmente, antes de causar danos à pessoa.
Segundo Gusso e Lopes (2012), os profissionais de saúde identificam o consumo inadequado
de etanol, quando já está instalado seus efeitos adversos. Deve-se fazer a investigação do
padrão de consumo destas drogas, utilizando-se o CAGE a fim de fazer a triagem do uso
abusivo de etanol. Utiliza-se o Teste de Fagerstron, que avalia a gravidade da dependência de
nicotina e os critérios para dependência nicotínica segundo o Manual Diagnóstico e estatísticos
de Transtornos Mentais (DSM-IV).
Para os usuários que apresentem dependência de qualquer uma destas drogas, devem ser
construídas estratégias para cessação do consumo, devendo ser assistidos por equipe
multidisciplinar.
Estômago
O consumo agudo e crônico de etanol pode acometer o estômago de diversas maneiras.
Mesmo em baixas doses ele pode alterar a secreção gástrica, provocar lesões mucosas de
forma direta, interferir com a motilidade.
Bebidas com baixas concentrações de etanol, como cerveja e vinho causam aumento na
secreção ácida, inclusive com aumentos de gastrina circulante, enquanto bebidas com
elevadas concentrações como os destilados não provocam tal efeito. Os reais mecanismos
envolvidos nesse comportamento diferenciado não são totalmente conhecidos.
É bem documentada a atrofia de mucosa gástrica em etilistas crônicos, por ação direta do
etanol na mucosa, originando uma progressiva redução na produção ácida, o que, além de
interferir com processos digestivos, reduz as defesas primárias contra bactérias e eleva o risco
de infecção por certos agentes patogênicos e de colonização em porções altas do trato
digestivo.
A lesão direta da mucosa pelo etanol é descrita há várias décadas, podendo ser causa,
inclusive , de graves episódios de sangramento.
Tal fato é bastante incomum em bebedores eventuais saudáveis, mas pode ocorrer
facilmente em etilistas crônicos. O emprego de antiinflamatórios potencializa fortemente a lesão
mucosa de etanol, mesmo nos não etilistas.
Os mecanismos de ação do etanol na mucosa se dão por aumento da permeabilidade por
quebra das barreiras mucosas. Em exposições agudas a recuperação é rápida e total, mas nos
casos de grandes exposições crônicas observamos alterações na microcirculação e produção
de prostaglandinas e dano estrutural irreversível.
O etanol interfere com a função da musculatura digestiva, podendo alterar o trânsito pelo
estômago e intestino delgado. Os efeitos dependerão em parte da quantidade ingerida e da
presença de alimentos. As bebidas com maiores concentrações tendem a inibir a motilidade
gástrica e retardar seu esvaziamento. Isso aumenta a ação bacteriana sobre o alimento,
resultando em plenitude e desconforto abdominal.
Atenção
O etanol pode lesar diretamente a mucosa gástrica agudamente, pode potencializar a lesão por
medicamentos como antiinflamatórios e também pode causar atrofia da mucosa nos etilistas
crônicos, interferindo na digestão. Da mesma forma, ele interfere na motilidade do estômago,
comprometendo ainda mais suas funções.
Intestino Delgado
O etanol pode interferir com a absorção de diversos nutrientes, embora o próprio possa ser
rapidamente absorvido no jejuno. Estudos demonstraram que a ingestão aguda excessiva
interfere na absorção de água, sódio, glicose e certos aminoácidos e ácidos graxos em etilistas
ou não etilistas. Nos usuários crônicos os danos são mais marcantes, particularmente no
duodeno, e a taxa de etilistas com má absorção varia de 18 a 76%, o que juntamente com as
repercussões em outros órgãos irá definir o grau de comprometimento nutricional.
Também notamos redução na absorção de tiamina, ácido fólico e B12 (em menores
proporções).
Associadas a dietas insuficientes, próprias do etilismo crônico, todas as deficiências se
tornarão mais marcantes, com diferentes manifestações clínicas.
O etanol também interfere com a ação de várias enzimans intestinais, essenciais para seu
bom funcionamento. Uma dessas enzimas é a lactase, que muitas vezes já se encontra
geneticamente baixa em diferentes populações, agravando ou originando uma intolerância a
leite e derivados.
Por causar lesões na mucosa duodenal (pela liberação de citocinas, histamina e
leucotrienos), mesmo ingestões agudas em indivíduos saudáveis podem apresentar erosões e
até sangramentos.
As lesões podem se estender aos vilos intestinais, facilitando a penetração de certas
moléculas, como endotoxinas bacterianas, interleucinas e fator de necrose tumoral (TNF) na
corrente sanguínea e linfática. Tais substâncias podem contribuir para o desenvolvimento das
lesões hepáticas em etilistas.
Foi observado um sobrecrescimento de certas bactérias produtoras de endotoxinas
no intestino delgado de etilistas. Associada ao aumento de permeabilidade da mucosa, essa
condição aumenta a exposição sistêmica às endotoxinas e ao risco de lesões hepáticas.
Atenção
O câncer digestivo, particularmente de esôfago e pâncreas, estão fortemente relacionados ao
etilismo.
Etanol e fígado
O abuso de etanol é a causa mais comum de doenças graves do fígado no ocidente. Nos
EUA afeta cerca de 1% da população (2 milhões de pessoas).
Embora a associação entre o etilismo e doenças do fígado seja conhecida desde a
antiguidade, os mecanismos exatos envolvidos estão em constante discussão e novos
conceitos vêm sempre à tona na medida em que as pesquisas evoluem.
Fatores genéticos, nutricionais, ambientais e imunológicos devem ser considerados assim
como suas potenciais interações.
O diagnóstico de doença hepática alcoólica é feito através da confirmação do consumo
excessivo e dos sinais de doença no fígado, não havendo um marcador específico que defina a
origem etílica da doença. Também devemos considerar que o etanol pode estar junto com
outros fatores lesivos ao fígado, podendo ser o principal agente ou um adjuvante, numa
condição também de difícil determinação.
Alguns achados laboratoriais são sugestivos, como uma razão entre AST/ALT maior que
dois, no caso de estarem elevadas (acima de três é altamente sugestivo).
O exame físico pode estar desde totalmente normal até muito alterado, sugestivo de cirrose
avançada. A palpação hepática pode estar normal, e mesmo quando alterada, informa de
maneira imprecisa o volume do órgão. Alguns sinais relacionados ao alcoolismo podem ajudar
no diagnóstico, como aumento de parótidas, contratura de Dupuytren, sinais de feminilização.
Alguns sinais de doença hepática (de forma geral) serão indicativos de altas taxas de
mortalidade em um ano, como encefalopatia, edema, circulação colateral na parede, ascite,
aranhas vasculares e perda de massa muscular.
Atenção
O acetaldeído é o agente lesivo mais importante que resulta do metabolismo do etanol.
Ele pode afetar diversos tecidos, através de processos oxidativos (principal) e ações
imunológicas.
Fatores genéticos
Sabidamente apenas a menor parte dos etilistas desenvolvem graves lesões hepáticas. Há
uma grande discussão sobre potenciais fatores genéticos envolvidos, desde correlações com o
sistema HLA até o polimorfismo genético, mas nenhuma conclusão definitiva foi atingida até o
momento.
A correlação mais clara do ponto de vista de aumento de risco de lesão encontra-se no sexo,
com uma maior prevalência de mulheres sob risco de desenvolverem lesões pelo consumo
crônico.
A dose mínima estimada de etanol para o desenvolvimento de cirrose é de 40g para homens
e de 20g para mulheres acima dos quinze anos. Nos pacientes que permanecem bebendo
após o diagnóstico de doença hepática, a sobrevida em cinco anos será de 30% para mulheres
e de 70% para homens.
A principal causa conhecida dessa diferença seria a menor concentração de etanol
desidrogenase na mucosa gástrica de mulheres, reduzindo a primeira metabolização do etanol.
Possível interação de fatores humorais e a presença mais frequente de auto anticorpos nas
mulheres etilistas que nos homens também devem estar de certa forma envolvidas no pior
prognóstico do sexo feminino.
3.1.8 - Nutrição
Também vem gerando polêmica na literatura se o fato de o indivíduo estar em más condições
de nutrição aumentaria os riscos de desenvolvimento de lesões hepáticas. Tal conceito foi
refutado no final da década de 1970 através de modelos experimentais, mas algumas
observações clínicas ainda questionam tais conclusões. Não há um conceito definitivo se a má
nutrição seria ou não um fator de risco isolado para o desenvolvimento de hepatopatia
alcoólica.
3.2 - Principais consequências hepáticas do etilismo
3.2.1 - Esteatose hepática
A oxidação do etanol requer a conversão do NAD ao NADH. Como o NAD é necessário para
a oxidação de gorduras, sua depleção inibirá tal processo, causando a acumulação de
gorduras no hepatócito (esteatose). O acúmulo de gordura no hepatócito pode se dar em dias
após consumo excessivo de etanol, podendo retornar ao estado oxidativo normal com
abstinência do mesmo.
A permanência desse estado de alteração do metabolismo lipídico do hepatócito pode gerar
inflamação, formação de granulomas, de fibrose e evoluir para a cirrose hepática.
Epatite alcoólica
A correta prevalência da hepatite alcoólica, principalmente das formas leves, não é
conhecida, basicamente por ser em geral assintomática. Dados internacionais demonstram
variabilidade considerável por diferentes países, sendo no ocidente encontrada em 25-30% de
biópsias dos pacientes etilistas moderados a severos.
O efeito tóxico do etanol e do acetaldeído sobre as membranas celulares pode alterar tanto
sua fluidez quanto sua capacidade de ligação enzimática e com carreadores.
Nas mitocôndrias, as lesões podem se manifestar com a formação de megamitocôndrias.
As lesões nos hepatócitos se manifestam mais nas regiões perivenulares (zona 3), mais
sensíveis aos danos por hipóxia.
O etanol também induz um estado de hipermetabolismo no hepatócito, em parte pelo fato do
metabolismo do etanol pelo o sistema microssomal de oxidação do etanol (MEOS) não resultar
em ganho energético pela formação de ATP.
A geração de radicais livres superóxidos e hidroperóxidos pelo metabolismo de etanol e
aldeído, também levam à depleção de glutation, a principal defesa contra os mesmos radicais.
Outras defesas contra os radicais livres como zinco e vitamina E também costumam estar
reduzidos em pacientes etilistas.
Atenção A hepatite alcoólica leve é uma condição de baixo risco, com baixa mortalidade
de curto prazo. Entretanto, se o quadro for suficiente para ocasionar icterícia,
encefalopatia ou coagulopatia a mortalidade passa a ser substancial; podendo ir de 15%
em 30 dias até mais de 60% naqueles pacientes com icterícia severa e encefalopatia.
Linfócitos B e T podem ser observados em espaços portal e periportal e linfócitos killer
naturais podem ser vistos circundando hepatócitos de conteúdo hialino. Os pacientes
costumam apresentar quedas nos linfócitos circulantes com aumento na relação de células
helper/supressoras, demonstrando envolvimento da imunidade celular no quadro.
O fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) encontra-se muito elevado no plasma de
portadores de hepatites alcoólicas, assim como as interleucinas 1, 6 e 8; supostamente
envolvidas na modulação de certas complicações metabólicas do quadro.
A imunossupressão com corticoides apresenta resultados positivos em alguns casos severos
de hepatite alcoólica, reforçando essa teoria.
O prognóstico a longo prazo depende de o indivíduo já ter ou não cirrose e de continuar ou
não bebendo.
Com a abstinência os pacientes podem apresentar melhoras sensíveis na função hepática
dentro de meses ou anos, inclusive com melhora histológica.
Se o abuso do etanol persistir, a hepatite também persistirá e a progressão para cirrose se
torna um risco estabelecido dentro de meses ou anos.
A hepatite alcoólica leve é uma condição de baixo risco, com baixa mortalidade de curto
prazo. Entretanto, se o quadro for suficiente para ocasionar icterícia, encefalopatia ou
coagulopatia a mortalidade passa a ser substancial; podendo ir de 15% em 30 dias até mais de
60% naqueles pacientes com icterícia severa e encefalopatia.
Atenção
De qualquer modo devemos ressaltar que a mortalidade geral dentro de um ano para
pacientes internados por hepatite alcoólica chega a 40%.
A Associação Norte Americana para o Estudo de Doenças do Fígado (AASLD) estabeleceu
o emprego de critérios prognósticos baseados em cálculos, sendo o de Maddrey (Maddrey
discriminant function -MDF) um dos mais utilizados, embora discutido por diferentes autores.
Ele é calculado com base na alteração do tempo de protrombina e na bilirrubina, da seguinte
maneira:
DF = (4.6 × prolongamento do TP) + bilirrubina total mg/dL
Valores acima de 32 indicam pior prognóstico, com mortalidade em 30 dias de cerca de 50%.
O escore mais moderno a ser proposto foi o Asymmetric dimethylarginine (ADMA),
aparentemente com alto valor preditivo de mortalidade.
Outros fatores correlacionados com maior mortalidade são a idade avançada, perda de
função renal, encefalopatia e aumento na contagem de leucócitos nas primeiras duas semanas
de internação.
- Cirrose
A cirrose é definida histologicamente como um processo difuso de fibrose (deposição de
componentes da matriz extracelular, como colágeno) hepática e conversão da arquitetura
normal do órgão para a formação de nódulos. O processo pode se dar desde meses até vários
anos e representa o resultado final de diferentes doenças hepáticas crônicas.
As principais complicações da cirrose são a hipertensão portal, a ascite, a encefalopatia
hepática, diferentes distúrbios metabólicos e hormonais e a redução da imunidade, todos com
diferentes possíveis desdobramentos.
As doenças crônicas do fígado são responsáveis por mais de 35.000 mortes ao ano nos
EUA, representando 1,2% de todas as causas de morte, a maioria depois da quinta década de
vida.
A doença alcoólica do fígado é o grande responsável pela cirrose no ocidente, sendo a
hepatite C um fator emergente na epidemiologia recente.
Muitos casos de cirrose de etiologia desconhecida hoje são atribuíveis à doença gordurosa
do fígado (esteatose/esteato-hepatite), principalmente em obesos, diabéticos e
hipertrigliceridêmicos. Acredita-se que 10% dos pacientes com esteatose e hepatite associada
(esteato-hepatite não alcoólica) possam evoluir cronicamente para cirrose.
A presença de etilismo em portadores de hepatite C é um importante agravante na evolução
da mesma para cirrose.
Uma das maneiras mais empregadas para estimar a sobrevida em pacientes cirróticos, e
assim definir medidas de saúde a serem implementadas, é a clássica classificação de Child-
Tucotte-Pugh (ou simplesmente Child), que considera uma somatória de pontos atribuíveis a
características clínicas e laboratoriais do paciente. Por exemplo, um escore de 10 ou mais,
definiria um risco de mortalidade dentro de um ano em 50%.
Os programas de transplante hepático costumam empregar a classificação MELD (Model for
End-Stage Liver Disease) para definir o grau de severidade da doença, com base em cálculos
considerando a creatinina, a bilirrubina e a coagulação. Os maiores escores definem os
maiores riscos de mortalidade.
Muitos pacientes cirróticos permanecem por muitos anos assintomáticos e sem diagnóstico.
As manifestações clínicas também podem aparecer de forma isolada de acordo com uma
complicação ou de forma mais global, principalmente em casos de descompensação aguda.
Atenção
A hipertensão portal em geral se manifesta clinicamente por esplenomegalia (em geral
indolor), ascite de diferentes proporções e sangramentos por varizes de esôfago ou fundo
gástrico (esse um quadro em geral grave e responsável por elevada mortalidade).
A perda de função do hepatócito, em geral, se manifesta por hipoproteinemia (com
consequente edema de membros inferiores e ascite), alterações de coagulação (podendo ir
desde hematomas e sangramentos pequenos mais frequentes, até grandes hemorragias). A
icterícia pode não se manifestar até em estágios avançados da doença, em geral relacionada
tanto a falhas na conjugação quanto na excreção da bilirrubina, ou seja, manifestando-se
laboratorialmente com aumento das duas bilirrubinas, conjugada e não conjugada.
A encefalopatia hepática possui uma fisopatologia complexa, relacionada tanto com perda da
função de metabolização pelo fígado quanto de shunts vasculares, e pode se manifestar desde
formas brandas com tremores de mãos (os quais podem ser atribuíveis a outras causas como a
perda de massa muscular e lesões neurológicas também frequentes nos etilistas) confusão
leve e inversão do sono para um padrão diurno despertar noturno; quanto estados de comas
profundos (graduada de encefalopatia 1 a 4).
Outros achados na cirrose seriam as manifestações vasculares cutâneas, como eritema
palmar e aranhas vasculares (telangectasias mais visíveis no tronco), baqueteamento digital,
desaparecimento da lúnula ungueal, perda de massa muscular e fadiga associada e síndrome
hepatopulmonar.
Atenção A cirrose será tema de uma discussão especial. É importante ressaltar que o
etilismo é sua principal causa em nosso meio, a presença de infecções virais (hepatites)
potencializa a má evolução. As manifestações são muito diversas e variáveis,
relacionadas com a hipertensão portal (varizes de esôfago e estômago, com potencial de
hemorragias; ascite) com a insuficiência hepatocelular (edemas, ascite, icterícia,
encefalopatia, alterações de coagulação), desnutrição e depressão da imunidade.
Nutrição Saudável
A promoção à saúde começa no estímulo de manter um padrão alimentar saudável, adaptado
às diferentes necessidades do organismo, em suas diferentes faixas etárias. Considerando-se
às particularidades de cultura, disponibilidade de alimentos e gostos individuais (GUSSO e
LOPES, 2012).
Informar seu pacientes sobre a necessidade de se realizar pelo menos três refeições
diárias, intercaladas com lanches saudáveis;
Informar quanto à importância da consulta e interpretação da informação nutricional e
da lista de ingredientes presentes nos rótulos dos alimentos, para a seleção de
alimentos mais saudáveis;
Quanto à necessidade de mastigar os alimentos de forma correta.
Uma vez que a alimentação se dá em função do consumo de alimentos e não de nutrientes,
uma alimentação saudável deve estar baseada em práticas alimentares que tenham significado
social e cultural. Os alimentos têm gosto, cor, forma, aroma e textura e todos esses
componentes precisam ser considerados na abordagem nutricional. Os nutrientes são
importantes; contudo, os alimentos não podem ser resumidos a veículos deles, pois agregam
significações culturais, comportamentais e afetivas singulares que jamais podem ser
desprezadas. Portanto, o alimento como fonte de prazer e identidade cultural e familiar também
é uma abordagem necessária para promoção da saúde.1
Em um país como o Brasil, onde as desigualdades regionais são expressivas, é importante
destacar que a promoção da alimentação saudável pressupõe a necessidade de definição de
estratégias de saúde pública capazes de dar conta de um modelo de atenção à saúde e de
cuidado nutricional, direcionados para a prevenção da desnutrição, incluindo a fome oculta e
outras doenças relacionadas à fome e exclusão social, como também do sobrepeso, da
obesidade e das demais doenças resultantes da inadequação alimentar.
O enfoque da alimentação no curso da vida é essencial para compreender como
intervenções nutricionais podem contribuir para a prevenção de doenças não-transmissíveis.
Aquilo que se come e bebe não é somente uma questão de escolha individual. A pobreza, a
exclusão social e a qualidade da informação disponível frustram ou, pelo menos, restringem a
escolha de uma alimentação mais adequada e saudável. E o que se come e se bebe é ainda,
em grande parte, uma questão familiar e social. Em geral, contrariamente ao que se possa
imaginar, as escolhas alimentares são determinadas não tanto pela preferência e pelos hábitos,
mas muito mais pelo sistema de produção e de abastecimento de alimentos.
Atenção
As recomendações que buscam a prevenção das doenças se baseiam em padrões alimentares
semelhantes àqueles utilizados tradicionalmente em muitas regiões do mundo que possuem
uma cultura alimentar consolidada e onde as pessoas não convivem com situações de
insegurança alimentar e nutricional. Tal como indicado nos relatórios, essas dietas apresentam
as seguintes características:
São ricas em grãos, pães, massas, tubérculos, raízes e outros alimentos com alto teor
de amido, preferencialmente na sua forma integral.
São ricas e variadas em frutas, legumes e verduras e em leguminosas (feijões) e
outros alimentos que fornecem proteínas de origem vegetal;
Incluem pequenas quantidades de carnes, laticínios e outros produtos de origem
animal;
Em consequência, contêm fibras alimentares, gorduras insaturadas, vitaminas,
minerais e outros componentes bioativos;
Contêm também baixos teores de gorduras, açúcares e sal.
As diretrizes empregadas enfatizam primeiramente as vantagens dos alimentos e das
refeições saudáveis, estimulando o consumo de determinados alimentos mais do que proibindo
o de outros. A segunda, terceira e quarta diretrizes, para alimentos que contêm amidos
(cereais, tubérculos e raízes), frutas, legumes e verduras e para feijões são exemplos de
recomendações positivas. Mensagens com uma abordagem positiva são mais eficazes, porque
as pessoas são naturalmente mais atraídas por esse tipo de contexto. Algumas orientações
com caráter restritivo - por exemplo para que se consumam menos gorduras, gorduras
saturadas e açúcar, menos sódio (sal) - são, contudo, inevitáveis frente às evidências
científicas que relacionam o consumo excessivo desses grupos de alimentos ao risco
aumentado de desenvolvimento de DCNT.
Uma alimentação saudável deve contemplar alguns atributos básicos, como acessibilidade
física e financeira, sabor, variedade, cor, harmonia, segurança sanitária.
O principal desafio na formulação e na implementação de estratégias para a promoção da
alimentação saudável passa, portanto, necessariamente, por torná-la viável em um contexto no
qual os papéis, os valores e o sentido de tempo estão em constante mudança.
Lembrar que os cereais, de preferência integrais, as leguminosas e as frutas, legumes e
verduras, no seu conjunto, devem fornecer mais da metade (55% a 75%) do total de energia
diária da alimentação.
Os alimentos de origem animal também são parte de uma alimentação saudável, que inclui
pequenas quantidades de carne de boi ou porco, carneiro, coelho, jacaré e outras, aves, peixe,
ovos e também leite, queijo e iogurte, preferencialmente desnatados ou com baixos teores de
gordura
As evidências científicas mais recentes estabelecem as seguintes recomendações para a
participação dos macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas) no valor energético total
(VET) da alimentação, que são levadas em conta neste guia para as diretrizes aqui
estabelecidas.
Carboidratos totais: 55% a 75% do valor energético total (VET). Desse total, 45% a 65%
devem ser provenientes de carboidratos complexos e fibras e menos de 10% de açúcares
livres (ou simples) como açúcar de mesa, refrigerantes e sucos artificiais, doces e guloseimas
em geral.
Deve ser estimulado o consumo de alimentos ricos em carboidratos complexos (amidos),
como cereais, de preferência integrais, tubérculos e raízes, para garantir 45% a 65% da
energia total diária da alimentação.
A presença diária desses alimentos na alimentação vem diminuindo (em 1974, correspondia a
42,1% e em 2003 era de 38,7%). Essa tendência deve ser revertida, por meio do incentivo ao
consumo desses grupos de alimentos pela população, na forma. Para atender ao limite mínimo
recomendado (45%), o consumo atual deve ser aumentado em aproximadamente 20%.
A recomendação de dar preferência às formas integrais dos alimentos é justificada pelo fato
de que a manutenção do teor de vitaminas e minerais do produto original depende do grau de
processamento a que o alimento é submetido. Uma técnica comum de processamento de
cereais é a refinação. As vitaminas, minerais, ácidos graxos essenciais e fibras são
preservados no arroz e na farinha de trigo integrais, mas o arroz branco, o pão branco e a
farinha e as massas comuns refinadas perdem a maior parte das vitaminas, os minerais, os
ácidos graxos e as fibras. Já a técnica que processa o arroz parbolizado permite reter mais
vitaminas do complexo B e óleos, se comparado com o arroz branco, mas em teores menores
do que os existentes nos alimentos integrais.
Gorduras: 15% a 30% do valor energético total (VET) da alimentação. As gorduras (ou
lipídios) incluem uma mistura de substâncias com alta concentração de energia (óleos e
gorduras), que compõem, em diferentes concentrações e tipos, alimentos de origem vegetal e
animal. São componentes importantes da alimentação humana, pois são fontes de energia;
contudo, o consumo excessivo de gorduras saturadas está relacionado a várias doenças
crônicas não-transmissíveis (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, acidentes
cerebrovasculares e câncer).
As gorduras insaturadas dividem-se em dois tipos, monoinsaturadas e polinsaturadas. Ao
contrário das gorduras saturadas, as insaturadas não causam problemas de saúde, exceto
quando consumidas em grande quantidade.
As monoinsaturadas têm como principais fontes azeite de oliva, óleos vegetais (girassol,
canola e arroz), azeitona, abacate e oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas). A quantidade
recomendada desse tipo de gordura é calculada pela diferença em relação à soma dos demais
[gordura total - (gordura saturada + gordura poliinsaturada + gordura trans)], para completar o
percentual total recomendado para gorduras totais.
Algumas gorduras poliinsaturadas são essenciais para manutenção da saúde e da própria
vida. As principais fontes são os óleos vegetais (óleos de algodão, milho, soja, girassol e de
linhaça) e óleo de peixe. Os peixes em geral são ricos em ácidos graxos poliinsaturados. Por
isso, recomenda-se incentivar o consumo de peixes no Brasil. O teor recomendado de
consumo de gorduras desse tipo é de 6% a 10%do total de energia diária.
Proteínas: 10% a 15% do valor energético total (VET). São componentes dos alimentos de
origem vegetal e animal que fornecem os aminoácidos, substâncias importantes e envolvidas
em praticamente todas as funções bioquímicas e fisiológicas do organismo humano. As fontes
alimentares mais importantes são as carnes em geral, os ovos e as leguminosas (feijões).
Pelo menos metade da ingestão diária de proteínas deveria ser de origem vegetal, não
havendo inconveniência para a saúde se essa quantidade for ultrapassada. Para melhor
aproveitar o ferro existente nesses alimentos (aumento da biodisponibilidade do ferro), é
adequado orientar o consumo de verduras ricas em vitamina C, junto com os feijões, ou
temperar saladas com limão. A presença de um pedaço de carne na refeição, mesmo que
pequeno, também aumenta a absorção do ferro de origem vegetal, se esses alimentos forem
consumidos juntos.
Devemos orientar o consumo diário de 3 porções de leite e derivados e uma porção de
carnes, peixes ou ovos ao dia, considerando o alto valor biológico bem como a elevada
biodisponibilidade de ferro nas carnes e miúdos.
Considerar que leite e derivados são fontes de proteínas, vitaminas e a principal fonte de
cálcio da alimentação, nutriente fundamental para a formação e manutenção da massa óssea.
O consumo desse grupo de alimentos é importante em todas as fases do curso da vida,
particularmente na infância, na adolescência, na gestação e para adultos jovens; a escolha de
produtos que contenham menor teor de gordura. É recomendado que leite e derivados não
sejam consumidos junto às refeições principais (almoço e jantar), pois o cálcio interfere
negativamente na absorção do ferro de origem vegetal e vice-versa.
Os alimentos de origem animal são nutritivos, desde que consumidos com moderação. O
consumo moderado é recomendado devido ao alto teor de gorduras saturadas nesses
alimentos, que aumentam o risco de desenvolvimento da obesidade, de doenças cardíacas e
outras doenças, incluindo alguns tipos de câncer.
Fibra alimentar é o termo técnico utilizado para denominar as partes dos vegetais que
resistem ao processo de digestão. A alimentação com quantidade adequada de alimentos com
carboidratos em sua forma integral, ou seja, que preservaram a fibra alimentar, auxilia a função
intestinal, protegendo contra a constipação intestinal (prisão de ventre) e possivelmente contra
a doença diverticular e o câncer do cólon.
Atenção De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o presente guia
também se propõe os pacientes devem ser orientados e estimulados a adotar a orientar
e estimular a prática de uma alimentação saudável segundo as seguintes
recomendações:
Inspeção;
Ausculta;
Percussão;
Palpação.
O abdome é subdividido em nove regiões (imagem)
- Inspeção
Na inspeção observa-se a superfície da parede abdominal, contorno, presença de assimetrias,
características da pele, presença de circulação colateral, forma do abdome e cicatrizes
cirúrgicas
Formas do abdome:
o formato do abdome pode variar segundo idade, sexo, estado nutricional, estado muscular e
gravidez, podendo variar segundo o tipo morfológico entre o tipo longilíneo, que é achatado no
sentido anteroposterior e de pequeno diâmetro transversal e o do tipo brevilíneo, curto, com
diâmetros anteroposteriores e transversos exagerados. Esta variação entre estes extremos não
tem significado patológico. O formato adquire valor patológico quando houver alterações que se
afastam destes limites, sendo que as alterações podem ser simétricas ou assimétricas.
a - Alterações Simétricas
Abdome retraído- muito achatado no diâmetro anteroposterior, com visibilidade dos bordos
costocondrais, cristas ilíacas e sínfise púbica. Ocorre em indivíduos com caquexia,
especialmente naqueles com desidratação importante.
Abdome globoso- apresentando distensão uniforme e regular; encontrado em indivíduos
obesos, portadores de ascites, em pacientes com grande meteorismo intestinal (obstrução
intestinal) e em portadores de grandes tumores abdominais.
Abdome de batráquio- caracterizada por dilatação exagerada de flanco, com aumento de
diâmetro lateral, ocorrendo em indivíduos com ascite e obesos com diminuição da tonicidade
da musculatura de parede abdominal.
Abdome em avental- caracterizado pela queda do hipogástrio sobre a sínfise púbica, ocorre
em grandes obesos, associada à fraqueza da parede muscular.
b - Alterações Assimétricas
Peristalse
A peristalse visível pode ocorrer em pacientes emagrecidos e com musculatura abdominal
pobre, sendo possível a identificação de peristalse de alças do intestino delgado. A observação
de peristaltismo visível tem grande importância diagnóstica, indicando a existência de obstáculo
ao trânsito intestinal; a peristalse sempre se processa no sentido do isoperistaltismo, servindo
para identificar o segmento intestinal sede das contrações, indicando assim, a localização do
obstáculo, ponto onde morrem as ondas peristálticas.
O peristaltismo visível em estômago indica a existência de obstáculo em piloro ou em 1ª
porção do duodeno; o sinal acústico é a patinhação e o sintoma associado é o vômito de
estase. A causa mais comum de obstrução de antro gástrico são o câncer gástrico e úlceras
pépticas estenosantes. A presença de contração em estômago e peristalse visível em duodeno
permitem a identificação de obstáculo em ângulo duodeno-jejunal.
A presença de ondas peristálticas visíveis em intestino delgado, denominada de agitação
peristáltica de Kussmaul, são caracterizadas por movimentos rotatórios, acompanhados de
fortes ruídos intestinais, denominados de borborigmos. Pode ocorrer um segundo tipo de ondas
de peristalse, denominada de peristalse em degrau, as alças se contraem como em degraus de
uma escada.
O peristaltismo de intestino delgado é caracterizado por: sede em região central de abdome;
grande intensidade e vivacidade das ondas; fenômenos acústicos intensos, com aspecto
metálico, audível sem utilização do estetoscópio; associação de fortes dores que acompanham
os movimentos peristálticos. As causas mais comuns são tumores, compressões extrínsecas,
aderência, hérnias encarceradas, doença de Chron.
O peristaltismo do intestino grosso, quando visível, é constituído por ondas lentas, sendo
mais evidente o peristaltismo do cólon transverso, os sintomas associados são parada de
eliminação de fezes e gases, ocorrendo na presença de megacólon e câncer de cólon.
Retrações
As retrações generalizadas ocorrem em indivíduos caquéticos, como nos casos de pacientes
com estenose de esôfago ou piloro ou em desidratados graves. Importante apontar a retração
generalizada que pode ocorrer na cólica saturnina, no tétano, meningite e nas crises tabéticas.
Edema de Parede
O edema quando restrito à região abdominal indica a existência de processo inflamatório
intracavitário.
Sistema Venoso
A presença de vascularização visível em parede abdominal indica obstáculo na circulação
venosa profunda. As veias que conduzem um caudal aumentado são caracterizadas pela sua
tortuosidade e dilatação; deve-se definir o sentido da corrente sanguínea para identificar qual
dos sistemas venosos está obstruído. Para isto utiliza-se a manobra de esvaziamento de um
segmento venoso dilatado
A seguir são discutidos os tipos de circulação colateral:
- Circulação colateral tipo portal: ocorre quando há obstáculo ao fluxo venoso proveniente do
tubo digestivo e baço em direção ao fígado. É o tipo de circulação colateral mais frequente,
caracterizada por manter o sentido normal da circulação, sempre centrífuga em relação ao
umbigo. Geralmente melhor percebidas acima da cicatriz umbilical, quando exuberantes em
torno do umbigo confere o aspecto denominado cabeça de medusa.
- Circulação colateral tipo cava inferior: observa-se ectasia venosa em andar inferior de
abdome e regiões laterais, sentido da corrente é ascendente. Ocorre quando há trombose de
cava inferior.
- Circulação colateral tipo cava superior- observam-se ectasias de vasos em andar superior de
abdome, sendo o sentido da corrente, descendente.
- Circulação colateral do tipo misto - associa-se a circulação colateral tipo portal e de cava
inferior, com sentido da corrente, ascendente.
Outras alterações de parede abdominal
Ainda na inspeção do abdome observar: presença de cicatrizes cirúrgicas, estrias,
herniações. Em pacientes com hemorragias peritoniais, pode surgir, na região periumbilical,
uma coloração azulada que é denominada de sinal de Cullen (exemplo: prenhez tubária rota).
Em pacientes com pancreatite hemorrágica pode ocorrer sangramento retroperitoneal,
conferindo uma coloração azulada em regiões lombares, sinal de Grey Turner.
O umbigo geralmente é plano, quando apresenta-se com protusão, pensar na possibilidade
de ascite ou hérnia umbilical.
Observar a presença de herniações, que podem ser umbilical, inguinal, crural ou em áreas
onde houver debilidade de parede, por diástase de musculatura do reto abdominal ou cicatrizes
cirúrgicas.(imagem)
Ausculta
São descritos os sinais acústicos, utilizando-se do estetoscópio, auscultando-se os quatro
quadrantes do abdome, especialmente a área central, durante dois a três minutos, com a
finalidade de identificar timbre, frequência e intensidade dos movimentos hidroaéreos, além de
procurar identificar a existência de sopros.
Em condições patológicas os ruídos hidroaéreos podem estar com intensidade aumentada
(exemplo: diarreias, hemorragias digestivas, suboclusão intestinal ou obstrução intestinal) ou
diminuída ou ausente (exemplo: íleo paralítico). Os ruídos hidroaéreos podem assumir o tom
metálico, nos casos de obstrução de intestino delgado.
Os ruídos vasculares incluem os sopros que podem ser sistólicos ou contínuos:
Os sopros sistólicos de maior frequência são os produzidos no aneurisma de aorta, podem
ser audíveis, em linha mediana do abdome.
Pode ocorrer o sopro hepático em área de projeção do fígado, na presença de aneurisma de
artéria hepática, cirrose e carcinoma hepatocelular.
Sopros esplênicos podem ser audíveis em hipocôndrio esquerdo, entre as linhas hemiclavicular
e axilar, anterior esquerdas, ocorrendo em pacientes com malária, leucemia ou tumores
esplênicos.
Auscultar artérias renais (paramediana supraumbilical, bilateralmente), ilíacas (paramediana
infraumbilical, bilateralmente), femorais (região inguinal).
Sopros contínuos são venosos, ocorrendo quando houver hipertensão portal, audível sobre a
circulação colateral em região periumbilical, podendo gerar um frêmito no local, Sinal de
Cruveillier-Baumgarten.
5.3 - Palpação
Deve-se proceder à palpação superficial e profunda, com objetivo de identificar alteração em
vísceras, presença de tumorações, dor, resistência em parede.
É importante estar atento à posição das mãos, à posição dos dedos, posição do paciente,
aos movimentos respiratórios do paciente, à temperatura das mãos do examinador.
É importante anotar variações de sensibilidade, consistência, diâmetro, forma e mobilidade
das estruturas palpadas.
Durante o exame deve-se observar as seguintes características:
5.3.1 - Dor
Quando ocorrer dor à descompressão brusca do abdômen é sinal que há inflamação aguda
de peritônio. O sinal é considerado positivo quando o paciente apresenta dor aguda ao se
retirar bruscamente a mão do seu abdome, caracterizando o sinal Blumberg.
Acompanhando este sinal pode-se observar hipertonia da musculatura no local, podendo ser
forte e contínua ou ocorrer somente ao se exercer uma pressão sobre o local. Essas duas
características compõe o que pode ser chamado de sinais de peritonismo.
Fenômenos acústicos podem ser audíveis a distância ou durante a palpação. Há três ruídos
de interesse semiológico.
Veja no quadro abaixo os sinais semiológicos e significado clínico. (imagem)
Percussão
A percussão deve ser suave, apoia-se o dedo indicador e médio da mão esquerda sobre a
parede abdominal, percutindo com a mão direita. O ruído fisiológico é o timpanismo. Pode-se
identificar quatro tipos de sons: timpânico, hipertimpânico, submaciço e maciço. A percussão
sobre uma área sólida revela o som maciço; é o típico som obtido ao se percutir a região
hepática. Esteja atento às alterações à percussão do abdome.
O som timpânico pode ser melhor identificado em área gástrica, na posição supina, devido ao
conteúdo gasoso do estômago (bolha gástrica) e no espaço de Traube.
Através da percussão pode-se realizar ainda a hepatimetria. Importante apontar que não é
um método seguro para se afirmar que existe hepatomegalia, pois o órgão pode estar
rebaixado, como ocorre em pacientes com enfisema pulmonar. A fim de determinar se há
hepatomegalia, é necessário estabelecer dois pontos de referência: o primeiro, na parte mais
alta do órgão, na altura do sexto espaço intercostal, determinado pela percussão; o segundo, a
parte inferior do órgão. Normalmente o tamanho do fígado na linha mediana é de 5 cm, na linha
medioclavicular é de 10 cm e na linha axilar anterior, 13 cm.
Ao se percutir a região correspondente ao baço, obtém-se som timpânico. A área de nítido
timpanismo é denominada de espaço de Traube.
Exames Complementares
Os exames deverão ser orientados pela hipótese diagnóstica estabelecida, o médico precisa
usar a melhor evidência para a solicitação dos exames complementares, levando em conta a
disponibilidade dos exames, assim como custo efetividade do exame solicitado (GUSSO e
LOPES, 2012).
Feitas estas colocações, descrevem-se os exames mais solicitados:
Os Sinais de Sintomas
Uma história detalhada, caracterizando a dor, quanto ao tipo de dor (cólica, queimação,
facada, pontada), localização, irradiação, intensidade, tempo de aparecimento dos sintomas;
fatores de agravação ou alívio da dor; a presença de sintomas e sintomas tais como vômitos,
distensão abdominal, hematêmese ou melena, icterícia, alterações urinárias e de hábito
intestinal, emagrecimento ou febre.
A causa da dor abdominal pode ser ainda de origem extra-abdominal, em decorrência de
patologias como pneumonias ou infarto agudo do miocárdio ou em decorrência de alterações
metabólicas (por exemplo: cetoacidose diabética).
A dor abdominal pode ter origem visceral, parietal ou ser referida. A dor pode ser transmitida
ao cérebro através de dois tipos de fibras aferentes - a do tipo A delta, termina no tálamo e faz
com que o cérebro reconheça com maior precisão a localização da dor. Estas fibras estão
presentes na pele e peritônio parietal. A estimulação direta destas estruturas permitem a
localização precisa da origem da dor. Enquanto que as vísceras abdominais recebem
inervação de fibras tipo C, com terminação no tronco cerebral, tornando a percepção da dor no
sistema nervoso mais difícil de se localizar. Portanto as dores são mais profundas, de caráter
lento, de localização mais vaga.
Segundo Trindade (2012), pode-se inferir que dores facilmente localizáveis, de caráter agudo,
indicam que o peritônio está sofrendo algum tipo de estímulo, logo o evento que está
ocasionando as dores se estendeu para fora das vísceras.
Exame Físico
O exame físico deve ser geral, com ênfase no abdome. Na dependência da hipótese
diagnóstica deve-se realizar o exame pélvico-ginecológico e retal.
Geral: verificar a presença de sinais de hidratação, anemia, icterícia, fácies de dor, posição
antálgica (ocorrem quando há irritação peritoneal por quadros inflamatórios); verificar
temperatura, pressão arterial, frequência cardiorrespiratória.
Ausculta: A que os ruídos hidroaéreos podem estar aumentados (gastroenterites, fase inicial
de quadro obstrutivo) ou diminuídos ou ausentes (fase tardia de quadro obstrutivo ou íleo
paralítico). Procurar identificar a presença de sopros abdominais (aneurisma de aorta
abdominal ou de artéria renal).
Palpação: Observar se há rigidez de parede abdominal que se configura como sinal de defesa
abdominal (sugere abdome inflamatório, ou perfurativo). Identificar a localização da dor,
presença de massas. Ao se deparar com uma massa abdominal identificar a localização,
consistência, pulsação, mobilidade. Verificar se há hepatomegalia ou esplenomegalia.
Pesquisar a presença do sinal de Blumberg, que é a provocação da dor à descompressão
brusca do abdome.
Exame retal: Realizar quando houver suspeita clínica que o justifique, tais como alteração de
ritmo intestinal, sintomas obstrutivos, sinais de hemorragia digestiva, fecalomas.
Sinais e manobras
Carnett
Útil para diferenciar a dor abdominal de origem visceral da dor da parede abdominal. O teste é
realizado ao definir-se a área de maior dor à palpação. Em seguida, o paciente flete a parede
abdominal e o ponto é palpado de novo. A dor que é menos intensa à palpação com o abdome
fletido tem alta probabilidade de ser visceral. E se a dor permanecer igual ou piorar com essa
manobra, provavelmente é proveniente da parede abdominal (teste positivo) ou de causa não
orgânica.
Murphy
Cessação abrupta do esforço inspiratório do paciente durante a palpação profunda do
quadrante superior direito é sugestiva de colecistite aguda.
Blumberg
Dor no ponto de McBurney à descompressão súbita. Sugere irritação peritoneal secundária à
apendicite aguda
Rovsing
Caracteriza-se pelo aparecimento de dor no quadrante inferior direito durante a compressão
exercida no lado esquerdo. Sugere irritação peritoneal, como na apendicite aguda e na
pelveperitonite.
Psoas
Pede-se ao paciente que se deite sobre o lado não afetado e estenda sua outra perna contra a
resistência da mão do examinador. Quando positivo (dor durante a manobra), sugere processo
inflamatório adjacente ao músculo psoas.
Obturador
Com o paciente em decúbito dorsal, o examinador flexiona a coxa dele com os joelhos fletidos
e rota a perna, interna e externamente. Quando positivo (dor hipogástrica durante a manobra),
sugere processo inflamatório adjacente ao músculo obturador.
Atenção Essencial a definição se o quadro apresentado pelo paciente é ou não cirúrgico!
Havendo a suspeita diagnóstica de abdome cirúrgico, o paciente deve ser encaminhado
a serviço que tenha recursos diagnósticos e humanos para seu atendimento!
Exames Complementares
Serão indicados na dependência da suspeita clínica. De uma forma geral, os pacientes que
demandem exames subsidiários de urgência serão encaminhados. Porém, é necessário que o
médico saiba solicitar estes exames ou conhecê-los a fim de orientar os pacientes quanto à
rotina propedêutica a qual será submetido.
1.3.1 - Laboratoriais
Hemograma (quadro infeccioso?), glicemia, ureia, creatinina e eletrólitos. As transaminases
quando houver dor em hipocôndrio direito, amilase e lipase se houver suspeita clínica de
pancreatite (amilase tem maior sensibilidade e lipase maior especificidade). Exame sumário de
urina (cistites? pielonefrites?). Mulheres em idade fértil, solicitar teste de gravidez.
1.3.2 - Exames de Imagem
Os exames de imagem são necessários para confirmar as patologias que envolvem decisões
cirúrgicas.
a - Radiografia simples (RX) de abdome - frente a quadros abdominais agudos deve-se solicitar
o Rx de abdome. Procurar identificar níveis hidroaéreos, distensão de alças abdominais (em
quadros obstrutivos); presença de ar subdiafragmático em posição ortostática (quadros
perfurativos); perda da definição do psoas (quadros inflamatórios) e presença de litíase.
1.4 - Tratamento
Recomenda-se a utilização de opióides para alívio da dor, sem prejuízo para o diagnóstico ou
decisão terapêutica, exceção quando houver suspeita clínica de pancreatite, pois há
possibilidade de agravação dos sintomas pelo espasmo do esfíncter de Oddi secundário à
utilização da morfina.
O tratamento deve ser direcionado à causa basal.
- Abdome Agudo
Quadro de instalação súbita de dor abdominal, geralmente grave, demandando a realização de
rápido diagnóstico a fim de evitar complicações irreversíveis ou a morte do paciente. Importante
observar que nem todos os quadros de abdome agudo terão desfecho cirúrgico, a exemplo da
pancreatite aguda.
Os quadros de abdome agudo podem ser classificados em:
Inflamatório:
Apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda, diverticulite dos cólons, doença
inflamatória pélvica, abscessos intracavitários, peritonites.
Perfurativo:
úlcera péptica, câncer gastrointestinal, processos inflamatórios intestinais (febre tifoide,
amebíase, doença de Crohn, etc), perfuração de divertículo de cólon, perfuração do apêndice,
perfuração de vesícula biliar.
Obstrutivo:
aderências intestinais, hérnias estranguladas, fecaloma, obstrução pilórica, bolo de áscaris,
corpo estranho, cálculo de vesícula biliar, vôlvulo, intussuscepção intestinal.
Hemorrágico:
prenhez ectópica, rotura de aneurisma de aorta, cisto hemorrágico de ovário, rotura de baço,
endometriose, necrose tumoral.
Isquêmico:
trombose de artérias mesentéricas, torção de grande omento, torção de pedículo de cisto
ovariano, infarto esplênico.
Atenção A hemorragia digestiva é um quadro que pode ser potencialmente catastrófico à
vida, podendo estar presente em diversos diagnósticos sindrômicos acima expostos.
É fundamental estabelecer um diagnóstico etiológico de forma rápida e segura, para isto,
deve-se ouvir o paciente, fazer um exame físico detalhado e encaminhar o paciente para a
realização de exames que se façam necessários de acordo com a suspeita clínica.
Atenção Nem todos os casos de abdome agudo são cirúrgicos.
O Colégio Brasileiro de cirurgiões propôs este fluxograma quando da suspeita de abdome
agudo. (imagem)
A seguir iremos abordar os tipos de abdome agudo, caracterizando o quadro e a conduta a
ser adotada, porém é necessário frisar a importância de se fazer o atendimento centrado na
pessoa! Suas necessidades, analisar situações de vulnerabilidade, o cuidado não deve se
restringir à queixa apresentada e sim deve ser canalizado para a atenção integral do indivíduo!
Diagnóstico Diferencial
Doença ulcerosa péptica complicada, coleciste aguda, obstrução intestinal, infarto mesentérico
e isquemia miocárdica.
1. Abscesso pericólico;
2. Abscesso intra-abdominal ou retroperitoneal;
3. Peritonite purulenta;
4. Peritonite fecal;
Tratamento
O paciente será submetido a tratamento clínico-hospitalar, exceto nos casos onde houver
complicações em decorrência da doença (TORREZ e TRIVINO, 2007).
Os princípios do tratamento são:
1. Analgesia;
2. Reposição Volêmica;
3. Reposição de Eletrólitos;
4. Tratamento do Íleo adinâmico;
5. Tratamento de falências orgânicas, sendo as mais comuns: insuficiência renal,
cardiocirculatória, respiratória, metabólica. Coagulopatia pode ocorrer na septicemia.
6. Antibioticoterapia.
3.5 - Colangite
Caracterizada por obstrução do ducto biliar e infecção secundária, podendo evoluir para
septicemia. Pode ser causada por cálculos biliares, seguida de estenose, neoplasias e
raramente parasitas, coledococele e manipulação de via biliar por colangiopancreatografia
endoscópica retrógrada (CPER).
Os agentes etiológicos da infecção são a Escherichia coli, Klebsiella sp., Enterococcus e
Bacterioides.
O quadro clínico é caracterizado pela tríade de Charcot: dor em hipocôndrio direito, febre e
icterícia. Este quadro pode evoluir para a Pentade de Reynalds, caracterizada por confusão
mental e septicemia (BRUNETTI e SCARPELINI, 2007).
Tratamento
Cerca de 5% dos casos o tratamento será cirúrgico. Os pacientes deverão ainda receber
antibióticos de largo espectro.
Intestino delgado: aderências, hérnias inguinais, íleo biliar, bezoar, bolo de áscaris,
estrongiloidíase, tuberculose, massas abdominais tumorais (linfoma, adenocarcinoma,
metástases peritoniais, tumores mesentéricos e massas abdominais não tumorais tais
como apendicite, diverticulite, invaginação, doença de crohn, pólipos, hematomas
intramurais. Pode haver também obstrução intestinal desencadeada por abscessos,
pseudocistos, aneurismas.
Cólon: 55% dos pacientes têm adenocarcinoma primário de cólon, torção de volvo
12% dos casos, diverticulite em 10% dos pacientes.
Os autores (FRANCISCO et. al., 2008) referem que se há comprometimento de grandes
extensões abdominais é importante pensar em : carcinoma, divertculite e volvo. Em adultos as
causas de maior frequência são as aderências, hérnias e doença de crohn, enquanto nos
idosos deve-se pensar em neoplasias, diverticulites e fecalomas.
Obstruções em alça fechada, embora de menor frequência, apresentam mortalidade maior,
chegando a 35 % dos casos, em consequência da compressão vascular.
4.1 - Etiopatogenia
A obstrução por causas mecânicas podem ser classificadas segundo a sua etiologia. Pode
ocorrer redução da luz desencadeada por retração e espessamento de parede por doenças
intestinais, obstrução desencadeadas por causas extrínsecas ao intestino, como nas
aderências. Assim como fatores que podem desencadear alteração da motilidade intestinal
levando a íleo paralítico ou neurogênico.
Obstrução da luz intestinal: intussuscepção intestinal; íleo biliar, impactação por bolo
de áscaris, bário ou bezoar.
Doenças de parede: congênitas (atresias e estenoses, divertículo de Meckel);
traumáticas; inflamatórias (Doença de Crohn, diverticulites); Neoplasias; endometriose.
Doenças extrínsecas: aderências, hérnias, massas extrínsecas (pâncreas anular,
vasos anômalos, abscessos, hematomas, neoplasia, volvo)
Alterações de motilidade do intestino delgado: íleo paralítico, íleo espástico,
oclusão vascular.
4.2 - Fisiopatologia
É necessário entender os mecanismos fisiopatológicos que ocorrem na presença de uma
obstrução intestinal, isto será importante para o manejo do paciente.
Quadro Clínico
O quadro clínico é caracterizado por:
Alteração do estado geral, com desidratação, hipotensão arterial. A febre pode ocorrer
quando há complicação do quadro.
Dor abdominal: tipo cólica, início brusco, evolui em salvas, de localização variável,
dependendo da etiologia. Quando há mudança do padrão da dor para continuada,
pode-se suspeitar de comprometimento vascular. Os sítios de localização das dores
levam à suspeição do fator que desencadeou o quadro.
Dores em região superior de abdome indicam obstrução intestinal alta (estenose
pilórica, tumores duodenais, tumores periampulares).
Dores em região periumbilical demonstram a ocorrência de obstrução de intestino
delgado (bridas e aderências, hérnias encarceradas, bolo de áscaris, estenoses
inflamatórias, tumores e carcinomatose).
Dores em hipogástrio sugere obstrução de intestino grosso (hérnias encarceradas,
corpo estranho, intussuscepção, volvo de cólon, fecaloma, tumores de cólon e reto).
Náuseas e vômitos: surgem precocemente nas obstruções altas, eliminando material
estagnado e de aspecto biliar. Nos quadros onde há obstrução baixa, pode não haver
vômitos com conteúdo entérico.
Parada de eliminação de fezes e gases: estes são sintomas tardios e demonstram a
completa obstrução do intestino. Quando há suboclusão intestinal, o paciente pode
continuar a eliminar gases.
Distensão abdominal simétrica ou assimétrica: surge após poucas horas da instalação
do quadro, sendo discreta ou inexistente nos quadros de obstrução alta.
O exame físico inicial é pobre, os sinais vitais estarão alterados somente na vigência dos
sintomas de dor. Em abdome, observa-se defesa de parede à palpação, presença de massas.
Os ruídos hidroaéreos estão altos, agudos e metálicos na vigência das cólicas; tornam-se
diminuídos com a evolução do quadro, podendo tornar-se ausentes.
Com a evolução do quadro há instalação de desidratação e aumento da distensão abdominal
(VIDAL, 2005).
4.4 - Tratamento
Reposição de líquidos e eletrólitos, jejum, descompressão do trânsito intestinal através de
instalação de sonda nasogástrica. Os pacientes devem ser reavaliados entre 24 a 48 h, não
tendo resolução espontânea, avalia-se a necessidade de cirurgia.
Segundo Brunetti e Scarpelini (2007), os quadros de abdome agudo obstrutivo causados por
hérnia estrangulada, volvo de sigmoide, intussuscepçao, neoplasia intestinal, e isquemia
mesentérica devem receber tratamento cirúrgico com maior brevidade possível.
Tratamento
O tratamento é cirúrgico. Entretanto, as ações do médico da atenção básica começam na
prevenção do evento perfurativo , através do diagnóstico precoce e tratamento dos agravos
que podem evoluir com complicações agudas. Uma vez que o profissional se depare com um
paciente em Abdome Agudo Perfurativo, realizar o diagnóstico sindrômico, com a identificação
dos riscos imediatos e estabilização do paciente visando à prevenção do choque, com
encaminhamento imediato para os serviços de urgência/emergência.
5.2 - Divertículos
Conforme vimos anteriormente nesta Unidade, a doença diverticular predomina no sigmoide,
podendo entretanto, surgir em todo cólon, atingindo até 60% dos pacientes com mais de 80
anos. Destes, até 25% irão evoluir com diverticulite, sendo que ¼ destes pacientes vão
apresentar complicações como a perfuração.
A dor é aguda e intensa, variando entre localizada e generalizada, dependendo de fatores
como extensão da lesão, conteúdo extravasado e bloqueio ou não. Ainda sinais de septicemia
e de irritação peritoneal.
O médico assistente, na suspeita de Abdome Agudo Perfurativo deve pesquisar a existência
de diagnóstico prévio de doença diverticular, principalmente em pacientes idosos.
Tratamento
Na suspeita de abdome agudo o paciente deve ser encaminhado para serviço de maior
complexidade, a fim de resolver o seu problema de saúde.
5.3 - Ferimentos
O trauma abdominal é muito comum em situações de emergência. A dificuldade em
determinar a dinâmica do trauma, lesões em tórax e nádegas que podem repercutir no abdome
e alterações do sensório, devido a traumatismo cranioencefálico, podem dificultar o diagnóstico
e o tratamento do trauma abdominal.
As manifestações clínicas do traumatismo abdominal, são decorrentes tanto de
manifestações hemorrágicas, quanto das perfurativas. As vísceras ocas podem ser lesadas em
traumas contusos, mas o mais comum, é que as manifestações relacionadas ao
pneumoperitôneo ocorram pela ação de agentes penetrantes. Nas armas brancas, as lesões
são limitadas à trajetória da arma, enquanto nas lesões por projéteis de arma de fogo, as
lesões são variadas, pois o trajeto é variado, além da ação da força de cavitação.
Os ferimentos de dorso, períneo, nádegas e tórax podem comprometer estruturas
abdominais. Assim, todos os ferimentos que comprometem essas regiões devem ser
considerados abdominais, até prova em contrário (SHORR et. al., 1988).
Tratamento
O médico da atenção básica, caso receba um paciente vítima de trauma, deve avaliar as
condições hemodinâmicas do paciente, estabilizar e encaminhar imediatamente para unidades
de emergência. O tratamento depende muitas vezes de uma laparatomia exploratória para
identificar a extensão das lesões, especialmente nos pacientes com pneumoperitonio,
hipotensão persistente, sinais de irritação peritoneal e sangramento anal ou oral.
O uso de drogas opióides deve ser evitado em pacientes com hipovolemia, trauma encefálico
ou trauma abdominal, pois podem agravar a hipotensão, levar a depressão respiratória e
impedir a valorização clínica dos achados.
6.1 - Classificação
Os principais tipos de Abdome Agudo Isquêmico são:
Tratamento
O tratamento de colite isquêmica consiste em hidratação e antibioticoterapia. Menos de 20%
de pacientes necessitarão de cirurgia.
Hemorragia Digestiva
Apresenta-se como uma das causas que levam à internações de urgência. Portanto, entender
os elementos que a caracterizam e a conduta são fundamentais para reduzir a morbi-
mortalidade destes pacientes. A hemorragia digestiva caracteriza-se por hematêmese e melena
(hemorragias por causas situadas acima do ligamento de Treitz, alta), enterorragias
(hemorragias por causas abaixo do ligamento de Treitz, baixa). Projeto diretrizes. Geralmente
as expressões da hemorragia digestiva alta (HDA) são a hematêmese e a melena, contudo em
HDA com grande volume, pode ocorrer enterorragias, assim como lesões de cólon direito ou
delgado terminal, podem ocasionar melena (FERREIRA e EISIG,2008).
8.1.1 - Conduta
Todos os pacientes com cirrose hepática deverão ser investigados a fim de identificar varizes
de esôfago, a identificação precoce permite a adoção de medidas de profilaxia primária de
hemorragia varicosa. A HDA é a principal complicação da hipertensão portal, tem mortalidade
ainda elevada apesar do decréscimo nos últimos ano (15 a 20%), isto em consequência aos
tratamentos endoscópico e farmacológico, junto à profilaxia antibiótica.
Tratamento
O objetivo do tratamento da HDA é a correção do choque hipovolêmico, realização da
hemostasia, prevenção do ressangramento e complicações associadas à HDA.
Frente a um paciente com hemorragia digestiva deve-se avaliar estado hemodinâmico,
existência de palidez cutâneo mucosa, temperatura de extremidades, enchimento do leito
ungueal, sinais clínicos de doença hepática, pulso e pressão.
A perda sanguínea pode ser avaliada pelos parâmetros de frequência do pulso e pressão
arterial. Clique aqui para conhecer como mensurar a perda sanguínea.
Após avaliação deve-se estabelecer um acesso venoso periférico se os parâmetros estiverem
normais; se os parâmetros estiverem anormais e a PA em decúbito for normal, puncionar duas
veias periféricas. Havendo perdas maciças o acesso deve ser central (LOURENÇO e
OLIVEIRA, 2003).
Deve-se restabelecer a volemia com soro fisiológico ou Ringer lactato.
8.2 - Hemorragia Digestiva Baixa (HDB)
Os quadros de HDB geralmente são autolimitados, podendo ter quadros co pequenos
sangramentos até hemorragias maciças. No adulto as causas de sangramento de maior
frequência são: doença diverticular de cólon, angiodisplasias e as doenças proctológicas. Em
menor frequência temos como etiologias as neoplasias, colites isquêmicas, doenças
inflamatórias intestinais e utilização de anti-inflamatórios não hormonais.
Doenças Proctológicas
A doença hemorroidária é causa frequente de HDB, sendo caracterizada por sangramentos de
pequeno volume, não se mistura às fezes, apresenta gotejamento no vaso. A história e exame
físico permitem o diagnóstico da doença, confirmada por exame de retossigmoidoscopia.
Doença Diverticular do cólon
Pode ocasionar hemorragias volumosas de caráter súbito, autolimitada, originárias
principalmente de divertículos localizados em cólon direito. A colonoscopia está indicada nestes
casos, junto a estudo histológico para definir a existência de neoplasias, doenças inflamatórias
intestinais, colites infecciosas e colites isquêmicas.
8.2.1 - Conduta
Nas HDB os sangramentos são de pequeno volume em sua maioria, devendo-se realizar o
tratamento dirigido à causa primária do sangramento.
Tratamento
Tratamento da doença ulcerosa péptica consiste em remover o agente causal, AINEs ou
erradicar o H. pylori e na cicatrização das lesões. A integralidade deve ser considerada no
tratamento do indivíduo.
Para erradicar o H. pylori prefere-se o tratamento tríplice com 1 g de amoxacilina, 500 mg de
claritromicina e 30 mg de lansoprazol, tomados duas vezes a dia por 7 dias (COELHO et. al.,
2013).
Este esquema tríplice tem altas taxas de sucesso e está disponível nas medicações
disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, separadamente. Para a cicatrização das úlceras o
uso de qualquer IBP em dose plena por 8 semanas é eficaz para a grande maioria dos
pacientes. Tabela 4 apresenta as doses plenas e equivalente dos IBPs disponíveis no Brasil
até o momento da edição deste artigo, nota-se entretanto que o omeprazol pode ser usado na
dose de 20 mg/ dia.
Não é incomum que complicações sejam a manifestação inicial da doença ulcerosa péptica,
entre elas destacam-se a estenose pilórica e duodenal, que pode ser tratada
endoscopicamente com dilatação em associação com IBPs. As úlceras perfuradas apresentam-
se com abdome agudo e foram abordadas no módulo II. No caso das úlceras hemorrágicas,
deve-se garantir o acesso venoso de preferência com duas veias calibrosas permitindo a
pronta ressuscitação com volume cristalóide e transfusão, além de usar os IBPs. O
procedimento endoscópico deve ser realizado, idealmente, nas primeiras horas e consegue-se
controlar o sangramento em aproximadamente 90%.
dor epigástrica;
queimação epigástrica;
saciedade precoce;
plenitude / empanzinamento pós prandial.
A presença de pelo menos um dos sintomas acima, por no mínimo três meses, associados a
ausência de doença estrutural é suficiente para o diagnóstico de dispepsia funcional. O terceiro
consenso brasileiro acrescenta a orientação de excluir ou tratar parasitose intestinal antes
deste diagnóstico e forma semelhante à doença do refluxo gastroesofágico, pacientes jovens e
sem sinais de alerta Tabela 2 podem ser tratados sem investigação clínica.
Muita atenção com neoplasia pancreática em pacientes com mais de 50 anos que podem
apresentar apenas sintomas vagos. Neste grupo o diagnóstico diferencial é sempre
mandatório.
A dispepsia funcional pode ser exacerbada por distúrbios emocionais que frequentemente a
acompanham, mas não são necessárias para seu diagnóstico. Muitas vezes estes devem ser
abordados durante o tratamento.
Outra causa frequente são medicações, principalmente o grupo de anti-inflamatórios não
hormonais; sempre que possível devem ser descontinuados.
Exame subsidiários
Exame endoscópico, sempre que disponível é desejável para diagnóstico diferencial.
Tratamento
O tratamento deve ser individualizado com reforço ao estilo de vida saudável, uso de drogas
antissecretoras Tabela 4 por períodos variados em dose plena ou metade da dose e drogas
pró-cinéticas (metoclopramida ou domperidona) 10 mg precedendo cada refeição, até quatro
vezes ao dia.
A erradicação do Helicobacter pylori, quando presente pode ser indicada, pois este pode
estar associado aos sintomas. Entretanto, metanálise identificou melhora clínica em apenas um
paciente a cada 8 a 14 indivíduos tratados (MOAYYEDI et. al., 2006), mesmo assim o terceiro
Consenso Brasileiro de H. Pylori recomenda o tratamento quando possível
Alteração do Hábito Intestinal
2.1 - Diarreia
A diarreia é uma síndrome clínica podendo ter diversas etiologias, sendo caracterizada pelo
aumento do número de evacuações, do volume e diminuição da consistência das fezes. O
número de evacuações consideradas normal varia entre três vezes ao dia a três vezes por
semana.
Quadro Clínico
A diarreia (CASTILHO et al, 2012; FARTHING e SALAM, 2012) pode ser classificada segundo:
Cronologia:
Atenção aos sinais de alerta da desidratação, eles indicam um maior risco de progressão para
quadro de choque:
Estado geral ruim, alteração do estado de consciência (irritação ou letargia), olhos encovados,
taquicardia, taquipnéia ou redução do turgor da pele.
Tabela 4 - Avaliação e conduta do paciente com desidratação utilizando o "método Dhaka".
Exames Subsidiários
Abaixo, os planos de hidratação que devem ser adotados a fim de tratar o paciente, proposto
pelo Ministério da Saúde do Brasil nos manuais de monitoramento de diarreias agudas e no
caderno de atenção à demanda espontânea.
Plano de Hidratação para Manejo de Pacientes com Diarreia
Laboratório
Diarreia crônica
Atenção
Atenção especial aos pacientes que apresentarem os chamados "sinais de alerta vermelho".
1- Diarreias aquosas.
Diarreia osmótica: Ingestão de Mg²+, PO³4, SO-²4; Má absorção de carboidratos. Doença
celíaca, algumas parasitoses.
Diarreia secretória: uso abusivo de laxantes; síndromes congênitas; toxinas bacterianas; má
absorção ileal do ácido biliar; doenças inflamatórias intestinais tais como colite ulcerativa,
doença de Crohn, diverticulite; vasculites; drogas e venenos; distúrbios da motilidade por
neuropatia diabética, hipertireoidismo, síndrome do intestino irritável; tumores neuroendócrinos;
neoplasias; doença de Addison.
Diarreia gordurosa: síndromes disabsortivas; insuficiência pancreática.
Diarreia inflamatória: doenças inflamatórias intestinais tais como colite ulcerativa, doença de
chron, diverticulite; doenças infecciosas; colite isquêmica; neoplasia.
Segundo Castilho et al (2012) nos quadros de diarreia secretória e inflamatória, as fezes são
pastosas associadas a muco ou sangue, enquanto na diarreia gordurosa ou disabsortiva,
observa-se esteatorreia, com fezes claras, fétidas e volumosas. A rotina laboratorial e o
tratamento devem ser direcionados segundo a suspeita clínica.
É importante observar o estado de hidratação e nutrição do paciente.
2.2 - Constipação
Considerada com queixa frequente na população, estimando-se uma prevalência de até 26,9%
na população brasileira (BARBUTI, 2011), com maior frequência em mulheres, acima dos 60
anos, sedentários e pessoas de baixo nível sócio econômico e cultural. A constipação intestinal
tem clara relação com a redução da qualidade de vida. Até a adoção do Consenso de Roma III,
o diagnóstico era impreciso, em consequência do que os pacientes consideravam como
constipação intestinal.
Atenção
1. Presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas, em 25% das evacuações:
o esforço presente;
o sensação de esvaziamento incompleto;
o manobras manuais para facilitar as evacuações (manobras digitais, apoio
pélvico ou vaginal);
o sensação de obstrução ou bloqueio anorretal;
2. Fezes amolecidas são raras na ausência de uso de laxativos;
3. Critérios para síndrome do intestino irritável não estão presentes.
Doenças sistêmicas:
Exames complementares
Diminuidores da consistência fecal: são surfactantes com poder emulsificante, são bem
tolerados, pode ser associado aos agentes formadores de massa. O exemplo é o
docussato de sódio. É comum o uso de fribras naturais ou sintéticas para esta função.
Laxantes estimulantes: atuam estimulando os movimentos peristálticos, porém,
segundo Barbutti (2011) há poucas evidências científicas comprovando sua utilização.
Nesta categoria encontram-se os produtos naturais (Senne e Cascara sagrada) e os
análogos da fenolftaleína. Como efeito colateral podem desencadear cólicas
abdominais e tolerância.
Laxantes osmóticos: representados pelos sais inorgânicos (compostos à base de
magnésio), alcoóis ou açucares orgânicos (lactulose, polietilenoglicos, macrogol,
lactilol). Atuam aumentando a absorção de água para a luz intestinal. Como efeito
colateral, podem desencadear alterações hidroeletrolíticas, flatulência e distensão
abdominal.
De acordo com os critérios de Roma III, a síndrome do intestino irritável pode ser definida como
a presença de dor abdominal ou desconforto, contínua ou recorrente, geralmente localizada no
abdome inferior, com ocorrência de no mínimo 3 dias por mês nos últimos três meses e devem
apresentar pelo menos duas das características abaixo.
Dados epidemiológicos nos Estados Unidos mostram que de 10% a 20% a população adulta
Americana tem síndrome do cólon irritável . Estudos populacionais , realizado no Reino Unido
em pacientes que visitavam médicos generalistas , mostram uma incidência de 2,6 / 1.000/ ano
(GARCIA RODRIGUES et al, 2000).
De modo geral , estudos de prevalência exibem uma maior predominância para o sexo
feminino (2:1) em indivíduos adulto independente da faixa etária.
Um recente estudo desenvolvido na Dinamarca com o objetivo de avaliar a prevalência da
síndrome do intestino irritável nessa população, revelou que 6112 pessoas entrevistadas 16%
dessas preenchiam os critérios de Roma III e pelo menos 36% delas apresentavam a síndrome
na forma de diarreia contra 33% na forma de constipação (KROGSGAARD, ENGSBRO e
BYTZER, 2013).
III) Associações
A síndrome do intestino irritável pode estar associada a outras doenças tal como a doença
celíaca e a intolerância a lactose, sendo que essas situações não são infrequentes
a) Intolerância a lactose e doença celíaca:
Um recente estudo, publicado por Sandler et al mostrou que 35% da mulheres com dor
pélvica crônica tinham síndrome do intestino irritável (odds ratio [OR] = 1.98, 95% ,
esse estudo mostrou ser comum nesse grupo de pessoas, dor muscular e depressão
(OR = 1.93, 95% CI: 1.24, 3.01) esse estudo observou que havia relação desses
sintomas com abuso sexual ( WILLIANS et al, 2004).
Em complemento, um estudo realizado no Brasil e publicado em 2013 foi observado
dados similares ao estudo anterior , onde havia relação de dor pélvica crônica,
dipareunia com síndrome do intestino irritável (19,5%), com história de abuso sexual
(p=0.002), depressão e alterações do hábito intestinal, nesse estudo foi aplicado para o
diagnóstico os critérios de Roma II (DEUTINGER e DEUTINGER, 1990). Esses dados
mostram que não é incomum essas associações.
Estudos de qualidade de vida demonstram que a SII pode gerar uma grande perda de
progresso profissional nesses pacientes, observa-se um grande prejuízo no
relacionamento entre pessoas gerando portanto uma redução da qualidade de vida
desses pacientes (GUNGOR et al, 2012; TARBELL e LU, 2013).
Os sinais de alerta são situações em que devemos estar atentos e que podem excluir SII, tais
como:
Colites microscópicas
Doença celíaca
Intolerância a lactose
Espru Tropical
Síndrome do intestino irritável com super crescimento bacteriano
Má absorção de sal biliar
Câncer de cólon
Complicações da SII
O paciente deve ser encaminhado para especialista experiente. E, como medidas gerais:
Mesalasinas:
Para doença de Crohn, esse medicamento têm demonstrado ser efetivo em evitar as
recorrências cirúrgicas e o câncer de cólon.
Deve-se levar em conta a localização da doença, pois há liberação desse medicamento e sua
porção ativa tem íntima relação com o local da mesma.
Antibióticos:
Para doença de Crohn moderada (Ciprofloxacina 500 mg 2xdia e metronidazol 400 mg 8/8).
Corticóides:
Medicação apenas utilizada nas fases ativas, não deve ser utilizado por tempo prolongado ,
devido aos seus efeitos colaterais.
Azatioprina e 6 mercaptopurinas
Anti – TNFS
Metrotrexate apenas para doença de Crohn.
Ciclosporina , apenas é útil na retocolite ulcerativa.
Icterícias
Icterícia é a causa mais frequente de descompensação de doenças hepáticas crônicas
preexistentes, hepatites, etilismo e coledocolitíase. Trata-se do aumento das bilirrubinas séricas
e manifesta-se pela cor amarelada conferida à pela e às mucosas por este pigmento.
A icterícia pode estar presente em diversas patologias, desde aquelas que se configuram como
urgência grave até patologias que podem se manejadas na atenção básica. É fundamental a
correta avaliação clínica do paciente portador de icterícia a fim de estabelecimento de conduta
adequada. Santos et al (2008), no Protocolo clínico de regulação para icterícia no adulto e
idoso propuseram um fluxograma de atendimento a estes pacientes, baseados numa boa
anamnese e exame físico. A abordagem tem a finalidade de:
Diferenciar a icterícia pré-hepática e hepática da icterícia desencadeada por patologias pós-
hepáticas.
Diferenciar as patologias inflamatórias infecciosas brandas (hepatite aguda, pancreatite e
colangite brandas), dos quadros de maior severidade como os desencadeados por insuficiência
hepática grave, hepatite fulminante e colangite grave.
3.1 - Patogênese
Icterícia pode ocorrer como resultado de doenças crônicas ou agudas do parênquima hepático,
obstruções do trato biliar extra-hepático (cálculos, anatômicos ou tumoral), colestase intra-
hepática e anemia hemolítica.
A bilirrubina sérica é derivada da degradação de células vermelhas antigas no sistema retículo
endotelial. Diariamente, um indivíduo normal destrói 50 ml de células vermelhas, resultando 7,5
g de hemoglobina. A degradação desta hemoglobina resulta em 35 mg de bilirrubina. A
bilirrubina não conjugado ou indireta é líquida e insolúvel em água e circula associada à
albumina.
No fígado a bilirrubina é conjugada pela ação da uridina difosfato glucuronil transferase,
transferida para canalículos biliares na forma de bilirrubina conjugada (direta) e excretada na
árvore biliar intra-hepática. Esta é excretada pela bile como diglucuronida (80%), bilirrubina
monoglucuronida (20%) e bilirrubina indireta (< 1 %).
Portanto a icterícia pode aparecer por falha em qualquer um destes mecanismos e a Tabela
1 resume as causas de forma simplificada.
O aumento na produção de bilirrubina por hemólise pode levar à icterícias leves,
frequentemente referidas como pré-hepáticas, estão associadas a anemia e devem ser
encaminhadas para avaliação do hematologista.
Já os casos obstrutivos, referida como icterícia pós hepática, há um bloqueio mecânico ao fluxo
biliar. Nestes, os níveis de bilirrubina estão muito elevados.
Quando a obstrução é abrupta a dor biliar típica está presente e o principal diagnóstico é a
coledocolitíase.
Atenção
Muita atenção ao quadro de colangite, com dor, icterícia e febre, que é complicação frequente
da coledocolitíase e é urgência médica.
Os portadores de coledocolitíase apresentam bilirrubina elevada, dor tipo biliar intensa e
ultrassonografia abdominal com dilatação e falha de enchimento. Via de regra, quando a
coledocolitíase é diagnosticada recomenda-se a internação e desobstrução biliar sem demora.
Nos casos insidiosos, como os tumores, não há dor ou esta não é tão marcada. Os níveis de
bilirrubina e enzimas canaliculares estão muito elevados e o paciente costuma vir muito
prostrado e emagrecido. São causados por tumores periampulares que englobam o tumor de
pâncreas, colangiocarcinoma e de papila maior. Neste, um achado comum é o fato da icterícia
apresentar períodos de melhora, que pode estar relacionado à necrose tumoral. O pronto
encaminhamento para tratamento com especialista é mandatório.
A pancreatite aguda é outra urgência médica que deve ser tratada com internação,
frequentemente em unidade de terapia intensiva e rápida avaliação etiológica, a icterícia tem
baixos níveis de bilirrubinas e o quadro de dor e alteração hemodinâmica é dominante, o
diagnóstico é dado por altos níveis de amilase.
Quanto a icterícia intra-hepática, será discutida na seção seguinte de diagnóstico diferencial.
Nas hepatopatias crônicas, usualmente referidas como cirrose, o paciente já apresenta este
diagnóstico ou pode ser feito pela presença de 2 achados ao exame físico: ascite e
telangiectasias e 2 achados laboratoriais- albumina menor que 2,8 e prolongamento do tempo
de protrombina com RNI maior que 1,6.
A etiologia mais frequente é a doença hepática alcoólica, mas outras enfermidades podem ser
lembradas na Tabela 2.
Os portadores de hepatopatia crônica devem ser acompanhados por especialista e nos postos
de atendimento básico podem receber atendimento nas recaídas, que usualmente estão
relacionados a um fator desencadeante. Este, quando identificado e afastado, permite ao
paciente retornar ao seu estado de base. Assim, infecções podem ser diagnosticas e tratadas,
as mais comuns são respiratórias, urinárias e cutâneas. Importante verificar se o fator
desencadeante foi o retorno ao consumo de bebidas alcoólicas!
Nos pacientes que não consomem bebidas alcoólicas é mandatório o diagnóstico diferencial
entre hepatite autoimune, cirrose biliar primária, colangite esclerosante primária, síndrome de
Dubbin Johnson e Rotor, hemocromatose ou síndrome de Gilbert, lançando mão de
marcadores sorológicos, exames de imagem e biópsia hepática. Em todos estes casos é
recomendado a atuação de especialista.
3.3 - Achados Clínicos
Informações obtidas dos pacientes com icterícia são agrupadas e relacionadas a hepatites
virais, medicações, abuso de Etanol e outras informações. Assim, como mencionado
anteriormente, a história clínica detalhada e exame físico podem direcionar o raciocínio clínico
e elucidar o diagnóstico frequentemente (GREENBERGER, 2007).
a) Hepatites Virais
Transfusões de sangue
Uso de drogas endovenosas
Prática sexual: anal, promiscuidade, história de doença sexualmente transmissível,
relação sexual com portador de hepatite B ou C
Trabalho em unidade de diálise renal
Trabalho em unidade de trauma, centro cirúrgico
Uso de Piercings
Tatuagens
Usuário de cocaína inalatória
Hepatite A: viagens para áreas endêmicas, ingestão de alimentos crus especialmente
crustáceos
b) Uso de Medicações
c) Abuso de Etanol
d) Outras Informações
Atenção ao exame físico, procure identificar as alterações que possam confirmar a suspeita
diagnóstica inicial.
a) Inpeção Geral
Icterícia de esclerótica
Evidências de escoriações de pele
Petéquias
Linfadenopatias
Evidência de insuficiência cardíaca congestiva
b) Inpeção Periférica
Angioma aracneiforme
Eritema palmar
Ginecomastia
Contratura de Dupuytren
Parotidite
Atrofia testicular
c) Exame Abdominal
Hepatomegalia
Esplenomegalia
Ascite
Circulação venosa colateral
Massa abdominal
Atenção
Icterícia
Ascite
Encefalopatia hepática: fetor hepáticus, alterações de comportamento
3.5 - Laboratório
Quatro testes hepáticos alterados são sugestivos de doença hepática crônica: redução de
albumina sérica, aumento de globulinas, tempo prolongado de protrombina e redução de
colesterol.
Elevação de bilirrubina acima de 20 mg/dl raramente se encontra em pacientes com hepatite
viral aguda, pouco frequente em cirróticos e raro em icterícia obstrutiva por coledocolitíase ou
câncer pancreático. Nos pacientes cirróticos podemos encontrar a síndrome hepato-renal.
Normalmente os níveis de bilirrubina não ultrapassa a 15 mg/dl, pois o excesso é excretado
pelo rim na forma de bilirrubinúria.
As aminotransferases são > que 400 IU/L em hepatites virais e < 400 IU/L em cirroses < 400
IU/L em mais que 90 % dos pacientes com icterícia obstrutivas (CLARK et al., 2003).
As aminotransferases quando elevadas em pacientes assintomáticos, AST > que 37 e ALT >
42 são considerados sinais de alerta e doenças hepáticas devem ser investigadas antes
mesmo do aparecimento de icterícias.
Fosfatase alcalina é desproporcionalmente elevada em icterícias obstrutivas com valores 4 X
maior que o normal. Em pacientes cirróticos a albumina está diminuída e a globulina
aumentada.
Tempo de protrombina está prolongado em pacientes com doenças hepáticas crônicas e
cirroses. O tempo de protrombina pode estar elevado em icterícia obstrutiva prolongada por
falência na absorção de vitamina K.
O colesterol é frequentemente baixo em pacientes com doença hepática crônica.
3.6 - Estudo por Imagem
Deve ser dirigido à causa que desencadeou o quadro. Importante a abordagem do paciente na
perspectiva da integralidade da atenção.
Hérnias Abdominais
Hérnia pode ser definida como qualquer protrusão de uma víscera além de sua cavidade
natural. Acometem até 10 % da população ao longo da vida ( ALEXANDER e SCOTT, 2013).
Segundo Nyhus et al (1991), a herniorrafia é a cirurgia mais realizada em todo o mundo,
estima-se a ocorrência de 20 milhões de herniorrafias por ano.
A palavra “hérnia” é derivada do latim – ruptura, sendo definida como uma protusão anormal de
órgão ou tecido através de defeito da parede circundante; podendo ser congênita ou adquirida.
Cerca de 75% das hérnias estão na região inguinal, sendo 2/3 indiretas. A incidência em
homens é 25 vezes maior que em mulheres.
Entre os fatores predisponentes temos, nos jovens os defeitos anatômicos congênitos; nos
idosos, o enfraquecimento da musculatura. Outros estados como desnutrição, gravidez ou
aumento da pressão abdominal também promovem aumento na incidência desta patologia.
Quadro clínico
Pode ser classificada com redutível (quando pode retornar à posição normal espontaneamente
ou por manobras gentis), encarcerada (quando não é possível a redução) e estrangulada
(quando há isquemia associada com sofrimento de alça- este caso caracteriza uma emergência
médica).
Outra forma de classificação das hérnias é por sua localização, assim, podem ser divididas em
incisional, hiatal, umbilical,epigástrica, inguinal ou femural, paraostomal, entre outras.
Tratamento
Atenção
A região perianal pode ser sede de numerosas patologias, sendo a mais comum a doença
hemorroidária. Segundo Cruz et al (2006-a), podem coexistir junto à doença hemorroidária
outras patologias, recebendo a denominação de doenças anais concomitantes (DAC). Estas
podem ser classificadas segundo o próprio exame proctológico-inspeção, toque retal e
anuscopia. Classificadas em:
a) Doenças estáticas
lesões cutâneas: condiloma, úlceras, proctites, câncer de pele perianal, prurido anal,
destruição anal e perianal;
lesões da mucosa do canal anal: fissura, hipertrofia de papilas anais, criptite, proctite,
câncer transicional;
tumores duros subcutâneos: gânglios, nódulos fibróticos, granulomas, hematomas,
massas tumorais benignas e malignas;
tumores macios subcutâneos: abscessos, cistos, lipomas;
infiltrações enduradas fazendo corpo com a pele: Crohn, hidroadenite supurativa,
infiltração carcinomatosa;
lesões anorretais inespecíficas: crohn, retocolite ulcerativa inespecífica;
lesões anorretais específicas: tuberculose, esquistossomose,
paracoccocidiodomicose, amebíase;
estenoses anais: devido a fissuras, cirurgias ou carcinoma;
orifícios e trajetos fistulosos: fístulas perianais e anorretais;
anormalidade com o tônus anal: hipertonia, hipotonia, atonia;
invasão tumorais acometendo ânus e região perianal;
comprometimento do anus por doenças sistêmicas: diabetes, pênfigo e linfoma;
doenças dermatológicas (psoríase) ou doenças intestinais que podem apresentar
lesões cutâneas (eritema nodoso que pode estar presente na Retocolite ulcerativa);
b) Doenças encontradas à inspeção e por manobras de esforço que se exteriorizam pelo ânus
É importante o diagnóstico das DAC para a definição da conduta, pois algumas têm abordagem
clínica anterior à abordagem cirúrgica da doença hemorroidária, tais como as proctites. Outras
doenças tem abordagem cirúrgica anterior, câncer e doença de crohn. Assim como há doenças
que podem ser abordadas junto à hemorroidectomia: fissuras anais, hipertrofia de papila anal,
estenose anal, fístula e condiloma anal acuminado.
No estudo de Cruz et al (2006-b) 12,1% dos portadores de DH tinham DAC, destas as mais
comuns foram a fissura anal e hipertrofia de papilas anais.
Doença hemorroidária tem maior incidência entre 30 a 60 anos, sendo pouco frequente abaixo
dos 20 anos. Em sua etiopatogenia, consideram-se como fatores predisponentes de ordem
hereditária e constitucional, tendo como fatores desencadeantes a constipação intestinal,
diarreias crônicas, esforços físicos repetitivos e gestação (CRUZ et al, 2009).
5.1.1 - Classificação
Segundo Cruz et al (2006-a), as hemorroidas são coxins de tecido conjuntivo fibroelástico, ricos
em plexos vasculares com várias anastomoses arteriovenosas, em submucosa da região
anorretal, que atuam auxiliando a continência anal. Com a idade ocorre aparecimento dos
sintomas em decorrência da perda da elasticidade e da ruptura dos elementos estruturais de
sustentação levando ao deslizamento do assoalho anal- Teoria proposta por Haas, citado neste
artigo.
As hemorroidas podem ser classificadas de acordo com:
a) Localização
5.1.2 - Diagnóstico
Realizado através dos sintomas e exame físico. Sendo os principais sintomas o prolapso e o
sangramento. Com a evolução da patologia podem ocorre dor em pontada, ardência, sensação
de pressão retal, secreção fecal e sangue nas roupas. Assim como dificuldade para defecar,
exteriorização com redução espontânea ou manual, sensação de evacuação incompleta.
Durante a anamnese deve-se fazer a avaliação dos hábitos intestinais, investigar os hábitos
alimentares, tipos de atividade física, história familiar, principalmente no que se refere a
presença de neoplasia colorretal, que irá determinar a investigação total do cólon (DEUS et al,
2010).
O exame físico deve ser realizado detalhadamente, com inspeção, palpação, toque retal,
manobras de esforço e retossigmoidoscopia (CRUZ et al, 2006-a).
Como complicações são citadas as tromboses, estrangulamentos, hemorragias, ulcerações
com infecções secundárias e abscessos.
5.1.3 - Tratamento
O tratamento das hemorroidas depende mais do conjunto de sintomas de cada paciente e dos
achados objetivos ao exame proctológico.
Portanto, apenas as hemorroidas sintomáticas precisam ser tratadas.
Uma vez feito o diagnóstico de hemorroida sintomática, o tratamento dependerá do grau e da
extensão da lesão. As opções incluem:
Tratamento clínico;
Tratamento conservador (nível ambulatorial);
Tratamento cirúrgico.
Tratamento Clínico
Quando a doença hemorroidária é tratada logo no início, pode-se evitar a cirurgia. Neste caso,
tratamento no consultório, uso de pomadas e supositórios ou a simples regularização do hábito
intestinal podem ser suficientes para controlar a doença.
No estudo realizado por Cruz et al (2009), 26% dos portadores de DH foram submetidos à
cirurgia, 74% receberam tratamento não cirúrgico clínico, destes, 12,5% foram submetidos à
ligadura elástica, conduta intervencionista mais utilizada pelos especialistas. Entende-se do
acima exposto que é possível concluir pela eficácia superior comprovada do tratamento
conservador em consultório por meio da ligadura elástica ( REIS NETO et al, 1989; CRUZ et al,
2009).
De acordo com Cruz et al( 2009), a principal causa de indicação cirúrgica foi a intensidade dos
sintomas.
A fissura anal é afecção benigna comum que acomete ambos os sexos e todas as faixas
etárias. Caracteriza-se por lesão ulcerada no anoderma do canal anal, que raramente
ultrapassa a linha pectínea e a anocutânea. Geralmente aparece na região posterior do canal
anal.
Clínica
Sintomas: Dor anal intensa , aguda e penetrante durante ou após a defecação, podendo
irradiar para região genital, costas e membros inferiores, podendo manter-se por horas após a
evacuação. Sangramento, rutilante, durante a evacuação, podendo acontecer no papel
higiênico ou depositado nas fezes.
Exame físico: o exame digital do ânus é muito doloroso. Pode-se observar a presença de
papila hipertrófica (tumoração tipo dedo de luva em canal anal) e o espasmo esfincteriano , que
acontece pela dor.
Diagnóstico diferencial: pensar em Fissura anal sifilítica primária, ulcerações anais por
Doença Inflamatória Intestinal e lesão Herpética.
Tratamento clínico
Quando a fissura anal é tratada logo no início, pode-se evitar a cirurgia. Neste caso, tratamento
no consultório, uso de pomadas e supositórios ou a simples regularização do hábito intestinal
podem ser suficientes para controlar a doença (MOREIRA et al, 2003).
Parasitoses Intestinais
Parasitoses intestinais são infecções (também denominadas infestações) causadas por
parasitas que habitam o trato intestinal.
As parasitoses intestinais representam a doença mais comum do globo terrestre (FERNANDES
et al., 2012). São endêmicas em países de terceiro mundo. Constituem um grave problema
médico e de saúde pública em nosso meio, pela alta prevalência, principalmente na zona rural.
Em algumas regiões do Brasil o poliparasitismo é a regra e repercute nos índices de
produtividade, morbidade e mortalidade.
Dentre os helmintos, os mais frequentes são o Ascaris lumbricoides e Trichuris trichura e
os ancilostomídeos. Dentre os protozoários destacam-se Entamoeba histolytica e Giardia
lamblia. A Organização Mundial de Saúde estima que existam, em todo mundo, cerca de 1
milhão de indivíduos infectados por Ascaris lumbricoides sendo pouco menor o contingente
infestado por Trichuris trichura e pelos ancilostomídeos. Estima-se que entre 200 e 500milhões
de indivíduos alberguem respectivamente Giardia lamblia e Entamoeba histolytica.
Embora o problema seja sério, é considerado “problema menor” e os profissionais de saúde
tendem a adotar uma atitude tolerante. Ascaridíase, tricuríase, infecções ancilostomídeos e
algumas helmintíases são consideradas doenças negligenciadas.
Alguns parasitas como Entamoeba histolytica, Giardia intestinalis, Hymenolepis nana, Taenia
solium, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichura e Enterobius vermicularis são transmitidos pela
água ou alimentos contaminados. Outros, como Ancylostoma duodenale, Necator americanus e
Strongyloides stercoralis, são transmitidos por larvas presentes no solo.
As principais helmintíases e protozooses em nosso meio e os respectivos agentes etiológicos
são:
Helmintos
Devido a nematelmintos:
Devido a Cestódes:
Devido a trematóides:
Protozoários
6.1 - Sintomatologia
O diagnóstico das parasitoses intestinais pode ser feito por diferentes métodos como tubagem
duodenal, provas sorologias e intradérmicas, pesquisa dos vermes em material coletado ao
exame proctológico e avaliação radiológica (FERNANDES et al, 2012). No entanto, o exame
parasitológico das fezes é o método mais simples, específico e de menor custo. Tem por
objetivo demonstrar a presença, na matéria fecal de ovos ou larvas de helmintos e de formas
trofozoíticas ou císticas de protozoários. Como a eliminação de determinados tipos de ovos é
cíclica e um único método de análise não é suficiente para definir a etiologia das parasitoses,
recomenda-se o exame de pelo menos duas amostras.
Abordagem Terapêutica
O metronidazol, pelo baixo custo e por estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), tem
sido a droga mais utilizada no Brasil. Deve ser usada por sete dias e apresenta alguns efeitos
colaterais como cefaleia, vertigens e gosto metálico.
O secnidazol é usado em dose única. Tem rápida absorção e apresenta efeitos colaterais
como: náuseas, dor abdominal, sabor metálico e anorexia. Tais sintomas, entretanto, não
exigem a descontinuidade da droga.
A Tabela 1 mostra as principais drogas utilizadas no tratamento das parasitoses intestinais.
Ações Preventivas
A passagem da larva pelos pulmões causa tosse, chiado, dispneia, infiltrado pulmonar,
leucocitose e eosinofilia de até 50%. Na Síndrome de Loeffler, quadro pulmonar mais grave, há
edema dos alvéolos, infiltrado parenquimatoso, manifestações alérgicas e quadro clínico-
radiológico semelhante a pneumonia.
Na fase digestiva ou crônica os sintomas mais comuns são cólicas, desconfortos abdominais,
náuseas, vômitos, meteorismo, flatulência, alterações de apetite, distensão abdominal, diarreia
e emagrecimento. Também são descritos quadros de irritabilidade, sono agitado, prurido nasal,
urticária devido areação alérgica aos antígenos parasitários.
A complicação mais comum é o quadro de oclusão intestinal devido ao enovelamento de
vermes adultos na luz intestinal, também conhecido como “bolo de Ascaris”. Acomete
principalmente crianças em idade pré-escolar com quadro de dor abdominal, vômitos com ou
sem eliminação do parasita, parada de eliminação de fezes, distensão abdominal, ruídos
hidroaéreos aumentados e dor a palpação. Caso a obstrução persista, pode evoluir para
necrose da parede intestinal.
O Ascaris adulto pode também migrar através dos orifícios naturais do tubo digestivo ou
perfurar a parede intestinal. A oclusão do ducto colédoco, do cístico e das vias biliares intra-
hepáticas determina aparecimento de icterícia e cólica biliar simulando litíase biliar. A oclusão
do canal de Wirsung e da ampola de Vater determina quadro de pancreatite aguda.
O Ascaris pode também penetrar no apêndice íleocecal determinando apendicite aguda com
toda sintomatologia característica. Quadro de hepatomegalia e dor hepática pode ocorrer nas
infecções intensas.
O diagnóstico é feito por pela pesquisa de ovos nos exames protoparasitológicos de fezes. Dá-
se preferência às técnicas de sedimentação devido ao peso dos ovos. Exames são
desnecessários quando há relato de eliminação do verme. Para a visualização de bolo de
Ascaris a radiografia simples de abdome é útil. A ultrassonografia pode visualizar o verme no
interior do colédoco e a endoscopia digestiva e colangiografia endoscópica retrógrada detectam
sua presença no cístico e nas vias biliares intra-hepáticas.
O tratamento é feito com:
Oxiprantel 6-8mg/kg dose única, para crianças acima de 2 anos. Repetir tratamento
após 10 dias
Assintomática
Dor abdominal, perda de peso, náuseas, vômitos, má absorção
Sintomas cutâneos e Síndrome de Löeffler
Forma invasiva larvária: dor abdominal alta, diarreia, vômitos, distensão abdominal,
desidratação, bacteremia, dispneia, tosse, hipotensão e óbito
O diagnóstico efeito pela pesquisa de larvas, uma vez que os ovos não são eliminados.
Devemos usar duas técnicas para o diagnóstico: os métodos de Baremann-Moraes e de Rugai
e col., em três amostras fecais.
O tratamento pode ser feito com (ANDRADE et al, 2010):
Praziquantel:
O tratamento deve ser feito sempre que se encontrar ovos viáveis ou nas fezes. Vale ressaltar
que as drogas acima não atuam sobre as formas larvárias, responsáveis pelos sintomas da
fase aguda nem atuam sobre as complicações da fase crônica.
O controle de cura deve ser realizado com seis exames parasitológicos de fezes consecutivos,
com intervalos mensais sendo o primeiro após 30 dias de tratamento.
Amebíase (Entamoeba histolytica )
A transmissão da amebíase ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com cistos
do protozoário ou pelo contato direto, pessoa a pessoa, através das mãos poluídas com fezes
contaminadas. Os alimentos podem ser contaminados por manipuladores de alimentos, uso de
adubo com fezes humanas, água poluída com fezes humanas e insetos que atuam como
veiculadores de cistos.
A infecção pode ser assintomática e com portador assintomático em cerca de 90% dos casos.
A colite amebiana não disentérica caracteriza-se por surtos de diarreia, alternados com
períodos de melhora, com fezes normais a ressecadas.
Na colite amebiana disentérica, forma menos comum, ocorrem úlceras no cólon e reto,
cursando com diarreia sanguinolenta em número de até 10 evacuações, associada a dor
abdominal intensa, tenesmo, desidratação, náusea, vômitos, anorexia e febre de pequena
intensidade. Nesta fase podem surgir complicações graves incluindo megacólon tóxico, colite
necrosante fulminante e perfuração intestinal ( ANDRADE et al, 2010).
As formas crônicas manifestam-se por queixas intermitentes de dor abdominal e diarreia não
sanguinolenta, associadas a perda de peso. Pode ainda ocorrer ameboma ou abscesso
hepático. O abscesso hepático amebiano é a forma mais comum de amebíase extraintestinal.
Decorre da migração dos trofozoítos através da veia mesentérica superior até ao fígado, onde
causa inflamação, degeneração e necrose.
O diagnóstico é feito com exame de fezes. Nas fezes diarreicas ou disentéricas predominam as
formas trofozoítas e nas fezes formadas predominam os cistos.
O tratamento depende da forma clínica presente.
Forma Intestinal Assintomática
Etofamida:
Teclosan:
Metronidazol:
Secnidazol:
Formas Extra-Intestinais
Abscesso hepático:
Peritonite:
laparotomia
Ameboma:
(casos clínicos)