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A- Espaços económicos
Espaço fiscal: existência de um regime fiscal idêntico em toda a economia nacional e diferente
dos regimes fiscais existentes nas outras economias nacionais.
Economias mundo tributárias: economias que coincidiam com uma unidade política
desempenhado o poder central um papel decisivo na determinação e realização das trocas
inter-regionais implicadas pela especialização regional das produções, através de mecanismos
de mando. Entre essas economias-mundo tributárias contavam-se:
a) Alguns impérios, isto é, espaços políticos envolvendo o domínio do povo de uma região
sobre os das restantes (ex: China, Império Otomano, Império Russo, etc).
b) Alguns espaços de caráter nacional, isto é, espaços políticos com homogeneidade
cultural no seu interior.
Os espaços económicos relevantes dos dias de hoje podem ser de dois tipos:
Economias globais
Economias parciais
Economias mundo
Economias locais
Economias-mundo comerciais
Economias-mundo tributárias
Em termos da sua relação com a natureza, as economias (globais ou parciais) podem ser de 3
tipos:
Economias de transformação
Economias de cultivo
Economias de predação
B –
Unidades económicas sem especialização funcional das atividades económicas são unidades
que se dedicavam simultaneamente às atividades de consumo e de produção, além da
atividade complementar de acumulação e sem especialização setorial das atividades de
produção, isto é, unidades que se dedicavam a atividades económicas de produção relativas à
generalidade dos setores.
Estas unidades sem especialização funcional das atividades económicas e sem especialização
setorial da atividade de produção eram unidades de autoconsumo – unidades cujos membros
consumiam o que produziam.
Unidades de produção de bens privados: bens em relação aos quais é possível aplicar
e é aplicada uma regra de exclusão que apenas permite o consumo a quem detiver o
bem, ou efetuar um pagamento para o adquirir.
Unidades de produção de bens públicos: bens em relação aos quais não é possível
aplicar ou é decidido não aplicar a regra de exclusão que apenas permite o consumo a
quem detiver o bem, ou efetuar um pagamento para o adquirir. Foi no contexto destas
unidades (geralmente os Estados) que se desenvolveram estruturas organizativas mais
complexas.
Bens privados: bens em relação aos quais existe rivalidade de consumo (não podem ser usados
simultaneamente por vários agentes económicos) e em relação aos quais existe possibilidade
de exclusão (ex.: bens materiais e serviços pessoais).
Bens sociais: bens em relação aos quais não existe rivalidade de consumo (podem ser usados
simultaneamente por vários agentes económicos) e em relação aos quais não existe
possibilidade de exclusão (ex.: transportes, comunicação, abastecimento de água e
eletricidade...).
Bens coletivos: bens em relação aos quais existe rivalidade de consumo (não podem ser
usados simultaneamente por vários agentes económicos) e em relação aos quais não existe
possibilidade de exclusão. (ex.: recursos naturais)
Bens públicos: bens em relação aos quais existe não rivalidade de consumo (podem ser usados
simultaneamente por vários agentes económicos) e em relação aos quais não existe
possibilidade de exclusão.
Produção doméstica: feito por unidades económicas sem especialização funcional das
atividades, para autoconsumo. (esta era praticamente a única forma de organização
que existia nas economias locais não setorializadas de predação e cultivo e tinha
importância nas economias locais setorializadas de cultivo e nas economias-mundo).
Produção artesanal: feita por unidades económicas sem especialização funcional das
atividades e com especialização setorial das atividades, para troca, visando a obtenção
de bens que elas não produzem, para satisfação de outras necessidades (esta era a
forma de organização predominante nas economias locais setorializadas de cultivo e
nas economias-mundo tributárias e tinha importância na economia-mundo euro-
atlântica).
Produção capitalista: feita por unidades económicas do tipo empresa (com
especialização funcional da atividade), para troca, visando a obtenção de um lucro
(esta forma de organização era desconhecida nas economias locais, era minoritária nas
economias-mundo tributárias e ganhava importância na economia-mundo euro-
atlântica).
Produção pública: levada a cabo por unidades económicas públicas (controladas pelo
Estado), para fornecimento à generalidade da população de bens públicos para
satisfação das necessidades que impliquem o consumo de bens (esta forma de
organização existia em todos os tipos de economias com especialização setorial das
atividades, mas apenas tendia a assumir papel dominante nas economias-mundo
tributárias).
Negócio: atividade em que uma unidade económica aplica uma certa quantidade de dinheiro
com o objetivo de o recuperar ao fim de algum tempo, acrescido de um adicional. (A
quantidade inicial é o capital, o adicional é o lucro). Um negócio envolve sempre um risco,
devido à incerteza sobre o futuro e, portanto, sobre o quantitativo do lucro que será obtido.
Os negócios quantitativos mais significativos realizados nas economias anteriores ao CEM eram
negócios de natureza comercial, isto é, de aquisição de mercadorias para revenda, geralmente
em região diferente daquela onde era realizada a aquisição. Assim, as principais empresas da
época anterior ao CEM eram de natureza comercial, e entre elas as companhias de comércio a
longa distância.
Uma empresa deve planear as suas atividades em função de objetivos, estruturar o seu
funcionamento interno para levar a cabo essas atividades e realizar as atividades. A estas três
etapas da atividade de uma empresa correspondem três níveis de gestão:
A gestão estratégica tem um caráter central e abrangente, pelo que deverá ser considerada
uma gestão de topo. A gestão funcional tem um caráter especializado, pelo que deverá ser
considerada uma gestão de nível intermédio. A gestão operacional tem um caráter específico,
pelo que deve ser considerada uma gestão de base.
Formas legais das empresas, sob o ponto de vista da sua relação com o proprietário, ou
proprietários:
Apesar do caráter ainda incipiente da generalidade dos negócios financeiros, a época anterior
ao CEM assistiu ao desenvolvimento de bolsas para transações financeiras, sobretudo nas
grandes cidades. Eram espaços dedicados à realização de transações financeiras de forma
sistemática e organizada, se bem que geralmente ainda não institucionalizada.
Na época anterior ao CEM existiram duas bolhas especulativas seguidas de colapso das
cotações:
Há pouco mais de dois séculos a economia do mundo entrou numa nova época económica,
que pode ser identificada como a época do CEM. Essa época caracterizou-se por um
crescimento significativo da população, do nível da atividade económica, e, portanto, do valor
acrescentado ou rendimento dela resultante, e do rendimento médio por habitante do mundo.
Rendimento por
Período População Rendimento
habitante
1700-1820 0,45 0,52 0,07
1820-1870 0,40 0,93 0,53
1870-1913 0,80 2,11 1,30
1913-1950 0,93 1,85 0,91
1950-1973 1,92 4,91 2,93
1973-1998 1,66 3,01 1,33
As situações de carência alimentar atingem hoje uma proporção da população mundial muito
menor do que antes do processo do crescimento económico moderno, este facto é
consequência dos progressos na agricultura e na criação de gado.
Numa primeira fase do CEM, a tendência foi para se verificar um processo de industrialização,
tornado o valor acrescentado da indústria maioritário na atividade económica, enquanto as
atividades do setor primário se tornaram gradualmente menos importantes do que a indústria
e os serviços.
Numa segunda fase do CEM, a tendência foi para se verificar um processo de terciarização,
tornando o valor acrescentado dos serviços maioritário na atividade económica, enquanto as
atividades industriais se tornaram gradualmente menos importantes do que os serviços.
Como resultado da alteração da estrutura setorial da economia, pode dizer-se que a economia
mundial contemporânea que se veio a formar na sequência do processo do CEM já não é uma
economia de predação, nem de cultivo, mas é sim uma economia de transformação.
Outra das consequências do CEM foi a intensificação das relações económicas entre as
economias globais, isto é, entre os espaços praticamente autossuficientes existentes antes do
início do processo do CEM, e entre as economias parciais existentes no seio de algumas dessas
economias globais. Essa intensificação das relações económicas inter-regionais e
internacionais conduziu à formação do que pode ser denominado a economia mundial
contemporânea.
A difusão deste esquema melhorou a qualidade da lavra das terras, porque a abundância de
forragens permitiu aumentar em número e em qualidade os animais de tiro, quer para
transportes, quer para trabalhos agrícolas, em particular com a substituição de gado bovino
por gado cavalar. Houve também progresso dos instrumentos aratórios, que passaram a ser de
metal, aumentando a produtividade.
A rotação de culturas obrigou a que a criação de gado passasse a ser feita preferencialmente
em regime de estabulação e a estrumação passasse a ser feita artificialmente, articulou-se
deste modo, com a vedação permanente dos campos.
A máquina a vapor:
A máquina de vapor é a principal inovação tecnológica do arranque do CEM, tendo-se tornado
o símbolo tecnológico da primeira Revolução Industrial, pois permitiu enormes ganhos de
produtividade, tornando a Europa o grande centro industrial mundial.
O setor em que a utilização da máquina a vapor primeiro alastrou foi o da indústria têxtil,
graças à introdução de máquinas de fiar e de tear/tecer, ainda antes da sua aplicação em
navios e comboios. A mais fácil adaptação destas inovações ao trabalho com o algodão fez com
que fosse a indústria têxtil de algodão a que apresentou maior dinamismo e maior
dependência em relação a fornecimentos de fora da Europa para fornecimento da matéria-
prima.
A energia hidráulica:
Uma parte significativa da indústria fabril ligada ao arranque do CEM utilizou a tradicional
energia hidráulica, isto é, energia proporcionada por correntes fluviais, cujo aproveitamento foi
igualmente melhorado.
Os primórdios do CEM foram acompanhados por alguns progressos nos transportes, devidos
ao alastramento de vias de comunicação artificiais, nomeadamente canais e estradas, a
inovações na sua construção e ao aparecimento do navio a vapor.
Os canais e estradas:
Os canais foram muito importantes, porque o transporte aquático era muito mais eficiente
que o terrestre. Por outro lado, o transporte aquático utilizava frequentemente fontes de
energia grátis (vento e correntes) e mesmo quando utilizava fontes de energia pagas, conseguia
fazê-lo com mais eficiência do que os transportes terrestres. Por isso, o alargamento da rede de
transportes fluviais pela construção de canais foi uma forma de embaratecer os transportes
internos.
Pela maior eficiência dos transportes aquáticos, a importância das estradas foi geralmente
menor do que a dos canais, exceto nas regiões onde os canais não podiam penetrar, de
qualquer maneira, as estradas desempenharam igualmente o seu papel na primeira fase de
modernização dos transportes.
O navio a vapor:
Uma das primeiras aplicações para a máquina a vapor foi a propulsão de navios. Só no início do
século XIX este se concretizou como inovação económica, na navegação fluvial.
O navio à vela tem uma vantagem: fonte de energia grátis e não havia ocupação de espaço
com o combustível. Por esta última razão, inicialmente o navio a vapor só teve sucesso na
navegação fluvial e costeira, nas quais o reabastecimento podia ser frequente, e, portanto, a
perda de espaço para o armazenamento era reduzida, mas demorou a impor-se no transporte
marítimo.
B – O quadro institucional dos primórdios do CEM
O liberalismo económico:
Este processo envolveu a sujeição da terra a um regime de estrita propriedade privada, com
desaparecimento da propriedade comunitária e de restrições sobre a utilização da propriedade
privada.
Este processo obrigou ao abandono de antigas práticas comunitárias, que reduziam o incentivo
à introdução de inovação, permitindo a total apropriação privada dos ganhos resultantes
dessas inovações o que levou ao aparecimento de muitas empresas no setor agrícola.
Os mercados dos produtos da agricultura e da criação de gado nunca deixaram de ser neste
período mercados de concorrência quase perfeita, devido ao grande número de produtores
de cada bem e à homogeneidade desses bens. As empresas capitalistas que surgiram no setor
primário da economia foram, portanto, empresas relativamente simples, com uma única
unidade produtiva, uma quinta, de propriedade tipicamente individual e organização interna
centralizada e não departamentalizada, naturalmente gerida pelo proprietário.
Apesar das alterações, o tipo de mercado predominante nos mercados dos bens mais
profundamente tocados por estas transformações, continuaram a ser mercados de
concorrência quase perfeita (mercados em que competia um número muito elevado de
pequenas empresas, sem o aparecimento de empresas líderes). Este facto é uma consequência
da manutenção de uma estrutura de custos em que os custos variáveis, associados à
necessidade de capital circulante, pesavam mais do que os custos fixos, associados à
necessidade de capital fixo. Por isso, não se geraram barreiras significativas à entrada de
novas empresas no mercado.
Isto contribuiu para que a empresa típica da primeira fase da primeira revolução industrial
fosse uma empresa de tamanho relativamente pequeno, com uma única unidade produtiva e
mantendo as formas jurídicas e organizativas tradicionais. No que respeita às formas jurídicas,
tratava-se de empresas em nome individual ou sociedades propriamente ditas com
responsabilidade ilimitada. No que respeita às formas organizativas, tratava-se de empresas
centralizadas e não departamentalizadas, nas quais os proprietários se envolviam na
generalidade dos níveis da gestão.
A organização das empresas capitalistas de transportes era mais complexa do que a das
organizações capitalistas industriais, devido às exigências colocadas pela atuação nos vários
locais entre os quais se realiza o transporte.
Por um lado, a proporção de capital fixo era maioritária nos seus custos (canais e estradas),
criando barreiras à entrada de novas empresas. Por outro lado, a especificidade de localização
das vias de comunicação artificiais criava monopólios naturais.
O financiamento:
Autofinanciamento:
Crédito informal:
O mercado de capitais:
A sua importância (da emissão de ações e obrigações) foi menor que a das outras formas de
financiamento, devido às limitações ao estabelecimento de empresas sob a forma de
sociedades de responsabilidade limitada. O final do século XVIII foram marcados por uma
atividade relevante nos mercados de capitais o que levou ao aparecimento das modernas
bolsas de valores.
A difusão do processo de CEM em termos setoriais e espaciais foi lenta. Apesar da redução dos
custos de transação (proveniente dos ganhos de produtividade e desenvolvimento dos
transportes), os sistemas produtivos tradicionais persistiram em muitos setores e regiões por
bastante tempo, o que revela que as vantagens relativas do novo sistema só lentamente se
impuseram.
O caminho-de-ferro:
O telégrafo:
O setor que sofre talvez a mais radical transformação neste período foi o das comunicações,
com a introdução do primeiro meio de comunicação não dependente de qualquer meio de
transporte. Pode dizer-se que se construiu gradualmente uma rede mundial de comunicação
através do telégrafo elétrico.
As transformações da agricultura:
As principais inovações no setor agrícola foram a sua mecanização e o uso de adubos naturais.
A mecanização fez-se sentir ao nível das operações realizadas em locais fixos (por exemplo,
debulha dos cereais) e não no cultivo dos campos propriamente dito, pois não havia nenhum
veículo terrestre que não circulasse sobre carris. A utilização de adubos naturais foi possível
devido ao progresso nos transportes oceânicos (traziam produtos das colónias).
As transformações na indústria:
A indústria siderúrgica foi o ramo que apresentou maio dinamismo durante o que pode ser
designado por segunda fase da primeira revolução industrial. Tal dinamismo foi em parte
resultado da procura de materiais para a fabricação de bens de produção para a generalidade
dos setores da economia e em parte resultado do aparecimento de importantes inovações nos
processos de fabricação do aço e de purificação dos minérios de ferro.
O navio a vapor oceânico passou a ter um uso mais generalizado devido à ultrapassagem de
dois problemas que impediam a sua utilização rentável nas rotas oceânicas: substituição das
rodas laterais pela hélice terminal submersa; substituição do casco de madeira pelo casco
metálico, que levou ao aumento da arqueação bruta dos navios.
Os canais interoceânicos:
A redução dos custos e tempos de viagem foi ainda acentuada pela construção de canais
interoceânicos, como o Canal do Suez.
Os serviços de correio:
O livre-cambismo:
O primeiro impulso em direção a políticas livre-cambistas foi dado pelo Britânicos na década de
40 do século XIX, com a abolição de duas leis protecionistas fundamentais na sua vida
económica: corn laws (leis dos cereais, que estabeleciam direitos aduaneiros compensatórios
para que os cereais importados não fossem vendidos a preço inferior à produção nacional) e
navigation laws (reservavam a navegação de cabotagem a navios britânicos).
Estas leis foram fundamentais nos primórdios do CEM para os britânicos. O seu abandono
manifesta um ambiente de confiança de que a sua economia não seria prejudicada pela
concorrência externa. Confiança de que o seu sistema fiscal, através de impostos diretos, seria
capaz de compensar a redução das receitas públicas derivada da abolição de direitos
aduaneiros. Este ambiente de confiança no comércio internacional generalizou-se nas décadas
seguintes a outros países europeus e do mundo.
Alguns espaços económicos estiveram até então fechados à interação com a economia-mundo
euro-atlântica (por várias razões, como difícil acessibilidade; menor eficiência dos transportes
terrestres; problemas sanitários; opção política; etc).
Os primórdios do socialismo:
O sindicalismo operário:
Esta época assistiu também à consolidação não só do CEM, mas do sindicalismo operário,
devido ao desenvolvimento de setores com pessoal operário especializado e dificilmente
substituível sem custos elevados para as empresas, num contexto de custos elevados de
utilização e manutenção de equipamentos muito dispendiosos.