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#metodologia
queempodera 1
2023
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas
ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem
como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora.
Título | Apostila Bases da Medicina – Residência Médica: Clínica Médica VII - Infectologia
Autor | Álvaro Furtado Costa
Coordenador | Thiago Aragão Leite
Líder Editorial | Gustavo Almeida
Produção Editorial | Renata Acácio Rocha
Projeto Gráfico | Richard Veiga Editoração
Diagramação | Thiago Almeida
Capa | Bruno Brum
Edição de Texto | Renata Panovich Ferreira
Conselho Editorial | Matheus Feliciano da Costa Ferreira
Vinícius Côgo Destefani
Caio Nunes
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes – CRB-8 8846
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Autor: Álvaro Furtado Costa. – 1. ed. – Salvador, BA : Editora Sanar, 2023.
560 p.; figs.
E-book: 10.7 Mb; PDF.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-5462-364-7.
1. Clínica Médica. 2. Infectologia. 3. Medicina. 4. Residência. I. Título. II. Assunto. III. Coordenador. IV. Autor.
CDD 616.0473
CDU 614.4
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COMO GARANTIR UMA APRENDIZAGEM
EFICAZ E UMA RETENÇÃO DURADOURA?
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1. MAPAS MENTAIS
u Como fazer: A partir do Título e da sua lista de palavras, comece a criar o seu Mapa:
a) Enquanto estuda um assunto, comece a escrever uma lista de palavras importantes que
você não pode deixar de entender e reter na sua memória. Enquanto faz isso, pense em
como essas palavras se conectam entre si.
b) Coloque o título no centro da folha. A partir dele, puxe linhas que conectem as informações
associadas ao título, que serão algumas das palavras da sua lista.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
d) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu mapa por categorias, por
exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas, use
eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
e) Use cores diferentes para deixar o seu mapa mental ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Essa tarefa pode até demorar um pouco mais no começo, mas, com um pouco
de prática, você não vai gastar mais do que 10 minutos para garantir um enten-
dimento aprofundado e uma aprendizagem mais eficaz e duradoura.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
2. FLUXOGRAMAS
u Quando fazer: Os Fluxogramas são ideais para consolidar processos e passo a passos! Por
exemplo, você pode começar o seu Fluxograma com uma suspeita diagnóstica, para depois
passar pela classificação e chegar até o tratamento.
u Como fazer: A partir do seu objetivo, defina o título e os assuntos que irão entrar no seu
Fluxograma:
a) Depois de ter estudado um assunto mais amplo, pense no quadro completo que você
precisa entender e saber. A partir disso, crie a lista de palavras, conceitos e frases mais
importantes que você precisa incluir para atingir o seu objetivo.
b) Coloque o Título no centro da folha. A partir do título, puxe linhas que conectem as infor-
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mações associadas ao título, que serão algumas das palavras ou frases da sua lista.
e) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu fluxograma por categorias,
por exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas,
use eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
f) Use cores diferentes para deixar o seu fluxograma ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
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No final, você terá um grande Fluxograma que não só vai garantir o seu entendi-
mento, mas facilitará a revisão dos assuntos mais amplos e ajudará o seu cérebro
a aprender, reter e saber usar as informações estudadas.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
3. RESUMOS
u Quando fazer: Sempre que estudar! Resumos de fechamento são essenciais para a apren-
dizagem.
u Como fazer: Para executar essa estratégia você irá precisar só de alguns minutos, mas tam-
bém de concentração e reflexão.
b) Marque ou grife as palavras chave no texto ou as anote no seu caderno caso você esteja
assistindo uma videoaula.
c) Assim que terminar de estudar informações novas, olhe para as suas palavras chave e
reflita sobre 2 perguntas:
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• O que acabei de aprender sobre o assunto?
• Como isso se conecta ou se relaciona com o que eu já sabia?
d) Comece a escrever breves respostas de no máximo 10 linhas para cada uma dessas per-
guntas.
e) Garanta que o seu texto seja sucinto, sem repetições e descrições desnecessárias, mas
que responda bem às perguntas acima.
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CONHEÇA A APOSTILA
Importância/prevalência
do capítulo: Frequência do
conteúdo em questões de
provas de residência.
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o que realmente cai na prova.
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Conheça a apostila
Número do capítulo.
Subcapítulos em destaque.
Indicação da especialidade
ou área do capítulo.
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Sumário nas aberturas dos módulos,
com indicação dos níveis de
importância de cada capítulo.
importância/prevalência
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Conheça a apostila
Indicação da especialidade
Título do capítulo. ou área do capítulo.
Título do capítulo.
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Gabarito e comentário das questões,
com explicação do professor tanto
da resposta correta quanto do motivo
de as outras estarem incorretas.
dificuldade: Fácil
dificuldade: Intermediário
dificuldade: Difícil
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Conheça a apostila
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Ao final da apostila e de alguns capítulos você
encontrará espaços para construir mapas mentais,
fluxogramas ou fazer resumos e, assim, fixar seu conhecimento!
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SUMÁRIO
INFECTOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2. Aspectos imunológicos virológicos e transmissibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3. Epidemiologia e situação global e brasileira do HIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4. Prevenção e profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.1. Prevenção combinada no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
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4.2. T
ratamento como prevenção (U = U) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.3. PrEP (profilaxia pré-exposição) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
15
Sumário
capítulo 2. TUBERCULOSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
1. Introdução e epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2. Fisiopatogenia e transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3. Agente etiológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4. Estratégias diagnósticas para tuberculose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.1. Baciloscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2. C ultura para micobactéria, identificação e teste de sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.3. Diagnóstico histopatológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
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4.4. Adenosina deaminase (ADA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.5. Diagnóstico na forma pulmonar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.6. Adendo: teste molecular para tuberculose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
16
Sumário
DENGUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
1. Introdução e epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
2. Etiologia, vetor e fisiopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
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2.1. Virologia e vetor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
3. Fisiopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4. Quadro clínico e manejo clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.1. Fase febril . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.2. Fase crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.3. Fase de recuperação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
5. M
anobras propedêuticas importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
6. Formas graves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
7. M
anejo clínico e classificação do Ministério da Saúde em grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
7.1. A
valiação inicial/anamnese e exame físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
7.2. Classificação de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
7.3. M anejo para os casos não graves (grupos A e B) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
7.4. Manejo para os casos graves (grupos C e D) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
7.5. Coagulopatia nos casos graves (grupos C e D) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
8. C
ritérios para internação hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
9. Critérios de alta hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
10. Diagnóstico laboratorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
10.1. Exames inespecíficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
10.2. Específico – Virológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
17
Sumário
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
3. Zika . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
3.1. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
3.2. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
3.3. Complicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
3.4. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
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Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
ESQUISTOSSOMOSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
1. Introdução e epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
2. Agente etiológico e ciclo de vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
3. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
18
Sumário
4. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
4.1. Intradermorreação de Montenegro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
4.2. Diagnóstico diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
6. Vigilância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
2. Paracoccidioidomicose/blastomicose sul-americana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
2.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
2.2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
2.3. Etiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
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2.4. Imunopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
2.5. Clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
2.6. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
2.7. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
19
Sumário
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
4. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
4.1. Malária não complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
4.2. Malária grave e complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210
5.1. Malária grave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
6. Prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
6.1. Quimioprofilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
6.2. Proteção contra picadas de insetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
redquestmed@gmail.com | 60d3657c-f369-4d3c-8935-698196cddef0
Mapa mental. Febre amarela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
3. Apresentações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
4. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
5.1. Avaliação de estado geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
5.2. Brasil 2018: primeiro transplante hepático do mundo em febre amarela . . . . . . . . . . . . . . . 231
6. Prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
6.1. Vacinação: assunto a ser cobrado nos exames de residência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
6.2. Importante conhecer as indicações e situações específicas para
contra-indicações relativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
6.3. Contraindicações à vacinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
20
Sumário
2. Hepatite A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
2.1. Apresentações clínicas da HAV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
2.2. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250
2.3. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
3. Hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
3.1. Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
3.2. Clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
3.3. Fases da hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
3.4. Epidemiologia e aspectos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
3.5. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
3.6. Imunossuprimidos e candidatos ao uso de imunobiológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
3.7. Tratamento da hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
3.8. Profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
4. Hepatite C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
4.1. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
4.2. Agente etiológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
4.3. Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
4.4. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
4.5. Diagnóstico HCV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
4.6. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265
redquestmed@gmail.com | 60d3657c-f369-4d3c-8935-698196cddef0
5.2. Hepatite E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270
Bibliiografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280
6. Diagnósticos diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280
6.1. Toxoplasmose aguda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280
6.2. Secundarismo da sífilis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280
6.3. Infecção aguda pelo vírus HIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
6.4. Infecção pelo citomegalovírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
21
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
2. Transmissão e epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
3. Etiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
4. Patogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
5. Clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
5.1. Forma anti-ictérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
5.2. Forma ictérica ou síndrome de weil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
8. A
bordagem inicial e tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
redquestmed@gmail.com | 60d3657c-f369-4d3c-8935-698196cddef0
8.1. Suspeita clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
8.2. Caso suspeito de leptospirose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
8.3. Anamnese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298
9. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298
10. Prevenção e controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
10.1. C
ontrole da população de roedores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
10.2. P rofilaxia pós-exposição e vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
22
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310
2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
2.1. M
eningite bacteriana por meningococo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
2.2. M eningite bacteriana por H. influenzae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
2.3. M eningite bacteriana por pneumococo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
2.4. Meningite viral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
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6.2. Doença meningocócica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
23
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342
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Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 365
2. Conceitos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
2.1. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
2.2. Bacteriúria assintomática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
2.3. Frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
2.4. ITU complicada x não complicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 367
2.5. Infecção relacionada à assistência à saúde (associada a cateter vesical) . . . . . . . . . . . . . . . . 367
24
Sumário
9. S
eguimento de pacientes com ITU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 376
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 376
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 377
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387
2. Etiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394
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Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 396
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 408
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 408
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 409
25
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 414
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423
5.1. Sífilis primária, secundária e latente precoce . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423
5.2. Latente tardia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 424
5.3. Neurossífilis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 424
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 427
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 428
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Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 429
3. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 448
3.1. I ndicação do oseltamivir na síndrome gripal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 448
3.2. Prevenção e vacinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449
26
Sumário
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 460
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 460
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 461
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5. P
rofilaxia das hepatites virais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 475
5.1. Hepatite B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 475
6. Hepatite C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 476
7. Profilaxia para tétano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477
7.1. Particularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477
8. P
rofilaxia para raiva pós-exposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 479
8.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 479
8.2. Animais envolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 480
8.3. Esquemas de profilaxia para raiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 480
27
Sumário
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Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 508
3. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
4. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
5. prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
5.1. Profilaxia pré-exposicão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521
5.2. Profilaxia pos-exposicão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 522
5.3. Esquemas e manejo da profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 523
5.4. Acidentes leves (pela via IM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 523
5.5. Acidentes graves (pela via IM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 523
28
Sumário
4. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 536
4.1. Diagnóstico diferencial do tétano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 536
5. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 536
6. Complicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 537
7. Vacinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 537
8. Profilaxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 537
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capítulo 22. FEBRE TIFOIDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 547
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 547
2. Etiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 548
3. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 548
3.1. R
eservatórios e fontes da infecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 549
4. Patogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 549
5. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 550
6. Diagnóstico laboratorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 551
7. Diagnóstico diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 551
7.1. S
almonelose septicêmica prolongada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552
8. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552
9. Controle e prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552
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INFECTOLOGIA
INFECTOLOGIA
Sumário
Prevalência/importância
1. Infecção pelo vírus HIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2. Tuberculose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. Dengue, zika e chikungunya . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas . . . . . . . . . .
5. Micoses profundas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6. Malária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. Febre amarela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8. Hepatites virais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. Síndrome da mononucleose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10. Leptospirose e hantavirose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11. Meningites agudas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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12. Meningoencefalites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
13. Infecção do trato urinário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14. Febre de origem indeterminada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
15. Doenças transmitidas por carrapato . . . . . . . . . . . . . . . . . .
16. Sífilis e outras ISTs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
17. Infecção por vírus respiratórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
18. Profilaxias e acidente com material biológico . . . . . . . . . .
19. Acidente com animais peçonhentos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
20. Raiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
21. Tétano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
22. Febre tifoide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
32
Capítulo
INFECÇÃO PELO VÍRUS HIV
1
importância/prevalência
u Agente etiológico: HIV-1/HIV-2 (1 predominante no mundo). O HLTV-I/II é um outro retrovírus com as mes-
mas modalidades de transmissão do HIV.
u A infecção pelo HIV é um dos maiores problemas de saúde pública desde o final do século passado (anos
1980), sendo ainda um grande desafio global.
u Tem sua morbidade fundada na imunodeficiência, podendo desencadear o aparecimento de graves infecções
oportunistas. Neoplasias , doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos também são mais frequentes.
u A história natural do HIV foi alterada drasticamente pela Terapia Antirretroviral (TARV), que proporcionou
o aumento da sobrevida dos pacientes mediante reconstrução das funções do sistema imunológico e
redução de doenças secundárias, melhorando, consequentemente, a qualidade de vida.
u A epidemia brasileira está estabilizada nos últimos anos, concentrada em alguns grupos populacionais
(principalmente HSH jovens), porém ainda com cerca de 30 a 40 mil casos novos por ano.
u No Brasil, é exercido o programa de prevenção combinada que, como o próprio nome sugere, é o uso
“combinado” de métodos preventivos, de acordo com as possibilidades e escolhas de cada indivíduo, sem
excluir ou sobrepor um método a outro (PEP, PrEP, preservativos, I = I).
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u Em algumas situações, indica-se a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), a qual consiste no uso de antir-
retrovirais (ARV) antes da exposição, a fim de reduzir o risco de adquirir a infecção por esse vírus.
u A PEP(profilaxia pós exposição) , outra importante ferramenta de prevencão, é indicada em até 72 horas, por
28 dias e em situações de acidente com material biológico, exposição sexual com risco e violência sexual.
u É importante que fique claro que o diagnóstico da infecção no Brasil, nos dias atuais, baseia-se na reali-
zação de testes rápidos, mas ainda podemos utilizar fluxogramas com métodos sorológicos não rápidos.
u Importante conhecer o quadro clínico e a infecção aguda pelo HIV, bem como saber os fluxos de condutas
em situações que envolvam acidentes com material biológico.
u Entender quais exames devem constar na avaliação inicial do paciente recém-diagnosticado e quais são
as últimas recomendações acerca da terapia antirretroviral (tratar todas as pessoas vivendo com o HIV).
u Descrever as principais infecções oportunistas por sistema, por faixa de CD4, destacando a neurotoxo-
plasmose, a pneumocistose e a tuberculose.
u Descrever o momento de início e os esquemas de tratamento na coinfecção HIV/tuberculose, nas interações
dos antirretrovirais com rifampicina e explicar o que são as chamadas reações paradoxais.
u Saber as profilaxias para as principais infecções oportunistas relacionadas ao HIV, assim como realizar a
prevenção da tuberculose nesses pacientes.
u Saber as principais vacinas recomendadas para a população HIV+ e as suas contraindicações.
33
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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Em 1983, o vírus foi isolado em pacientes com AIDS de antirretrovirais foram descobertas, com cada
pelos pesquisadores Robert Gallo, nos EUA, e Luc vez menos eventos adversos, como os inibidores
Montagnier, na França, recebendo os nomes de da integrase. Atualmente, indica-se tratamento
LAV (Lymphadenopathy Associated Virus ou Vírus para todos os pacientes vivendo com HIV, e as
Associado à Linfadenopatia) e HTLV-III (Human pessoas indetectáveis não transmitem HIV para
T-Lymphotropic Virus ou Vírus T-Linfotrópico Humano seus parceiros sexuais (I = I, indetectável igual a
tipo III), respectivamente, nos 2 países. Em 1985, instransmissível).
foi introduzida, nos EUA, a triagem anti-HIV nos
Nos últimos anos, a epidemia de HIV apresentou
bancos de sangue. O primeiro antirretroviral (AZT/
redução da morbimortalidade, associada ao uso
zidovudina) foi descoberto em 1987.
mais intensivo da TARV. Contudo, doenças cardio-
Em 1986, foi identificado um segundo agente etio- vasculares, hipertensão, diabetes e neoplasias se
lógico, também retrovírus, com características tornaram mais prevalentes entre as pessoas vivendo
semelhantes ao HIV-1, denominado HIV-2. Nesse com o HIV. Esse novo cenário atribui à infecção pelo
mesmo ano, um comitê internacional recomendou o HIV um status de doença crônica. O caráter inflama-
termo HIV (Human Immunodeficiency Virus ou Vírus tório do vírus tem sido muito discutido como parte
da Imunodeficiência Humana) para denominá-lo, importante dessas comorbidades, com aumento
reconhecendo-o como capaz de infectar seres do risco cardiovascular nessa população.
humanos. Esse tipo viral é de menor virulência e
está presente em algumas populações da África.
DIA A DIA MÉDICO
Em pouco mais de 4 décadas de história, o vírus se
espalhou por todo o planeta, transformando a doença
numa das mais importantes do mundo em termos O futuro da doença tem esperança renovada na busca de
vacinas e de novas estratégias para a prevenção como a
quantitativos disparando enormes investimentos da
34
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Para os próximos anos, Vacinas, anticorpos monoclonais e drogas com ação nos
há perspectivas para uso de drogas injetáveis de meia-vida reservatórios imunológicos são as maiores esperanças
prolongada para tratamento e, também, para a profilaxia. para a prevenção e cura da doença.
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2. A SPECTOS IMUNOLÓGICOS pertencem a 2 grupos distintos: os vírus linfotró-
VIROLÓGICOS E picos de células T humanas (HTLV-1 e HTLV-2), os
TRANSMISSIBILIDADE quais são retrovírus transformadores, e os vírus
da imunodeficiência humana, HIV-1 e HIV-2, que
causam efeitos citopáticos diretos ou indiretos.
No mundo inteiro, a causa mais comum da doença
BASES DA MEDICINA causada pelo HIV é o HIV-1, que engloba vários
subtipos com distribuições geográficas diferentes.
No ciclo replicativo, a entrada do vírus na célula hospe- O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1986,
deira requer a presença de receptores de membrana. As
nos pacientes da África Ocidental e, inicialmente,
primeiras células que entram em contato com o HIV-1
são aquelas que fazem parte da linhagem de monóci-
estava limitado a essa região.
tos, especialmente as células dendríticas. O HIV infecta Além disso, 3 enzimas virais se encontram na par-
células que tenham o marcador CD4 (CD4+), sobretudo
tícula de HIV-1: protease, ranscriptase reversa e
linfócitos T auxiliares, mas também macrófagos teciduais
e células da micróglia do sistema nervoso central e do
integrase. A enzima Transcriptase Reversa (TR)
trato gastrointestinal (outro grande reservatório do vírus), é responsável pela transcrição do RNA genômico
o que resulta em uma doença crônica e progressiva que viral em uma fita dupla de DNA, cuja função é criar
ocasiona uma depressão imunológica. uma cópia de DNA de fita dupla (cDNA) e degradar
a fita molde de RNA viral. Já a enzima integrase é
HIV: Agente etiológico – HIV-1 e HIV-2, retrovírus responsável pela integração do cDNA no genoma
da família Lentiviridae. Os retrovírus que compro- da célula hospedeira.
vadamente causam doença nos seres humanos
35
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
O genoma do HIV possui cerca de 9,8 Kb, sendo o HIV-2. O vírus da Imunodeficiência Símia (SIV), que
constituído por 3 genes principais: gag, pol e env, infecta uma subespécie de chimpanzés africanos, é
e 6 genes regulatórios. Os genes gag e env codifi- 98% similar ao HIV-1, sugerindo que ambos evoluíram
cam proteínas estruturais. O gene pol codifica as de uma origem comum. Por esses fatos, supõe-se
enzimas virais citadas anteriormente, e os demais que o HIV tenha origem africana. Além do mais,
genes regulatórios são importantes na regulação diversos estudos sorológicos realizados na África,
do ciclo viral e na patogênese do vírus. O gene env utilizando amostras de soro armazenadas desde as
corresponde a uma das regiões mais variáveis do décadas de 1950 e 1960, reforçam essa hipótese.
genoma do HIV, sendo responsável pela codificação
A análise de sequências conhecidas do HIV-1 permite
das glicoproteínas transmembrana e de superfície,
dividi-lo em 3 grupos denominados M, O e N. O grupo
as quais têm como principal função mediar a entrada
M (major) envolve a maioria das infecções em todo
do HIV na célula hospedeira.
o mundo e é composto por 9 subtipos filogenetica-
O HIV pode ser transmitido por via sexual (esperma mente distintos, denominados A, B, C, D, F, G, H, J e
e secreção vaginal); pelo sangue (via parenteral e K, cujas sequências de genes diferenciam entre si
vertical); e pelo leite materno. Um outro retrovírus em cerca de 20%. O subtipo C é o mais prevalente
importante é o HLTV, que tem as mesmas vias de na Ásia, enquanto o subtipo B é o mais difundido
transmissão do HIV e está associado com 2 doen- em todos os continentes.
ças: leucemia/linfoma de células T e a paraparesia
Desde o momento de aquisição da infecção, o por-
espástica tropical.
tador do HIV é transmissor; entretanto, os indivíduos
Embora não se saiba ao certo qual a origem do HIV-1 com infecção muito recente (“infecção aguda”) ou
e 2, sabe-se que uma grande família de retrovírus imunossupressão avançada sem tratamento têm
relacionados a eles está presente em primatas não maior concentração do HIV no sangue (carga viral)
humanos, na África Subsaariana. Todos os mem- e nas secreções sexuais, transmitindo com maior
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bros desta família de retrovírus possuem estrutura facilidade o vírus.
genômica semelhante, apresentando homologia em
Pacientes em tratamento, com carga viral indetec-
torno de 50%. Ademais, todos têm a capacidade de
tável, não transmitem a doença sexualmente. Essa
infectar os linfócitos T de memória, que possuem o
informação gerou o “dogma” indetectável = não
receptor CD4. (Atenção especial para o correceptor
transmissor (CDC 2017). Assim, mesmo em uma
CCR5, outro principal envolvido no mecanismo de
relação sem preservativo, se a pessoa que vive com
entrada do vírus na célula, e para o CXCR4, tam-
HIV estiver indetectável, ela não transmite o vírus.
bém envolvido, porém com menor importância. Já
existem drogas cujo mecanismo de ação envolve A infecção pelo HIV cursa com um amplo espectro
a inibição do CCR5.) de apresentações clínicas, desde a fase aguda até
a fase avançada da doença (Figura 2).
Aparentemente, o HIV-1 e o HIV-2 passaram a infec-
tar o homem há poucas décadas; alguns trabalhos Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo
científicos recentes sugerem que isso tenha ocorrido médio entre o contágio e o aparecimento da doença
entre os anos 1940 e 1950. Numerosos retrovírus de esteja em torno de 10 anos; porém, temos os cha-
primatas não humanos encontrados na África têm mados progressores rápidos e os pacientes com
apresentado grande similaridade com o HIV-1 e com lenta evolução.
36
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
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porque o vírus pode ser transmitido para o bebê durante além do tratamento como prevenção.
a amamentação, mesmo quando a mãe está com a carga
viral indetectável. Assim, a administração de cabergolina,
distribuída em todo o Sistema Único de Saúde (SUS), A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que,
para inibição da lactação, e uso de fórmula láctea para desde o início da epidemia, em 1981, até os dias
alimentação do recém-nascido exposto ao HIV durante
atuais, cerca de 35 milhões de pessoas morreram
a gestação e o parto são as condutas nessa situação.
de AIDS. Este é quase o número atual de indivíduos
que vivem com HIV – as estimativas da OMS são
de 36,7 milhões de soropositivos no mundo inteiro.
Números da OMS mostram que, em 2016, foram
3. E PIDEMIOLOGIA E SITUAÇÃO
identificadas 1,8 milhão novas infecções pelo vírus
GLOBAL E BRASILEIRA DO HIV
e um total de 1 milhão de mortes decorrentes de
complicações da AIDS. Na América Latina, o Bra-
sil é o principal representante de novas infecções
BASES DA MEDICINA (Figura 3).
37
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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Apesar disso, e de muitos óbitos relacionados ao trans. Estima-se que ocorram cerca de 40 mil casos
HIV, o número total teve uma queda importante, novos por ano. Ou seja, temos uma epidemia estabi-
passando de 1,5 milhão, em 2010, para 1 milhão, lizada, todavia não controlada, além de concentrada
em 2016. Na América Latina, o número de pessoas em determinadas populações.
que morreram pela infecção também caiu, mas em
uma taxa menor: foram 36 mil mortes em 2016, 12%
abaixo de 2010. 4. PREVENÇÃO E PROFILAXIA
Determinados segmentos populacionais em nosso
país, devido a vulnerabilidades específicas, estão
4.1. PREVENÇÃO COMBINADA NO BRASIL
sob maior risco de se infectar pelo HIV, em diferen-
tes contextos sociais e tipos de epidemia. Essas
populações, por estarem sob maior risco, devem ser A prevenção é um dos assuntos mais importantes
alvo prioritário para a prevenção e são chamadas relacionados ao HIV. No Brasil, tem-se, como parte
de populações chave ou alvo. do programa, a chamada prevenção combinada.
Dentro do seu conjunto de ferramentas, inserem-se:
No Brasil, a prevalência da infecção pelo HIV, na
população geral, encontra-se em 0,8%, que é con- u Testagem para o HIV.
siderada uma prevalência intermediária, enquanto u Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP).
alguns segmentos populacionais demonstram pre-
valências de HIV mais elevadas. Esses subgrupos
u Uso regular de preservativos.
populacionais são os gays e outros HSH, pessoas u Diagnóstico oportuno e tratamento adequado
que usam drogas, profissionais do sexo e pessoas de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
38
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
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Por fim, as intervenções estruturais remetem às
preventivos, de acordo com as possibilidades e esco- estratégias voltadas a interferir nos aspectos sociais,
lhas de cada indivíduo, sem excluir ou sobrepor um culturais, políticos e econômicos que criam ou
método a outro. A expressão refere-se a diferentes potencializam vulnerabilidades dos indivíduos ou
ações de prevenção, tanto as diretamente voltadas segmentos sociais em relação ao HIV.
ao combate do HIV, quanto os fatores associados
à infecção. Dessa forma, sua definição parte do O símbolo da mandala representa a combinação de
pressuposto de que diferentes ações devem ser algumas das diferentes estratégias de prevenção
conciliadas em uma ampla estratégia, mediante a (biomédicas, comportamentais e estruturais), pois
combinação dos 3 eixos de intervenções para pre- apresenta a ideia de movimento em relação às pos-
venção ao HIV: as biomédicas, as comportamentais sibilidades de prevenção, tendo os marcos legais
e as estruturais. A associação dessas diferentes e as intervenções estruturais como base dessas
conjugações (Figura 4).
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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Fonte: Acervo Sanar.
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Mecanismo
de ação impede a entrada e
PrEP infecção pelo vírus HIV
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Terapia indicada TDF/FTC (tenofovir +
entricitabina) em um
único comprimido
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
O esquema recomendado para uso na PrEP é a com- u Histórico de episódios de Infecções Sexualmente
binação dos antirretrovirais fumarato de tenofovir Transmissíveis (IST).
desoproxila (TDF) e emtricitabina (FTC), cuja eficácia u Busca repetida por Profilaxia Pós-Exposição (PEP).
e segurança foram demonstradas, com poucos u Contextos de troca de sexo por dinheiro, objetos
eventos adversos associados ao seu uso. O uso deve
de valor, drogas, moradia etc.
ser diário, e a efetividade de proteção contra o vírus
HIV chegou próximo de 99% nos últimos estudos
A PrEP é um método seguro e eficaz na prevenção do
publicados, especialmente na população HSH.
HIV, com raros eventos adversos, os quais, quando
Determinados segmentos populacionais, devido a ocorrem, são transitórios e passíveis de serem mane-
vulnerabilidades específicas, estão sob maior risco jados clinicamente. A efetividade dessa estratégia
de se infectar pelo HIV, em diferentes contextos está diretamente relacionada ao grau de adesão à
sociais e tipos de epidemia. Essas populações, por profilaxia. O uso diário e regular da medicação é
estarem sob maior risco, devem ser alvo prioritário fundamental para a proteção contra o HIV.
para o uso de PrEP (HSH, profissionais do sexo e
Deve-se enfatizar que PrEP não previne as demais
população trans).
IST ou hepatites virais, sendo necessário, dessa
No entanto, novamente, o simples pertencimento maneira, orientar a pessoa sobre o uso de preser-
a um desses grupos não é suficiente para caracte- vativos. Ainda, é muito importante realizar sorologia
rizar indivíduos com exposição frequente ao HIV. anti-HIV e outras ISTs antes da introdução da PrEP
Para essa caracterização, é necessário observar e oferecer imunização para hepatites virais (A e B)
as práticas sexuais, as parcerias sexuais e os con- e HPV. Outrossim, a cada 3 meses, os indivíduos
textos específicos associados a um maior risco de em uso dessa estratégia devem ser monitorizados
infecção. Portanto, devem também ser considerados com sorologias para as ISTs, especialmente para
outros indicativos, tais como: sífilis e hepatites virais.
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A função renal necessita ser regularmente avaliada,
u Repetição de práticas sexuais anais e/ou vagi-
por meio da dosagem de creatinina sérica e urinária
nais com penetração sem o uso de preservativo.
para o cálculo do ClCr, devido à possibilidade de
u Frequência das relações sexuais com parcei- dano renal associado ao TDF (Quadro 1).
ros(as) eventuais.
u Quantidade e diversidade de parceiros(as) sexuais.
42
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Clearance de creatinina
Dosagem de ureia e creatinina sérica
Monitoramento da função renal Trimestral
Avaliação da proteinúria
(amostra isolada de urina)
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4.4. P
EP: ACIDENTE COM MATERIAL u Realizar teste rápido na FONTE para avaliar sta-
BIOLÓGICO COM FONTE HIV+ tus com relação ao HIV.
u Se fonte HIV+, iniciar ARV profilático.
No atendimento inicial, após a exposição ao HIV, é u Esquema: TDF/3TC/Dolutegravir (mesmo esque-
necessário que o profissional avalie como, quando ma de tratamento) por 28 dias.
e com quem ocorreu a exposição, qual o tipo dessa
u Monitorizar com seguimento em 30 e 90 dias
exposição, a profundidade, e investigar a condição
após a data do acidente.
sorológica da pessoa exposta e da pessoa fonte
da exposição. Assim, a partir da avaliação desses u Fonte desconhecida: oferecer profilaxia para o aci-
critérios objetivos, será possível definir se há ou dentado; fonte CV indetectável: oferecer também!
não indicação de início da Profilaxia Pós-Exposição u Apesar do dogma “indetectável = intransmissível”,
(PEP). A violência e a exposição sexual de risco o mesmo só é válido e estudado para transmis-
também podem ser indicações de PEP. são sexual. É recomendado oferecer PEP para
quem foi exposto em caso de acidente, mesmo
Pontos chave na abordagem do acidente:
com carga viral indetectável.
u Colher sorologia do acidentado no momento zero
(pode ocorrer de o acidentado já ter HIV e nunca O primeiro atendimento após a exposição ao HIV
ter sido testado). é uma urgência médica. A PEP deve ser iniciada o
mais precocemente possível, tendo como limite as
72 horas subsequentes à exposição.
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
Fluídos vaginais
Sêmen
Sangue Percutâneas
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biológico exposição
2 1
Indicações
3 4
Tempo entre
Status sorológico
exposição e
da pessoa exposta
atendimento
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
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O diagnóstico desta fase é pouco realizado, devido DIA A DIA MÉDICO
ao baixo índice de suspeição, caracterizando-se por
viremia elevada. O exame de eleição é o de carga
Os pacientes com infecção aguda do HIV que iniciam
viral, apesar de os ensaios ELISA serem muito tratamento nessa fase apresentam menor risco para
sensíveis e apresentarem uma pequena janela imu- progressão e melhor prognóstico, pois, se o tratamento
nológica (menos de 4 semanas). for precoce, o tamanho dos reservatórios imunológicos
diminuirá. Todavia, para fazer o diagnóstico nessa fase,
Muitas vezes, a sorologia pode vir positiva já na o médico tem que colher exames para HIV se houver
infecção aguda, devido à diminuição da janela imu- suspeita a partir de quadro febril agudo após uma expo-
nológica para os testes de quarta geração. sição sexual com risco, o que, na maioria das vezes, não
fazemos.
As manifestações clínicas variam desde quadro
gripal até uma síndrome que se assemelha à mono-
nucleose (mononucleose-like). Também pode ser
assintomática. 5.2. L ATÊNCIA CLÍNICA E SÍNDROME DE
Sintomas: febre, adenopatia, faringite, mialgia, artral- IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA
gia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulce-
rações mucocutâneas, envolvendo mucosa oral, Na fase de latência clínica, o exame físico costuma
esôfago e genitália; hiporexia, adinamia, cefaleia, ser normal, exceto pela linfadenopatia, que po-de
fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, persistir após a infecção aguda. A presença de
45
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
linfadenopatia generalizada persistente é frequente À medida que a infecção progride, sintomas cons-
e seu diagnóstico diferencial inclui doenças linfopro- titucionais (febre baixa, perda ponderal, sudorese
liferativas e tuberculose ganglionar. noturna, fadiga), diarreia crônica, cefaleia, alterações
neurológicas, infecções bacterianas (pneumonia,
Podem ocorrer alterações nos exames laboratoriais,
sinusite, bronquite) e lesões orais, como a leucopla-
sendo a plaquetopenia um achado comum, embora
sia oral pilosa, tornam-se mais frequentes, além do
sem repercussão clínica na maior parte dos casos.
herpes zóster. Nesse período, já é possível encontrar
Nesses casos, anemia (normocrômica e normocí-
diminuição na contagem de LT-CD4+, situada entre
tica) e leucopenia leves podem estar presentes.
200 e 300 células/mm3.
Enquanto a contagem de linfócitos CD4+ permanece
A candidíase oral é um marcador clínico precoce de
acima de 350 células/mm3, os episódios infecciosos
imunodepressão grave, e foi associada ao subse-
mais frequentes são, de modo geral, bacterianos,
quente desenvolvimento de pneumonia por Pneu-
como as infecções respiratórias ou mesmo tubercu-
mocystis jiroveci. Diarreia crônica e febre de origem
lose. Com a progressão da infecção, começam a ser
indeterminada, bem como a leucoplasia oral pilosa,
observadas apresentações atípicas das infecções,
também são preditores de evolução para AIDS
resposta tardia à antibioticoterapia e/ou reativação
(Quadro 3).
de infecções antigas (Quadro 2).
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Candidíase oral persistente ou mais episódios por dia com duração ≥1
mês) ou fadiga crônica e febre ≥1 mês
Candidíase vulvovaginal persistente,
frequente ou não responsiva à terapia Pneumonia por Pneumocystis jiroveci
Leucoplasia pilosa oral Pneumonia bacteriana recorrente (2
ou mais episódios em um ano)
Infecções bacterianas graves (ex.:
pneumonia, empiema, meningite, piomiosite, Herpes simples com úlceras mucocutânea (duração
infecções osteoarticulares, bacteremia, >1 mês) ou visceral em qualquer localização
doença inflamatória pélvica grave)
Candidíase esofágica ou de traqueia,
Estomatite, gengivite ou periodontite aguda necrosante brônquios ou pulmões
Anemia inexplicada (<8 g/dL), neutropenia TB pulmonar e extrapulmonar
(<500 células/µL) e/ou trombocitopenia
crônica (<50.000 células/µL) Sarcoma de Kaposi
46
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Manifestações de imunodeficiência
O aparecimento de Infecções Oportunistas (IO) e
avançada (doenças definidoras de AIDS) neoplasias é definidor da AIDS. Entre as IO, desta-
cam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuber-
Isosporíase intestinal crônica (duração >1 mês)
culose pulmonar atípica ou disseminada, meningite
Micoses disseminadas (histoplasmose, criptocócica e retinite por citomegalovírus.
coccidioidomicose)
As neoplasias mais comuns são Sarcoma de Kaposi
Septicemia recorrente por Salmonella não Typhi
(SK), Linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino,
Linfoma não Hodgkin de células B ou em mulheres jovens. Nessas situações, a contagem
primário do sistema nervoso central
de linfócitos CD4+ situa-se abaixo de 200 células/
Carcinoma cervical invasivo mm3, na maioria das vezes.
Reativação de doença de Chagas Além das infecções e das manifestações não infec-
(meningoencefalite e/ou miocardite)
ciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto
Leishmaniose atípica disseminada a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais
Nefropatia ou cardiomiopatia
como: miocardiopatia, nefropatia e neuropatias, que
sintomática associada ao HIV podem estar presentes durante toda a evolução da
infecção pelo HIV.
Fonte: Ministério da Saúde².
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
Infecção
primária
3-6 semanas
1 semana – 3 meses
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Resposta imune ao HIV
Estabelecimento
Redução da viremia 1-2 semanas da infecção crônica
plasmática persistente nos
tecidos linfoides
Latência clínica
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Teste rápido 1
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Não Reagente Reagente
Dois testes rápidos ELISA de fabricantes diferentes, for positivo, realizar uma nova coleta para se fazer
positivos, realizados no mesmo momento, fornecem um teste confirmatório (pode ser o imunoblot ou
o diagnóstico: ELISA de quarta geração altamente western blot).
sensível (99%) e específico (99%).
Preste atenção:
Pode-se, ainda, usar outros fluxogramas; por exem-
plo, colher um ELISA convencional (não rápido) e, se
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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Fonte: Acervo Sanar.
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
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imunológico. O desenvolvimento e a evolução dos
antirretrovirais para tratar o HIV transformaram o
A TB é a principal causa de óbito por doença infec- que antes era uma infecção quase sempre fatal em
ciosa em HIV+, e por isso deve ser pesquisada em uma condição crônica controlável, apesar de ainda
todas as consultas. A pesquisa deve iniciar-se com não haver cura.
o questionamento sobre a presença dos seguintes
Desde 1996, o Brasil distribui, gratuitamente, pelo
sintomas: tosse, febre, emagrecimento e/ou sudo-
SUS (Sistema Único de Saúde), todos os medica-
rese noturna. A presença de qualquer um desses
mentos antirretrovirais, e, desde 2013, o SUS garante
sintomas pode indicar TB ativa e requer investigação.
tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV
A infecção pelo HIV eleva o risco de desenvolvimento (PVHIV), independentemente da carga viral.
de TB ativa em indivíduos com TB latente, sendo o
Atualmente, os fármacos disponíveis para o tra-
mais importante fator de risco para TB.
tamento da infecção pelo HIV como parte de um
A PT (Prova Tuberculínica) é importante para o regime combinado são classificados em 4 principais
diagnóstico da Infecção Latente da Tuberculose grupos: inibidores da enzima viral transcriptase
(ILTB) e constitui um marcador de risco para o reversa (inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da
desenvolvimento de TB ativa, devendo ser realizada transcriptase reversa); inibidores não nucleosídeos
em todas as pessoas vivendo com HIV (PVHIV), da transcriptase reversa; inibidores da enzima viral
mesmo que assintomáticas para TB. protease (inibidores de protease); inibidores da
Caso a PT seja inferior a 5 mm, recomenda-se sua enzima viral integrase (inibidores de integrase).
repetição anual e após a reconstituição imunológica A recomendação de início precoce da TARV con-
com o uso da TARV. Para indicar o tratamento da sidera, além dos claros benefícios relacionados à
infecção latente, deve-se excluir TB ativa utilizando redução da morbimortalidade em pessoas vivendo
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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classe de ARV (ITRNN – inibidores não nucleosí- ao ABC, substituir
deos da transcriptase reversa, IP/r – inibidores de o TDF por AZT
protease ou INI – inibidores da integrase). Intolerância ao EFV Substituir o EFV por
na coinfecção TB-IV DTG dose dobrada
No Brasil, para os casos em início de tratamento, o
esquema inicial preferencial deve ser a associação Fonte: Elaborado pelo autor.
52
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Concluído o tratamento
Coinfecção TB-HIV (d)
300 mg/300 mg/600 completo para TB, poderá
sem critérios de gravidade TDF(b)/3TC/EFV
mg) – DFC 1x/dia ser feita a mudança
(conforme critérios a seguir)
(switch) do EFV para DTG
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u Não usar dolutegravir no primeiro trimestre. Nes- nuidades são menos frequentes.
se período, usar EFV ou atazanavir. Na última década, avanços na TARV levaram a um
u Objetivo: carga viral suprimida no momento do aumento progressivo nas taxas de resposta terapêu-
trabalho de parto. tica. Com os esquemas antirretrovirais modernos,
u Via de parto de acordo com a carga viral ao final pelo menos 80% dos pacientes apresentam carga
da gestação: CV <1000 cópias: via obstétrica/CV viral-HIV inferior a 50 cópias/mL após 1 ano de
>1000: cesárea. tratamento, e a maioria mantém a supressão viral
u Sem pré-natal ou CV detectável: AZT intravenoso nos anos seguintes. Para a minoria que apresenta
periparto (gestante); AZT xarope + NVP (para o falha ao tratamento inicial, novos medicamentos e
RN); sendo CV >1000 ou desconhecida: AZT + novas estratégias para instituição de uma terapia
NVP, e CV <1000: somente AZT. Se CV indetectá- de resgate têm sido testados, com resultados de
vel, dispensado uso de AZT EV segundo maioria eficácia e durabilidade igualmente animadores.
dos consensos, inclusive o brasileiro. A reconstituição imunológica é uma das metas
u Não amamentar, mesmo com carga viral inde- da TARV. Em algumas situações, observa-se um
tectável. quadro clínico de caráter inflamatório exacerbado,
chamado de SIR (ou IRIS, da sigla em inglês), asso-
ciado ao início da TARV. Essa síndrome se manifesta
10. TRATAMENTO como piora “paradoxal” de doenças preexistentes,
geralmente autolimitadas, mas que podem assumir
formas graves. São descritas reações inflamatórias
Adesão é fundamental para o sucesso no tratamento. relacionadas a infecções fúngicas, virais e bacteria-
O objetivo é deixar a carga viral abaixo do limite de nas e, ainda, de neoplasias e fenômenos autoimunes.
deteção (24 semanas após início da medicação).
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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Tabela 2. Vacinação no paciente HIV+.
Vacina Recomendação
Dupla do tipo adulto (dT) Três doses (0, 2, 4 meses), e reforço a cada 10 anos
Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Duas doses (0, 2 meses) em menores de 19 anos não vacinados
Streptococcus pneumoniae (23-valente) Duas doses com intervalo de 5 anos, independentemente da idade
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Vacina Recomendação
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55
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
u Estratificar as manifestações neurológicas rela- u Acima de 350 células, raras vezes os pacientes
cionadas ao HIV com a contagem de células CD4. terão doença neurológica grave relacionada aos
agentes oportunistas.
Manifestação
predominante
Meningite ou Encefalites
meningoencefalite
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Toxoplasmose CMV
Linfoma LEMP
Tuberculose HSV
Chagas Sífilis
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
u Por conta da IRIS, a TARV deve ser iniciada ape- acima de 4 semanas). A IRIS com acometimento
nas depois do tratamento da neurotoxoplasmose neurológico pode ser muito grave.
(pelo menos 2 semanas após, preferencialmente
Figura 7. Neurotoxoplasmose.
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Tratamento: u Lesões hipodensas com realce anelar e edema
perilesional. O PCR para EBV no líquor pode au-
Primeira escolha: pirimetamina 200 mg no 1º dia
xiliar no diagnóstico, se for positivo.
seguido por 50 mg/dia + sulfadiazina 1-1,5 g/dia
+ 15 mg/dia de ácido folínico ou sulfametoxazol/ u Tratamento: radioterapia; prognóstico ruim.
trimetoprim 5-20 mg/kg (TMP) de 12 em 12 horas
por 6 semanas. 12.2.2.2. Formas focais de neurotuberculose
(tuberculomas/abscessos)
12.2.2. Diferenciais de lesões expansivas u Geralmente, está associado à meningite tuber-
em HIV com efeito de massa
culosa.
12.2.2.1. Linfoma primário do u Até 1/3 dos pacientes apresentam CD4 >200 cé-
sistema nervoso central lulas/mm3 na ocasião do diagnóstico.
u Os abscessos tuberculosos, habitualmente, são
u Neoplasia mais frequente no SNC.
únicos, maiores que 3 centímetros e multilobu-
u Apresenta associação com o vírus Epstein-Barr lados, enquanto os tuberculomas são lesões
(EBV). múltiplas hipodensas, com realce anelar e ede-
u Contagem de linfócitos CD4 <50 mm3. ma perilesional.
u O quadro clínico é, usualmente, subagudo (2 a 8
semanas) e depende do tamanho e da localiza- 12.2.2.3. LEMP
ção topográfica da(s) lesão(ões).
u Doença que afeta predominantemente oligoden-
drócitos; desmielinizante, multifocal, progressiva.
57
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
u Geralmente fatal, causada por poliomavírus (ge- u Evolução subaguda cursando com cefaleia pro-
ralmente vírus JC). gressiva, febre, náuseas e vômitos, rebaixamento
u As principais alterações são: anormalidade da de nível de consciência.
marcha, alterações cognitivas, alterações vi- u LCR apresenta celularidade pouco aumentada,
suais, afasia, hemianopsia, fraqueza muscular, hiperproteinorraquia, glicorraquia normal ou pou-
síndrome cerebelar. co diminuída.
u PCR liquórico para poliomavírus (vírus JC ou u O diagnóstico requer tinta da China positiva no
víurs BK) que apresenta sensibilidade de 74%, líquor (sensibilidade de 75%), cultura positiva
especificidade de 95,8%. (sensibilidade em torno de 90%) ou pesquisa
u O tratamento é baseado em TARV e tem prog- positiva do antígeno para criptococo em LCR
nóstico muito ruim. (sensibilidade >95%).
12.2.2.4. Neurocriptococose Tratamento:
Indução: anfotericina lipossomal ou desoxicolato
u Apresenta-se como uma meningite subaguda/
+ 5-flucitosina por pelo menos 2 semanas, depois
crônica.
consolidação com fluconazol 800 mg por 8 a 12
u Contagem de linfócitos T CD4+ <100 células. semanas.
Punções de alívio se a pressão liquórica de abertura
for maior que 25 cmH20.
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Tomografia de crânio
com contraste
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Tratar Neurotoxoplasmose Ressonância Magnética Déficit neurológico
Presença de levedura
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
12.3.2. Pneumocistose
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subagudos. Fonte: Acervo do autor.
u Febre, tosse seca, dispneia, desconforto torácico.
u Evolução em dias a semanas. Quadro 6. Achados sugestivos de pneumocistose.
u Hipoxemia é o achado laboratorial mais comum.
1. Contagem de LT-CD4+ abaixo de 200 células/
u Lactato desidrogenase (DHL) >500 mg/dL apa- mm³ ou sinais clínicos de imunodepressão
rece em formas mais graves. grave, como candidíase oral
u Achado mais típico na radiografia de tórax é o 2. Dispneia progressiva aos esforços
infiltrado intersticial difuso, bilateral. 3. Presença de febre, taquipneia e/
u A TC de tórax é útil quando o raio X é normal, sen- ou taquicardia ao exame físico
do que uma TC normal torna a pneumocistose 4. Raio X de tórax normal ou infiltrado
muito improvável (vidro fosco = principal acha- pulmonar difuso, peri-hilar, simétrico
do). Padrão micronodular pode estar presente e 5. DHL sérica elevada
fazer diferencial com TB miliar.
6. Hipoxemia em repouso ou após esforço
u O tratamento deverá ser iniciado no momento da
suspeita clínica, sem a necessidade de aguardar 7. Ausência de uso ou utilização
irregular de profilaxia para PCP
o resultado de testes diagnósticos mais comple-
Fonte: Ministério da Saúde².
60
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Pneumonia Micobactérias
Sulfametoxazol- Macrolídeo
TRATAMENTO por atípicas – TRATAMENTO
trimetoprima (SMX/ (em geral,
Pneumocystis principalmente
TMP) por 21 dias claritromicina)
jiroveci (PPC) MAC com etambutol
+
Profilaxia Disseminação células T CD4+
T CD4+ < 200/µL Episódios passados
após miliar em raio x < 50/µL
período
Febre recidivante, tosse seca, Febre, lesões endobrônquicas,
sudorese noturna, monilíase e dor abdominal, diarreia, linfadenopatia,
emagrecimento inexplicável emagrecimento e sudorese noturna
Manifestações
Pulmonares
TB
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TCD4 < 350,
Quadro clínico
preferencialmente, mas pode
sem padrão TRATAMENTO
aparecer em qualquer CD4
Esquema RIPE 6 meses
!
CUIDADO!
Síndrome inflamatória
de reconstituição imune
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
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é com aciclovir, e do CMV, com ganciclovir. Tratamento com anfotericina B.
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Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Nenhum indício
Tratar Suspeita de colite
de colite
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Diagnóstico
com biópsia com biópsia
Tratar
Sem diagnóstico
Enteropatia
associada ao HIV
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
Critérios de
Agente 1ª escolha Alternativas
suspensão
Dapsona 50 mg/
dia + pirimetamina Boa resposta à TARV
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50 mg/semana + com manutenção
ácido folínico 10 de LT-CD4+ >200
Toxoplasma mg 3x/semana ou células/mm³ por
SMX-TMP (800/160 mg) 1x/dia
gondii clindamicina 600 mg mais de 3 meses.
3x/dia + pirimetamina Reintroduzir profilaxia
25-50 mg/dia + se LT-CD4+ <100
ácido folínico 10 células/mm³
mg 3x/semana
Cryptococcus sp.
Histoplasma
capsulatum
Citomegalovírus
Herpes simplex
Fonte: Ministério da Saúde².
64
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Infecção pelo vírus HIV Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - PB - 2021) Qual (REVALIDA - 2021) Um paciente, em tratamento para
dos seguintes diagnósticos é o mais provável em infecção por HIV há 5 anos, com boa aderência ao
um homem de 40 anos com febre há duas semanas, tratamento e carga viral indetectável em exame
cefaleia, dor de garganta, linfadenopatia, mialgias, realizado há 1 mês, procurou a Unidade Básica de
artralgias e erupção cutânea maculopapular difusa; Saúde para consulta médica. O médico no aten-
cujo hemograma, eletrólitos, proteína total, testes dimento verificou que o paciente trouxe resultado
de função hepática e função renal estão normais; de exame de escarro que mostrou a presença de
e quem tem evidência de meningite asséptica con- bacilo álcool ácido resistente (valor de referência:
forme bioquímica do líquor? negativo) feito há 10 dias. Foi verificado que a cul-
tura ainda não havia ficado pronta. Frente a esse
⮦ Malária. caso, o médico deveria:
⮧ Doença de Lyme.
⮦ Suspender o tratamento contra a infecção pelo
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⮨ Mononucleose infecciosa.
HIV e iniciar o tratamento de tuberculose.
⮩ Tuberculose miliar.
⮧ Manter o tratamento contra a infecção pelo HIV
⮪ Infecção aguda por HIV. e iniciar o tratamento de tuberculose antes do
resultado da cultura.
Questão 2 ⮨ Suspender o tratamento contra a infecção pelo
HIV e iniciar o tratamento de tuberculose apenas
(HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAULO - SP - 2021) A infec- após o resultado da cultura.
ção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV),
⮩ Suspender o tratamento contra a infecção pelo
cursa com um amplo espectro de apresentações
HIV e iniciar o tratamento de tuberculose de
clínicas, desde a fase aguda até a fase avançada da
imediato.
doença. Em indivíduos não tratados, estima-se que
o tempo médio entre o contágio e o aparecimento
da doença esteja em torno de dez anos. O apare- Questão 4
cimento de infecções oportunistas e neoplasias é
definidor de AIDS. Qual das doenças listadas abai- (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO - RJ - 2021) Um
xo não é considerada doença definidora de AIDS? paciente doa sangue e é chamado por conta de
um resultado positivo para o HIV-1, repetido e con-
⮦ Candidíase esofágica. firmado. O paciente é assintomático. O médico
⮧ Pneumocistose (Pneumocystis jirovecii). solicita exames de imunofenotipagem (CD4/CD8),
⮨ Câncer de colo do útero invasivo. carga viral e genotipagem. Em relação ao início do
tratamento, o recomendado, nos dias atuais, é ini-
⮩ Tuberculose pulmonar.
ciar o tratamento:
⮪ Diarreia ou febre (> 38º C) por um período maior
que 1 mês. ⮦ com CD4 < 500 e com qualquer carga viral.
66
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
⮧ com qualquer CD4 e qualquer carga viral. ⮧ A indicação de PEP não depende do status so-
⮨ com CD4 < 500 e carga viral acima de 20.000 rológico para HIV da pessoa exposta.
cópias. ⮨ Não se deve atrasar e nem condicionar o aten-
⮩ com qualquer CD4 e carga viral acima de 20.000 dimento o da pessoa exposta à presença da
cópias. pessoa fonte.
⮩ A duração da PEP é de 28 dias.
⮪ Acompanhamento clínico laboratorial da pessoa
Questão 5
exposta em uso de PEP deve levar em conside-
(SANTA CASA MISERICÓRDIA DE MARÍLIA - SP - 2021) Em amos- ração, dentre outros, o diagnóstico de infecção
tras metodologia para o diagnóstico da infecção pelo aguda pelo HIV, incluindo testagem para o HIV
vírus da imunodeficiência humana HIV que apresen- em 30 e 90 dias após a exposição.
tam resultados indeterminados em testes como o
western blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoblot rá-
Questão 8
pido (IBR), pode-se indicar como correto que:
(SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO - SP - 2021)
⮦ Os testes moleculares (TM não são úteis para
Um paciente de 35 anos de idade apresentou sudo-
confirmar a presença da infecção pelo HIV.
rese e linfonodomegalia generalizada. Refere que
⮧ Os testes moleculares (TM são inúteis para con- teve relações sexuais sem proteção adequada no
firmar a presença da infecção pelo HIV. passado. A respeito desse caso clínico, assinale a
⮨ Os testes moleculares (TM são muito úteis para alternativa correta.
confirmar a presença da infecção pelo HIV.
⮦ Ele deve usar ivermectina.
⮩ Os testes moleculares (TM são muito úteis para
não confirmar a presença da infecção pelo HIV ⮧ O paciente pode estar com síndrome retroviral
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somente em crianças. aguda.
⮨ O melhor tratamento é com remdesivir.
⮩ Deve-se coletar imediatamente teste tubercu-
Questão 6
línico.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - RJ - ⮪ Isoniazida deve ser iniciada.
2022) Em relação ao HIV/aids, qual a droga antirretro-
viral que pode ser utilizada junto com a rifampicina?
Questão 9
⮦ Darunavir.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - SP - 2021) Adoles-
⮧ Nevirapina.
cente, 14 anos de idade, vem à UBS com irmã mais
⮨ Atazanavir. velha após ter contado que usou droga injetável em
⮩ Rivilpirina. uma festa, há 5 dias. A seringa foi compartilhada
⮪ Dolutegravir. com outros 2 jovens que não conhecia e que não
teve mais contato. Segundo as orientações do Mi-
nistério da Saúde (PCDT2018), assinale a alterna-
Questão 7 tiva correta em relação à profilaxia pós-exposição
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA - SP - 2021) Em rela- ao HIV (PEP).
ção à profilaxia pós exposição (PEP) de risco à in- ⮦ Realizar teste rápido para o HIV e, se negativo,
fecção pelo HIV, assinale a alternativa INCORRETA iniciar PEP com tenofovir + lamivudina + dolu-
⮦ As situações de exposição ao HIV constituem tegravir por 6 semanas.
atendimentos de urgência, em função da neces- ⮧ Solicitar ELISA anti-HIV e iniciar PEP com teno-
sidade de início precoce da profilaxia. fovir + lamivudina + dolutegravir por 6 semanas.
67
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
⮨ A PEP não está indicada. Realizar acompanha- ⮨ Elevação do níveis de DHL(lactato desidrogenase).
mento sorológico da pessoa exposta. ⮩ Derrame pleural volumoso.
⮩ Realizar teste rápido para o HIV e, se negativo, ⮪ Radiografia de tórax normal.
iniciar PEP com tenofovir + lamivudina + lopina-
vir por 4 semanas.
⮪ Solicitar ELISA anti-HIV e iniciar PEP com tenofo- Questão 12
vir + lamivudina + fosamprenavir por 4 semanas. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – 2018) Homem de 33
anos, vem ao pronto socorro com queixa de diar-
reia intermitente há cerca de quatro meses, com
Questão 10
perda de 9 kg no período. A diarreia é em grande
(SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO – SP – 2017) quantidade, intermitente e com cerca de quatro
Mulher, 29 anos, portadora do vírus HIV, tendo ini- vezes ao dia quando presente, sem sangue, muco
ciado esquema antirretroviral recentemente por ou gordura. Nega febre. Teste para HIV positivo
conta de queda da contagem de linfócitos T CD4, há cinco anos, não tendo feito seguimento e não
soube que sua colega de trabalho está com tuber- tendo recebido tratamento específico. Exame clí-
culose pulmonar bacilífera. Ambas compartilham nico: regular estado geral, emagrecido, eupneico
um pequeno escritório, com ar-condicionado, du- (FR = 12 ipm), FC = 96 bpm; SatO2 ar ambiente
rante cerca de oito horas por dia. Assinale a alter- = 99%. PA = 100x60 mmHg. Abdômen com ruí-
nativa que contém a conduta profilática adequada dos hidroaéreos aumentados. Pulmão, coração
para esse caso: e membros inferiores sem alterações. CD4 = 27/
mm3; Carga Viral = 560.000 cópias/mL; pesquisa
⮦ Realizar PPD no momento atual e, caso negativo, de Cryptosporidium sp. nas fezes positiva. O tra-
repeti-lo após 6 semanas. tamento mais adequado para o controle do qua-
⮧ Iniciar quimioprofilaxia com rifampicina caso o dro diarreico é:
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PPD seja maior que 10 mm.
⮦ Nitazoxanida.
⮨ Iniciar tratamento tuberculostático com terapia
quádrupla e mantê-lo por 9 meses. ⮧ Sulfametoxazol-trimetoprim.
⮩ Realizar radiografia de tórax no momento atual ⮨ Terapia antirretroviral combinada.
e repetir em três semanas. Iniciar isoniazida em ⮩ Albendazol.
caso de imagem pulmonar suspeita.
⮪ Prescrever quimioprofilaxia com isoniazida por
Questão 13
9 meses, após investigar TB ativa.
(UNIVERSIDADE SAO PAULO – SP – 2020) Mulher de 39 anos
comparece à UBS trazendo dois testes rápidos para
Questão 11
o HIV com resultado reagente. Questionada se os
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBU- testes foram realizados em dias diferentes, a mesma
CO – PE – 2018) Um paciente de 30 anos queixa-se de refere que os dois testes foram feitos um seguido
tosse seca, febre baixa e dispneia progressiva há do outro no mesmo dia.
vinte dias, com piora recente. Confessa que há dois A conduta a ser realizada é:
anos descobriu ser soropositivo para HIV, mas não
quis realizar qualquer tratamento ou investigação e ⮦ Solicitar teste confirmatório por metodologia
perdeu o acompanhamento. Qual dos itens abaixo Western Blot.
NÂO sugere pneumonia po Pneumocystis jiroveci? ⮧ Solicitar teste confirmatório por metodologia
ELISA.
⮦ Contagem de linfocitos CD4 menor que 200 cé-
lulas/mm³. ⮨ Encaminhar para início de tratamento.
⮧ Hipoxemia. ⮩ Repetir teste rápido.
68
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Questão 15
⮧ Sulfametoxazol-trimetoprim e fluconazol.
⮨ Sulfametoxazol-trimetoprim.
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(UNIVERSIDADE DE SAO PAULO – SP – 2020) Funcionária da
⮩ Isoniazida e Sulfametoxazol-trimetoprim.
limpeza de um hospital, ao torcer o esfregão, aci-
denta-se com agulha que se encontrava de permeio. ⮪ Fluconazol e azitromicina.
Vem hoje para avaliação médica, quatro dias após
o acidente. Não se sabe se a agulha do acidente Questão 18
havia sido usada em algum paciente. A profilaxia
pós-exposição de HIV nesta paciente: (HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS – SP – 2021) O vírus da imunode-
ficiência humana (HIV) ataca o sistema imunológi-
⮦ Deve ser iniciada imediatamente e mantida por co, em que os linfócitos T CD4 são os mais afeta-
um mês. dos, deixando o organismo suscetível a infecções
⮧ Deve ser considerada após resultado de soro- oportunistas. São consideradas doenças oportu-
logia negativa. nistas mais frequentemente vistas com CD4 < 200
⮨ Deve ser iniciada imediatamente e reavaliada células/mm3:
após resultado de sorologia.
⮦ Meningite criptocócica, herpes zoster e neuro-
⮩ Não é recomendada. toxoplasmose.
⮧ Sarcoma de Kaposi, tuberculose e pneumocis-
Questão 16 tose.
⮨ Neurotoxoplasmose, tuberculose e candidíase
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2020) Há
oral.
um conjunto de estratégias de prevenção (biomé-
dicas, comportamentais e estruturais) que, quando ⮩ Pneumocistose, colite por CMV e herpes zoster.
combinadas, constituem a chamada “prevenção ⮪ Sarcoma de Kaposi, leucoencefalopatia multifo-
combinada do HIV” ou “mandala de prevenção cal progressiva e histoplasmose.
69
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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(febre, cefaleia, mialgia, artrite). tratamento das infecções oportunistas. Nunca in-
Alternativa C: INCORRETA. Como descrito, a mononu- ternar o paciente apenas para investigação da posi-
cleose é um diagnóstico possível. Porém, o achado tividade para o VIH. Para o paciente com sorologia
de meningite asséptica torna o diagnóstico de HIV para VIH conhecida, deve-se identificar as drogas
mais provável. antirretrovirais (ARV) em uso, o resultado dos últi-
mos exames de CD4+ e carga viral (CV), questionar
Alternativa D: INCORRETA. A tuberculose miliar é a
sobre a regularidade no uso dos medicamentos e
apresentação com infecção mais generalizada.
no atendimento médico e identificar o médico que
Apresentaria febre, perda ponderal, tosse, dispneia.
o acompanha no ambulatório. Nos casos em que
Alternativa E: CORRETA. Como dito, é uma causa de nos deparamos com doenças definidoras de SIDA
síndrome mono-like, que poderia cursar com a me- (neurotoxoplasmose, neurocriptococose, histo-
ningite asséptica. Ela é a inflamação das meninges plasmose disseminada, pneumocistose, linfoma,
com cultura negativa para bactérias, cuja principal tuberculose extrapulmonar, sarcoma de Kaposi ou
causa são infecções virais. candidíase esofageana), torna-se importante o tra-
✔ resposta: E tamento imediato da infecção oportunista e o início
da terapia ARV o quanto antes. Quando há alguma
doença definidora de SIDA, não se justifica aguar-
Questão 2 dificuldade:
dar a contagem de CD4+ e carga viral para iniciar
Y Dica do professor: SIDA é a síndrome que se ca- a terapia ARV (os pacientes certamente têm CD4+
racteriza por intensa destruição de linfócitos CD4+ inferior a 200 céls./mm3). Logo, apenas a tubercu-
e o aparecimento de infecções oportunistas. La- lose pulmonar não é doença definidora.
boratorialmente, consideramos um paciente com ✔ resposta: D
SIDA quando apresenta contagem de CD4+ inferior
70
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
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dera os claros benefícios relacionados redução da um grande espectro de ação. Sabemos que a coin-
morbimortalidade em PVHIV. fecção TB-HIV é muito frequente, e recomenda-se
✔ resposta: B que a todo paciente diagnosticado com tubercu-
lose seja ofertada a sorologia para diagnóstico de
infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana.
Questão 5 dificuldade: Em relação ao tratamento preconizado pelo Mi-
nistério da Saúde para pessoas vivendo com HIV
Y Dica do professor: Durante o curso da infecção
diagnosticadas com tuberculose, deve-se realizar
pelo HIV, existem diversos marcadores tanto do ví-
o esquema padrão RIPE (rifampicina + isoniazida
rus como do hospedeiro, que podem ser monitora-
+ pirazinamida + etambutol), que dura 6 meses no
dos e usados para identificar a infecção. Os testes
total, sendo 2 meses de fase de ataque e 4 meses
para detecção da infecção pelo HIV dividem-se em
da fase de manutenção. Esquemas que não incluem
duas categorias: ensaios de triagem, utilizados para
a rifampicina são menos eficazes, prolongam a du-
detectar todos os indivíduos infectados; e ensaios
ração do tratamento da TB, têm maiores taxas de
confirmatórios (testes complementares), realizados
recidiva, falência e letalidade. Um dos problemas
para diferenciar os indivíduos falso-positivos da-
da droga é sua interação com alguns antirretrovi-
queles que são realmente positivos. Para triagem,
rais, especialmente com inibidores de protease.
utiliza-se o ensaio imunoenzimático indireto do tipo
Dos não análogos, o único com menor interação é
ELISA (do Inglês, Enzyme-Linked Immunosorbent
o EFV (na questão, temos a nevirapina e rivilpirina,
Assay) ou os testes rápidos (TR). Os testes comple-
que interagem com Rifampicina mais que o EFV).
mentares normalmente utilizados são western blot
Assim, a correta é alternativa E: podemos prescrever
(WB), imunoblot (IB) e imunoblot rápido (IBR). Já o
diagnóstico direto do HIV pode ser por meio da de-
tecção de componentes do vírus, como o antígeno
71
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
a rifampicina com o dolutegravir, mas mesmo assim Alternativa A: INCORRETA. Melhor não comentar essa
temos que dobrar a dose do dolutegravir. alternativa. Ivermectina é um antiparasitário, não
✔ resposta: E um antiretroviral.
Alternativa B: CORRETA. Esses sintomas com vários
diferenciais podem sim corresponder à síndrome
Questão 7 dificuldade: retroviral aguda, destacando na epidemiologia o
Y Dica do professor: A PEP deve ser iniciada em até histórico de relações sexuais desprotegidas, como
72h após a exposição e sua indicação depende, fator de risco associado.
entre outros fatores, do tipo de exposição ao qual Alternativa C: INCORRETA. PPD pode ser solicitado se
a pessoa esteve inserida, já que alguns não são confirmar o diagnóstico HIV, mas não é o primeiro
potencialmente transmissores de HIV, de forma a exame nesse cenário.
não justificar o uso dos medicamentos. As exposi- Alternativa D: INCORRETA. Gabarito.
ções transmissíveis são: percutânea; membranas ✔ resposta: B
mucosas; cutâneas envolvendo pele não íntegra; e
mordeduras com presença de sangue. Para o uso
da PEP, uma das etapas essenciais é a verificação Questão 9 dificuldade:
do status sorológico da PESSOA EXPOSTA, a qual
deve ser feita por meio do teste rápido. Temos as
Y Dica do professor: Para indicar a PEP, é preciso
seguintes situações: responder a 4 perguntas: (1) O material biológico
é de risco para transmissão do HIV? (2) O tipo de
1. Se TR reagente: a PEP não está indicada. A
exposição é de risco para transmissão do HIV? (3)
infecção pelo HIV ocorreu antes da exposição
O tempo transcorrido entre a exposição e o aten-
que motivou o atendimento e a pessoa deve ser
dimento é menor do que 72 horas? (4) A pessoa
encaminhada para acompanhamento clínico e
exposta é não reagente para o HIV no momento do
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início da TARV.
atendimento? Se todas as respostas forem SIM, a
2. Se TR não reagente: a PEP está indicada, pois PEP para HIV está indicada. Na questão, o mate-
a pessoa exposta é susceptível ao HIV. rial biológico é de risco, o tipo de exposição é de
3. Se resultado discordante ou TR inválido: não risco, não conhecemos o status sorológico da pes-
é possível confirmar o status sorológico da soa-fonte, PORÉM já se passaram mais do que 72
pessoa exposta. Recomenda-se iniciar o fluxo horas entre a exposição e o atendimento. Logo, a
laboratorial para elucidação diagnóstica. PEP não está indicada.
✔ resposta: B Lembrar! Materiais biológico de risco incluem san-
gue, sêmen, fluido vaginal, serosas, amniótico, líquor,
leite materna e líquido articular. NÃO são de risco:
Questão 8 dificuldade: suor, lágrima, fezes, urina, vômito, saliva, secreção
nasal.
Y Dica do professor: A decisão anatômica da técni-
ca a ser empregada é um tema difícil. Mas pense Além disso, exposições de risco são: percutânea,
desta forma: o íleo TERMINAL “pertence”, cirurgica- mucosa, cutânea pele não íntegra, mordedura com
mente, ao mesmo território do cólon direito. Se for sangue. Não são de risco a pele íntegra e a morde-
ressecar um, o outro tem que sair também. Outra dura sem sangue.
forma de raciocinar, é pensar que as lesões estão Por fim, quando o atendimento ocorrer após 72 horas
a 12 cm da válvula ileocecal, e precisamos de MAR- da exposição, a PEP não está mais indicada. Entre-
GEM ONCOLÓGICA (de 10 cm, sobrando míseros 2 tanto, se o material e o tipo de exposição forem de
cm para trabalhar depois). Dessa forma, guardamos risco, recomenda-se acompanhamento sorológico
que, para tratar o íleo terminal, precisamos realizar Se não souber o status sorológico para HIV da
uma hemicolectomia direita. pessoa exposta, o teste indicado é o “teste rápido”.
72
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Respondeu sim para as 4 perguntas? Indicar PEP vai dizer que apresenta ao exame físico CANDIDÍA-
com o esquema preferencial de Tenofovir (TDF) + SE ORAL. Clínica? Quadro ARRASTADO, com TOSSE
Lamivudina (3TC) + Dolutegravir (DTG) por 28 dias. SECA, DISPNEIA, HIPOXEMIA + LDH ELEVADA (lesão
Alternativa A: INCORRETA. Essa alternativa estaria grave, que destrói células) RX? Pode estar NORMAL,
correta se o tempo entre exposição e atendimento como também pode apresentar INFILTRADO DIFUSO,
fosse < 72 horas. BILATERAL PERIHILAR, e eventualmente apresenta
PNEUMATOCELES. Entretanto, a PNEUMOCISTOSE
Alternativa B: INCORRETA. Caso o tempo entre ex-
PULMONAR caracteristicamente NÃO CAUSA ADE-
posição e atendimento fosse menor do que 72 ho-
NOPATIA HILAR, DERRAME PLEURAL ou CAVERNAS.
ras, o status sorológico da pessoa exposta seria
confirmado por meio de um teste rápido, e não do ✔ resposta: D
ELISA anti-HIV.
Alternativa C: INCORRETA. Como o tempo entre a ex- Questão 12 dificuldade:
posição e o atendimento é maior do que 72 horas,
a PEP não está indicada e deve-se realizar acom- Y Dica do professor: Os protozoários oportunistas
panhamento sorológica do exposto. mais comuns que infectam o trato gastrointestinal
Alternativa D: INCORRETA. O esquema preferencial são os criptosporídios, microsporídios e a Isospora
para PEP é Tenofovir + Lamivudina e Dolutegravir belli. Eles provocam dor abdominal e diarreia grave
em vez de Lopinavir. não inflamatória (sem muco ou sangue) em imu-
nossuprimidos graves, com características muito
Alternativa E: INCORRETA. Erro tanto no teste confir-
semelhantes entre si. O tratamento dessas condi-
matório escolhido quanto no esquema terapêutico
ções se faz primariamente com a terapia antirre-
escolhido, como exposto acima.
troviral combinada, podendo-se associar outros
✔ resposta: C medicamentos de acordo com o agente específico
(Nitazoxanida para criptosporídio, albendazol para
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o microsporídio e sulfametoxazol-trimetoprim para
Questão 10 dificuldade:
o isosporídio). Na questão, temos um paciente HIV
Y Dica do professor: A profilaxia primária para Myco- positivo com imunossupressão grave, e a condu-
bacterium tuberculosis (TB latente) em pacientes ta inicial mais adequada para o controle diarreico
HIV positivos está indicada nas seguintes situações: é a TARV.
1) PPD > 5 mm OU ✔ resposta: C
2) história de contato com paciente bacilífero OU
3) radiografia de tórax com cicatriz de TB sem tra- Questão 13 dificuldade:
tamento prévio. Assim, a paciente da questão tem
indicação de profilaxia pelo contato com paciente Y Dica do professor: Questão sobre o nome fluxogra-
bacilífero, que deve ser realizada com isoniazida ma de diagnóstico de HIV utilizando testes rápidos.
5 mg/kg/dia (dose máxima de 300 mg/dia) por 6 Importante lembrar que 2 testes rápidos positivos
meses. Não há necessidade de solicitar um PPD feitos em momentos diferentes fazem o diagnósti-
neste caso, e, como a paciente não está sintomática, co da infecção pelo HIV. E também que o inicio de
não há indicação para tratamento de tuberculose. terapia antiretroviral é mandatório independente de
contagem de células TCD4 e TCD8 e carga viral.
✔ resposta: E
A exceção para se adiar o início da TARV já com o
diagnóstico de HIV é o diagnóstico concomitante
Questão 11 dificuldade: com algumas doenças oportunistas da situação,
em que é melhor esperar o tratamento inicial para
Y Dica do professor: Vamos falar sobre a PNEUMO- posteriormente iniciar TARV;
CISTOSE PULMONAR. Etiologia? \”Pneumocystis
jirovecii\”. Quem tem? HIV + CD4 < 200 e geralmente
73
Infecção pelo vírus HIV Infectologia
Alternativa A: INCORRETA. Não é necessário realizar acidente. Nesse caso, a funcionária chegou após
um teste confirmatório (Blot), já que 2 testes rápidos 96 h, então não indicamos o uso de antiretrovirais.
feitos em tempos diferentes confirmam o diagnós- Alternativa A: INCORRETA. Não é indicada nesse caso
tico da infecção pelo HIV; e o tempo é de 28 dias.
Alternativa B: INCORRETA. O ELISA não rápido tam- Alternativa B: INCORRETA. Se a sorologia da fonte é
bém não é necessário. Ele ainda é utilizado com negativa, não temos indicação de profilaxia.
frequência nas situações em que não é urgente
Alternativa C: INCORRETA. Não deve ser indicada e
saber o diagnóstico.
não temos como checar a fonte porque não se sabe
Alternativa C: CORRETA. O inicio imediato de TARV se a agulha foi usada em algum paciente.
altera o prognóstico para pessoas vivendo com o
Alternativa D: CORRETA. Tempo limIte de 72 h ultra-
vírus e, nesse caso, já temos o diagnóstico de HIV
passado, não sendo indicada a profilaxia pelas nor-
em razão de a paciente ter 2 testes rápidos positivos.
mas técnicas do MS.
Alternativa D: INCORRETA. Mais um teste rápido não
✔ resposta: D
seria necessário, já que a paciente já possui 2 tes-
tes positivos.
✔ resposta: C Questão 16 dificuldade:
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mente relacionados a esta síndrome são herpes- prevenção da transmissão vertical; (III) o tratamen-
-zóster, citomegalovírus, Cryptococcus neoformans, to das infecções sexualmente transmissíveis e das
complexo Mycobacterium avium e Mycobacterium hepatites virais; (IV) a imunização para as hepatites
tuberculosis, como no caso da questão. Deve-se A e B; programas de redução de danos para usuá-
pensar nesse diagnóstico quando houver quadro rios de álcool e outras substâncias; (V) profilaxia
inflamatório/infeccioso iniciando após 4 a 8 sema- pré-exposição (PrEP); (VI) profilaxia pós-exposição
nas do início da TARV, reintrodução ou modificação (PEP); (VII)e o tratamento de pessoas que já vivem
para esquema mais eficaz. Juntamente com os com HIV. É bom lembrar que uma pessoa com boa
sintomas, espera-se um aumento da contagem de adesão ao tratamento atinge níveis de carga viral
CD4, como descrito na questão. O diagnóstico é tão baixos que é praticamente nula a chance de
clínico, e o tratamento inclui manutenção da TARV transmitir o vírus para outras pessoas. Além dis-
e tratamento das doenças oportunistas. Nos casos so, quem toma o medicamento corretamente não
mais graves, pode-se utilizar corticoides sistêmicos. adoece e garante a sua qualidade de vida. Todos
Lembre-se de excluir falha da TARV, má adesão ou esses métodos podem ser utilizados pela pessoa
resistência viral. isoladamente ou combinados. Vale a pena pes-
✔ resposta: B quisar e ter a “Mandala da Prevenção combinada”
impressa, fera!
dificuldade:
✔ resposta: A
Questão 15
74
Infecção pelo vírus HIV Cap. 1
Questão 18 dificuldade:
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Alternativa C: INCORRETA. O mesmo motivo da al-
ternativa B
Alternativa D: INCORRETA. O mesmo motivo da al-
ternativa A
Alternativa E: CORRETA. Essas 3 doenças classica-
mente se apresentam com mais frequência em
pacientes com CD4 menor que 200.
✔ resposta: E
75
Fixe seus conhecimentos!
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76
Capítulo
TUBERCULOSE
2
importância/prevalência
u Tuberculose é uma doença infecciosa de notificação compulsória. Assunto que aparece em todos os con-
cursos médicos. Em nosso país, há prevalência dessa doença em grandes centros urbanos e seu controle
ainda é um enorme desafio, apesar da melhoria recentes dos indicadores em boletins do Ministério da Saúde.
u Quando um indivíduo susceptível inala o Bacilo de Koch (BK), este primeiro contato é chamado de primo-
-infecção, a qual, no Brasil, geralmente ocorre na infância. Na maioria dos casos, há o controle da infecção
após o contato com o agente, porém, em alguns casos, há o desenvolvimento de TB primária (sobretudo
em crianças ou imunocomprometidos). A TB pós-primária, comumente, se apresenta como uma reativação
do foco, anos depois do contato inicial, sendo a principal forma clínica da doença.
u Infecção pelo HIV, DM, neoplasias, desnutrição, alcoolismo, uso de biológicos (anti-TNF) e outros imunos-
supressores são os maiores responsáveis pela reativação desse patógeno.
u Em condições imunológicas ideais, após inalação do bacilo, ocorre a formação de um granuloma caseoso,
formando, posteriormente, o Complexo de Ghon.
u A doença pode ocorrer sob a forma pulmonar (grande maioria) ou extrapulmonar (principalmente pleural,
ganglionar e meníngea).
A forma pulmonar, que ocorre após o contato inicial, normalmente, cursa com quadro de pneumonia e
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u
costuma afetar mais as crianças (TB primária), as quais são, de modo geral, paucibacilares. Em adultos,
mais bacilíferos, é mais frequente a TB pós-primária, que cursa com infiltrado, principalmente em região
apical do pulmão direito. Em imunossuprimidos, pode haver apresentação primária.
u O diagnóstico das formas pulmonares se dá a partir de clínica compatível (tosse por mais de 3 semanas,
febre vespertina, perda ponderal), Rx do tórax (lesões cavitadas, árvore em brotamento) e baciloscopia,
cultura ou Teste Rápido Molecular no escarro (TRM) positivos no paciente.
u Saber interpretar padrões radiológicos (cavitações, árvore em brotamento, miliar) clássicos de tuberculose
pulmonar.
u A prova tuberculínica (PPD) é importante marcador de contato. É, também, importante e decisiva na indi-
cação de tratamento da infecção latente. Ainda , tem-se o IGRA(Interferon Gama Reasilng Assay) como
uma ferramenta para avaliar a infecção latente.
u Na TB pleural, a análise do líquido pleural com ADA >40 (exsudato, linfomonocitário) é uma ferramenta
essencial para o diagnóstico. Para esses casos, além da baciloscopia e da cultura no líquido, outra opção
é a biópsia pleural com reação histológica, que é o padrão-ouro para o diagnóstico.
u Neurotuberculose é uma das formas mais graves e será discutida detalhadamente no capítulo de menin-
gites crônicas.
u O esquema básico do tratamento é feito com 2 meses de RIPE e 4 meses de RI. Deve-se atentar para os
efeitos colaterais das medicações desse esquema, especialmente os relacionados à hepatoxicidade.
Prolonga-se o tratamento para 12 meses nas formas ósseas e meníngeas.
u A isoniazida pode causar neuropatia periférica (parestesias em “bota” e em “luva”), sendo, em alguns
pacientes, necessária a reposição de piridoxina (vitamina B6).
u Existem poucas opções de drogas alternativas para compor esquemas no caso de hepatoxicidade. Ami-
noglicosídeos e quinolonas acabam sendo as principais opções para esses esquemas.
77
Tuberculose Infectologia
u A tuberculose é a principal doença oportunista na PVHIV (População Vivendo com HIV). Na coninfecção,
preferir esquemas antirretrovirais baseados em efavirenz, e dolutegravir, que são compatíveis com o uso
de rifampicina. Não se deve atrasar o início de terapia antirretrovial, sobretudo quando o CD4 estiver abaixo
de 50 células (iniciar 2-8 semanas após início de RIPE).
u O tratamento da infecção latente se faz com isoniazida, importante para prevenir o adoecimento por
tuberculose. Uma das metas da OMS é ampliar o seu diagnóstico/tratamento como grande estratégia de
prevenção.
u O DOT (Tratamento Diretamente Observado) é indicado em alguns grupos populacionais com maior risco
de abandono.
u Assuntos mais cobrados nas provas sobre tuberculose: profilaxia de contactantes e tratamento da infec-
ção latente (muita atenção nas indicações de RN/ contactantes intímos) ; papel do PPD; e o que é viragem
tuberculínica.
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pessoas em todo o mundo. A partir da metade do
século XX, ocorreu acentuada redução da incidência nos últimos anos), tornando um grande desafio o
e da mortalidade relacionadas à TB, observada, na tratamento em localidades onde a resistência cresce
ocasião, em países desenvolvidos, principalmente em importância. Em nosso país, felizmente, não tem
pela melhoria das condições de vida das populações grande significância de casos de multiresistência.
e com surgimento das atuais medicações anti-TB. Mesmo assim, a TB é uma doença que pode ser
No início da década de 1980, houve recrudescimento prevenida e curada, mas ainda prevalece em con-
global da TB. Nos países de alta renda, esse aumento dições de pobreza e contribui para a perpetuação
deveu-se, maiormente, à emergência da infecção da desigualdade social.
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e, A incidência da doença guarda relação direta com
nos países de baixa renda, devido à ampliação da o baixo índice de desenvolvimento humano de cada
miséria e do processo de urbanização descontrolada, país em condições socioeconômicas desfavoráveis,
além de desestruturação dos serviços de saúde e destacando-se, negativamente, países da África
dos programas de controle da tuberculose. Mais Subsaariana, Ásia, Caribe e América Latina (Figura 1).
78
Tuberculose Cap. 2
O agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, (aerossóis) – o padrão-ouro são os quartos com pressão
um Bacilo Álcool-Ácido Resistente (BAAR). Tem negativa e filtro HEPA; no entanto, estes ainda têm pouca
disponibilidade em nosso país. Os profissionais devem
transmissão respiratória, pela inalação de partí-
utilizar máscara N95 para entrar no quarto; o paciente não
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culas infectantes na forma aerossolizada no meio precisa usar máscara no leito. Se ele for realizar algum
ambiente. Portanto, as formas pulmonares bacilífe- exame e tiver de sair do quarto de isolamento, deve colocar
ras (presença do BAAR no escarro) e laríngeas são a máscara cirúrgica durante do transporte.
as principais formas envolvidas na transmissão.
Todo caso de tuberculose deve ser imediatamente Estima-se que, em 2015, cerca de 10,4 milhões de
notificado ao serviço de vigilância epidemiológica, pessoas desenvolveram tuberculose (TB), 580 mil
independentemente do critério utilizado para a con- na forma de TB multidroga resistente (TB MDR) ou
firmação (microbiológico, histológico, radiológico TB resistente à rifampicina (TB RR), e 1,4 milhão
ou clínico). No Brasil, tem-se, na atenção primária, morreram da doença. Entretanto, foram reportados,
a porta de entrada para atendimento e investigação nesse mesmo ano, cerca de 6,1 milhões de casos
inicial dos casos. novos de TB. A região das Américas representa
Da mesma forma, em todo caso diagnosticado de cerca de 3,0% da carga mundial de tuberculose,
tuberculose, para além da forma e do critério ado- com 268 mil casos novos estimados, dos quais
tados, deve ser obrigatoriamente oferecido o teste Brasil (33,0%), Peru (14,0%), México (9,0%) e Haiti
anti-HIV, uma vez que a prevalência da tuberculose (8,0%) são os países com a maior carga.
e a infecção pelo vírus em HIV+ são significativa- Com o objetivo de fortalecer a Estratégia DOTS e
mente maiores do que na população soronegativa. alcançar as metas estabelecidas, foi lançada, em
2006, a estratégia Stop-TB (WHO, 2006), cujo pro-
pósito era reduzir drasticamente o peso global da
DIA A DIA MÉDICO
TB até 2015. O reconhecimento da determinação
social da TB e de que fatores relacionados à ocor-
Sempre se devem isolar casos suspeitos de tuberculose rência e ao controle da doença transcendem o setor
bacilífera em leito, com precauções do tipo respiratório
de saúde, fez crescer a necessidade de pensar em
79
Tuberculose Infectologia
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Fonte: Acervo Sanar.
80
Tuberculose Cap. 2
Figura 3. Coeficiente de incidência de tuberculose, todas as formas, por Unidades Federadas, 2017.
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O bom resultado alcançado parece estar relacionado esses pacientes antes do início de terapias específicas
ao crescimento econômico, a iniciativas gover- imunosupressoras.
namentais para reduzir a desigualdade na saúde,
ao compromisso político de garantir a cobertura
universal do Sistema Único de Saúde (SUS) e ao
aumento do financiamento para as ações desti- 2. FISIOPATOGENIA E
nadas ao controle da TB. Todavia, alguns desafios TRANSMISSÃO
e ações se fazem necessários, como o aumento
da cobertura da testagem para HIV, a melhora na
adesão ao tratamento e, consequentemente, a cura
BASES DA MEDICINA
dos casos e a expansão da oferta de tratamento de
infecção latente pelo M. tuberculosis.
Após a inalação de partículas infectantes do BAAR, deter-
mina-se o complexo primário pulmonar (Complexo de
Ghon), geralmente em campo médio pulmonar do hemi-
DIA A DIA MÉDICO tórax direito. Há uma disseminação linfática regional
(Complexo de Ranke), seguida de distribuição por via
Num contexto ainda mais atual, tem-se o aumento de hematogênica. O processo, habitualmente, é autolimitado,
casos entre pacientes transplantados, devido à imunos- evidenciado somente pela conversão da Prova Tubercu-
supressão, além de um número crescente de pacientes línica (PPD) em torno de 4 a 6 semanas, determinando o
em uso de terapias imunobiológicas, principalmente para quadro de latência em torno de 95% dos casos (infecção
doenças reumatológicas. Esses assuntos têm aparecido latente por Mycobacterium tuberculosis). Contudo, o fato
com muita frequência nos últimos exames médicos. de a bactéria permanecer no pulmão, mesmo contida num
O rastreamento de TB latente é etapa obrigatória para granuloma, pode ser um problema no futuro.
81
Tuberculose Infectologia
Cerca de 5% dos indivíduos em contato com o mecanismo fisiopatológico destes casos é a rea-
BAAR podem evoluir para doença ativa em cerca tivação da infecção latente pela M. tuberculosis.
de 2 anos (tuberculose primária), muitas vezes, Diversas condições imunossupressoras podem
com apresentações clínicas graves, substancial- favorecer essa progressão. Há sempre a possibili-
mente em indivíduos muito jovens ou imunodepri- dade de reinfecção por outra cepa de micobactéria,
midos. Os outros indivíduos (cerca de 95%) poderão fato comprovado somente por meio de testes de
desenvolver doença ativa anos ou décadas após o tipagem molecular ou investigação de surtos bem
primeiro contato (tuberculose pós-primária), o que documentados.
ocorre em cerca de 5 a 10% dos casos. O principal
Primoinfecção
5-10% em 2 anos
(crianças e adultos)
95%
Tuberculose primária
Resolução Complexo primário
progressiva
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Tuberculose pós-primária
O M. tuberculosis é transmitido por via aérea, de uma espirro de um doente com tuberculose ativa pulmo-
pessoa com TB pulmonar ou laríngea que elimina nar ou laríngea. As gotículas exaladas (gotículas
bacilos no ambiente (caso fonte) a outra pessoa, por de Pflüger) rapidamente se tornam secas e trans-
exalação de aerossóis oriundos da tosse, da fala ou formam-se em partículas menores (<5 a 10 µm de
do espirro. O termo bacilífero refere-se a pessoas diâmetro). Essas partículas menores (núcleos de
com TB pulmonar ou laríngea que têm baciloscopia Wells), contendo 1 a 2 bacilos, podem manter-se em
positiva no escarro. Esses casos possuem maior suspensão no ar por muitas horas e são capazes
capacidade de transmissão, entretanto, pessoas com de alcançar os alvéolos, onde podem se multiplicar
outros exames bacteriológicos, como cultura e/ou e provocar a chamada primoinfecção.
TRM-TB positivos, também podem transmitir. A TB
O maior risco de adoecimento descrito para a TB é
acomete, prioritariamente, o pulmão, que também é
a infecção pelo o HIV. Dentre outros fatores conhe-
a porta de entrada na maior parte dos casos.
cidos, destacam-se o tempo decorrido da infecção
A transmissão se faz por via respiratória, pela ina- ao desenvolvimento de TB ativa (maior risco de
lação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou adoecimento nos primeiros 2 anos após exposição),
82
Tuberculose Cap. 2
a idade menor que dois ou maior que 60 anos e Figura 4. M.Tuberculosis visto no microscópio.
a presença de determinadas condições clínicas
(doenças e/ou tratamentos imunossupressores).
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consomem leite e derivados não pasteurizados ou
aeróbica estrita, com multiplicação lenta. A evidência do
BAAR após a coloração pela Técnica de Ziehl-Neelsen é o fervidos de rebanho bovino infectado.
principal método inicial de investigação. Deve-se confirmar
a etiologia pelo crescimento em meio de Löwenstein-Jen-
sen ou meio líquido, que permite a correta identificação
4. E STRATÉGIAS DIAGNÓSTICAS
da espécie como Mycobacterium tuberculosis ou outras
micobactérias não tuberculosis. PARA TUBERCULOSE
O M. tuberculosis é fino e ligeiramente curvo. É A tuberculose (TB) pode acometer uma série de
um bacilo álcool-ácido-resistente – ou seja, retêm órgãos e/ou sistemas. A apresentação da TB na
coloração mesmo com mistura de álcool e ácido –, forma pulmonar, além de ser mais frequente, é tam-
aeróbio, com parede celular rica em lipídeos (como bém a mais relevante para a saúde pública, pois é a
o ácido micólico), sua parede celular diminui sua forma pulmonar, especialmente a bacilífera, respon-
permeabilidade aos antibióticos e aumenta sua sável pela manutenção da cadeia de transmissão da
sobrevivência no interior de macrófagos, o que doença. A busca ativa de sintomático respiratório
dificulta sua eliminação. é uma importante estratégia para o controle da TB,
posto que permite a detecção precoce das formas
pulmonares.
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Tuberculose Infectologia
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resultados definitivos.
u No sintomático respiratório, durante estratégia O resultado da cultura confirma o diagnóstico de
de busca ativa. micobacteriose, sendo necessária a identificação de
u Em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de espécie para caracterizar se é um caso de tubercu-
TB pulmonar, independentemente do tempo de lose ou outra micobactéria. Se identificarmos uma
tosse. espécie não tuberculose devemos avaliar clínica e
u Para acompanhamento e o controle de cura em imagem para definir se vamos ou não valorizar esse
casos pulmonares com confirmação laboratorial. resultado para iniciar o tratamento.
84
Tuberculose Cap. 2
4.3. DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO Testes moleculares, como real time PCR ou o teste
rápido molecular (TRM), também podem ser soli-
A avaliação histológica de fragmento de tecido citados.
obtido por biópsia é um método empregado na Na impossibilidade da coleta do escarro ou resul-
investigação das formas pulmonares que se apre- tados iniciais negativos, indica-se a realização de
sentam radiologicamente como doença difusa e broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia
nas formas extrapulmonares. Desse modo, a iden- transbrônquica. Outra possibilidade diagnóstica é
tificação histológica de granuloma com necrose de a biópsia transparietal guiada por tomografia com-
caseificação é compatível com o diagnóstico de TB. putadorizada (TC).
A identificação de um granuloma sem necrose de
caseificação deve ser interpretada com cuidado e Diagnóstico histológico: presença do BAAR ou,
à luz dos achados clínicos, visto que outras doen- então, reação granulomatosa, diversas vezes com
ças granulomatosas, como sarcoidose e silicose, necrose caseosa no AP.
podem ter essa apresentação histológica. Ademais Exames radiológicos podem ajudar, e alguns padrões
do granuloma, a análise histológica pode também clássicos da forma pulmonar são descritos a seguir.
buscar bacilos no fragmento de tecido. Embora a
baciloscopia do tecido seja usualmente negativa nos Figura 5. Lesão apical do lado direito.
pacientes não imunossuprimidos, ela é positiva, com
frequência, nos pacientes com imunossupressão
mais avançada, em que a identificação de granu-
loma é incomum.
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a biópsia dessas topografias pode guiar o início
de tratamento já que, por vezes, essas apresen-
tações são paucibacilares.
Em amostras clínicas (fluidos), a detecção da ADA, Biologia molecular (PCR): tentativa de aumentar
enzima intracelular presente particularmente no a sensibilidade diagnóstica e diminuir o tempo de
linfócito ativado, pode auxiliar no diagnóstico da TB execução do exame.
ativa. O teste é colorimétrico e é de fácil execução.
Custo e sensibilidade são ainda fatores impeditivos
A determinação do aumento da atividade da ADA
em nosso país.
no líquido pleural, sobretudo se associado a alguns
parâmetros como idade (<45 anos), predomínio de
linfócitos (acima de 80%) e proteína alta (exsudato),
DIA A DIA MÉDICO
é indicadora de pleurite tuberculosa.
Com todas essas possibilidades no diagnóstico de tuber-
4.5. DIAGNÓSTICO NA FORMA PULMONAR culose, deve-se ter cuidado com investigações com PBAAR
ou culturas negativas. Em muitos casos, a clínica, aliada
a uma imagem radiológica sugestiva, é suficiente para
Amostras de escarro representativas do trato respi-
iniciar um tratamento empírico na tuberculose, mesmo
ratório inferior são fundamentais para o diagnóstico, com pesquisas e culturas negativas. Por isso, é preciso
devendo-se realizar pesquisa e cultura de BAAR de prestar atenção no enunciado das questões no que diz
3 amostras iniciais. respeito à parte epidemiológica, clínica e aos padrões
radiológicos.
85
Tuberculose Infectologia
4.6. A
DENDO: TESTE MOLECULAR O TRM-TB está indicado nas seguintes situações:
PARA TUBERCULOSE
u Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e
Em alguns municípios brasileiros, o teste rápido laríngea em adultos e adolescentes.
molecular para TB (TRM-TB, GeneXpert®) encontra- u Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e
-se disponível na rede pública de saúde e deve ser laríngea em adultos e adolescentes em popula-
utilizado de acordo com algoritmos estabelecidos ções de maior vulnerabilidade.
e descritos a seguir. u Diagnóstico de TB extrapulmonar nos materiais
O TRM-TB é um teste de amplificação de ácidos biológicos já validados.
nucleicos utilizado para a detecção de DNA dos u Triagem de resistência à rifampicina nos casos
bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de de retratamento.
cepas resistentes à rifampicina, por meio da téc- u Triagem de resistência à rifampicina nos casos
nica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em com suspeita de falência.
tempo real (WHO, 2011). O teste apresenta o resul-
tado aproximadamente em 2 horas se o ambiente O TRM-TB detecta o DNA de micobactérias vivas
for laboratorial, sendo necessária somente uma ou mortas. Logo, ele NÃO SERVE para acompanhar
amostra de escarro. a resposta ao tratamento, já que a persistência de
A sensibilidade do TRM-TB em amostras de escarro sua positividade não necessariamente significa
de adultos é de cerca de 90%, sendo superior à da falha terapêutica (pode-se detectar o DNA de mico-
baciloscopia. O teste também detecta a resistência bactérias mortas, mesmo com tratamento eficaz).
à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%. O acompanhamento da resposta terapêutica deve
ser feito com baciloscopias mensais.
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Tuberculose Cap. 2
Granuloma
com necrose de
caseificação
Derrame
Nódulo primário Baciloscopia Teste rápido
pleural/ Histopatológico
em radiografia direta molecular
pericárdico em
radiografia
Opacidade
Outros
difusas reticulo- Cavitações Clínico
micronodulares métodos
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Adenosina Prova
deaminase tuberculínica
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Tuberculose Infectologia
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infectada com M. tuberculosis, não há indicação de
inibidores de protease como parte do esquema investigação indiscriminada de ILTB na população
de tratamento, trocar rifampicina pela rifabutina. em geral. Essa investigação é indicada somente
Outra opção mais recente é usar dolutegravir em em populações que potencialmente se beneficiem
dose dobrada. do tratamento preconizado para ILTB (Quadro 1).
Quando uma pessoa saudável é exposta ao bacilo da PVHIV com CD4 ≥350 células/mm³
TB tem 30% de chance de infectar-se, dependendo Pessoas em uso de inibidores de TNF
do grau de exposição (proximidade, condições do alfa ou corticosteroides (>15 mg/dia de
ambiente e tempo de convivência), da infectividade prednisona por mais de 1 mês)
do caso-índice (quantidade de bacilos eliminados, Pessoas com alterações radiológicas
presença de caverna na radiografia de tórax) e fibróticas sugestivas de sequela de TB
de fatores imunológicos individuais. As pessoas Pré-transplante (pacientes que farão
infectadas, em geral, permanecem saudáveis por terapia imunossupressora)
muitos anos, com imunidade parcial ao bacilo. Essa
Pessoas com silicose
condição é conhecida como infecção latente por
Mycobacterium tuberculosis (ILTB). A OMS estima Neoplasia de cabeça e pescoço, linfomas
e outras neoplasias hematológicas
que 1/4 da população mundial tenha ILTB. Essas
pessoas são reconhecidas por testes que detectam Neoplasias em terapia imunossupressora
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Tuberculose Cap. 2
Diabetes mellitus
7.2. APLICAÇÃO DO PPD
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método auxiliar no diagnóstico de TB pulmonar ou apenas a presença de infecção e não é suficiente
extrapulmonar no adulto. Uma prova tuberculínica para o diagnóstico da tuberculose doença.
positiva não confirma, e uma PT negativa não exclui,
o diagnóstico de TB ativa. O resultado da PT deve ser registrado em milímetros,
inclusive quando não houver enduração. Neste caso,
Indicações da PT: o profissional deverá anotar: ZERO mm.
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Tuberculose Infectologia
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vantagens consistem no resultado não sujeito ao 3 amostras iniciais. Testes moleculares como real
viés do leitor, e o fato de o teste ser realizado em time PCR ou o teste rápido molecular rápido tam-
amostra biológica, o que reduz o risco de efeitos bém podem ser solicitados. Na impossibilidade da
adversos. Outrossim, possuem vantagens opera- coleta do escarro ou resultados iniciais negativos,
cionais, pois, ao requerer apenas uma visita do indica-se a realização de broncoscopia com lavado
paciente, o retorno dele para a leitura do teste não broncoalveolar e biópsia transbrônquica. Outra
é necessário. Entre as desvantagens, destacam-se possibilidade diagnóstica é a biópsia transparietal
o custo elevado comparado à PT, a necessidade de guiada por Tomografia Computadorizada (TC).
se realizar a coleta de sangue, a não recomendação A radiografia de tórax é o exame de imagem inicial,
para testes seriados, a frequência de resultados não obstante, a TC tem auxiliado cada vez mais na
indeterminados, a necessidade de um laboratório elucidação diagnóstica. Alterações sugestivas de
bem equipado e o manuseio cuidadoso para manu- tuberculose pulmonar em atividade, como cavita-
tenção da viabilidade dos linfócitos. ções ou infiltrados apicais, podem ser evidenciadas
em radiografias de tórax.
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Tuberculose Cap. 2
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10. FORMAS EXTRAPULMONARES
10.1. PLEURAL
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neutrófilos e linfomonócitos; a proteinorraquia,
bastante elevada em contraste com a glicorraquia,
Fonte: Acervo do autor.
é quase sempre muito baixa.
A disseminação ocorre, em grande número, por via A dosagem de ADA no LCR tem valor duvidoso para
linfática. Entretanto, qualquer cadeia ganglionar o diagnóstico da neurotuberculose, contudo, valo-
pode ser afetada (submandibular, supraclavicular, res menores que 4 tendem a tornar o diagnóstico
axilar, inguinal, paratraqueal, mesentéricas etc.). menos provável.
Define-se o processo como um quadro crônico,
amiúde, com mais de 4 semanas de linfadenome- 10.4. OSTEOARTICULAR
galia febril, podendo haver fistulização.
A tuberculose óssea pode acometer vários ossos
Se houver fistulização, esse material pode ser
do esqueleto humano, todavia há padrões clássicos.
enviado para pesquisa e cultura micobacteriana,
além da amplificação do material genético para Em adultos, o local preferencial é a coluna vertebral
Mycobacterium tuberculosis (real time PCR). Caso (“Mal de Pott”), geralmente na transição toraco-
não ocorra fistulização do linfonodo, deve-se proce- lombar. Os corpos vertebrais apresentam lesões
der, preferencialmente, com a biópsia do material, destrutivas, em alguns casos, poupando os discos
com envio do material para análise anatomopato- intervertebrais, com abscessos paravertebrais,
lógica, pesquisas e culturas, e também do PCR. chamados “abscessos frios”. A via de disseminação
Muitas vezes, é uma forma paucibacilar com pes- pode ser hematogênica, linfática ou por contiguidade
quisa direta e cultura negativas, sendo de extrema dos corpos vertebrais com a pleura em mediastino
importância a avaliação do AP na biópsia. Achado posterior.
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Tuberculose Cap. 2
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Figura 10. TC de abdome: tuberculose de ureter direito.
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Tuberculose Infectologia
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resistentes.
DE TUBERCULOSE u Ter atividade esterilizante.
Existe um grande número de diagnósticos dife- Deve ser preferencialmente ambulatorial, com inter-
renciais possíveis, tanto dos quadros predominan- nação apenas em formas graves. Não esquecer a
temente pulmonares, quanto extrapulmonares e notificação! As principais indicações de internação
multissistêmicos. Com relação ao quadro pulmo- são:
nar, vale lembrar as doenças infecciosas como:
paracoccidioidomicose (forma pulmonar crônica),
u Tuberculose meningoencefálica.
histoplasmose, criptococose pulmonar, abscesso u Intolerância aos medicamentos anti-TB incontro-
pulmonar bacteriano e outras micobactérias não lável em ambulatório.
tuberculosis (p. ex., M. kansasii). A sarcoidose é u Estado geral que não permita tratamento em
um dos principais diferenciais não infecciosos, ambulatório.
destacando a presença de linfonodos peri-hilares. u Intercorrências clínicas e/ou cirúrgicas relaciona-
Granulomatose de Wegener e neoplasias pulmona- das ou não à TB que necessitem de tratamento
res, com ou sem acometimento pleural, também e/ou procedimento em unidade hospitalar.
são possibilidades diagnósticas.
u Situação de vulnerabilidade social, como ausência
Dependendo da localização, são incluídos como de residência fixa ou grupos com maior possibili-
diferenciais: linfoma (linfadenomegalia crônica), dade de abandono, especialmente se for um caso
pneumonia bacteriana com derrame pleural, para- de retratamento, falência ou multirresistência.
coccidioidomicose (forma juvenil aguda), osteomie- u Importante lembrar que em pacientes com si-
lite vertebral bacteriana, histoplasmose disseminada, tuação de possível abandono ou histórico de
dentre outros. tratamentos prévios deve-se considerar a possi-
94
Tuberculose Cap. 2
20 a 35 kg 2 comprimidos
RHZE
150/75/400/275 mg 36 a 50 kg 3 comprimidos
2 meses (fase intensiva)
(comprimidos em doses 51 a 70 kg 4 comprimidos
fixas combinadas)
Acima de 70 kg 5 comprimidos
1 comp 300/150 ou
20 a 35 kg
2 comp 150/75 g
1 comp 300/150 +1
RH 36 a 50 kg comp 150/75 ou 3
comp de 150/75 g
300/150 mg ou 150/75 4 meses (fase de
mg (comprimidos com manutenção)
2 comp 300/150 ou
doses fixas combinadas) 51 a 70 kg
4 comp 150/75 g
2 comp 300/150 mg
Acima de 70 kg +1 comp 150/75 ou
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5 comp 150/75 g
Nas formas neurológicas, a segunda fase de trata- A polirresistência inclui o comprometimento de mais
mento é estendida por mais 10 meses, completando de 2 drogas, com exceção da rifampicina e isoniazida.
A resistência multidroga (TB-MDR) inclui, justamente, a
12 meses de tratamento. Deve-se utilizar corticos-
resistência às 2 drogas mais importantes do esquema:
teroide nos 2 primeiros meses de tratamento para rifampicina e isoniazida.
formas neurológicas e pericárdicas.
Formas graves, disseminadas e com padrão lento de
resposta terapêutica podem requerer maior tempo
de tratamento, conforme a evolução clínica. Vale 13. EVENTOS ADVERSOS
destacar as formas osteoarticulares, intestinais
e urinárias como exemplos de manifestações de
Os efeitos colaterais podem ocorrer em até 40%
difícil manejo.
dos pacientes, englobando gastrite, náusea, vômito,
coloração alaranjada da urina, artralgia, dentre
muitos sintomas.
DIA A DIA MÉDICO
95
Tuberculose Infectologia
Rifampicina
Reformular o horário da administração da medicação
Náusea, vômito, Isoniazida
(2 horas após o café da manhã); considerar o uso de
dor abdominal Pirazinamida
Etambutol
medicação sintomática; avaliar a função hepática
Suor/urina de cor
Rifampicina Orientar
avermelhada
Isoniazida
Prurido ou exantema leve Medicar com anti-histamínico
Rifampicina
Hiperurecemia
Pirazinamida Orientar dieta hipopurínica
sem sintomas
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Estreptomicina sem a medicação causadora do efeito
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Tuberculose Cap. 2
Maior frequência, a
Consultas X X X X X X
critério clínico
Avaliação
X X X X X X
da adesão
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renal e glicemia critério clínico
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Tuberculose Infectologia
evolução clínica e/ou bacteriológica, iniciar fase de pode ser indicada após ser afastada a possibilidade
manutenção (RH) por mais 4 meses. Pacientes com de doença ativa.
evolução insatisfatória (sem melhora clínica e/ou
Pessoas infectadas pelo M. tuberculosis que não
com persistência de baciloscopia associada ou não
apresentam tuberculose ativa são identificadas
com aspecto radiológico, evidenciando atividade de
como portadores da infecção latente pelo M tubercu-
doença) devem ser encaminhados a uma referência
losis (ILTB). O tratamento da ILTB é uma importante
de tuberculose para avaliação.
estratégia para prevenção do adoecimento em
Em locais que tenham disponível o TRM-TB, este populações com risco de desenvolver a doença, tais
teste deve ser solicitado, além da cultura e TS para como contatos de casos de TB pulmonar bacilífera,
rastreio de resistência à rifampicina. Caso o TRM-TB pessoas que vivem com HIV e demais situações
evidencie resistência à rifampicina, encaminhar para com comprometimento da imunidade, entre outras.
referência terciária e, em caso de sensibilidade à É importante salientar que, antes de se efetuar o
rifampicina, prolongar a primeira fase do tratamento tratamento da ILTB, deve-se, sempre, investigar
(RHZE) por mais 30 dias, reavaliando o esquema de sinais e sintomas clínicos sugestivos de tuber-
tratamento com o resultado do TS. culose ativa e, na presença de qualquer suspeita,
investigar a tuberculose ativa, e não tratar a ILTB
O controle radiológico pode ser realizado após o
nesse momento.
segundo mês de tratamento, para acompanhar
a regressão ou a ampliação das lesões iniciais,
especialmente nos casos pulmonares com exames
bacteriológicos negativos e na ausência de expecto- 16. I NDICAÇÕES DE TRATAMENTO
ração para controle bacteriológico. Na vigência de DA INFECÇÃO LATENTE
evolução clínica favorável, outro exame radiológico
pode ser realizado somente ao final do tratamento.
A indicação do tratamento da ILTB depende:
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Também deve ser realizado em qualquer momento
do tratamento, a critério clínico. u Do resultado da PT ou do IGRA.
u Da idade.
u Da probabilidade de ILTB.
15. TRATAMENTO DA INFECÇÃO
LATENTE EM SITUAÇÕES u Do risco de adoecimento.
ESPECIAIS E CONTACTANTES Os grupos com indicação de tratamento são:
u Crianças (<10 anos de idade) contatos de casos
pulmonares.
A profilaxia primária é indicada para indivíduos em
situação de risco para infecção, sem contato prévio
O tratamento da ILTB em crianças está indicado
com a micobactéria. Por exemplo, o recém-nascido
quando:
que habita um domicílio com pacientes bacilíferos;
ele não deve ser vacinado, optando-se pela introdu-
u PT ≥5 mm ou IGRA positivo, independentemente
ção da isoniazida na dose de 10 mg/kg/dia. No 3º
do tempo decorrido da vacinação por BCG.
mês, deve-se realizar o PPD; caso seja reator (PT ≥5
mm), prolonga-se a terapia até o 6º mês. Caso seja u O efeito da BCG sobre o resultado da prova tu-
não reator (PT <5 mm), interrompe-se a profilaxia e berculínica reduz com o passar do tempo, prin-
indica-se a vacina com BCG. Não é contraindicado cipalmente se a BCG foi feita antes de 1 ano de
o aleitamento materno, e a mãe bacilífera pode idade. Desta forma, para quem foi vacinado até o
amamentar utilizando máscara. primeiro ano de vida e não foi revacinado, como
é o caso da maior parte da população no Brasil,
A profilaxia secundária, mais conhecida como tra- a prova tuberculínica com resultado PT ≥5 mm
tamento da infecção latente por M. tuberculosis, só
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Tuberculose Cap. 2
deve ser interpretada como infecção latente, de u Pré-transplante que fará uso de terapia imunos-
maneira semelhante em adultos e crianças. supressora.
u PT ≥10 mm ou IGRA positivo:
16.1. ADULTOS E ADOLESCENTES u Neoplasia de cabeça e pescoço, linfomas e ou-
tras neoplasias hematológicas.
Em adultos e adolescentes (≥10 anos de idade) com u Insuficiência renal em diálise.
ILTB, a relação risco-benefício do tratamento com u Neoplasias com quimioterapia imunossupressora.
H deve ser avaliada. A idade é um dos fatores de
u Diabetes mellitus.
risco para hepatotoxicidade pela H. As indicações
para o tratamento da ILTB são: u Baixo peso (<85% do peso ideal).
u Tabagistas (>20 cigarros/dia).
u PT ≥5 mm ou IGRA positivo: u Calcificação isolada (sem fibrose) na radiografia.
u PVHIV. u Conversão (segunda PT com incremento de 10
u Contatos adultos e adolescentes (≥10 anos). mm em relação à 1ª PT):
u Alterações radiológicas fibróticas sugestivas de u Contatos de TB confirmada por critério laboratorial.
sequela de TB. u Profissional de saúde.
u Uso de inibidores do TNF-α (preferencialmente u Profissional de laboratório de micobactéria.
antes da sua utilização).
u Trabalhador do sistema prisional e instituições
u Uso de corticosteroides (>15 mg/dia de predni- de longa permanência.
sona por >1 mês).
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Tuberculose Infectologia
Assintomático
PT < 5 mm PT ≥ 5 mm
Repetir em 8
Rx de Tórax
semanas
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investigação
Normal Alterado
Sintomático
Tratar TB
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Tuberculose Cap. 2
17. CONTACTANTES
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Tuberculose Infectologia
Fluxograma 3. Fluxograma para investigação de contatos adultos e adolescentes (≥10 anos de idade).
Consulta
Assintomático Sintomático
Prova
Excluída Investigar
Tuberculínica
TB ativa TB
(PT)
Continuar
TB ativa
PT < 5 mm PT ≥ 5 mm Investigação
Repetir em
8 semanas Rx de tórax Tratar TB
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Sem Com
Normal Alterado
conversão conversão 1
Normal Alterado
Continuar
Tratar ILTB
investigação
1. Quando há um incremento de pelo menos 10 mm em relação a PT anterior. Vale lembrar que a PT estimula a resposta imune à BCG
realizada ao nascimento, por isso a necessidade desse incremento na PT após uma avaliação inicial (MENZIES, 1999).
Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde¹.
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Tuberculose Cap. 2
Consulta
Assintomático Sintomático 1
Rx e prova
tuberculínica
Investigar TB
Rx de tórax TB
Rx alterado Excluída TB
normal confirmada
Repetir PT em
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Tratar ILTB
8 semanas
Sem Com
conversão conversão 3
Alta com
Tratar ILTB
orientação
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Tuberculose Infectologia
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ses, e importante monitorar eventos adversos lizumab, golimumab), anti-IL1 (anakinra), anti-CD20
relacionados à isoniazida (hepatotoxicidade e (rituximabe), anti-IL6 (tocilizumabe), anti-JAK3 (tofa-
deficiência de vitamina B6). Além disso, temos citinib), anti-IL12 e 23 (ustekinumab). Para as outras
que em 2021 o Ministério disponibilizou a asso- drogas, considerar a existência de estudos em áreas
ciação da rifapentina com isoniazida com doses de alta prevalência de tuberculose, como no Brasil.
semanais por 3 meses com outra opção de tra-
tamento da IL_TB.
u Dose:
u Adultos e adolescentes (>10 anos): 5 a 10 mg/kg/
dia de peso até a dose máxima de 300 mg/dia.
u Crianças (<10 anos): 10 mg/kg/dia de peso até
dose máxima de 300 mg/dia.
u Tempo de tratamento: no regime de tratamento
com H, o mais importante é o número de doses e
não somente o tempo de tratamento. Recomen-
da-se a utilização de 270 doses, que poderão ser
tomadas em 9 a 12 meses.
u Seguimento do tratamento da ILTB.
u Todas os medicamentos deverão ser administra-
dos em tomada única, preferencialmente em jejum
(1 hora antes ou 2 horas após o café da manhã).
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Tuberculose Cap. 2
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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10 de janeiro de 2020.
World Health Organization (WHO) [internet]. Global tuber-
culosis report 2014. World Health Organization [acesso em
3 nov 2022]. Disponível em: www.who.int/tb/publications/
global_re-port/en/.
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Tuberculose Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(ALIANÇA SAÚDE - PR - 2021) A definição de “quimioprofi- (ALIANÇA SAÚDE - PR - 2021) Você está trabalhando em
laxia primária da tuberculose” consiste em: uma unidade básica de saúde e atende um paciente
do sexo masculino de 45 anos, previamente hígido,
⮦ administrar INH, rifampicina e pirazinamida em que está vivendo em situação de rua no último ano.
indivíduo infectado por BK, com radiografia de Ele recebeu o diagnóstico de tuberculose pulmonar
tórax normal. bacilífera, iniciando o tratamento com o esquema
⮧ separar o doente tuberculoso com radiografia básico (Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida +
torácica normal do que não foi infectado pelo BK. Etambutol) há 4 semanas, com dose ajustada para
o peso atual. Na consulta de hoje o paciente refere
⮨ administrar isoniazida (INH em suscetível não
estar em curva de melhora clínica, afebril, com me-
infectado pelo BK, visando ao seu não adoeci- lhora parcial das queixas respiratórias, sem outras
mento. queixas. Ele traz exames laboratoriais que mostram
⮩ administrar INH em criança infectada pelo BK, os seguintes valores para a bioquímica hepática:
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visando ao não adoecimento. Bilirrubina total e frações, Tempo de Atividade de
Protrombina e Albumina sérica dentro dos limites
da normalidade; TGO: 295 U/L (Valor de referência:
Questão 2 até 35 U/L) TGP: 360 U/m (Valor de referência: até
55 U/L) Em relação à conduta a ser adotada frente
(FACULDADE DE MEDICINA DO ABC - SP - 2021) Marina, 45
ao caso apresentado, é CORRETO:
anos de idade, sem antecedentes patológicos co-
nhecidos, mora com a mãe, que há uma semana ⮦ Suspender o esquema básico até a normaliza-
teve diagnóstico de tuberculose pulmonar. Por ção das transaminases (TGO e TGP, com pos-
orientação do médico da UBS, apesar de estar as- terior tentativa de reintrodução das medicações
sintomática, a paciente fez uma prova tuberculínica droga a droga.
(reação de Mantoux ou PPD), que resultou = 10mm ⮧ Suspender o esquema básico e encaminhar o
de diâmetro, 48 horas após a aplicação. A conduta paciente para a referência terciária.
para Marina será: ⮨ Diminuir a dose das medicações do esquema
básico pela metade e reavaliar o paciente em
⮦ Tratar com rifampicina, isoniazida e etambutol
4 semanas.
por 9 meses.
⮩ Manter o esquema básico nas doses habituais,
⮧ Investigar bacilo álcool ácido em 3 amostras
pois a elevação assintomática das transamina-
de escarro.
ses deve ser transitória, devendo ser reavaliada
⮨ Radiografia de tórax; se normal, prescrever iso- em 4 semanas.
niazida por 9 meses. ⮪ Substituir o esquema básico por esquema alter-
⮩ Tratar com rifampicina, isoniazida, etionamida nativo não hepatotóxico, composto por capreo-
por 6 meses. micina, etambutol e levofloxacino.
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Tuberculose Cap. 2
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terferon no sangue periférico. ⮨ O teste rápido molecular para tuberculose é o
⮨ Amplificação automatizada de ácido nucleico método mais indicado para investigação de tu-
(ensaio Xpert MTB/RIF) no escarro. berculose ativa em paciente com vistas a retra-
tamento de tuberculose pulmonar.
⮩ Cultura de escarro (meio de Lowenstein-Jensen).
⮩ A rifampicina é a droga de escolha para o tra-
tamento infecção latente pelo Mycobacterium
Questão 5 tuberculosis (ILTB em pessoas que vivem com
HIV/aids em uso de inibidores da protease.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP
DA USP - SP - 2022) Homem, 57 anos, apresentou tos- ⮪ Deve-se vacinar com BCG toda criança portadora
se, febre, expectoração e perda de peso (6 Kg) por de HIV acima dos cinco anos de idade.
três meses. Recebeu o diagnóstico de tuberculose
pulmonar, com início de tratamento com rifampi- Questão 7
cina, isoniazida, pirazinamida e etambutol há 30
dias. Hoje nega febre e refere persistência da tosse (UNICAMP - SP - 2022) Homem, 45a, assintomático,
e expectoração. Exame físico: bom estado geral, procura Unidade Básica de Saúde por contato com
emagrecido, descorado +/4, afebril. Peso: 44 Kg. paciente com diagnóstico de tuberculose. Radiogra-
Altura 1,56 m. Aparelho respiratório: murmúrio ve- ma de tórax: normal. Prova tuberculínica (PPD): 22
sicular bilateralmente sem ruídos adventícios. FR mm. A CONDUTA É:
= 22 ipm. Aparelho cardiovascular: bulhas rítmicas
⮦ Iniciar profilaxia com isoniazida.
em 2T normofonéticas sem sopros. FC: 84 bpm, PA:
100 x 70 mmHg. Abdome: plano indolor, sem mas- ⮧ Iniciar rifampicina, pirazinamida, isoniazida e
sas e sem visceromegalias. Qual é o exame mais etambutol.
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Tuberculose Infectologia
Questão 8
⮦ Avaliar eventual resistência do HIV aos antirre- O diagnóstico mais provável e seu tratamento:
trovirais em uso para depois desse resultado
⮦ Tuberculose pulmonar. Rifampicina + isoniazida +
iniciar o tratamento de tuberculose.
pirazinamida + etambutol por 2 meses, seguidos
⮧ Avaliar eventual resistência do HIV aos antirretro- de pirazinamida e isoniazida por mais 4 meses.
virais em uso, sem atrasar início do tratamento
⮧ Abscesso pulmonar. Amoxicilina por 7 dias.
da tuberculose.
⮨ Tuberculose pulmonar. Rifampicina + isoniazida +
⮨ Avaliar eventual resistência do HIV aos antirre-
pirazinamida + etambutol por 2 meses, seguidos
trovirais em uso, podendo atrasar início do tra-
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de rifampicina e isoniazida por mais 4 meses.
tamento da tuberculose.
⮩ Tuberculose pulmonar. Rifampicina + isoniazida
⮩ Avaliar eventual resistência do HIV com genoti-
+ pirazinamida + etambutol por 6 meses.
pagem e só depois iniciar RIPE.
⮪ Abscesso pulmonar. Amoxicilina com clavula-
nato por 14 dias.
Questão 9
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Tuberculose Cap. 2
GABARITO E COMENTÁRIOS
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diagnóstico é realizado através da suspeição clínica elevadas em mais de 3 vezes, o que nos deve fazer
(anamnese + exame físico), baciloscopia e radio- tomar como conduta a suspensão do tratamento,
grafia de tórax. O tratamento é realizado através esperando-se a normalização das transaminases.
do esquema RHZE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazi- Quando ocorrer esta normalização, vamos tentando
namida e Etambutol) por 6 meses quando primária introduzir droga por droga, continuando a monito-
e não envolve SNC. A baciloscopia pode demorar rização de TGO e TGP.
certo tempo para negativar e o esquema deve ser ✔ resposta: A
mantido com continuidade do acompanhamento.
A quimioprofilaxia primária trata-se de prevenção
após o contato com pessoas que são sabidamen- Questão 4 dificuldade:
te infectadas; sendo assim: administrar isoniazida
(INH em suscetível não infectado pelo BK, visando
Y Dica do professor: O enunciado pede um método
ao seu não adoecimento). que seja primeira linha e ainda possa detectar resis-
tência antimicrobiana. TRM-TB (teste rápido molecu-
✔ resposta: C lar) é um teste de amplificação de ácidos nucléicos
utilizado para a detecção de DNA dos bacilos do
Questão 2 dificuldade:
complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resis-
tentes à rifampicina, por meio da técnica de reação
Y Dica do professor: De acordo com o Manual de em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. O
Recomendações para o controle da tuberculose no teste apresenta o resultado aproximadamente em
Brasil, contactantes assintomáticos de pacientes duas horas se o ambiente for laboratorial, sendo
com tuberculose devem realizar, inicialmente, prova necessária somente uma amostra de escarro. A
tuberculínica. Se esta apresentar resultado maior sensibilidade do TRM-TB em amostras de escarro
ou igual a 5 mm, deve-se prosseguir a investigação de adultos é de cerca de 90%, sendo superior à da
109
Tuberculose Infectologia
baciloscopia. O teste também detecta a resistên- de 5-10 mg/kg de peso (dose máxima 300mg/dia)
cia à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%. por 6 meses.
✔ resposta: C Alternativa E: INCORRETA. A partir dos 5 (cinco) anos
de idade, pessoas portadoras de HIV não devem
ser vacinadas, mesmo que assintomáticas e sem
Questão 5 dificuldade: sinais de imunodeficiência.
Y Dica do professor: Em paciente com diagnóstico ✔ resposta: A
firmado de tuberculose já em tratamento, a bacilos-
copia de escarro é indicada nas seguintes condições:
Questão 7 dificuldade:
no sintomático respiratório, durante estratégia de
busca ativa; em caso de suspeita clínica e/ou ra- Y Dica do professor: Questão sobre profilaxia de
diológica de TB pulmonar, independentemente do contactantes em tuberculose. Um dos principais
tempo de tosse; e finalmente como no nosso caso, aspectos dessa avaliação inicial após um contato
para acompanhamento e controle de cura em ca- é descartar tuberculose ativa. Como realizar essa
sos pulmonares com confirmação laboratorial. Os avaliação? Iniciar com a realização de um Rx de tó-
testes moleculares podem ficar positivos por muito rax e avaliação clínica a respeito de sintomas. Nes-
tempo e PPD também, após o contato, pode ficar sa questão a banca já fornece ao candidato essas
anos positivo; portanto, não são bons marcadores informações: Rx normal e paciente sem sintomas
para seguimento. sugestivos de TB em atividade. A próxima etapa é
✔ resposta: B a realização da prova tuberculínica que, nesse caso,
mostrou um resultado reator. PPD reator (>5mm) +
RX de tórax normal em adultos é indicação de pro-
Questão 6 dificuldade: filaxia com isoniazida por 9 meses. Se o paciente
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Y Dica do professor: Vale lembrar que na tubercu- tiver acima de 50 anos, temos a opção de utilizar
lose a forma mais comum da doença é a forma rifampicina (4 meses). Lembrar sempre de monito-
pulmonar, acometimentos extrapulmonares tam- rar transaminases.
bém são frequentes e dignos de atenção da saúde Alternativa A: CORRETA. Gabarito.
pública, como formas pleural, ganglionar, miliar e Alternativa B: INCORRETA. Esse esquema seria indi-
osteomuscular. Na tuberculose pulmonar, a apre- cado se o paciente tivesse TB em atividade.
sentação clínica depende do estágio no curso na- Alternativa C: INCORRETA. Só seria necessário TC se
tural da doença (doença primária, pós-primária ou o RX tivesse algo que gerasse dúvida em atividade
miliar), localização e imunidade do hospedeiro. Os de doença.
sintomas clássicos de febre vespertina, tosse, su-
Alternativa D: INCORRETA. Rx de tórax em 6 meses
dorese noturna e emagrecimento podem ocorrer
não seria conduta para avaliação de profilaxia.
em quaisquer das apresentações.
Alternativa A: CORRETA. O teste rápido molecular
✔ resposta: A
para tuberculose é o método mais indicado para
população geral, junto com a baciloscopia. Questão 8 dificuldade:
Alternativa B: INCORRETA. O teste rápido molecular
para tuberculose deve ser realizado nesses casos.
Y Dica do professor: Para paciente com diagnósti-
co recente de tuberculose, o TRM autoriza o início
Alternativa C: INCORRETA. O exame microscópico di-
imediato de tratamento para a tuberculose com
reto-baciloscopia direta é o método mais indicado
esquema RIPE, já que é sensível à rifampicina. Na
para investigação de tuberculose ativa em paciente
coinfecção não devemos atrasar NUNCA o trata-
com vistas a retratamento de tuberculose pulmonar.
mento da tuberculose, que é a principal doença
Alternativa D: INCORRETA. O tratamento de infec- oportunista em pessoas vivendo com HIV. Nesse
ção latente deve ser feito com Isoniazida na dose caso, a paciente já tinha o diagnóstico de HIV, e a
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vistas pela radiografia convencional. Nódulos centro-
lobulares de distribuição segmentar representativos ser realizados, embora a recuperação de BAAR no
da disseminação broncogênica da tuberculose são líquido seja em torno de 5%, e a cultura positiva em
também frequentes na fase ativa da doença (. O espes- torno de 15%, o que não justifica pedir os exames
samento da parede brônquica e bronquiectasias são visando ao início da terapia.
menos frequentes mas podem aparecer. O aspecto ✔ resposta: C
de “árvore em brotamento” também é bem frequente.
Alternativa A: INCORRETA. História clínica não com-
patível, o achado de pneumonia necrotizante não
é esse
Alternativa B: INCORRETA. Linfoma geralmente se
apresenta com linfoadenomegalia mediastinal e
massa mediastinal
Alternativa C: CORRETA. Lesões escavadas e árvore
em brotamento são padrões clássicos na tuber-
culose.
Alternativa D: INCORRETA. Não é compatível com
neoplasia na imagem descrita.
✔ resposta: C
111
Fixe seus conhecimentos!
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112
Capítulo
DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA
3
importância/prevalência
u Sobre Dengue
• Dengue é uma doença de notificação compulsória. Na suspeita e na confirmação, sempre notificar.
Endêmica em nosso país e em várias localidades tropicais do mundo. É um dos assuntos mais cobrados
em infectologia nos exames de residência. Campeã em prevalência no Brasil das arboviroses.
• Vetores: Aedes aegypti (áreas urbanas) e Aedes albopictus. Vírus: flavivirus (quatro sorotipos: DEN 1, 2,
3 e 4).
• Período de incubação: 3-15 dias (média de 7-10 dias).
• Testes para detecção de anticorpos (IgM e IgG) devem ser solicitados a partir do 6º dia da doença para
realizar o diagnóstico. Antes disso, a sorologia tem baixa acurácia para o diagnóstico. Leucopenia e
plaquetopenia podem ocorrer, assim como linfocitose relativa, mas são achados inespecíficos para o
diagnóstico definitivo.
• A maioria dos casos tem evolução benigna e se apresenta classicamente como uma SÍNDROME FEBRIL
MIÁLGICA, cursando com febre alta abrupta, mal-estar generalizado, mialgia e cefaleia retro-orbitária.
Apesar de a maioria ter curso benigno, deve-se sempre ficar atento aos sinais de alarme que sugerem
uma progressão para formas mais graves da dengue, dentre eles a dor abdominal, letargia/lipotimia,
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aumento do hematócrito, vômitos, sangramentos, edemas e hepatomegalia.
• Os casos com gravidade, geralmente se manifestam com aumento de permeabilidade vascular, sangra-
mentos, derrames cavitários, associados à plaquetopenia severa e hepatite. Hemoconcentração é um
grande achado para suspeitar do espectro de maior gravidade da doença (grupos 3 e 4).
• A prova do laço é uma importante manobra propedêutica de triagem para avaliar fragilidade endotelial,
sendo positiva quando houver mais de 20 petéquias em adultos por polegada quadrada (adultos). Para
diagnóstico especifico na fase aguda, é possível fazer o isolamento viral ou solicitar antigenemia NS1
da dengue. Após soroconversão (7 dias), pede-se sorologia. NS1 tem melhor performance até 72hs do
início dos sintomas.
• O manejo dos pacientes é feito a partir da classificação do consenso do Ministério da Saúde mais recente,
que divide os pacientes em 4 grupos (A, B, C e D) a partir das anamneses, do exame físico e de exames
complementares. O uso de sintomáticos e hidratação (oral ou endovenosa) compõem o tratamento para
os casos de menor gravidade (A e B). Não há antiviral específico para o vírus da dengue que possa ser
utilizado no manejo dos casos. Nos grupos C e D, deve haver a internação, a hidratação endovenosa e
a monitorização clínica.
• É importante fazer o diagnóstico diferencial com zika e chikungunya. Esta se apresenta com clínica mais
importante nas articulações (artralgia e edema), enquanto aquela com febre baixa ou afebril, além de
exantema importante e hiperemia conjuntival.
• A principal medida de prevenção atual é o combate a esse vetor, tarefa difícil e sem sucesso definitivo nas
últimas 2 décadas em nosso país. Urbanização e aquecimento global são grandes fatores relacionados
à expansão dessa doença para mais de 110 países no mundo. Temos uma vacina para dengue, porém
com muitos problemas e sem disponibilidade no SUS.
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
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• Não há vacina; o tratamento é de suporte e, nas complicações neurológicas, há reabilitação, quando
possível.
DENGUE
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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Fonte: Acervo Sanar.
A dengue voltou a ser uma ameaça no Brasil nos mortes devido à infecção por dengue, enquanto no
anos 1990 e 2000. Em 2017, foram notificados mesmo período, em 2018, foram 160 mortes, cerca
113.381 casos prováveis de dengue em todo o de 1/3 em relação a 2019.
país, uma redução de 90,3% em relação ao mesmo
período de 2016 (1.180.472). No entanto, dados
mais recentes são alarmantes, pois, em 2019, até DIA A DIA MÉDICO
o final do mês de agosto, foram registrados cerca
de 1,5 milhão de casos! Este número representa um A doença está na lista das doenças de notificação compul-
aumento de 7 vezes em relação ao mesmo período sória! Tanto a suspeita quanto a confirmação da doença
de 2018, segundo o Ministério da Saúde. Neste devem ser notificadas! Na prática, existe uma grande
subnotificação, especialmente em pronto-socorro.
mesmo período de 2019, foram confirmadas 591
115
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
Uma pessoa que tenha entrado em contato com um Portanto, a doença só pode ocorrer se 3 situações
sorotipo pode se infectar com um novo sorotipo e adquirir epidemiológicas forem preenchidas: 1) existência
a doença mais de uma vez. A imunidade é sorotipo-es- do agente transmissor no local; 2) presença do
pecífica, com a possibilidade, inclusive, de desenvolver
homem infectado; 3) presença do indivíduo sadio.
formas mais graves, devido a uma ativação imunológica
pela reexposição nos que já possuem alguma imunidade A transmissão ocorre quando o mosquito se ali-
prévia (Teoria de Halsted). menta (repasto sanguíneo) do sangue de uma pes-
soa em período de viremia. Isso faz com que ocorra
a contaminação do mosquito. Após um período
O vírus da dengue é um RNA vírus, do gênero Fla-
entre 8-12 dias, a fêmea irá fazer um novo repasto
vivírus, pertencente à família Flaviviridae. Existem
sanguíneo e estará apta a transmitir a doença a um
4 sorotipos distintos: DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN
indivíduo sadio.
4. Há alguns anos, foi descrito um 5º tipo, detec-
tado apenas em um surto na Malásia, em 2007, O A. aegypti vive aproximadamente 45 dias e, neste
e previamente classificado como DEN 4. Porém, curto período de vida, ele faz de 3 a 4 repastos. No
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acredita-se que este quinto tipo circule somente primeiro repasto, ele se infecta e, após a primeira
entre locais específicos, com apenas esse único semana, poderá transmitir a doença por 3 vezes.
caso registrado em humano. A literatura continua
O homem infectado apresenta um período de vire-
a tratar apenas dos 4 tipos circulantes.
mia desde o início da sintomatologia, com seu pico
O genoma do vírus codifica várias proteínas virais, máximo em 3 a 5 dias.
a NS1 está presente na fase aguda da infecção e a
sua antigenemia está associada a apresentações
clínicas de maior gravidade. Além disso, a detecção 3. FISIOPATOGENIA
laboratorial dessa proteína é base de testes diag-
nósticos na fase aguda.
Os vetores são os mosquitos do gênero Aedes. Nas BASES DA MEDICINA
Américas, o vírus da dengue persiste na natureza,
mediante o ciclo de transmissão homem → Aedes Após a inoculação, o vírus se replica, inicialmente nas
aegypti → homem. células mononucleares dos linfonodos locais ou nas
células musculares esqueléticas, produzindo viremia.
Seus hábitos são diurnos (início da manhã) e ves-
No sangue, o vírus penetra nos monócitos, onde sofre a
pertinos (final da tarde). O mosquito tem autonomia segunda onda de replicação. No interior dessas células ou
de voo limitada, afastando-se não mais de 200 livre no plasma, ele se dissemina por todo o organismo.
metros do local de oviposição. Isso significa que a Ocorre intensa replicação em células musculares, justifi-
eliminação dos criadouros peridomiciliares impede cando a mialgia que, geralmente, acompanha a doença.
totalmente o contato intradomiciliar com o vetor
da dengue.
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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macrófagos. Com isso, tais indivíduos possuem
Disseminação pelo corpo populações de macrófagos maciçamente infecta-
do hospedeiro das, produzindo alta viremia. Essa teoria é a mais
clássica na explicação da forma hemorrágica da
Fonte : Elaborado pelo autor. doença. Essa alta viremia produz um ambiente na
microcirculação que favorece o aumento de permea-
Existem 2 formas de resposta imune ao vírus: a bilidade endotelial. Contudo, essa teoria é baseada
primeira previne a infecção e propicia a recupera- em associações temporais entre marcadores imu-
ção; a segunda relaciona-se com a imunopatologia nológicos e eventos clínicos, sem termos uma real
da “dengue hemorrágica”, nomenclatura com uso evidência do mecanismo que desencadeia o gatilho
desaconselhado pelo Ministério da Saúde. A nomen- da elevação da permeabilidade. Nos últimos anos,
clatura atual correta é “forma grave de dengue”. A estudos analisaram o papel da NS1 interagindo
primoinfecção pela dengue estimula a produção de com proteínas do endotélio, levando ao aumento
imunoglobulinas M (IgM), detectáveis a partir do 4º de permeabilidade vascular.
dia após o início dos sintomas, atingindo os níveis Atualmente, admite-se etiopatogenia multifatorial
mais elevados por volta do 7º ou 8º dia, declinando para justificar as formas graves. Fatores do hospe-
lentamente, passando a não ser detectáveis após deiro (HLA, comorbidades), fatores virais (cepas,
alguns meses. As imunoglobulinas G (IgG) são obser- sequência das infecções) e ambientais (circulação
vadas, em níveis baixos, a partir do 4º dia depois do dos sorotipos) são os mais estudados. Outros tra-
início dos sintomas. Elas elevam-se gradualmente; balhos relacionam gravidade com idade do paciente
atingem valores altos em 2 semanas e mantêm-se (mais jovens), índice de massa corpórea, variantes
detectáveis por vários anos, conferindo imunidade genômicas do MHC classe I com desencadeadores
contra o sorotipo infectante, provavelmente por de apresentações clínicas mais graves (Figura 4).
toda a vida.
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
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ração imune por linfócitos T CD4 e CD8 citotóxicos.
Os macrófagos ativados pelos linfócitos liberam
tromboplastina, que inicia os fenômenos de coa- A dengue é uma doença espectral, ou seja, possui
gulação e, também, liberam proteases ativadoras várias apresentações clínicas, variando de casos
do complemento, causadoras da lise celular e do leves, que passam despercebidos, até casos mais
choque. O fator de necrose tumoral, de origem graves com desidratação e, algumas vezes, com
macrofágica e linfocitária, foi observado em níveis evolução para dengue grave. A maioria dos casos
elevados, o que pode contribuir para a tromboci- tem evolução benigna e se comporta como uma
topenia e o aumento da permeabilidade vascular. febre indiferenciada (oligossintomática) ou a forma
clássica da doença. As 3 fases clínicas podem
ocorrer: febril, crítica e de recuperação.
DIA A DIA MÉDICO A principal porta de entrada de casos de dengue,
nas formas clássica e hemorrágica, é o pronto-so-
Na prática, como estamos numa área endêmica para den- corro; logo, é de suma importância que o médico
gue, muitas pessoas já podem ter tido um contato prévio generalista seja capaz de realizar a suspeita clínica,
e ter essa evolução para formas graves; todavia, como
solicitar exames laboratoriais iniciais, estadiar a
poucos realizam a sorologia, não há essa informação no
momento da avaliação inicial desse paciente.
gravidade, assim como orientar os pacientes dos
sinais clínicos que sugerem a evolução para formas
de maior comprometimento sistêmico.
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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Fonte: Cherabuddi et al.¹
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
curso da doença levando diretamente ao período progressiva melhora clínica, com normalização ou
de recuperação. aumento do débito urinário, podendo ocorrer, ainda,
bradicardia e mudanças no eletrocardiograma.
4.3. FASE DE RECUPERAÇÃO Alguns pacientes podem apresentar um rash cutâ-
neo acompanhado ou não de prurido generalizado.
Nos pacientes que passaram pela fase crítica, haverá
reabsorção gradual do conteúdo extravasado, com
Quadro clínico
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desenvolvimento de sinais de alarme
Diarreia
Manter vigilância quanto
Dor abdominal intensa aos sinais de alarme
Vômitos persistentes
Acúmulo de líquidos
Exantema maculo-papular
Letargia/irritabilidade
Hipotensão postural
Hepatomegalia (>2cm)
Sangramento de mucosa
Aumento de HT
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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infundidos. Quanto maior a elevação do hematócrito,
dengue e nem das suas formas graves, podendo
maior a gravidade (Figura 6).
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Sangramento da mucosa
e que os óbitos não ocorram.
Letargia e/ou irritabilidade
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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áreas endêmicas e às condições preexistentes
(idoso, gestante, obesidade, asma, diabetes mellitus,
hipertensão etc.).
Deve-se valorizar e registrar os sinais vitais: tem-
peratura, qualidade de pulso, frequência cardíaca,
pressão arterial, pressão de pulso e frequência
respiratória; avaliar estado de hidratação e hemo-
dinâmico (tempo de enchimento), verificar a pre-
sença de derrame pleural, ascite e hepatomegalia;
verificar manifestações hemorrágicas espontâneas
(petéquias) ou provocadas (prova do laço, que fre-
quentemente é negativa em pessoas obesas e
durante o choque).
A partir da avaliação clínico-laboratorial (hemo-
grama), precisa-se ser capaz de responder a algumas
questões principais e norteadoras da conduta:
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
Estadiamento
A B C D
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O manejo adequado dos pacientes depende do 4 grupos de risco, de acordo com as informações
reconhecimento precoce dos sinais de alarme, do colhidas pela anamnese e pelo exame físico. Essa
contínuo acompanhamento, do reestadiamento dos avaliação deve ser dinâmica e contínua, tendo em
casos (dinâmico e contínuo) e da pronta reposição mente que o paciente pode passar de um grupo
volêmica. Com isso, torna-se necessária a revisão para outro rapidamente.
da história clínica, acompanhada de exame físico
No Fluxograma abaixo, as condutas preconizadas
completo a cada reavaliação do paciente, com coleta
pelo consenso do Ministério da Saúde para cada
de exames adequados para cada grupo.
grupo.
Não há antiviral específico para o vírus da dengue.
A terapia se baseia no alívio sintomático (analgési-
cos, antitérmicos, antieméticos e antipruriginosos),
com ênfase na hidratação (oral nos casos brandos,
intravenosa nos casos graves). Em casos de choque
(grupo D), iniciar imediatamente fase de expansão
rápida parenteral, com solução salina isotônica: 20
mL/kg em até 20 minutos. Reavaliação clínica a
cada 15-30 minutos e de hematócrito em 2 horas.
Estes pacientes necessitam ser continuamente
monitorados, com grande potencial de morbidade.
O manejo desses casos deve ser feito em unidade
de terapia intensiva.
Assim, quando há suspeita, mesmo sem a confir-
mação etiológica, deve-se estratificar o paciente em
124
Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
Suspeita de Dengue
Relato de febre, usualmente entre 2 e 7 dias de duração, e 2 ou mais das seguintes manifestações: náusea, vômitos; exantema;
mialgias, artralgia; cefaleia, dor retro-orbital; petéquias; prova do laço positiva; leucopenia. Também pode ser considerado caso suspeito
toda criança com quadro febril agudo, usualmente entre 2 e 7 dias de duração, e sem foco de infecção aparente.
NÃO SIM
Iniciar hidratação dos pacientes de imediato de acordo com a classificação, enquanto aguarda exames laboratoriais.
Hidratação oral para pacientes do grupo A e B. Hidratação venosa para pacientes dos grupos C e D.
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de exames e reavaliação clínica até estabilização
Condições clínicas especiais e/ou risco social ou comorbidades: lactentes (< 2 anos), gestantes, adultos com idade > 65 anos, com hipertensão arterial
ou outras doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, Dpoc, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica,
doença ácido péptica e doenças autoimunes. Estes pacientes podem apresentar evolução desfavorável e devem ter acompanhamento diferenciado.
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
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W
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
Tratamento
Dipirona e/ou
Conduta do Grupo A
paracetamol Reposição volêmica
+ observação Reposição volêmica
para controle imediata (10mL/kg
clínica imediata (20 mL/kg
dos sintomas de SF na primeira
de SF em até 20 min)
hora) + internamento
+ internamento em
sala de emergência
Hidratação oral
60mL/kg/dia em adultos
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do quadro do quadro
25mL/kg em 6h,
Tratar paciente
posteriormente,
como Grupo D
25 mL/kg em 8h
7.5. C
OAGULOPATIA NOS CASOS hemorrágicos, principalmente ligados à coagulopatia
GRAVES (GRUPOS C E D) de consumo.
127
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
u Diminuição do murmúrio vesicular ou outros si- Importante: Nenhuma alteração destas define o
nais de gravidade. diagnóstico etiológico da dengue. O diagnóstico é
u Impossibilidade de seguimento ou retorno à uni- dado pela sorologia com detecção de anticorpos
dade de saúde. contra os sorotipos existentes.
u Comorbidades descompensadas como diabetes
mellitus, hipertensão arterial, insuficiência car- 10.2. ESPECÍFICO – VIROLÓGICO
díaca, uso de dicumarínicos, crise asmática etc.
u Outras situações a critério clínico. Tem por objetivo identificar o patógeno e monitorar
o sorotipo viral circulante. Para realização da técnica
de isolamento viral e reação em cadeia da polimerase
9. CRITÉRIOS DE ALTA HOSPITALAR (PCR), a coleta do sangue deve ser realizada até o
5º dia do início dos sintomas. Raramente utilizado
na prática clínica.
Os pacientes precisam preencher todos os 6 cri-
térios a seguir: Sorológico: a sorologia é utilizada para detecção de
anticorpos antidengue e deve ser solicitada a partir
u Estabilização hemodinâmica durante 48 horas. do 6º dia do início dos sintomas. Importante lembrar
u Ausência de febre por 48 horas. do cruzamento sorológico da dengue com outras
arboviroses como zika e febre amarela(flavivírus).
u Melhora visível do quadro clínico.
u Hematócrito normal e estável por 24 horas. Importante: Se coletada antes do 6º dia, os resul-
tados podem ser falso-negativos.
u Plaquetas em elevação e acima de 50.000/mm3.
O NS1 é a mais recente das ferramentas diagnós-
ticas. Trata-se de um teste qualitativo usado na
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10. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL detecção da antigenemia NS1 da dengue. Tem
valor se colhido até o 3º dia do início dos sintomas;
depois desse período, perde muito em sensibilidade.
10.1. EXAMES INESPECÍFICOS
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
Mialgia ++ +
Artralgia +/- +
Sangramentos ++ -
Choque -/+ -
Leucopenia/trombocitopenia +++ -
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Quadro 4. Dengue x Chikungunya.
Mialgia ++ +
Sangramentos ++ -/+
Choque -/+ -
Plaquetopenia +++ +
Leucopenia +++ ++
Linfopenia ++ +++
Neutropenia +++ +
129
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
12.2. VACINA
12. PREVENÇÃO
A Dengvaxia® foi registrada em 2015 no Brasil, com
alguns problemas definidos em 2017, sendo uma
12.1. CONTROLE DO VETOR
medida controversa e não recomendada em áreas
não endêmicas, pelo risco de desencadear formas
As medidas de controle se restringem ao vetor A.
graves. Trata-se de vacina atenuada, composta pelos
aegypti, pois não há drogas antivirais específicas.
4 sorotipos vivos do vírus dengue, obtidos sepa-
O combate ao vetor, portanto, deve ser o foco das
radamente por tecnologia de DNA recombinante.
ações, envolvendo inspeções domiciliares, elimi-
nação e tratamento de criadouros, associadas a A vacina não está disponível no SUS, apenas na
atividades de educação em saúde e à mobilização rede privada, estando indicada para pacientes com
social, de caráter continuado. A finalidade das ações idade entre 9 e 45 anos. Seu esquema posológico
de rotina é manter a infestação do vetor em níveis consiste em 3 doses subcutâneas com intervalo de
incompatíveis com a transmissão da doença. A 6 meses entre cada dose (0, 6 e 12 meses).
intensificação das ações de controle na vigência de
epidemias deve ocorrer, priorizando a eliminação de
criadouros e o tratamento focal. Além disso, deve DIA A DIA MÉDICO
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componentes de ação: de infecção prévia por dengue, e a atualização da bula
permite que a vacina seja direcionada para esse grupo,
1) vigilância epidemiológica; que está sob risco de uma nova infecção pela doença,
2) combate ao vetor; podendo ser potencialmente mais grave.
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
ZIKA E CHIKUNGUNYA
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de quadro articular crônico, e a zika, pelos casos língua falada por um grupo que vive no sudeste da Tan-
zânia e norte de Moçambique. Significa “aqueles que se
de microcefalia associados.
dobram”, descrevendo a aparência encurvada de pessoas
A maioria dos casos é benigno e autolimitado, porém que sofrem com a artralgia característica.
essas complicações potencialmente graves vêm
sendo descritas.
O CHIKV foi isolado, inicialmente, na Tanzânia, por
O aspecto mais importante no controle dessas doen- volta de 1952. Desde então, há relatos de surtos em
ças é o combate aos vetores Aedes aegypti e Aedes vários países do mundo. Nas Américas, em outubro
albopictus, os mesmos envolvidos na transmissão de 2013, teve início uma grande epidemia de chikun-
da dengue e da febre amarela urbana. Apesar dos gunya em diversas ilhas do Caribe. Em comunidades
estudos crescentes, ainda não há vacina disponível afetadas recentemente, a característica marcante
e nem antiviral específico para essas doenças. são epidemias com elevadas taxas de ataque, que
variam de 38% a 63%.
No Brasil, a transmissão autóctone foi confirmada
2. CHIKUNGUNYA
no segundo semestre de 2014, primeiramente nos
estados do Amapá e da Bahia. Atualmente, o único
É causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), da família estado do país sem registro de casos autóctones
Togaviridae e do gênero Alphavirus. Essa caracte- é o Rio Grande do Sul.
rística faz com que não haja reação cruzada com A doença é mais grave em pacientes com comor-
os testes diagnósticos de dengue e zika. Além da bidades e nos extremos de idade.
transmissão vetorial, existe transmissão congê-
nita, geralmente no intraparto em pacientes com
alta viremia. Casos transfusionais podem ocorrer,
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
Casos
Assintomáticos Formas típicas
Infecção
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Casos Fase Fase
Fase Aguda
sintomáticos Subaguda Crônica
A fase aguda ou febril da doença é caracterizada quando presente, é, em geral, de intensidade leve
principalmente por febre de início súbito e sur- a moderada.
gimento de intensa poliartralgia, quase sempre
Na fase subaguda, a febre normalmente desaparece,
acompanhada de dores nas costas, rash cutâneo
podendo haver persistência ou agravamento da
(presente em mais de 50% dos casos) cefaleia e
artralgia, incluindo poliartrite distal, exacerbação da
fadiga, com duração média de 7 dias.
dor articular nas regiões previamente acometidas
A poliartralgia tem sido descrita em mais de 90% na primeira fase e tenossinovite hipertrófica suba-
dos pacientes com chikungunya na fase aguda. guda em mãos, mais frequentemente em falanges,
Essa dor normalmente é poliarticular, bilateral e punhos e tornozelos. Síndrome do túnel do carpo
simétrica, mas pode haver assimetria. Acomete pode ocorrer como consequência da tenossino-
grandes e pequenas articulações e abrange, com vite hipertrófica (sendo muito constante nas fases
maior frequência, as regiões mais distais. Pode subaguda e crônica). O comprometimento articular
haver edema, e este, quando presente, normalmente costuma ser acompanhado por edema de intensi-
está associado à tenossinovite. Na fase aguda tam- dade variável. Há relatos de recorrência da febre.
bém tem sido observada dor ligamentar. A mialgia,
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
Quando a duração dos sintomas persiste além dos e monoarticular. Também há relatos de dores nas
3 meses, atinge a fase crônica. Nesta fase, algumas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical. Ocasio-
manifestações clínicas podem variar de acordo com nalmente, articulações incomuns, como temporo-
o sexo e a idade. Exantema, vômitos, sangramento mandibulares (dor à movimentação mandibular) e
e úlceras orais parecem estar mais associados ao esternoclaviculares, são acometidas. Em frequência
sexo feminino. Dor articular, edema e maior duração razoável, são vistas manifestações decorrentes da
da febre são mais prevalentes quanto maior a idade síndrome do túnel do carpo, tais como dormência
do paciente. e formigamento das áreas inervadas pelo nervo
mediano. Alguns pacientes poderão evoluir com
O sintoma mais comum nesta fase crônica é o
artropatia destrutiva semelhante à artrite psoriática
acometimento articular persistente ou recidivante
ou à reumatoide.
nas mesmas articulações atingidas durante a fase
aguda, caracterizado por dor com ou sem edema, Alguns trabalhos descrevem que essa fase pode
limitação de movimento, deformidade e ausên- durar até 3 anos, outros descrevem casos com até
cia de eritema. Normalmente, o acometimento é 6 anos de duração.
poliarticular e simétrico, mas pode ser assimétrico
Fluxograma 2. Clínica
Quadro clínico
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Fase aguda Fase subaguda Fase crônica
133
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
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retornar ao PS em caso de persistência da febre ficiência cardíaca, alcoolismo, doenças reumatoló-
por mais de 5 dias e aparecimento de sinais de gicas, anemia falciforme, talassemia e hipertensão
arterial sistêmica), crianças, pacientes com idade
gravidade dos danos articulares.
acima de 65 anos, e aqueles que estão em uso
Os pacientes de grupo de risco (gestantes, pacien- de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e
tes com comorbidades, idosos e menores de 2 paracetamol em altas doses). As manifestações
anos de idade) também devem ser acompanhados atípicas e os cofatores listados anteriormente estão
associados ao maior risco de evolução para óbito.
O acometimento articular na chikungunya, nas suas devendo ser efetivo desde os primeiros dias de
diferentes fases, pode causar importante incapaci- sintomas.
dade física, impactando de forma significativa na
A prevalência da fase crônica é muito variável entre
qualidade de vida dos pacientes. A incapacidade
os estudos, podendo atingir mais da metade dos
pode atingir uma faixa etária economicamente ativa,
pacientes. Os principais fatores de risco para a
ampliando ainda mais a magnitude do problema
cronificação são: idade acima de 45 anos, signi-
para a população atingida.
ficativamente maior no sexo feminino, desordem
O tratamento da dor envolve todas as fases da doen- articular preexistente e maior intensidade das lesões
ça, e não apenas as fases subagudas e crônicas, articulares na fase aguda.
Tratamento
AINEs e corticoide
Hidroxicloroquina associada
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Controle dos sintomas com
paracetamol e dipirona ou ou não à sulfassalazina
codeína se necessário.
Asssociar amitriptilina ou
gabapentina se dor neuropática
2.4. COMPLICAÇÕES
DIA A DIA MÉDICO
135
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
franca regressão; 2) aqueles cujo quadro clínico se Outra estratégia para confirmação sorológica é a
mantém inalterado, em que os sinais e sintomas sorologia pareada. Nesse caso, 2 amostras devem
persistem praticamente na mesma intensidade da ser coletadas, a primeira na fase aguda da doença
fase subaguda; e 3) um grupo menor de doentes, e a segunda aproximadamente 15 dias após a pri-
nos quais se observa o aumento da intensidade meira. O aumento de 4 vezes no título dos anticorpos
das manifestações inflamatórias e dolorosas. Para demonstra a reatividade específica.
os 2 últimos grupos, o diagnóstico laboratorial
Por ser da família Togaviridae, diferente da dengue
para comprovação da infecção pelo CHIKV deve
e zika, que são da família Flavivírus, a sorologia não
ser solicitado, o que será realizado por meio da
tem cruzamento entre os principais diagnósticos
sorologia. Não é necessário repetir o exame caso
diferenciais.
já exista o diagnóstico laboratorial confirmatório na
primeira fase da doença. É importante o diagnós-
tico diferencial com outras doenças que causam
DIA A DIA MÉDICO
acometimento articular.
Mães que adquirem chikungunya no período intra- Os achados laboratoriais são bem inespecíficos, e o
parto podem transmitir o vírus a recém-nascidos quadro clínico é bem parecido com outras arboviroses.
por via transplacentária ou transmissão perinatal. Neste cenário, não será incomum solicitar sorologias para
dengue, zika e chikungunya, todas ao mesmo tempo, para
A taxa de transmissão, nesse período, pode chegar
chegar ao diagnóstico definitivo (e demorar muito tempo
a aproximadamente 50%, e cerca de 90% podem para saber os resultados).
evoluir para formas graves. Não há evidências de
que a cesariana altere o risco de transmissão. O
vírus não é transmitido pelo aleitamento materno.
Não há descrição de malformações associadas. 2.6. TRATAMENTO
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2.5. DIAGNÓSTICO Não há tratamento antiviral disponível, então o tra-
tamento é apenas com sintomáticos, hidratação e
As alterações laboratoriais de chikungunya, durante suporte clínico. Após a fase aguda, a minoria dos
a fase aguda, são inespecíficas. Leucopenia com pacientes que evoluírem com quadro crônico pre-
linfopenia menor que 1.000 células/mm3 é a obser- cisará de manejo da situação.
vação mais frequente. A trombocitopenia inferior a Na fase aguda, os pacientes que apresentam sinais
100.000 células/mm3 é rara. VHS e a PCR encon- de gravidade ou critérios de internação (neonatos)
tram-se geralmente elevados, podendo permanecer devem ser acompanhados em unidades com leitos
assim por algumas semanas. Outras alterações de internação. Para pacientes com instabilidade
podem ser detectadas, como elevação discreta das hemodinâmica, é necessário avaliar as funções renal,
enzimas hepáticas, da creatinina e da creatinofosfo- hepática e cardíaca, os sinais e os sintomas neuro-
quinase (CPK). Todavia, são achados muito inespe- lógicos, a hemoconcentração e a trombocitopenia
cíficos e podem aparecer em qualquer arbovirose. e, se necessário, iniciar, de imediato, a terapia de
reposição de volume e tratar as complicações, con-
Não há relatos de infecção secundária, pelo fato de forme o quadro clínico. Para alta desses pacientes,
o vírus apresentar um único sorotipo. é necessária a melhora do estado geral, aceitação
Do período de incubação até o fim da viremia, é de hidratação oral, ausência de sinais de gravidade
e melhora dos parâmetros laboratoriais.
possível fazer o diagnóstico laboratorial a partir de
PCR-RNA e de cultura do vírus, porém são formas O tratamento das complicações articulares é seme-
dispendiosas do ponto de vista de saúde pública. lhante ao de algumas doenças reumatológicas, com
Entre o 5º e 7º dias, já pode ser feito diagnóstico o uso de analgésicos, anti-inflamatórios não este-
sorológico (pesquisa de IgM e IgG), mas, em geral, roidais, corticoide, hidroxicloroquina, metotrexato
esse diagnóstico confirmatório é tardio. e sulfassalazina.
136
Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
É causada pelo vírus Zika, um vírus RNA da famí- 3.1. QUADRO CLÍNICO
lia Flaviviridae, a mesma do vírus da dengue e da
hepatite C.
BASES DA MEDICINA
Desde 2014, casos de circulação do vírus Zika foram
detectados no continente americano.
Esse vírus possui o que chamamos de “neurotropismo”,
No Brasil, casos de doença exantemática têm sido
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ou seja, é um vírus que gosta do tecido nervoso, o que
reportados desde o final de 2014 e, no começo do pode levar a uma série de complicações graves, sendo as
ano de 2015, pacientes da cidade de Natal, estado de mais comuns: a) Síndrome de Guillain-Barré, uma doença
desmielinizante que cursa com dor e fraqueza muscular
Rio Grande do Norte, apresentaram sintomas com-
progressiva, além de perdas motoras e paralisia flácida;
patíveis com a febre da dengue. Nesse mesmo ano, e b) microcefalia, que é uma má-formação do sistema
foram identificados os primeiros casos do vírus Zika nervoso central devido ao ataque do vírus a células ainda
em amostras de soro de pacientes dessa cidade. em fase de migração e diferenciação, de modo que a
criança se apresenta com redução do perímetro cefálico,
Houve grande número de casos, sendo o país res- além de comprometimento neuropsicomotor significativo.
ponsável por grande número de publicações rela-
cionadas, visto que os casos da África e Ásia não
haviam sido muito estudados. O período de incubação em mosquitos é cerca de
10 dias e, no homem, de 3 a 6 dias. Os hospedei-
A principal forma de transmissão é vetorial, pelos
ros vertebrados do vírus incluem macacos e seres
mosquitos do gênero Aedes, de forma semelhante à
humanos.
dengue e à chikungunya. Não obstante, o que chama
atenção no zika vírus é a transmissão congênita, O quadro clínico é semelhante ao de outras arbovi-
responsável pelo aumento do número de casos de roses, entretanto chama atenção o fato de a febre
microcefalia no Brasil desde o aparecimento da ser baixa – diferentemente da febre da dengue e da
doença no país. Foram registradas transmissões chikungunya – e, na maior parte dos casos (>80%),
sexual e transfusional do vírus Zika. ser acompanhada de hiperemia conjuntival, ademais
de exantema (que pode ou não ser pruriginoso),
Em 2019, consoante dados do Ministério da Saúde,
que, ao contrário das outras arboviroses, pode ser
foram notificados 10.715 casos prováveis (taxa de
intenso. Assim, há grande semelhança clínica com
incidência de 5,1 casos por 100 mil habitantes) de
essas doenças.
infecções pelo vírus Zika no país. A região Nordeste
137
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
Com menos frequência, há dor retro-orbital, anorexia, Na prova, o diagnóstico diferencial de dengue,
vômitos, diarreia e dor abdominal, aftas. Astenia chikugunya e zika pode ser facilitado por palavras-
pós-infecção é frequente. Os sintomas desaparecem -chave no texto. Quando se falar de mialgia e dor
em até 7 dias. A dor articular pode estar presente retro-orbitária, pense em dengue; quando forem
até 1 mês antes do início da doença; a artralgia não mencionadas fortes dores articulares – ou mesmo
é tão intensa como a que ocorre em chikungunya e artrite –, pense em chikungunya; quando se falar de
não apresenta a mesma cronicidade característica hiperemia conjuntival e exantema, pense em Zika.
desta. Em alguns pacientes, pode ocorrer hema- No entanto, tome cuidado para não confundir as
toespermia. arboviroses com sarampo e com outros diferenciais.
Mialgia ++ + +
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Exantema + ++ ++++
Sangramento ++ +/- -
Choque +/- - -
Leucopenia +++ ++ -
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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ao Zika foram inicialmente descritos na Polinésia 3.4. TRATAMENTO
Francesa, em 2013, com relatos de SGB surgidos
depois da epidemia, porém sem isolamento do vírus. O tratamento é baseado no uso de acetaminofeno
Com a confirmação do surto de Zika no Nordeste (paracetamol) ou dipirona para o controle da febre
do Brasil, a partir de abril de 2015, foi percebido e o manejo da dor. No caso de erupções prurigino-
aumento de casos neurológicos na Bahia, Pernam- sas, os anti-histamínicos podem ser considerados.
buco e Rio Grande do Norte. Ocorreram descrições Contudo, é desaconselhável o uso ou a indicação de
de casos confirmados de encefalomielite disse- ácido acetilsalicílico e outras drogas anti-inflama-
minada aguda (Adem), neurite óptica, encefalites tórias devido ao risco aumentado de complicações
e meningite com PCR positivo para vírus Zika em hemorrágicas, descritas nas infecções por síndrome
LCR nessas situações. hemorrágica, como ocorre com outros flavivírus
A outra complicação importante da infecção do (embora com frequência bem menor que em outras
vírus Zika é a sua forma congênita, que evolui prin- arboviroses). Existe uma vacina em fase III e algumas
cipalmente com microcefalia e abortamento, sendo drogas em estudo, mesmo assim, ainda não foram
descrito pela primeira vez no Brasil. Os detalhes da aprovadas para uso clínico.
forma congênita foram descritos por pesquisadores
brasileiros, e as repercussões clínicas dessa forma
ainda estão sendo estudadas.
A possível associação entre o vírus Zika e os casos
de microcefalia deu-se a partir do achado necros-
cópico de forte concentração de material viral no
tecido nervoso de natimortos acometidos pela
microcefalia nas regiões afetadas.
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
Mapa mental
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de gravidade e condutas
Raras manifestações de
sangramentos e hemoconcentração
Zika
Neurotropismo: caso de Síndrome
de Guillain Barré descritos
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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trizes para Prevenção e Controle das Arboviroses Urbanas
no Estado de São Paulo. 2017.
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 ⮧ Grupo B.
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sexto dia de doença.
internação
⮨ a sorologia deve ser solicitada até o quinto dia
⮨ Hidratação venosa e acompanhamento em leito da doença.
de emergência
⮩ o anticorpo IgG pode ser detectado precocemen-
⮩ Hidratação venosa e acompanhamento em leito te na infecção secundária.
de internação
Questão 4
Questão 2
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FAMEMA - 2021) Um paciente
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - 2021) Pacien- do sexo masculino com 25 anos de idade procura
te do sexo feminino, 33 anos, sem comorbidades, uma UPA apresentando há 3 dias quadro agudo de
iniciou há 5 dias quadro febril, com cefaleia, mialgia febre de 40 ºC associada a cefaleia, mialgia e pros-
e artralgias. Nesse período, iniciou vômitos, dor ab- tração. O exame físico mostra petéquias localizadas
dominal e epistaxe. Procurou Pronto Atendimento esparsamente em membros superiores. O resulta-
Médico e foi avaliada, apresentando-se consciente, do da pesquisa sorológica para dengue mostra-se
orientada, normotensa, diurese pouco concentrada. positiva. Nesse caso clínico, o diagnóstico é de
Exantema presente em todo o corpo. Por residir em
área endêmica, com casos de dengue em elevação, ⮦ caso suspeito de dengue.
foi considerado o diagnóstico clínico e epidemioló- ⮧ dengue clássico.
gico. De acordo com os dados apresentados, em
⮨ febre hemorrágica da dengue.
qual classificação de risco a paciente se encontra?
⮩ dengue na fase pré-choque.
⮦ Grupo A.
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
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com dengue grave exige manejo específico dado para o caso descrito.
seu potencial de desfecho desfavorável. Conside-
re um homem adulto, diagnosticado com dengue, ⮦ Artrite gonocócica.
atualmente no 3º dia de início dos sintomas. A al- ⮧ Artrite reumatoide.
ternativa que contém um achado que sugere den- ⮨ Artrite reativa.
gue grave é: ⮩ Chikungunya.
⮦ oligúria.
⮧ hematócrito 40%. Questão 9
⮨ cefaleia persistente.
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO
⮩ plaquetas 118.000 mm³. - 2021) Paciente com 30 anos procura o ambulatório
⮪ idade maior que 65 anos. com um quadro de artrite com forte suspeita diag-
nostica de Chikungunya. As manifestações articula-
res que são observadas na febre Chikungunya têm
Questão 7
as características citadas abaixo, EXCETO:
(REVALIDA - 2021) Um escolar de 7 anos de idade, de
⮦ O início dos sintomas articulares ocorre 1 a 2
sexo masculino, é admitido no pronto atendimen-
dias antes do início da febre
to com queixa de febre há 5 dias, acompanhada
de cefaleia, dor retro-orbital, mialgia, prostração ⮧ A presença de dor articular sem edema ou ri-
e anorexia. Hoje, houve aparecimento de exante- gidez foi associada à maior probabilidade de
ma maculopapular pruriginoso por todo corpo. Foi recuperação
realizada Prova do Laço com presença de 15 pe-
téquias no local examinado. Pesquisa de antígeno
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Dengue, zika e chikungunya Infectologia
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Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
GABARITO E COMENTÁRIOS
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eletrólitos, gasometria, TPAE e ecocardiograma) e • Vômitos persistentes.
da sorologia/isolamento viral. O gabarito da banca • Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural,
recomendava hidratação oral, porém as recomen- derrame pericárdico).
dações do MS são de reposição volêmica com 10 • Hipotensão postural e/ou lipotimia.
mL/kg de soro fisiológico EV em 1-2h para todo • Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do
paciente com dengue do grupo C. rebordo costal.
✔ resposta: D • Sangramento de mucosa.
• Letargia e/ou irritabilidade.
Questão 2 dificuldade: • Aumento progressivo do hematócrito.
Y Dica do professor: Questão que traz paciente febril, A paciente pertence ao grupo C, devido ao relato
com mialgia e cefaleia. Trata-se de uma apresenta- de sangramento de mucosas (epistaxe). Vale lem-
ção sugestiva de dengue, que compõe as arboviro- brar que o grupo A não tem prova do laço positiva
ses, infecções virais transmitidas por artrópodes. ou comorbidades (ambos caracterizam o grupo
No Brasil, são representadas majoritariamente pela B), não tem sinais de alarme (grupo C) ou choque
dengue, que circula no país há mais de um século, (grupo D). A prova do laço deve ser realizada em
e pela Chikungunya e Zika, que foram introduzidas todos os pacientes sem sangramento espontâneo
no país há poucos anos. Têm quadro clínico mui- e, se positiva, classifica o paciente como grupo B
to similar, na fase aguda, e seguem curso clínico (recebe hidratação oral e é reavaliado diariamente),
diferente: a Chikungunya pode causar artralgia se não houver sinais de alerta que o classifiquem
crônica, enquanto a Zika pode causar comprome- como grupo C ou choque (grupo D). Ela é feita da
timento neurológico (Síndrome de Guillain-Barré, seguinte forma: um manguito é inflado até a pressão
Zika congênita). Vale ressaltar que alguns sinais e de (PAS+PAD)/2 por 5 min em adultos e 3 min em
crianças. Após isso, é delimitado um quadrado com
145
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
2,5 cm de lado no antebraço. É positiva se >= 20 14 dias para área com ocorrência de transmissão
petéquias em adultos e >= 10 em crianças. de dengue (ou presença de Ae. aegypti). Deve apre-
✔ resposta: C sentar febre, usualmente entre dois e sete dias, e
duas ou mais das seguintes manifestações: Náu-
sea, vômitos; Exantema; Mialgias, artralgia; Cefaleia,
Questão 3 dificuldade: dor retro-orbital; Petéquias; Prova do laço positiva;
Leucopenia. Também pode ser considerado caso
Y Dica do professor: A dengue é uma doença causada
suspeito toda criança proveniente de ou residente
por um arbovírus, do gênero Flavovírus, comum em
em uma área com transmissão de dengue, com
países subtropicais, como o Brasil. São conhecidos
quadro febril agudo, usualmente entre dois e sete
quatro sorotipos dessa doença: 1, 2, 3 e 4. A trans-
dias, e sem foco de infecção aparente. Caso confir-
missão ocorre pelo mosquito hematófago Aedes
mado: É todo caso suspeito de dengue confirmado
aegypti através do contato com sangue infectado
laboratorialmente (sorologia IgM, NS1teste rápido
de algum indivíduo. A realidade da transmissão da
ou ELISA, isolamento viral, PCR, imuno-histoquí-
dengue revela as práticas sociais e ambientais da
mica). No curso de uma epidemia, a confirmação
população, além da vigilância dos setores epidemio-
pode ser feita por meio de critério clínico-epide-
lógicos, sanitários e educacionais. Clinicamente, a
miológico, exceto nos primeiros casos da área,
dengue se manifesta através de febre alta, manchas
que deverão ter confirmação laboratorial. Os casos
vermelhas pelo corpo, dor retro-orbitária, mialgia,
graves devem ser preferencialmente confirmados
fadiga, náuseas, vômitos e hepatomegalia dolorosa.
por laboratório (sorologia IgM, NS1 teste rápido ou
Alternativa A: INCORRETA. O exame laboratorial de ELISA, isolamento viral, PCR, imuno-histoquímica).
dengue NS1 é um ensaio cromatográfico rápido Na impossibilidade de realização de confirmação
para detecção qualitativa do antígeno NS1 do vírus laboratorial específica, considerar confirmação por
da dengue em amostras de sangue. vínculo epidemiológico com um caso confirmado
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Alternativa B: INCORRETA. É o método mais especí- laboratorialmente.
fico para detecção do sorotipo do vírus da dengue Alternativa A: INCORRETA. Não é um caso suspeito
responsável pela infecção. A coleta de sangue deve porque já tem a confirmação com um teste soro-
ser feita em condições de assepsia, de preferência lógico positivo.
no terceiro ou quarto dia do início dos sintomas.
Alternativa B: CORRETA. É um caso de dengue clás-
Alternativa C: INCORRETA. Os testes sorológicos sica, com todos os comemorativos clínicos asso-
complementam o isolamento do vírus e a coleta ciado a uma sorologia positiva.
de amostras de sangue deve ser realizada após o
Alternativa C: INCORRETA. Não há critérios de dengue
sexto dia da doença.
hemorrágica (atual classificação dengue grupo C
Alternativa D: CORRETA. Os anticorpos da classe IgG e D) do MS.
podem ser detectados a partir do 9º dia na infecção
Alternativa D: INCORRETA. O paciente não se encon-
primária e já estar detectável desde o primeiro dia
tra numa fase pré-choque nesse caso.
nas infecções secundárias.
resposta: B
resposta: D
✔
✔
Questão 5 dificuldade:
Questão 4 dificuldade:
Y Dica do professor: Antes que ocorra o agravamento
Y Dica do professor: Questão avaliando um quadro
da dengue, alguns sinais de alarme podem surgir.
febril miálgico com teste sorológico positivo para
Por meio destes sinais se tem conseguido identifi-
dengue. Importante conhecer as definições de caso
car os pacientes que podem evoluir para uma for-
suspeito e de caso confirmado. Definição de caso
ma grave da doença, com a intenção de prevenir
suspeito: Pessoa que viva em área onde se registram
gravidade e reduzir a mortalidade por dengue. Os
casos de dengue, ou que tenha viajado nos últimos
146
Dengue, zika e chikungunya Cap. 3
sinais de alarme devem ser rotineiramente pesqui- abaixo de 20 mil, que indicam internação e reposi-
sados e valorizados, bem como os pacientes devem ção de concentrado de plaquetas.
ser orientados a procurar a assistência médica na Alternativa D: INCORRETA. Pacientes idosos, mesmo
ocorrência deles. A maioria dos sinais de alarme é sem sinais de alarme, se enquadram em pacientes
resultante do aumento da permeabilidade vascular, com condição especial, enquadrando-os no grupo B.
a qual marca o início do deterioramento clínico do
Alternativa E: CORRETA. Exato. Além do controle sinto-
paciente e sua possível evolução para o choque por
mático e evitar complicações, aumenta a sobrevida.
extravasamento de plasma. São sinais de alarme:
dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e ✔ resposta: A
contínua; vômitos persistentes; acúmulo de líqui-
dos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico); dificuldade:
Questão 7
hipotensão postural e/ou lipotimia; hepatomegalia
maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal; san- Y Dica do professor: Questão clássica da banca do
gramento de mucosa; letargia e/ou irritabilidade; REVALIDA avaliando o conhecimento do candidato
aumento progressivo do hematócrito. As formas sobre a classificação do MS a respeito da dengue
graves da doença podem manifestar-se com ex- e as condutas relacionadas a essa norma. Nesse
travasamento de plasma, levando ao choque ou caso, temos um escolar com febre há 5 dias, acom-
acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, panhada de cefaleia, dor retro-orbital, mialgia e rash
sangramento grave ou sinais de disfunção orgânica maculopapular, com prova do laço positiva e NS1
como o coração, os pulmões, os rins, o fígado e o positiva. Não apresenta nenhum sinal de alerta
sistema nervoso central (SNC). As petéquias cor- (prova do laço é um sinal de sangramento induzido).
respondem ao sangramento espontâneo da pele e Assim, a classificação é do grupo B, cujas carac-
podem estar presentes no quadro de dengue, mas terísticas e condutas são: caso suspeito/confirma-
não são indicativas de gravidade. do de dengue, ausência de sinais de alarme, com
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✔ resposta: D sangramentos espontâneos de pele (petéquias)
ou induzido (prova do laço positiva) ou que tenha
condições clínicas especiais e/ou de risco social ou
Questão 6 dificuldade: comorbidades. A conduta nesse grupo é: solicitar
exames complementares:
Y Dica do professor: A estratificação de gravidade,
a dengue se divide em quatro grupos: A, B, C e D. O • Hemograma completo, obrigatório para todos
grupo D representa a dengue grave e é caracteriza- os pacientes;
da por sangramento grave, disfunção orgânica ou • Colher amostra no momento do atendimento.
sinais de choque, como: taquicardia; extremidades
✔ resposta: C
frias, pulso fraco e filiforme, tempo de enchimen-
to capilar aumentado, PA convergente, taquipneia,
oligúria, hipotensão arterial, cianose e insuficiência Questão 8 dificuldade:
respiratória.
Y Dica do professor: Quadro clínico de febre associa-
Alternativa A: CORRETA. A oligúria é um dos sinais
da a exantema com artralgia difusa, que permane-
mais precoces de choque e caracteriza dengue
ce em mãos e pés após quatro semanas, deve nos
grave (grupo D).
fazer pensar em Chikungunya. O Chikungunya é um
Alternativa B: INCORRETA. A cefaleia persistente não arbovírus de RNA fita única pertencente ao gênero
constitui nem como sinal de alarme ou sinal de gra- Alphavirus, da família Togaviridae.
vidade da dengue.
Alternativa A: INCORRETA. Na artrite gonocócica o
Alternativa C: INCORRETA. Plaquetopenia por si só paciente abre o quadro com manifestações sis-
não constitui sinal de alarme ou gravidade, mas têmicas de febre alta, calafrios e lesões de pele,
sim uma queda abrupta ou plaquetopenia cursando acompanhadas de envolvimento poliarticular. As
com sangramentos. A exceção se dá para valores
147
Dengue, zika e chikungunya Infectologia
lesões cutâneas ocorrem em 75% dos casos e têm É um dos quadros de acometimento articular com
preferência pelas extremidades, especialmente as o caráter mais intenso, sendo chamado de Artrite
mãos, apresentando-se como pústulas ou vesículas Explosiva também.
indolores, com base eritematosa, frequentemente Alternativa A: INCORRETA. O início dos sintomas ar-
com centros necróticos ou hemorrágicos. ticulares ocorre 1 a 2 dias antes do início da febre.
Alternativa B: INCORRETA. A artrite reumatoide é doen- A febre é de início súbito sendo concomitante ao
ça progressiva e seu curso é tipicamente intermiten- quadro articular.
te, marcado por períodos de remissão e atividade. Alternativa B: CORRETA. A presença de dor articular
Outra característica é que AR geralmente assume sem edema ou rigidez foi associada a maior pro-
a sua forma clássica, caracterizada por artrite si- babilidade de recuperação.
métrica de pequenas articulações das mãos e dos Alternativa C: CORRETA. Acomete grandes e peque-
punhos. Outro diferencial é que a doença tende a nas articulações e abrange com maior frequência
preservar as interfalangianas distais e as pequenas as regiões mais distais.
articulações dos pés.
Alternativa D: CORRETA. Os principais fatores de risco
Alternativa C: INCORRETA. A artrite reativa costuma para a cronificação são: idade acima de 45 anos,
cursar com um quadro de oligoartrite assimétrica significativamente maior no sexo feminino, doen-
de grandes articulações dos membros inferiores, ça articular preexistente e maior intensidade das
predominando em pacientes mais velhos e sendo lesões articulares na fase aguda.
geralmente precedida por uma infecção venérea
Alternativa E: CORRETA. A poliartralgia tem sido des-
(por Chlamydia trachomatis) ou gastrointestinal (por
crita em mais de 90% dos pacientes com chikun-
uma série de patógenos diferentes, como Shigella,
gunya na fase aguda. Essa dor normalmente é po-
Salmonella, Campylobacter e Yersinia).
liarticular, bilateral e simétrica.
Alternativa D: CORRETA. A fase aguda é marcada
✔ resposta: A
pelo início abrupto de febre alta de até 40º C, que
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dura no máximo dez dias. Por volta do 2º ao 5º
dia, sobrevém um quadro de intensa poliartralgia,
que predomina em mãos, punhos e tornozelos.
O acometimento tende a ser simétrico e distal, e
em 30-50% das vezes o esqueleto axial também é
envolvido. O exame físico costuma revelar edema
periarticular, sendo os derrames sinoviais volumo-
sos menos frequentes. A dor articular associada à
chikungunya pode ser intensa e até incapacitante.
Queixas gastrointestinais e linfadenopatia são ou-
tras manifestações que podem ser encontradas.
✔ resposta: D
Questão 9 dificuldade:
148
HEPATOESPLENOMEGALIAS Capítulo
INFECCIOSAS CRÔNICAS 4
importância/prevalência
u Sobre Esquistossomose
• É causada por um platelminto, Schistosoma mansoni, sendo uma doença endêmica em algumas regiões
do Brasil, principalmente nos estados de Minas Gerais e Bahia (lagoas de “coceira”).
• É uma das doenças infecciosas mais negligenciadas; há uma grande quantidade de pessoas com seque-
las de esquistossomose em nosso país. Estima-se uma prevalência de infestação por S. mansoni em
10 a 12 milhões de casos distribuídos em diversos estados ao longo de quase toda a costa litorânea.
• O homem é o hospedeiro definitivo da doença e se infecta através do contato com água contaminada
por cercárias, forma do parasita eliminada pelo hospedeiro intermediário, caramujos do gênero Biom-
phalaria. As cercárias penetram através da pele ou mucosas e ganham a corrente sanguínea, atingindo
o sistema porta, onde se desenvolvem e atingem a forma adulta. Posteriormente, ocorre a formação de
ovos, que são eliminados nas fezes, dando continuidade ao ciclo.
• A patogenia da esquistossomose da forma crônica se dá a partir de uma reação inflamatória granulo-
matosa ao redor dos ovos retidos na mucosa intestinal e nos capilares do sistema porta do hospedeiro,
gerando, assim, uma consequente fibrose e elevação da pressão no sistema porta, bem como todas as
complicações decorrentes da hipertensão portal.
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• A doença pode se apresentar sob a forma aguda ou crônica, sendo que esta, além de mais comum, ainda
se divide em 3 formas clínicas: a intestinal, a hepatointestinal e a hepatoesplênica.
• Na fase aguda pode-se ter a dermatite cercariana, com febre, prurido em MMII e eosinofilia (febre de
Katayama).
• As complicações da esquistossomose são decorrentes, basicamente, da hipertensão no sistema porta
quando este não consegue compensar o aumento da pressão.
• O diagnóstico é feito pela pesquisa de ovos nas fezes (Técnica Kato-Katz) e, mais recentemente, por
meio de provas de biologia molecular nas fezes (PCR).
• O tratamento se faz com praziquantel ou oxamniquine, necessitando de controle de PPF após o tratamento.
u Sobre Leishmaniose visceral
• As principais etiologias infecciosas de quadros de hepatoesplenomegalias febris, no Brasil, são a leishma-
niose visceral e a esquistossomose.
• A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença endêmica em algumas áreas
do Brasil, de notificação compulsória.
• Agente: Leishmania chagasi/. Vetores: flebótomos (Lutzomyia longipalpis). Reservatórios principais na
área urbana: cães.
• Trata-se de uma zoonose com caráter eminentemente rural e que agora vem se expandindo pelas zonas
urbanas, transformando-se em um grave problema de saúde pública. Possui um risco aumentado em
crianças menores de 5 anos e tem maior incidência nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
• O agente é transmitido ao hospedeiro a partir da picada do vetor (fêmea) e se replica no interior de
macrófagos, promovendo o rompimento destes e disseminando a forma promastigota do agente.
• Existe uma invasão de células do sistema reticuloendotelial (fígado e baço) pela forma amastigota do
agente, gerando clínica caracterizada por hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, pancitopenia, febre,
perda ponderal, hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia.
149
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
• A hepatoesplenomegalia febril, em nosso país, deve levantar a hipótese diagnóstica de calazar, que
deve ser confirmada por meio de pesquisa direta do agente a partir de aspirado de medula óssea ou
punção esplênica. Os testes sorológicos, como imunofluorescência indireta ou ELISA, podem ser úteis
no diagnóstico final. Recentemente, vêm ganhando espaço testes rápidos imunocromatográficos para
o diagnóstico de Leishmaniose (rK32).
• O padrão-ouro para diagnóstico é a cultura da Leishmania em meio NNN.
• O tratamento é feito com antimonial pentavalente (Glucantime), que tem possíveis efeitos cardiotóxicos
(prolongamento do intervalo QT), ou anfotericina B (lipossomal ou desoxicolato), sendo a formulação
lipossomal a primeira linha terapêutica, especialmente em pacientes graves.
ESQUISTOSSOMOSE
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extensão do território nacional. É considerada, ainda,
vermes do gênero Schistosoma, que têm como um grave problema de saúde pública, já que aco-
hospedeiros intermediários caramujos de água mete milhões de pessoas, provocando um número
doce do gênero Biomphalaria. expressivo de formas graves e óbitos. Infelizmente,
Pode evoluir desde formas assintomáticas até for- é uma das doenças “negligenciadas”, com pouco
mas clínicas extremamente graves, decorrentes destaque nas políticas de saúde.
principalmente das complicações da hipertensão No Brasil, é considerada uma endemia, que atinge
do sistema porta e da migração e resposta imune quase 20 estados. Está presente, de forma endê-
aos ovos do parasita. mica, do Maranhão até Minas Gerais, com focos no
O S. mansoni é o platelminto agente da esquistos- Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
somose que parasita tanto o homem, hospedeiro Catarina, Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul,
definitivo, quanto moluscos, hospedeiros interme- estimando-se que cerca de 6 milhões de pessoas
diários. No homem, o parasita apresenta-se na estejam infectadas com S. mansoni e 25 milhões
forma adulta, reproduzindo-se sexuadamente e em risco de contrair a doença. Cerca de 70% dos
possibilitando a eliminação dos ovos do S. mansoni casos estão concentrados nos estados de Minas
no ambiente através das fezes, ocasionando, assim, Gerais e Bahia (Figura 1).
a contaminação das coleções hídricas.
150
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
Figura 1. Distribuição da esquistossomose, de acordo com a faixa de positividade, por município (Brasil, 2010-2015).
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e S. japonicum. O S. mansoni é a única espécie do
DIA A DIA MÉDICO
gênero Schistosoma descrita no Brasil, em virtude
da inexistência de moluscos suscetíveis aos demais
Nos últimos 50 anos, houve uma mudança em sua distri-
helmintos (Figura 2).
buição geográfica e, mesmo com programas de controle
bem-sucedidos, o número de pessoas infectadas ou sob
risco de contrair a doença não foi reduzido. O acometi-
u Schistosoma mansoni (África e América do Sul).
mento é mais frequente em localidades com deficiência u Schistosoma japonicum (Extremo Oriente e Pa-
de saneamento básico, o que obriga indivíduos de baixo cífico Ocidental).
poder aquisitivo a terem uma vida insalubre pela falta de
escolha e disponibilidade de fontes de águas seguras para
u Schistosoma haematobium (África, Bacia do Me-
fins recreativos, domésticos ou profissionais. diterrâneo e Oriente Médio).
2. AGENTE ETIOLÓGICO
E CICLO DE VIDA
151
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
Figura 2. Micrografia eletrônica de um par vários anos. As fêmeas maduras passam a depositar
macho/fêmea de esquistossomos adultos. ovos, que, ao saírem do hospedeiro vertebrado atra-
vés das fezes, liberam miracídios, os quais infectam
o hospedeiro invertebrado. Grande parte dos ovos
é eliminada junto às fezes. Contudo, ovos ainda
ficam retidos na mucosa intestinal e nos capilares
do sistema porta do hospedeiro, e desencadeiam
uma reação inflamatória granulomatosa. Esta reação
que se forma ao redor dos ovos é a principal causa
da patogenia da esquistossomose.
A reação granulomatosa resulta em fibrose de teci-
dos, que pode evoluir para a obstrução do plexo
venoso, sendo capaz de levar à hipertensão portal,
hepatomegalia, esplenomegalia, aumento do volume
Fonte: Acervo Sanar. abdominal (representado por ascite) e formação de
varizes esofagianas e hemorroidais.
A transmissão da doença para o homem ocorre pelo
Em síntese, a infecção esquistossomótica refere-se
seu contato com águas em que existem moluscos
à penetração, ao desenvolvimento e à reprodução
do gênero Biomphalaria (hospedeiros intermediá-
de Schistosoma, com eliminação dos seus ovos.
rios) infectados pelo Schistosoma. Em contato com
Enquanto a doença, representa os danos causados
a água, os moluscos liberam larvas do parasita, as
no organismo pelos vermes, seus ovos e pelos
cercárias, que infectam o homem por penetração
produtos por eles liberados e pelos mecanismos
ativa na pele ou mucosa. Após a penetração, a
de regulação do hospedeiro com as consequentes
cercária percorre um longo percurso no hospedeiro
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manifestações clínicas (Fluxograma 1).
definitivo, inicialmente extravascular e depois intra-
vascular, perfazendo vários ciclos na circulação
sistêmica e propiciando mudanças marcantes em
DIA A DIA MÉDICO
sua morfologia. O parasita passa de cercária para
esquistossômulo, verme imaturo ou jovem, e para
Alguns fatores favorecem a continuidade dessa doença:
verme adulto macho ou fêmea. Os esquistossômu-
longevidade dos vermes adultos, que, embora tenham vida
los migram para os pulmões a partir do 4º dia após média de 5 a 8 anos, podem chegar a décadas; grande
a penetração e, posteriormente, a partir do 8º dia, capacidade de postura das fêmeas, com média de 300
atingem o sistema porta hepático. O desenvolvi- ovos por dia; existência de portadores que, mesmo quando
mento dos vermes jovens se completa nos vasos afastados dos focos de transmissão, são capazes de
intra-hepáticos, onde se acumulam lentamente. continuar excretando ovos por mais de 20 anos; e ampla
distribuição dos hospedeiros intermediários.
Após a maturação, os vermes adultos se alojam no
plexo mesentérico, onde podem permanecer por
152
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
9. Casal de adultos
migram para a veia 2. Ovos em contato com a
mesentérica inferior. água liberam os miracídeos
Fêmea inicia ovoposição
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5. Cercária sai do caramujo
6. Penetra na pele e nada livremente em busca
do hospedeiro vertebrado
BASES DA MEDICINA
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
Esquistossomose
Assintomática
Hepatoinstestinal
Hepática
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Fase tardia Forma crônica
Hepatoesplênica
Vasculopulmonar,
Formas
complicadas
glomerulopatia,
neurológica etc.
154
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
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uma reação inflamatória em 2 estágios.
1. Hipersensibilidade imediata: em poucos minutos Os ovos são os grandes vilões na esquistossomose, e a
ocorre liberação de substâncias histamina-like com reação fibrinogênica é a maior causadora das morbidades
vasodilatação local e prurido. associadas.
155
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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4) Estado nutricional. crônica granulomatosa e destruição vascular. A
repercussão clínica se traduz nos sinais de hiper-
5) Presença de outros estados mórbidos (como
tensão porta, com esplenomegalia e varizes de
hepatites virais, sobretudo hepatite B).
esôfago, o que atribui a esta forma a designação
6) Uso crônico de álcool e drogas. de hepatoesplênica, usualmente associada a altas
cargas parasitárias. A forma hepatoesplênica é con-
7) Estado imunológico do hospedeiro.
siderada importante por sua gravidade, embora o
8) Qualidade do hospedeiro intermediário (trans- paciente possa sofrer regressão após o tratamento
missor). curativo da esquistossomose. O baço aumentado
9) Uso de terapêutica específica. de volume é outro componente morfológico des-
tacado na forma hepatoesplênica. Esse aumento
3.2.1. Forma intestinal e hepatointestinal resulta de uma combinação de proliferação dos
seus elementos celulares como consequência da
As manifestações clínicas da chamada forma hipertensão portal. Apesar da esplenomegalia, o
hepatointestinal são imprecisas, visto que muitos exame de elementos do sangue periférico não revela
pacientes são assintomáticos. leucopenia, anemia e plaquetopenia (Figura 3).
u Intestinal: diarreia, dor abdominal, náusea, ema- As formas clínicas podem ser resumidas no Qua-
grecimento, intolerância alimentar, sonolência dro 1.
pós-prandial.
u Hepatointestinal: oligossintomático ou apresen-
tando os sintomas descritos acima. Hepatome-
galia discreta (não ultrapassa o rebordo costal)
com hipertensão protal ausente ou leve.
156
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
Quadro 1. Formas clínicas da esquistossomose crônica. dor lombar com irradiação para membros inferiores,
Formas Clínicas da Esquistossomose Crônica
diminuição da força muscular e alterações sensitivas
nesses membros, além de perda do controle dos
Não há hipertensão portal. esfíncteres. Essa forma de esquistossomose pode
Forma intestinal Diarreia, dor abdominal (FID e deixar sequelas graves, principalmente se houver
HD), plenitude gástrica, vômitos,
alterações de hábito intestinal. atraso no diagnóstico e tratamento.
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esplenomegalia grave, varizes
de esôfago sangrantes, ascite
severa (devido à diminuição da 3.3.3. Sistema renal
Forma pressão oncótica), desnutrição
hepatoesplênica (hipoproteinemia), anemia,
descompensada O comprometimento renal na esquistossomose, em
leucopenia, plaquetopenia
(sequestro esplênico).
especial na forma hepatoesplênica, aparece como
Raramente, hipertensão pulmonar
uma glomerulopatia. Entre 12% a 15% dos hepatoes-
com insuficiência cardíaca direita. plênicos apresentam glomerulopatia caracterizada,
mais frequentemente como glomerulonefrite mem-
Fonte: Ministério da Saúde¹.
branoproliferativa ou esclerose glomerular, ainda
que qualquer tipo de glomerulonefrite possa ser
3.3. ENVOLVIMENTO DE OUTROS SISTEMAS encontrado nessa doença.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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u
resultantes da hipertensão portal na esquistos-
de descompensação clínica, a critério médico.
somose hepatoesplênica.
u O acompanhamento de cura deve ser realizado somen-
u Ressonância magnética: é de grande importância
te no 4º mês após o tratamento, por meio de exames
no diagnóstico da mielorradiculopatia esquis-
parasitológicos de fezes. Dessa forma, a verificação de
tossomótica.
cura deve ser feita no 4º e 5º meses após o tratamen-
u Ecodoppler-cardiografia: é utilizado na avaliação to, ou seja, mesmo que no 4º mês o resultado das 3
da hipertensão pulmonar esquistossomótica. amostras seja negativo, deve-se repetir o exame (mais
u Intradermorreação positiva: não indica infecção uma sequência de 3 amostras) no 5º mês. Permane-
ativa e nem é indicada para diagnóstico da es- cendo negativo, o indivíduo está curado. O indivíduo
quistossomose. que, no 4º ou 5º mês após o primeiro tratamento, tiver
u Biópsia retal ou hepática: apesar de não reco- resultado positivo (presença de ovos viáveis), deve ser
mendada na rotina, pode ser útil em casos sus- tratado novamente.
peitos e na presença de exame parasitológico
de fezes negativo.
6. CONTROLE/PREVENÇÃO E
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
5. TRATAMENTO
O controle da esquistossomose é uma das tarefas
Há um arsenal terapêutico muito limitado com, mais difíceis dos serviços de Saúde Pública. A impor-
basicamente, 2 opções de tratamento: tância da doença não se restringe à persistência
da prevalência e à larga distribuição geográfica no
mundo. Ela diz respeito, também, ao mecanismo
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
Tratamento dos
infectados
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Controle do hospedeiro
Acesso à agua potável
intermediário
160
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
Hepatoinstetinal:
Hospedeiro intermediário: hepatomegalia
Biomphalaria glabrata, Biomphalaria
tenagophila e Biomphalaria straminea.
Hepatoesplenica:
varizes esofáicas Forma aguda:
dermatite cercariana +
febre + hepatomegalia
Neuro: mielite + esplenomagalia
Schistosoma mansoni =
transversa
helminto/classe Trematoda (de forma
foliácea, não segmentados e com
presença de ventosas), do filo
Platelmintos (vermes achatados) Fase tardia Fase inicial
Doença infecto
Quadro clínico
parasitária
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54 países endêmicos
(África+Ásia)
Brasil maior área Esquistossomose Diagnóstico
endêmica (RN, PB,
PE, SE, BA)
Confirmação:
detecção de ovos ou
antígeno circulante
Tratamento: analgesia
+ antibioticoterapia
161
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
1. Ministério da Saúde (BR). Situação Epidemiológica [inter- Emery A. Schistosomiasis collection [internet]. Natural history
net]; 2014. [acesso em 09 nov 2022]. Disponível em: http:// museum. [acesso em 03/01/2020]. Disponível em: http://
portalarquivos2.saude.gov.br/images/png/2017/setem- www.nhm.ac.uk/our-science/our-work/sustainability/schis-
bro/14/mapa-distribuicao-esquitossomose-2010-1015. tosomiasis-collection.html.
png. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde,
2. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dis- Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis.
ponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- Vigilância da Esquistossomose Mansoni: diretrizes técnicas.
-photo/liver-schistosomiasis-light-micrograph-photo-un- 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
der-1466885432. Acesso em 09 de novembro de 2022.
LEISHMANIOSE VISCERAL
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ciclo de transmissão do parasito, transformando-se Leishmania, espécie Infantum chagasi, e transmitido
em uma antropozoonose. Atualmente, encontram-se por flebotomíneos do gênero Lutzomyia, sendo o
entre as grandes doenças consideradas prioritárias cão considerado a principal fonte de infecção no
meio urbano (Figura 1).
A doença se caracteriza por um amplo espectro A maior susceptibilidade das crianças é explicada
clínico nos seres humanos, variando de sinais leves pelo estado de relativa imaturidade imunológica
ou moderados até manifestações graves, com evo- celular agravado pela desnutrição, tão comum nas
lução para óbito. A LV (Leishmaniose Visceral) áreas endêmicas, além de uma maior exposição
ativa manifesta-se como enfermidade sistêmica, ao vetor no peridomicílio. Por outro lado, o envolvi-
crônica, caracterizada por febre irregular e de longa mento do adulto tem repercussão significativa na
duração, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, epidemiologia da LV por causa das formas frustras
emagrecimento, edema e é associada a alterações (oligossintomáticas) ou assintomáticas, além das
laboratoriais, tais como citopenias, hipergamaglo- formas com expressão clínica.
bulinemia e hipoalbuminemia.
Na década de 1990, aproximadamente 90% dos
Dada a sua incidência e sua alta letalidade, mor- casos notificados de LV ocorreram na região Nor-
mente em indivíduos não tratados e crianças des- deste. À medida que a doença se expandiu para
nutridas, é uma das doenças mais importantes da outras regiões e atingiu áreas urbanas e periurbanas,
atualidade. Considerada emergente em indivíduos essa situação foi se modificando e, no período de
portadores da Infecção pelo Vírus da Imunodefi- 2000 a 2002, a região Nordeste já apresentava uma
ciência adquirida (HIV). redução para 77% dos casos do país.
Tem ampla distribuição, ocorrendo na Ásia, na
Europa, no Oriente Médio, na África e nas Américas,
DIA A DIA MÉDICO
onde também é denominada Leishmaniose Visceral
Americana (LVA) ou calazar neotropical.
Os dados epidemiológicos dos últimos 10 anos revelam a
Na América Latina, a doença já foi descrita em pelo periurbanização e a urbanização da leishmaniose visceral,
menos 12 países, sendo que 90% dos casos ocorrem destacando-se os surtos ocorridos no Rio de Janeiro
no Brasil, especialmente na região Nordeste. (RJ), Belo Horizonte (MG), Araçatuba (SP) e Santarém
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(PA). As transformações no ambiente, provocadas pelo
Em nosso país, a transmissão da doença vem sendo intenso processo migratório, por pressões econômicas
descrita em vários municípios de todas as regiões, ou sociais, a pauperização consequente de distorções
exceto na região Sul. A doença tem apresentado na distribuição de renda, o processo de urbanização
crescente, o esvaziamento rural e as secas periódicas
mudanças importantes no padrão de transmissão,
acarretaram a expansão das áreas endêmicas e o apa-
inicialmente predominado pelas características de recimento de novos focos.
ambientes rurais e periurbanos e, mais recente-
mente, em centros urbanos como Rio de Janeiro
(RJ), Corumbá (MS), Belo Horizonte (MG), Araça-
tuba (SP), Palmas (TO), Três Lagoas (MS), Campo 2. AGENTE ETIOLÓGICO E VETOR
Grande (MS), entre outros. As atuais características
da epidemia no Brasil são:
163
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
Apresentam-se nas formas promastigotas e para- ao voar em pequenos saltos e pousar com as asas
mastigotas, que se desenvolvem no trato alimentar entreabertas e ligeiramente eretas (Figura 3). É
de um inseto hospedeiro, e formas amastigotas, comum encontrá-los no peridomicílio, em galinhei-
que vivem e se multiplicam no interior de células ros, chiqueiros, canis e outros locais sombreados,
do sistema mononuclear fagocitário de um hospe- assim como no intradomicílio.
deiro vertebrado. Sua multiplicação em ambos os
hospedeiros se faz por divisão binária. As formas Figura 3. Flebótomo vetor do calazar.
promastigotas e paramastigotas são fusiformes,
com a extremidade anterior mais grossa, de onde sai
o flagelo, com aproximadamente 30 micrômetros.
As formas amastigotas são reconhecidas pela sua
forma esférica a ovoide (Figura 2).
3. FISIOPATOGENIA E
QUADRO CLÍNICO
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BASES DA MEDICINA
164
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
serão fagocitadas por novos macrófagos. Ocorre, Estas, por sua vez, sofrem divisão binária, multipli-
então, a disseminação hematogênica e linfática para cação e diferenciação em formas paramastigotas,
tecidos ricos em células do sistema mononuclear as quais colonizam o esôfago e a faringe do vetor,
fagocitário. onde permanecem aderidas ao epitélio pelo flagelo.
Então, diferenciam-se em formas promastigotas
A infecção do vetor ocorre quando as fêmeas, ao
metacíclicas e formas infectantes. O ciclo do para-
sugarem o sangue de mamíferos infectados, ingerem
sito no inseto completa-se em cerca de 72 horas.
macrófagos parasitados. No sistema digestivo do
Quando o inseto realiza novo repasto sanguíneo,
mosquito ocorre o rompimento dos macrófagos,
formas infectantes são inoculadas, reiniciando
liberando as formas amastigotas, que se reproduzem
assim o ciclo no hospedeiro vertebrado (Figura 4).
por divisão binária e diferenciam-se rapidamente em
formas flageladas denominadas de promastigotas.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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patoesplenomegalia. Apresenta quadro clínico O primeiro sintoma da visceralização é uma febre
arrastado, normalmente com mais de 2 meses baixa recorrente, frequentemente com 2 ou 3 picos
de evolução e, muitas vezes, com comprometi- diários, que persistem com remissões durante todo
mento do estado geral. Os exames complemen- o curso da infecção da doença. A febre é o sintoma
tares estão alterados e, no exame sorológico, os mais notável devido a sua característica irregular
títulos de anticorpos específicos anti-Leishmania ou remitente. A segunda manifestação em impor-
são elevados. tância é a esplenomegalia, que costuma ser em
maior escala que a hepatomegalia, a qual, por sua
u Período final: caso não seja feito o diagnóstico e
vez, também persiste nos achados clínicos. Há,
o tratamento, a doença evolui progressivamente
ainda, na maioria dos casos, micropoliadenopatia
para o período final, com febre contínua e com-
(aumento generalizado dos linfonodos), ademais
prometimento intenso do estado geral. Instala-
de uma série de eventos que se iniciam à medida
-se a desnutrição, (cabelos quebradiços, cílios
que os órgãos são acometidos, desencadeando
alongados e pele seca) e o edema dos membros
alterações de ordem fisiológica e histopatológica,
inferiores, que pode evoluir para anasarca. Outras
as quais se agravam com o decorrer da doença.
manifestações importantes incluem hemorragias
(epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e De modo geral, os principais órgãos acometidos
ascite. Nesses pacientes, o óbito, reiteradamen- pela LV são: baço, fígado, tecido hemocitopoético,
te, é determinado por infecções bacterianas e/ pulmões e rins. Apesar de todas as modificações,
ou sangramentos. Os exames complementares a esplenomegalia é o achado mais importante
estão alterados e, no exame sorológico, os títu- e destacado no calazar. Ocorrem, ainda, as alte-
los de anticorpos específicos anti-Leishmania rações hepáticas, que levam a uma severa hipo-
são elevados (Figura 5). proteinemia e, consequentemente, a baixos níveis
de albumina sérica, que, quando associados aos
166
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
fatores vasculares locais, podem levar à formação u Método parasitológico: a visualização do parasito
de edema nos membros inferiores. No tocante às pode ser feita em material de biópsia ou punção
alterações do tecido hemocitopoético, ocorre uma aspirativa do baço, fígado, medula óssea ou linfo-
desregulação na sua função, levando a uma dimi- nodos, sendo preferência da maioria dos autores
nuição da produção celular com anemia, leucopenia a punção esternal (em adultos) ou a punção da
e plaquetopenia. crista ilíaca (em crianças). Há probabilidade maior
de as Leishmania serem encontradas no interior
de células fagocitárias fixas ou livres, sendo re-
DIA A DIA MÉDICO conhecidas por sua morfologia de amastigotas.
A punção hepática oferece resultados questio-
Em pacientes não tratados, a doença progride e pode náveis, em virtude da menor expressão do pa-
atingir altos níveis de mortalidade: cerca de 90%. A doença rasitismo hepático, enquanto a punção do baço
crônica é marcada pelo progressivo emagrecimento e oferece riscos de ruptura. Deve ser realizado em
enfraquecimento geral, com aumento da susceptibilidade
ambiente hospitalar e em condições cirúrgicas.
às infecções secundárias. A evolução pode ser rápida,
levando o paciente à caquexia e à morte dentro de algu-
A punção aspirativa esplênica é o método que
mas semanas ou alguns meses, ou pode assumir caráter oferece maior sensibilidade (de 90 a 95%) para
crônico. Embora as alterações provocadas pelo parasito demonstração do parasito (contudo, apresenta
possam, por si só, determinar a morte dos pacientes, restrições quanto ao procedimento), seguida pelo
constantemente, ela é atribuída a infecções secundárias. aspirado de medula óssea, biópsia hepática e
aspiração de linfonodos.
O material obtido da punção esplênica/de medula
óssea deve ser enviado para cultura em meio NNN
4. DIAGNÓSTICO (meio para Leishmania).
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u Métodos sorológicos: são os de detecção mais
Nos casos humanos, o diagnóstico é realizado com fácil para o diagnóstico da LV (imunofluores-
base em parâmetros clínicos e epidemiológicos, cência e ELISA, este último não disponível na
porém um dos principais problemas quanto ao rede). Na imunofluorescência indireta, são con-
diagnóstico inicial é a semelhança do quadro clínico siderados positivos os títulos a partir da diluição
da leishmaniose visceral com algumas doenças 1:80. Títulos variáveis podem persistir positivos
linfoproliferativas e com a esquistossomose asso- mesmo após o tratamento. Esses métodos não
ciada à bacteriose septicêmica prolongada. Todavia, confirmam/afastam e não são o padrão-ouro
sempre se deve pensar em leishmaniose visceral para o diagnóstico.
em indivíduos de áreas endêmicas com hepatoes-
plenomegalia febril associada à pancitopenia.
DIA A DIA MÉDICO
Por esse motivo, os métodos clínicos devem ser
utilizados associados aos métodos parasitológico,
Recentemente, outro teste utilizado é o imunocromatográ-
sorológico e imunológico descritos a seguir, para
fico, feito com base em imunocromatografia de papel, em
a construção diagnóstica da LV. Desse modo, o que se utiliza o antígeno recombinante (rK39) fixado no
encontro do parasito constitui o requisito básico papel. Este antígeno reconhece os anticorpos específicos
para o diagnóstico da doença. anti-Leishmania, do complexo donovani. Trata-se de um
método sensível, específico e de rápida execução (5 a 10
u Método clínico: o diagnóstico clínico é complexo, minutos), que pode ser usado nas condições de campo.
pois a doença no homem pode apresentar sinais
e sintomas que são comuns a outras patologias
presentes nas áreas onde incide a LV.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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infecciosas
áreas endêmicas se superpõem em grandes faixas
Leishmaniose visceral
do território brasileiro. Somam-se, a essa doença,
outras patologias, tais como: malária, brucelose,
febre tifoide, esquistossomose hepatoesplênica,
forma aguda da Doença de Chagas, linfoma, mieloma
Causas auto-
múltiplo, anemia falciforme etc. Lembre sempre que, LES
imunes
sindromicamente, a LV é uma hepatoesplenomegalia
168
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
W insuficiência hepática;
5. TRATAMENTO W insuficiência cardíaca;
W uso concomitante de medicamentos que al-
No Brasil, os medicamentos utilizados para o tra- teram o intervalo QT corrigido com duração
tamento da LV são o antimoniato pentavalente e a maior que 450 ms;
anfotericina B. A escolha de cada um deles deverá W gravidez;
considerar a faixa etária, a presença de gravidez e
W idade maior que 50 anos;
comorbidades.
W hipersensibilidade aos componentes da for-
O antimonial pentavalente tem a vantagem de poder mulação.
ser administrado no nível ambulatorial, o que diminui
os riscos relacionados à hospitalização. A anfoteri- b) Desoxicolato de anfotericina B:
cina B é a única opção no tratamento de gestantes
e de pacientes que tenham contraindicações, ou
W insuficiência renal;
que manifestem toxicidade ou refratariedade rela- W hipersensibilidade aos componentes da for-
cionadas ao uso dos antimoniais pentavalentes. mulação.
A anfotericina B é a droga leishmanicida mais potente
c) Anfotericina B lipossomal:
disponível comercialmente, com ação nas formas
promastigotas e amastigotas, tanto in vitro quanto W hipersensibilidade aos componentes da for-
in vivo. A experiência clínica acumulada com seu mulação.
uso no tratamento da LV vem aumentando ao longo
dos últimos anos. Tem sido demonstrado que doses A anfotericina B lipossomal é recomendada em
menores do medicamento podem ser utilizadas sem pacientes com insuficiência renal. Embora não
prejuízo da eficácia, com consequente diminuição existam evidências para escolha do tratamento em
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de sua toxicidade. A anfotericina interfere, ainda, no pacientes com mais de 50 anos, transplantados
funcionamento do transporte ativo de substâncias renais, cardíacos e hepáticos, o comitê assessor
importantes para o metabolismo do protozoário, sugere que tais pacientes sejam tratados com a
causando efeitos importantes como redução da efi- anfotericina B lipossomal.
cácia do transporte de glicose do meio extracelular Os critérios de cura são essencialmente clínicos, e
para o meio intracelular. Por meio desse conjunto de os primeiros sinais de resposta costumam ser ines-
ações, a anfotericina B é uma droga que apresenta pecíficos, como a melhora do apetite e do estado
alta eficácia no tratamento da leishmaniose. geral. O desaparecimento da febre acontece entre
Atualmente, 2 apresentações de anfotericina B são o 2º e o 5º dia de tratamento. O ganho ponderal e
disponibilizadas pelo Ministério da Saúde: o desoxi- a redução do volume do baço e do fígado podem
colato de anfotericina B desoxicolato e a anfotericina ser verificados nas primeiras semanas, embora
B lipossomal, com eficácias comparáveis. E esta a regressão total possa levar alguns meses. Os
última apresentou menor toxicidade em trabalhos parâmetros hematológicos melhoram a partir da 2ª
recentemente realizados. semana. O processo de normalização das proteí-
nas séricas ocorre de forma lenta, podendo durar
As recomendações para a escolha do medicamento meses. Com evolução clínica favorável, o controle
para tratamento da leishmaniose visceral devem parasitológico é dispensável.
levar em consideração o perfil de toxicidade das
drogas. O paciente tratado deve ser acompanhado durante
6 meses. Ao final desse período, se o estado do
Contraindicações dos medicamentos disponíveis: paciente permanecer estável, ele será considerado
clinicamente curado.
a) Antimoniato de meglumina:
W insuficiência renal;
169
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
Será considerada recidiva quando houver recrudes- demais medidas de controle devem estar sempre
cimento da sintomatologia em até 12 meses após integradas para que sejam efetivas. As medidas são:
término do tratamento.
u Dirigidas aos casos humanos: organização de
serviços de saúde para atendimento precoce
6. VIGILÂNCIA dos pacientes, objetivando ao diagnóstico, ao
tratamento adequado e ao acompanhamento.
u Dirigidas ao controle do vetor: o controle químico
Em virtude das características epidemiológicas e imediato está indicado para as áreas com registro
do conhecimento ainda insuficiente sobre os vários do 1º caso autóctone de LV e em áreas de surto.
elementos que compõem a cadeia de transmissão da Já nas áreas de transmissão moderada e inten-
LV, as estratégias de controle desta endemia ainda sa, o controle químico deverá ser programado
são pouco efetivas e estão centradas no diagnós- para o momento em que se verificar o aumento
tico e no tratamento precoce dos casos humanos, da densidade vetorial. Nas áreas de transmissão
na redução da população de flebotomíneos, na esporádica, o controle químico não está indicado.
eliminação dos reservatórios e nas atividades de
u Dirigidas às atividades de educação em saúde:
educação em saúde. Vale sublinhar que as ações
essas atividades devem estar inseridas em todos
voltadas para o diagnóstico e o tratamento dos
os serviços e em todas as ações de controle da
casos, e as atividades educativas devem ser, em
LV, e requerem envolvimento efetivo das equipes
todas as situações, priorizadas, lembrando que as
multiprofissionais e multi-institucionais.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
Inflamação
Infecção
• Hepatite viral Colagenoses Toxinas/drogas
• CMV Autoimune • LES • ATB
• Toxoplasmose • Sarcoidose • Anti-inflamatórios
• Leishmaniose
• Esquistossomose
Infiltração celular
Tumores Cisto/hemólise
• Hepatoblastomas • Hemangioma
• Hepatocarcinoma • Anemia hemolítica
• Leucemia
• Linfomas
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Congestão de fluxo sanguíneo
Depósito excessivo
Doença de Deficiência de
Glicogenose Mucopolissacaridose Hemocromatose
Wilson alfa-1-antitripsina
Obstrução biliar
Extra-hepática Intra-hepática
• Litíase biliar • Cirrose cística
• Cisto no colédoco • Atresia biliar
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
QUESTÕES COMENTADAS
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ausculta pulmonar sem alterações; FR 20 irpm; ab- ⮩ Biópsia de linfonodos.
dome normotenso; presença de circulação colateral ⮪ Punção esplênica aspirativa.
porto-cava em parede abdominal; hepatomegalia a
4 cm do rebordo costal direito e esplenomegalia a
4 cm do rebordo costal esquerdo. O exame de en- Questão 3
doscopia digestiva alta realizado evidenciou varizes
(CENTRO UNIVERSITÁRIO ATENAS – MG – 2020) J. M. S., sexo
esofágicas de fino calibre no terço inferior do esô-
masculino, 67 anos, foi internado para investigação
fago, sem sinais de sangramento, e duas úlceras,
de febre diária e síndrome anêmica. Ao exame, ob-
de aspecto péptico, em região do antro gástrico,
serva-se palidez, emagrecimento, petéquias em
com sinais de sangramento recente. Com relação
tronco e esplenomegalia. Realizou alguns exames
ao caso exposto, assinale a alternativa incorreta.
com os seguintes resultados: hemograma com
⮦ No exame físico do abdome, o lobo esquerdo pancitopenia, teste rápido para leishmaniose posi-
hepático, provavelmente, é mais proeminente tivo e alteração na relação albumina/globulina. Foi
e o espaço de Traube é maciço, à percussão. submetido ao mielograma confirmando o diagnós-
tico devido achado de Leishmanias. Outros exames
⮧ Caso o paciente seja tratado com praziquantel,
mostraram ureia de 98 mg/dl, creatinina 2,8 mg/
não haverá regressão da forma hepatoesplêni-
dl, albumina 2,7 mg/dl. Não há antecedentes mór-
ca da doença.
bidos relevantes. Com base nas diretrizes atuais
⮨ A utilização de betabloqueadores, para profilaxia do Ministério da Saúde, qual a escolha terapêutica
primária de sangramento das varizes esofágicas, adequada ao caso?
não deverá ser considerada.
⮩ Pancitopenia, hipoalbuminemia e hiperpla- ⮦ Isotionato de pentamidina.
sia das séries eritroblástica e eosinofílica, ao ⮧ Antimoniato de meglumina.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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⮨ Anfotericina B, piperacilina + tazobactam. ⮨ A utilização de betabloqueadores, para profilaxia
⮩ Corticoterapia, piperacilina + tazobactam. primária de sangramento das varizes esofágicas,
não deverá ser considerada.
⮩ Pancitopenia, hipoalbuminemia e hiperplasia das
Questão 5
séries eritroblástica e eosinofílica, ao mielogra-
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO – RJ – 2021) Assi- ma, são alterações que podem ser encontradas
nale a opção correta referente às causas de hiper- no paciente.
tensão porta pré-sinusoidal.
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Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
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⮪ Incide mais em escolares e adolescentes. possibilidade de leishmaniose visceral como diag-
nóstico. É alteração comum na forma sintomática
Questão 9 dessa doença:
175
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
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(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – PA – 2013) Leishma-
toesplênica da doença, a função hepática está niose visceral (calazar) é uma antropozoonose,
preservada. caracterizada clinicamente por febre prolongada,
⮨ A mielopatia se instala de maneira insidiosa, anemia, hepatoesplenomegalia, apatia e emagreci-
acometendo coluna torácica alta na maioria mento. O agente causal é um protozoário do gênero
dos casos. Leishmania. O tratamento de escolha da doença é:
⮩ O teste intradérmico pode ser útil para o diagnós-
⮦ Eritromicina.
tico da doença, pois permite diferenciar infecção
atual de exposição pregressa. ⮧ Metronidazol.
⮨ Antimonial pentavalente.
⮩ Sulfametoxazol + trimetoprima.
Questão 15
176
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Alternativa C: CORRETA. A utilização de betabloquea-
dores está indicada como profilaxia secundária de Questão 3 dificuldade:
sangramento de varizes esofágicas.
Y Dica do professor: As drogas de primeira escolha
Alternativa D: CORRETA. Alterações da função hepática para o tratamento da leishmaniose são os antimo-
são esperadas, assim como pacitopenia secundária niais pentavalentes; o tipo disponível no Brasil é o
à depleção pela atividade esplênica. N-metilglucamina. Porém, esta é uma droga com
✔ resposta: B restrições para pacientes com mais de 50 anos
e nefropatas, assim como o paciente descrito no
enunciado.
Questão 2 dificuldade:
Desta forma, o tratamento indicado para este
Y Dica do professor: A leishmaniose visceral é uma paciente é a anfotericina B lipossomal. Devemos
doença crônica, sistêmica, caracterizada por fe- lembrar que a Anfotericina B desoxicolato também
bre, perda de peso, astenia, adinamia e anemia, provoca comprometimento da função renal.
dentre outras manifestações. É uma zoonose que ✔ resposta: D
tem como principal reservatório os cachorros e é
causada pelo protozoário Leishmania chagasi. O
diagnóstico é confirmado pelo achado de formas Questão 4 dificuldade:
amastigotas do parasita em material biológico ob-
Y Dica do professor: O retinoblastoma é o tumor in-
tido preferencialmente da medula óssea, do linfo-
traocular mais comum da infância e corresponde a
nodo ou do baço. A punção aspirativa esplênica é
2,5 a 4% de todas as neoplasias pediátricas. Ocorre
o método de maior sensibilidade (90%-95%) para
na criança pequena, sendo que dois terços dos ca-
demonstração do parasito (no entanto, é um pro-
sos são diagnosticados antes dos 2 anos de idade
cedimento com mais riscos), seguida pelo aspirado
177
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
e 95% antes dos 5 anos. A idade de apresentação dividida em pré-sinusoidal, sinusoidal e pós-sinu-
se correlaciona com a lateralidade e o atraso no soidal) e pós-hepática. Na HP pré-hepática temos
diagnóstico. Pacientes com doença bilateral tendem como causas a trombose da porta, trombose da
a se apresentar em uma idade mais jovem (geral- veia esplênica dentre outras. Na HP intra-hepática
mente antes de 1 ano de idade) do que pacientes pré-sinusoidal, pode-se citar como causas a es-
com doença unilateral (muitas vezes em segundo quistossomose hepatoesplênica e a hipertensão
ou terceiro ano de vida). porta idiopática. As etiologias da HP intra-hepáti-
Alternativa A: INCORRETA. O sinal mais comum de re- ca sinusoidal são a cirrose hepática e as hepatites
tinoblastoma é a leucocoria, que é o reflexo branco aguda e crônica. Na pós-sinusoidal, tem-se como
na pupila conhecido como reflexo do olho de gato. possíveis causas a doença hepática veno-oclusiva.
Em outras palavras, trata-se do reflexo da luz sobre Como causas de HP pós-hepática pode-se citar
a superfície do próprio tumor. síndrome de Budd-Chiari, doenças cardíacas e obs-
trução de veia cava inferior. A questão pergunta de
Alternativa B: INCORRETA. O retinoblastoma pode ter
causas pré-sinusoidais, o que inclui as intra-hepá-
como apresentação duas formas clínicas distintas:
ticas pré-sinusoidais e as pré-hepáticas. Portanto,
1- bilateral ou multifocal, hereditária, correspon-
melhor resposta é a letra B.
dente a 25% de todos os casos, caracterizada pela
presença de mutações germinativas do gene RB1, ✔ resposta: B
que pode ser herdado de um sobrevivente afetado
(25%) ou ser resultado de uma nova mutação ger-
Questão 6 dificuldade:
minativa (75%); e 2- unilateral ou unifocal (75% de
todos os casos), 90% dos quais não são hereditá- Y Dica do professor: A banca apresenta paciente
rios e são considerados esporádicos. Cerca de 10% com quadro clínico compatível com doença hepá-
dos casos germinativos são unilaterais e unifocais. tica que, pela epidemiologia positiva, pode se tratar
Alternativa C: INCORRETA. A banca liberou o gabari- de esquistossomose. Vamos avaliar as alternativas
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to como incorreto. Porém, algumas fontes trazem separadamente.
que as crianças com retinoblastoma têm um risco Alternativa A: CORRETA. Nos quadros de hepatoes-
aumentado de desenvolver tumores ósseos ou sar- plenomegalia, esses achados ao exame físico são
comas de partes moles. comuns especialmente na forma hepatoesplênica.
Alternativa D: INCORRETA. Como todas as células Alternativa B: INCORRETA. O tratamento com prazi-
do corpo têm o gene RB1 alterado, estas crianças quantel pode regredir à forma hepatoesplênica da
têm também maior risco de desenvolver câncer esquistossomose, inclusive sendo ele o tratamento
em outras partes do corpo. Um pequeno número de escolha.
de crianças com esta forma de retinoblastoma de- Alternativa C: CORRETA. A utilização de betabloquea-
senvolverá outro tumor no cérebro, geralmente na dores está indicada como profilaxia secundária de
glândula pineal, na base do cérebro (pineoblastoma), sangramento de varizes esofágicas.
também conhecido como retinoblastoma trilateral.
Alternativa D: CORRETA. Alterações da função hepática
Alternativa E: CORRETA. A doença de Coats, toxoca- são esperadas, assim como pacitopenia secundária
ríase e persistência hiperplásica do vítreo primiti- à depleção pela atividade esplênica.
vo são importantes diagnósticos diferenciais para
retinoblastoma. ✔ resposta: B
✔ resposta: E
Questão 7 dificuldade:
178
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
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✔
Questão 10 dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. Os antimoniais estão con- Alternativa D: CORRETA. A anfotericina B está indica-
traindicados em pacientes com insuficiência hepá- da como primeira escolha no tratamento da LV em
tica, ou seja, apenas na forma mais grave de aco- pacientes com sinais de gravidade: idade inferior a
metimento hepático. 6 meses ou superior a 65 anos, desnutrição grave,
comorbidades, incluindo infecções bacterianas ou
179
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Infectologia
uma das seguintes manifestações clínicas: icterí- (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia
cia, fenômenos hemorrágicos (exceto epistaxe), e ascite. Nestes pacientes, o óbito geralmente
edema generalizado, sinais de toxemia (letargia, é determinado por infecções bacterianas e/ou
má perfusão, cianose, taquicardia ou bradicardia, sangramentos. As demais alternativas contêm
hipoventilação ou hiperventilação e instabilidade causas menos prováveis de óbito na LV.
hemodinâmica). ✔ resposta: D
Alternativa E: INCORRETA. Primaquina é uma droga
com ação anti-malárica, não um fármaco com ação
leishmanicida. Questão 13 dificuldade:
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Alternativa B: INCORRETA. Igual ao item A. da lesão pré-sinusoidal e apresentar varizes eso-
fageanas.
Alternativa C: INCORRETA. Igual ao item A.
Alternativa C: INCORRETA. As varizes de fundo gás-
Alternativa D: INCORRETA. Na LV, observamos hiper-
trico podem ocorrer tanto nos pacientes cirróticos
gamaglobulinemia.
quanto naqueles com esquistossomose; entretanto,
Alternativa E: CORRETA. São alterações laboratoriais são mais raras.
inespecíficas, porém muito comuns na LV: VHS alta
Alternativa D: INCORRETA. A icterícia é um sintoma
e hipergamaglobulinemia.
mais tardio e em formas mais graves de esquis-
✔ resposta: E tossomose.
Alternativa E: INCORRETA. As teleangectasias são
Questão 12 dificuldade: sintomas menos frequentes na esquistossomose.
✔ resposta: B
Y Dica do professor: A tríade clássica da leishmaniose
visceral nas provas é: febre, hepatoesplenomegalia
e pancitopenia. Questão 14 dificuldade:
Caso não sejam feitos o diagnóstico e o trata-
Y Dica do professor: As lesões do sistema nervoso
mento, a doença evolui progressivamente para
central decorrem da presença de ovos e de gra-
o período final, com febre contínua e compro-
nulomas esquistossomóticos nesse sistema. Ao
metimento mais intenso do estado geral. Insta-
que parece, os vermes migram para os vasos que
la-se a desnutrição (cabelos quebradiços, cílios
nutrem as células do sistema nervoso e aí deposi-
alongados e pele seca) e edema dos membros
tam os ovos.
inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras
manifestações importantes incluem hemorragias
180
Hepatoesplenomegalias infecciosas crônicas Cap. 4
Questão 15 dificuldade:
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formas cutânea e cutaneomucosa da leishmaniose.
Porém, naqueles com a forma clássica do calazar,
o exame geralmente é negativo, devido à imunode-
pressão associada à doença.
Alternativa B: CORRETA.
Alternativa C: INCORRETA. O diagnóstico parasitoló-
gico através do aspirado de medula óssea ou baço
mostra as formas amastigotas (formas que circu-
lam no sangue).
Alternativa D: INCORRETA. O tratamento é de pelo
menos 20 dias.
Alternativa E: INCORRETA. Sendo utilizada a anfote-
ricina B lipossomal, a duração do tratamento é 7
dias. No caso de ser a desoxicolato de anfotericina
B convencional, o tratamento é de 14-20 dias. Não
existe necessidade de usá-las de forma intercalada.
✔ resposta: B
181
Fixe seus conhecimentos!
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182
Capítulo
MICOSES PROFUNDAS
5
importância/prevalência
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u Identificar as principais drogas utilizadas na terapêutica dessa micose (sulfas e azólicos), entendendo que
o tempo para tratamento geralmente é prolongado (>1 ano) e que há possibilidades de sequelas graves.
u Criptococose: micose sistêmica causada pelo fungo encapsulado Cryptococcus neoformans, ou gatti,
que acomete mais frequentemente os pulmões e o sistema nervoso central, além de pele, rins, próstata
e sistema musculoesquelético.
u Comum em pacientes com HIV/AIDS ou em pacientes com alguma outra imunodeficiência, portadores de
neoplasias malignas hematológicas e receptores de transplantes de órgãos sólidos.
u C. gattii não está associada a deficiências imunes específicas e, muitas vezes, ocorre em indivíduos
imunocompetentes.
u Pulmão e SNC são os principais sítios acometidos, mas formas disseminadas também são frequentes em
imunodeprimidos graves, particularmente em HIV+ e transplantados.
u Diagnóstico é feito por meio da associação de pesquisa direta (tinta da China, outras colorações), cultura
para fungos e pesquisa do antígeno criptococócico. Biópsias de tecidos são cruciais em imunodeprimidos.
u O tratamento é feito com antifúngicos sistêmicos. Importante descrever as toxicidades relacionadas ao
uso dessas medicações. Entender que tratamento em SNC envolve a associação de 2 antifúngicos numa
fase de indução.
183
Micoses profundas Infectologia
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2. PARACOCCIDIOIDOMICOSE/ recidivas tardias. Tabagismo e etilismo estão muito
BLASTOMICOSE associados a essa micose profunda e, maiormente,
SUL-AMERICANA na forma crônica de reativação.
2.2. EPIDEMIOLOGIA
2.1. INTRODUÇÃO
184
Micoses profundas Cap. 5
por longos períodos nas regiões de maior preva- Figura 1. Distribuição geográfica da
lência. A PCM é considerada a oitava causa de paracoccidioidomicose.
mortalidade por doença predominantemente crônica
ou repetitiva entre as infecciosas e as parasitárias,
superior à leishmaniose, e a mais elevada taxa de
mortalidade entre as micoses sistêmicas.
O perfil do indivíduo infectado pelo P. brasiliensis
– homens com atividade ligada à agricultura. Nas
áreas endêmicas, há grande prevalência da infecção,
mostrada por testes cutâneos e sorológicos, prin-
cipalmente na população rural. Todavia, a maioria
dos infectados não desenvolve a doença. O homem
é o único hospedeiro naturalmente infectado com
o fungo, mas alguns animais, como tatus, podem
ser portadores da doença. O fungo também já foi
isolado a partir de fezes de pinguins, em amostras
de solo, ração de cachorro contaminada com solo Fonte: Acervo Sanar.
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adultos entre 30 e 50 anos, como reativação de foco
endógeno latente. O acometimento da PCM em mais baixas. Nos tecidos com a infecção e nas
adultos varia de 10 a 15 homens para uma mulher. secreções, encontram-se as formas de levedura
Na infância, a doença se distribui uniformemente arredondadas com a parede celular birrefringente.
entre ambos os sexos, com ligeiro predomínio do Podem apresentar brotamentos únicos ou múlti-
masculino em adultos jovens. plos, que são blastoconídios dispostos ao redor
da levedura-mãe (formação semelhante à roda de
leme de um navio). Esse padrão SEMPRE aparece
DIA A DIA MÉDICO nos exames (guarde em sua memória).
No meio de cultura, as leveduras formam colônias,
Recentemente, algumas regiões do país vêm tendo maior sendo o micélio formado por hifas finas e septadas.
número de casos, em especial as regiões Centro-Oeste e O crescimento do micélio é lento. Quando cultivado
Norte (principalmente Amazonas; Figura 1). As micoses
entre 35º e 37°C, em meios enriquecidos, desenvolve
sistêmicas não integravam a lista nacional de doenças de
notificação compulsória no Brasil. Elas não eram objeto
colônias de coloração creme, chamadas cerebrifor-
de vigilância epidemiológica de rotina, com exceção dos mes ou leveduriformes.
estados brasileiros que instituíram essa notificação em
iniciativa do seu âmbito de gestão. Agora, a partir de 2020,
2.4. IMUNOPATOGENIA
a PCM é uma DNC.
BASES DA MEDICINA
185
Micoses profundas Infectologia
possivelmente, se dissemina por via linfática ou hema- ou mesmo a partir de reexposições a inóculos em
togênica, a depender da quantidade de inóculos, da regiões endêmicas.
patogenicidade e da virulência do fungo, bem como da
susceptibilidade do indivíduo. Após inalação do agente, o organismo reage com
intensa reação inflamatória, gerando um granuloma
na tentativa de conter a progressão da infecção
Como visto previamente, nos imunocompetentes, – tanto a local quanto a sistêmica – a partir da
a infecção é contida com resolução do quadro; no disseminação. A evolução do granuloma parece
entanto, o fungo permanece viável em estado de estar intimamente relacionada ao tipo de resposta
latência em meio a lesões fibróticas. Após alguns imune desencadeada pelo hospedeiro, assim como
anos, pode haver uma reativação endógena do aos componentes de parede liberados pelo pató-
agente, dando origem às formas crônicas do adulto. geno. Nas formas agudas da doença, a imunidade
A forma aguda/subaguda da criança/adolescente, celular está muito diminuída e há abundância de
apesar de menos frequente, ocorre a partir da pro- anticorpos. Na forma crônica, há boa imunidade
gressão do foco primário após inalação do agente, celular. A resposta anatomopatológica clássica à
forma crônica é o granuloma fúngico.
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Fonte: Acervo Sanar.
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Micoses profundas Cap. 5
Fluxograma 1. Fisiopatogenia.
Fisiopatologia
Inalação de conídios
aerossolizados
Alvéolos
Fase micelial
↓
Fase de levedura
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Infiltrado neutrofílico
Assintomático
e granulomatoso
Granulomas malformados
HIV
Imunodeprimidos
187
Micoses profundas Infectologia
2.5.1. Classificação das formas clínicas u Diferentemente da forma crônica, a forma agu-
da/subaguda possui uma evolução mais rápida
u paracoccidioidomicose infecção; (4 a 12 semanas).
u paracoccidioidomicose doença; u Clinicamente, é caracterizada por febre, linfa-
u forma aguda/subaguda; denomegalia, manifestações digestivas, hepa-
u forma crônica; toesplenomegalia, envolvimento osteoarticular
e lesões cutâneas. Lembrar sempre: hepatoes-
u unifocal;
plenomegalia febril aguda em indivíduos jovens
u multifocal;
e de área endêmica sugere PCM juvenil como
u forma residual ou sequelar. diagnóstico diferencial.
u Complicações (normalmente decorrentes de fi-
2.5.2. Forma aguda/subaguda (tipo
brose ganglionar durante e após o tratamento);
juvenil) – 3% a 5% dos casos
u Síndrome de má-absorção (enteropatia exsu-
u Predomina em crianças e adolescentes, apesar dativa): ocorre quando há o acometimento dos
de poder ocorrer em indivíduos até os 35 anos, gânglios mesentéricos.
e não há diferenças significativas de incidência u Icterícia (padrão colestático): ocorre quando há
entre os gêneros (Figura 2). compressão das vias biliares a partir de linfade-
nopatia no hilo hepático.
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Fonte: Acervo Sanar.
2.5.3. F
orma crônica (tipo adulto) A progressão da doença é lenta e silenciosa, ocor-
– mais de 80% dos casos rendo a partir da reativação endógena de foco
latente, levando anos para ocorrer. Como clinica-
Essa forma clínica predomina em adultos entre mente a doença é silenciosa, o diagnóstico comu-
40 e 60 anos de idade e, diferentemente da forma mente é tardio.
aguda, apresenta um maior número de casos no
sexo masculino.
188
Micoses profundas Cap. 5
Na forma crônica, a apresentação clínica pode ser Na apresentação multifocal, os órgãos mais frequen-
unifocal, quando a doença se restringe a um órgão, temente acometidos são os pulmões, as mucosas
ou multifocal, quando atinge pelo menos 2 órgãos. e a pele. No acometimento cutâneo, há um predo-
Esta última apresentação é mais comum (multifocal), mínio das lesões em face, podendo ser ulcerativas,
apesar de, em até 25% dos pacientes, os pulmões verrucosas ou nodulares (Figura 3).
serem os únicos órgãos acometidos. As manifes-
Em relação ao acometimento de mucosas, a esto-
tações pulmonares são encontradas na grande
matite moriforme (lesões em mucosa oral seme-
maioria dos pacientes (90%). Radiograficamente, a
lhantes à amora) é comum (Estomatite de Aguiar
imagem simples do tórax pode se apresentar com
Pupo). Além dela, ocorrem lesões em cordas vocais,
o clássico infiltrado em “asa de morcego”, devido
as quais podem ter como manifestação clínica a
ao acometimento peri-hilar bilateral e das regiões
rouquidão. Lesões em suprarrenal também podem
médias e superiores, ou ainda com lesões cavitadas
acontecer, levando à Síndrome de Addison.
e infiltrados alveolointersticiais, fazendo diferencial
com tuberculose.
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Independentemente da forma clínica, é importante, A avaliação de cada paciente exige uma anamnese
se possível, avaliar a imunocompetência dos pacien- adequada e exame físico minucioso, buscando
tes, a fim de avaliar prognóstico e atividade da pesquisar sinais clínicos de envolvimento orgânico
doença. Apesar de subjetivos, os critérios de gra- (pulmonar, tegumentar e laríngeo).
vidade (leve, moderado e grave) ajudam no plane-
jamento do tratamento.
189
Micoses profundas Infectologia
2.5.4. Forma sequelar vezes, o fungo pode ser visualizado pela micros-
copia direta em raspado de lesões. A coloração
Esta forma clínica caracteriza-se pelas sequelas utilizada é KOH.
que surgem a partir do processo fibrosante secun-
dário ao processo inflamatório granulomatoso, Além do achado do agente por demonstração
podendo levar a alterações anatomofuncionais, microscópica, as provas sorológicas também têm
principalmente nos pulmões, adrenais e sistema importância no cenário diagnóstico, não só para
nervoso central. ajudar a fechar o diagnóstico, mas para permitir
avaliar a resposta do indivíduo ao tratamento (que-
Além disso, como visto anteriormente, em algumas das dos títulos sorológicos durante o tratamento).
das apresentações multifocais há o acometimento Atualmente, estão disponíveis diferentes métodos,
de mucosas e pele, locais que também têm como como Imunodifusão Dupla (ID), Contraimunoele-
consequência o processo fibroso e podem, portanto, troforese (CIE), Imunofluorescência Indireta (IFI),
apresentar sequelas, tais quais: alterações crônicas Ensaio Imunoenzimático (ELISA) e Imunoblot (IB).
da voz (disfonia por lesão de corda vocal), obstru- Utilizando-se técnicas padronizadas e antígenos
ção laríngea, com necessidade de traqueostomia, adequados, tais testes apresentam sensibilidade
redução da rima bucal e sinéquia de nádegas. entre 85 e 100%. O título de anticorpos específicos
As sequelas mais comuns das formas agudas já anti-P. brasiliensis tem correlação com a gravidade
foram previamente citadas, sendo elas a obstru- das formas clínicas, sendo mais elevado na forma
ção de linfáticos abdominais, com síndrome de aguda-subaguda da doença. A especificidade dos
má-absorção e a perda de proteínas, e quadros de testes sorológicos varia de 85% a valores próximos
icterícia obstrutiva. de 100%, na dependência da técnica utilizada. Rea-
ções falso-positivas podem ocorrer com soros de
2.5.5. Comorbidades e diferenciais pacientes com histoplasmose e aspergilose.
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Associações não infecciosas: Hoje, considera-se a reação de imunodifusão dupla
em gel ágar como o principal método diagnóstico
u Linfoma de Hodgkin;
sorológico da doença, haja vista a simplicidade do
u carcinomas; teste, a falta de necessidade de equipamentos de
u outros. alto custo, a experiência acumulada nas últimas
Associações infecciosas: décadas e a alta sensibilidade (>80%) e especifici-
dade (>90%). Para que se considere cura sorológica,
W tuberculose (associação em 5% a 10% dos
é desejável que ocorra negativação dos títulos, ou
casos);
mesmo estabilização em diluição de 1:2 ou menos.
W enteroparasitoses;
W exacerbações infecciosas de DPOC;
2.7. TRATAMENTO
W AIDS;
W leishmaniose; O tratamento da PCM engloba não só os longos
W hanseníase; esquemas terapêuticos, e sim o suporte às compli-
W outras micoses. cações clínicas dos diferentes órgãos que o agente
pode acometer. Desse modo, se faz necessário um
acompanhamento periódico dos pacientes até que
2.6. DIAGNÓSTICO
eles atinjam critérios de cura. Felizmente, o agente
da PCM é sensível à maioria das drogas antifúngicas,
O diagnóstico se dá com o achado microscópico inclusive aos sulfamídicos.
do P. brasiliensis a partir de biópsia ou de alguma
secreção, ou mesmo através do crescimento do Em relação ao arsenal terapêutico propriamente
fungo em cultura com meio específico. Algumas dito, há diversas drogas que podem ser utiliza-
das, a depender do cenário, senda elas: as sulfas
190
Micoses profundas Cap. 5
(sulfametoxazol e sulfadiazina), os poliênicos (anfo- A escolha deve ser embasada em custos, comor-
tericina B e derivados – reservados para as formas bidades, gravidade da doença e efeitos colaterais.
graves) e os azólicos (cetoconazol, itraconazol e
Em quadros leves, há a opção de iniciar com a droga
voriconazol – itraconazol possui melhor tolerância,
oral e, em pacientes mais graves (formas dissemi-
menor toxicidade e, se comparado com as sulfas,
nadas, juvenil, acometimento laríngeo, multifocais),
permite menor tempo de tratamento). Segundo o
administrar a anfotericina B ou o cotrimoxazol (sul-
Consenso Brasileiro, a droga de primeira escolha
fametoxazol + trimetoprim) endovenoso (Tabela
é o itraconazol.
1). Fora os efeitos colaterais dessa classe (alergia
Nas formas leves, unifocais, opta-se pelas sulfas e neutropenia), um dos maiores problemas é que
(sulfametoxazol + trimetoprim – disponíveis na rede esquemas com derivados sulfonamídicos exigem
de saúde pública) ou itraconazol. cursos longos de tratamento (1 a 2 anos).
Entre os novos antifúngicos, é possível utilizar os Resumindo: formas leves, sulfas ou itraconazol; e
triazólicos de segunda geração; o voriconazol já formas graves, sulfas endovenosas e anfotericina B.
tem aprovação para o uso nessa micose sistêmica.
Tabela 1. Medicamentos mais utilizados em pacientes com paracoccidioidomicose.
200 mg diários
Itraconazol* **Crianças com <30 kg e >5 9-18 meses
anos - 5 a 10 mg/kg/dia; ajustar
dose sem abrir a cápsula
Trimetoprim, 160 mg +
Sulfametoxazol, 800 mg
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(VO 8/8 h ou 12/12h)
Cotrimoxazol* 18-24 meses***
Crianças - trimetoprim, 8 a
lOmg/kg Sulfametoxazol, 40
a 50 mg/kg, V012/12 h
O acompanhamento dos pacientes, como visto, deve a interrupção da medicação devem ser acompanha-
ser longo ambulatoriamente. Somente após melhora dos por até 1 ano, com foco em identificar possíveis
clínica, microbiológica, radiológica e sorológica recaídas da doença. As complicações como fibrose
(queda dos níveis) se deve optar pela interrupção da pulmonar devem ser tratadas.
medicação. Entretanto, esses pacientes que fizeram
191
Micoses profundas Infectologia
Fase levedura
↑ Pulmões
Nódulos Linfonodomegalia Fase micelial
Disseminada
Lesões cutâneas Esplenomegalia
Alvéolos
Lesões líticas Hepatomegalia
de ossos
Inalação de conídios
Raro envolvimento Perda de peso Itraconazol
aerossolizados
pulmonar Leve a moderada
Febre TMP-SMX
Fisiopatologia Anfotericina B
Aguda desoxicolato
Grave
TMP-SMX
Quadro clínico Paracoccidioidomicose Tratamento
Anfotericina B
Crônica
Acometimento desoxicolato
do SNC
Diagnóstico
TMP-SMX
Sequelas Dispneia Controle pós
Imunológicos
terapêutico
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Tosse
Fibrose pulmonar Processos
Exame direto Pus neoplásicos
Escarro purulento Escarro
Doença de Addison Secreções
Cultura Pneumoconioses
Hemoptise
Microstomia Tuberculose
Histopatológico Crônica
Insuficiência pulmonar
Traqueostomia suprarrenal
Diagnóstico Aguda Linfoma
Má absorção diferencial
Estomatite moriforme Tuberculose
intestinal
ganglionar
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Micoses profundas Cap. 5
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gos e neutrófilos. Células NK também podem eliminar o
Com o advento da terapia antirretroviral efetiva, micro-organismo. Em última análise, todavia, a imunidade
a incidência de criptococose relacionada à AIDS celular específica (células T) é o fator do hospedeiro mais
foi marcadamente reduzida entre as pessoas tra- importante na limitação da replicação do C. neoformans.
tadas. Assim, a maioria dos casos, agora ocorre Na maioria dos hospedeiros imunocompetentes, a infec-
ção permanece localizada nos pulmões e não provoca
em regiões do mundo com recursos limitados. A
doença.
doença continua bastante comum nas regiões onde
o tratamento antirretroviral não está disponível com
facilidade, como a África e a Ásia; nessas regiões, Se o hospedeiro se torna imunossuprimido, o orga-
até 1/3 dos pacientes com AIDS têm criptococose. nismo pode, então, reativar e se disseminar para
Entre as pessoas infectadas por HIV, aquelas com outros sítios. C. neoformans é claramente neuro-
uma porcentagem diminuída de células B de memó- trópico, e a principal manifestação da doença é a
ria, que expressam IgM, podem ter risco maior de meningoencefalite.
criptococose.
Contudo, a disseminação para vários órgãos é
possível, especialmente naqueles indivíduos com
3.2. ETIOLOGIA imunidade celular deficiente.
193
Micoses profundas Infectologia
O espectro de doença causada por espécies de vesículas, nódulos, úlceras, fístulas e celulite. Nos
Cryptococcus consiste, predominantemente, em pacientes com AIDS e nos submetidos a transplante
meningoencefalite e pneumonia, no entanto, infec- de órgão sólido, as lesões da criptococose cutânea,
ções de pele e de tecidos moles também ocorrem; em geral, lembram as do molusco contagioso.
de fato, a criptococose pode afetar qualquer tecido
ou órgão. Infecção pulmonar e infecção respiratória 3.5. DIAGNÓSTICO
podem se manifestar como colonização assintomá-
tica até insuficiência respiratória aguda.
O diagnóstico da criptococose é clínico e laboratorial,
A maioria dos pacientes apresenta-se assintomática estabelecido quando a levedura se desenvolve em
ou com sintomas leves de dispneia, tosse, aumento cultura. Amostras apropriadas para a cultura são
do escarro, dor pleurítica ou, raramente, hemoptise. Líquido Cefalorraquidiano (LCR), sangue, escarro,
Ocorre febre em uma minoria dos casos. Sintomas material de lesões cutâneas e outros fluidos ou
constitucionais são incomuns no indivíduo imuno- tecidos aparentemente infectados.
competente. Os exames radiológicos podem mostrar
O microrganismo demora vários dias para crescer na
nódulo solitário, consolidação lobar ou infiltrado
grande parte dos meios de cultura convencionais. A
intersticial com derrame pleural. O comprometi-
maioria dos sistemas de hemocultura automatizados
mento pulmonar pode ser isolado ou associado a
permite o crescimento rápido da C. neoformans. A
outras localizações.
visualização da cápsula e a realização de alguns tes-
Infecção do Sistema Nervoso Central (SNC) é a tes simples diferenciam o C. neoformans de outras
manifestação clínica mais comum da criptococose, leveduras. A biópsia de tecido mostra a levedura de
surgindo como meningite ou meningoencefalite, 5 a 10 µm envolta pela cápsula.
geralmente de evolução subaguda ou crônica. A
O diagnóstico definitivo da criptococose pode ser
meningite criptocócica difere da bacteriana pelo
feito através da coloração de mucicarmina, que
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fato de muitos pacientes infectados por criptoco-
cora seletivamente a cápsula polissacarídica com
cos apresentarem sintomas por várias semanas.
um rosa profundo.
Somado a isso, as características clássicas de
irritação meníngea, como o meningismo, podem No LCR, ou em outros fluidos corpóreos, a coloração
estar ausentes na meningite criptocócica. É pos- com tinta nanquim (tinta da China) permite a visua-
sível que a criptococose meníngea acarrete perda lização das leveduras em brotamento circundadas
súbita da visão. pela espessa cápsula, mas, atualmente, não é feita
por muitos laboratórios.
Formas disseminadas: em pacientes imunode-
primidos, particularmente com AIDS, é comum o A visualização da cápsula de células fúngicas no
envolvimento de mais de um órgão ou sistema, LCR misturada com nanquim é uma técnica diag-
identificando-se o fungo no sangue e no sistema nóstica útil e rápida.
nervoso central, bem como na medula óssea ou no
O exame de aglutinação em látex para o Antígeno
escarro, entre outros. O envolvimento focal apre-
Polissacarídico Criptocócico (CRAG) é um teste
senta probabilidade de ocorrer na próstata e em
diagnóstico altamente sensível e específico. Nos
outros órgãos do trato geniturinário, em estruturas
pacientes com meningoencefalite, o látex do líquido
osteoarticulares, mamas, olhos, laringe e diversas
cefalorraquidiano tem positividade de quase 100%,
estruturas das regiões cefálica e cervical. A prós-
e o do soro, de cerca de 75%.
tata, essencialmente, se revelou uma espécie de
“santuário” de onde fungos persistentes podem se
disseminar tardiamente. 3.6. TRATAMENTO
194
Micoses profundas Cap. 5
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(LP) para avaliar a esterilização do LCR é discutido
em outro momento.
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Micoses profundas Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
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no exame de escarro do paciente? querdo; paracoccidioidomicose aguda; sulfame-
toxazol-trimetoprim por via oral, 1600-320 mg/
⮦ Hilas septadas finas com macroconídios tuber-
dia por 18 a 24 meses.
culados e microconídios de parede lisa.
⮧ Exame micológico direto demonstrando formas
⮧ Hilas finas de ramificação septada, com conídios
micelianas de Paracoccidioides spp.; opacida-
em grupos em forma de margarida.
des retículo-alveolares simétricas bilaterais no
⮨ Leveduras em brotamento rodeadas de halo terço médio, com distribuição maior do centro
transparente na coloração com nanquim. para a periferia; paracoccidioidomicose crônica
⮩ Leveduras grandes de parede celular birrefrin- unifocal; itraconazol por via oral, 200 mg/dia por
gente, com brotamentos em roda de leme. 18 a 24 meses.
⮨ Exame micológico direto demonstrando formas
leveduriformes de Paracoccidioides spp.; opaci-
Questão 2
dades retículo-alveolares simétricas bilaterais no
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO MÜLLER – MT – 2021) Há três terço médio, com distribuição maior do centro
dias, atendeu-se o paciente Valtair na Unidade Bási- para a periferia; paracoccidioidomicose crônica
ca de Saúde. Ele tem 51 anos, é pequeno agricultor, multifocal; itraconazol por via oral, 200 mg/dia
tabagista, elitista, procedente de Juara-MT. Durante por 9 a 18 meses.
a consulta, relatou sintomas de tosse produtiva há ⮩ Exame micológico direto demonstrando formas
6 meses, perda ponderal de 5% do peso habitual, micelianas de Paracoccidioides spp.; opacida-
lesões moriformes periodontais e linfadenites pal- des retículo-alveolares simétricas bilaterais no
páveis em cadeias cervicais bilaterais. A hipóte- terço médio, com distribuição maior do centro
se diagnóstica é paracoccidioidomicose (PCM). para a periferia; paracoccidioidomicose aguda;
Solicitaram os seguintes exames para confirmar
196
Micoses profundas Cap. 5
sulfametoxazol-trimetoprim por via oral, 1600- exame. Foi realizada radiografia do tórax e exame
320 mg/dia por 18 a 24 meses. do escarro. Radiografia de tórax: Exame do escarro
(visualização direta): Considerando o caso descrito,
assinale a alternativa que apresenta o tratamento
Questão 3
MAIS ADEQUADO para esse paciente:
(REVALIDA – 2021) Um paciente masculino, 33 anos de
⮦ Amoxicilina-clavulanato e azitromicina.
idade, agricultor, é internado com quadro de can-
saço, adinamia, tosse, emagrecimento importante ⮧ Levofloxacino.
nos últimos 6 meses (cerca de 14 Kg). Ao exame, ⮨ Rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etam-
mostra-se emagrecido, mucosas pouco coradas, butol.
ausculta pulmonar com murmúrio vesicular pre- ⮩ Sulfametoxazol-trimetoprim.
servado, estertores bilaterais. Tomografia de tórax
apresenta lesões em brotamento com suspeita de
tuberculose pós-primária. Diante desse caso, quais Questão 5
são, respectivamente, o diagnóstico diferencial, o (HOSPITAL MATERNIDADE THEREZINHA DE JESUS – 2011) Pelo
exame a ser solicitado para confirmação da tuber- recente Consenso Brasileiro de Paracoccidioidomi-
culose e o tratamento a ser instituído? cose, primeira opção de tratamento:
⮦ Pneumonia por estafilococo; solicitar pesquisa ⮦ Voriconazol nas formas da doença no SNC.
de BK e fungo em escarro; iniciar tratamento
⮧ Cetoconazol.
com rifampicina.
⮨ Sulfametoxazol-trimetoprima.
⮧ Pneumonia por paracoccidiodomicose; solici-
tar biópsia trans-brônquica; iniciar rifampicina ⮩ Itraconazol.
e pirazinamida.
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⮨ Pneumonia por estafilococo; solicitar lavado Questão 6
bronco alveolar para pesquisa de BK; iniciar ri-
fampicina e pirazinamida. (CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – 2013) A via primária mais
frequente de inoculação de paracoccidioidomicose
⮩ Pneumonia por paracoccidiodomicose; solicitar
é representada:
pesquisa de BK e fungo no escarro; iniciar rifam-
picina, isoniazida, pirazinamida. ⮦ Pelas vias respiratórias e pulmonar.
⮧ Mucosa gástrica.
Questão 4 ⮨ Mucosa intestinal.
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Micoses profundas Infectologia
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⮩ O diagnóstico de paracoccidioidomicose pul-
⮨ Quando há acometimento pulmonar, o achado
monar deve ser levantado, pois o impacto do
radiológico mais frequente é classicamente co-
tabagismo é acentuado na infecção fúngica e
nhecido por “bola fúngica”.
reduzido nas micobacterioses.
⮩ A mortalidade é elevada, chegando a 90% dos
⮪ O teste sorológico anti-HIV deve ser solicitado,
casos.
independentemente do histórico epidemiológi-
co do paciente. ⮪ O agente etiológico é o Paracoccidiodes ame-
ricanos.
Questão 8
198
Micoses profundas Cap. 5
GABARITO E COMENTÁRIOS
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mes com múltiplos brotamentos (roda de leme), o
que está bem descrito na alternativa D. ocorre a 25ºC está presente no solo.
✔ resposta: D
✔ resposta: C
Questão 3 dificuldade:
Questão 2 dificuldade:
199
Micoses profundas Infectologia
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cara. Por isso, a droga de baixo custo usada como sociado à tuberculose, e cujo diagnóstico se torna
segunda opção, embora menos potentes, são as muito provável se houver aumento da ADA no líquido
sulfonamidas, como sulfametoxazol-trimetoprim. pleural, que deve ser analisado.
✔ resposta: D Alternativa D: INCORRETA. Em relação ao diagnósti-
co diferencial, apesar de a paracoccidioidomicose
cursar com quadro pulmonar crônica similar, a au-
Questão 5 dificuldade:
sência de lesões cutaneomucosas e a falta de epi-
Y Dica do professor: A paracoccidioidomicose é uma demiologia (paracoco está presente em meio rural,
doença fúngica que pode se apresentar na forma que não é o caso do paciente) afasta o diagnóstico.
aguda, com uma síndrome mononucleose-like, mas Além disso, o tabagismo tem impacto importante
em mais de 90% dos casos se apresenta na forma no risco de tuberculose.
crônica, caracterizada por tosse produtiva, febre Alternativa E: CORRETA. Considerando que a tubercu-
arrastada e lesões cutaneomucosas. A radiografia lose pulmonar em geral se manifesta em situações
de tórax mostra infiltrado pulmonar peri-hilar bila- de imunossupressão, é muito importante a investiga-
teral simétrico, em um padrão de asa de morcego. ção adequada, incluindo o teste sorológico anti-HIV.
O diagnóstico é dado pela pesquisa direta do fungo, ✔ resposta: D
que mostra célula com brotamentos múltiplos (as-
pecto em roda de leme). O tratamento de escolha
é feito com itraconazol, ficando o sulfametoxazol- Questão 8 dificuldade:
200
Micoses profundas Cap. 5
Questão 9 dificuldade:
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Alternativa D: INCORRETA. A mortalidade da paracoc-
cidioidomicose não é tão elevada e vem em declínio
nos últimos anos.
Alternativa E: INCORRETA. A paracoccidioidomicose
é causada pelo fungo Paracoccidioides braziliensis,
encontrado no solo e em vegetais, adquirida pela
via respiratória.
✔ resposta: B
201
Fixe seus conhecimentos!
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202
Capítulo
MALÁRIA
6
importância/prevalência
u Malária é uma doença de notificação compulsória, causada por um protozoário do gênero Plasmodium sp.
u OMS: problema de saúde global, mais de 90 países acometidos.
u Agentes: Plasmodium falciparum (gravidade), P. vivax (principal agente no Brasil), P. malariae e P. ovale.
u Vetor: mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, com hábitos bem específicos.
u A região mais afetada no Brasil é a Amazônia legal (com mais de 99% dos casos).
u Período de incubação varia de 7 a 21 dias, vivax com maior incubação; indivíduos com episódios prévios
de malária podem apresentar quadro clínico menos sintomático.
u Primoinfecção costuma ser mais grave; populações mais vulneráveis à gravidade nesse contexto (crianças,
gestantes e viajantes).
u Formas do agente invadem, reproduzem-se e promovem o rompimento de hepatócitos e eritrócitos, pro-
vocando a maioria dos sintomas da doença: febre, calafrios, tremores, mialgias intensas e mal-estar geral.
Esses sintomas podem ocorrer em padrões cíclicos e também não obedecer esses padrões.
u O diagnóstico de casos suspeitos de malária e o controle do tratamento são dados pelo parasitológico
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direto (exame da gota espessa). Atualmente, também há disponível testes rápidos moleculares. Precoci-
dade no tratamento implica prognóstico melhor, especialmente nas formas graves.
u O P. falciparum habitualmente determina a forma mais grave da doença, que é caracterizada por maior
parasitemia, produção de proteínas de aderência à hemácia e hipoglicemia/hiperlactatemia por consumo.
Deve-se ficar atento aos sinais de gravidade.
u Tratamento das infecções pelo P. vivax ou P. ovale se faz com cloroquina por 3 dias e primaquina por 7
dias. Para infecção por Plasmodium falciparum (sem critérios de gravidade): combinação fixa de artemeter
+ lumefantrina em 3 dias. Se houver critérios de gravidade, o artesanato EV ou IM é a droga de escolha.
203
Malária Infectologia
Figura 1. Anopheles darlingi, agente É uma doença febril aguda restrita preferencialmente
transmissor da malária. a algumas áreas geográficas (Figura 2): estados
da região Norte e Centro-Oeste e viajantes interna-
cionais de locais de risco (África, principalmente).
Fonte: nechaevkon/Shutterstock.com¹.
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Fonte: Acervo Sanar.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de quadro febril agudo em viajantes que voltam de
mostram que seu impacto sobre as populações áreas endêmicas. Um outro problema atual relacio-
humanas continua aumentando: ocorre em mais de nado à doença é a crescente resistência a drogas
90 países, pondo em risco cerca de 40% da popula- antimaláricas no mundo.
ção mundial. Estima-se que ocorram de 300 a 500
milhões de novos casos, com média de 1 milhão DIA A DIA MÉDICO
204
Malária Cap. 6
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zação Mundial de Saúde.
Condições de vulnerabilidade e pobreza são alguns
dos fatores que explicam o atual avanço da malária.
Certas atividades trabalhistas e econômicas, como Fonte: Acervo Sanar.
205
Malária Infectologia
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em algumas horas da noite. Não há transmissão
direta da doença de pessoa a pessoa. Raramente
pode ocorrer a transmissão por meio de transfusão
de sangue contaminado ou do uso compartilhado
de seringas contaminadas. Mais rara ainda é a
transmissão vertical.
BASES DA MEDICINA
206
Malária Cap. 6
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Fonte: Acervo Sanar.
Alguns desses merozoítos, em vez de entrarem nos Alguns dos trofozoítos não entram nos eritrócitos e
hepatócitos, vão para a corrente sanguínea e parasi- sofrem diferenciação em gametócitos. O mosquito,
tam os eritrócitos. Passa-se, assim, a ter trofozoítos quando pica alguém infectado com malária, aspira
em forma de anel de sinete. Este trofozoíto inicial sangue contendo gametócitos. No seu intestino,
vai amadurecer e sofrer processo de reprodução ocorre a fusão entre o macrogâmeta (masculino) e
semelhante ao que ocorre nos hepatócitos. Nesse o microgâmeta (feminino), iniciando o ciclo sexuado
ponto, passa-se a ter uma célula gigante, multinu- do parasita. Ou seja, o mosquito é o hospedeiro
cleada, que se divide em merozoítos, que acabam definitivo e o humano é apenas um hospedeiro
por romper e lesar os eritrócitos. Estes merozoítos intermediário.
vão entrar em novos eritrócitos, e o ciclo se repete.
É da lise dos eritrócitos que provém a maioria dos
Nas infecções por P. vivax e P. ovale, alguns trofo- sintomas da malária, correspondendo às fases de
zoítos ficam em estado de latência no hepatócito. crise: febre, arrepios, tremores, mialgias intensas e
São, por isso, denominados hipnozoítos (do grego, mal-estar geral, que dura entre 15 minutos a 1 hora.
hipnos: sono). Esses hipnozoítos são responsáveis
pelas recaídas da doença, que ocorrem após perío-
dos variáveis de incubação (quase sempre dentro
de 6 meses).
207
Malária Infectologia
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14 dias, podendo, porém, chegar a vários meses
matográfico. São realizados em 15 a 20 minutos.
em condições especiais, no caso de P. vivax e P.
Entre suas desvantagens estão: não distinguem P.
malariae.
vivax, P. malariae e P. ovale; não medem o nível de
parasitemia; não detectam infecções mistas que A crise aguda da malária caracteriza-se por episódios
incluem o P. falciparum. No entanto, são importantes de calafrios, febre e sudorese. Tem duração variável
em situações de gravidade. de 6 a 12 horas e pode cursar com temperatura igual
ou superior a 40°C. Em geral, esses paroxismos
são acompanhados por cefaleia, mialgia, náuseas
DIA A DIA MÉDICO e vômitos. Após os primeiros paroxismos, a febre
pode passar a ser intermitente.
Testes rápidos: utilizar em locais sem equipe capacitada,
O quadro clínico da malária pode ser leve, mode-
distantes para gota espessa (que diferencia falciparum
de não falciparum). rado ou grave, dependendo da espécie do parasito,
da quantidade de parasitos circulantes, do tempo
de doença e do nível de imunidade adquirida pelo
paciente. As gestantes, as crianças e os primoin-
fectados estão sujeitos à maior gravidade, sobre-
4. QUADRO CLÍNICO tudo por infecções pelo P. falciparum, que podem
ser letais. O diagnóstico precoce e o tratamento
correto e oportuno são os meios mais adequados
O quadro clínico típico é caracterizado por febre para reduzir a gravidade e a letalidade por malária.
alta, acompanhada de calafrios, sudorese profusa
e cefaleia, que ocorrem em padrões cíclicos. Devido à inespecificidade dos sinais e sintomas
provocados pelo Plasmodium, o diagnóstico clí-
nico da malária não é preciso, pois é possível que
208
Malária Cap. 6
outras doenças febris agudas apresentem sinais e Se presentes, deve-se conduzir o paciente, de acordo
sintomas semelhantes, tais como a dengue, a febre com as orientações, para tratamento da malária
amarela, a leptospirose, a febre tifoide e outras. grave, que, em grande número, é causada pelo
Dessa forma, a tomada de decisão de tratar um Plasmodium falciparum.
paciente por malária deve ser baseada na confir-
Principais alterações clínico-patológicas presentes
mação laboratorial da doença, pela microscopia
na malária grave:
da gota espessa de sangue ou por testes rápidos
imunocromatográficos. u Acometimento do SNC (malária cerebral)
W A malária cerebral ocorre com uma frequência
4.2. MALÁRIA GRAVE E COMPLICADA variável, atingindo 0,1 a 16% dos pacientes. É
uma apresentação clínica relativamente comum
da malária grave e a principal causa de óbito,
com uma letalidade de 10 a 50%. Define-se
BASES DA MEDICINA
pela presença de coma ou convulsões em in-
divíduos infectados por P. falciparum que não
O principal fator responsável pela gravidade da malária é o
apresentem outra etiologia de encefalopatia.
bloqueio microvascular devido ao sequestro de hemácias
parasitadas nos capilares de órgãos como cérebro, rins,
pulmão e placenta. Este fenômeno é somente encontrado
u Anemia grave
na malária por P. falciparum. A maior adesão das hemácias W Trata-se de uma manifestação constante e
parasitadas às células endoteliais dos capilares e das precoce da malária, a qual ocorre devido a
vênulas faz com que elas comecem a se aderir umas às
múltiplos fatores, incluindo destruição ou se-
outras, formando “rosetas” (hemácias não parasitadas
em volta de hemácias parasitadas). A obstrução microcir- questro dos eritrócitos, alteração da eritropoe-
culatória é um dos fatores que ajuda a explicar a malária se e perda sanguínea decorrente de eventual
coagulopatia. Ocorre maior parasitemia na
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cerebral, a renal e as manifestações pulmonares.
malária por P. falciparum.
Para o diagnóstico de malária grave, algumas carac-
terísticas clínicas e laboratoriais devem ser obser-
u Insuficiência renal
vadas atentamente (Quadro 1). W Nas infecções causadas pelo P. falciparum, as
alterações tubulares são mais proeminentes
Quadro 1. Manifestações clínicas e laboratoriais do que as glomerulares, variando desde um
da malária grave e complicada, causada acometimento de pequena monta até necro-
pela infecção por P. falciparum. se tubular aguda e Insuficiência Renal Aguda
• Prostração (IRA), frequentemente oligúrica e hipercata-
• Alteração da consciência, bólica. A IRA é uma complicação frequente e
dispneia ou hiperventila- séria da malária por P. falciparum em crianças
ção; convulsões e adultos não imunes.
• Hipotensão arterial ou cho-
Sintomas e sinais que; edema pulmonar ao u Disfunção pulmonar
Rx de tórax; hemorragias;
icterícia W Ocorre com uma incidência de 3% a 10% nas
• Hemoglobinúria; hiperpi- infecções causadas por P. falciparum, com
rexia (>41°C) letalidade próxima a 70%. O primeiro sinal de
• Oligúria disfunção pulmonar é o aumento da frequência
• Anemia grave; hipoglice- respiratória, o qual, habitualmente, precede as
mia; acidose metabólica; alterações radiográficas. A apresentação mais
Alterações laboratoriais insuficiência renal; hiper-
grave é a Síndrome do Desconforto Respira-
lactatemia; hiperparasi-
temia tório Agudo (SDRA), caracterizada por lesão
endotelial difusa e aumento da permeabilidade
Fonte: Ministério da Saúde2.
209
Malária Infectologia
Febre, mialgia,
calafrios, paroxismos
PI: 7 a 14 dias(vixax Fase hepática: Falciparum
maior) esporozoítos Internação
Formas leves e graves (hipnozoítos) imediata
Imunidade prévia
importante
Critérios clínicos
Fase hemática:
Hemácias: IRA, malária
merozoítos
parasitismo cerebral, CIVD
(hemólise)
Antimaláricos EV
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Fonte: Adaptado pelo autor.
210
Malária Cap. 6
aplicado na China e iniciado em 1956, tem-se estu- linha para tratamento de formas graves nos últimos
dado uma nova droga, a artemisinina, hoje utilizada guias nacionais tem se baseado no uso do artesu-
para o tratamento do P. falciparum e da malária nato. Quanto mais rápida a administração dessa
grave. medicação, melhor o prognóstico. Deve-se fazer a
abordagem como uma emergência médica: acesso
A decisão de como tratar o paciente com malária
venoso, exames, gasometria arterial (choque, edema
deve ser precedida de informações sobre os seguin-
agudo de pulmão, ARDS). A qualquer sinal/sintoma
tes aspectos:
de gravidade, as gestantes devem ser internadas e
u Espécie de plasmódio infectante, pela especi- consideradas como malária grave; crianças sempre
ficidade dos esquemas terapêuticos a serem devem ser consideradas graves.
utilizados. A malária grave é uma urgência. Deve-se utilizar
u Idade do paciente, pela maior toxicidade para artesunato EV/IM por causa da queda rápida da
crianças e idosos. parasitemia. Se não houver derivados de artemisina,
u História de exposição anterior à infecção, uma usar a clindamicina até chegar o artesunato. A dose
vez que indivíduos primoinfectados tendem a do artesunato deve ser de 2,4 mg/kg EV/IM em 3
apresentar formas mais graves da doença. doses (0, 12, 24 horas da primeira dose). Depois
desses 3 dias, manter 7 dias EV/IM ou completar
u Condições associadas, por exemplo: gravidez e
com artemeter/lumefantrina.
problemas de saúde.
u Gravidade da doença, pela necessidade de hos- Obs.: Cuidado com as questões antigas sobre esse
pitalização e de tratamento com esquemas es- assunto (antes de 2019), porque ocorreram mudan-
peciais de antimaláricos. ças no tratamento da malária grave. Antes era utili-
zado artesanato em combinação com clidamicina.
Infecções pelo P. vivax ou P. ovale: cloroquina por
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3 dias e primaquina por 7 dias (esquema curto). Quadro 3. Tratamento da malária.
Qualquer paciente portador de exame positivo para Deve-se realizar por meio da lâmina de verificação
malária falciparum que apresente um dos sinais e/ de cura, da seguinte forma:
ou sintomas relacionados à gravidade deve ser con-
siderado portador de malária grave e complicada. u P. falciparum – em 3, 7, 14, 21, 28 e 42 dias após
O tratamento deve ser orientado, de preferência, o início do tratamento.
em unidade hospitalar. Pode-se ter malária grave u P. vivax – em 3, 7, 14, 21, 28, 42 e 63 dias após o
por vivax. início do tratamento.
Nesses casos, o principal objetivo é reduzir a mor-
bimortalidade. Para isso, antimaláricos potentes
e de ação rápida devem ser administrados, junta- DIA A DIA MÉDICO
211
Malária Infectologia
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função da ampla distribuição da rede de diagnóstico
concentrações de até 10% de DEET, no máximo
3 vezes ao dia, evitando-se o uso prolongado.
212
Malária Cap. 6
Complicada: parasitemia
Picada da fêmea de alta, dispneia, oligúria,
mosquitos do gênero hemorragia, RNC, convulsão,
Anopheles Plasmodium vivax, icterícia, hipoglicemia,
P. falciparum, febre alta persistente
P. malariae e P. ovale
Tríade: febre +
Doença infecto parasitária
cefaleia + calafrio
Malária
40% da população mundial Diagnóstico
em área de risco. Predomínio
África ( 90%), Brasil (Norte
e Centro-PA,AM,RO e MT)
Gota espessa:
Tratamento parasita no sangue
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Teste rápido:
Não complicada: não detecta
P. vivax/ovale: cloroquina todas as espécies
+ primaquina
P. malariae: cloroquina
P falciparum: artemeter+
lumefantrina OU artesunato
+ mefloquina e primaquina
Complicada:
artesunato + clindamicina
213
Malária Infectologia
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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MC, Santelli AC, Oliveira-Ferreira J, et al. Malaria in Brazil: what
happens outside the Amazonian endemic region. Mem Inst
Oswaldo Cruz. 2014;109(5): 618-33.
214
Malária Cap. 6
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 4
(SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS – GO – 2021) Entre (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC – 2020) Assinale a
os anos de 2003 e 2014, os casos de malária entre alternativa correta em relação à malária grave.
crianças e adolescentes, no Brasil, representaram
cerca de 47% do total registrado. Qual é a espécie ⮦ A leucocitose é comum na malária grave.
que tem maior prevalência no Brasil? ⮧ A infecção por Plasmodium falciparum é a me-
nos relacionada a formas graves.
⮦ Plasmodium vivax.
⮨ O sangramento espontâneo é comum na ma-
⮧ Plasmodium falciparum. lária grave.
⮨ Plasmodium malariae. ⮩ Alterações neurológicas (confusão, coma, convul-
⮩ Plasmodium ovale. sões fazem parte dos critérios de malária grave.
⮪ O choque deve ser tratado com reposição volê-
mica agressiva, não necessitando monitoração
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Questão 2
hemodinâmica.
(CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO – ES – 2021) Mar-
que a alternativa onde todos os medicamentos são
Questão 5
utilizados no tratamento da malária no Brasil:
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE/RJ – 2014) Um turista
⮦ Praziquantel, Cloroquina, Niclosamida.
volta de um lugar onde há endemia de malária fal-
⮧ Sulfadiazina, Pirimetamina, Ácido Folínico. ciparum. Alertar os médicos em caso de febre é de
⮨ Nitazoxanida, Nitrofurantoina, Antimonial Pen- suma importância para o diagnóstico e instituição
tavalente. precoce do tratamento, o que melhora o prognósti-
⮩ Cloroquina, Primaquina, Lumefantrina. co da malária por Plasmodium falciparum. Deve-se
⮪ Mefloquina, Praziquantel, Primaquina. ter forte suspeita desta doença em pessoas que se
apresentem febris após retornaram de zona endê-
mica em até:
Questão 3
⮦ 1 ano.
(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – PA – 2021) É conside- ⮧ 7 dias.
rado marcador de gravidade nos casos de malária:
⮨ 2 meses.
⮦ Temperatura acima de 39 graus. ⮩ 6 meses.
⮧ Infecção pelo P. vívax.
⮨ Hiperparasitemia acima de 100.000 mm cúbicos.
⮩ Primoinfecção.
⮪ Crianças menores de 3 anos.
215
Malária Infectologia
Questão 6 Questão 9
(HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – 2017) A Amazônia con- (HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – 2018) A malária é a
centra a grande maioria dos casos de malária do mais importante das doenças parasitárias huma-
país. Diante de um paciente adulto, masculino, com nas, sendo uma doença transmitida pela picada do
malária por P. vivax diagnosticada laboratorialmen- mosquito do gênero:
te, que evolui com sinais de gravidade, você indica
como primeira escolha o tratamento com: ⮦ Aedes.
⮧ Anopheles.
⮦ Cloroquina associada à primaquina endovenosas.
⮨ Plasmodium.
⮧ Artemether combinado com lumefantrine oral.
⮩ Phlebotomus.
⮨ Artesunato associado à clindamicina endove-
⮪ Culex.
nosos.
⮩ Quinino associado à clindamicina endovenosos.
Questão 7
⮦ Plasmodium falciparum.
⮧ Plasmodium vivax.
⮨ Plasmodium malariae.
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⮩ Plasmodium ovale.
Questão 8
⮦ Gota fina.
⮧ Hemocultura.
⮨ Gota espessa.
⮩ Pesquisa de antígeno.
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Malária Cap. 6
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Y Dica do professor: Questão mal formulada, algu-
não é o mais comum.
mas alternativas podem estar corretas, então nesse
Alternativa D: INCORRETA. Causa doença menos fre- momento vamos analisar e pensar em qual crité-
quente e menos grave. rios seria o marcador de maior gravidade. A malária
✔ resposta: A grave, maioritariamente causada pelo Plasmodium
falciparum, continua a ser uma das principais cau-
sas de morte por infeção no mundo, principalmente
Questão 2 dificuldade:
na África subsariana. A aquisição de imunidade na
Y Dica do professor: Após a confirmação da malá- malária é lenta, e para ser mantida requer a exposi-
ria, o paciente recebe o tratamento em regime am- ção a variantes antigénicas múltiplas do parasita e
bulatorial, com comprimidos que são fornecidos a maturação do sistema imune do hospedeiro. Os
gratuitamente em unidades do Sistema Único de sinais de gravidade são: Hiperpirexia, Rebaixamen-
Saúde (SUS). Somente os casos graves deverão to do nível de consciência, Glasgow < 11 (adultos),
ser hospitalizados de imediato. O tratamento indi- Prostração, > 2 convulsões/24h, Acidose, Vômitos,
cado depende de alguns fatores, como a espécie Hipoglicemia, Anemia grave, Insuficiência renal, Ic-
do protozoário infectante; a idade e o peso do pa- terícia, Edema pulmonar, Sangramento importante,
ciente; condições associadas, tais como gravidez e Choque, Hiperparasitemia.
outros problemas de saúde; além da gravidade da Alternativa A: INCORRETA. Hiperpirexia (temperatu-
doença. Para otimizar o trabalho dos profissionais ra > 41ºC).
de saúde e garantir a padronização dos procedi- Alternativa B: INCORRETA. Casos mais graves quando
mentos necessários para o tratamento da malária, P. falciparum > 10% ou > 500 mil/mm³.
o Guia de Tratamento da Malária no Brasil apresenta
Alternativa C: INCORRETA. Hiperparasitemia > 10%
tabelas e quadros com todas as orientações rele-
ou > 500 mil/mm³
vantes sobre a indicação e uso dos antimaláricos
217
Malária Infectologia
Alternativa D: INCORRETA. A primoinfecção pode ser 30 dias, dependendo da espécie do agente infec-
mais grave, mas não é um marcador definitivo. cioso. O tempo de incubação do P. falciparum é de
Alternativa E: CORRETA. Pacientes nos extremos de 8 a 12 dias nos casos de transmissão por picada
idade apresentam maior gravidade. do mosquito. O P. malariae é o que pode apresen-
tar maior período de incubação, que é em torno de
✔ resposta: E
30 dias. Avaliando as opções disponíveis nessa
questão, vemos que não temos nenhuma dessas
Questão 4 dificuldade: duas opções: 12 dias ou 30 dias como resposta.
Avaliando outras vias de transmissão, a malária
Y Dica do professor: O espectro clínico da malária transmitida por transfusão sanguínea permanece
pode variar de manifestações oligossintomáticas como uma das infecções mais relevantes para os
até quadros graves e letais. São manifestações clí- serviços de hemoterapia. Embora no Brasil a inci-
nicas e laboratoriais indicativas de malária grave e dência de malária por transfusão sanguínea não
complicada: dor abdominal intensa (ruptura de baço, seja conhecida, em áreas de transmissão ativa a
mais frequente em P. vivax); icterícia; redução do frequência de malária transfusional pode chegar a
volume de urina a menos de 400 mL em 24 horas; mais de 50 casos por milhão de unidades de san-
vômitos persistentes; sangramento; dispneia; cia- gue. Apesar de o enunciado não ter mencionado
nose; taquicardia (avaliar fora do acesso malárico); transfusão sanguínea nesse paciente, quando a
convulsão ou desorientação (não confundir com o infecção se deve a uma transfusão de sangue o
ataque paroxístico febril); prostração (em crianças); período de incubação, pode ser de até 2 meses.
comorbidades descompensadas; anemia grave; hi- Questão controversa e específica.
poglicemia; acidose metabólica; insuficiência renal;
hiperlactatemia; hiperparasitemia (> 250.000/mm3 ✔ resposta: C
para P. falciparum).
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Alternativa A: INCORRETA. Na malária grave os leucóci- Questão 6 dificuldade:
tos podem estar normais ou pode haver leucopenia.
Y Dica do professor: Qualquer paciente com malária,
Alternativa B: INCORRETA. O P. falciparum é respon- que apresente um dos sinais relacionados a seguir,
sável pela maioria dos casos letais. deve ser considerado portador de malária grave e
Alternativa C: INCORRETA. Apesar da plaquetopenia complicada: hiperpirexia (temperatura > 41°C), con-
ser comum nesses casos, os sangramentos espon- vulsão, hiperparasitemia (> 200.000/mm3), vômitos
tâneos são raros. repetidos, diminuição da quantidade de urina, res-
Alternativa D: CORRETA. piração ofegante, anemia intensa, icterícia, hemor-
Alternativa E: INCORRETA. Todo paciente em choque ragias e hipotensão arterial.
hemodinâmico necessita de monitorização contínua. O paciente apresenta malária grave e, portanto,
antimaláricos potentes e de ação rápida devem ser
✔ resposta: D
administrados. Artesunato + clindamicina é o único
esquema entre as alternativas recomendado para
Questão 5 dificuldade: o tratamento de formas graves.
218
Malária Cap. 6
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firmação laboratorial da doença, pela microscopia Alternativa E: INCORRETA. Culex transmite filariose
da gota espessa de sangue ou por testes rápidos e febre do Nilo.
imunocromatográficos.
✔ resposta: B
Alternativa A: INCORRETA. Gota fina não é habitual-
mente utilizada no diagnóstico de malária.
Alternativa B: INCORRETA. Hemocultura não é habi-
tualmente utilizada no diagnóstico de malária.
Alternativa C: INCORRETA. A técnica de gota espes-
sa demanda cerca de 60 minutos, entre a coleta do
sangue e o fornecimento do resultado. Sua eficácia
diagnóstica depende da qualidade dos reagentes,
de pessoal bem treinado e experiente na leitura das
lâminas e de permanente supervisão. Num contexto
de extrema urgência, como no caso, necessitamos
de um resultado mais rápido.
Alternativa D: CORRETA. Os testes rápidos para pes-
quisa de antígeno da malária são de fácil execução
e interpretação de resultados, dispensam o uso de
microscópio e de treinamento prolongado de pes-
soal. Permitem diagnósticos rápidos, em cerca
de 15 a 20 minutos; logo, seriam mais aplicáveis
neste caso.
✔ resposta: D
219
Fixe seus conhecimentos!
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220
Capítulo
FEBRE AMARELA
7
importância/prevalência
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paciente se encontra.
u O tratamento é basicamente de suporte. Para formas graves, a troca plasmática e a diálise contínua mos-
traram-se como estratégias promissoras em estudos publicados após o surto ocorrido no Brasil, em 2018.
u Como a principal consequência dos quadros graves é o acometimento hepático, recentemente entrando
no cenário terapêutico, a realização do transplante hepático, porém suas indicações ainda são alvo de
discussão.
u A profilaxia da doença é feita a partir da vacina altamente imunogênica, composta por vírus vivo atenuado,
sendo as suas contraindicações o assunto mais cobrado nos exames de residência. Fique atento nesse
tópico.
221
Febre amarela Infectologia
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se dispersar para além dos limites da área endêmica.
hepato-renal).
Entre 2017 e 2018, o Brasil registrou uma reemer-
gência da doença, substancialmente na região
Sudeste, onde a maior parte da população não O vírus da febre amarela pertence ao gênero Flavivis-
estava imunizada contra a doença, resultando na rus da família Flaviviridae (do latim flavus = amarelo).
maior epidemia das últimas décadas. Ele pertence ao mesmo gênero e família de outros
vírus responsáveis por doenças no homem, entre os
Nesse período, registraram-se, no Brasil, 483 mortes
quais o dengue, o West Nile, o Rocio e a Encefalite
por febre amarela no período entre 1 de julho de
de St. Louis. Embora apenas um sorotipo do vírus
2017 e 30 de junho de 2018 e, no mesmo período,
seja reconhecido, há pequenas alterações genéticas
foram registrados 1.376 casos da doença.
entre as cepas da América e da África.
O Sudeste foi a região mais afetada, e São Paulo, a
O vírus da febre amarela possui o genoma cons-
cidade com o maior número de casos confirmados
tituído de RNA de fita simples não segmentado,
– 555 casos. Minas Gerais apareceu em segundo
polaridade positiva, com cerca de 11 kilobases de
lugar, com 532 casos, seguido de Rio de Janeiro,
comprimento.
com 282 casos.
O vírion ou nucleocapsídeo mede cerca de 25-40nm
As inúmeras variáveis ecoepidemiológicas – mui-
de diâmetro e é envolvido pelo envoltório bilaminar
tas das quais são potencialmente relacionadas
de natureza lipoproteica conhecido como envelope
à atual expansão da febre amarela – ainda não
(Figura 1), que é originário da célula hospedeira. RNA
estão completamente compreendidas e muitas
viral expressa a síntese de 3 proteínas estruturais
são desconhecidas.
(prM, E e C) e 7 não estruturais (NS1, NS2A, NS2B,
NS3, NS4A, NS4B e NS5).
222
Febre amarela Cap. 7
Fonte: Cangussu1.
As proteínas estruturais codificam a formação da silvestres arbóreos, mormente dos gêneros Haema-
estrutura básica da partícula viral; a proteína prM gogus e Sabethes (no Brasil) e Aedes (Stegomyia – na
codifica o precursor da proteína da membrana (M), África), situação denominada epizootia (Figura 2).
já a proteína E dá origem ao envelope, enquanto a
proteína C codifica a formação do capsídeo viral. Figura 2. Vetor da Febre Amarela.
São a essas proteínas que o organismo humano
responde durante uma infecção, com a produção dos
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anticorpos Inibidores da Hemaglutinação (IH) contra
as glicoproteínas do envelope, e neutralizantes (N)
contra a proteína C do capsídeo. Por outro lado, as
proteínas não estruturais são responsáveis pelas
atividades reguladoras e de expressão do vírus,
incluindo replicação, virulência e patogenicidade.
2.2. VETORES
Fonte: FIOCRUZ².
223
Febre amarela Infectologia
(a) Cebus, (b) Ateles, (c) Saimiri, (d) Callithrix e (e) Alouatta
Fonte: Ale3.
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Em momentos com as condições ideais para trans- ser fonte para um surto da chamada febre amarela
missão, um número maior de primatas adoece e urbana, transmitida basicamente pelo Aedes aegypti,
morre, chamando a atenção da sociedade na forma um mosquito que vive nas cidades.
de epizootia, que representa o evento sentinela, e
define medidas de intensificação de vacinação nos 2.3. EPIDEMIOLOGIA
moradores das regiões afetadas.
Estima-se que o número de animais infectados A febre amarela é uma doença infecciosa endêmica
aumente em intervalos cíclicos dependentes do em regiões tropicais como América do Sul e África.
crescimento da população suscetível de macacos
No passado, a febre amarela urbana representou um
em determinadas regiões, além da densidade de
dos maiores flagelos já vividos pela saúde pública
vetores nas matas. Seres humanos podem ser
brasileira. Com relação à febre amarela silvestre,
infectados esporadicamente, quando adentram a
já na década de 1930, a partir da descoberta de
mata para trabalho ou turismo e são picados pelo
seu ciclo, percebeu-se a impossibilidade de sua
mosquito silvestre infectado, apresentando a cha-
erradicação nas florestas. Contudo, nessa mesma
mada febre amarela silvestre, que pode ocorrer em
época, o advento da vacina específica evidenciou
surtos maiores ou menores, de acordo com o número
que a doença poderia ser controlada mediante a
de indivíduos não imunes expostos. Sendo a febre
vacinação dos indivíduos expostos.
amarela silvestre uma zoonose, sua transmissão não
é passível de eliminação, necessitando de vigilância No Brasil, a vacina contra a febre amarela vem sendo
e manutenção das ações de controle (especialmente utilizada desde 1937, o que reduziu drasticamente
por meio de cobertura vacinal adequada). Uma pes- a ocorrência de casos, tornando-os mais concen-
soa com febre amarela silvestre pode, no entanto, trados nas regiões Norte, Centro-Oeste e estado
224
Febre amarela Cap. 7
do Maranhão, que compõem a área endêmica ou São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
enzoótica. Sul, ondas de epizootia (transmissão intensa de um
agente patogênico entre os animais hospedeiros
Na área epizoótica ou de transição, formada por
naturais) provocaram o surgimento de casos na
parte das regiões oeste do Piauí, Bahia, Minas Gerais,
população humana.
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Fonte: Freire4.
225
Febre amarela Infectologia
Mosquito
Aedes aegypti
Doença infecciosa
Arbovírus flaviviridae
não contagiosa
FEBRE
AMARELA
Há vacinação
Humanos e macacos
preventiva
Áreas Febre
endêmicas (Brasil) hemorrágica viral
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226
Febre amarela Cap. 7
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Fonte: Adaptado de OPAS5. que não incomodam o paciente nem dificultam a
sua locomoção. A cefaleia costuma ser duradoura
A doença também se apresenta como infecções e intensa. A febre se eleva mais e só cede após
assintomáticas ou subclínicas que, junto com as o uso de antitérmicos; a astenia mostra-se mais
formas leves da doença, somente são surpreendidas pronunciada. Nesta forma, pelo menos um dos sin-
pelos exames laboratoriais específicos. O período tomas clássicos da doença costuma acompanhar o
de incubação médio é de 3 a 6 dias, todavia pode curso clínico. De fato, epistaxe, ligeira albuminúria
ser de até 10 dias. e subicterícia acontecem. Às vezes, observa-se o
Estima-se que pelo menos 90% dos casos de febre Sinal de Faget, isto é, a ocorrência de bradicardia
amarela com expressão clínica sejam das formas acompanhando a febre elevada. O período de estado
classificadas como leves e oligossintomáticas, revela-se mais longo, durando, em média, de 2 a 3
raramente diagnosticadas, e que somente 10% dias, e a recuperação mostra-se completa e sem
seja das formas graves associadas com elevada sequelas. Diagnosticam-se essas formas no curso
letalidade. Cumpre ressaltar que algumas pessoas de epidemias em locais onde ocorreram ou estão
desenvolvem quadros assintomáticos, subclínicos ocorrendo outros casos.
e formas leves da doença, de difícil diagnóstico Forma grave: na forma grave, o quadro clínico ini-
clínico, exceto na vigência de epidemia. cia-se abruptamente com febre elevada e cefaleia
Os demais indivíduos desenvolvem formas clínicas intensa. Nessa forma, o Sinal de Faget torna-se
mais exuberantes, e outros exibem quadro graves. evidente. A cefaleia se intensifica. As dores mus-
Aí se incluem as pessoas não vacinadas e, por isso, culares generalizam-se. As náuseas e os vômitos
completamente suscetíveis à enfermidade. Tais pes- incomodam. Há icterícia franca, albuminúria persis-
soas, quando acometidas pela arbovirose, podem tente e, por vezes, acompanhada de oligúria. Des-
crevem-se hemorragias, em particular hematêmese
227
Febre amarela Infectologia
e sangramento uterino. Este modo cursa por até 7 A forma grave ou moderadamente grave é clini-
dias, usualmente por 5 dias. A febre, na maior parte camente diagnosticada porque pelo menos um
dos casos, mostra-se persistente. O acometimento dos sintomas clássicos da enfermidade, como
do pâncreas (pancreatite grave, necro-hemorrágica) hematêmese, icterícia ou oligúria/anúria, pode ser
foi intensamente descrito em pacientes graves no observado. Na forma maligna, todos os sintomas
surto de 2018, no Brasil, sendo fator prognóstico clássicos encontram-se presentes (Quadro 1).
de mortalidade em algumas casuísticas.
Plaquetopenia,
Febre, cefaleia, mialgia, náuseas, elevação moderada de transaminases,
Leve/moderada
icterícia ausente ou leve bilirrubinas normais ou discretamente
elevadas (predomínio de direta)
Todos os anteriores,
Plaquetopenia intensa,
icterícia intensa,
Grave aumento de creatinina,
manifestações hemorrágicas,
elevação importante de transaminase
oligúria, diminuição de consciência
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Forma clássica (maligna): a sintomatologia caracte- formas leve, moderada e grave, que realmente se
riza-se pelo início abrupto. Inicialmente, surge febre curam, esses pacientes, repentinamente apresentam
elevada, informando, o paciente, ter-se sentido bem piora do quadro.
algumas horas antes. A febre não acompanha ele-
No período de intoxicação (toxêmico ou fase de
vação da pulsação. A temperatura pode atingir 39°
localização), o vírus deixa de circular no sangue,
ou 40°C. Pouco tempo depois do aparecimento da
sendo encontrado principalmente no fígado e no
febre, surge cefaleia holocraniana de tal intensidade
baço, mas também no coração, nos linfonodos e
que o paciente, muitas vezes, solicita a prescrição de
em outros órgãos. As náuseas se intensificam e os
analgésicos potentes. Acompanhando esse quadro,
vômitos agravam-se ou, se anteriormente ausentes,
as dores musculares generalizadas, sobretudo nas
surgem repentinamente. Estes, de início, costumam
costas, intensificam-se. As náuseas e os vômitos
ser alimentares, entretanto, com a evolução, tornam-
tornam-se importantes. Esse quadro evolui por
-se hemorrágicos. Outras manifestações hemorrá-
2 a 3 dias e corresponde ao período prodrômico,
gicas são também constantemente encontradas,
fase infecciosa ou de viremia da enfermidade, que
como, por exemplo, as hemorragias do tegumento,
se completa pela presença de astenia, anorexia,
das gengivas e do ouvido. No trato gastrointestinal,
prostração e tontura.
observa-se melena.
Em muitos pacientes, seguindo-se ao período infec-
Acompanhando, ou mesmo antecedendo as hemor-
cioso, há o período que se caracteriza por sensação
ragias, há plaquetopenia, em algumas situações, tão
de melhora e cura iminente, em que há diminuição
acentuada que pode chegar a menos de 20.000/mm3
da febre. As dores musculares diminuem e a cefaleia
de sangue. Alguns pacientes, mesmo apresentando
torna-se suportável. O período de remissão costuma
níveis tão baixos de plaquetas, não sangram, e
durar de algumas horas até 1 ou 2 dias. Em seguida,
outros, com taxas entre 50.000 a 100.000 plaquetas,
ao contrário dos indivíduos que desenvolvem as
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Febre amarela Cap. 7
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sétimo e o décimo dia de doença em virtude da
Os exames laboratoriais inespecíficos podem apre-
falência hepatorenal ou hemorragias incontroláveis.
sentar alterações e auxiliam na identificação de
Resumindo, na forma maligna podemos ter: coagu- formas mais graves e no manejo clínico.
lopatia, CIVD, plaquetopenia, falência hepática com
O diagnóstico específico de febre amarela pode
hepatite severa e encelopatia. Nas últimas séries
ser feito de forma direta pela detecção do vírus
de casos, no Brasil, a pancreatite apareceu com um
em amostras clínicas (sangue e/ou tecidos – PCR)
dos principais fatores associados à gravidade e ao
ou de forma indireta pela detecção de anticorpos
pior prognóstico.
ELISA (5 a 7 dias).
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Febre amarela Infectologia
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De acordo com o tempo previsto para a chegada
u Formas clínicas leves ou moderadas. à unidade de terapia intensiva, algumas medidas
u Paciente em regular estado geral, hidratado ou podem ser iniciadas na unidade básica e mantidas
com desidratação leve, sem vômitos, sem his- durante o tempo de transporte, especialmente as
tória ou sinais de hemorragias, com nível de relacionadas a coagulopatias e a hemorragias. A
consciência normal. coagulopatia observada na febre amarela decorre
u Exames laboratoriais normais ou com alterações da diminuição de produção de fatores de coagu-
discretas no hemograma (leucopenia, plaqueto- lação por comprometimento hepático, podendo
penia acima de 150.000, hemoconcentração <10% estar associada à Coagulação Intravascular Disse-
do valor de referência), transaminases menores minada (CIVD). A avaliação deve incluir análise dos
que 2 vezes o limite superior da normalidade e resultados das provas de coagulação, indicativas
bilirrubina menor que 1,5 vez o limite superior da de maior gravidade, se o tempo de coagulação
normalidade, sem proteinúria, provas de coagu- for maior que 20 minutos e o INR acima 1,5 vez
lação normais. o limite superior de normalidade. Nesses casos,
u Possibilidade de voltar rapidamente ao serviço devem ser evitados procedimentos invasivos, e o
de saúde se houver piora do quadro. uso de heparina não é recomendado. Medidas de
suporte incluem aplicação de vitamina K (10 mL/
Caso a conduta seja acompanhamento ambulatorial, kg/dia) por 3 dias, proteção gástrica (ex.: omeprazol,
deve-se prescrever sintomáticos para febre, dor cimetidina, ranitidina) e transfusão de concentrado
e hidratação oral. O paciente e os acompanhan- de hemácias e/ou plasma fresco congelado. O
tes devem ser orientados a retornar ao serviço de plasma fresco congelado (10 mL/kg) deve ser usado
saúde imediatamente se houver piora dos sintomas na presença de coagulopatias, e a transfusão de
existentes, persistência de febre alta (>39°C) por plaquetas é reservada para situações específicas,
230
Febre amarela Cap. 7
como sangramento persistente não controlado com Há, portanto, um papel atual para o transplante de
trombocitopenia e INR maior que 1,5 vez o limite fígado no tratamento dos casos de febre amarela
superior de normalidade. grave com acometimento hepático. Sem embargo,
não há, ainda, dados disponíveis para se definirem
A hospitalização em unidade de terapia intensiva
critérios específicos para a indicação, ou mesmo o
está indicada para pacientes que apresentarem
melhor momento para a sua realização. Os grupos
qualquer alteração clínica ou laboratorial de formas
têm investido na avaliação de fatores prognósticos
graves e malignas a qualquer momento desde a
dos casos graves, o que provavelmente trará infor-
avaliação inicial. Diálise contínua com altas con-
mações úteis para a construção destes critérios.
centrações de bicarbonato nas soluções, troca
plasmática e uso profilático de anticonvulsivantes se
mostraram estratégias importantes em publicações
DIA A DIA MÉDICO
após o surto de 2018 (Quadro 2).
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do volume urinário, que TGP, diferentemente Medidas de proteção individual: prevenção contra
Vômitos constantes, da hepatite aguda), picadas de mosquitos, são utilizados em todos os
Diminuição do nível Creatinina elevada, pacientes, principalmente os que possuem alguma
de consciência, Coagulograma contraindicação para a vacina de vírus atenuado.
Dor abdominal intensa alterado (ex.: tempo de
coagulação > 20 min)
u Usar camisas de mangas compridas e calças.
Fonte: Ministério da Saúde6.
u Ficar em lugares fechados com ar-condicionado
ou que tenha janelas e portas com tela, para evi-
tar a entrada de mosquitos.
5.2. BRASIL 2018: PRIMEIRO u Dormir debaixo de mosquiteiros, preferivelmente
TRANSPLANTE HEPÁTICO DO impregnados com permetrina.
MUNDO EM FEBRE AMARELA u Usar repelentes registrados oficialmente. Quando
usados de forma correta, são seguros eficazes,
O transplante hepático devido à hepatite fulminante mesmo na gestação ou na amamentação.
pelo vírus da febre amarela foi realizado, pela pri- u Evitar uso de produtos com associação de re-
meira vez, no fim de dezembro de 2017, no Hospital pelente e protetor solar na mesma formulação.
das Clínicas, em São Paulo. Ocorre diminuição em 1/3 dos fatores de proteção
No entanto, várias questões ainda não se encon- solar, quando utilizados juntamente com o DEET.
tram definidas: para qual perfil de paciente e em u Se for usar protetor solar, aplicá-lo antes do re-
que momento o transplante hepático poderia ser pelente.
recomendado nos casos de febre amarela? A indi-
cação deve se dar a partir de quais critérios, clínicas
e laboratoriais de falência hepática?
231
Febre amarela Infectologia
6.1. V
ACINAÇÃO: ASSUNTO A No momento atual, a área de recomendação de
SER COBRADO NOS EXAMES vacinação foi ampliada a partir da rápida expansão
DE RESIDÊNCIA da doença para toda a região sudeste e sul da Bahia,
observada desde o final de 2016 e no ano de 2017,
quando foi registrada uma importante epidemia.
BASES DA MEDICINA
Desde 2013, a Organização Mundial de Saúde passou
a recomendar que apenas uma dose da vacina de
Vírus vivo atenuado, é necessário prestar bastante aten- febre amarela seja administrada ao longo da vida. Na
ção com relação a administração da vacina para pessoas
atualidade, no Brasil, não se indica dose de reforço
com evidência de imunosupressão e conhecer bem as
contraindicações. da vacina contra febre amarela, uma aos 9 meses
e outra aos 5 anos de idade. Quando não vacinado
nesse período, indica-se somente 1 dose da vacina.
u A partir de 2020 são 2 doses, sendo a primeira
aos 9 meses e a segunda aos 4 anos de idade.
u Fracionamento de doses aprovado pela OMS, DIA A DIA MÉDICO
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dose única da vacina. Hoje, pelos guias, em nosso país,
da dose padrão para abranger o maior número de
não existe, ainda, a indicação de dose de reforço (essa
indivíduos possíveis. recomendação vale para os concursos médicos).
Um recente estudo apontou que 98% dos participan-
tes da pesquisa tornaram-se soropositivos após a 6.2. IMPORTANTE CONHECER AS
vacinação com dose fracionada e concluiu que a INDICAÇÕES E SITUAÇÕES
resposta imunológica era adequada. Apesar disso, ESPECÍFICAS PARA CONTRA-
o estudo não comparou a resposta da vacina com INDICAÇÕES RELATIVAS.
o uso da dose completa. Em 2019, o Brasil retornou
ao esquema de dose completa sem fracionamento u Nos exames, aparecerão vários cenários mais
pela diminuição de casos e pela quantidade sufi- controversos e, basicamente, o questionamento
ciente de vacinas. é: posso ou não fazer a vacina? Seguem abaixo
os principais cenários:
u Após a epidemia de 2018, em 2019, o Brasil pas-
sou a, novamente, recomendar a dose integral da
u A partir dos 9 meses, não vacinado: uma dose →
vacina para todas as indicações, todavia, essas duração para toda a vida. Doses fracionadas →
recomendações podem mudar, a depender das duração ainda não é bem conhecida, atualmente,
características de futuras epidemias, cobertura no Brasil, não se indica mais o fracionamento.
vacinal e disponibilidade de doses. u Gestantes não vacinadas: deverão ser vacinadas
com 1 dose da vacina (em qualquer período ges-
A indicação da vacina contra a FA esteve sempre res- tacional) se residirem ou forem se deslocar para
trita aos lugares considerados endêmicos, haja vista área com transmissão ativa da doença (municí-
a pequena quantidade de casos diagnosticados. pios com casos humanos ou epizootias confirma-
das). A gestação é apenas uma contraindicação
232
Febre amarela Cap. 7
relativa, quer dizer, em situações de alto risco W HIV + com imunossupressão grave, com a
ou epidemia deve-se pensar no risco-benefício. contagem de células CD4 <350 células/mm3
u Pessoas acima de 70 anos não vacinadas: é fun- ou menor de 15% do total de linfócitos para
damental que os profissionais de saúde façam a crianças menores de 6 anos.
avaliação, perguntando se a pessoa não se enqua- W Em tratamento atual com drogas imunossu-
dra nas contraindicações antes de administrar a pressoras (corticosteroides, quimioterapia,
vacina. Pensar em risco versus benefício. Em ce- radioterapia, imunomoduladores), corticoides
nários de epidemia, a contraindicação é relativa. com dose de 2mg/kg/dia de prednisona ou
u Viajantes para áreas com vigência de surto no equivalente para crianças e acima de 20 mg/
país ou para países que exigem o Certificado In- dia para adultos por tempo superior a 14 dias.
ternacional de Vacinação: administrar uma dose Após a interrupção do corticoide nas doses
pelo menos 10 dias antes da viagem, respeitando relatadas acima, aguardar por 4 semanas an-
as precauções e as contraindicações da vacina. tes de vacinar.
Nesse caso, a dose aplicada é a completa, não W Submetidos a transplante de órgãos.
a fracionada. W Com imunodeficiência primária.
u Doadores de Sangue: os doadores de sangue e/ W Com neoplasia ou doença oncológica.
ou órgãos vacinados contra febre amarela de- W Em uso de medicações antimetabólicas ou
vem aguardar um período de 4 semanas após a
medicamentos modificadores do curso da
vacinação para realizar a doação. É importante
doença (infliximabe, etanercepte, golimumabe,
que os doadores doem sangue antes de receber
certolizumabe, abatacept, belimumabe, uste-
a vacina.
quinumabe, canaquinumabe, tocilizumabe,
u Nos casos de doenças agudas febris moderadas ritoximabe).
ou graves, recomenda-se adiar a vacinação até W Com história de reação anafilática relaciona-
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a resolução do quadro, com o intuito de não se
da a substâncias presentes na vacina (ovo de
atribuir à vacina as manifestações da doença.
galinha e seus derivados, gelatina bovina ou
u Indivíduos infectados pelo HIV: as recomendações a outras).
são variáveis, mas, de uma forma geral, pacien- W Reação de hipersensibilidade grave ou doença
tes assintomáticos, com CD4 maior do que 200
neurológica após dose prévia da vacina.
e menor do que 350 e carga viral indetectável,
são elegíveis à vacinação.
W História pregressa de doenças do timo (miaste-
nia gravis, timoma, casos de ausência de timo
u A administração da VFA em indivíduos com lúpus
ou remoção cirúrgica).
eritematoso sistêmico ou com outras doenças
de etiologia potencialmente autoimune: deve ser
avaliado caso a caso, considerando a possibili-
DIA A DIA MÉDICO
dade de imunossupressão.
Importante, nessa avaliação, perguntar o tempo de uso do
6.3. CONTRAINDICAÇÕES À VACINAÇÃO imunossupressor, dose e há quanto tempo já suspendeu
o uso dessas medicações. Assim, dependendo do tempo
da última dose, precisa-se esperar um período específico.
u Seguem as principais contraindicações absolu-
No caso dos biológicos, esperar 4 meias vidas de descon-
tas à vacinação: tinuidade para se iniciar vacinas com vírus atenuados.
u Crianças menores de 9 meses de idade. Todavia,
entre 6 a 9 meses, a vacina pode ser considerada
pesando risco versus benefício, principalmente
em momentos de epidemia.
u Pacientes com imunodepressão de qualquer na-
tureza e indivíduos com as seguintes condições:
233
Febre amarela Infectologia
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234
Febre amarela
Náuseas Oligúria
Falência
Icterícia leve Sinal de Faget hepato-renal
Hospitalização
Pessoa que Sorologia e repouso Contraindicações
Sinais e sintomas Após 9 meses Pessoas entre 5 a 59
visitou áreas endêmicas e PCR de idade anos não vacinadas
Formas graves: UTI Imunodeprimidos
Reforço
Dose única
com 4 anos Gestantes
Menores
Mais de 60 anos
de 6 meses
235
Cap. 7
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Febre amarela Infectologia
REFERÊNCIAS
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Febre amarela Cap. 7
QUESTÕES COMENTADAS
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taquicardia. ⮩ 7 – 21 dias.
⮨ Os fenômenos hemorrágicos é um componente
proeminente na fase de infecção e melhora no
período de remissão. Questão 4
⮩ O período de intoxicação caracteriza a primeira (PUC - SOROCABA – SP – 2020) O quadro clínico clássico
fase da doença com o pico de viremia. de febre amarela no período infeccioso se estabe-
lece com os sintomas:
Questão 2 ⮦ Febre alta, icterícia intensa, inapetência, mialgia
e dissociação de pulso temperatura.
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE GOIÂNIA – GO – 2020) Ao
menos 38 macacos morreram por febre amarela ⮧ Febre, cefaleia intensa, inapetência, artralgia,
de julho de 2019 a 8 de janeiro deste ano e mais de náuseas e mialgia.
1 mil mortes suspeitas de primatas foram investi- ⮨ Febre, cefaleia leve, mialgia, náuseas.
gadas, de acordo com um boletim epidemiológico ⮩ Febre, cefaleia, mialgia, sinais de irritação me-
divulgado nesta quarta-feira (15) pelo Ministério níngea.
da Saúde.”” (PORTAL G1, 15 de janeiro de 2020).
A respeito da febre amarela, é CORRETO afirmar:
Questão 5
⮦ O acometimento hepático leva, tipicamente, a
aumento de enzimas canaliculares, com tran- (FMUSP – 2019) Homem, 22 anos de idade, tem infecção
saminases normais. por HIV diagnosticada há 4 anos (exames recentes
com CD4 550 cels/mm3 carga viral < 40 copias/
⮧ Tem como sinal patognomônico o sinal de Faget
mL). Está em uso de terapia antirretroviral com te-
ou dissociação pulso-temperatura.
nofovir/lamivudina/efavirenz e procura atendimento
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Febre amarela Infectologia
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Questão 8
da doença. As formas leves e moderadas não
apresentam alterações hepáticas; (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2018) Nos últimos três
3. A vacina da febre amarela é composta por vírus anos, o Brasil passou por epidemias simultâneas
inativado, motivo pelo qual é contraindicada de três arboviroses. Recentemente, esse quadro
somente para pacientes com histórico de alergia se agravou, com a emergência do maior surto de
à proteína de ovo; febre amarela silvestre dos últimos 50 anos. Qual
4. O diagnóstico laboratorial da febre amarela é a alternativa correta com relação à vigilância, pre-
baseia-se em metodologias sorológicas, com venção e controle das arboviroses?
a pesquisa de anticorpos IgG e IgM. Os testes
⮦ O controle vetorial é a principal medida de con-
para isolamento viral e de detecção de ácido
trole da febre amarela.
nucleico também podem ser utilizados para
pacientes que estejam em uma fase precoce ⮧ Uma das limitações do uso da vacina contra
da doença. febre amarela é a doença viscerotrópica asso-
ciada à vacina.
São CORRETAS as afirmações contidas, APENAS, em: ⮨ A reação cruzada entre as sorologias para Zika e
⮦ 1, 3 e 4. Chikungunya dificulta a vigilância epidemiológica.
238
Febre amarela Cap. 7
Questão 9 Questão 11
(CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO – 2018) É con- (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE LIMEIRA – 2018) Qual dos
siderado critério para confirmação diagnóstica da subgrupos abaixo pode ser vacinado para febre
febre amarela: amarela?
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ocorrência de epizootia confirmada em primatas
não humanos nos últimos 15 dias. Questão 13
239
Febre amarela Infectologia
Questão 15
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Febre amarela Cap. 7
GABARITO E COMENTÁRIOS
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na direta e prolongamento do tempo de trombina. Alternativa C: INCORRETA. A síndrome de Weil é a
Alternativa B: INCORRETA. O sinal de Faget é muito forma grave da leptospirose. Apesar de ser um
comum na Febre Amarela, porém é caracterizado diagnóstico diferencial da febre amarela, visto que
pela hipertermia com bradicardia. também é uma síndrome febril aguda que evolui
com eventos hemorrágicos e icterícia, a síndrome
Alternativa C: INCORRETA. As manifestações hemorrá-
de Weil apresenta peculiaridades que a diferenciam
gicas são características do período de intoxicação.
da febre amarela, como presença de leucocitose
Alternativa D: INCORRETA. O período de infecção com desvio e insuficiência renal aguda com potás-
(fase de viremia) corresponde ao período inicial da sio normal ou reduzido.
doença. Cerca de 10% dos pacientes podem evoluir
Alternativa D: INCORRETO. A vacina da febre amarela
para o período de intoxicação, caracterizado pelas
é realizada com vírus atenuada, e contraindicada
manifestações hemorrágicas.
em pacientes imunossupressos.
resposta: A
resposta: C
✔
✔
Questão 2 dificuldade:
Questão 3 dificuldade:
Y Dica do professor: A febre amarela é uma doença
Y Dica do professor: A febre amarela é causada pelo
infecciosa que tem como principal vetor o Aedes
vírus de mesmo nome, um vírus composto por RNA,
aegypti e afeta principalmente regiões tropicais da
que pertence ao gênero flavivirus (assim como o
África e América do Sul. No Brasil, a febre amare-
vírus da Dengue), transmitido ao homem através
la foi responsável por diversas epidemias desde o
da picada de mosquitos Aedes aegypti (no ciclo
século XVII, época em que se acredita que a doen-
urbano) ou Haemagogus (no ciclo silvestre). No ci-
ça foi trazida da África para o Brasil em virtude do
clo silvestre, o vírus é transmitido entre primatas,
comércio de escravos. Hoje, apesar de endêmica
241
Febre amarela Infectologia
através da picada do mosquito. O homem pode se Alternativa D: INCORRETA. O paciente não apresenta
infectar ao adentrar a mata onde ocorram casos sinais de irritação meníngea.
entre primatas, adquirindo a febre amarela pela ✔ resposta: B
picada de mosquito infectado a partir de um ma-
caco doente. No ciclo urbano, o mosquito infecta-
do pelo vírus transmite-o entre humanos. O último Questão 5 dificuldade:
surto registrado de febre amarela urbana no Brasil
Y Dica do professor: Paciente com infecção pelo
foi no início dos anos 1940, no Acre. O período de
HIV, assim devemos ter cuidado com relação a va-
incubação é curto, de 3 – 6 dias.
cinas de vírus atenuados como é vacina contra fe-
✔ resposta: A bre amarela. De acordo com a Nota Informativa nº
01, da Secretaria de Vigilância em Saúde, de 23 de
dificuldade:
março de 2017, todas as pessoas vivendo com HIV
Questão 4
(PVHIV) podem se vacinar contra a febre amarela,
Y Dica do professor: A febre amarela pode se apre- desde que não apresentem imunodeficiência grave
sentar de diversas formas nos indivíduos. Eles po- (CD4 < 200), idealmente com CD4 > 350. Nesse caso
dem ser assintomáticos ou desenvolver quadros o paciente tem CD4 > 350 e não tem nenhuma con-
sub-clínicos com a forma leve a moderada da doen- traindicação para a vacina de febre amarela. A dose
ça; ou desenvolver quadros graves, sendo a forma deve ser plena (não há estudos de fracionamento
clássica da doença. Os quadros leves a moderados para imunocomprometidos) e a dose deve ser única.
apresentam sintomatologia inespecífica, que pode ✔ resposta: C
inclusive se confundir com outras doenças comuns
em áreas endêmicas, como malária, hepatites virais
etc. Porém, a forma clássica da doença é caracte- Questão 6 dificuldade:
rizada por um período de incubação de cerca de 6
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Y Dica do professor: 90% dos casos de febre amarela
dias, evoluindo com um quadro de febre elevada
são oligo/assintomáticos.
que aparece de forma abrupta, associado à cefaleia
holocraniana muito intensa. É comum também ob- Assertiva 1: FALSA. As manifestações duram 3 a 4
servar o sinal de Faget, a dissociação pulso-tempe- dias. Após esse período, há cura ou evolução para
ratura (febre com redução da pulsação). Além disso, a forma grave.
o paciente pode apresentar mialgia, especialmente Assertiva 2: VERDADEIRA. Acometimento hepático é
nas costas, artralgia, astenia, prostração e náuseas. típico da forma grave da febre amarela.
Este quadro dura cerca de 2 a 3 dias, e refere-se ao Assertiva 3: FALSA. A vacina da febre amarela é feita
período prodrômico ou fase infecciosa da doença, com vírus vivo atenuado, estando contraindicada
que é seguido de uma fase de remissão por cerca em casos de imunossupressão.
de 12 a 48 horas, que em alguns pacientes pode
Assertiva 4: VERDADEIRA. O diagnóstico de febre
evoluir para o período de intoxicação, quando há o
amarela pode ser feito por sorologia ou, mais pre-
agravamento dos sintomas, e se iniciam os sinto-
cocemente, por isolamento viral.
mas hemorrágicos e a icterícia, característicos da
forma grave desta doença. ✔ resposta: C
Alternativa A: INCORRETA. A icterícia está presente
na fase de intoxicação. Questão 7 dificuldade:
Alternativa B: CORRETA. Estes sintomas estão presen-
tes na forma clássica da doença na fase infecciosa.
Y Dica do professor: A letalidade da febre amarela
grave é de até 50%.
Alternativa C: INCORRETA. A febre amarela é carac-
terizada por uma cefaleia holocraniana intensa na Alternativa A: CORRETA. 90% dos casos de febre
sua forma clássica. amarela são oligo/assintomáticos.
242
Febre amarela Cap. 7
na contra febre amarela é a doença viscerotrópica Y Dica do professor: A indicação da vacina contra
associada à vacina, uma vez que se trata de vacina febre amarela em pacientes soropositivos para
com agente vivo atenuado, podendo causar a doen- HIV se baseia na avaliação do estado imunológico
ça, principalmente em indivíduos imunodeprimidos. do paciente e do risco epidemiológico. CD4 > 350
✔ resposta: B (≥ 20%) – indicar uso; 200 a 350 (15% a 19%) – ava-
liação individual do risco/benefício; < 200 (15%) –
não vacinar.
Questão 9 dificuldade:
Alternativa A: CORRETA. Diabetes não é contraindi-
Dica do professor: HBeAg positivo indica elevada cação à vacina da febre amarela.
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Y
replicação viral. Alternativa B: INCORRETA. A vacina é contraindicada
HBsAg positivo = infecção; antiHbc-lgm positivo = em gestantes. A administração deve ser analisada
aguda; HBeAg positivo = alta infectividade. caso a caso na vigência de surtos.
Considera-se caso confirmado de febre amarela, Alternativa C: INCORRETA. A vacina está contraindi-
segundo o MS, todo caso suspeito que apresente cada em pessoas com história de anafilaxia com-
pelo menos uma das seguintes condições: isola- provada em doses anteriores ou relacionada a subs-
mento do vírus da FA; detecção do genoma viral; tâncias presentes na vacina (ovo de galinha e seus
detecção de anticorpos da classe IgM pela técnica derivados, gelatina bovina ou a outras).
de MAC-ELISA em indivíduos não vacinados ou Alternativa D: INCORRETA. A vacina para febre amarela
com aumento de quatro vezes ou mais nos títulos está contraindicada em pacientes infectados pelo
de anticorpos pela técnica de inibição da hemaglu- HIV com imunossupressão grave, com a contagem
tinação (IH), em amostras pareadas; achados his- de células CD4 < 350 células/mm3.
topatológicos com lesões nos tecidos compatíveis
✔ resposta: A
com FA. Além disso, segundo critério de vínculo
epidemiológico: todo caso suspeito de febre ama-
rela que evoluiu para óbito em menos de dez dias, Questão 12 dificuldade:
sem confirmação laboratorial, em período e área
compatíveis com surto ou epidemia, em que outros Y Dica do professor: A vacinação contra febre amarela
casos já tenham sido confirmados laboratorialmente. é a medida mais importante e eficaz para prevenção
e controle da doença. É um imunobiológico segu
✔ resposta: A
ro e altamente eficaz na proteção contra a doença,
com imunogenicidade de 90% a 98% de proteção.
243
Febre amarela Infectologia
nais de saúde é sempre importante, mas não é a Y Dica do professor: Questão direta e conceitual.
medida de maior impacto na prevenção de febre Utilizado na saúde pública veterinária para qualifi-
amarela. car a ocorrência de um determinado evento em um
Alternativa C: INCORRETA. Informação é importante, número de animais ao mesmo tempo e na mesma
mas não é a medida de maior impacto na prevenção região, podendo levar ou não a morte. A vigilância
de febre amarela. em epizootias, mais especificamente em primatas
Alternativa D: CORRETA. A vacinação é a principal não humanos, tem como objetivo a prevenção de
medida de controle da febre amarela, e durante a casos humanos de febre amarela através da iden-
ocorrência de um surto da doença recomenda-se a tificação precoce da circulação viral na população
vacinação das pessoas não vacinadas que residem de macacos mortos ou doentes (vigilância passiva).
ou vão se deslocar para a área de risco. A vigilância de epizootias de Primatas não humanos
Alternativa E: INCORRETA. Intensificação de ações consiste na notificação e investigação dos casos de
de vigilância é importante, mas não é a medida de adoecimento e/ou morte de macacos. Para efeito de
maior impacto na prevenção de febre amarela. vigilância, considera-se que todo PNH, de qualquer
espécie, encontrado morto (incluindo ossadas) ou
✔ resposta: D
doente, no território nacional, deve ser conside-
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rado como suspeito de febre amarela. O óbito de
Questão 13 dificuldade: macacos em uma determinada região em curto
espaço de tempo é o indício de circulação do vírus
Y Dica do professor: Pacientes HIV com indicação em regiões de matas e florestas, servindo como
de vacina devem receber a vacina em dose integral um alerta para as autoridades de saúde adotarem
(não fracionada). medidas imediatas de prevenção.
A indicação da vacina contra febre amarela em
✔ resposta: C
pacientes soropositivos para HIV se baseia na ava-
liação do estado imunológico do paciente e do risco
epidemiológico. CD4 > 350 (≥ 20%) – indicar uso;
200 a 350 (15% a 19%) – avaliação individual do
risco/benefício; < 200 (15%) – não vacinar.
✔ resposta: A
Questão 14 dificuldade:
244
Capítulo
HEPATITES VIRAIS
8
importância/prevalência
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u Hepatite C: PCDT brasileiro com a indicação de tratamento universal independentemente de estadiamento
fibroinflamatório (PCR positivo = tratamento).
u Tratamento da hepatite C por genótipo, novas drogas com ação direta e conceito de reinfecção.
u Outras hepatites virais: hepatite delta e E e seus aspectos gerais.
Alanina aminotransferase
↑ Transaminases (ALT ou TGP)
Leucograma Albumina
Diagnóstico
Marcadores virais Anti-VHA (IgG e IgM)
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AgHBs; AgHBc;
Cobre AgHBe; Anti-HBs
Ceruplasmina Anti-HCV
Etiológico
246
Hepatites virais Cap. 8
Nesse contexto, elas podem ser causadas por 5 e sintomas clínicos – embora alguns dados possam
principais tipos de vírus, mas a distinção entre os 5 favorecer a suspeita de um ou outro tipo.
tipos é impossível de ser feita com base nos sinais
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É importante destacar que, nos últimos anos, tive- u Drogas imunobiológicas e a possibilidade de
mos avanços e mudanças epidemiológicas notó- reativação do vírus hepatite B.
rias no cenário nacional e global das hepatites, a
destacar: As hepatites virais são doenças de notificação com-
pulsória regular (em até 7 dias). Portanto, todos os
u Simplificação na terapêutica da hepatite C com o casos confirmados e surtos devem ser notificados
surgimento de drogas potentes (a partir de 2013) e registrados no Sistema de Informação de Agravos
e com altas taxas de resposta virológica (as cha- de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de
madas drogas de ação direta, DAAs). Investigação das Hepatites Virais.
u Surtos, em vários países do mundo, de hepatite Em termos mundiais, a hepatite viral A é a mais
A, com um cenário de transmissão sexual (HSH). frequente, porém, nos países desenvolvidos, são as
u Desafio de ampliar a cobertura vacinal para a hepatites virais crônicas (particularmente as hepa-
hepatite B no mundo. tites B e C) as que se revestem de maior impacto
u Introdução da vacina do vírus A no calendário em termos de morbidade e mortalidade, ao serem
nacional, em 2014. as principais causas de doença hepática crônica.
u Tratamento para todos com hepatite C crônica
no Brasil, independentemente do estágio de fi-
brose hepática.
247
Hepatites virais Infectologia
BASES DA MEDICINA
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u Família Picornaviridae. prevalência são as regiões Norte e Nordeste; e a
u Transmissão fecal-oral, mais recentemente des- Sul, a de menor.
taque por surtos mundiais de HAV em HSH. Como a aquisição da doença gera anticorpos dura-
u Período de incubação de 15 a 45 dias (média de douros, indivíduos que já tiveram hepatite A estão
4 semanas). imunes a reinfecções. Dessa maneira, áreas de alta
u A viremia é curta e o vírus A é eliminado nas fe- endemicidade (em que as crianças, muito cedo,
zes entre os dias que precedem a instalação da adquirem a doença, sendo 90% antes dos 10 anos)
icterícia até 8 dias depois. têm adultos protegidos, enquanto em áreas de baixa
u Não ocorre cronificação. endemicidade (baixa transmissão da doença), a
maioria da população é suscetível, ou seja, tem
u Vacina disponível, altamente imunogênica, que
risco de adquirir a doença.
está no programa brasileiro de imunizações.
A transmissão se dá por contato fecal-oral, direta ou
indiretamente, pelo contato com água e alimentos
contaminados. A transmissão ocorre através de
vários tipos de alimentos, como frutas, verduras,
frutos do mar, e águas contaminadas. Sabe-se que
o vírus pode sobreviver por períodos longos, de 12
semanas a 10 meses em água, e que os moluscos
e crustáceos podem reter e acumular o vírus por até
15 vezes mais que o nível original da água.
Além disso, existe o risco de contágio associado ao
convívio familiar e ao agrupamentos de pessoas,
248
Hepatites virais Cap. 8
ademais de viajantes que se dirigem a regiões A forma ictérica tem mais de 99% de evolução
endêmicas da doença. benigna e autolimitada. As formas prolongada e
colestática são mais raras e não representam cro-
A principal faixa etária acometida é a das crianças
nificação da doença, e sim uma evolução mais pro-
(sobretudo, as menores de 2 anos) que, geralmente,
longada, podendo, o paciente, apresentar elevações
desenvolvem a forma benigna da doença (variando
transitórias nas transaminases até um ano depois
de assintomática até gastroenterite, predominante-
do quadro agudo (Quadro 2).
mente anictérica). Já os adultos, quando adquirem
o vírus, costumam desenvolver quadro ictérico febril
Quadro 2. Formas clínicas da hepatite A.
com repercussões sobre o estado geral, sendo,
assim, mais grave. Desse modo, como regra geral, Hepatite
A maioria dos casos na infância
tem-se que quanto mais jovem o paciente adquire anictérica
a infecção, menos aparente/sintomática ela é. Hepatite Autolimitada, 4-6 semanas, até
ictérica a normalização das enzimas
Consideradas as formas de transmissão, a preven-
ção está diretamente relacionada às condições Prolongada Normalização das TGP em meses
de higiene e saneamento. Por meio de políticas Icterícia intensa, gama
Colestática
públicas, ao longo dos anos, percebeu-se que houve GT elevada e prurido
melhoria das condições sanitárias. No entanto, a 0,1 a 0,2% dos casos
população suscetível passou a ser maior e a ter Hepatite
Necrose maciça/submaciça do fígado
idade mais elevada (idade em que as manifestações fulminante
Insuficiência hepática aguda
clínicas são mais preocupantes). Com isso, como a
Fonte: Ministério da Saúde².
doença gera proteção duradoura por meio de anti-
corpos, a vacinação passou a constituir importante
agente protetor.
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Desde 2016, têm sido reportados surtos de hepatite DIA A DIA MÉDICO
A em 15 países da União Europeia (Espanha, Reino
Unido, Itália, Alemanha e Portugal, entre outros), com O quadro clínico das hepatites virais agudas é muito
mais de mil casos, tendo predomínio de Homens variável quanto a sua intensidade e a sua gravidade,
que fazem Sexo com Homens (HSH). podendo ser desde oligossintomático até sintomático com
icterícia febril com grande alteração das transaminases.
A transmissão sexual da hepatite A pode ocorrer Pela clínica e pelo laboratório não é possível distinguir
com a prática sexual oral-anal pelo contato da qual é o tipo, tornando difícil a identificação etiológica
mucosa da boca de uma pessoa com o ânus de sem recorrer a exames sorológicos. Assim, na maioria
outra portadora da infecção aguda da hepatite A. da vezes, mesmo suspeitando de HAV, temos de pedir
sorologia para outras hepatites e ainda pensar em outros
A prática dígito-anal-oral também pode ser uma via
diagnósticos diferenciais.
de transmissão.
249
Hepatites virais Infectologia
2.2. DIAGNÓSTICO
Suspeita de hepatite A
Atenção Básica
O diagnóstico é estabelecido pela detecção de Como relação a exames inespecíficos, nas formas
anticorpos IgM anti-VHA no soro do paciente de 5 ictéricas, usualmente, encontramos aumento sig-
a 10 dias após a exposição, que pode permanecer nificativo de transaminases e bilirrubinas às cus-
detectável por 4 a 6 meses, na maioria dos pacientes, tas da fração direta. A alteração de exames como
ou por até 1 ano em casos raros (algoritmo 1). Os coagulograma e fator V são sinais de alerta para
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anticorpos IgG aparecem após a primeira semana evolução da forma fulminante (das hepatites virais,
da doença e persistem, provavelmente, por toda HAV têm mais casos de fulminantes).
a vida, como marcador sorológico. Em pacientes
A hepatite fulminante leva a uma insuficiência hepá-
sem icterícia, a infecção pode ser observada com
tica no curso de uma hepatite aguda. É caracte-
o aumento do nível sérico da Alanina Aminotransfe-
rizada por comprometimento agudo da função
rase (ALT) após a infecção, normalizando antes da
hepatocelular, manifestado por diminuição dos
viremia. O vírus pode ser detectado no sangue ou
fatores da coagulação e presença de encefalopatia
nas fezes da maioria dos pacientes durante a fase
hepática no período de até 8 semanas após o início
aguda da doença pelos métodos moleculares de
da icterícia. A mortalidade é elevada (40 a 80% dos
diagnóstico (PCR) que, todavia, não são realizados
casos). Nesses casos, há indicação de transplante
na prática clínica.
hepático na urgência.
O diagnóstico diferencial da hepatite aguda deve
ser realizado com colestase reacional, leptospirose,
outras hepatites (B, C, D, E, drogas ou substâncias
tóxicas), febre amarela, malária, Síndrome de Gilbert,
processos expansivos neoplásicos ou granuloma-
tosos, colangites, entre outros.
250
Hepatites virais Cap. 8
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Quadro 3. Interpretação dos marcadores sorológicos da Hepatite A.
(-) (-) Ausência de contato com o vírus, indivíduo não imune (susceptível)
*anti-HAV IgM = Infecção aguda
*anti-HVA IgG = Infecção passada (imunidade permanente)
Fonte: Ministério da Saúde1.
251
Hepatites virais Infectologia
Figura 3. Casos notificados de hepatite A no estado de São Paulo, por faixa etária, em 2017.
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Não há tratamento específico. Como regra geral,
recomenda-se o repouso para diminuir a inflama- bem como não ingerir bebidas alcoólicas e drogas
ção das células hepáticas até a normalização de de metabolização hepática até liberação médica.
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Hepatites virais Cap. 8
Evitar álcool
Dieta branda
Repouso relativo
Tratamento ambulatorial
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Tratamento
Internamento hospitalar
Encefalopatia hepática
TP muito alargado
Vômitos intensos
Hepatite fulminante
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Hepatites virais Infectologia
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W Portadores de hepatite crônica B, C ou outras genótipos, classificados de A a J.
hepatopatias crônicas.
Em relação a dados brasileiros de prevalência, alguns
W HIV+. estudos do final da década de 1980 e início de
1990 sugeriram uma tendência crescente do HBV
em direção às regiões Sul/Norte, descrevendo 3
3. HEPATITE B padrões de distribuição da hepatite B: alta ende-
micidade presente na região amazônica, alguns
locais do Espírito Santo e oeste de Santa Catarina;
endemicidade intermediária nas regiões Nordeste,
BASES DA MEDICINA
Centro-Oeste e Sudeste e baixa endemicidade na
região Sul do país.
O HBV possui tropismo pela célula hepática e, ao se ligar
a receptores presentes na superfície celular, é internali-
zado e perde seu envoltório. Em seguida, o conteúdo viral 3.1. TRANSMISSÃO
migra para o núcleo e replica-se por meio de um sistema
semelhante ao dos retrovírus. O vírus HBV incorpora seu
Entre todas as hepatites virais, o vírus da B é o mais
material genético no genoma, não havendo eliminação
total dele, o que pode explicar a reativação. versátil na transmissão. Trata-se de uma doença de
transmissão parenteral/sexual(IST). A transmissão
do agente infeccioso pode ocorrer por solução
A hepatite viral B é causada por um vírus DNA per- de continuidade (pele e mucosas), via parenteral
tencente à família Hepadnaviridae. Os vírus dessa (compartilhamento de agulhas, seringas, material de
família têm características em comum, como fita manicure e pedicure, lâminas de barbear e depilar,
dupla incompleta e replicação do genoma viral por tatuagens, piercings, procedimentos odontológicos
254
Hepatites virais Cap. 8
ou cirúrgicos que não atendam às normas de biosse- como a persistência do vírus ou a presença do
gurança, entre outros) e relações sexuais desprote- HBsAg por mais de 6 meses, detectada por meio
gidas, sendo esta a via predominante. A transmissão de testes sorológicos.
vertical (materno-infantil) também é importante e
Os extremos de idade, os fatores comportamentais
ocasiona uma evolução desfavorável, com maior
e genéticos, as características demográficas, a
chance de cronificação.
concomitância de substâncias tóxicas incluindo
O HBV permanece viável durante longo período álcool e fumo, a história familiar de Carcinoma
quando fora do corpo, como, por exemplo, em uma Hepatocelular (CHC) e o contato com carcinóge-
gota de sangue, e tem maiores chances de infectar nos como aflatoxinas, por exemplo, aumentam o
um indivíduo suscetível do que os vírus da hepatite C risco de cirrose hepática e de CHC em pacientes
(HCV) e da imunodeficiência humana (HIV). Outros portadores da hepatite B crônica. A replicação viral
líquidos orgânicos, como sêmen, secreção vaginal persistente, a presença de cirrose, o genótipo C do
e leite materno, também podem conter o vírus e HBV, a mutação na região promotora do pré-core
representar fontes de infecção. Nas provas, o exa- e a coinfecção com o HIV ou HCV também são
minador costuma perguntar muito sobre assuntos fatores que aumentam a probabilidade de evolução
relacionados à transmissibilidade: acidente com para formas graves. Embora a cirrose seja fator de
material biológico com fonte HBV+, além de profilaxia risco para CHC, 30 a 50% dos casos de CHC por
da transmissão materno-infantil de mães com HBV. HBV ocorrem na ausência desta.
A infecção pelo vírus da hepatite B pode causar É importante entender o papel do sistema imune e
hepatite aguda ou crônica; habitualmente, ambas as possibilidades evolutivas com relação ao vírus
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as formas são oligossintomáticas. Infecções cau- B desde a entrada do mesmo no organismo e em
sadas pelo vírus da hepatite B raramente causam alguns cenários da sua persistência.
icterícia: menos de um terço dos indivíduos infec-
tados. Aproximadamente 5% a 10% dos indivíduos 3.3.1. 1. Fase imunotolerante
infectados tornam-se portadores crônicos do HBV.
Nessa fase, há elevada replicação viral, sem evidên-
Cerca de 20% a 25% dos casos crônicos de hepatite cias de agressão hepatocelular. O sistema imune
B que apresentam replicação do vírus evoluem para “tolera” o vírus. Assim, a fase é caracterizada por
doença hepática avançada. A infecção pelo HBV positividade de HBeAg e elevados índices de HBV-
também é condicional para o desenvolvimento da -DNA, indicativos de replicação viral. Níveis pouco
hepatite delta, doença resultante da infecção pelo elevados de aminotransferases (normais ou próxi-
HDV e de grande impacto na região Amazônica. mos do normal), pouca atividade necroinflamatória
Para o acompanhamento da infecção, utilizam-se no fígado e lenta progressão de fibrose. Transmissão
marcadores séricos de imunidade (anti-HBs), ava- alta nessa fase.
liação da presença do antígeno de superfície do
HBV (HBsAg) e quantificação do vírus na corrente 3.3.2. 2. Fase imunorreativa
sanguínea (carga viral/HBV-DNA). O aparecimento
Nesta fase, a tolerância do vírus acaba devido à
do anti-HBs e o desaparecimento do HBsAg e da
incapacidade do sistema imune de eliminar o vírus.
carga viral indicam resolução da infecção pelo HBV
HBeAg reagente e menores índices de HBV-DNA
na maioria dos casos.
sérico, é indicativo de menor replicação viral. Os
Em indivíduos adultos expostos exclusivamente valores das aminotransferases podem apresen-
ao HBV, a cura espontânea se dá em cerca de 90% tar flutuações, e a atividade necroinflamatória no
dos casos. A evolução para infecção crônica, por fígado, por sua vez, pode ser moderada ou grave. A
sua vez, ocorre em menor proporção e é definida progressão da fibrose é acelerada. Essa fase pode
255
Hepatites virais Infectologia
durar de várias semanas a vários anos. Encerra-se u Europa: maior taxa AgHBs em refugiados e es-
com a soroconversão para anti-HBe. trangeiros.
u Aumento do número de casos de cirrose e HCC.
3.3.3. 3. Estado de portador inativo
u DNA: pertence à família Hepadnaviridae, que in-
Este estado caracteriza-se por níveis muito bai- fecta os hepatócitos.
xos – ou até mesmo indetectáveis – de HBV-DNA u DNA do vírus com incorporação do material ge-
sérico, com normalização das aminotransferases nético = pode ocorrer reativação em imunocom-
e, costumeiramente, soroconversão anti-HBe. Há, prometidos (especialmente em oncológicos).
nessa fase, risco reduzido de cirrose e CHC. Esse u Envoltório externo contendo proteínas antigê-
processo corresponde a um bom prognóstico; o nicas denominadas antígenos de superfície do
AgHbs fica positivo, é crônico, mas raramente esse HBV (HBsAg).
estado pode se reverter em situação de imunosu- u O core (HBcAg), que contém o DNA, a enzima
pressão ou mutação. É preciso acompanhar esse
DNA-polimerase e um antígeno solúvel (HBeAg).
paciente devido à possibilidade de reativação, e
rastrear o CHC com US e alfa feto a cada 6 meses.
u Vias de aquisição: sexual, parenteral, vertical,
Não é necessário o uso de antivirais, somente se acidente com material biológico.
houver elevação da carga viral (acima de 2000 UI) u Cronificação: depende do momento do contato
com o vírus: na infância pode chegar até >90%,
3.3.4. 4. Fase de reativação e em adultos, 5 a 10%.
u Prevenção: vacina muito eficaz e, para alguns
Essa fase pode surgir no portador inativo quando
casos, imunoglobulina específica para o VHB.
ocorrerem mutações na região pré-core e/ou core
promoter do vírus, mantendo-se a replicação viral
mesmo na vigência de HBeAg não reagente. Transa-
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minases são altas, assim como a carga viral. Risco
elevado para complicações. Nas provas, esse perfil é
chamado mutante pré-core. Tratamento necessário.
256
Hepatites virais Cap. 8
3.5. DIAGNÓSTICO
Paciente
Repetir os exames
negativo positivo negativo positivo
em 15 dias
HBsAg – HBsAg +
Infecção crônica Infecção aguda anti-HBc IgM contato prévio
anti-Hbc total - anti-HBC total +
Encaminhar para
Falso positivo Acompanhamento
serviço de média negativo positivo
confirmado clínico
complexidade
Falso positivo
Repetir exame em Infecção aguda
Infecção passada
6 meses (janela imunológica)
Cepa mutante
Encaminhar para
Acompanhamento
serviço de média
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clínico
complexidade
Repetir exame em
6 meses
O teste rápido, que dosa o antígeno viral HBsAg O diagnóstico de hepatite B é confirmado pela
em amostra de sangue por punção digital, é uma dosagem laboratorial do HBsAg, porém outros mar-
excelente forma de rastreamento da hepatite B. Se cadores são importantes para definir o tratamento.
a pessoa apresentar o teste rápido positivo, deve-se
O anti-HBc IgM é positivo somente na hepatite
confirmar o diagnóstico com a dosagem laborato-
aguda. Nos pacientes com hepatite B aguda, ocorre
rial do HBsAg (algoritmo 2) e estabelecer em que
negativação do HBsAg 4 a 6 meses após o início da
cenário da infecção se encontra, pesquisando-se
infecção, com surgimento do anticorpo anti-HBs.
todos os outros marcadores.
Persistência do HBsAg por mais de 6 meses é diag-
nóstico de hepatite B crônica (Quadro 4).
257
Hepatites virais Infectologia
(+) (-) Infecção de fase aguda ou falso positivo/Repetir sorologia após 15 dias
Nas pessoas vacinadas, o único exame positivo é o Significado de outros marcadores da hepatite B
anti-HBs, com anti-Hc total não reagente (a chamada (Quadro 5):
imunidade vacinal).
u AgHBe+ = marcador de replicação viral; aparece
O exame de anti-HBc total indica contato com o
na fase aguda e na crônica replicante e desapa-
vírus e esse anticorpo está presente tanto naqueles
rece na cura.
com infecção ativa (com HBsAg positivo) quanto
nos com infecção resolvida (com HBsAg negativo).
u Anti-HBe+ = marcador de parada da replicação
viral.
Marcadores sorológicos (IMPORTANTE): para mar- u Anti-Hbs = marcador de imunidade (natural ou
car na cabeceira da cama!
vacinal).
u AgHBs+ por mais de 6 meses depois da infecção u AntiHbc IgG = marcador de contato (após con-
aguda = definição de cronificação pelo vírus B. tato inicial, ficará positivo para o resto da vida).
AntiHbc IgM = infecção aguda pelo vírus B, de-
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u
Anti-HBc
Condição de caso HBsAg Anti-HBc HBeAg Anti-Hbe Anti-HBs
IgM
258
Hepatites virais Cap. 8
Figura 5. Curso sorológico da hepatite B aguda. isolado devem ser submetidos à quantificação do
HBV-DNA.
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Mesmo após resposta imune com eliminação do HBsAg,
inicial.
há possibilidade de uma baixa replicação viral (índices
indetectáveis ou muito baixos de HBV-DNA sérico). u Importante: tratar pacientes virêmicos (AgHbe+),
AgHbe negativo com DNA quantitativo >2000 UI/
ml e outras indicações (descritas a seguir).
Existem poucas informações sobre a importância
dessa infecção oculta e persistente, mas compreen- 3.7.1. Drogas de escolha
de-se que a reativação pode ocorrer em pacientes
com perfil sorológico atípico, caracterizado pela u Tenofovir (não cirróticos).
presença de anti-HBc reagente, independentemente u Entecavir (cirróticos).
da reatividade para anti-HBs. O acompanhamento
regular também está indicado para os pacientes Importante: As normas técnicas relacionadas ao
nessa fase, e é maior em situações de imunossu- tratamento das hepatites virais estão em constante
pressão. alteração, com a incorporação de novas medica-
ções e evidências científicas. Quando for resolver
As terapias antivirais profilática (antes da reati-
as questões, em especial as mais antigas, entenda
vação) e preemptiva (após a reativação) deverão
que os gabaritos podem não corresponder nem aos
ser mantidas por 6 a 12 meses após o término do
princípios atuais, nem às drogas usadas pelos guias
tratamento imunossupressor.
atuais. Por exemplo, não se usa mais lamivudina
Pacientes com indicação de terapia com imunossu- para o tratamento devido à baixa barreira genética,
pressores ou quimioterápicos deverão realizar testes e as indicações para o tratamento da hepatite B se
sorológicos com pesquisa de HBsAg e Anti-HBc ampliaram além do perfil AgHBe+ ou carga viral
total, antes de iniciar o tratamento. Pacientes com acima de 2000 UI/mL. O tratamento é continuo e não
exame HBsAg reagente e com Anti-HBc reagente deve ser interrompido pelo risco de flare (elevação
de transaminases).
259
Hepatites virais Infectologia
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mento motor incapacitante, artrite, vasculites, Imunoglobulina Humana Anti-Hepatite B (IGHAHB)
glomerulonefrite e poliarterite nodosa. é obtida de plasma de doadores selecionados, sub-
u Coinfecção de HIV/HBV ou HCV/HBV. metidos recentemente à imunização ativa contra
u Hepatite aguda grave (coagulopatias ou icterícia hepatite B, com altos títulos de anticorpos especí-
por mais de 14 dias). ficos (anti-AgHBs).
u Cirrose/insuficiência hepática. Indicações de imunoglobulina para hepatite B
u Biópsia hepática METAVIR ≥A2F2. (situações de exposição de risco em que o uso da
imunoglobulina é necessário; lembre que pode ser
O tratamento é contínuo (na maior parte dos casos feita até 7 a 10 dias da exposição):
por toda a vida), não deve ter interrupções, a não
ser que o paciente soroconverta (ou seja, perca
u RN nascidos de mães portadoras de HBsAg (+).
AgHbs, assim como elimine o antígeno de replicação Quando indicada, a imunoglobulina deve ser apli-
AgHbe). Então, o tratamento antiviral é, na maior cada no máximo até 7 dias após o parto.
parte dos casos, para a vida inteira. u Contatos sexuais de hepatite aguda B/violência
sexual.
u Os profissionais da saúde não vacinados que so-
DIA A DIA MÉDICO frem acidente perfurocortante de fonte HBsAg+.
As medicações para hepatite B são liberadas pelo Sistema Importante: IGHAHB e vacina contra hepatite B
Único de Saúde, baseado nas indicações dos protocolos são recomendadas como profilaxia para pessoas
nacionais. É impossível prescrever o tratamento com suscetíveis, expostas a portadores conhecidos ou
indicações fora desses consensos. potenciais do vírus da hepatite B por violência sexual.
260
Hepatites virais Cap. 8
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Entre 1999 a 2016, foram identificados e notifica-
dos, no Brasil, aproximadamente 320 mil casos de
hepatite C, que apresentaram um dos marcadores
(anti-HCV reagente ou HCV-RNA detectável). Con-
siderando-se os casos que possuíam ambos os
marcadores (anti-HCV reagente e HCV-RNA detec-
tável), foram detectados 155 mil casos. Na análise
da distribuição dos casos com anti-HCV reagente
e HCV-RNA detectável (155.032) por região, 64,1%
Fonte: Acervo Sanar.
ocorreram no Sudeste, 24,5% no Sul, 5,5% no Nor-
deste, 3,3% no Centro-Oeste e 2,5% no Norte3.
O genótipo 1 é o mais prevalente em todo o mundo
A introdução dos novos medicamentos de ação e é responsável por 46% de todas as infecções pelo
direta (DAA) para o tratamento da hepatite C modi- HCV, seguido pelo genótipo 3 (30%). Pior prognóstico
ficou de forma radical o panorama epidemiológico na resposta ao tratamento.
desta doença em todo o mundo. Felizmente, esse
novo cenário favorável é importante para o controle No Brasil, o genótipo mais prevalente é o genótipo
de uma doença que não tem vacina/imunoglobulina 1, seguido do genótipo 3. O genótipo 2 é frequente
para prevenção, apesar da dificuldade de encontrar na região Centro-Oeste (11% dos casos), enquanto
os pacientes HCV+ para tratar. o genótipo 3 é o mais frequentemente detectado
na região Sul (43%).
Medicamentos bem tolerados e mais seguros pos-
sibilitam tratamentos altamente eficazes e de curta
duração. A partir da utilização dessas novas classes
261
Hepatites virais Infectologia
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u Transmissão do HCV é predominantemente pa- raros.
renteral. A eliminação viral espontânea, após a infecção
u Os grupos de maior risco para infecção incluem aguda pelo HCV, ocorre em 15% a 40% dos casos.
usuários de drogas intravenosas, receptores de Alguns fatores do hospedeiro parecem associados
transfusões e órgãos e hemofílicos. Também à eliminação viral espontânea – idade inferior a 40
lembrar das pessoas que receberam imunode- anos, sexo feminino.
rivados e transfusões antes dos anos 90.
Quando esses sintomas inespecíficos estão pre-
u Uso de drogas inalatórias também pode transmitir. sentes, o diagnóstico diferencial é possível apenas
u Transmissão sexual aumentando em HSH. com a realização de testes rápidos, testes soroló-
u Gestante HCV+, via de parto sem influência na gicos (para detecção de anticorpos) ou teste para
transmissão, sem contraindicação de aleitamen- a detecção do RNA do HCV.
to materno (somente não indicado em caso de Nos pacientes sintomáticos, os sintomas de infec-
fissuras com sangramento). ção aguda costumam ocorrer entre 4 a 12 semanas
após a exposição ao HCV. A fase aguda da hepatite
Adendo importante: Acidente com material biológico
C pode durar até 6 meses, mas sua resolução cos-
com fonte HCV+:
tuma acontecer até a 12ª semana.
262
Hepatites virais Cap. 8
Em geral, o diagnóstico ocorre após teste soro- extra-hepáticas da hepatite viral aguda, que são
lógico de rotina ou por doação de sangue. Esse autolimitadas, as síndromes associadas com a hepa-
fato reitera a importância da suspeição clínica por tite viral crônica contribuem significantemente para
toda a equipe multiprofissional e do aumento da a morbimortalidade da infecção viral persistente.
oferta de diagnóstico sorológico, especialmente
Alguns mecanismos são propostos para explicar
para as populações vulneráveis ao HCV.
as manifestações extra-hepáticas, maiormente de
u A hepatite crônica pelo vírus da hepatite C é uma natureza autoimune. As principais são:
doença de caráter insidioso, caracterizando-se
por um processo inflamatório persistente. Na u distúrbios da tireoide;
ausência de tratamento, ocorre cronificação em u líquen plano;
60% a 85% dos casos; em média, 20% pode evoluir
u crioglobulinemia;
para cirrose. Uma vez estabelecido o diagnósti-
co de cirrose hepática, o risco anual para o sur- u Glomerulonefrite Membranoproliferativa (GMP)
gimento de CHC é de 1% a 5% (o risco anual de e síndrome nefrótica.
descompensação hepática é de 3% a 6%. Após
um primeiro episódio de descompensação he- Manifestações reumatológicas e marcadores de
pática, o risco de óbito, nos próximos 12 meses, autoimunidade são comuns na hepatite C crônica
é de 15% a 20%). e um grande número de quadros reumatológicos
têm sido reconhecidos em conjunto com a infecção
No entanto, a taxa de progressão para cirrose é pelo HCV: polimiosite, dermatomiosite, Síndrome
variável e pode ser mais acelerada em determinados de Behçet, síndrome antifosfolípide, fibromialgia,
grupos de pacientes, como alcoolistas ou coinfec- entre outros.
tados pelo HIV. A evolução para óbito, comumente,
decorre de complicações da hepatopatia crônica,
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como a insuficiência hepatocelular, hipertensão DIA A DIA MÉDICO
portal (varizes gastroesofágicas, hemorragia diges-
tiva alta, ascite), encefalopatia hepática, além de Como parte fundamental da terapêutica das manifesta-
trombocitopenia e desenvolvimento de CHC. ções extra-hepáticas, a eliminação do vírus C é primordial.
Com o objetivo de ampliar o acesso ao diagnóstico e ao A investigação da infecção pelo HCV se dá pela
tratamento da hepatite C em todo o território nacional, busca de anticorpos específicos contra o vírus (anti-
recomenda-se que os grupos populacionais menciona- -HCV), que pode ser feita em ambiente laboratorial.
dos a seguir sejam prioritariamente testados quanto à
presença do HCV: pessoas vivendo com HIV; pessoas A testagem para o anti-HCV realizada em ambiente
sexualmente ativas EM (PrEP) ao HIV (a indicação de laboratorial utiliza testes sorológicos, como os do
testagem seguirá o protocolo de PrEP); múltiplos par- tipo ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay).
ceiros sexuais ou com múltiplas infecções sexualmente Também temos disponíveis os testes por imunocro-
transmissíveis; pessoas trans; trabalhadores(as) do sexo;
matografia de fluxo, mais conhecidos como Testes
pessoas em situação de rua.
Rápidos (TR).
O anti-HCV é um marcador que indica contato pré-
4.4.3. Manifestações extra- vio com o vírus. Isoladamente, um resultado rea-
hepáticas da hepatite C gente para o anticorpo não permite diferenciar uma
infecção resolvida naturalmente de uma infecção
O espectro clínico da hepatite C inclui manifesta-
ativa. Por isso, para o diagnóstico laboratorial da
ções não hepáticas e, diferente das manifestações
infecção, um resultado anti-HCV reagente precisa
263
Hepatites virais Infectologia
ser complementado utilizando-se um teste para estabelecidos por meio da aplicação dos índices
detecção direta do vírus, através de testes molecu- APRI e FIB4, assim como a realização de biópsia
lares de amplificação de material genético (PCR). hepática ou de elastografia hepática, sabendo-se
que a biópsia hepática é o exame padrão-ouro
Os testes de ácidos nucleicos (ou testes molecula-
para definição do grau de acometimento hepático
res) são utilizados para detectar o HCVRNA circu-
(Fluxograma 3).
lante no paciente. São ferramentas fundamentais
como método confirmatório da cronicidade da Elastografia hepática: novo método não invasivo.
infecção e, ainda, usados para avaliar a resposta Realizado por meio de diferentes metodologias,
ao tratamento. esse procedimento não invasivo permite a estratifi-
cação dos graus de fibrose. Uma de suas principais
Sempre que a sorologia ELISA para VHC for posi-
vantagens é a avaliação de uma área maior que a
tiva, o próximo exame será o PCR ou o de carga
pesquisada por fragmento de biópsia hepática.
viral para HCV.
Embora os testes moleculares corriqueiramente Fluxograma 3. Exames diagnósticos e estadiamento
sejam utilizados para complementar o diagnóstico da fibrose hepática na Hepatite C.
após um resultado reagente no teste para detecção
Diagnóstico Estadiamento
do anti-HCV, o RNA do HCV pode ser identificado
no soro antes da presença do anticorpo (Figura 7). ELISA -VHC Us de abdome
(fibroscan/ARF)
PCR quantitativo
Figura 7. Marcadores da infecção pelo HCV. Genotipagem VHC Scores com marcadores
Alfa feto proteína laboratoriais
Vacinar para HAV e HBV
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Fonte: Adaptado pelo autor.
264
Hepatites virais Cap. 8
Atenção Básica
Suspeita de hepatite C
Nível I
Solicitar anti-HCV
Anti-HCV (+)
Encaminhar para Anti-HCV (-)
Serviço Especializado
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Avaliação clínico-laboratorial e decisão da indicação de
tratamento no Serviço Especializado
Sorologia: Anti HCV+ = detecção do anticorpo (teve u Biópsia hepática por agulha guiada por USG ou
ou tem hepatite C): não define HCV crônico! elastografia hepática (fibroscan ou ARFI), menos
invasivo do que biopsia e método preferencial de
Solicitar sempre:
estadiamento.
u RNA do HVC por PCR, carga viral do HCV = RNA u Solicitar enzimas e função hepática, sorologias
por PCR quantitativo. A, B e HIV, perfil lipídico, glicemia.
u Caso o RNA por PCR seja detectável, significa u Vacinar para hepatite A e B!
que o indivíduo é portador crônico do HCV. u Orientar teste do parceiro(a).
u Estadiamento: ARF ou fibroscan (menos invasi-
vos) ou biópsia (menos realizada nos dias atuais). 4.6. TRATAMENTO
265
Hepatites virais Infectologia
Os pacientes com CHC e tratados com DAA (drogas u Repetir o HCV-RNA quantitativo na quarta sema-
de ação direta) deverão ser acompanhados com na após o primeiro exame:
exames de forma mais frequente. W Caso não ocorra diminuição da carga viral de
IMPORTANTE: As normas técnicas relacionadas pelo menos 2 log10, deve-se iniciar o tratamento.
ao tratamento da hepatite C também estão em W Caso a carga viral tenha se reduzido mais que
constante alteração pela incorporação de novas 2 log10, avaliar na 12ª semana antes de indicar
medicações e evidências cientificas. No cenário o tratamento. Quando a viremia ainda for pre-
atual, desde 2018, o Ministério da Saúde está, anual- sente na 12ª semana, deve-se iniciar o trata-
mente, incorporando e modificando o tratamento; mento. Quando a carga viral do RNA-HCV for
assim, tome cuidado com as questões antigas e inferior a 12 UI na 12ª semana, o tratamento
com a possibilidade de mudanças que possam não estará indicado. Recomenda-se a monito-
ocorrer depois da edição deste material. rização da carga viral nas 24ª e 48ª semanas
de acompanhamento para confirmação da
4.6.1. I nfecção aguda : como resolução espontânea da infecção.
proceder nessa situação? u O tratamento, quando iniciado, deve ser feito
u Realizar o HCV-RNA quantitativo no momento seguindo-se as mesmas recomendações tera-
da suspeita clínica de infecção aguda pelo HCV. pêuticas de pacientes com hepatite C crônica
(Fluxograma 5).
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Redução < 2 log10
Positivo
Tratamento
4.6.2. Tratamento nas formas crônicas resultado ideal, indicado pela indetectabilidade
do HCV-RNA 24 semanas (em esquemas com
O objetivo principal do tratamento é a erradicação alfapeginterferona) ou 12 semanas (em esque-
do vírus, tendo como consequência aumentar a mas sem alfapeginterferona) após o tratamento.
expectativa e, em especial, a qualidade de vida,
Nos pacientes com cirrose hepática instalada, a
reduzir a ocorrência de complicações de doença
erradicação do HCV não remove o risco de hepa-
hepática crônica e reduzir a transmissão do HCV,
tocarcinoma ou descompensação clínica. Deve-se
assim como evitar os desfechos primários da pro-
continuar monitorando com US de abdome e alfa-
gressão da infecção crônica pelo VHC, como cirrose,
-feto proteína a cada 6 meses.
carcinoma hepatocelular e óbito.
Mesmo ocorrendo a cura (RVS), pode haver a REIN-
u A erradicação do vírus através do tratamento FECÇÃO! Estudos atuais mostram que usuários de
é constatada com resultado de HCV-RNA inde- drogas endovenosas e população HSH correm mais
tectável na 12ª ou 24ª semana de seguimento riscos de reinfecção. Por isso, é muito importante
pós-tratamento. Esta condição caracteriza a INFORMAR os pacientes sobre prevenção após a
Resposta Virológica Sustentada (RVS), que é o cura.
266
Hepatites virais Cap. 8
Importante: Estão surgido, rapidamente, novas dro- terapêutica. De forma geral, essa eficácia é mensurada
gas de ação direta para o tratamento e a sua incor- pela Resposta Virológica Sustentada (RVS); é absoluta-
mente comparável entre todos os esquemas propostos,
poração é dinâmica e pode mudar, dependendo da
quando se avaliam situações clínicas semelhantes. As
disponibilidade e de acordos do Ministério da Saúde medicações são solicitadas e pode demorar alguns meses
com a indústria farmacêutica. As recomendações para que o paciente inicie o tratamento.
a seguir são sujeitas a mudanças no decorrer do
tempo. Em 2019, foram introduzidas outras drogas
para o tratamento, a saber: ledipasvir, glecaprevir,
5. HEPATITE D/E
pibrentasvir, que se adicionam ao sofosbuvir e
daclatasvir para compor os esquemas terapêuticos
para HCV. Na maior parte das vezes a combinação
5.1. HEPATITE D (DELTA)
do ledipasvir e sofosbuvir é a primeira escolha para
tratamento ( tempo de 12 semanas). Em cirróticos
Child B e C adicionamos a ribavirina no esquema e A infecção pelo HDV representa grave problema de
prolongamos o tratamento até 24 semanas. saúde pública, particularmente nos países endê-
micos para hepatite B e populações tradicionais e
4.6.2.1. Esquemas para tratamento indígenas. Estima-se que 18 milhões de pessoas
(Consenso MS 2019) vivam com o HDV no mundo.
A hepatite delta apresenta taxas de prevalência
4.6.2.2. Pontos chave no tratamento elevadas na Ásia Central e na Bacia Amazônica. O
HDV também apresenta alta prevalência em pessoas
u Brasil (2018): tratar todos, independente do grau que usam drogas injetáveis nos EUA e na Europa.
de fibrose. No Brasil, a maior parte dos casos notificados con-
u Objetivo: cura (PCR quantitativo negativo após centram-se nos estados do Amazonas e do Acre.
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6º mês do término do tratamento). O vírus da hepatite delta foi relatado, pela primeira
u Drogas disponíveis: sofosbuvir/ledipasvir/velpa- vez, em meados da década de 1970, em pacientes
tasvir/ribavirina. portadores de hepatite B com instabilidade clínica.
u Era do DAAs = menor toxicidade, redução no Inicialmente identificado como um antígeno do vírus
tempo do tratamento. da hepatite B, foi temporariamente denominado
u Não cirróticos genótipo 1 = 12 semanas (sofos- “antígeno delta”.
buvir + ledipasvir) A hepatite delta foi elucidada, posteriormente, em
u Cirróticos Child B e C = tratamento por 24 sema- pesquisas desenvolvidas em chimpanzés, que
nas, geralmente associado à ribavirina. demonstraram que o “antígeno delta” (HDVAg)
u Genótipo 3: associar ribavirina mesmo em não constituía outro agente infeccioso, dependente da
cirróticos, velpatasvir/sofosbuvir + ribavirina. infecção pelo vírus da hepatite B para sua replicação,
utilizando-se de parte da estrutura do HBV.
u Tratamento = 95% cura, mas pode haver reinfec-
ção (nova exposição e nova viremia). O HDV é um vírus pequeno, esférico, de 36 nm
u Importante reinfecção por exposição sexual/ de diâmetro, de composição híbrida e defectiva.
drogas EV. Depende de proteínas do envelope do HBV para o
ciclo de vida (Figura 8).
267
Hepatites virais Infectologia
Figura 8. Estrutura da partícula do vírus da Hepatite D. que na hepatite B aguda e se relaciona à expressão
sequencial dos vírus B e D.
Na maioria dos casos, o quadro clínico da coinfec-
ção HBV/HDV evolui com hepatite aguda benigna.
Excepcionalmente, a síntese mais intensa do HDV
leva a formas fulminantes e crônicas de hepatite
viral. A coinfecção HBV/HDV resulta em completa
recuperação em até 95% dos casos.
u Superinfecção:
W A superinfecção pelo HDV em portadores do
HBsAg se revela mais grave e de pior prognós-
tico. A antigenemia preexistente do HBsAg
favorece uma replicação intensa do HDV e
consequente grave dano hepático.
W O risco de desenvolvimento de infecção crônica
torna-se significativamente maior na superin-
fecção (79,9%) quando comparado à coinfecção
(3%) ou à hepatite B clássica. A evolução para
Fonte: Acervo Sanar. a doença crônica é variável entre 2 a 6 anos.
Entretanto, em crianças, a evolução ocorre
A história natural da doença não é uniforme. A apre- mais rapidamente.
sentação clínica pode ou não manifestar sintomas. W O diagnóstico sorológico da hepatite delta é
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Dentre as formas graves da doença, observa-se baseado na detecção de anticorpos anti-HDV
desenvolvimento de cirrose hepática, insuficiência IgG em paciente com suspeita de exposição
hepática e/ou CHC. recente para o agente infeccioso. Pacientes
portadores de hepatite B residentes em áreas
u Coinfecção: endêmicas ou com antecedente epidemiológico
A infecção simultânea HBV/HDV causa interferência correspondente são candidatos à investigação.
viral e prejuízo da replicação do HBV. A coinfecção Caso estes apresentem exame anti-HDV IgG
apresenta-se como hepatite aguda recidivante de reagente, a confirmação da hepatite delta será
curso clínico bifásico. Essa apresentação ocorre realizada por meio do somatório das informa-
com maior frequência na coinfecção HBV/HDV do ções clínicas, epidemiológicas e demográficas
(Quadro 6 e Fluxograma 6).
Anti-HDV
Formas HBsAg Anti-HBc Anti-HBc IgM Anti-Hbs
total
268
Hepatites virais Cap. 8
Paciente em região
endêmica para hepatite
delta (Amazônia ocidental)
HBsAg + HBsAg +
HBsAg -
anti-HBc total + anti-HBc total +
anti-HBc total -
anti-HBc IgM + anti-HBc IgM -
Encaminhar para o
serviço especializado
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O objetivo principal do tratamento é o controle do Figura 9. Estrutura da partícula do
dano hepático infligido. Todos os pacientes porta- vírus da Hepatite E (HEV).
dores de hepatite delta são candidatos à terapia
composta por alfapeginterferona 2a e/ou um aná-
logo de nucleotídeo (tenofovir ou entecavir).
Até o momento, conta-se com a imunização para
hepatite B como principal forma de prevenção da
doença e com a alfapeginterferona/entecavir como
principal recurso terapêutico.
5.2. HEPATITE E
269
Hepatites virais Infectologia
Anti-HEV Anti-HEV
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Interpretação
total IgM Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Informe Téc-
nico da Secretaria de Saúde do Estado de SP [Internet]; 2017.
(+)/(-) (+) Infecção recente pelo HEV
[acesso em 22 nov 2022]. Disponível em: http://www.saude.
(+) (-) Exposição prévia pelo HEV sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/
areas-de-vigilancia/doencas-transmitidas-por-agua-e-alimen-
Nunca teve contato com
(-) (-) tos/doc/2017/hepatitea17_iftecnico.pdf
HEV (susceptível)
Fonte: Ministério da Saúde1.
270
Hepatites virais Cap. 8
QUESTÕES COMENTADAS
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diretrizes terapêuticas para hepatite C" do Minis-
⮩ Hepatite B crônica agudizada. tério da Saúde de 2019, qual deve ser a conduta?
271
Hepatites virais Infectologia
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tite B. ⮨ vacinação prévia contra hepatite B.
⮩ Hepatite A em paciente imune para vírus da he- ⮩ fase de incubação da hepatite B.
patite B.
Questão 8
Questão 6
(REVALIDA - 2021) Um homem de 23 anos de idade,
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO - RJ - 2020) Homem membro de um grupo de usuário de drogas injetá-
de 45 anos, hígido e sem antecedentes mórbidos, veis, comparece à consulta no ambulatório de clí-
queixa-se de adinamia e fraqueza. Ele nega história nica médica com relato de “olhos amarelos e urina
de febre, emagrecimento ou anemia. Os exames rea- cor de mate”. Segundo informa, seu quadro clínico
lizados mostram glicemia = 89mg/dL, creatinina = iniciou-se há cerca de 12 dias com mal-estar, febre
0,8mg/dL, TGO = 87U/dL, TGP = 110U/dL, proteína (cerca de 38°C), coriza e mialgias. Dois dias após,
total = 7,5g/dL, albumina = 3,5g/dL e TAP com INR observou disgeusia e anosmia, além de diarreia.
= 1,4. Nas sorologias realizadas, verificou-se HB- Procurou unidade de pronto atendimento, sendo
sAg = não reagente, Anti-HBs = reagente, anti- HBc agendada pesquisa para covid-19, que foi realizada
= reagente, anti-HCV = reagente e anti-HAV IgG = no 5° dia de evolução da doença, com resultado ne-
reagente. Visando à definição diagnóstica do qua- gativo. Passou a apresentar, também, dor abdomi-
dro, a melhor opção é solicitar: nal (especialmente no hipocôndrio direito) e fadiga
vespertina. Há 2 dias, observou que suas escleras
⮦ USG de fígado e vias biliares.
ficaram amareladas e sua urina assumiu aspecto
⮧ fibroscan hepático. sugestivo de colúria. Foi à mesma unidade onde
⮨ PCR para vírus C. havia sido atendido inicialmente, sendo solicitados
⮩ PCR para vírus B. exames complementares que são trazidos pelo
272
Hepatites virais Cap. 8
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nero do paciente (sexo masculino) e do nível de
transaminases.
⮨ Hepatite viral aguda pelo vírus da hepatite B, em
razão do paciente ser usuário de drogas ilícitas
injetáveis.
⮩ Leptospirose íctero-hemorrágica, em razão do
leucograma e níveis séricos das aminotransfe-
rases.
273
Hepatites virais Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
Y Dica do professor: A hepatite B é uma infecção vi- Y Dica do professor: O paciente em questão é por-
ral causada pelo vírus DNA-HBV, que produz 3 an- tador do vírus B de hepatite e encontra-se na fase
tígenos: HBsAg (superfície; permanece positivo até denominada hepatite crônica HbeAg negativo, vis-
6 semanas após a infecção aguda), HBcAg (core/ to que apresenta transaminases elevadas e carga
centro) e HBeAg (secretado – marca a replicação viral maior que 2000 UI/mL, tendo, portanto, indica-
viral). Os antígenos estimulam, respectivamente, a ção formal de iniciar tratamento com antivirais. As
formação de anticorpos no hospedeiro: Anti-HBs drogas mais utilizadas para este tratamento são o
(surge após a resolução do quadro infeccioso, no Tenofovir e o Entecavir.
período de convalescência), Anti-HBc (tanto IgM ✔ resposta: D
– hepatite aguda – como IgG – hepatite antiga) e
Anti-HBe.
Na avaliação dos marcadores sorológicos, podemos Questão 3 dificuldade:
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adotar a seguinte sequência: Y Dica do professor: Os antivirais de ação direta
1° HBsAg: se positivo, paciente tem hepatite B, revolucionaram o tratamento da hepatite C, que
seja aguda ou crônica. É importante lembrar que o deixou de ser uma patologia de tratamento difícil
resultado negativo desse marcador não descarta e com muitos efeitos colaterais desagradáveis a
o quadro (pode não ser dectável). uma doença com altas chances de cura em poucas
2° Anti-HBc total: se negativo, paciente nunca teve semanas, com relativamente poucos efeitos adver-
hepatite B. Se positivo, demonstra que houve con- sos. Deve-se ressaltar que as hepatites virais são a
tato com o vírus, sendo o IgM positivo indicador de principal causa de transplante hepático no Brasil! A
hepatite B aguda. questão exige um conhecimento específico sobre
3° Anti-HBs: se positivo, indica cura do paciente. o seguimento de pacientes tratados com drogas
Se negativo, indica quadro de hepatite B crônica. de ação direta.
Na doença em atividade o HBeAg, normalmente está O objetivo do tratamento é a resposta virológica
positivo, podendo apresentar-se negativo em casos sustentada (RVS), que é a ausência de HCV-RNA
de infecção por vírus B mutante pré-core (apresenta em 12 ou 24 semanas após o término da terapia
aumento de transaminases, indicando atividade de medicamentosa – objetivo alcançado pelo paciente.
doença, com agressão de hepatócitos). A confirma- O acompanhamento após RVS depende do grau de
ção da sua presença pode ser comprovada com a fibrose hepática e de características individuais.
verificação do aumento de DNAHBV. Pacientes com F0, F1 ou F2 sem fatores de risco
podem receber alta após a RVS, com as devidas
✔ resposta: B orientações – controle de comorbidades, peso e
distúrbios metabólicos, evitar medicamentos e
substâncias hepatotóxicos, manter abstinência
de álcool, drogas e tabaco e ser orientado sobre a
274
Hepatites virais Cap. 8
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ausência de replicação viral, mas não necessaria- é pelo vírus da hepatite C, o que é compatível com
mente se relaciona a menor risco de transmissão, o quadro do paciente, que apresenta anti-HCV rea-
temos o caso por exemplo da mutação pré core. gente.
Alternativa D: INCORRETA. Anti-HBs reagente é anti- Alternativa A: INCORRETA. A USG permite avaliar al-
corpo contra o vírus da hepatite B, logo sua presen- terações morfológicas hepáticas (ex.: parênquima
ça indica menor transmissão. cirrótico), mas não define a etiologia.
✔ resposta: B Alternativa B: INCORRETA. o fibroscan permite avaliar o
grau da cirrose hepática, mas não define a etiologia.
Questão 5 dificuldade: Alternativa C: CORRETA. O paciente apresenta anti-
-HCV reagente, indicando que já teve contato com
Y Dica do professor: Os dados da história clínica do o vírus. Como esse vírus tem baixa taxa de cura
paciente, associados aos achados laboratoriais, in- espontânea, é a provável etiologia das alterações
dicam como principal suspeita diagnóstica hepatite encontradas. A quantificação da carga viral permi-
aguda de etiologia viral. A hepatite A é a causa mais te concluir o diagnóstico e guiar seu tratamento.
comum de hepatite viral aguda, principalmente em
Alternativa D: INCORRETA. O paciente apresenta HB-
crianças e adultos jovens. O vírus A não apresenta
sAg não reagente, Anti-HBs reagente e anti-HBc rea-
estado de portador crônico e não causa hepatite
gente, indicando uma provável infecção pregressa,
crônica ou cirrose. Seu diagnóstico é confirmado
com cura espontânea (como ocorre em até 80% dos
se o teste Anti-HVA IgM é positivo, como é o caso
casos de infecção em adultos) pelo vírus B.
deste paciente. Além disso, o paciente também
apresenta diagnóstico sorológico da hepatite B. ✔ resposta: C
O antígeno de superfície da Hepatite B (HBsAg) é
uma proteína da superfície do vírus B que pode ser
275
Hepatites virais Infectologia
Y Dica do professor: Questão clássica de marcadores Y Dica do professor: A positividade do HbsAg indi-
sorológicos na hepatite, prestar atenção porque é ca presença do vírus no organismo do indivíduo.
o assunto mais cobrado para provas Quando associado a um anti-Hbc Total positivo e
Alternativa A: CORRETA. O HbsAg é o principal mar- IgM negativo, significa que a fração que está posi-
cador da hepatite B (aguda ou crônica). Quando tiva é o IgG, o que indica cronicidade da hepatite. O
associado ao HbeAg positivo, indica replicação HbeAg negativo e anti-Hbe positivo mostram que o
ativa e infectividade. O anti-Hbc IgM e IgG indi- paciente não está mais na fase replicativa.
cam, respectivamente, infecção aguda e crônica. ✔ resposta: C
A questão não traz qual dos dois veio positivo; no
entanto, a presença de sintomas nos faz pensar
em infecção aguda.
Alternativa B: INCORRETA. Na fase de convalescência,
espera-se um anti-Hbs já detectável e o desapare-
cimento do HbeAg.
Alternativa C: INCORRETA. Na vacinação, há positivi-
dade do anti-Hbs sem o anti-Hbc.
Alternativa D: INCORRETA. O paciente apresenta-se
com sintomas e sorologias já indicativas de infec-
ção em curso, não podendo classificar o quadro
como em fase de incubação.
✔ resposta: A
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Questão 8 dificuldade:
276
Capítulo
SÍNDROME DA MONONUCLEOSE
9
importância/prevalência
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esse vírus.
O EBV tem seu genoma envolvido por um nucleo-
1.1. INTRODUÇÃO
capsídeo de simetria icosaédrica, composto de
162 capsômeros, e um tegumento proteico entre o
O Vírus Epstein-Barr (EBV) foi descoberto através nucleocapsídeo e o envelope externo, o qual tem
de microscopia eletrônica em células de cultura de glicoproteínas, entre as quais destaca-se a gp350,
tecido de um Linfoma de Burkitt por Epstein, Achong que tem função de ligar-se ao receptor (molécula
e Barr, de onde vem o origem do seu nome. CD21) na superfície dos linfócitos B. Os antígenos
Depois, demonstrou-se que se trata do agente etio- da cápside (VCA) são importantes no diagnóstico
lógico da mononucleose infecciosa e que ele não é sorológico atual da doença.
somente associado a doenças linfoproliferativas. São conhecidos 2 tipos de EBV que podem infectar
O quadro da mononucleose infecciosa é caracteri- o homem, denominados tipos 1 e 2, que apresentam
zado por mal-estar, febre, hepatoesplenomegalia, pequenas diferenças em relação a sua patogenia.
linfadenopatia. Laboratorialmente, há linfocitose O tipo 2 é mais eficiente em infectar linfócitos que
atípica como achado hematológico, fechando uma o tipo 1.
entidade clínica. Todavia, existe uma lista de doen- O EBV primeiramente infecta as células epiteliais da
ças que podem se apresentar como esses achados mucosa bucal ou das glândulas salivares e, a partir
clínicos. daí, o vírus ganha acesso aos linfócitos B no tecido
O EBV é um membro da família dos herpesvírus, linfoide da faringe, de onde se disseminam pelo
subfamília gama-herpesvírus. Os gama-herpesvírus sistema linfoide do indivíduo. A idade do indivíduo,
têm poder de estabelecer infecção latente em lin- no momento da infecção, influencia a expressão
fócitos e estão associados à proliferação celular. clínica do EBV.
277
Síndrome da mononucleose Infectologia
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primeiro, bem como carcinoma nasofaríngeo e carcinoma evolução do quadro, o paciente pode apresentar
gástrico no caso do último. EBV é considerado o agente exantema cutâneo, com qualquer característica
etiológico em 95% dos casos dos Linfomas de Burkitt. (macular, petequial, escarlatiniforme, urticariforme,
eritema multiforme).
Quando administrada ampicilina ou outros antibióti-
cos betalactâmicos, a incidência de exantema sobe
2. QUADRO CLÍNICO
para até 90% dos casos. Outros sinais, em ordem
de frequência, são: esplenomegalia, hepatomegalia,
icterícia e edema bipalpebral (conhecido como Sinal
BASES DA MEDICINA de Hoagland). Esse aspecto é muito explorado em
exames médicos.
O EBV infecta, inicialmente, as células epiteliais da mucosa
bucal ou das glândulas salivares e, a partir daí, o vírus
ganha acesso aos linfócitos B no tecido linfoide da faringe, DIA A DIA MÉDICO
de onde se disseminam pelo sistema linfoide do indivíduo.
278
Síndrome da mononucleose Cap. 9
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da doença, em cerca de 90% dos casos, geralmente
Devido ao risco de ruptura esplênica, o consenso atual é
surgindo na 1ª ou 2ª semanas e desaparecendo
que os atletas podem retornar aos esportes de contato gradualmente em até 6 meses. Não são mais rea-
3 semanas após o início da mononucleose infecciosa, lizados na prática.
desde que estejam afebris, sua energia tenha voltado ao
normal e eles não tenham nenhuma outra anormalidade
associada à infecção primária por EBV. 4.2. ANTICORPOS ESPECÍFICOS
279
Síndrome da mononucleose Infectologia
4.3. P
ESQUISA DO VÍRUS POR associados à produção de anticorpos heterófilos,
BIOLOGIA MOLECULAR hepatoesplenomegalia e exantema associado. São
eles: a infecção pelo citomegalovírus, a toxoplas-
Para a forma crônica de infecção pelo EBV e os mose, a infecção aguda pelo HIV, a rubéola, a infec-
diversos quadros associados ao vírus, o arsenal ção pelo herpesvírus 6, infecção pelo adenovírus,
sorológico é ainda menos satisfatório, e é especial- que também podem mimetizar o quadro.
mente nestas situações que a biologia molecular
faz-se útil. São vários os métodos para a detecção de
ácido nucleico viral, sendo que cada um apresenta DIA A DIA MÉDICO
sensibilidade e especificidade variáveis e utilidade
em diferentes situações. É possível se detectar ácido Não será um cenário incomum encontrar um caso de
nucleico vital através de PCR (reação de polimerase febre + rash + adenomegalia; solicitar as sorologias para
em cadeia), PCR em tempo real. várias doenças (das que foram listadas anteriormente).
Os quadros clínicos entre os diagnósticos diferenciais
e o laboratório podem ser indistinguíveis. Para ter uma
pista de qual é o diagnóstico mais provável, a história
5. TRATAMENTO epidemiológica bem tirada é fundamental.
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sem faringite. Pode haver elevação importante de
O ganciclovir e o valganciclovir têm sido usados no
transaminases e atipia linfocitária. Podem-se tratar
tratamento de infecções por EBV em hospedeiros
formas mais graves e sintomáticas em imunocom-
imunocomprometidos, contudo não existem ensaios
petentes com derivados de sulfa.
controlados que demonstrem eficácia clínica.
Os corticosteroides podem diminuir a duração
6.2. SECUNDARISMO DA SÍFILIS
da febre e os sintomas da faringite, mas só estão
indicados em casos que complicam com obstrução
Inicialmente, apresenta-se uma erupção macular
de vias áreas (pela hipertrofia tonsilar), com trom-
eritematosa pouco visível (roséola), principalmente
bocitopenia grave ou anemia hemolitica.
no tronco e na raiz dos membros. Nessa fase, são
No tratamento de suporte, indica-se o uso de sin- comuns as placas mucosas, assim como lesões
tomáticos, como o acetaminofeno para o controle acinzentadas e pouco visíveis nas mucosas.
da febre e da odinofagia, e repouso.
As lesões cutâneas progridem para lesões mais
evidentes, eritemo-papulosas acastanhadas, que
podem atingir todo o tegumento, sendo frequentes
6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
nos genitais.
Frequentemente, atingem a região plantar e palmar,
São várias as etiologias da síndrome da mononu- são características, em geral, não pruriginosas.
cleose que consistem no diagnóstico diferencial da Alopecia em clareiras e madarose são achados
infecção primária pelo EBV. Todos os quadros têm eventuais. O secundarismo é acompanhado de
em comum a possibilidade da presença de linfó- micropoliadenopatia, sendo característica a iden-
citos atípicos no sangue periférico que não estão tificação dos gânglios epitrocleares. São comuns
280
Síndrome da mononucleose Cap. 9
sintomas inespecíficos – febre baixa, mal-estar, são as manifestações neurológicas mais comuns.
cefaleia e adinamia. Deve-se pedir sorologia para Raramente ocorre quadro de meningite asséptica,
sífilis quando tiver exposição sexual de risco. O neurite periférica sensitiva ou motora, paralisia do
tratamento é feito com derivados de penicilina. nervo facial ou Síndrome de Guillain-Barré.
A SRA é autolimitada, e a maior parte dos sinais e
6.3. INFECÇÃO AGUDA PELO VÍRUS HIV sintomas desaparece em 3 a 4 semanas. Linfadeno-
patia, letargia e astenia podem persistir por vários
Como em outras infecções virais agudas, a infecção meses. Hoje, é importante, se diagnosticado quadro
pelo HIV é acompanhada por um conjunto de mani- agudo pelo HIV, iniciar imediatamente esquema
festações clínicas, denominado Síndrome Retroviral antirretroviral, com melhor prognóstico para esses
Aguda (SRA). Os principais achados clínicos de SRA pacientes.
incluem febre, cefaleia, astenia, adenopatia, faringite,
exantema e mialgia. A SRA pode cursar com febre 6.4. INFECÇÃO PELO CITOMEGALOVÍRUS
alta, sudorese e linfadenomegalia, comprometendo,
sobretudo, as cadeias cervicais anterior e posterior,
CMV pode produzir uma síndrome semelhante à
submandibular, occipital e axilar.
mononucleose infecciosa, com linfocitose atípica,
Podem ocorrer, ainda, esplenomegalia, letargia, hepatosplenomegalia e hepatite, porém, comumente,
astenia, anorexia e sintomas digestivos, como náu- sem faringite grave. Não há tratamento específico
seas, vômitos, diarreia, perda de peso e úlceras em imunocompetentes.
orais, podem estar presentes. Cefaleia e dor ocular
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Síndrome da mononucleose Infectologia
Mapa mental
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arboviroses (dengue e zika),
rubéola, chagas agudo.
Laboratório: linfocitose, atipia
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Síndrome da mononucleose Cap. 9
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Síndrome da mononucleose Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
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Questão 4
Questão 2
(REVALIDA – 2021) Uma adolescente com 13 anos de
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS – MS – 2018) idade é atendida no pronto-socorro por apresen-
A mononucleose possui qual característica típica tar “perda de força nas pernas”. Segundo a mãe, a
ao exame hematológico? adolescente está doente há mais de um mês na pri-
meira semana da doença, teve febre alta que durou
⮦ Anemia megaloblástica.
5 dias, dor de garganta, dores no corpo e cansaço
⮧ Plaquetopenia. extremo. Ela informa, ainda, que a lha foi diagnos-
⮨ Linfocitose e atipia linfocitária. ticada com amigdalite, recebeu amoxicilina por 7
⮩ Neutropenia. dias e que, durante esse tratamento, apresentou
⮪ Reticulocitose. manchas vermelhas levemente pruriginosas pelo
corpo. A mãe relata também que, após desapare-
cimento da febre, a adolescente persistiu com de-
Questão 3 sânimo por cerca de 3 semanas e, quando parecia
estar se recuperando, começou a queixar-se de dor
(CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP – 2014) Um menino de
e formigamento nos pés e pernas, com diculdade
13 anos é levado ao serviço de emergência com
progressiva para caminhar e que, hoje, não havia
história de dor lancinante em ombro esquerdo e
conseguido levantar-se da cama. Ao exame físico,
quadrante abdominal superior esquerdo acompa-
a paciente apresenta paraparesia simétrica e dimi-
nhada de vômitos. Ele recebeu, há cerca de um mês,
nuição de força muscular em membros superiores,
o diagnóstico de mononucleose, mas diz que está
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Síndrome da mononucleose Cap. 9
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Síndrome da mononucleose Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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promove a ruptura. A ruptura pode ocorrer após um
hepático e eventual hepatomegalia, também não é
trauma insignificante ou espontaneamente. A ruptu-
comum o surgimento de icterícia.
ra espontânea pode ser resultado do aumento agudo
Alternativa D: CORRETA. na pressão venosa portal causado pela manobra de
Alternativa E: INCORRETA. Vide justificativa da alter- Valsalva ou pela compressão do baço aumentado
nativa C. pelo diafragma ou parede abdominal contraídos;
✔ resposta: D ✔ resposta: D
Y Dica do professor: A mononucleose está frequen- Y Dica do professor: quadro clínico de uma síndrome
temente associada com a infecção pelo vírus Eps- da mononucleose, faixa etária mais comum, qua-
tein-Barr. O quadro clínico inclui principalmente: dro de febre e rash que piora após o uso de beta-
mal-estar, fadiga, febre, cefaleia, náuseas, mialgias, lactâmicos. Durante a evolucão, apresentou sinais
dor de garganta e mialgia. No exame físico, podemos compatíveis com a Síndrome De Guillain-Barré.
encontrar adenomegalia generalizada na imensa A Síndrome De Guillain-Barré é uma patologia infla-
maioria dos casos, além de hepatoesplenomegalia. matória aguda auto-limitada; na maioria das vezes
Os linfonodos mais frequentemente acometidos são do tipo desmielinizante, de mecanismo autoimune
os cervicais anteriores e posteriores e submandi- pós-infeccioso, que pode ocorrer por infecções res-
bulares. O indivíduo pode também apresentar um piratórias ou gastrointestinais. No caso após uma
exantema maculopapular, tipicamente desencadea- infeccção pelo EBV.
do pelo uso de ampicilina/amoxicilina. Além disso, ✔ resposta: D
na grande maioria dos casos, identificamos uma
286
Capítulo
LEPTOSPIROSE E HANTAVIROSE
10
importância/prevalência
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u Evolução bifásica: fase leptospirêmica e fase imune, mas que, muitas vezes, são indistinguíveis na prática
clínica. A leptospira pode ser encontrada nos alvéolos pulmonares e nos glomérulos.
u A maior parte dos casos da doença se apresenta nas formas assintomática e oligossintomática, com
muita semelhança clínica a episódios virais (forma anictérica), sendo as principais manifestações a febre
súbita, a sufusão conjuntival e a dor nas panturrilhas.
u A forma grave (Síndrome de Weil) pode se apresentar com a tríade: hemorragia alveolar, insuficiência renal
não oligúrica e icterícia.
u O método diagnóstico é o teste sorológico de microaglutinação.
u O tratamento de formas leves pode ser feito com antibióticos (penicilina/doxiciclina), mas seu uso é con-
troverso em algumas metanálises. Nas graves: antibiótico, diálise precoce e ventilação protetora.
u Saber que a hantavirose é causada por uma RNA vírus da família Bunyaviridae.
u Conhecer a importância da hantavirose como diagnóstico diferencial de síndrome pulmonar hemorrágica
em nosso país.
u Descrever a epidemiologia da transmissão da hantavirose (contato respiratório com fezes aerossolizadas
de roedores silvestres).
u Saber as formas graves da doença: síndrome cardiopulmonar (aumento da permeabilidade microvascular,
IRA).
287
Leptospirose e hantavirose Infectologia
As doenças a serem discutidas, neste capítulo, são A leptospirose é zoonose de distribuição mundial. A
a leptospirose e a hantavirose. Após a parte dire- infecção humana pode ocorrer por meio de contato
cionada à leptospirose (bem mais prevalente nos direto com animais infectados ou, mais comumente,
exames), falaremos sobre algumas características via contato indireto com água ou solo contamina-
da hantavirose. dos com urina de roedores e outros animais que
apresentem leptospirúria (Figura 1).
A leptospirose é uma doença infecciosa febril, que
pode variar desde formas assintomáticas e subclíni-
Figura 1. Roedor fonte de leptospirose.
cas até quadros clínicos graves associados a mani-
festações hemorrágicas com vasculite (Síndrome
de Weil). As apresentações clínicas da leptospirose
também podem ser categorizadas considerando-se
as fases evolutivas da doença: fase precoce (fase
leptospirêmica) e fase tardia (fase imune).
É uma doença de importância mundial, transmitida
pelo contato com a urina de animais/água conta-
minada com leptospiras patogênicas. Muitos ani-
mais podem ser considerados reservatórios para a
Fonte: Acervo Sanar.
espiroqueta, sendo que, no meio urbano, o rato é o
principal responsável pela perpetuação dos casos.
A transmissão por contato de pessoa a pessoa é
É um importante problema de saúde pública em
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muito rara. A leptospira pode sobreviver durante
nosso país e em outras regiões tropicais do globo, longos períodos nos túbulos renais de animais
cuja endemicidade é mantida pela ausência de con- infectados sem causar doença.
dições adequadas de saneamento básico e pelas
A maior parte das infecções humanas ocorre em
altas taxas de infestação dos roedores. Em países
homens adultos, jovens e crianças, resultando da
desenvolvidos, os casos da doença estão, na maior
exposição ocupacional ou a ambientes favoráveis
parte das vezes, associados à exposição acidental
(enchentes). Estudos epidemiológicos indicam que
(ocupacional, ecoturismo, catástrofes naturais).
a infecção está frequentemente associada a certas
O tratamento de escolha continua sendo as tetra- profissões, como fazendeiros, veterinários, lixeiros,
ciclinas e os betalactâmicos. O sequenciamento lavradores, entre outras.
do genoma de uma das espécies de leptospira
A doença também pode ser transmitida durante
foi finalizado, propiciando boas perspectivas para
atividades recreacionais, como rafting, camping e
estudos futuros sobre a doença. No momento, ainda
natação. A transmissão acidental em laboratório
não existe vacina para ela.
pode ocorrer, e a mordedura de ratos pode, oca-
sionalmente, ser responsável pela transmissão. A
via transplacentária pode ocorrer no homem e nos
animais (Figura 2).
288
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
O número de casos humanos pode ter variação nos No Brasil, entre 1996 e 2005, foram notificados
períodos do ano e é maior nos meses com maiores 33.174 casos de leptospirose. Apenas os casos mais
índices pluviométricos, sendo que, em áreas urbanas, graves (ictéricos) são, geralmente, diagnosticados
o maior contato com o microrganismo se relaciona e, eventualmente, notificados. Dessa forma, prova-
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principalmente a enchentes e a inundações. No velmente representam apenas uma pequena parcela
Brasil, como em outros países em desenvolvimento, (cerca de 10%) do número real de casos no Brasil.
a maioria das infecções ocorre através do contato
Os principais padrões epidemiológicos da leptos-
com águas de enchentes contaminadas por urina de
pirose encontrados no Brasil são:
ratos. Nesses países, a ineficácia ou a inexistência
de rede de esgoto e drenagem de águas pluviais, a u Doença de distribuição endêmica no país, com
coleta de lixo inadequada e as consequentes inunda- ocorrência durante todos os meses do ano e
ções são condições favoráveis à alta endemicidade com coeficiente médio de incidência anual de
e às epidemias. Surtos de leptospirose em várias 1,9/100.000 habitantes.
cidades brasileiras foram atribuídos à ocorrência
u Epidemias urbanas anuais, pós-enchentes e inun-
de chuvas fortes.
dações, sobretudo em comunidades carentes,
A doença atinge, portanto, em maior número, a onde se encontra a maioria dos casos anuais
população de baixo nível socioeconômico da peri- detectados.
feria das grandes cidades, que é obrigada a viver u Surtos em áreas rurais ainda pouco detectados
em condições que tornam inevitável o contato com pelos sistemas de vigilância.
roedores e águas contaminadas. Em países mais
u Surtos relacionados à ocorrência de desastres
desenvolvidos, com infraestrutura de saneamento
naturais de grande magnitude.
mais adequada, a população está menos exposta
à infecção. Nesses casos, é mais comum que a u Em nosso país, o sorogrupo predominante é o
infecção ocorra a partir de animais de estimação icterohaemorrhagiae.
e da exposição à água contaminada em razão de
atividades recreativas ou profissionais.
289
Leptospirose e hantavirose Infectologia
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canoagem, ecoturismo. Esta é a epidemiologia mais
importante em países desenvolvidos. Então, é essencial
prestar atenção nos enunciados das provas que remetem
Figura 3. Espiroqueta leptospira.
à leptospirose.
4. PATOGENIA
BASES DA MEDICINA
290
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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Doença muito espectral cujas manifestações clínicas uma meningite viral (cefaleia intensa, vômitos e
são variáveis dependendo do sorogrupo envolvido. sinais de irritação meníngea). Em alguns casos,
Alguns deles são nitidamente implicados nas for- o paciente pode evoluir, mais tardiamente, com
mas de apresentação clínica de maior gravidade. comprometimento ocular (uveíte).
O período de incubação pode variar de 3 a 14 dias,
com extremos de 3 a 4 semanas.
5.2. FORMA ICTÉRICA OU
A leptospirose segue, usualmente, uma evolução SÍNDROME DE WEIL
bifásica, sendo, o primeiro momento, o chamado
período de leptospiremia, com duração de 3 a 4 Aproximadamente 15% dos pacientes evoluem
dias. Segue-se um período de defervescência, que para manifestações clínicas graves, iniciando-se,
dura de 1 a 2 dias, seguido de um período com em geral, após a primeira semana de doença. A
recrudescência da febre e dos sintomas, que pode manifestação clássica da leptospirose grave é a Sín-
durar de 4 a 30 dias, chamado de segundo período drome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia,
ou fase imune da leptospirose. insuficiência renal e hemorragias (mais comumente
A maior parte dos casos da doença se apresenta pulmonar), descrita por um alemão no começo do
nas formas assintomática e oligossintomática anti- século (Figura 4).
-ictérica, com muita semelhança clínica a episódios Nessa forma ictérica, as fases de leptospiremia
virais. e imune, normalmente, não apresentam o curso
bifásico. Os sintomas descritos para a forma anic-
térica são mais intensos e com maior duração.
Esta apresentação clínica cursa com letalidade
superior a 50%.
291
Leptospirose e hantavirose Infectologia
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Fonte: Zay Nyi Nyi/Shutterstock.com¹.
292
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
Com a perda progressiva do volume intravascular, os formas graves da doença. Durante muitos anos, essa
pacientes desenvolvem insuficiência renal oligúrica, foi a principal causa de mortalidade na leptospirose.
em razão da azotemia pré-renal. Essas alterações
Outras manifestações frequentes na forma grave
hemodinâmicas podem piorar a função renal. Nesse
da leptospirose são: miocardite, acompanhada ou
estágio, podem apresentar hiperpotassemia, e os
não de choque, e arritmias agravadas por distúr-
pacientes podem desenvolver necrose tubular aguda,
bios eletrolíticos; pancreatite; anemia; e distúrbios
necessitando do início imediato de diálise para
neurológicos como confusão, delírio, alucinações e
tratamento da insuficiência renal aguda. Assim, a
sinais de irritação meníngea. A leptospirose é causa
etiopatigenia da IRA é multifatorial (ação direta da
relativamente frequente de meningite asséptica
leptospira, dano pré-renal, rabdomiólise).
(linfomonocitária). Com menor frequência ocor-
A diálise precoce tem grande impacto na mortali- rem: encefalite, neuropatias cranianas (Bell), mielite
dade, sendo medida fundamental no manejo das transversa e hemorragias cerebrais.
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Leptospirose e hantavirose Infectologia
Clínica
Cefaleia
Mialgia
Diarreia
Rash
Febre
Náusea e vômitos
Hiperemia e
Sufusão conjuntival
edema de conjuntiva
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Hemorragia
pulmonar
294
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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mente eleitos para o diagnóstico da leptospirose. A leptospirose na sua forma ictérica pode ser dife-
Os mais utilizados no país são o teste ELISA-IgM, a renciada das hepatites virais por apresentar aumento
microaglutinação (MAT) e o SAT (macroaglutinação). nos níveis de CPK, leve a moderada elevação de
Os anticorpos IgM são produzidos no curso inicial aminotransaminases (<200 U/L) e leucocitose com
da infecção, e esse exame revelou especificidade e desvio à esquerda.
sensibilidade elevadas, sendo o método de eleição
para o diagnóstico da doença nos dias atuais.
295
Leptospirose e hantavirose Infectologia
Tratamento
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Penicilina G Cristalina,
Diálise 1,5 milhões UI, IV,
a cada 6 h, 7-10 dias.
Ventilação estratégica
caso necessário
296
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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7.2. FASE TARDIA de leptospirose, bem como dos fatores de
risco envolvidos.
Hepatites virais agudas, hantavirose, febre amarela, u Critério 2: pelo menos 1 dos seguintes sinais ou
malária grave, dengue hemorrágica, febre tifoide,
sintomas:
endocardite, riquetsioses, síndrome hemolítico-urê-
mica, outras vasculites, incluindo lúpus eritematoso
W sufusão conjuntival;
sistêmico, dentre outras. W sinais de insuficiência renal aguda (incluindo
alterações no volume urinário);
W icterícia e/ou aumento de bilirrubinas;
8. A BORDAGEM INICIAL W fenômeno hemorrágico.
E TRATAMENTO
Sinais de alerta: possibilidade de evolução para
forma grave.
8.1. SUSPEITA CLÍNICA
297
Leptospirose e hantavirose Infectologia
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A história clínica deve ser a mais detalhada possível, empregada em locais onde houver disponibilidade,
e os itens a seguir devem constar em prontuário. para casos que não respondem ou que não podem
ser dialisados por via peritoneal.
Pesquisa de sinais de alerta: são de grande auxílio
ao profissional de saúde no momento da decisão Outro elemento importante é o suporte das altera-
sobre a necessidade de internação do paciente ções pulmonares. A pressão de oxigênio deve ser
e devem ser investigados ativamente durante a mantida alta, nos mesmos moldes utilizados no
anamnese e o exame físico. tratamento da síndrome do desconforto respiratório.
Nessas situações, é mandatória a monitorização
Epidemiologia: perguntar sobre antecedentes epi-
hemodinâmica. Tríade do suporte clínico: antibiótico,
demiológicos sugestivos da doença nos 30 dias
diálise precoce e ventilação protetora.
anteriores ao início dos sintomas, com especial aten-
ção à situação de risco e à ocupação do paciente, Resumindo, na Síndrome de Weil, as medidas de
registrando a data e o endereço do local provável suporte são fundamentais e incluem a hidratação
de infecção e a ocorrência de casos anteriores de venosa para reposição da volêmica, a reposição de
leptospirose humana ou animal. potássio quando necessária, o acompanhamento
da função renal, com a possibilidade de diálise
precoce na IRA oligúrica, o manejo de hemorragias
9. TRATAMENTO com transfusão de hemoderivados e a observação
do estresse pulmonar, entrando com ventilação
mecânica em caso de SARA grave.
A maior parte dos casos evoluirá para formas leves
da doença, cujo tratamento é feito com sintomáticos.
O tratamento com antibióticos ainda é controverso
em quadros leves e até nas formas graves. Existe
298
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
10.1. C
ONTROLE DA POPULAÇÃO 11.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS
DE ROEDORES
Nas Américas, a hantavirose se manifesta sob
É feito através de medidas de antirratização, que diferentes formas, desde doença febril aguda ines-
consistem na modificação das características pecífica até quadros pulmonares e cardiovasculares
ambientais que favorecem a penetração, a insta- mais severos e característicos, podendo evoluir para
lação e a livre proliferação de roedores, por meio a Síndrome da Angústia Respiratória (SARA). Na
da eliminação dos fatores que propiciem o acesso América do Sul, foi observado importante compro-
desses animais a alimento, água e abrigo. Ainda metimento cardíaco, passando a ser denominada de
como alternativa, há a desratização, que visa à eli- Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH),
minação direta dos roedores através de métodos com altas taxas de mortalidade (12 a 40%).
mecânicos (ratoeiras) e químicos (raticidas).
Outra apresentação clínica da hantavirose é a Febre
Outras ações que podem ser realizadas em situa- Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR): presença
ções especiais são listadas a seguir: segregação e de febre associada a petéquias, enantemas, proteinú-
tratamento de animais domésticos infectados e/ou ria acentuada, hematúria microscópica e hipotensão
doentes e proteção de áreas humanas de moradia, que contribui decisivamente para a lesão renal
trabalho e lazer da contaminação pela urina desses aguda. Podem advir manifestações extrarrenais,
animais; imunização de animais domésticos e de tais como Coagulação Intravascular Disseminada
produção (caninos, bovinos e suínos), através do (CIVD), miocardite, hepatite e pancreatite. Essa
uso de vacinas preparadas com os sorogrupos forma clínica não ocorre no Brasil, sendo a mais
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prevalentes na região; cuidados com a higiene; comum na Ásia e no norte da Europa.
remoção e destino adequados de excretas de ani-
mais e desinfecção permanente dos canis ou locais
11.2. AGENTE ETIOLÓGICO
de criação.
299
Leptospirose e hantavirose Infectologia
A infecção humana ocorre mais frequentemente pela Na radiografia do tórax, observa-se infiltrado inters-
inalação de aerossóis, formados a partir de urina, ticial difuso bilateral que rapidamente evolui com
fezes e saliva de roedores infectados. Outras formas enchimento alveolar, especialmente nos hilos e nas
de transmissão para a espécie humana foram tam- bases pulmonares. Derrame pleural, principalmente
bém descritas, porém são pouco frequentes, como bilateral, de pequena magnitude, é comum. Área
percutânea, por meio de escoriações cutâneas ou cardíaca é normal. O índice cardíaco é baixo, e a
mordedura de roedores; por contato do vírus com resistência vascular periférica é elevada, o oposto
mucosa (conjuntival, da boca ou do nariz), por meio do que se observa no choque séptico.
de mãos contaminadas com excretas de roedores. Comprometimento renal pode aparecer, mas, mor-
mente, se apresenta de leve a moderado; no entanto,
11.5. PERÍODO DE INCUBAÇÃO E insuficiência renal aguda pode ocorrer, singular-
TRANSMISSIBILIDADE mente em infecções causadas por vírus que não
ocorrem no Brasil. Devido a sua gravidade, há mais
Em média, de uma a 5 semanas, com variação de risco de óbitos nessa fase.
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3 a 60 dias.
O período de transmissibilidade do hantavírus no 13. DIAGNÓSTICO
homem é desconhecido. Estudos sugerem que o
período de maior viremia seria o de alguns dias que
antecedem o aparecimento dos sinais e sintomas. 13.1. EXAMES INESPECÍFICOS
300
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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cíficas para hantavírus.
Todo caso suspeito de SCPH deve ser removido
para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) o mais
breve possível.
Recomenda-se o isolamento do paciente em con-
dições de proteção com barreiras (avental, luvas e
máscara dotadas de filtros N95).
301
Leptospirose e hantavirose Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2020) (FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS MUNICIPAIS – 2009)
Homem, 22a, trabalhador da coleta de lixo, procurou A leptospirose é uma infecção causada por um
a Unidade de Pronto Atendimento com febre alta há microrganismo do gênero leptospira, que infecta
5 dias acompanhada de cefaleia e mialgia intensa. o homem através do contato direto com a urina e/
Evoluiu há 2 dias com exantema maculopapular, ou tecidos infectados de animais. A apresentação
cansaço e icterícia. Exame físico: T= 38,4oC, ictéri- clínica mais frequente da leptospirose é a:
co ++/4+; olhos: hiperemia conjuntival; membros:
dor à palpação das panturrilhas. A CONDUTA É: ⮦ Anictérica.
⮧ Ictérica.
⮦ Levofloxacina.
⮨ Hemorrágica.
⮧ Cefepima.
⮩ Ictero-hemorrágica.
⮨ Cloranfenicol.
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⮩ Penicilina cristalina.
Questão 4
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Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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⮧ Alterações na função tubular geralmente proce- rose se manifesta sob diferentes formas, desde
dem a queda na TFG. doença febril aguda inespecífica, até quadros
pulmonares e cardiovasculares mais severos e
⮨ A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é caracteris-
característicos, podendo evoluir para a síndrome
ticamente oligúrica e hipercalêmica.
da angústia respiratória (SARA). Sendo INADE-
⮩ Pode apresentar-se de forma subclínica, com QUADO o seguinte:
leve proteinúria, geralmente menor que 1 g/24 h.
⮪ Pode persistir déficit de concentração urinária ⮦ Na América do Sul, foi observado importante
por período prolongado. comprometimento cardíaco, passando a ser
denominada de síndrome cardiopulmonar por
hantavírus (SCPH).
Questão 7 ⮧ Vírus do gênero Hantavírus, da família Bunya-
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2017) viridae, sendo o único buniavírus que não é um
A droga de primeira escolha para quimioprofilaxia arbovírus.
de leptospirose é: ⮨ A infecção humana ocorre mais frequentemen-
te pela inalação de aerossóis, formados a partir
⮦ Amoxicilina + clavulanato. da urina, fezes e saliva de roedores infectados.
⮧ Claritromicina. ⮩ Cardiopulmonar é caracterizada pelo início da
⮨ Ciprofloxacino. tosse, que em geral é produtiva, acompanhada
⮩ Doxiciclina. de bradicardia, taquidispneia e hipoxemia
⮪ Levofloxacino.
303
Leptospirose e hantavirose Infectologia
Questão 10
⮦ Hemorragia alveolar.
⮧ Lesão renal aguda.
⮨ Choque hipovolêmico.
⮩ Arritmia.
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Leptospirose e hantavirose Cap. 10
GABARITO E COMENTÁRIOS
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é leve e autolimitado, mas em alguns casos pode são a principal porta de entrada para o patógeno.
ser grave e fatal. Quase todos os pacientes apre- A leptospirose pode ser uma doença ocupacional.
sentam início abrupto de febre, mialgia e cefaleia. Alternativa A: CORRETA.
A sufusão conjuntival, caracterizado por hiperemia
Alternativa B: CORRETA.
conjuntival, é um sinal importante, mas frequente-
mente negligenciado. Outros sintomas como tos- Alternativa C: CORRETA.
se, náusea, vômito e diarreia podem ocorrer. Além Alternativa D: INCORRETA. Não existe transmissão
disso, a doença pode evoluir de forma grave como de uma pessoa infectada para a outra. A infecção
o surgimento de icterícia e insuficiência renal (Doen- é transmitida entre os animais e dos animais, como
ça de Weil), a hemorragia pulmonar, a síndrome do os ratos, para o homem.
desconforto respiratório agudo e a rabdomiólise. ✔ resposta: D
Alternativa A: INCORRETA. As quinolonas (ex: levo-
floxacina) não são indicadas para o tratamento de
Questão 3 dificuldade:
leptospirose.
Alternativa B: INCORRETA. A cefepima é uma cefa- Y Dica do professor: A presença de icterícia é fre-
losporina de quarta geração, seu uso é intraveno- quentemente usada para auxiliar no diagnóstico da
so e também não é indicada como terapia para leptospirose, sendo um preditor de pior prognósti-
leptospirose. co devido à associação com a Síndrome de Weil.
Alternativa C: INCORRETA. O cloranfenicol não tem A maioria dos pacientes com leptospirose apresenta
ação eficaz contra a leptospira. a forma anictérica da doença. Em 10% a 15% dos
Alternativa D: CORRETA. A fase tardia da doença ou pacientes com leptospirose, ocorre a evolução para
íctero-hemorrágica, como o caso do paciente expos- manifestações clínicas graves, que tipicamente se
to, o tratamento pode ser realizado com penicilina iniciam após a primeira semana da doença, mas
305
Leptospirose e hantavirose Infectologia
que podem ocorrer mais cedo, especialmente em com ausência clínica da evidência de envolvimen-
pacientes com apresentações fulminantes. to meníngeo).
✔ resposta: A Alternativa E: INCORRETA. Na leptospirose as transa-
minases estão normais ou com aumento de três a
cinco vezes o valor da referência (geralmente não
Questão 4 dificuldade: ultrapassam 500 UI/dL), podendo a TGO (AST) es-
Alternativa A: CORRETA. tar mais elevada que a TGP (ALT). De fato, há ele-
vação das bilirrubinas totais com predomínio da
Alternativa B: INCORRETA. As medidas antirratização
fração direta.
estão indicadas na tentativa de diminuir a chance
de contaminação. ✔ resposta: E
Alternativa C: INCORRETA. O principal reservatório
é o rato. Porém, também se destacam: cão, suíno, Questão 6 dificuldade:
bovino, equinos, ovinos e caprinos.
Y Dica do professor: Outras manifestações frequen-
Alternativa D: INCORRETA. O agente etiológico tem
tes na forma grave da leptospirose são: miocardi-
alta capacidade de sobrevivência no meio ambiente
te, acompanhada ou não de choque, e arritmias
(até 180 dias) devido à ampla variedade de animais
agravadas por distúrbios eletrolíticos; pancreatite;
suscetíveis que podem hospedar o microrganismo.
anemia; e distúrbios neurológicos como confusão,
Alternativa E: INCORRETA. A leptospira é uma aeró- delírio, alucinações e sinais de irritação meníngea.
bia obrigatória. A leptospirose é causa relativamente frequente de
✔ resposta: A meningite asséptica.
Alternativa A: CORRETA. Descreve corretamente a
dificuldade:
fisiopatologia da IRA na leptospirose.
Questão 5
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Alternativa B: CORRETA. Na leptospirose há disfunção
Y Dica do professor: Os seguintes exames deverão tubular, que justifica a hipocalemia.
ser solicitados, inicialmente, numa rotina de suspei-
Alternativa C: INCORRETA. A leptospirose causa uma
ta clínica de leptospirose, com o objetivo de ajudar
forma peculiar de insuficiência renal aguda, carac-
na diferenciação de outras doenças e avaliação
terizada geralmente por ser não oligúrica e hipo-
da gravidade do caso: hemograma e bioquímica
calêmica devido à inibição de reabsorção de sódio
(ureia, creatinina, bilirrubina total e frações, TGO,
nos túbulos renais proximais, aumento no aporte
TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK, Na+ e K+).
distal de sódio e consequente perda de potássio.
Se necessário, também devem ser solicitados: ra-
diografia de tórax, eletrocardiograma (ECG) e ga- Alternativa D: CORRETA. O acometimento renal na
sometria arterial. leptospirose pode se manifestar somente com
proteinúria.
Alternativa A: CORRETA. Anemia e plaquetopenia são
achados comuns na leptospirose. Alternativa E: CORRETA. A disfunção tubular pode
demorar para se resolver.
Alternativa B: CORRETA. Elevação da creatinofosfo-
quinase (CPK) e da velocidade de hemossedimen- ✔ resposta: C
tação (VHS) são achados comuns na leptospirose.
Alternativa C: CORRETA. Na leptospirose observamos Questão 7 dificuldade:
potássio sérico normal ou diminuído, mesmo na
vigência de insuficiência renal aguda. Y Dica do professor: Em virtude da insuficiência de
evidências científicas sobre benefícios e riscos do
Alternativa D: CORRETA. Na leptospirose observa-
uso de quimioprofilaxia para um grande contingen-
mos líquor com pleocitose linfomonocitária ou neu-
te populacional, o uso de quimioprofilaxia não é in-
trofílica moderada (abaixo de 1.000 células/mm3,
dicado pelo Ministério da Saúde como medida de
comum na segunda semana da doença, mesmo
306
Leptospirose e hantavirose Cap. 10
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Questão 9 dificuldade:
307
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308
Capítulo
MENINGITES AGUDAS
11
importância/prevalência
u Meningites infecciosas são doenças graves causadas por bactérias, vírus e fungos, sendo importante
reconhecer esses agentes e sua terapêutica específica.
u Neste capítulo, iremos discutir as etiologias bacterianas e virais no adulto. Nos capítulos sobre micoses
profundas e tuberculose, e no de meningoencefalites serão abordadas as meningites relacionadas a
essas etiologias, que se apresentam com evolução mais subaguda/crônica e com componente encefálico
associado.
u Os principais agentes das meningites agudas são bactérias e vírus. Estratificar agentes bacterianos por
faixa etária é importante na escolha de antibióticos e na indicação da quimioprofilaxia.
u Saber os critérios de isolamento nas meningites (uso de EPIs, precauções com gotículas) e também da
suspensão. Memorizar esses conceitos para a prova prática.
u A abordagem inicial no pronto-atendimento é fundamental, devendo-se atentar para as principais mani-
festações clínicas/liquóricas das meningites bacterianas e seus diferenciais com a etiologia viral (sinal
vermelho quando aparecerem os sinais propedêuticos de irritação meníngea).
u Irritação meníngea nem sempre corresponde à meningite de natureza infecciosa: pense nos diferenciais,
e atenção para a história clínica e os dados epidemiológicos.
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u Escolha de antibióticos: penetração em SNC e abertura de agentes por faixa etária.
u Na abordagem diagnóstica, a coleta do líquor é uma das etapas fundamentais. É importante conhecer
as etapas da coleta e quais são os exames microbiológicos (gram, culturas, provas imunológicas) que
sempre devem ser solicitados.
u Saber as indicações para se realizar TC de crânio prévia ao líquor e os achados liquóricos para cada etio-
logia de meningite (proteinorraquia, glicorraquia, celularidade e diferencial).
u Por fim, é necessário saber a abordagem terapêutica conforme o agente etiológico suspeito/identificado
e as indicações de corticoterapia.
u Discorrer sobre os principais agentes das meningites virais, padrões liquóricos, diagnóstico e síndromes
associadas.
u Avaliar esquemas de quimioprofilaxia nos contactantes.
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Meningites agudas Infectologia
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Fonte: Acervo Sanar.
Pode acometer indivíduos de qualquer idade, sendo dose deve ser administrada adequadamente para
causada por diversos agentes infecciosos: bac- cobertura/penetração em SNC.
térias, vírus e fungos, como também por agentes
Meningite asséptica é o termo que se refere à sín-
não infecciosos: traumas, doenças inflamatórias,
drome clínica de infecção meníngea, na qual não há
medicamentos, neoplasias (câncer), entre outros.
crescimento bacteriano no líquor. Assim, são cau-
Muitas vezes, é uma emergência infecciosa, e o sas de meningite asséptica: infecções virais e não
reconhecimento do quadro, bem como a adminis- virais, fármacos, câncer, doenças reumatológicas
tração de antibióticos/corticoide em tempo hábil, e metástases tumorais. Nas provas, é primordial
têm efeito decisivo na evolução prognóstica do lembrar sempre dos diagnósticos diferenciais não
paciente. É importante que o médico generalista infecciosos das síndromes de irritação meníngea.
reconheça prontamente os casos suspeitos e indi-
Serão abordadas, neste capítulo, as meningites
que a coleta do LCR (líquor) quando for possível,
bacterianas, as virais e o seu manejo clínico.
desde que não atrase o início do antibiótico, cuja
310
Meningites agudas Cap. 11
2. EPIDEMIOLOGIA
Streptococous agalactiae,
Neonatos Escherichia coli, Listeria
As meningites têm distribuição mundial, e sua monocytogenes
expressão epidemiológica depende de diferentes
fatores, como o agente infeccioso, a existência
de aglomerados populacionais, as características S. agalactiae, E. coli,
socioeconômicas dos grupos populacionais e do 1a 23 meses
Haemophilus influenzae, S.
pneumoniae,
meio ambiente (clima). Os principais agentes bac- N. meningitidis
terianos são: Neisseria meningitidis (meningococo),
Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemo-
philus influenzae. Citam-se, ainda, outros agentes S. pneumoniae, N.
bacterianos, como: Mycobacterium tuberculosis, meningitidis,
> 50 anos L. Monocytogenes,
Streptococcus sp. – principalmente os do grupo B, bacilos gram-negativos
Streptococcus agalactie, Listeria monocytogenes,
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Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa,
Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp. S. pneumoniae,
N. meningitidis, L.
Dentre os fatores associados à meningite bacteriana, Imunocomprometidos Monocytogenes, bacilos
gram-negativos (incluindo
pode-se citar: 1. faixa etária, porta de entrada ou Pseudomonas aeruginosa)
foco séptico inicial; 2. tipo e local da infecção no
sistema nervoso central (SNC); 3. imunidade prévia;
situação epidemiológica local.
S. pneumoniae, H.
Fratura de base
influenzae, Streptococcus
de crânio hemolítico do grupo A
Staphylococcus aureus,
TCE penetrante, Staphylococcus coagulase-
pós-neurocirurgia, negativo, bacilos gram-
fístula liquórica -negativos (incluindo
Pseudomonas aeruginosa)
311
Meningites agudas Infectologia
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DIA A DIA MÉDICO
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Meningites agudas Cap. 11
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O termo “meningite” expressa a ocorrência de um Bactéria gram-negativa em forma de coco. Possui
processo inflamatório das meninges, membranas diversos sorogrupos, de acordo com o antígeno
que envolvem o cérebro. polissacarídeo da cápsula. Os mais frequentes são
os sorogrupos A, B, C, W135 e Y. Podem também ser
classificados em sorotipos e subtipos, de acordo
4. AGENTE ETIOLÓGICO com os antígenos proteicos da parede externa do
meningococo. Importante pontuar que, no Brasil,
quase a totalidade dos meningococos é sensível à
A meningite pode ser causada por diversos agentes
penicilina cristalina.
infecciosos, como bactérias, vírus e fungos, dentre
outros, e agentes não infecciosos (ex.: traumatismo).
4.1.2. Streptococcus pneumoniae
As meningites de origem infecciosa com evolução (pneumococo)
aguda, acima de tudo as causadas por bactérias e
vírus, são as mais importantes do ponto de vista Bactéria gram-positiva com característica morfo-
da saúde pública, posto à magnitude de sua ocor- lógica esférica (cocos), disposta aos pares. Possui
rência e potencial de produzir surtos. Dentre elas, mais de 90 sorotipos capsulares. Com relação à
destacam-se aquelas relatadas a seguir. resistência ao pneumococo, apesar de ser pequena
em nosso país, é maior que ao meningococo. Assim,
na abordagem empírica de meningite em adultos,
deve-se preferir utilizar cefalosporinas da terceira
geração. Se estiverem disponíveis valores do MIC
(concentração inibitória mínima), é possível usá-los
para ajustar o esquema inicial de antibiótico.
313
Meningites agudas Infectologia
4.1.3. Haemophilus influenzae (hemófilo) Memorize isso para a prova: o diagnóstico etiológico
pode ser presumido pela bacterioscopia e aspecto
Bactéria gram-negativa que pode ser classificada no gram:
a partir da diferença antigênica da cápsula polissa-
carídica. O Haemophilus influenzae desprovido de u Pneumococo: coco gram-positivo;
cápsula encontra-se nas vias respiratórias de forma u Meningococo: coco gram-negativo;
saprófita, podendo causar infecções assintomáticas
u Hemophilus: cocobacilo gram-negativo;
ou doenças não invasivas, tais como bronquite, sinu-
sites e otites, tanto em crianças como em adultos. u Listeria: bacilo gram-positivo.
A cobertura vacinal ampliada reduziu a incidência 4.2. MENINGITES VIRAIS
de meningite por esse agente.
As meningites virais têm distribuição universal e, em
4.1.4. Listeria monocytogenes
geral, evolução benigna, baixa letalidade e menor
Bacilo gram-positivo associado a pacientes com risco de sequelas. São comumente associadas à
algum grau de imunossupressão. É mais incidente ocorrência de surtos, podendo ocorrer casos iso-
em extremos de idade (menores de 5 e maiores de lados. A incidência se eleva nos meses do outono
60), usuários de corticoides, etilistas e HIV-AIDS. e da primavera.
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Meningites agudas Cap. 11
Meningococo
Processo inflamatório
Pneumococo
bacteriano que
Hemófilos
acomete meninges
Estreptococo do grupo B
Etiologia Definição
Meningite bacteriana
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Mapa mental. Meningite viral – Definição
Meningite viral
Definição
Comumente ocorre
em surtos
315
Meningites agudas Infectologia
São representadas principalmente pelos enteroví- causando edema vasogênico e hidrocefalia por
rus, poliovírus, echovírus, coxsackie A, coxsackie meio desse mecanismo.
B e outros enterovírus. Geralmente evoluem para
quadros benignos. 5.1. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
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ocorre nos 6 primeiros meses da infecção. imunidade vai declinando até os 3 meses de idade,
com o consequente aumento da suscetibilidade.
No caso das meningites bacterianas, o agente etio-
lógico pode atravessar a barreira hematoencefálica Em relação à meningite pneumocócica, idosos e
por: indivíduos portadores de quadros crônicos ou de
doenças imunossupressoras apresentam maior
u Acesso direto: fraturas de crânio, defeito con- risco de adoecimento. São exemplos de doenças
gênito de fechamento do tubo neural (espinha imunossupressoras: síndrome nefrótica, asplenia
bífida, meningocele, meningomielocele, menin- anatômica ou funcional, insuficiência renal crônica,
goencefalocele) e iatrogênica (punção liquórica diabetes mellitus, infecção pelo HIV. Nos primeiros
inadequada). meses de vida, os lactentes estão protegidos por
anticorpos específicos da classe IgG.
u Contiguidade: otites médias, mastoidites ou si-
nusites.
u Via hematogênica: ultrapassa a barreira hematoen-
6. A SPECTOS CLÍNICOS E
cefálica por ligação com receptores endoteliais,
LABORATORIAIS
lesão endotelial ou em áreas mais susceptíveis,
como o plexo coroide.
u Derivações liquóricas. 6.1. MANIFESTAÇÕES GERAIS
u Lise bacteriana e liberação da suas endotoxinas
(gram-negativas), ácido teicoico e peptidioglicano A meningite é uma síndrome na qual, na maior parte
(gram-positivas) da parede celular, induzem a pro- dos casos, o quadro clínico é grave e caracteriza-se
dução de citocinas inflamatórias que aumentam por febre, cefaleia intensa, náusea, vômito, rigidez
a permeabilidade da barreira hematoencefálica, de nuca, prostração e confusão mental, sinais de
316
Meningites agudas Cap. 11
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Fonte: Acervo Sanar.
317
Meningites agudas Infectologia
Crianças de até 9 meses poderão não apresentar A doença meningocócica pode variar desde um
os sinais clássicos de irritação meníngea. Nesse quadro de febre transitória até doença fulminante,
grupo, outros sinais e sintomas permitem a suspeita fatal em poucas horas. A doença invasiva pode se
diagnóstica, como: febre, irritabilidade ou agitação, manifestar como meningococcemia ou meningite
choro persistente, grito meníngeo (criança grita (com ou sem meningococcemia). Meningite é a prin-
ao ser manipulada, em especial quando se fletem cipal manifestação, ocorrendo em 70% dos casos;
as pernas para trocar a fralda) e recusa alimentar, bacteremia isolada, em 27%; e doença fulminante,
acompanhada ou não de vômitos, convulsões e em 4%. O início pode ser insidioso e não específico,
abaulamento da fontanela. mas usualmente é súbito com febre, calafrios, mal-
-estar, mialgia, dor em membros, prostração e um
6.2. DOENÇA MENINGOCÓCICA rash maculopapular, petequial ou purpúrico.
O rash aparece como lesões discretas de 1 a 2 mm
Um aspecto específico das meningites bacterianas de diâmetro, mais frequentemente no tronco e nos
cobrados em prova é a doença meningocócica e membros inferiores. Mais de 50% dos pacientes
seu espectro. A infecção pelo meningococo pode têm petéquias na apresentação. Os quadros de rash
provocar um quadro clínico variado: maculopapular e petequial são indistinguíveis do
rash causado por algumas doenças virais, assim
u Meningite isolada. como a púrpura, que pode ocorrer em sepse de
u Meningococcemia isolada. outra etiologia.
u Meningite meningocócica: forma mista (também
conhecida como doença meningocócica).
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Meningites agudas Cap. 11
Ceftriaxone ou Ceftriaxone +
cefoxatina ampicilina se > 50 anos
Processo
Todo caso
Meningococo inflamatório
suspeito deve ser
Pneumococo bacteriano Acrescentar
investigado
Hemófilos que acomete vancomicina em
e notificado
Estreptococos meninges Antibioticoterapia áreas com + de 2% de
do grupo B empírica pneumococo resistente
Definição
Junto com a primeira
Dexametasona
dose de antibiótico
Etiologia Tratamento
Patogênese Exames
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Celularidade ↑
Neutrófilos ↑ Se complicação
Proteínas ↑ ou evolução
Patógeno acessa barreira Glicose ↓↓ desfavorável
hematoencefálica através de Lactato ↑↑
Contiguidade (otite
média, mastoidite,
sinusite)
Irritação Hipertensão
Toxemia Meningococcemia
meníngea intracraniana
Via hematogênica
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Meningites agudas Infectologia
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A meningite que mais frequentemente causa seque-
las é a pneumocócica, classicamente ocasionando O diagnóstico laboratorial das meningites é realizado
perda auditiva. por meio do estudo do líquido cefalorraquidiano, san-
A doença invasiva pode ser complicada por pneu- gue (hemoculturas) e raspado de lesões petequiais,
monia (8 a 15%), artrites, miocardite, pericardite e quando se suspeitar de meningococcemia e doença
endoftalmite. Pode ocorrer síndrome inflamatória meningocócica. O diagnóstico das meningites virais
pós-infecciosa em menos de 10% dos casos, ocor- também pode ser realizado através da urina e das
rendo 4 ou mais dias após o início do quadro e fezes (testes moleculares que, normalmente, não
apresentando-se com febre e artrite ou vasculite, estão disponíveis na prática clínica).
e menos comumente com conjuntivite, pericardite Importante: O que fazer primeiro, LCR ou TC de
e poliserosite. Além disso, na meningite ocorrem crânio?
complicações como hidrocefalia, paralisia de nervos
cranianos, efusão subdural, edema cerebral, entre Fazer TC de crânio antes da punção lombar se hou-
outras manifestações. Após 8 dias de tratamento ver, na história ou no quadro clínico, indicativos de
adequado, a persistência de febre pode ser sinal maior possibilidade de herniação, tais como:
de efusão subdural ou empiema e aparecimento,
u rebaixamento de nível de consciência modera-
ainda nos primeiros dias de tratamento, de vômitos
do a grave;
ou da presença de sinais de aumento da pressão
intracraniana. u sinal neurológico focal;
u convulsões;
u papiledema ou outros sinais de hipertensão in-
tracraniana (cushing, bradicardia, respiração ir-
regular, hipertensão arterial);
320
Meningites agudas Cap. 11
u pacientes imunocomprometidos, que têm maior Frente ao exposto, os principais exames para o
probabilidade de lesão de massa. esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos
de meningite são:
Em situações diferentes das citadas, a probabilidade
de alteração à TC é muito baixa, e sua realização u exame quimiocitológico do líquor;
é dispensável. u bacterioscopia direta (líquor);
Caso se opte por realizar TC antes da punção, não u cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes);
se deve deixar o início de antibioticoterapia empírica u contraimunoeletroforese cruzada – CIE (líquor
para depois da punção lombar, até porque os sinais e soro);
que indicam TC são sugestivos de gravidade e de u aglutinação pelo látex (líquor e soro).
pior prognóstico.
São outros indicativos de pior prognóstico: idade O aspecto do líquor, embora não seja considerado
avançada, leucopenia, trombocitopenia, hemocultura um exame, funciona como um indicativo.
positiva, presença de otite ou sinusite, ausência O líquor normal é límpido e incolor, como “água de
de rash. rocha”. Nos processos infecciosos, ocorre o aumento
Outrossim, deve haver cautela na indicação de de elementos figurados (células), causando turvação,
punção lombar na presença de coagulopatia ou cuja intensidade varia conforme a quantidade e o
trombocitopenia grave (denotadas por sangramento tipo desses elementos.
ativo, plaquetas <50.000 ou INR >1,4). A punção Obtido o líquor, analisar: proteína, glicose (relação
poderá ser realizada após correção das alterações. soro/líquor), celularidade com diferencial, bacte-
Uma vez obtido o líquor, analisar: proteína, glicose rioscopia pelo gram e cultura com antibiograma
(relação soro/líquor), celularidade com diferencial, (Tabela 1 e Quadro 1).
além de bacterioscopia pelo gram e cultura com
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antibiograma.
321
Meningites agudas Infectologia
S. pneumoniae, N. meningitidis, H.
1 a 23 meses Ceftriaxona ou cefotaxima*
influenzae B, S. agalactiae, E. coli
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O tempo do tratamento dependerá do agente. Na adequar a antibioticoterapia de acordo com o orga-
maioria das vezes, o tratamento fica entre 7 a 14 nismo e a resistência.
dias. Após o isolamento do microrganismo, deve-se
Oxacilina ou 2 g 4/4 h ou
Staphylococcus 21 dias
vancomicina 20 mg/kg 8/8 h
Ceftriaxona 2 g 12/12 h ou
Enterobactérias 14 a 21 dias
ou sulfametoxazol + trimetoprim 20 mg/kg/dia
Fonte: Ministério da Saúde³.
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Meningites agudas Cap. 11
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Meningites agudas Infectologia
Meningite
bacteriana
Tratamento
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Ceftriaxone ou 0,15mg/kg 6/6h por
cefotaxima 2-4 dias
Acrescentar vancomicina
em áreas com + de 2% de
pneumococo resistente
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Meningites agudas Cap. 11
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e meningite por H. influenzae, e para o paciente,
no momento da alta, no mesmo esquema preco-
9. VIGILÂNCIA E PROFILAXIAS nizado para os contatos – exceto se o tratamento
da doença tiver ocorrido com ceftriaxona, pois há
evidências de que essa droga é capaz de eliminar
9.1. NOTIFICAÇÃO o meningococo da orofaringe.
A meningite faz parte da lista nacional de doenças IMPORTANTE: Profilaxia é para os expostos de 7 a
de notificação compulsória, sendo de responsabi- 10 dias do início dos sintomas.
lidade de todo serviço de saúde notificar todo caso A droga de escolha para a quimioprofilaxia é a
suspeito às autoridades municipais de saúde, que rifampicina, que deve ser administrada em dose
deverão providenciar, de forma imediata, a investi- adequada e simultaneamente a todos os contatos
gação epidemiológica e avaliar a necessidade da íntimos, de preferência em até 48 horas da exposição
adoção das medidas de controle pertinentes. à fonte de infecção, sendo considerados o prazo de
Todos os profissionais de saúde das unidades públi- infectibilidade e o período de incubação da doença.
cas e privadas de ensino, e de laboratórios públicos O uso restrito da droga visa evitar a seleção de
e privados são responsáveis pela notificação. estirpes resistentes de meningococos. Podem ser
utilizados em esquema alternativo a ciprofloxacina
Proteção individual e da população: o isolamento do ou a ceftriaxona.
paciente está indicado apenas durante as primeiras
24 horas do tratamento com o antibiótico adequado. Em menores de 1 ano, atualmente é utilizada a
Nos casos de doença meningocócica ou meningite vacina tetravalente, e não mais a Hib. Portanto,
por H. influenzae, está indicada a quimioprofilaxia nas meningites por H. influenzae, para crianças
do caso e dos contatos íntimos. não vacinadas menores de 1 ano, vacinar e fazer a
325
Meningites agudas Infectologia
quimioprofilaxia para todos os contatos domiciliares Em relação a gestantes, esse medicamento tem
adultos (Tabela 3). sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há
provas de que a rifampicina possa apresentar efei-
tos teratogênicos.
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Moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham
Contactante íntimo o mesmo dormitório, comunicantes de creches e pessoas
diretamente expostas às secreções do paciente.
Fonte: Ministério da Saúde¹.
326
Meningites agudas Cap. 11
ou PCR) em até 3 meses, na mesma área geográfica, u Esquema para meningite sem agente isolado
que não sejam comunicantes entre si. (adulto jovem sem comorbidades): ceftriaxona
2 g EV de 12/12 h.
Vacinação de bloqueio: indicada para população
exposta, quando há a confirmação de um surto de u Corticoide: 0,15 mg/kg de dexametasona EV a
doença meningocócica causada pelo sorogrupo C. cada 6 horas. A primeira dose deve ser minis-
trada preferivelmente antes da primeira dose do
Vacina meningocócica conjugada C: interrompe a antibiótico. A duração total deve ser de 2 a 4 dias.
cadeia de transmissão do meningococo na comu-
u Manter em precaução respiratória até o resulta-
nidade.
do do líquor. Os critérios para a retirada do iso-
lamento dependem do agente. Se viral, retirar
imediatamente do isolamento; se bacteriano,
11. R ESUMÃO DE CONDUTAS após 24 horas da primeira dose do antibiótico.
EM MENINGITES
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imediata para CVE. O paciente só deve ser retirado do Departamento de Vigilância Epidemiológica (BR). Guia
isolamento depois do resultado do líquor. de vigilância epidemiológica. 8. ed. Brasília: Ministério
da Saúde; 2015.
Exames na abordagem inicial:
327
Meningites agudas Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
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nas totais = 128 mg/dL, Gram: ausente. A prescrição com ocorrência de surtos frequentes.
inicial CORRETA deste paciente deve conter: ⮨ A quimioprofilaxia está recomendada para todos
os profissionais da área de saúde que atenderam
⮦ Ceftriaxone em dose dobrada.
o caso de doença meningocócica.
⮧ Aciclovir endovenoso.
⮩ Esquema quimioprofilático indicado para doença
⮨ Dexametasona seguida de penicilina cristalina meningocócica no adulto é feito com ciprofloxa-
endovenosa. cina 500mg, duas vezes por dia, por cinco dias.
⮩ Dexametasona seguida de ceftriaxone em dose
dobrada e ampicilina.
Questão 4
⮦ Trauma de punção.
328
Meningites agudas Cap. 11
Questão 5 Questão 7
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC - SC - 2021) Assinale a (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE RIBEIRÃO PRETO - SP - 2021)
alternativa correta em relação à meningite causada Homem, 22 anos, sem antecedentes mórbidos, apre-
por Neisseria meningitidis. senta, há 48 horas, febre alta, prostração, cefaleia,
vômitos e pequenas manchas violáceas na pele,
⮦ O período de incubação médio é de 7 a 10 dias, disseminadas pelo corpo, que rapidamente têm
podendo se estender por até 15 dias. aumentado em densidade. Na admissão hospita-
⮧ O período de transmissibilidade persiste até que lar, o paciente se apresenta em mau estado geral,
o meningococo desapareça da nasofaringe, o sonolento, com confusão mental e Glasgow = 13.
que ocorre a partir de 72 horas do início da an- Exame físico: pressão arterial = 100 x 60 mmHg, FC
tibioticoterapia adequada. = 112 bpm, T axilar = 39 o C, ausculta pulmonar lim-
⮨ O regime antibiótico recomendado pelo Ministério pa, ausculta cardíaca normal, petéquias violáceas
da Saúde para adultos não imunocomprometidos disseminadas pelo tronco e membros; presença
é de 2 g de ceftriaxona a cada 24 h por sete dias. de rigidez de nuca ao exame neurológico. O agente
⮩ O modo de transmissão é o contato direto pessoa etiológico mais provavelmente envolvido no caso é
a pessoa, por meio de secreções respiratórias de ⮦ Neisseria gonorrhoeae.
pessoas infectadas sintomáticas ou portadores
⮧ A Neiseria meningitidis.
assintomáticos da bactéria.
⮨ O Treponema pallidum.
⮪ De acordo com o Ministério da Saúde, a qui-
mioprofilaxia está indicada para todos os pro- ⮩ O Staphylococcus aureus.
fissionais da saúde que atenderam o paciente ⮪ O Enterococcus faecalis.
antes do início da antibioticoterapia, sendo a
rifampicina o medicamento de escolha.
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Questão 8
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Meningites agudas Infectologia
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nista do pronto-socorro deve realizar a profilaxia de A etiologia mais provável em caso de meningite é:
meningite meningocócica para os familiares de uma
escolar de 7 anos acometida de quadro confirma- ⮦ Pneumococo.
do por bacterioscopia de líquido cefalorraquidiano. ⮧ E. coli.
Esta pode ser realizada com: ⮨ Staphylococcus aureus.
330
Meningites agudas Cap. 11
Questão 14 Questão 17
(RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO AMAPÁ – AP – 2017) Assi- (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – RN –
nale a alternativa que completa CORRETAMENTE 2018) As meningites bacterianas mais comuns são
a afirmação abaixo. causadas pelas bactérias meningococos, pneumo-
cocos e Haemophylus. Das três, a meningocócica
“Sobre o uso de corticoide nas meningites bacte- é a mais facilmente transmissível pela via respira-
rianas, objetivando reduzir a incidência de sequelas tória e também a mais terrível por ter a evolução
auditivas e neurológicas, recomenda-se”: do quadro clínico mais rápido. Sobre as meningites
bacterianas, é INCORRETO afirmar:
⮦ Limitar seu uso aos pacientes graves.
⮧ Iniciá-lo após a negativação da bacterioscopia ⮦ A vacina contra a meningite Haemophylus já faz
no LCR. parte do programa oficial de vacinação.
⮨ Administrá-lo antes da antibioticoterapia. ⮧ Pode ter como sintomas: febre, a dor de cabeça,
rigidez do pescoço, dor de garganta e vômitos.
⮩ Usá-lo apenas nos pacientes com edema ce-
⮨ O diagnóstico baseia-se exclusivamente na ava-
rebral.
liação clínica com a aplicação dos testes de Ker-
⮪ Mantê-lo durante toda a antibioticoterapia. nig e Brudizinsky.
⮩ Nenhuma das alternativas.
Questão 15
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exame físico, há rigidez de nuca. Devido à presença
⮧ Vírus herpes simples 1 e 2. de leucocitose com bastonemia aumentada e eleva-
⮨ Parechovírus humano. ção da proteína C reativa, há suspeita de meningite
⮩ HIV. bacteriana. Nesse caso, o acréscimo de ampicilina
ao esquema terapêutico visa à cobertura antibiótica
⮪ Arbovírus.
contra o seguinte agente infeccioso:
⮦ Streptococcus pneumoniae
Questão 16
⮧ Pseudomonas aeruginosa
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – PB – 2018) ⮨ Listeria monocytogenes
Para contactantes domiciliares adultos de pacien- ⮩ Neisseria gonorrhea
tes com Meningite Bacteriana Aguda de etiologia
meningocócica, há, em até 24 horas do diagnóstico
do caso índice, indicação para profilaxia com o uso Questão 19
da seguinte droga:
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE GOIÂNIA – GO – 2018) Nas
⮦ Pirazinamida. meningites bacterianas agudas mais prevalentes
⮧ Sulfametoxazol-trimetropim. em nosso meio, a droga padrão-ouro para o trata-
mento é:
⮨ Ciprofloxacina.
⮩ Amoxacilina. ⮦ Cefalosporina de primeira geração.
⮪ Azitromicina. ⮧ Penicilinas.
⮨ Cloranfenicol.
⮩ Ceftriaxone.
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Meningites agudas Infectologia
Questão 20
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12/12h
Questão 21
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Meningites agudas Cap. 11
GABARITO E COMENTÁRIOS
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philus influenzae e o meningococo. Clinicamente os aguda em crianças importantes. Está claro aqui na
pacientes costumam manifestar sinais de toxemia, resolução dessas questões importantes que o can-
febre, cefaleia, náuseas, vômitos, rigidez de nuca, didato preste bastante atenção à evolução clínica
sinais de Kernig e Brudzinski, entre outros. Para o do paciente e os achados de liquóricos, especial-
diagnóstico, é imprescindível a coleta do líquor – mente relacionados a celularidade, proteinorraquia
auxilia tanto no diagnóstico da condição quanto e glicorraquia. Nesse caso, o paciente apresenta
na determinação etiológica. Diante da suspeita, a uma doença de evolução aguda com líquor com
conduta ideal é a coleta de hemoculturas, cultura características de uma meningite viral a se desta-
do líquor e início imediato da antibioticoterapia. car uma celularidade moderada especialmente as
Alternativa A: INCORRETA. Recomenda-se hoje o uso custas de linfócitos.
de dexametaosa para reduzir os efeitos inflamatório Alternativas A e D: INCORRETAS. Não teria essa celu-
e o risco de sequelas neurológicas. laridade, que corresponde àquela que foi apresen-
Alternativa B: INCORRETA. A principal suspeita não tada na alternativa.
é de encefalite ou meningite viral, não cabendo o Alternativa B: CORRETA. LCR com perfil compatível
uso de aciclovir. com essa etiologia com celularidade moderada,
Alternativa C: INCORRETA. A penicilina costuma ser linfomonocitária e proteína e glicorraquia discre-
usada após resultado da cultura e da sensibilida- tamente tocadas.
de aos antimicrobianos, como forma de descalo- Alternativa C: INCORRETA. Uma meningite bacteriana
namento. teria um padrão liquórico neutrfílico.
Alternativa D: CORRETA. Pela idade do paciente ser > ✔ resposta: B
50 anos, recomenda-se o uso de ceftriaxona + am-
plicilina, uma vez que os patógenos mais frequen-
tes são o pneumococo, listeria e gram-negativos
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Meningites agudas Infectologia
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existirem surtos ocasionais em cidades e regiões.
- Principal agente causadora de meningite.
Alternativa C: INCORRETA. A quimioprofilaxia com ri- - Maior incidência em crianças menores de 5 anos,
fampicina por via oral é recomendada até 48h após a especialmente em lactentes entre 3 e 12 meses.
exposição para contatos próximos de pacientes com Alternativa A: INCORRETA. O período de incubacão é
doença meningocócica. No caso de profissionais usualmente curto, não chegando a 15 dias.
de saúde, a quimioprofilaxia é apenas indicada para
Alternativa B: INCORRETA. Já após 24 h da introdução
profissionais que realizaram procedimentos invasi-
do ATB não temos transmissão, já podendo retirar
vos como intubação orotraqueal ou passagem de
o paciente do isolamento respiratório.
sonda nasogástrica sem paramentação adequada.
Alternativa C: INCORRETA. A dose de cefalosporina é
Alternativa D: INCORRETA. A quimioprofilaxia é rea-
4 G (dobro da dose) para penetração no SNC.
lizada com rifampicina 600 mg de 12/12h, por via
oral por 2 dias. Alternativa D: CORRETA. A transmissão é de pessoa a
pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas
✔ resposta: A e secreções da nasofaringe, havendo necessida-
de de contato íntimo (residentes da mesma casa,
Questão 4 dificuldade: pessoas que compartilham o mesmo dormitório
ou alojamento, comunicantes de creche ou esco-
Y Dica do professor: Questão sobre os agentes in- la, namorado) ou contato direto com as secreções
fecciosos que causam meningite aguda na idade respiratórias do paciente.
adulta. Nessa questão é um paciente com rebai- Alternativa E: INCORRETA. A quimioprofilaxia tem sido
xamento AGUDO no nível de consciência, febre e adotada como uma medida eficaz na prevenção de
rigidez de nuca. O antecedente de sinusite nos leva casos secundários. Está indicada para os conta-
a pensar nos agentes que podem invadir SNC e no tos íntimos de casos de doença meningocócica e
334
Meningites agudas Cap. 11
meningite por H. influenzae, assim somente os pro- do uso de vancomicina na terapia empírica ou es-
fissionais envolvidos no atendimento direto desse pecífica contra meningococo.
doentes (intubação, por exemplo). ✔ resposta: A
✔ resposta: D
Questão 7 dificuldade:
Questão 6 dificuldade:
Y Dica do professor: Pacientes com tumores neu-
Y Dica do professor: O paciente apresenta síndrome roendócrinos têm perfil favorável para tratamento
infecciosa, síndrome de comprometimento me- da doença, mesmo em estágios metastáticos. Po-
níngeo e síndrome de hipertensão intracraniana. de-se ressecar o primário (aumenta sobrevida) e,
Uma suspeita diagnóstica importante e que deve em caso de fígado tratável, inclusive ressecar as
ser investigada é a meningite aguda. A meningite metástases (intenção de cura).
é uma infecção das membranas leptomeníngeas, Alternativa A: INCORRETA. A gonorreia é uma infecção
frequentemente causada por infecções bacterianas bacteriana frequente, causada pela Neisseria gonor-
e que é importante causa de morbimortalidade. Em rhoeae, um diplococo Gram-negativo de transmis-
geral, pacientes com meningite apresentam sinto- são quase que exclusiva através de contato sexual
mas como febre, vômitos, rigidez da nuca e altera- ou perinatal. A infecção gonocócica disseminada
ções sensoriais do SNC e outros sinais meníngeos (IGD) resulta de bacteriemia gonocócica e ocorre
(sinais de Brudzinski, de Kernig e de Lasègue). Um em 0,5 a 3% dos pacientes infectados e as compli-
exame essencial para o diagnóstico da meningite é cações raras incluem a endocardite, a meningite, a
a punção liquórica e o estudo do líquor. No caso do osteomielite, a sepse, dentre outras. Não é o agente
exame do líquor deste paciente, percebemos carac- mais comumente esperado.
terísticas claras de meningite bacteriana: glicorra-
Alternativa B: CORRETA. Vide comentário.
quia baixa, proteinorraquia elevada, pleocitose com
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predomínio de neutrófilos. A bacterioscopia indica Alternativa C: INCORRETA. A sífilis é doença infec-
a presença de um diplococo gram-negativo, que ciosa, geralmente transmitida por contato sexual,
nos indica fortemente a etiologia meningocócica. transfusão sanguínea ou adquirida congenitamente.
Ao invadir o sistema nervoso central (SNC), o Tre-
Alternativa A: CORRETA. Esta é a droga de escolha
ponema pallidum pode determinar quadros clíni-
para a terapia empírica da meningite e do tratamento
cos variados, desde apenas alterações liquóricas,
específico da meningite meningocócica.
em indivíduos assintomáticos, até quadros graves
Alternativa B: INCORRETA. O paciente não apresen- como a paralisia geral progressiva. A estas diver-
ta infecção viral e não há necessidade do uso de sas formas de comprometimento do SNC dá-se a
antivirais. designação genérica de neurossífilis. As manifes-
Alternativa C: INCORRETA. Apesar de a rifampicina tações clínicas da NS expressam-se durante a fase
possuir espectro de ação contra o meningococo terciária da doença e elas podem ser classificadas
e atingir quantidade terapêutica no líquido cefalor- em meningovasculares ou parenquimatosas. É um
raquidiano, essa droga, entretanto, é usada quase diagnóstico diferencial.
exclusivamente para o tratamento da tuberculose. Alternativa D: INCORRETA. Apesar de a incidência das
Alternativa D: INCORRETA. Apesar de ser uma droga infecções por Staphylococcus aureus ter aumenta-
potente contra gram-negativos e penetrar a barreira do, este permanece como uma causa relativamente
hematoencefálica, seu uso em meningites bacte- incomum de meningite, sendo um diagnóstico de
rianas não é recomendado. exclusão.
Alternativa E: INCORRETA. A vancomicina é recomen- Alternativa E: INCORRETA. Enterococcus faecalis é
dada para uso em associação com outro antibiótico uma bactéria Gram-positiva comensal do sistema
em locais onde há prevalência de pneumococo resis- digestivo humano e de outros mamíferos. Como
tente à meticilina. No Brasil não há recomendação causador de doença, ocorre mais comumente na
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Meningites agudas Infectologia
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associado à listeria monocytogenes, A listeriose bióticos usados com esta finalidade são: 1) Rifam-
humana é uma doença de distribuição cosmopolita picina: 10 mg/kg/dose (máx. 600 mg), VO, 12/12h
envolvendo, principalmente, recém-natos, idosos e por dois dias; 2) Ceftriaxona: 125 mg dose única
pacientes imunodeprimidos, embora existam casos IM (< 12-15 anos) ou 250 mg dose única IM (> 12-15
em indivíduos imunocompetente, laboratorialmen- anos). Os pacientes com doença meningocócica
te cursa com líquor apresentando pleocitose, com deverão permanecer em isolamento por gotículas
predomínio dos neutrófilos e com a inversão do por até 24 horas após o início da antibioticoterapia
maior número de células linfocitárias associada a adequada. A melhor resposta é a letra E.
hipoglicorraquia (< 40 mg/dL) e proteína elevada (> ✔ resposta: E
100 mg/dL), sendo o antibiótico de eleição para o
tratamento da listeriose a ampicilina.
Questão 11 dificuldade:
Alternativa A: CORRETA. Gabarito.
Alternativa B: INCORRETA. Causa não tão comum, Y Dica do professor: Listeria é a principal causa de
porém não é realizado tratamento com ampicilina meningite em transplantados e a segunda em idosos.
nesse grupo de bactérias. Alternativa A: INCORRETA. BGN são importantes
Alternativa C: INCORRETA. A hipertensão não confi- como causa de meningite até 2 meses de idade,
gura fator de risco. em neonatos.
Alternativa D: INCORRETA. Hiperproteinorraquia não Alternativa B: INCORRETA. S. agalactiae é uma bac-
é tão característico da infecção. téria presente no canal do parto; portanto, é preva-
lente em neonatos.
✔ resposta: A
336
Meningites agudas Cap. 11
Alternativa C: INCORRETA. Meningite por Enterococus bacterioscopia direta (líquor); cultura (líquor, sangue,
é comum em pacientes com derivação ventrículo- petéquias ou fezes); contraimuneletroforese cruzada
-peritoneal e neonatos. – CIE (líquor e soro); aglutinação pelo látex (líquor e
Alternativa D: INCORRETA. Meningite por Listeria é soro). O aspecto do líquor, embora não considerado
comum em pacientes com < 2 meses, idade avan- um exame, funciona como um indicativo. O líquor
çada e imunossuprimidos. normal é límpido e incolor, como “água de rocha”.
Nos processos infecciosos, ocorre o aumento de
Alternativa E: CORRETA. Meningococo é o principal
elementos figurados (células), causando turvação,
agente de meningite no Brasil a partir de 3 meses
cuja intensidade varia de acordo com a quantidade
de vida.
e o tipo desses elementos. Nas meningites bacte-
✔ resposta: E rianas, temos um aumento significativo da celula-
ridade à custa de predomínio na quase totalidade
dificuldade:
de polimorfos nucleares e consumo de glicose (hi-
Questão 12
poglicorraquia, < 2/3 da glicemia).
Y Dica do professor: As infecções pneumocócicas Alternativa A: INCORRETA. Na meningite aguda ocorre
podem ocorrer em qualquer idade, sendo mais fre- aumento, e não diminuição, na pressão de abertu-
quentes em crianças de baixa idade (lactentes me- ra do líquor.
nores de seis meses) e em idosos. Esplenectomia
Alternativa B: INCORRETA. Há aumento de neutrófilos
aumenta o risco para infecções pneumocócicas
na meningite bacteriana e linfócitos em meningites
invasivas.
virais e tuberculosa.
Alternativa A: CORRETA. Algumas condições são
Alternativa C: INCORRETA. Na meningite bacteriana
consideradas predisponentes a infecções por pneu-
ocorre diminuição da concentração de glicose no
mococo; ex.: asplenia anatômica ou funcional (in-
líquor.
cluindo anemia falciforme), imunodeficiência con-
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gênita ou adquirida, síndrome nefrótica, insuficiên- Alternativa D: CORRETA. Elevação importante na pro-
cia renal crônica, transplante de órgãos, diabetes teinorraquia acontece classicamente em meningi-
mellitus, doença pulmonar crônica, insuficiência tes bacterianas.
cardíaca congestiva e pacientes com fístula liquó- ✔ resposta: D
rica, que tendem a apresentar meningite recorrente
por pneumococo.
Questão 14 dificuldade:
Alternativa B: INCORRETA. Meningite por E. coli é mais
comum nas derivações ventriculares e em neonatos. Y Dica do professor: O uso de corticoide está aprova-
Alternativa C: INCORRETA. Meningite por S. aureus é do para meningite por pneumococo, meningococo
mais comum nas derivações ventriculares externas. e Hemófilos.
Alternativa D: INCORRETA. Meningite por Pseudomo- Alternativa A: INCORRETA. Gravidade não é critério
nas é mais comum após neurocirurgia ou infecções para introdução de corticoide.
hospitalares. Alternativa B: INCORRETA. Não há estudos que mos-
Alternativa E: INCORRETA. Streptococcus beta-hemo- trem benefício do corticoide após a negativação da
lítico não é agente usual de meningite. bacterioscopia.
✔ resposta: A Alternativa C: CORRETA. O corticoide deve ser inicia-
do 20 minutos antes ou, no máximo, junto com o
antibiótico.
Questão 13 dificuldade: Alternativa D: INCORRETA. Edema cerebral não se
Y Dica do professor: Os principais exames para o encaixa nas recomendações para uso de corticoi-
esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de de em meningites.
meningite são: exame quimiocitológico do líquor;
337
Meningites agudas Infectologia
Alternativa E: INCORRETA. O uso do corticoide mostra Alternativa B: INCORRETA. Sulfa não possui ação
benefício nos estudos na duração de 4 dias, e não contra agentes de meningite.
durante toda a antibioticoprofilaxia. Alternativa C: CORRETA. Embora não seja a primeira
✔ resposta: C opção, ciprofloxacino pode ser utilizada na profila-
xia de meningite em contactantes.
Alternativa D: INCORRETA. Amoxacilina é utilizada no
Questão 15 dificuldade: tratamento de infecções respiratórias.
Y Dica do professor: No grupo dos Enterovírus, des- Alternativa E: INCORRETA. Azitromicina não é uma
tacam-se os da família Picornaviridae: Echovírus (3, escolha na profilaxia das meningites.
4e, 6, 9, 11, 75, 21 e 30), Poliovírus e Coxsackievírus ✔ resposta: C
dos grupos A e B 1,2. A transmissão é fecal-oral.
Alternativa A: CORRETA. Os Enterovírus têm com-
Questão 17 dificuldade:
portamento sazonal, predominando na primavera
e verão, podendo ocorrer em número menor nas Y Dica do professor: Entre 0 e 2 anos, os sinais me-
outras estações do ano. A duração da doença ge- níngeos geralmente estão ausentes.
ralmente é menor que uma semana. Os lactentes
Alternativa A: CORRETA. A vacinação para o H. in-
são os mais suscetíveis e a reinfecção pode ocor-
fluenzae entrou já no calendário, o que resultou na
rer por sorotipos diferentes. Outros grupos menos
queda expressiva de doença invasiva (epiglotite e
frequentes são: os arbovírus, o herpes simples vírus
meningite) por esse agente.
e os vírus da varicela, da caxumba e do sarampo.
O vírus da caxumba é um agente comum em popu- Alternativa B: CORRETA. Febre, cefaleia, rigidez e vô-
lação não imunizada, predominando entre pré-es- mitos sempre devem levar à suspeita diagnóstica
colares, escolares e estendendo-se a adolescentes de meningite e disparar a realização de medidas
e adultos jovens. iniciais, incluindo fundamentalmente a introdução
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precoce de antibióticos e coleta de LCR.
Alternativa B: INCORRETA. Os herpes vírus (HSV-1 e
HSV-2) são responsáveis por 0,5% a 3% dos casos Alternativa C: INCORRETA. A suspeita do diagnóstico
de meningite viral aguda. São quadros autolimita- de meningites envolve clínica, LCR, história clínica
dos; todavia, quando cursam com encefalite, são e não se baseia exclusivamente em manobras pro-
potencialmente fatais e estão associados ao HSV-2. pedêuticas.
Alternativa C: INCORRETA. Meningite por parechoví- Alternativa D: CORRETA.
rus humano é um evento raro. ✔ resposta: C
Alternativa D: INCORRETA. HIV pode cursar com me-
ningite, mas de longe não é o principal agente. Pode
acontecer na infecção aguda. Questão 18 dificuldade:
Alternativa E: INCORRETA. Arbovírus são agentes de Y Dica do professor: A Listeria é um bacilo gram-po-
meningite, porém também não são os mais impor- sitivo que geralmente pode aparecer em pacientes
tantes. imunossuprimidos (extremos de faixa etária, reu-
✔ resposta: A matológicos, etilistas).
Alternativa A: INCORRETA. Devemos sempre cobrir
pneumococo em adultos, mas existem cepas com
Questão 16 dificuldade: resistência à ampicilina e até com resistência às
cefalosporinas (com MIC elevado). Nesse caso de
Y Dica do professor: A quimioprofilaxia para menin-
alto nível de resistência (não é a realidade em nosso
gite está indicada quando os agentes etiológicos
país), a cobertura deve incluir vancomicina.
são o meningococo e o Hemófilo B.
Alternativa B: INCORRETA. Pseudomonas é agente
Alternativa A: INCORRETA. Pirazinamida é uma droga
relacionado a meningites hospitalares em pacien-
antituberculose.
tes com procedimentos neurológicos invasivos
(derivações).
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Meningites agudas Cap. 11
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infecções de partes moles. Alternativa D: INCORRETA. O Haemophilus influenzae
é um bacilo gram negativo.
Alternativa B: INCORRETA. Das penicilinas, somen-
te a cristalina atravessa a barreira, porém não é a Alternativa E: INCORRETA.
droga de escolha porque os pneumococos podem ✔ resposta: B
ser resistentes a esse ATB, e nessas situações de
gravidade não podemos correr esse risco em co-
bertura empírica. Questão 21 dificuldade:
339
Fixe seus conhecimentos!
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340
Capítulo
MENINGOENCEFALITES
12
importância/prevalência
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u A doença pode evoluir clinicamente como meningite/encefalite.
u O diagnóstico é feito por meio da pesquisa direta do agente (tinta da China), e o tratamento é realizado em
fases com uma associação de antifúngicos.
u As encefalites podem ser causadas por vários vírus, no entanto o herpesvírus é uma causa comum, com
elevada morbimortalidade, e que tem um tratamento específico: aciclovir 10 mg/kg, 8/8 h, por 14 a 21 dias.
u A característica mais marcante que diferencia uma encefalite viral de uma meningite bacteriana é o aco-
metimento predominante e precoce do sensório, com leve confusão mental e até delírio, torpor e coma.
u Acometimento frontotemporal, alterações de comportamento e síndrome convulsiva são possíveis achados
clínicos/radiológicos na meningoencefalite pelo herpesvírus.
u Uma das ferramentas para o diagnóstico da encefalite pelo herpes é a pesquisa do vírus no LCR por reação
de polimerase em cadeia (PCR), com alta sensibilidade e especificidade.
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Meningoencefalites Infectologia
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342
Meningoencefalites Cap. 12
Encefalites TC
RM
Etiologias
Infecciosa Líquor
Pós-infecciosa
EEG
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Imune
Paraneoplásica
Meningite bacteriana
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Meningoencefalites Infectologia
No Brasil, a principal causa de meningite crônica em náusea e vômitos, anorexia, dor abdominal, febre,
pacientes imunocompetentes e imunocomprometi- fotofobia e rigidez de nuca. No caso da tuberculose,
dos é a meningite por tuberculose. A criptococose pode haver sinais focais envolvendo pares cranianos
também pode causar quadros meníngeos crônicos (óptico, oculomotor, troclear, abducente e facial),
com componente de encefalite, tanto em imuno- pois é comum a formação de exsudato, que envolve
competentes, quanto em imunodeprimidos. a base do crânio. Ocorre doença pulmonar conco-
mitante em até 60% dos casos. Lembrar sempre
Uma das causas mais comum das encefalites é o
de investigar acometimento pulmonar (escarro,
herpesvírus, com gravidade importante. Tendo isso
raio X e TC).
em vista, o tratamento empírico é feito com aciclovir.
É responsável por 3% dos casos de TB em pacientes
Como causas mais raras de encefalite temos alguns
não infectados pelo HIV e por até 10% em PVHIV.
vírus (arboviroses) e outros agentes pouco usuais.
A meningite basal exsudativa é a apresentação clí-
nica mais comum e é mais frequente em crianças
abaixo dos 6 anos de idade. Clinicamente, pode
2. M ENINGOENCEFALITES ser subaguda ou crônica (sinais e sintomas com
CRÔNICAS duração superior às da subaguda, cursando com
cefaleia holocraniana, irritabilidade, alterações de
São usualmente quadros com duração de mais de comportamento, sonolência, anorexia, vômitos e dor
4 semanas. O paciente se apresenta com quadro abdominal associados à febre, fotofobia e rigidez
insidioso com cefaleia, vômitos, confusão mental, de nuca por tempo superior a 2 semanas). Even-
sinais meníngeos e pode apresentar sinais neuro- tualmente, apresenta sinais focais relacionados às
lógicos focais. As grandes causas infecciosas de síndromes isquêmicas locais ou ao envolvimento de
meningites crônicas no Brasil são por micobactérias pares cranianos (pares II, III, IV, VI e VII), podendo-se
evidenciar sinais de hipertensão intracraniana. Na
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e pelo criptococo.
forma crônica, o paciente evolui várias semanas
com cefaleia.
2.1. NEUROTUBERCULOSE
É importante lembrar que a neurotuberculose tam-
A principal causa, no Brasil, é a neurotuberculose. bém pode se apresentar com um processo expansivo
Cerca de 3% dos casos de TB em pacientes HIV (tuberculoma), com sinais e sintomas de hipertensão
soronegativos e até 10% dos casos em pacientes intracraniana.
HIV soropositivos se apresentam como meningite
crônica. 2.3. DIAGNÓSTICO
Na tuberculose, as apresentações em SNC são mais
graves, tendo alta letalidade. Por vezes, a neurotuberculose é parte de uma doença
disseminada, com acometimentos pulmonar e gan-
Na neurotuberculose, as manifestações clínicas são glionar que podem aparecer todos juntos. Assim, a
diversas, com formas meningoencefálicas crônicas abordagem diagnóstica envolve tomografia, RMN,
(com ou sem comprometimento de pares cranianos), biópsia de linfonodos aumentados e punção liquó-
tuberculomas (lesões expansivas com efeito de rica. O PPD (teste tuberculínico) pode ser realizado,
massa) e acometimento maior da base de crânio. contudo, para confirmar o diagnóstico.
O padrão do líquor na meningite tuberculosa chama
2.2. QUADRO CLÍNICO
atenção pela celularidade moderadamente aumen-
tada, glicose baixa e proteína alta, podendo vir com
Os pacientes com tuberculose meningoencefálica ADA elevada, geralmente com padrão linfomonoci-
apresentam-se com cefaleia progressiva, irritabi- tário. Pode ser feito PCR ou teste rápido para tuber-
lidade, alteração do comportamento, sonolência, culose. Microscopia pode, eventualmente, identificar
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Meningoencefalites Cap. 12
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Pela forte relação de tuberculose com HIV, deve ser que a fisioterapia, em casos de tuberculose menin-
sempre solicitada sorologia do paciente. goencefálica, seja iniciada o mais cedo possível.
345
Meningoencefalites Infectologia
20 a 35 kg 2 comprimidos
RHZE 150/75/400/275 mg 36 a 50 kg 3 comprimidos
(comprimidos em doses 2 meses
fixas combinadas) 51 a 70 kg 4 comprimidos
Acima de 70 kg 5 comprimidos
1 comp 300/150 mg ou
20 a 35 kg
2 comp 150/75 mg
2.5. MENINGITE POR CRIPTOCOCO Cefaleia e febre estão presentes em 76% e 65%,
respectivamente. Meningite criptocócica deve ser
A meningoencefalite é a forma clínica mais diagnos- sempre considerada em pacientes com AIDS que
ticada, ocorrendo em mais de 80% dos casos, seja apresentem cefaleia e febre inexplicada, demência
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sob forma isolada ou associada ao acometimento progressiva e confusão mental; ocorre nos pacientes
pulmonar (sempre investigar a possibilidade de com linfócitos T CD4+ <50 células/mm3, sendo difícil
acometimento pulmonar da mesma forma que na a erradicação permanente do fungo no LCR e SNC.
tuberculose). O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras
Apresenta-se, mais frequentemente, como meningite afecções neurológicas comuns no paciente com
ou meningoencefalite aguda ou subaguda; todavia, AIDS, como tuberculose, toxoplasmose, linfoma,
lesões focais únicas ou múltiplas em SNC, simulando leucoencefalopatia multifocal progressiva, histo-
neoplasias, associadas ou não ao quadro meníngeo, plasmose e nocardiose.
são observadas no hospedeiro imunocompetente. Em pacientes não imunodeprimidos, o quadro clínico
Esta última apresentação tem sido associada ao resultante da inflamação do sistema nervoso é exu-
Cryptococcus gatti. berante: sinais meníngeos (náuseas, vômitos, rigidez
de nuca); sinais de meningoencefalite em 1/3 dos
2.6. GRANDE ASSOCIAÇÃO EM pacientes na admissão (alterações de consciência,
IMUNODEPRIMIDOS: AIDS E OUTRAS déficit de memória, linguagem e cognição); acometi-
CONDIÇÕES IMUNOSSUPRESSORAS mento de pares cranianos com estrabismo, diplopia
ou paralisia facial (III, IV, VI e VII). Déficit visual ou
Em pacientes imunodeprimidos, com AIDS ou outras amaurose, de caráter temporário ou definitivo ao
doenças imunossupressoras, a meningoencefalite longo da evolução e do tratamento, refletem lesão do
ocorre de modo agudo, diferentemente dos pacien- I par craniano (oftálmico). Há grande pleomorfismo
tes imunocompetentes, e pode apresentar poucos clínico na meningoencefalite criptocócica, podendo,
sinais e sintomas. a demência, ser a única manifestação da doença.
346
Meningoencefalites Cap. 12
Ao exame físico podem ser evidenciados sinais de normal ou discretamente elevada, com associação
irritação meníngea, de hipertensão intracraniana, à elevada carga fúngica.
como o papiledema que, em geral, corresponde à
O antígeno criptocócico no LCR é um teste muito
pressão intracraniana >35. Outros sinais neuroló-
útil para o diagnóstico e é positivo em 90% dos
gicos, como ataxia, alteração do sensório e afasia,
pacientes com AIDS. No sangue, o teste também é
podem ser observados. A tomografia cerebral pode
frequentemente positivo nos pacientes com infec-
ser normal em até 50% dos casos.
ção no SNC. O CRAG sérico não atravessa a bar-
reira hematoliquórica e não influencia os títulos
2.7. M ANEJO DIAGNÓSTICO DA liquóricos. Títulos de antígenos superiores a 1:1.024
CRIPTOCOCOSE EM SISTEMA indicam alta carga fúngica, déficit imunitário e pior
NERVOSO CENTRAL prognóstico nos pacientes com infecção pelo HIV.
Os títulos no LCR não devem ser utilizados como
O manejo inicial do paciente com suspeita de neu- parâmetro de seguimento do paciente.
rocriptococose consiste no exame clínico e neuro-
A tomografia computadorizada e a ressonância mag-
lógico rigoroso, com realização de fundo de olho e
nética do crânio mostram-se normais em metade
avaliação criteriosa da presença de sinais focais.
dos casos de meningoencefalite criptocócica; no
Considerando-se a elevada incidência de hiperten-
restante, o exame pode revelar hidrocefalia, reforço
são intracraniana, a ausência de sintomas clínicos
em torno dos giros, nódulos únicos ou múltiplos
preditivos e a sua importância prognóstica, a punção
(criptococomas) em encéfalo ou leptomeninges e,
lombar com aferição de pressão é fundamental para
às vezes, nódulos miliares disseminados por todo
todo paciente com suspeita de meningoencefalite
o sistema nervoso. Quando temos componente
criptocócica. Preferencialmente, deve ser precedida
encefálico, o prognóstico piora muito.
por exame de imagem para afastar hipótese de
lesões expansivas intracerebrais e prevenir compli- Nas formas graves, principalmente de SNC, seja
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cações. Solicitar sorologia para HIV sempre. o paciente infectado ou não pelo HIV, a fase de
indução tem por objetivo a negativação ou a redu-
O diagnóstico da criptococose no sistema nervoso
ção efetiva da carga fúngica, tendo como período
central pode ser realizado através do exame mico-
mínimo de tratamento o de 2 semanas. A fase de
lógico direto com preparação da Tinta da China,
consolidação compreende a manutenção de negati-
mediante a cultura para fungos, e através do antí-
vidade micológica e a normalização de parâmetros
geno criptocócico liquórico. O padrão-ouro para o
clínicos e laboratoriais, por pelo menos 8 semanas.
diagnóstico é a cultura. A cultura consiste também
Segue-se a fase de supressão, também chamada
em parâmetro evolutivo. O exame direto com pre-
de manutenção, por, no mínimo, 1 ano, com tempo
paração da Tinta da China pode ser positivo em até
adicional variando de acordo com a condição do
50% dos casos nos pacientes não infectados pelo
estado imune do hospedeiro.
HIV e em 80% nos pacientes com AIDS.
A terapia de manutenção tem sido preconizada
O exame citoquímico do LCR compatível com
devido ao alto risco de recaída nos pacientes com
meningite criptocócica é variável na dependência
acentuada imunossupressão e em pacientes com
da imunodepressão, não obstante, a maioria dos
AIDS enquanto os linfócitos T CD4+ estiverem em
pacientes apresenta pleocitose (acima de 10 célu-
níveis inferiores a 100 células/mm3.
las/mm3) linfomonocitária, hiperproteinorraquia e
hipoglicorraquia. Predomínio de polimorfonucleares As drogas disponíveis são: anfotericina B, formula-
pode ocorrer em imunocompetentes. Em estados ções lipídicas de anfotericina B (complexo lipídico e
de grave imunodepressão, a celularidade pode ser lipossomal), itraconazol e fluocitosina (5-FC).
347
348
Meningoencefalites
Ou Ou
Anfotericina B lipossômica [3 a 4 mg/ Flucitosina [100 mg/kg] por dia Gestantes no
+ 1º trimestre
kg] via intravenosa diariamente via oral em 4 doses divididas
Se no regime de indução
Indução ↓ dose se função utilizou o fluconazol
(No mínimo 2 semanas) renal reduzida
Infecção
pulmonar grave
Consolidação Fluconazol Fluconazol
Infecção do SNC Antifúngicos (No mínimo 8 semanas) Ou
[400 mg] por dia [800 mg] por dia
Infecção
disseminada
Manutenção Fluconazol
(No mínimo 1 ano) [200 mg] por dia
Infectologia
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Meningoencefalites Cap. 12
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Convulsão/sinal focal LCR+EEG+TC/RMN
Dentre as encefalites de causa infecciosa, a maior
parte está relacionada com infecções virais, sendo
o herpes simples 1 (HSV-1) o agente mais comum, Alteração de comportamento
seguido de outros, como HIV, enterovírus, EBV,
HSV-6 e arbovírus, lembrando que existem outros Fonte: Elaborado pelo autor.
patógenos que podem estar associados (bactérias e
protozoários). Quanto às encefalites pós-infecciosas
(que ocorrem após infecção ou vacinação), tem-se 4.2. DIAGNÓSTICO
como exemplo a Encefalomielite Disseminada Aguda
(ADEM), que surge após um quadro infeccioso e Frente a um quadro clínico compatível com ence-
pode ser viral (herpes) ou bacteriano, de qualquer falite herpética, fazer exame de neuroimagem
sítio, em dias ou semanas. (tomografia ou ressonância magnética, sendo o
primeiro mais disponível e o segundo com melhor
4.1. QUADRO CLÍNICO sensibilidade e especificidade). Lesões hiperdensas,
edema mesial-temporal/orbitofrontal e da ínsula
Em casos de encefalite isolada, a clínica mostra são característicos.
alteração do nível de consciência por mais de 24
horas, febre, sinais focais – sobretudo convulsão,
alteração de comportamento, perda de consciência
e desorientação. A rigidez de nuca é menos pro-
nunciada que nos casos de meningite bacteriana.
Na encafalite herpética, há uma instalação aguda
ou subaguda, cursando com alterações no estado
349
Meningoencefalites Infectologia
Imagem 1. Ressonância magnética de paciente com Descartam-se diagnósticos diferenciais, como ence-
encefalite por vírus do herpes simples em que se observa falite equina, sarampo, raiva, febre do Nilo ocidental,
alto sinal nos lobos temporais e no giro frontal inferior.
caxumba, raiva.
4.3. TRATAMENTO
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Eletroencefalograma (EEG), Ressonância Nuclear falite viral aguda devem ser tratados em unidade de
Magnética cerebral (RNM) e Reação de Cadeia terapia intensiva com ventilação mecânica dispo-
Polimerase (PCR) no LCR para o herpesvírus. nível. As crises epilépticas devem ser controladas
O líquor apresenta aumento de células, com predo- com fenitoína IV e extrema atenção deve ser dada
mínio linfocitário, aumento de proteínas e glicose à manutenção da respiração, ao ritmo cardíaco, ao
normal. O aumento da celularidade e da proteinorra- balanço hídrico, à prevenção da trombose venosa
quia é comumente mais discreto que nas meningites profunda, à pneumonia aspirativa, ao controle clí-
bacterianas. O PCR para herpes simplex vírus tipos nico da hipertensão intracraniana e às infecções
1 e 2, embora não seja universalmente disponível, bacterianas secundárias.
tem sensibilidade de 96% e especificidade de 99%. Grande parte das outras causas virais não tem tra-
tamento específico. O tratamento para encefalite
por herpes zóster é o mesmo do herpes simples.
350
Meningoencefalites Cap. 12
LCR – Pleocitose
Imagem – lobos temporais
linfomonocitária; PCR +
Aciclovir
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Meningoencefalites Infectologia
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Meningoencefalites Cap. 12
QUESTÕES COMENTADAS
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⮦ Encefalite imunomediada, solicitar anticorpos ⮧ Sulfadiazina + Pirimetamina + Ácido folínico.
anti-NMDA no líquor. ⮨ Anfotericina B + Flucitosina.
⮧ Encefalite herpética, PCR para herpes vírus no ⮩ Ceftriaxone + Vancomicina + Dexametasona.
líquor. ⮪ Rifampicina/Isoniazida/Pirazinamida/Etambutol
⮨ Endocardite bacteriana com embolização sép- + Dexametasona.
tica, hemocultura e ecocardiograma
⮩ Neurotoxoplasmose, ressonância nuclear mag- Questão 3
nética de crânio.
(HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC – 2021) Paciente do
sexo feminino, 32 anos, dá entrada no pronto aten-
Questão 2 dimento com quadro agudo de febre, convulsões e
(HOSPITAL ADVENTISTA SILVESTRE – RJ – 2020) Paciente de rebaixamento do nível de consciência. Tomografia
34 anos, sem comorbidades conhecidas, chega ao de crânio normal. O exame do líquor revelava 40
pronto socorro trazido por um amigo com relato células, com 67% de linfócitos, 30% de monócitos
de cefaleia progressiva iniciada 4 semanas antes, e 3% de neutrófilos. Proteínas de 59 mg/dl, glicose
associada a febre não aferida, evoluindo há 48 de 65 mg/dl e lactato de 24 mg/dl. Baseado nestes
horas com turvação visual e confusão mental. Ao dados, qual diagnóstico provável?
exame físico, encontra-se muito emagrecido, com ⮦ Meningoencefalite por tuberculose.
presença de placas esbranquiçadas em cavidade
⮧ Meningoencefalite por herpes.
oral. Na pele, notam-se lesões sugestivas de pruri-
go estrófulo nos membros inferiores. Há rigidez de ⮨ Meningoencefalite por HIV.
nuca. Escala de coma de Glasgow de 12 (Abertura ⮩ Meningoencefalite autoimune.
353
Meningoencefalites Infectologia
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turvo, com 400 células/mm3, sendo 83% de células to de ventrículos laterais, lesões calcificadas de
mononucleares, 17% de polimorfonucleares, proteína distribuição difusa em córtex cerebral e espes-
= 350mg/dL, glicose = 30mg/dL e adenosine dea- samento meníngeo.
minase = 28U/L. Com isso, a suspeita diagnóstica
e o tratamento, respectivamente, são: Questão 7
⮦ Meningite do tipo tuberculose / RIPE com pred- (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO/RJ – 2014) Esco-
nisona. lar de 7 anos iniciou cefaleia e vômitos há cerca
⮧ Meningite do tipo tuberculose / RIPE sem pred- um mês, além de episódios febris de até 38°C. Os
nisona. exames complementares evidenciaram na análise
liquórica a presença de 50 cels/mm3 com predomí-
⮨ Meningite do tipo criptococose / caspofungina
nio linfomonocitário, proteína de 100 mg% e glicose
com cetoconazol.
de 20 mg% (glicemia de 80 mg%). A tomografia de
⮩ Meningite do tipo criptococose / caspofungina crânio demonstrava ventrículos supratentoriais le-
sem cetoconazol. vemente dilatados. Diante desse caso, os dados do
exame físico que mais contribuiriam para hipótese
de tuberculose são:
Questão 6
⮦ Lesões purpúricas e sinal de Brudzinski.
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - RIO DE JANEIRO – RJ - 2021)
Menino de 5 anos vem apresentando febre inter- ⮧ Cicatriz de BCG e hepatoesplenomegalia.
mitente, há cerca de 30 dias, associada a alguns ⮨ Papiledema e paralisia de III, VI e VII pares cra-
episódios de cefaleia. A mãe relata ter procurado nianos.
atendimento médico em três ocasiões, sendo libera- ⮩ Linfonodomegalia generalizada e sinais de irri-
do com sintomáticos. Os responsáveis procuraram tação meníngea.
354
Meningoencefalites Cap. 12
Questão 8 ⮦ Herpesvírus.
⮧ Listeria monocytogenes.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2017) Meningite crô-
nica corresponde aproximadamente a 14% das me- ⮨ Haemophilus influenzae.
ningites infecciosas. O quadro é geralmente insidio- ⮩ Mycobacterium tuberculosis.
so, levando algumas semanas para manifestações
clínicas de cefaleia, náuseas, vômitos, astenia, febre
Questão 11
e rigidez de nuca. Qual dos agentes abaixo costuma
causar meningite crônica? (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP/SP – 2019)
Homem, 17a, descobriu ser portador do vírus da
⮦ Meningococos.
imunodeficiência humana durante investigação de
⮧ Pneumococos. quadro neurológico diagnosticado como neurotoxo-
⮨ Micobacteria tuberculose. plasmose, em tratamento há 5 dias com sulfadiazina
⮩ Hemófilos influenza. e pirimetamina. O INÍCIO DA TERAPIA RETROVIRAL
DEVERÁ OCORRER:
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causa conclusiva. Submetido a nova punção lom-
bar, revelou 500 células (85% mononucleares); gli-
Questão 12
cose 39 mg/dL; proteína 77 mg/dL. A conduta mais
adequada neste momento é: (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – 2017) Criptococose
humana é causada por duas espécies de levedu-
⮦ Prednisona, na dose de 1 mg/k/dia.
ras do gênero Cryptococcus (C. neoformans e C.
⮧ Esquema RIPE associado a corticoide. gattii), havendo diferenças e semelhanças entre a
⮨ Esquema RIPE associado a anfotericina B. criptococose “neoformans” e a “gattii”. Em relação
⮩ Repetir investigação para doença sistêmica. aos aspectos relacionados à epidemiologia, clíni-
ca, diagnóstico e tratamento e aos terapêuticos
das duas formas de criptococose, considere as
Questão 10 seguintes afirmativas:
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO – 2014) 1. A principal fonte de infecção ambiental de C. neo-
Paciente de 65 anos é levado à emergência devido formans são as excretas de morcego, enquanto
a quadro de febre, alteração de comportamento e que as de pombos (Columba livia) são associa-
desorientação iniciado há 15 dias. Ao exame físi- das a C. gattii.
co, tem rigidez de nuca terminal. Líquor: pressão 2. A criptococose “neoformans” é geralmente uma
de abertura: 25 cmH2O; 400 leuc/mL com 52% de doença oportunística, estando principalmente
mononucleares, proteínas: 250 mg/dL; glicose: associada a pacientes com AIDS, enquanto que
14 mg/dL. A tomografia computadorizada do en- a criptococose “gattii” é prevalente em imuno-
céfalo mostra apenas edema cerebral. O agente competentes.
etiológico mais provável é:
3. A criptococose “gattii” frequentemente aco-
mete simultaneamente os pulmões e o sistema
355
Meningoencefalites Infectologia
⮪ Somente as afirmativas 1, 3, 4 e 5 são verdadeiras. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/SP – 2020) Mulher, 52 anos
de idade, veio trazida ao Pronto-Socorro por queixa
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de cefaleia e uma crise tônico-clônica generalizada
Questão 13
que ocorreu dois dias antes da admissão. Em se-
(UNIVERSIDADE SÃO PAULO – R3 CLÍNICA MÉDICA – 2018) Mulher guida evoluiu com sonolência. Ao exame de admis-
de 72 anos, trazida por familiares com quadro agu- são tem temperatura de 38ºC, PA 100x60 mmHg,
do de confusão mental. Feita hipótese diagnóstica FC: 112 bpm e restante do exame clínico geral sem
de encefalite. O melhor método diagnóstico para a alterações. No exame neurológico, encontrava-se
investigação de etiologia herpética (HSV-1/HSV-2) é: sonolenta, com abertura ocular aos estímulos ver-
bais vigorosos, retirada inespecífica dos membros
⮦ Cultura de vírus no líquor. à dor, falando palavras desconexas, reflexos profun-
⮧ Imunologia no líquor para vírus HSV-1/HSV-2. dos globalmente vivos e reflexo cutâneo plantar em
⮨ Imunologia no sangue para vírus HSV-1/HSV-2. flexão bilateral. Também foram observadas algumas
⮩ PCR para HSV-1/HSV-2 no líquor. clonias em hemiface direita. Tomografia compu-
tadorizada de crânio mostrou uma hipoatenuação
em lobo temporal esquerdo. Exames laboratoriais
Questão 14 revelaram uma leucocitose de 13500 sem desvios
à esquerda e um aumento da proteína C reativa. Foi
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ – PR – 2014)
então submetida a uma punção lombar para coleta
É uma característica do líquor típico na neurotu-
de liquor cujo resultado foi de 41 células (66% de
berculose:
linfócitos, 32% e monócitos e 2% de neutrófilos), 48
⮦ Pleocitose discreta a moderada e hipoprotei- hemácias, proteína de 59 mg/dL, glicose de 64 mg/
norraquia.
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Meningoencefalites Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Alternativa C: INCORRETA. Endocardite geralmente CD4+inferior a 50 células/mm3, situação em que é
manifesta no sistema nervoso com AVC, não há difícil a erradicação permanente do fungo no SNC.
sopro ou alteração cardíaca. O diagnóstico padrão-ouro da neurocriptococose
é estabelecido por intermédio da cultura do liquor,
Alternativa D: INCORRETA. Neurotoxoplasmose geral-
capaz de identificar o criptococo em 89% e 95-100%
mente não tem sinais meníngeos, não é tão aguda
dos pacientes sem ou com SIDA respectivamente.
e é mais frequente em imunossuprimido.
O exame direto de material coletado de líquor com
✔ resposta: B preparação da tinta Nanquim pode ser positivo em
até 50% dos casos nos pacientes não infectados
dificuldade:
pelo VIH e em 80% nos pacientes com SIDA. No
Questão 2
que diz respeito ao tratamento, nas formas graves,
Y Dica do professor: Trata-se de um paciente jovem, principalmente de SNC, seja o paciente infectado
com febre associada à quadro de comprometimento ou não pelo HIV, a fase de indução tem por objeti-
neurológico e lesões sugestivas de monilíase oral vo negativação ou redução efetiva da carga fúngi-
(presença de placas esbranquiçadas em cavidade ca, tendo como período mínimo de tratamento de
oral), o que pode sugerir que se refere a um paciente duas semanas. A fase de consolidação compreen-
imunossuprimido. Além disso, há rigidez de nuca de manutenção de negatividade micológica e nor-
e TC de crânio, evidenciando realce meníngeo ao malização de parâmetros clínicos e laboratoriais,
meio de contraste. Em resumo, portanto, trata-se por pelo menos oito semanas. Segue-se a fase de
de um paciente infectado pelo HIV-1 com manifes- supressão, também chamada de manutenção, por
tações neurológicas sugestivas de acometimento mínimo de 1 ano com tempo adicional variando de
meníngeo. O quadro clínico descrito em paciente acordo com a condição do estado imune do hos-
com síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA) pedeiro. As drogas disponíveis são: anfotericina
inclui o diagnóstico diferencial de diversos agentes B, anfotericina B formulações lipidicas (complexo
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Meningoencefalites Cap. 12
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e diferentes alterações liquóricas (na forma me-
níngea temos aumento pronunciado dos níveis de diagnóstico de meningite tuberculosa. O tratamento
proteína no LCR e hipoglicorraquia). é feito com RIPE. A prednisona é utilizada na fase
inicial do tratamento, com redução da mortalidade.
Alternativa B: CORRETA. Vide dica do autor.
Alternativa A: CORRETA. Vide dica do autor.
Alternativa C: INCORRETA. A meningoencefalite pelo
HIV é caracterizada por um quadro demencial, pro- Alternativa B: INCORRETA. A prednisona associada
gressivo. ao esquema RIPE é capaz de reduzir mortalidade
nesses casos.
Alternativa D: INCORRETA. Devemos suspeitar de uma
EAI, independentemente do tipo, quando um pacien- Alternativa C: INCORRETA. A meningite por criptococo-
te apresentar basicamente algumas características, se cursa mais com um quadro de hipertensão intra-
após exclusão de hipóteses alternativas: Instalação craniana sem o acometimento de nervos cranianos.
subaguda de: déficit de memória de trabalho (cur- Alternativa D: INCORRETA. A meningite por criptococo-
to prazo); ou sintomas psiquiátricos (por exemplo, se cursa mais com um quadro de hipertensão intra-
alteração de humor marcante); ou alteração do es- craniana sem o acometimento de nervos cranianos.
tado mental (RNC ou alteração de personalidade). ✔ resposta: A
✔ resposta: B
Questão 6 dificuldade:
Questão 4 dificuldade:
Y Dica do professor: Questão bem específica - não é
Y Dica do professor: Questão que aborda os diagnós- preciso fazer o diagnóstico. A questão já te fala da
ticos diferenciais das meningoencefalites de evolu- suspeita de meningoencefalite tuberculosa e pede
ção subaguda e crônica em nosso país. Importante o exame de imagem mais sensível e as alterações
destacar na avaliação desses casos os critérios encontradas.
359
Meningoencefalites Infectologia
Alternativa A: INCORRETA. A ressonância é o exame meningite crônica, com evolução insidiosa com até
mais sensível para identificação das alterações na semanas de período de incubação.
meningoencefalite tuberculosa. Alternativa D: INCORRETA. Hemófilos cuja prevalên-
Alternativa B: INCORRETA. Não há calcificações ce- cia é menor do que os outros também apresentam
rebrais nem atrofia cerebral. evolução aguda.
Alternativa C: CORRETA. Na RM, a maioria das lesões ✔ resposta: C
apresenta-se com iso/hipointensidade em T1 e hi-
perintensidade em T2, porém há relatos de lesões
com hipointensidade em T2, sendo justificado pela Questão 9 dificuldade:
variação no grau de hidratação da lesão. Além dis- Y Dica do professor: A meningite crônica é definida
so, o grau de celularidade e do conteúdo dessas arbitrariamente como meningite com duração de
lesões permite encontrar ausência ou presença de quatro semanas ou mais e é uma entidade comple-
difusibilidade restrita nas sequências funcionais em xa com causas infecciosas e não infecciosas. Se
difusão. Após a administração intravenosa do meio um diagnóstico não for estabelecido pelas moda-
de contraste, é comum captação, às vezes assumin- lidades de diagnóstico comuns e se os sintomas
do aspecto anelar. Aumento do volume sanguíneo forem graves ou não melhorarem após um período
cerebral na perfusão por RM pode ocorrer, com re- de observação, a terapia empírica com esquema
dução gradativa deste achado depois da instituição RIPE pode ser útil (mesmo se o teste cutâneo da
de tratamento medicamentoso. tuberculina for negativo), e está indicada também
Alternativa D: INCORRETA. A ressonância é o exame em casos de pacientes de alto risco; por exemplo,
mais sensível para identificação das alterações na em pacientes com histórico passado de contato di-
meningoencefalite tuberculosa. reto com outras pessoas com TB ou com um teste
✔ resposta: C cutâneo positivo prévio de tuberculina.
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✔ resposta: B
Questão 7 dificuldade:
Questão 10 dificuldade:
Y Dica do professor: Em casos de paciente com sus-
peita de neurotuberculose, devemos nos lembrar Y Dica do professor: Estamos diante de um pacien-
sempre do acometimento de pares cranianos, local te com um quadro arrastado de febre, cefaleia,
de preferência do BK no SNC, bem como do papile- que evolui com alterações progressivas do estado
dema devido à hipertensão intracraniana. mental e sinais de irritação meníngea. Na análise
✔ resposta: C do líquor desse paciente, encontramos o aumento
de leucócitos à custa de mononucleares (linfóci-
tos), glicose reduzida (< 40 mg/dL) e proteínas au-
Questão 8 dificuldade: mentadas (> 45 mg/dL). Ou seja, estamos diante
de um quadro altamente sugestivo de meningite
Y Dica do professor: Agentes de meningites bacte-
tuberculosa cujo agente etiológico é o Mycobacte-
rianas agudas versus meningites crônicas.
rium tuberculosis! Quanto às demais alternativas:
Alternativa A: INCORRETA. Meningococo agente de em quadros de meningite por herpes, não espera-
evolução superaguda, com graves complicações mos encontrar a glicose no líquor reduzida (letra A
caso o diagnóstico não seja rápido e introduzida errada), e os quadros de meningite causados por
ATB específica. Listeria e Haemophilus geralmente são agudos,
Alternativa B: INCORRETA. Pneumococo também com predomínio de polimorfonucleares no líquor
agente de quadro agudo, de evolução rápida. (alternativas B e C incorretas).
Alternativa C: CORRETA. As microbactérias, junta- ✔ resposta: D
mente com os fungos (criptococo), são agentes de
360
Meningoencefalites Cap. 12
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subtropicais, mas áreas de clima temperado e frio
iguais ou inferiores a 350 céls/mm3 reduz significa-
devem ser incluídas em sua distribuição. Seu hábitat
tivamente a mortalidade, a progressão da doença
natural foi inicialmente associado a restos vegetais
e a incidência de infecções oportunistas.
de Eucalyptus camaldulensis. Atualmente, sabe-se
Alternativa B: INCORRETA. O início imediato da TARV que possui diferentes padrões geográficos de ocor-
está recomendado para todas as PVHIV, indepen- rência fungo-árvore-madeira em decomposição.
dentemente do seu estágio clínico e/ou imunoló-
Assertiva 2: VERDADEIRA. Embora as duas espécies
gico. Portanto, não há necessidade de aguardar
de Cryptococcus possam acometer humanos, am-
o término do tratamento, até porque é necessário
bas denotam aspectos clínicos e epidemiológicos
restabelecer a imunidade do indivíduo.
distintos. C. gattii é reconhecido como patogênico
Alternativa C: CORRETA. (patógeno primário que acomete, geralmente, indiví-
Alternativa D: INCORRETO. Na neurotoxoplasmose, duos imunocompetentes), enquanto C. neoformans
indica-se o uso de corticosteroides nos casos de é considerado oportunista (relacionado com a imu-
edema cerebral difuso e/ou intenso efeito de massa nossupressão celular, em especial com indivíduos
(desvio de linha média, compressão de estruturas HIV soropositivo).
adjacentes). A terapia com corticosteroides para Assertiva 3: VERDADEIRA. Determinadas característi-
supressão da resposta inflamatória na síndrome cas clínicas da infecção por C. gattii são diferentes
de reconstituição imune deve ser utilizada nos daquelas observadas na infecção por C. neofor-
casos graves. Pode ser necessário o uso de pred- mans. Como exemplo, C. gattii é significativamente
nisona 1-2 mg/kg, ou equivalente, durante uma a mais provável que cause grandes lesões em massa
duas semanas, com posterior e gradual retirada. (criptococcomas) dos pulmões e/ou cérebro. O C.
Não é utilizada como profilaxia. Na suspeita de neoformans representa a principal causa de menin-
SIR, deve-se priorizar o diagnóstico e tratamento goencefalite em indivíduos com AIDS.
da IO. Na maior parte dos casos, sua resolução é
361
Meningoencefalites Infectologia
Assertiva 4: VERDADEIRA. A criptococose é uma das resistentes (BAAR), cultura de LCR positiva para
micoses de mais fácil diagnóstico por apresentar M. tuberculosis ou LCR com teste de amplificação
marcado tropismo neurológico, abundância de ele- de ácido nucleico positivo (NAAT)]. No entanto, o
mentos fúngicos no líquor e nas lesões, presença diagnóstico definitivo pode ser desafiador, dada a
de cápsula característica, diagnóstico imunológico sensibilidade e especificidade subótimas dos tes-
e coloração tecidual específica. Todos os testes tes de diagnóstico. Um diagnóstico presuntivo de
descritos na afirmativa são testes possíveis para meningite tuberculosa pode ser feito no contexto
diagnóstico da criptococose. de fatores clínicos e epidemiológicos relevantes
Assertiva 5: FALSA. Nas formas graves, principalmente e achados típicos do LCR (pleocitose linfocítica,
de SNC, seja o paciente infectado ou não pelo HIV, concentração elevada de proteína e concentração
a fase de indução tem por objetivo negativação baixa de glicose).
ou redução efetiva da carga fúngica, tendo como ✔ resposta: E
período mínimo de tratamento duas semanas. As
drogas disponíveis são: anfotericina B, anfotericina
B formulações lipídicas (complexo lipídico e lipos- Questão 15 dificuldade:
somal) itraconazol e fluocitosina (5-FC). Y Dica do professor: Até o início de 2018, o tratamento
✔ resposta: C para tuberculose meningoencefálica consistia em
2 meses de RHZE e 7 meses de RH, totalizando 9
meses de tratamento. No entanto, considerando a
Questão 13 dificuldade:
gravidade do quadro, o MS alterou a recomendação
Y Dica do professor: O método padrão-ouro para em 2018, que passou a ser e 2 meses de RHZE + 10
diagnóstico é a detecção do vírus herpes simples meses de RH (totalizando 12 meses). O tratamento
no líquor pela reação em cadeia da polimerase da tuberculose pulmonar permaneceu sendo de 6
meses (2 RHZE + 4 RH). Como essa questão é de
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(PCR), com sensibilidade de 98% e especificidade
de 94 a 100%. 2017, e ainda utilizávamos a recomendação antiga,
a resposta correta era a letra A.
Alternativa A: INCORRETA. A cultura viral é raramente
positiva na encefalite por herpes simples. ✔ resposta: B
Alternativa B: INCORRETA. A imunologia no líquor não
é útil para detecção precoce da encefalite por her- Questão 16 dificuldade:
pes simples, sendo positivas apenas depois de 10
dias a 2 semanas, utilizando métodos específicos. Y Dica do professor: Questão bem robusta abor-
Alternativa C: INCORRETA. A imunologia no sangue dando uma paciente com cefaleia e crise TCG há
não é útil para diagnóstico de encefalite por her- 48 horas. No momento, a paciente está sonolenta,
pes simples. febril, hipotensa, com arreflexia ao exame neuroló-
gico, clonias em hemiface direita. Apresentou, na
Alternativa D: CORRETA. O método padrão-ouro para
RM de crânio, sinal hiperintenso em lobo temporal
diagnóstico é a detecção do vírus herpes simples no
esquerdo, e o Ninja mais atento já vai lembrar de
líquor pela reação em cadeia da polimerase (PCR).
uma hipótese provável para essa topografia. Per-
ceba que ela também apresenta leucocitose, PCR
Questão 14 dificuldade: elevada e, no líquor, um padrão de meningite VIRAL,
com aumento discreto de celularidade à custa de
Y Dica do professor: Um dos principais exames uti-
linfócitos; majoritariamente, proteinorraquia discre-
lizados na investigação da NeuroTB é o estudo do tamente elevada (VR < 40 mg/dL). Considerando
líquor. os dados clínicos, laboratoriais e de imagem, mui-
O diagnóstico pode ser definitivamente estabele- to provavelmente estamos diante de uma paciente
cido no contexto de líquido cefalorraquidiano (LCR) com meningoencefalite herpética, causa comum
com esfregaço positivo para bacilos álcool-ácido inclusive em pacientes imunocompetentes. Vale
362
Meningoencefalites Cap. 12
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concentração normal de glicose.
Alternativa C: CORRETA.
Alternativa D: INCORRETA. Pacientes com linfoma
primário do sistema nervoso central podem apre-
sentar cefaleia, letargia, sintomas neurológicos
focais, convulsões, paralisia, compressão da me-
dula espinhal ou meningite linfomatosa. O LCR
geralmente revela uma concentração elevada de
proteínas e uma pleocitose com predominância de
linfócitos. A concentração de glicose geralmente é
normal, mas pode ser baixa. A presença de células
linfoides malignas é geralmente confirmada por ci-
tometria de fluxo.
✔ resposta: C
363
Fixe seus conhecimentos!
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364
Capítulo
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO
13
importância/prevalência
u ITU é uma das doenças mais comuns na prática clínica, cujo principal agente nas infecções comunitárias
é a E. coli e outros bacilos gram-negativos.
u Saber os principais fatores de risco associados às ITUs em homens e mulheres.
u Saber as diferenças clínicas entre ITU baixa (cistite) e alta (pielonefrite), bem como os conceitos de bac-
teriúria sintomática e assintomática.
u Grupos que devem ser tratados quando estiverem com bacteriúria assintomática (gestantes, imunossu-
primidos e pré-procedimentos urológicos invasivos).
u Identificar e memorizar os critérios diagnósticos de ITU e os papéis da urina I e urocultura nas condutas
de tratamento.
u Sempre avaliar a urocultura pelo corte de crescimento conforme o método de coleta. Pedir sempre
antibiograma.
u Saber os critérios de avaliação com imagem das vias urinárias na vigência de infecção.
u Saber descrever a abordagem terapêutica da ITU baixa e alta, sabendo quais são os critérios para internação
e o manejo nos casos complicados. Conhecer as falhas no tratamento e quais as causas.
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u Saber sobre a resistência bacteriana aos bacilos gram-negativos e sua importância no tratamento das ITUs.
u Definir infecção urinária relacionada à cateterização de via urinária e definir os principais agentes relacio-
nados à assistência à saúde.
u Tratamento das ITU hospitalares e a importância da retirada precoce dos cateteres em via urinária.
u Infecções recorrentes e profilaxias relacionadas a esse diagnóstico.
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Infecção do trato urinário Infectologia
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tes cateterizados, imunossuprimidos e aqueles que
irão realizar procedimentos urológicos invasivos.
2. CONCEITOS GERAIS
2.3. FREQUÊNCIA
2.1. CLASSIFICAÇÃO
As ITUs podem se limitar a um episódio único ou
A classificação das ITUs é fator crucial para que isolado, ou podem se apresentar com recidivas: a
se realize uma conduta adequada. Elas podem reinfecções e à infecção urinária crônica.
ser divididas, em relação à topografia, em altas,
quando envolvem o parênquima renal (pielonefrite) u Episódio único ou isolado: ocorre uma única vez
ou ureteres (ureterites), e baixas, quando envolvem e se resolve, habitualmente, com o uso de antibio-
a bexiga (cistite), a uretra (uretrite) e, nos homens, ticoterapia. Um segundo episódio isolado pode
a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite). ocorrer sem relação temporal com o anterior.
Entre 10% a 20% das mulheres irão apresentar,
no decorrer da vida, pelo menos 1 episódio de
2.2. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA
infecção urinária.
u Recidiva ou recaída de ITU: em consequência da
Representa a presença de bactérias em exames de
falha no tratamento, o mesmo microrganismo
urina, preferencialmente mais de 100.000 bactérias
isolado previamente persiste no trato urinário,
por mL em amostra de urina de jato médio, sendo
causando infecção ou bacteriúria assintomáti-
importante que haja o isolamento de apenas 1
ca. A persistência do mesmo microrganismo por
bactéria no exame (Quadro 1).
meses ou anos leva à infecção urinária crônica.
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Infecção do trato urinário Cap. 13
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potencial preventivo.
episódios de ITU em um período de até 3 anos,
lembrando a frequente associação com prostati- O cateter deve ser retirado o mais brevemente pos-
te bacteriana crônica nos pacientes sem fatores sível e, na vigência de infecção, IMEDIATAMENTE.
predisponentes. Esse é um dos “mantras” no controle de infecção
hospitalar. Esse procedimento deve ser utilizado
somente quando houver indicação absoluta do
2.4. ITU COMPLICADA X NÃO COMPLICADA
seu uso: pacientes que requerem acurado con-
trole do débito urinário; pacientes com problemas
A diferenciação da ITU em complicada e não com- neurológicos, como lesões medulares ou bexiga
plicada é importante, pois influencia o ambiente e neurogênica; pacientes com manifestações crônicas
o tempo de tratamento. de déficits cognitivos, incontinência ou deficiência
física; pacientes que necessitam de cirurgia de
u ITU não complicada: ocorre primariamente em
bexiga ou com obstrução urinária.
mulheres jovens sexualmente ativas sem anor-
malidades anatômicas ou funcionais do aparelho
genitourinário.
u ITU complicada: com repercussões sistêmicas
associadas a algumas condições preexistentes
do indivíduo que podem resultar em maior difi-
culdade no tratamento. Ocorre em indivíduos que
367
Infecção do trato urinário Infectologia
Presença de sonda
3 vezes ao ano ou 2
vesical ou uso nas
episódios em 6 meses
últimas 48h
Associada
Recorrente
a cateter
Dor lombar,
Disúria, polaciúria,
Giordano + febre,
dor suprapúbica
náuseas e vômitos
Trato urinário
Trato urinário baixo
alto
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ITU
Complicada
Sintomas sistêmicos +
condições preexistentes
(anormalidades
urológicas e
comorbidades)
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Infecção do trato urinário Cap. 13
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e, quando têm, normalmente estão relacionadas a
midos têm maior risco de infecção). anormalidades anatômicas ou à doença de próstata.
u Propriedades antibacterianas da urina (elevada
A prevalência de ITU é um pouco maior (1,5%) em
osmolalidade e baixo pH) e da mucosa do trato
homens jovens atendidos em serviços de doenças
urinário (citocinas, mecanismos antiaderência).
sexualmente transmissíveis. Nas infecções comuni-
u Efeito mecânico da micção. tárias, a prevalência atinge 20% nas mulheres e 10%
u Resposta imune e inflamatória. nos homens, enquanto nas infecções hospitalares
u Integridade anatômica e funcional das vias uri- esta prevalência é de aproximadamente 30%.
nárias. A elevada incidência nos idosos deve-se, em geral,
u Tamanho do inóculo (quanto maior o inóculo que aos seguintes fatores:
alcança o rim, maior a chance de infecção). A me-
dula renal é altamente susceptível a infecção por u Doença de base associada;
conter baixas contagens bacterianas, ocorrendo u Doenças ou condições que dificultam o esvazia-
o inverso no córtex renal. mento normal da bexiga (ex.: cistocele e hiper-
u Virulência do microrganismo. trofia prostática);
u Aderência às células uroepiteliais e vaginais. u Instrumentação das vias urinárias.
u Resistência à atividade bactericida do soro. u Manejo da incontinência urinária com cateter
Nos pacientes com cateterismo vesical, os micror- vesical.
ganismos atingem a bexiga por 3 caminhos: u Diminuição da atividade bactericida da secreção
u No momento da inserção do cateter. prostática.
u Através da luz do cateter.
u Diminuição do glicogênio vaginal e aumento do
pH vaginal.
u Através da interface mucosa-cateter.
369
Infecção do trato urinário Infectologia
As mulheres pós-menopausa que apresentam infec- náuseas. Além destes, encontram-se, ainda, o Sinal
ções recorrentes, isto é, que tiveram 3 ou mais de Giordano (punho-percussão da loja renal) positivo,
culturas positivas e sintomáticas em 1 ano, ou 2 dor lombar. A pielonefrite pode ser oligossintomá-
episódios de ITU em 6 meses, têm como fator pre- tica, comumente em grupos como as gestantes,
disponente a cistocele, a incontinência urinária e o havendo superposição com os sintomas de cistite.
aumento do volume de urina residual. É importante avaliar o estado geral do paciente e
considerar internação, uma vez que haja suspeita
Como mencionado anteriormente, especialmente
de pielonefrite complicada, devido ao risco de pro-
em virtude da alta probabilidade de instrumentação
gressão para um quadro de sepse.
do trato urinário, as ITUs hospitalares são mais
frequentes que as comunitárias. u Adultos com ITU baixa: geralmente apresentam
A ocorrência de bacteriúria em pacientes hospitali- disúria frequente, urgência miccional e, ocasio-
zados sem cateterismo é estimada em 1%, e o risco nalmente, dor na região suprapúbica.
de infecção varia conforme o sistema de drenagem u Adultos com ITU alta (pielonefrite): sintomas de
utilizado e a duração do cateterismo. No sistema ITU baixa, associados à dor nos flancos e à febre.
aberto, atualmente em desuso, cerca de 100% dos Bacteremia, quando presente, poderá confirmar
pacientes apresentam bacteriúria em 2 a 4 dias a um diagnóstico de pielonefrite ou prostatite.
partir da cateterização. No sistema fechado, 5% a
10% dos pacientes apresentam bacteriúria por cada ITU associada a cateter: nessa situação, a febre é
dia de cateterização. A importância da ITU hospitalar um sinal comum, muitas vezes associada ao des-
está na sua elevada frequência e, substancialmente, conforto no flanco ou suprapúbico, à sensibilidade
por ser considerada a principal causa de bacteremia no ângulo costovertebral e à obstrução do cateter.
por gram-negativos. Pacientes com lesão medular podem apresentar sin-
tomas inespecíficos e atípicos como espasticidade,
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mal-estar e letargia. Já indivíduos que retiraram o
5. SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS cateter recentemente e evoluem com ITU costumam
ter disúria, frequência e urgência.
370
Infecção do trato urinário Cap. 13
Esses patógenos, na maioria das infecções, acessam Quadro 2. Agentes etiológicos das ITUs.
as estruturas do aparelho urinário ascendendo a par- Patógenos: espécies mais frequentes
tir da uretra e chegando até a bexiga e o parênquima a partir do diagnóstico
renal. Além da via ascendente, a via hematogênica
Cistite aguda, não complicada
(apesar de não ser a principal) é responsável por uma
• E. coli
parcela dessas infecções, sobretudo em pacientes
• Klebsiella
que apresentam obstrução ao fluxo urinário.
• Proteus
Porém, vale ressaltar que a presença do patógeno • Estafilococos
não resulta necessariamente na ocorrência de ITU. Pielonefrite aguda, não complicada
Na fisiopatologia da doença, correlacionam-se tanto
• E. coli
a virulência do patógeno quanto os fatores predis-
• Proteus
ponentes do hospedeiro, que permitem uma maior • Klebsiella
suscetibilidade à ocorrência da doença. • Outras enterobactérias
Os principais agentes são abordados no quadro a • Estafilococos
seguir. ITU com fatores complicadores
• E. coli
• Enterococos
• Pseudomonas
• Estafilococos
ITU nosocomial
• Klebsiella
• Proteus
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Pielonefrite aguda complicada
• Enterobacter
• Outras enterobactérias
• (Candida)
Fonte: Adaptado pelo autor.
371
Infecção do trato urinário Infectologia
Fatores
de risco
Obstrução do
Sexo Feminino Bexiga neurogênica
trato urinário
Diabetes, lesão
GESTANTE: Litíase, tumores, estenose
Uretra + curta e medula, esclerose →
modificações ureteral, hipertrofia prostática
próxima ao ânus DISFUNÇÃO MOTORA
anatômicas → ESTASE URINÁRIA
DA BEXIGA → ESTASE
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Agentes
Etiológicos
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Infecção do trato urinário Cap. 13
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renal, cistite viral e trauma após cateterização.
A presença de leucócitos na urina (denominada u Proteinúria: resposta fisiológica a exercícios fí-
piúria) não é específica de ITU, sem embargo, a sicos prolongados ou postura ereta (proteinúria
sua ausência na ITU verdadeira não é usual. Na ortotástica).
presença de bacteriúria significativa, a ausência de
u Hemocultura positiva: indica a presença de mi-
piúria (ex.: estearase leucocitária <5 leucócitos por
crorganismo na corrente sanguínea proveniente
campo) sugere alguma dessas situações:
de um sítio conhecido (pulmão, osso, dente etc.)
u Exame colhido precocemente no curso da ITU ou de um sítio desconhecido. Em pacientes com
(antes que se desenvolvesse a resposta infla- pielonefrite aguda, a hemocultura é positiva em
matória). 25%. A bacteremia é também bastante frequen-
te nos neonatos com infecção do trato urinário.
u Contaminação bacteriana da amostra coletada.
Importância da coleta de culturas:
u Colonização do trato urinário (ex.: bacteriúria
assintomática). A cultura de urina é fundamental para a decisão acerca
da terapia adequada nas seguintes situações:
7.1. QUANTIFICAÇÃO DA BACTERIÚRIA • Suspeita de infecções urinárias de etiologia hospitalar.
– CONTAGEM DE COLÔNIAS • Infecções urinárias relacionadas ao uso de cateteres
vesicais.
• Infecções de repetição.
Isolar a bactéria infectante na cultura de urina é
• Uso prévio de antimicrobianos.
etapa fundamental no diagnóstico de ITU; contudo, • Pielonefrites agudas.
há microrganismos que colonizam a uretra sem • Pré-operatório de cirurgias urológicas.
causar o quadro infeccioso. Dessa forma, não só • Prostatites agudas e crônicas.
se faz necessária a identificação do agente, como
373
Infecção do trato urinário Infectologia
Terapia antimicrobiana
Duração da terapia
Cerca de 50% dos homens, em algum momento da empírica inicial
vida, apresentarão sintomas sugestivos de prostatite, TMP/SMX 3 dias
embora apenas 5% a 10% serão caracterizados como Nitrofurantoína 7 dias
casos agudos ou crônicos. Os demais apresentarão Fluoroquinolonas 5 dias
quadros inflamatórios não infecciosos. O diagnós-
Fonte: Adaptado pelo autor.
tico de prostatite bacteriana aguda é, por vezes,
confundido, principalmente nos homens abaixo de
50 anos, com infecção urinária. A prostatite pode DIA A DIA MÉDICO
ser detectada com base em uroculturas positivas,
ou em cultura de secreção prostática com presen-
Em áreas de resistência à sulfa maior que 20%, não utili-
ça de neutrófilos. Os sintomas, geralmente, são zar essa droga. Escolher outras opções quando iniciar o
intensos na infecção aguda, enquanto na prostatite tratamento empírico sem urocultura.
crônica são insidiosos, manifestando-se por infec-
ções urinárias repetidas ou sintomas genitourinários
irritativos ou obstrutivos. 8.2. PIELONEFRITES
Na fase aguda, a coleta da secreção prostática está
contraindicada devido à dor, embora o toque retal
cuidadoso já possa sugerir esse diagnóstico, docu- BASES DA MEDICINA
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sendo relevante questionar sobre o histórico de infecções
Chlamydia, Mycoplasma, Trichomonas e vírus. prévias do trato urinário e qual a terapêutica empregada,
além, é claro, da pesquisa de fatores predisponentes,
como calculose renal ou má-formação de vias urinárias.
8. CONDUTAS E TRATAMENTO
374
Infecção do trato urinário Cap. 13
completo (que pode demonstrar leucocitose com ou u Ceftriaxone 1 g EV 12/12 h por 7 a 10 dias.
sem desvio à esquerda), função renal e eletrólitos u ITU baixa : primeiro episódio, não precisa nem
(para avaliar complicações, piora na função renal), colher URINA I.
urina tipo 1 (leucocitúria, nitrito positivo, avaliar u Norfloxacina por 3 dias, dose única de fosfomi-
hematúria), urocultura com antibiograma (troca de
cina (em formulação 3 g granulado).
antibióticos) e hemoculturas (se houver história de
febre, antes da introdução de antibióticos). 8.3.2. ITU com sonda/cateter vesical
É importante frisar que não se deve esperar o resul-
tado da urocultura para introduzir o antibiótico, visto Além da retirada da sonda, colher urocultura com
que, frequentemente, o resultado não estará dispo- antibiograma SEMPRE antes da introdução dos
nível na ocasião da chegada ao serviço de saúde. antibióticos. Guiar-se pelo antibiograma e pensar
sempre na cobertura para germes hospitalares.
Nesse caso drogas como cefalosporinas de quarta
DIA A DIA MÉDICO
geração, penicilinas anti-pseudomonas e carbape-
nêmicos estão entre as escolhas possíveis.
Os exames de imagem das vias urinárias devem ser
reservados para pacientes com história de suspeita de 8.4. SITUAÇÕES ESPECIAIS
calculose renal ou de tratamento prévio sem melhora
clínica (sempre solicitar avaliação do urologista quando
8.4.1. ITU na gestação
houver possibilidade de obstrução de vias urinárias).
Muitas vezes, a imagem pode mostrar uma complicacão
Bacteriúria assintomática é tratada com um curso
infecciosa, como abscesso renal.
de 7 dias de antibiótico, com base no teste de sen-
sibilidade. Para infecções recorrentes (sintomáticas
Assim, na ausência de melhora da febre após 72 ou assintomáticas), cefalexina (125-250 mg/ dia) ou
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horas, ITU recorrente ou quando se suspeita de nitrofurantoína (50 mg/dia) podem ser utilizadas
complicações, a imagem é importante. para profilaxia.
375
Infecção do trato urinário Infectologia
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u
376
Infecção do trato urinário Cap. 13
QUESTÕES COMENTADAS
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Questão 2 Questão 4
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ - PR - 2021) As (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FAMEMA - 2021) Uma mulher
infecções do trato urinário estão entre as doenças de 21 anos de idade, previamente hígida, chegou à
infecciosas mais comuns na prática clínica, parti- emergência hospitalar com quadro de disúria, pola-
cularmente em mulheres sexualmente ativas. Sob ciúria e urgência miccional havia um dia. Ela negou
tratamento empírico para cistite não complicada episódios anteriores semelhantes. Encontrava-se
e ausência de contraindicações, o antimicrobiano afebril, hemodinamicamente normal e com punho-
de escolha é: -percussão da região costovertebral esquerda indo-
lor. Nesse caso clínico, é adequada a conduta de:
⮦ Nitrofurantoína.
⮦ Tratar a paciente, ambulatoriamente, com trime-
⮧ Ciprofloxacino.
toprim-sulfametoxazol.
⮨ Amoxicilina.
⮧ Iniciar a administração de levofloxacino endove-
⮩ Cefalexina. noso com a paciente em internação hospitalar.
⮪ Amoxicilina-clavulanato. ⮨ Realizar uma primeira dose de levofloxacino en-
dovenoso na emergência.
Questão 3 ⮩ Recomendar antibioticoterapia, conforme cultu-
ra e antibiograma.
(ALIANÇA SAÚDE - PR - 2020) Afonso, 58 anos, com his-
tórico de trauma raquimedular prévio, portador de
bexiga neurogênica e com múltiplos internamentos
por infecção do trato urinário, é admitido em uni-
dade de internamento com quadro de pielonefrite.
377
Infecção do trato urinário Infectologia
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volêmica e coleta de hemocultura e urocultura, qual com 10 semanas de gestação, retorna para consul-
é a estratégia de tratamento antimicrobiano mais ta de pré-natal com exames de rotina. A urocultura
adequada? apresentou crescimento bacteriano maior que 105
UFC/mL (unidades formadoras de colônias por mL).
⮦ Combinação de antibióticos para cobertura de
A paciente relatou aumento da frequência urinária,
bactérias gram-negativas multirresistentes.
entretanto negou sintomas como disúria, urgência
⮧ Por se tratar de paciente jovem e sem comor- miccional, noctúria, dor suprapúbica ou febre. Nesse
bidades, pode-se aguardar os resultados das caso, o diagnóstico e o tratamento antimicrobiano
culturas para o início da terapia antimicrobiana. são, respectivamente,
⮨ Antibiótico de amplo espectro na primeira hora
de evolução, considerando cobertura para bac- ⮦ Bacteriúria assintomática; nitrofurantoína.
térias gram-negativas. ⮧ Bacteriúria assintomática; ciprooxacina.
⮩ Cobertura para agentes multirresistentes por con- ⮨ Cistite aguda; nitrofurantoína.
ta da gravidade, seguida de escalonamento com ⮩ Cistite aguda; ciprofoxacina.
os resultados da hemocultura e/ou urocultura.
Questão 9
Questão 7
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS
(REVALIDA - 2021) Um homem de 52 anos de idade – AM – 2009) A infecção ascendente é a via de con-
procura atendimento médico em nível ambulato- taminação mais comum nos casos de pielonefrite
rial após 7 dias de uma internação hospitalar de aguda. Nesses casos, o agente etiológico em mais
72 horas para correção de uma hérnia inguinal, na de 85% dos casos é:
qual permaneceu 24 horas com sonda vesical de
378
Infecção do trato urinário Cap. 13
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metformina. Ao exame físico: desorientado, com
⮧ Concentração sérica do antimicrobiano. déficit de atenção, corado, FR: 22 inc/min, TAX de
⮨ Concentração urinária do antimicrobiano. 38.2°C PA: 100 x 65 mmHg FC: 102 bpm. AR: MV
presente, sem ruídos adventícios, AC: RCR 2T sem
⮩ Duração do tratamento antimicrobiano.
sopros. Abdome: doloroso em hipogástrio, sem vis-
⮪ Frequência do tratamento. ceromegalias. Em uso de sonda vesical de demora.
Extremidades: sem edema. Podemos afirmar que:
Questão 12
⮦ É uma ITU associada ao quadro de delirium e,
(CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – 2014) A forma mais co- no momento, evoluiu com SIRS.
mum de resistência bacteriana no tratamento da ⮧ É uma ITU complicada associada ao quadro de
Infecção do Trato Urinário (ITU) é: delirium e, no momento, evoluiu com SEPSE.
⮨ É uma ITU complicada que evoluiu com choque
⮦ Resistência natural.
séptico.
⮧ Seleção de mutantes resistentes.
⮩ É um quadro de bacteremia devido a um qua-
⮨ Transferência de resistência por fator-R. dro de ITU.
⮩ Fator protetor fúngico. ⮪ É um quadro de disfunção de múltiplos órgãos e
sistemas, devido ao delirium hiperativo.
Questão 13
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Infecção do trato urinário Infectologia
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endovenosa e aguardar resultados dos exames
⮨ Solicitar urocultura e iniciar antimicrobiano ba- para definir internação.
seado no antibiograma.
⮩ Doença inflamatória pélvica e prescrever anti-
⮩ Solicitar urocultura caso sintomas persistam bioticoterapia VO domiciliar com ciprofloxacino
após 5 dias de uso de fenazopiridina. por sete dias.
⮪ Litíase renal e solicitar ultrassom de rins e vias
Questão 17 urinárias na urgência.
380
Infecção do trato urinário Cap. 13
GABARITO E COMENTÁRIOS
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da, sendo eles:
• Doença renal
a) Sulfonamidas: dentre as sulfonamidas, quimio-
• Anormalidades do trato urinário (anatômica ou terápicos com ação bacteriostática, destaca-se
funcional) a associação Sulfametoxazol-trimetoprim (SMZ-
Para esses pacientes, uma urocultura sempre deve -TMP) ou Cotrimoxazol, preferencialmente em
ser colhida. Seu tratamento pode ser ambulatorial formulações “F” de 800mg de SMZ associados
se estiverem em bom estado geral e sem compli- a 160 mg de TMP para uso de 1 cp (12/12h), ou
cações, mas deve incluir um antibiótico de espectro na posologia habitual de 2 cp (12/12h).
mais amplo (como o ciprofloxacino). b) Nitrofurantoína (Macrodantina), na dose de100
A paciente do caso não se enquadra em nenhum mg (6/6h).
dos grupos: logo, tem uma ITU não complicada. c) Quinolonas: Ácido nalidíxico, 500 mg (8/8h) ou
Nesse caso, exames são coletados apenas se houver Ácido pipemídico, 400 mg (12/12h).
suspeita de pielonefrite, recorrência ou manutenção d) “Novas” Quinolonas: Norfloxacina de 400 mg
dos sintomas após a conclusão de tratamento. Não (12/12h), Ciprofloxacina de 250 mg (12/12h).
é relatada febre ou dor lombar para pensarmos em Outras como a Lomefloxacina, Ofloxacina, Peflo-
ITU alta. Logo, vamos ao tratamento empírico, que xacina etc. também podem ser utilizadas.
não requer amplo espectro: as opções recomenda- e) Cefalosporinas: A mais utilizada de 1ª geração,
das são a fosfomicina (útil por ser dose única), a por via oral, é a Cefalexina de 250 mg (6/6h)
nitrofurantoína (lembrando que ela não serve para e, das de 2ª geração, o Cefaclor de 250 mg
pielonefrite: não atinge concentrações ideais no (12/12h). As cefalosporinas de 2ª e 3ª geração
parênquima renal) ou o sulfametoxazol + trimeto- possuem espectro maior contra bactérias gram-
prima. A única alternativa que traz alguma dessas -negativas, exceto enterococcus, e a atividade
contra pseudomonas é variável.
381
Infecção do trato urinário Infectologia
f) Fosfomicina Trometanol (3g) em dose única. uronálise, para instituição do tratamento. Os agentes
etiológicos mais frequentemente envolvidos são a
Contudo, fosfomicina (em dose única) ou nitrofu-
Escherichia coli e o Staphylococcus saprophyticus.
rantoína (por cinco dias), atualmente, consistem em
Pode ser trada por via oral e ambulatorialmente
prioridade como tratamento de primeira linha para
com trimetoprim-sulfametoxazol, nitrofurantoína
cistite não complicada. As taxas de resistência às
e quinolonas (Norfloxacino).
aminopenicilinas, quinolonas, e sulfametoxazol-
-trimetoprim são elevadas (> 40%) em diferentes ✔ resposta: A
regiões geográficas e não são opções iniciais para
o tratamento empírico de cistite não complicada. dificuldade:
Questão 5
Como não há fosfomicina na alternativa, nitrofuran-
toína é a resposta. Y Dica do professor: Questão sobre bacteriúria as-
✔ resposta: A sintomática. Os critérios para se tratar a bacteriú-
ria assintomática são as gestantes e os pacientes
pré-realização de procedimentos urológicos com
Questão 3 dificuldade: manipulação dessa topografia. O DM não é mais um
critério para tratamento, e a paciente está assinto-
Y Dica do professor: As infecções causadas por mi-
mática. Logo, a conduta não é oferecer tratamento.
crorganismos multirresitentes, como as enterobac-
térias produtoras de beta-lactamases de espectro ✔ resposta: A
estendido (ESBL), são um desafio ao tratamento,
sendo necessário racionalizar o uso de antibióticos, dificuldade:
Questão 6
a fim de poupar opções usadas para infecções mais
graves, como os carbapenêmicos. Y Dica do professor: Essa questão é sobre urosepse.
Alternativa A: CORRETA. Entre as alternativas apre- Paciente da comunidade nos faria pensar numa flo-
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sentadas, é a melhor escolha, por se tratar de um ra de BGN, mas sem a necessidade de cobrir ger-
aminoglicosídeo ativo frente a vários produtores mes multiresistentes. Quando temos uma sepse os
de ESBL. princípios da prescrição de ATB, estão focados na
precocidade, cobertura do foco e amplo espectro
Alternativa B: INCORRETA. O Cefepime é um betalac-
(nem ser exageradamente amplo ...). Esse amplo
tâmico (cefalosporina) ao qual as enterobactérias
espectro não é necessariamente indicação de co-
ESBL são resistentes.
bertura de MR.
Alternativa C: INCORRETA. Também é uma cefalospo-
rina, a que as enterobactérias ESBL são resistentes. ✔ resposta: C
Alternativa D: INCORRETA. Indicado em casos de cis-
tite, bacteriúria assintomática e profilaxia de ITU de Questão 7 dificuldade:
repetição. As enterobactérias ESBL não têm boa
resposta à nitrofurantoína. Y Dica do professor: Questão avaliando as infecções
urinárias. Paciente com quadro de disúria, sem sinais
Alternativa E: INCORRETA. É uma quinolona, à qual
de infecção alta (pielonefrite). Temos na questão o
o patógeno do paciente em questão é resistente.
resultado de antibiograma para avaliar o perfil de
✔ resposta: A sensibilidade e escolher o melhor antimicrobiano,
que deve ter boa concentração urinária, ter formu-
lação oral e ter sensibilidade ao agente isolado em
Questão 4 dificuldade:
urocultura.
Y Dica do professor: Enunciado traz uma mulher Alternativa A: INCORRETA. Já que o paciente preci-
jovem com sinais e sintomas de infecção de trato sa ser tratado, e não somente usar sintomáticos já
urinário (ITU) baixo, cistite não complicada. Não tem sintomas, e um agente isolado em quantidade
é necessário solicitar exames subsidiários, como a ser valorizar (>100.000 UFC).
382
Infecção do trato urinário Cap. 13
Alternativa B: INCORRETA. Além de esse antimicrobia- o que é questionado. Sabemos que as infecções
no ser um forte indutor para produção de betalac- podem acontecer de diversas formas, e infecções
tamases, temos melhores opções de drogas orais por contiguidade são bastante comuns. No entan-
para tratar essa ITU baixa. to, a infecção urinária usualmente se dá por via as-
Alternativa C: INCORRETA. Reservamos o imipenem cendente, ou seja, as bactérias migram de um local
para ITU altas, complicadas e, nesse, temos uma usualmente colonizado para outro local que é estéril.
cistite com outras opções melhores e orais. No caso das mulheres, isso se torna mais fácil por
conta de uma uretra curta, facilitando a passagem
Alternativa D: CORRETA. ITU baixa, sulfa é sensível no
das bactérias de uma uretra colonizada para uma
antibiograma e tem excelente concentração uriná-
bexiga estéril ou até mesmo para as vias urinárias
ria. Paciente em bom estado geral, permitindo um
superiores. Dessa forma, a população feminina tem
tratamento ambulatorial.
infecções do trato urinário com muito mais frequên-
✔ resposta: D cia que a população masculina.
✔ resposta: A
Questão 8 dificuldade:
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de antibióticos, com as consequências dos eventos
clusão de que a concentração do antimicrobiano na
adversos e a possibilidade de seleção de bactérias
urina (o que traduz a presença do fármaco no sítio
resistentes. As indicações para pesquisar e tratar
infectado) é mais importante que qualquer outro
são a gestação e pré procedimentos urológicas in-
fator. Alguns trabalhos já tentaram avaliar diversos
vasivos. Em gestantes preferimos não usar quino-
esquemas antimicrobianos para o tratamento das
lonas. A correta então é a alternativa A.
ITUs, focando em número de doses ao dia e dura-
✔ resposta: A ção do tratamento, mas a presença do fármaco na
urina acabou sempre sendo mais importante.
Questão 9 dificuldade: ✔ resposta: C
383
Infecção do trato urinário Infectologia
uma bactéria para outra numa reprodução sexuada apresenta sintomas urinários associados a quadro
(conjugação). Tal material ainda pode ser adquiri- febril (cistite não causa febre, via de regra). Sabe-
do de outras formas, como por incorporação de mos também que essa não é qualquer infecção
DNA livre pela célula bacteriana (transformação) urinária, é uma infecção que não está respondendo
ou através de um vírus bacteriófago (transdução) à antibioticoterapia adequada, portanto uma ITU
que, ao transferir seu material genético para a bac- complicada. Além disso, trata-se de uma ITU num
téria, acaba transferindo também material genético indivíduo diabético e com sonda vesical, mais dois
de outra bactéria que também confere resistência. fatores para ITU complicada. Por fim, podemos citar
✔ resposta: C um último indicador de infecção complicada: ITU
em homem. A questão não informa o sexo do pa-
ciente, mas informa que ele tem HPB (Hiperplasia
Questão 13 dificuldade: prostática benigna); logo, só pode se tratar de um
homem, e, como sabemos, qualquer ITU em homens
Y Dica do professor: A banca quer abordar o tema:
é complicada. A questão também quer saber sobre
infecção do trato urinário complicada. Para respon-
os conceitos de SIRS e sepse. Quanto a isso, nós
der a essa questão, precisamos de três conceitos
temos um paciente taquicárdico, taquipneico e fe-
básicos: a cura da ITU complicada depende mais
bril, o que já constituem critérios suficientes para
da concentração urinária do fármaco + conceito de
informar que o paciente está em SIRS. Unindo isso
infecção urinária complicada (basicamente altera-
ao foco infeccioso, temos um paciente em sepse,
ções estruturais do trato urinário) + o paciente HIV
mas sem critérios para choque séptico (sem res-
positivo não necessariamente tem infecções bacte-
posta à expansão volêmica adequada, necessitan-
rianas complicadas (além do que, ser HIV positivo
do de uso de drogas vasoativas) e muito menos de
não significa estar em SIDA).
disfunção de múltiplos órgãos (sem informações
Alternativa A: CORRETA. Se temos uma bactéria re- sobre isso na questão).
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sistente ao tratamento, não vai haver resposta a ele.
✔ resposta: B
Alternativa B: INCORRETA. Pacientes HIV positivos
não necessariamente estão em SIDA e, mesmo que
sim, a dependência da cura está muito mais ligada Questão 15 dificuldade:
à concentração urinária do fármaco do que ao HIV.
Y Dica do professor: Pacientes com ITU e febris
Alternativa C: CORRETA. A presença de um absces- levam mais a suspeita de pielonefrite. Esquemas
so renal é uma alteração estrutural do trato uriná- utilizando altas doses de aminoglicosídeos segui-
rio que configura ITU complicada, podendo levar à das de ciprofloxacina por via oral têm sido suge-
ausência de resposta ao tratamento. ridos. Em pacientes com formas menos graves e
Alternativa D: CORRETA. A obstrução urinária confi- sem vômitos, esquemas exclusivos por via oral de
guraria alterações estrutural do trato urinário, que fluorquinolonas com boa penetração tecidual como
configura ITU complicada, podendo levar à ausên- a ciprofloxacina podem ser considerados. A nitro-
cia de resposta ao tratamento. furantoína é destinada ao tratamento das cistites,
Alternativa E: CORRETA. A presença de rins policísti- mas não é recomendada na pielonefrite, devido a
cos configuraria alteração estrutural do trato uriná- menor concentração renal atrelada ao menor nível
rio, que configura ITU complicada, podendo levar à sérico atingido.
ausência de resposta ao tratamento. ✔ resposta: C
✔ resposta: B
Questão 16 dificuldade:
Questão 14 dificuldade:
Y Dica do professor: De acordo com o descrito temos
Y Dica do professor: A banca nos traz um paciente um caso de ITU baixo. Paciente não relata casos
com ITU alta, mas como sabemos disso? O paciente anteriore, emtão deve-se tratar para os prováveis
384
Infecção do trato urinário Cap. 13
agente que causam ITU (bactérias gram negativas, e creatinina, bilirrubinas/TGO/TGP, PCR, TP/TTPa,
como a E. coli), orientar medidas de higiene, ingesta hemograma e radiografia de tórax. Entretanto, pe-
hidriva regular, evitar ficar com roupas molhadas por las informações já disponíveis, é indicado o início
muito tempo. Caso os sintomas voltem indicar que da antibioticoterapia e hidratação venosa com cris-
ela volte para realizar novos exames. O tratmento taloides, visto que a paciente encontra-se com PA
pode ser feito com fosfomicina ou nitrofurantoina 80x60 mmHg. O problema da questão é que ele
preferencialmente. traz o termo sepse grave, utilizado anteriormente
✔ resposta: A para descrever casos de sepse associada a pelo
menos um sinal de hipoperfusão tecidual ou dis-
função orgânica, conceito abandonado no SEPSIS
Questão 17 dificuldade: III, fazendo com que não se tenha uma alternativa
apropriada para a resposta, motivo que levou a anu-
Y Dica do professor: Em gestantes, mesmo o achado
lação da questão.
de bacteriúria assintomática (crescimento de no mí-
nimo 100 mil UFC/ mL) demanda tratamento, pois Alternativa A: CORRETA. Explicação no comentário.
é condição que pode levar a rotura prematura de Alternativa B: INCORRETA. A antibioticoterapia deve
membranas ovulares e trabalho de parto prematuro. ser realizada por via EV.
O tratamento deve ser instituído de imediato e rea- Alternativa C: INCORRETA. A infecção de trato urinário
lizada nova urocultura 3 a 7 dias após o término do baixo, conhecida como cistite, cursa com sinais e
tratamento. O norfloxacino não tem segurança esta- sintomas como disúria, polaciúria, urgeincontinên-
belecida na gestação, sendo preferida a cefalexina. cia, não sendo comum a associação com febre e
✔ resposta: C alteração de padrões hemodinâmicos.
Alternativa D: INCORRETA. A doença inflamatória
pélvica (DIP) apresenta, como principal sintoma, a
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Questão 18 dificuldade:
descarga vaginal purulenta, em sua maioria acom-
Y Dica do professor: Quadro clínico sugestivo de panhada de dor abdominal infraumbilical, dor a
pielonefrite: febre com tremores, dores nas costas mobilização do colo uterino e febre. Exacerbação
e em baixo ventre, associado a Giordano positivo. da dor, náuseas e vômitos podem ocorrer devido a
Entretanto, há alteração hemodinâmica da pacien- sinais de irritação peritoneal.
te, com elevação da FC (108 bpm), FR de 20 irpm, Alternativa E: INCORRETA. A maior parte dos pacien-
PAS < 100, o que levanta a suspeita de sepse, dis- tes com litíase renal cursa de forma assintomáti-
função orgânica secundária a resposta desregula- ca. A cólica biliar pode aparecer, em alguns casos,
da do hospedeiro a infecção. Para diagnóstico da sendo aliviada a medida que o tempo passa. Dor
sepse, geralmente são seguidas algumas etapas. que, em geral, dura mais de 6h, associada a febre
Inicialmente, quando há suspeita de infecção, apli- é mais sugestivo de colecistite.
ca-se o quickSOFA (FR maior ou igual a 22 irmp, ✔ resposta: A
PAS menor ou igual a 100 mmHg e alteração do
nível de consciência). Se, ao final, a pontuação ob-
tida for maior ou igual a 2, aplica-se o SOFA, que
leva em consideração critérios como PaO2 /FiO2,
plaquetas, bilirrubinas, PAM, glasgow e creatinina
ou débito urinário. Se o SOFA evidenciar pontuação
maior ou igual a 2 tem-se, então, o diagnóstico de
sepse. Mas, com podemos observar, não há dados
suficientes na questão para que possamos fechar
o diagnóstico, fazendo necessário a solicitação
de alguns exames como: gasometria com lactato,
hemocultura e urocultura, sumário de urina, ureia
385
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386
FEBRE DE ORIGEM Capítulo
INDETERMINADA 14
importância/prevalência
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mas, hipernefromas, câncer colorretal e as do SNC.
u Diagnóstico: histórico minucioso – viagens, exposição a animais, história familiar, medicamentos em uso,
padrão da febre e exame físico completo.
u Laboratório/imagem na FOI: VHS, PCR, sorologias, hemoculturas, provas reumatológicas, tomografias e
ecocardiograma.
u Cintilografia com gálio-67 e FDG-PET podem ser utilizados quando os outros recursos diagnósticos não
chegarem a um diagnóstico.
u Biópsia de sítios suspeitos podem ser decisivas para o diagnóstico de FOI, principalmente se guiadas por
imagem.
u Tratamento: dependerá da etiologia encontrada; terapêuticas empíricas podem ser realizadas em pacientes
graves ou em situações em que os achados conduzem fortemente ao diagnóstico.
387
Febre de origem indeterminada Infectologia
tem como principal manifestação a febre que, apesar de dias de internação, com exames, antes de classificar
esforços para identificação da causa, permanece sem o caso como FOI. Além disso, subclassificaram a
uma etiologia esclarecida. Foi definida por Petersdorf e
FOI em 4 subclasses distintas:
Beeson, em 1961, por meio de 3 critérios:
Temperatura axilar superior a 37,8°C em diversas ocasiões. u FOI clássica.
Duração mínima de 3 semanas. u FOI nosocomial ou associada à assistência à
Ausência de diagnóstico etiológico após 1 semana de saúde: tem causas que incluem febre medica-
investigação hospitalar. mentosa, complicações pós-operatórias, como
abscessos ocultos, tromboflebite séptica, Embolia
Pulmonar (EP) recorrente, infarto do miocárdio,
Essa definição foi utilizada por muito tempo e tinha câncer, transfusão sanguínea e colite por Clostri-
como principal objetivo excluir pacientes com doen- dium difficile. Embora a febre seja uma manifes-
ças autolimitadas, normalmente infecções de ori- tação bem reconhecida de alguns procedimentos
gem viral que duravam menos de 3 semanas para cirúrgicos, a maioria dos episódios é de curta
resolução, e pacientes com doenças de diagnóstico duração e não atende à definição clássica de FOI.
simples após realização de exames laboratoriais. u FOI em neutropênicos: como a bacteremia e a
São considerados exames necessários para essa sepse são causas frequentes, os antibióticos em-
investigação inicial: píricos de amplo espectro devem ser administra-
dos imediatamente, sem aguardar os resultados
Quadro 1. Exames necessários para das culturas, quando a febre se desenvolve em
investigação inicial de FOI.
pacientes neutropênicos.
História e exame físico detalhados
Embora os médicos presumam que, se a febre não
Hemograma completo
responder prontamente à terapia antibacteriana, a
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Hemocultura infecção fúngica deve ser suspeitada, outras causas
Bioquímica sanguínea: enzimas hepáticas, têm a mesma probabilidade de serem identificadas.
bilirrubinas, função renal, eletrólitos Felizmente, a febre costuma desaparecer com a
Em caso de enzimas hepáticas alteradas, melhora da neutropenia.
solicitar sorologias para hepatites A, B e C
Urina 1
u FOI associada com o Vírus da Imunodeficiência
Adquirida (HIV): a fase primária da infecção pelo
Radiografia de tórax
HIV é caracterizada por uma doença semelhante
Fonte: Elaborado pelo autor. à mononucleose, na qual a febre é uma carac-
terística proeminente e pode ser prolongada.
Com o avanço da prática clínica, facilidade de diag- As causas de FOI têm relação com o grau de
nósticos ambulatoriais rápidos e maior acesso a imunossupressão associada, em particular ao
exames laboratoriais e de imagem, alguns autores número de linfócitos CD4. As infecções por mi-
sugerem a redução do tempo de investigação e, cobactérias têm sido a causa mais comum de
caso não haja esclarecimento diagnóstico nesse FOI nesses pacientes, assim como infecções
período, o paciente se enquadra nos critérios de FOI. por CMV e neoplasias, que são recorrentes nes-
Contudo, ponderando as dificuldades de acesso a sa população.
consultas e a exames no Brasil, principalmente na
rede pública de saúde, este novo conceito é con- Várias possíveis etiologias estão relacionadas à FOI.
siderado bastante complicado para ser obedecido As principais são infecções, doenças inflamatórias
no dia a dia. não infecciosas, como doenças do tecido conjuntivo,
e neoplasias malignas.
Durack e Street, em 1991, propuseram uma definição
revisada, na qual o paciente tivesse, no mínimo, 3
388
Febre de origem indeterminada Cap. 14
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de FOI. As mais frequentes são as do sistema mono-
descritas, na literatura, mais de 200 causas para FOI. E,
nuclear fagocitário, como linfomas e leucemias. A
muitas vezes, na prática clínica, não consegue se chegar a
um diagnóstico definitivo, mesmo usando as ferramentas FOI está mais presente em linfomas avançados ou
mais modernas na elucidação diagnóstica. agressivos. Carcinoma de células renais e carcinoma
hepatocelular também podem levar à FOI.
A miscelânea é responsável por 4% do total de
O uso inadequado de antibióticos e anti-inflamató-
casos de FOI e envolve outras doenças que não se
rios, aliados a erros de interpretação de exames,
encaixam nos grupos anteriores. A FOI pode se apre-
são responsáveis por aumentar o número de casos.
sentar como efeito colateral do uso de medicações;
No entanto, o maior acesso à saúde e o avanço das
as principais classes de remédios que apresentam
tecnologias em saúde pode permitir um diagnóstico
esse sintoma são antibióticos, anti-histamínicos,
mais precoce.
antiepilépticos, anti-inflamatórios não esteroidais,
A origem do paciente, as características ambientais anti-hipertensivos, antiarrítmicos e drogas antiti-
dos lugares que frequenta, idade e estado imunoló- reoidianas.
gico prévio, iatrogenia e a instituição onde o paciente
A febre factícia, apesar de rara, não deve ser esque-
é tratado são fatores que também interferem na
cida como possível diagnóstico de FOI.
variação da distribuição etiológica da FOI.
389
Febre de origem indeterminada Infectologia
FOI
Doenças do tecido
Infecções Neoplasias Miscelania
conjuntivo
Arterite de células
Abscessos abdominais Leucemias Febre factícia
gigantes
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Carcinoma de
Abscessos pélvicos Poliarterite nodosa
células renais
Carcinoma
Osteomielite Arterite de Takayasu
hepatocelular
Endocardite bacteriana
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Febre de origem indeterminada Cap. 14
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FOI é se certificar de que o paciente realmente tem abscessos abdominais e infecções em imunossu-
febre. A temperatura axilar deve ser aferida pelo pressores, são as principais causas de morte evitável
menos 4 vezes ao dia e considera-se febre se for por FOI. Portanto, deve-se conduzir a investigação
pelo menos 37,8°C. Descrever o padrão da febre diagnóstica visando excluir essas patologias.
pode dar pistas importantes da etiologia (malária,
tuberculose, neoplasias). Deve-se, também, investigar a possibilidade de
febre induzida por medicamentos. Teoricamente,
Após identificar que o paciente tem febre, deve- qualquer medicamento pode produzir febre como
-se excluir a possibilidade de febre factícia, que efeito colateral e essa possibilidade aumenta com
ocorre na maioria das vezes em mulheres jovens a duração do tratamento. Os antibióticos são os
que trabalham na área de saúde e que têm alguma que têm maior probabilidade de levar a febre, prin-
comorbidade psiquiátrica. cipalmente as penicilinas. Todo medicamenteo
Deve-se fazer uma anamnese minuciosa e repeti-la deve ser considerado como causador de febre em
periodicamente, a fim de tentar obter novos dados um paciente com FOI, por isso, na fase inicial de
não alcançados em anamnese prévia. A anamnese investigação, é importante suspender ou substituir
não pode se limitar a dados orgânicos; todavia, deve todos os remédios que estejam sendo utilizados.
abranger aspectos profissionais, local de moradia,
391
Febre de origem indeterminada Infectologia
Anamnese minuciosa
FOI
Boa relação Excluir doenças
médico paciente graves e tratáveis
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Retirar/substituir medicações
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Febre de origem indeterminada Cap. 14
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infecção bacteriana. especialmente a FOI, é a cintilografia com gálio-67
(67Ga). O exame de cintilografia com 67Ga foi con-
A Velocidade de Hemossedimentação (VHS) também
siderado particularmente eficaz na visualização de
tem baixa especificidade, não obstante, pode indicar uma
infecções crônicas e linfomas, porém esse teste foi
etiologia. A arterite de células gigantes é caracterizada por
amplamente substituído pela TC e RNM. A TC por
altos índices de VHS, chegando, muitas vezes, a valores
emissão de pósitrons (PET), usando o análogo de
superiores a 100 mm/h. A fosfatase alcalina geralmente
glicose pósitrons 18F-fluorodeoxiglucose (FDG), tem
está elevada quando há comprometimento hepático ou
sido utilizada na avaliação de pacientes com FOI,
ósseo e sua alteração leva a uma investigação mais pro-
embora com resultados controversos.
funda desses órgãos. As culturas para aeróbios, anaeró-
bios e BAAR são fundamentais para identificar possíveis O FDG-PET/CT deve ser considerado quando os
infecções virais. métodos diagnósticos convencionais não tiveram
sucesso no diagnóstico de uma etiologia para FOI.
Alguns exames complementares, como hemograma,
Utilizar esse exame para escolher áreas para biopsiar
velocidade de hemossedimentação e sorologias, que
de forma mais direcionada pode ser importante para
podem sofrer alterações, precisam ser repetidos de
se chegar a um diagnóstico final.
forma periódica.
O exame histopatológico de tecidos obtidos por
Caso o paciente não apresente evidência de alguma
biópsia pode fornecer um diagnóstico definitivo em
etiologia na propedêutica inicial ou se houver difi-
alguns casos; mas, na maioria das séries publicadas
culdade de obtenção de uma história clara, outros
de pacientes com FOI, a biópsia deu o diagnóstico
exames complementares precisam ser solicitados.
final em menos da metade dos pacientes.
Eles envolvem hematologia e bioquímica, culturas,
urina e fezes, sorologias, testes cutâneos e exames Deve ser feita de forma cautelosa quando não houver
de imagem. nenhum outro método laboratorial ou de imagem
disponível. Caso não haja nenhum sinal de doença
393
Febre de origem indeterminada Infectologia
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Leucocitose com desvio sucesso após a identificação da etiologia causadora
Eosinofilia sugere
à esquerda sugere
neoplasia ou helmintose da febre, para que o tratamento seja direcionado
infecção bacteriana à patologia específica do paciente. No passado, a
Fonte: Elaborado pelo autor. terapia empírica com agentes anti-inflamatórios,
tais como corticosteroides, ácido acetilsalicílico
Quadro 3. Exames complementares na FOI. ou agentes antimicrobianos, era realizada com a
intenção de se fazer um teste diagnóstico indireto
Exames complementares na FOI
em pacientes com FOI inexplicada. Em casos raros,
Hemograma, VHS, pesquisa de até medicações antineoplásicas foram utilizadas
Hematologia
hematozoários e gota espessa, para esse fim. Hoje em dia, raramente são indicadas.
transaminases, fosfatase alcalina,
e bioquímica Foi relatado que as febres causadas por neoplasias
ureia, creatinina, TSH, T4 livre,
desidrogenase láctica. malignas respondem melhor a agentes anti-inflama-
Hemocultura, cultura de urina e fezes,
tórios não esteroidais, como o naproxeno, do que
Culturas as febres de origem infecciosa, no entanto a ação
cultura de secreções corporais.
do naproxeno é inespecífica; assim, a capacidade
Sumário de urina, parasitológico
do chamado teste naproxeno para diferenciar as
Urina e fezes de fezes, pesquisa de sangue
oculto nas fezes. causas malignas das causas não malignas da FOI
permanece não validada. Por essas razões, os estu-
ASLO, FAN, fator reumatoide, VDRL, dos terapêuticos, mesmo quando bem-sucedidos
FTA-abs, imunofluorescência e ELISA
para Trypanosoma cruzi, anti-VEB, IgG
na redução da febre, podem retardar o diagnóstico
Sorologia e IgM antitoxoplasma, anti-Brucella correto e, desse modo, o tratamento adequado da
e anti-Salmonella, sorologia para FOI.
calazar, anticorpos anti-CMV, anti-HIV,
anti-HBs, agHBs, anti-HBC e PCR.
394
Linfomas
Leucemias
Neoplasias
Carcinoma de
células renais
395
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Cap. 14
Febre de origem indeterminada Infectologia
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Febre de origem indeterminada Cap. 14
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO – SP – 2021) Um homem (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – 2017) Sobre a abor-
de 18 anos está internado devido a um quadro de dagem dos pacientes com febre de origem indeter-
febre prolongada (4 semanas) e perda de peso. Não minada (FOI), é correto afirmar:
há nenhum sinal de localização de infecção. TC de
tórax normal e TC de abdome com discreta esple- ⮦ Em pacientes estáveis e previamente imuno-
nomegalia. Hemoculturas negativas, ecocardiogra- competentes, sem definição diagnóstica após
ma sem vegetações. Hemograma com neutrofilia a avaliação inicial, justifica-se o uso empírico de
e sem desvio e ferritina de 5200ng/mL (normal até antibióticos como prova terapêutica.
336ng/mL). Fator reumatoide e antinúcleo negativos. ⮧ O prognóstico é ruim para os pacientes que per-
Uma enfermeira descreveu uma erupção cutânea manecem sem definição da causa da febre após
no tronco, de cor salmão, vespertina e evanescente, extensa investigação.
observada durante os picos de febre. O diagnóstico ⮨ Na suspeita de endocardite infecciosa como
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presuntivo é: causa da febre, a realização de ecocardiogra-
ma transtorácico é suficiente para excluir essa
⮦ Endocardite marântica.
possibilidade.
⮧ Citomegalovirose aguda.
⮩ Hemoculturas devem ser coletadas diariamen-
⮨ Doença de Still de início no adulto. te, durante o episódio de febre, por pelo menos
⮩ Hemocromatose hereditária. 5 dias consecutivos, visando aumentar a sensi-
⮪ Linfoma esplênico. bilidade e especificidade para o diagnóstico de
causas infecciosas.
⮪ Os antibióticos e anticonvulsivantes estão entre
Questão 2
as principais medicações causadoras de febre
(HOSPITAL SÃO JOÃO BATISTA DE VOLTA REDONDA/RJ – 2014) relacionada a drogas.
Febre de origem obscura clássica é definida como
febre com duração de mais de 3 semanas sem
Questão 4
elucidação de uma causa depois de pelo menos:
(HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR/MG – 2014) Marque a alter-
⮦ Uma consulta ambulatorial. nativa CORRETA. A causa mais comum de febre de
⮧ Duas consultas ambulatoriais. origem indeterminada infecciosa é:
⮨ Um dia de internação hospitalar para investiga-
⮦ Tuberculose.
ção diagnóstica.
⮧ HIV.
⮩ Dois dias de internação hospitalar para investi-
gação diagnóstica. ⮨ Abcesso.
⮪ Uma semana de investigação ambulatorial cri- ⮩ Endocardite.
teriosa e invasiva.
397
Febre de origem indeterminada Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
Y Dica do professor: O quadro clínico descrito pelo Y Dica do professor: Questão sobre os aspectos rela-
enunciado é absolutamente sugestivo da forma de cionados a febre de origem indeterminada. Vamos
início sistêmico da artrite idiopática juvenil, a famo- as alternativas:
sa “doença de Still”. Nesta condição existe artrite Alternativa A: INCORRETA. O uso de ATB só é indica-
(critério obrigatório) e, desde o início do quadro, da após uma investigação exaustiva e em cenários
aparecem manifestações inflamatórias generali- inespecíficos onde se suspeita de uma etiologia
zadas como febre persistente, tipicamente acom- tratável e de natureza infecciosa.
panhada por um rash evanescente de cor salmão
Alternativa B: INCORRETA. Muitas vezes a não defini-
que aparece no tronco e nas raízes dos membros.
ção do diagnóstico não é relacionada a prognóstico
Parâmetros laboratoriais de inflamação estão au-
ruim, já que temos diagnósticos como doenças psi-
mentados, como VHS, PCR, contagem de leucóci-
quiátricas, que são usualmente tardios e não estão
tos e, muito importante, a contagem de plaquetas.
associados a pior prognósticos.
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✔ resposta: C Alternativa C: INCORRETA. O diagnóstico de endocar-
dite é feito não só com a realização de ecocardio-
Questão 2 dificuldade: grama mas com a coleta de culturas.
Alternativa D: INCORRETA. Não há essa recomenda-
Y Dica do professor: A febre de origem indetermi- ção de coleta de culturas de forma consecutiva.
nada (FOI) também chamada de febre de origem
Alternativa E: CORRETA. Uma das principais causas
obscura é uma síndrome clínica tendo como prin-
de FOI.
cipal manifestação a febre, que apesar de esforços
para identificação da causa, permanece sem uma ✔ resposta: E
etiologia esclarecida. Foi definida por Petersdorf e
Beeson em 1961 através de alguns critérios:
Questão 4 dificuldade:
• T
emperatura axilar superior a 37,8° em diversas
ocasiões; Y Dica do professor: Dentre as alternativas acima
• Duração mínima de 3 semanas; todas podem ter ser implicadas como causa de
febre de origem indeterminada. Em nosso país a
Avanço da prática clínica, maior facilidade de diag-
principal causa de FOI é tuberculose.
nósticos ambulatoriais rápidos e maior acesso a
exames laboratoriais e de imagem, alguns autores ✔ resposta: A
sugerem a redução do tempo de investigação e caso
não haja esclarecimento diagnóstico neste período,
o paciente se enquadra nos critérios de FOI.
✔ resposta: A
398
DOENÇAS TRANSMITIDAS Capítulo
POR CARRAPATO 15
importância/prevalência
u As principais doenças, no Brasil, transmitidas por carrapatos, são a febre maculosa brasileira e a Doença
de Lyme, com distribuição geográfica bem específica e com grandes dificuldades para diagnóstico.
u Conhecer os vetores transmissores da febre maculosa brasileira (carrapato-estrela) e a bactéria que causa
a doença (Rickettsia rickettsii), sabendo que é uma doença de notificação compulsória.
u Conhecer os locais em nosso país onde essa doença tem maior concentração de casos: Sudeste e Sul,
em homens entre 20 a 40 anos.
u Quadro clínico: febre, mialgia, exantema maculopapular de evolução centrípeta, predominando em membros.
u Nas formas graves ocorre uma vasculite disseminada, com comprometimento renal, neurológico e hemor-
ragias (CIVD), com alta letalidade.
u As ferramentas para diagnóstico são: métodos diretos – pesquisa direta, cultura, PCR; indiretos – imuno-
fluorescência indireta, sorologia (IgM, IgG).
u O diagnóstico rápido e a introdução precoce de antibiótico (doxiciclina) têm papel fundamental no prog-
nóstico dessa doença.
u Descrever qual é o agente etiológico da Doença de Lyme (Borrelia burgdorferi) e o seu vetor de transmissão
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(Ixodes scapularis, I. ricinus).
u Ocorrem pela picada das ninfas do carrapato, que ficam aderidas à pele do hospedeiro. Não ocorre trans-
missão inter-humana e é incomum a transmissão materno-fetal.
u Reconhecer que o quadro clínico da doença pode ter comprometimento cardíaco, neurológico e articular.
u Saber que o eritema migrans é a manifestação clínica mais precoce da Doença de Lyme, desenvolvendo-
-se de 3 a 30 dias após ao contato com o carrapato. Mesmo que não haja lesão cutânea na fase inicial, a
doença pode se manifestar anos mais tarde.
u A imunidade patogênica contra Borrelia burgdoferi pode desencadiar reações autoimunes que, por sua
vez, podem causar lesões cardíacas e artrite, muito tempo depois do quadro agudo.
u O diagnóstico laboratorial é feito com testes sorológicos pareados.
u Conhecer o tratamento da doença e as opções de antibióticos (como doxiciclina), que devem ser minis-
trados o mais precocemente possível.
As rickettsioses são zoonoses de distribuição cos- A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é uma doença
mopolita com impacto significativo sobre a saúde infecciosa febril aguda, de apresentação clínica e
pública e sobre as atividades econômicas, pois gravidade variáveis, causada pelo Rickettsia rickettsii,
399
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
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transmissores da febre maculosa. Os animais man-
A febre maculosa é uma patologia multissistêmica tidos em pastos encontram um ambiente bastante
considerada grave, com período de incubação de propício para a infestação. A Rickettsia rickettsii é
2 a 14 dias (média de 7 dias). Com início súbito e o agente etiológico mais frequente e produz casos
agudo, apresenta sintomas geralmente inespecífi- mais graves, embora existam outras espécies de
cos – febre alta, mialgia, mal-estar generalizado, riquétsias infectantes associadas à doença.
náuseas e vômitos.
A região metropolitana de São Paulo (áreas urbanas
O sintoma mais importante é o exantema, que apa- que têm divisa com fragmentos de Mata Atlântica)
rece, quase sempre, do 3º ao 5º dia da doença, possui um perfil diferente. A R. rickettsii também é
podendo estar ausente em 10% dos pacientes, o que o agente etiológico, porém com o vetor carrapato
dificulta e retarda ainda mais o diagnóstico. Quando Amblyomma aureolatum. Neste perfil, cães e gatos
essa dificuldade se une ao desconhecimento por com acesso livre aos fragmentos de Mata Atlântica
parte da população e à desinformação dos serviços são parasitados por estágios adultos de A. aureola-
de saúde, o número de mortes pode chegar a 80% tum e os levam ao domicílio e peridomicílio, com o
dos casos não tratados. subsequente risco de parasitismo para os humanos.
O contato prévio com animais domésticos (espe-
cialmente cães) é apontado como um dos principais
fatores exposicionais.
400
Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
20-49 anos
Homem
Relato de exposição
à mata ou a animais
Sul e Sudeste
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O agente etiológico da FMB, no Brasil, são, maior-
DIA A DIA MÉDICO
mente, 2 espécies de riquétsias: A Rickettsia rickett-
sii, que produz a doença grave registrada no norte do
De acordo com a Portaria do Ministério da Saúde de
estado do Paraná e nos estados da região Sudeste;
consolidação nº 4, de 03 de outubro de 2017, todo caso
de febre maculosa é de notificação obrigatória às auto- e a Rickettsia sp, cepa que tem sido registrada em
ridades locais de saúde. Deve-se realizar a investigação ambientes de Mata Atlântica, produzindo quadros
epidemiológica em até 48 horas após a notificação, ava- clínicos menos graves. Rickettsia é um gênero de
liando a necessidade de adoção de medidas de controle bactéria obrigatoriamente intracelular, altamente
pertinentes. pleomórfica não motora, gram-negativa, que não
forma esporos e que pode ocorrer nas formas de
1.2. AGENTE ETIOLÓGICO E VETORES cocos (0,1 μm de diâmetro), bacilos (1 a 4 μm de
comprimento) ou fios (até cerca de 10 μm de com-
primento).
BASES DA MEDICINA São parasitas de artrópodes como piolhos, pulgas
e carrapatos e, no homem, causam outras doenças
As riquétsias se replicam no interior de vacúolos delimi- além da febre maculosa, como tifo e erlichiose.
tados por membrana nas células endoteliais e provocam
lesões no tecido endotelial onde crescem, causando Os vetores da doença são carrapatos da espécie
vasculite hemorrágica, frequentemente visível na forma Amblyomma cajennense. São conhecidos como
de uma erupção. Elas também podem causar lesões no “carrapato-estrela”, “carrapato de cavalo” ou “rodo-
Sistema Nervoso Central (SNC), com potencial desfecho leiro”; as larvas, como “carrapatinhos” ou “micuins;
fatal, como, por exemplo, na febre maculosa e no tifo
e as ninfas, como “vermelhinhos”. São hematófagos
epidêmico.
401
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
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doença, é necessário que fique aderido à pele, se maculosa brasileira.
alimentando, por um período de 6 a 10 horas. Ao
picar, e após se alimentar, o carrapato transmite o Com a extensa lesão endotelial, instala-se um
microrganismo por meio de suas glândulas saliva- estado procoagulante, com ativação da cascata
res. É importante notar que as picadas das larvas e da coagulação, liberação de trombina, aumento
das ninfas, por serem menos dolorosas, são as que de agregação plaquetária e aumento de fatores
têm a maior probabilidade de transmitir o microrga- antifibrinolíticos. O quadro agrava-se com a trom-
nismo, porque o ser humano não percebe a picada bose de pequenos vasos do coração, dos rins, dos
e permite que ocorra a transmissão. A picada do pulmões e do cérebro. Ocorre, ainda, em virtude
adulto, por ser muito dolorida, prontamente é perce- do bloqueio de pequenos vasos, necrose tecidual e
bida, e pode-se retirar o carrapato a tempo de não isquemia cerebral, principalmente do mesencéfalo
transmitir a doença. Outra forma de contágio se dá e da região dos núcleos.
pelo esmagamento do carrapato quando é retirado,
o que libera seu conteúdo gástrico.
402
Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
Rickettsia Rickettsii
u Gram-negativa Disseminação
Fisiopatologia u Intracelular linfática e hematogênica
u Células endoteliais
Hipovolemia Aumento da
Ativação de fatores u Liberação do hormô- permeabilidade vascular
de coagulação u TNF-alfa e IFN-gama
u Raramente CIVD
nio antidiurético
u Hiponartremia u Prostaglandinas
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Disfunção generalizada
Denudação endotelial de órgãos
generalizada u Trombose vascular
u Hemorragia
1.4. QUADRO CLÍNICO dos doentes até o 3º dia, e em 90% dos doentes até
o 5º dia. O retardo no aparecimento do exantema
Inclui febre, dor de cabeça e erupção cutânea em macular determina atraso no diagnóstico e piora
uma pessoa com histórico de picada de carrapato do prognóstico devido à dificuldade de emprego
ou que tenha frequentado nos últimos 15 dias. do tratamento adequado.
Assim, os sintomas iniciais são inespecíficos, com o A falta desse sinal, que pode atingir de 9% a 12%
paciente apresentando febre de moderada a alta de dos infectados, em especial idosos e pessoas com
início súbito, em torno de 39,5°C, cefaleia, mialgias, pele negra, dificulta muito o diagnóstico clínico.
mal-estar generalizado e hiperemia das conjuntivas.
As máculas têm aspecto róseo, de bordos mal
Os sintomas gastrointestinais aparecem em um definidos, com 2 a 6 mm de diâmetro; têm início,
número significativo de pacientes. O quadro inclui normalmente, ao redor dos punhos e dos tornozelos,
vômitos e diarreia. podendo, também, iniciar na região do tórax. As
O exantema maculopapular, principal sinal para máculas, no início, somem ao serem pressionadas,
definir o diagnóstico, aparece em poucos pacientes contudo, esse efeito desaparece com o tempo e
no 1º dia da doença; mostra-se em cerca de metade ocorre escurecimento da coloração. O aparecimento
403
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
do exantema nas palmas das mãos e plantas dos A presença do microrganismo nos vasos sanguíneos
pés, apesar de ocorrer com muita variação (40 a das meninges e do cérebro já foi demonstrada.
80% dos pacientes), é considerado um sinal muito Conjuntivite, alterações da retina e anormalidades
característico da febre maculosa. Lembre-se desse eletrocardiográficas também podem ocorrer rara-
achado porque é muito explorado nos exames. mente e levar à confusão diagnóstica.
Em casos graves, a erupção cutânea pode se tornar Com o aumento da permeabilidade vascular, ocorre
confluente, com algumas áreas da pele sofrendo desidratação com hipovolemia, sangramento muco-
necrose devido a danos induzidos por patógenos cutâneo, digestivo e pulmonar, insuficiência pré-renal
na microcirculação, sobretudo em regiões supridas e grande perda proteica, explicando os quadros
por artérias terminais, como dedos, dedos dos pés, de edema generalizado. O acometimento renal é
nariz, orelhas e órgãos genitais. A necrose tecidual indicativo de grave prognóstico.
e a gangrena ocorrem em até 4% dos pacientes.
O envolvimento pulmonar é evidenciado pela pre-
Com a falta de tratamento e a progressão do quadro, sença de tosse e achados radiológicos, como infil-
pode haver comprometimento do sistema nervoso trado alveolar, pneumonia intersticial e derrame
central, caracterizado por grave encefalite, determi- pleural. O edema pulmonar com diminuição da
nando confusão mental, delírios, ataxia, convulsões função respiratória pode exigir suporte respiratório
e coma. O início do envolvimento neurológico está e oxigenoterapia.
associado ao aumento do risco de mortalidade e
morbidade.
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Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
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Principais complicações Edema pulmonar, pneumonia
e derrame pleural
Arritmias cardíacas
Sangramento muco-cutâneo,
digestivo e pulmonar
405
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
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noglobulinas específicas (IgM e IgG). Em geral,
os anticorpos são detectados entre o 7º e o 10º
2.1. INTRODUÇÃO
dia da doença. Títulos de anticorpos superiores
ou iguais a 1:64, em uma única amostra, ou uma
A Doença de Lyme é uma zoonose causada por
diferença de 4 vezes no título de anticorpos ob-
espiroquetas do complexo Borrelia burgdorferi
servada em 2 amostras pareadas de soro, cole-
transmitidas pela picada de carrapatos do grupo
tadas com diferença de 2 a 4 semanas, são os
Ixodes ricinus. Caracteriza-se por pequena lesão
requisitos para confirmação diagnóstica por meio
cutânea, expansiva, única ou mútipla, do tipo mácula
da da sorologia.
ou pápula, de coloracão avermelhada no local em
u Pesquisa direta da riquétsia através de histopa- que o carrapato sugou o sangue, denominada de
tologia/imuno-histoquímica: realizada a partir de Eritema Crônico Migratório (EM).
amostras de tecido obtidas por meio de biópsia
de pele e das petéquias de pacientes infectados.
2.2. AGENTE ETIOLÓGICO
u Técnicas de biologia molecular: outro teste dis-
ponível para o diagnóstico, entretanto menos
utilizado, é a análise molecular. É recomendado A Borrelia burgdorferi é uma bactéria gram-negativa
singularmente em casos graves e deve ser rea- que foi identificada em 1982, pelo Dr. Willy Burgo-
lizado na fase inicial da doença. dorfer. A Borrelia sp., junto com as leptospiras e o
treponema, pertence ao grupo das espiroquetas.
As B. burgdorferi não coradas são invisíveis ao
1.6. TRATAMENTO microscópio comum, mas são prontamente per-
ceptíveis em campo escuro e em iluminação por
O sucesso do tratamento está relacionado à precoci- contraste de fase.
dade e à especificidade de sua instalação. Os fármacos
406
Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
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autoimune pode ter influência na persistência dos
2.5. DIAGNÓSTICO
sintomas (Lyme crônico). Alguns estudos mostram
que o organismo humano apresenta fatores prote-
tores contra os anticorpos para Borrelia burgdoferi, O diagnóstico é feito por meio da associação dos
como a decorina, presente na pele, articulação e, sintomas clínicos, dados epidemiológicos (áreas de
em menor quantidade, no coração; dessa maneira, maior endemicidade) e testes laboratoriais.
a concentração da espiroqueta nessas regiões é Crescimento de B. burgdorferi de amostras clínicas
facilitada, favorecendo a infecção crônica. é o padrão-ouro para o diagnóstico. Entretanto,
culturas positivas têm sido obtidas principalmente
2.4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS nas fases mais precoces da doença e em biópsias
de áreas de eritema migrans. Antígenos urinários
não têm valor diagnóstico, e o organismo não pode
BASES DA MEDICINA
ser recuperado no LCR.
Como a comprovação microbiológica é difícil, o
A pequena lesão cutânea, expansiva, única ou múltipla, diagnóstico é baseado em quadro clínico, vínculo
do tipo mácula ou pápula, de coloração avermelhada, no epidemiológico (exposição a carrapatos em área
local em que o carrapato sugou o sangue, denominada endêmica) e, exceto para os casos de eritema
de Eritema Crônico Migratório (EM), é um importante
migrans, detecção de resposta sorológica. O CDC
marcador clínico para a suspeita diagnóstica e alerta à
vigilância epidemiológica. À medida que a área de rubor recomenda teste inicial com metodologia ELISA,
se expande até 15 cm (com limites de 3 a 68 cm), a lesão seguida de confirmação por Western-Blot. Nas fases
assume característica anelar, quente e raramente dolorosa. precoces, a produção de anticorpos pode ainda não
ser detectada, devendo a sorologia ser repetida em
2 a 4 semanas.
407
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
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O tratamento é iniciado após o diagnóstico, o mais Saúde; 2005.
precocemente possível. Antibiótico profilático não
Sociedade Mineira de Pediatria. Febre Maculosa: atualização.
é recomendado para quem foi picado pelo car- Boletim Científico. 2016;37.
rapato e está assintomático; porém, o paciente
deve observar caso sintomas como rash, febre ou
artralgia apareçam.
A terapia é feita com antibiótico oral ou endovenoso,
dependendo do estágio da doença.
Em adultos, os antibióticos de eleição são: doxi-
ciclina, 100 mg (2 vezes ao dia), por 15 dias, ou
amoxicilina 500 mg (4 vezes ao dia), por 15 dias; se
as lesões forem disseminadas, deve-se prolongar
o tratamento por 3 a 4 semanas. Nos pacientes
tratados precocemente com antibióticos orais, o
eritema crônico migratório desaparece de imediato
e as principais complicações tardias são evitadas.
408
Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 4
(HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS - SP 2021) Paciente 23 anos, sexo (COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS –
masculino, morador de zona rural, deu entrada no 2017) O agente causador da doença de Lyme é:
pronto-socorro com relato de febre, fraqueza mus-
cular, dores articulares e mancha vermelha na per- ⮦ Borrelia burgdorferi.
na, conforme foto abaixo. Diante do quadro clínico ⮧ Rickettsia rickettsii.
e da alteração cutânea, o provável diagnóstico é de: ⮨ Bartonella henselae.
⮧ Reação alérgica.
⮨ Dengue. Questão 5
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abdominal e diarreia e tem história de ter sido pi-
cado pelo carrapato-estrela 6 dias antes do início
Questão 2
do quadro. O médico faz hipótese diagnóstica de
(REDE DOR - MA – 2021) Quais doenças abaixo podem febre maculosa. Realiza exames e indica tratamen-
ser transmitidas por carrapatos? to oral. O agente etiológico e o tratamento desta
doença são:
⮦ Febre maculosa e febre recorrente.
⮦ Haemophilus aegyptius e ampicilina.
⮧ Febre amarela e peste bubônica.
⮧ Rickettsia rickettsii e doxiciclina.
⮨ Febre amarela e febre recorrente.
⮨ Rickettsia rickettsii e ceftriaxona.
⮩ Peste bubônica e febre maculosa.
⮩ Haemophilus aegyptius e ceftriaxona.
⮪ Febre amarela e febre maculosa.
⮪ Haemophilus aegyptius e doxiciclina.
Questão 3
Questão 6
(OFTALMO CLÍNICA SÃO GONÇALO – 2014) Qual das seguin-
tes afirmativas está associada à doença de Lyme? (CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO – 2016) A febre
maculosa brasileira é uma doença infecciosa febril
⮦ A infecção é carregada pelas larvas do mosquito. aguda, de gravidade variável, cuja apresentação clí-
⮧ O agente infeccioso é Borrelia Burgdoferi. nica pode variar desde as formas leves e atípicas
⮨ Não há envolvimento do sistema nervoso. até formas graves. Qual o agente infeccioso?
409
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
⮨ Haemophilus influenzae.
⮩ Hydrochaeris hydrochaeris.
⮪ Rickettsia rickettsii.
Questão 7
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provável diagnóstico é de
⮦ Erisipela.
⮧ Reação alérgica.
⮨ Dengue.
⮩ Febre reumática aguda
⮪ Doença de Lyme
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Doenças transmitidas por carrapato Cap. 15
GABARITO E COMENTÁRIOS
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em que o carrapato sugou o sangue, denominada Alternativa E: CORRETA. Vide dica do professor.
de eritema crônico migratório (EM)(foto do caso ✔ resposta: E
em questão). Dias após o estabelecimento do EM,
manifestações clínicas iniciais como mal-estar,
febre, cefaleia, rigidez de nuca, mialgias, artralgias Questão 2 dificuldade:
migratórias e linfadenopatias muitas vezes estão
Y Dica do professor: Para essa questão é importante
presentes. Não é incomum esses sinais e sinto-
reconhecer os vetores responsáveis pela transmis-
mas durarem várias semanas, nos casos em que
são das doenças infecciosas virais ou bacterianas.
o tratamento não é instituído. Nessas situações,
semanas ou meses após podem surgir manifes- Alternativa A: CORRETA. A febre maculosa é uma
tações neurológicas (15% dos casos), tais como doença infecciosa febril aguda, transmitida ao hu-
meningite asséptica, encefalite, coreia, neurite de mano pela picada do carrapato infectado com uma
pares cranianos (incluindo a paralisia facial bilate- bactéria do gênero Rickettsia. Costuma apresentar
ral), radiculoneurite motora e sensorial. quadro inespecífico com mialgia intensa e mal-es-
tar generalizado. A Febre recorrente é uma doen-
Alternativa A: INCORRETA. Erisipela tem um padrão
ça causada pela bactéria Borrelia recurrentis, uma
usual de hiperemia bem delimitado.
espiroqueta; pode ser transmitida por piolhos ou
Alternativa B: INCORRETA. Reação alérgica não tem carrapatos. A febre, periódica, costuma acompa-
esse padrão, geralmente é uma hiperemia difusa nhar cefaleia, tosse seca, fotofobia, perda de peso
e pruriginosa. e artralgia.
Alternativa C: INCORRETA. Na dengue as alterações Alternativa B: INCORRETA. O vetor de transmissão
cutâneas são máculo-papulares. O início da erupção do vírus da Febre Amarela é o mosquito, do gêne-
maculopapulosa se dá no tronco, podendo espalhar- ro Haemagogus, em ambiente silvestre, ou Aedes
-se para as extremidades ou para a face. Erupção
411
Doenças transmitidas por carrapato Infectologia
aegypti em meio urbano. A transmissão da Peste assintomático, porém o paciente deve ficar obser-
bubônica se dá pela picada de pulgas. vando caso sintomas como rash, febre ou artralgia
Alternativa C: INCORRETA. A febre recorrente é trans- apareçam. A terapia é feita com antibiótico oral ou
mitida por carrapatos, mas, conforme Alternativa endovenoso, dependendo do estágio da doença,
B, a Febre Amarela é transmitida pela picada de sedo a doxiciclina é escolha de primeira linha.
mosquitos. ✔ resposta: B
Alternativa D: INCORRETA. Conforme Alternativa B, a
Peste bubônica não é transmitida por carrapatos,
Questão 6 dificuldade:
mas sim pela picada pulgas.
Alternativa E: INCORRETA. Conforme Alternativa B, Y Dica do professor: As rickettsioses são zoonoses
a Febre Amarela não é transmitida por carrapatos. de distribuição cosmopolita, de impacto significativo
sobre a saúde pública e sobre as atividades econô-
✔ resposta: A
micas por atingirem a saúde dos animais domés-
ticos, favorecendo a extensão cíclica da cadeia de
Questão 3 dificuldade: infecção. A febre maculosa brasileira (FMB) é uma
doença infecciosa febril aguda, de apresentação
Y Dica do professor: A Doença de Lyme é uma zoono- clínica e gravidade variável, causada pela Rickettsia
se causada por espiroquetas do complexo Borrelia rickettsii, cocobacilo Gram-negativo com tropismo
burgdorferi transmitida pela picada de carrapatos para células endoteliais. É adquirida pela picada do
do grupo Ixodes ricinus, caracterizada por pequena carrapato infectado com Rickettsia.
lesão cutânea, expansiva, única ou mútipla, do tipo
mácula ou pápula de coloracão avermelhada no local ✔ resposta: E
em que o carrapato sugou o sangue, denominada de
eritema crônico migratório (EM). Não é transmitida
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Questão 7 dificuldade:
por larva de mosquito. Podemos ter acometimento
do SNC, apesar de ser raro esse evento. E o eritema Y Dica do professor: Questão sobre as manifestações
migrans clássico achado dermatológico da doença cutâneas das doenças transmitidas por carrapatos.
não acomete todos os pacientes com a doença. Como principal manifestação temos uma pequena
lesão cutânea, expansiva, única ou múltipla, do tipo
✔ resposta: B
mácula ou pápula de coloração avermelhada no local
em que o carrapato sugou o sangue, denominada
Questão 4 dificuldade: de eritema crônico migratório (EM).
É um importante marcador clínico para a suspeita
Y Dica do professor: A Borrelia burgdorferi é uma
diagnóstica e alerta à vigilância epidemiológica. À
espiroqueta identificada em 1982 pelo Dr. Willy Bur-
medida que a área de rubor se expande até 15cm a
godorfer. A Borrelia sp., junto com as leptospiras
lesão assume característica anelar, quente e rara-
e o treponema, pertence às espiroquetas. É uma
mente dolorosa.
bactéria gram-negativa.
resposta: E
resposta: A
✔
✔
Questão 5 dificuldade:
412
Capítulo
SÍFILIS E OUTRAS ISTS
16
importância/prevalência
u A notificação da sífilis adquirida sexualmente vem aumentando de forma explosiva no Brasil, desde sua
implementação, em 2010, em todas as categorias de exposição.
u É uma das principais ISTs no mundo e apresenta um grande desafio em saúde pública global. Não existe
vacina, e nem profilaxia pré ou pós-exposição. Ter a infecção 1 vez não confere imunidade duradoura, o
que também dificulta o seu controle.
u Didaticamente, a sífilis é dividida em fases (primária, secundária, secundária latente precoce, secundária
latente tardia e terciária), com características bem claras e especificas para cada uma.
u É importante lembrar de solicitar exames de outras ISTs na ocasião do diagnóstico da sífilis, especialmente
a sorologia anti-HIV, e também orientar sobre uso de preservativos, reconhecer vulnerabilidades e até ofe-
recer PrEP (prevenção para o HIV), dependendo do cenário de exposição e do risco de aquisição ao HIV.
u A punção liquórica para a investigação de neurossífilis deve ser realizada em algumas situações clássicas:
presença de sintomas neurológicos ou oftalmológicos; sífilis terciária ativa; ou após falha ao tratamento
clínico descartando a reexposição sexual. Em pacientes HIV+, a punção é realizada também em assintomá-
ticos se a contagem de células T CD4+ for <350 ou se VDRL for >1/32. Isso é bastante cobrado nos exames.
Os testes diagnósticos se dividem em treponêmicos e não treponêmicos, e a interpretação deles depende
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u
da fase em que o paciente se encontra. Atualmente, estão disponíveis testes rápidos treponêmicos em
nosso país para condutas em situações de emergência.
u O tratamento é feito com derivados de penicilina, sendo os tratamentos alternativos com menor eficácia
(doxiciclina) reservados para situações de contraindicação. A posologia e a via de administração dos
derivados de penicilina para o tratamento dependem da fase da doença em que o paciente está. Não há
resistência descrita do treponema aos derivados de penicilina.
u O controle de tratamento é realizado com queda padronizada dos títulos de VDRL, cujo teste se faz, geral-
mente, após 3 meses.
u Após o tratamento, o paciente deve ser acompanhado por até 1 ano com VDRL seriado para confirmar a cura,
ou retratar, se necessário. Nunca esquecer de avaliar a notificação e o tratamento das parcerias sexuais.
u Sífilis primária e secundária: queda de 2 títulos de VDRL após 6 meses de tratamento.
u Outras ISTs: donovanose, causada por bactéria Klebsiella granulomatis, com evolução progressiva e crônica,
que acomete pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais, podendo ocasionar lesões granu-
lomatosas e destrutivas, diagnóstico diferencial de úlcera dolorosa. No Brasil, tratamento via abordagem
sindrômica com doxiciclina por 3 semanas.
u Linfogranuloma venéreo: doença que cursa com adenomegalia importante nos genitais pela Chlamydia
trachomatis. Pode iniciar com lesão vesicobolhosa e evoluir para um adenomegalia inguinal importante
com fistulização (bulbões). Tratamento feito com doxiciclina.
u Uretrites por clamídia e gonococo: lembrar de a abordagem síndrômica cobrir sempre esses 2 agentes,
Não usar ciprofloxacino pelo aumento de resistência bacteriana (gono): nos esquemas empíricos, SEMPRE
utilizar cefrtriaxione + azitromicina.
413
Sífilis e outras ISTs Infectologia
u Cancro mole: Haemophilus ducreyi (bacilo gram-negativo) diferencial importante com linfogranuloma
pode iniciar com lesões vesículares que se agrupam em úlceras dolorosas e adenomegalias inguinais.
Tratamento feito com macrolídeos.
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DIA A DIA MÉDICO
sada pelo Treponema pallidum, uma espiroqueta
gram-negativa.
Na prática, o método do campo escuro é pouco utilizado
Morfologicamente, o Treponema pallidum é uma para o diagnóstico por causa de muitas limitações: o
espiral fina com espiras regulares e pontas afiladas, número de organismos presentes na amostra, habitual-
descrito na ilustração ao lado (Figura 1). mente não é o suficiente para sua detecção, a lesão pode
estar próxima da cura natural ou o paciente já pode ter
recebido um tratamento sistêmico ou tópico. Por isso,
Figura 1. Treponema pallidum. utilizar, quase na totalidade das vezes, o diagnóstico
baseado em testes sorológicos.
414
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
!!!!!!
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415
Sífilis e outras ISTs Infectologia
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do aumento dos casos de sífilis, se seria decorrente da
população HSH (homem que faz sexo com homem).
implementação, no Brasil, dessa ferramenta de prevenção
Dados importantes da epidemiologia e outros pontos do HIV. No entanto, não é verdade, já que esse crescente
chave da sífilis: vem ocorrendo desde muito antes do início dessa profi-
laxia. Além disso, o usuário de PrEP faz sorologias para
sífilis a cada 3 meses, o que é importante para o diagnós-
u 5 milhões de casos diagnosticados todos os anos.
tico precoce e a quebra na cadeia de transmissão. Outro
u Enfermidade sistêmica (pela disseminação he- aspecto importante: atente para o “nome” IST (infecção
matogênica). sexualmente transmitida), que é uma nova nomenclatura,
substituindo o antigo termo DST.
u Pode ter evolução crônica (SNC e cardiovascular).
u Agente facilitador: aumenta significativamen-
te o risco de contrair a infecção pelo vírus HIV,
uma vez que a entrada do vírus é facilitada pela
presença das lesões genitais. Portanto, deve-se 3. AGENTE ETIOLÓGICO E
aproveitar o momento do diagnóstico e realizar MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
screening para outras ISTs (HIV e hepatites virais).
u A presença do T. pallidum no organismo tam-
bém acelera a evolução da infecção pelo HIV 3.1. AGENTES ETIOLÓGICOS
para a AIDS. E QUADRO CLÍNICO
416
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
A lesão ulcerativa inicial (cancro duro) surge após cerca de u Etiologia: Treponema pallidum, espiroqueta de
30 horas. Durante esse período, pode ocorrer infestação alta patogenicidade.
de linfonodos locais, com disseminação subsequente. No
infiltrado da lesão foram encontrados, além de linfócitos
O reservatório do treponema é o homem não tra-
TCD4 e TCD8, monócitos ativados, macrófagos e células
dendríticas com receptores do HIV. A presença desses tado, por isso a importância do diagnóstico e do
receptores pode justificar o vínculo entre a infecção por tratamento precoce para quebrar a cadeia de trans-
sífilis e a transmissão do HIV. O desenvolvimento da missibilidade.
resposta imune humoral também acontece no início da
infecção, levando ao desenvolvimento de anticorpos que Modo de transmissão: na sífilis adquirida, é sexual.
podem ser detectados na fase inicial. O contágio extragenital é raro. A transmissão não
sexual da sífilis é excepcional, havendo poucos
casos por transfusões de sangue e por inoculação
acidental.
Micropoliadenopatia
Secundária
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Linfadenopatia generalizada
Sinais constitucionais
A sífilis é uma infecção de múltiplos estágios, e seu Classicamente, os estágios da sífilis não tratada são
curso não tratado consiste em fases sintomáticas divididos como: sífilis primária, sífilis secundária,
entremeadas por períodos assintomáticos (latên- sífilis latente (recente até 1 ano após exposição,
cia). A maior transmissibilidade ocorre nas fases e tardia com mais de 1 ano de evolução) e sífilis
primária e latente precoce. terciária.
417
Sífilis e outras ISTs Infectologia
Classificação
da sífilis
Adquirida
< 1 ano de evolução
recente
Tempo de infecção
Adquirida
> 1 ano de evolução
tardia
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Sífilis primária
Sífilis
secundária
Manifestações Recente (até 1 ano
clínicas de infecção)
Sífilis latente
Tardia (mais de 1
ano de infecção)
Sífilis terciária
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Sífilis e outras ISTs Cap. 16
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exantema morbiliforme não pruriginoso: a roséola. Anormalidade renais, gastrointestinais
Posteriormente, podem surgir lesões papulosas pal-
moplantares, placas mucosas, adenopatia generali-
zada, alopecia em clareira e os condilomas planos.
Guarde bem esse padrão de lesões nos pés e nas Achados neurológicos/oculares
mãos, SEMPRE se lembre de sífilis como diagnós-
tico diferencial! Fonte: Elaborado pelo autor.
419
Sífilis e outras ISTs Infectologia
e outras. As reações sorológicas são positivas. pela sífilis, nesse estágio, provoca destruição teci-
A sífilis tardia cutânea caracteriza-se por lesões dual. É comum o acometimento do sistema nervoso
gomosas e nodulares, de caráter destrutivo. Na e do sistema cardiovascular. Ademais, verifica-se
sífilis óssea, pode haver osteíte gomosa, perios- a formação de gomas sifilíticas (tumorações com
tite, osteíte esclerosante, artralgias, artrites, sino- tendência à liquefação) na pele, nas mucosas, nos
vites e nódulos justa-articulares. O quadro mais ossos ou em qualquer tecido. As lesões podem
frequente de comprometimento cardiovascular causar desfiguração, incapacidade e até morte.
é a aortite ifilítica (determinando insuficiência
Importante: Não confunda sífilis terciária com neu-
aórtica), o aneurisma e a estenose de coronárias.
rossífilis; esta pode aparecer em qualquer fase da
infecção pelo treponema. O comprometimento
3.2. ACOMETIMENTO DO SNC sintomático do SNC geralmente ocorre nos está-
gios tardios.
Lembretes de assuntos relacionados a sífilis que já
BASES DA MEDICINA
apareceram em provas:
O envolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) pode u Sífilis ocular: a uveíte e a panuveíte posteriores
ocorrer durante qualquer estágio da sífilis, e anorma- são as mais comuns e apresentam-se com dimi-
lidades laboratoriais do LCR são comuns em pessoas
nuição da acuidade visual. Ocorre frequentemente
infectadas já nos estágios iniciais da doença, pois o T.
pallidum invade precocemente o SNC dentro de horas a acompanhada de meningite sifilítica.
dias após a inoculação. A neuroinvasão pode ser tran- u Pupila de Argyll-Robertson: São pupilas bilate-
sitória e não estão bem estabelecidos os preditores de ralmente pequenas que não respondem à luz;
sua persistência e do início de sinais e sintomas clínicos.
entretanto, se contraem normalmente para aco-
Dessa forma, pode haver neurossífilis junto com lesões
primárias ou secundárias. Isso é mais comum em pessoas modação e convergência; dilatam-se ao estímulo
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vivendo com HIV. midriático e não dilatam em resposta a estímu-
los dolorosos. É um dos sinais mais comuns de
tabes dorsalis.
A sífilis do sistema nervoso é assintomática ou
sintomática, com as seguintes formas: meningo-
3.3. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
vascular, meningite aguda, goma do cérebro ou da NAS FASES DA DOENÇA
medula, crise epileptiforme, atrofia do nervo óptico,
lesão do sétimo par, paralisia geral e tabes dorsalis.
u Cancro primário: cancro mole, herpes genital,
Didaticamente, é possível dividir em 2 fases:
linfogranuloma venéreo e donovanose.
u Neurossífilis precoce: pacientes com neurossífi- u Lesões cutâneas na sífilis secundária: farmaco-
lis precoce podem ter meningite assintomática; dermia, sarampo, rubéola, Ptiríase Rósea de Gil-
meningite sintomática; doença meningovascular bert, eritema polimorfo, hanseníase virchoviana.
(menos comum), isto é, meningite e derrame; per- u Sífilis tardia: na presença de lesões gomosas,
da da visão ou da adição, com ou sem meningite deve-se afastar tuberculose, leishmaniose.
concomitante. u Neurossífilis: aneurisma congênito, meningite
u Neurossífilis tardia: as formas mais comuns en- tuberculosa, tumor intracraniano, distúrbios psi-
volvem cérebro e medula espinhal (paresia geral quiátricos e emocionais. As manifestações neu-
e tabes dorsalis). rológicas são muito amplas (grande imitador).
Pode até mimetizar doença isquêmica vascular.
A sífilis terciária ocorre aproximadamente em 15%
a 25% das infecções não tratadas, após um período
variável de latência, podendo surgir entre 1 a 40 anos
depois do início da infecção. A inflamação causada
420
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
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Visualização direta Diagnóstico imediato. Não útil para lesões orais.
Microscopia de
das espiroquetas Permite notificação Exige técnico experiente para
campo escuro
no fluído da lesão. rápida do parceiro. realização do exame.
A queda adequada dos títulos é o indicativo de anticardiolipinas podem estar presentes em outras
sucesso do tratamento. Os testes não treponêmicos doenças. Sendo assim, é sempre importante que se
mais comumente utilizados no Brasil são o VDRL (do realize um teste treponêmico e um não treponêmico
inglês, Venereal Disease Research Laboratory), RPR para definição laboratorial do diagnóstico.
(do inglês, Rapid Plama Reagin) e USR (do inglês,
Os testes não treponêmicos tornam-se reagentes
Unheated-Serum Reagin). Resultados falso-reagen-
cerca de 1 a 3 semanas após o aparecimento do
tes, ainda que raros, podem ocorrer. Anticorpos
421
Sífilis e outras ISTs Infectologia
cancro duro. Se a infecção for detectada nas fases outras colagenoses; hepatite crônica. Observação:
tardias da doença, são esperados títulos baixos nessas situações, a titulação do VDRL é geralmente
nesses testes. Títulos baixos (<1:4) podem persistir baixa (menor que 1/16) e o teste treponêmico será
por meses ou anos. Pessoas com títulos baixos em sempre negativo.
testes não treponêmicos, sem registro de tratamento
Preste atenção, porque isso caiu muito nas questões
e sem data de infecção conhecida, são consideradas
de exames.
como portadoras de sífilis latente tardia, devendo ser
tratadas. As principais situações que podem gerar O quadro abaixo apresenta as possíveis interpre-
resultados falso-positivos não treponêmicos: lúpus tações e condutas frente ao resultado dos testes
eritematoso sistêmico; síndrome antifosfolipídica, imunológicos.
Meningite persistente
Neurossífilis assintomática recente
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Neurossífilis sintomática recente Neurossífilis sintomática tardia
Semanas-meses-anos Anos-décadas
O envolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) específico, todavia, pouco sensível no SNC. É impor-
pode ocorrer durante qualquer estágio da sífilis, e tante conhecer os critérios de punção liquórica:
anormalidades laboratoriais do LCR são comuns
em pessoas infectadas já nos estágios iniciais da u Na presença de sintomas neurológicos ou of-
doença. talmológicos.
422
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
O tratamento da neurossífilis tem indicações bem presença de sinais e sintomas de sífilis): gestantes,
amplas. Sempre que os testes treponêmicos forem vítimas de violência sexual, pessoas com chance
positivos no LCR (VDRL) ou houver manifestações de perda de seguimento (que não retornarão ao
neurológicas (descartados as outros diagnósticos serviço) e pessoas com sinais/sintomas de sífilis
diferenciais em SNC), ou pleicocitose liquórica (mais primária ou secundária.
de 20 células), deve-se tratar com penicilina cristalina
O fato da realização do tratamento com apenas 1
endovenosa (10-14d). Basta 1 desses critérios para
teste reagente para sífilis não exclui a necessidade
indicar o tratamento. No caso da impossibilidade
de realização dos testes não treponêmicos como
de utilizar a pencilina cristalina, podemos utilizar
monitoramento laboratorial (controle de cura).
cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona).
Fora desse cenário (de urgência), é importante
começar a realizar a testagem com testes treponê-
micos e não treponêmicos não rápidos, e esperar
5. TRATAMENTO
os resultados para indicar o tratamento adequado.
A seguir, aspectos fundamentais para o tratamento.
Devido ao cenário epidemiológico atual, recomen-
u Não há descrição de resistência a derivados de
da-se tratamento imediato, com benzilpenicilina
penicilina.
benzatina, após apenas um teste positivo para sífilis
(teste treponêmico ou teste não treponêmico) para As doses e opções de tratamento para as fases
as seguintes situações (independentemente da da sífilis:
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Fluxograma 3. Tratamento alternativo.
Penicilina G benzatina 2,4 milhões Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 14
de unidades, IM, dose única (1,2 milhão dias (contraindicado na gravidez)
UI em cada glúteo)
Fonte: UpToDate4.
423
Sífilis e outras ISTs Infectologia
Penicilina G benzatina 2,4 milhões de Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 4
unidades, IM, 1x/semana, por 3 semanas semanas (contraindicado na gravidez)
(1,2 milhão UI em cada glúteo).
Fonte: UptoDate4.
5.3. NEUROSSÍFILIS
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Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões de Ceftriaxona 2 g por dia, IV, por 10 a 14 dias
unidades, IV, 4/4h, por 10 a 14 dias
* Se possível, pacientes alérgicos à penicilina devem ser dessensibilizados e tratados com penicilina IV.
Fonte: UptoDate4.
424
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
é alérgico a penicilina. Essa medicação ainda é a u Agora, são disponibilizados testes rápidos tre-
melhor classe para tratar a sífilis. ponêmicos e, como já foi dito, em algumas si-
tuações, tratar somente com testes rápidos:
u Impossibilidade de prescrição de penicilinas e gestação, violência sexual ou chance de perda
derivados: doxiciclina e azitromicina. de seguimento.
u Evitar usar macrolídeos devido ao crescente au-
mento na resistência a essa classe. Depois da aplicação da penicilina, alguns pacientes
podem apresentar a Reação de Jarisch-Herxheimer.
u Sempre testar parceiro(as) e tratar para evitar a
Ela é caracterizada por um quadro febril após tra-
reinfecção.
tamento devido à lise dos treponemas pela droga,
u Colher sorologias para outras ISTs (sorologia liberando produtos tóxicos ou sensibilizados para
anti-HIV, especialmente). o hospedeiro.
u Queda de títulos de VDRL: monitorização da res-
É mais frequentemente descrita em associação ao
posta ao tratamento.
tratamento penicilínico, já que se trata da droga de
u Cair 2 títulos após 3 meses de tratamento; essa escolha, ainda que não seja exclusivo da penicilina.
queda nesses parâmetros é critério de resposta
terapêutica adequada. Trata-se essa reação com antitérmicos e tem evo-
lução benigna.
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Sífilis e outras ISTs Infectologia
Sífilis
Agente Métodos
Clinica Tratamento
etiológico diagnósticos
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Congênita
Adquirida Adquirida
Neurossífilis
recente tardia
Penicilina G cristalina 3 a
Penicilina G Penicilina G 4 milhões de unidades, IV,
benzatina 2,4 benzatina 2,4 4/4h, por 10 a 14 dias OU
milhões de milhões de unidades, penicilina G procaína 2,4
unidades, IM, IM, 1x/semana, milhões de unidades, IM,
dose única por 3 semanas diariamente + probene-
cide 500 mg, VO, 4x/
dia, por 10 a 14 dias
2ªop: doxiciclina
2ª op: doxiciclina
100 mg, VO, 2x/
100 mg, VO, 2x/ 2ªop: ceftriaxona 2 g por
dia, por
dia, por 4 semanas dia, IV, por 10 a 14 dias
14 dias
426
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
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Aproveitar o momento e vacinar para as ISTs como
hepatite B, A e HPV.
REFERÊNCIAS
Se houver parceiros(as), notificá-los, proceder à
testagem e tratamento para barrar a cadeia de
transmissão. 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em
Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção
Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Trans-
DIA A DIA MÉDICO missíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
2. Superintendência de Atenção Primária. [internet]. Guia de
Tem-se muita dificuldade na prática diária de convocar os Referencia Rápida. Doenças sexualmente transmissíveis.
parceiros para serem testados. Qualquer método utilizado Rio de Janeiro; 2013. [acesso em 29 nov 2022]. Dispo-
na comunicação das parcerias sexuais deve basear-se nivel em: http://subpav.org/download/prot/destaque/
nos princípios de confidencialidade, ausência de coerção, APS_DST_final_completo.pdf
proteção contra discriminação e legalidade da ação.
3. Marra CM. Neurosyphilis. Neuroinfectious Disease, v. 21,
n. 6, p. 1714-1728, 2015.
5.4. SEGUIMENTO 4. UptoDate. Clinical manifestations and treatment of syphilis
in nonpregnant adults [Internet]; c2022 [acesso em 29
nov 2022]. Disponível em: https://www.uptodate.com/
contents/image?imageKey=ID%2F50435&topicKey=I-
BASES DA MEDICINA D%2F7597&search=neurrossifilis&source=outline_link.
Título x Diluição
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Sífilis e outras ISTs Infectologia
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Sífilis e outras ISTs Cap. 16
QUESTÕES COMENTADAS
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cristalina 4 milhões UI a cada 4 horas.
⮦ Ceftriaxona e azitromicina; oferecer profilaxia
pré- exposição para o HIV; checar vacinas para ⮧ Como a titulação do VDRL é baixa, considera-se
hepatite B. cicatriz sorológica e o paciente deve ser investi-
gado para encefalopatia de Wernicke.
⮧ Ceftriaxona e azitromicina; oferecer profilaxia
pós-exposição para o HIV, checar vacinas para ⮨ A titulação do VDRL indica o diagnóstico de sífilis
hepatite A e B. latente tardia e o tratamento deve ser feito com
penicilina G benzatina 7,2 milhões UI.
⮨ Azitromicina e penicilina benzatina; oferecer pro-
filaxia pós-exposição para o HIV; checar vacinas ⮩ O VDRL não reagente no liquor exclui o diag-
para hepatite B nóstico de neurossífilis e o tratamento deve ser
feito com penicilina G benzatina 7,2 milhões UI.
⮩ Azitromicina e penicilina benzatina; oferecer pro-
filaxia pré-exposição para o HIV; checar vacinas
para hepatite A e B Questão 3
429
Sífilis e outras ISTs Infectologia
físico geral e neurológico normais. De acordo com VDRL positivo à diluição de 1:2 (VR: negativo), HB-
protocolos atuais a melhor conduta é: sAg negativo, anti-HBc negativo, anti-HCV nega-
tivo e anti-HIV negativo. Ao exame físico, ele não
⮦ Nenhuma terapêutica específica, já que não apre- apresenta nenhuma lesão genital ou extragenital.
senta sinais ou sintomas de sífilis e considerando Ela afirma que realizou tratamento com penicilina
que a titulação baixa representa cicatriz soroló- na última gestação há 4 anos (relata 2 injeções
gica, mesmo não relatando tratamento prévio. em cada nádega, em 3 aplicações). O médico che-
⮧ Tratar como sífilis na forma indeterminada, sem ca o prontuário da paciente e identifica o registro
necessidade de coleta de líquido cefalorraqui- da aplicação de 3 doses de penicilina benzatina (2
diano (LCR, com penicilina benzatina na dose 400 000 UI a cada dose) durante o último pré-natal.
total 7.200.000 UI. Diante do que foi exposto, qual a conduta correta?
⮨ Coleta obrigatória de LCR para confirmar neu-
⮦ Tratar a paciente com penicilina benzatina 2 400
rossífilis, considerando que os baixos títulos
000 UI, 1 vez por semana, por 3 semanas.
de VDRL demonstram infecção de longa data e
provável sífilis terciária. ⮧ Considerar como cicatriz sorológica devido à
comprovação do tratamento prévio com peni-
⮩ Tratar com penicilina cristalina por 14 dias, sem
cilina.
necessidade de coleta de LCR, evitando assim a
realização de procedimento invasivo desneces- ⮨ Solicitar um novo teste rápido para confirmar
sário, já que mesmo com LCR normal deve ser caso de sífilis.
tratado como neurossífilis. ⮨ Tratar a paciente com penicilina benzatina 2 400
000 UI em dose única.
Questão 4
Questão 6
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - RJ - 2021) Homem de 30
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anos, com história de promiscuidade sexual, apre- (REVALIDA - 2021) Um homem de 27 anos de idade,
senta corrimento uretral purulento, com colheita do homoafetivo, com atividade sexual ativa e passiva
material usando swab da uretra anterior. O Gram do com múltiplos parceiros, ocasionalmente sem uso
material apresenta sete polimorfonucleares/campo de preservativo, procura a Unidade Básica de Saúde
com aumento de 1.000x e ausência de germes. A com quadro arrastado de dor anorretal e tenesmo
cultura para gonococos e clamídia é negativa. So- retal, associado à descarga anal mucopio-sangui-
bre esse caso, é correto afirmar que o: nolenta, além de febre, calafrios, cefaleia, mal-es-
tar, mialgias e “íngua” à direita. Segundo informa,
⮦ diagnóstico de uretrite está estabelecido e deve- o quadro iniciou-se há cerca de 7 dias. Nega infec-
-se tratar com ceftriaxone e azitromicina ções sexualmente transmissíveis recentes, tendo
⮧ diagnóstico de uretrite ainda não está estabele- sua última relação sexual não protegida ocorrida 4
cido e a conduta é conservadora semanas antes. Nega ter observado qualquer lesão
⮨ tratamento usando norfloxacino é adequado ulcerada genital ou anal no período. Suas vacina-
⮩ tratamento usando doxiciclina é adequado ções estão em dia, mas nunca recebeu vacina con-
tra o HPV. Ao exame físico, o paciente se apresenta
em regular estado geral, febril, com presença de
Questão 5 adenopatia inguinal supurativa unilateral, à direi-
ta, dando saída a secreção purulenta por diversos
(REVALIDA - 2021) Uma paciente de 32 anos de idade
tratos fistulosos locais; os linfonodos são grandes,
vem ao retorno em sua médico de família para che-
localizados acima e abaixo do ligamento inguinal
car resultados de sorologias solicitadas na consulta
de Poupard, sendo recobertos por pele inflamada,
anterior. A paciente refere 2 gestações prévias, e
fina e fixa aos planos profundos. Anuscopia revela
nega atividade sexual há mais de 1 ano, após seu
a saída de secreção piossanguinolenta local, com
divórcio. Ao checar os exames, o médico identifica
430
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
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romyces cerevisiae.
⮩ Sarcoma de Kaposi anorretal; sorologia no san- Questão 9
gue com pesquisa anticorpos anti-HHV8. (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP - SP - 2021) Ho-
mem, 25 anos, com queixa de corrimento uretral há
Questão 7
duas semanas, sem outros sintomas. Refere quadro
semelhante há cinco anos, tratado com melhora.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FAMEMA – SP – 2021) Um paciente Exame físico: testículos e pênis normais à inspe-
do sexo masculino com 20 anos de idade procura uma ção. Saída de secreção pela uretra. No local onde
UBS apresentando teste rápido reagente para sífilis. o paciente está sendo atendido não há como fazer
Na ficha de atendimento observa-se que o exame fí- a coleta da secreção uretral. A conduta inicial é:
sico mostra a presença de úlcera genital associada a
adenomegalia inguinal bilateral. Considerando esse ⮦ prescrever Azitromicina.
caso clínico e baseando-se nas recomendações do ⮧ prescrever Ciprofloxacino.
Ministério da Saúde do Brasil, assinale a opção correta. ⮨ Prescrever Azitromicina e Ceftriaxone.
⮦ A descrição clínica é de um provável caso de ⮩ Encaminhar para coleta de secreção uretral.
sífilis secundária.
⮧ O tratamento só deve ser iniciado se o teste Questão 10
VDRL for reagente.
(USP – SP – 2021) O gráfico abaixo apresenta a evolução
⮨ O diagnóstico diferencial deve ser feito com dono-
da taxa de detecção de uma infecção sexualmente
vanose, herpes genital e linfogranuloma venéreo.
transmissível, no Brasil. Qual é o tratamento ade-
⮩ O antimicrobiano de escolha é a amoxilina as- quado a esta doença?
sociada ao ácido clavulânico.
431
Sífilis e outras ISTs Infectologia
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⮦ Aciclovir. benzatina intramuscular para tratar faringite, teve
⮧ Penicilina. dor no local da aplicação, sem lesões e com remis-
são espontânea. Nesse momento, qual é a conduta
⮨ Azitromicina
correta para esse paciente?
⮩ Podofilina.
⮦ Prescrever doxiciclina 100 mg, por via oral, de
12 em 12 horas por 15 dias e, após 3 meses,
Questão 11
realizar VDRL.
(REVALIDA – 2021) Um homem com 39 anos de idade, ⮧ Solicitar FTA-Abs e, se teste for positivo, pres-
previamente hígido, é atendido em centro de saúde crever doxiciclina 100 mg, por via oral, de 12 em
com lesão peniana, mal – estar e febre baixa há 5 12 horas por 30 dias.
dias. O paciente nega descarga uretral e nega lesões ⮨ Aplicar penicilina benzatina 2,4 milhões UI em
penianas prévias. Não tem parceira sexual estável, dose única, por via intramuscular, e solicitar VDRL
tendo relações sexuais desprotegidas com dife- nessa consulta.
rentes mulheres esporadicamente. Em seu exame
⮩ Solicitar VDRL e, se teste for positivo, prescre-
físico, apresenta temperatura axilar = 37,8°C e está
ver penicilina benzatina 2,4 milhões UI por via
corado, hidratado e anictérico. Há linfonodos axila-
intramuscular, 3 doses, com intervalos de 7 dias.
res, epitrocleares e inguinais palpáveis, pequenos,
broelásticos. Verica-se lesão ulcerada e úmida em
corpo peniano. O teste rápido para sílis realizado Questão 12
no momento da consulta foi positivo. Não há relato
de tratamento com antimicrobianos no último ano. (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2020)
Relata que, há cerca de 10 anos, ao tomar penicilina Homem, 45a, procurou a Unidade Básica de Saúde
432
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
com história de lesões em palmas das mãos há ⮨ Testes treponêmicos são testes que detectam
duas semanas. Fez uso de anti-histamínico, com anticorpos reativos a antígenos do T. pallidum,
subsequente piora das lesões. Exame físico (ANE- sendo os primeiros a se tornarem detectáveis,
XO A): É CORRETO AFIRMAR: sendo importantes na confirmação do diag-
nóstico
⮩ Em caso de alergia à penicilina, é uma boa opção
tratar com ceftriaxona
Questão 14
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resistência antimicrobiana do agente etiológico. é contraindicada.
⮨ Na gestação, a ceftriaxone IM ou EV na dose de
1 g/dia por 8-10 dias é a segunda opção terapêu-
Questão 13 tica no período gestacional.
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG – 2018) A sífilis voltou ⮩ Na gestação, recomenda-se que a paciente VDRL
a ser prevalente no Brasil nos últimos anos e, por + deve ser sempre tratada. O parceiro sexual pode
este motivo, é grande a preocupação dos obste- ficar isento do tratamento, apenas nos casos em
tras durante a assistência pré-natal com a possível que seu exame de VDRL seja negativo.
transmissão vertical. Em gestantes não tratadas ou ⮪ A sífilis com duração ignorada deve ser tratada
tratadas inadequadamente para a sífilis, a taxa de com esquema de 7.2 milhões unidades(UI), fra-
transmissão pode ser de até 80%, sendo, mais fre- cionado em 3 doses de 2.4 milhões UI de 7/7
quentemente, intraútero, apesar de também poder dias por 3 semanas consecutivas.
ocorrer na passagem do feto pelo canal do parto.
Em relação à sífilis, assinale a alternativa ERRADA:
Questão 15
⮦ A Reação de Jarisch-Herxheimer é definida como
um quadro autolimitado de exacerbação das le- (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SP – 2020) Considere a
sões cutâneas e que pode ocorrer após a início imagem abaixo. Esta imagem vista ao microscópio
do uso de penicilina, não sendo necessário des- foi obtida, mais provavelmente, de:
continuar o tratamento
⮧ A transmissão vertical é maior quando a gestan-
te tem sífilis primária ou secundária
433
Sífilis e outras ISTs Infectologia
⮦ Apenas a afirmativa I.
⮧ Apenas a afirmativa II.
⮨ Apenas a afirmativa III.
⮩ As afirmativas I e II.
⮪ As afirmativas I e III.
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2018) ⮦ Mais de 50% dos recém-nascidos infectados
Atualmente, os fármacos de escolha para o trata- por transmissão vertical apresentam infecção
mento da gonorreia são: assintomática ao nascimento.
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⮧ O protossifiloma caracteriza o secundarismo
⮦ Clindamicina e doxiciclina. sifilítico.
⮧ Clindamicina e ciprofloxacina. ⮨ A principal via de transmissão é a congênita.
⮨ Ciprofloxacina e tetraciclina. ⮩ O FTA-ABS é importante para seguimento dos
⮩ Doxiciclina e tetraciclina. pacientes pós-tratamento.
⮪ Ceftriaxona e azitromicina.
Questão 19
Questão 17
(INEP – 2021) Um homem com 39 anos de idade, pre-
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ – PR – 2018) viamente hígido, é atendido em centro de saúde com
A sífilis é uma infecção bacteriana sistêmica, trans- lesão peniana, mal-estar e febre baixa há 5 dias. O pa-
mitida predominantemente via sexual e possui ele- ciente nega descarga uretral e nega lesões penianas
vada morbidade e mortalidade quando transmitida prévias. Não tem parceira sexual estável, tendo rela-
verticalmente. Em relação aos testes treponêmicos, ções sexuais desprotegidas com diferentes mulheres
é CORRETO afirmar que: esporadicamente. Em seu exame físico, apresenta
temperatura axilar = 37,8°C e está corado, hidratado
I. Devem ser utilizados para confirmação diag- e anictérico. Há linfonodos axilares, epitrocleares e
nóstica da sífilis; inguinais palpáveis, pequenos, fibroelásticos. Verifica-
II. Devem ser utilizados para o seguimento pós- -se lesão ulcerada e úmida em corpo peniano. O teste
-tratamento da sífilis; rápido para sífilis realizado no momento da consulta
III. Em aproximadamente 85% dos casos, o teste foi positivo. Não há relato de tratamento com antimi-
permanece reagente durante toda a vida nas crobianos no último ano. Relata que, há cerca de 10
anos, ao tomar penicilina benzatina intramuscular
434
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
para tratar faringite, teve dor no local da aplicação, ⮪ Prescrever para a gestante eritromicina oral e
sem lesões e com remissão espontânea. Nesse mo- prescrever para o parceiro penicilina benzatina
mento, qual é a conduta correta para esse paciente? (2.400.000 UI) intramuscular em dose única.
Questão 20
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nicilina na infância. Ao exame, apresentava pressão
arterial de 100/60 mmHg, batimentos cardiofetais
de 130 bpm, altura uterina de 25 cm, períneo sem
lesões e colo uterino grosso, posterior e fechado.
Os exames de rotina estavam normais, exceto o
VDRL, com resultado de 1:64. Qual a conduta mais
adequada nesse momento?
435
Sífilis e outras ISTs Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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considerar PrEP. tomas e situação de risco para contaminação que
Alternativa B: INCORRETA. Além da escolha da peni- determinará a fase.
cilina, que seria mais correta que o ceftriaxone, a Alternativa D: INCORRETA. A questão não apresenta
PEP só é indicada até 72 horas após a exposição. resultado de VDRL no líquor.
Alternativa C: INCORRETA. Mais uma vez, a PEP só é ✔ resposta: A
indicada até 72 horas após a exposição.
Alternativa D: CORRETA. Vide comentário.
Questão 3 dificuldade:
✔ resposta: D
Y Dica do professor: Ninja, paciente com VDRL po-
sitivo, mesmo que em baixos títulos, devemos as-
Questão 2 dificuldade: sumir a possibilidade de infecção por sífilis nesse
momento, ainda mais com segundo teste confirma-
Y Dica do professor: Diante de qualquer quadro de
tório positivo, visto que ela nega sintomas atuais
alteração aguda do estado mental, devemos fazer
ou prévios relacionados à sífilis, nega tratamento
uma avaliação completa tanto clínica quanto com
prévio e apresenta exame físico geral e neurológi-
exames complementares. No caso em questão,
co normais. Devemos assumir como sífilis na for-
temos um paciente com importante antecedente
ma indeterminada, sem necessidade de coleta de
de etilismo que pode por si só deflagrar diversas
líquido cefalorraquidiano, visto ausência de sinais
síndromes neurológicas, porém se nos atentarmos
neurológicos, com penicilina benzatina na dose
temos ao exame físico ausência de sinais caracte-
total 7.200.000 UI.
rísticos de doença hepática leaned a alteração do
estado mental. Entretanto, temos uma sorologia Alternativa A: INCORRETA. A terapêutica necessita ser
positiva para sífilis, ainda que em baixos títulos, que realizada visto a presença, nesse caso, de sorologia
pode ser o possível quadro nesse momento, estando positiva. Devemos lembrar que em alguns casos a
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Sífilis e outras ISTs Cap. 16
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fusa, com linfadenopatia regional. Podem ocorrer
Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma genitalium,
sintomas gerais, como febre, mal-estar, anorexia,
sendo uma opção de tratamento a doxiciclina 100
emagrecimento. Aqueles bubões que se tornarem
mg, por via oral, a cada 12 horas, durante 7 dias.
flutuantes podem ser aspirados com agulha cali-
✔ resposta: D brosa, não devendo ser incisados cirurgicamente.
✔ resposta: B
Questão 5 dificuldade:
437
Sífilis e outras ISTs Infectologia
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em média três semanas. país dos casos notificados dessa doença na forma
Alternativa C: CORRETA. Em gestantes, a taxa de trans- sexualmente adquirida e no componente neonatal.
missão vertical de sífilis para o feto pode chegar até O tratamento dessa doença é feito com derivados
80% intraútero. A infecção fetal é influenciada pelo da penicilina
estágio da doença em que a genitora se encontra, ✔ resposta: B
sendo maior nos estágios primário e secundário,
bem como pelo tempo em que o feto foi exposto.
Questão 11 dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. A suscetibilidade à infec-
ção é universal e os anticorpos produzidos em in- Y Dica do professor: Estamos diante de um paciente
fecções anteriores NÃO são protetores. O indivíduo com quadro de sílis primária. O teste rápido, que é
pode adquirir sífilis sempre que houver exposição considerado treponêmico, é positivo, corroborando o
ao T. pallidum. diagnóstico. Lembre-se de que esses testes podem
Alternativa E: CORRETA. Alternativa retirada integral- permanecer positivos por bastante tempo após a
mente do Guia de Vigilância em Saúde do Ministério cura de uma infecção prévia (cicatriz sorológica).
da Saúde: “A remissão espontânea da infecção é Entretanto, como não há história de tratamento de
improvável, mas o tratamento adequado dos casos síflis, a única explicação para um teste treponêmico
diagnosticados promove a remissão dos sintomas positivo é a infecção ativa, a princípio. De qualquer
em poucos dias. As lesões tardias já instaladas não forma, o Ministério da Saúde sempre recomenda a
serão revertidas com a antibioticoterapia”. realização de um teste não treponêmico (ex.: VDRL)
para confirrmação diagnóstica e, claro, para acom-
✔ resposta: D
panhamento terapêutico.
Por outro lado, a diretriz deixa bem claro também
que o tratamento deve ser iniciado de IMEDIATO em
438
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
algumas situações especícas, como, por exemplo, muito quando a gestante não é tratada ou é tratada
naquelas pessoas com sinais/sintomas de sílis inadequadamente.
primária (é o caso do paciente!) ou secundária. ✔ resposta: D
Como sabemos, o tratamento adequado para essa
fase da doença é a penicilina benzatina (o indivíduo
claramente não possui alergia a esse medicamento), Questão 14 dificuldade:
2,4M UI, dose única.
Y Dica do professor: Representa uma doença infeccio-
Para acompanhamento terapêutico (na população sa, sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos
geral), o VDRL deve ser solicitado a cada três meses de agudização e a períodos de latência. Na maior
até o 12º mês do acompanhamento. parte dos casos, é transmitida pela via sexual. Sua
✔ resposta: C evolução caracteriza-se por episódios sintomáticos
(doença ativa) interrompidos por períodos de latên-
cia. Apresenta fácil detecção, terapêutica simples,
Questão 12 dificuldade:
barata, e com alta eficácia. A contaminação duran-
Y Dica do professor: A questão apresenta uma lesão te a gestação implica em acometimento fetal, de
palmar sugestiva de sífilis secundária – que apre- gravidade preocupante.
senta lesões palmo-plantares paulo-erosivas, que Alternativa A: CORRETA. O tratamento da Sífilis Pri-
podem acometer o tronco também e vir associada mária, Secundária e latente recente(< 1 ano de evo-
com outros sintomas, como febre, mal estar, dor de lução) é feito preferencialmente com Penicilina G
garganta. Normalmente surgem 1 a 2 meses (4 a 8 benzatina 2,4 milhões UI, IM. Dose única. 1,2 milhões
semanas) após o desaparecimento do câncro duro. UI, IM, em cada glúteo.
O diagnóstico poderá ser feito a partir da anamnese Alternativa B: CORRETA. Caso o paciente seja alérgi-
e exame físico e a deverá ser tratada com penicilina co a penilicina a 1º opção terapêutica é Doxiciclina,
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benzatina 2.400.000 UI via IM. A titulação de anti- 100 mg 12/12h VO por 14 dias, exceto em gestantes
corpos será utilizada para controle de cura após 6 que será necessário desenssibilizá-la e administrar
meses e 1 ano. penicilina.
Alternativa A: INCORRETA. A titulação de anticorpos Alternativa C: CORRETA. Em caso de alergia e ou não
será utilizada como controle de cura após o trata- houver Penicilina, o Ceftriaxone 1-2 g diariamente
mento, além do próprio exame clínico. IM ou IV por 10-14 dias pode ser feito como esque-
Alternativa B: INCORRETA. A lesões da sífilis secun- ma alternativo para gestantes.
dária são ricas em Treponemas e ocorrem pela Alternativa D: INCORRETA. Se a gestante é diagnosti-
rápida resposta imune à disseminação do agente. cada com Sífilis, tofos os parceiros devem fazer a
Alternativa C: CORRETA. As lesões desaparecem sorologia e ser adequadamente tratados.
com o tratamento, sendo ele a Penicilina Benzatina Alternativa E: CORRETA. Nos casos de Sífilis laten-
2.400.000 UI IM dose única te tardia, latente de duração incerta ou Terciária o
Alternativa D: INCORRETA. A Penicilina continua sen- tratamento é feito com Penicilina G benzatina 2,4
do a terapia padrão ouro para sífilis. milhões UI cada, IM. Três doses com intervalo de
✔ resposta: C uma semana, totalizando 7,2 milhões UI cada, IM.
✔ resposta: D
Questão 13 dificuldade:
Questão 15 dificuldade:
Y Dica do professor: A letra D está errada, pois o
tratamento com ceftriaxona é considerado inade- Y Dica do professor: A sífilis é uma infecção sexual-
quado e a taxa de transmissão vertical aumenta mente transmissível (IST) e, eventualmente, trans-
mitida por via transplacentária (congênita), cujo
agente etiológico é o Treponema pallidum, uma
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Sífilis e outras ISTs Infectologia
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te foi um cancro duro localizado em região genital.
✔ resposta: A Questão 19 dificuldade:
440
Sífilis e outras ISTs Cap. 16
de tratamento imediato, assim como gestantes com droga, pois o tratamento com Penicilina G benza-
teste treponêmico rápido. tina é o único considerado adequado na gestação.
Alternativa C: CORRETA. A primeira escolha é penici- ✔ resposta: C
lina benzatina na dose de 2.400.000 UI dose única
para primária e secundária. Importante colher o
VDRL para monitorizar a sua queda durante o tra-
tamentoI (a cada 6 meses)
Alternativa D: INCORRETA. Podemos solicitar o VDRL
para a monitorização pós-tratamento, mas nesse
caso não é preciso esperar o resultado para começar
a penicilina. Além disso, não é essa a dose e não é
necessária a prescrição e nem repetir.
✔ resposta: C
Questão 20 dificuldade:
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zação e o tratamento com penicilina benzatina. Na
impossibilidade de realizar a dessensibilização du-
rante a gestação, a gestante deverá ser tratada com
ceftriaxona. No entanto, para fins de definição de
caso e abordagem terapêutica da sífilis congênita,
considera-se tratamento inadequado da mãe, e o
RN deverá ser avaliado clínica e laboratorialmente”.
Alternativa A: INCORRETA. Em caso de gestante, o
tratamento deve ser iniciado com apenas um tes-
te reagente, treponêmico ou não treponêmico, sem
aguardar o resultado do segundo teste.
Alternativa B: INCORRETA. O caso deve ser tratado
como sífilis latente com duração ignorada. Sífilis la-
tente tardia (mais de um ano de duração) ou latente
com duração ignorada e sífilis terciária devem ser
tratadas com Penicilina G benzatina, 2,4 milhões
UI, IM, (1,2 milhão UI em cada glúteo), semanal, por
três semanas. Dose total de 7,2 milhões UI.
Alternativa C: CORRETA.
Alternativas D e E: INCORRETAS. A dessensibilização
deve ser tentada antes do uso de qualquer outra
441
Fixe seus conhecimentos!
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442
INFECÇÃO POR VÍRUS Capítulo
RESPIRATÓRIOS 17
importância/prevalência
u Temos um grande universo de vírus respiratórios causando doenças com gravidade em grupos vulneráveis:
adenovírus, bocavírus, sincicial respiratório, parainfluenza. Classicamente, os vírus da família influenza e,
mais recentemente, os coronavírus causaram e ainda causam pandemias com grande morbidade.
u Neste capítulo, se discutirá sobre os vírus da família influenza e o SARS-CoV-2, que é o terceiro coronavírus
com potencial pandêmico, descoberto em 2019/20 (covid-19), depois do SARS-CoV e o MERS.
u O vírus influenza pode causar um espectro de doença, desde uma síndrome gripal até uma Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SRAG).
u Diferenciar síndrome gripal da síndrome respiratória aguda grave e saber da necessidade de sempre noti-
ficar a forma grave para a vigilância epidemiológica (SRAG).
u Saber realizar o manejo inicial dos casos, exames e condutas relacionadas a precauções respiratórias.
u Descrever as ferramentas utilizadas para o diagnóstico específico e quando devem solicitá-las.
u Saber que o tratamento específico é feito com o oseltamivir, com poucas outras opções. Pode ser iniciado
até o 5º dia de sintomas, mas, preferencialmente, nas primeiras 48 horas.
u Saber as indicações de tratamento e imunização, além dos grupos com maior risco de desenvolver formas
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graves.
u Covid-19 : Descrever o SARS-CoV-2 e a história recente desse novo coronavírus, além de seus mecanismos
de transmissão e as variações genéticas do mesmo.
u Saber o espectro de apresentações clínicas da covid-19 e os seus diagnósticos diferenciais.
u Conhecer os achados radiológicos do SARS-CoV-2, assim como as ferramentas para o diagnóstico (PCR/
testes antigênicos e sorologia).
u Saber os grupos com maior vulnerabilidade para evolução de formas graves da doença.
u Manejo inicial dos casos, entender sinais de gravidade e quais medicações podem modificar o curso
evolutivo da doença, entendendo que se está construindo o conhecimento científico sobre essa doença.
u Orientar medidas de prevenção, especialmente no atendimento de pacientes com casos suspeitos/con-
firmados dessa doença.
u Descrever as principais vacinas para covid-19 aprovadas em nosso país.
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Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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na origem das formas mais graves da doença. Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Habitualmente, em cada ano, circula mais de 1 tipo A gripe é quase sempre causada pelos vírus do grupo
de influenza concomitantemente (exemplo: influenza influenza, um vírus RNA da família Orthomyxoviridae.
A [H1N1], influenza A [H3N2] e influenza B). Existem 4 tipos de vírus influenza: A, B, C e D. Os
A vacinação é uma importante ferramenta para vírus A e B apresentam maior importância clínica.
reduzir os casos em nosso país e no mundo. Ela Estima-se que, em média, o tipo A cause 75% das
contém 3 cepas de vírus, sendo uma influenza infecções, mas, em algumas temporadas, ocorre
A H3N2, uma influenza A H1N1 e uma B como a predomínio do tipo B.
composição das cepas, variando de acordo com a Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são
circulação no mundo. responsáveis pelas epidemias sazonais e, também,
por doenças respiratórias com duração de 4 a 6
1.2. EPIDEMIOLOGIA E VIROLOGIA semanas. O vírus C raramente causa doença grave.
O vírus influenza D foi isolado nos Estados Unidos
em suínos e bovinos e não é conhecido por infectar
A influenza ocorre durante todo o ano, mas é mais
ou causar a doença em humanos.
frequente no outono e no inverno. Algumas pes-
soas, como idosos, crianças, gestantes e pessoas O genoma do vírus influenza é de natureza seg-
com alguma comorbidade, possuem risco maior mentada e seus subtipos são determinados por 2
de desenvolver complicações devido à influenza. glicoproteínas localizadas na superfície do envelope
Esses grupos são as populações mais vulneráveis. viral: a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). Até
o momento, já foram identificadas 16 glicoproteínas
A vacina é capaz de promover imunidade durante
H e 9 glicoproteínas N. Uma variante pode resultar
o período de maior circulação dos vírus influenza,
de um processo dentro de um mesmo subtipo ou
reduzindo o agravamento da doença.
444
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
Fluxograma. Prevenção.
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Mantenha o ambiente bem ventilado e as janelas abertas
445
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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de sintomas, embora entre crianças e imunossu- nhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos 1
primidos possa haver excreção mais prolongada. dos seguintes sintomas: cefaleia, mialgia ou artral-
gia, na ausência de outro diagnóstico específico.
446
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
As principais complicações das infecções por W Em pacientes com condições e fatores de ris-
influenza são a pneumomia bacteriana secundária, co para complicações e com SRAG, o antiviral
sinusite/otite, piora das doenças crônicas (asma, apresenta benefícios preferencialmente em 48
DM, ICC) e miocardite/ encefalite. horas (em até 5 dias).
2.1. DIAGNÓSTICO
2. S ÍNDROME RESPIRATÓRIA
AGUDA GRAVE Grande parte dos pacientes com influenza, em
especial adultos, não procuram auxílio médico, ou,
quando o fazem, não têm o diagnóstico confirmado.
Paciente que apresenta síndrome gripal, com as
seguintes complicações: Atualmente, com a possibilidade do uso de antivirais,
o diagnóstico precoce e de certeza é fundamental.
u Saturação de SpO2 <95% em ar ambiente. A confirmação laboratorial de influenza é importante
u Sinais de desconforto respiratório ou aumento da para medidas de controle da infecção e para otimizar
frequência respiratória, avaliada conforme a idade. o tratamento. Além disso, o diagnóstico específico
u Piora nas condições clínicas de doença de base. pode limitar o uso indiscriminado de antibióticos.
u Hipotensão em relação à pressão arterial habi- As amostras de secreção nasofaríngea, obtidas
tual do paciente. por swab ou aspirado nasal, devem ser obtidas
Ou também: preferencialmente durante as primeiras 72 horas
de doença, uma vez que a quantidade eliminada
u Indivíduo de qualquer idade com quadro de in-
de vírus diminui após este período. Comumente,
suficiência respiratória aguda, durante período
a recomendação da realização da coleta é de até
sazonal.
5 dias do início dos sintomas para a realização da
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O quadro clínico pode ser acompanhado de alte- imunofluorescência e de testes rápidos, e 7 dias
rações laboratoriais (alterações de série branca, para a técnica de reação em PCR. Pacientes imu-
alterações de enzimas musculares e hepáticas), nodeprimidos e crianças podem excretar vírus por
além de infiltrado pulmonar difuso ou área de con- períodos prolongados. Assim, tais exames podem
densação. identificar agentes virais por períodos maiores.
De notificação compulsória. O PCR é o método escolhido para o diagnóstico.
Este exame, que se vale da detecção do ácido ribo-
É importante conhecer as populações mais vulne-
nucleico viral, possibilita avaliar a existência de vírus
ráveis, já que elas têm mais chance de evolução
influenza A e estabelecer sua variante genética.
para o espectro de maior gravidade:
A PCR viral apresenta alta sensibilidade e especi-
u Adultos >60 anos, grávidas e puérperas até 2 ficidade, variando entre 60% a 95% e 52% a 99%,
semanas pós-parto, pneumopatias, nefropatias, respectivamente, para a detecção do influenza vírus.
hepatopatias, cardiovasculopatias. Todavia, um aspecto é imprescindível: PCR positivo
u DM, imunosupressão medicamentosa, HIV, neo- tardiamente não significa transmissiblidade.
plasias, obesidade (IMC >40), transtornos neu-
rológicos.
DIA A DIA MÉDICO
No manejo clínico, essas 2 condições são funda-
mentais:
Pelas normas técnicas brasileiras, somente realiza-se a
investigação do vírus em pacientes com síndrome res-
u Pacientes com SG e com condições/fatores de piratória aguda grave. Se esse exame for colhido depois
risco devem ser orientados para retornar se tive- de 7 dias do início dos sintomas, a sensibilidade é bem
rem sinais de agravamento. pequena para o diagnóstico.
447
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
u Indígenas aldeados.
3. TRATAMENTO u Menores de 19 anos em uso de ácido acetilsali-
cílico (risco de Síndrome de Reye).
Além dos sintomáticos e da hidratação, está indicado u Maioria dos pacientes com doenças crônicas
o uso do oseltamivir para os casos de síndrome (hipertensão não está na lista do MS), como
gripal com condições e fatores de risco para com- pneumopatias, doenças cardiovasculares, tu-
plicação, e na síndrome respiratória aguda grave. berculose, nefropatia, doenças hematológicas,
O tratamento reduz a duração de sintomas e a diabetes mellitus.
ocorrência de complicações. u Doenças neurológicas que aumentem o risco
Hoje o oseltamivir pode ser iniciado até 5 dias após de aspiração.
o início do quadro. u Imunossupressão (por droga ou por doença como
HIV, quimioterápico, anti-TNF alfa).
3.1. I NDICAÇÃO DO OSELTAMIVIR u Obesidade (especialmente IMC ≥40).
NA SÍNDROME GRIPAL Resumindo as indicações, só não vai receber osel-
tamivir o paciente com idade entre 6 e 59 anos, com
Além das indicações a seguir, o uso de antivirais quadro leve, sem nenhuma doença crônica (exclui-se
também está recomendado em SG com sinais de a hipertensão) e que não esteja grávida. Sempre
agravamento: prescrever para pacientes com SRAG (Síndrome
u Grávidas e puérperas até 2 semanas pós-parto. Respiratória Aguda Grave).
u Extremos de idade (<5 anos e ≥60 anos). u Posologia: oseltamivir 75 mg, VO, 12/12 h, por
5 dias.
Tabela 1. Tratamento, posologia e administração.
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Droga Faixa etária Posologia
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Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
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soas, abstendo-se de suas atividades de trabalho, radas do País, que monitoram a circulação do
estudo, sociais ou aglomerações e ambientes cole- vírus influenza através de casos de SG e SRAG.
tivos. Isso foi extensivamente discutido na atual
pandemia da covid-19.
4. CUIDADOS ESPECIAIS:
A vacina é uma excelente ferramenta para prevenção.
PRECAUÇÕES
As ações de imunização anuais, direcionadas espe-
cificamente aos grupos de maior vulnerabilidade e
com maior risco para desenvolver complicações, O paciente com suspeita de influenza deve estar
são fundamentais para o controle da doença. em isolamento de gotículas, em quarto privativo, e
É uma vacina de vírus inativado, então não há con- o profissional de saúde deve fazer uso de máscara
traindicação para imunossuprimidos. cirúrgica. Deve-se substituí-la após cada uso, fazer
a higienização das mãos, fazer uso de máscara
Deve ser administrada antes da exposição ao vírus cirúrgica no paciente no transporte, limitar proce-
e é capaz de promover imunidade durante o período dimentos em vias aéreas, manter distância de 1
de circulação sazonal do vírus influenza, reduzindo metro entre os leitos durante o uso do oseltamivir
o agravamento da doença. se estiver em enfermaria. O paciente deve se manter
A vacinação anual contra influenza para esses gru- em isolamento de gotículas por 7 dias após o início
pos-alvos definidos pelo Ministério da Saúde deve dos sintomas, ou 24 horas sem febre nem sintomas
ser feita, mesmo que já tenham recebido a vacina na respiratórios.
temporada anterior, pois se observa queda progres- Caso haja procedimento em vias aéreas – intubação,
siva na quantidade de anticorpos protetores. Esta sucção –, recomenda-se usar máscara N95, luvas
recomendação é válida mesmo quando a vacina e óculos de proteção.
indicada contém as mesmas cepas utilizadas na do
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Infecção por vírus respiratórios Infectologia
Profissionais de saúde com síndrome gripal devem fatores de risco que foram expostas a caso
ser afastados do trabalho até ficarem 24 horas suspeito ou confirmado no intervalo entre a
sem febre, ou por 7 dias em caso de contato com 1ª e a 2ª doses, ou com menos de 2 semanas
imunossupressor. após a segunda dose.
W Pessoas com graves deficiências imunológicas
4.1. QUIMIOPROFILAXIA (exemplos: pessoas que usam medicamentos
imunossupressores; pessoas com AIDS com
Os antivirais apresentam 70% a 90% de efetividade imunodepressão avançada) ou outros fatores
na prevenção da influenza e constituem ferramenta que possam interferir na resposta à vacinação
adjuvante da vacinação. Entretanto, a quimioprofi- contra a influenza, após contato com pessoa
laxia indiscriminada NÃO é recomendável, porque com infecção.
pode promover o aparecimento de resistência viral. W Profissionais de laboratório, não vacinados ou
vacinados há menos de 15 dias, que tenham
A quimioprofilaxia com antiviral não é recomendada
manipulado amostras clínicas de origem res-
se o período após a última exposição a uma pessoa
piratória que contenham o vírus influenza, sem
com infecção pelo vírus for maior que 48 horas.
uso adequado de EPI.
Para que a quimioprofilaxia seja efetiva, o antiviral W Trabalhadores de saúde, não vacinados ou va-
deve ser administrado durante a potencial exposição cinados há menos de 15 dias, e que estiveram
à pessoa com influenza e continuar por mais 7 dias envolvidos na realização de procedimentos
após a última exposição conhecida. invasivos geradores de aerossóis ou na ma-
nipulação de secreções de caso suspeito ou
u Indicações:
confirmado de influenza sem o uso adequa-
W Pessoas com risco elevado de complicações, do de EPI.
não vacinadas ou vacinadas há menos de 2
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W Residentes de alto risco em instituições fe-
semanas, após exposição a caso suspeito ou
chadas e hospitais de longa permanência,
confirmado de influenza.
durante surtos na instituição, deverão receber
W Crianças com menos de 9 anos de idade, pri- quimioprofilaxia, se tiverem comorbidades.
movacinadas, necessitam de 2ª dose da vacina
com intervalo de 1 mês para serem conside-
radas vacinadas. Aquelas com condições ou
450
Diagnóstico Clínico
Comprometimento
Gripe Quadro clinico Febre Dor de garganta Tosse Mialgia e cefaleia
sistêmico
Descompensação
Complicações Sinusite Pneumonias Miocardite
de comorbidades
Sintomáticos
Mapa mental 1. Gripe
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Cap. 17
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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5% e 10% dos casos. Sua letalidade varia, em geral, podem infectar pessoas e depois se espalhar entre
de acordo com a faixa etária e as condições clínicas seres humanos, como ocorre com o MERS-CoV e o
associadas. A doença se espalhou por quase todos SARS-CoV. A origem zoonótica ainda não foi total-
os continentes, passando de milhões de infectados mente esclarecida, contudo, muito provavelmente,
no mundo, e representa um enorme desafio para tem sua origem em morcegos. O SARS-CoV-2 é um
todos os países do mundo. vírus RNA de fita simples e bicamada lipídica, com
espículas (proteína S), que são cruciais na resposta
Em 20 de março de 2020, foi declarada a transmissão imune para esse vírus, sendo a base para estudos
comunitária da doença pelo coronavírus 2019 (covid- de vacina para covid-19.
19) em todo o território nacional. O Brasil já passou
de 500 mil óbitos relacionados desde essa data. Mais recentemente, foram reportadas mutações
associadas a esse domínio do vírus, com o surgi-
Após 1 ano do ínício da pandemia, já criaram-se mento de variantes geograficamente bem definidas
protocolos para atendimentos de formas leves/ no Reino Unido (B.1.1.7), na África do Sul (B.1.351) e
moderadas e graves, e também vacinas como ferra- no Brasil (P.1).A vigilância do impacto dessas varian-
mentas para o controle dessa doença e de várias já tes genéticas e aspectos relacionados à transmissão
disponíveis em nosso país. Nesse momento, não há e à evolução clínica precisam ser melhor entendidos.
nenhum tratamento específico antiviral comprovado, Estudos iniciais associam maior transmissibilidade
sendo a modulação da resposta inflamatória a única para essas variantes. Recentemente a OMS conven-
estratégia com evidência em estudos controlados e cionou a classificação dessas variantes a letras do
randomizados. Muitas drogas e intervenções foram alfabeto grego (alfa, beta, gama e delta e omicron).
propostas e repropostas desde o início da pandemia,
mas após a publicação de ensaios clínicos maiores
não conformaram benefício para a maioria delas.
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Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
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insuficiência respiratória, choque e disfunção de múltiplos
o vírus. Esses aerossóis contendo vírus podem
órgãos, sendo necessária atenção especial aos sinais e
ser inalados por outras pessoas que não estejam sintomas que indicam piora do quadro clínico que exijam
utilizando equipamentos de proteção apropriado. a hospitalização do paciente. A divisão da doença em fase
de viremia e fase inflamatória é importante para guiar as
O período de incubação é estimado entre 1 a 14
estratégias terapêuticas dessa doença.
dias, com mediana de 5 a 6 dias.
A transmissão da doença pode ocorrer diretamente,
pelo contato com pessoas infectadas, ou indire- Além do quadro clássico com sintomas respiratórios,
tamente pelo contato com superfícies ou objetos foram descritas manifestações gastrointestinais,
utilizados pela pessoa infectada. Evidências atuais dermatológicas e neurológicas associadas a essa
sugerem que a maioria das transmissões ocorre de doença. Perda do olfato e do paladar também foram
pessoas sintomáticas para outras, e no ambiente relatados como achados sugestivos especialmente
hospitalar quando os equipamentos de proteção relacionados a infecções por algumas variantes.
individual (EPI) não são utilizados adequadamente.
Quadro 1. Gravidade na covid-19.
Pode ocorrer a transmissão durante o período de
incubação, geralmente 1 a 3 dias antes do início Leves/moderados sem pneumonia
80%
ou pneumonia leve
dos sintomas (transmissão pré-sintomática). Há
alguma evidência de que a disseminação a partir Formas graves (FR >30, PaO2/FiO2 <300, Sat
15%
de portadores assintomáticos é possível, embora <93%) ou >50% acometimento radiológico)
se pense que a transmissão seja maior quando as
Críticos (dependência de VM), choque,
pessoas são sintomáticas. Após 10 dias de doença 5%
insuficiência de múltiplos orgãos
sintomática com covid, se houver melhora clínica
Fonte: Elaborado pelo autor.
e o paciente estiver afebril por 24 horas, pode se
453
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
Geralmente, o paciente com covid-19 apresenta No quadro a seguir estão dispostos os sinais e
quadro de Síndrome Gripal (SG), podendo evoluir sintomas por classificação (leve, moderada e grave).
para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
dos sinais e
Leve Moderado Grave
sintomas por
grupo
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– Fadiga fator de risco – Alteração da consciência
Crianças
– Cefaleia – Desidratação
– Lesão miocárdica
– Elevação de enzimas hepáticas
– Disfunção da coagulação
rabdomiólise
– Qualquer outra manifestação de
lesão em órgãos vitais
Os fatores de risco a serem considerados para pos- melanótico de pele); algumas doenças hematoló-
síveis complicações da covid-19 são: idade igual ou gicas (incluindo anemia falciforme e talassemia);
superior a 60 anos; tabagismo; obesidade; miocar- gestação.
diopatias de diferentes etiologias (insuficiência car-
Em 2022 , além desses fatores de risco, pessoas
díaca, miocardiopatia isquêmica etc.); hipertensão
sem esquema vacinal completa estão entre as
arterial; pneumopatias graves ou descompensadas
populações com risco de evolução para formas
(asma moderada/grave, DPOC); imunodepressão
graves da doença.
e imunossupressão; doenças renais crônicas em
estágio avançado (graus 3, 4 e 5); diabetes mellitus;
doenças cromossômicas com estado de fragilidade
imunológica; neoplasia maligna (exceto câncer não
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Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
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São aqueles que necessitam de internação hospi- 5.8. DIAGNÓSTICO
talar para observação e acompanhamento clínico,
porém não preenchem critérios de gravidade para O quadro clínico inicial da doença é caracterizado
internação em UTI: os pacientes não têm disfun- como síndrome gripal. O diagnóstico pode ser feito
ções orgânicas ou instabilidade hemodinâmica e por investigação clínico-epidemiológica, anamnese
não estão necessitando de ventilação mecânica e exame físico adequado ao paciente, caso este
ou outros procedimentos de cuidado intensivo. Em apresente sinais e sintomas característicos da
geral, são pessoas com alguma condição prévia que covid-19. Deve-se considerar o histórico de contato
os coloca em grupo de risco, cuja hospitalização é próximo ou domiciliar nos 14 dias anteriores ao
recomendável até a estabilização clínica (ausência aparecimento dos sinais e sintomas com pessoas
de febre e dispneia por pelo menos 48 horas) e a já confirmadas para covid-19.
melhora dos parâmetros laboratoriais.
Também se deve suspeitar de casos clínicos típicos
sem vínculo epidemiológico claramente identificá-
5.7. CASOS GRAVES vel. Essas informações devem ser registradas no
prontuário do paciente para eventual investigação
Terapia e monitoramento precoces. epidemiológica. As características clínicas não são
u Administrar oxigenoterapia suplementar imedia- específicas e podem ser similares àquelas causadas
tamente a pacientes com dificuldade respiratória, por outros vírus respiratórios, que também ocorrem
hipoxemia ou choque com alvo em SpO2 92 a 96%. sob a forma de surtos e, eventualmente, circulam ao
mesmo tempo, tais como influenza, parainfluenza,
W Adultos com sinais de emergência (obstrução
rinovírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus,
ou ausência de respiração, desconforto respi-
outros coronavírus, entre outros.
ratório grave, cianose central, choque, coma ou
convulsões) devem receber manejo das vias
455
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
Alguns achados laboratoriais inespecíficos são u A acurácia dos testes sorológicos varia, depen-
importantes, como: linfopenia, plaquetopenia, ele- dendo da metodologia, do antígeno empregado
vação de transaminases, DHL e PCR altos. D-dímero e do momento da coleta (idealmente após o 10º
muito elevado pode, em alguns cenários, ser uma dia para IgM, IgA e anticorpos totais e após o 15º
“pista” para eventos trombóticos. dia para IgG). Testes rápidos têm menor sensibi-
lidade para o diagnóstico.
O diagnóstico laboratorial pode ser realizado tanto
por testes de biologia molecular (RT-qPCR) como u Testes sorológicos para SARS-CoV-2 podem ser
pelos testes imunológicos (sorologia), mais comu- usados como exame complementar para diagnós-
mente usados, incluindo ELISA, imunofluorescência tico de infecção prévia ou recente por covid-19,
direta e indireta, quimioluminescência e imunocro- especialmente quando a infecção viral está em
matográficos (testes rápidos). via aérea baixa e o RT-PCR pode ser negativo em
secreção de oronasorofaringe.
A biologia molecular RT-PCR em tempo real
u Testes sorológicos para SARS-CoV-2 também po-
(RT-qPCR) permite identificar a presença do vírus
dem ser indicados para estudos populacionais;
SARS-CoV-2 em amostras coletadas da nasofaringe
todavia, deve-se ter atenção quanto à validação e
até o 8º dia de início dos sintomas. A amostra deve
à acurácia dos testes utilizados, bem como à se-
ser coletada, de preferência, entre o 3º e o 7º dias do
leção da amostra e a interpretação de resultados.
início dos sintomas. Tem por objetivo diagnosticar
casos graves internados e casos leves em unidades
Com relação à imagem, alguns achados topográfi-
sentinela para monitoramento da epidemia. Ele é
cos que são compatíveis com caso de covid-19: a
o teste laboratorial de escolha para o diagnóstico
OPACIDADE EM VIDRO FOSCO periférico, bilateral,
de pacientes sintomáticos na fase aguda (entre o
com ou sem consolidação ou linhas intralobulares
3º e 7º dias da doença, preferencialmente). Agora
visíveis (“pavimentação”); a OPACIDADE EM VIDRO
também estão disponíveis, testes antigênicos rápi-
FOSCO multifocal de morfologia arredondada com
dos, como ferramentas complementares para o
ou sem consolidação ou linhas intralobulares visí-
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diagnóstico nessa fase da doença, que também
veis (“pavimentação”); SINAL DE HALO REVERSO
devem respeitar a mesma janela do PCR.
ou outros achados de pneumonia em organização
Os testes sorológicos medem a produção de anticor- (observados posteriormente na doença).
pos do hospedeiro para um vírus específico durante
uma infecção de fase aguda e é consistente na
Figura 1. Padrões radiológicos na covid-19.
maioria dos pacientes, exceto naqueles com imuno-
deficiência. Após a infecção, seu antígeno estimula
o sistema imunológico a produzir uma resposta
imunológica, e os anticorpos correspondentes são
detectados no sangue de pacientes sintomáticos
e assintomáticos. Entre eles, o SARS-CoV-2 IgM
aparece ligeiramente mais cedo que o SARS-CoV-2
IgG, podendo ser detectada sua presença após 3 a
5 dias do início dos sintomas. Em seguida, as titu-
lações do anticorpo SARS-CoV-2 IgM diminuem e
a produção do anticorpo SARS-CoV-2 IgG aumenta
rapidamente. Alguns aspectos importantes dos
testes sorológicos:
456
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
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A associação da hidroxicloroquina com o antibiótico entanto, ainda não há comprovação de eficácia in
azitromicina foi descrita em estudos observacio- vivo, isto é, em seres humanos. Muitos dos medica-
nais e não trouxe benefícios clínicos. Outrossim, mentos que demonstraram ação antiviral in vitro (no
os 2 medicamentos estão associados ao prolon- laboratório) não tiveram o mesmo benefício in vivo
gamento do intervalo QTc no eletrocardiograma, (em seres humanos). Só estudos clínicos permitirão
o que predispõe à arritmia cardíaca. O uso combi- definir seu benefício e sua segurança na covid-19.
nado pode potencializar esse efeito adverso, com
eventual desfecho clínico fatal, principalmente em
pacientes com doenças cardíacas, posto que a 5.14. TOCILIZUMABE
própria infecção pela covid-19 pode causar dano ao
órgão. Também se deve levar em consideração que O uso do imunomodulador tocilizumabe foi descrito
antibióticos não têm indicação em infecções virais; em séries de casos e estudos observacionais de
seu uso indiscriminado e inadequado favorece a pacientes com covid-19, com alguns resultados
resistência bacteriana. O potencial benefício clínico positivos. Até o momento, não há dados de ensaios
do efeito anti-inflamatório ou imunomodulador da clínicos randomizados com grupo controle que
azitromicina em pacientes com covid-19 ainda está comprovem seu benefício e sua segurança. Os ini-
por ser comprovado. bidores da cascata inflamatória como bloqueadores
da JAK-1/2 são drogas que podem ser promissoras
para o tratamento.
5.11. CORTICOIDES
457
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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cia Nacional (ESPIN), o Ministério da Saúde (MS) u Higienização das mãos: é a medida isolada mais
tem estabelecido sistematicamente medidas para efetiva na redução da disseminação de doen-
resposta e enfrentamento da covid-19, revisadas ças de transmissão respiratória. As evidências
sistematicamente, de acordo com os cenários e atuais indicam que o vírus causador da covid-19
os indicadores epidemiológicos. é transmitido por meio de gotículas respirató-
Entre as medidas indicadas pelo MS, estão as não rias ou por contato. A transmissão por contato
farmacológicas, como distanciamento social, eti- ocorre quando as mãos contaminadas tocam a
queta respiratória e de higienização das mãos, uso mucosa da boca, do nariz ou dos olhos. O vírus
de máscaras, limpeza e desinfeção de ambientes também pode ser transferido de uma superfície
e isolamento de casos suspeitos e confirmados para outra por meio das mãos contaminadas, o
conforme orientações médicas. Essas medidas que facilita a transmissão por contato indireto.
devem ser utilizadas de forma integrada, a fim de Consequentemente, a higienização das mãos é
controlar a transmissão da covid-19, permitindo, extremamente importante para evitar a dissemi-
também, a retomada gradual das atividades desen- nação do vírus causador da covid-19.
volvidas pelos vários setores e o retorno seguro do u Uso de máscaras: segundo a Organização Mun-
convívio social. dial da Saúde, o uso de máscaras faz parte de
um conjunto de medidas que devem ser adota-
u Distanciamento social: limitar o contato próximo das de forma integrada para prevenção, contro-
entre pessoas infectadas e outras pessoas é im- le e mitigação da transmissão de determinadas
portante para reduzir as chances de transmissão doenças respiratórias virais, incluindo a covid-19.
do SARS-CoV-2. Principalmente durante a pan- As máscaras podem ser usadas para a proteção
demia, devem ser adotados procedimentos que de pessoas saudáveis (quando em contato com
permitam reduzir a interação entre as pessoas, alguém infectado) ou para controle da fonte (quan-
458
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
do usadas por alguém infectado para prevenir No Brasil, aprovou-se, para uso emergencial, pela
transmissão subsequente). Entretanto, o uso de ANVISA, 4 vacinas. Uma delas é baseada em vírus
máscaras deve ser feito de maneira complemen- inativado (Coronavac, em parceira com laboratório
tar com outras medidas nos âmbitos individual Sinovac e Instituto Butantã) cujo estudo de fase 3
e comunitário, como a higienização das mãos, foi conduzido com profissionais de saúde com boa
o distanciamento social, a etiqueta respiratória eficácia e segurança. Entre elas também se inclui
e outras medidas de prevenção. a vacina de adenovírus (dose única) do laboratório
Jansen. Provavelmente vão ser necessárias doses
O uso universal de máscaras em serviços de saúde adicionais especialmente para algumas populações
deve ser uma exigência para todos os trabalhadores (idosos e imunosuprimidos)
da saúde e por qualquer pessoa dentro de unida-
O outra vacina também aprovada provisoriamente
des de saúde, independentemente das atividades
foi a baseada em vetor de adenovirus através dos
realizadas. Todos os trabalhadores da saúde e
dados de 4 ensaios clínicos em andamento em 3
cuidadores que atuam em áreas clínicas devem
países: Reino Unido, Brasil e África do Sul, no período
utilizar máscaras cirúrgicas de modo contínuo
de abril a novembro de 2020. Segue, abaixo, tabela
durante toda a atividade de rotina. Em locais de
com as principais vacinas em desenvolvimento.
assistência a pacientes com covid-19, em que são
realizados procedimentos geradores de aerossóis, Os estudos de vida real têm mostrado que as prin-
recomenda-se que os profissionais da saúde usem cipais tecnologias de vacinas disponíveis em nosso
máscaras de proteção respiratória (padrão N95 ou país tem proteção acima de 80% para as formas gra-
PFF2 ou PFF3, ou equivalente), bem como demais ves da doença/hospitalização e óbito. Uma pequena
equipamentos de proteção individual. frequência de eventos adversos graves estão des-
critos (quadros de trombose com trombocitopenia,
Após projeções mais tardias para imunização, desde
miocardite, síndrome de GB).
dezembro de 2020, foi aprovado o uso de vacinas,
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e várias tecnologias já foram liberadas para uso O grande desafio global, nesse momento, é a expan-
emergencial. Duas plataformas se destacaram: são rápida da cobertura vacinal, especialmente
a imunização baseada em mRNA e com vetor de após resultados promissores sobre efetividade em
adenovírus que caminharam para fase 3 e foram observações epidemiológicas em Israel nas quais
aprovadas pela primeira vez na história da medicina, se observou substancial redução no número de
com boa eficácia e segurança. internações e casos graves/óbitos após campanhas
iniciais de imunização.
A indústria farmacêutica Pfizer, em parceria com o
laboratório BioNTech, em dezembro de 2020, publi-
cou estudo fase 2/3 que validou o uso emergencial
da vacina de mRNA contra a covid-19. Essa vacina
também já está disponível no Brasil. Os intervalos de
administração foram modificados para 12 semanas.
459
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
Efeitos
Tecnologia Laboratório Eficácia Doses Situação no Brasil
adversos
2 doses
Mialgia, artralgia Sem previsão
Moderna RNAm Moderna 94,1% (intervalo
e cefaleia de uso
de 21 dias)
Pedido para
Vírus atenuado Gamaleya 2 doses Sintomas gripais, realização do
Sputinik (adenovírus NRCEM 91,6% (intervalo cefaleia, astenia, estudo de fase 3 no
humano) (Rússia) de 21 dias) dor local Brasil em análise
pela ANVISA
66% casos
Dor no local da
Johnson & moderados a
Janssen Vírus atenuado Dose única injeção, fadiga, Já em uso.
Johnson graves / 85%
cefaleia e mialgia
casos graves
Aprovado uso
Coronavac 2 doses Dor e edema no
Sinovac emergencial
/Instituto Vírus inativado 50,38% (intervalo local da injeção,
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(China) pela ANVISA, já
Butantan de 21 dias) fadiga e cefaleia
em aplicação
Fonte: Ministério da Saúde².
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
460
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
QUESTÕES COMENTADAS
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o aleitamento materno. respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Assinale
⮩ Separar mãe do RN por 14 dias e oferecer leite a alternativa que contém a terapêutica recomen-
materno ordenhado. dada de rotina de acordo com as Diretrizes para o
tratamento farmacológico da covid-19 (Consenso
da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da
Questão 2
Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade
(HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE - 2021) Nesse momento vi- Brasileira de Pneumologia e Tisiologia):
vemos uma das maiores pandemias já registrada na
⮦ Hidroxicloroquina ou cloroquina + azitromicina,
humanidade. Durante o ano algumas intervenções
corticosteróides sistêmicos e anticoagulante
demonstram-se eficazes em reduzir a mortalidade
profilático.
pela covid-19 nos casos graves. Qual dessas medi-
das foi a que apresentou o maior impacto? ⮧ Azitromicina, corticosteróides sistêmicos e an-
ticoagulante em dose terapêutica.
⮦ Azitromicina. ⮨ Oseltamivir, hidroxicloroquina ou cloroquina +
⮧ Dexametasona. azitromicina, corticosteróides sistêmicos e an-
⮨ Redemsivir. ticoagulante profilático.
⮩ Colchicina. ⮩ Ivermectina, oseltamivir, hidroxicloroquina ou
cloroquina + azitromicina, corticosteróides sis-
têmicos e anticoagulante em dose terapêutica.
Questão 3
⮪ Anticoagulante profilático apenas.
(INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA - RJ - 2021) Uma mulher
de 55 anos de idade procura o setor de emergên-
cia com quadro de febre, tosse seca e dispneia
461
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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com covid e ela gostaria de orientações. O exame ção coletada por swab nasofaringe.
físico está sem alterações, SO2: 98%, e ela não pos-
sui nenhum problema de saúde. De acordo com a
Questão 7
recomendação do Ministério da Saúde, qual seria
a sua conduta no momento? (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – 2018) Dentre as alterna-
tivas abaixo, qual está correta sobre epidemiologia
⮦ Solicitar imediatamente PCR para covid, orientar
e controle da influenza?
isolamento domiciliar durante 10 a 14 dias, ofe-
recer um atestado para o trabalho e introduzir ⮦ A maioria das epidemias que ocorreram no Bra-
invermectina. sil foi causada pelos vírus B.
⮧ Dizer que trata-se provavelmente de um resfriado ⮧ O Programa Nacional de Imunizações utiliza
comum e que ela pode trabalhar normalmente. vacinas contendo dois subtipos do vírus A e um
Orientar retorno caso apareçam sinais de alarme. do vírus B.
⮨ Dizer que trata-se de um caso suspeito de covid, ⮨ A doença pelo vírus B em crianças é mais grave
marcar coleta de PCR a partir do terceiro dia de que a causada pelo vírus A.
sintoma, orientar isolamento domiciliar, sinais
⮩ É frequente a transmissão de vírus influenza de
de alarme e realizar monitoramento telefônico.
outras espécies animais aos humanos.
⮩ Dizer que trata-se de caso suspeito de covid,
solicitar sorologia a partir do terceiro dia de
sintoma, orientar isolamento domiciliar, sinais Questão 8
de alarme e garantir retorno próximo ao sexto
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – MG –
dia de sintoma.
2018) Em relação à gripe por influenza vírus, é cor-
reto afirmar:
462
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
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medicamentos utilizados para o tratamento dessa ⮦ Como é mais provável que a professora tenha
doença, é CORRETO afirmar que: infectado seu marido, seu período de transmis-
sibilidade está no fim.
⮦ O medicamento zanamivir é indicado como pri-
meira escolha nos casos comuns. ⮧ O fato de a professora ter sido infectada signi-
fica que ela não usou máscara durante toda a
⮧ O medicamento fosfato de oseltamivir está con-
sua jornada de trabalho.
traindicado para menores de sete anos.
⮨ Ao final dos 14 dias, o funcionário do clube deve
⮨ O medicamento zanamivir pode ser usado como
retornar ao trabalho, salvo se estiver internado.
profilaxia em menores de 5 anos.
⮩ Neste caso, descarta-se a covid-19 como doença
⮩ O medicamento fosfato de oseltamivir deve ser
relacionada ao trabalho, pois um infectou o outro.
utilizado durante cinco dias em adultos.
⮪ O fato de ser assintomática não significa que a
professora não transmita o vírus.
Questão 10
463
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
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Durante internação para compensação clínica, o nado em Unidade de Terapia Intensiva há dois dias,
paciente realizou a tomografia de tórax apresentada por diagnóstico de covid-19. O quadro iniciou-se há
a seguir. Qual é a principal hipótese diagnóstica oito dias, com febre, anosmia, odinofagia e tosse.
para o quadro agudo? O diagnóstico foi feito quatro dias depois, e devido
a saturação de oxigênio de 91% em ar ambiente foi
internado em enfermaria. Há 2 dias evoluiu com in-
suficiência respiratória demandando transferência
à UTI e intubação orotraqueal. O médico assistente
se prepara para avaliar o paciente no dia de hoje.
464
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
Questão 16 Questão 17
(UERJ – RJ – 2021) Mulher de 36 anos chega à Clínica (SUS – PE – 2021) Qual das medidas terapêuticas abaixo
de Família com queixa de coriza, febre não aferi- comprovadamente reduz a mortalidade em pacien-
da, tosse sem secreção, sensação de falta de ar. tes com covid 19?
Ao exame físico: pressão arterial = 88 x 56mmHg,
temperatura axilar = 38,4ºC, frequência respiratória ⮦ Uso de heparina em dose plena a partir do ter-
= 31 irpm. Neste caso, a classificação do quadro ceiro dia de doença.
clínico e a melhor conduta, respectivamente, são: ⮧ Uso de azitromicina a partir dos primeiros sin-
tomas.
⮦ síndrome gripal com sinais de gravidade / es-
⮨ Uso de dexametasona em pacientes com neces-
tabilização do quadro enquanto é realizado o
sidade de suplementação de oxigênio.
encaminhamento para centro de referência/ur-
gência/hospitais e notificação imediata de caso ⮩ Entubação orotraqueal precoce em pacientes
suspeito de covid-19. com dificuldade respiratória.
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da covid-19.
⮩ síndrome gripal sem sinais de gravidade / es-
tabilização do quadro enquanto é realizado o
encaminhamento para centro de referência/ur-
gência/hospitais e notificação após confirmação
do diagnóstico de covid-19.
465
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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ou por contato (com secreções infectantes). Dessa ✔
466
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
Alternativa B: CORRETA. A maioria dos dados de efi- hospitalizados. Já a anticoagulação não deve ser
cácia sobre glicocorticoides são através de meta- feita sem quadro clínico específico para tal.
nálises de um grande ensaio clínico randomizado ✔ resposta: E
aberto no Reino Unido em que a dexametasona oral
ou intravenosa reduziu a mortalidade em 28 dias
entre pacientes hospitalizado. Questão 4 dificuldade:
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Y Dica do professor: Conforme abordado no docu- da pandemia de covid-19, sendo que todo quadro
mento, a paciente apresenta doença moderada: gripal associado a alterações como dores no corpo
Infecção assintomática ou pré-sintomática: Teste e febre devem ser investigados. Neste caso, a con-
positivo para SARS-CoV-2, sem apresentar sinto- duta adequada é orientar a paciente de que ela é um
mas; Doença leve: Presença de quaisquer sinais ou caso suspeito e que é necessário marcar a coleta
sintomas, mas sem dispneia ou exame de imagem do PCR a partir do terceiro dia de sintoma (para evi-
anormal; Doença moderada: Evidência de doença tar resultados falso-negativos), orientar isolamento
do trato respiratório inferior (por avaliação clínica ou domiciliar que envolve ter o mínimo contato com
exame de imagem) e possui SO2 > 93% em ar am- familiares, se possível utilizando máscara em casa e
biente; Doença grave: Presença de um dos seguintes materiais de uso pessoal próprios, mas, sobretudo,
fatores: FR > 30 irpm, SO2 ≤93% em ar ambiente, evitar sair à rua para atividades diversas. É também
P/F < 300, infiltrado pulmonar > 50%; Doença crítica: importante orientar quanto aos sinais de alarme
Presença de falência respiratória, choque séptico que, caso surjam, indicam a necessidade de buscar
e/ou disfunção de múltiplos órgãos. O texto traz o atendimento em saúde de forma rápida, além de
que não há recomendação para uso de rotina, no realizar monitoramento telefônico para assegurar
tratamento da covid-19, de azitromicina, cloroquina, o acompanhamento dessa suspeita.
hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir, tocilizumabe
✔ resposta: C
ou corticosteroides. Oseltamivir tem indicação no
contexto de suspeita de infecção por influenza e
antibióticos caso a suspeita recaia sobre infecção Questão 6 dificuldade:
bacteriana associada. A heparina profilática é re-
comendada conforme uso habitual para pacientes Y Dica do professor: O RT-PCR do trato respiratório
superior para detectar o RNA de SARS-CoV-2 é o
teste de escolha para pacientes sintomáticos na
467
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
fase aguda, sendo sua coleta entre o 3º e o 7º dia Alternativa B: CORRETA. A gripe é uma infecção agu-
de sintomas. Os testes sorológicos podem auxiliar da de vias aéreas, causada pelo vírus influenza, que
no diagnóstico de doença pregressa ou ativa em apresenta sintomas como febre, sintomas de vias
casos que se apresentam tardiamente no curso aéreas e comprometimento sistêmicos; a febre cos-
da doença e são indicados após o 8º dia do início tuma declinar após dois ou três dias de doença e
dos sintomas, preferencialmente após o 14º dia. normalizar em torno de uma semana.
✔ resposta: C Alternativa C: INCORRETA. O período de incubação
do vírus influenza é de um a quatro dias, com pico
de transmissão no segundo dia.
Questão 7 dificuldade:
Alternativa D: INCORRETA. A Síndrome de Reye é uma
Y Dica do professor: O vírus da gripe (influenza) pro- encefalopatia de rápida progressão, mais frequente
paga-se facilmente e é responsável por elevadas ta- em crianças, que pode ocorrer após a utilização de
xas de hospitalização. Idosos, crianças, gestantes aspirina em infecções gripais ou varicela.
e pessoas com doenças crônicas, como diabetes ✔ resposta: B
e hipertensão, ou imunodeficiência são mais vulne-
ráveis aos vírus. A vacina produzida para 2019 teve
mudança em duas das três cepas que compõem Questão 9 dificuldade:
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Alternativa A: INCORRETA. Os vírus influenza A e B são
responsáveis por epidemias sazonais, sendo o vírus ser utilizado como profilaxia da gripe.
influenza A responsável pelas grandes pandemias. Alternativa D: INCORRETA. Em casos de indicação
Alternativa B: CORRETA. Vide Dica do autor. de fosfato de oseltamivir, geralmente indica-se o
medicamento por cinco dias.
Alternativa C: INCORRETA. Segundo dados epide-
miológicos, a doença pelo vírus A é mais comum ✔ resposta: B
e mais grave.
Alternativa D: INCORRETA. Apenas alguns vírus in- Questão 10 dificuldade:
fluenza A de origem animal podem infectar huma-
nos, causando doença grave. Influenza B infectam Y Dica do professor: A alternativa B está correta,
exclusivamente os seres humanos. Influenza C in- pois o fosfato de oseltamivir está indicado para
fectam humanos e suínos. melhora dos sintomas da gripe grave ou quando o
paciente apresenta algum fator de risco (como ida-
✔ resposta: B
de, gestação, imunodepressão, entre outros), e não
em situações descritas nas alternativas A, C e D.
Questão 8 dificuldade: ✔ resposta: B
Alternativa A: INCORRETA. O medicamento de primei-
ra linha indicado para melhora dos sintomas, em Questão 11 dificuldade:
casos de sinais de piora da doença ou presença de
algum fator de risco, é o fosfato de oseltamivir em Y Dica do professor: Questão avaliando as condutas
todas as idades; além disso, não há medicamento com relação a covid-19.
que possa ser utilizado como quimioprofilaxia. Alternativa A: INCORRETA. Não conseguimos afirmar
que a esposa tenha se infectado pelo seu marido,
468
Infecção por vírus respiratórios Cap. 17
já que a infecção pode ter acontecido no clube es- e TEP se apresentariam radiologicamenente com
portivo onde trabalha,. outros padrões assim como a ICC. Assim a melhor
Alternativa B: INCORRETA. A transmissão pode ter alternativa para a questão é a B, uma pneumonia
ocorrido mesmo com o uso regular de máscaras pelo SARS-CoV-2.
Alternativa C: INCORRETA. O retorno deve acontecer Alternativa A: INCORRETA. A TC não apresenta pa-
se o paciente estiver assintomático drão de congestão, o que seria esperado na ICC
descompensada,
Alternativa D: INCORRETA. Não podemos dizer com
certeza se um infectou ao outro. Alternativa B: CORRETA. Vidro fosco na TC pensar
sempre em pneumonite viral.
Alternativa E: CORRETA. Temos a transmissão da
doença mesmo em pessoas assintomáticas ou Alternativa C: INCORRETA. O padrão de uma BCP se-
pré-sintomáticas. ria uma consolidação, broncograma.
✔ resposta: E Alternativa D: INCORRETA. A imagem de TEP seria
um padrão defeito de enchimento parcial central
ou periférico circundado por um pequeno halo de
Questão 12 dificuldade: contraste.
Y Dica do professor: Questão avaliando aspectos ✔ resposta: B
gerais sobre a covid-19
Alternativa A: INCORRETA. A transmissão mais impor- Questão 14 dificuldade:
tante é a respiratória não é por superfîcies
Alternativa A: INCORRETA. É recomendada a anticoa-
Alternativa B: CORRETA. Ambientes com ventilação
gulação profilática, não terapêutica
ruim potencializam a transmissão por aerossóis
Alternativa B: INCORRETA. Essas duas drogas não
Alternativa C: INCORRETA. O uso de máscaras não
tem evidencia para tratamento, sem profilaxia na
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protege integralmente
covid e doses altas podem sim ter eventos adversos.
Alternativa D: INCORRETA. Aumidade do ar pode efei-
Alternativa C: CORRETA. O estudo Recovery mostrou
to na dispersão de partículas do novo coronavírus
redução no desfecho mortalidade em pacientes hi-
e, consequentemente, no contágio da covid-19. Os
poxêmicos ou que evoluíram com necessidade de
riscos de transmissão são mais elevados em am-
intubação com uso de dexametasona.
bientes fechados e secos.
Alternativa D: INCORRETA. Pode ser utilizada como
Alternativa E: INCORRETA. A covid não é uma das prin-
estratégia ventilatória,mas a pode trazer riscos
cipais taxas de letalidade. A letalidade maior se con-
pela potencial de gerar aerossóis assim é impor-
centra em idosos e pessoas com doenças de base
tante estar devidamente paramentado com uso
✔ resposta: B de máscara N95
Alternativa E: INCORRETA. O Remdesivir nesse estudo
Questão 13 dificuldade: somente reduziu o tempo de internação, mas não
a mortalidade.
Dica do professor: Questão bem atual sobre as
resposta: C
Y
✔
manifestações radiológicas (tomográficas) da in-
fecção pelo SARS-CoV-2. Paciente com quadro
respiratório de evolução aguda (7 dias), febre, com Questão 15 dificuldade:
piora da doença de base (cardiopatia) e importante
comprometimento de troca gasosa (Saturação AA de Y Dica do professor: Questão a respeito da para-
89%). Os achados na tomografia de tórax mostram mentação durante o atendimento de pacientes
o clássico padrão de pneumonite viral (vidro fosco) com covid-19. Retirar adornos, objetos pessoais ou
mais predominante na periferia dos campos pul- clínicos (brincos, anel, pulseira, relógio, estetoscó-
monares. No contexto das alternativas, pneumonia pio); 2) Higienizar as mãos com água e sabão ou
469
Infecção por vírus respiratórios Infectologia
solução alcoólica; 3) Colocar a máscara cirúrgica Alternativa D: INCORRETA. Intubação precoce não é
ou máscara tipo PFF-2, dependendo do tipo de pro- a conduta. Se a evolução após as medidas ventila-
cedimento que será realizado. 4) Colocar a touca tórias iniciais não tiver resposta ai sim poderemos
descartável, cobrindo os pavilhões auriculares; 5) ter a intubação
Colocar o óculos de proteção ou protetor facial; 6) Alternativa E: INCORRETA. Não há estudos para se
Colocar avental luvas. Nessa questão o erro foi que recomendar o uso de ivermectina na covid-19
ao entrar no BOX ele deveria ter higienizado nova-
✔ resposta: C
mente as mãos.
✔ resposta: B
Questão 16 dificuldade:
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Questão 17 dificuldade:
470
PROFILAXIAS E ACIDENTE Capítulo
importância/prevalência
u Profilaxias em doenças infecciosas: ferramentas em saúde pública, importantes no dia a dia e frequentes
nos exames médicos.
u As principais profilaxias estão relacionadas a exposições de risco: acidentes com material biológico, pre-
venção após contato respiratório com proximidade (em doenças como a tuberculose e nas meningites
bacterianas), após a mordedura/lambedura de alguns animais (prevenção da raiva humana), sem esquecer
a profilaxia para tétano após ferimentos com porta de entrada.
u As profilaxias relacionadas a contactantes de casos de meningites, assim como de tuberculose, serão
discutidas nos capítulos sobre meningites agudas e tuberculose.
u Com relação aos acidentes com material biológico, é importante conhecer os 3 vírus com potencial de
transmissão: HBV, HCV, HIV, e as condutas relacionadas em vários cenários de exposição com risco.
u Saber que se a fonte é HIV+ ou desconhecida; oferecer profilaxia com antirretrovirais em até 72 horas do
acidente e por 28 dias (TDF/3TC/DOL).
u Na exposição sexual com risco e na violência sexual, valem os mesmos princípios: antirretroviral em até
72 horas e também por 4 semanas. Veja o capítulo sobre HIV e estude a profilaxia pré-exposição (PrEP),
cujo princípio é o de oferecer prevenção ANTES da exposição.
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u No acidente com fonte HBV+, saber que existem 2 ferramentas para a prevenção: vacina e imunoglobulina
para hepatite B. O status vacinal do acidentado e a sorologia da fonte vão guiar as condutas.
u Não há profilaxia nos acidentes com fonte HCV+; deve-se fazer o seguimento com coletas de transamina-
ses, sorologia e PCR para HCV do acidentado até o 6º mês.
u No caso da profilaxia para raiva, é importante saber o local e classificar a exposição, bem como saber
qual animal estava envolvido na mordeura/lambedura (leve/moderado/grave). Como arsenal preventivo
há vacina e imunoglobulina antirrábica. Houve mudança recente no esquema de profilaxia, no Brasil, pelo
desabastecimento de vacinas contra raiva.
u Conhecer as indicações de profilaxia para tétano nos diferentes tipos de ferimentos, de acordo com o
cenário de status da vacina (quantidade de doses e data da última).
BASES DA MEDICINA
471
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
eficácia na prevenção (por exemplo, os antirretro- como violência sexual e acidente ocupacional, visando
virais devem ser administrados em até 72 horas). ampliar o uso dessa intervenção também para exposições
sexuais consentidas que representem risco de infecção.
Muitas dessas medicações relacionadas às pro-
filaxias estão restritas a serviços específicos e
aos chamados CRIEs. Os Centros de Referência
de Imunobiológicos Especiais (CRIEs) são centros 3. PROFILAXIA DO HIV (ACIDENTE
constituídos de infraestrutura e logística específi- PERFUROCORTANTE/MUCOSA)
cas, que têm como finalidade facilitar o acesso da
população, nas situações de exposição com risco
aos imunobiológicos especiais, à prevenção das
doenças que são objeto do Programa Nacional BASES DA MEDICINA
2. PEP NO ACIDENTE COM Exposições cutâneas (pele não íntegra): por exemplo,
MATERIAL BIOLÓGICO PARA contato com pele com dermatite ou feridas abertas.
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avaliadas tanto para o indivíduo que provocou a lesão
quanto àquele que tenha sido exposto.
BASES DA MEDICINA
472
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
É importante avaliar se o material biológico oferece real risco de transmissão, passível de ser iniciada
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risco, ou seja, se a natureza da exposição implica em uma profilaxia.
Avalie bem a natureza da exposição. Algumas têm u Percutânea – exemplos: lesões causadas por
risco de transmissão do HIV: agulhas ou outros instrumentos perfurantes e/
ou cortantes.
473
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
u Membranas mucosas – exemplos: exposição o que propicia melhor adesão e manejo clínico. Além
sexual desprotegida; respingos em olhos, nariz disso, apresenta alta barreira genética, aumentando
e boca. a segurança para evitar a resistência transmitida,
u Cutâneas envolvendo pele não íntegra – exem- principalmente quando a pessoa fonte é multiex-
plos: presença de dermatites ou feridas abertas. perimentada. O tempo de ouro para administrar é
de 72 horas e durante 28 dias.
u Mordeduras com presença de sangue – nesses
casos, os riscos devem ser avaliados tanto para O acompanhamento clínico-laboratorial da pessoa
a pessoa que sofreu a lesão quanto para aquela exposta em uso de PEP deve levar em consideração:
que a provocou.
u A toxicidade dos ARV.
u O diagnóstico de infecção aguda pelo HIV, in-
4. CONDUTAS RELACIONADAS AO cluindo testagem para o HIV em 30 e 90 dias
ACIDENTE COM RELAÇÃO AO HIV após a exposição. Desse modo, mesmo após
um o teste negativo 30 dias após o acidente, é
necessário fazer um outro após 3 meses da ex-
1. Testar a fonte e o acidentado para HIV no posição de risco.
momento zero, porque o acidentado pode ser HIV
positivo e não saber (lembrar de que a doença As pessoas expostas que iniciam a PEP devem ser
pode ser assintomática por anos). Nesse cenário, orientadas a procurar atendimento caso surjam
encaminhar o acidentado para início de TARV. quaisquer sinais ou sintomas clínicos que possam
2. Fonte HIV+: oferecer a PEP com antirretrovirais sugerir toxicidade medicamentosa grave. Mais de
se o acidente for com risco de transmissão e o prazo 50% das pessoas expostas apresentam efeitos
não exceder 72 horas do acidente. adversos à profilaxia ARV. Os sintomas, em geral,
são inespecíficos, leves e autolimitados, tais como
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3. Fonte cujo status do HIV não é conhecido no efeitos gastrointestinais, cefaleia e fadiga. As alte-
momento do acidente: coletar teste rápido da fonte. rações laboratoriais são, quase sempre, discretas,
W Se o teste rápido da fonte vier negativo: encer- transitórias e pouco frequentes.
ra-se o atendimento sem condutas profiláticas
Recomenda-se monitorar ativamente sinais e sinto-
relacionadas ao HIV.
mas da infecção aguda pelo HIV. Após a transmissão
W Se o teste rápido for reagente: oferecer a pro- do HIV, algumas pessoas podem apresentar quadro
filaxia (PEP). clínico semelhante à síndrome de mononucleose
infecciosa, geralmente na 3ª e 4ª semanas após a
Adendo: condutas em situações específicas:
exposição. Sempre pergunte por sinais e sintomas
a) Fonte desconhecida, por exemplo, um funcioná- de infecção aguda pelo HIV durante o seguimento
rio da limpeza que se acidente com agulha da qual pós-acidente com fonte HIV+.
não se sabe a fonte: oferecer PEP com ARV para o
Após a terceira sorologia pós-acidente (90 dias), o
acidentado sempre.
paciente recebe alta do seguimento relacionado ao HIV.
b) PVHIV com carga viral indetectável: a regra do
I = I (indetectável igual a intransmissível) é com-
provada somente para transmissão sexual. Apesar DIA A DIA MÉDICO
do cenário bastante improvável da transmissão em
situação de acidente com material biológico, ainda Casos de contaminação ocupacional pelo HIV podem
se oferece a profilaxia. ser caracterizados como comprovados ou prováveis. De
maneira geral, casos comprovados de contaminação
O esquema preferencial oferecido é composto por por acidente de trabalho são aqueles em que há evidên-
TDF + 3TC + DTG, que possui menor número de cia documentada de soroconversão e demonstração
efeitos adversos e baixa interação medicamentosa, temporal associada à exposição ao vírus. Os casos são
474
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
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(HBV) está relacionado, em geral, ao grau de expo- rentemente do que ocorre na exposição ao HIV, para
sição ao sangue no ambiente de trabalho e também a hepatite B a indicação da IGHAHB dependerá do
à presença ou não do antígeno HBeAg no pacien- tipo de exposição (vítimas de acidentes com mate-
te-fonte. Em exposições percutâneas envolvendo rial biológico infectado ou fortemente suspeito de
sangue sabidamente infectado pelo HBV e com a infecção por HBV; comunicantes sexuais de casos
presença de HBeAg (o que reflete uma alta taxa de agudos de hepatite B; vítimas de violência sexual),
replicação viral e, portanto, uma maior quantidade conforme indicação do Manual dos Centros de
de vírus circulante), o risco de hepatite clínica varia Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
entre 22 a 31% e o da evidência sorológica de infec- A IGHAHB deve ser administrada em dose única, IM,
ção, de 37 a 62%. em extremidade diferente da que recebeu a vacina para
Os líquidos orgânicos, como sangue, sêmen, secre- HBV. A IGHAHB pode ser administrada, no máximo,
ção vaginal e leite materno podem conter o vírus e até 14 dias após a exposição sexual (para exposições
representam importantes fontes de infecção. percutâneas, o benefício é comprovado, no máximo,
até 7 dias), embora se recomende preferencialmente
Checklist com relação à profilaxia da HBV: o uso nas primeiras 48 horas a contar da exposição.
u Avaliar o acidente e o risco. As condutas dependerão decisivamente do status
u Perguntar sobre histórico vacinal da hepatite B do sorológico da fonte e se o acidentado recebeu as
acidentado (se fez o esquema completo, quantas 3 doses e testou sua soroconversão.
doses, se coletou o anti-HBs por vacina e qual Veja o quadro a seguir.
foi o resultado).
u Colher sorologia para hepatite B completa da fon-
te e do acidentado (só não colher do acidentado
475
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
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inadequada: IGHAHB + inadequada: fazer inadequada: fazer
primeira dose da vacina segunda série de segunda série de
hepatite B vacinação vacinação (a)
(a)
O uso associado de imunoglobulina hiperimune contra hepatite B está indicado em caso de pessoa-fonte com
alto risco para infecção pelo HBV, como: usuários de drogas injetáveis; pacientes em programas de diálise; contatos
domiciliares e sexuais de pessoas HBsAg reagentes; pessoas que fazem sexo com pessoas do mesmo sexo;
heterossexuais com vários parceiros e relações sexuais desprotegidas; história prévia de IST; pacientes provenientes
de áreas geográfi cas de alta endemicidade para hepatite B; pacientes provenientes de prisões e de instituições de
atendimento a pacientes com defi ciência mental.
(b)
IGHAHB (2x) = duas doses de imunoglobulina hiperimune para hepatite B, com intervalo de 1 mês entre as doses.
Essa opção deve ser indicada para aqueles que já fi zeram 2 séries de 3 doses da vacina, mas não apresentaram
resposta vacinal, ou que tenham alergia grave à vacina.
Fonte: Ministério da Saúde².
Além dos acidentes ocupacionais, recomenda-se para Apesar de o risco de transmissão do HCV estar mais
profilaxia de hepatite B em outras situações, como: após relacionado às exposições percutâneas, a transmis-
exposição sexual, em pessoas susceptíveis; comunican-
são sexual desse vírus é possível, sobretudo em se
tes sexuais de casos agudos de hepatite B, e vítimas de
violência sexual. tratando de práticas sexuais traumáticas, presença
de doença ulcerativa genital e proctites relaciona-
das a IST. Grupos específicos, como as PVHIV, e
portadores de outras imunodeficiências também
têm risco acrescido de contágio pela via sexual.
476
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
A incidência média de soroconversão, após exposi- Mesmo não existindo medida específica eficaz
ção percutânea com sangue sabidamente infectado para a redução do risco de infecção pelo HCV após
pelo HCV, é de 1,8% (variando de 0 a 7%). Um estudo a exposição (não existe vacina nem imunoglobu-
demonstrou que os casos de contaminações só lina para VHC), as testagens da pessoa-fonte e da
ocorreram em acidentes envolvendo agulhas com pessoa exposta são recomendadas para permitir
lúmen. o diagnóstico precoce de uma possível infecção.
Quadro 4. Seguimento da pessoa exposta quando a fonte for reagente para hepatite C.
SEGUIMENTO DA PESSOA EXPOSTA QUANDO A FONTE
FOR REAGENTE PARA HEPATITE C
EXAME 1º ATENDIMENTO
4-6 SEMANAS 3 MESES APÓS 6 MESES APÓS
APÓS EXPOSIÇÃO EXPOSIÇÃO EXPOSIÇÃO
ALT Sim Sim Sim Sim
CV-HCV Não Sim Sim Não
Anti-HCV Sim (a)
Sim Sim Sim
Anti-HCV reagente no 1º atendimento: pessoa previamente exposta, portanto teve contato com o HCV antes
(a)
da exposição que motivou o atendimento. Deve ser encaminhada para confi rmação laboratorial do caso e para
acompanhamento clínico.
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4 anos de idade.
O seguimento deve ser realizado colhendo-se sorologias
do acidentado caso a fonte seja HCV+ ou for desconhe- A partir dessa idade, indica-se um reforço a cada
cida. Se a fonte for comprovadamente HCV+, devem-se 10 anos após a última dose administrada da vacina
colher, além da sorologia, carga viral e transaminases. dupla adulto (dT) contra a difteria e o tétano (esta
Se houver soroconversão devida ao acidente, devem-se
é a utilizada em esquemas profiláticos).
esperar 12 semanas para avaliar se ocorre clareamento
espontâneo. Se PCR for positivo após esse período, iniciar
imediatamente o tratamento. 7.1. PARTICULARIDADES
477
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
Quadro 5. Esquema de condutas profiláticas de acordo com o tipo de ferimento e situação vacinal.
Incerta ou menos
Simc Não Simc Sim
de 3 doses
3 doses ou mais,
Desinfecção, lavar
sendo a última dose Não Não Não Não
com soro fisiológico
há menos de 5 anos Limpeza e e substâncias
desinfecção, oxidantes ou
3 ou mais doses,
lavar com soro Sim antissépticas e
sendo a última dose
Não Não fisiológico e Nãod remover corpos
há mais de 5 anos e (1 reforço)
substâncias estranhos e tecidos
menos de 10 anos
oxidantes ou desvitalizados.
3 ou mais doses, antissépticas e
Sim Desbridamento
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sendo a última dose Sim Não desbridar o foco Naod
de infecção. (1 reforço) do ferimento e
há 10 anos ou mais
lavagem com
3 ou mais doses, água oxigenada.
sendo a última dose Sim
Sim Não Sime
há 10 anos ou mais em (1 reforço)
situações especiais
a
Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados.
b
Ferimentos profundos ou superficiais sujos; com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feridas puntiformes ou por
armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas.
c
Vacinar e aprazar as próximas doses, para complementar o esquema básico. Essa vacinação visa proteger contra o risco de tétano por
outros ferimentos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeitar que os cuidados posteriores com o ferimento não serão
adequados, deve considerar a indicação de imunização passiva com SAT (soro antitetânico) ou IGHAT (imunoglobulina humana antitetâ-
nica). Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, a aplicação deve ser feita em locais diferentes.
d
Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, além do reforço com a vacina, está também indicada IGHAT OU SAT.
e
Se o profissional que presta o atendimento suspeitar que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar
a indicação de imunização passiva com SAT ou IGHAT. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT concomitantemente, devem
ser aplicados em locais diferentes.
478
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
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Vale ressaltar que os ferimentos puntiformes são
considerados profundos, ainda que algumas vezes
BASES DA MEDICINA
não apresentem sangramento.
3. Extensão e número de lesões: deve-se observar
Em caso de possível exposição ao vírus da raiva, é impres- a extensão da lesão e se ocorreu apenas uma única
cindível a limpeza do ferimento com água corrente abun- lesão ou múltiplas, isto é, uma porta de entrada ou
dante e sabão ou outro detergente, pois essa conduta várias. Por exemplo, uma mordedura pode ter várias
diminui, comprovadamente, o risco de infecção. É preciso
portas de entrada. Considere cada perfuração como
que seja realizada o mais rapidamente possível após a
agressão e repetida na unidade de saúde, independente- uma porta de entrada.
mente do tempo transcorrido. Em concordância com os critérios acima estabeleci-
dos, as exposições podem ser assim classificadas:
A limpeza deve ser cuidadosa, visando eliminar as u Acidentes leves: ferimentos superficiais pouco
sujidades sem agravar o ferimento e, em seguida,
extensos, correntemente únicos, em tronco e
devem ser utilizados antissépticos como polivinil-
membros (com exceção das mãos, polpas di-
pirrolidona-iodo, povidine e digluconato de clorexi-
gitais e planta dos pés). Podem acontecer em
dina ou álcool iodado. Essas substâncias deverão
decorrência de mordeduras ou arranhaduras,
ser utilizadas somente na primeira consulta. Nas
causadas por unha ou dente, lambedura de pele
seguintes, devem-se realizar cuidados gerais orien-
com lesões superficiais.
tados pelo profissional de saúde, de acordo com a
avaliação da lesão.
u Acidentes graves: ferimentos na cabeça, face,
pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé.
As exposições (mordeduras, arranhaduras, lam- Ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em
beduras e contatos indiretos) devem ser avaliadas qualquer região do corpo. Lambedura de mucosas.
479
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
Lambedura de pele onde já existe lesão grave. do seu dono. Dessa maneira, esses animais podem
Ferimento profundo causado por unha de animal. ser classificados como de baixo risco em relação à
transmissão da raiva. Ao contrário, aqueles animais
8.2. ANIMAIS ENVOLVIDOS que passam longos períodos fora do domicílio, sem
controle, devem ser considerados como animais
de risco, mesmo que tenham proprietário e tenham
Cão e gato: em caso de acidente com estes animais,
recebido vacinas, o que, diversas vezes, só ocorre
é necessário avaliar:
nas campanhas de vacinação.
a) O estado de saúde do animal no momento da
8.2.1. Outros animais envolvidos
agressão: avaliar se o animal estava sadio ou se
apresentava sinais sugestivos de raiva. A maneira Animais silvestres, como morcego de qualquer
como ocorreu o acidente pode fornecer informações espécie, micos (sagui ou soim, como é mais conhe-
sobre seu estado de saúde. O acidente provocado cido em algumas regiões), macaco, raposa, guaxi-
(por exemplo, o animal que reage em defesa própria, nim, quati, gambá, roedores silvestres etc. devem
a estímulos dolorosos ou outras provocações), ser classificados como animais de risco, mesmo
frequentemente indica reação normal do animal, que domiciliados e/ou domesticados, haja vista
enquanto a agressão espontânea (sem causa apa- que, nesses animais, a raiva não é bem conhecida.
rente) pode indicar alteração do comportamento e Animais domésticos de produção ou de interesse
sugere que o animal pode estar acometido de raiva. econômico (bovinos, bubalinos, equídeos, caprinos,
Lembrar que o animal também pode agredir devido ovinos, suínos e outros) também são animais de
à sua índole ou adestramento. risco. É importante conhecer o tipo, a frequência e
b) A possibilidade de observação do animal por o grau do contato ou exposição.
10 dias: se o animal estiver sadio no momento Muitos relatos na literatura médica mostram que o
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do acidente, é importante que ele seja mantido risco de transmissão do vírus pelo morcego é sem-
em observação por 10 dias. Nos cães e gatos, o pre elevado, independentemente da espécie e da
período de incubação da doença pode variar de gravidade do ferimento. Sendo assim, todo acidente
alguns dias a anos, mas, em geral, é de cerca de 60 com morcego deve ser classificado como grave.
dias. Contudo, a excreção de vírus pela saliva, quer
Os seguintes roedores (urbanos ou de criação) são
dizer, o período em que o animal pode transmitir a
considerados como de baixo risco para a transmis-
doença, só ocorre a partir do final do período de
são da raiva e, em função disso, não é necessário
incubação, variando entre dois e cinco dias antes
indicar esquema profilático da raiva em caso de
do aparecimento dos sinais clínicos e persistindo
acidentes causados por eles: ratos, camundongos,
até sua morte, que ocorre em até cinco dias após
hamster, coelhos.
o início dos sintomas. Por isso, o animal deve ser
observado por 10 dias. Se em todo esse período (10
dias) permanecer vivo e saudável, não há riscos de 8.3. E
SQUEMAS DE PROFILAXIA
transmissão do vírus. Isso responde a maioria das PARA RAIVA
questões de prova!
c) A procedência do animal: é necessário saber se
BASES DA MEDICINA
a região de procedência do animal é área de raiva
controlada ou não controlada.
A prescrição deve levar em consideração o tipo de acidente
d) Os hábitos de vida do animal: o animal deve ser (leve, moderado, grave) e qual foi o animal envolvido no
classificado como domiciliado ou não domiciliado. acidente. Se os animais forem cães ou gatos, é importante
Animal domiciliado é o que vive exclusivamente para a conduta avaliar se é possível observar o animal
dentro do domicílio, não tem contato com outros por 10 dias.
animais desconhecidos e só sai à rua acompanhado
480
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
Em nosso país, tem disponível um esquema de u A suspeita de raiva ser descartada após o 10º dia
vacina que foi reduzido para 4 doses (esquema 0, de observação, suspender o esquema profilático
3, 7 e 14), além de soro/imunoglobulina para raiva e encerrar o caso.
quando for necessária a sua prescrição. u O animal morrer, desaparecer ou se tornar rai-
É importante saber que a imunização passiva, reali- voso, completar o esquema até 4 doses, aplicar
zada por soro, heterólogo ou homólogo, se dá pela uma dose entre o 7º e o 10º dias, e uma dose
infiltração do soro no ferimento, respeitando-se a no 14º dia.
dose recomendada a cada enfermo e procurando-
-se prover o maior volume possível de infiltração. O paciente deve ser orientado a informar imedia-
Caso a região anatômica não permita a introdução tamente a unidade de saúde caso o animal morra,
de todo o volume do soro, a quantidade restante, desapareça ou se torne raivoso, posto que podem
a menor possível, deve ser aplicada por via intra- ser necessárias novas intervenções de forma rápida,
muscular, preferencialmente em regiões sem muito como a aplicação do soro ou o prosseguimento do
tecido adiposo e em áreas díspares em relação à esquema de vacinação.
administração da vacina. A.3) Cão ou gato raivoso, desaparecido ou morto;
animais mamíferos silvestres (inclusive os domici-
8.3.1. Condutas de profilaxia da raiva liados); animais domésticos de interesse econômico
humana segundo a espécie animal envolvida ou de produção:
e a gravidade do acidentes/exposição
Lavar com água e sabão.
A) Acidentes leves (pela via IM)
Iniciar imediatamente o esquema profilático com 4
A.1) Cão ou gato sem suspeita de raiva no momento doses de vacina, administradas nos dias 0, 3, 7 e 14.
da agressão:
Nas agressões por morcegos ou qualquer espécie
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Lavar com água e sabão. de mamífero silvestre, deve-se indicar soro e vaci-
Observar o animal durante 10 dias após a exposição, nação independentemente da gravidade da lesão.
e no caso de: B) Acidentes graves (pela via IM)
u O animal permanecer sadio no período de obser- B.1) Cão ou gato sem suspeita de raiva no momento
vação, encerrar o caso. da agressão:
u O animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, Lavar com água e sabão.
administrar 4 doses de vacina (dias 0, 3, 7 e 14). Observar o animal durante 10 dias após exposição.
O paciente deve ser orientado a informar imedia- Iniciar esquema profilático com 2 doses, uma no
tamente a unidade de saúde caso o animal morra, dia 0 e outra no dia 3, e no caso de:
desapareça ou se torne raivoso, uma vez que podem
ser necessárias novas intervenções de forma rápida,
u A suspeita de raiva ser descartada após o 10º dia
como a aplicação do soro ou o prosseguimento do de observação, suspender o esquema profilático
esquema de vacinação. e encerrar o caso.
u O animal morrer, desaparecer ou se tornar rai-
A.2) Cão ou gato clinicamente suspeito de raiva no
voso, completar o esquema até 4 doses, aplicar
momento da agressão:
uma dose entre o 7º e o 10º dias, e uma dose
Lavar com água e sabão. no 14º dia.
Iniciar esquema profilático com 2 doses, uma no
O paciente deve ser orientado a informar imedia-
dia 0 e outra no dia 3.
tamente a unidade de saúde caso o animal morra,
Observar o animal durante 10 dias após a exposição, desapareça ou se torne raivoso, porque podem ser
e no caso de: necessárias novas intervenções de forma rápida,
481
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
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Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
4 Doses administradas
Soro Infiltração de 40 UI/kg no ferimento Vacina
nos dias 0, 3, 7, 14
Paciente com
a lesão chega
ao serviço
Raivoso, suspeito,
desaparecido
Acidente grave Soro + vacina
Avaliar a Avaliar condição
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necessidade do animal
de terapia com Clinicamente sadio Contato indireto Sem profilaxia
antimicrobianos
profiláticos
Animal doméstico
(cão ou gato) Acidente leve Observar o animal
Identificar animal
agressor
Morcego ou
animal silveste
Iniciar vacina e
Acidente grave
observar o animal
483
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
A profilaxia pré-exposição está recomendada para médicos 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em
veterinários, além de professores, alunos e profissionais Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Nor-
que trabalham com animais potencialmente infectados mas técnicas de profilaxia da raiva humana. Brasília:
com o vírus da raiva. Ministério da Saúde; 2011.
2. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas para profilaxia pós-exposição (pep) de risco
Além do grupo de profissionais, a população também
à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Secretaria
pode estar sujeita à exposição em meio às suas de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância,
atividades cotidianas e de lazer (viagens para áreas Prevenção e Controle das Infecções. Brasília: Ministério
de risco de raiva, por exemplo). O tratamento consta da Saúde, 2017.
de 3 doses de vacina, ministradas nos dias 0, 7 e 3. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em
28. Os anticorpos circulantes devem ser testados Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epi-
a partir do 14º dia após a última dose do esquema demiologia em Serviços. Guia de vigilância em saúde:
vacinal. Uma dose de reforço é preconizada quando volume único. 3a ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019.
a titulação se encontrar em níveis inferiores a 0,5
UI/mL.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Preste atenção a um detalhe: antes de 2017, o esquema de
vacinação profilática da raiva era feito com 5 doses, agora
são utilizadas 4 doses. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Protocolo para
Tratamento de Raiva Humana no Brasil. Brasília: Ministério
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da Saúde; 2011.
Veronesi R, Focaccia R. Tratado de Infectologia. 5. ed. São
Paulo: Editora Atheneu; 2015.
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Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
QUESTÕES COMENTADAS
⮦ Existem evidências que recomendam o uso de (PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA – SP – 2021) Em rela-
antissépticos ou a expressão do local do feri- ção à profilaxia pós exposição (PEP) de risco à in-
mento na vigência de um acidente com material fecção pelo HIV, assinale a alternativa INCORRETA:
perfurocortante.
⮦ As situações de exposição ao HIV constituem
⮧ Recomenda-se a lavagem exaustiva do local
atendimentos de urgência, em função da neces-
exposto com água e sabão nos casos de expo-
sidade de início precoce da profilaxia.
sições percutâneas ou cutâneas.
⮧ A indicação de PEP não depende do status so-
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⮨ Não há estudos que justifiquem lavagem exaus-
rológico para HIV da pessoa exposta.
tiva com água ou com solução salina fisiológica,
nas exposições de mucosas. ⮨ Não se deve atrasar e nem condicionar o aten-
dimento o da pessoa exposta à presença da
⮩ Procedimentos que aumentam a área exposta
pessoa fonte.
(cortes, injeções locais facilitam a limpeza e de-
vem ser realizados. ⮩ A duração da PEP é de 28 dias.
⮪ acompanhamento clínico laboratorial da pessoa
exposta em uso de PEP deve levar em conside-
Questão 2 ração, dentre outros, o diagnóstico de infecção
(HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS – SP – 2021) A Profilaxia aguda pelo HIV, incluindo testagem para o HIV
Pós-Exposição ao HIV (PEP) é uma das estratégias em 30 e 90 dias após a exposição.
de prevenção do HIV. Sendo adequado que:
mente não se expôs ao HIV dentro das últimas (PROCESSO SELETIVO UNIFICADO - MG – 2020) Auxiliar de en-
72 horas, deve-se recomendar o início imediato fermagem de 28 anos foi vítima de acidente com
da PEP. material pérfurocortante no cento cirúrgico. A profis-
⮧ Uma vez identificado que a pessoa potencialmen- sional não sabe precisar sobre sua vacinação contra
te se expôs ao HIV dentro das últimas 72 horas, hepatite B, mas o exame pré-admissional realizado
deve-se recomendar o início imediato da PEP. há um ano mostrou dosagem de antiHBs de 15mUI/
⮨ Uma vez identificado que a pessoa potencialmen- mL. O teste rápido do paciente-donte foi reagente
te se expôs ao HIV dentro das últimas 12 horas, para hepatite B. A conduta MAIS ADEQUADA para
deve-se recomendar o início imediato da PEP. essa situação nesse momento é:
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Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
⮦ Indicar vacinação para hepatite B. sem proteção, há 5 dias, com um parceiro de quem
⮧ Notificar o sistema de informação de agravos ela desconhece a sorologia para HIV. Diante desse
de notificação (SINAN). cenário, a profilaxia para HIV pós-exposição:
⮨ Prescrever imunoglobulina humana anti-hepa- ⮦ Não está indicada nesse momento.
tite B.
⮧ Está indicada se o parceiro apresentar o teste
⮩ Solicitar dosagens seriadas das transaminases. rápido positivo para HIV.
⮨ Dependerá do nível do contato sexual do casal,
Questão 5 podendo ser dispensada se o contato se restrin-
giu a sexo oral.
(AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2020)
⮩ Dependerá da análise do estado e dos dados
Durante a realização de uma biópsia, você perfura
clínicos do parceiro.
seu dedo com a agulha do fio de sutura. Após rea-
lizarem, você e a pessoa fonte, o teste rápido, a in- ⮪ Está indicada, independente da condição clínica
dicação de profilaxia pós exposição (PEP) ao HIV do parceiro.
deverá ser indicada: Assinale a correta:
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animal nos últimos dias. A criança nunca havia
é obrigatória para todos os casos de acidente
recebido esquema profilático para raiva. A condu-
perfurocortante.
ta profilática inicial para raiva a ser adotada neste
caso, recomendada pelo Ministério da Saúde, deve
Questão 6 incluir lavagem cuidadosa da lesão e observação
do animal, acompanhadas de:
(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – RN – 2021)
Um residente sofreu um acidente punctório com a ⮦ Aplicação de cinco doses de vacina (dias 0, 3, 7,
agulha enquanto realizava uma punção lombar em 14, 28), sem soro.
um paciente com suspeita de meningite. Na inves- ⮧ Aplicação de duas doses de vacina (dias 0 e 3),
tigação ocupacional deste acidente com material sem soro.
biológico, devem ser solicitados exames para o
⮨ Aplicação de cinco doses de vacina (dias 0, 3, 7,
paciente-fonte. Entre as alternativas abaixo, os exa-
14 e 28) e soro.
mes recomendados pelo Ministério da Saúde são:
⮩ Aplicação de três doses da vacina antirrábica
⮦ Hemocultura, anti-HIV, anti-HCV, anti-HBs. (dias 0, 3, 7), sem soro.
⮧ Hemocultura, anti-HIV, anti-HCV, IgM anti-HVA.
⮨ HBsAg, anti-HCV, anti-HBc, anti-HIV. Questão 9
⮩ Anti-HBs, anti-HCV, HBsAg, anti-HIV.
(HOSPITAL REGIONAL DE MS – ROSA PEDROSSIAN – 2017) Aluno
do 5º ano de Medicina, vinculado à liga do trauma
Questão 7 de uma universidade da cidade, durante o proce-
dimento de sutura, sofre um acidente perfurativo
(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2020) Uma ado- ao encapar a agulha que utilizou para anestesiar
lescente de 15 anos relata ter tido relação sexual o paciente. Trata-se de um paciente sabidamente
486
Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
com infecção por vírus das hepatites B e C, mas para um homem de 65 anos que sofreu ferimento
que é HIV negativo. Os exames laboratoriais bá- perfurante com prego enferrujado, na região plan-
sicos realizados no estudante incluem a seguinte tar do pé direito, e que nunca recebera vacinação
sorologia: HBsAg negativo, anticorpo anti-HBs po- alguma é, além de cuidados locais, o uso de:
sitivo e lgG anti-HBc negativo. O aluno deve receber
qual profilaxia? ⮦ Antibiótico e soro antitetânico.
⮧ Soro antitetânico e vacina contra difteria e tétano.
⮦ Imunoglobulina contra vírus de hepatite B.
⮨ Soro antitetânico e vacina antitetânica.
⮧ Imunoglobulina intravenosa.
⮩ Antibiótico e vacina antitetânica.
⮨ Lamivudina.
⮩ Não há necessidade de profilaxia.
Questão 12
⮪ Penicilina benzatina.
(HOSPITAL MUNCIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP – 2018) Você
atende em serviço de emergência uma criança de
Questão 10
7 anos de idade com corte profundo em pé direito.
(HOSPITAL GERAL DE GOIÂNIA – 2013) Ao fazer uma apli- Mãe refere que o filho estava jogando bola, des-
cação endovenosa de medicação em um paciente calço, em terreno perto de sua casa, quando pisou
renal crônico e portador de hepatite B, uma técnica em um prego enferrujado. A carteira de vacinação
de enfermagem, 25 anos, perfurou um dedo da mão está completa, sendo que a criança recebeu a últi-
direita. A funcionária encontrava-se com vacinação ma dose da vacina de tétano aos 4 anos de idade.
contra hepatite B incompleta. Qual conduta profilá- A escolha mais apropriada para a profilaxia contra
tica deve ser tomada? o tétano para esse paciente é:
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cina e/ou imunoglobulina).
⮧ Não é necessário tomar nenhuma medida es-
pecífica. ⮧ Vacina tríplice bacteriana contra difteria, tétano
e coqueluche (DTP) – 01 dose.
⮨ Aplicar 2 doses de imunoglobulina hiperimune
para hepatite B (IGHAHB), com intervalo de 1 ⮨ Vacina dupla adulto contra difteria e tétano (dt)
mês entre elas. – 01 dose.
⮩ Aplicar 1 dose de imunoglobulina hiperimune ⮩ Dt + IGT.
para hepatite B (IGHAHB) e completar vacinação.
⮪ Aplicar 1 dose de imunoglobulina hiperimune Questão 13
para hepatite B (IGHAHB).
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDENCIA MEDICA DO MATO GROSSO
DO SUL – 2013) Após a ocorrência de um acidente perfu-
Questão 11 rocortante no centro cirúrgico de um hospital geral
com o residente de cirurgia torácica, o mesmo foi
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES/UFRN/RN – 2017)
encaminhado ao pronto-socorro para atendimento e
O tétano é uma doença grave e de alta letalidade,
seguimento do protocolo de acidentes com material
porém eficientemente controlada pela vacinação
biológico estabelecido pela instituição. O médico
adequada. No Brasil, a melhoria da assistência ao
plantonista do pronto-socorro identificou a pacien-
pré-natal reduziu significativamente a ocorrência
te-fonte do acidente e, ao seguir o protocolo de rea-
de tétano neonatal. Entretanto, casos de tétano
lização de exames, verificou-se que a paciente-fonte
acidental continuam ocorrendo pela imunização
era portadora do vírus HIV. Decidiu-se então por
inadequada, principalmente dos adultos. Conside-
instituir quimioprofilaxia pós-exposição. O médico
rando as recomendações do Ministério da Saúde/
plantonista do pronto-socorro fez duas orientações
Brasil, o melhor conjunto de medidas profiláticas
importantes ao residente. Primeiramente, orientou
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Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
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logia negativa. ⮩ Aplicar dose de reforço da vacina antitetâni-
⮨ Deve ser iniciada imediatamente e reavaliada ca, mais imunoglobulina humana antitetânica
após resultado de sorologia. 5000 UI, intra – muscular.
⮩ Não é recomendada. ⮪ Não há necessidade de medidas adjuvantes.
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Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
GABARITO E COMENTÁRIOS
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cais) e a utilização de soluções irritantes como éter, potencialmente transmissores de HIV, de forma a
hipoclorito ou glutaraldeído são contraindicados.” não justificar o uso dos medicamentos. As exposi-
✔ resposta: B ções transmissíveis são: percutânea; membranas
mucosas; cutâneas envolvendo pele não íntegra e
mordeduras com presença de sangue. Para o uso
Questão 2 dificuldade: da PEP, uma das etapas essenciais é a verificação
do status sorológico da PESSOA EXPOSTA, a qual
Y Dica do professor: Sabe-se que a pessoa candi-
deve ser feita por meio do teste rápido. Temos as
data ao uso da PrEP deve compreender no que
seguintes situações:
consiste essa estratégia e como ela se insere no
contexto do gerenciamento do seu próprio risco 1. Se TR reagente: a PEP não está indicada. A
de adquirir a infecção pelo HIV, de forma a avaliar infecção pelo HIV ocorreu antes da exposição
sua motivação em iniciar o uso da substância. De- que motivou o atendimento e a pessoa deve ser
ve-se explicar às pessoas que a PrEP é um méto- encaminhada para acompanhamento clínico e
do seguro e eficaz na prevenção do HIV, com raros início da TARV.
eventos adversos, os quais, quando ocorrem, são 2. Se TR não reagente: a PEP está indicada, pois
transitórios e passíveis de serem manejados clini- a pessoa exposta é susceptível ao HIV.
camente. Convém reforçar que a efetividade dessa
3. Se resultado discordante ou TR inválido: não
estratégia está diretamente relacionada ao grau de
é possível confirmar o status sorológico da
adesão à profilaxia. Além disso, o uso diário e re-
pessoa exposta. Recomenda-se iniciar o fluxo
gular da medicação é fundamental para a proteção
laboratorial para elucidação diagnóstica.
contra o HIV. No entanto, deve-se enfatizar que o
uso de PrEP não previne as demais IST ou hepa- ✔ resposta: B
tites virais, sendo necessário, portanto, orientar a
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Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
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o acidente não fosse imune à hepatite B (Anti-Hbs ou disposta a realizar a testagem. A PEP consiste
inferior a 10 UI/mL). em TDF + 3TC + DTG (Tenofovir, Lamivudina e
Dolutegravir) e dura 28 dias.
Alternativa D: INCORRETA. Não há necessidade de
qualquer medida específica. Alternativa A: CORRETA. A necessidade varia de acor-
✔ resposta: B do com o status sorológico da pessoa exposta,
gravidade da exposição e a probabilidade clínica e
epidemiológica de infecção pelo HIV naquela expo-
Questão 5 dificuldade: sição. Quando a pessoa fonte está presente e con-
corda em realizar o teste rápido, a PEP é indicada
Y Dica do professor: A Profilaxia Pós-Exposição
quando esta pessoa apresentar teste reagente ou
(PEP) para HIV consiste no uso de medicamentos
teste não reagente com histórico de exposição de
que objetivam reduzir a chance de adquirir a doen-
risco nos últimos 30 dias.
ça após algum tipo de exposição de risco, sendo
uma forma de Prevenção Combinada, cujo principal Alternativa B: INCORRETA. Nem sempre a pessoa
objetivo é ampliar as formas de intervenção para fonte é conhecida ou deseja realizar o teste. Assim,
evitar novas infecções pelo HIV. Quando atendemos a PEP não deve depender do status sorológico da
um caso de exposição de risco, quatro perguntas pessoa fonte.
devem ser feitas para o paciente: Alternativa C: INCORRETA. Se o teste rápido da pes-
soa exposta for positivo, não há necessidade da
1. O tipo de material biológico é de risco para trans- profilaxia pós exposição, e existe a necessidade de
missão do HIV? Sabemos que os materiais que encaminhar este indivíduo para o acompanhamento
apresentam risco de contaminação são sangue, clínico e início da TARV.
sêmen, fluidos vaginais, líquidos de serosas,
líquido amniótico, líquor, leite materno e líquido
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Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
Alternativa D: INCORRETA. Não há necessidade de exposta e da pessoa fonte. Não se deve atrasar e
PEP em indivíduo soropositivo, em casos em que nem condicionar o atendimento da pessoa exposta
a pessoa fonte não apresenta infecção por HIV e à presença da pessoa-fonte. Porém, nesse caso não
não houve exposição de risco nos últimos 30 dias. há indicação de profilaxia, pois o tempo de exposi-
✔ resposta: A ção ultrapassou o máximo de 72 horas.
Alternativa C: INCORRETA. As membranas mucosas
fazem parte das exposições com risco de exposi-
Questão 6 dificuldade: ção ao HIV. Porém, nesse caso não há indicação de
Y Dica do professor: Segundo constado no documen- profilaxia, pois o tempo de exposição ultrapassou
to do Ministério da Saúde “O paciente-fonte deverá o máximo de 72 horas.
ser avaliado quanto à infecção pelo HIV, hepatite Alternativa D: INCORRETA. A indicação de PEP irá
B e hepatite C, no momento da ocorrência do aci- depender do status sorológico para HIV da pes-
dente.” E guia a conduta com base na procedência soa fonte, sem considerar sua condição clínica.
do paciente-fonte: “Caso a fonte seja conhecida, Porém, nesse caso não há indicação de profilaxia,
mas sem informação de seu status sorológico, é pois o tempo de exposição ultrapassou o máximo
necessário orientar o profissional acidentado sobre de 72 horas.
a importância da realização dos exames HBsAg, Alternativa E: INCORRETA. Vide alternativa E.
Anti-HBc, Anti-HCV e Anti-HIV. Deve ser utilizado o ✔ resposta: A
teste rápido para HIV, sempre que disponível, junto
com os exames acima especificados. Caso haja re-
cusa ou impossibilidade de realizar os testes, con- Questão 8 dificuldade:
siderar o diagnóstico médico, sintomas e história
Y Dica do professor: Devemos perceber que se tra-
de situação de risco para aquisição de HIV, HBC e
HCV. Exames de detecção viral não são recomen- ta de um acidente grave para raiva: lesão em mão.
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dados como testes de triagem.” Percebemos ainda que o animal é domesticado e
pode ser observado. Assim, a melhor conduta é
✔ resposta: C iniciar esquema de vacinação com duas doses (0
e 3 dias), observando-se o animal até o décimo dia
Questão 7 dificuldade: . pós-acidente. Caso o animal permaneça saudável,
encerra-se o caso. Na eventualidade de o animal
Y Dica do professor: A PEP é uma medida de pre- morrer, desaparecer ou se tornar doente, comple-
venção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites ta-se o esquema com mais duas doses de vacina
virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (dias 7 e 14) e soro antirrábico.
(IST), que consiste no uso de medicamentos para Nessa questão ainda tínhamos a recomendação de
reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser realizar 5 doses da vacina como esquema profilático.
utilizada após qualquer situação em que exista ris- Agora são 4 doses.
co de contágio, tais como: violência sexual; relação
sexual desprotegida e acidente ocupacional (com
✔ resposta: B
instrumentos perfurocortantes ou contato direto
com material biológico). Questão 9 dificuldade:
Alternativa A: CORRETA. Como profilaxia para o risco
Y Dica do professor: Como o estudante já tem an-
de infecção para o HIV, a PEP trata-se de uma ur-
gência médica, que deve ser iniciada o mais rápido ti-HBs positivo, não vai precisar ser vacinado para
possível, preferencialmente nas primeiras duas ho- hepatite B nem tomar imunoglobulina.
ras após a exposição e no máximo em até 72 horas. Alternativa A: INCORRETA.
Alternativa B: INCORRETA. A indicação de PEP irá Alternativa B: INCORRETA. Não precisa tomar imuno-
depender do status sorológico para HIV da pessoa globulina e, mesmo se precisasse, seria IM.
491
Profilaxias e acidente com material biológico Infectologia
para hepatite B, o paciente-fonte é HIV negativo, ou Y Dica do professor: A PEP está indicada nos casos
seja, não há necessidade de profilaxia. de exposição a material biológico com risco de
Alternativa E: INCORRETA. A penicilina poderia ser transmissão de HIV (sangue, sêmen, fluidos vagi-
até uma profilaxia para sífilis, porém a questão não nais, líquidos de serosas, líquido amniótico, líquor
fala nada sobre ela. e líquido articular), por vias de risco (percutânea,
✔ resposta: D por membranas mucosas e através de pele não
íntegra). O atendimento após a exposição é uma
emergência, e a PEP deve ser iniciada até 72 ho-
Questão 10 dificuldade: ras após a exposição, idealmente nas primeiras
2 horas. Deve-se realizar a avaliação sorológica
Y Dica do professor: Nos acidentes com fonte HBV+
da pessoa exposta e a pessoa fonte, em todos os
e sendo o acidentado com vacina incompleta, o ris-
casos. Quando indicado, o esquema antirretroviral
co é alto para a transmissão. Nesse cenário é ne-
indicado é o tenofovir (TDF) + lamivudina (3TC) +
cessária a realização da imunoglobulina, além de
dolutegravir (DTG) por 28 dias.
completar a vacinação do técnico de enfermagem
resposta: A
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resposta: D
✔
✔
Questão 14 dificuldade:
Questão 11 dificuldade:
Y Dica do professor: Questão clássica versando sobre
Y Dica do professor: Em se tratando de um ferimen-
PEP para o HIV em acidentes com material biológi-
to profundo e de um paciente nunca vacinado, de-
co. A janela de oportunidade onde vemos evidên-
vemos tratar o caso administrando a vacina dupla
cia para profilaxia é em até 72 h após o acidente.
tipo adulto (que contempla a vacina antitetânica e
Nesse caso, a funcionária chegou após 96 h, então
o toxoide diftérico), além do soro antitetânico, bem
não indicamos o uso de antiretrovirais.
como realizar medidas gerais, como lavagem do
ferimento e remoção do corpo estranho. Alternativa A: INCORRETA. Não é indicada nesse caso
e o tempo é 28 dias.
✔ resposta: B
Alternativa B: INCORRETA. Se a sorologia da fonte é
negativa, não temos indicação de profilaxia.
Questão 12 dificuldade: Alternativa C: INCORRETA. Não deve ser indicada e
Y Dica do professor: A recomendação da profilaxia não temos como checar a fonte porque não se sabe
contra o tétano acidental tem como base a avalia- se a agulha foi usada em algum paciente.
ção de 3 aspectos: o tipo de ferimento, a situação Alternativa D: CORRETA. Tempo limIte de 72 h ultra-
vacinal e a presença de comorbidades. A conduta passado. Não é indicada a profilaxia pelas normas
muda conforme a situação vacinal, da seguinte for- técnicas do MS.
ma: se tiver 3 ou mais doses da vacina e a última ✔ resposta: D
dose há menos de 5 anos: limpeza do ferimento;
se tiver 3 ou mais doses da vacina e a última dose
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Profilaxias e acidente com material biológico Cap. 18
Questão 15 dificuldade:
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Histórico de vacinação SAT/
Vacina
contra o tétano IGHAT
✔ resposta: B
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ACIDENTE COM ANIMAIS Capítulo
PEÇONHENTOS 19
importância/prevalência
u OMS: Fazem parte do grupo de doenças tropicais negligenciadas, com grande importância pela frequência
e pela gravidade, especialmente em nosso país.
u É importante identificar os principais animais peçonhentos com relevância clínica (serpentes, aranhas e
escorpiões). Os acidentes com serpentes são os que mais aparecem nos exames.
u Em cada subgrupo de animais, saber a espécie mais frequente e com maior importância médica, asso-
ciando às manifestações clínicas típicas que fecham a identificação do animal.
u Diferenciar pelas manifestações clínicas os acidentes botrópicos dos crotálicos, descrevendo a ação do
veneno dessas serpentes.
u Saber quais são as condutas iniciais nesses acidentes, qual é a importância da relação soro/espécie e
como administrá-lo.
u Descrever as principais complicações clínicas, principalmente dos acidentes botrópicos.
u Reconhecer as principais aranhas e escorpiões de importância médica.
u Foneutrismo: dor local e raros quadros sistêmicos. Loxoscelismo: forma cutânea com necrose e possibi-
lidade de evolução com gravidade (hemólise/CIVD).
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u Escorpionismo: T. serrulatus (gravidade); pode ser emergência médica. Quadro sistêmico com necessidade
de soro antiescorpiônico.
u Lembrar que esses agravos são de notificação compulsória.
495
Acidente com animais peçonhentos Infectologia
2. ACIDENTES OFÍDICOS
(SERPENTES) Corresponde ao acidente ofídico de maior impor-
tância epidemiológica no país, já que é responsável
por cerca de 90% dos envenenamentos (Figura 1).
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Identificar o animal causador do acidente é procedimento
importante na medida em que:
496
Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
aparecer na evolução, acompanhados ou não de Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipo-
necrose (Figura 2). tensão arterial e, mais raramente, choque.
Com base nas manifestações clínicas e a fim de
Figura 2. Edema e sangramentos no acidente botrópico.
orientar a terapêutica a ser empregada, os acidentes
botrópicos são classificados em:
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hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco Manifestações sistêmicas como hipotensão arte-
de hemorragia uterina. rial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas
definem o caso como grave, independentemente
do quadro local (Quadro 1).
Soroterapia 2a4 4 12
Fonte: FUNASA¹.
497
Acidente com animais peçonhentos Infectologia
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Usar com cuidado soroterapia nos casos de: antecedentes
capilares, desidratação ou hipotensão arterial alérgicos ou hipersensibilidade a soros de origem equina
e choque. (a infusão intravenosa do soro deverá ser realizada sob
estrito acompanhamento médico, para identificação
e pronto atendimento de eventual reação anafilática);
3.5. EXAMES COMPLEMENTARES
ocorrência de reações alérgicas (interromper a sorote-
rapia temporariamente e iniciar tratamento conforme
a) Tempo de Coagulação (TC): de fácil execução, intensidade das reações).
sua determinação é importante para elucidação
diagnóstica e para o acompanhamento dos casos.
Uma vez indicado, o soro deve ser administrado o
b) Hemograma: comumente revela leucocitose mais rapidamente possível. Quanto mais precoce
com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedi- for a administração da primeira dose do soro, maior
mentação elevada nas primeiras horas do acidente a potência terapêutica. Quando houver dificuldade
e plaquetopenia de intensidade variável. para o reconhecimento da espécie, existe a possi-
c) Exame sumário de urina: pode haver proteinúria, bilidade de utilizar soro com antiveneno com ação
hematúria e leucocitúria. para várias serpentes.
498
Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
acidentes é registrada. São responsáveis por cerca recentes não demonstraram a ocorrência de he-
de 7,7% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, mólise nos acidentes humanos.
representando até 30% em algumas regiões. Não u Ação anticoagulante: decorre de atividade do tipo
são encontradas em regiões litorâneas. Apresentam trombina, que converte o fibrinogênio diretamen-
o maior coeficiente de letalidade dentre todos os te em fibrina. O consumo do fibrinogênio pode
acidentes ofídicos (1,87%), por causa da frequência levar à incoagulabilidade sanguínea. Geralmen-
com que evoluem para Insuficiência Renal Aguda te, não há redução do número de plaquetas. As
(IRA). manifestações hemorrágicas, quando presentes,
A cobra cascavel possui fosseta loreal ou lacrimal; a são discretas.
extremidade da cauda apresenta guizo ou chocalho
de cor amarelada (Figura 3). 4.1. QUADRO CLÍNICO
Figura 3. Cascavel.
4.2. MANIFESTAÇÕES LOCAIS
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cutâneas variáveis.
Fonte: Acervo Sanar.
499
Acidente com animais peçonhentos Infectologia
u Musculares, decorrentes da atividade miotóxica: Com base nas manifestações clínicas, os acidentes
caracterizam-se por dores musculares gene- crotálicos são classificados em leves, moderados
ralizadas (mialgias) de aparecimento precoce. e graves.
A urina pode estar clara nas primeiras horas e
assim permanecer, ou tornar-se avermelhada u Leves: sinais e sintomas neurotóxicos discretos,
(mioglobinúria) e progressivamente marrom nas de aparecimento tardio, fácies miastênica discre-
horas subsequentes, traduzindo a eliminação de ta, mialgia discreta ou ausente, sem alteração
quantidades variáveis de mioglobina, pigmento da cor da urina.
liberado pela necrose do tecido muscular esque-
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u Moderados: sinais e sintomas neurotóxicos –
lético (rabdomiólise). Não havendo dano renal, fácies miastênica evidente, mialgia discreta ou
a urina readquire a sua coloração habitual em provocada ao exame. A urina pode apresentar
1 ou 2 dias. coloração alterada.
u Distúrbios da coagulação: pode haver aumento do u Graves: sinais e sintomas neurotóxicos evidentes
Tempo de Coagulação (TC) ou incoagulabilidade – fácies miastênica, fraqueza muscular, mialgia
sanguínea, com queda do fibrinogênio plasmático, intensa e urina escura, podendo haver oligúria
em aproximadamente 40% dos pacientes. Rara- ou anúria, insuficiência respiratória.
mente há pequenos sangramentos, geralmente
restritos às gengivas (gengivorragia).
Pouco evidente
Urina vermelha Ausente Presente
ou ausente
Soroterapia 5 10 20
Fonte: FUNASA¹.
500
Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
4.4. COMPLICAÇÕES
5. ACIDENTES POR ARACNÍDEOS
u Locais: raramente parestesias locais duradou-
ras, porém reversíveis após algumas semanas.
5.1. ACIDENTE LOXOSCÉLICO
u Sistêmicas: Insuficiência Renal Aguda (IRA) com
necrose tubular, habitualmente de instalação nas O LOXOSCELISMO (acidente por aranha marrom)
primeiras 48 horas. tem sido descrito em vários continentes. Corres-
ponde à forma mais grave de araneísmo no Brasil
4.5. EXAMES COMPLEMENTARES (Figura 5). A maior parte dos acidentes notificados
concentra-se no sul do país, particularmente Paraná
u Sangue: podem-se observar valores elevados e Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente
de creatinoquinase (CK) – mais precoce –, de- adultos, com discreto predomínio em mulheres,
sidrogenase lática (LDH) – mais lento e gradual ocorrendo no intradomicílio. Observa-se uma dis-
–, AST, ALT e aldose. O tempo de coagulação tribuição centrípeta das picadas, acometendo mais
frequentemente está prolongado. Hemograma a coxa, o tronco ou o braço.
pode mostrar leucocitose, com neutrofilia e des-
vio à esquerda. Figura 5. Aranha marrom.
4.6. TRATAMENTO
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u Específico: Soro Anticrotálico (SAC) EV. A dose
varia de acordo com a gravidade do caso. Pode-
rá ser utilizado o Soro Antibotrópico-Crotálico
(SABC). O que terá variação é a quantidade de
ampolas a serem administradas.
u Geral: hidratação adequada. Fonte: Acervo Sanar.
501
Acidente com animais peçonhentos Infectologia
inflamatório no local da picada, acompanhado de u Leve: lesão incaracterística, sem alterações clí-
obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e nicas ou laboratoriais e com identificação da
necrose focal. Nas formas mais graves, acredita-se aranha causadora do acidente. O paciente deve
que a ativação desses sistemas leva à hemólise ser acompanhado pelo menos por 72 horas, e o
intravascular. caso pode ser reclassificado.
b) Quadro clínico: a picada quase sempre é imper- u Moderado: lesão sugestiva ou característica, mes-
ceptível, e o quadro clínico apresenta-se de 2 formas: mo sem identificação do agente causal, com ou
sem alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo,
W Forma cutânea: 87% a 98% dos casos.
cefaleia e mal-estar.
W Instalação lenta e progressiva. Sintomas – dor,
u Grave: lesão característica e alterações clínico-
edema endurado e eritema no local da picada,
-laboratoriais de hemólise intravascular.
pouco valorizados pelo paciente. Acentuam-se
nas primeiras 24 a 72 horas após o acidente,
podendo ser: 5.3. COMPLICAÇÕES
W Lesão incaracterística: bolha de conteúdo se-
roso, edema, calor e rubor, com ou sem dor u Locais: infecção secundária, perda tecidual, ci-
em queimação. catrizes desfigurantes.
W Lesão sugestiva: enduração, bolha, equimose u Sistêmicas: a principal é a insuficiência renal
e dor em queimação. aguda.
W Lesão característica: dor em queimação, le-
sões hemorrágicas focais, mescladas com
5.4. E XAMES COMPLEMENTARES:
áreas pálidas de isquemia (placa marmórea)
NÃO HÁ ESPECÍFICOS
e necrose.
As picadas em tecido frouxo, como na face, podem u Forma cutânea: hemograma com leucocitose e
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apresentar edema e eritema exuberantes. A lesão neutrofilia.
cutânea pode evoluir para necrose seca (escara) u Forma cutâneo-visceral: anemia aguda, plaqueto-
em cerca de 7 a 12 dias, que, ao se destacar em 3 penia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta,
a 4 semanas, deixa úlcera de difícil cicatrização. queda dos níveis séricos de haptoglobina, eleva-
As mais comuns alterações do estado geral são: ção dos níveis séricos de potássio, creatinina e
astenia, febre nas primeiras 24 horas, cefaleia, ureia, e coagulograma alterado.
exantema morbiliforme, prurido generalizado, peté-
quias, mialgia, náuseas, vômito, visão turva, diarreia, 5.5. TRATAMENTO
sonolência, obnubilação, irritabilidade e até coma.
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Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
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quentemente dentro de residências e nas suas
infiltração anestésica local ou troncular à base de
proximidades, no manuseio de material de constru-
lidocaína a 2% sem vasoconstritor. Outro procedi-
ção, entulhos, lenha ou calçando sapatos. Também
mento auxiliar, útil no controle da dor, é a imersão
pode ser encontrada em bananeiras ou árvores com
do local em água morna ou o uso de compressas
grandes folhagens. Acidentes são mais observados
quentes.
em abril e maio, e dificilmente levam a quadro grave.
Picadas ocorrem preferencialmente em mãos e pés. b) Específico: a soroterapia tem sido formalmente
indicada nos casos com manifestações sistêmicas
Figura 6. Aranha armadeira (Phoneutria). em crianças e em todos os acidentes graves. Nessas
situações, o paciente deve ser internado para melhor
controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâ-
micos e tratamento de suporte das complicações
associadas.
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Fonte: FUNASA¹.
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7. ACIDENTES POR ESCORPIÕES Figura 7. Escorpião (Tityus).
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505
Acidente com animais peçonhentos Infectologia
Mapa mental
Ptose palpebral
Serpentes
Complicações : síndrome
compartimental,
infecções secundárias
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Cutânea, hemólise,
Acidente com animais Loxoceles (marrom)
peçonhentos
necrose, placa marmórea
Aranhas
Dor, edema,
Avaliar gravidade e indicar sudorese e taquicardia
soroterapia quando necessário
Phoneutra(armadeira)
Conduta : muitas vezes
bloqueio com anestesia
Escorpiões
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Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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incl Trop Dis. 2015;21(53):2-5.
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Trea-tment; an Educational Review. Emerg. 2014;2(2):54-8.
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Bothrops lanceolatus bites: guidelines for severity assessment
and emergent management. Toxins (Basel). 2010;2(1):163-73.
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Acidente com animais peçonhentos Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(SUS - BA - 2022) Homem, 19 anos de idade, lavrador, (SUS - BA - 2022) Diante do quadro descrito, indique as
dá entrada na emergência após acidente ofídico por complicações que esse paciente, mais provavel-
jararaca, em pé esquerdo, há 48 horas. Queixa-se mente, poderá apresentar:
de dor intensa no local da picada. Nega comorbi-
dades. Ao exame físico, apresenta-se em regular ⮦ Hemorragias, decorrentes de plaquetopenia e
estado geral, com FR: 22irpm, PA: 140x90mmHg, distúrbios de coagulação.
FC: 100bpm, SatO2: 95%. Observam-se dois orifícios ⮧ Fácies miastênica e ptose, decorrentes do efeito
de inoculação, edema, equimose e lesões bolhosas neurotóxico do veneno.
no local da picada. ⮨ Síndrome vagal, com diarreia, bradicardia, hi-
Em relação ao tratamento geral desse paciente, potensão.
deve-se: ⮩ Rabdomiólise, devido ao efeito miotóxico do
⮦ realizar torniquete, no atendimento inicial, para veneno.
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impedir a circulação do veneno.
⮧ iniciar aciclovir, para cobertura de herpes, pre- Questão 4
sente na saliva da serpente.
(USP - SP - 2022) Homem, 20 anos, trabalhador rural,
⮨ realizar cobertura para anaeróbios, gram posi-
sofreu acidente no tornozelo esquerdo, por animal
tivos e gram negativos, caso ocorra infecção
não visualizado. Queixa-se de pouca dor no torno-
secundária.
zelo esquerda, mialgia difusa e dificuldade para
⮩ evitar opioides, para que os efeitos colaterais deglutir. Apresenta hematúria importante. Qual é
não se confundam com o efeito neurotóxico do a alteração clínica/laboratorial esperada?
veneno.
⮦ Troponina elevada.
⮧ Rinorreia.
Questão 2
⮨ Hipercalcemia.
(SUS - BA - 2022) Em relação ao tratamento específico, ⮩ Diplopia.
o soro anti-veneno a ser aplicado é :
⮦ antibotrópico. Questão 5
⮧ antilaquético.
(REVALIDA - 2021) Uma criança com 7 anos de idade,
⮨ anticrotálico.
moradora de zona rural, relata acidente por animal
⮩ antielapídico. desconhecido há 4 horas. No momento, refere for-
migamento no local da picada, boca seca, diplopia,
dificuldade de deglutição, dores musculares gene-
ralizadas, oligúria e urina de coloração vermelha
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Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
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⮦ Phoneutria.
⮧ Loxosceles. Questão 9
⮨ Lycosidae. (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP - SP - 2020)
⮩ Latrodectus. Menino, 7a, é trazido a Unidade de Emergência após
picada de escorpião no pé direito há cerca de 50
minutos. Refere dor intensa com formigamento no
Questão 7
hálux e dorso do pé. Nega vômitos, refere batedeira
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP no peito. Exame físico: FC= 108 bpm; FR= 22 irpm,
DA USP - SP - 2021) Adolescente de 12 anos de idade PA= 110x60 mmHg, pulsos cheios, perfusão perifé-
comparece à unidade básica de saúde (UBS) 20 rica de 2 segundos. Coração: Bulhas rítmicas, em
minutos após ser picado por um escorpião no se- 2 tempos, normofonéticas, sem sopros; Pulmões:
gundo dedo da mão direita. Relata dor intensa no roncos esparsos, sem desconforto. ALÉM DA ANAL-
local da picada, além de náuseas. Ao exame físico GESIA, A CONDUTA É:
você observa frequência cardíaca de 130 bpm/mi-
⮦ Observação por pelo menos 6 horas.
nuto, sem outras anormalidades. A conduta mais
adequada é: ⮧ Soro antiescorpiônico 2 ampolas e observação
por 24 horas.
⮦ Encaminhamento a serviço de referência para ⮨ Soro antiescorpiônico 4 ampolas e observação
administração de 4 ampolas do soro antiescor- por 24 horas.
piônico.
⮩ Soro antiescorpiônico 6 ampolas e observação
⮧ Alívio da dor (analgesia/bloqueio) e observação em UTI.
por 4-6 horas na UBS.
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manifestações clínicas associadas, marque a al- após cerca de 12 horas notou a formação de eri-
ternativa ERRADA: tema e bolha hemorrágica associados com febre,
calafrios e náuseas. Exame físico: bom estado geral,
⮦ Acidente botrópico: não produz sintomas locais,
descorado +/4, hidratado, acianótico, ictérico +/4,
exceto parestesia que progride pelo membro
pele: lesão cutânea mostrada na figura abaixo (Con-
picado até acometimento da musculatura res-
forme imagem do caderno de questões), ausculta
piratória e asfixia.
pulmonar e cardíacas normais, FC: 92 bpm, PA: 135
⮧ Acidente crotálico: dor na nuca, diminuição da X 80 mmHg, abdome: sem alterações. Exames: He-
visão e dificuldade para falar. moglobina: 9,5 g/dL; VCM: 94 fl (VN: 80-95); HCM:
⮨ Acidente por aranha do gênero loxosceles: ede- 31 (VN: 27-32); GB: 18.000 (05% bastões); Plaque-
ma, eritema e flictena no local da picada, evo- tas: 180.000; LDH: 2300 U/L (VN < 460); bilirrubina
luindo até úlcera extensa de difícil cicatrização. indireta: 2,5 mg/dL (VN < 0,9); bilirrubina direta:
⮩ Escorpionismo: dor local, agitação, taquicardia, 0,28 mg/dL (VN < 0,3); creatinina: 1,6 mg/dL (VN
vômitos e priapismo. < 1,5); ALT: 28 U/L (VN < 31); AST: 40 U/L (VN < 32);
INR: 1,2 (VN: até 1,3); TTPA (ratio):1,12 (VN < 1,26).
Qual é o agente etiológico mais provável?
Questão 12
⮦ Loxosceles sp.
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG – 2018) CDE, 26 anos,
⮧ Bothrops sp.
sexo masculino, lavrador, foi vítima de picada de
cobra em MIE. Cerca de 1 hora depois, apresentou ⮨ Phoneutria sp.
no local da picada por intensa, edema, equimose ⮩ Crotalus sp.
importante e formação de bolhas. Nega parestesias,
dificuldades visual e respiratória. Ao exame não se
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Questão 14
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GABARITO E COMENTÁRIOS
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dária deve cobrir esses agentes . simultâneo, o fator X e a protrombina. Possui tam-
ALTERNATIVA D: INCORRETA. É permitido e recomen- bém ação semelhante à trombina, convertendo o
dado analgesia pós acidente mesmo com opioides, fibrinogênio em fibrina. Essas ações produzem dis-
já que o efeito do veneno botrópico não tem ação túrbios da coagulação, caracterizados por consumo
direta em SNC. dos seus fatores, geração de produtos de degra-
dação de fibrina e fibrinogênio, podendo casionar
✔ resposta: C
incoagulabilidade sanguínea. Este quadro é seme-
lhante ao da coagulação intravascular disseminada.
Questão 2 dificuldade: Os venenos botrópicos podem também levar
a alterações da função plaquetária, bem como
Y Dica do professor: Reação inflamatória local é clás-
plaquetopenia.
sica do acidente botrópica. Logo, soro antibotrópico
Alternativa B: INCORRETA. Os achados mais comum
é a conduta, lembrando que de avaliação gravidade
em acidentes crotálicos.
para definir a quantidade de ampolas Outras medi-
Alternativa C: INCORRETA. Acidente laquético tem
das gerais devem ser tomadas, como:
essas características. São relatados hipotensão
1) Manter elevado e estendido o segmento picado;
arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicar-
2) Emprego de analgésicos para alívio da dor; dia, cólicas abdominais e diarréia (síndrome vagal).
3) Hidratação: manter o paciente hidratado, com Alternativa D: INCORRETA. Rabdomiólise é mais co-
diurese entre 30 a 40 mL/hora no adulto; mum em acidente crotálico.
4) Antibioticoterapia: o uso de antibióticos deverá
✔ resposta: A
ser indicado quando houver evidência de infec-
ção. As bactérias isoladas de material prove-
niente de lesões são principalmente Morganella
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Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
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quelíceras com pelos alaranjados ou avermelhados.
Questão 5 dificuldade: Na parte dorsal do abdômen, há um desenho ne-
gro em forma de seta. Os acidentes causados pela
Y Dica do professor: Questão clássica sobre aciden- Lycosa provocam dor discreta e transitória no local
tes com animais peconhentos, no caso com serpen- da picada. Edema e eritema leves são descritos em
tes. Os achados de diplopia, ptose palpebral e urina menos de 20% dos casos.
escurecida (rabdomiólise) nos conduzem à princi- Alternativa D: INCORRETA. Em acidentes causados
pal hipótese diagnóstica no caso, que é acidente por Latrodectus, conhecido pelo nome comum
crotálico (com cascavel), descrita na alternativa C. de aranhas-pretas ou viúvas-negras, cerca de 75%
Assim, nesse caso, a conduta seria a administração das picadas em adultos injetam pouco veneno e
de soro específico anticrotálico. causam apenas dor e desconforto local. Quando
✔ resposta: C há envenenamento significativo, 5 a 30 minutos
depois da picada aparece dor irradiante, calafrios
e sudorese local. Uma hora depois começam tre-
Questão 6 dificuldade:
mores, contraturas, rigidez e câimbras dolorosas,
Y Dica do professor: Acidentes por animais peço- como um tetanismo. Pode haver também febre,
nhentos é um tema sempre presentes nas provas salivação, sede, náuseas, vômitos, hipertensão e
de residência médica e cheio de detalhes. Vale a excitação psicomotora.
pena você sempre revisá-lo. ✔ resposta: A
Alternativa A: CORRETA. Phoneutria é um gênero de
aranhas conhecidas pelos nomes comuns de ar-
madeira, devido a sua atitude invariável de ataque,
com as patas dianteiras erguidas. Originárias da
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Acidente com animais peçonhentos Infectologia
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requerendo medidas específicas, como administra- intensidade nas primeiras horas após o acidente.
ção de soro antiveneno. Todo paciente que chega ao Não podemos esquecer que a intensidade das ma-
hospital por picada de escorpião deve ser mantido nifestações clínicas é dependente da quantidade
em observação por seis horas em casos leves, por de veneno inoculada. Após o intervalo de minutos
24 a 48 horas em casos moderados, e internados até poucas horas, podem surgir manifestações
em unidade especializada de suporte intensivo em sistêmicas como: sudorese profusa, agitação psi-
casos graves com instabilidade cardiorrespiratória comotora, tremores, náuseas, vômitos, sialorreia,
Alternativa C: INCORRETA. Não há indicação de uso hipertensão ou hipotensão, arritmia cardíaca, in-
de soro antiveneno – indicado nos casos de aci- suficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar
dentes moderados e graves. agudo e choque. No caso da criança em questão,
Alternativa D: INCORRETA. Paciente não deve receber podemos perceber tratar-se de um quadro leve ape-
alta imediatamente, mas manter em observação nas com a dor local como único sintoma. Além da
por pelo menos 4 horas. analgesia, pelo risco de desenvolver sintomas como
aqueles citados anteriormente, devemos manter o
✔ resposta: B
paciente em observação por algumas horas. O tra-
tamento específico consiste na administração de
Questão 8 dificuldade: soro antiescorpiônico aos pacientes com formas
moderadas (utilizando de 2 a 3 ampolas) e graves
Y Dica do professor: Questão clássica sobre aciden- (utilizando de 4 a 6 ampolas). Nos casos conside-
tes com animais peçonhentos; no caso, com ser- rados moderados, temos dor local associado a
pentes. Os achados de diplopia, ptose palpebral e uma ou mais manifestações como: náuseas, vô-
urina escurecida (rabdomiólise) nos conduzem à mitos, sudorese, sialorreia, agitação, taquipneia e
principal hipótese diagnóstica no caso que é acidente taquicardia. Os casos graves são aqueles com as
crotálico (com cascavel), descrita na alternativa C.
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Acidente com animais peçonhentos Cap. 19
manifestações clínicas citadas na forma moderada Alternativa C: CORRETA. O acidente pela aranha mar-
associado a uma ou mais das seguintes manifes- rom (Loxosceles) leva a uma lesão característica,
tações: vômitos profusos e incoercíveis, sialorreia com base eritematosa, isquemia central e áreas
intensa, prostração, convulsão, coma, bradicardia, violáceas, denominada placa marmórea. Evolui com
edema pulmonar agudo e choque. necrose e úlcera de difícil cicatrização.
✔ resposta: A Alternativa D: CORRETA. Nas picadas de escorpião, a
dor local é o sintoma mais comum, mas o paciente
pode apresentar taquicardia, hipertensão, vômitos
Questão 10 dificuldade: ou priapismo.
Y Dica do professor: Podemos diferenciar o tipo de ✔ resposta: A
acidente ofídico de acordo com o quadro clínico
apresentado no momento da admissão. O aciden-
Questão 12 dificuldade:
te botrópico (jararaca) leva a um quadro local im-
portante pela ação proteolítica, com dor, edema, Alternativa A: INCORRETA. A quantidade de soro de-
equimoses, bolhas e até necrose, podendo levar à pende da gravidade do quadro, e não do peso do
síndrome compartimental. Há também uma ação paciente.
coagulante e hemorrágica, levando a testes de coa-
Alternativa B: INCORRETA. O uso de garrote ou a suc-
gulação alterados e sangramentos. No acidente
ção do veneno pelo sangue não são recomendados.
crotálico (cascavel), temos efeitos neurotóxicos,
miotóxicos e coagulantes: o local da picada tem Alternativa C: INCORRETA. O soro pode ser aplicado
poucas alterações, mas o paciente apresenta fá- em qualquer lugar.
cies miastênica, visão turva, dores musculares Alternativa D: CORRETA.
generalizadas e urina escura (pela rabdomiólise). ✔ resposta: D
O acidente laquético (surucucu) tem apresentação
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local semelhante ao botrópico, com alterações va-
gais associadas (vômitos, diarreia, hipotensão). No Questão 13 dificuldade:
mental.
Y Dica do professor: Acidente escorpiónico. as for-
Alternativa B: CORRETA. No acidente crotálico (casca- mas moderadas e graves de escorpionismo, mais
vel), temos efeitos neurotóxicos, miotóxicos e coa- frequentes nas crianças picadas pelo Tityus ser-
gulantes: o local da picada tem poucas alterações, rulatus (8% a 10 % dos casos, segundo Ministério
mas o paciente apresenta fácies miastênica, visão da Saúde), deve ser administrado o soro antiescor-
turva e dores musculares generalizadas. piônico ou antiaracnídico – Trivalente: Loxosceles,
Phoneutria, Tityus (SAAr). Deve ser administrado, o
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Capítulo
RAIVA
20
importância/prevalência
u Raiva humana continua sendo um problema de saúde pública pela altíssima gravidade do seu acometimento
e elevado gasto na assistência, na profilaxia e no controle da doença. Apesar de cada vez mais raros os
casos de raiva em humanos. No Brasil continuamos a ter casos de raiva, especialmente em populações
vulneráveis (indígenas) no ciclo aéreo (com morcegos).
u Vírus neurotrópico com ação no SNC e clínica característica de encefalomielite aguda, pela sua replicação
viral nos neurônios.
u Antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal
infectado, principalmente pela mordedura.
u Controle da raiva em cães e gatos: melhor nos últimos anos, risco maior em exposições com outros ani-
mais de produção e morcegos.
u Ciclo urbano: cão e gato, ciclo silvestre: morcegos.
u Sem tratamento comprovadamente eficaz para a raiva. Poucos pacientes sobrevivem à doença, a maioria
com sequelas graves. Existem protocolos específicos para o tratamento da raiva humana.
u Profilaxia pode ser pré ou pós-exposição, sendo mais comum a última (assunto mais cobrados nos exa-
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mes médicos).
u Pré-exposição: para profissionais que sistematicamente lidam com animais de grande porte que podem
transmitir a raiva (veterinários), fazendo que estes tenham uma imunidade prévia.
u Pós-exposição : prevenção baseada na classificação do acidente e do animal envolvido.
u Importante: classificar os acidentes (risco baixo ou aumentado), qual animal está envolvido, além da pos-
sibilidade de poder observar o animal (gato/cão).
u Ferramentas para profilaxia: vacina e imunoglobulina/soro contra raiva. Importante destacar o desabaste-
cimentona produção de vacinas nos últimos anos e a redução de 5 para 4 doses no esquema de profilaxia.
u Conhecer os esquemas de vacina na profilaxia, indicações de imunoglobulina e acidentes sempre graves
(morcegos).
517
Raiva Infectologia
Pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdo- responsável pela formação de anticorpos neutra-
viridae, possui a forma de projétil e seu genoma lizantes, e outro interno, que é formado por uma
é constituído por RNA envolvido por 2 capas de nucleoproteína.
natureza lipídica. Apresenta 2 antígenos principais,
Inoculação: chega no sistema nervoso periférico e
1 de superfície, composto por uma glicoproteína
migra para o SNC protegido pela camada de mielina.
Vide o caminho percorrido pelo vírus na figura abaixo:
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Não há viremia. A partir do SNC, dissemina-se para A infecção pelo vírus da raiva se inicia através da
vários órgãos e glândulas salivares, onde, também, sua introdução na pele ou nas membranas mucosas.
se replica e é eliminado na saliva das pessoas ou Após isso, ocorre replicação no músculo estriado
dos animais infectado. esquelético adjacente ao local da inoculação e
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Raiva Cap. 20
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Fonte: Costa et al.¹
Apenas os mamíferos transmitem e adoecem pela casos positivos, devendo usar esses animais como
raiva. sentinelas para o monitoramento de circulação do
vírus da raiva e outras zoonoses.
O cão, em alguns municípios, continua sendo fonte
de infecção importante. Outros reservatórios silves- Observa-se um aumento na detecção de casos de
tres são: macaco e animais silvestres (Vide figura raiva, tanto em morcegos quanto em animais de
dos ciclos da raiva). produção, demonstrando a importância desses
como fonte de infecção para transmissão de raiva
O ciclo rural, ou seja, que envolve os animais de
aos humanos.
produção, é o que apresenta o maior número de
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Raiva Infectologia
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os pródromos que duram de 2 a 4 dias e são ines-
controle da raiva canina e felina, nos últimos 30 pecíficos.
anos, alcançaram significativa redução nas taxas
Anorexia, cefaleia, náuseas, odinofagia, entorpe-
de mortalidade por raiva humana, com o predomí-
cimento, irritabilidade, inquietude e sensação de
nio de casos em caráter esporádicos e acidentais.
angústia. Hiperestesia e parestesia no trajeto de
u Caso suspeito de raiva: notificação compulsória nervos periféricos, próximos ao local da mordedura
e IMEDIATA. e alterações de comportamento.
Hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espas-
mos musculares involuntários, generalizados e/ou
DIA A DIA MÉDICO convulsões. Espasmos dos músculos da laringe,
faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou
O número de casos de raiva em cães vem reduzindo no tenta ingerir líquido, apresentando sialorréia intensa.
Brasil, e nos últimos anos, tem apresentado maior concen-
tração no Nordeste. O ciclo rural, ou seja, que envolve os Os espasmos musculares evoluem para um quadro
animais de produção, é o que apresenta o maior número de paralisia, levando a alterações cardiorrespira-
de casos positivos, devendo usar esses animais como tórias, retenção urinária, obstipação intestinal. O
sentinelas para o monitoramento de circulação do vírus paciente se mantém consciente, com período de
da raiva e de outras zoonoses. Observa-se um aumento
alucinações, até à instalação de quadro comatoso
na detecção de casos de raiva, tanto em morcegos quanto
em animais de produção, demonstrando a importância
e evolução para óbito.
desses como fonte de infecção para transmissão de raiva O período de evolução do quadro clínico, após ins-
aos humanos.
talados os sinais e sintomas até o óbito é, em geral,
de 5 a 7 dias.
520
Raiva Cap. 20
3. DIAGNÓSTICO 5. PREVENÇÃO
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a raiva. Poucos pacientes sobrevivem à doença, intramuscular profunda, utilizando dose com-
a maioria com sequelas graves. De 1970 a 2003, pleta.
existe o histórico de 5 sobreviventes, em 3 o vírus 4. Controle sorológico: a partir do 14º dia após a
foi transmitido pelo cão; 1 pelo morcego; e 1 por última dose do esquema. Observações a respeito
aerossol. Desses, todos iniciaram o esquema pro- do controle sorológico:
filático com vacina, porém não receberam o soro.
5. interpretação do resultado: são considerados
Por isso a profilaxia pré ou pós-exposição ao vírus satisfatórios títulos de anticorpos >0,5 UI/mL.
rábico deve ser adequadamente executada. Em caso de título insatisfatório, isto é, <0,5 UI/
Protocolo de Milwaukee adaptado com sucesso na mL, aplicar 1 dose completa de reforço, pela via
terapia, sendo um da Colômbia e outro do Brasil, intramuscular, e reavaliar novamente a partir do
o qual originou o Protocolo de tratamento de raiva 14º dia após a aplicação.
humana no Brasil – Protocolo de Recife.
No caso de acidentes em pessoas que já fizeram a
profilaxia pré-exposição, vide quadro abaixo:
DIA A DIA MÉDICO
521
Raiva Infectologia
Caso não tenha comprovação ou título <0,5 UI/ a) Local do acidente: acidentes que ocorrem em
mL, conduzir como se não houvesse profilaxia topografias próximas ao sistema nervoso cen-
pré-exposicão. tral (cabeça, face ou pescoço) ou em locais muito
inervados (mãos, polpas digitais e planta dos pés)
5.2. PROFILAXIA POS-EXPOSICÃO são graves por facilitarem a exposição do sistema
nervoso ao vírus. A lambedura da pele íntegra não
oferece risco, já a lambedura de mucosas também
O controle da raiva humana depende de diversas
é grave porque as mucosas são permeáveis ao
medidas de saúde e de educação, abrangendo
vírus, mesmo quando intactas, e também porque
ações individuais e coletivas, incluindo a vacina-
as lambeduras, geralmente, abrangem áreas mais
ção animal, a captura para controle de mamíferos
extensas.
silvestres e a profiaxia pré e pós-exposição para
os humanos, além da vigilância epidemiológica
b) Profundidade do acidente: os acidentes devem
efetiva e adequada.
ser classificados como superficiais (sem presença
Em relação à profilaxia pós-exposição, o conheci- de sangramento) ou profundos (apresentam san-
mento das condutas a serem adotadas é de extrema gramento, quer dizer, ultrapassam a derme). Os
relevância para o profissional da área da saúde, ferimentos profundos, aumentam o risco de expo-
precipuamente para aqueles que atuam nos serviços sição do sistema nervoso e oferecem dificuldades à
de urgência e emergência. assepsia, contudo, vale ressaltar, que os ferimentos
puntiformes são considerados como profundos e,
Os procedimentos objetivam impedir que o vírus
algumas vezes, não apresentam sangramento.
rábico alcance as terminações nervosas adjacentes
à solução de continuidade, através da estimulação u Acidentes leves: ferimentos superficiais, pouco
da resposta imunológica do enfermo e da eliminação extensos, em grande parte únicos, em tronco e
das partículas virais da lesão. Desse modo, impede- membros (exceto mãos e polpas digitais e plan-
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-se o processo de adoecimento. Em caso de possí- ta dos pés); podem acontecer em decorrência
vel exposição ao vírus da raiva, é imprescindível a de mordeduras ou arranhaduras causadas por
limpeza do ferimento com água corrente abundante unha ou dente; lambedura de pele com lesões
e sabão ou outro detergente, porque essa conduta superficiais
diminui, comprovadamente, o risco de infecção. As u Acidentes graves: ferimentos na cabeça, face,
recomendações abaixo foram retiradas do guia do pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé;
Ministério da Saúde de profilaxia contra raiva. ferimentos profundos, múltiplos ou extensos,
O primeiro cuidado após a mordedura do animal é a em qualquer região do corpo; lambedura de mu-
exaustiva limpeza do ferimento com água e sabão, cosas; lambedura de pele onde já existe lesão
fazendo-se, ato contínuo, a antissepsia com álcool grave; ferimento profundo causado por unha de
iodado, povidine ou clorexidina. A sutura da lesão gato; qualquer ferimento por morcego.
não é recomendada rotineiramente, mas, nas lesões
extensas, a aproximação das bordas do ferimento c) Características do animal envolvido:
pode ser realizada, situação na qual a infiltração u Cão e gato: as características da doença em
da lesão com soro antirrábico é preconizada. A cães e gatos, como período de incubação, trans-
profilaxia para o tétano é eventualmente necessária, missão e quadro clínico, são bem conhecidas e
respeitando-se suas indicações consagradas na semelhantes, por conseguinte, esses animais
literatura e nos protocolos governamentais são analisados em conjunto. A possibilidade de
As exposições (mordeduras, arranhaduras, lambe- observação do animal por 10 dias: mesmo se o
duras e contatos indiretos) devem ser avaliadas de animal estiver sadio no momento do acidente,
acordo com as características do ferimento e do é importante que seja mantido em observação
animal envolvido para fins de conduta de esquema por 10 dias.
profilático.
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Raiva Cap. 20
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sustentada em evidências científicas. Igualmente, u Iniciar imediatamente o esquema profilático
estão discriminadas as alterações que foram rea-
com 4 doses de vacina, administradas nos dias
lizadas, e o esquema de profilaxia da raiva humana
0, 3, 7 e 14.
pré-exposição não foi modificado, devendo seguir
o constante no Guia de Vigilância em Saúde e nas
u Nas agressões por morcegos ou qualquer espé-
Normas Técnicas de Profilaxia da Raiva Humana. cie de mamífero silvestre, deve-se indicar soro-
vacinação independentemente da gravidade da
lesão, ou indicar conduta de reexposição.
5.4. ACIDENTES LEVES (PELA VIA IM)
523
Raiva Infectologia
u O animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, aplicar uma dose entre o 7º e o 10º dia e uma
completar o esquema até 4 doses, aplicar uma dose no 14º dia.
dose entre o 7º e o 10º dia, e uma dose no 14º dia.
O paciente deve ser orientado a informar imedia- c) Cão ou gato raivoso, desaparecido ou morto;
tamente a unidade de saúde caso o animal morra, animais silvestres (inclusive os domiciliados), ani-
desapareça ou se torne raivoso, uma vez que podem mais domésticos de interesse econômico ou de
ser necessárias novas intervenções de forma rápida, produção:
como a aplicação do soro ou o prosseguimento do u Lavar com água e sabão.
esquema de vacinação. u Iniciar imediatamente o esquema profilático com
soro/imunoglobulina e 4 doses de vacina, admi-
b) Cão ou gato clinicamente suspeito de raiva no
nistradas nos dias 0, 3, 7 e 14.
momento da agressão:
u Lavar com água e sabão.
u Iniciar o esquema profilático com soro/imunoglo- DIA A DIA MÉDICO
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Raiva Cap. 20
4 Doses administradas
Soro Infiltração de 40 UI/kg no ferimento Vacina
nos dias 0, 3, 7, 14
Caso a região anatômica não permita a introdução de todo o A vacina de cultivo celular possui menos efeitos colaterais
volume do soro, o restante deve ser que a fuenzalida & palácios e, por isso, é mais usada no brasil
aplicado por via intramuscular
Paciente com
a lesão chega
ao serviço
Raivoso, suspeito,
desaparecido
Acidente grave Soro + vacina
Avaliar a Avaliar condição
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necessidade do animal
de terapia com Clinicamente sadio Contato indireto Não realizar
antimicrobianos
profiláticos
Animal doméstico
(cão ou gato) Acidente leve Observar o animal
Identificar animal
agressor
Morcego ou
animal silveste
Iniciar vacina e
Acidente grave
observar o animal
525
Raiva Infectologia
1. Costa WA et al. Profilaxia da raiva humana. 2. ed. São Lisboa T, Ho Y, Henrique Filho GT, Brauner JS, Valiatti JLS,
Paulo: Instituto Pasteur, 2000. Verdeal JC, et al. Diretrizes para o manejo do tétano acidental
2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em em pacientes adultos. Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(4):
Saúde. Tabelas de Casos de Raiva Animal por Região 394-409
Administrativa e Unidades Federadas [Internet]; 2019a Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde,
[acesso em 21 nov 2022]. Disponível em: http://portalms. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
saude.gov.br/saude-de-a-z/raiva/epidemiologia. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia
3. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em em Serviços. 3.
Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Nor- Murray PR, Rosenthal KS, Pfaller MA. Microbiologia médica.
mas técnicas de profilaxia da raiva humana. Brasília: 8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2017.
Ministério da Saúde; 2011. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfallor MA. Rhab-
dovirus. In: Microbiologia Médica. 3 ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan; 2000.
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Raiva Cap. 20
QUESTÕES COMENTADAS
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dura canina em braço esquerdo há uma hora. O ca-
doses, uma no dia 0 e outra no dia 03. chorro é do vizinho, que informa que o vacinou para
⮨ Iniciar imediatamente o esquema profilático raiva. O animal é sadio e mordeu o paciente por
com 04 doses de vacina administradas nos dias ter sido provocado, de acordo com testemunhas.
0, 3, 7 e 14 pela via IM ou nos dias 0, 3, 7 e 28, A vítima da mordedura refere nunca ter tomado
pela via ID. vacina na idade adulta, porém trouxe, a pedido, a
⮩ Iniciar imediatamente o esquema profilático com carteira vacinal da infância, que está completa.
soro e com 04 doses de vacina administradas Ao exame clínico, nota-se mordedura superficial
nos dias 0, 3, 7 e 14 pela via IM ou nos dias 0, 3, em braço esquerdo, pouco extensa. Além da la-
7 e 28, pela via ID. vagem exaustiva do ferimento, a melhor conduta
a ser tomada é:
527
Raiva Infectologia
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ser feito é:
Questão 5
⮦ Vacina e soro hiperimune.
(HOSPITAL SÃO JOSÉ DE JOINVILLE – SC – 2014) Um trabalha-
⮧ Soro hiperimune, vacina e antibiótico.
dor de uma granja de criação de suínos foi mordi-
do por um dos animais, ocasionando ferimentos ⮨ Apenas vacinação, 3 doses.
profundos em polpa digital do segundo dedo da ⮩ Somente curativo. O risco de transmissão de
mão direita. Nessa situação, assinalar a alternati- raiva por roedores é baixo.
va CORRETA em relação à conduta do tratamento ⮪ Somente soro hiperimune.
profilático da raiva:
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Raiva Cap. 20
GABARITO E COMENTÁRIOS
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decorrência de mordeduras ou arranhaduras, cau-
sadas por unha ou dente, lambedura de pele com Y Dica do professor: Questão direta. Você precisa se
lesões superficiais. Nos casos de acidentes leves, lembrar das duas profilaxias nesse tipo de situação:
por cão ou gato sem suspeita de raiva no momento tétano e raiva.
da agressão, deve-se lavar com água e sabão e ob- • T
étano: deverá receber reforço com dT já que sua
servar o animal durante 10 dias após a exposição. última dose foi há mais de 10 anos.
Caso o animal morra, desapareça ou se torne rai-
• R
aiva: o acidente será considerado leve por tratar-se
voso, deve-se administrar 4 doses de vacina (dias
de uma lesão superficial fora de região palmar ou
0, 3, 7 e 14) pela via IM ou nos dias 0, 3, 7 e 28, pela
plantar. Além disso, o cachorro apresenta-se com
via ID. O soro é indicado em acidentes graves e aci-
comportamento normal e pode ser observado
dentes com morcegos e outros animais silvestres.
durante o período de 10 dias. Caso o animal morra,
✔ resposta: C desapareça ou apresente alteração de comporta-
mento sugestivo de raiva, o paciente deve receber
as 5 doses da vacina. Lembrar que agora o esquema
Questão 2 dificuldade:
vacinal pós exposição foi reduzido para 4 doses
Y Dica do professor: A raiva é uma zoonose viral (ví- ✔ resposta: C
rus transmitido por animais) que ataca o sistema
nervoso e leva à morte em praticamente 100% dos
casos. A principal forma de prevenção contra a rai- Questão 4 dificuldade:
va é vacinando os animais de estimação, cachor-
Y Dica do professor: Devemos perceber que se tra-
ros e gatos. Existem campanhas públicas gratuitas
ta de um acidente grave para raiva: lesão em mão.
para isso, mas a vacina também está disponível
Percebemos ainda que o animal é domesticado e
para compra. A profilaxia pré-exposição é a vacina
pode ser observado. Assim, a melhor conduta é
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Raiva Infectologia
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✔ resposta: E
Questão 6 dificuldade:
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Capítulo
TÉTANO
21
importância/prevalência
u Doença potencialmente grave causada pelo Clostridium tetani, sendo imunoprevinível por vacina do nosso
PNI. Vacina segura e sem eventos adversos (toxoide tetânico).
u Duas principais formas clínicas: acidental e neonatal, sendo este último com pior prognóstico e maior
mortalidade.
u Desencadeado pela ação de toxinas: tetanolisina e tetanoespamina, causando, muitas vezes, uma paralisia
espástica e até insuficiência respiratória.
u Pode se apresentar clinicamente como localizado ou generalizado, com sintomas como trismo, hipertonia,
insuficiência respiratória e disautonomia.
u Diagnóstico é clínico e importante conhecer os principais diferenciais.
u Tratamento do tétano doença engloba a identificação e o desbridamento do foco, uso de imunoglobulina
sistêmica e intralesional, e prescrição de antimicrobiano (penicilina/metronizadol); casos graves devem
ser conduzidos em ambiente de terapia intensiva.
u Assunto mais cobrado nos exames com relação ao tétano: profilaxia de acidentes com possível foco
tetanogênico.
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u Ferramentas utilizadas para profilaxia: vacina e imunoglobulina/soro antitetânico.
u Descrever esquema vacinal: o que é considerado esquema completo/incompleto de prevenção e saber
do reforço a cada 10 anos. Outro aspecto é saber que, em alguns pacientes, a última dose está entre 5-10
anos, e isso muda a conduta, a depender do tipo de ferimento.
u Definir ferimento sujo e limpo: pontos de partida para a profilaxia do tétano.
u Esquemas de profilaxia em acidentes nas suas diferentes possibilidades (natureza do ferimento com/sem
vacinas atualizadas).
531
Tétano Infectologia
u Clostridium tetani, bacilo gram-positivo anaeró- u Quando as condições ambientais são favoráveis,
bico, com produção de esporos que lhe permi- germina e assume a forma vegetativa, altamente
tem sobreviver no meio ambiente muito tempo neurotrópica, que tem a potência superada pela
(anos depois) e transmitir a doença quando há toxina botulínica.
uma porta de entrada. u Para ter a doença: acontecer a existência de so-
u Encontrado na natureza de forma ubiquitária, po- lução de continuidade na pele ou mucosas, que
dendo ser identificado em pele, fezes, solo, trato seja contaminada pelo esporo tetânico e apre-
intestinal dos animais, entre outros. sente condições de anaerobiose que permitam
u Transmissão se dá pela introdução de esporos a germinação do bacilo e a produção de sua to-
em solução de continuidade da pele e mucosas xina, nos pacientes que não apresentam imuni-
(ferimentos superficiais ou profundos de qual- dade antitetânica adquirida naturalmente ou por
quer natureza). Tecidos desvitalizados, corpos meio da imunização.
estranhos, isquemia e infecção contribuem para
diminuir o potencial de oxirredução e, assim, es- Preste atenção nas questões sobre a porta de
tabelecer as condições favoráveis ao desenvol- entrada; muitas vezes, não está tão clara nos enun-
vimento do bacilo (anaerobiose). ciados das questões.
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Tétano Cap. 21
Forma vegetativa
Toxina tetânica
Lesão de
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descontinuidade
Tétano doença
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Tétano Infectologia
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W
o controle motor central, a função autonômica e a
W riso sardônico; junção neuromuscular.
W opistótono;
As manifestações clínicas do tétano dependem da
W contraturas musculares localizadas ou gene- classe e da localização das células afetadas, atra-
ralizadas, com ou sem espasmos, indepen- vés da inibição das células GABA e glicinérgicas,
dentemente da situação vacinal. o sistema motor responde ao estímulo aferente
com contração intensa, simultânea e sustentada
dos músculos agonistas e antagonistas (espasmo
DIA A DIA MÉDICO
tetânico).
A letalidade do tétano é elevada em todos os países do Sistema nervoso autônomo: síndrome característica
globo terrestre. Na Índia, a letalidade geral varia de 32% de disfunção autonômica, caracterizada por hiper-
a 56%, sendo de 75% a 90% para o tétano neonatal, e tensão lábil, taquicardia, irregularidades do ritmo
de 40% a 60% para o tétano acidental. A qualidade da cardíaco, vasoconstrição periférica, suores, pirexia e,
assistência da terapia intensiva tem direta relação com algumas vezes, hipotensão e bradicardia, sugerindo
o prognóstico da doença.
alterações do sistema simpático e parassimpático.
534
Tétano Cap. 21
Toxina tetânica
Tétano
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Acúmulo nos cornos anteriores dos
respectivos segmentos medulares
535
Tétano Infectologia
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presentes, hipocalcemia e relaxamento muscular
Fonte: Sreenivasan et al.¹ entre os paroxismos.
u Raiva – história de mordedura, arranhadura ou
Em geral, o paciente se mantém nível de consciên- lambedura por animais, convulsão, ausência de
cia preservado. Os sintomas iniciais costumam trismos, hipersensibilidade cutânea e alterações
ser relacionados com a dificuldade de abrir a boca de comportamento.
(trismo e riso sardônico) e de deambular, devido u Histeria – ausência de ferimentos e de espas-
à hipertonia muscular correspondente (Figura 1). mos intensos.
Com a progressão da doença, outros grupos mus- u Processos inflamatórios da boca e da faringe,
culares também podem ser acometidos. Pode haver acompanhados de trismo.
dificuldade de deglutição (disfagia), rigidez de nuca,
rigidez paravertebral (pode causar opistótono),
hipertonia da musculatura torácica, de músculos 5. TRATAMENTO
abdominais e de membros inferiores.
A evolução com insuficiência respiratória é causa u Gravidade: hospitalização mediata, preferen-
frequente de morte nos doentes de tétano. Nas
cialmente em unidade de terapia intensiva. Os
formas mais graves, ocorre hiperatividade do sis-
princípios básicos do tratamento do tétano são:
tema autônomo simpático (disautonomia), com
taquicardia, sudorese profusa, hipertensão arterial,
W Sedação do paciente.
bexiga neurogênica e febre, piorando o prognóstico. W Neutralização da toxina tetânica (uso de soro/
imunoglobulina anti-tetânica).
W Desbridamento do foco infeccioso para elimi-
nação do C. tetani.
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Tétano Cap. 21
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DIA A DIA MÉDICO nhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feri-
das puntiformes ou por armas brancas e de fogo;
O prognóstico do paciente está diretamente relacionado mordeduras; politraumatismos e fraturas exposta,
com a gravidade da doença, idade do paciente, infecções com infecção associada.
superajuntadas, outras complicações, condições prévias
de saúde, centro hospitalar onde é realizado o tratamento
Avaliar o histórico vacinal JUNTO com a classifica-
e o grau de conhecimento (específico) da equipe médica ção do ferimento.
encarregada do doente. Desse modo, os piores prognós-
Importante: paciente imunodeprimido, desnutrido
ticos são reservados a recém-nascidos e a idosos.
grave ou idoso, além do reforço com a vacina, está
também indicada IGHAT ou SAT e, se o profissional
que presta o atendimento suspeita que os cuidados
posteriores com o ferimento não serão adequados,
7. VACINAÇÃO deve considerar a indicação de imunização passiva
com SAT ou IGHAT.
A principal medida prevenção: vacinação dos sus- Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, conco-
cetíveis na rotina das unidades básicas de saúde mitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes.
em todo o país, sendo preconizada no Calendário De forma geral, as pessoas que estão com ferimentos de
Básico de Vacinação do Programa Nacional de baixo risco e histórico vacinal completo com menos de
Imunizações (PNI) a vacina penta. 10 anos, não há conduta. Se o esquema vacinal estiver
Essa vacina oferece proteção contra difteria, tétano, completo, no entanto, com mais de 10 anos nesse tipo
coqueluche, Haemophilus influenza tipo B e hepatite de ferimento, só é necessária a realização de 1 dose
B, e é indicada para imunização ativa de crianças a de reforço da vacina. Se a vacinação estiver completa
há mais de 10 anos, a conduta é apenas fazer reforço.
537
Tétano Infectologia
História de Ferimentos com risco mínimo de tétanoa Ferimentos com alto nível de tétanob
vacinação
prévia contra Outras Outras
Vacina SAT/IGHAT Vacina SAT/IGHAT
tétano condutas condutas
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3 ou mais doses,
sendo a última infecção e tecidos
dose há mais de Não Não Sim (1 reforço) Nãod desvitalizados
5 anos e menos Desbridamento
de 10 anos do ferimento
e lavagem
3 ou mais com água
doses, sendo a oxigenada
Sim Não Sim (1 reforço) Nãod
última dose há
10 ou mais anos
3 ou mais
doses, sendo a
última dose há
Sim Não Sim (1 reforço) Sime
10 ou mais anos
em situações
especiais
a
Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados. b Ferimentos profundos ou superficiais sujos; com cor-
pos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feridas puntiformes ou por armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos
e fraturas expostas. c Vacinar e aprazar as próximas doses, para complementar o esquema básico. Essa vacinação visa proteger contra o
risco de tétano por outros ferimentos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o feri-
mento não serão adequados, deve considerar a indicação de imunização passiva com SAT (soro antitetânico) ou IGHAT (imunoglobulina
humana antitetânica). Quando indicado o uso da vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes.
d
Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, além do reforço com a vacina, está também indicada IGHAT ou SAT. e Se o profissional
que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a indicação de imunização
passiva com SAT ou IGHTA. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes.
Fonte: Ministério da Saúde2.
538
Tétano Cap. 21
Neurotropismo
Fisiopatologia ↓ Inibição
Hiperexcitação
Rigidez;
Clínica Espasmos;
Hipertonia
Clínico
Tétano
Diagnóstico
Epidemiológico
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Específicas
Tratamento
Inespecífica
Vacinação
Profilaxia
Imunoglobulina
539
Tétano Infectologia
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Atheneu; 2015. 2 vols.
540
Tétano Cap. 21
QUESTÕES COMENTADAS
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sinale a alternativa que apresenta a conduta correta
em relação à profilaxia de tétano nesse paciente. ⮦ No Brasil, as metas atuais para o tétano aciden-
tal e neonatal são de eliminação e erradicação,
⮦ Administrar imunoglobulina humana antitetânica respectivamente.
5000 UI, via intramuscular. ⮧ A vacinação de mulheres em idade fértil é uma
⮧ Aplicar apenas dose de reforço da vacina anti- das medidas de controle do tétano neonatal.
tetânica. ⮨ Gestantes não podem ser vacinadas com a va-
⮨ Refazer esquema de vacinação antitetânica com, cina anti-tetânica, pelo alto risco de alterações
pelo menos, 2 doses. fetais relacionadas ao uso da vacina, durante a
⮩ Aplicar dose de reforço da vacina antitetânica, gravidez.
mais imunoglobulina humana antitetânica 5000 ⮩ Para a profilaxia do tétano acidental, após a
UI, intra-muscular. ocorrência de um ferimento, deve-se levar em
⮪ Não há necessidade de medidas adjuvantes. consideração o estado do indivíduo e o tipo de
ferimento.
Questão 2
Questão 4
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO - RJ – 2021) Um
paciente dá entrada no pronto-socorro, lúcido e (CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP – 2013) Você atende em
orientado, com quadro de rigidez muscular e trismo, serviço de emergência criança de 7 anos de idade
de início há 24 horas. Refere ferida na sola do pé com corte profundo em pé direito. Mãe refere que
esquerdo com caco de vidro, enquanto jogava fute- o filho estava jogando bola, descalço, em terreno
bol descalço, há cerca de uma semana. Ao exame, perto de sua casa quando pisou em um prego en-
apresenta sinais vitais normais, com ferida cortante ferrujado. A carteira de vacinação está comple-
na sola do pé esquerdo, com sinais flogísticos. O ta, sendo que a criança recebeu a última dose da
541
Tétano Infectologia
vacina de tétano aos 4 anos de idade. A escolha ⮧ Grave. Lavar abundantemente com soro fisio-
mais apropriada para a profilaxia contra o tétano lógico e substâncias oxidantes/antissépticas,
para esse paciente é: além de remover corpos estranhos e desvita-
lizados.
⮦ Não há indicação de profilaxia para o tétano (va-
⮨ Grave. Lavar abundantemente com soro fisio-
cina e/ ou imunoglobulina).
lógico e substâncias oxidantes/antissépticas,
⮧ Vacina tríplice bacteriana contra difteria, tétano além de remover corpos estranhos e desvitali-
e coqueluche (DTP) – 01 dose. zados e aplicar uma dose de reforço da vacina.
⮨ Vacina dupla adulto contra difteria e tétano (dt) ⮩ Grave. Lavar abundantemente com soro fisio-
– 01 dose. lógico e substâncias oxidantes/antissépticas,
⮩ Dt + IGT. além de remover corpos estranhos e desvitali-
zados e aplicar soro ou imunoglobulina e uma
dose de reforço da vacina.
Questão 5
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⮧ vacinar, pois o esquema completo foi há mais co, pois o tipo de lesão não justificaria.
de 5 anos e há necessidade de dose de reforço ⮧ Aplicar reforço vacinal, mas não soro antitetâni-
com dTpa a partir da 20ª semana de gestação. co, pois a vacinação fora completa.
⮨ não vacinar, pois somente as gestantes com ⮨ Aplicar reforço vacinal e soro antitetânico, pois
esquema vacinal prévio incompleto necessitam a vacinação fora feita havia mais de dez anos.
de reforço. ⮩ Não aplicar reforço vacinal, mas aplicar soro
⮩ vacinar, pois o esquema recomendado preco- antitetânico, pois a vacinação fora incompleta.
niza realizar, neste caso, 3 doses, sendo uma ⮪ Aplicar reforço vacinal e soro antitetânico, pois
com dTpa. a vacinação fora incompleta e não efetiva.
Questão 6 Questão 8
(HOSPITAL SANTA TERESA – RJ – 2018) Jovem com 21 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – MG – 2018)
anos sofre acidente de moto, tendo dado entra- São caraterísticas do tétano generalizado, EXCETO:
da em serviço de urgência com extensas esco-
riações no corpo, porém sem fraturas ou outras ⮦ Trismo com dificuldade de abrir a mandíbula.
complicações. Tem esquema vacinal completo na ⮧ Redução do nível de consciência.
infância e aos 18 anos recebeu 1 dose de dupla
⮨ Disautonomia com oscilações bruscas de pres-
adulto como reforço ao servir o Exército. Como
são arterial e frequência cardíaca.
você classifica a lesão e qual sua conduta para a
profilaxia do tétano? ⮩ Contratura tônica da musculatura facial produ-
zindo o denominado risus sardonicus.
⮦ Leve. Lavar abundantemente com soro fisiológi-
co e substâncias oxidantes/antissépticas, além
de remover corpos estranhos e desvitalizados.
542
Tétano Cap. 21
GABARITO E COMENTÁRIOS
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em 10 anos, toma o reforço. Vamos agora relem- metronidazol em comparação com a penicilina.
brar as situações em que estão ou não indicadas ✔ resposta: B
a profilaxia. Para ferimentos de baixo e alto risco
em pessoas com o esquema vacinal completo e re-
forço feito há menos de 5 anos, não está indicada Questão 3 dificuldade:
a profilaxia. Se o reforço tiver sido feito entre 5 e
10 anos, deve-se reforçar a proteção com apenas
Y Dica do professor: Note que a questão pede a
uma dose da vacina se o ferimento for de alto risco alternativa INCORRETA. A vacinação na gestação
(se de baixo risco, não é necessário). Se o reforço tem o objetivo de proteger não somente a gestan-
tiver sido há mais de 10 anos, todo paciente com te, mas também o feto. Não há evidências de que,
ferimento contaminado receberá um reforço da va- em gestantes, a administração de vacinas de vírus
cina, seja este de alto ou baixo risco. Para pacientes inativados, bactérias mortas, toxoides (tetânico
com esquema vacinal incompleto ou desconhecido, e diftérico) e de vacinas constituídas por compo-
será feita vacinação para ferimentos de baixo risco nentes de agentes infecciosos acarrete qualquer
e vacinação associada à imunoglobulina para feri- risco para o feto. Segundo as recomendações do
mentos de alto risco. Exceção: idosos, desnutridos Programa Nacional de Imunizações, as seguintes
e imunossuprimidos com vacina há mais de 5 anos vacinas devem ser administradas na gestação: In-
com ferimentos de alto risco sempre receberão, junto fluenza, DTPa (Tríplice Bacteriana Adulta protege
à vacina, imunoglobulinas. Na questão, o paciente contra Coqueluche, Tétano e Difteria), e Hepatite B.
de 9 anos apresenta-se com ferimento de alto risco As demais alternativas, A, B e D estão CORRETAS.
em perna (profundo, sujo, com terra e folhagem) e ✔ resposta: C
esquema vacinal completo, com última dose há 8
anos. Dessa forma, com ferimento de alto risco +
543
Tétano Infectologia
Y Dica do professor: A recomendação da profilaxia Y Dica do professor: O tétano é uma doença infec-
contra o tétano acidental tem como base a avalia- ciosa aguda não contagiosa, causada pela ação de
ção de 3 aspectos: o tipo de ferimento, a situação exotoxinas produzidas pelo Clostridium tetani (C. te-
vacinal e a presença de comorbidades. tani), que provocam um estado de hiperexcitabilidade
A conduta muda conforme a situação vacinal, da do sistema nervoso central. A profilaxia do tétano
seguinte forma: Se tiver 3 ou mais doses da vacina deve ser feita de acordo o ferimento e a imuniza-
e última dose há menos de 5 anos: limpeza do ção prévia do paciente. Em ferimentos superficiais
ferimento; se tem 3 ou mais doses da vacina e a e limpos, em pacientes imunizados, nada deve ser
última dose entre 5 e 10 anos: reforço da vacina; se feito; se sem imunização, última dose há mais de
3 ou mais doses da vacina, sendo a última dose há 10 anos ou com status desconhecido, deve realizar
mais de 10 anos: reforço da vacina; e se menos de a Vacina dT 0,5 mL IM. Em ferimentos profundos e/
3 doses ou vacinação incerta: vacina e imunização ou contaminados em pacientes imunizados até 5
passiva com SAT/IGHAT. anos, nada deve ser feito. Naqueles com imunização
há mais de 5 anos e menos de 10, deve-se realizar a
✔ resposta: A
Vacina dT 0,5 mL IM. Já naqueles com ferimentos
profundos e/ou contaminados sem imunização ou
Questão 5 dificuldade: com status desconhecido, deve-se aplicar a Imuno-
globulina 250 unid IM e a Vacina dT 0,5 mL IM, em
Y Dica do professor: A imunização de gestantes é deltoide, além de encaminhar para posto de saúde
um tema de enorme relevância clínica e deve ser para outras doses. São considerados ferimentos
de conhecimento de todo médico generalista que leves, com risco mínimo de tétano, aqueles super-
lide com a rotina de pré-natal. Vacinas como trípli- ficiais, limpos, sem corpos estranhos, ou tecidos
ce bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa), dupla
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desvitalizados. Já os graves, com alto risco de té-
adulto (dT), hepatite B e influenza podem ser aplica- tano, são aqueles profundos ou superficiais sujos,
das na gestação e são recomendadas tendo como com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados,
base o esquema vacinal da paciente. queimaduras, feridas puntiformes ou por armas
Para gestantes com esquema vacinal incompleto brancas e de fogo, mordedura, politraumatismos
tendo recebido uma dose de vacina contendo o e fraturas expostas.
componente tetânico, recomenda-se a comple- O paciente da questão possui extensas escoriações
mentação do esquema com uma dose de dT e uma no corpo, ou seja, é classificado como lesão grave,
dose de dTpa durante a gestação. Para gestantes mas realizou imunização há 3 anos; logo, não há
com esquema completo, é necessário reforço a recomendação de profilaxia (vacinação ou imuno-
cada 5 anos. A dTpa está recomendada em todas globulina), devendo apenas lavar abundantemente a
as gestações, pois, além de proteger a gestante e lesão com soro fisiológico e substâncias oxidantes/
evitar que ela transmita a Bordetella pertussis ao antissépticas, além de remover corpos estranhos
RN, permite a transferência de anticorpos ao feto, e desvitalizados.
protegendo-o nos primeiros meses de vida até que
✔ resposta: B
possa ser imunizado. A vacina anual da influenza
está indicada às gestantes, pode ser aplicada em
qualquer período da gestação e deve ser oferecida Questão 7 dificuldade:
à gestante nos meses de sazonalidade do vírus.
Dica do professor: Diante de qualquer paciente fe-
resposta: B
Y
✔
rido ou queimado, devemos considerar a profilaxia
para tétano. O primeiro passo é avaliar a situação
vacinal. Em casos de ferimento de risco mínimo
com vacinação incerta ou incompleta, devemos
544
Tétano Cap. 21
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✔ resposta: B
Questão 8 dificuldade:
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546
Capítulo
FEBRE TIFOIDE
22
importância/prevalência
u É uma infecção causada por Salmonella entérica (sorotipo Typhi), transmitida por ciclo oral-fecal.
u A doença acomete, com maior frequência, a faixa etária entre 15 e 45 anos de idade em áreas endêmicas.
A taxa de ataque diminui com a idade.
u Nas últimas décadas, tem se constatado uma tendência de declínio nos coeficientes de incidência e
letalidade no Brasil.
u Grupos vulneráveis: acloridria gástrica, idosos e imunodeprimidos (HIV+ sem TARV).
u Reconhecer a associação com saneamento básico e incidência da doença.
u Portadores crônicos mantêm a eliminação de bacilos nas fezes e na urina por tempo prolongado, propi-
ciando a manutenção das epidemias e podendo originar novos surtos epidêmicos (em mulheres, de idade
avançada e com litíase biliar).
u É importante identificar as principais manifestações clínicas conforme o tempo de evolução.
u Conhecer os principais métodos diagnósticos utilizados em cada fase da doença, identificando as limi-
tações de cada um.
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u Identificar os principais antibióticos utilizados na terapêutica, sabendo da resistência da Salmonella para
alguns antimicrobianos.
u Reconhecer em quais grupos é preciso rastrear portadores assintomáticos e tratá-los (especialmente
pessoas que manipulam alimentos).
É uma infecção bacteriana causada pela Salmonella Raramente a doença se mostra com quadro clínico
Typhi, que pode gerar quadros graves, sendo mais extenso, sendo a febre, associada a alguns dos
frequente nos países em desenvolvimento, apesar demais sintomas supracitados (principalmente a
da distribuição mundial. O agente é transmitido a diarreia), a manifestação mais comum.
partir da ingestão de água e alimentos contamina-
DIA A DIA MÉDICO
dos, o que mostra a importância das condições de
saneamento básico.
Na era pré-antibiótica, a mortalidade devida à doença era
Clinicamente, a doença pode se apresentar com muito elevada. Atualmente, já são enfrentados problemas
febre alta prolongada, cefaleia, mal-estar geral, diar- relacionados a salmonelas resistentes a diversos anti-
reia ou obstipação, inapetência, tosse seca, lesões bióticos, dentre eles o cloranfenicol e os macrolídeos. A
cutâneas, bradicardia relativa (dissociação pulso- febre tifoide consta da listagem nacional das doenças de
notificação compulsória, sendo necessária a notificação de
-temperatura), manchas rosadas no tronco (roséolas
casos suspeitos a serem investigados (e posteriormente
tíficas) e esplenomegalia, podendo progredir para confirmados ou descartados).
547
Febre tifoide Infectologia
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Figura 1. Salmonella entérica sorotipo Typhi. u No esgoto: em condições experimentais, é de
aproximadamente 40 dias.
u Na água do mar: para se encontrar a Salmonel-
la na água do mar, é necessária uma altíssima
contaminação.
u Em ostras, mariscos e outros moluscos: a sobre-
vida demonstrada é de até 4 semanas.
u Nos alimentos: leite, creme e outros laticínios
constituem excelentes meios, chegando a per-
durar até meses.
u Em carnes e enlatados: são raros os casos ad-
quiridos por intermédio desses alimentos, pro-
vavelmente porque o seu processo de preparo
é suficiente para eliminar a Salmonella.
Fonte: Salmonella Typhi¹.
548
Febre tifoide Cap. 22
região, período do ano ou clima, apresentando uma São possíveis duas formas de transmissão da febre
transmissão mundial. Um aspecto positivo é a queda tifoide:
da mortalidade após o advento dos antibióticos,
caindo de 10% a 20% para 0,2% a 3,7%. Assim, são u Direta: a partir do contato direto com as mãos
raros os casos em países desenvolvidos e, neles, do doente ou portador.
a doença se apresenta sob a forma de surtos oca- u Indireta: a partir do contato com água e alimentos
sionais, enquanto em países em desenvolvimento contaminados com fezes ou urina de doentes ou
(Índia, Sudeste asiático, África, América Central e portadores. A doença é conhecida também como
do Sul) a doença é endêmica. “doença das mãos sujas”, já que portadores ou
Em relação ao acometimento por faixa etária, apesar indivíduos pouco sintomáticos acabam manipu-
de afetar todas as idades, a doença parece ser mais lando e contaminando alimentos.
frequente em adolescentes e adultos jovens. Além
disso, o trabalho individual auxilia na manutenção A doença também pode ser transmitida de forma
da infecção, em especial nos que trabalham com indireta a partir da lavagem de legumes com água
manipulação de alimentos. contaminada, da ingestão de frutos do mar crus ou
mal cozidos, da ingestão de leite e seus derivados
não pasteurizados, ou mesmo da ingestão de con-
3.1. R
ESERVATÓRIOS E FONTES
gelados e enlatados, haja vista que, como citado,
DA INFECÇÃO
o congelamento não mata a bactéria.
Apesar de todos esses veículos do agente, a doença
BASES DA MEDICINA só é determinada a partir de uma expressiva con-
centração de bactérias. Por esse motivo, não se
As principais fontes de infecção são os doentes e os observam surtos da doença após a ocorrência de
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portadores. enchentes, posto que há maior diluição das bac-
térias, gerando menor probabilidade de ingestão
de concentração significativa delas para causar a
u Portadores: são aqueles que, após a infecção doença.
aguda, mantêm eliminação de bacilos nas fezes
e urina por tempo prolongado. São importantes
na medida em que propiciam a manutenção DIA A DIA MÉDICO
das epidemias e podem originar novos surtos
epidêmicos. Dentre eles, é conhecido o caso da Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil vem, nos últimos
“Typhoid Mary”, cozinheira americana que, ao anos, tendo uma diminuição na incidência da febre tifoide.
longo de vários anos, foi responsável por vários No Sudeste, por exemplo, a incidência da doença se asse-
casos da doença. Aproximadamente 2% a 5% dos melha à de países desenvolvidos (abaixo de 0,1 caso por
100.000 habitantes). Nas regiões Norte e Nordeste, por
doentes passarão ao estado de portador, que se
outro lado, a doença ocorre sob a forma endêmica, com
dividem em 3 classes: superposição de epidemias.
W Portador convalescente: indivíduo que continua
eliminando bactérias nos 4 meses seguintes
à infecção aguda (30% dos doentes).
4. PATOGENIA
W Portador crônico: indivíduo que, por um ano,
continua eliminando bactérias (5% dos doentes).
W Portador saudável: indivíduo que elimina bac-
BASES DA MEDICINA
térias, assintomaticamente, pelas fezes após
1 ano do início da infecção aguda.
A partir da ingestão do agente, este penetra na mucosa
do intestino delgado, com posterior invasão dos fagócitos
549
Febre tifoide Infectologia
mononucleares das placas ileais de Peyer e gânglios lin- Na 2ª e 3ª semanas da infecção, a febre continua,
fáticos mesentéricos, gerando uma linfangite; ou seja, a e o paciente entra em estado de prostração, cefa-
Salmonella se comporta como um parasita intracelular,
leia constante, podendo ter alteração no nível de
resistindo à própria ação da célula que ela invade.
consciência.
A febre e as manifestações gastrointestinais podem
Como visto, a resistência à acidez gástrica propicia ser acompanhadas (10% a 15% dos casos), durante
a disseminação do agente. Desse modo, doentes essas semanas, pelo “estado tifoso”, caracterizado
com redução ou ausência do ácido clorídrico na por alterações do nível de consciência, desorienta-
secreção gástrica (acloridria ou hipocloridria) têm ção, delirium, torpor ou até coma.
diminuída a proteção conferida pela acidez gástrica,
estando, por consequência, mais susceptíveis a Ainda nesta fase, observam-se sinais evidentes de
essa infecção. desidratação: pele e mucosa secas, olhos fundos e
inexpressivos (“olhar tífico”). Pode ser relatada dor
O período de incubação é de 1 a 3 semanas (em abdominal e diarreia. Eventualmente, as fezes são
média 8 a 10 dias). Em seguida, há a disseminação descritas com aspecto de “sopa de ervilha”.
hematogênica para o sistema reticuloendotelial
(fígado, baço e medula óssea), onde a Salmonella O quadro de desidratação pode ser importante, com
penetra nas células histiocitárias, com uma bac- o paciente alternando períodos de diarreia e cons-
teremia que é refletida, clinicamente, por febre e tipação. Podem-se observar, também, lesões cutâ-
calafrios. neas na forma de rash (roséolas tíficas). Nessa fase,
a coprocultura é o principal exame de laboratório
A colonização da vesícula biliar propicia a eliminação para a confirmação do diagnóstico, e a Reação de
de Salmonellas a partir da 3ª semana de doença. Há Widal poderá evidenciar a produção de anticorpos.
reação inflamatória em todos os locais onde existe a
proliferação bacteriana no interior dos macrófagos. Em relação ao exame físico, a partir da 2ª semana
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de evolução da doença, alguns sinais já podem ser
A febre é um importante sintoma da doença, ocor- identificados, como: hepatoesplenomegalia leve a
rendo a partir de pirogênios endógenos liberados moderada (1 a 3 cm do rebordo costal) e exantema.
por macrófagos infectados. Além dela, ganham A hepatomegalia ocorre em até 60% dos casos,
destaque as manifestações intestinais (dor abdo- enquanto a esplenomegalia, em até 55% dos casos.
minal, diarreia, sangramento, perfuração intestinal),
as quais decorrem da hiperplasia das placas de O período de convalescência se inicia na 4ª semana,
Peyer, com acometimento da mucosa subjacente a partir da melhora clínica.
(ulcerações). Os períodos citados são considerados, hoje em dia,
divisões artificiais ou acadêmicas, graças às várias
formas de apresentação entre os doentes e à ausên-
5. QUADRO CLÍNICO cia, na prática clínica, de limites bem definidos entre
um período e outro, bem como ao uso precoce ou
mesmo indiscriminado de antimicrobianos.
A clínica da doença acompanha a fisiopatologia
descrita no tópico anterior. Após o período de incu- As principais complicações na febre tifoide podem
bação, inicia-se a primeira fase, caracterizada por ocorrer em qualquer órgão, mas a hemorragia
febre, de forma escalonada e progressiva, asso- maciça e a perfuração intestinal são as mais fre-
ciada a manifestações gastrointestinais, como dor quentes (Figura 2).
abdominal e vômitos. A febre não é acompanhada
de aumento da frequência cardíaca, tipificando o
Sinal de Faget. Ademais, pode ocorrer astenia e
cefaleia. Essa primeira fase pode durar 1 semana.
550
Febre tifoide Cap. 22
Invasivo ou inicial:
Direta (portador) e Enterorragias;
(hemocultura +)
indireta (água) Perfuração
Estado (febre
Portador assintomático intestinal (FID)
baixa
Sazonalidade Pancreatite
Faget, roséola
Acloridia e Miocardite
tífica
imunosuprimidos(HIV) Recaídas
Hepatoespleno; coprocultura
=maior risco Salmonelose em esquistossomose
positiva; declínio/convalescenca
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citose relativa. Em uma menor parcela dos casos,
pode haver trombocitopenia. O diagnóstico de sofrer interferências nos casos de vacinação
laboratório definitivo da febre tifoide baseia-se, prévia. Sendo assim, pela possibilidade de fal-
primordialmente, no isolamento e na identifica- so-positivos, não é indicada para fins de vigilân-
ção do agente etiológico nas diferentes fases cia epidemiológica, já que não é suficiente para
clínicas, a partir do sangue (hemocultura), fezes confirmar ou descartar um caso.
(coprocultura), aspirado medular, mais precoce
(mielocultura) e urina (urocultura). Observação: Há várias técnicas em pesquisa para
u Hemocultura: apresenta maior positividade nas 2 tornar o diagnóstico mais rápido, fácil e preciso. A
semanas iniciais da doença (75%, aproximadamen- reação de fixação em superfície, contraimunoele-
te), devendo o sangue ser colhido, de preferência, troforese, enzimaimunoensaio (ELISA) e reação em
antes que o paciente tenha tomado antibiótico. cadeia de polimerase (PCR) são algumas dessas
Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras, nas técnicas. Nenhuma delas encontra-se ainda ampla-
2 semanas iniciais da doença. mente disponível em nosso meio.
u Coprocultura: é indicada da 2ª à 5ª semanas da
doença, visando pesquisar a Salmonella enterica
sorotipo Typhi nas fezes. Pode ser realizada em 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
intervalos de 3 dias. A pesquisa de portador é
feita por meio de coproculturas, em número de
O diagnóstico diferencial deve ser feito com todas
7, realizadas em dias sequenciais.
as doenças entéricas de diversas etiologias, como,
u Em princípio, é importante ressaltar que o su- por exemplo, Salmonella enterica sorotipo Paratyphi
cesso do exame depende da qualidade da cole- A, B, C, Yersinia enterocolitica etc.
ta e da conservação do material no laboratório.
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Febre tifoide Infectologia
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Tabela 1. Antibióticos utilizados no tratamento da febre tifoide.
500 mg VO 12/12 h
Ciprofloxacina 10-14 dias
200-400 mg IV 12/12 h
Fonte: Adaptado pelo autor.
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Febre tifoide Cap. 22
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Mapa mental
Febre tifoide
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oral (direta ou indicadores no Clínica:
tipos: Typhi, BGN espectral
indiretamente), Brasil: melhora do
alimentos saneamento básico
contaminados
Febre, cefaleia, diarreia,
Riscos: HIV+, idosos, lesões cutâneas,
imunossuprimidos, esplenomegalia
acloridia gástrica,
associação com
S. mansoni
*Sinal de Faget:
dissociação pulso
temperatura
Manifestações
cutâneas: roséola
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Febre tifoide Cap. 22
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Febre tifoide Infectologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO MATO GROSSO (FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS
DO SUL – 2013) Paciente de 55 anos, hipertensa, cozi- – 2016) Qual é o exame mais indicado para o diag-
nheira de restaurante, internada no hospital devido nóstico da febre tifoide na 3ª semana de evolução?
a diarreia de 3 dias de evolução, febre alta (39,7°C),
⮦ Coprocultura.
mal-estar geral. Hemorragia digestiva baixa acom-
panhada de dor abdominal há aproximadamente 3 ⮧ Urocultura.
horas, pulso normal. Na hemocultura, positividade ⮨ Hemocultura.
para Salmonella typhi. Para que essa paciente não ⮩ Reação de Widal.
seja transmissora e não ocorram novos casos de ⮪ NDA.
febre tifoide na comunidade, deve-se:
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car a bactéria do intestino.
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO – 2018) Em rela-
⮧ Tratá-la com hidratação e probióticos.
ção à ocorrência da febre tifoide no Brasil, é correto
⮨ Tratá-la com antibiótico, afastá-la de suas ativi- afirmar que:
dades profissionais.
⮦ Sua ocorrência está diretamente relacionada às
⮩ Usar antibióticos nos portadores assintomáticos
condições de saneamento existentes.
da salmonela e não tratar a paciente.
⮧ Apresenta sazonalidade, com predominância de
⮪ Não prescrever antibiótico para ela, pois a doen-
casos no inverno.
ça é autolimitada.
⮨ Apresenta alterações cíclicas que têm impor-
tância prática para a prevenção.
Questão 2 ⮩ Acomete com maior frequência individual os me-
nores de 15 anos de idade em áreas endêmicas.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2014) No diagnósti-
⮪ Sua taxa de ataque aumenta com a idade.
co laboratorial da febre tifoide, o exame de melhor
positividade na primeira semana é:
Questão 5
⮦ Coprocultura.
⮧ Mielocultura. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2017)
O sinal em que ocorre diminuição da frequência do
⮨ Exame histopatológico.
pulso associada à febre alta, ou em elevação (dis-
⮩ Hemocultura. sociação pulso-temperatura da febre tifoide, febre
amarela e leptospirose) é o sinal de:
⮦ Leser-Trélat.
⮧ Pitres.
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Febre tifoide Cap. 22
Questão 6 Questão 9
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO MATO GROSSO (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO – 2018) Em rela-
DO SUL – 2013) Paciente de 55 anos, hipertensa, cozi- ção à ocorrência da febre tifoide no Brasil, é correto
nheira de restaurante, internada no hospital devido afirmar que:
a diarreia de 3 dias de evolução, febre alta (39,7 °C),
mal-estar geral. Hemorragia digestiva baixa acom- ⮦ Sua ocorrência está diretamente relacionada às
panhada de dor abdominal há aproximadamente 3 condições de saneamento existentes.
horas, pulso normal. Na hemocultura, positividade ⮧ Apresenta sazonalidade, com predominância de
para Salmonella typhi. Para que essa paciente não casos no inverno.
seja transmissora e não ocorram novos casos de ⮨ Apresenta alterações cíclicas que têm impor-
febre tifoide na comunidade, deve-se: tância prática para a prevenção.
⮦ Tratá-la com antibiótico por via oral para erradi- ⮩ Acomete com maior frequência individual os me-
car a bactéria do intestino. nores de 15 anos de idade em áreas endêmicas.
⮧ Tratá-la com hidratação e probióticos. ⮪ Sua taxa de ataque aumenta com a idade.
⮨ Tratá-la com antibiótico, afastá-la de suas ativi-
dades profissionais. Questão 10
⮩ Usar antibióticos nos portadores assintomáticos
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2017)
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da salmonela e não tratar a paciente.
O sinal em que ocorre diminuição da frequência do
⮪ Não prescrever antibiótico para ela, pois a doen- pulso associada à febre alta, ou em elevação (dis-
ça é autolimitada. sociação pulso-temperatura da febre tifoide, febre
amarela e leptospirose) é o sinal de:
Questão 7
⮦ Leser-Trélat.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2014) No diagnósti- ⮧ Pitres.
co laboratorial da febre tifoide, o exame de melhor ⮨ Lemos Torres.
positividade na primeira semana é:
⮩ Cullen.
⮦ Coprocultura. ⮪ Faget.
⮧ Mielocultura.
⮨ Exame histopatológico. Questão 11
⮩ Hemocultura.
(INSTITUTO NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA – RJ
– 2020) A infecção por qual dos agentes abaixo mais
Questão 8 frequentemente pode cursar com sinal de Faget?
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Febre tifoide Infectologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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minação hematogênica e alojamento da bactéria no procultura.
sistema reticuloendotelial. Alternativa B: INCORRETA. Urocultura pode ser usada,
Alternativa B: INCORRETA. É necessária antibiotico- mas é inferior à coprocultura.
terapia. Alternativa C: INCORRETA. Hemocultura é usada na
Alternativa C: CORRETA. É necessária antibioticotera- primeira semana.
pia e afastamento de suas atividades (cozinheira), Alternativa D: INCORRETA. Reação de Widal correspon-
pois a paciente pode se tornar carreadora crônica de à sorologia; é pouco sensível e pouco específica.
da Salmonella.
Alternativa E: INCORRETA.
Alternativa D: INCORRETA. É necessária antibiotico-
terapia.
✔ resposta: A
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Febre tifoide Cap. 22
Alternativa B: INCORRETA. A doença não apresenta transmissão pode ser direta (contato com as mãos
alterações cíclicas ou de sazonalidade que tenham do doente ou portador) ou indireta (orofecal). Além
importância prática. disso, após invasão da mucosa intestinal, há disse-
Alternativa C: INCORRETA. A doença não apresenta minação hematogênica e alojamento da bactéria no
alterações cíclicas ou de sazonalidade que tenham sistema reticuloendotelial.
importância prática. Alternativa B: INCORRETA. É necessária antibiotico-
Alternativa D: INCORRETA. A doença acomete com terapia.
maior frequência a faixa etária entre 15 e 45 anos Alternativa C: CORRETA. É necessária antibioticotera-
de idade, em áreas endêmicas. pia e afastamento de suas atividades (cozinheira),
Alternativa E: INCORRETA. A taxa de ataque diminui pois a paciente pode se tornar carreadora crônica
com a idade. da Salmonella.
✔ resposta: A Alternativa D: INCORRETA. É necessária antibiotico-
terapia.
Alternativa E: INCORRETA. É necessária antibiotico-
Questão 5 dificuldade: terapia.
Y Dica do professor: Febre tifoide cursa com exan- ✔ resposta: C
tema (roséola tífica) – dica importante na prova.
Alternativa A: INCORRETA. Sinal de Leser-Trélat refere- dificuldade:
Questão 7
-se ao aparecimento súbito de múltiplas ceratoses
seborreicas (neoplasias). Y Dica do professor: Outros achados laboratoriais da
Alternativa B: INCORRETA. Existem vários sinais se- febre tifoide incluem: contagem de leucócitos nor-
miológicos descritos como sinal de Pitres. Um de- mais, aumento de enzimas hepáticas e alterações
les é a ausência de dor à compressão do testículo inespecíficas de onda T e segmento ST no ECG.
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(avaliação de sensibilidade dolorosa profunda). O diagnóstico padrão-ouro para febre tifoide é a
Alternativa C: INCORRETA. Sinal de Lemos Torres cultura. Na 1ª semana: hemocultura ou mielocul-
corresponde à presença de abaulamento expira- tura (mais sensível). A partir da 2ª semana: fezes
tório intercostal localizado nas bases pulmonares ou secreção intestinal.
(derrame pleural). ✔ resposta: B
Alternativa D: INCORRETA. Sinal de Cullen correspon-
de à equimose periumbilical (pancreatite aguda).
Questão 8 dificuldade:
Alternativa E: CORRETA. Dissociação pulso-tempera-
tura é conhecido como sinal de Faget. Y Dica do professor: O diagnóstico padrão ouro para
febre tifoide é a cultura. Na 1ª semana: hemocul-
✔ resposta: E
tura ou mielocultura (aspirado da medula óssea é
mais sensível). A partir da 2ª semana: fezes ou se-
Questão 6 dificuldade: creção intestinal.
Alternativa A: CORRETA. Na terceira semana, o teste
Y Dica do professor: O tratamento da febre tifoide em
diagnóstico de escolha para febre tifoide é a co-
pacientes sensíveis é feito preferencialmente com
procultura.
quinolona, sendo que um fator determinante para a
introdução do antibiótico é a resistência bacteriana Alternativa B: INCORRETA. Urocultura pode ser usada,
geográfica para Salmonella; isto é, dependendo da mas é inferior à coprocultura.
região, a escolha do antibiótico pode variar, espe- Alternativa C: INCORRETA. Hemocultura é usada na
cialmente nos casos de Salmonella não typhi. primeira semana.
Alternativa A: INCORRETA. Além de antibioticoterapia, Alternativa D: INCORRETA. Reação de Widal correspon-
é necessário o afastamento das atividades, pois a de à sorologia; é pouco sensível e pouco específica.
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Febre tifoide Infectologia
Questão 9 dificuldade:
Questão 11 dificuldade:
Y Dica do professor: Observando-se o comportamen-
to da febre tifoide no Brasil, nas últimas décadas, Y Dica do professor: A relação do pulso com a tem-
constata-se uma tendência de declínio nos coefi- peratura é, geralmente, diretamente proporcional,
cientes de incidência e letalidade. quando a temperatura aumenta o pulso também
Alternativa A: CORRETA. A febre tifoide está associada aumenta. No Sinal de Faget ocorre a dissociação
a baixos níveis socioeconômicos, relacionando-se, entre a frequência cardíaca e a temperatura. O pa-
principalmente, com precárias condições de sanea- ciente apresenta febre alta associada à bradicardia.
mento e de higiene pessoal e ambiental. Esse é um achado importante para nos direcionar
no diagnóstico pois está relacionado às doenças
Alternativa B: INCORRETA. A doença não apresenta
descritas a seguir: febre tifoide, leishmaniose, bru-
alterações cíclicas ou de sazonalidade que tenham
celose, Doença do Legionário, psitacose e febre
importância prática.
amarela. O único agente etiológico que correspon-
Alternativa C: INCORRETA. A doença não apresenta de a estas doenças é a Salmonella typhi, causadora
alterações cíclicas ou de sazonalidade que tenham da febre tifoide.
importância prática.
✔ resposta: B
Alternativa D: INCORRETA. A doença acomete com
maior frequência a faixa etária entre 15 e 45 anos
de idade, em áreas endêmicas.
Alternativa E: INCORRETA. A taxa de ataque diminui
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com a idade.
✔ resposta: A
Questão 10 dificuldade:
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