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UNIDADE IV • <Título da Unidade IV>

DISCIPLINA DE ORTODONTIA
CURSO: ODONTOLOGIA
PROFESSOR (BA): MARCIO BASTOS

ENCONTRO 04: ETIOLOGIA DAS MALOCLUSÕES – FATORES GERAIS E LOCAIS

1 Introdução
Discutiremos os fatores etiológicos das más oclusões, expondo o aspecto multifatorial das
mesmas, desde que para o desvio da normalidade, participam conjuntamente as causas hereditárias, as
congênitas, as adquiridas de ordem geral ou local, assim com os hábitos bucais. O assunto ganha
importância ao pro- ver subsídios para que se possa diag- nosticar e remover os fatores causais das más
oclusões, prevenindo-as em idades precoces, ou garantindo a estabilidade da correção ortodôntica.
Ademais, permite o esclarecimento, aos pais, da origem da anormalidade diagnosticada em seus
descendentes.

2 Desenvolvimento
Uma interação de vários fatores pode influenciar o crescimento e o desenvolvimento dos maxilares
suscitan- do em más oclusões. O conhecimento destes fatores caracteriza o capítulo da etiologia das más
oclusões que deve ser de domínio do clínico geral, do odontopediatra e do ortodontista.
De acordo com vários pesquisadores, um em cada quatro indivíduos apresentava má oclusão que
requeria um tratamento ortodôntico. Atualmente essa incidência tem aumentado progressivamente
alcançando um número preocupante para a população. Este fato deve-se principalmente à evolução do
homem, na escala filogenética, em relação ao desenvolvimento craniofacial, aos hábitos alimentares e
sociais e à miscigenação racial. Segundo a teoria da redução terminal a face humana perpassa por um
processo evolutivo ocorrendo uma diminuição desta, ao mesmo tempo em que o crânio experimenta um
aumento no seu tamanho.
Com a redução do tamanho da face e dos maxilares o espaço para acomodar todos os dentes
torna-se limi- tado, conseqüentemente, o último den- te de cada série tende a desaparecer (terceiros
molares, segundos pré-mo- lares e incisivos laterais). Isto não ocorre repentinamente pois trata-se de um
processo delongo e de caráter he- reditário que passa de geração para geração onde a primeira apresenta
um dente com forma anômala (microdontia) e posteriormente alguns de seus sucessores já não mais
possuirão este dente.
A alimentação dos tempos atuais também contribui para a “involução” da face com conseqüente
aumento das más oclusões. No passado, os alimentos eram mais duros e fibrosos exigindo um grande
esforço da musculatura facial durante a mastigação. Atualmente apresentam-se pastosos, e portanto
fáceis de serem consumidos com uma menor participação da musculatura facial, comprometendo o
crescimento e o desenvolvimento da face.
A abordagem da etiologia da más oclusões geralmente classifica todas as causas em fatores locais
ou intrínsecos e sistêmicos ou extrínsecos. Essa classificação pode, no entanto, gerar diferentes
considerações acerca de uma má oclusão entre os profissionais. No intuito de explicar as possí- veis
causas das más oclusões, outras classificações foram propostas.
A sugerida por refere- se às causas hereditárias e congênitas, gerais, locais e às causas proxi-
mais (hábitos bucais).
SALZMANN dividiu os fatores etiológicos em pré-natais e pós-natais observando uma influência
direta ou não, destes fatores, causadores de má oclusão.
Posteriormente, MOYERS sugeiu uma Equação Ortodôntica para a interpretação da etiologia das
más oclusões. Essa equação representa uma expressão concisa do desenvolvimento de todas as
deformidades dentofacias.

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FATORES HEREDITÁRIOS
A hereditariedade constitui um dos principais fatores etiológicos pré-natais das más oclusões.
O padrão de crescimento e desenvolvimento sofre forte influência dos fatores hereditários. Existem
certas características raciais e familiares que podem comprometer a morfologia dentofacial de um
indivíduo. Por exemplo, um jovem pode herdar o ta- manho e a forma dos dentes do pai e o tamanho e a
forma dos maxilares da mãe, resultando em uma combi- nação harmoniosa ou não entre os ossos e os
dentes. Entretanto, não é possível prevenir tal combinação indesejada.
Como citado acima, a morfologia dentária obedece um padrão genético. As anomalias de tamanho
dentário, representadas pelas macro e microdontias, podem gerar más oclusões como apinhamentos e
diastemas, respectivamente. Na maioria das vezes, quando um indivíduo apresenta dentes maiores
(macrodontia) ou menores (microdontia) que o normal, muito provavelmente alguém da família também é
ou foi portador desta anomalia.
Contudo, as anomalias de tamanho dentário por associarem-se à hereditariedade são facilmente
diagnosticadas clinicamente e por meio da história familiar (anamnese), descartando a necessidade de
averiguações em tabelas es- pecíficas. As anomalias de forma, que encontram-se intimamente relaciona-
das às anomalias de tamanho, também são determinadas principalmente pela herança e interferem direta-
mente na oclusão do portador. A anomalia mais prevalente consiste na forma conóide do incisivo lateral
superior, seguida por outras formas atípicas menos freqüentes como dentes com cúspides
supranumerárias ou extras, cúspide em garra (talon cusp), geminação e fusão.
As anomalias de número, na sua grande maioria, são de origem hereditária, porém podem também
estar associadas às deformidades congênitas como a displasia ectodérmica e a disostose cleidocraniana.
Diversos autores acreditam que os dentes supranumerários e as agenesias dentárias, além de
apresentarem originariamente um componente genético, também estão relacionadas ao atavismo e à
evolução do homem, respectivamente.
O papel da hereditariedade no estudo das más oclusões de gêmeos idênticos (monozigóticos)
também representa significante importância na determinação das características morfológicas e
dentofaciais. Os estudos de LUNDSTRÖM revelaram que gêmeos idênticos geralmente apresentam a
mesma má oclusão o que não ocorre necessariamente nos gêmeos heterozigóticos. Isto acontece por que
os gêmeos monozigóticos apresentam essencialmente a mesma composição genética e então as diferen-
ças (quando ocorrem) entre eles dependem de fatores não genéticos como os do meio ambiente. Os
gêmeos heterozigóticos, por sua vez, apresentam uma disparidade do código genético de 50% como nos
casos de irmãos fraternos.
Outro fator hereditário que contribui para o desencadeamento de uma má oclusão é a
miscigenação racial. Nas populações raciais homogêneas (grupos geneticamente puros) quase não se
observa má oclusão, enquanto que nos grupos que apresentam grande miscigenação racial a prevalência
de más oclusões aumenta substancialmente. Atualmente, observa-se um intenso cruzamento entre as
raças branca, negra e amarela contribuindo sobremaneira para o aumento das más oclusões.
O tipo facial hereditário também influencia na determinação das características dentofacias e
representa um importante fator etiológico de algumas más oclusões. Na população encontram-se
basicamente três tipos de configuração facial: os braquifaciais que possuem a largura facial predominando
à altura, os dolicofaciais apresentando uma predominância da altura em relação à largura facial e os meso-
faciais que representam um grupo com características intermediárias entre braqui e dolicofacial. Certas
más oclusões apresentam-se intimamente relacionadas à morfologia facial, como o desenvolvimento de
uma mordida aberta em um indivíduo dolicofacial e de uma sobremordida profunda num jovem braquifacial.
FATORES CONGÊNITOS
As deformidades congênitas, assim como os fatores hereditários, também constituem uma das
causas etiológicas pré-natais das más oclusões, e caracterizam-se por apresentar grande influência gené-
tica. Essas deformidades, agem sobre o embrião, desde a sua formação intra-uterina até o momento do
nascimento, apresentando manifestações clínicas imediatas ou tardias.
Dentre as inúmeras malformações congênitas, descreveremos aquelas cujas alterações
comprometem principalmente a cavidade bucal.
Fissuras de Lábio e/ou Palato
Este tipo de má formação congênita caracteriza-se pela falta de fusão entre os processos palatinos
e/ou dos segmentos que formam o lábio superior, e comprometem invariavelmente a arcada superior em
maior ou menor extensão de acordo com o tipo de fissura.
DISPLASIA ECTODÉRMICA
É uma anomalia de caráter hereditário caracterizada pela falta de desenvolvimento dos tecidos de
ori- gem ectodérmica. Os portadores desta anomalia geralmente apresentam anormalidades de cabelo,
unhas, cílios, pele, dentes, face, e glândulas anexas (sebáceas e sudoríparas principalmente) além de

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apresentarem uma aparência de senilidade. O fato de ter a perspiração comprometida, devido ao número
reduzido de glândulas, leva o paciente à hipertermia com crises febris constantes durante a infância que
podem, inclusive, proporcionar comprometimentos neurológicos. A pele apresenta-se macia, porém fina e
ressecada. O cabelo, os cílios e as sobrancelhas encontram-se em número reduzido. As principais
características intrabucais e faciais são:
• ausência total (agenesia) ou parcial (oligodontia) dos dentes;
• dimensão vertical reduzida;
• terço inferior facial reduzido;
• ausência de osso alveolar;

Fatores Locais
Os itens que constituem o grupo etiológico das causas adquiridas locais representam os fatores
mais diretamente relacionados à cavidade bucal e talvez sejam, para os ortodontistas as causas mais
importantes das más oclusões. Portanto devem ser detectados precocemente pelo cirurgião-dentista de
forma a proporcionar um adequado desenvolvimento dos arcos dentários.
Perda prematura dos dentes decíduos
Os dentes decíduos contribuempara fonação, deglutição, mastigação estética adequadas, além
de servirem como mantenedores de espaçose guias de erupção para os dentes permanentes. Quando
perde-se prematuramente um dente decíduo ocorre o rompimento do equilíbrio dentário propiciando a
mesialização dos dentes posteriores, distalização dos anteriores e extrusão dos antagonistas. Assim,
faltará espaço para a irrupção de alguns dentes permanentes, determinando más oclusões.
Perda de dentes permanentes
A oclusão dentária caracteriza-se pela intercuspidação de um dente superior com dois inferiores,
com exceção dos últimos dentes superio res e dos incisivos centrais inferiores, mantendo, desta forma o
equilíbrio na cavidade bucal. A perda de qualquer um destes dentes provoca alterações no posicionamento
dos demais, estabelecendo uma má oclusão.
Retenção prolongada e reabsorção anormal dos dentes decíduos
A retenção prolongada e reabsorção anormal dos dentes decíduos criam uma barreira mecânica
dificultando a irrupção do dente sucessor ou desviando-o para uma posição anormal no arco dentário. Os
possíveis fatores que podem causar esta alteração estão associados à rizólise tardia, à anquilose do dente
decíduo, à agenesia do sucessor permanente e a distúrbios endócrinos
Anomalias dentárias de número: agenesia e supranumerário
A presença ou a ausência de um ou mais dentes, quebram o equilíbrio do arco dentário e
geralmente contribuem para o estabelecimento de uma má oclusão. A ocorrência destas anomalias não é
predizível, entretanto, os estudos em linhagens genealógicas de algumas famílias sugerem a influência de
fatores genéticos
Anquilose
A anquilose dentária, encontrada com freqüência entre os 6 e 12 anos de idade,
possivelmenteadvém de algum tipo de lesão, o queocasiona alterações no ligamento periodontal com
formação de uma ponte óssea unindo o cemento e a lâmina dura. A anquilose de qualquer dente decíduo
pode provocar além da sua retenção, um atraso ou mesmo uma irrupção ectópica do sucessor permanente
Cisto
As patologias como cistos e tumores também podem ser consideradas como fatores etiológicos
de más oclusões principalmente por causarem desvios de erupção dentária
Irrupção ectópica dos dentes permanentes
Os primeiros molares permanentes, principalmente os superiores, podem assumir uma trajetória
de irrupção para mesial, ocasio nando a prematura reabsorção radicular e esfoliação dos segundos mola-
res decíduos adjacentes. Desta maneira, o espaço para a irrupção dos segundos pré-molares ficará
reduzida
Freio Labial Superior
O freio labial superior consiste em uma lâmina fibro- sa de tecido conjuntivo, com forma tri- angular.
No recém-nascido, este freio estende-se desde o lábio superior até inserir-se na papila lingual, cruzando
o rebordo alveolar. Durante o desenvol- vimento da oclusão, a inserção fibrosa do freio paulatinamente
desloca-se para a superfície vestibular do processo alveolar, alcançando as proximidades do limite
mucogengival. A persistência da inserção baixa do freio labial superior, após o desenvolvimento completo
da dentadura permanente tem sido apontada como um dos principais fatores etiológicos do diaste- ma
interincisivos centrais. No entanto, devemos deixar claro que o diastema superior exibe uma etiologia
multifatorial, desde que outros fatores podem determiná-lo:
1 - Agenesia dos incisivos laterais superiores;

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2 - Microdontia dos incisivos late- rais superiores;


3 - Discrepância dente-osso positiva;
4 - Presença do supranumerário mesiodente;
5 - Lesões patológicas como cistos na região interincisvos centrais;
6 - Hábitos de sucção de dedo, chupeta, lábio e interposição lingual.
GRABER enfatizou ainda que na presença de um diastema interincisivos causado por diversos
destes fatores etiológicos, o freio labial superior pode man ter-se inserido por lingual, dificultando a
identificação da real participação da inserção fibrosa na manutenção do diastema. Surge então a
discussão semelhante ao ovo e a galinha. Quem veio primeiro? Deve-se ter em mente que todos estes
fatores etiológicos do diastema interincisivos centrais apresentam sua importância ao avaliarmos um
paciente durante a dentadura permanente. Nos estágios anteriores do desenvolvimento da oclusão,
dentadura decídua e mista, o diastema interincisivos central apresenta-se como característica normal e
fisiológica, que está presente na maioria das crianças durante a irrupção dos incisivos centrais superiores
permanentes. Com a irrupção dos incisivos laterais superiores permanentes esta porcentagem diminui
para 46% e após a irrupção dos caninos superiores permanentes, essa prevalência cai para 7%, e é sobre
esse número que se concentram os fatores etiológicos responsáveis pelo diastema, anteriormente
discutido.
Cáries
As cáries dentárias, principal mente as interproximais, são responsá- veis pela redução do
comprimento do arco dentário, além de provocarem por muitas vezes, a extração prematura de dentes
decíduos. Ainda hoje, a incidên- cia da cárie dentária no nosso país, é a maior responsável pelo aumento
do número de más oclusões.

3 Encerramento
Se torna imprecindivel a todo cirurgião-dentista, independente da sua especialidade, o conhecimento
esepcífico dos fatores etiológicos das maloclusões. Só assim ele poderá diagnostucar e intervir
precocemente, tratando ou encaminhando o paciente, com o objetivo maior de evitar o agravamento
das maloclusões.

ü Durante a leitura você aprendeu a importância do conhecimento sobre a etiologia das


maloclusões.
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Agora que você terminou essa leitura, mãos à obra! É só clicar na Análise Diagnóstica e
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REFERÊNCIAS
1. GRABER, T. M. Ortodoncia. Teoria ypráctica. 3.ed. México:Interamericana, 1980
2. LUNDSTRÖM, A. Nature versusnurture in dento-facial variation. Eur JOrthod, London, v. 6, no. 2, p.
77-91, 1984
3. MOYERS, R. E. Ortodontia. 4a ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1991.
4. PROFFIT, W. R.; FIELDS JR, H.W. Ortodontia Contemporânea. 3a ed. Guanabara Koogan, 2002. 1.
5. SALZMANN, J. A. Orthodontics indaily practice. Philadelphia: J. B.Lippicott, 1960

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