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comecar-bem-o-ano
Publicado em NOVA ESCOLA 04 de Janeiro | 2024

Aprimoramento

Como fazer uma


autoavaliação para
começar bem o ano?
O período de férias é essencial para o descanso, mas
também fundamental para se reorganizar, criar metas e
traçar novos objetivos
Paula Sestari

A busca pelo autoconhecimento é importante, pois reconhecer quais são


nossas fragilidades, abre caminho para o desenvolvimento de estratégias para
lidar com elas. Foto: Getty Images
Olá, queridas professoras e professores! Fechamos mais um ano de trabalho e,
inevitavelmente, esse é um momento em que olhamos para tudo o que
aconteceu e prospectamos as informações que temos para o próximo período
letivo que se aproxima.
Passado o processo de avaliação das crianças com a escrita de pareceres,
registros avaliativos, organização de portfólios, reflexão sobre o trabalho
desenvolvido, é importante que tenhamos um momento para autoavaliação,
aquela mais íntima e personalizada, das coisas que nos envolveram, nos
afetaram e que nem sempre nos sentimos confortáveis para compartilhar com
os demais colegas ou até mesmo com a família no ano letivo que passou.
Porque, sim, é sabido que na nossa profissão muitas coisas nos passam, nos
afetam e nos modificam, pois são muitos encontros com histórias singulares,
com cenários que nem sempre são aqueles com os quais estamos
familiarizados e isso nos exige muito. Como professora, sinto falta de participar
de mais grupos e ter mais acesso a discussões que envolvam essas
complexidades.
Ainda que o tema saúde mental dos professores tenha se tornado motivo de
debates, principalmente nesse período pós-pandemia, todas as consequências
que o isolamento trouxe para as relações sociais e impactos na qualidade da
aprendizagem das crianças, vejo que o sistema delega para o individual as
questões que envolvem o adoecimento psíquico dos docentes.
Aqui, não pretendo esmorecer a convicção de que é necessário a ampliação de
espaços para discussões mais profundas sobre o tema, tanto dentro das
escolas - a partir das situações do cotidiano -, como em programas de governo
mais efetivos que atuem nas suas causas, principalmente, nas escolas públicas.
Ainda assim, nós, professoras e professores, podemos fazer o exercício interno
de autocuidado mental.
Longe de querer apresentar soluções, gostaria apenas de compartilhar minha
própria experiência, a partir dos instrumentos que tenho disponíveis no
cotidiano e o modo como meu ambiente favorece essa reflexão para, quem
sabe, inspirá-los na construção de ferramentas próprias, de acordo com sua
realidade.
Autoavaliação por meio dos registros diários
A prática do registro diário está entre os afazeres da Educação Infantil, como
forma de levantar as evidências das aprendizagens das crianças, mas sua
potência pode apoiar nossa autoavaliação.
Agora que o compromisso de entrega de um material que comunique para as
famílias um pouco desse percurso já foi foi cumprido, me atenho a recuperar
esses registros e buscar evidências mais específicas das minhas ações e, logo,
dos desdobramentos obtidos, pensando nos impactos na minha constituição
docente que jamais estará pronta ou acabada. Vamos a duas grandes questões:
Quais foram os pontos altos profissionalmente?
Ou seja, eu procuro identificar quais momentos, situações e vivências consegui
desenvolver com segurança, espontaneidade, quais propostas posso afirmar
com certeza que foram satisfatórias para mim. O exercício docente passa pelo
quanto de si esteve envolvido no processo, pois estamos falando muito mais da
jornada do que de resultados.
Nesse sentido, para além das considerações da gestão ou coordenação da
escola, o que fica é o quanto de satisfação consegui alcançar com o trabalho
realizado. Se, nesse resgate, houve pouco que levantar de efetivo, talvez um
primeiro sinal de alerta deve ser considerado.
Quais foram os maiores desafios e de que maneira eles foram
superados?
Como já mencionei, no dia a dia, muitas questões nos atravessam. Várias delas
não temos controle ou não dependem unicamente de nós resolver, porém
acredito que seja importante pensar sobre o quanto cada situação me atingiu e
como reagi em cada uma delas.
Podemos citar como exemplo o fluxo de trabalho gerado pelas demandas da
instituição ou da secretaria de educação; a relação com as famílias e o diálogo
nem sempre tão afinado, seja por insegurança ou por eventos que causaram
impressões equivocadas; a gestão do trabalho de sala com a equipe de
profissionais composta por pessoas com ideais, muitas vezes, divergentes; a
dificuldade na relação com as próprias crianças que possuem demandas
específicas.
Enfim, poderia citar outras tantas, mas aqui vale focar no modo como reagimos
e encaminhamos cada situação, sem buscar culpados ou justificativas. Dentre o
que foi mais relevante, há que se indicar quais foram os aspectos que
contribuíram para sua aprendizagem. Se o desconforto apenas causou estresse,
deixou pendências que comprometeram boa parte do trabalho e não foram
superadas, podemos indicar mais um sinal de alerta.
Reconhecer fragilidades e criar estratégias
Nesse processo, a busca pelo autoconhecimento é muito importante, pois é
fortificante reconhecer quais são nossas fragilidades, o que nos deixa
vulnerável para então desenvolver estratégias para agir sobre elas.
Algumas questões podem estar relacionadas com uma infância não respeitada
e, por isso, a dificuldade de se construir relações democráticas com as crianças
tornando positivo as heterogeneidades. Por isso, é importante fazer um
processo de revisitação dessa criança interior para observar o quanto dela está
sendo visto em cada criança em sala.
Outras, porém, podem estar atreladas a falta de oportunidade de participar de
experiências que ampliem olhares, que nos ajudem a pensar em outras
possibilidades para uma mesma situação. Nesse caso, ter uma rede de apoio
profissional é muito importante, pois, ao compartilhar suas fragilidades com
outros, é possível enxergar que não é algo exclusivo nosso e nos ajuda a criar
outras referências.
Há que reconhecer também quais habilidades e competências tenho a
possibilidade de desenvolver com boas leituras, com cursos e capacitações que
atendam essas demandas identificadas, entre elas, podem estar a ampliação de
repertório, de estratégias didáticas ou, partindo lá do começo, a forma de
construir um registro reflexivo para que a didática e práxis sejam pautadas no
ciclo freireano da ação-reflexão-ação.
O período de férias é essencial para o descanso, mas também fundamental
para se reorganizar, criar metas, traçar novos objetivos e aquela máxima vale a
pena ser lembrada: pra quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
Então, vale a pena essa análise franca do vivido ao longo ano para que seja
possível construir um novo percurso ainda mais satisfatório.
Bom descanso e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de
Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de
Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota
10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto
com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

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