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Aula 6

Farmacologia
5. SNC: regulação de atividade cognitivas, motoras,
Farmacologia do SNAP
sensoriais, de equilíbrio e comportamentais; fármacos
Principais atividades da ativação parassimpática:
para tratamento de Alzheimer, Parkinson e depressão
aumento do peristaltismo do TGI, reflexos miccionais,
(M1 agonistas em estudo).
reflexos de defecação, aumento da secreção salivar,
aumento da secreção lacrimal, aumento da secreção
Principal NT do parassimpático: Ach.
estomacal, miose, aumento do tônus de músculos
O NT Ach apresenta nitrogênio com carga positiva
detrusores, broncoconstrição, redução da FC e da PA.
em sua estrutura. Essa carga é importante para que o
→ “Rest and digest”: diminuição da PA e
Ach se ligue com seus receptores e com sua enzima
bronquioconstrição; reestabelecer trânsito intestinal
metabolizadora acetilcolenestare.
em pós-cirúrgicos, miose, aumento da secreção salivar
e lacrimal, estimulação miccional.
Síntese, liberação e metabolização de Ach
A síntese de Ach envolve união da acolina com Acetil-
CoA a partir da enzima colina-acetil-transferase. A Ach
é transferida para interior da por um transportador. A
vesícula sináptica é liberada quando recebe potencial
de ação. Assi, a Ach chega até a fenda sináptica.
A Ach liberada na fenda se une com seu receptor
nicotínico ou muscarínico. Após exercer efeito, se
desprende do receptor e é rapidamente metabolizada
por acetilcolinesterase (AChE). Essa enzima hidrolisa
Ach em colina + acetato. A colina é recaptada para nova
Principal nervo: NC X grande atuação em coração e síntese de Ach e o acetato é excretado.
órgãos do abdome. A enzima butirilcolinesterase ou
Sinapses: pré-ganglionares contêm ACh como NT + pseudocolinesterase também pode metabolizar Ac.
receptor nicotínico e pós-ganglionares, contêm ACh Essa enzima está presente em plasmas e tecidos e
como NT + receptor muscarínico. promove a metabolização de Ach, de seus congêneres
→ Sinapse colinérgica nas gll. sudoríparas quando e de substâncias similares em outros lugares, além da
medicamentos são administrados, apesar de fenda sináptica, tornando essas substâncias inativas
fisiologicamente o suor ser desencadeado por função mesmo fora da fenda sináptica.
simpática. Ingestão V.O. = fraca absorção + rápida metabolização

Efeitos parassimpáticos nos sistemas: → A Ach está presente na membrana do neurônio pós-
1. Cardiovascular: efeitos inotrópico e cronotrópico ganglionar, geralmente, mas também pode estar
negativo (ativação de M2) + vasodilatação – ex: viagra presente na membrana do neurônio pré-ganglionar.
(M3; ativação de mecanismos que liberam NO, → Quanto mais colina recaptada, maior a produção de
induzindo vasodilatação de maneira indireta). Ach. Se o fármaco bloquear a recaptação, acontece
2. Pulmonar: bronquioconstrição e aumento de diminuição da liberação desse NT.
secreções; desvantagem para fármacos que → AChE está presente na fenda sináptica colinérgica;
mimetizam. promove hidrólise da Ach.
3. TGI: aumento dos eventos digestórios; contração da
musculatura lisa do TGI (M3) e estimulação da secreção
ácida (M1).
4. Geniturinário: aumento da contração promovendo
aumento miccional; contração de bexiga, próstata,
epidídimo e miométrio.

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Receptores de Ach: - Ganglionares (Nn): presentes nos gânglios do SNA e na
adrenal.
- Do SNC (Nn): presentes no cérebro.

Farmacologia colinérgica:
Os fármacos podem ser parassimpatomiméticos
(ativam SNAP) ou parassimpatolíticos (antagonizam a
atividade do SNAP).

Fármacos parassimpatomiméticos:
1. Muscarínicos (M): metabotrópicos acoplados à Esses fármacos têm efeitos relacionados com a
proteína G; nos tecidos; subdividem-se em 5 tipos (M1- diminuição da FC e a vasodilatação, diminuindo a PA.
M5); encontrados em todas as células efetoras que Eles também aumentam a secreção pelas glândulas e o
recebem estímulos pelos neurônios pós-ganglionares peristaltismo do TGI. Outros efeitos:
do SNAP. bronquioconstrição e contração do músculo ciliar.
Efeitos adversos dos parassimpatomiméticos: estão
relacionados à ativação parassimpática; diarreia,
aumento da sudorese, náusea, miose, urgência
miccional.
Contra-indicações de uso de
parassimpatomiméticos: asmáticos, pessoas com
distúrbios de secreção ácida intensa (distúrbios
pépticos ácidos), pessoas com hipotensão, insuficiência
coronariana.

1. Agonista de ação direta: efeito decorrente da ligação


- M1: voltados para aumento de secreções estomacais.
ao receptor M ou N; ex: alcaloides, ésteres da colina.
- M1, M3 e M5: são estimulatórios; ativam a via do
inositoltrifosfato (IP3), aumentando a concentração do
cálcio intracelular; promovem contração de m. liso e
secreção glandular.
- M2 e M4: são inibitórios, inibem a adenilato ciclato e
o AMPc; têm ação principal sobre o coração,
diminuindo a FC.

Os ésteres são derivados de Ach e os alcaloides tem ação direta em


receptores muscarínicos, principalmente.

→ Acetilcolina e congêneres sintéticos: fármacos de


ação rápida e rapidamente metabolizados pela enzimas
acetilcolinesterase e pseudocolinesterase; baixo efeito
clínico, sendo pouco utilizados na terapêutica.
2. Nicotínicos (N): ionotrópicos; nervos, SNC e mm. Os sintéticos têm maior resistência à ação da AChE,
esqueléticos; encontrados nas sinapses entre os são análogos a Ach endógena. Efeitos cardiovasculares
neurônios pré- ganglionares e pós-ganglionares. e diminuição da PA são os mais desejados.
Cada receptor possui de 4 a 5 subunidades. A Ach se !! No controle da PA, podem induzir efeito contrário por
liga na subunidade alfa a que é, então, rotacionada, causa de sua estimulação nicotínica. PA = FC +
promovendo a abertura do poro. vasodilatação.
- Musculares (Nm): presentes na junção muscular, Em altas doses, a Ach ou seus congêneres sintético
ganglionares, na sinapse entre um neurônio motor e a ativam receptores N ganglionares. Esses receptores
musculatura estriada esquelética.

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estão presentes no SNAS e no SNAP. Assim, altas doses O olho produz humor aquoso em sua porção interior,
são capazes de ativar o SNAS. líquido que deve ser drenado anteriormente no canal
de Schlemm.
SNAS estimulando a liberação de NE pelos neurônios Às vezes, é necessária a introdução de fármacos para
pós-ganglionares → aumento da PA e da constrição induzir essa drenagem. Como eles agem? Promovem a
vascular contração da musculatura ciliar e constritora da pupila.
*Atropina é um dos principais antagonistas de Com isso, diminui-se o tamanho da musculatura e
receptores M. aumenta o espaço para a passagem do humor aquoso
▪ Metacolina (Frixopel®), Betanecol (Liberan®), até o canal. Fluxo adequado do humor aquoso para sua
Carbacol (Ophtcol®): fármacos sintéticos; alteração de drenagem, reduzindo a pressão intraocular!
estrutura química de ACh promove maior resistência à ▪ Cevimelina: alcaloide sintético; menor quantidade de
metabolização. efeitos adversos para tratamento de SD de Sjogren;
O uso desses medicamentos está relacionado às suas atividade sialogoga (salivar); alta afinidade por M3 (gll.
atuações sobre o sistema cardiovascular. A Metacolina salivares e lacrimais).
diminui a PA, o Betanecol é usado em tratamentos de
retenção urinária e o Carbacol é utilizado para 2. Agonista de ação indireta (anticolinesterásicos):
tratamentos de glaucoma e em cirurgias oftálmicas. aumentam a concentração de Ach na fenda sináptica;
→ Alcaloides vegetais: muscarina, pilocarpina, aumento e prolongamento do efeito parassimpático.
arecolina, cavimelina. Esses fármacos inibem o metabolismo de Ach pela
▪ Muscarina: não possui aplicação terapêutica; vem do AChE, de forma reversível ou irreversível.
cogumelo onde foram identificados os receptores
muscarínicos.
Tem ação predominante muscarínica: salivação e
sudorese intensas, miose, bradicardia, dor abdominal,
vômito, cólica, diarreia, dificuldades respiratórias.
A Muscarina estimula o parassimpático com ação
100x maior do que a da Ach (ativação parassimpática
intensa). Envenenamento grave promove colapso
cardiovascular! Como tratar a intoxicação? Utilizar
antagonista muscarínico. Geralmente, atropina é
utilizada.
▪ Pilocarpina: alcaloide de uso terapêutico (Pilocarpus Os reversíveis são utilizados principalmente no tratamento de
jaborandi); diminui pressão intraocular e promove Miastenia Gravis e os irreversíveis não possuem aplicação
miose; tem ação muscarínica e nicotínica; é agonista terapêutica (podem causar intoxidação).
parcial muscarínico; tem predileção para induzir
secreções e salivação. Reversíveis:
Efeitos adversos: sudorese, calafrio, náuseas e → Neostigmina (Prostigmina®), piridostigmina
tontura. (Mestinon®), fisostigmina, edrofônio (Anticude®).
Tratamento de xerostomia ou SD de Sjogren
(pessoas que tem salivação diminuída): pós irradiados
de quimioterapia ou portadores da SD podem fazer uso
de Pilocarpina para terem suas glândulas secretórias
estimuladas, porém esses fármacos promovem diversos
efeitos adversos.
Tratamento de glaucoma: os mm. ciliar e construtor
tem inervação parassimpática (M3); a Pilocarpina
O tempo de ação difere entre os fármacos porque
promove a contração da musculatura ciliar, contraindo
existem diferenças entra a natureza da interação
a lente e a musculatura constritora da pupila.
química com o sítio ativo da enzima.
- Edrofônio tem ação curta.
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- Fisostigmina, Neostigmina e Pirodostigmina têm Na ausência de Pralidoxima, pode-se utilizar um
ação intermediária (4-6 horas, + vantajoso). antagonista colinérgico para diminuir a ativação
▪ Miastenia Gravis: doença autoimune onde há parassimpática (Atropina).
anticorpos que bloqueiam a atividade do receptor
nicotínico na placa motora. Portadores têm Fármacos parassimpatolíticos:
incapacidade de manter contrações sustentadas. A Esses fármacos bloqueiam os receptores M
ptose palpebral é sinal característico da doença. Há reversivelmente. São antagonistas muscarínicos
perda de receptores nicotínicos da junção competitivos e bloqueiam impulsos parassimpáticos
neuromuscular. para o órgão efetor, promovendo atenuação intensa do
Fármacos anticolinesterásicos inibem AchE, SNAP.
causando inibição do metabolismo de Ach. Isso faz com NÃO PROMOVEM ESTIMULAÇÃO DO SIMPÁTICO!
que mais Ach se acumule na fenda. Assim, o Ach ganha Evidenciam o efeito basal do simpático no órgão!
a competição para se ligar ao receptor nicotínico ao 1. Alacaloides da Beladona: Atropina (Atropa
invés do anticorpo (“competição travada contra o belladonna) e Escopolamina (Buscopan®).
anticorpo do próprio paciente”). → Atropina: principal representante dos
Sintomas: fraqueza muscular e aumento da parassimpatolíticos; contorna efeitos de intoxicação
fatigabilidade. por anticolinesterásicos; muito utilizada em anestesia
geral.
Irreversiveis (organofosforados): se ligam Como anestésico, inibe a liberação de secreções,
covalentemente com a AchE, de forma irreversivel. principalmente no trato respiratório. Assim, diminui a
possibilidade de acontecedr laringoespasmo e
Efeito intenso de ativação parassimpática: sudorese,
broncoespasmo.
miose, lacrimejamento, visão turva, câimbras
→ Escopolamina: diminui o peristaltismo.
abdominais, vômitos, diarreia, fraqueza ou paralisia dos
2. Derivados semi-sintéticos: Homatropinas (derivadas
músculos respiratórios (dose dependente); risco de
do amônio quartenário dos alcaloides naturais -
intoxicação.
metilnitratode atropina, brometo de metescopolamina,
Eram utilizados como agentes tóxicos em guerras
metilbrometode homatropina).
mundiais ((gás Sarin, Tabul). Nesses casos, promoviam
3. Derivados sintéticos: Metantelina, Propantelina,
nas pessoas uma reação parassimpática intensa que as
Ipratrópio (derivados do amônio quaternário);
levava a morte.
Benzotropina, Triexilfenidil, Ciclopentolato,
Também são utilizados como inseticidas nas lavouras
Tropicamida.
(Malation / Paration). Os trabalhadores rurais devem ser
bem protegidos para que não entrem em contato com
esses fármacos. Acúmulo por exposições repetidas! Efeitos dos fármacos antagonistas nos diversos tecidos
Único fármaco de implicação terapêutica: Ecotiofato e sistemas:
para tratamento de glaucoma. 1. Olhos:
O que fazer em casos de intoxicação por - Midríase → ciclopegia, dificuldade para visualizar
organofosforaos? Usar Pralidoxima como antídoto. objetos próximos (paralisia da acomodação). Uso em
O paciente intoxicado por organofosforado pode exames de retina e pupila.
morrer. A Pralidoxima impede a ligação do - Paralisia do m. ciliar.
organofosforado com a enzima ChE de maneira - Uso não indicado para pacientes com glaucoma.
covalente, “reativando-a”. 2. Vias respiratórias: principal atividade clínica.
O organofosforado demora 1 hora para se ligar com - Diminuição de secreção de trato respiratório,
a enzima. Depois de 1 hora, a pessoa intoxicada não relaxamento dos mm. lisos bronquiolares (controle
possui AchE algum em seu organismo. simpático), reversão da broncoconstrição causada por
Deve-se intervir nesse intervalo de tempo com o uso colinérgicos, inibição da secreção de todas as glândulas
de pralidoxima para “recuperação da atividade da no nariz, boca, faringe e vias respiratórias.
enzima”. Depois de 1 hora, não adianta mais utilizar - Previne laringoespasmo durante a anestesia geral. →
Pralidoxima porque ela não terá substrato para agir. Ipratrópio e Tiotrópio: usados para tratamento de
Então, os efeitos da ativação parassimpático devem ser DPOC, bronquite crônica e asma aguda, quando
controlados com agentes antagonistas. paciente não é responsivo a agonista beta-2.

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→ Atropina e similares: suprime secreções no trato → Tolterodina, oxibutinina, solifenacina.
respiratório e evita laringoespasmo em anestesia geral.
3. TGI: Escopolamina tem uso clínico principal. Intoxicação por Atropina:
- Diminuição do tônus e do peristaltismo, diminuição de Efeitos adversos: sede extrema, dilatação das
secreção gástrica total, pepsina e acidez, diminuição da pupilas, cicloplegia, deficiência visual, fotofobia,
secreção salivar (fala e deglutição ficam prejudicadas). ausência de sudorese com consequente aumento da
→ Pirenzepina e telenzepina: diminuem secreção de temperatura corporal, retenção urinária e sintomas de
ácido e pepsina no estômago; são M1 seletivos toxicidade no SNC.
(diminuição de efeitos adversos). Tratamento: alticolinesterásicos (Fiostigmina).
- Diminui tônus, motilidade e contrações peristálticas.
- NÃO afeta coração, bexiga, gll. salivares e olhos.
!! Hoje não são mais utilizados e estão caindo em
desuso.
→ Escopolamina: antiespasmódico; diminui o
peristaltismo.
4. Cardiovasculares: efeitos dependentes da dose, da
posição do indivíduo e da prática de exercício físico
(efeito evidente somente durante exercícios físicos ou
quando em posição ereta).
A alteração do batimento cardíaco é dificilmente
percebida.
→ Atropina: em altas doses causa taquicardia
moderada e em baixas doses promove bradicardia leve
(efeito estimulatório de Ach).
!! A atropina é usada pós IAM para tratamento de
bradicardia sinusal.
5. SNC: efeitos decorrentes da diminuição da atividade
da Ach em receptores M envolvidos com equilíbrio
controle motor.
- Pequenas doses estimulam a respiração através dos
núcleos vagais bulbares.
- Efeitos variados: excitação, sedação, euforia, amnésia.
- Diminuem a cinetose (enjoo decorrente de
movimentação estranha do corpo) e o tremor de
Parkinson.
→ Escopolamina: pode provocar sedação; atravessa
BHE e atinge o SNC; prevenção de cinetose.
→ Benzotropina: neutraliza distúrbios de movimentos,
como o tremor em Parkinson.
→ Atropina: tende a causar excitação do SNC; promove
leve inquietação em baixas doses e agitação +
desorientação em altas doses.
6. Temperatura corporal: fibras colinérgicas
muscarínicas inervam as gll. sudoríparas.
- Inibem sudorese.
- Aumentam a temperatura corporal.
7. Vias urinárias: antagonistas muscarínicos podem
promover melhora da retenção urinária em pacientes
com incontinência urinária (relaxamento de pelve,
ureter e bexiga).
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