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Curso de Administração Pública 4º Ano

Celeridade do Processo Administrativo.

Xai-Xai, Fevereidoro de 2023

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Índice

1. Introdução........................................................................................................................1

1.1. Objectivos.....................................................................................................................2

1.1.1. Objectivo geral.........................................................................................................2

1.1.2. Objectivos específicos..............................................................................................2

1.2. Metodologias................................................................................................................2

2. Desenvolvimento teórico.................................................................................................3

2.1. Princípios da celeridade do processo administrativo...................................................3

2.2. A celeridade do processo administrativo em Moçambique.........................................5

2.3. Impactos na Administração Pública.............................................................................7

3. Conclusões.......................................................................................................................9

4. Referências bibliográficas..............................................................................................10

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1. Introdução

A celeridade do processo administrativo é um tema de grande relevância e impacto na


Administração Pública, reflectindo directamente na eficiência do serviço público, no acesso à
justiça e na qualidade da prestação jurisdicional.

Este trabalho tem como objectivo principal estudar e compreender a celeridade do processo
administrativo, com foco específico na realidade de Moçambique. Para tanto, serão
explorados os princípios relacionados à celeridade do processo administrativo, bem como a
sua aplicação e os desafios enfrentados pelo sistema judiciário moçambicano.

Através de uma abordagem descritiva e utilizando pesquisa documental bibliográfica, busca-


se fornecer uma visão abrangente e aprofundada sobre o tema, destacando os impactos dessa
celeridade na Administração Pública e na sociedade como um todo.

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1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Estudar e compreender a celeridade do processo administrativo.

1.1.2. Objectivos específicos

 Compreender os princípios relacionados a celeridade do processo administrativo;


 Descrever a celeridade do processo administrativo em Moçambique;
 Apresentar o impacto da celeridade do processo administrativo na Administraçào
Pública.

1.2. Metodologias

Para a realização do presente trabalho de pesquisa recorreu-se a pesquisa descritiva exige do


investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo
pretende descrever os factos de determinada realidade GIL (1999: 47)

O tipo de pesquisa descritiva relaciona-se com o presente trabalho porque será feita uma
pesquisa documental bibliográfica como método de recolha de dados para a sua execução.

A pesquisa documental bibliográfica é o método de recolha de dados que tem como base
leituras realizadas em livros, revistas e artigos científicos. Segundo MARCONI, (2011) a
pesquisa documental consiste na análise de obras disponíveis que debruçam-se sobre o tema
em pesquisa, onde também explicitaram-se os principais conceitos e termos técnicos
utilizados para a realização do presente trabalho.

Neste estudo, a pesquisa documental bibliográfica nos servirá para estudar e compreender a
celeridade do processo administrativo.

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2. Desenvolvimento teórico

2.1. Princípios da celeridade do processo administrativo

A celeridade é o contrário de lentidão, significa ligeireza, presteza, rapidez e velocidade.

Segundo Rodrigues (2021, p. 20) o processo constitui uma solução básica de conflitos entre
cidadãos, que buscam o sistema judiciário como um meio para obtenção da justiça. Contudo,
essa crescente judicialização dos problemas tem feito com que o processo civil enfrente um
grande problema na prestação jurisdicional, a demora na tramitação do processo.

Assim, o enfoque no princípio da celeridade do processo administrativo veio a fim de sanar a


demora na prestação jurisdicional.

Conforme Rodrigues (2021, p. 20) o princípio da celeridade do processo administrativo,


define: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Para Barroso (2018 citado em Rodrigues 2021, p. 20) o princípio da celeridade possui duas
vertentes: a razoabilidade na duração do processo e a celeridade em sua tramitação. Ele
também afirma que: “Esse direito da parte abrange não só o direito a obter uma sentença de
mérito em prazo razoável, como também a tutela satisfativa da execução.

Conforme Neves (2016 citado em Rodrigues 2021, p. 21) não se deve confundir duração
razoável do processo com celeridade do processo administrativo. O legislador não pode
sacrificar direitos fundamentais das partes visando somente a obtenção de celeridade
processual, sob pena de criar situações ilegais e extremamente injustas. É natural que a
excessiva demora gere um sentimento de frustração em todos que trabalham com o processo
civil, fazendo com que o valor celeridade tenha actualmente uma posição de destaque. Essa
preocupação com a demora excessiva do processo é excelente, desde que se note que, a
depender do caso concreto, a prejudicará direitos fundamentais das partes, bem como poderá
sacrificar a qualidade do resultado da prestação jurisdicional. Demandas mais complexas
exigem mais actividades dos advogados, mais estudo dos juízes e, bem por isso, tendem
naturalmente a ser mais demoradas, sem que com isso se possa imaginar ofensa ao princípio
constitucional ora analisado.

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Segundo Rodrigues (2021, p. 21) os sistemas Judiciários hoje contam com um grande
acúmulo de processos. Esse acúmulo e, consequente, atraso na tramitação processual, é
resultado da soma de muitos conflitos sociais, que sobrecarregam o Judiciário, com o pequeno
número de
profissionais dentro deste poder. Sabe-se que os actos processuais devem ter andamento o
mais rápido possível. Muitas vezes, na ânsia de acelerar o processo, o legislador pode acabar
criando procedimentos que geram confusão na ideia de celeridade. Ademais, vale ressaltar
que alguns problemas envolvendo certos processos são mais difíceis de serem apreciados,
necessitando de um prazo maior para sua solução, pois nem sempre a melhor justiça é feita
com os julgados mais rápidos.

Portanova (2008, p. 173 conforme citado em Rodrigues 2021, pp. 21-22) esclarece que a
demora é um ónus de quem busca o processo para a solução de um litígio que, ou não soube
prevenir acautelando-se com a escolha de adequado sujeito, ou no outro polo da relação
jurídica de direito material, ou não sabe resolver sem a intervenção do juiz. Então, incapazes
de resolver seus conflitos, as partes deverão submeter-se a uma burocracia, que sem dúvida
não precisava ser tão morosa, mas que deve respeitar os princípios, encontrados em toda
democracia, do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. Não se pode por
causa da pressa passar por cima de consagradas conquistas universais.

Por sua vez Gonçalves (2010, p. 34 citado em Rodrigues 2021, p. 22) salienta que boa parte
das alterações e acréscimos havidos na legislação processual, tem por fim buscar uma solução
mais rápida para os conflitos. Esse princípio é dirigido, em primeiro lugar, ao legislador, que
deve cuidar de editar leis que acelerem e não atravanquem o andamento dos processos. Em
segundo lugar, ao administrador, que deverá zelar pela manutenção dos órgãos judiciários,
aparelhando-os de sorte a dar efectividade à norma constitucional. E, por fim, aos juízes, que
no exercício de suas actividades, devem diligenciar para que o processo caminhe para uma
solução rápida.

O andamento do processo deve gozar do melhor aproveitamento do tempo possível, obtendo


uma economia processual em cada caso solucionado, (Rodrigues 2021, p. 22). Por fim,
Câmara (2012 citado em Rodrigues 2021, p. 22) diz que um processo extremamente
demorado não é sinónimo de um processo com resultados e que um processo muito rápido
dificilmente será capaz de atingir o objectivo desejado de forma correta e justa.

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2.2. A celeridade do processo administrativo em Moçambique

Segundo Chuzuaio (2019), o contexto histórico pós-independência de Moçambique revela um


compromisso político com a simplificação e aceleração do acesso à justiça, refletido nas
palavras do Presidente Samora Moisés Machel, que criticou a complexidade e a lentidão do
sistema judiciário colonial, percebido como servindo principalmente aos interesses da elite.
Esse discurso inaugurou uma série de medidas para reformar o sistema judiciário, buscando
torná-lo mais acessível ao cidadão comum.

Uma das primeiras medidas foi a abolição do exercício de certas profissões jurídicas como
advocacia e consultoria jurídica, além da criação do Serviço Nacional de Consulta e
Assistência Jurídica. Essas mudanças foram acompanhadas pela introdução de novas regras
processuais destinadas a facilitar a prática de atos processuais pelas partes envolvidas nos
processos.

A Lei nº 12/78 marcou um marco na organização judiciária, estabelecendo uma estrutura que
levou os tribunais até ao nível do bairro, visando tornar a justiça mais acessível e priorizando
soluções de consenso em questões judiciais. Além disso, foram aprovadas leis específicas
para simplificar procedimentos em áreas como direito penal, direito de família e direito do
trabalho, incluindo a simplificação da tramitação processual em casos de adoção, tutela,
divórcio litigioso, casamento e processo de trabalho, ibid.

Apesar das reformas realizadas ao longo das décadas, a busca pela celeridade processual e
pela simplificação dos procedimentos judiciais permanece como um ideal presente nos
discursos dos líderes políticos e nas revisões legislativas em Moçambique. Esses esforços
refletem um compromisso contínuo com a melhoria do sistema judiciário do país, visando
garantir um acesso mais amplo e eficiente à justiça para todos os cidadãos, alinhado com os
princípios fundamentais de um Estado democrático e de direito.

A busca pela celeridade processual e pelo acesso à justiça tem sido um direcionador essencial
em iniciativas de revisão de leis em Moçambique, especialmente as de natureza processual.
Isso é evidente nos preâmbulos dos decretos-lei e leis que abordam a simplificação de
procedimentos, como os Decretos-Lei nº 4/75, 28/75 e 1/2005, e as Leis 12/78, 5/89, 8/92 e
18/92, entre outras, ibid.

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Conforme Chuzuaio (2019) simplificar significa tornar algo menos complicado e facilitar, o
que implica remover da legislação elementos que apenas complicam e tornam os processos
mais pesados. No entanto, a liderança desse processo de simplificação e seus destinatários
levantam questões importantes.

Quando se trata de liderança, é necessário considerar os grupos de interesse que influenciam


esse processo, muitas vezes resultando em leis que beneficiam mais esses grupos do que a
população em geral. Além disso, é crucial que aqueles envolvidos na reforma estejam
devidamente preparados e tenham em mente os princípios do código e do direito em geral,
ibid.

A revisão do Código do Processo Civil, por exemplo, introduziu princípios gerais como a
independência do valor da acção para determinar a forma do processo executivo, mas falhou
na previsão rigorosa de normas relacionadas. Isso resultou em maior complexidade e atrasos
processuais em vez de celeridade.

Na perspectiva dos destinatários das reformas simplificadoras, como o ambiente empresarial,


é fundamental considerar que o empresário é o principal beneficiário dessas mudanças, dado o
contexto económico predominante.

A questão que surge é se é possível uma simplificação legislativa em Moçambique,


especialmente em relação aos procedimentos no processo civil, que atenda aos anseios da
maioria da população. Essa é uma questão complexa que requer uma abordagem cuidadosa e
inclusiva para garantir que as reformas beneficiem verdadeiramente todos os cidadãos.

A simplificação de procedimentos no processo civil em Moçambique, alinhada ao movimento


mais amplo de adequação da justiça aos anseios da maioria, remonta aos primeiros anos da
independência. A principal reforma ocorreu por meio do Decreto-Lei nº 1/2005, de 27 de
Dezembro, que aprovou um novo Código de Processo Civil, orientado por três princípios
fundamentais: simplificação de procedimentos, celeridade processual e modernização da
legislação processual (Chuzuaio, 2019).

Essa reforma introduziu avanços notáveis, como a alteração do critério para definir a forma do
processo executivo, agora determinada pela qualidade do título em vez do valor da causa. A
busca pela celeridade processual refletiu-se em modificações no regime de impugnação de

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despachos, restringindo as possibilidades de recurso e, em termos de modernização,
permitindo a prática de atos judiciais por meios como telegrama, fax ou correio.

Apesar dos avanços, críticas foram levantadas, destacadas pelo Professor Doutor Tomás Luís
Timbane, e a discussão sobre a necessidade de mais reformas persiste. O contexto atual
demanda uma revisão mais ousada e inovadora, sem sacrificar princípios fundamentais.

A opinião de Carlos Mondlane, Presidente da Associação Moçambicana de Juízes, destaca


que a legislação processual atual foi concebida em um contexto histórico diferente, sem
considerar avanços tecnológicos. Ele aponta para a explosão da litigiosidade e a necessidade
de adaptação da legislação processual a uma realidade mais moderna.

O projeto em curso de informatização da tramitação e gestão processual, liderado pelo


Tribunal Supremo, apresenta desafios consideráveis. A iniciativa visa informatizar todo o
processo judicial, demandando uma revisão cuidadosa dos diplomas legais pertinentes para
adequação às exigências dessa modernização.

Além disso, destaca-se a importância de permitir e legislar sobre a notificação de atos


judiciais por meios modernos de comunicação, (como SMS, WhatsApp e correio eletrônico),
bem como possibilitar depósitos com fins judiciais por meio de plataformas eletrônicas. Essas
reformas representariam uma verdadeira revolução na simplificação de procedimentos no
processo civil, resultando em benefícios significativos para os cidadãos no acesso à
justiça(Chuzuaio, 2019).

2.3. Impactos na Administração Pública

Identificamos como impactos da celeridade do processo administrativo sobre a Administração


Pública uma série de aspectos significativos. Em primeiro lugar, a busca pela celeridade visa
garantir que os processos sejam resolvidos de forma mais rápida e eficiente, o que é
fundamental para a prestação de serviços públicos de qualidade aos cidadãos. Quando os
processos são morosos, isso pode resultar em atrasos na tomada de decisões, afectando
directamente a eficácia da administração pública.

Além disso, a celeridade no processo administrativo é essencial para garantir o acesso à


justiça para todos os cidadãos. Quando os processos se arrastam por longos períodos, isso

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pode dificultar o acesso dos cidadãos aos seus direitos e criar obstáculos para aqueles que
buscam resolver litígios ou obter soluções para questões administrativas urgentes.

Outro impacto importante da celeridade do processo administrativo é a redução da sobrecarga


do sistema judicial. Quando os processos são resolvidos de forma mais rápida, isso ajuda a
evitar o acúmulo de casos nos tribunais e contribui para uma administração da justiça mais
eficiente e eficaz.

Além disso, a busca pela celeridade no processo administrativo pode impulsionar iniciativas
de modernização e inovação na administração pública. Isso inclui a implementação de
tecnologias e sistemas informatizados para agilizar os processos, como a informatização da
tramitação e gestão processual.

No entanto, é importante ressaltar que a celeridade no processo administrativo deve ser


equilibrada com a garantia dos direitos fundamentais das partes envolvidas. Isso significa que
as reformas e iniciativas para promover a celeridade não devem comprometer a qualidade da
prestação jurisdicional ou sacrificar os princípios do contraditório, da ampla defesa e do
devido processo legal.

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3. Conclusões

A celeridade do processo administrativo é um aspecto fundamental para a eficiência e a


qualidade da Administração Pública, sendo essencial para garantir o acesso à justiça, a
prestação de serviços públicos de qualidade e o funcionamento adequado do sistema
judiciário.

Ao longo deste trabalho, foi possível compreender os princípios relacionados à celeridade do


processo administrativo, bem como analisar a sua aplicação na realidade de Moçambique.
Ficou evidente que, embora existam esforços para promover a celeridade processual, ainda há
desafios a serem superados, como a sobrecarga do sistema judicial e a necessidade de
modernização e inovação na administração pública.

Portanto, é fundamental que sejam implementadas medidas eficazes para garantir uma
tramitação mais rápida e eficiente dos processos administrativos, respeitando sempre os
direitos fundamentais das partes envolvidas e promovendo uma justiça acessível e de
qualidade para todos os cidadãos moçambicanos.

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4. Referências bibliográficas

CHUZUAIO, Bernardo B. (2019). Simplificação de Procedimentos no Processo Civil -


Haverá espaço para mais?. Maputo, Outubro de 2019. Disponível em:
http://www.ts.gov.mz/images/Simplica%C3%A7%C3%A3o_de_Proced_Processo_Civil_10-
10.pdf

GIL, António (1999). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. Atlas, São. Paulo.

MARCONI, Marina de Andrade (2011). Metodologia Científica. 6ª Edição, São Paulo, Atlas
Editora.

RODRIGUES, Líbni Saraiva (2021). A Conciliação E Os Princípios Da Celeridade E


Efetividade Processual No Cumprimento De Sentença Contra A Fazenda Pública.
Monografia apresentada Faculdade de Direito - Universidade de Brasília, Brasilia. Disponível
em https://bdm.unb.br/bitstream/10483/29503/1/2021_LibniSaraivaRodrigues_tcc.pdf

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