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Sociedade Brasileira de

Ciência do Solo
Núcleo Regional Nordeste
BOLETIM INFORMATIVO
ISSN: ------------
Volume 4
Número 2
Julho/Dezembro de 2020

A AGROECOLOGIA NO
NORDESTE DO BRASIL
___________________________________________
Caros Sócios,
BOLETIM INFORMATIVO - NRNE/SBCS
Editor-chefe: Dr. Henrique Antunes de Souza – Embrapa
Meio-Norte (henrique.souza@embrapa.br)
Editores Adjuntos:
Dr. Luiz Francisco da Silva Souza Filho – UFOB
(luiz.souza@ufob.edu.br)
Dr. Júlio César Azevedo Nóbrega - UFRB
(jcanobrega@ufrb.edu.br) Convidamos a todo(a)s para a leitura do volume 4, número 2 do ano de 2020 do Bole-
Editor temático: Dr. Amaury da Silva dos Santos – Em- tim Informativo do Núcleo Regional Nordeste da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
brapa Tabuleiros Costeiros (amaury.santos@embrapa.br) (NRNE/SBCS). Nesta edição temos o prazer de apresentar diferentes pontos de vista sobre
Projeto gráfico, diagramação e capa: Uanderson Lima a Agroecologia em nossa região, ciência contemporânea e que vem crescendo nos últimos
(ufnlima@gmail.com)
anos, vale a pena a leitura. Ainda, na seção notícia apresentamos informações e os número
Foto da capa: Guillermo Gamarra-Rojas (Universidade
Federal do Ceará) . da VI Reunião Nordestina de Ciência do Solo, organizada pela UFRPE e Embrapa Solos
(UEP, Recife), que foi totalmente virtual. Vamos conhecer um pouco mais sobre os Progra-
Contato: boletiminformativo.nrne@gmail.com mas de Pós-Graduação de nossa região, neste número teremos a oportunidade de verificar
_________________________________________ os trabalhos com solos do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Univer-
sidade Federal de Sergipe; ainda conheceremos um pouco sobre os trabalhos da Embrapa
PARTICIPE DO BOLETIM INFORMATIVO Meio-Norte, que tem atuação nos estados do Piauí e do Maranhão; e a trajetória acadêmica
Os artigos para o Boletim Informativo podem ser enviados do Dr. Adeodato Ari Cavalcante Salviano, profissional dedicado à ciência do solo. O NRNE/
para o NRNE/SBCS através do contato: SBCS agradece o trabalho e contribuições do Dr. Amaury da Silva dos Santos da Embrapa
boletiminformativo.nrne@gmail.com Tabuleiros Costeiros, como Editor Técnico desta edição.
________________________________________
Desejamos a todos uma boa leitura!
FICHA CATALOGRÁFICA
Boletim Informativo do Núcleo Regional Nordeste da So-
ciedade Brasileira de Ciência do Solo - vol. 4 n. 2 (jul./dez.
2020). – Cruz das Almas, BA: NRNE/SBCS. 2020. v.: il.
(algumas col.); 26 cm. Semestral. ISSN (Em solicitação).
1. Solos - Periódicos. I. Núcleo Regional Nordeste/Ciência
do Solo.
________________________________________

Gestão 2019-2021: Núcleo Regional Nordeste da Maria Eugênia Ortiz Escobar


Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Diretoria do NRNE/SBCS)
Diretora: Maria Eugênia Ortiz Escobar (UFC); Primeiro Vi-
ce-Diretor: Valdomiro Severino de Souza Júnior (UFRPE); Henrique Antunes de Souza
Segundo Vice-Diretor: Henrique Antunes de Souza (Em- (Editor Chefe do Boletim Informativo do NRNE/SBCS)
brapa Meio-Norte); Secretário Geral: Ygor Jacques Agra
Bezerra da Silva (UFRPE), Tesoureiro: Francisco de Assis Luiz Francisco da Silva Souza Filho
Bezerra Leite (FUNCEME), Conselheiro: Júlio César Aze- (Editor Adjunto do Boletim Informativo do NRNE/SBCS)
vedo Nóbrega (UFRB) e Representante Discente: Luís Fe-
lipe Rodrigues de Aquino Sousa (UFC).
Júlio César Azevedo Nóbrega
____________________________________________
(Editor Adjunto do Boletim Informativo do NRNE/SBCS)
AS INFORMAÇÕES E OPINIÕES EMITIDAS PELOS
AUTORES NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE,
A OPINIÃO DOS EDITORES DO BI, DO NÚCLEO
REGIONAL NORDESTE E DA SOCIEDADE BRASI-
LEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO.
NOTÍCIAS ................................06
HOMENAGEM ....................... 10 ARTIGOS DE OPINIÃO ........... 26
RESGATE A HISTÓRIA ............. 14 TESES E DISSERTAÇÕES ......... 70
QUEM FAZ ............................. 20 SÓCIOS .................................. 76

Foto: Guillermo Gamarra-Rojas


Notícias

Notícias
NOTÍCIAS RNCS foi inserida no site da FAO Worl- tal. Ao final do evento foram premiados 9
dwide Events (http://www.fao.org/worl- resumos representantes das comissões e

VI Reunião Nordestina d-soil-day/worldwide-events/en/), como


atividade em comemoração ao World Soil
Day.
selecionados nas sessões de apresenta-
ções orais.
Como parte das Homenagens do

de Ciência do Solo
A cerimônia de abertura contou com NRNE, a Professora, Dra. Vânia da Sil-
representantes da UFRPE – Pró-reitorIa va Fraga recebeu o Prêmio Nordeste de
de Pós-Graduação, Dra. Maria Madalena Ciência do Solo do Núcleo Regional Nor-
Pessoa Guerra, o Coordenador Técnico deste da Sociedade Brasileira de Ciência
da Embrapa Solo UEP – Recife, Dr. André do Solo 4ª. Edição, pelas contribuições e
Júlio do Amaral, o Presidente do Evento, dedicação com a ciência do solo na re-
Dr. Valdomiro Severino de Souza Júnior, gião Nordeste. Com relação à 2ª. Edição
o Presidente da Comissão Cientifica. Dr. do Prêmio Nordeste “Destaque Acadêmi-
Edivan Rodrigues de Souza, a diretora do co em Ciência do Solo, modalidades Dis-
Núcleo Nordeste de Ciência do Solo, Dra. sertações e Teses”, foi estendido o prazo
Maria Eugênia Muniz e a Presidente da das indicações até 31 de dezembro de
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2020, dando assim a oportunidade de va-
Dra. Lúcia Anjos. lorizar a pesquisa realizada sobre ciência
A conferência de abertura do evento do solo na região, ficando definida a data
com o tema: Serviços ecossistêmicos e da premiação em cerimônia especial a
sequestro de carbono (Ecosystem Ser- ser realizada em abril de 2021.
vices and Carbon Sequestration) foi pro- Para a comissão organizadora do

A
ferida por um dos principais cientistas do Evento, formada pelos professores Dra.
Reunião Nordestina de Ci- Foram submetidos 391 resumos simples Solo do Mundo, o Professor Dr. Rattan Caroline Biondi, Dr. Edivan Souza, Dra.
ência do Solo (RNCS) é distribuídos em 9 comissões temáticas, Lal, da Universidade Ohio State Univer- Giselle Fracetto e Dr. Valdomiro Souza
um evento técnico-científi- a saber: 1) Fertilidade do Solo e nutrição sity-OSU. Vale destacar, dentre as inú- Júnior, o sucesso do evento foi fruto do
co promovido pelo Núcleo de plantas: 86; 2) Biologia do Solo: 81; 3) meras premiações recebidas pelo Dr. Lal, esforço coletivo de um grupo de discen-
Regional Nordeste da Sociedade Brasilei- Manejo e Fertilidade do Solo e da Água: o Certificado do Prêmio Nobel da Paz, tes de pós-graduação, pós-doutorandos,
ra de Ciência do Solo. A VI edição foi se- 76; 4) Física do Solo: 43; 5) Solo, Ambien- IPCC (2007), e o Prêmio “World Food docentes e pesquisadores altamente qua-
diada na Cidade de Recife-PE, promovi- te e Sociedade: 31; 6) Poluição, remedia- Prize, Des Moines, IA, USA (2020)”. O lificados que conseguiram capitanear os
da pelo Programa de Pós-graduação em ção do solo e recuperação de áreas de- evento ainda contou com uma sessão de palestrantes e mediadores extremamente
Ciência do Solo da UFRPE e a Embrapa gradadas: 23; 7) Química do solo: 22; 8) mesa redonda com representantes dos comprometidos e competentes para dis-
Solos (UEP-Recife). Devido a Pandemia Solo no Espaço e no Tempo: 21 e 9) Mi- principais polos de produção agrícola do cutir os temas promovidos. O Núcleo Nor-
da Covid-19, a VI RNCS foi realizada de neralogia do Solo: 8. Os resumos foram Estado de Pernambuco e o Presidente da deste de Ciência do Solo e o Programa
forma online, em tempo real, nos dias 01 avaliados por pesquisadores das princi- principal agência de fomento do Estado de Pós-Graduação em Ciência do Solo
e 02 de dezembro de 2020. O tema esco- pais instituições de ensino superior e de de Pernambuco e uma das principais do sentem-se honrados com a confiança e
lhido foi “Serviços ecossistêmicos, pecu- pesquisa do Brasil, envolvendo discentes País, a Fundação de Amparo de Ciência com as expectativas atendidas desse que
liaridades e potencialidades de solos do de doutorado, pós-doutorado, docentes e e Tecnologia do Estado de Pernambuco é o principal evento de Ciência do Solo
Nordeste do Brasil” e possibilitou debates pesquisadores. A programação do even- – FACEPE, momento em que foi discuti- do Nordeste e um dos principais do País.
técnicos científicos sobre as peculiarida- to contou com 24 conferências temáticas, da a importância do solo para alavancar Desejamos sucesso para os organizado-
des e potencialidades de solos no Nor- envolvendo 54 palestrantes e 24 media- a produção agrícola e o financiamento de res da VII RNCS.
deste à luz dos serviços ecossistêmicos. dores das principais IES e Institutos de pesquisas aplicadas para o setor. Os re- Site do evento: https://www.even3.
O evento contou com 802 partici- Pesquisa do País e do Mundo. Do total sumos simples foram apresentados nos com.br/rncs2020/
pantes inscritos, sendo 319 na categoria de palestrantes, participaram 6 pesquisa- formatos de pôster e oral. Foram esta-
discentes de graduação, 253 discentes dores estrangeiros: Estados Unidos (2); belecidas 5 sessões de apresentações Valdomiro Severino de Souza Jú-
de pós-graduação e 230 profissionais. França (2), Itália (1) e Inglaterra (1). A VI orais com seleção de 35 resumos no to- nior (UFRPE), Coordenador do evento.

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Notícias

Notícias
Mensagem da Diretora Reunião Nordestina de Ciência do Solo
(RNCS), principal evento técnico científico
do NRNE, foi realizado de forma online e
Com relação ao dia mundial do solo
(World Soil Day - 05 de dezembro) institu-
ído pela Organização das Nações Unidas

do Núcleo Regional da
ao vivo nos dias 01 e 02 de dezembro de para Agricultura e Alimentação (FAO), fo-
2020 - semana em que é comemorado o ram realizados vários eventos em diferen-
Dia Mundial do Solo. O evento foi organiza- tes instituições da região NE, mostrando
do pelo Programa de Pós-Graduação em o comprometimento que temos com a so-

Sociedade Brasileira Ciência do Solo da UFRPE e Embrapa So-


los (UEP/Recife) e promovido pelo Núcleo
Regional Nordeste – Sociedade Brasileira
ciedade de divulgar informação relevante
sobre o assunto:
UFBA: Dia mundial do Solo: Trajetó-

de Ciência do Solo de Ciência do Solo e a Universidade Fede-


ral Rural de Pernambuco – Departamento
de Agronomia – Área de Solos. O tema
“Serviços ecossistêmicos, peculiaridades
rias dos solos à paisagem;
UESB - Vitória da Conquista, BA: VII
Seminário Baiano de Solos;
PPGCS - UFC: Ciclo de palestras
e potencialidades de solos do Nordeste alusivas à comemoração do Dia Mundial
do Brasil”, atraiu 802 participantes inscri- do Solo;
tos, sendo 319 na categoria discentes de UFAL: Ciclo de palestras alusivas à
graduação, 253 discentes de pós-gradua- comemoração do Dia Mundial do Solo;
ção e 230 profissionais. A conferência de UGCG: Webinario Feira do Solo –
abertura do evento: Serviços ecossistêmi- Biodiversidade do solo, o mundo escondi-
cos e sequestro de carbono (Ecosystem do sob nossos pés.
Services and Carbon Sequestration) foi Assim, mesmo tendo sido um ano
proferida pelo Professor Dr. Rattan Lal, da de grande turbulência e incertezas, nos
Ohio State University, um dos principais sentimos satisfeitos pelo labor cumprido,

É
cientistas do solo do Mundo, detentor do pela colaboração e estímulo à realização
evidente que não estávamos relevância da ciência para a sociedade. Prêmio Nobel da Paz pelo IPCC em 2007, de eventos que permitiram mostrar mais
preparados e não esperáva- São as descobertas científicas que per- e Prêmio World Food Prize, Des Moines, uma vez a importância da ciência do solo.
mos ser atingidos por uma pan- mitirão superar esta situação. IA, USA (2020). Esperamos que o ano de 2021 traga espe-
demia em pleno século XXI. O Com relação à ciência do solo, ela Durante a VI RNCS, foi homenagea- rança de dias melhores.
coronavírus (COVID-19) paralisou o planeta mostra o(os) caminho(s) para tratarmos da a Professora, Dra. Vânia da Silva Fra-
por inteiro. Milhares de vidas são perdidas os recursos ambientais de forma sus- ga quem recebeu o Prêmio Nordeste de
a cada momento e, o medo e incerteza por tentável e nunca foi tão necessária a Ciência do Solo do Núcleo Regional Nor- Saudações,
saber pouco sobre esse inimigo invisível nos cooperação entre governantes e cientis- deste da Sociedade Brasileira de Ciência Maria Eugênia Ortiz Escobar
deixa numa situação de vulnerabilidade que tas da área, não somente na tomada de do Solo 4ª Edição, pelas contribuições e Diretora NRNE/SBCS
atinge nossa estabilidade emocional. Tive- decisões, mas também no apoio à pes- dedicação com a ciência do solo na região
mos que nos adaptar rapidamente a um novo quisa e educação. Não se trata apenas Nordeste. A 2ª Edição do Prêmio Nordes-
“normal”, pois todas as atividades realizadas de produzir alimentos, mas de sermos te “Destaque Acadêmico em Ciência do
pelo homem foram praticamente atingidas, conscientes nas práticas de uso e ma- Solo, modalidades Dissertações e Teses”, Lembrem que podem nos
pelo menos da forma que eram realizadas nejo dos recursos naturais e em curto teve prorrogado o período de inscrições
encontrar em:
antes da pandemia. A educação e pesquisa tempo. e as premiações ocorrerão em cerimônia
são algumas das atividades que tiveram que Nosso papel como sociedade cien- especial em abril de 2021.
ser reinventadas pelos seus protagonistas: tífica é de aproximar a ciência com a A próxima edição, VII RNCS será re- Nossa página: https://sbcs-nrne.org.br/
estudantes, técnicos, professores e pesqui- sociedade, de transmitir e de atualizar alizada em Mossoró, RN, em 2022 e esta- Facebook: @DiretoriaSBCSNRNE
sadores para tentar continuar, pois não há a todos com as principais descobertas mos seguros de que será mais um evento
Instagram: @nrne.sbcs
tempo a perder. Toda esta situação deixa em e, uma das formas é mediante a reali- de elevada qualidade. Esperamos ter em
evidência (para quem ainda tem dúvidas) da zação de eventos. Pela primeira vez a breve detalhes sobre o evento. Telegram: www.t.me/NRNE_SBCS

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Homenagem

Homenagem
Adeodato Ari
Cavalcante Salviano
Luis Alfredo Pinheiro Leal Nunes
Milcíades Gadelha de Lima
_________________________________________
Universidade Federal do Piauí.
E-mail: luisalfredo@ufpi.edu.br;
gadelhaenator@gmail.com

A
deodato Ari Cavalcante qualificação no desempenho das ati-
Salviano é Engenheiro vidades docentes, ingressou de ime-
Agrônomo formado pela diato no curso de Mestrado em Ciên-
Universidade Federal do cia do Solo na Universidade Federal
Ceará (UFC) no ano de 1975. Foi um do Rio Grande do Sul (1979-1981).
dos docentes que com competência e Com a visão voltada, ainda, para a
dedicação, participou decisivamente qualificação, cursou o Doutorado em
do processo da criação do Centro de Agronomia (Solos e Nutrição de Plan-
Ciências Agrárias (CCA) da Universi- tas) na Escola Superior de Agricul-
dade Federal do Piauí (UFPI) no ano tura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/USP
de 1978. Nos primórdios do CCA, em (1993-1996).
que a qualificação docente era um dos No império desse universo de ex-
pontos chave no processo de desen- periências vividas pelo professor Adeo-
volvimento institucional, o Prof. Adeo- dato, veio ele a descobrir seus amores
dato, reconhecendo a importância da pela Ciência do Solo. Foi responsável

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Homenagem

Homenagem
pela área de Solos e com a evolução quisa de Agricultura Irrigada da Em- de Engenharia Agronômica, membro doutorados sobre o tema.
e o crescimento do CCA, passou a dar brapa, em que ministrou a disciplina do Conselho Departamental do CCA e Paralelo, ao conhecimento dos
maior ênfase à subárea de Uso, Ma- Solos para Irrigação. Posteriormente, Subcoordenador do Programa de Pós problemas de Gilbués, entre 1998 e
nejo e Conservação do Solo. O cená- no Curso “Manejo Sustentável dos Re- Graduação em Agronomia (Mestra- 2000, começou desenvolver trabalhos
rio abriu-se de forma mais clara com cursos Naturais”, ministrou as discipli- do e Doutorado). Também, contribuiu com microbacia hidrográfica. Com a
a disciplina de Conservação do Solo. nas: Levantamento e Classificação como consultor ad hoc de programas repercussão deste trabalho, em 2003,
Advieram, então, eventualmente: Le- do Solo, Construção da Fertilidade do institucionais de bolsa de Iniciação a dimensão do trabalho de estudo de
vantamento e Classificação do Solo; Solo, Planejamento em Microbacias Científica na Universidade Federal Gilbués cresceu, estabelecendo par-
Fertilidade do Solo; Planejamento em Hidrográficas e Manejo e Conserva- de Goiás (UFG/CNPq). Foi consultor ceria com a Secretaria Estadual de
Microbacias Hidrográficas; e Manejo ção do Solo. Contribuiu nos cursos de científico da Revista Brasileira de Ci- Meio Ambiente e Recursos Hídricos
e Conservação do Solo. Foi marcan- especialização de outros Centros de ência do Solo e da Revista Brasileira – SEMAR/PI, contando posteriormen-
te a sua contribuição na formação de Ensino da UFPI e de outras institui- de Engenharia Agrícola e Ambiental, te, com a participação da Companhia
recursos humanos se caracterizando ções como o Instituto Federal do Piauí entre outras. de Desenvolvimento dos Vales do
como autêntico entusiasta pela área (IFPI), Universidade Estadual do Piauí O Prof. Adeodato Salviano contri- São Francisco e do Parnaíba (CODE-
de Solos, com notório reconhecimento (UESPI) e o Instituto Camilo Filho. buiu orientando dezenas de estudan- VASF). Neste estudo, ficou demons-
pela comunidade nacional, em espe- O Prof. Adeodato Salviano sem- tes no Programa de Iniciação à Pes- trado que o controle da erosão pode
cial a piauiense. Para realização das pre se preocupou com o engrandeci- quisa, e em Trabalhos de Conclusão permitir a produção agrícola, mesmo
múltiplas atividades no âmbito do en- mento do CCA, tendo participado da de Cursos. Orientou mais de 60 traba- em áreas degradadas. E, como reco-
sino, da pesquisa e da extensão, ten- criação do primeiro Curso Strictus lhos, sempre voltados para a temática nhecimento deste trabalho, pela alta
do como perspectiva a divulgação da Sensus do CCA/UFPI em “Ciências Uso, Manejo e Conservação do Solo, produção de milho na área degrada-
Conservação do Solo a partir de proje- Animais” e da Comissão que implan- bem como orientou trabalhos de Con- da, a comunidade local criou a “Festa
tos consistentes e de grande relevân- tou o Programa de Pós-graduação em clusão de Pós-Graduação Lato Sensu. do Milho”.
cia acadêmica e científica, teve apoio, Agronomia, inicialmente com Mestra- Na pesquisa, publicou mais de No final da década de 1970, jun-
entre outros, do Ministério da Agri- do, depois com o Doutorado. Também, duas dezenas de artigos em renoma- tamente com um grupo de profissio-
cultura, captando recursos financei- teve participação ativa no Doutorado dos periódicos na área da Agronomia nais de instituições do setor primário
ros, como os projetos de Microbacias Interinstitucional, DINTER do CCA/ e apresentou mais de 60 trabalhos em do Piauí e sob orientação do Ministé-
Hidrográficas da capital e interior do UFPI, com a Faculdade de Agronomia congressos e reuniões cientificas, um rio da Agricultura, contribuiu nas dis-
estado do Piauí. Esses projetos inicia- de Jaboticabal da Universidade Esta- dos quais na Alemanha. Orientou 13 cussões e na institucionalização da
vam a interiorização do conhecimen- dual Paulista (UNESP) e no Programa alunos de mestrado e coorientou um Comissão Estadual de Conservação
to, neles incluindo dezenas de cursos de Treinamento do CCA/UFPI, com a aluno de doutorado. Escreveu vários do Solo e Água – CECOSA, que se
de extensão, no interior piauiense, e Universidade Estadual de Campinas capítulos de livros e coordenou o gru- constituiu na segunda do Brasil, fun-
se tornaram emblemáticos no meio (UNICAMP). po que elaborou o Programa de Ação damentando-se na congênere do Rio
acadêmico, com reconhecimento por É importante destacar que o Estadual de Combate à Desertificação Grande do Sul, cujos estatutos servi-
meio de láurea que lhe foi conferida Prof. Adeodato Salviano teve parti- do Piauí. ram de inspiração para várias comis-
com destaque especial como Profes- cipação efetiva na área administrati- O Prof. Adeodato Salviano, após sões estaduais do Brasil.
sor Orientador na modalidade Oficina va da UFPI, especialmente no CCA. o seu retorno do curso de doutorado O que mais sensibiliza o Prof.
Pedagógica, pela Pró-reitoria de Ensi- Foi membro do Conselho de Pesqui- no início de 1997, se empenhou no Adeodato Salviano, é olhar para sua
no de Graduação da UFPI. sa, Ensino e Extensão (CEPEX) e do trabalho de resgate da questão da história e ver os estudantes que orien-
Participou de diversos cursos de Conselho Universitário (CONSUN), desertificação de Gilbués, conhecida tou, em posição de destaque na condi-
Especialização, inclusive foi idealiza- por diversos mandatos. Foi membro mundialmente. Empreendeu viagem ção de professores e/ou pesquisado-
dor do primeiro curso de Especializa- da Comissão Permanente de Pessoal de estudos com grupos de estudan- res, em vários órgãos como Embrapa,
ção do CCA, em “Agricultura Irrigada”, Docente (CPPD). No CCA, foi Chefe tes e técnicos e participou de cursos, Universidades Estaduais, Federais e
durante o ano de 1991, em parceria do Departamento de Engenharia Agrí- excursões, orientando alunos de mes- Institutos Federais.
com o extinto Centro Nacional de Pes- cola e Solos, Coordenador do Curso trados e participando de pesquisas de

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História
História

RESGATANDO NOSSA HISTÓRIA:


seu potencial de uso. campos experimentais distribuídos

A Embrapa Meio-Norte Nas últimas décadas, inúmeros es- em Teresina, Parnaíba, São João do
forços vêm sendo empreendidos para Piauí e Campo Maior, além de estru-
ampliar o conhecimento dos solos da tura laboratorial (Figura 1) dotada de

e a Ciência do Solo no região Meio-Norte, indispensável para equipamentos de média a elevada


definição de sistemas agrícolas susten- complexidade, certificada para al-
táveis. Um importante ponto de partida guns dos principais testes de profi-
foi a elaboração de mapas pedológicos ciência. Atualmente, os Laboratórios

Piauí e Maranhão do estado do Piauí, numa escala de de Solos e Plantas e de Bromatologia


1:1.000.000 (Jacomine, 1986). No Ma- da Embrapa Meio-Norte são certifica-
ranhão, o Decreto nº 29.359 de 11 de dos pelos seguintes ensaios de pro-
setembro de 2013, instituiu a elabora- ficiência: Programa Interlaboratorial
ção do Zoneamento Ecológico-Econô- de Análise de Tecido Vegetal (PIA-
Edvaldo Sagrilo mico do Estado (ZEE/MA), na escala de TV), o Programa de Análise de Qua-
Luiz Fernando Carvalho Leite 1:250.000, culminando com a publica- lidade de Laboratórios de Fertilidade
_______________________________________________ ção do Relatório Técnico de Pedologia (PAQLF) e o Ensaio de Proficiência
do Zoneamento Ecológico Econômico para Laboratórios de Nutrição Animal
Embrapa Meio-Norte. do Estado do Maranhão (ZEE) - Etapa (EPLNA).
E-mail: edvaldo.sagrilo@embrapa.br; Bioma Amazônico (Araújo et al., 2019). Nas últimas décadas, a Embra-
luiz.f.leite@embrapa.br Estes, além de outros estudos relevan- pa Meio-Norte ampliou e consolidou
tes, conduzidos por meio de parcerias seu papel como agente indutor de
entre a Embrapa, Universidades e ou- inovação na agropecuária, tornan-
tras instituições e Governos Estadu- do-se referência em pesquisa e de-
ais, pavimentaram uma importante via senvolvimento no Piauí e Maranhão.
de acesso para o desenvolvimento da As práticas de uso e manejo do solo,
atividade agropecuária na região Meio- tanto em sistemas familiares na re-
-Norte, a qual é caracterizada pelo rápi- gião semiárida e tabuleiros litorâne-
do crescimento das áreas de cultivo em os, como em áreas de expansão do
larga escala, amparado pela geração de cultivo de grãos na região dos cer-
um volume consistente de informações rados foram orientadas, em grande
técnico-científicas para uso racional dos medida, a partir de informações ge-
solos, possibilitando seu manejo sus- radas por pesquisas desta Unidade
tentável e garantindo incrementos de da Embrapa. Alguns dos principais
produtividade agrícola. resultados gerados ao longo de sua
Um marco para o suporte à gera- existência, incluem:

É
ção de conhecimentos sobre o correto - Definição de níveis de cala-
atribuída a Leonardo da gião Meio-Norte do Brasil, composta pe- manejo dos solos da região foi a cria- gem em solos da região dos cerrados
Vinci (1452-1519) a pro- los estados do Piauí e Maranhão. Essa ção da Embrapa Meio-Norte a partir da e níveis de adubação (N, P2O5 e K2O
posição de que “sabemos premissa parte da constatação de que UEPAE-Teresina, cuja atuação inicial e de micronutrientes) para as princi-
mais sobre o movimento apesar dos importantes avanços con- remonta da década de 70. Ao longo de pais espécies cultivadas na região;
dos corpos celestes do que sobre o solo quistados, gerando novos conhecimen- sua existência, a Embrapa Meio-Norte - Recomendações de adubação
debaixo de nossos pés”. Muito embora tos e orientações de uso dos solos da teve em seu quadro, pesquisadores atu- para incremento do valor nutricional
essa reflexão date da segunda metade região, muito ainda se encontra por ser ando em diferentes vertentes de pes- de grãos, sobretudo proteína e teo-
do século XV, sob inúmeros aspectos feito, tanto no detalhamento das suas quisas com solos. Os trabalhos desen- res de zinco;
ela continua atual, especialmente na re- características, quanto na definição de volvidos contam com uma estrutura de - Desenvolvimento de aplica-

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História
História

tivos para diagnose foliar em soja para outras regiões do país. Como for-
com base nas ferramentas DRIS e ma de superar essa lacuna no conhe-
CND; cimento em temas sedimentados para
- Definição de aspectos físico- lavouras de outras regiões, vem sendo
-hídricos dos solos submetidos a di- desenvolvida pela Embrapa Meio-Nor-
ferentes condições de uso; te uma linha de pesquisa em parceria
- Estabelecimento de índices com a Aprosoja Piauí (Associação dos
de qualidade biológica do solo em Produtores de Soja do Piauí), visando a
sistemas agrícolas; definição de doses de calcário e gesso,
- Estabelecimento de critérios e levando-se em consideração as parti-
práticas para uso de inoculantes em cularidades dos solos dos cerrados da
áreas de produção de grãos; região.
- Definição de práticas para Outro importante norteador das
manejo agroecológico do solo em pesquisas com o manejo de solos, nos
sistemas de agricultura familiar; últimos anos, tem sido a orientação das
- Quantificação dos estoques investigações para o desenvolvimento e
de carbono, nitrogênio e respectivos ajuste de recomendações em sistemas
compartimentos por meio de méto- de produção integrados. O processo de
dos analíticos e simuladores compu- conversão nas propriedades da região
tacionais, com geração de cenários Meio-Norte, dos sistemas tradicionais
conservacionistas para médio e lon- de monocultivo, para sistemas ILP e
go prazo, em diferentes sistemas de ILPF, vêm se acelerando a cada ano.
manejo e biomas; No entanto, as práticas de manejo do
- Determinação de emissões solo nesses sistemas têm se valido do
de gases de efeito estufa em solos, conhecimento gerado e validado para
Figura 1. Soloteca do Laboratório de Solos e Plantas da Embrapa Meio-Norte. Fonte: Edvaldo Sagrilo.
sobretudo óxido nitroso, em diferen- sistemas predominantes na região cen-
tes agrossistemas do cerrado. tro-sul do país. Como consequência,
A região Meio-Norte é conside- as práticas de manejo adotadas não
rada a última fronteira para expan- apenas desconsideram as característi-
são da produção de grãos em larga cas e potencialidades dos solos locais, região, amplificando os desafios para a dos mecanismos causadores do pro-
escala no Brasil. Os solos do cer- como também representam riscos para recomendação de práticas do uso sus- cesso de desertificação, associado
rado dessa região impõem alguns a ocorrência de distorções nutricionais, tentável e intensivo desses solos. Des- a um entendimento minucioso das
obstáculos ao seu manejo sustentá- como o desbalanço de nutrientes (defi- sa forma, o futuro das pesquisas com características edáficas da região. O
vel que são únicos dentre as regiões ciência ou excesso). Essa carência de solos na região Meio-Norte deverá, ine- núcleo de desertificação existente em
brasileiras, principalmente devido à informações acerca dos solos da região vitavelmente, se dedicar a suprir carên- Gilbués ameaça toda a região, uma
elevada acidez e a baixa quantidade e de suas características justificam a cias de informação em áreas críticas vez que se expande rapidamente, co-
de cátions trocáveis, aos elevados necessidade de se empreender esfor- para o desenvolvimento sustentável da locando em risco a população rural e
teores de areia e às baixas precipi- ços para o entendimento e para propo- atividade agropecuária no Piauí e Mara- urbana (Lopes et al., 2011).
tações pluviais, fator este agravado sições de práticas economicamente viá- nhão, as quais incluem: - Mapeamento pedológico em
pela curta duração da estação chu- veis e ambientalmente sustentáveis de - Mitigação e reversão do processo escala 1:100.000. Atualmente, o le-
vosa, de aproximadamente 5 meses. manejo do solo, sobretudo nos sistemas de degradação em núcleos de desertifi- vantamento pedológico do estado do
Tais características representam um integrados de produção. cação. O processo de desertificação é Piauí (1:1.000.000) e no Maranhão
desafio ímpar, justificando a neces- Apesar dos vários resultados gera- uma realidade presente na região Meio- (1:250.000) ainda representa um fa-
sidade de pesquisas ainda embrio- dos ao longo do tempo, uma série de -Norte, sobretudo no município piauien- tor limitante ao conhecimento dos
nárias com fertilidade e nutrição de lacunas no conhecimento ainda se fa- se de Gilbués. Para tanto, há necessida- solos da região, inibindo em muitos
plantas, amplamente consolidadas zem presentes em relação aos solos da de de aprofundamento do conhecimento casos os investimentos e, conse-

16 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 17
História
História

quentemente, o pleno desenvol- Leste maranhense (Dantas et al., 2014). - Comprometimento do setor priva-
vimento do setor agropecuário. O
Decreto 9414/18, de 19 de junho de
Solos com esta característica limitam a
aquisição de nutrientes pelas culturas e
do com o financiamento das pesquisas. Ref. Bibliográficas
Apesar de haver iniciativas de participa-
2018 instituiu o PronaSolos, que tem dificultam o desenvolvimento radicular, ção do setor privado no fomento de pes-
como um dos objetivos no seu Art. devido a impedimentos físicos causa- quisas na região, esse processo ainda
2º, “definir as áreas prioritárias e a dos pela presença de um horizonte co- ARAÚJO, EP; DIAS, LJBS; CATUN-
é incipiente. A agricultura nos cerrados
agenda de trabalho para a execução eso. Tal característica tem prejudicado DA, PHA (coord.). Relatório Técnico
do Meio-Norte é caracterizada pelo ele-
dos levantamentos de solos em es- consideravelmente o desenvolvimento vado nível tecnológico, associado ao
de Pedologia do Zoneamento Ecoló-
calas geográficas iguais a 1:100.000 das culturas na região, justificando a grande uso de insumos fertilizantes. gico Econômico do Estado do Mara-
ou mais detalhadas”. Consideran- intensificação de pesquisas para o de- No entanto, o investimento no manejo nhão (ZEE) - Etapa Bioma Amazôni-
do o horizonte temporal de 30 anos senvolvimento de alternativas de mane- do solo nas lavouras pode ser significa- co. Instituto Maranhense de Estudos
para conclusão do levantamento, jo do solo. tivamente otimizado, ou mesmo custo- Socioeconômicos Cartográficos -
bem como, a necessidade de mobi- - Alternativas de manejo para so- mizado para condições específicas, por IMESC. São Luís, IMESC, 2019, 88 p.
lização de estruturas e a formação los do semiárido. A paisagem rural da meio do fomento/custeio de pesquisas DANTAS, JS; MARQUES JÚNIOR,
de profissionais para tal tarefa, este região semiárida do Piauí é caracteriza- com insumos fertilizantes e manejo dos J; MARTINS FILHO, MV; RESEN-
constituirá um dos desafios-chave da pela elevada densidade demográfi- solos. DE, JMA; CAMARGO, LA; BARBO-
a serem superados nos próximos ca, o que associado às características Os desafios listados acima não têm
anos (Valladares, 2018); climáticas restritivas da região, impõe SA, RS. Gênese de solos coesos do
a pretensão de cobrir todas as neces- Leste Maranhense: relação solo-pai-
- Estabelecimento de um ma- uma baixa resiliência aos solos e ele- sidades de pesquisa com solos para a
nual de recomendação, de correção vada predisposição à sua degradação. sagem. R. Bras. Ci. Solo, v. 38, 1039-
região Meio-Norte. Ao invés disso, bus-
e adubação do solo para o estado Muito embora haja iniciativas para o cam jogar luz sobre alguns fatores que
1050, 2014.
do Piauí. Atualmente, o estado ado- desenvolvimento de sistemas de produ- limitam o uso sustentável dos solos da JACOMINE, PKT. Levantamento ex-
ta manuais de recomendação cali- ção que garantam a produtividade dos região Meio-Norte e, consequentemen- ploratório - reconhecimento de solos
brados a partir de dados de outros sistemas produtivos e a conservação te, impedem o pleno desenvolvimento do Estado do Piauí. Boletim de Pes-
estados do Brasil. No entanto, para dos solos, há ainda um enorme passi- agropecuário da região. Muitos avanços quisa, 36; SUDENE- DRN. Série Re-
que seja gerado um manual para o vo quanto à geração e sistematização têm sido possíveis graças à conjunção cursos de Solos, 18. Rio de Janeiro:
Piauí, há necessidade de criação de de dados de pesquisa, bem como, ao de esforços entre a Embrapa Meio-Nor- EMBRAPA - SNLCS / SUDENE, 1986.
uma ampla base contendo dados desenvolvimento e disponibilização de te e outras instituições, como as Univer- 782 p.
de análises de solos, do estado nu- alternativas para o uso sustentável dos sidades Federal do Piauí, a Universida- LOPES, LSO; SANTOS, RWP; MI-
tricional de espécies cultivadas no solos da região. de Estadual do Piauí, a Universidade
estado, bem como, de suas produ- - Interface para informações técni- GUEL FILHO, MA. Núcleo de deser-
Estadual do Maranhão, a Universidade tificação de Gilbués (PI): Causas e in-
tividades. Tal empreendimento só co-científicas em ambientes de intera- Federal do Maranhão e os Institutos
terá êxito, se houver uma forte ar- ção digital. Uma das tendências futuras tervenções. Revista Geografia. V.20,
Federais, tanto do Piauí, como do Ma-
ticulação entre instituições como a cada vez mais presente diz respeito à ranhão. Apesar disso, ainda há um lon-
n.2, 14p, 2011.
Embrapa, universidades e agentes necessidade de se disponibilizar infor- go caminho a ser trilhado na busca por VALLADARES, GS. Perspectivas
representantes do Governo do Es- mações em aplicativos para disposi- informações científicas e tecnológicas e desafios o para o PronaSolos no
tado. tivos móveis. Muito embora já tenham que permitam a conservação e o uso Estado do Piauí. Boletim Informativo
- Manejo de solos coesos nos sido desenvolvidos produtos com tais racional desse importante recurso até NRNE/SBCS, v.2, n.2, p. 50-54.
Tabuleiros Costeiros. A ocorrência características como o aplicativo para então abundante na região.
dos solos coesos na região está re- diagnose foliar em soja Nutri Meio-Nor-
lacionada à presença de sedimentos te, os esforços deverão ser intensifica-
da Formação Barreiras. Esta condi- dos no sentido de se disponibilizar as
ção se aplica a toda a região litorâ- informações em interfaces simples e
nea do Meio-Norte, mas tem mere- acessíveis para manejo dos solos, para
cido especial atenção em áreas de públicos representantes de diversas ca-
expansão do cultivo de grãos no deias produtivas.

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Quem Faz
Quem Faz

QUEM FAZ CIÊNCIA DO SOLO NO NORDESTE?


sua criação, a Universidade Federal de O programa tem como objetivos
Sergipe (UFS) vem atuando de forma principais o desenvolvimento de

O PRORH da UFS significativa e sistemática na formação


de recursos humanos ao nível de gra-
duação e pós-graduação na área de Re-
novas tecnologias e a capacita-
ção de profissionais na área de
recursos hídricos, com destaque
desenvolve Manejo com cursos Hídricos.
No segundo semestre do ano de
para os estudos relacionados
com o manejo e a conservação

Biocarvão em Solos do 2012, a partir da iniciativa de professo-


res da UFS, em parceria com pesquisa-
dores da Embrapa Tabuleiros Costeiros,
do solo e da água em Sergipe e
outros estados da região Nordes-
te do Brasil. O PRORH já conta

Estado de Sergipe foi criado o Programa de Pós-Gradua-


ção em Recursos Hídricos (PRORH).
com 80 defesas concluídas, dis-
tribuídas da seguinte maneira: 10

Maria Isidória Silva Gonzaga


André Quintão de Almeida
Airon José da Silva
_______________________________________________
Universidade Federal de Sergipe.
E-mail: mariaisisilva@gmail.com;
andreqa@gmail.com;
aironjs@gmail.com;

O
Programa de Pós- estado de Sergipe possui um ambien-
-Graduação em te hídrico climático diversificado, com
Recursos Hídri- características peculiares. A interação
cos – PRORH, da entre esses diferentes ambientes tor-
Universidade Federal de Sergi- na mais complexo o estudo dos seus
pe – UFS, desenvolve pesquisas recursos hídricos, exigindo profissio-
em manejo de biocarvão em so- nais especializados e com capacidade
los do Estado de Sergipe, assim de entender cada ecossistema e suas Figura 1. Trabalhos de biocarvão no Programa de Pós-Graduação em Recursos hídricos – PRORH,
é importante contextualizar que o interrelações. Neste contexto, desde a da Universidade Federal de Sergipe. Fonte: Os autores

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Quem Faz
Quem Faz

(2014); 10 (2015); 12(2016); 12 do com cobre para o cultivo de hortali- muito difícil de ser observada na maio- de pirólise, em temperaturas que
(2017), 10 (2018), 14 (2019) e 12 ças, de Danyelle Chaves Figueiredo de ria dos solos brasileiros, principalmente variam de 200-900 °C e baixa at-
(2020). Maiores informações em: Souza; Parâmetros físico-hídricos do em grande parte da região Nordeste, mosfera de oxigênio. Esse pro-
https://www.sigaa.ufs.br/sigaa/ solo, lixiviação de nutrientes e desenvol- onde o intenso intemperismo favorece a cesso pode ocorrer de forma mais
public/programa/portal.jsf?lc=pt_ vimento do girassol (Helianthus annuus) existência de solos com baixa fertilida- sofisticada, utilizando equipamen-
BR&id=737. em Argissolo Amarelo tratado com bio- de e menos de 1% de matéria orgânica. tos com alto grau de tecnologia,
Na Universidade Federal de carvão, de Idamar da Silva Lima (Figura Nesses solos, a capacidade de troca de ou de forma artesanal, em fornos
Sergipe, além do Programa de 1). cátions (CTC) depende fundamental- adaptados e com grande potencial
Pós-Graduação em Recursos hí- Neste contexto, o PRORH tem ga- mente do componente orgânico, razão para uso em pequenas proprieda-
dricos - PRORH, são realizados nhado destaque regional, nacional e pela qual o manejo conservacionista, des rurais. Devido à sua natureza
estudos na área de ciência do solo internacional em pesquisas que envol- com pouco ou nenhum revolvimento, peculiar, com estrutura altamente
nos programas de Pós-Graduação vem o uso agrícola do biocarvão como bem como com adição de resíduos e porosa, grande superfície especí-
em Agricultura e Biodiversidade - insumo e condicionador, demonstrando compostos orgânicos torna-se de suma fica, elevada CTC e grande con-
PPGAGRI e Pós-Graduação em a importância do solo na preservação importância. Além disso, a presença de centração de carbono fixo, o bio-
Desenvolvimento e Meio Ambien- dos recursos hídricos. Além da depen- matéria orgânica no solo, ao melhorar a carvão interage amplamente com
te – PRODEMA. Neste artigo, da- dência da precipitação pluviométrica de agregação e a estrutura, contribui positi- os componentes do solo. Sua es-
remos ênfase aos trabalhos de ci- uma região geográfica, a quantidade de vamente para a infiltração e aumento da trutura porosa é comparada a uma
ência do solo desenvolvidos pelo reservatórios e a qualidade da água são retenção de água, diminuindo o escoa- esponja, permitindo maior absor-
PRORH, em especial ao manejo também influenciadas pelo tipo de uso mento superficial e a erosão. ção e retenção de água, podendo
com biocarvão em solos do es- da terra e pelas técnicas de manejo ado- Contudo, as condições climáticas potencialmente aumentar a efici-
tado de Sergipe. Entre as disser- tadas nas bacias hidrográficas. O estado na região Nordeste não favorecem o ência no uso da água, em áreas
tações defendidas, destacam-se de Sergipe ocupa o sétimo lugar em área acúmulo de matéria orgânica no solo; irrigadas ou não, além de ser um
as seguintes: Nitrogênio e fósforo territorial ocupada por estabelecimen- ao contrário, estimulam a rápida de- material estável (recalcitrante), re-
em solos tropicais tratados com tos de produção agropecuária – 66,4% gradação dos resíduos e as perdas de duzindo as perdas causadas pelo
biocarvão e cultivados com milho (Censo agropecuário de 2017), o que carbono na forma gasosa. Em torno de processo de decomposição provo-
(Zea mays L.), de autoria de Hel- causa grande pressão sobre os recur- 40-60% do carbono presente nos resí- cada por organismos do solo.
ber Gualberto da Silva; Potencial sos hídricos. Os impactos na qualidade duos orgânicos são perdidos durante o Em um estudo para avaliar o
do biocarvão para o tratamento de do solo em áreas agrícolas (degradação processo de decomposição. Essa é uma potencial do biocarvão de lodo de
solo salino-sódico do perímetro da estrutura, perda de matéria orgânica, das principais razões pelas quais temos esgoto em um Argissolo Vermelho
irrigado Jacaré-Curituba, em Ser- compactação, erosão, poluição, etc.) re- solos com menos de 1% de matéria or- Amarelo sob cultivo de café coni-
gipe, de autoria de Wallace Melo sultam na degradação dos recursos hí- gânica, mesmo em áreas com intenso lon (Coffea canéfora), no campus
dos Santos; Efeito de biocarvão e dricos (sedimentos suspensos, assore- aporte de resíduos. A manutenção da experimental (Campus Rural) da
lodo de esgoto nas propriedades amento, enriquecimento de nutrientes, matéria orgânica no solo, portanto, é Universidade Federal de Sergipe
físico-hídricas em Argissolo Ver- pesticidas, microrganismos, etc.). Além um grande desafio e envolve elevados (UFS), localizado em São Cristó-
melho Amarelo cultivado com café das fontes difusas de poluição (escoa- custos no processo produtivo, sendo o vão, foi observado que a presen-
conilon, de autoria de Isaac Leal mento superficial e perda de sedimentos biocarvão uma alternativa viável para in- ça do biocarvão aumentou a ca-
de Santana; Dinâmica do carbono de áreas sob cultivo), há também contri- crementar material orgânico estável aos pacidade de retenção de água no
e retenção de água em Argissolo buições significativas de fonte pontuais, solos. solo e a produtividade do cafeeiro.
Amarelo sob manejo com biocar- como o descarte de efluentes. A transformação de resíduos or- A aplicação de biocarvão de re-
vão de lodo de esgoto e casca de Os livros clássicos de Ciência do gânicos diversos (estercos, lodo de es- síduos orgânicos (bagaço de ca-
coco na bacia do rio Poxim, Ser- Solo descrevem como ideal para a pro- goto, resíduos da agroindústria como na-de-açúcar e sabugo de milho)
gipe, de autoria de José Ilmar de dução agrícola, solos que possuem 45% bagaços de frutas, restos culturais, re- em um Luvissolo Crômico salino-
Carvalho Júnior; Potencial do uso de matéria mineral e 5% de matéria or- síduos de atividades florestais, etc.) em -sódico do perímetro irrigado Ja-
de biocarvão em solo contamina- gânica. Porém, essa é uma realidade biocarvão ocorre através do processo caré—Curituba, no município de

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Quem Faz

Poço Redondo-SE, resultou na re-


dução de todos os indicadores de
dicionado com biocarvões de casca de
coco seco e lodo de esgoto. Além de
Normas para publicação de
salinidade. A condutividade elétri-
ca do extrato de saturação reduziu
de 79 dS m-1 a 25 °C para valores
melhorar o crescimento das plantas, o
biocarvão aumentou a concentração de
fósforo, o teor de carbono, o índice de
artigos no Boletim Informativo
abaixo de 4 dS m-1 a 25 °C. A per-
centagem de saturação de sódio
(PST) reduziu de 32,7% para va-
manejo de carbono (IMC) e a retenção
de água no solo. Resultados promis-
sores também foram observados em
do NRNE/SBCS
lores menores que 5%. Nesse es- plantas de abacaxi cultivadas em solo

O
tudo, o tratamento com biocarvão condicionado com biocarvão de lodo s artigos devem ser informati- possível finalizar com uma consideração
possibilitou o crescimento satisfa- de esgoto no Campus Rural da UFS. vos, ou seja, mostrar o esta- sobre o relato. Tabelas e gráficos devem
tório de plantas de milho. O estudo mostrou que parâmetros de do da arte do tema proposto, ser consideradas dentro das 03 laudas.
O condicionamento de um plantas como massa do fruto, peso da ou opinativos, quando o autor discute o Normas para os artigos da área temá-
Argissolo Vermelho Amarelo con- polpa e rendimento da polpa foram se- tema e apresenta sua opinião a respeito, tica do boletim (ARTIGOS OPNATIVOS):
taminado com cobre (100 mg kg-1) melhantes tanto em solo com biocarvão optando por enfocar um ou outro aspecto. Margens: 2,5 cm; letra Times 12, texto
com biocarvões de lodo de esgo- de lodo como em solo com lodo de es- Portanto, os artigos devem ter linguagem justificado, no máximo 03 laudas, espaço
to, casca de coco seco e bagaço goto. A vantagem adicional do uso de mais informal, opinativa e leve, diferente simples. Título: Times 12 (centralizado).
de laranja reduziu a disponibilida- lodo na forma de biocarvão é a redu- dos artigos científicos e acadêmicos, pois Autores: 02 no máximo, abaixo dos nomes
de de cobre e favoreceu o cultivo ção dos riscos dos agentes patogênicos é um veículo de divulgação científica para inserir instituição vinculada e e-mail. Tex-
de mostarda indiana (Brassica normalmente encontrados no lodo cru. voltado para diferentes públicos. to: opinar sobre determinado tema, infor-
juncea L). A planta é uma hortaliça A combinação de biocarvões de lodo e Normas para o artigo HOMENAGEM: mando o estado da arte atual e se possível
bastante consumida em algumas casca de coco seco foi testada também Margens: 2,5 cm; letra Times 12, texto jus- finalizar o texto com uma consideração.
regiões brasileiras e apresenta no crescimento do girassol (Helianthus tificado; no máximo 02 lauda, espaço sim- Lembrando que a opinião emitida neste
elevada tolerância à metais pe- annus L), onde verificou-se 25% de au- ples. Título: Nome do homenageado em trabalho é exclusiva do autor(es). Tabelas
sados, fato que a torna um risco mento na biomassa da parte aérea e Times 12 (centralizado), espaço simples. e gráficos devem ser consideradas den-
Autor: 02 no máximo, no final do artigo. tro das 03 laudas e os artigos não devem
para o consumo quando cultivada 33% de aumento na inflorescência, além
Abaixo do nome inserir instituição vincu- apresentar resumo ou abstract uma vez
em solos contaminados. Casos de melhoria significativa na nutrição das
lada e e-mail. Texto: descrever a história que são informativos ou opinativos.
comuns de solos com altos ní- plantas.
acadêmica de determinado pesquisador Cada artigo deve vir acompanhado
veis de cobre, um metal pesado Esses e outros trabalhos desen-
contendo, formação, instituição que atuou, por, no mínimo, DUAS fotos ilustrativas
e também um micronutriente de volvidos pelos pesquisadores e alunos linhas de pesquisa, orientações, publica- do tema, as quais não são consideradas
planta, podem ser facilmente en- do programa de Pós-Graduação em Re- ções etc. Deve ser enviada uma foto do no limite das 03 laudas. As fotos são ilus-
contrados em áreas sob cultivo cursos Hídricos (PRORH) da UFS têm homenageado com alta resolução e quali- trativas e não precisam necessariamen-
orgânico, onde fungicidas como a confirmado os múltiplos benefícios do dade para impressão. te ser citadas no texto, mas devem vir
calda bordalesa são usados com manejo do solo com biocarvão. Pesqui- Normas para os artigos QUEM FAZ acompanhadas de legenda explicativa. As
frequência. Quando propensas a sas em andamento investigam o efeito CIÊNCIA DO SOLO NO NORDESTE e fotos têm que ter alta resolução e quali-
processos erosivos, essas áreas de vários tipos de biocarvão no aumento RESGATANDO NOSSA HISTÓRIA: Mar- dade para impressão. As fotos chamam a
contaminadas representam risco da retenção de água em diferentes tipos gens: 2,5 cm; letra Times 12, texto justifica- atenção para o artigo e convidam para a
de contaminação de rios e reser- de solos. Futuras pesquisas serão de- do; no máximo 03 laudas, espaço simples. leitura, por isso merecem um bom inves-
vatórios de água. senvolvidas para avaliar o potencial do Título: Times 12 (centralizado). Autores: timento para que a diagramação fique in-
Em outro estudo desenvol- biocarvão no tratamento de águas resi- 04 no máximo, abaixo dos nomes inserir teressante e convidativa. Fotos citadas,
vido no Campus Rural da UFS, duárias. instituição vinculada e e-mail. Texto: des- quadros e tabelas devem ser enviadas, de
plantas de milho (Zea mays L.) crever a história de determinado projeto preferência, em separado e com alta reso-
foram cultivadas em um solo con- ou instituição apresentando as atividades lução para impressão.
iniciais, o contexto e desdobramentos. Se

24 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020


Opinião
A Agroecologia na
região Nordeste
do Brasil
Amaury da Silva dos Santos
_________________________________________
Embrapa Tabuleiros Costeiros.
E-mail: amaury.santos@embrapa.br

O
processo de modernização econômica e ambiental. Assim, presume-se
da agricultura brasileira a elevação do uso de tecnologias e insumos
tem se pautado na inten- sustentáveis que contribuam não só para o
sificação tecnológica dos aumento da rentabilidade, mas também para
sistemas de produção, a qual tem se ma- a superação de problemas sociais, ambien-
nifestado no aumento da produtividade e tais e ecológicos.
renda de uma parte dos agricultores, prin- Observa-se assim a necessidade de se
cipalmente aqueles ligados ao agronegó- criar alternativas para que os atuais agroe-
cio. No entanto, agricultoras e agricultores cossistemas baseados em pacotes tecnoló-
familiares (em número quantitativo bem gicos possam migrar para modelos sustentá-
maior) apresentam grande diversidade no veis de produção e, em algumas situações,
uso de tecnologias e na sua geração de que sistemas de produção já consolidados

Foto: Cícero Gomes dos Santos e Ricardo Luiz


renda, a qual deriva de diferentes fatores. por agricultores familiares sejam potenciali-
Na região Nordeste esse quadro se zados e reproduzidos por outros agricultores.
reproduz. No entanto, o número de famí- Assim, surge a Agroecologia como uma ci-
lias agricultoras em vulnerabilidade pro- ência capaz de produzir as respostas neces-
dutiva, social e ambiental é muito grande, sárias a partir do diálogo de saberes envol-
Rocha Ramalho Cavalcanti. agravando-se ainda mais na região semi- vendo a academia e os saberes das famílias
árida, onde a limitação de água compro- agricultoras.
mete muito seus agroecossistemas. Neste Dentro desse contexto, essa publicação
contexto, existe um consenso da necessi- tem por objetivo retratar como a Agroecolo-
dade de desenvolvimento fundamentado gia tem evoluído na região Nordeste, tendo
em condições de sustentabilidade social, como base as experiências nos estados de

BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 27


Opinião

Opinião
Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Gran-
de do Norte e Sergipe.
A região Nordeste do Brasil apresenta
Institutos Federais, como em instituições
de pesquisa e de extensão. Em muitos
desses Núcleos houve uma grande apro-
Agroecologia em Alagoas:
grande variabilidade de ecossistemas, desde
a sua região litorânea até a Caatinga, com co-
nhecimentos populares igualmente diversos em
ximação com movimentos sociais, insti-
tuições representativas de agricultoras e
agricultores, organizações governamen-
cenário atual e
magnitude. Nos textos apresentados a seguir é
possível observar as diferenças na construção do
conhecimento agroecológico na região Nordeste,
tais, além da integração do tripé ensino-
-pesquisa-extensão. Ainda com aporte do
CNPq, foi formada a Rede de Núcleos de
perspectivas futura
no entanto, de maneira geral, destaca-se o papel Agroecologia da região Nordeste, carinho-
fundamental da educação nesse processo. samente chamado de RENDA. Essa rede
Cícero Gomes dos Santos¹
Observa-se que a partir da década de 1980 promovia intercâmbios entre os diferentes
ocorreram movimentos que questionavam o mo- Núcleos favorecendo grande integração Ricardo Luiz Rocha Ramalho Cavalcanti²
delo tecnológico promovido pela chamada “Re- entre a academia e setor produtivo, tendo _________________________________________
volução Verde”. Foram organizados grupos e contribuído significativamente na realiza- ¹Universidade Federal de Alagoas.
a participação em eventos, como os Encontros ção de diversos eventos, destacando-se o E-mail: cgomes@arapiraca.ufal.br
Brasileiros de Agricultura Alternativa, cujo último último Congresso Brasileiro de Agroecolo- ²Instituto Terraviva – Alagoas.
ocorreu em Porto Alegre em 1989. As discussões gia (CBA) realizado em 2019 em Sergipe.
ocorridas naqueles espaços com especialistas, O CBA foi um momento de muita re-
como a professora Ana Maria Primavesi, foram presentatividade da Agroecologia da re-
reproduzidas nas Universidades nos seus dife- gião Nordeste. Um número expressivo de
rentes rincões, espalhando essa “nova” agricul- participantes e de trabalhos acadêmicos,
tura que surgia. além das manifestações artístico-culturais
Com o passar dos anos, a criação de no- que mostraram todo o potencial da região.
vas Universidades e Institutos Federais na área Tudo em aproximação com o preconizado
rural tem provocado uma revolução, nem sem- nos Núcleos de Agroecologia e os diálogos Histórico seu cultivo. Esse impedimento climático,

A
pre silenciosa. Houve uma expansão de cursos da academia e conhecimento popular, tão lagoas é um dos nove esta- por exemplo, proporcionou o apogeu da
de ciências agrárias, muitos deles com grande fortemente expostos nos textos a seguir. dos que compõem a região fumicultura no Agreste, a evolução da
participação de jovens filhas e filhos da agricultu- Na construção de uma ciência com o Nordeste, ocupando uma pecuária leiteira e o ciclo de ouro do al-
ra familiar, de indígenas e comunidades tradicio- protagonismo do diálogo do conhecimen- área territorial de 27.933 km² (IBGE, godão mocó no semíárido, bem como o
nais. No início, a Agroecologia era oferecida na to acadêmico com o saber popular dos 2010). Sua economia é, fortemente, in- predomínio das culturas de subsistência,
forma de disciplina, obrigatória ou optativa. Mas camponeses, no final do mês de abril de fluenciada pela atividade agrossilvipas- altamente dependente das chuvas e da
logo em seguida, foram criados cursos de nível 2021, a Agroecologia perdeu uma de suas toril, vocação que vem sendo registra- mão de obra familiar.
médio, tecnólogos, bacharelados em Agroecolo- principais influências teóricas e práticas, da desde os primórdios da colonização O modelo de exploração agropecu-
gia em praticamente todos os estados da região, o professor Francisco Roberto Caporal. do Brasil, quando, ainda, fazia parte da ária em Alagoas, era centrado nas matri-
além de pós-graduação com a temática. Foi presidente da Associação Brasileira capitania de Pernambuco. Tem partici- zes tecnológicas, que permitiam explorar
A formação de redes foi outro processo que de Agroecologia e exercia o cargo de pro- pado do ciclo da cana-de-açúcar, que grandes áreas, induzindo à concentração
ganhou impulso, como destacado nos textos. An- fessor na Universidade Federal Rural de marcou sua história até os dias atuais, da terra e o cultivo limitado de poucas
tes com grande protagonismo de instituições liga- Pernambuco, junto ao Departamento de contribuindo para a elevada concentra- explorações, levando a agricultura fa-
dos às famílias agricultores, mas nos últimos tem- Educação, onde coordenava a área de Ex- ção de terras e um baixo IDH (Índice de miliar de base agroecológica, a se fixar
pos há a participação cada vez mais frequente de tensão Rural. Apesar de sua partida preco- Desenvolvimento Humano). em áreas marginais ou periféricas. Assim
órgãos públicos de ensino, pesquisa e extensão, ce, deixou expressivo legado que, quase A cana-de-açúcar predominou na sendo, a agricultura praticada com es-
como na Rede Sergipana de Agroecologia e a que obrigatoriamente, é referencial para região mais úmida, sendo intercalada sas características, pouco se desenvol-
Rede Mutum de Agroecologia, em Alagoas. cada um dos textos aqui publicados. por culturas de subsistência e pecu- veu, mesmo considerando a definição de
Com o suporte do CNPq, Núcleos de Agro- Caporal Presente! ária, nos ambientes não propícios ao Mendonça et al. (2014), como a ciência e
ecologia foram criados tanto em Universidades e

28 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 29
Opinião

Opinião
(MMT), ONG que teve um papel impor- e outros movimentos socais, a exemplo
tante na apresentação dos princípios e das cooperativas e associações rurais.
práticas agroecológicas que, aos pou-
cos, influenciaram na formulação das Conjuntura atual
políticas públicas, a partir da década Os movimentos ecológicos em Ala-
de 90 do século XX. No então Centro goas influenciaram a formação de En-
de Ciências Agrárias da UFAL, foi cria- genheiros Agrônomos no Estado, com
do o Grupo Agroecológico Craibeira maior presença dos princípios agroeco-
(GAC), por estudantes universitários lógicos, uma ciência alternativa, empre-
que se inseriam na visão agroecológi- gada nos cultivos agropecuários (Figura
ca, conforme descrito por Silva et al. 1), visando a produção associada a pro-
(2018) e Silva et al. (2019). Posterior- teção dos recursos naturais (Figura 2).
mente, instituições atuantes no Estado Atualmente, existe uma série de entida-
se incorporaram aos movimentos agro- des e instituições dedicadas à promoção
ecológicos, a exemplo da FETAG (Fe- das práticas agroecológicas, em todas as
deração dos Trabalhadores da Agricul- regiões e em diversas culturas. Este re-
tura), MST (Movimento dos Sem Terra) flexo, também foi sentido no âmbito da

Figura 1. Prática agroecológica, no sistema mandala, construída no Semiárido alagoano. Fonte: Os autores.

seus princípios que podem ser aplicados Curso de Agronomia da Universidade


no manejo de qualquer agroecossistema, Federal de Alagoas (UFAL). Esse novo
independente da escala. pensamento técnico de cunho político,
O cenário descrito que não pro- buscou uma renovação dos modelos
piciava esse crescimento, perdurou até de produção, até então dominantes.
a década de 80 do século XX, quando Seminários, congressos, encontros e
surgiram os movimentos ecológicos, em capacitações que abordavam essa vi-
vários países, buscando resgatar uma são, foram realizados, com foco no uso
convivência voltada à natureza, principal- de agrotóxicos e conservação do solo
mente, na atividade agrícola, em oposição e da água, abrangendo todo o estado
à denominada Revolução Verde. O berço de Alagoas. Passou-se a celebrar com
embrionário da agroecologia no estado maior intensidade a Semana do Meio
de Alagoas, foram os movimentos de re- Ambiente, conduzida pela EMATER,
novação da Agronomia, que se iniciaram com apoio de órgãos governamentais
na década de 80, sobretudo, no âmbito estaduais e municipais.
técnico da Empresa de Assistência Téc- Os movimentos agroecológicos
nica e Extensão Rural (EMATER-AL) com com o tempo foram se intensificando e
reflexos em outros órgãos do Setor Pú- abrindo caminho para a criação de uma
blico Agrícola. Igualmente, refletiu na So- consciência ecológica voltada para a
ciedade dos Engenheiros Agrônomos de atividade agropecuária. Nesse con-
Alagoas (SEAGRA) e de forma restrita no texto, surgiu o Movimento Minha Terra Figura 2. Prática agroecológica de manejo e conservação do solo, construção de mureta de pedra no Semiárido
alagoano. Fonte: Os autores.

30 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 31
Opinião

Opinião
formação profissional dos cursos de nível
médio e superior. A disciplina Agroecolo-
gia foi introduzida na matriz curricular do
vo para beneficiários da reforma agrá-
ria.
Apesar de seu histórico no es-
Agroecologia no
Curso de Agronomia da UFAL, Campus
Arapiraca, bem como, a criação do Cur-
so de Agroecologia no Centro de Ciên-
tado de Alagoas, os princípios agro-
ecológico tem ainda uma longa jorna-
da a percorrer, mas, essa trajetória se
estado da Bahia
cias Agrárias da UFAL. A nível de ensino encontra bem delimitada, com avanços Fabiane Pereira Machado Dias
médio, foram criados os cursos técnicos no mercado consumidor, na formação
em Agroecologia no Instituto Federal de de pessoal e na atuação dos atores so- Rodrigo França da Silva
Alagoas (IFAL), com unidades de ensino ciais, com reflexos nas políticas públi- _________________________________________
em vários locais de Alagoas. cas que apoiarão esse modelo de pro- Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Objetivando congregar esforços dução agropecuária do futuro. E-mail: fabiane.agro@outlook.com;
e integrar ações de promoção da agro- rodrigofrancadasilva@gmail.com
ecologia, foi fundada, em 2006, a Rede
Mutum de Agroecologia, formada por ins-
tituições governamentais e não governa-
Ref. Bibliográficas
mentais e pessoas de diversos segmen-
tos sociais. Essa rede se consolidou ao MENDONÇA, E.S.; CARDOSO, I.M.;
longo do tempo constituindo, atualmente, BOTELHO, M.I.V.; FERENANDES,
no principal espaço de discussão agroe- R.B.A. Agroecologia, conservação do
cológica e de incidência de seus postula- solo e da água e produção de alimen-
tos na agricultura familiar. Capítulo 2 In:
dos na agricultura alagoana.
Agricultura conservacionista no Brasil.
A aceitação dos produtos orgânicos
LEITE, L.F.C.; MACIEL, G.A.; ARAÚJO,
pelo consumidor vem crescendo, com a A.S.F., editores técnicos – Brasília, DF:
realização de feiras e exposição em mer- Embrapa, 2014. p, 411-424.
cados e supermercados, A pandemia do
Covid-19 impulsionou o delivery de pro-

A
SILVA, C.S.; LIMA, J.R.B.; SOUZA,
dutos orgânicos, com amplitude para um L.C.C; MOURA, R.O.; SILVA, J.O.L.; agroecologia é uma ciên- cossistema assim como seus modelos na-
crescimento significativo. LIMA, A.K.X.; SILVA, A.K.; SILVA, N.B.; cia que se baseia nas ci- turais, possam ser produtivos, resistentes
SANTOS, E.L.S.; SANTOS, G.M.C. ências sociais, biológicas e a pragas e também preservar/conservar a
Perspectivas Grupo Agroecológico Craibeiras: Uma agrícolas e as integra com sua qualidade físico/química. Esse desa-
As perspectivas futuras da agroe- história de luta pela agroecologia no o conhecimento tradicional e o conheci- fio se estabelece em um cenário de pro-
cologia no estado de Alagoas é, signifi- estado de Alagoas, Brasil. Revista Crai- mento dos agricultores. Isso dá origem a dução muitas vezes predatório e reduzido
cativamente, dependente das políticas beiras de Agroecologia, Rio Largo, v.3, princípios básicos que se materializam em de consciência frente as ações que geram
públicas governamentais, muito embora n.1, 2018.
formas tecnológicas específicas. degradação.
organizações não governamentais e mo- Uma estratégia importante dentro Antes de nos depararmos com uma
SILVA, C.S.; LIMA, J.R.B.; SOUZA,
vimentos sociais desenvolveram meca- da agroecologia, é a de reincorporar a produção considerada tão predatória,
L.C.C.; MOURA, R.O.; SILVA, J.O.L.;
nismos próprios de sustentação de suas diversidade nos campos agrícolas e nas (onde não se respeita o ambiente o qual
LIMA, A.K.X.; SILVA, A.K.; SILVA, N.B.
atividades. Existe em Alagoas uma rede paisagens circundantes. No cerne dessa é manejado, muito menos aqueles que
Grupo Agroecológico Craiberas: Uma
de formação de mão de obra técnica, de história de luta pela agroecologia no estratégia está a ideia de que um agroe- dependem do seu escoamento, e que de
nível médio e superior, por parte da UFAL estado de Alagoas, Brasil. Cap. 2. In: cossistema deve imitar o funcionamento alguma forma se encontram nas relações,
e IFAL, com cursos em Agroecologia. Re- Agroecologia: Debates sobre a susten- dos ecossistemas locais, exibindo, assim, sejam elas de forma direta ou indireta, tan-
centemente instituiu-se um curso especí- tabilidade (Recursos eletrônico). Orga- um ciclo restrito de nutrientes, estrutura to no que diz a respeito à produção, quan-
fico para o Programa Nacional de Ensino nizador SANTOS, C.C.. Ponta Grossa complexa e biodiversidade aprimorada. A to no consumo), a agricultura passou por
da Reforma Agrária visando a formação – PR: Editora Atena, páginas 14-24, expectativa é que o modelo de um agroe- um histórico de práticas tradicionais, onde
de Tecnólogos em Agroecologia, exclusi- 2019.

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Opinião

Opinião
o respeito ao ambiente ao qual se estava pital, dificuldades no financiamento, baixa GRUPOS DE PESQUISA INSTITUIÇÃO ÁREA
inserido, estava intrínseco as práticas e disponibilidade tecnológica e fragilidade
manejos antrópicos, onde, a nível de Bra- da assistência técnica, o peso da agricul- Agroecologia e Desenvolvimento
sil, práticas de índios de diversas etnias, tura familiar na riqueza do país é represen- UNEB Agronomia
Sustentável
tribos que desenvolveram o cultivo com tativo e não perdeu sua força nos últimos
base nos conhecimentos acumulados, por anos (Guilhoto et al., 2000). Costeiros - Estudos Socioespaciais UFBA Geografia
exemplo, estão datados bem antes do pe- Na região Nordeste os agricultores
ríodo colonial. familiares, representam 88,3% do total,
Cultura, Ambiente e Sociedade:
Atualmente muitos produtos da nos- os quais ocupam 43,5% da área regional, UESB Sociologia
Linguagem e Design Social
sa dieta alimentar é fruto do trabalho e do produzem 43% de todo o VBP (Valor Bruto
conhecimento milenar, tais como diversas da Produção) da região e ficam com ape-
espécies de raízes e frutos (Prado Junior, nas 26,8% dos financiamentos (Barbosa e Desenvolvimento Agroambiental UNEB Agronomia
2004). Lages, 2007).
Durante a colonização do Brasil, o Um dos grandes problemas que a Desenvolvimento da Agricultura UFRB Agronomia
país foi dividido em capitanias hereditárias agricultura familiar do Nordeste enfrenta Familiar e da Agroecologia – DAFAG
com a finalidade de promover a ocupação relaciona-se à concentração de terra, pois
do território conquistado e gerar receitas muito dos agricultores não as possuem Dinâmica do Espaço Agrário e UFBA Geografia
para a coroa portuguesa, surgiu aí os pri- para que possam trabalhar, mas, mesmo Relação Campo-Cidade (DARC)
meiros problemas agrários do Brasil, mes- assim estão envolvidos nessa área e tem a
mo na condição de colônia (Prado Junior, atividade agrícola como sua única fonte de Docência, Currículo e Formação UFRB Educação
2004). E desde então a agricultura no Bra- renda para sobreviver. O estabelecimen-
sil tem vivenciado diferentes momentos to de agricultura familiar nordestino possui EEtnografAR - Etnografias da
históricos e tem sido o responsável por 13 hectares em média, sendo que Alagoas Educação, do Trabalho e da UFRB Sociologia
uma grande diversidade de explorações tem a menor média nordestina por esta- Geografia dos Povos do Campo
agrícolas, tais como: a exploração do Pau- belecimento (6,1 hectares), superando, no
-Brasil, o ciclo da cana-de-açúcar, o café, país, apenas o Distrito Federal, cuja média
o algodão e etc. Enquanto a agricultura de é de 6,0 hectares (IBGE, 2006). GEMCT - Grupo de Estudos
subsistência se ocupava em produzir ali- A Bahia é a maior produtora de sisal Multidisciplinares em Ciências e UFSB Agronomia
mentos em áreas menores. Não há dúvida e mamona no país, o estado lidera ainda suas Tecnologias
que o modelo de exploração estruturado o ranking de algumas frutas, tais como
na grande propriedade com a monocultu- cacau, coco, pinha, graviola, licuri, umbu, GENTTES: Grupo de Pesquisa em
ra sempre teve espaço especial em todo o manga e maracujá. Ainda de acordo com o Trabalho, Educação, Gestão e UNEB Educação
plano de desenvolvimento. censo do IBGE (2017) o estado é o segun- Tecnologias.
No que diz respeito a distribuição de do maior produtor de atemoia, cupuaçu,
recursos, para o ano de 2006, por exemplo, lima e limão e terceiro em banana, caram- GEPEMDECC - Grupo de Estudos e
é possível observar de acordo com o Cen- bola, goiaba, mamão, melancia, melão, pi- Pesquisas em Movimentos Sociais,
UESB Educação
so Agropecuário que do total de 4.859.864 tanga, romã e uva de mesa. Diversidade e Educação do Campo e
estabelecimentos rurais no Brasil, 85,17% Destacam-se ainda no estado o Cidade
são estabelecimentos familiares, que ocu- cultivo de feijão e mandioca, no entanto,
pam apenas 30,49% da área total e, utiliza embora a Bahia seja grande produtora, o Grupo de Estudos e Pesquisa: Cone-
25,35% dos financiamentos, mesmo tendo foco maior dessas duas culturas está mais xões Epistemológicas e Saberes de UFRB Educação
pouco investimento se comparado à agri- ligado a subsistência do que na comercia- Gaia
cultura patronal. A agricultura familiar tem lização propriamente dita. Em se tratando
a capacidade de oferecer mais vagas de da importância social, a Bahia destaca-se Grupo de Estudos e Práticas Interdis-
trabalho mesmo tendo menor área (San- ainda na criação do rebanho de caprinos ciplinares em Educação, Sociedade e IFBAIANO Educação
tos e Gois, 2011). (30,9%) e ovinos (20,9%), sendo em 2017 Meio Ambiente
Mesmo diante de alguns fatores ne- considerada a maior criação do país.
gativos como insuficiência de terras e ca- O estado da Bahia abriga um ecos-

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Opinião

Opinião
GRUPOS DE PESQUISA INSTITUIÇÃO ÁREA CURSO MODALIDADE INSTITUIÇÃO CAMPUS

Grupo de Pesquisa e Extensão Centro Territorial de


UFRB Educação Agroecologia Técnico Educação Profissional Cruz das Almas
em Agroecologia e Educação das
(CETEP)
Relações Étnico-Raciais

Grupo de Pesquisa em Agroecologia IFBAIANO Agronomia Instituto Federal


Agroecologia Técnico Baiano (IF Baiano) Valença
Núcleo de Estudos em Agroecologia e IFBAIANO Agronomia
Produção Orgânica
Instituto Federal
Agroecologia Técnólogo Uruçuca
SAED - Núcleo de Medicina Baiano (IF Baiano)
UFRB Saúde Coletiva
Tradicional/Práticas
Integrativas/Agroecologia
Universidade Fede-
Terra & Mar - Estudos da Interface Agroecologia Técnólogo ral do Recôncavo da Cruz das Almas
IFBA Geociências Bahia (UFRB)
Litorânea – Agrária

*Fonte: Consulta parametrizada na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) (da-
dos obtidos em http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf em 28/02/2021).
Bacharelado em Universidade do Esta-
Graduação do da Bahia (UNEB) Conceição do Coité
Agroecologia

Tabela 1. Grupos de pesquisa do Estado da Bahia que atuam com a temática da Agroecologia
Meio Ambiente Instituto Federal
e Agroecologia Especialização Valença
Baiano (IF Baiano)
sistema tão diverso quanto seu povo e sua predomina-se o bioma Mata Atlântica e no
economia, além de abrigar três dos prin- Nordeste do estado onde se concentra o
cipais biomas (Caatinga, Cerrado e Mata bioma Caatinga. Na região Oeste a dinâ- Agroecologia
Atlântica), sua economia gira em torno da mica de exploração e uso da terra é mais Universidade Esta-
aplicada a agri- dual de Santa Cruz
agropecuária, indústria, mineração, turis- intensiva e se dá muito em função da ex- Especialização Ilhéus
cultura familiar – (UESC)
mo e serviços. Segundo dados do IBGE pansão das áreas agrícolas para produção residência agrária
(2017) cerca de 15% da população do de soja, algodão, milho e pecuária extensi-
estado é ocupada em atividades agrope- va, já a região Sul caracteriza-se pelo pre-
cuárias, em uma área total de 762,8 mil domínio do cultivo de eucalipto e no Nor- Agroecologia Universidade Fede-
estabelecimentos agropecuários, o que deste do estado ocorreu nos últimos anos e Educação do Especialização ral do Sul da Bahia Itabuna
representa 28 milhões de hectares, distri- grande expansão do cultivo de cana-de- Campo (UFSB)
buídos em lavouras permanentes (3,7%) e -açúcar. Nessas áreas predominam-se as
temporárias (12,2%), pastagens (42,3%) e práticas convencionais de manejo do solo,
matas (37,4%). uso intensivo de agrotóxicos, bem como a Tabela 2. Modalidade de cursos de Agroecologia ofertados no Estado da Bahia
Se por um lado a Bahia tem se des- adoção de variedades transgênicas.
tacado através da atividade agropecuária A agricultura tem se deparado com o
que além de movimentar a economia, gera desafio de frear a degradação ambiental
minação por agrotóxicos. Problemas es- volução Verde que teve início na década
um número significativo de empregos dire- não somente no estado da Bahia, como
tes muito justificados pela necessidade de de 1950 e modernizou a agricultura com
tos e indiretos, por outro lado é crescente no mundo inteiro. O avanço tecnológico
expansão da fronteira agrícola, dada ao a tecnologia do pós guerra, proporcionou
a preocupação com o acelerado processo transformou a agricultura de tal modo que,
crescente aumento do contingente popu- aumento da produtividade das culturas,
de degradação ambiental, sobretudo, na são recorrentes e preocupantes os proble-
lacional. no entanto, não incorporou ao pacote a
porção das savanas brasileiras localizada mas com o desmatamento, queimadas,
O pacote tecnológico oriundo da Re- valorização do produtor nem a proteção/
no Oeste da Bahia, no Sul da Bahia onde erosão, desertificação, poluição e conta-

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Opinião

Opinião
conservação dos recursos naturais, o que
acarretou ao longo dos anos em muitos
problemas ambientais e sociais, principal-
com o conhecimento já estabelecido no
campo, as habilidades de gestão desen-
volvidas ao longo do tempo e os acessos
Agroecologia no Ceará
mente. aos recursos. A agroecologia em si, não
Contrapondo esse modelo conven- é capaz de acabar com todos os dilemas Guillermo Gamarra-Rojas
cional de exploração agrícola surge em e paradigmas existentes. Os agricultores _________________________________________
meados dos anos 1990 a Agroecologia, precisam se organizar e isso só se torna Universidade Federal do Ceará.
trazendo como premissa básica o uso possível, criando pontes entre os consum- E-mail: ggamarra@terra.com.br
racional dos recursos naturais. A Agroe- idores e pesquisadores. Além é claro das
cologia se consolidou com uma visão de redes entre os próprios produtores, para
agricultura ambientalmente sustentável, compartilhar conhecimento e experiência.
economicamente eficiente e socialmen-
te justa, agregando a sua base questões
sociais, políticas, culturais, éticas, ambien- Ref. Bibliográficas
tais e energéticas.
A Agroecologia possui caráter multi-
BARBOSA, L, B, G; LAGES, A, M, G.
disciplinar e apresenta diversas vertentes,
Pobreza, agricultura e meio ambiente: o
além de um modo alternativo de produção
sistema produtivo orgânico como uma al-
agrícola que agrega saberes populares e
ternativa a melhoria das condições socio-
tradicionais. A Agroecologia é, além de um econômicas e ambientais dos agriculto-
modo de vida, uma prática e movimento res familiares no semiárido nordestino – o
social e político. caso de alagoas. Encontro da Sociedade
Desse modo, o desafio da Agroeco- Brasileira de Economia Ecológica. Forta-
logia atualmente é influenciar a relação leza, 28 a 30 de novembro de 2007.
entre sociedade e meio ambiente, com GUILHOTO, J. M.; SILVEIRA, F. G.;

O
vistas a se alcançar um modelo alternativo ICHIHARA, S. M.; AZZONI, C. R. A impor- Introduçãoi1 de poluição (IPECE, 2016). No geral, este
de desenvolvimento rural sustentável. tância do agronegócio familiar no Brasil. Ceará possui 9.075.649 ecossistema está bastante alterado em
A fim de realizar um levantamento Revista de Economia e Sociologia Rural. habitantes distribuídos em sua composição florística, em razão da
do panorama da Agroecologia quanto à Vol. 44, nº 3, julho/set 2006. uma área de 148.920,472 substituição de espécies nativas por culti-
pesquisa científica por professores/pes- IBGE. Censo Agropecuário 2006. Agri- km², da qual, aproximada- vos e pastagens, bem como pela pressão
quisadores no Estado da Bahia foi reali- cultura familiar. Primeiros Resultados. mente, 146.889 km² estão sob clima se- de pastejo que provoca compactação do
zada uma busca na plataforma do CNPq Brasil, Grandes Regiões e Unidades da miárido (IBGE, 2020). O bioma Caatinga solo (Andrade et al., 2006).
para identificar grupos atuantes, utilizando Federação. Brasília/Rio de Janeiro: MDA/ é caracterizado por médias térmicas su- Nesse cenário, a agricultura cearen-
a palavra-chave: Agroecologia (Tabela 1). MPOG, 2009. Disponível em http:// www. periores a 26 °C, elevadas taxas de eva- se remonta à época de consumo endos-
Atualmente existem 17 grupos de pesqui- ibge.com.br /. Acesso em janeiro de 2014. poração e evapotranspiração (Barros et somático dos povos originários que asso-
sa sobre Agroecologia cadastrados em IBGE. Censo Agropecuário 2017. Dispo- al., 2015), estação chuvosa de 3 a 5 me- ciavam a caça e o extrativismo ao cultivo
6 grandes áreas do conhecimento o que nível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pes- ses, alternando-se com um período seco de plantas adaptadas às condições de
ratifica o caráter multidisciplinar da Agro- quisa/censo-agropecuario/censo-agrope- de 7 a 9 meses e por recursos hídricos, semiaridez. A colônia acrescentou diver-
ecologia todas elas buscando um mesmo cuario-2017>. Acesso em: 28 fev. 2021. em sua maioria, insuficientes e intermi- sidade vegetal, introduziu animais do-
objetivo focado num paradigma produtivo PRADO JUNIOR, C. Formação do Brasil tentes, exibindo níveis comprometedores mésticos e instituiu o sistema policultor
direcionando a um despertar ecológico. Contemporâneo. São Paulo/ SP. Ed bra-
Essa organização em volta da siliense, 2004. 390p. 130 135. ISBN 85 i
O artigo aborda a Agroecologia no Ceará a partir de temas objeto de reflexões e pesquisas do Núcleo de Estudos em
temática é importante para o fortalecimen- – 11 3016 – 0. Agroecologia e Economia Ecológica.
to das discussões que giram em torno da SANTOS, A; GOIS, F. F. Microcrédito e 1
Projeto 403049/2017-2, Chamada MCTIC/MAPA/MEC/SEAD – Casa Civil/CNPq No 21/2016, realizado entre 2017 e
melhoria e engajamento do aumento da Desenvolvimento Regional. Fortaleza- 2020. A UFC (Universidade Federal do Ceará), Embrapa Agroindústria Tropical, Cetra (Centro de Estudos do Trabalho
capacidade de resposta dos agricultores. CE. Ed. PREMIUS, 2011. 384p. p, 223, e de Assessoria ao Trabalhador), Caritas (Caritas Brasileira Regional Ceará), profissionais e agricultores autônomos se
fazem presentes com as contribuições de Aécio A. Oliveira, Breno V. do Nascimento, Carla G. dos Santos, Francisco
Nessa construção é necessário trabalhar 235, 249 a 257, 279 a 300. C.B. Nogueira, Gleyciane B. Teles, Joel H. Cardoso, Julius Blum e Maria G. Carvalho.

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Opinião

Opinião
rios, apoiados com programas de eco- Mulheres e juventudes
nomia solidária, proporcionaram crédito Mulheres e juventudes rurais,
para pequenos projetos em comunidades insertas em estruturas patriarcais,
rurais, muitos deles voltados à criação buscam na agroecologia funda-
de pequenos animais e artesanato, en- mentos para relações mais harmo-
volvendo mulheres e juventudes. Muitas niosas dentro das sociedades e
famílias são protagonistas da produção com a natureza (Nunes da Silva,
agroecológica graças às cisternas e pe- 2017; Fernandes et al., 2019).
quenas barragens ou tanques que fazem Estes sujeitos constituem a base
a captação de água da chuva e, mais re- para um futuro com sustentabili-
centemente, dos sistemas familiares de dade. As mulheres, em função de
reuso de águas cinzas. Aliados às inter- seu papel na saúde e alimentação,
venções, as ações de mobilização, for- são as primeiras a compreender e
mação técnica e de comunicação social adotar modos de produção mais
têm sido responsáveis pela inserção de sustentáveis, como em mandalas
homens e mulheres em espaços de in- (Lima e Gamarra-Rojas, 2017) ou
cidência política, trocas de saberes, co- quintais que, por vezes, se expan-
mercialização em feiras agroecológicas e dem para todo o agroecossistema
pela melhoria na alimentação familiar. (Fernandes et al., 2019). Os jovens

Figura 1. Horta orgânica e cobertura morta, Pentecoste, CE. Fonte: O autor.

semi-itinerante de derrubada e queima- sumo intermediário associado a tecno-


da, tendo a vegetação da caatinga como logias agressivas da revolução verde.
pastagem. Associadas ao macro modelo Assim, em sua maioria, estão descapita-
agroexportador açucareiro nordestino, lizados ou em descapitalização, lançan-
vieram também as relações produtivas do mão da pluriatividade e de subsídios
da época. Com a progressão demográ- do Estado (Bento et al., 2017). Conforme
fica, o crescente ‘cercamento’ da terra e Gamarra-Rojas e Fabre (2017) a condi-
o advento da modernidade elevou-se a ção de vulnerabilidade, por si só, justifica
demanda exossomática de uma parce- a urgência de se superar o modelo de ex-
la da sociedade sertaneja, já fortemente ploração e uso da terra vigente.
estratificada, condicionando a maioria à Nos últimos vinte anos, o Ceará, en-
pobreza e diminuindo a sua resiliência quanto estado que compõe a região do
frente aos períodos de seca recorrentes. semiárido brasileiro e tendo várias enti-
Atualmente 75% dos agricultores do Es- dades filiadas à Articulação do Semiárido
tado trabalham em regime familiar e 78% Brasileiro, teve um avanço significativo
destes ocupam área menor que 10 ha ou em experiências e tecnologias sociais de
não possuem terra (IBGE, 2020). Tem re- convivência com o semiárido, como con-
duzida autonomia para renovar os seus traponto às políticas de combate à seca.
meios de vida, devido ao crescente con- A criação de fundos rotativos comunitá- Figura 2. Horta orgânica sob irrigação. Fonte: O autor.

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Opinião

Opinião
cias de produção, cidadania e inclusão Mora, 2018). Aquele com maior re-
social, bem como elaboram proposições conhecimento é o local, composto
em espaços de formação e instâncias de pelas feiras agroecológicas/orgâni-
poder como o Movimento da Mulher Tra- cas e a comunidade (intercâmbios
balhadora Rural do Nordeste. As áreas de vizinhança), constituindo cir-
próximas das residências podem repre- cuitos curtos de comercialização,
sentar ‘o lócus’ de expressão agroecoló- como alternativa para enfrentar a
gica dos agroecossistemas, importantes crescente comoditização dos mer-
para a segurança alimentar e nutricional cados agroalimentares. No territó-
das populações rurais e urbanas. Dada rio Vales do Curu Aracatiaçu acon-
a predominância de minifúndios em con- tecem nove feiras, sendo a mais
dições de escassez hídrica, os cultivos antiga a de Itapipoca, com 15 anos.
do entorno da casa assumem relevância Esta é composta por 24 famílias
para a manutenção das famílias rurais dos municípios de Itapipoca, Trai-
com autonomia e equidade, que podem ri e Tururu que, organizadas em
gerar diversidade de alimentos, como o uma associação, se encontram se-
tradicional cheiro verde (coentro e ceboli- manalmente na praça matriz para
nha) e os cultivos das águas (macaxeira, comercializarem seus produtos,
feijão, milho, abóbora) em consórcio com obtendo renda mensal superior ao
frutíferas (ata, cajá e caju) e abrigam pe- salário-mínimo (R$ 1.200,00)2. Se-
quenos animais (galinhas, patos, cabras gundo em importância, o mercado
etc.), proporcionando renda monetária e global é representado pelos super-
não monetária (Silva et al., 2020). A alian- mercados, o comércio varejista,
ça entre agroecologia e feminismo como o mercado externo e as compras
discurso e prática política torna-se uma online. Por último, o mercado ins-
prerrogativa para a afirmação das mulhe- titucional, estimulado por entida-
Figura 3. Mandala em Itapipoca, CE. Fonte: O autor.
res no movimento agroecológico (Fernan- des públicas através do Programa
des et al., 2019). de Aquisição de Alimentos - PAA
e Programa Nacional de Alimenta-
alinham projetos individuais àqueles de grupo de jovens que trabalha a identidade Comercialização e mercados ção Escolar - PNAE (Morales Mora,
reprodução socioeconômica das famí- rural a partir da cultura e da transforma- A produção agroecológica cearen- 2018). Tais mercados usualmente
lias (Nunes da Silva, 2017) e tem maior ção da produção à base do coco no Sítio se apresenta uma hierarquia quanto aos estão relacionados a mecanismos
nível de escolaridade, favorecendo sua Coqueiro, Assentamento Maceió. Além seus propósitos, partindo do autocon- de certificação promovidos por
inclusão produtiva (Gamarra-Rojas et al., dos programas de educação contextuali- sumo, seguida pela comercialização e particulares ou órgãos do Estado,
2017). zada e do fomento a projetos produtivos, doação, enquanto a produção orgânica como Ematerce e Comissão de
As questões das juventudes rurais e tornou-se imprescindível uma política de visa, principalmente, a comercialização Produção Orgânica no Estado do
da sucessão na agricultura familiar vem fortalecimento da identidade dessas ju- (Morales Mora, 2018; Silva et al., 2018). Ceará - CPOrg-CE, que pode atu-
ocupando lugar de destaque na pauta ventudes. Em 2019 foi estabelecido o Contudo, ambas as estratégias são utili- ar como mecanismo de inclusão,
dos movimentos sem-terra, quilombola, Plano Estadual de Juventude e Sucessão zadas, refletindo estruturas que associam ampliando oportunidades de co-
indígena, sindical e de organizações de Rural visando a integração e articulação práticas de troca mercantil e de reciproci- mercialização a preços diferencia-
assessoria. Jovens do campo e da cidade de políticas, ações e programas voltados dade, no sentido de Sabourin (2014). dos (30% a mais no PAA) e de ex-
tem se reunido em redes, que constituem para a garantia dos direitos da juventude Agricultores, técnicos, gestores e clusão de agricultores do mercado
espaços políticos de qualificação desses do campo e a promoção da sucessão ru- pesquisadores reconhecem a existên- de orgânicos, seja por limitações
sujeitos para a defesa de direitos, incidên- ral (CEARÁ, 2019). cia de mercados diferenciados (Morales para custear o serviço ou por es-
cia política e vivências em agroecologia. As trabalhadoras agroecológicas
O ‘balanço do coqueiro’ é uma ação de refletem e debatem sobre suas experiên- 2
CETRA (Gleyciane B. Teles, informação pessoal).

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Opinião

Opinião
tarem à margem de organizações tentáveis. No Ceará, verifica-se um nú- Renovação da fertilidade no entanto, mesmo práticas de rea-
que o proporcione (Lima e Pinhei- mero crescente de análises participativas Usualmente poucos recursos são proveitamento de resíduos gerados
ro, 2004). com diversos propósitos e em diferentes utilizados para a manutenção da fertilida- em outros subsistemas dentro do
níveis espaciais (Tabela 1). de do solo resultando em balanços nega- agroecossistema, que demanda-
Agroecossistemas Duas inciativas de protagonismo tivos de nutrientes nos sistemas de produ- riam poucos recursos para serem
O agroecossistema é um nos agroecossistemas são destacadas. ção vegetal (Cunha, 2017). Em sistemas aproveitados, raramente são ob-
ecossistema modificado com a fina- O Cetra desenvolveu o Saci, que é um agroecológicos, a utilização da aduba- servadas (Cunha, 2017; Camelo e
lidade de produção de bens e ser- banco de dados dos agroecossistemas ção orgânica e reutilização de biomassa Blum, 2018). Desse modo, a defici-
viços, geralmente identificado com apoiados pela organização, e trabalhada é generalizada, contudo, no estado do ência de nutrientes no solo poderia
a unidade de produção agropecuá- com a Caderneta Agroecológica em quin- Ceará, apenas 15% dos agricultores de- ser minimizado com o aumento da
ria. A análise de agroecossistemas tais geridos por mulheres. Essas formas claram utilizar algum tipo de fertilização integração entre os subsistemas do
favorece a observação, análise e de pesquisa participativa desenvolvem orgânica (IBGE, 2020). Parte desse pro- agroecossistema (Camelo e Blum,
compreensão de realidades com- as capacidades de registro e análise de blema pode ser atribuído à limitação de 2018). Além disso, a ampliação da
plexas para compará-las, classifi- dados dos sujeitos do campo pela prática recursos financeiros para investimento, agrobiodiversidade tem se mostra-
ca-las e fundamentar propostas de continuada, bem como propiciam a toma-
intervenção e acompanhamento de da de consciência da presença ativa de
mudanças, como na conversão de jovens e mulheres agricultoras na produ-
sistemas convencionais para sus- ção e economia.

ANÁLISE DE AGROECOSSISTEMA NÍVEL REFERÊNCIA

Buscou avaliar um agroecossistema


Dobe et al.
em Itapipoca, CE, por meio de Análise Unidade de Cultivo
(submetido)
Econômico-Ecológica

Objetivou comparar a sustentabili-


dade de dois agroecossistemas de Unidade de cultivo Matias (2017)
Pentecoste e Quixeramobim, CE, por
meio de análise energética.
Objetivou descrever e discutir as
estratégias de manejo da produção
Unidade de produção Silva et al. (2020)
animal na comunidade Sítio Areias,
Sobral, CE, com análise econômica.

Objetivou identificar os tipos de agri-


cultores de Pentecoste, CE, caracteri- Município Bento et al. (2017)
zar seus agroecossistemas e analisar
a sua renovação social.

Tabela 1. Exemplos de análises de agroecossistemas no Ceará. Figura 4. Captação para reuso de água cinza. Fonte: O autor.

44 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 45
Opinião

Opinião
do eficiente na promoção da cicla- constitui uma estratégia de autonomia,
gem de nutrientes e manutenção segurança e soberania alimentar. Exis-
da fertilidade do solo em sistemas tem no Ceará cinco Redes de Intercâm-
agroflorestais (Aguiar et al., 2011; bio de Sementes que articulam 152 casas
Mendes et al., 2019). de sementes, localizadas nos territórios
do Cariri, Centro Sul, Vale do Curu, Vale
Agrobiodiversidade do Acaraú e Ibiapaba3.
O risco de perda da diversida- Nesse âmbito está sendo reorgani-
de de cultivos e animais domésticos zada uma rede estadual, que poderá ar-
adaptados ao semiárido - provoca- ticular 324 casas de sementes, conforme
do pelo monopólio na produção e mapeamento realizado em 2020 pelo GT
distribuição da semente – faz com Sementes Crioulas do Fórum Cearense
que a conservação da agrobiodi- pela Vida no Semiárido. Essas redes,
versidade em casas comunitárias acompanhadas pela Caritas e o movimen-
ou bancos de sementes crioulas, to sindical, foram protagonistas no debate

Figura 6. Reuso de água cinza. Fonte: O autor.

e luta pela aprovação em 2019 da Política do acesso à terra e recursos para


Estadual de Incentivo à Formação de Ca- os roçados coletivos de produção
sas e Bancos Comunitários de Sementes de sementes. Exemplos de tecno-
Crioulas e Mudas (CEARÁ, 2020). logias são ilustradas nas Figuras 1
Considera-se que a expansão do a 6.
agronegócio, das sementes híbridas e
dos transgênicos ameaçam a coevolução Encerrando, mas não concluindo
deste patrimônio genético. Assim, guardi- A trajetória da Agroecologia
ões/ãs de sementes crioulas lutam pela no Ceará passa por um processo
Figura 5. Filtro para reuso de água cinza. Fonte: O autor. garantia da não contaminação de seus de construção de conhecimento e
roçados por transgênicos, por programas consciência agroecológicas, par-
e projetos para a estruturação das casas tindo do debate e das práticas de
3
Caritas, dados de outubro de 2020 (Maria G. Carvalho, informação pessoal). e bancos de sementes, pela ampliação convivência com o semiárido, onde

46 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 BOLETIM INFORMATIVO NRNE/SBCS | JUL-DEZ 2020 47
Opinião

Opinião
os movimentos agroecológicos têm um
papel importante na experimentação
Ref. Bibliográficas CUNHA, L.M.L. Fluxos e estoque de nutrientes
em sistemas de cultivos de produtores rurais
ses e a mandalla no semiárido brasileiro: reflexões
sobre sustentabilidade com base em um estudo de
social, tecnológica e de formulação de com baixo nível socioeconômico. Fortaleza, caso com abordagem agroecossistêmica. Cader-
políticas públicas. AGUIAR, M.I.; VALE, N.F.L.; OLIVEIRA, CE: UFC, Programa de Pós-Graduação em Ci- nos de Ciência & Tecnologia, v.34, n.2, p.161-195,
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vas acima referidas, trazem em suas di- temas agroflorestais. In: Congresso Norte e ufc.br/images/2017_dis_imlimacunha.pdf. > agroecológico em agroecossistemas do semiárido
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retrizes a agroecologia. Recentemente,
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(ANA) identificou políticas e programas no semiárido brasileiro: um olhar econômico-e- sertação de Mestrado)
ANDRADE, A.P.; SOUZA, E.S.; SILVA, D.S.; cológico. Revista Agroecossistemas. (submeti- MENDES, M.M.D.S.; LACERDA, C.F.D.; FER-
municipais que contribuem para a agro- SILVA, I.F.; LIMA, J.R.S. Produção animal do) NANDES, F.E.P.; CAVALCANTE, A.C.; OLIVEIRA,
ecologia e apoiam a agricultura familiar4, no bioma caatinga: Paradigmas dos ’Pulsos- FERNANDES, S.L.R.; ESMERALDO, G. T.S. Nutrient input and output in an agroforestry
as quais no Ceará estão distribuídas -Reservas’. In: REUNIÃO ANUAL DA SO- G.S.L.; JALIL, L.M. Mulheres, agroecologia e system in a semiarid region of Brazil. Forestry Re-
em 17 temas, tais como: Educação em CIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, convivência com o semiárido: quintais produ- search and Engineering: International Journal. v.3,
agroecologia; Apoio a feiras e circuitos 43., 2006, João Pessoa. Produção animal tivos e a caderneta agroecológica a desvendar n.4, p.146-152, 2019.
curtos de comercialização; Cisternas e em biomas tropicais. Anais. João Pessoa: forças sociais, produtivas e humanas. Boletim MORALES MORA, A.E. Agroecologia e agricultura
outras formas de estocagem de água; SBZ, 2006. da Sociedade Brasileira de Economia Ecológi- orgânica na perspectiva dos atores sociais no es-
Compras institucionais e instrumentos BARROS, N.S.; BARRO, F.F.; BASTOS, ca, v.39, p.62-68, 2019. tado do Ceará. Fortaleza, CE: UFC, Programa de
F.H. Paisagens no semiárido cearense: uma GAMARRA-ROJAS, G.; FABRE, N. Agroecolo- Pós-Graduação em Economia Rural, 2018. 165p.
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breve apresentação dos aspectos naturais. gia e mudanças climáticas no Trópico Semiá- (Dissertação de Mestrado). Disponível em: < http://
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direitos das mulheres; Agroflorestas e 2015. maio-agosto, 2017. NUNES da SILVA, J. Juventudes Rurais e Agroe-
compostagem. Essa ‘descoberta’ ilustra BENTO, J.A.N.; GAMARRA-ROJAS, G.; GAMARRA-ROJAS, G.; SILVA, N.C.G.; VIDAL, cologia: um diálogo imprescindível. Redes - Santa
as propostas para a agroecologia par- LEMOS, J.J.S.; CASIMIRO FILHO, F.; MAT- M.S.C. Contexto, (agri)cultura e interação no Cruz do Sul: Universidade de Santa Cruz do Sul,
tindo do município, onde os Estados e TOS, J.L.S. Dinâmica e diferenciação de agroecossistema familiar do caju no semiárido v.22, n.2, p.208-226, maio-agosto, 2017.
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Depreende-se que está em curso te, Ceará. Desenvolvimento em Questão. IBGE. Censo Agropecuário 2017. Disponível dade Brasileira de Economia Ecológica, v.39, p.46-
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CAMELO, G.G.S.; BLUM, J. Nutrient so-agropecuario/censo-agropecuario-2017. > SABOURIN, E. Acesso aos mercados para a agri-
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4
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Santos, comunicação pessoal). br/PDF/20200116/do20200116p01.pdf#pa- LIMA, R.V.; GAMARRA-ROJAS, G. Campone- p.53-74, 2018.
ge=4>

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Opinião

Opinião
A Agroecologia e o Curso de Pós-Graduação em Ciên-
cias Agrárias (Agroecologia) - PPGCAG/
UFPB, sendo os dois últimos localizados
discórdias entre estudantes. Realiza ain-
da, estágio de vivência proporcionando
aos discentes o estudo e entendimento

na Paraíba no Campus III no município de Bananei-


ras-PB.
É importante lembrar que, no início,
da agricultura agroecológica, levando e
trazendo conhecimento aos agricultores
e agricultoras da região, o que de fato,
embora a Agroecologia tenha seu alicer- foi merecedor do reconhecimento de
Manoel Alexandre Diniz Neto ce em instituições públicas, ela é funda- suas atividades através do Prêmio Elo
Belísia Lúcia Moreira Toscano Diniz mentada em um conjunto de conheci- Cidadão no IX Encontro de Extensão
mentos e técnicas que se desenvolvem Rural da UFPB.
_________________________________________ a partir de agricultores e de seus pro-
Universidade Federal da Paraíba. cessos de experimentação e, por essa 3. Assessoria e Serviços a Projetos
E-mail: manoel.alexandre@academico.ufpb.br; razão, é dado ênfase à capacidade das em Agricultura Alternativa – AS-PTA
belisia.diniz@academico.ufpb.br comunidades locais para experimentar, A AS-PTA Agricultura Familiar e
avaliar e expandir seu poder de inova- Agroecologia é considerada uma asso-
ção por meio da pesquisa de agricultor a ciação de direito civil sem fins lucrativos
agricultor e utilizando ferramentas de ex- que atua no Brasil desde 1983 com o ob-
tensão baseadas em relações mais hori- jetivo de fortalecer a Agricultura Familiar
zontais entre os atores, com o enfoque e o Desenvolvimento Rural Sustentável.
tecnológico enraizado na diversidade, Segundo Silveira, Petersen e Sabourin
na sinergia, na reciclagem e na integra- (2002) a AS-PTA vem adotando estraté-
ção, assim como em processos sociais gias metodológicas referenciada em dois
baseados na participação da comunida- pressupostos: a) a partir do esforço de
de (Altieri, 2012). experimentação técnica e transmissão
horizontal de conhecimentos por parte
2. Movimento Agroecológico – MAE das famílias de agricultores, existe um
Com o surgimento em 1993, o MAE processo espontâneo de inovação agrí-
nasceu através de movimentos estudan- cola que pode ser dinamizado mediante
tis dos Cursos de Agronomia e Zootecnia a revitalização do ambiente sociocultural
com o objetivo de desenvolver, junto às que lhe dá sustentação; b) a ciência da
comunidades campesinas e acadêmicas, Agroecologia fornece os princípios con-
um novo modelo de ensino, pesquisa e ceituais e metodológicos apropriados
extensão voltados à Agricultura Agroe- para o desenvolvimento de inovações
cológica, o que possibilitou a formação técnicas compatíveis com o desafio de
de um elo entre o campo e o campus. O intensificar os sistemas agrícolas tradi-

A
1. Introdução sos; Núcleos de Estudo; ONGs, entre movimento trabalhou o desenvolvimento cionais em bases mais sustentáveis.
Agroecologia na Paraíba outros. Sem pretensão de colocar numa da conscientização dos valores e princí- Na atualidade, a AS-PTA vem de-
parece ter suas raízes escala cronológica pode se citar, além pios agroecológicos com a organização senvolvendo trabalhos junto a três pro-
fincadas na Universidade do MAE (Movimento Agroecológico); AS- de rodas de discussão, palestras, semi- gramas localizados, respectivamente,
Federal da Paraíba atra- -PTA (Assessoria e Serviços a Projetos nários, cursos e trocas de experiências no Paraná, Rio de Janeiro e na Paraíba.
vés do Movimento Agroecológico – MAE em Agricultura Alternativa); ASA (Articu- entre estudantes, professores e agricul- Neste último, o Programa de Desenvolvi-
do Centro de Ciências Agrárias desta lação do Semiárido Paraibano); Núcleos tores. mento Local do Agreste da Paraíba atua
Instituição. A partir desse movimento, de Estudo em Agroecologia; Cursos Su- Na atualidade, o MAE desenvolve em 15 municípios compreendidos pela
iniciou-se o surgimento de outros órgãos periores Tecnológicos (Instituto Federal Ecogincana para recepcionar os calou- área de abrangência do Pólo Sindical
governamentais e não governamentais com os Campi de Sousa e Picuí); Bacha- ros dos Cursos de Agronomia e Zootec- e das Organizações da Agricultura Fa-
ligados ao mesmo tema, surgindo Cur- relados - CCAA/UEPB e CCHSA/UFPB nia vindo a substituir os trotes tradicio- miliar da Borborema com o objetivo de
nais, que muitas vezes culminava em fortalecer as capacidades sócio-organi-

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Opinião

Opinião
zativas, técnicas e políticas do Pólo e de CAG, nível Mestrado, foi aprovado com nível básico, técnico e tecnológico ou de cação – Agroecologia: bases científicas
suas organizações para que formulem, Conceito 3 pela Coordenação de Aper- nível superior universitário, seus sujeitos para uma agricultura sustentável – “...
defendam e executem um projeto de de- feiçoamento de Pessoal de Nível Supe- educandos e educandas, numa perspec- será vital a participação direta dos agri-
senvolvimento rural na região baseado rior (CAPES) no segundo semestre de tiva agroecológica e de sustentabilidade. cultores na formulação de agendas de
nos princípios da sustentabilidade so- 2011, no Centro de Ciências Humanas Para isso, tem se adotado uma proposta pesquisa, bem como nos processos de
cioambiental por meio da Agroecologia Sociais e Agrárias (CCHSA) da Univer- profissional e uma política pedagógica inovação tecnológica por meio da abor-
(ASPTA.ORG.BR, 2020). sidade Federal da Paraíba, tendo como comprometida com as transformações dagem de agricultor a agricultor, na qual
área básica a Agroecologia e Desenvol- socioeconômicas e educacionais das os pesquisadores e extensionistas se in-
4. Bacharelado em Agroecologia – vimento Rural Sustentável. O curso tem comunidades envolvidas em atividades tegram desempenhando importantes pa-
CCHSA/UFPB por objetivos o aprimoramento de estu- agroecológicas no estado da Paraíba e peis como facilitadores”.
Criado dentro do Plano de Rees- dos em duas linhas de pesquisas: 1) Ci- demais estados da federação.
truturação e Expansão das Universida- ências Agrárias, Indicadores e Sistemas
des (REUNI) levando em consideração
diálogos desenvolvidos com a comuni-
de Produção e; 2) Desenvolvimento Ru-
ral, Processos Sociais e Produtos Agro-
6. Considerações Finais
Embora tenha-se alcançado avan-
Ref. Bibliográficas
dade acadêmica, movimentos sociais e ecológicos. ços em muitas áreas do conhecimento da
órgãos ligados a pesquisa e extensão Tida como uma das característi- Agroecologia na Paraíba, com suas ins- ALTIERI, M. Agroecologia: bases
agroecológica, o Curso de Bacharelado cas principais do curso, a promoção de tituições e movimentos agroecológicos, científicas para uma agricultura sus-
em Agroecologia da UFPB tem o obje- amplos debates sobre a sociedade bra- há ainda diversos fatores que tendem a tentável, 3ªed. São Paulo, Rio de Ja-
tivo de formar profissionais com habili- sileira, com reflexão direta sobre qual o limitar sua expansão no Estado, haven- neiro: Expressão Popular, AS-PTA,
dades para um desenvolvimento rural verdadeiro papel da Universidade como do a necessidade de reformas políticas 2012. 400p.
sustentável fundamentado em um con- centro de articulação do saber dominan- e institucionais, sendo elas públicas e ASPTA.ORG.BR - Assessoria e Ser-
junto de conhecimentos e técnicas que te com a área das Ciências Agrárias, privadas, que assegurem modos alter- viços a Projetos em Agricultura Alter-
são desenvolvidas por diferentes linhas como suporte intelectual ao desenvolvi- nativos para a produção de alimentos nativa https://aspta.org.br/. Acesso
de pesquisas formuladas a partir das ne- mento das cadeias produtivas. Com isso, saudáveis, oportunidades equitativas e em:20.11.2020.
cessidades da agricultura agroecológica a estruturação da proposta do PPGCAG acessíveis aos produtores de pequenas CARDOSO, A.; SILVA, J.; SANTOS
local com enfoque tecnológico baseado foi montada partindo das diversas ma- áreas. Isso possibilita criar, aprimorar e D. O. Movimento agroecológico como
na diversidade, integração e processos nifestações e reivindicações feitas por disponibilizar cada vez mais os benefí- difusor da Agroecologia no Estado
sociais com a participação efetiva de co- comunidades e pesquisadores da área, cios da Agroecologia, pois há no mun- da Paraíba http://www.prac.ufpb.br/
munidades campesinas. entidades representantes de produtores do, e não é diferente na Paraíba, muitos anais/xenex_xienid/x_enex/RESU-
Em 2019 o curso recebeu nota 5, rurais e organizações sociais diversas, exemplos de sistemas agroecológicos MOS/AREA5/5CCADSEROUT02.
conceito máximo, em parecer do Ministé- que observam no PPGCAG uma oportu- bem-sucedidos, pela gestão das águas, pdf. Acesso em: 27/11/2020.
rio da Educação (MEC) numa avaliação nidade de qualificar profissionalmente e produção vegetal, criação animal, melho- NASCIMENTO, S. M. de S. G. (IN-
que levou em consideração a excelên- adequadamente os professores e técni- ria e manutenção das condições do solo, SERIR DEMAIS AUTORES) Projeto
cia do curso em infraestrutura, recursos cos agentes intervencionistas e demais através dos policultivos e agroflorestas, Pedagógico do Curso de Bacharela-
didático-pedagógicos, corpo docente e profissionais educadores das escolas de modo a aprimorar e, principalmente, do em Agroecologia. 102p. il. 2019.
Exame Nacional de Desempenho dos do campo ou voltadas para os povos do respeitar os conhecimentos tradicionais. http://www.cchsa.ufpb.br/cage/con-
Estudantes (Enade). Esse conceito foi campo. Assim, finalizamos este artigo le- tents/documentos/ppc-vigente-novo.
recebido em apenas dois cursos no Bra- Sendo assim, o Programa de Mes- vantando a importância de se ter uma pdf. Acesso em 20/11/2020.
sil, dentre 47 avaliados entre Instituições trado em Agroecologia visa contribuir participação mais direta dos agricultores SILVEIRA, L.; PETERSEN, P.; SA-
públicas e privadas. para a melhoria da qualidade de renda nos processos que envolvem as pes- BOURIN, E. Agricultura familiar e
e de vida dos jovens trabalhadores de quisas, ouvindo seus lamentos, suas Agroecologia no Semi-Árido: avan-
5. Pós-Graduação em Ciências Agrá- diversas áreas do campo agropecuá- opiniões e suas experiências vitoriosas ços a partir do Agreste da Paraíba.
rias (Agroecologia) – PPGCAG/CCH- rio brasileiro, objetivando ainda atingir, quando das mudanças nas atividades Rio de Janeiro, AS-PTA, 2002. 356p.
SA/UFPB além dos professores educadores das agrícolas que foram realizadas e bem
O Programa de Pós-Graduação em escolas, Institutos Superiores e Universi- sucedidas, levando em consideração o
Ciências Agrárias (Agroecologia)-PPG- dades do Campo, profissionalizantes de que Miguel Altieri relata em sua publi-

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Opinião

Opinião
A Agroecologia no ção das ações e aprofundar a discussão de outros cursos universitários (vete-
das experiências existentes à época. Até rinária, nutrição, biologia, ciências hu-
a realização do 2° EBAA, foi destacado manas e outros). Os avanços teóricos

Piauí: breve relato do duas grandes lições: 1 – a necessidade e práticos decorrentes dessa postura e
do movimento pela Agricultura Alternativa exercício, foram cruciais para a expan-
manter-se unificado nos seus grandes ob- são dessas ações à sociedade.

surgimento até
jetivos; e 2 – foi revelado que a Agronomia Um evento que teve bastante re-
e os agricultores brasileiros já dispunham percussão, inclusive pela ousadia de
na época de tecnologia capaz de produzir pretender e conseguir, uma aproxima-

os dias atuais
sem venenos, independentemente da es- ção maior com o movimento dos traba-
cala de produção (Anais do 2° EBAA, pg: lhadores e trabalhadoras rurais (seg-
12-13, 1985). mento importante da sociedade), foi a
Três anos depois, realizou-se o 3º realização da IV SEMAGRO (Semana
Francisco das Chagas Oliveira EBAA, promovido pela FAEAB e FEAB de Agronomia da UFPI). Evento este
Maurício Castelo Branco Santana (Federação dos Estudantes de Agronomia que teve como tema central a Agricul-
do Brasil), no período de 12 a 17 de abril tura Alternativa, realizado entre os dias
_________________________________________ de 1987, em Cuiabá-MT. Aqui no Piauí 24 a 29 de abril de 1989, no auditório
Embrapa Meio-Norte. o Centro Acadêmico de Agronomia (CA- central da UFPI, em Teresina-PI. No
E-mail: francisco.chagas-oliveira@embrapa.br; GRO) do curso de Engenharia Agronômi- evento, houve a participação de es-
mauricio.santana@embrapa.br ca da UFPI, organizou e viabilizou uma tudantes, professores, profissionais e
delegação com aproximadamente 40 es- agricultores familiares (inclusive como
tudantes de Agronomia. E isso foi decisivo palestrante) além da participação do
para o aparecimento de forma mais visível Presidente da FETAG (Federação dos
e organizado do movimento de agricultu- Trabalhadores da Agricultura do Piauí).
ra alternativa na academia e no referido É importante destacar que após o
estado. Este grupo articulou a realização, ano de 1985 - que coincide com o pro-
através do CAGRO e da Pró-reitoria de cesso de redemocratização do país,

A
Extensão da UFPI, de um curso de ma- com a saída dos militares e ascensão
Agroecologia no estado do Piauí, que passaram a questionar e pro- nejo ecológico de solos tropicais, ministra- ao poder de um civil à Presidência da
Piauí, como um meio plausí- mover debates críticos sobre os efeitos do por uma das estrelas do 3º EBAA, a República (José Sarney), ainda que
vel e passível de realização das práticas agrícolas adotadas no cam- eng. Agrônoma Dra. Ana Maria Primave- pela via indireta; não coincidentemen-
de processos para o alcan- po, relativas ao processo de industrializa- si (falecida recentemente), que mais tar- te os ares democráticos contribuíram
ce de uma agricultura mais sustentável ção, pela chamada agricultura moderna. de receberia em nível nacional, por suas enormemente para o desenvolvimento
em todos os âmbitos, sejam eles sociais, Nessa época nas universidades brasilei- colaborações, o título de Patronesse da e implementação de propostas mais
ambientais, culturais, políticos e econômi- ras, o movimento em favor da Agricultura Agroecologia. Este curso, foi realizado no avançadas e mais democráticas no
cos, passa por uma pluralidade de experi- Alternativa, como era denominada e que período de 22 e 23 de maio de 1987 e foi país e, consequentemente, no Piauí.
ências, tendo seu marco inicial, na década surgiu como uma proposta de mudança à importante para consolidar as motivações Além de algumas iniciativas citadas aci-
de 80 do século XX. Os trabalhos iniciais agricultura convencional ou moderna, era já existentes e fortalecidas por ocasião do ma, outras externa ao ambiente acadê-
foram realizados pelas Comunidades Ecle- organizado pelos estudantes (Padula et. 3º EBAA, bem como aprofundar os conhe- mico, paralelamente, foram iniciadas.
siais de Base - CEB, que encamparam as al., 2013). cimentos sobre a agricultura alternativa e Aqui cabe destacar o surgimento de
discussões sobre a adoção de um mode- Na década de 1980, foram realiza- surgir novas motivações. Gradativamen- grupos de estudos teóricos e práticos,
lo de agricultura mais adequado do ponto dos os históricos EBAAs (Encontro Bra- te, foram surgindo inúmeras iniciativas ao envolvendo aplicação e experimenta-
de vista socioambiental, e no engajamento sileiro de Agricultura Alternativa), sob a longo dos anos. Uma participação mais ção de conhecimentos e princípios pro-
do movimento estudantil na mesma déca- responsabilidade da FAEAB (Federação orgânica nas atividades acadêmicas, en- pagados pela agricultura alternativa.
da, por meio de um grupo de estudantes das Associações de Engenheiros Agrôno- volvimento de professores universitários, Dentre esses grupos, a criação de al-
de Agronomia da Universidade Federal do mos do Brasil), objetivando a sistematiza- interação e integração com estudantes gumas organizações não governamen-

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Opinião

Opinião
tais (ONGs) a partir de iniciativas, por universidade, convêm fazer o registro da extensão rural a partir das características cologia como ciência, para demarcar
exemplo, da igreja católica. Estes gru- criação oficial do Grupo de Agricultura Al- do Semiárido, acumulando conhecimen- um novo foco de necessidades huma-
pos foram adquirindo mais influência ternativa da UFPI Tremembé, em 18 de tos sobre políticas e formas de convivên- nas, qual seja, o de orientar a agricul-
no final da década de 1980 e início da março de 1993, apesar dos primórdios cia com o Semiárido (Barbosa, 2005). tura à sustentabilidade, no seu sentido
década seguinte. dele está relacionado com parte dos inte- Outro marco importante foi a criação multidimensional (EMBRAPA, 2006).
Ressalta-se, que em 1983, foi grantes das delegações participantes do da Comissão da Produção Orgânica – As contribuições ao documento que foi
lançado pelo CAGRO da UFPI, um 3º e 4º EBAA. A partir da oficialização do CPOrg do Estado, pela Superintendência construído com ampla participação das
manifesto de crítica ao então modelo Grupo Tremembé, o CCA/UFPI passou a Federal de Agricultura, PI. Para tanto foi Unidades em todo território brasileiro,
agrícola convencional e em defesa da contar com a existência e contribuição de instituído no âmbito da SFA/PI o Núcleo tendo no Piauí, a Embrapa Meio-Norte,
agricultura alternativa, ainda num go- mais um ente constituído em defesa da da Produção Orgânica, composto por Fis- envolveu uma ampla representação da
verno militar ditatorial. Agricultura Alternativa, além do CAGRO cais Federais Agropecuários (Agrônomos academia, ONGs, movimentos sociais
Já no início da década de 1990, e CAMEV. Aquele constitui o primeiro Nú- e Veterinários), servidores daquela insti- e agricultores/as, abrindo-se possibli-
numa demonstração clara de maior cleo de Agroecologia no Estado, cujo di- tuição. A primeira ação do Núcleo da Pro- dades para aprovação de vários proje-
amadurecimento do movimento de versos participantes, a partir de suas ins- dução Orgânica / SFA-PI foi realizar reuni- tos.
agricultura alternativa, o CAGRO e o tituições e em articulação com a política ões nos diversos órgãos governamentais Mais recentemente, a partir de
CAMEV (Centro Acadêmico de Medi- nacional de fomento de núcleos de Agro- que tinham envolvimento com a Agricultu- 2011, como indicação dos Congressos
cina Veterinária) da UFPI, promovem ecologia, fundaram diversos núcleos, que ra Orgânica, no sentido de divulgar a Por- Brasileiro de Agroecologia, os quais
talvez, o primeiro curso no Piauí com atuam hoje em rede colaborativas multii- taria MAPA nº 158/2004, de forma que a ocorrem bianualmente, em alternância
conteúdos de agricultura alternativa nstitucionais. indicação de um representante do órgão com os Seminários de Agroecologia no
substituindo, deliberadamente, o ter- Felizmente, o movimento de agricul- para compor a CPOrg, fosse um servidor Brasil, teve início a organização dos
mo agricultura alternativa pelo termo tura alternativa foi se destacando e ga- comprometido com os princípios da Agri- Seminários Piauiense de Agroecologia,
AGROECOLOGIA. Este curso foi rea- nhando cada vez mais força no estado do cultura Orgânica. Em seguida foram con- que se encontra na sua quarta edição,
lizado entre os meses de maio e junho Piauí, no decorrer da década de 1990, em tatados ONGs com atuação relevante na realizada no final de 2018, com partici-
de 1991, no Centro de Ciências Agrá- que o termo “Agroecologia” passou a ser Agricultura Orgânica, para isso valeu-se pação de pesquisadores, professores,
rias (CCA/UFPI), em Teresina-PI. inserido no debate estadual. Neste mes- de informações existentes em várias insti- agricultores, estudantes e profissionais.
Ainda no ano de 1991, um im- mo período, os grupos de trabalho e estu- tuições como: SDR/PI, EMBRAPA, Prefei- O evento conta com o apoio de diversas
portante evento de caráter regional, do em agroecologia continuaram se orga- tura de Teresina, BNB, pois estes órgãos organizações das esferas governamen-
foi promovido pelo CAGRO, CAMEV nizando e experimentando, descobrindo e já tinham realizado ações voltadas para o tais e não governamentais, que hoje
e FEAB, na UFPI, no período de 13 desenvolvendo técnicas mais adequadas desenvolvimento da Agricultura Orgânica promovem a agroecologia no Estado,
a 17 de novembro do referido ano. ecologicamente, socialmente, economi- no Piauí. divulgando as experiências agroeco-
Trata-se do II ERAA (Encontro Regio- camente e culturalmente com evidentes Em abril de 2006, o Centro piauiense lógicas de diversos atores, bem como
nal de Agricultura Alternativa), com a ganhos sociais, econômicos e ambientais. de ação cultura (CEPAC), Fórum Piauien- apresentar os resultados de pesquisas,
participação de estudantes, agriculto- Contribuições relevantes para o mo- se de Convivência com o Semiárido, Co- do ensino, da extensão e dos agricul-
res e agricultoras, professores, pro- vimento agroecológico no Piauí foi dada ordenação Estadual das Comunidades tores/as desenvolvidas no âmbito da
fissionais de várias áreas, lideranças pelo Centro Piauiense de Ação Cultural Negras Rurais Quilombolas e Via Cam- agroecologia.
de movimentos e outros, oriundos de - CEPAC, ONG fundada em 20 de maio pesina, realizam o Encontro Piauiense Hoje no Brasil, têm mais de 280
todos os estados do Nordeste. Duran- de 1982, que a partir de 1993, definiu sua de Agroecologia - EPA, tornando-se um Núcleos de Agroecologia (ABA, 2020),
te o evento foi discutido o uso abusivo linha de ação no campo, assessorado no marco importante do movimento agroeco- esses núcleos são a continuidade de
de insumos agrícolas modernos, inse- início de sua trajetória pela AS-PTA, fez lógico no Estado, cuja institucionalização um trabalho muito anterior construído
ticidas e agrotóxicos, e as consequên- o CEPAC aproximar-se da Rede de Pro- em nível nacional começou após o pri- pelos grupos de agricultura alternati-
cias danosas do modelo convencional jeto de Tecnologias Alternativas – Rede meiro Encontro Nacional de Agroecologia va nas universidades e nos órgãos de
ao homem e ao meio ambiente. A par- PTA. Como resultado, elegeu o Semiárido (ENA), que ocorreu em 2002. Nesta oca- pesquisa e extensão. No Piauí, estão
tir da crítica ao modelo de desenvolvi- como prioridade, atuando na prática da sião foi criada a Articulação Nacional de vários em atividade, em parceria com
mento agrícola brasileiro e nordestino, extensão rural para a construção do co- Agroecologia (ANA) (Padula et al., 2013). diversas ONGs e movimentos que
propôs-se formas de desenvolvimento nhecimento agroecológico, trazendo im- No mesmo ano, a Embrapa lançou o adotam os princípios da Agroecologia,
alternativas. portantes elementos, a partir de sua prá- Marco Referencial em Agroecologia, ins- atuando em abordagem para a transi-
Ao nível do ambiente interno da xis e reflexões, para norteamento da nova titucionalizando e consolidando a Agroe- ção agroecológica baseada em uma

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Opinião

Opinião
estratégia multidimensional que articu-
la diferentes motivações para que os
A Agroecologia no
Agradecimentos
agricultores realizem essa transição:
motivações técnicas e produtivas, am-
bientais, socioculturais, econômicas Nossos agradecimentos ao Raul
Rio Grande do Norte:
e políticas. Na Embrapa Meio-Norte o
Núcleo de Agroecologia, vinculado ao
Grupo de Pesquisa & Inovação em Re-
Santana Castelo Branco, primeiro co-
ordenador da CPOg-PI, pela colabo-
ração nas informações sob a criação
trajetória e desafios
cursos Naturais, atua em processos de
dinamização agroecológica por meio de
redes colaborativas multiinstitucionais
da Comissão; e ao Antônio Gomes
Barbosa, da Articulação do Semiá-
rido, pelas reflexões sistematizadas
pelo caminho
que tenham adotado a Agroecologia relativas ao movimento agroecológi-
como estratégia para aumentar a sus- co no Piauí. João Liberalino Filho
tentabilidade da agricultura. Desta for-
ma, o Núcleo atua na construção do co-
Joaquim Pinheiro de Araújo
nhecimento agroecológico; promoção Maria Janaína Nascimento Silva
_________________________________________
de processos de inovação e transição
agroecológica; formação e disponibili- Ref. Bibliográficas Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
zação de conhecimentos. E-mail: liberalino@ufersa.edu.br;
Como amadurecimento do movi- ASSOSSIAÇÃO BRASILEIRA DE joaquim_rn@ufersa.edu.br;
mento agroecológico, em 2018 foi cria- AGROECOLOGIA-ABA. Contato dos agronoma_janaina@hotmail.com
da a Articulação em Rede Piauiense de NEAs no Brasil. Disponível em: ht-
Agroecologia (ArRepia), com institui- tps://aba-agroecologia.org.br/proje-
ções e organizações da sociedade civil, to-neas/contato-dos-neas-no-brasil/.
com a finalidade de fomentar espaços Acesso em 03/11/2020.
de articulação, reflexão, sistematização BARBOSA, A. G. Encontros e desen-
das práticas agroecológicas no estado contros com a extensão rural - estu-
e proposições de políticas públicas. do de caso sobre a trajetória exten-
Portanto, para assegurar a sus- sionista do Centro piauiense de ação
tentabilidade da agricultura e das estra- cultural – CEPAC. Brasília: Monogra-
tégias de desenvolvimento rural, requer fia. UNB, 2005. 33p.

A
novos paradigmas científicos e práti- EMBRAPA. Marco referencial em
produção agrícola no Rio último censo agropecuário publicado pelo
cas, um deste é a Agroecologia, que se agroecologia. Empresa Brasileira de
Grande do Norte (RN), em IBGE, algo em torno de 85 % dos estabe-
constitui, cada vez mais, em importante Pesquisa Agropecuária. Brasília -
que pese a concentração lecimentos agrícolas do estado se enqua-
ferramenta para a promoção das com- DF. Embrapa Informação Tecnológi-
de investimentos nas áreas dram nesse padrão.
plexas transformações sociais e ecoló- ca, 2006. 70p.
de fruticultura irrigada, a exemplo do Vale Não obstante o enfoque e as técnicas
gicas necessárias. A Agroecologia no PADULA. J.; CARDOSO, I.M.; FER-
do Assu, dos municípios de Mossoró e Ba- de cunho agroecológico estejam conceitu-
Piauí, promovida desde a década de RARI, E.A. et al. Os caminhos da
raúnas e da Chapada do Apodi e a explora- almente mais próximos desses sistemas,
1980, permitiu o surgimento de inova- agroecologia no Brasil. In: GOMES,
ção canavieira na região agreste do estado, a discussão e a produção de base agroe-
ções e organização que alcançaram J.C.C.; ASSIS, W.S. (eds.). Agroe-
é caracterizada por sistemas de produção cológica (que teve o seu início na década
níveis importantes de maturidade, com cologia: princípios e reflexões con-
da agricultura familiar, em pequenas e mé- de 1990, dentro de um contexto nacional e
potencial para fortalecer programas e ceituais. Brasília: Embrapa, p. 37-72,
dias propriedades, além das áreas de as- mundial de questionamento do paradigma
políticas públicas para gerar mudanças 2013.
sentamentos rurais, criadas num tímido, produtivo da modernização da agricultura,
consistentes e condições de vida no
mas importante processo de acesso à terra consolidada através de fortes investimentos
meio rural e urbano.
para famílias sem-terra. De acordo com o do Estado brasileiro em políticas públicas

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Opinião

Opinião
Em termos de ações mais abrangen- alimento saudável e sustentável, deve-se
tes e de caráter estadual, o movimento muito mais ao trabalho de instituições li-
agroecológico no RN criou uma série de gadas aos movimentos sociais do campo,
iniciativas importantes, tanto no aspecto pastorais católicas e Organizações Não
institucional com a criação de várias orga- Governamentais, que optaram desde o fi-
nizações do terceiro setor na área de as- nal dos anos 1980 pelo que ficou conheci-
sessoria aos processos de transição agro- do como Agricultura Alternativa e que ser-
ecológica, como também redes de apoio à viu de pilares para essa diversidades de
agricultura familiar e aos processos agroe- agriculturas que se contrapõem ao modelo
cológicos de produção e comercialização. convencional de monocultivos à base de
Nesse sentido, destacam-se a Rede Xique muita mecanização e quimificação. Essas
Xique, a Central de Comercialização da ações que podemos chamar de assesso-
Agricultura Familiar e Economia Solidária ria agroecológica, passaram a incorporar
(CECAFES) e a Associação de Produtores aos sistemas de agricultura familiar das
e Produtoras Agroecológicos de Mossoró comunidades tradicionais e assentamentos
(APROFAM) (Figura 1). de reforma agrária, manejos e tecnologias
O fortalecimento desse campo da apropriadas, através do diálogo entre o co-
agroecologia e da comercialização soli- nhecimento científico e os saberes ances-
dária tem tido uma contribuição efetiva e trais e populares para a construção de sis-
crescente dos consumidores reflexivos e temas sustentáveis locais de produção.
conscientes que, preocupados com sua ali- Esse trabalho tem produzido alguns
mentação e com os impactos ambientais e resultados importantes que servem como
sociais gerados pela agricultura convencio- parâmetros para experiências de transição
nal, acabam interagindo com a agricultura agroecológica, tanto do ponto de vista prá-
familiar, potencializando um mercado de tico, já que outros agricultores(as) se es-
produtos orgânicos e agroecológicos. pelham nesses processos para refletirem
Figura 1. Feira agroecológica da APROFAM, Mossoró, RN. Fonte: Maria Janaína Nascimento Silva Essas experiências, mesmo que ain- os seus e adaptarem às suas realidades,
da consideradas em pequena escala, quan- como também no aspecto científico, já que
do verificamos a quantidade de municípios tais experiências têm servido para o desen-
nas áreas do ensino, pesquisa, extensão, pos de mulheres e jovens, que são dimen- que compõem o RN, não podem passar volvimento de reflexões acadêmicas (aulas
crédito e grandes obras) é ainda incipiente sões centrais no paradigma agroecológico. despercebidas como exemplos práticos práticas) e pesquisas variadas no campo
no RN, demonstrando os caminhos e desa- Como ilustração desse processo, desta- de fortalecimento da perspectiva da agro- da agroecologia e da convivência com o
fios que precisam ser percorridos e enfren- ca-se a criação das feiras agroecológicas ecologia e da agricultura familiar. Portanto, Semiárido.
tados, inclusive pelas instituições de ensino de comercialização solidária, eliminando o faz necessário vê-las como uma espécie Entre os muitos obstáculos enfrenta-
e pesquisa. atravessador e potencializando um novo de sementes e brotos que podem ser mul- dos nesse processo sobressaem a escas-
Apesar dessa conjuntura desfavo- sistema agroalimentar sustentável, que tiplicadas e abarcar um número cada vez sez de investimentos através de recursos e
rável, e graças ao apoio dos movimentos aproxima e torna cúmplice da transição maior de produtores e consumidores. Para pessoal técnico capacitado, assim como o
sociais, algumas dessas experiências pon- agroecológica agricultores(as) e consumi- tanto, é imprescindível o apoio da pesqui- desinteresse e descrença no potencial da
tuais conseguiram se reproduzir e ampliar, dores(as). sa, ensino e outras políticas públicas que agricultura familiar e camponesa por parte
consolidando uma nova forma de produção No RN, já funcionam várias delas em apoiem e incentivem os processos de tran- do poder público, nas esferas municipal, es-
mais sintonizada com as práticas de con- vários municípios, com destaque para a sição e apoio aos agricultores feirantes, as- tadual e federal, comprometidos geralmen-
servação do solo e água, diversificação Feira Agroecológica de Mossoró (2ª cidade sim como o controle do que é produzido e te com sistemas agrícolas empresariais do
de atividades produtivas e valorização dos do estado em termos populacionais), que as técnicas que são adotadas, destacando agronegócio. Outro empecilho considerá-
aspectos sociais de soberania e protago- funciona há 13 anos, aos sábados no cen- as potencialidades para consolidação des- vel é a força ideológica do agronegócio que
nismo dos atores locais, além do estímulo tro da cidade, resistindo e se adaptando ses e de mais espaços de comercialização. também persuadiu grande parte do seg-
a atividades coletivas, através da organi- a esse contexto de pandemia, através de Esses avanços, reduzidos mas tam- mento da agricultura familiar a adotarem as
zação em associações, cooperativas, gru- pronta-entrega e entrega em domicílio. bém significativos, pois sinalizam para uma práticas e os pacotes tecnológicos desse
nova perspectiva possível de produção de modelo de agricultura, em monocultivos,

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Opinião

Opinião
uso intensivo da terra, e em capital, com
destaque para sementes geneticamente
modificadas, insumos químicos e mecani-
sez de políticas públicas que sejam efica-
zes para a realidade climática do estado,
inserido no semiárido brasileiro e que tem
Breve Histórico da
zação. Vale ressaltar que esse processo
não foi natural, mas induzido e mesmo im-
posto por meio das políticas públicas de ex-
suas características específicas, como o
índice pluviométrico que atinge em média
650 mm anuais, concentrados em poucos
Agroecologia em Sergipe
tensão, pesquisa, ensino e crédito, que têm meses, o que faz com que muitas famílias
contribuído para uma preocupante erosão agricultoras enfrentem sérias restrições em
do conhecimento e da cultura dos agricul- suas atividades de plantar e criar, que são Amaury da Silva dos Santos¹
tores tradicionais, que os levam a aderir ao estruturantes para a sustentabilidade desse
modelo convencional de maneira precária segmento, inclusive no aspecto da sobera-
Ana Cristina Oliveira de Almeida²
e, muitas vezes, extremamente impactan- nia alimentar. Portanto, o estoque de água, Edson Diogo Tavares³
tes sobre o ambiente, através de queima- alimento (humano e animal) e sementes é _________________________________________
das, redução da biodiversidade e, principal- estratégico para viabilizar a atividade agro- ¹Embrapa Tabuleiros Costeiros.
mente, do uso dos agrotóxicos. pecuária no Semiárido. E-mail: amaury.santos@embrapa.br
O conhecimento científico, represen- Como considerações finais, pode-se ²Universidade Federal do Vale do São Francisco.
tado pelas universidades e instituições de afirmar que existem sérios entraves ao de- E-mail: ac_oalmeida@yahoo.com.br
pesquisa, por ainda estar preso e com- senvolvimento da agroecologia, porém não
³Rede Sergipana de Agroecologia.
prometido com as tecnologias associadas devemos ficar alheios às possibilidades
E-mail: edsondiogo@ymail.com
à chamada “Revolução Verde” e os seus que nos rodeiam. É importante dar visibi-
“Pacotes Tecnológicos” permanece muito lidade para as experiências exitosas, refle-
tímido e, consequentemente, pouco tem tindo quais elementos são essenciais para
contribuído para a transição agroecológi- a sua permanência e crescimento. Entre
ca. A maioria das pesquisas desenvolvidas elas, a perseverança em termos de ação
nessas instituições continuam direcionadas de alimentar o sonho da transição agroe-
ao grande capital, aqui representado pelos cológica entre os agricultores, consumido-
grupos agroindustriais ligados à fruticultura res e atores outros como instituições, mo-
para exportação, mostrando a força do pa- vimentos e profissionais. Em resumo, não
radigma da modernização sob a égide da haverá evolução dos processos agroecoló-
racionalidade economicista. Poucas são as gicos sem atitudes concretas dos diversos
iniciativas e recursos destinados à agricul- atores envolvidos.
tura familiar e, menos ainda, aos sistemas O campo não é o lugar do atraso e
sustentáveis de produção orgânica e agro- a agricultura familiar não está predestinada

D
ecológica. a desaparecer! Levando essas premissas
É bem verdade que surgiram ações em consideração, podemos abrir caminhos iversos setores da socie- ferramenta metodológica essencial para
governamentais nesse setor, com destaque às diversas possibilidades de desenvolvi- dade reconhecem a Agro- a criação de ambientes para o diálogo da
para algumas unidades do IFRN, como os mento da agricultura familiar agroecológica ecologia como uma nova academia com os agricultores (Petersen
de Apodi, Ipanguaçu e João Câmara, com que contribuam para a oferta de alimentos forma de promover o de- et al., 2009). Desse modo, torna-se ne-
maior direcionamento às suas realidades saudáveis à toda a população. Para tanto, senvolvimento rural sustentável. No en- cessária a participação efetiva dos agri-
territoriais e mais alinhadas com o enfoque faz-se necessário, por parte do poder pú- tanto, para a construção do conhecimen- cultores para o enfrentamento ao mode-
sustentável das atividades agrícolas. Tam- blico, agricultores(as) e seus representan- to agroecológico exige-se da sociedade lo convencional de agricultura imposto
bém nas principais universidades públicas tes, uma aposta real, prática e teórica, na uma complexa mudança de paradigma. pela Revolução Verde, o que requer uma
já é possível perceber importantes inicia- construção desse caminho, essencial para Entende-se, no contexto deste artigo a visão sistêmica dos múltiplos fatores que
tivas de construção e diálogo de saberes a sustentabilidade que almejamos. construção do conhecimento agroeco- se relacionam nesse processo.
com o segmento da agricultura familiar e o lógico como a articulação sinérgica de Em função do crescente uso no es-
processo de transição agroecológica. diferentes saberes, que reposiciona as tado de Sergipe e em outros estados de
Paralelamente a isso existe a escas- inovações de cada comunidade como termos como “agroecologia”, “agricultura

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Opinião

Opinião
ecológica”, “agricultura orgânica”, “agri- Agroecologia e Agricultura Orgânica são promove a produção e consumo de Alimentos (PAA) e do Programa
cultura sustentável”, entre outros, é pre- Existem confusões e, em alguns orgânicos, assim como os processos de Nacional de Alimentação Escolar
ciso ter clareza de como o enfoque agro- momentos, conflitos envolvendo esses certificação de produtos orgânicos. (PNAE). Infelizmente esses pro-
ecológico está inserido nas experiências dois conceitos. São complementares, Em Sergipe já são inúmeras as ex- gramas têm sido descontinuados
que hoje têm sido desenvolvidas no mas não são sinônimos, no entanto, es- periências de produtores agroecológicos, causando grandes perdas para
território sergipano, uma vez que exis- tão na contramão do agronegócio pro- mas uma experiência que marca a histó- aqueles agricultores.
tem trabalhos relevantes de extensão e movido por grandes agricultores. ria da produção orgânica no estado é a Observa-se a necessidade
pesquisa que apostam na Agroecologia No Ministério da Agricultura, Pecu- da Associação de Produtores Orgânicos ao estímulo dos mercados locais
para o desenvolvimento da agricultura ária e Abastecimento (MAPA) existem do Agreste - ASPOAGRE que, em par- através de parcerias entre agri-
familiar no estado. ações envolvendo a promoção e fomen- ceria com a Associação de Engenheiros cultores organizados e gestores
O objetivo deste artigo é demons- to à elaboração de normas e a imple- Agrônomos de Sergipe – AEASE, pro- municipais através da garantia de
trar as concepções de Agroecologia e mentação de mecanismos de controle move uma feira de produtos orgânicos e mercado, a criação de novos mer-
das iniciativas agroecológicas nas ativi- para a garantia da qualidade orgânica. mantém pontos comerciais para venda cados e o resgate e fortalecimento
dades executadas pelos diversos órgãos Em Sergipe o MAPA fomenta a Comis- de seus produtos em Aracaju e Itabaia- de práticas e produtos tradicionais
públicos, movimentos sociais e organi- são de Produção Orgânica que é forma- na. A ASPOAGRE existe desde o ano e regionais, que é o objetivo da
zações não governamentais no meio ru- da por diversos órgãos ligados aos seto- 2000 e têm o Selo Orgânico concedido Política Estadual de Agroecologia
ral do estado de Sergipe. res públicos e privados, que atualmente pelo Instituto Biodinâmico (IBD) desde e Produção Orgânica construída
é coordenado pelo Sebrae. Esta comis- 2004. Dentre as dificuldades diagnosti- em parceria com a Rede Sergipa-
cadas pelos agricultores da associação na de Agroecologia –RESEA insti-
está a falta de uma assessoria técnica tuída pelo Decreto Nº 40.051/2018.
especializada que possa contribuir para
o manejo agrícola, auxiliando na solução Formação profissional
de problemas como as perdas devido ao Muitos esforços estavam
ataque de pragas e doenças. sendo feitos para a formação de
Dentro desse contexto, considera- profissionais que atuam no cam-
-se desafiante a Assessoria Técnica de po com enfoque agroecológico. O
Extensão Rural (ATER), no curto, mé- Brasil é, provavelmente, o país no
dio e longo prazo, de consolidação e/ mundo com maior número destes
ou construção, junto aos agricultores cursos em funcionamento na atu-
familiares, de estilos de agricultura que alidade, desde o nível médio até a
fujam do padrão dos “pacotes tecnoló- pós-graduação.
gicos”. No entanto, na prática o que se Nos cursos de ciências agrá-
detecta em Sergipe e em outros estados rias da Universidade Federal de
são os agricultores buscando suas solu- Sergipe (UFS) diagnosticou-se
ções autonomamente, com apoios pon- que em relação à temática de
tuais em órgãos de assistência técnica e Agroecologia, é relativamente bai-
pesquisa oficial. Em relação à comercia- xa a interação entre os trabalhos
lização de produtos de base ecológica, de pesquisa e extensão desen-
embora o mercado consumidor venha se volvidos, ainda que apresentem
elevando nos últimos anos, se observam a perspectiva agroecológica, falta
poucas políticas públicas que possam em muitos a visão sistêmica. As-
inserir agricultores agroecológicos den- sim, os trabalhos atendem ques-
tro destes mercados, como são os casos tões pontuais sem visibilidade,
Figura 1. Mística de abertura de evento público promovido pela Rede Sergipana de Agroecologia evidenciando do Programa Nacional de Aquisição de respaldo e atendimento às reais
símbolos de instituições que a compõe. Fonte: Ana Cristina Oliveira de Almeida (2017).

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Opinião

Opinião
demandas da sociedade. Ainda na UFS, assentados matriculados no IFS, a for- e prática em unidades demonstrativas. base.
foi criada em 2008 a disciplina optativa matura de filhos de assentados no curso Segundo o MST, a extensão rural Como observado, já há alguma
de Agroecologia e incorporada em 2009 de Engenharia Agronômica da UFS em do movimento é de base agroecológi- construção do conhecimento agroeco-
à grade curricular obrigatória do curso 2008 e no Curso Superior de Tecnologia ca, seguindo as premissas da Assesso- lógico, ainda que presente em projetos
de Engenharia Agronômica. Mais recen- em Agroecologia em 2020 em parceria ria Técnica, Social e Ambiental - ATES pontuais por falta de financiamentos,
temente, foi criado um novo campus da com o PRONERA. utilizando o conhecimento local para entre as organizações que promovem
UFS no Sertão do estado, onde cursos Além das instituições públicas de desenvolver a organização produtiva, a assistência técnica rural, sejam elas
das ciências agrárias foram instaura- ensino, existem as organizações estu- cooperação agrícola e reforma agrária. públicas ou movimentos sociais. A con-
dos. Foi uma luta de movimentos sociais dantis, núcleos e grupos agroecológicos No entanto, as dificuldades existem, pois tradição que existe nisso é a necessida-
para sua implantação e, observa-se, a : Centro Acadêmico Livre de Engenharia faltam técnicos capacitados em Agroe- de de ter a Agroecologia como base da
presença significativa de filhos (as) de Agronômica – CALEA, NEVA e Coletivo cologia e recursos financeiros disponí- orientação técnica.
agricultores (as) nesses cursos, onde a Cabeça de Frade que reúnem estudan- veis para a contratação destes e políti- Como observado no exemplo do
Agroecologia tem maior protagonismo tes de agronomia, engenharia florestal, cas públicas capazes de chegar até a MST, em Sergipe há construção do co-
que no Campus mais antigo. comunicação social e biologia na UFS,
O Instituto Federal de Educação, entre outros. Estes fomentam o debate
Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS) de formação profissional com base na
oferece desde 2009 o curso superior de Agroecologia, envolvendo práticas agro-
Tecnólogo de Agroecologia, que surgiu ecológicas e a relação direta com os mo-
por meio da demanda do governo fede- vimentos sociais em espaços de forma-
ral em criar novos cursos. Porém, acre- ção e vivência da realidade do campo.
dita-se que o curso ainda necessita de
um maior contato entre os estudantes e Extensão rural
os movimentos sociais, e de uma dimen- A Política Nacional de Assistência
são mais participativa e de vivência com Técnica e Extensão Rural – PNATER,
o agricultor. Esta contradição é existente instituída pela lei Nº 12.188/2010, surgiu
em praticamente todas as instituições de como uma nova diretriz para a assistên-
ensino, pesquisa e extensão, onde pro- cia técnica, para promover a atuação
fissionais que atuam dentro da concep- do extensionista no campo com a prio-
ção agroecológica compartilham seus rização das práticas agroecológicas, a
trabalhos com outros profissionais que utilização de novas metodologias de en-
têm a concepção idealizada pela Revo- volvimento da comunidade e de diagnós-
lução Verde. Desde 2011 o IFS disponi- ticos. No entanto, para que isso ocorres-
biliza o curso de nível médio em Agroe- se na prática seria necessário estimular
cologia no município de Nossa Senhora e capacitar os técnicos para essa forma
da Glória, sertão sergipano, que em seu de trabalho que é bem diferente para a
projeto pedagógico prevê uma metodo- maioria daqueles que atuam na exten-
logia que incorpore mais atividades prá- são rural do nosso país.
ticas e interação com o agricultor. Segundo assessores técnicos do
Ainda que haja limitações, a cria- órgão público de extensão rural em Ser-
ção destes cursos e a oferta de disci- gipe, a EMDAGRO, esta vem contribuin-
plinas de Agroecologia têm um grande do com a construção da Agroecologia
papel na disputa de uma concepção de focando na formação dos agricultores,
campo e sociedade. Significa a con- identificando aqueles com perfil para de-
Figura 2. Imagem de cartaz divulgado pela Rede Sergipana de Agroecologia para identificação e promoção de
quista cada vez maior desses espaços, senvolver práticas agroecológicas, além guardiões de sementes crioulas no estado de Sergipe. Fonte: Ana Cristina Oliveira de Almeida (2017).
evidenciada pela presença de filhos de de promover cursos que trabalham teoria

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Opinião

Opinião
nhecimento agroecológico mesmo trabalham diretamente a Agroecologia, Congresso Brasileiro de Agroecologia, refeições foi direcionada gratuitamen-
com financiamentos ainda insufi- impulsionadas pelo Núcleo de Agroe- com o tema central “Ecologia de sabe- te para alimentação de agricultores e
cientes, mas levado a cabo pelos cologia. Destacam-se: o projeto de pes- res: ciência, cultura e arte na democrati- povos tradicionais que participaram do
movimentos e organizações, esti- quisa “Importância sócio-econômica do zação dos sistemas agroalimentares”. congresso, além de voluntários, confe-
mulando experiências locais e in- extrativismo da aroeira no território do Uma construção longa e partici- rencistas e convidados.
tercâmbios. Baixo São Francisco”, financiado pelo pativa envolvendo sujeitos que fazem O CBA do Nordeste, realizado em
CNPq, que envolveu várias áreas do co- a agroecologia em Sergipe e no Brasil. Sergipe foi um marco da organização
Pesquisa em Agroecologia nhecimento; Programa de Pós-Gradu- Movimentos sociais, coletivos, ONGs e da visibilidade de experiências agro-
Na década de 2010, foram fo- ação em Agroecossistemas – NEREN, e grupos representando os territórios ecológicas das famílias agricultoras,
mentados pelo CNPq a formação em nível de mestrado, que surgiu com o agroecológicos na sua diversidade de movimentos sociais e das instituições
de Núcleos de Agroecologia em objetivo de analisar os sistemas de pro- gênero, raça, classe, moradia, geração, de ensino, extensão e pesquisa cien-
instituições de ensino e pesquisa. dução num enfoque sistêmico, colocan- escolaridade, linguagens e espaços bus- tífica da região Nordeste e do Brasil.
Em diferentes anos e editais, fo- do a Agroecologia como uma das linhas cando no diálogo a construção de auto- O XI CBA deixou a marca do processo
ram contempladas a Embrapa Ta- de ação; Mestrado em Desenvolvimento nomias coletivas (Figuras 1 e 2). democrático de construção, sua meto-
buleiros Costeiros, a UFS e o IFS, e Meio Ambiente da UFS, que foi insti- Momento fundamental foi a reali- dologia acolhedora e a presença deter-
que foram importantíssimos na tuído e coordenado pelo Programa Re- zação em agosto de 2018 do Seminário minante dos povos dos campos, matas
formação de equipes e no fortale- gional de Pós-Graduação em Desenvol- de Construção do XI CBA, em Aracaju, e águas.
cimento das pesquisas e da exten- vimento e Meio Ambiente – PRODEMA, onde os 80 participantes de organiza-
são em Agroecologia no estado de que desde 1994 integra uma rede inter- ções, instituições e movimentos sociais Considerações Finais
Sergipe. disciplinar interinstitucional e intra-regio- que compõem a RESEA, a Rede Nor- A pequena dimensão geográfica
Devido à forte presença da nal, contando com oito Universidades da deste de Núcleos de Agroecologia, a di- do estado dá facilidade aos desloca-
agricultura familiar e sua signifi- região Nordeste; retoria da ABA, representantes da Arti- mentos e consequente integração e
cância em Sergipe, a Embrapa Ta- culação Nacional de Agroecologia, além troca de experiências realizadas nas
buleiros Costeiros tem grande de- Rede Sergipana de Agroecologia de, estudantes, técnicos e artistas que suas diferentes regiões. Porém, é ne-
manda de pesquisas nessa área No território sergipano, em 2006, inspiram a agroecologia no Nordeste cessário um referencial teórico para
que se baseiam em tecnologias houve a tentativa de formação de uma definiram coletivamente os objetivos, o que os trabalhos realizados possam
simples e eficazes, mas não neces- rede agroecológica, por ocasião da reali- lema, as comissões e os princípios que ter consistência técnica e ética em
sariamente vinculadas à perspecti- zação do II Encontro Nacional de Agroe- conduziram os processos do congresso. relação ao conhecimento agroecoló-
va agroecológica. Destacam-se os cologia. No entanto, perdeu-se o contato Além do caráter inovador do pro- gico, compromissado com o desen-
seguintes trabalhos de pesquisa e comunicação por falta de entendimen- cesso de construção, da proposta me- volvimento de agroecossistemas dian-
desenvolvidos: gestão ambiental, to do que poderia ser esse instrumento todológica e do local de realização do te das dimensões ecológica, social,
etnociência, restauração flores- de organização das entidades. Durante evento, o XI CBA foi surpreendente nos econômica, cultural, política e ética.
tal, conservação de germoplasma o I Seminário Sergipano de Agroecolo- números e na diversidade. Foram apre- No âmbito institucional falta um olhar
em áreas de conservação; o uso gia em 2011 resgatou-se a dinâmica de sentados mais de 2200 trabalhos cientí- multidimensional nas políticas públicas
de metodologias participativas e articulação desta rede com participação ficos e relatos de experiências técnicas. desenvolvidas no estado que possam
Agroecologia em assentamentos significativa de organizações, muitas de- No Espaço de Alimentação Sabores da de fato contribuir para o avanço do
rurais do Estado de Sergipe; rede- las citadas aqui neste trabalho. Já em Terra foram servidas 16 mil refeições processo de transição agroecológica.
senho de agroecossistemas com 2012 foi realizado o II Encontro Sergipa- (cafés da manhã, almoços e jantares) A falta de uma relação mais próxima
inovações agroecológicas; pesqui- no de Agroecologia através da parceria oferecidas durante os quatro dias do con- entre as organizações de ensino, pes-
sas participativas visando a carac- UFS e IFS, com participação dos movi- gresso. Para preparação dessas refei- quisa e extensão implica na dificuldade
terização e avaliação de sementes mentos sociais, sindicato e instituições ções foram utilizadas nove toneladas de em avançar acerca da construção da
de variedades crioulas em Sergipe de pesquisa e extensão rural do estado. alimentos fornecidos por famílias locais Agroecologia em Sergipe.
e outros estados. De 4 e 7 de novembro de 2019 na ou regionais, em sua maioria praticantes
Na UFS, na área das agrá- Universidade Federal de Sergipe (UFS) de agricultura de base ecológica, extra-
rias, identificou-se pesquisas que campus São Cristóvão realizou-se o XI tivistas ou ribeirinhas. Grande parte das

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Teses

Teses
TESES E DISSERTAÇÕES SOBRE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CIÊNCIAS DO SOLO CARACTERÍSTICAS FÍSICO-HÍDRICAS E MATÉRIA ORGÂNICA EM LATOSSOLOS


SOB DIFERENTES TEMPOS DE ADOÇÃO DE PALHADA

Defesas ocorridas entre


Autor: Odália Carolinne Mota de Sousa. Orientador: Aderson Soares de Andrade Junior
Co-orientador: Henrique Antunes de Souza.
Data: 12/2020.

julho e dezembro de 2020 CULTIVO FERTIRRIGADO DE MINI MELANCIA SUBMETIDA À NÍVEIS DE SALINI-
DADE E APLICAÇÃO FOLIAR DE SILÍCIO
Autor: Cipriano Antonio da Luz Neto. Orientador: Everaldo Moreira da Silva.
Data: 07/2020.

DINÂMICA DO FÓSFORO INORGÂNICO EM SOLOS DO CERRADO NORDESTINO


Autor: Gabriel dos Santos da Cruz. Orientador: Cácio Luiz Boechat
Co-orientador: Ruthanna Isabelle de Oliveira
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA DA UNIVERSIDADE Data: 07/2020.
FEDERAL DO PIAUÍ
TÉCNICAS DE ESTATÍSTICA ESPACIAL E SENSORIAMENTO REMOTO PARA ESTI-
ALTERAÇÕES OXIDATIVAS EM PLANTAS DE FEIJÃO-CAUPI E FEIJÃO-MUNGO MATIVA DA PRODUTIVIDADE DE GRÃOS DE SOJA
SUBMETIDAS AOS ESTRESSES SALINO E POR ALUMÍNIO ISOLADOS OU COMBI- Autor: Thatiane Gomes Andrade.
NADOS COM SOMBREAMENTO. Orientador: Aderson Soares de Andrade Junior. Co-orientador: Jose Wellington Batista
Autor: Cleriston Correia da Silva Souza. Orientadora: Aurenivia Bonifacio de Lima. Lopes. Data: 12/2020.
Data: 10/2020.

ATRIBUTOS BIOLÓGICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE CULTURAS ANUAIS E


FORRAGEIRAS EM SISTEMAS INTEGRADOS NO CERRADO DO MARANHÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FITOTECNIA DA UNIVERSIDADE
Autor: Smaiello Flores da Conceicao Borges dos Santos. FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
Orientador: Henrique Antunes de Souza.
Data: 07/2020. DESEMPENHO AGRONÔMICO, VIABILIDADE ECONÔMICA E QUALIDADE DE MAN-
DIOCA DE MESA ADUBADA COM DOSES DE FÓSFORO NO SEMIÁRIDO BRASILEI-
EFICIÊNCIA SIMBIÓTICA DE RIZÓBIOS NA PRODUTIVIDADE DO FEIJÃO-FAVA DE RO. Autor: Flávio Pereira da Mota Silveira.
DIFERENTES GRUPOS GÊNICOS Orientador: Aurélio Paes Barros Júnior Co-orientador: Welder de Araújo Rangel Lopes.
Autora: Claudyanne do Nascimento Costa. Orientador: Ademir Sergio Ferreira de Araújo Data: 08/2020.
Data: 09/2020.
DESEMPENHO AGRONÔMICO, QUALIDADE E BIOFORTIFICAÇÃO DA CEBOLA EM
IMPACTO DA APLICAÇÃO DE BAGANA DE CARNAÚBA SOBRE A MICROBIOTA DO FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES
SOLO E COMPONENTES DO RENDIMENTO DO MILHO Autor: Núbia Marisa Ferreira Bertino
Autora: Celia Ribeiro do Nascimento. Orientador: Luis Alfredo Pinheiro Leal Nunes. Orientador: Leilson Costa Grangeiro
Co-orientador: Ricardo Silva de Sousa. Data: 08/2020.
Data: 08/2020.
ECOFISIOLOGIA DA MINI MELANCIEIRA EM CULTIVO HIDROPÔNICO COM SUBS-
RIZOBACTERIAS SOBRE O CRESCIMENTO DO MILHO E BIOMASSA MICROBIANA
TRATOS E REJEITO SALINO
EM SOLO CONTAMINADO COM CROMO
Autor: José Silereudo da Silva.
Autora: Raquel Sobral da Silva. Orientador: Ademir Sergio Ferreira de Araújo.
Orientador: Nildo da Silva Dias.
Data: 09/2020.
Data: 09/2020.

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Teses

Teses
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO DA
EFICIÊNCIA NUTRICIONAL PARA FÓSFORO E ENXOFRE NO ABACAXIZEIRO ´PE-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
ROLA´ EM ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO
Autora: Rayane Amaral de Andrade. Orientador: Alexandre Paiva da Silva
CRESCIMENTO, TROCAS GASOSAS E PRODUTIVIDADE DA ABOBRINHA ADUBADA
Data: 09/2020.
COM FERTILIZANTES ORGÂNICOS EM DOIS TIPOS DE SOLOS.
Autor: Josimar de Azevedo
Orientador: Thales Vinícius de Araújo Viana. Co-orientador: Geocleber Gomes de Sousa FRAÇÕES DA MATÉRIA ORGÂNICA E ESOTQUE DE CARBONO EM PERFIS DE SO-
Data: 10/2020. LOS EM PEDOFORMAS DE REGIÃO SEMIÁRIDA
Autora: Camila Gonçalves Rodrigues do Nascimento Barbosa
HYDROGELS FOR APPLICATION IN SOILS UNDER ABIOTC STRESSES OF Orientadora: Vânia da Silva Fraga
DRAYLANDS. Co-orientador: Rodrigo Santana Macedo.
Autor: Carla Danielle Vasconcelos do Nascimento Data 10/2020.
Orientadora: Mirian Cristina Gomes Costa.
Data: 08/2020. MICRO-ORGANISMOS COLONIZADORES ENDOFÍTICOS DE NÓDULOS DE Vigna
spp. CULTIVADOS EM SOLOS DA CAATINGA
IRRIGAÇÃO COM ÁGUAS SALINAS E ADUBAÇÃO ORGANOMINERAL NO CULTIVO Autora: Valéria Borges da Silva. Orientador: Adailson Pereira de Souza.
DO AMENDOIM. Co-orientador: Paulo Ivan Fernandes Júnior.
Autor: Elane Bezerra da Silva. Orientador: Thales Vinícius de Araújo Viana. Data: 11/2020.
Co-orientador: Geocleber Gomes de Sousa.
Data: 10/2020.
VALORE DE REFERÊNCIA PARA DIAGNOSE NUTRICIONAL DO ABACAXIZEIRO ´PE-
TEORES SEMITOTAIS DE METAIS PESADOS NA FRAÇÃO ORGÂNICA DE SOLOS ROLA´ NO ESTADO DA PARAÍBA
DA REGIÃO DE IBIAPABA, CEARÁ. Autor: João Batista Belarmino Rodrigues. Orientador: Alexandre Paiva da Silva.
Autor: Francisco Luan Almeida Barbosa. Orientadora: Maria Eugenia Ortiz Escobar. Co-orientador: Walter Esfrain Pereira.
Data: 12/2020. Data: 12/2020.

Trichoderma COMO BIOESTIMULANTE DO CRESCIMENTO DE MUDAS DE CAJUEI-


RO-ANÃO
Autor: João Marcos Rodrigues dos Santos. Orientadora: Adriana Guirado Artur. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA DA
Co-orientador: Carlos Alberto Kenji Taniguchi. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Data: 11/2020.
BACTÉRIAS PROMOTORAS DE CRESCIMENTO EM MUDAS MICROPROPAGADAS
DE BANANEIRA CV. PRATA CATARINA IRRIGADAS COM ÁGUA SALINA.
Autor: Ana Janaina Oliveira Rodrigues. Orientador: Marlos Alves Bezerra.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO DA UNIVERSIDADE Co-orientador: Alan Bernard Oliveira De Sousa.
FEDERAL DA PARAÍBA Data: 09/2020.

ATRIBUTOS FÍSICOS DE UM PLANOSSOLO HÁPLICO SOB SISTEMA DE INTEGRA-


CARACTERIZAÇÃO DE SEDIMENTO DE RESERVATÓRIOS POR ESPECTROSCOPIA
ÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA NO AGRESTE PARAIBANO
COMO SUPORTE PARA PRÁTICA DE REUSO DO SEDIMENTO EM REGIÃO SEMIÁRIDA
Autora: Camila Costa da Nóbrega
Autor: Thayslan Renato Anchiêta De Carvalho.
Orientador: Flávio Pereira de Oliveira
Orientador: Pedro Henrique Augusto Medeiros.
Data: 08/2020.
Data: 11/2020.

EFICIÊNCIA NUTRICIONALL DE NITROGÊNIO E POTÁSSIO NO ABACAXIZEIRO ´PE- EVAPORAÇÃO EM RESERVATORIOS DO NORDESTE BRASILEIRO: AVALIAÇÃO DA DIS-
ROLA´ EM FUNÇAÕ DAS DOSES TRIBUIÇÃO ESPACIAL E INFLUENCIA DA MATA RIPARIA POR SENSORIAMENTO REMOTO.
Autor: Djair Alves da Mata Autor: Italo Sampaio Rodrigues. Orientador: Carlos Alexandre Gomes Costa.
Orientador: Alexandre Paiva da Silva Co-Orientador: Alan Bernard Oliveira De Sousa.
Data: 08/2020. Data: 07/2020.

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Teses

Teses
FATOR DE SENSIBILIDADE AO DEFICIT HIDRICO E RESPOSTA A IRRIGACAO DEFI- DESEMPENHO OPERACIONAL E ENERGÉTICO DO CONJUNTO TRATOR SEMEADO-
CITARIA EM DUAS CULTIVARES DE TOMATE CEREJA. RA ADUBADORA CAMALHOEIRA: ADUBAÇÃO EM MILHO CONSORCIADO E VIABILI-
Autor: Kleyton Chagas De Sousa. Orientador: Raimundo Nonato Tavora Costa. DADE ECONÔMICA
Data: 09/2020. Autor: Paulo Ricardo Alves Dos Santos. Orientador: Carlos Ales.sandro Chioderoli.
Co-Orientador: Flávio Hiroshi Kaneko.
IRRIGAÇÃO SUPLEMENTAR COM ÁGUAS SALOBRAS COMO ESTRATÉGIA PARA IN- Data: 08/2020
CREMENTAR A PRODUTIVIDADE DO MILHO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
Autor: Eduardo Santos Cavalcante. Orientador: Claudivan Feitosa De Lacerda
Data: 11/2020.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOLOS E QUALIDADE DE
IMPACTO DE FRAÇÕES DE LIXIVIAÇÃO NO ACÚMULO DE SAIS, EFICIÊNCIA DO USO ECOSSISTEMAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
DA ÁGUA E PERDAS DE NUTRIENTES EM MILHO SOB ESTRESSE SALINO
Autor: Emanuel Dias Freitas. Orientador: Claudivan Feitosa De Lacerda. BALANÇO DE NUTRIENTES EM ECOSSISTEMA BIOSALINO DE PRODUÇAO DE
Data: 12/2020. PALMA FORRAGEIRA
Autor: Mariana Ferreira Santa Cruz Coimbra. Orientador: Ossival Lolato Ribeiro.
LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO E ADUBAÇÕES SILICATADA, NITROGENADA E POTASSICA Data: 11/2020.
NA CULTURA DO MILHO VERDE NA REGIAO DE IGUATU-CE
Autor: Chrislene Nojosa Dias Fernandes. Orientador: Thales Vinicius De Araujo Viana. CONDICIONADOR DO SOLO, NÍVEIS DE UMIDADE E COBERTURA DO SOLO NA
Co-orientador: Carlos Newdmar Vieira Fernandes. RESISTÊNCIA AO DÉFICIT HÍDRICO DE Eucalyptus urograndis
Data: 08/2020. Autor: Jonas Santos Silva
Orientador: Júlio César Azevedo Nóbrega. Data: 11/2020.
PRINCÍPIO DA MÁXIMA ENTROPIA APLICADO À MODELAGEM HIDRODINÂMICA E À CARACTERIZAÇÃO E ADSORÇÃO DE FÓSFORO EM SOLOS DO OESTE DO ESTADO
EFICIÊNCIA DE RETENÇÃO DE SEDIMENTOS EM PEQUENOS RESERVATÓRIOS DA BAHIA
Autor: Antonio Viana Da Silva Filho. Orientador: Jose Carlos De Araujo. Autor: Victor Brenno Britto de Menezes. Orientador: Jorge Antonio Gonzaga Santos.
Data: 12/2020. Data: 12/2020.

PRODUÇÃO INICIAL DO COQUEIRO ANÃO VERDE SOB DIFERENTES LÂMINAS E MENTA (Mentha spicata L.) SOB PROPORÇÕES DE NITRATO E AMÔNIO EM AMBIEN-
SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO. TES DE LUZ
Autor: Janilson Barbosa Da Silva. Orientador: Thales Vinicius De Araujo Viana Autor: Luis Claudio Vieira Silva. Orientador: Anacleto Ranulfo dos Santos.
Co-Orientador: Fábio Rodrigues De Miranda. Data: 12/2020.
Data: 09/2020.
USO DA ESPECTROSCOPIA Vis-NIR NA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DOS SOLOS
DO ESTADO DA BAHIA
TRANSPORTE DE SUINOS EM CLIMA TROPICAL: BEM-ESTAR ANIMAL, ESTRESSE
Autor: Fabio Oliveira da Silva. Orientador: Jorge Antonio Gonzaga Santos.
TERMICO E VENTILACAO NA CARGA
Data: 12/2020.
Autor: Nítalo André Farias Machado. Orientador: Jose Antonio Delfino Barbosa Filho.
Data: 11/2020.

UTILIZACAO DE BIOCARVAO E HIDROGEL E SEU EFEITO NA RETENCAO HIDRICA


DO SOLO, NO CRESCIMENTO E NA PRODUTIVIDADE DE CAJUEIRO-ANAO CLONE
"BRS 226"
Autor: Janderson Pedro Da Silva. Orientador: Raimundo Nonato Tavora Costa.
Co-Orientador: Rubens Sonsol Gondim.
Data: 07/2020.

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Sócios

Sócios
SÓCIOS DO NRNE/SBCS 35.
36.
37.
JOSÉ ROMUALDO DE SOUSA LIMA
JÚLIO CÉSAR AZEVEDO NÓBREGA
JUSSARA SILVA DANTAS
(PERÍODO 01/07/2020 – 38.
39.
KAMYLLA GONÇALVES OLIVEIRA ASSIS
LAERTE BEZERRA DE AMORIM
31/12/2020) 40.
41.
LEONARDO TEIXEIRA SOUSA
LUÍS DE FRANÇA DA SILVA NETO
42. LUÍS FELIPE RODRIGUES DE AQUINO SOUSA
43. LUIZ FRANCISCO DA SILVA SOUZA FILHO
1. ADILSON ALVES COSTA
44. MANUELLA VIEIRA BARBOSA NETO
2. ADRIANA DE FÁTIMA MEIRA VITAL
45. MARCIA DO VALE BARRETO FIGUEIREDO
3. ADRIANA FERREIRA MARTINS
46. MARCIO LIMA RIOS
4. ALCEU PEDROTTI
47. MARIA EUGENIA ORTIZ ESCOBAR
5. ANA LUCIA BORGES
48. MARIA FLÁVIA SILVA
6. ANTONIO JOÃO DE LIMA NETO
49. MARIA BETÂNIA GALVAO DOS SANTOS FREIRE
7. ARTHUR PRUDÊNCIO DE ARAUJO PEREIRA
50. MARIO DE ANDRADE LIRA JÚNIOR
8. BRUNO BORGES DEMINICIS
51. MATEUS ROSAS RIBEIRO FILHO
9. CACIO LUIZ BOECHAT
52. MILTON CESAR COSTA CAMPOS
10. CARMEM SUEZE SILVA MIRANDA
53. OLDAIR DEL'ARCO VINHAS COSTA
11. CAROLINA MALALA MARTINS SOUZA
54. PALOMA CUNHA SARAIVA
12. CAROLINE VALVERDE DOS SANTOS
55. PÂMALLA GRAZIELY CARVALHO MORAIS
13. CÍCERO GOMES DOS SANTOS
56. PATRÍCIA CARNEIRO SOUTO
14. CLAUDIVAN FEITOSA DE LACERDA
57. QUINTINO REIS ARAUJO
15. CLÍSTENES WILLIAMS ARAUJO DO NASCIMENTO
58. RAFAELA BATISTA MAGALHÃES
16. DALLIANE NOGUEIRA DE SOUZA LIRA
59. RICARDO ESPINDOLA ROMERO
17. DAVID CORREIA DOS ANJOS
60. RICHARD JOHN HECK
18. DIANA FERREIRA DE FREITAS
61. ROBSON HORTENCIO DE LIMA
19. DIANA SIGNOR DEON
62. RONNY SOBREIRA BARBOSA
20. DIVINO LEVI MIGUEL
63. SAMMY SIDNEY ROCHA MATIAS
21. DJAIL SANTOS
64. SAULO JONAS BORGES COSTA
22. FLÁVIO ADRIANO MARQUES
65. SEBASTIANA MAELY SARAIVA
23. FRANCISCO DE ASSIS BEZERRA LEITE
66. SILVIO ROMERO DE MELO FERREIRA
24. GLAILSON BARRETO SILVA
67. SUELI RODRIGUES
25. GRACE BUNGENSTAB ALVES
68. VALDEVAN ROSENDO DOS SANTOS
26. GRAZIELLA DE ANDRADE CARVALHO PEREIRA
69. VALDOMIRO SEVERINO DE SOUZA JUNIOR
27. HENRIQUE ANTUNES DE SOUZA
70. YGOR JACQUES
28. HENRIQUE JESUS DE SOUZA
71. YURI JACQUES AGRA BEZERRA DA SILVA
29. IVANDRO DE FRANÇA DA SILVA
30. JEAN CHEYSON BARROS DOS SANTOS
31. JEANE CRUZ PORTELA
32.
33.
JEFFERSON LUAN DE ARAÚJO REGIS
JOSÉ COELHO DE ARAUJO FILHO
Associe-se e fortaleça a Ciência do Solo no
34. JOSÉ JOÃO LELIS LEAL DE SOUZA Nordeste!
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NRNE

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