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Embriologia | Victoria C.

Branco

No início da 4ª semana, o intestino primitivo está fechado em sua extremidade cranial pela membrana orofaríngea e em sua extremidade
caudal, pela membrana cloacal. O endoderma do intestino primitivo dá origem à maior parte do epitélio e das glândulas do sistema
digestório – o epitélio nas extremidades cranial e caudal do TGI é derivado do ESTOMODEU e do PROCTODEU, respectivamente.

DESENVOLVIMENTODO ESÔFAGO MESENTÉRIOS DO ESTÔMAGO

O esôfago desenvolve-se a partir do intestino anterior. • Mesogástrio dorsal primitivo: mesentério pelo qual o
Inicialmente é curto, mas logo se alonga e alcança seu estômago fica suspenso na parede dorsal da cavidade
comprimento relativo ao final da 7ª semana – o epitélio prolifera abdominal. Antes da rotação está no plano mediano, mas
e obstrui parcialmente seu lúmen, mas a recanalização ocorre ao depois é levado para a esquerda.
final da 8ª semana. ∟ Seu mesênquima desenvolve fendas isoladas que
∟ Atresia esofágica: pode resultar de falha na coalescem para formar a bolsa omental (grande recesso
recanalização ou por desvio do septo traqueoesofágico da cavidade peritoneal que se localiza entre o estômago
para uma direção posterior (separação incompleta do e a parede abdominal posterior), que facilita os
esôfago do tubo laringotraqueal). Feto não consegue movimentos do estômago.
deglutir líquido amniótico = poli-hidrâmnio. ∟ À medida que o estômago aumenta, a bolsa se expande
• Epitélio e glândulas: endoderma do intestino anterior. e uma parte forma o omento maior (suspenso sobre os
• Músculo estriado: mesênquima dos 4º e 6º arcos faríngeos. intestinos).
• Músculo liso (terço inferior): mesênquima esplâncnico. • Mesogástrio ventral primitivo: adere o estômago e o
duodeno ao fígado e à parede abdominal ventral.
DESENVOLVIMENTO DO ESTÔMAGO
DESENVOLVIMENTO DO DUODENO
Durante a 4ª semana, uma dilatação orientada no plano mediano
do intestino anterior indica o local do estômago primitivo, que No início da 4ª semana, o duodeno começa a se desenvolver a
aumenta e se alarga ventrodorsalmente. Sua borda dorsal cresce partir da parte caudal do intestino anterior e da parte cranial do
mais rapidamente que a borda ventral, demarcando a curvatura intestino médio. O duodeno em desenvolvimento se alonga,
maior do estômago. formando uma alça em forma de C que se projeta ventralmente e
que, com a rotação do estômago, gira para a direita e se posiciona
• Defeitos congênitos no estômago são INCOMUNS, com
retroperinealmente.
exceção da estenose pilórica hipertrófica congênita –
hipertrofia dos músculos na região do piloro = estenose grave
do canal pilórico = obstrução à passagem de alimento =
distensão do estômago = vômito em jato. Alívio cirúrgico.

ROTAÇÃO DO ESTÔMAGO

Com o aumento do estômago, ele gira 90 graus no sentido


horário, gerando os seguintes efeitos:
• A borda ventral (curvatura menor) se move para a direita e a
borda dorsal (curvatura maior) se move para a esquerda.
• A região cranial se move para a esquerda e levemente para • É suprido por arcos das artérias celíaca e mesentérica
baixo, e sua região caudal se movimenta para a direita e para superior.
cima (antes estavam no plano mediano). • A proliferação de células epiteliais geralmente obstrui sua luz,
• Seu eixo maior fica transversal (oblíquo) ao eixo maior do mas até o final da 8ª semana está recanalizada.
corpo. ∟ Se não ocorrer, o que é incomum, gera a atresia
• Assume a posição final. duodenal = poli-hidrâmnio = vômitos quase sempre
biliosos logo após o nascimento. Diagnóstico: “sinal da
dupla-bolha” causado pelo estômago repleto de gases e
o duodeno proximal.
∟ Se a canalização ocorrer de maneira incompleta, gera a
estenose duodenal – o conteúdo estomacal é expelido
por vômitos.
Embriologia | Victoria C. Branco
DESENVOLVIMENTO DO FÍGADO E DO S. BILIAR OBS.: a veia umbilical passa na borda livre do ligamento falciforme
no seu caminho do cordão umbilical até o fígado.
O fígado, a vesícula biliar
e o sistema de ductos
biliares surgem a partir
da porção caudal do
intestino anterior no
início da 4ª semana como
o divertículo hepático. O
divertículo se estende
para o septo transverso,
aumenta de tamanho e
se divide em duas camadas enquanto cresce entre as camadas do DESENVOLVIMENTO DO PÂNCREAS
mesogástrio ventral. O pâncreas se desenvolve entre as camadas de ambos os
mesentérios a partir dos brotos pancreáticos dorsal e ventral,
• A porção cranial (maior) do divertículo é o primórdio do
que surgem da porção caudal do intestino anterior.
fígado – as células endodérmicas em proliferações dão
origem a cordões entrelaçados de hepatócitos e ao epitélio • Broto pancreático dorsal: aparece primeiro e dá origem à
que reveste a parte intra-hepática do sistema biliar. maior parte do pâncreas.
∟ Os cordões hepáticos se anastomosam ao redor dos
espaços revestidos por endotélio, o primórdio dos
sinusoides hepáticos.
∟ Tecido fibrosos e hematopoético e as células de Kupffer
são derivados do mesênquima do septo transverso.
• A porção caudal (menor) do divertículo se torna a vesícula
• Broto pancreático ventral: desenvolve-se próximo à entrada
biliar; a haste forma o ducto cístico.
do ducto biliar no duodeno. Após a rotação do duodeno,
∟ A haste que conecta os ductos hepáticos e cístico ao
funde-se ao broto pancreático dorsal = anastomose dos
duodeno se transforma no ducto biliar, que adere ao
ductos.
lado ventral da alça duodenal. Com o crescimento e a
∟ Forma o processo uncinado e parte da cabeça do
rotação do duodeno, a entrada do ducto biliar é levada
pâncreas.
para o lado dorsal do duodeno.

O fígado cresce rapidamente e preenche grande parte da cavidade


abdominal. A hematopoese começa durante a 6ª semana e a
formação da bile, durante a 12ª semana. A entrada de bile no
duodeno através do ducto biliar após a 13ª semana confere ao
mecônio (primeira evacuação do RN) uma cor verde-escuro. O ducto pancreático se forma a partir do ducto do broto ventral e
da parte distal do ducto do broto dorsal. Em 9% das pessoas, a
• Atresia biliar extra-hepática – Inicialmente, o sistema biliar
parte proximal do ducto do broto dorsal persiste com um ducto
encontra-se obstruído por células epiteliais. Caso não ocorra
pancreático acessório que se abre na papila duodenal menor.
a canalização (raro), há atresia biliar extra-hepática = icterícia
ao nascimento. Alívio cirúrgico. OBS.: a secreção de insulina começa aproximadamente na 10ª
semana (células beta são as últimas a se formarem).
MESENTÉRIO VENTRAL
• Pâncreas anular: anomalia congênita incomum. Resulta do
Dá origem ao (1) pequeno omento, que vai do fígado até a crescimento de um broto ventral bífido ao redor do duodeno,
curvatura menor do estômago (ligamento hepatogástrico) e do cujas partes depois se fusionam com o broto dorsal,
fígado até o duodeno (ligamento hepatoduodenal); ao (2) formando um anel pancreático. Pode causar obstrução
ligamento falciforme, que se estende do fígado para a parede duodenal logo após o nascimento, mas pode não ser
abdominal ventral, e ao (3) peritônio visceral do fígado. diagnosticado até a idade adulta.
Embriologia | Victoria C. Branco
DESENVOLVIMENTO DO BAÇO RETORNO DO INTESTINO MÉDIO PARA O ABDOME

Proveniente do intestino anterior. O baço começa a se Durante a 10ª semana, com o aumento da cavidade abdominal e
desenvolver durante a 5ª semana, sendo derivado de uma massa a redução da hérnia fisiológica, os intestinos retornam ao abdome
de células mesenquimais localizadas entre as camadas do – o delgado retorna primeiro, passando posteriormente à AMS e
mesogástrio dorsal. No feto, é lobulado, mas os lóbulos ocupando a parte central do abdome. Quando o grosso retorna,
normalmente desaparecem antes do nascimento. ele sofre uma rotação adicional de 180 graus em sentido anti-
horário, o que faz com que ele ocupe o lado direito do abdome. O
INTESTINO MÉDIO cólon ascendente torna-se reconhecível conforme a parede
abdominal posterior se alonga.
Dá origem ao intestino delgado (incluindo o duodeno distal à
abertura do ducto biliar), ao ceco, apêndice, colo ascendente e a
metade direita a dois terços do colo transverso.
• Derivados são irrigados pela a. mesentérica superior.
• A alça fica suspensa na parede abdominal dorsal por um
mesentério alongado.
• Na 6ª semana, o intestino médio se alonga e forma uma alça
ventral em forma de U que se projeta para a parte proximal
do cordão umbilical, formando a herniação umbilical
fisiológica – forma-se pois não há espaço suficiente para o
intestino médio crescer tão rapidamente! Depois retorna.

CLÍNICA: Não rotação do intestino


médio – condição comum que faz com
que a porção caudal da alça do intestino
• A alça do intestino médio se comunica com a vesícula
médio retorne para o abdome primeiro.
umbilical através do ducto onfaloentérico estreito (pedículo
O intestino delgado se posiciona, então,
vitelínico) até a 10ª semana.
no lado direito do abdome, e o intestino
∟ A porção cranial da alça cresce rapidamente e forma a
grosso inteiro se localiza no lado
maior parte do intestino médio.
esquerdo. Pacientes geralmente
∟ A porção caudal sofre poucas mudanças, exceto pelo
assintomáticos, mas se ocorrer vólvulo (torção), a AMS pode ser
desenvolvimento do divertículo cecal (primórdio do ceco
obstruída = infarto e gangrena do intestino.
e do apêndice).
FIXAÇÃO DOS INTESTINOS
ROTAÇÃO DA ALÇA DO INTESTINO MÉDIO
• O mesentério do colo ascendente se fusiona com o peritônio
Quando a alça do intestino parietal na parede abdominal posterior.
médio está no cordão
• O mesentério do colo ascendente se torna retroperitoneal.
umbilical, ela gira 90 graus no
• Os outros derivados da alça do intestino médio retêm seus
sentido anti-horário ao redor
mesentérios.
do eixo da AMS, o que leva a
porção cranial (intestino CECO E APÊNDICE
delgado) do intestino médio
para a direita, e a porção Na 6ª semana, uma protuberância na borda antimesentérica da
caudal (intestino grosso) para porção caudal da alça do intestino médio surge como o primórdio
a esquerda. Durante a rotação, a porção cranial se alonga e forma do ceco e do apêndice.
as alças intestinais (como os primórdios do jejuno e íleo). • O apêndice surge como um pequeno divertículo do ceco.
• Após o nascimento, o crescimento desigual das paredes do
• Situs inversus abdominal: rotação ocorre em sentido horário
ceco faz com que o apêndice entre no seu lado medial.
(raro). Duodeno se posiciona anteriormente à AMS e o colo
• Sentido retrocecal.
transverso se encontra posterior à AMS. O cólon transverso
pode ser obstruído pela pressão da AMS.
Embriologia | Victoria C. Branco
INTESTINO POSTERIOR • CLÍNICA: ATRESIA ANAL – fina camada separa o canal anal do
exterior por falha na perfuração da membrana anal ao final
Dá origem do terço esquerdo à metade do colo transverso, ao da 8ª semana.
colo descendente, ao colo sigmoide, ao reto, à parte superior do
canal anal, ao epitélio da bexiga urinária e à maior parte da CANAL ANAL
uretra.
• Dois terços superiores: originados do intestino posterior
• Derivados são alimentados pela AMI. (supridos principalmente pela a. retal superior, continuação
• O colo descendente se torna retroperitoneal após a fusão do da AMS).
mesentério com o peritônio na parede abdominal posterior
• Terço inferior: origina-se a partir do proctedeu (suprido
esquerda. O mesentério do colo sigmoide é mantido.
principalmente pelas aa. retais inferiores, ramos da pudenda
interna).
CLOACA
• As outras camadas da parede do canal anal são derivadas do
mesênquima esplâncnico.
• Uma linha pectínea indica a junção do epitélio derivado do
ectoderma da fosseta anal e do endoderma do intestino
posterior.
• Linha anocutânea: local de transição do epitélio anal de
células colunares para escamosas estratfificadas. No ânus, o
epitélio é queratinizado e contínuo com a pele ao redor do
ânus.
• A parte inferior do canal anal é inervada pelo nervo retal
inferior e é sensível à dor, temperatura, tato e pressão.

CLÍNICA

Gastrosquise – vísceras se projetam


na cavidade amniótica e são
banhadas pelo líquido amniótico.
Resulta do fechamento incompleto
das pregas laterais durante a 4ª
semana.

A cloaca é a parte terminal expandida do intestino posterior. É Onfalocele congênita:


uma câmara revestida por endoderma que está em contato com persistência da
a superfície ectodérmica da membrana cloacal. A membrana herniação do conteúdo
cloacal é composta de endoderma da cloaca e de ectoderme do abdominal na parte
proctodeu. proximal do cordão
umbilical. Difere da
DIVISÃO DA CLOACA gastrosquise por conta
A cloaca é separada em partes dorsal e ventral pelo de o material estar
septourorretal, que se desenvolve no ângulo entre o alantoide e envolto por peritônio.
o intestino posterior. O septo cresce em direção à membrana
Divertículo ileal (de Meckel):
cloacal e vai desenvolvendo extensões que produzem
remanescente da porção proximal
invaginações das paredes laterais da cloaca, as quais crescem uma
do ducto onfaloentérico. Pode
em direção à outra e se fusionam, formando uma parede divisória
inflamar e causar sintomas que
que separa a cloaca em duas partes: o reto e a parte cranial do
simulam apendicite.
canal anal DORSALMENTE e o seio urogenital VENTRALMENTE.

• 7ª semana: septo já se fusionou com a membrana cloacal, Megacólon congênito/doença de Hirschsprung: uma parte do
dividindo-a em uma membrana anal dorsal menor e uma cólon está dilatada pela ausência de células ganglionares
membrana urogenital ventral maior. autônomas no plexo mioentérico DISTAL ao segmento dilatado do
• Proliferações mesenquimais produzem elevações do cólon – falha de peristaltismo impede o movimento do conteúdo
ectoderma de superfície ao redor da membrana anal – essa intestinal. O megacólon propriamente dito tem o número normal
membrana logo se encontra posicionada no fundo da de células ganglionares.
depressão ectodérmica (proctodeu).
• A membrana anal geralmente se rompe ao final da 8ª
semana.

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