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RELATO DE PESQUISA
de Infecção Hospitalar dos Ser viços de
Serviços
Saúde pela Vigilância Sanitária:
Vigilância
diagnóstico de situação
.
Salud de las mujeres.
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Rev Esc Enferm USP Inspeção dosRecebido:
Programas25/05/2004
de Controle
2006; 40(1):64-70. de Infecção Aprovado:
Hospitalar... 17/10/2004
www.ee.usp.br/reeusp/ Giunta APN, Lacerda RA.
INTRODUÇÃO mente, com qualidade e resolução. Há que se considerar
uma realidade legal a ser institucionalizada em uma realidade
Pela Portaria nº. 2.616/98 do Ministério da Saúde, infec- social composta de diferentes tipos de hospitais e suas ca-
ção hospitalar (IH) é conceituada como racterísticas de assistência e de recursos disponíveis.
...aquela adquirida após a admissão do paciente e que se A responsabilidade de acompanhamento dos PCIH nos
manifeste durante a internação ou após a alta, quando hospitais é da Vigilância Sanitária (VS), a qual não somente
puder ser relacionada com a internação ou procedimen- inspeciona como também deve prestar cooperação técnica
tos hospitalares(1). aos hospitais, orientando para o exato cumprimento e apli-
cação das diretrizes estabelecidas pela legislação sanitária
As IH são eventos adversos decorrentes da hospitali- pertinente. Em 2000, a Agência Nacional de Vigilância Sani-
zação do paciente e que se tornaram importante foco de tária (ANVISA) elaborou a Resolução de Diretoria Colegiada
atenção nas últimas décadas, embora desde a Antiguidade (RDC) nº. 48(8), que é um roteiro de inspeção específico do
existiam relatos sobre a disseminação de doença epidêmica PCIH.
dentro do hospital(2).
Este roteiro, no entanto, não oferece subsídios para aná-
A evolução da IH está relacionada com o desenvolvi- lise de como os processos são realizados e sua necessida-
mento social e o seu modo próprio de compreensão do de. Além disto, ele não considera a especificidade das insti-
processo saúde-doença, assim como a geração de modelos tuições, o preparo dos agentes avaliadores e ainda não se
tecno-assistenciais para sua assistência(3). Atualmente, a conhece se e como ele está sendo aplicado, assim como não
IH é potencialmente determinada pela evolução tecnológica contempla a análise das dificuldades encontradas e a avali-
dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos, ação de sua eficácia.
demandados pelo modelo clínico de assistência. Acrescen-
te-se a isto, os medicamentos imunossupressivos, prin- A avaliação de práticas de CIH exige a atualização
cipalmente os antibióticos, a maior expectativa de vida e o dos agentes que a executam de forma que lhes permitam
aumento de demanda por assistência a pacientes não apenas compilar as situações encontradas, mas tam-
imunodeprimidos e com doenças crônicos-degenerativas, bém realizar um diagnóstico que subsidie a atuação e a
que aumentam o risco das IH resistentes. orientação para uma maior qualificação dessas práticas,
caso se acredite que seu papel não é apenas o de mera
A problemática das IH, portanto, deve ampliar-se à pers- “fiscalização” (3).
pectiva de sua determinação social, ou seja, suas práticas
de prevenção e controle não dependem apenas de ações Apesar de ser vantajosa a existência de um roteiro sis-
focais, no âmbito restrito de um Programa de Controle de tematizado de inspeção especificamente direcionado para
IH (PCIH). Dependem também e, fundamentalmente, de práticas de CIH, ele, porém, não é suficiente se não puder
ações ampliadas e relacionadas às formas com que as polí- ser contextualizado ao conhecimento atualizado de sua ade-
ticas de saúde são introduzidas e distribuídas, à qualidade quação e necessidade.
da assistência em geral, à reformulação ou inovação de
modelos tecno-assistenciais e à elaboração de estratégias Outra questão reside no fato de que a inspeção ade-
de avaliação(3). quada desses programas depende da realidade local, de-
terminada tanto pelos tipos de hospitais, quanto pelo po-
O controle de IH no Brasil é regido por ações gover- der político de sua área de abrangência. Este último pode
namentais desde 1983(4), mas somente em 1997 a existên- interferir direta ou indiretamente na organização e na
cia de um PCIH em todos os hospitais do país passou a capacitação de seus órgãos competentes, entre eles, a VS,
ser obrigatória pela Lei nº. 9.431/97(5). Em 1998 foi editada bem como pode confrontar interesses eleitoreiros com a
a Portaria vigente, nº. 2.616(1), que recomenda o processo autoridade destes órgãos para impor autuações, regulari-
de trabalho a ser realizado pelo PCIH, devendo o hospital zações e interdições(6).
constituir Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH), órgão deliberativo de ações de controle e pre- Este estudo, portanto, buscou reconhecer se e como a
venção de IH e o Serviço de Controle de IH (SCIH), órgão Vigilância Sanitária está inspecionando os PCIH dos hospi-
executivo, ou seja, encarregado de realizar as ações deli- tais. Para tanto, os objetivos foram: a) caracterizar os servi-
beradas pelo primeiro. ços de VS quanto a seus agentes, processo de trabalho e
áreas de abrangência de atuação; b) identificar os fatores
É reconhecido, no entanto, que muitos hospitais têm que interferem nas atividades de VS junto aos hospitais;
dificuldades ou não operacionalizam o PCIH conforme as c) reconhecer como são realizadas as inspeções de VS dos
recomendações governamentais(6-7). Legislações instituídas, PCIH dos hospitais; d) discutir a adequação das inspeções
portanto, não são garantias de sua execução e, principal- dos PCIH pela VS.
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METODOLOGIA acupuntura. Os serviços e comissões de CIH não foram cita-
dos. Todos estes serviços são inspecionados por todos os
Trata-se de um estudo comparativo de diagnóstico de agentes dos Grupos Técnicos I e II, independente da sua
situação, incluindo as etapas de reconhecimento, descri- formação profissional.
ção, análise e diagnóstico das ações de inspeção de PCIH
As causas atribuídas às dificuldades para execução das
de hospitais pelos Grupos Técnicos de Vigilância Sanitária
atividades foram distintas. O diretor do Grupo I referiu pro-
de dois Diretórios Regionais de Saúde (DIR) da Secretaria
blemas de demandas de denúncias, de avaliação em conjun-
Estadual de Saúde de São Paulo, identificados como Grupos
to com o Conselho Regional de Medicina, de ações do po-
Técnicos I e II, sendo que o primeiro abrange 12 municípios
der judiciário e a dinâmica de atuação da Direção Regional
e o segundo 27 municípios. O recurso comparativo entre
de Saúde. O do Grupo II referiu insuficiência de recursos
dois Grupos teve o propósito de reconhecer se as ações de
humanos, assunção de ações que seriam do município, in-
vigilância sanitária apresentam ou não características seme-
suficiência de equipamentos para desenvolvimento do tra-
lhantes, de acordo com o DIR em que se inserem e, deste
balho, desmotivação por ausência de plano de carreira e
modo, identificar a possibilidade de interferências locais,
salários, insuficiência de investimento em treinamento e
como capacitação técnica, infra-estrutura, poder político,
capacitação técnica.
entre outras.
A população total de acesso era de 28 agentes de VS, Para o diretor do grupo I, as ações de inspeção sanitá-
sendo que 16 concordaram em participar do estudo, consti- ria ocorrem, principalmente, em decorrência de notifica-
tuindo a população final. As categorias profissionais dos ções de irregularidades, solicitações de órgãos oficiais ou,
agentes do Grupo I foram compostas de 02 mesmo, dos próprios estabelecimentos ou serviços de saú-
dentistas, 03 enfermeiros, 02 engenheiros, de. Já, para o do Grupo II predominam as
01 nutricionista e 01 médico veterinário; e circunstâncias referentes à solicitação, pe-
As causas atribuídas los estabelecimentos, para autorização de
as do Grupo II foram 03 engenheiros, 01 en- às dificuldades para
fermeiro, 01 médico, 01 administrador, 01 exe- funcionamento. Ambos os Grupos, apesar
execução das de realizarem planejamento de suas ações,
cutivo público. Os dados foram colhidos por
atividades foram não estabelecem periodicidade de inspe-
meio de preenchimento individual de ques-
tionários, sendo um específico para os dois
distintas: problemas de ção, estando dependente de relatos de
diretores dos Grupos e outro para todos os demandas de inter-corrências ou solicitações. Apenas o
agentes. denúncias, de Grupo I possui cadastro atualizado dos
avaliação em conjunto estabelecimentos e serviços sob seu raio
O estudo foi aprovado pelo Comitê de com o CRM, de ações de abrangência.
Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem do poder judiciário...
da Universidade de São Paulo. Sobre a representação das categorias
profissionais para compor a VS, o diretor do
Grupo I considera a não necessidade de incorporação de
RESULTADOS
outras categorias, mas o do Grupo II julga que seria adequa-
do a inclusão de advogado, digitador e analista de sistemas.
Os dados são apresentados por itens temáticos, de for-
ma descritiva ou em tabelas. 2) Dados obtidos junto aos agentes dos Grupos Técnicos
1) Dados obtidos junto aos diretores dos Grupos Técnicos É relativamente longa a experiência dos participantes
deste estudo em ações de VS, uma vez que a maioria deles
Segundo os diretores dos Grupos, as ações de VS abran- (68,75%) atua nesta área há mais de 5 anos, tanto os do
gem diversos tipos de estabelecimentos e serviços, cujos Grupo I quanto do II. Somente um agente, do Grupo I, atua
produtos ou ações repercutem direta ou indiretamente na há menos de 1 ano.
saúde humana, e não apenas aqueles que realizam assistên-
cia direta à saúde. No que se refere à produção de serviços Observa-se, na tabela 1, que os principais aspectos que
de saúde, são incluídos: atendimentos hospitalares, ativida- dificultam a atuação desses agentes concentram-se na insu-
des de urgência e emergência, consultórios e ambulatórios ficiência de pessoal (23,07%), baixa ou falta de motivação
médicos e odontológicos, serviços de vacinação e imuniza- (21,53%) e capacitação técnica insuficiente (18,46%). Essa
ção humana, laboratórios, serviços de hemodiálise, diálise, seqüência é a mesma, para ambos os Grupos. Outras dificul-
remoção, raio-X, radioterapia, banco de leite materno, de dades também foram citadas pela maioria dos agentes do
sangue, enfermagem, nutrição, psicologia, fisioterapia, tera- Grupo I: vagas não preenchidas, absenteísmo e alta
pia ocupacional, fonoaudiologia, terapias alternativas, rotatividade.
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Tabela 1 - Distribuição dos agentes da vigilância sanitária dos Grupos I e II, segundo as dificuldades para
atuação dos agentes da vigilância sanitária - São Paulo, 2002
Di fi c u l d a d e s I II
II To t a l
To t a l 38
38 1 0 0 ,0 14
14 1 0 0 ,0 65
65 1 0 0 ,0
Vários foram os instrumentos citados para a inspeção de inspeção em Serviços de Diálise. Já, a RSS 169 refere-se à
serviços de saúde (Tabela 2), principalmente roteiros em geral Norma Técnica para Funcionamento de Estabelecimentos
(23,68%), legislações (21,05%) e manuais (15,78%). As RDC, que realizam procedimentos médico-cirúrgicos. Os agentes
citadas por 05 agentes, também constituem roteiros para que citaram as RDC e a RSS específicas pertencem apenas
setores específicos. A RDC 48 refere-se à Inspeção do Pro- ao Grupo I, os quais também utilizavam mais instrumentos
grama de Controle de Infecção Hospitalar e a RDC 35, à de uma forma geral, do que os do Grupo II.
Tabela 2 – Distribuição dos agentes da vigilância sanitária dos Grupos I e II, segundo os instrumentos que
utilizam para as ações de inspeção de serviços de saúde - São Paulo, 2002
I n str u me n to s p a r a i n sp e ç ã o I II
II To t a l
To t a l 24
24 1 0 0 ,0 14
14 1 0 0 ,0 38
38 1 0 0 ,0
A maioria dos agentes realizou treinamento para aplicar Já, quando se buscou reconhecer o conhecimento des-
instrumentos de inspeção em serviços de saúde (62,50%), tes agentes sobre a temática específica de IH, a tabela 3 nos
principalmente os do Grupo I (77,77%). No entanto, mais da mostra que todos relataram possuir algum conhecimento,
metade (56,25%) respondeu que não realizou treinamento sendo que metade deles (50,0%) o considerava suficiente e
específico para inspecionar os PCIH, sendo a proporção menor proporção, insuficiente (37,5%). Proporcionalmente,
maior entre os do Grupo II (71,42%) do que do Grupo I mais agentes do grupo I consideravam esse conhecimento
(55,55%). suficiente (55,55%) do que os do grupo II (42,85%). Os do
Grupo II, que responderam ao item outros, referiram estar em
fase de treinamento.
Tabela 3 - Distribuição dos agentes da vigilância sanitária dos Grupos I e II, segundo seu conhecimento
específico sobre infecção hospitalar - São Paulo, 2002
C o n h e cime n to I II
II To t a l
I nexistente - - - - - -
Suficiente 5 55,55 3 42,85 8 50,00
I nsuficiente 4 44,44 2 28,57 6 37,50
Outro - - 2 28,57 2 12,50
To t a l 9 1 0 0 ,0 7 1 0 0 ,0 16
16 1 0 0 ,0
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Entretanto, apesar de todos os agentes terem algum peção não está relacionada diretamente com a formação
conhecimento sobre IH, constatou-se que a inspeção profissional, ainda que a maioria dos que o inspe-cionava
dos PCIH não era realizada pela maioria deles (56,2%), fosse da área da saúde, principalmente enfermeiros. Des-
principalmente os do grupo I (66,6%), em relação ao Gru- taque-se, porém, na tabela 4, a alta representatividade
po II (57,14%). E, ao que parece, a realização desta ins- dos engenheiros.
Tabela 4 – Distribuição da realização de inspeção dos PCIH pelos agentes da vigilância sanitária dos Grupos
I e II, segundo a sua categoria profissional - São Paulo, 2002
I n sp e ç ã o d e P C I H
Sim Não To t a l
C a te g o r i a p r o fi ssi o n a l
To t a l 7 1 0 0 ,0 9 1 0 0 ,0 16
16 1 0 0 ,0
Observa-se, na tabela 5, que a maior freqüência, entre os relatórios da instituição de saúde (16,66%) e a legislação
agentes, relaciona-se àqueles que não responderam sobre específica (16,66%). Os agentes do Grupo I citaram mais
os recursos utilizados para a inspeção de PCIH (38,8%). Em recursos do que os do Grupo II, o qual não citou a RDC 48,
seguida, foram citados a RDC 48 (22,22%), os programas e apenas referindo-se a legislação específica.
Tabela 5 – Distribuição dos agentes da vigilância sanitária dos Grupos I e II, segundo os instrumentos que
utilizam para inspeção específica do PCIH - São Paulo, 2002
T i p o I n str u me n to I II
II To t a l
To t a l 11
11 1 0 0 ,0 7 1 0 0 ,0 18
18 1 0 0 ,0
Quando foram questionados sobre as características da controle de bens de consumo e de prestação de serviços
inspeção do PCIH, a estrutura física foi o aspecto mais que se relacionem direta e indiretamente com a saúde.
freqüentemente citado (17,85%). Em seguida, empatados,
As atividades de VS abrangem, portanto, um amplo cam-
vieram a CCIH, incluindo suas atas e estatísticas (10,71%) e
po de atuação e os serviços de saúde constituem parte de
os procedimentos, normas e rotinas (10,71%). Parcela signi-
seu raio de abrangência. Mesmo assim, não se restringem
ficativa (14,28%) não respondeu. Houve apenas duas men-
aos hospitais, incluindo clínicas, consultórios, ambulatóri-
ções ao preenchimento da RDC 48, todas do Grupo I.
os, dentre outros, o que dificulta a capacitação técnica de
A quantidade e a variedade de aspectos sob inspeção
seus agentes para inúmeras áreas específicas. Deste modo,
foram significativamente maiores no Grupo I (18) do que no
a construção e a utilização de instrumentos de inspeção
Grupo II (6).
para setores ou serviços específicos não são suficientes e a
avaliação da qualidade pode e deve ser auxiliada por asses-
DISCUSSÃO sorias de especialistas da área.
Originalmente, as ações de VS eram de responsabilidade
Segundo a Lei Orgânica de Saúde, n. 8.080/90(9), as ações
estadual. Após a institucionalização do SUS, há municípios
de VS objetivam
que já realizam gestão plena de saúde e outros ainda não.
...eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde, com inter- Isto resulta que, enquanto o processo de municipalização
venção nos problemas sanitários decorrentes do meio não estiver totalmente concretizado no Estado, as inspe-
ambiente, da produção e circulação de bens e de presta- ções sanitárias não serão similares, estando algumas ainda
ção de serviços de interesse da saúde, que envolvam o subordinadas às Regionais Estaduais de Saúde, repercutin-
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do necessariamente no grau de entendimento de repasse de O conhecimento atual sobre IH, no entanto, não valoriza
recursos e de atividades entre estado e municípios e, por- tanto a estrutura física e, sim, os recursos humanos e mate-
tanto, na organização e preparo técnico da VS de cada regi- riais, assim como as condições em que os procedimentos de
onal. Esta situação é, inclusive, indicada pelo diretor do Grupo intervenção são realizados. A própria RDC 50/2001 da
I deste estudo, ao responder que executa ações que seriam ANVISA, que dispõe sobre regulamento técnico para pla-
dos municípios. nejamento, programação, elaboração e avaliação de proje-
tos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde reco-
Além disto, a amplitude de atuação demanda um sistema nhece, no seu item 6, que
de informações do universo de estabelecimentos, equipes
de trabalho e procedimentos realizados, fato inclusive con- ...o controle de IH está fortemente dependente de condu-
siderado estratégico pela Secretaria Estadual de Saúde de tas, as soluções arquitetônicas passam a admitir possibi-
São Paulo, em 2000(10), para o planejamento de ações de VS. lidades tradicionalmente a elas vedadas, por contribuírem
apenas parcialmente ao combate desta moléstia(11).
Mas, ao que parece, este projeto ainda não está totalmente
desenvolvido. Acrescente-se que o roteiro específico para inspeção do
PCIH (RDC 48/2000), também da ANVISA, não foi citado
Tais situações podem explicar, em parte, as diferenças
pela metade dos agentes e a inspeção do PCIH não era rea-
encontradas entre os Grupos Técnicos estudados, sejam
lizada pela maioria deles.
sobre as condições ou situações que demandam suas ações,
seja quanto às dificuldades para executá-las. E, conforme Diante de tais situações não é possível considerar como
visto, no Grupo I predominam interferências externas e no satisfatória a capacitação técnica dos agentes, ainda que os
Grupo II a infra-estrutura do próprio serviço. De outro modo, mesmos tenham julgado esta capacitação apenas como o
as ações de VS, em ambos os Grupos, ao desenvolverem-se terceiro aspecto dificultador de suas ações (18,46%), depois
predominantemente após solicitações de au- de pessoal insuficiente (23,07%) e baixa ou
torização para funcionamento dos estabele- falta de motivação profissional (21,53%).
cimentos e de denúncias de irregularidades, Há exigência antes de
associadas à não existência de periodicida- conhecimento e Pelos resultados é possível inferir tam-
de de inspeção previamente definida, permi- experiência em VS de bém que o Grupo I está mais qualificado do
tem concluir que as mesmas não são emi- uma forma geral, do que o Grupo II para as atividades de VS de
nentemente preventivas. que a categoria uma forma geral.
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...não se trata mais de avaliar um procedimento ou uma De outro modo e, reconhecendo que vários são os
técnica isoladamente, tal como nos estudos tradicionais níveis interferentes com a avaliação do controle de
de eficácia, mas um conjunto complexo de procedimentos IH, há necessidade de articular a organização do PCIH
materiais e imateriais, realizados por diferentes agentes com a qualidade dos processos de assistência e seus
articulados e hierarquizados de diversas formas que res-
resultados.
pondem a distintos tipos e articulações de necessidades(12).
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70
Rev Esc Enferm USP Correspondência:
Inspeção
Adrianados
do Patrocinio
Programas Nunes
de Controle
Giunta
2006; 40(1):64-70. Rua Pe. Timóteo Correa
de Infecção
de Toledo,
Hospitalar...
171 - Vl. São José
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