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O HERÓI E

O FORA-DA-LEI
Como construir marcas extraordinárias
usando o poder dos arquétipos
Margaret Mark Caroi S. Pearson

eioamínwMjem
Sumário

Prcíaao.dcAlex.Kroll______________________________________________ 7

Agradeci mentos___________________________________________________ 11

Parte I. Os ativos fu ndamen tais: Um sistema


para administrar o significado IS

Capítulo 1. Ativos primordiais — um stuema pira administrar


o significado________________________________ 21

Capítulo 2. Arquétipos: A pulsaçào das marcas duradouras 33

Capítulo 3.0 marketing pós-modemo 47

Parte 2.0 anseio paio paraíso; Inocente,


Explorador, Sábio 5?

Capítulo 4.0 Inocente 63

Capítulo 5. O Explorador 79

Capítulo 6.0 Sábio_______________________________________________ 9$

Parte 3. Os que deixam sua marca no mundo:


Herói, Fora-da-lei, Mago____________________ 109

Capítulo 7. O Herói 113

Capítulo 8. O Fora-da-lei 131

Capítulo 9. O Mago 147


Parte 4. Nenhum homem (ou mulher)^ uma ilha:
Cara Comum, Amante, Bobo da Corte 167

Capitulo 10. O Cara Comum 171

Capítulo 11.0 Amante 185

Capítulo 12. O Bobo da Corte 203

Parte 5. Os que dão estrutura ao mundo:


Prestativo. Criador, Governante 213

Capítulo 13. O Prestativo 217

Capítulo 14. O Criador 235

Capítulo 15. O Governante 251

Parte 6.0 encontro da direção correta: Como


posicionar uma marca arquetíplca 269

Capítulo 16. A alcachofra: Como revelar o significado


arquclípico de ma marca 271

Capitulo 17. Contando a história da sua marca 291

Capitulo 18. O caso da March oí Dimes: Lições de um saguão 309

Parte 7, Águas mais profundas 319

Capítulo 19 -Que a Força esteja com você


*: Capturando a
essência da categoria 321

Capítulo 20. O "verdadeiro McCoy


* >: Congruência
de marca e organizacional 347

Capitulo 21. Deixando um legado: A ética do marketing arquctípico 359


Tilulu do LXtgttul TAr Hrro and tAr CAillaw

Cupynght C 2031 Mjrjjartt M


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roerva a peupix-dade literária dtM traduzo

Irr^eesso mi romüs ojkims grúfiíoí


> f AC A £> f A
FARTE

Os ativos fundamentais
Um sistema para administrar
A- K t 5 t\ l ' ■
o significado

As MARCAS FAZtM FARTE da nossa vida cotidiara lanio quanto o nosso

local dc trabalho c os aspectos do nosso bairro.


Marcas grandes e duradouras tomam-se ícones — nâo só das empre­
sas, mas das culturas como um todo. Coca-Cola nío é só o logotipo mais re­
conhecido do mundo, como lambem se tomou un símbolo do modo de vi­
da ocidental.
Hoje cm dia. a marca nâo e só um repositório de características funcio­
nais, mas também de significado e valor. No entanto, se queremos identifi-_
car c alavancar elicazmcnte os elementos csscmUI». ou -fmuUvcfo^/as.
nossas marcas, precisamos nos tomar fluentes na linguagem visual e verbal
dos arquétipos.
Os criadores das grandes marcas intuíram essa verdade simples. Por
exemplo, as supcrestrelas da industria cinematográfica e do entretenimen­
to. e os agentes que administram suas carreiras, compreendem que sua po­
pularidade contínua nâo depende simplesmente da qualidade nu do suces­
so dos filmes que estrelam ou da sua visibilidade. Em vez disso, depende dc
criarem, alimentarem e continuamcnte reinterprctarcm uma identidade ou
"significado" unico e irresistível. Madonna vive mudando seu estilo dc vida
14 O MÍRÔI t O rOMADAl.il Oi »lrrp« fvnd*zrxnL»l« 17

c seu cone de cabelo, mas continua sempre a Rebelde extravagante. Dentro vérsia gerada pela decisão de devolvê-lo à guarda do pai. e portanto â Cuba
e fora das leias. Jack Nicholson ê o Fora-da-lei intratável. Meg Kyan e Tom casirista. refletia o conflito básico entre os valores que damos ã liberdade de
Banks passam a cada papel que representam o espirito do Inocente ingênuo. oportunidades, por um lado, e â família c relacionamentos, por outro? Aca­
Essas identidades não sâo apenas consistentes — elís também são irre­ so essa controvérsia enfatizava a necessidade dc abandonarmos o ideário da
sistíveis. Ame-os ou os odeie, você nâo consegue deixar de notá-los. Na ver­ Gucira Fria e entrarmos em uma nova era? Sem dúvida, foi isso tudo e
dade. não conseguimos escapar de sentir fascínio por quem eles sâo e pelo cada um desses fatores possui seu terna arquetípico.
que eles implicitamente representam. Nesta era de audiência declinante das Comentando a natureza simbólica das notícias. Paul Richard, repórter
redes e de 300 canais a cabo, o julgamento de O.J. Simpson teve continua- do Washington Post. liga a história de Bián ao padrão mítico do Herói arque-
mente uma audiência recorde. Foi por causa do sensacionaltsmo do crime? típico: “O pequeno Moisés na cesnnh» de juncos e o pequeno Elián na sua
Pelo glamour de Beverly Hills? Pelas entrelinhas raciais? jangada estão relacionados em certo grau. A expectativa era de que eles se
Embora cada um desses fatores tenha desempenhado seu papel na ho­ afogassem Esses nascimentos aquátios parecem uma bênção; esses partos,
ra <le atrair a atenção do público, foi o significado arquetípico mais profun­ milagrosos A criança se tornará homtm."' Assim. Elián carrega a promessa
do que fez as pessoas acompanharem o julgamento pela tevê, dia apos dia. de redenção cultural Richard observa que “Moisés (...) viveu muitos anos
Indcpcndciilcinciiic da realidade de sua personalidade <iu de sua vida. Simp- prósperos no Egito ames dc partir para a Terra Prometida
,
* implicitamente
son. enquanto “marca
,
* foi visto como o guerreiro feroz, capaz de derrotar levantando uma questão Elián estava ali para resgatar os norte-americanos
qualquer adversário As revelações de abuso e violência que vieram â tona do materialismo ou para resgatar os cubanos de Castro e da pobreza?
durante seu julgamento levaram muitas pessoas a conJuir que de, apesar Novas histórias que realmcntc prendem a atenção do público sempre
de ter sido inocentado, realmcntc assassinou a esposa. Em vez de uma figu­ tem uma qualidade arqueiipica, observa Richard. “Quando surgir a próxi­
ra popular, ele se tornou objeto de desprezo e ignomínia. Assim, a historia ma grande história, tudo» nós seremos novamente apanhados
,
* diz ele. por­
de O.J. Simpson se encaixa no molde clássico do Oteloshakespeariano — o que cada história que tão misieríosamente nos prende é alguma versão do
guerreiro derrubado pelo poder destrutivo do própriociüme doentio. “Era uma vez...
* — uma fábula mítica representada na vida real.
Em sua vida e em sua morte. Diana Spencer dominou o mundo. O po­ Um exemplo da tese de Richard c a maneira pela qual a mídia cobriu a
der de sua história talvez faça lembrar o apelo magnético da fabula de Cin-
trágica morte de John-John Kennedy. Inserindo esse acontecimento no con­
dcrela — a moça bela, porém vulnerável, que se casa com o príncipe mas é texto das mortes de outros belos e carismáticos homens da família Kennedy
obrigada a viver sob o olhar sempre vigilante da sogra repressora. Mesmo de­
(Joseph. John e Robcrt). os noticiáncs evocavam crenças humanas arcaicas
pois do divórcio, a história de Diana evoluiu no padrão Romeu-e-Julieta. ela
e profundamente enraizadas: a crença na maldição da família Kennedy e a
desafia as convenções sociais por seu amor c encontra a morte prematura crença no poder redentor do sacnfícid do homem mais perfeito de seu tem­
O caso eh princesa Diana também mostra como as pessoas acham irre­
po Pouco importa que nos tempos antigos o belo jovem fosse sacrificado
sistível a evolução de uma história arquctipica. O qte acontece quando a
cm um ritual religioso, nâo que morresse em um trágico acidente ou fosse
moça se casa com o Príncipe Encantado, mas nâo vive feliz para todo o sem­
assassinado, algum ponto da, psique numana ainda é tocado por essa histó­
pre? Ela se divorcia, faz ajustes e se transforma em unia mulher que ama a
ria de martírio.
humanidade, motivando as pessoas a mostrarem seu imor por ela.
Do mesmo modo, os filmes campeões de bilheteria quase sempre têm
Embora tenha muitos capítulos, estilos e reificaçòes. a história de Du­
estruturas arquetípicas. Os seis últimos ganhadores do Oscar de ‘melhor fil­
na gira sempre cm torno do tema da princesa-amante Caso essa unidade ar-
me' exemplificam as histórias arque ipicas clássicas. Forreít Cump. o conta­
quctipica essencial estivesse ausente. Diana nâo teria capturado nossa aten­
dor dc hiUórias (1994), o poder do Tclo Sábio; Corafào Valente (1995), o He­
ção tão profundamente. rói triunfante; O paciente inglês (1996) e Tifanlc (1997). o Amante
A história de Ehan González. o menino cubanc que se tornou objeto
transformador. Shakeipeare apatxorado (1998). o Criador (escritor) que
dc uma luta internacional pelo poder, foi mam.h<te durante semanas Em
um mundo cheio de órfãos, por que o dilema desse garoto nos afetou tan­
to’ Foi por causa do drama de ter ficado sozinho em alto-mar, depois de sua I Paul RKharú. -fcx New» I he «wh <u> mg Power
* ( The Wuóuxxton Pcu 26 & lbnj
mâe e outros companheiros de fuga lerem se afogado? Foi porque a contro­ de 2000). p Cl
transforma o MJÍritnrniu d«> amor perdido cm arte cnobrccedora; e. por fim.
/k‘/«C<t zbii< ir<<i/m (1‘HW). ■> ( ara Comum como ser rústico (urna crise de
simbolizaram a remoção do pecado ou da vergonha, concedendo pureza e va­
meia-idade ern que a noite escura da alma leva â experiência da iluminação
lor a |x.-s$oa que seguiu o ritual O sabonete Ivory inspirou-se nessa íonte
tnisiK.i — c inlchzmcnic, no caso. □ morte) Ivory nâo c um produio que apenas limpa; ele trabalha a ideia de renovação,
As vezes o rutriiiM». o diretor e o produtor simplesmente intuem o ar­
pureza e inocência. Ao longo dos anos, o Ivory mudou os detalhes de suas
quétipo Outras vezes, eles sâo guiados |x»r um sistema consciente. A >ínc
campanha publicitárias. atualizou as referências culturais utilizadas e diver­
*
Guerra rms rstre/us (Mur Uirrs) — hei» corno os bonecos de açâo e otiiios sificou as faixas etárias e étnicas das pessoas mostradas tomando banho. No
produtos derivados — tem um aplo eterno Ao lazer esses filmes. George
entanto, a mensagem central de seus anúncios — seu significado — perma­
I mas foi guiado |>elo livro rkjoscph Campbell. O liem rnd/aces (lh< /fe­ neceu profundamente simbólica e constante. A marca Ivory teve sucesso por­
ri» hirli a Ihoiiuirid I ui cs;, que cslurça tod.is os ricosc evo»ativos estágios que seu significado ê coerente com a essência profunda da punficaçâo.
da jornada rio I ferot A popularidade de cada i pisodioderiva em grande par­ As marcas que capturam o significado essencial de sua categoria — e
te do talento de l.mas para elaborar conscientemente toda a serie a fim de comunicam esw mensagem de maneira sutil e refinada — dominam o mer­
transmitir figuras arqiienpn as <• enredos niflkos. cado, assim como a princesa Diana. O J. Simpson. Clinton/Lewinsky e F.liân
i >s produio-. alracm — e pn nd» m — a imssa alciiçio pelo mesmo mo­ dominaram as ondas eletromagnéticas.
tor» clcs<»>r|Hiiift<ani uni arquciqwi l'oi exemplo, aitases dos tempos o$ ri­
mais <!•■ pinilir ac .lo sigmlit aram ruais r|«» que simples Irrqwza lisica lambem
capítulo

Ativos primordiais —
um sistema para
administrar o significado

A PUtt-lCIDADe SEMPRE u$ai imagens arquetípicaspara vender produtos. O


boneco Jolly Grccn Giant e. afinal de contas, o ãrq jêtipo do Honrem Verde,
figuia associada com a fertilidade e a abundância. Õ uso judicioso desse sim­
bolismo alimenta uma marca-ltder Os ícones da marca vào ainda mais lon­
ge Nâo se traia apenas de usar imagens e stmbolcs arquetipteos para posi­
cionar a mmea. mas sim que. ao longo do tempo, a própria marca assume
significação simbólica O sabonete Ivoty nâo está meramente associado â
inocência; cie a personifica. As tnâcs banham os filhos com I vory nâo só pa-
22 O HEKOl t O FOMA-OA-Utl___________________________________________ Aclyp» prl«nor<i»K — um w»<«w pvi »dmin«»ir»r o Zl

ca m.intê-los livres dc germes c produtos quimxos irritantes, mas cambem Por que nâo
* Em parte porque a necessidade dc administrar o signifi­
porque Ivory ‘parece pcrlcilo" para os preciosos bebês e criancinhas 1’ara cado era um fenômeno relativamcnte novo. Se fosse o único produtor de re­
entender o poder desse fenómeno. prc< isamos compreender a natureza dos frigerantes da cidade (como ocorreria, digamos, em Hangzhou, China), vo-
símbolos Alguns símbolo» líni profundos significado
* frligKW ou espiri­ ■' cê poderia çomercializar o produto com base em suas características e
| A benefícios E k livesse a única lavanderia a seco do bairro, voce anunciaria
tuais No Cristianismo, por exemplo, o batismo 0 o riiual ele purifitaçâd. Ch>
quanto a comunhão oferece um ritual para a aceitação da graça divina. Cla­ ' ’ o estabelecimcnio com Baie nos mínuM de sua conveniência, emtalajifm
ro que seria sacrílego explorar o simbolismo especifico de qualquer crença ecológica e limpeza eficaz.
a liin dc vender produtos Porem, os símbolos dc renovação, lanto sagrados Porém, nas categorias cada vez mais superlotadas e altamcnce compe­
quanto seculares, existem cm um coritinuum unificado por um arquciipo. titivas. os casos em que a diferenciação da marca estaria baseada nas dife­
í nilxHa o poder consciente dc um símbolo religioso seja exireinamenie renças perceptíveis do produto tomaram-se raros ou inexistentes. E mesmo
maior, o poder inconsciente dc um arquciipo, mesmo num contexto total- cpiando uma errjiresa consegue criar um produto Icgitimamentc diferencia­
inriiic se। iil.it, c imciiMi. do. este é logo imitado c copiado pelos concorrentes.
Jâ cm 1W). Paul lUwkcn identificou uma mudança profunda na im­
portância relativa do "corpo" do produto.diante do "significado" do produ-
O significado como ativo dc uma marca * to. que exigia uma mudança correspondente no nosso modelo"empresarial.
Togo depois, a Wall Street fez uma descoberta dc igual valor: fmpresas in-
Compreender e alavancar o significado arquciipico (que ames era ape­
nas um iniercssanie “algo mais" pura o marketing eficaz) e hoje um pre-rc- leiras estavam sendo adquiridas simplesmente para o comprador obter suas
quisito. PorquC? marcas poderosas — embora outras marcas oferecessem produtos quase
Houve um tempo cm que criar, consiruir c comercializar marcas com
idênticos Alge novo estava acontecendo. Centenas dc milhões de dolarcc
eram gastos na compra de certas marcas, porque elas possuíam um atribu­
sucesso nâo exigia inspiração infinita nem capital ilimitado A demanda ex­
cedia a oferta e os mercados eram hem distintos De modo geral, os produ­ to ou propricdtde que nâo era plenamente compreendido e que pegava os
tos eram fisicamente diferentes uns dos outros r as marcas se construíam so­ compradores tatalmenie desprevenidos.
bre aquelas diferenças. A verdade t que aqiirlasjQ&ças liqhjtnLSttornado íer&mcnalmenit v>-
Jiosas nâo apenas devido às suas características ou benefícios inovadores,
Durante séculos, assim foram as coisas no mundo do marketing ou das
vendas Mas quando a concorrência alcançou ceno patamar, cada empresa — mas lambem pqrquc ejsas propriedades unham se traduzido em significa­
dos poderosos. Elas valiam milhões d^dófíres porque tinham ganhado um
seja iim.1 inuliiiMcmiial dos refrigerantes de cola ou a lavanderia do bairro —
enfrentou um novo dcs.tlio Nâo importava a eficácia dos sistemas de produ­ tipo de significado que era universal, maior do que a vida, icônico.
ção c distribuição dc refrigerantes nem a tecnologia dos processos dc lavar a Quer os «ovos gerentes o percebessem conscientemente ou nâo, eles se
seco, seus tom orientes pmharn iinitâ-losouosieproduzir Nessas circunstân­ •t tornaram os ojministradoresdc marcas arque típicas Os significados que es-
* inarçâs.cajjcgaoi sâqçcrn^ativosjyjinordiaisqüc precisam ser admínis-’
ja
cias, as cniprvxts descobriram que so unham dois grandes caminhos estraté­
gicos a seguir, reduzir seus preços ou dar significado aos seus produtos. irados com unto cuidado como os investimentos financeiros E a maioria
Claro que a c ii.tçâo r administração de significado eia a opção mais de­ das empresas nào estava preparada para isso, porque, pura e simplesmente,
nâo havia sisiema disponível para guiâ-las.
sejável
É irônico, porem, com o significado lôrnando-se (ator crítico, que ate A Levis.antes uma forte e nítida marca do Explorador, pulou do Fora-
hoje nenhum sistema tenha sido desenvolvido para a compreensão ou admi­ । da-lei para o Herói, voltou ao Explorador, depois passou para o Cara Co­
nistração do sjgnil ii ado das marcas — sejam produtos, scrv iços, empresas ou mum. mudou para o Bobo da Corte — e ocasionalmente apresentou uma
causas Iivcinos sistemas dc fabricação para produzir produtos, sistemas de colcha de reialhos de identidades arquetíplcas. tudo ao mesmo tempo, re-
desenvolvimento da mensagem para criar plataformas eleitorais e sistemas | fletindo o gerenciamento confuso da marca-mâe e das submarcas (501. Fi-
cmpicsariais para comercializar produtos. mas nenhum sistema para admi­ I ve Pocket, Wide Leg). A participação de mercado da empresa caiu na mes-
nistrar aquilo que tinha se tornado o ativo mais alavancâvçl dc uma marca. ma proporção.
24 O HtRÓI « O fORAPALEI
Atw> prlmordüó — um wMwvM pTA 9 ----- 25

A Nike, uma daí maiores marcas do Herói de lodos os tempos, (ornou- As impressões, diretanienic encadeadas na nossa psique, influenciam
os atributos que amamos na arte, na literatura, nas grandes religiões do
se estereotipada e insegura naquele papel. Demonstrou publcamentc sua
perda dc autoconfiança, trocando de agencias de publicidade t gerentes de mundo c riu diicrna. Tlatio chamava essas impressões, ou matrizes psíqui-
produto —quando a verdadeira soluçáu estava cm aproveitar mm mais pro­ . cas. de "formas elementares
* e as via como as estruturas tdeativas que for­
fundidade e segurança a Jornada do Herói, inesgotável (onte de inspiração mavam um gabarito para a realidade material. O psiquiatra C.G. Jung as cha­
para <> arquétipo do Herói. mou dc "arquétipos"
Essas empresas tinham nas mâos alguns dos mais sofisticados c talen­ No mundo do marketing, nunca tivemos conceito ou vocabulário
tosos profissionais de marketing; no entanto, perderam o rurro. O resulta­ comparável Mas as marcas estào. na verdade, entre as mais vibrantes ex­
do fui o caos, tal como teria acontecido se um diretor financeiro tentasse ad­ pressões contemporâneas desses padrões profundos e permanentes -Seja
ministrar o dinheiro na base da tentativa e erro, sem qualquer sistema dc por meio da intenção consciente ou por um acaso feliz, as marcas — sejam
administração financeira e contábil candidatos políticos, superestrelas. produtos ou empresas — alcançam di­
A administração do significado é relevante nâo apenas pra o mundo ferenciação e relevância profundas c duradouras quando incorporam um
comercial' dc maneira um pouco mais sutil, as organizações sem fins lucra­ significado arquetípico atemporal. Com efeito, as marcas mais bem-sucedi­
tivos c os candidatos políticos enfrentam o mesmo dilema que ac ibamos d * das sempre fizeram isso.
descrever. Enquanto uma causa especifica parece única para seus defenso­ Esse fenômeno nâo significa "adotar
* um significado para uma campa­
res. os potenciais patrocinadores sâo bombardeados com pedidos de dinhei­ nha publicitária efémera, mas sim (ornar-se uma expressão coerente e dura­
ro. Para decidir qual boa causa apoiar, eles se baseiam principalmente na doura do significado — tornar-se csscncialmente um leone da marca Pro­
sensação dc que o significado de uma organização específica é o mais ade­ dutos poderosos já fizeram isso: Nike. Coca-Cola, Ralpti Lauren, Marlboro,
quado aos seus valores. Do mesmo modo, a maioria dos candidatos de um Disney e Ivory. para mencionar alguns poucos. E lambem alguns filmes —
mesmo partido tem, pelo menos, posições semelhantes diante dos proble­ Guerra nas estrelas. E I. E o vento levou — e algumas personalidades — La­
mas Para serem indicados, eles precisam se ligar aos eleitorrs de uma ma­ dy Diana. Jackie Onassis.Joe DiMaggio.John Wayne. As marcas que alcan­
neira que ofereça a promessa dc Significado apropriada àquelt momento es­ çaram esse staius, por feliz acaso ou devido a um instinto fabulosamente ta­
pecífico. John f- Kennedy fez isso com eficácia, invocando Câmelot. lentoso. capturaram c prenderam a imaginação do público. E. se foram
O significado dc uma marra é seu ativo rnais precioso e insubstituível sábios, seus profissionais dc marketing mantiveram o curso simplesmente
Quer você esteja vendendo um refrigerante ou um candidat-i a presidente, porque aquilo que suas marcas vieram a representar está tào bem e tâo coe-
aquilo que sua marca significa para as pessoas serâ tào absdutamente im­ rentemenie sintonizado com o público
portante quanto sua função — talvez até mais — porque é seu significado Mas depender do génio só vai até certo ponto e só dura certo (empo.
que nos diz que * cstc me parece perfeito- ou * é este que eu quero-. O sig­ Mais cedo ou mais tarde, as marcas sofrem os efeitos de nâo haver uma ciên-
nificado fala .10 sentimento. ou lado intuitivo, do público; cra uma afinida­ ;• cia voltada ao desenvolvimento c administração do significado. Quando os
de emocional, permitindo que os argumentos mais racionais sejam ouvidos. ' negócios se normalizam, nâo existe bússola para guiar as escolhas inevitá-
'1 veis ou os pontos decisivos que determinam o futuro dc uma marca. Como
A Estrela Polar do marketing acompanhar n ritmo dos tempos sem perder a essência da marca? Como so­
fazer marketing sem utn sistema de administração do sgmficado é co­ breviver aos ferozes aiaqucs da concorrência? Come atrair muluplus JC5-
mo os antigos navegadores, em mares traiçoeiros, tentando rncontrar porto • mentos — talvez inúmeras culturas — sem violar o "coração
* do significa­
seguro numa noite sem estrelas O que eles precisavam era de uma bússola do da marca? Como vender responsavelmente e sem exercer uma influência
permanente e confiável — um ponto ftxo que iluminasse tanto o lugar on­ negativa sobre o cliente ou os tempos?
de estavam quanto o lugar aonde ttnhatn de ir Para os profisuonats de mar­ Na ausência dessa ciência ou bússola, desperdiçam-se valiosíssimos e
keting. a teoria dos arquétipos prxicrá agir como essa bússola. insubstituíveis repositórios dc goodwill1 — os significados das marcas
Escrevemos este livro. O Lrról e u jara-da-lei. pata comunicar o primei­ 7 ...... —-------
ro sistema — do mundo — para administração do significado E como mui­ 2 E
*prr«4o<utMib«l um itnviMingivrldi empresa, que kvitmconii o »ib« jjrrgnloi
tas ótimas idéias, ele vai beber cm fontes antiquíssimas e eternas. S um rxfXiocoirx> resultado da cbemela. tcpuiaçlo. «c. |N.T.|
Ativar primortfah — úMum p»r» «flnUniUrw o nfntfkaflo 27

*ssidadc < ritua,c d.i imensa oportunidade.<lc cri-


I Mc livro trata d.i titi > te sistema, voei ngo precisará se colocar numa situação vulncrlvcl jura im­
ar. pic%civ.ni. protegei c aliinrniar o Mgmhcado das iii.mas jk»i melo da ala- plementar estratégias de rnarvas arquetlpiras em sua empresa Em vez dis­
sain .igcm de suas pioliindas laucs arquciipic.is. so. voei seguirá um método comprovado < teoricamente válido para estabe­
O primeiro passo c dignificai o processo de acmíniMraçâo do signifi­ lecer uma identidade de marca para seu produto, seu serviço, sua empresa
cado I loje cm dia. mesmo nas empresas inais sofisi cadas. esse processo (o — ou até você mesmo. Ao estudar a base arqucitpica das marcas de suces­
mais critico de lodos! e deixado ao deus-dará. ao capricho de um diretor de so, descobrimos que os 12 arquétipos principais se expressavam frequente­
arte ou redator publh ii.nio. ou aos resultados fortuitos de uma sessão qual­ mente na atividade comercial dos dias de hoje.
quer de bininuorm "Devemos ser amistosos e acecciveis ou distam lados e A f igura 1.1 dá o nome de cada um dos arquétipos, descreve sua fun­
*
glatnouroMvs? ção básica na vida das pessoas e oferece um exemplo de marca-líder ou (co­
Vemos, com muita frequência, que o desenv ilvmicnto do elemento ne de marca com aquela identidade.
mais critico daquilo que nossa marca representa C un processo descuidado
ou Iríiolo Assim, não t de surpreender que as equipes de marketing vivam Os arquétipos e tuu funçSoe básicas nx vida das pessoM ^^írJi
reinventando a marca c. ao faze-lo. diluam ou desuuam seu significado Arquétipo_____ Ajuda as pessoas a ' - ■ Exemplo de marcas
I se revemos este livro para compartilhar nossa experiênc ia no discn- Crtir ilpnort t
Oudor
voh imenio c utilização da primeira abordagem sísicmaiica à administração Presaúvo •
do significado Nossa colaboração começou com a pcrcepç.io de que a psi­ Gownarv.» o controk ’ Amertean Exprnt ;
cologia arquetipica poderia oferecer uma fome mais substantiva para a ciên­ $• dwrVwn tr -1A Ml-uruta ><i
cia da enaçao de publicidade eficaz. O que encontramos foi unta verdade C*r» Comum'
Anwxa Uji
Frorwn b*n *» **
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muito mais pioluml.l a psicologia arqucitpica ajuda-no» a cotnprrcndcr o
Uerca r . < A<- iNft» XÇ./. 3'ÍWÍWSXKüid
sigiitlicado inlnnscro da- categorias de produto e.consequentemente, aju­ „ . Quebrar m rapas
da os profissionais de marketing a enar identidades de marca duradouras Influir m trandorneflo
que estabelecem o domínio do mercado, evocam nos consumidores o signi­ l<xx«nU
ficado c o fixam, e inspiram a lealdade do consumidor — tudo isso, poten-
■ OpraM BootOA
ci.altneiue. de maneira socialmcnie responsável
Estas n.to $âo simplesmente ideias utópicas Carol Pearson passou 30
anos desenvoheitdit um referencial psicológico. solido e confiável, que in­
tegra i um eitos do sistema |ai< ologu <» pinguiano c de outros sistemas, aplt- O eto perdido: Arquétipos e motivaçlo do cliente
cando-os .1 liderança c ao desenvolvimento organizacional, bem conto ao Os arquétipos proporcionam o elo perdido entre a motivação do clien­
markciing Marg.irci Mark tem uma cxperiCncia equivalente, aplicando pro­ te e as vendas do produio Quase todos os profissionais de marketing sabem
fundas percepções c constructos humanos ao maiketmg com clientes pri­ que precisam compreender as motivações humanas. Até hoje, porem, nâo
meiro na Young óz Rubicani e agora cm sua própru empresa de consultoria. estava disponível qualquer método científico que lhes permitisse ligar as
Como resultado, temos certeza de que as abordagens descritas nestas pagi­ mais profundas motivações dos consumidores com o significado do produ­
nas produziram resultados coerentes, sem efeitos colaterais negativos Nos­ to O elo perdido é a compreensão dos arquétipos JJm produto com identi­
so sistema p exerceu influência sobre as abordagens mercadológicas de mar- dade arqucitpica fala dirclamente âmatnz psíquica profunda dentro do con­
cas-hderes nos ramos de serviços financeiros, refrigerantes, vestuário, sumidor, ativando um senso de reconhecimento e signili» a«l<r
salgadinho». prugtam.iç.ui de teví. marketing institucional c muitos outros, As imagens arquetipicas sugerem a realização dos mais básicos desejos
c ja definiu ou redefiniu a identidade das marcas de empresas comerciais e e motivações humanos, liberando emoções c anseios profundos. Por que vo­
de nrganiz.içõc» sem lins lucrativos ei acha que nosso coraçáo dá pulos, nossa garganta se aperta ou começamos
O MStema que desenvolvemos. e que compartilhamos com você neste a chorar cm certos momentos? Um atleta olímpico ganhando a medalha de
luro. oferece uma estrutura paru descrever os arcncnpos. a qual já propor­ ouro (Herói); um senhor negro jâ idoso, na platéia, que se levanta instinti-
cionou poderosa» identidades para inúmeras man as vitoriosas. Usando es­ vamente quando seu neto é chamado ao palco para receber o diploma uni-
Al-roí prlmorduii — ur» intam» para o fgnifktdo 2ê
2S O HCRÔI f O FORA-OA-Ltl

versilário (comercial do United Negro College Fund— o triunfo do Cara desejos quando compramos seguros, permanecemos num emprego por cau­
Comum); a mâe recebendo o recém-nascido nos braços pela pnmetra vez sa do plano de aposentadoria ou tomamos nossas vitaminas religiosamente.
Nu entanto, por mais que muitas pessoas queiram segurança, a maioria de­
(comercial daJohnson 6r Johnson): cada uma dessas pecas publicitárias íoi
beber na mesma fonte. la» lambem e estimulada p»-la ambição r pelo desejo de exercer a mestria. Se
Uma explicação psicológica para essas respostasé: ou estamos incons» quisermos o êxtase da realização, precisamos correr riscos. Por isso, moti­
(ientcnienic revivendo momentos críticos da nossa piópria vtda (por exem­ vados pelo desejo dc deixar nossas pegadas no mundo, adotamos uma po­
sição controversa, abrimos uma empresa ou tentamos outros empreendi­
plo. a cena da separação no final dc E. I evoca nossas experiências de per­
da) ou estamos prevendo lais momentos. Essas imagens c cenas arquctipicas mentos novos e arriscados.
A vida exige uma negociação constante ao longo desses pólos. Quan­
conudam as pessoas a realizarem suas necessidades e motivações humanas
do sacrificamos uma ponta de um desses eixos contínuos, em favor da ou­
básicas (nos exemplos anteriores, rcspcctivatncnte. liberdade e identidade,
tra ponta, existe na nossa psique a teidéncia de procurar o equilíbrio. E<sa
realização c intimidade) Em um mundo ideal, o produto desempenha uma
(unção mediadora entre uma necessidade c sua satisfação é iinu das razões das crises da meia-idade, as pessoas saíram da posição de
equilíbrio e agora alguma parte delas,que foi reprimida por tempo demasia-
damente longo, busca cxpiessâo.
Um sistema que integra a teoria rrotivacional Nós duas utilizamos cm nossos irabalhos anteriores uma grade como a
e a teoria arquetipica da Figura I 2, com dois eixos c quatro desejos básicos surgindo independen-
temente no pensamento dc uma pessoa Ambas descobrimos que nossos clien­
A teoria motivacional pode ser condensada cm um foco sobre os qua­
tro principais impulsos humanos, posicionados ao longo de dots eixos. Per- tes compreendiam instintivamenie c significado e a importância da grade,
icnça/Grupo versus Indcpendência/Auto-realizaçâo c Estabilidade/Contro- porque cies haviam experimentado aquela tensão na própria vida A grade
le versus Rtsco/Mesiria. (Ver Figuras 1.2 e 1.3.) também proporcionou um rápido to.e dc diagnóstico para reconhecer a mo-
iivaçâo subjacente da tmssãoorganizacional dos nossos clientes e a identida­
de dc sua marca. Quando nós duas hiciamos nosso trabalho conjunto, alte­
ramos um pouco os termos a fim dc usarmos a mesma linguagem, mas as
categorias lundamcmais que utihzávrmos eram e continuam a ser as mesmas *
Embora ambas víssemos cada um dos desejos já descritos como um for­
te fator moiivacional para a maioria das pessoas dos dias de hoje, inúmeros
teorizadores associam alguns dos desejos a diferentes estágios de desenvol­
vimento. Em seus modos de pensar, algumas motivações sâo mais funda­
mentais que outras
Nossas categorias dc motivação estão mais próximas dos estágios defi­
nidos por Abrahatn Maslow (Motivetton and Personalily. 1954). que nos in­
Em irrmns do dia-a-dia humano, isso signilica que a maioria dc nós fluenciou a ambas pmfundamentc Maslow é mais conhecido por sua defi­
quer muito ser apreciada e pertencer a um grupo. Ao mesmo tempo, umlxm nição da 'hierarquia d< ncccsswhdrs-, que descreve como os desejos
queremos ser individualizados e seguir nosso próprio caminho. Embora am­ humanos evoluem ã medida que a; necessidades mais primárias são satis­
bos esses desejos sejam pulsõcs humanas profundas e enraizadas, eles nos feitas A tabela da Figura I 3 resume as constatações dc Maslow. bem como
impelem cm direções opostas. O desejo dc pertencer nos faz queter agradar a> dos trés outros grandes psicólogos motivacionais do século XX. Eric
os outros c nos amoldar, pelo menos até certo grau O desejo dc individua­
ção nos (az passar algum tempo sozinhos e tomar decisões ou agir de uma
). (arai rearsot» utnbem cu.t trahallunilvcvm John Corlett num pequeno trabalho sobre o*
m.mcii.i que as |k*smus mais próximas a nós talvez iüo cximprrcnrlam
arquelii» nasorftiniraçv»' f P
** *"ou porosa mesma eiperiCntu O t>r Corleu havia ma­
Do mesmo modo. a maioria das pessoas tem uma necessidade profun­ peado .i.iiwuvAOcsta-KasJsiiirothscuXuiasoiRaiuaaeuMMn lambem ele ideniitlcou. in-
da de segurança c estabilidade. Lsscsdesejossâo satisfeitos pela rotina, con­ dcpenJenictnenlc. <"<' quano quadcanir» <vmo sendo os inais fundamentais. embora sua
forto c adesão ao que é testado e garantido. Estamos respondendo a esses ImKUígetn ívsse um po«<» diferente d* rv-ssa
Atiw» pdmonlial» — vm tlstema para lárnintHr», o U<nl6<ado 31

Erickson. que também influenciou nossa» idéias sobre o desejo humano,


identificou lemas de desenvolvimento no ciclo da vida, cuja resolução aju­
da as pessoas a formar as principais virtudes do caráter.’ Robert Kegan. no­
tável psicólogo educacional c professor de llarvard. desenvolveu urna teo­
ria do desenvolvimento da personalidade que equilibra a lormaçao do
significado c o desenvolvimento social. (Ver The Evolving Srlf. 1982 ) Ken
Wilber. o principal teórico no campo da psicologb transpessoal. identificou
os estágios do desenvolvimento da consciência à medida que a pessoa evo­
lui da orientação para o ego até as abordagens nais espirituais (iranspes-
soais) ao mundo A hgura I.} esboça essas teoria para benefício dos leito­
res interessados em ligar nossas categorias niotivacionais aos modelos de
desenvolvimento. (Quando o Estágio 1 está ausente da tabela em algum mo­
delo. é porque esse estágio focaliza demasiadamente as questóes fundamen­
tais da sobrevivência e. portanto, torna-se irrelevante para os comportamen­
tos do consumidor contemporâneo.)
Os arquétipos fazem a intermediação entre os produtos e a motivação
do consumidor porque oferecem uma experiência intangível do significado.
A Figura 1.4 identifica os arquétipos mais importantes para a sansíaçáo das
quatro necessidades humanas básicas.
Este livro. O herói t o fora-da-lei. mostra que a teoria arquetlpica pro­
porciona uma metodologia sólida c comprovada para estabelecer uma iden­
tidade de marca memorável e irresistível, capaz de suportar o teste do tem­
po. cruzar fronteiras de culturas c estilos de vida, além de se traduzir em
sucesso duradouro.

Motfvaçlo:
Arquétipos o rnòtívaçío •'*,
Estabilidade * Pertença & Rscoft z IndepeodMcla *
23
controle prazer mestria t aadsfaçlo J.
Criador Bobo da Cor te Herói tnoceme .
PresutNo Cara Comum Fora-da-U Expíoradcr íf
Covernanle Amante
• : ■
Medo do Ruína Gnancera. E>Ao. lacAclcla.
<0OSUTN<10< doença, cao» orfandade, Impotência, armadilhe. ■■
IncoocroUvet abandono, desamparo ser traído. }S.
ser «sarogs do vazio
Ajuda o SentirM separo Ter amor/ keaiirar-se Encontrar __
consumidor a- comunidade a tokidado ’*

fipjro 1.4

4 Ene trxkwn. CMdhooJ and S<xi«y (Nova York: O>ftxd University Press. 1963) c tden-
*yt : rcirfii andCmntNova York Norton. 1968).
Arquétipos
A pulsação das marcas duradouras

Na Grkia r Roma anucas. os arquitipos formavam a base dos mitos. nos


quais eram mostrados como deuses c deusas. Essas deidades, juntamente
com as dc outras culturas antigas, proporcionaram algumas das imagens es-
pcdltcas skmwiaUs aos 12 arqucU)
»
* deseritos ntstc livro Embora os ato­
res das histórias míticas de hoje sejam simples mortais, nâo deuses, os mes­
mos enredos nos fascinam Por que o presidente Clinton foi capaz de
sobreviver ao escândalo Lcwinsky? Pense no fascino dos amigos gregos pe-
Us histórias sobre as escapadas sexuais de Zeus (o Governante) e o solnmen-
lo de sua fiel esposa Hera Do mesmo nuxlo. as esczp.td.is de (littton, assim das muitas expressões uo aiquiupv . .
Cumo as de Zeus, abalaram o país sem provocar sua queda. Jâ que ele era prr- que aparece nas celebrações de colheitas no mundo todo.
i cbtdo como um pcesidentc eficaz, sua fidelidade a.» elciiorado era vista co­ Do mesmo modo, linhas de procutos inteiras podem ganhar um signi­
mo algo mais importante du que sua fidelidade coajugal ('que causa mais ficado qur lhes da poder simbólico sobre todos os aspectos da nossa vida
surpresa e que a popularidade de Ihliaiy Clintoii suhiu. pelo menos durante Um conviie indicando bloeft lie significa que a ocasião é importante. Cham­
-llguiii tempo, enquanto ela personificava Hera, a esposa fiel c traída panhe diz que estamos celebrando. A aliança de ouro costumava signifu ar
Qualquer que seja seu partido, os presidente
* u'ni succsmi quando sua casamento, mas uma bem-sucedida campanha publicitária ajudou a refor­
ideniid.idc de marca é < Iara e coerente O "vovô’ Fronald Rcag-m era ennlie
* çaras convenções sociais, de modo que agora "um diamante t para sempre".
eido como o “presidente lellon". por causa de sut capacidade de manter a Algumas linhas de produtos também são ótimas como presentes em cer­
popularidade npc»ar «los escândalos e controversas. for ser um aloi. Rea- tas circunstâncias, porque servem como acessórios na história em que alguém
gan conhecia a importância da marca. O mais provável e que ele tenha cons­ está entrando: uma caneta para o garoto em seu bar mitzvah. uma pasta 007
cientemente mantido sua identidade arquetipira do Prestativo, dando ao na formatura em administração, um carro para o jovem que atinge a maiori­
pais a constante reafumação de que tudo ficaria bem dade. um eletrodoméstico para os recém-casados. Comprar uma caixa de ta­
Por outro lado, muitos políticos nâo conseguem ser eleitos ou reelei­ cos semiprontos para uma enança indica que ela jâ tem competência para pre­
tos porque numa csialielcccrain uma identidade arqucitpica coerente. Por parar a própria comida, mesmo quando papai e mamãe estão ocupados.
exemplo, o presidente George Bush. homem de ampla experiência no go­
verno. de inicio se posicionou como o Govcrnznte Sábio Mas quando se
O efeito Pinóquio
candidatou a reeleição. ele vacilou entre o Guerreiro e o Órfâó e perdeu a
corrida pelo segundo mand.no Quando você entende o poder arquctipico potencial de seu produio. o
í.sscs mesmos padrões se aplicam às corporações. A Apple cometeu marketing se torna bem mais simples, mais gratificante e mais digno de res­
muitos graves erros empresariais, mas sempre acabou se salvando por cau­ peito. A administração do significado trata da venda de produtos, mas tam­
sa da grande lealdade de seus clientes, que terdem a amar a empresa cm bém da venda de significado com in.egridade Se as empresas cumprem suas
qualquer circunstàmia O Icina da Apple. "Pense diferente", seu logotipo da promessas de significado no mesmo grau em que oferecem produtos de qua­
maçã com uma dcniada (sugerindo a desobediência de Adão e Eva. que co­ lidade. elas ajudam os clientes de duas maneiras: (I) oferecendo um produ­
meram o fruto da Arvore do Conhecimento), sua reputação de empresa ino­ to ou serviço funcional: e (2) ajudando as pessoas a experimentar o signifi­
vadora — cada um desses fatores evoca o arquétipo do Fora-da-lei constru­ cado na vida cotidiana Se as empresas nâo fazem isso, é improvável que
tivo c independente Por outro lado, a identidade da Microsoft tornou-se atraiam lealdade à marca.
sinônimo da pnsonu de Bill (iates, o Governante Histérico que vagueia no Os arquétipos enobrecem a vida ao enfatizar seu significado. For exem­
lado sombrio do ditador e se arrisca a perder o apoio do publico. plo. uma pessoa se sente atraída poroutra sem vivenciar o significado, mas no
momento em que ambas se conectam à história de amor, o arquétipo do
Amante é evocado e o mundo se enche de vida. Do mesmo modo, você pode
O produto como acessório no drama arquctipico
se divertir numa viagem cruzando 0 país; mas se vocé faz essa viagem para en­
Qti.ilido os arquétipos são aiivos, eles ev.Mam seiiiimcillos profundos. contrar seu pai desaparecido hâ muitos anos (ou para descobrir a alma de seu
As verêsTesses sentimentos têm uma ressonância espiritual Nas nossas tra­ pais, para se autoconhecer ou em busca de fortuna), o arquétipo do Peregri­
dições religiosas. os alimentos Irequcniimcnu-gaiihain significação numinn- no ou Explorador é ativado e a experiência se torna plena de significado.
sa — por exemplo, o po«i" e u "vinho" da comunhão cristã ou o carneuo do Dc certo modo, oslgmíicado arquctipico é aquilo que torna as marcas
Sedei pxl.iuo l)ç unia m.incii.i Uic.i. mais «oiícliaii.i, os uliiivntos aiuniu- vivas para as pessoarpense em historias como Pmdquto ou lhe Velvcutn
l.iin significados culturais sunbolims Nos Im.kIos Unidos. por exemplo, é J Ruhhit. nas quais um objeto inamiudo ganha vida Os arquétipos sâu o pul-
uma ic.tdic.il’ servir peru no (criado do Dia ileAçâo de («raças Iam prática é í so dc uma marca, porque iransni tem um significado que laz os clientes se
1.1o influente que a presença ou auseneu do pciu determina a sensação do fe­ icI.KÍõi»ar«in com um produto ctinio se este íossç rcalmentc vivo. Os clien-
riado l in um nível mais profundo, o peru enquanto símbolo cultural e uma I les têm uma relação com ele. Os clientes se interessamporêle
J
* o HfHÔI t O FORAQA-Ltl Arque ripo» TT

pode melhorar simplesmente devido • sim crença no comprimido ou in> mé­


O
* apelido» expressam a sensaçlo de propriedade do público
sobre a» marcas arquetíplcas '• tl>- ■ - ■’•»- fr» dico Os pesquisadores precisam sc assegurar de que é a droga em teste que
| realmeme prixfus a cura Do mesmo modo, todos ni)s precisamos desenvol­
Budwvuw_____________ I . Bud
McOomM- • ••- ' I • MkMyD-» . >-‘í í-< • • ver produtos que realmcntc cumpram aquilo que prometem Mas na arena
Coca-Cnb -I ' Coke. 'i
;* *
í
^ . do significado, o efeito placebo f importante porque o próprio significado
Frdcol ) l Ex
*o > . pode ter um eleito positivo sobre o consumidor Por exemplo, a mulher
ATAT ■ M» 8
*1
cumpra um vestido nove e se sente linda, uma deusa O homem (ou mu­
*o
VoJSjw»t Be«d» j 0«x e. m>h recantonanUi BvxX
** l"° BraiA futca]
Mncxky Frí
*4 Chidccn :________ *
KFC ____________________________________ _
lher) que quer impressionar os outros puxa seu cartão American Express,
paga a conta c se sente uzi rei (ou rainha).
• (O «OTM dl nwx» lol-xi MAdo mvUdo p»r> KFC, «m pww r»cc- áacaMfairo "orw’e
*«W e»
nua». O Ms *OP« <on«ur-d<x > Depois dc uma experiência que contamina a psique ou viola as emo­
ções, muitas pessoas tornam um banho dc chuveiro— como se a água pu­
Uma exptcssâo da intimidade que se desenvolve entre os clientes e as desse literalmcnte limpar os sentimentos assim como limpa a sujeira Ou­
marcas arque típicas é a maneira pela qual o$ usuários tendem a dar apelidos
tras pessoas tomam uma ducha apenas para limpar as preocupações do dia.
a essas marcas, indicando tima relação especial, mais intima, tal como a que Embora sabendo, racionaltncnie. que a água limpa apenas a pele, o fato é
mantêm com amigos e familiares. A Coca-Cola vem sendo chamada de * Co-
que u significado emocional que elas dâo a essa prática transforma uma ex­
ke ha muno icmpo-, • Budwriser. dc "Budo McDonald’}, “Mickey D’$‘; o
periência comum em urr ritual que purifica o corpo c a alma. Sc elas tiverem
scdâ Volkswagen C 'o Fusca'; e assim por diante A verdadeira prupuda
incorporado na alma o sgnificado de renovação e pureza do sabonete Ivory,
dc' emocional da marca sc torna ambígua Os clientes afirmam seus ‘direi­
a marca assumirá uma função mediadora no processo, ajudando-as a se sen­
tos' ao significado das marcas com a luna que expressaram diante da Nova
tirem limpas em lermos espirituais e emocionais (bem como físicos)
Coca-Cola ou insistindo para que novas encenações de clássicos bem-ama­
Fsse e o efeito placebo em seu disfarce positivo. Em vez dc eliminar o
dos. como O imigiro de Oz ou Uma liisWiid de Natal, permaneçam absoluta-
efeito placebo, os profissionais dc marketing deveriam compreendê-lo para
mente fieis às versões originais Nâo mexam nisso, dizem eles com ioda» as
scr capazes dc usar o poder da crença nào so para vender produtos, mas tam-
pula» ras. Isso faz parte da minha vida.das nimlus lembrança», da minha his­
. Um para ajudar as pc^oas e assim (orçar a lealdade à marca O ponto im-
tória — e vocês nâo têm o direito de mudar uma virgula.
Alguns produtos tiveram sucesso fácil nesse aspecto porque um signi­ portante aqui êque o significado arquctipico. quer seja exper imentadp.çons-.
' ciente ou inconscienienente, aciona esse efeito placebo.
ficado clato. verificável c viável está intrínseco em sua função Harvard, Va­
ie. o MIT e outras universidades dc elite gcralmente vendem o Sabio. pio-
mctendo implicitamente que você,sc for estudar la. aprenderá mais, pensara
O significado arquctipico como condutor
com mais clareza e será mais inteligente do que antes Usando a linguagem
do desenvolvimento do produto
ar<|iu-iípn a. eis o que dizem essas escolas: você terá despertado o Sábio in­
terior nu momento em que sc formar aqui. ‘Significado
* intangível c rcvul Alavancar o significado arquctlpico nâo é apenas 'anexar
* indiscrimi-
lados tangíveis estão tâo interligados que você, para fracassar, precisara des­ nadainenlc um significado a um produto Embora seja verdade que o signi­
truir a capacidade de ensino da instituição — recusando-se a estudar, ficado arquelipico desempenha um papel na diferenciação das marcas co­
colando nas provas, etc. merciais. esse nâo é seu melhor uso nem seu uso mais elevado. As marcas
Talvez seja menos óbvio que produtos mais cotidianos (como deter­ que se tornam rcalmeric icOnicas sâo arquetípicas dos pês â cabeça.
gente de cozinha ou queijo) possam cumprir a piomessa arqucltpica de sua Talvez um dos melhores exemplos contemporâneos seja o scdâ Volks­
menagem Porém, cm todas as categorias, as marcas que ganharam vida pa­ wagen. u Fusca, tanto no começo de sua vida quanto em sua recncarnaçâo
ra os consumidores podem fazer coisas que você nâo esperaria de algum ob­ recente. A contracultura dos anos 60 gerou para sl mesma um interessante
jeto inanimado, 'sem coração'. dilema Os cairos, especialtncntc os salócs-sobrc-rodas da geração anterior,
Por que os pesquisadores da área medica sempre montam grupos de representavam tudo aquilo que os jovens dos anos 60 rejeitavam, excesso de
contrcle para sc proteger do 'eíeno placebo
* ’ Porque o estado do paciente conforto, exibição ostensiva de status e tremendo desperdício de cornbustí-
ArquAllyo» 3f
31__ O H t R 01 f o IO HA n
* iti

Hoje, vemos a multo bem sucedida versão reem amada do "Bug


* e sor­
rimos Nâo sabemos exaumente per quí. mas sentimos que scru lealmen-
le muno ter e dirigir um busca. Poralguma razão mexplicâvel. sentimo-nos
atraído» por sua» coies luminosas e arrojadas, semelhantes *
s dos brinque­
dos que«onheccnios no jurdiin-dc-iníância Enquanto consumidores, aqui­
lo que intuímos, mas nâo conseguimos expressar, é o prazer de ver que o
Inocente ressuscitou de maneira lAa inteligente.
Corno poderemos comparar essa expressão sincera de um arquétipo re­
levante. e em seu tempo altamenie diferenciado, com a expressão de um pro­
duto inadequado cobre o qual simplesmente se “fraudou" uma identidade
arqueiiptcal As respostas estão nos anais da história do marketing. As me­
lhores marcas arquei Ipicas sâo — c.n primeiro lugar c acima de tudo — pro­
dutos arquetlpkos, criados para atender e incorporar necessidades humanas
fundamentais

A análise quantitativa apóia a base arquetíplca


das marcas vitoriosas
Nossos primeiros exames da« marcas mais bem-sucedidas do mundo
nos convenceram dc que o significado delas era qualnaiivamenic diferente
do das marcas comuns; seu significado expressava arquétipos universais e
Com muito frequrncio. Oí melhom hfot^oí toftivaon remetem o ontijos atemporais. Mas. embora nossas otservações parecessem indiscutíveis, tam­
rebríõo
pmboloi 0 fogoopo do Apple, por e«empto. e»oco o pr«t>e*o «o de bém sabíamos quanto estava cm pgo para nossos clientes. Queríamos um
no Ja'd-m do Éden, uma fx/deroM dttiikxào do dentidode Konodotto do teste ohjcitvo. quantitativo, da novsa teona. embasado em dados reais. Fe-
mo>co lizmente. a Young N Rubicam compartilhava o mesmo interesse e tinha um
potente banco de dados que poderia ser usado para estudar a teoria.
*
vel Ma os jovens davam valor à mobihd.uk. pegar carona nâo resolvia to- Primeiro como vice-presidenie executiva e depois como consultora da
tahncntc o problema. Young 6r Ru bicam, Margaret Mark tinha acesso ao BrandAsset Valuator
A resposta veio na forma dc um carrinho chamado "Bug" (besouro), o (BAV) da cmpicsa. o mais proíunib e abrangente estudo de marcas do mun­
sedâ duas-porras d.i Volkswagen que atendia pk-namente ao» princípio» do do Composto de 75 pesquisas realizadas em 33 países, o BAV permite que
Inocente ('carro era inacreditavelmente pequeno pelos padrões vigentes de a Young Az Rubicam estude contmuamente as atitudes do consumidor dian­
Dclroit c suas Imitas Iscni arredondadas o nua.iv.un “ínlinho' N.lo unha te dc mais de 13.000 marcas. Paia analisar plenarnente a posição dc cada
acessórios ou qualquer iqu> dc ornamentos cx.essivos Uma matavilha no marca, o modelo BrandAsset a avalia dentro do contexto de utn abrangente
quesito economia dc combustível Barato na compra, fácil dc consertar c pa­ "cenário de marca" cultural que cobre pelo menos cem categorias dc produ­
riu ia capa; dc andar paia sempre. Seu cstdo nunca mudava. A brilhante tos e utiliza mais dc 55 medidas por marca. Mais de 120.000 consumidores
taiiip.uih.i dc piopag.iiid.1 de Bill Ikrnbach piwicionou <> novo "aniicarro' foram entrevistados até hoje para esse estudo.
dc uma maneira que lapiuiava seu espirito singular bens comcni.ii» inteli­ Imlsalhandocom lid LcBurcPaul Fox. do Grupo BrandAsset da Young
gente» c Ihmii humorados. vencedores dc dnriso» prémios, mostravam o & Rubicam. Margaret desenvolveu um sistema algorítmico para determinar
Inocente “liesouro" batendo os grande» hcbcdorcs-dc-gasohna: o pequeno até que ponto as percepções da marca, por pane dos consumidores, se ali­
Davi levando a melhor sobre o gigante (íoli.ts nham com a identidade arquetípica. Dctcrminaram-sc pesos para cerca de
Arqu* l<p«>»___

48 .iinhitio» J«'m । ihv»v» tn« lui.l.»» no lk\\ »uinpiidoi. desigual. I.u il. .uucii t lisos pulaicx ’ linha .lgt.Kl.ido quando tanto» oiiiro» ll.u assaram. «Imante
uma exph»iaç.tu explosiva de alternativas «nativas l.unbem ajudou a rscla-
u» »». «»UM«k, etc As pontuações dos vnnsuniidoies sâo uoim.iliz.ulax den­
rcter por que o» sucessos aniertore» incluiiant expressões otimistas dc soll-
to’ «la» maiva» c entee cl.»», e cada maiva teerbe uma ]Htntu.i\âo dc dtsiiibui-
daiicda.k c amor. couto "Meau ]oc x.reen" c "Quero ensinar o inundo a can­
xâo i untuUiiva cm cada atquciqu» lk»sc uuhL». |hkIc »c dcietmmar »c uma
tar" <ada comercial a sua maneira c cm seu tempo, havia expressado o
man a c»ia loiicmciuc associada a algum atquriipoc. cm cau» positivo,qual
desejo do Inocente — lazer di> mundo um lugar melhor e mais Ichz Os da-
»ua identidade arquciiplca pi imana. secundaria, c assim put diante.
dos apularam a explicar jx»r que a garrala original C tàn importante para a
identidade «la marca, como ocorre com a Coca-Cola original’ A fracassada
l\wUu>lçdt< d<»s <UqMC(l{>«»S
campanha da "Nova Coca-Cola" demonstrou que substituir o Inocente é
N«» graheo abaixo, «s» arquétipos sâo giadnados como segtir. uma violação ou traição da confiança, muito maior do que outros tipos de
♦ \s pontuações sâo normalizadas deniro das man as c cnwe elas subMiuirçâo Por outro lado, osdados mostraram queos consumidores viam
• c ada man a recebe uma ]xmiu.KAo dc distribuição cumulativa para cada ar- a Pcpst como Hobo da Corte — uma identidade que esclareceu por que essa
quenp»» lo pcncnnl que a liga as» atqueupodo "cenário *d marea" tuiall marca juVle ser mutável ao longo do tempo e por que ela sempre se sai bem
• I m uma analise real, as |x»ntuações seriam ptecncluda» uo seguinte grali- quando usa o bom humor para zombar da santarrom Coca-Cola.
ss» de amostra ula categoria aluguel «k canos) Como o IkW C um estudo longitudinal conduzido ao longo de um pe­
rimiu extenso «k tciiijx». tombem fomos capazes de estudar a evolução das
*
identidade arquetipkas das marcas, para melhor ou para pior. Por exem­
plo. realizamos no BAV uma analise dos arquétipos para tentar diagnosticar
por qnc uma marca líder no setor de vestuário estava perdendo tanto a
* ven­
das quanto sua proeminência cultural. Os dados revelaram que. ainda em
IW7, a marca era vista, dc modo forte c consistente, como um “Herói" por
*
todo os grupos etânos de 15 a 50». conforme mostra a rabela abaixo:

Depois que as marcas sâo classificada» por arqucnpe. a amplitude e ex­ Apenas dois anos mais tarde, a identidade Heiôi da marca caíra cm um
tensão do KW’ permitem explorações por uma ampla base de consumidores único grupo — mkhzmente. v grupo mais importante em termos de "apro­
c cenário da marca . possibilitando o exame dc múltiplas indusirias. seg­ vação cultural" atual e vitalidade futura os adolescentes. Os número
* de
mentos dc consumidor e tipo* *
de marca 1999 sâo mostrados na tabela abaixo;
Margaret. LcBar e Fox começaram a elaborar hipóteses sobre a idcnti-
da.Jc arquctipna das marcas e depois testaram essas hipótese
contra
* o ban- índice de uma marca de vestuário com o arquétipo do Herói, em 1999
v Je dados Os resultado» luram sempre eçclarccedorese o algvntmo pare- kfode
eu» ta»».t. .ar a< marcas adequadamenie.sugerindo que as hipóteses unham IS-17 3JAJ
luxiar-lc lal-dc; For e.xcmpio. os dad<>s m«>straram que os curi-timidorcs IS-29 . 104.00
luni a ç .-.a-G-U ciw unia marca Inocente o que ajudava a explicar mur­ 30-0 *
101.0
w» 104 72
tas > -a» rats como ate que j»mtooc«>mcr<.ia! dossimpaticusebnrKalhóes
42 O HfROl r O FOKA-DA lfl

A i-quipc J.i Young & Rubicam concluiu que .1 marca precisava resga­ da retorna menos para a economia do que devora em recursos Ate enfio,
tar sua loite e competente im.igrm Heroica e inietpreiA la paia uma nova ela nâo cria riqueza, ela a destrói".
Rcracao A analise da Young 6r Rubicam estudou mudanças no EVA e no MVA.
I inlMij os estudos de caso sejam sempre dramáticos c esclarecedores, de 199) a 1999. de um conjunto de 50 marcas bem conhecidas e altamente
o leste mais (hhIitoso <|j tcoi ia arque n pica prec ivaii.t ir alem d.i simples “das- respeitadas, como American Express. American Greeiings, Eruit of lhe
siluaçao" de qual«|uei marca individual, cm vez disso, lena de explorar os Loom, Disney. Kodak, Sears. Heinz. Harley-Davidsor c lhe Gap A relação
p.idiocs mais amplos do luiu ionamento das marcas arqueiipn as e seu eleito de mudanças nesses indicadores linanceiros fundamentais Í01 traçada entre
sobre «is múltiplos sinciios do sucesso I 01 com esse pr<>posii<< que os ana­ dois conjuntos de marcas: aquelas com identidades arquettpicas "íortemen-
listas <h Young <Sí Ruliicam dcstohtiiam que a força da .ismhuiçAo de uma te definidas' (cujo arquétipo secundário mais próximo estava 10% ou mais
mana a um aitpielipo tem dilerença sigmluativ.i cm pelo menus um indica
* abaixo do principal) e um conjunto "confuso
* de mateas (cujó arquétipo se­
doi lmitlameiu.il do vcidadeiro valoi etonòmico: .1 avaliacan du anvo. cundário estava dentro desse limite de 10%). Cada conjunto continha igual
Os pesquisadores tio BAV estavam 1tab.1lh.1ndo com algvns conceitos
numero de marcas.
pioneitos de desempenho econômico desenvolvidos pela Merr. sicvvau. um A analise mostrou que o MVA das marcas fortemrnte alinhadas com um
cm 1 itoi 10 de c onsultoi ia Imane rira altamcntc respeitado. Suas analises iitos- único arquétipo cresceu 97% a mais do que o MVA das marcas confusas.
Itarain que as martas associadas a identidades aiqiu.tipic.is mlluenciavain. Mostrou também, no período de seis anos coberto pelos estudos, que o t VA
posinva c prolundamciiic, a avah.içAo do ativo real de suas empresas. das marcas fortemente alinhadas cresceu a uma taxa 06% maior que o EVA
As medulas envolvidas sAo o Valor de Mercado Agregaili (Markcl Va-
das marcas íracamcntc alinhadas.
luc Atldcd •» M\ A) co Valor I cunomuo Agregado (I cononiic V.due Added
Claio que os pesquisadores, acreditando no projeto, sentiram-se imen-
I VAI O MVA mede quanto valor uma empiesa adicionou ao invcsiimcit
* samente gratificados (mas nâo surpresos) pelos resultados. Mas a implica­
lo de seus ac iouislis. ou dele subuaiu I m outras palavras, o MVA mede a
ção desses ac hadus era impressionante: as identidades que conseguem atin­
expectativa dos investidores, se eles esperam que os lucros feturos da cm-
gir um sentimento humano essencial afetam as medidas de sucesso
pits.i se|.im maiores ou menores que o custo do capital Vin MVA crescen­
econômico mais fundamentais t talvez ainda mais impressionante t aqui­
te mtlit.1 que a empiesa esta pioduzmdo (ou pi ova vc-linrnie produzira» la-
lo que os dados revelam sobre a importância de um unico arquétipo coeren­
v.istle retorno mais elevadas do que o ntsici do capital Um MVA decrescente
te para determinar com sucesso a identidade e influenciar o desempenho
*
mostra que a empresa liroti aquém das expectativa ou comprometeu capi­
Os arquétipos desafiam a prática de criar a tdentididc da marca "pegando
tal cm novos investimentos que. na visjo do mercado. nAos.U justificados
algumas características da coluna A e algumas da coluna B"; em vez disso,
O I VA e a medida de desemjienho Imancetro que mais se aproxima de
as antigas matrizes psíquicas sAo conceitos integrais e completos, que exi­
t aplurai o veidadciio lui 10 econômico de um empreendimento e e a medida
mais dirciamciitc ligada a eriaçAo da riqueza dos acionistas ao ongo do tem­
gem plena pcrccpçAo c colocação.
Sabemos agora que as marcas que expressam coerenteinente um arqué­
po O I VA e uma csiim.uiva do lucro liquido opeiac 1011.il. menos um encar-
tipo apropriado impelem a lucratividade e 0 sucesso de modo real e susten­
gt»apropiiatlo|M losciisiosdcoponumdadcde todo <1 capital imcMtdo noem-
tável f. numa cadeia muito positiva de causalidade, elas podem fazer isso
piccndiinciito Nesse M-mulo. o I VA ivlleic o lucro ccmiôniito real ou a
ipi.miia pela qual os icndimcnios excedem ou ficam abaixo dr taxa mínima
sem qualquer eusto para o consumidor ou a cultura. Na verdade, tais mar­
cas se dirigem a profundas e arraigadas necessidades humanas. O estudo da
de retomo exigido que os acionistas e os investidores poderiam obter inves­
tindo cm otilios p.i| vis negcKüvcis de rrsco cnmjMravel l Una mudança posi­ Young íz Rubicam demonstra, sem sombra de dúvida, a importância mer­
tiva no I VA icllvie o progresso interno da empiesa na erraçAo de valor real cadológica de compreender e manter uma identidade arquenpica como ati­
I >s.is medidas tem imporiAncia critica poiquc, embora a maioria das vo empresarial básico.
crnprc s.is pareça hi« tanta nos |\idrc<c's contábeis convenc ionais, muitas de­
las na verdade nAo o <k» ( orno disse Peter Dniçkcr cm um artigo da Hcir-
Como os arquétipos afetam a consciência
\.nd Business Rchciv. Ate que um negocio apresente um lucro maior que
seu nisto de « apuai, ela opera no vermelho NAo importa o í.v.o de que ela Nâo só produtos e serviços convencionais, como também superestre-
paga im|X‘si«is çomo se tivesse um lucro genuíno O empreendimento ain­ Ias, filmes e figuras públicas alcançaram sucesso excepcional quando mer-
44 O HERÓI ( O FORA-OA-td

cm quem u ví. o rcionher iiwnm hminuyo de alguma verd/de.fundamen-


gulharam cm território arquctípico Na verdade, qualquer um que associe
Significado a um produto já terá entrado em solo arquctípico. O problema f i.i! c identificável. ar
<X software" d. psique Um ou outro pwa«“«
que a maioria dos profissionais dc marketing nâo foi treinada para com­
preender a dimensão nrquctípica. () resultado C que eles brincam com um quciipicõ cstã ativado c envolvido o tempo iodo Por exemp o a Rum _
uiareri.il poderoso sem compreendê-lo plciumentc. Porém. criar uma iden­
*
soa vivem constanicmcnic sob a perspectiva do Explora or no
cenas .. mmb.i voli.r> ou do (onrernante ('Siga mrnhas regras ou rua )
tidade. tiuiri-l.i e a administrar <10 tareias que prreiSctnt sc tornar um pr<>-
iisMidi IiIh i.uIo r baseado n.i visão intuitiva Tara iK-ir esta trona.ê essen­
laisarquciqm
* podem ser vistos ctmreo 'modo de/ault desres md.v duos. ♦ J
cial compreender o que t c c que laz um arquétipo.
acM.ii como mu programa Jc correto eletrônico ou u.n processador dc tex­ ♦ J
to e o ‘ modo dejimlr- do nosso computador As marcas que estão associadas
Uma maneira dc começar t examinando os grandes padrões históricos
que vemos repetidos na literatura c no cinema. Um desses cenários envol­ a cada um desses arqueupos parecerão perfeitas e confortáveis ás pessoas ♦ X
veria um encontro sexual. Outro seria sobre a subida da escada empresarial. que os expressam; de um modo muito interessante, essas marcas emprestam ♦ I
Outro ainda começaria com o personagem faltando ao trabalho para ir à significado às suas vidas.
Imagine um computador que vem com um pacote de aplicativos. Você
praia, tenham ou nâo mérito literário essas histórias e as fantasias sobre as
nâo consegue abrir e aprender todos eles de imediato. Assim como o soft­
quais elas sc baseiam, você pode reconhecer facilmente a estrutura de seus
enredo
* como variações respectivas de: a história dc amor romântica, a fá­ ware. os arquétipo-, permanecem adormecidos no inconsciente até serem
bula dc mendign-a-milionário ou o escapismo do qucro-íugirdicso-iudo. abertos ou despertados Assim como o software nos ajuda a fazer coisas co­
Enquanto rrcud acreditava que nossa * fantasias resultavam somente dc nos­ mo escrever um livro, criar uma planilha analítica ou produzir transparên­
sas experiências e condicionamentos. Jung observou que as fantasias sito cias. os arquétipos nos ajudam n encontrar realização pessoal e desenvolver
bastante previsíveis, seguindo padrões narrativos bem conhecidos. Na per­ nosso pou-ncial. Por exemplu. se o Herói cm nós é despertado, aprendemos
cepção dc Jung. todos os seres humanos compartilham uma herança pstqui- a buscar a coragem de lutar pelo bem dos outros c de nós mesmos.
i.i que subverte as diferenças aparentes dc tempo, espaço c cultura. Ás vezee, os arquétipos vêm a tona porque estamos cm certa fase da vi-
Uma medida da profundidade com que esses mitos expressam preocu­ da que os evoca, a criança se torna um adolescente e subitamente experi-
pações humanas elementares é o quanto eles são atemporais e universais. Os memaã necessidade do Explorador de ser dilerente — afastar-se dos pais e
iiiitoiogosc os antropólogos vócin os mesmos temas, «ituaçóesc histórias sen­ conhecer o mundo lá fora. Mas as potencialidades adormecidas talvez nâo
do representados sempre c sempre, ao longo dos tempos e cm todo o globo sejam experimentadas ate que um acontecimento ou imagem do mundo ex­
lalvez a razão subjacente da durabilidade dos arquétipos seja que eles, terno as desperte. Por exemplo, o apelo do "levar vantagem" existente na
cm essência, refletem nossas realidades e lutas interrores. Variam os detalhes consc iência narcisista do Explorador dos anos 1980 e parte dos 90 enfraque­
externos, mas a jornada essencial c sempre a mesma ceu quando as pessoas responderam com forte emoção aos exemplos de al­
Joccph Campbell c outros estudiosos da mitokigü defendem a idéia dc truísmo da prmeesa Diana c de Madre Teresa — ambas morreram exatamen­
que os vârtó
* mitos c arquetipos encontrados no inundo todo são basica­ te quando o arquétipo do Prestativo ganhava vida nova na cultura cm geral.
mente expressões do drarn.i íntimo dn ser humano: podemos entendê-los Mesmo que um jovem esteja pronto para a aventura, esse desejo talvez
como diferente
* expressões du impulso eterno para rncontrar um significa­ permaneça latente até ser acionado pela propaganda de um carro, um avião
do hurn.mi» no mistério da criação. Nós os "rcconlrcemos
* porque fomos ou uma motocicleta. Logo ele compre um veiculo que lhe servirá como 'ala­
programados para fazê-lo. Sc você dtcpòe de pouco * regundo
* para transmi­ zão
* ele confiança nas suas aventuras. Encontrar as imagens arquetípicas no
tir cri.i mensagem — coni.i no comercial dc tevê, iic prospeçtu publ.Lii.lfto arnbirnre externo — na literatura, artes, cinema, tevê ou propaganda — ten­
<>u na pagina di internei —. você atingirá seu objetivo rnais elicazmcnte sc de. com o tempo, a passar um arquciipo da dormência para a açâo As ima­
mm mciisagcm uiilizãr as historias que todos nós já conhecemos Na visão gens arquetípicas na propaganda despertam histórias arquetípicas — do mes­
dc luiig. Camplu ll r outros, nascemos com uma rcs«onância instintiva a es- mo modo que clicar um ícone na tela do computador abre um programa.
hiMori.i'.iiqm iipic.is, jx.ri .ius.i da» muitastimliguruçôrcda nossa incu­ Cl.no que são imensas c arertauoras as implicações sociais da comuni­
te l*0i|jnti>, o Mgiiihc.ido dc um produto pxlc ser rjpidamcnic comunica- cação comen ial que desperta arquei pus adormecidos. Contudo, nâo temos
do p» la simples cvoc.iça». dc unr.i hivló.ia ou d«- qin conceito quç produz. um caminho responsável para evitaras armadilhas potenciais desse proces-
46 O HERÓI t O FORA-OA-Ltl___________________________________________

m». exceto mIxiuIo o que estamos Luetido c por quê loiLi pcssiM envolvida
na administração do stgnilic ado ja est.i operando no nível arquetípico e afe­
tando a consc icin u dos indivíduos e da nossa época f mellioi lazer isso com
cautela, com integridade e — acima de tudo — com tunhaimntfpdo terre­
no arquetípico. Nossa previsão é de que, d.iqui a algans anos, parecerá (Ao
irresponsável praticar a .ulimnisitaçAo do sigmIiçado seni conhecimento ar-
quetipico. como parece hoje praticar a medicina sem compreender anatomia,
l.mborj ceiumcntc seja menos monstruoso matar uma marca do que uma
pessoa, nâo c desejável fazê-lo — ca incompetência pode calar as pulsações
•ite mesmo da melhor mana Além disso, o .significado de um produto nâo
pode scr vendido sem que nossas açócs afetem a coriM iínc ia coletiva da nos­
sa época Se queremos reforçar certos padrões dc sig nficado numa audiên­
cia maciça. devemos pelo menos saber qual impacto estamos causando

A etiqueta de alerta
Ames dc continuarmos, é importante alenar o leitor. Osarquétipos sâo
forças poderosas na psique coleiiva c na psique individual. Conforme mos-
iraram O J Simpcon c o presidente Clinton. quando as arquétipos estio ati­
vos em urna pessoa, podem empurrada para uma história desagradável ou
mesmo trágica com tanta facilidade quanto levam à história Ichz Quando
você utiliza a dimensão arquctipica — dclibcradamentc ou por acaso—, es­
sas energias se ativam em você e à sua volta. Sc scráoou nâo expressadas dc
maneira moral c saudável, dependerá da consciência da pessoa (ou empre­
sai que as evoca Quanto mais você souhcr sobre os arquétipos, mais des
scivii.ii». falando cm termos metafóricos, corno seus aliados Ao scr capaz dc
dar nome a um arquetipn. você cscvdlic se e como vai expressá-lo cm sua vi­
da. cm seu trah-dho c cm suas estratégias dc marketing, bntáo. é menos pro­
vável que o arquétipo varra você para (ora e assuma o controle.
Muitos profissionais de marketing caíram — seni perceber e mal-cqmpa-
dos — em terntono arquetípico. Ja que a propagandi é um meio táo impor­
tante c penetrante na nossa cultura, so se pode mesmo esperar que esteja car­
regada dc cometidos arquciípicos fista é a razão bosia de termo* escrito este
hvni — p.ir.i que a .idtinniMi.iç;Jo do signiliiaiivo iiãu tenha efeitos colaterais
negaiivos. Adnntmios que algumas pttSóas usatâocsUS infui mações |«ra ma­
nipular os outros 1’rciKup.mio-nus com essa possibilidade, nâosó porque n3o
ipicrctnos que abusem deste sistema, mas também poque acreditamosque to-
*su
do .ilmso c |X'rig< tanto para quem o pratica quanto para o consumidor. Vb-
<ê rcsotda aqucL» grande cena dc lauirudii, o filme da Disney, quando Mickey.
no p.qx I do Aprendi: dc I eiuceiro, ena a maior calasir<>fc? Issc é o resultado
inai- pim.iM I d» uso ingêmto oti hicm itipuloso do xignilieado arquciipico
O marketing
pós-niodcrno

Qi AS£ MNóifM Ql f iK>)f escreve sobre os consumidores admite que esie-


jaocorrendoalgoradlcalmenie novo A era moderna acabou e estamos nu­
ma eia pos-moderna. cm que as velhas regras nâo necessariamente sào vã-
lulas A nova raça de consumidores nâo í tio crCdula. tâo leal ou tio
malcavcl como as do passado l*s compradores de hoje sâo atentos, proíun-
J.,mente cencos quanto aoscxagcrosda piopagandae mais preocupados em
encontrar e expressar sua individualidade do que em se adaptar às normas
sociais Ele» bus» am «gmlicado. mas nào esperam encontra-lo cm qualquer
tipo de consenso cultural Embora solramas pressOesda laltade tempo, eles
O nwfcrtlnt ptowòemo 49

lonvgucm $e informar sobre suas compras e, quando possível, gostam dc uma parte do fascínio dos telespectadores estav» certamente em ver mulhe­
controlar o que acontece lambem dão alto valor a irdrpcndCncia e auten­ res capazes de se casar com um desconhecido apenas pelo dinheiro c aque­
ticidade c são difiv eis dc enganar Ojiccvm» à ínterim lhes da iníormacòrc le homem aparentemente bem-sucedido capaz de sê casar com uma mulher
x»hic as injrcas e as empresas, assim, e mclhoi que Mja verdade o_que você com base na tx-lcza tísica Esse cumpmtamcnto. no contexto enniemporâ-
lhes diz Sc n.lo for, eles tertamcnic dcMobrirào. neo. é suíicientemente bizarro para atrair o interesse.
I mbora essa nova raca chute para lura muitos p-ofissionats do inaikc- Ê importante reconhecer que uma massa crítica de pessoas já deixou
liiiR. isso não precisa acontecer com você Tcnse nisse. Vivemos numa épo­ de ser tão superficial a ponto de acreditar que o amor resulta apenas do uso
ca dc grande alluônua, cm que muita gente lem acessa não sc» a quase todos dos produtos certos. Essas pessoas nâo acham que a combinação de belo
os produtos que deseja, mas lambem .1 instrução, as viagens e a informação. vestido, belo rosto e belo corpo (no lado da mui ver) e uma gorda conta ban­
No entanto, em alto grau, o consenso cultural sobre os valores sc rompeu, cária (no lado do homem) seja a fórmula do verdadeiro amor Em vez dis­
l< mos |»m< as (ou nenhuma) historias sagradas compartilhadas pura dar sig­ so. esperam que Cinderela c o Príncipe sejam indivíduos auto-realizados.
nificado a nossa vida loscph Campbell asstm apresenta a questão. “O pro­ com personalidade, valores, pontos fortes e pontos fracos — no mínimo, se
blema da humanidade nos dias dc hoje, portanto, e cxaiameme o oposto ao essas pessoas pelo menos assistem ao programa dc Oprah.
dtis homens que »nerain nos períodos comparativamente estiveis daquelas Talvez, lendo absorvido a Itção ensinada pelas altas taxas dc divórcio
grandes mitologias coordenadoras, que agora sâo conhecidas como meninas. da nossa sociedade, a maioria das pessoas pensmtes saiba que. se 0 Prínci­
N.iqticia epoca. lud-»«»significado eslava nogru|H>. n.rc grandes formas anó­ pe casar com o vestido e Cinderela casar com ©castelo, logo ambos desper­
nimas. e não na auto-expressão individual, hoje cm dia. nâo há significado tarão desiludidos para a realidade de um ser humano de carne e osso.
110 grupo — não h.i no mundo; tudo está no indivíduo "* O resultado t que Isso nâo quer dizer que os bons comerciais nâo possam utilizar a nar­
as pessoas sâo deixadas por sua própria conta Fias precisam sc encontrar a rativa de Cinderela. As histónas arquetípicas toleram as repetições. Você po­
si mesmas c saber o que pensam, sentem, querem c rep escniam Para as mar­ de contá-las vezes sem conta, que as pessoas nunca se cansam. É isso que
cas. tsso significa que os arquétipos do Explorador (para o encontro da iden­ significa utilizar um padrão narrativo arquetípico. Mas como a consciência
tidade) c do Sábio (para a exploração do próprio inundo interior) provavel­ humana evolui, as pessoas interpretam as histerias dc maneiras diferentes.
mente sâo motivadores importantes Além disso, quando as pessoas aspiram Embutida no conto de fadas está uma ênfase no caráter que é reconhecida
a ser individum únicos, capazes de escolha Independente, elas sâo atraídas facilmente pela pessoa complexa e que alguém mais superficial e menos de­
para nivets mais elevados de outros arquétipos do que seriam antes. senvolvido nâo perceberia. Ao lado de sua natureza amorosa. Cinderela e ca­
Por exemplo, a historia dc Cinderela t um padrão narrativo atqucttpi- paz de virtude e trabalho duro. O príncipe nâo é apenas "encantado"; ele
co associado ao arquétipo do Amante A narrativa ainda tem vigor arqueii- também tem alma e perseverança suficientes pera procurar em todo o reino
pteo. isso fica evidente pelo sucesso dc bilheteria dos nuitos filmes que uti­ a moça que viu uma única vez. Se a sua base de clientes tem sofisticação psi­
lizam variações desse terna — l-'nw findtf mulhfi t apenas um exemplo Mas cológica. mesmo que relativa, seus comerciai» serão mais irresistíveis sc uti­
<• nível dc sofisticação «la cultura afeta a interpretação da historia No mvcl lizarem os aspectos mais profundos dos arquétipos, e nâo apenas seus ador­
mais baixo deste arqucr.po. as pessoas podem ler a história rle maneira bem nos superficiais.
superficial e pensar que Cinderela vi piecisa dc um Ixlo vestido e um carro Conforme mostramos no exemplo de Gnderela, se você escolhe o sig­
es|<ort< (imo a carruagem) para atrair«» príncipe d» atualidade — e este nificado da marca do Amante, mas enfatiza um tipo de relacionamento que
11.10 prensa ler multo iii.uv.dvm d* Ikícíu Imu v rupiexa Na verdade. «>s compromete sua ídoniidode. os consumidores modernos se sentirão deses-
altos índices dc atidiín» ia alcançados por utn progran a de televisão como o timulados. dc um modo que nâo teria aconteedo com seus pais e avôs. Do
noric-ariieiK ano Who Warits 10 Marry a Muliimilltonâirer (Quem quer se mesmo modo, quando escolhe a identidade da marca do Governante, você
casar com um milionário?) demonstra que esse ntvrl do arquciipo ainda
precisa perceber que os consumidores modernos querem ser eleitores e nâo
lunc uma — pelo menos entre as pariu ipantes Mesmo nesse caso, contudo,
súditos O progresso da monarquia para a democracia (como o progresso do
casamento arranjado para o amor romântico) rstâ ligado à evolução da ca­
I 4-nphn lk. H.ww.iÇalừM.«nu.«<Nwjh-rk Jlw U«UrubluhinjCorn- pacidade das pessoas comuns dc sc individuarem e. portanto, de quererem
pui) llMv> p MH lOSrni JcMi//>rr<’«. Idii-ira Pcnwirxnto Sâ>Pavl.«? o direito de autodeftniçâo.
0 mwlieúnt pór-modemo
50 O HERÓI t O IQHA.QA.Lfl

inovador programa de computador ou um taillfir elegante I mbont vários


Dentro de cada arquétipo há uma ampla gama de comportamentos, al­
produtos a ajudassem a alcançar e manter o puder (ou apenas a se sentir po­
guns muito simples c outros mais evoluídos. Por exemple, dentro do arqué­
derosa). o que vai assinalar u apelo dos produtos para essa mulher é o Sim­
tipo do Amante você encontrará: (1) o simples despertar da sexualidade; (2)
bolismo subjacente de poder majestático. status e controle Se os prohs-
o desejo desesperado de atrair um amante; (3) a obtenção de profundv c du­
sionais de marketing só pensam em termos de segmentos de mercado, é
radouro amor romântico; (4) a capacidade de contato íntimo com a íamília,
tentador estereotipar esse tipo de mulher, confinsndo-a mentalmente a uma
amigos c colegas; c (5) o amor espiritual |>or toda a Imminidade ou mesmo
por todos os seres sencientcs. categoria motivacioiul muito estreita.
Mas se percebemos que essa mulher é um ser humano completo, entàó
Ao pesquisar arquétipos nos anúncios c marcas de hoje, descobrimos
nào é difícil reconhecer que ela, de vez em quando, se sentirá presa nas ar­
que a maior porcentagem dos anúncios é projetada como se essa mudança
madilhas de sua vida oneniada para o poder Como muitos de nós. ela traba­
nunca tivesse acontecido. Na verdade, eles se comunicam com o destinatá­
lha duro e começa a $c sentir pressionada. Todo ser humano lem um desejo
rio nos níveis mais baixos de cada arquétipo — as formas em que o arqué­
básico dc conquista, e talvez esse desejo tenha (amado conta da vida dela
tipo é expresso quando uma pessoa ndo é auto-realizadj Por exemplo, cm
Além disso, todos nós temos necessidade de prazer e aventura. A executiva
todo canto que olhamos, encontramos anúncios do Explorador. Os profis­
do nosso exemplo nào esta consciente desse ansno nem da necessidade de
sionais de marketing compreendem claramente- que hoje em dia esse arqué­
equilíbrio. Mas. embora sem essa percepção consciente, ela sente uma súbi­
tipo l.ila com ns pessoas Mas ficamos desapontados ao <er que poucos de­
ta atração pelas imagens promocionais que têm u na conotação de liberdade.
les utilizavam o nível mais profundo c mais interessante do arquétipo A
O Bolxi da Corte lhe apareceria por intermédio dc anúncios que mos­
esmagadora maioria dos comerciais Explorador que pesquisamos focaliza­
tram uma turma se divertindo c bebendo certa marca dc cerveja, uma em­
va o simples estar na natureza ou sentimentos de alienação Poucos deles ti­
presa acrea levando um casal a lugares exóticos ou pessoas felizes dirigindo
nham sido projetados para ajudar as pessoas na tarefa d: aprendizado mais
um conversível na praia. Quer ela analise ou nâo suas respostas e conclua
profundo do arquétipo — a de realmcnte encontrar a si mesmas
que precisa de mais equilíbrio em sua vida, essa mulher bem poderia res­
Iromc.tmciiic. quando as pessoas nào desenvolvem a capacidade de fa­
ponder ao apelo atquelipico comprando aquela cerveja e dando uma festa,
zer escolhas significativas numa sociedade que oferece um numero quase in­
reservando sua próxima viagem naquela empresa aérea ou adquirindo aque­
finito de opçóes. elas tendem a culpar a sociedade por seus próprios defei­
le conversível (mesmo que nunca chegue a dirigi-lo na praia).
tos A consequência é que elas se queixam viofeniamerte do materialismo
A mulher que desempenha múltiplos papéis é potencializada
* pelos
da sociedade e das empresas que produzem bens de conjumo, em vez d«- as­
aiributos de dois arquétipos: o do lleror. dc vencer grandes desafios, ou do
sumir a responsabilidade por suas próprias decisões na hora de comprar Pa
Governante, de manter a ordem quando hâ ameaça de caos. Mas ela tam­
radoxttfmente, as empresas que nào ajudam o consumdor a adquirir essa
bém se sente aliaida por arquétipos que lhe dàoaquilo pelo qual ela anseia,
capacidade dc autodcfiniçà» c escolha responsável serão as vítimas d«> res­
nào só os que siinjilcsmenie rellctcm aquilo que ela esta viventlandó. As­
sentimento do coiiMiniidor sim, cb jhxJ- râ responder a paz e sinipln idade do Inoccnic ou a intensida­
de erótica do Amante.
Em vez de se ligar a imagens poirncializadora». a representação da
Atém da segmentação de mercado.além dos estereótipos
'supermulher
* niodeina na propaganda atual tornou-se estereotipada, um
L'm ponto de grande importam ia a maioria dos profissionais de mar- cltavâo A maioria das mulheres se irrita quanda vê mais uni retrato da es-
iceiing nào compreende os arquétipos e só pensa cm termos de segmentação posa-mâe-profissional frenéiica e ocupadíssima Elas nâo se sentem corn-
dr mercado. por causa disso, eles tém a infeliz tendência de reduzir os ar- prccndidas Pelo contrário, sentem-se iriviulizadas. do mesmo modo como
qtiénjfos a este rcotqios Imagine, por exemplo, unia executiva de suicvso ames se sentiam humilhadas pelas imagem estereotipadas cb dona dc casa.
Normalmente < la se sentina atraída jx-los anúnc ios dos produtos do Gover­
nante. que reforçam seu senso de statuc ou poder e a ajudam a t ausar iin I Awi-Í. ruuexiMC rm (xxiuy.-X
* uiu Koluçao p,,, „ <<j>f p,,
pressa» nr, mundo lendo a revista de liorrlo, ela lança os olhos para um ' <N «oiMi-Udr » «lyv
*in» • vu» >l>«v«Jov </> uuu-r, *p>AOH
ari<ii.'p> q-ir lhe of>re<c um ralendarm dr pMm jaim-uto rn.ns rlicaz um |z.trn<Mlw«f |aari>-uliz«l<> r ourgfuv-,-drqxxcrxuÍHai (N I )
52 o r o >ok* t>« ui O nwzkeung pv»-H.~~..-.

O olhar da
* pcsM».t$ xe embaça quando ela- depuram com mensagens que manente Uma firma de computadores tecnologicamente inovadora poderá
nâo as satisfazem no qti ■ m? refere as suas questões fundamentais fxsa talvez ser potencializada pelas mesmas motivações do arquétipo do Sahio
seja <l principal lazâo pela qual os ptulissionais dc mailcting lém problemas Muito ínconscicnteinente. a gerência dosas empresas tende a ser atraí­
em captutar a atenção do consumidor que esta cnlrenuiido desafios que exl- da por identidades de marca que sejam coerertes com os arquétipos que, ao
gçm dele scr uma pessoa complexa c real, c que mio csia vivendo os cansati- mesmo tempo, moldam o comportamento gerencial e a cultura da empresa
voscstcreoiipvs isi Irequenteincnte nnplmtes nas categorias dc segmentação E assim que muitas empresas líderes conseguem encontrar identidades ar-
do mercado e nas picinisx.es simphM.ts sobre as moto ações humanas Para a quetípicase trabalham para conservá-las ao longo do tempo —espccialmen-
boa construção de marcas arquciípicos. c recomendável mergulhar na quali­ te se tiverem lideres que confiam no próprio tntimo e em suas idéias intuiti­
dade mais profunda e mais irresistivelmente humana dc um arquétipo. cm vez vas Gostam das identidades de marca qu< são como eles. Mas se nâo
de u.u.i-U com leviandade, como sc l.isse um estereotipo sem vida gostarem delas — e se os profissionais de marketing os convenceram a seguir
cada modismo ou capricho do público — inevitavelmente pularão de uma
identidade par.i outra, sem nunca criar uma impressão clara e duradoura.
Cruzando as fronteiras As firmas de marketinge propaganda também tém suas inclinações in­
I mbora os arquétipos sejam universais, o -cortinado" que osicrca mu­ conscientes. Nesse ramo, indivíduos e firmas têm motivos bem diferentes
da conforme ascultuias Nos Estados 1’nidos. por exemplo, um valor com­ para saírem da cama de manhã. Iodos nôs conhecemos alguém no ramo da
partilhado dc individualismo reforça o arquétipo do Explorador com ênfa­ propaganda que tem o manuscrito dc um romance na gaveta ou idéias para
se na descoberta c expressão da singularidade dc cada um. Outras culturas lazer videos ou filmes Trabalham com propaganda porque o ramo oferece
são mais relacionais Na America I atina, os liíhos vnem com os pais ate se um caminho bem pago para expressarem soa criatividade c talento artísti­
casatcui A c ullura tcloiç.i a Itdcltdadc a i.miilia c a comunidade. iüo ao m- co Também conhecemos pessoas que adoram os aspectos competitivos do
clis Kluahsmo I ssi predileção também c forte nas amigas republicas sovié­ marketing — eque sâo impulsionadas para a frente pelo prazer da disputa.
ticas. bem como tia < lima c no |apão As culturas icla. ion.us vivem uma his­ Outras gostam do estímulo mental das estratégias dc marketing. Em (ermos
toria diferente daquela das culturas indo iduahstas arquciípicos. esses exemplos refletem os arquétipos do Cnador. do Herói
Mesmo dentro dos I >i.id«s findos, diferentes locais de ir.ib.ilhv refle­ (enquanto concorrente) e do Sábio. Se as pessoas desse ramo nâo conhece­
ti m ddcrcnics costumes e enredos arquciípicos For exemplo, muitas cin- rem os arquétipos, suas abordagens de venda refletirão apenas suas própnas
ptçs.is comeu»ais (como a Microsoft ■ Miem o valoi de -a- tomar a einmcsa predileções inconscientes e nâo serio as Ideais para o cliente.
te I dc IshIa a .■i.lustiia ço Goiçtiunie» For outro lado. e provável que a Para dttcinunar 3 identidade de maço qye uma cmnrcsâ aprovará. é
maioria »b> organizações sem fins lusiaiivoscnlaiiy a ação transfotnujHp.- melhor descobrir quem a empresa pensa que é —- cm termos dos arquétipos
ta uo inundo u * Pies.Uli.v.o) Çqlcgiose univciMdadrcruLuizjm o aprendi- que ela esta vivendo?As biografias dèfideres empresariais bem-succdidos de-
z.vdo v a descob. n.i .la vnd.uk 10 Situo', enquanto «iiiil.iseinptcsas nos ra- monstr.un que cirx. em geral, foram atratd.vs para um ramo ou um produto
mvsik çnirclguiUKiuq. s<.|.nn\í>s'SA.tkn fcrrvslç reiic.qãv (Patagônia) por alguma razão. Mesmo no contexto social, onde dinheiro c sucesso sâo
aceniujniaiKLlàír e a Jegiia_yo Bobo da JLortth Oi valores são diferentes. básicos, os valores mais profundos de um indivíduo se refletem nos detalhes
\s ditcic nç.» se tor nam»lai as quanilo as empresas articulam sua visão, seus de suas ambições — os sonhos que o impelem para a (rente. Esses valores e
valores e sua deslaiacãs' dc missão Pelo menos nas melhores empresas, a sonhos criam uma cultura organizacional identificável, que então se reflete
botieni Irne' numa e apenas lucros e receitas na sua identidade de marca (por exemplo. IBM versus Apple). Podemos ras-
No pa's.ido. a imagem evocada por uma empresa resultava parcialmen- trrar os valores até os arquétipos subjacentes (nesse caso, respecttvamente.
te de suas d«i<ocs mercadológicas consctentes, rnas muito mats das premis­ Governante e Pora-da-lei/Rcbclde). tornando possível incluir o arquétipo da
sas in- orisKic nics do pessoal do ramo Vocé conhecí pesxusque se dcdiea- organização como fator em discussões sobre identidades de marca
r.im a ciilr«m.igcm junque vio prestativas lambem as corpoiações cujos Os indivíduos, as sociedades e as organizações frequentemente têm vá-
produtosapitam a .-siu.le c o rr.ii.mu mo ipctise na .'ohnron íe fvhnson
* po­ rios arquétipos que sâo dominantes, mas sempre dispõem de algum acesso,
derás' ter os valore' do Prcsiaiivo l m fcer jovem e engenhoso poderá ler pelo mentis, a todos os arquétipos Diganos que o arquétipo dominante do
uma Iniha »le tiaKiliro que envolve aprendi:.uki continuo e inovação per- presidente de uma empresa é o Governante; mas esse homem compra para
$4 O HfftÓI f O IO»* DA-LII

A lealdade do cliente e a experiência do significado


o íiIIh» pequeno um brinquedo que fala ao seu próprio Boba <l.i Corte brin­
calhão ou ao seu desejo dc ajudar as crianças (o Prestativo) l ie t motivado A mudança mais profunda que afeia o marketing do novo milemo t o
a comprar um colar para sua mulher, a lim dc expressar mu Amante; ou a a«rrdoral que ele <lr
papel quase * *< tnjxnha numa so.icdude sem histórias
dedicar mais tempo ao desenvolvimento do lado tecnológico dc sua empre­ sagradas que pudessem dar m toda a nossa c uliura um significado comparti-
sa, servindo ao seu Sábio. Do mesmo modo, as empresas bem sucedidas ge- fhadu I m parle, a ausência dessas historias nos oferece um tipo de Idierda-
ralmcnte o sâo porque todos os aiquCtipos se expressam em algum lugar de pessoal num a antes experimentado Dizem os antropólogos que no mun­
do desenvolvido, pela primeira vez n.i lustóru da raça humana, a vida de
dentro delas. As organizações florescentes têm pelo menos um arquitijm ati­
vo em «;uh quadrante. que as ajuda a encontrar mui missán singular (indi­ uma |m sso.i qualquer náo pode ser prevista cm íunçâc: dc gtneio ou posição
vidualidade), a criar o senso dc comunidade (pcitciiça), a fazer o ltalullio social ao nascer Somos livres para nus definir por no» mesmos c para esco­
(mestria) c a criar estruturas estabilizadoras (estabilidade). lher nosso próprio caminho na vida.
No entanto. para unta idennd-ide dc marca ser irresistível, ela precisa Claro que essa hlierdadc traz consigo imenso poder c entusiasmo. Mas
ser simples e fácil de reconhecer Isso quer dizer que a melhor num ira de ela lambem cria um grau de siress sem precedentes Precisamos estruturar
construir idcnitdades dc marca t tdcniiíicatulo-se yihdanicnic com um — tudo por nossa própria conta Muitas mJes que trabJham fora nâo têm um
csomente tim —- arquétipo. Ó arquClipodentcoda marca serve como um modelo para servir de guia. Muitos homens que qurrem exercer um papel
farol para a motivação correspondente cm todos nós. Na prática, com a al­ ativo na paternidade náo conseguem encontrar referências na relação que ti­
ta taxa dc inovação dos produtos, costuma-se ‘marear’ a empresa, nâo só o veram com os próprios pais; por um lado, os pais trabalhavam e quase nâo
produto ou ser t iço. As empresas se saem melhor quando sâo explícita
* a res­ eram vistos cm casa; por outro lado, os pais viviam por uma ética machista
peito do aiqucupo que i inaic fiel n crus valores, sua missão e sua visão —- que. como a Cuca leminina tradicional. tornou-se um anacronismo
c quando permitem que esse arquétipo brilhe como o íarol â beira-mar. • um fato • vida mudou radicalmcnte na década de 1960 A afluente
atraindo as pessoas para suas praias geração do pós-guerra c vário
* outros grupos estão hoje levando uma vida
Ate hoje, na maioria das empresas a conexão entre a cultura organiza- bem diferente da que seus pais levavam Muitos filhos de médicos c advo­
c tonal, os valores empresariais e a identidade dc mares tem sido informal c gado fizeram a opção de *< tornar assistentes soe lais ou comerciantes, mui­
*
cm grande parte inconsciente. O sistema aqui descrito o'crecei4 um meio tos filho
* *
de operário batalharam para sc turnar médicos e advogados. Es­
para descobrir, articular c fortalecer essa conexão A identidade de mana e. sa ujMirtumdade de auudcfiniçâo c autodeterminação é maravilhosa, mas é
p.ira uma organização, como a pt iwmi p.ira itiu indivíduo. Persona e a ima­ lambem um íanlo opressivo porque nos obriga a ser pioneiros na jornada da
gem que apresentamos ao mundo. Quando a persona dc um indivíduo e dc- vida. O* ícones c heróis pessoais que antes oferecnm modelos para a vida
masiadamenie diferente da realidade do seu ser, o indivíduo sc torna neuró­ foram substituídos por amigo
* e familiares que. mesmo valorizados ou ama­
tico. O mesmo ocorre com uma empresa: se há discordância entre sua dos. nem sempre projiorcionam um exemplo utd ou relevante
identidade de marea c a realidade da cultura, das políticas < dos procedimen­ Para aumentar nossas dificuldades, envolvemo-nos nessa busca numa
tos <>rg.iniz.mon;ns. cniáo .1 empresa sc torna doentia A consequência dis­ épcxa em que a civilização praiicamente náo nos oferece referências cultu­
so c que lauto o morai dos empregados como n credibilidade junto aos clien­ * am lios da aldeia, a Bibli-i, as grandes tradições orais, as narrativas
rais <>
tes começam a cair clássicas — tudo isso caiu na sarjeta, exatamente no momento cm que rnais
íal tomo ocorre com o indivíduo, uma organização nto piecisa mostrar prec isamos.
tudo ao mundo e ceriamcnie n.lo precisa lavar sua roupi suja em publico. Mas a necessidade humana de arquétipos que nos guiem nâo se evapo­
Mas neste nosso mundo cm que pessoas dc toda parte conversam online com rou pelo contrário, ela cresce I: como acontece com todas as necessidades
os empregados da * empresas, quanto mais cociente você lor. cm melhor si­ humanas, algo preenche o vazio quando a fonte original dc satisfação estâ
tuação você esiará Compreender c alinhar o âmago arquetípico tios seus va­ ausente Para os nossos jovens, sáo os grupos etários e as gangues. t para
lores. a miíi cultura organizacional c a sua identidade — a Cm de le r uma ló­ Icxlós nós. ê ilullywuod e a Madisun Avenue: as grande
* Máquinas do Mito
gica c uma linguagem que ajudem a fazer tudo isso — permite que voei dos nossos tempos, c uspindo uma torrente conttnaa de "significado’ na cul­
administre o significado dc uma maneira que inqx-dc escândalos c embara­ tura vem ter a menor idéia do que cslâu fazendo Criamos significado sem
ços. ao mesmo tempo cm que inspira a lealdade do empregado e d«> cliente administrar o significado. "------- - — —
56 O Hlftól ( O ÍORA DA Lf I 0 pO. mvderno

N.u« ç.uis.i Mitpiw.i. |>i>ii.uito,que «• api-nic «lo publico por significado, fissionais de marketing a tratar dc- necessidades humanas atemporais < uni­
jxitits ul.it lui-nie Mginlii i«lo jiipiciiptco. seja tão inicr.x
* que as marcas ar- versais. dc um modo que constrói marcas atemporais, universais, comercial-
qucupicas (na l«»tm.i dc j>ciM>iulid.idcs. figuras publicas e uleiia comercial) mente eficazes e psicologicamente construtivas.
sAi» abt.iç.t«l.is com Icivor c defendidas lerozmcntc.
IihIos os produtos têm o potencial dc scr mediadores dc significado,
O telescópio e a alcachofra
mais ou menos como ohjcios rituais A criança abraçao ursinho dc pelúcia
c se sente amada So que o ursinho e apenas um objeto inanimado. He nAo Os povos amigos utilizaram suas aptidões humanas nativas de reco­
nhecer padrões para agrupar as estrelas cm constelações, as quais foram en­
ama a c nança. Mas rcjucscnia o amor da inAc pela criança; c a criança libe­
tão usadas para navegar cm aguas difíceis. Do mesmo modo, este primeiro
ra seu próprio amor nesse abraço Do mesmo modo, a jovem executiva meio
nsicma para administração do significado oferece uma espécie dc telescó­
estressada entra no seu conversível e experimenta unu sensação de liberda­
de. A verdade e que el.i pode apenas estar indo para casa. Mas a sensação das pio que vai ajudar vocé a ver os padrões que unificam as “estrelas" no mun­
do das marcas Sem um sistema, vocé talvez nlo veja esses padrões — ou
inAos no volante c do vento nos cabelos é libertadora.
A iilx-nl.idc que essa mulher sente não e o sulislituivo de alguma ouira talvez “ligue os pontinhos" de um modo todo seu. mas que nâo encontra
cxpericm ia nu o resultado das promessas dc alguma propaganda enganosa; ressonância nos outros
As Panes 2. 3. 4 e 5 ajudarão vocé a reconhecer os padróes subjacen­
c a cms.1 rc.d — jh-Io menos naquele momento. O signltc-adv iransiuiud<> (»e-
tes que explicam por que as marcas arquetípicas e a comunicação arquetípi-
l.i mare.i_.se dirige a uma profuikJa necessidade (ou anseio) psicológica __
ca detém tanto poder. Esses capítulos íocalizan os doze arquétipos dentro
( «uno c que isso ditere do vicio, que mantem as pessoas sempre vol­
das quatro categorias motivacionais, explorando a maneira como cada ar­
tando cm Inisca dc mais, de uma maneira destrutiva? f ícaniiK viciados cm
quétipo se expressa nas propagandas típicas (rruitas das quais nâo refletem
substâncias que prometem o que não podem cumprir e, desse modo, mani­
um conceito coerente de marca), nas Identidades d< marca, na moi ■ vaçâo do
pulam a psique O mjrkcimg urquciipiio. por muro l.xlo, cvta enraizado na
consumidor, nas culturas organizacionais e rus estratégias de marketing.
verdade do ptoJum c rcalmciuccumpic os mais pmluiidos anseios das nes-
(Para mais informações sobre esses arquétipose seu jogo na psique indivi­
soas As pessoas nr«*ctsain dc simnfi» adriauiéntuo Dccjsak ( liopra cila uma dual. ver Odrsperior do httôt interior, de Carol Pearson; para mais informa­
pesquisa que sugere que a ausência dc significado esU foitcmcntc ligada a ções sobre o papel dos arquétipos na formação das culturas organizacionais,
ataques caidia««>< Victur I rankcl afirma que um semo de significado per­
ver o livro Invisible foices, da mesma autora.)
*
imi ui a muitos judeus sobreviverem nos«ainjiuv dc concentração A maioria dos exemplos que utilizamos representam a comunicação
I r l.iro que o xiguilk.nlo da vhI.i jmi.i as pessoas cdcriv.ido lusic.imcn- efémera da marca, nâ«> uma identidade plenamente sustentada. Além dis­
le da sua fé. da sua f.mnli.i ou do seu senso dc propôsio. Sc não o fizerem, so. esses capítulos sâo escritos com neutralidade cm relação ao valor e não
suas vidas teiAo um vazio que «> tomeniopnwv poJcrâ |>«ccnçlier. Mas. devem, de modo algum, scr entendidos como endosso a quaisquer mar­
com ac.inçnsJgiy)>,jMi'du.ts»> esc rs iços comerciais se inliltt ando em cada as- cas. propagandas ou organizações por nós mencionadas.
pccro «1.1 nossa vida. c impurtanic que também carreguem Signilicâncu e va­ Ac Partes 6 e 7 sâo mais como uma alcachofra. Quando come uma al­
lores — cspccialmcntc se os jmuÍismoiuís de marketing entendem que o sig- cachofra. vocé vai tirando as folhas externas até chegar ao coração. Do mes­
mítcãd«i que a maioria dos produtos passa as pessoas é dc ordem bem
mo modo, para determinar o melhor significído arquetípico para sua mar­
inlciioc a d.is cx|M'ii«'ni i.is que as jh-<m>.ic têm na vida. ca. vocé precisará tirar as informações de superfície para descobrir o
O uso consciente das marcas, c dos produtos que levam seus nomes, significado mais profundo, o coração, que poderá fazer de seu produto, ser-
para fornecer significado cria não $0 a lealdade do cliente, como também
ajuda as pessoas a experimentar maior senso dc realização na vida e no tra­
balho. pelo menos naqueles pequenos detalhes que melhoram meremen- ) Ver Carol $ Pearson: The Itero Wutii» Six Arrlietypei Ur Lirt By (San Francisco: Harper-
SinFrancisco. edrçâo revisada. 1908); Awakouiij lhe H-nses Wvifciiv 12 Arehttypei Tfcol Help
ladamcnic a qualidade da vida cotidiana L assim que se construi uma forte
Uí f iodUurtehei and foui/coM Our Ubrtdi (San»nncKco HarperSanFriiscuco. 1991; ira-
e resiliente lcald.ulc do consumidor diKlo par
* o p..riuxués publicada pela Editora Penumento. Slo Paulo. 199)). c InmiMe
Imagine — ape-iws imagine — que poderiamos bzer isso consciente­ f*»rcs líamming tM Po»rr oj Anbefvpes ro Imprcne Vcur Cureer ond Kaw Organirorion
mente. rcs|mncav cimente e bem Poderiamos scr a princira geração de pro­ (Gbduync. PA Type and Artheiype Press. 1997)
viço <>u organizado unia marca vitoriosa. conforme descrito no Capitulo 16,
Parte 6 O Capttulo 17 mostra a vocí como contar a história dc sua marca
dc uma maneira irresistível — nâo apenas na propaganda, mas cm tudo que
voce (ar. O Capitulo I8rcúnct<xiasasiníormaçóesdcscriia$ateaquelcpcn-
to no iorm.no dc um estudo dc caso que mostra como os arquétipos ajuda-
iam a dar um senso renovado <lc missão â March of Punes
A Pane 7 mostra a voce como reconhecer o arquétipo mais essencial
para a categoria de produto da sua marca (Capítulo 19); como alinhar a sua
identidade dc marca com a sua cultura organizacional (Capitulo 20); c co­
mo < oiisidi r.ir as proíiind.tc queslóeS éticas relevantes para o marketing do
signiliiado (Capítulo 21)
Pc modo gcr.il. o livro O hciiM «• o (oiu-da-lri oferece uma profunda
compreensão do imptindo significado da marca sobre a psicologia do con­
sumidor e sobre a lonsciCncia coletiva da nossa cpoca. Foi escrito basica­
mente para os profissionais da área dc marketing e para os executivos que
tomam decisões mercadológicas. lambem 6 útil para as pessoas que traba­
lham na Arca de desenvolvimento organudcivuol. bem como para at gerín.
cias, que p<>dem ajudar a alinhar as políticas, os procedimentos e a cultura
de uma organização com sua identidade de marca. Alem disso. O herói < o
/.«t du-lci poderá scr útil para desenvolver a educação do consumidor
PARTE

wi

O anseio pelo paraíso


Inocente, Explorador, Sábio

L-ímíwa-st do fume A UNtM dos ffijo


* ppwvosI Um vislumbre do paraíso

e depois as pessoas estavam condenadas a suportar a vida do dia-a-dia. To­


dos os consumidores <lc hoje tím alguma lembrança, alguma experiência dc
um momento maravilhoso em que a vida boae períetia parecia possível Du­
rante grande parte do resto da vida, as pessoas procuram realizar o anseio por
algum lugar ideal onde se sintam em casa e plcnamente elas mesmas.
Alguns psicólogos explicam esse anseio como um desejo de reexperi-
mentar a segurança e harmonia do útero. Num contexto mais espiritualiza­
do. seria visto como resultado da nostalgia que sentimos por termos deixa­
do um local espiritual e vindo para um mundo material. Em ■Sugestões de
imortalidade nas lembranças da primeira irlância”, o poeta romântico in­
glês William Wordsworth sugere que nós. enquanto somos criancinhas, re­
cordamos a glória que antes conhecemos; mas depois, gradualmente. nós a
esquecemos e nos dedicamos à vida comum: *0 Paraíso está em nós quan­
do pequeninos! / As sombras da prisão começam a se aproximar / Do garo­
to que vai crescendo... E por lim o homem vê o Paraíso morrer /!:. diluir-se
na luz do dia comum.” No final do poema, entretanto, Wordsworth recap-
*i

jmi.i usarmos ik»m liberdade c jrrospertd.ide no sentido dc melhorar a nos­

(um o êxtase cspuitual do lo|\»da montanha c *


c sente conto se tivesse no-
Nu nível mais cotidiano. o Explorador busca produtos e serviços que
sa vid.i
caincntc entrado no paraíso promovem a jornada da autodcic aberta. o Inocente busca aqueles que ofe­
Na verdade. muitos consumidores dc hoje vivem rtalnienic numa es-
recem a experiência JTpaz e da bondade na aqui c agora, e o ‘»âbto busca
nccic dc paraíso l m termos materiais. hoje desfrutamos a maior afluência
que a humanidade p conheceu Contudo. a felicidade escapa de muitos dc aquiles qúe cólãhoram para o aprendizado ou a sabedoria.
( unto consumidores. os Exploradores têm idéias independentes e sâo
nos porque o desenvolvimento da consc if ncia nâo acompanhou o ritmo das
curiosos Gostam de testar coisas novas c. por isso, para ganhar a lealdade
nossas vantagens materiais Temos muitas escolhas. em termos dc como per­
seguir nosso destino indiv idual. mas hem poucas placas indicativas que nos deles, é imjiortanic oferecer inovações e aperfeiçoamentos contínu.»
* nos
ajudem a encontrar o caminho. L por isso que os arquétipos e as historias produtos (as empresas de software levam isso a sério) Os Inocentes, por ou­
arqtieiipicas que oferecem um guta para a auto-realizaçâo sâo hoje m.us re­ tro lado, gostam de encontrar uma marca na qual possam confiar e se man­
têm lieis a ela. ac rcditando que 'nâo se mexe em ume que eslâ ganhando
.
*
levantes do que nunca
Os trés arquétipos básicos deste capitulo oferecem diferentes estratégias I les lambem gostam das marcas que simplificam a vida (computadores ami-
*
para a hu
ca da lenlizacâo.^O Inocente é um pouco como a criancinha ado- gos do usuano. por exemplo), (h Sahios gostam dc ter todas as informações
i.ivel ou o s.lf»M iiiisiko. cheio dc assombro reverente pela beleza dc todas as
coisas, ainda acreditando que C possível viver no paraíso aqui c agora Nos
niscrs mais Ixu.xos do arqucnpo. as pessoas sentem que esse é seu direito dc
lumiiu c. portanto, ficam luriosac quando a vida parecedcixâ-las na mio.
Cm um nível mais elevado, o Inocente escolhe uma vida mais simples, mais
orientada por valores, e entra no paraíso agindo com base nessa decisão
Na sociedade atual, vemos a consciência do Inocente no fone desejo dos
pis de tornar perfeita a vida de seus filhos — nâo lhes negam coisa alguma,
exigem pouco deles c permitem que eles se expressem como espíritos livres.
Nos a vemos lambem no interesse renovado, da década de 1990 e anos se­
guintes. pelo cspirtio ou pelos valores como bases para uma vida sâ e feliz
O Exnlorador é impelido por uma sensação de nâo pertencer, como o
Patinho Feio procurando os seus. Os Exploradores sofrem certa insatisfação
e inquietude subjacentes, como se estivessem sempre buscando algo me­
lhor. mas volta e meia dizem 'nâo é isto
* e põem o pé na estrada. Como os
Iwlwcu' deixando o Egito, o Explorador poderá vagar no deserto durante 40
anos (uma mcuifura dc 'lodo o tempo que for preciso") antes de chegar â
Terra Prometida
Lm lermos <lc desenvolvimento. este arquétipo ajuda a pessoa na tare­
fa dc encontrar a si mesma. Toda essa busca externa é. na verdade, uma es­
tratégia para explorar experiências, ambientes, relacionamentos e produtos
que têm ressonância com a verdade interior do Explorador Ao longo do ca­
minho. os Exploradores vivem aventuras maravilhosas.
Enquanto o Inocente busca a realização no aqui e agora e o Explorador
põe o pé na estrada â procura dela, o Sábio nos diz que felicidade é o resul­
tado da instrução Viver com o nível de liberdade e abundância que temos 0 Gttn Gont reprodn a purezo r-oiurol do Homem Verde, vnofem
hoje f tarefa que exige alto nível de consciência acompanhado da capada- mruco da obvndànoo da rctvrtza, t/omferndo o ideot do («acerte poro os
dc dc fazer cscollu» O arquétipo do Sâbto nos ajuda a ganhar consciência «ejetoc conç-tocfos/ pesqenhçj <Jo (aze-sJa^pmdvZKXK pelo Gree-i Goot
62 O MÍROI C O FORA DALÍI

relevantes de que precisam para tomar decisões «mbasadas sobre as marcas.


I les lambem gostam dc aprender e. por isso, sentem atração pelos produtos
que exigem uma iui»a dc aprendizado (como o * computadores).
Esses tris arquétipos enfatizam o Sclí. acima dos outros, e a autonomia
acima da pertença. (Ver a grade motivacional d; Figura 2.1.) Eles frequen­
temente jogam cm oposição aos arquétipos da Pane 4, que dão mais valor à
pcitciiça do que à autenticidade Claro que. para entrar na ferra Prometida,
c necessário encontrar meios dc equilibrar o derejo dc individuação com o
descpi de conexão.

f inbtlidaSe

PrrcenÇJ

r
(futa 2.1
CAPITULO

rd

O Inocente
Lema: “Somos livres fiara ser você e eu”

Toda cuuura um mitos dc uma Idadc no OtiRO. quando a vida era perfeiu. e

visóes utópicas dc como ela se tomana novamente aquela maravilha Símbolos


como a Estrela de Belém anunciando o nascimento do Menino Jesus, o Santo
Graal aparecendo para os cavaleiros da Távola Redcnda e a casa coberu de he­
ra com uma cerquinha branca sugerem que C possível encontrar a felicidade por
meio do tnunfo dc certo tipo simples de pureza ou bondade O Inocente que
existe em cada um de nos quer viver naquela lena perfeita, onde 'somos livres
para scr vocé e eu
*.
64 O MIXÔI C O FORA DA-KI

O Inocente A piomcssa do Inocente c que a vida niti» Over Me”. "Summcrtime


.
* “1 he Age of Aqua- O l<KX«<H
* ombirrí i .K. •
precisa sei dura. VocC c livre para ser voei *
ríus (*
WZvr got to gct ourselves back to the conbKldo to<nO
De«e|o básico: vtvenciv pvtf oU fucT-J. útópktxVj.-
mesmo <■ viver dc acordo t om seus melhores garden") e “Dont Worry. Be Happy".
o pi/siso UTkjIdorulUtx íftjélíbcí ffltH.
Metaj nr («fiz valores, aqui c agora, apenas seguindo nor­ As pessoas que têm ressonância com o noto, *
|
Medo: fizer *Tjp «rrido ou mas simples, livrosdcsiiccssocoinoCTiitkrn >- arquétipo do Inocente anseiam pelo emprego
mim que provociri punção ; , Stutp/or rhr Soid (cm toila> as su.is variações) vr perfeito, peio par perfeito, peío lar peHettõ.
Estratégia: tuer as cosus > c ATTCRfiillv Ncccl to Ktiinv f Irurnrd tn Km. põFfnTíõHx'rTcims~e peiã vida làcãTÃ promessa básica do Inocente é que a
d'tlto vida pode ser õEdcn. Pense no Natal e na maioria dos especiais natalinos,
dergiitten falai» àquela parte de nos que con­
Dons: (i e odmismo acompanhados da sensação de maravilhamento e dz esperança numa vida
fia em um tipo absoluto de suiplind.idc O
Inocente ê cxiraordmaiiamenie atrativo nes­ bela, especialmente se acreditarmos em suas possibilidades e optarmos por
ta nossa epoea frenética e estressante, porque ele promete q»c você pixlcrá fazer as coisas direito. A promessa secundária t que, sc ocorrer a queda do
sair da pista de alia velocidade, relaxar e desfrutar realmentc a vida. Edcn. a redenção é possível: acontecimentos desagradáveis ou desaludores
As marcas do Inocente incluem as estrelas de tincmii Dons Day. Mee ãcâRtmlêvãndtrãTúmlínãí feliz e a estagnação leva â renovação.
R\an c loin Haiiks, os filmes Presente de grego e Momento mcspicnvrl, a rede Dc todos os arquétipos, o que tem mais níveis é o do Inocente. porque
de tevê educativa Í,Us, Kcd>J)i>ncy.Brcçcrs, Ronald bk Don.iH Jlaskm-JRob- a$ pessoas o experimentam tanto no começo quanto no fim da jornada. (Ver
buis. Pillsbury Doughboy, Ivorv, alct>dâo Co tecido da nossa vida") e a m.iio- o quadro "Os níveis do Inocente", abaixo.) No início, o Inocente tem uma
riâ dós jlimcnios integrais ou orgânicos Essas marcas prometem a experién- qualidade infantil de ingenuidade e uma dependência simples, quase In­
xcia da volta da inocência — a vida pode ser simples, boa e dcscomplicada consciente. As crianças deveriam ser capazes de aceitar como ponto pacífi­
Q filinc Otunstn <r< idcntal joga com essa esperança do Inocente de que co que seus pais e outros familiares cuidarão delas. Mas muitas pessoas car­
c possível ate mesmo viajãr sem sofrer a menor inconveniência; já em pnr- regam essa expectativa para as situações da vida adilta, onde tal confiança
rest Curnp está a íc dc que e possível experimentar todos os desafios dos anos nâo é necessariamente garantida. Hoje em dia, por exemplo, um número de
I9M). 70 e 80 e permanecer incólume, desde que se conserve a simples do­ empregados maior do que se poderia esperar ainda tem a expectativa ana­
çura e amor do verdadeiro Inocente. Embora nenhum de nósqueira ter oQI crônica de que os empregadores cuidarão deles — sejam ou não eficazes no
limitado dc Forrest. o incrível sucesso d<> filme nos diz que rralmente apre­ trabalho. Essa expectativa leva a uma desilusão extrema quando o emprega­
ciamos sua pureza dc espirito e seu simples poder de resistência. dor não pensa assim.
I:in lermos hisioricos, muitas marcas fazem um apelo implícito ao Ino­ No nível mais alto, o Inocente é o místico. Um exemplo famoso é Tho-
cente prometendo o resgate previsível de um mundo imperfeito. Os anún­ mas Merton. o monge trapista moderno que passou a maior parte da vida
cios mostram um homem com caspa, uma camisa com o colarinho engor­ num mosteiro, afastado do mundo; seus livros, no entanto, afetaram profun­
durado ou uma proposta que o coircio talvez nâo entregue ate a data fatal; damente a sua época. Em um sentido mais comum, as pessoas que escolhem
tudo isso tem apelo para o desejo pessoal dc resgate. “Este mundo é injusto seguir um caminho místico em retiro estão respondendo à verdade dc que a
c inseguro Você será rejeitado, abandonado, demitido ou exdado sc não fi­ inocência atrai os muito jovens e os muito velhos. Em ambos os casos, o
zer as coisas direito Mas o Éden será reconstruído se v<xé comprar o nos­ dom é a confiança na vida e a fé em um poder espiritual maior do que nós.
so produto — seu couro cabeludo ficara saudável c atrativo, suas roupas te­ que nos systém c nos mantém a salvo, mesmo além da morte.
rão aspecto imaculado, a projiosta será aprovada c a vida voltará a ser
segura " Contudo, os consumidores de hoje respondem cada vez menos a
essas gritantes promessas dc resposta» simples. Nas suas formas mais sutis,
porem, o arquétipo do Inocente ainda tem forte apelo. Na verdade, ã medi­
da que a vida se torna mais complexa, mais cresce esse apelo
Os filmes do Inocente incluem muitos da Disney (bem como a Disney-
lãndtj e Disney World) e a maioria dos infantis da Warner Brothers Canções
cl.issicas que revelam o anseio pela Inocência incluem "Somcone to Watch
o l<MXtn<« 67
66 O HERÓI t O FORA-DA-LEI

surpreendente “Como vocé mede o sucesso» Eu tenho alguém para c uidar


A promessa do paraíso
de mim Eu * O anuncio reconhece o desejo do Inocente dc ter quem cui
A idéia dc um paraíso terrestre excrcc tremenda atração sobre a imagi­ dele e deixa implícito que a firma hz parte dessa tarefa, mas também apela
nação do mundo moderno, tanto que Ernest Hemingway disse certa vez que para o desejo de independência das mulheres aquela mulher nâo está espe
toda a literatura norte-amencana era uma buscado paraíso — “aquele lugar rando que o cavaleiro de armadura branca a venha sakar. e a aju a a cn
maravilhoso". Em vários mitos, o lugar ideal é simbolizado por uma paisa­ a vida perfeita, assumindo a responsabilidade por sua própria vida
gem domesticada, um jardim, um bosque sagrado, um pasto verdejante. A No mundo complexo de hoje, mesmo os pais ma» vividos e sofistica­
vida 6 sempre mais fácil nesses lugares: ali nâo existe morte, dor e sofrimen­ dos sentem o fone ímpeto dc manter seus filhos lâo inocentes quanto pos­
to; ali, você nâo precisa trabalhar duro para sobreviver. sível. pelo maior tempo possível. Para muitos pms. isso :on»a a forma de ten­
No paraíso. você nâo sente desejo por coisa alguma. Os bahnescs. por tar dar aos filhos tudo que eles possam querer, dc modo que nunca passem
exemplo, tendem a imaginar Bali como um paraíso terrestre. Na certeza de pda experiência da escassez. Há munas piadas bem-humoradas, na linha be­
que terão tudo o que precisarem, eles vivem felizes e com simplicidade, exi­ bê. sobre o apelo dessa inocência aos pais. Sob o relrato de um bebé abso u-
gindo poucas posses. Ao mesmo tempo, nào sào competitivos e cooperam lamente encantador está a legenda * Efe vai fazer você rir Ele vai fazer vo­
uns com os outros mesmo na produção artística. A espiritualidade inspira a cê chorar Ele vai lazer vocé comprar um montão de celsas.
vida cotidiana, dc modo que uma vida muito simples t plena dc significado. I; frequente haver algo abcrtainente infanidizado mesmo nos anúncios
Claro que o ambiente natural tarnbem é idilico cm sua beleza. Mas também dirigidos aos adultos, quando o arquétipo do Inocente é evocado Antes da
c verdade que □ crença balinesa dc viver no paraíso é uma profecia que Se falência, a e-varejista Value America tinha anúncios mostrando nâo só chi­
autorealiza. nelas confortáveis, como também chinelas cor-de-rosa com orelhas dc coe­
Mesmo em uma sociedade mais materialista e competitiva, o arquéti­ lho. A promessa explícita da empresa era: faça suas compras sem enfrentar
po do Inocente está associado aos prazeres simples, aos valores básicos c a problemas (“Esqueça onde estacionou o carro. Ignore aqueles balconistas
um atributo saudável que faz dele o significado a ser escolhido rara produ- agressivos Deixe de ser tolerante com as ofertas limitadas. Mas use seus sa-
torpiUurais (pense no algodão, por exeníplo). sãliõneics/ãlmcntos para o paios de fazer compras" — as lais chinelas). A promessa implícita das chi­
desjejum (cspccialmente flocos de aveia e cercais integrais) t outros produ­ nelas cor-de-rosa com orelhas de coelho ta muito além da facilidade na ho­
tos dc uso doméstico O café Folgers. por exemplo, veio pata incorporar o ra das compras; era uma fuga das roupas formais e da chatice dos horários
Éden domesticado pelo qual anseia o Inocente — um lar alegre e confortá­ fixos (pegar filho na escola, levar filho para o treino dc futebol, fazer com­
vel. o aroma do café no coador, a promessa de um novo dia pras. etc.), para voltar a scr criança Tamhém os anúncios e catálogos da J.C.
Sào infinitas as possibilidades dos anúncios que evocam a experiência Penney mostram mulheres c crianças com roupas deliradas, elegantes, em
perfeita. A Doubletree Hotels faz um apelo explícito a esse desejo, mostran­ tons pastel Um anúncio da Lands End mostra uma sab branca com portas
do iinaxcn» idílicas C as palavra» “_o repousa-perlei lo
. A Norlel Networks
* envidraçada» que levam a um Jardim natural onde uma mulher, toda de
mosira um anúncio que cita Carlos Santana. “A estrada para um mundo sem bunco. dança com a maior naturalidade. A legenda diz: "Você nào quer ape­
limites, sem fronteiras, sem bandeiras. sem países — onde o coraçào é o úni­ nas roupas Você quer roupas que a façam se sentir completainente â vonta­
co passaporte que vocé carrega". Â promessa é que a internet oferece o ca^ de consigo mesma. Como quando você tinha seis anos."
minho mejafojjco para o mundo perfeito. O Inocente geralmente quer voltar à natureza e à vida natural. A Clai-
Algumas mateas admitem os limites de sua capacidade de criar o Edcn. rol Hérbal Essence mostra flores e folhas primaveris, prometendo "uma ex­
apelando para aqueles consumidores que reconhecem esta realidade' já t periência toialmente orgânica, com estilo". Você até pensa em Thoreau de­
uma grande realização tornar maravilhosa uma parte qualquer da vida A fendendo a vida simples e natural, nos Estados Unidos; ou em Gandhi. na
Rockport Shoes mostra um confortável par dc sapatos, com a legenda "A vi­ índia, propondo uma maneira de retornar à simplicidade que libertaria o país
da é perfeita, pelo menos dos tornozelos para baixo
.
* O anúncio da firma dc da dominação britânica; ou ainda, no movimento hippie de volta à natureza
corretagem de investimentos Morgan Stanley Dean Witter mostra uma mu­ na década dc 1960. Na sociedade afluente dc hoje, embora compulsiva e fre­
lher encantadora, madura, de aspecto natural — vestido de «Igodáo, cabe­ nética, o impulso dc voltar a uma vida mais simples ganha uma ênfase bem
los ao vento —, evocando um anseio do Inocente, mas com uma guinada diferente. Uma revista como a requintada Real Sirnplr promete "vida com
4» O HMÔI ( O IORA I'
* 1(1

pomo Mictx. |.*


nuti-N«lv um m»|'iji«>.< mll.iJ<<sm.iisMiiq>l<-s«i>iii .1 |H'tc. rou-
De volta ao básico
jxinque hin» lenam. .<iiu?.hIc. gi.iuli«,mti
>
* c opaçvx >cicn.»s‘. nu
* expressa O poeta WH Audcn escreveu que há dois tipos de gente: os Utópicos,
uts promessas per meio «lc anúncios «k can^inus uhijxis nostálgicas que 1m.1g1n.1m o mundo perfeito no futuro, e os liden<stas. que. se a vida nâo
A resista KrJ Mmpfr (%l>«g.in *1 aç.i menos, lenha num") I01 citada com é perfeita agora, acreditam que ela foi perfeita no passado. Os anúncios do
o fkilo \ immI «Io Imscntc As <oco *
Jo cm suaves tons jmmíI A
* imagens mo Inocente, portanto, gcialmente apelam para a nostalgia. Um anúncio da
miii|*I o. lini|Xb. e«bvm as A |\tgin.ica
*
> okie»c tutu tckcxjntc quantidade dc vodea Belvedere mostra a foto de um velho maravilbosamente cheio dc vi­
espaçv cm biainv. imjvJiihk» que o lexto c a incnMgcns scian» «Mu.ig.uli»rcs da. com as p.davras 'Do mesmo jeito que meu pai a fazia. Do mesmo jeito
As vezes. js novas tecnologias «abuimcnlc aproveitam a promessa do que meu avô a fazia. Do mesmo jeito que meu bisavj a fazia... ’ O anúncio
lihHcnte para atudar a tiaJuzir algumas características repulsivas de um ainda explica que aquela vodea é "destilada segundo uma tradição de mais
pr«sliiio cm algo que d.i a iiupicsM<> dc natural c sadio lh ranic anos, a |ol- dc 5(X) anos
* O renascimento da cerveja Rheingold. cujas raízes remontam
k (.rcen C.iant, criada p»»t Lco Btirncu. apicscinou as quilidadcs frescas e aoBrooklyndc 18J5, foi movido pelas energias da nostalgia, (alcomoarein-

sadias «los legumes congcbtlos que levam esse nome Nú«> importa que o troduçâo do f-usca Os primeiros anúncios da Rheingold também jogavam
congcbdo pareça ser menos que perfeito; a evocação doGrccn Man (Ho­ com o otimismo do Inocente, dizendo ‘Dc repente, o copo do mundo está
mem Verde) c de seu vale fdtil c luxuriante ajudou a traastnilir a ideia dc meio cheio novamente".
que v> vegetais congelados a vacuo trariam cada ves mais da fazenda para a Como uma boa criança, o Inocente está sempre lentando consertar a vi­

sua iiics.1 i\> mesmo nuslo. a Pillsbury Doughbov. também criação dc I eo da Um anúncio da Maxwell House — com os tons pstel exigidos pelo Ino­
Kuiiiclt, incoipota ioda .1 saude natural da "panificação", mesmo que a pa­ cente e a moça de expressão doce, blusa branca e xícara de café azul-celeste
lavra tenha si.ln redefinida. agora quer dizer remover o produto dc um tu­ — decide "Vou perdoar meu marido por roncar. Voa parar de completar as
bo c coloca-lo no forno Mesmo nesla epoca apressada c movida a tecnolo­ frases dos outros. Vou comprai girassóis e anémonas Vou dar um cruzeiro
ao Alasca para meus pais. Vou ler todos os livros do inundo." No pé da pági­
gia. o ato de tirar unu coisa quente do (orno (nâo importa como entrou lá?)
transmite a sensação da "vida como cb deveria ser", como ela era antes dc na está a promessa do paraíso: "Faça cada dia bom até a última gota."
O Inocente nâo é só um aliado do passado; ele também está associado
hxk«s nos licarinos bo ocupadosc confusos.
Mesmo nas ch.iin.nlas categorias «k> “vicio*
, o arqueapo dc' Inocente com a volta aos valores fundamentais c prazeres simples. Um anúncio da li­
monada Crystal Light (de baixa caloria) mostra «ma mulher vestida de
trm «ido tis.uk> cluasmcnic Por exemplo, nos priin«»rdi«s dc sua difusão
n.u i.mjl, a ccncja < «u>rs confiou ru antiga imagem das Montanhas Rocho- branco, com um xale amarelo-pálido, dc pé numa praia, parecendo em êx­
s.is. I01 issc» que a manteve longe das categorias Icipo-com-arro; c levou os tase. A legenda, que foi escrita a mâo para parecer uma carrinha de um ami­
go. diz. "já que um vestido de tamanho pequeno nio é garantia de felicida­
bebedores a imaginar John Pcnvcr e selozes correntes deagua pura Mais
recenicmcnle. as cervejas regionais conseguiram transmitir esse esjurito. de. urna tarde de jiasseio compensa um dia de rotina, um momento dc riso
Fm ve: de imaginar um imenso porque industrial quando jxnsam na pro­ é a melhor terapia, faça o que funciona para você. Essa é a beleza dc Crys-
dução dessas cervejas, os consumidores visualizam uma fábrica pequena, tal Light". As lojas Papyrus mostram uma mulher — novamente toda vesti­
cheia Jc cor local, c acreditam que as características deve ambiente são da de branco, sobre um tapete amarelo-claro, lendo um cartão ilustrado com

transmitidas, dc algum modo, na experiência de beber a cerveja. delicadas flores dc lavanda. O cartão diz. novamente imitando manuscrito,
O marketing do ambicntalismo t terreno natural para enfatizar o ar­ ‘um oásis na era da informação". Continuando em letras de imprensa, ob­
serva: "O simples prazer do ato dc escrever permanece. É por isso que as
quétipo do Inocente' As empresas dc energia elétrica dos Estados Unidos‘di-
Tutgaram um anuncio com a foio de uma garotinha encantadora numa idí- mensagens mais memoráveis sâo aquelas esentas â mâo."
lua floresta ensolarada e estas palavras superpostas a imagem: ‘Estamos A medida que 0 ritmo da vida se acelera e a tecnologia define mais e

f.izcn l.' a nossa par e p.ira garantir que nossas crianças herdem um mundo mais aspectos da nossa vida, o Inocente quer paz. sossego, naturalidade e,
acima de tudo, quer que algumas coisas permaneçam O Inocente explica o
onde o sabia ainda tenha por que çantjr“
apelo das excursões â regiáo da seita Arnish, do mcbiliário quacte e de Ikca,
que. diz o anúncio, quer dizer "bom senso".
70 o H<HÓI r O rO
* A-OA-t.»l __ __ __________ ______________

"V.i p.ita <> t k-ste. jovem'. m> itava <• jurn.ihvt.i Iluraic Grcelcy durante a se­
Coca-Cola: Unu obra-prima inocente gunda metade d<> sfeuto XIX As histori.iv dc Horatio Alger. esc riras no co-
mrçudosec ulo XX. rstiniuLivani aquela rnctgia progressiva e ascendente a
A Coca-Cola tem sido brilhante na sua compreensão coerente dc que é
uma marea do Inocente, embora a estruturação de sua identidade dc mana enirar em um sisitma econômico que recompensava o minto
tenha acontecido basicamente conto um eleito colateral da destsâo de ligar । H cartuns do Mu key Mouse, dr Walt Disney, slo um exemplo típico

a mana aos l stados Unidos dc mulo a |ieisiMiri< ia transforma a derrota em sucesso O próprio Disney
Um personagem do romance Ihr 0lrssmg.dc Nanvy Mitford. assim re­ sofreu muitos fraijssusait hnalmenie ganhar enorme sucesso, tal como
sume o signilicado da Coke: "Quando digo unn garrafa dc Coca-Cola, es­ morrera antes <om seu» pais Ao inventar o larnoso rato, sua intenção era
tou lalando metaforicamente. Estou induando o signo externo e visível dc fortalecer o que havia dr melhor na tradição “dos trapos 1 riqueza" c ensi­
uma coisa interna e espiritual Estou lalando como se cada garrala de ( oca nar os valores do otimiMiio e da persistência Antes de morrer. Disney stn-
C ola contivesse um dpm |espirito| e como se esse dpm fosse a nossa gian- teiizoii o impulso por tris de seus filmes com estas palavras: "Odeio ver fil­
de civilização americana, pronta para saltar de dentro de cada garrala c co­ mes baixo astral' I u sei que a vida nlo e assim e nâo quero que ninguém
brir todü o universo global com suas grandes asas abertas."
venha me dizer que ela ê assim
Durante a Segunda Guerra Mundial, tivemos o caso fascinante da Co­ Nossa pesquisa entre os norte-americanos de mais idade mostrou que
ca-Cola e da importância de uma bebida gelada, refrescante e nâo-alcoolica eles, mais ate do que a população em geral, adoram ver bcbõs e crianças na
para os soldados. Dwight D. Eiscnhower acreditava piamente no poder mo- propaganda Para eles, a inocência das crianças tem uma carga emocional
tivacional da Coca-Cola Tanto que. depois de uma mvasâo-chave, Ikc pe­ especial, a criança e o rrclhor dos novos começos, validando nossa própria
diu que a empresa providenciasse instalações de produção suficientes para existência e a continuidade da vida
supnr as trepas com três milhões de garrafas. Um relatório da Procter 6r Gamble, intitulado “Celebrando 100 anos
A Coca-Cola do pos-guerra ficou associada a um tipo paritcularmentc do sabonete Ivory corno u favorito da America', começa reconhecendo que
global de americanismo. distinguível do tipo Harley-Davidson por seu idea­ Ivory continua uma "tradição da qual seis gerações de americanos desfruta­
lismo No começo da década dc 1970. a Coca marcou pontos com estas pa­ ram Ess» tradição renasce cada vez que unia nova geração estende as mâos
las ras de seu jingle “Quero lazer do mundo um lar e mobiha-lo com amor/
para uma barra de Ivory. renasce cada vez que Ivory mantem sua promessa
Criar macieiras, abelhas e pombas brancas como a neve." O jingle tornou-
dc qualidade, (cita pela primeira vez ha um século". Mas o Ivory nâo só in­
se ilo popular que foi veiculado durante seis anos.
*
corpora a renovação dentro da continuidade; ele também promete algo co­
Mesmo o slogan "Coke. it s lhe real ihing" sugere a ênfase, dentro do
mo redenção.
arquétipo, na honestidade e na autenticidade. O unico verdadeiro erro da
Sak-nios que as religiões oferecem renovação espiritual. O estudioso
empresa — o lançamento da Nova Coca-Cola — acabou revertendo em seu
Mirtra I hade explica qje um dos principais ntuais nas culturas primitivas
preprio beneficio, pois os consumidores exigiram a volta da Coca-Cola clás­
e um ruo anual cm que o mundo é simbolicamente recriado. O cristianismo
sica. demonstrando uma invejável lealdade ao produio
fala da renovação da Patcoa e da graça que purifica o pecado. Na prática ca­
tólica. a confissão e a penitência permitem que os pecados sejam perdoados.
A promessa de renovação No judaísmo, o período entre o Ano Novo e o Dia do Perdão permite aos ju­
deus icllrtircm sobre c:>mo violaram as Leis e também se emendarem, da
Os Estados Unidos nâo estio assoe Lidos apenas a valores duradouros, melhor maneira possível, para poderem passar uma esponja no passado e
sadios, o pais também está integral.-nente associado a novos começos Des­
entrar nn Ano Novo com a alma limpa
de os imigrantes vuxlo para o Novo Mu mio ate os trens abrindo o caminho
Nâo i In gá a causar surpresa que as religiões nos ensinem como os ri­
para u Oeste. os Estados Unidos sempre prometeram que as pessoas pode­ tuais do perdão restauram nossa simples fé. otimismo e bondade O sur­
riam começar nova vida e. quando necessário, reinventar-se a si mesmas preendente ê que um pruduto como o sabonete Ivory tenha conseguido es-

I OetMrr Kjnnrr Ikr lOODm JV f aod Ukr rkry Wxkrá (No»j York limrt
l ||1»Mrinw4«rV fcjxx .r-tM-p-w.r» IWh. ,S. í<>,X Cc«-
rurv llrsinc. CA I nwrjxrnrur Press. 2000;. pp l(w 114
p O H«WQ» | O IO»A OA-LCI O looonf 7J

talvletcr uni signdu.id<> lano iuh» muito diferente do religioso Dizem as ■ Uma ohra-pnma do marketing Inocente pode ier vista no crescimento
lenJas «l.i empresa que llarley Procter. um dos fundadores da Procter é* K do McDonald's. nâo só como um negócio de amplo sucesso, mas também co-
Gamble, eslava sentado na igreja pensando como colocar no mercado um | moo protótipo dc todo um tipo de negócios. Qcscnhajp para aupças C ía-
nov o sabonete que actdenulmcntc llutuava Quando o pastor começou a ler R anilias, o McDonald s_p.romc;c unjJugar dc.djyerslu — uma variaçâq do
o balmo 45. Provier sentiu que as palavras edênica
* eram exaiamente para p "afluelcjugar maravilhoso^. Os arcos sâo símbolos extraordinariamente coe­
si mesmo e seu dilema. -.Mirra, aloes c cássia exalam tuas vestes, as harpas rentes para a entrada da Terra Prometida; os arcos dourados do McDonald^
d<»s |xd.Kios dc mailim (ivoryl te fcMcjam." Daí veio o nome "Ivory" c a anunciam a disponibilidade de "alimento, afeição e alegria". Para algumas
klcia dc que o sabonete poderia ser associado à pureza, bondade c renova
* ! pessoas, os arcos dourados do McDonalds lembram uma famosa ilustração
çâo. "tão puro, que numa" As primeiras embalagens ciara brancas com es­ B dos tempos da aula de catecismo: as Tábuas da Lei. com os Dez Mandamen­
crito cm prelo, mais tarde atualizadas para branco c azul a fim de transmi­ tos. Embora seja improvável que a McDonalds Corporation tivesse tal in-
tir uma imagem dc limpeza refrescante. O slogan, claro, era "99,44% puro". f. tenção, o fato de as pessoas fazerem essa associação liga os arcos â fé do ar­
A Procter &■ Gamble teve a sabedoria de alinhar este significado de quétipo do Inocente de que. se todos nós seguíssemos as regras, o Éden
marca com suas primeiras atividades empresariais Uma das fábricas da
Ivory. no século .XIX. loi batizada Ivorydale |vale do marfim] c dedicada ao poderia ser restaurado.
O personagem Ronald McDonald, o McLanche Feliz e as cores primá­
ideal dc que uma fabrica deveria ser um local agradável para sc trabalhar Ti­ rias têm apelo para as crianças, assim como o equipamento. Os esforços fi­
nha |.incl.is imensas que deixavam entrar a luz c o ar. alem Je gramados bem
lantrópicos do McDonald's também sâo coerentes com o desejo dc tornar o
cuidados. canteiros dc flores c áreas <lc recreação Durante cem anos, os
mundo um jhiuco melhor para as crianças: as Casas Ronald McDonald aju­
anuímos sempre nmslr.ir.iiii Ih-Ik-s encantadores c imagens saudáveis de
dam as crianças e suas famílias a lidar com doenças criticas.
crianças c mamães com aquela pele fresca c bonita que a empresa promovia O clássico conto de Erm-ct Hemingway, “A Clcan, Well-l.ightéd Place"
como o visual Ivory . A cociência dessa abordagem, ao longo do tempo,
(um lugar limpo c bem iluminado), exemplifica o desejo que muitas pessoas
permitiu que Ivory adotasse um significado que traduzia sua pureza física
sentem de escapar, pelo menos temporariamente, da ambiguidade e incer­
(com lelativamenie poucos defeitos) em uma espccie de rnetafora da pure­
teza da vida moderna O McDonalds tem o mesmo apelo. Os restaurantes
za espiritual E dc algum modo especial, essa pureza se associou aos Esta­
McDonald'
* nâo sâo apenas sempre limpos e bem Iluminados; eles também
dos Unidos, aos valores da família e a tudo que c certo no mundo.
servem exaiamente a mesma comida — pelo menosno território norte-ame­
ricano Eles nâo confundem o cliente com muitas escolhas. E seu prato bá­
A organização Inocente: O caso da McDonald’s sico é a comida norte-americana mais idcnuficável (além da galinha frita):
I As organizações do Inocente incluem as lojinhas varejistas de família, o hambúrguer
os pequenos negocios de bairro e qualquer organizaçáo que se dedique com O Inocente gosta da previsibilidade c da certeza Viajando por qualquer
desenvoltura a prática dos valores simples. Pequenas noqvcsito inovação c lugar dos Estados Unidos, você sabe exatamente o que vai encontrar no Mc­
grandes no quesito lealdade. elas enlanzam mais a previsibilidade do que a Donalds: o mesmo menu, a mesma decoração e até os mesmos pratos espe­
mtiil.niviI ciais No final dos anos 1940. dois irmãos, Dick e Mauricc(Mac) McDonald,
t) arquétipo d<« Inocente lambem esta ligado a preocupação que as pes­ reconheceram a aceleração da vida norte-americana que tornou importante
soas sentem ao ver aqueles imensos conglomerados anônimos comprando a jaít-food e a janela do drivc-thru. Eles também compreenderam que os
ou fcchando pequenos negoe tos baseados cm valores e na rida da comuni­ clientes queriam uma refeição rápida, mas previsível. Ray Kroc ajudou os ir­
dade conforme dramatizado etn filmes como Mcn$<tfcem pata você A tran­ mãos McDonald a franquear seu restaurante fantas.icamente bem-sucedido.
sição para «»s negocios globais gcralmcntc e vista pelo Inocente como o fim Kroc percebeu que a franquia tiniu dc ser uma versão da lojinha de fa­
de um modo dc vida. (> lado irônico disso e que u consumiJor Inocente ra- mília. O< melhores franqueados nâo eram gente rica, mas pessoas dispostas
ramenie vê a conexão cnire essa tendência e seu proprio desejo por produ­ a apostar a vida e a poupança naquela única oportunidade, geralmente ma­
tos baratos I: exaiamente esse desejo qur força as empresas a c resccrcm. pa­ ndo c mulher. O controle de qualidade tornou-se urna rehgiâo interna da
ra alc.iny.ir a massa critica nacssarta para c<»iii|h tirem. Um modo dc empresa. Os franqueados recebiam treinamento para fazer as coisas exata-
resolvei esse dilema <■ □ franquia » mente da mesma maneira O resultado (oi uma situação aparentemente pa-
O InocxXA TS
74 O HfRÔI £ O FORA-OA-Kl

que está disponível agora. Ao ler o anúncio, alguém ué dá uma risadinha:


radoxal, mas intrínseca ao arquétipo do Inocente. O McDonalds procurava
pessoas que fossem empreendedoras o suficiente para querer tentar admi­
“Talvez um dia cu faça o que é preciso para rne iluminar. Por enquanto, vou

nistrar o próprio negócio pequeno, mas que nâo fossem especialmcnte ino­ cheirar e provar este café."
As pessoas de hoje estão cansadas. O rumo frenético da vida moderna,
vadoras. Elas tinham de estar dispostas a fazer as coisas da mesma maneira,
as lutas do Herói e a inquietude do Explorador deixam pouca paz às pessoas.
a maneira certa Em suma, tratava-te de pessoas cativadas pelo ambicioso
Isso quer dizer que a simples dcsacelcraçao pode dar .ima sensação de espi­
sonho americano, mas que nào queriam mudar coisa alguma. Tinham de
acreditar que o mundo perfeito do McDonalds já linha sido inventado e nào ritualidade O monge budista Thich Nhat Hanh. por exemplo, ensina norte-
amencanos exaustos a reduzir o ritmo e estar no momento presente. Os co­
precisava scr aperfeiçoado — pelo menos nào por elas.’
merciais que apelam ao Inocente precisam ser mais lentos, c menos incisivos,
Embora o McDonalds nâo pague lá muito bem aos seus empregados,
oferece a adolescentes e imigrantes uma oportunidade de ler emprego e co­ do que aqueles dirigidos ao Explorador. Você pode pjnsar em pinturas im­
meçar a aprender bons hábitos de trabalho — incluindo pontualidade, bom pressionistas, sons naturais e suavidade na abordagem c nas imagens.
atendimento ao clicnic c. sobretudo, serviço previsível. Os empregados do
tipo Inocenie gostam dc saber exatamente o que se espera delese. pelo me­
nos até certo ponto, gostam que a gerência cuide deles. Ceralmente se com­
O cliente Inocente
portam como bons meninos e estão dispostos a ser obedientes e seguir as re­ Quando o arquétipo do Inocente está ativo em ima pessoa, ela é atraí­
gras. em troca da certeza razoável dc ler um emprego da para a certeza, para idéias posiuvas e esperançosas, para imagens simples
A organização Inocenie nâo existe só em franquias, mas também em - e nostálgicas, para a promessa dc resgate e redenção. 0 Inocente também lu-
estruturas mercadológicas de múltiplos níveis, como Amway e Mary Kay. 1 la pelo bem. que quer dizer encontrar o produto “certo", mas também quer
que encorajam vendedores ambiciosos a fazer fortuna alistando amigos e dizer a escolha da bondade e dos comportamentos morais, contra a ganân-
parentes para comprar o produio e lambem para vendê-lo. Em geral, a em­ ? cia e os comportamentos imorais. Em geral, as pessoas com alto grau dc Ino-
presa nào está vendendo um simples produto, mas valores explícitos. Co­ i cência sâo muito confiantes e, cm alguns casos, inccnscientemente depen-
mo diz a Mary Kay. "Deus, depois a família, depois Mary Kay”. Nesses ca­ 2 dentes e iníantilizadas. Elas têm fé nas autoridades e nas instituições e
sos, os empregados estâo dispostos a correr riscos enormes porque
; esperam que estas cumpram suas promessas.
acreditam nos valores da empresa c na promessa de sucesso por meto da Ao mesmo tempo, as pessoas com alto grau de Inocência têm a capaci­
persistência e do trabalho duro. dade dc scr muno independentes da sociedade dominante. Sc os consumi­
dores acreditam que um produio (ou organização) cumpre suas promessas
dc paraíso ou se baseia cm valores eternos, eles estâo dispostos a abandonar
O Inocente como mistico
a sociedade dominante c seus valores para experimentar algo que concebem
A propaganda dc produtos está assumindo um tom mais espiritual, às corno lendo valor maior. O paradoxo é que os consumidores do iipo Ino­
vezes dc um modo zombeteiro. Hoje em dia. a maioria das pessoas está cien­ cente sâo tradicionalistas — cm seu desejo de conexão com os valores do
te de práiicas espirituais que sâo seguidas durante toda uma vida atê que se i. passado — e também estâo prontos a sacrificar sua pertença à sociedade
alcance a desejada iluminação. O Inocente do nível mais baixo quer o resul­ .' mais ampla para se ligarem a valores mais duradouros do que aqueles que
tado sem a disciplina e o trabalho duro. Um anúncio da Tasters Choicc mos­ vêcm como os alicerces dessa sociedade. Como exemplos dc Inocentes te­
tra uma xícara de café sentada na praia, com os dizeres: “Alguns meditam mos. na forma mais extrema, os Amish dos Estado? Unidos, os fundamen-
durante horas em busca da paz interior. Outros a encontram irstantanca-
> tafistas em qualquer religião e cm qualquer sociedade, e as pessoas que “pu­
mente. Serenidade. Tranquilidade. Equilíbrio. Tudo isso está bem aqui — lam fora" de uma cultura de alta prrssâo. impelida pelo sucesso, para
fresquinho na sua xícara O rko c suave Tasters Choicc." Claro qce a Tasters
viveiiciarcm a alegria da vida simples.
Choicc nâo espera que os clientes acreditem rcalmcnie que uma xícara de
Por outro lado, toda essa correria dc um lado pira o outro e o resultante
café equivale a anos de meditação, mas ela lhes oferece o momento dc paz
esvaziamento dc energia lazem o Inocenie regredir-, desse modo. alguns deles
n evidenciam os níveis mais baixos do arquétipo. E.iu um grande numero de
J Wíwro.pp 250-MJ 7 consumidores. a inocência está associada a certo narcisismo e infantilidade.
II.«K • m «In intutox ««>iimiiui.I.>ux x.h« kiurs r i.i«» goxtaiii «!•• i»|u mi Ii4i> piudu/hl.is mi massa Por vidia >k>s anu» 1'iiMl, a eneigiii il<> hi'n rm»
lol i «iiali.-tulu |mm a Niiva I ia qur |i»l um muvlmriito rcpitliual utA|rl
t.bwricm ax ««uxjx «puihk» .ix <|U« ii m r «k« |« u«« axqui irm A %<!••« i>l.i>le,
tu P.iltr dopi lixAinriiln Nova I M rrllrllu ndr»r|o linaliiroilu hirx rufe pir
|H'ii3ni«« r\|.i iM t.« ul«<>iii«> «i «..«Ih il«>« i^itjo<iiiiMiiiihliH
liliriUcAo iiiiiio «i i rriiça de queallrnlgriM» vliâo n«»s rrxgaur i<ii dc que
*lh
\ l«'ll<k M «I ' IlhhCIIIC IIIMIUIOi
* H.h»g«VsU| «|,ix |i.xxi««x qur V l|liri
lid lortas <i|n'Miiilii cm planrla que iiiatâu niiioiii.iii> •nirnie uma ê|x« a
\.un »k m tix prohl. nijx ou ««x । iiljiiMiu N.i vrhbtk.i Ir iUt« guvM «Ir qual
nwls esplittual. »rm cslorço humano Ma», dc aturdo iiun ideiat Nova I ia
xpiri «|»»e «» la«a xri »> poic-iu i.«l «teg-Huo J.« « ,|j (xvm piiqi.it miIh
mais embiisadas, o mundo pcrlelio acra citado por unia mudança de fim»-
\«m'x>. ixm» iihlui ax ««>i|x>M\«u-x «pir imcni.uii pirirsiox |mm j l.tha «lc clôiila Nesse tuiilextn, o Inocentf apenaa se iiiiria mais Millstlcado, pelo
i«x<piikhb«lc ll««|c « ii» «Im, .« iii.iioiM «l«»x («mxiuiihliMCx linHiiiirs rx|h’ia
uso «lc apii.lcies r 14|MI idade» dlspmlveh ■ partir de viria» irmliçôcs espi­
\CI oirntrode val«»t |um 4 «»'I|hiij«,jo t«x «Irxrpix «h ««iiixuiiihhn 10111.111
rituais •— «Ir lug.i r meditação a rituais nativos.
xl.iiil.»««>i|x>MçA<' Na dei ada de l‘M>. a« esperança
* e sonho» do Inocente se focalizaram
lamls-m piulr li.uri no Iii«hci>ic a xomhia «Ia iaIva «oiiiij qiMixquri em duas pussllulubdr
:
* piinielra. o “hug do mllênlu", previsto par» causar
l««i\jx th» iniithh» «pie clr hkniiltqiicioino irxp«»nx,Knx|icli»i«ibpx(»itt'x va o <olapso «la so< irdade let nologica r materialista, que seria scguula por urna
l.«trx e «Ia «i\iIhIa«I«
* n.i »i«l.i nithlciiM t »x «««itxci va«l,»ic> « iiI|miu «»x IiIwiai* korieiLidc mais Kioperativa. amorosa e haseada na comunidade; e, em se­
< 'x IiIn-mix «iil|Min «»x«««nxci\adoicx < K Inoirnlc
*
«b m.uoi u«nlp.nii .«x ml- gundo lugar, uma transformação cultural com base em avanç«»» ter nolõgl-
*
n.ix.
n« eihpijiito jx nuiioii.ix «tilp.iiii i« ia< ixn»«»
cos, espet ialmeiiie a Internei
O ln«Hcntc t.unlmn tem .»Irihldmi.t«I»- neg.ii <»' piohlcnux r «lc mi «»* Podcmus ouvir as vozes de muitos irquêlipos nas reflexões dc diferen­
cnlient ji «putufi» rlr« M«l>eii» cm rxpuj|. xmiplc.xinrnic porque ele «piei que tes pessoas sobre a internei c seu impacto na nossa vida Contudo, e ilplcu
a «iil.i m |.i (KtlritA agoia O exempk» iiuix exlicin» e a AIciiiji»I».i luzix- de quem tem disposição Inocente aJotar imagens religiosas e um tom utópi­
t.i. «»»«!«■ a matou.» «los «id.td.iox h«»i»M«los negava o ll«»kha<iMo N«»x I x(.i- co Matgaret Wcitheim, em lhePrcrfy6d(es o/Çybcnjwe. cita Mark Pesce;
«los l'ni«k»s. itvcin«»\ xima\«>rs .in.ilog.ix «um «» cxtcrimnio «l«»s bub!
*
»s ca
Ctnnnrnun <vm o i>bjf(o de de\e)o. He existe, ele existiu desde sempre e
dcxtiui\A«» Mxicinaiua «b < ivihzaçà»» nuligriu Comocxxj atitude mlluentia
ccnflnii<rr<} u exlslir eteinamenle He prendeu a alenfOo de lodoy ot místi­
o comeu n»f 1 la qtict «lizer o seguinte o Inocente evlâ envolvido consigo
cos. biu-xai e ha< fcen de toJos os (rmpos. He e o (>raal. A mitologia do san-
* • «lilcina que v«h? enfrenta l‘or exem­
mcxiiii» c talvez nà«» sinia «mp.iti.» jx-l grooll — o Somo Graa! — tomo aiquttlpo da ilumina<4o Interior revelada.
plo. muitos consumidores h«»|c esperam a |»eileiçâocii suas transações com A reveld«)o do Gruul t sempre uma experiência pessoal e Unlca... Eu sei —
<> ntuihk» empresarial Se você n.to atender a essa btrasia. eles correrão fe- porque ouvi Jncontdveis vezes, de muitas pessoas no mundo lodo — que es­
lises paia outr«» eaniu Mas. ao mesmo tempo, os consumidores que respon
* se momento de revelaçdo t o elemento eomum da nona experiência enquan­
dem a«» apelo do ar<|ucnp<> do lihKcnte provavelmente serJo leais a uma to comunidade. O Gtaal t notsoj<rme alicerce.'
niaica se sua experiência for positiva, simplesmente porque, aoconirânodo
Pesce descreve sua primeira cx|>eriência no aprendizado do ciberespa­
I xpk»rador. o Imxenie gosta mais da previsibilidade que da novidade Por
ço como um "momento de revelação", como uma epifania religiosa. Embo­
exemplo.«»Inocente permanecera cliente leal da l I. 8« an por causa dc seu
ra essa caractcrizoçâo seja extrema, muilas pessoas escrevem sobre a inter­
quase impecável serviço dc atendimento ao consumidor e da imagem por
nei como »lgn que oferece o potencial dc criar um mundo harmonioso e
ela veiculada uma kqa pura, num recanto do Mame, que nao foi corrom­
igualitário. A internet t vista como algo que torna tangível a unidade, per­
pida" pela ganância empresarial
mitindo que todas as pessoas passem a se conhecer umas às outras passan­
Comparando os novos Imxentes com aqueles des anos 1940 c 50. vo­
cê vê uma grande mudança Nas décadas dc 40 e 50. os Inocentes eram real- do por cima das distâncias e das (tonteiras nacionais.
Até onde sabemos, ninguém desenvolveu abertamente algum esquema
mente inocentes — c«»níiantes. leais c ate dispostos a calar a boca para ou­
para dar à internet uma identidade de marca espiritualmenie utópica. Isso
vir «>s especialistas nos comerciais. N«»% anos 60. a inocência ficou mais
aconteceu porque muitas pessoas a viram como uma ferramenta para a rea-
complicada O movimento hippie dc volta a natureza loi parcialmente acio­
nado pela crença do I \pl«»rad«»r dc que a soc iedade dominante era superfi­
cial c materialista. O Inocente, dentro desse contexto, enfatiza a importân- 4. Marprct Wcrihtim, The Pearly Catei oj Cybenpoce ÇNova York: WW Noiton ft Co..
c ia da qualidade — ele querem menos produtos — c das coisas (citas A mâo. lW),p 254.
7a O HtAÓI < O FOAA-DA.LEI

lizaçâo dc seus mais nobres sonhos dc potencial humano. Contudo, os ne­


gócios ligados a internet se beneficiam, por associação. do efeito-halo. A in­
ternet nos dá a capacidade infinita de nos conectar uns ccm os outros, tor­
nando realizável o sonho da unidade. Como sugere Wrrtheim, durante
séculos a humanidade acreditou que a vida no corpo nos puxa para baixo
A interação na internet é puratncnte uma comunicação entre mentes. O cor­
po lhe é completamente irrelevante. A internet pode ser vivcnciada como o
lugar onde as mentes ou espintos se tocam, livres do* estorvos da realidade
íisica. Também é inerente a essa visão a exigência de maiot sofisticação, pois
mesmo o Inocente precisa aprender a usar essas tecnologias e se conectar
com outras pessoas, diferentes dele próprio, antes que quaisquer dc suas
fantasias utópicas possam se realizar, mesmo em parte.
O ponto em questão aqui náo é se estamos ou nâo perto de entrar no
paraíso. O que estamos dizendo é que os profissionais do marketing preci­
sam compreender que as pessoas ainda têm aquele anseio pelo paraíso que
caracteriza o inocente, mesmo que elas já tenham deixado de ser simples ou
ingênuas Você pode observar a história da consciência do Inocente nos anos
1990 simplesmente acompanhando o Oscar de melhor filme durante aque­
la década. Passamos dc Forresl Gunip, em 1994. a Tiianic (uma rnetafora da
ameaça ao fim da civilização, no raiar do novo milênio) e. finalmente, em
1999. Rcleza amaicana. O novo Inocente é esperto e célico, além dc exaus­
to Contudo, quanto mais vividas sâo as pessoas, tanto maior é o ímpeto do
grande sonho. A inocência, na verdade, nâo tem a ver cora a realidade; o que
ela faz é tentar manter viva a esperança.
Em Beleza amatama. o herói deixa o vazio de sua carreira (no marke­
ting. ironicamente), reconhece a patologia de sua família disfuncional e cs-
c.i|M para os p.ulròcs regressivos dc pirparar luunhútgucr numa lanchonete
c cobiçar uma adolescente. No final, ele tem a visão mística quintessencial
do Inocente e reconhece que o simples prazer de vivera vida é realmente
suficiente. Sua expressão de profunda gratidão pela dád va de estar vivo —
hem como a inesperada simpatia do público pelo filme — sugere um novo
nível do Inocente no mundo de hoje: ele é capaz de vera hekza da vida e.
ao mesmo tempo, reconhecer suas limitações

O arquéupo do Inocenta proporciona uma boa Identidade pai ai marcai que; .'
• oferecem um» mpoiu rrúuvurente vVnçíe» • um probiem» ManUfeá-^l
■ ettlo aiiocladu * bondade.* morabdsde.l Mnnpbddsde,* nofulpi ou * InAncla. ' •
•têmlunçêef usocudu* limpeza.* taúdeou* rktuóe —»que rio ' » ■
dupklrei» ao InfeUto. j «• • !l • :
• *tm pceçot de modr, > *baixo
.
• rio produzida» por uma «mpreu com *valore cencrab "correto»'.
• *de»e|
m m dderencUr de tljum produto cujt imjjem ettl manchada
CAPÍTULO

O Explorador
Lema: "Não levante cercas à minha volta"

Enquanto o Inocente espera ser capaz dc viver no paraíso, como direito

seu ou devido a uma mudança de consciência, o Explorador sai em busca de


um mundo melhor. A jornada dos Exploradores é uma experiência ao mes­
mo (empo intema e externa, porque eles sào motivados por um profundo de­
sejo dc encontrar, no mundo exterior, aquilo que se adapta às suas necessi­
dades. preferências e esperanças interiores.
A história do Explorador está na raiz do suetsso de todo o gênero “re­
lato? dc viagens* (incluindo as narrativas de imigrantes); çfinwuulelada (co­
mo Joaoztnhot Mar ia) nus quais o protagonista sai dc viagem, cai cm algum
80 O HUÓI f O

Pensando no anúncio típico desses produtos, vocé saberá qual é u am­


O Explorador I tipo dc armadilha c finalmeme escapa; ficção
biente rnai% natural do Explorador, os grandes céus abertos; o apelo <la estra­
Dotrjo biiko: Kbrrdad» pin1 científica (sobre a exploração do Universo);
da desimpedida: a natureza cm todas as suas variações, rnas espccialmrnte as
d«KObrir qurm vo<ê ê. J
histórias sobre a entrada na sida adulta; nar­
montanhas. pedindo para scr escalada»; a qualidade irresistível do horizonte
mrd'»<x« a rxpSxjçâo rativas sobre pessoas que largam o casamen­
que se perde dc vista, sempre distante, por inais qu: você viaje; o céu notur­
do mundo to. o emprego ou a cidade natal; literatura dc
Metx «xprricntnar uma v
*da í
no. falando intcr.samcnte das possibilidades infinitas do espaço aberto.
expatriados; literatura sobre i busca da terra
*«hcr. mart MXróoca. mai»
rr Claro que os Exploradores costumam gostar de esportes, mas nâo ne­
prometida; c toda a literatura do absurdo,
jratifxarKí cessariamente por razões competitivas. Lm vez disto, eles tendem a preferir
que demonstra a alienação humana.
MaJor medo: cair numa as atividades individualistas ou mesmo solitárias, como caiaque, esqui, bi­
A boa literatura com a marca do Explo­
armadilha. <0«dormldad«. rufo l
rador inclui’ As aventuras de Huchlelrerry cicleta ou coirida dc longa distância — atividades que os levam para junto
Incertor. Inexlattncia
ErtrarógU: *ta|ar. buxar • Finn. dc Mark Twain; O grande Gatiby. dc E da natureza e lhesdâo tempo para clarear as idéias. A Backroads é uma agên­
experimentar coisas novas. Scott Fitzgerald; Pt na etlrada (On lhe Road). cia dc viagens que programa passeios de uma semana ou mais, envolvendo
Mcapar das armadilhas • , dc Jack Kerouac; O homem Invisível, dc Ralph esse tipo dc experiência em todos os cantos do mundo e claramente atrain­
do ttdks Elhson; A terra devastada (Tke Wuste Land), do o Explorador que existe dentro dc cada um de nós.
Armadilha; tipr srm m«j. '
lornanse um desajustado ]
dc T.S. Elioi, e, é claro, A Odttítia dc Home­
Dom: aixonomla. ambiçkx ‘ ‘ ro. Famosas series dc tevê com a marca do
capacidade de a«r Ml própria t Explorador sâo O Zona c Jornada nas estrrlas
alma ("h luiajusaiiicnic aié unJe ucnliuni humem
foi antes’).
A velha canção clássica co caubdi pode­
O Explorador CamMm 4 j ria ser o hino do Explorador "Dê-me terra,
conhecido como bcncador,
muita terra, sob o céu estrelado / Nâo levan­
•••ncurtUft konocluQ.
andxllho. indróduSiQ.
te cercas à minha volta", com o clássico coun-
peregrino, descobridor, try "Takc ihis job and shove lt“ (Pegue esse
Para criar grandes marcas do Explorador, ê claro que você precisa en­
ano-herói rebelde. ' emprego e jogue íora) lutando pelo segundo
í trar na história do Explorador — nào só no ambiente, mas também nos tra­
lugar. A (olk music é um gênero Explorador.
jes. Que tipo de roupa um Explorador gostaria de vestir? Roupas fortes, cer-
Produtos e serviços que incorporam 1
S. tamenie. que lhe dâo liberdade de movimentos. (Pense, por exemplo, em
com sucesso o arquétipo do Explorador devem servir, de algum modo, co­
marcas como Levís REI. Patagônia e Lands End.)
mo acessórios úteis nas jornadas do Explorador; só assim eles criarão algum
O desejo de liberdade dos Exploradores faz com que eles sejam caute­
tipo dc lealdade â marca O processo começa no nível da viagem literal c se
transfere para suas vcrsócs mais figurativas. losos na hora de se amarrar com alguma coisa — incluindo prestações ou
financiamentos a perder dc vista. Os atuais anúncios da motocicleta Yama­
ha usam a chamada "Declare sua independência, nâo a Cláusula II."
Acessórios para a jornada Musica é um grande conforto na estrada A Sony fez rios de dinheiro
com esse impulso, primeiro com o Walkman — a música do próprio Explo­
Uma expressão do Explorador t o simples desejo de pôr o pé na estra­
da e percorrer os caminhos amplos e selvagens da natureza — para experi­ rador. em seu próprio espaço — e agora com o Memory Sttck ("Suas ima­
gens digitais. Sua música. Seu trabalho. Suas idéias." Programado para "gru­
mentar a alegria da descoberta Portanto, cm geral os produtos que servem
n.nuralmcnic como acessórios na jornada do Explorador cânoç automóvem dar" Islickl na memória). Você tem fome, pára no Burger King, que.
(o Ford Explorcr. "Sem fronteiras"); qualquer tipo de veículo que nào pre­ fornecedor dos upus Explorador, deixa você "comer do seu jeito".
cisa de estradas (o jipe Wrangler. "Leve seu corpo aonde sua mente ja pas­ O que vocé gostaria de beber quando está ni estrada? Uma giande xí­
seou"). c vários tipos de barcos. cara dc café! Tradicionalmcnlc, o café ê um prodâto que pertence à catego­
ria Prestativo (pense na Mrs Olscn, da Folger, em sua cozinha tâodomésti-
•2

Com as múltiplas escolhas disponíveis de café, leite e xarope, o ato de


ca. dando conselho
* ni.ucin.iis enquanto se serve dc mats uma xícara <lc ca­ pedir um café se torna uma afirmação de identidade pessoal (uma campa­
le > Mas a Stjrbucks uu a oportunidade dc criar uma irresistível marca de nha publicitária apresentou explicita mente o ato de pedir um café como
cale Explorador. cm pane eníatizandoa qualidade cxctica do café como pro­ uma afirmação da singularidade do freguês) e a qualidade prestigiosa do lo­
duto impoitado dc tenas estrangeiras. cal implica um senso de bom gosto pessoal. Você nunca fica muito tempo
na fila — porque, afinal de contas, os Exploradores são inquietos. E a Star­
bucks está em toda parte — pelo menos no território continental dos Esta­
Starbucks, uma obra-prima de marca Explorador
j dos Unidos Em quase todo ranto que vocé vai. você pode parar para tomar
A Starbucks, listada pela Intcrbrand como “uma da
* 25 maiores mar­
um farte (o 'pingado').
cas globais do século XXI
* c pela Foitune como uma das '100 melhores em­ 1 A Starbucks tornou-se internacional e. nos Estados Unidos, uniu-se a
presas para quem trabalhar’, e uma historia de sucesso contemporâneo c t empresas dc transporte aéreo c ferroviário (enfatizando o tema pé-na-esira-
uma ohr.i-pi una do arquétipo do l:xplorador, n.ln só porque a marca expres­ da do Explorador), â rede de livrarias Barnes <Sz Noblc (aonde as pessoas vâo
sa cocrentcmcnte o arquétipo — cm seu nome, logo.ipo. embalagem, lojas procurar meios dc autodesenvolvimerto e explorar novas idéias) e a univer­
varcjtsi.is. produto, serviço c mitologia. O tema do Explorador começa com sidades (pois o Explorador geralmente está ativo nos adultos jovens). O Ex­
o nome SUihucks. que e urna relerem ia lucraria clasdca ao romance norte- plorador que existe dentro de cada um de nós ê jovem. Ao oferecer um lai-
americano Mo/n Dr< I:. de I Icrinan Mclvillc. Slarbuck era o primeiro imedia­ te que é 1/4 café e 3/4 leite, a Slarbuck; consegue promover um produto que
to da lulccira Peqtuxl Apesar da natureza comercial da viagem, o capit.lo
Ahab ficou iAo obcecado com a ideia dc malar .Moby Dick (para se vingar da
baleia, que lhe arramou a perna) que esqueceu as responsabilidades para
com seus sonos no barco No fim. a Pequi
*
! e destri uia e quase tinia a tri­
pulação morre.
Slarbuck. solido c estável. Ijz contraste com a loucura obsessiva de
Ahab. No mundo moderno, o ataque frenético dc Ahabâ lialeia pode ser com­
parado com a dcvasiaç-io do meio ambiente, enquanto Starbucks (a empre­
sa), com seu amor imparcial pela natureza c sua responsabilidade diante do
consumidor, oferece um ideal ecológico moderno A Starbucks reforça sua
oi
a
** *
r.iç.to «ou» calores amlMcuiabsla c com lugarescxiHicos. doando tuna
poi< ciilagcni dos Iih rnsd.is rmpicsas a catists amhici laltstas nos países pro­
dutores «k c.tlc A MjiIhu ks tambent enfatiza <> uso. <rn suas lojas, de proje­
tos c in.ucrt.tis de construção benéficos ao meio ambiente c sempre inclui um
rec ipiente pura recicláveis
O nome mace ulmo — Starbucks — é complementado pelo logotipo dc
uma deusa marinha com longos cache»
* encaracolados (o antropólogo An­
geles Arrien Itga as espirais ao desejo subconsciente cc vir-a-scr). O resulta­
do c «pie a Swibiicks «la unia impressão espec ial dc androgiina (como os
adolescentes dc hoje) A cor verde reforça a imagem natural e ecológica. en­
quanto a decoração da Starbucks. combinando tubu açòes metálicas c ma­
deira. I.u lembrar um navio a vela
A Starbucks. c tlaro. imp->rta cafés finos c os olcrce a toda a turma in­
quieta que precisa dc um lug.tr rápido c confortável decorado a moda das 0 fojo&po do Starbucks dó opon oc tema marítimo desta marco
cafctcrtjs de Milão» p ira descansar (e talvez conversar) um pouco ou dc um Expixodor O fojeupo foz lembtot nta demo mormho moivodo em uma
cafezinho para tomar na estrada T> xilogravura franeeto de 1659.
84 O HfROí £ O FORA-OA LÍI

o desejo dc buscar novas experiências c encontrar sua identidade pessoal. O


está iradiclonalmente ligado A primeira maneira pela qual as crianças tomam
nome, portanto, também tem um apelo especial para as mulheres.
cale — c ainda torna elegante pedir um leite’
Agora, nem é piectso dizer que a imagem da Amazona e proíundamcn-
A Starbucks é hoje uma parte tâo importante da cultura norte-ameri­
te arquetípica, F. por isso nâo é de surpreender que uma das pnmeiras em-
cana que Magic Johnson está investindo seu dinheiro para atrir lojas em lo­
ptesas a estabelecer uma verdadeira identidade de marca na internet tenha
cais como o llarlcm e a região sul de l.os Angeles. íirme na crença dc que
basta ter um Starbucks numa ârca desvalorizada para trazer um maior sen­ leito Isso, em pane, adotando um nome arquctipico que evocava um signi­
so de esperança e mobilidade social ascendente. ficado apropriado.
Qual é o país que seria o melhor lar para o Explorador? Alguém diria
Como íoi que a Starbucks convenceu as pessoas a pagar mais de dois
dólares por uni café ? Simples: o arquétipo do Explorador, artisticamente ex­ que é a Austrália, mas. no todo, os Estados Unidos sâo a quintessência da
pressado cm cada detalhe — o produto. a embalagem, as lojas, o logotipo, marca do Explorador, com sua herança imigrante e sua ênfase nos direitos
o nome c a própria experiência de lazer o pedido no balcão. Assim e o po­ políticos O país foi criado sobre a Declaração dc Independência, afirmando
der deste arquétipo. odireito de cada pessoa â “vida, liberdade e busca da fclcidade". Mesmo sua
Constituição íoi cuidadosaincnte redigida para proporcionar um sistema de
controle mutuo pelas diversas repartições, a fim de garantir que nenhuma
A sensação da jornada — em casa parte do governo tivesse poder suficiente para restringir a liberdade. A his­
Mesmo se você nâo estiver literalincnie fazendo uma »iagem, os pro­ tória dos Estados Unidos começa com os Pilgrims | “Peregrinos". os primei­
dutos do Explorador lhe olcrccem a sensação dos amplos espaços abertos. ros colonos puritanos) c sua mitologia dominante ê capturada na conquis­
Por exemplo, a Trex Decks tem um maravilhoso comercial Explorador que ta do Oeste O slogan “Vá para o Oeste, jovem” que fez homens (e mulheres)
mostra uma serie de discos sobrepostos lazendo uma espiral desde uma ca­ jovens partirem para conquistar o Oeste deu um sentido literal e um dire­
sa até pairar sobre um imenso cânion. Você enxerga um honzonte a perder
cionamento â ambição inquieta do caráter norte-americano.
de vista, enquanto a legenda diz: "Até onde você tria se nâo houvesse nada
Pane da atração das exportações norte-americanas, então, é o espírito
lhe prendendo
* ” A limberpcg. promovendo aquelas maravilhosas casas de
do arquétipo do Explorador Seja um adolescente na China comprando uma
vidro, madeira c pedra da Costa Oeste (geralmcnte com um: vista dc tirar o
lannlia dc Pcpsi ou um na Romênia procurando um pir de Nike no merca­
Nem sempre é preciso sair dc casa pra curtir os es­
fôlego) nsa este slogan: *
do negro, parte do que eles estâo comprando é um pequeno e fugaz senso
paços abertos "
de lihcrdade e possibilidades.
Nos dias de hoje, sentado em casa, sozinho, navegando na internet, o
Explorador pode explorar, mesmo que nâo seja fisicamente, mas através de
todo um inundo de informações. O nome Amazon.com evoca a imagem de
O Explorador se torna global
um barco no rio Amazonas, enquanto você está confortave mente sentado
cm sua casa. Alimentando o individualismo do Exploradrr, esse websitc Em um mercado cada vez mais globalizado, é importante lembrar que
promete 24 horas por dia dc acesso a livros e discos de uma lista impressio­ nem todos os países compartilham os valores do Explorador, seja por causa
nante dc fontes, mantem registro das compras dc cada consumidor indivi­ de limitações políticas ou devido à pur.i força da cultura. As culturas asiáti­
dual c recomenda o que mais cada um iria apreciar Muito cm breve, e pro­ cas e latino-americanas, por exemplo, tendem a se basear muito mais nas re­
vável que a empresa comece a publicar os livros que seus clientes mais lações e associações, dando mais valor ao grupo do que ao indivíduo Isso
querem ler. Quer a Aniazon com ache ou nâo uma maneira de scr lucrativa, nâo quer dizer, porém, que as pessoas que vivem nessas culturas nâo tenham
ela é um produto cujo lançamento oferece um exemplo indiscutível dc iden­ acesso ao arquétipo do Explorador. Na veid.klc, parte do apelo dos produtos
tidade dc maica quase instantânea. norte-americanos da linha Explorador talvez esteja no (ato de que eles forta­
< ) aiquenpico nome Amazonas lambem evoca as lencánas mulheres lecem a validade da autodcssoberta. mesmo quando i cultura pnmâria me­
guerreiras da amiga Grécia. oferecendo uma .ismki.iç.iocoin maior poder fe­ nospreza essa importante tarrla dc desenvolvimento A simples prenussa de
minino. Ac mulheres constituem a maioria dos leitores e munas delas (em­ que os direitos do indivíduo deveriam scr protegidos ê unia das mais irresis­
bora min tiil.is. duo) canaliz.ini mais para os livros do que par? a estrada
tíveis exportações norte-americanas um valor que munas vezes ê incons-
«6 O HtttOl £ O FOAA OA lfl OE<ploe»<tor 87

norte-americanos — faixas na testa, por exemplo — c por que os adolescen­


cicntcmcnie vendido com os produtos do pais. (Claro que os norie-amenca-
tes dos bairros suburbanos afluentes rapidamente entraram na onda, nos
nos também se beneficiam com as exportações de valores dos outros pises.
anos 1990. quando a garotada dos certros decadentes começou a usar cal­
Por exemplo, as culturas asiáticas exportaram técnicas dc meditação para os
Estados Unidos e. com isso, estimularam a expressão de um aspecto particu­ ças folgadonas.
As marcas que se mantêm atentaj à influência do Marginalizado sobre
lar mente pacifico do arquétipo do Sabio. que ali estava subdesenvolvido.)
os jovens lambém ajudam, de modo sutil — e em grande parte inconscien­
Já que o Explorador é táo apaixonado por viagens, quase todos os pro­
te —, a integrar os valores e condutas marginalizados à cultura dominante,
dutos importados podem ter um pouco da atração de uma marca do Explo­
e vice-versa. Enquanto a garotada anglo-saxônica dos subúrbios afluentes
rador. especialmentc os produtos vindos dc pises exóticos ou mais primi­
começava a usar tênis dc cano alto e alças folgadonas caídas na cintura, os
tivos Mesmo os próprios produtos norte-americanos têm apelo se possuem
trajes ginasianos Tommy Hilfiger entravam na moda nos centros decaden­
um significado global. Por exemplo, muito antes que a Starbucks entrasse
tes. pois cada grupo de adolescentes integrava à própria vida a sensibilida­
em cena, a General Foods (hoje Kraft Foods) lançou uma linha de caie ins-
de da cultura "estranha
.
* Embora a maioria de nós compartilhe a preocupa­
i.miâneo aromatizado chamado General Foods International Colíecs
ção sobre a quantidade dc jovens que ejtão começando a fumar, ainda é sinal
Nos anos setenta e orienta, quando a maioria das marcas de cafe se an­
do poder do arquétipo do Explorador que o cigarro Virgínia Shms tenha ti­
corava iu percepção da cozinha da boa dona dc casa, aqueles caies "inter­
do tanto sucesso com o slogan ‘Encontre sua própria voz". Infelizmente, é
nacionais ofereciam sabores como “Orangc Cappuccino" e 'Swiss Mocha'.
a própria necessidade de se identificar com a mensagem coniracultural que
Seu primeiro porta-voz. uma celebridade chamada Carol Lawrcncc. era
torna difícil a tantos jovens perceber a diferença entre os produtos prejudi­
mostrada nos anúncios voando dc volta da Europa com sua ultima “desco­
ciais e as marcas benignas do Marginalizado.
berta" A linha usada na campanha era "General Foods International Coí-
Para muitos jovens, o arquétipo do Explorador está associado â expe­
fees — tanto a sensação quanto o sabor
*
riência de deixar a casa paterna e ir merar no campus da universidade. Con­
A marca nâo so teve sucesso, como também foi capaz dcsustentar mar­ tudo, alguns universitários sâo mais influenciados pelo Explorador indivi­
gens dc lucro muito mais altas que a normal da categoria. Por quê? Em par­
dualista do que outros. Certas universidades se promovem vigorosamente
te porque o arquétipo do Explorador conseguia diferenciar íortcmeiitc a como marcas do Explorador — os casos mais notáveis sào Goddard. Hamp-
marca das outras no resto da categoria E também porque a marca aprovei­ shtre e Antioch. que permitem a cada aluno estruturar a própria especiali­
tou — e talvez ate mesmo nutriu sutilmcnie — o arquétipo do Explorador zação. Os catálogos dc cursos dessas escolas enfatizam a enorme liberdade
emergente nas suas consumidoras dada a cada aluno para forjar o próprio caminho.
A outra fase da vida em que o Explorador é fortemente reativado é a
meia-idade. Na literatura ou na vida real, o Explorador pode litcralmente
O jovem Explorador
decolar. (Veja, por exemplo, o livro dc Ann Tylcr, LacJdcr u/ Ycar$, onde uma
Qualquer nrquciipo pode se expressar cm uma pessoa dc qualquer ida­ inquieta esposa c mác de meia-idade sai para um passeio na praia e. sem se­
de Contudu. e provável que os adolescentes e os jovens, em praíicaincntc quer ter tomado uma decisáo formal, apenas continua caminhando c nun­
Iml.is as culturas, tenham cm si um lado Explorador; isso porque eles têm ca mais volta para casa.)
como tareia de desenvolvimento descobrir quem sâo e o que querem fazer.
Qualquer que seja a moda adotada por eles (cabelos longos c jeans aperta­
O Explorador como individualista
dos. nos anos sessenta, piercing no corpo c jeans folgados, nos anos noven­
ta). essa moda é escolhida'porque eles csfào confrontando o senso de pro­ O Explorador pode se expressar no desejo de auto-suficiência. Os ser­

priedade da geraçao mais velha e estabelecendo o estilo pessoal da nova viços de pessoal da FreeAgent.com tornam explícito nosso desejo de fugir

geração Claro que todos os produtos que os ajudam nesse processo irào da exigência de mostrar "o espírito da empresa", anunciando que estào “Sal­

prosperar A folk mtisic e o roc k fizeram isso nos anos 1960. o rap e a MTV vando o mundo da indignidade do pquenique da empresa. Uma pessoa de

fazem isso hoje cada vez".


O Explorador se identifica cum o Marginalizado Isso explica por que
As políticas libertárias predominam no Vale do Silício, onde os valores

os estilos dos adolescentes nos an<»s furam inílucnciadov pelos índios do Explorador enfatizam atitudes e produtos laissez-píre que dâo enorme
O e«ptor*4or W
98 O HÍROI í O FORA-DA-LEI

Vaia comciciahzar eficazmcnte urna marca do Explorador, o melhor é


poder ao indivíduo. Os computadores c a internet nâo só deram ao indiví­
scnitr empana pelo lado de dentro de uma história tipo Explorador, imagi­
duo imenso poder para acessar a informação; eles também nivelaram o cam­
nar. por exemplo, como ê você se sentir preso nas armadilhas da vida an­
po de jogo — pelo menos entre as pessoas suficientemente afluentes para
siar por mais excitação e aventura, sentir-se "maior" do que a vida que leva,
ter um computador c suficicntemcnte instruídas para saber vsá-lo.
como se ela o reprimisse. (Nos anos 1980. muitos adolescentes de Pequim
Embora nem todos os Exploradores sejam libertários, eles tendem a uma
usavam camisetas com os dizeres "Nova forlc. Paris. Roma". Iitcralmente
visão crítica dontablifhmrnt |o sistema]. Mas. enquanto o I Icrôi luta para mu­
■propagandeando" o desejo dc sc libertar das circunstâncias sufocantes em
dar o inundo. C mais típico do Explorador simplesmente viver dc acordo com
suas próprias luzes. Isso talvez queira dizer que ele vai montar um tipo dife­ que viviam.)
Você talvez também considere perigota aquela parte de si mesmo que
rente dc negócio — ou nele trabalhar. Espera-se que as empresas de cosméti­
.
*
deseja "pertencer sacrificando sua integridade ao desejo de se adaptar.
cos vendam as marcas do Amante, mas nâo é isso o que faz The Body Shop.
Quando esse sentimento é forte, você talvez faça conscientemente coisas
Anua Roddick fundou uma loja de cosméticos sem propaganda enganosa c
que o diferenciam dos outros — como fazem os adolescentes, com cabelos
sem promessas de transformar os clientes. Em vez disso, ela cornou com clien­
cor-de-rosa, tatuagens ou piercings pelo corpo. É como se a sua aparência
tes que compartilhassem sua percepção global, sua consciência ambiental e
estivesse gritando "Eu sou diferente", para poder resistir ao impulso da con­
sua preocupação com os direitos dos animais, e também dos humanos.
formidade. Contudo, quanto mais você faz isso, tanto mais solitário você se
Os Exploradores tendem a ver a si mesmos como pessoas à frente de
sente e. assim, mais intenso será o seu desejo de “pertencer". Quanto mais
seu tempo c dcfinitivamenie dispostas a assumir posições difíceis por algo
forte fica esse desejo, tanto mais assustador ele parece c. por isso, você se
em que acreditam — às vezes cies sâo assim. The Body Shop combina essa
afasta cada vez mais... e assim por diante Mesmo que você tenha experi­
imagem vanguardista com o fascínio dos Exploradores por tudo que è exó­
mentado apenas um pouco desse processo é possível extrapolar o suficien­
tico c estrangeiro. Seus produtos orgânicos sâo feitos com ingredientes da
te para saber como sc sente alguém preso nesse dilema.
íloresia amazônica. A filosofia dc Roddick é “Negocie, nâo ajude": com is­
Quase todas as pessoas passaram por algum momento na vida em que
so. ela ajuda a criar renda para as comunidades economicamente pressiona­
tiveram medo dc que. se fossem fiéis a si mesmas, perderiam o apoio dc al­
das c. ao mesmo tempo, trabalha para deter as queimadas na floresta tropi­
guém a quem davam importância À medida que crescemos, somente des­
cal The Body Shop lembra aos seus empregados que "nossas metas c valores
cobrimos nossa individualidade quando nossas verdadeiras tendências se
sâo Ião importantes quanto nossos produtos c lucros" e que "The Body Shop
chocam com as dos pais, professores c co.egas. Para perceber como é essa
tem alma — nâo a percam".
sensação, basta você recordar algum momento em que enfrentou seu pai.
O arquétipo do Explorador tem um lado espiritual Pense nos Cavalei­
sua mâe. um professor ou o patrão, e como aquele enfrentamento lhe pare­
ros da Tá vo la Redonda, entrando na floresta escura e sem trilhas, em busca
cia essencial, mesmo que o outro tenha visto você como um oponente. Ou
do Graal. Na década de 1990. essa busca atingiu proporções epidêmicas, fa­
então recordar um momento em que você sc afastou de algo para salvar sua
zendo surgir uma superabundância de livros, produtos e workshops espiri­
alma, e quanta coragem precisou ter para agir assim.
tuais (Pense no Mystic Trader e outros catálogos Nova Era, p>r exemplo,
Você também poderia aproveitar a lembrança de estar no alto de uma
ou no New Spirit Book Club.)
montanha ou de um arranha-céu. contemplando o horizonte infinito ou o
céu noturno e sentindo uma complicada mistura de assombro reverente, ale­
gria e solidão — um sentimento quintessencial do Explorador.
Caminhando com os mocassins do cliente Explorador
E importante lembrar que o desejo subjacente dos Exploradores é en­
Quando o arquétipo do Explorador está ativo no cliente, s<u chamado contrar por fim a Terra Prometida, o lugar onde eles poderão ser completa-
é para explorar o mundo e. nesse processo, encontrar a si mesmo para po­ mente fiéis ao seu verdadeiro eu — e um lugar ao qual poderão pertencer.
der saber quem ele ê Alguns Exploradores demonstram grandé exuberân­ Histórias infantis, como O patinho feio, e textos religiosos adultos, como o
cia c espírito de aventura Outros. como a Dorothy do Afdgrco cir Oz. pare­ relato bíblico do êxodo do Egito para a ferra Prometida, incorporam o po­
cem relutantes a respeito dc todas essas viagens e so desejam encontrar um der deste anseio.
lugar a que chamar de lar. É óbvio que o eu interior do Explorador nem sem­ Você com certeza já vivenciou o Explorador mais otimista e entusiás­
pre é tâo confiante quanto a face que ele apresenta ao mundo. tico. que não é necessariamente alienado. Talvez você apenas esteja ansioso
90 O HEROl t Q fORA-DA-l.fl
O tiploridor 91

para experimentar o máximo possível da vida, buscando oportunidades dc


Quando o Explorador desperta num indivíduo, este frequentemente
viajar c ficar cm contato com a natuicza. fazendo aquilo que ama. mesmo
abre seu próprio negócio de pequeno porte, torna-se consultor ou procura
que isso lhe dê apenas a pura alegria da própria jornada
um papel pioneiro c inovador na empresa. As empresas ou unidades dirigi­
Quando desenvolve a campanha publicitária das marcas do Explora­
das por um Explorador geralmente sâo mais desinibidas e descentralizadas
dor. você talvez queira lidar «.utilmente com a solidão do Explorador colo­
do que a organização hierárquica tradicional. Tipicamente pequenas, as or­
cando-o na companhia dc outras pessoas. O Explorador. í claro, munas ve­
ganizações do Explorador têm o mínimo possível de regras e contratam pro­
zes tem um ou mais amigos íntimos, como o Tonto do Zorro ou o Totó dc fissionais competentes que controlam o próprio horário e tempo de traba­
Doioihy (alem do Leão Covarde, do Homem de Lata c do Espantalho).
lho. Claro que o “escritório virtual
* está tornando esse estilo de trabalho
Você também será capaz dc imaginar, extrapolando dc sua própria ex­
mais possível do que antes.
periência c dc narrativas do Explorador, como n Explorador se relaciona
Mesmo que a empresa seja grande, o traje é informal e simples ou apro­
com os outros arquétipos Por exemplo, o simpático Bobo da Corte, o Cara priado para viagens, mas certamente casual. Os valores organizacionais en­
( oinuin c o Amante convidam o Explorador a se tornar parte de um grupo
fatizam a independência e a capacidade de responder rapidamente a novas
oude um casal, cainham tristes ou magoados quando o Lxploradoi foge de­
oportunidades, fazendo produtos ou serviços sob medida para atender ne­
les para salvar a vida. Para o Explorador, tornar-se intimo dj a sensação dc
cessidades singulares. Independência e autodireçâo geralmente sâo valores
uma ameaça ao cu Por ouiro lado, os Governantes que írzern as leis vêem empresariais compartilhados. Em mcitos casos, o trabalho realizado é pio­
a si mesmos como pessoas que so fazem isso porque sabem o que e melhor
neiro e inovador.
para o povo Eles ficam confusos, portanto, quando o Explorador se irrita c
As organizações do Explorador saudáveis oferecem estrutura suficien­
vai embora. Um Prestativo que cria no Explorador a sensação de culpa por te para manter unido o empreendimento Nas organizações do Explorador
so pensar cm si mesmo será visto como um inimigo, enquanto o Prestativo
doentias, quando as coisas vão mal o empreendimento cai na área perigosa
que prepara um estojo dc primeiros socorros para a viagem do Explorador da anjrqiua Mas as melhores organizações do Explorador conseguem tole­
c >aud.ido como um .umgo.
rar um alto grau de fluidez.
O Explorador busca no I lerói. no Marginalizado ou ro Mago um apoio A Rockport Shoes, que poderia ter como lema “Sapatos confortáveis
potencial, mas quase sempre fica desapontado com o medeio c acaba indo
para a jornada", C famosa por ser umi das primeiras organizações a se reor­
embora para procurar sua própria verdade O fato e que o Explorador, du­ ganizar em dois dias, usando a estrutura da inovadora Open Space Techno­
rante algum tempo, aprenderá 3$ lições oferecidas por toda pessoa que te­ logy | tecnologia do espaço abertol de Harrison Owcn. Seguindo essa abor­
nha novas idéias ou experiências, mas ele logo vê o cal:anhar-dc-aquilcs dagem. todos os empregados se reúnem num salão durante alguns dias e se
dc
*
-sa pessoa e põe o pc na estrada organizam em grupos que discutem çualquer idéia pela qual algum deles se­
ja apaixonado Qualquer que seja seu papel, toda pessoa tem ali o mesmo
poder que todas as outras; e a todos os presentes ê concedido o direito de
A organização do Explorador
votar no projeto do qual quer participar.
As organizações do Explorador valorizam a individualidade, minimi­ Consta que durante a experiência da Open Space na Rockport. um ad­
zam as regras e a tomada hierárquica de decisões e tendem a nivelar as opor­ ministrador formou um grupo (do qual fazia parte o presidente da empresa)
tunidades na medida do possível Vemos a influência do arquétipo do Ex­ que surgiu com a idéia dc uma linha de produtos inovadora, e por fim alta-
plorador nas organizações mais inovadoras, des hierarquizadas e mais mente bem-sucedida, que fez enorme diferença para o futuro da empresa.
di niociaiicas, cm |hdiiicas indiv iduahsias como o horário movei; c cm em­ Na nova economia, muitas pessoas se ligam âs organizações virtuais. Is­
pregados ‘ potencializados” tomando todas as dei isões possíveis no nível lo­ so quer dizer que nào precisam mais ir para o trabalho, no sentido convencio­
cal emoh ido Nessas organizações, c típico que os empregados sejam con­ nal. Trabalham no escritório em casa, usando fax, e-mail, telefone, etc., para
tratados por sua perícia e. uma vez a bordo, espera-se que tenham permissão fazer contato com colegas que talvez raramente vejam. Tais pessoas podem
dc fazer as coisas ao seu modo na maior parte do tempo. Mesmo que os re­ criar uma organização formal ou simplesmente formar parcerias conforme as
sultados sejam cstalnlciidos pela gerência os empregados têm permissão necessidades de projetos específicos ou para atingir determinadas metas Es­
dc usar o proprio julgamento quanto aos meios dc atingi-los. ses pactos descentralizados, nào-hierárquicos e temporários maximizam a li-
<1
O t>plor»4«
4
32 O HfMOl e O FOIA-PA-lll _________________________________________
As pessoas que estào vivendo as histórias do Explorador prova
* clmen 4
herdade pessoal. a flexibilidade e a eficácia, ao mesmo icinpo em que minimi­ te serio leais aos produtos que carregam o significado arquetípico r 3“ l
zam a estrutura e as fofocas. ■iddade e lihrrdadr - Is» «chcprem » w któ E«« p-odu-o» «1° C
4
os anseios mais profundos dos consumidores que têm uma orte o i
para a liberdade (como tem a maioria de nós na adolescência e na meia i 4
O marketing do Explorador e o novo consumidor
de, ou mesmo cm qualquer outro momento da vida). 4
No livro The Soul o/ lhe New Consuma. David Lewis e Darren Bridger Nos consumidores que mais liabitualmente expressam o desejo de es­
descrevem o “novo consumidor" dc um modo que sugere que ele (ou ela) tabilidade. pertença e mestria, esses arquétipos também se conectam com
4
está invocando o arquétipo do Explorador em suas decisões de compra. En­ aquela parte "adormeada" que ama a liberdade Por exemplo, um indivíduo 4
quanto o velho consumidor, argumentam Lewise Bridger, toma sua decisão rebtivamente tradicional e conformista poderia expressar esse potência
4
de compra com base na conveniência e na conformidade, o novo consumi­ mais livre comprando uma motocicleta ou uma mountain bike.
dor busca a autenticidade do produto como meio de expressar sua indivi­ No Oscar de 2U00. ficou claro que o arquétipo do Explorador estava 4
dualidade. Ao mesmo tempo, o novo consumidor é mais bem informado, ativo no país e na Academia. Alguns dos grandes vencedores vinham de pe­
cnvolvc-sc profundamenic nas suas decisões de compra, í célico diante dc quenas produtoras independentes (embora algumas dessas empresas fossem
lodo npode propaganda enganosa, é altamente inquieto, se distrai facilmen­
dc propriedade de grandes empresas)
te c seu tempo é cronicamente curto. Lembremos também que as Exploradores mais jovens gostam dc vascu­ 4
I loje cm dia. a orientação das pessoas para a identidade e a liberdade as
faz querer scr livres corno o vento — elas querem tentar tudo c nâo ser limi­
lhar a internet e preferem encontrar as coisas, nâo que você as encontre pa­ 4
ra eles facilite essa atividade deles. E perceba que eles serão mais influen­
tadas por nada. O resultado t uma aceleração coletiva Lewis e Bridger cttam ciados pelos ícones da contracultura que pelas celebridades da corrente 4
o lema dc Daniel Goldin. administrador da NASA, para o programa espacial: dominante. Melhor que tudo ene um boca-a-boca. Os Exploradores sâo pro- 4
"Mais rápido, menor, mais barato, melhor" As pessoas de hoje nâo apenas se íundamente céticos diante da propaganda enganosa. Gostam de produtos
movem mais depressa; elas também conseguem processar rapidamente as in­ que parecem ser ião autênticos quanto eles próprios e sâo influenciados por
4
formações (especialmente os menores de 30 anos) A maioria delas se sente â pessoas que parecem reais. Ne início dos anos 1990, os clássicos sapatos de 4
vontade com o ritmo hipercinético do cinema e da televisão, "fazendo o cor­
te entre as cenas com tanta rapidez, que muitas imagens permanecem na tela
camurça da Hush Puppies estavam para ser tirados da linha de produtos da 4
Wolverme World Wide quando correu a notícia de que os jovens do Green-
por menos de dois segundos". Se o ntmo nâo é acelerado, ebs se chateiam
wich Village nova-iorquino estavam comprando Hush Puppies nas lojas de
4
Claro que os meios de comunicação que mais facilitam esse desejo in­
revendedores. O executivo da empresa. Owen Baxter, examinou o modismo 4
quieto de experimentar e conhecer tudo, instantaneamente, sâo o e-mail. a
e descobriu que aqueles jovens buscavam a autenticidade de poder afirmar
iniemei. a$ salas dc bate-papo c todos os outros medos instantâneos c inte- 4
.
*
que "estou usando um par original De súbito, os Hush Puppies estavam na
raiivos que sc tornaram possíveis pelas comunicações mudernas. A visão i
moda em ioda parte porque os jovens tranquilos e individualistas do Village 4
expansiva as pessoas que atingiram esse nível de desenvolvimento geral-
mente adotam uma visão global.
gostavam deles. Num instante, os estilistas de moda estavam usando aqueles e
sapatos que, é claro, continuaram a ser uma parte valorizada da linha.'
Além disso, esses mesmos consumidores habitualmente criticam aqui­ 4
lo que véem e ouvem, encarando com suspeita tudo o que já foi testado e Em uma das novas c mais "descoladas" lojas carro-chefe de Ralph Lau-

comprovado, idéias, instituçóes e produtos, incluindo a propaganda. Por es­


ren. localizada no Soho nova lorquino. peças de colecionador estão mistu­ 4
radas aos itens recém-lançados Ao lado das novíssimas calças cargo você
sa razào. o "boca-a-boca
* pode ser mais eficaz no marketing do que a pro- •
pxganda enganosa. Mesmo assim, esses novos consumidores valorizam mais encontra uma velha e gasta camisa de flanela e a clássica jaqueta de veludo
Levis, com 50 anos de rdade. toda desbotada As peças de colecionador em-

a mudança do que a coerência; por isco, a lealdade á marca nâo é um valor
natural para eles Mas isso nâo quer dizer que eles nâo sc tornem leais quan­ prestam um inconfundível arde autenticidade à loja e a tudo o que está den- e
do os arquétipos corretos sâo evocados, como podemos ver nos ávidos fâs
dc Joinada nas estrelas (os “trekkies") ou nas pessoas que só usam cosméti­
cos da 1 hc Body Shop ou so bebem café Siarbucks.
I lX»vid IrwKe Darren ftidger. Ikr Soulof ihr NewCcmumer AurSentietiy — WNai WeBuy e
onJ i4 rfce New tioiwmy (loncres: NichUas Beealey Publishmg, 2000), p <J)
í
O HEAOI r O FORA-DA.ICI

O ar^uéupo do Explorador poderá dar uma idenüdadc 4 sua marca se; ‘ .

• seu produto ajuda xr pessoas a sc senurem livres; é.d« algum modo, rüo-conformijQ ou
p;one<na •
• seu produto é forte • vigoroso; ou ê apropriado para uso m naturex^ na estrada ou em
ambientes • ocupaçdes perigosos. • ' ‘i- ■> e
• seu produto pode ser comprado vi» caülogo. Internet ou outra fonte aJtematM.
• seu produto ajuda as pessoas a expressarem sua tndlv>duahdade (por axomp^x moda,
mobihirios).
• seu produto pode ser comprado e consumido "em movimento".
• você procura dlerencur sua marca de outras bem-suced>das. seja do Cara Comum ou •'
alguma mais conformista.
• sua organüaçSo tem uma cultura do Explorador

iro dela — Ralph Laurcn nâo está apenas vendendo suas próprias criações;
de está “homenageando” as grandes c riações dc outras empresas clássicas,
tomo a l.evi-Strauss. z\ "mistura” na loja sc torna ainda inais incomum pe­
las surpreendentes combinações montadas |>clo estilista nos manequins c
cabides — por exemplo, uma luxuosa sai.i dc tafetá com um corpete dc cou­
ro xadrez e uma jaqueta dc aviador casualmcntc jogada sobre os ombros.
Como resultado tanto dos itens clássicos quanto da mistura incomum.
lazer compras nessa loja C uma experiência dc busca, exploração c desco­
berta E. amarrando esse conceito varejista bem integrado, temos as seguin­
tes palavras impressas na vitrine ao lado da entrada da loja: Polo Sport: Ex­
ploradores, Viajantes c Aventureiros, desde 1070.”
Sc a análise dc I cwis e Bridger ern S<«d o/ffce New Consumer é a< ura-
da. então o arquciipo do Explorador esta influenciando as dc< isóes do con­
sumidor neste iníc io do scculo XXI Talvez isso ocorra porque lodos nós cs-
íamos vivendo cm um novo mdêmo Basta dizer que este parece ser um
momento parttcuhrmente propício para as marcas do Explorador
CAPITULO

O Sábio
Lema: "A verdade libertará você"

Os Sábios tím sua frOtria mancira de encontrar o paraíso. Eles depositam


sua íe na capacidade humana para aprender c crescer, o que nos permite criar
um mundo melhor No processo, eles querem ser livres para pensar por si
mesmos e sustentar suas próprias opiriiócs, Õ cxcinpíÕmais óEvio e o eru­
dito. u pesquisador c o professor. Mas também temos o detetive, o ancora do
lelcnolictâno noturno e qualquer especialista que compartilhe seus cunhe-
Cimento
,
* incluindo a clássica vor masculina desencarnada que explica a do­
na dc casa qual c a ciOncta por trâs dc algum detergente de sucesso. Sábios
famosos incluem Sócrates. Confüdo. Iluda, Caldeu e Albcrt Einstein... e
OSáMv W

l.imh«'m < »e<»rg«' ( ai lin. líiyllis I hller c t )pr,di anos 1950 costumavam Incluir alguma dose de informações ou conselhos.
. O Sábio /
Winlrey Veintis o SJuo cm todas as hisiônas A propaganda gcralmentc tentava scrútil — oferecendo uma parcela de co­
Doejo bátkoi ■
dc misteiio — sIiciLk k lloliiws deduzindo a nhecimento ou sabedoria como uma espécie de 'compensação' pela aten­
a <i»uobaru da vvrduio
M»t«; vur a tMcKgtncla • solução «le um caso. iu ftcçâo cientifica, cm ção do leitor.
a anlU»« p»r» todas as obras dc Is.ac Asimov; c nos livros, Ifaje em dia, existe uma oportunidade de renovar o papel do Sábio no
comprxndar o nwMo marketing, espedalmente porque a internet oferece um veiculo tâo eficaz
revistas e anuiu n»s infonnaiivos
M
*
íor medo; i»r
A |io|Hd.u idade <la serie Arquivo X (que para as marcas do Sábio contemporâneas.
•rtenedo • Aidkfo.a •xnorlncla
abre com a ahrmaçâo"A verdade esi.t la fora’)
EvCratlglaibmcar
ilustra a (M-rsevcrança do Saluo que tenta se-
Informiflo • coohvclnwnto: O Sábio como especialista
compr
a<KO-reR«x3o • *J
«no parar a verdade da ilusAo. hem conto a para­
do» pccxecioí de pensamento
As marcas do Sábio podem oferecer informação, como fazem The New
noia que pode resultar «piando a resposta nâo
Armadilha» pode aceudar o» e«Iara ou lâ< d «fc encontrar. Na política, o Sá­ Ybrlt Times, Consumer Repor is. National Public Radio e a CNN. Tipicamen­
atiuntor dunnte uxfa a vtd
* te, elas ajudam o consumidor a tomar decisões mais Inteligentes. Um anún­
bio está assoe lado ás idéias < latas, mas talvez
a ntmea agir cio da firma «le investimentos Charles Schwab (lema: “Criar um mundo de
lhe faltem « atisina e rtuanto social Al Gore.
Dom: ubedorta. toceligtrxla
Iidicul.ilizado impicdosamcnic pela (alta de investidores mais espertos") mostra duas mulheres tensas e preocupadas
jogode cintura, c um exemplo í instem é ou- lendo os livros (fictícios) Vença os tubarões e Como enriquecer, enquanto ou-
* desligar de uma lesta cm sua homenagem porque
iro ttiiou conhecido por sc tia mulher. tranqúiU c sossegada, le Uau. e« estou Jelir. A legenda explica:
se interessara pelo padrao das falhas dc cita que flutuavam cin sua xicaia) “Você sempre sabe qual investidor consultou os Portlôlios Schwab. Ele se
As marcas do Sábio incluem a Universidadedc liarvard, o Ml I. firmas sente mais esperto, mais bem informado, mais no controle."
dc consultoria topo dc linha, como M«Kinscy c Anhur Andcrsen, c a Clini­ A imagem do Sábio como intérprete das notícias mudou significativa-
ca Mayo (conhecida |x>r sua pcrkia cm diagnóstico;), bem como o I duca- mente nos tempos recentes. Antes era a comunicação oral, e mais tarde a pa­
lional fcsting Service c inúmeras empresas, laboratórios de pesquisas e pu- lavra escrita, que transmitiam as noticias além dos confins de uma aldeia ou
hlicaçócs dedicados â descoberta c dilusâo da vcidadc. cidade. A informação visual, descrevendo como as coisas “pareciam’ fora das
I m certo ponto de sua historia, a Universidade de Stanlord decidiu se rotinas normais, era escassa. Muito mas tarde, nos Estados Unidos, as pessoas
tornar "a liarvard do Oeste" e conscientemente desenvolveu uma campanha esperavam nas esquinas pela chegada da revista Life, na época o veiculo bási­
dc relações publicas, baseada no investimento cm aspectos pesquisadores da co para uma pessoa “ver" como eram as coisas
uiMiiuiç.io. para estalK-Icccr uma imagem intelectual prestigiosa f uncionou. lá fora.
O Sábio U/ntric» 4 contwdóo
SiIhos populaics incluem Oprah Winlrey e Wjitcr Cronkite. que ins- como Mpocbl<ia.«rvd<ux t.
Com o advento dos noticiárius televisi­
liut iii r «'iieniani seus publitos tcs|u-iinos. e f inia Ifambctk. que oferece d«««Uw. ortcvJo. «Atluta. vos. e rspeclalmente os relatos intensivos e
saiu «lona |hu niicimcdn
* do humor Nas décadas p.ssad.is, muitas manas con»«lheiro. fiiOtoíO. quotidianos sobre a Guerra do Vietná, tudo
iiHorpoiai.un idcniidadcs d<> Saluo c pnqxirc icmarani um forte p.qu-1 edu­ petquiMdor. p«nu<ior. isso começou a mudar. Pela primeira vez na
ptoajttfo'. prvfiislond. moncor. ’
cacional — por exemplo. Iteity Criukcr sobre economia domestica e Od uí história, a televisão era a fonte niais confiável
pcobMor. coocamplaUvo ■ " •
Olay sobre cuidados com a pele — ruas muitas delas, desde cmâo, adotaram dc notícias. Os norte-americanos começaram
<»estilo "mordei cm 1 5 segundos”. Na verdade, as camp.inh.is impressas dos a acreditar que “ver é crer" e o papel do ân­
cora. jornalista ou comentarista se transformou.
Ot níveis do Sábio r.» j. v »
*•' yv'- -s.i
Num período de tempo muito curto, a fonte básica das informações
que descreviam a vida humana passou de oral para verbal e depois para vi­
Modvaflo: «ooAhJo. duOda. detejo prolvndo d« trxonw • wMióí ' ' "
*
Nível I; butea da verdade abiotuca. de»e|o de obfetMdade. deperdênda doi etpadaNitaa sual Mas a questão permanecia, éramos "vlsualmentc alfabetizados"? Está­
Nival 2:cecknmo pamamenco cnuco inovador, coma-ta um etpechJtiQ ;. i, vamos. enquanto pais, acreditando ingenuamente que "ver é crer" ou com­
Ni vai J: sabedoria, confanca. meteria ;. ' ' u r; p ,. preendíamos que a alfabetização visual era tâo importante quanto a
Sombra; dogmanimo. corre de marfim.detbxamrnro da reOdadí alfabetização verbal, se nâo mais? Por exemplo, independentemente das
<1
osiuu 2?
98 O HfHOl f O FORA OA LEI

como uma ferramenta para Sábios, ajudando "a dar vida às idéias na internet,
tendências micrprcuiivj< do íoiógraío. a cada dia as possibilidades da foto­
na página impressa e no vídeo”. Qualquer marca que ajuda as pessoas a ser
grafia digital tornam mais e mais possível sobrepor imagens e modihcá-las. ou agir dc modo mais inteligente também e uma ferramenta legítima na his­
Quem seriam nossos Sábios, ou guias, neste mundo novo baseado no visual? tória do Sábio Os exemplos incluem a Lean Cuisine (“Coma com inicligên-
As marcas do Sábio prometem ajudar você a ter mais discernimento c pen­
eia. Cozinhe com simplicidade") e a CNN (“Você é aquilo que você sabe"). €
sar com mais eficácia. Um pirsi rclcast da Arthur Andcrsei cita as palavras
dc Jim Wadia, ex-sócio-gerentc: “Os modelos tradicionais de criação dc ri­
queza e administrado nâo sâo suficientes cm um mundo que valoriza a ve­ Onde podemos buscar conselhos?
locidade. o trabalho em rede c a informação. Com nosso alcance global e
prestação unificada de serviços, nôs da Arthur Andersen zjudamos nossos Como foi que Oprah Winfrey se tornou a mulher mais influente dos
clientes a produzir valor tanto dos ativos tangíveis quanto dos intangíveis.
* Estados Unidos? Sabendo o que quer dizer ser pobre e scr rico, ela conse­
li típico de tais empresas enfatizar seu próprio trabalho de pesquisa e gue empatia com todo mundo. Nascida num sítio do Mississippi. Opra
desenvolvimento. A Procter & Gamble da ênfase aos avanços súbitos Ino­ aprendeu a ler aos dois anus dc idade, com utna avò que também estimulou
vadora s que resultam da pesquisa contínua, promovendo o lato dc que a em­ sua capacidade de verbalização. Aos seis anos, ela se mudou para Milwau-
presa detêm mais de 25.000 patentes no mundo todo Un anúncio típico kce. onde a tnâe trabalhava como empregada doméstica. Depois de sofrer
(neste caso, das esponjas de limpeza Swiffcr) mostra ‘um cientista da P&G. abuso sexual por parte dc vários homens, ela começou a agir como vítima.
muno interessado", 'um inocente (o bebê) num mundo svjo", uma espon­ Seu pai. que ate então nâo tinha sido um fator importante em sua vida, in­
ja que c denominada 'um ímã sujo” e uma embalagem de Swiííer com a le­ terveio e mudou as coisas. O pai. nas palavras de Oprah, "transformou a mi­
genda "Uma esponja com uma missão” O material descritivo dâ o nome do nha vida, insistindo que eu fosse mais o que eu era e acreditasse que podia
cientista da P&G e descreve o avanço súbito que criou ‘o tecido único dc ser mais" Diz ela: “O amor dele pelo aprendizado me mostrou o caminho."'
fibras htdroentrclaçadas que gera uma carga clcirostãlica qre age como um Depois da faculdade, ela se tornou co-apresentadora do noticiário da
ímã para atrair poeira, pêlos c alérgenos comuns". Esse tipo de anúncio ape­ CBS em Nashvtlle. mas era tão empática que muias vezes tinha de engolir
la ao desejo de mamães c papais dc serem informados sobie os meios mais as lágrimas ao relatar histórias tocantes. Um novo gerente viu o mérito des­
modernos de manter a casa tecnologicamente limpa.
sa aparente fraqueza c lhe deu a oportunidade dc untar um lalk show. O res­
As marcas do Sabin podem ate cumprimentar os consumidores por se­
to jâ é historia. Oprah entrevistou lodo o costumeiro batalhão de indivíduos
rem hem-informados e inteligentes A Oldsmobile veiculcu este anúncio.
interessantes, perturbados e extravagantes que eram o modismo em todos
"Procura-se: motoristas com firmeza dc torque. tração c tempos verbais", im­
os outros tnlfc shows. Mas o que ela fazia com seus convidados era diferen­
plicando que as pessoas que sabem das coisas escolherão essa marca. Do mes­
te. Oprah sentia empana por eles, analisava a situação de cada um c mergu-
mo modo, a Infinily afirma, "Este nâo é apenas um novo cano. É a melhor
lliava cm seus problemas, como se fosse uma aniga de confiança ou um
ideia" A Toyota diz que o Prius é ‘um cano que às vezes roda com gasolina e
membro da família.
às vezes com eletricidade, de uma empresa que sempre roda com cérebro”
Desde 1986. seu programa tem sido o talk show n’ 1 dos Estados Unidos
F.m uma campanha impressa da Sesame Street, historetas do progra­
— e uma fonte dc orientação para pessoas dc todas as raças e grupos econô­
ma que paiccctn simples biincadciias à piimcira visu sâo enfatizadas cm
micos. Em anos recentes, Oprah começou a moldar a cultura. Os livros que
termos da oportunidade dc aprendizado que oferecem para asoluçào de pro­
blemas. reconhecimento dc padrões e assim por diante. Como resultado, ela indica se tornam instantaneamente bcst-sellers. Músicos que aparecem em
toma-se evidente para o adulto o currículo “invisível
,
* baseado em pesqui­ seu programa vendem seus discos. Pessoas que a ouvem enfatizar a saúde, a

sas. que conduz o desenvolvimento de cada programa. A idéia é que. se os espiritualidade e a responsabilidade pessoal praticam o que ela pregà.

pais ou responsáveis compreendem a qualidade do Sábio que conduz as de­


Oprah tornou-se a mâe. a tia, a irmã mais velha de todo um país. Ao
liciosas travessuras dc cada episodio. entâo eles têm melhores condições dc mesmo tempo, ela carrega o arquétipo da Madona Negra: diz o estudioso
avaliar o que torna Sesame Street realmcntc único no mundo da programa­ Robctt Graves que a santa e negra porque a cor preta está arquelipicamente
ção inl.ini il "dc qualidade” associada a grande sabedoria. Todas essas figuras carregam a mesma energia
O Sábio é uma excelente identidade de marca pra hardware e software
Jc computadores. A Adobe
* Systems Incorjxnatcd. |x
*r exemplo, sc posiciona ro
I W»
* p 4)7
100 O Sábio 101

d.i figura bíblica dc Sofia (nume que significa ‘■sabedoria”) ed.i deusa grega tes tradições. A meta aqui nâo é apenas a sabedoria, mas também a paz. Dee-
Persefone. que compreendia os segredos canto do mundo subterrâneo (a pak Chopra. por exemplo, é uma marca do Sábio tanto quanto o MIT. Fa­
morte) quanto da realidade ordinária. lando com seu sotaque indiano. Chopra incorpora facilmente a imagem do
As analistas junguianas Manon Woodman e Eltnor Dickson, em Dan- sábio guru hindu na mente do público, o que dá mais credibilidade a tudo
cing in thc Flamcs. citam o chamado dessa deusa (tirado dos "Provérbios" bí­
que ele diz.
blicos) cm palavras üo relevantes ao homem c ã mulher de hoje quanto lo- A propaganda dc produtos está adotando um tom mais espiritual, âs
ram para os antigo-, hebreus vezes de uma mancira que prece gratuita, pois as figuras religiosas nada
têm a ver com o produto. Mas alguns produtos, sem a capa do humor, se ar­
L a vo$. homens, que eu clamo I | riscam a ofender os leitores quando associam símbolos religiosos a suas
Escutai, pois renho coisas sérias a vos dizer, marcas. Por exemplo, os tapetes Antron. da Du Pont, veicularam um anún­
e dc meus lábios sairão palavras honestas.
cio com a imagem de Buda c o seguinte texto: "Ousado e diferente, um ce­
Minha boca proclama a verdade |. |
nário com geometria e padrões que sutilmente compõe, define e oferece
Todas as palavras que digo sâo justas,
uma nova metáfora dc harmonia e força. É zensual. É zensacional." Ao cli­
nelas náo ha nada de tortuoso ou falso;
car no website da empresa, o consumidor recebe um conselho: “Escolha um
Todas sâo dirrias para aquele que emende,
e honestas para quem sabe o significado do conhecimento. mantra. E nâo se esqueça de respirar."
Aceitai minha disciplina, e nâo a prata,
acenai o coiiIicciiiiciiio. dc prclcrcm 1.1 ao ouro
Pois a sabedoria é mais preciosa que as pérolas, Barnes & Noble: Marketing inteligente para livreiros
e nada é tâo digno dc ser desejado'
Leonard Riggio comprou a Barnes & Noble quando ela estava em séria
crise e ele era um joâo-ninguém. Mas ele compreendeu que a açâo nas livra­
Como c lipicodos Estados Unidos «lo século XX que a Deusa Ncgr.VSo-
rias estava expandindo o mercado. Sua estratégia Inicial foi chocante para as
fia-S.ibcdoria fale a nós por intermédio dc uma apresentadora de talk Show
outras livrarias, porque ele usou táticas semelhantes às da Wal-Mart, cortan­
tâo maiavilhosamenie inteligente, um ícone da marca do Sábio!
do preços de todo modo possível Com isso, ganhou dinheiro suficiente pa­
E Oprah. ela está consciente de sua identidade de marca do Sábio? Cla­
ra continuar comprando seus concorrentes. Ao mesmo tempo, manteve vi­
ro que sim O Sábio claraincntc governa suas decisões sobre os meios dc ala­
vo o nome Barnes ór Noble, um nome que evoca a antiga imagem monacal
vancar seu sucesso. Em vez dc desenvolver uma linha de cosméticos ou rou­
da livraria pequena e dedicada, administrada por e pra pessoas que sim­
pas. Oprah continua a orienur o público norte-americano por intermédio
do seu clube do livro c agora uma revista A coerência arquetqica entre seus plesmente amam livros.
O templo do arquétipo do Sábio tem de ser ou a biblioteca ou a livra­
novos empreendimentos c seu papel no talk show torna sua identidade dc
ria. Mesmo quando a Barnes & Noble promovia sua violenta redução dc pre­
marca ainda mais clara c convincente Mesmo sendo a mulher mais rica da
mídia, ela nunca é vista corno alguém que só atende seus próprios interes­ ços como estratégia pra derrotar a concorrência, a imagem da empresa ain­

ses Em vez disso, ela é vista como uma mulher com uma mis-áo. da evocava a livraria arquetípica ideal.
Com o passar do (empo, a introdução da megastore modernizou essa
Nâo é surpreendente que 3 espiritualidade tenha sc tornado uma prio-
ridadr importante para Oprah Os Sahios espirituais entraram na economia imagem ideal, comprar livros é uma experiência que fala a todas as necessi­
dc mercado no Méculo XXI I nquanto as igrejas ainda passam a bandeja da dades do amante de livros existente em todos nós. Percebendo a ausência da

coleta, hoje as pessoas pagam a gurus dc varias religiões para falar e dar praça das cidades pequenas, Riggio reconheceu que as livrarias eram um
workshops As pessoas tini loine dc sabedoria espiritual e estio dispostas a ponto de encontro natural para as pessoas, especialmcnte aquelas que gos­

pagar para aprender ioga. meditação c perspectivas espirituais das difcren- tam de trocar idéias. Começou, portanto, a oferecer café Starbucks e cadei­
ras confortáveis, dilatou os horários de funcionamento, agendou grupos de
discussão e palestras de escritores. Por fim. aprendeu a proporcionar uma
2 Mjih-o UiHidinancI liiu.r I>I. kv>n. Dum mg in lhe íl-imrt fhf (Xirk GmtJniin th< Tiam-
experiência que os Sábios apreciariam A Barnes & Noble até se tornou um
/»rawlKMicy<<«iMMniirM<B>Mt>>n Shambala l<W).p 11.cnadodt Pioveròu»8 4-1I.
QSSbto 103
IO» O MtMÔI ■ O >OMA.QA.lfl

da atualidide. associando a marca ao "estar por dentro'. Marcas tâo diferen­


ponto dc encontro dos jovens que amam as idéias — um verdadeiro servi, tes entre <i como The Wall Street Journal, Hewlett-Packard e Dewafs Scotch
ço «lc encontros!
vendem a imagem do cliente como pessoa refinada, inteligente e bcm-infor-
I ntrando no comercio eletrônico logo depois da Amazon.com. Riggio
mada. Talvez dc uma maneira ainda mais tópica, aproveitando nossa recém»
lambem viu rapidamente as possibilidades da internet Ele predisse que. no descoberta necessidade de alfabetização visual (enquanto oposta a verbal),
devido tempo, os serviços on line "permitirão que os compradores baixem
a vodea Alisolut criou uma campanha magnífica que depende do interesse
e imprimam um livro inteiro ou parte dele
*
, fazendo mudanças que revolu­
do leitor pelos padrões visuais e cm sua capacidade de reconhecé-los e os
cionário a industria * Sua capacidade de manter uma identidade do Sábio,
ao mesmo tempo em que modernizava o marketing livreiro, fez da Barnes interpretar adequadamente
A Intel estabeleceu sua identidade de marca por meio da associação
& Noblc a maior e mais bem-sucedida cadeia dc livrarias do mundo
com marcas já respeitadas A Intel ofereceu as empresas fabricantes de com­
putadores um desconto ern seus chips sc elas escrevessem "Intel inside' nos
Um marketing que faz as pessoas pensarem produtos Os consumidores, vendo tantas marcas com o selo "Intel inside",
assumiram que os fabricantes dc computadores estavam se gabando. A In­
O cs|H
*
cialisia cm marketing Bcrnd II. Sclimiti, no livro Lxpenrniial
Miiilrrtuig. identifica as 'campanhas pensantes' como uma das principais tel deve scr realmcntc grande, inferiram eles, se grandes marcas acrescenta­
ram o nome dela aos seus selos. A Intel nio diz ao consumidor que ela tem
iii.uivti.» dc comercializar uma marca. C poderiamos acrescentar que as
i.imp.uih.tc pensantes sâo a maneira ideal de comercializar as marcas do Sá­ o melhor produto do mercado. Em vez disso, ela cria uma siruaçâo que en­
bio A (ienesis f IdciCare. por exemplo, sc diferencia das outras empresas coraja os consumidores a assumir que é dela o melhor produto.’
que oferecem aicndiinçnio para idosos porque enfatiza sua capacidade de O consumidor Sábio desfruta o processo de pesquisar as marcas, des­
analisar aquilo que cada indivíduo necessita c dc elaborar um programa sob cobrir tudo a respeito delas. Os Sábios navegam na internet c véem o que es­
nndul.i para ele. Ao mesmo tempo, para fortalecer sua imagem dc empresa tá disponível, c também trocam informações sobre as ferramentas do comér­
inteligente, ela lambem mostra os idosos de uma maneira bastante inco- cio tecnológico. A Netscape c a Yahoo! estabeleceram suas identidades de
mum Ver derrubados os estereótipos dos idosos como dependentes ou ví­ marca sem gastar dinheiro cm propaganda. Em vez disso, elas se ligaram aos
timas faz as pessoas pararem jura pensar e também as leva a associar o pen­ sites apropriados na internet e pagaram pelos títulos. E çntâo deixaram os
samento independente â EldcrCare. A loja do Discovery Channcl exibe um consumidores encontrá-las.
modelo dc 1yt<innc
aunis
* rtx e muitas outras atrações educacionais intera­ Man tipicamente, o marketing do Sábio é digno e controlado, com cer­
tivas A Iburneau. de Nova York, ensina aos consumidores a história dos re­ to ar dc elite. Pensemos, por exemplo, na maneira pela qual as universida­
lógios A I ddie Bauer simplesmente pendura palavras como "inspiração", *
des da Ivy l.cague são promovidas. Os esforços de relações públicas enfo­
"imagine" c "intuição criadora" nas lojas vaiejistas, para posicionar suas cam a divulgação externa de importantes projetos dc pesquisa conduzidos
roujxis dc modo a aumentar as paibabilidadcs de que elas sejam associadas na instituição, as realizações do corpo docente e dos graduados e a dificul­
As pessoas imaginativas c intelectuais.
* dade de obter um emprego ali ou ser admitido como estudante. A mensa­
(K anúncios onde algo esta faltando fazem vocí pensar para preencher gem é "Nâo muitas pessoas sâo inteligentes o bastante para estar aqui". Além
os brancos Por exemplo, tanto a Target como a Nike veicularam anúncios disso, embora as bolsas de estudo sc destinem a garantir a freqúíncia de alu­
que meluein seus logotipos, mas nâo seus nomes, fazendo o consumidor pa­ nos meritórios com poder aquisitivo mais moderado, o alto custo do ensi­
rar. pensar e perceber que conhece os nomes. Isso, é claro, captura a aten­ no transmite a mensagem: A instrução fornecida aqui é cara porque é a me­
ção do consumidor; o mais importante, porem, t que lambem faz o consu­ lhor disponível. Esse tipo de abordagem mercadológica Tina e elitista é
midor se sentu’ inteligente por conhecer aqueles nomes. Os anúncios dos
sapatos Kcnneth Cole inevitavelmente fazem referência a acontecimentos
5 AgniesÚQ M. Winkler. WorpSprrd 8>andi«i$(Nova York: John Wiley & Son
*. Inc . 1999).
p t>7
6. h > IrupiC e * JenominaçAo popular dat oito mais preMigtosas umvenidades da Coui Lo­
* Umm. jss te dos tMados Unidos Itaoard, ColuinNa. Pnnceton. Yale. Cometi. 8rown. Penruylvannia
♦ eermlH fchmut t a Vwk ih< tree Press. 1999). p. e Dartinoith (N T >
<04 O HERÓI t O fORA-OA-iet_____________________________________ osímo tos

car.uiciistico dc museus. como o Coreoran ou o Smilhsonian dc Waslimg- liaçâo administrativa Geralmente sâo céticos quanto â capacidade de qual­
lon.c dc orquestras sinfônicas, comp.mhi.isdc balé e outras instituições que quer gerente comum dc saber o suficiente para tomar decisões embasadas
oferecem oportunidades culturais.
sobre o trabalho deles.
Mesmo no mundo das marcas convencionais, um ar de mistério ou as- A típica organização do Sábio tem uma estrutura muito descentralizada,
cctismo contribui para a aura da marca do Sábio Por exemplo, durante mui- enfatuando o desenvolvimento da perícia e nâo o do controle. Espera-se que
tos anos a Bell Labs carregou 3 aura de gemo das comunicações", embora vs cmpregfldos raibain n que estão fazendo e, por isso, eles sâo livres para to­
•1 maiuii.t «Lis pcs.M».is nâo fizesse .1 menor idéia do que era pnxluzido la den­ mar decisões autônomas. Em geral, um pequeno corpo administrativo cuida du
tro. Mas sua própria existência "ergueu' a empresa-mâc. Al&r. como re­ lado empresarial e mercadológico, mas a maioria das grandes decisOes — sobre
sultado da premissa dc que ela estava "acima da curva" cm termos dc com­ a grade curricular, as estratégias de ensino e mesmo as decisões envolvendo
preensão cientifica. promoções e mandatos — sâo feitas basicamente pelo corpo docente, geral-
I; claro que a maneira mais convincente dc você atrair os Sábios é ter mente por meio de um imenso conjunto de comitês. Os membros do corpo do­
sua marca recomendada por um especialista A Palm Pilot (que. cm outros cente sâo completamente livres dc ir e vir a seu bel-prazer, desde que dêem suas
aspectos, c uma marca do Criador) foi lançada por meio dc demonstrações aulas e cumpram os horános. Fora isso, eles conduzem qaaisquer pesquisas por
do produto cm conferências industriais e sendo oferecida por metade do que possam se interessar, sob a proteção da liberdade acadêmica.
preço .ms formadores dc opinião. Prct isivdmenic. os especialistas na área Mesmo no mundo empresarial norte-americano, js equipes de Pesqui­
espalharam a noticia, com o resultado dc que levou pouco mais cie unvano sa 6r Desenvolvimento gcralinente desfrutam de mais liberdade du que as
para vender um milhão de Palm Pilois outras áreas da empresa; isso porque nâo se pode manter pesquisadores sc
eles forem ostensivamente cerceados. Hoje em dia, muitos médicos vêcm a
si mesmos basicamente como cientistas e se acostumaram a sc autogeren-
A organização do Sábio
ciar e a tomar decisões independentes. É por isso, claro, que os planos de
3 I As organizações do Sabio gcralmentc são encontradas em universida­ saúde tanto desmoralizam os médicos; esses serviços funcionam com uma
des. laboratórios de pesquisas, "ianques dc idéias” e empresas que vêem a si propensão ao arquétipo do Governante — limitando 0 tempo reembolsável
mesmas como sistemas de aprendizado (' learning systems". conforme des- e exigindo aprovação das modalidades de tratamento.
i reve Pcter Scngc cm A quinia diwplina)’ — ou seja, organizações cuja es­ Nas organizações do Sábio, também aquelas puramente comerciais têm
trutura e valores promovem o aprendizado contínuo/A êníase e co ocada na direção descentralizada e bastante democrática. O VJS^ foi funúado por Dee
análise, no aprendizado, na pesquisa c nu planejamento. A qualidade é vis­ Hock como a primeira organização bancária "caórdicz" (chaordic foi a pala­
ta como resultado da perícia dos empregados, cuja liberdade de opinião de­ vra que ele cunhou, combinando “caos" com “ordem’). O VISA é uma con­
ve ser protegida. O ntmo c comedido, porque o estudo completo éconside- federação flexível dc bancos que concordam com certos princípios e siste­
rado essencial antes que a mudança ocorra — exceto no caso dc jornais e mas básicos. Qualquer banco pode pular fora a qualquer momento, por isso
ImiIciiiis. onde as informações prccisoin ser reunidas e publicada» rapida­ * diz o que fazer. Os representantes se reúnem anualmente para
ninguém Ihi
mente Os trajes c o ambiente tendem 3 ser simples As cores doaunantes tomar decisões, quase da mesma maneira que cidadãos tomam decisões em
gcralmentc sâo o cinza, o bege, o branco e o azul-claro. A éníase está na co­ convenções políticas ou fóruns comunitários. Segundo Hock. a cola que
leta r análise dos «Lidos c •• principal item do valor e a jxrícia mantém unida as organizações caôrdicas é uma filosofia cm comum. É por
Na qualidade dc empregados, os Sábios têm imensa necessidade dc au­ isso que ele defende a proposta de dedicar algum tempo para criar uma cons­
tonomia Sc para você as universidades c laboratórios de pesquisa sâo os am­ tituição que descreva as idéias comuns dos membros. A organização é man­
bientes quintcsscnciais do Sábio, você jxide ver que os Sábios querem ir e tida junta nâo pela hierarquia ou pela segurança, nas pela fidelidade às
vir ao seu bel-prazer (sem relógio de ponto, obrigado), gostam d< fazer o idéias em comum Outras organizações baseadas nos princípios caórdicos
tiaballio do seu propriu jeito c picferçm o parecer dc seus pjn-s a uma ava- incluem a Soclcty for Organizattonal Learning e a United Religions.’

7 IVlrr Senjte Hw I i/ik Ihx.aplin. Ihr A»t <mJ thr l(<>»uaj(Ofguni;<KtMl (Nova 8 Michael fom». encrcviju com Dee Hock. Tfce luner Edgt: A Knourttjor Eilighitntd BuM-
V.ik !>>»il4<«t.n/r urrenty. 1990) nc« Piatiut (íevcreiro/nurco de 2000). pp 5-7.
OSiblo to?
104 O HERÓI f O fOHA OA-lfl

<^Ray Andetson^ presidente da Interface, transformou sua empresa em


unw organização dc aprendizado quando se comprometeu a redesenhar a
empresa dc modo que ela (omc 100% sustentável. Tara fazer ISSO, ele tornou
a Interface um circuito fechado de recursos: a empresa nâo $ô transformava
matérias-primas em produtos como também retransformara produtos em
matérias-primas sem qualquer impacto negativo sobre o meio ambiente. Is­
so indicava que a empresa nâo poderia mais se envolver do modo usual nos
negócios Pelo contrário. cada um precisou reconsiderar abolutamente tu­
do á luz do novo consenso dc que toda decisão teria de scr sustentável dian­ sentir competentes, inteligentes c no controle da transação. Se sentirem que
te d.i natureza, da empiesa c dc seus clientes. vocé os estâ pressionando, eles provavelmente desconfiarão dc você e irâo
Andcrson desbastou a hierarquia da empiesa e criou 'fronteiras per­ embora Para os Sábios. uma compra é uma transação racional. Eles querem
meáveis
* — paredes transparentes conectando os administradores, os téc­ que você lhes dc informações sobre a qualidade do bem ou serviço à venda
nicos dc laboratório e o estúdio dc desenho. Hoje, os clientes podem ver os c seu custo Depois eles querem simplesmente tomar uma decisão lógica
empregados trabalhando e os trabalhadores podem ver os clientes compran­ com base nessas informações. Se nesse processo, porém, você os ajudar a se
do. Também a parede traseira e feita de vidro, permitindo que empregados sentirem como um perito, é mais provável que eles comprem do que se vo­
c clientes permaneçam conscientes da beleza da paisagem que os rodeia. Ao cê os fizer se sentirem confusos, incompetentes ou pressionados Fortaleça
mesmo tempo, permiiiu-sc que as informações fluíssem livremente. O re­ a sabedoria deles e, se tiver um produto comprovadamente de alta qualida­
sultado foi nâo apenas a formação da primeira fabrica dc taprtes ecologica­ de. eles o recompensarão com sua lealdade
mente sustentável, como também a economia de milhões de dólares por
meio dc maior eficiência.

O consumidor Sábio
Quandu o Sábio está ativo na vida dos consumidores, eles sentem um
agudo interesse cm aprender por aprender. A liberdade e a independência
sâo valorizadas como meios dc uma pessoa manter a própria objetividade
(como no caso das universidades, cujos corpos docentes apóiam a liberda­
de académica). Um indivíduo pode estar mais interessado no conhecimen­
to interior c ouiro no conhecimento do inundo externo, mas.qualquer que
seja o caso, ambo» scniein que e essencial pensar por st mesnos e ler suas
próprias opiniões. A parte do Sábio que existe dentro dc uma pessoa con­
corda com a frase "Penso, logo existo." Quando o Sábio é dominante no ca­
ráter de alguém, aprender ê uma motivação irresistível O medo que acom-
|Mnha é o dc scr ludibriado por falsas informações e. portanto, interpretar
mal os dados ou uma situação No pior dos casos, o Sabio c dogmático, ar­
rogante e inflexível No melhor dos casos, ele ou ela se torna um pensador
genuinamente original c alcança real sabedoria.
Ao apelar para os Sábios, é importante você estabelecer sua credibili­
dade Caso contrário, por que eles ouviriam você? Além disso, nunca mo­
nopolize a conversa e nunca tente foiçar uma venda: os Sabias querem se
FARTf

Os que deixam sua


marca no mundo
Herói, Fora-da-lei, Mago

I^araminie fala du Herói, do Fora-da-lei e do Mago numa mesma frase,


mas eles du poderosos arquétipos realmenic cortados do mesmo tecido. No
cinema c literatura clássicos, geralmente sâo os protagonistas destemidos
que percebem seu poder especial c vâo em frente, correndo grandes riscos
pessoais a íim de mudar sua própria realidade. Na sida cotidiana, esses po­
derosos arquétipos proporcionam uma estrutura capaz de liberar, nas pes­
soas comuns, a capacidade dc se erguer para enfrentar os desafios, correr ris­
cos. quebrar as regras e transformar suas vidas. Eles as ajudam a desenvolver
a qualidade da mestria, exigindo que abracem o risco e a mudança, o que
aciona um conflito inienor com a necessidade de proteção. estrutura c se­
gurança Estes trés arquétipos sâo. cada um a seu modo, magnéticos, por­
que lidam com a mudanfa — e com toda a ansiedade c alegria que a acom­
panham. O resultado será socúdmcnte positivo (considere Churchill e
Franklin Delano Roosevelt como Heróis), destruidor (criminososcomo An-
nie Oakley e John Dillinger) ou puramenie mágico (Houdmijackie Onas-
sis e Harry Poitcr); o efeito é similar. Tais figuras parecem estar além dos po­
deres da pessoa normal, mas levantam a qucsiâo motivadora; Serd que eu
também [xxleria fazer isso?
O»<
*»'<» ™—111
110 O H«»ôl F O fO»A OA ltl_________________________________________

M...... p.u. 3..U - »- ...................... ... ' ,“rhU1'",“


da vida norte-americana sem realmente solapar a «K,wb*
; ,
Todos des. o I lerm. o I ora-da-ic. e o Mago « ve«7í
realidade limitadora, tcp.essiva ou prc|u<k< ial O Herói qu
visto como um Guc.re.ro, corre grandes nscos f
ças do mal c protege, a mx tedade ou valo.es sagrados O >
mo uma força destruidora, violando as normas e reg o Bon.
dos outros (como Rohm Hood). por aventura e ganhos pe s«
me éa ( lydej ou por ahenaç.iodescspcrad. (como Thdma Az lou.se) O M
Ro age como um catalisador, para transformar ou curar a soc.edadcj>u «
msiituiçôes Nos tris casos, o desejo sub.acente é agir e exercer o poder. O
Fssas figuras são abundantes nas histórias infantis mas também os
adultos. de modo mais sutil, sc deixam hipnotizar por elas. No cinema, m-
cluem-sc campeões dc bilheteria como os filmes dc Indiana Jones, (h bi»i\
< <<ni/iji»tii< inx c ccja rur Esses arquétipos sâo magnéticos L mais
no clima culiLir.il dc hoje, cies lambem sâo ulcis
A c|xxa dc mudanças exige pessoas que sejam encrpzadas pelo risco
c que quiirain provar sims próprias aptidões enfrentando um desafio atrás
do outro. A capas idade dc correr riscos e perseverar ate rcalmentc conquis­
tar alguma coisa significativa tem como resultado a auto-estima elevada e a
validação social Quando esses arquétipos estão ativos nas pessoas, elas que­
rem agir de uma maneira que cause impacto no mundo As emoções ligadas
a essas aspirações tendem a ser apaixonadas e cheias de energia, variando da
raiva e ambição ate a determinação feroz. O Herói, o Forr-da-lei e o Mago
usam essa energia pjr.i deixar suas ■impressões digitais" sabre o mundo ou
para mobilizar as pessoas a ítin dc destruir ou transformar as estruturas ri-
gulas que nos desvitalizam. Quando essas figuras estão ausentes na nossa vi­
da iksmmI — como frequentemente acontece —. suplicamos por sua pre­
sença no mcriadv c na mídia.
Dc certo modo. a distinção entre o llcroi e o Fora-da-lei depende do
iursod.1 História Iknjamin I ranklin recordou aos seus colegas “fundado­
res" do
* listados Unidos: “lodos nos precisamos nos manter juntos, caco
contráiio seremos imlos çnfoicados separadamente." Sc a Colónia tivesse
|K-rdido a guerra, é bem provável que os revolucionários fossem lembrados
nos livros dc história da Inglaterra como indivíduos Fora-da-lei e nâo como
Heróis N<» marketing, c útil perceber que o polo negativo do Herói deságua
n<> Fora-da-lei. pois a verdadeira meta do Herói mais primitivo i vencer a Pt toso i um mitxo emolo ofodo. moniano dos he/ótí conquntodores. mos
hdu custo — uma meta que nem sempre C nobre c bela ç<je tombem r>go f<xo do kIo o^-eles çue r»óo estõv preporodo» fx.ro
Tombem é importante lembrar que na cultura nortc-zmcricana. talvez carflgot petos céus 0 hgotipo <k> MoN evoco o meuim e o po-ier do
p-rque o pais nasceu dc uma revolução, os Heróis muitas vezes possuem Hercx, mos tombem oferto poro o custo do possível o/rogõncto e desr/o de
uma ipi ilid.idc' meio rcheide. enquanto os Fora-da-lei — pelo menos aque- coixjuisios do Herô» Çve ndo tmbaHio <om os forços noturors
112 O HtHOl r O /ORA DA lí I

medo subjacente e deixai que a vida simplesmente ai<>nic\a — scr uma vi­
tima ou um lt.uo
Vivemos cm uma sociedade oiientada para a tcahzjçào. onde se espe­
ra que as pcsMMs assumam grandes riscos c desenvolvam competência pa­
ra coninbuu com <> hem social (llcroi). enquanto avanços trcnologicosco­
mo c»m ompiiiadon-s. a internet c a engenharia griicnca trazem a magia para
a vida cotidiana (Mago).
Ao mesmo tempo, tantas c tantas pessoas parecem rada vez mais alie­
nadas. a ponto dc sc identificarem com o Marginalizado ou mesmo com o
verdadeiro lorada-lci Tantas pessoas usam ou usaram drogas ilegais que
Imjc e rotineiro jHrgiintar aos candidatos a presidente sobre sens halmos
pcssti.iis com as drogas Na veuladc. hoje hasta um candidato afirmar que
tiáo inalou nem tragou nos últimos anos m» isso j.i lhe confere um grau ra­
zoável dc respeitabilidade. Basta ouvir as letras do rap ov hip-hop para per-
ccIht a fone influência do Fora-da-lei na cultura da juventude negra: c ela
esta sendo agora adotada também pela juventude branca Tatuagens c picr-
< mg predominam entre os jovens dc todos os grupos étn cos. Tanio os libe­
rais quanto os conservadores (espccialmcnte os que sc opõem ao aborto)
praticam a dcsobcdicneta civil — que c uma estratégia do Fum-da-ki para
lorçar a mudança Pense nas nuliiias dc Moniana. na Ku Klux Klan do sul
dos Estados Unidos c nos skinhcads do mundo iodo: você compreenderá a
importância do arquétipo do Fora-da-lei para a identidade dos grupos dc cx-
ircma-dircil.i
O llcroi. o Fora-da-lei e o Mago, enquanto arquétipos do poder, foca­
lizam as atitudes e ações do consumidor que são relevantes nâo só para ele
alcançar suas próprias metas, mas também para mudar c mundo Esses ar-
qticlipos. portanto, oferecem identidades dc marca naturais para os produ­
tos c serviços que ictn urn impacto marcante Sobre seu tempo c seu lugar.
CAPITULO

O Herói
Lemo: “Onde há vontade, há um caminho”

fUDO MRCCE PfROlDO. mas cntâo o Herói vem cavalando pela colina e sal­

va o dia Embora haja infinitas vanaçôes nessa história, em todas elas o Herói
triunfa sobre o mal. a adversidade ou um grande desaío e. ao íazt-lo. serve de
inspiração para todos nós.
Para fazer uma idéia do Herói, pense cm John Wayne.John Glenn ou
Susan B Anthony e. num nível mais baixo, em James Bond c na equipe de
Missdo Impoííívcl. Quase todos os super-heróis — Super-homem. Mulher
Maravilha. Batman. etc. — se encaixam aqui, assim como seus adversários
sâo os clássicos Fora-da-lei.
O Herói 115
114 O HERÓI E O FQRA-OA LEI_____________________________________________

As imagens associadas ao Herói incluem áreas que exigem aptidão c


John I: Kcnncd)' foi um presidente Herói,
O Herói agilidade; máquinas e escritórios onde as coisas se resolvem: cavalos, car­
demonstrando sua bravura no serviço militar
Desejo: provar o próprio valor ros. aviões, pessoas ou qualquer coisa que se mova velozmente; e qualquer
e nos desafiando a mandar uma expedição â
pc< rne»o da açáo corajosa coisa que seja poderosa, daí as cores fortes e as linhas c formas bem defini­
Lua “porque ela está lá". Assim forím Jéddy
eófidt
das. Os trajes e ambientes do Herói sâo funcionais, serr extravagâncias. Na
Meta: exercer a mejtr‘a de Roosevelt e Dwight Eiscnhower. Generais fa­
verdade, o excesso de conforto é considerado perigoso, porque “amolece" a
nxxlo a melhorar o mundo mosos. de MacArthur a Colin Powell. também
Medo: fnqueza. se qualificam corno Heróis e o mesmo aconte­ pessoa. O ktbutz israelense e os campos de tremo de recrutas no Exército sâo
vuneratPídadeZamarcljr- ce com figuras que transformaram j cultura, ótimos exemplos de ambientes que preparam o Herói em potencial por meio
Estratégla: tomar-te Uo da austeridade e do trabalho duro.
como Martin Luther King e Nelson Mandcla.
fone, competente e
Filmes como Guerra nas estrelas c O 'esgate do
poderoso quanto lhe for
poss vet ser
soldado Ryan nos oferecem a estrutura arque-
Armadilha: arroj^naa. tipica básica da história do heroi. assim como
desenvolver a neccss»dade do fazem séries clássicas da televisão, como Zor­
que exista sempre um inünij>o ro, Jornada nas estrelas. Super-homm e. mais
Dons: competência • corajem recentcmcnte. Xcna c Homicídio. Vemos o He­
rói em qualquer paladino dc alguma causa ou
nos esforços para resgatai a vítima ou defender os pobres-diabos.1
O ambiente natural do Herói é o campo dc batalha, a CompelÇâO atlé­
tica. as ruas, o local de trabalho, a selva política ou qualquer lugar onde as
dificuldades ou desafios estejam a espera dc uma açáo corapsa c enérgica.
O Herói quer fazer do mundo um lugar
Quando o arquétipo do Herói estâ ativo nos indivíduos, eles podem ser
O Herói ê umbóni conheodo melhor Seu medo subjacente é não ter as
ambiciosos e buscar desafios — pense nos astronautas, fuzileiros navais e
como o guerreiro, o cruzado, qualidades necessárias para perseverar e ven­
atletas — ou ser Heróis mais relutantes, que reconhecem uma injustiça ou
o hbertador, o super-herói. o cer. Este arquétipo nos ajuda a desenvolver a
soldado, o atleta vencedor, o
um problema e simplesmente fazem o que precisa scr feito, naquele momen­
energia, a disciplina, o foco e a determinação.
matador de drigóei.o to. para consertar aquela situação. Em ambos os casos, o Herói se fortalece
As marcas características do Herói in­
competidor e o jogador de com o desafio, se sente ultrajado pela injustiça e respende rápida e decisi­
cluem os fuzileiros navais, as Olimpíadas, o
equipe. vamente à crise ou à oportunidade.
programa espacial, a Organização Nacional
Os Heróis sentem orgulho de sua disciplina, seu foco e sua capacidade
das Mulheres, a Nike, a Federal Express, a
de fazer escolhas árduas. Sáo os protetores instintivos das pessoas a quem
Cruz Vermelha c a maioria dos videogames (as exceções mais notáveis sào
os videogames do Fora-da-lei). Já que o aspecto Guerreiro do arquétipo do
vécm como inocentes, frágeis ou legitimamente incapazes de ajudar a si

Herói c tâo forte na culiura, muitas iniciativas no campo da saude edo bem- mesmas (pense no Herói que salva a donzela em perigo). Quanto a todas as
outras pessoas, eles preferem vê-las progredir.
estar social sáo mostradas como guerras: a Guerra contra a Pobreza, a Guer­
Na política, pense em Martin Luther King (espedalmentc com o dis­
ra contra as Drogas.
curso “Eu tenho um sonho') inspirando norte-americanos de todas as raças
a realizar o ideal cultural da igualdade de oportunidades. Os Heróis frequen­
*
) No livros Dir Hrro IVithia t Ü dripcrW do hfiôi mttrtor ÍAwohfnwg thr Hercrt Within). temente demonstram qualidades que elevam o nível de consciência de to­
Carol r<-uiMH> .ipicvcnta • jornada <J<» HerAi <jur envolve todos os doze arquétipos, desacre- dos à sua volta. Na verdade, seu segredo é quem eles sáo, nâo apenas o que
diuiiJoa idria popular que «onfunde o Heroi somente com o Guerreiro Aqui, porem, esta- eles fazem Em um recente tributo a Nelson Mandela, ele foi louvado pui
iika iisoiiti.rrndo que na *
mm hxLhIc dc hoje o Heroi c o Guerreiro sáo siiónimo e perdoar seus carcereiros apôs ler ficado preso durante 27 anos e, com essa
que <• iriniti llrroí" api<l.«.•
* ., ve idcniduarrin <vin «•
* aspeitos iti.ns jxistivo
* des­
atitude, ter ajudado as pessoas a se libertarem nâo só do apartheid, mas tam­
se arqiutipo (>st.u< rrctrosseruni vinipIrMiwnic «oniKiuvus, niaso llcrcs luta por um pnn-
< rpm. uma lau-a um nmdodc vida ou 11111.1 vnjo d<> futuro bém do ódio. Bem. isso é heroísmo!
____________ OH«ról 117
II* O HERÓI f O FORAOA-LCI

também doava seus tênis a profissionais dc primeira linha c a times univer­


No pior dos casos, os Heróis se tomam arrogantes ou ameaçadores, ou
sitários. convencendo os técnicos a passá-los aos jogadores A mensagem,
correm para a morte prematura. No melhor dos casos, eles realizam grandes
feitos. Paradoxalmente. os Heróis nâo se vêem como Heróis, porque isso claro, é que os melhores atletas usam tênis Nike.
Contudo. 0 foco em Jordan era cuidadosamcnte equilibrado com anún­
lhes parece demasiado presunçoso. É mais típico deles sc verem corno pes­
cios mostrando pessoas mais comuns (c pesquisande os gostos e preferên­
soas que apenas cumprem seu dever. Sc ha alguém que eles realmcntc de­
cias da garotada “legal"). A Nike também advogava a importância da partici­
testam. nâo é tanto o vilão e sim o Iraco. Portanto, sâo vulneráveis a enfren­
pação feminina nos esportes e convidava as mulheres a sc identificarem com
tar um risco ou desafio mesmo quando isso é tnsensato.
o ideal heróico Alguns anúncios também mostravam times de futebol ame­
Claro que há um potencial negativo dentro deste arquétipo, tal como
ricano da l.itilc Lcague e de futebol colegial Quando conecta o "zás (aque­
ocorre com todos os arquétipos. O Herói conquistador podt scr um valen­
la espécie dc bumerangue do seu logotipo) às mulheres, â garotada legal
tão terrível. Atila, o Huno, é celebrado como Herói por ter subjugado mui­
tos povos, mas a experiência dos conquistados foi a da destruição — mas­ comum e a Michacl Jordan. a Nike está utilizando a celebridade de modo sau­
sacres. estupros, pilhagens. No nível mais baixo, o arquétipo do Herói quer dável As pessoas comuns sâo encorajadas a se “sentircomo Mikc . Para aju­
simplesmente predominar. O oponente é desvalorizado corro sendo “o ini­ dar a promover essa imagem, a Nike também apresentou Jordan em um
migo" ou alguém que merece ser destruído. Os nazistas, p>r exemplo, fa­ anuncio diferente- ele tenta inutilmente jogar o beisebol das pequenas ligas;
ziam dc si mesmos uma imagem heróica; mas ela resultou cm consequên­ com isso, cie parece mais humano e acessível do que quando mostra aquela
cias horripilantes para as pessoas aprisionada» nos campos dr concentração. excepcional habilidade no basquete. Usar Nike, portanto, está ligado às aspi­
Dentro da gama mais normal dc comportamentos, você vê essa tendência rações: os consumidores usam Nike nâo necessariamente porque possuem as
negativa na aquisição hostil de uma empresa por outra. A empresa compra­ qualidades do heroísmo, mas porque qurrem ter essas qualidades.
dora sc sente vitoriosa, mas a vida da outra empresa é totalmente devasta­ Jonathan Bond e Richard Kirshcnbaum, em Undcrihf Radar, propõem
da A armadilha dentro do Herói pode fazer você sc ver consa um indivíduo uma conexão similar quando "a Nike patrocina uma competição nas qua­
heróico, enquanto os outros vêem você como um vilão. Quando isso acon­ dras dc esportes urbanas e afixa seu logotipo com o 'zás' preto e branco áo
tece. nâo adianta você fincar pé; o que você precisa fazer é parar, ver o que alambrado. A quadra se transforma automaticamente em um ginásio de es­
os outros estio vendo e corrigir seu próprio curso. porte profissional — tudo isso com apenas dois emblemas de náilon. Este é
*
o poder da marca! 1 Bond e Kirshcnbaum prosseguem, afirmando que "as
pessoas passam anos imaginando mil maneiras de conseguir um emprego
Nike: Criação e teste de uma marca do Herói
na Nike
* c que seus empregados sâo tào leais que muitos “tatuam o latnoso
Nike nasceu da parceria entre um corredor que estudava na Univer­ •zâs' da Nike na parte interna da coxa
.
* Eles nâo apenas trabalham na Nike;
sidade do Oregon e seu treinador A meta deles era desenhar tênis que me­ a Nike é unia força motivadora na vida deles.’
lhorassem o desempenho na corrida e, ao mesmo tempo, tivessem preços A estratégia da Nike depende substancialmenie daquilo que David A Aa-
razoáveis A identificação da marca Nike com o Herói tem perdurado, com kcr. em Buitóing Strong Brands, chama de “oportunismo estratégico", introdu­
coerência c boa execução. A missão central da empresa é compreender e ins­ zindo centenas de modelos de tênis todo ano. para cerca de 30 modalidades
pirar a alma do atleta. Seu slogan atual. "Just do it". promove a virtude he­ esportivas' Alicerçada sobre uma fone identidade heróica, a empresa conse­
róica da coragem de agir. gue promover tênis específicos nâo só par
* diferentes esportes, mas também
Assim como ocorre com muitas marcas que forjaram uma identidade para diferentes segmentos do mercado, sem neutralizar sua identidade.
forte em época relativamcnte recente, o próprio nome do produto é arquetí­ Por ouiro lado, ao longo do tempo a Nike se ternou tâo conhecida que
pico — Niké é a deusa alada da vitória, na mitologia grega. A empresa Nike cvmeçuu a veicular anúncios contendo apenas o 'zás' (e Jordan ou um té-
foi construída por atletas que amavam competir e acrediuvam na corrida.
Seu sucesso inicial coincidiu com a moda do jogging. que promovia um ide­
2 lorialhan Bond e Richard Knd>cr»U»um, Undtr thc Radar Fahlsg to TtdayX Cynicol Contu-
al nâo só dc saude, mas também do corredor enquanto indivíduo heróico. im-r (Nova York: Adwcck *Book
. 199S>. p. S2.
Nos anos I9W. .1 canip.inha da empresa dependia foricnientc. mas nâo 3 tkiiní c Kutbrnh.ium. p. IH
»*
cxclusivamcnie. do bem-amado herói du esporre Michacl Jordan. A Nike 4 . David A Aakcr.SuiMnig5lWig Bnindi (Nova York lhe Frec Frc$i. i<W6). p 256.
OH«f<M 119
II» o HtROl t O fORA OA Cfl____________________________

ni$> — scrn o nome Nike, sem mensagem Sena isse um sm.il Jc confiança As organizações com a marca do Herói:
ou de arrogância? O Herói clássico das antigas tragédias possuía qualidades o Exército dos Estados Unidos e a FedEx
'maiores do que a vida", mas tinha lambem um deleito trágico — geralmen- As organizações do Herói gera'mente estâo comprometidas com uma
te. mas nem sempre, a huhris (orgulho ou arrogância) — que causava sua causa digna ou se dedicam a ajudar seus clientes e empregados a “Ser tudo
queda Edipoc Anugona sâo exemplos da dramaturga grega; o rei Lear, Ole­ o que você pode ser’, como afirma 0 anúncio do Exército norte-americano.
io c I lamlel sâo exemplos das peças <lc Slwkespcare. Nixon c O.J. Simpson Claro que esse "tudo" quer dizer durão, resistente, ambicioso, eficaz, com­
sâo exemplos da nossa época. Na virada do novo século, o desuno Imal da petitivo e. idealmente. com princípios. Essas organizações exigem muito do
Nike ainda era incerto, mas a empresa vive decididamente tanto os triunfos
indivíduo, a fim de fazê-lo desenvolver suas plenas capacidades. No setor
qu.mto .15 deficiências do arquciipo do Herói O escândalo publico causado
privado, elas sâo tipicamente lugares muito competitivos onde os números
pela divulgação dc que a Nike utilizava trabalho inbntil na China aumen­ das vendas funcionam como placares incessantes da realização. Empreende­
tou quando .1 empresa voltou atrás cm stta promessa dc doações às univer­ doras ao extremo, elas nâo só esperam, como de fato exigem. 0 crescimen­
sidades que apuavam o gi tipo dc alunos que batalhava para impor padrões
to continuo. No setor público c na? empresas sem fins lucrativos, exigem-
de proteção a niâo-dc-obra internacional A (alta dc sutileza política da Ni­
se dedicação e compromisso com a causa. Seja onde for. espera-se que as
ke cm lidar com esse escândalo teria sido profetizada pela afirmação da mis­
pessoas que nâo aguentam 0 calor saiam da cozinha.
são da empresa “Vivcnciar a emoção dc competir, dc vencer e esmagar os
O mais conhecido protótipo dtsse tipo de organização é 0 Exercito dos
concorrentes." Nâo imporia se a reação do público zfetará minto ou pouco
Estados Unidos A organização militar aperfeiçoou a hierarquia como um
as vendas da Nike, o fato c que sua reputação foi mane liada.
mecanismo para desenvolver combitenics fortes, equipes altamentc coorde­
Era uma tradição da Nike veicular anúncios maravilhosamente nobres
nadas e a capacidade de açâo pronta e flexível, conforme exijam as circuns­
c idealistas que encorajavam os atletas a proteger o meio ambiente, desen­
tâncias. Ironicamente, embora o Exército nâo seja nem um pouco democrá­
volver o caráter na prática do atletismo c reconhecer que o atletismo prepa­
tico. ele se tornou um lugar onde homens (e mulheres, cm número
ra as iniilhcrcs parj controlarem a própria vida c participarem mais plena-
crescente) de diversas raças e muitas vezes oriundos de condições modes­
mente dc uma economia aliamcntc compciiliva. Durante o escândalo,
tas conseguem participar plenamcile da sociedade como um todo — por
porem, a Nike veiculou um anúncio fora do comum Mostrava um homem
meio dos benefícios educacionais estendidos aos soldados e também por
correndo por um mundo que parecia à beira da desiraiçâo. Cidades cm cha­
meio do treinamento e desenvolvimento oferecidos pelo próprio Exército.
mas. mísseis caindo do ccu. e o homem apenas continuava correndo Estoi-
Seja no Exército ou nas empresas do Herói, os padrões sâo elevados e
camcnie, ele ignorava tudo à sua voha — tudo, exceto urn outro corredor.
espera-se que os empregados sejam durões e façam o que for preciso para ler
Esse anuncio revela uma força ambígua do arquétipo Por um lado, a capa­
sucesso. No mundo do lucro, as empresas que atuam em áreas altamente
cidade do Herói dc perseverar em circunstâncias perigosas t uma coisa ex­
competitivas em geral têm uma cultura organizacional do Herói; todos sâo
traordinária. Por outro lado, a tendência de apenas seguirem frente, igno­
valorizados enquanto produzem; tras, no momento em que alguém fracassa,
rando as criticas úteis ou sc defendendo dc qualquer critica (nâo importa
quão relevante ou uiill c um sério pciigo dentro dcStt arquétipo. Nâo sc po­ está fora. A consequência disso é que essas empresas costumam exaurir os
empregados com suas exigências persistentes dc que eles apresentem desem­
de deixar dc pensar sc o anúncio expressava a sensação da empresa dc estar
penho em um nível elevado (e talvez irracional) e com sua expectativa de que
encurralada.
os bons empregados continuem a ser estóicas máquinas de desempenho. Tal­
C> Irisic ni«H« tudo <' qnr. cr a Nike compreendesse os arquétipos,
cia teria reconhecido o potencial negativo dentro d » Herói c sc protegido vez faça scniidu você fazer tudo o que for pr«cito, dursnir indo o tempo que
contra sua própria arrogancia c insistente agressão, lodo arquétipo contém for preciso, se você está num campo de batalha; mas essas expectativas po­
c*
sc li|Mi dc- arni.idilli.i Na medida cm que você compreende mais plena- dem ser prejudiciais no mundo empresarial. Os soldados sempre recebem

nu me o arquciipo qin
* .iliincnia os csfinços dc sua organização. tanto mais R&R |licença para repouso e recuperação). mas isso nem sempre acontece
com os advogados que trabalham em escritórios de alta pressão Os paladi­
voce consegue sc proteger contra o potencial negativo do arquétipo e sc li­
vrar desse tipo de publicidade embaraçosa c prejudicial â sua marca, nos que se dedicam as organizações sem fins lucrativos voltadas para uma
missão, além disso, também se nutam dc trabalhar. Com o passar do tempo.
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120 O Hf AÓI I O fOMA-OAltl r

ús resultado
* das exigências incessantes acabam produzindo aiaqucs cardía­
lenas dc palavras por minuto para ilustrar a urgência da entrega de um pa­
cote cm tempo. A mensagem era: para acompanhar os concorrentes no

cos e depressão, alem de corroer as bases da família (c, sc as enanças sâo nc- mundo dr hoje, vovê precica da FedEx A cultura organizacional da FedEx
gligcm i.uhs, acabam corroendo também toda a c omunidade).
reforça sua idcniidiide heróica. Embora proveniente de lamilia allucnre,
As organizações do Herói saudáveis e bem desenvolvidas, porém, pro­
Smith Geou impressionado com o heroísmo dos fuzileiros navais oriundos
duzem empregados c equipes vitoriosos, assim como o lx»m treinador ge­
da classe operária. Em seu negócio, queria ser justo com eles. Espera-se que
rência e dingc os esforços de um time esportivo Espera-se que as metas e
os empregados da FedEx tenham um compromisso heróico com resultados
os padrões sejam cumpridos, mas os bons empregados sâo bem remunera­
dos. bem treinados e ahamente valorizados. Como resultado, eles conse­ dc qualidade, dc modo que aqueles pacotes eram realmcntc entregues intac­
guem cuidar de si mesmos e uns dos outros. As pessoas compartilham um tos e cm ternpo. Os empregados, cm troca, sâo tratados com respeito e jus­
senso dc orgulho por fazerem parte de uma operação vitoriosa e suas ações tiça — e tem voz ativa n.t empresa: um gerente é avalifdo tanto por seus che­
sâo guiadas pelo compromisso com a qualidade. As organizações do Herói fes quanto por seus subordinados.
de nível mais elevado tambCtn têm princípios e convicções ckramcnte arti­ A FedEx vem cimentando seu sucesso e sua posição icônica com apa­
culados que, mais do que mera retórica. formam o alicerce da prática. rições em filmes de grande sucesso de público Em Os picaretas, de Steve
Quase todas as organizações do Herói sâo boas cm motivar as pessoas Martin, o cineasta fracassado sabe que sua sorte mudou quando o furgão da
(como treinadores inlbrnando o time para a vitória) c cm liberar energia pa­ FedEx bate â sua porta Receber o pacote expresso é mostrado como uma
ra convencer as pessoas da importância de vencer na compcti.âo económi­ visita do Graal. Em Noiva em fuga, julia Robcrts foge de um dc seus casa­
ca Os empregados que sancionam a missão organizacional gcralmcnte têm mentos pulando para dentro dc uni furgão da FedEx. Um personagem diz
a forte sensação de que seus esforços sâo importantes c dc que. aconteça o algo como "Nâo sei para onde cia está indo, mas :crtamente estará lâ âs
que acontecer, nâo devem deixar sua equipe na mâo.
10:30 amanhã.'
Na sua oiigcm. o Correio dos Estados Unidos era uma marca heróica
por excelência — “Nem a chuva, a neve, o calor ou as trevas dí noite" impe­
diriam que as cartas fossem entregues. Infclizmcntc, essa identidade heróica As marcas "Seja um Herói”
nâo (oi mantida dc maneira adequada. Frtcl Smnh. o fundador da Federal Ex­
Ao contrário das puras marcas arquetípicas do Herói citadas aqui, ho­
press. teve a ideia de montar um serviço dc entregas em 24 horas quando es­
tudava cm Yale. cm meados da década de 1960. Escreveu um ensaio a respei­ je em dia muitas marcas “avançam
* nos apelos cxflícitos ou implícitos ao
to e o professor lhe deu nota “C". alegando que a ideia era invável. heroísmo Por exemplo, a 11 Radar com CO e-comércio dos Serviços IT")
Siniili sabia da |»crscvvr.inça do I Icrói. Nascido com uin defeito congê­ veicula uma foto de soldados da Primeira Guerra Mundial descansando ao
nito. precisou usar muletas ató que por fim conseguiu nâo só caminhar sem lado dc um avtâo, com estas palavras: “Quem serão os heróis dos negócios
aparelho
* como lambem jogar basquete e futebol- Acabou Geando tfto sau­ amanhã? lalvcz você." O anúncio exorta os consumidores a “correrem" pa­
dável que serviu no Vietn.i como líder dc um jwlol.io dc fuzileiros navais A ra “aplicar a tecnologia da informação". Para o Herói, o céu é o limite. A Fu­
I vilcial I \press iüo loi um sucesso instantâneo, mas Smith acreditava na jitsu apela pata essa ambição, dizendo "Seja ilimitado" (c compre um dos
ideia c sc manteve firme, investindo cm uma campanha publicitária que en­ notcbooks da empresa). A floricultura PTD.COM diz “Seja um herói", ou
fatizava a famosa (rase: “FedEx — quando absoluiaincntc, decididamente pelo menos seja visto como um herói por alguém — talvez sua mâe — que
tem <lc estar lâ amanhã ' recebe flores dc você.
As pnmciras campanhas de marketing sc dirigiam aos gerentes de se­ A Mailboro icvcste dc nostalgia o apelo ao heroísmo, convidando o lei­
gundo e terceiro escalão; mais tarde, se expandiram para atraíras secretárias tor â "Terra dc Marlboro" e aos mitos do território c da vida do caubói. Um
e o pessoal dos malotes De inicio, os anúncios destacavam experiências dos mais bem-sucedidos anúncios da Marlboro em todos os tempos mostra­
reais de remessa de pacotes dc areia pela I cdfx e por seu grande concorren­ va o homem de Marlboro carregando um bezerro através do riacho, ilustran­
te — as quais, e claro, foram vencidas pela FedEx. Mais tarde, os anúncios do a disposição do Herói de ajudar qualquer um q«c dele necessite. Os con­
enfatizaram a qualidade veloz c competitiva dos ncgocíos modernos e apre­
sumidores que conheceram a antiga série de televisão Missão Impossível, ou
sentaram <> Spleen — um gerente intenso, de laia rapidj, que et cadeava ccn- $ viram o filme moderno, nâo deixam dc perceber o apelo ao heroísmo no
cxuusivanKiiu. «v t
122 O HtKOI í O FOHA-DA-111 O H«r64 113

.iiiumio d.» Kedak que diz. su.i missão, m- você decidir jiciij-I.i, começa ses anúncios mostram a economia atual como sendo esscncialmcnte um
cm vAcwkiMl.ik.coni/MI2/Digii.il " campo dc batalha ou uma competição de atleusmo O Deutsche Bank se apre­
Muitas vezes, porem, o incentivo e o rnedo — de ficar p.tra trás ou de senta ao mercado como o “vencedor do jogo" de obter retornos positivos so­
iüo csijr á altura da tareia. A PriccwaterhouscCoojx^rs ("Una-se a nós Jun­ bre o investimento e depois ensinai os cherues a fazerem a mesma corsa.
to
.
* |>odcmos mudar o inundo ") veiculou um dos muitos anúncios desse ti­ Um anúncio da Calico ("e-business para líderes") mostra um homem
po. dizendo "O maior risco c scr deixado para iras" Um .muneiodo ROK. dc terno e colete, com um capacete viking na cabeça, e estas palavras clássi­
|( orpo dc Treinamento dos Oficiais da Reserva, do í xerntul mostrava urn Náo basta compelir. Conquiste!" Esse anúncio é um exemplo dc como
cas *

tubarão dizendo; “Somente os íortes sobrevivem. I‘<»r isso, pegue o melhor inúmeras empresas estâo utilizando os arquétipos de maneira óbvia, mas nâo
muito eficaz. Aquele capacete faz o homem parecer um tanto tolo. Para evo­
curso universitário que puder Depois saia para o mundo c o destroce." Os
ix|tiipamciilos de c.miping da Research promovem o saco dc dormir biiin- car o arquétipo, seria melhor jvôr em açâo o jwder do Herói — o drama in­
|K'iiiie.il>ilizado com uma foto dc tempestade e raros sobre um lago rodeado terior de se sentir heroico e de scr heróico. Um anúncio dos Fuzileiros Na­

|M'Lt llorcMa: "Cinco entraram Nenhum sobreviveu “ O anuncio chama sua vais. por exemplo, veiculado repetidamente cm cadeia nacional, evocava
atenção, induzindo você a pensar que aquelas cinco pessoas morreram; mas
poderosatnente o herói. Começa com a imagem de um grande herói comba­
tendo um monstro. A imagem poderia ter sido de Guerra nas estrelas ou de
ar socc li' o recto e descobre que
muitas outras narrativas rcalmcnte heróicas. De repente, o guerreiro se me­
A noite Jin fiWg<l r «»HiZ<i. <f>p>is tfuC u duna <km ui>i«i<<>ii ài encosta tamorfoseia cm um fuzileiro naval norte-americano, em posição de sentido.
/r<re «1» monte W/iilnry ha alguns anos Cada um dc n<b tinha au mu o dc A mensagem é clara: você pode ser um herói real se você se alistar.
«Luiii». de inanas tMrx nics. c todos dcismam ciiliii' a^ua () hsenho do Uma pesquisa de mercado feita pelo Exército norte-americano revelou
mm <•</•- duinur rcou dc scr inclhm. par iw dc rnanliA com< ict a cuasat um que os jovens nâo se alistavam apena» pelas bolsas de estudo. Ali$tavam-$e ’
mi mcM t.u cabia qnr scila dijti itaiar um saco dc dorma rcalrrcnlC osan- por causa de um desejo heróico de desenvclver o caráter e o senso de disci­
iaJoc atahm wíaIo«iniilil /•»<•» duque ru temia' () desenhofai d)u d. a cn- plina O slogan "Seja tudo o que você pode ser no Exército" tem um forte
g. nhuiia nuns dtfii d <iiii<<<i. <■ picc imk uts <WIO4pum oitria [•alcnic poder de atração Há um anseio dentro das pessoas — especialmente os jo­
vens — de enfrentar desafios reais e provar seu valor. O Exército oferece
I ssa iirgêm i.i >loc h.imado ariçái» tamlrcrn alimenta um anuncio da 1'l.in-
uma arena parj realizar esse desejo.
ncd *d
l.iiciill:«M
; 'Acideniesaconicccin.. m* você nâo faz sexo seguro. Vocélem
Do mesmo mudo, o alvo da Women'$ National Basketball Associalion
72 lx>ras para reduzir o risco dr engravidar, isso se chama cc-ntraccpçâo de
sâo as garotas e também os pais/máes que apóiam o desejo da organização
emergência Você tem alguma pergunta? I igue para a Planned Parenthood " de fazer com que elas tenham por companhia atletas fortes, confiantes e vi­
toriosos. E a Teach for America desafia os candidatos a terem coragem de fa­
zer algo bom e difícil. "Antes de ir para Administração em Harvard. Direito
As marcas como guias e acessórios heróicos na jornada
em Yale ou Medicina em Staníord, considere matricular-se em uma escola
t ru alguns casos. a empresa se mostra como fornecedora do heroísmo realmente puxada." O anúncio conclui: "Dedique dois anos de sua vida e
que você talvez iwo possua A Upstde. urn wcbsiie para negociantes, veicula mude para sempre a vida de alguns garotos. Sem falar da sua própria vida."
um anuncio que afirma: 'Ambição e vontade de ler sucesso nâo fazem parte Outros anúncios identificam o consumidor com o Herói e oferecem
rio IJNA dc ninguém " (X negociantes que lêcrn essa publicação aprendem o acessórios para a jornada. Um anúncio de carne bovina, claramente voltado
que lhes falta Nâo C m< onium que os serviços sejam projetados corno gutas para a mâe que trabalha fora, mostra soldadinhos de chumbo — "soldadi-
que crismam vocé a scr um Heroi. A J f* Morgan Securitics promove um se­ nhas", para falar a verdade — em várias atividades femininas contemporâ­
guro । ••nir.i ;«|uisiç<H s hostis com esta linguagem "No ambiente hostil dos neas: correndo, lavando roupa, indo para o escritório, fazendo c ompras, cui­
m guc ms d. Ih»j< . ignorar a possibilidade dc uma ofcrl.i de aquisição signifi- dando do bebé. O texto diz: "Seus íilhus precisam de vocé O escritório
<•• qu« sua empresa riao c.l.t Irem prcquiada para enlrcniar «r.nr vurrsci
* cc
e
* precisa de você. I igue e peça reforços" — sendo que os reforços sáo os nu­
desafio Ha passos que você jiode dar agora — antes que a oferta hostil seja trientes da carne As empresas farmacêuticas norte-americanas veem a »i
frita — que mclhorarau suas < lianccs de sobreviver au desafio." Muitos des­ mesmas como lideres dc guerras contra as doenças. Diz um anuncio: "Cân­
124 O HfBÓI t O O A. I f I O H«r64 I2S

cer. É uma guerra E por isso que estamos desenvolvendo 316 novas armas" firmando ao cliente que, por mais exaustivo que seja o percurso fora das es­
(isto é. remedios. terapias genéticas e anticorpos 'bala mágica"). tradas regulares, os “utilitários da Ford náo ap<nas sobrevivem: eles desa­
Qualquer coisa associada à liberação feminina pode ser comercializada brocham". O Nissan Xterra é promovido como "o pau para toda obra. O rei
como um produto heróico, alá mesmo os tampões. Um anúncio de Tampax de todos os solitários". O Chevy S-10 mosira Carlos Sandoval. veterano ofi­
(“A revolução continua”) diz: “É um símbolo de fortaleza. Beleza. Resistên­ cial da Marinha, rastejando por um pântano tenebroso. O anúncio nos afir­
cia. Espirito É uma representação do corpo. E uma atitude mental. É pro­ ma que Carlos acha "legal" todo esse sofrimento, mas que “enlouquece" se
gresso. Avanço. Inovação. E sua irmâ, sua màe. sua filha. É mulher. É você." lhe (irarem seu vigoroso Chevy.
Os anúncios da Nike voltados para as mulheres gera.mente sc opõem Tanto o arquétipo do Explorador quanto o do Herói exigem uma quan­
ao estereótipo cultural de que heroísmo é coisa para homem. A famosa tidade considerável de viagens: mas. para o Herói, a ênfase está mais em se
campanha da empresa — "Se você me deixar jogar" — tentou influenciar pôrà prova do que cm encontrar a si mesmo. Por isso, seus produtos sâo co­
não apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo, sugerindo que as mercializados por sua dureza e resistência. Diz a Nissan: "Tudo o que você
pode pensar, você consegue fazer Subir dc mountain bike o deserto de
garotas que se envolvem com atividades atléticas têm bem menos probabi­
lidade de engravidar, usar drogas, etc. Outro anúncio diz: “Por que é mas­ Moab? Feito. Esquiar em Jackson Hole? Sem problema. Surfar em Mave-
ricks? Sua vontade é uma ordem * A Pontiac apresenta o caso desta manei­
culino ter muitos músculos? Todos nós nascemos com musculos. Eles não
ra: "O problema: dc repente a coisa fica preta. A solução: vá de GrandAm SE
pertencem exclusivaniente ao homem, assim como a pele nâo pertence ex-
2000 com Sohdform Design É construído com reforços dc aço sólido que
clusivamente à mulher. Nâo é possível coexistirem feminilidade c força fí­
dão inveja a Pittsburgh. Pois a estrada da vida pode ser duríssima e aqui fo­
sica? Não é possível que quanto mais você aceita seu corpo, mais mulher
ra você precisa da blindagem certa." O anúncio mostra motoristas jogando
você sc torna? Aceite seu corpo. E descubra." Claro, uma roupa Nike aju­
hóquei motorizado perto da beira de um penhasco, com as palavras- "Nâo
da você a fazer isso.
que vocé queira, mas você poderia." Na verdade, o acessório resistente pa­
Seja para homens ou para mulheres, o arquétipo do Herói está associa­
ra a jornada do Herói é tão predominante na indústria automobilística que
do a padrões rigorosos, á perseverança c â capacidade de impor fronteiras.
provavelmente já deixou de ser um fator de diferenciação entre os carros.
Um anúncio da Lady Foot Locker. também mostrando mulheres que traba­
Depois de examinar dúzias de peças publicitárias que mostravam a es­
lham fora, diz: 'Quando estou treinando, exijo uma coisa dc mim mesma.
petacular resistência dos diversos carros, foi um alívio encontrar o anúncio
MA IS." Os sapatos Avia mostram uma bela mulher musculosa e aconselham:
do sistema Loadwarrior da Yakima. com ama abordagem mais bem-humo­
"Com sua roiina. ela ganhou definição nos braços. E na sua vida."
rada que satiriza o clássico estoicismo do Herói. Diz o anúncio: "A chave pa­
A Gazcllc.com vende meia-calça com o desenho de uma astronauta na
ra a felicidade é parar de carregar tudo dentro." A imagem mostra um baga­
Lua. dizendo. “Um pequeno passo para a mulher, um salto gigantesco para
geiro com a bicicleta e toda a parafernália heróica.
a raça feminina." Certamente, para a mulher que trabalha em escritórios, a
meia-calça é um instrumento do ofício Também os produios de beleza sâo
às vezes comercializados como armas na batalha dos sexos e na guerra con­
Competição • desafio
tra o envelhecimento. Por exemplo, o creme facial da EOreai é chamado Um bem-humorado anúncio da Imd reconhece a competitividade ras­
“( reme dc Defesa contra as Rugas". teira existente nos níveis inferiores do arquétipo do Herói. Mostra um ra­
Um acessório importante é o cavalo heróico, que só perde para o Ex­ paz. diante do computador, expressando este sentimento: ‘De quanta velo­
plorador como marca pidcrida para automóveis Um anúncio do Cadillac cidade o meu PC precisa? Mais do que o do meu amigo Bob." A
Scvillc sc gaba dc que <» carro é 'mais do que um rostinho bonito" — é "uma Aethersystems ("Soluções sem fio para um planeta portátil") diz: "Os PCs e
força a ser enfrentada” Para fazer a mensagem penetrar pelos nossos poros,
laptops vivem contando vantagem quando sc trata de negócios. Até você pe­
o anúncio, que aparece nas primeiras páginas de uma revista, continua: "Vo­ dir para eles irem à luta."
cê sabe qual t a potência do Northsiar V8 de 300 hp? Este anúncio come- A llomestead. empresa que desenvolve websttes ("Este é um novo
çou no hm da revista!" Os utilitários da Ford (“Nós corremos. Vocé ganha ")
mundo Crie seu lugar."), reconhece o desejo do Herói de se gabar das suas
exortam o leitor: "Nos últimos quilómetros, nâo importa se você ê talento­
façanhas No poema épico Bcowul/, por exemplo, os heróis passam as noi­
so. inteligente ou rico. O que rcalntcnte importa ê sua determinação", rca-
tes contando uns aos outros historias sobre os monstros que destruíram e as
OHh44 117

terras que conquistaram A Homesteád oferece um meto de nos unirmos a nâo t asfaltada * A cena de picos nevados tvoca as dificuldades da jornada
eles, mostrando a sclvagetui dos esportes de equipe: "Vencer dói, Criar o
em busca da iluminação espiritual (lalvez no Nepal). A matéria continua:
wcbsite para sc gabar da vitória nâo doi" "Ninguém disse que o Nirvana era facíl dc alcançar... por imo. «mirre os cor­
l ni seu aspecto mais honesto, o arqueiipo do llcroi lambem está na raiz dões das suas botas e chegue lá antes que alguém tente transformar o paraí­
de todos os filmes e vtdcogatnes dc terror A Sega Dreamcast, promovendo o
so em um estacionamento."
Residem Evil. desafia o usuário a ousar enfrentar o desafio do terror lambem a American Câncer Socieiyestâ atacando a tradicional ima­
gem de vitima atnbuída ao paciente com câncer; sua campanha de marke­
V«sC <la iiuiJu ihunre <ft> innh Mas t uma nuidii nroasa que ruiu nu­ ting foi projetada para promover uma imagem alternativa do Herói Um

»< vem < ninguém. Sc voe/ e um moleque dorJdo que euHf <1 RrwdciW f vil. nr
*
nh« «ipuçin u tu; r mcrgirlhr n<»< ilnn ~ m«nv <!<• 10 h.«ai dc leno»
anúncio, de tamanho grande, mostra uma simpática mulher de meia-idade
e diz: "Ela e uma máe que finalmentc descobriu como fazer sua filha parar
p rvriso que mu nt<i<Ln im? r irimrr iu<r«<»nr N<n»n «mus, nn.igin\ <m de fumar Ela e uma paciente que atenua o próprio medo conversando com
J-Pchuliiihas PO V |“ponto de Mit<TI um lemN numa »iuo«m pessoas que sc importam Ela é uma esposa cuja força recem-encontrada tem
Ir» Iwqwer ili;c» qur »n<? »oi rimhrcer i» «cnliidiiio lim rc «hl wob»mw»a dado esperanças ao seu mando "
l finalmenie, a inovação verde é perfeita para a identificação de uma
No mesmo espirito, a I l.ill «ini mostra um garotoçhcio dc hematomas marca com o Herói, porque os níveis mats elevados deste arquétipo focali­
v sugere que dc compre o Mitmlodc Iura .Ir 0iu«r Lrra lim dc estai prepa­ zam basicamente o ideal de lazer uma mudança positiva na epoca e no pla­
rado |\ira a proxmu batalha neta cm que vivemos. A Green Mountain Energy ("Escolha com sabedona.
Ha também, nas pessoas, uma agressividade real que pode ser canali­ E um planeta pequeno.") veicula um anuncio que diz: "Algumas pessoas so­
zada na direção positiva ou na direção negativa Um anuncio dos sapatos nham em mudar o mundo. Outras realmcntc mudam o mundo." Em vez de
I ug: mantem essa ainbivukiuia. mostrando um rapaz chutando uma poria focalizar seu próprio heroísmo, a empresa sabiamente mostra seus clientes
dc metal A unica cxplicaçAo c a palavra "Conquiste’. 0 arquétipo do Herói como Heróis, que tomam as "instalações com recursos renováveis’ possí­
ajud.i a canalizar essa vontade de agredir para uma expressão positiva Nos veis "como resultado direto da escolha da consumidor
.
*
níveis medianos, isso indicaria com|>etiçAo aileuca ou económica, cm vez Um dos mais bem-sucedidos anúncios da Partnership For a Drug Free
dc agressão física (X serviços financeiros Equitable life ASA associam sua 0 longo caminho para casa": um garoto, voltando da escola
America foi *
perícia ao desenvolvimento da “vontade fone, da lidetança forte
* num bairro realmente barra-pesada, puta cercas altas e faz desvios por be­
O Herói dc nível mais elevado, claro, usa a forca para ser um pacifica­ cos e quintais para evitar os traficantes d: drogas. Esse anúncio — que mos­
dor I m um anuncio bem-humorado, a Svmphony (empresa dc conexão A tra extraordinária empatia com a Sliuaçto da garotada dos centros urbanos
internet) mostra uma farniba brigando para ver quen acessa a internet. A deteriorados — afirma que o “diga nâo" nâo é assim tâo simples. O garoto
empresa oferece uma rede domestica sem fio que “permite que todos nave­ diz que "lalvcz os traficantes tenham medo da polícia, mas eles nâo têm me­
guem sem íio na internei' c. desse modo, acaba com “a guerra pelo acesso do de mim E eles nunca aceitam um nâo como resposta". Em vez de pro­
a internet". A Volvo veicula um anúncio que dderencit sua campanha "meu mover soluções simplistas, esse anúncio t empático com a situação enfren­
carro t seguro e resistente’ das outras, associando-a a paz c nâo a guerra: "O tada pelos garotos da vida real, e ainda mostra como HerõU que têm
primeiro míssil que realmente faz do mundo um lugar mais seguru * Na ver­ opções. Pesquisas subseqúentes realizadas pela Partnership indicaram que
dade. o Herói C o arquétipo utilizado por quase todos os esforços pela paz esse anuncio aumentou a confiança da garotada em sua capacidade de resis­
no mundo dc hoje. tir às drogas e aos traficantes?

No pico
Em tempos cada vez mais espiritualistas, a congem c a perseverança
do Herói podem ser promovidas como fatores necessários para a realização $ Ver também « d-xuiOo da March ot Dimcscomo umi maita do Herói, eiamiiudi deu-
espiritual. Um anuncio das bolinas Daniicr diz "A curada para o Nirvana Ibadamenie no Capitulo 6
QHerM I
**

n» O MIAÔI t O FOXA-OA-LEI
Vemos o triunfo do nível mais elevado do arquétipo do Herói no sur­
gimento do marketing ligado a causas sociais e na maior expectativa do con­
sumidor dc que as empresas se envolvam cm atividades filantrópicas. A re­
volta contra Bill Gates começou betn antes que o escândalo do processo
antiiruste contra a Microsoft revelasse suas titicas de intimidação As críti­
cas iniciais resultavam da recusa de Gates dr se envolver em atividades fi­
lantrópicas. tendo em vista sua exiraordinâra riqueza, até ser pressionado
pela opinião pública. Ele o fez. mas muita gerte achou que foi pouco demais

e tarde
Nosdemais.
dias dc hoje, a maioria das empresa» articula com toda clareza seus
valores, sua missão e sua visão. Cada vez rnai». o público e o consumidor es­
peram que essas visões empresariais reflitam algum senso de responsabili­
dade social Para lidar com essa expectativa. Jensen recomenda que a em­
presa "tenha unia plataforma política mais ou menos equivalente â de um
O marketing para o Herói candidato a presidente A única diferença é que as empresas enfrentam as
Quando lhe perguntaram sobre a civilização ocidental, Gandhi respon­ eleições diariamente e nâo somente a cada quatro anos".’ Quando fizer mar-
deu que achava que eh era uma boa idéia. As pessoas em geral sentem que kcung para o Herói, saiba que você está sendo avaliado nâo só pela qualida­
a nossa época vai a deriva, sem valores nem convicções. 0$ consumidores de dos seus produtos ou serviços, mas também pela força e pela etlca das
— espcctaltnente aqueles que expressam os níveis mats elevados do arqué­
suas convicções
tipo do Herói — têm sede de convicções e se sentem atraídos para as pes­
soas, empresas e marcas que as possuem Em The Dream Sociely. Rolíjen-
sen prediz que dentro de pouco tempo as marcas setâo vistas como
proprietárias de histórias significativas, e nâo como produtos As histórias
mais irresistíveis sâo aquelas que comunicam algum valor que enobrece a
vida. “A batalha do século XXI". escreve Jcnscn. "será tra.ada em um mi-
crofront. onde o x da questão é a atenção do indivíduo " Ele prossegue: "As
empresas entrarão gradualmente no mercado das convicções", basicamente
porque o "consumidor quer assim. Quando você deixa de se preocupar com
a imensa salada de sistemas ideológicos dos políticos e suas visões menos
ou mais insípidas, aí você nâo apenas vai às urnas no dia das eleições; você
vota todo santo dia. com seu carrinho de compras."
*
Os consumidores, observa Jensen. já estio censurando as empresas e
"fazendo perguntas como ’A sua empresa nâo tem coraçàa. nâo tem senti­
mentos? Vocês nâo passam de uma máquina racional de fazer dinheiro?’"
Ironicamente, as empresas que valorizam apenas a competição e a bottom
line também estão demonstrando o arquétipo do Herói, em seus estágios
guerreiros mais primitivos. Oque podemos ver disso é que. quando o arqué­
tipo sc expressa ao publico cm seus níveis mais elevados, as pessoas recom­
pensam as marcas com suas compras.

0 Koll Jenvti. I Kr lh«un Sur


*> I, iKr Cemog Sfc.jt /nm ut/<Maxrti4n to Imaginatton Will
--------Mc«raw.HiM. IWJ.pp. 111113 7.IW.
CAPÍTULO

O Fora-da-lei
Lema: "As regras são feitas para ser quebradas"

O viuto DO MIIOURAMA retorce 0 bigode e som, e as mocinhas sentem um

misto de medo e atração. A sereia canta e o marinheiro é atraído para a morte.


O Fora-da-lei tem a sedução do fruto proibido. Receniemente. em um
ciclo de conferências. Caro) Pearson assistiu a uma palestra sobre ‘Scr o Fo-
ra-<Í3-lf on-nnmorar um deles". Nâo havia um só assento vazio! Parece que
quanto mais comportados e responsáveis somos, unto mais ansiamos por ser
um Fora-da-lei, pelo menos um pouquinho, pelo menos parte do tempo.
Certamente vemos o Fora-da-lei na sua forma mais positiva em figuras
como Robin Hood c Zorro. Como encontram sua identidade for
* d
* estru-
Ofora-da-lrl *33
IJ2 o HfAÓI t O FOWA-OA-L1I

(ura social corrente, esses Fora-da-lei sâo fiéis aos valores mais profundos e a projetam sobre os outros, vendo os outros o Fora-da-WÍ é
tomo o
verdadeiros, nâo aos valores dominantes Esses Fora-da-lei tâo figuras ro­ como o problema.
owvoludoMrto>õv«ô;
mânticas. prontas a rebentar uma soctedade que sucumbiu i tirania, à re­ O Fora-da-lei contém em si as qualida­
,ojebrajeovdd
*
pressão. ao conformismo ou ao cinismo. Na história modtrna. podemos des sombrias da cultura — ou seja, as quali­
Ó wmir> pu p
pensar nos jovens que participaram das demonstrações na Praça da Paz Ce­ dades que a sociedade desdenha e negligen­
lestial. na China, e nos participantes dos movimentos pelos direitos civis e cia. Desse modo, o Fora-da-lei libera as
paixões reprimidas da sociedade — assim comc. em épocas mais antigas, os
antigucrra. nos Estados Unidos — esses sâo alguns dos revolucionários que festivais permitiam grande licenciosidade (por exemplo, na festa celta de Bel-
mudaram o mundo e o transformaram naquilo que hoje conhecemos.
tane. todas as restrições sexuais eram suspensas durante aquela única noite)
Claro que lambem vemos o Fora-da-lci que nâo possui esses princípios
e atuavam como uma válvula de escape que. na verdade, ajudava a estabili­
— ele é apenas alienado, raivoso e pronto a sacrificar os outros para conse­
zar a cultura Nos festivais dos tempos modernos..Woodstockcarrega a ima­
guir o que quer. As pessoas que se recusam a conseguir o que querem de
gem positiva da cultura do Fora-da-lei. prefigurando o potencial de uma épo­
uma maneira saudável e socialmente aceitável podem recorter a estratégias
ilegais ou aniiéticas para levarem a melhor. Elas nâo se sentem criaturas mo­ ca mais utópica, enquanto Altamonl exemplifica o potencial nâo-utópico.
rais. mas pelo menos se sentem poderosas Enquanto o Hetói quer scr ad­ destrutivo e violento de uma soctedade Fora-da-lei.
mirado. o Fora-da-lei se contenta em ser temido. Pelo menas, o medo im­ Basta pensar no sucesso dos romances e filmes Fora-da-lei para perce­
plica algum tipo de poder. Os estilos diferem. Cada um â sua própria ber como t poderosa a força deste arquétipo na sociedade de hoje. Alguns,
maneira, o criminoso, o revolucionai io, o akinhcad « o adolescemr cheio de como o filme Juventude transviada ou o livro Pé na estrada (On lhe road) de
tatuagens e piercings se sentem poderosos quando deixam os outros assus­ jack Kcrouac. retratam a altcrmçáo da cultura que leva ao rompimento das
tados ou inquietos. normas e tabus culturais. A ressonância desses filmes e livros nos diz que al­
Como qualquer tipo de açâo eficaz contra eles dissipa o nedo da destrui­ guma parte de cada um de nós sente algum grau de alienação da cultura do­
ção. os caubóis com chapéus pretos entram a galope na cidadezinlia. atirando minante. cspecialmcntc quando somos jovens Outros filmes, como Bonnte
para todos os lados, com o único objetivo de rebentar as coisas c se sentir po­ & Clyde e Bulch Cassidy & the Sundance Kid. mostram o Fora-da-lei como
derosos lauto o llaói quanto o Fora-da-lei sentem raiva. OIci.ói parte para uma figura um tanto glainourosa; ali, quebrar as regras é um ato dc liberta­
a açAo quando se sente ultrajado pela injusti­ ção, Outros ainda, como () poderoso chejào. Os bons companheiros ou De olhos
O Fora-da-lel ça. A raiva do Fora-da-lei tende a scr provoca­ bem fechados, faturam em cima da simples atratividade dos comportamentos
Detejo bliko^npny ou da quando ele se sentç desprezado como pes- criminosos ou proibidos. Os hippies dos anos 60 introduziram valores con-
revduçlo soa. Enquanto o Herói se identifica com sua traculturais. Fora-da-lei, na cultura, e à medida que a geração do pós-guerra
Meta: destruir aquilo que nJo comunidade, o Fora-da-lei se sente profunda- atingia a maturidade, tais valores se tomaram a corrente dominante e. com
funciona (para «lo próprio ou
mente apartado dela. Vocé pade imaginar os eles, revistas como Rolling Stone O rock‘n'rol'. que antes era uma afirmação
para a sodedide)
Medo: nâo ur pod
*r.ier ; f
vilões típicos dos quadrinhos de Super-ho­ contracultural. é hoje a música favorita de uma classe média cinqúentona.
comum ou IncoMcqüento / mem ou Batman — Ixx Lulhor e Curinga —. Em cada geraçâoxos adolescentes acorrem em bandos para os produ­
E>tr atógia: rebentar, ■ ' \, que geralmente se tornaram maus porque fo­ tos Fora-da-lci Poucos anos atrás, pintar o cabelo de’ vermelho entrava nes­
desuvr ou cbocar 7. * , ram humilhados ou marginalizados (por se­ sa categoria Hoje em dia. as tatuagens e ospiercings preenchem essa neces­
Armadilha: passar pera o Mo rem diferentes, deformados c-u de algum mo­ sidade. assim como as aglomerações junto â boca do palco, muitas formas
sombrio, crlminaJkfade
do defeituosos). de hip-hop e rap e (atraentes para os Fora-da-lei de qualquer idade) a liar-
Dom-. InrprtmhTl, l.terdide
rad.cal : Os hábitats do Fora-da-ici sâo os lugares ley-Davidson. As marcas Fora-da-lei incluen a MTV. e é por isso que a ga­
escondidos e sombrios — fora do caminho. rotada tende a amá-la e os pais a se preocupr com ela. O Fora-da-lei tam­
O psicologo C G. Jung descreveu como os in- bém está presente, de maneira mais sutil, na Fox. que. das grandes redes
divkluos c as culturas ttm Sombras — qualidades que sâo julgadas inacei­
comerciais, se inclina para um contendo mais chocante e extremista do que
táveis e. portanto, sâo ocultadas e ncg-ulas. As pessoas nào querem reconhe­
a ABC. a NBC c a CBS. Embora se pudesse ver a Calvin Klein como uma
cer a própria Sombra, nem para si mesmas, e por isso elas íreqúentemente
marca do Amante, devido âs suas imagens lâo sexuais, essa empresa tam-
134 Q HERÓI tOf O * A. D Al 11 O Fora-da-lei 135

hCtn possui qualidades I ora-ib-lci. pois costuma ultrapassar os limites per­ A ameaça do Fora-da-lei, porém, é que uma rebelião individual e silen­
mitidos pelas conveniências sociais ciosa irrompa e comece a destruir a sociedade, quer a erodindo de dentro
Milhões de pessoas ouvem Howard Stern ou assistem a Polilically In- para fora ou a demolindo com uma erupção violenta. O pólo negativo des­
corn-ct; bebem Tequila, Jack Daniels ou Southern Comfort; fumam Wins- te arquétipo se evidencia cm personagens como Darth Vader e outros vilões
tons O t.ipa-olho de pirata do homem com a camisa Hathaway acrescenta que passaram para o lado sombrio. O Fora-da-lei negativo, portanto, flores­
certa pitada de 1'ora-da-lci p ua apimentar um produto que. afinal dc con­ ce em organizações que permitem que o lucro e a competição sejam mais
tas. ê apenas uma camisa comportada. No movimento feminista, mulheres importantes do que qualquer tipo de valor moral ou senso de responsabili­
instruídas c profissionais — motivadas por livros como Mulheres que tonem dade; e no perigo onipresente de que uma aquisição hostil destrua a identi­
tom os /(ihos. dc Clarissa Pinkola Estes — tentam recapturar a perdida mu­ dade (e portanto a alma) de empresas saudáveis.
lher interior selvagem e instintiva, enquanto Rolx-rt Bly e outros autores le­
vam os homens as florestas em busca do selvagem interior.
Portadores de comportamentos ultrapassados
Quando a consciência do Fora-da-lei está presente, as pessoas têm uma
e revolucionários
percepção mais aguda dos limites que a civilização impõe à expressão hu­
mana. O clássico romance do norte-americano Nathaniel Hawthorne. A le­ As marcas do Fora-da-lei têm um papel complicado. Elas podem forta­
da estai late. contrasta a sociedade puritana com a vida mais livre na flores­ lecer os comportamentos desalmados c cínicos quando os valores estio au­
ta. que está ligada a sexualidade, â vitalidade, ao pecado c. paradoxalmente, sentes. Mas também ajudam a derrubar uma estrutura oprtísiUL^judajn a

i.unbcm .1 virtude transformadora. Os romances c filmes norte americanos abrir e afrouxar jreslnçôessQçiais.ou.seryemcomouma Válvula de seguran­
que oferecem críticas da sociedade costumam mostrar pessoas decentes que ça que permite.que asjKSSOaj.debata modo protegendo o stalus
quo Alem disso, elas fortalecem a verdadeira revolução, quando irrompem
s.h> forçadas a infringir a lei para poderem fazer a coisa certa Um exemplo
por entre as idéias acomodadas e repressivas para patrocinar um caminho
hem conhecido de romance clássico que mostra esse tema é Hutkleberry
I mu dc Mark Iwam. O tema também aparece em filmes modernos como totalmente novo.
A década de 1960 pode ser vista como uma era Fora-da-lei. com os he­
Ihelnut & l.otusc. Tomates veidcs fritos e Regias da vida: pessoas c grupos se
róis da contracultura e os caubóis por eles rejeitados sustentando, em última
sentem tio desprotegidos pela sociedade que. para sobreviverem, sâo força­
análise, os valores da liberdade de toda a cultura — embora fossem diferentes
dos a infringir a lei. Figuras históricas como l.emn ou Malcolm X ilustram
suas respectivas definições de liberdade. Quando chegou ao poder, a geração
o que acontece numa sociedade cm que os lideres dos grupos desprovidos
afluente do pós-guerra trouxe consigo muitos desses valores alternativos.
dc poder sc alienam a ponto dc defender ou praticar a violência
0$ anúncios da NetZero apresentam paródias das audiências macar-
Fm um nível mais cotidiano, celebridades corno Brad Pm. Jack Nichol- ihistas: uma comissão do Congresso está investigando a internet, que é acu­
son c Madonna têm sucesso porque qy.çbram as_rcgras ultrapassadas dc um sada de antíamericana por ser livre. Mas as valentes testemunhas falam da
modo que parece libertador para as pessoas. Agindo de maneira sexualmen- tradição norte-americana dc liberdade de expressão e defendem o direito do
le liberada? c até promíscua, enquanto usa uma cruz c o nome da Virgem, a povo ao livre acesso. Na verdade, em toda parte o novo mundo do comér­
identidade tlc marca dc Madoniiii desafia ostciisivaincntc a distinção histó­ cio eletrônico mostra uma qualidade Fora-da-lei maravilhosamente livre e
rica entre a virgem c a prostituía Essa identidade dc marca exige a c:i|xici- quebradura dc regras. Mas marcas como CompuServe c AOL perderam
dade dc correr riscos, lerá um sucesso tremendo sc a sociedade estiver pron­ clientes porque dcspreocupadamcnte angariaram mais assinantes do que
ta para ver desafiados os seus valores. Mas também gerara revolta, críticas e poderiam atender Este mundo novo simplesmente não opera conforme as
desonra se a sociedade nâo estiver pronta para isso. regras estabelecidas. Na verdade, ele é mais ou menos como o Velho Oeste,
Na UnMo Soviética, o comportamento capitalista era ilegal, mas as cir­ com a regra da lei e da ordem ainda nâo firmemente estabelecida. Neste pon­
cunstâncias exigiam a participação do mercado negro (que era. claro, capi­ to. somente os mais fortes e mais inteligentes sobrevivem.
talista ao extremo). Com os anos, criou-se uma nação Fora-da-lei c foi só Muitas culturas têm figuras sagradas dc malandros, que agem quase
uma questão de tempo ate o comunismo, pelo menos naquela forma, entrar completamcnte na base do instinto primitivo — aquilo que Freud chamou
em colapso. de “id". O coiote do folclore dos índios norte-americanos, por exemplo, en-
b IJ6 O HÍRÔI E O FORA-DA-LEI
o Fora-da-tei 137

>
» Em um nível mais cotidiano, lambem as pessoas responsáveis c trata-
I gana as pessoas para conseguir comida, remove o pênis e manda-o na fren­
K
* lhadoras se sentem atraídas para as marcas do arquétipo do Fora-da-lci —
te para estuprar as mulheres e. de modo geral, age dc maneira total mente
jgg nâo porque algum dia destruirão algo ou chocarão alguém, mas como meio
determinada pela ganância, glutonaria e luxúria. Essas figuras tem um pa­
y dc desabafo. A mâc virtuosa vibra de excitação quando usa o perfume Opi-
pel extraordinariamente caiártico na cultura. Elas mostram comportamen­
® um. mas ela nunca infringirá a lei O médico ou advogado bem-sucedido pi-
tos que ainda existem na vida interior das pessoas, mas que nâo sâo aceitá­
■K lota sua Harley-Davidson ou se sente atraído por aqueles anúncios dc jipes
veis em (ermos sociais e morais. Quando vemos esses comportamentos e
X maneiros em que o motorista, frustrado por estar preso num congestiona-
rimos deles, eles sâo reconhecidos, sua energia é liberada e, com isso, dimi­
nui o controle que eles têm sobre nós. » mento, de repente dá unia guinada e sai disparado pelo campo, assim que-
Algumas imagens do Fora-da-lei sâo mais sombrias e podem liberar ou ■ brando a regra de ficar sempre na rodovia.
reforçar a energia potencialmcnte perigosa. E difícil saber com certeza co­
mo elas funcionam. Hoje em dia, a internet e a mídia possuem uma quali­
“Eu estou furioso e não vou mais aguentar isso!”
dade malandra, com uma atitude vale-quase-tudo Permite-se o pleno jogo
das emoções mais básicas e primitivas. Ainda nâo sabemos sc o desfecho O Explorador é solitário e busca çua identidade. O Fora-da-lei se sen­
dessa licenciosidade será uma liberação das emoções mais primitivas, per­ te fraco e busca a expenência do poder, mesmo que apenas na capacidade
mitindo que as pessoas convivam de maneira mais civilizada, ou se estamos de cKocar ou desafiar os outros A Nintendo veiculou um anúncio que mos­
testemunhando o declínio dc uma civilização. Us wcbsites pornográficos trava uma hnrdn dcEirfcaros.com tangas vermelhas, rosto pintado e expres­
são feroz, claramente prestes a saquear uma aldeia. Diz o anúncio- “Na Ida-
I desviam os comportamentos opressivos ou estimulam o estupro e o inces­
to? As letras violentas e misóginas do rap e de outras músicas agem como dc Média, a escolha das cores rellctia cada estilo pessoal de loucura,
catalisadores para dar vazão à Irustraçâo ou ajudam e incitam a violência, o violência e destruição rm massa Ainda é assim." Na seqúência. você via
scxismo c o comportamento anti-social? Ainda nâo sabemos com certeza. *
imagens dc Nintendo rm seis novas cores. Podemos inferir que as crianças
Quando o Fora-da-lei está ativo nos indivíduos, eles podem se sentir e os adolescentes dever am estar se sentindo particularmcnte fracos e raivo­
apartados da cultura dominante e desprezar suas regras. Eles se envolvem sos se eram atraídos para tais imagens violentas. Os videogames Diamond
cm comportamentos autodcstruiivos (uso dc drogas, piercings. roupas que oferecem uma mensagem que é ainda mais gráfica — acompanhando a ima-
os colocam fora dos limites da sociedade normal) ou cm ações que desde­ gem dc um homem que aponta uma pistola diante de um mundo em cha­
nham llagrantementc os padrões gerais de ética, saúde ou propriedade. O mas. o texto diz: “Apressa o seu ataque. Apressa a aniquilação. E se você não
Explorador também se coloca As margens da sociedade, mas tudo o que ele estiver satisfeito, tambfm apressa a sua retirada."
quer é sei livre. O Fora-da-lei. por outro lado, quer realmente destruir as O arquétipo do Fora-da-lei está íora do tempo. Ele contém valores fu­
coisas, produzir uma revolução, sumir com alguma coisa ou apenas sentir a turos que prometem a revolução (ou ameaçam com ela), bem como oferecem
excitação dc scr um pouquinho “malvado". Ambos se sentem um tanto alie­ uma forma de dar continuidade às qualidades arcaicas existentes na cultura.
nados. mas o Explorador experimenta essa desconexão com tristeza e soli­ As gangues de adolescentes e a Máfia se organizam da mesma maneira que
dão, enquanto o Fora-da-lei a vivência com raiva e violência, ou com a ale­ as sociedades feudais Ma Idade Média, essa era uma forma aceitável de orga­
gria de estar destruindo aquilo tudo que o prende â sociedade. nização social; mas heje nào é mais. Vemos uma versão suavizada do Fora-
A maioria dos jovens se sente um pouco alienada da cultura simples­ da-lei na popularidade dc alguém como Howard Stem. cujas observações po-
mente porque sua tarefa dc desenvolvimento é encontrar a si mesmos. Se es­
sa alienação for relativamente pequena. os jovens se identificarão com o Ex­ < ti í A i > ■ ' J. O» nível» do Fora-da-lei
plorador Sc nâo for assim tào pequena, eles se identificarão com o Fora-da-lei **
Motivação: terxe-M dexxwdo de podcr.com nM. maltratado, veiado'
.?'

ou. pelo menos, com os rebeldes. A palavra "rebelde", na nossa sociedade, é Nível I: kJenuf><j-ie como marginatoado. duooindo-ic do» valore» do grupo ou dl «c3^:

usada dc um mudo ambíguo que pode comportar qualquer um desses arqué­ tiedade de modo tal qjc foge diante do» comportamento» e da moralidade comencfoneh
tipos. Sc o rclicldc está apenas operando dc modo individualista, estamos ven­ Nível 21 comporta-
** d« modo chocante ou destruidor
*
Niv
t 3: torna-
** um rebdde ou um cevotucfonãrlo w ,
do o Explorador cm ação. Mas sc o rebelde está pronto para quebrar as con­
Sombra: compor umen:o crimlrwo ou prefudklal
venções ou a lei, cntào ele está carregando o arquétipo do Fora-da-lei.
I3< O HtROl t O fOm-OA-iei

liiic.unenlc incorretas parecem servir dc desabafo para algumas pessoas Tais Mesmo com as crianças, as figuras dc açâo estâo ficando cada vez mais
observações nâo leriam parecido tâo abusivas hã algumas décadas, mas, por grotescas. Hoje cm dia. os monstros sâo tâo atraentes quanto os Heróis, es-
serem lu»je inaceitáveis de modo geral, muitos indivíduos fecham hilariante necialmeiite para os meninos. A Codcmajters promove o Micro Maniacs.
sua livre expressão (Outros, c claro, acham que elas reforça n pontos de vis­ “Diversão temerária, destrutiva, perversa, agressiva, maníaca! Os Micro Ma-
ta <|uc eles ainda mantêm sccreiamente. ou nâo tâo secretai.iente.) niacs socam, chutam c lutam sujo enquante correm selvagens pela casa. Sem
l.tmbçm vemos o apelo contínuo da prática anacrônica em comporta­ regras, matando os prisioneiros, apenas 12 personagens mutantes devastan­
mentos muno mais extremistas. Poi exemplo, Átila, rei dos hunos. jâ íoi do qualquer um e qualquer coisa que apareça entre eles e a vitória. É o me­
uma figura dc Heroi; mas hoje em dia sua crueldade só poce scr vista como lhor que há cm destruição maníaca multipiayer
*
.
criminosa. Claro que qualquer tribunal de guerra moderna o declararia cul­
pado dc ciimes conira a humanidade Dc todo modo, tais comportamentos
estâo vivos e passam bem nos videogames modernos (bem como em certas Destruição, metamorfose e a Sombra
partes do mundo, como Ruanda e Kosovo). As njaxeas dó Fora-da-lei adoram ser identificadas com. coisas que sáo
A Sega Drcamcast anuncia uma trilha sonora de Rcb Zombie como ruins juravocê. Os anúncios da Hard Cardy Lipstick, exibindo uma moça
’ I 'ma t ing.mça •■nsangucntad.i Uma vingança cxircmamcaie ensanguenta- muito jovem com maqudagem de mulher fatal, incluem um selo de alerta
d.i' A Inlogaincs promove o "HogsolW.ir" Iporcos dc guerra| dizendo. “Es- bem visível (como aquele dos maços de cigarro) para avisar as consumido­
ir |N>r(|iiiiihose aliviou nocxiTúto Este |N>rqtiinhn ficou cri tasi. liste por­ ras- “Como o baton dc cafeína pode viciar, aplique e reaplique sempre que
quinho tinha granadas Este porquinho nâo tinha Este porquinho saiu no necessário." Os selos de alerta nos maços de cigarro talvez aumentem seu
DAM. DAM. DAM c ícs lodos os outros porcos virarem torresmo1' Podería­ apelo para os jovens.
mos continuar para sempre Esta é apenas a ponta do iceberg, O Captam Morgan Rum ê comercializado de um modo mais jovial, com
Emliora muitos anúncios dc empresas respeitadas mostrem os afro- a imagem de um pirata. A maioria das marcas de tequila tem a estampa de
americanos como membros responsáveis da classe media, numerosos anún­ um Fora-da-lei. A Patron Tequila mostra ama bela mulher em trajes sumá­
cios lambem dirigidos aos negros sâo violentos ao extremo, talvez refletindo rios. com a legenda; "As damas amam bandidos.
* Contudo, o clássico ver­
a crença empresarial de que "eles estâo furiosos pra dana' e nâo vâo mais me morto no fundo da garrafa dc algumzs marcas nâo só atesta a força do
aguentar isso". Um selo chamado "Murder Inc." anuncia oalbum I/ie Mur- teor alcoólico, mas também sugere, sublimtnarmente, que você está corte­
dners com fotos de rostos negros raivosos e sombrios. Histo-icamente, as for­ jando a morte quando bebe o produto.
mas mais pi imilivas do arquétipo do f ora-da-lei eram projciadas sobre os ne­ Quase nem ê preciso dizer que todas as substâncias dc uso restrito —
gros c os índios (que tamliCm carregavam a imagem romântica do Nobre como o cigarro e o álcool — têm uma atração Fora-da-lei para os jovens.
Selvagem para a cultura). Quer esses anúncios sejam desenvolvidos por bran­ Claro que as substâncias rcalmente ilegais têm um apelo muito maior; tal­
cos ou negros, eles certamente reforçam imagens anacrônicase racistas. vez seja por isso que tantos jovens experimentam as drogas ilegais, somen­
Do mesmo modo. <» selo Camclol promove um CD chamado Cyprcü te mais tarde aprendendo que seu impac.o nada tem de glamouroso.
Hill Sltull and Boneí. com a garantia de que a empresa “ai ida estâ endo
f** Para compreender o apelo do arquêl.po do Fora-da-lei, é importante re­
com o programa' Claro que desde os anos HO tornou-se moda as bandas dc conhecer, como fez Freud. que Tânatos (o desejo da morte) é quase táo for­
rock — brancas c negras — destruírem seus insirumcntosc o cenário antes te como Eros (a força da vida). Especialracntc durante as grandes transições
dc deixarem o palco A raiva está na mexia hoje em dia — nos palcos e nas da vida — como a adolescência e a meia-idade —, nossa psique está nos pe­
estradas. A Conimander Salamander, uma loja de \Vashin#on. no aprazível dindo para 'morrer' em relação ao que fomos e para 'renascer' em outras
bairro dc Gcorgclown. vende aos adolescentes produtos <jic incluem hiju- identidades. Nessas fases, as imagens da morte podem ser muito atraentes.
tci ms c om imagens satânicas misturadas a roupas <l.i moda I ojac semelhan­ O perigo, aqui, é que os símbolos ca morte e da destruição reforcem o
tes sâo cnconir.-id.is no mundo lodo e gozam dc enorme p< pularidadc entre desejo concreto, literal, de morrer. David Oklficld, diretor do Midway Centcr
os adolcsccnlcs. muitos deles oriundos de kurros dc class? media alta e dc for lhe Creative Imugination, observou que os adolescentes que tentaram sui­
famílias instruídas e afluentes cídio ou estavam no grupo dc alto risco de suicídio gcralmcntc desenhavam
O For»-4»-l«l I*1
140 O HERÓI ( O FORA-DA-LEI

anúncios mais joviais, satirizando toda essa tradição. A Microsoft veiculou


imagens da morte. Eis a teoria dc Oldfield: cin uma sociedade que nâo ensina
um anúncio onde uma pessoa com as feições borradas, claramcnte procu­
as pessoas a pensar metaforicamente, o anseio interior pela morte acaba sen­
rando sc manter no anonimato, confessa: “Eu tenho um PowerMac G4 com
do canalizado para a aniquilação c nâo para a metamorfose Por isso, nos mo­
todos os acessórios. E eu uso. sim. o Microsoft Office. Às vezes digo isso só
inemos críticos da vida as pessoas bebem demais, dirigem em alta velocidade,
tomam drogas. tentam o suicídio ou sc envolvem cm outrus comportamentos para ver choque.’
Um odos mais bem-sucedidos anúncios da Loteria de Nova York em to­
que ameaçam a vida; tudo isso quando o necessário era a verdadeira transfor­
dos os tempos começa com a típica reunião de diretoria, que é interrompi­
mação. Existe, é claro, uma real necessidade de produtos e serviços que aju­
da pela notícia de que a empresa acabou de ser adquirida pelo Chuck. da se­
dem nessas transições, cm vez dc promover comportamentos perigosos.
ção de malotes. Chuck ganhou na loteria, comprou a empresa e agora manda
E evidente que mesmo atividades saudáveis podem ter uma estampa de
Fora-da-lei Correr, por exemplos. Os tênis de corrida Tattoo exibem na so­ o ex-presidente lhe trazer um cafezinho. Esse anúncio, estimulado por pes­
quisas que informam que quase todas as pessoas que compram bilhetes de
la chamas e dragões mal-encarados, e sâo anunciados com imagens de es­
loteria sâo motivadas pela insatisfação no emprego, explora o desejo de que­
portistas tatuados correndo por terreno desolado. Tais imagens encontram
brar as regras da ética do trabalho — e dc virar o feitiço contra o feiticeiro.
os jovens alienados onde quer que cies estejam c os convidam a praticar uma
atividade saudável Alguns anúncios, claro, adotam de modo ostensivo o
apelo da morte e o confrontam diretamente. Um deles, voltado para a segu­
Harley-Davidson: Uma obra-prima Fora-da-lei
rança na motocicleta, avisa os homens que as mulheres adoram cicatrizes,
maí nâo buracos onde antes estavam os olhos. Se isso nâo assustar um mo- A Harley-Davidson é um ícone norte-americano — mas, paradoxal-
toqueiro c o fizer dirigir com segurança, sabe-se lá o que funcionaria. mente. uma marca que captura o caráter Fora-da-lei e nâo o carater hciOico
da vida desse país. Hoje em dia. a idéia dc um fabricante de motos patroci­
nar uma equipe de corridas é bastante óbvia; mas era uma idéia radical em
O Fora-da-lei jovial 1915. quando a Harley-Davidson patrocinoj The Wrecking Crew. cujas
O Fora-da-lei também está associado ao persistente interesse cultural acrobacias temerárias eram tâo perigosas que levavam a acidentes íreqúen-
pelos extraterrestres — que provavelmente sâo os Fora-da-lei absolutos. Co­ tes c algumas mortes. A Harley também foi usada pelos militares e pelos
mo acontece com quase todos os Fora-da-lei. os alienígenas írcqüentemcn- Correios, para entrega de correspondência.
te sâo mostrados como figuras sombrias e perigosas que sâo capazes de des­ A moto Harley-Davidson passou por sérios problemas há alguns anos,
truir nosso planeta. Por outro lado, também sâo mostrados como criaturas porque os japoneses estavam vendendo um produto melhor com menor pre­
tecnológica c espirilualmcnie mais avançadas do que nós e que. portanto, ço. A empresa recuperou seu maiket tharc por meio do marketing dc signifi­
estâo aqui para nos salvar dos nossos próprios impulsos autodestrutivos. cado. Alérn disso, ao promover a personalidade da marca, ela foi capaz de se
E evidente que a maioria dos produtos se associa a esse último caso. Um expandir: da produção de motocicletas, passou a vender uma linha de rou­
anúncio da IPIX Internet Pictures Corporation evoca a imagem do monstro pas e acessórios que estâo ligados a cia nâo pela função, mas pelo arquétipo.
alienígena — uma cabeça com olhos em toda a volta — em um fornem com As motos Harley-Davidson nâo sâo baratas e por isso seus proprietá­
expressão ferozmente determinada, dizendo: “Veja tudo!" Também a Sony rios gcralmentc sâo profissionais de carreira que querem expressar o lado
promove a tecnologia avançada do novo Walkman com um anúncio que mos­ selvagem dc si mesmos. A Harley também csiá associada aos Helfs Angels e
tra um relatório do EDI afirmando que o produto é um sinal da invasão alie­ a outros grupos Fora-da-lei. A personalidade é complicada. Por exemplo, ela
nígena — o produto é tâo avançado, que deve ter vindo de outro planeta. está associada ao patriotismo, mas nâo do modo pelo qual um Herói veria o
Às vezes, a imagem do Fora-da-lei é usada de modo jovial, como ocor­ patriotismo. Um estudo verificou que os metoqueiros acreditavam que pi­
re com o Frito Bandito. O Milky Way Midnight, por exemplo, é anunciado lotar uma Harley-Davidson era ’uma cxpresslo mais forte de patriotismo do
como um “chocolate perigosamente arrojado” que "finalmentesaiu em li­ que cumprir a lei
.
* Essa forma de patriotismo pertence ao velho tipo de pa­
berdade condicional”. A associação do Fora-da-lei com os comportamentos triotismo nacionalista dos motoqueiros fiéis â Harley-Davidson, às vezes as­
secretos e vergonhosos serve como grande ponto de alavancagem para os sociado à idéia de derrubar o produto japonês.
o Forx-dx-l«l *4*
M2 O MfKQl f O FOAA OA-LEI

eJohn Lennon & Yoko Ono. A Apple também é conhecida pela inovação tec­
A imagem macho ganhou força nos anos 50 com os motoqueiros do fil­
nológica e pelo passo revolucionário de criar um software tâo amigo-do-
me dc Mirlon Brando. O selwgrm, e vem crescendo desde entâj, embora as
usuário que praticamente todo mundo é capaz de usar bem seus computa­
"damas da Harley" representem mais de 10% dos usuários. Como já era dc
r-c er-peror. a maioiia dos clicnies exil»e tam-ugens e “a (atuagerr mais popu­ dores quase que de imediato.
lar nos Estados Unidos c o símbolo da Harlcy-Davidson'. Os motoqueiros Seu fundador, Sieve Jobs. assim apresenta i questão: "'Pense Diferente’
celebra a alma da marca Apple — o fato de que as pessoas criativas e cheias
veem a Harley como mais do que uma motocicleta — para eles, a Harley é
dc paixão podem mudar o mundo para melhor. A Apple se dedica a fazer as
todo um conjunto de atitudes, e um estilo de vida que nâo só envolve a li­
berdade (como no caso do Explorador), mas também sc libertar dos valores melhores ferramentas do mundo para os indivíduos criativos de toda parte."

e convenções da corrente dominante Um anúncio típico mostra uma caba­ O anúncio do Super Bowl que pôs a Apple no mapa abna com a famosa so­

na numa rcgiào remota, com a legenda: “Se vocé nâo tivesse que dar satis­ ciedade antiutópica do livro 1984. claramente ligada ao arquétipo da IBM. o
fações a ninguém, o que você faria?" Governante, mostrado como O Grande Irmão orwelliano. Pessoas com cara
IR motoqueiros da Harley gcralmcntc exibem roupas esportivas de cou­ dc zumbis, em uniformes cinzentos, se arrastam para dentro de um imenso
ro preto, botas pesadas, cromados, armas â vista, cabelos longos e piercings salão dominado por uma tela gigantesca. O Grsnde Irmão, na tela, pronun­
— bem como tatuagens Suas reuniões tém o caráter dos encontros dc ban­ cia o lema do Partido: "Nós somos um só povo. Com uma só vontade. Uma
didos. fazendo contraste com as sadias reuniões do Cara Comum da Satum.’ $ó determinação. Uma só causa. Nossos inimigos falarão e falarão, até mor­
A wcbpagc da I larley desafia os motoqueiros a responder a uma pergunta- rerem E nós os enterraremos com sua confusâc. Nós predominaremos!" De
repente, surge uma moça atlética, empunhando uma marreta, e espatifa a te­
Suponhamos que o icmp<> ura uma fotografia — uma fotograjic que re­ la O locutor então diz: “Em 24 de Janeiro, a Apple Computer apresentará o
presenta t<xla a sua vida aqui na Terra Voei lm de perguntar a Si mesmo Macintosh E vocé verá por que o ano de 1984 nâo será como ‘1984’."
como gostaria de ter lembrado. Como um g/nio dos computadores, ligado A Apple está associada, na mente do público, com os hackcrs de com­
na internei. pálido c preso a uma cadeira de escritório? Ou como u-n aven­
putadores e. dc modo geral, com os inovadores no campo dos negócios fo­
tureiro vestido dc couro que viveu a vida em sua plenitude montááo numa
ra do comum, que dâo poder às pessoas por tomarem os computadores mais
llailc) Davidum > Voe?decide coma vai ser. mas pense depressa. O tempo jd
cMil enquadrando u fotografia c ele tem um dedo rápido no disparador amigos do-usuário A empresa está mais ligada aos computadores e ao amor
pela inovação do que a simples atividade comexial dc gerar lucros. Ela tam­
bém está associada ao potencial radical da tecnologia de computadores de
Poder para o povo: A Apple e a organização revolucionária devolver poder às pessoas. A decisão inicial da Apple de focalizar mais os
Diz a história de Adâo e Eva no Jardim do Éden que a humanidade caiu usos educacionais e domésticos do que os usos empresariais também esta­
do estado de graça porque o casal comeu uma maçà da árvore do conheci­ beleceu uma imagem progressista e populista O consumidor que comprar
mento do bem e do mal Abandonar o Jardim queria dizer que as pessoas um Apple está se identificando com uma imagem de pensamento indepen­
nâo mais viveriam n<» paraíso (o qual poderiamos entender como "ignorân­ dente c com os pioneiros intelectuais que lançam tendências. Os clientes da
cia bem-aventurada"), mas também queria dizer que elas teriam o livre- Apple sâo leais quase até o ponto do fanatismo e a imagem da “corporação
arbitrio tssa e uma das razoes pelas quais i» teólogos sc referem a esse epi não-corporativa" precisava ter respaldo na realidade. Quando a junta dire­
sódio como "a queda afortunada". tora decidiu substituir o fundador Steve Jobs por um gerente mais tradicio
O logotipo da Apple — uma maçâ com uma mordida no lado — evoca nalista, o moral dos empregados desabou e as vendas caíram verticalmente.
essas associações Seu slogan adverte o consumidor: "Pense difeiente." Seus Somente a volta do desinibido fundador salvou o dia. E quando voltou, ele
anúncios mostram imagens dc génios criativos iconoclastas de vários cam­ também recontratou a Chiat/Day, a empresa de publicidade que desenvol­
pos de atividade, incluindo Albcrt Einstcm. Manha Graham, Maria Callas. veu o anúncio de 1984, um arrasa-quarteiràc Fora•da-lei.,
Atinha f.arhart. Rosa Parks. Buzz Aldrin, Muhammad Ali. Richard Branson

2 Tom Cannon, The Ultimou Book of Business Buakthiougks (Oxford. Reino Unido: Capsto-
I DavulA >Ukcr.BuilJi«xSt!u«xBra.di(Nova York lhe Hrr Prrss. I9Ó6).pp 158-141
9 ne. 2000). pp 125-126
144 O HEROt E o fORADA-LEI
O 145

Os catálogos da Apple sâo bastante desajeitados, utilizando cores vivas


O ponto central de Chase, claro, é que a g/ade curricular universitária
e formatos quase dc cartum, c parecem vir de alguma loja dc descontos, con­
que criou um assassino tambCin alimentou um> época na qual as elites es­
trastando com o visual mais digno da IBM, que usa muito espaço cm bran­
tio alienadas de sua própria cultura, e que ambos, assassino e elites, se in­
co e impressão distinta. O último golpe da Apple íoi o sucesso do iMac — clinam a dcsconstruír a cultura e possuem aptidóes intelectuais para des­
novaincntc quebrando a lei nâo-cscrita dc que os compuuduies têm dc ser
trui-la. Será que essa demolição da cultura tradicional resultará em uma
Cinzentos. Dessa vez. eles nâo só vieram rm rores como também em gabi
nete transparente Renascença? Talvez ainda seja cedo demais pari dizer.

Vivendo em tempos revolucionários O marketing para o Fora-da-lei


Em épocas dc rápida transição, o slatus quo perde seus privilégios. O Um exemplo extremo de marketing Fora-da-lei é a promoção de raves
futuro está sempre espreitando às margens c nâo se sabe com clareza quais — uma noite de danças contraculturais. Talvez porque o uso de drogas es­
experimentos sociais sc tornarão o novo estabhshmcni Na década de 1990. teja associado a elas, as raves geralmente sâo anunciadas por meio de volan­
quando o velho milénio corria para seu fim. as estratégias dc desenvolvi­ tes. distribuídos somente nos ambientes específicos da música trance e
mento organizacional Fora-da-lei nâo privilegiaram coisa alguma. Tudo es­ heavy-metal. Se vocé nâo freqüenta tais lugares nem saberá que está acon­
tava aí para ser agarrado. Orçamentos base-zero, reengenhariis e todas as
tecendo uma rave.
outras estratégias desenraizaram tudo aquilo que nâo estivesse funcionan­ A melhor maneira dc anunciar os produtos Fora-da-lei é em revistas es­
do. apelando para o espírito revolucionário do Fora-da-lci enquanto espa­ pecializadas ou por meio de volantes, anúncios pessoais e outros formatos
lhavam o terror no coração daqueles que preferem épocas estiveis e segu­ projetados para encontrar o Fora-da-lei Isso nâo quer dizer que você nun­
ras. Algumas pessoas acreditaram que o previsto bug do milénio (Y2K) ca alcançará urna grande audiência; a MTV. por exemplo, alcança os adoles­
arrasaria a civilização tal como a conhecemos. Embora isso nâo tenha acon­ centes em toda parte, mas ainda é percebida como um meio de comunica­
tecido. a esfera dos negócios mudou radicalmente como resultado de toda
ção coniracultural e alternativo.
essa capinaçâo do jardim econômico. Os negócios que nâo eram viáveis ten­ As imagens utilizadas podem ter uma qualidade escura e sombria ege-
deram a fechar. Contudo, assim como a morte do inverno é necessária para ralmente também exibem cores bastante intensas. Além disso, este arquéti­
a primavera, o resultado tem sido um florescer dc prosperidade. po gosta de c_oisas quc.chocam. em um espectro que vai desde o gracejo mo­
Ao mesmo tempo, as grades curriculares das grandes universidades deradamente surpreendente até o conteúdo veidadeiramente perturbador.
tém enfatizado uma crítica desconstrutivista da sociedade que crcorajou to­ O Fora-da-lei é o arquétipo mais adequado pari sustentar uma identidade
da uma geração a ver o establishment como um inimigo e a se identificar com turbulenta e para criar anúncios turbulentos que rcalmente funcionem.
o Marginalizado. Em um artigo severo publicado na Atlantic Monlhly. Als- O Fora-da-lei que existe dentro de cada um de nós também quer se li­
ton Chase defende a idéia de que o estudo em Harvard poderia ler criado o vrar das coisas. Portanto, as liquidações radica» sáo grandes estratégias de
Unabombcr. Chase argumenta que:
marketing, bem como os vários tipos dc valc-dinhciro que a pessoa reccbc na
Foi cm Harvard que Ted Kaezyndti encontrou pela primeira vez ai ideias compra de certo produto Os eventos promovidos para lançar ou promover os
sobre os males da sociedade que dariam foco e Justificando à raiva çue ele produtos Fora-da-lei devem permitir que as pessoas devolvam ou troquem a
sentia desde os tempos do ginásio. Foi em Harvard que ele comccou a desen­ compra e sc sintam livres; podem mesmo parecer um unto indecentes ou â
volver essas ideias e compor sua ideologia da revolufdo antitccnológica. Foi
beira de quebrar as conveniências. É provável qvc o programa de angariação
em Harvaid que Kaczynskl come<ou a ler fantasias dc vingança, eomecou a
dc fundos do Comitê Nacional Democrático, tra-ismitido ao vivo pela CNN.
sonhar em escapar para alguma regido selvagem. C foi em Harvard. tanto
tenha sido projetado para neutralizar a imagem excessivamente dura e com­
quanto se pode determinar, que ele fixou suas ideias dualistas dc bem t mal.
cm um estilo cognitivo matemático que o levou a pensar que encontnria a portada do pré-candidato presidencial Al Gore. Tanto Gore como o presiden­
verdade absoluta por meio da aplicacào de sua própria razào.' te Clinton vestiam jeans e o comediante Robin Willuins náo só fritou Gore,
Clinton c os doadores na "fogueira da elegância", como também usou a pala­
vra f
a
* Embora essa seja uma tática discutível para um candidato a presi­
J AlMon Chave. 'Harvard and lhe Making of lhe Unabomber". Atlantic Mondil? (junho de
2000). p 41. dente. seria uma grande estratégia para qualquer marca Fora-da-lei genuína.
O Fora-da-lei pode ser uma boa Identidade para * sua marca se -
-.••■• f -. <$. «4.-V-.
• seus cXeotw • empregados esUo se sentindo multo cádukks d» sociedade ou quando tíw
»• Identificam com valores em desacordo com os da locledado como um todo ' ’ ‘ ?
• a função do seu produto é destnXr alguma coisa (llteealmente. como uma mlquína de
«•naplanagem.ou vlrtualmente. como muitos videogames'' ou ele egenu.nameoce revo­
lucionário • , • -
• o seu produto oJo ♦ U muMo bom paca as pessoas, do modo que consumi-lo « o mesmo
que virar o nani para as Idéias estabelecidas sobra o que tonidtvl a saúde
• seu produto ajuda a preservar valores que estio ameaçados pelos valores predomioaiv.es,
ou 4 um pk>ne>ro de autudes novas e nevolucionínas
• o preço do seu produto ê baixo ou moderado

O olhar cômico dc David Brooks A cultura none-aincricana. cm Bobos


In Piirridise: lhe New Upjxr Class mui How Thry Get lhere. mostra claramcn-
tc que hoje em dia as atitudes c comportamentos dos cidadãos instruídos c
afluentes representam uma integração completa dos inflexíveis padrões
burgueses com a despreocupação sem preconccttas do boémio Nesse novo
mundo, a posição social dc urna pessoa vem dc sua riqueza, combinada cotn
valores antimatcriahsias. referências contracult urais orientam os anúncios
das empresas capitalistas, dc modo que VVilham S Burroughs aparece cm
um anuncio da Nike c Jack Kcrouac. cm um da The Gap * O marketing dc
massa para o Fora-da-lei. portanto, requer a compreensão dc que muitas
pessoas que sc identificam com este arquétipo sâo. na verdade, cidadãos
rcalmente bons c responsáveis, t o lato é que as Ilarlcy-Davidsons sâo tâo
caras, que geralmcntc pertencem a médicos, advogados e executivos dc al­
to escalão Isso quer dizer que o marketing dc massa para o Fora-da-lci fun­
ciona — $c vocé lembrar dc nâo ir longe demais. Como aprenderam Calvin
Klein c outros, é fácil ir longe demais e ferir ou ofender alguém Como diz
Bob Dylan "Para viver fora da lei. vocé precisa ser honesto."

4 Davidftwwks.«.+«.»inrmoJiM- IheNew *eyG«


F IW/r(NovaY«k

Smwn «r SchuMei WWI.


CAPITULO

O Mago
Lema: “Pode acontecer!"

A $ primi IRAS IMAGENS do Magu íoram as do xamâ, do curandeiro e da bru­

xa ou feiticeiro da aldeia Mais larde tivemos o alquimista, procurando trans­


formar chumbo cm ouro Mais tarde ainda, tivemos os cientistas sondando
os segredos fundamentais do Universo, os psicólogos estudando o funciona­
mento da consciência humana e os gurus sc oferecendo para compartilhar os
segredos do sucesso espiritual. O aspecto mais básico do Mago í o desejo de
procurar as leis fundamentais que governam o funcionamento das coisas e
apluar esses princípios para que as coisas aconteçam. As aplicações mais lí-
O Mito 14»
>4» O HEROl t O FORA-DA-LEI________________________________________

O estrondoso sucesso da série llarry


picas da sabedoria magica sâo: curar a mente, o coração c o corpo;descobrir
a fonte da juventude c o scf redo da longevidade; descobrir meios dc criar e Potter demonstra o fascínio das crianças e
dos adolescentes pelo Mago. Na verdade, a
manter a prosperidade; c inventar produtos que íaçam as coisas acontecerem.
coleção realmcntc motivou a garotada a ler!
lalvez o Mago mais famoso da cultura ocidental seja Merltn, que olha
No cinema contemporâneo, vemos Yoda
na sua bola dc cristal c prediz o potencial de Camelot Porém. consciente do
em Guerra nas estrelas ensinando Luke
contrapotencial para a ruína, ele expande sua energia para assegurar o re­
Skywalker a “confiar na Força"; as bruxi-
sultado ideal Para alcançar esse fim. ele fala dc sua visão dc uma sociedade
justa c pacifica; desenvolve seus talentos (diz a lenda que íot Mrrlin quem nhas, em Da magia á sedufdo. invocando o

desenvolveu os talentos do rei Artur); e elabora ou encontra objetos mági­ verdadeiro amor; e as travessuras de Mary

cos (a Távola Redonda, (ixcalibur. o Graal) que apóiam os valores comuni­ Poppins. Temos inúmeros filmes e espetácu­
los teatrais sobre seres angélicos, como Cida­
tários desejados, a bravura e a iluminação. No processo, ele também estuda
de dos anjos e Touched by an Angef. onde o
astronomia. ciências naturais c engenharia
mundo espiritual Intervém neste nosso mun­
do. f temos filmes como Campo dos sonhos.
que nos ajudam a acreditar que milagres
acontecem. No México, um género cinematográfico e ficcional chamado
r lismo mágico resultou em filmes do npo de Come água para chocolate.
a
*
Nos Estados Unidos, temos o género crescente do» filmes metafísicos, in­
cluindo campeões dc bilheteria como O sexto sentido.
As marcas do Mago incluem todas aquelas que promovem “momç.njfig
mágicos": água borbulhaiiie, champanhe. Sony. General Foods International
Coííees. Calgon (“Leve-me com vocé“), muitas hnhasde cruzeiro marítimo.
Jackie Onassis, spas e vários hotéis chiques. Elas também incluem diversos
cosméticos, produtos à_base de ervas. poções e campanhas de fitness que
prometem a íonte da juventude. A Dannon Yogurt acenou na mosca com
' uma campanha baseada em uma pesquisa que ligava o consumo de iogurte
à longevidade. Um dos comerciais apresentava um ancião da Geórgia asiáti­
ca. comendo Dannon. com as palavras: "O sr. Temur Banacha achou ótimo
o iogurte Dannon Ele sabe do que está falando. Afíral. ele come iogurte há
105 anos." Claro que quase todos os livros, fitas, workshops e produtos da
Nova Era. além de muitas “milagrosas" tecnologias modernas — das quais a
World Wide Web é apenas uma — exploram a imagem da magia.
Oespírito do Mago é facilmente evocado quando o produto tem ori­
gens exóticas ou antigas, ou quando ele envolve algum ritual especial, como
fazer saltar a rolha do champanhe, decantar o vinho ou girar o conhaque no
copo e sentir seu aroma. (Na verdade, mesmo os bebedores de conhaque “no
boteco da esquina" desfrutam esse ritual como parte da experiência!) O Ma­
MerHn, o gronde Maj>o do corte do rei Artur. se recoftiu em suo caverna
go também é uma grande identidade dc marca para as estratégias de mudan­
quando precisava reflew ou fazer mégxos. Os interiores frescos e rscums
ça empresarial, os remédios milagrosos, os remédios à base de ervas, os spas,
dos atuas casos em estiío Tudor e adobe oferecem aos Magos o equ»cíer>te
as viagens exóticas e. claro, qualquer produto ou serviço que afete direta-
moderno dos cavemos.
mente a consciência — a publicidade é apenas um deles.
4
OMqo
*
ISO O HERÓI EO FORA-DA-LEI

tendem a nos confirmar que náo estamos sozinhos no Universo. Como sím­
.Os Magos esrâp na base das tecnologias radicalmente novas: computa­ bolo, a estrela de Belém que anunciou o nascimento de Cristo contém essa
dores pessoais, a internei, tran<pUn
<
* Jr Arf^ose engenharia genética confirmação da maneira inais palpável. As outras imagens incluem caver­
Pense cm Benjamin Franklm empinando o papagaio num dia de tempesta­ nas. bolas de cristal, varinhas mágicas, mantos e. claro, o chapéu pontudo
de e percebendo o poder da eletricidade, que acabaria ajudanda a promover
a Revolução Industrial. Essa imagem nâo t muno diferente daquela mostra­ do Mago.
Em seu aspecto posuixo, o Mago c um anjo andarilho, como. Mary Pop-
da no filme Finnlrcnstcin: o medico trazendo o monstro â vida com a corren­ pins. a bruxa boazinha de 0 mdgico dc Oz e a Samaniha da clássica série de €
te elétrica enquanto a tempestade ruge lá fora. Nessas duas cenas, vemos a tevê A Friticdra; ou o diretor da açâo, como o shakcspeariano Próspero (de
esperanç-' c o medo que estão investidos nas imagens gCmcasd'» cientistas:

A tcmprsiadc), que intervém nas situaçóes problemáticas para acertar as coi­
modernos fazedores dc milagres c "gênios loucos’ que tentam brincar dc
sas. Produtos dc .limpçzájomo Aj-ix c o ■cavalcir^brançoLprftniuyctn sua
t-
Deus e trazem a destruição ao mundo todo. Dc algum modo, esses dois po­ capacidade de deixar a nossa casa brilhando, enquanto gurus culturais co­ C
tenciais também estâo contidos na energia nuclear ela é uma forma barata
de energia para aquecer nosso lar e é a mãe da nuvem em forma dc cogume­
mo Dcepak Chopra nos ensinam a pensar dc maneira correta para nos tor­ t
narmos saudáveis e bem-sucedidos. As vezes a magia está apenas na energia
lo que ameaça destruir o planeta.
de persistir, como vemos no extraordinário sucesso co Energizer Bunny, que
Enquanto o antigo xamà. curandeiro ou alquimista integrava ciência,
espiritualidade e psicologia, no mundo moderno tendemos a separá-las. Mas parece mágico porque "continua sempre ativo". e.
os avanços nas ciências físicas — especialmente aqueles que ameaçam a so­ Hoje em dia, inúmeros anúncios se
O M»xo i ambém conhecido ÍJ «■
aproveitam dessas imagens, alguns de ma­ como víikxüHo.catxIttdor,^, • d
brevivência do planeta ou da nossa espécie — estimularam uma forte per­ t
cepção que a psicologia precisa acompanhar. Portanto, embora diferentes neira séria e outros com humor. O American inovidor.lfdH- rahvnícko. •>
campos de atividade e diferentes indivíduos liderem mais avar.ços nas ciên­
Indian College Fund veicula a imagem da mcCador, ximl. cura ’ i
aluna que preside o conselho estudantil, ves­ ou curandeiro. ’ * |
cias físicas e naturais do que nos campos da psicologia c da espiritualidade, t
nâo causa surpresa que a cultura como um iodo mosire interesse em todas tida com todos os paramentos da curandcira
tribal, dançando nas pradarias para deixar claro que os tradicionais valores t
essas áreas. Além disso, â medida que o arquétipo do Mago emerge na cul­
tura. esses campos estâo voltando a se alinhar. Um público cada vez mais
espirituais indígenas governam sua escola. Em uma abordagem mais leve, t.
a McAfrce.com (um gerenciador de PC on-line) mostra a imagem de uma
amplo está se interessando pela medicina corpo-mente; pela convergência
anclâ lendo um texto antigo e rodeada dc velas acesas. A mulher parece es­
t
dc idéias entre a psicologia, por um lado, c as ciências físicas c biológicas,
por ouiro; pelos fenómenos psíquicos e o ocultismo; e pelo elnexictente en­ tar envolvida em algum tipo de encarnação, com a legenda confirmando ao t.
tre a evolução da consciência e o sucesso. observadvi. “Computadores iluminados. Nâo é preciso bruxaria " Há algo t
Os empresários freqúenicmente sâo Magos, assim como os atletas. As tâo miraculoso nas tecnologias modernas que elasquase exigem urna iden­
idéias espirituais que ligam a consciência interna com o desempenho exter­ tidade dc marca mágica, embora as empresas que as vendem nâo necessa­ €
no estâo produzindo resultados miraculosos nos mundos dos negócios e dos riamente queiram ser identificadas com as imagens mais bizarras associa- t
esportes As pessoas mágicas gcralmente têm sonhos que os outros conside­ das ao arquétipo €
ram impossíveis, mas a essência da magia é ter uma visào e caminhar dire- Às vezes o poder mágico de uma marca é comjnicado negativamente —
lamente para dentro dela Quando as coisas saem erradas, os Magos olham ou seja, mostrando como a vida seria sem essa maca. Por exemplo, a JBL (fa­ €
para dentro dc si mesmos a fim de produzir a mudança interior. E então o bricante de sistemas dc alto-falantes) veiculou um anúncio mostrando um t
mundo exterior também muda Um anúncio da New Balance mostra um ho­ campo vazio, so a grama, com a legenda: "Como seria o som de Woodstock
sem a JBL? Muuu." O resultado mágico da moderna tecnologia do som é evo­

mem que sai correndo ao encontro da natureza. Diz o anuncio: "Desligue
seu computador. Desligue seu fax Desligue seu celular Liguc-se a você mes­ cado com toda força, pelo simples expediente de imaginar sua ausência. e
Quando u arquétipo do Mago está ativo nos indivíduos, eles sâo cata­
mo ’ Se não fizer isso, você nâo conseguirá realizar a magia, pois a magia t
sempre se realiza dc dentro para fora. lisadores da mudança. Confiando na sincronicidadc (a coincidência signifi­
As imagens mais consistentes associadas aos Magos sâo os sinais nos cativa), eles esperam que. se fizerem sua parte, o Universo os atenderá. Pa­ <
céus — arco-íris, estrelas cadentes, uma hela galáxia, discos voadores—que ra o Mago, a consciência precede a existência Portanto, sc você quer mudar c
OK.to ISJ

•» sru mundo. uimur mudando suas propnas atitudes c comportamentos


z\s pessoas que têm um Mago interior ativo valorizam a experiência. bus­
cam ajuda espiritual c. no melhor dos casos, se empenham para scr fiéis A
orientação espiritual
lambem ê tipiio dessas |H
*
ssoas compreenderem, cm um nível profun­
do. como a consciência funciona c. por isso, elas sâo capazes dc influenciar
os outros de modo lAo eficaz. O arquétipo do Mago, portanto, e muito for­
te nos políticos carismáticos. nos lideres empresariais e. na verdade, em to­ consegue obter aquilo que desejar Nâo importa que depois você tenha de
do o c ainpo do mar kviing. que trabalha com a influencia da consciência hu­ pagar a fatura. Na experiência do momento, o cartão certamentc faz você
mana sobre o comportamento. sentir que pode ter tudo o que deseja — e praticamenie em qualquer lugar
Voce vú O potencial iHg.uivqdo Mago IMS historias dos fc.mcciros mal- do mundo Em segundo lugar, a MasterCard reconhecr a ambivalência dos
'_ados_qu usam seu poder jura impor sua vontade as vitimas que dc nada
* consumidores ante uma cultura materialista e se identifica com experiên­
susjH-ilam. Essas mugens pouco hsonici.ras aparecem no marketing e na cias magicas mais verdadeiras que eles podem ter con o cartão. Portanto,
propaganda dc hoje, nas pessoas envolvidas com a propaganda subliminar você usa o cartão para comprar coisas e vivência sua canexâo com o cartão
ou naquelas que tentam iludir os outros e força-lys a fazer coisas que vâo e com a empresa enquanto instituições associadas a vjlores c experiências
contra suas ideias. A imagem negativa do Mago também se mostra nos lide.- mais verdadeiros e pioíundos do que aqueles oferecidos pelo materialismo.
res políticos carismáticos que usam seu poder para cativar: nâo paia trazer Ao mesmo tempo, a MasterCard elogia seus clientes, nformando-lhes que
a tona o lado melhor das pessoas e sim para promover objetivo» fascistas c sabe que há mais dentro deles do que a simples ânsia de consumo. A Mas­
rac istas l.ssa armadilha negativa que cx
stc
* dentro do arque tipo do Mago terCard está dizendo: Nós sabemos que você é real, enraizado, autêntico e
pode ser vista em qualquer indivíduo que use sua inteligência para manipu­ sabe o que realmente importa na vida; nós (ambêm.
lar os outros, em vez de se comunicar com eles

Momentos mágicos, experiências transformadoras


/ MasterCard: Uma obra-prima do marketing Todas as marcas de champanhe, os anúncios recentes do Chanel N‘ 5. a
A MasterCard tem uma maravilhosa campanha publicitária que apre­ Polaroid e outras câmeras instantâneas (capturando “aqueles" momentos)
senta momentos mágicos maioria dos anúncios justapõe aquilo que nAo prometem experiências mágicas. O Mago é também o arquétipo preferido dos
tem preço As coisas que a MasterCard rcalmente deixa você comprar Por semináiios Nova Era, dos spas, dos restaurantes e hotéis chiques e dc mui­
exemplo, um aniimio diz: "Jantar para 37 pessoas no Chez Marcella: USS tos produtos para u banho que prometem experiências transformadoras. Um
2.416. um cartão dc Feliz 50 Aniversário. USS 1.95. uma camisola transpa­ anúncio de banho da Od of Olay. por exemplo, mostra uma mulher nua. com
rente com estampa dc leopardo USS 45; ainda scr capaz de fazê-la enrubes­ ar tranquilo, e diz: “Poucas horas antes de seu casamento e com o encarre­
cer nâo tem preço " gado do bufê desaparecido, Kate sente-se espantosanunte calma." O slogan
Com o passar do tempo. essa campanha teve tanto sucesso em ligar a é: “Comprovado para transformar seu corpo e seu espinto." Essa associação
MasterCard aos tais moinrnios que nAo tf m preço, que agora muitos antin- dc produtos dc luxo para o banho com a transformação espiritual é bastante
c ms |.i nem contem coisas que você possa rcalmente comprar com o cartão comum Um anúncio da Acqua de Parmy Blu Mediterrâneo diz que você de­
Um desses anuncms diz “Falar o que pensa USS 0. Fazer amigos para a vi­ .
*
veria "Trazer o spa para casa Por quê? Porque assim você satisfaz "o dese­
da toda USS 0. Tentar algo novo USS 0. Acreditar cm você mesmo: USS 0; jo moderno de coníortu, uma excursão aos seus prazeres mais profundos...
Ser jm cm Nâo t< ni preço. * O bordão recorrente diz: “Hâ algumas coisas que aqueles que nascem do equiltbrio perfeito entre o corpo e a alma”.
o dinheiro nâo compra Para todas as outras, use .MasterCard ” Nas comédias dc Shakespcare, os personagens sâo transformados por­
Essa campanha publicitaria e brilhante porque possui múltiplas cama­ que subitamente se encontram fora da cidade ou da corte que define seus
das Nj primeira camada está a qualidade mágica que reside na experiência papéis e suas identidades. Nos bosques, todas as regras e definições caem
de usar um cartão de c redito. Vucê tem esse pedacinho de plâsttcoe com ele por terra. Homens e mulheres frequentemente usam disfarces do sexo opos-
O Migo 158
IS4 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

to. As pessoas conversam com ninfas e espíritos. De algum moda, no ato fi­ ros dc smoking sâo transformados tm pinguins, enquanto a mocinha aca­
nal os milagres aconteceram, os problemas foram resolvidos c os amantes sc nhada se revela uma verdadeira Medusa O casal brincando dc amarelinha
casam. A Anichini, importadora de roupas dc cama finas, tem um anúncio vira uma mulher dominadora, em ecuro preto, com seu escravo — ouvimos
maravilhoso que Joga com essa tradição. Lençóis estilo Renascença sobre o estalar do chicote. E o inofensivo gatinho preto que passa sorrateiro pela
uma bela cama sâo mostrados em plena natureza cercada dc lindos álamos. garrafa sc transforma cm uma pantera — seu miado vira um rugido. O anún­
cio termina com uma loto da garrafa dc Smirnoff e as palavras: "Se Smimoff
Uma cama cm ambiente inesperado chama a atenção dos consumidores e
promete que a magia está a caminho. hz tudo isso ainda na garrafa, imaghe o que acontece quando vocé a bebe."
Do mesmo modo, a National Park Foundation tnoslia a imagem de um
casal jovem, com seu garotinho, saindo ao encontro do desconhecido em
«jva.a A magia do caminho mais fácil *
uma bela paisagem natural que promete "10 milhões de acres que nâo dâo
a mínima para o alto cargo que você ocupa no escritório". No ambiente na­ Às vezes o anúncio é mais sutil, meramente sugerindo um resultado tâo
tural e selvagem, sem nossos costumeiros papeis c responsabilidades, os mi- maravilhoso que até parece um milagre. A Zurich Financial Services veicu­
Ingres da transformação acontecem. Acontecem mesmo. la uma série de anúncios bem-sucedidos nqsquais a prometida transforma- -
*
Alguns anúncios prometem explicitamente passar às mâos do consu­ çào é quase que totalmcnte sugerida pelos^lementos visuais)Um deles apre-
midor a consciência do Mago. As histórias de curandeiros indígenas, por senta as palavras "Tempos turbulentos" ern grandes letras de forma, mas daí
exemplo, geralmcntc os mostram como pessoas que experimentam cm pri­ mostra a imagem dc um barco à vela, completamente imóvel cm águas tran- “
meira mão as leis da natureza. Pessoas que partem nu busca dc suas visões quilas, tvin o Sol sc pondo ao lundo. Nenhuma imagem poderia ser mais
e descobrem seus mistérios na solidão. O xamâ rcalmente assume a forma pacífica e tranquilizadora. A matéria descreve os riscos, as posições a desco-
de um pássaro ou dc urn animal e fala sua linguagem, porque está por den­ berto, a volatilidade e os tumultos d
* vida económica moderna, mas daí pro­
tro dos segredos da natureza. A popularidade das narrítivasde Don Juan.de mete "um porto seguro em tempos incertos: inspire, expire". Em suma, a
Carlos C.tstaíicda, bem como a dc muitos outros estudos das tradições xa- Zurich promete aos clientes o verdadeiro milagre da calmaria em meio a to-
mânicas nas pesquisas Nova Era, reflete a disponibilidade da pessoa comum da aquela pressão Outro anúncio semelhante. também utilizando uma lin-
dc levar a sério tais tradições como guias para a vida contemporânea. guagetn que enfatiza a dificuldade de fazer negócios em tempos turbulen- “ *
Os binóculos Bausch & Lomb conectam-se ao significado profundo tos, mostra a imagem dc uma tradicional cafeteria européia, com alguns t
deste arquétipo com um anúncio que mostra uma bela paisagem, um ho­ fregueses bem tranqúilos c relaxados, enquanto os garçons parecem ente- £
mem com os braços abertos c este texto: "Fui despertado pelo toque dos pri­ diados porque nâo têm quase o qut fazer! ____
meiros raios do Sol. Estive nos lugares solitários e encontrei companhia. A Pl.iceWarc Web Conferencing oferece a‘çmagemjcomplexa de dois
I lutuei no ar com as águias, fazendo longos círculos. Vi coisas selvagens nas aviões sendo levados (como numa tela de computador) para o ferro-velho, S
sombras, que para os outros eram um mistério Rompi os limites impostos lendo ao fundo um desenho antiquíssimo da Terra que faz lembrar aqueles £
por meus olhos morais e vi cada fio da (única da Màe Natureza." esboços da alquimia. O texto promete alivio da pressão como resultado do
Um dos grandes anúncios da Perrier de todos os tempos mostra uma milagre da tecnologia moderna: “Esta reunião é apenas para falar de reu-
mulher desidratada diante dc um leão no topo dc uma montanha africana. ntôcs. Existe uma maneira totalmcnte nova de fazer reuniões. Nâo envolve <
Quando o leâo mostra as presas e ruge, a mulher ruge de volta, com as notas aviões, trens ou automóveis. Tudo o que vocé precisa é um navegador da in- -
dc 'I put a spcll on you" |fiz um feitiço cm você) soando ao fundo. O leâo sc temet e um telefone. Com PlaceWe, vocé pode fazer reuniões e apresen- *
acovarda c foge. A mulher ergue uma garrafa de Perrier c bebe, triunfante. taçóes vivas c interativas, com até 2.500 participantes, na internet... Pense ♦
Várias bebidas sâo comercializadas como poções mágicas, seja com nisso a próxima vez que se encontrar preso aos velhos padrões." f-
propósitos dc cura ou revelando a realidade invisível por trás da (achada de Usando imagens menos mágicas, a Agilept Technologies também ex- ,
ilusão. Uni anuncio da Smirnoll mostra objetos vistos através da garrafa de piora a associação com soluções milagrosas, escrevendo: “Mais vias expres- *
vodea. A flor sc torna uma planta carnívora do pântano A estola dc raposa sas. menos fúria nas estradas. Congestionamentos, conexão interrompida <
da dama vem a vida c rusna alarmantemente. O fumante cospe fogo enquan­ na internet. Desânimo. Batidas. Parece que lá fora é sempre a hora do rush.
to <» colar sc transforma numa serpente sibilante Dois imponentes cavalhei­ Mas com os sistemas c tecnologias da Agilent. as grandes redes de comuni-
156 O HCROI e O FORA-DA-LEI____________
OM»r> *57

taçòcs do inundo sc movem mais depressa. sáo mais manejáveis. evitam «sualizacóo Wxê simplesmente fcJia os olhos e se vl como o Honda Accord.
problemas c sc fundem sem esforço Boa viagem."
Vfccé e um líder Moei está no controle. Voei t confiável VWê se tomará mais
* A genialidade desses anúncios está cm que o consumidor é micialmen-
semelhante ao Accord a cada dia Tente. Funcional
te atraído para eles por causa da discrepância entre as imagens visuais c o
tcsio cm giamlcs Icu.is «le forma Na amiga liadiçâo <la alquimia. a mágica O anúncio, é claro, joga com o fato de que a confiança do arquétipo do
ocorria quando elementos opostos eram juntados c unificados. Jo mesmo Mago na visualização, enquanto precursora da auto-realização, tornou-se
modo, na química moderna — você lembra do laboratório dc química no lugar-comum. Embora a matéria seja claramente brircalhona, ela também
colegial? — as mudanças ocorrem quando duas substâncias se unificam de­ permite que a Honda elogie o Accord de uma maneira que náo é repelente.
vido à presença dc uma terceira, o agente catalisador. Nos anúncios, esse Ao sugerir que os consumidores se identifiquem com o Accord, o anúncio
agente t a mente do consumidor Essa ideia de uma terceira coisa, inerente- os está cumprimentando por serem líderes — no controle e confiáveis. Es­
inenie mágica. C retomada por um poderoso anúncio do Mago veiculado pe­ sas qualidades, então, sc associam ao carro.
la Saiurn (embora sua identidade de marca costumeira seja o Cara Comum) A capacidade de realizar os próprios sonhos também está ligada a certa

para promover o cupê dc três portas: "Em algum lugar entre o pâa fatiado c associação amistosa com o meio ambiente. O psiquiatra C.G. Jung cunhou o
a lannha de aveia instantânea, está a terceira porta." termo "sincronicidade” para indicar as coincidências significativas pelas
Um fantástico comercial bem-humorado mostra um monge rabalhan- quais se conectam os mundos interior e exterior. Um exemplo: você pensa
do a luz de velas, mcticulosamentc copiando ã mâo um manuscr to com as naquela amiga que nâo ve faz muito tempo e de reperte o telefone toca e lá
margens cheias dc iluminuras, enquanto ao fundo se ouve cante gregoria­ está ela. procurando por você. Ou. como ocorreu com uma das pacientes de
no Quando termina, ele mostra o manuscrito ao seu superior, c elogiado Jung: ela havia sonhado com um escaravelho e, exaumente quando estava
peio lh>ni trabalho c desafiado a produzir outras 500 cópias. Depeisde uma contando o sonho a Jung. apareceu um escaravelho na janela do consultório.
rapidu viagem à máquina Xerox, o monge produz todas as cópias solicita­ Quando esse tipo dc coincidência acontece, sempre parece miraculosa.
das. O superior levanta os olhos ao céu c anuncia: "É um milagre." Um comercial mágico do Volkswagen Jetta mostra todos os elementos
do mundo externo — incluindo o salto de uma bola—acontecendo no mes­
mo ritmo dos limpadores dc pára-brisa. Essa experiência de ver o exterior e
Visão e manifestação interior em sincronia é também um sintoma daquilo que Mihaly Csikszent-
mihalyi (cm Flow: The Psychology of Optimal Experiente) chama dc “fluxo",
Magia é a tecnologia para tomar os sonhos realidade A American Ex­
uma condição que ele identifica com a conquista da felicidade na maioria
press Giíl Cheques oferece a imagem de um cheque da American Express,
em belo embrulho para presente, dizendo: 'Quero que o seu desejo dc ani­ das pessoas.
versário $c realize (apesar de eu nâo saber qual ê esse desejo)" De$$c modo, Claro que o termo “fluxo" também descreve os movimentos fluidos do
os cheques se posicionaram como uma tecnologia mágica da manifestação. atleta que nâo apenas sonha com o sucesso, mas o realiza. A Beebok captu­

Os Magos criam dc dentro para fora Desde a publicação de The Hero rou toda a morfologia desse termo em sua “campanha de fluxo", que inclui
Within. de Carol Pearson. uma infinidade dc livros, desde The Warrior Wl- anúncios com esta definição:
thin até lhe ChilJ Wiilun. tem ajudado as pessoas a aprender a transformar
Fluir x (flui, fluído, fluindo) 1. Mover-se ou correr s/avemente. á manei­
sua vida interior por meio da evocação das capacidades arquetípicas laten­ ra característica de um fluido. 2. Prosseguir com firmeza efacilidade. 3. Exi­
tes. E agora essas ideias estâo passando, dc maneira leve e bem-humorada,
bir um estila uu uma continuidade naturais e graciosos: A cadencia do poe­
para .1 prop.ig.iml.t Um anúncio do Honda Accord diz:
ma fluía graciosamente. Fluxo s.m. 4. Desempenho tvidcntemenle fácil e
sem esforço. 5. Foco mental nas metas ou realizações. 5. Que se caracteriza
VrX <’• pr rgtinhi a si mesma sc tem rralinentc um potencial Accord. Mai nós por uma confiança natural; ‘Di-me um atleta com experiência, dt-me outro
acreditamos que dentro de cada pessoa existe um Ma e forte Honda Accord. com treinamento, mas ponha meu nome no atleta que lem fluxo."
O que posso fazer, pergunta voei, para desencadear essa qualidade "Accord"
[acordo. harnumtuj interior? Eis aqui uma ICcnrca infalível. Praticada par O slogan da DuPont, "Os milagres da ciência", celebra as maravilhas da

muitos atletas piujiouimm e executivos dc alto escaldo, ela e chamada de tecnologia atual. Um anúncio que começa com o texto "sonhos que sc toma­
IS9
ISS O HIRÓI £ O FORA-OA-LEI

A re-cspitiiualizaçáo da sociedade c do comércio durante as duas últi­


ram realidade" mostra um pai com a filha no colo c a “lista dc coisas a fazer
mas décadas do século XX, bem como o marketing dos produtos e serviços
jx.lv bem do plnneta”. A listo inclui o seguinte item: "6. Desenvolver remCdios
que combatam o HIV Ifaiol (Continuar desenvolvendo remédios ainda mais Nova Era. demonstram a vitalidade palpável do arquétipo do Mago no mun­
do de hoje. Os exemplos incluem filmes e livros metafísicos, o tamanho das
avançados Eu adoraria ver o dia em que ninguém tenha essa doença.)”
seções Nova Era e Metafísica nas grandes livrarias, fitas de áudio Sounds
Nos tempos antigos, o Mago — como xamâ. curandeiro, feiticeira ou
True. a New Dimension Radio e o Wisdom Channel, os catálogos Nova Era
parteira — era o agente de cura. Hoje temos as drogas milagrosas. A Bristol-
e o sucesso de inúmeros indivíduos que trabalham com a espiritualidade:
Myers Squibb ("Esperança. Triunfo e o Milagre da Medicina") veiculou es­
te anúncio: professores, gurus. líderes de workshops e consultores organizacionais.

O pequeno milagre mostrado á esquerda e üike Dave Armstrong. de qua­


A organização do Mago: LucentTechnologtes
tro meses de idade. O outro milagre á esquerda i o papai dele. Lance Wnee-
dor rio Tour de Franco de 1999. com seus 3.680 qudónetros. E vencedor de A organização do Mago utiliza tecnologias de vanguarda nas estrutu­
uma batalha ainda mais dura — contra o câncer te$tic»lar Na ipeca em que ras dc consciência, dc comunicações c organizacionais. As organizações do
a doença de Lance Armstrong Joi diagnosticada, o câncer já tinha te espa­ Mago sáo impelidas pela visão, buscando consenso sobre valores fundamen­
lhada pata os pulmões e o etrebio. Mas «>m um regime de tris drogas cân­ tais e resultados desejados, e entâo maximizando sua flexibilidade na con­
cer lados da Bristol-Myers Squibb. os mídicos primeiramente trabalharam quista dessas metas. Algumas delas tiram a ênfase da hierarquia e até mes­
< <mn Lance para «inrrutar o cdnccr Dcpvis, para derrad-lo. Há mais de tris mo apresentam equipes auto-orgjnizadas. As pessoas precisam dessa
dicadas a Biistol-Mycrs Squibb está na vanguarda d* desenvolvimento de autoridade local para poder aproveitar os benefícios da serendipidade quan­
remédios para o cdncer Hoje, os avanços no tratamerto tomam possível o do esta inevitavelmente ocorre. E típico que os empregados se gabem de "ti­
tipo de milagre mostrado aqui. rar coelhos da cartola" todo santo dia. Eles também reclamam que, quando
um milagre está para acontecer, nem têm tempo dc comemorar. Com o pas­
Este í um dos princípios básicos da magia: "Assim como é acima, é em- sar do tempo, o resultado poderá ser a fadiga nervosa; mas. se eles aprovei­
baixo. o universo está cm um grào dc areia." A Actlicr mostra a imagem dc tarem cada oportunidade para celebrar e sentir gratidão, suas energias sim­
um dedo quase locando uma Terra cm miniatura e diz: "Estamos movendo plesmente continuam a crescer.
o mundo dos negócios... daqui |o globol |>ara aqui |scu dcdo|' Esse anún­ Quando a Lucent Technologies (anteríormente Bell Labs) se desligou
cio magico entáo promete: "Hoje vocé pode segurar o poder do escritório, da ATéarT. era conhecida como um» empresa inovadora, porém mais ligada
da internet, do e-mail e do comércio életrôntco na palma de sua mâo. Den­ â pesquisa basica do que às aplicações práticas. A gerência determinou que
tro dc casa ou ao ar livre. Sem fios." a nova linha dc negócios começaria do zero, sem trazer qualquer bagagem
Os antigos alquimistas, além disso, consultavam livros de sabedoria da cultura da AT&T F.sse novo empreendimento, liderado por um grupo
que llics ensinavam tudo o que eles precisavam sabrr para manifestar suas experimental em Mount Olive, Nova Jerscy. ilustra as csuaicgias da organi­
visões. A primeira campanha dc promoção das Yellow Pages (Páginas Arna- zação do Mago. A nova ordem da empresa era “Criar um novo negócio, cu­
relas |. "Deixe seu dedo fazer a caminhada", apresentava um homem cm um ja prioridade absoluta será velocidade, custo e qualidade — de qualquer mo­
sebo procurando o velho e pouco conhecido livro de J.R Hanley sobre pes­ do que vocês escolherem’. Todas as estruturas eram consideradas
ca com moscas Derrotado em seus esforços naquele sebo e em outro c mais temporárias. O que as manteria unidas era o simples conjunto básieo de
outro, ele volta para casa, onde a filha lhe traz as Yellow Pages. Quando dei­ princípios: "Nós vivemos com velocidade, inovação, qualidade; com um for­
xa seus dedos fazerem a caminhada, o homem íinalitente tem sucesso Es­ te senso dc responsabilidade social, com um profundo respeito pela contri­
sa campanha publicitaria, que durou maisde uma década, posicionou as Yel­ buição de cada pessoa; (.. ) com integridade e receptividade” e com "a ob­
low Pages como uma fonte dc inlormaçôcs tâo fácil que até parecia mágica sessão dc servir aos nossos clientes." Os novos empregados rcalmente
cm mu iap.uid.tdc dc conectar os consumidores com as pessoas ou empre­ assinavam esse documento com um senso de formalidade ritual, até mesmo
sas das quais necessitavam para que seus sonhos se tornassem realidade. usando uma caneta especial.
140 O MtMOl f O FORA-DA-LEI OM«to 141

* No início liavi.i |toii<;is estruturas. Os empregados sc organizavam cm Bem. nesse contexto, dc que as pessoas precisam? Elas nâo têm tempo
tomo das tarefas c dcicrininavam o que lazer e come lazer. O> engenheiros ou significado suficientes. Portanto, para que as pessoas partilhem seu tem­
sc reuniam ao redor dc uma mesa enorme, escrevendo íurlosamenic nos po com você — como clientes ou empregados —. voei precisa lhes propor­
quadras pendurados cm toda a sala Mais tarde, quando o número dc em­ cionar um significado palpável. Você pode atrair clientes potenciais asso­
ciando seus produtos ou serviços a valores que sâo caros ao coração deles.
pregados tornou impossível essa organização informal, eles estabeleceram
tuna espécie dc linha dc produção, transferindo as pessoas dc umj tarefa pa­ Para fazer isso, você precisa acreditar genuinamente em alguma coisa. As­
ia outra a Itm de garantir que elas nunca se entediassem e conservassem a sim como o marketing do Herói, o marketing do Mago começa com o co­
vivacidade mental. e permitindo que os operários especializados organizas­ nhecimento daquilo em que você acredita.
Os relógiosdc pulso, observa Roif Jensen (The Dream Socitty), sâo mui­
sem seus próprios turnos dc trabalho. Alem daquela afirmação dos princí­
to acurados e confiáveis. Sc vocé quer um relógio que informe a hora certa,
pios básicos. a unic.i regra era que nâo haveria regras Carla empregado po­
o preço é USS 10 — a nâo ser que você esteja atrás de uma história. Sc o re­
dia lig.ii m o computador, consultar as normas dc procedimentos e alterá-los
lógio de pulso vai apelar para o coração do cliente — evidenciando certo es­
sc não estivessem luncionando
tilo de vida, status ou aventura —. o preço sobe para USS 15 000. É por is­
Os empregados criaram um "quadro de avisos urgentes" para informar a
so que a empresa dá prêmios aos clientes que contam a história da Rolex por
qualquer um que tivesse algum tempo extra onde poderia dar uma mãozinha.
Os resultados do experimento de Mounl Olive foram espetaculares. Th ornas meio das realizações deles próprios.1
A essência da magia pode ser definida como a capacidade de afetar a
Pflzingcr. realçando-os em setr livro The New Pioneer$.assim os resumiu:
consciência das pessoas c. assim fazendo, afetar seu comportamento. No mun­
I oi M'io|winia um iiucc. Mi-mu (Hivr ntauapriJcuafiiizodr um wikopr- do do passado, a informação era escassa. Como as pessoas tinham sede de in­
formações. nâo era muito difícil fazê-las se concentrar no comercial que você
I ibilii. nem iiind »ez (> (i nipi <l«< unida cnlic it irmrcpcó
* de r<«ln nuw ver-
veiculava Hoje em dia, quando as pessoas estão expostas a uma sobrecarga de
MbiJf mu produto fo\ piimcHos embrirqu» \ ria dr rqwimot mnemneí (...)
I c logo ptuuuid pnr<r seis meses — tonipuiudii tom os drzxito meses <la mídia
informações e a mais de 3.000 mensagens comerciais por dia, o problema é fa­
zer com que elas cheguem a notar sua mensagem, quanto mais recordá-la.
.hl iminui iu No piaduio, oeMo da mdadc-ebta ficava n.: media dr e ten­
dia a hitxai anula mau ( > (ifcfii fum iondno «li lolnna 'ohia o nome «lc ca­
Também sabemos que nossa mente humana nos impede de ser esma­
)
gados pelos estímulos, filtrando grande parte do que chega até nós — in­
da. lieiitc. o(mjiiwirrilo dr Cada pedida c ii identidadedc todti tomunrMr. Os
cluindo os anúncios. Esse processo de "censura" nâo é aleatório. Na verda­
*f<m
piduhn íiiiia.um i*k /r»rhr — J< 1‘fiia Rua. Corna dn >ul. Taddn.Ha.
de. nós selecionamos, para dar-lhes atenção, as informações que sâo
( oiiiiiAte. oiiwior debuta
.
* um nrgtXioilr ot«
hilli«Vsdc
* ilid«irrs rhi Sprint'
relevantes para os nossos interesses e que se encaixem na estrutura da nos­
Os resultados do experimento de Mount Olive revolucionaram a Lucent sa mente. Eis um modo fácil de confirmar esse fato: quando você aprende
lechnologtes. ajudando a empresa a se tornar uma organização mágica. uma palavra nova, você passa a ouvi-la em toda parte. Nâo é que agora a pa-
lavia esteja sendo usada e antes nâo existisse. Mas agora você a nota, en­
quanto antes nem a percebia.
O marketing mágico, o gerente Mago ps arquétipo sâo os 'atratores estranhos" da consciência.' V^çê ayai os.
clientes quando sua mensagem é coerente com umjirquéiipo que seja domí-
Fm uma economia dc pleno-emprego, onde as pessoas têm acesso in­
nánt.e.ou esteja emergindo na consciência deles. Ò gerente Mago compreen­
finito a informação através da internet e outros meios, t onde as pessoas es­
de que os arquétipos que dão a identidade dc marca a uma empresa também
peram nâo so um simples emprego mas uma carreira gratificante. tanto o
governam a estrutura de sua cultura organizacional. Ele também sabe que vo-
marketing quanto o gerenciamento precisariam scr redefinidos Os empre­
gos nâo s.i<» cm as$os A inforni.ição nâo é escassa. () dinheiro nâo é escasso.
Nem iiivsiiio produtos c serviços baratos com oilJ qualidade sâo escassos. 2 Rolf Jenvcn. The Viram SMíeiy (Nov^ York: McGraw-Hdl. 1999). p, 35.
3 Ver John R V»n Eenwyk. Anheij/pet andSnaeige Attracian: TheChMic World o/ Symbol»
(Toronto. ( anada Innct City Books. 1997; e .Muluel Confortl, Field, Form. and Fale Pat-
I Hronux iVizingtr |r. fkr A<n /'i.mrci» Th. M.n and Wi<mc«i Whn Air Ttamjmimi>£ lhe
tem in Mmd. Naturr. and Ptyckt (Woodsiork. CT; Spring Publvcaiion
*. 1999).
andYoifc siiismi .«■■■! Mlinorr. 10*10) pp 175-177
|b
oM»r> I6>
162 O mHOl £ O FORA DA lfl

tina, n.i loologia c nas organizações de vanguarda É por isso que estudio­
cê nâo consegue criar uma empresa que atraia e conserve os empregados mais
sos do desenvolvimento organizacional como PeierScnge, do Ml r (A quin­
capazes a menos que você lhes ofereça um significado, do qual eles possam
ta disciplina), enfatizam a importância de que as organizações se tornem sis­
extrair gratificação no trabalho. Desse mudo. os lideres c as crgamzaçócs do
temas dc aprendizado. Nâo é apenas que a gerência precise estar aprendendo
Mago podem evocar qualquer um dos arquétipos, ou todos eles. corno par­
continuanicntc; em vez disso, todas as pessoas cm todos os níveis precisam
ceiros estratégicos, invisíveis porém poderosos, para gerenciar o nível do sig­
nificado cm todos os aspectos do trabalho contemporâneo. estar aprendendo e contmuamcntc comunicando aquilo que aprendem a to­

Jensen, portanto, alerta os executivos para que nâo vejam as organiza­ das as outras panes do sistema.
Foi assim, claro, que 0 Muro de Berlim caiu e a CIA só soube do fato
ções contemporâneas cm termos de entidades legais, de lucros, dc instala­
pela mídia. Algo novo esta radicalmcnte cm andamento. O que isso quer di­
ções ou de qualquer outra coisa realmente tangível. L elas tampouco sâo hie­
zer ê que o sucesso da sua marca depende de um consenso cultural sobre o
rarquias. Assim como os cidadãos vêern a si mesmos como iguais, c nâo
como súditos, os empregados modernos esperam compartilhar a tomada de valor dela. Nâo é mais possível controlaras informações que o público tem
decisões. Para atrair e conservar seus empregados, você precisa gerenciar sobre você. Mesmo que consiga manter as informações discrepantes fora dos
um drama emocional que seja irresistível e faça as pessoas quererem ficar. jornais, você nâo conseguirá mantê-las fora da internet. A magia, aqui. 6 in­
“Se o diama é fascinante, muita gente vai querer entrar na dança", diz Jen­ fluenciar a consciência sem fazer uso dos meios de censura ou controle.
sen. 'Afinal dc contas, os frios números da empresa nada fazem para refle­
tir as batalhas por contratos e clientes que sâo constantemente perdidas e
vencidas. Os números nâo refletem as idéias e inovações que sâo chocadas O marketing para Magos
cm reuniões criativas. Acima de tudo, o balancete desprovido de emoções Segundo um estudo dc marketing feito por Piul Ray, existe hoje uma
nâo reflete a interação social — os conflitos, as amizades, a colaboração e as f emergente força dc consumidores que ele descreve como “os Criativos Cul-
ciumciras. O balancete revela a vida da empresa tanto quantouma mera con­ r lurais" — esses grupos compaililham a crença mágica de que sâo os criado­
tagem de palavras revelaria os sonetos de William Shakesperre.
** res dc suas próprias vidas, em um processo pelo qual a consciência molda a
Na organização do Mago, o segredo do sucesso nâo está no gerencia­ realidade concreta ’ Enquanto consumidores e enquanto empregados, esses
mento do dinheiro, mas no gerenciamento da consciência dentro de um indivíduos mágicos acreditam que você é tâo importante quanto o for a qua­
contexto que hoje focaliza radicalmcnte a relação entre iguais. Agora que a lidade dos produtos ou serviços que você oferecer \o comercializá-los. por­
informação nâo é escassa, as decisões empresariais e sociais deixaram dc ser tanto. você está sempre vendendo você mesmo, seus valores e sua própria
tomadas apenas pelos líderes: elas surgem dc uma conversação cultural que í consciência. E é claro que, como muitos desses novos consumidores estâo
resulta na formação de um rápido consenso. A medicina moderna afirma conversando na internet com seus empregados e com outros clientes, eles
que nosso corpo funciona assim. A mente nâo diz ao estômago o que ele de­ provavelmente descobrirão qualquer discrepância entre aquilo que sua or­
ve fazer. O estômago tem uma inteligência que reconhece o alimento e de­ ganização advoga e aquilo que ela realmente faz.
cide como digeri-lo. As diferentes partes do nosso organismo estâo em co­ ? No marketing eficaz para ç>s Magos, é esseneul que você pnmeiramcn-
municação constante para manter o equilíbrio, defende-se de corpos te se dedique a uma auto-rcflcxâo que lhe permiiajdenttficar quem você_é.
estranhos e sinalizar necessidades (como a fome, a sede e a fadiga). o quejotê valoriza e õ que você quer realizar no mundo. Sc entâu voce pu­
Ao mesmo tempo, os biólogos afirmam que espécies inieiras moderam der reconhecer u arquétipo que mais bem captura seus comprometimentos
seus comportamentos para sc ajustar às mudanças das circunstâncias; se­ ■■ internos e desenvolver estratégias dc marketing qtc sejam coerentes com es­
gundo a I lipoicsc Gaia. as margaridas mudam dc cor para absorver ou refle­ ses comprometimentos, você atrairá pessoas que estâo alinhadas corn sua
tir .1 luz — com isso, elas aumentam sua própria taxa dc sobrevivência c ao
consciência e com seu produto ou serviço. O resultado é_comercia.|jzar.újTia
mesmo tempo alteram realmente a temperatura da Terra. A inteligência dei­ espécie dc magia.
xou de ser entendida como um “caminho de cima para baixo" — na medi-

5 Paul R»y. Ikr < uhutalC>rniivn. Hcn


* 50 Miílhwi Peof-leAifOianging lhe tMwM(Nova Yo»I<:
4 Rnun. p 115 HAimony Books. 20u0). passun.

71
144 o H6RÔI E O FORADA-LEI OMjxo 165

ludo <• que vocé fizer então deverá reforçar aquele arquei po. que CO- quetípica. Como resultado, a mídia definiu essa identidade por eles. É im­
tneçarâ a servir corno um Imã para organizar todos os “dados" < uc os clien- portante lembrar, portanto, que vocé pode forçar a atrnçâo das pessoas com
res. fornecedores c empregados têm sobre vocé Os próprios filtros Internos um anúncio extremista ou perturbador, mas esse foço de palha trabalhará
deles provavelmente descartarão o resto — a menos que (como no caso dos contra você no longo prazo, a menos que seja coerente com uma sólida iden­
cx AiuI.ilos organizacionais) a informação seja uma antítese tâc ostensiva â tidade dc marca arquetípica.
identidade declurada por c occ. a ponto de chamar atenção para i discrcpân- Como resultado do movimento feminista, a vida de milhões de mulhe­
< ia. Sua identidade arquetipka poderá então se expressar nâo sõ nos anún- res — Je todas as classes, raças, grupos étnicos c campos profissionais mu­
«tos. mas lambem no desenho c colocação do produto, como Jarte de sua dou de maneira positiva Hoje em dia. é mais provável que as mulheres te­
identidade organizas tonal, no seu wcbsitc, nos discursos execut vos. nas po­ nham uma carreira bem-sucedida: que ocupem cargos políticos; que sejam
líticas internas da sua empresa c nos programas dc orientação para os novos levadas a serio pela família, os amigos e colegas de trabalho; c mesmo que te­
empregados. A congruência daí resultante atrairá os Magos até você. nham vida sexual mais gratificante do que antes do movimento. O arquétipo
I cinbrc-se inniliêtn de que os Mggos são motivados pelo desejo dc trans- intrínseco ao movimento feminista era o Mago. Cornudo, o arquétipo que a
loj.inaçao pessoal_c pela oportunidade dc mudar as pessoas, as organizações
e a cpoca. Os Magos apreciarão se você lhes oferecer experiências transfor­ O Mago pod« ter uma boa identidade para sua marca se:
madoras. Mas o maior lucro suigc quando você consegue ajudar um cliente
a se aperfeiçoar a si mesmo. I>c um mudo bem cotidiano, você ví esse prin­ • sua promessa impUdta 4 transformar o consumidor,
cipio cm ação no sucesso dos Wciglit Watchers I Vigilantes do Pcso| Jcan Ni- • o produto apela para o» consumidores Nova Era ou para M

delcli. uma dona dc casa com excesso dc peso que descobriu que reunir as • ajuda a expandir ou amphar a comcikxia. '

amigas para se apoiarem muiuainenic na dieta ajudava a eliminar os quilos • poruil um componente espiritual ou pikcJójko^
extras. íoi quem fundou a Wcight Watchers International em parceria com o • 4 um produto novo • muRo contemporâneo. ?- S
empresário Alberi Lipjwrt Eles venderam as franquias por preço baixo, cm • tem preço de mWio a alto.
troca dc 10% do bruto, c rapidamente fizeram fortuna Nos Wcigit Watchers.
*
as pessoas são potencializadas para se transformarem de gorda cm magras,
c lambem se sentem lx’in .qud.mdo a melhorar a vida dos outros. mídia associou ao movimento tornou-se o da furiosa queimadora dc sutlâs —
As marcas do Mago e os profissionais dc marketing do Mago sabem que uma imagem Fora-da-lci que nâo tinha atrativo para a maioria das mulheres.
se você der (ou vender) um peixe para as pessoas, elas terão «> que comer Quando fizer marketing para os Magos ou candidatos a Mago, evite a
naquele dia Ensine-as a pescar c elas nâo sõ terão sempre o que comer, mas tentação de forçar a atenção com elementos perturbadores e chocantes. Re­
lambem serão fiéis a você — para sempre. serve um tempo para desenvolver uma identidade que esteja alinhada com
E aqui precisamos acrescentar urna nota de alerta Em um passo mais a verdade dc seu propósito transformador. Nâo é preciso que sua mensagem
avançado, testemunhamos o efeito libertador dc dois movimentos à nossa seja destruída por imagens desagradáveis vindas da mídia, dos concorren­
volta o feminismo e a Nova Era Os papeis sexuais mudaram ndicalmcntc. tes ou de outros grupos. O antídoto é ter uma personalidade de marca ar­
A maioria das pessoas defende a igualdade de direitos. As atitudes e pers- quetípica suficientemente forte para vencer a publicidade negativa dramáti­
pectivas Nova Era hoje fazem parte da corrente dominante. Ao mesmo tem­ ca. Quando o Pillsbury Doughboy apareceu como um espírito maligno em
po, muita gente se divwH ia do feminicmo e da Nova Era porque o público Chostbustcrs: Os ca<a-Jantasmas. a identidade Inocente da marca permane­
passou a identificar cs-cs movimentos cum seus componentes cxtremisia.se ceu intacta. Esse é o poder da marca arquetípica.
ate mesmo bizarros. A questão, aqui, e que as posições extremistas c os acon-
licinumos. atitudes e anúncios iiiconiuns. chocantes ou pcrtuibadorcs for-
ç.im noss.1 .ilençáo, mas cm ultima .mahsc não alicerçam nossa identifica-
ção tom uma causa ou um produto
lanto o movimento feminista quanto o movimento Nova Era foram
transformadores, mas nenhum deles controlou sua identidade :1c marca ar-
F

PARTE

íBJ

Nenhum homem (ou mulher) é


uma ilha
Cara Comum, Amante, Bobo da Corte

Despe as primeiras reuniões dos habitantes dc cavernas e tribos até

as populares salas dc bate-papo virtual dc hoje, o desejo humano dc se co­


nectar. interagir c pertencer a um grupo tem sido um impulso primordial.
Três arquétipos nos ajudam a atender tal nteessidade. fornecendo um mo­
delo ou estrutura para isso O arquétipo do Cara Comum ajuda a acionar os
comportamentos ejjHSUCf‘‘vasejue nw.pe^«madguirir o scnsodçade-
quãçãoTuíi cien te para sermos parte do grupo c a capacidade de ver o valor
íê iodaras -pessoas, nâo só daquelas que sc destapam. O_Amante auxilia no
procêtfp ác nos tornarmos aúacuiçs.para os outros e tamhctn.nos ajudia
desenvolver as apndòesj»rajLiaUJOaida<lc_£Dioclonal_c sexual O Bobo da
Corte_nosensin? a viver^pm leveza^a viver no momento prcscntc.ç a des-
írutar a interação com qs outros sem nos preocupar com o^ue etes possam
pensar. Ós simbòlos e marcas que incorponm esses arquétipos sâo podero-
'sos porque expressam e afirmam um senso critico de amabilidade .popula­
ridade e conexão.
Os írés arquétipos sâo os mediadores dc tipos de vulnerabilidade bem
diferentes daqueles que se relacionam â nossa necessidade de mestria, con­
trole c poder. Em vez de se preocupar em causar impacto no mundo, o in-
htenhum bomem (ou mulher) * umt «th» 16?

dividuo reflete sobre estas questões: sj»iL?Rr.«lâve|> /Mrjente? Engraça­


do? Sriâ que t»s pessoas vâo me aceitar? Posso lazer pane dogtu|m c conti­
nuar sendo cu incstno? Como cu encontro o verdadeiro amar? E tomo cu
aceno minha vida para poder deslruia-lo?
A imensa popularidade dos talk shows da teve c do rádto ajuda a escla­
recer o apelo desses arquétipos, apesar de — ou talvez por ccuui dc — nos­
sa sociedade cada vez mais individualista O público pára pa:a ouvir outras
pessoas comuns (náo especialista») talarem, expressarem sua» opiniões c di­
vulgarem queixas c questões. O público assiste rcligiosaincntc aos talk
shows para conhecer histórias reais de amure traição (o Amante) ou para
partilhar seu tempo com um Bobo da Corte noturno como Jay Leno. O * j)e-
qucim Bobo da Corte". David l.cttcrman. impulsionou seu ibope cm queda
com uma cirurgia cardíaca. Essa combinação do Bobo da Corte com a vul­ A emoção eipedol dotpertodo pelo Túmulo do SoWo Desconhecido exprevw
nerabilidade do Ze-p<>\ inlio despertou um apoio entusiástico c reacendeu a o poder panfente do obteuro e ooònimo Zé povinéo ou Coro Comum.
lealdade dos telespectadores ja desinteressados.
do. esses arquétipos tím o poder adicional de nos motivar, porque eles pro­
(>s consumidores cm quem esses arquétipos sâo fortes sentem-se par-
metem atender às nossas necessidades reprimidas e insatisfeitas. Quanto
ticularincnic atraídos para as marcas que os ajudam a se conectar com as ou­
tras pessoas. Mas a natureza c a lorma adotadas por essa concs.to assume di­ mais esses trés arquétipos sâo desprezados na cultura, tanto maior é seu po­
mensões inesperadas Durante a década de 1960. colegiais dc classe media der motivador.
Consideremos, por exemplo, o poder impressionante da sexualidade
começaram a usar macacões de lavrador, como meio dc dizer que queriam
na Inglaterra vitoriana: tudo o que cala na clandestinidade ganhava poder
sc identificar com a classe trabalhadora “nâo corrompida". Urna proporção
surpreendente dc donos dc pianos Steinway escolheu dirigir o despretensio­ na psique c no comportamento humano.
so Subarus. Os yuppies urbanos sâo os leitores mais prováveis da fofoquei­
ra revista Per/plr
L importante lembrar, aqui, que o Cara Comum. o Amante c o Bobo da
Corte talvez sejam tun foco nioiivacional mais dominante em alguns consu­
midores. mus o lato c que todos os consumidores — nâo importa o que mos­
trem cm seu comportamento de superfície — desejam sc unir a outros seres
humanos Nj nossa cultura compulsiva, as pt ssoasgcralmeni” nâodispõem
dc muito tcinpi para o convívio (c muitas acham que c pura perda dc tem-
po) c. por isso, o» indivíduos estio cada vez mais sozinhos Corno resulta-
O Cara Comum
Lemo: "Todos os homens e mulheres são criados iguais

O Cara Comum demonstra as virtudes de simplesmente ser uma pessoa


comum, igual às outras. Você pode ver a figura dele nas peças moralistas da
Idade Média, na idéia do “homem comum" da teotia e retónea política, no
impacto emocional do Tumulo do Soldado Desconhecido. A identificação
com este arquétipo tem impelido 3 sucesso dc uma longa série de políticos
populistas, estrelas de cinema e executivos “com o toque comum".
O Cara Comum é evidente ra musica country e western, na folk mu-
SiC. nos festivais e carnavais dc bairro, nos sindicatos trabalhistas, nos jan-
O Cara Comum 173

t
O Cara Comum tares e nas sitcoms (comédias de situação) ou exclusão — seja cm um Indivíduo ou cm todo um grupo — representa
Desejo básico: conexão cxxn . que exploram os pontos fracos das pessoas o gattlho para o grande apelo do Cara Comum; nâo t o desejo dc ser espe­
o» outros comuns (recorde-se dc AU in ilir Family, Ro- cial ou diferente, deste ou daquele modo, mas simplesmente o desejo de se
*
:Met pertencer, Atíeqvi^te scannr c Makolni in thc Middlc). fundir no bando. E. uma vez satisfeito esse anseio, surge a tendência de ape­
Medos: destacar-se ou Quando o arquétipo do Cara Comum nas desfrutar a calma segurança dos hábitos comuns.
parecer que esti dando arei de
csiá ativo em uma pessoa, ela usará roupas tí­ Há alguns anos, por exemplo. Margaret Mark realizou uma série dc en­
*.
importâfKi o por isso ier
picas da classe trabalhadora ou outros trajes trevistas nas quais apresentava esta pergunta: "Se você tivesse um fim de se­
ex.Udo ou rejeudo
Estratégia: desenvolver lôbdis comuns (mesmo que tenha bastante dinhei­ mana para explicar a um grupo de estrangeiros quais você acha que sâo as
v rtudes comuns. O toque ro). falará dc um modo coloquial c detestará melhores coisas dos Estadas Unidos, o que você faria?" O grupo que ela en­
comum.mesdao.se lodo tipo de elitismo. O valor subjacente é trevistou em Dc Soto. Missouri. uma cidadezinha. nem sequer mencionou
Armadilha: abrir mJo de sl que todos sâo importantes, tais como sâo a Constituição ou a Declaração dc Direitos, o sistema norte-americano de
n-esmo para se mesclar, em Seu credo C que as coisas boas da vida perten­ controle müiuo pelas diversas repartições governamentais ou a liberdade de
troca de uma conexão
cem a todos como direito de nascença, nâo imprensa. Em vez disso, pensaram um pouco e responderam: “Ora. eu pre­
superficial
Dom: realismo, empaca, apenas a uma aristocracia ou mesmo a uma parava um churrasco e convidava os meus amigos e vizinhos!" Fica claro
ausência de vaidade mcritocracia. que o simples fato dc fazer parte de um grupo de “pessoas normais" sinteti­
O Cara Comum e o arquétipo .funda­ zava. para eles, o que de mrlhor existe nos Estados Unidos.
I mental <ía democracia, com o preceito básico
O Cara Comum também é A filiação a um grupogcralmentc se expressa também pelo uso de cer­
! dc “Um homem, um voto" Ele c ainda mais tos produtos: bonés, camisetas com slogans, adesivos no carro e. mais sutil-
conhecido como o bom
pronunciado em todos os movimentos pro­ mente. estilos de moradia, automóvel, traje e alimentação. É interessante
I compaoheircx a jproa méda. o
Zé-povinho. o homem comum, a gressistas. Você pode pensar no compositor observar que nos jogos dos New York Rangers — um time de hóquei profis­
moca da porta ao bdoi >z Woody Guthrie garantindo ao povo que sional que conseguiu se conectar com a torcida no nível do Zé-povinho —,
o realista, o trabalhador. "This land is your land" |Esta terra é lua ter­ os fâs comparecem untfomemente vestindo a camisa dos Rangers como si­
o cldadáo sô*do, o bom vfrlnho ra). Ele também c crucial para o movimento nal de apoio; no mesmo esládio do Madison Squarc Garden, quando jogam
Jos direitos civis, para o movimento feminis­ os New York Knicks. mais ‘glamourosos", a maioria dos fâs comparece com
ta, para os direitos dos gays e para qualquei outro movimento que visa es­
roupas comuns de passeio ou. no caso dos executivos, de temo e giavata.
tender todos os benefícios da participação social c econômica a um grupo
Os fâs dos Rangers se conhecem uns aos outros, acompanham mutuamen­
ou classe dc pessoas.
te o crescimento dos filhes, celebram juntos os aniversários. Os fâs dos
Os movimentos de liberação, claro, nos fazem lembrar que na vida re­
Knicks, por outro lado, estâo unidos apenas pela sorte de terem cadeiras ca­
al a maioria das sociedades sempre exclui algumas pessoas, por mais amo­
tivas para a temporada ou entradas para aquele jogo. Os Rangers sâo uma
rosa que possa scr sua retórica dc inclusão Nas antigas culturas indígenas, marca do Cara Comum, enquanto os Knicks sâo mais “heróicos
*
; os fâs dos
scr exilado ou excluído do grupo significava que você ficaria sozinho na flo­
Knicks sâo “admiradores" do time, mais que apoladores ou “a família
.
* O
resta ou no deserto, sujeito a todo tipo de predadores Na prática, o exílio entendimento dessa diferença tem implicações tremendas sobre as comuni­
era equivalente a uma sentença de morte. Mesmo hoje em dia, as pessoas cações do Madison Squarc Garden com cada um de seus concessionários.
que têm capacidade de comunicação deficiente c sâo incapazes de sc conec­ A maioria dos norte-americanos ficou espantada quando o presidente
tar bem com os outros correm maior risco dc ficarem desempregadas ou de­ George Bush sc maravilhou diante da maquineta para leitura dos códigos de
sabrigadas do que aquelas em quem essa capacidade t mais desenvolvida.
banas no caixa de um supermercado (“Por onde esse cara tem andado?!");
Todos nos ainda precisamos criar redes sociais de apoio. Na verdade, sâo es­
mais tarde, um cartum parodiou o presidente, ele dirigia por um gueto pau­
sas redes que inevitavelmente posicionam em bons empregos mesmo as pes­ pérrimo e. toialmente fora de propósito, perguntava se alguém linha a chi­
soas com desvantagens c apóiarn seu sucesso subsequente. que mostarda Grey Poupon. Sua fracassada tentativa de scr um Cara Co­
Todo mundo conhece o desespero dosadolescentes para sc encaixarem mum deu resultados ainda piores do que sc ele tivesse apenas conservado e
— sc nâo “na turma", pelo menos cm alguma turma Esse senso de solidão expressado sua aristocrática identidade do Governante. Como os Knicks,
O c*ri Comwm I7S
174 O HERÓI £ O FORA-DA-LEI

Bush dcveriJ ter compreendido c alavancado a natureza de seu apelo, em vez O Cara Comum adora o humor com aitcxrítica. que afirma aos outros
e a *i mesmo que ele nào se leva demasiado a sério. O uísque Jim Bcam vei­
de tentar reinventar-se.
culou um anúncio com quatro rapazes conversando felizes em um bar. O
anúncio dizia: "A vida de voce> dana uma óun» «érir humorística na tevê."
Não se dê ar de importância Mas entâu admitia que a série proposta nâo feria lá muito interessante: “Cla­
ro. teria dc ser na tevê a cabo." Dc todo modo, essa atitude também desta­
O Cara Comum quer scr parte da tribo — seja ela uma panelinha, uma
cou a verdadeira força deste arquétipo: "Arr.igos de verdade. Uísque de ver­
classe social. a cultura do local dc trabalho, uma Igreja ou templo, um clu­ dade ” A palavra "verdadeiro" é uma das que definem o Cara Comum. Todo
be ou um sindicato. O grupo tanto pode ser aquele “noqual" a pessoa nas­
artificialismo é suspeito, assim como o desejo de glamour ou luxo.
ceu ou algo bem diferente. Dc todo modo, o que existe t o desejo de se en­
caixar tranquilamente; e. como mostra o exemplo de Bush. o esforço deve
scr toialmcntc hem-sucedido. ou será um fracasso absoluto. Apenas os fatos, madame
Há uma ausência comnleu dc artificialismo neste arquétipo. pois exis­
.0 Cara Comum odeia artificialismos, propagandas enganosas, e pessoas,
te certajendência ao nivelamento Por exemplo: pedir cerveja numa festa, em
que se dào ares de importância. As marcas do Cara Comum, portanto, quase
vez de. digamos, uma "vodea on the rocks"; convidar o chcnte para corter no
sempre possuem uma qualidade "caseira" e prosaica, que as faz parecer ge-.
parque em vez de lhe oferecer um almoço elegante; usar os populares e con­ nulnas. Os exemplos incluem a Pcrdue e a \Vcndy's (cujos proprietários apa­
fortáveis sapatos Tevas no trabalho quando você é um milionário do Vale do recem diretamente. com toda sua simplicidade, nos anúncios), a Snapplc (cu­
Silício; todas essas escolhas sinalizam dc imediato que você valoriza o prin­ jo primeiro, porta-voz íoi Wendy, a recepcionista nascida em Queens) e os
cipio Zé-povinho e empunha a bandeira com as cores do Cara Comum. automóveis Saturn (onginalmente comercializados com depoimentos dos
Os Caras Comuns nâo apenas torcem pelo time da casa; eles torcem pe­ operários nas fábricas, dizendo por que acreditavam no carro c na empresa).
los pequenos e oprimidos. Eles provavelmente preferem o hóquei ao tênis, Paul Newman sempre desfrutou muito mais durabilidade do que os ou­
a perseverança dc Cal Ripkcn Jr ao brilhantismo dc Michacl Jordan. o bei­ tros atores bonitões, principalmente porque sua persona de Cara Comum,
sebol das pequenas ligas ao das grandes. Frequentemente usam o humor pa­ tanto na tela como na vida real, faz milhões de pessoas sentirem que ele se­
ra abaixar a crista dos outros Um anúncio do uísque Gknlivei diz: “Em al­ ria despretensioso e afável se o encontrassem na loja de ferragens numa ma­
guns lugares, os atletas sáo reverenciados como deuses. Este nào e um de nhã de sábado. A Wranglcr Jeans protegeu sua identidade de marca do Ca­
tais lugares. Um lugar. Um uísque.” ta Comum evitando sabiamente o modismo do "designer jeans" e
Hoje cm dia. as pessoas de sucesso ás vezes procuram evitar a inveja permanecendo o jeans preferido de quem ama rcalmente o estilo caubói. A
revelando de público suas neuroses, seus medos e suas dificuldades. Isso empresa está associada aos caubóis, às regiões rurais e aos produtos autên­
ajuda os outros a lembrar que, por baixo dc todo aquele brilho, as estrelas ticos, bein-íeifos e livres dc propagandas enganosas. Filmes como Ou tudo
nào passam de criaturas iguais a rniin e a você. Na série dc tevê. Ally McBcal ou nada. Momento inesquecível e Uüking Ned Devine celebram o etos do Ca­
e uma bonita c bem-sucedida advogada formada em Harvard; mas grande ra Comum em termos de personagens, pacrâo dos enredos e produção mui­
parte dc seu apelo depende dc cia ser tâo trapalhona e neurótica como qual­ to franca c direta.
quer um dc nós. Scinfeld tornou-se uma celebração da vida normal. E mes­
; O
níveisdoarquétipodoC
* 'CÕ-murri*
mo celebridades muito bem ajustadas apresentam suas qualidades cotidia­ »* •><. V • -•=
nas. Um clássico anúncio da Gap mostrava Montgomrry Cliíl no alto dc MotivaçÃo: solldlo. *Hen*çSo f \ s*sf ’./£ .
,______ * * :
* itiwiefi-. ,
N tvrl I: o órflo que se sente iturvíorudo e JcnJnxÇ busórxio
uma escada, dc calças cáqui, pintando uma parede. A questão. claro. C que Nível 2i i pessoa em busca de sua “tribo",'qje' estt aprendendo' a*se ’____ ______________ _
mvMim cclchi id.ides “maiores «lo que a vida” têm seu lado pé-iui-chào. Um aceitar af jd. e antode * ‘
lortc principio editorial da revista 1'coplc c mostrar o que existe dc extraor­ NIvel J: o b*xrun«lrk>. que xrvda na dignidade natural de todos oe seres Independente,
dinário nas gentes comuns (por exemplo, casais despretensiosos que adota­ mente das capacidades de cada um ou das tircunsânciu -/s r. ifc. J • £
Sombra: a «Xxna que pretere sofrer abuso a teu aodnbaiou o membro domando «Jfrtíí
ram crianças dcíiciviucs). entremeado com o que existe dc "ordinário” nas
»n< hadores". disposto a praticar qualquer ato a fim de pertencer k cangue
superesirdas — divórcio, anorexia ou problemas dc autoconfiança
176 O Hf KÔI t O FOftA.QA-lei
O Cwa Comum 177

O Indicador lipologico Mycrs-Briggs se diferenciou dos vários insiru-


os conselhos dos profissionais da MetLife. Eles me ajudaram a escolher en­
memos psicologkos pretensiosos c mais caros, lomando.se urn campeão dc
tre milhares de fundos mútuos, com base no nível dc risco que eu aceitava.
vendas no mundo todo, ao se apresentar como a ferramenta psicológica pes­
Eu ainda nâo sou um 'mago' da Wall Street, mas agora sei que investir nâo
soal c ate mesmo explorando o fato dc que inicialmenic o titablishment nâo
é tào difícil como servir suflê para 400 convidados.
*
aceitou sua importância. O VISA. ao sc diferenciar da imtigcm mais elitista
A maioria das marcas do Cara Comum mostra imagens extremamente
do American Express, adotou uma abordagem semelhante, enfatizando a
sadias. Os anúncios da Gap. por exemplo, mostram jovens dançando com
i heiitcl.i mais comum e o uso onipresente de seu cartão de credito. Tal co­
total relaxamento e claramente desfrutando o íato de estarem juntos de ma­
mo a pessoa comum, o VISA está em toda parte. neira positiva e alegre. Tais anúncios contrastam implicitamente com os
Na indústria dos cosmcitcos. os anúncios do Cara Comum abandonam anúncios mais típicos do Explorador, que visam a alienação juvenil, e com
as imagens evocativas em favor da funcionalidade prática t pé-no-chào Por os anúncios da Guess e da Calvin Klein, que mostram imagens dos jovens
exemplo, o creme Nívea mostra o rosto da típica moça-da-casa-ao-lado. com como objetos deprimidos, porém sexy. Pessoalmente, nosso anúncio favo­
as palavras: ‘'Restaure o controle dc rugas da sua própria pele com uma lo­ rito do Cara Comum é o dc uma lanchonete dos velhos tempos, a Submari-
ção. Sc vocé entrar cm contato com a maioria dos colégio» e universidades ne Sandwiches. O anúncio começava com urr grupo dc jovens macilentos
convencionais, pedindo informações sobre suas grades curriculares, você levando um -papo-cabeça" sobre alienação e ansiando por "mais”. De repen­
iccebc peças dc marketing muliicoloridas cm embalagens profissionais. O te, uma saudável figura paterna diz “Comam alguma coisa" e o anúncio con­
Mi.iiin IXide Cummuniiy C.ollcgc, um dos mais bcni-suceditlos colégios co- tinua. colorido, com imagens de enormes sanduíches.
inunit.irios do pais, lhe envia apenas uma lista dos cursos, num catálogo im­ As marcas do Cara Comum também confortam as pessoas, afirmando
presso cm papel jornal A mensagem c que essa t a escolado povo I bara­ que elas sâo OK do jeito que sâo. Por exemplo, a Just My Size, que oferece
ta. com os pes fincados no chão e sem pretensões. roupas dc tamanhos grandes, mostra uma mo;a bonita, mas bastante chci-
nha, dizendo: "Eu sou irmã. Sou filha. Sou amada. Eu nâo sou do tipo 50
quilos. Eu nào sou tamanho único. Eu sou tamanho 48. Tamanho 50. Ta­
A dignidade do Homem (ou Mulher) Comum manho 52. Eu sou bonita. Mais bonita que metade das mulheres deste país.
Eu nâo estou fora da norma. Eu sou a norma. Eu nâo sou invisível." A Au-
O Cara Comum é o cidadão sólido que faz a vida funcionar. Nas anti­
gust Max Woman envia uma mensagem na surdina, dizendo simplesmente:
gas rcgiòes rurais, pense nos homens que sc reuniam para levantar um ce­
"Moda de verdade para mulheres como vocé."
leiro. c nas mulheres, reunidas para bordar uma toalha em conjunto Aque­
Os anúncios frequentemente assumem que a necessidade do cliente é
las pessoas nâo precisavam gostar dos outros para ajudblos Se fossem
bastante básica. A Sleep Motels veicula um anvncio com quatro estrelas, di­
vizinhos, eram implicitamente partes do clâ Mesmo hoje em dia, é fácil ver
zendo: "O quarto C barato. Os atendçntes sâo prestativos. O café da manhã,
o Cara Comum nas pessoas que sâo hospitaleiras, que prestam um bom dia
é grátis. Isso ê tudo que você quer de um hotel." A Quality Inn mostra a ima­
<le trabalho pela paga da diária c que mostram certa confiabilidade sólida e
gem da família McCaughey — com seus óctuplos — dizendo: “Nós enten­
enraizado bom senso demos de milagres. E o menor deles nâo é encontrar um bom colchão em
Muitas dessas qualidades estão associadas ao norte-americano comum
um quarto de hotel.” Parece que isso é tudo que a família precisa, mesmo
c .1 crença social na equidade A Mutual oí America se liga a tais valores usan­ com os dez instalados em um quarto, exceto a chance dc ganhar a loteria da
do uma linguagem que explicita a importância da igualdace: "Indivíduos c Quality Inn O popular guia dc restaurantes ZagaVí Guide incorpora a qua­
grupos, empresas e associações — sejam grandes ou pequenos — recebem lidade do Cara Cornum. rcllctindo as opiniões das pessoas comuns que co-.
o mesmo serviço de qualidade e a mesma atenção A MetLife se torna ain­ mern fora, em vez daquela dos avaliadores profissionais.
da inais simples, mas com uma mensagem semelhante Um anúncio típico O Cara Comum é infalivelmente frugal, tenha ou nâo lenha dinheiro. A
mostra a moça-da-casa-ao-lado que. descobrimos, diuge um serviço dc bu­ GEICO Direct diz: “Você ainda nâo contratou p nossa segmo de automóveis?
fe e vem ’ dc urna longa linhagem de pessoas que nào sabem investir" A mo­ Estranho, vocénâo parece rico." Um anúncio da Drycl, veiculado no final dc
ça <l.i seu depoimento. “I.u não sou um daqueles investidores tarimbados. 1909, assegura âs pessoas que “No próximo milênio, todos vâo cuidar em ca­
1’or isso, quando fm.ilmentc venci o medo de entrar no mercado, procurei sa das suas roupas 'só lave a seco'. Ei, já nào está chegando a hora?"
O Cara Comwn 1
I7Í O HERÓI E O FORA-DA-LEI

norte-americana, que a General Motors decidiu lançar o Saturn de uma manei­


O terceiro lugar
ra que anulasse a conexão do carro nâo só com a empresa-mãe. mas também
O pomo de encontro natural dos Caras Comuns não é o lar nem o lo­ com a cidade de Detroit A decisão de transferir a fábrica do Satum para Spnng
cal dèrcãbálhòVHBtoríCaménte. cies se encontravam em lugares pú Micos
Hill, Tennessee. assinalou a rejeição dos valores associados â poluição e ao de­
que favoreciam as conversas sobre assuntos de interesse geral — esportes, clínio da vida urbana, em favor dos mais tradicionais valores da vida rural.
política, fofocas ligeiras ou o tempo. Às vezes, iam a algum lugar simples­ Além disso, poucas pessoas acreditavam na possibilidade de lançar
mente para sc juntarem ò multidão ou para se sentarem iranqúilamentc la­ com sucesso um novo carro e. por isso, o êxito da marca adquiriu uma qua­
do a lado. No passado, era a pracinha da aldeia, o bar do bairro, a bibliote­ lidade Davi & Golias. Este anúncio oferece uma retrospectiva do sucesso da
ca pública, a sala do sindicato, os degraus na frente das casas ou apenas o empresa: “Há dez anos, uma empresa automobilística chamada Saturn fez
banco na calcada do armazém — espaços públicos onde pessoas que mal se algo que ninguém esperava que ela conseguisse fazer. Ela teve sucesso. E.
conheciam rciiiii.iiii-se <• desfrutavam a companhia umas das outras Hoje como todos os que experimentam uma fatia do sucesso, ela desenvolveu o
cm dia. as pessoas nâo sc reúnem na frente das casas e os vizinhos têm tan­ gosto por algumas das melhores coisas da vida. Talvez seja por isso que ela
tas possibilidades de escolher bares e restaurantes que a reunião num mes­ projetou seus novos carros para serem mais rápidos, mais confortáveis, mais
mo lugar deixa dc ser previsível; a maior parte da vida é vivida na privaci­ luxuosos e, sim, mais caros. Porém não caros demais. Porque, como disse­
dade ou dedicada aos negócios. mos, o nome da empresa é Saturn.
*
O desejo dc dispor desse “terceiro lugar“ explica o duradouro sucesso .Jaturno é outro nome arquetípico. Ú o nome do deus romano da agri-
da série de tevê C/ieers (“onde todo mundo sabe o seu nome"). Quando a .cultura, que assim dá ao carro associações com a vida rural. O planeta Satur­
Barnes óí Noble e a Bordcrs viram essa necessidade e criaram espaços para no tem um significado acirologico que está associado à ação prática, realista,
a clientela sc reunir, suas vendas aumentaram 18% c 14%, rcspectivamentc lenta e meticulosa. Ambas as associações parecem absolutamente certas pa­
(contra a média dc 4% das livrarias norte-americanas). A llardy's compreen­ ra uma marca do Cara Comum. Além disso, pouco antes da fundação da em­
de que seu propósito não é apenas fornecer refeições rápidas, mas também presa. um jornal de grande circulação publicou uma matéria que revelava o
oferecer um centro comunitário onde pessoas de diferentes idades e classes desalento dos cientistas diante do fato de nâo haver qualquer explicação cien­
sociais possam se instalar c sc exibir confortavelmente. O arquétipo do Ca­ tifica para os anéis do planeta Saturno. O nome, portanto, oferecia um sutil
ra Comum também explica a sobrevivência, neste nosso mundo de grandes reforço ã idéia de que o sucesso da empresa era um tipo de milagre.
cadeias e franquias bem-sucedidas, de muitas lojas e restaurantes do tipo fa­ A decisão mercadológica inicial de "vender" a empresa, não o carro, te­
miliar — onde a decoração é singela, os estoques ou pratos são medianos, ve imenso sucesso. Os comerciais mostravam os operários na fábrica, com­
mas você c tratado pelo nome. partilhando o orgulho pelos padrões de qualidade da empresa e pelos riscos
Hoje em dia. as salas dc bate-papo da internei criam um ‘ terceiro lugar’ que correram por acreditar em um tipodiferente de empresa automobilísti­
popular que transcende os limites do tempo e do espaço, transformando em ca. Os anúncios mostravam funcionários da Satum recordando os carros de
“vizinhos" indivíduos do mundo todo, pelo menos no nível da mente. O fa­ sua infância; falando dos sacrifícios de se mudar para uma região remota que
to dc que o grupo dc usuários da internet que mais cresce sc compóc de con­ mais parecia esquecida por Deus; comentando o orgulho que sentiam por
sumidores mais maduros desafia os estereótipos e fortalece a atração dc estar estar associados a um tipo novo dc empresa; observando os primeiros car­
conectado, mesmo cm pessoas que agora tenham menos mobilidade do que ros saírem da linha dc montagem. O qve a GM estava fazendo era vender o
antes. Nesse caso, é imenso o potencial para as marcas captzcs de restaurar carro por associação com operários em quem se podia acreditar, homens
a conexão entre as pessoas, mesmo que essa conexão seja apenas virtual. confiáveis, pessoas de bem.
Os valores norte-amencanos subjícentes da honestidade e do trabalho
Uma obra-prima do Cara Comum: O lançamento do Saturn duro estavam claros no testemunho dos operários que compartilhavam a
O lançamento do Saturn sc fez sentir como o renascimento do que há de crença na empresa. Compreendendo a vulnerabilidade das pessoas comuns,
melhor na tradição tios valores sólidos do trabalhador norte-americano. Dc- mais tarde a empresa veiculou anúncios que mostravam famílias da classe
trvit eslava cm descrédito, porque fracassara na tentativa dc produzir inova­ trabalhadora, dc vários grupos étnicos, expressando sua gratidão pela polí­
tica dc preço único da Saturn e descrevendo suas experiências anteriores e
ções adequadas para enfrentar a concorrência japonesa. Na verdade, o consu­
midor havia se dcsassociado a tal ponto da indústria automobilística o medo dc serem roubados pelas manipulações de revendedoras desonestas.
180 O HERÓI E O ÍORA-DA-IE O Cara Comum 181

Inki.ilmentc. a identidade dc marca da Saturn foi solida c coerente, ofe­ É muito frequente as empresas do Cara Comum serem dc propriedade
recendo a garantia dc devolução do dinheiro pago e demonstrando integri­ de seus funcionários, e nelas o traje é arais casual do que o costumeiro na
dade Quando um fluido de refrigeração defeituoso ameaçou causar danos indústria. Os gerentes usam jeans. dispensam a gravata, e conversam amis-
irreparáveis, a empresa fez o rciall dc 1.836 carros e nunca os revendeu. tosamente com os empregados. Se vocé for a uma reunião com a gerência,
Compreendendo que o que estava à venda era a pertença, tanto quanto os talvez nâo seja capaz de identificar os líderes â primeira vista, porque as di­
carros, a empresa patrocinou um encontro de proprietários de carros Saturn ferenças de status nâo sâo óbvias. Os sindicatos, as associações sem fins lu­
(com música couniry, rhyihm-and-blucs, um churrasco c tatuagens removí­ crativos voltadas para alguma causa e os movimentos políticos progressis­
veis). enquanto muitas revendedoras dc outras localidades ofereciam pique­ tas sâo organizações típicas do Cara Comum, assim como as cooperativas
niques para aqueles que nâo podiam viajar ate Spring Uill.' locais de alimentos saudáveis. Em geral, essas organizações compartilham
Na verdade, muitas revendedoras de várias localidades já patrocinavam uma forte crença na importância de cada indivíduo e uma forte aversão pe­
eventos para os proprietários dc carros Saturn, como a festa do sorvete e o la diferenciação indevida entre as pessoas. As decisões sâo tomadas tâo de­
churrasco. Essas revendedoras também se envolviam em atividades locais mocraticamente quanto possível, dependendo da escala da organização. Em
dc caridade, cspccialmente aquelas ligadas a parques infantis c zoológicos. algumas pequenas organizações ou equipes gerenciais, o mais provável é
O compromisso dj Saturn no sentido dc identificar c satisfazer as necessi­ que as decisões sejam tomadas por consenso. Os eventos sociais sâo infor­
dades do consumidor íoi dramatizado no comercial que mostrava um jovem mais e frequentes.
visitando os shownwms da Saturn. no país todo, para comer as rosquinhas Quando a organização é saudável, existe um forte senso de camarada­
ali sei vidas; ao fundo, viam-sc 05 vendedores <la Saturn informando respei- gem. uma noção compartilhada de propósito e valores igualitários, orgulho
losainentc que o jovem gostava das rosquinhas recheadas com geleia. Quan­ no trabalho e comprometimento com a tarefa. Quando a orgamzaçáu é
do um grupo dc revendedoras sugeriu um carro de brind: como incentivo, doentia ou quando o arquétipo do Cara Comum é levado ao extremo, o igua-
a Saturn optou por urn com urso cujos vencedores ganhariam a viagem até litarismo se torna burocracia. A meritozracia desaparece e as pessoas rece­
Spring llill para ajudarem a construir o próprio carro. Esta obra-prima da bem a mesma recompensa, independentemente de seu comprometimento
marca do Cara Comum parecia conter todos os elementos da simplicidade ou de sua produtividade.
da vida rural, embora fosse corcografada nos mínimos detalhes. E é impos­
sível realizar tal façanha se a cultura organizacional nâo se encaixar na iden­
tidade da marca Com o passar do tempo, o desempenho da Saturn come­
O marketing para o impulso do Cara Comum
çou a vacilar, entrando em questão sua lucratividade no longo prazo Hoje cm dia, quando praticamente todos os produtos têm seu próprio
logotipo, é importante compreender o apelo dos logotipos. Para o Gover­
nante. o logotipo fala de slaius. Para o Explorador, o logotipo pode ser uma
A cultura organizacional do Cara Comum
afirmação sobre a identidade. Para o Cara Comum, o logotipo é um meio de
Nas organizações, o arquétipo do Cara Comum reflete esses mesmos filiação, um meio p>elo qual a pessoa demonstra sua conexão com as outras
valores c preferências dc modo agregado. Com frequência, seu senso de que usam aquele produto e se identifica com seu significado de marca.
identidade grupai é forjado no contraste entre elas próprias e algum grupo O escritor Kurt Vonncgut, em Cart Cradle, cunhou a palavra “granfal-
mais elitista — pense nos sindicatos trabalhistas (e na gerência); pense ern loon" para indicar nossa identificação com o Estado natal (no romance de
empresas dc propriedade dos empregados, como a Avis. que estabelece o es­ Vonnegut. um casal se identificava ardorosamente com os nativos de India­
pírito de equipe ao se identificar com os pequenos (“Nó$ nos esforçamos na), o colégio que freqüentamos, nosso grupo étnico, um clube ou um car­
mais"); pense cin empresas como a VISA, que se distingue de marcas como ro. Essa forma de pertença — associada ao Cara Comum — pode ser bas­
a American Express corn sua imagem mais elitista. tante superficial, mas ainda assim satisfatória para muitas pessoas. Por
exemplo, os proprietários de carros Saturn realmente comparecem às reu­
niões da Saturn! A identificação mais profunda — como com o patriotismo
I Jou.iili.in (Joim! c Richnxl Kirshcnbaiim. ihí Rdrfnr Jdlâíng to ThJayi Cjfliífll Ccnsu-
— é acionada se a conexão nâo se fizer com um simples carro, mas sim com
inti (Nitvji York: Adwcck Books. 1908). pp. IKK-189
O Cara Comum 183
182 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

sanu-iite a lealdade delas para com você Embora todos prefiram as marcas
o significado arquetípico desse cano. Neste sentido, algumas pessoas que
e os comerciais que apresentam um aspzcto afável, esse apelo e particular-
frequentaram as reuniões da Saturn estavam indubitavrlmente fazendo a as-
mente forte para o Cara Comum A imagem deste arquétipo vai da classe
socíaçào com os valores sólidos do bom cidadào, tais como trabalho duro e
média â classe operária, mas cie nào deve scr confundido com uma catego­
produtos de qualidade nesta nossa era da obsolescência planejada.'
ria de estilo de vida. Aqueles que os joveis de hoje chamam de “hippies com
Lembremos que o anseio de pertença faz as pessoas se tomarem ami­
cartão de crédito", bem como os intelectuais que usam trajes da classe ope­
gas das marcas. Muita gente realmente constrói relacionamentos imaginá-
rária, os universitários da Ivy League que buscam inspiração de moda na ga­
ri«»s com as empresas c seus produtos. assim como fazem com estrelas do ci­ rotada dos centros urbanos deteriorados e cada um dc nós que acredita na
nema t outras celebridades. Depois de consolidarem essa amizade, as
democracia — todos esses nos dizem que o Cara Comum estâ vivo e passa
pessoas experimentam qualquer mudança ou alteraçào do produto como se
bem cm todas as camadas da sociedade.
tivessem perdido urn amigo. Esse tipo de comportamento foi altamenie per­
ceptível no caso do alvoroço generalizado contra a bova Coca-Cola, mas é
vivcnciado pelos consumidores toda vez que seu restaurante favorito, ou
aquela livraria, fecham as portas. Quando a Ben 6r Jerryls foi vendida, por
exemplo, muita gente expressou verdadeira tristeza pessoal, acreditando
que os melhores aspectos da empresa sc perderiam para sempre — e essa
preiwupaçAo nào tinha nada a ver com o sabor ou a qualidade do sorvete.
Na verdade, linha tudo a ver com muitas outras coisas, incluindo os eslor-
ços da Bcn éz Jcrrys para ajudar pessoas comuns a comprarem a franquia
(coisa que elas, de outro modo, nunca teriam condições de fazer), suas ati­
vidades ambientalistas e sua reputação de local divertido.
No mundo agitado e apressado de hoje, a solidlo é um problema para
muitas pessoas. Elas simplesmente nào dedicam mulo tempo para sair com
os amigos, passar longas horas gostosas com quem »mam ou desfrutar mo-
mentos dc qualidade com os filhos. Quanto mais emocional mente carente
for uma pessoa, tanto mais ela buscará a conexào nas transações comerciais.
Embora seja triste, essa necessidade tambím e algo muito real. Vocé pode­
rá oferecer um serviço e aumentar sua lucratividade na medida exata em que
for capaz de satisfazer essa necessidade.
Se vocí conseguir oferecer um ponto de conexào às pessoas — como
fez a Saturn com suas reuniões e outros encontros —. isso aumentará imen-

O arquétipo do Cara Comum oferece boa identidade pira as marcas:


• cujo uso ajuda u pessoas a pertencerem.ou sentirem que pertencem.a i»n jnpo <JelW<Jo
• cuja funçlo tem uso comum na vMa cocldtana
• com preços baixos ou moderados (ou que teça a vcrito aperfeiçoada de um proAxo
que nonmabnente seria barato)
• produüdat ou vendidas por uma companhia que tenha uma cultura orpnttackxul orien­
tada para os elementos de simpbddade da vida rural, e
• que queiram »c dtfrrencter. 4e mvxir» pmltlva. das marcas taras ou maK eltHtas

» n.,.«.ir KirUicnb.iucn. r»i> IH8-I89.


186 O MtKÓI t Q FORA DALEI
O Amante 187

miim ic ll.tagcn Djzs. p«>r exemplo. 1’clo iiicims dois I st.nlos iiurlc-aincrica- u publico masculino, gcralmentc a aventura ocupa o primeiro lugar, com a
nos kiscaram sua identidade publica neste arquciipo A Virgínia afirma-o di-
história de amor em segundo plano. De todo modo, o herói nunca será um
retanicnic: “A Virgínia e para os que se amam.' A Califórnia o expressa mais verdadeiro herói se nâo conseguir Gear com a mocinha no final da história.
figurativamente. com a legenda: 'Eu sou o piloto dc teste do prazer"
Por exemplo, nas técnicas projetivas utilizadas nas pesquisas qualitativas, as
Q.?»<|uctipo do Amante governa todos os tipos de amor humano, des­ moças afirmam que prefeririam ficar no bar com o rapaz que fuma Camcl
de o amor parental c a amizade ate o amor espiritual, mas é da maior impor­
(o Bobo da Corte que, como Joe Camel, t muito divertido), mas que. na saí­
tância para o amor romântico. Pense nos antigos deuses romanos do amor
da, iriam embora com o homem de Marlbôro.
— Cupido c Vénus — c cm ídolos' clássicos do cinema como Clark Gablc,
Este aiquétipo também se reflete nas expectativas cotidianas sobre o
(. ar) Grani, Sophia l.orcn ou Elisabcth faylor Este e o remo dos corações
sucesso na vida Os pais esperam que os filhos encontrem uma carreira gra-
e «las flores, das longas caminhadas numa praia ao pôr-do-sol. das danças ao
tificante, façam um bom casamento e se estabeleçam. Em geral, os pais en­
luar — da história dc amor romântica cm sua forma «5mica (e viveram fe­
tendem que o trabalho de criar um filho só sc completa quando esse filho se
lizes pira iodo o sempre) c cm su.i forma trágica (foram separados pela mor­
casa Apesar da expectativa de que eles vivam felizes para todo o sempre, a
te — hlantt — ou pd.ts drcunstânci.is — GiMil>l<in<<t)
realidade é que vivemos em uma socirdade onde um cm cada dois casamen­
O arquciipo «lo Amante também apoia o desenvolvimento da identida­
tos termina cm divórcio. De lodo medo, a busca do verdadeiro amor conti­
de sexual A Revlon promove produtos que fazem a mu her "sentir-se uma
nua a fazer pane da vida da maioria das pessoas. Sc não conseguimos viver
mulher" Outros produtos encorajam os homens a se sentirem homens.
felizes para sempre com determinada pessoa, todos esperam que continue­
Quer você seja gay ou hétero. parte do seu
mos buscando um outro alguém. O que isso quer dizer, para muitas pessoas,
O Amante processo dc crescimento implica aprender a
é que o arquétipo do Amante está ativo nâo apenas na faixa dos vinte anos,
Desejo básico: conscjurf sc identificar com seu gênero.
mas durante toda a vida, envolvido tanto em manter o amor do parceiro
xiwnidade c experimentar c O arquétipo do Amante também inspira
atual (que poderá ir embora) quanto na busca de um novo amor. E é claro
prsier sensual ' todo o gênero da literatura romântica Todos
Meta: manter um
que todos nós nos sentimos comovidos e estimulados nâo só pelas cerimô­
mis salx‘tnos que a maioria dos romances se­
neU<kxumento com as peiioat. nias dc casamento, mas também pelas bodas de prata e ouro dos casais que
gue um enredo bem definido. A bela e jovem
o trabalho^ as experiências que envelheceram juntos e claramentc ainda se amam.
anu
heroina encontra o Príncipe Encantado, mas
Comoarquêtipo, o Amante também está ativo nas amizades imensas e
Medoiflear soUnfo. alguma circunstância ou mal-entendido os
pessoàm^Tséculo XIX. era mais comum do que hoje (quando as pessoas
"tomar <M dc cadeira-, ser mantêm separados até que. dc algum modo, a
estâo mais preocupadas com sua orientação sexual) ter amizades apaixona­
indcsejado. náo ser amado verdade é revelada c eles depois dc muitos
Estratégia: tomar-se cada ver
das com indivíduos do mesmo sexo. Embora os costumes modernos peçam
suspiros e protestos dc amor, sc casam e vi­
ma>s atraente — em termos amizades mais “frias" (em parte devido á aguda percepção de que os relacio­
vem felizes para todo o sempre Alguns desses
flocos. emodowi e todos os namentos do mesmo sexo têm um potencial para se tornarem sexuais), há
romances são bastante eróticos. enquanto ou-
outros entre muitos jovens uma tendência crescente de ver a amizade como alicer­
Armadilha: faxer de tudo para irosse mantem nos hinilcsdjs conveniências;
ce para a intimidade. Amores vâo e vêm. mas amizades duram a vida toda.
atrair os outros e agradá-los. mas. quer contenham pouco ou muito sexu
A Jordache veicula um anüncio encantador que mostra um grupo de ami-
perder a identidade explicito, o enredo e sempre basicamente o
Dons: paixão jraudáo. apreço, mesmo F. apesar disso, milhares de exempla­
comprometimento
res sâo v endidos todo ano Algumas mulheres
T Ot neveis do AmantoT ’

Ifem um por semana e nunca sc cansam do «a .o trabalho um produto) ” 1 >‘ ‘i- v*


í ;
me»...... çnrc«lo Por quê’ Pwiquc esses enredos despeitam um profundo an­ Nível I: buscar sexo formidável ou um grande romance fyrf"
Nível 2: stjuk a própria vtslo da fcückhda • comprorneur4« com ■ pessoa ou objetó^
seio arquclipico p« h cxpcriênc 1.1 do verdadeiro amor
amado • f-.Z? «V
*
I inhom mais mulheres do que homens adorem os filmes e romances
r picg.is ou ".igii.i-tom-acii< ar') do anptelipt»do Am.intc. c clanique iam- Nível 3: amor espiritual. auto-aceKaçâo • a experiência do txUM
*,
Sombra: promiscuidade. obstislo. dòme.lnvel puritanlstno
km os homens s.io aiiaulos por esse arquciipo Na lucutura voltada pira
188 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

ros (rapazes e moças) com os braços cm volta uns dos outros, de modo ín­
timo e amistoso. A conexão nâo é sexual, mas é claramcntc íntima. A histó­
ria implícita é: “Nós rcalmente nos amamos uns aos outros — todos nós.
Nào somos amantes, mas rcalmente nos importamos."
Como é que a amizade do Amante difere daquela do arquétipo do Ca­
ra Comum? EaiA-g Cara Comum^O importante é $c encaixar e-penenccr,
nâgimpressionar o outro. O Amante, por outro lado, quer ter certeza de que
você é uitijlcAC.u.sjncrhores amigos,queyoct rcalmenteo conhece e qugtk
é realmente especial para você Nessesciitído. o Amante é o arquétipo de
um grupo dc amigos que sentem que realmente se conhecem uns aos ou­
tros. Nâo estâo ligados apenas por lealdades superficiais, mas por algo mui­
to mais profundo. Kurt Vonncgut chamou dc “karass' essa conexão (mais
íntima do que o “granfalloon"). No entender dele, as pessoas que desfrutam
tal relacionamento encarnaram juntas por algum motivo e sentem uma in­
timidade especial. Para muitos indivíduos, esse nível de intimidade nâo ne­
cessariamente se explicaria em termos de encarnação- seria algo a ser con­
quistado. com base no tempo investido para sua construção e manutenção.
Quer o amor seja romântico ou do tipo amizade, a auto-estima do
Amante deriva do senso dc “ser especial" que vem de ser amado. No pior
dos casos, isso pode levar a uma necessidade patética e desesperada dc ser
amado, que impele a pessoa à promiscuidade ou a faz permanecer em uma
situação frustrante ou mesmo abusiva. Quando a pessoa tem uma percep­
ção mais forte de st mesma, o Amante pode se expressar sem tanta compul­
são. No melhor dos casos, ele oferece uma conexão profunda, tolerante c ín­
tima entre os indivíduos — daquele tipo que alimenta os casamentos (ou
amizades) cm que o amor realmente dura para todo o sempre.
Os Amantes se vêcin como pessoas capazes dc apreciar maravtlhosa-
mente os outros. Mas é típico deles detestar os concorrentes que ameaçam su-
plantâ-los no aleto dos outros. Associada ao arquétipo do Amante, portanto, Ne«e desenho. «vprtcdo na «tàtvo de 100 aC.comcnada no Aíweu
estâ uma subestruiura dc competitividade que geralmente é inconsciente e Artjtreolópco de Aieno», o otitude de Afrodite podería ter inierpretodo como
desconhecida; o resultado é que o ciúme pode acabar levando a um compor­ uma refiçào d>reit»do oos ovoaçoj íaKnot de Pon. em fmor do amor man
tamento muito mesquinho. Intimo e profunda, sob o olhor de Cuptdo. o mítico cdomenteiro
Qii.uuli» c» arquétipo do Amante estâ ativo na vkla dc alguém, seja ho­
mem ou mulher, essa pessoa vai querer nâo só parecer bem, mas realmente scr O sexo ainda chama a atenção
bela ou elegante. O desejo subjacente é o de
Na sociedade m»k aberta de hoje, a sexualidade estâ cada vez mais ex­
O» Arrumei *lo também
atrair, dar amor e expressar afciçao dc manei­
posta na propaganda A camisinha, claro, é um acessório natural para a jor­
conhecido» como parceiro», ra íntima c prazerosa Nas amizades c na vida
nada dos Amantes. A Durex veiculou um anúncio mostrando um casal, apre­
*mizoi.o> íntimo», famtliar. essa propensão inclui acariciar, com­
sentado com bom gosto mas cl.uamcntc lazendo amor, com a legenda: “O
caMmer>te4roí.«ntvjlaittí, ,, partilhar os segredos do próprio coração e cri­
«pecUlio». temuaJims. jjj corpo humano tem mais dc 70 quilómetros de nervos. Aproveite a viagem.
*
ar vínculos por meio de gostos e aversões em
<óo|i>jet,co<wrvto<r» de ’ O vinho e osdeítilados teduzem a inibição e, por isso, sâo frequentemen­
comum. Claro que com um parceiro românti­
equipe». turmoo»Eidore» te associados ao sexo. Os anúncios do uísque Cutty Sark mostram garotas bo-
co. o quadro lambem inclui a sexualidade.
190 O HERÓI E Q FORA-DA-LEI_________________________________________ OAmantc 191

nitas Mas muitos produtos que ido têm relação direta com a sexualidade. des­ * que russo Diniiri, ele a apresentou a um perfumista que estava exatamente Je-
de feria mentas elétricas ate aparelhos dc som. sâo vendidos com imagens Se­ ( senvolvendo o perfume que ela mais tarde, depois de ccnvencê-lo a lhe ceder
xuais. Uma moça atlética e bonita, usando apenas o cinto dc segurança, t mos­ o produto, lançaria como Chanel N
* 5. A publicidade inicial posicionou essa
trada ei’-, um anúncio dos rádios Jensen para carros, com a frase: “Sinta o ? fragrância como "Um perfume impróprio para damas bem-educadas".
poder nu e cru da estrada “ A Dior veicula anúncio» dc moda anevídos, com Diz a lenda que seu apelido. Coco, era o diminutivo de coqucttt — pa-
moças envolvidas cm algo que parece as preliminares do sexo lésbico; as ima­ f' lavra francesa que também indicava a "mulher sustentada’. Na verdade, jua
gens sdo tAo "quentes" que o suor escorre de seus braços c pernas j reputação dc amante reconhecida de homens ricos e influentes teria forta­
A Bluclly.com. que vende moda masculina e feminina com dísconto, lecido a imagem Amante de seus produtos. Quando lhe perguntaram por
veicula a imagem dc urna mulher com a roupa de baixo diante dc> laptop. que nâo quis se casar com o duque de Westmmster. um dos homens mais
enquanto um homem sai nu do banheiro, com a toalha cobrindo a genitá­ ricos da Europa, ela respondeu: "Já houve várias duquesas de Westminster.
lia Diz a legenda "Satisfação garantida." A pergunta que você talvez faça é: í Chanel. só existe uma."’
'O homem a satisfez ou nâo?" A mulher certamente parece satisfeita com o
laptop z\ Glcníiddu h promete a seus consumidores que "o sexo tintríco é
coisa simples fiara o homem do uísque", explicando que "paciência e con­ O culto da beleza e do romance
trole sâo fundamentais no ramo dos maliadns". O arquétipo do Amante também desperta em nés o senso de aprecia­
A Guessjeanscostuma mostrar mulheres em poses cxtrcmatnente con­ ção estética De repente, a beleza se toma importante — seja em um cená­
vidativas. Embora as modelos estejam vestidas, a mensagem de sedução t rio natural, na atmosfera de um restaurante elegante ou apenas no par cer­
evidente. Às vezes elas parecem à beira do orgasmo, mas sempre tím o as­ to de sapatos. Nossos sentidos também se aguçam c fazemos uma pausa para
pecto sedutor. A Playboy têm tido tanto sucesso com a venda direta de se­ saborear iguarias finas, perceber o aroma dos lilases, ouvir uma melodia e
xo que se proclama "a mais poderosa marca masculina do mundo" f contemplar o pôr-do-sol.
Acreditava-se que Vénus, a deusa romana do amor, surgira das profun­
dezas do oceano, gerada por sêmen e espuma do mar. O arquétijm do Aman­
Chanel: A formação de uma marca do Amante te está presente na propaganda das empresas aéreas, hotéis e restaurantes,
A Chanel surgiu na França no início do século XX. Coco Chanel era fi­ cujos anúncios geralmente usam tomadas panorâmicas para mostrar uma
lha ilegítima de um mascate e uma balconista Depois que a màc morreu (e linda praia. Você talvez recorde a famosa cena do filme A um pa$so da eter-
<» pai se mandou), ela viveu cm um convento e. mais crescida, ganhou seu ; n idade: o casal deitado na areia, se beijando, enquante as ondas quebram so­
sustento como costureira Sonhava com coisas mais românticas e acabou fu­ bre eles. Essa cena tem um componente tâo erótico, que funciona bem me­
gindo daquele ambiente primeiro tornou-se cantora dc cabaré e. mais tar­ lhor do que outras cenas mais explícitas. Aprender a arte da sutileza é a
de. amante ocasional de um rico playboy que a encorajou a abrir «ma loja chave para desenvolver anúncios que evocam o erótico sem ofender os con­

dc roupas para sc manter ocupada. Quem teria imaginado a magnitude do sumidores. A Hot Spring Portable Spas fez um bom trabalho, simplesmente
sucesso que nasceria daquela lojinha modesta? mostrando um casal romântico em uma banheira de água quente e dizendo:
Chanel era chocantemente ousada Costumava vestir roupas masculi­ "Lá fora, é pára-choque contra pára-choque, minuto a minuto, nariz a na­
nas c usou a cueca como inspiração dc unia linha arrojada de trajes femini­ riz. Aqui, é de coração para coração."
nos — trajes que eram confortáveis, que tinham estilo e que forjarzm a no­ Existe algo na conexào entre o mar e o amor, que também vemos em

va imagem da mulher sexy, mas também independente. Ao longo de toda filmes como Titanic. cujo enredo romântico é ampliado por cenas de gran­
sua historia. Chanel integrou o conceito dc mulher independente com o de de beleza visual e pela pura elegância e prazer da vida em um cruzeiro ma­
mulher sexy, destruindo a idéia de que a mulher que não depende dos ho­ rítimo. A Princess Cruises joga com moderação, apenas mostrando um jo­

mens e masvuhriizada c sem atrativos, bem como a velha idéia de que uma vem casal num restaurante romântico, sorrindo enquanto escolhem o vinho

inulhei pode ter <> amor ou uma carreira bem-sucedida. mas nâo ambos e deixando no ar a promessa implícita da intimidade da viagem em um na-

A própria Chanel era conhecida tanto como desenhista de moda quanto


por seus casos com homens ricos c famosos Quando era amante do grâo-du- *TO.
I ThaddeusW» RdJiíah and VisionarUí (IrvirK, CA: EniiepKixur Press. 2000). pp. 94-93.
O Aminle 19 J
191 O HERÓI E O FORA-OA-UI____________________________________________

O arquétipo do Amante funciona naturalmentc na moda c ein automó­


vio dc cruzeiro A Norwegian Crutse Linc t mais valente, veiculando esta veis. A fada-madrfnhn aperfeiçoa a beleza inata e os atributos de Cinderela,
matéria bem mais explícita (mas ainda assim apropriada e «levante): “Sexo
ob-recendo-lhe o vestido certo. os sapatos c a carruagem para ela ir ao baile
no meio da urde. Aqui e diícrcmc."
e conquistar o coração do príncipe. Uma Cinderela moderna conseguiria to­
É claro que muitas histórias de amor têm final trágico Os amantes se
dos esses aperfeiçoamentos com uma simples visita ao shopping center. Em
separam ou (como Romeu e Julieta) sâo separados pela morte ou pelas cir­
Uma Imda mulher,Julia Roberts revela sua princesa interior quando compra
cunstâncias; com isso, tocam nossos mais profundos sentimentos. A histó­
roupas caras e bonitas. Nem precisamos fazer uma crônica dos inúmeros
ria dc amor trágico funciona bem para vender filmes, saboreies c livros ro­
exemplos no mundo da moda e dos cosméticos que prometem essa trans­
mânticos. mas na propaganda a venda está ligada à promessa do final feliz.
formação cinderelesca. Eles estâo à nossa volta e vocé os conhece. Contu­
Outro caso: o “gancho" nào está necessariamente no final feliz, mas em
do, Uma linda mulher conquistou o coração dos espectadores porque Julia
manter a tensão do desejo erótico tanto quanto for possível. Séries de tele­
Robcits conseguiu transmitir um senso de realidíde digna c profunda a uma
visão como Mocwiligliting e Lois & Clark continuam populares enquanto
mulher que ganhava a vida como prostituta. A mudança dc roupas não era
mantêm a tensão entre os amantes nascidos para sofrer. No momento cm
apenas algo superficial; revelava a verdade da personagem, antes obscureci­
que o amor sc consuma, cai o interesse do público pela série. ()s melhores
da por seus trajes baratos e de mau gosto.
anúncios, portanto, precisam manter Eros sem nunca o resolvei. Um exem­
O enredo arquctipico que prende a atenção é mais profundo do que a
plo, dc um anúncio bem-sucedido da B Kool, evoca a clássica cena da pa­
mensagem comercial mais frequente. O arquétipo nâo diz que o novo corte
quera no bar: mostra apenas a mâo de um homem segurando um maço de
de cabelo, traje, carro ou cirurgia plástica lhe trarão o amor de sua vida. O
cigarros e um cigarro aceso, e esse homem está prestes a abordar a bela mo­
que o enredo arquctipico diz é que isso acontecerá se a mudança revelar
ça que olha para ele através do espelho. O momento é rico cm possibilida­
aquilo que há dc realmente belo em sua natureza.
des eróticas, mas o anúncio nâo informa o que acontece depois.
A maioria dos anúncios dirigidos para as adolescentes evoca o Explo­
rador ou o Amante — em ambos os casos, iníehzmente. os níveis mais bai­
Cinderela: O projeto da beleza xos desses arquétipos. (Os anúncios do Explorador apelam para o desejo das
garotas dc scr diferentes; os do Amante, para a vontade de ser atraentes.)
O medo dos Amantes é “tomar chá dc cadeira" ou ser abandonados por
Muitos desses anúncios falham na tentativa de se conectar com o poder do
quem amam. Ainda mais fundamental é o medo do Amante de nào scr dig­
arquétipo, porque encorajam uma superficialidade regressiva. (Compre o
no dc amor. I- por isso que ele (ou cia) está sempre envolvido em algum pro­
vestido novo!) Essa perversão da mensagem mítica chega até a afetar a po­
jeto dc aperfeiçoamento pessoal, para scr cada vez mais d gno de atcnçào.
lítica; Georgc Bush nâo conseguiu se reeleger, em parte porque se tornou ca­
Na versão original de Cinderela, suas irmãs estavam dispostas a cortar fora
da vez mais associado a uma imagem tipo Madison Avcnue do que a algu­
os dedos do pé para poderem calçar o sapatmho de cristal apresentado pelo
ma realidade de seu próprio caráter
príncipe. Embora pareça um ato extremo, nâo deixa dc ter relação com a ma­
Ironicamente. Rill Clinton tinha uma vantagem na mente do público
nia contemporânea da cirurgia plástica. As pessoas entram na faca para fi­
porque as pessoas sabiam dc suas vulnerabilidades. Um filme mostrado na
carem mais bonitas ou elegantes. O desejo de atrair amor f forte e profun­
convenção do Partido Democrata, em 1992. tratava abertamente de sua opo­
do Mulheres c homens fazem de tudo para sc tornaiem atraentes e sição ao padrasto abusivo c a luta dc seu irmào contras as drogas. Além dis­
conquistarem o amor. Além do medo, existe um anseio poderoso. so, ele c Htllary tinham tornado públicas certas "dificuldades" de seu casa­
A alegria das ocasiões especiais — o primeiro beijo, o pedido de casa­ mento — as quais, claro, eram uma linguagem em código para "nem sempre
mento. a festa dc casamento, os aniversários dc casamento— também ape­ fomos fiéis um ao outro". Na década de 1990, tomou-se lugar-comum nos
la para o sentimentalismo dc todos nós. O perfume Beautiful, de Estée Lau- talk shows de Donahue. Oprah c outros, entrevistar pessoas comuns e cele­
dcr. é comercializado por meio dc uma associação com o casamento. Uma bridades que desnudavam a alma, revclandc segredos que nunca teriam
noiva encantadora é abraçada pela pequenina dama dc hoira. Essa campa­ confessado antes Nosso discurso público é cada vez mais influenciado pe­
nha sc destina a conquistar o coração das mulheres que sonham com esse lo desejo do Amante dc conhecer os segredos das pessoas Ao mesmo tem­
dia especial c também o coração daquelas que o recordam po. o público passou a aceitar as vulnerabilidades individuais, tanto quanto
194 O HtRÓI e O fORA-DA-LEI________________ O Amante Í9S

sempre aceitou suas intimidades. Portanto, e um grande paradoxo o públi­ rnuns que fazem um strip-tease para mostrar carpos comuns. Embora esse
co cunhar mais em um polí ico que C aberto a respeito de seus defeitos do filme explore o tema do Cara Comum, ele também demonstra que a essên­
que no |h>Iiiko que alega ter "caráter" cia do Amante é um tipo de strip-tease. Eu me "dispo" gradualmente dc mi­
Desnudar .1 propiia alma parece scr hoje quase uma exigência para con­ nhas defesas, para permitir que alguém me conheça. Tiro as roupas para ir
quistai a conliança do publico, É ai que a propaganda contemporânea erra para a cama, e com isso revelo meu corpo que geralmente é imperfeito. Com
o alvo A mensagem superficial ao Prtncipc Encantado dc hoje í que nâo im- o passar do tempo, em um relacionamento, o verdadeiro "eu" vem â tona.
|Wla como seu verdadeiro cu está ligado as aparências, desde que ele tenha Hoje cm dia. a energia genuína do arquétipo do Amante gira em torno des­
o automóvel (a carruagem) certo. No entanto, homens c mulheres com inais sa vulnerabilidade que é compartilhada por homens e mulheres. Em vez de
de 16 anos nâo sc sentem assim Lm termos extremos, a assoe açâo dos car­ prometer o corpo perfeito e a persona perfeita. as anúncios poderiam pegar
ros com o romance, nos anúncios dirigidos aos homens, deixa a garota to- as pessoas onde elas vivem — como fez o filme Ou tudo ou nada — e fazer a
lalmcnte de fora É o carro, em si. que é o objeto do desejo. Um anúncio da
conexão com aquilo que elas realmcntc temem (rejeição), aquilo que dese­
Hyundai mostra uma hga dc cetim vermelho logo acima doauiomOvel.com
jam (amor incondicional) e aquilo que querem dar.
a legenda: "Compre algo táo quente assim para a garagem."
A State Farm Insurance também veiculou um anúncio cudo o carro
torno objcio do desejo mas çom int imação para certa complexidade No Sensualidade, alimento e indulgência
centro estâ a imagem dc um conversível vermelho com a legenda “Nós cs-
Além da ansiedade de saber se alguém nos amará, existe grande dose
Uvantos la quando vocé encontrou seu primeiro amor Um arnor quente E
tão. tào, táo perfeito Seu primeiro amor dc verdade Claro, queimava mais dc alcgiia nu arquétipo do Amante simplesmente porque Eros, em seu as­
oleo que gasolina Mas et. cara . o amor é cego." A verdade t que íreqúcn- pecto buscador do prazer, enriquece a vida. Há uma cena maravilhosa no fil­
icmcntc os carros sâo o primeiro amor dc um homem, e amar um carro que me TomJones: os futuros amantes fazem uma refeição lasciva, olhando-se no
queima óleo e um bom preparo para amar uma mulher, mesmo que ela lam­ fundos dos olhos. Uma sensação quase-sexual costuma estar presente nos
bem nâo seja perfeita. alimentos particularmente prazerosos. A Gevalia Kaííe mostra uma mulher
! lã inúmeras marcas que ajudam homens e mulheres a sc parecerem e que parece estar à beira do êxtase com o aroma do café. Os chocolates Go-
agirem como os heróis e heroinas de um filme romântico Tais anúncios sâo diva firmaram a conexào entre sexo e chocolate utilizando a imagem de La­
particular mente eficazes com os jovens, que ainda conservam 0 desejo de dy Godiva cavalgando nua. envolta nos longos cabelos esvoaçantes.
ser perfeitos e a esperança de encontrar o parceiro perfeito. Pcrém, o fato de Paul Richard. da equipe do jornal Washirgton Posl. falou-nos em uma
munas marcas apelarem para esses desejos indica que cias nào estão ofere­ entrevista por telefone de sua idéia de que as loalhas brancas, as flores e as
cendo qualquer diferenciação significativa. Ao mesmo tempo, esses anún- velas que encontramos em quase todos os boni restaurantes sâo invocações
«. tos tem o efeito dúbio dc fortalecer aspectos muito ncgativosdos papéis se­ inconscientes da energia da Deusa (o femininc), assim como as cortinas va­
xuais tradicionais (por exemplo, as mulheres sâo sempre lindíscos homens porosas e mesmo a capa do Super-homem; se os alienígenas viessem à Ter­
estão sempre no controle); sâo mensagens ofensivas para as qtais certos mo­
ra para estudar nossa civilização, ccrtamcntc concluiriam que os humanos
vimentos. tanto feministas quanto dirigidos por homens, tentaram sensibi­
sâo incaj>azes dc comer bem sem honrar a Deusa. Diz Richard que a Deusa
lizar o público Mas. acima de tudo, lais anúncios nâo alcançam o eleito má­
está em toda parte ã nossa volta, desde a mulher de vestido transparente que
ximo porque não parecem sulicientcmentc autênticos para que as pessoas
acaricia a capota do carro no anúncio, até a qualidade exuberante da luz e
ciimiins sc identifiquem com eles.
das formas em uma natureza-morta clássica.
I mbora .IS |>csso.is gostem dc olhar para a mulher bonita e o homem
perfeito, também c verdade que quase todos nós nos sentimos vulneráveis Para quem ama. Eros está sempre presente — manifesto ou potencial­

quando nos comparamos com < la ou ele Nem toda


* as mulheres têm visual mente. A Henncssy Cognac veicula um anúncio em que o casal apaixonado

dc tupinoJi l Nem todos os homens são maquinas dc desempenho totalmen- está prestes a trocar o grande b<-ijo — aquele momento maravilhosamentc
te no controle Um lilinc < 01110 Ou ludo ou nada desafiou as convenções de erótico dc antecipação. A legenda diz: "Se você jâ beijou, já conhece o sabor
Hollywood, usando atores pouco conhecidos e locações deprimentes, mas do conhaque Hennessy", assim associando a alegria do beijo com o consu­
*
ganhou o coração da plateia
* com sua corajosa celebração dc homens co- mo do produto da empresa.
____________ OAmonM 191
194 O MfROl E O FORADA-LEI

Hallmark Cards: Uma obra-prima do Amante


A Uncle Bens Rice Bowl ("Uncle Bens: Paixão pela boa comida.”) vei­
cula uma imagem do casal apaixonado. A mulher está alimentando o ho- No início, a Hallmark via os cartões com mensagens impressas corno
um produto que expressava idéias cuja articulação era difícil ou complica­
mrm. sugcstivamente inclinada sobre ele, e a legenda diz: “Refeições cheias
dc excitação, aquecimento quase automático." (Mas será que a gratificação da para o consumidor. Nowas observações sobre o comportamento dos
compradores habituais desses cartões ajudaram a Hallmark a fazer uma sin­
sensual do produto está à altura da promessa? E. afinal de cantas, será que
a Uncle Bens t uma marca capaz de prometer paixão?) toma fina em sua meta. Descobrimos que as pessoas procuravam os cartões
quando queriam expressar sentimentos muito específicos sobre um relacio­
O arquétipo do Amante também é apropriado para todo tipo de spa,
prometendo uma temporada de saúde, luxo e prazer. A C. D. Peacock posi­ namento — comunicar algo tâo pessoal e partirular do conhecimento mú­
ciona o relógio Concord. de ouro e diamantes, mostrando-o no pulso de tuo entre duas pessoas, que o cartão sc tornava im presente, o tipo mais pes­
uma bela mulher nua. deitada de bruços sobre um lençol branco, como se soal de presente Por exemplo, as pessoas gostaram de procurar cartões que
estivesse esperando a massagem. Essa imagem evoca mais a criatura mima­ demonstrassem seu conhecimento do destinatário — um cartão com um ga­
da do que o sexo. tinho, porque seu amigo gosta de gatos, ou um cartão com uma mensagem
Um anúncio da Caress Moisturizing Bath Products mostra uma mulher que revela algo genuíno sobre a mác, o pai, o irmào, a irmã, o marido, a mu­
envolta cm uma toalha, parecendo em êxtase absoluto, con esta legenda: lher. um filho ou um amigo. Encontrar o cartão apropriado é o mesmo que
"Você nunca foi acariciada assim antes." Esses anúncios evocam o potencial dizer: "Você é especial para mim. Eu observo como você é e as coisas que
erótico que está contido nas experiências de cuidados corporais. você gosta. O cartão que escolhi mostra que eu realmente conheço você." A
Evocando o slnp-tcate, a Absolut Vodka envolveu sua vodea sabor tan­ linha publicitária que resultou dessas observações, desenvolvida pela Young
gerina cm uma casca de laranja que vai sendo descascada paia revelar a gar­ & Rubicam, foi "Dê um pouco dc si mesmo. D( um cartão Hallmark".
rafa. O anúncio, dizendo 'Absolut Revealed". sugere implicitamente o des- A Hallmark percebeu que seus cartões precisavam ser histórias dc
pimcnto gradual dos amantes, até revelarem toda a nudez do corpo e das amor, c por isso começou a veicular anúncios dentro dessa linha. Alguns dos
emoções Os anúncios da Absolut sâo agradáveis porque exploram com su­ anúncios tratavam do amor romântico, mas muitos deles eram sobre outras
tileza um arquétipo cujo significado costuma se expressar dr maneira mui­ formas dc intimidade — amizade, amor entre pais e filhos, até mesmo rela­
to ostensiva e óbvia. Seus anúncios mais famosos c conhecicos — a garrafa ções de trabalho. Cada anúncio evocava uma história arquetípica. A moça
de vodea sc fundindo com a linha do horizonte urbano — refletem o ímpe­ está preocupada cm perder o namorado, porque ela quer morar em outra ci­
to dos Amantes para n união c seu amor pela beleza Há neles uma sensua- dade para estudar balé. Ele a encoraja a ir em frente. No momento em que
lid.kle que nâo é forçada nem chocante. a moça está muito vulnerável na sua nova c desafiadora atividade, recebe de­
O arquétipo do Amante lida com a paixão — não só na rossa vida amo­ le um cartão reafirmando seu amor por ela.
rosa. mas também no nosso trabalho. A Chrysler desenvolve esse tema com A garota, na aula de piano com um professor idoso, entrega a ele um
um anúncio que afirma: “Sem alma, existe apenas uma casca. Sem paixão, cartão dc aniversário. O professor luta para esconder a profunda emoção, mas
estes carros seriam apenas carros." O anúncio prossegue: "A paixão é uma ambos choram e um doce sorriso aparece quando a garota começa a tocar.
emoção fortíssima. Ela nos faz viver, respirar e pôr nosso conçào nas coisas Em um belo cartão de Natal, o pai preocupado continua ignorando sua
que realmente nos importam. Para a Chrysler, é uma questão de criar car­ encantadora filhmha enquanto luta para enfeitar a árvore, deixando tudo
ros extraordinários. Carros gerados por desenho avançado e nascidos em "perfeito" para a festa. Aí ele ouve a garotínha conversando com Papai Noel:
uma engenharia inovadora.” a menina diz que. em vez dos tradicionais presentes de Natal, ela quer pas­
O ponto interessante nesse anúncio é a percepção dc qur o Amante en­ sar mais tempo com o pai Esse homem sempre foi um excelente Prestativo,
volve nossa alma, dc modo que a paixão possa inspirar nossa vida. Joscph fazendo tudo pela filha. Mas o que a filha quer éa intimidade verdadeira__
Campbell ajiclau para o Amante que existe dentro de todos nós, convidan­ amor. E então o pai leva a garotinha para a sala, diante da lareira, e começa
do cada um de seus leitores a "seguir a própria bem-aventurança ”. Hoje em a lhe contar uma história que seu pióprio pai lhe contava. As prioridades
dia, todos os livros de auto-ajuda e desenvolvimento profissional orientam são restauradas; a tradição oral é preservada. Nesse anúncio, nâo há nada “â
as pessoas a seguirem o próprio propósito pessoal, reconhecendo aquilo venda” — apenas a mensagem da 1 lallmark: “No Natal, dê o maior dc lodos
que elas gostam de fazer. os presentes-você mesmo.”
198 O HERÓI E O EORA-OA-IEI O Amante 199

liwcs c omerclais nâo apenas atraem a atenção. Eles funcionam poiqtie nâo vâo lá muno bem, as lutas subterrâneas pelo podei c a» panelmhac ocul­
as historias reforçam coerentcmcnte a identidade Amante da Ifalhnark. de tas impedem a marcha da organização. Com o passar do tempo, a atividade
um modo que esta relacionado com os verdadeiros sentimentos dos consu­ nâo declarada da organização torna-se apenas uma troca de palavras sobre
midores As historias sâo arquenpicas. mas nâo estereotipadas Mas ligam o as questões emocionais que vem â tona periodicamente.
ai<|tiCii|»o a situações que lodos nós conhec emos, mas que n;x» sâo simples­ A Barilla é um exemplo maravilhoso de empresa do Amante. Enquan­
mente previsíveis. to a maioria das massas t comercializada como alimento de conveniência,
Esse significado do Amante também c reforçado pelo visual das lojas evocando a nutrição oferecida pelo Prestativo, os prestigiosos macarrões Ba-
rifla tõm a coerência do Amante em sua evccaçâo do prazer das iguarias fi­
varejistas da empresa Em 199». a llallmark abriu mais dc 80 novas lojas,
jx rmiiiiido que o tema do Amante dirigisse a experiência de fazer compras, nas e da conexão realmente íntima. Os consumidores das massas Barilla sâo

hem como os cartões cos comerciais. As novas lojas oferecem arcas tranqui­ mostrados como verdadeiros gourmands, que desfrutam o macarrão como
uma experiência sensorial Há alguns anos, por exemplo, a Barilla veiculou
las para a clientela examinar os cartões, mesas c cadeiras para escrever, es­
um comercial, desenvolvido pela Young 6r Rubicam, que mostrava um ho­
tojos de lapis para a garotada e cafil para os adultos. Esse enriquecimento da
mem elegante c bem-sucedido voltando psra casa de uma longa viagem e
experiência dc lazer compras resultou em aumentos fantásticos do volume
encontrando uma festa em andamento. Ele localiza sua bela mulher do ou­
dc vendas da llallmark.'
tro lado da sala, troca um olhar com ela e faz sinal, com as máos. de que quer
um prato de espaguete Fica claramente implícito que seu principal desejo
A organização do Amante é o espaguete e ficar sozinho com a mulher, em vez de se reunir aos amigos
glamourosos Na Barilla. como em muitas «uras empresas familiares, o tra­
O arquétipo do Amante nas organizações resulta cm camaradagem, be­ balho contém uma qualidade íntima, pelo menos no topo. Belas obras de ar­
los ambientes c atenção a dimensão emrx tonal da vida profissional. Espera-se te nas paredes. Artistas famosos envolvidos no desenho das embalagens. A
qiic as pessoas se vistam bem (nâo jxir questões dc Mritus. mas para se ernhe- sede na região rural da Itália. Nâo é por aczso que esta empresa do arquéti­
IczarcinJ c compartilhem livremente seus sem miemos e seus pensamentos. po do Amante esteja sediada na Itália — q«e talvez seja (depois da França)
I >in senso dc coesão vem da percepção dc scr esprci.il — dc scr uma pessoa a capital Amante do mundo.
fa la, que aprecia as coisas mais Imas da vida, competente na comunicação e A lamíba Barilla vive aquilo que seus anúncios mostram. A família in­
encanto soc ial. e. em muitos casos, um exemplo dc
* bom goste ou um pionei­ corpora o gosto de viver e a capacidade dc viver com beleza A marca que
ro de valores novos que estâo surgindo I*. típico que os empregados gostem captura essa qualidade quase transcendente na vida sensorial cotidiana é ir­
rcalmente uns dos outros ç sc sintam apaixonados pelos valores, pela visào e resistível para o consumidor que sente que seu corpo é um táxi transportan­
pelos produtos da organização. do sua mente. O sabor, o toque e o aroma se relacionam com a capacidade
Asorgarnzaçoi sdo Aiminic gostam de operar dc modo consensual.com­ do Amante de saborear sensorialmente a vida.
partilhando o poder < > ternjio é despendido livremrmc no processo de toma­ O Amante é o princípio formador de multas práticas de terapia e con­
das dr <lcc isâ<> e. cm rsp»<i.d, garantindo que Kxlos tenham direito â palavra; sulta cujo sucesso depende da capacidade dc ajudar as pessoas a se sentirem
mas o trinjxi é recujii rado na fase dc implementação Quando sc alcança o seguras a ponto dc se permitirem a vulnerabilidade; de aptidões soberbas na
consenso, todos agem umíonnrmcnic
* para implementar o nevo plano. comunicação; e de uma relação estreita e confiável com o cliente. Mesmo
Na Hewlett-Paihard. todas as decisões da equipe executiva precisam em empresas cujos valores básicos surgem de alguma outra perspectiva ar­
scr tomadas por consenso I m muitas divisões e escritórios de várias em­ quetípica. é possível que o arquétipo do Amante seja solicitado em épocas
presas. a tomada de decisão envolve todo o grupo, r todos compartilham de lápida mudança ou quando as pessoas têm medo. Nesses momentos, for­
seus sentimriitos r m tis jionlos dr vista Quando as coisas vâu bem. a atmos­ mar equipes nâo tem muito a ver com ajudar as pessoas a alcançarem me­
fera rcjirri uie rm rgi.i jxisiiiva. entusiasmo c prazer Mas quando as coisas lhor desempenho de seus papéis (como ocorre com o time atlético vitorio­
so); formar equipes tem a ver. isso sim, com fazer as pessoas se conhecerem
suhcicniemenle bem a ponto de desenvolverem confiança genuína. Essas
2 IItiimIII Sflinini I Mailohny to <-lt ( uMooifr t /.» 5/WV. / rd. Ihink. Atl.
intervenções organizacionais ajudam diferentes populações a ultrapassar as
ui'i fiMtr to t<nu < o/»i»tu> /Nova Y.xk llii í rrr IVW). |>|> 221 222
200 O HERÓI E O FORA-OA-LEI QAnuno 201

diferenças supcilkiais. a fim dc sc relacionarem com a realidade mais ínti­ mo o simples íaio dc conhecer os problemas do outro poderá alicerçar o re­
ma de outro scr humano complexo, com sonhos c aspirações semelhantes lacionamento. assim como as vulnerabilidades compartilhadas gcralmentc
aos nossos Em termos de aiquétipos. as intervenções estâo relacionadas a aprofundam as relações pessoais. Para os Amantes, você nâo precisa ser per­
íilincs clássicos como Dniy Dancinfr Ritmo quente ou Adivinhe quem vem pa­ feito. mas você precisa ser real e aberto
ra Juntar, nos quais o amor triunfa sobre as divisões dc classe social ou de Enquanto o Cara Conum quer produtos que o ajudem a sc encaixar no
raça. No caso máximo, o arquétipo do Amante se expande parí o amor es­ grupo (porque esses produtos sâo tdénticos aos que os outros estâo compran­
piritual. conforme incorporado por Cristo c outros exemplos dc amor espi­ do ou vestindo), os Amanies preferem produtos que sejam únicos, incomuns
ritual por toda a humanidade. uu feitos sob medida cspecialmente para eles. O especialista cm marketing
Kcith MeNamara alega que "a segmentação, do modo historicamente condu­
zido pelos profissionais de marketing, está morta. O futuro da segmentação
O marketing para os Amantes está nos dados já coletados nos sistemas de computadores das organizações.
(X dados históricos sobre quem cumpra produtos individuais é a chave para
O Amante quer um tipo mais profundo de conexão: que seja íntima,
criar modelos que prevejim o comportamento futuro. Hoje e possível ade­
genuína c pessoal (c. às vezes, também sensual). Tais formas dc conexão —
quar o marketing ao histórico de compras individual dos consumidores."’
seja com amantes, amigos ou membros da família — exigem muito mais co­
O Amante também «pera qualidade; nâo por questões de status. como
nhecimento. honestidade. vulnerabilidade c paixão do que a ligação mais
o Governante, mas para aumentar o prazer de viver Uma marca do Aman­
(tia do Caia Comum. Claro, os Amantes sâo mais profundos, mais especiais,
te como a Jaguar é lisonjeira, bei», curvilinea « suntuosa — nâo tanto para
mais raros.
impressionar os outros, nas para envolver o motorista na experiência pura-
Os Amantes geralmcntc identificam os produtos com certos relaciona­
mente sensual de dirigir.
mentos. Uma mulher, depois de terminar o namoro, declarou que nunca
mais conseguiria beber Harveys Bristol Cream: era a "nossa bebida". Outra O Amante é um
* identidade promissora para uma marca:
sempre bebe Dict Cokc porque era o que todos faziam no melhor emprego
• cujo uso *|ud as pessoas a mcootrv amor ou amizade
que ela já teve na vida. Os Amantes também desenvolvem relacionamentos
• cuja função pro<no»e a betea. * comunicação ou a mtímidade enur as pessoas, ou está
com produtos e empresas — espec ialmente aqueles que os ajudam a se sen­ associada * sexualidade ou ao romance •
tirem especiais c amados. Na cadeia dc hotéis Fairmont, um genuíno esta­ • com preços que vio de moierados a altos
belecimento do Amante, o serviço dc quarto atende ao telefone e chama vo­ • que seja produzia ou vmdda por umi empresa com *um cuicura orprúraconal íntima
cê pelo nome, demonstrando conhecer seus pedidos anteriores, suas • degante.ao contrário da *-ierarqui maciça do Governante
• que pree se se d4wencar.de modo poutivo. das *marca com p.eços *m
,r baixos
preferências c aversões. O hõsjicde talvez perceba que o serviço dc quarto
consegue fazer isso porque todos esses dados aparecem cm seus computa­
dores. O hóspede também sabe que os funcionários do hotel dizem essas O ideal, portanto, é que as marcas do Amante sejam nâo só dignas dc
coisas porque foram (reinados para agir assim. De todo modo, funciona A amor, mas também ajudtm o consumidor a sc sentir especial, adorado c apai­
maioria das jiessoas— c cspecialmente aquelas que dào valor a pertença — xonado Porém, sc a atenção do consumidor murchar, ele (ou ela) cantará
sente-se especial. Ixm-tralada c protegida cm um mundo que gcralmentc ‘Você nâo me traz mais Rores
* c procurará um concorrente mais atento.
parece frio c impessoal. As pessoas em quem o arquétipo do Amante é do­
minante formam o grupo que mais se sente atraído para a administração e
marketing dos relacionamentos. Os consumidores com um arquétipo do
Amante allamente desenvolvido gostam de receber atenção individualizada.
Apreciam a correspondência "para nossos clientes especiais" anunciando
uma promoção que ainda nâo foi divulgada aos outros clientes Gostam dc
um Ixilconista que os conhece pelo nome c pergunta pelos seus filhos. Gos­
*
J Documento sniernod IU. 1998. ciudo por üxsid Lcm»e Daircn tmdger cm lhe Soul
tam de ouvir as (oloças cobre a empresa c o que está acontecendo nela Mes­ thr New Consumer (Londres. Nkbolas Brratey PuMishing. 2000}. p. 7 J
CAPÍTULO

O Bobo da Corte
Lema: “Se eu não puder dançar, nâo quero
tomar porte na suo revolução”

O ARQUÉTIPO DO Bobo da Corte inçjui o palhaçQ^o midandroí. icxlosaque­


les que adoram brincar ou “bancar abobo’. Âígans exemplos: as criaíiças pe­
quenas, com sua espontaneidade e espírito brincalhão; os bufões das pecas
dc Shakespeare; o mascate ianque da história e 4a literatura dos Estados Uni­
dos; a figura do Coiote nas lendas dos índios da América do Norte; os humo­
ristas (pense em Charlie Chaplin, Mae West, os irmãos Marx, Lily Tomlin,
Steve Martin ou Jay Leno) e muitos comedianus da televisão e do cinema.
Embora seja possível uma pessoa se divertir sozinha, o Bobo da Cone
nos pede para sair e brincar uns com os outros. A figura do Bobo da Corte
O Bobo da Corta TOS
204 O HERÓI t O FOflA OA t.fl

desfruta a vida c a interação pelo simples prazer de viver e interagir. Prefe­ As regras são feitas para ser quebradas
rindo $er a “alma da festa", o Dobo da Corte tem como hábítat nativo o par­ QBúbo da Corte c o arquét.po ma^út.l para se lidar com os absurdos
que dc diversões, o barzinho das vizinhanças, o salão de festas e qualquer do mu«do moderno e com as burocracias anônimas e amorfas de: J.
lugar onde as pessoas possam se divertir Enquanto o Cara Comum e o parte parque ele vé todas as coisas com .eveza e em parte porque u m o
Amante exercem a auioccnsur.i para se encaixarem ou atraírem os outros, o WicktócV queixar « regras Os políticos lUx» da Corte sâo «senOalmen
Itoliu tia Coltc sc solta irrcstiiiamcnic, demonstrando uma lc inquebrantá­
te anarquistas, conforme exemplificado pela
vel no faio de que uma pessoa pode scr realmcntc cia mesma c ainda assim O Bobo da Corta também é
famosa anarquista Emma Goldman, que dis­
scr aceita c mesmo adorada pelos outros. cooMcWo como o «oto. o bobo,
se: “Se cu nâo puder dançar, nâo quero fazer o malandro. O troclcta. o bkfut
*.
Talvez por vivermos cm uma cultura tào síria, o Bobo da Corte tende
parte da sua revolução." A disposição do Bo­ o ooca-KhJsu. o animador, o
a scr uma lx>a identificação dc marca, porque quase todos nós temos sede
bo da Corte dc quebrar as regras leva a idéias palhaço, o travesro. o troteador^
dc mais diversão. Pense no sucesso das campanhas publicitárias do leite,
inovadoras, fora dos padrões convencionais. ou o comcdanto. ■ ,;v ? :V
com pessoas famosas ostentando grandes bigodes leitosos. Sc essas campa­
Ele também constitui uma boa identidade dc
nhas Tossem estereotipadas, o lene seria promovido como um alimento que
marca para coisas (como alimentos diverti-
laz bem para a saúde. Em vez disso, as grandes campanhas reconhecem que
dos) que nâo necessariamente fazem bem â saúde. Basicamente, a identilica-
o leite C capaz dc conectar qualquer um dc nôs com a nossa criança inieriur,
çâo civn o Bobo da Corte diz: “Nâo sc preocupe tanto com saúde e nutrição.
que ama as brincadeiras c travessuras.
D.v.ria-se ‘ Doces (M&M. Snukcrs). petiscos (Pringles). cigarros (Ment:
Embora todos os anúncios do tipo ‘Be­ “Anime.se com Merii”) e bebidas alcoólicas (Parrot Bay, Kahlua: "Vale tu­
ba Leite" sejam excelentes, os melhores den­
O Bobo da Corte do") prometem miniférias juntamente com o relaxamento das regras comuns
tre eles mostram biscoitos, e nâo leite, permi­
Desejo biiko: wwr no dc saúde.
tindo que o observador veja os biscoitos e
iromento prevente. com »legrt> Os telefones celulares da NeoPomt mostram uma imagem de Bobo da
inevitavelmente deseje leite para acompa­
total Cone, aconselhando vocé a usar “o fone-esperto para aumentar seu Ql" e
MeU: dvtrtlr.se e aJejrar o nhá-los Você nâo consegue ver um anúncio
‘recuperar as células cinzentas que vocé perdeu na escola". Assim, as mar­
nvirvtfo desses sem que desativem aquela criança in­
cas d» Bobo da Corte ajudam vocé a evitar as consequências lógicas do com-
Medo: iborrccer^c <xi «er terior que nâo se associa ao café com biscoi­
portamenio irresponsável, doentio ou mesmo ilegal Você talvez sc lembre
nu (ante tos. mesmo sendo caíé da melhor qualidade.
Estratégia: brincar. Fazer do maior anúncio da Alka-Scltzer de todos os tempos: ‘Mamma mia, que al­
A criança quer leite.
podas, ser tograçado môndega mais apimentada!" Esse humor que ri dc si mesmo afirma aos con­
Os anúncios dpBobo da Cone nos fa­
Armadilha: desperdiçar a sumidores que eles podem comer alimentos apimentados impunemente.
própria vida zem rir de situações que normalmente nâo
□ Boho da Corte também promete que atividades que normalmente se.-_-
Dom: alegria nos divertiríam, mas nos entristeceriam, (co­
riam vistas como tediosas ou aborrecidas podem^cr divertidas. O trator Ku-
mo a cômica escorregada numa casca dc ba­
bota, por exemplo, diz: "Os fins justificam o trator. O cheiro da grama re-
nana). Um anúncio do tipo “Beba Leite", par-
céin-aparada. O tranquilo zumbido da precisão. A capacidade dc ver mais
tk tilarnicnic vívido, mostrava um homem com o corpo tudinho engessado.
do que você imaginava. A crença dc que, sc você curtir, nâo é realmcntc tra­
Os amigos tentavam alegrâ-lo. dando-lhe biscoitos. Seu estado — o homem
balho." Talvez tenhamos ai um "trator objeto", porque John Deere compa­
nâo consegue falar para pedir leite — faz os observadores se identificarem
ra a «xperiéneia de dirigir o trator com seu “primeiro passeio em um pônei",
com sua frustração c. esseiicialmentc. torcerem para que alguém lhe dê lei­
prometendo que "você vai querer que o primeiro passeio nunca acabe".
te. Um anúncio tâo brilhante envolve o consumtdor na solução do proble­
A reviravolta verbal que transforma uma premissa negativa em positi­
ma, sentindo empatia pela situação de desejar o produto que estâ sendo ven­
va c uma das grandes estratégias do Bolx> da Corte. Tridciu, a goma dc mas­
dido c nâo çiHisc
*gtitr obtê-lo.
car sem açúcar pura crianças, vira do avesso a expectativa da garotada dc que
o chiclete faz mal para os dentes. Um anúncio, mostrando um menino bo­
nito meio oculto pela bola que acabou de soprar, diz: ‘Ele mascou, soprou
e ío-ialcceu seus dentes." Também a ABC. que durante muitos anos veicu-
20» O H ta OI to ro»A DA-LEI O BobO Coro W/

lou iiiiu campanha publicitaria calcada na linha 'IV ê bom‘.ddende irre- Embora a Pepsi lenha às vezes se desviada para outros territórios ar-
vcrcntcmcnte o habito crônico dc assistir televisão e faz piadas com a alega­ quettpicos. seus melhores anúncios sâo sempre os do Bobo da Corte.
ção dc que assistir iclcvisài» provoca a desintegração das células do cérebro.
I ssa “campanha amarela-, como é conhecida na industria, íoi observada e
disc ulula, mas permanece a questão dc saber sc algo, na programação da rr- Estar aqui e agora
dc ou na cultura da empresa, reflete uma identidade Bobo da Corte, e sc uma
O arquétipo do Bobo da Corte nos ajuda a viver realmente a vida no
inteligente ideia puhlicitâria. que teria sido a expressão natural dc uma re­
presente c nos ]x-imue scr impulsivos e espontâneos. Por exemplo, a Hamp-
de Bobo da Corte, simplesmente acabou no lugar eirado
ton Inn anuncia seu serviço de café da manhã gratuito com perguntas des­
As empresas, quando expandem seus serviços ou adquirem outras or-
tinadas a atrair aquele espírito livre que existe dentro de cada um dc nós:
gjnizaçôçs. devem ter a sabedoria dc permanecer dentro da nestna identi­ ‘Você ainda procura o prêmio na caixa de cereais? Você alguma vez já fal­
dade de marca arquetípica. A Caincl agiu muito bem, expandindo-sc dos ci­
tou ao trabalho por pura preguiça? A sua primeira reunião parece mais lon­
garros paia aquilo que loi descrito cm um anuncio corno “viagens exóticas"
ga quando você estâ de barriga vazia?"
c "Ikiis prazerosos". Contudo, enquanto o Bobo da Corte quer que todos
Quando o arquétipo do Bobo da Corte está ativo em uma pessoa, ela
nos vejamos a vida com leveza, tenhamos diversão c paremos de nos preo­
quer apenas se divertir. O desejo básico, aqui, é ser espontâneo e recuperar
cupar com as consequências, isso não quer dizer que o público irá sempre
aquele espírito brincalhão que todos nós tínhamos quando éramos peque­
comprar essa idéia Por exemplo, o uso da imagem caricatural dc Joe Carnel
nos. A gargalhada, os gracejos e mesmo as travessuras, tudo parece apropria­
(que as pessoas receavam fosse tornar o cigarro atraente pari as crianças)
do Nesse estado de ânimo, as pessoas demasiado sérias ou responsáveis pa­
loi demasiadamente grave para que a marca, mesmo com sua i Jenudade Bo­
recem excessivamente preocupadas. Na verdade, o maior medo do Bobo da
bo da Corte, conseguisse impedir a Ira do público.
Corte é o dc sc aborrecer ou aborrecer os outros. Além disso, o Bobo da Cor­
O Bolxi da Corte detesta os cstraga-prazcrcs. as pessoas serias demais e
te promete que a vida pode ser fácil. A identidade de maica geral da Tímex
aquelas que nào têm senso dc humor Um aspecto negativo do Bobo da Cor­
parece ser mais a do Cara Comum, mas um anúncio mostra um contorcio­
te. portanto, C a tendência de «cinprc brincar com a vida, sem nunca lidar com
nista com as pernas cruzadas atrás da cabeça, assobiando enquanto dá cor­
certas questões nem refletir sobre certas idéia». Quando o arquétipo do Bobo
da no relógio de pulso. A legenda é: ‘Absurdamente fácil de usar."
d.i < .01 te é a identidade dc uma marca, recomenda-se a orientação dos pais.
O Bobo da Corte habita o espaço igualitário onde homens c mulheres
se juntam e sâo apenas eles mesmos. Tal como ocorre com o Cara Comum,
Pepsi: Unia marca do Bobo da Corte o estilo é moderado e prático. Mas o Bobo da Cone nào tem o menor inte­
resse em sc restringir a isso. Em vez dç_se fundir ao grujx>uo Bobo da_Çor-
O Bolh» da Corte, enquanto inlr.itor das regras, tem uma história longa
tc prefere parecer um pouquinho, rid.ígulp. A roupa multicolorida c os gui­
e honrosa Os reis medievais geralmente tinham um “bobo” que nâo só di­
zos do bufão shakcspeariano foram substituídos por suspensórios,
vertia a corte, mas também dizia ao rei certas verdades que outros seriam exe­
gravatas-borboleta c. mais recentemente. bonís de beisebol usados ao con­
cutados por dizer O Bobo da One. portanto, agra como uma rcpécfe dc vál­
trário. A mensagem geral é: "Você vai querer sair comigo. Vai se divertir mui­
vula dc escape para o reino Nus diasdc ho|C. comediantes COIUO Wíll Rogcrs,
to." Perue nos comerciais da cerveja Miller Lite (Dick Butkus e Bubba Smith
Johnny Carson c Jay Leno debocham abertamente dos lideres políticos, no
aparecem dizendo: ‘Estamos aqui bebendo Lite porque ela estula menos e
mesmo espirito com que os bufões de Shakespeare parodiavam o rei. Todo o
tem sabor ótimo. Além disso, a gente nào sabe esquiar"). Os acessórios es­
gênero da sátira política expressa o impulso do Bobo da Corte. Este arquéti­
portivos da Tcva mostram um homem cm um caiaque na porta da frente dc
po também é unia boa escolha para a marca que sc posiciona conira outra
sua casa, dizendo: “Saiam e se divirtam." O texto de um dos anúncios pros­
marca mais estabelecida. O Bolxi da Corte clássico (no conceito medieval)
segue. ‘Oniem tivemos uma guerra de água no quintal. Hoje é o nosso pri­
estava encarregado dc deboeliar das rachaduras na pomposida.lc do rei. Por­
meiro dia dc ‘a beira do desastre
.
* Seja qual for o seu Jogo, jogue com sandá­
tanto. qualquer marca que esteja desafiando outra marca que reina suprema
no mercado poderá ganhar uma vantagem competitiva sc debochar da pre­ lias Tcva. Elas fazem os seus pês sc sentirem crianças dc novo."

sunção da marca estabelecida — como a Pepsi conseguiu faze’ com a Coca.


O Bobo di Cort« 209
208 O HERÓI I O FORA-DA-LEI

halli.ir. As paredes sâo pintadas com murais inspirados cm sorvetes, algu­


Quanto mais doido melhor
mas flores sc movem e saltam, o |>essoal ganha vales-sorvete. Em certa épo­
O arquciipo do Bobo da Corte costuma scr bom para atrair a atenção ca. a empresa chegou a realizar um concurso dc ensaios para ^colher seu
porque o Bobo da Corte gosta de ser um "doido". A e four.com, por exem­ novo presidente. Noutra época, teve um "ministro da alegria” oficial- A Bcn
plo, veiculou um anúncio com um executivo no escritório, vestindo um cal­ &■ Jcrry's lambem se protege contra a associação do Bobo da Corte com a ir­
ção Olympic,- na posição dc mergulho, olhando para o laptop sobre a escri­ responsabilidade. por meio dc seu programa de responsabilidade social,
vaninha. A legenda dizia: “Agora as coisas que você aprecia o encontraram.' doando uma porcentagem dos lucros a causas apoiadas por grande parte do
O Bobo da Corte parece ser uma excelente identidade arqueifpica para as
publico
cmpicsas higli-tcch, porque muita gente, e espccialmente os jovens. acham
divertidos os produtos dc alta tecnologia A eTour.com também promete:
"Náo fazemos pesquisas, so surfamos." F. surfar é divertido. Os anúncios da
Pocket PC mostram rapazes c moças enérgicos c ousados que jovialmcnte
desafiam o leitor: "O seu |xilm-tup consegue lazer isto?" As cores vivas c o
ponto dc exclamação da Yahoo! praticamcntc gritam que é divertido nave­
gar na internet sc você usar o serviço deles
Assim como as crianças adoram os animais, os anúncios do Bobo da
Corte usam frequentemente imagens amistosas dc animais. A Hyundai (slo-
gau: “Dirigir c acreditar") posiciona o Hyundai F.lantra como o melhor ami­ Quando o mar está bom. a fábrica califomiana Patagônia fecha para seu
go do homem, dizendo que ele “faz tudo, menos lamber o seu rosto *
. A
pessoal ir a praia. A expectativa não-exrita ncw« tipo dc empresa t que os
Glad. fabricante de embalagens para armazenamento wm zlper duplo, mos­ empregados são motivados pelo desejo de se divertirem. É Improvável que
tra um peixinho dourado caricato, feliz da vida porque o fechamento é her­
um indivíduo pomposo ou maçante, sem qualquer senso de humor, chegue
mético e náo deixa a água vazar.
a progredir nessas empresas E. claro, os produtos oferecidos pela empresa
A WctldingChanncl.com brinca gentilmenie cornos recém-casados, ela
ajudam as pessoas a se divertir.
dc vestido dc noiva c ele de smoking, numa casa totalmente vazia, bebendo
A sede da Burgcr King em Miami tem um espaço dc recreação integra­
vinho cm copos de papel c trocando olhares tímidos Diz a legenda: "Idéia
do ao espaço de trabalho, incluindo uma mesa de sinuca, hóquei sobre pa­
de presente: Copos para vinho", mas está claro que aquele casal usaria qual­
tins, uma pista de skatc c uma quadra de basquete (em construção). Sabe-
quer coisa que você lhes desse!
se que os empregados jogam Jrisbees ao passarem por colegas que estão
l inalincnie. muitas marcas conseguem ser vistas como mais contem­
trabalhando duro; beliches e chuveiros oferecem a infra-estrutura para
porâneas e engiaçadas quando se associam a algum comediante ou figura de
desenho animado. A IBM superou sua imagem excessivamente enfadonha
aqueles que gostam dc permanecer no .ocal 24 horas por dia. alternando tra­
usando um dos personagens de Charlic Chaplin nos anúncios do Junior PC. balho c lazer.'
A seguradora Metl.de usou os personagens de Pcanuts (Minduiml para sua­ O Bobo da Corte ajuda a promover a inovação nas organizações (qual­
vizar sua imagem c sugerir um lado divertido em uma categoria que pode quer que seja o arquétipo básico delas), quebrando as categorias tradicio­
scr meio inquíetanie. E a Butterfinger. fabricante de doces, conseguiu atua­ nais de pensamento. Por exemplo, Carol Pearson dividiu em grupos de
lizar sua imagem com comerciais que apresentavam Fort Simpson.1 brolnstorm, por arquétipo, a equipe de um grande hospital do câncer, a fim
de gerar idéias sobre as possibilidades de melhorar a experiência dos pacien­
tes hospitalizados Todos os grupos giraram boas idéias, mas a melhor de­
A organização do Bobo da Corte las veio do grupo identificado com o arquétipo do Bobo da Corte: os pacien­
A organização do Boi» da Corte faz do prazer a sua “bottom line" A tes de câncer devem curtir a vida! Em vez dc desperdiçar as tardes nas saias
Bcn & Jcrrys, por exemplo, se orgulha de ser um lugar onde c gostoso tra-

2 Rol( Jensen. The Drcdm Soeiety Howlht Corning SM/t/rom Injònnotion to Jmogmoiíon Will
I Djvul A Aakcr. Ikiiti/mg Sr»«»«»K (Nova York: The Frec Prew. 1996). pp 150-151. Tiamjorm Your ButíncM (Nova York: McGraw-Hlll. 1999). p. 118.
IIP O HERÓI t O FORA-0A-ie« O Bobo d* Cort» 211

de espera quando os medico


* cstâo atrasados com as consultas, cada pacten­ fazem todos rirem. O marketing do Bobo da Corte sabe que abrir mâo de
te rcvcbcrta um hip ou celular c iria tranquilamente passear no shopping certas coisas geralmente aumenta a reputação de uma empresa. A Kinetix,
ccnter ou. acrescentou o grupo de Bobos da Corte, assistir a um bom filme uma empresa multimídia de San Francisco, desenvolveu o Dancing Baby’“
cci.d
no cinema cs|
* jsu.i os pacientes (o cinema lanhem toi uma ideia do como pane do pacote dc demonstração, antes que a empresa estivesse real-
grupo)! Paia o Bobo da Cone, nenhum resultado — mesmo a salvação dc mente estabelecida. De algum modo, u imagem do produto foi enviada em
sua vida — deveria implicar o sacrifício da alegria ao aqui c agora um e-mail. que passou dc pessoa a pessoa até se tornar um cultuado feone
clandestino. Por fim, apareceu no seriado Ally McBeal e a empresa estava
lançada.
* Se a Kinctix tivesse conseguido controlar o uso daquela imagem
O marketing para o Bobo da Corte registrada, teria arruinado seu próprio sucesso.
O Bobo da Corte que existe em cada um dc nos adora o bom humor.
O Bobo da Corte 4 um arquétipo promtwoe para oferacer Identidade ií marcai:
Cosíamos dos comerciais engraçados porque eles nos entretêm, c a sensa­
• cujo ajuda ai peisoai a pertencerem.oj wntírtm que *pcrt«r»c
m.a um jrupo
ção agradável daí resultante cria um clcilo-halo cin torno do produto. Os
• cuja ftjnçlo ajuda *» peiiou a se divírBrer»
anúncios c as embalagens do Bobo da Corte enfatizam cores vivas e muita * <om preços de moderados a *baixo " -!
acào — quanto mais “doido" melhor. O Bobo da Corte também adora viver. • produzidas Vou v«nd>das por txna empresa que tem *um cultura orpnlzadonal brino-
Por isso, as experiências virtuais sâo excelentes caminhos publicitários pa­ »>ona e desinibida
ra se atingir o Bobo da Corte. O website do Club Mcd. por exemplo, tem • que precisam se diferenciar de a^um» mana esabe^dda que tenha presunção • «xce»-’
to de autocoi/iança
fniJis «um atdctas virtuais para simular as experiências que você ali CSjwra
encontrar. Você começa selecionando como quer passar o tempo, quase co­
mo sc estivesse lâ de verdade. Quer jogar tênis? Mergulhar com snorkel?
Acima de tudo, o Bobo da Corte simplesmente ama a alegria do mar­
Dançar? A simples seleção póc sua imaginação em marcha e logo você estâ keting. Este arquétipo nâo se assusta ao perceber que estamos cm uma no­
curtindo ferias virtuais— na sua imaginação. O Manei Explorcr do Disco- va era. Em vez disso, ele nos ajuda a desfrutar realmcnte o enfrentamento
very Channcl também oferece viagens virtuais pa-a lugares exóticos.' de uma nova situação a cada dia. Ntsse processo, o Bobo da Corte ajuda a
Acima dc tudo, o Bobo da Corte nos ajuda a escapar das idéias peque­ manter a publicidade suíicicntemente renovada para poder focalizar a aten­
nas c mesquinhas que nos prendem como uma aimadilha. O Bobo da Cor­ ção dos consumidores, de modo que os olhos deles nâo fiquem embaçados
te sc sobressai nas sessões dc brninstoim. O aspecto mais importante do mar­ — pelo menos nâo quando eles olham para o seu anüncio.
keting para o Bobo da Corte é a inteligência. O Bobo da Corte que existe em
cada um de nós adora as maneiras novas, ousadas e inteligentes de ver o
mundo. O melhor modo dc desenvolver essas estratégias de marketing é dar
leveza â sua equipe dc marketing. Deixe a equipesc divertir, traga brinque­
dos. apareça com todas as ideias malucas que você puder encontrar — nâo
imporia quâo bizarras elas pareçam ser — para lubrificar as rodas da criati­
vidade. Quanto mais livre for sua equipe, melhores scrâo suas novas idéias.
0 BoIm> da Corte adora ficar dc cabeça para haix». vendo o mundo de uma
maneira inesperada e imprevisível.
O Bobo da Corte nâo possui um forte senso do "proprietário”, como
outros arquétipos. Sc voce pensar no assunto, perceberá que raramente se
sabe quem inventou esta ou aquela piada. As piadas voam pelo inundo, por
meio da tradição oral ou via internet, em qucstââ dc dias ou dc minutos, e
4. AgnKs:k.i M Wmklcr. Wiqi Sjurd Dronling. 7kr o/ rrrhnctngy <m Maikrtinjt (No­
) llcimlli Scliimu. C«prnmrnrul Mnilvriirg (Nova York lhe t rcc fress, 1999). p. 92 va York: John Witey and Som, 1999). p. 61.
PARTE

Os que dão estrutura ao mundo


Prestativo, Criador, Governante

INos itMPOS MEDIEVAIS, construíam-sc muros em temo das cidades e cava­


vam-se fossos ao redor dos castelos, numa tentativa de manter a ordem e pro­
teger-se contra as pilhagens dos vikings. visigodos e vândalos. Mais tarde, os
primeiros colonos que chegaram â America do Norie desobstruíam o terre­
no em volta de suas cabanas, para perceberem mais facilmente a aproxima­
ção dc animais ou índios invasores. Hoje cm dia, as ameaças ao nosso bem-
estar sâo menos imediatas e dramáticas, mas ainda preparamos gramados e
construímos cercas para expressar o mesmo desejo dc ordem e segurança.
O antropólogo Angeles Arricn ve nas pessoas uma forte tcndCncia â es­
tabilidade. orientada para as formas físicas semelhantes ao quadrado, argu­
mentando que mesmo as formas físicas possuem urra qualidade arquetípica.
Por isso, talvez nâo cause surpresa o fato de que muitas pessoas, em seus anos
dc formação da família, desejam ou compram "center hall coloniais" — edi­
fícios quadrangulares. com projeto arquitetónico simetricamente quadrado.
E. claro, o carro favorito dessas pessoas é o Volvo, seguro e quadradâo.
Os indivíduos gcralmentc sc relacionam com esses desejos a partir dos
modelos arquctipicos do Prestativo, do Criador e do Governante. 0 Prestati­
vo tem uma intensa percepção consciente da vulnerabilidade humana, mas es­
tá menos focado em seus propnos problemas c mais preocupado cm mitigar
214 O HERÓI t O fORA-OA-LEI O> rfUt dJo eOrulurz *o «rww

<K problemas dos outros (c por isso que uma garota de 12 anos se sentirá mais
confiante tralialhando como baby-sitter do que ficando cm casa sozinha).
<> < n.ulor exerce oronirole criando um poema. urnacomposição musi­
cal. uma pintura ou um produto, Considere o lilmc Sítufersprmc <ijwtx<»md<>.
Sliakespeaie está loialmvute sem inspiração Sua carreira u.io vai nada hem li
então ele sc apaixona por uma moça que está prometida a outro. He tem um
maravilhoso caso dc amor com essa rnoça c ai canaliza wus sentimentos na
eserna de ftmnc» cjtiheia. O aio dc estruturar essa experiência na forma anis-
lu a da um senso de controle c tamlx'm oferece grande beleza ao mundo.
O Governante assume o controle das situações, csprcialmcntc quando
cias paicccm estar lugindo dc controle. I tarefa do (iovernanie assumir a
rcs|x>nsabilídadc por tornar a vida o tnats previsível c estável que for possí­
vel (t\ própria tendência dos Governantes comunica: "Eu tenho tudo sob
controle.") julgando .1 condição humana incrcntcincnte instável, 0$ Gover­ A antigo floresta ero vista como um lugar de coos. Incerteza e sexvcbdade.
nantes impõem procedimentos, hábitos e costumes que reforçam a ordem c Por outro Mo. 0 prdtm e 0 gramado de hoje refletem o medo intenso que
a previsibilidade. O filme Eltzabclh (uma versão romanceada da vida da rai­ tenwnoi <faros forças, bem como 0 dtsejo correspondente de ter controle,
nha I liz.ibcth I) mostra o processo dc transformação da moça idealista em estcbádade e segurança.
ijinh.i. ela fracassa esscnciulmcnte nesse papel, até aprender .1 incorporar 0
novas situações todo dia, se nâo toda Fora. Os executivos reconhecem que,
arquétipo do Governante.
embora façam a coisa certa em um ano. já no ano seguinte o mercado e as
O Prestativo, o Criador e o Governante encontram sat síaçâo cm ambien-
condições econômicas e legais terão m jdado, e o negócio precisará ser rees­
ics que aparentam scr estáveis: toda Cidade Velha; os ediíídos grandes e subs­
truturado c reavaliado Já virou rotina as fusões e aquisições puxarem o ta­
tanciais; carros c aparelhos robustos; jardins c parques cultivados (cm vez d
*
pete dc debaixo dos pes dos empregados, forçando-os a reconsiderarem to­
natureza "indomada ). móveis confortáveis c hem feitos; qualquer coisa que
do seu modo de vida c, às vezes, a procurarem treinamento em novos
eles próprios tenham projetado; c a tecnologia que amplifica 0 controle deles
campos de atividade O patrocínio a cultura e às artes é abundante em um
sobre seu ambiente Juntos, os três ajudam a tornar lucrativo um empreendi­
ano; no ano seguinte, a fonte secou.
mento O Prestativo antecipa as necessidades das pessoas, vendo o que as fa­
Devido ã incerteza da vida em geral, e da vida contemporânea em par­
rá sc sentir sadias, seguras e nutridas; o Criador se encarrega das inovações —
ticular. o Criador, 0 Prestativo c o Governante sâo arquétipos especialmen­
novos produtos, novos processos de fabricação, novas estruturas e abordagens
te úteis para as marcasdc hoje. Quando nâo estâo obscurecidos por uma nu­
organizai ionais c mercadológicas; e então o Governante administra essas no­
vem dc nostalgia melancólica, mas sâo interpretados em um contexto
vas estruturas, providene iando a oferta com qualidade consistente. contemporâneo c relevante, eles nos ensinam como preservar a ordem e a
I loje cin dia. o desejo dc estabilidade c controle enfrenta desafios espe­
estabilidade e como conciliar os desejos de coerência e as mudanças.
ciais. pois o ritmo d.i vida contemporânea força cada um de nós a lidar com
2IS O HERÓI E O FORA-DA-LEI

livudo pelo amor ao filho que parece quase ir­ rapta Pcrscíonc, Dcméter fica tâo enlouquecida de dor que vagueia pelo
O Prestativo
relevante ele prOprio scr morto, desde que o mundo A procura da filha, incapaz dc dormir ou comrr. Descobrindo o que
Desejo blsko: prouger os aconteceis com Perséfone, ela se recusa a permitir que as colheitas cresçam. '%■
*)ouuotdom
menino se salve. Este arquétipo também está
ligado â imagem de Deus como o pai amoro­ ameaçando a humanidade com a lome absoluta. A ameaça só cessa quando
Meta: »Ju<far o
* OUVOí
Medo: ejoíimo. infraudio so que cuida de Seus filhos. Pcrseíone volta para casa. Diz a lenda que Perséfone rinha â terra todo ano.
Estratégia: fazer coIms petos As imagens.tradictonaisdozelo estâo as­ na primaveia. Temos o inverno por causa da dor dc Dcméter quando a filha
Outro» sociadas à enfermeira, ao médico rural da ve­ precisava retornar ao mundo subterrâneo. 'C
Armadilha: avtomartíria
lha guarda, ao bum policial do kiirro. ao pro­ Comentando o eventual desejo de deinonizar o papel do Prestativo
erçpnzr oi Oinros ou ser
fessor c outras figuras do mesmo género Mas (neste caso, o papel dj mâe) como técnica para tentar se libertar de seu po-
entrudo por eles
Dom: «xnç>»ixlo. generosidade a verdadeira natureza do Prestativo (e da nos­ der, diz Anna Quindlcn na Newsweek; “Nem pensar, freudianos. Seja lamu-
sa relação com o arquétipo) é profundae com­ riosa ou imperiosa, solícita ou dominadora, afetuosa ou irascível, incubo ou C
plexa. tão complicada como os lelactonamcn- súcubo, a mâe é tâo central como o Sol "
tos que tivemos ao longo da vida com os Prestativos originais. Compreender a complexidade do Prestativo e nossa relação com ele é
Ao longo do tempo, os símbolos do zelo, expressado puncipalmentc essencial para aproveitarmos toda a profundidade e dimensão desse arqué-
como uma poderosa figura maternal, tém se alternado entre oscniimenial e tipo na comunicação dc uma marca. Isso lainbém é crítico para tornar o ar- C
o deinunuado. Em artigo publicado na revista Newsweek. Anna Quindlcn quétipo útil para aqueles consumidores contemporâneos que entendem
olrscrva que Mrs Coppcríield e Marmee (de Mulherzinhos) são louvadas co­ muito bern que o zelo é uma questão complexa — repleta dc conflitos e sa­
mo modelos dc virtude, enquanto a Mâe (dc Filhos e amantes.1. Mrs. Bennet
crifícios. além do difícil desejo de apoiar sem sufocar. Diz Quindlcn:
(dc Orgulho e preconceito) e a cômica Mrs. Portnoy são tratad-is severamen-
ic p<»r seus criadores. Bruno Beltelhcim descreve como a figura maternal,
<
A maternidade lt. acrescentamos nós, a maioria dasformas de zelo/ con- ,
nas histórias infantis c nos contos de fadas, é geralmcntc dividida em dois Mstcpnncipalmmte cm «m transcendente trabalho de merda fser mace so- *
|x>los opostos: dc um lado, a bruxa (ou madrasta) totalmcntcperversa e, de [ter tw paraíso'). rance contraditório, mas esta abso'utamente certo. Co- C
outro, a Lula-madrinha (ou bruxa boa) perfeitamcnie pura, fara nós. pare- moe que soctpudc amar tanioalguém que a deixa [ura de si e que faz tantas a
<c scr difk il integrar a complexidade do Prestativo cm um todo coerente. e táo constantes cxitfncias? Conw e que voei p>de se devotar a uma roca-
(àu na qual tem certeza de <jue <cid pei ifeiica, ou mesmo redundante? Co- &
O Prestativo umbém t conbcodo como o alinihu. o unto.o (mi«).o<fV<fame,o cui­ ma e que voct pode aceitar alegremente a ideia de que vocé deixou de ser o <
dadoso ou o Jpoijdof.
centro dc seu próprio universo?1

Nos tempos pré-históricos, as pessoas esculpiam figurinhas dc deusas- Em nosso trabalho sobre Sesame Street, foi útil para nós ter sempre cm •
mâe que, tanto naquela época como hoje, devem ter sido reverenciadas por mente a tensão humana natural que existe entre ‘cuidar* (mothering) e "su- f
seu poder dc dar â IlU c lamix in por Ml-i capacidade dc apoi.r a vida ofcic- focar" (wiKUlieiiiig). A iiielilloraquesc mostrou útil é ade considerar os dois
* _
ccndo alimento, conforto e cuidados Ao longo da história, o arquétipo do tipos dc atenção parental: o pai/niâe que grita alarmado. “Nâo suba nessa ár- *
Prestativo tem sido associado aos sentimentos tanto maternos quanto pa­ vorel Vocé pode se machucar!", e o pat/mâe que diz, 'Se vocé quer subir nes- •
ternais dc proteger os filhos, bem como à disponibilidade dai resultante de sa árvore, pense bem. Enquanto estiver subindo, foça planos para a desci- g-
lazer o que for preciso para cuidar deles, mesmo que isso erija sacrifícios da". Essa distinção ajudou lodo o grupo, desde o pessoal de vendas e
consideráveis — mas ele também se associava a dois medos profundos c ar- mcrchandismg até os criadores do programa, a recordar que Sesame Street é “
raig.idos exercer controle excessivo e ser controlado uma marca decididamente voltada para o "cuidar". Enquanto outros progra- *
Um mito grego clássico, evocando o poder amoroso c o poder destrui­ mas dirigidos as crianças cm idade pré-escolar adoçam a realidade. Sesame *
dor do Prestativo — miio esse que formou a base de um culto religioso que
durou milhares de anos —. narra o grande amor de Deinétci. deusa da ter­
ra cultivada, por sua lilha Perséfone Quando Hades, deus dos infernos. l Aniu (Juindkn. "A New Roof on in Old Houst". Xewjweri. vol.DS. edição 2). 5 dc ju-
nhodeJOCO. p 84. <
220 o HERÓI f OfO u rrt»uu»v

Sor» * hda honcM.imente com questões tais como a perda, as diferenças ra- va c que sc interessavam por você poderiam aderir ao plano, e todos teriam
<.mis c culturais, a raiva c assim por diante, masdc maneira totalmcnte cons­ desconto na tarifa telefônica. A propaganda que lançava essa oferta era afe­
trutiva c apropriada àquela faixa etária tuosa c emocional, c desmoralizou totalmente a ATÓrT. Afinal, seu arqui-
l'iiia campanha recente da Blue C.ross/Blue Shield circula com sucesso concorrente náo só tinha usurpado a essência do zelo nos telefonemas inte­
pelo mesmo terreno c. simultaneamente, oferece aos pais uma placa Indica­ rurbanos e internacionais, como também fez isso de uma maneira mais
dora contemporânea. A mamãe forte e confiante segura nos braços a filha contemporânea — não puramente sentimental e melancólica, mas prática,
de uns nove anos, tendo ao lado este texto:
imediata e comemorativa.
Em outro filão contemporâneo, as marcas e campanhas do Prestativo
Eu druo a ’preotupa(áo~ n<i fronteira que celebram a capacidade de zelo dos homens, apesar das muitas pressões
porque carteio o passe que abre portas. contrárias que eles enfrentam, sâo mais do que tocantes; Sâo poderosas va­
Onde quer que a frente va.
lidações sociais das melhores intenções da maioria dos homens. Por exem­
com nosso Plano Blue Cross e Blue Shield
plo, em uma foto do catálogo da Lands End, um homem em traje de passeio
estamos cob< rtos
está na postura clássica do Presiativc, ligeiramente inclinado sobre a filha
Minha uniea preot upaçáo?
pequena (a mensagem implícita é: “Você está segura comigo"). Então ele so­
Conservai para sempre estas ferias na memória.
be a escada com a garotinha. Sua mâo está pousada nos ombros dela, tran­
Este e o meu plano-
Cuidar de . quilizadora. A mensagem explicativa diz: “Traje de passeio. Para quando sua
de sua mente Seu eorpo Seu espirito. Sua saude segunda reunião mais importante for com o seu chefe."
Essas marcas, que conciliam o instinto zeloso com um mundo que fre­

Outra campanha muno contemporânea do Prestativo, reconhecendo quentemente o desvaloriza, sâo eficazes nâo apenas no mercado; elas desem­
que oferecer cuidados C uma tarefa complexa, mostra uma menina, também penham um papel construtivo na evolução da nossa cultura.
dc uns nove anos, apoiada no braço da mâe. no qual está escrito "Continue
envolvida na minha vida." A matéria prossegue, explicando como tudo se­
Um mundo de zelo
ria bem mais fácil se as crianças viessem com um manual dc instruções; mas.
já que nâo c assim, tudo o que podemos esperar é rir com elas, cantar com Enquanto expressões mais complexas ou contemporâneas do instinto
elas, contar-lhes uma anedota, ouvi-las c conversar O anúncio termina com Prestativo ajudam os consumidores dt hoje a conciliar o desejo de ser gene­
esta linha: “Pais: a antidroga." rosos e zelosos com seus próprios conflitos externos ou as pressões da vida
A AT&T. uma grande marcado Prestativo, já foi famosa por comerciais moderna, às vezes uma marca tem sucesso quando se dirige ao desejo, mes­
maravilhosos sobre os cuidados c a conexào. Entre os mais elogiados esta­ mo que nâo prático, de um mundo mais perfeito e zeloso.
va o anúncio intitulado “Joey telefonou": um dia triste c solitário torna-se A sopa Campbells é rcalinente icôntca, evocando com coerência os cui-^
perfeito para o casal idoso porque seu filho. Joey. telefona para eles do exte­ dados recebidos no lar. a família c o imor da mâe, às vezes de modo a pro­
rior. Embora tocante c ahamente eficaz, a campanha “Estenda a mão e to­ vocar nostalgia. Na verdade, o posicionamento dessa empresa nunca oscila.
que" praticamcnte convidava os concorrentes a parodiá-la. Um anúncio da Como resultado, as famílias armazenam as sopas CampbeU‘s nos armários e
MCI mostrava uma mulher chorando e sendo confortada pelo marido — só despensas (quer as consumam com muita frequência ou nâo). Visualmente,
que ela nâo estava chorando de alegria porque o filho telefonou, mas de os anúncios fazem lembrar as pintuns dc Norman Rockwell. Música senti­
preocupação por causa da conta telefônica? No entanto, ccm o passar do mental tocando ao fundo, pais e tnâcs sempre mostrando amor e afeição pe­
tempo a MCI percebeu que uma identidade baseada apenas no preço a im­ los filhos. Em um anúncio famoso, ogarotinho traz orgulhosamente um va­
pediria dc sc tornar uma verdadeira líder cm sua categoria. Sabiamente. a so com uma flor para a mâe. Derrubao vaso, claro. A mâe o faz sentar diante
empresa adotou urna identidade do Prestativo, posicionando a próxima de um prato de sopa e ajeito a flor na caneca ao lado do menino. O fundo
grande oferta dc preço
* reduzidos dentro do contexto de um plano chama­ musical enfatiza as lembranças felizes da infância, criadas pelos pequeninos
do “Mt.l Amigos c família”. Trufas as pessoas por quem você sc interessa­ atos de amor da mamàe.
222 O HERÓI t O FORA-QA-LEI <
tomar. feliz da vida, encoberto por estas palavras- ‘Eu me dediquerao. meu
Em IWK. a campanha foi atualizada com o tema "Bom para o corpo.
negócio Eu me dediquei aos meus clientes E eu me ded.que. aos meu €
Isoiri para a alma". Em um dos anúncios básicos, a garotinha chega pela pri­
meira vez ao nove» lar adotivo, aflita e assustada. Quando a mâe adotiva lhe
cios. Agora, tudo o que eu quero C dedicar um pouco mais de tempo â pes C
caria." Esse homem está dizendo claramente que já deu muito de si. g
traz urna tigela de sopa, ela se anima e diz: “A mamãe também me dava es­ €
ta sopa." A mulher cria um vinculo com a menina, respondendo. ”E a mi- ” ChHn tcnnoVdo cuidar dc si mesmo, talvez a mensagem‘ ma,S
nlta mãe lambem me dava esta sopa
4
sutil dosd!as de hoje estep sendo proclamada pelos relógios Conco _
A Stouífcrs sc posiciona do mesmo modo com a fórmula "Nada chega
As simples palavras "chegue atrasado” encobrem a imagem despojada

rnais perto do lar". Um anúncio típico dc seus pratos prontos mostra a fa­
braço dc-idulio açaimando o braço dc uma criança ou a foto de uma mulher €
mília sentada à mesa, conversando afetuosamente. O caçula está no colo do
pai. enquanto a mie olha com carinho para a filha adolescente. O texto afir­
dorminco serenamente na cama. As marcas que cuidam do Prestativo estâo €
agindo tem. pois lambem prestam ao mundo um serviço maravilhoso.
ma à mâe que o sabor da Stouífcfs é “igualzinho ao feito cm casa". A Mid- €
west Express Airlines, que mima seus clientes com assentos supcrconlurtá-
veis e toda a atenção do mundo, lambem repassa uma experiência que

aciona a conexão nostálgica com a mâe e o lar. algo que talvez seja particu- €
larmcntc importante para as pessoas que têm fobia dc avião. Alguém deve
4.
ter procurado uma maneira Iwrata dc fazer as pessoas sentirem que a em­
presa se Importa com elas. A resposta que esse alguém encontrou foi: bis­ €
coitos com pedacinhos dc chocolate. Durante o vóo. você começa a sentir o
aroma dos biscoitos no forno. E então as comissárias aparecem com cesti-
iilios cheios dc biscoitos, ajudando os passageiros a sc sentirem como crian­

ças felizes que acabam de chegar da escola e encontram a mâe à sua espera As categorias do Prestativo natural
com deliciosos biscoitos. A preocupação dos Prestativos pelos filhos e outros dependentes faz
Hoje cm dia. muitas pessoas entendem que os relacionamentos zelosos desta idrntidade de marca uma consideração natural para a área de serviços
oferecem experiências dc doação tào reais que. comparadas a buscas mais su­ C
médicos, produtos de saúde, seguradoras, bancos c planejamento financei­
perficiais. tornam-se aquilo que faz a vida digna de ser vivida. Um maravilho­
ro — a :al ponto que pode levar a identidades indiferenciadas. Somente na
so anúncio <le cosméticos da Eckerd.com mostra uma garotinha feliz corren­
do pelo gramado, tendo na face uma marca dc batom em forma de beijo O
área bar.caria. por exemplo, todasestas instituições têm identidades do Pres­ €
tativo: Sallíe Mae, BankOnc. Fleet. First Union e Bank o( America. Muitas
anúncio continua: "Eu juro que vou gastar menos tempo procurando batom campanhas publicitárias sâo direcionadas para a responsabilidade que as
t
vermelho-rubi c mais tempo esquecendo de sair sem ele." A matéria continua pessoas sentem pela família e ao medo de nào serem capazes de cuidar ade-
com esta promessa: ‘Você encontrará o que precisa com rapidez e facilidade quadamente dos familiares. A seguradora HealthExtras veiculou um anún- -
— c então poderá voltar para as coisas mais importantes... como viver.” €
cio com a foto de Christophcr Recves e o texto: “Você pode perder tudo
Com frequência. <>s Prestativos cuidam bem melhor dos outros que de aquilo pelo qual trabalhou durante toda sua carreira. TUDO." O anúncio en­
si mesmos. A Sunswcet vende ameixas sem caroço, com a imagem de uma tão prossegue: “Eu vi muitas c muitas famílias destruídas, nâo pela invali­
mulher de aparência saudável e a mensagem: ‘Para sua saúde... e felicida­
dez física, mas pelo desastre financeiro. Por favor, proteja-se. Proteja sua fa­
de." O texto prossegue: "Fique cm forma com um personal trainer. aprenda
mília .com HealthExtras."
a preparar comidas saudáveis, rejuvenesça cm um spa, saía para uma aven­ Um anúncio comovente, veiculado pela Bayer. de um teste sangúíneo
tura fotográfica ou inscrcva-sc para a carteira de motorista profissional." O
caseiro para diabéticos (o teste usa apenas uma gotinha de sangue) mostra
Lincoln Financial Group mostra a imagem dc um homem pescando cm al-
uma garotinha loira de aparência vulnerável. A matéria desafia o leitor: “Pe­
ça a esta paciente dc diabetes para dar ainda mais sangue para mais um tes­
2 Bernice Kanner, The 100 fleti TV Camnieráali . and Why fhry Vforhed (Nova York: Times te. Vá em frente, peça." Claro, quem conseguiria reagir a esse anúncio sem
*.Buúnct 1999). p 196. desejar tornar a vida da menina um pouco mais confortável?
124 O HÇROl t Q rORA DA-lfl

I nire os mulos do Prestativo está a preoi upaçâo «l<- ncgligcm lar as pes­ anúncio continua: “De todas as promessas que você faz ao seu animal de es­
* aiialgc' h os Zoniig mostram uma mulher deitada na ca­
soas que ele ama O timação. nenhuma é mais importante que a de protegê-lo das doenças."
ma. «om o filho pequeno ao lado O menino parece triste e chateado I lc se­ As c r iançac também sc preocupam com seus pais — elas temem desapon­
gura a luva e a liola dc Ih-iscImiI. e diz “Mamãe está com dor dr cabeça dr ta-los. dar a impressão de rejeitá-los por serem diferentes ou mesmo superá-
novo " A mâe c iljraincnle motivada a comprar o produto, não para sc li­ los de algum modo Um anúncio da Rogaine, tratamento contra a calvície,
vrar da dor. mas paia rcalirmar «pie «* tuna boa m.ir c nâo ncgltgrm ia seu fi­ mostra um rapaz tom o pai ao fundo. Diz a matéria: "Seu pai quer que você
lho Menos pcilurbador. um anuncio d.i Health Source Soy 1'rotcm Sliake tenha as coisa-, que ele nunca teve. Cabelo, por exemplo.” ü homem garante
mostra uma uiança dc três anos, com giandcs ollms castanhos, c a frase: ao filho que os pais se sentem realizados quando os filhos os superam e têm
’ Apenas uma pequena razão para voe d cuidar do seu coração “ mais do que eles tiveram: instrução, dinheiro, oportunidades — c cabelo!

Um anuneio da Mcridl Lynch mostra a imagem dc uma girotinha en­ No pior dos casos, essas mateas deslizam sobrt a superfície dos este­
cantadora. filha da mczzo-soprano Vicky llart c do regente Valery Ryvkin. reótipos do Prestativo. No melhor dos casos, elas transmitem as qualidades

Vicky esta alirmando essenciais da relação zelosa;

A uru nu<> faiar itin» nxiic estdvrl c enMo, «piond» te trm um /ií««>. a ia- • Lmpxtia — ver e sentir as coisas a partir da perspectiva do outro, nâo ape­
tritrsn ifíilinrnif «tiingr <i gente Xfa« pmiroa pauto a I rila Itonuítota /!• nas da nossa.
Mtnuciia «A» tauill n<»« c/isim
*» a equihbtcii rssa \uLi <n vezes praina n<o • Comunicação — escutar o que o outro diz, o que ele nâo diz e. especial-
atire «om u nnessidudc <!<• hrn-rslar /inani firo no Imigo prazo Iríla v mente. o que ele quer dizer.
pir«>< upou rm drv< obnr quim n«K somos ( .) t> que t im/rorlantc pira nOr • Coerência — um comprometimento total, confiável, incondicional.
< )«l gente nifHxt pfJrtM P<trr «tu» w p. nunce que eUctvamot «onipnime. • Confiança — o fundamento da verdadeira ligação.
Irmfci o fnluio <tc Anwmfa
Grandes mini-histórias, dentro dos anúncios, podem apresentar quais­
Bem no meie» da jugina, cm letras garrafais, as palavras-chave infor­ quer desses elementos do apego e ainda acionar o recorhccimenio arquetípico.
mam “As necessidades de Amanda nâo sâo negociáveis.
*
A Nuvem Invcstmcnts também apela para o amor dos pais pelos fdhos.
Um anuncio mostra um garoto meigo c esperto diante das oito martas na
O zelo instrumental e social
parede que indicam seu crescimento Diz a matéria: Grande pane do zelo, porém, nâo está ligado â sustentação direta e em­
pática; é. em vez disso, instrumental. Na peça Dcfcnáng iht Caveman. o co­
f Mm sdo os inlu martas do ganXinho. mediante tem um esquete fantástico sobre o casal que visita um outro casal
que irgKtroni seu rrcMimenlo nu vtiíii cujo filho está para nascer. As duas mulheres conversam intimamente sobre
lias desfiram tfi aiompanhudas pelos investimentos vitalltios o bebê e seus próprios sentimentos. Os dois homens trabalham juntos cm \
que mío <i mau a regi «nada das («mim personalizadas «la Rinenhouie silêncio, construindo uma casinha de brinquedo no quintal. A reação típica
l«M>qu<» dizr» qu«‘ mu lonsiillor ajudara voíf das mulheres é pensar que os homens estão desligadcs dos sentimentos. Afi­
a atlminiMiut «»> rfi ursos <lr toda a sua vida. nal de contas, elas parecem ter uma conexão real, enquanto eles simples­
que pig.iid» a alui ««(do deste gatptinho
mente brincam com máquinas e ferramentas Beckcr. cm um momento co­
qm psli »<l >rb<in<<" alturas muilaar ima «Alt manas n«i parede
movente. faz a platéia lembrar que o jovem futuro-papai deve ter muno
amor no coração, pois está construindo um brinquedo para uma criança que
Os Prestativos frequentemente nao sc preocupam apenas om os pró-
ainda nem nasceu.
prios filhos í k-s também se preocupam com <>s pais, com os doentes cm ge­
O conceito do Prestativo enquanto protetor fica evidente em um co­
ral, <oin os |»ohrcs e com srtis .imniais dc estimarão Um anuncie dos remé­
mercial que ajudou a lançar a reputação de segurança da Volvo e permitiu
dios veterinários Kcvoliition mostra urna moça abraçand»» o cachorro
que a marca tivesse uma identidade tâo forte, que se transferiu do carro eco­
imenso c prometendo “I u vou brincar «le bola com vocé todo dia, vou le­
nômico da empresa para seu sedâ quatro-portas e íinalmente para o mode-
var voei paia longas caminhadas, vou protcgé-lo de pulgas e carrapatos “ O
O p.omovo 227 ’
126 O HERÓI E O fORA-DA-UÍI

nas fazendas, nos lares e nas fábricas, no ritmo de uma invenção a cada 12
lo <lc luxo. O anuncio começava com um casal preocupado, em uma noiic
de tempestade. andando dc lí para cá na sala. A filha deles unha um encon­
( dias O nomee o logotipo da GE pretendiam lembrar as "iniciais dc um aml-
tro com um rapaz, naquele tempo terrível, c queria muito sair. O rapaz che­ go” O slogan, "viva melhor com eletricidade", enfatizava o tema de ajudar
ga, o casal o convida a entrar e papai diz: “Jeíí, quero que você me íaça um as pessoas Em 1955, a GE veiculou um comercial que mostrava Ro"a,° «
favor. Saiam com o ineu Volvo.” Que pai! Que carro!’ Nancy Reagan. felizes da vida, usando eletrodomésticos modernos. Na dé­
E claro que grande parte do zelo dos pais t instrumental — cozinhar, cada de 1960. a empresa já tinha diversificado suas atividade
* eonatrtifa
limpar, ensinar a dirigir, fazer todas as coisas que criam um ambiente de sus­ aviões a jato e equipamentos médicos, além de oferecer serviços financeiros
tentação e segurança para os filhos. Quer o casal tenha papéis sexuais tradi­ que iam muito além do financiamento direto de eletrodomésticos. Nessa
cionais ou náo, o ideal é que tanto o homem quanto s mulher criem laços época tomou-se necessário um novo slogan, porque nem tudo que a empre­
com os filhos e que ambos também façam muito daqutlc trabalho rotineiro sa fazia estava relacionado à eletricidade. Assim surgiu o novo slogan: "Vi­
que é o resultado das intenções zelosas. Os produtos que ajudam os pais a va melhor por meio da tecnologia." Finalmente, em 1979, um estudo de
fazer esse trabalho são inatos na identidade do Prestativo. marketing revelou que o público associava a GE a homens usando capace­
O arquétipo do Prestativo está presente em todas as atividades ligadas à tes de proteção industrial. Para suavizar a imagem da empresa, o slogan foi
prestação dc cuidados para as pessoas c para o mundo físico — jardinagem; alterado mais uma vez: "GE — nós trazemos coisas boas para a vida.
limpeza dc roupas, casas, escritórios e ruas; conserto dc roupas, pontes ou Embora a GE tenha prosperado, em parte por seu compromisso com
qualquer coisa que esteja quebrada; cuidar dos doente» e dos idosos; servi­ pesquisa, inovação e expansão, sua identidade de man-a do Prestativo sem­
ços dc motorista, etc. No Estádio Yankee, cm Nova York, durante o tempo da pre esteve menos ligada aos processes inovadores do que à ajuda prestada
sétima base, o pessoal da manutenção entra para varrer o campo. Surprcen- às pessoas. Esse foco nos benefícios dos produtos da empresa oferece uma
dentcinentc. os varredores executam uma "dança" sincronizada, ao som da imagem de que ela se preocupa com seus clientes. A história da GE também
müsica "YMCA", e os torcedores vão à loucura — uma das poucas vezes cm se misturou a todo o conceito de progresso para ajudar as pessoas e. com is­
que esse tipo de trabalho humilde do Prestativo é celebrado publicamente. É
so. ligou o conceito dc progresso teciológico a certas qualidades positivas
típico que os empregos do Prestativo nâo sejam bem remunerados, pois se
— como lar. família, zelo, amor e prazer saudável.
espera que cuidar dos outros já seja, em si. recompensa suficiente.
E frequente a idéia de que o zelo só é importante quando direcionado
Os negócios, no entanto, podem se tornar imensarnente bem-sucedi­
para as crianças, os idosos, os doentes c os pobres. Mas a verdade é que to­
dos quando realizam funções dc manutenção para as pessoas — como reco­
do o nosso bem-estar também depende dc certo tipo de zelo contínuo, por
lher o lixo. II. Waync Huizengn fez uma verdadeira fortuna criando um ser­
trás do pano, que sc tomou quase invisível na vida contemporânea. Mães e
viço de coleta dc lixo. Aos 25 anos de idade, ele começou pessoalmentc a
pais zelam por seus íilhós e emes queridos. Pessoas acolhem os amigos e pa­
coletar lixo de manhã e depois tomava banho, vestia um temo c saía para
rentes com problemas. Os serviços sor lais ajudam os pobres. Professores, di­
vender seus serviços. A partir da Southern Sanítation Service, sua primeira
retores e motoristas de ônibus zelam pelas crianças da escola. Serviços sani­
empresa, ele acabou construindo a Waste Management. 3 maior empresa de
remoção de lixo dos Estados Unidos. Daí cm diante, ele investiu seu dinhei­ tários e dc consertos, táxis, garçons, faxineiros — todo esse pessoal cuida
ro em outras indústrias, tornando-se um dos homens mais ricos do país c dos detalhes que permitem o bom funcionamento da vida cotidiana. Do
demonstrando, desse modo, como a disponibilidade para satisfazer uma ne­ mesmo modo, as equipes dos códigos especiais para emergências que aten­
cessidade humilde consegue levar a grandes coisas.’ dem 24 horas por dia, os motoristas de ambulâncias, os atendenies dos hos­
A General Electric (GE) vem consister.tementc ligando o valor de seus pitais e os médicos dc plantão exercem funções de cuidar do próximo.
produtos a sua utilidade no sentido de melhorar a vida no lar. A GE foi um Nâo faz muito tempo, as crianças norte-americanas viam os policiais
subproduto do laboratório de pesquisas dc Thomas Edison. A visão de Edi­ do bairro como antigos e protetores (não como pigs, “porcos” ou "tiras");
son consistia em inventar produtos que melhorassem a qualidade de vida Bob llope levava a alegria natalina e “Noite Feliz" aos soldados cm terras
distantes que “sacrificavam as festas de Natal para nos manter seguros em
casa"; e os médicos eram apresentados na televisão como figuras paternas
1 Kjnncf, p 204
4 . ThacMcus Wiwro, Raditab and Vbúnaria (Irvtne. CA: Entreprencur Press. 2000). dedicadas (por exemplo. Marcus Weiby). o oposto dos médicos jovens, de-
|>p 215-217 £ sorientados e confusos que não sabem até que ponto se interessar pelos pa-
228 O HERÓI t O lOBA UA-lfl

(lemes As mães eram nmsii.til.is dc maneira um tanto estereotipada. mas a filantropia torna-se cada vez mais uma parte integrante da vida empresa­
que honiava seu papel na vida doméstica No nível da comunidade, as pes­ rial. bem como ver o alto nível de generosidade e interesse que hoje e diri­
soas viam suas instituições tomo provedoras dc cuidados lalando dc mo-
gido aos empregados e aos clientes.
do Retal. ;o |X'v.o,i< da "velha América” a. reditavain que a esei.la cuidava de
seus filhos. que a Igreja ou templo cuidava das almas; c queo banco cuida­
va dc seu dinheiro. Hoje cm dia. ironicamente. com (ressoas sem-teto cnli- Nordstrom e Marriott Corporation:
Icirad.is nas nossas ruas c com crianças e idosos sendo negligenciados, a Organizações do Prestativo
imagem do Prestativo tomou-se menos celebrada, menos digna de grandao.
Se as lojas de departamentos estâo caindo tomo moscas, por que a
1: c possível que o baixo prestigio atual do Prestativo seja parcialniente res­
Nordstrom está se expandindo? Parte de seu sucesso se deve â sua extraor­
ponsável pela solidão dos necessitados dinária reputação no serviço ao consumidor, que inclui uma política de de­
(.ontudo, surgiu toda uma nova industria dc Prestativos virtuais. Um volução c troca de mercadorias "sem qualquer questionamento". Sabe-se
exemplo apresentado pelo New York Times é uma linha 800 sem fins lucra­ que a empresa já aceitou devolução de produtos que. para começo de con­
tivos. na internet, que responde as perguntas rnats cotidiaras dos pais, in­ versa, nem tinham sido comprados em sua loja. E, claro, ela tem a reputa­
cluindo; “Como é que eu começo a ensinar meu íilhinho a largar as fraldas?" ção de vender pares de sapatos desirmanados (um tamanho para cada pé do
c “Como é que cu controlo a minha filha de dois anos que morde e bate cm comprador) e «le treinar seus empregados para miarem bem a clientela. A
todo inundo?" Especialistas çm cuidados infantis respondem no próprio si­ Nordstrom realmente cria uma atmosfera na qual os atos de serviço exem­
te c. no caso dc problemas sinos, encaminham os pais a ostros especialis­ plar se tornam lendários, sendo divulgados na loja e para os clientes. A em­
tas que poderão ajudá-los Não causa surpresa que multidões dc pais con­ presa tem até um orçamento de marketing para «judar a criar um "boca a
temporâneos (gcralmentc privados das avos, irmãs mais velhas ou lias que boca". A questão c que a verdadeira estratégia de marketing da Nordstrom
costumavam lhes dar conselhos na criação dos filluis) estepm usando esse nâo está nos anúncios; estâ em agir dc modo a faicr os clientes dizerem aos
serviço virtual Alem disso, as atividades zelosas — como cuidar dc crian­ outros como foram bem tratados na loja
ças ou de idosos, lavar roupa e preparar refeições — que costumavam ser Os hábitos mentais que caracterizam o Prestativo nâo só ajudam no
realizadas em casa, sem qualquer pagamento, agora ingressaram na econo­ serviço ao consumidor, mas também ajudam as empresas a prever as neces­
mia remunerada, proporcionando toda uma gama dc serviços e produtos sidades e preferências do consumidor. Os Prestativos gostam dc fazer coisas
que são inerentes a uma identidade dc marca do Prestativo boas para os outros. Seu desejo de prever as necessidades do consumidor e
Fmbora o zelo cm gerai tenha perdido prestígio, sc você pensar na al­ ajustar-se a elas nâo é simplesmente uma questão de fazer bons negócios;
ta cs!mia dedicada a figuras como Ron.dd Reagan, Walter Cronkite. a prin­ esse desejo define sua motivação básica no traba ho. J. Willard Marriott era
cesa Diana e Madre Icresa. você verá lac ilmentc que o Prestativo ainda ocu­ utn mórmon. educado (como ocorre com muitas mórmons) para prestar
pa um lugar relalivarncnlc destacado no coração c na mentedas pessoas. No serviços aos outros membros da comunidade. Além disso, nasceu em famí­
nível mais elevado, o Prestativo não sc preocupa apenas com sua própria fa­ lia pobre: o pai era pastor de ovelhas e o menino ajudou a cuidar dos reba­
mília Seu interesse cresce cm < ireulos concêntricos até envulvcr a comuni­ nhos deede os oito anos dc idade. Que treinamento maravilhoso para o In­
dade. o pais, a humanidade c o planeia I bn asjieclo lindo dos mamíferos ó divíduo que fundaria indústrias nas quais cuidar do consumidor é a palavra
que os velhos e doentes sc saciilicam em prol dos jovens captos. A huma­ de ordem! Aos 19 anos, ele viajou para Washington, DC, a fim dc pregar o
nidade deu um passo ainda inamr; os jovens e aptos munas vezes sc sacrifi­ Evangelho (era o seu ano missionário, exigido pela fé mórmon) Em Wash­
cam em prol dos velhos e doentes. Alem disso, os humanos.enquanto <»pc- ington. sofreu com o calor e ficou imaginando quanto dinheiro ganharia a
cic, sâo capazes de sc preocupar também com as outras espécies, mesmo pessoa que pudesse oferecer à venda um refresco bem gelado. Durante seu
último ano na Universidade de Utah. uma barraca da AórW Root Beer [es­
aquelas bem diferentes dc nós.
() nível mais elevado do Prestativo c o alti insta. e é por isso que o Pres- pécie de soda-hmonadal foi inaugurada nas redondezas, c Marriott a adora­
utivo (mhIc scr unu pmletosa identificação de marca para as organizações va. Terminada a faculdade, ele comprou a francuia de A&W para a área dc
sem lins lucrativos A Habitat for Humanity. o txcreno da Salvação e a Uni­ Washington. No inverno, quando os negócios caíram, ele abriu a Hol Shop-
ted Way são .qrenas alguns exemplos lambem ê estimulante observar que pe. inovando ao oferecer o serviço drive-in.
DO O HfXÔI E o FORA-DA-LEI

A Aetna U.S. Healthcare diz; "Muitas empresas têm sua declaração de


Como iodo bom Prestativo, Marriott eslava sempre sinunizado para
missão. Quantas têm uma missão? A nossa missão? Criar melhores manei­
prever as necessidades do público. Observou que. na Hoi Shoppe. as pessoas
ras dc estender a mâo e ajudar garante que as pessoís obtenham os cuida­
compravam comida a caminho do aeroporto. Por isso, Matriott negociou re­
dos dc saúde que necessitam." Depois dc identificar muitas de suas iniciati­
feições pronlas e embaladas, e as vendeu para as empresas aéreas, iniciando
vas. a Aetna conclui "Em palavras simples, colocamos nosso dinheiro
a indústria do fornecimento dc alimentos servidos durante o vdo. Depois dc
30 anos no ramo alimentício. clç abriu seu primeiro hotel, que descreveu co­ firmemente onde nossa missão está
mo “a extensão lógica do interesse tradicional da Hot Shoppe pela família
americana sobre quatro rodas". Com o passar do tempo, adquiriu os restau­
O marketing para os Prestativos
rantes Dig Boy, desenvolveu os lanchonetes de hst-lood Roy Rogers e os cru­
Como você bem pode imaginar, uma das mane ras menos eficazes de
zeiros marítimos Sun Une Cruise Ships. e ofereceu serviços de fornecimen­
to de refeições a muitos colégios e universidades, bem como a «rés parques vender para os Prestativos é lhes dizer diretamente que você se importa com
temáticos da Great America. Em 1999. a Marriott International era a segun­ eles. Fazer isso neste nosso cínico mundo moderno só produz a resposta:
da maior cadeia hoteleira do mundo. Ao longo de toda essa atividade empre­ “Conta outra." Mas se você mostrar às pessoas que você se importa com elas,

sarial. o sucesso de Marriott sempre foi atribuído à sua capacidade dc reco­ aí a coisa muda de figura. Convictas de que você é íategro, elas divulgarão
nhecer as necessidades das pessoas, dar atenção exemplar aj$ detalhes e a notícia boca a boca Jonathan Bond e Richard Kirshenbaum. em Undcrlhe

treinar bem seus empregados. Marriott aconselhava os outros Idcres empre­ Radar, contam uma história sobre certa joalheria de Palm Beach. A cliente
sariais: “Cuidem bem do seu pessoal e eles cuidarão bem dos clientes."’ telefona pedindo um broche A vendedora pula num ívião c faz pessoalmen­

Muitas organizações do Prestativo sâo empreendimentos igados a cau­


te a entrega do broche, bem em tempo de ser usado pela cliente em um bai­
sas sem fins lucrativos — ou â caridade. Sua "bottom line" é ajudar o gru­ le de caridade naquela noite Pelo preco de uma passagem aérea, a joalheria
po-cliente. É típico dc sua gerência ter como certo que os empregados íarâo desenvolveu uma reputação extraordinária entre as pessoas que foram àque­
lodo o necessário para satisfazer as necessidades do cliente; tra$ isso leva à le baile — c todas elas eram muito ricas. De modo talvez menos dramático,
exaustão c. com o tempo, a desmoralização e ao rompimento. Nas organi­ mas ainda assim consistente, empresas como L L. Bean e Nordstrom cons­
zações do Prestativo saudáveis, cuida-se bem dos clientes e também dos em­ truiram sua reputação oferecendo aos consumidores um serviço tâo inusi­
pregados. para que estes consigam manter o entusiasmo pelo trabalho. Tal tadamente amistoso que as pessoas sentiam prazer em divulgá-lo.
como ocorre com os hospitais, cm gerai a organização é altamtnte burocrá­ Uma questão persistente para as pessoas de hoje é como equilibrar a
tica. em parte porque as pessoas querem ter certeza de nâo causar qualquer preocupação consigo mesmo e a preocupação com os outros. Na nossa socie­
dano Portanto, as políticas e procedimentos precisam ser ckros; as novas dade. é comum os casais investirem pesadamente na educação dos filhos e,
políticas devem ser bem estudadas e testadas; e a equipe deve ler boa forma­ ao mesmo tempo, pagarem pela manutenção e tratamento de seus pais; tudo
ção ou ser bem treinada. Já que o grupo-cliente t (ou é visto como sendo) isso quando deveriam estar fazendo o pé-de-meia para a própria aposentado­
vulnerável, fazem-se todos os esforços para proporcionar uma atmosfera ria Esses casais têm uma preocupação similar a respeito de tempo e saúde —
que pareça sólida, estável e sem surpresas indevidas. O zelo é demonstrado ou seja, como encontrar tempo para cuidar dos outros e ainda conseguir ler
nâo só por um sorriso amistoso ou um toque de mâo. mas também pelo vida pessoal e bons hábitos de saúde. Discutir essas preocupações proporcio­
compromisso com altos padrões de qualidade em toda inte
*
açâo. Para o na uma excelente Identidade de marca para empresas empreendedoras.
Prestativo, é muito mais importante mostrar o zelo por meio dc ações tan­ Como você pode ver por muitos dos anúncios citados até aqui neste ca­
gíveis do que fazer discursos vazios. Em outras palavras, náo se trata apenas pítulo. o marketing eficaz para o Prestativo nâo enfatiza o zelo da marca, mas
de dizer que você ama o cliente, mas sim de lhe trazer um cobertor quente sim a preocupação do consumidor com os outros. O cliente é mostrado como
ou uma xkara dc chá. alguém que sc interessa pelos outros. O produto ou serviço ajuda o cliente a
ser mais clicaz em seu zelo c também lhe oferece mais facilidade de açâo.
5 IhxUtm W»wro. Roáuoti *VlMonane £ntrrftntuti UJic Rrvotutloftized tht 2M Cm- Em geral, as pessoas responsáveis que despendem muita energia cui­
tury (Irvme. CA- Enireprcnrur Prew. 2000). pp 292-291. dando dos outros apreciam realmente as empresas que se preocupam com
CAPÍTULO

!IW

O Prestativo
Lema: "Ama teu próximo como a ti mesmo”

V_) Prestativo E um altruísta, movido pela compaixão, pela generosidade


c pelo desejo de ajudar os outros. Você pensa em Marcus Welby. Florence
Nightíngale. na princesa Diana, em Madre Teresa, Albcrt Schweitier, Bob
Hopc entretendo as tropas, ou em qualquer màe cu pat cuidadosos. O Pres­
tativo teme a instabilidade e a dificuldade, nâo tanto por si mesmo, mas pe­
lo impacto sobre pessoas menos afortunadas ou menos resistentes aos cho­
ques. O significado da vida, portanto, está em doar-se aos outros. Na
verdade, o maior medo do Prestativo é que aconteça alguma coisa ruim a um
ente querido — que esteja sob sua guarda. Em A vida t bela, o pai é lâo mo-
2J2 O MtRÓI t O FORA-DA-LEI

parece que tudo está perdido. Essa é uma história clássica do Prestativo.
cl.K Elis |>cssoas costumam ter uma brecha de sustcniaçlo elasdJo mais do
Nossa cultura acabou de virar a página do cinismo a respeito do zelo. O que
que recebem, e precisam de apoio. Qualquer empresa que ajude xs pessoas a as pessoas querem é fortalecer a idéia de que. sc elas sc interessam pelo bem
cuidar de si mesmas ou que as ajude a enfrentar suas obrigações com mais
dos outros, os outros se interessarão pelo bem delas. No filme, as contribui­
facilidade, tem o potencial de obter extremo sucesso nesta nossa sociedade ções acabam chegando e a associaçâc de George Bailey (financiamento da
cm que homens e mulheres carregam nos ombros o fardo da responsabilida­
casa própria) é salva da ruína. A emoção expressada com a morte da prin­
de dc cuidar dos outros, além do fardo dc suas obrigações profissionais.
cesa Diana e. em menor grau, com a de Madre Teresa, nos diz que este ar­
RolfJenseii. em The Drcam Socicly, cita a revista Time, que cm 1997 de­
quétipo está poderosamente presente na psique humana de hoje. No entan­
clarou que embora durame dCuadas lenha sido moda scr frio c indiferente.
to. desde Watergate c o Vietnã, vivemos uma época muito cínica. O que os
de repente essa moda passou. Hoje em dia, existe certa paixão dc mostrar
Prestativos querem é ouvir que náo sâo perdedores porque se interessam pe­
que vocé se importa. Se você for assistir a uma cerimônia de colação degrau,
los outros. Nossa impressão pessoal t que as maicas que evitam mostrar o
mesmo nas escolas dc maior prestígio, verá universitáros dc ambos os se­
Prestativo de maneira estereotipada, nas que reforçam os valores do Presta­
xos levando seus bebês e filhos pequenos pelo palco quando sobem para re-
tivo, estâo bem posicionadas para presperar. Qualquer arquétipo que tenha
cclxr o diploma. Homens c mulheres estio fazendo do tempo disponível pa­
sido reprimido sempre possui energia. Essa energia pode impulsionar as
ra j família um fator importante ao escolherem um emprego e negociaicin
marcas vitoriosas de hoje, mas somente se o nível da expressão arquetípica
salários e outras condições dc trabalho. Acabamos de chegar a uma época
em que a literatura sobre co-dependência e comportamentos capacitadores for andrógino e auto-realizador.
sugere que o Prestativo seria basicamente disfuncional Ao mesmo tempo, a
necessidade de cuidados cresceu em forma dc espiral Esperava-se que ca­
sais que trabalhavam fora c mães solteiras apresentassem no trabalho o mes­
mo desempenho que mostrariam se nâo tivessem outras responsabilidades.
Desabrigados começavam a ocupar nossas ruas. E as pessoas reclamavam
que se sentiam estrangeiras numa terra estranha, ansiando pela pátria. Mas,
claro, o arquétipo do Prestativo é fundamental para a espécie humana As
pessoas se Interessam realmente umas pelas outras, e um forte senso de sig­
nificado nasce dessa preocupação. Você poderia então imaginar que o arqué­
tipo do Prestativo recuperaria seu antigo prestígio. Está na moda, novamen-
te. sc interessar pelos outros.
Mas o estilo desse interesse pelos outros mudou. O sucesso dc um fil­
me como Uma Ixibâ quase perfeita e de homens que transcendem os tradicio­ Além disso, assim como lem havido uma proliferação de serviços des­
nais papeis masculinos c femininos (como Michacl Jackson, Rohm Williams tinados a ajudar os membros das organizações contemporâneas a trabalhar
e Cohn Fowell) nos diz que, embora u inirtcsse pelos ouiror. antes fosse vis­ bem em conjunto, a próxima fronteira a scr desbravada será prestar servi­
to como uma atividade basicamente feminina, hoje é admkido como algo que ços que ajudem as famílias nâo só a permanecerem unidas, como também a
também é importante para os homens (sempre foi. na verdade, como bem sa­ desenvolverem a capacidade emocional de florescer em uma comunidade.
be quem teve um pai ou avô amoroso). Também o sucesso de filmes como O Também estâo em alta as atividades ligadas ao desenvolvimento comunitá­
clube das desquitadas nos diz que hoje os Piestativos nâo querem ser ‘perde­ rio. Jâ deixamos para tras a época em que as afinidades grupais se definiam
dores
.
* gente fácil de derrotar. Eles estâo dispostos a ser ‘durões
* quando for por nossa identidade étnica ou racial Vivemos hoje em ambientes dc algum
preciso. Esperam ser respeitados e se enfurecem quando sâo desprezados. O modo mais integrados. Embora ainda exista uma tendência contrária, a
velho mártir já era e. em seu lugar, existe uma aspiração mais equilibrada: dar maioria das pessoas quer realizar um trabalho social pluralista. As marcas
e receber, cuidar dos outros e ser cuidado pelos outros. sábias compreenderão que o arquétipo do Prestativo hoje se expressa nâo só
Lembra do filme A felicidade ndo sc compra? O personagem de James na família, mas também no mundo. De algum modo, parece-nos que essas
Stcwart sacrifica sua vida pelo bem dos outros e então sc desespera quando marcas podem confiar que as pessoas sâo melhores do que se imaginava —
2J4 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

e mais capazes do que sc pensava dc expandir o círculo do zelo pelos ou­


tros. O Prestativo <amblm estâ relacionado com o Inocente, porque geral-
mente e o Prestativo que torna realidade o desejo do Inocente de construir
um mundo belo e seguro, i: curto o passo entre a Inocente Coca-Cola can­
tando. “Eu gostaria dc comprar uma Coca para o mundo e lhe lazer compa­
nhia". e o Prestativo estendendo a mâo para dar substância a esse desejo
CAPÍTULO

O Criador
Lema: "Se pode ser imaginado, poderá ser criado”

CJ arquétipo DO Criador t visto no artista, no escritor, no inovador e no


empresário, bem como em qualquer atividade que utilize a imaginação hu­
mana. A paixão do Criador é a auto-expressão na íorma matcnaU O artista
pinta um quadro que reflete sua alma. O empresário íaz ncgócioSa seu mo­
do. muitas vezes confiando apenas na sua intuição e experiência. O inova­
dor, cm qualquer campo, se afasta dos negócios usuais, aproveitando-se de
sua capacidade singular de imaginar um caminho diferente. Nas artes, você
pensa cm Gcoigia O’Kcc(fe ou Pablo Picasso; no c nema. você lembra de
Amadeus explorando as excentricidades c também o génio dc Mozart.
O Criador As in.uc.is do Cii.idor sâo iiUTciicinvntc arte, tâo especial que perdurar^ E. desse modo, o Criador alcança uma es­
r.h»-< <>tih>rniiM.tv O Criador nada tcin a ver pécie dc imortalidade.
Detejo: criar iljo de valor
com o problema dc sc ciuaixar nogti po.clc li­ Os empregados gcralmentc fazem piadas sobre o desejo de reorganiza­
duradouro
Meta: dír íormj > um» ».4o da com a auto-expressâo A criação autêntica ção mostrado por cada novo chefe que assume o cargo; porem, todo Criador
Medo: lit ixn» vklo exige total liberdade de mente e coração Os«- sabe que as estruturas determinam os resultados. Se você náo tiver a estrutu­
med«xre ou *«r medíocre na ra certa, lua visão nlo k realizará. Os tipos CriadoresÊdoram o processo de
pfleos do Criador incluem 0$ workshupt. a <.o-
execuçlo zinha. o jardim, os clubes sociais e 0 local dc desmantelar as velhas estrutura» para criar nova» |É liso que a maioria dos
Estratégia: desenvolver
trabalho — qualquer lugar onde ocorram pro­ consultores, espccialmente os que lidam na área de desenvolvimento organi­
corrtrole • apOdlo na Irta
arxJiúO jetos criativos. As marcas do Criador incluem:' zacional. mais preferem fazer. No marketing, o prazer está em aparecer com
Tarefa: crur Cuitura. exprcuar Crayola, Manha Stcwart. Wílltarm-Sonoma. algo novo — alguma abordagem inovadora que conquistará o olho do públi­
a própria vtilo Sherwin-Williams. Singcr e Ktnko (“Expresse co e. ao mesmo, também expressará sua visão ou a da sua empresa. Na área
Armadilha: a si mesmo') lambem nu luem alnrcntos. c«-_. dc pesquisa c desenvolvimento, o Criador proporciona o ímpeto necessário
pevfecclonirmoi criação para que as empresas desenvolvam novos produtos e serviços.
mo os kits para preparar tacos, que lêm. cotno
equivocada
parte dc sua atração, ttm convite pira que as No melhor dos casos, o arquétipo do
Criador promove real inovação e beleza. No O Cru Sor também 4 c’oc.b«!<lo
ct lanças criem suas próprias vcrsôcs“jK
*$soais"
como o irtho. o Inovidoé.1 fif
«lo I;h o; Ix-iii como mateis idiossim ráticas e icon<K íastas como a Ercsh Saman- pior dos casos, oferece uma desculpa para a ir­
o kvomor.o múUccvo «sertw
tha. que quase grita' “I u sou imaginativa e diferente.” responsabilidade c a confusão de idéias. O
ou o «ráudor •
Criador tende a scifintolerante com os produ­
tos inferiores, feitos em massa, e a conseqúen-
Dom: criatividade e imaginação te falta de imaginação e de atenção â qualidadeÁPor isío, é também por meio
Quando o arquétipo do Criador esta ativo nos indivíduos, cjtcs sc sen­ de suas compras que o Criador demonstra seu bom gosto e seus valores.
tem iorn|k-ltdos a criar ou inovar — caso contrário, sufocam A autentici­ Aquela parte de cada um de nós que é atraída para o arquétipo do Cria­
dade lhes parecera exireinamentc essencial, pois é típico das gra rdes obras dor descobre quem nós somos por meio daquilo que criamos à nossa volta.
de arte e das invenções que mudam a sociedade emergir das proíandezas da Quer tenhamos (alento artístico ou nâo. nossa casa, nosso escritório e nos­
alma ou da t unosidadc desenfreada dc algudm que í. dc muitos modos, um so estilo dc vida refletem parte do nosso íntimo. Portanto,lÕCriador conso­
pioneiro cultural Na verdade, é assim que os artistas costumam »e ver. pio­ me para se expressar— nâo para impressionar os outrosjO Criador que exis­
neiros criando o mundo du futuro. Eles pcxlcin ser pessimistas cm relação ã te dentro dc nós também sc sente atraído para o talento artístico das outras
cultura como um todo, mas confiam no processo criativo c acreditam no po­ pessoas, e ê por isso que apreciamos nâo só os museus de artes, como tam­
der da imaginação. bém os bens dc consumo com design excelente.
I m geral, cks expressam a cii.itivtd.idc cm roupas, casas c escritórios
que niostrain suas prriensôes artísticas Os Criadores temem qur suas cria- Recriando a si mesmo
çôcs sejam julgadas severamente pelos outros. Muitos deles icm dentro dc
si um crilico/ccnsor implacável, que lhes diz que nada nunca est.1 suficien- As atividades comerciais ligadas á boa forma física [fiiness]. à beleza e
tcmcnic Iwin Como resultado, eles também temem dar ouvidos a essa voz à educação gcralmente se apresentam como áreas que ajudam as pessoas »
sc recriarem.Ia~EAS (“Nutrição com vantagem no desempenho") veiculou
interior e acabar nunca expressando seus dons.
Alem disso, um aiquetipo do Criador forte faz o indivíduo ver a si um anúncio de página dupla para seus alimentos energéticos. A primeira pá­
mesmo como urna pessoa desejosa dc lihcrdade; isso t verdade Nesse sen- gina mostra o Davi de Michelangelo; a segunda, um belo rapaz dos dias de
_tuh’. o ( nador e semelhante ao Inocente, ao Explorador e ao Sábio Mas hoje. Diz a matéria: "Michelangelo levou tris anos para esculpir uma obra-
prima. Eu levei três rápidos meses (e meu abdome é mais definido^ A
sii.i motivação mais profiinil.i c a necessidade dc exercer controle estético
Nordstrom veicula um anúncio para trajes femininos de malhaçâo com a
ou artístico — decerto modo, ser como Deus, criar algo «pie ncnca existiu
aniçsjl in ultima analise, oqueki Criador deseja e dar forma a uma obra de imagem de uma mulher bontta, aparentemente naa e com ótima definição
___________________ O Crixfoe 212
21* O HERÓI t O FORA.OA.LEI

ratujas inlaniis que da escultura pós-moderna". dê a essa mulher jóias fi­


muscular Diz o texto. "Ela sempre sentiu que tinha (orça interior. Agora da
para vei.jA Nordstrom lambi'm veicula um anúncio básico c direto para as nas. táo únicas como ela".
botas vermelhas dc salto alto, com esta simples exortação: "Reinvente-se j
Os cosméticos podem scr comercializados como as ferramentas que
ajudam você a se tornar uma obra dc arte. A MA»C
* Makc-U? Art Cosmc-
Acessórios para embelezar sua vida
lies mostra a artística imagem dc um estojo de batom disparando como um Os artefatos da mais remota antigüidade mostrtm que o scr humano ó
foguete. Diz o texto: uma criatura inerentemente artística: há pinturas et» cavernas, esculturas,
cestos, tigelas com enfeites elaborados, totens, jóias, tatuagens — a lista é
Deixe o inake-up fazer tua rabeco. O que t inspirador? Nos úiimot do­ infinita. Mesmo as ferramentas mais básicas também eram objetos decora­
ze meses a agência e a M«A
*C criaram um portplio <!e imageis com at tivos. Nas sociedades indígenas, todos se envolviam com a arte o tempo to­
obras de algum dm maiores fotógrafos. etri listas e maquiadotes do mundo. do Sc considerarmos a história do artesanato, veremos que, mesmo no
Inspirado pelas cotes. prlas texturas e pela atitude criativa. moJcrna. ex­
mundo dc hoje, a maioria das pessoas tem algum nelo criativo de expres­
pressiva c nüo-conjormista da M»A«C Cosnictics. esse ponfidioabriu aos
são. quer se vejam como criativas ou náo. As pessoas pintam, costuram, fa­
gtandes talentos um leque ilimitado para usarem os tnsrrumenfuc as textu­
zem marcenaria ou jardinagem, decoram a casa, usam maquiagem e geral-
ras c as impressionantes possibilidades das cosméticos, de um maio que fo­
ge ao tradicional c ao convencional. Olhe. Pense nisso. W>ce acha «ué os cos­ mente embelezam seu entorno.
méticos sdo mais do que simples auxiliares da beleza? A M *
C
A diz Deixe Os produtos do Criador ajudam as pessoas nessas tarefas. A Revolução
i> makc-up fazer sua cabc«r Industrial ofereceu todo tipo de tecnologia para ajudar as pessoas a criarem
com mais facilidade Elias Howe inventou a primein máquina de costura em
Oi nível» do Criador 1845 Depois I M Singcr a modificou, para que pudesse ser usada em casa
Ele começou as vendas cm 1851. Como a máquina ainda era cara para a fa­
MotlvxçXo: devaneios, fantasias, lampefos de Inspiração
Nível I: ser criaüvo ou Inovador. írruando os outros mília média. ele lambem inventou o plano de paganento em prestações. Na
Nível 2: dar forma X própria vttJo , . <, A índia do início da década de 1920. o Mahatma Gandhi nâo incluiu a máqui­
Nível ):criar estruturas que WluerKiam actAuraea sociedade na de costura na sua extensa lista dc produtos ocidentais a ser boicotados,
Sombra: dra.-naürar demais a própria vida, vivendo um melodrama
porque ela parecia essencial para a independência pessoal de seu povo.
A Sherwin-Williams foi o primeiro fabricante de tintas a oferecer o pro­
duto pré-misturado para os adeptos do faça-você-nesmo. Antes disso, pro­
Dc uma maneira mais caseira, a Color Me Beautiful oíc-ece consultas
fissionais pintavam as rasas misturando, eles próprios, as tintas. Sabiamen-
que ajudam mulheres e homens a determinar quais cores lhes caem bem A
te. a Sherwin-Williams complementou as vendas de tintas com todo tipo de
empresa promove sua linha de cosméticos cm seu webe-ite. prometendo: "A
material ligado ao hobby d
* pintura. A Home DepM r todas as lojas de de­
beleza f sempre revelada... Nunca aplicada."
A Gatcway.com promete: "Iraga a tona todos os seus talentos. Quais­ coração. tecidos e artesanato abastecem as pessoas que mostram sua criati­
quer que sejam eles." Usando os equipamentos dc informática da Gateway, vidade cm casa, no guarda-roupa e no jardim; o mesmo fazem revistas co­
mo Good Houtfkeeptng e House Bcautiful.
você poderá ‘Desenvolver seu/sua interior." A empresa oferece as
seguintes escolhas para você preencher o espaço cm branca: "Estrela do E bem provável que os móveis c tapetes mais caros sejam comerciali­
rock. Grande folôgralo; Diretor de filme de sucesso; Guerreiro de games.” zados com um apelo ao arquétipo do Criador. A Ices, por exemplo, mostra
A Universidade ISIM. de Denvcr. Colorado, afirma: "E-crie a s» mesmo, con­ um tapete que parece saído de um templo grego.com o rosto de uma mu­
quistando vu diploma universitário on-line " lher dc aparência artística (que bem poderia ser uma deusa grega) A maté­
A joalhcna Mondera com veicula uma campanha mostrando que as ria afirma: "Refinado pela arquitetura Criado pot você.
* Dc Omnova. a X
tnulhcics criativas c originais sáo lâo vitoriosas que os homens querem Quest Wall Surfaccs (slogan "Onde e se' torna-se ’é'
*
) veiculou um anún­
lhes comprar belas jóias. Um desses anúncios mustra uma mulher rindo ao cio que mostrava um homem de cartola, mergulhado até o peno cm algo que
Lido dc uma garotinlia. junto com as palavras "Já que ela gosta mais dc ga­ parecia um lago. Fie caminha na direçáo dc um objeto quadrado com pa-
HO O HfWOl t Q FOWA ■ D A • L11
OCrUtfor 241

dtucs intrincados, que cmçigc d.i agua c m- parece com algum tesouro ami­
claro que agora você pode fazer isso. A Kinko sc vê cono parte do negócio
go ou uma rdiquia CMiaictrcMir O anuncio então pergunta: "Você está a dc dar apoio a criatividade do consumidor, com seu slogan "Expresse a si
deriva cm um mar dc coisas mundanas? Olhe para um novo Itorizonte. io­
mesmo" fica implícito que a tarefa ela Kinko é ajudar você a se expressar.
da uma gama dc papeis dr parede, tâo vasta como sua imaginação, está ao A Palm Pilot conseguiu um reconhecimento de marca quase instantâ­
seu alcance.” neo ao comercializar o produto com imagens de pessoa» artísticas e bem-su-
Muitos desses anúncios ligam a decoração do lar com as artes clássicas. ccdidas com ele nas mâos. Nesses anúncios, a empresa nâo estava apenas
A Dauphin. fabricante «Ir móveis, mostra duas cadeiras dc aparência artísti­ vendendo o Palm Pilot c as coisas que o produto podia fazer; em vez disso,
ca ao lado «le pinturas dessas mentias cadeiras (como o qutidro dc Andy War- estava vendendo o glamour da vida dc artista. Um desces anúncios mostra­
liold.1 lata dc sopa Caniphdl), dizendo: "A vida imita aiirte." A Ifonghia. (a- va a designer têxtil Cathcrlne Hennes. A mensagem dizia: (ícone de Ende­
biii.iiile «le moveis, irxlcis c papris dr parole, mostra uma Iwl.i pilha dc reços! "Minhas tecelagens e bordadeiras favoritas; iodes os meus amigos da
dilcrciilrs ice idos, de muito Imin gitsiii, lendo nn alto uma sapatilha dc ba­ escola de arte"; Ikoiic da Agenda Eletrônica] "Desfiles dc hiiuíc ceuturc. se­
le Outro fabricante de inoveis, a BArit Italta ("Atemporal e preciosa") mos­ gunda-feira. 09:00 hs; almoço com Max, sexta-feira, 01:00 h"; (ícone do Blo­
tra duas mesas modernas com aspecto clássico, dizendo: "A escolha certa co dc Notas] "Idéias preliminares para padrões prtmavera-verâo; livros que
p.ira qualidade, harmonia c vid.i moderna " A BombaySapphircGin mos ira pretendo ler”; (ícone do Agendador de Tarefas] "Reunüo com arquitetos so­
um copo dc inarlini que e uma obra dc arte No martínt há belas flores. A bre planos do novo estúdio; plantar bulbos antes que ckova"; (ícone da Hot-
legenda diz: "Despeje algo inestimável" Sync| “Sincronizar e fazer backup do meu Palm Vx poc controle remoto do
meu PC. Com um só toque." Essa abordagem ofereceu um antídoto interes­
sante. e altamente diferenciado, para as usuais imagens do Governante que
O Criador no trabalho e na escola cercam a tecnologia em geral e, em especial, as ferramentas dos negócios.

No trabalho, a capacidade de inovação c valorizada de modo muito es­ Quâo criativos podemos ser? Você quer fazer um filme da Disney — so­
zinho? Um anúncio com aparência jornalística mostra Mau e Dan ODonncll.
pecial. simplesmente porque vivemos nesta época tão competitiva e dc mu­
os gêmeos que criaram o software chamado México (um pacote que ajuda a
danças tão rápidas ledas as arcas estâo inovando incessantcmcrte. Ao mes­
criar animação, com grandes efeitos de sombreamento: detalhes faciais). Ci­
mo tempo, os avanços tc-cncilogicos oferecem recursos incríveis para a
tando Matt. o anúncio informa: "Os personagens respondem ao diretor de ce­
inovação constante. A Hoincstcad.com mostra a imagem das mâos úmidas
na (...) Você cria um modelo e diz ‘Snookie: ande até o Capitão’, e aí o pro­
ele um oleiro dando forma a boca dc um vaso. O oleiro reflete: "Dc todas as
grama vai computar as animações secundárias."
suas grandes criações.«» wrlisiie dc voeis será a mais fácil " A Texas Instru­
Claro que todos nós queremos que nossos filhos sejam criativos. A Ap­
ments promove os processadores dc sinal digital com as palavras "Onde a
ple promove o iMac com um anúncio que mostra sua compatibilidade com
vos encontra o video encontra a> palavras encontra sua imaginação" ea ima­
o «ramcordtr digital- “Agora alunos e professores podem contar histórias dc
gem dc uma mulher cm êxtase diante do teclado.
uma maneira que antes era impossível — trazendo as experiências fora da
A história do Post-il c o engano que levou a >eu desenvolvimento tor-
classe vividamente para dentro da classe. O melhor dc tudo é que é muito
naram-se uma lenda moderna sobre a criatividade. As secretárias imagina­
fácil; qualquer um pode ser um diretor de cinema." A Crayola é uma mar-
vam come» lidar com as colas que nunca funcionavam direito; o resto já e
ca-ícone do Criador. Um anúncio mostra uma caixa ce lápis de cor. com es­
história Um anúncio dos Post-it Selí-Sttcking Eascl Pads diz: "Pense nele
ta legenda ao lado de um apontador: “Apontador embutido para a mente."
como um Post-il Note com cstcroidcs." Em letras menores, a matéria pros­
A matéria a seguir explica: "Estudos comprovam qut as crianças que cres­
segue Você está cm uma reunião, anotando idéias no seu bloco /casei pad/.
cem participando dc atividades artísticas alcançam maior pontuação no SAT
Mas indo pára cnquanio você prne ura clipes ou fita adesiva a nâo scr que IScholastic Apiitudc Tesl] — cm média. 51 pontos percentuais a mais nos
vocé esteja usando um Post-it luisel Pail ‘ As paginas d«> Post-it grudam por testes verbais e 38 pontos a mais cm matemática. Esse é o poder da criativi­
si mesmas na paicdc. com um fone adesivo Um anunciada Canon Image dade... Ele começa aqui" (com uma caixa dc lápis dc cor). Para estimular os
Ruiincr WX» desaba <> « onsimudor ‘ liii.iginc criar documentos ele 200 pagi­ pais a oferecerem aos filhos oportunidades de lidar :om as cores, dc modo
nas. com os tris orifícios |»ra arquivar, dirctamcntc no seu desktop.” E é que a marca possa cumprir sua promessa dc criatividade, os anúncios ire-
I
O Crf»4or
242 O HERÓI E O FORA-OA.LEI

uma ave com 1.80 de altura e. entre outros segmentos, há o chamado Tea­ <•
qúcntcmente sugerem diferentes atividades para colorir — tais como criar
um cartão dc Dia dos Pais recortado na forma de um braço e uma mào. O
tro dos monstros”. Durante uma série especial sobre o espaço, o respeitado €
Tony Bcnnett cantou “Slimcy to thc moon...’. e nâo causa surpresa ver Itzak
anúncio promete: “Um dia alegre e maluco para o papal: Uma omelete que
Perlman ou outros famosos cabriolando com um dos Muppets. Gail David.
<
nâo foi feita com ovos! Café feito de iogurte? Um abraço escondido dentro
de um cartão. Nós temos algumas maneiras surpreendentes e engraçadas pa­
dircmra de Comunicações Corporativas de Sesame Street, comenta: "É incrí­ C
ra você dizer ‘Feliz Dia dos Pais'.”
vel que uma coisa pode ser tâo ancorada e. ainda assim, táo efervescente. c
A própria criação de Sesame Street é um exemplo maravilhoso do pro­
A Kellogg^ reconhece que preparar o Rice Krispie Treats (acrescentando
cesso criativo e do nascimento de uma marca do Criador. Joan Ganz Coo- c
marshmallow e margarina derretidos) é uma das primeiras coisas que muitas
crianças aprendem a fazer na cozinha. Para fortalecer a conexão com a criati­
ney. uma das fundadoras de Sesame Street, relata cm um ensaio (a ser publi­ c
vidade. a Kcllogg's oferece “receitas” para os concursos de escultura escola­ cado em breve) que a idéia surgiu pela primeira vez durante uma conversa c
num jantar, em março de 1966. Cooney. na época produtora de documen­
res. Fm 1998. a escultura vencedora foi "a réplica, com quase dois melros dc
tários na WNET (um canal de tevé educativa da cidade de Nova York), con­
t
largura por um de altura, de um recife de coral e os ecossistemas a ele ligados
(...) que venceu esculturas de 65 outras escolas de mais de 30 Estados”.
versava com Lloyd Morrisett. na época vice-presidente da Carnegie Corpo­ €
ration de Nova York. Ambos ficaram tâo entusiasmados com a possibilidade e
de trabalhar o grande potencial inexplorado da televisão enquanto meio
Sesame Street: Uma marca do Criador educativo, que voltaram a se reunir alguns dias mais tarde. Morrisett havia
e
Poucos programas de televisão sobrevivem além da primeira tempora­
muito se interessava pelo desenvolvimento cognitivo da criança. E, como t
pai de dois meninos pequenos, certa vez ficou horrorizado ao encontrá-los
da Nâo é isso o que acontece com o aclamado Sesame Street, que já está en­ t
assistindo aos testes técnicos dc uma emissora, enquanto esperavam pelos
trando cm seu 32' ano no ar e que sc tornou uma das marcas mais ampla-
desenhos animados — tamanha era a escassez de programas infantis envol­
t
nicntc reconhecidas e respeitadas do mundo. Nesta nossa era muito mais
competitiva do que aquela cin que o programa foi lançado. Sesame Street ain­
ventes e dc qualidade naqueles dias. Ganz Cooney interessava-se profunda­ <
mente pela pobreza, pelos direitos civis e pelo déficit educacional causado
da é assistido por milhões de crianças no mundo todo e já ganhou 76 Em- •
pela pobreza. Aquela conversa no jantar tivera um efeito cletrizante sobre
my (mais do que qualquer outro programa dc tevê da história!) e oito Gram­
ambos. Como hoje relembra Ganz Cooney: “De repente percebi que pode­ t
my. Como foi que essa idéia conseguiu se sustentar e florescer?
Grande parle de seu sucesso está no fato de que suas características bá­ ria ficar fazendo pequenos cocumentários no Channel 13 pelo resto da mi­ t
sicas — a poderosa abordagem ao aprendizadoe o conteúdo cuidadosamcn-
nha vida, sem nunca causar Impacto nos necessitados. Por outro lado, eu •
le desenvolvido — ganharam vida como expressão inovadora, atraente e poderia usar a televisão para ajudar as crtanças a aprender, especialmcnte as
crianças em condições desvantajosas Eu vi tudo isso com muita clareza, até
t
única do arquétipo do Criador
Cada episódio de Sesame Street se baseia em um conteúdo complexo,
parecia um são Paulo na estrada dc Damasco.- E então Morrisett c Ganz uni­ t
holistico. projetado para dar apoio ao desenvolvimento cognitivo, social, ram forças, armados com a convicção de que a televisão poderia ser uma for­ r
ça positiva na vida das crianças, desde que um currículo educacional pudes­
emocional e físico das crianças pequenas. Educadores e pesquisadores espe­
se ser transmitido de maneira inovadora e relevante.' •
cializados trabalham em conjunto, dia após dia. com os roteiristas e produ­
Eram os anos coniestatários da década dc 60. uma época de grande li­
tores. Se nao fosse por toda essa pesquisa educacional, ccrtamente Sesame
Street sei ia apenas mais um programa infantil. Por outro lado, nâo devemos berdade criativa em termos do que ia ao ar. incluindo a propaganda. Gmu
Cooney havia observado que as crianças, em especial, pareciam hipnotiza­
esquecer que toda essa alta especialização educacional poderia ter se trans­
formado em lições chatas e sem inspiração, que as crianças do pré-escolar das pelos formatos ágeis c curtos dos comerciais de tevê e que elas apren­

simplesmenie deixariam de lado para ir brincar com suas bonecas e seus jo­ diam mais rapidamente os jinglcs desses comerciais do que o â-bé-cê. Sem •
gos Em vez disso, o conceito dc Sesame Street t apresentado de modo ma­ receio de tirar proveito da sensibilidade predominante na época, ela queria
ravilhosamente criativo: na rua onde um personagem vive numa lata de li­
r
xo e outro engole biscoitos como um aspirador de pó. uma das estrelas é 1 Joan Ganz Cooney, In 'The lop f >fty Women in Amcnran Radio ind Trkvuion' (no prtlo)
244 O HERÓI I o FORA-QA-LEI O CrUdor 245

direi ioná-la dc modo a beneficiar as crianças cm idade pré-escolar Descre­ quitetura animal, Pig. Pig Sr Pig, dirigido pelo mundialmcntc famoso l.M
vendo a premissa do programa no jornal 1 lie New York Times, ela disse: "Os Pig, para orientar a reconsiruçáo dc seu ninho. Diz a lenda que as idéias de
educadores tradicionais talvez náo se entusiasmem com isto, mas nós vamos 1 Icnson e Stone às vezes erim tâo extravagantes que havia batalhas freqOen-
lazer .1 montagem cm um ritmo muno mais veloz do que qualquer outro já tes entre eles e os pesquisadores responsáveis por manter a grade curricular
usado cm programas infantis. As c danças gostam dos comerciais, do humor nos trilhos
casta-dc-banuna.dasuciiicasvanguardisiasdc vtdcocaudio (...) Tcmosdc Mas o que está no âmago do sucesso desta marca do Criador é uma ten­
introduzir o nosso conteúdo cm formas que 3$ crianças achem acessíveis .“ são saudável entre a criatividade desenfreada e o trabalho educacional de Se-
I orinou-sc então uma espécie de “nine dos sonhos" criativo, que aca- wm; Street. Rosemarie Trtglio. vice-presidente da Sesame Street Research,
Irou incImndojim llcnson c <eus inimitáveis Muppcts; Joc Raposo, talento­ descreve a espécie dc cabo-de-gucrra amistoso que ocorre em cada sessão de
so musico e compositor, Jcff Moss, jovem c brilhante roteirista, Jon Stone, revisão dos roteiros, com os escritores gargalhando diante de algum novo seg­
que seria produtor e diretor d<» programa por mais dc 26 anos, c um grupo mento hilariante e. do outro lado, os pesquisadores apontando minuciosa-
dc p-squisadorcs cMumrdin.lrios, entre eles Gcrry Lessor e Ed Paliiicr Mas mcnic os ajustes que devem scr feitos para garantir a segurança das crianças,
além d.i pura reunião dc talentos, o conceito foi orientado desde o início pe­ evitar exemplos negativos.construir os alicerces do aprendizado e assim por
la busca dc autenticidade c inovação. diante. Entretanto, a colabxaçào é sempre feliz e proveitosa, pois, como diz
lin Scsarnc Street fn/nned. uma retrospectiva do programa, Jon Stone Truglio: “Temos respeito mútuo pela arte de cada um. Náo sou uma escrito­
diz que os criadores "náo queriam apenas mais uma sede de clube, arca do ra de humor c por isso às vezes os escritores acham que precisam mc ensinar
tesouro ou casa na arvore (. .) intnlia proposta era construir um.i rua dc um o ‘manual da comédia’. Mas nâo fico ofendida Respeito o talento deles. Por
centro urbano real e povoa-la com pessoas reais'. outro lado, eu conheço as crianças e por isso às vezes ensino a eles o ‘manual
Grande- parte da emergência do Criador naquele trabalho foi que 0 es­ do desenvolvimento infantil’. Eu defendo a voz das crianças."
petáculo era visto como um experimento grandioso, tal como continua a ser. Os resultados funcionam. As pesquisas acadêmicas mostram que. pas­
As crianças estavam, por assim dizer, entre os diretores de elenco originais. sados três anos da idade pré-escolar, as crianças que assistiram regularmen­
Por exemplo, a idéia inicial era ter os Muppcts ern segmentos totalmcnie di­ te a Sesame Street e outros orogramas educativos infantis têm melhor desem­
ferentes dos segmentos que utilizavam personagens humanas, para n9o con­ penho em uma série dc testes padronizados. Um estudo independente
fundir as crianças, mas quando as pesquisas mostraram que o maior envol­ mostrou que mesmo no segundo grau, as crianças que assistiram regular­
vimento das crianças ocorria quando os Muppcts estavam no ar. os bonecos mente aos programas educativos tiravam notas melhores cm inglês, ciência
(oram integrados ás cenas com seres humanos O humor não era apenas en­ c matemática do que as crianças que pouco ou nunca assistiram aos progra­
corajado. era exigido Segundo Arlcne Slierman. supervisora dc produção dc mas educativos. Esses estudos eram controlados conforme o nível de esco­
Srwnir Street, a comedia purj (01 sempre um ingrediente essencial da criati­ laridade dos pais, a renda familiar e assim por diante.
vidade do programa: "Quando as pessoas mc pedem uma descrição resumi­ Pesquisas qualitativas lançam luz sobre alguns dos subprodutos posi­
da da esséne ia dc Srsunrr Street. sempre digo que c um programa cómico que tivos dc assistir a Sesame Street. Parece que o programa opera em muitos ní­
ensina. Temos os melhores escritores dc humor da tevê trabalhando para nós. veis complexos, mesmo para crianças em idade pré-escolar. 0 que surge é
I por isso que funciona.’ A equipe dc desenvolvimento do programa é enco­ uma ideologia singular que os telespectadores recordarão durante toda a vi­
rajada a correr riscos c inovar, na verdade, é isso que dela se espera. da A primeira geração de telespectadores dc Sesame Street — gente que cres­
?\ disponibilidade dos criadores para a extravagância é demonstrada ceu assistindo ao programa original — costuma lembrar que a primeira vez
em segmentos como a WASA (Wnim Air and Spaee Agnicy — Agência Ac- em que foram expustos a pessoas diferentes de si mesmos foi em Sesame
ruespát 1.1I dos Vermes) tenta encontrar cinco vermes fisicamente aptos v dc Street. Por exemplo. Sesame Street talvez tenha lhes proporcionado sua pri­
renome inicin.ii 1011.il. jwii.i envia-los numa missão ã I ua (mas aceita somen- meira exposição a um indivíduo afro-americano (além de tudo, um negro
11 os vermes com as curvas certas'!), e uma galinha que acredita ser um gigantesco!). Ou talvez lenha sido por meio dc Sesame Street que cies apren­
verme entra íiiriivaniv.-iii na nave espacial; um fazendeiro sabe quando j deram a contar cm espanhol, muito antes de compreenderem o conceito de
tempestade sc aproxima porque pouco antes suas ovelhas começam a dan­ "outro tdtoma". As mâesc outros responsáveis que assistem a Sesame Street
çar o r ha-cha-chá; o Big Bird IGaribaldoj contrata o maior escritório dc ar­ junto com as crianças geralmente descobrem alguma breve referência a al-
O Crivior 147
244 O Hf RÓI E O FORA-OA-LEI

Muitas empresas se posicionam enfatizando sua criatividade ou com­


gum acontecimento do momento, apresentada de uma maneira que agrada
parando seu produio à qualidade que encontramos nas belas-artes, quer exi­
tanto ao pré-escolar quanto ao adulto (a mâe ou responsável). Scsanie Street
bam traços dc verdadeiras organizações do Criador ou nâo. A Saab por
anuncia que “este programa é trazido até vocé pelo número 3 e a letra Q" c.
exemplo, veiculou um anúncio do seu conversível que afirmava em letras
dc repente, tudo parece ir bem no mundo.
garrafa» “Saab versus Vivaldi
* e perguntava ao consumidor:
Hoje, etn seu 32» ano. o programa está sendo desenvolvido para incluir
uma ênfase ainda maior na arte c na música — nâo tanto como aptidões que Um carro pode compelir com uma pe<a musical? ~As quatro esta<0es .dc <
representam um fim em si mesmas, mas como veículos que ajudam as crian­ Anionio Vivaldi. t um teste perfeito. Concerto N
* I. A Primavera. A capota e
ças a aprender e a lidai com o dia-a-dia. Por exemplo, na futura série dc epi­ t arriada, voei t invadido por uma scnsatfU) dc liberdade. 0 Verão chega e
sódios que apresentará um furacão atingindo a “rua Sésamo". Garibaldo en­ convida a estrada a brincar. O molar turbo ic mostro d altura Corre rápido
louquece ao saber que a tempestade destruiu seu ninho. Os outros membros pa:a Outono. Uma carwceria aerodinâmica rodeada pelo vento. O Inverno <
chrga, impetuoso. A traído dianteira responde A capota com tris camadas
d.» comunidade oferecem conselhos, o que sempre ajuda, mas o verdadeiro
isduntes. o aquecimento nos bancos dianteiros, o descmhacador no vidro
<
apoio aparece quando um deles sugere que Garibaldo faça um desenho do
ninho pelo qual tanto chora. Esse desenho nào só conforta Garibaldo, co­
traseiro, tudo isso cumpre sua função Vivaldi encontrou alguém d altura. <
mo tainbein sugere um plano. Se pode ser desenhado, poderá scr recriado Que a miisúa comece.
— ensinando as crianças nâo só a lidar com o dia-a-dia. mas também a co­ A Biltmore Estale, com sua casa, seus jardins e sua vinícola, veicula
meçar a lidar com a adversidade. uma inagem da mansão, com as palavras; “Da tela de pintura â obra-prima.
No mundo complexo dc hoje, onde os problemas da vida adulta come­
(...) $u»$ maravilhas nunca cessam", explicando:
çaram a se infiltrar no território da infância, é bom que essa maravilhosa €
marca do Criador continue a oferecer um caminho tâo rico e envolvente pa­ Ele começou com a lena nua Com o olho do artista, esculpiu florestas, t.
ra o aprendizado e o crescimento das crianças em idade pré-escolar. perques e formas E entáo George Vanderbilt <no« um lar para todos os tem-
pot: a Biltmore House. De Renoir a Barye, de Whlstler a Duer. ele preencheu e
csia maravilha arquitetónica com as obras dos Mestres- pinturas, esculturas, e
As organizações do Criador livros e moveis que expressam séculos dc esforço artístico. Celebre (...) na
Biltmore este verdo, quando abrimos quatro quartos de hospedes recém-res- €
O protótipo da cultura organizacional do Criador é a cooperativa de ar­
tistas. As pessoas querem ter grande liberdade de açâo para expressar sua
ta irados, chamados A 5ulte dos Artistas. t
criatividade, com um mínimo dc controles. A função da estrutura coletiva é Mais modesta, a Sena (“Nós fazemos os melhores colchões do mun­ e
oferecer um lugar para promover, desenvolver e comercializar um produto do") veicula um anúncio que mostra um colchão sem lençóis, em um quar­ t
artístico. A dignidade nasce do acordo coletivo sobre a importância do pro­ to lindimente decorado, ao lado de uma janela aberta por onde se vê o frag­
t
cesso criativo, de modo que as pessoas evitam “vender-se" ao mercado. Em mento da l.ua Nova. Tudo isso é visto através de um espelho emoldurado,
geral, a qualidade é vista como mais importante, no longo praze, do que ma­ dc modo que você pensa estar contemplando uma pintura. No pé da pági­
ximizar as vendas imediatas. Evitam-se as “pechinchas', porque os empre­ na. você lê: “Dizer 'boa noite' parece pouco."
gados as veriam como prática que desabona a importância de seu trabalho. A Movado posiciona seus relógios dc pulso como objetos de arte, tam­
Encontramos organizações do Criador nas artes, no design, no marke­ bém por meio da divulgação das contribuições da empresa para as artes. Um
ting c cm outros campos que exigem alto grau dc pensamento imaginativo anúncio mostra uma bailarina dançando na rua. ao lado de um belo relógio
■fora doe padrões tradicionais". Certa autonomia do trabalhador é vista ro- c das palavras “estimulo â arte". O anúncio prossegue, declarando: “Duran­
mo essencial ao processo criativo e. por isso, gcraltnenlc os empregados te 60 anos. o American Ballet Theatre assombrou platéias internacionais
controlam o próprio tempo e a maneira de realizar uma ureia. Os trajes e as com <» mais inovadores coreógrafos, cenógrafos e dançarinos conhecidos •
atitudes sâo extravagantes ou simplesmente informais, pois os empregados no mundo do balé. Há mais de dez anos, a Movado Watch tem orgulho de r
seu papel de principal benfeitoria do ABT.“ Então o anúncio liga a própria
sc expressam livremente por meio do comportamento A liberdade reina en­
aptidâa artística da empresa ao balé: “Ao longo de sua história, a Movado
r
quanto o resultado for um produto dc alta qualidade.
r
248 O HERÓI g Q fora DA-LEl O Criador 248

M inprc foi reconhecida p.»r sua < .ip.uul.ulv dc inovação: 9Q patentes, mais ter o ritmo do mundo. Em um ntvcl mais profundo, o processo dc criação
dc 200 prémios internacionais relógios cm museus dc cinco continentes." exige a capacidade de focalizar e criar a sensação de controle. Quando você
O lato dc que a Movado é uma marca arquctipica do Criador é enfatizado está criando alguma coisa, em geral está totalmente envclvido nesse proces­
por letras grandes no final ' Os rclogios Movado sâo exibidos nas coleções so e o processo também permite que você forme as cores (ou a música. 0$ da­
permanentes dc museus do mundo inteiro.’ dos ou seja lá 0 que for) cm uma estrutura que lhe dá a sensação dc contro­
A mensagem maior desses anúncios ó que as organizações do Criador le e prazer. Quanto mais a vida foge dc controle, tanto maior é o número de
nâo querem apenas parecer uma obra de arte, mas incorporar uma obra de ar­ pessoas que anseiam pela válvula de escape da criatividade. O homem que
te. No passado, a metáfora que gcralmcntc inspirava tais empresas tra a da perdeu sua bem-amada sente-se melhor depois de escrever um soneto sobre
orquestra, com cada membro da organização seguindo o "condutor" (maes­ a perda. A moça agúenta os gritos do patrão, vai para cisa e cria um lindo
tro = diretor) |>jra sc harmonizar do modo inais eficaz com os outros músi­ vestido na máquina de costura. Com isso, ela encontra a cura. O adolescen­
cos Mais recentemente, o campo da improvisação no jazz tem falado ao co­ te nào é escolhido para o lime de futebol, vai para casa, cria um desenho ani­
ração dc gerentes e profissionais do desenvolvimento organizacional, mado e se sente tâo satisfeito que já nem liga mais para 0 time. Qualquer ti­
oferecendo um modelo para os músicos ficarem táo cm sintonia cora a mú­ po de empenho artístico satisfaz o desejo humano de forma e estabilidade.
sica que a liderança passa dc um para outro sempre que necessário; a cone­ A arte também promove a auto-estima. Aquilo que as pessoas criam é
xão entre os músicos é tâo intensa que eles sabem quando tomar a liderança um espelho de quem elas são. Quando olham para o produto que criaram,
c quando ficar no acompanhamento l:m uma organização do Criador a "hot- elas se sentem bem consigo mesmas porque fizeram algo que vaie a pena. O
loin tine" não c cxaiamcmc o dinhciiu. C mais a ln-lcza. Alem dc tudo, a ex­ m.vkcttng que envolve n consumidor na criação do preduto é um negócio
periência de trabalhar para a empresa e a qualidade do produto devem satis­ inteligente. Saiba que seus clientes sâo especialistas em inovação e que voec.
fazer a sensibilidade estética dos principais envolvidos. f então tudo vai bem. multas vezes, poderá alcançá-los por intermédio de um e-mail Leia suas res­
postas e lhes dê íeedback quando as idéias deles influenciarem o produto.
O marketing do Criador A velocidade com que as marcas precisam estabelecer uma identidade
hoje em dia é fenomenal Todos os componentes — projeto, manufatura,
Quem teria pensado que c possível construir um império cm cima da
marketing — precisam utilizar seu pleno potencial criativo. Agnicszka M.
iradn ional criatividade da mulher no lar. exaumente na época em queas mu­
Wtnkler. em Warp Spced Branding, comenta que. para a maioria dos produ­
lheres voltavam maciçamenie a trabalhar fora dc casa? lodo mundo achava
tos dc hoje, as estratégias de marketing sâo pensadas ao mesmo tempo em
que as mulheres estavam vohando as costas para tarefas como fazer hndos c
que o produto está sendo projetado. As equipes de projeto, de marketing e
criativos centros de incsa para seus jantares mais pomposos; decora.
* a casa
de produção precisam estar em comunicação constante entre si. A criativi­
toda para o Natal, ou preparar pratos que levavam um dia inteiro no fogo.
dade que é necessária neste mundo novo torna obsoletas as hierarquias e
Contudo, dc algum modo Manha Stewarl intuiu que a criatividade domésti­
as reuniões elaboradamente planejadas. As novas estratégias de negócios,
ca estava viva e passava muno bem Na verdade, uma maneira ólitru de ter
mais baseadas na colaboração, exigem inteligência emocional, grandes ha-
sucesso C pegar a onda dc um arquétipo que esteja sendo reprimido, mas cu­
jas chamas ainda estão vivas ludo o que você tem de lazer c abanar essas Uma identidade do Criador poderáser cometa‘‘paraM^rnãnã:^^
<hainas c pronto: você esta nos negocios. Manha Stewan pegou aquela onda
• se a função de itu produto encoraja a auto-expressão oferece escolhas e opções »«>;><<
c tornou-se uma industria Lia nâo só ensina as mulheres a alcançarem a ex­
comunudor. ajuda a promover inovações ou tem desenho arthtko . •. •
celência nas artes domésticas, mas também tem hoje toda uma linha dc pro­ • pertence a um campo criatho. como o maricetínj, u relações púWcas. as artes e a Inova-’
dutos. A associação com o arquétipo do Criador dá uma conotação de pres­ çio tecnológica (como desenvoMmento de software) ‘ • . '■? 1 •f
tigio a seus produtos, emliora M.irtha tenha desenhado toda uma lima para • se você está cantando se diferenciar de alguma marea que "fax tudo" para o *corúuMjdoc
o K-M-irl c. com isso, melhorado a imagem daquele estabelecimento deixando pouco espaço para a escolha • '•(’ f-;‘ ff K

A verdade é que homens e mulheres amam as marcas que os ajudam a • possui algum demento faça-você-mesmo que permito ao axuurddor <
d nheiro • ’
libertar o Criador intenor Essa afinidade tem a ver com a percepção pessoal
• se seus dientes têm bastante tempo dtaponMi pera deixar a crütMdade fa
dc um mundo que parece lora dc controle No nível mais obvio, as pessoas • se tua orpnlDção tem uma cultura do Criador. ‘í ’1*-
sahem que prensam estar coiisumicmcntc inventando e inovando para man­
250 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

bihdadcs dc comunicação, horários flexíveis, tomadas de decisão cm tem­


po real pelas pessoas envolvidas e facilidade de conviver com a ambiguida­
de permanente.1
AlOm disso, o pessoal da rtrea dc marketing precisa reconhecer que es­
tá anuindo no campo das arte». Todos nós conhecemos alguém que trabalha
cm publicidade, por exemplo, e vive lamentando o Üto de que não sc fazem
mais grandes filmes. Vemos os dramaturgos, os compositores, os escritores,
os cineastas, os artistas plásticos e muitos outros no campo das belas-artes
como pessoas que. dc uma maneira muito real, estâo criando cultura. A par­
te a religião, as artes exercem a força primária que cria o significado coleti­
vo cm uma sociedade. Hoje, porém, precisamos reconhecer que a comuni­
cação comercial, cm seus vários disfarces, tornou-se uma forma de arte que
influencia profunda mente nossa cultura. Pode ser que as pessoas nunca vào
a um museu dc arte, a um concerto ou ao teatro, ou que nunca leiam um
grande poema ou romance, mas todos nós estamos expostos à comunicação
do marketing. A quantidade de atenção e qualidade que hoje entra nos
anúncios < espantosa. Os anúncios «ao criados por profissionais, com todo
cuidado, c seus orçamentos sâo generosos.
Sc você estiver disposto a ver a propaganda e outras comunicações de
m.irkenngcomo uma forma dc arte, entenderá que hoje em dia o marketing
exerce importante influência sobre a sociedade na qual vivemos. Fazer mar­
keting tendo cm mente o Criador exige que estejamos à altura desse arqué­
tipo e que percebamos, tanto quanto possível, o impacto das imagens, dos
símbolos c das histórias sobre a psique coletiva. Assim ccmo ocorre com as
belas-artes, essa percepção consciente nâo pede de modo algum imagens
açucaradas, do tipo Poliana. A totalidade da vida — o lado positivo e o lado
negativo — sc reflete na arte. O que ela pede é que assumamos a responsa­
bilidade de esclarecer nossos próprios valores, compreender os valores liga­
dos aos produtos que estamos promovendo c expressar esses valores dc um
modo irresistível e artístico, vendendo o produto ao mesmo tempo em que
respeitamos a sociedade. A arte sempre íez isso. Os anúncios podem fazer
isso agora. Reconhecer essa possibilidade dignifica tantoa profissão quanto
os indivíduos que a exercem, definindo-os como os artistas reinantes do
nosso tempo.

*iii<%tkj
2 A) M Winkkr. IVurp Sprrd Btondin^ thf ím/wr of on Marketing (No-
va York |ohn tVilcy and Sor». IW), pp 9J-95.
CAPÍTULO

t|51

O Governante
Lema: "0 poder não é tudo... é só o que imfxrta"

Quando imaginar o arquétipo do Governante, pense no rei. na rainha,


no diretor-executivo da grande empresa, no presidente de um pais, na supe-
rcliciente mae treinadora do time d« futebol infantil — ou em qualquer pes­
soa que tenha um estilo dominador c autoritário. Para pensar na pessoa com
poder, imagine Winston Churchill. Margaret Thaicher ou qualquer juiz da
Suprema Cone, tm algum lugar intermediário está o chefe, o pai ou a mâe
que agem como alguém nascido para governar.
O Governante sabe que a melhor coisa a fazer para evitar o caos é assu­
mir o controle. O Inocente acredita que os outros oprotegerào. maso Gover-
252 O HtRÔI t O FOBA-OA-LEI________________________________________________

nante nâo tem essa íé. Portanto, conquistar e


O Governante
manter o poder é sua mouvaçáo básica. Para o
Dex/o bÀsko: controle
Governante, esse t o melhor caminho para ga­
Meta: crtir uma
rantir a segurança, de si mesmo e de sua famí­
emprtst cxi comunidade
próípcra • bem-tucedldi
lia e amigos. Se você pensa em uma corte real,
Estratégia: exercer a Utferanç
* as propriedades e ambientes impressionantes
Medo: caos, ser dertituido sâo desejáveis porque fornecem os omamen-
Armadilha: tornar-se mandlo. los do poder. Os ambientes do Governante,
autoritário portanto, sâo substanciais e impressionantes
Dom: responsabilidade.
— pense nos prédios com gtandes colunas e
liderança
uma infinidade de escadarias. Os materiais uti­
lizados destinam-se a durar c sugerem atempo-
ralidade — como granito ou concreto, belos painéis e grossos cortinados.
As marcas do Governante incluem: o IRS (Internai Rcvenue Service, a
Receita federal norie-americana|. a Casa Branca. E.Fi Hulton. Brooks Bro­
thers, Microsoft. IBM. American Express. The Sharper Image. CitiBank.
Cadillac e Day-Timers, bem como a maioria das HMO (Health Maintenan-
ce Organization. as organizações de saúde], os bancos à velha moda, as em­
presas dc seguros e as prestigiosas firmas de advocacia c investimentos.
Gcorgc Bush poderia ser visto como uma marca presidencial do Governan­
te. cm parte conto resultado de sua educação cm escolas particulares e em
parte porque sua campanha enfatizava sua posição de membro do grupo
dominante e sua longa experiência na governança. Os produtos do Gover­
nante também incluem sistemas de alarme domésticos, intercomunicado­
res. sistemas de aquecimento em áreas definidas e sistemSs automáticos pa­
ra regar gramados.
Quando o arquétipo do Governante está ativo nos indivíduos, desgos­
tam dc assumir papéis dc liderança e dc estar no controle tanto quanto pos­
sível. Pensar na melhor maneira de organizar as atividades e implementar
políticas c procedimentos é uma tarefa que lhes proporciona um senso alta-
incnlc gialilicunlv dc mestria |h>«mI c poder sohrc o mundo. Os Governan­
tes lamlH-in sentem um medo intenso dc que o caos surgirá se eles nâo as­ A: cosas com colonos dos Coremantes de hoje (azem lembrar suos
sumirem o controle. Pense no deus grego Atlas carregando o mundo nos correspondentes ctiss-cos
ombros, e vocé terá uma imagem fiel da tendência dos Governantes à res­
ponsabilidade. Por isso, tendem a detestar as pessoas desenfreadas que e
serem superficiais, mas porque compreendem que a aparência aumenta o
ameaçam destruir a ordem que eles desenvolveram com tanto cuidado. poder. Elas agem com um senso natural de autoridade que torna fácil aos <•
As pessoas com fortes tendências do arquétipo do Governante sc preo­ outros segui-las. No melhor dos casos, os Governantes sâo motivados por
cupam com assuntos ligados à imagem, ao status e ao prestígio — náo por um desejo de ajudar o mundo. No pior dos casos, eles sâo apenas domina­
dores ou controladores.
<
O Governante também é conhecido como o chefe. o líder, o amwcrao. o pai (mie), o po Se você pensar em reis, rainhas e presidentes, logo verâ que eles estâo t
Wco. o ddadlo responsável, o exemplo, o gerente ou administrador. encarregados dc ajudar a sociedade a manter a paz (ou, se fracassarem, de


254 O HERÓI f O fORA UA lti *

rnvi.ii tropas militares para eliminar as ameaças). estabelecer c preservar as foi apresentado á realeza c voou no Força Aérea Um. lalvez ele seja digno
regras legais e implementar políticas e procedimentos que promovam a do seu pulso.
* A revendedora Park Avenue Buick veiculou um anúncio que
prosperidade do maior numero possível dc pessoas. Enquanto arquétipo, era absolntamente franco a respeito da ligação entre o carro c o status: “Lie

portanto, o Governante ajuda um indivíduo a se tornar rico, poderoso e bem diz tudo, antes mesmo que a reunião comece.’
assentado em seu campo de ação c cm sua comunidade. A Jones oí Nova York tipicamente apresenta seus desfiles de moda com

O arquétipo do Governante apieda as organizações hierárqu cas pui- mulheres que sâo confiantes, que estâo no controle, no comando. Você vê pe­
lo seu porte que cias sâo importantes. A DKNY (roupas, relógios, perfumes,
que, nelas, você sabe onde esta pisando Seu papel está claramentc definido
por uma descrição dc cargo. que lhe diz o que você é c quais tarefas vocé de­ etc.) veicula uma série de páginas, uma atrás da outra, sem nenhum texto
apenas homens jovens, de aparência bem-sucedida, fazendo negócios. A sé­
ve realizar Sabe quem reporia a você e quem é o seu chefe. Os funcionários
que você supervisiona não devem passar por cima dc você c (alar dirctamcn-
rie termina com um simples “DKNY
.
* As imagens dizem tudo. A Harter pro­

ic com seu chefe: c você tampouco passará por cima do seu chele e falara move sua cadeira ergonómica executiva com uma só palavra. “Nunca.’
A Van Kamprn Funds mostra um garotinho saindo de uma piscina in-
com v chefe dele Os papás c as relações sâo estáveis e bem definidos — até
ílávcl e estendendo a mâo para uma bola de borracha. O anúncio diz: "O jar­
que. e a menos que. alguém realmente os altere.
dim do palácio O príncipe. A bola real." Embora o serviço da Van Katnpen
seja administrar dinheiro, a empresa enfatiza que a verdadeira realeza tem a
A nova realeza ver com nossa abordagem diante da vida e nâo com o dinheiro que possuí­
mos: “Com os investimentos certos. qualquer um pode apreciar a REAL RI­
Muitas marcas e anúncios do Governante agcljin parap_descp que io­
QUEZA da vida. (...) Porque, enfim, viver nada mais é que desfrutar a vida."
des nos lemos dc ser bem-sucedidos e importantes. Nos tempos amigos, íeis
Muitas organizações caritativas e voltadas pari boas causas apelam pa­
e rainha
* eram gcralmentc vistos como deuses ou como seres que tinham
ra o noWesse ob/ige do Governante A Heralds of Nature. uma sociedade da
uma relação ioda especial com »».•» Jcuser.. A propng inda moderna âs vezes
National Wtldliíc Federation, faz uma exortação a seus leitores: “Destaque-
hz essa conexão entre o sucesso e a grandeza divina. Um anúncio da Lotus
se da multidão. Como membro da influente Her.il.-k of Nature. associada à
mostra uma mulher andando majestosamente pela rua. lendo um dxumen-
National Wildliíe Federation. você terá um papel preponderante ajudando
tu (lalvez uma planilha dc calculo?). A matéria diz: ‘O comum dos mortais
a NWF a garantir um lugar duradouro para a vida selvagem no mundo mo­
gerem ia pessoas e dinheiro. Você gerem ia o conhecimento dc milhares.' A derno de hoje." Alem dc ajudar a vida selvagem, você também obtém “be­
llmmasvillc, fabricante de móveis, veicula um anúncio com um lindo soía
nefícios e privilégios", incluindo “relatórios internos”, “convites exclusi­
< m uma varanda dc colunas brancas e uma estátua grega, frente .» mar. A *
vos
. “informação antecipada" sobre eventos e “seu nome incluído no
Icgend.i diz "Sabemos que os deuses para seduzir, assumiam fornas irre­
relatório anual da NWF".
sistíveis aos mortais (aproxime-se com cautela)
*
, E então ficamos sabendo A Volvo promove $eus_modelos cross coiintry com tração independen­
que “a Thoniasvdle leva o conforto, o luxo e o estilo a um reino que o pro- te nas quatro rodas por meio de lisonjãs~àõ’?ôfisumidor, sugerindo que
prio Zeus todo-poderoso invejaria”. ele(ela) é como o carro: “O segredo para ter poder ê ser capaz dc usar o po­
A Phoenix Wcalth Management está veiculando anúncios con mulhe­ der com eficácia Por isso, jumamente com seus motores robustos e turbina­
res coroadas, como se fossem rainhas. Alguns desses anúncios incluem a dos. estes Volvos têm tração inteligente cm cada ioda. Os Volvos nâo apenas
imagem dc uma mulher, cm traje dc gala, que jrarccc ter reinado ra Renas- rompem os obstáculos. Eles lhe dâo a opção dc evitar os obstáculos. Se você
<CIK,I. A legenda diz: "Algumas pessoas ainda herdam riquezas; o resto dc deseja certa finesse com o seu poder, venha nos visitar para um test-drive." A
nós nâo tem outra escolha senão ganhar o dinheiro. A Ixm notícia é que mui­ Bell Helicupter lexiron adota uma abordagem sim lar. mostrando um homem
tos dc IKK salx inos ganhá-lo Mas. r <l.»i? A Phoenix vem oferecendo ao pü- alto e confiante que parece o presidente-executivo de alguma grande empre­
bli<<» novas direções inovadoras h.i quase I 31) anos. Entendemos que fazer sa. O texto diz. "Sua missão é a nossa missão. Você sabe o que ê preciso para
dnihiiru — e saber o que lazer com ele — Oi» duas aptidões diferentes E ser bcm-succdido. Nós também. É por isso que desenvolvemos e fabricamos
por isso, entre outras cois.is. que os milionários procuram a assis.ência da somente os produtos c serviços mais seguros e confiáveis. Assim como você
Phoenix A Ac utron mostra dois relógios de pulso circundando o globo ter­ (az. Nós também conhecemos a importância de estar no lugar certo na hora
restre A empresa garante a você que “O relógio Actitron viajou ate a Lua. certa. Afinal de contas, a nossa meta também é permanecer no topo."
256 O HÍRÔI f O FORA-DA-Ltl

A promessa implícita ê que. sc vocé estudar lá. também se tornará um


Mas o que acontece quando as pessoas nâo sabem quào importante vo-
indivíduo importante c bem-sucedido
cê é? A American Express veiculou uma campanha dc sucesso, na qual pes­
soas famosas usam um cartão American Express para serem tratadas como
a realeza, quer sejam reconhecidas ou nâo. Um ótimo anúncio mostrava o Esteja no controle
escritorStephen Kingem uma velha mansão cheia de espíritos malignos. Ele O Governante está no comando e no controle. É típico dele scr mos­
confessa que. por maior que seja sua fama como escriior: ‘Quando nâo sou trado como indivíduo extremamente responsável, que joga com muitas res­
reconhecido, isso me inata. É por isso que eu. em vez dc dizer que escrevi ponsabilidades importantes. Os produtos do Governante ajudam a adminis­
(.'unte. carrego o cartão.’ Sem o cartão, diz ele: ”A vida c meio assustado­ trar essas responsabilidades dc maneira apropriada e também reafirmam o
ra" Um dos mais memoráveis anúncios da American Express, claro, é aque­ poder e o status do consumidor. Os projetores NEC apresentam, em letras
le que mostrava Bob Dole sendo cordialmcnte recepcionado em sua cidade garrafais, a exortação ‘Domine a sala", explicando que: "Com nossa varie­
natal, até o momento cm que tenta descontar um cheqae. A mensagem é ób­ dade de lentes opcionais, você estâ pronto para praticamente qualquer ce­
via; sc você quer ser tratado bem, mostre seu cartão AmEx. A OneWorld jo­ nário de produçáo imaginável " A Ssab (que oscila de um lado para outro na
ga com uma preocupação semelhante. Representando diversas grandes em­ sua propaganda, mas é gcralmente ima marca do Governante) veiculou um
presas aéreas, a OneWorld oferece acesso às salas VIP de muitos aeroportos. anúncio do sedâ Saab que diz: ‘Para liberar suas emoções, você também pre­
Um anúncio mostra um executivo dc aspecto distinto, dizendo: "Algumas
cisa renunciar ao controle?" "Nâo, sc você dirige o Saab 9-5 Aero". garante
pessoas nunca sc preocupam cm dispor dc uma sala VIP no aeroporto. Vo­ a empresa a seus prestigiosos consumidores. A Hewlett-Packard e a Intel vei­
cê c uma delas? Nào seria ótimo se seu status o precedesse, para onde quer
culam um anúncio pedindo aos consumidores que estejam ‘no comando"
*
você voasse? É óbvio que isso seria ótimo e eles, porunto. sugerem que se­
Se seu
de seus computadores, assim como fazem com seus empregados: *
ria uma decisão inteligente você sc afiliar à OneWorld.
computador não é o seu empregade mais confiável, despeça-v. Tique íurio
Embora pensemos que a Jaguar é acima de tudo uma marca do Aman­
so quando seu computador quebra Pare de aceitar ‘o servidor está fora do
te. há um anúncio afirmando dirctainente que o statusé uma das motivaçóes
ar’ como desculpa legitima. É hora de mudar o nível de confiabilidade que
básicas da pessoa que compra esse carro. O anúncio posiciona o Jaguar co­
você aceita dos computadores. Exija um computador melhor.
*
mo o carro "para aqueles que buscam o poder, o desempenho e os sinais vi­
A Delphi Automotive Systems promete que você pode estar no contro­
síveis da inveja". Em outro anúncio, vê-se o Lincoln Navigator diante de um
le mesmo quando está preso no trânsito: "Como t que você chama uma em­
notável pór-do-sol e as palavras “Rode com luxo
* A Crystal Cruises mostra
presa que é capaz de lhe trazer reprodução cm MP3. e-mail e acesso à inter­
um garçom dc temo preto, com as palavras: "O ministro dos mínimos deta­
net — tudo isso enquanto você está parado em um congestionamento?
lhes ’ A empresa promete estar “a seu serviço. (...) Atenderemos todos os
seus desejos. No ano 2000. nosso estilo de serviço singularmente amistoso Ligada." Em comparação, o site www.autobytel.co.uk afirma que você pode
colocará as grandes cidades da Europa, e o resto do mundo, aos seus pés". "compiar seu carro novo sentado confortavelmente diante do seu PC". A
A Universidade Gcorgc Washington se posiciona como uma escola do PayMyBills.com. anunciada como "a mais poderosa ferramenta para paga­

Governante, dizendo: mento de contas já criada", promete: ‘Só há uma coisa melhor do que a pi­
lha dc contas bem arrumadinha na sua mesa: a pilha de contas bem arruma-
U71/íom Jcfjcrs&i IBilll Clinton muda-se para lagaaH na esquina la Ca­ dinha no seu desktop."
ta Branca] e a imprensa mundial faz da GU' seu quartel-general; o ex-pre­ Como é que você acumula peder? Em parte, pelo trabalho em rede. A
sidente Riutald Reagan relomaáGWpara aceitar um grau honorário no dia Bizzed com oferece recursos às pequenas empresas para ajudá-las a compe­
do aniversário rio alendimenw que salvou suo vido. noCW Medicai Center.
tir. Um anúncio mostra uma mulher confiante c sorridente. O texto diz:
( ) A presenfa dc pnvmincnrcs figuras internacionais no campus t um
‘BOM. una-se a uma organização profissional MELHOR, freqúente os even­
aconiet intento quase diário rui GUf porque nossos vizinhos sdo algumas das
tos da área industrial. BIZZED. divulgue seu cartão de visitas online, intera­
móis r oiganlcatiVs ntieumais r intentar íoruiis. <il?m
«k íigrru ias ntuiiduiis. e porque <t Uniw sidade goza da mais alta tepulaçáo ja com colegas c clientes potência s. inscreva-se para os eventos comerciais
no nl\ cl global. mais importantes e fique por dentro das notícias da indústria no momento
em que elas acontecem."
P<>dcr é também a capacidade dc realizar a ação decisiva A inySAPcom Menos otimista, um anúncio (de carne) mostra a jovem mâe sendo

Í
nwsm uma mulher de aspec to brm-stiecdido com um laptop < in um aero­ pressionada dc todos os lados. Diz a legenda: "A mãe moderna, que se do­
porto c conta uma rnini-historia. Começa tom as palavras “Circo assentos bra, se estica, se estende em todas as direções. Vjí à luta. Vai ao cliente. Ho­
disponíveis Vinte r cinco passageiros ansiosos. Uma mulher com um lap- je em dia, você precisa fazer tudo isso. Fehzmentc, a carne ajuda você a ter
top Quatro assentos disponíveis." O anúncio prossegue: força para dar conta disso tudo." Os cercais Posl Shreddcd Wheat e a revis­
ta Pteventiun produziram um livreto para mulheres, ensinando-as a equili­
Stiru Brig tiiilhi um problema urn vó,i «mrcWo. uma i r<M./r estranha e
brar sua vida" e oferecendo dicas para fazer tudo funcionar. Esses manuais,
a teniuJc muno forte dc dormir n<i propriu canta Por im>, ela sc «mcetou
t claro, possuem um componente de serviço público. Eles também posicio­
a my^APeom Alguns cliques e ela enir.iu Jum no sistema dc reserva
dr pussirgcns e conseguiu um awnro noprOxímo vóo Com aquele. poucos
nam a marca como algo que ajuda as realizadoras mâes do tipo Governante
diques, seu irfuidno de despesas e seus planos dc viagem lambem foram a continuarem mantendo em pé a vida familiar.
atualizados Instantaneamente Facilmente. Automaticamente (..) Wxé Tal como ocorre com o Prestativo, uma rede de indivíduos e organiza­
quer descobrir como tadj membro da sua orgamzaido pode se torrar mais ções dispostos a assumir a responsabilidade pele bem do todo mantém a so­
poderosa’ Visite svwwsap.eom/mhsap e neX lhe mostraremos. ciedade girando e funcionando. A primeira tarefa do presidente é nos man­
ter a salvo e chamar os militares se necessário. Alan Grcenspan conserva um
Se o poder c t.lo ini|x>rtanic assim, então aposto que o sucesso dc uma olho na economia c age sempre e quando for preciso. Banqueiros, líderes
pessoa incomoda as outras que têm menos poder Algumas marcas mostram empresariais, dirigentes de sindicatos, policiais, advogados e líderes comu­
como voei cairá nas boas graças dos “ricos e famosos” e, desse modo, subi­ nitários estâo continuamcnte elaborando e pondo em vigor normas que es­
ra na vida A revista Fortune Smcill Business mostra uma mulher dirigindo tabilizam nossa sociedade. Se eles realizam bem seu trabalho, a sociedade
um carro, com a legenda: ’ Cia é do tipo que vocé adora odiar. Rica. Bem-su­ tem sucesso. Se fracassam, a sociedade fracassa
cedida. Manda-chuva Mas transforme-a cm uma cliente c tudo isso sc sua­ Os dirigentes das empresas têm o dever sagrado de manter a seguran­
viza “ I liirdVoicc veicula um anúncio com a imagem dc umi mulher ar­ ça de seus empregados, acionistas e clientes. A indústria como um todo os
rogante. porém bonita. claraincnte no comando da própria vida, com as ajuda nessa tarefa. A Epoch Internet apela para essa preocupação, veiculan­
palavras "Quer saber corno cu acho tudo o que quero na internet? (Dica: cu do a imagem de uma pirâmide e argumentando: "Os faraós sabiam como
não fico procurando.)’ Claro que ela não fica procurando. Ela tem um as­ manter seus tesouros seguros e a salvo. Será que a sua empresa não deveria
pecto tão majestoso que tudo lhe é trazido de bandeja. Seu segredo? “Eu uso fazer o mesmo?" O anúncio continua: "Como os faraós, nós compreende­
1 hirdVoice 2000 para trazer a internet inteira até mim.” mos a importância de proteger os ativos valiosos. Especialmente quando sc
E temos ainda o anuncio da Advil (produtos íarmacéuticcsj. mostran­ trata de hospedar o website da sua empresa. (...) E claro que quando seu
do uma executiva afro-aincricana que fala autoritariamente ao lelcíone. Sob website está hospedado em um dos nossos centros de dados de alta seguran­
sua imagem corre a legenda- “Eu nâo tenho tempo para aqueles dias " Os ça. seus negócios têm maiores probabilidades dc se tornarem a próxima
Governantes tampouco tem tempo para esperar na fila. £ p>i isso que a grande maravilha do mundo.” A Iomega, que faz seguros de computadores,
Hertz «1 ClubGold promete: "Sem filas. Sem preocupações." mostra um rapaz dc aspecto selvagem roubando um computador. O texto
Os anúncios do Governante frequentemente focalizam menos o staius c diz: “Você está segurado se Johnny roubar seu carro. Mas, e sc ele roubar seu
mais o controle c a capacidade de cumprir as próprias responsabilidades — computador?" Claro que. sc há coisa que o Governante odeia, é qualquer
trabalho, família c saude pessoal A Solgar Optein Wellncss Ik vcragc mos­ coisa que ele não consiga controlar. Um anúncio da primeira rede remota
tra uma mulher fazendo piggingdeh.iixodcchuva.com leroz determinação. global dc telefonia e mensagens por satélite (www.tridium.com) diz: “A co­
A matéria conta como foi o dia dela: "I evou «»cachorro para pzssear. Levou mida muda. A água muda. A língua muda. Pelo menos seu número de tele­
os lilhos para a escola. Assinou contrato como o novo cliente. Organizou a fone nâo precisa mudar."
campanha dc levantamento de lundos Deixou o filho no treino dc futebol. A Drivcway garante que o ajudará a ter sucesso, mesmo que você seja
I oi ao acupunturista Preparou o jantar Saiu para a costumeira corrida de o monarca dc um império do mal. Veiculando a imagem de alguém que pa­
fim dc urde (sob chuva torrencial)." Essa mulher está no comando da pró­ rece um imperador alienígena envolto em uma capa preta, a matéria diz:
pria vida, talvez a ponto de ser um estereotipo c nâo um scr humano real. "Acesse seus arquivos de qualquer lugar, até mesmo de sua base secreta no

5"
O GootmtAf 3*1
240 O HERÓI í O rOWA-DA-l.il

parte daquela vida, pelo menos, acessível a praticamente todas as pessoas.


vulcão ’ Sc você está dc férias, os hotéis Hilton prometem: “Tudo o que vo­
Assim como Ralph e Jerry observaram cada detalhe qu.’ dava a Cary Grani
cê precisa para seus negócios está disponível, incluindo acesso de alta velo­
aquela elegância tâo natural, hoje em dia os consumidores (de praticamen­
cidade â internet, a partir da CAIS Internet."
te todas as classes) podem "aprender" um certo modo dc vestir c. mais im­
O Governante tem uma conexào natural com o patriotismo. Gostamos
portante. de se comportar, com todas as submarcas Ralph Lauren. Desde os
do nosso país porque sentimos orgulho de suas leis e tradições De um mo­ trajes do topo da linha (com o selo Ralph Lauren em vermelho e dourado),
do emocional, conforme o grau em que aceitamos as regras—escritas e nâo-
passando por Lauren (a marca dos suburbanos confortáveis), por Ralph (a
escritas — da nossa sociedade e da nossa cultura, compartilhamos a respon­
marca dos jovens c descolados) e por Poio Ralph Laurrn (a linha esportiva
sabilidade por sua liderança. Tornamo-nos exemplos de comportamento
clássica) ate chegar, finalmcnte. aos preços mais baratos da Polo Sport Com-
apropriado e defensores do staiuí quo. Pense na sua mâe. ensinando que vo­
pany, Ralph Lauren apresenta uma visão coerente da “vida como ela devena
cé devería scr um bom exemplo para os outros.
A soda-limonada Black Currant Tango é comercializada como uma be­ scr" — civilizada, ordenada e sempre graciosa.
Pessoas c lugares vivem a altura de seu mais clevrdo potencial míttco.
bida cmincntcinente britânica (embora o tango seja uma dança originária da
Cape Cod corresponde às imagens mentais que fazemos de piqueniques de
Argentina) Um comercial famoso começa com o porta-voz di Black Cur­
rant Tango brandindo a carta de um estudante francês que provou a bebida frutos do mar na praia ao pór-rlo-sol, iodo mundo bronzeado e saudável, com
a gola da camisa levantada e as crianças correndo de pernas nuas pela arre­
e nâo gostou. O comercial prossegue, sugerindo que nâo gostar daquela be­
bida era um sinal de que o jovem francês nâo compreendia a força da cultu­ bentação. É a boa vida com que sempre sonhamos — e nâo sc trata apenas
ra britânico. O porta-voz fica tflo furinsn. que começa a rasgai as próprias dc dinheiro Trata-se dc herança cultural e de sentir qu: se tem um lugar se­
roupas, grilando: “Sim! Black Current Tango é uma mudança para as papi­ guro no mundo; é a certeza dc que a vida que você estâ vivendo é a melhor
las gustativas. Sim. ela é agressiva! Sim! Ela tem coragem! Mas nós também que poderia esperar viver nesta chance única dc existência que você tem.
lemos. Scbastian. Olhe só para nós?" O anuncio termina com uma multidão No seu aspecto mais positivo. Ralph Lauren tambent lida com a respon­
agitando bandeiras c aclamando o porta-voz que sobe ao ringue c sugere to­ sabilidade do Governante. O próprio Ralph Lauren contribuiu com uma so­
mar dc assalto a Trança, a Europa e o mundo. ma substancial para restaurar a bandeira americana original, que é citada no
O arquétipo do Governante nào lida apenas com riqueza e poder Os poema dc Francis Scott Key — a qual, sabemos todo?, inspirou o hino na­
Governantes sâo exemplos de comportamento ideal para a sociedade. As­ cional norte-americano. Hoje em dia. no Smithsonian Museum, você vê os
sim. boa conduta e bom gosto sâo da maior importância. artesãos e artesãs esmeradamente costurando â mâo o tecido, uma tarefa ár­
dua que foi possível graças ao compromisso de Ralph Lauren com a ordem,
a estabilidade e a herança cultural.
Ralph Lauren: Um defensor do estilo Governante Na Polo Ralph Lauren. os lunctonários adquiriram tamanha crença no
Ralph lauren e seu irmào Jerry cresceram no Bronx. Enquanto os ga­ espirito e nos valores do fundador, que se perguntam, brincando, se nâo es­
rotos dc sua idade iam ver os populares bangue-bangues. Ralph e Jerry as­ tarão perdendo o senso de perspectiva. Mas o próprio Ralph os inspira, qua­
sistiam aos filmes de Cary Grani. Ginger Rogers e Fred Astaire. Enquanto se que diariamente. Nas tomadas para um anúncio o» quando está revisan­
os outros ouviam Elvis, Ralph e Jerry nâo se cansavam de Ella Fitzgerald E do o conceito dc uma nova linha, sua pergunta clássica é: "Qual é a
enquanto os outros usavam sarja preta apertada. Ralph e Jerryse deixavam história?" Qual é o estado de ânimo, o sentimento e a narrativa daquilo que
cativar por suéteres com decote careca, calças cáqui e camisas :om botôezi- estamos apresentando ao público? Os empregados ser.tem que sâo parte des­
r.hos na ponta da gola. Sonhavam com Princeton e Yale. e conto seria jogar sa história E sâo mesmo.
bola nas pratas dc Hy.mnisport parecendo fabulosos e com ar de quem nào Ralph lambem tem o compromisso de saber para onde sua história de­
d.l a mínima para a aparência. ve ir cm seguida. Num certo sentido, ele resolveu um dilema: Como é que
Ralph começou como vendedor dc gravatas na Brooks Brcthers, depois pessoas que nâo nasceram cm "berço dc ouro" podeti aprender algumas das
passou a criar suas próprias gravatas e. por fim. criou sua empresa, um íco­ buas maneiras que acompanham o "berço"? Mas talvez a pergunta jâ tenha
ne de marca Mas o que talvez nào seja tâo óbvio é que Ralph Lauren. em mudado: Como é que todos nós podemos dar um jeito dc doíruiar os pra­
seu estudo minucioso da vida dos "ricos c famosos
,
* acabou tornando uma zeres oferecidos pela boa vida e. ao mesmo tempo, nào perder de vista os va-
O 263
ISJ O HÍROl t o fORA DA-lfl

quando sc permite o traje casual, as pessoas provavelmente escolhei Jo rou­


lures básicos que tornam a vida digna dc ser vivida’ lí sucesso iiwjniànci»
pas que promovem uma aura de poder e que, íalandc de modo geral, sejam
d.l$ historias do Vale do Sílu io c dc Scaitlc esla gerando um novo tipo dc
Governante. que expressa um estilo c uma sensibilidade mais a moda da
de corte tradicional, cores conservadoras c aparência sólida.
A política, claro, existe em toda organização; mis seguir a política nas
Cosia Oeste Será que o código dos "mauncinhos" da Ivy l.i ague está se mc-
organizações do Governante é como assistir a um espetáculo esportivo. Se
lamoiloseando cm algo inteiramenic novo?
a organização nâo é uma verdadeira ditadura, então ela funciona equilibran­
Quaisquer que sejam as perguntas. c quaisquer que sejam as respostas,
do os interesses dos "eleitores", assim como ocorre no governo Isso quer
Ralph I auren é um Governante que sc lez por si mesmo c que dedicara to-
dizer que gcralmentc se alcança o consenso genuíno. As vezes, os sistemas
do seu tempo c seus esforços para garantir que o ■remo' dc seus seguidores
de controle mutuo sâo tâo exagerados que dez ou mais pessoas precisam
náo caia na estagnação Ele esta aí para arrebanhar todos nos em «ua admi­
aplicar suas assinaturas a uma única decisão ou relatório Esse processo de­
rável jornada dc descobertas.
sacelera as coisas, mas também oferece aos gerentes das diferentes áreas uma
maneira de se entenderem entre si e fazerem as coisas funcionar.
As organizações do Governante: A clássica organização do Governante é o governo do Estados Unidos;

O governo dos Estados Unidos e a Microsoft ou lalvez. digamos, o governo de qualquer país estável. O poder público pro­
tege os empregos dos trabalhadores, de modo que estes se sentem seguros.
Um tipo diferente de organização do Governante gcralmentc e encon­
Os sistemas dc controle mútuo entre as várias partes do governo focalizam
trado nas seguradoras, nos bancos, nas agências controladoras e governa­ a desaceleração das tomadas de decisão, para assegurar que nâo se façam
mentais. nos fabricantes dc equipamentos de escritório destinados a execu­
mudanças rápidas e prejudiciais. No clima organizacional de hoje, nem mes­
tivos c cin inúmeras empresas gigantescas com açâo globa. Muitas
mo o governo está livre de mudanças nas estruturas organizacionais Em to­
organizações do Governante sc dedicam a estabelecer os padrões que gover­
dos os setores, as organizações estâo sc tornando menos hierárquicas, mais
nam diferentes procedimentos. Por exemplo, hoje em dias as seguradoras go­ flexíveis e mais capazes de tomar decisões rápidas, em tempo real. Os esfor­
vernam o atendimento na área medica, e o atrito daí resultante provem de ços para “reinventar
* o governo dos Estados Unidos, dentro desses moldes,
tuna colisão dc valores arquctipicos Os prestadoresdc serviços mnlicos ten­ diminuíram os níveis da hierarquia, eliminando grande parte dos escalões
dem a<er Sábios. Magos ou Prestativos c. portanto. tini valores dilcrcntcs da­
intermediários, simplificando as tomadas de decisão e erradicando vários
queles das empresas que costumam lhes dizer o que podem ou nâo fazer.
níveis de rotinas burocráticas, com isso, cortaram-se custos e tornaram-se
í m geral, as organizações do Governante sâo bem hierárquicas, com re­
os esforços mais eficientes
lações de poder claramcntc definidas; além disso, tím alguns sistemas de con­ Uma versão mais moderna da organização do Governante é vista no
trole mutuo entre as suas divisões ou suas outras unidades. O alto grau de po­ crescimento da Microsoft Bill Gates e Paul Allen começaram como haclters.
der amplifica a noção do custo dc sc cometei um erro Por isso, as decisões mas sua primeira grande oportunidade aconteceu quando a IBM precisou dc
gcralmentc precisam scr aprovadas por uma cadeia dc comando cue vai su­ um sistema operacional para sua nova linha de computadores pessoais. Ga­
bindo a pirâmide hierárquica. Gcralmentc há políticas c normas governando les e Allen compraram um sistema já existente de outra empresa, desenvol­
indo, ma» s.io comuns .is situações do tq>«» Aulil 22. por pie sâo ta ilosos re­ veram esse sistema c fizeram com a IBM uma parceria ahaincnte vantajosa
gulamentos que é impossível haver uma boa integração entre eles iodos para a Microsoft A IBM usaria o MS-DOS. mas a Microsoft conservaria a
Um ponto forte dessas organizações e que elas sâo estáveis, produtivas propriedade do software e também leria permissão de licenciar seu uso pa­
c bem ordenadas, funcionando sem dificuldades com os procedimentos e ra outras empresas. Como resultado, cada vez que a IBM vendia um PC, es­
políticas apropriados. Estes. no entanto, somente são apropriados nas situa­ tava promovendo a Microsoft. Enquanto isso, a Microsoft continuou desen­
ções que nâo exigem resposta rápida nem alto nível dc inovação, pois sua volvendo o sistema operacional e vendendo-o para todos os fabricantes de
açáu c muita lenia. A moeda corrente dessas organizações é o poder — tan­ computadores compatíveis com IBM. Fazendo isso, à moda do verdadeiro
to interno como externo. As pessoas sabem quem ocupa a melhor sala c se Governante, eles também criaram os padrões da indústria. O desfecho foi
preocupam tom isso As nuanças do poder até sc refletem no mudo de ves­ que todos os outros fabricantes dc computadores se tornaram dependentes
tir das pessoas, fim alguns casos o traje e formal e conservador. Mesmo da Microsoft, tanto que ela acabou eclipsando a IBM em importância. Mais
O Co«rr»*<M« 245
264 O HERÓI E O FORAOA-LSI

lá no barquinho — seu laptop. suas pernas e os pét descalços. Ele parece to­
tarde, quando a Microsoft desenvolveu o Windows, ela usou a mesma táti­
talmente relaxado. Cruzando n página, estâo as palavras: “Agora você tem a
ca. O Windows Office oferecia sistemas integrados que funcionavam mara­ c
tecnologia para trabalhar durante suas férias Isso quer dizer que você vai
vilhosamente bem nos aplicativos empresariais, e logo ganhou o domínio
trabalhar mais ou vai tirar mais férias? . A decisão é sua " Em ambos os ca­ €
do mercado. A Microsoft então convenceu os principais fabricantes dc com­
putadores a pré-carrcgar o Windows e acabou alcançando tamanha predo­
sos. a imagem mostra v homem relaxado, no controle, curtindo a vida t
Nos velhos tempos, as empresas operavam como se existissem isolada­
minância no mercado que foi atingida por um processo aniitrustc.
mente. Certo: elas precisavam dc fornecedores c xrcebtam a existência de
A Microsoft demonstra o potencial tanto positivo quanto negativo das
seus concorrentes, mas. numa base cotidiana, elas assumiam a autonomia.
organizações do Governante. No lado positivo, ela compreendeu como fa­
Agnieszka M. Winklcr, cm Warp Specd Branding. defende a idéia de que os
zer parcerias com a$ outras panes do mercado e alavancar essas parcerias em
velhos tempos rcalmente já se foram. Em um sistema econômico global, os
benefício próprio. Em suma, a Microsoft sabia jogar o jogo da política in­
dustrial. Além disso, enquanto seus concorrentes focalizavam a venda de países precisam reconhecer a interdependência de todos eles. Do mesmo
modo, as empresas são dependentes de todas as empresas com as quais fa­
software. a Microsoft enfatizou a tarefa dc estabelecer os paCròes da indús­
tria (e depois atendC-los). Sc você pensar na qualidade imperialista dc mui­ zem negócios Além disso, diz Winkler que "o conjunto das ínter-relaçôes
tos reis e rainhas, nâo sc surpreenderá ao ver que a organizíçâo do Gover­ cada vez mais complexas dc todos os stakeholders
* e dc todas as marcas que
nante gosta dc assumir o controle de outras empresas e ontras linhas dc estio envolvidos na consecução de um produio ou serviço” é que define o
produto. As empresas do Governante, portanto, geralmente crescem por ecossistema crucial que determina como as empresas irão operar, pelo me­
melo dc nquísiçOet. O lado negativo, claro, é se tornar um “valentão da in­ nos em lermos ideais. “Tomemos um típico produio dc software", diz cia-
dústria” por meio da eliminação das tecnologias concorrcntfs. Com o pas­
sar do tempo, tais ações acabam provocando um dispendioso processo an- 0 aplicativo prcntMlmcnte tem dc ser compatível com o Microsoft Win­
titrustc c um pesadelo de publicidade.' dows. 0 produto tem de scr tapai de funcionar en computadores dc qual­
quer marca e o box gcralmcntc especifica quais processadores Pentium tem
poder wfteiente para rodar o aplicativo, Agora, acrescente Pentium e Intel
O marketing do Governante ao efeito da marca )<S temos cinco manas envolvidas c ainda nem começa­
mos a pensar na distribuíçdo ou na promoçdo. Cada marta com a qual nos­
Na velha economia, as instituições do Governante frequentemente tra­
tavam consumidores c clientes como seus “súditos". Isso acabou. Os consu­ sa marca sc alia tem um impacto sobre a marca
midores querem ser. eles próprios. Governantes. Um anundo muito eficaz
da LivcCapital.com (“O financiamento empresarial facilitado") reflete essa Bill Gates nâo só teve a genialidade dc compreender essa realidade dos

transição O anúncio começa com a imagem de um homem sentado diante dias de hoje, como também a esperteza política para desviá-la em seu pró­
dc uma escrivaninha, olhando para um banqueiro dc aspecto Cético. 0 tex­ prio benefício
to diz: "Opção A: Você senta diante desse cara, justificando por que os dois Se você dirige uma HMO (qualquer organização voltada â área da saú­
últimos anos que você passou trabalhando merecem um empréstimo para de). verá que a situação ê semelhante Seu "ecossistema" inclui os funcio­
capital de giro. Opção B; Você preenche online um breve formulário c rece­ nários das empresas que pertencem â HMO. seus próprios empregados, as
be ofertas de financiamento de múltiplos emprestadores." Claro que essas seguradoras, iodos os contratantes independentes (clínicas, médicos, labo­
empresas, apelando ao Governante, sempre querem permii r que o cliente ratórios) que lhe prestam serviço, os auditores secuntários. os sistemas de
tenha poder. E elas nunca querem humilhar o cliente. aposentadoria estaduais e privados, as empresas farmacêuticas — e você
Os Governantes gostam do controle e não gostam que lhes digam o que ainda nem começou a levar cm conta os pacientes! Tomar decisões empre-
fazer A Microsoft veiculou um ótimo anúncio que deixa ao consumidor a
dcctOo dc trabalhar ou nào nas suas ferias Você vê um barquinho cm alto- 2 Qs sukcholdcrs dc um negocio sâo iodas as panes ineressadas c capazes dc influenciar
nur. num dia lindo. Ví- somente a parte inferior do corpo do homem que cs- cv< negcKio c scr pc>r etc influenciadas Inxa-sc de indivkJuos. grupos ou organizações que
dc alguma forma desenvolvem algum npo dc vinculo como cmprecndnncnto. O cotvccilo de
stakrholdcr e bastante amplo, imíumdo funcionários. clientes, fornecedores, acionistas, a
IMJJcusWmto und ViUonanoflntnc. CAF nrinwmcsu Prcss2000)pp IJ71J9.
sociedade e o meio ambiente (N T.)
O HtRQl t Q FORA-DA-ltl
O Co»<manc« 267

viiiais num t lima desses exige uma compreendo holiMica do ecossistema c


elo nicho que vocé ocupa dentro dele — c lambem exige que o Governante ()s símbolos do Governante que exageram ao expressar sua "separativi-
tenha a habilidade política necessária para conquistar o apoio dos diversos dade’ do Governante tornam-se vulneráveis a certo tipo de ridículo Quan­
do a caríssima maleta Ü07 dc couro sc tornou um símbolo dc fervor manía­
grupos envolv idos Está claro que sua identidade dc marca precisa trabalhar
co no mundo empresarial, muitos executivos conscientes começaram a usar
nAo só com seus clientes primários, mas com todo o ecossistema.
as econômicas pastas dc lona da Land
*s End ou mesmo mochilas esportivas.
Idcidmcnte. as marcas deveriam coniribuii para a saúde do sistema in­
Também o Philiax vem sendo substituído pelo Palm Pilot. mais moderno —
teiro. a fim dc assegurar a cooperação. A biologia moderna nos diz que as
que está sendo posicionado, intehgentemente, como uma ferramenta do
espécies que sobrevivem nâo sâo necessariamente as mais adaptadas
,
** no
Criador, e nâo do Governante. Depois qve o Beamer se tornou um forte sím­
sentido usual que damos a esse termo. Na verdade, as espécies que flores­
bolo dos excessos da era das discotecas nos anos 80. muitos proprietários se
cem o fazem porque maximizaram sua posição dentro dc um nicho c parti­
sentem rcalmente envergonhados de dirigi-los. embora gostassem do mane­
ciparam dc uin "dar c receber" ecológico que. de modo geral, fortalece to­
jo e das linhas desse carro Isso nâo quer dizer que os símbolos do Governan­
dos os seus membros. Winkler sugere que
*
te sâo irrelevantes, mas sim que eles talvez estejam sujeitos a um tipo espe­
A csfrafrgia dc $i«t mana. a pioinessa de sua marca. a esstncia dc sua cial de sensibilidade. O país que deu mundo a histórica Boston Tea Party
marea. sui caráter c pcisoiiahdjdr devem ser bem pensados e citkulado» talvez permita somente certo grau de símbolos óbvios das diferenças de clas­
poi esc tini. dc moda que possam scr transmitidos a todos as stcAcholders se. E também é mais provável que a nova “raça" de Governantes, nascida em
l sta c a unira maneira dc ini|h
*
dii que sua maica se dilua com o impas to dc Seattlc c no Vale do Silício, vá para o escritório vestindo jeans do que um ter­
iis/.ix as suas n ImiH s । um imnus marras Sua mar. a < rru.r.i c niuduui <1 no da Saville Row. estabelecendo um novo padrão para aquilo que expressa
medula </««• se <«l<ipl<i .«<•« ambiente. mas <t ttíirfcl ifuc cilhe U Wé d dc conhança genuína nu topo.
£<i>untir que da continue foi te c saudável. ' Tanto o Governante tradicional quinto sua nova forma mais populista
concordam na questão da importância dc bons sistemas gerenciais. É este ar­
I: nós |as autoras deste livro) acrescentaríamos que você também deve
quétipo que insiste que é caótico e inseguro tentar administrar o significado
garantir que sua marca continue a scr fiel a um único arquétipo, irresistível
sem dispor de um sistema específico. O Governante exige que as decisões se­
c identificável.
jam tomadas conforme as regras. Mas o problema ê que a maioria das deci­
A expressão do arquétipo do Governante evoluiu ao lorgo do tempo:
sões sobre uma marca nâo dispõe de nenhum “livro de regras" que seja útil
do monarca ac» político c do governo local absoluto â interdependência glo­
o suficiente para realmente monitorar a evolução do significado da marca.
bal com outros Governantes. A contribuição do Governante para nossa vi­
Quando você implementar as recomendações deste livro. O herói e o fora-da-
da também foi revolucionada pelas mudanças que ocorreram no paradigma
lei. para estabelecer uma identidade arquetípica irresistível para sua marca,
cientifico, especialmenie. como j.i vimos, nas ciências evolui vas e biológi­
também será importante que você monie uma infra-estrutura para comuni­
cas No século XIX. fazia sentido os gigantes da industria sonharem cm con­
car esse significado a todos os stakeholders e a todo e qualquer consultor de
quistar o domínio do mercado a qualquer preço, mas o processo antilruste
marketing, agência de propaganda ou outras pessoas envolvidas nas decisões
sofrido pela Microsoft nos diz que sc as coisas um dia foram assim, hoje ccr-
de marketing. Se você adicionar a isso uma idéia do seu “ecossistema", então
tamente já nâo sâo mais. Não h.i limite para a quantidade dc dinheiro que
você também deixará dc ver sua clicntcLi como meios consumidores que de­
uma in.iica pule ganhar ou para o tamanho que uma empresa pode atingir
vem scr convencidos a comprar o seu produto
,
* você os verá como constituin­
(.onliido hoje sc c>pcra que as marcas sejam bons cidadãos globais. Sc vo­
tes. “eleitores" Nesse sentido, o seu empreendimento vat prosperar em uma
te joga para vencer — a custa dos outros —. ironicamente, poderá perder
relação simbiótica com os empreendimentos da sua clientela. No nível mais
I cxalamcnic a mesma coisa que ocorre na política: os resultados ganha-ga-
básico, se seus clientes estão sofrendo de incerteza econômica, eles talvez nâo
nlia sâo a estratégia ni.iis segura para o sucesso duradouro Asgrandes mar­
sejam capazes de comprar seu produto. Em um nível mais cotidiano, se seu
cas saltem como ser bons cidadãosdo mundo.
produto nâo acrescenta nada à vida de seus clientes, eles deixarão de com­
prá-lo. Se vocé está sempre procurando conhecer seus “eleitores" e com­

J Aguu »:kj M WmMcr. Uirrp spenl Ihuitdtn^ /*>>• Imp»! <>/!<■< Juiitlaxy <m (No- preender suas necessidades, você naturalmente produzirá mercadorias que
Yt«rk |<-lui mmJ Sonx lsM9). pp Htt-lio. I5Ó acrescentem algo a vida deles Fies en;âo o recompensarão com sua lealda-
2M O HtRÔI g O FOHA-OA-ltl

dc O Governante diría que isso nâo é apenas uma questão de semântica, i


uma mudança de paradigma com dimensões maciças.
Nâo se trata apenas dc pesquisas de mercado, de perguntar aos consu­
midores o que cies querem Eles gcralmente nâo sabem. f: por conhecê-los
tâo bem que você sabe o que os ajudaria, antes que eles próprios saibam.
Akio Monta explicou que os consumidores nunca pediram o Walkman an­
tes de ser lançado o produto. Disposto a conhecer os norte-americanos. Mo-
rita interagiu muito com eles, sempre prestando atenção ao que diziam e fa­
ziam. Nesse processo, observou que os norte-americanos gostavam de
música, também gostavam de caminhar e. em geral, eram demasiadamente
educados para molestar os outros tocando música nos espaços públicos.
Monta notou que as pessoas nâo pediam um toca-fitas poriânl porque nem
sabiam que tal coisa era (losslvcl.
A grande marca «lo Governante conhece seus constituintes tâo bem,
que prevê suas necessidades nwls profundas. Compreender os arquétipos e
uma ferramenta poderosa que ajuda você a ir abaixo da superfície para sa­
tisfazer necessidades invisíveis e emergentes.
As Partes 2. 3.4 e 5 se destinavam a ajudar você a rrconhecer os arqué­
tipos que. como as constelações no céu. criam a ordem a partir de dados apa­
rentemente erráticos que nada têm a ver com o significaJo. Esperamos que.
nesta altura, você seja capaz de reconhecer todos os arquétipos â sua volta
— no cinema, na música, nos debates políticos, nos anúncios e. sobretudo,
nas grandes marcas. As Partes 6 e 7 o ajudarão a aplicar estes conhecimen­
tos para posicionar sua própria marca
—-................................................................... ..... ., »n....
A Identidade do Governante pode ser correta para sua marca se você . ,
tíven ' . ' ' I - ;; \ ; ” < ■ '§

• um produto de aXo préstimo. utiRzado por pessoal poderosa» para aumantv p própdo
po4* / • ■
• um produto que ajuda as pessoas a serem mais organtadai 1.
* um produto ou serdço capaz de oSerecer garanda para toda a «Ma
• serviços que oferecem assistência técnica ou Informações que ajudam a mamar ou aumen­
tar o poder ;
• uma organteaçlo com furçlo reguladora ou protetora
• um produto na faixa de preço moderada a ata
• uma marca que procura se «Merendar de outra, mais popufoa (Cara Comum) ou Wer no
campo de atividade
• um campo de atMdade que sesa reUommente estí.et ou um preduto que prometa segu­
rança e prev.s^Hdade neste mundo caótico
CAPÍTULO

A alcachofra
Como revelar o significado
arquetípico de sua marca

Assim como acontece quando se come uma alcachofra, a meta aqui é reti­
rar todas as folhas desnecessárias e chegar ao “coração" do assunto — o cer­
ne do significado indiscutível da marca. Depois de se familiarizar com os ar­
quétipos descritos nos Capítulos 4 a 15, vocC dará os passos necessários para
ver seu negócio, sua marca, sua categoria e sua empresa através desta nova
lente. Esse processo irá certamcnte clarear e iluminar o caminho para que vo­
cê projete o curso futuro da sua marca. Os cinco passos que são mais críticos
na descoberta da identidade arquetípica de uma marca estão resumidos na

Figura 6.1.
A «kMhofr» 273
212 O HEROI í O FORA-OA-LEI

bém. dc segunda mâo. por escrito, diz que a fórmula original foi desenvol­
Passo I: Buscando a alma da marca vida como um unguento para tratar a desidratação da pele dos pilotos bri­
Comece realizando o equivalente a uma escavação arqueológica, para tânicos que sofriam queimaduras durante a Segunda Guerra Mundial Era
descobrir o "capitar mais profundo e mais significativo da sua marca — sua um tipo de arma secreta" para combater os efeitos terríveis da batalha e
essência ou alma Encare o exercício como se você fosse o "biógrafo" da mar­ alegava-se que o unguento era tâo bom que chegava a parecer mágico.
ca. fazendo perguntas do tipo: Quern a criou c por qut? O que alava acunteccn- Quando o produto foi adquirido e passou a ser comercializado pela Ri-
do na cultura como um uxlo na ípoca cm que a marca foi criada? Como a marca chardson-Vicks. ern 1970, seus administradores foram suficientcmentc sá­
sc posicionou no inicio? Qual foi a melhor ou mais memordvel comunicando jd bios para perceber que nâo deveriam vender a “arma secreta" de maneira
criada para a marca? Como os consumidores vêm sc relacionando com a marca convencional: se o fizessem, ela perderia seu caráter especial. No início,
ao longo dos anos? Como eles sc relacionam hoje com a marca? Qual t o falor, usaram-se anúncios impressos, sutis e informativos, em vez da propagan­
dentro de sua essincia ou "capital", que faz a marca se destacar da concorrtncía? da no horário nobre da televisão, com base na intuição de que o produto
deveria ser "descoberto" peias mulheres e nào “vendido" a elas. O conteú­
do dc cada anúncio era espcciíicanientc projetado para sc encaixar no esti­
lo editorial de cada uma das revistas nas quais era inserido. Mais tarde,
quando a propaganda passou a scr veiculada na tevê, os comerciais mostra­
ram belas mulheres, do mundo todo, que usavam Oil of Olay. Mas os tex­
tos conservavam aquela sensação de intimidade de-mulher-para-mulher.
com legendas do tipo: "Você vê sua mâe quando sc olha no espelho’’ A es­
tratégia deliberada era a de fazer a usuária sentir que a identidade “públi­
ca" da marca cra glamourosa quando vista na tevê ao lado do marido e da
família; mas a usuária e o óleo compartilhavam seus "segredos" quando ela
contemplava o anúncio impresso em uma revista.
A linguagem visual e verbal que envolvia a marca também tinha um ar
de mistério. O produto inicial nunca íoi chamado de "hidratante"; em vez
disso, sempre foi mencionado nas peças publicitárias como um "segredo de
beleza". Uma imagem da Madona enfeitava o logotipo. Nos textos de publi­
cidade. o produto nunca era “aplicado" sobre a pele; era "derramado em pro­
fusão". Solicitava-se aos novatos no negócio, tanto na empresa como em sua
agência de propaganda, que lessem a "bíblia" da Oil of Olay c agissem de
acordo com seus "versículos", os quais explicavam o caráter especial da his­
tória c da cultura da marca.
Aqueles primeiros profissionais de marketing de uma poderosa marca
do Mago compreenderam e alavancaram a origem singular e o espírito da
marca e seu arquétipo (mesmo que nào compreendessem a teoria subjacen­
Ta! como um biógrafo, voce irà explorar tanto o lado racional quanto te dos arquétipos nem reconhecessem conscientemente a Olay como uma
o emocional, tanto a história "documentada" da marca como o folclore que maica do Mago) Eles intuíram que estavam lidando com magia e que as tra­
a envolve. dições mágicas, tal como a alquimia, eram transmitidas apenas aos iniciados.
Por exemplo, o "biógrafo da marca" descobriria que a fórmula origi­ Mais reccntemente, a tarefa de desenhar e lançar o novo Volkswagen
nal da Oil of Olay (uma linha de produtos para cuidados com a pele, líder Bcctle |Fusca| deve ter sido atemorizante. Como seria possível recapturar o
do mercado) (oi desenvolvida por Graham Gordon Wulff na África do Sul espírito icônico e a essência do sucesso do carrinho na década dc 60. e ain­
na década de 1940. O folclore da empresa, transmitido oralmcntc e tam­ da rcinterpretl-lo de modo renovado na virada do milênio?
274 Q HERÓI E O FORA-DA-LEI
A alcuhotrí 275

Os arquétipos teriam ajudado a mostrar o caminho. Jay Mays. o cria­


dor do novo Fusca e hoje cheft dc projetos na Ford Motor Company. gosta
de dizer que o conceito dc desenho de automóveis é tâo simples como tris
círculos concêntricos. invocando, mas reimcrprctando. o cspíi i to dc sua en­
carnação anterior Porém, olhando o desenho através da lente arquetípica,
vemos que a “face" do novo I use a c praticamenic idêntica à face dc um be­
bê — com olhos grandes c a testa alta c lisa. As pesquisas mostraram que cm
todo o reino animal e humano, essas mesmas características cara-de-bebê
(as características do Inocente) sâo um Ainal dc que nâo existe ameaça ■* Kr
que a criatura esta precisando de cuidados. Sâo as características faciais do
coala, do ursinho de pelúcia, do Mickcy Mouse e. mais recentemente, da­
quelas crtaturinhas dc tevê vindas do Remo Unido c chamadas Tclctubbics.
Sâo as faces que conquistam coraçòcs no mundo todo.
Ora. essa face, a face do Inocente, encontrou expressão no desenho dc
um automóvel ünico e charmoso Mas será que essa é a expressão certa pa­
ra a marca?
Para responder a essa pergunta como biogralo da marca, você teria de
examinar o significado profundo do scdâ Volkswagen original, na época em
que foi lançado pela primeira vez nos listados Unidos Como já discutimos
antes, para muitos dos estudantes de classe media que debatiam os senti­
mentos antigtierra. anti-cstablishment e pró-ambientalismo, osautomóveis
eram anátema — cspecialmente as variedades "salão bebedor de gasolina"
tâo apreciadas por seus pais. Mas eles, sendo jovens Exploradores, precisa­ 0$ «Bios grandes e a testa oito e íw do rasto de um bebi se reproduzem
no cora do ursinho de pelúóa. do Mickey Mouse. dos Telelubbtes e.oquei
vam circular Que dilema! E então apareceu a resposta na forma dc um veí­
mea surpreendente, na "coro" doVa'ksv,ogen Beetíe [fusco] reencornodo.
culo pequeno, de aspecto bizarro, que economizava gasolina: o "nâo-car-
ro". o Inocente. americano, um espírito capaz dc continuar diferenciando dos concorrentes
Hoje em dia. olhamos para a reencarnaçâo do Fusca c damos um sor­ a empresa automobilística que leva seu nome. A história da General Motors,
riso Náo sabemos exaiamente por quê. mas sentimos que seria realmente por outro lado, está associada ao poder e â influência dos Estados Unidos
fantástico dirigir um Fusca, ter um Fusca Por alguma razão inexplicável, no mundo, sugerindo que seria capaz de levar adiante um tipo bem diferen­
gostaríamos de ter um Fusca de cor primária. O que intuímos como consu­ te de essência. Para as marcas icônicas. a história nâo é irrelevante; elas fo­
midores. mas nâo conseguimos expressar, é o prazer dc ver o Inocente res­ ram moldadas pela época e lugar onde nasceram e, por sua vez, também
suscitar dessa maneira tâo inteligente. moldaram a cultura.
Quando você estiver trabalhando a marca de uma empresa ou organi­ É frequente que a descoberta da essência profunda (ou alma) de uma
zação. será sábio dar um passo extra. Dedique algum tempo para estudar sua marca — cspecialmente quando essa essência é coerente com os valores da
cultura organizacional e seus valores. Observe as ' historias dc criação da organização — leve a uma identidade arquetípica que parece ser tâo genuí­
marta ou da empresa. Como foi que ela começou? Quais eram os valores bá­ na. tão correta, que achamos desnecessário ir adiante. Mas mesmo sendo a
sicos dc seu fundador? Sc houvesse um documentário sobre sua marca, qual resposta certa, será necessário percorrer inteiramente os cinco passos reco­
seria seu titulo? Qual seria seu enredo? mendados. porque a interpretação dessa essência deve ser relevante e tam­
A origem da Ford. |>or exemplo, esta ligada à criação da linha de mon­ bém diferenciadora em um contexto contemporâneo.
tagem c à possibilidade de cada pessoa comum ter seu próprio carro. Visto
em retrospecto. Henry Ford representa uma espécie de herói popular norte-
_______ Ajdochofr* 211
276 O HERÓI EOFORA-OA-LCI

apreensivas. Entào a professora entra com uma Instant Câmera e todas as


Passo 2: Buscando a substância da marca
crianças começam a tirar fotos umas das outras, observando a revelação ali
O segundo passo da análise assegura que a identidade arquetípica suge­ mesmo. O fundo musical evoca o poder transformador do Mago ("De repen­
rida pela "escavação arqueológica" esteja também ancorada em alguma ver­ te. voce estâ mais peno do que antes"), enquanto vemos as crianças come­ €
dade sobre o produto ou o serviço — o ideal é que seja uma verdade física e çando a fazer amizade com os coieguinhas e com a nova professora.
O produto físico, em si. também oferece pistas significativas. Em geral,

contemporânea. Por exemplo, muitos bancos e associações de financiamen­
to da casa própria nasceram como instituições do Prestativo Relrmbremos o os produtos do Prestativo sâo calmos e aliviam, como o chocolate quente. €
filme A Jdicidadc nt'.o sc compra: o banco de Georgc sempre cuidou do bem- Os produtos do Inocente tém traçado simples ou cor branca, como o talco. e
estar das pessoas da cidade; elas, por sua vez. esvaziam as carteiras e cofrt- Os produtos do Fora-da-lei geralmente têm uma dose de "pimenta" — co­
t
nlios para ajudar a pagar a caução legal quando o banco está com problemas. mo o molho Tabasco. E os produtos do Mago podem ser brilhantes, trans­
Nâo $o no cinema, mas na vida real, muitas marcas bancárias da> comunida­
lúcidos e mutáveis.
t
des e cidades pequenas já tiveram relações de amizade e apoio com seus Quando as características do produto nâo indicam com toda essa cla­ <
clientes, ancoradas cm uma noção de genuína confiança e estabilidade. Wil- reza uma identidade arquetípica. é necessário realizar uma pesquisa profun­
liam Bradlcy. pai do ex-senador Bill Bradley. certa vez afirmou que o maior da e sensível do consumidor para descobrira verdade daquilo que já foi cha­
t
orgulho dc sua carreira como presidente do banco de sua cidade natal. Crys- mado "o drama inerente do produto", quando o produto é usado na vida real <
tal City. Missouri. era o fato de nunca ter executado nenhuma hipoteca so­ em base cotidiana. Esse tipo dc pesquisa faz mais do que oferecer dados ou
t
bre a fazenda ou a casa dc seus clientes durante a Depressão dos anos 30 — mesmo informações — ele assume as aptidões, a perspectiva e a capacidade
o banco e o cliente sempre encontravam um jeito dc resolver o problema.
analítica que levam à percepção intuitiva genuína.
t
Mas sc esse tipo de banco quisesse assumir uma identidade do Presta­ Os estudos etnográficos sâo um meio de chegar mais pcitu desse tipo t
tivo nos dias de hoje, precisaríamos analisar a autenticidade contemporânea de verdade humana. Adaptada da antropologia cultural, essa abordagem im­
desse conceito. Qual é a base da relação dos bancos com seus cientes? Exis­
t
plica que o pesquisador passe algum tempo com o consumidor-alvo em seu
te uma rclaçáo real ou apenas uma série de transações’ Qual é o caráter da ambiente, observando, interagindo e discutindo o produto e seus benefícios
t
política interna de pessoal dos bancos? Quais sâo suas políticas em relação no contexto mais amplo da vida do consumidor. O processo poderá levar al­ t
às queixas dos clientes? O que acontece se um cliente, geralmenic respon­ gumas horas, ou mesmo alguns dias, mas as oportunidades de aprendizado
sável. dc repente começa a atrasar as prestações da casa própria porque per­

sâo infinitas. Como o consumidor decora seu lar? O que há dentro dos ar­
deu o emprego? mários? Quando a família está mais tensa? Quando está mais relaxada? Co­ ♦
E bem possível que uma identidade do Prestativo esteja fora de ques­
tão. cinlxira cia provavelmente oferecesse comunicações relevantes e diíe-
mo sâo as interações entre os membros da família? Na casa, o que mais bem €
expressa <>s valores desse consumidor? O que ele voltaria correndo para sal­
renciadoras. Por outro lado, uma análise honesta daquilo que o banco real- var em caso dc incêndio? Esse tipo dc perspectiva próxima e pessoal gt ral-

mente faz por seus clientes levaria a outros caminhos simbólicos que mente produz resultados surpreendentes.
lamhém sâo irresistíveis. Por exemplo. Sesame Street, o popular e respeitado programa educati­
Às vezes, esses pontos de alavancagem física ou funcionalsâo óbvios e *
vo para pré-escolares, foi desenvolvido para atrair também as mâes e encar­
estão claramentc ligados a um significado arquetípico. Por exemplo, as tec­ regadas. além das crianças, porque as pesquisas do Children's Television ♦
nologias que sâo totalmcnte novas para uma cultura costumam ler uma ób­ Workshops (hoje Sesame Workshops) mostraram que as crianças aprendem
via qualidade "mágica" até se tornarem corriqueiras. Pense no telefone, melhor da televisão quando estão interagindo com seus pais. Com base nes­
quando era uma novidade, ou na televisão, ou no forno de microondas. A <
se princípio, os produtores desenvolveram grande parte do programa em
propaganda inicial dos telefonemas interurbanos—que as pessoas viam co­ dois níveis, entretenimento educacional (bem pesquisado) para as crianças <
mo algo absolutamentc milagroso — evocavam claramente o espírito do
Mago. O mesmo ocorreu com a fotografia instantânea. Por exemplo, um co­
pequenas, e uma camada (bem escrita) de douMe entendres ou referências <
culturais para divertir c cnticier as mâes.
mercial veiculado nos primeiros dias da Kodak Instam Camera mostrava Em grupos focados, as mâes e as outtas pessoas encarregadas de cuidar
C
crianças pequenas na classe, no primeiro dia dc aula, parecerdo tímidas e •'j-U das crianças comentaram que gostavam de assistir aos programas ao lado <
í
í
279 O HERÓI E o EQRA ■ O A - L E I _________________________________ A xktchofr-» 279

ilas crianças, o que vinlia d.ir apoio a esse primipio consagrado Mas quan­ O papel da marca é funcional ou ele expressa algum valor para seus
do você ia a casa delas dc manhã para observar o que estava aconiecendo. a usuários?
dinâmica era diferente Depois que surgiu Sesame Street, as mâcs atarefadas A marca faz parte de uma categoria de produtos com alto envolvimen­
(muitas delas preocupadas cm levar os lilhos mais velhos à escola ou cm to ou com baixo envolvimento?
irem, chs próprias, p.ira o trabalho) se sentiram livres para cuidar da casa e O uso da marca é ocasional ou rotineiro?
dc tudo o que precisavam fazer, aliviadas por saberem que o filho pequeno A tendência dos consumidores é usar exclusivamente a marca, ou tê-la
estava nas buas mâos dc um programa de qualidade. Ocasionalmente elas como a marca dominante, ou a marca faz parte de um leque de marcas que
iam .i sala dar uma olhada, talvez rindo dc um pequeno segmento do pro­ os consumidores acham igualmente aceitáveis?
grama. edi pois voltavam a seus afazeres. As mâcs estavam assistindo ao pro­ Qual é o nível de fidelidade dos consumidores à marca?
grama? Mais ou menos. Esse comportamento das màcs estava de acordo Você está tentando manter sua franquia atual, ou atrair para sua fran­
cum a crença de que elas ficavam ao lado dos filhos pequenos diante da te­ quia usuários que preferem outras marcas, ou está tentando expandir o uso
vê. assistindo ao programa do começo ao fim? Nâo. geral da categoria de produto atraindo os usuários para a sua marca?
As obsei vaçdes feitas por esses estudos etnográficos levaram a equipe Você quer apenas aumentar a íreqüência do uso de sua marca entre os
de produção e os roteiristas a avaliar quanto do conteúdo deveria scr rele­ consumidores que já a usam?
vante para os aduhos c quanto deveria scr purarnente infantil. Muito da au­
têntica inteligência e sofisticação adulta dos programas permanece, mas as
pesquisas ajudaram a explicar a imensa popularidade do novo segmento Passo 3: Encontrando a alavancagem competitiva
chamado "Elmos World", que íoi desenvolvido tendo em mente apenas a Depois de repetidas análises e de algumas pesquisas bem-feitas c sen­
criança dc três anos dc idade. síveis sobre o consumidor, os Passos lei geralmente têm levado as empre­
Outra perspectiva etnográfica «obre as manhãs nos lares norte-ameri­ sas a desenvolver uma hipótese sobre o arquétipo ou os arquétipos que sâo
canos levou a um tipo diferente dc percepção quanto a verdade do produio correios e verdadeiros para a marca na qual estâo Interessadas. O Passo 3 as­
Operando com base na picmi$s.i bastante razoável dc que as mulheres eram segura que a "resposta" nâo é apenas adequada e conveniente, mas que ela
freneticamente ocupadas na parte da manhã, um grande produ;or de ali­ oferecerá uma diferenciação significativa e sustentável no mercado.
mentos estava focalizando o ’ desjejum na correria', uma pruposn saudável O modelo c o banco de dados BrandAsset Valuator. da Young &r Rubi-
e portátil para determinado segmento da população feminina Pata ajudar a cam. mostram que uma diferenciação relevante ê o "motor da marca" — a
refinar a idéia desse produio, coordenamos grupos focados para sondar co­ qualidade que mantém a marca viva e forte. No atravancado mercado de ho­
mo eram as manhãs nesses lares Mas. cm vez dc apenas explorar o contex­ je. as marcas que parecem indiferenciadas caem para a condição dc commo-
to, pedimos a cada mulher para descrever detalhadamente o que ela comia
dity e. por decorrência lógica, o preço torna-se o critério básico para a esco­
de manhã, onde c como fazia essa refeição Para nossa surpresa, por mais
lha do consumidor.
frenética que fosse a rnanhâ da mulher, o chamado "desjejum na correria"
Para começar a avaliar se o arquétipo proporciona uma base para a sin­
cra. na verdade, um precioso momento dc calma Mesmo durando três ou
gularidade de sua marca, examine o ambiente competitivo em termos do sig­
q-.iatro minutos, mesmo «ornado de pé junto á pia da cozinha, o lato é que
nificado arquctipico:
todas as mulheres entrevistadas por nós afirmaram que aqueles msiantes
com o pãozinho ou o cereal c uma xícaia dc café representavam o momen­
• Algumas marcas quaisquer entraram inadvertidamente em território ar-
to cm que cias sc concentravam, examinavam a situação c juntavam forças
quetípico? Sc isso ocorreu, quais arquétipos? Algumas outras marcasse re­
pura enfrentar o dia. Muitas delas saíam mais cedo da cama, antesque o res­
lacionam claramcnte com o arquétipo mais adequado para a sua marca?
to da família sc levantasse, somente para desfrutar aquele momento dc cal­
• Como seus concorrentes estâo apoiando os próprios arquétipos e se mos­
ma no desjejum. O fato dc termos leno as perguntas certas (c de termos sa­
trando à altura deles?
bido ouvir) salvou nosso cliente dc cometer um grande erroc permitiu que
• Em qual nível seus concorrentes estâo expressando o arquétipo? Existe al­
sua empresa reavaliasse toda a proposta
guma oportunidade dc passar para um nível mais profundo, mais relevan­
Algumas perguntas que poderiam fevar a uma exploração mais profun­
te ou mais diferenciado?
da das relações entre o consumidor e a marca incluem as seguintes:
280 O HCROl E O FORA-DA-LEI
<
• Na sua categoria. há algum concorrente expressando o mesmo arquétipo ração dos Direitos protege "a vida, a liberdade e a busca da felicidade ). es­
que você, ou os seus dois arquétipos? Existe alguma oportunidade para se tipo dc ínicrpretaçâo mais profunda do arquétipo, ironicamente, quase
um arquétipo realmente novo na categoria? nunca é transmitido aos jovens.
*
Esta avaliação competitiva deveria iluminar suas idéias e estreitar o €
Por exemplo, quando todas as marcas dc café eram variações do arqué­ campo dos arquétipos, ate chegar àquele que é claramcnic o melhor Seria
tentador “pedir emprestado' um pouquinho deste ou daquele arquétipo,

tipo do Prestativo, a General Foods lançou uma linha dc café instantâneo aro­
matizado ao estilo europeu. oferecendo uma identidade do Explorador que mas então o poder essencial do conceito claro e coerente de um arquétipo €
dava aos consumidores uma maneira nova e excitante de expcr.incntar o ca­ estaria comprometido. Em vez disso, no momento em que um arquétipo pa­ C
fé Mais rcccntcmcnte c com mais sucesso, a Starbucks fez a mrsma coisa rece scr o correto para a sua marca, mergulhe nas profundezas de seu con­
ceito. Examine os níveis dc seu arquétipo, conforme realçamos nos capítu­
t
Muitas vezes, como discutiremos cm capitulo posterior, a marca líder
de uma categoria acaba possuindo o "arquétipo dominante da categoria" los anteriores.
c
(por exemplo, a Ivory “marcou" o significado profundo e arquedpico da lim­ Ás vezes e útil fazer um gráfico simples mostrando como seus concor­ t
peza). Sc o líder está fazendo isso, c fazendo-o bem. pode-se criar diferen­ rentes estâo posicionando os próprios produtos cm dado momento. O grá­
ciação a partir de um arquétipo secundário da categoria ou talvez algum ar­ fico da Figura 6.2 identifica cm linhas gerais os arquétipos nos anúncios de t
quétipo totalincnic novo. Por exemplo, diferenciando-se da identidade sapatos que estavam sendo veiculados quando escrevíamos este livro. Claro t
Inocente da Ivory. a Duve firmou-se mais como uma marca do Prestativo, o que somente algumas dessas marcas têm uma identidade consistente. Se vo- t
que está ligado ao fato dc que o sabonete Dove tem hidratantes que o Ivory
nào tem c. portanto, “nutre" a pele. •
O líder da categoria às vezes também apresenta oportunidade para um
arquétipo “desafiador", ou antítese. Joc Camel fui o Bobo da Corte para o sé­
rio I lerói da Marlboro; a Pepsi foi outro tipo de marca do Bobo da Corte que
t
ridicularizou com muito bom humor a santarrotia e Inocente Coca-Cola <
Outra oportunidade de diferenciação é encontrada quando você iden­ t
tifica um novo nível do arquciipo, que até então passou despercebido na ca­
tegoria. Por exemplo, passando os olhos pelas revistas direcionadas aos ado­
«
lescentes c adultos jovens, você encontrará anúncios aasolutamcnte <
inundados com imagens do Explorador, para tudo, desde roupas até entre­ <
tenimento. É provável que isso ocorra porque o elo Explorador/juventudc é
bastante Obvio, mesmo para quem pouco conhece dc arquétipos. Mas um <
exame atento fará você descobrir que quase todas aquelas marcas nào só têm
o mesmo arquétipo, como também todas elas operam no mesmo nlvcl des­
se arquétipo — o uivei mais su|X-rlicial c obvio. Anuncio atris dc anúncio
mostra "o rebelde", quando a verdade é que essa é apenas a ponta do iceberg
do Explorador Debaixo da superfície estâo os aspectos mais profundos des­ <
se arquétipo, que sâo alianiciitc relevantes para as pessoas jovens, mas que
os publicitários estâo ignorando: o Explorador como buscador da verdade,
<
fiel a $1 mesmo, que nâo sc vende nem faz concessões e que se preocupa com <
os princípios Na Europa, a Levis se posicionou como a rnaxa dos jovens <
que têm a coragem e a motivação para embarcar na jornada dodescobnmcn-
to daquilo cm que acreditam — mas nos Estados Unidos (a terra dos imi­
grantes. das amplas fronteiras e do individualismo vigoroso, onde a Decla­ Figuro é 2 <
c
í
282 O HERÓI E O FORA-DA-LEI A «kachofr* M

< c estivesse pesquisando.1concorrência. é evidente que gostaria dc diferen­


ciar as identidades dc marca estabelecidas das campanhas efémeras c, no
maior grau possível, identificar seus níveis arquenpicos.
Quando o desenvolvimento de novos produtos é a chave, analisar a ca­
tegoria a partir dc uma perspectiva arquetípica conduz você a algumas idéias
decididamente inovadoras c singulares, Essa moldura íorça você a pensar
em algumas possibilidades surpreendentes: O que ofereceria um banco do
I ora-da-lci? Uma cerveja do Amante? Uma revista do Explorador para pais
dc crianças pequenas1
Quer seu produto seja um empreendimento novo ou uma marca esta­
belecida. determine qual nível dc seu arquétipo é o melhor para vocé ala­
vancar. E então anahsc como vocé expressaria esse arquétipo em todos os
aspectos da marca Vejamos o McDonalds. por exemplo: seu arquétipo do
Inocente vem ã vida em muito mais do que em seus restaurantes e cm sua
publicidade; o arquétipo sc expressa na McDonalds All School Marching
Ibnd. um símbolo sadio numa época cínica; nas Ronald McDonald Houscs,
dando apoio a “inocentes" que sofrem; nos arcos dourados; c nas promoções
apresentadas pelo McDonalds. E a Budweiser (a cerveja du Caia Comum)
traz de volta periodicamente os cavalos da raça Clydesdales. como recorda­
ção simbólica da importância da tradição e do trabalho duro. Faça um
bniinstorm para ver aonde seu arquétipo poderá levar vocé. em c<da disci­
plina da comunicação que for possível. E então, para enriquecer ainda mais
sua direção, tome essa nova ou esclarecida identidade dc marca c a impreg­
ne com uma profunda compreensão do seu consumidor.

Passo 4: Conhecer seu consumidor


O estágio final da análise assegura a alta probabilidade de que o arqué­
tipo seja poderosamente relevante e significativo para o seu cliente-alvo. nào se identificarão com os anúncios. O marketing arquetípico assume o ex­
Embora alguma parte dc nós responda a todos os arquétipos existentes, ob- tremo oposto — a idéia dc que os anseios irrealizados levam as pessoas a
scrva-sc que certos contextos, situações ou pontos de transição na vida tor­ responder, cm um nkd mais profundo, às coisas que estão ausentes (e nâo

nam um arquétipo espccialmente potente. às coisas que elas já têm).


Pais dc primeira viagem, aprendendo a ser Prestativos, precisam da aju­ Os estágios de Eric Erickson. resumidos na Figura 6.3, destacam o con­
da dc Sábios e dc outros Prestativos. Os jovens que estão se soltando dos flito ou problema fundamental cm cada estágio da vida. Cada “luta" levan­
pais precisam de marcas do Explorador que os ajudem a expressar a auto­ ta questões que sâo poderosas, mas conflitantes: a meta ou mestria que re­
nomia rccém-dcscobcrta. I: às vezes os pais que estão no estágio d: “criar a presenta o movimento para frente versus aquela que perpetua o status quo.
ninhada'
* lambem piccis.un de marcas do Explorador para se sentirem um Por exemplo, a criança, cm seus primeiros anos de vida, trava uma luta en­
pouco mais jovens, livres e independentes. tre o esforço e a inferioridade; já as pessoas que estão nos estágios mais
O marketing do ‘estilo de vida" levou à premissa de que as pessoas que­ adiantados da vtda enfrentam a integridade ou o desespero. Embora ambos
rem ver imagens espelhadas dc si mesmas na propaganda; caso contrário. os impulsos sejam poderosos, poderíamos argumentar que os arquétipos
284 O HERÓI E O FORA-OA-LEI

t
Além do estágio individual de cada cliente na vida, também é aconse­ t
lhável que você considere o estágio de cada um deles no ciclo da vida fami­
liar. Seus clientes sâo pessoas solteiras, mais jovens ou de mais idade, ou sáo
t
idosos sobreviventes solitários? Se seus clientes estâo nos estágios dc "criar •
a ninhada", trata-se da fase inicial (filho caçula com menos de seis anos dc <
idade) ou da fase final (filho caçula entre seis e 18 anos de idade)? Já que
As têcn«M de projeçào com tx?$e râucrf geralmente $e mostram úteéAi duas hoje em dia as pessoas tendem a deixar o casamento e os filhos para mais
<
Atrações ooma focam w^zodaí em um estudo do Nobdnof Pwert.ng tarde, é bem possível que alguns indivíduos que estâo vivendo os últimos
Assodotion que nsava analtar « f>rkxxíode$ e preocupações dos ptssoos estágios do desenvolvimento pessoal dc Erickson também estejam vivendo
com flhos e das pessoas sem jWios draote do coNne eJeitocol no hora de os primeiros estágios da formação da família.
votoz. Em gero), sois abordagens revelam critérios mm profundai e Do mesmo modo, às vezes o aspecto dominante (ou mais visível) da
outênzicos do que quando os pessoos se submetem o um quesfronomeoto
dueto.
populaçio-alvo não necessariamente representa a melhor oportunidade pa­ <
ra você se conectar 3 esses clientes. Por exemplo, fizemos uma pesquisa en­
tre mulheres na (aixa dos quarenta anos que estavam no estágio de "criar a
<
que alimentam e direcionam o desejo mais saudável c positivo terão sempre
ninhada", nossa pesquisa revelou nelas a tendência dominante de refletir o
mais sucesso do que os arquétipos que apelam para o desejo negativo. Em
arquétipo do Governante — levar as crianças de carona para lá e acolá, or­
certo sentido, o uso do arquétipo positivo molda no cliente o instinto sau­ «
ganizar jogos e fcstinhas, manter a harmonia no lar e, ao mesmo tempo, de-
dável. Considerar o estágio da vida cm que estâo seus clientes t um bom
dicar-se ao próprio emprego. Ê o comprometimento dessas mulheres com a <
ponto de partida para você examinar a relação deles com o arquétipo que
vocé está pensando cm utilizar.
ordem, a estabilidade e o controle que torna tudo isso possível. «
<
<
w. ■.
M4 O Ht ROl t o FOR A-OA-lft
A <k«chofr< 207

Inúmeros publicitários dcsc0br1r.Mi1 essas mesmas tendências (embora


dc orgulho nacional, Adolf lllllcr íoi uma “venda" fácil — um Governante
provavelmente nâo tenham compreendido as raízes mais ptufundis do ar- que se alimentava do desejo dc um povo dc se sentir poderoso, importante
ipietipo do Governante. espeelalmente no contexto das mamães atormenta- e no controle. Na sociedade cada vez mais secular dos Estados Unidos do
)das
*, l is a reação desses publicitários eles embarcaram no trem do 'estilo pós-guerra, o lado negro do Mago — a necessidade e a vulnerabilidade —
dc vida 1 para posicionar suas marcas e criar a propaganda, com inuncios era tâo profundo c difundido que “reverendos" alucinados e gananciosos
que mostram mulheres correndo dc um lado para o outro, mas heroicamen­ (como Jim Jones c outros iguais a ele) facilmente conseguiam ganhar a leal­
te “segurando as punias' da vida laimliar dade c o comprometimento dc milhares de pessoas.
Contudo, nossa pesquisa revela que as rnãcsdo tipo Governante nâo ne­ Quando as forças arquetípicas sâo menos visíveis cm uma cultura, é aí
cessariamente prc< isarn ver refletida ou validada essa parte dc si m.-smas — que elas sâo mais poderosas — como buracos negros buscando ativamente as
elas estâo bem cientes dc como c a vida que levam c dc tudo o que precisam forças vitais que os preencherão. O charlatão e o vendedor agressivo com­
ÍJzer! Um ponto ainda mais importante: a análise arquctípíca mais profunda preendem isso iniuitivamcnte, mas os profissionais de marketing tendem a
indica que as novas c ‘florescentes" identidades e tendências — mpulsos preferir uma rota mais racional c literal, lutando para seguir a última “moda".
adormeeidos que falam com aquela pessoa em quem a mulher quer se tornar O sistema de arquétipos oferece uma rota mais substantiva para com­
tpiando toda essa pressão diminuir (a vozinha que diz. "E cu. como é que fi­ preendermos os consumidores individuais e a cultura que os cerca, permi-
co?’”) — nâo precisam dc nenhum apoio crítico e de nenhuma validação. undo-nos focalizar as ‘últimas modas
* de modo bem mais profundo e sig­
No fundo do coração dc muitas dessas mulheres existem fortes impul­ nificativo do que o modo hoje praticado. Nâo estamos falando aqui de
sos do Criador, que hoje talvez só sejam visíveis durante algum projeto ar­ guinadas repentinas dc um arquétipo para outro, baseadas naquilo que está
tístico ocasionai ou alguma visita "egoísta" a uma exposição dc ariesanato na moda e naquilo que está fora dc moda. No momento em que uma marca
1 in outras mulheres há fortes pressões de tendências do Sábio, pois elas co­ está lançando sua identidade, seria bom para ela cavalgar a onda de um ar­
quétipo reprimido porém emergente. Uma vez estabelecida sua identidade,
meçam inconscicntcmcnte a integrar e d.ir sentido ãs experiências que tive­
então se determina como estabilizar essa expressão de uma necessidade hu­
ram na vida E em outras, ainda, existem poderosos impulsos c aptidões do
mana básica de modo a fazê-la perdurar ao longo do tempo.
Mago, pois elas silenciosamcntc sc preparam para a época cm que poderão
Em qualquer dos casos, é útil refletir sobre perguntas como: “Quais
transformar aspectos do seu lar, do seu casamento, da sua comundade ou
necessidades humanas fundamentais estâo sendo bem servidas neste pon­
lalvez dc si mesmas.
to da nossa história individual ou coletiva? E quais necessidades estâo sen­
Por isso, nâo causa surpresa que Manha Slcwart (dignificando c refor­
do mal servidas?" Essas perguntas levarão ao verdadeiro lampejo de intui­
çando o impulso do Criador). Oprah Winírcy (validando e apoiando o Sá­
bio) e inúmeros spas e livros de auto-ajuda tenham sc tornado verdadeiras ção e inspiração
E assim 0 passo final sonda com muito mais profundidade do que as
fontes dc influência na industria. E. ao mesmo tempo, também nlo causa
abordagens convencionais os desejos, os medos, os conflitos e as aspirações
surpresa que tantas marcas que subiram a bordo do trem do estilo de vida
do púbhco-alvo, para compreender totalmente como ocorrerá sua ressonân­
"rnatnâc feiticeira" tenham sc tornado fracassos indiferenciados
cia com o arquétipo.
Muitas vezes o equivalente a esses impulsos adormecidos existe na cul­
tura como um todo, criando urna imensa necessidade — e uma oportunida­
de Poderíamos argumentar que durante a década dc 1980. a cra das disco­ Passo Cinco: Manter o curso — Administrar
tecas nos Estados Unidos, o arquétipo do Criador era menos estimado na o “Banco da Marca”
cultura norte-americana — que. em vez dele, preferia o ctos do Governan­
te. controle, responsabilidade c sucesso I por isso que a determinação de No final deste processo analítico singular, as empresas têm um grau

Martlia Stcwart dc reinar contra a corrente, com o conceito da criaiivtdadc sem precedentes de confiança quanto ao seu potencial icônico ou lugar ar-
quetípico no mundo — o que resulta em sucesso no mercado c também em
domestica, talvez tenha encorajado a adoção desse conceito tanto na públi-
um foco excitante c revigorante para toda a organização.
< o-alvo primário quanto na cultura cm geral
Depois que o lugar arquetipico da marca no mundo foi esclarecido, o
I orças sinistras também prccnchem esses vácuos Para a cultura aleinâ
processo dc nutrir essa identidade — e benejiciar-se dela — deve ser admi-
du começo do século XX. desesperadamente em busca de qualquer vestígio
rviilcv dc numas (que nu Uij-.i-ui.i Iuhmhi .•> .. ................................. .
gócios) e para hdercs empresariais (que sâo responsáveis pelo planejamen­ se desviado de seu arquétipo urigiti.ii to cxpiviauui/ » p-»Mwu
ra-da-lei, o Herói, o (. ara Comum c. mais rccentcmente. o Amante. Bem. sc
to de longo prazo) e o conceito do "Banco da Marca", de Margaret Marks.
ela fosse lançar a linha "Férias com Levis", o que o consumidor poderia es­
mostrado na Figura 6 4.
perar? Uma fuga espetacular e sensual? Uma viagem simples, com orçamen­ €
to limitado? Ou uma rude aventura nu deserto? Antes, todos nós teríamos
Construção da marca escolhido de imediato a terceira resposta, mas ultimamente as coisas nâo es­
tão muito claras; isso cria uma situação negativa para quem quer se benefi­ €
ciar da identidade da marca-mâe. Considere, alternativamentc. o lançamen­
to da linha dc férias da Polo Ralph Lauren Ou as viagens da LL Bean. Vocé

nâo sente dc imediato como seriam essas duas campanhas publicitárias? A t
comparação oferece um ótimo teste dc percepção. C
Alem dc estar certo dc ter nutrido consistentemente uma identidade
“Depósito»" forte, você precisa ter certeza de que as ações que representam "saques" do t
Víkx que
COn<r^u> pjrj
Banco da Marca sâo acompanhadas por ações equivalentes que "depositam" t
o significado desejado Por exemplo, as Ronald McDonald Houses. a McDo­
* m»r<j
nald AU Schools Band c os restaurantes uniíormemente imaculados mais do
t
que compensam a mudança na política publicitária da empresa hoje a Mc­ t
Donald^ tem menos propaganda da mana e mais promoções competitivas è
e oportunas do que antes Mas se tudo o que foi feito tivesse mudado a ên­
fase cm sua publicidade no nível nacional — sem quaisquer "depósitos"
t
compensatórios — seus "balancetes" mudariam e os norte-americanos co­ e
meçariam a ver a marca dc maneira diferente. Do mesmo modo, a produção t
brilhante dc Rft LtOo pela Disney, um cinema que renovou a Times Square
Uma marca é um repositório de significado valioso e da boa vontade
e a disputa acirrada entre a Disney/ABC e a Time Warner sâo acontecimen­ t
dos consumidores. A “oferta" (qualquer açâo realizada em nome da marca
— seja uma breve promoção a preços reduzidos para atrair novos usuários,
tos que nunca passam despercebidos ao consumidor. t
Esse tipo de Banco da Marca, ou "balancete", pode ser administrado
seja um programa de relações com o consumidor, seja uma extensão da li­ quase intuuivamente no caso das marcas menores, com um só produto. Mas.
e
nha dc produto) amplifica/nuirc o significado arquetípico essencial da mar­
â medida que mais c mais marcas se tornam "supermarcas" com múltiplos *
ca ou dele sc bendiria Extrair benefícios do significado, neste caso, nâo é produtos, nasce a necessidade de um “serviço bancário" mais consciente.
necessariamente uma coisa ruim: quando Disney ou Ralph Lauren opta por Marcas como a Jcll-O e a Ivory têm mais dc um produto cada uma. mas
<
assinar seu nome em mais uma nova hnha ou concetio. ele está Justificada- a semelhança física entre os produtos que levam seus nomes ajuda a simpli­ <
mente 'lazendo dinheiro" em cima de muitos anos de uma identidade ar-
qiietipica cuidadosamcnte preservada e nutrida E um número cada vez
ficar a questão. Por exemplo, todos os produtos da Ivory estão associados t
com a limpeza, por bvo. sustentar e apoiar o arquétipo do Inocente dessa
maior de empresas está optando por tentar, desse mesmo modo, alavancar marca é tarefa razoavelmente automática. Considere, porém, as marcas an­
au nuximo grau possível as marcas fortes já existentes, pois o custo de lan­ tes mencionadas — Disney, Ralph Lauren e outras similares, como a Virgin.
çar uma nova marca aumenta juntamente com o risco dc fracasso em mer- Cada urna delas tem inúmeros produtos, diferentes uns dos outros tanto na
cadnj alianicnte competitivos. forma como na função. Nesses casos, a tarefa consiste cm manter algum li-
Mas as coisas nâo sâo assim tâo simples: t preciso que as empresas, ao po de unídciJe conceituai entre os produtos e garantir que o significado nâo
longo do tempo, tenham tnvestido pesadamente na criação de associações seja esvaziado pelos "saques
* contínuos, mas sim constantcmcntc reforça­
arqueiipicas fortes e consistentes antes dc presumirem que podem fazer di- do e reabastecido.
290 O HEROI E O FORAOAUEI

Nào causa surpresa, talvez, que a melhor maneira dc manter essa uni­
dade conceituai seja quando c proprietário da marca C. ele próprio,um íco­
ne vivo, como ocorre com a Virgin c a Ralph Laurcn, ou uma figura lendá­
ria como Walt Disney. A sensibilidade do líder influencia tudo aquilo que
ele loca.
No entanto, os sistemas precisam funcionar mesmo na ausência do cul­
to da personalidade, c o Banco da Marca é o melhor sistema que já encon­
tramos DilcieiHcmeiHc do desenvolvimento dc planos de marketing linea­
res. a administração da marca lambem dçve organizar planos para a marca
cm termos dos prováveis "depósitos" versus "saques", avaliar o “equilíbrio"
dos “balancetes" c fazer os ajustes necessários O processo de administração
d.i marca ganha peso igual ao do processo dc administrar a empresa, c isso
C imperativo sc náo quisermos dissipar a identidade arqucitpica
CAPÍTULO

OT

Contando a história
da sua marca

Muito se poderia dizer sobre as qualidades e características da boa comu­

nicação de marketing. Mas a comunicação realmente grande — a comuni­


cação que cria, constrói e sustenta o poder das grandes marcas — incorpo­
ra um paradoxo dementar. Como ocorre em toda forma extraordinária de
literatura e dc arte, essa qualidade está na interseção de atemporalidade e
senso dc oportunidade. Ela captura ou sc beneficia de uma verdade funda­
mental e permanente da condição humana. E. ao mesmo tempo, expressa
essa verdade de modo inovador e contemporâneo.
292 Q M F R Ol t Q FORA-DA-LCI
Conunrfo a bíicória <fa *ua mirxa 293

Assim como as marcas que encontram suas identidades arquetípicas. dar com as coisas da vida, também quando adultos. È provável que não te­
lambem os símbolos dc marees, os eventos, os esforços dc relações publicas nhamos a mais remota idéia da fonte dos nossos fones sentimentos ao final
c as campanhas publicitárias as vezes trilham esse terreno poderoso, repro­ do filme ET. mas ela estâ lá. No mais fundo do nosso ser. agita-se a lem­
duzindo padrões que cativaram as pessoas ao longo dos tempos. A Clydes- brança daquela separação c também o triunfo de ter sobrevivido a ela.
dales for Bud. o Ronald McDonald, o selo Cood I lousekccpmg, o Jolly Diante do tremendo valor do mito do Abandonado, nào causou surpre­
Green Giant e o "zás" da Nike — todos esses símbolos permanecem, en­ sa que. quando Margaret Mark e Paul Wolansky (professor de cinema na
quanto a maioria dos outros cai no esquecimento depois dc algumas sema­ Universidade Southern Califórnia) reconstruíram os padrões dos roteiros de
nas ou meses de exposição. As pessoas nâo se cansam das idéias arquetípi- mais dc 500 filmes de sucesso dos últimos cinquenta anos, tenha emergido
cas. mesmo vendo-as repetidamente durante anos — ou décadas Múltiplas repetidamente, em intervalos regulares, uma história popular do Abandona­
gerações de consumidores, segmentos Socioeconõmicos e etários c merca­ do. Quase todas as gerações necessitaram, e tiveram, seu próprio Abando­
dos globais — tâo diferentes entre si como a noite e o dia — aindasâo uni- nado. (E pensamos nas oportunidades perdidas durante os períodos em que
versalmente atraídos para elas. E. o que e mais relevante para as rnmi-histó- nâo surgiu nenhum Abandonado de sucesso.) Os detalhes dessas histórias
rias que denominamos propaganda, os arquétipos costumam ser arquetípicas sâo bem variados, mas as estruturas básicas sâo admiravelmen­
comunicados poderosamente soba forma dc histórias. te consistentes.
Qu.indo o íilmc f 1 lornoit.M
* nm su< esso estrondoso. muitos dc nos Tivemos Virtude Selvagem em 1946. O meu melhor companheiro em
nos admiramos que um pequenino extraterrestre tâo simples conquistasse 1958. ET ern 1982, Free Wlllyein 1993 — um impressionante reflexo do po­
tantos corações. Mas nossa analise arquetípica identificou no filme um pa­ der e importância das histórias míticas. O Abandonado toma a forma de um
drão dc elementos que sempre apareceu em histórias ao longo dos tempos cavalo, de um cachorro ou da “politicamente correta" baleia dos anos 90. mas
a ‘f ábula do Abandonado", uma história do Prestativo para crianças a arquitetura fundamental dessas histórias e o propósito ao qual elas servem
Nessa fabula, uma pessoa de tamanho pequeno (gcralmente uma crian­ permanecem inviolados. Os detalhes sâo simplesmente atualizados para se
ça) começa sentindo-se deslocada c solitária, mas depois descobre «ma cria­ adequar aos tempos. Mas. em cada época, o público adora conhecer essas his­
tura ainda mais vulnerável do que ela propna. A criança irnediatamente se tórias. e mais outra c mais outra, porque elas servem a algum importante pro­
torna sua protetora Começa a se sentir mais forte, u cada minuto, â medida pósito psicológico nos espectadores, quer eles o percebam ou nâo.
que ela e seu protegido sâo capazes de se comunicar magicamente, desafian­
do as diferenças de cspecie ou classe. Seu relacionamento é mantico ern se­ Quero lhe contar uma história
gredo. oculto das criaturas mais poderosas (cm geral, os adultos), raas se ex­ Existem somente duas ou trt$ grandes histórias humanas.
pande e inclui um círculo dc outros indivíduos vulneráveis Juntos, eles sâo F. elas estão sempre se repelindo.
capazes de vencer as ameaças ao bem-estar da cnaiurinha. Um adulto — gc- Ma impetuosamente como se nunca tivessem acontecido antes.
ralmcnte a mâe c sempre uma mulher — tem permissão de entrar no círcu­ — Willa Cather
lo protetor, tornando-se alr.ido do griipmho No final, levando a melhor so­
bre seus predadores, o grupinho sc separa voluntariamente do protegido Como contadores das histórias das marcas arquetípicas, deveríamos scr
bem-amado devolvendo-o ao seu lar de origem para que ele possa se desen­ capazes de compreender c expressar as grandes histórias humanas, propor­
volver dc maneira livre c apropriada. cionando uma “voz" — a ser comunicada através da propaganda, dos pon­
Quase todas as gerações de crianças tòm suas próprias histórias do Aban­ tos de venda, dos websites. das relações públicas e assim por diante — que
donado Tais histórias ajudam as crianças a perceber que, embora um dia pre­ seja digna de uma identidade mítica. Em muitos casos, essas histórias serão
cisem sc separar daquilo a que mais amam c dc que mais necessitam — a mâe as narrativas que revelam os dilemas e questões essenciais ligados ao arqué­
—. rias scráo capazes nâo só dc sobreviver a separação, mas cambemdesabro- tipo do seu negócio. No entanto, os grandes padrões de uma história fre-
cli.ir Isso e possível porque a criança, ao aprender que é capaz de cuidar dc qúentemcnte sáo usados por mais dc um arquétipo. Por exemplo, o conto
outra criatura, aprende que tainhcm será capaz de cuidar dc si mesma. de Cinderela é uma história do Amante e. por isso, ótima para ser utilizada
Vivcriciar essa historia indirciamcnte ajuda as crianças a se desenvol­ com uma marca do Amante. Mas se a sua marca tem uma função semelhan­
verem I: iiYiudui ri história — mesmo inconscientcmcnic — nos a uda a fi- te â da fada-madrinha, então esse conto poderia ser utilizado por uma mar­
_____________ Contando a tiUtórl» da sua rruixa 295
294 O HtRÔI F O FORA-OA.LSI

As melhores histórias, portanto, aquelas que transcendem o tempo e o


ca do Mago, posicionando a marca no papel de ajudante mágico. Se sua mar­
lugar, sáo mais do que simples entretenimento — de algum modo, elas sâo
ca tem uma identidade do Herói ou do Explorador, você focalizará o papel
úteis para nós. tanto crianças como adultos. Elas nos ajudam a trabalhar as
do príncipe, que procura sua amada pelo mundo todo e. nesse processo, aca­
pressões inconscientes e a lidar com o medo, a raiva e a ansiedade; elas dâo
ba por rcsgatá-la.
expressão a anseios profundos que geralmente somos incapazes de articular
Mas o que sâo as grandes histórias? E qual é. em primeiro lugar, o sig­
ou mesmo identificar. A boa história pode vestir trajes bem contemporâneos
nificado e propósito das histórias cm nossa vida? Vale a pena analisar o pa­
— tendo como “sistema de entrega" um filme, uma anedota bem contada
pel desempenhado pelas histórias na nossa própria vida e na evolução da
ou um comercial dc 30 segundos —. mas se oferecer esse tipo de valor ou
nossa cultura.
utilidade profunda, cia nos tocará poderosamente. Tal como as crianças, nós
Sc vocé teve filhos, ou se consegue lembrar da própria infância, sabe
queremos entender a lição, a “dádiva" da história, para "agarrá-la “ e a inte­
que uma das primeiras frases pronunciadas e repetidas mdeíinidamente foi:
grar á nossa vida.
“Conta uma história?
* E se a história era boa. você queria ouvi-la de novo,
dc novo.de novo.
Oir a sabedoria convencional que as crianças anseiam pela simples fa­ Grandes histórias, grandes anúncios
miliaridade. Mas será que isso, por si só. explica por que certas histórias in­ A idéia da história na propaganda tem a mesma idade do conceito “fa­
fantis sâo apreciadas geração após geração? Ou também porque adultos mo­ lta da vida" desenvolvido dc modo pioneiro e lucrativo pela Procter & Gam­
dernos e atarefados assistem A felicidade ndo se compra entra ano. sai ano. ble Assumiu-se (e muitas vezes sc provou) que o veículo da história fazia
cmliora conheçam o enredo de trás para frente? Ou por que a trilogia origi­ mais para conquistar os espectadores, envolvendo-os no drama inerente do
nal dc Guerra nas csirdas c a serie televisiva Jornada nas estrelas desenvolve­ produto, do que a simples exposição dc características e benefícios.
ram multidões dc seguidores/adoradores que assistem a esses filmes dezenas Mas o principio da história na propaganda, proporcionando mais do
de vezes? Ou. ainda mais revelador, por que as grandes religiões do mundo que uma venda efetiva — na verdade, oferecia uma “dádiva" —. foi sistema­
rcllctcm as mesmas histórias, os mesmos personagens e os mesmos temas? ticamente estudado pela primeira vez vários anos depois da invenção da
Trabalhando com Margaret na análise dos padrões da; histórias. Wo- Procter & Gamble, por Mary Jane Schhnger da Universidade de Illinois, em
lansky explicou: “Antes da invenção da escrita, as histórias eram passadas Chicago. Analisando as respostas de telespectadores a centenas de comer­
dc geração cm geração como narrativas ao pé da fogueira, contos de fantas­ ciais da tevé. a Dra Schhnger descobriu que os anúncios mais eficazes de­
mas c canções de ninar. Com o passar do tempo, ao serem contados, memo­ monstravam o princípio da “reciprocidade”: quando o telespectador “ga­
rizados e recontados, certos temas, histórias, idéias, personagens e situações nhava" algo (além das informações necessárias para a concretização da
encontravam ressonância profunda nos ouvintes c eram peservados. Ou­ venda) em troca de seu tempo e atenção, a veiculação do anúncto constituía
tros detalhes das narrativas eram considerados fracos e esquecidos Em ter­ uma "troca justa", uma espécie de quid pro quo em troca do tempo e atenção
mos dc cinema, essas histórias tiveram um bom boca-a-bo.-a’ ao longo das dos telespectadores. Sc isso ocorria, era mais provável que os telespectado­
gerações e acabaram sc tornando os contos de fadas, lendas e fábulas mito­ res pensassem em recompensar o anunciante, comprando seu produto. Por
lógicas duradouros, destilados e univcrsalmente “verdadeires"que hoje che­ outro lado, sc o anúncio nada oferecesse ao telespectador além da pura e
garam .ué nós." simples venda de um produto, a “troca" era superficial, insatisfatória e. em
Bruno Bcttelheim. cm lhe Uses ojEnchaniment. descreveu o mesmo ti­ última análise, ineficaz.
po de "processo de seleção
* que ocorre quando as crianças distinguem en­ Trabalhando com o Dr. Joseph Plummcr na Leo Burnett. Schhnger
tre as histórias ótimas e as histórias comuns. A criança quer ouvir uma hoa identificou inúmeras dimensões da “recompensa do telespectador" c desen­
história centenas de vezes, porque iniuitivamente reconhece nela alguma volveu um instrumento único, ou sistema de teste, para quantificar as res­
verdade profunda: a criança tem a vaga sensação dc que aqicla história tem postas subjetivas aos anúncios veiculados na televisão.’ Utilizando essa téc-
algo importante a lhe contar.'

2 Mary Jane ScMmger. 'A Proíite of Responses to Commerculs'. Journal oj Adverming Re-
I Heuno Beliclhcim. Ihr (.’«■» vjI n< huntn-.enl (Nova York: Alírtd A Kmpí. Inc.. 1976). mrreh. Volume II. seiernbeo de IW4
296 O HEROl E Q FORA OA-ltl ____________
Contando a história da ma marta 297

nit.i para analisar repetidamente as rcsjxistas dc diferentes grupos dc con- Quando eram criadas peia intuição dc brilhantes diretores de arte c re-
suiindon-« a uma vasta gama dc comerciais das mais diversas categorias dc daiorcs. essas pequenas “histórias de marca" alcançavam um sucesso feno­
produtos. os dois pesquisadores demonstraram que a propaganda nio esla­ menal e a técnica VRP proporcionou às agências uma ferramenta para ava­
va isenta do principio de -utilidade da narrativa" que Bcttclheim e Joseph liar quantitativamenic e defender a propaganda que tocava corações e mentes
Campbell aplicaram às lendas e fabulas — nem do principio que Cirl Jung enquanto vendia produtos. Mas esses criadores e redatores, mesmo os me­
utilizou para decodificar os padrões recorrentes nos sonhos de pacientes dc lhores deles, sentiam “a fonte secar", a inspiração diminuir. Aquilo que ain­
diferentes partes do mundo da faltava às agências da Madison Avenue. Hollywood já estava agarrando.
Os melhores comerciais, como toda comunicação rcalmente eficaz,
atingem um nervo profundo ou revelam uma profunda verdade; cé possí­
vel codificar e compreender as respostas a esse poder universal e atemporal. Guerra nas estrelas e O herói de mil faces
Consideremos, por exemplo, as características da empana, uma das sete di­ Na década de 1960, quando Georgc Lucas era aluno da USC Cinema
mensões da ‘ recompensa do espectador" examinadas na técnica do Viewer School. ele fez uma descoberta que influenciaria seu destino e mudaria pa­
Rcward Proíile (VRP). A empatia revela até que ponto o telespectador par- ra sempre a arte c a técnica de fazer filmes: de descobriu os livros de Joseph
tkipa dos acontecimentos e sentimentos dc um anúncio, ate que panto ele Campbell. Guerra nas estrelas. o filme criado por Lucas uma década mais
assume um papel imaginário na situação c sente um envolvimento rinocio- tarde, se inspira profundamente naquela descoberta e no ciclo mítico do rei
n.il tom aquilo que esta acontecendo. A empana pode ser uma experiência Artur c os cavaleiros da Tavola Redonda. Nos mitos, o jovem camponês Per-
cinocion.ilincnte gratilicante. permitindo que o telespectador amplie sua au­ cival precisa tornar-se cavaleiro e encontrar o Santo Graal. para que a terra
to-imagem OU expresse seus piOprios valores. Os rituais e ritos dc passagem, nào pereça; cm Guerra nas estrelas, o jovem fazendeiro Luke Skywalker pre­
a exibição de relacionamentos íntimos e calorosos e os personagem "maio­ cisa aprender o uso da Força c descobrir o meio secreto dc destruir a Fstre-
res que a vida” frequentemente geram altos índices dc empatia. mas nâo é la da Morte para salvar a galáxia. O mago Meriin é o mentor do jovem Ar­
necessário, para gerar empatia, que as situações, os relacionamentos ou os tur; o cavaleiro Jedi Obi-Wan Kcnobi toma-se o mentor de Luke. Arthur
personagens sejam escravos do realismo.' (Figuras e lixais míticos,como o arranca a espada Excalibur da pedra onde estava alojada; Luke aprende a
Pillshury Doughhoy c o "vale" do Grccn Giant. geram índices acima da mé­ manejar o sabre de luz de seu pai. usando-o para pôr o mundo em ordem.
dia no quesito empatia .1 Conforme codificado pelo escritor, produtor e analista de histórias
A l.co Burneti Company. urna dos participantes originais dessa pesqui­ Chris Voglcr, a estrutura profunda de Guerra nas estrelas revela um parale­
sa. utilizou o teste c as teorias para apoiar e ampliar seu legado dc criadora lo quase perfeito com o modelo campbelliano da Jornada do Herói, sumari-
dc campanhas c símbolos publicitários profundos e duradouros, cono o ho­ zado na Figura 6.5/ Mas. ao contrário do paralelo existente entre ET e o
mem dc Marlboro. o Jolly Grccn Giant c os duendes da Kecblcr. para citar mito do Abandonado, o enredo de Guerra nas estrelas parece ter sido mode­
apenas uns poucos. Mais tarde. Joc Plummcr levou a técnica para s Young lado dc modo mais deliberado e consciente.
òr Rubicam. utilizando-a p.ira apoiar c enriqueceras ideias dessa empresa Guerra nas estrelas tornou-se. é claro, o maior campcâo de bilheteria de
sobre trabalho criativo guiado pelo "lampejo dc inspiração —grandes cam­ todos os tempos. A produção de Lucas pavimentou uma nova estrada Antes
panhas sustentadas por historias, que conquistaram o aplauso da indústria dele, sempre existiram incontáveis "parâmetros para roteiro". Aristóteles co­
e sucesso no mercado para marcas como Hallmark. Al&T. Merrill Lynch e dificou os princípios básicos do drama na Poética, em 321 a.G. e mais de mil

Johnson Johnson anos mais tarde, Lajos Egri (em The Ari of Dramatic Writing. 1946) também
Outras agências dc propaganda também chegaram lá por seus próprios enfatizou a importância da lição ou da premissa. Em 1979, Syd Field ofere­
meios. Suba liderança dc Phd Duscnberrye Tcd Sann (dois dos maiores con­ ceu um paradigma com três partes, simples e fácil de entender, em The
tadores dc historias do inundo comercial), a BBD&O criava, uma itrás da Screenplay. enquanto grandes cineastas como Akira Kurosawa c Jean Renoir
outra, histórias dc marca deliciosas e duradouras para a Pcpsi.
4 Chmtopber Vbglcr, The Wrxeri Jovmey. Mythle Sfracture f<
* UViiers (Michacl Wi«c
Productiom. 1998).
1 Ihul
29» O HERÓI e O FORA.PA.lt» Contindo » hUtérU d» w» mart» 299 Ç

para toda uma nova fonte dc inspiração e validação dc todo ttpo dc pessoa
criativa que íniuitivamente pensa e sente ern termos arquetípicos. mas nâo
possui ferramentas que orientem e estruturem seu trabalho. C

Trazendo os mitos para a Madison Avenue £
Margarct Mark sempre acreditou que os padrões das histórias arquetí-
picas podiam ser estudados, codificados e aplicados ao desenvolvimento da
propaganda c de outras comunicações comerciais. Ela também achava que a
comunidade do marketing sofria de uma espécie de isolamento, no sentido <
dc iüo sc lK-nclici.ir piciiaiiicmc do <|uc ptxlcria scr aprendido com as respos- (
tas do público a arte e â literatura — nào apenas o material produzido por
universidades e intelectuais, mas em suas formas mais comuns c cotidianas.
Se somos os “fazedores de imagem", por que nâo estamos contmuamente C.
examinando c tentando compreender 0 apelo dos impressos que sào escolhi- £
dos para ser pendurados nas paredes das salas dos Estados Unidos e do ro-
to do mundo? Ou então, por que nâo estamos estudando as imagens c as pa­
lavras que aparecem nos cartões dc saudações mais populares ou nos cartões t
postais que os turistas provavelmente comprarão quando visitarem Washing­
ton c Nova York? (Qual símbolo dos Estados Unidos t escolhido espontanea­
mente pelo norte-americano comum e pelos turistas estrangeiros? Nâo será
algo que os sofisticados profissionais de marketing da comunicação deves­
sem conhecer?) Ou entâo. por que nâo estamos continua mente analisando o
conteúdo das letras das músicas mais populares? E o mais importante, por
que nâo sentimos a urgência dc compreender as histórias que as pessoas ama­
ram c cultivaram ao longo dos tempos no mundo todo?
Trabalhando independentemente e com a Young & Rubicam, Margaret
associou-se a Wolansky para examinar sistematicamente os padrões do mais
“popular" dentre nossos "sistemas de divulgação" dc histórias: o cinema. Fil­
me por filme, Wolansky dcsconstmiu as histórias, nâo pelas categorias super­
ficiais dc "gênero" (comedia romântica, horror/suspense. etc.), mas em ter­
mos de sua arquitetura profunda: os "ossos
* da história. O trabalho da dupla
Frguro 65 focalizou deliberadamente filmes que fizeram sucesso no mercado, deixando
de lado filmes que foram aclamados pela crítica mas rejeitados pelo público.
jâ tinham reconhecido a semelhança entre a estrutura de um filme c a estru­ No final, suas análises mostraram que praticamente todos os campeões
tura sinfônica — tris ou quatro movimentos, incluindo expos.çào. desenvol­ dc bilheteria dos últimos 50 anos refletiam padrões míticos, no todo ou cm
vimento c resolução. parte. Na maioria dos casos, esses padrões tinham antecedentes na literatu­
Mas o que Lucas fez com o trabalho dc Campbell foi muito alem dc ra, nas narrativas sagradas, nos mitos c nas lendas. Mas o interessante é que.
aprimorar a “técnica" ou fluxo narrativo da história: conforme sugere Wo- cm alguns casos, o filme parecia ter exigido algumas adaptações a fim dc sa­
lansky. Lucas tirou proveito da percepção de que é a lula intima do perso­ tisfazer ao público. Esse fato era mais evidente entre aquilo que o cinema
nagem que oferece a estrutura profunda. I; seu ato lanilx-m ibrlu caminho chamava de “narrativas que advertem". Nas religiões c na literatura ê abun-
r
300 O HCROI t o FORA DA-Lt Contando a história d» sua marca 301

itantc a categoria chamada Paraíso Perdido": o Inocente, insatisfeito com a ta mal o padrão, vendo-o como “realize suas fantasias"; nesse caso, ele dis­
beleza do inundo à sua volta, estende a mâo e pega o fruto proibido e, co­ torce o valor ou a mensagem da história, como talvez tenha acontecido com
mo resultado, perde tudo aquilo que era bom em sua vida Na Bíblia e nas um fiasco cheio dc estrelas chamado O espelho tem duas faces. Nesse filme,

peças moralizantes medievais, ninguém poderia "exigir devolução co in­ barbra Strcisand torna-se algo que ela mio é a fim de conquistar o amor —
gresso" só porque a história continha uma advertência severa e um final in­ ou seja, não é um gabarito terrivelmente útil para uma pessoa viver a pró­
feliz. Nos lilmcs. porem, a “advertência" dwe scr transmitida dc mode mais pria vida. As grandes histórias do tipo Patinho Feio, por outro lado, mos­
obliquo, para scr aceita Assim, por exemplo, o final do filme Ana(áoJ'atal, tram-nos como compreender e expressar aquilo que somos, e então todas as
uma clara Irisiória do tipo Paraíso Perdido (como a dc Adáo e Eva oi a do coisas se encaixam cm seus lugares.
Dr. Fausto}, foi mudado da ruina absoluta para uma segunda chance, de úl­ O estoque total desses ricos padrões narrativos pode ser compreendi­
timo minuto, para o protagonista, resultando numa espécie de adaptação do do como guias ou advertências que comunicaram as mensagens ou “dons
*
“Paraíso Quase Perdido". Em sua maioria, no entanto, as estruturas narrati­ correspondentes, conforme mostra a Figura 6.6.
vas dos filmes de sucesso mostram extraordinária consistência com as fábu­
las. os mitos e as lendas. Consideremos, por exemplo, o desenvolvimento Os Guias
do conhecido Patinho Feio: Aventura j
Paraíso
A Jornada Encontrado
O Patinho Feio
• A beleza, virtude ou poder especial do protagonista é oculto por roupas
Transformações
comuns ou por um disfarce.
• O protagonista está preso numa situação estagnada (estase).
• Ninguém |>crccbe a verdadeira potencialidade interior ou as vmudes do
Redenfõos Histórias de Patinho
protagonista, com exceção de um indivíduo, que stispcíkique elas possam
Enjeitado» Feto
existir. Paraíso
• () moinciito-chavc c a mudança do traje ou de aspectos “externos", que Visitado
revela o verdadeiro scr interior. | Segurança)
Paraíso
• O protagonista começa a perceber sua identidade especial.
(Quase) Perdido
• Forças (ou obstáculos internos) conspiram para trazer o protagonista dc
volta ao seu papel original
• O protagonista vence essas forças e conquista o merecido reconhecimento

O "dom" ou apelo psicológico da história do Patinho Feio é que ela re­


flete urn anseio profundo que todos nós sentimos de vez cm quando: “Se eles
soubessem como cu sou bom ou inteligente por dentro, se eles compreen­
dessem meu xerdadeiro cu. então cu seria aceito, promovido, amado, etc."
Vemos a história do Patinho Feio sc concretizar em filmes tão diferen­
tes entre si como Zorro, Fcitifo </o lua, My Faii Lady. Super-homem. Sabrina.
Uma scr ictdrur </c jtiiuio. Uma linda mulher c. claro, um dos grandes favori­
tos de todos os tempos. Cinderela
Sc o roteirista ou publicitário nâo compreender a importância da 'mu­
dança dc roupas" nesta historia — o momento cm que o "interior" c o "ex­
terior" sc alinham — nunca teríamos Clark Kcnt na cabine telefónica, Julia
Robcrts na Rodeo Drive ou a magia dos trapos dc Cinderela transformados
em um vestido dc baile. O mais significativo é quando o roteirista interpre-
<
Contando a hittárU da 303
302 O HERÓI E O fOHA DA-LEI
*
O proccKM» dc maturação c desenvolvimento. que leva n vida toda, re­ A estrutura do Paraíso Encontrado leva esse anseio para outro plano. €
flete-se no “arco
* dos padrões narrativos que atravessa o quadro. Como os Neste padrão, o protagonista permanece estagnado. Talvez tenha um pro­
blema que precisa resolver ou uma vaga sensação dc que as coisas poderiam
arquétipos, o arco sc ajusta prímariamente a um quadrante, nus as histórias €
ti'm embutida a premissa do desenvolvimento do caráter, da mudança. ser melhores, mas cie nào tem nenhum plano E então ele depara com um
Por exemplo, as histórias do quadrante inferior esquerdo refletem o lugar perfeito, onde a vida é simples, as piiondades estão bem ordenadas e €
apreço ao staitts rjno e o medo da mudança — sentimentos que refletem o ele pode dedicar algum tempo a sentir o aroma das rosas Dc início, ele com­ €
desejo, de um indivíduo ou de toda uma cultura, dc permanecer "seguro
.
* bate a estranheza disso tudo; mas. com o tempo, a beleza do lugar começa
a se revelar diante de seus olhos. Ele ê chamado de volta ao seu mundo de
t
As histórias dc transformação, na interseção do mapa, lidam com um salto
quântico, o momento de transição, quando nos tornamos prontes a ir em sempre e. rclutantemente, abandona o paraíso Inocente. Tenta retornar à vi­ t
busca do nosso destino. Movendo-nos para o quadrante superior direito, ve­ da que sempre viveu, mas agora nào consegue mais se encaixar; agora que t
mos que a Jornada do Herói reflete a busca de auto-realizaçâo e totalidade; sabe demais, ele (oi irreversivelmente transformado pelo processo. Ele reen­ t
O Paraíso Encontrado é a concretização dessa totalidade. contra a Utopia e escolhe ah permanecer.
A estrutura Anjo Errante, mostrada no arco, envolve o catalitador que As histórias que refletem esse padrão vão muno além da idéia de arra­
e
ajuda o protagonista a fazer a transição de um estágio para o seguinte, no nhar a superfície e enfiar o dedão do pé na água: O protagonista dá o mer­ e
processo de amadurecimento e autodesenvolvimento.
Em um clássico como A felicidade nào se compra ou cm filmei contem­
gulho e transforma sua vida. Considere o filme Presente de grego, com Dia- <
ne Keaton
porâneos como O (Cu pode esperar. Mary Poppins c Jerry McGuire, t um per­ A personagem dc Keaton vive em alto estilo c tem um emprego com
sonagem místico ou transitório que “mostra o caminho
* para o protagonis­
glamour e poder, mas está presa a um relacionamento sem paixáo e a uma <
ta sair do atoleiro e ir cm (rente — valorizando as circunstâncias dc sua
carreira brutalmente competitiva. Quando a pequena órfã (o bebé de uma
própria vida. As mudanças que sâo efetuadas podem estar relacionadas com <
parenta) entra em sua vida, a grande executiva acaba perdendo o emprego
o estágio de vida e desenvolvimento da pessoa ou estar relacionadas com
c é forçada, em desespero, a se mudar para uma fazenda em Vermont. Kea-
<
uma evolução das necessidades, independentemente dc seu estágio na vida.
ton detesta tudo: a casa, o local, o bebé e o único homem solteiro da cidade <
Ao longo de nossa vida, todas essas estruturas sâo úteis, mas dependendo
do zeitgeist cultural ou de questões mais pessoais com que estamos lidando,
(o veterinário interpretado por Sam Shepard). Mas. aos poucos, ela começa <
a amar o bebé, o veterinário e Vermont. Abre um negócio, mas agora um ne­
uma ou inais das estruturas parecerão mais relevantes.
gócio Inocente — alimentos naturais para bebés — chamado “Country Ba-
<
Por exemplo, as estruturas Paraíso podem ser muito atraentes para o
by
.
* Sente-se vingada quando os antigos empregadores, impressionados c
Governante fatigado que só deseja largar aquele tipo de vida. Iibertar-$c das
armadilhas do sucesso c desfrutar os prazeres cotidianos — em suma, o de­
com sua perícia empresarial, se oferecem para comprar "Country Baby" e <
devolver-lhe o cargo que ocupava antes. Ela se sente momentaneamente ten­
sejo do Governante de se tornar Inocente. O padrão narrativo do Paraíso Vi­
tada a voltar à “corrida dc ratos", mas. em um momento de iluminação, es­
<
sitado fala a esse anseio: O protagonista inadvertidamente cncomta um pa­
raíso terrestre, saboreia sua simplicidade durante um momento, mas entào colhe vuliar para Vermont. o bebé e seu novo amor. Esta, claro, é a mensa­ f
percebe, relutante, que precisa voltar ao seu mundo dc sempre. Filmes co­ gem implícita da história uma vida mais simples, melhor e mais gratificante
mo A testemunha c Momento inesquer ívcl falam a esse ansci > e a essa percep­ é possível sc você tiver a coragem dc jogar fura todo seu prestígio, seu po­
ção — "Vocé pode sentir o gosto de uma vida mais simples, uma vida me­ der e sua posição social, optando pelo que é verdadeiro.
lhor. mas depois você deve voltar ao seu próprio mundo." As firmas de investimentos poderiam aproveitar esse padrão. Para ca­ <
da batalhador bem-sucedido que economiza pensando num futuro de jati-
Os websiles turísticos direcionados ao Governante se inspiram na his­ f
toria do Paraíso Visitado. O padrão dessa história nos faz lembrar o enorme nhos particulares e apartamentos dc luxo, existe outro que anseia pelo luxo
apelo que a pura simplicidade tem para as pessoas que levam umt vida de­ de ir pescar todo dia. se quiser, ficar em casa c ser um papai em tempo inte­
masiado complicada. Como Harrison Ford vivendo entre os Amish em A tes­ gral ou tornar-se professor primário nas áreas desfavorecidas da cidade. <
temunha, a capacidade de saborear o puro prazer do Inocente. m.
smo
* que í

temporariamente, e irresistível
í
f
304 O HEROI t Q FORADA-Ltl
CoefarxJo a Nttória da ma marca 30S

A interação de Guias e Advertências 7'


Os Cuias
Compreender a interação dos guias c das advertências desempenha um
Necessidades pslcotógkas Mensagfn/dom *^
y;' . Padrõw narrativos^
papel importante para nos ajudar a pcrcelicr qual história usar cm dado mo­
InrerdependMcU o scíuonça Aprecia o mundo onde (QuçnJ fçfáioà
mento Por exemplo, a March of Dimes, ao tentar comunicar o trabalho im­
o tujar que vocí neU ppnítõ HjTusdo
portante que a organização esta realizando na pesquisa genética, considera Desejo de aventura AmadureOmenco « cresclm«nw V. Hstiriai df Mtofdo 5
tanto as historias positivas como as "mais sombrias’ que sc relacionam a ir eindMduacâo slo dtfkeli, mas possíveis;' «■'HsMrtos do EnJcftddoX
alem d.is fronteiras usuais No lado "sombrio', as historias sc encaixam na 1 !4 dentro de voc4 mevno'
categoria Brincar dc Deus, expressa cm filmes como Franhenstein t A mosca *
■ Jhf itjue estás mudança-
Reatar a avenora teín 5« você ttw Con^wn def *,'-jpí< Ó AJoeno
— a ciência é tâo sedutora que leva os seres humanos a ultrapassar os pró­
e a IndMduaçâo |.i < -Á . - crescer,akançari a verdadelni^Axufto
prios limites c sc aventurar naquele reino que acertadamcntc pertence ape­
nas ;\s divindades Mas. no lado |x»siiivo, o corol.iiio desses impulsos, mina­
do como guia, mostra que a busca saudavcl c apropriada do suresso c a As advertências : < . ? *
historia do Heroi (que resgata os vulneráveis), do Mago (que transforma pa­
ia melhor as |x.* s$<kis e as < oisas) c do Sahio (que oferece sabedoria c conhc-
cimcnlti) Orientada por ainlx»s os tipos dc padrões narrativos, a organização
torna-se capaz dc sc comunicar dc maneira inspiradora. c nào assustadora
Lssc estoque dc padrões narrativos, recem-desenvolvido. atualmente
ajuda todos os tipos dc comunicadores a sc beneficiarem da inspinçâo ofe­
recida pelas bem-amadas histórias atemporais. E esia íinalmente abundo ca­
minho nas pequenas histórias que denominamos publicidade.

Um arquétipo, muitas histórias


rias novas e interessantes: Michael J. Fóx, nosso moderno Puck |o duende
Nossa abordagem recomenda que vocé identifique o arquét po mais de Sonhos de uma noite de verão, de ShakespeareJ, saindo pela janela e des­
apropriado c eficaz para a sua marca. Mas. isso feito, vocé talvez descubra
cendo às pressas pela escada de incêndio para pegar uma latinha de Pepsi
que uma infinidade dc padrões narrativos, ou diferentes aspectos do padrão
Dict enquanto a bela vizinha espera à porta de seu apartamento; garrafas de
n.ti ranv o. inspiram a comunicação dc sua marca ao longo dr» tempo. Come­
Pepsi entregues por engano na casa dos velhinhos e provocando uma bela
ce teve tido as ncccssid.idcs nioiivacivnais que estâo subjacentes aoarqueti-
festança, enquanto lodo mundo zomba da república de estudantes que re­
po da sua marca c depois descubra os conceitos corresjwndenies q.ie sc re­
cebeu as garrafas dc Coca; e um sítio "arqueológico" onde professor e alu­
lacionam aos padrões narrativos.
nos do futuro descobrem artefatos da década de 1990 e identificam a impor­
Por exemplo, a Nike, antes uma forte marca do Herói, fez um rabalho
tância histórica de cada um deles, até depararem com uma garrafa de Coca:
fantástico ao expressar algumas partes da jornada do Herói: o chamado a
um produio extinto há tanto tempo que ninguém mais sabe o que é aquilo
aventura ("Just dc» it“); a entrada em um mundo especial (cenário; magní­
(claro que todos eles estâo bebendo Pepsi enquanto examinam aquele obje­
ficos. c» espaço privado dc» corredor), c o teste supremo (deixando implíci­
to que. ao testar a si mesmo, você está aceitando seus demônios interiores). to desconhecido).
A compreensão intuitiva da Pepsi — e da BBD&O — do espirito do ar­
Mas grande parte da oportunidade dc sondar mais a fundo as profundezas
<l.i historia deixou dc scr aproveitada Quem r o Mcrlin (ou velho s;bio) do quétipo do Bobo th Corte traduziu-sc com sucesso cm uma imagem bastante
corredor' Quem são seus aliados e seus inimigos? Qual é o "elixir" neste ca­ solida do Puck travesso e bem-humorado que zomba da Coca-Cola santarro-
so e como vocé o encontra’ na. As histórias nunca envelhecem—do ‘Desafio da Pepsi" original até a cam­
laçamos uma comparação: a Pcjisi, ao longo do tempo, nutriu abuti- panha de hoje que apresenta a garotinha com um vozeirão de Poderoso Che-
d.inti mente seu arqucti|x» do Bobo da Corte com uma abundância de histó- fào. ameaçando as pessoas que tentam enganá-la e a fazer beber Coca-Cola.
306 O Htnól E O EORA-OA-LEI Contando a hírtfria di w» marta 307

Outras marcas conseguiram permanecer fiéis à sua identidade contan- dor solitário e isolado sc sinta ligado ao mundo. Ao som do "Rocket Man
do histórias que expressam a vl.içâo dc sen arquétipo com outros arquéti­ dc Elion John, um homem em um avtâo manda um fax para a mulher, pe­
pos. Por exemplo, a equidade profunda da Af éar'I laz dela uma forte marca dindo que ela apareça na varanda dc casa em certa hora daquela noite. Sain­
do Prestativo. Enquanto a indústria mudou radicalmcnte desde a desapro­ do a varanda, ela vê o avião do marido sobrevoando a casa, lá no alto, entre
priação (c continua a mudar dia apôs dia), as raízes profundas ca AT&T e as estrelas.
sua melhor alavancagem estio no (aio de que a empresa é a marca de tele­ A campanha das "histórias" demonstra maravilhosamcnte como um
comunicações que mais tem interesse nos clientes e mais se interessa pelos arquétipo, o Prestativo, ajuda uma multidão de pessoas As histórias, em si,
clientes. Seu apelido original era “Ma |Mamâe| Bell ". Durante i desapro­ sâo narrativas poderosas, enraizadas em estruturas profundas que sâo ao
priação, reconhecendo que o cliente estava conluso e ansioso, a AT&T criou mesmo tempo conhecidas c inéditas: reconhecemos de imediato a profun­
uma linha 800 e veiculou uma campanha publicitária convidando a pessoa da verdade humana que elas contém e, no entanto, ficamos surpresos ao vê-
a telefonar, com o refrão "Vamos conversar". Os telefonistas da AT&T aten­ las recontadas de maneira tâo nova e inesperada. Com efeito, é a familiari­
diam ao telefone perguntando “Como posso lhe ajudar?" e durante algum dade surpreendente das histórias arquetípicas que nos faz reconhecê-las

tempo a propaganda nacional da AT&T também usou essa expressão. Esses instantaneamente, mesmo na rapidez de um comercial de 50 segundos.
telefonistas ganharam a fama de irem muito além de sua obrigação para re­ Cari Hixon, um dos gênios criativos dos dias dc glória da Leo Bumett,
solver os problemas dos clientes e tivemos muitas histórias de telefonistas assim resume a questão:
que salvaram crianças que os chamaram em casos dc emergéneiís.
Mesmo na coníusâo dos tempos mais recentes, quando na AT&T se txvel muitos anus e apanhei muito ate da> valor ds coisas conhecidas, fa­
miliares. Isso porque, como jovem redator, meus instintos mc mandavam evi­
desvanecem as legitimas cores do Prestativo, a empresa ainda se destaca do
tar o famihar e abraçar o canCcnipardnco Mas cu aprendi a lt(do Um dos
grupo. Foi o que ocorreu durante uma fase da campanha publicitária nacio­
meus mestres foi Jimmy Durante. “o narigudo", com quem trabalhei muitos
nal cm que o Prestativo da AT&T interferiu no papel de outros personagens
anos na década de 60 .Jimmy aplicava a teoria da familiaridade ao seu hu­
arquetípicos. Por exemplo, em um comercial que mostra a mãe superatare-
mor Ele acreditava que ha dois tipos de humor, o humor da surpresa, que
fada e realizadora, o Prestativo permite que ela sossegue, relaxe e se deleite faz voei deparar com algo inesperado, e o humor da coisa conhecida — es­
temporariamente cm um mundo do Inocente (Paraíso Visitado): a mâe "en­ se t o tipo de humor que as pessoas adotam ouvir repetidas vezes, como
forca" um dia de trabalho e leva suas lilhinhas à praia. Seu celular da AT&T ciiancas ouvindo uma historia conhecida antes de dormir. O humor da sur­
torna isso possível, pois durante o dia ela pode ligar para o escritório. presa desaparece no instante em que a surpresa t revelada O outro humor
Em outro comercial da série da AT&T, o Prestativo ajuda o óiíâo a en­ melhora com o passar da tempo. Os shows dc Jimmy Durante se construíam
contrar abrigo, numa estrutura narrativa de Rcdcnçâo/Anjo Errante que é jobrr o segundo tipo de humor — sobre o bem-amado familiar — velhas ro­
muito semelhante àquela expressada em A felicidade nào se compra. Um jo­ tinas que as plateias conheciam dc cor e salteado. e fitariam desapontadas
vem fugitivo, sofrendo profundo desespero num beco escuro, encontra o ca­ se náo as ouvissem
minho dc volta ao lar. cm termos espirituais e literais, graças à experiência
mística de ouvir uma bela voz feminina cantando “AmazingGrace no ar frio "As marcas e as histórias arquetípicas são familiares porque pertencem

da noite. A música desperta lembranças de casa, como a de seu pai compran­ à nossa vida interior", diz llixon. “tâo certamenic quanto a lembrança dos
brinquedos que tivemos na infância, da música que fez pano de fundo para
do a árvore dc Natal c prendendo-a no bagageiro do carro. O jovem vai ate
o nosso primeiro amor ou do cheiro do nosso cachorro quando sc molha­
uma cabine telefônica c diz ;1 telefonista que quer ligar para casa mis nâo tem
dinheiro "Fique na linha, vou ajudar você", diz cia, completando a ligação va." Nós as reconhecemos c aceitamos porque os conceitos que elas repre­

para a espantada e chorosa mâe do rapaz. 0 comercial, veiculado na época sentam sâo maiores do que o produto ou serviço; o produto ou serviço é sim­
do Natal, termina com as palavras: “Se vocé está perdido ou desamparado, plesmente um aspecto do significado delas.

nos podemos ajudar. Ligue grátis para este número. Feliz Natal. AT&T." Claro que a história tanto pode scr contada por impresso como veicu­
lada na tevé. Alguns dos melhores anúncios impressos sempre evocaram uma
O número dc chamados para aquele numero foi tâo grande que até
mesmo as poderosas mesas telefônicas da AT&T ficaram sobrecarregadas.
história, mesmo que nâo pudessem contá-la por inteiro. Considere, por

Em outro comercial da série, o Prestativo da AT&T permite que o Explora­ exemplo, a longa campanha que apresentava o "Hathaway Man", com seu ta-
308 O KtRQl £ O FORA-DA-LEI_____________

p-olho Por que dc usa o lapa-olho? Quem t de rcalmente? O fato dc nâo


saber — dc ter que “preencher os espaços em branco" — exige que o leitor
construa uma história em torno do anúncio Mais recenteinente. a campanha
da Fostcr Grant, "Quem esta por tris de ...í’. fez algo semelhante: cia nos pe­
de para tomar parte no comercial, imaginando a história que o acompanha.

A história dc hoje torna-se o ícone de amanhã


As marcas arquetiptcas fogem de catcgorizaçâo. nâo tím idade nem re­
gião c seu significado profundo deve permanecer intacto Por isso c impor­
tante que J historia d.i marca (nâo só sua propaganda, mas todo o mito ou
lenda que cerca a marca) seja coerente com o arquétipo básico da marca. As
marcas sâo confiáveis na medida cm que tudo o que fazem sc|a coerente. Os
produtos paiccciii corretos quando tudo neles está alinhado com o arquóli-
po que os anima, isso, obviamente, inclui o logotipo do produto, o jingle. o
desenho do produto, a embalagem e a colocação nos pontos de vtnda. bem
como o desenho da história, o ambiente que cerca a venda do produto, o as­
pecto visual e a linha narrativa de todo o material promocional, nxluindo o
websitc Todos esses elementos devem contar a história da marra
As marcas fazem a História e sc tornam História. Elas sâo partr das nos­
sas historias compartilhadas ou das nossas narrativas pessoais e individuais.
Em geral, se vocí pedir a uma criança norte-americana dc tris ano
* para de­
senhar um biscoito, ela desenhara um Oreo; se vocè lhe pedir paradesenhar
um biscoito para cachorros, ela desenhara um Milk Bone. Ao esbeçar o “lar
ideal", muitas pessoas da geração do pós guerra pensarão na antiga casa co­
lonial dc dois andares. Profundaincnte gravadas na nossa memôna coletiva
e individual estão as historias dos nossos ancestrais c dos nossos primeiros
amores, nossos sonhos realizados r nossos sonhos insatisfeitos. O mundo
comercial está entremeado a essas memórias e anseios profundos Precisa­
mos apenas estudar e compreender esses mapas do inconsciente a fim dc en­
contrarmos os caminhos mais seguros para nossas marcas.
CAPÍTULO

[ffl

“Que a Força esteja


com você”
Capturando a essência da categoria

Todas as caiegorias contemporâneas que passaram no teste do tempo

têm um antecedente da era pré-industrial que revela seu profundo e verda­


deiro significado ou propósito. Antes dos automóveis, tínhamos cavalos e
burros; antes das máquinas dc lavar roupa, tiníramos a barranca do rio e os
banhos rituais.
Compreender o propósito original de um produto — na vida de um in­
divíduo ou de uma civilização — nos aproxima de seu signifteado primiti­
vo. "Marcai" o significado primitivo c declarar-sc seu dono aproxima vocé
da dominação do mercado. Isso ocorre porque o signilicado da categoria é
322 O XERQl e o fORA-DA-LEl "Que » Fort» etcej» com »oc<" 323

como um forte vento ou corrente; ele nào c o motor' da marca, ao contrá­


rio da dilcrcnciaçàu relevante, mas talvez svja a força que acelera o poder da
marca c aumenta seu ímpeto.
I Nsa idéia vai muito .dem do vcllio com cito dc tci o "briiclum d.i ca-
hgoria". qiicgcralinentc era percebido ern i< rtnos objetivos c funcionais. As
marcas arquctipicas. cm vez disso, passaram a representar o signilicado que
esta por tras do beneficio Ivory nào quer dizer ajicnas limpeza corporal; es­
se sabonete està associado ao signilicado profundo da limpeza renovação,
pureza c inocência (I oi essa a causa do escândalo quando se descobriu que
a atriz cujo rosto servira dc modelo para a embalagem do sabonete Ivory
Show unha antes trabalhado cm filmes pornográficos. A Procter Gamble
iincdiaiamentc substituiu a modelo c a embalagem.) A Eastcrn Airlines nào
apenas levava vocé de um lugar para outro; ela era “As asas do homem". A
Nike nâo afirmava que era um ténis melhor para atletismo; ela dizia “Just
Do h“ (simplesmente faça), convocando a disciplina e a determ nação exi­
gidas para linalmcnic "ir c fazer" — para ficar em forma e vencei. E mesmo
o seu nome — o nome da deusa alada da vitória. Atenda Nike, como já co­
mentamos — inspira-se cm um profundo significado arquetípico que está
associado a ter asas nos pes O simples fato de usar ténis Nike csnmula o
atleta a correr mais depressa, ir mais longe, apenas porque o ténis carrega a
associação do esforço hcioico. Ja «pie possuir o significado da categoria po­
de impelir uma marca a posição dc liderança estamos realizando estudos
sobre os arquétipos ern Ioda uma gama de categorias Empregamos aborda­
gens qualitativas e também abordagens quantitativas incomuns 'Jo proces­
so. estamos descobrindo novas maneiras dc chegar ao sigm/icudoe expe/ién-
iid csvciKKiis dc uma cmcgmiu. Grande parte da pesquisa mostrada nesta
seção do livro fm realizada por Margarct Mark. tanto cm seu cargo na Young
Rubicam quanto como consultora privada.

Como identificar a essência da categoria


a partir da memória do consumidor
Num importante estudo que realizamos para a industria automobilís­
figuro 7.1
tica. estávamos determinadas a evitar as usuais ra< ionalizaçócs eos clichés
comuns dc perguntar aos motoristas o que cies queriam dc uma marca dc Nas entrevistas, começamos pedindo aos consultados que fizessem as­
automovcl fcm vez disso, começamos com uma estrutura dc necessidades sociações livres, recordando suas primeiras lembranças de estar atrás da di­
psicológicas fundamentais realização, agressão, pertença, independência, reção do carro, pondo na ignição a chave do primeiro carro que tiveram na
sexualidade, status. etc. Para cada necessidade, geramos adjetivos, frases, vida c coisas do género. Depois desse exercício, eles responderam a uma ba­
imagens e descrições de situações (resumidas na I igura 7 1) que foram en­ teria dc perguntas derivadas da estrutura de necessidades pstcolõgicas. in­
tão incorporados em um questionário dicando em que grau cada palavra, frase ou imagem descrevia seu relacio-
324 O HERÓI E O FORA-DA-LEI
______________ - Qu* » Forç» «Uri* CO™

namento com a experiência de dirigir. Finalmente, pedimos a eles que indi­ seja uma caranguejola ou a maior lata-velha, nosso primeiro carro torna-se
cassem qual empresa automobilística ou qual marca de carro eles associa­ uma evidência concreta da nossa autonomia e independência a expres­

vam a essas situações, imagens c sentimentos. são dos nossos anseios ligados ao Herói e ao Explorador.
Os resultados foram espantosos. Motoristas que. em abordagens mais Em muitos aspectos, o carro também é o primeiro “lugar só meu . Mui­
convencionais, teriam falado de quilometragem por litro de gasolina e des­ tos jovens passam horas sentados no carro, saboreando a sensação de estar
contos na compra do carro, ofereceram lembranças de suas primeiras expe­
no espaço que lhes pertence. Para ajudar a lançar mais luz sobre o significa­
riências na direção que eram muito mais ricas e autênticas do que aquelas do profundo dos carros e do ato de dirigir, enquanto estava na Young &r Ru-
gcralmentc mostradas pelas pesquisas sobre as preferências do consumidor bicain Margaret beneficiou-se da experiência do antropólogo cultural Grant
Um homem simplesmente recordou 'noites quentes de verão loiras, poli­ McCracken. que escreveu:
ciais e a cor vermelha".
Ao responder ás palavras e frases, muitas pessoas se relacionaram com Os norte-americanos marcam sua entrada na maturidade pela posse
carros e com o ato de dirigir a partir de uma perspectiva do Prestativo. Os de uma carteira de habilitação. Na verdade, em nossa cultura nâo existe
homens tendiam a ver a escolha c a manutenção adequada de seus carros nenhum outro rito de passagem Algumas culturas fazem seus jovens
como uma oportunidade de proteger a própria família. As mulheres tendiam passarem uma semana de privações no deserto. Outras culturas realizam
uma cerimónia na qual o jovem é coberto de untas e penas. Na nossa cul­
a adotar uma perspectiva do Prestativo ligciramente diferente; muitas delas
tura. náo temos rituais desse tipo. Na nossa cultura, temos carros.
revelaram que. na frenCiica vida familiar, o carro tinha se tornado o único
A lógica d«» rimai do carro e bastante clara. Somos testados pelas au­
lugar onde as pessoas eram realmente forçadas a estar juntas, ao mesmo
toridades. Sc 'passamos", ganhamos o direito de ter o “eu" dramatica­
tempo, e acompanhar o dia-a-dia umas das outras. As mulheres tinham uma
mente ampliado Recebemos nossa licença para dirigir e. com ela. ganha­
sensação de intimidade quando dirigiam com a família: mais tarde batiza­
mos acesso a um carro e. com isso, adquirimos uma nova liberdade ante
mos essa descoberta de "carcooning" falgo como "rcunir-se nc carro"). nossos país bem como poderes de controle novos, quase adultos. Se for­
Mas a resposta que se mostrou mais avassaladora c intensa com respei­ mos reprovados no teste, nada acontecerá. Permaneceremos imaturos,
to ao significado profundo dos carros e do ato de dirigir estava ligada ao He­ simples 'garotos".
rói e ao Explorador. Reagindo às palavras c frases, muitos motoristas indica­ Mas. o que é pior nesse último caso, o "cu" precisará permanecer tal
ram que. para eles, a experiência de dirigir tinha a ver com testara si mesmos, como ê. sem ser ampliado pelos poderes da máquina.
enfrentar o mau tempo, estar A altura dos desafios c superar o> obstáculos.
Para eles, nâo tem valor a experiência do tipo saláo-sobre-rodas — muito em­ McCrackcn prossegue:
bora esse tipo dc experiência apareça bastante na publicidade de automóveis
e seja enfatizado no s/imv-room das revendedoras. Suas primeira» lembranças Esse rito de passagem tem a ver com a mestria. O teste, aqui, ê ver se
dc carros e direção estavam em linha com essa descoberta e ajudaram a ex­ conseguimos dominar o cano, a medida da nossa maturidade. A ques­
plicar a importância fundamental do automóvel na nossa cultura. tão ê: "Ganhamos mestria suficiente para recebermos mais mestria?"
Estava claro que para muitos norte-americanos — especklmente, mas Nosso ritode passagem trata de avaliar se crescemos o suficiente para re­
nâo exclusivainente. os homens — os carros e o ato dc dirigir eram o pri­ ceber o único instrumento da nossa cultura que expandirá dramatica­
meiro "verdadeiro amor". Também ficou claro que obter a carteira dc moto­ mente nossa mestria. A questão nâo é apenas "Você ê capaz de dirigir o
rista é um dos poucos verdadeiros ritos dc passagem na nossa cultura, mar­ carro?’, mas "Você está pronto para tim "eu1 adulto? Você tem mestria su­
ficiente para merecer mais mestria?"
cando a entrada na vida adulia.
Muito antes de trocar os pais pelos amigos e companheiros, o jovem já
r\ medida que amadurecemos e assumimos responsabilidades — parti-
e$

trocou pelo seu carro. Isso acontece porque o significado essencial docar-
í totalnicntc compatível com nossas necessidades de desenvolvimento cularmcnte a de criar os filhos —, nosso relacionamento com os carros so­
naquele estagio da vida. O carro acompanha e acelera o ato de sc separar dos fre mudanças profundas. A sensação de pura liberdade e independência que
pais, fortalece c apóia o individualismo e o desenvolvimento do ego e ali­ o ato de dirigir antes despertava cm nós fica comprometida pelas restrições
menta a crença natural do jovem nas possibilidades ilimitadas. Mesmo que e responsabilidades do casamento e. cspecialmente, da paternidade/mater-
J24 O HtROl t O fORA-DA-ltl

iihlailc Nossa pesquisa mostrou que o ato de dirigir se associa con o res­ ciais" c dcjwis lhes pedimos para "escrever suas próprias histórias' sobre
peito pelos outros, que sc opòc à pura aulo-indulgêncta: dirigir para o tra­ uma “noite perfeita" envolvendo o consumo de cerveja. Analisar a estrutu­
balho, levar os filhos para todo canto e enfrentar o transito ra dessas histórias e conectar seus padrões com os padrões recorrentes en­
Contudo, também vimos que por baixo da superfície existe nosso an­ contrados na literatuc na mitologia lança ainda mais luz sobre aqudo que
seio dc inci.i-tdade pelo significado essencial do carro — c pelo Explorador a categoria faz por esses indivíduos e o que significa para eles.
jovem e mais livre que vive denuo dc nós. Nossa pesquisa revelou que ele­ Num desses estudos, diante de uma gama de histórias geradas pelos

mentos simples do desenho, conto um teto solar, um Cl) player. a cor ver­ consultados, os rapazes quase umversalmente escolheram a história que
melha ou caraciciísttcas esportivas radicais adquirem um grau despropor­ mais bem capturava suas sensações a respeito da cerveja:
cionado de importância para a mâe atarefada que ainda precisa sentir que
não perdeu seu cu. muito embora carregue quatro filhos no carro. Conse­ Um lugar onde a vida 6 fácil, sem grilos nem chateação.
guir fazer um cavalo-dc-pau no asfalto molhado (ou observar profissionais Todo mundo í tratado igual e se dá bem.
faze-lo cm velocidades estonteantes) oferece uma emoção heroica que é di­
Em termos arquetípicos. esse “terceiro lugar’ (que nâo está ligado nem
fícil dc scr obtida nos dias dc hoje, lais percepções profundas foraia usadas
au lar nem ao trabalho) é o ambiente livre de pressões onde você é aceito in­
por nosso cliente para ajudar a estimular o cresc imento fenomenal dos uti­
condicionalmente pelo que você ê, onde todos sâo iguais c onde a cerveja é
litários esportivos na indústria — veículos cujas características “radicais"
o grande nivelador — o ambiente ideal para o Bobo da Corte que tanto ama
ddiciliiiciite são nc‘ccss.lrijs nas cidades e siihurbios. mas que /wsciviini
uma parte importante da nossa vida interior se divertir.
Quando esse conceito foi incorporado por um programa de televisão.
(>s carros, claro, têm outros significados que podem scr usados para di­
Chctrs, o seriado foi um dos que ficou mais temporadas no ar na história da
ferenciar as marcas status. luxo, rclicldia c sofisticação, por exemplo Mas
tevê (“Onde lodo mundo sabe o teu nome, onde todo mundo tem os mes­
cada um desses significados deve scr entendido dentro do contexto mais
mos problemas"). 0 fato dc ser altamente improvável que um psiquiatra e
amplo do significado essencial da categoria e o ideal i que se unan a ele.
um carteiro frequentem o mesmo bar todas as noites t irrelevante; na ver­
Nesta categoria, o espirito do I leroi e do Explorador é o "vento dc popa" que
dade. é parte da magia do conceito. Embora o mundo exterior trace linhas
oferece uma fonte inesperada dc energia e velocidade no mercado.
bem claras a respeito da posição social e do status dos indivíduos, naquele
O fenómeno do roreocming. além disso, sugere que existe uma orle e$-
lugar perfeito, suspenso no tempo por alguns minutos, todos sâo comuns e
sCncia alternativa para os carros. O antecedente histórico da essência da cate­
todos sâo iguais.
goria d<> carro é. muito provavelmente, o confiável cavalo do Explorador —
O mesmo conceito mítico do "melhor lugar" do Bobo da Corte foi evo­
como o Silvcr. do Zorro. Mas para um número considerável, embora menor.
cado em uma das primeiras e bem-sucedidas campanhas da Miller Lite: a
<lc pessoas, o antepassado alternativo da essência dos carros talvez seja a car­
Miller Lite “Alt Siars". No começo da década de 1990. a Young & Rubicam
ruagem. fechada, segura, comunitária Embora esta última identidade carre­
quis ajudar seu cliente Philip Morris a compreender como aquele exemplo
gue menos vigor que a essência primária da categoria, ela ainda oferece um
histórico dc publicidade conseguiu tirar o produto da esfera da "cerveja
ponto forte dc diferenciação c uma oportunidade para aprimorar o descnlio
dict" sucedânea e posicioná-lo como uma cerveja dc verdade para homens
do produto Como poderia ,n mmivaii. por exemplo, fai ditar os sent mentos
divertidos. Nossa pesquisa mostrou que aquela peça publicitária tinha uti­
dc intimidade ou aconchego elas famílias cuja melhor o|>orlumdade k estar
lizado o fluxo poderoso da essência da categoria. Grani McCracken enge-
juntas cm um lugar, ao mesmo tempo. é quando estão dentro do carro?
nhosamente rotulou o personagem desse "melhor lugar" como "O mundo
de Riggins", descrevendo a natureza essencial da cerveja c um certo tipo de

Cervejas e bancos homem norte-americano Bobo da Corte.

Outras técnicas para descobrir a essência da categoria mostraram-se O “mundo de Riggins" segundo Grant McCracken
úteis cm raim>s industriais tão diversos como cervejaria c serviços bancá­ Aqui esiá a imagem para se ler em mente. Ela é um momento quin­
rios P<»r exemplo, demos a jovens bebedores de cerveja algumas "dicas ini­ tessência! na cultura amcncana. E contêm o segredo da campanha da
J28 O HfROl t O FORA-OA-LCI

Mil/o Life "AH-Mar". A imagem «‘simples Hl um homem dormindo de­ Riggins. bem. Riggins nâo tinha leito nada de que se envergonhar
baixo de uiiu me» Mr. Riggins vai a Washington. É no começo da dc ■ Roncar durante um discurso do presidente parecia ser algo glorioso, to-
cada de 1980. Estamos sentados num salão em Washington Todo mun­ lalmenic dc acordo com a personalidade dc Riggins e absoluiamente
do está aqui. adorável. Por quí
* Em parte porque fez todos pensarem na velha piada
Baker está em uma mesa. Kissinger. em outra. Estrelas de Hollywood sobre "o elefante, onde é que ele dorme?"
salpicam i» salão Estamos aqui para uma das grandiosas festas que mar­ No caso dc Mr. Riggins. claro que era “em qualquer lugar onde ele qui­
cam o cerimonial dc Washington c a presidência imperial. Estamos aqui ser". Havia também a idéia dc que o cara que irouxe para Washington a
para reverenciar a nova Era Rv.ig.in laça do Su|»er Bowl tinha as chaves da cidade Sc ele queria dormir en­
O lugar está lotado de sumidades locais, todos esplêndidos em seus quanto 0 presidente discursava, ora. que dormisse! Afinal de contas, sem
finos irajes de noite. As mesas gemem ao peso dos cristais c porcelanas. scr pelo Super Bowl. Washington nâo realizava nada importante há anos.
Candelabros cintilam acima da nossa cabeça. Esta t Washington no que Mas o que foi que realmente salvou Riggins de passar ndículo? O que
a cidade tem dc mais suntuoso. O presidente já vai discursar A multi­ realmcnte tornou seu gesto tâo absolutamente adorável foi o fato de ter
dão, ruidosa até agora, começa a ficar quicia O presidente abre caminho sc inspirado tâo pmíundaincnte nos próprios alicerces culturais da mas­
ato o estrado. A multidão faz silêncio. culinidade norte-americana. Aquela soneca debaixo da toalha foi vista
Bem. quase silêncio. Dc um canto distante do saláo vem um som ris- imediatamente como uma representação dos significados mais funda­
cante Parece um pouco com um ionco. Santas graças, i um ronco! Al­ mentais dc virilidade. Era a quintessência daquilo que faz um certo tipo
guém pegou no sono bem no ponto alto do evento social mais importan­ de machão Era 3 quintessência daquilo que um certo tipo de machão nor­
te da estação Alguém “capotou" diante do presidente dos Estados te-americano pode e deve fazer A soneca de Riggins talvez nâo estivesse
Unidos. A ordem do grande cerimonial de Washington foi quebrada. A dc aturdo com a eiiqueia Mas era a irn-igcm que definia o machão nor­
nova presidência imperial foi ofendida. te-americano. Era o que se esperava que fizesse u machão norte-america­
As pessoas estão zangadas, muito zangadas. Quem ousa insultar o no. em sua versão mais elementar, diante dos cerimoniais, das formalida­
presidente? Olhos varrem o salão buscando o autor do ultraje. Procuran­ des. dos refinamentos civilizados, do protocolo: Diante disso tudo,
do algum pobre coitado que exagerou no gim tônica c caiu dormindo em "espera-se que" esse machão entre debaixo de uma mesa e ferre no sono.
cima da salada E estão buscando vingança. Esperem sô até botarem as Afinal de contas, jogadores de futebol americano sâo produtos da na­
mios nesse cara! Vâo acabar com a carreira dele, expulsá-lo de Washing­ tureza. Sâo homens que ficaram relativamente intocados pela civiliza­
ton. obrigá-lo a viver na mais abjeta humilhação pelo resto da vida ção. Sâo homens que nâo conhecem os formalismos da sociedade edu­
O que as pessoas encontram sâo duas pernas despontando por debai­ cada. e não ligam a mínima para essas coisas Eles sâo caras que se
xo das ricas dobras de uma tualha de mesa. De lá vem um ronco violen­ alimentam das forças fundamentais. Sâo caras que constituem uma pre­
to. Alguém conseguiu pegar no sono debaixo da mesa. Consternação ge­ sença elementar no mundo moderno Ora. o futebol americano é a prá­
ral. Quem diabos é este cara? Alguém levanta as dobras da toalha c dá tica da violência com um mínimo de mediação. É uma atividade física e
uma espiada. F entáo sorri. Quando a notícia se espalha, todo mundo emocional do tipo mais primitivo Afaste esses caras do campo, afaste-
sorri. O roncador, descobriu-se. é John Riggins. que joga no Washington os da violenta companhia dos machões, introduza-os na sociedade poli­
Redskins cio jogador mais valioso do Super Bowl da .. c eles sc chateiam, sc tornam uns ignorantes. Afaste o homem ele­
Importante aqui é o que aconteceu a seguir Tudo o que deveria ter mentar dc seus elementos .. e tudo que ele quer é encontrar um cantinho
aconiectdo nâo aconteceu. A segurança nâo apareceu para expulsar debaixo da mesa mais próxima para dormir e matar o tédio.
aquele burro vulgar Ninguém franziu o nariz em reprovarão. O mundo Do ponto de vista técnico do marketing, o desenvolvimento provável
nâo recuou horrorizado. Ninguém, naquela cidade tâo consciente do sta- desta campanha parece bastante claro Tomou-se a decisão de fortalecer
tus. demonstrou seu desprezo Ninguém saltou para restaurar a honra a masculinidade da marca, a fim de neutralizar toda e qualquer associa­
do presidente. ção de cerveja “light". Escolheram-se jogadores de futebol americano
A verdade é que iodo mundo apenas sorriu Todo mundo simplesniei- grandalhões e malvados, para posicionar o significado da marca e lomâ-
le balançou a calieça, sorriu e disse: “Bem. ai está o John Riggins ’ E este la mais aceitável ao bebedor de cerveja tradicional
foi o fim «l.i história. Riggins nâo fui ridicularizado nem censurado por Mas o que torna esses anúnt ios tâo eficazes é que eles sc direcionam
seu gesto: loi celebrado. Descobnu-se que todo mundo adorou. Ficaram para um tipo muito especifico de virilidade norte-americana. Esses
encantados Riggins caiu no sono ouvindo o presidente. Um barato! anúncios nâo falam apenas da masculinidade do valentão. Falam do ti-
|X» dc masculinidade <lc Riggins. li são ainda mais específicos: (alam ca Em segundo lugar, veja onde sc situam todos esses anúncios. Os atle­
maneira pela qual um in.« lüo tipo Ri.-ms nào dâ a mínima para a so­ tas estâo bem ali no bar da esquina. V<xê nâo vê nenhuma das façanhas
ciedade polida c o mundo < i l .dam dc um ttpo dc masculinida­ de Bo correndo de bicicleta pelo asfalto molhado dc chuva. Eles estâo
de norte-americana que sc apatia do mundo civilizado. bem ali. num mundo que você conhece. Rodeados de caras parecidos
Os anúncios da cerveja Millcr Lite captaram uma versão pauicuh--
com você e comigo.
mente virulenta, potente c elementar da masculinidade norte-america­ Em terceiro lugar, veja o que eles estâo fazendo. Eles nâo estâo reali­
na. E aiomccc que e exatainciitc esse tipo dc masculinidade que mais iu- zando proezas heróicas — enterrando na cesta, correndo uma maratona
tvrcss.1 aos homens qu.uido sc reunem I* esse o tipo de inax idinidauc ou rebatendo a bola para fora do estádio. O anúncio nâo documenta
que o> homens constroem e demonstram quando estâo na companha quão pouco eles tem cm comum com o cidadão médio. Em vez disso,
uns dos outros L c esse o tipo dc masculinidade que os homens culti­ mostra-os fazendo todas as coisas que os cidadãos médios fazem: com­
vam quando estão hebendo cerveja. petindo (o anúncio com Ben Davidson). contando vantagem (o anúncio
I.m outras palavras, a campanha da Millcr I ite dirccionou-sc exata- *
com as "histórias exageradas de Bnan Anderson e o anúncio com Brils
rneme para o tipo dc masculinidade que interessa aos homens quando Gresham). tirando sarro uns dos outros (o anúncio com Deford c Billy
cst.ii» hclicndo cerveja A campanha dizia que essa marca contêm exatí- Martin). Tudo isso faz pane da vida dos homens comuns. E o fato de tu­
mcnic os significados que voce esta buscando quando sai para beber cer­ do isso estar sendo feito por atletas permite que a campanha deposite os
veja A caiiipanb.i afirmava: "Nos sabemos que você esta procurando pe­ significados de Riggins diretamente na vida dos homens comuns. Isso
la masculinidade do tipo Riggins E na Mdlcr Lite que vocé a encontra * tudo constrói uma conexão.
Em quarto lugar, veja o pape! desempenhado por alguns dos atletas.
Mr Riggins com vocé: Corno a campanha da Mdlcr Lite liga o consa- Na verdade, Bulkus. Sinith. Davidson c Dcacon Jones estâo ali para ga­
midor a Riggins rantir que o anúncio capta a masculinidade de Riggins. Mas John Mad-
Quero agora ampliar meu tema A campanha da Millcr Late evocou a den. Rodney Dangerfield e Bob Decker estâo ali por outra razão. Cada
masculinidade de Riggins. Mas o que toma a campanha realmente eficaz, um desses homens aparece no anúncio porque isso ajuda o anúncio a
enquanto |>cça publicitaria, c a excelente maneira pela qual ela consegue duplicar o mundo do consumidor médio.
ligar esse inundo com o mundo do consumidor Acho que esse C. na ver­ Cada grupo de homens tem um indivíduo como John Madden (pelo
dade. o verdadeiro rasgo dc gCnio do anúncio. Fie nâo $0 mostra a macci.- menos do jeito que ele aparece nos anúncios da Miller Lite). Madden
linidade dc Riggins como lambem consegue realmente colocar essa mas­ sempre aparece no linal do anúncio, agitado, dizendo: ‘Hei. a gente po­
culinidade ao alcance do consumidor. A campanha consegue, com de desempatar Nós damos conta desses caras "Em todo grupo há um in­
sucesso, trazer a tnasi ulimdade dc Riggins du campo dclutcbol para o bar divíduo tipo John Madden, aquele homem que nunca sabe quando desis­
\ ejamos qual C o grande problema com o marketing que lida com os tir. E ele que você admira, é a vontade dele que você faz. porque ele leva
esportes e o endosso dc atletas? O grande problema d que os atletas es­ ao limite a tal "força da natureza". Ele nunca pára. Esse tipo de homem é
colhidos para endossar algum produtogcralmcnte sáo 'maiores que a vi­ benquisto pelos outros homens porque captura a qualidade de Riggins.
da" Seu heroísmo os terna inacessíveis, t como se eles ocupassem urna E isso é parte do papel de Rodney Dangerfield e Bob Uecker. Todo gru­
posição mítica E como se habitassem outro universo Esse c exatamen- po de homens tem is suas margens um desajeitado e um tapeador. Esses
te o problema corn os anúncios protagonizados por Bo Jackson As ve­ dois gostariam dc estar mats perto do centro do gnipo. mas u fato é que
zes você d»s: “Uau. esse cara é o meu herói' E as vezes voei diz- "Sabe, os machões tipo Riggins nào lhes permitem isso porque os dois nâo con­
eu não me reconheço nesse homem." Idolatria c uma coisa Identifica­ seguem ter sucesso Os dois permanecem â margem, ensinando uma li­
ção e oiitij cois-i bem difcicntc. Sc «• objetivo eestabelecer a identifica­ ção. como nâo scr utn homem tipo Riggias.
ção. c preciso dar ao heroi esportivo uma escala humana Em outras palavras, essa campanha faz mais do que apenas mostrar o
i veja como a campanha da Miller Lite clJ uma escala humana aos mundo do super-herói; ela também mostra o mundo do consumidor dc
vçtis heroi
* I m piimvir»» lugar, a campanlia utilizou ex-atletas. I ssa ma­ cetveja médio. Ela mostra o universo conhecido, com suas atividades,
nobra talvez tenha sido induzida pela legislação sobre a associação dr pessoas c lugares característicos. E cm tudo isso, algo admirável sc rea­
alicias cm atividade com bebidas alcoohcas Mas veja o que essa inano- liza: A campanha consegue persuadir o espectador dc que aquilo que é
hia la; pela mensagem passada pelo anuncio Dc repente, os atletas sc a verdade do machão Riggins também poderá ser a verdade do mundo
tomam pessoas mais hicis dc reconhecer. do bebedor dc Millcr Lite. t sempre assim que acontece a melhor "trans-
»2 O HtRÓI t O FORA • O A. I f |

ferência de significado” na propaganda. Para dar ao inundo do consumi­ Também investigamos as experiências das “memórias
* de infância, as
dor as propriedades do mundo do herOí esportivo, uma campanha deve,
lembranças de acompanhar os pais na visita aos bancos. Os consumidores
em primeiro lugar, dar ao herói esportivo as propriedades do consumi­
mais ricos a recordavam como uma divertida experiência de "adulto", espe-
dor. Foi assim que a campanha “AU Star” conseguiu fazer a Miller late
ciaimenie quando lembravam do dia em que tiraram o primeiro extrato de
representar o 'mundo dc Riggins
.
*
sua caderneta dc poupança O pessoal da classe média, por outro lado, lem­
Os serviços bancários parecem ser — e sâo — uma categona radical- brava dos bancos como locais frios e ameaçadores, onde nâo podiam jogar
mente diferente da cervejaria, mas o conceito de essência da categoria é bola nem chupar sorvete.
igiulnicntc relevante c podcioso. Na pesquisa realizada para entender o sig­ Esses achados sobre a essência da categoria forçou-nos, a nós e ao nosso
nificado profundo que têm os bancos para os consumidores da classe média cliente, a enfrentar os diferentes significados da área bancária encontrados en­
e os mais abonados, preparamos uma técnica potente chamada "iaddering
* tre os diferentes segmentos da população, decidir algumas priondades em ter­
(dc ladder. escada) Adaptada da psicologia clínica, a laddtring utiliza uma mos de público-alvo e, finalmenie, posicionar o banco de maneira eficaz.
serie de sondagens sistemáticas para mover os consultados: partindo de ar­
ticulações dc atributos que lhes sâo relevantes, os consultados se novem pa­
ra benefícios objetivos, daí para benefícios mais subjetivos e. finalmente, pa­ Masculinidade, feminilidade e essência da categoria
ra os significados ou valores profundos que os ligam à categoria. Queremos
Em alguns idiomas, pronomes masculinos ou femininos sâo usados pa­
*subir a escada", dc atributos para benefícios, de benefícios para valores. ra descrever objetos inanimados, como se houvesse um reconhecimento tá­
As entrevistas sâo feitas individualmente por profissionais altaincnic cito de que mesmo as coisas sem vida têm um espírito ou "energia" que é
treinados, mas a idéia de "subir a escada" é tâo básica quanto o comporta­
inetentemente macho ou fêmea. Do mesmo modo, algumas (mas náo todas)
mento dc uma criança de três anos. Todos os pais e mâcs conhecem bem es­ categorias de produto têm uma energia de ”gênero" que influencia sua iden­
ta rotina:
tidade arquetlpica. Ao identificar o gênero de seu produto, é importante vo­

Paifinàe Está na hora de ir para a cama. cê lembrar que “masculino" e "feminino", conforme usados neste contexto,
Menino dc tris anot Por quê? náo implicam que um produto masculino é somente, ou mesmo basicamen­
Pai/mde: Porque já sâo oito horas e você precisa de sono. te, para os homens e que um produto feminino é para as mulheres. Estamos
Mi nino dc tris anot: Por quê? usando a sensibilidade ou as qualidades de consciência masculina c femini­
Paifmàc: Para crescer c ficar um garoiáo grande e fortr. na. nâo as prescrições ou descrições dos respectivos papéis sexuais.
Menino dc (rés ano$: Por qué? Claro que gênero é um conceito complicado. Em suas distinções, tan­
Pai/ntde; Para poder jogar nos Yankees e ficar milionário! to masculino como feminino carregam uma ampla variedade dc atributos.
Embora o Virgínia Slims tenha definido uma identidade dc cigarro para mu­
O menino de três anos acabou de fazer os pais •subirem a escada": de
atributos para benefícios e de benefícios para a revelação de seus valores do lheres. o gênero do ato de fumar é decididamente masculino e, por isso, uma
Governante! postura durona e agressiva apropriadamente abriu caminho em suas comu­
Quando fizemos nossa pesquisa sobre os negócios bancários.ficou cla­ nicações. O Marlboro começou a fazer sucesso c acabou tornando-se um
ro que os valores que as classes trabalhadoras associam ao alo de investir sâo ícone quando mudou seu posicionamento: de cigarro da mulher passou pa­

bem diferentes daqueles encontrados entre a classe alta. Os consumidores ra o cigarro do caubói. capturando a qualidade durona e estõica do fumar.

mais ricos rapidamente "subiram a escada" até os valores do Governante A imagem de masculinidade da Marlboro mantém-se em agudo contraste
(controle) e. ás vezes, até os valores do Explorador (liberdade). O benefício com o mundo de Riggins. carregando mais do arquétipo do Herói que do
último de poupar e investir, para eles, é a autodeterminação e a liberdade Bobo da Corte de Riggins.
que o dinheiro proporciona — a capacidade de fazer o que se quer, quando Carla Gambescia. talentosa e criativa consultora de marketing, fre­
sc quer. Todos os benefícios últimos desejados pelas classes mais brixas. por quentemente encontra categorias dc alimentos nas quais é importante reco­
outro lado, estavam centrados rni necessidades dc conexão c segurança — nhecer uma identidade dc gênero. Por exemplo, cm seu trabalho com as ca­
manter a família unida e segura e preservar sua estabilidade. tegorias sobremesas e petiscos, ela descobriu que os salgadinhos, como
bai.njs Imas. iem uma natureza mcrcntcmcnte masculina, enquanto o sor­
Beneficio» V
vete tem uma natureza incrcmcincntc feminina Como foi que ela descobriu
Salgadinho_____________ Sorvete O
*
essa coisas?
Dâ o tom de uma festa Dl o tom de uma festa
Começando com um exercício baseado no consumidor ou com um Agrada aos sentidos •. jj'
Estimula os sentidos
exercido dc fuddcnng mental. Gambcscia examinou os atributos físicos dos Suaviza e re
*resca o pthdv
Aprfneno as cotias, dl gosto
salgadinhos e os do sorvete Descobriu que os salgadinhos sâo angulosos ou Oferece excuçJo, ceru “emoção" Oferece uorfação e bem-estar
irregulares, quebradiços, secos, sohdos c pontudos. Sâo duros, fazem baru­ Exlje o uso das mios Enxofre a língua .? ■
Enxofre uma experiência exuberante que a pessoa J
lho ao scr mastigados c costumam ter salxircs fortes c aionuiizados. até Induz a um comer-sem-parar quer prolongar • .'■ ," 5^
mesmo apimentados ou condimentados. I m termos dc seus bcnthcios (o até esvazur a embalagem
Exige a mastigado ativa Permite o comer "passivo" porque derrete
degrau seguinte da escada), os salgadinhos dão o tom dc uma festa, estimu­
lam os sentidos, apimentam as coisas, dâo gosto c proporcionam cena "emo­
ção . Exigem ser comidos com as mios. icquercin mastigação ativa c indu­
No nível do significado, o contraste continua, conforme vemos na Fi­
zem a certo tipo dc comçr-scm-paiar ate que a embalagem liquc vazia.
No nível do signilicado (o degrau mais aho da escada). os salgadinhos gura 7.4.
olcrcccm um antídoto ao icdio |>or quebrarem a rotina Estio associados 3
C0ÍS.1C como testar os próprios limites, sentir-se meio irresponsável, despir
as próprias inibições c sc sentir livre. Eles oferecem uma espécie de permis­
são para "deixar rolar”. uma libertação.
Como c que a “escada” dos salgadinhos difere da "escada" dosorvetc?
Dc todas as maneiras possíveis. Começando no nível do atributo, vamos
analisar o contraste (Ver I igura 7.2.)

Contraste
_________ Salgadinho Sorvete
Salpdo Doce
À base de wnido/cereaU A base de cremetcoc
Quebeadrço. s*co Úmido
Essas diferenças entre a energia masculina e a energia feminina talvez
SOlido Msoo
Anguloso ou irvetuür Redondo ou ondeedo nos levem a preferir automaticamente alguns arquétipos, e nâo outros, pa­
Croonce. barulhento SJenoosa derrete n» boca ra marcas em qualquer das categorias. O Fora-da-lei, o Explorador e o Bo­
Áspero Suave lso da Corte permitem boas considerações reflexivas para um salgadinho,
Sabores fortes, condlmenudos Sabores delicados, sçucarjdos
enquanto o Amante, o Inocente c o Prestativo fazein sentido intuílivaincn-
D sponlreis a quz^quer momento Uma regala especial
te para um sorvete. A escolha do arquétipo dentro de cada moldura exami­
Condwnenudo. temperado Rico, cremoso
nada se basearia, conforme descrevemos na Parte 6. em muitas considera­
Agvtil 7 2 ções que téin a ver com o valor da marca, o público-alvo, a fonte da
alavancagem competitiva e assim por diante. Mas, indcpendentcinente da
identidade arquetípica específica, seria inteligente considerar a "sensibilida­
Subindo mais ainda a escuda. Gamhcsc ia continua a esboçar o contras­
de" feminina ou masculina da própria categoria na hora de desenvolver a
te Os benefícios sâo mostrados na I igura 7 i
comunicação da marca.
Gambcscia ajuda a analisar esse processo contrastando as associações
feitas pelos consumidores com as duas categorias. (Ver Figura 7 5.)
336 O HERÓI E O FORA-DA-LEI
a Forç» com TO<»" 337

representadas produçOes delicadas e sentimentais, como O mágico dc Oz e


Uma história dc Natal, e as pessoas que assistem a essas peças ficam espanta­
das no ver que um tcatrtnho tâo simpático possa existir no prédio do Garden.
Já as jwssoas que nâo sabem de sua existência mal conseguem imagi­
nar um teatro lá dentro, mesmo quando os outros lhes falam a respeito. Elas
vêcm o Garden como um locai excitante, turbulento, materialista c cheio de
arruaceiros. Elas o associam com o que há de melhor nas competições es­
portivas: os mais ferozes e potentes lutadores do mundo. O Cara Comum
vai ao Madison Squarc Garden para ver a troca dc socos dos mais reveren­
ciados Heróis e Guerreiros du planeta
Homens c mulheres comparecem ao Garden. e ali competem atletas dc
ambos os sexos, mas o espínto e a energia do local sâo decididamente mas­
culinos. Como ajudar os consumidores a reconciliar essa energia masculina

figuro 7$
com a sensibilidade muito feminina de um teatro?
A compreensão desse conflito ajudou-nos a encontrar os primeiros
Embora homens c mulheres gostem igualmentc de salgadinhos e dc passos de uma solução Nossa pesquisa mostrou o seguinte: as famílias que
sorvete, cm algumas categorias alimentícias as qualidades de feminilidade e lá estiveram apreciam cspecialmente a singular cordialidade do Teatro do
masculinidade atraem para o produto um sexo mais do que o outro, mas Madison Squarc Garden para com as crianças ê seus pais. É permitido ter
mesmo assim isso não exige que a marca exclua o outro sexo. Por exemplo, comida c rcíhgcrantcs nas poltronas, tolcram-se correrias nos corredores e
ha muitos anos, cm sua publicidade, a General Foods International Coffccs as pecas nâo têm intervalos (a quebra da açào gcralmentc força as crianças
apresentou basicamente mulheres fazendo uma pausa para pensarem em si a sc desligarem da história, ficarem irrequietas c quererem ir embora).
mesmas ou para aquele papo íntimo com a melhor amiga. Os ambientes eram As próprias produções geralmcntc têm um tipo especial de apelo para
sempre belos c tranquilos. com uma pitada dc elegância. Os cafés aromati­ as crianças: em Uma história de Natal. a "neve" realmente cai sobre a platéia
zados eram sempre servidos cm xícaras delicadas, nunca cm canecas. A sen­ no edificante final da peça. Essa atmosfera relaxada e mais pê-no-châo do
sação era decididamente feminina. Os homens também consuniam aqueles Teatro, além de ajudar os pais c as crianças a apreciarem a peça, começa a
cafés, mas estavam cm minoria Claro que o cliente, querendo expandir o intermediar a dissonância cognitiva entre o Garden c o Teatro. É como se
consumo, pediu à agencia pura incluir mais homens nos comerciais. Ode- um bocadinho da exuberância do Garden tivesse se infiltrado — não o su­
salio. porem, estava ern incluir situações homem-e-mulher sem perder a ficiente para solapr a natureza especial de uma representação teatral ao vi­
sensibilidade cxttaordinariamcntc delicada da categoria. (Na época, os ca­ vo, mas o suficiente para começar a ajudar as pessoas a "entenderem
* a re­
fés aromatizados eram produtos especiais, mais caros c distanciados do con­ lação entre o ginásio de esportes e o teatro.
sumo 'nrgligcmc" dos caies comuns.) Na verdade, quando entrevistados Essa é uma área na qual as aliordagciis "projetivas" ajudam você a ter
sobre as razões que os faziam apreciar os cafés internacionais, os usuários sensibilidade (e compreender) aos matizes do gênero da essência da catego­
do sexo masculino (alavam de seu sabor “especial
* ou delicado, repetindo ria. “Sc este salgadinho fosse uma estrela de cinema, quem ele seria? Se es­
as palavras das mulheres. Sc nos, cm vez <lc simplesmente incluir homens te sorvete fosse um personagem de um livro, quem ele seria? Qual figura
nos anúncios, incluíssemos neles uma energia ou sensibilidade masculina, histórica representaria o ‘espirito' de um teatro? Qual figura história repre­
(criamos violado a essência da categoria. sentaria o‘espirito’dc um ginásio esportivo?
* Perguntas deste tipo, freqüen-
Ás vezes o género da categoria atrapalha aquilo que uma marca indivi­ temente apresentadas na pesquisa qualitativa, ajudam a revelar a natureza
dual esta tentando realizar, c isso deve scr compreendido c levado na devida inerente du categoria a partir da perspectiva de um gênero.
coma Por exemplo, dentro do Madison Squarc Garden de Neva York, um A essência da categoria, portanto, em todas as suas formas, nos faz dar
dos mais famosos ginásios dc esporte do mundo, existe um leal anho encan­ o salto inicial ao revelar as forças arquetípicas que impulsionam a categoria,
tador <• pouco conhecido chamado Teatro do Madison Squarc Garden. Ah são nâo apenas a marca Sc ignorarmos essa força poderosa, o risco será nosso.
3)8 O HtKOI E O FOSA DA LEI_______________________________ ____________ -Qub a Força e»t»U com você" 339

A Young ór Rubicam certa vez kz a campanha publicitária dc um novo sa­ to sâo a mâe nutridora (Deméter) e sua filha virgem (Perséfone) A partir
dessa informação, vocé concluiria que a essência da categoria flocos de ce­
bão lava-roupas da Colgate chamado Fresh Start. Era um dos prime ros sa­
reais seria o Prestativo ou o Inocente, que sâo os arquétipos que hoje sus­
bões líquidos e vinha em uma embalagem jeitosa e fácil de u<ar. A agência
tentam a publicidade da maioria dos flocos de cereais integrais
c o cliente decidiram ligai a natureza moderna da marca c do produio à re­
Se você quisesse diferenciar sua marca das outras que têm uma identi­
cusa absoluta da mulher moderna dc se definir em termos de trabaho do­
ficação com o Prestativo ou o Inocente, você poderia se aprofundar na lenda
méstico Desenvolveu-se um comercial. "Vestido vermelho", cm qut o ma­
de Deméter e Perséfone c nos ensinamentos do culto eleusino. Ali. a garota
rido telefona para casa convidando a mulher para um jantar inesperado, ela
pübcre era iniciada na condição dc mulher e sua mâe se preparava para dei­
dá uma lavada no vestido vermelho e está pronta num instante. A idéia do
xá-la partir. (O casamento ocorria cedo para as mulheres da antiga Grécia.)
anúncio c que a vida e curta demais para você se preocupar em lava: roupa
Resumindo, como já contamos em capítulo anterior. Perséfone é rap­
— temos coisas melhores para fazer — e esta marca compreende isso c fa­
tada por Hades, senhor do mundo subterrâneo, e vive debaixo da terra até
cilita sua vida O anúncio era vigoroso, cheio de energia c muito inederno
que sua mãe. cheia de dor. se recusa a permitir o crescimento das colheitas
Mas o negócio nâo deu certo. Em pesquisa subsequente, entrevistamos
e com isso causa fome generalizada. Vendo a fome dos humanos. Zeus, prin­
nosso moderno e inteligente público-alvo sohrc suas atitudes em lelaçâoaos
cipal deus do Olimpo, envia Mercúrio para trazer Perséfone de volta aos bra­
afazeres domésticos Conforme esperávamos, todas aquelas mulheres os vi­
ços da mâe Quando Perséfone retorna, a primavera chega e as colheitas
am como algo tedioso c pouco gratiíicante e afirmavam que sua saudação e
crescem. Nesse mito agrícola. Perséfone é como uma semente que é plana­
sua identidade derivavam de outras coisas.
da e que desabrocha na primavera. No culto eleusino, esse padrão era inter­
Mas o ponto interessante C que a natureza da cnircvi-.ta mudava quan­
pretado como uma explicação para o milagre da agricultura e do nascimen­
do falávamos espccilicainentc sobre a tareia de lavar roupa. As mulheres des-
to (a semente é plantada no útero, se desenvolve e íinalmente nasce no
c icx iam como adoravam a sensação dc tirar da secadora as toalhas c as rou­
mundo), hem como para o milagre da imortalidade (o corpo é enterrado,
pas reccm-lavadas; como sempre as punham perto do rosto pars sentir
mas a alma ressuscita ou reencarna).
aquele cheirinho limpo e maravilhoso; c como adoravam dobrar a rcupa la­
Se você estiver familiarizado com os antigos mitos neste nível, os flo­
vada enquanto ainda estava qucntinha. Disseram que completar a ureia dc
cos de cereais poderão sustentar uma identidade do Mago — focalizando o
lavar a roupa lhes dava uma sensação semelhante â do caderno novo no pri­
milagre das sementes que se transformam em planas que produzem os
meiro dia dc aula — um novo começo: um ficsh staii
grãos, os quais, por sua vez. se transformam nos flocos dc cereais que pro­
Ficsh Mait? Nós tínhamos um produio cluimddo Fresh Start! Mas. cm
movem a saúde da mente e do corpo. O produto também poderia se posi­
vez dc adotarmos a essência Inocente da categoria para a nossa marra — o cionar em torno da fé — quando as coisas parecem dcsammadoras. a nova
espirito dc pureza c renovação, a gratificação sensorial dc se sentir 'limpa"
vida sempre prevalecerá. Do mesmo modo, o fato de que o touro da Merrill
c renovada —. havíamos desperdiçado uma incrível associação arqurtipica. Lynch é tâo memorável pode estar ligado à essência da categoria serviços
tentando conectar nosso produto com uma "tendência" válida, mas essen-
bancários Encontraram-se em cavernas pinturas dos tempos pré-históricos.
cndmente irrelevante É possível que, de início, os touros tenham sido escolhidos como tema da­
quelas pinturas por serem presas caçadas pelos pintores. Mas se você pen­
sar em algumas das nossas impressões modernas dc touros — animais po­
Pesquisando os usos míticos ou originais de um produto
derosos. um tanto ameaçadores, bons para criação e, portanto, muito
A cssviici.i da categoria taiiibi-in pode scr descoberta por meio de uma sexuais — talvez imagine que esses fatores inspiraram os homens das caver­
pesquisa do uso original dc um produto c da mitologia a ele associada, tan­ nas a pintar touros. Nos tempos antigos, o touro era um símbolo comumen-
to nos tcm|>u« antigos como nos tempos mudemos. Por cxcmplu. ao lazer o tc utilizado para representar os comportamentos associados com a fertilida­
marketing dc uma linha dc flocos d<- cercais, você poderia pesquisaras ori­ de. Nos dias dc hoje, interpretaríamos o simbolismo do touro como o poder
gens da agrieuhura e a natureza dos deuses c deusas dos cereais. Na Grécia, que faz as coisas acontecerem.
o culto dos Mistérios dc í lihisis ensinava os segredos da agricultura c oíere- A arqueóloga Marija Gimbutas diz que as esculturas c pinturas de tou­
t ia edite açào sexual r espiritual As divindades hasteas assoe íadas a esse cul­ ros "estâo consistentemente aliadas aos símbolos de energia — serpentes en-
~Qu« > forja etteja com você" 343
341 O HERÓI t O FORA-OA-LEI

indicando que. em cada caso, (emas de profunda importância para a alma sâo saúde e certos ingredientes desaconselhados privava-os do prazer de comer
sem culpa, seja porque evitavam alimentos mais substanciais e satisfatórios,
encontrados na labuta cotidiana.” Moore conclui que o problemi da produ­
ção moderna nào é a falta de eficiência; em vez disso, i a perda da alma.
* seja porque sentiam culpa quando se entregavam ao prazer de comer. Em
resultado, a textura e a densidade dos páes ‘metamorfoseados" (especial-
Ao buscar o significado que as atividades e os objetos unham no mun­
mente o “pào judeu” e o muífin) estavam oferecendo um dos últimos pra­
do antigo, desvendamos poderosos motivadores humanose. ao nesmo tem­
zeres sensoriais que as pessoas ainda podiam desfrutar livremente.
po. voltamos a dar alma ao mundo.
A vida frenética e as refeições ligeiras também deram ao pâo nova im­
portância. fazendo dele o "prato principal" de muitas ocasiões (por exem­
Quando a expressão arquetípica está em fluxo plo. comer somente um “pào judeu" no desjejum). Compare-se com seu pa­
pel anterior de simples coadjuvante ou complemento (por exemplo, comer
Há momentos em que a essência fundamental de um produto está em torrada como mero acompanhamento do presunto com ovos). Essa mudan­
plena força, mas sua expressão está mudando de maneira significativa e im­
ça ocorreu em paralelo com a anterior e exigiu que o pâo oferecesse uma ex­
portante. Tomemos, por exemplo, o trabalho que Margaret Mark, Gambes-
periência alimentar mais satisfatória, substantiva e sensorial.
cia c o inspirado pesquisador Bill McCafírey realizaram na categoria pào em Como resultado, o pào evoluiu de "tapa-buraco" para "alimento verda­
I9V5. deiro". Após décadas relegado ao papel de simples coadjuvante, o pào vol­
Denise larson, na época gerente de pesquisas da importante panificado­ tava a assumir seu honroso e consagrado papel de "substância da vida" —
ra Enienmanns. estava preocupada com o declínio nas vendas do pâo de fôr­ uma expressão física do Prestativo. Os consumidores nâo estavam rejeitan­
ma «mbalado em fatias, pois a empresa tinha investido pesadamente na cate­ do o pâo; o que eles rejeitavam era o “desvio" ocorrido na segunda metade
goria. Embora outros executivos da organização estivessem dispostos a deixar do século XX, quando o verdadeiro papel do pào tornou-se "clandestino".
dc lado aquele segmento. Larson contratou nossa equipe para fazer uma son­ Os consumidores norte-americanos estavam demonstrando sua receptivida­
dagem profunda na dinâmica do declínio junto ao consumidor, partindo do de àquilo que o pâo poderia ser — na verdade, àquilo que o pào costumava
seguinte princípio; se o declínio nâo fosse plenamentc compreendido, qual­ ser nos tempos anteriores e que ainda é em muitas partes da Europa. As pes­
quer correção de curso seria feita numa espécie de vácuo estratégico. soas estavam mostrando que o pào poderia representar um papel maior nas
O que a equipe descobriu foi que o declínio do pâo de fôrma fatiado es­ suas experiências alimentares cotidianas.
tava distorcendo uma realidade muito mais importante: a ‘experiência pâo" Contudo, pouca coisa no marketing de "massa” ou no ambiente reta­
tinha mudado proíundamente. Antes, comia-se pâo (e bebia-se café) de ma­ lhista dava apoio e orientava o emergente entusiasmo natural dos consumi­
neira funcional e habitual; agora, comia-se pâo (e também se beoia café) de dores pela verdadeira essência da categoria. A seção dc pâes no supermerca­
maneira vivencial e experimental As pessoas agora estavam prosando o pào do era ao mesmo tempo tediosa e esmagadora. Ao contrário das novas
cozido na chapa de ferro, o "pâo judeu", os bolinhos tipo muífin. biscoitos seções de queijo, que davam água na boca, ou mesmo daquilo que começa­
e coisas do gênero. Enquanto as escolhas anteriores eram limitadas (pâo va a acontecer na seção de cafés, na seção de pães os consumidores tinham
branco ou pào dc centeio), havia agora uma explosão de variedade. Antes, de escolher entre um batalhão de produtos sem graça c relativamente indi­
as pessoas preferiam as marcas produzidas cm massa; agora, elas davam pre­ ferenciados. A pouca publicidade existente tratava os pâes como meras mer­
ferência às fontes autênticas. A categoria pào não estava declinando, con­ cadorias e nâo como fontes de prazer. A equipe concluiu que, em vez de
cluímos, ela estava "se metamorfoseando" em uma diferente expressão dc abandonar a categoria pào, a Enienmanns estava na posição ideal para apro­
sua essência (mais uma vez. tal como o café). veitar uma significativa oportunidade latente.
Mas o que\ornou esse caso tào fascinante, e tào único, foi que o pâo. E íoi isso que a empresa fez. A Enienmanns estimulou nossa equipe a
em muitos aspectos, estava se metamorfoseando de volta à sua essência mais passar para um segundo estágio de trabalho, no qual examinamos sistema­
verdadeira, mais autêntica Nesse papel em evolução, o pâo oferecia um ticamente as combinações de atributos que melhor transmitiam a “experiên­

"prazer permissível". A preocupação dos norte-americanos com o peso, a cia pâo" aos consumidores. A empresa começou agressivamente a desenvol­
ver novos produtos e a dar apoio aos produtos já em linha que estavam "na
mira". A Enienmanns ajustou para níveis mais realistas suas expectativas re-
4 fhom» Moore. p 182
**Qu« » Forja eitej» «xo voct" 34!
J40 O HERÓI E O FORA-DA-LEI

Um dos principais mitos da ilha dc Creta coma a história da mulher do


roladas. círculos concêntricos. ovos, medalhas, espirais anniéticas. colunas e
rei Minos. Pasífae apaixonou-se tâo perdidamente por um touro branco, que
totens" Gimbutas continua "Dc acordo com o folclore lituano. os agos se­
sc uniu a ele, produzindo o Minotauro. Dédalo, o Mago, criou um labirinto
guem os touros; onde quer que um touro se detenha, um lago aparece." O po­
para encerrar o Minotauro, dc modo que cie náo destruísse o reino.’ Se vo­
der regenerador do touro lambem sc "manifesta cm plantas e flores que de­
ei pensar nessa história em termos simbólicos, o Minotauro metade hu­
sabrocham do corpo do touro. Esta crença ainda era registraria no século XVI
mano. metade touro — personifica a energia, mas está encerrado nas entra­
da nossa era. Ela aparece na Antiga Crônica Prussiana 2.4.1, dc Simon Gru-
nhas do castelo, em total segurança, talvez mesmo proporcionando a energia
nau, compilada entre 1517 c 1521 O autor fala dc um touro fabuloso, cujo
que
* deu proeminência à ilha.
corpo é parcialmentc vegetal c que, quando morto, laz nascer as plantas
Que bela imagem para um banco — encerrar o assombroso poder do
dinheiro, cm total segurança, pronto para ser usado! A questão, aqui, é que
as pessoas nâo precisam conhecer essas histórias para que o poder arquetí-
pico da imagem seja eficaz. Esse t o poder de um arquétipo!
A busca da essência da categoria é, na verdade, a busca dos meios pe­
los quais animais, plantas, locais e coisas físicas contêm um significado in­
trínseco para as pessoas Em seu aclamado livro Care of lhe Soul, Thomas
Moore reflete sobre o significado que a natureza tem para a maioria de nós.
falando da tristeza que sentiriamos se a rua onde moramos fosse alargada,
num processo que provocaria a derrubada dos belos castanheiros que hoje
a orlam. A maioria de nós consegue pensar em algum local da natureza que
nos é importante c que, de algum modo, alimenta nossa alma. Quanto à dis­
posição humana para destruir os cenários naturais, Moore a identifica com
uma desastrosa cegueira da alma ao mundo. A atual crise ecológica, conclui
Moore. é sentida por todos nós mesmo enquanto vamos levando a vida de
cada dia, cegos ao problema, mas na verdade experimentando em conjunto
uma tristeza subjacente. E se o progresso da civilização desaguar naquilo
que c sugerido pela canção de Joni Mitchell. "Eles asfaltaram o paraíso c
construíram um estacionamento”?
Mais na linha de interesse do marketing, Moore continua: “As coisas
produzidas também têm alma. Apegamo-nos a elas e nelas encontramos sig­
nificado, bem como valores profundamente arraigados e cálidas lembran­
ças. A preferência moderna por separar o sagrado do material faz o mun­
do parecer morto e sem sentido. Essas atitudes sào responsáveis pelos
jó o portir de 16.000 oC. os primOnos coçodores-orútos (tais como os que problemas gémeos do materialismo e da revolta contra o consumismo.
enarom os desenhos do caverna de Lascoux. que inspirou o obro oemo) Moore nos recorda que os negócios e os produtos costumavam ser sa­
tronsmruam u força e wAdade do touro, do mesmo maneao que foz hoje a grados. “No mundo medieval", carpinteiros, secretários e jardineiros náo se
Metrrtt Lynch em seu logotipo. A sensofào de poder associado oo (ouro viam como criaturas que executavam tarefas servis, porque “cada um deles ti­
desde os tempos antigos estò ligado oo poder que resulto do sucesso nha um deus-padroeiro — Saturno, Mercúrio e Vénus, respectivamente —.
financeiro — um exemplo eficaz de "morcor" o essência de unto Cdttgario.

2 Picrre Crimal. otg. Lnroussc World (Nova York: Gallrry Books. 1965). p. 171.
3 ThuniM Moore. Cure o/ tke 5oul; A Guide to Cullivoling Dcplh and Sacredntss In £wrycfay
I Marip Ginibuias. Ibr lun/Huge uf the G<Mm (Nova York llarpcr Ax íow. 1989).
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pp 270 i n.

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