Para iniciar a defesa da constitucionalidade da referida lei 11.343/2006,
é importante ressaltar o principal motivo da existência da mesma: SAÚDE PÚBLICA. A lei vem prezar pelo bem estar dos cidadãos do nosso país, impedindo que haja início de dependências, uso (mesmo que em baixa quantidade) e aumento da criminalidade, lutando de frente contra locais de venda e produção de entorpecentes.
Um dos princípios qual o grupo da AGE (Advocacia Geral do Estado)
aponta como sendo feridos pela lei em questão, são os princípios da lesividade e ofensividade, quais, de forma breve, aponta que a pessoa ( autora de sua própria vida e escolhas) não pode ter sua intimidade (vida íntima) e privacidade (autonomia privada) violadas, pois suas escolhas não infringem a não ser ELA MESMA. Porém, se um pouco melhor analisada, a lei não pune o uso da droga, mas a posse da droga para consumo pessoal. Afinal, a simples posse do entorpecente gera perigo para a saúde pública, ante o risco de difusão da droga, propagação que a lei quer a todo custo evitar. Como se não bastasse, a conduta do usuário fomenta o tráfico de entorpecentes, sem falar dos crimes praticados por este para manutenção do seu vício. Enfim, a lei, induvidosamente, visa uma sociedade sem drogas, ante os certos malefícios que o entorpecente é capaz de gerar na coletividade. O crime do art. 28 é de perigo abstrato ou presumido. Tais crimes são aqueles cuja existência dispensa a demonstração efetiva de que a vítima ficou exposta a uma situação concreta de risco. Nosso ordenamento jurídico é pródigo em prever crimes de perigo abstrato. De forma meramente exemplificativa temos o art. 288 do CP (associação criminosa).
É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de
Justiça acerca da independência dos delitos de quadrilha ou bando qualificado e roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo, em face da existência de objetos jurídicos distintos. Constituem, ademais, crimes de natureza diversas, pois o tipo penal do art. 288 do CP é delito de perigo abstrato, enquanto que o do art. 157, § 2º, I e II, do CP é de perigo concreto. (STJ. HC 157.862/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 08/11/2011, DJe 25/11/2011).
O crime do art. 28 da Lei de Drogas, bem como o crime do art. 33 da
mesma lei, não exigem a prova da efetiva exposição da coletividade a risco. Portanto, tratam-se de crimes de perigo abstrato. Basta a realização da conduta, sendo desnecessária a avaliação subsequente sobre a ocorrência, in casu, de efetivo perigo à coletividade.
Outro meio de tentar comprovar a inconstitucionalidade da lei, é apontar
que ela em si não define o que é a droga de forma explícita, ficando um tanto quanto vaga a sua interpretação. Mas, para sua complementação, temos a Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 do Ministério da Saúde, onde especifica de forma clara quais são as drogas não permitidas em lei. A lei 11.343/2006, assim como outras leis do Código Penal, são as chamadas “leis brancas”, que são todas as normas que, ao tipificar um crime, traz no seu corpo um preceito genérico, indeterminado e, sobretudo, incompleto. Por serem imperfeitas, portanto, as normas penais em branco precisam, necessariamente, receber algum tipo de complementação. E essa complementação é totalmente constitucional e dada pela já citada portaria do Ministério da Saúde.
Como visto, o bem jurídico tutelado pelo art. 28 da Lei de Drogas, é a
saúde pública. Para atingir esse objetivo, o legislador procurou coibir não só o tráfico mas também a posse da droga para consumo pessoal. Ao se punir a posse do entorpecente, mesmo que para o uso pessoal do agente, visou o legislador punir toda e qualquer conduta capaz de gerar risco de propagação da droga, punindo, assim, a conduta perigosa ainda em seu estágio embrionário. Trata-se, portanto, de opção legítima do legislador, que visa uma sociedade sem drogas. Com efeito, tipifica-se a posse do entorpecente para uso pessoal como forma de impedir que tal comportamento, restando impune, evolua até se transformar em efetivos ataques à saúde pública. Em outras palavras, pune-se o perigo, antes que se convole em dano.