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Lúcia da Silveira, Fatau Crodinho
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SãoPaulo; oordenadoria
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no Brasil e : Inglaterra. 3.D:
EDUCAR PARA A
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IGUALDADE:
GÊNERO E EDUCAÇÃO EscoLAR
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São Paulo
2004
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CAPÍTULO 10
Resumo
As relações entre a escola e a família baseiam-se na divisão do trabalho
de educação de crianças e jovens, envolvendo expectativas recíprocas. Quan-
do se fala na desejável parceria escola-família e se convoca a participação
dos pais na educação, como estratégia de promoção do sucesso escolar,
não se consideram: as mudanças históricas e a diversidade cultural nos modos
de educação e reprodução social; as relações de poder entre essas institui-
ções e seus agentes; a diversidade de arranjos familiares e as desvantagens
materiais e culturais de grande parte das famílias; as relações de gênero que
estruturam a divisão de trabalho em casa e na escola. Essas questões são
aqui discutidas argumentando que a política educacional, o currículo e a
prática pedagógica se articulam segundo um modelo de família e papel
parental ideal e com base nas divisões de sexo e gênero, subordinando a
família à escola e sobrecarregando as mães, perpetuando assim a iniguida-
CCCLC
de de gênero.
Palavras-chave
Relações de gênero, relações escola-comunidade, família, desigualdade,
Brasil.
CC C
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irereoeeemroemrer
PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA ESCOLA?
Modos de educação, relações
de gênero e relações escola-família
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lo de família e papel parental ideal, com base nas divisões de sexo e gênero, esclarecimentos à professora sobre obstáculos à aprendizagem. A profes-
subordinando a família à escola e sobrecatregando as mães, sobretudo as sora, então, explica como os pais devem colaborar para superar os obstácu-
trabalhadoras e chefes de família, portanto perpetuando a iniqiidade de
los (João Pessoa, 2002).
gênero (De Carvalho, 2000). :
O que esses episódios, retratados na cartilha, têm a ver com as relações
de gênero? Para responder a essa pergunta, consideremos antes outras
» Situando as relações família-escola ques-
apepjend] e red Jenpa
Por que
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Mãe: E o que eu faço se en nem sei ler? das escolas particulares, onde a telação entre pais-consumidores e direto-
tes-proprietários-produtores é direta e a dependência mútua é clara. Entre-
Professora: Quem tem de fazer a tarefa é ele. Mas a senhora pode
na hora de fazer a tarefa. Tsso pode ajudá-lo a gostar mais de estudar
sentar com ele tanto, além de condições e disposições dos pais para participar, a política de
e de Jazer as incentivo a sua participação na escola (particularmente no contexto da es-
tarefas.
Mãe: E é?
cola pública) pressupõe aquilo que ela quer construir: continuidade cultu-
ral e identidade de propósitos entre famílias e escolas.
Professora: Sim, Dona Luíza. A senhora pode ajudar muito o
se cuidar do material escolar, da roupa e da comida dele.
seu filho na escola Em que circunstâncias as professoras necessitam da cooperação dos pais?
Se elas têm condições de trabalho satisfatórias e se os/as estudantes apten-
Mãe: Mas pra que tudo isso? dem, não há necessidade de chamar os pais. As professoras recorrem aos
Professora: Para seu filho se sentir mais querido e dessa forma pais quando se sentem frustradas e impotentes — quando os/as estudant
ter mais interesse es
pela escola. Eu lhe garanto que ele vai aprender muito apresentam dificuldades de aprendizagem e/ou de comportamento, com
mais e melhor.
as quais elas não conseguem lidar. Culpam a família (a ausência dos pais)
O terceiro episódio mostra uma reunião de pais na escola. pelas dificuldades dos estudantes porque têm sido culpadas (implícita ou
Há pais e explicitamente) pelas autoridades escolares, pela mídia e até pelos próprios
mães, mas os pais estão em primeiro plano e quem fala
é um pai que pede pais e mães pelas deficiências do ensino e pelo fracasso escolar. Além dis-
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209
2.22ãeãõeçã"çã
sexo-gênero. Se concordarmos, como algumas pesquisas estão sugerindo
so, carecem de instrumentos teóricos e práticos para desenvolver uma crí-
(Henderson & Berla, 1994; Heneveld, 1994; Projeto Nordeste, 1997; U.S.
tica social, institucional e pedagógica efetiva, devido às próprias condições
Department of Education, 1987), que a participação dos pais na escola está
adversas de vida e de trabalho — que as levam, contraditória e simultanea-
relacionada ao desempenho escolar do estudante, ou seja, quanto maior o
mente, a promover a aprendizagem dos/as estudantes e avaliá-los segundo
envolvimento dos pais/mães na educação dos filhos e filhas, maior o apro-
o modelo da reprovação.
veitamento escolar, temos de considerar as condições materiais e culturais
Os pais/imães tampouco necessitam participar da educação escolar dos/
210
.
lectual dos homens. Etimologicamente, em latim, educação referia-se a um
prias necessidades, obrigações e opções quanto a divisão do trabalho do-
sujeito feminino, enquanto docência e instrução referiam-se a um sujeito
méstico, horários de descanso, programas de lazer, com os quais o dever de
masculino (Ilich, qpud Sanders, 1995). Essa distinção refere-se a dois luga-
casa supostamente não interfere. À escola (a professora) supõe também
res: um lugar original de relações físicas e afetivas espontâneas, de nutrição
que os pais/mães gostariam de se atualizar em relação ao currículo escolar contexto de desenvolvimento infantil — o lar, a família; e
silente, como
ou voltar à escola (ou iniciar os estudos, no caso dos não-escolarizados), a
outro lugar de relações intencionais, racionais, de treinamento específico,
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212
EUSUEia
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reune
tempo), conteúdos (quais os saberes que devem se tornar hábitos, habilida- dentes, e criaram as escolas-internatos, que proviam educação coletiva aos
des, matérias escolares), agências e agentes encarregados (quem é respon- filhos de vátias famílias num local público, tal como se deu nos séculos
sável pela organização e ensino) e sujeitos-alvo (de acordo com categorias XVI e XVII na Inglaterra (Bidwell, 1991), onde até hoje escola pública signi-
como idade, sexo, classe e taça). Mulheres, pessoas pobres, negras e indíge- fica o que denominamos escola particular, e não escola do Estado (state
nas foram por muito tempo excluídas da escola, ou tiveram acesso a esco- school, pata nós escola pública).
Com a especialização das instituições de reprodução social e a separação
apeppend| e vied seonps
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a escola e, através dela, o acesso ao mercado de trabalho, à vida democráti-
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No passado, a política educacional (estatal, oficial) não englobava direta
ca, correspondendo às aspirações de parte das classes baixas e trabalhado- e explicitamente a educação familiar, subordinando (como agora) a educa-
ras-urbanas a uma vida digna. Assim, a escola pública (compulsória) ção doméstica ao currículo escolar via dever de casa. As famílias de classe
materializava um novo contrato social (ou seja, uma troca de interesses média, todavia, têm alinhado tradicionalmente a educação doméstica ao
institucionalizada), oferecendo um terreno (supostamente neutro) para a currículo escolar, sobretudo no contexto das escolas privadas. Atualmente,
porém, a política educacional está expandindo seu raio de ação para além
as distinções culturais e sociais ligadas a família, classe social, etnia e reli- da escola, formalizando as interações família-escola na escola pública, es-
gião de origem, consolidando a nova otdem democrática. pecificando a contribuição educacional da família para o sucesso escolar, e
A universalização da escola básica, onde ela aconteceu, significou demo- regulamentando as relações família-escola de acordo com um modelo par-
cratização (limitada) da cultura formal, mas também uniformização cultu- ticular de participação dos pais/mães na escola: o de classe média, baseado
ral; democratização no nível inferior da escolaridade e seleção (baseada em na divisão de gênero tradicional.
gênero, taça e classe) no nível superior; meritocracia como justificativa para Essa política de envolvimento dos pais na escola e seu modelo de rela-
a seleção, e mobilidade social ascendente limitada a códigos culturais espe- ções família-escola adquirem legitimidade precisamente por seu vínculo à
cíficos. Depois de um século de escola para todos, mesmo nos países ricos, classe média, já que é formulada por profissionais e representa as aspira-
o sucesso escolar não acontece para todos e a escolarização bem-sucedida ções de ascensão social de muitos grupos excluídos, que acreditam na pro-
não eliminou a desigualdade social. messa da educação escolar e sonham com o estilo de vida das classes médias.
Há duas histórias da educação relacionadas à classe social e à interação Tem obtido adesão à direita e à esquerda do espectro político, de conserva-
família-escola (De Carvalho, 2000). Uma história é aquela de uma classe dores, que defendem a coesão familiar (a família unida em torno dos fi-
que criou o valor da escola de acordo com uma concepção particular (uti- lhos/as fazendo o dever de casa), e de progressistas, que defendem a
litária) de educação: a escola como extensão da família da classe média, participação democrática dos pais/mães na melhoria da escola pública
Outra história é aquela em que a escola, um modo de educação não-fami- (Casanova, 1996; De Carvalho, 2000). De acordo com estes últimos, ne-
liar, foi imposta a uma classe como meio de salvação via aculturação. A cessitamos passar de um modelo de relações família-escola de delegação
primeira é a história do sistema escolar credencialista e dos investimentos — aquele em que o Estado assumia um papel parental no contexto da
familiares na competição dos jovens de classe média por diplomas, en- educação compulsória —, para um modelo de parceria (Seeley, 1993).
quanto a última é a história do fracasso escolar que legitima a exclusão De acordo com o modelo tradicional de delegação, a divisão de trabalho
socioeconômica e que continua a alimentar as políticas compensatórias educacional entre escola e família era clara: a tarefa da escola era a educa-
destinadas aos estudantes em situação de risco (Cravens, 1993). ção acadêmica, enquanto a da família era a educação doméstica — assim,
as professoras não deveriam esperar da família mais do que cuidados físi-
« As relações família-escola na atual política educacional: do cos e emocionais para que a criança chegasse à escola preparada para apten-
modelo de delegação ao modelo de parceria der o currículo escolar. A tão falada crise da família — divórcios, pais e
mães estressados, mães trabalhadoras, mães chefes-de-família
sobrecarregadas, falta de tempo (em quantidade e qualidade) para convi-
O discurso educacional da globalização neoliberal não é sobre justiça
vência com os/as filhos/as — reduziu seu papel no cuidado físico e emo-
social e felicidade pessoal, mas sobre competitividade econômica, eficácia
cional, bem como na disciplina social e moral, requerendo das escolas a
escolar (medida por testes), e sucesso individual por meio do investimento
da família no dever de casa. Desde a década de 1990, a família está sendo
extensão de seu tradicional papel de instrução acadêmica e cívica a fim de
englobar vários aspectos de assistência bio-psico-social. Nesse contexto, é
chamada a participar na escola (perspectiva positiva) e está sendo responsabili-
inconcebível atribuir à família um papel na educação acadêmica.
zada pelo sucesso ou fracasso escolar (perspectiva negativa). Recentemente, o
Parece razoável esperar que os pais/mães sejam parceiros, aliados das
MEC instituiu o Dia Nacional da Família na Escola e publicou a cartilha Edgar
professoras, pois desejam o melhor para seus filhos/as — neste caso, o
é uma tarefa de todos nós: um guia para a família participar, no dia-a-dia, da educação de
sucesso escolar. Porém, isso supõe certas condições (tempo, valorização da
nossas crianças (Brasil, 2002), seguindo a tendência atual da política educacional
escola, interesse acadêmico, familiaridade com as matérias escolares e habi-
originada nos países hegemônicos, particularmente nos Estados Unidos.
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geram
lidades para ensinar o dever de casa, por exemplo), de que nem todas as rente da conversão automática das diferenças materiais e culturais, familia-
famílias e nem todos os adultos responsáveis por crianças dispõem. Ade- res e de classe, em sucesso ou fracasso escolar (De Carvalho, 2000).
mais, parceria supõe igualdade, e as relações escola-família são relações de
poder em que as/os profissionais da educação (pesquisadoras /es, gestoras /
À A seleção social que se dá através dos processos pedagógicos escolares
baseia-se na imposição de um conhecimento não-familiar (a cultura acadê-
es, especialistas, professoras/es) têm poder sobre os leigos (pais/mães). mica, dominante) para a maioria dos estudantes e na negação do acesso ao
São relações também mediadas por outras relações de poder (de classe,
apeppengy v vied svonpy
Fe
raça/etnia e gênero) que, em princípio, ora podem favorecer as/os profes-
mantido uma parceria implícita com um único modelo de família, cujos
soras/es, ota os pais/mães/responsáveis. Em todo caso, o poder dos pais/
filhos obtêm sucesso escolar. Portanto, a equidade educacional depende
mães encontra sempre seu limite no poder da professora sobre seu filho/
filha na sala de aula (afinal, pais/mães sabem que professores/as são seres simultaneamente de:
humanos, tanto quanto eles/elas, sujeitos a antipatizar, marcar, dar gelo...). * reconhecimento das dificuldades da família na atual organização social — as
A teoria crítica de Bourdieu e Passeron (1977) acerca do papel do siste- mulheres perfazem 25% das chefias de família no Brasil (IBGE, 2000) — e
ma educacional na reprodução das desigualdades sociais de classe, raça e respeito às diferenças socioeconômicas e à diversidade cultural das famílias;
e
gênero explica como a escola desempenha funções relativamente estáveis * delimitação clara da tarefa educativa da escola, com base numa visão
crítica
na reprodução cultural e social, ao inflacionar ou deflacionar o capital cul- abrangente das relações família-escola é da produção do fracasso escolar no”
tural inicial dos estudantes, adquirido na socialização familiar, étnica e de contexto dessas relações (geralmente caracterizadas como de omissão dos pais.
classe, e ao convertê-lo (ou não) em credenciais (qualificações, diplomas)
mais ou menos valorizadas. O caminho individual para as trocas rentáveis e Diante da desigualdade social e educacional, a tarefa da escola é ensinar
o sucesso escolar depende de familiaridade com o conhecimento, lingua- um currículo básico comum no seu próprio tempo-espaço e com seus pró-
gem e padrões de avaliação específicos da escola, e reflete a distância ou prios recursos, compensando (com tratamento pedagógico apropriado) as
afinidade entre a cultura doméstica e de classe (educação informal) e a diferenças culturais (familiares, étnicas, de classe) dos estudantes e limitan-
cultura acadêmica (o currículo escolar formal). Assim, a produção do fra- do a avaliação àquilo que o currículo escolar oferece explícita e sistematica-
casso escolar é intrínseca ao funcionamento de um sistema educacional mente. Ao invés de demandar a contribuição da família para a aprendizagem
que recebe indivíduos de origens culturais diversas, mas implicitamente do currículo escolar, a escola deveria investir em práticas pedagógicas efe-
adota um único modelo cultural. Consegientemente, políticas que não le- tivas (De Carvalho, 2000). Portanto, é preciso clarificar o significado da
vam em conta esses mecanismos reprodutivos necessariamente promo- desejável parceria família-escola, pois parceria (mesmo reconhecendo-se
vem desigualdade educacional e social, ao fazerem demandas à família (via que as relações família-escola são de interdependência) não significa iden-
dever de casa), atribuindo aos pais/mães a responsabilidade pelo sucesso tidade de atribuições.
escolar dos filhos filhas. Isso porque as escolas passam a organizar o pro-
cesso ensino-aprendizagem contando com a contribuição da família. * O que as relações família-escola têm a ver com as
No modo de educação atual, a escola tem mais poder do que a maioria relações de gênero?
das famílias. Se, por um lado, a ação escolar encontra limites socioestruturais,
por outro a reprodução social permite escolhas (e disputas ideológicas e O envolvimento dos pais na educação escolar é necessário somente se
culturais) quanto a conhecimentos e práticas pedagógicas (escolhas indivi- concebermos a escola (e o trabalho docente) como dependente da contri-
duais e coletivas, profissionais e institucionais). Bourdieu e Passeron (1977) buição da família e do trabalho extra-escolar de outros adultos em prol da
mostram como a escola constitui um mercado simbólico mediando entre a aprendizagem do currículo escolar. Mas, podemos conceber a escola efeti-
desigualdade individual e familiar precedente e as estruturas econômicas e vamente ensinando o currículo em seu tempo-espaço e com seus próprios
simbólicas mais amplas, paralelas e subsequentes; portanto, a escola, edu- recursos? Se faltam condições para isso, tratemos de criá-las.
cadoras e educadores têm autonomia (ainda que limitada) para influenciar O envolvimento dos pais na educação escolar é desejável apenas na me-
os processos e resultados de sua própria produção (o espaço de produção dida em que os pais/mães desejarem e puderem se envolver com assuntos
na re-produção). Consequentemente, as políticas e práticas educativas re- curriculares. Ocorre que esse envolvimento tem se limitado à obrigação
presentam escolhas que podem reduzir ou aumentar a dependência dos materna, no contexto de uma divisão sexual do trabalho educacional
que
estudantes em relação a sua origem social, quebrando ou apertando a cor-
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persiste e é tomada como natural pela própria escola e por suas profissio- Referências Bibliográficas
nais do sexo feminino.
Na conversa entre as vizinhas na cartilha elaborada pelas profissionais ABERCROMBIE, Nicholas, HILL, Stephen, TURNER, Bryan S. Dictionary of Sociology.
da escola, a obrigação de acompanhar o dever de casa, de estimular os
meme age ep
3.ed. Londres: Penguin, 1994,
estudos é de dat afeto ao filho é só da mãe, mesmo se esta trabalha o dia BIDWELL, Charles. Families, childrearing, and education. In: BOURDIEU, Pierre,
inteiro, como o pai. Ser analfabeta não é desculpa: a mãe pode sentar junto COLEMAN, James (eds.) Social theory for a changing society. Nova Iorque: Westview Press;
o pra
do filho e ver o dever de casa. O pai está ausente da educação no espaço do Russell Sage Foundation, 1991. p.189-93.
lar. Porém, no mundo público, na reunião na escola, é o pai quem fala. Essa BOURDIEU, Pierre. The forms of capital. In: RICHARDSON, John G. (ed.). Handbook of
cartilha reproduz a separação público /masculino-privado/ feminino e a theory and research for the Sociology of Education. Nova Iorque: Greenwood Press, 1986. p.241-58.
dicotomia de papéis sexuais e de gênero em casa e na escola. Coloca as BOURDIEU, Pierre, PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria
*
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mais pesadas expectativas sobre as mães, reproduzindo a assimetria de pa- do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
péis sexuais e de gênero que faz recair sobre as mulheres toda a responsa- BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
bilidade pela educação das crianças, em casa e na escola. Ao usar o termo Assessoria Nacional do Programa Parâmetros em Ação. Educar é uma tarefa de todos nós: um
guia para a família participar, no dia-a-dia, da educação de nossas crianças. Brasília, 2002.
genérico pais, mantém invisível e deixa de reconhecer o trabalho educacio-
nal importante e exclusivo das mães. Por que, ao incentivar a participação CARVALHO, Maria Eulina P Pesquisa sobre o dever de casa: práticas atuais e visões de
professoras, estudantes de pedagogia e mães; análise preliminar. João Pessoa: Centro de
dos pais na educação escolar, a escola não incentiva precisamente os pais,
Educação UFPB, 2003.
costumeiramente ausentes da educação, tanto em casa, como na escola?
CASANOVA, Ursula. Parent involvement: a call for prudence. Educational Researcher,
Cabe aqui uma reflexão sobre a problemática da continuidade entre pro-
Washington, v.25, n.8, p.30-2, 1996.
fessoras (feminização do magistério) e mães (educação doméstica a cargo
ET Ca
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes curriculares nacionais para o
das mulheres). Maria, a vizinha esperta (alter-ego da professora), não pet- ensino fundamental [relatora Regina A. Assis; Parecer CNE/CED 04/98]. Brasília, 2001.
cebe as relações de iniquidade de gênero que afetam Luíza, trabalhadora e
CRAVENS, Hamilton Child saving in modern America: 1870s—1990s. Iw: WOLLONS,
analfabeta, incumbida de ver o dever de casa do filho. Tampouco a profes- Roberta (ed.) Children at risk in America: history, concept, and public policy. Albany: State
sora que espera a colaboração de uma mãe como Luíza percebe a impotên- University of New York Press, 1993. p.3-31.
08a0
cia comum a ambas, no seu caso, decorrente da desvalorização profissional DE CARVALHO, Maria Eulina P. Fazuily-school relations: a critique of parental involvement in
e das precárias condições de trabalho do magistério. Por isso os estudos de schooling. Malwwah [NJ, EUA]: Lawrence Erlbaum, 2000.
gênero são extremamente necessários na educação, porque podem ofere- HENDERSON, Ann, BERLA, Nancy (eds.) 4 new generation of evidence: the family is crucial
AS
cer perspectivas críticas às professoras mulheres que não têm to student achievement. Washington: National Committee for Citizens in Education; Center
problematizado essa continuidade.
4-—
Observa-se uma coincidência entre as pressões da avaliação da eficácia HENEVELD, Ward. Plangiamento e monitoramento da educação primária. Washington: World
mm em Bank; João Pessoa: SEE/PB, 1994. mimeo.
escolar — a ênfase nos testes, que afeta as/os professoras/es e gestores/as
— e o apelo à família para patticipar da educação escolar — os pais são os IBGE - FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
primeiros professores e a casa a primeira escola da criança, diz a cartilha Aprendendo ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em:
wwwibge.govbr.
com carinho (João Pessoa, 2002). Entretanto, os pais/mães que desejam e
podem envolver-se com a educação escolar deveriam ter alternativas ao JOÃO PESSOA.. Secretaria de Educação e Cultura. Escola Municipal Professor Agostinho
Fonseca Neto. PDE. Aprendendo com carinho. João Pessoa, 2002.
dever de casa. Por exemplo, por que não enriquecer o currículo com expe-
riências e novidades trazidas pelas mães e pais, que possam ser compartilha- PROJETO NORDESTE. Chamada à ação: combatendo o fracasso escolar no nordeste.
2.ed. Brasília: Projeto Nordeste; Banco Mundial; Unicef, 1997.
das com todas as alunas e alunos da classe (não apenas com o próprio filho
ou filha em casa) e com outros pais e mães na escola, entiquecendo assim SANDERS, Barry. 4 is for ox: the collapse of literacy and the rise of violence in an electronic
age. Nova Iorque: Vintage Books, 1994.
as próprias relações entre a escola e as famílias?
SEELEY, David S. A new paradigm for parental involvement. In: CHAVKIN, Nancy F.
(ed) Families and schools in a pluralistic society. Albany: State University of New York Press,
1993, p.229-34.
carro
220 221
t o
TYACK, David. Ways of seeing: an essay on the history of compulsory schooling. Harvard
Educational Review, Cambridge, v.46, p.355-89, 1976.
U.S. DEPARTMENT OF EDUCATION. What works: research about teaching and
learning. Washington, 1987.
WILLIAMS, Raymond. Keywords: a vocabulary of culture and society. Nova Iorque: Oxford
University Press, 1983.
apeppend] e exed seonp a
222