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CAMÕ ES 2023

Os Lusíadas

Renascimento

» Séculos XV e XVI
» Época de mudança ao nível da Europa
» Nasce na Itália do séc. XV, com a riqueza proveniente do comércio
» Investimento em arte como mostra de riqueza
» Os artistas e intelectuais criaram uma rede através de viagens e troca de correspondência
» Humanismo; antropocentrismo, contrariando o teocentrismo medieval
» Valorização da razão e da experiência para certificação da verdade
» Descobrimentos; repensar da relação do Homem com o mundo; valorização da Natureza
» Abalo das crenças: aparecimento do Protestantismo e teoria heliocêntrica de Copérnico
» Invenção da imprensa e maior facilidade de divulgação dos livros
» Valorização da antiguidade clássica greco-romana. Equilíbrio, proporção e regularidade
» Imitar os clássicos, imitar a Natureza

Luís de Camões

» Nasce por volta de 1525


» Sem documentação da educação (presumivelmente em Coimbra)
» 1549-1551: expedição ao Norte de África, onde perde o olho direito
» Devido a uma briga é preso. Pede perdão ao Rei e é enviado para serviço militar na Índia
» Preso na Índia por dívidas
» Teve um naufrágio, salvando-se a nado com o manuscrito d’Os Lusíadas
» Vasta obra lírica: canções, sonetos e redondilhas. Três comédias
» Morre a 10 junho 1580. No terceiro centenário é-lhe erguida estátua em Lisboa

Características da epopeia

» Remonta à Antiguidade grega e latina


» Tem como expoentes máximos a Ilíada e Odisseia (Homero) e Eneida (Virgílio)
» Normas:
» Grandeza e solenidade, expressão do heroísmo
» Protagonista: alta estirpe social e grande valor moral
» Início da narração in medias res
» Unidade de ação, com recurso a episódios retrospetivos e proféticos (analepse e prolepse)
» Os episódios dão extensão e riqueza à ação, sem lhe quebrar a unidade
» Maravilhoso: Os deuses devem intervir na ação
» Modo narrativo: o poeta narra em seu nome ou assumindo personalidades diversas
» Intervenção do poeta: reduzidas reflexões em seu nome
» Estilo solene e grandioso, com verso decassilábico

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Estrutura d’Os Lusíadas

» Externa:
» Verso decassilábico, maioritariamente heroico (acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico
(acentos nas 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas)
» Estrofes de oito versos com esquema abababcc (oitava heroica)
» 10 Cantos.

» Interna:
» Proposição: o poeta anuncia o que vai cantar (I, 1-3)
» Invocação: pedido às divindades inspiradoras (I, 4-5; III, 1-2; VII, 78-82; X, 8)
» Dedicatória: oferecimento a personalidade importante (facultativa)
» Narração: ações do protagonista

» Planos:

» Viagem - Viagem de Vasco da Gama


» História - História de Portugal
» Plano mitológico: Intervenção dos deuses
» Intervenções do Poeta

» Tempo
» Discurso: Viagem, de África à Índia e regresso
» História: Desde Viriato até ao tempo de Camões
» As ligações são feitas por analepses e prolepses/profecias

Resumo

Canto I

» Proposição (1-3) – anúncio do assunto. Propõe-se cantar os feitos dos portugueses que se tornaram
heróis e engrandeceram o império.

» Invocação (4-5) – às Ninfas do Tejo


o Pede-lhes inspiração para descrever condignamente os feitos dos portugueses

» Dedicatória (4-18) – a D. Sebastião


o Incita D. Sebastião a feitos dignos de figurar na obra

» Consílio dos deuses (20-41)


o Simultaneidade com a navegação
o Decisão sobre chegada dos portugueses à Índia; oposição de Baco, Vénus e Marte a favor

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» Reflexão sobre a insegurança da vida (após traição de Baco)


o Depois de passar Moçambique, Quíloa e Mombaça
o Paralelismo entre perigos do mar e da terra
o Questão da fragilidade (pequenez) do Homem

Canto II

» Viagem de Mombaça a Melinde (1-113)


» A pedido de Baco, o Rei de Mombaça convida os portugueses para os destruir
» Vénus impede a Armada de cair na cilada
» Fuga dos emissários do Rei e do falso piloto
» Vasco da Gama apercebe-se do perigo e dirige uma prece a Deus (apesar da mitologia pagã, o
protagonista dirige-se sempre a Deus)
» Vénus pede a Júpiter que proteja os portugueses, profetizando-lhes futuras glórias
» Na sequência disto, Mercúrio (em sonho) indica a Vasco da Gama o caminho até Melinde
» Festejos na receção em Melinde
» Rei de Melinde pede a Vasco da Gama que lhe conte a História de Portugal (109-113)

Canto III

» Invocação a Calíope (1-2)


» História de Portugal – 1.ª Dinastia
» Vasco da Gama como narrador e Rei de Melinde como Narratário
o Dificuldade em louvar o próprio
» Desde Luso a Viriato
» Formação da Nacionalidade
» As conquistas dos reis da 1.ª Dinastia
» Batalha de Ourique (42-54) – episódio épico
o Desproporção entre número de portugueses e Mouros (acentuando o valor do inimigo, mais
se acentua o valor da vitória)
o Intervenção de Cristo – lenda portuguesa
o Contraste Touro (força moura) e cão (inteligência dos portugueses), apesar da diferença
numérica
o Descrição da bandeira
» Morte de D. Afonso Henriques (83-84)
o Personificação da Natureza e sua tristeza
» Formosíssima Maria (102-106) – episódio lírico
» Episódio de Inês de Castro (118-135) – episódio lírico
o Caracterização de D. Inês e D. Pedro
o Texto com didascálias e diálogo (teatro)
o O Rei é desculpado por Camões, culpando o povo e ministros, a quem D. Afonso IV cedeu
para sobrepor a vontade do povo à sua
o Personificação da Natureza para lamentar a morte de Inês (subjetividade)

Canto IV

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» História de Portugal – 2.ª Dinastia


» Revolução 1383-85 (1-15)
» Discurso de D. Nuno Álvares Pereira (15-19)

» Batalha de Aljubarrota (28-44)


o Nobres portugueses contra os próprios irmãos, aliados de Castela
o Ao valorizar D. Nuno (chefe), valoriza todo o povo, visto que na época se associava o valor
do chefe ao valor dos seus súbditos (“um fraco rei faz fraca a forte gente”)

» Sonho de D. Manuel (67-75)


o Rios Ganges e Indo aparecem-lhe como velhos, que lhe indicam que os portugueses terão
sucesso na Índia
o Vasco da Gama é chamado para se lançar na viagem para a Índia
o Plano da História (com ligação à viagem)

» Despedida em Belém (84-93) – episódio lírico


o Desmembramento das famílias
o Vasco da Gama evita grandes despedidas, pois só traria maiores angústias

» Velho do Restelo (94-104)


o Representa o bom senso e prudência dos que defendiam a expansão para o Norte de África
o Representa a ligação à terra-mãe
o Camões mostra que a opção não é consensual e que, apesar de descrever os ideais épicos,
existem outras ideologias
o Motivações erradas (glória de mandar, cobiça, fama e prestígio)
o Alerta para os perigos do mar, para a inquietação e adultério dos que ficam e para o
despovoamento do território nacional
o Excesso de ambição é prejudicial (Ícaro)
o Lamentação da estranha condição humana

Canto V

» Canto central d’Os Lusíadas (perigosas cousas do mar)

» Viagem de Lisboa a Melinde


» Fogo de Santelmo e tromba marítima (16-22)
o Episódio Naturalista
o Defesa da conquista do saber pela experiência (Humanismo) em detrimento do saber livresco
o Elementos do quotidiano para facilitar a perceção do Rei de Melinde
o Crítica aos que acreditam por terem lido sem nunca terem visto
o Crítica ao saber livresco

» Episódio de Fernão Veloso (30-36)

» Episódio do Gigante Adamastor (37-60)

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o Terror do desconhecido; capacidade para ultrapassar obstáculos (naturais) – enaltecimento do
herói
o Profecias sobre naufrágios
o O Adamastor, interpelado por Vasco da Gama, explica-lhe por que é um penedo, com uma
história de amor e traição com uma deusa (Tétis)
o Contraste da beleza feminina com a fealdade masculina
o Transformação do gigante em pedra

» Escorbuto (81-83)

» Reflexão sobre a dignidade das Artes e das Letras (92-100)

o Episódio Humanista
o Os antigos gostavam que os seus feitos guerreiros fossem cantados
o Os chefes eram também conhecedores da arte e das letras
o Os chefes da antiguidade eram guerreiros (épicos) mas também cultos
o Portugal não preza as artes (é ignorante)
o Mantendo-se a situação, ninguém exaltará os feitos dos portugueses
o Apesar de saber que os portugueses não valorizam as artes e as letras, Camões vai continuar a
sua obra, mesmo que por ela não venha a ser reconhecido

Canto VI

» Viagem de Melinde a Calecut


» Consílio dos deuses marinhos (6-36) – Presidido por Neptuno, que com Baco apoiam que os
portugueses sejam afundados.
» Episódio dos Doze de Inglaterra (43-69)
» Tempestade (70-85)
o Vasco da Gama dirige uma prece a Deus
o Intervenção de Vénus
» Chegada à Índia (92-94)

» Reflexão do poeta sobre o valor da Fama e da Glória (95-99)


o A nobreza não se herda
o São necessários feitos dignos do título
o Oposição da definição “tradicional” de Nobreza à agora apresentada por Camões
o Apelo à coragem
o A nobreza e heroicidade conquistam-se vencendo e ultrapassando obstáculos
o Os heróis serão reconhecidos, independentemente de o quererem

Canto VII
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» Armada em Calecut

» Elogio do poeta ao espírito de cruzada. Censura às nações que não seguem o exemplo
português
o Crítica ao Luteranismo e guerras dos alemães
o Crítica à oposição dos ingleses ao Papa
o Crítica à aliança da França aos Turcos (por pura ambição)
o Crítica à corrupção italiana
o Crítica à expansão sem motivo religiosos
o Elogio aos portugueses, que apostam na expansão para propagar a fé Cristã, enquanto os
outros querem apenas conquistar território

» Desembarque de Vasco da Gama (42)


» Visita do Catual à armada. Paulo da Gama explica o significado das bandeiras
» Invocação às ninfas do Tejo e Mondego. Crítica aos opressores e exploradores do povo (78-87)
o As etapas da vida de Camões (destacando-se a variedade). Balanço negativo da sua vida
o Camões não se sente reconhecido pela sua obra
o Tal como ele, também os escritores vindouros se sentirão desmotivados
o Camões não louvará quem procura a fama para proveito próprio
o Crítica aos que chegam junto do Rei com o propósito de explorar o povo
o Camões sente-se cansado pela forma como é tratado pelos compatriotas

Canto VIII

Armada em Calecut

» Paulo da Gama explica ao Catual o significado das bandeiras (1-43)


» Ciladas de Baco, que intercede junto dos indianos contra os portugueses(43-96)
» Reflexão sobre o vil poder do ouro
o A sede de dinheiro provoca ações pouco nobres de ricos e de pobres
o O ouro corrompe mas não deixa de ser um metal nobre

Canto IX

» Em Calecut
» Regresso a Portugal – Ilha dos Amores
» Vénus recompensa os Portugueses mostrando-lhes a ilha dos amores
» Exortação do poeta aos que desejarem alcançar a Fama (92-95)

Canto X

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» Tétis e as ninfas oferecem um banquete aos portugueses. Profecias sobre o futuro dos Lusitanos no
Oriente (1-73)
» Invocação a Calíope (8-9)
» Tétis mostra a Máquina do Mundo a Vasco da Gama, indicando-lhe a dimensão do Império
Português (77-142)
» Chegada a Portugal (144)

» Lamentação do poeta e exortação de D. Sebastião (145-156)


o Caracterização do passado, presente e futuro
o Elogio aos portugueses que partem expostos ao perigo (nobres). Alerta aos homens do
presente, focados no ouro, cobiça e ambição
o O Rei deverá favorecer aqueles que possuem os valores que Camões diz serem ideais
o Simetria: novas proposição e dedicatória (visão aristotélica da epopeia)

Reflexões do Poeta, Lusíadas

Canto I

Chegada da armada portuguesa a Mombaça, após algumas peripécias e confrontos em Moçambique,


comandadas pelo Deus Baco.
Existe uma reflexão sobre a fragilidade da vida humana. Aqui, Camões reflete sobre a forma como a vida
humana é algo tão efêmero2 e tão passageiro, de uma forma inevitável o destino que todos assombra é a
morte. Esta reflexão vem do simples facto de os portugueses passarem
imensos perigos que aparecem de forma inesperada.

Canto III
Durante a narração da História de Portugal aquando do episódio de Inês de Castro e da paixão
entre D. Fernando e Leonor Teles.
Camões é fiel a si mesmo neste momento de reflexão: o amor tudo domina. Durante a narração
destes episódios românticos e trágicos, o autor relembra o poder do amor (reforçando o que escreve em
outros poemas) como um sentimento que é transversal a todo o ser humano e torna
qualquer um capaz de tudo. O amor é capaz de dominar e de trazer imensas felicidades, mas também as
maiores angústias.

Canto IV
Na partida da armada portuguesa das praias portuguesas para a sua viagem – As Despedidas de
Belém
Tal como o nome do episódio indica, aqui fazem-se despedidas entre familiares, amigos, amados… A
ambição humana e a insensata procura por poder e fama levam os mais gananciosos a causar imensas
amarguras em quem os ama e fica para trás sem saber se alguma vez irão voltar a ver quem mais amam.

Canto V
Final da narração da História de Portugal ao Rei de Melinde por parte de Vasco da Gama Neste contexto
existe talvez das mais importantes reflexões da obra: o desprezo da arte pelos seus contemporâneos. Aqui o
sujeito poético faz uma enorme crítica à sociedade portuguesa em geral por menosprezar a importância dos
poetas e artistas das mais variadas áreas para a preservação da cultura e transmissão de valores entre
gerações, por exemplo os valores gloriosos do povo português.

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Canto VII
A armada portuguesa encontra-se em Calecut
Neste capítulo as reflexões dão-se em duas vertentes: crítica às nações contemporâneas de Portugal por não
seguirem o exemplo de português de espalhar a fé; e novamente, o desinteresse generalizado dos
portugueses nas suas obras e no mérito que Camões tem. Neste
quase término da viagem dos portugueses, Camões, faz uma reflexão sobre a forma como os portugueses
alcançaram grandes objetivos e expandiram a fé por todo o mundo, ao contrário de outras potências.

Canto VIII
Sequestro de Vasco da Gama na cidade de Calecut por traidores
Esta é das reflexões mais intemporais que são apresentadas na obra, Camões reflete sobre a corrupção do
ser humano. Após ser sequestrado, bastou simplesmente um pagamento monetário para devolver a liberdade
de Vasco da Gama, evidenciando a forma como o ouro/dinheiro corrompe facilmente todos os Homens e
ainda a forma como o dinheiro chega para comprar uma alma.

Canto IX
Episódio mitológico na Ilha dos Amores, onde Tétis explica a Vasco da Gama o significado da ilha
Existe neste episódio, quase uma enumeração dos requisitos para alcançar a fama e glória. Luís
de Camões utiliza os navegadores portugueses como exemplo para todos aqueles que desejam
alcançar a glória eterna, os aspetos a dominar são: controlo do ócio3, abstenção da ambição e da ganância,
busca constante pela igualdade entre seres de uma forma justa e luta contra os sarracenos

Canto X
Chegada a Portugal da Armada de Vasco da Gama no regresso a casa Camões reforça a mensagem que
pretende mudar a mentalidade dos portugueses, a falta de reconhecimento pátrio. O autor vai até mais longe
e dirige-se ao monarca, pedindo um incentivo e exemplo. Por fim, lamenta num tom desinspirado pela
decadência moral iminente da sua nação.

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Sintetizando:

• A obra lírica camoniana é marcada por uma dualidade: por um lado, a poesia de caráter trovadoresco dos
cancioneiros (Medida Velha) por outro, as novas composições introduzidas pelo Renascimento (Medida
Nova)

Na medida Velha destacam-se as cantigas e os vilancetes.

Na medida Nova predominam os sonetos, compostos por 14 versos agrupados em duas quasras e dois
tercetos. Os versossão decassílabicos com acento na 6a e 10a sílabas (heroico) ou na 4a, 8a e 10a sílabas.
Linguagem e estilo:
• adjetivação expressiva;
• pontuação emotiva (exclamações, interrogações);
• expressividade de tempos e modos verbais;

uso de vocabulário erudito;


• recurso à mitologia;
• predomínio de metáforas, apóstrofes, hipérboles, anáforas, hipérbatos, etc.;
• alternância entre ritmo rápido e lento.

• Trabalhou quase todos os géneros restaurados: a écloga, a ode, a elegia e as formas fixas novas - o soneto e
a canção.

A sua poesia é sustentada em polos antagónicos: mulher ideal e perfeita / mulher feiticeira; amor espiritual I
amor sensual; humildade I orgulho; inocência I sentimento de culpa; natureza como espelho da alma I
natureza contrastante com o estado de alma

• Petrarca e Dante são os seus principais mestre

Áreas temáticas:
• o amor - amor físico vs amor platónico; a divisão interior do sujeito poético causada pelo conflito amoroso;
o poder transformador do amor e os seus efeitos contraditórios.
• a mulher - retrato da mulher perspetivada na conceção de Petrarca e Dante; a amada surge umas vezes
como ser angélico, outras como ser maléfico; a mulher ideal é inacessível e intocável.
• a Natureza - encarada como fonte de recursos expressivos, sempre ligada à poesia amorosa; o locus
amoenus.
• a saudade - faz sofrer mas inspira; a ausência da amada é insuportável e divide o sujeito poético.
• o tempo e a mudança - a mudança é cíclica e o tempo anula qualquer esperança.
• o destino - é sobretudo na sua vida amorosa que Camões sente a presença maléfica do destino:
tentando lutar contra a má fortuna, o sujeito poético recorda, muitas vezes, o bem passado.

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